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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI FUNDAMENTOS DA MÚSICA GUARULHOS - SP

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

FUNDAMENTOS DA MÚSICA

GUARULHOS - SP

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SUMÁRIO

1 ORIGEM E HISTÓRIA DA MÚSICA ....................................................................... 3

1.1 Música e Matemática ........................................................................................... 8

1.2 Música e Filosofia .............................................................................................. 10

2 HISTÓRIA DA MÚSICA ........................................................................................ 10

2.1 Música na pré-história ....................................................................................... 11

2.2 Música no Egito ................................................................................................. 12

2.3 Música na Mesopotâmia .................................................................................... 12

2.4 Música na China e na índia ............................................................................... 12

2.5 Música na Grécia e em Roma ........................................................................... 12

2.6 Música na Idade Média ..................................................................................... 13

2.7 Música no Renascimento .................................................................................. 13

2.8 Música no Barroco ............................................................................................. 14

2.9 Música no Classicismo ...................................................................................... 14

2.10 Música no Romantismo ................................................................................... 14

2.11 Música no Século XX ...................................................................................... 15

2.12 História não mitológica .................................................................................... 15

2.13 Origem física e elementos ............................................................................... 16

2.14 A evolução da Música ..................................................................................... 17

3 MÚSICA ................................................................................................................ 18

3.1 Processo de reconhecimento do som ............................................................... 19

3.2 Constituição, características e elementos musicais .......................................... 21

3.3 Música sedativa e estimulante .......................................................................... 22

3.4 Musicoterapia .................................................................................................... 23

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4 A MUSICA COMO FORMA DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO HUMANA ...... 24

4.1 Educação na perspectiva histórico-cultural ....................................................... 26

4.2 Música e influência no humor ............................................................................ 28

5 MÚSICA E EDUCAÇÃO ....................................................................................... 29

5.1 Educação musical ............................................................................................. 31

5.2 A importância do ensino de música na escola .................................................. 35

5.3 O ensino aprendizagem na Educação Infantil e a questão da música .............. 36

5.4 Musicalidade no desenvolvimento infantil ......................................................... 44

5.5 Lateralização dos hemisférios cerebrais ........................................................... 45

6 TECNICAS E MÉTODOS PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL ................................. 46

7 BIBLIOGRAFICA BÁSICA .................................................................................... 50

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1 ORIGEM E HISTÓRIA DA MÚSICA

A música, ao longo da história, sempre “desempenhou, um importante papel

no desenvolvimento do ser humano, seja no aspecto religioso, moral e social, o que

contribuiu para a aquisição de hábitos e valores indispensáveis ao exercício de sua

cidadania”

Fonte: todamateria.com.br

Segundo Loureiro (op.cit.) À palavra música é de origem grega – musiké

téchne, a arte das musas – e, basicamente, “se constitui de uma sucessão de sons,

entremeados por curtos períodos de silêncio, organizada ao longo de um

determinado tempo” (p. 3).

Vários autores apontam que a música existe desde a pré-história, cerca de

60.000 a.C., porém seu desenvolvimento, se deu apenas

[...] através do estudo de sítios arqueológicos [...] nos primeiros grupos humanos. A arte rupestre encontrada em cavernas dá uma vaga ideia desse desenvolvimento ao apresentar figuras que parecem cantar, dançar ou tocar instrumentos. Fragmentos do que parecem ser instrumentos musicais oferecem novas pistas para completar esse cenário. No entanto, toda a cronologia do desenvolvimento musical não pode ser definida com precisão. É impossível, por exemplo, precisar se a música vocal surgiu antes ou depois das batidas com bastões ou percussões corporais. Mas podemos especular, a partir dos desenvolvimentos cognitivos ou da habilidade de manipular materiais, sobre algumas das possíveis evoluções na música.

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Ao pensar na música aliada à educação formal é vital que se faça um

percurso até a Grécia, por volta do século VI a.C., aproximadamente, isto porque, a

música para os gregos era a forma que eles encontravam para alcançar a perfeição,

ao atribuírem sua música para os deuses. Assim, os gregos tornam a música como

uma arte, uma forma de pensar e de ser.

Segundo o site edukbr.com.br (2011, p.11),

Os gregos usavam as letras do alfabeto para representar notas musicais. Agrupavam essas notas em tetracordes (sucessão de quatro sons). Combinando esses tetracordes de várias maneiras, os gregos criaram grupos de notas chamados modos. Os modos foram os predecessores das escalas diatônicas maiores e menores. Os pensadores gregos construíram teorias musicais mais elaboradas do que qualquer outro povo da Antiguidade. Pitágoras, um grego que viveu no século VI a.C., achava que a Música e a Matemática poderiam fornecer a chave para os segredos do mundo. Acreditava que os planetas produziam diferentes tonalidades harmônicas e que o próprio universo cantava. Essa crença demonstra a importância da música no culto grego, assim como na dança e nas tragédias.

Mais tarde, as ideias de Pitágoras, influenciadas pela doutrina de Platão,

perceberam o homem dicotômico – alma e corpo. Dessa forma, considera que é pela

música, ao penetrar no espírito da pessoa, pelo ritmo e pela harmonia, desenvolve a

forma dela distinguir o belo do feio. A música então passa ser ensinada, de forma

leve e agradável, em todas as disciplinas, de acordo com faixa etária de seus

alunos. Seus ensinamentos se davam a partir dos sete anos, através de canções

(berceuses), para que, em seguida, aprendessem hinos guerreiros e religiosos.

Para os pré-adolescentes, entre quatorze e dezesseis anos, aconselhado por

Platão, somente se ensinavam dois estilos musicais. O primeiro, por músicas que

direcionassem a violência, ligada às guerras, e a segunda, músicas mais lentas,

relacionadas com a Igreja, preces e concentração. “Depois dos 16 anos, até o resto

de suas vidas, os indivíduos continuariam a frequentar apenas os cantos corais e os

jogos comunais”.

Em um segundo nível, a educação musical, que se dava dos vinte aos trinta

anos, tornou-se um momento de discussões literárias, abrindo espaços para um

amplo estudo de assuntos gerais, tudo isso sobre a influência dos filósofos

(MACEDO, 2011).

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Quando o indivíduo chegava ao terceiro nível de educação, a música se

estendia por mais cinco anos, na intenção de levar o aluno à arte do diálogo, até

demonstrar uma educação mais avançada, pela filosofia ou pelo militarismo.

Mais tarde, de acordo com Loureiro (2011, p. 39),

com a invasão do Império Romano no mundo grego este quadro se altera, pois a “sensibilidade”, as emoções e o sentimento de humanidade, características dos gregos, não se adequavam à formação dos soldados romanos, que eram educados para serem duros, rígidos, disciplinados e severos. O povo romano foi, por natureza, guerreiro e rude. Por muito tempo, seus ideais e propósitos restringiam-se à conquista do mundo e ao domínio dos povos conquistados. Entretanto, sob a influência grega, as artes e as letras começaram a florescer em Roma.

Verifica-se que, durante a Idade Média, recupera-se a linguagem e os

sentimentos humanos, estabelecidos pela música, ocorrendo assim, uma união da

melodia com as primeiras manifestações polifônicas, ou seja, a oportunidade de se

cantar em uma ou mais vozes, em uma mesma canção. Esse lado polifônico

religioso, mesmo a Igreja indo contra, é que dá origem aos poetas líricos da corte,

pelos músicos que trazem com eles canções com acompanhamento musical,

falando de sentimentos, saudades, guerras, dando assim, a origem da música

popular.

Com a Reforma Protestante, liderada por Lutero, se inicia a história do

humanismo, na qual o homem carece de ter responsabilidade pela sua própria fé,

cuja Bíblia é base para sua sabedoria. Nesse feito, criam-se escolas pautadas na

catequese protestante, na intenção de repassar a sua doutrina, frente às escolas

dos jesuítas. Entretanto, a formação do bom cristão, em ambas as escolas, se deu à

luz da educação musical, por considerarem esse recurso, infalível na escolarização

da juventude europeia.

As propostas metodológicas modificam os tradicionais conservatórios de

música, com objetivo de modernizar a maneira de musicalizar as crianças. Tais

propostas encontraram “espaço, no Brasil, nos centros alternativos para o ensino da

iniciação musical, criados sob os auspícios de Liddy Chiaffarelli e Antônio Sá

Pereira, em final da década de 30” (LOUREIRO, 2011, p. 43).

Com a chegada dos jesuítas no Brasil, em 1549, o ensino da música passou

ser utilizado no processo de colonização, como uma das armas para propagarem

sua doutrina junto aos índios. Isto porque,

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[...] em função da forte ligação dos indígenas com essa manifestação artística. Eram eles músicos natos que, em harmonia com a natureza, cantavam e dançavam em louvor aos deuses, durante a caça e a pesca, em comemoração a nascimento, casamento, morte, ou festejando vitórias alcançadas (LOUREIRO, 2011, p. 44).

Dessa forma, a música torna-se catequese de tão grande importância, que fez

com que ela começasse a fazer parte do currículo das escolas de ler e de escrever

(LOUREIRO, 2011).

Nesse contexto, os jesuítas utilizaram a cartilha musical, para iniciar as suas

aulas, porém em um modelo, baseado na sociedade europeia, ou seja, equivalente à

educação humanista.

Mais tarde, criam-se instituições, em nível de internato, para que os jesuítas

pudessem controlar, de forma rigorosa, os seus alunos. Nessa época, o estudo se

dá pelo canto, porque a partir dele, os jesuítas tentavam cativar seus alunos e

fortalecer sua a fé.

Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, surgem novas escolas, iniciam-se,

lentamente, algumas mudanças no sistema escolar brasileiro. No entanto, a

educação segue a tradição jesuítica, evidenciada pelo canto gregoriano, porém

pautada nas canções dos índios, dos negros, portugueses e espanhóis.

A consideração pela música dos negros se deu porque

a música brasileira sofreu [...] influência dos negros. [...] como escravos, os negros trouxeram consigo instrumentos de percussão, como o Ganzá, a Cuíca, o Atabaque, porém cantavam e dançavam embebidos pelos sons e ritmos de sua pátria distante (LOUREIRO, op.cit, p. 47).

No decorrer do século XVIII, cria-se, no Rio de Janeiro, uma escola de

música, frequentada pelos filhos de escravos. Nesta escola saíram artistas musicais

natos. Assim, pela mistura de dança, ritmo, palavras e instrumentos de percussão,

surgem o samba - dança da cultura africana -, cuja concentração vinha das favelas

do Rio de Janeiro entre outras tendências musicais.

O brasileiro sempre deu para a música. Gostou sempre de tocar, de dançar, de cantar. É natural que, desde cedo, a música se tivesse cultivado entre nós. Sambava-se ao tam-tam dos atabaques nas senzalas, e nas casas grandes, ouvia-se a viola e depois o cravo. Na Igreja, é que se cultivava música com mais apuro, porque os padres a sabiam melhor (BAUAB apud LOUREIRO, op.cit, p.47)

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Ainda no período colonial, a música brasileira começa a perder força,

descobre-se uma nova cultura, devido à descoberta de ouro e pedras preciosas, em

Minas Gerais, favorecendo-se uma nova cultura, para a vida musical brasileira. Os

músicos dessa região, com conhecimentos europeus, demonstram habilidades para

comporem melodias, fazendo de Minas uma importante sede para a música colonial.

Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, é construída a Capela

Real, composta por uma orquestra de música erudita, com cento e cinquenta

integrantes, divididos entre o vocal e os instrumentalistas, em que cantavam e

tocavam músicas populares (LOUREIRO, 2011).

Em 1835, em Niterói, funda-se a primeira escola de formação normal, cujo

currículo tornou-se diversificado, porém a educação musical estava presente. Entre

os anos de 1891 a 1893, apesar das críticas, a música se manteve presente nos

educandários, exercendo hábitos sociais e participação em cultos religiosos. Tanto

que ela se fez presente, até no Colégio Pedro II, modelo de ensino secundário, da

classe dominante (LOUREIRO, op.cit.).

O conservatório passou a fazer parte da escola Nacional de Belas Artes, mas,

mais tarde, se tornou autônomo, “passando a chamar-se Instituto e, hoje, Escola de

Música, subordinado à Universidade Federal do Rio de Janeiro” (op.cit., p.51).

Em 1889, com a Proclamação da República, foram modificados os planos

políticos, cultural, econômico e social, marcando assim uma nova fase no ensino das

artes, porém pautados nos ensinamentos europeus. O ensino musical, no Instituto

Nacional de Música e no Imperial Conservatório de Música, baseava-se em preparar

seus alunos ao ensinamento específicos de atuar no teatro e na Igreja (LOUREIRO,

op.cit.).

De acordo com Freire (apud Loureiro, 2011, p.52):

seu currículo original constava das seguintes disciplinas: rudimentos preparatórios e solfejos; canto para o sexo masculino; rudimentos e canto para o sexo feminino; instrumentos de corda; instrumentos de sopro; harmonia e composição. Este elenco de disciplinas remetia, clara e objetivamente, aos objetivos propostos – à capacitação técnica de artistas para suprirem as exigências do Culto e do Teatro.

Averígua-se que a educação musical, durante um bom tempo, não foi tão

presente no sistema escolar brasileiro, segundo Loureiro (2011), se deu pela

ausência de identidade dessa disciplina nos currículos.

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A partir de 1973, os cursos de Arte e Educação foram implantados nas

universidades, com um novo currículo básico, em todo país, porém, somente, nos

anos 80 o curso de Arte na Educação dá início à conscientização, de formar

profissional, através da mobilização de professores de Artes, tanto em nível formal

quanto informal.

Os educadores de Arte conquistam seu lugar, na promoção do currículo

educacional, pressionado por determinados deputados que estavam no comando da

nova constituição.

Na Seção sobre educação, artigo 206, parágrafo II, a Constituição determina:

O ensino tomará lugar sobre os seguintes princípios (...). II — liberdade para

aprender, ensinar, pesquisar e disseminar pensamento, arte e conhecimento

(Barbosa, 2011, p. 4).

Atualmente, há uma sequência de palavras que expressa o significado de

música, de certo modo que chega a ser consideradas ciência e arte, devido à sua

prática social e humana (BARRETO; CHIARELLI, 2011). Dessa forma, a música foi

incluída no cotidiano escolar, após a obrigatoriedade do ensino da Arte, apontada

pela Lei de Diretrizes e Bases Nacionais de nº 9394 de 20 de dezembro de 1996,

tanto que no § 2o do artigo 26 fica promulgado que “a música deverá ser conteúdo

obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata a sua

inclusão, pela Lei nº 10.769, de 2008”.

Nesse contexto, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte

(BRASIL, 1997) fica firmado que o ensino da Arte

volta-se para o desenvolvimento natural da criança, centrado no respeito às suas necessidades e aspirações, valorizando suas formas de expressão e de compreensão do mundo. As práticas pedagógicas, que eram diretivas, com ênfase na repetição de modelos e no professor, são redimensionadas, deslocando-se a ênfase para os processos de desenvolvimento do aluno e sua criação (p.18).

1.1 Música e Matemática

A música era quase sinônima de matemática, como afirma Leibnitz “prática

escondida da aritmética, na qual o espírito ignora que conta” (HERBERT, C.-M.,

2014). Foi Pitágoras, filósofo e matemático grego que viveu entre 580 e 495 a. C.,

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quem elaborou as bases da notação musical e das regras da Harmonia. Para

Pitágoras, (ECO, U., 2014, p.61-62) a ordem matemática seria condição da

existência e da beleza, e estaria no princípio de todas as coisas. Ele teve então a

intuição de que haveria uma relação numérica entre o comprimento de uma corda

vibrante e a altura do som emitido. Assim foram estabelecidas as quatro

consonâncias fundamentais da escala musical: o uníssono, a oitava, a quinta e a

quarta. Os outros intervalos eram considerados dissonantes. O mais harmônico,

quer dizer o que melhor soava aos ouvidos, era a oitava (duplicação de uma mesma

nota).

Considerava-se que essa Harmonia estava ligada não somente à relação

numérica entre as notas, mas também à sensação auditiva, pois já se percebia que

certas sonoridades eram mais agradáveis aos ouvidos que outras.

Para os pitagóricos cada número tinha além do valor científico, uma

significação espiritual. Eles estudaram particularmente o número 1,618 chamado

número de ouro, representado por Ф, que resumiria a estética da beleza, o cânone

da harmonia, símbolo da perfeição. Esse número de ouro seria encontrado na

própria natureza e no corpo humano.

Pitágoras deduziu também que havia, como barulho de fundo do universo,

uma Música das esferas, acorde sublime composto por notas produzidas pelos

astros em seus movimentos em torno da terra, a distância entre os planetas

correspondendo a uma projeção dos intervalos musicais. Os pitagóricos

matemáticos (aqueles que sabiam) e os acusmáticos (aqueles que escutavam)

foram assim os primeiros teóricos a estabelecer as leis da harmonia musical,

enquanto procuravam traduzir os segredos do universo. E a música seria a

encarnação mais perfeita da Harmonia do Universo, suas proporções eram

consideradas uma expressão matemática da Harmonia do Cosmo. As regras da

Harmonia musical se tornaram também regras para a produção do Belo em outras

formas de arte. O número de ouro será reencontrado mais tarde em muitas criações

artísticas tais como as pirâmides, as catedrais góticas, ou na obra de artistas como

Leonardo da Vinci, Salvador Dali, Bach, Beethoven, Bartók, Xenakis. Falar em

número de ouro, já era pressupor a lei única da Harmonia Universal, símbolo do

Belo.

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1.2 Música e Filosofia

Mas por ser intrinsecamente ligada à filosofia, a música também era

considerada uma criação do espírito, um meio de alcançar a perfeição. Continha

uma série de regras éticas que eram utilizadas na composição e execução,

buscando imitar a ordem perfeita do cosmo. E tendo o poder de exprimir ou mesmo

de induzir diversos estados de espírito, supunha-se que a violação das regras de

harmonia poderia provocar desordens na sociedade. Daí porque Platão considerava

que a música deveria estar sob o controle do Estado para promover o bem social.

Observa-se, que a palavra Harmonia é relacionada com a justa proporção,

com a conveniência entre as partes, entre as partes e o todo e entre as partes e o

universo, remetendo à Harmonia das esferas e a Harmonia da natureza. No final do

século XVI o sentido de “justa relação” ampliou-se para fora do campo musical,

significando as relações existentes, do ponto de vista estético, entre os elementos

de uma obra de arte, de um objeto, etc. Atualmente, no campo musical, se fala de

harmonia em referência ao conjunto dos sons percebidos, ou seja, o acorde (sons

simultâneos), assim como às regras para articular os sons entre eles. Ou seja, seria

na verdade um conjunto de regras necessárias para se relacionar sons simultâneos

ou sucessivos. E pelas suas origens filosóficas, fora do campo musical, a palavra

harmonia continua tendo os sentidos de unidade, ordem, organização, concordância,

conformidade, paz, união, equilíbrio, simetria...

2 HISTÓRIA DA MÚSICA

A história mitológica da música, no mundo ocidental, começou com a morte

dos Titãs.

Conta-se que depois da vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de

Urano (Oceano, Ceos, Crio, Hiperião, Jápeto e Crono), mais conhecidos como os

Titãs, foi solicitado a Zeus que se criasse divindades capazes de cantar as vitórias

dos Olímpicos. Zeus então partilhou o leito com Mnemosina, a deusa da memória,

durante nove noites consecutivas e, no devido tempo, nasceram as nove Musas.

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Entre as nove Musas estavam Euterpe (a música) e Aede, ou Arche (o canto).

As nove deusas gostavam de frequentar o monte Parnaso, na Fócida, onde faziam

parte do cortejo de Apolo, deus da Música.

Há também, na mitologia, outros deuses ligados à história da música como

Museo, filho de Eumolpo, que era tão grande musicista que quando tocava chegava

a curar doenças; de Orfeu, filho da musa Calíope (musa da poesia lírica e

considerada a mais alta dignidade das nove musas), que era cantor, músico e poeta;

de Anfião, filho de Zeus, que após ganhar uma lira de Hermes, o mais ocupado de

todos os deuses, passou a dedicar-se inteiramente à música.

Se estudarmos com cuidado a mitologia dos povos, perceberemos que todo o

povo tem um deus ou algum tipo de representação mitológica ligado à música. Para

os egípcios, por exemplo, a música teria sido inventada por Tot ou por Osíris; para

os hindus, por Brama; para os judeus, por Jubal e assim por diante, o que prova que

a música é algo intrínseco à história do ser humano sobre a Terra e uma de suas

manifestações mais antigas e importantes.

2.1 Música na pré-história

A humanidade possui uma relação longa com a música, sendo essa umas

das formas de manifestação cultural mais antigas.

Ainda na pré-história, há mais de 50 mil anos, os seres humanos começaram

a desenvolver ações sonoras baseadas na observação dos fenômenos da natureza.

Os ruídos das ondas quebrando na praia, os trovões, a comunicação entre os

animais, o barulho do vento balançando as árvores, as batidas do coração; tudo isso

influenciou as pessoas a também explorarem os sons que seus próprios corpos

produziam. Como por exemplo os sons das palmas, dos pés batendo no chão, da

própria voz, entre outros.

Nessa época, tais experimentações não eram consideradas arte propriamente

e estavam relacionadas à comunicação, aos ritos sagrados e à dança.

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2.2 Música no Egito

No Egito Antigo, ainda no século 4.000 a.C., a música era muito presente,

configurando um importante elemento religioso. Os egípcios consideravam que essa

forma de arte era uma invenção do deus Thoth e que outro deus, Osíris, a utilizou

como uma maneira para civilizar o mundo.

A música era empregada de forma a complementar os rituais sagrados em

torno da agricultura, que era farta na região e os instrumentos utilizados eram

harpas, flautas, instrumentos de percussão e cítara - que é um instrumento de

cordas derivado da lira.

2.3 Música na Mesopotâmia

Na região da Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates,

habitavam os povos sumérios, assírios e babilônios. Foram encontradas harpas de 3

a 20 cordas na região onde os sumérios viviam e estima-se que sejam objetos com

mais de 5 mil anos. Também foram descobertas cítaras que pertenceram ao povo

assírio.

2.4 Música na China e na índia

Na Ásia - em torno de 3.000 a.C. - a atividade musical prosperou na Índia e

China. Nessas regiões, ela também estava fortemente relacionada à espiritualidade.

O instrumento mais popular entre os chineses era a cítara e o sistema musical

utilizado era a escala de cinco tons - pentatônica.

Já na Índia, em 800 a.C., o método musical era o de "ragas", que não utilizava

notas musicais e era composto de tons e semitons.

2.5 Música na Grécia e em Roma

Podemos observar que a cultura musical na Grécia Antiga funcionava como

uma espécie de elo entre os homens e as divindades. Tanto que a palavra "música"

provém do termo grego mousikē, que significa "a arte das musas". As musas eram

as deusas que guiavam e inspiravam as ciências e as artes.

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É importante ressaltar que Pitágoras, grande filósofo grego, foi o responsável

por estabelecer relações entre a matemática e a música, descobrindo as notas e os

intervalos musicais.

Sabe-se que na Roma Antiga, muitas manifestações artísticas foram herança

da cultura grega, como a pintura e a escultura. Supõe-se, dessa forma, que o

mesmo ocorreu com a música. Entretanto, diferente dos gregos, os romanos

usufruíam dessa arte de maneira mais ampla e cotidiana.

2.6 Música na Idade Média

Durante a Idade Média a Igreja Católica esteve bastante presente na

sociedade europeia e ditava a conduta moral, social, política e artística.

Naquela época, a música teve uma presença marcante nos cultos católicos. O

Papa Gregório I - século VI - classificou e compilou as regras para o canto que

deveria ser entoado nas cerimônias da Igreja e intitulou-o como canto gregoriano.

Outra expressão musical do período que merece destaque são as

chamadas Cantigas de Santa Maria, que agregam 427 composições produzidas em

galego-português e divididas em quatro manuscritos.

Uma importante compositora medieval foi Hidelgard Von Bingen, também

conhecida como Sibila do Reino.

2.7 Música no Renascimento

Já na época renascentista - que compreende o século XIV até o século XVI -

a cultura sofreu transformações e os interesses estavam voltados para a razão, a

ciência e o conhecimento do próprio ser humano.

Tais preocupações se refletiram também na música, que apresentava

características mais universais e buscava se distanciar dos costumes da Igreja.

Uma característica significativa da música nesse período foi a polifonia, que

compreende a combinação simultânea de quatro ou mais sons.

Podemos citar como um grande compositor da Renascença Thomas

Weelkes.

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2.8 Música no Barroco

A partir do século XVII, o movimento barroco promove mudanças marcantes

no cenário musical.

Foi um período bastante fértil e importante para a música ocidental e

apresentava novos contornos tonais, com a utilização do modo jônico (modo “maior”)

e modo eólio (modo “menor”).

O surgimento das óperas e das orquestras de câmaras também acontece

nessa fase, assim como o virtuosismo dos músicos ao tocar os instrumentos. Os

maiores representantes da música barroca foram Antônio Vivaldi, Johann Sebastian

Bach, Domenico Scarlatti, entre outros.

2.9 Música no Classicismo

No Classicismo, que corresponde ao período em torno de 1750 e 1830, a

música adquire objetividade, equilíbrio e clareza formal, conceitos já utilizados na

Grécia Antiga.

Nessa época, a música instrumental e as orquestras ganham ainda mais

destaque. O piano toma o lugar do cravo e novas estruturas musicais são criadas,

como a sonata, a sinfonia, o concerto e o quarteto de cordas.

Os artistas que se sobressaíram são Haydn, Mozart e Beethoven.

2.10 Música no Romantismo

No século XIX, o movimento cultural que surgiu na Europa foi o Romantismo.

A música predominante tinha como qualidades a liberdade e a fluidez, e primava

também pela intensidade e vigor emocional.

Esse período musical é inaugurado pelo compositor alemão Beethoven - com

a Sinfonia nº3 - e passa por nomes como Chopin, Schumann e sua esposa Clara

Shumann, Wagner, Verdi, Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros.

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2.11 Música no Século XX

A música no século XX expressou bem a grande agitação social causada

pelas duas grandes guerras, pelas ditaduras da Rússia com Stalin, da Itália com

Mussolini e da Alemanha com Hitler. Uma grande depressão econômica pairou sobre

as nações da época, dando lugar ao surgimento de novas potências mundiais

(U.S.A e U.R.S.S), ocasionando o fortalecimento de um novo sistema econômico

através do desenvolvimento industrial, o capitalismo.

Segundo Grout e Palisca:

o início do século XX foi marcado por uma agitação social e uma tensão internacional crescentes, que viriam a culminar na catástrofe da primeira Guerra Mundial. No domínio musical, a agitação e a tensão manifestaram-se através de diversas experiências radicais; esses anos puseram fim não só ao período clássico-romântico, como também as convenções em matéria de tonalidade tal como os séculos XVIII e XIX as haviam entendido (GROUT

e PALISCA, 2007, p 653).

Com a expansão do rádio e a invenção da televisão, a arte ganhou uma nova

concepção no que tange a sua comercialização, difusão e formas de composição, os

artistas ganham um papel mais arquetípico. Há também um amplo desenvolvimento

da música popular nas diversas esferas da sociedade. Blues, Jazz, Polca, Modinha,

Baião, Rock, Mazurca, cada país com suas características próprias, pois aqui os

Estados nação já estão em plena forma, é onde se tem uma ampliação dos

processos de globalização cultural fomentados pelos meios de comunicação,

rompendo as fronteiras físicas e criando novas características mercadológicas.

2.12 História não mitológica

A origem mecânica e não-mitológica da música divide-se em duas partes: a

primeira, na expressão de sentimentos através da voz humana; a segunda, no

fenômeno natural de soar em conjunto de duas ou mais vozes; a primeira, seria a

raiz da música vocal; a segunda, a raiz da música instrumental.

Na história não-mitológica da música são importantes os nomes de Pitágoras,

inventor do monocórdio para determinar matematicamente as relações dos sons, e o

de Lassus, o mestre de Píndaro, que, perto do ano 540 antes de Cristo, foi o

primeiro pensador a escrever sobre a teoria da música.

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16

Outro nome é o do chinês Lin-Len, que escreveu também um dos primeiros

documentos a respeito de música, em 234 antes de Cristo, época do imperador

chinês Haung-Ti. No tempo desse soberano, Lin-Len -que era um de seus ministros-

estabeleceu a oitava em doze semitons, aos quais chamou de doze lius. Esses doze

lius foram divididos em liu Yang e liu Yin, que correspondiam, entre outras coisas,

aos doze meses do ano.

2.13 Origem física e elementos

A música, segundo a teoria musical, é formada de três elementos principais.

São eles o ritmo, a harmonia e a melodia. Entre esses três elementos podemos

afirmar que o ritmo é a base e o fundamento de toda expressão musical.

Sem ritmo não há música. Acredita-se que os movimentos rítmicos do corpo

humano tenham originado a música. O ritmo é de tal maneira mais importante que é

o único elemento que pode existir independente dos outros dois: a harmonia e a

melodia.

A harmonia, segundo elemento mais importante, é responsável pelo

desenvolvimento da arte musical. Foi da harmonia de vozes humanas que surgiu a

música instrumental.

A melodia, por sua vez, é a primeira e imediata expressão de capacidades

musicais, pois se desenvolve a partir da língua, da acentuação das palavras, e forma

uma sucessão de notas característica que, por vezes, resulta num padrão rítmico e

harmônico reconhecível.

O que resulta da junção da melodia, harmonia e ritmo são as consonâncias e

as dissonâncias.

Acontece, porém, que as definições de dissonâncias e consonâncias variam

de cultura para cultura. Na Idade Média, por exemplo, eram considerados

dissonantes certos acordes que parecem perfeitamente consonantes aos ouvidos

atuais, principalmente aos ouvidos roqueiros (trash metal e afins) de hoje.

Essas diferenças são ainda maiores quando se compara a música ocidental

com a indiana ou a chinesa, podendo se chegar até à incompreensão mútua.

Para melhor entender essas diferenças entre consonância e dissonância é

sempre bom recorrer ao latim:

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17

Consonância, em latim consonantia, significa acordo, concordância, ou seja,

consonante é todo o som que nos parece agradável, que concorda com nosso gosto

musical e com os outros sons que o seguem.

Dissonância, em latim dissonantia, significa desarmonia, discordância, ou

seja, é todo som que nos parece desagradável, ou, no sentido mais de teoria

musical, todo intervalo que não satisfaz a ideia de repouso e pede resolução em

uma consonância.

Trocando em miúdos, a dissonância seria todo som que parece exigir um

outro som logo em seguida.

Já a incompreensão se dá porque as concordâncias e discordâncias mudam

de cultura para cultura, pois quando nós, ocidentais, ouvimos uma música oriental

típica, chegamos, às vezes, a ter impressão de que ela está em total desacordo com

o que os nossos ouvidos ocidentais estão acostumados.

Portanto o que se pode dizer é que os povos, na realidade, têm consonâncias

e dissonâncias próprias, pois elas representam as suas subjetividades, as suas

idiossincrasias, o gosto e o costume de cada povo e de cada cultura.

A música seria, nesse caso, a capacidade que consiste em saber expressar

sentimentos através de sons artisticamente combinados ou a ciência que pertence

aos domínios da acústica, modificando-se esteticamente de cultura para cultura.

2.14 A evolução da Música

A história da música se confunde com a história da humanidade. Desde que o

homem dá início a sua caminhada em direção ao seu desenvolvimento sapiente, ou

seja, interagir racionalmente com o meio ambiente, buscando a razão pela qual as

coisas são manifestas tanto no mundo racional quanto espiritual, o então infante ser,

em sua ânsia por interagir de forma mais ampla com o meio natural dá início a

produção sonora, utilizando artefatos encontrados no meio ambiente. Para facilitar a

compreensão dos fatos ocorridos, vamos dividir a história da música em:

• Primitiva (relativa aos povos primevos) – que compreende os inícios

das atividades laborais de adaptação da natureza as suas necessidades, realizadas

pelo homem pré-histórico.

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• Cultural (relativa ao domínio de técnicas rudimentares para

manipulação dos metais) – que compreende a chamada música antiga realizada por

povos denominados de média cultura tais como: caçadores, agricultores, pastores e

etc. E os de alta cultura como os chineses, indianos, egípcios e gregos.

• Cientifico-cultural – que compreende os períodos medieval,

renascença, barroco, clássico, romântico, pós-romântico, nacionalismo e

contemporâneo. Falar de um conteúdo tão extenso, que objetiva esclarecer ao

estudante como se deu o desenvolvimento da música através das transformações

sociais vividas pela humanidade, constitui-se um grande desafio. Porém, buscarei

fazer com que o nosso conteúdo tenha apenas o que seja mais relevante para

nossos estudos, dando maior ênfase na música popular brasileira, sem deixar de

lado o acervo histórico que temos resguardado.

3 MÚSICA

A música, mais do que qualquer outra arte, tem uma representação

neuropsicológica extensa, com acesso direto à afetividade, controle de impulsos,

emoções e motivação. Ela pode estimular a memória não verbal por meio das áreas

associativas secundárias as quais permitem acesso direto ao sistema de percepções

integradas ligadas às áreas associativas de confluência cerebral que unificam as

várias sensações. Exemplo pode ser dado referindo-se à sensação gustativa,

olfatória, visual e proprioceptiva as quais dependem da integração de várias

impressões sensoriais num mesmo instante, como a lembrança de um cheiro ou de

imagens após ouvir determinado som ou determinada música. O conjunto dessas

atividades motoras e cognitivas envolvidas no processamento da música é chamado

de função cerebral. Tal função exige várias operações mentais tais como

interpretação de ritmos, harmonias, timbres, expressão motora, processos cognitivos

e emocionais para a formação de um complexo de interpretação da música

(MUSZKAT, 2012).

Nas crianças, a música também exerce grande influência em seu

desenvolvimento e funcionamento cerebral, sendo entendida pelo cérebro como

uma forma de linguagem. Assim, à semelhança da linguagem falada, a música

Page 20: FUNDAMENTOS DA MÚSICA - ava.unifaveni.com.br

19

envolve diferentes entonações, ritmos, andamentos e contornos melódicos. É

considerada uma arte que se utiliza da linguagem para a comunicação e expressão

(CUERVO, 2011).

A partir disso, compreenderam-se aspectos relacionados à dominância

cerebral na função dos hemisférios cerebrais. O hemisfério esquerdo contém as

habilidades verbais, enquanto as não verbais dependem do hemisfério cerebral

direito (SCHMIDEK, 2005). A neurociência mostra que o cérebro de um praticante de

música em longo prazo, como em músicos profissionais, funciona de uma forma

diferente do cérebro de um não músico. O primeiro apresenta maior capacidade de

aprendizado, atenção, concentração, controle emocional e normalmente são

indivíduos bem-humorados. No desenvolvimento de suas atividades, como executar

uma peça musical, eles usam os dois lados do cérebro ao mesmo tempo devido o

desenvolvido das habilidades musicais localizadas em ambos os hemisférios

indicando mudanças positivamente mensuráveis (TRAVIS, 2011; AAMODT e

WANG, 2013).

3.1 Processo de reconhecimento do som

A música e a linguagem são ferramentas de estudo que exploram funções

cerebrais. Enquanto a voz falada envolve entonação, ritmo, andamento e um

contorno melódico, a música utiliza-se da linguagem de símbolos para comunicação

e expressão. No entanto, ambas dependem de esquemas sensoriais responsáveis

pela percepção e processamento auditivo e visual para que haja uma organização

temporal e motora necessárias para a fala e execução musical (MUSZKAT et al,

2000).

Ao chegarem aos ouvidos, os sons são convertidos em impulsos que

percorrem os nervos auditivos até o tálamo, região do cérebro considerada central

para as emoções, sensações e sentimentos. Os impulsos cerebrais provocados pela

música afetam todo o corpo e podem ser detectados por técnicas de escaneamento

cerebral ou neuroimagem (GASPARINI, 2003).

Quando um som é ouvido, o ouvido externo o capta, transfere e conduz a

onda de pressão sonora (energia sonora) pelo canal auditivo em direção à

membrana timpânica a qual vibra. Tal vibração é transmitida aos ossículos do

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ouvido, de modo que martelo, bigorna e estribo oscilam em resposta ao som e,

através do movimento mecânico, conduzem o som do meio gasoso para o meio

líquido do compartimento seguinte. O martelo recebe inicialmente o estímulo e o

estribo empurra a cóclea que se situa numa cavidade no osso temporal (ouvido

interno) criando pressão sobre o fluido lá dentro. Na cóclea existem células ciliadas,

que atuam como receptores sensoriais os quais geram estímulos elétricos através

de sequências de descargas nervosas para o nervo auditivo, que vai transmiti-lo ao

cérebro, no córtex auditivo, que se situa no lobo temporal.

A cóclea separa os sons complexos em suas frequências elementares e cada

célula ciliada está afinada para diferentes frequências de vibração, sendo que no

cérebro também existem células que respondem melhor a frequências específicas.

O nervo auditivo recebe informação nervosa das células ciliadas e a transmite ao

tronco encefálico que vai repassar ao tálamo que, enfim o direciona ao córtex ou a

bloqueia.

Todo o mecanismo nervoso de condução auditiva permite, por exemplo,

prestar atenção a um só instrumento numa orquestra. O cérebro processa a música

de forma distribuída uma vez que existem muitas áreas auditivas no córtex cerebral

as quais são de difícil delimitação. Sabe-se que a percepção musical envolve as

áreas primárias, secundárias e terciárias do sistema auditivo, além das áreas de

associação auditivas nos lobos temporais e da Área de Wernicke. Esta, por sua vez,

está ligada à percepção da linguagem e do processamento da maioria das funções

intelectuais do cérebro. As áreas primárias recebem sinais do ouvido interno através

do tálamo e estão envolvidas nos primeiros estágios da percepção musical tais como

frequência de um tom, contornos melódicos e volume. Áreas secundárias processam

padrões mais complexos de harmonia, melodia e ritmo. As terciárias permitem uma

percepção geral da música.

Segundo estudos realizados no Instituto de Fisiologia da Música e da

Medicina da Arte, em Hannover na Alemanha, o lado esquerdo do cérebro parece

processar elementos básicos como intervalos musicais e ritmos ao passo que o lado

direito se relaciona ao reconhecimento de características como métrica e contorno

melódico. Vale lembrar que o córtex auditivo primário é amplamente influenciado

pela experiência de forma que, quanto maior for a experiência, maior é o número de

células estimuladas e reativas a sons e tons musicais importantes. A experiência

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induz ao aprendizado e este afeta os processamentos nas áreas auditivas

secundárias e de associação, onde se supõe que os padrões musicais mais

complexos, como harmonia, melodia e ritmo são processados. Desta forma,

aprender a tocar um instrumento faz com que haja uma reorganização de diversas

áreas cerebrais como, por exemplo, as áreas motoras, o corpo caloso e o cerebelo.

Esta reorganização se faz através da plasticidade neural, quer seja a partir do

aumento no número de sinapses e de neurotransmissores, quer seja como o

aumento da potência da sinapse existente e a formação de novas conexões. Este

fato ocorre predominantemente a partir de exercícios musicais os quais são

apontados como capazes de desenvolverem o hemisfério esquerdo (área da

linguagem) e de beneficiarem a memória e a realização de tarefas espaciais.

A música também tem sido apontada como hábil a influenciar o estado

emocional. A percepção musical relacionada às emoções depende de variáveis tais

como a experiência emocional específica de cada um. No entanto, de acordo com

pesquisas do Instituto de Música e Aprendizagem de Paris (IRCAM) e Dijon (Lead),

as reações emocionais de indivíduos sem formação musical e de músicos são

bastante parecidas.

A capacidade de a música influenciar o estado emocional do indivíduo se

deve ao fato dela produzir reações fisiológicas cuja magnitude parece depender do

conteúdo emocional. Portanto, a percepção musical envolve muitas variáveis, muitas

áreas encefálicas e é capaz de influenciar o corpo todo através das reações

emocionais e fisiológicas.

A música, que é parte da cultura humana desde tempos remotos, é um

instrumento de diálogo não verbal. Ela é inata e pode desencadear profundos

processos de transformação pessoal os quais afetam não só o próprio indivíduo,

mas também o universo que o rodeia em todas as suas manifestações e formas.

3.2 Constituição, características e elementos musicais

O som é caracterizado como uma onda sonora mecânica percebida pelo

sentido da audição devido suas características musicais, timbre (amplitude), altura

(frequência) e intensidade. O timbre é uma característica sonora que permite

distinguir sons que possuem mesma frequência, porém são emitidos de fontes

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diferentes, por exemplo, ao tocar a mesma nota em dois instrumentos diferentes, o

som produzido tem a mesma altura (frequência), mas mesmo assim, é possível

distinguir o som de cada instrumento porque o timbre (determinado pela forma de

onda emitida) é diferente para cada um. A intensidade é a característica que

distingue sons fortes e fracos. Ela depende da amplitude das vibrações que as

partículas de ar realizam sobre suas posições de equilíbrio enquanto um som se

propaga, portanto, quanto maior a frequência, mais agudo é o som e vice-versa.

Ritmo, melodia e harmonia são os principais elementos que constituem a

música. Dentre eles, o ritmo é o que mais se associa à percepção de duração no

tempo, de periodicidade, pois é algo que flui, que se move, é um movimento

regulado. É importante, pois sem movimento não há som uma vez que todo

movimento produz som, mesmo que este não seja percebido pelo ouvido humano.

Vale ressaltar que o aparelho auditivo humano é sensível a sons de frequência que

estejam entre 20 e 20.000 Hz. Tal capacidade de reconhecimento auditivo é

conhecida como espectro audível ou limiar de audibilidade.

Estudos foram feitos a fim de entender os efeitos fisiológicos e psíquicos das

ondas sonoras de baixa frequência no corpo humano os quais demonstraram que,

para a maioria dos indivíduos, a vibração sonora mais confortável foi a de 69,2 Hz e

a mais desconfortável foi a de 24,49 Hz. As sensações benéficas descritas pelos

participantes foram leveza, tranquilidade, relaxamento, sonolência, paz, meditação,

sonho, anestesia, esquecimento de imagens e cenas ocorridas durante a aplicação,

maior consciência corporal, melhora postural, sensação de bem-estar, redução de

dores musculares, sensação de conforto, menos ansiedade, desobstrução das vias

aéreas e desejo de urinar (por estimulação do sistema autônomo).

3.3 Música sedativa e estimulante

Estudos sobre a influência da música no comportamento humano

categorizam, principalmente, dois estilos de música, a sedativa e a estimulante. A

música de estilo sedativo compreende os andamentos lentos, com harmonias

simples e leves variações musicais. Uma de suas características é o fato dela poder

tornar suave uma atividade física ou aumentar a capacidade contemplativa do ser

humano produzindo um efeito relaxante, com redução da frequência cardíaca,

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pressão arterial e ventilação. Ao contrário, a música estimulante pode produzir um

efeito excitante aumentando o ritmo da respiração, da pressão arterial e dos

batimentos cardíacos em consequência de ativação autônoma simpática que produz

uma sensação de aumento do estado de alerta. Neste caso, uma pré-disposição à

atividade motora é gerada assim como maior ativação mental devido seus tempos

mais rápidos, forte presença de articulações em staccato (notas com curta duração),

harmonias complexas e dissonantes e mudanças repentinas na dinâmica.

3.4 Musicoterapia

A musicoterapia é considerada uma ciência nova aplicada por pessoa

qualificada que usa a música de forma prescrita e clínica como intervenção

terapêutica, que deve possuir algumas exigências técnicas e científicas, como

maturidade, controle afetivo e emocional, imaginação, capacidade de observação do

mundo interior e exterior. A musicoterapia destina-se a facilitar e promover a

mobilização, a comunicação, a expressão, a organização e melhorar

relacionamentos sociais. Outros objetivos terapêuticos relevantes são descritos

como melhora de necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas do

indivíduo o qual desenvolve potenciais e recupera funções.

Fonte: revistainterativa.org

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O musico terapeuta cria formas e estratégias de fazer com que as atividades

musicais contemplem o paciente. As mais comuns incluem dança, improvisação,

associação do canto a tons combinados, uso de imagens, o canto, tocar um

instrumento ou compor uma música. Tais atos ajudam na expressão emocional, na

melhora das habilidades motoras além de melhorar lembranças associadas

favorecendo indivíduos portadores de Alzheimer (GOLD et al., 2004), com danos

cerebrais ou necessidades especiais (COVINGTON, 2001), autistas (CHANDLER et

al., 2002), indivíduos com síndrome de Down (BROTONS e KOGER, 2000) e

pessoas que não estão em tratamento, crianças, adolescentes e idosos, sendo seus

efeitos incontáveis sobre cada indivíduo.

Muitas pesquisas relatam e apontam a importância da música como um

elemento de otimização das funções cerebrais com destaque para a memória, uma

vez que a música A influência da música no comportamento humano envolve

armazenamento de símbolos organizados estimulando a cognição. Além disso, a

música apresenta grande importância em distúrbios motores como a doença de

Parkinson.

Num estudo recente, idosos após acidentes vasculares encefálicos foram

submetidos a cinco sessões semanais de 30 minutos de musicoterapia interagindo

com piano e bateria. Os mesmos foram avaliados antes e após este período quanto

ao desempenho motor fino (movimento de dedos), movimentos de pulso e

movimentos mais amplos. A melhora na capacidade motora foi percebida nos

movimentos e atribuída à plasticidade neural das vias motoras do córtex cerebral

para a medula espinal a partir da estimulação causada pelos estímulos musicais

(AMENQUAL et al., 2013). Por isso, Sacks (2007) afirma que a música correta, pode

orientar o indivíduo quando este não é mais capaz de fazê-lo por si só.

4 A MUSICA COMO FORMA DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO HUMANA

A música se faz presente em todas as manifestações sociais e pessoais do

ser humano desde os tempos mais remotos. Schaeffner (1958) explica que mesmo

antes da descoberta do fogo, o homem primitivo se comunicava por meio de gestos

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e sons rítmicos, sendo, portanto, o desenvolvimento da música, resultado de longas

e incontáveis vivências individuais e sociais.

Da mesma maneira, ao nascer, a criança entra em contato com o universo

sonoro que a cerca: sons produzidos pelos seres vivos e pelos objetos. Essa sua

relação com a música pode ocorrer, por exemplo, por meio do acalanto da mãe ou

aparelhos sonoros, sons da natureza e outros sons produzidos no seu cotidiano.

Nesse sentido, a música dialoga com a constituição interna do ser humano. A

criança estabelece suas primeiras relações com o mundo sociocultural por meio dos

sentidos sensoriais e de laços afetivos. Segundo a educadora musical brasileira Ilari

(2003), o primeiro contato do ser humano com a música acontece mesmo antes de

nascer, na sua vida intrauterina. Ao ouvir o batimento cardíaco da mãe mais

compassado e mais lento que o seu, como feto toma contato com um dos elementos

fundamentais da música – o ritmo.

Os sons que se ouvem, quaisquer que sejam não passam de ritmos. Uma

melodia, que nos possibilita escutar uma nota ou um “tum” do coração, consolida-se

pela aceleração de mínimas batidas que compõem o som estável, suficiente para

que o ouvido humano escute. Já o silêncio, imprescindível para a composição da

música, é aquele que não conseguimos ouvir, mas que caminha também pelo ar

como matéria, e que necessariamente selecionamos e relativizamos.

Além do som organizado – aquele que ouvimos em um instrumento ou de um

pássaro cantando – existem sons desorganizados, os chamados ruídos, que nos

rodeiam incessantemente (como o som de um trovão) e aqueles que inserimos na

música (como os instrumentos de percussão). A música, portanto, é a junção de

sons, ruídos, silêncios, ritmos e melodias. Enfim, iniciamos o nosso contato musical

desde quando crescemos no útero materno e por toda a nossa vida.

Por conseguinte, cada criança traz práticas sociais e tradições culturais

musicais, historicamente produzidas no seu contexto histórico, e ainda bebê já

percebe as variações rítmicas e muda seus comportamentos, como por exemplo, ao

ouvir uma canção de ninar conhecida. O canto é a estruturação musical da palavra,

portanto, organização temporal de ritmos, frequências e timbres que demonstram a

profunda tessitura da palavra (SANTOS, 2004).

Nesse sentido, a música folclórica pode ser usada na Educação Infantil como

instrumento de valor próprio e significativo, visto que, as canções tradicionais de um

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povo tratam de quase todos os tipos de atividades humanas. Muitas dessas canções

expressam crenças religiosas ou políticas, ou descrevem a sua história, que são

passadas de geração em geração por meio da oralidade.

4.1 Educação na perspectiva histórico-cultural

Coadunam-se com essas reflexões as teorizações de Leontiev (1978),

psicólogo russo, quando no texto O Homem e a Cultura ressaltam a importância do

conhecimento culturalmente construído pelas gerações antecedentes. Segundo este

autor,

Cada geração começa, portanto, a sua vida num mundo de objetos e de fenômenos criados pelas gerações precedentes. Ela apropria- -se das riquezas deste mundo participando no trabalho, na produção e nas diversas formas de atividade social e desenvolvendo assim as aptidões especificamente humanas que se cristalizaram, encarnaram nesse mundo

(LEONTIEV, 1978, p.265-6).

Leontiev afirma a necessidade do processo da objetivação e apropriação

pelas gerações futuras como condição para que ocorra seu desenvolvimento e

humanização. Esses conceitos são explicados por ele baseados na obra de Karl

Marx, o primeiro que forneceu uma análise teórica da natureza social do homem e

do seu desenvolvimento sócio histórico.

A objetivação consiste na realização material do homem das suas faculdades

físicas, mentais ou espirituais, ou seja, na produção e reprodução de objetos

materiais e não materiais que refletem a ação do homem no seu meio sociocultural.

A apropriação corresponde ao complemento desse processo, significando a

incorporação pelos indivíduos dos objetos materiais e não materiais produzidos pela

humanidade. Portanto, ao se apropriar do objeto o sujeito se apropria do

pensamento que o objetivou.

De acordo com Leontiev (1978), cada indivíduo aprende a ser homem;

ninguém nasce personalidade; para viver em sociedade não basta o que a natureza

lhe dá ao nascer. Tem que se apropriar do que foi produzido pela humanidade no

decurso do seu desenvolvimento histórico.

A apropriação enfocada por ele pressupõe três particularidades essenciais: é

sempre um processo ativo, realizado pelo homem para se apropriar e desenvolver

novos traços essenciais da atividade acumulada pelo objeto; é sempre um processo

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mediador entre a formação histórica do gênero humano e a formação singular de

cada indivíduo; é sempre um processo mediatizado pelas relações entre seres

humanos, numa constante transmissão cultural de geração para geração, dos

valores, conceitos, aptidões e demais atividades ao longo da história. Dessa forma,

Leontiev (1978, p.273) chega à conclusão de que “o movimento da história só é

possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições da cultura humana,

isto é, com educação”. O autor deixa claro que, quanto mais a humanidade progride,

mais imprescindível se torna a educação para o seu desenvolvimento, vinculando o

progresso histórico de uma sociedade ao progresso do seu sistema de ensino. Mas,

o que vem a ser educação nessa concepção? Leontiev se ocupa ainda de explicar

que,

O homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só se apropriando delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas (LEONTIEV, p.282-3).

A educação como se pode perceber tem como principal objetivo possibilitar a

apropriação das criações humanas. É também, uma atividade social e histórica que

se realiza nos múltiplos espaços da sociedade. No entanto, Leontiev (1978)

complementa que não é qualquer tipo de educação que preconiza esses objetivos, e

sim o ensino sistematizado, por possuir um nível de elaboração mais complexo do

que aprendizagens espontâneas e não dirigidas.

Neste sentido, Vygotsky (2001, p. 77) pontua que “a educação só pode ser

definida como ação planejada, racional, premeditada e consciente e como

intervenção nos processos de crescimento natural do organismo”. Portanto, na

perspectiva enfocada pelo autor, para ter validade, deve ser implementado um

modelo educacional que vise à apropriação da cultura material e intelectual, com

vistas à superação das formas primitivas de pensamento e desenvolvimento da

consciência, bem como com ênfase na formação dos processos psicológicos

superiores.

Nessa perspectiva de educação, é importante não perder de vista que, o que

determina o desenvolvimento da inteligência, do raciocínio, da consciência é a

própria vida, ou seja, a atividade que o ser humano desenvolve, seja externa, por

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meio da interação, ou interna. Dessa forma, quanto mais diversificada for à

atividade, mais se abrem possibilidades de desenvolvimento para as referidas

funções.

Nesse processo de aprendizagem enfatizado pelos psicólogos russos, será

que as crianças aprendem alguma coisa por meio das cantigas de acalanto, das

advinhas ou das danças folclóricas? Será que a música folclórica possui valor

educativo? Poderá contribuir de alguma forma para o desenvolvimento das funções

psíquicas?

4.2 Música e influência no humor

A música é descrita como tendo um papel envolvente na vida das pessoas,

podendo causar aproximação e atração entre indivíduos melhorando assim sua

socialização.

Fonte: oplanetaalternativo.com

Em relação à influência da música sobre o humor e a despeito da preferência

musical de cada pessoa, nem todos os indivíduos poderão se beneficiar dos efeitos

positivos da música sobre o humor. Este fato foi demonstrado em pesquisas feitas

sobre determinados estilos musicais os quais mostraram correlação entre os traços

de personalidade, valores humanos, risco de suicídio, uso de drogas e outros

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comportamentos antissociais, no comportamento pró-social, nos pensamentos e

sentimentos agressivos e no comportamento do consumidor.

Alguns estilos musicais como heavy metal e o rap preocupam os

pesquisadores devido à forte frequência de comportamentos de risco em suas letras.

Ao contrário, a música clássica tem efeitos relaxantes e positivos sobre o humor,

mesmo que não sejam as músicas preferidas ou habitualmente ouvidas. Assim,

estudos demonstraram significativa redução nos níveis de estresse após quatro

meses de sessões semanais de música clássica.

Altshuler, um psiquiatra americano, durante suas experiências clínicas

verificou que a música cujo caráter e andamento coincidiam com o tempo mental do

paciente, influenciava seu humor. Este médico tratava um paciente depressivo com

músicas de caráter triste e em tonalidade menor ao passo que, para pacientes

maníacos, empregava música de tempo “allegro” ou “vivace” devido seu tempo

mental se apresentar disperso e rápido. Com o andamento adequado para cada um

dos pacientes, o tempo mental era estimulado ao entrar em contato com a música.

5 MÚSICA E EDUCAÇÃO

A música tem um grande poder de interação e desde muito cedo adquire

grande relevância na vida de uma criança despertando sensações diversas,

tornando-se uma das formas de linguagem muito apreciada por facilitar a

aprendizagem e instigar a memória das pessoas.

Desde o nascimento que o ser humano mostra suas necessidades de

comunicação, interagir com a sociedade e meio envolvente. Essa necessidade se

inicia no ventre da sua mãe, onde é criada uma relação de afeto, estabelecendo

formas de comunicação entre a mãe e a criança, através de simples gestos.

Segundo Morris (1975, p. 235):

Tudo que é caracteristicamente humano depende da linguagem. O ser humano é, em primeira instância, o animal falante. O discurso representa o mais essencial – mas não o único – papel no desenvolvimento e na preservação da identidade humana e de suas aberrações, assim como faz no desenvolvimento e na manutenção da sociedade e de suas aberrações.

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30

A cultura vem acompanhando as gerações e sua importância é incontestável.

A necessidade de comunicação ente os povos tornaram a música uma marca vital

de identificação de cada comunidade e sua cultura. Segundo Oliveira (1999, p. 42),

“é a necessidade de comunicação que impulsiona, inicialmente, o desenvolvimento

da linguagem”. A música é a forma de expressão artística, tanto no campo popular

quanto no erudito. As comunidades podem ser identificadas pela música que

escutam.

Como podemos definir taxar ou estimar o gosto musical, a cultura, classe

social, se a criança não tem opção de aprofundar seu conhecimento nos diversos

campos culturais oferecidos pelas artes? A música proporciona uma forma de

expressão e contribui para buscar a identidade de um povo, mas, isso não quer dizer

que se devem privar o mergulho em outras culturas, pois a igualdade implica no

direito de não haver discriminação, sendo assim a escola tem obrigação de oferecer

essa cartela de opções a seus alunos.

Charles Husband (1998, p. 139) afirma:

No reconhecimento de nossa individualidade está a possibilidade de assumirmos a identidade da comunidade que fazemos parte, aquilo que nos une e nos solidariza. Consequentemente, os direitos individuais não podem ser inteiramente usufruídos ou garantidos, na ausência do respeito para com a dignidade, a integridade, a igualdade e a liberdade daquelas comunidades com as quais nos identificamos, incluindo a comunidade étnica a qual pertencemos. Na busca do reconhecimento de quaisquer de nossas comunidades [...] nós devemos reconhecer reciprocamente a legitimidade da existência e da integridade de outras comunidades, inclusive suas diferenças em relação a nós.

No Brasil ainda temos pouco incentivo para pesquisas sobre educação

musical enquanto em outros países a música já é vista como obrigatória nas

escolas. A finalidade da inclusão da música na escola não é tanto transmitir uma

técnica particular, mas sim trazer para o aluno opções de expressão e linguagens

que o ajudarão a desenvolver o gosto pela cultura e assim futuramente expressar-se

através dela.

Dessa maneira, é possível afirmar que no Brasil já temos uma trajetória

histórica, educativa e cultural que nos permite uma reflexão crítica acerca de

perspectivas e caminhos concretos que possam subsidiar a inserção da educação

musical nas escolas.

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31

Sabendo que as aulas de educação artística, onde a música está inserida,

não tem um papel de grande destaque no currículo escolar uma vez que as

disciplinas seguem uma regra hierárquica, onde as que são tidas como as mais

importantes para o desenvolvimento escolar do aluno tem um enorme destaque e

são consideradas como as de mais necessidade para a vida escolar e social do

aluno, enquanto as demais disciplinas que estão presentes no currículo são levadas

em “banho-maria” nas salas de aula como é o caso da disciplina de Artes.

As aulas de educação artística há muito tempo vêm sendo relegadas ao

segundo plano, os alunos só se dedicam as atividades artísticas dentro da escola

apenas quando o professor ou a instituição tem atividades específicas ou projetos,

apresentações, amostras, recitais, encontros, etc. Assim não sendo a arte fica

sempre em segundo plano.

Para as escolas ainda é mais importante que o aluno venha a ler e escrever

com maior rapidez para assim acompanhar os planos escolares e suas atividades

diárias, facilitando assim o trabalho de acompanhar as fases individuais dos alunos,

que quase sempre não são respeitadas, pois estes alunos que não acompanham

essa norma (ler e escrever) no tempo determinado pelo sistema educacional são

taxados como lentos e necessitados de reforço em suas atividades.

5.1 Educação musical

A arte é um instrumento para a transformação de seres humanos em sua

plenitude, desperta mais atenção em seu processo de sentir, por conseguinte, para

o sentir dos outros.

A música, como uma das linguagens da arte, como capacidade

exclusivamente humana, tem sido compartimentada e compartilhada pelos diversos

povos e sociedades através dos tempos. A música é um acontecimento sonoro que

ao ser ouvido, diz como foi feito e oferece acepções diversas para a receptividade

sensível. A música como expressão transforma emoções, percepções, sentimentos

e ideias do ser humano num processo elaborado de organização dos sons, dando-

lhes forma.

A música sempre esteve presente na vida das pessoas, seja em forma de

letras simples desde a infância, ou cantaroladas e até pelos cantos dos pássaros. Os

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32

sons podem ser ouvidos de várias formas e cada qual interpreta do seu modo e a

sua maneira.

Fonte: terradamusicablog.com.br

A Educação Musical é um valor da construção humana, porque a música é

uma linguagem artística organizada e estruturada culturalmente, que, justamente

com o código de sua construção, é um fato histórico e social.

A principal fonte musical para as crianças em idade escolar é a mesma para

todas as classes sociais. O papel do educador musical, neste caso, torna-se de

extrema importância, pois estará em suas mãos a condução de um processo de

construção de ouvintes críticos e conscientes.

Na escolarização, a criança intensifica sua ação avaliativa sobre o que está

ao nível de fantasia, o que é real, o que é conveniente, o que é aconselhável, o que

é válido, o que é saudável, ou não. O processo de escolarização sendo propício

para explorar a imaginação da criança deve ser bem aproveitado, pois, a partir daí o

desenvolvimento infantil se orienta para o discurso verbal e lógico e os centros de

interesses passam a ser outros.

É tarefa da escola estender o campo da experiência musical do aluno,

oferecendo-lhe, também, meios que diferenciem os contextos sonoros e suas

relações nos períodos históricos-sociais.

A música afeta a mente, o corpo e as emoções, desta forma o período de

educação musical pode ser crucial na vida da pessoa, configurando-se como agente

de desenvolvimento sensorial e emocional, como estímulo mental e como forma de

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33

sensibilização. Estes aspectos entrelaçados entre si, fundem a mente, o corpo e as

emoções do aluno numa experiência musical importante ao desenvolvimento dos

processos cognitivos.

A música, enquanto atividade social, cria um espaço onde se dão as relações

interpessoais. O espaço social criado para o aluno na escola é, desde o início, um

mundo próprio, diferente do círculo familiar, no qual existem grupos maiores que

impõem certos padrões de conduta, onde o aluno deverá desenvolver-se integrando-

se. Uma das formas que proporcionam esta integração é o grupo musical.

A educação musical, enquanto processo de desenvolvimento da linguagem

musical da pessoa, depende das suas experiências e da maneira que as utiliza. Elas

podem permitir a auto expressão e o desenvolvimento da personalidade, oferecendo

oportunidade à criação de atitudes sadias sobre si mesmo e sobre os outros e,

ainda, provocar identificações de acordo com seu próprio nível emocional.

Se a educação musical tomar como princípio a ênfase nos processos

cognitivos, vai movimentar o fazer musical do aluno. Como consequência da ação

cognitiva, a objetivação do conhecimento permitirá a qualquer pessoa o acesso a

pensamentos expostos sobre determinado fenômeno musical. O desenvolvimento da

consciência e da inteligência depende do desenvolvimento perceptivo que pode e

deve ser trabalhado na área do conhecimento musical fundamentado nas

experiências auditivas.

A criança não nasce com seu desenvolvimento predeterminado, ao contrário,

a exposição à cultura e à língua específica determina a sua forma de perceber o

mundo e a si mesmo. Nesse contexto como a música parte da cultura sócio histórica

do homem, pode contribuir para o desenvolvimento da criança.

A música se faz presente na história da humanidade. Ao nascer a criança

entra em contato com o universo sonoro que a cerca. Sua relação com a música

pode ocorrer, por exemplo, por intermédio do acalanto da mãe ou aparelhos

sonoros, sons da natureza e outros sons produzidos em seu cotidiano. Sendo assim

a música dialoga com a constituição interna do ser humano. A criança estabelece

suas primeiras relações com o mundo sociocultural por meio dos sentidos e dos

laços afetivos.

A musicalização favorece a oralidade, uma vez que a música é

primordialmente oralidade. A música reorganiza todos os processos mentais da

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criança. A palavra passa a ser assumida como um fator excepcional que dá forma à

atividade mental, aperfeiçoa o reflexo da realidade e cria novas formas de memória,

de imaginação, de pensamento e de ação.

A musicalização desenvolve o senso musical da criança, sua sensibilidade e

expressão, ou seja, insere a criança no mundo da música. O trabalho com a

musicalização desperta e aprimora o gosto musical, favorece o desenvolvimento da

5 sensibilidade, o ritmo, o prazer de ouvir a música, a imaginação, memória,

atenção, autodisciplina, socialização e afetividade. Também contribui para a

consciência corporal e a movimentação, permitindo dessa forma que a criança

conheça a si mesma melhor

Compreende-se a música como linguagem e forma de conhecimento, por

meio de brincadeiras e pela intervenção de professores ou do convívio social, a

linguagem musical tem estruturas e características próprias:

• Produção – centrada na experimentação e na imitação, tendo como

produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição;

• Apreciação – recepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e

organizações musicais, buscando desenvolver por meio do prazer da

escuta, a capacidade de observação, análise e conhecimento;

• Reflexão – sobre questões referentes à organização, criação, produtos e

produtores musicais.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, para que a

aprendizagem de música faça sentido na formação cultural e cidadã dos alunos,

desde as séries iniciais, é necessário que todos tenham oportunidades para

participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores de

sequências rítmicas, dentro e fora da sala de aula.

A música treina o cérebro para formas relevantes de raciocínio. Dada a

importância que a música assume para o homem, ouvir e fazer música passou a ser

para as pessoas uma possibilidade capaz de proporcionar a alegria da realização

pessoal, o enriquecimento de seu mundo interior, uma nova forma de comunicação.

A educação musical tem como um de seus objetivos estimular o aluno e fazer

com que melhore sua atenção e sua concentração. Por meio da educação musical

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podem ser observados o desenvolvimento da sensibilidade, afetividade, a

personalidade, desenvolvimento pessoal, capacidade motora e mental, imaginação,

etc.

A música ajuda também como fonte de observação do professor para que ele

crie meios avaliativos mais justos, com maior igualdade e respeito às condições de

cada um. A interação dos alunos com a música mostra como vivem, como pensam e

como reagem diante das situações vividas diariamente, muitas são as riquezas de

informações, e cabe ao professor saber o que fazer com elas, e como usá-las da

melhor forma possível.

Todas as crianças e adolescentes têm o direito de aprender a cantar, a tocar,

a ler partituras, a apreciar a boa música de todos os tipos, clássica e não clássica, a

compartilhar com os demais as experiências musicais, a ser mais feliz graças ao

domínio pessoal da arte dos sons. O Brasil é um país rico culturalmente e a música

serve de mediadora e incentivadora.

5.2 A importância do ensino de música na escola

Segundo a Base Nacional Comum Curricular, a música é uma linguagem

artística e “é uma forma de conhecimento que articula saberes do corpo, da

sensibilidade, da instituição, da razão e da emoção” (BNCC, 2016, p.112)

Ao reconhecermos a eficiência da música como uma linguagem artística,

nada melhor do que discorrer sobre a importância do seu ensino na escola. A luta

por sua inserção na matriz curricular foi grande e, agora que a temos como uma das

linguagens da disciplina de Arte, devemos reconhecer seu valor próprio, onde ela é

um meio para o desenvolvimento integral do ser humano e não um fim em si mesma.

A música, por si só e por muitas outras razões, justifica sua inserção no ambiente

escolar. Ela constitui uma importante forma de comunicação e expressão humana e

praticamente todos os povos do mundo possuem algum tipo de música. Ilari reforça

que

[...] a música carrega traços de história, cultura, e identidade social, que são transmitidos e desenvolvidos através da educação musical. [...] o fazer musical da aula de música envolve diversas formas de aprendizagem contidas em atividades como audição, canto, representação, reprodução, criação, composição, improvisação, movimento, dança e execução instrumental entre outras. Todas estas atividades auxiliam no desenvolvimento da inteligência musical. Além disso, no exercício dessas

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formas de aprendizagem os alunos podem ter sensação de realização pessoal, de bem-estar e de prazer (ILARI, 2005, p.6)

O ensino aprendizagem dessa linguagem artística, musical, promovem o

respeito às diferenças e a interação cultural e podem ser trabalhados e

contextualizados em cada nível da Educação Básica, especificamente. Queremos

destacar, a seguir, como essa linguagem pode contribuir em cada nível escolar.

Na educação infantil, a linguagem musical tem características próprias que

devem ser consideradas em cada fase de desenvolvimentos da criança, provoca

diferentes sensações e influencia no desenvolvimento de suas capacidades físicas,

afetivas, neurológicas, emocionais e sociais. Nesta fase ela pode ser estimulada

com várias experiências musicais a fim de perceber as diferenças existentes entre

outros sons, letras, ritmos, volume, velocidade, gestos corporais, melhorando assim

a concentração, atenção auditiva, memorização e socialização, ativando os círculos

cerebrais e assimilando diversos códigos sonoros. Estas experiências musicais

favorecerão, além das habilidades motoras, cognitivas e linguísticas, o

amadurecimento de sua personalidade.

A idade e as fases de desenvolvimento da criança precisam ser respeitadas e

a linguagem musical deve promover a educação integral, estimular o pleno

desenvolvimento do aluno e da aluna, tanto físico, intelectual, cognitivo e social.

Há evidências de que a música também pode contribuir com o processo de maturação do indivíduo, ou seja, auxiliar nos aspectos que envolvem a aprendizagem das regras sociais. De forma lúdica, ao brincar de roda, por exemplo, a criança tem a oportunidade de vivenciar situações de perda, de escolha, de decepções, de afirmação e de dúvida (AGNOLON; MASOTTI, 2016, p.1).

Estas situações serão vivenciadas ao longo da vida. Por isso, quanto mais

cedo a criança souber administrá-las, mas cedo será poupada de sofrimentos e

tristezas mais cedo também saberá tomar decisões acertadas em sua vida.

5.3 O ensino aprendizagem na Educação Infantil e a questão da música

É notório que a música se configura em uma linguagem, a qual compreendida

desde a infância auxilia os indivíduos na expressão de suas emoções e sentimentos,

além de corroborar para a constituição da criatividade. Ademais, contribui para a

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formação e desenvolvimento da personalidade da criança, pela ampliação cultural,

enriquecimento da inteligência e pela evolução da sensibilidade musical.

A criança é um espectador do mundo dos adultos e o resultado das relações sociais que vê a sua volta. Primeiro, ela é espectadora e só posteriormente é que se transforma em ator, como por exemplo, quando imita um adulto. A imitação é um aspecto importante no desenvolvimento intelectual e afetivo da criança. A linguagem musical é um excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de um poderoso meio de interação social. (Goés, 2009, p. 5)

No período correspondente a primeira infância a linguagem assume papel

fundamental na vida da criança, a partir da qual ela irá estabelecer suas relações

sociais se inserindo neste contexto. (VYGOTSKY, 1996c).

Dessa forma, no contexto escolar deverá contribuir para a formação integral

das crianças. Por intermédio da linguagem musical, tornar-se-á mais abrangente a

apreensão do saber, proporcionando um desenvolvimento mais consistente,

implicando em um conhecimento do mundo, gradual, de modo sensível e harmônico.

A escola possui papel fundamental no que diz respeito à ambientação dos alunos,

pois não somente indica o caminho do saber didático, mas influência nos

comportamentos, visto que na grande maioria das vezes as crianças permanecem

na escola boa parte do seu tempo. Conectada ao processo ensino-aprendizagem, a

música deve ser trabalhada pelos profissionais das instituições formais de ensino,

como um instrumento mediador desse processo.

Promover atividades que envolvam a musicalidade na Educação Infantil pode

ser uma ferramenta eficaz na promoção do desenvolvimento, favorecendo diversos

aspectos, tais como: memória, imaginação, pensamento, e principalmente a

oralidade. Em se tratando da expansão de vocabulário, Martins (2016) pontua que,

para Vygotsky, o desenvolvimento da fala se constitui em um grande salto qualitativo

no processo de humanização do psiquismo, por se tratar do entrecruzamento de

pensamento e linguagem, uma vez que estas duas funções seguem linhas distintas

e independentes de desenvolvimento.

Quando uma criança adquire um sistema linguístico ocorre uma

reorganização de todos os seus processos mentais, a palavra passa a assumir o

papel de dar forma à atividade mental, que proporcionará o aperfeiçoamento do

reflexo da realidade, alterando também a memória, a imaginação, o pensamento e a

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ação, quando esta reorganização ocorre é que o ser humano passa a se diferenciar

dos outros animais, à medida que agora consegue operar ativamente, modificando o

meio. (Scherer e Pereira, 2009)

Segundo o pensamento de Tuleski e Eidt (2016), a formação das funções

psicológicas superiores envolvem dois grupos de fenômenos; os meios externos do

desenvolvimento cultural que seriam as ferramentas materiais e simbólicas que

produziram as primeiras transformações psíquicas (fala, escrita, cálculo, desenho

etc.) e os processos de desenvolvimento das funções que se referem à memória,

percepção, atenção e pensamento conceitual. A princípio pode parecer que se trata

de dois fenômenos separados, no entanto eles estão estritamente ligados sendo que

o segundo se desenvolve utilizando-se do primeiro.

Fonte: institutofreedom.com.br

Neste sentido, a música, segundo Ilari (2003) é um estímulo importante para o

desenvolvimento do cérebro da criança. Culturalmente é comum que se tenha o

hábito de cantar e dançar com bebês; essa prática auxilia tanto no aprendizado

musical, quanto no desenvolvimento da afetividade e socialização, bem como na

aquisição da linguagem.

No ambiente escolar a música exerce uma segunda função que é o ensino

aprendizado de conceitos, ideias, formas de socialização e cultura. Este trabalho

promove o desenvolvimento tanto dos fenômenos externos na instância cultural, e se

a escola se utilizar da música de maneira dirigida, com um bom planejamento, como

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fenômenos internos, propiciando desenvolvimento de outras funções como memória,

formação de conceito, entre outros.

As funções psicológicas superiores são construídas socialmente, na interação

da linguagem com outros objetos materiais e simbólicos. A linguagem não é

expressão de um pensamento pronto, pois quando se transforma em linguagem, o

pensamento se estrutura e se modifica. Ele não se expressa, mas se realiza na

palavra. Sendo assim, ao promover o desenvolvimento, a linguagem atua

diretamente nas estruturas das funções superiores; logo, partindo desta linha de

pensamento, a linguagem musical, como componente curricular da Educação Infantil

na escola, sendo mediada pela ação adequada dos professores, corrobora para o

desenvolvimento das funções psíquicas na infância.

Assim, a atividade de ensino conquista uma natureza específica na forma da

educação escolar, que desponta como um processo a quem compete oportunizar a

apropriação dos conhecimentos historicamente sistematizados, o enriquecimento do

universo de significações, tendo em vista a elevação para além das significações

mais imediatas e aparentes disponibilizadas pela simples pertença cultural dos

indivíduos e pelas dimensões meramente empíricas dos fenômenos.

A inserção da Educação Infantil na Educação Básica, como sua primeira

etapa, em termos de legislação brasileira se constitui em um marco de

reconhecimento, apontando que a Educação começa nos primeiros anos de vida e é

essencial para o cumprimento de sua finalidade, como postula o art. 22 da Lei LDB

9394/96: “a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-

lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe

meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores”.

No que tange a periodização do desenvolvimento, segundo o enfoque teórico

da Psicologia Histórico-Cultural, tendo como recorte para análise as crianças de 0 a

5 anos de idade, inseridas na escola na Educação Infantil, Pasqualini (2016, p. 66)

aponta que, “a escola de Vygotsky tem como um dos seus primeiros fundamentos da

análise da periodização do desenvolvimento a negação de fases naturais universais

válidas para todos os seres humanos em qualquer contexto e a qualquer tempo”.

Esta afirmação não se constitui em negação das fases de maturação

biológica necessárias para o desenvolvimento dos indivíduos, mas contradiz a ideia

de que estas fases sejam naturais e generalizantes, isto é, que aconteçam de forma

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semelhante em todos os seres humanos, considerando que o desenvolvimento

psíquico depende exclusivamente da maturação do organismo.

De acordo com Scherer (2010), com o estudo do ensino da música sob a

perspectiva histórica é possível conhecer as mudanças ocorridas na área e sua

transitoriedade. Compreende-se com isso que, em cada sociedade, o processo de

musicalização das crianças é desencadeado em diferentes faixas etárias e formas

movidas pelo conceito de criança, de educação e de sociedade vigentes. Dessa

forma, é necessário repensar o ensino da música no contexto escolar enquanto

processo histórico que requer trocas e reconstruções para tornar-se um

conhecimento científico, dotado de valor e significado para o desenvolvimento

integral da criança. (Scherer, 2010).

A música é considerada um agente facilitador no contexto, pois pode

colaborar para ensinar os conteúdos de diversas formas em todas as séries. Ela

consegue prender a atenção dos alunos, em especial daqueles que são mais difíceis

de chamar a atenção. (Gomes, Santos e Moraes, 2013). A música é uma linguagem

que, se compreendida desde cedo, ajuda o ser humano a expressar com mais

facilidade suas emoções, sentimentos e principalmente a ser criativo. Segundo Góes

(2009), o objetivo da música no contexto educacional é contribuir para a formação e

para o desenvolvimento da personalidade da criança, por proporcionar a ela

ampliação cultural, enriquecimento de sua inteligência e evolução da sensibilidade

musical. De acordo com Góes (2009, p. 34):

A educação deve ser considerada como um processo para o desenvolvimento integral da criança, instrumento gerador das transformações sociais. A aprendizagem é sempre mediada, pois quando a criança inicia seu processo de escolarização traz para a sala de aula as relações sociais, as práticas sociais de sua comunidade e do seu grupo social.

A música deve ser um material para o processo educativo dirigido para o

desenvolvimento integral do aluno enquanto ser social. Assim, a educação musical

deve caminhar para fazer com que a criança passe a consumir música, criar, utilizar

da linguagem musical para se expandir por meio dela. O trabalho com a música tem

o intuito de estimular o desenvolvimento global da criança na fase da Educação

Infantil, integrando sua individualidade, seu contexto social, econômico, cultural,

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étnico e religioso, enfim, pretende-se compreender a criança como um ser único com

características peculiares e que interage no meio com outras crianças.

Fonte: mariorben.com.br

A atividade musical e as demais artes como um todo somam uma base forte

na Educação Infantil. O caminho para que a música se torne viável na Educação

Infantil se dá pelo uso de ferramentas para sua reflexão, práticas para que se faça o

uso correto da música, trabalhar a diversidade e o contexto do aluno, explorando

suas potencialidades. O ensino e o aprendizado da música envolvem a construção

do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso dessa

linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de

perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto a seus aspectos subjetivos.

Por conseguinte, irá transformar o mundo do indivíduo que adquirirá novos sentidos

e significados, o que modificará sua linguagem musical.

Como um instrumento pedagógico, a música é uma linguagem que serve para

organizar, socializar e integrar outras linguagens, agindo como um elemento

facilitador da percepção, experimentação, criação e das inúmeras possibilidades

expressivas, inclusive a expressão corporal, base da educação psicomotora. A

música é uma das mais importantes formas de comunicação, compreendida como

experiência que acompanha os seres humanos em todos os momentos. Portanto, a

experiência musical deve ser compreendida, analisada e transformada criticamente.

Segundo Cascudo (1988, p. 176) “a criança precisa ter conhecimento da

importância que a leitura, a escrita e a linguagem têm nas suas interações sociais, e

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esta necessidade ela pode perceber através da ludicidade”. A criança, ao ouvir a

música, se diverte com a história nela contada, observa a melodia e assimila as

palavras contidas, memorizando-as, ou seja, inicia-se o aprendizado. Muitos alunos

em ano de séries iniciais do ensino fundamental que já deveriam dominar a leitura e

a escrita, não estão aptos, seja por dificuldade de aprendizagem, seja por

dificuldades no ensino por parte do professor que já não sabe mais qual dinâmica

utilizar para que o aluno aprenda. Nesse caso, poderia ser a opção o uso do ensino

e aprendizagem por meio da musicalidade.

O ensino e aprendizagem por meio da música motiva a criança a participar de

situações de leitura e escrita mais facilmente. Afinal, ela já sabe o que está escrito e

pode prestar mais atenção à forma como se escreve. As músicas como as cantigas

de roda, por exemplo, muito além de ser apenas tradição cultural podem ser

utilizadas no processo de ensino e aprendizagem. O professor que procura por

diversificar seus métodos de aulas, buscando apoio em dinâmicas que despertam

aos alunos motivação, pode encontrar na dinâmica das cantigas de roda, conteúdo

para incrementar suas aulas e obter resultados nos avanços de ensino e

aprendizagem da sala de aula.

A música trabalhada em sala de aula, por meio de brincadeiras ou de outra

dinâmica escolhida pelo professor, apresenta-se como recurso para a leitura “lúdica”

e para a introdução da criança no mundo da leitura. Por meio da repetição, a criança

aprende palavras e sua interpretação. Pode-se nesse momento ainda ser trabalhada

a sonoridade, o ritmo, e o acréscimo de vocabulário da criança.

De acordo com Bastian (2009, p. 08) “os estudantes que se submetem a

experiências musicais, alcançam níveis mais elevados de sociabilidade, sentindo-se

emocionalmente mais seguros, menos agressivos e integrados em suas salas de

aula”. A música como ferramenta dinâmica em sala de aula, poderá gerar

apontamentos que beneficiam o professor e os alunos no processo de ensino-

aprendizagem, pode ainda trazer oportunidades para o professor trabalhar a

diversificação em sala de aula.

Prendendo a atenção do aluno, o docente poderá trabalhar a assimilação do

aluno no conteúdo de histórias inseridas às letras das músicas; utilização de

exploração de letramento, motivar o aluno a escrever as palavras inseridas nos

contextos das músicas como meio de conhecimento da elaboração da escrita; e

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ainda pode trabalhar visando promover a interação dos alunos e a formação de novo

vocabulário para as crianças.

A música também possibilita a interação com o mundo adulto dos pais, avós e

outras fontes como: televisão e rádio, que rodeiam o dia a dia das crianças, que vem

formar um repertório inicial no seu universo sonoro. Brincando fazem demonstrações

espontâneas, quando em família ou por intervenção do professor na escola,

possibilitando a familiarização da criança com a música. Em muitas situações do seu

convívio social, elas vivem ou entram em contato com a música. Em relação a isso o

RCNEI explica que:

“O ambiente sonoro, assim como presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês, e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas parlendas, reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem”. (Brasil, 1998. p.51)

Ao trabalhar a música na escola, não podemos deixar de considerar os

conhecimentos prévios da criança sobre a música e o professor deve tomar isso

como ponto de partida, incentivando a criança a mostrar o que ela já entende ou

conhece sobre esse assunto, deve ter uma postura de aceitação em relação à

cultura que a criança traz.

Em algumas situações pode ocorrer o fato de o professor, de uma maneira

despercebida, deixar de lado o meio cultural e social da criança, o que não é bom,

pois isso pode levá-la ao desinteresse pela educação musical, usar uma

determinada música na hora de entoar a oração da manhã. Isso pode ser entendido

como uma forma de expressão e de louvor, porém é necessário ter cuidado, pois

nem todos têm a mesma religião. A alternativa, neste caso, talvez fosse pedir que

cada dia uma criança fizesse a oração ou cantasse uma canção, assim, todos teriam

a chance de expressar sua cultura religiosa na sala de aula.

Então é preciso mostrar e entender a prática de como a música pode ser

usada na escola, ou seja, apresentar atividades com música que contribuam no

desenvolvimento das crianças da educação infantil, bem como atividades musicais

que possam contribuir no trabalho com o aluno e como pode ser usada.

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5.4 Musicalidade no desenvolvimento infantil

Desde muito cedo a música tem grande importância na vida da criança, pois

além de provocar diferentes sensações, também desenvolve capacidades que serão

importantes durante o crescimento infantil contribuindo para seu desenvolvimento

neurológico, afetivo e motor. Para isso, ela deve ser estimulada com variadas

experiências musicais a fim de que perceba diferenças entre os estilos, letras,

velocidade e ritmos melhorando a atenção, memorização e discriminação auditiva. É

nesse período que as crianças estão mais receptivas às aprendizagens e que ocorre

grande parte do desenvolvimento neurológico. Isto porque a fase da infância é

considerada a fase mais rica para formação das sinapses e conexões dos neurônios

ampliando a capacidade cerebral. Assim, a música nesse processo é um dos

estímulos mais potentes para ativar os circuitos do cérebro de forma que, quanto

mais cedo a criança entrar em contato com o mundo da música, maior será o

conhecimento armazenado na memória sonora devido assimilação de vários códigos

sonoros que a música pode oferecer. Tal fato favorece o desenvolvimento de

habilidades cognitivas, linguísticas e motoras, participando do processo de

desenvolvimento da sua personalidade, do amadurecimento do caráter e das

atitudes comportamentais.

A família pode desempenhar o papel de agente principal de integração do

indivíduo à iniciação musical despertando o interesse da criança pelo gosto de

repertórios musicais. Para Fucci-Amato (2008) que analisou e relatou biografias e

depoimentos de alguns músicos, de fato a família tem grande importância na

formação cultural do indivíduo. Antônio Carlos Gomes, por exemplo, considerado por

muitos o maior compositor das Américas no século A influência da música no

comportamento humano, teve contato com a atividade musical desde cedo uma vez

que seu pai era mestre de banda e compositor, interpretando tanto música erudita

como popular. Heitor Villa-Lobos, maestro e principal expoente da música brasileira,

também revelou a grande influência da cultura familiar, determinante para sua

incursão ao mundo da música, destacando o papel de seu pai com o qual sempre

assistia a ensaios, concertos e óperas, a fim de habituar-se ao gênero de conjunto

instrumental.

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5.5 Lateralização dos hemisférios cerebrais

Conforme Lent (2008), a neurociência é responsável pelo conjunto de

disciplinas que compõem o estudo do sistema nervoso e que se tornou um campo

de investigação do efeito que a música produz no cérebro, utilizando tecnologias

como a neuro imagem a fim de visualizar regiões envolvidas na audição musical.

O cérebro, sendo um centro cognitivo de atividades mentais superiores que

abrange sentimentos, criatividade e inteligência, é separado por uma grande fissura

que o divide em dois hemisférios cerebrais, hemisfério direito e esquerdo. Um efeito

muito versado é a contra lateralidade, onde o hemisfério esquerdo cerebral exerce o

controle do lado direito do corpo e vice-versa. Essa troca de informação entre os

hemisférios se dá em virtude de algumas estruturas nervosas como o corpo caloso.

De uma forma geral, o hemisfério cerebral esquerdo contém as habilidades verbais,

analítica e o controle da linguagem em seus aspectos lógicos, enquanto as não

verbais, holísticas, afetivas, emoções e intuitiva, dependem do hemisfério cerebral

direito.

Existe uma lateralização hemisférica para a música de forma que no

hemisfério direito ocorre a discriminação do contorno melódico, do aspecto

emocional da música e dos timbres nas regiões temporais e frontais. No entanto, o

ritmo, a duração, a métrica e a discriminação da tonalidade ocorrem no hemisfério

esquerdo do cérebro o qual também processa a altura estando relacionado

exatamente às áreas da linguagem que reconhecem o arranjo musical.

Em estudo realizado na universidade de Harvard, o neurocientista Gottfried

Schaug demonstrou que a região frontal do corpo caloso é expressivamente maior

nos músicos, em especial naqueles que iniciaram cedo sua formação. Tal fato

consolida o pressuposto de que as operações musicais se tornam bilaterais com a

intensificação do treinamento à medida que os músicos passam a coordenar e

recrutar estruturas neurais nos dois hemisférios cerebrais. Tal estudo demonstrou

ainda uma tendência de os músicos possuírem cerebelos de maior tamanho e com

maior concentração de massa cinzenta a qual é constituída por corpos celulares e é

responsável pelo processamento da informação.

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6 TECNICAS E MÉTODOS PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

A música é uma linguagem muito expressiva e as canções são veículos de

emoções e sentimentos, e podem fazer com que a criança reconheça nelas seu

próprio sentir. Em um trabalho pedagógico, a linguagem musical deve ser valorizada

como um mecanismo essencial na formação intelectual da criança, os resultados no

ensino da música são os mesmos durante as atividades musicais, dançando,

cantando, compondo, ouvindo, a partir desse momento, o professor propicia

situações que contribuem para uma aprendizagem mais rica e significativa. O ensino

da música favorece o desenvolvimento da expressão artística além de despertar nas

crianças o gosto pela música, contribuindo para a livre expressão de sentimentos.

Fonte: pinterest.fr

A música contribui sistematicamente e significativamente com o processo

integral do desenvolvimento do ser humano. A música tem uma linguagem

abrangente. E o ensino dela favorece o gosto estético e de expressão artística.

As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si

mesma, desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a

comunicação com o outro. Sendo assim, as atividades de musicalização podem

contribuir como reforço no desenvolvimento cognitivo/linguístico, psicomotor e sócio

afetivo da criança, da seguinte forma:

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• Desenvolvimento cognitivo/linguístico: a fonte de conhecimento da criança

são as situações que ela tem oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa

forma, quanto maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu

desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as experiências rítmicas musicais que

permitem uma participação ativa (vendo, ouvindo, tocando) favorecem o

desenvolvimento dos sentidos das crianças. Ao trabalhar com os sons ela

desenvolve sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar ela está

trabalhando a coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela está

descobrindo suas capacidades e estabelecendo relações com o ambiente em que

vive.

• Desenvolvimento psicomotor: as atividades musicais oferecem inúmeras

oportunidades para que a criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a

controlar seus músculos e mova-se com desenvoltura. O ritmo tem um papel

importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão

musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a reação

motora e aliviando as tensões. Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado

de um conjunto completo (e complexo) de atividades coordenadas. Por isso

atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são experiências

importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o senso rítmico, a

coordenação motora, fatores importantes também para o processo de aquisição da

leitura e da escrita.

• Desenvolvimento sócio afetivo: a criança aos poucos vai formando sua

identidade, percebendo-se diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando

integrar-se com os outros. Nesse processo a autoestima e a auto realização

desempenham um papel muito importante. Através do desenvolvimento da

autoestima ela aprende a se aceitar como é, com suas capacidades e limitações. As

atividades musicais coletivas favorecem o desenvolvimento da socialização,

estimulando a compreensão, a participação e a cooperação. Dessa forma a criança

vai desenvolvendo o conceito de grupo. Além disso, ao expressar-se musicalmente

em atividades que lhe deem prazer, ela demonstra seus sentimentos, libera suas

emoções, desenvolvendo um sentimento de segurança e auto realização.

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As atividades de exploração sonora devem partir do ambiente familiar da

criança, passando depois para ambientes diferentes. Por exemplo, o educador pode

pedir para que as crianças fiquem em silêncio e observem os sons ao seu redor,

depois elas podem descrever, desenhar ou imitar o que ouviram. Também podem

fazer um passeio pelo pátio da escola para descobrir novos sons, ou aproveitar um

passeio fora da escola e descobrir sons característicos de cada lugar.

O educador também pode gravar sons e pedir para que as crianças

identifiquem cada um, ou produzir sons sem que elas vejam os objetos utilizados e

pedir para que elas os identifiquem, ou descubram de que material é feito o objeto

(metal, plástico, vidro, madeira) ou como o som foi produzido (agitado, esfregado,

rasgado, jogado no chão). Assim como são de grande importância as atividades

onde se busca localizar a fonte sonora e estabelecer a distância em que o som foi

produzido (perto ou longe). Para isso o professor pode pedir para que as crianças

fiquem de olhos fechados e indiquem de onde veio o som produzido por ele, ou

ainda, o professor pode caminhar entre os alunos utilizando um instrumento ou outro

objeto sonoro e as crianças vão acompanhando o movimento do som com as mãos.

Posteriormente o educador pode trabalhar os atributos do som:

• Altura: agudo, médio, grave.

• Intensidade: forte, fraco.

• Duração: longo, curto.

• Timbre: é a característica de cada som, o que nos faz diferenciar as vozes

e os instrumentos.

Os atributos do som podem ser trabalhados por meio de comparação,

diferenciando um som agudo de um grave, forte de um fraco, ou longo de um curto.

Mas é mais interessante o uso de jogos musicais, pois através dessas atividades o

educador pode perceber quais os pontos fortes e fracos das crianças, principalmente

quanto à capacidade de memória auditiva, observação, discriminação e

reconhecimento dos sons, podendo assim vir a trabalhar melhor o que está

defasado.

Os jogos musicais podem ser de três tipos, correspondentes às fases do

desenvolvimento infantil:

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• Sensório-Motor (até os dois anos): São atividades que relacionam o som e

o gesto. A criança pode fazer gestos para produzir sons e expressar-se

corporalmente para representar o que ouve ou canta. Favorecem o desenvolvimento

da motricidade.

• Simbólico (a partir dos dois anos): Aqui se busca representar o significado

da música, o sentimento, a expressão. O som tem função de ilustração, de

sonoplastia. Contribuem para o desenvolvimento da linguagem.

• Analítico ou de Regras (a partir dos quatro anos): São jogos que envolvem

a estrutura da música, onde são necessárias a socialização e organização. Ela

precisa escutar a si mesma e aos outros, esperando sua vez de cantar ou tocar.

Ajudam no desenvolvimento do sentido de organização e disciplina.

A duração das atividades deve variar conforme a idade da criança,

dependendo de sua atenção e interesse. Além disso, vale lembrar que é preciso

respeitar a forma de expressão de cada um, mesmo que venha a parecer repetitivo

ou sem sentido. É importante que a criança se sinta livre para se expressar e criar.

Fonte: cienciasecognicao.org

É importante destacar que as atividades musicais realizadas na escola não

visam a formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão da

linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão

de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do

ser.

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7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BOHUMIL, Med. Teoria da música, solfejo, ritmo (em 3 vol.). Brasília: Musimed,

1986. DOURADO, Henrique Autran. Dicionário de termos e expressões da música.

2. ed. São Paulo: Editora 34, 2004

FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 3. ed. São Paulo:

Contexto, 2002.

SCHAFER, R. Murray. A Afinação do mundo: uma exploração pioneira pela

história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso

ambiente: a paisagem sonora. São Paulo: UNESP, 2001.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a

formação integral da criança. São Paulo: Ed. Peirópolis, 2003.

HENTSCHKE, L.; DEL BEN, L. (Org.). Ensino de música: propostas para pensar

e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003

SOUZA, Jusamara. Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: Ed. UFRGS,

2000.