Upload
lythuy
View
244
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Capaci
taçã
o e
m E
duca
ção e
m D
irei
tos
Hum
anos
FUNDAMENTOS HISTÓRICO-
FILOSÓFICOS DOS DIREITOS HUMANOS
Módulo 1.7
2
FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DOS DIREITOS HUMANOS
• Direitos Humanos: sua origem e natureza
• O que são os Direitos Humanos
• O fundamento dos Direitos Humanos
• A construção do sujeito de Direitos
• Ética, Educação e Direitos Humanos
• A trajetória histórica dos Direitos Humanos
• História conceitual dos Direitos Humanos
• História social dos Direitos Humanos no Brasil
• Direitos Humanos e Memórias
• Memória e esquecimento
• Memória e identidades
• Acesso à informação
• Direitos Humanos: Compromisso social e coletivo
3
Priscila Menezes
Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas, Coordenadora Adjunta
da Assessoria Técnica de Educação em Direitos Humanos e Segurança Pública e
Professora da Pós-Graduação de Educação em Direitos Humanos e Diversidade da
Universidade Federal de Alagoas.
DIREITOS HUMANOS:
FUNDAMENTOS E
VALIDADE DE UM PROJETO
POLÍTICO À LUZ DO
DESENVOLVIMENTO.
4
Direitos Humanos como projeto político
• Por sermos dotados deinesgotável ímpeto criador,estamos permanentementecriando e recriando o mundo e anós mesmos;
• Por isso, somosfundamentalmentevocacionados para ser sujeitos enão objetos. Sujeitos dosacontecimentos do nossotempo, da nossa história e doconhecimento;
• “Os direitos humanos não sãoum dado, mas um construído,uma invenção humana emconstante processo deconstrução e reconstrução”.
(Hanna Arendt)
5
• Dentre todas as invenções concebidaspelo gênio humano, ao longo do séculoXX, podemos considerar a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos de 1948como sendo a mais importante de todas;
• Constitui-se no primeiro PROJETO DEHUMANIDADE;
6
1. Ela aproveita a herança cultural e histórica legada pelas grandes tradições
culturais e religiosas: cristianismo, budismo, confucionismo, islamismo e
judaísmo, bem como sintetiza os valores e direitos consagrados na
Independência dos Estados Unidos (1776) e na Revolução Francesa (1789),
e mais;
2. Ela alcança uma universalidade, antes nunca vista, das máximas
fundamentais da humanidade. Expressa a riqueza da vida e da experiência
histórico-cultural dos diversos povos, construída ao longo de milhares de
anos;
3. Mas, expressa, sobretudo, a grandeza desses diversos povos e suas culturas
que, num dado momento muito dramático da experiência humana, abrem
mão de um pedaço de sua história, para darem início a uma história comum
e verdadeiramente humana.
7
• Esses princípios acham-se inscritos em todas as grandes tradições culturaise religiosas, bem como nas Constituições de cerca de 191 nações, sob aforma de normas incondicionais, mediante as quais orientamos nossasações nas mais diversas e complexas situações que a vida vai nosapresentando.
8
Eficácia e validade do discurso
fundamentado em Direitos Humanos
• Em uma sociedade regulada por interesses, privilégios e direitos, em tese,Direitos devem prevalecer;
1. Direitos devem prevalecer, em razão de sua natureza e pelo processo sociale político através do qual são construídos; Existem interesses louváveis edefensáveis, mas que não são direitos;
2. Ex: reduzir a criminalidade a partir da eliminaçãode suspeitos, visto que os indivíduos possuem oDireito Humano à vida, ou ainda; Construir umaHidroelétrica ou um Shopping Center, comfundamento na geração de emprego e renda, nãopode ser realizado com a destituição de indígenasou de populações tradicionais de seus territórios,tendo em vista o Direito desses povos às suasterras;
9
3. Interesses e privilégios, não sãorevestidos de Direitos, porque nãoforam criados da mesma forma,nem possuem os mesmos atributosde exigibilidade. Direitos sãofundamentados numa noção dehorizontalidade e reciprocidade,enquanto interesses e privilégiosderivam de relações de poder, emregra, assimétricas e unilaterais.
10
Por que são “humanos” tais direitos?
1. Porque se fundam na noção de dignidade humana > E o que seriaDignidade Humana?
2. Somos os únicos seres que atribuem significado às coisas ao nossoredor;
3. Nós dizemos se elas são boas ou ruins e nos determinamos de acordocom cada caso, com base em escolhas ou contingências;
11
4. Somos passíveis de crises existenciais, paixões;
5. E também somos os únicos seres vivos que matamos sem anecessidade de nos alimentar ou apenas nos defender, matamos porvingança (e somente nós sentimos isso!), por pilhagem, conquista epoder.
12
• Os demais seres vivos da natureza guardam com a natureza uma relação
de instinto e sobrevivência;
13
• Os seres humanos necessitam de condições mínimas que assegurem a todos
- respeitadas as suas diferenças, identidades e culturas – dos meios
indispensáveis a uma vida digna: trabalho, segurança, educação, saúde;
14
• “A dignidade humana, define o conjunto de
essencialidades que nos permitem não sermos menos que
humanos, em outras palavras, fundamentam nosso
estatuto de pessoa” .
15
Por que razões se respeitam os Direitos
• O discurso dos Direitos é lugarcomum na retórica das normas, daspolíticas públicas e dodesenvolvimento. Por quê?
• As razões são explicadas por fatoresde ordem moral, cognitiva eutilitária:
Razão Moral:
• Respeita-se direitos humanos quandose acredita que as pessoas sãodotadas de igual valor, “peloconsenso democrático, admitimosque os seres humanos os possuemnão importando o status, a condiçãosocial, a raça ou quaisquer outrasdiferenças existentes”.
16
Razões Cognitivas
• Ter claras as informações quantoà existência de determinadosvalores que se revestem dedireitos, é condição fundamentalpara tomada de decisões;
• Dispor de uma cultura dedireitos que nos informe quantoa sua existência e exigência criauma atmosfera favorável ao seurespeito. Isso não significa dizerque o simples conhecimento dosdireitos leve a sua observância erespeito, - basta notar quegrandes violações de direitoshumanos também ocorrem emnações cujas sociedadesdemonstram alto grau deinstrução;
17
Razões Instrumentais
• A razão instrumental pauta-sepelo raciocínio de que as pessoasfazem isso em troca debenefícios, para livrarem-se ouevitarem punições.
• Ou seja, o respeito a eles sereforça quando o que está emjogo, é a possibilidade dessaconduta vir a ser muitoprejudicial à imagem, àintegridade física ou integridadepsíquica, sendo, portanto,vantajoso respeitá-los.
• Tal razão funda-se naespectativa de ganho, deobtenção de vantagens, seja pelapossibilidade de coerção doEstado, pela pressão social oupela reciprocidade.
18
Exigibilidade e Justiciabilidade dos Direitos
• A lógica que explica a recorrência da linguagem dos direitos na retórica de
governos, instituições, normas, políticas e mercado, é recente, ela marca o
que Norberto Bobbio chamou de Era dos Direitos;
• Mudança no modo de encarar a relação política, que antes tinha como centro
a figura do soberano, próprio dos estados absolutistas, e que agora passa a
considerar o cidadão e seus direitos.
19
• Essa mudança promovida pelamodernidade, na qual ampliam-se ossujeitos e o conjunto de Direitos, não éacompanhada pela efetiva proteção egarantia dos mesmos;
• Na defesa dos direitos humanos, issotem muita importância na atualidade,significa fazer da exigibilidade – que éa possibilidade de existência prática dedireitos – o ponto focal dos direitoshumanos;
• A exigibilidade (inclusive enquantojusticiabilidade - a possibilidade deexigir direitos face ao Poder Judiciário)é, hoje, um imperativo na teoria e naprática dos direitos humanos;
• Afinal, as declarações de direitos, asconstituições e as normas, de um modogeral, deixam de possuir qualquersignificação prática se não tiverem apossibilidade de efetiva aplicação.
20
• Caminhar no sentido da
realização dos direitos humanos,
numa perspectiva indivisível,
significa enfatizar os direitos
humanos econômicos, sociais e
culturais - onde se circunscreve
o direito humano ao
desenvolvimento.
21
Desenvolvimento num mundo de contradições
• O papel central do desenvolvimento ésuperar a contradição entre realidadesdiametralmente opostas, existentes nomundo atual;
• Atualmente, a humanidade produz emalimentos duas vezes aquilo de que écapaz de consumir; o regime democráticoé predominante dentre a maior parte dasnações existentes; os direitos humanos e aliberdade política são hoje parte recorrenteda retórica hegemônica;
• Vivemos, entretanto, em um mundo deprivações e opressão extraordinárias:pobreza extrema, fomes coletivas crônicas,violações de liberdades políticas,negligência substantiva à condição desujeitos a homens e mulheres, e ameaçascrescentes à sustentabilidadesocioambiental, tanto em países ricoscomo pobres.
22
Direito Humano ao Desenvolvimento e
Desenvolvimento como Liberdade
• Agentes privados e estatais são unânimes em afirmar a importância dodesenvolvimento para a eliminação dos flagelos que afligem a maiorparte da humanidade.
• O DESENVOLVIMENTO QUE VOCÊ VÊ OU OUVE TEMRELAÇÃO COM ESSA AFIRMAÇÃO?
• Entende-se por desenvolvimento “o meio pelo qual se assegura atodos os povos e indivíduos participar do desenvolvimento econômico,social, cultural e político, com ele contribuir e dele desfrutar, no qualtodos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam serplenamente realizados.”
23
Ou com essa?• Desenvolvimento humano é o meio
pelo qual as pessoas realizam o queconsideram importante para as suasvidas.
• A riqueza constitui instrumento derealização do tipo de vida que aspessoas valorizam levar (e não comoacúmulo e exclusão).
• Viver não significa morrer na flor daidade e nem atravessar uma vida demiséria e privações de liberdade.
• Em suma, desenvolvimento significaremover as principais fontes deprivação e liberdade: pobreza etirania, carência de oportunidadeseconômicas, ausência ou negligênciados serviços públicos, intolerância,violência ou interferência excessivade Estados repressivos”.
24
Quais os níveis persistentes de desigualdade em
relação ao Estado de Direito?
• Na Constituição de 1988, estãogarantidos os direitos civis,políticos, econômicos, culturais eambientais. O Brasil é parte dasprincipais convençõesinternacionais de Direitos Humanos;
• Apesar de estarem formalmentereconhecidos, a lei e o Direitodesempenham um papel cada vezmenor na determinação doscomportamentos sociais e a condutados agentes públicos;
25
• “As desigualdades profundas causama invisibilidade dos submetidos apobreza extrema; a demonização dosque ousam desafiar o sistema e aimunidade dos privilegiados”;
• “Corrói-se a imparcialidade da lei ecompromete as bases e os objetivosdo Estado de Direito.”
26
Invisibilizados
• “A pobreza extrema de elevadoscontingentes de nossa sociedade nãodesperta a reação moral ou oengajamento social dos maisprivilegiados, nem a respostaadequada por parte dos agentespúblicos, trata-se dos invisibilizados.
• Eles também se revelam nos altosíndices de homicídio, que vitimizam,na sua maioria, a população maiscarente das regiões ou áreas maispobres, muitas delas controladaspelo crime organizado.
• Isso sem mencionar as vítimas daprópria ação delituosa do Estado.”
27
Demonizados
• A demonização é caracterizada pelo uso maciço da força por parte do
Estado, ou pela ação da pistolagem, dos grupos de extermínio, com a
complacência do poder público contra demonizados suspeitos,
criminosos comuns ou movimentos sociais;
• Seres demonizados não se sentem compelidos a agir de maneira
lícita, haja vista o tratamento cruel que lhes é dispensado e a
diferença de tratamento dispensado aos mais privilegiados;
28
Imunes
• Em uma sociedadeprofundamente desigual, osindivíduos mais privilegiados sevêem acima da lei e imunes àsobrigações correlatas aos direitosdas demais pessoas e ao Estado.Trata-se dos violadores dedireitos humanos e poderososcorruptos impunes;
• A avalanche de denúnciasenvolvendo políticos, servidorespúblicos do alto escalão, juízes eempresários, em comparação aobaixíssimo número decondenações efetivas, lança umapergunta perigosa: a lei e odireito são uma farsa?
29
Crise de eficácia dos direitos
• Os invisibilizados não esperam que seusdireitos sejam respeitados, aliás, nemacreditam na sua validade, logo, não sesentem compelidos a agir emconformidade com a lei;
• Os que reagem, se tornam uma ameaça epassam a ser tratados como inimigos(demonizados) e, na medida de suadesumanização, não vêem o justo e omoral como parâmetros para suascondutas;
• Os imunes não se vêem obrigados arespeitar os invisíveis e os demonizados,exatamente por se acharem acima docontrole estatal e isentos das obrigaçõescorrelatas.
30
Conclusão
• Todo o esforço da agenda dosDireitos Humanos deve ser nosentido da mobilização social epolítica, com ênfase na condição dossujeitos de direitos, a partir darecuperação e defesa dos espaçosdos debates públicos.
• As demandas políticas, sociais,econômicas, culturais, ambientais epor desenvolvimento, devem, tantoquanto possível, traduzir-se emdemandas jurídicas, fortalecendo,assim, a judicialização da política e apolitização da promoção e proteçãodos direitos humanos.