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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES
Mestrado Acadêmico em Saúde Pública
EVELYN SIQUEIRA DA SILVA
A SAÚDE DO CAMPO E O PROCESSO DE TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE
DA FAMÍLIA
RECIFE
2017
Evelyn Siqueira da Silva
A SAÚDE DO CAMPO E O PROCESSO DE TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE
DA FAMÍLIA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Saúde Pública do Instituto
Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz,
para obtenção do grau de mestre em Ciências.
Orientadora: Drª Idê Gomes Dantas Gurgel
Coorientadora: Drª Paulette Cavalcanti Albuquerque
Recife
2017
Catalogação na fonte: Biblioteca do Instituto Aggeu Magalhães
S586s
Silva, Evelyn Siqueira da.
A saúde do campo e o processo de trabalho da equipe de saúde da
família / Evelyn Siqueira da Silva. — Recife: [s. n.], 2017.
128 p.: il.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) - Instituto
Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.
Orientadora: Idê Gomes Dantas Gurgel; coorientadora: Paulette
Cavalcanti Albuquerque.
1. Saúde da População Rural. 2. Trabalho. 3. Atenção Primária á
Saúde. 4. Estratégia Saúde da Família. I. Gurgel, Idê Gomes Dantas. II.
Albuquerque, Paulette Cavalcanti. III. Título.
CDU 331.47
EVELYN SIQUEIRA DA SILVA
A SAÚDE DO CAMPO E O PROCESSO DE TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE
DA FAMÍLIA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Saúde Pública do Instituto
Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz,
para obtenção do grau de mestre em Ciências.
Aprovado em: 29/05/2017.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Profa. Dra. Idê Gomes Dantas Gurgel
InstitutoAggeu Magalhães – FIOCRUZ
____________________________________
Profa. Dra. Kátia Rejane de Medeiros
InstitutoAggeu Magalhães – FIOCRUZ
____________________________________
Profa. Dra. Cynthia Maria Barboza do Nascimento
Instituição Universidade Federal de Pernambuco
Dedico este trabalho à meus pais e irmãs que me inspiram e fortalecem.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me dar força na caminhada, por me levantar nos
momentos difíceis de desânimo e mostrar que tenho a força necessária para fazer tudo o que
quero na vida.
Agradeço aos meus familiares (Antonio Alves, Rosalia Siqueira, Gisele Siqueira e Erika
Siqueira) que sempre estão ao meu lado para o que eu precisar e torcem pela minha evolução
pessoal e profissional. Aos amigos do Coletivo Grão de Saúde do Campoqueconstroem um fazer
diferente na saúde do campo e da cidade e por isso estão na minhatrajetória de luta e vida. As
pessoas que militaram junto a mim no movimento estudantil de fisioterapia e da residência
multiprofissional em saúde, pois muitas das escolhas que faço hoje foi e são consequência de
encontros tão ricos que me ajudaram a analisar o mundo com suas relações. Ao meu
companheiro Marcelo Santos e aos amigos Luana Rotolo, Sémares Vieira, Ana Carolina,
Fernanda, Dara Andrade, Marina Fenício, Luiza Maretto, Denyse Gonzalez, César, João
Tragtenberg, Lenna Menezes, Conceição Araújo, Joicy Andreia Paiva, Cibelle Brandão, Karla
Viana, Juliana Rodrigues que diretamente ou indiretamente nesses dois anos foram meu porto
seguro nos momentos difíceis, me escutaram, apoiaram e impulsionaram a frente.
Gostaria de agradecer principalmente a Profa Dra Idê Gurgel, Profa Dra Paulette
Cavalcantti que pacientemente me orientaram nesse processo. Também agradeço às pessoas que
aceitaram participar da pesquisae acolheram a proposta ajudando a realizar o presente estudo
com êxito.
“Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente tornando-se cada
vez mais intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado, construído, política, estética e
eticamente, por nós, mulheres e homens.”
Paulo Freire
SILVA, Evelyn Siqueira da. A saúde do Campo e o processo de trabalho da Equipe de
Saúde da Família. 2017. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) - Instituto
Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2017.
RESUMO
O campo foi, historicamente, negligenciado em relação às políticas públicas. Na saúde não foi
diferente, pois é no campo que encontramos as piores condições de saúde e de vida. Com a
implantação do SUS e a expansão da Estratégia de Saúde da Família se aumentou a oferta de
serviços de saúde nas áreas do campo. Entretanto, por ser uma população marcada por
singularidades sociais, culturais e de modelo produtivo, necessitam de um trabalho que
respondam às necessidades e características socioculturais da área e por isso foi construída a
Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas.
Portanto, é necessário entender como se dá o processo de trabalho das Equipes de Saúde da
Família (EqSF) e como elas se organizam de acordo com as especificidades da população do
campo para melhorar o cuidado ao usuário. O objetivo da pesquisa foi analisar o processo de
trabalho das EqSF que atuam junto à população do campo. Para tal, foram desenvolvidas 3
etapas de coleta de dados, sendo: análise documental, observação participante com registro no
diário de campo e entrevistas. As entrevistas foram realizadas com 8 profissionais da EqSF do
campo e 3 gestores da saúde do município de Caruaru. A análise das informações foi
desenvolvida através da análise do conteúdo. Os resultados apontam que os profissionais
identificam algumas especificidades do campo como a difícil mobilidade, a falta de água que
dificulta a agricultura, a superexploração do trabalho. Eles também relatam a existência de
rezadeiras (benzedeiras) na área, porém não possuem um diálogo que integre ou fortaleça essas
práticas no território. Já em relação ao uso de plantas medicinais, demonstram uma
aproximação com o tema. O cenário analisado também se mostra com potencial para a mudança
já que a academia através da Residência de Saúde da Família com ênfase no campo, (prima,
tenta organizar melhor esse último parágrafo) os movimentos sociais representado pelo MST
se fazem presente na área e abertos à construção de novas formas de fazer saúde.
Palavras-chave: Saúde Rural. Trabalho. Atenção Primária á Saúde.
SILVA, Evelyn Siqueira da. Rural health and the family health team work process.2017.
Dissertation (Academic Masters in Public Health) – Instituto Aggeu Magalhães, Fundação
Oswaldo Cruz, Recife, 2017.
ABSTRACT
The rural zone historically has been neglected in relation to public policies. In health it was not
different, because it is in the countryside that we find the worst health and life conditions. With
the implementation of the SUS and the expansion of the Family Health Strategy, the supply of
health services in the rural areas has increased. However, because they are a population marked
by social, cultural and productive singularities, they need a work that responds to the socio-
cultural needs and characteristics of the area and for that reason the National Policy of Integral
Health of the Populations of the Field, Forest and Waters. Therefore, it is necessary to
understand how the Family Health Teams (EqSF) work process takes place and how they are
organized according to the specificities of the rural population to improve care for the user. The
objective of the research was to analyze the work process of the EqSF that work with the rural
population. For this, 3 stages of data collection were developed: documentary analysis;
Participant observation with recording in the field diary and interviews. The interviews were
carried out with 8 people from the EqSF of the field and 3 health managers from the
municipality of Caruaru. The analysis of the information was developed through content
analysis. The results indicate that the professionals identify some specificities of the field such
as difficult mobility, lack of water that hinders agriculture, and overexploitation of work. They
also report the existence of prayer mongers (healers) in the area, but they do not have a dialogue
that integrates or frees these practices in the territory. In relation to the use of medicinal plants,
they show an approximation with the theme. The analyzed scenario also shows how potential
for change since the academy through the Family Health Residency with emphasis in the field,
the social movements represented by the MST are present in the area and open to the
construction of new ways of doing health.
Keywords: Rural Health. Work. Primary Health Care.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Lista as Doenças relacionadas ao saneamento básico deficitário................. 29
Figura 2 Mapa referente ao município de Caruaru...................................................... 42
Figura 3 Mapa referente às equipes de Saúde da Família de Caruaru......................... 42
Figura 4 Fluxograma da coleta de dados dos documentos de gestão.......................... 44
Figura 5 Fluxograma para as entrevistas.................................................................... 46
Figura 6 Mapa referente às equipes de Saúde da Família do campo de Caruaru......... 51
Figura 7 Mapa referente a USF do campo................................................................... 52
Figura 8 Criação de patos........................................................................................... 56
Figura 9 Plantação de milho....................................................................................... 56
Figura 10 Mandala de plantas medicinais e hortaliças de Normandia em 2015........... 59
Figura 11 Centro de Formação de Normandia ............................................................ 59
Figura 12 Criação de aves............................................................................................. 61
Figura 13 Plantio de Palma........................................................................................... 62
Figura 14 Cisternas na comunidade.............................................................................. 63
Figura 15 Cisterna na comunidade............................................................................... 63
Figura 16 Plantas do quintal de uma usuária da USF do campo estudada.................... 73
Figura 17 Fluxograma do acolhimento e agendamento da USF do campo.................. 94
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Distribuição dos documentos analisados por município........................ 45
Quadro 2 Modo de abastecimento de água, coleta de lixo e saneamento básico
do território da USF do campo no município de Caruaru......................
53
Quadro 3 Situação do saneamento do município de Caruaru em 2015................. 54
Quadro 4 Economia local, equipamentos Sociais e Transporte do território da
USF do campo no município de Caruaru...............................................
57
Quadro 5 Frequência de palavras chaves relacionadas com a cultura e a vida nos
documentos da Gestão de Caruaru.........................................................
74
Quadro 6 Frequência de palavras chaves (Rural ou campo) nos Documentos da
Gestão de Caruaru................................................................................
77
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AB Atenção Básica
ACS Agente Comunitário de Saúde
AI Apoio Institucional
APS Atenção Primária aà Saúde
CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
DNERu Departamento Nacional de Endemias Rurais
EPS Educação Permanente em Saúde
ESF Estratégia Saúde da Família
EqSF Equipe de Saúde da Família
FUNRURAL Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
MST Movimento Sem terra
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
PAS Plano Anual de Saúde
PET Programa de Educação pelo Trabalho
PIASS Programa de Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento
PITS Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde
PMS Plano Municipal de Saúde
PNAB Política Nacional de Atenção Básica
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNSIPCFA
Política Nacional de Saúde Integral das populações do Campo das Florestas e
das Águas
PSF Programa de Saúde da Família
RAG Relatório Anual de Gestão
RT Relatório de Territorialização
SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica
SUS Sistema Único de Saúde
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
USF Unidade de Saúde da Família
UPE Universidade de Pernambuco
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 15
2 OBJETIVOS............................................................................................... 19
2.1 Objetivo geral............................................................................................. 19
2.2 Objetivos específicos................................................................................... 19
3 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................... 20
3.1 A vida no campo......................................................................................... 20
3.1.1 Campesinato Brasileiro................................................................................ 20
3.1.2 Cultura e o campo........................................................................................ 22
3.2 Para entender a Saúde do Campo............................................................. 25
3.3 Trajetória da luta por Saúde do Campo.................................................. 30
3.4 Atenção Primária à Saúde e Equipe de Saúde da Família..................... 33
3.5 Trabalho em Saúde.................................................................................... 37
4 PERCURSO METODOLÓGICO............................................................. 41
4.1 Desenho do estudo....................................................................................... 41
4.2 Período de coleta......................................................................................... 41
4.3 Área do Estudo............................................................................................ 41
4.4 População do Estudo.................................................................................. 43
4.5 Técnicas de coletas e fontes de dados........................................................ 43
4.5.1 Documental................................................................................................... 43
4.5.2 Observação participante................................................................................ 45
4.5.3 Entrevistas..................................................................................................... 46
4.5.4 Diário de campo............................................................................................ 46
4.6 Análise dos dados........................................................................................ 47
4.7 Aspectos éticos............................................................................................. 47
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................... 49
5.1 Caracterização da população e de suas especificidades.......................... 49
5.1.1 Caracterização do Território......................................................................... 49
5.1.2 O desafio do cultivo da terra e criação de animais........................................ 60
5.1.3 Trabalho e vida............................................................................................. 66
5.1.4 Mobilidade da população.............................................................................. 68
5.1.5 Costumes culturais, religiosos e de autocuidado.......................................... 70
5.2 Conceito sobre Saúde do Campo............................................................... 74
5.2.1 Conhecendo a Saúde do campo..................................................................... 75
5.2.2 Objetivos do trabalho da saúde do campo e sua implantação....................... 76
5.3 O Processo de Trabalho da Equipe de Saúde da Família do campo...... 77
5.3.1 Objeto de Trabalho........................................................................................ 78
5.3.2 Agentes do Trabalho..................................................................................... 79
5.3.3 Meios de Produção........................................................................................ 81
5.3.3.1 Estrutura física e insumos............................................................................. 81
5.3.3.2 O saber na saúde........................................................................................... 85
5.3.4 Organização do Trabalho.............................................................................. 89
5.4 A interação entre o Trabalho da EqSF e as especificidades da saúde
do campo no Agreste Pernambucano........................................................
100
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES..................................... 106
REFERÊNCIAS......................................................................................... . 110
APÊNDICE A – ROTEIROS DE ENTREVISTAS..................................... 121
APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO...................................... 122
ANEXO A- Carta de aprovação do Comitê de Ética.................................... 124
ANEXO B- Carta de anuência do município de Caruaru............................. 128
15
1 INTRODUÇÃO
O campo é visto socialmente como local tranquilo, de um povo orgulhoso de sua terra e de
suas origens, que respeita a sua cultura e história. Contudo outras características podem ser
observadas na vida da população do campo. No Brasil, essa é uma população marcada por um
histórico de negligências por parte das políticas públicas. Na saúde essa negligência também se
dá, principalmente em relação ao acesso aos serviços, a uma qualidade de serviços para o
público do campo o que consequentemente se reflete em piores indicadores de saúde (SANTOS,
2016; SOARES, 2014; WANDERLEY, 1996).
Para se entender o processo de adoecimento de uma determinada população a saúde coletiva
utilizaa teoria da determinação social da saúde. Essa tem sido utilizada para analisar problemas
de saúde relacionando-os com a forma como essa sociedade se organiza e as relações de poder
estabelecidas nela (BREILH, 2013). Assim, dependendo da organização social, uma
determinada população terá maior probabilidade de sofrer com certos problemas de saúde e não
outros (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014; SOUZA, 2014).
No campo a determinação social da saúde está ligada principalmenteas relações sociais, estas
normalmente são marcadas por uma intensa desigualdade social com patrões concentrando os
meios de produção e os camponeses vendendo a baixos preços sua força de trabalho. Essa
desigualdade econômica influenciou e influencia diretamente nas relações de produção, onde
os trabalhadores se submetem a condições precárias de vida e trabalho, pois não enxergam outra
alternativa para sua subsistência (PEREIRA, 2012).
O Brasil, um dos maiores países em extensão territorial, tem sua agricultura marcada pelo
modelo do agronegócio, que se baseia na distribuição desigual das terras, com latifúndios nas
mãos de poucos, que dessa forma detêm o principal meio de produção (posse da terra) e
determinam o modo de produção no campo. Normalmente, visando aumento da produtividade
com máximo lucro, esse modelo está ligado ao uso de agrotóxicos, maquinários, a monocultura
e a exploração do trabalhador. Esse contexto está ligado diretamente ao processo de
adoecimento no campo, o que tem seevidenciado, entre outros fatores, num aumento do número
de intoxicações e suicídio ligados aos agrotóxicos (BRASIL, 2015; PEREIRA, 2012).
A população do campo, diante das dificuldades vivenciadas no território ao longo do tempo,
vem lutando por seus direitos sociais, e para tal tem se organizado nos movimentos sociais e
16
sindicais, tendo como exemplo emblemático as Ligas Camponesas e o Movimento Sem Terra
(MST) (AGUIAR, 2011; BRASIL, 2008; CARNEIRO, 2007; CARNEIRO et al., 2007).
A proposição de ações de saúde para o povo do campo é uma pauta reivindicada pelos
movimentos, tendo sido implementados o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e
Saneamento (PIASS) em 1976 e as Ações Integradas de Saúde (AIS) de 1982. Um marco nessa
luta é a implementação do SUS, pois a partir dele o avanço na saúde foi mais intenso com a
implementaçãodo Programa de Saúde da Família (PSF) de 1994; Programa de Interiorização
do Trabalho em Saúde (PITS) de 2001; além da própria criação do Grupo da Terra em 2005
(AGUIAR, 2011; BRASIL, 2008; CARNEIRO, 2007; CARNEIRO et al., 2007).
O Grupo da Terra, instituído pelo Ministério da Saúde por meio da Portaria nº. 2.460, trouxe
as questões que os movimentos do campo, da floresta e das águas demandavam como
importantes para a saúde do seu povo; e finalmente a criação da Política Nacional de Saúde
Integral das Populações do Campo das Florestas e das Águas (PNSIPCFA) afirmou a
necessidade de um maior olhar da saúde para as necessidades dos povos do campo (AGUIAR,
2011; BRASIL, 2008; CARNEIRO, 2007; CARNEIRO et al., 2007).
A PNSIPCFA foi um marco histórico pelo reconhecimento das necessidades de saúde das
populações do campo. Ela reafirma o compromisso das gestões federais, estaduais, municipais
com a implantação de ações e serviços de saúde conforme as especificidades e necessidades
dessas populações. E assim, se garante a equidade em saúde, reafirmando o cuidado em saúde
igualitário, universal e resolutivo para as populações em situação de vulnerabilidade (BRASIL,
2015).
No que diz respeito aos serviços de saúde no país, estes ainda estão hegemonizados pelo
modelo biomédico, tendo como característica principal a eliminação da doença e a figura central
do médico. Nesse modelo, o foco está no olhar biologicista, que ignora as questões culturais,
ambientais e coletivas.Porém, existe um movimento de embate a esse modelo que se espelha
nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como base as ações de promoção,
proteção e recuperação com base em um olhar integral (BACKES et al., 2009).
Ao implantar o SUS, a saúde no Brasil passou a ter três níveis de atenção, a Atenção Primária
à Saúde (APS), Atenção Secundária à Saúde e Atenção Terciária à Saúde, que deveriam atuar
de forma interligada, porém ainda não conseguem se articular efetivamente. A APS no Brasil
também pode ser chamada de Atenção Básica (AB) que traz a ideia de um atendimento mais
17
próximo do cidadão, para tal trabalha com um alto grau de descentralização e capilaridade
sendo caracterizada por:
um conjunto de ações, de caráter individual e coletivo, situadas no primeiro nível de
atenção do sistema de saúde, voltadas para a promoção da saúde, prevenção de
agravos, tratamento e reabilitação. Sendo considerada como a porta de entrada ao
sistema de saúde, local onde são identificadas as necessidades em saúde (das pessoas,
suas famílias e comunidade), e onde são coordenadas as respostas a estas necessidades
(BRASIL 2011).
Assim no presente trabalho foi considerado APS e AB como sinônimos já que as duas
nomenclaturas são utilizadas em artigos e documentos oficiais.
A AB traz fundamentos e diretrizes importantes para esse trabalho mais próximo da
comunidade, são eles: território adscrito, acesso universal, relação de vínculo; integralidade;
participação popular. Essas diretrizes possibilitam uma maior proximidade entre Equipe de
Saúde e comunidade propiciando assim um trabalho em saúde mais implicado e efetivo
(BRASIL, 2012).
Com o intuito de promover um olhar mais amplo na saúde, ao priorizar a prevenção e a
promoção da saúde e diminuir o foco no modelo biomédico até então vigente, o Ministério da
Saúde em 2006, reconhecendo o fortalecimento do Programa de Saúde da Família, o renomeia
para Estratégia de Saúde da Família (ESF), afim de fortalecer o seu caráter permanente, e o
colocando como novo modelo de atenção à saúde (ANDRADE; BARRETO; BEZERRA, 2006)
A partir desse processo também foram implantadas muitas Equipe de Saúde da Família
(EqSF) em áreas rurais. Por sua vez, o fazer saúde no cotidiano do campo se mostra um desafio
para os profissionais que precisam se organizar para realizar o trabalho pautado na ESF e AB e
na PNSIPCFA, no que tange suas diretrizes. Dessa forma, é necessário pensartanto o processo
de trabalho bem como sua organização a partir das especificidades desse novo contexto
(BRASIL, 2008; REIS et al., 2007).
A necessidade de um maior olhar sobre as questões da saúde da população do campo é posto
pela dificuldade que essa população sofre em relação à assistência de qualidade e a garantia
desse acesso à saúde. Esse acesso muitas vezes é dificultado por especificidades territoriais,
como tamanho das áreas adscritas e grandes distâncias entre os domicílios e o serviço de saúde;
falta de transporte nesses locais; a não valorização de aspectos culturais no fazer saúde (no uso
de ervas, rezadeiras entre outros), consideração do trabalho na agricultura e suas peculiaridades
como o uso ou não de agrotóxicosnessas práticas (BATISTA; ALBUQUERQUE, 2014). Parte-
18
se do pressuposto, portanto, que as equipes de saúde do campo reproduzem o processo de
trabalho realizado nas áreas urbanas, não levando em consideração as diferentes necessidades
que a vida do campo demanda. Entendemos porém que esses fatores devem ser pensados e
considerados para se organizar o trabalho na perspectiva de efetivar a Integralidade e a
Equidade.
Corroborando com este fato, os estudos que analisam o campo sob a ótica do processo de
trabalho da saúde para a população do campo são escassos no país, o que por sua vez está ligado
ao pouco investimento e piores indicadores epidemiológico de saúdereferentes a população do
campo.
Assim, se faz necessário investigar como se dá o processo de trabalho em saúde para
população do campo. Perceber as especificidades do conceito de saúde do campo pelos
profissionais e conhecer como se dáo processo de trabalho das equipes vão nos auxiliar a
responder a questão inicial.O campo é um espaço diferenciado em termos de cultura, trabalho,
modos de perceber e viver a vida. Esses aspectos compõem a determinação social da saúde e,
portanto, precisam ser levados em consideração por profissionais e gestores no que se refere ao
processo de trabalho em saúde na AB nessas áreas.
Dessa forma, este projeto pretende contribuir no debate sobre as questões da melhoria do
serviço de saúde para população do campo, no que diz respeito ao seu processo de trabalho, de
forma que ele tenha relação com o modo de vida e cultura da população.
19
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar o processo de trabalho das equipes de Saúde da Família que atuam no cuidado a
saúde da população do campo.
2.2 Objetivos específicos
a) Identificar as especificidades da população do campo e as percepções da equipe e dos
gestores sobre a saúde do campo;
b) Caracterizar o processo de trabalho da Equipe de Saúde da Família para a população do
campo;
c) Identificar no processo de trabalho da Equipe de Saúde da Família aspectos que levem
em consideração as questões de trabalho, cultura e vida dos moradores do campo.
20
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 A vida no campo
Ter as mãos calejadas do cabo das ferramentas,
Sentir o sol escaldante
e o aço das tormentas,
Regar com meu próprio sangue
a saúde das lavouras,
garantir com meu suor,
grandes safras duradouras,
Obter da terra virgem
total fertilidade,
meu calor, minha coragem,
tragando a tempestade, Assim é que me coloco,
sou poeta, sou posseiro,
neste mundo desafeto,
deste solo brasileiro.
Guerreando o granizo
e o fogo das sanções,
enfrento na minha enxada
a ganância dos patrões [...]
(LONGO,1982)
3.1.1 Campesinato Brasileiro
O texto de Longo (1982) traz características do camponês e aspectos da vida no campo
brasileiro. A força e resistência do trabalhador que tem as mãos calejadas do cabo da enxada e
a esperança que ao cuidar da terra e regar com seu esforço, terá sustento e alimento, porém
também coloca as conflituosas relações de trabalho entre patrão e empregado.
No imaginário social de nosso tempo o campo é associado a uma forma natural de vida, de
paz, inocência e virtudes simples e a cidade, num polo oposto, é imediatamente ligada à uma
ideia de centro de realizações, de saber, comunicações e de luz. Porém, a realidade do campo é
surpreendentemente variada, com modos de produção diferentes que engloba desde as práticas
mais ligadas ao campesinato tradicionais, como os criadores de animais, de pastores,
agricultores, a um modo de produção mais ligado ao modo de organização capitalista, com os
grandes empresários agroindustriais (REDIN, 2011).
21
A palavra camponês é compreendida como unidade produtiva camponesa, onde pessoas se
dedicam a uma produção agrícola e artesanal autônoma que, apoiada essencialmente na força e
na divisão familiar do trabalho, é orientada pela satisfação das necessidades familiares de
subsistência, como também mercantiliza parte da produção a fim de obter recursos monetários
para a compra de produtos e serviços que não produz (MAESTRI, 2004).
O núcleo familiar camponês mantém uma posse relativamente estável sobre a terra (meio de
trabalho), mesmo quando não possui sua propriedade. O que lhe permite investir trabalho na
potenciação da rentabilidade da terra e de sua exploração através de técnicas como a drenagem
e a irrigação. A capacidade de potencializar a fertilidade da terra pelo trabalho é um elemento
de fixação do camponês à terra, evitando as migrações do campo para a cidade (MAESTRI,
2004).
A partir dessa fixação no território o campesino traz a forte característica geracional, onde
os saberes do cuidado com a terra e modo de vida é passado de geração em geração, o que lhe
permite construir um saber tradicional. Assim, o campesinato temuma cultura própria, que se
refere a uma tradição tanto de parentesco, como também uma tradição cultural de sua
comunidade (WANDERLEY, 1996).
Muitas famílias camponesas para trabalhar a terra se utilizam da agricultura familiar,
entendida como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de
produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. O fato de uma estrutura produtiva
associar família-produção-trabalho tem consequências fundamentais para a forma como ela age
econômica e socialmente (OLIVEIRA, 2014). Nesse contexto a terra se coloca como centro de
fixação, de tradição entre gerações, de residência e de trabalho para essa população.
Para se entender como se dá o uso, a posse e a propriedade da terra é necessário estudar a
questão agrária do país e conhecer a natureza socioeconômico do campo. O uso da terra vai
determinar que produtos serão cultivados, para atender a que interesses. A posse da terra
determinam quais pessoas e suas categorias sociais vivem na terra. Já a propriedade é uma
questão de reconhecimento jurídica que garante o direito de uma pessoa sobre o bem no caso a
terra, e o proprietário pode cercá-la e ter absoluto controle sobre ela, impedindo que outros a
ela tenham acesso (STEDILE, 2012).
No Brasil o campesinato foi influenciado intensamente pela própria história da agricultura
brasileira:na época da colônia, importantes famílias portuguesas recebiam terras; a divisão dos
22
País nas sesmarias;a dominação econômica, social e política das grandes propriedades
principalmente de café em São Paulo, cana de açúcar no Nordeste e a produção de gado leiteiro
em Minas Gerais; a marca da escravidão que com a abolição deixou todo o povo negro, que
trabalhava na terra, sem terra e foi “libertada” sem fornecer meios à sua subsistência. Essa
concentração de terra na mão de poucos e as grandes desigualdades que ela acarreta, se perpetua
até hoje sob diferentes mecanismos.
No mundo a pobreza e os problemas de saúde são encontrados mais comumente em pessoas
que vivem em áreas rurais e remotas. Essa população tem a característica de ter suas casas
afastadas dos serviços básicos de saúde e educação o que dificulta o acesso dessa população a
esses serviços, além de normalmente essas regiões não disporem de água potável, saneamento
e transporte público o que deixa esses povos em condições precárias de saúde (BATISTA;
ALBUQUERQUE, 2014).
3.1.2 Cultura e o campo
No dicionário, a palavra cultura é definida como um conjunto de hábitos sociais e religiosos,
das manifestações intelectuais e artísticas, que caracterizam uma sociedade. Em relação a
etiologia, do latim cultura, culturae, que significa “ação de tratar”, “ cuidar de algo”, “cultivar”
ou “cultivar a mente e os conhecimentos”. Portanto, a palavra cultura carrega em suas raízes
diversas possibilidades refletidas também de como foi utilizada ao longo dos diferentes séculos.
Até o século XVI, o nome cultura estava ligado a prática agrícola ou de animais (por exemplo
a cultura do milho, cultura de aves); nos séculos XVIII e XVIII, a cultura começa a ter um
sentido mais figurado e ser relativo a um esforço despendido para o desenvolvimento das
faculdades humanas (CANEDO, 2009; CULTURA, 2017).
Na França Iluminista, a cultura foi entendida como algo ligado ao conhecimento, a luz da
instrução intelectual, e essa culturaainda traz sentidos relacionados a uma característica do
gênero humano. Essa visão mais ampla originou o conceito universalista em relação a cultura.
Na mesma época na Alemanha, os príncipes arraigados de conceitos nacionalistas,
correlacionaram o termo cultura a ideia de civilização, de características de um povo, dando
origem ao conceito particularista da cultura (CANEDO, 2009).
Partindo do conceito particularista, entende-se a cultura pela produção subjetiva e social de
valores, símbolos, normas e princípios que fundamentam práticas e costumes de um dado grupo
23
social ou nação. Assim, se admite que cada espaço territorial e os sujeitos que nele vivem tem
sua maneira singular de compreender e viver o mundo e que esse conhecimento é passado
através das diferentes gerações (CANEDO, 2009).
Os estudos que observam as culturas das diferentes sociedades ainda sinalizam para as
divisões de tipos de sociedade, como a sociedade primitiva (aquela que teve pouco contato com
outras culturas além da sua) e a sociedade complexa (onde a cultura é permeada por uma
estratificação de classes sociais, diferentes grupos étnicos, segmentos sociais de diversas
orientações religiosas, costumes regionais peculiares), visão essa que pode estar carregada de
juízo de valor sobre culturas “melhores” ou“piores” (LANGDON; WIIK, 2010).
No contexto nacional encontramos uma sociedade complexa constituída pela miscigenação
de culturas indígena, negra e europeia. O povo brasileiro formou uma cultura própria
constituída por elementos desses três povos. Contudo, o equilíbrio dessa formação de cultura
nunca foi favorável para a cultura negra e indígena, já que a cultura europeia sempre possuiu o
poder político, econômico e religioso eassim influencia de forma mais veemente no modo de
vida da população brasileira. Esse fato não impediu que a cultura indígena e africana se
enraizassem de forma marcante e trouxessema sua grande marca para a cultura brasileira.
Entretanto nas sociedades complexas como o Brasil onde diferentes culturas coexistem,
também existe a atribuição de valor para a cultura da classe historicamente dominante, sendo
essa supervalorizada em detrimento das classes subalternas. Esse processo de supervalorização
de apenas um modo de vida para toda uma sociedade se propaga principalmente através da
mídia, que influencia na brusca mudança de valores, substituindo antigos padrões de identidade
cultural por uma homogeneização próprios das culturas de massa (LUZ, 2005).
Essa homogeneização cultural nas populações do campo se reflete em um único ideal de
modo de vida, onde a vida urbana é retratada com glamour, atrelada a qualidade de vida e a
vida do campo é retratada como o modo de vida atrasado, o que leva muitas pessoas trocarem
o campo pelas periferias das grandes cidades. Contudo é necessário pontuar que a questão
cultural é importante mas não a única que determina o êxodo rural pois questões como falta de
investimento de políticas públicas nessa região, o não avanço da reforma agrária também são
fatores importantes nesse processo.
O que toca à saúde, esta detém um poder na sociedade dado por seu saber técnico e científico.
Na saúde pública brasileira já vivenciamos a utilização desse poder na atuação policialesca que
24
foi um dos motivosda revolta da vacina no Rio de Janeiro. A rotina do trabalho da saúde que
muitas vezes com um olhar higienista julga os costumes da população sem levar em
consideração suas crenças, imprimindo de forma dura “hábitos corretos” e “hábitos errados”,
sem procurar alternativas dentro do contexto de vida das pessoas, oprimindo e segregando os
indivíduos. E é nesse momento que o profissional inclui no seu fazer profissional seus próprios
valores de mundo, essaconfusão muitas vezes ocorre e é justamente nesse ato que a cultura do
outro é desconsiderada (FOUCAULT, 2012).
Certamente, é coerente e fundamental reconhecer a posição central da cultura na estrutura
do saber-fazer saúde. No que diz respeito principalmente ao autocuidado, a população o
realizareproduzindo práticas ligadas às suas heranças culturais, no Brasil essas heranças podem
ser dividas em medicina tradicional indígena e medicina de origem afro-americana (LUZ,
2005).
A medicina indígena, muito atrelada a interação com a natureza, xamânica ou não-xamânica,
é nativa dos países do continente Americano. São práticas principalmente ligadas a recursos
herbolários, minerais e animais de cada região. Como tem sua maior base no sistema homem-
natureza, a saúde está atrelada ao equilíbrio desse conjunto. O aspecto ligado às
crençasreligiosasna medicina indígena também adentram no cuidado à saúde, já que para essas
culturasmuitas vezes a causa do adoecimento está ligado ao binômio corpo-espírito, que para
eles pode ser afetado por feitiços, mau-olhado, a morte ao redor, entre outros (LUZ, 2005).
A medicina afro-americana é um cuidado marcadamente ligado a religião, foi introduzida
no Brasil através da chegada dos africanos escravos. Os negros, consolidaram seu cuidado com
a saúde com grande enraizamento no uso de ervas e no forte cunho espiritualista que se
manifestava através dos búzios e médiuns. Esses costumes foram transmitidos nas diferentes
gerações e hoje se manifesta através do Candomblé e da Umbanda (LUZ, 2005).
Nesse estudo, preferiu-se denominar os cuidados que a população do campo realiza como
práticas de autocuidado, entendendo que as culturas indígenas e africanas têm uma forte
influência sobre essa população já que historicamente vivenciaram a ausência do cuidado de
saúde fornecido pelo Estado o que fortaleceu as práticas de autocuidado tradicionais. Também
é importante pontuar que não só a cultura indígena e africana fazem parte desse autocuidado
regional, a cultura europeia também influenciou nessas práticas.
25
A partir da leitura dos artigos, o presente estudo se apoia no conceito particularista de cultura
e amplia ao entender que cultura diz respeito a um modo de viver e enxergar a vida, de se
alimentar, de realizar suas crenças, de realizar o autocuidado em saúde e o modo de se relacionar
com o outro.
3.2 Para entender a Saúde do Campo
A vida humana é determinada socialmente em todas as suas dimensões, inclusive a da saúde.
Compreender como se dá os processos de adoecimento e como são determinados é uma
necessidade para a saúde pública. A teoria da determinação social da saúde, que fundamentou
o movimento de reforma sanitária na conceituação da saúde de forma ampliada, supera a lógica
reducionista que fragmenta a vida a um modelo rígido de causalidade lineare positivista, dando
novos horizontes à atuação da Saúde Pública (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014; BREILH,
2013).
A partir desse olhar, o modo como a sociedade se organiza para produzir a vida é o aspecto
determinante de análise para o entendimentodo processo saúde-doença. Nessa perspectiva, para
compreender o processo de adoecimento na sociedade é preciso levar em consideração o modo
capitalista de produção e a divisão em classes sociais, pois na sociedade capitalista é vital
promover a exploração de parcelas da população para gerar acúmulo de capital. O resultado
desse processo de organização é uma imensa desigualdade socioeconômica entre as classes
sociais. Ou seja, o que o capitalismo precisa para sobreviver e progredir é exatamente o que
promove as iniquidades de vida entre os segmentos populacionais, e dessa forma influencia
diretamente no processo de adoecimento da população (ANTUNES, 2013).
A fim de diminuir o olhar para a determinação social os determinantes sociais trazem o
discurso de fatores de risco, que reduz o discurso da saúde a responsabilização das vítimas que
deverão encontrar individualmente meios de melhor viver, nas condições dadas pela sociedade
do capital (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014; SOUZA, 2013).
A determinação social da saúde não consiste em compreender apenas que a saúde depende
do acesso aos objetos humanos, mas que as possibilidades de realização do humano, e o acesso
aos produtos necessários para tal, dependem do grau de desenvolvimento das forças produtivas
e das relações de produção estabelecidas em cada formação social (ALBUQUERQUE; SILVA,
2014; SOUZA, 2013).
26
Indivíduos pertencentes à parcela da população que detém a posse dos meios de produção
têm possibilidades imensamente maiores de se colocar em condições de desenvolver ao máximo
suas potencialidades, pela maior possibilidade de apropriar-se dos objetos humanos produzidos.
Porém, esses mesmos indivíduos, estando, também, submetidos a relações sociais alienadas,
como ocorre no capitalismo, encontram-se em condições de subdesenvolvimento das
potencialidades obtidas pelo gênero humano (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014).
A ideia dominante, de identificação dos determinantes, é, portanto, insuficiente para
direcionar ações de saúde que contribuam efetivamente para a máxima realização do humano.
Para tal, seria necessário alterar o modo de produção. Assim, a determinação social do ser
humano se faz pela análise do modo de produção, do grau de desenvolvimento das forças
produtivas e das relações sociais estabelecidas (ALBUQUERQUE; SILVA, 2014; RÜCKERT.,
2012).
Ao se fazer o recorte das relações de classes na população do campo, entre os que detêm os
meios de produção e os que só detêm a força de trabalho, poderá observar grandes
disparidadessocioeconômicas.Os que detêm os meios de produção, principalmente aqueles com
posse de grandes lotes de terra (latifundiários), trazem a lógica da obtenção de grandes lucros.
Para tal, exploram a força de trabalho (muitas vezes na informalidade, com carga horária de
trabalho extensivas ebaixos salários), exploram a terra (utilização de agrotóxicos, maquinários
e sementes modificadas) para o aumento da produção (PEREIRA, 2012).
A busca por altos lucros no campo levam a consequências desastrosas, de acordo com dados
do Dossiê sobre os Agrotóxicos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a população do
campo está potencialmente exposta a substâncias químicas, agentes biológicos físicos e
psicológicos, impactando negativamente nos perfis de morbimortalidade (RÜCKERT, 2012).
O campo e a população que nele vive possuem características e uma cultura própria com
uma dinamização das relações sociais locais e de uma grande capacidade de resistência aos
efeitos desagregadores aos quais estão constantemente confrontados. Sua qualidade está
associada à importância da natureza no espaço do campo e às formas como a vida social é
priorizada, fundadas nos laços de proximidade e na sua capacidade de integração. Entretanto o
campo também é caracterizado pela dispersão da sua população, a ausência do poder público
no seu espaço, a ausência dos bens e serviços naturalmente concentrados na área urbana.
(WANDERLEY, 1996).
27
A forma como as relações sociais e de produção se dão nesse contexto podem ser
evidenciadas no processo histórico do campo bem como no processo de adoecimento dessa
população. Ao observar os dados epidemiológicos pode-se notar alarmantes números frutos da
exploração e invisibilidade histórica que esse povo sofreu.
No Brasil, historicamente o campo tem sofrido com a expansão do capital, primeiramente
na mão dos colonizadores europeus e depois pelo capital estrangeiro. As Políticas para o campo
durante esse período foram semprevoltadas para atender a exportação ao invés de priorizar as
necessidades do país. O processo de ‘modernização’ da agricultura, com a industrialização e os
pacotes tecnológicos que vieram com a Revolução Verde, chegouno Brasil com a ditadura
militar aumentando ainda mais a concentração de terra e piorando as condições de vida no
campo, o que por sua vez provocou migrações expressivas do campo para a cidade, já que o
camponês expulso de suas terras passou a buscar melhores condições de vida e de trabalho nas
periferias urbanas (PEREIRA, 2012).
De acordo com os dados do último Censo demográfico de 2010, o Brasil possui 15,6% de
sua população residente em domicílios rurais, uma população numericamente grande, porém se
for comparado esse número com a extensão territorial do país ela é pequena. Comparando as
regiões do país amaior população camponesa está na região nordeste (SOARES, 2014).
Ao analisar a esperança de vida ao nascer em municípios com população predominantemente
camponesa a média é de 71, 93 anos, menor que a apresentada para todo país em 2010 (73, 4
anos) (SOARES; et. al., 2014). Isso demonstra a relação da qualidade dos serviços públicos no
campo o que impacta diretamente na esperança de vida.
Com relação ao analfabetismo, o Censo demográfico de 2010 verificou o percentual de
pessoas que não frequentam a escola na faixa etária compreendida entre 10 e 17 anos, o que se
verificou foi que a árearural apresenta (11, 1%) de pessoas que não frequentam a escolaem
comparação com a população urbana (7, 9%). Fato que demonstra que a população urbana tem
mais acesso a serviços educacionais o que é primordial para um maior autocuidado da
população.
Segundo definição da Unesco (2000 apud LORENZO, 2007):
analfabetismo funcional
como a situação de instrução de alguém que
assina o próprio nome ou é capaz de fazer cál-
culos simples e ler palavras e frases isoladas,
mas não é capaz de interpretar o sentido dos
28
textos, não é capaz de usar a leitura e a escrita
para seu desenvolvimento pessoal, nem para
fazer frente às suas demandas sociais.
Assim sendo, a educação é uma ferramenta extremamente útil para combater a pobreza e a
desigualdade, elevar os níveis de saúde e bem estar social, criar as bases para
um desenvolvimento econômico sustentável e a manutenção de uma democracia duradoura.
Questões de extrema importância que interferem na saúde pública são os sistemas de
abastecimento de água e de esgoto das cidades, pois a água não tratada e os depósitos
inadequados sãointimamente ligados a transmissão de várias doenças infectocontagiosas.
Contudo, segundo Food and Agriculture Organization (2013), no campo esses sistemas são
ineficientes e chegam para um número reduzido de pessoas. Esses fatos contribuem para o alto
índice de doenças infectocontagiosas nessas regiões. Abaixo podemos ver algumas doenças
relacionadas a fatores como saneamento básico deficitário (SOARES, 2014).
29
Figura 1 - Lista as Doenças relacionadas ao saneamento básico deficitário
Fonte: Heller (1997 apud SOARES, 2014)
O descaso do poder público é evidente, e questões como serviços de coleta de lixo,
escoamento sanitário, iluminação elétrica e água por rede pública ainda são um problema a ser
sanado. Dados mostram que apenas 1,5% das famílias cadastradas no Programa Bolsa Família
residente na zona rural tem acesso aos serviços citados (CAMPELLO; NERI, 2013; SOARES,
2014).
Em relação às questões relacionadas a gênero, o campo apresenta fortes segregações no que
diz respeito ao trabalho e a violência. Podemos visualizar isso ao constatar que, embora a taxa
de analfabetismo entre as mulheres rurais seja levemente inferior que a dos homens, elas
apresentaram renda individual média inferior que a dos homens em todo o período de 1992 a
2009 (SOARES, 2014).
30
Se formos observar a área da saúde da mulher do campo, de acordo com o Sistema de
Informação da Atenção Básica (SIAB) em 2015, dentre as gestantes residentes em área rural,
23,5% apresentaram idade inferior a 20 anos. Entretanto as mulheres do campo, quando tem
acesso ao serviço, aderem bem ao pré-natal: 97, 3% das gestantes, residentes em área rural,
acompanhadas pelos Agente Comunitário de Saúde (ACS) estavam com pré-natal em dia.
Também observa-se segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
suplemento de saúde de 2008, que os partos normais em mulheres residentes em área campo
são mais frequentes do que entre mulheres residentes em área urbana, o que pode estar
diretamente ligado a questões culturais (SOARES, 2014).
Na área da saúde da criança, de acordo com o SIAB em 2011, do total de crianças 10,4%
eram de mães residentes em área do campo e destas 2, 3% foram a óbito com idade até 11 meses
e 29 dias. Os óbitos neonatais - que compreendem a faixa etária de até 27 dias- normalmente
estão relacionadas com condições perinatais, genéticas e anomalias congênitas, já os óbitos de
28 dias a 11 meses e 29 dias estão ligadas àscondiçõessocioeconômicas-ambientais. Um grande
número de óbitos podem ser evitados com boa assistência de saúde na gestação, parto, pós parto
e melhorando as condições de vida ( SOARES, 2014; VICTORIA et al., 2011).
3.3 Trajetória da luta por Saúde do Campo
Ainda hoje, as populações mais invisíveis para as políticas públicas do Estado, são os
camponeses, populações atingidas por barragens, extrativistas, pescadores, ribeirinhos,
quilombolas, indígenas, dentre outras (CARNEIRO et al., 2014). Para modificar essa realidade
o povo camponês lutou por melhores condições de vida ao longo das últimas décadas.
No início do século XX as políticas de saúde chegaram ao campo com ações pontuais que
não traziam grandes mudanças no cenário de saúde, a primeira ação voltada para essa população
foi a Liga Pró-Saneamento do Brasil no ano de 1918. A liga defendia uma reforma sanitária
que ampliasse os serviços de saúde rumo ao interior do país.Em 1956 foi criado o Departamento
Nacional de Endemias Rurais (DNERu), que tinha como objetivo a unificação sob uma
coordenação os diferentes órgãos responsáveis por cada endemia (AQUINO et al., 2014;
BARBOSA JUNIOR et al., 2015; ESCOREL; TEIXEIRA, 2008).
Na década de 1950 ocorre um fortalecimento das lutas no campo com o surgimento da Ligas
Camponesas, porém em 1964 com o Golpe Militar, a repressão à luta dos camponeses por
31
melhores condições de vida se intensifica. Em 1974 foi criado o Fundo de Assistência ao
Trabalhador Rural (FUNRURAL), permitindo o acesso de trabalhadores rurais, com carteira
assinada, a um modelo de assistência tipicamente curativa (CARNEIRO, 2007; CARNEIRO et
al., 2007).
Em 1976 foi criado pelo Ministério da Saúde o Programa de Interiorização das Ações de
Saúde e Saneamento e em 1980 o Programa de Ações Integradas de Saúde, de abrangência
nacional que permitiu a construção de Unidades Básicas de Saúde (AGUIAR, 2011; BRASIL,
2008; BÚRIGO, 2010; CARNEIRO, 2007; CARNEIRO et al., 2007).
Como forma de garantir o que preconiza a Constituição Federal de 1988 na direção de se
efetivar as lutas de redemocratização do país nessa década, foi criado um Sistema público e
universal, o Sistema Único de Saúde, tendo como princípios: universalidade, integralidade e
equidade. Com a implementação do SUS equipes de saúdeforam implantadas no território, mais
próximo da população com uma lógica de saúde ampliada, voltada para as necessidades da
população. A população do campo apesar de também ser incluída com essa nova estratégia,
ainda não consegue observar suas necessidades contempladas pelas políticas de saúde criadas
num modelo ainda muito centrado no urbano (CARNEIRO, 2007; MATIELO, 2009).
Com o esforço dos movimentos sociais é instituído o Grupo da Terra criado em 2005,
formado pelo movimento social e gestores a fim de garantir a formulação de políticas públicas
específicas tendo como foco populações prioritárias e que consigam realmente tornar visível as
demandas do campo. Em 2011, foi publicada a Política Nacional de Saúde Integral das
Populações do Campo e da Floresta e das Águas, representando uma grande vitória da luta por
saúde (BRASIL, 2005, 2008; CARNEIRO et al., 2014).
A Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas
reconhece a dívida histórica do Estado brasileiro com a saúde dessas populações, apresenta a
necessidade de superação do modelo de desenvolvimento econômico e social na busca de
relações homem–natureza responsáveis e promotoras da saúde (CARNEIRO et al., 2014).
Com o estímulo do Grupo da Terra e a pressão de movimentos sociais, o principal avanço,
em termos da saúde para o campo, que o Sistema Único de Saúde apresentou nos últimos anos
foi a expansão da Estratégia Saúde da Família (ESF) para as populações de que trata a
PNSIPCFA, mais fortemente, para assentamentos da Reforma Agrária e de remanescentes de
quilombos (BRASIL, 2008).
32
Segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde(CNES), no mês de
referência junho de 2013 no Brasil, a EqSF quilombola/assentados estava implantada em 1.294
municípios totalizando 2.548 equipes nessa categoria. As EqSF estão presentes em todas as
regiões do país, porém mais fortemente na região nordeste (43, 6%). É também na região
nordeste onde se concentra a maior parte dos remanescentes de quilombos (SOARES, 2014).
Em 2013, mês de referência dezembro, a Cobertura populacional (urbana e camponesa)
estimada pelas EqSF foi 56, 37%, são 5.346 municípios atendidos em todo país. Por levar em
consideração o tamanho da população municipal, esta cobertura fica comprometida em grandes
áreas rurais com baixa densidade populacional, situação muito comum no norte do país
(SOARES et al., 2014).
As entidades internacionais também estão preocupadas com a saúde da população do campo
e encontros como o da Cúpula da Terra, realizada em Joanesburgo, África do Sul desenvolveu
um Plano de Ação para a saúde do campo. Já a Conferência Internacional sobre Saúde Rural
realizada em Traralgon, Austrália, ambas realizadas em 2002, vêm propondo estratégias para
melhorar o cuidado a essas populações (WONCA, 2003).
O plano de ação traçado traz alguns apontamentos para a saúde do campo, como: o
compromisso aos cuidados primários de saúde e utilização de recursos de saúde para as pessoas
mais necessitadas; a busca por opções estratégicas para implementar a nível local a
autossuficiência; a integração ensino-serviço para que as pesquisas realizadas na área possam
dar subsídio ao desenvolvimento local; a construção e a valorização de um olhar integral de
todas as profissões da saúde; a garantia de uma distribuição equitativa dos recursos da saúde e
do investimento; garantia de que todas as políticas, processos de planejamento e prestação de
serviços sejam centrados nas pessoas e guiados pela comunidade; atuação com equipes
multiprofissionais, integradas entre si e com a comunidade; suporte em tecnologias de
informação para ambientes do campo (WONCA, 2003).
Portanto, para implementar com sucesso um Plano de Ação como esse, pensado nos
encontros internacionais de saúde, é necessário uma abordagem coesa da política de saúde do
campo além de iniciativas específicas para essas áreas que permitam a inovação, com foco no
desenvolvimento intersetorial integrado e com planejamento e avaliação das ações realizadas
(WONCA, 2003).
33
3.4 Atenção Primária à Saúde e Equipe de Saúde da Família
A Atenção Primária à Saúde (APS) foi desenvolvida enquanto estratégia para o cuidado à
saúde na década de 1970, alguns marcos históricos impulsionaram esse surgimento, como o
relatório Lalonde,que indicou os estilos de vida e ambiente como responsáveis pelas causas das
doenças; a Conferência de Alma Ata, que estabeleceu a APS como estratégia fundamental e a
porta de entrada do sistema de saúde com capacidade para resolver 80% dos problemas de saúde
da população; e a Conferência de Promoção à Saúde em Otawa (1986), que resultou na Carta
de Otawa - documento que propõe um conceito amplo de saúde, compreendida como “bem-
estar físico, mental e social” e sinaliza a importância da interação entre diferentes setores
(ONOCKO-CAMPOS et al., 2011; SUNDFELD, 2010; WESTPHAL, 2006).
A partir desses referenciais, a APS trouxe um olhar mais amplo em saúde, priorizando a
prevenção e a promoção da saúde e diminuindo o foco no modelo até então vigente -
hospitalocêntrico, médico-centrado e com ações apenas curativas. Estudos como os de Starfield
(2002) que compararam diferentes modelos de saúde em diferentes países constatou que os
países que adotaram um modelo descentralizado e focado na prevenção e promoção, atingiram
a eficácia em relação à níveis de saúde e custos mais baixos, o que demonstrou a eficácia da
APS (CAMPOS; GUERREIRO, 2010).
Entretanto, muitos ainda apontam a APS como algo primitivo, simples que tem uma menor
complexidade e dessa forma desvalorizam o trabalho na APS. Contudo, o trabalho do
profissional da APS é mais complexo por ter que lidar com os sujeitos e coletividades em seu
território, sendo um trabalho mais árduo justamente pela falta de preparo em lidar com esse
nível da atenção a saúde, e com o pouco preparo para desenvolver atividades consideradas de
tecnologia leves, como acolhimento, busca ativa, clínica ampliada e compartilhada, co-gestão
e conselho de comunidade, vínculo entre equipe e usuário, planejamento situacional do
território (CAMPOS; GUERREIRO 2010).
Em 1994 o governo brasileiro implementou o Programa de Saúde da Família tendo grande
impacto na saúde da população. Após doze anos de êxitos no programa, o governo o renomeou
como Estratégia de Saúde da Família, fortalecendo o seu caráter permanente, bem como a sua
importância na organização e reorientação do modelo de atenção à saúde (ANDRADE, 2006;
BRASIL, 2006).
34
Com a EqSF, os profissionais de saúde precisam trabalhar em equipe, pois são os
responsáveis pelo cuidado de um número fixo de famílias adstritas no território. O trabalho da
EqSF abarca tanto ações de promoção, prevenção, intervenção quanto tarefas administrativas,
reuniões de equipe e comunidade para planejar as ações (ANDRADE; BARRETO; BEZERRA,
2006 apud SUNDFELD, 2010; BRASIL, 2012; SANTOS; LACAZ, 2012).
As EqSF são compostas por um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de
enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde (ACS). Algumas equipes contam
ainda com um dentista e um técnico em odontologia. Cada equipe é responsávelpor até 4000
pessoas. A atuação da equipe se dá junto à família, que deve ser compreendida sócio-histórica-
cultural e economicamente (BRASIL, 2006; SUNDFELD, 2010).
Nesse contexto, a ESF surgiu como forma de reorientar o modelo de atenção à saúde,
apontando a necessidade de reorganização dos serviços a partir das necessidades da população.
Logo, a estratégia foi implantada com o propósito de atender os princípios do SUS e fortalecer
o modelo de atenção à saúde preconizado, elegendo como ponto central o estabelecimento de
vínculos e a criação de laços de compromisso e de corresponsabilidade entre os profissionais
de saúde e a população, tendo como base as necessidades e prioridades do território,
desenvolvendo seu trabalho com uma equipe multidisciplinar.
A identificação dos problemas de saúde nos territórios deve abarcar suas vulnerabilidades e
a sua determinação. Para conhecer esses fatores a APS, ou Atenção Básica (AB), é desenvolvida
em um alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no local o mais próximo das
vidas das pessoas.As EqSF para poder criar vínculos, respeitar as singularidades e identificar
as principais demandas da população que acompanha, deve seguir osprincípios da AB. São eles:
a) Território adscrito: As EqSF prestam o serviço de saúde para uma população adstrita,
com o objetivo de realizar um cuidado longitudinal, baseado em um planejamento de
acordo com os indicadores de saúde e as necessidades dessa comunidade. Esse trabalho
de acompanhamento de acordo com as características da comunidade tem como base a
atividade descentralizada, porém articulada dentro de uma rede de saúde e com os
demais setores. Ocuidado à saúde, parte da concepção de território enquanto resultante
da acumulação de situações históricas, ambientais, sociais que promovem condições
particulares para a produção de saúde e doenças (BRASIL, 2011; GONDIM et al.,
2016);
35
b) O acesso universal e contínuo: A AB é caracterizada como a porta de entrada
abertapreferencial da rede de atenção, tem a função de acolher os usuários e
acompanhar a saúde dos indivíduos nas diferentes fases de vida. O trabalho da atenção
básica também traz a corresponsabilização do usuário como uma necessidade. O
estabelecimento de mecanismos que assegurem acessibilidade e acolhimento pressupõe
uma lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde que parte do princípio
de que a unidade de saúde deve receber e ouvir todas as pessoas que procuram os seus
serviços, de modo universal e sem diferenciações excludentes. A proximidade e a
capacidade de acolhimento, vinculação, responsabilização e resolutividade são
fundamentais para a efetivação da atenção básica como contato e porta de entrada
preferencial da rede de atenção (BRASIL, 2011; JESUS; ASSIS, 2011; PONTES et al.,
2009);
c) Adscrever os usuários e desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as
equipes e a população adscrita é imprescindível, pois apartir de relações fortes com a
comunidade, o profissional desenvolve um trabalho mais implicado com as demandas
e garanteum cuidado significativo, a continuidade das ações e a longitudinalidade do
cuidado. Durante a territorialização onde ocorre aadscrição dos usuários se inicia o
processo de vinculação de pessoas e/ou famílias e grupos a profissionais/equipes, com
o objetivo de ser referência para o seu cuidado. O vínculo, por sua vez, consiste na
construção de relações de afetividade e confiança entre o usuário e o trabalhador da
saúde, permitindo o aprofundamento do processo de corresponsabilização pela saúde,
construído ao longo do tempo, além de carregar, em si, um potencial terapêutico. A
longitudinalidade do cuidado pressupõe a continuidade da relação clínica, com
construção de vínculo e responsabilização entre profissionais e usuários ao longo do
tempo e de modo permanente, acompanhando os efeitos das intervenções em saúde e
de outros elementos na vida dos usuários (BRASIL, 2011; COELHO; JORGE, 2009);
d) Coordenar a integralidade em seus diversos níveis, nas ações programáticas e
demanda espontânea; articulando as ações de promoção à saúde, prevenção de agravos,
vigilância à saúde, tratamento e reabilitação; trabalhando de forma integrada,
multiprofissional, interdisciplinar e em equipe; realizando a gestão do cuidado integral
do usuário e coordenando no conjunto da rede de atenção. Essa organização pressupõe
o deslocamento do processo de trabalho centrado em procedimentos profissionais para
um processo centrado no usuário (BRASIL, 2011; PINHEIRO, 2016);
36
e) Estímulo da participação dos usuários:a AB tem como um dos seus princípios a
estimulação da participação do usuário no controle social, e dessa forma ajuda a
fomentar cidadãos mais empoderados das questões ligadas ao seu processo de
adoecimento, aos seus direitos, e assim trabalha a autonomia do sujeito e propicia a
capacidade na construção do cuidado à sua saúde e coletividades do território,
configurando um processo progressivo e singular que considerao usuário como um
agente ativo e corresponsável (BRASIL, 2011; STOTZ, 2009).
Os princípios que a AB trazsão complementados por outrosconceitos que corroboram com
os princípios. Assim, os conceitos deempoderamento da comunidadeé algo central a ser
trabalhado pelas equipes, pois é a partir dele que se estimula a implicação da população em seu
processo de saúde. Nesse sentido, pode-se trabalhar as seguintes questões: Que mecanismos
precisa-se estabelecer para permitir a entrada no planejamento e prestação de serviços de saúde
dentro das comunidades? Quem são os principais atores e quais os acordos de colaboração ou
parcerias que precisa-se estabelecer? Que redes locais que precisam ser criadas? O que os
governos precisam fazer para criar o enquadramento político para auxiliar na capacitação da
comunidade? (WONCA, 2003).
As EqSF, ao se implicar nas necessidades do povo, podem trazer questionamentos como:
que parcerias a nível local pode-se estabelecer para melhorar a integraçãoentre a assistência ao
paciente e prestadores de saúde pública? Como fortalecer as relações entre aassistência direta
ao paciente e a rede de serviços de saúde pública? Como monitorar e avaliar os resultados?
Como desenvolver abordagens multidisciplinares de cuidados de saúde epromover o trabalho
em equipe na prestação de serviços? Como estabelecer parcerias que facilitem o
compartilhamento de recursos para combater as desigualdades na saúde? (WONCA, 2003).
Outras questões também podem ser elaboradas para realizar um serviço de qualidade na AB
que chega no campo. Quais são as necessidades de saúde locais? Como prestar um melhor
atendimento? Quais as informações são necessárias aoplanejamento de serviços de saúde nas
comunidades do campo? Quais os modelos de cuidado de saúde do campo podemos aprender
e aplicar? Quais as evidênciasexistentes para melhorar a práticada saúde do campo? (WONCA,
2003).
37
3.5 Trabalho em Saúde
O trabalho é uma ação previamente projetada, dirigida a um determinado resultadoque já
tinha uma existência no campo das ideias (MARX, 1965). Através dele, os seres humanos
transformam a natureza e a própria sociedade, alcançando assim suas potencialidades, e
ampliando, essas próprias potencialidades. Também pode-se dizer que o trabalho é o conjunto
de atividades pelos quais os homens atuam, através dos meios de produção, sobre algum objeto
para ao transformá-lo consigam obterdeterminado produto ou algum objetivo.
(ALBUQUERQUE; SILVA, 2014; ANTUNES, 2013; FARIA et al., 2009)
Os objetos a serem transformados podem ser materiais, elaborados ou não previamente, ou
podem ser condições pessoais ou sociais. Os meios de produção ou instrumentos de trabalho
podem ser máquinas, ferramentas ou equipamentos em geral, mas também, em uma visão mais
ampla, podem incluir conhecimentos e habilidades. Os homens são os agentes de todos os
processos de trabalho em que se realiza a transformação de objetos ou condições para se atingir
fins previamente estabelecidos, o produto por sua vez, vai ser distribuído na sociedade e essa
distribuição se dará de forma desigual, já que estamos em uma sociedade capitalista
(ANTUNES, 2013; PEDUZZI; SCHRAIBER, 2009).
A saúde é entendida como um trabalho, já que é realizada para atender um objetivo, que
nesse caso é atender as necessidades humanas em saúde. Essas necessidades mudam de acordo
com o período histórico, assim, dessa forma a saúde tem um caráter histórico, porém além dele
também é social, isso porque seu “objeto” de intervenção é o homem em sociedade (LONGHI,
2010).
No final da década de 1960 Maria Cecília Ferro Donnangelo inicia seus estudos sobre a
profissão médica, o mercado de trabalho em saúde e a medicina como prática social. Ricardo
Bruno Mendes Gonçalves, discípulo e colaborador de Donnangelo, foi o autor que formulou o
conceito de processo de trabalho em saúde, a partir da análise do processo de
trabalho médico (SCHRAIBER et. al., 2009; PEDUZZI; SCHRAIBER, 2009).
O trabalho em saúde deve atender as generalidades e individualidades do ser humano.
Infelizmente, o “modelo” de saúde que predomina na atualidade é o biomédico, nele o sujeito
é visto, principalmente, em sua dimensão biológica, em detrimento dos aspectos sociais e
culturais (LONGHI, 2010).
38
Entretanto, o SUS e a APS tem o desafio de modificar essa realidade e reorganizara prática
da saúde em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência. As
EqSF tem como centroas famílias e seu territórios físicos e sociais, o que proporciona uma
compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que vão
além de práticas curativas.Essa nova configuração do trabalho em saúde exige a utilização de
novas tecnologias para operar o trabalho em saúde. No entanto, esses instrumentos estão sendo
construídos e incorporados no cotidiano da relação de vínculo entre trabalhadores e pacientes.
Isso exige uma melhor organização e gestão dos processos de trabalho em saúde (SCHRAIBER
et. al., 2009; LONGHI, 2010).
A reflexão sobre as questões do trabalho constitui estratégia fundamental às transformações
deste, para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e
tecnicamente competente. Assim, o trabalhador pode superar a formação normalmente
constituída apenas por práticas tradicionais da saúde e consiga desenvolver um cuidado mais
integral. A fim de aumentar a compreensão desse fazer na saúde é necessário refletir sobre qual
é o objeto de trabalho; quais são os meios de produção; quem são os agentes e como se
relacionam e como se dá a organização do trabalho. Segundo Faria et al. (2009) esses aspectos
podem ser sintetizados da seguinte forma:
a) Objeto de Trabalho: O objeto de trabalho é o próprio fazer na saúde e visa o bem estar
do indivíduo;
b) Agente ou sujeito/Relação de Produção: No trabalho, sempre se tem os sujeitos que
executam as ações, para tal estabelece os objetivos e as relações de adequação dos meios
e condições para a transformação dos objetos. A atividade pode ser realizada apenas por
um indivíduo, mas nos processos de trabalho em geral, trata-se de uma equipe de
profissionais com um objetivo em comum, no caso da saúde encontramos as equipes
multiprofissionais. A maior parte dos processos de trabalho, individuais ou de equipe,
realiza-se dentro de organizações sociais ou instituições especialmente constituídas para
um determinado fim. Assim, os objetivos desses trabalhadores são estabelecidos e
realizados em todos esses níveis (social, institucional, de equipe ou grupo e individual).
Portanto, dependendo da perspectiva de análise, o agente do trabalho pode e deve ser
visto como um indivíduo, um grupo ou equipe, uma instituição ou uma sociedade;
c) Meios de Produção: Todo processo de trabalho é desenvolvido com o uso de meios
específicos para cada condição particular. Os meios e condições de trabalho se
39
combinam na realização do trabalho, por meio da atividade produtiva. Eles abrangem
um espectro muito amplo que vai desde ferramentas e estruturas físicas para o trabalho
(como máquinas, equipamentos) até os conhecimentos técnicos, levantamento sócio-
demográfico e econômico das comunidades, escalas utilizadas, sistematizados ou não,
e as habilidades utilizadas no processo de trabalho, comumente chamados de meios
intangíveis;
d) Organização do Trabalho: A organização do trabalho é composta por vários
componentes. Alguns desses componentes são regulamentados centralmente pelo
Ministério da Saúde como o formato da equipe, as funções de cada profissional, a
estrutura, o cadastro das famílias, o levantamento dos problemas de saúde existentes no
território. Mas outros componentes são de dimensão mais regional e próprias das EqSF
de acordo com suas necessidades como as agendas, as reuniões e organização da
demanda.
Existe a necessidade de uma reflexão crítica e contínua sobre os processos que compreendem
o trabalho como uma característica da humanidade, quecontribui para o processo do
desenvolvimento humano. O grau de dificuldade dessa reflexão aumenta com a complexidade
e com a indeterminação dos processos de trabalho. Quanto mais complexo o processo de
trabalho e quanto menos sistematizado ele for, mais difícil será refletir sobre ele (FARIA, 2009;
REIS et al., 2007).
Esse estudo foi embasado no olhar de processo de trabalho segundo Faria et al (2009) para
realizar a análise sobre o processo de trabalho da EqSF do campo.Para o estudo se considerou
que:
a) O objeto seria o próprio fazer da saúde do campo que deve estar atrelado a vida, cultura
e trabalho dos moradores;
b) Os agentes ou sujeitos da saúde no campo da EqSF são todos os atores envolvidos no
trabalho de saúde no território do campo, profissionais de nível superior (médicos,
enfermeiros), nível técnico e nível médio, também são considerados os gestores que
atuam diretamente com a equipe, as demais equipes que realizam o apoio a EqSF
(NASF, Residentes) e os graduandos. O modo como esses atores se relacionam faz parte
da análise sobre os agentes;
c) Meios de Produção da saúde do campo são compostos pela estrutura física (Unidade,
salas, meio de transporte, insumos); conhecimentos técnicos clínicos (o saber do núcleo
40
profissional e de escalas e protocolos ministeriais para os procedimentos clínicos);
conhecimentos técnicos não clínicos (conhecimento sobre o campo da saúde pública,
sobre o território, sobre as especificidades do território); conhecimentos
epidemiológicos e sócio demográfico, econômico da loalidade;
d) Organização do Trabalho se relaciona ao componente mais normativo definidos pelos
gestores municipais e pelo Ministério da Saúde, composição da equipe, função de cada
profissional. E os menos normativos definidos pelos gestores municipais e profissionais
de saúde, sendo eles a realização de territorialização (cadastramento das famílias e
pessoas, levantamento dos principais problemas de cada microárea), definição das
agendas, organização dos horários de trabalho e uso dos meios de produção, definição
das reuniões organizativas da EqSF internamente ou com atores externos, modo da
organização da demanda do território.
41
4 PERCURSO METODOLÓGICO
4.1 Desenho do estudo
Com o desejo de alcançar os objetivos propostos pelo estudo, optou-se, por uma pesquisa
tipo estudo de caso, que utilizou a metodologia qualitativa. Esse tipo de estudo é utilizado
quando se colocam questões do tipo "como" e "por que", quando o pesquisador tem pouco
controle sobreos eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos
em algum contexto da vida real. Além desses fatores, o estudo de caso contribui para a
compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos (YIN,
2001).
4.2 Período de coleta
A coleta de dados desenvolveu-se no período de outubro à dezembro de 2016.
4.3 Área do Estudo
A pesquisa foi desenvolvida em uma EqSF do campo localizada no município de Caruaru/PE
(Figura 2). O município possui áreas urbanas e rurais, na figura (3) observamos o mapa do
município de Caruaru e a sinalização das equipes de Saúde da Família da cidade e do campo.
Também é importante destacar que a EqSF do campo estudada, bem como seu território se
configuram como campo de prática para a Residência Multiprofissional em Saúde da Família
com ênfase no campo da Universidade de Pernambuco, Residência em Medicina de Família e
Comunidade da Universidade Federal de Pernambuco campos Caruaru.
42
Figura 2 - Mapa referente ao município de Caruaru
Fonte: Programa das Nações Unidas Para O Desenvolvimento, Instituto de pesquisa econômica aplicada e
Fundação João Pinheiro (2013).
Figura 3 - Mapa referente as equipes de Saúde da Família de Caruaru
Fonte: Caruaru (entre 2006 e 2016).
43
4.4 População do Estudo
A população do estudo foram compostos pelos profissionais de uma EqSF com atuação em
áreas rurais e os gestores de saúde de Caruaru, tendo sido entrevistados um total de 11 pessoas
em dois principais grupos:
a) 8 profissionais da EqSF do campo, sendoum médico, um enfermeiro, um técnico
de enfermagem, 2agentes de saúde, dentista, residente médicoe o motorista.
b) 3 Gestores, sendo a secretária de saúde do Município, a coordenadora da atenção
básica e a chefia imediata da EqSF do campo.
Os critérios de inclusão para participação no estudo foram:
a) Ser integrante da Equipe de Saúde da Família ou da gestão do município de Caruaru;
b) Trabalhar como integrante da Unidade de saúde da família ou da gestão há no
mínimo 1 ano.
4.5 Técnicas de coletas e fontes de dados
Os dados coletados foram qualitativos com o intuito de revelar a percepção dos
sujeitos/atores do estudo. No decorrer da pesquisa, foram utilizadas diferentes fontes de dados
e distintos documentos, o que segundo Minayo (2014) se caracteriza como uma triangulação
metodológica. A presente pesquisa utilizou três diferentes tipos de técnicas afim de poder
mostrar distintos dados sobre as mesmas temáticas, a partir de diferentes perspectivas, que
foram: a perspectiva documental, a perspectiva vivencial - através do diário de campo - e a
perspectiva dos atores do processo - através das entrevistas (MINAYO, 2014).
A pesquisa se desenvolveu seguindo os passos:
4.5.1 Documental
Foi realizado o levantamento dos documentos oficiais da gestão, e relatórios referentes ao
trabalho da EqSF estudada através da solicitação dos estudos realizados por instituições de
ensino e gestão.
44
Os documentos oficiais foram extraídos pela plataforma Sistema de Apoio à Construção do
Relatório de Gestão (SARGSUS) e assim foi analisado o Plano Municipal de Saúde (PMS)
2014 a 2017; o Plano Anual de Saúde (PAS) de 2014; o Relatório Anual de Gestão (RAG) de
2014; o Plano Anual de Saúde de 2015. Durante a leitura, foram extraídos os trechos em que
assuntos relacionados ao cuidado da população do campo direta ou indiretamente eram
mencionados (CARUARU, 2014a, 2014b; CARUARU,2015a, 2015b).
Também foi realizado a busca quantitativa de palavras chaves nos relatórios como rural,
campo, agricultura, costura, agrotóxico, raios solares, benzedeiras, plantas medicinais e
rezadeiras. Cabe ressaltar que no momento da busca na plataforma alguns documentos ainda
não estavam disponíveis, entre eles, o Relatório Anual de Gestão de 2015; Plano Anual de 2016
e o Relatório Anual de 2016, por esse motivo não foram analisados.
Abaixo está descrito na figura (4) a coleta de dados dos documentos de gestão.
Figura 4 - Fluxograma da coleta de dados dos documentos de gestão
Fonte: Autora
Os documentos da Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase na Saúde
das Populações do Campo da Universidade de Pernambuco também foram analisados, sendo
um total de 3 documentos disponibilizados: o Relatório de Territorialização (RT), Escala
modificada de Risco de Coelho e Savassi e o Protocolo de Cuidado à Criança
(UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, 2015a, 2015b, 2015c)
Abaixo estão descritos no Quadro 1 todos os documentos analisados.
Busca de documentos da Gestão de Caruarua no
SARGSUS (3 documentos)
Leitura dos documentos em busca de trechos relacionados
à saúde da população do campo (3 documentos)
Busca de palavras chaves nos documentos através da
ferramenta localizar
45
Quadro 1 - Distribuição dos documentos analisados por município
Instituição Documentos analisados Total
Município de Caruaru
Plano Municipal de Saúde de 2014-2017
(CARUARU, 2014a)
01
Plano Anual de Saúde de 2014 e 2015
(CARUARU, 2014b; CARUARU,
2015b)
02
Relatório Anual de Gestão de 2014
(CARUARU, 2015a)
01
Universidade de
Pernambuco
Territorialização 2015
(UNIVERSIDADE DE
PERNAMBUCO, 2015a)
01
Escala de Risco de Coelho-Savassi
modificada para atuação no Campo 2015
(UNIVERSIDADE DE
PERNAMBUCO, 2015b)
01
Protocolo de Saúde da Criança 2015
(UNIVERSIDADE DE
PERNAMBUCO, 2015c)
01
Total 07
Fonte: Autora
4.5.2 Observação Participante
Foi realizada ainda uma aproximação com a Equipe de Saúde da Família e com o território
em um período de 15 dias, através de um processo de observação participante, onde a
pesquisadora vivenciou o cotidiano da EqSF, participando de aspectos próprios do processo de
trabalho da EqSF, como também atuando enquanto um espectador atento (RICHARDSON,
2014).
A pesquisadora participou de atividades como: acolhimento; atendimentos médicos;
puericultura com a enfermeira; visitas domiciliares com os Agentes Comunitários de Saúde;
visitas domiciliares com o médico; atividades de interação ensino e serviço no Programa de
Educação pelo Trabalho (PET) da UFPE; atendimento médico em pontos estratégicos em áreas
distantes, grupo de gestantes; grupo de terapia comunitária; ação comemorativa do outubro
rosa; atendimento da dentista na unidade; atividade educativa da dentista na escola; realização
de vacinação, aferição de pressão arterial e realização de curativos feitos pela auxiliar de
enfermagem; utilização do transporte da Unidade junto aos profissionais; diálogo com usuários
na sala de espera do acolhimento e nas visitas domiciliares. Todos esses dados advindos do
46
processo de observação foram registrados no Diário de Campo com o máximo de informações
relevantes para o trabalho.
É importante observar que durante o período em que esteve no território, a pesquisadora
ficou hospedada no Centro de Formação do MST, que fica em Normandia - área adscrita da
USF do campo–vivenciando esse território tanto na perspectiva da comunidade quanto também
junto aos profissionais, uma vez que participou de alguns momentos de seu processo de
trabalho, incluindo o transporte que esses profissionais utilizam para ir para a Unidade.
4.5.3 Entrevistas
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os participantes do estudo (profissionais
de saúde e com os gestores) com o roteiro de questões centrais relacionadas ao tema. Estes
roteiros nortearam a coleta dos dados qualitativos, oferecendo aos interlocutores a possibilidade
de se expressarem abertamente sobre o seu processo de trabalho e o cuidado de saúde que
ofertam (APÊNDICE A). As entrevistas foram gravadas e tiveram média de 40 minutos cada e
foram realizadas no local de trabalho dos profissionais. As entrevistas foram posteriormente
transcritas e identificados como P1 a P8 para os profissionais da Unidade e G1 a G3 para os
gestores para garantir a confidencialidade dos participantes.
Abaixo está descrito na figura (5) os passos para a realização das entrevistas.
Figura 5 - Fluxograma para as entrevistas
Fonte: Autora
4.5.4 Diário de Campo
Durante o processo da observação participante e logo após as entrevistas, a pesquisadora
relatou as suas impressões no Diário de Campo. O diário de campo é uma ferramenta utilizada
Aproximação com o território através da observação
participante das atividades na unidade.
A partir do 3 dia da observação participante os profissionais
foram entrevistados no início ou fim do expediente.
Após um mês da observação participante na Unidade e
entrevista com os profissionais da EqSF, foi realizada a
entrevista com os gestores.
47
nas pesquisas qualitativas, sobretudo com aproximação com a área da antropologia, no qual são
registradas de forma sistemática as observações, experiências, sentimentos etc., tendo como
função registrar de modo mais fiel possível a vivência no campo (CAPRARA; LANDIM,
2008).
4.6 Análise dos Dados
Para análise dos resultados, se utilizou a técnica de Análise de Conteúdo, realizada através
da condensação de significados de Kvale (1996). A análise de Conteúdo é um conjunto de
técnicas de análise com o objetivo de verificação de hipóteses (MINAYO et al., 2005).
Para isso, foi realizada uma primeira etapa pré analítica com a leitura dos Documentos, do
Diário de Campo e das Entrevistas transcritas para haver um mergulho nos dados e uma
compreensão do todo.
Posteriormente, foi feita uma leitura para organizar os dados, classificando de acordo com
os objetivos específicos da pesquisa e tecendo comentários na margem do texto com base na
leitura da temática e da vivência da observação participante.
Dessa forma, foram construídasas Unidades de Significados Naturais (US) e os temas
centrais/categorias, e assim se buscou a informação relativa a cada categoria. Com a leitura dos
trechos selecionados para cada tema central, também foi identificados os diversos aspectos
referentes as categorias (subcategorias). A partir da leitura dos diversos materiais, foram feitos
resumos e tabelas para organização dos dados, o que permitiu a identificação das citações
frequentes ou que não se apresentavam nos textos ou documentos. Por fim, foram descritos os
resultados e realizada a interpretação desses.
4.7 Aspectos éticos
O presente estudo atendeu aos critérios éticos de pesquisa de acordo com as Resoluções
466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (Anexo A). Solicitou-se Carta de
anuência ao Município de Caruaru (Anexo B) e os entrevistados assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B), após serem informados quanto aos
objetivos eprocedimentos da pesquisa. Garantiu-se o direito ao participante desistir de sua
participação e retirar seu consentimento a qualquer momento, esclarecendo-se que nesse caso,
48
sua recusa não traria nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador, ou ainda, com a
Fiocruz /PE ou com o Serviço ao qual representa. O TCLE foi especificado para cada grupo de
atores da pesquisa (Apêndice B).
Os riscos da participação dos sujeitos neste estudo se referem a possíveis constrangimentos
ou o mau uso dessas informações, podendo comprometer as relações de trabalho, bem como as
relações entre comunitários e profissionais e entre profissionais e gestores. Para minimizar os
riscos das informações aqui colhidas, foi garantido o anonimato dos sujeitos envolvidos, além
de serem tomadas todas as medidas para se evitar a exposição e constrangimento dos
trabalhadores participantes, assim como qualquer possibilidade de retaliação pela instituição ao
qual estão ligados.
Os benefícios foram relacionados com a possibilidade de repensar práticas através das
discussões levantadas, bem como os resultados podem sinalizar para os gestores possíveis
caminhos de potencialização do trabalho da EqSF que dá suporte a população do campo.
49
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das entrevistas com profissionais e gestores; da análise dos documentos da gestão
municipal; dos documentos da Universidade de Pernambuco, e do diário de campo, foi realizada
a análise dos dados com a meta de alcançar os objetivos propostos pelo estudo. Assim, as
informações foram organizadas de acordo com quatro categorias analíticas, a saber:
Caracterização da população e de suas especificidades; Conceito de saúde do campo; Processo
de trabalho da EqSF do Campo (objeto de trabalho, agentes do trabalho, meios de trabalho e
organização do trabalho); A interação entre o Processo de Trabalho da EqSF e o território. Nas
leituras exaustivas e interpretação dos depoimentos, além das categorias foi possível desvelar
subcategorias, que serão discutidas no decorrer dessa sessão.
5.1 Caracterização da população e de suas especificidades
Para pensar a especificidade de um local, precisamos ampliar o olhar para além das questões
físicas e biológicas, precisamos pensar sobre questões geográficas, culturais, econômicas e de
infraestrutura, e apartir daí refletir sobre as especificidades de uma área determinada, bem como
entender essas necessidades dentro do seu complexo contexto de vida. As subcategorias que
surgiram no que diz respeito a características e especificidades da população do campo estudada
foram: a caracterização do território; o desafio do cultivo da terra e criação de animais; o
trabalho e a vida no território; mobilidade da população; costumes culturais religiosos e de
autocuidado.
5.1.1 Caracterização do Território
O município de Caruaru se destaca na região pela sua importante atuação econômica tendo
sua força motriz no comércio, nas feiras livres e na produção de roupas para a região. O Plano
Municipal de saúde 2014-2017 também traz essa característica da região, que influencia no
modo de vida de sua população (CARUARU, 2014a).
Atualmente Caruaru é um importante polo econômico, médico-hospitalar,
acadêmico, cultural e turístico do Agreste, sendo reconhecida pela sua tradição
da feira livre.O ponto central da economia é o comércio, notadamente as feiras
livres de confecções. A feira localizada próximo ao rio Ipojuca congrega feiras
de ervas, legumes e verduras, calçados e produtos eletrônicos, além da de
artesanato e os mercados de farinha e de carne (CARUARU, 2014a)
50
A região faz parte de um importante polo têxtil do Estado, assim muitas
famílias alternam atividades agrícolas com a produção têxtil domiciliar ou em
pequenas confecções que se espalham por toda a região. Esse movimento
alternado entre essas duas atividades se dá principalmente por causa das
condições climáticas que durante a estiagem não favorece a prática agrícola
(CARUARU, 2014a).
O município segundo o IBGE (2016), possui uma população estimada em 351.686 pessoas,
em uma área de 920, 611 km2, apresentando um bioma de caatinga e mata atlântica, com clima
semiárido. O município possui 108 estabelecimentos de saúde (públicas ou privadas).
Em relação a Atenção Básica à saúde o município de Caruaru apresenta 63 Unidades de
Saúde da Família, dessas18 ficam na zona rural.Na figura 4 podemos ver onde se localiza as
equipes da zona rural. Dentre as unidades rurais está a USF pesquisada, que apresenta um perfil
misto, tendo tanto usuários que moram em pequenas vilas com aglomerado de casas,quanto
usuários que moram em parcelas onde uma casa fica distante da outra e por isso possuem um
maior isolamento de seus moradores (SANTOS, 2016).
Observou-se que na sala da Atenção Primária à Saúde na Secretaria de Saúde estava exposto
o mapa do território rural do município de Caruaru (Figura 6) com todas as USF do município
e destacado ao lado todas as USF localizadas em área do campo (Diário de Campo). O que já
demonstra que uma identificação por parte da gestão de EqSF rurais e EqSF urbanas.
51
Figura 6 - Mapa referente as equipes de Saúde da Família do campo de Caruaru
Fonte: Caruaru (entre 2006 e 2016)
De acordo com o Relatório de Territorialização da Residência de Saúde do Campo da UPE,
os territórios adscritos das USF do campo se localizam nas proximidades da BR 104 , o que
pode ser observado também na Figura 7:
As micro áreas que compõe a área de atuação da equipe da USF do campo
estudada são Salgadinho, Rafael de Dentro, Sítio Zumba, Queimada de Uruçu,
Lagoa Salgada, Normandia, Contendas e Juriti. Todas as micro áreas situam-
se à leste da BR 104, exceto Normandia e Salgadinho que situam-se à oeste
da BR (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, 2015a).
52
Figura 7 - Mapa referente a USF do campo
Fonte: Imagem do Google (RAFAEL..., 2016)
Na figura 7 podemos observar que o território destacado de vermelho é a USF do campo,
analisando o seu entorno verifica-se aexistência de um aglomerado humano maior,
caracterizando a região perto da unidade como espaço de campo com aspectos de
comunidade/aglomerado. Nela pode-se notar maior número de estabelecimentos comerciais e
opções de transporte em comparação com as casas e sítios distantes, que tem uma característica
de campo associado ao isolamento, normalmente com pior infraestrutura e acesso aos bens de
consumo e serviços públicos. Entender que dentro do espaço rural também podem existir
diferentes modos de vida, e planejar de acordo com essas características, é uma necessidade na
região. Como podemos observar pelo trecho da entrevista de G3 abaixo.
No campo as equipes tem um processo de trabalho diferente porque existem
as micro áreas, com extensões grandes, o distanciamento complica o acesso
então muitas equipes precisam estar um dia em cada local e é do mesmo
53
território, da mesma área descrita mas muitas vezes são populações
completamente distintas de necessidades. (G3)
O território adscrito da USF do campo apresenta pequeno comércio na vila do Rafael, creche
municipal, Unidade de Saúde da Família, porém apresenta algumas características de
infraestrutura precária no que se refere a abastecimento de água, saneamento básico, coleta de
lixo como podemos observar no Quadro 2.
Quadro 2 – Modo de abastecimento de água, coleta de lixo e saneamento básico do território da USF do
campo no município de Caruaru.
Fonte: A autora apartir de UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, (2015a)
Estas questões foram ratificadas pelas falas de profissionais egestores:
[...]Assim depende da localidade. Aqui mais próximo tem esgoto, mas em
outros lugares não. (P1)
O Saneamento Básico é zero, isso é precário, água, saneamento, lixo. O lixo é
todo queimado. (P3)
Saneamento é onde a gente mais tem dificuldades em relação aos indicadores,
é na questão ainda dessa fragilidade de saneamento e das condições de
qualidade de vida na saúde do campo. A gente vê falar no esgoto, água, isso
aí é bem específico da saúde do campo, são algumas dificuldades que a gente
lida. (G2)
No que diz respeito ao serviço de coleta de lixo, este muitas vezes não é realizado pelo
serviço público ou é realizado poucas vezes, assim para lidar com o lixo a população realiza a
Comunidade Abastecimento de
água
Coleta de Lixo Rede de Esgoto
Salgadinho Cisterna (compram
água)
Sim (Recolhimento de 15/15
dias)
Não
Rafael de
dentro
Cisterna (compram
água)
Não (é queimado ou é jogado
em um riacho)
Não
Contendas Cisterna (compram
água),
Compesa libera água
2x no mês
Sim (Recolhimento 2x na
semana)
Não
Lagoa
Salgada
Cisterna (compram
água)
Não (queimado ou usado como
adubo)
Não
Queimada de
Uruçu
Cisterna (compram
água)
- Não
Zumba Cisterna de uso
comunitário
Não (queimado ou usado como
adubo)
Não
Normandia - - Não
54
queimada desse material. Apenas Contendas tem uma regularidade maior na coleta, isso pode
ser explicado pelo maior aglomerado humano nessa comunidade.
Em relação ao abastecimento de água, este é feito por cisternas comunitárias, e a compra de
água através dos carros-pipa é algo comum, já que a distribuição pela COMPESA é realizada
em períodos espaçados. Podemos observar a dificuldade de obtenção de água nas falas dos
profissionais abaixo.
A água daqui é em caminhão pipa. Quando não pede a político tem que
comprar. Eles fazem uma cota pra comprar a água, porque ninguém pode
comprar um caminhão pipa. (P1)
Em outros espaços a gente tem acompanhado e visto que água é vida, né? Não
tem como produzir sem água, mas talvez algumas práticas que pudessem gerar
a captação de água em médios reservatórios para uma comunidade maior
pudessem usufruir disso, né? (P8)
Em Caruaru, no que diz respeito ao saneamento básico de acordo com o quadro 3, dentre as
81.035 famílias cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica –SIAB em dezembro
de 2015, 71.979 famílias são favorecidas com o abastecimento de água pela rede pública, outras
2.769 utilizam água de poço ou nascente, 6.287 tem outros meios de abastecimento de água
(SANTOS, 2016).
Quadro 3 - Situação do saneamento do município de Caruaru em 2015
ITENS DE SANEAMENTO Nº DE FAMÍLIAS
Abastecimento de água - rede pública 71.979
Abastecimento de água – poço ou
nascente
2.769
Abastecimento de água – outros 6.287
Lixo coletado 72.988
Lixo queimado ou enterrado 5.185
Lixo à céu aberto 2.862
Sistema de esgoto 61.421
Fossa 13.815
Esgoto a céu aberto 5.799 Fonte: Adaptado de Santos (2016)
De acordo com o que foi encontrado nos resultados do Quadro 3, o fato de ter abastecimento
de água para as famílias não quer dizer que a água chegue na casa da população, já que existem
comunidades com frequência de duas vezes mensais com água proveniente da COMPESA.
O problema da seca na região se faz presente de forma tão dura, que o território busca formas
alternativas de buscar água e a qualidade dessas formas alternativas estão muitas vezes ligadas
55
ao poder econômico de cada família. Alguns conseguem comprar água através do “carro pipa”,
mas outros andam grandes distâncias em busca de açudes, barragens em que possam conseguir
água. E é importante destacar que em nenhuma das duas alternativas, a qualidade da água está
assegurada.
No plano municipal 2014-2017, nas sessões que dizem respeito a vigilância à saúde,
podemos observar a preocupação com relação ao assunto abastecimento de água de forma
alternativa, isso porque são planejadas ações específicas para o cadastramentos de fontes de
água. Mas para além disso é necessário uma aproximação com outros saberes para lidar com o
racionamento e obtenção de água na região.
Ampliar para a zona rural os pontos de coleta do VIGIÁGUA; monitorar as
soluções alternativas de distribuição de água; cadastramento das fontes de
captação de água para consumo humano; licenciamento dos carros de
transporte de água para consumo humano (CARUARU, 2014a).
Já em relação ao acesso ao sistema de esgoto das 81.035 famílias do município cadastradas
no SIAB em 2015, 61.421 famílias têm o sistema de esgoto na sua residência, já outras 5.799
utilizam esgoto a céu aberto e 13.815 famílias tem fossa. Esse sistema, segundo o SIAB,
contempla várias famílias, porém o campo nessa divisão de contemplados e não contemplados,
parece ter uma desvantagem já que a maioria das famílias do Território da USF do campo,
segundo documentos da territorialização realizado pela Residência da UPE, não são
contemplado pela rede de esgoto (Quadro 2) (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, 2015a).
A principal fonte de renda das famílias advém da produção têxtil domiciliar ou em pequenas
confecções como aponta P3 abaixo. Estas muitas vezes significam mão de obra barata e lógica
de ganho por produção, o que intensifica o processo de exploração do trabalhador. Também é
observado a importância da aposentadoria no território como fonte de renda da região como
podemos ver no quadro 4 abaixo.
Tem os que são formados, tem seus trabalhos fixos, outros trabalham na terra.
Mas a maioria trabalha com feira de sulanca (costura). (P3)
Nas áreas de assentamentos, a população trabalha também com agricultura familiar, sendo
os plantios identificados em sua prevalência de milho e palma (Figura 9); há também pequenas
criações de animais - bode, cabra, gado e galinha (Figura 8).
56
Figura 8 – Criação de patos
Fonte: Santos (2015)
Figura 9 – Plantação de milho
Fonte: Santos (2015)
57
Quanto aos espaços de lazer e cultura, os bares e “campos de futebol” são as únicas opções
de lazer para essa população (Quadro 4). A escassez de lazer, segundo estudos, é uma ameaça
à vida e a saúde mental das pessoas que residem no campo, cabendoàs equipes de saúde
sinalizarem esse déficit e buscar auxílio intersetorial para a implantação de projetos de
intervenção, estimulando o lazer epromovendo saúde (BATISTA; ALBUQUERQUE, 2014;
CARNEIRO et al., 2012).
A única via de transporte público disponível internamente nessas comunidades mais
afastadas da rodovia é o escolar; e as estradas de acesso interno e externo desses territórios estão
em condições precárias, dificultando o acesso para os serviços básicos de educação e saúde, o
que configura uma barreira de acesso geográfica como já pontua o estudo de Santos (2016).
Abaixo, no Quadro 4, observamos esses aspectos nas diferentes comunidades cobertas pela
unidade.
Quadro 4 – Economia local, equipamentos Sociais e Transporte do território da USF do campo
no município de Caruaru
Fonte: A autora apartir de Universidade de Pernambuco (2015a)
Nas áreas de cobertura da USF do campo estudada, está localizado um assentamento e um
acampamento do Movimento Sem Terra. O Assentamento se chama Normandia, pois faz
Comunidade Economia Local Equipamentos Sociais/
Lazer Transporte
Salgadinho Aposentadoria Não. Ronda policial 1x por
semana (grande número de
Assaltos na região)
Ônibus escolar (2x dia)
Rafael de
dentro Plantação - -
Contendas Plantação (milho, feijão,
macaxeira); Confecção
nas pequenas confecções
Escola, bares, mercadinhos,
madeireira, bares, centro
espírita, igreja evangélica,
açude e uma cisterna
comunitária desativada.
-
Lagoa
Salgada Criação de gado; Casa de
farinha; Plantação
(milho, feijão);
Confecção
Bar, estabelecimentos
religiosos, campo de futebol -
Queimada de
Uruçu Aposentadoria;
Confecção; Plantação
para consumo próprio.
Bar, estabelecimentos
religiosos, campo de futebol Ônibus escolar (2 x dia)
Zumba Criação de animais
grande e médio porte;
Comércio de roupas.
Bar, estabelecimentos
religiosos, dois campos de
futebol, mercadinhos.
Ônibus escolar ou
lotação particular (custo
3 reais até Caruaru) Normandia Plantação (milho,
feijão); Confecção. Bar, estabelecimentos
religiosos, campo de futebol. -
58
referência à fazenda que existia no local antes da ocupação e que tinha esse mesmo nome. Essa
fazenda tinha extensão de 1.100 hectares sendo considerada improdutiva. Os registros apontam
que a primeira ocupação ocorreu no dia 02 de maio de 1993, com mais de 247 famílias de
trabalhadores da fazenda e pessoas que moravam no entorno (SANTOS, 2016).
Os assentados durante todo o processo de luta pela terra sofreram três despejos violentos,
com denúncia de abuso de poder por parte dos policiais e capangas da fazenda e perda e
destruição dos cultivos ali plantados, bem como pertences dos trabalhadores. Porém vale
ressaltar que o período também foi marcado por apoio e solidariedade a causa por moradores
da região. O decreto com a finalidade da reforma agrária ocorreu em 23 de janeiro de 1997,
com área total de 726, 2 hectares, assim foram divididos os lotes para produção por famílias e
área de preservação ambiental (SANTOS, 2016).
Em relação a infra estrutura da região do assentamento o documento de territorializaçao da
Residência traz que
Na região do assentamento foi construída uma agrovila com cerca de 34 famílias, uma
agroindústria de descasco e guardo a vácuo da macaxeira pela cooperativa do
assentamento, uma academia da saúde com quadra poliesportiva, associação de
moradores e os lotes onde as famílias produzem e criam animais (UNIVERSIDADE
DE PERNAMBUCO, 2015a).
Na antiga casa central da fazenda hoje funciona o Centro de Formação Paulo Freire (Figura
11), sendo uma referência para o MST e para os trabalhadores assentados do Estado de
Pernambuco. No lugar ocorrem estudos, formações, encontros, seminários, reuniões e
socialização. Para tal, nele foram construídos um alojamento, refeitório, biblioteca, auditório,
salas de aula, além de horta medicinal em forma de mandala (Figura 10), que é também um
espaço produtivo com verduras, vegetais, galinha, peixe e pato.
Essa infraestrutura possibilita uma atuação ativa do MST no território, o que fortalece essa
micro área, diferente das outras de cobertura da Unidade de Saúde. Normandia destaca-se por
ter sua associação de moradores com maior poder de organização e reinvindicação no espaço.
Contudo, apesar de ter o Centro de Formação de Normandia, de forma contraditória, os
profissionais das Unidades de Saúde Família do campo da região não participam das formações
do Centro, que normalmente tem temáticas relacionadas a plantas medicinais, agroecologia ou
saúde do campo. A gestão já inicia um diálogo com o MST porém ainda são poucas as
iniciativas em conjunto.
59
Figura 10– Mandala de plantas medicinais e hortaliças de Normandia em 2015
Fonte: Universidade de Pernambuco (2015a)
Figura 11 – Centro de Formação de Normandia
Fonte: Santos et al. (2013)
60
5.1.2 O desafio do cultivo da terra e criação de animais
O clima da região do município de Caruaru é o semiárido, que é caracterizado pela
intermitência e má distribuição do volume de precipitações de chuvas e longos períodos de
estiagem. O flagelo causado pela seca no nordeste brasileiro é um velho conhecido da
população brasileira. Durante a história a população dessa região já vivenciou ciclos de seca
em diferentes anos e por isso o interior do nordeste brasileiro já foi tema de inúmeras obras
literárias com a temática da seca (SANTOS et al., 2013).
Em Caruaru a falta de água não é diferente do resto do nordeste, como G3 pontua que já
estão a cinco anos com estiagem na região. A entrevistada P6 afirma que o trabalho base é a
agricultura, porém sua prática está bastante difícil pela falta de água na região e traz que a
solução encontrada pelos agricultores é a realização de outros trabalhos para obter a renda
familiar.No caso de Caruaru, a costura se mostra como a alternativa para conseguir o sustentoda
família.
Aqui a gente é agreste, a seca, faz cinco anos que tem, então evidentemente
que as pessoas têm que buscar um caminho, mas as raízes nunca se perdem. E
aí são essas raízes que tenciona a ter que se fazer diferente. (G3)
[O pessoal trabalha mais] É na agricultura, mas não tem mais porque parou de
chover, aí acabou com tudo de emprego aqui. Agora botaram costura aqui,
tinha os que sabem, os que não sabem aprender, os homens aprende a costurar
também. (P6)
O entrevistado P8 traz a análise de que nas situações de regiões com clima semiárido o
Estado deveria ajudar a população para encontrar soluções viáveis a fim de viabilizar a prática
agrícola.
Olha, nós temos que contextualizar que estamos no semiárido, inclusive em
um município onde tem 4 biomas diferentes e o bioma do [comunidade
estudada] o pessoal tende a dizer que parece mais ao do sertão, ao cariri, onde
você não tem brejo, onde você não tem outros biomas que propiciem a
produção agrícola e uma ausência do Estado para que nessas situações possa
se garantir a agricultura, né? (P8)
Em relação a criação de animais, segundo P6 na fala abaixo (o que pode ser visualizado
também pela Figura 12) a população desse território ainda cria animais de pequeno e médio
porte, consumindo a palma que é plantada na região (Figura 13). A prática da criação de
pequenos animais é importante para subsistência dos moradores, pois os animais produzem
61
ovos e leite que podem ser comercializados ou utilizados para consumo próprio. Porém, existe
a necessidade de melhorar o cuidado para esses animais já que a morte deles representa um
prejuízo financeiro, portanto a região necessita de orientaçõesde médicos veterinários para
evitar o óbito dos animais e para que não ocorra a transmissão de doenças dos animais para os
comunitários.
Quase todo mundo aqui cria (animal). É, mas também gado, bode, galinha o
pessoal gosta. (P6)
Figura 12 – Criação de aves
Fonte: Santos (2015)
62
Figura 13 – Plantio de palma
Fonte: Santos (2015)
A questão da estiagem não condiciona necessariamente o abandono da agricultura e da
criação de animais como pode-se constatar nas imagens 12 e 13. Essas práticas ainda ocorrem
na região, porém com uma frequência menor e com a escolha de produtos que sobrevivam a
estiagem. Também é importante entender que existem diversas formas de lidar com a estiagem,
como no caso de alguns poucos agricultores que possuem cisternas e poços em suas
propriedades, o que pode ser visto nas Figuras 14 e 15 abaixo.
63
Figura 14 – Cisternas na comunidade
Fonte: Santos (2015)
Figura 15– Cisternas na comunidade
Fonte: Santos (2015)
64
No estudo de Santos (2007), foi feito um levantamento histórico sobre as formas como os
diferentes governantes atuaram em relação a seca no semiárido, sendo destacado ações como o
Decreto de lei nº 8.486 que funda o Departamento de Obras Contra a Seca (DNOCS) em 1954
com a intenção de construir açudes e outras ações em prol da população que vivencia a seca,
entretanto o órgão não teve êxito, pois era submetido a interesses políticos. Posteriormente em
1959 foi criada a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) com intuito
de dar subsídio ao desenvolvimento do nordeste, porém com o golpe militar a SUDENE não
conseguiu alcançar seus propósitos e não conseguiu da suporte a população que em 70 sofreu
com a seca na região. Assim, as medidas e ações para enfrentar a seca no nordeste não têm tido
a consistência e a continuidade necessárias.
Além do clima, a comunidade camponesa também lida com materiais tóxicos para tratar as
pragas de suas lavouras, isso porque estão com o olhar no modo de produção de larga escala e
de uma suposta tecnologia agrícola, assim utilizam agrotóxicos sem ter ciência dos perigos para
a saúde que esses produtos podem causar. O crescente consumo mundial de pesticidas é um
grande problema para a saúde pública, pois esse acarreta um grande número de intoxicações
exógenas, agudas e crônicas, além de causas secundárias à exposição desse material. Alguns
estudos já apontam um possível aumento de casos de câncer e suicídio relacionados ao contato
prolongado com agrotóxico (FARIA, 2014; JOBIM et al., 2010; MATOS, 2013).
Através do trecho de entrevista de P3 podemos constatar a falta de conhecimento acerca o
uso e das consequências do contato prolongado com agrotóxicos.
Hoje em dia 100% da plantação usa [agrotóxico] (As latas junta água?) Junta,
uns usam pra colocar plantas, outros que são serventes deixam guardadas que
serve pra ajuntar massa. [...] Eu nunca falei nada [para eles em relação a
agrotóxicos] [...] (já pensou nisso?) Já, mas a questão é de falta de
conhecimento. O que isso pode vir a prejudicar. Eu acho que tanto na zona
rural, como na urbana deveria ter mais informação sobre o que pode fazer e o
que não pode. [...] a gente não tem a informação concreta, às vezes as coisas
tá tão na frente mas a gente não sabe. (P3)
Segundo Gasparini (2012) o trabalho agrícola vem atrelado a riscos em relação a exposição
à radiação solar; ruído e vibração; acidentes com animais peçonhentos; exposição a agentes
infecciosos e parasitários; exposição a partículas de grãos armazenados; ácaros; pólen; detritos
de origem animal; acidente com ferramentas, máquinas e implementos agrícolas; exposição a
fertilizantes e aos agrotóxicos. Apesar de alguns desses riscos serem mencionados durante as
65
entrevistas e nos documentos de gestão, pouco é trabalhado na prática junto com os
trabalhadores.
No Plano Municipal de Saúde do município e no Planejamento Anual de Saúde a sessão que
trata sobre a vigilância do trabalhador traz a intenção de implantar protocolos para o tratamento
de intoxicação exógena de agrotóxicos, antecipando assim possíveis incidentes advindos do uso
de agrotóxico na região:
Implantar protocolo e fluxo para intoxicações exógenas regional
(CARUARU, 2014a)
Implantar protocolo e fluxo para intoxicações exógenas relacionadas ao uso
de agrotóxico (CARUARU,2015b)
Compreendemos que a execução dos serviços de vigilância, especialmente, a inserção da
saúde do trabalhador, faz parte das competências da gestão do SUS e o comprometimento deste
com o bem-estar dos trabalhadores. Ao gestor municipal compete assumir a gestão e execução
das ações de vigilância em saúde realizadas no âmbito local, compreendendo ações de
vigilância epidemiológica, sanitária, de alimentação e nutrição, de saúde do trabalhador e
ambiental (BRASIL, 2006).
Contudo, a iniciativa municipal em relação a questão dos agrotóxicos e outras questões
ligadas ao trabalho na região ainda é muito incipiente e apenas um primeiro passo para atuação
sobre esse tema. É necessário fazer capacitações e treinamentos junto aos profissionais de saúde
para que estes possam abordaros temas no cotidiano de trabalho, já que na fala de P3, colocada
acima, demonstra que os profissionais de saúde não se mostram aptos para orientar sobre os
perigos do uso de agrotóxicos em relação à saúde.
Outra medida que pode ser tomada é fomentar e discutir com os moradores diferentes formas
para lidar com as pragas que atacam as lavouras. Estudos sobre permacultura e agroecologia já
trazem diferentes formas de lidar com a produção agrícola afim de diminuir o número de pragas.
Estes métodos são tecnologias mais limpas e corroboram com modelos de produção mais
saudáveis, compatíveis com a agricultura familiar (PORTO; SOARES; et. al., 2012).
66
5.1.3 Trabalho e vida
Tradicionalmente as famílias camponesas tem sua produção ligada a atividades agrícolas,
contudo, como no agreste algumas regiões convivem com a dificuldade de exercer
exclusivamente de práticas agrícolas, estas mesclam suas atividades.No caso do município de
Caruaru, grande polo têxtil, a população camponesa trabalha nas pequenas confecções de
roupas ou transformam sua casa em pequenos fabricos. Este trabalho normalmente está atrelado
a péssimas condições de trabalho (MATOS, 2016).
Estas questões foram ratificadas pelas falas de profissionais e gestores:
[A população daqui trabalha com] Costura, pra Toritama e Caruaru. (P1)
a questão da inserção da confecção, da indústria, a economia mudou bastante
ao longo do tempo na história do município porque tem a coisa do comércio,
né? E a sulanca veio para fortalecer um pouco isso também e aí muitas pessoas
da zona rural trabalham, mas a gente entende que eles estão na confecção, mas
eles não perdem as raízes, né? De ter sua terra, pelo menos para a agricultura
de subsistência, então eles tem essa duplicidade. (G3)
Em uma das visitas domiciliares realizadas, ao chegar notamos que todos os moradores da
casa estavam no terraço para aproveitar a luminosidade do sol e trabalhavam com pedaços de
shorts na mão para retirar “o pelo”, fios soltos da roupa, os moradores relatam que trabalham
durante o dia inteiro, pois quanto mais produzem, mais recebem. Também relatam que esse
trabalho adentra pela noite e por causa da pouca luminosidade na casa “machucam a vista”
(Diário de Campo).
Estudos realizados na região com foco no trabalho precário na indústria do vestuário
destacam a super exploração como característica no trabalho realizado, que se dá através da
distorção do valor do trabalho socialmente necessário, com uma grande redução dos salários do
trabalhador. Isso porque a maioria do serviço se dá sem regulamentação de carteira de trabalho
assinada, associando o pagamento ao quantitativo da produção, o que restringe a remuneração
aos mínimos de sobrevivência. A consequência lógica desse tipo de trabalho é a redução da
qualidade e do tempo real de vida do trabalhador pelo desgaste psico físico do trabalho,
impossibilitando, inclusive, uma maior interação desses sujeitos com a comunidade e com sua
própria vida (MATOS, 2016).
O profissional P1 abaixo identifica a exploração que a população vive com a produção de
roupas, por pegarem apenas uma parte da fabricação num modo fragmentado de trabalho aos
67
modos do Fordismo-Taylorismo, onde uma família não realiza todas as etapas da fabricação de
um objeto e sim partes dela.
Acho que dá pra sobreviver, pra uma pessoa inteligente até que dá. Quando
eles fabricam e vendem é melhor, porque quando eles já pegam a costura de
outro é pior. (P1)
Reafirmando a existência da superexploraçãodo trabalho na região, P8 destaca as mudanças
no arranjo da casa que dá espaço a máquinas de costura, a mudança de modo de viver com a
lógica do urgente, do trabalho até a exaustão. Assim o trabalhador muitas vezes adoece e
continua tendo um pequeno retorno financeiro.
Então se a gente imaginar esse mundo do trabalho, o mundo da costura tinha
uma paciente que estava me falando que ela ganha 10 centavos por peça. Ela
normalmente tenta fazer mil peças por semana, mil peças por semana dariam
R$100, 00 por semana, R$400, 00 por mês, meio salário mínimo. E em um
processo onde você vê inclusive o desarranjo da arquitetura familiar, da
arquitetura da casa mesmo, né? As salas deram lugar a costuras, então você
entra na casa das pessoas e elas estão costurando. Como elas ganham por
produção que é diferente da lógica do campo, o tempo é precioso para elas,
então passa a ser da cultura delas a cultura do urgente. Aquilo é para hoje,
aquilo é para agora porque se eu perder tempo, eu perco tempo de costura e se
eu perder tempo de costura eu perco dinheiro e dificulto a minha vida. (P8)
A gestão no plano municipal de saúde não apresentou uma forte atuação dentro dos seus
documentos de gestão para a questão da terceirização da produção têxtil e sobre o adoecimento
da população por Lesão do Esforço Repetitivo (LER) e Doença Ocupacional Relacionada ao
Trabalho (DORT). No que diz respeito aos riscos ocupacionais, a prática da costura realizada
em horas prolongadas está associados a altos índices de dor na região cervical e nos membros
superiores, entre outras patologias osteomioarticulares (CARUARU, 2014a; OLIVEIRA et al.,
2010; KROST, 2015).
Na sessão relacionada a Vigilância do trabalhador no documento do Plano Municipal de
Saúde podemos ver a intenção de aprofundar o olhar para os processos produtivos da região o
que pode ser o início de um processo de mudança no que diz respeito a atuação junto a
população que trabalha na indústriatêxtil da região, principalmente os trabalhadores informais,
que normalmente tem um processo precarizado e adoecedor de exploração.
Mapear os processos produtivos da Região (CARUARU, 2014ª)
68
Nas entrevistas abaixo, P1 traz que a população camponesa é mais carente que a população
da cidade, essa afirmação pode estar atrelada às dificuldades que a população camponesa
vivencia por falta de investimento na efetivação das políticas públicas voltadas para o campo.
Diferencia muita coisa, principalmente, a questão econômica. Porque a
população do campo é mais carente, já da cidade não. (P1)
Contudo P5 destaca que as pessoas que não tem renda fixa têm mais dificuldade de vida, e
ter renda fixa não parece ser a regra na região. O entrevistado P5 ainda destaca que pessoas
com melhores condições econômicas têm melhores condições de vida e de acesso a água.
Vê só, aqui - até nessa parte que é mais próxima - falta água, tem casas que
tem 4 ou 5 meses que não chega água. Então tem algumas pessoas que tem
dificuldades, que são bem precárias aqui. Da mesma forma que tem gente que
mora mais afastado que tem mais condições, então não por conta da
localização, é pelo meio, pelo trabalho, pelo orçamento. Então aqui é forte a
questão da costura, a fonte de renda mais forte aqui [da região] é costura, nem
a agricultura é tão forte. Mas tem algumas pessoas que tem dificuldade, que
não tem renda fixa. (P5)
No que diz respeito a economia local tanto durante a vivência quanto no momento das
entrevistas pode-se constatar que a região ainda pratica a agricultura, porém é notável a força
que a indústria têxtil tem na região. Sem um abastecimento de água que garanta um maior
investimento na agricultura familiar a população é atraída para a indústria têxtil. A população
assim, têm a renda familiar garantida pelo trabalho têxtil, pela aposentadoria dos mais idosos e
a venda da pequena produção agrícola. Dessa forma, fatores como renda variável,
superexploração do trabalho têxtil, falta de água parecem ser o ponto chave para a determinação
social da saúde na região.
5.1.4 Mobilidade da população
A mobilidade da região adstrita pela USF do campo estudada apresenta uma precariedade,
pois apesar da região ser cortada por uma Rodovia Federal e ter “Toyotas” (Carros privados
que fazem lotação) e ônibus do centro de Caruaru para a região da USF do campo via
Rodoviária, esses transportes não fazem o percurso por dentro do território (Diário de Campo).
Isso faz com que as regiões mais afastadas da Rodovia fiquem sem transporte coletivo,
dependendo assim de motos e carros privados para se locomover. Outro fator de dificuldade
69
são as grandes distâncias entre as diferentes vilas do território, que, por não ter transporte
coletivo, ficam isoladas. Contudo, essa característica pode ser modificada com a ampliação de
transporte público na região, essa estratégia se mostra urgente já que impacta diretamente
dificultando o acesso para vários serviços de saúde, educação, entre outros. Nos trechos de
entrevista do profissional e gestor abaixo podemos ver a falta de alternativa de transporte nas
diferentes microrregiões.
Na cidade tem ônibus, moto táxi, transporte que no campo as pessoas que
moram mais distantes não tem acesso a unidade. (P3)
nós temos áreas rurais bastante extensas, densidade demográfica, micro áreas
longínquas, então é diferente, quer dizer, a formação dessa rede no campo é
bem complicada, bem difícil. (G3)
Segundo os estudos de Travassos e Castro (2012) existem diversas barreiras para o acesso a
saúde (barreiras geográficas, financeiras, organizacionais, informacionais, culturais). A barreira
geográfica está relacionada a dificuldade que o usuário encontra em realizar seu deslocamento
enfrentando assim, dificuldade para percorrer os espaços entre sua residência e os serviços de
saúde. Assim, consequentemente quanto maior a distância e a dificuldade de acesso a meios de
transporte, menor a utilização de serviços de saúde.
De acordo com P5, essas dificuldades na mobilidade das áreas distantes da região,
caracterizam uma barreira para os serviços em geral, inclusive, ao serviço de saúde. Em
consequência, o trecho do Plano municipal de saúde abaixo sinaliza a necessidade de maiores
intervenções no que diz respeito ao acesso à saúde (CARUARU, 2014a).
Com relação a acesso é complicado. Tem micro áreas que mais fácil ir pro
centro da cidade que vir aqui pra unidade, elas são de difícil acesso. (P5)
No contexto do município de Caruaru as provocações atuais observam-se a
necessidade de sistematizar as intervenções sobre algumas questões que têm
vínculo direto com o acesso da população à saúde na forma constitucional
deste direito de cidadania (CARUARU, 2014a).
Os estudos de Bohes e Fernandes (2011) demonstram que o campo historicamente se
organizou na forma em sítios e parcelas, tendo a distância entre as casas como uma de suas
características. Entretanto, essa distância entre as diferentes propriedades dificulta a assistência
à saúde e se mostra como um elemento marcante para o isolamento, fazendo com que aspectos
como isolamento geográfico e acessibilidade limitada componhama determinação social da
saúde do campo.
70
Alguns estudos já apontam para formas potentes de organização do espaço do campo através
das agrovilas, onde os camponeses moram em uma vila e tem seus lotes para plantio em locais
próximos. Essa forma de organização foi utilizada pelo Assentamento Normandia para
potencializar o convívio em comunidade, bem como facilita a organização para construção de
serviços, como escolas, na localidade (Diário de Campo).
5.1.5 Costumes culturais, religiosos e de autocuidado
O Brasil é um país multicultural pela múltipla composição existente em seu território desde
a influência da religiosidade católica europeia; a do catimbó e plantas medicinais indígenas e o
culto dos orixás da cultura negra. No campo, a influência cultural miscigenada também se
mostra presente nos cultos de fé e no autocuidado através de plantas ou rezas.Porém, as
tradições, os conhecimentos e os saberes geracionais ao mesmo tempo que resistem no campo,
também são ressignificados com elementos da contemporaneidade (OLIVEIRA, 2016).
Apartir desse legado cultural, se realiza o autocuidado do cotidiano, que é compreendido
como à capacidade que os indivíduos têm de cuidar de si, desempenhando atividades em seu
próprio benefício, a fim de manter a vida, a saúde e o bem-estar próprio (SANTOS; SARAT,
2008). No que diz respeito ao autocuidado religioso, a população cultua padroeiras da religião
católica, realizando festividades, além de reuniões para rezar e se confraternizar como podemos
constatar pela fala de P1 e pelo Relatório de Territórializaçãoda Residência:
O pessoal gosta [das festividades], tem por exemplo a festa da padroeira, aí
pra eles é uma data importante. (P1)
“Em Queimada de Uruçua população no local declara-se predominantemente católica, e nas
quartas-feiras se reúnem para rezar o terço e, caso necessitem de alguma reunião não religiosa,
aproveitam para discutirem lá mesmo” (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, 2015a).
Em contrapartida, na região existem poucas pessoas que se denominam rezadeiras ou
benzedeiras segundo os trechos das entrevistas dos profissionais abaixo, porém esses sujeitos
ainda se fazem presentes na localidade e, mesmo de forma mais discreta, a população busca
pelo serviço para solucionar questões de saúde, mal olhado e má sorte.
Eu não vejo isso com um entrave pra saúde deles, pois quando eles procuram
um rezador ou usam plantas medicinais, e não resolve, eles procuram a
unidade [...] E também tem a questão da educação em saúde, já que a
população do campo geralmente tem seu cuidado baseado em rezadores,
71
curandeiros, na base de plantas e de ervas. Então, a gente tirar um pouco dessa
cultura, mas claro que também tem seu valor. (P4)
Aqui acabou quase tudo [em relação a rezador]. Mas tem ainda o pessoal mais
velho. (P6)
Principalmente no catimbó e nas rezadeiras, elas ainda estão por aí resistindo,
rezando as crianças e tentando fazer sobreviver. (P8)
Os profissionais de saúde da USF apesar de saber da existência dessa prática não têm uma
proximidade ou diálogo no cotidiano com os rezadores e benzedeiras da área.Contudo, alguns
profissionais, como podemos ver na fala de P3, estão mais próximos desse tipo de cuidado, por
utilizá-lo no cotidiano da sua vida particular, porém, mesmo esses, não os inserem no cotidiano
do trabalho na USF.
Eu sempre levo meu menino lá quando ele tá meio desanimado, que as vezes
é olhado. Eu não rezo muito, mas eu acredito que reza maior do que Deus não
existe. [...]Tem rezedeira só pra questão de peitos abertos, mal olhado. (P3)
Nos documentos da gestão podemos ver um recorte para questão da saúde da população
negra. A cultura de matriz africana e as benzedeiras são citadas nos documentos de
planejamento da gestão municipal, porém isso não significa que esses pontos tem se convertido
em atividades concretas no cotidiano de trabalho, pois os profissionais de saúde não têm
proximidade com a temática e com esses atores no território.
Ampliar o acesso aos serviços de saúde para população negra residente em
áreas urbanas e rurais.; Realizar oficina com os profissionais de saúde para
inclusão da população de cultura de matriz africana e benzedeiras (Plano
Municipal de Ssaúde 2014-2017).
Além da fé, da busca pelas benzedeiras e rezadores, a população também utiliza as plantas
medicinais para seu autocuidado, prática essa que é mais conhecida e utilizada na região. A
cultura de utilizar plantas medicinais como medicamento é uma prática realizada desde a
antiguidade, fazendo parte do contexto cultural em busca de restabelecer a saúde do indivíduo,
e que foram transmitidas historicamente no ambiente familiar, tendo um forte componente
geracional. (BARBOSA et. al., 2009). Abaixo nos relatos de P2 e no relatório de
territorialização da UPE podemos constatar o uso de plantas medicinais no cotidiano
(UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, 2015a).
[O usuário] Usa chá, lambedor, banho de assento. Tem senhora aqui que diz:
nunca vou fazer exame ‘porque eu tenho meu banho de assento’, que nunca
72
teve um corrimento. Aí eu digo tudo bem, continue fazendo seu banho de
assento, já que tá servindo, mas tem que dar uma passadinha na doutora, tem
que fazer a sua citologia pra saber como é que tá aí dentro. (P2)
Na comunidade de Rafael de Dentro muitos utilizam plantas medicinais para
problemas como dor de cabeça, dor de dente e garganta (UNIVERSIDADE
DE PERNAMBUCO, 2015a).
Entretanto, nesse e em outros estudos já é possível se detectar uma diminuição do
autocuidado através do uso das plantas medicinais no território, sendo uma prática mais forte
entre os idosos em relação às novas gerações, fato explicitado pelos profissionais nos trechos
abaixo. Esse fato pode ser explicado pela super valorização do saber científico, medicalização
do processo de cuidados na saúde e a não valorização dos saberes populares e culturais, ainda
imbuído de preconceito e desvalorização dos saberes de origem popular (BATISTA;
ALBUQUERQUE, 2014; SOUZA, 2011;).
quando a gente perguntou sobre plantas medicinais, muitos idosos tomam erva
cidreira, capim santo. Mas já os novos não. (P3)
[o uso de plantas e chás] Ocorre, mas achava que seria mais forte. (P5)
Ainda é, mas a gente percebe que está se perdendo, né? A gente conversa com
pessoas de maior idade e elas não só tem o conhecimento mas tem a prática.
Quando a gente conversa com pessoas mais novas, elas podem ter o
conhecimento porque os pais tratavam e tal, mas não tem tido a prática. [...]
mas é uma tradição que se não cuidar ela tende a desaparecer e ser dominada
por um mercado que prefere vender passiflora em comprimido que as pessoas
plantarem maracujá. (P8)
Contudo numa visita a região pode-se notar que muitos quintais ainda tem o plantio de
plantas medicinais como babosa, hortelã graúda, hortelã miúda, insulina entre outros, como
pode-se constatar na figura 16.
73
Figura 16 – Plantas do quintal de uma usuária da USF do campo estudada
Fonte: Santos (2015)
O estudo de Souza (2011) com profissionais de saúde do Pará, demostrou que dentre os
profissionais de nível superior cerca de 90% têm aproximação e conhecimento sobre plantas
medicinais através de livros e a maioria deles preferem prescrever e orientar o uso de
medicamento sintético. Já em relação aos profissionais de nível médio, 100% tinham adquirido
o conhecimento sobre as plantas medicinais através de um repasse oral de um familiar e a
maioria desses prefere orientar o uso de plantas medicinais, fato esse que nos faz questionar o
quanto a academia ou o nível de instrução pode distanciar as pessoas do conhecimento popular.
A gestão também apresenta pouca aproximação com os temas da cultura local. Esse fato
pode ser constatado quando observamos o Quadro 5, logo abaixo, onde verificamos que em
apenas um dos documentos da gestão estudado foi possível observar a referência a palavras
como benzedeiras, plantas medicinais e rezadeiras. Essa ausência aponta para a inexistência de
ações voltadas para o fortalecimento dessas práticas ou o incentivo do olhar para a cultura da
região e seu autocuidado.
74
Quadro 5 – Frequência de palavras chaves relacionadas com a cultura e a vida nos documentos da Gestão
de Caruaru
Documentos
Frequência das
palavras
Agricultura ou
Costura
Frequência das
palavras
Agrotóxico, Raios
Solares
Frequência das
palavras
Benzedeira,
Plantas medicinais
Rezadeira
Plano Municipal de Saúde
2014-2017
1 5 1
Plano Anual de Saúde de 2014 Não aparece Não aparece Não aparece
Relatório Anual de Gestão
2014
Não aparece Não aparece Não aparece
Plano Anual de Saúde de 2015 Não aparece 1 Não aparece
Fonte: Autora
Em relação aos demais tópicos analisados nos documentos de gestão, explicitados no quadro
acima, pode-se concluir que os aspectos da saúde relacionados a fatores climáticos e de trabalho
(agrotóxico, raios solares) são apontados no Plano Municipal de Saúde de 2014-2017, mas nos
documentos de 2014 não é citado como atividade anual, apenas reaparecendo no ano
subsequente. Quando a temática analisada foi o trabalho (agricultura e costura), o Quadro 5
demonstra uma maior fragilidade nos documentos de gestão que praticamente omitem esse tema
de suas ações, sendo apenas citado uma única vez no Plano Municipal de Saúde.De forma geral,
esse quadro demonstra o reduzido olhar que a gestão apresentou para as temáticas de saúde e
trabalho do campo, como os riscos desse tipo de trabalho,bem como na questão do autocuidado
através benzedeiras,rezadeiras e plantas medicinais (CARUARU, 2014a).
5.2 Conceito sobre Saúde do Campo
Na descrição dos resultados desta categoria foram exploradas as seguintes subcategorias:
Conceitos sobre a saúde do campo, objetivos do trabalho da saúde do campo e sua implantação.
75
5.2.1 Conhecendo a Saúde do campo
Os profissionais reconhecem a existência de diferentes necessidades de saúde para a
população do campo, destacando tanto as condições de vida como também a situação de
exploração do trabalhador como fator de adoecimento.
Eu acredito que a saúde do campo é uma saúde um pouco diferenciada, porque
na verdade o pessoal do campo lida com produtos que os da cidade não
lidam.[...]. Não só para aquele lado corriqueiro, mas também com agrotóxico
e outras coisas também que diferenciam o pessoal do campo do pessoal da
zona urbana. (P2)
nós usamos um termo que é “a saúde é a capacidade de resistir quanto a
qualquer opressão”. E essa saúde na população do campo a gente tenta visar a
opressão e a resposta a ela, né? É entender que a população do campo tem uma
formação distinta, um complexo sócio cultural diferente da cidade onde nos
seus territórios incidem de outras maneiras o que a gente chama de sociedade
moderna e que por isso vai se materializar tanto a saúde como a doença de
formas completamente diferentes comparado a população da cidade. (P8)
Os gestores quando conceituam a Saúde do Campo apontam que não existia um olhar para
as demandas dessa população, sinalizando ainda que não se tinha uma consciência da
necessidade de organizar e executar a saúde de um modo diferente do realizado na cidade.
Porém, foi possível perceber que esses já trazem a necessidade de um olhar diferenciado que
entenda os aspectos culturais, de renda e de infraestrutura. Com a criação da PNSIPCFA, existe
uma maior pressão junto aos gestores para um fazer saúde diferente e de acordo com as
demandas do território.
Historicamente não se enxergava a saúde do campo como diferenciada, então
o gestor reproduzia o mesmo tipo de assistência que na zona urbana. (G1)
Eu acho que seria a gente respeitar a cultura, respeitar o território que é
diferenciado. Principalmente a questão de renda, de infraestrutura. Porque a
gente fala de saúde, mas ela está diretamente ligada também à questão de
saneamento. (G2)
Por tudo isso, quando dizemos “Saúde do Campo” afirma-se as populações que vivem do
campo como parte do campesinato, com relações com terra, com as plantas, com a produção
familiar, que tem seus modos de vida específicos. Contudo, para se fazer presente uma real
prática de Saúde do Campo nos serviços e na gestão é necessário investimento por parte dos
atores em conhecer, se aproximar, se debruçar e mudar o modo de cuidar. Pois, pensar e fazer
Saúde do Campo - e não simplesmente estar “no” campo – implica em um respeito aos seus
modos de vida.
76
5.2.2 Objetivos do trabalho da saúde do campo e sua implantação.
Os gestores trazem como principais objetivos da implantação da PNSIPCFA a necessidade
de aproximar a atuação dos profissionais da Saúde das reais demandas dos camponeses da área,
afim de realizar uma proteção dessa população planejando e promovendo atividades realmente
voltadas para a população do campo.
Acho que o principal objetivo da saúde da família na área rural é de proteção,
de informação e de qualificação sobre a saúde do sujeito [...] O meu
entendimento é que as pessoas e os trabalhadores do campo precisam ser
enxergados nas suas especificidades, dentro de seus contextos. E as pessoas
do campo muitas das vezes também não reconhecem as suas especificidades,
não se reconhecem como trabalhadores do campo. Então o nosso
entendimento é de planejar e prover políticas realmente voltadas para as
pessoas do campo. (G1)
Ainda é observado a necessidade de um trabalho conjunto entre os profissionais de saúde, a
população, a academia e os gestores, no que diz respeito ao fortalecimento da PNSIPCFAe
implantação no município. Os entrevistados respetivamente trouxeram a academia como
primordial para aproximar o debate da saúde do campo e ajudar a elaborar formas de atuar no
território.
Essa [PNSIPCFA] foi uma temática que a gente incorporou e foi feito um
debate. Acho que o fato da gente ter recebido uma residência de saúde do
campo ajudou bastante [...] A gente também incorporou profissionais que tem
expertise nessa área, alguns ligados ao MST, outros que fizeram residência
nessa área. Então a gente tá realmente tentando colocar em prática essa
política, observando a realidade do município. (G1)
Aqui em Caruaru, até a residência no saúde do campo veio muito para nos
ajudar, quer dizer, a academia ter se inserido nesse processo de construção,
veio muito para estimular, para tensionar inclusive a visão, o olhar da gestão
como um todo, a macro política as vezes não permite ter esse olhar mais
específico. (G3)
Observando os documentos da gestão no Quadro 6, nota-se que as palavras ‘rural’ ou
‘campo’têm uma grande frequência de citações nos documentos, contudo, em uma análise mais
qualitativa dessas citações vemos que essas se referem apenas para destacar que uma mesma
atividade será feita nas regiões urbanas e rurais. Nos documentos analisados pouco apareceu
em relação às atividades pensadas de forma específica para as necessidades ou contexto do
campo.
77
Quadro 6 – Frequência de palavras chaves (Rural ou campo) nos Documentos da Gestão de
Caruaru
Documentos
Frequência de palavras Rural ou Campo
Plano Municipal de Saúde 2014-2017 35
Plano Anual de Saúde de 2014 6
Relatório Anual de Gestão 2014 10
Plano Anual de Saúde de 2015 6
Fonte: Autora
Podemos afirmar que já existe em Caruaru o conhecimento sobre a existência da PNSIPCFA
e atividades que se aproximam de sua implantação. Também pode-se observar que o município
já se aproximou de instituições acadêmicas que discutem o campo e do movimento
socialcamponês presente na região, inclusive com algumas propostas pioneiras em andamento,
como a Residência de Saúde da Família com ênfase no campo.Contudo é necessário um maior
investimento para a implementação da política no cotidiano dos profissionais e gestores, para
que estes passem a considerar o modo de vida específico dessa região (Diário de Campo)
(CARNEIRO et al., 2014).
5.3 O Processo de Trabalho da Equipe de Saúde da Família do campo
O Processo de Trabalho da saúde se mostra um complexo estudo dentro da pesquisa sobre o
trabalho humano. Para uma melhor compreensão o processo de trabalho foi analisado e
categorizado de acordo com as seguintes subcategorias: objeto de trabalho; agentes do trabalho;
meios de trabalho; organização do trabalho.
78
5.3.1 Objeto de Trabalho
O objeto de trabalho na saúde é o próprio trabalho em saúde e ele pode se dar de várias
formas, apartir dos meios de trabalho e da sua organização, existindo assim um aspecto
relacional dinâmico (SILVA-ROOSLI; ATHAIDE, 2011).
O trabalho em saúde na ESF tem por base o olhar sobre o território adstrito e aos indicadores
de saúde da região para através de um vínculo e diálogo constante com a comunidade buscar a
prestação de serviço de saúde de qualidade com o objetivo de um melhor acesso à saúde de
forma integral. Essa diferença do trabalho em saúde já é sinalizada por outros autores que
apontam a ESF como uma inovação tecnológica de organização e gestão do trabalho em saúde
ao comparar seu complexo trabalho cotidiano e a organização do fazer saúde do modelo
tradicional influenciado pelo Relatório Flexner da ciência positivista (SHERER et al., 2014).
Essa nova tecnologia da ESF inova quando fortalece o olhar sobre a qualidade de vida e
saúde como seu foco, em contraponto ao trabalho tradicional em saúde que tem como foco do
trabalho a busca pelo corpo doente e a luta em mantê-lo sadio. Assim a EqSF tem a tarefa de
ampliar o olhar equilibrando ações de promoção, prevenção e cura no seu cotidiano. Contudo,
vemos que em alguns momentos a EqSF se mostra mais próximas das características do
território e necessidades da população, mas de forma geral sua prática muitas vezes apenas
reproduz as diretrizes do saber clínico e normatizador. Isso é ainda mais desafiante quando se
vai para o contexto do campo, pois a maioria dos profissionais de saúde vivenciaram a vida e
lógica urbana, sendo necessário aprender novos costumes, cultura e modos de viver a vida a
partir desse novo contexto.
É preciso entender que o usuário do campo pode ser mais envergonhado para relatar questões
íntimas importantes para o cuidado; que a dor pode ser relativa e as vezes subestimada pela
população que em alguns momentos a enxerga como algo menor; que o melhor momento de
encontrar os comunitários é quando estão sentados na beira da calçada e conversando sobre
saúde no fim da tarde; e que fazer educação em saúde para população em dia de feira ou é se
fazna própria feira ou não tem público (Diário de campo).
79
5.3.2 Agentes do Trabalho
A Unidade de Saúde do campo estudada é composta por um médico, um médico residente,
uma enfermeira, uma enfermeira residente, uma dentista, uma dentista residente, uma técnica
de saúde bucal, pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), uma técnica em enfermagem, um
motorista, uma recepcionista, uma pessoa para os serviços gerais, o Núcleo de Apoio à Saúde
da Família (NASF) composto por profissionais de nível superior em saúde.
Alguns desses profissionais, principalmente os ACS, são moradores do território adscrito e
esse fator parece favorecer um maior vínculo com os usuários e uma participação mais efetiva
na vida social da comunidade como traz P8:
Eu acho que a gente pode fazer uma diferenciação clara dos profissionais que
trabalham e moram aqui na comunidade e daqueles que não moram. Quase
100% daqueles que não moram eu acho que não veem aqui como seu espaço
comunitário, então até pelo tempo de trabalho não se relacionam com a vida
da comunidade. (P8)
Segundo Silva-Roosli e Athaide, 2011 os ACS têm uma grande inserção no território.Essa
estratégia de inserir moradores daprópria região no fazer saúde é utilizada desde 1943 pelo
Ministério da Saúde através dos chamados “visitadores sanitários”, “guarda da malária” e hoje
ACS e agentes de saúde ambiental.
Os demais profissionais também conseguem uma vinculação forte com a comunidade,
porém esse vínculo está muito mais relacionado a uma confiança profissional-usuário e que só
em alguns momentos chega ao campo de uma ralação mais próxima do cotidiano dos
moradores. Segundo P4 e P2, os profissionais de saúde não tem dificuldade de estabelecer
vínculo com a comunidade, sinalizando que no campo é mais fácil de ganhar o respeito e
confiança dos comunitário.
pessoal de zona rural o vínculo é muito mais fácil e forte, não sei se pela
situação de dificuldade que a população do campo vive, mas o fato que com
eles o vínculo é mais sincero, chega ao ponto deles tomarem aquilo que você
fala como verdade, não questionam tanto né, e por um lado isso é bom, mas
tem outro que é ruim, porque tem uma certa carência na educação em saúde.
Mas o vínculo é muito mais forte. (P4)
muitas das vezes eles chamam pra almoçar na sua casa, então isso acaba
criando um vínculo. E as pessoas, eu acho, se sentem até mais à vontade de
passar pro médico verdadeiramente o que elas sentem (P2)
80
Contudo, essa aproximação não implica dizer que os profissionais não tragam preconceitos
em relação a população camponesa, pois alguns profissionais ainda apresentam um olhar
caricaturado do camponês sem instrução, sem conhecimento generalizando-os.
Assim o povo do campo tem aquela dificuldade pra ir pra cidade e o povo da
cidade já tá lá, tem conhecimento. E o povo do campo é um pouco ignorante
ele não tem conhecimento nenhum, e o povo da cidade sabe de tudo. (P1)
O povo de sítio é um povo rígido de ir pra médico. Aí o médico sempre tem
que puxar mais conversa pra ver se puxa mais alguma informação [...] O povo
da minha área é um povo mais antigo daqui, que mesmo estando doente só
vão pro médico quando é nas últimas. E quando o médico faz a visita não fala
tudo. (P3)
A Unidade do campo estudada tem uma grande interação com a academia, dessa forma, se
configura como cenário de prática a formação em saúde. Atualmente, essa unidade de saúde
recebe profissionais da Residência Multiprofissional de Saúde da Família com ênfase no campo
da UPE e a Residência médica de Saúde da Família da UFPE, sendo também campo de prática
para graduandos da medicina da UPE e da UFPE.
Abaixo P4 relata a diversidade de profissionais de saúde que atuam na USF:
A unidade [estudada] tem muitos profissionais, porque além da equipe básica
(médico, enfermeira e técnica) tem os profissionais do NASF, que é o núcleo
de apoio ao saúde da família, com fisioterapeuta, com assistente social. Então
a gente tem residência médico, que o residente é doutor [nome do
profissional], também a residência de saúde do campo, que é multidisciplinar.
Então a nossa oferta de profissional é muito grande. (P4)
A Residência Multiprofissional de Saúde da Família com ênfase no campo da UPE surge
nas falas dos gestores e profissionais como importante fator de ampliação do olhar para a saúde
do campo no território como observado no trecho de G3 abaixo.
Acho que sempre existiu essa preocupação, mas realmente a residência do
campo trouxe essa maior visibilidade (para a saúde do campo), porque mesmo
na zona rural a gente tem as unidades que é o equipamento de saúde que está
na rede de saúde construída aqui para o município, mas nós temos áreas rurais
bastante extensa, densidade demográfica, micro áreas longínquas, então é
diferente, quer dizer a formação dessa rede no campo é bem complicada, bem
difícil e os residentes eles são os olhos dessa necessidade nesse momento.
(G3)
Um importante ator no processo de diálogo entre Gestão e profissionais de Saúde é o
Apoiador Institucional (AI), que surge na organização da saúde como articulador do Processo
81
de Trabalho e Educação Permanenteem Saúde (EPS). Os trechos da entrevista de G1 e G2
abaixo se aproxima da concepção aqui explicitada sobre o AI.
O principal momento de diálogo é via o apoio institucional (AI). (G1)
Então esse apoiador tem a função desse diálogo entre a gestão, os
trabalhadores e a população.Então esse espaço, essa dinâmica é muito
impulsionada pelo próprio apoiador. [...] Porque as equipes reconhecem os
apoiadores como pessoas que apoia. Antes disso as unidade e equipes
profissionais viam as pessoas da gestão que estava na atenção básica como
supervisores e tinha essa função de supervisão, e tinha essa supervisão mesmo,
de chegar e checar horário e que é difícil, mas eles conseguem vincular. (G3)
O AI tem por objetivo superar a lógica gerencial hegemônica verticalizada e hierárquica, e
constituir novas relações, em que prevaleçam ações democráticas e cooperativas da equipe entre
si e da equipe com a gestão. Estimula assim, uma concepção ampliada da gestão e do trabalho
na saúde, com uma prática fundamentada na interação dialógica, análise crítica da teoria, do
planejamento e da avaliação. Assim, busca superar a concepção taylorista de supervisão como
a prática de controle e fiscalização do cumprimento das normas. Esse ator nos pareceu ter
grande importância para organizar a interação e relação entre os diferentes agentes do processo
e um potencial articulador de mudanças do Processo de Trabalho da EqSF do campo
(CAMPOS, 1998; CASTRO; CAMPOS, 2014; CECCIM, 2005).
5.3.3 Meios de Produção
Os meios de produção estão ligados as ferramentas e condições que o trabalhador dispõe para
realizar o seu trabalho englobando tanto insumos e estrutura física (salas, transporte) como
também os saberes (saber clínicos, epidemiológico, comunitário).
5.3.3.1 Estrutura física e insumos
Para que as atividades do cotidiano ocorram de forma satisfatória existe a necessidade de
uma infraestrutura adequada, que consiga comportar os diversos profissionais da USF, bem
como consiga acolher o número de usuários que buscam os cuidados de saúde.
Assim, a estrutura da unidade é composta por consultório médico, consultório de
enfermagem, consultório odontológico; área de recepção; local para arquivos e registros; sala
82
de curativos; sala de almoxarifado; sala de vacinas; farmácia, sala para curativos; cozinha/copa;
sala de espera, espaço para atividades coletivas, uma sala para a escuta qualificada da triagem,
WC para os trabalhadores de saúde e WC para os usuários (Diário de Campo).
O espaço físico da USF consegue comportar os profissionais já que esses tem por função
atuar na Unidade, porém também devemadentrar no território. Corroborando ao encontrado no
estudo de Menezes (2016) - que analisou o acesso à saúde na região – vimos que a estrutura da
Unidade do campo estudada é adequada, porém o grande número de usuários acompanhados
está acima do previsto na PNAB, o que faz com quea estrutura não comportea grande demanda
da comunidade (BRASIL, 2012).
No cotidiano da unidade são desenvolvidas diferentes atividades, algumas mais ligadas ao
núcleo profissional e outras mais relacionadas ao campo de saber da saúde. Também tem como
função um trabalho mais clínico no âmbito individual desenvolvido nos consultórios e visitais
domiciliares e um trabalho que visa a saúde da coletividade. Essa atuação dos profissionais da
EqSF do campo se mostra complexa por demandar atuação no território e este se apresentar
com grandes dimensões de terra, exigindo ainda maisuma prática para além dos muros da
Unidade de Saúde, com a finalidade de um real acesso para toda a comunidade.
Dessa maneira foi observado a necessidade e garantia de um carro para a Unidade do campo
como demonstra o trecho da entrevista de G3 abaixo:
Aí vem a questão da locomoção, de transporte, que isso é um problema que
na zuna urbana a gente não tem [...] Porque transporte e acesso é um dos
problemas que quando a gente vai fazer conferências não aparece na zona
urbana, mas na zona rural o problema está lá. (G3)
O estudo de Batista e Albuquerque (2014) em área do campo destacou que mesmo em uma área
coberta por ACS, a mesma possui dificuldades de acesso pelas casas serem distantes uma das
outras. Por esse motivo, ainda que havendo cobertura da área pelos profissionais da USF, o
acesso da população não é necessariamente garantido. No intuito de acompanhar a saúde da
população que mora mais distante da Unidade diferentes estratégias tem sido executadas e uma
delas é a garantia de um carro por Unidade que atende o território do campo como vemos nos
trechos abaixo da gestão e dos profissionais.
Toda nossa Zona Rural ela tem um carro que leva a equipe e tá disponível na
Unidade [...], principalmente as visitas, porque a gente tem micro áreas, ainda,
que são 14km de distância da USF. (G2)
83
[quando tem um paciente em uma micro área distante] Eu organizo caso chego
hoje, eu aviso amanhã tal hora eu irei [com o carro da USF]. (P1)
Existem aquelas localidades que já tem uns pacientes certos então o carro leva
a equipe, depois traz os pacientes, e a gente sempre tenta priorizar. (G3)
Ainda para sanar a questão de mobilidade no território, alguns profissionais utilizam o meio
de transporte próprio para visitas em áreas distantes, porém essa prática se apresenta como um
problema financeiro para o profissional, em especial o ACS que tem o maior tempo de trabalho
nas áreas distantes como podemos verificar nos trechos de entrevistas dos profissionais abaixo
Os[ACS] de lá [áreas distantes] tem moto, é dois. (P6)
Tem o carro da unidade que traz os profissionais. Se o carro não tiver e o ACS
tiver moto, a gente vai com ele [para Visita Domiciliar](P1).
[Para fazer Visita domiciliar] eu vou de moto. (P3)
Outra estratégia adotada para atendimento em áreas mais distantes é o atendimento clínico
em pontos estratégicos normalmente cedidos pelos moradores da região. Essa estratégia pode
atenuar o problema da barreira geográfica para o acesso a saúde, porém para funcionar é
necessário uma sistemática com a gestão do veículo disponível para levar o profissional de
saúde e no caso da EqSF estudada só se configura em um atendimento individual, não suprindo
a necessidade de atuação de cunho coletivo nessas localidades (Diário de Campo). Nos relatos
abaixo de 3 profissionais da EqSF é explicado como essa prática ocorre.
Quando tem liberação do carro, que é difícil, e quando o médico uma vez ou
duas por mês vai atender nas áreas que são distantes da unidade (lagoa salgada,
[...], zumbá e Rafael de dentro) (P3)
E na realidade as áreas mais distantes o médico vai até lá. De 15 em 15 dias o
médico vai fazer atendimento lá [nas micro áreas distantes] (P1)
Como a gente não tem um ponto de atendimento fixo nessas áreas, uma
unidade de apoio. Por exemplo em Lagoa Salgada a gente usa a casa do ACS,
não é o ideal, infelizmente, já que tira a privacidade e alguns usuários
reclamam, mas é o que a gente tem. Ou é isso ou não [tem] o atendimento lá.
(P4)
Segundo Ferreira (2014), que também fez um estudo acerca do processo de trabalho em área
do campo, no Paraná também foi constatado uma característica de trabalho itinerante, já que os
profissionais de saúde têm uma jornada de trabalho itinerante, atendendo várias localidades
durante a semana.
84
Outro fato corriqueiro na unidade é o motorista realizar 3 diferentes transportes no trabalho
cotidiano. O primeiro é o transporte da EqSF para a Unidade, depois para a visita domiciliar e
atendimento nos pontos estratégicos em áreas distantes; o segundo é o transporte dos usuários
da área adstrita para os serviço especializado ou para a unidade; eo terceiro é o transporte de
insumos da Secretaria para a Unidade. A múltipla função da utilização do transporte é
necessária para as demandas do território, porém acaba por limitar os turnos para atendimentos
dos profissionais de saúde em visita domiciliar ou atendimento em áreas distantes. Essa
realidade é relatada abaixo pelos profissionais da Unidade e pela gestão:
Infelizmente a gente tem um problema aqui pra fazer visita domiciliar, porque
a unidade do X (estudada) tem um carro que traz os profissionais de Caruaru
pra cá, só que também é o mesmo carro que leva os pacientes pra hemodiálise
e pra fisioterapia em Caruaru, então é um carro que leva e traz. Então o carro
fica comprometido quase todos os dias da semana. [...] Então assim a gente
tem 2 turnos pra fazer visitas com o carro da unidade, ou seja, é muito ruim.
(P4)
É as vezes tem gente daqui que vai fazer exame em Caruaru aí eu levo, quando
não tem eu vou só mesmo lá pra secretaria pra esperar o pessoal daqui. Levo
pra UPA, pra onde for, depois umas 6 ou 6:30 eu tô lá na secretaria esperando
o pessoal daqui do posto [...] E quando eu chego aqui aí eu volto de novo pra
levar o pessoal da fisioterapia, da hemodiálise, tem tudo isso. (P6)
Porque nós temos um carro para cada unidade e temos dificuldade às vezes.
Por exemplo dessa organização interna da equipe que além do carro ter que
dar conta da mobilidade da equipe, tem que dar conta da população. (G3)
Como já colocado anteriormente, nesses territórios o transporte público apenas passa pela
Rodovia Federal, e por isso os usuários que moram nos territórios afastados têm dificuldade de
acessar o serviço de saúde. Para gerenciar o meio de transporte da unidade é necessário uma
grande organização para suprir a demanda de transporte do território como podemos ver nos
trechos de G3.
Na verdade a organização começa antes mesmo da equipe, começa na
secretaria porque você tem que ter uma central de transporte, tem que ter carro
garantido para a equipe, carro garantido para as visitas que muitas vezes é
complicado. (G3)
A resolução dos problemas de acesso, gerados pelas barreiras geográficas, são complexos,
mas podem ser diminuídos com o investimento numa melhor infraestrutura local de transporte
público e melhoria das estradas. A saúde tem o papel de dialogar com a comunidade sobre suas
dificuldades e potencialidades e, assim, estimular a organização dos comunitários em busca de
85
seus direitos e na articulação intersetorialem busca de resolução nos outros setores municipais,
afim de atuar nos problemas da população, assim é fundamental esse tipo de atuação para
melhorar o acesso local. Contudo, atuações mais de organização e controle social pouco foram
observadas na comunidade, ficando ainda restritas à ações menores que não dão conta de
melhorar as condições de transporte e vias públicas na região.
Além da estrutura da Unidade e a garantia de veículos para a mobilidade na região, para um
trabalho em saúde é necessário um aparato de materiais de saúde como vacinas, materiais de
curativo, álcool, luvas, máscaras, remédios que devem ser garantidos pelo município.
5.3.3.2 O saber na saúde
Quando pensamos sobre o saber na saúde este engloba os saberes clínicos amplamente
trabalhados na academia, os saberes organizacionais onde entram protocolos e escalas e os
saberes adquiridos com a localidade onde se trabalha.
Os protocolos do trabalho sobre a prática da saúde na APS são postos pelo Ministério da Saúde
e são apresentados pelos Cadernos de Saúde, esses cadernos podem trazer conhecimentos
relacionados aos diferentes ciclos de vida, como o Caderno n° 19 que traz a temática
envelhecimento e saúde da pessoa idosa ou sobre orientações ao processo de trabalho como no
Caderno n° 28 que traz a temática do acolhimento à demanda espontânea (BRASIL, 2007,
2012).
Porém dentro das necessidades do território os profissionais através do processo reflexivo
podem criar formas de abordagem mais próximas das necessidades da população. Nos trechos
de entrevistas de profissionais e gestores logo abaixo fica claro que a equipe não segue ou não
construiu nenhum protocolo diferenciado de atendimento visando as características da
população do campo e dessa forma segue apenas os protocolos ministeriais. Os entrevistados
foram claros sobre essa questão, pois afirmam de forma unânime a não existência de escalas e
fichas ou protocolos diferenciados voltados para a população do campo.
Não, os instrumentos que a gente usa aqui são todos do Ministério da Saúde,
fiquei me indagando se tem um instrumento específico pra saúde do campo.
Talvez o pessoal da residência de saúde do campo, que faz muita pesquisa no
campo in loco. (P4)
Não, é como eu falei, especificamente não. (G3)
Não [temos protocolo para população do campo], aqui a gente trabalha por
prioridade: o idosos, as crianças menores de 1 ano, gestante.[...]. E também as
86
urgências porque as vezes não é idoso, mas tá com cansaço, uma pressão
muito alta. (P2)
A Residência de Saúde da Família com ênfase no campo visando uma atuação mais próxima a
população do campo adaptou a escala de risco de Coelho e Savassi para o Campo e criou um
protocolo de atuação para atuação junto à crianças nessas áreas. Essas ferramentas ainda são
pouco utilizadas pela EqSF. A escala de Coelho e Savassi tem o objetivo de fazer realizar um
olhar inicial sobre a comunidade realizando a partir desse olhar uma estratificação de risco e,
dessa forma, sendo útil para estabelecimento de prioridade na organização do processo de
trabalho. É uma ferramenta de trabalho simples, aplicável em qualquer USF (COELHO;
SAVASSI, 2004; UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, 2015b; 2015c).
A escala modificada de Coelho e Savassi para o campo traz tanto as questões trabalhadas no
cotidiano das EqSF, incluindo a questão dos usuários acamados como fator de risco, mas
também amplia o olhar para questões do campo trazendo o olhar para o uso de agrotóxicos e o
cuidado com os animais como podemos observar abaixo (UNIVERSIDADE DE
PERNAMBUCO, 2015b).
Desta maneira foram definidos como risco sentinela: Morador com mais de
60 anos sem familiares, Acamado, Domiciliado, Pessoas com deficiência que
demandam cuidados especiais, Transtorno Mental, Alcoolista e ou
dependência química(drogadição), Pessoa privada de liberdade, Desnutrição
em menores de 5 anos, idoso e gestante (por pessoa), Obesidade grau III,
Baixo peso, Doença falciforme, Sífilis congênita, AIDS, HIV, Hanseníase ou
Tuberculose, Leishmaniose ou Doença de Chagas ou Esquistossomose,
Hipertensão e diabetes na mesma pessoa, Hipertensão Arterial Sistêmica
complicada, Diabetes Mellitus com pé diabético ou com comorbidade, HAS
ou diabetes sem complicações, Gestante, Menor de seis meses, Maior de 70
anos, Óbito infantil anterior (menor de 1 ano), Crianças menores de 09anos
que ficam sem adulto em casa, Vacina desatualizada em menor de 18 anos
(pelomenos uma pessoa da família), Mãe ou responsável de menor de 5 anos
analfabeto, Analfabetismo do chefe da família, Ausência de Registro de
Nascimento para maioresde 5 anos, Ausência de cisterna, Desemprego no
chefe de família, Uso de agrotóxicos, Família sem renda, Ausência de
profilaxia animal (no domicílio), Animal doente (por animal), Animal doente
por zoonose, Barbeiro (triatomíneo) na casa e Relação Morador/cômodo (Se
maior que 1, Se igual a 1 e Se menor que 1) (UNIVERSIDADE DE
PERNAMBUCO, 2015b).
Assim, a academia chega com a possibilidade de criação de um olhar diferente para as
especificidades de trabalho, incluindo em protocolos gerais questões específicas e até então
ausentes na preocupação dos profissionais de saúde, como uso de agrotóxicos;ausência de
87
profilaxia animal (no domicílio); além de algumas doenças negligenciadas, o que amplia a
atuação da saúde nesse território. Abaixo P4 e P8 corroboram com a afirmação de que a
residência com ênfase no campo auxiliou a ampliação do olhar para a Saúde do Campo.
[A residência] melhorou isso, com uma territorialização mais objetiva com a
classificação de risco, que é importantíssima, pra priorizar as visitas. (P4)
A residência do campo ficou na tarefa de executar um outro protocolo que foi
inclusive desenvolvido pela UPE que seria a escala de Coelho e Savassi
adaptada para o campo, né?. (P8)
Em relação aos diferentes protocolos no Plano Municipal de Saúde 2014-2017 e no Plano Anual
de 2014, a gestão também indica a intencionalidade de rever seus protocolos (CARUARU,
2014a; 2014b).
A Implantação de protocolos clínicos nos níveis de atenção, as equipes
(CARUARU, 2014a)
Viabilizar estudo com equipe e redefinir modelo de protocolo clínico que
atenda a realidade na região (CARUARU, 2014b)
Porém os profissionais não relatam atividades relacionadas a implantação de novos protocolos
clínicos, muito menos a inclusão de temáticas camponesas sendo trabalhadas juntos aos
profissionais, como relatado por G3 abaixo, apontando a Residência de Saúde do campo, a
Residência de Medicina de Família da UFPE e o NASF como potenciais para realizaressa
reflexão sobre saúde do campo.
Veja, infelizmente a gente não conseguiu, em relação às equipes, por exemplo,
educação permanente específica para quem trabalha no campo, na área que
hoje existe a residência de saúde do campo ou residência de medicina de
família e comunidade ou o próprio NASF. (G3)
No estudo de Lara et al. (2011) sobre a prática dos Agentes Comunitários em Saúde em áreas
rurais, foi observado práticas de educação em saúde relacionadas a saberes e costumes
populares ligados à utilização de chás e ervas medicinais, eventualmente conciliados com as
terapias medicamentosas e prescrições médicas. Esses estudos demonstram que as práticas
populares podem ser sim estimuladas pela gestão através de cursos e temáticas durante o
processo de EPS com os profissionais, sendo um caminho potente o investimento no saber
comunitário e dos ACS nesse sentido.
88
A EPS é uma estratégia que possibilita aprimorar as práticas assistenciais, mas também atua
na consolidação de um processo educativo que analisa o cotidiano do trabalho e promove a
discussão contínua dos problemas de saúde (SARRETA; BERTANI, 2010).
A EPS é um instrumento fundamental no trabalho da saúde, o estudo de Ceccim (2010)
destaca que a graduação em si não é suficiente para garantir a qualificação necessária para a
atuação cotidiana, já que o conhecimento e a informação em saúde estão constantemente em
mudança exigindo atualização do profissional. Com esse objetivo, vários processos de
formação a distância foram lançados pelo Ministério da Saúde. A primeira iniciativa nesse
sentido para o contexto do campo foi lançado pela UNA-SUSem junho de 2015, com o curso a
distância sobre a “Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas” (BRASIL, 2015).
Porém, esse processo de capacitação dos trabalhadores também deve ser realizado no âmbito
Estadual e Municipal, a partir do princípio de descentralização proposto pelo SUS, conseguindo
assim promover estratégias de qualificação de seus trabalhadores de acordo com as
especificidades locais. Segundo Barbosa, Ferreira e Barbosa (2012) a prática de capacitação
dos profissionais de saúde, em serviço, deve ser a base fundamental para o desenvolvimento da
qualidade da assistência prestada à população.
É importante pontuar que tanto os documentos como as entrevistas demonstraram uma
grande necessidade e um solo fértil para discussão e construção da temática da saúde do campo
nesse território. Isso se dá porque, além da existência de atores externos que podem ser
potenciais na discussão, a gestão se mostra disposta a dialogar e tem espaços institucionais de
EPS para essa construção, como evidenciaos trechos das entrevistas de G3 e G1 abaixo.
eu acho que a gente tem uma organização de educação permanente
estruturada, que é uma coisa que a maioria dos municípios não tem, é uma
coisa bem inovadora, mas não é voltada especificamente para a educação do
campo. Essa necessidade, e acho que, por exemplo, eu vejo até como uma
coisa para ser investida no futuro. (G3)
A cada 15 dias, ele é programado. Como estamos implantando redes
temáticas, eles são programados a partir dessas redes temáticas. (G1)
O conhecimento sobre o território se dá de diversas formas, umas mais qualitativas, através
de uma escuta com os usuários em grupos ou reuniões – e outra mais quantitativa através dos
dados epidemiológicos consolidados pela gestão nos setores das vigilâncias em saúde. Porém
o ideal é o equilíbrio desses dois modos de conhecer o território.
89
Batista e Albuquerque (2014) utilizaram em seu estudo o Diagnóstico Rural Participativo
(DRP) para realizar uma territorialização junto a população. O DRP viabiliza uma aproximação
sobre o olhar do território sob a perspectiva dos moradores, e, de forma dinâmica, torna possível
realizar o planejamento e/ou monitoramento de ações (CUNHA; FERREIRA NETO, 2006).
Essa nova metodologia se apresenta como uma potente possibilidade de realizar uma
territorialização mais qualitativa no campo, pois através dela é possível analisar conjuntamente
com a comunidade camponesa o foco das intervenções em saúde.
No DRP é possível trabalhar com uma linguagem mais simples e acessível ao grupo de
discussão, também, tem como objetivo despertar a discussão sobre problemas e potencialidades
da realidade da região, o que permite o levantamento e a análise do conhecimento coletivo,
trabalhando com as percepções das pessoas que residem no local, facilitando a verificação de
informações obtidas no processo de diagnóstico e utilizando materiais de baixo custo como
folhas, sementes e papel. Essas novas tecnologias no trabalho, como o DRP, estão sendo
desenvolvidas e podem ser trabalhadas nas áreas rurais para subsidiar a organização do trabalho
em saúde, contudo, para tal elas devem ser conhecidas pela gestão e introduzidas nas EqSF
através da EPS (CUNHA; FERREIRA NETO, 2006).
Nesse sentido, uma maior aproximação do Apoiador Institucional - sendo a ponte entre os
dados da Vigilância Epidemiológica e novas tecnologias para o trabalho como o DRP junto
àsEqSF- se faz necessária. A gestão traz essa reflexão nos trechos de G3 abaixo, ressaltando a
necessidade de um trabalho mais integrado aos dados epidemiológicos do território, e além
disso enfatiza a importância da vigilância ambiental nesse contexto rural.
Eu acho que existeesse diálogo, é o falar, a coisa ser socializada. O
conhecimento da vigilância com o conhecimento que a equipe tem do
território, porque essa é uma das dificuldades que a gente tem em relação a
atenção básica por exemplo, até mesmo na cidade. Você trabalhar dentro da
semana padrão as necessidades que é visualizada pela epidemiologia, esse link
de uma ação com a outra que é falho, precisam ser mais fortalecidos. (G3)
a inserção da vigilância de saúde dentro dessa formação de rede porque eu
acho que a vigilância tem esse papel importante. De fazer esse destaque para
que tipo de adoecimento. Eu acho o diálogo, a troca é fundamental e muitas
vezes é complicado. (G3)
5.3.4 Organização do Trabalho
A organização do trabalho no cotidiano se apresenta de forma complexa quando se atua em
equipe e com desafios a mais como áreas extensas, dificuldade de locomoção, usuários em
90
condições de trabalho e vida precárias, além da necessidade de organizar diferentes atores
trabalhando no mesmo espaço físico.
A gestão visualizou essa complexidade e por issoimplantoua atuação dos Apoios
Institucionais por região para que estivessemmais próximosà organização do trabalho nas
Unidades. Esse acompanhamento se dá atrvés de reuniões entre EqSF e seu apoiador
institucional.
Para dar início ao processo de acompanhamento das famílias, a USF precisa conhecer sua
área adstrita, o que se faz principalmente através do cadastramento pelo ACS dos usuários do
território. Esse cadastro garante um conhecimento quantitativo de cada micro áreainserida na
sua equipe, o que é combinado ao reconhecimento territorialpor parte das equipes, que devem
observaras relações existentes, os principais equipamentos sociais, a principal atividade
econômica do território, os fluxos diários das pessoasno território, as demandas de saúde de
cada família, etc. Durante esse processo, denominadoTerritorialização, a equipe observa o
território por vários ângulos (geográfico, epidemiológico, cultural e quantitativo),podendo
definir a partir desse reconhecimento as estratégias prioritárias de intervenção no território.
Segundo Santos e Rigotto (2011) a territorialização é imprescindível para o trabalho do
profissional de saúde na ESF, isso porque é a partir dele que o planejamento das atividades
devem ser orientados, porém também destaca que é necessário conhecer o que este espaço
representa para a população, captando sua dinamicidade e os fatores que interferem nas relações
com a comunidade.
No estudo os profissionais reconhecem que tiveram uma prática próxima a descrita acima,
porém não parecem utilizá-lo para o planejamento de suas atividades diárias. O processo está
mais ligado a uma melhor divisão das micro áreas como visualizamos nas falas de P1 e P2
abaixo.
A gente foi casa a casa. A gente tinha o mapa que a prefeitura mandou. [o
mapa] Não está aqui no momento porque a gente tá com áreas descobertas. A
gente tem sem o ACS pra detectar toda a área. A gente tá com uma população
de mais de 5 mil pessoas. (P1)
Eles vão ao território, os agentes. Eles fazem o levantamento das áreas, das
casas que foram construídas. Todo ano é feito esse mapeamento. Eles fazem
o mapa dos territórios, aí depois eles juntam e colocam num mapa só. [...]Aí
eles fazem a divisão novamente das áreas aumentando as áreas de alguns. [...]
Eu sei que eles fazem também o quantitativo de crianças naquela área, menor
de 1 ano, menor de 5 anos, de gestantes, de idosos, de hipertensos, de
91
diabéticos. Aí nesse mapa eles sempre colocam isso. Eles colocam as cores
pra cada um desses. (P2)
[A territorialização] Ocorre em todas as unidades, seja nas urbanas ou no
campo porque isso é fundamental, é você territorializar, você conhecer a
população adstrita, então isso é feito e em relação ao campo. (G3)
Em relação a identificação de situações de riscos específicas para cada micro área os
profissionais colocam que não fazem estudo sobre necessidade por micro área e sim por caso
mais grave. Algo similar foi encontrado por Ferreira (2014 p. 57), que aponta “as equipes das
ESF rurais que participaram do estudo não mencionaram o (re)conhecimento do território como
ponto de partida no planejamento de suas atividades.”
Esse processo reforça o trabalho em saúde individualizado em detrimento da saúde da
coletividade. Porém, alguns profissionais trazem um olhar mais amplo para a territorialização,
mas, a prática atravessada por vários fatores como a alta demanda acaba por impulsionar o
profissional a uma prática mais individual do que coletiva.
Conhecer a população, os dispositivos que tem naquela determinada micro
área, quais as características e o perfil de determinada área, pra gente
determinar quais as estratégias que devem ser feitas. (P5)
O planejamento é um processo necessário tanto para a resolução de problemas no território
quanto para a organização do processo de trabalho em que há a participação dos trabalhadores
da saúde e da sociedade. É uma prática que identifica os problemas, analisa a melhor forma de
solucioná-lo, oportuniza a ação e reduz o afastamento dos trabalhadores e os processos de
produção da saúde. O planejamento não deve se reduzir apenas à construção de projetos, ele
deve influenciar a realidade dos trabalhadores, e a partir dele, devem ocorrer mudanças como
consequência. O ideal é um planejamento com a participação de todos (profissionais,
comunitários e gestores) isso porque, quando há a participação de diversos atores, há uma maior
chance do comprimento das atividades planejadas com menores obstáculos (PAIM, 2012).
Em relação ao horário de funcionamento das USF do território do campo foi observado que
os profissionais de saúde têm um horário diferenciado, um horário corrido (sem intervalo de
almoço) com início e término mais cedo que o horário comercial. Segundo a gestão e os
profissionais, o deslocamento também é contabilizado no horário do trabalhador de saúde do
campo.Essa prática é comum na região do campo, e atende a necessidade do trabalhador da
saúde que se desloca para regiões mais distantes do centro da cidade e também atende as
92
necessidades dos usuários da área que normalmente acordam cedo e não se deslocam tanto nos
horários do fim da tarde. Abaixo profissionais e o gestor G2 aponta essa modificação no horário
das EqSF do campo.
A gente funciona das 7:30 as 15:30 (P1)
A unidade tem um funcionamento como as unidades do Brasil, ela começa às
7 da manhã, fecha ao meio-dia e reinicia das 13 às 15:30 porque a secretaria
conta para os profissionais de nível superior que as 7:30 eles precisam estar
na secretaria de saúde e o tempo de translado para área rural é descontado da
área de trabalho assim como o retorno. (P8)
Na Zona Rural a gente deixa em horário corrido, principalmente em horário
de almoço, diminui um pouco o tempo deles, pra poder encerrar mais cedo,
por conta de deslocamento, algumas coisas desse sentido. (G2)
Os profissionais P4 e P5 destacam a grande demanda que a USF acompanha, segundo a
PNAB cada EqSF deveria acompanhar de 3 a 4 mil pessoas e acompanha 6 mil pessoas com 9
micro áreas, onde duas estão sem ACS. Porém os profissionais apontam um número muito
maior de usuários acompanhados. O que consequentemente impacta negativamente no processo
de acompanhamento pela grande demanda (BRASIL, 2012).
Mas nós temos uma demanda muito grande, o (unidade estudada) tem quase
6 mil pessoas adstritas à unidade. (P4)
A demanda como aqui é uma população grande e a gente tem praticamente 6
mil pessoas. (P5)
Para organizar a grande demanda espontânea que chega a unidade, nos turnos da manhã é
realizado o acolhimento. Essa ferramenta de organização é orientada pelo ministério da Saúde,
a partir do caderno nº28 (acolhimento à demanda espontânea), que coloca aescuta qualificada
do usuário como forma de organizar o cuidado a partir de uma avaliação de risco e
vulnerabilidade (BRASIL, 2012). Abaixo P2 traz a forma como a unidade realiza o
acolhimento.
Sempre de manhã cedo tem o acolhimento. Aí a gente recebe o paciente vê
qual é a queixa, encaminha ele a uma escuta. Depois da escuta ele vem aqui
pra sala do médico, depois dessas consultas, também tem as consultas
agendadas. (P2)
Os agendamentos para consultas podem ser marcadas no acolhimento, mas a unidade
atualmente tem três formas de marcação diferentes.O que pode de certa forma confundir o
usuário. A enfermeira durante as reuniões de equipe marca com os Agentes de Saúde turnos de
93
puericultura e pré natal para cada micro área. A dentista tem um dia de marcação por mês no
acolhimento, o que provoca certo tumulto no dia de marcação. Já os médicos utilizam o acesso
avançado, que é uma prática que tem como proposta diminuir filas de marcação e melhorar o
acesso ao usuário. No acolhimento a agenda do médico é aberta para consultasnas próximas
48h, e se não houver vaga o usuário é orientado para vir ao acolhimento novamente para realizar
a marcação. Isso pode ser visualizado nos trechos trazidos por P5 e P4.
A gente tem 3 formas de agenda, isso a gente percebe que acaba dificultando
um pouco a questão da marcação mesmo, os médicos atendem por acesso
avançado, a minha agenda é fechada, mas é um fechado que tem possibilidade
de marcação. E a da dentista que marca é ela mesmo com a ASB. Então são
três formas de agenda. (P5)
Quando o paciente não tem consulta agendada e quer marcar consulta, o
profissional que está no acolhimento, ele verifica a possibilidade na agenda de
marcar a consulta, com a orientação de não mais 2 dias pra frente, ou seja, no
máximo 48h. (P4)
No acolhimento é feito uma escuta inicial determinando se o caso é agudo e necessita de um
atendimento no mesmo dia ou se é subagudo e pode aguardar para um atendimento do médico
nos próximos dois dias. Em alguns casos uma orientação do profissional que está no
acolhimento já pode solucionar a queixa do usuário.Abaixo podemos observar os trechos das
entrevistas de P4 e P3 bem como a figura 17, que explicitam o fluxograma de como ocorre o
acolhimento e os agendamentos da unidade.
Então o fluxo é basicamente isso: o usuário chega é feita uma triagem, que
chama acolhimento, mas na verdade é uma triagem (ele passa pela escuta de
um profissional de saúde); e aí tem duas possibilidades, ele pode ter já consulta
agendada, aí o profissional confirma o agendamento e então o paciente é
encaminhado pra recepção, pra tirar o prontuário e aguardar a consulta. (P4)
A segunda-feira é superlotada, em questão de atendimento médico e de
enfermeira, a parte de urgência. É mais médico e enfermeira, porque a dentista
tá atendendo com marcação. (P3)
94
Figura 17 - Fluxograma do acolhimento e agendamento da EqSF do campo
Fonte: A autora
A partir do acolhimento e da reunião de equipe os atendimentos individuais são marcados,
nele na maioria das vezes o profissional realiza sua conduta no consultório dentro da Unidade
com o olhar voltado para o seu núcleo profissional como expressado abaixo pelos profissionais.
A gente oferece aqui a população o acolhimento todo dia aqui, oferece
vacinação todos os dias da semana, oferece curativos, troca de curativos,
oferece visita domiciliar de profissional de nível superior três vezes na
semana, mas não são só 3 profissionais. (P8)
A gente também abrange puericultura, pré-natal. Isso é o cotidiano
puericultura também tem todo dia, pré-natal também todo dia, separado de
cada área, cada agente tem o seu dia. (P2)
Os atendimentos não são mais de demanda livre, são agendados – de médico,
dentista e enfermeira – então quando a gente chega já vai saber quais são os
usuários que estão presentes pra organizar a ordem de chegada e iniciar os
atendimentos. (P7)
Acolhimento:
Escuta inicial por ordem de risco
Casos subagudos
Resolução no Acolhimento com
orientações no acolhimento
Agendamendo para os médicos nas
próxima 48h (Acesso avançado)
Casos agudos (ex: presença de febre,
tonturas)
Atendido no dia por um dos profissionais
de nível superior
Agendamento com Dentista uma vez no mês no acolhimento
Agendamento com a enferemeira separado por turnos para cada
microáreas
Reunião de Equipe
95
O atendimento individual pode ser realizado tanto no consultório, quanto na residência dos
usuários durante visitas domiciliares. No caso da USF do campo normalmente essas visitas
domiciliares são realizadas com o carro da unidade principalmente para pacientes com
dificuldade de mobilidade. A visita domiciliar se mostra como ferramenta potente já que nela
o profissional tem a possibilidade de um olhar amplo sobre o meio onde cada paciente vive,
bem como pode se utilizar dos potenciais desse espaço para a prática terapêutica, dessa forma
nesse espaço são dadas orientações clínicas efeitos procedimentos terapêuticos. Porém as
visitas domiciliares por vezes não são realizados, pela falta de infraestrutura móvel. Abaixo nos
trechos de entrevistas dos profissionais podemos visualizar em quais casos são realizadas as
visitas no domicílio.
[Nas visitas domiciliares] Como a gente não tem um consultório do lado, a
gente faz aplicação de flúor em crianças, faz o exame da boca pra ver se as
pessoas tem necessidade de marcar consulta pro consultório. Na visita de
puérpera, a gente orienta a mãe os cuidados com o bebê pra que ele não fique
com dente cariado. No caso do acamado o máximo que a gente pode fazer é
uma raspagem, uma limpeza; se for o caso até uma extração dá pra fazer lá.
(P7)
Eu visito os acamados, eu tento fazer uma visita mensal a esse pessoal. Visito
as puérperas, e algumas pessoas que os ACS identificam a necessidade, aí a
gente vai. (P5)
É a tarde (que faço visita Domiciliar), porque de manhã tem o pessoal da
fisioterapia e da hemodiálise. (P6)
Tem se for um acamado, diabético, a questão clínica, pra saber qual paciente
vai precisar primeiro do atendimento. A questão da distância não entra[como
critério de visita domiciliar] não. (P3)
A organização dasvisitas domiciliares nas diferentes áreas se dá por prioridade clínica e
quantitativo de pessoas na comunidade.No estudo vimos que avisita domiciliar -importante
instrumento em que o profissional adentra no ambiente do usuário – é realizada na USF do
campo, porém em quantidade de turnos limitados em áreas mais distantes por causa da
disponibilidade do carro para todos os profissionais.
Não [faço Visita domiciliar por rua], por ser micro área, as famílias são
divididas. Então eu faço 3 visitas em uma, duas visitas em outra, pra não ficar
só em uma micro área.” [...] Tenho 4 [comunidades], como se fossem quatro
povoados. [...] Eu deixo mais tempo pra duas micro áreas [maiores]. (P3)
Faço [visita domiciliar], é mais pra puérpera, acamado e paciente especial.
(P7)
96
Já as atividades coletivas são planejadas nas reuniões de equipe, e englobam o planejamento
principalmente das atividades relacionadas ao calendário da saúde e festividades como dia da
mulher, São João, etc como apontado pelos profissionais P2,P3 e P4. Por vezes esse modo de
trabalho baseado pelo calendário de Saúde do Ministério pode não abordar as reais demandas
do território de acordo com a epidemiologia e reforça o Modelo Campanhista de saúde.
Eu acho que quando que aproximam mais é no tempo de campanha de vacina,
como agora teve o Outubro Rosa, quando é algum tempo festivo, quando a
unidade faz festa pra comunidade. (P3)
O povo vem com força viu. Pronto, dia internacional da mulher, a gente faz
os comes e bebes para as mulheres. Dia das crianças a gente faz, São João a
gente faz, final de ano, semana santa a gente faz o café. Toda data
comemorativa a gente faz. (P2)
Fora isso tem aquelas festas relacionadas a promoção da saúde, por exemplo,
esse mês é o mês de combate ao câncer de mama, então a gente procura fazer
palestras sobre isso aqui no (Unidade do campo estudada). (P4)
Os grupos de saúde tem uma atuação mais longitudinal, o que possibilita maior vínculo e
escuta junto aos usuários. A unidade possui grupo de gestantes, terapia comunitária, grupo de
mulheres e grupo de atividade física. Podemos observar a partir dos trechos da entrevista
abaixo, que existe uma grande participação da equipe de apoio do NASF junto a três grupos
(Gestante, grupo de atividade física, grupo de mulheres) e dos Residentes junto a dois grupos
(terapia comunitária, grupo de mulheres), porém a participação da EqSF é pequena e esse fato
normalmente é justificado pela grande demanda por atendimento clínico individual (Diário de
Campo). Dessa maneira a EqSF perde a oportunidade de lançar mãode outra lógica de cuidado
mais pautado na coletividade, o que distancia o olhar dos profissionais do cotidiano dos
usuários.
Temos 3 grupos atuando, que é o grupo de educação física, a terapia
comunitária que é no assentamento e o grupo de Queimada do Uruçú, que é
um grupo de mulheres, esse é um grupo mais auto organizado, elas se
organizaram [...] Tem um grupo que é cíclico com as gestantes que a gente
faz. (P8)
Tem grupo de gestantes e tem atendimento do NASF, que [tem] atendimento
com psicólogo, assistente social. (P1)
E também a gente tem uma coisa muito importante que é o NASF, que ajuda
muito. A gente tem atendimento com nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta,
aulas com educador físico toda sexta-feira. (P2)
As reuniões de equipe se mostraram como um dos principais momentos de organização e
planejamento do trabalho da EqSF. Isso porque são nelas que são pactuadas e organizadas as
97
atividades que serão executadas, além de planejarem as atividadesa serem desenvolvidas nos
próximos 15 dias e definirem a divisão das diferentes funções. As reuniões podem ser internas,
entre os profissionais da Unidade, ou externas, com atores de outras equipes de saúde, com
outros setores - como educação, assistência -,ou com a comunidade.
Contudo, igualmente ao que foi observado no estudo de Pereira et. al. (2013) as reuniões das
EqSF possuem como atividade central a discussão sobre a divisão de atividades a cuto prazo e
socialização de informações.
Nas reuniões entre os membros da EqSF é realizada a produção, a organização dos horários
de atendimento da enfermagem, a programação de eventos (normalmente ligados ao calendário
da saúde), os atendimentos nas áreas distantes são marcados e realizam a discussão de casos.
Essas reuniões ocorriam semanalmente, porém atualmente estão ocorrendo quinzenalmente.
Abaixo os profissionais trazem um pouco sobre como ocorre a reunião de equipe.
Tem o dia da produção, é uma vez por mês. Então (a enfermeira) ela faz os
horários. Por exemplo quem vai ficar no acolhimento naquela semana. (P2)
A agenda da equipe da gente fecha mensalmente, a gente se reúne e vê as
demandas, os atendimentos nas micro áreas distantes, atividades educativas,
atividades específicas (como dia das mães, novembro azul, etc.). Agora para
discussão de caso, a gente sente a necessidade de fazer quinzenalmente ou até
semanalmente, quando os ACS trazem muitos casos de suas micro áreas pra
gente atender. (P7)
No máximo duas vezes por mês, no máximo. A gente tava tentando fazer toda
semana, mas pela quantidade de pessoas que o posto tem pra atender não dá.
(P3)
Depende do período, quanto a gente consegue uma vez por semana, ou de 15
em 15 dias, ou uma vez por mês, depende da necessidade mesmo. (P5)
É importante relatar que as atividades da unidade parecem não ter um planejamento anual
com análise e planejamento de acordo com a territorialização. Observamos que a organização
da unidade se dá nessas reuniões quinzenais e tem apenas o caráter do imediato, pensando as
atividades normalmente de acordo com demandas solicitadas pela gestão ou de acordo com o
calendário da saúde.
Dessa forma, a atuação é pequena no que diz respeito ao olhar sobre o processo de
adoecimento da coletividade. É importante destacar que segundo a PNAB, é de
responsabilidade dos profissionais de saúde, além de atender a demanda curativa, ter a
responsabilidade sanitária pelo território de abrangência da ESF, e devem atentar-se para as
necessidades de saúde locais (BRASIL, 2012). Portanto, é preciso estabelecer melhor a
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periodicidade da reunião de equipe como estimular a realização de planejamentos e avaliação
a longo, médio e curto prazo, de acordo com as necessidades do território. Os momentos de
reunião fortalecem o vínculo entre os profissionais de saúde e estimulam a participação efetiva
de todos, assim se configura como espaço central na organização do trabalho em saúde.
Os demais agentes (residentes e NASF) que atuam na USF não participam da reunião de
equipe da Unidade e tem um dia aparte de reunião com a equipe, para dialogar e pactuar as
atividades. Nos pareceu que ainda é preciso uma maior integração entre esses diferentes atores,
conforme a descrição de P5 e P8.
Tem uma reunião só com a equipe e outra com todo mundo NASF e
residentes. (P5)
Existem três planejamentos que não se conversam. Tem os planejamentos das
residências que tem suas tarefas a cumprir e organizam seus horários de
acordo para isso, e tem o planejamento da gestão que se organiza
principalmente em torno dos programas e dos planos para cumprir suas metas
necessárias, né? E aí a nossa unidade do X tem tido dificuldade inclusive de
ter frequência de reunião, de ter reuniões frequentes para poder sentar todo
mundo e desenvolver. (P8)
Segundo Gentilini (2014), um potente planejamento se dá com a participação de todos os
atores envolvidos. O método do planejamento estratégico situacional é citado por esse autor por
objetivar uma transformação da realidade, considerando o planejamento como ferramenta de
gestão local em que todos os participantes têm condições de contribuir ou de interferir na
elaboração e implementação dos projetos para promover as transformações necessárias e pode
ser uma alternativa para potencializar os planejamentos na região.
A reunião com a comunidade se configura como um dos espaços mais ricos entre os
comunitários e os profissionais de saúde. É nele que os atores podem analisar a situação de
saúde da localidade de forma compartilhada e a partir daí as atividades seriam desenvolvidas
para e com os comunitários de forma mais próxima e contextualizada. Porém, segundo os
profissionais nos trechos abaixo, a reunião com a comunidade já existiu e atualmente não
ocorre. De acordo com os relatos, as reuniões entre a população e os profissionais da Unidade
que ocorreram teve como tema a forma de marcação da agenda, mas ainda existe a necessidade
de uma aproximação para um fazer compartilhado e que se baseia na cogestão do cuidado de
saúde no território.
99
Inicialmente a gente tinha algumas reuniões com a comunidade, que a gente
se propõem a escutar o que a população tem a dizer, pra mudar alguma questão
no fluxograma da unidade. (P4)
Teve um movimento quando comecei minha residência aqui, logo no início
quando a gente fazia parte do processo de territorialização, onde a gente
começou inicialmente a discutir a agenda dos médicos, era essa a pauta que
moveu a população. A gente chegou a fazer umas cinco reuniões desse lado
da pista, [...] Existem opiniões diversas sobre se a equipe tem que escutar a
população ou se tem que obedecer a gestão. Fica um pouco esse paradigma,
que infelizmente não se conversa esses paradigmas. (P8)
Já, mas foram poucas. Sinceramente aqui não é muito de tá fazendo reunião
com a comunidade não, pra saber das dificuldades, das principais
necessidades. Isso a gente observa mais nos prontuários e nos momentos das
consultas. (P7)
As reuniões de comunidade pode ganhar outro perfil se forem direcionadas para o diálogo
com a comunidade com o objetivo de modificar a forma de atuação da equipe, fortalecendo as
organizações comunitárias para buscar efetivar os direitos sociais no campo. Para isso é
necessário um entendimento de que essa prática faz parte do trabalho em saúde, visto que a
permanência dessas condições determina e prejudica à produção de vida no território
(BATISTA; ALBUQUERQUE, 2014).
Outro fator a ser observado é a necessidade constante de um diálogo aberto entre a equipe e
a gestão para pensar juntos e realizar de fato uma cogestão do trabalho em saúde. Em Caruaru
essa relação se dá através do apoiador institucional, que tem por função dialogar sobre o
processo de trabalho, refletir junto as equipessobre o seu fazerna saúde e a partir dessa reflexão
buscar junto a equipe soluções viáveis para um melhor funcionamento. Esta interação entre
equipe e apoiadora institucional fortalece o fazerem rede intrasetorial, intersetorial e de acordo
com as reais necessidades da comunidade, de forma que o planejamento em saúde ocorra de
forma ascendente como podemos evidenciar nos trechos de G1 e G2. Também é evidenciado o
foco na Educação Permanente em saúde com as equipes no documento de gestão de 2014.
A gente vem tentando trabalhar dentro da lógica institucional colocada pelo
MS. A gente também incorporou profissionais que tem expertise nessa área,
alguns ligados ao MST, outros que fizeram residência nessa área. Então a
gente tá realmente tentando colocar em prática essa política, observando a
realidade do município. (G1)
É através de Apoio Institucional. A gente gostaria muito de estar todo mês
participando das reuniões. Era o que no início a gente tava conseguindo fazer.
Então a gente participava das reuniões de planejamento, de discussão. [...] E
o foco mesmo é trabalhar Processo de Trabalho. Analisar perfil
epidemiológico, quais as ações que estão sendo feitas, o que é que a gente
pode pensar junto, e criar estratégia pra melhorar o processo de trabalho. (G2)
100
Implementar ações de Educação Permanente em Saúde, estimulando ações de
planejamento das equipes locais de forma ascendente e participativa (PAS
2014)
Porém o fato do município ter poucos Apoiadores para muitas Equipes parece enfraquecer a
atuação desses profissionais da gestão no cotidiano do trabalho, o que pode dificultar que se
organize o processo de trabalho para além das demandas imediatas.
A atuação pautada em demandas imediatistas e a atenção em saúde baseada apenas nos
grupos prioritários é uma prática encontrada em várias USF. Nos estudos de Camuri e
Dimesntein (2010) também é constatado que as atividades desenvolvidas na rotina da unidade
se dão mais dentro da USF e são destinadas às demandas de atendimentos individuais,
resumindo-se em prescrição e administração de medicação; atendimento a usuários diabéticos
e hipertensos; consultas médicas e de enfermagem; consultas na área de saúde da mulher e
criança; fornecimento de medicação; grupo de gestantes e de doenças crônicas.
5.4 A interação entre o Trabalho da EqSF e as especificidades da saúde do campo no
Agreste Pernambucano
Quando analisamos as atividades rotineiras da equipe podemos observar que os profissionais
realizam atividades fora da unidade, essas sempre ligadas ao adoecimento, visita domiciliar a
acamados, idosos ou pacientes de difícil acesso, porém suas práticas na maioria das vezes estão
ligadas as práticas priorizadas pelo Ministério da Saúde, voltadas principalmente ao cuidado
materno-infantil e as doenças crônicas, com pouca análise e atuação na saúde da coletividade
da comunidade coo explicitado por G1 e P5 abaixo.
A gente tem uma cultura instituída ainda do modelo hegemônico, então a
gente tem uma tendência de se ter um cardápio que se reproduz em quase todos
os territórios. Trabalha-se a questão do diabético, do hipertenso, do adulto, da
criança e etc. Então de modo geral as equipes tem dificuldade de trabalhar de
modo diferente. (G1)
Saúde mental é uma principal demanda aqui da unidade. E a maioria das coisas
é de rotina, tem o hipertenso, o diabético, eles querem pedir os exames,
conversar, mas tudo mais programado. (P5)
Em seus estudos Uchoa et al. (2011) observaram que os principais problemas em saúde
foram relacionados às doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, e a incorporação de uma
concepção de necessidades de saúde centrada na doença. Da mesma forma, no atual estudo,
101
quando observamos as principais demandas, vimos muitas atividades relacionadas a
hipertensão e diabetes no âmbito do atendimento individual e centrado na doença.
Portanto, as atividades ainda estão centradas no corpo doente, com um cuidado que se dá
dentro da Unidade ou no domicílio do usuário. Apesar dos profissionais conseguirem observar
um processo de adoecimento intrinsecamente relacionado ao modo de vida e trabalho das
comunidades, por causa de uma demanda excessiva, formação biomédica, pouco apoio da
gestão, pouco modificam seu processo de trabalho, não conseguindo atuar junto a população
em busca de alternativas para a situação do adoecimento coletivo na área, relacionados a
condições do meio e do trabalho como podemos verificar nas falas dos profissionais abaixo.
Tem uns da minha área que trabalha com tintas de casa, de bordado (que é
coisa química). Até o jeans que tem um pelo que você inalando muito pode te
prejudicar. (P3)
Como a gente tá na zona rural tem muito paciente agricultor, trabalhador da
roça mesmo. Então tem muitos pacientes que trabalham ou trabalhavam
muitos anos na roça, com dor, com DORT [...] a questão das confecções, aqui
a maioria das mulheres trabalham costurando pra outras pessoas, [...] as
mulheres tem muita queixa de dor lombar, dor nas pernas, inchaço nas pernas,
porque ficam horas e horas sentadas costurando. As vezes o patrão não dá nem
oportunidade de folga pro almoço, então elas passam mais de 8 horas
costurando. (P4)
Eu tenho visto aqui muita sinusite e eu tenho conseguido observar, e é muito
uma análise minha, de que são as pessoas que tiram pelo, tirar pelo é dentro
do processo de costura do jeans, uma parte onde você trabalha com um tecido
que solta um pozinho muito pequeno e que essas pessoas quando se referem a
dor de cabeça, espirro, a gente sempre consegue encontrar que se não é ela
que costura ela está na casa de quem costura e tudo mais e nesse trabalho
alienante que explora a mão de obra por um salário de miséria (P8)
O forte aqui é pressão alta e diabetes, tem crises alérgicas, tem muitas pessoas
que tem problema de asma, cansaço, porque tá quente e a poeira tá muito solta,
então é o púbico alvo (P2)
Os profissionais parecem não introduzir novas atividades no seu processo de trabalho,
diferente da atuação clínica, e mais voltadas a necessidade da área. E assim, acabam atendendo
as consequências da vida e trabalho alienador da região. Carvalho e Cunha (2012) destacam a
importância de valorizar, além dos fatores biológicos e orgânicos, aspectos sociais, políticos e
subjetivos que fazem parte do processo saúde-doença, para poder assistir à população adstrita
de modo adequado e condizente com as suas necessidades.
Também é evidente que o trabalho interfere diretamente na relação que o usuário tem com a
USF, pois muitas vezes o fato desse ter um trabalho precarizado faz com que não consigase
liberar do trabalho para ir até a USF, pois isso significa diminuir sua produção, já que ganha
102
por número de peças de roupas trabalhadas como relatado pelos profissionais P3 e P4 abaixo.
Então é necessário que os profissionais de saúde observem essa limitação da comunidade e
planeje atividade dentro do cotidiano da população.
Eles alegam trabalho, eles dizem que só vem a unidade quando tão precisando.
(P3)
E segundo quando a gente faz ações de educação em saúde essas mulheres não
aparecem, os homens já não aparecem porque é uma cultura deles mesmos, é
muito difícil a gente fazer uma atividade aqui pra ter uma adesão muito grande
dos homens. Mas as mulheres não podem vir, porque é uma hora que elas não
vão estar costurando. (P4)
A cultura do local ainda é pouco explorada ou estimulada como possível ferramenta de
trabalho por alguns profissionais de saúde. Durante as consultas a maioria dos profissionais não
utiliza a possibilidade de recomendação de chás e ervas, mas quando o usuário sinaliza que
utilizou não existe uma recriminação, apenas a indagação se o paciente tomou a medicação
recomendada como relatado por P4 abaixo. Já outros profissionais sinalizam não ter o
conhecimento sobre as plantas como sinalizado por P3 abaixo.
Algumas coisas são importantes, você vê que funciona. Mas a gente procura
ter cuidado com pacientes hipertensos e diabéticos sempre surge cada mês
chega uma história que tal planta medicinal cura diabetes. A gente sabe que
não tem cura, a pessoa hipertensa e diabética vai ser sempre hipertensa e
diabética. Então assim o que eu procuro passar é tome o seu chá que você
gosta, mas não deixe de tomar sua medicação. (P4)
Eu até tomo chá de capim santo porque gosto muito, mas se me perguntar se
serve pra alguma coisa eu não sei dizer. (P3)
Esse distanciamento dos profissionais em relação as práticas de autocuidado realizadas pela
população pode ser diminuído através de capacitações realizadas pela gestão, bem como pelo
aumento de vínculo e trocas com os saberes da população. Isso porque os profissionais que
atuam nas EqSF do campo – e da cidade - devem (re)conhecer a comunidade e se
(co)responsabilizar continuamente pelo cuidado à saúde, criando uma relação de confiança e
parceria mediante a escuta atenta, o diálogo com troca de saberes e o estabelecimento de
confiança mútua (FERREIRA, 2014).
Talvez esse diálogo já tenha se iniciado, mesmo que ainda seja incipiente, pois já existe um
movimento de aproximação do uso e estudo das plantas medicinais pelos profissionais de saúde
na USF como sinalizado por P4 e P8 abaixo.
103
Agora a gente tem uma horta aqui na creche, justamente pra plantas
medicinais. Inclusive X tá fazendo um treinamento com plantas medicinais e
a gente vai tentar utilizar justamente as plantas que estão sendo cultivadas aqui
pertinho, na creche. (P4)
Fora isso a gente tem um objetivo muito inicial, a ideia de fornecer mudas de
plantas medicinais para a população, a gente já conseguiu fazer a nossa horta
e a ideia não é que a gente aqui faça o chá, mas que a gente forneça as mudas
para que a população pratique o seu autocuidado. Para que eles plantem essas
ervas e possam assim garantir a autonomia delas, inclusive frente a
medicamentos e entender o processo de adoecimento. (P8)
Durante a observação participante vimos que Dona Marlene mandou pelo estudante que
estava em Visita Domiciliar uma muda de insulina para a horta que está sendo criada na
Unidade. A horta medicinal do posto já tem Babosa, Hortelã Graúda, Erva Cidreira, Colônia,
Boldo do Chile, mas pelo visto uma das dificuldades de cuidar é pela falta de água e de definir
quem irá cuidar (Diário de Campo).
Já em relação as dificuldades do clima, solo e alta incidência de sol na região os profissionais
não tem grandes reflexões e por fim não trabalham essa temática como podemos verificar
através do trecho da entrevista de P3 abaixo. Apesar da gestão reconhecer que existe essa
necessidade apontado por G1 abaixo, esta também não dialoga com seus trabalhadores sobre
essas questões.
Em quatro anos de trabalho eu nunca escutei sobre questão [de cuidados] de
pele não. (P3)
Acho que o principal objetivo da saúde da família na área rural é de proteção,
de informação e de qualificação sobre a saúde do sujeito. Já que a gente tem
questões específicas como a exposição excessiva ao sol e o uso de
instrumentos de trabalho que podem causar doenças. (G1)
Segundo Batista e Albuquerque (2014) existem poucos investimentos na saúde dos
camponeses, principalmente por serem os que sofrem as principais influências de uma escolha
neoliberal capitalista de um país que prejudica a vida do pequeno agricultor na forma de
produzir, se manter e realizar de forma autônoma sua produtividade econômica, social, cultural
e principalmente de saúde e vida.
Nesse cenário o papel do profissional em saúde in loco parece ser fundamental para dar
destaque as especificidades do campo, já que os profissionais conseguem identificá-las
minimamente no contato com as particularidades da população, que, ao se aproximar destes,
podem se sensibilizar, com o apoio de uma gestão compartilhada que vislumbre a produção em
104
saúde voltada para a relação com a natureza, respeitando os diferentes costumes e dialogando
com a produção de novos meios de serviço e atendimento à saúde no campo, através da
Educação Popular.
A gestão traz através dos trechos de G1 e G2 abaixo, que ainda não trabalha questões sobre
a especificidade do campo, porém se mostra aberta a mudanças em seu fazer.
[Capacitação]Especificamente pro campo, não [realizamos]. (G2)
Não existe uma política municipal instituída para induzir isso [uso de plantas
medicinais e benzedeiras]. Existe uma orientação para que seja incorporada.
Nós inclusive estamos discutindo de como dar visibilidade a essas questões,
com as populações de terreiro. Isso é uma coisa que a gente vem estimulando
os trabalhadores a incorporar. (G1)
O início de abertura da gestão em dialogar sobre saúde do campo pode ser observada dentro
de seu planejamento que contempla ainda que minimamente a população camponesa e fortalece
algumas questões culturais, esse fato pode ser notado nos documentos da gestão abaixo, alguns
trechos ligados a Política da população negra e as ações da Vigilância Ambiental.
Ampliar o acesso aos serviços de saúde para população negra residente em
áreas urbanas e rurais; Estimular mudança de comportamento dos
profissionais de saúde para lidar com a diversidade da sociedade brasileira e
com as peculiaridades do processo de saúde/doença da população negra;
Planejar a saúde da população negra em ações programáticas na atenção
básica. (CARUARU, 2015a)
“Intensificar as ações de educação ambiental nas lavanderias de zona rural” (CARUARU,
2014b). “Implantar a Sala de Situação em 100% das unidades básicas da zona rural”
(CARUARU, 2014a).
Movimentos no sentido da mudança têm sido iniciados impulsionados pela academia, pela
gestão e pela própria EqSF no sentido de observar o campo, de alterar algumas práticas, porém
ainda é necessário grandes passos nesse sentido. Mas o contexto, segundo os diferentes atores,
é fértil para se construir esse novo olhar.
Sim, existem conversas, inclusive a gestão - das conversas que eu participei -
sempre se demonstrou aberta, assumiu que desconhece o que é saúde do
campo. Sempre foram sinceros nisso e sempre foram sinceros em dizer que
precisava aprofundar muito mais isso, né? O que a gente faltou foi um grupo
um pouco mais coeso para induzir esse pensamento dentro da própria gestão.
De provocar desde pequenas práticas, que a gestão entendesse uma prática
diferenciada de saúde no campo, né? E que permitisse mudar agenda, mudar
horário, mudar fluxos e o processo todo de trabalho, mas eu particularmente
senti uma gestão aberta para isso mas faltou gente para tocar esse processo
todo. Inclusive nós estamos em uma conversa com a gestão de um seminário
105
para sensibilizar os trabalhadores sobre o que é a saúde do campo estamos
atrás de entregar esse projeto do seminário. (P8)
Segundo Ferreira (2014 p. 66), “Para fortalecer as ESF do meio rural é necessária a
implementação de novas formas de gestão que potencializem a criatividade e o anseio de
transformar as situações de saúde. Portanto, o planejamento local é considerado um forte
instrumento de uma gestão descentralizada.” A opção por uma cogestão mais horizontal
baseada no diálogo e em uma construção coletiva pelo trecho de P8 acima parece ser a aposta
potente da gestão local em busca de transformações no trabalho das EqSF do campo.
106
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
As ações da EqSf do campo, observadas e avaliadas do ponto de vista dos gestores
municipais, dos profissionais da USF, da pesquisadora no momento da observação participante
na USF do campo e análise documental, foram permeadas de indagações, curiosidade, surpresas
e no caminho da pesquisa foram substituídas por reflexões, auto análise e um espírito de que
estamos no caminho para um fazer implicado, porém ainda precisamos caminhar muito em
relação ao trabalho em saúde do campo, isso porque esse fazer necessita ser pensado para/com
a população do campo e de forma que visibilize os modos de vida no campo.
É necessário ousadia para fazer o diferente, para apostar na autonomia dos usuários. Para tal
investir numa territorializaçãode qualidade e em um maior diálogo e escuta junto aos usuários
é um bom caminho. O fortalecimento desse diálogo pode se dar a partir das ações do apoiador
institucional, do fortalecimento das reuniões de equipe e das reuniões da equipe com a
comunidade, de modo a alcançar um fortalecimento do Saúde do Campo na região. Ser ousado
para articular os saberes da saúde com outros saberes necessários para uma melhor qualidade
de vida no campo é fundamental para modificar o processo de determinação da saúde,
garantindo ações de promoção. Vemos como atores potenciais nessa construção intersetorial a
possível parceria com os agrônomos, veterinários, técnicosagrícola entre outros que podem se
somar nessa construção.
Em síntese, pode-se afirmar que a existência de uma equipe multiprofissional não garante a
reformulação das práticas de cuidado, apesar dessaspossuírem um enorme potencial para esta
reformulação. Isso porque é preciso, a cada instante, lidar com problemas e propor soluções à
questões que não são possíveis de serem resolvidas individualmente, como: a dificuldade de
lidar com a demanda do território, a dificuldade de alinhar as atividades desenvolvidas à
realidade territorial; a necessária superação de fatores estruturais da região; de como lidar com
questões ligadas ao trabalho do usuário; e como garantir o acesso e inclusão dos indivíduos
quebrando as barreiras sociais, geográficas e culturais aos serviços de saúde.
O modelo organizacional da EqSF do campo é convidativo a análise, pois pode se
caracterizar através de múltiplas facetas abarcando a população assentada- como no atual
estudo, porém também pode ser refletida a partir de EqSF que estão inseridas em comunidades
quilombolas, ribeirinhas, florestas. Para isso é preciso entender que diferentes contextos trazem
também diferentes desafios e potencialidades para o fazer saúde e, por esse motivo, pedem
107
também diferentes arranjos de trabalho. Entender que a profundidade de uma atuação está
intrinsecamente atrelada a proximidade da realidade vivenciada no território -compreendendo
seu o processo comunitário de vida, de trabalho e de cultura em primeiro lugar, para a partir daí
também pensar qual será o trabalho em saúde desenvolvido - é de fundamental importância para
superar o paradigma biomédico e o modo de trabalho em saúde urbano.
A partir das considerações acima, podemos concluir que aPolítica Nacional de Saúde
Integral das Populações do Campo da Floresta e das Águas é conhecida pelos atores da saúde
de Caruaru, bem como as dificuldades vivenciadas pelos usuários são observadas e suas
consequências são identificadas dentro dos consultórios na USF. Algumas mudanças pensadas
pelos profissionais de saúde para a comunidade puderam já ser observadas no processo de
trabalho da EqSF, foram eles:
a) Forma de marcação dos médicos (acesso avançado);
b) A realização de atendimentos em pontos de apoio em áreas distantes quinzenalmente;
c) O início de um movimento de construção de horta medicinal na Unidade;
d) A existência de um carro na unidade para realizar visitas e atendimentos.
Contudo, ainda é pequena a atuação com a comunidade o que reverbera em uma prática
dentro dos consultórios em busca da cura, da prevenção e pouca atuação na comunidade (nas
praças, igrejas, feiras, fabricos) em busca da promoção a saúde. Talvez isso ocorra ainda por
uma concepção de fazer saúde ligada apenas a luta contra adoecimento, ofuscando assim a
promoção de saúde e vida. Isso porque, ainda é pequena a atuação dos profissionais de saúde
nas atividades ligadas aos festejos religiosos, a vida e rede comunitária, as práticas de
autocuidado com as plantas medicinais, aos costumes alimentares.
Nesse processo parece que a academia e os Movimentos Sociais tem um papel importante
para o diálogo, trazendo alguma luz para construção de um fazer diferente. A academia
estudando, elaborando e auxiliando na construção de novos protocolos e escalas que inclua os
principais riscos à saúde do campo - como a falta de lazer, o uso de agrotóxico, exposição
excessiva ao sol, problemasosteomioarticulares- e os movimentos sociais auxiliando na
classificação das características culturais e dificuldades de vida que essa população apresenta.
Alguns avanços já foram observados nesse sentido, foram eles:
a) Implantação de uma Residência Multiprofissional de Saúde com ênfase no campo na
região (UPE junto ao MST)
108
b) Adaptação da Escala de Coelho e Savassi para o contexto campo (UPE)
c) Criação de um grupo de Terapia Comunitária na Associação dos Moradores de
Normandia (UFPE)
d) Criação de uma mandala de plantas medicinais em Normandia (MST)
A partir dos dados encontrados nesta pesquisa, parece necessário uma mudança nas práticas
e na organização dos profissionais de saúde, com o investimento no saber popular da região e
se apoiando na criação de novas formas de trabalho baseadas no território. Mapear quais os
cuidados realizados pela população e quem são esses atores do cuidado (rezadeiras,
benzedeiras) potenciais da região é fundamental para se avançar nesse sentido, pois a partir
desse mapeamento pode-se incorporar essas pessoas como cuidadores referenciados pelos
profissionais de saúde. Para tal é necessário que a gestão, profissionais e comunidade caminhem
juntos nessa direção.
A Educação Permanente parece ser um caminho potente que a gestão pode lançar mão para
auxiliar nesse processo, para que esses possam disparar processos de formação junto aos seus
profissionais e assim consigam modificar ainda mais o processo de trabalho, afim de organizá-
lo.
Com um objeto bem definido, agentes/sujeitos podem ser capacitados para uma atuação mais
próxima da população do campo; com os meios de produção físico e intelectual necessários
para uma atuação diferenciada; e uma organização do trabalho quedê visibilidade às
especificidades dessa população.
A gestão por meio do Apoio Institucional parece estar aberta para se apropriar mais e debater
sobre a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta e das Águas,
demonstrando uma proximidade com a academia e com o movimento social, o que talvez
permita modificações mais efetivas no território. Um dos entrevistados fez inclusive um diálogo
com a gestão para modificara agenda, mudar o horário, mudar os fluxos e o processo todo de
trabalho, propondo também a realização de um seminário para sensibilizar os trabalhadores
sobre o que é a saúde do campo. Possíveis ações nesse sentido podem ser cruciais para que essa
discussão saia do campo teórico e passe a ser parte da prática nos serviços.
A partir da análise realizada, apontamos algumas possibilidades que poderiam ser
desenvolvidas nessa localidade com o objetivo de fortalecer a atenção às populações do campo
da região, são elas: capacitações ligadas a cultura local de utilização de plantas e ervas; a
109
possibilidade de fortalecer a atuação em áreas distantes equipando uma unidade
móvel;aprofundamento sobre as ferramentas de trabalho como territorialização e planejamento
situacional; diálogos intersetoriais para auxílio no manejo da terra em meio ao clima semiárido
e possíveis formas de armazenamento de água; fortalecimento da vigilância do trabalhador no
que toca a superexploração do trabalho têxtil.
A título de conclusão, parece pertinente, portanto, afirmar que os resultados permitiram
identificar a EqSF como um modelo consolidado, porém a EqSF do campo próxima da
comunidade e com o olhar sobre as especificidades do campo está nessa localidade ainda em
construção ativa, com comprometimento dos atores para com as questões de saúde, que ainda
haverá de demandar um montante considerável de esforços.
.
110
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121
APÊNDICE A – ROTEIROS DE ENTREVISTAS
Roteiro de entrevistas semiestruturadaspara os Gestores (Secretário de Saúde, Coordenador da Atenção Básica e Coordenador da EqSF)
Data, local e horário da entrevista de realização
1. Na sua opinião, qual o papel/objetivo daEqSF do campo?
2. Como funciona o cotidiano da EqSF? Quais atividades eles desenvolvem?
3. Como se dá diálogo entre a gestão e a EqSF?
4. Existe algum material específico para essa equipe por atender a população do campo?
Escalas? Capacitação?
5. Vocês construíram algum tipo de normas, parâmetros, protocolos para a organização e
funcionamento da EqSF campo no seu município? Como se deu esse processo?
6. Em quais atividades a EqSF se aproxima da comunidade adstrita?
Roteiro de entrevistas semiestruturadaspara os Profissionais de Saúde
Data, local e horário da entrevista de realização
1. Na sua opinião, o que diferencia uma EqSFque atua no campo e a que atua na cidade?
O que muda?
2. Em que momentos a equipe vivencia o cotidiano da comunidade?
3. Como funciona o cotidiano da EqSF? Quais atividades vocês desenvolvem? Descreva?
4. Que instrumentos de trabalho a EqSF utiliza? Existe algo específico utilizado por estar
no Campo?
5. A EqSF desenvolve a territorialização?Se sim como?
6. Como é organizada as atividades e a agenda da Equipe?
7. Como é feito a visita domiciliar dos profissionais da Equipe?
8. Vocês construíram algum tipo de normas, parâmetros, protocolos para a organização e
funcionamento da EqSF campo no seu município?
9. Quais as principais demandas da população?
122
APÊNDICE B -TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (TCLE).
Prezado(a) Gestor (a),
Estamos convidando-o (a) para participar como voluntário da pesquisa intitulada como:“O processo e
organização do trabalho da equipe de Saúde da Família no cuidado a populações do campo” de
autoria de Evelyn Siqueira da Silva, sob orientação da pesquisadora Ide Gomes Dantas Gurgel e co-
orientação da professora Paulette Cavalcanti de Albuquerque, ambas vinculadas ao Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães (CPqAM).
A pesquisa tem como objetivo analisar como acontece o processo de trabalho das equipes de Saúde da
Família que atuam no cuidado em saúde à população do campo. Você foi selecionado(a), pois representa
um sujeito fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, e sua participação não é obrigatória. A
qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará
nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador, ou ainda, com a Fiocruz /PE ou com o Serviço ao
qual representa.
A sua colaboração é importante e se trata de aceitar ser entrevistado e falar sobre a proposta da Equipe
de Saúde na Família inserida no campo. O risco da sua participação se da devido ao fato de se discutir
como vem se desenvolvendo a proposta em seu município. Os benefícios que a sua participação trará
são bastante significativos considerando o escasso conhecimento sobre como vem se dando oprocesso
de trabalho da Equipe de Saúde da Família no contexto do campo, além da contribuição acadêmica.
A entrevista será gravada em equipamento digital e posteriormente será transcrita para omaterial poder
ser analisado pela equipe da pesquisa.
Ao participar o (a) senhor (a) estará contribuindo no apoio a gestão e aos profissionais da saúde no que
refere a organização e desenvolvimento do processo de trabalho da EqSF contexto campo na rede de
atenção a saúde do Brasil e tem garantido os seguintes direitos:
1. A garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a qualquer dúvida
acerca de todos os procedimentos e benefícios relacionados com a pesquisa;
2. A liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo
sem que isto traga nenhum prejuízo a sua pessoa;
3. A segurança de que não será identificado em hipótese alguma e que será mantido o caráter
confidencial da informação que seja prestada;
Se o (a) senhor (a) concordar em participar, Uma cópia deste termo de consentimento será fornecida ao
Sr(a) e a outra ficará em posse da pesquisadora. Caso sinta necessidade de mais algum esclarecimento,
poderá entrar em contato com pesquisadora mestrandaEvelyn Siqueira da Silva ou com as suas
orientadoras Ide Gurgel e Paulette Cavalcanti pelo telefone (81) 2101-2500, e-mail:
[email protected] ou Em caso de dúvidas ou preocupações quanto aos seus direitos como
participante deste estudo, o (a) senhor (a) pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) deste centro de pesquisas, localizado na Av. Professor Moraes Rego, s/n - Campus da UFPE -
Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50.670-420, através do telefone (81) 2101-2639 ou pelo e-mail:
[email protected]. O horário de funcionamento é das 08:00 – 12:00 hrs / 13:00 – 15hrs. O
CEP é responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas
envolvendo seres humanos.
Eu, ___________________________________________, declaro que recebi uma cópia deste termo de
consentimento, que tive a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas, que estou ciente dos meus
direitos relacionados e que aceito participar desse estudo.
__________________________________________________________________________________
Assinatura do Participante Data
__________________________________________________________________________________
Nome e Assinatura do Entrevistador Data
Testemunha 1 _____________________________________________________
Testemunha 2 ____________________________________________________
123
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).
Prezado(a) Profissional da saúde,
Estamos convidando-o (a) para participar como voluntário de uma pesquisa intitulada O processo e
organização do trabalho da equipe de Saúde da Família no cuidado a populações do campo” de
autoria de Evelyn Siqueira da Silva, sob orientação da pesquisadora Idê Gomes Dantas Gurgel e co-
orientação da professora Paulette Cavalcanti de Albuquerque, ambas vinculadas ao Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães (CPqAM).
A pesquisa tem como objetivo analisar como acontece o processo de trabalho das equipes de Saúde da
Família que atuam no cuidado em saúde à população do campo. Você foi selecionado(a), pois representa
um sujeito fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, e sua participação não é obrigatória. A
qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará
nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador, ou ainda, com a Fiocruz /PE ou com o Serviço ao
qual representa.
A sua colaboração é importante e se trata de aceitar ser entrevistado e falar sobre a proposta da Equipe
de Saúde na Família inserida no campo. O risco da sua participação se da devido ao fato de se discutir
como vem se desenvolvendo a proposta em seu município. Os benefícios que a sua participação trará
são bastante significativos considerando o escasso conhecimento sobre como vem se dando o processo
de trabalho da Equipe de Saúde da Família no contexto do campo, além da contribuição acadêmica.
A entrevista será gravada em equipamento digital e posteriormente será transcrita para o material poder
ser analisado pela equipe da pesquisa.
Ao participar o (a) senhor (a) estará contribuindo no apoio a gestão e aos profissionais da saúde no que
refere a organização e desenvolvimento do processo de trabalho da EqSF contexto campo na rede de
atenção a saúde do Brasil e tem garantido os seguintes direitos:
1. A garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a qualquer dúvida acerca de
todos os procedimentos e benefícios relacionados com a pesquisa;
2. A liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem
que isto traga nenhum prejuízo a sua pessoa;
3. A segurança de que não será identificado em hipótese alguma e que será mantido o caráter
confidencial da informação que seja prestada;
Se o (a) senhor (a) concordar em participar, Uma cópia deste termo de consentimento será fornecida ao
Sr(a) e a outra ficará em posse da pesquisadora. Caso sinta necessidade de mais algum esclarecimento,
poderá entrar em contato com pesquisadora mestranda Evelyn Siqueira da Silva ou com as suas
orientadoras Ide Gurgel e Paulette Cavalcanti pelo telefone (81) 2101-2500, e-mail:
[email protected] ou em caso de dúvidas ou preocupações quanto aos seus direitos como
participante deste estudo, o (a) senhor (a) pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) deste centro de pesquisas, localizado na Av. Professor Moraes Rego, s/n - Campus da UFPE -
Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50.670-420, através do telefone (81) 2101-2639 ou pelo e-mail:
[email protected]. O horário de funcionamento é das 08:00 – 12:00 hrs / 13:00 – 15hrs. O
CEP é responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas
envolvendo seres humanos.
Eu, ___________________________________________, declaro que recebi uma cópia deste termo de
consentimento, que tive a oportunidade de ler e esclarecer as minhas ddúvidas, que estou ciente dos
meus direitos relacionados e que aceito participar desse estudo.
Assinatura do Participante_______________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Nome e Assinatura do Entrevistador Data
Testemunha 1 _______________________________________
Testemunha 2 _______________________________________
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ANEXO A- CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
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126
127
128
ANEXO B- CARTA DE ANUÊNCIA DO MUNICÍPIO DE CARUARU