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Furacão Elis

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Regina Echeverria

FURACÃO ELIS

Nova edição, revista e ampliada

Cronologia e discografia porMaria Luiza Kfouri

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Copyright © 1994 by Regina Echeverria

Capa e projeto gráfico eletrônico: Alexandre ThallingerFotomontagem (do original) na capa: Hélio de Almeida

Editoração: RoteiroRevisão: Armando Olivetti Ferreira

Diagramação: Sergio Gzeschnik

Direitos mundiais de edição em língua portuguesa adquiridos porEDITORA GLOBO S.A.

Avenida Jaguaré, 1485CEP 05346-902 � tel.: 3767-7000, São Paulo, SP

Brasil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizadaou reproduzida � em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico,fotocópia, gravação etc. � nem apropriada ou estocada em sistema de bancode dados, sem a expressa autorização da editora.

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Para Félix, Hamilton e Rodrigo

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SUMÁRIO

A vertigem do grego 9

Apresentação 13

Capítulo I 15

Capítulo II 43

Capítulo III 57

Capítulo IV 81

Capítulo V 95

Capítulo VI 107

Capítulo VII 133

Capítulo VIII 149

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Capítulo IX 165

Capítulo X 177

Capítulo XI 187

Capítulo XII 205

Epílogo 221

Cronologia 227

Discografia 283

Os preferidos de Elis 367

Agradecimentos 369

Rainhas no trono 371

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A VERTIGEM DO GREGOA VERTIGEM DO GREGO

Adolescente ainda, pequeno notável, aprendi de um ve-lho repórter, Carlos Rangel, o Barbante, que só a loucura ea obstinação nos guiam na busca dos fatos e da verdade nessanossa profissão: o jornalismo. O estado de alerta se faz, como tempo, rotina. A vertigem do grego é isso: viver cada se-gundo à flor da pele, à beira do abismo sempre, diante dosfatos, da notícia e dos personagens de nossas vidas.

A vida se despeja enquanto a arte imita a vida.O espelho do jornalista é o papel em branco no rolo da

máquina de escrever, à espera de uma história para contar.Por isso, hoje eu sei que nossa tragédia é sempre do mesmotamanho da nossa aventura. Fazemos parte da cena, e o re-pórter não é apenas um veículo. Por dentro dele � cabeça,tronco e membros � passa o testemunho da história de todosanto dia, da sua época.

Das tripas coração. O ato de escrever, quando feito comamor, nos dilacera a alma e o coração, nos embrulha o estô-mago. Nos enche de medo, nos toma de assalto e não nosdeixa parar, como num mergulho, até o ponto final.

Furacão Elis é um livro-reportagem. A memória nacio-nal recém-parida, ao vivo e com todas as cores do seu tempo.

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Essa Elis, mulher, que por muito tempo foi a voz quenos revelou o quanto morríamos de saudade do Brasil. �Todageração tem, num curto espaço de tempo, que descobrir asua missão � cumpri-la ou traí-la.� (Gracias Señor, Zé Cel-so, Oficina � Brasil.)

Tempo de Elis, do qual somos todos, de certa maneira,apenas sobreviventes. Arrastão, lunik-9, upa neguinho, tra-vessia, romaria, madalena, águas de março, retrato em brancoe preto, maria, maria, dois pra lá, dois pra cá, nas asas dapanair, tiro ao álvaro, cadeira vazia, aquarela do brasil, alô,alô, marciano, até depois da volta do irmão do henfil.

Abaixo a morte, viva a inteligência! O brilho e o gênioda raça, juntos.

Tempos de Elis, o Brasil dando risada. Tempos de Elis,o Brasil de Médici ou mude-se. Como também de lá pra cá,até 19 de janeiro de 1982.

Essa, a reportagem desse livro de Regina Echeverria, 34anos, de Leão, treze de profissão, dois casamentos, um filhoe agora um livro. Não somos apenas bons amigos. Há trêsanos acompanho de perto a gestação dessa que é sua maior emelhor matéria como jornalista e testemunha de seu tem-po, nas artes e nos espetáculos da cena brasileira. Uma obs-tinação e uma vertigem de uma mulher também Regina,minha mulher.

O jornalismo como um ato puro de amor. Como elamesma diz, beijos e notícias. Um trabalho que a ocupou to-dos os dias dos últimos seis meses, desde que, tomada do im-pulso final dos editores, passou a terminá-lo com paciência,competência, dor e alegria. Um ofício feito com arte ao lon-go de mais de 100 entrevistas, momentos de explosões de per-sonagens, até o voltar para casa em prantos.

O papel e a máquina. E o resultado está aqui, depois derevisto em seu texto final por José Márcio Penido, fino edi-tor e amigo. Ao longo dos meses, a presença de Maria LuizaKfouri, a Mana, construtora da cronologia, da discografia e

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da busca da exatidão dos fatos narrados por Regina. O artis-ta gráfico Hélio de Almeida, dos mais sutis de toda a suageração, paginou as fotografias do livro, fez sua capa.

Furacão Elis é isso: um competente trabalho de umajornalista, cercada de jornalistas por todos os lados. Todosmergulhados na vertigem de contar a história de todos osdias, a sangue quente, abordando os temas da sua geração edo tempo de seu país.

A mim, restou-me essa tarefa. Convidá-los ao mergu-lho no Furacão Elis, esse livro onde personagem, autora ecolaboradores são todos lenha da mesma fogueira.

Hamilton Almeida Filhoagosto/85

N.A. Resolvi manter a apresentação original do livroescrita pelo Hamilton, em memória desse jornalista a quemamei e respeitei até sua morte, em 18 de novembro de 1993.A bem da verdade todo o texto desta reedição foi copidescadopelas mãos suaves de Mylton Severiano, o Myltainho, cujorespeito pela exatidão das palavras e amor por elas deu novavida a este Furacão Elis.

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APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO

Elis Regina era, para mim, um helicóptero no palco,uma voz de cristal nos festivais, uma peculiar bandeira ver-de-amarela, um longínquo casarão na Cantareira, briga comgarçons em restaurante, um sorriso escancarado, uma tris-teza inesperada, e, certo dia, uma surpresa chocante, trazidaao telefone por uma amiga comum, numa incomum horamatinal, e traduzida numa irrealidade cruel: �Morte súbi-ta... sei lá... acidente... tragédia... dá pra acreditar?� (solu-ços recíprocos). Essa amiga comum se chama ReginaEcheverria e foi naquele momento, creio eu, ainda incons-ciente na sua dor e no seu pasmo, que ela assumiu a tarefadesafiadora de ser a guardiã da posteridade de Elis.

Os retalhos de minhas impressões dispersas e de uma inti-midade muito relativa com o ser humano Elis não significavamnada, eu percebi, logo, quando aquele esquife inesperado, deuma moçoila de 36 anos, subia a Brigadeiro Luís Antônio, emSão Paulo, salpicado por lágrimas populares, homenagem der-radeira de pétalas e papel picado despejados daqueles que pare-ciam ser insensíveis e cinzentos prédios paulistanos.

Pois é: Elis, a elitista, a difícil, a politizada, a inacessí-vel. Ali, no inesperado de uma morte precoce e do sacrifício

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emblemático, o Brasil cumpria mais do que as obrigaçõesrituais com um ídolo. O inconsciente coletivo mostrava suasintonia fina com as ondas da MPB: se nossa musicalidade éum fenômeno, Elis Regina era o fenômeno dentro do fe-nômeno. Clássica, para sempre � nossa Billie Holiday, ouSarah Vaughan, ou Ella Fitzgerald, não importa a compara-ção, mas, sim, que seja prestado a Elis o seguro tributo dapermanência. Elis Regina não morreu.

Foi a primeira vez que vi um país inteiro chorar. Cho-rou por Elis lágrimas convulsivas, chorou por ele próprio(outros eventos de choradeira sintomática aconteceriam,depois, com dimensões parecidas, como a derrota das dire-tas-já ou a morte de Ayrton Senna, mas Elis foi o primeirosoluço coletivo, arrancado do peito, dilacerado, de minhageração, que não conheceu Carmen Miranda, nem GetúlioVargas, nem a derrota para o Uruguai no Maracanã, em 1950).

Regina Echeverria chorou como todos. Mas, aí, vem elae faz o quê? Se esta biografia toca na corda sensível da dor,já que se fala de um artista, e não há artista que não se sub-meta aos tormentos agudos da vida, o que prevalece é o bri-lho, o talento, o vigor, a precocidade, a aventura, o sucesso.Elis e Regina se conheciam e se gostavam. Ninguém sairá daspáginas deste livro ileso ao sentimento de paixão.

Nirlando Beirão

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Num boteco de meio de quarteirão deSão Paulo, bairro classe média, dona Ercy Carvalho Cos-ta atende a fregueses até as oito da noite. Há quem gostede sentar no balcão e comer o almoço de dona Ercy, fa-moso nas redondezas. Dona Ercy caminha a pé para casa,a meio quarteirão dali. Mora sozinha, aos 63 anos, desdeque morreu o marido, Romeu Costa, em dezembro de1984. Sempre que fala da filha Elis, ela chora. Misturaódio e amor numa velocidade quase tão rápida quanto aque costumava ter sua própria filha e me diz, chorando eapertando os dentes:

�Eu não perdôo�.Memória fabulosa para uma mulher que parece encon-

trar no instinto de sobrevivência a força para continuar traba-lhando no bar e pagar o aluguel. Talvez enlouquecesse tambémdentro de casa, sem nada para fazer. Quando dona Ercy en-xuga as lágrimas que correm por debaixo dos óculos grossos,me dá uma sensação de paralisia de afeto. Parece impossívelacariciá-la e confortá-la. Uma altivez gaúcha envolve essa ro-cha matriarcal, a líder implacável da infância e adolescênciade Elis Regina.

CAPÍTULO ICAPÍTULO I

Entre a parede e a espada, me atirocontra a espada.

Elis Regina

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Dona Ercy, filha de imigrantes portugueses, cristãos-novos, donos de mercearia no extremo sul do Brasil. En-controu um Romeu brasileiro, filho de brasileiros, com carade índio, caladão, emprego seguro numa fábrica de vidros.Foram morar no bairro de Navegantes, em Porto Alegre,numa casa de madeira, quintal de terra batida.

A primeira grande foto,aos 9 meses.

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A filha do casal nasceu estrábica e deve o nome Elis auma amiga de dona Ercy. O Regina vem de uma exigêncialegal. Na burocracia da época, as crianças não podiam serbatizadas com nomes que tanto serviam para meninos comopara meninas. Já prevendo que não pudesse batizar sua me-nina apenas Elis, dona Ercy mandou um Regina de reserva.

Elis Regina Carvalho Costa, 17 de março de 1945, partonormal feito pela parteira Conceição e pela enfermeira Marlene

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no Hospital Beneficência Portuguesa, Porto Alegre. Um sá-bado, às três e dez da tarde.

Primeira filha, primeira neta de uma família numero-sa. De duas famílias numerosas. Tinha saúde de ferro, a mãenão se lembra de ter perdido uma noite de sono. Elis dor-mia pontualmente às oito da noite. Sempre no escuro, tudoapagado.

Dona Ercy transformou aprimogênita dos Carvalho Costanuma bonequinha estrábica. Depequena já se previa que não iriamuito longe em altura. Elis andavasempre bem arrumadinha, sem-pre bem vestida, laçarotes na ca-beça e óculos de grau desde os 4anos. Nas recordações mais remo-tas de sua mãe, era uma criançaobediente. Gostava de brincar so-zinha, costumava andar peloquintal com uma bolsa de palha,falando sozinha.

Até perder o emprego de chefe do almoxarifado daCompanhia Sulbrasileira de Vidros, Romeu Costa era umhomem sensível. Gostava de ler Hemingway e ouvir ChicoAlves e Carlos Gardel. Antes de casar, ganhou o segundolugar num programa de calouros e, de vez em quando, numrompante, se vestia com os longos camisolões de dona Ercye saía cantando e bailando pela casa. Devia ter forte ascen-dência na pequena cabeça de Elis, porque durante anos elaacreditou que ele era de fato um bailarino. Ficou decepcio-nada.

Na casa dos Carvalho Costa, o rádio tocava a música doBrasil, pela Nacional, do Rio, e a música da Argentina, pelasondas da Rádio Belgrano, de Buenos Aires. Aos domingos,quando se reunia toda na casa da avó Ana, mãe de dona Ercy,

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Uma garotinha vesga eadorável em seu quintal,no bairro de Navegantes.

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Dona Ercy e seu Romeu exibem a primogênita da famíliaCarvalho Costa, em Porto Alegre, 46. Elis, 1 ano.

Um brinde da festa de aniversário.

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Flagrante de um gesto que consagraria afutura cantora. Elis, 1 ano.

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a família costumava fazer barulho na mesa. Cantar alto, gar-galhar. A pequena Elis cantava Adiós, pampa mia do come-ço ao fim, sem desafinar, sem errar a letra. E foi num dessesdomingos que a avó Ana teve um estalo:

�Por que não levam essa guria ao Clube do Guri?�.Clube do Guri, programa infantil transmitido pela Rá-

dio Farroupilha, sempre aos domingos. Elis tinha 7 anosquando enfrentou seu primeiro microfone. Foi um choquepara a menina tímida, que costumava falar sozinha, encarar

Com o avô,Gregório,

aos 10 meses.

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A foto clássica: mãe e filha num momento de beleza.

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Um passeio com a mãe, aos 2 anos. Laçarotes, sempre laçarotes.

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Aos 3 anos, brincadeiras... ...solitárias no quintal.

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A brincadeira virou coisa séria. Ela ainda não sabia ler.

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Impecável: Elis, aos 3 anos. O janelão da casa de infância.

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uma platéia estranha de auditório de rádio. O diretor doprograma, Ary Rego, pediu que ela falasse alguma coisa.Nada, Elis ficou muda. Pediu que cantasse. Silêncio no ar.Dona Ercy, já nervosíssima, ajudava a pressionar Elis:

�Canta, minha filha�.Ela, nada. Limitava-se a roer as unhas encobertas pelas

luvas brancas. Voltou para casa calada, com dona Ercy nasorelhas.

�Isso não é papel que se faça.�Cinco anos se passaram até Elis Regina ter coragem de

pedir uma nova chance.Quando entrou para a escola primária, já sabia ler, es-

crever e fazer contas. Orgulhosa de sua menina, dona Ercyfalava com ela como se fosse uma moça, sem dengos infan-tis, sem erros de português. E, quando Elis chegava em casacom o boletim cheio de notas altas, também ouvia em bomportuguês:

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Pedalando de luvas brancas.

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Elis encontra o microfone: aos 11 anos, em sua primeirafoto cantando na Rádio Farroupilha,

no programa Clube do Guri.

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O palco do Clube doGuri enfeitou o bolo de

aniversário nos 12 anosde Elis. Ela já era um

sucesso em Porto Alegre.

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�Não fez mais que a obrigação�.Na vida, a gente tem de lutar. A família não era mesmo

chegada a paparicos. Naquela casa gaúcha, pegar no colo sóquando estivesse com sono e olhe lá. Assim foi criada Elis e,também, Rogério, o único irmão, cinco anos mais moço.

Em 1952, a família deixou o bairro de Navegantes.Como industriário, seu Romeu tinha o direito de ocuparum apartamento na vila do IAPI (Instituto de Aposentado-ria e Pensão dos Industriários) � prédios e prédios de apar-tamentos construídos em dois andares, na horizontal. Erauma vila operária, mas ocupava local privilegiado em PortoAlegre. Uma bela área verde, muitas praças. O apartamentotérreo onde se instalaram tinha três lances de quintal, umafigueira na porta e um campo de futebol bem em frente. SeuRomeu costumava dizer que queria um cantinho de terra parapisar e plantar, muito embora nunca tenha plantado nada.

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Na formatura do curso primário, alta para os seus 11 anos.

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A família cresce: Elis, 6 anos, o mano Rogério, 1.

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A família Carvalho Costa em dia de festa. Rogério faz 3 anos. Elis tem 8.

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Com as amigas de infância, o jeito dequem sabe posar para um fotógrafo.A bonequinha é dela.

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O apartamento dos Carvalho Costa na vila do IAPI, Porto Alegre.

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Foi morando nesse apartamento que a família sofreu oprimeiro golpe. A Sulbrasileira de Vidros faliu e seu Romeuperdeu o rumo. Rogério, já com 5 ou 6 anos, lembra-se detempos bicudos. Dona Ercy era obrigada a raspar os cofrinhosdas crianças. Seu Romeu tomou uma decisão: não seria maisempregado de ninguém. Dito e feito. Passou o resto da vidaaventurando-se em empregos variados � foi representantecomercial, caixeiro-viajante, dono de açougue, feirante. Àmedida que o tempo passava, mais pessimista ele ficava. Dizia:

�Se eu abrir uma fábrica de chapéus, no dia seguinte aspessoas começam a nascer sem cabeça�.

Aos 9 anos, Elis foi aprender piano com a professoraWaleska, uma vizinha da vila do IAPI. Estudou dois anos.Aprendia rápido demais, tão rápido que se viu diante dodilema: ou comprava um piano ou parava de estudar. ElisRegina começou a cantar porque não podia comprar umpiano.

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Em 53, turma do 2o ano primário. Elis, de óculos.

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A primeira comunhão, em 30 de outubro de 55: vesguinha.

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Diálogo entre mãe e filha na Porto Alegre de 1956:�Mãe, tu me leva ao Clube do Guri?��O que é que tu vai fazer lá?��Vou cantar.��Cantar? Tá louca, pensa que tenho tempo para per-

der?�.No domingo seguinte, dona Ercy pegou Elis e mais duas

amigas e lá se foram todas para a Rádio Farroupilha. Mesmonão conseguindo se inscrever nesse domingo, Elis voltou nasemana seguinte e cantou. Por mais que se esforce, donaErcy não consegue lembrar qual foi a música de estréia deElis. Sabe que era do repertório de Ângela Maria e não con-firma a versão contada por Elis, anos mais tarde, de que can-tou Lábios de Mel. Foi uma sensação no Clube do Guri.Elis, de cara, desbancou a favorita do auditório.

Cinco anos depois do desastre da primeira tentativa,Elis dava o troco. O primeiro de uma série.

Cantar no Clube do Guri virou hábito para Elis. Dos11 aos 13 anos e meio, ela cantou quase todos os domingos.

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Com Ary Rego,como�secretária�do Clubedo Guri.

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Virou até secretária do apresentador Ary Rego. Na rádio, jánão roía as unhas com tanta fúria, mas fazia coisa pior, muitopior. Soltava sangue pelo nariz. Uma coisa de espantar. DonaErcy não se esquece: um dos vestidos de domingo era bran-co, com poazinho azul-marinho, gola redonda azul e umagravata grande caindo pela saia rodada. Para essas sérias brin-cadeiras dominicais, dona Ercy passava madrugadas em cimada máquina de costura. Nos bastidores, o nervoso foi tantoque o nariz jorrou quantidades alarmantes de sangue. Ovestido ficou manchado e Elis entrou em cena disfarçando,enrolando a saia da frente. Tinha acontecido o que viria aacontecer inúmeras outras vezes. Sempre na rádio. Só nahora de entrar no palco. Até o fim da vida, tímida e insegu-ra, Elis ficava insuportável antes de entrar em cena. A mes-ma insegurança, o mesmo medo de errar, a mesma fobia denão ser perfeita.

...do Guri: a revelação.

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Foto promocional do Clube...

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Aos 13 anos e meio, Elis era a garota-sensação de PortoAlegre. Na capital do Brasil, Rio de Janeiro, já se conheciaJoão Gilberto, a Bossa Nova. Rapazes e moças se fechavam emapartamentos para cantar e fazer música. Os jovens não que-riam mais ouvir o que se tinha para ouvir. Queriam algo dife-rente, mais sofisticado do que os sambas-canções de então.Queriam uma mistura do jeito cool do jazz com o samba quen-te do Brasil. A quilômetros do Rio, na quase provinciana PortoAlegre, Elis Regina cantava sem sotaque os sucessos estrangei-ros que aprendia ouvindo os discos da rádio.

Um pouco crescidinha e com sucesso demais para o Clu-be do Guri, Elis deixou a Farroupilha. E assinou seu pri-meiro contrato profissional com a Rádio Gaúcha. Passou acantar por um cachê de 50 cruzeiros por mês (equivalentes

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A estrela daFarroupilha.

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hoje a cerca de 24 dólares), no Programa Maurício Sobri-nho (Maurício Sirotsky, mais tarde dono da Rede Brasil Sulde Comunicação, que englobaria jornais e emissoras de rá-dio e tevê).

Só pôde assinar contrato porque cumpriu as regras dojogo impostas por dona Ercy: cantar, só se tirasse boas notasno colégio. Já famosa, Elis resumiu para o amigo José Eduar-do Homem de Mello, o Zuza:

�Era um drama: eu tinha que estudar e tirar notas ex-cepcionais para poder cantar, entende? Eu tinha que estu-dar para valer, se não mamãe não me deixava cantar e eu jáestava começando a gostar�.

Duas décadas depois, dona Ercy admitiria que Elis po-dia ter entendido sua exigência como uma imposição, argu-mentando a seu favor com um pressentimento de mãe:

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Ercy e Romeu vigiam. Elis assina com a Rádio Gaúcha, em 57.

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A �canja� no dia da assinatura do contrato com a Gaúcha.

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�Cantar, um dia você pára, minha filha�.Dona Ercy pensava que Elis podia se formar professora

e, quem sabe, cursar a faculdade.O dinheiro de Elis veio a calhar, mas criou um conflito

familiar que viria a se agravar com o passar dos anos e dovolume de dinheiro arrecadado. Elis Regina ainda não ti-nha 14 anos e já ganhava mais que o pai. O mano Rogério selembra de como mudou a vida da família.

�Elis começou a se impor porque pintava com a granapara solucionar os problemas. Ela segurava numa boa, nun-ca cobrou.�

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Os irmãos: um caso de amor.

O presente da noite: o manoRogério põe o anel no dedo

de Elis. Março, 60.

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Naquela época. Porque mais tarde ela viria a cobrar,como bem lembrou Rogério. E, nessa época também, donaErcy não tinha apenas os dois filhos. Para ajudar um irmão,assumiu a responsabilidade de criar Rosângela, sua sobri-nha, ainda um bebê. Rosângela ficaria com a família Carva-lho Costa até completar 14 anos.

Com o primeiro salário, Elis comprou três coisas parao seu quarto. Um sofá-cama, um tapete e uma vitrola hi-fi.Comprou tudo de segunda mão de uma tia rica da família, atia Aida, madrinha de Rogério e a primeira a despertar ogigante adormecido em Elis. Um dia, quando a tia quis in-terferir na arrumação do quarto, Elis arrepiou:

�É meu�.Dona Ercy e Elis resolveram que o ginásio deveria ser

feito no Instituto de Educação, tradicional colégio de PortoAlegre, uma escola pública. É um prédio imponente, estiloneoclássico, em frente do Parque Farroupilha, a maior áreaverde de Porto Alegre.

Casto Instituto de Educação. Casta Porto Alegre. Mal-dita profissão de artista. Um dia, Elis chega em casa e diz àmãe:

�A professora me chamou de mau elemento�.Dona Ercy se queimou. Foi ao Instituto de Educação,

pediu para falar com a diretora. Quando soube que não po-dia ser atendida, virou bicho.

�Sabe o que ela disse para mim? Que Elis não podiaestudar porque era cantora. Chamou Elis de boi sonso. Fa-lei: �Se vocês estão pensando que minha filha não tem nin-guém que olhe por ela, vocês estão enganados. E outra coi-sa, eu arraso esse colégio, eu tenho o rádio, o jornal, todosdo meu lado�. Eu disse: �Olha, minha senhora, eu não vimaqui discutir a minha vida particular. Eu vim tratar de umproblema da escola. Quero saber por que ela é mau ele-mento�. Quando virei as costas, ela disse: �Já vai tarde�. Vireibicho de novo.�

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Resultado da bronca: a professora de francês foitransferida e Elis terminou o ginásio em paz. Já no clássico,ela não conseguiu conciliar o estudo com o trabalho e so-freu um esgotamento nervoso.

�Ela se deu mal no latim�, lembra dona Ercy.No meio desse ano, Elis transferiu-se, como queria de

início toda a família, para o curso normal, que abandonoudepois do segundo ano.

Na festa dos 15 anos, Elis...

...estréia o �salto alto�.

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Vestida por dona Ercy, a estrelinha gaúcha aos 16 anos.

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Elis tinha 15 anos quando dona Ercy permitiu que usas-se sapatos altos e pintasse as unhas. Foi também quando vi-ajou de Porto Alegre ao Rio para gravar o primeiro LP, Vivaa Brotolândia. A repercussão foi apenas local. Eu, que tinhana época 10 anos, me lembro de ouvi-lo na casa de umaprima mais velha, em São Paulo. Muito tempo depois dosucesso de Elis nos festivais é que associei uma à outra. Coma Bossa Nova surgindo, como é que eu poderia me ligar numrepertório cheio de versões de rocks calminhos e sambas-canções, a não ser pela voz limpa da cantora?

Os três primeiros LPs foram assim, e Porto Alegre nãotinha mais nada a oferecer a Elis, já caminhando pela noitecomo crooner do conjunto Flamboyant, à beira de botar aperna no mundo.

Esta é a cópia que Elis guardou de seu primeiro LP.

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Rainha do Disco Clube, 61. Dura e tensa, mas sorrindo.

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Decididamente, cantar ganhava espaço na vida danormalista. Sobre namorados, jamais conversava com donaErcy. O primeiro foi um homem ligado à música, como se-riam praticamente todos os que escolheu ao longo da vida.O nome dele era Marcos Amaral, locutor de rádio. O manoRogério tem vagas recordações do disc-jóquei. Lembra-sede ir com a irmã para a rádio esperá-lo, e depois acompa-nhar os dois até a pensão onde ele morava.

Sebastião Schlininger, o segundo, era bem mais velhodo que Elis, uns cinco, seis anos. Descendente de alemães,mas moreno, brizolista, um funcionário petebista da CaixaEconômica. O que sobrou desse caso de amor juvenil foium briga decisiva: Elis terminou o namoro e foi emborapara o Rio de Janeiro, mas nas primeiras entrevistas do su-cesso falava em um grande amor secreto que havia deixadoem Porto Alegre. Fala-se também que a família de Sebastiãoe o próprio se opunham à carreira da cantora.

Em março de 1964, depois de completar 18 anos, Elis eseu Romeu embarcaram definitivamente para o Rio de Ja-neiro. Foram tentar a sorte. Elis contava com a promessa doprodutor de discos Armando Pittigliani de contratá-la paraa Philips, assim que ela rompesse o contrato que ainda man-tinha com a CBS. Elis chegou ao Rio com programas de te-levisão em vista e uma efervescência na noite carioca. OBeco das Garrafas, a Bossa Nova cantando um Brasil de amore flor.

Dona Ercy preparou a mala dos dois. Seu Romeu partiacom uma carta de recomendação do velho PTB na esperan-ça de desembarcar empregado no Rio de Janeiro. Doce ilu-são, o golpe militar de 1964 afundou o PTB.

Dona Ercy ficou em Porto Alegre cuidando de Rogérioe de Rosângela. Tinha esperanças. Não podia imaginar queum ano mais tarde tudo estaria mudado. O sonho de suces-so aconteceria, sim, mas sua menina nunca mais seria a mes-ma. Nem pequena, nem dócil.

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Ainda que seja fácil compreender que o universo de donaErcy não seja capaz de entender a amplitude de vôo de suaprópria filha; ainda que seja claro entender que a rigidez dacriação de Elis a tenha levado a estúpidas crises de insegu-rança; ainda assim, me corta o coração quando escuto donaErcy dizer:

�Perdi minha filha aos 19 anos�.

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Elis costumava dizer que desembarcou noRio de Janeiro em 31 de março de 1964. Certamente nãofoi essa a data � alguns dias antes �, mas dizer isso era umagrande história. Elis, no Rio, no dia 31 de março, dia degolpe militar e com a agravante histórica de seu pai ter che-gado com uma carta de recomendação do PTB, partido dopresidente deposto, João Goulart.

Os dois se instalaram num minúsculo apartamentomobiliado na Rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana.Elis saía pela primeira vez da barra da saia de dona Ercy.Abandonou a CBS, procurou Armando Pittigliani na Philips,que cumpriu a promessa. Dois meses depois, assinava con-trato com a TV Rio � foi para a televisão e participou devários programas Noites de Gala, célebres na época, um doscarros-chefes da emissora. Elis trabalhava muito, sim. Afi-nal, tinha que sustentar a casa e o pai no Rio, e o resto dafamília em Porto Alegre.

Na verdade, tudo aconteceu muito rápido com ela. To-dos ficavam impressionados com Elis. Da TV Rio ia diretocom o baterista Dom Um Romão para o Beco, o famosoBeco das Garrafas. Uma rua apertada � Rodolfo Dantas �,

CAPÍTULO IICAPÍTULO IIA questão é saber se uma pessoa podeser compreendida pelos fatos da vida,e isso nem mesmo leva em considera-ção o abominável magnetismo dos fa-tos. Esses atraem sempre outros fatospolares. Rara é qualquer evidência dequalquer vida que não seja rapidamen-te contradita por outras testemunhas.

Norman Mailer, em Marilyn

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no meio dos prédios de Copacabana. Lá ficavam os bares doBeco. A fama do pedaço começou no fim da década de 1950,quando o Brasil vivia um governo de afirmação nacionalis-ta, progresso e expansão econômica, o governo de JuscelinoKubitschek, o presidente bossa-nova.

O Brasil não se olhava mais como um raquítico do lito-ral e sorria de si mesmo. O futebol ganhou a Copa de 1958;Maria Esther Bueno foi a primeira em Wimbledon; EderJofre, campeão mundial dos pesos-galo. O Brasil, vivendosua própria democracia, rasgava a Belém�Brasília e cons-truía uma nova capital. O show business procurava novasfórmulas. Aloysio de Oliveira testava os chamados pocket-shows na boate Au Bon Gourmet e encenava o musical Po-bre Menina Rica, com Carlos Lyra, Nara Leão e Vinícius deMoraes. Em 1962, toda a turma da Bossa Nova se apresenta-va no afamado Carnegie Hall de Nova York.

Em 1964, quando Elis Regina chegou ao Rio, estava noapogeu a geração que se criou com Juscelino. A Bossa Novadeixava o amor, o sorriso e a flor para cair no social. Cine-ma Novo: uma câmara na mão, uma idéia na cabeça. GláuberRocha. Centro Popular de Cultura, CPC. Ligas campone-sas, reforma agrária, Universidade de Brasília.

Jânio Quadros, eleito com 6 milhões de votos, tinha to-mado posse em Brasília em 1961. Foto: Juscelino, sorridente,passa a faixa presidencial a Jânio Quadros. Era a utopia do Bra-sil democrático, o Brasil descobria o Brasil de Pelé, Garrincha,Antônio Maria, Stanislaw Ponte Preta, Dolores Duran, NelsonRodrigues. A União Nacional dos Estudantes parava o centrodo Rio porque a Light tinha aumentado a tarifa do bonde. Nãose sabia bem disso de 1964 a 1968. Não se tinha a dimensão daditadura que seria preciso enfrentar. Não se imaginava que aexplosão aconteceria com o Tropicalismo, o Rei da Vela, comTerra em Transe, com Roda Viva, com o CCC (Comando deCaça aos Comunistas), com artistas espancados, com a brigaMackenzie�Filosofia/Universidade de São Paulo.

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Elis aos 19 anos, diante do Brasil de 1964, não ficavamais quieta e tímida. Ou tomava as rédeas, ou seria o nada.Tirou a pele de cordeiro e botou as manguinhas de fora.Ela enfrentava o Brasil e o Rio de Janeiro de 1964, agressi-va e desconfiada. Tinha a certeza de que estava jogada naarena e que os leões podiam trucidá-la a qualquer mo-mento. Para quem vinha de cantar boleros e versões, o cantocool da Bossa Nova não cabia direito em seu estilo. A bemda verdade, a voz de Elis Regina destoava radicalmente docaráter intimista da Bossa Nova, onde o verbo cantar eraconjugado com suavidade, no feminino. Bossa Nova, paraa linguagem do jazz, era cool. A voz de Elis era hot. Dife-rente. Como água e vinho.

�Era uma voz viril�, na definição do compositor e jor-nalista Nelson Motta, o Nelsinho, que desde garoto freqüen-tava as sessões da Bossa Nova, por intermédio de seu �padri-nho� Ronaldo Bôscoli.

Nelsinho se lembra de ter visto Elis na televisão.�Era uma mulher vestida com uma roupa horrível, pei-

to grande, cantando em cima de uma escada. Uma figuraesquisita, mas cantando de chamar a atenção.�

Lá em Salvador, outro espectador atento, que na épocaescrevia críticas de cinema na imprensa, prestou atenção emElis. Caetano Veloso também tomou um choque quando viuElis na TV:

�Eu a achei muito talentosa e muito vulgar. Fiquei im-pressionado. �Essa mulher é uma coisa incrível�, eu disse.Mas ela fazia aqueles gestos, aquela dança marcadinha. E,como eu era bossa-novista � era muito João Gilberto, aque-la coisa cool e de bom gosto e cores mais discretas �, Elis mepareceu cafona, mas cheia de talento�.

No final de 1964, Elis arranjou um namorado. SolanoRibeiro tinha 25 anos � era um jovem produtor politizado àprocura de um caminho. Trabalhava na produção musicaldo Programa Bibi Ferreira, na TV Excelsior, em São Paulo,

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e estava no Rio para contratar alguns artistas para um espe-táculo chamado Primavera Eduardo Festival de Bossa Nova.

Solano foi o primeiro namorado desde que Elis deixouPorto Alegre.

�Eu me encantei com a cantora e queria me casar com acantora�, me conta Solano, aos 48 anos, instalado em suaprodutora � a VPI � e trabalhando mais uma vez para umfestival, Festival dos Festivais, da TV Globo, vinte anos de-pois da Excelsior e de Arrastão.

�Existia um envolvimento político muito grande nessaépoca. Eu vinha do Teatro de Arena e era um radical aos 25anos. Não admitia que Elis cantasse Tom Jobim, para você verminha imbecilidade onde chegava. Brigava muito com ela, etenho a impressão que exercia uma influência grande, por-que ela se deixava mesmo influenciar. E ficou meio política.Um dia ela cantou uma música do Tom Jobim e escrevi umacarta para ela dizendo da influência que aquilo ia exercer nacabeça das pessoas, quer dizer... Eu não admitia uma série decoisas. Nossas discussões eram sempre nesse sentido. Ela ti-nha uma cabeça aberta para cinema, literatura. Foi ela quemme levou para assistir Deus e o Diabo na Terra do Sol, doGláuber Rocha, no Cine Metrópole, em São Paulo.�

Quarenta dias depois de instalados no Rio, Elis e seuRomeu mandaram buscar dona Ercy e Rogério. Todos na-quele apartamentinho da Figueiredo Magalhães. Foi nessecenário que começou a desabar o namoro de Elis e Solano,que recorda:

�Eu passei um Carnaval no Rio com Elis nesse aparta-mento. Convivi com a família dela, convivi com ela... Entãoaí a coisa ficou complicada. A relação de Elis com os pais eramaldosamente agressiva. Ela sabia da dependência econô-mica deles. Fiquei chocado com a agressividade com que elatransava com as pessoas da família e com a própria

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agressividade dela, que me encantava, mas que me espanta-va. Às vezes eu estava sentado e ela vinha por trás e pum,batia com uma revista na minha cabeça. Com força. Não sei,ela tinha uma necessidade de botar alguma coisa para fora.Às vezes íamos fazer uma visita e ela ficava superelétrica. Derepente, encostava num canto e dormia. Era energia. Eravida.�

Mas não foi por isso que Solano Ribeiro e Elis Reginaterminariam o namoro. Elis ficou grávida e fez um aborto.Segundo a versão de Solano, foi aí que tudo desandou:

�Ela ficou grávida, fez o aborto e não me disse nada.Disse depois�.

Solano não suportava a idéia de assumir o papel de �ma-rido da cantora�. Segundo ele, Elis ocupava todos os espa-ços, e ele não admitia viver com uma pessoa que ocupassetodos os espaços. Ele queria também ocupar os seus:

�Eu também tinha problemas, também era complicado�.O fato é que Elis, rompida com o namorado, recém-

saída de uma primeira gravidez e de um primeiro aborto,brigava mesmo em casa. Seu Romeu, sem emprego, fez dacarreira da filha um bico. Passou a cuidar dos cachês, acertarcontratos para shows, receber, como se fosse um empresá-rio. Mas Elis começava a perceber que tinha o controle eco-nômico sobre a família e se sentia poderosa. Elis cobrava dopai � como cobrou do irmão � que se virasse, cuidasse de suaprópria vida. Mas ao mesmo tempo alimentava essa depen-dência dando dinheiro a ele, como se fosse impossível paraela suportar o complexo de culpa de estar bem de vida e ospais passando necessidade.

Sobre o assunto, Elis disse, anos depois:�Sei que minha mãe não suportaria me ver chegar às

três da manhã, cansada, sem horário para as refeições, etc.Nem eu ia viver bem, constantemente observada, nem ela,gravitando em torno de mim. Certamente voltariam todosaqueles problemas oriundos do carinho opressivo�.

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Mas além da briga doméstica, Elis tinha outros pro-blemas, nas noites cariocas. De uma primeira apresenta-ção na boate Little Club, ela passou a ser produzida peladupla bambambã da época: Luiz Carlos Miele e RonaldoBôscoli. Os dois trabalhavam com exclusividade para aAgência Midas, escritório de Abrahão Medina, conhecidocomo O Rei da Voz por causa de sua cadeia de lojas deeletrodomésticos com esse nome. Mas não podiam resistiraos apelos do Beco das Garrafas. Eles iam lá para bebercuba libre e trabalhavam praticamente escondidos na pro-dução de pockets para o Beco. Segundo Ronaldo Bôscoli,o Beco era uma esculhambação. Nem spot tinha. Os efei-tos de luz eram feitos com canudos de cartolina. O sloganda dupla, na época, era:

Dêem-nos um quarto e lhes daremos um espetáculo.Além do mais, Miele e Bôscoli eram metidos a fazer su-

perprodução. Sonhos de Broadway. Mas tinham que mon-tar showzinhos em espaços minúsculos. Quando Miele eBôscoli encontraram Elis Regina num sábado à noite para oprimeiro ensaio, ela estava de cara virada. Talvez achandoum tanto demais ficar à disposição dos horários dos direto-res. Quando Ronaldo Bôscoli conheceu Elis Regina, ela es-tava apaixonada por Edu Lobo, o compositor que com elairia dar a grande virada na música popular. Ele tem uma boamemória:

�Ela ia toda hora ao telefone e se exibia demais paramim: �Posso falar um instantinho no telefone, seu diretor?�.E falava com o Edu�.

Foi lá no Beco que Elis conheceu Lennie Dale e com eleaprendeu a usar mais o corpo quando cantava. Aquele ne-gócio de girar os braços feito helicóptero no refrão laia-ladaia-sabatana-ave-maria certamente foi criação dela, masincentivada pelos ensinamentos do bailarino americano. Essefoi o motivo de sua primeira desavença com Ronaldo Bôscoli.Ele achava aquela natação um tanto ridícula. Foi falar com

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Miele e ele respondeu com uma declaração que se tornariahistórica:

�Deixa, Bôscoli, assim ela enterra a Bossa Nova de vez�.O show de Elis no Bottle�s, dirigido por Miele e

Bôscoli, tinha a participação do conjunto de Dom UmRomão, da bailarina Marly Tavares e do pandeiristaGaguinho. Foi um sucesso. E para a história que aconteceuem seguida há várias versões. Elis começou a faltar aos showsdo Beco. E sempre aos sábados. Segundo Ronaldo Bôscoli,ela era obrigada pelo pai Romeu a fazer shows por forapara ganhar mais dinheiro. Eu custo a acreditar que ElisRegina fizesse alguma coisa pressionada, que fizesse algu-ma coisa com que não compactuasse. Mas tem algum fun-damento. Segundo Elis, esses shows aconteceram sim, masela garante que faltou apenas uma vez ao Beco. Bôscoli re-bate:

�Foram várias�.

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Fora dos palcos, o compositore a intérprete de Arrastão

não eram apenas bons amigos.

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De peruca, no estúdio, Elis treina o gesto que ficou famoso �braços abertos, girando feito um helicóptero.

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Seu Romeu vinha sempre com a desculpa de que Elisestava �doente�. Na terceira falta, Bôscoli foi falar com ela:

�Elis já veio falando: �Diz logo o que você quer!�, e eudisse que aquilo não era uma zona, que não era a casa-da-mãe-joana e que exigia uma explicação. Ela insistiu na tesede que estava estressada, doente. Eu disse que sabia dos showsque ela fazia na mesma hora em outros lugares. E a discussãofoi indo até um ponto em que ela já estava dando uma deJoana d�Arc, chorando e se dizendo injustiçada�.

O fato é que Elis Regina estava de olho em São Paulo.Mais precisamente num movimento estimulado pelos estu-dantes de centros acadêmicos universitários da época: levara música popular para os teatros. Fazer shows ao vivo comgente nova. Horácio Berlink, Eduardo Muylaert, AntônioCarlos Calil e João Evangelista Leão organizaram o primei-ro, feito pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculda-de de Direito de São Paulo, no Teatro Paramount. Nomedo show: O Fino da Bossa.

Elis Regina foi convidada a participar do segundo showdessa série, no dia 31 de agosto de 1964, o espetáculo BoaBossa. Foi um sucesso estrondoso, tanto que o jornalistaWalter Silva, titular do famoso programa O Pick-up do Pica-Pau, resolveu arrendar o Teatro Paramount e fazer lá maisou menos o que fazia Solano Ribeiro no pequeno palco doTeatro Opinião. Walter Silva pensava em shows de músicapopular para grandes platéias, e grande platéia na época eramos 2 mil lugares do Teatro Paramount. E Elis já estavaseduzida pelos cachês paulistas � ganhava, por show, mais doque recebia em um mês do Beco. A escolha era evidente.

Mas, antes de abandonar e de certa forma enterrar oBeco das Garrafas, Elis armou uma briga feia com RonaldoBôscoli, porque ele tinha mandado pichar uma tarja pretaem cima do seu nome no cartaz da porta do Bottle�s.

�Mandei pintar a tarja de maneira que se pudesse ver onome dela embaixo.�

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Pronto. Viraram inimigos mortais.Em São Paulo, Walter Silva e Solano Ribeiro apresenta-

ram Elis a Marcos Lázaro, um argentino que começava a su-bir como empresário. Em fevereiro de 1965, ela já moravaem São Paulo. Veio só e se hospedou na casa de MarcosLázaro, um pequeno apartamento de dois quartos na Ave-nida Rio Branco, esquina com a Avenida Ipiranga, centrãode São Paulo. A família Lázaro � dona Elisa e dois filhos �acomodou Elis no sofá da sala de visitas, protegida à noitepor uma cortina improvisada no meio da sala. Dona Ercy,seu Romeu e Rogério ficaram no Rio e depois voltaram paraPorto Alegre.

Elis Regina, hóspede recatada da família Lázaro,empresariada pelo patriarca. Era a sua primeira artista bra-sileira exclusiva, ele, que trabalhava com artistas de circo ecantores da noite. A troco de 20% dos cachês pagos aos ar-tistas, Marcos Lázaro começou a crescer. Elis, que saía e vol-tava para casa escoltada pelo empresário, jogava baralho nasnoites de folga.

�Me lembro que às vezes ela jogava as cartas para o alto,corria na janela e começava a cantar e a cantar�, me contouElisa Lázaro.

Recém-chegada na capital paulista, Elis declarou aos jor-nalistas ter sido injustiçada no Rio de Janeiro. Disse que foidiscriminada por ser gaúcha e que enfrentou uma verdadei-ra guerra no Beco das Garrafas. Bôscoli desmente a versão,claro, mas é possível que Elis tenha sentido as coisas mesmoassim. Uma guerra. Ela tinha necessidade de criar históriasem que se sentisse no papel de heroína e era motivada pelacompetição. No seu próprio jeito de cantar, ela demonstra-va um modo atlético e, se entrasse para valer em qualquerdisputa entre músicos, entraria com unhas e dentes afiadospara abocanhar o primeiro lugar.

Elis era assim quando foi convidada pelo ex-namoradoSolano Ribeiro para defender duas músicas no I Festival de

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São João com Ipiranga, 65: adeus, Rio; alô, Sampa.

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Música Popular Brasileira da TV Excelsior. Este festival co-incidia com o ocaso da TV Record, que sustentava sua pro-gramação com artistas estrangeiros. Ela contratou e apre-sentou nomes como os de Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr.,Dizzie Gillespie, Rita Pavone, Chubby Checker, Brenda Lee.Em crise financeira, era impossível manter o mesmo nível. Di-ante disso, a Excelsior entrou com tudo com seu festival demúsica. Elis foi para esse festival com o pé atrás. Tinha peloprodutor Solano Ribeiro desconfiança, muita desconfiançadepois de tudo o que tinham passado juntos. Das duas músicasque recebeu � Por um Amor Maior, de Francis Hime e RuyGuerra, e Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes �, Solanorecorda que Elis gostava mais da primeira. Quando a músicafoi desclassificada, ela achou que alguém estava sacaneando, maispropriamente Solano Ribeiro estava sacaneando.

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Edu e Elis nos bastidores da Record: ensaiando o sucesso.

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�Ela não me olhava, era um clima esquisito.�Mas, segundo o depoimento do produtor desse impor-

tante festival, a história não era bem essa. Havia um complôarticulado pelo empresário Lívio Rangan, falecido em 4 deagosto de 1984, então dono da Rhodia. Solano conta:

�Rangan queria que ganhasse a música do Vinhas e doBôscoli defendida pelo Simonal. Ele argumentava que se amúsica não ganhasse, nenhum outro vencedor trabalhariaem seu show. Além disso, aliciava o júri com presentes. Ehavia uma parte do júri não politizada, alienada, que des-prezava as músicas com mensagens sociais. O Eumir Deoda-to era um deles. E aquele momento era delicado. O golpede 1964 em cima, a gente querendo uma saída. A censura.Tudo isso contribuiu para que Arrastão quase perdesse�.

A boa filha à casa torna, em 66, depois de Arrastão.

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Só não perdeu, segundo Solano, porque ele mesmopromoveu um contra-ataque no júri, ajudado pelos artigosde Walter Silva na Folha de S.Paulo. Afinal, venceu Elis, ven-ceu Arrastão e, para quem se lembra, foi um momento ines-quecível na televisão do Brasil.

Elis Regina dava um adeus formal à Bossa Nova. Um ciclose encerrava naquele canto atlético com que defendeu a músi-ca. Sucesso nacional. Elis Regina vence o I Festival de MúsicaPopular da Excelsior. Olha o arrastão entrando num mar semfim/ Ê, meu irmão, me traz Iemanjá pra mim. Elis, perucapreta, vestido tubinho preto, braços abertos feito o Cristo Re-dentor. Braços girando feito hélices de helicóptero e a voz soltacom força, gana, vontade de vencer. A primeira da competi-ção. Medalha de ouro. A boa menina encontra o sucesso. Ros-to para trás, lágrimas nos olhos. Pra mim... olha o arrastão...

Choro e riso no rosto consagrado. Demais para umpobre coração.

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Pai e filha no churrasco davitória em Porto Alegre:

o mesmo apetitenos olhos e nos lábios.

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Em abril de 1965, Elis virou capa de revis-ta. Subiu ao palco do Teatro Astória, no Rio, para receber oprêmio de melhor intérprete do I Festival de Música Popu-lar Brasileira, defendendo a música também vencedora. Eraa glória. Oito anos depois de ter cantado pela primeira vezno Clube do Guri, seis depois da assinatura de seu primeirocontrato profissional, três depois do primeiro LP, Elis Re-gina chegava aonde queria. Não havia desejo maior na suasonhadora Porto Alegre do que ser capa de revista. Isso sig-nificava celebridade, era prova de reconhecimento e puroprazer. Sonho secreto escondido pela gargalhada escanca-rada. Vinícius de Moraes não agüentou tanta vibração e, sa-biamente, a apelidou �Pimentinha�.

Quarenta e oito horas depois da entrega do prêmio,Elis já estava em São Paulo para estrear um show com o com-positor e violonista Baden Powell. Mas no lugar dele estreouo sambista Jair Rodrigues, um cantor anti-Bossa Nova tam-bém, que vinha de grande sucesso nacional: �Deixem quedigam, que pensem, que falem...�.

Elis e Jair fizeram um único ensaio juntos, horas antesda estréia. O Teatro Paramount, já arrendado pelo jorna-

CAPÍTULO IIICAPÍTULO IIIHoje em dia eu sei muito bem comoé para um grande artista assumir a im-portância inteira de uma época na suapessoa. Eu sei como é esse tormento,essa dualidade profunda que se ins-tala numa pessoa pública, famosa, quedetém o poder de alguma ordem. É aluta entre o ímpeto de ser importan-te e o ímpeto de ser feliz.

Gilberto Gil

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Quando o sucesso chegou embaralhando as idéias, Elis fez posede estrela na piscina do Copacabana Palace, Rio.

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lista Walter Silva, que produziu esse espetáculo, transfor-mava-se no templo da MPB em São Paulo. Quando come-çaram os musicais da Record, usava-se um teatro menor, oRecord, na Rua da Consolação. Depois a Record arrendouela mesma o Paramount e o transformou em Teatro Record�Centro. Os 2 mil lugares do Paramount foram insuficientespara o público, que superlotou as três apresentações de Elis,Jair e o Jongo Trio. Nascia ali a dupla, que durou pratica-mente três anos e três LPs gravados ao vivo. O primeiro dasérie, Dois na Bossa, saiu desse primeiro espetáculo, pro-duzido por Walter Silva.

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Com Jair Rodrigues,uma parceria que deu

certo enquanto durou.

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Após a estréia, Elis e Jair receberam o Roquette Pinto,tradicional prêmio oferecido pela Record aos melhores doano. Na coxia, Marcos Lázaro, encantado com sua estrela,foi abordado por Paulinho Machado de Carvalho:

�Preciso falar com você�.Naquele tempo, os empresários não eram bem-vistos

pelas emissoras de tevê. Na verdade, eram barrados na por-taria. A Excelsior e a Record não permitiam que empresá-rios entrassem sem autorização em suas dependências. Mar-cos Lázaro estava em adiantadas negociações com a TV Tupi,que queria Elis para substituir Wilson Simonal no programaSpot Light, dirigido por Abelardo Figueiredo. A Tupi ofe-recia uma soma fabulosa para a época: 2,8 milhões de cru-zeiros (equivalentes hoje a 7.355 dólares). Para conversarcom Marcos Lázaro e tentar tirá-lo da Tupi, Paulinho Ma-chado de Carvalho mandou um homem de confiança, ManoelCarlos. Nessa conversa, Marcos Lázaro disse a Manoel Carlosque já estava praticamente acertado com Cassiano GabusMendes, da Tupi. Manoel Carlos insistiu e Marcos deu umacartada:

�Evidente que eu disse a ele que Elis ia ganhar muitomais do que a Tupi, de fato, oferecia�.

Mas, nesse momento, surgiu uma complicação na Tupi.Um dos diretores do condomínio dos Diários e EmissorasAssociados, que administrava a Tupi, disse que não se po-dia pagar tanto dinheiro a uma cantora. Principalmenteporque, com esse salário, Elis ganharia no fim do mês muitomais do que ele, diretor. Diante disso, Marcos Lázaro sesentiu liberado e imediatamente fechou com a Record porum contrato mais fabuloso ainda: 6 milhões de cruzeirospor mês (equivalentes hoje a 15.760 dólares). Era o salá-rio mais alto já pago a um artista na televisão brasileira.Quem ganhava mais, até então, na Record, era Agosti-nho dos Santos � 800 mil cruzeiros (equivalentes hoje a2.100 dólares).

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Com o primeiro dinheiro de Elis na Record, MarcosLázaro comprou para ela um apartamento no mesmo edifí-cio em que ele morava, na Avenida Rio Branco. Ou seja, osalário de Elis Regina, em 1965, dava para comprar um apar-tamento por mês. Delírio. Em nove meses, seu salário pula-va dos 30 mil cruzeiros (equivalentes hoje a 78 dólares) daTV Rio para os 6 milhões de cruzeiros da Record. E ela ti-nha apenas 20 anos.

Segundo me contou Marcos Lázaro, a compra desseapartamento foi o primeiro e único investimento que elefez, em nome de Elis, durante os dez anos em que aempresariou. A partir daí, ela exigia que ele lhe entregasse odinheiro e ponto final.

Elis estava deslumbrada. Costumava me dizer que, derepente, se sentia como a Cinderela que calçou o sapato certo,com direito a fada madrinha, a TV Record. Elis enlouque-ceu com aquele dinheiro todo. Saiu comprando coisas quesempre quis ter, como uma absurda quantidade de sapatos

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Recém contratada pela TV Record,numa pose de pin-up, exibindo

uma peça de sua variadíssimacoleção de perucas.

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combinando com bolsas (ela me disse dezessete, há quemdiga que eram 100), uma quantidade supervariada de peru-cas, ursos de pelúcia, jóias, vestidos e mais vestidos. Ela cos-tumava ir às compras com dona Elisa Lázaro, mulher deMarcos. Dona Elisa levou Elis à casa de madame Boriska,conhecida estilista de São Paulo em 1960. Sua primeira ten-tativa de merchandising com Elis foi um fiasco. Dona Elisarecorda:

�Falei que madame Boriska podia oferecer as roupas paraElis usar no programa em troca de um crédito. Sabe o queela me disse? �Você pensa que eu vou usar vestido empresta-do?� �.

Inebriada com a quantidade de dinheiro que brotavade sua garganta e cansada de conselhos do tipo �Minha fi-lha, você devia guardar dinheiro no banco, comprar dóla-res, imóveis, não desperdiçar...�, Elis dispensou a compa-nhia de dona Elisa para as compras:

�Fomos uma vez a uma joalheria e o vendedor pergun-tou: �Você quer jóias para investir ou para se enfeitar?�. Elanão sabia, era uma criança. Falei para ela comprar um bri-lhante, um solitário, porque você sabe que a gente com-prando jóia está comprando dinheiro. Ela quis brincos ecolares. E a gente a via usar e de repente não via mais. Nessaépoca ela dava muitos presentes�.

A Record aproveitou o nome, O Fino da Bossa, e a fór-mula dos shows do Paramount para estrear no dia 17 de maiode 1965 um programa comandado por Elis Regina. Grava-do às segundas-feiras no Teatro Record da Rua da Consola-ção, era um programa feito especialmente para a televisão �inovador para a tevê, para a música e para a época.

Pelo Fino da Bossa passaram praticamente todos os ar-tistas da música popular daqueles tempos. Elis era a repre-sentante de uma geração talentosa, a primeira imediatamenteapós a Bossa Nova, ocupando espaços num veículo de co-municação de alcance nacional. Era também um espaço no

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qual se produziam músicas de protesto velado contra o regi-me militar instaurado um ano antes. Elis já tinha sentido osares da política através de Solano Ribeiro e, depois, em con-tato com os estudantes pensantes da época, como JoãoEvangelista Leão, que a recebeu em casa para longas conver-sas, para ouvir discos e para definir o repertório do progra-ma.

A emissora de Paulo Machado de Carvalho havia rece-bido Elis Regina de braços abertos. Era uma emissora fami-liar. Paulinho, o filho mais velho, cuidava da parte adminis-trativa. Tuta, o mais novo, da produção. Era com PaulinhoMachado de Carvalho que Elis gostava de se confessar.Paulinho tinha com ela uma relação paternal. O núcleo decriação da emissora, a chamada Equipe A � Manoel Carlos,Tuta, Nilton Travesso, Raul Duarte �, precisava criar pro-gramas de auditório porque um incêndio havia destruídoestúdios, equipamento e arquivos. Nessa equipe, a produ-ção de O Fino da Bossa era tocada com mais dedicação porNilton Travesso, um homem de tevê.

�Naquela época, Elis entrava no palco à uma hora datarde e ensaiava três, quatro arranjos para cantar à noite como Zimbo Trio�, me disse Nilton. �Ninguém fazia isso. Elisera ativa, brigava, discutia comigo, discutia com as pessoas,com o Zimbo Trio. Levava a sério, não brincava em serviço.Parecia que estava prestando um serviço às pessoas que iamao teatro.�

A única coisa que perturbava muito a Elis estrela era apresença do pai em alguns ensaios. Nilton Travesso conta:

�Ele vinha buscar dinheiro e Elis ficava transtornada.Ficava nervosa, rebelde e de repente as pessoas sabiam queela estava descontrolada, porque normalmente não era da-quele jeito. Achava que estava sendo usada e abusada�.

Quando Elis entrou no Teatro Record para gravar oprimeiro Fino da Bossa, quis logo saber quem ia comandaro som. Era José Eduardo Homem de Mello, o Zuza, que

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tinha dupla função na emissora: viajava para o exterior paracontratar atrações internacionais e era o principal técnicode som. Zuza contou a Elis que era contrabaixista e os doislogo se entenderam. Ele lembra:

�Ela não estava muito nervosa, não, mas não se sabecomo o programa foi gravado naquela noite. Era uma bal-búrdia, uma confusão. Quem pôs ordem na casa foi o CyroMonteiro. Eu ficava louco com aquela quantidade de mi-crofones, mas a Elis nunca errou nada�.

O fã-clube da cantora começava a se formar: muita gentechegava à bilheteria do teatro às quatro, cinco da manhã. Nasaída dos artistas, uma confusão de gritos e autógrafos. Muitasgarotas dessa época ficaram amigas e algumas passaram a fa-zer parte do grupo Elis em Movimento. Sônia Dorothy Go-mes assistiu a praticamente todos os shows e eventos da car-reira de Elis. Seu arquivo de recortes e fotos ficou fantástico.Ela começou se infiltrando nos camarins. Depois de certotempo, Elis já a recebia. Dorothy resistiu a conversar comigo

Exagerada ecomunicativa,Elis começa afazer sucessono circuitopaulista da MPB.

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se eu a classificasse como uma fã qualquer. Assistiu na épocaà rivalidade de Elis com a cantora Cláudia, novata levada aoFino por um músico da orquestra. Logo começaram a com-parar as duas. Uma rápida inimizade.

Luís Loy, tecladista do Quinteto de Luís Loy, que acom-panhou Elis no Fino e fez com ela várias excursões, me disseque Elis começou a se chatear com os comentários e as com-parações. Muita gente dizia que a Cláudia era melhor. SôniaDorothy testemunhou um incidente: numa discussão nopalco, Cláudia empurrou Elis, que se desequilibrou e quasecaiu no poço. Loy me contou que Elis foi a Paulinho Ma-chado de Carvalho pedir que não escalasse a rival para o seuprograma. Paulinho diz que não consegue se lembrar dessahistória e não a confirma. O fato é que Cláudia foi parar noRio de Janeiro, nas mãos de Ronaldo Bôscoli, que preparoupara ela o espetáculo Quem Tem Medo de Elis Regina.

Houve outra desavença, desta vez musical, com o ZimboTrio. No começo Elis e o Zimbo eram quase uma coisa só.Um completava o outro. Com o Zimbo (Luís Chaves,Amilton Godoy e Rubinho), Elis descobriu outro universona música: eram todos músicos da noite, e dos bons, adora-vam jazz e improvisação. Normalmente, eles abriam o Fino:tocavam dois ou três números e esquentavam a platéia. Mú-sicos de personalidade forte, usavam esses momentos paramostrar a música que faziam. Elis não gostava quando ter-minavam a apresentação muito para cima, encobrindo suaentrada. Além disso, passou a considerar o Zimbo Trio comoseu conjunto. Não era bem isso que pensavam e queriam ostrês músicos. O contrabaixista Luís Chaves já conhecia Elisdo programa Primeira Audição, quando os dois dividiam aapresentação, e fez alguns arranjos de seu primeiro LP paraa Philips. Ele conta:

�Ela queria que seu conjunto fosse bem-comportado.Elis pensava muito como músico. Sabia que conhecia menosde música que nós, mas nós também sabíamos que ela sabia

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o que queria. Ela não era apenas a solista, era mais um mú-sico no grupo�.

Era um ponto em comum com a colega de ofício GalCosta, que deporia anos mais tarde:

�Conheci Elis em Salvador, quando ela foi fazer umshow. Saímos juntas. Eu ia cantar num festival de música eela foi comigo.

�A primeira vez que fiz o Fino da Bossa, não tinha ca-marim para mim e ela me chamou para ficar no dela. Seique Elis era uma pessoa muito difícil, mas sempre se mos-trou carinhosa comigo. Na época de Fantasia, quando a im-prensa fez críticas violentas ao espetáculo, ela me ligou. Sem-pre teve uma coisa especial comigo. Me mandava cartões.

�Fui ver Falso Brilhante e depois ela me mandou umbilhetinho. Me ligava para tentar emprego para músicos. E,quando fiz aquele especial para a Globo, disse para o DanielFilho: �Vou chamar a Elis�. Ele falou: �Imagine, a Elis nãovem�. E eu: �Mas claro que vem!�. Ligamos para ela em LosAngeles. Ela respondeu: �Mas claro que vou, amanhã�. E veio.Quando cantamos juntas, ela não me olhava na cara. Eu di-zia: �Elis, olha para mim, quero ver você�. Ela: �Sou vesga,você vai rir do meu olho�. Eu dizia: �Imagina, quero ver suacara, seu olho, quero dividir isso com você�. E ela: �Não, eusou vesga, você vai rir. Tenho grilo porque sou vesga�. Masela ficou contente.

�Às vezes eu a achava um pouco fria cantando. Engraça-do, a Elis conseguia chorar e cantar, eu não consigo. Quan-do começo a chorar, minha voz treme logo. Quando digofria, quero dizer muito técnica.

�Como cantora, era o máximo. Ela falava as palavras,em cima das notas, muito sofisticada na emissão das notas.Eu a admirava demais. Tinha uma musicalidade fantástica.Ela, como eu, se achava mais um músico na orquestra�.

Entra então na vida de Elis Regina certo compositorrecém-chegado da Bahia. Contratado como administrador

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da Gessy-Lever, Gilberto Gil apareceu no apartamento deElis na Avenida Rio Branco vestido de terno e gravata, pasta007 na mão. Elis achou engraçado. Mas ouviu Louvação,Lunik 9 e muitas outras. Além disso, impressionou muitís-simo o jovem compositor:

�Para mim, Elis era o símbolo daquilo tudo, daquelanovidade toda. Ela até legitimava muito a minha ambição.Achei que tinha chegado o tempo da gente. Ela era diferentedas outras cantoras � a gestuália toda, a voz, o modo de can-tar, o repertório. E eu fiquei logo oprimido na primeira vezque a vi. Esses artistas todos me oprimem. Com MariaBethânia tenho a mesma sensação. São todos meus pares,porém me sinto oprimido. Mas isso é coisa de deformaçãoda minha personalidade mesmo, coisas de inveja, de difi-culdade. E eu tinha muito isso com ela. Então, vê-la ali, emcasa, descontraída, a coisa se tornava mais palpável. Eu fica-va com tesão. Ficava louco por ela. Ela nunca soube disso.Pode ter suspeitado, porque eu era muito terno com ela.Fui lançado por ela, embora Gal tenha sido a primeira agravar música minha. No entanto, Elis tinha um zelo de sem-pre incluir músicas minhas em seus discos. Me tratava commuita altivez, mas com calma. Isso porque eu era doce e ado-cicava tudo, porque sou naturalmente assim com quase todomundo. Com ela eu era inspirado pela opressão que sentia,pela coisa toda que ela me dava, uma coisa de apaixonadotambém. Eu ficava ali, servil e fragilizado, e então ela se apro-veitava disso para instalar a altivez dela. Mas tenho a impres-são de que ela era assim com os artistas em geral, deve tersido assim com todos eles, músicos importantes para ela,colegas importantes. Ela deve ter tido uma relação na qual osentido de competição era muito na frente de tudo. Nãoque eu possa me referir a ela como algo de minha relaçãopessoal � acho que era uma coisa genética. Com o tempo,porém, isso foi ficando mais desenhado, como uma arqui-tetura, uma coisa construída. Foi ficando mais como um

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modelo armado por ela. Elis foi encontrando uma maneirade sofisticar aquela altivez, estereotipar. Foi ficando maisestereotipada e sofisticada, pelos assuntos que escolhia paraconversar, o tipo de humor que escolhia para fazer, o cará-ter picante da personalidade, que era muito na frente. Te-nho a impressão de que ela foi tendo critérios diferentespara diferentes pessoas. Foi ficando muito civilizada. Foitendo aquela coisa de finura, e o sonho dela de polimentode pessoa mesmo. Junto com isso, foi solidificando a crostada dificuldade. Tornou-se mais difícil. Na época doTropicalismo foi uma barra. Ela ficou ressentida, eu acho.Deve ter ficado ressentida com o caráter todo surpreenden-te, imprevisível. Nessa época a gente não se via muito.

�Eu estava com ela na famosa �passeata contra as guitar-ras�, que seguiu do Teatro Paramount até o Largo São Fran-cisco. Não era bem contra a guitarra. Na verdade, era umressentimento todo do pessoal se manifestando, uma coisameio xenófoba, meio nacionalóide: vamos a favor da músi-ca brasileira. Aquela passeata era contra um bocado de coi-sas, mas toda a retórica dos slogans era contra a música es-trangeira, a música alienante. Era uma coisa meio GeraldoVandré. Não sei direito também, mas fui pelo lado da soli-dariedade aos artistas. No fundo, eu era muito ingênuo porum lado, também resistia muito a criticá-los, entender qualé a crítica que deveria fazer àquilo tudo. Eu não fazia. Meabstinha de aprofundar meu grau de exigência � e ficavaachando um pouco que tudo bem, havia alguma coisa justanaquilo tudo que eles queriam. Essa passeata era tambémuma coisa meio manipulada pela tietagem da época, inven-tada pelo Jacaré, pela Telé. Era uma coisa de porta de tea-tro. Porque é preciso saber que o Teatro Record, na época,era uma assembléia permanente. Todos os dias da semanatinha musicais, e todos eles defendendo setores, tendências.

�Na época de Domingo no Parque Elis não falava co-migo. Naqueles festivais se faziam entrevistas nos bastidores

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e todo mundo ficava por ali e ouvia. Elis estava defendendoO Cantador e, quando foi dar entrevista, disse: �Gil é umcompositor em deterioração, um artista que está se deterio-rando�. Eu achava aquilo significativo do que ela achava queestávamos fazendo. Fiquei mal. Mas na época era um abaloem todo o pessoal, imantado por ela, todo um círculo que elamagnetizava. Assim, as relações estavam abaladas com a gente.

�Foram raríssimos os nossos encontros. Esporádicos. Agente se encontrava sempre depois de um abalo de relacio-namento. Durante a coisa toda teve pelo menos uns três ouquatro estremecimentos. Corte de fluxo afetivo. A primeiravez aconteceu durante o Tropicalismo. Depois voltamos anos encontrar, em 1972, 1973, quando ela gravou Oriente eDoente Morena. Ela nunca telefonava para mim. Sempremandava recado: �Elis quer falar com você�. Devia ter perce-bido que eu era apaixonado por ela. Ficou esquisito outravez quando gravou Oriente, porque ela cantava uma frase,uma palavra errada na música, e depois eu me referi a isso.Não cheguei a falar com ela, mas ela ficou sabendo. É na-quele pedaço que diz: �Aranha vive do que tece�. Ela gravou:�Aranha duvido que tece�. Ela deve ter pegado a gravação enão entendeu a letra. Quando ouvi, fiquei abismado comaquilo, era muito diferente e engraçado um equívoco dessaordem. Como duvidar de uma coisa daquelas? Que coisaestranha a Elis não conhecer esse ditado, �A aranha vive doque tece�. E me lembro que ela não gostou de eu ter dito.

�Daí passou um ano, dois anos, ela fez outro contato eeu mandei O Compositor me disse. Essa música foi feitapara ela. É uma coisa que eu queria dizer por causa do ex-cesso de tensão que eu estava percebendo nos discos delanaquele período. Quis mandar um recado com a música.Tipo assim meio terapeuta que diz �relaxe�, como se ela esti-vesse vindo a mim para eu fazer uma massagem nela. Erauma época em que eu estava muito em casa, muitomacrobiótico, tinha nascido a Preta, e eu estava morando

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no Rio, bem recolhido, na caverna. Foi quando fiz Copovazio para o Chico, Barato total para Gal Costa. Eu estavacom a cabeça naquele mundo da relação da unidade com adualidade. Compus O compositor me disse para Elis, semviolão, só cantando. Quando a gravação veio, me pareceuque ela assumiu uma atitude exatamente oposta do que acheique estaria comunicando. Era como se eu estivesse dando amassagem e os músculos dela fossem ficando mais tensos, e,no final, ela tinha virado uma pedra. Quando ouvi fiqueicom essa sensação. Comentei com alguém, e tudo chega aosouvidos. Foi uma época em que Elis estava bem estremecidacom todo mundo. Estava com dificuldade com o Tom, de-pois daquele disco que fizeram na América. Estava em difi-culdade com o Milton. A qualquer lugar que a gente ia, tavasempre ocorrendo um probleminha com a Elis.

�Nosso próximo passo foi outra música. Mais uma veznão nos falamos. Aí eu fiz Rebento e ela não gravou. Man-dou um recado: �Não entendi a harmonia�. Só veio a cantarRebento depois que gravei. Aí, em Se eu quiser falar comDeus, houve um problema de outra ordem. É incrível, mi-nha vida com a Elis era uma coisa impressionante. Sem que-rer. Eu ia gravar essa música e ela me pediu uma para o dis-co. Mandei Palco, que ela acabou não gravando. Mas eu estavano estúdio quando a Elis me ligou, dizendo: �Gravei Se euquiser falar com Deus e vou lançar�. Eu disse: �Mas estoulançando um compacto com essa música, como é que a gen-te faz?�. Aí ficou aquela situação. Ela gravou e não colocouno disco. A Odeon lançou depois de sua morte. Meu editordisse a ela que é praxe quando você grava ter a exclusividadepor um período de sessenta dias.

�Hoje sei muito bem como é para um grande artista assumira importância inteira de uma época na sua pessoa. Sei como éesse tormento, essa dualidade profunda que se instala numa pes-soa pública, famosa, que detém o poder de alguma ordem. É aluta entre o ímpeto de ser importante e o ímpeto de ser feliz.

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�Elis mudava de idéia de cinco em cinco minutos. Massempre com uma idéia � não era com uma idéia agora e semnenhuma daqui a cinco minutos. Era com uma idéia agora eoutra daqui a pouco. Era sempre de um lado. Era como sefosse sempre para estar de um lado só. Ela tinha um poucode maniqueísmo. Quando adotava uma idéia oposta era paraironizar a que tinha adotado antes. Era assim, ela estava aquie só existia isso. Tudo do lado de lá era um absurdo. Mas, derepente, ela passava para o lado de lá. É o chamado incons-ciente verbal. Uma coisa complicada. Especialmente por seruma coisa de nunca se deixar vencer pela dúvida, ou vivenciara dúvida. Elis identificava isso com fraqueza, não sei. Masisso foi devido muito à formação dela. Foi formada com al-guém sempre chegando e dizendo: �Decore, leia isso ou aqui-lo�. E ela lia tudo. Não se conformava com a dúvida. Nuncaentrou, nunca foi profundo, essa coisa do resignante vazio.Quer dizer, me parece assim, mas estamos especulando so-bre essa personalidade aparente, esse nível da consciênciaverbal dela�.

O programa O Fino da Bossa era imbatível em audiên-cia, até que Elis tirou férias. Passou dois meses viajando pelaEuropa, o que foi fatal para seu programa. A sua saída docomando do Fino coincide com a ascensão do programa Jo-vem Guarda e de Roberto Carlos. Paulinho Machado deCarvalho não queria que Elis viajasse. Acreditava na velhatese da tevê: quem não aparece, o público se esquece. Que-rendo levantar o programa, a Record sugeriu a Elis contra-tar novos produtores. E por que não Miele e Bôscoli? Elisestrilou, mas Paulinho a convenceu de alguma maneira e elaconcordou em receber apenas Miele. De São Paulo, ele avi-sou o parceiro: tudo limpo.

Era um reencontro mais sério do que se poderia imagi-nar. No final de 1967, Elis Regina e Ronaldo Bôscoli sur-preenderam o mundo artístico com a bomba: iam casar. OJornal da Tarde, na edição de 7 de dezembro, em matéria

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não assinada, com o título �Um compositor levou Elis Regi-na�, descreveu assim o casamento civil de Elis e Bôscoli:

�O casamento civil de Elis Regina com Ronaldo Bôscolifoi muito simples e durou quatro minutos contados no re-lógio redondo da parede. O que durou mais foi a impaci-ência dos noivos, porque um dos padrinhos � o casal PauloMachado de Carvalho Filho � só chegou às cinco e meia. Ojuiz já havia chegado, e o casamento estava marcado para asquatro e meia. A manequim Vera Barreto Leite, madrinhado noivo, não apareceu porque teve de filmar. Horas antes,foi substituída pela sra. Wanda Sá.

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Arquiinimigos no passado, Elis Regina e Ronaldo Bôscoli,uma união que muitos julgavam impossível.

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�Elis e Bôscoli casaram-se entre margaridas. Em cimada mesa onde assinaram o livro de casamento havia um jarrãocom margaridas artificiais.

�Quando Elis assinou o livro BB4, folha 158, tinha osolhos cheios d�água. Estava aparentemente calma. Momen-tos antes, ela tinha tomado um Vagostesil.

�Eram dezessete horas e dezenove minutos.�Não chovia mais. Dona Glória, a cozinheira, estava

radiante. Pela manhã, ela mandara o caçula da casa, Vicente,desenhar um sol no quintal, para espantar a chuva que caíadesde a véspera. A mãe de Elis foi a única que chorou quan-do abraçou o genro, que lhe disse no ouvido: �Como é, ma-mãe, está em prantos? Estamos aí�.

�Uma taça de champanha brindou o acontecimento.�Elis foi dormir às quatro da manhã. Depois do show

no Golden Room, os noivos �esticaram� na boate Sucata.�� Nunca vi um casal se despedir junto da vida de solteiro �

comentava a cantora, quando se pintava em casa para a cerimônia.�Ela dormiu mal � �Tive um sono muito pesado� �, acor-

dando às oito. Viu que era muito cedo e cochilou mais umpouco. Uma hora depois, Elis saía para o cabeleireiroJambert, que fica em Ipanema. Foi penteada por Silvinho.Somente às quatro da tarde é que chegou em casa. Comeraapenas um sanduíche, chegando a passar mal no salão. Elisestava de calça comprida.

�Bôscoli chegou ao meio-dia em sua casa. Já estava pron-to para o casamento, que seria quatro horas e meia depois.Trajava terno escuro listrado, camisa meio rosa, com pu-nhos e colarinhos brancos. Gravata, meia e sapatos pretos.

�A casa já estava cheia de jornalistas. Elis chegou apres-sada � não cumprimentou ninguém � e foi implicando comBoboca, o cachorro que estava no meio da sala.

�� Tá vendo? Ela é assim mesmo � comentou Bôscoli.�Vários repórteres ficaram espantados com a entrevista

que Bôscoli concedeu duas horas antes do casamento. Uma

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das primeiras coisas que informou foi que se casava com se-paração de bens. Disse que Elis dera o sinal de sessenta ecinco milhões da casa e que ele pagaria o resto, em presta-ções. Classificou-se como �um ex-aventureiro do amor�, afir-mando que só resolvera se casar com Elis �por causa de todosos elementos que a compõem�.

�Por várias vezes, Bôscoli fez questão de dizer que Elisera uma �pequena burguesa�. Revelou que influía nos pen-teados e nos vestidos dela.

�Bôscoli elogiou a inteligência da noiva.�� Não sou rico, mas estou bem. Ela ganha quinze mi-

lhões por mês e eu, dois e meio. O trivial da casa será man-tido por mim. O luxo, por ela. Quero ser o Ronaldo Bôscoli,não o marido de Elis Regina.

�Bôscoli disse, ainda, que se casou por amor, porqueteve muitas oportunidades de aplicar o golpe do baú e nãoquis.

�Bôscoli falou de seu planos com Elis. Vão passar trêsdias em lua-de-mel em Correias e, no domingo, voltarãopara o Rio, para assistir ao jogo Fluminense e Botafogo. Osdois são torcedores do Fluminense. Dia 15, ela estará emSão Paulo para inaugurar a boate Blow-Up. Dia 20, Elisfará um novo programa na Record, Elis Especial.

�Faltam quinze minutos para o casamento. Elis estátrancada no quarto, arrumando-se. Três horas antes chega-ra o colchão de molas, que custou trezentos e vinte e seiscruzeiros e cinqüenta centavos, conforme a nota 3.511, emi-tida em nome da sra. Elis Regina Bôscoli. Dona Laura, mu-lher de Abelardo Figueiredo, ajuda Elis, principalmente paraacalmá-la.

�O tempo vai passando e Elis prefere não colocar oscílios postiços porque teme que vá chorar. Seus lábios tre-mem e ela tem dificuldade em se pintar. Comenta a ausên-cia do irmão Rogério, que não pôde sair do Rio Grande Sulporque está em provas.

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�� Mas ele virá para o religioso.�E cantarola:�� �Esse velho é meu, esse velho é meu...� � parodiando

a música de Sérgio Ricardo.�Velho� é o apelido de Bôscoli.�Eram quatro e vinte. Dona Laura traz um copo verde

com água gelada e Elis toma três goles, depois de engolir umcomprimido.

�Alguns presentes haviam chegado. O primeiro foi dePaulinho Machado � uma baixela de prata. A sogra de Elismandou uns copos de pedra-sabão de Ouro Preto. DeDenner chegaram dois candelabros.

�Hebe Camargo mandou um copo de prata, banhado aouro, com um cartão que dizia para o casal brindar no casa-mento e nas �bodas de prata�.

�Havia na �casa branca� de Elis e Bôscoli mais jornalistasdo que parentes e amigos do casal. Os noivos estavam bas-tante impacientes, porque nem o juiz nem alguns padri-nhos chegavam. Já passava das quatro e meia. As mães dosnoivos conversavam, sentadas num sofá de couro. DonaÂngela, mãe de Bôscoli, queixava-se de que a empregadahavia estragado o vestido da recepção. Elis e Bôscoli posampara fotógrafos e cinegrafistas.

Um casamentocomo manda ofigurino: padre,juiz, recepção e,claro, convite.

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�Faltam cinco para as cinco.�Um Ford verde, chapa 43741, chega à ladeira onde

mora o casal. Um senhor de óculos desce, pelo lado direito,com uma capa preta na mão. Pela outra porta sai um ho-mem forte, com uns livros debaixo do braço.

�� É o juiz? � grita Elis.�Os amigos já cantavam �tá chegando a hora, tá chegan-

do a hora�. O juiz sobe os degraus da casa branca do casal, lána Avenida Niemeyer, e informa aos repórteres: �Ciro deLuna Dias, da 1ª Zona do Registro Civil�. E apresenta o es-crivão, Antônio Carlos Faro, que, ao apertar a mão de Elis,afirma ser seu fã.

� �Bonito local. Gostei.� É o primeiro comentário dojuiz, olhando para algumas peças da casa. Cerca de dois anosantes, o dr. Luna Dias casara Eva Todor e também a irmã deBôscoli.

�Elis e Bôscoli estão impacientes. Os padrinhos não es-tavam todos lá. Paulo Garcez e Wanda Sá, os padrinhos deBôscoli, já haviam chegado. Faltavam os casais Paulinho Ma-chado de Carvalho e Marcos Lázaro, que chegariam depois.Elis chegou a pedir a Luiz Eça que se preparasse para substi-tuir o �dr. Paulinho�.

�Já iam dois minutos de cerimônia quando o escrivãoFaro percebeu que não tinha vestido a capa preta. Veste-adepressa, nervoso, fazendo um olhar de desculpa ao juiz,que nada disse.

�O juiz diz algumas palavras. Faz referência ao casamentoda irmã de Bôscoli e deseja felicidades ao casal.

�� É com grande prazer que realizo este casamento. Suafigura, dona Elis, traz juventude e alegria à casa da gente �conclui o juiz, antes de perguntar a Bôscoli se aceitava Eliscomo esposa.

�Quando os padrinhos começaram a assinar, Elis eBôscoli brincaram:

�� Essa assinatura eu conheço.

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�� Eu dou os vales � respondia Paulinho Machado.�Alguns repórteres perguntaram ao juiz o número do

casamento:�� 1.241. Não é para jogar no bicho, né?�� Enfim, nós � disse Bôscoli ao abraçar Paulinho.�Uma taça de champanha é servida. Está terminada a

cerimônia.�Faltava um minuto para as dezessete e vinte�.Na edição do dia seguinte, o Jornal da Tarde publica a

descrição da ceia do casamento. Vale a pena a transcriçãopela riqueza de detalhes e a perfeita reconstituição de épocado repórter, anônimo nessa cobertura.

�Na grande casa branca de três andares da AvenidaNiemeyer havia cento e vinte convidados para a recepção.Foi uma festa em black-tie, onde só a ceia, servida por MirtesParanhos, custou oito milhões de cruzeiros antigos.

�Se não estivesse chovendo no Rio, a festa seria no so-lar. Mas o tempo estava ruim, tiveram que transferi-la parao varandão, de onde se vê o mar. A luz era de velas, os can-delabros arranjados com motivos de Natal.

�As dificuldades de estacionamento de automóveis naAvenida Niemeyer obrigaram alguns convidados a chegarantes das dez da noite para garantir um lugar para o carro.

�Três guardas, em traje de gala, deram serviço no local,para evitar congestionamento. Mesmo assim, um táxi velhoficou retido várias horas em frente da casa, porque não po-dia fazer manobras para voltar.

�Os convidados foram chegando: Nelson Motta, SílvioCésar, Roberto Menescal, Denner e a mulher, Marcos Lázaro,Paulinho Machado de Carvalho. Dori Caymmi chegou por úl-timo. Tuca, a cantora, cumprimentou Denner com um abraçoque assustou muita gente. Quase que ela derrubou o costureiro.

�Elis estava triste pela ausência de Pelé, Roberto Carlos,Chico Buarque, Vanderléia e Jair Rodrigues. PrincipalmenteJair Rodrigues: � Logo ele, que é meu amigo de todas as horas.

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�À meia-noite em ponto Elis Regina chamou a maîtreSouza e mandou servir a ceia. Tocou o sino duas ou trêsvezes, os convidados foram se sentando às mesas.

�Veio primeiro o siri recheado, depois a carne assadacom molho ferrugem, bolinhos de fruta e batatas-coradas.A sobremesa era papo-de-anjo, ambrosia, doce de coco. Ovinho era nacional, rosé.

�Dona Mirtes Paranhos, que tem alguns traços de donaIolanda Costa e Silva [N.A.: primeira-dama do governoCosta e Silva, 1967-1969], comandava pessoalmente o ser-viço. Quinze garçons e quatro cozinheiras eram seu pessoalpara servir as quinze mesas espalhadas pela casa, toda deco-rada com flores tropicais.

�Antes da ceia foram servidos salgadinhos, muitos elo-giaram o camarão. O sr. Hugo Delamare, amigo de Elis,quebrou o primeiro copo da noite. O comentário veio emcoro: � Oba, dá sorte.

�Dez minutos depois o caricaturista Ziraldo quebrava osegundo copo.

�Elis e sua secretária, Zoraide Aun, que é funcionáriada Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, pergunta-vam a todo instante se os convidados estavam gostando dafesta.

�� Sua festa foi a mais perfumada que eu vi até agora �foi o comentário de uma jornalista.

�Antes de ir embora, dona Mirtes Paranhos ofereceu aElis um livro de receitas culinárias que ela mesma escreveu.São receitas de salgados, coquetéis e sobremesas, em trezen-tas e dezenove páginas.

�Algumas das receitas: frango ao alho e óleo à AbelardoJurema; salada à Bibi Ferreira; galantina de frango à AmaralNeto; miolos à José Tavares de Miranda; sonhos à generalAnapio Gomes; e até um caldo verde à Carlos Lacerda�.

O casamento no religioso aconteceu no dia seguinte. Foina Capela Mayrink, na Floresta da Tijuca, uma igrejinha de

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nove metros, pequena para abrigar os dez metros de véu dovestido de Elis, assinado pelo costureiro Denner. RobertoMenescal conta que, a certa altura, Miele roubou o sino dopadre, que ficou passando de mão em mão pela igreja; Mieleconta que, na ausência do sacristão, ele tomou o lugar, aju-dando na cerimônia. No dia seguinte, sai no jornal:

�Elis casa-se com um padre católico e um rabino�.Insinuaram que Ronaldo era judeu. Nelson Motta lem-

bra que alguém pisou na cauda do vestido de Elis, que gritava:�Solta meu rabo, pô!�

Na hora do sim, Elis e Ronaldo ao lado dos padrinhosDenner e Laura Figueiredo (na foto, à direita).

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Encontrei Ronaldo Bôscoli em maio de1985, numa sala de visitas do apart-hotel Barramares, Barrada Tijuca, Rio, onde ele morava, aos 55 anos. Estávamosnervosos, os dois.

�Porque isso é um livro, não uma reportagem�, me disse.Ronaldo Bôscoli já era Ronaldo Bôscoli quando conheceu

Elis Regina. Ele era uma espécie de cabeça da Bossa Nova noRio. Com seus textos na revista Manchete, divulgou o grupocomo um movimento. Além de intelectual da Bossa Nova,Ronaldo era charmoso, bonito, fama de conquistador, biriteiro,poeta, um homem da noite. Elis me falava muito mal dele e sem-pre se comportou assim até na frente do filho, João Marcelo.

Ele sabia que eu era amiga de Elis e desconfiava disso.Muito antes de nosso encontro, aliás, Bôscoli noticiou estelivro em sua coluna na Última Hora com uma advertência:

�No que me diz respeito, recomendo prudência, muitaprudência�.

Mas eu não estava armada de nenhum preconceito. Pelo con-trário, estava interessada na versão da história contada por ele, por-que um ódio tão feroz devia ter raízes mais profundas. Para se enten-der Elis Regina é preciso conhecer e entender Ronaldo Bôscoli.

CAPÍTULO IVCAPÍTULO IV

Era uma relação perigosamente de-liciosa. Voava tudo pelos ares e, derepente, estávamos nos agarrandode paixão. Fazíamos coisas estranhase bonitas.

Ronaldo Bôscoli

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Pode ser que Elis tenha visto nele muitas possibilidadespara sua caminhada profissional. Mas não era tudo: ela deveter se apaixonado por sua inteligência, por seu charme, porsua petulância, por sua conversa e pelo desejo de ser prote-gida por um homem mais velho. Bôscoli tinha 38 anos quan-do se casou com Elis. Ela, 22.

A certa altura de nossa conversa, resolvemos ir para umbar. Ficamos por lá durante horas, quando percebi a loucaaventura, a paixão fulminante e irreconciliável a que se entre-garam Elis e Ronaldo. Na íntegra, o depoimento de Bôscoli apartir do momento em que os dois se reencontraram, em 1967,para um trabalho na TV Record, no novo O Fino:

�A Elis, nesse dia, estava me sacaneando o tempo todo,e eu fazendo o tipo do cara que foi procurar emprego. Fuimeio de porre, barba por fazer, e não sabia que nesse diacomecei a me apaixonar por Elis, por essa atitude meio in-fantil dela, essa insegurança dela, essa desproteção. Tãobobinha, tão infantil, tão carente. Nesse dia, rompida a bar-reira, fui levar Elis para casa e já comecei a reparar nasperninhas dela, naquele jeito de andar mal vestida. Eu játinha sido casado com a Mila Moreira quase um ano e meucaso com a Maysa era meio de mora-não-mora junto. Naverdade, eu era mesmo um solteirão. Tinha muita práticade mulher, mas achava que casando virava parente. Quandoa Elis me pediu para levá-la em casa eu já estava com umasidéias de jerico na cabeça. E pensava: �Pô, que coisa maluca,vou comer a patroa, esse papo é escroto, tô precisando detrabalho�. E pensava mais: �Essa mulher é fogo�.

�Elis, na verdade, era uma grande ciclotímica, tinha umaarritmia de comportamento sem explicações maiores � nummomento estava puta, no outro rindo, no outro chorando.Parei o carro na porta da casa dela, no bairro do Peixoto � elamorava com uma secretária da qual nem sei o nome, porquenunca entrei nesse apartamento �, e perguntei se não queriair comigo à noite ver um show. Ela pediu que eu telefonasse.

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Eu disse que não tinha telefone e passaria mais tarde para pegá-la. Quando entramos no Rui Bar Bossa a reação foi a mesmaque tivessem entrado ali, abraçados, o Maluf e o Tancredo.Ninguém entendeu nada. Eu já tinha tomado alguns copos,estava numa atitude mais amistosa com ela. Me vesti, me pro-duzi. Entramos, aquele espanto, todo mundo olhando, e Elisali. Quando viu ex-namoradas minhas lá, comentou: �Puxa,como você tem namorada!�. Pedi para ela um coquetel de frutasque tinha de tudo, até bebida. Elis foi ficando meio solta,chorou no meio do show, claro. Depois a convidei para ir aoutro lugar, mas falei que não tinha dinheiro. Ela disse: �Eutenho�. Eu disse: �Para mim você não paga�. Fomos ao ElCordobés, uma boatezinha onde eu tinha crédito. Quando ogarçom, que é irmão do Alberico Campana (ex-dono doBottle�s e futuro dono da Churrascaria Plataforma, no Rio),nos viu, deixou literalmente cair a bandeja no chão. Fomospara uma mesa atrás da coluna. E eu já me assanhando. Aí elaadmitiu que tinha um grande respeito por mim e que eramelhor eu trabalhar com ela em São Paulo. Conversamos vá-rias vezes até cinco horas da manhã, no meu apartamento noRio ou no apartamento dela em São Paulo. E eu mantendouma atitude a distância, afetivo, mas não transávamos. Ela nãoentendendo nada. Não sei. Achava naquela altura que Elistinha sido muito maltratada pela vida, e fui explicando as coi-sas: Elis não sabia comer, não sabia se vestir, não sabia nada.E eu, que tinha nascido em berço esplêndido � depois minhafamília perdeu tudo, ficou na miséria �, tinha aprendido afalar francês antes do português, tive uma boa formação. Mi-nha irmã transou moda, e eu só não fui veado porque não tivetempo.

�Mas Elis tinha esses problemas todos, principalmentede origem afetiva, e essa insegurança também foi me dei-xando apaixonado. Eu tinha muita coisa para completar na-quele espaço dela. Eu, que vinha de uma experiência de in-fância amargurada. Fui muito rico e perdi tudo, sofri demais

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com minha mãe tomando porres incríveis. Vim de cima ecaí. Fui fazer shows, jornalismo. Eu tinha um perfil idealpara Elis, porque sabia de todas as deficiências dela, e elasabia das minhas. Então essa simbiose faz amor. Não expli-ca, mas pelo menos justifica. E eu sabedor de que Elis tinhasido explorada desde o berço pelo pai, pela mãe, pela famí-lia. Era uma espécie de galinha dos ovos de ouro. Todoseles, naturalmente, viram em mim uma ameaça enorme paraser mais um a explorar Elis.

�Namoramos no Rio, fomos para São Paulo, e eu de-morei quase uns vinte dias para transar com ela, uma coisade estratégia mesmo. Ela morava na Avenida Rio Branco eum dia não agüentou, me deu uma prensa: �Tá achando queeu sou uma bosta?�. Aí ficamos uns cinco dias trepando diae noite.

�Eu tinha visto a Mia Farrow com aquele cabelo curto enão sei se estava me achando meio Frank Sinatra quandosugeri à Elis que cortasse os cabelos. Nunca ninguém tinhausado esse cabelo curto por aqui, só a Mia Farrow, e anosantes a Ingrid Bergman, fazendo o papel de Maria em PorQuem os Sinos Dobram. Na época, também eram modaaquelas roupas espaciais. E a Elis, para espanto geral, apare-ceu toda produzida por mim. Eu disse a ela: �Tire o laquêdo cabelo, isso não se usa; tire a sobrancelha�. Levamos Elisao Denner � eu, o Abelardo e a Laura Figueiredo. QuandoElis apareceu para receber o Roquette Pinto daquele ano(1967), foi um espanto: cabelinho curto, vestido míni, meiaespacial prateada. Uma gracinha.

�Elis tocava a vida de ouvido. A gente dizia uma coisapara ela, ela dava a volta e, pouco depois, já começava a en-sinar o que tinha aprendido. Acho que as pessoas que nãotêm uma estrutura básica sentem ódio das testemunhas, e euera uma testemunha de Elis. Isso criou ressentimento, ódio,como se ela dissesse: �Esse cara me viu na merda�. As teste-munhas são perigosas.

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�Mas ela não tinha o menor pudor comigo. Era comose fosse uma filha minha, com direito a trepar com o pai.Quer dizer, uma colher de chá. Aprendeu a comer e depoispassou a dar aulas de etiqueta. É com fórceps que se comeescargot! Ela aprendeu a falar francês melhor do que eu comuma semana em Paris. Tinha um ouvido brutal, para a vidae para música. Muita gente se esquece de que Elis nunca to-cou uma nota de piano. Ela e eu não queríamos nos casar naigreja � por motivos óbvios. Mas depois muitas pessoas mederam um toque � �Você é um cara muito mais velho, mar-cado como um cara escroto, que come as mulheres e vaiembora� � e eu já havia superado meu problema com a Igre-ja e com o fato de ter estudado em colégio de padres. E noscasamos na Igreja, a pedido da Laura Figueiredo e de outraspessoas, que achavam, pelo bom senso, que Elis deveria terum marido.

�Elis, seduzida pela Laura, pelo Denner, pela MariaEstela Splendore, começou a ficar meio inebriada.Cinderela. Aí comecei a perder o controle sobre Elis e nos-sas pequenas briguinhas foram aumentando. Perdi o con-trole, ela já estava muito auto-suficiente, e eu testemunhadaquilo tudo. Mas mesmo assim nos casamos.

�Sou um garoto de Ipanema, porém sempre gostei demorar meio longe. Quando viemos procurar casa no Rio,fomos ver a da Niemeyer, 550, casa 7. Era uma casa de cons-trução marroquina, maravilhosa. Em frente ao mar. Eu dissepara Elis: �Você quer saber de uma coisa? Se comprar essacasa eu caso com você�. Ela respondeu: �Jura?�. Jurei. Nessabrincadeira, acabou comprando a casa por 170 milhões decruzeiros (equivalentes hoje a 225 mil dólares). Era umaloucura de barata para a época. Pagou metade à vista e oresto em doze meses. Aí nos casamos mais rapidamente. Elanão sabia que eu ia exigir do juiz um casamento com regimede separação de bens e pacto nupcial. Quer dizer, tudo queera dela era dela, antes, durante e depois do casamento.

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�Nos casamos, e Elis já sob a perigosa tutela e meio en-volvida com aqueles grã-finos. Eu não queria o Denner parapadrinho de nosso casamento, pelo simples fato de sóconhecê-lo de obas e olás. Também me neguei a sair na capada Manchete. A cada atitude dessa que eu tomava fui meenraizando na coisa mais difícil do mundo, que era pene-trar na intimidade da Elis, no seu escancaro. Todos diziamque eu era um tremendo pilantra. Mas a gente brigava todahora, feito criança. Aquela coisa que ela botou na cabeça nocasamento, meu Deus, aquela guirlanda ridícula, parecia umaíndia com aquela trança. Ela chorava e dizia: �Mas eu tenhodireito a um casamento assim!�. Para ela, foi um sonho deCinderela. No entanto, sei lá, eu ficava meio agressivo àsvezes, porque já estava pressentindo que muita gente queriaser testemunha daquilo, participar ativamente, sair na foto.

�Nossas brigas eram públicas porque éramos públicos.Nunca teve briga física em público. Ela me levava à exaustão,era como se me enfiasse uma broca na cabeça até o pontoem que eu teria de dizer: �Vou te dar um tiro�. Era umarelação perigosamente deliciosa. Voava tudo pelos ares e, derepente, estávamos nos agarrando de paixão. Fazíamos coi-sas estranhas e bonitas.

�Elis não gostava que eu bebesse � ela não bebia rigoro-samente nada � e censurava minha bebida das seis horas,quando eu chegava em casa, e ainda por cima usava minhamãe para me esculhambar. O apelido de minha mãe era Bill,e ela dizia: �Vai ficar igual à Bill�. Eu retrucava: �Se não pos-so beber na minha casa, se você quiser bebo escondido�. Elisme censurava até nisso.

�Mas levávamos uma vida muito boa, uma delícia e apai-xonadamente agressiva. É inacreditável. A frustração dela eraeu; e ela, a minha. Tudo que nos faltava tínhamos no outro.Era uma simbiose perfeita. Eu tinha educação, base, infor-mação, instrução. Foi a mulher de quem mais gostei total-mente. O máximo que eu pude gostar � meu reservatório é

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um bidê, comparado com a piscina de muita gente; esse bidêcheio sou eu, gosto muito mais de mim, gosto mais das coi-sas que não conheço. Até hoje eu tinha de estar fazendo aná-lise, mas fiz um ano e meio e caí fora. Não há ninguém maisegoísta que o neurótico. Então, o máximo que eu podia gos-tar intensamente, gostei da Elis. Mas depois ela começou aser seduzida pelas pessoas de fora. As nossas grandes confu-sões na vida foram resolvidas na porrada � na porrada físicararíssimas vezes, mas era resolvido, gritado, falado. A im-prensa deu muito azar conosco. Quando nos separava, jáestávamos juntos. Quando nos juntava, brigávamos. A gente riapara caralho. Quando íamos dar uma entrevista séria, com-binávamos uma coisa antes. Na hora ela dizia outra. Euficava com raiva e também dizia outra. Assim ia, nessa coisainfantil, ilógica, irracional. Era um grande id. E esse debo-che era uma atração.

�Um dia a Cidinha Campos foi em casa e a Elis nãoqueria recebê-la de jeito nenhum. Aí eu topei a parada, en-carei. Cidinha ficou uma fera. Tinha vindo de São Paulo.De repente, quando eu já tinha lhe dito que não teria a en-trevista, Elis desce, gritando: �Cidinha, Cidinha�. A Cidinhaficou, tomou conta da casa. De noite, a Elis sugeriu: �Porque você não dorme aqui? O papo tá tão bom!�.

�Elis era um id. Eu era outro, mas muito mais velho.Eu, um id idoso. Ela, um id menina. Essa bronca, esse res-sentimento que ela tinha de eu ser testemunha dos fatos to-dos acabou com o nosso casamento. Ao mesmo tempo emque ficava orgulhosa de mim, tinha ódio de mim.

�Ficamos um ano morando em meu apartamento, de-pois um ano na casa da Niemeyer e mais um ano no HotelDanúbio, em São Paulo.

�Essa doce pessoa que deve estar nos ouvindo agora eramesmo assim. Não conheci ninguém mais inteligente queElis. A inteligência, a meu ver, tem vários escaninhos. Mas oimediatismo, a capacidade de adaptação e de acuidade, a

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sensibilidade de Elis eram coisas que encantavam qualquerpessoa. Todos ficavam deslumbrados com ela, porque, derepente, cometia uns erros de português babacas, mas numtexto que tenho a impressão de que Fernando Pessoa assina-ria. Maravilhosa.

�Reservávamos o sexo para nossos momentos agudos:ou de grande briga ou de grande amor. Era uma coisa meiociclotímica, com a qual convivíamos muito bem. Eu era umcara razoavelmente ciumento, mas confiava no meu taco.Tinha toda uma chave da Elis � supunha que tivesse, pelomenos. Quando me casei, aos 38 anos, tendo comido o Brasilnaquela época, o que estava a meu alcance, tinha um passa-do enorme, e quando fui me casar, pensei: �Não vou medesfazer do meu passado�. Juntei tudo num baú, trancafiei asete chaves e guardei. Ela mandou arrombar. Disse que ha-via fotos comprometedoras, mas era mentira. Queimoutudo: meus boletins de colégio, minhas fotos de infância,minha história. Fiquei tão deprimido que chorei quandosoube disso, de madrugada. Fiquei mal. Ela teve medo deque eu fosse bater nela � tinha pavor de mim, às vezes. Eladisse depois: �Desculpe, não tinha o direito de apagar o seupassado�. Ficou mal também, mas aí ia se empolgando nadiscussão e acabava dizendo que era eu o culpado de tudo.

�Fiz parte da vida de Elis nesse aspecto pessoal, emoci-onal e até musical. Se pude colaborar com alguma coisa éque a Elis, depois que se casou comigo, resolveu seu proble-ma de dicção. Ela era um músico e fazia malabarismos vocaisque prejudicavam as letras. E eu, um letrista. Estranhamente,Elis reconheceu. Quando se separou de mim, começou acantar com um tom de deboche, pronunciando acentuada-mente as palavras. Exagerou na silabação para me gozar. Megozou com Última forma, música do Baden Powell que elamandou fazer para mim. Me deixa em paz também mandoudizer que era para mim. E, quando cantava Quaquaraquaquá,eu achava que era para mim.

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No Olympia de Paris: no cartaz , rodeadade celebridades; em cena, oito cortinas.

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�Nos separamos umas três vezes, sérias, e ela sempremandou me buscar. Na última vez, foi me buscar numa casade saúde. Eu estava muito estressado, com uma carga muitogrande de emoção, e bebendo demais. Elis estava viajando eeu, despedaçado, achando que as viagens iam nos separar.Na estréia no Olympia, em Paris, ela ligou para mim umasdez vezes no Hotel Danúbio: �Vou entrar, tô entrando, penseem mim�. Me dava satisfação de tudo. Mas a Alik Kostakispublicou que a Elis estava em Paris com o Pierre Barouh.Resolvi decretar guerra. Ela adorava uma guerrinha. A par-tir daí a coisa começou a ficar meio escrota.

Elis, no estúdio, com o cantor e ator francês Pierre Barouh.

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�Nunca quis ser empresário de Elis, um marido dométier, pense bem. Podia viajar com ela, ganhar dinheiromais que os outros. Mas, peraí, eu não ia segurar seunecéssaire de jeito nenhum. Imagine ela me apresentando:�Esse é o meu marido�. Iam logo pensar: �Que cara escroto,comendo essa gatinha�. Eu também não quis ser seu produ-tor exclusivo � produzia o Simonal, que estava no auge, eessa minha independência fascinava Elis. Não viajava comela porque ia parar minha carreira. Além do mais, iria jogaruma porrada de coisas na minha cara e ia ser aquela brigagigantesca. Também nunca produzi um disco de Elis � e elagravou uma única música minha no Brasil, Carta ao mar,minha e do Menescal. Quando foi para a Europa e gravouem dois dias um disco na Inglaterra é que cantou O barqui-nho e outras. Mas na minha gestão ela não gravou mais nada.Por que iria gravar, se detestava Bossa Nova? Essa minha li-berdade incomodava Elis, pois queria que eu dependessedela.

�Estou falando muita coisa porque você me pegou nocontrapé. De noite seria melhor. Então, eu tinha todas asferramentas para explorar a Elis. Daí minha putidão com oJornal do Brasil, que teve o peito de publicar que eu recebiapensão da Elis depois de me separar dela. Entrei no casa-mento com cinco malas e saí com três. Uma ela queimou e aoutra, cheia de discos do Frank Sinatra, jogou pela janela.Feito disco voador. Aconteceu depois de uma briga: ela foipara a sacada, de onde, com certa habilidade para arremes-sar, você acertava o mar. Foi uma chuva de Sinatra pelaNiemeyer. Ela tinha um ciúme doentio do Sinatra, porqueeu me identificava com ele. Vai ver que eu achava mesmoque era o Sinatra. Quando resolveu ter um filho, eu achavaque era uma loucura. Com tudo aquilo, como seria um fi-lho? Ela disse para muita gente depois que foi obrigada atrabalhar durante os nove meses de gravidez. Para pagar oquê, pô? Em outra versão, para a Fatos e Fotos, Elis disse

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que gravidez não era doença. Ora, você acha que, esperan-do meu primeiro filho, ia obrigá-la a trabalhar? Eu não ga-nhava um tostão com aquele espetáculo (Canecão, Rio,1970).

�Eu era um super-homem para Elis. Ela conhecia tantomeu lado forte quanto o frágil e manipulava a minha alqui-mia. Conheço só duas pessoas que mudam rigorosamentequando entram no palco: Elis Regina e Roberto Carlos. Aínasceu João Marcelo. Ela resolveu chamar os pais, numadessas crises que tinha para dizer na cama: �Você acha justoeu aqui nesta casa lindona, de frente para o mar, nós aquinesta cama, enquanto meus pais...�. Eu disse: �Você quertrazer eles para cá? Acho que vai ser um rabo�. Mas morarem casa não, eu não queria de jeito nenhum. Ela tinha umapartamento na Joatinga. Chamamos os pais e eles forammorar lá. Elis mandava cheques e mais cheques a eles. Nãosei o que o Romeu fazia com os cheques: a mãe mandouuma carta desesperada. Começou a pintar todo mundo láem casa. Era só fofoca. Eu não queria de jeito nenhum afamília lá em casa. Aí fomos nos separando.

�Na última grande briga, ela foi com João Marcelo mepegar na Clínica São Vicente. Estávamos hospedados (in-ternados) lá: o Vinícius de Moraes, o Baden Powell, o GrandeOtelo e eu. Era fantástico. Tomávamos porres homéricos.Era uma esculhambação. De noite, fugíamos de carro e omédico via que o fígado estava cada vez mais inchado. Ela foime buscar com o João Marcelo. Eu estava caidaço, estressado,bebendo demais. Precisava de uma limpeza física. Estavamorrendo mesmo. Ela pagou a conta do hospital e, quandoperguntei, me disse: �Já paguei, você sabe quem eu sou�. Aícomeçou a briga de novo: eu dizendo que ela já estava mejogando na cara, uma loucura. Foi a última vez que estive-mos juntos. Depois, ela quis se separar, e aí percebi que gos-tava dela. Não queria me separar de jeito nenhum. Ela na-morava o Nelson Motta, uma cria minha. Nesse dia conheci

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Heloísa, com quem me casaria depois, e resolvi dar o últimotiro legal. Estava morrendo de paixão por ela. Falei para aElis: �Posso mandar minha mulher pegar as coisas?�. Ela:�Sua mulher, seu filho da puta?�. E aí quis voltar, para nãosair perdendo. Coisa de criança. Ela disse: �Quero ver elavir aqui�. Foi nesse dia que jogou os discos pela janela. Useiessa mulher (a Heloísa) como sparring mesmo � ela estavahavia uma semana comigo e topou casar.

�Na época da doença do João Marcelo, a Elis não tinhaleite, porque mandou secar o peito. Tinha feito uma ope-ração plástica sem me consultar � essa foi uma de nossas bri-gas, também. Consta nas entrevistas de Elis que eu era tãoirresponsável que, no dia em que João Marcelo nasceu, es-tava vendo futebol com amigos. Está lá nos anais � João Mar-celo nasceu às sete e quarenta e cinco, ou oito da manhã, oudez para as oito, no dia em que o Brasil ganhou do Uruguaipor 3 a 1, em 1970. E sou vidrado em futebol. O jogo foi àtarde. Ouvi o João Marcelo nascer, a Elis voltar para o quartoe, de tarde, fui ver o jogo.

�Outro episódio importante foi a história do tiro. Faleipara Elis que ela estava alimentando uma loucura. Porque opai bebia loucamente e mandava buscar mais dinheiro e maisdinheiro. Um dia mandei o empregado dizer para o seuRomeu que não tinha dinheiro até o mês seguinte. Eu estavano banheiro da minha casa quando ele apertou o gatilho.Me joguei no chão. Elis ficou rigorosamente doida, e eu saípara acertar ele de qualquer jeito. A Elis se jogou na minhafrente e pediu para deixá-la resolver a parada. Tirou o re-vólver da minha mão e foi falar com o pai. Deu um tapa nacara dele e chamou o Rogério para pegá-lo�.

Peço licença neste instante do depoimento de RonaldoBôscoli para pôr a versão do episódio contada por dona Ercye Rogério. Segundo informaram, Elis telefonou para o apar-tamento da Joatinga contando que tinha levado uma surrade Ronaldo. Então, seu Romeu saiu feito louco com um

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revólver, dizendo que ia pegá-lo. Contaram ainda queRonaldo Bôscoli se escondeu no banheiro.

Nesta altura, Ronaldo perguntou a minha idade e o quemais gostaria de saber. Eu quis saber sobre as Olimpíadas doExército de 1972, quando Elis Regina cantou o Hino Nacio-nal comandando um grupo de artistas e me disse depois quetinha sido ameaçada pelos órgãos de segurança. Ronaldoconta:

�Quando ela viajou com Menescal, em 1969... OMenescal está vivo e pode confirmar � aliás, todo mundoestá vivo. Então ela foi viajar, supondo ingenuamente queestando na Holanda podia esculhambar o Brasil. Disse queo governo era formado por gorilas. Gorilas, saiu isso publi-cado em holandês. O Menescal me disse depois que quasetinha quebrado a canela dela debaixo da mesa. No dia se-guinte, a embaixada pegou o jornal e mandou para o Servi-ço Nacional de Informações (SNI). O Armando Nogueiraligou para mim e disse que queriam prender a Elis. Ele e umgeneral disseram na minha frente: �Elis foi salva rigorosa-mente pela ausência de comprometimentos no Brasil�. Fi-caram putos de a Elis ter chamado todo mundo de gorila.Ela desmentiu, se retratou.

�A Elis não segurava, não. Partia para cima de você degarfo e faca e depois se desmanchava. Quis fazer valer osdireitos dela e me massacrar. Realmente me massacrou. Fuiespoliado de todos os meus direitos. O processo da guardade João Marcelo foi levado para São Paulo, para que eu nãotivesse acesso e não pudesse me defender. Perdi rigorosa-mente tudo. Fui obrigado a dar três salários mínimos, quedepositei um tempo e depois parei, já que não podia maisver o João Marcelo�.

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Nossas peças começam a se encaixar nestanova personagem que botou véu e grinalda e amarrou umdos mais cobiçados galãs da época. Talvez Elis tenha se de-sencantado com a própria briga que se instalou dentro delana convivência com Ronaldo. Ela me contou certa vez que ocasamento acabou com a sua ingenuidade. Mas que inge-nuidade?, é questão de perguntar, se Elis Regina àquela al-tura do campeonato já parecia saber muito bem onde estavase metendo! Não posso acreditar que não fez o que quis aolongo da vida. E, mesmo que tenha sido induzida a certasatitudes, seu instinto consentia. Elis não era mais do queum fogo ardendo dentro e fora do palco. Ao vê-la cantan-do, não nos queimávamos. Ao chegar perto, era preciso amá-la e compreendê-la. Seu furacão incomodava e instigava aspessoas. Seu pingue-pongue de ódio e paixão enlouqueciaquem buscava nela alguma coerência.

A família Figueiredo � Abelardo e Laura, as filhas Mônicae Patrícia � acompanhou Elis desde essa época. AbelardoFigueiredo, dono da boate e casa de shows Beco e diretor doprograma Spot Light, da Tupi, foi o primeiro a conhecer Elis.Pouco tempo depois, ela já fazia parte da família. Laura conta:

CAPÍTULO VCAPÍTULO V

Comigo é simples, eu divido tudo:minhas roupas, meus amigos... Maso meu palco, esse não divido.

Elis Regina

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�Eu não gostava muito da Elis, mas quando ela come-çou a namorar o Ronaldo, que era meu amigo, as coisasmudaram. E ela muito tímida de estar namorando oRonaldo, o grande gatão da época, um garanhão do Rio deJaneiro. Ele vinha para minha casa e ela vinha junto. Masera incrível a relação. Os dois se odiavam, um falava mal dooutro. Era um negócio meio Virginia Woolf, só que maisengraçado. Era demais a violência dos dois.

�Foi aí que Elis começou a sair comigo, ficar minhaamiga. Era muito menina e estava sozinha demais. E já comaquela carga de maior cantora do Brasil. Acabei mais amigadela que do Ronaldo. Elis foi se mudando para a minha casa,fazíamos tudo juntas. Os dois me convidaram para ser ma-drinha de casamento. Nessa época eu achava que ela era di-fícil de se relacionar com as pessoas, mas não comigo. Vireiuma espécie de advogada de defesa dela. Ia para os jornais,chamava os jornalistas para explicar o temperamento dela,porque não queria que vissem a Elis como ela se mostrava.Queria que a conhecessem como era. Mas era tudo em vão,e Elis estragava tudo na hora das entrevistas. No casamento,acho que fiz a maior besteira da minha vida. Eu a convencide que deveria ter um casamento maravilhoso e chamar oDenner, que era uma pessoa deslumbrante, tinha a mesmacabeça que eu na época. Transformamos a Elis numa dondocae depois ela ficou puta com a gente. Também acho, hoje emdia, que não podia ter sido induzida a fazer um casamentocom tanta pompa, aquilo não tinha nada a ver com ela. Ti-nha a ver comigo. Nesse período, fomos a família de Elis �ela tinha um gênio terrível e um problema de educação, umaeducação diferente: era muito selvagem, sem freio�.

Nessa época, Elis escreveu uma carta a Laura Figueiredo:�Laura (anjo da guarda meu e de �muitos eu�):�Você sabe que é responsável pela metade de bom que

sou! Por isso te prometo, hoje, ser mais, muito mais do queeu sou ou pretendo. Muito obrigada, amo você. Adoro tudo

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o que você é. E qualquer dia pretendo olhá-la como um espe-lho. Você sabe de tudo. Dá tudo. Por isso, deverá receber sem-pre e sempre tudo. E quem disser o contrário será um grandefilho da puta. Com Mandrix e tudo te beijo. Tua Patrícia 2.

Elis.�

Roberto Menescal dirigia a gravadora PolyGram emmeados da década de 1980. É um dos mais suaves homensdo disco que conheço. Há dois tipos no ramo: os que vêmde baixo, geralmente do departamento de vendas, e sobempor seu marketing tupiniquim, e os que intelectualizam, cri-am estratégias entre o comércio e a arte. Menescal sabe ca-minhar nos dois mundos, embora mantenha a superiorida-de de ser também artista.

�Quando Elis começou o namoro com o Ronaldo, elemorava num apartamento de cobertura em Ipanema, pertode casa, e a gente sempre se encontrava. Da relação pessoalnasceu o lado profissional. Ela me convidou para fazer umgrupo � eu não estava mais querendo montar um grupo,mas ela reuniu um pessoal muito bom � e fizemos o show daboate Zum-Zum, do Ricardo Amaral. Veio depois a opor-tunidade de viajar para o Midem (Mercado Internacionaldo Disco e da Edição Musical). E a apresentação foi tão boaque um empresário nos chamou para excursionar, de lámesmo. Topamos, arrumamos tudo e saímos por todos aque-les países, uma loucura, cada dia em um lugar.

�A Elis estava ótima durante toda a temporada. Houvedias que fizemos dois shows � um em cada país. Fizemos pro-gramas de rádio e de televisão, um disco e um vídeo com ogaitista belga Toots Thielemans, até ganhamos o prêmioEurovisão com o vídeo, gravado na Suécia. Ela já estava ca-sada com o Ronaldo, mas ele não foi. Tinha medo de avião.Voltamos ao Brasil e viajamos em seguida para a Inglaterra,para gravar o LP Elis in London, com o maestro PeterKnight. O interessante é que o método deles lá é totalmente

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diferente do Brasil. Enquanto Elis gravava um disco aqui emum mês, lá gravou em um dia. Antes de viajarmos, fizemosum ensaio de base e mandamos para eles uma fita gravada.Aí o maestro escreveu tudo em cima. Quando chegamos lá,havia 46 músicos no estúdio, e a nossa base era de cincomúsicos. Matamos tudo numa manhã e numa tarde. A Eliscantava junto, porque lá não se podia fazer play-back, o sin-dicato não permitia. Ela matou a pau, os caras ficaramimpressionadíssimos.

�Depois fizemos uma apresentação na tevê e voltamospara o Brasil, para uma longa temporada do show Elis, Comoe Por Quê � no Teatro da Praia, no Rio, e no Maria DellaCosta, em São Paulo. Com o grupo, fizemos três discos.

Em 69, gravando em Londres com o maestro Peter Knight.

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Depois disso parei de tocar com ela. Fui chamado pelaPolyGram e também não estava mesmo a fim de continuar.O negócio dela com o Ronaldo degringolava. A gente ficavamuito perto, vendo aquelas brigas todas, e o astral não esta-va bom. Depois nos encontramos � eu como homem de suagravadora e ela como artista. Produzi aquele disco dela quetem Águas de março e Atrás da porta. Até aconteceu umahistória engraçada. O Francis Hime mandou uma série demúsicas para Elis escolher. Ouvimos a fita, porém nenhumatinha batido. No final da fita, ele falava para a Elis escolherqualquer uma e logo depois começava uma música que elecantava aos pedaços. É claro que a gente adorou essa. Quandoligamos, Francis nos disse que aquela música tinha mais deum ano, mas o Chico Buarque ainda não terminara a letra.Gravamos assim mesmo e, quando parava a letra, a Elis sócantarolava. Levei a gravação para o Chico e ele ficou louco:terminou a letra ali mesmo, na hora: Atrás da porta.

�Com Águas de março aconteceu outra história. Fui àcasa de Tom Jobim e ele estava escrevendo um livro, nãouma letra de música, e me disse que não estava pronta. Pa-recia um telex daqueles bem grandes. Para ele, aquilo era sóa introdução. Gravamos como estava. Foi um disco muitobonito, a primeira vez que Elis gravou Fagner e Sueli Costa.Acho que consegui trazer para Elis uma turma que ela nãoouviria normalmente. Fiz uma pesquisa de repertório comonunca realizara antes. Quando fomos ouvir, ficamos só osdois, em silêncio. Ela olhou para mim com os olhos cheiosde lágrimas e disse, sem platéia: �Eu sou foda para escolherrepertório�. Quer dizer, a partir daquele dia tirei meu nomedos discos e aprendi a lidar com um verdadeiro artista. Nãoera uma questão de mau-caratismo, não. Estávamos sozi-nhos, e percebi que naquele momento ela acreditava mesmoque tinha escolhido o repertório sozinha.

�Depois disso, brigamos na PolyGram. Acho que foi porcausa de alguma besteira, alguma coisa que ela falou comigo

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pelo telefone. Já tínhamos discutido muito sobre a gravado-ra e ela estava dizendo coisas muito fortes sobre o lugar ondeeu trabalhava, e ela também.

�Acho que o casamento foi uma grande modificação navida dela, até na carreira. Porque o Ronaldo entrou mesmona vida dela. No primeiro dia, foi logo no guarda-roupa,achando que Elis era cafona. E ela falava na frente de todomundo. Eu mesmo várias vezes fui embora, porque não énada agradável ficar presenciando briga de casal...

�Quando estávamos no Olympia, chegou uma carta doRonaldo e encontrei Elis chorando no camarim. Ela memostrou a carta e disse: �Olha esse filho da puta�. Li e nãoachei nada demais. Falei para ela: �Elis, não tem nada. Nãoestou entendendo desse jeito, não�. Ela vira e diz: �É mes-mo...�. Leu de novo e entrou no show na maior alegria:�Ronaldo, Ronaldo, eu quero voltar para o Brasil�. E era amesma carta...

�Lembra aqueles cachorrinhos de louça que se usava an-tigamente? Um era preto e o outro, branco. Você nuncaconseguia fazer com que os dois se acertassem. Eles viravamde um lado para o outro. Elis e Ronaldo eram assim. Umdia não agüentei. Eles tinham um cachorro bóxer chamadoClay. E o Ronaldo dizia: �Elis, faz o Clay cantar�. Elis tinhaum jeito lá de assoviar que o cachorro começava a latir uh,uh, como se estivesse cantando. E ela falava: �Não vou fazernada, não enche o saco�. E ele: �Pô, mas tudo que peço vocênão faz�. E ficaram assim, até que ele disse: �Tudo bem, podedeixar�. Aí ela pegou e começou a fazer o cachorro cantar. Abriga recomeçou. Quer dizer, papo de maluco. Era o tem-po inteiro e, de preferência, na frente de todo mundo. Elefalava para a Elis: �Você está uma gracinha, parece um bolo�.Elis era uma mulher bonita, embora a linguagem não fossede uma mulher bonita�.

Luiz Carlos Miele, o maior amigo de Ronaldo, tentaexplicar:

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�Comecei a fazer o papel de leão-de-chácara de repor-tagens para o casal. Um dia o pessoal da Claudia me ligou,dizendo que queria uma entrevista, mas não pretendiam irsozinhos porque sabiam que o pau podia comer. Aí eu ia eficava mediando. Guarda-costas de entrevista. E, mesmoassim, quebrava o pau. Nesse dia, quando os jornalistas che-garam, Elis estava bem. Fez pessoalmente o almoço, mos-trou o lugar de cada um na mesa. Então o Ronaldo disse:�Quer me passar o sal?�. Elis: �Por quê? A comida tá semsal?�. Foi aquele você-quer-me-encher-o-saco-e-puta-que-pariu. Os dois repórteres não levantavam os olhos do prato.E a coisa começando a engrossar. De repente o Ronaldo fala:�Você viu aquele filme que está passando no cinema tal?�. Ea Elis diz: �Qual é, vamos lá, vamos almoçar e depois vamoslá. Toma o sal�. Depois levantaram da mesa e foram fazer asfotos, no quarto, na cama do casal. Tipo veja-como-somos-felizes. Não há razões filosóficas que expliquem...�.

Sempre que se fala de André Midani entre especialistas emAndré Midani costuma-se dizer: ele é fogo. E, realmente, esselibanês de nascimento, uma mistura genética de judeu com ára-be, criado na França, é fogo. Pode-se discordar de seus méto-dos, mas não há quem não se impressione com a velocidade e ahabilidade de seu raciocínio. Midani dirigiu um cast de gran-des artistas na Companhia Brasileira de Discos � PolyGram, emespecial as produções do selo Philips. Depois, saltou para repre-sentar uma nova companhia, a WEA, onde o encontro em 1985:

�Quando voltei ao Brasil, em abril de 1968, para diri-gir a Philips, Elis Regina estava casada com meu maior ami-go brasileiro na época, o Ronaldo Bôscoli. Nós dois fomosmuito íntimos na minha primeira estada na Brasil (1957 a1962). Quando retornei, a dupla Elis e Jair tinha se separa-do, e vim comandar um elenco de 185 artistas. A maioria de-les não conseguia gravar porque os estúdios ficavam lotados enão havia vaga. Nessa época, Elis queria deixar a companhia.

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No meu primeiro fim de semana no Brasil, fui à casa deBôscoli e ali, como melhor amigo dele, eu disse a ela: �Aúnica coisa que temos em comum é o seu marido. Pelo amorde Deus, não saia agora�. Ela não saiu. Ficamos íntimos, ostrês. E posso dizer que já ali, em abril de 1968, não existiapaixão entre os dois. Havia uma guerra aberta. Uma guerraem que demonstravam terem os dois uma completa insegu-rança física um do outro. Elis não podia falar com rapazesnem ficar com meninas, porque o Ronaldo ficava louco. E elaremexia na carteira dele, procurando provas de infidelidade.A insegurança de Elis só tem igual na própria definição que elafez para mim um dia: �Comigo é simples: eu divido tudo, mi-nhas roupas, meus amigos, mas o meu palco, esse não divido�.Era, talvez, o único lugar onde ela se sentia dona da situação�.

Elis Regina via um pai em Marcos Lázaro. Ele coman-dou, à sua maneira, a primeira estrela que considerava �umSílvio Caldas de saias�, �um Roberto Carlos de saias�, umacantora para multidões, popular.

�Comigo ela não discutia, não sei se tinha medo de mim,pela diferença de idade. Comigo ela preferia conversar. Fa-zia um contrato, nunca reclamava, e tudo que mandava fa-zer ela fazia. Depois foi mudando um pouco, muito pelasinfluências que recebeu dos homens dos quais gostou. Teveseu Bôscoli, seu César Mariano e alguns outros. Mas Elissempre foi mulher de um homem só. Quando fomos à Fran-ça, o dono do Olympia ficou louco por ela � assinei com eleseu primeiro contrato e também o segundo. Elis seria logo aprimeira estrela, se não tivesse falado numa entrevista quenão gostava dos franceses. Bruno Cocquatrix não gostou ecriou problemas. Ela fez depois algumas turnês pela Europa� Suíça, Alemanha �, financiadas pela Philips. Foi comigoao México duas ou três vezes, a Portugal com Jair e o ZimboTrio, e deixou de fazer muitas viagens porque o marido nãogostava de andar de avião. Se tivesse feito uma carreira

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internacional, seria uma das cinco melhores cantoras domundo. Mas ela preferia ficar no Brasil.�

Nelson Motta entrou no jornalismo pela música. Eracompositor e freqüentava ainda menino as sessões da BossaNova, muitas delas realizadas em sua própria casa, já que amãe e o pai, Nelson Motta, conceituado advogado no Rio,gostavam de música e de reuniões. Nelsinho é uma figuradoce e corajosa. Vive com as antenas ligadas. Ele e Elis tive-ram uma história. Nelson Motta conta:

�Eu era amicíssimo do Ronaldo Bôscoli. Ele era amigo domeu tio, do meu pai e o conheci aos 15 anos. Quando apareceua Bossa Nova, fiquei encantado. O Ronaldo levava muita gentelá em casa, como a Nara, o Menescal... Ele era repórter, comiatodas as mulheres, era carioca e tinha um humor fantástico �ainda tem. Então me agreguei totalmente ao Ronaldo e ia todasas noites ao Beco. Ele me ensinava, eu ia à casa dele e sempre foicarinhoso comigo. Eu adorava as letras que ele fazia � suas letraseram padrão naquele tempo. Até meus 18 anos, Ronaldo Bôscoliera absoluto e meu pai morria de ciúme.

�Ronaldo falava muito mal da Elis, debochava dela. Nessetempo ele morava com a Mila Moreira, numa cobertura naVisconde de Pirajá. Sei que depois de várias peripécias disseque ia pegar a Elis e transformá-la. Foi aí que conheci maisela. Íamos sempre ao futebol no domingo, na torcida doFluminense � eu, o Miele, o Ronaldo, o Hugo Carvana.Quando o Ronaldo começou a namorar a Elis, naturalmentecheguei mais perto e, naturalmente, ela não gostava dosamigos do Ronaldo, e eles brigavam à beça. Era cada barra-co, cada bate-boca... A Elis começou mesmo a mudar, cor-tou o cabelo curtinho e parece que encontrou sua própriacara. Parece também que, naquele momento, se operou umamudança. Ela queria partir para um esquema de casar direi-to, ter uma casa � o que você vê que já era uma temeridade.Sei que fui padrinho de casamento do Ronaldo e meus pais

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foram padrinhos da Elis. Eu era casado com Helena Gastale, quando visitávamos o casal, nunca houve um bate-bocana nossa frente. Nessa época ela cantou O Cantador no fes-tival da Record e aí foi a nossa maior ligação. Era o maiortrunfo para mim e para o Dori Caymmi a Elis defender nossamúsica. Ela ganhou como melhor intérprete e, como tinhamuita política, a música ficou sem prêmio.

�Nesse tempo eu era produtor da Philips, com o AndréMidani, e fui convidado para produzir um disco da Elis. Foiem 1970, quando nasceram João Marcelo e minha filha Joana,com Mônica Silveira, com quem me casara pouco antes. Elis eRonaldo foram meus padrinhos de casamento. Ela cantou nareitoria com um quarteto de cordas regido pelo Luisinho Eça.Produzi dois LPs de Elis e um compacto (Elis em Pleno Ve-rão, 1970; Ela, 1971; e o compacto de Madalena) e nunca tiveo menor problema artístico com ela. Nunca. Acho que eraagressiva com quem pedia que ela fosse assim. E a época da

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Com Dori Caymmi no festival de 67: melhor intérprete.

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produção dos discos era difícil: censura, terror total, repres-são, tudo muito perigoso, um clima de desconfiança. Dividía-mos igualmente nesta parte de produção todos os erros e osacertos e Elis era de uma grande docilidade comigo. Pedi umamúsica para o Caetano, que estava em Londres, e ele mandouNão tenha medo. Mas gravamos errado, não percebemos oespírito, e ficou um arranjo pesado. Na época Elis era anta-gônica ao Caetano por influência do Ronaldo, que era contrao Tropicalismo. Podia ser até que ela gostasse. Mas depois quefoi exilado ela fez questão de gravar. Nesse ponto, acho queexerci alguma influência sobre ela na aproximação com osbaianos, com a guitarra, com o rock. Cinema Olímpia é umrockão, porque até então a música brasileira se dividia em MPBe MP do B. Os autênticos e os dissidentes.

�Eu já estava, a essa altura, completamente enlouquecidode paixão por Elis. Por causa da produção, ficávamos semprejuntos. Eu era um produtor full time e aconteceu o inevitá-vel, ao mesmo tempo que seu casamento com Ronaldo iamal. Fiquei absolutamente apaixonado por ela. Como oRonaldo permaneceu firme nas posições dele, acabei medesligando, já não tínhamos mais nada em comum. Eu gos-tava do Caetano e dos Beatles. Ele não. Foi uma situação.

�Daí me desquitei, saindo daquela situação dúbia, mas elanão. No tempo todo que a gente namorou nunca houve um bate-boca. Agora, eu era o namorado clandestino, diferente de umcasamento. Isso dá uma excitação e não há tempo para brigas. Agente não pensava em casamento. Era um paraíso absoluto, es-condido. Durou quase um ano. Sempre viajávamos juntos como Som Livre Exportação. Era um sonho muito bom. Até que umdia, de repente, Elis me ligou acabando com tudo, desmentindotudo e descombinando nossa viagem a Londres, que era o quenos faltava na época para a modernização. Abruptamente, veio otelefonema. Fiquei catatônico, em estado de choque. Tentei fa-lar com ela de todos os jeitos, mandar recados, bilhetes, o Rogé-rio e a dona Ercy me ajudavam. Fui para Londres sozinho�.

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No começo do sucesso, Elis dizia que nãomisturava a �pessoa� com a �cantora�. Ao descobrir que eraimpossível não misturar as duas, parou de afirmar isso. E aex-pacata garotinha de Porto Alegre virou Pimentinha noRio de Janeiro e dona de seu nariz. Ao mesmo tempo emque pregava a independência, mergulhava em sofridos mo-mentos de angústia, em profunda solidão. Artistas caminhamna multidão à procura de seus pares. Há muito pouco paracompartilhar da intimidade com as pessoas comuns. Hámuito para se compartilhar em público.

Talvez Elis não imaginasse quem seria o mano Rogérioquando crescesse. Na infância, costumava protegê-lo, mascerta vez o protegido quase arrebentou a boca da irmã comum soco. Nesse dia, Rogério queria jogar bola e Elis nãopodia ir sozinha para a rádio. O impasse foi resolvido naporrada: ela ficou de boca inchada e não cantou. Rogério,de castigo, não pôde jogar.

Em 1965, Rogério Carvalho Costa tinha 14 para 15 anos.Queria jogar bola e estudava num colégio de gente rica emPorto Alegre, graças a Elis, que conseguiu uma bolsa paraque ele pudesse tocar na banda da escola. Mas, basicamente,

CAPÍTULO VICAPÍTULO VIElis enfiou um papel no meu bolso edisse que era para eu ler no banheiro...

César Camargo Mariano

A sua bolsa era um fenômeno à parte.Tinha de tudo: de alicate de unha a es-tojo escolar com lápis, canetas. Tinhamaquiagem, espelhos e caderninhos ecaderninhos, um para cada coisa.

Mônica Figueiredo

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Rogério queria jogar bola. Foi arrastado pelos pais daquelavidinha boa de Porto Alegre, da primeira namorada, paracair no circo de horrores que lhe pareceu o Rio de Janeiro.Lá, passava dias e dias na frente da televisão e começava a veras primeiras brigas entre Elis e os pais. Rogério voltou a PortoAlegre e só morou de novo no Rio atendendo a apelo dairmã, na época em separação com Bôscoli.

A bem da verdade, Rogério não sabia fazer nada. Nãoconseguia estudar direito nessas andanças entre Rio e PortoAlegre. Foi trabalhar na livraria de Jacques e Lidia Libion,franceses amigos de Bôscoli. Elis chamou então Rogério paracuidar do som no show É Elis, no Teatro da Praia, o maisconturbado de sua carreira. Rogério percebeu que o conviteda irmã tinha segundas intenções. Ela, na verdade, queria oirmão por perto porque estava se separando de RonaldoBôscoli e, aparentemente, tinha medo dele. De qualquermaneira, o trabalho foi definitivo para Rogério, que come-çava a ganhar uma profissão. Ele conta:

�Eu queria ser jogador de futebol ou músico. E, de re-pente, não era nem uma coisa nem outra. Ser técnico desom era uma maneira de estar entre os músicos e perto deElis�.

Rogério recorda o primeiro trabalho:�Foi um fracasso de público. Eles inventaram um cená-

rio mirabolante, que acabou não funcionando. E custou umafábula. No final do show, Elis sentava na escada do palco ecantava Boa Noite, Amor, com play-back. Um dia faltou luzbem na hora e Elis, sem microfone e sem orquestra, cantouiluminada pelo lanterninha�.

Essas são as boas recordações. Mas o ambiente familiarestava carregado. Tanto que Elis rompeu com Rogério, comdona Ercy e, por conseqüência, com Rosângela. Com a famí-lia, enfim. Não falava com ninguém. Nessa época, ela já tinhacomprado outro apartamento na Joatinga, ao lado do dela. Afamília morava em um, ela no outro. Rogério lembra:

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�Ficou ruço, porque meu pai tinha ido embora paraPorto Alegre. Dependíamos financeiramente de Elis e elanem falava com a gente�.

Dona Ercy conta que Elis a proibiu de usar o telefonede seu apartamento para falar com Romeu em Porto Alegre.Lembra ainda que não tinha coragem de pedir dinheiro ede que chegou a passar fome.

Rogério resolveu, então, que era preciso tomar uma ati-tude. Mandou a mãe e a irmã postiça para a capital gaúcha efoi à luta. Conseguiu emprego como técnico de som doQuinteto Violado, que se preparava para uma excursão peloNorte�Nordeste. Rogério deixou o apartamento de Elis va-zio e foi morar com os integrantes do conjunto.

Sumiu da vida da irmã durante seis meses. Seis longosmeses. O fatídico show É Elis foi um fracasso de público erepresentou o enterro definitivo da dupla Miele e Bôscolina carreira dela.

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Elis e Miele nos bastidores e no palco do showdirigido pela dupla Miele e Bôscoli no Teatro da Praia, em 69.

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O casamento estava acabado. O caso com Nelson Mottatambém. Foi assim que Elis Regina começou a se interessar pelopianista que a acompanhava todas as noites no show É Elis.

César Camargo Mariano era um homem completamentediferente de seu amigo Ronaldo Bôscoli. Introspectivo,caladão, do tipo que parece mais tímido do que realmenteé. O tipo de pessoa que você olha e pensa: �Jamais fará mala uma mosca�. Sensibilidade pura quando toca com os de-dos macios no piano.

Conversei a primeira vez com César quando já estavaíntima de Elis. �Intimidade� é uma palavra perigosa em setratando dela. Você passava pela primeira peneira de sua cu-riosidade e, se despertasse nela qualquer emoção, podia se-guir em frente. Ela me achava uma menina ambiciosa, comgarra e vontade de vencer na vida. Isso fez com que nos en-tendêssemos de cara. Com César foi diferente. Ele falavapouco, mas a gente se olhava com respeito, de longe. Foiuma das últimas pessoas com quem falei antes de escrevereste livro, dez anos depois. César parecia fugir de mim, nãoatendia aos telefonemas e não dava sinal de vida. Quandonos encontramos, num mês de julho, me abraçou e disse:�Estava sem tempo�. Eu sabia que tinha muito mais coisa aí,mas deixei para lá. Como dizia nossa mutante Elis, o fato devocê ter conhecido uma pessoa um dia não significa que elae você sejam as mesmas anos depois. Tudo está sujeito a chuvase trovoadas. Nove anos de um casamento e de carreira tãocompartilhados como o desses dois artistas decerto deixammarcas que talvez hoje César Mariano queira esquecer. César,já casado novamente, estava criando os três filhos de Elis:Pedro (10 anos) e Maria Rita (8), seus filhos, e João Marcelo(15), filho de Bôscoli. César Mariano havia muito retomarasua carreira individual. Recordou com paixão os tempos vi-vidos com Elis:

�Em 1971, estava em Porto Alegre quando recebi umrecado: a Elis está a fim de você. Mas �estar a fim� podia

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significar muitas coisas, porque eu curtia um amor platôni-co pela Elis desde os tempos da Record. Só que o �estava afim� significava que Ronaldo Bôscoli queria falar comigo,porque precisava de músicos para montar um show de Elis.Montamos o grupo e tocávamos na boate Monsieur Pujol.Elis, de vez em quando, ia lá dar uma canja e ensaiar com agente. Achávamos que ela estava ainda confusa com o pro-cesso de separação do Ronaldo e, quando estreou o show,em março de 1972, estava ficando legal, solta. Eu passava oshow inteiro olhando para ela e meu grande barato era che-gar de noite para encontrá-la. Eu só encontrava Elis no pal-co, até que um dia recebi um recado. Elis me chamava nocamarim. Me chamou para uma sessão de cinema em suacasa, no dia seguinte, segunda-feira. �Vou passar Morangossilvestres, do Bergman, você não quer ir?�. Fui sozinho � euera casado na época. Quando cheguei à casa da Niemeyertinha mais dois casais e uma moça. Sentei num canto,timidíssimo, não conhecia ninguém. Quando acabou o pri-meiro rolo, acenderam as luzes e eu ali no canto, tomandoCoca-Cola. Apagou a luz de novo, Elis enfiou um papel nomeu bolso e me disse que era para eu ler no banheiro. Le-vantei, entrei no banheiro e abri o bilhete. �Gosto de vocêpra caralho. Quero você pra caralho. Caguei pro mundo.�Acabei de ler o bilhete e a única vontade que tinha era voardali. Saí pela janela do banheiro, pulei 3 metros de altura,peguei o carro e sumi. Fui para o Recreio dos Bandeirantese fiquei lá até o dia seguinte. Na terça-feira, cheguei em casae contei para minha mulher. Só reapareci na quarta-feira,quando estava marcado o início das gravações do disco da-quele ano. Às duas horas eu cheguei e senti logo o clima. AElis andava de um lado para o outro, completamente vesga,não sabia se ria ou ficava brava. Eu estava desaparecido des-de segunda-feira. Chamei o Menescal de lado e disse: �Dis-pense os músicos que vou gravar com ela Atrás da porta, sóvoz e piano�. Às seis horas, quando terminou a gravação, ela

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me ofereceu carona e perguntou: �Você vai passar em casaou vai para o teatro direto?�. Eu disse: �Vou passar em casapara pegar minha escova de dentes�. Depois do show, fomosdireto para a casa dela na Niemeyer�.

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Um novo parceiro na vida e na profissão:o pianista e arranjador César Camargo Mariano.

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Toca o telefone num quarto de hotel do Recife. Rogério,gaúcho com cara de índio, cabelo preto escorrido, atende:

�Géio, você se lembra daquela excursão feito o filme doJoe Cocker, que você queria fazer?�.

Rogério largou o Quinteto Violado na hora e acompa-nhou Elis Regina e o grupo formado por César Mariano,Paulinho Braga, Luisão, Alemão, Chiquinho Batera. Foram39 shows em 45 dias, um show em cada cidade. Era o pri-meiro circuito universitário de Elis, de ônibus pelo interiorde São Paulo, do Paraná e de Santa Catarina. Os shows eramorganizados pelos centros acadêmicos das faculdades.

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Com Pinky Wainer no ônibusdo Circuito Universitário,agosto de 73.

Nas cidades do interior poronde passou o circuito,

dando entrevista aosestudantes.

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Neste circuito universitário, Rogério Costa entrou de-finitivamente para o circuito profissional de Elis, com a gran-de vantagem de já não ser um garoto irresponsável aos olhosda irmã:

�Acho que ela pensou que eu não iria me virar, que iamergulhar. E fui à luta. Aí ganhei a cabeça dela. Era isso queela queria, que eu mexesse a bunda um pouco. Ela se achavamuito importante porque as pessoas dependiam dela�.

Quando dona Ercy diz que tinha perdido uma filha,Rogério não contesta.

�É bem possível que tenha perdido.�Mas ele, ao contrário, nesse momento ganhava uma

irmã.A residência de Elis, a essa altura, era o apartamento da

Joatinga. O romance com César Mariano já tinha viradocasamento. Elis permitiu-se interromper o ciclo das brigasfrontais e viveu um pouco de paz. Era um momento de amore um encontro musical que mudaria mais uma vez os rumosda carreira dela e de César. A sensibilidade musical de CésarMariano criaria para ela arranjos belíssimos e abriria a pos-sibilidade de uma harmonia perfeita e profunda entre a casae o trabalho.

Durante dois anos � 1972 a 1974 � o casal Walter Negrão eOrfila conviveu com Elis, César e João Marcelo no mesmo con-domínio da Joatinga. Negrão, jornalista, já conhecia Elis porprofissão. Orfila resistiu o que pôde a conhecê-la. Ela conta:

�Eu tinha um pouco de medo do temperamento dela,preferia me preservar. Acredito que nossa aproximação foiespiritual. Sou espírita e Elis começou a conversar bastantecomigo sobre espiritismo. Ela era muito curiosa, queria sa-ber, e chegou a participar das reuniões da Sociedade Brasi-leira dos Espíritas, com sede em Curitiba. Elis passou de-pois a psicografar mensagens�.

Orfila venceu a resistência inicial e passou a participarmais ativamente da vida de Elis. Nessa época, envolveu-se

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tanto que foi nomeada pelo juiz da Vara de Família como apessoa que deveria entregar e receber o pequeno João Mar-celo ao pai, Bôscoli, nas visitas. Elis e Bôscoli não queriamnem se encontrar nessa época. Na verdade, muito mais Elisdo que ele.

�Quantas vezes passei situações incríveis porque, quin-ze minutos antes de o Bôscoli chegar, Elis sumia com JoãoMarcelo, desaparecia, inventava piqueniques, coisas assim.�

Orfila, como Elis, mergulhou de cabeça nessa relação.�Eu sabia em que terreno estava pisando. E a Elis era

uma pessoa muito possessiva, mas acho que eu fui uma daspessoas a quem ela de fato respeitou. Elis se calava para meouvir. Dona Ercy ficou meio com ciúme de mim porquehouve uma certa transferência. Eu era quase uma mãe, em-bora nossa diferença de idade não levasse a isso.�

Essa transferência de Elis, ou essa vontade de criar sem-pre laços mais fortes, laços que não pudessem se romper,nem nas mais violentas horas de tempestade, fazia com queela envolvesse os amigos com sua brilhante capacidade defascinar. Walter Negrão observou isso quando Elis quis dar aeles o status de �pais� e quando tentava dar títulos a amigosque não podiam ser apenas amigos. Em troca dessa intimi-dade, oferecia-se a si mesma em doses generosas. Era fan-tástico conviver com o seu talento, como terrível presenciarseus acessos de ira. Mas, quando se encontrava bem, felizesos que estavam ao seu lado. Elis promovia festas, encontrose delírios. Orfila:

�Foi uma convivência muito rica com os dois, ela e César.Elis era muito agitada, não uma coisa normal. Era muitoacelerada, não tinha o meu ritmo, que também faço váriascoisas ao mesmo tempo, mas sou mais acomodada diante davida. Ela tinha uma ânsia, uma sede de viver tudo com in-tensidade assustadora. Todas as vezes em que nos afastamosfoi para que eu não ficasse sufocada nem fosse confundidacom aquele séquito que a cercava�.

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Quando terminou a excursão pelo Sul do Brasil, Rogé-rio ficou desempregado mais uma vez. Ele não morava emlugar nenhum e acabou se abrigando na casa de Marli, secre-tária de Elis na época, ex-mulher de Alberto Rushell e FlávioRangel. Tempos depois, ainda sem emprego, Rogério foimorar num sítio, arrumado por uma amiga. Nesse sítio, quefica em São Bernardo do Campo, Elis e César Mariano sehospedaram quando começaram a procurar uma casa em SãoPaulo, já decididos a deixar o Rio. Foi quando, através doQuinteto Violado, Rogério soube que Roberto de Oliveiratinha uma vaga em sua empresa de produções, a Clack. Robertoera um jovem produtor, criador dos circuitos universitários ecom quem artistas como Chico Buarque tinham trabalhado.A Clack era uma produtora de jingles, tinha um pequeno es-túdio e arrendava da TV Bandeirantes o Teatro Bandeirantesda Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Rogério conseguiu oemprego. E foi de lá que assistiu e contribuiu para uma gran-de virada na carreira de Elis. Ano: 1973. Rogério:

�A Clack comprou do Marcos Lázaro um show de ElisRegina. Esse show deveria ser feito na casa de um membroda família Lutfalla. Tratava-se de um apartamento na RuaMello Alves e a festa era em homenagem ao fabricante derelógios Piaget. Logo na entrada a coisa ficou esquisita. Adona da casa chamou a Elis para entrar pela porta da frentee mandou os músicos entrar pela cozinha. Elis não gostou edisse à mulher que preferia entrar com os colegas. E foi isso.Ela ficou o tempo todo na cozinha, conversando com asempregadas, fez o show e saiu pela porta dos fundos. Depoisdo show, contei a Elis como o negócio tinha sido feito: Mar-cos Lázaro vendeu o show por uma quantia, e nós revende-mos para a dona da casa por outra. Quer dizer, por que eladeveria ganhar menos e os empresários mais?�.

Elis e Marcos Lázaro, fim de um caso que durou dezanos. Lázaro recebeu uma carta dela rompendo o contrato.Ele conta:

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�Elis era a minha artista mais contratada, praticamente nãotinha descanso, todo fim de semana fazia show. E ela chegou aum momento em que queria ser uma artista de elite. Foi omomento em que nos separamos. Ela não queria mais fazershows no Círculo Militar, no Paulistano. Queria trabalhar paraestudantes, fazer circuitos universitários. Eu achava que isso es-tava errado. Elis, quando morreu, teve o carinho do povo, quegostava dela, queria vê-la e não conseguia. Ela não ia cantarpara eles. Para mim, Elis era a artista de prestígio mais popularno Brasil. Ela não queria isso, queria outra coisa. Começou anão querer fazer certos shows � estava muito influenciada pelomarido � e um dia tomou a decisão. Esperou que eu viajasse eme mandou uma carta. Não teria conseguido falar isso comigocara a cara. Ela me criticou muito. Na revista Veja, disse quenão fez o show do 1º de Maio porque não ia aumentar o caviarde seu Marcos Lázaro. Ela também estava com alguma mágoacomigo. Me disseram que, no Falso Brilhante, um dos perso-nagens que abraçava ela, o boneco, era eu, representado. Umhomem que apertava ela, deixava ela presa�.

Roberto de Oliveira passa a ser o empresário de Elis.Foi uma mudança brusca. Criou para ela uma nova imagem,mais inatingível, mais longe dos mexericos da imprensa so-bre sua vida particular, mais comedida nas declarações sobreterceiros, mais fina e culta, mais preocupada com a políticado Brasil, a política da música, a política da vida. Robertotinha 26 anos e não queria ser empresário. Mas aceitou:

�A Elis vinha de um esquema comercial com MarcosLázaro, como ele faz com outros cantores. Mas ela era mui-to inteligente, embora não tivesse muita cultura. Os seuscontemporâneos começavam a exigir outro tipo de trata-mento em esquemas empresariais, ela sentiu isso. Elis eraum pouco discriminada pelos outros artistas. Bethânia ti-nha um status por si só, Gal porque o Caetano Veloso e ogrupo baiano passavam para ela. Além disso, Elis tinha sidocasada com Bôscoli, que a levou para um mundo global,

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apolítico e reacionário. De repente, os cantores e os com-positores da geração dela estavam em franca oposição à situ-ação política na época. Elis tinha cantado nas Olimpíadasdo Exército. E ela sabia que o seu talento era maior do que omundo em que estava vivendo. Encontrei Elis nesse momen-to, quando estava tomando consciência disso. Eu só tinhavisto Elis uma vez naquela Phono-73, quando cortaram omicrofone do Chico Buarque. Eu estava com ele no carroquando a Elis encostou, chorando e dizendo: �Como é quefizeram isso com você?�. Era uma coisa meio circense, meioteatral e, ao mesmo tempo, sincera, solidária, com o Chico.

�Tempos depois ela me convidou para ser seu empresá-rio. Disse que não queria ser tratada como um saco de bata-tas pelo Marcos Lázaro, reclamou muito dos shows do DiMônaco e do Círculo Militar, quando jogou o microfonena cara de um bêbado na platéia. No dia seguinte já estavatudo acertado: tínhamos uma disputa processual com oLázaro, que foi resolvida.

�Ela tinha talento, sucesso e não tinha prestígio. Pen-sei: ela precisa ter os três. Comecei a fazer a cabeça dela,porque achava que ela falava demais, falava muita coisa e secontradizia muito. Elis se envolvia demais com quem estavapróximo e no dia seguinte essa pessoa ficava fora e ela mu-dava de opinião. Não sei se ela tinha um distúrbio neuroló-gico ou tinha pique, mas me disse que sua cabeça girava muitomais depressa do que a dos outros. E girava mesmo.

�Aconselhei a ela que cantasse mais e falasse menos. Atéfiz uma coisa ridícula numa de suas brigas com o César. Aimprensa telefonando e eu redigi uma nota dizendo queaquilo era um problema de casal, que ninguém tinha de semeter. Depois fiquei com vergonha, mas era uma maneirade tentar cuidar da privacidade dela. A primeira parte dotrabalho foi criar um bom relacionamento com a imprensade alto nível � o primeiro resultado foi uma entrevista naspáginas amarelas da revista Veja�.

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O jornalista Sílvio Lancelotti iniciou nesse dia umaamizade com Elis que duraria anos. Sílvio lembra:

�Esse encontro foi muito engraçado, pois a Elis parecianão querer me dar a entrevista. Estava muito desconfiada.Fui à casa dela, na Rua Califórnia, e ficamos umas três horasconversando, até que eu pudesse entrar no assunto da en-trevista. E aconteceu um fato muito engraçado: ela aindaestava arrumando as coisas na casa, pois tinha acabado de semudar. E enfrentava um problema com os tapetes, já queMarcos Lázaro devia a ela 30 mil cruzeiros (equivalentes hojea 11.500 dólares), ficou de pagar os tapetes e não pagou�.

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O encontro Elis�Tom foi para comemorar osdez anos dela na gravadora Philips. Era seu 14o LP.

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Na entrevista, publicada em maio de 1974, Elis falavade seu encontro com Tom Jobim, na comemoração de seusdez anos de Philips. Os dois gravaram um disco juntos, emLos Angeles. Para Elis, era um passo definitivo. O encontrocom o grande criador musical da Bossa Nova e da música deraízes cultas. Um grande artista a quem ela tinha de tirar ochapéu. E eram poucos a quem Elis tinha de tirar o chapéu.Roberto Menescal, na época diretor artístico da Phonogram,fala sobre o disco de Elis e Tom:

�Eu ligava todo dia para saber como é que o Aloysio deOliveira estava se virando com os dois. Ele dizia todo dia: �Émeio difícil, mas tudo bem�. Aí falei com a Elis ao telefone eela disse: �Está uma merda, não tem nada bom, o Tom é umbabaca, um chato, reage contra os aparelhos eletrônicos, diz

Abr

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Los Angeles, fevereiro, 74:gravação de um LP histórico:

Elis e Tom.

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que vão desafinando e afinando não sei o quê, fazendo tipo,e a gravação está babaca, parecendo Bossa Nova�. Perguntei:�Mas, Elis, esse tempo todo não saiu nada?�. �É�, ela disse,�tem uma musiquinha boa�. Aí começou a se animar na con-versa, a se animar e no fim do papo o disco estava ótimo,maravilhoso. �Estou louca para chegar ao Brasil e te mos-trar. Todas as faixas estão lindas�.�

O empresário Roberto de Oliveira seguiu para LosAngeles dias depois:

�A Elis estava meio esquisita. Acho que viu um pouco oRonaldo Bôscoli em Tom Jobim. Ela me ligou dizendo queestava de malas prontas para voltar. Fui correndo para lá.Não sei, na minha presença ela parecia se sentir mais segura.Alguém tinha me dado a idéia de registrar aquele encontroem filme e fiquei fazendo um especial para a TV Bandeiran-tes. Elis dizia que o Tom era velho, não velho, mas que elatinha a preocupação de ser moderna e achava que ser mo-derno não era o Tom Jobim. Moderno era o piano elétricodo César, e o Tom não queria o piano elétrico do César,que acabou entrando. O disco era um revival dos anos 50.Naquela época eu achava que o disco deveria ser mais aber-to, queria que ela gravasse em inglês, pretendia transformarElis numa cantora internacional. E percebi que ali, para fa-zer sucesso, era preciso fazer um circuito universitário, fa-zer cinqüenta, 100 shows e passar seis meses por ano mo-rando nos Estados Unidos. Elis não gostou nada da idéia efiquei cabreiro. Eu achava que ela devia entrar na faixa daDionne Warwick, enfrentar o esquema de consumo mesmo,entrar na briga. Elis não gostava, achava que tinha que serdo Brasil, brasileira, aquelas histórias. Ficamos um mês gra-vando o disco e o especial, e Elis embarcou de volta para oBrasil no dia de seu aniversário: 17 de março. 17 de marçode 1974, 29 anos. Fiquei lá e, quando voltei, tudo estavadiferente. Elis vivia uma fase feliz com César Mariano e oepisódio com Tom virou muito a cabeça dela. Acho que vol-

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tou dos Estados Unidos com mais moral e seu público tam-bém mudou. Elis fez então seu primeiro show de teatro nes-ta fase, no Maria Della Costa. Era um show de bom gosto.Não tinha cenário nenhum, só um fundo neutro. Era umconcerto. Antes disso, tínhamos colocado no ar o especialda Bandeirantes e fizemos um show de um dia no TeatroBandeirantes, com Tom, ela e orquestra, e cobramos carís-simo, um ingresso de 200 cruzeiros, quando o de show es-tava custando 30. Ela fez também uma apresentação na Glo-bo, que eu não queria. Mas pedi um absurdo de dinheiropara o Boni e ele pagou. Encerrada a fase do Maria DellaCosta, começamos um circuito universitário.

A versão de César Camargo Mariano para o encontroElis e Tom:

�Chegamos a Los Angeles às oito da manhã e, quandodescemos do avião, lá estava o Tom Jobim, com uma florzi-nha na mão para Elis. Fomos direto para a casa dele e come-çamos a conversar. De repente, ele vira e pergunta ao Aloysio:�Quem vai fazer os arranjos?�. Já deu aquele branco. QuandoAloysio respondeu, �O César�, Tom ficou louco. �Não�, eledisse. E começou a ligar para o Klaus Ogerman, para não seiquem, e nós olhando. A Elis ficou muda, bebendo uísque.Para sair do impasse, sentei ao piano e começamos a prepararo repertório. Aí o Tom já não ligou para mais ninguém efomos para o estúdio. Ele não queria piano elétrico, uma sé-rie de coisas. Quando fui fazer os arranjos, a Elis levou o JoãoMarcelo para a Disneylândia, mas o Tom ficou. Quando sen-tei ao piano, o telefone tocou: �César, como é, já fez algumacoisa?�. �Não, Tom, estou começando.� E foi assim até queterminei. Ele não queria ir lá fazer comigo, mas ficava telefo-nando. Na hora que fui mixar o disco aconteceu a mesmacoisa. Ele telefonava de cinco em cinco minutos. Mas, quan-do terminou o trabalho, o Tom virou para a gente e disse: �Oproblema é que vocês estão acostumados a tomar banho dechuveiro e eu, de banheira. Me desculpem�.�

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O circuito universitário de Roberto de Oliveira mexeucom a cabeça de Elis, que decidiu de vez sua mudança paraSão Paulo. Sem casa, Elis, César e João Marcelo foram hós-pedes do casal Abelardo e Laura Figueiredo.

�Elis me ligou e disse: �Laurinha, vou ficar aí, estou comum problema, vou me hospedar em sua casa�. Eu retruquei:�Elis, só uma semana�. E ela: �Tá, Laura, no máximo quinzedias�.�

Elis, César e João Marcelo ficaram três meses. Lauraconta:

�Era fatal. Eu trabalhava e, quando voltava, de noite,ela já tinha armado o esquema, o circo todo dela. �Essa em-pregada não pode ficar, aquela pessoa não pode mais viraqui!�. Tomou conta da casa. Até que um dia ela saiu brigadacomigo. Foi por causa de uma coisa que eu disse lá naPolyGram e contaram para ela. Eu estava trabalhando com oMichel Legrand num dia de muitos problemas e falei: �MeuDeus, ídolo só no palco mesmo!�. Ela achou que era comela, se ofendeu e foi embora�.

Essa foi a segunda vez que Elis se hospedou na casa dosFigueiredo. E com dois maridos diferentes. As duas filhasdo casal, Mônica e Patrícia, tiveram, ao longo de suas vidas,contatos profundos com Elis. Com Mônica, a mais velha,Elis costumava sair às compras e mostrar sua intimidade comodona de casa e mulher. Com Patrícia, queria exercer o papelde mãe e, a certa altura, tentou salvá-la de se transformarnuma dondoca. Quando Laura foi morar em Paris com asfilhas, Elis escreveu duas cartas a Patrícia, que na época ti-nha 15 anos:

�São Paulo, 3 de setembro de 1974.Alô, alô, dona Patrícia.Mil beijos e abraços.Recebi a sua carta com um certo atraso. Estávamos em

excursão, Sul do Brasil. Mais um circuito. Que começou na

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minha santa terrinha. Aliás, muito bonita. Já tem até túnel.Saca. Gente fina é outra coisa.

Como é? Paris é uma festa? Bonito tudo, não? Já deupra sair da transa? Me lembro que quando fui a Paris pelaprimeira vez foi um tal de andar e andar que não houve sa-pato que resistisse. Se já não houve, daqui a pouco vão co-meçar as liquidações. Panos mil. Um baratão.

Diz à Mônica que eu tenho uma amiga que está estudandoviolão com o Jean. Ela disse que ele é uma pessoa maravilhosa.

São Paulo continua aquela graça. Cada dia me apaixo-no mais pela cidade. Eta! Aqui tá bom. A minha casa acaboude ganhar cortinas de presente. Chique. Parece menina emvéspera de baile de debutantes...

Diz à Laura que eu vou fazer uma consulta com ummédico amigo meu, pra ver esse negócio do braço dela. Quenós esperamos que ela fique legal. Vou ver um remédio pragastrite, também. Esse médico é uma barra. Já fez até cegover. Glória!

Estamos trabalhando feito uns doidos. João desenvol-vendo tudo que tem direito. Já cresceu quatro dedos desdeque viemos pra cá. Incrível.

No mais, poucas histórias. Tenho trabalhado e me di-vertido muito. Só. Além do mais, se alguém tem coisas acontar deve ser você. Casa nova, vida nova, mundo novo.Manda lenha.

Dá um beijão na Mônica e um abraço enorme na suamãe. Diga que nós esperamos que ela melhore. E que apro-veite sua vida nova.

Vê se não deixa passar um segundo do que você vai ver eviver. Fique atenta. Qualquer descuido pode ser fatal. Apro-veite essa chance. Você ganhou ouro em pó de presente. Façajóias com ele. Não pense muito em robes, chaussures ecoiffeurs. A vida não é isso. Muito menos Paris. Não sejaprovinciana. Aja como uma mulher desenvolvida, que é oque não há por aqui. Meta uma calça comprida, uma bota,

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caderno e lápis e equipe-se para a vida. Isso, eu te garanto,não sairá dos salões e das maisons Dior. Até eles, que inven-taram essas coisas, já sacaram que isso não está com nada.Que é uma mentira e coisa de minoria ridícula, que está emfranco processo de desaparecimento, felizmente, que nãotem os pés no chão e que na hora do tombo é que mais vai semachucar, porque trepou mais alto que o coqueiro.

Não sei se você vai gostar ou achar uma merda tudo issoque eu te disse. Mas saiu e agora já tá...

Um beijo e saudades de todo mundo aqui de casa. Ca-rinhos.

Elis.Escrevi à máquina porque minha letra continua uma

gracinha. Quis facilitar...�

�São Paulo, 9/10/74.Patrícia,Acabei de receber sua carta e respondo logo, antes que

apareça uma viagem qualquer. Que agora as coisas andamassim. O que tiver que ser feito que o seja logo, senão não sesabe mais quando vai fazer.

Estamos trabalhando feito uns mouros. Assim não vaidar certo. Te esconjuro!

Temos, independente disso, tido tempo para um cine-minha, um teatrinho e coisas do gênero. Mas, cada dia mais,nos entocamos e vivemos nossa vida, nós quatro. Continuonão querendo conhecer gente que eu não conheço.

Acabamos de gravar um disco que está uma barra muitopesada. Desde a capa até a mixagem. Sem oba-oba, sem fes-ta e coisas que tais. Disco pra macho! Pô! Sem sacanagem, tálegal. Arrisco mesmo a dizer que foi a melhor coisa que nósjá fizemos até hoje. Disparado.

João já cresceu mais. E está cada dia mais louco. Graças aDeus. Que eu não tenho saco pra filho organizado e careta.

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Já vi a Maria Laura. Ela está lindinha no tape. Mas mui-to bonita mesmo. Eu reconheci logo que vi.

Esta semana fizemos o concerto ao vivo com o Tom. Gostei.E parece que as pessoas gostaram também. Ficamos felizes para...

Li algumas coisas sobre o trabalho do teu pai. Mas mui-to pouco. E não o tenho visto. Assim, não posso te mandarmuitas notícias a respeito do Velho. Desculpe, Electra!

No mais, nossa vida continua incrivelmente legal. Dedar até medo. Que não estou muito acostumada a bons tra-tos, você sabe. E a única novidade é que César tirou o bigo-de. Um barato. Tá a cara do pai dele, que é um velho muitobonito, en passant. Afinal, caiu o último reduto armadocontra a timidez. Um simples e singelo bigode. O moço estáimpossível. Bonito!

Lamento, mas nossa vida está tão ridiculamente calma,tranqüila e feliz que há pouco a ser contado. Quem sabe dapróxima vez há outras novidades?

Dê beijos em dona Mônica e dona Laura.E diga à Norma que Cida casou e que não está mais

trabalhando. Agora ela tem um senhor que a ajuda. Tipofina. Um luxo!

Procê, mil beijos e saudades. E escreva sempre, que seráuma honra tê-la em nosso programa. Pena que a televisão,digo, a carta, não seja a cores.

Todo carinho e mil beijos do pessoal daqui do BrooklinNovo. Mais saudades e mais carinho.

Elis�

Para a jornalista Mônica Figueiredo, as recordações deElis têm um sabor especial. Mônica conviveu com o lado�tricô� de Elis, quer dizer, esteve com ela em situações mui-to íntimas. Como o fato de dividirem o próprio banheiro.Elis buscava sua companhia para programas que não faziasozinha. Exemplo: sair de manhã, ir para o Guarujá e voltar

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no fim do dia. Com Mônica, também saía para procurarcoisas que queria comprar � das miudezas à própria casa.Mônica fala:

�Me lembro de uma bandeja de prata enorme, dessasque a gente ganha em casamento, na qual Elis guardava a suamaquiagem. Colocava tudo direitinho e arrumadinho: assombras numa fila, os lápis na outra. Ela tinha tudo. Ficouusando essa bandeja até que o acrílico entrasse na moda. Aíela comprou uma bandeja de acrílico. Tinha uma enormecoleção de sapatos e me lembro que na casa da Niemeyer elamandou fazer um armário só para colocar os sapatos. Nacoleção tinha de tudo � desde aqueles tamancos do doutorScholl (de todas as cores) até sapatos importados. Me lem-bro de um em particular, porque o Ronaldo odiava: tinhauma borboleta imensa de ferro na frente.

�No casamento civil, a Elis usou um vestido feito peloDenner, todo de paetê que ia mudando de cor em ondas,até o chão. Com essa roupa recebeu os convidados para ojantar, chiquíssimo. Dois dias depois eles se casaram na igrejae a festa aconteceu na casa de meus tios, Cícero e ElzaLeuenroth � pais de Olivia Hime �, num apartamento nomorro da Viúva, praia do Flamengo. O apartamento estavalindo, com laços de fita nos castiçais. Tinha até caviar. Ela eo Ronaldo passaram a lua-de-mel no meu quarto na casa daRua Atlântica, em São Paulo. Nessa casa também assisti agrandes cenas de Elis. Certa vez, apaixonou-se pelo discoMilagre dos Peixes, do Milton, e depois ficou louca pelo li-vro que conta a vida da Isadora Duncan. Cismou que erauma reencarnação da Isadora e andava com o livro para cimae para baixo. Elis gostava de ler e era muito interessada emtodos os assuntos. Me ajudava a fazer os deveres da escola e amelhor coisa era quando encapava os meus cadernos. Erauma perfeição. Eu ia para a casa dela todo começo de ano.

�Os seus armários, em casa, nunca vi igual. Tudo lim-pinho e arrumadinho. Adorava robes e penhoares. Tinha

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vários. Quando a gente saía para fazer compras, ela gostavade ir à Sears e ficar fuçando, procurando o que comprar. Àsvezes, entrava numa loja de roupa chique e gastava fortunas.

�Quando Elis ficou grávida do Pedro, levei ela no doutorCláudio Basbaum. Tinha lido uma matéria no Jornal da Tardee Elis comprou o livro, traduziu... Já sabia tudo sobre o partoLeboyer quando foi ao médico. Depois do parto do Pedro elavoltou para o quarto sentada na maca, às gargalhadas.

�Ela também cismava com algumas coisas de vez emquando: o seu quarto, na casa da Rua Califórnia, era mar-rom. Um dia, sismou que aquilo era a razão de andar depri-mida. Achava que a vida estava péssima por causa do mar-rom do quarto e mandou pintar tudo de branco. Mas asdecisões eram assim, de um dia para o outro. E a produçãofuncionava. Quando foi morar na Cantareira, resolveu usarroupas lânguidas. Estava sempre de vestido comprido ou dejogging. Elis fazia as suas próprias unhas e, quando morreu,estava com as unhas feitas. Gostava muito de cremes de lim-peza de pele, comprava um monte de produtos.

�Sua bolsa era um fenômeno à parte. Tinha tudo: dealicate de unha a estojo escolar com lápis, canetas. Tinhamaquiagem, espelhos, caderninhos e caderninhos... Um paracada coisa.

�Elis gostava de fazer tapetes, tricô, crochê, e tinha umamáquina de costura. Fez o enxoval dos filhos, bordou cami-sinha pagão. Certa época, decretou o fim da empregada ànoite: ela mesma fazia tudo, cozinhava para todo mundo.

�Desde pequena acompanhei Elis nos camarins. Às ve-zes a gente ficava sozinha lá dentro, jogando crapô. As pes-soas batiam na porta e ela não deixava entrar. Era minhatarefa pendurar na parede cartões e bilhetes que ela recebiadurante os espetáculos.

�Quando o João Marcelo ficou doente, lá no Rio, fi-quei na clínica com ele e Elis. Ela fazia quilômetros de pala-vras cruzadas e tinha de acordar cedo para ir buscar o leite

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Fora do palco, muito jeito com agulha, linhas e bordados.

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humano que João suportava. Ele era alérgico a leite em pó.No primeiro dia em que consegui tirar Elis do hospital paradescansar um pouco � dormíamos as duas num sofá �, fo-mos para a casa de minha tia Elza, que preparou um banhode espuma para Elis. Quando ela entrou na banheira fez umescândalo: ria e ria e chamava todo mundo para ver.

�Quando Elis foi para Nova York com o Fábio Jr., pro-curou um amigo comum, o Márcio Martins Moreira, umpublicitário que mora lá. Os três se encontraram na Broadwaypara assistir a Chorus Line e depois foram para um restau-rante em frente. Ele me disse que Elis ficou brincando deimaginar como seria sair da Broadway e esperar a crítica do

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A mãezona Elis brinca com o primeiro filho,João Marcelo, de seu casamento com Bôscoli.

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Times sair. Márcio levou Elis e Fábio ao hotel e, no dia seguin-te, ela telefonou dizendo que o Fábio tinha ido embora�.

Já em São Paulo, instalada na casa da Rua Califórnia,Elis achou que era hora de reunir de novo a família.

Chamou o pai e a mãe para morar na casa em frente,que ela alugou. O mano Rogério preferiu viver com Elis, edepois casou-se com Biba.

Na verdade, Elis pensava em montar uma estrutura fa-miliar que segurasse sua barra profissional.

�Se alguém tiver de ganhar, que ganhem os meus�, medisse certa vez.

Rogério, empregado de Roberto de Oliveira na Clack,era um funcionário full time de Elis.

�A situação me deixava bem mais à vontade, porque eutrabalhava para ela, mas não era ela quem pagava meu salá-rio. Já podia chegar na frente dela e ter outro tipo de con-versa, não era ela quem me pagava. Podia fugir da pressãoeconômica que ela sempre exerceu e ditou: eu tenho, eupago, eu faço.�

Fortalecido, Rogério notou, como já havia percebidocom Marcos Lázaro, que alguém estava sobrando nessa liga-ção com Elis. Era ela quem fazia o trabalho todo, e a Clackrecebia a sua porcentagem. Além disso, Rogério começou aquerer ganhar mais dinheiro.

�Por que dar essa grana para o Roberto?, podemos ra-char entre nós dois�, disse a Elis.

Ela topou e nasceu a Trama, o escritório de produção deElis Regina. Foi um bom período nas recordações de Rogério:

�A Elis soltava a imaginação criando coisas, viajava, e eubotava os pés no chão. Começou a me ouvir mais. Às vezes,até topava fazer um show comercial para conseguir dinheiroe fazer o que queria. Ela ia à luta do dinheiro�.

Em casa, tudo corria bem nesse curto momento de fe-licidade plena, em que Elis Regina decolou para a sua defi-

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nitiva e arrebatadora experiência: 30 anos de idade, doiscasamentos, dois filhos, já tendo passado por poucas e boasna vida. Começou a nascer o espetáculo Falso Brilhante.

Orfila, amiga dos tempos da Joatinga, foi chamada paraa produção. Rogério Costa estava a postos. Na tentativa debuscar um diretor que topasse uma empreitada do porte queElis estava querendo, bateram em Chico de Assis, AdemarGuerra e Silnei Siqueira, que recusaram ou estavam ocupa-dos. Silnei indicou sua vizinha, a atriz Miriam Muniz, casa-da com o ator Sílvio Zilber e no comando do Centro deEstudos Macunaíma, onde se tentava conciliar o trabalho deatores com as experiências psicanalíticas de Roberto Freire.

Miriam Muniz. Quando as duas trocaram os primeirosolhares, quem tinha sensibilidade percebeu. Isso aí aindavai dar muito pano pra manga! Dois temperamentos fortes.Duas mulheres explosivas e talentosas.

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Conheci Elis Regina exatamente neste pe-ríodo. Eu tinha 24 anos e trabalhava havia três, como re-pórter do Jornal da Tarde. Estava nervosa quando desci aRua Xavier de Toledo para meu primeiro encontro com Elis.Ela ensaiava Falso Brilhante debaixo do Viaduto do Chá, sobos pés de milhares de paulistanos. O local pertence à Secre-taria Municipal de Cultura e abrigava os ensaios do Corpode Baile. Fica na Praça Ramos de Azevedo e vive cheio degente e de gatos.

Ali, Elis, César, os músicos Natan, Crispim, Nenê eWilson trabalhavam incansavelmente sob as ordens de MiriamMuniz, diretora. José Carlos Viola trabalhava com o corpo.Exercício, muito exercício. O psiquiatra Roberto Freire davaassistência. Quando a barra dos laboratórios propostos porMiriam pesava, Roberto intervinha. Quando o gênio e otemperamento de Elis e Miriam se cruzavam como chispas,ele mediava.

Naquele começo de noite, descendo a Xavier de Toledo,eu pensava, já meio desnorteada: será que ela vai gostar demim? Era um absurdo total, já que eu tinha a estranha sen-sação de que algo de grave poderia acontecer: tinha medo de

CAPÍTULO VIICAPÍTULO VII

Era uma relação que parecia uma di-namite. Eu dinamitando e ela acon-tecendo. Quando acabou, eu estavacompletamente enlouquecida.

Miriam Muniz

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Os ensaios do show eram num porão sob o Viaduto do Chá.

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ficar paralisada de timidez na frente dela. E o jornal? Amatéria tinha de sair. Fiz uma péssima entrevista. Ela mepareceu tão segura, tão inteligente e tão interessante que fi-quei passada. Anos depois, na convivência mais íntima quetive com Elis, isso acabou: aquela pessoa do primeiro en-contro não seria a mesma no próximo, nem nos seguintes.Ela tinha uma conversa sempre nova e gostava de discutirpolítica comigo. Adorava meter o pau no governo, vociferarcontra as injustiças. Nos sete anos em que fomos amigas,tivemos também grandes, longas, bobas e profundas con-versas sobre a vida, e eu pude ver e sentir de perto quem eraElis Regina Carvalho Costa. Saí do primeiro encontro coma cabeça quente. Fui para a redação e escrevi minha reporta-gem, publicada no Jornal da Tarde do dia 10 de dezembrode 1975, uma semana antes da estréia de Falso Brilhante.

Quando fiz a reportagem, eu era cliente de RobertoFreire e fazia simultaneamente um curso que se chamou de�psicotransoterapia�, com Miriam Muniz e Sílvio Zilber.Eram, na verdade, exercícios para liberar emoções escondi-das, lá no Centro de Estudos Macunaíma. Eu tinha medo daprofessora Miriam Muniz. Ela me assustava com a sua força,audácia e obsessão pelo profundo. Era uma agressão, mas eu

gostava dela. Dez anos depoisnos reencontramos para estedepoimento e nossas vidas ti-nham dado grandes reviravol-tas. Eu não tinha mais 24 anos,Miriam não era mais casadacom Sílvio Zilber e tinha bri-gado publicamente com Elispor causa de dinheiro. Reen-contrei a mesma e forteMiriam Muniz, brilhante emsuas observações. Seu depoi-mento, na íntegra:

Este anúncio saiu durante 14 mesesna imprensa de São Paulo.

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�Fiquei curiosíssima com o convite de Elis para dirigirFalso Brilhante. Já gostava muito dela, porque, quando eufazia o Teatro de Arena, ela era espectadora. Ela era vibran-te, estrábica, risonha, faladeira. E minha fã. Não sabia sevirava cantora ou atriz, porque fazia as duas coisas.

�Eu ficava prazerosa de ver aquela menina ser minha fã.Ela era namorada do Solano Ribeiro e depois desapareceuda minha frente. O Fauzi Arap me disse depois: �Sabe queaquela menina é uma cantorinha fantástica? Ela se mexe deum jeito extraordinário�. Aqueles penteados, aquela bombaatômica, a roupa cheia de babados. Ela não fazia economia,com tudo e em tudo. Um pouco perturbada, ela herdou daminha geração a perturbação, a ansiedade, o medo de nãoconseguir. E aquele medo dava aquele destrambelho. Ela fi-cava a um fio do excepcional. Ela era excepcional. A sexua-lidade fortíssima, uma sensualidade, pequenos perfumes. Eu

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Um boneco de Naum, os músicos, a estrela e Miriam Muniz.

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era bem apaixonada por ela e ela virava a minha cabeça, porisso fui trabalhar com ela.

�Sou de Escorpião e ela era de Peixes. Naquela época,eu não era ligada em astrologia, mas sentia que tinha umaenergia que me atraía. Ela era toda deslumbrada comigo,porque sou misteriosa. Reagia, me agredia, eu brigava de-mais com ela. Brigava para valer. Falava de tudo, e ela falavatudo para mim. Era uma relação que parecia uma dinamite.Eu dinamitando e ela acontecendo. Quando acabou, eu es-tava completamente enlouquecida. Até hoje isso fica emara-nhado na minha cabeça, porque briguei por causa de di-nheiro. Nunca briguei com eles do lado artístico. Não sei oque me deu, porque eu era só azeda nessa época, só agressi-va. E tinha de ser, porque eu era muito tímida. Igual a ela.Mas era bonito isso. No meio do trabalho eu estava podre:me separando do primeiro marido, tomando comprimidospara dormir, para ficar acordada, para ficar mais contente,literalmente desmoronada. Meu lado artístico estava bem �estava quase morta, mas tinha conseguido. Penetrei na inti-midade de Elis, fui na casa dela, vi a relação dela com o ma-rido, com os filhos. Muito parecida comigo. Uma mulherque adorava ser dona de casa. Nos ensaios, lá no porão, elaorganizou uma cozinha para ficar mais barato e uma cozi-nheira � ela é quem dava as ordens e, na hora do jantar,fritava bife. Tinha prazer de servir as pessoas, de dar de co-mer. Coisa de gaúcho, de italiano, de português.

�Fiquei quatro meses vendo ela cantar na minha frentesó para mim. Imagine que prazer! Se eu começasse a botardefeito, a criticar mais ou querer mais, ela sabia que podia.Mas às vezes chegava um dia qualquer e ela vinha, dava tudo� e você tinha de ficar de quatro, senão ela não dava. Tinhade se render a ela. Aí, sim, ela te dava tudo. Eu sabia que elagostava de mim e tivemos uma relação muito forte. A gentenão sabia se aproximar, se fazer carinho, não sabia chegarmais perto, ser mais suave. Foi acontecendo o Falso Bri-

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lhante e senti, antes de começar, que ia ser muito bom, por-que eu tinha muita admiração por ela. Queria fazer umahistória dela. Ela gostou da idéia, do geral. Elis olhava tudoe via, tinha uma intuição finíssima. Parecia um bichinho quesente o cheiro, e sabe perfeitamente quando está ouvindoou não está. E, quando ouve, ouve muito bem, afinadíssimo.Afina tanto que dá desespero. Ouve bem, enxerga muitobem, seu instinto está inteirinho no pedaço. Nem precisapensar muito, é só sentir. O roteiro foi indo, ela foi sentin-do, se interessando, se apaixonando, tendo prazer. Diziano começo do trabalho que estava travada, tinha tido pro-blemas na separação do primeiro marido, tinha um filho de5 anos que o marido mandava buscar com a polícia, em SãoPaulo. Ele sentava no meu colo no teatro, mas do lado damãe era um tormento. Aquilo era ruim, porém ao mesmotempo era bom, porque servia para a interpretação, pois aíela fazia um drama perfeito. Autêntica. Ninguém sabia can-tar bolero melhor. Uma brasileira, uma pessoa iluminada.

�Depois de ser atriz durante um tempo, de ficar muitoperturbada com essa atriz que tenho dentro de mim, enten-di a Elis, porque eu sabia o que é estar num palco e ter defazer o papel de mãe. Elis tinha uma luz: de vez em quando,nesses quatro meses de ensaio, pintava essa luz, e quando euvia a Elis toda iluminada me dava um prazer, me dava umavontade de ir lá, levantar, aplaudir, agradecer, beijar.

�Essa artista foi fazendo e dando todo o seu colorido, ese divertia demais, porque gostava de dar risada. Tinha umlado assim que era uma perfeita bruxinha � uma bruxinhaboa e má, de que o artista precisa. A Elis foi uma coisa boni-ta na minha vida.

�O roteiro de Falso Brilhante foi criado na mesa portodos. E eu coordenando, não sei explicar bem como, por-que nunca tinha feito aquilo antes. Ia aprendendo com eles.Elis foi muito inteligente � fez um trabalho de mergulhonele, e é preciso ser corajosa. Geralmente as pessoas ficam

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na superfície gozando o dinheiro que recebem e continuamsempre iguais. O Naum fez o cenário, o Viola o corpo. Se oRoberto Freire não tivesse entrado também, não sei como iaficar. Era difícil. Fiquei só até dez dias depois da estréia. Aínão fui mais, nunca mais. Como tinha ficado contente como resultado artístico e o problema do dinheiro foi uma bri-ga, preferi não ir. Ganhei pouquíssimo, poderia ter ganhouma casa para morar, que ainda não tenho, aos 53 anos.Poderia ter sentado a minha bunda para poder trabalhar sempagar aluguel. Mas soube depois que ela falava assim todanoite: �Paguem a Miriam Muniz!�.

�Naturalmente, não era ela quem cuidava do dinheiro.Era o pai, o advogado. Ganhei pouquíssimo, mas não desisti.

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A estrela rodeada porparte da equipe que

montou o espetáculo�Falso Brilhante�.

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Não tinha ninguém que cuidasse das minhas coisas, não ti-nha advogado � acho que saí da Idade Média. Eu era umamulher independente e nem sabia do que estava falando.Independente nada: uma boba, uma idiota, não admitiapalpites na minha vida. Quando eu caía na real, era umaimbecil perturbada.

�A Elis devia sentir isso em maior grau, pois queria fa-zer a USP � imagine! � para poder se colocar melhor, nãofazer grossura, se comportar. Quem sabe arrumando o in-telecto, as outras coisas se assentassem. E resolvi fincar o pé,porque achava que o Naum, como cenógrafo, tinha direitoa ganhar uma porcentagem. Eu queria dar um empurrãonisso e pensava no Flávio Império, que nunca tinha conse-guido. Eu queria forçar a barra. Acabei tendo de repartircom o Naum. Fui a coordenadora do espetáculo, de cria-ção, o texto é assinado por mim, duas coisas das quais abrimão nos meus direitos para eles. Estava tão apaixonada porela e não me preocupei com o que ia ganhar. Naquele tem-po eu era bem louca para não pensar mesmo nisso. Sempretive umas coisas assim de sagrado na minha arte, coisa babacada minha geração. Acreditava que não dava muito certo mis-turar dinheiro e arte. Me estrepei. Porque ela tinha pessoasque cuidavam disso para ela. Foi imbecilidade minha.

�Quando acabei de montar o show, fui embora paracasa e dormi cinco dias. Desmaiei, fiquei doente. Ganhei500 mil cruzeiros (equivalentes hoje a pouco mais de 37 mildólares), acho que era 1 milhão, dividido com o Naum. Fuipara o Macunaíma, coloquei um talão de cheque na minhafrente e fui fazendo outros. O Sílvio ditava até sobrar 50mil cruzeiros, com os quais comprei presentes de Natal. Foium trabalho de dia e noite, assim como a doença doTancredo. Saí do Macunaíma e o Sílvio me deu 100 mil cru-zeiros pela sociedade. Quer dizer: negócio de dinheiro eunem posso começar a falar. Hoje, quando trato de negóci-os, tenho uma pessoa que negocia para mim.

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�Quando Elis chegou ao Macunaíma e começou o tra-balho com a gente, disse que estava com um problema detrava na voz. Não conseguia soltar tudo o que podia. Na horade cantar, doía tanto que parecia que a voz estava desapare-cendo. Foi uma mexida emocional muito forte nela. Ela eraexagerada, exagerada... Se não fosse o Roberto Freire eu nãoteria segurado. Ele estava sempre por perto, feito um fan-tasma. Teve muita paciência. Não éramos só nós duas quetínhamos cabeças complicadas. Todos tinham. Houve umdia em que pusemos setenta pessoas no palco. Coisas quepassam da conta, excedem. Um dia estávamos ensaiando noMacunaíma e ela dizia: �Não consigo cantar, não consigo,estou travada�. Nesse dia ela subiu numa mesinha e todo mun-do ficou em volta, cantando e cantando cada vez mais alto.Ela dizia: �Não consigo�. E todo mundo dando força e pedin-do para ela cantar mais alto e ela foi. Saí lá no meio da rua egritava para ela: �Mais alto que quero te ouvir daqui!�. Elagritava e gritava... As pessoas da rua abriram as janelas e aí eladestravou. Caiu em cima da mesa, chorou, chorou, destra-vou. Depois eu precisava pedir pelo amor de Deus para elaparar. Acho que precisava de alguém que gritasse mais fortedo que ela e eu gritei. Ela gostava de uns gritos no ensaio.

�No dia da estréia eu estava vestindo um casaco indianoque não tirava fazia uma semana e também não tomava banhohavia uma semana. Fiquei de pé na platéia, encostada, olhan-do o primeiro ato. Não entendia mais nada, tinha bebido ládentro e estava de pé. E gostei daquilo, porque parecia umcircão. Saiu tudo como eu queria. O público gostou de cara �no fim do primeiro ato já estava de pé, aplaudindo.

�Com o César Mariano eu não tive queixas. Só no fim,quando ele quis dar uma de machão e estrear de qualquermaneira. Aí dei uma de louca, subi as escadas do palco, sen-tei ao piano e falei: �Fico aqui e toco, e você pode assumir omeu lugar de diretor�. Bati feito louca no piano. Eles fica-ram todos me olhando. A Elis fazia as cenas dela, o César as

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�Falso brilhante�, 75: com um turbante à Carmen Miranda.

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dele, mudo, e eu fazia as minhas. Disse tudo aos gritos, his-térica mesmo. Elis devia achar fantástico aquilo tudo, exor-cizava os demônios. Eu parecia um general promovendo aabertura. Abrir picada feito bandeirante. Brasileiros...

�Depois da briga, nos reencontramos numa boate. En-tão o Plínio Marcos, muito fofoqueiro, quis fazer a nossareconciliação, pelo microfone. Quando percebi o que esta-vam tramando, saí por baixo das mesas. Quer dizer, a me-drosa era eu. Ela ficou por lá. Acho que fiquei com vergo-nha dela, porque me comportei tão mal como mulher denegócios, tão desequilibrada, tão descontrolada, tão inse-gura, completamente ignorante, que fiquei com vergonha.Fiquei insegura de me expor naquele momento a isso tudo.Tinha passado coisas tão ótimas com ela, para que ser desa-gradável? Fiquei muito contente, pois ela ganhou rios dedinheiro, tudo o que podia e merecia. E mudou. Se trans-formou em outra, entendeu que era maior�

Seis meses depois da estréia e no auge de uma tempora-da retumbante, Elis sentiu necessidade de injetar ânimo novono espetáculo. Voltou a procurar gente de teatro. O diretorAdemar Guerra, respeitado e premiado, foi o escolhido:

�Recebi um chamado dramático de Elis. Aliás, ela sem-pre fazia esses apelos e, quando eu chegava, não era nada.Mas fui para uma reunião com ela na casa da Rua Califórnia.Eu não entendia. Estava um clima de enterro, um negócioestranhíssimo. Estava a mãe dela, a Lígia de Paula, atriz deFalso Brilhante, e eu. Não conseguia entender o que queria.Ela não dizia. Aí soube que ela estava tendo problemas como show. Não era, na verdade, problema nenhum. Ela diziaque não tinha mais ânimo. Se o diretor está perto, ele dáessa injeção. Se não, o ator não sabe dar essa injeção sozi-nho. Sente falta de ânimo e não sabe localizar bem. Expli-quei que num caso desses eu não podia interferir por uma

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questão de ética, mas que poderíamos conversar. Fomos indopara o teatro, porque ela tinha de ensaiar uma música com oCésar. Aí percebi que o elenco estava dividido em grupos � aturma do canto, a da música, aquelas bobagens. Falei para aElis que queria reunir todo o elenco e conversar, fazer umaconferência, colocando o trabalho da Miriam Muniz, o queela tinha feito e a importância disso. Chega uma hora emque o ator quer mudar. Isso é corriqueiro em teatro. Dissenesse dia que a Joana d�Arc que a gente conhece do cinemanão é a verdadeira. Ela era um soldado, cortava a cabeça dosoutros e não tinha como missão ser padroeira da França.Disse a Elis: �Tua missão é cantar: cante bem ou então nãocante nunca mais. Se é por aí, pega fogo, mas não faz dramana hora de queimar porque é muito chato�.�

O desejo de mudança durante a temporada de FalsoBrilhante era bem forte em Elis, tanto que resolveu ser ra-dical até dentro de casa e se separou de César CamargoMariano. O show não parou. César conta:

�Nessa fase, Elis estava sentindo uma necessidade de re-novação total e não percebi. Eu também estava envolvidocomo os outros no espetáculo, mergulhei de cabeça. E, paramim, não existia nenhum processo de separação da Elis,porque, dentro da minha burrice � era burrice mesmo, fal-ta de entender melhor as coisas �, não entendi por que comaquele espetáculo, com os filhos bem, a saúde perfeita, Elisqueria renovar. Dentro dessa renovação, eu também tinhade sambar. Modestamente mesmo, apesar de tudo, me con-sidero um bom entendedor de mulheres, mas não percebique a Elis queria se separar de mim.

�Ela estava cansada daquela rotina geral. Aí fui embora,saí quatro dias de casa e, quando chegou no domingo, ela veiome convidar para uma peixada na segunda. Voltamos. Evi-dente que nas fantasias dela � que faziam parte de sua insegu-

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rança � eu tinha outros casos. E há um problema mais sério,que nos perseguiu até o fim do casamento, quando começa-ram a aparecer as primeiras notícias nos jornais: Elis antes doCésar e Elis depois do César. A partir dessa colocação, ospseudo-amigos, as pessoas que ficam na periferia, principal-mente do sexo feminino, que devem me achar bonitinho atéhoje, baseados nessas críticas, começaram a falar coisas para aElis. O César está brilhando, diziam na nossa frente. Ele temcharme no palco. Elis falou para mim: �Será que é vantagempara uma mulher se casar com um homem bonitinho echarmoso? Será que isso é tudo?�. Essas coisas me magoavamprofundamente e Elis começou a checar se era verdade que eutinha outros casos. Não conseguiu. Tudo o que ela havia vivi-do na experiência do casamento anterior, apesar da distância,transferiu tudo, achando que os homens eram todos iguais.�

Com a mesma vontade com que se separou de CésarMariano, Elis quis voltar para ele. Ela era assim mesmo.Impossível fazer projeções de comportamento. Até Rita Leese espantou quando saiu do tribunal em agosto de 1976 e,condenada à prisão por porte de maconha, foi para a ca-deia. Lá, recebeu um bilhete de Elis. Era uma folha de ca-derno espiral, uma cartinha:

�Rita.Beijos. Beijos. Beijos.Tô aporrinhada. Gosto muito de você. Desde muito

tempo. Não quero falar muito. Que a gente nunca sabe.Mas, dentro do possível, queria que você continuasse

pensando em altos níveis. Que você se mantivesse calma.Muito calma. Que ninguém é bobo e todo mundo saca tudo.

Te vi ontem, de passagem. Cabelo vermelho. Olhosidem, de choro.

Chorei junto, porque te gosto. Porque te saco. E por-que me lembrei do inverso. Você rindo, dançando,

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robertocarleando, dando tudo de si, amando. Tudo igual.Que nem nós todos. Amando. E nos danando porque ama-mos. Somos de paz. Somos de risos. Somos de sossego.

Vou te ver! Juro. Fui hoje e João, meu pequeno, segrilou.

Por isso me mandei.Amanhã, depois, qualquer hora, a gente vai se encon-

trar.Dentro ou fora, sempre a gente vai se reencontrar!Até já! Nós todos te amamos. E estaremos com vocês

todos.Beijos. Beijos. Beijos.

Elis.�

Rita Lee contaria oito anos mais tarde o que sentiu quan-do recebeu o bilhete:

�Levei um susto. Nunca havia falado com ela. Logo de-pois que saí da cadeia, eu devia dinheiro para a Sigla e a Elissabia. Ela sabia de tudo. Me convidou para fazer parte deseu especial de fim de ano para a TV Bandeirantes. Fiqueitão comovida com isso que fizemos uma música especial paraela, Doce Pimenta. Pimenta, porém doce.

�A primeira vez que conversei com Elis foi no dia dagravação desse especial. Ela foi supersimpática comigo, nemmencionou nada da prisão. Comentava de música, do lancedo rock e que ela não era contra o rock.

�Comentou aquilo que o Henfil tinha dito sobre mim� que eu fazia mal para o Brasil, que o Brasil não precisavade mim. E eu disse para ela que tinha ficado triste com isso,pois achava o Henfil um barato. Ela ficou louca, disse que ianos reaproximar. E, de certa forma, acabou nosreaproximando.

�Me lembro que o César estava meio estranho nessa gra-vação. Acho que não gostou da idéia e se recusou a tocarjunto. Fizemos o número com a banda da Elis, menos o

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César. Cantamos, ensaiamos pouquíssimo, e eu estava mecagando de medo diante da maior cantora do Brasil. Melembro que a gente foi ao banheiro para fazer a maquiagem.Eu mexia nas coisas dela. Ela mexia nas minhas. Experimen-tamos batom uma da outra. Era uma coisa nova, que eu sen-tia que não tinha a menor intenção de machucar, de meescorraçar porque eu fazia rock, que até então era uma blas-fêmia. O que eu sentia era uma vontade grande de ela sabercomo é que se fazia rock.

�Ela não tinha preconceito nenhum. De repente, apa-recia com o cabelo pintado de vermelho e dizia: �Pintei igualo seu�, sem o menor constrangimento, sem dizer nada. Elasempre foi desse jeito comigo, a partir desse encontro nobanheiro�.

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No comecinho de 1977, Elis ficou grávidapela terceira vez. Tirou Falso Brilhante de cartaz e comprouuma casa nova. Foi morar no alto da serra da Cantareira,São Paulo, longe da poluição, perto do mato, sem telefone,com o marido, os dois filhos e um cachorro são-bernardo.A paz nas montanhas. Mas lá embaixo, na cidade, o outrolado da família de Elis estava em guerra.

Elis havia criado uma empresa, a Trama, para a produ-ção de espetáculos. Tinha três sócios. Rogério era o diretor-executivo. Seu Romeu trabalhava na firma, não era sócio.Ou seja: Elis e Rogério eram patrões do pai. Claro que nãodeu certo. Rogério:

�Comecei a me atritar com ele. Aquela coisa do pai queé funcionário do filho. Eu era o patrão e ele não me obede-cia, fazia as coisas do jeito que achava que era para fazer.Não tinha o menor respeito por mim. Tive que despedi-lo.A Elis não conseguiu segurar a barra dele. Nunca mais sefalaram�.

Nunca mais mesmo. Elis conseguia ser gelada quandoqueria. Quando se mudou para a Cantareira, deixou de pa-gar o aluguel da casa dos pais e seu Romeu ficou desempre-

CAPÍTULO VIIICAPÍTULO VIII

Me perdoem, os dias eram assim.

Vitor Martins,em Aos nossos filhos.

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gado. Com o dinheiro da venda de um apartamento de Elis,seu Romeu comprou um bar no bairro de Indianópolis, omesmo onde viveu até morrer, em 1984. O mesmo onde donaErcy ainda trabalhava quando me deu seu depoimento.

Na Cantareira, Elis tinha o maior prazer em cozinharpara os amigos, em receber bem, exibir seu pequeno lati-fúndio: 3 mil metros quadrados com uma casa pré-fabricadaabaixo do nível da rua. Elis gostava de plantar, de brincarcom o cachorro, de nadar na piscina. Curtia a gravidez deMaria Rita entre a casa e o trabalho. Com aquela barriga e ocansaço acumulado de Falso Brilhante, nem pensar em su-bir no palco. Incentivou o marido a fazer um show só dele eos músicos. Elis queria trabalhar como assistente de dire-ção. O diretor escolhido foi Oswaldo Mendes, jornalista,ator e diretor de teatro. No fim da temporada de Falso Bri-lhante, César Mariano tinha composto várias músicas e te-mas relacionados com São Paulo. Elis convenceu César ausar esse material no espetáculo. Queria que ele mostrasse otrabalho só dele. Não o dela. Oswaldo Mendes conta:

�Ela respeitava muito a hierarquia. Como um músicorespeita o maestro. Anotava tudo, ia a todos os ensaios. Eramuito caxias. Certo dia, me mandou um bilhete: �Me des-culpa, mas em casa não tem nada e eu preciso ir ao super-mercado�.�

No fim dos ensaios, de assistente Elis passou a diretora,já que Oswaldo se viu obrigado a substituir a atriz Lígia dePaula na interpretação dos textos que ele escreveu para oshow São Paulo�Brasil. Pouca gente foi ao imenso TeatroBandeirantes, o mesmo onde o casal havia batido todos osrecordes de bilheteria. Falso Brilhante ficou um ano e doismeses em cartaz.

Grávida de sete meses, Elis fez um único show em SãoPaulo. Foi no Anhembi, uma promoção do programa O Finoda Música, da Rádio Jovem Pan, programa comandado porJosé Eduardo Homem de Mello, o Zuza. Ele me disse que

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Julho de 77: grávida de sete meses, cantando no Anhembi.

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Elis dividiu seu cachê com os artistas novatos que participa-ram do espetáculo.

Maria Rita nasceu em setembro de 1977. Dois mesesdepois Elis estreou novo espetáculo em Porto Alegre. Elatinha um contrato com o Teatro Leopoldina e foi cumpri-lo. Não queria fazer apenas um recital, queria inventar al-guma coisa. E, como sempre, escolheu parceiros para suasinvenções. Dessa vez não foi buscá-los no teatro, mas namúsica: os letristas Aldir Blanc e Maurício Tapajós.

O espetáculo Transversal do Tempo era pretensioso.Elis me contou em entrevista publicada na revista Veja, em

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De malha e sapatilhas, noscamarins do Teatro

Leopoldina, em Porto Alegre.

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outubro de 1978 � quando o espetáculo finalmente estreouem São Paulo �, que a idéia do show nasceu dentro de umtáxi, no vale do Anhangabaú, durante uma manifestação es-tudantil. Na confusão, os carros não andavam. E ela lá, grá-vida, trancada dentro do táxi, esperando:

�Você imagina saídas, mas o sinal não abriu, o que po-demos fazer? Ficamos sentados dentro de um táxi, numatransversal do tempo, esperando. Não te perguntam nada,não te pedem opinião... A angústia, a claustrofobia e tam-bém as várias fugas estão dentro do repertório. A alienaçãoque pode vir através dos embalos de qualquer dia da sema-na. Na realidade, não é um espetáculo feito para dançar.Alerto que os bailantes se sentirão muito agredidos, por-tanto não me cobrem. Se quiserem assistir, já estou avisan-do antes. Também não estou dizendo que todo espetáculodeva ser assim, e também não quero dizer que todos os ou-tros farei desta forma. Mas eu peço desculpas, usando aspalavras do Vitor Martins: �Me perdoem, os dias eram as-sim�. A partir do momento em que resolvi que minha artedeve ter ligação com a realidade em que vivo, mínima queseja, lamento imensamente a cara amarrada, a falta de es-paço, a falta de amigos. Também não fui preparada paraisso, é o que me está sendo dado para digerir. Gostaria quefosse diferente. Mas também, como a maioria das pessoas,estou esperando o guarda acionar a mudança de cor dosinal. Enquanto isso, eu canto um sinal de alerta... o par-tido político, o MDB (N.A.: Movimento Democrático Bra-sileiro, partido que deu origem ao PMDB) � com o qualvocê conta para ser de oposição, arregla, e 41 saem da sala,se escondem debaixo do tapete ou no banheiro. Isso é umaporcaria quando você está às portas de 15 de novembro etem que votar nesse partido de novo. Agora, vai votar nooutro? Não, vota nesse e continua tudo na mesma. Esse éo impasse, a falta de escolha, a falta de espaço, de ar, deconfiança, de relaxo�.

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Elis era muito articulada. Sabia propor e defender idéias.Às vezes passava por profunda conhecedora de assuntos so-bre os quais apenas tinha ouvido falar. Parecia estar semprecom as antenas ligadas. No dia seguinte era capaz de ensinarao mestre o que aprendera e com um despudor desconcer-tante. A gente ficava pensando: será que ela está acreditandomesmo nisso? Hoje tenho certeza de que Elis acreditava emsuas próprias histórias e fantasias. A gente que transitava emtorno dela reconhecia seu poder de sedução. Eradesconcertante mesmo falando verdades de cinco em cincominutos.

Essa nossa entrevista aconteceu na casa de Walter e OrfilaNegrão, no bairro das Perdizes. Era uma espécie de segundacasa de Elis. Sem telefone na Cantareira, era na casa dos

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�Transversal do tempo� estreou em Porto Alegre em novembro de 77.Depois foi para a Itália, França, Espanha.

Passou depois por quase todas as capitais do Brasil.

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amigos que recebia recados e chamadas. Orfila, nessa épo-ca, mudara de atribuições, mas continuava trabalhando comElis. Agora era ela quem cuidava dos negócios pessoais daamiga. Foi ela quem vendeu a casa do Brooklin, quem com-prou o apartamento da Avenida Paulista � onde se instalou aTrama � e quem aplicava o dinheiro de Elis.

Elis ocupou tanto espaço nesta casa que provocou o ciú-me da filha mais velha do casal, além de perturbar-lhe a ro-tina. Promovia festas, churrascos, reuniões de gravadora,entrevistas coletivas; e se esquecia de avisar os donos da casa.Embora constrangido, já que precisava trabalhar em casa,Walter Negrão se deliciava com a hóspede. Ele adorava con-versar com ela e, de certo modo, se sentia gratificado com oprazer de estar no convívio com Elis.

Na entrevista, perguntei a Elis uma coisa que me intri-gava: quais eram as imposições, de cima para baixo, de quetanto reclamava? Ela disse:

�Eu falo isso porque quando pintei tinha 20 anos e nemme permitiram, em determinado momento, fazer asestripulias normais de uma adolescente. Já começaram jo-gando uma sobrecarga violentíssima, que talvez eu tivessecondições de arcar com ela agora, aos 33. Foi uma violência,mas, se foi cometida, eu permiti. No final das contas, umamão lava a outra. E as diversas fases pelas quais fui passandodeterminaram-se, evidentemente, por um processo de ama-durecimento e também por sufocos momentâneos. Parti doprincípio de que uma cabeça conturbada não consegue or-ganizar atos lúcidos. Então acho que corri ao sabor do ventonuma determinada época da minha vida. Mas agora, quan-do estou agindo, agitando, sentindo capacidade para de-senvolver, criar, retomar e iniciar uma série de coisas, não épossível fazer julgamentos. Ouvi pessoas dizendo que ChicoBuarque já era quando tinha 25 anos de idade�.

Uma das coisas mais interessantes que me disse nesse diafoi sobre a fase em que se apaixonou pelo som da própria voz:

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�Quer dizer, uma pessoa estrábica, baixinha, gordinha,tudo ao contrário, e de repente vira a Cinderela. Cinderelamesmo com abóbora à meia-noite e a fada madrinha � queera a TV Record, O Fino da Bossa. Mas as pessoas não dãotempo ao tempo, não desculpam a infantilidade. Isso real-mente é uma pobreza. Eu me vi, de uma hora para outra, nasala com o príncipe, e podia até ser que o sapatinho de cris-tal coubesse no meu pé. Certa bronca que tenho é que nãome deram tempo para curtir esse barato. Começou uma po-lêmica em torno de minha pessoa tão forte � sobre coisasque realmente eu tinha feito e outras que diziam que haviafeito. Embolou, confundiu e até organizar tudo de novodemorou uns cinco, seis anos. Se a pressão não fosse tãoforte, talvez eu tivesse passado por essa fase não em cinco,mas em um ano e meio. As pessoas muito jovens, quando sesentem pressionadas demais, parece que fazem questão de rein-cidir no erro para mostrar que elas é que estão certas. Foiassim não só com a minha carreira, mas também com minhavida pessoal. Até que fiquei grande, virei mãe, cresci. Nãotinha mais mãe, eu era a mãe. Aí voltei a me dar o direito deadministrar minha vida e fazer dela o que bem entendesse,desde dormir com quem quisesse até trabalhar com quem re-solvesse. E, mais recentemente, a me mandar profissional-mente. Ser meu próprio patrão. Acho que esse processo, mes-mo lento, é uma chance que deveria ser dada a toda e qualquerpessoa. Porque, afinal, quem não deu as suas mancadas?�

As mancadas de Elis. Em 1972, durante a Semana daPátria, Elis foi convidada � ou convocada � a cantar nasOlimpíadas do Exército. Cantou. Cantou o Hino Nacio-nal. Foi esconjurada pela esquerda, mas só uma pessoa semanifestou publicamente contra ela: o cartunista Henfil. NoPasquim, ele enterrou duas vezes Elis no cemitério dos mor-tos-vivos do Caboco Mamadô.

Segundo o testemunho de Bôscoli, Elis foi obrigada acantar nessa olimpíada sob ameaça de prisão. Ela havia dito

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Elis cantou o Hino Nacional nasOlimpíadas do Exército.

Henfil a enterrou no�Pasquim�, em 72.

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Elis não gostou e foi aos jornais.Henfil publicou uma réplica no �Pasquim�,

enterrando-a de novo.

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em entrevista, na Holanda, que o Brasil era governado por�gorilas�. A própria Elis me contou essa história, aumenta-da, romanceada, onde ela assumia o papel de uma heroínadominada pelas Forças Armadas. Quando viu seu nome nocemitério dos mortos-vivos do Henfil, Elis ficou vesga. Numaentrevista ao Jornal do Brasil, esculhambou Henfil e oscartunistas. Anos depois da briga, em 1985, Henfil contousua versão da história:

�Foi igualzinho hoje. De repente, os artistas sãoarrebanhados pelo governo, só que � eu não sabia � debaixode vara, de ameaças, para fazerem uma campanha na Sema-na do Exército. O que vi, na realidade, foi o comercial detelevisão. Me aparece o Roberto Carlos dizendo: �Vamos lá,pessoal, cantar o Hino Nacional �. E, de repente, a Elis sur-ge orquestrando um monte de cantores, de fraque de maes-tro, regendo o Hino Nacional. Nessa época, estávamos noPasquim, e eu, mais que os outros, contra-atacando todosaqueles que aderiram à ditadura, ao ditador de plantão.Voltei duas vezes ao assunto, já que ela falou sobre mim noJornal do Brasil. Só me arrependo de ter enterrado duaspessoas � Clarice Lispector e Elis Regina. Tentaram me for-çar a desenterrar o Carlos Drummond de Andrade. Não mearrependo. Para mim, na época, as pessoas famosas eramfigurinha de revista, retrato. E eu estava criticando isso. Nãopercebi o peso da minha mão. Sei que tinha uma mão muitopesada, mas eu não percebia que o tipo de crítica que faziaera realmente enfiar o dedo no câncer.

�Quando nos encontramos, anos depois, por meio deIone Cirillo, fomos jantar numa cantina perto do TeatroBandeirantes e ela fez questão de sentar na minha frente.Estavam todos os músicos, e de repente ela começou a falar:�Pô, bicho, eu te amo tanto, bicho, te gosto tanto�. E eu jánão gostando dessa história de bicho, porque não gostavado jeito como ela falava, nunca gostei. Daí me irritei e disse:�Elis, o que você está querendo dizer com isso?�. Ela come-

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çou a chorar. As pessoas, na mesa, enfiaram a cara no prato,todos sabiam o que eu tinha feito, só eu não sabia. Ela disse:�Pô, bicho, você me enterrou�. E começou a me esculham-bar, dizendo que aquilo foi uma covardia, que ela estavaameaçada. Bom, tinha dois textos ali. Um deles era a expli-cação que ela estava me dando por estar chorando. O subtextoera: �Pô, gosto tanto de você, me identifico tanto com suascoisas, com o Fradinho�. Ali estava uma pessoa me declaran-do profunda amizade. Não falei nada. Nunca cheguei para aElis para dizer que eu não tenho que saber da vida particulardela para justificar sua atitude naquele momento. Elis nun-ca me perguntou se eu estava atacando porque ela estava de-fendendo um regime militar que queria matar o meu ir-mão. Jornalista nenhum do mundo tem de perguntar aMengele se ele estava com dor de dente quando mandoumatar milhões de judeus. Essa matéria pode sair no segundocaderno, depois.

�Resolvi engolir. Ela terminou de falar, entendeu o meusubtexto: �Tá, Elis, eu aceito�. Na verdade, levei uma canta-da afetiva numa linguagem complicada, mas ela entendeu evoltamos a conversar. O resto da mesa... César Mariano,Ione Cirillo, os músicos levantaram os olhos do prato e jan-taram entre si. Ela ficou falando só comigo. Contava umasérie de coisas e, de vez em quando, voltava ao assunto. En-tão eu olhava de cara feia e ela mudava.

�Sei que muitos personagens que viveram essa históriadas Olimpíadas do Exército faziam isso independente demotivos e de pressão militar por trás. Evidente que os mili-tares estavam pressionando o país inteiro. Eu sabia disso, osmilitares faziam censura prévia no meu jornal, presença fí-sica, todo dia. Inclusive foram os militares que censuraramo cartum da Elis onde estava escrito virundum, virundum,virundum. A referência à música não pôde ser publicada. Eera justamente isso que eu estava criticando: se as pessoasnão estavam resistindo à pressão, como é que iríamos segu-

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rar esse país? Bom, eu era um dos que estavam enfrentan-do. Então tinha todo o direito de criticar uma pessoa que iapara a televisão se entregar. Não mudei em nada e ela perce-beu isso. Mas me interessou a amizade daí por diante. E,mesmo antes, por que é que vou deixar de gostar de umapessoa por ela ter fraquejado?

�Bem, reinauguramos a relação e eu estava curioso. Ti-nha um jogo afetivo no meio disso tudo. Desde criança eudesmonto relógios. A curiosidade é uma coisa brutal em mim.Fiquei curioso com ela, mas, ao mesmo tempo, com muitomedo, porque sabia que aquilo era um vulcão afetivo e quequem entrasse ia se afogar. Eu percebia que essas pessoascaíam no vulcão dela e que eram pessoas muito fracas tam-bém. Passei a dançar com ela com a mão no ombro. Commuito cuidado. Ela começou a me chamar muito para aju-dar a bolar alguma coisa no show, no programa dela na tele-visão, na Bandeirantes. Bolei uma porção de coisas, mas oGuga mandou tirar tudo. Íamos contracenar juntos falandodas greves � tínhamos bolado um jeito de um palanque parafalar de eleições e coisas assim. Enfim, comecei a participare ela parecia querer uma relação maior do que eu queria.Queria que eu pudesse raciocinar com ela sobre determina-das coisas. No dia em que o programa da Bandeirantes foiao ar, ela foi para casa da minha irmã para assistir lá. Minhairmã, surpresa, me telefonou dizendo que a Elis estava lá.Ela ficou timidíssima, encolhida na cadeira. Parecia um ra-tinho enfiado debaixo do cobertor.

�Aí passamos a, de vez em quando, ter uma relação quaseprofissional. Eu dava palpites, mas nunca pude entrar comas minhas idéias. Passamos então a essa vida dupla: conver-sar particularmente da forma mais aberta e criativa possívele nos sentindo incapazes de colocar isso em andamento. Ela,eu notava, tinha a preocupação � marcada ainda pelo episó-dio do enterro � de me provar que tinha mudado. Que con-tinuava uma pessoa de confiança ideologicamente. E me co-

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locando isso sem nunca ter chegado perto e dito: �Henfil,qual é a tua?�. Como se eu fosse o inspetor de quem não éde esquerda, ela ficava querendo provar para mim que seucomportamento continuava de esquerda. Me mandava di-nheiro: do show que fez no Canecão, para eu entregar aosgrevistas em São Bernardo. Fez isso duas vezes seguidas. Emuitas vezes eu tinha de sair do Rio de Janeiro e arrumarum jeito de chegar em São Bernardo. Para evitar qualquercoisa, pedi um recibo. Ela ouvia dizer que tinha um mani-festo rolando, me pedia para arranjar para ela assinar. E eunão gosto de manifestos.

�Na realidade, percebo que Elis não queria me namo-rar. Ela queria uma relação afetiva real comigo. Havia a von-tade dela de ter um irmão, da maior confiança, a quem pu-desse contar o que contaria a uma amiga, mas como pareceque não há muita fidelidade entre as mulheres... Quando apessoa começa a te dar certa ascendência é porque realmen-te não quer ter uma relação amorosa com você. E ela queriaisso comigo: alguém com quem conversar sobre todos os as-suntos. Tenho de falar tanto de mim porque ela me elegeupara ser uma coisa que ela queria. Ela queria muitos irmãos.Namorar, ela namorava com a turma da Zona Norte. Na-morava aquele cara que representava certo risco, que nãoera do esquema dela. No mais, queria muitos irmãos quepudessem ajudá-la na hora em que a turma da Zona Norteestivesse exagerando. Segundo, que pudessem inventar comela coisas que não inventaria com a turma da Zona Norte.Vários homens tiveram uma relação muito paternal com ela.O Ademar Guerra era assim. Elis queria arrumar encrencana rua e que nós fôssemos salvá-la depois. Tinha de ser bemmais velho, bem mais largado para ampará-la em casa quan-do apanhava do namorado.

�Ela telefonava todos os dias lá para casa, para conver-sar sobre diversos assuntos. A partir de determinado mo-mento, eu não tinha mais condições de atender. Eram três

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ou quatro horas no telefone. Passei a fazer cartum com elano telefone e começou a cair a qualidade. Aí passei a pularfora dos telefonemas. Um dia, ela ligou, peguei o telefone efalei: �Oh, que saudade. Quero te ver, vamos nos encontraramanhã?�. Ela marcou um almoço para o dia seguinte. Nãofoi. Dois meses depois, morreu.�

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Em 1979, o gaúcho Antônio Carlos SiqueiraHarres, o Bola, fez o mapa astral de Elis Regina, a pedidos.Dedicado estudioso da astrologia, sério, Bola teve três encon-tros com Elis no Rio. Ela estava preocupada com uma mudançade gravadora. Tinha uma proposta para assinar com a Warner ecantar no Festival de Jazz de Montreux, Suíça. Com a interpre-tação do mapa de Elis, Bola nos esclarece:

�Nosso encontro foi em meio a um tumulto e percebique ela levava uma vida agitada, tinha muita gente em tornodela. Estava com a perspectiva de fazer um trabalho com ummúsico americano. Eu disse que ela tinha condições astro-

CAPÍTULO IXCAPÍTULO IX

O peixe é um animal que enxergapara a frente e para trás. Anda navertical e na horizontal. Então elepode se posicionar em relação a umponto de ene maneiras. Hoje estávendo pela direita. Amanhã pela es-querda, depois por cima e por bai-xo. As pessoas do signo de Peixes sedão o direito de mudar conformeestão sentindo a situação.

Antônio Carlos Siqueira Harres,o Bola

Arte e caráter não têm absoluta-mente uma coisa a ver com a outra,infelizmente. Ou felizmente.

Henfil

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lógicas favorecidas para coisas de longa distância. Mas nossotrabalho foi muito interrompido devido a constantes tele-fonemas. Me pareceu por aquele contato que era ela quemdecidia tudo. Ao mesmo tempo em que eu ia observandoseu mapa, interpretando, ia olhando, vendo como reagia,como ela era naqueles momentos.

�Ela tinha Plutão no signo de Leão, na primeira casa as-trológica, e o meio do céu em Áries, que lhe davam caracte-rísticas de liderança em termos profissionais. Senti que emtudo ela queria botar a marca dela. Em todas as decisões, to-dos os detalhes, ela intervinha. Tanto comandava a emprega-da, como falava com o irmão no telefone sobre problemasadministrativos, como tratava com os músicos. Percebi porsuas conversas pelo telefone que tinha um espírito crítico agu-çado. Elis era de Peixes, com Júpiter em Virgem. Então, essacaracterística astrológica é de uma pessoa que tem uma buscaansiosa pela perfeição. Sol em Peixes, ascendente em Câncer,caracterizava uma pessoa emotiva, sensível e muito perceptiva.As pessoas de Peixes e Câncer têm uma casca grossa pelo ladode fora e uma parte mole pelo lado de dentro. Então, nosprimeiros contatos você não consegue ter muita intimidadecom elas. São pessoas que falam pouco do seu íntimo. E édifícil você ter acesso à intimidade delas. É por isso que bus-cam a arte, o canto, a poesia, a pintura, outras formas deexpressão e comunicação para poderem traduzir esse senti-mento interno que têm. A palavra já é uma coisa difícil paraelas. Acho que Elis devia se sentir contrariada de ser pressio-nada para se posicionar, para se colocar e explicar as suas po-sições. Essas situações sempre eram conseguidas à força. Na-turalmente, não é pessoa de dar muita abertura.

�As pessoas de Peixes e de Câncer: dois signos de água,de grande emotividade, sensibilidade, fantasia, imaginaçãoe certa rigidez. Nos primeiros contatos são formais, mas vocêsente que elas estão captando tudo, filmando, sentindo. Essaé a dificuldade dos piscianos � Peixes e Câncer dão a im-

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pressão de não estarem interessados e, na verdade, estãoembebidos. Por dentro têm uma ótica hemisférica que en-globa tudo, mas se colocam meio numa posição de defesaaté sentir que podem confiar em você.

�Depois que sentem isso, é uma mistura, um envolvi-mento muito grande e forte, no qual às vezes não têm nemcapacidade de discernir o que claramente é deles e o que édo outro. Para conseguir fazer isso, às vezes é preciso con-quistar na base da porrada, da explosão. Embora os piscianossejam por natureza pacíficos, contemplativos, têm momen-tos de explosão. É a maneira de retornar ao seu centro, de sedesintoxicar dessa mistura que criam nas relações com osoutros.

�Peixes e Câncer têm outra característica: é o acúmulode coisas que não são colocadas, não são ditas. De repente,acontece a famosa gota d�água. Então essa pessoa podia che-gar em casa, não encontrar no lugar a cadeira em que gostade sentar e fazer um escândalo. Ninguém entende que aqui-lo é apenas o que transbordou.

�A astrologia não caracteriza as pessoas por qualidadesou por defeitos. Ela descreve naturezas. A mentira, por exem-plo, não é uma característica, mas uma conseqüência de in-segurança. O mapa de Elis mostra que sua origem humilde,proletária, fazia com que ela carregasse certo sentimento deinferioridade. Isso lhe dava uma necessidade de se expan-dir, de crescer e de mostrar para o mundo que ela realmentetinha valor. Acho que no íntimo mais profundo de seupsiquismo Elis sentia insegurança em relação aos méritos eao valor dela. Precisava constantemente de reconhecimentodos outros e de uma afirmação dela mesma sobre os outros.Acredito que, no momento em que caía em si, percebia suaslimitações, entrava em processos profundos de depressão.Era uma coisa talvez da qual fugisse, porque sabia o quãoprofundo podia ir. Acho que ninguém teve acesso a isso.Era uma maneira muito reservada de viver, muito privativa.

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�Tinha Saturno na casa 12, um quarto dentro dela aque só ela tinha acesso, a chave para entrar.

�Essa necessidade de crescer, de se projetar, fazia partede Elis. Tinha também uma quadratura de Lua em Marte,em Aquário, que mostrava uma natureza meio beligeranteno sentido da discussão e de querer competir em termos deidéias. Gostava de disputas e tinha até um pavio curto paraisso. Gostava da discussão e, nesse momento, jogava qual-quer argumento que viesse à cabeça, não se importando seaquilo correspondia exatamente à realidade ou não. Faziaisso só pela necessidade da discussão e de não sair perdendo.

�Quando você analisa o mapa astrológico de uma pessoa,às vezes não tem condições de abordar certos pontos. E Elis,naquela época, estava muito mais preocupada com o momentoque estava vivendo do que com descrições de sua personalida-de. Já pelo fato de ser uma pessoa assim, como descrevi, nãodava muita abertura para uma penetração. Ela foi primeirobastante reservada comigo, para ver realmente qual era a mi-nha capacidade. Ela não era uma pessoa que se deixasse levarna conversa. Tinha muita capacidade para avaliar o talento dealguém. Tanto é que lançou muita gente nova. Eu me sentiimediatamente no raio X dela. Quando falei �em tal idadeaconteceu isso�, com detalhes minuciosos e coisas que eu nãopoderia ter lido em jornais, ela percebeu que eu estava levan-do para ela coisas com fundamentos reais. Mas no começo foicética e cautelosa. Depois me pediu para fazer o mapa de to-dos os filhos e o do César, com quem conversei uma vez. Nuncaconsegui entregar. Elis deixou tudo pago.

�Nas nossas conversas, ela queria saber como se sair bemnessa troca de gravadora, as melhores datas para lançamentode discos.

�No nosso segundo encontro, ela praticamente só es-cutava, não me dava muitos elementos. E anotava tudo oque eu dizia. Na última vez que nos encontramos falei mui-to sobre os filhos, a questão da família.

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�Ela tinha uma quadratura de Saturno com Netuno, oque lhe dava uma sensação de estar sendo enganada. Semprehouve muita confusão com esses negócios de contratos, mui-tas coisas não esclarecidas. Certa nebulosidade nessa área.Era uma pessoa que tinha uma atratividade material bastan-te grande e uma capacidade para atrair esses recursos e osmeios para ganhar isso.

�Como tinha Sol em oposição a Júpiter, a figura do painão lhe dava a sensação de uma pessoa para protegê-la comoqueria. E, com a mãe, um protecionismo muito grande delapara com a mãe e da mãe para ela. Mas, ao mesmo tempo,tinha uma necessidade de espaço, de liberdade, de poderrespirar um ar diferente. Devia tratar a mãe meio hostil-mente, no sentido de não ser possuída por ela. Quer dizer,a mãe tinha uma proteção muito grande sobre ela e certapossessividade. E ela, vice-versa com a mãe e os filhos. Elistinha um alto grau de apego a todas as pessoas que agregavaem torno dela. Mas, ao mesmo tempo, tinha uma necessi-dade de não sentir essa simbiose da dependência. Era umacontradição, porque Marte em Aquário e Plutão na primei-ra casa indicam uma pessoa que quer ser independente.

�Ela tinha uma insegurança quanto ao direito de dizerpara o outro o que estava pensando. Por causa disso tinha deinventar uma história que tornasse aceitável o que queriadizer. Precisava dar credibilidade ao que dizia, se ancoran-do em argumentos, em pessoas e em circunstâncias. E deuma maneira que as pessoas não podiam checar. Quer di-zer, em outro plano de imaginação e fantasia, que não haviacomo contestar. Jogava as histórias com tanta veemência, comtanta convicção, que qualquer dúvida ia levar a relação comela a um confronto pessoal.

�Havia também o perfeccionismo, uma obsessão. Falei paraela da tendência que tinha de ser mal interpretada em suas de-clarações. Que tivesse sempre cuidado com isso, porque facil-mente os argumentos que colocava eram mal-entendidos.

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�O peixe é um animal que enxerga para a frente e paratrás, anda na vertical e na horizontal dentro d�água. Entãopode se posicionar em relação a um ponto de ene maneiras.Hoje está vendo pela direita, amanhã pela esquerda, depoispor cima e por baixo. As pessoas de Peixes se dão o direito demudar conforme estão sentindo a situação. Os outros nãoentendem isso. É uma característica da pessoa, os piscianossão paradoxais. Esperar uma linearidade de pensamento de-les é bobagem. São totalmente instáveis e imprevisíveis. Masextremamente férteis e ricos, e abrem horizontes e mostramcoisas que você jamais imaginava ver. Como Elis gostava dochamado bate-queixo, algumas pessoas certamente não a per-doaram. Quando explodia, falava tudo de uma só vez, e quemestivesse por perto que pagasse o pato. Ela tinha talento paraapertar no ponto fraco das pessoas�.

Cá na Terra, a carreira de Elis tentou um novo vôo in-ternacional. Seria um dos cartazes da Noite Brasileira notradicional e conceituado Festival de Jazz de Montreux, queacontecia anualmente naquela cidade da Suíça. Segundo orelato de César Mariano, ele, Elis e os músicos entraram nopalco excessivamente nervosos. Tinham visto na platéia ce-lebridades como Chick Corea e Rick Wakeman. Tremeram.Quando a banda entrou no palco e começou a aquecer paraa entrada de Elis, mais nervosismo. Quando ela entrou, fa-zendo um vocalzinho lá do fundo, a platéia delirou. Todomundo de pé, aplaudindo. Elis se desconcertou. Chorava esuava. Passou metade do show mexendo no olho, incomo-dada com o rímel que escorria. Alguém via isso dos bastido-res. O presidente da Warner, André Midani:

�Aquele show, como música, foi uma tragédia. E, comotragédia, foi uma grande tragédia grega. No meio do show,assisti a uma menina suando, branca, que não podia maisnem ficar em pé.

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�Peguei um copo de água e estendi o braço. Ela pegou ocopo tremendo, bebeu um pouquinho e seguiu cantando. Emelhor, e melhor, e apoteótico. No jantar, mais tarde, eladisse: �Eu me lembrei que era filha de uma lavadeira. Comoé que eu estava naquele palco?�. Como, eu pensei, depois deter pisado em vários palcos do mundo, Elis quase chega àbeira do fracasso e, no meio, renasce?�

Na volta de Montreux, Elis mandou Rogério me ligar.Queria marcar um encontro: um jantar na casa do irmão.Queria conversar comigo. Quando cheguei, surpresa. Elisestava na cozinha, mexendo com colher de pau os pratos deum jantar chinês. Cortava os temperos direitinho, com mé-todo e organização. Elis sabia controlar uma casa com cri-anças. Quando não tinha com quem deixá-las, levava junto.

Jantamos, Elis, César, Rogério, Biba e eu. Pedro e MariaRita também estavam. Nessa noite, Elis falou o tempo todosobre músicos, sobre como tinham outra vida, como eramcomplicados. Dava muita risada. Depois do jantar, Elis pôspara tocar a fita de sua apresentação em Montreux. Queriaminha opinião. Estava cantando mal? A fita era uma consa-gração. Palmas no meio das músicas. A voz estava trêmula,mas ela não cantava mal. Na verdade, anos depois, quandoouvi de novo a fita, que a Warner tinha decidido não lançar,percebi falhas na interpretação e até cheguei a concordar comela: não devia mesmo virar disco. O encontro de Elis comHermeto Pascoal em Montreux foi uma batalha, um insanoduelo musical. Elis parecia querer desafiá-lo e mostrar mais emais. Hermeto parecia querer domá-la ao piano.

Encerrado Montreux, Elis começou a se preparar para oshow de lançamento do disco Essa Mulher, seu primeiro tra-balho para a Warner. Leonardo Netto, assistente de AndréMidani, uma cabeça jovem e inteligente no mundo do disco,criou para Elis uma nova imagem de mulher. Cabelos maiscompridos, Elis se vestia com discrição e classe. A maquiagemrealçava uma beleza suave. Gravou também um disco suave.

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WE

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�Elis, essa mulher�. O título do LP de 79 definia tambémuma nova imagem, divulgada pela WEA:

cabelos longos, mais feminina,muito mais chique.

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Para ajudá-la na direção deste show, Elis chamouOswaldo Mendes, o mesmo com quem tinha trabalhadocomo assistente no show de César Mariano. Oswaldo conta:

�No dia da estréia, no Anhembi, estava aquela coisanervosa, ela brigando com César. Gritava: �Não deixem eleentrar no camarim!�. Quando chegava no palco, tudo mu-dava. Ensaiamos no mesmo dia e só uma coisa não tinhasido marcada: como ela entrava em cena. Estranhei aquelapreocupação de Elis, porque entrar em cena é entrar emcena. Mas de noite, na hora de As aparências enganam, euia jogar uma contraluz e outra luz na frente, para iluminá-lainteira, totalmente. Eu não tinha visto ainda o vestido doClodovil que ela ia usar. Na hora que joguei as luzes, elaficou literalmente pelada, o vestido era transparente.�

Abr

il Pr

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Show �Essa mulher�, 79: a orquídea, como Billie Holiday.

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O maior sucesso do disco e show Essa Mulher foi, semdúvida, a música O bêbado e a equilibrista, de Aldir Blanc eJoão Bosco, que se transformou no Hino da Anistia. Um per-sonagem em especial acompanhou de perto o que foi para Elister gravado essa música e, mais ainda, o que representou paraela a vitória política na anistia: Henfil, cantado na letra da can-ção por causa de seu irmão Betinho, exilado. Seu depoimento:

�Do jeito que ela estava, percebi que era para largar tudoe ir. Quando cheguei, ela me mostrou uma fita do João Boscocantando O bêbado e a equilibrista. Não me lembro de tergostado ou não da música. Ela ficou chorando o tempo in-teiro. O César estava perto e não sabia o que fazer, estavademais. Talvez ela tenha antevisto a importância que teriaessa música, coisa que não percebi. Talvez já soubesse quetipo de voz ia colocar, repercussão que iria ter. Fiquei ape-nas feliz de finalmente ter meu nome numa música.

�Quando ela me chamou a segunda vez para mostrar oque tinha feito com a música, percebi muita coisa. O Césarpercebeu mais do que ninguém o que aquela música signifi-cava para Elis, para mim. Percebeu que aquela música ia mejogar para o alto. Eu estava mal, numa fase afetiva ruim,morando em São Paulo de cabeça para baixo. Estava comum problema de estar na lista negra da televisão. O Césarfez um arranjo para aquela música que começa com aqueleacordeão parecendo caixinha de tirar sorte. Olhei para ele,que me devolveu o olhar como se dissesse: �É sua�. Aquelaintrodução é do tipo �prepare seu coração pras coisas que euvou contar�. Desmontei ali. Quando ela botou a voz, e per-cebi principalmente que ela estava botando mais a emoçãodo que a técnica, aí desbundei. Quando acabou a música,percebi que a anistia ia sair. Estávamos no começo da cam-panha, que mal juntava 500 pessoas na rua. Eu tinha todo ocuidado de falar do meu irmão nas cartas da IstoÉ quando oAldir Blanc fez a letra que falava do meu irmão, ele nemsabia o nome dele.

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�Eu percebia uma coisa: a ditadura, o governo vai per-ceber que por trás dessa música não tem quem segure o mo-mento da anistia. Escrevi para meu irmão Betinho para elese preparar. �Agora temos um hino e quem tem um hino fazuma revolução.� E de fato não deu outra: o negócio cresceude tal maneira que tenho certeza de que aquilo pesou para ocomício passar das 500 para 5 mil pessoas. E aí, nos comícios,era só tocar a música e assistir. Acho que seis meses depoissaiu a anistia, antes mesmo que a oposição tivesse condiçõesde gerir aquilo, de propor outras fórmulas. No dia em quemeu irmão chegou, ainda havia um clima de saber se ele iaser preso ou não. Todas as pessoas levaram um gravador coma fita da música. No Aeroporto de Congonhas, foi aquelatocação de O bêbado e a equilibrista. Até os policiais fica-ram tocados. A TV Globo colocou a música no ar. Betinhochegou e, no mesmo dia, o levei ao Anhembi para ver oshow da Elis. Ela interrompeu o espetáculo para dizer queum dos motivos daquela música, graças a Deus, estava pre-sente. Já tinha voltado o irmão do Henfil. Era como se Elisme dissesse: �Estamos quites�. Já não me olhava com jeitode culpada.

�Elis era a voz do estômago do Brasil inteiro. Eu mesinto agora mais tranqüilo, porque passo a ser uma espoletade uma grande explosão, de uma grande artista. E foi aí queaprendi uma coisa: arte e caráter não têm absolutamenteuma coisa a ver com a outra, infelizmente. Ou felizmente�.

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Abr

il Pr

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Março de 80: �Saudade do Brasil�estréia no Canecão.

Em 1980, três dias depois de ter completa-do 35 anos, Elis estreou no Canecão, no Rio, o espetáculoSaudade do Brasil. Era o resultado de um trabalho de me-ses. No palco, 25 pessoas: Elis, treze músicos e onze bailari-nos. Márika Gidali comandou a dança. Marcos Flaksman, ocenário. E, na direção, Ademar Guerra, que conta:

CAPÍTULO XCAPÍTULO X

Eu vi a Rita Lee lamber o microfo-ne. Passei anos da minha vida comvontade de fazer isso e com medode ser eletrocutada.

Elis Regina

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�Deram a Elis um camarim belíssimo. O Canecão acre-ditava em estrelas, não em astros. O camarim da estrela eraótimo e os do resto da equipe eram cubículos. A primeiracoisa que Elis fez foi dizer: �Quero redecorar tudo isso aqui!�.Chamei-a de lado e falei: �O que é isso? O camarim estáótimo!�. E ela: �Fique quieto, tem de ser assim, senão elesnão respeitam!�. E arrematou: �E, depois de quem esteveaqui antes, vou mandar benzer�. Era a Bethânia.

�Durante os ensaios, Elis era muito tímida. Fazia os exer-cícios com a Márika Gidali porque era solicitada a fazer.Queria fazer, mas morria de vergonha de ser normal, denão ser excepcional também numa aula de dança. Fazia pia-da, falava, tentava bagunçar o coreto. E não conseguia. Pri-meiro, porque a Márika é muito firme e, depois, porque amolecada que estava junto já tinha certa prática e não tinhavergonha. Ninguém embarcava.

�Depois que estreou o show, Elis brigou comigo. Euestava em São Paulo, ela telefonou e disse: �Você tem de virde qualquer jeito�. Eu trabalhava em outro espetáculo, nãopodia ir. Elis ficou furiosa. Mas eu sabia que não tinha acon-tecido nada com o show. Na verdade, só estive na temporadacarioca de Saudade do Brasil uma vez. Foi quando o Sindi-cato dos Atores do Rio de Janeiro queria demitir todo oelenco paulista para colocar atores do Rio. Aí fui correndo.Elis não disse nada, mas notei pela cara dela que ficou furi-osa, porque quando me chamou eu não fui. Não passavapela cabeça dela que eu tinha de intervir num problema comoaquele dos atores. Talvez não entendesse que sem os atoresoriginais o espetáculo acabaria�.

Paulo Garfunkel, o Magrão, tocou em Saudade do Bra-sil. Saxofone e flauta:

�Quando viajamos para o Rio, antes da estréia, fui comElis de carro. E eu tinha certa tensão na minha relação comela, que era o fato de eu ser compositor, e se a Elis gravasseuma música minha ia ser a glória. Porque a Elis e o César,

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para nós, eram meio parâmetros de qualidade. E, logo decara, falei para ela: �Faço música e quero que você saiba dis-so�. Quis falar logo e rápido. Ela achou ótimo, foisuperbacana. Ela nunca nos deu um toque profissional demaneira áspera, apesar de ser uma pessoa, algumas vezes,áspera. Mas eu sentia uma preocupação muito humana dela.Para mim, o que mais determinou a nossa relação foi o ladopessoal.

�Eu vi o humor dela e vi a ira também. Ela possuía umacoisa que também tenho, que é o culto da ira. Ser uma pes-soa irada. Há pessoas que começam a falar, se inebriam esentem um puta prazer nisso. Eu gosto, acho superengraçadouma pessoa de mau humor, simpatizo com os mal-humorados. Ela também. Nessa viagem, foi um barato. NoRio, ficamos num apartamento alugado pelo Canecão paratodo mundo, em Copacabana. Virou um gueto � não nosentido de segregar, mas no de ser todo mundo jacu, de SãoPaulo, paulista. Aí é que ficamos superamigos. Na penúlti-ma sessão de Saudade do Brasil fizemos uma reza. Ela can-tou olhando para todo mundo, e todo mundo meio cho-rando. Ela passou uma puta energia para cada um de nós noolhar. Não conheço ninguém que se dê daquele jeito can-tando.

�A gente se encontrava sempre para conversar abobri-nha, fazer besteira, xingar os outros. O Natan também é umgrão-mestre da abobrinha, e era só risada, inebriante�.

Elis deixou um presente para seu amigão Magrão. Umpoema, escrito durante as gravações do disco feito para aOdeon, em 1980. Nem ele nem ela sabiam o que seria feitocom isso. Tinham a vaga idéia de transformá-lo numa letrade música:

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Barrica de milhoVidro de puxa-puxaSalame, azeite, pãoVitrina da maria-moleO Correio no balcãoCachaça com UnderbergerBalança de dois pratosA venda do vovôCamiseta e suspensórioCalça de pano riscadoO Patek de correnteSanduíche de lingüiçaCerveja com tremoçosCaramanchão de chuchuVinho, escopa, boliche

Gravando a íntegra de �Saudade do Brasil�, no estúdio, em 80.

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As graças do meu avôCheiro de café nos sonhosRelógio embalando o sonoAs risadas dos gurisO pigarro do juízoO baú verde no quartoO bandoneón do JucaA Dinda e o Lencinho BrancoMinha cama de sanfonaA casa do meu avôO calor, o aconchegoCumplicidade no arA perna esquerda mancandoO óculo redondinhoA cabecinha prateadaDe repente, um medo loucoUm beijo num fim de tardeUma ambulância, na macaEsse vazio, vovô...

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Com Natan, amigo ecompanheiro

de muitos shows.

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Natan Marques tocava na boate La Licorne, famosa casade prostituição de alto luxo em São Paulo, antes de entrarpara o grupo e na vida de Elis Regina. À primeira vista, tam-bém parece uma pessoa desconfiada, mas o código da since-ridade é o bastante para conquistar Natan. Ele joga aberto.Natan, por meu testemunho, pelo testemunho de Rogério ede sua mulher, Biba, é seguramente uma das pessoas quemais entendiam Elis. Não há coisa que ele não saiba. Pormeio dela, ou não. Ela geralmente lhe contava as coisas davida em conversas que sempre acabavam em galhofa. ParaNatan, Elis era uma rainha, e ele era feliz por fazer parte doseu séquito. Além do mais, ele tinha a enorme vantagem denão ser casado com a patroa.

�Durante a temporada de Transversal do Tempo em SãoPaulo, Elis estava numa encrenca danada com o César e issoestava começando a passar para o palco. Era o inferno. Pas-sei por muita encrenca entre os dois. Às vezes, sem querer,eu estava no meio. Fiquei muito íntimo. Nunca conseguiser aquilo que eu queria com o César. Não sei se, de repen-te, ele tinha de me aturar ou eu aturar ele. E a Elis vivia mechamando: �Vamos lá para casa?�. Muitas vezes eu ia sem que-rer, não sabia dizer não. Não sei se eu servia para algum tipode segurança para ela. A gente se juntava para jogar conversafora.

�De vez em quando, hospedado com os dois, eu acor-dava no meio da madrugada com aquele barulho. Eles que-bravam tudo. Um dia o César me acordou e disse: �Ela foiembora�. Falei: �Vai dormir que ela volta. Não me enche osaco, quero dormir, não agüento mais�. Uma vez, estávamosno Gurgel e falei brincando com eles: �Não agüento maisver vocês brigando de noite e de manhã acordarem feitopombinhos. Vou comprar uma arma para matar vocês!�

�Quando terminou o show, ninguém mais se falou.Achei estranho, e mais estranho ainda quando eles forampara Montreux e levaram outro guitarrista. A Elis tomou

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um porre lá com o Luisão e me mandou um cartão-postal,dizendo que foi a maior sacanagem que tinha feito comigo.Mas em 1980 eu estava em casa e toca o telefone: era o Césarme chamando para conversar. Fui. Eu estava louco para tra-balhar de novo com eles, mas estava magoado. Quando oCésar me viu, disse: �Tá bom, pode me xingar�. Fiquei quietoe voltei ao grupo.�

Final da temporada de Saudade do Brasil, Rio, churras-caria Plataforma, madrugada, mesa de oito: Elis e César, Natane Odete, Rogério e Biba, Sérgio e Celina. Celina é filha deWalter Silva, o Pica-Pau, velho conhecido de Elis. Celina nãoesquece o que aconteceu aquela noite na churrascaria:

�De repente chegou uma menina na mesa e Elis achouque ela estava paquerando o César. Começou a falar alto,dizendo que ia virar a mesa. De repente, me chamou para ir

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Com quatro dos onze músicos de �Saudade do Brasil�.

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ao banheiro. Chegou lá, levantou a roupa e me perguntou:�Você acha que eu sou horrível? Estou velha, gorda, feia?�. Ecomeçou a chorar. Quando voltamos para a mesa, começoua infernizar o César de novo, e infernizou tanto que ele vi-rou a mesa. O cabelo do Natan ficou cheio de arroz�.

Antes que terminasse o contrato de Elis com a Warnerela fez um especial de tevê para a Rede Globo. Elis ReginaCarvalho Costa, direção de Daniel Filho, exibido no fim de1980. Para esse especial foi criada uma camiseta com a ban-deira do Brasil estampada no peito. No lugar de �Ordem eProgresso�, mandaram escrever �Elis Regina�. A censura nãogostou e a camiseta circulou apenas fora do vídeo.

Poucas semanas depois, no comecinho de 1981, Elis vi-rou a mesa. Seu nome entrou para as colunas de fofocas:Elis e Fábio Jr. viajam juntos para os Estados Unidos. Defato, Elis viajou com Fábio Jr. para Nova York e ele ficou láapenas uma noite. Na manhã do dia seguinte, embarcou devolta para o Brasil. Elis pegou as malas e foi para Los Angeles.Hospedou-se na casa do saxofonista e arranjador WayneShorter e, de lá, telefonou para César Mariano:

�Elis tinha me falado que precisava ir sozinha para LosAngeles, para provar para ela mesma que independia de mim.Quando ela disse isso, no quarto das crianças, na Joatinga,no dia em que a gente se separou, entendi mais ainda tudo.Eu disse: �Vá para provar que Elis Regina é Elis Regina, quesobrevive sozinha em qualquer parte do mundo�. E ela foi ese deu bem. Estava com o Wayne, com o Quincy Jones e oHerbie Hancock. Era o início de um projeto de uma carrei-ra internacional mais forte. Ela ia também gravar um discolá. Aí voltou a insegurança de Elis e acho que alguma coisaalém de insegurança. Lá, no meio dessa gente toda, ela meliga e diz para eu ir para lá, porque todos estavam pergun-tando por mim. Todos diziam que precisavam de mim paragravar o disco. Mandei a Elis para a puta que pariu. Não fui,brigamos no telefone. Aí ela resolveu gravar o disco aqui no

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Brasil e trazer os arranjos. Quando voltou dos Estados Uni-dos, reatamos�.

O disco de Elis com Wayne Shorter não saiu. Existe umaestranha história envolvendo mais essa tentativa de Elis deser internacional, num trabalho de qualidade. César Marianoconta:

�Wayne Shorter ficou hospedado lá em casa, na Joatinga.Ele exigiu uma banda que tivesse o Natan, o Luisão, o Pico-lé. Exigiu essa banda 24 horas por dia. E ficamos lá em casamais de um mês, com teclados, bateria, baixo, tudo. Ele acor-dava de manhã de jogging, Elis fazia ovos com bacon paraele e ele rezava três vezes por dia na religião budista. Elisaprendeu com ele. E o Shorter compondo, compondo. Atéesse momento, não se falava em letra, em Elis cantando, elenão tinha uma participação determinada para Elis no disco� o disco era dos dois. Ficamos perguntando entre nós: quan-do é que a Elis vai entrar?

�Uma vez, interrompi o trabalho e perguntei. Aí elecoçou a cabeça e disse: �Aqui tem oito compassos em que elapode fazer um vocalise�. Bom, mas quem ia fazer a letra, oque ela ia cantar? Em nenhuma hipótese conseguimos falarcom o empresário, Joe Rufflos, o cara que tinha armadotudo. Na CBS, ninguém entendia o que estava acontecen-do. Quando chegamos no estúdio da Som Livre (via CBS),havia quatro temas prontos. E complicadíssimos, tanto quetive de traduzir a escrita dele, que é de jazz clássico, comcódigos esquisitos. Quando chegamos ao estúdio, às noveda noite, havia um engenheiro de som e um técnico ameri-canos, independentemente dos brasileiros, que estavam debraços cruzados, mais outro auxiliar e uma quantidade fan-tástica de equipamento. Tinha mesa de gravação, outra mesapara acoplar na da Som Livre. Lá dentro, um piano elétri-co, um amplificador de baixo, de guitarra e uma superbateriaarmada, toda microfonada com um baterista americano, quejá tinha passado o som. E o Picolé com sua bateria debaixo

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do braço. Ninguém entendeu nada. Havia vinte canais dis-poníveis para a bateria. Elis foi ficando puta. Detalhe: nin-guém falava com a gente, só com o Wayne Shorter. Ficamospara ver o que acontecia. O Wayne distribuiu as partituras,deu a do baterista e me disse: �Não precisa se preocuparmuito, só em fazer a sua parte, porque baixo e guitarra nósvamos colocar nos Estados Unidos. Vocês vão servir de guia�.Eu falei: �Como é que é?�. Minha cabeça começou a estalare não tive reação na hora, sou meio retardado para reações.Aí resolvemos passar, e o Wayne Shorter chegou perto demim, pegou minhas duas mãos de cima do piano, tirou deum lado e passou para o outro: �Toca aqui�, ele disse. Desli-guei o piano, levantei e falei: �Não tem mais gravação, des-culpa, o nosso produtor não está aqui, não estou sabendo oque está acontecendo. Elis não sabe o que vai cantar e cul-mina com essa história do baterista�. Ele disse então: �Thankyou�. Pegou seu saxofone, passou em casa, pegou suas coisase foi embora.

�Havia muita expectativa sobre esse disco. Falava-se de-mais da minha projeção internacional, pouco se falava doprojeto que era na carreira de Elis. Acabou sobrando paramim: fui acusado de ter sido o causador da dissolução doprojeto. Paciência...�

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No começo de 1981, seu último ano de vida,Elis voltou dos Estados Unidos e participou, como convida-da especial, do programa de Gal Costa para a TV Globo. Euestava lá e não pude acreditar no que via. Elis, pessimamen-te vestida num longo azul-nenê e com uma maquiagemcarregadíssima. Eu, que já tinha visto Elis cantar em públicomil vezes, estranhei. Parecia mais tímida do que de costume.Cantava com os olhos fechados e mal conseguia encarar osolhares insistentes e carinhosos de Gal Costa. Achei muitoesquisito. Algumas outras pessoas acharam a apresentaçãofantástica pela verdade de Elis naquele momento: uma ti-midez absurda diante de uma grande cantora que a realçavaem seu próprio programa. Caetano Veloso foi um deles:

�Fiquei impressionadíssimo com a Elis. Achei ela fan-tástica. Era um músico�.

CAPÍTULO XICAPÍTULO XI

Decifra-me ou devoro-te? Não vaime devorar, nem me decifrar nun-ca. Eu sou a esfinge, e daí? Nessenarcisismo generalizado, me dá li-cença de eu ser narciso um pou-quinho comigo mesma? De fazercomigo o que bem entender, seramiga de quem quiser, de levar paraminha casa as pessoas de quem eugosto? Bem poucas pessoas vão co-nhecer a minha casa. Sou a Elis Re-gina Carvalho Costa, que poucaspessoas vão morrer conhecendo.

Elis Regina

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Tentando recuperar sua relação com César, Elis come-ça os preparativos de um show no Canecão paulista. Ela cha-mou Fernando Faro para dirigir e Elifas Andreato para fa-zer o cenário. O clima era de desconfiança quando Elis foiapresentada a Elifas. Na verdade, os dois se odiavam. Conhe-ciam-se muito de ouvir falar e cada um tinha péssimos adje-tivos para qualificar o outro. De qualquer maneira, Elifasresolveu tentar:

�Nossa primeira conversa foi interessante. Saí mais oumenos convencido de que daria para trabalhar com ela. Le-vei uma maquete, fomos para o Canecão e aí tudo aconte-ceu. Elis brigou com César Mariano. Ela chegou um dia comhematomas, óculos escuros e disse: �Não quero mais o Césaraqui dentro�. Ninguém sabia o que fazer. Ela disse que nãoo queria nem no show nem na vida dela. O Faro não sabia oque fazer. Elis não queria sequer que o nome do César fosse

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Gal convidou Elis para seu especial na Globo em 81.

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pronunciado lá dentro. Um dia ela chegou a mandar o Faroembora por causa de uma brincadeira: �Baixinha, sabe comquem estive hoje? Com o César�. Ela estourou, ficou furio-sa. O Fernando Faro queria ir embora e passar a direçãopara mim�.

César Mariano certamente não esperava que a separa-ção desta vez fosse definitiva. Não esperava que Elis fossecapaz de, às vésperas da estréia do novo show, três ou quatrodias antes, demitir o pianista e o marido ao mesmo tempo:

�Sempre disse para Elis, e vou morrer dizendo, que elaera a pessoa mais normal que já conheci. Anormal sou eu.Quem soube entender a genialidade dela passou por cimade tudo. O problema da convivência era de saco, paciência.Se eu aceitava aquilo, se aturava seus ataques, até públicos,ficava muito puto por minha causa. Ficava puto com a mi-nha impotência diante das situações. Nunca fiquei puto comela. Aliás, só fiquei puto no dia em que rompeu comigo. Epelo lado profissional, porque faltavam poucos dias para aestréia. Não entrou na minha cabeça que Elis pudesse tomaraquela decisão. Mas mesmo assim entendi que era um gran-de lance para ela. Ela disse: �Sai fora que eu vou sozinha�.Saí fora, fui para um hotel e fiquei em contato pelo telefonecom o Natan e o Faro. Não assisti ao show nunca�.

Sem César, Elis apelou para Natan. Deu a ele a missãode fazer os arranjos e cuidar da direção musical do show.Elis tentou convidar o velho amigo Luís Loy para tocar pia-no no lugar de César Mariano. Loy não pôde aceitar: con-valescia de uma implantação de cabelos. O pianista escolhi-do foi Paulinho Testa (Esteves), que dividiu os teclados comSérgio Henriques. Natan tinha pouco tempo para essa mis-são, mas estava com Elis. Enquanto ela fez uma rápida via-gem ao Chile, para cumprir um contrato, Natan preparou eensaiou Trem Azul. Era um espetáculo revelador, e a pri-meira vez em que vi o público se levantar no meio de umamúsica, para aplaudir Elis. Eu não gostava especialmente da

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série de músicas que ela cantava em frente de um aparelhode televisão, apoiada por acordes do programa Fantástico.Sua roupa também era muito parecida com o macacão queRita Lee usou em seu especial para a TV Globo. Mas isso erao de menos. Elis estava cantando como nunca.

Samuel MacDowell era advogado de Elis Regina. Algunsdias antes da estréia prevista de Trem Azul, ela procurou seuescritório no centro de São Paulo. Queria adiar o show.Samuel conta:

�Eu era uma pessoa idolatrada por ela, que me respei-tava e me concedia certa ascendência. Tanto é que o César,depois de se separar da Elis pela última vez, me procuroudizendo que eu era uma das pessoas que ela mais respeitava.Nesse dia eu tinha chamado Elis à minha sala para saber oque estava acontecendo. Ela queria adiar o show. Acho quetinha muita relação com a separação do César e o fato deestar trabalhando sem ele. Fora isso, também parecia muitoinfeliz, a ponto que a levava a ter medo de estrear o show. Aídei um esporro nela. Foi uma conversa longa, de pelo me-nos uma hora. Ela chorou e não falou muito. Ouviu. Masfoi e resolveu.

�Fui vê-la na estréia. Nunca tinha assistido a um showque tivesse me impressionado tanto. Fomos jantar com umbando de gente. E o que mais me impressionou em Elis foi apureza dela. As mentiras que inventava eram sempre ditasem defesa de alguma verdade. Era ingênua. Esse é um pontofundamental, chave de sua personalidade � considerar queuma pessoa mente para poder afirmar a verdade�.

Poucas semanas depois da estréia de Trem Azul, o com-positor Roberto de Carvalho foi ver Elis no Canecão paulista.Sua mulher, Rita Lee, aos nove meses de gravidez, ficou emcasa. Roberto viu o show e depois foi ao camarim. Assistiu auma cena inesquecível:

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22 de julho de 81: �Trem Azul� estréia no Canecão�Anhembi, SP.O último show de Elis.

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�Elis estava passando mal. Os olhos meio revirando, ocorpo balançando. O camarim era meio apertado. Ela foicaindo e fechamos a porta do camarim. Parecia que estavacom falta de ar e desmaiou. Demorou uns dez, quinze mi-nutos para voltar a si, e me lembro de ter desenrolado sualíngua. Quando acordou, Elis disse que isso era alguma coi-sa que estavam fazendo contra ela. Alguma coisa ruim quequeriam fazer contra ela�.

Certamente Elis já estava usando cocaína nessa época.Com certeza, ela a havia experimentado seis meses antes,quando esteve nos Estados Unidos. No entanto, como emtantas outras coisas suas, Elis era reservadíssima nesse assun-to. Roberto de Carvalho nem suspeitou que ela estivesse,naquela noite, sob o efeito de pó. Mas tudo leva a admitirque, durante a temporada de Trem Azul, o pique de Elisnão era puramente natural. Vendo as fotos, percebe-se queseu corpo afinou. Pela voz e pela soltura da voz, percebe-seque Elis ia até o fundo do poço, sem medo.

Difícil de acreditar. Elis não gostava de drogas. Jamaisgostou. Falava mal de quem gostava. A primeira vez que mefalou sobre maconha foi em 1980, durante o show LançaPerfume, no Anhembi. Rita Lee me disse que uma vez Elisfoi visitá-la e mostrou uma carteira com vários cigarros,muito bem enroladinhos. Elis se dava muito bem com o ca-sal Rita e Roberto. Rita conta por quê:

�A primeira vez que Elis nos pediu uma música, fize-mos Alô, alô, marciano. Ela avisou que queria uma coisanossa, não uma coisa para ela. Quando Elis nos mostrou agravação, estava bem diferente do que tínhamos feito. Rit-mo, tudo. Ficamos chapados, aonde ela foi naquilo tudo.Foi aquela coisa de dar uma pincelada, fazer os comics dela,os high societies. Fiquei surpresa com o carinho que ela ti-nha com tudo o que fazia. Gostamos. Na nossa versão, erauma coisa mais Jorge Ben, mais acelerada. Ela fez um jazzmeio para o space, uma coisa meio suingada, indolente.

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Claro, qual era a dela de fazer uma coisa igual à que a gentemandou? A dela era de co-autora mesmo.

�Depois de Alô, alô, marciano, viramos amigas de tele-fone. Era toda semana, uma coisa assim meio de massagista.Se eu tinha visto não sei o quê na revista, o que eu achava, seeu tinha visto fulano falar dela ou se eu estava a fim de fazeras pazes com Chico Buarque porque tinha de acabar comesse negócio de uma vez por todas. Outras vezes telefonavaperguntando se a gente não queria fazer uma excursão até oXingu, uma caravana cigana comandada por Tom Jobim,Roberto Carlos, Chico Buarque, Milton Nascimento, todomundo, e nós duas atrás, com os filhos todos chegando lá efazendo uma revolução, para tomar o Brasil. Ela enfeitavabem mais a passeata dela, não era um processo em preto-e-branco, era colorido, tinha rock, tinha tudo. Podia tudo.

�Nosso outro encontro foi no Mulher 80. Ela ficou debraço dado comigo o tempo todo e falava assim: �Eu não medou com esta, não me dou com aquela, daquela não gosto,então vou ficar com você�. Teve um clima estranho no final.O Daniel Filho propôs que todas as mulheres dessem as mãose fizessem uma grande roda, aquela coisa para fazer slowmotion depois. Em seguida ficávamos agachadas debaixo dopalco e, quando o Daniel gritava �Saiam todas�, subíamos osdegraus. Aparecia todo mundo lá no fundo do palco. Tinhade descer assim, toda jovial. Tinha muito tricô rolando.

�A idéia da Elis era fazer uma cooperativa comigo e com oRoberto. Enquanto eu fazia show, ela fazia disco. Elis achava quepodíamos rachar a produção, rachar os custos com equipamen-to. E aconteceu uma coisa incrível quando o Rogério estava tra-balhando com a gente. No especial Saúde, estávamos gravandono Anhembi para a televisão e eles pegaram uma bronca minhapor causa do som. Na montagem da Globo, na hora da minhagritaria, aparecia a cara do Rogério. Eu não estava gritando comele, mas com os técnicos do Poladian. A Elis ligou para mimindignada e expliquei que tinha sido um problema de edição.

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�Nos telefonemas, a gente conversava sobre o que esta-va rolando. Ela dizia assim: �Amiga, a gente mora aqui emSão Paulo, não fica fazendo gracinha para a revista Amiga,não faz topless em Ipanema�. Me chamou para ir para aCantareira, tanto que acabei comprando um sítio lá. Teveuma fase que Elis ligava todo dia, toda hora, enchia até. Ti-nha vezes em que eu tinha de cortar a conversa.

�No primeiro especial do Lança Perfume que grava-mos na Globo, a Elis apareceu lá em casa para assistir juntocom a gente. Eu estava nervosa, nunca tinha feito um pro-grama assim para a tevê. Ela entrou e eu disse: �Pô, Elis,vou assistir ao especial perto de você? Você vai ficar vendotodas as minhas desafinadas, vou ficar péssima�. E ela dis-se: �Que nada, não adianta, você não vai me expulsar dasua casa. E pára com esse negócio de dizer que não sabecantar�. Fiquei nervosíssima de todo jeito. Tapava o ouvi-do dela quando eu sabia que ia desafinar, conversava alto.Morria de vergonha de cantar perto dela. Do João Gilber-to não, mas da Elis sim. Ela era uma perfeição. Certa vezoperei os calos das minhas cordas vocais � eu tinha dois � eo médico me disse que eu teria de ficar um mês sem falar,era o segredo da operação. Depois falei com ela e pergun-tei: �Você ficou um mês sem falar quando operou as cordasvocais?� Ela me respondeu: �Imagine se eu vou ficar ummês sem falar!�

�A Gal canta com a voz da cabeça. A Elis cantava comtodas as partes do corpo. Para mim, ela era um Jimi Hendrix.

�Quando estava se separando do César, me ligava paradizer: �Nós duas temos maridos músicos, é foda, mas tudobem, a gente segura�. Era uma coisa de cumplicidade. Àsvezes, quando brigava com o César, achava que eu tinha bri-gado com o Roberto também, de alguma maneira. Ela ligavapara conferir. Às vezes batia, mas raramente, porque nósdois não somos de ficar remoendo, fazemos as pazes logo.Ela virou meio filha depois que se separou do César. Me

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ligava para dizer que tinha saído com não sei quem, umamenininha. E a última lembrança forte que tenho de Elisfoi quando gravou Me deixas louca na Som Livre. Eu tam-bém ia entrar no estúdio e fui mais cedo para falar com ela.Ela disse: �Você vai escutar pela primeira vez�. Estava tãoemocionada que sentei na frente da mesa de mixagem, ela sedeitou no meu colo feito uma criança. E ouvimos a músicaassim. Ela enfiava o dedo na boca e eu batia na bunda dela edizia: �Sua danadinha� �.

Nesse período, Elis escreveu uma carta a Rita e assinouElizabeth Maria, uma de suas personagens quando brincavacom a amiga, uma especialista em criar personagens:

Rita querida:Foi bom ter te conhecido mais um pouco. Obrigada

por tudo.Conversei tanto com Henfil a teu respeito. E a respeito

da música que você fez pro Vlado (N.A.: Vladimir Herzog,jornalista morto nos porões do DOI-Codi, da Rua Tutóia,em São Paulo). Ele ficou surpreso, primeiro. Feliz, depois.E puto pela impossibilidade de ela estar sendo cantada.

Pede que você vá tentar mais uma vez. E que, se der, elegostaria de incluir a música na peça.

Dados os recados. Dois pra lá, dois pra cá.Manda (o Henfil, claro) esse �desenho� �como prova de

afeto�. Uma mão estendida em sinal de à espera de reconci-liação.

Enviado o presente.No mais, um beijo do nenê;

um abraço no companheiro de fé responsa;um cheirinho no cangote, gosto muito de vocês.

Outra carta de Elis. Uma carta de amor. Escrita a SamuelMacDowell de Figueiredo em 1981. Entregue por Samuel aRogério Costa depois da morte de Elis:

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Sam:Nos desencontramos, creio, nos elevadores.Você descia e eu subia. Isso me disseram. Lamento. Dói

te saber tão próximo e não ter te visto!!! Essa saudade! Essavontade!

Perdoe. Não te desprezei. Deixei de ir ter contigo por-que estava na captura de velhas histórias, de velhos carinhos.Fiquei com Géio, meu prematuro filho.

Me senti feliz vendo meu irmão alegre, com gestos sua-vizados, olhar doce, palavras cheias de carinho.

Saí na busca dos nossos velhos laços. Que se desamarra-ram por iniciativa e batalha pessoal de terceiros. Que conta-ram com nossa fragilidade, nossas ansiedades, nossa quaseincompetência para exercer a paixão que nos aproxima e fazquase sermos a mesma pessoa.

Ainda que não te tenha visto, abraçado, sentido, creia,ainda assim me sinto feliz.

Géio e eu não nos temos inteiros há dois anos. Não nospresenteávamos momentos irmãos, confiantes e apaixona-dos, faz esse tempo.

Por quê? Incompetência nossa. Ou excesso de compe-tência dos outros. Hoje foi o dia. Abraço sem medo, mira-bolantes programas futuros, mostrar que a gente se quer,dizer coisas guardadas por teimosia.

Hoje foi o dia de se re-ter, re-tomar e re-sentir, re-apertar. Hoje era o dia das velhas histórias, velhas conversas,velhas malícias. História velha.

Hoje era o dia de re-acender a chama da mútua forna-lha que nos empurra mundo afora, a vida adentro, na cap-tura de um sonho e continuar, sempre e sempre, próximose aliados. Coniventes, se preciso. �Que vocês só têm os dois�,dizia a fornalha.

Mais velhos, com marcas, cobranças, nos revimos. Comcerteza, porém, do afeto que temos um pelo outro. Com aconsciência que esperamos um do outro. Senhores da con-

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fiança que retomamos. Merecedores do ar idiota que, derepente, nos tomou e empurra pra abraços, lágrimas, con-fissões e tudo a que tínhamos direito. Ou acreditávamos ter,graças ao vinho. E à saudade também...

Não te vi. Aumenta meu saldo negativo. Amanhã, comovai ser? Não quero imaginar. Sinto uma saudade enorme eque cava um buracão aqui dentro. Sei que você não vai des-culpar essa ausência, sei que deve estar completamente doi-do de raiva de tudo. Sei que estou mal com você, perantevocê.

Sei tudo. Nem precisa tocar no assunto.Entretanto, não consigo me sentir pesada, culpada,

odiosa mesmo. Porque sinto, sinceramente, que fiz o queprecisava e desejava fazer. Fiz o que minha ansiedade pedia,fiz o que meu universo precisava. Re-tomei minha históriacom meu irmão e/ou filho.

Ainda que você esteja me detestando, não consigo mesentir uma coisa que não merece ser gostada. Eu estou megostando mais que ontem. Estou mais legal com a minhabagagem. Quando nós nos reencontrarmos hoje, no fim datarde, sei que vou estar melhor para você. Porque estou bemcomigo.

Viva a Vida, que é feita de dias atrás de outros dias!!!Não deixei de lembrar de você o tempo inteiro. Você

estava sempre comigo. Te amo mais cada dia. Te quero ab-surdamente muito. Preciso do seu carinho. Quero, careço epreciso de ver você e seu olhar cor de caramelo. Estou mor-rendo de saudade da sua boca e do seu gosto.

Me queira bem. Me ame muito. Me ame bom.Te amo, sou tua.

Elis.

Durante a temporada de Trem Azul, Elis também re-solveria, por escrito, sua relação com um afeto que viroudesafeto e que tentava recuperar: Caetano Veloso. Os dois

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se conheciam desde a época da TV Record. Na platéia doTrem Azul do Canecão, São Paulo, Caetano Veloso recebeuum bilhete de Elis. A relação dos dois nunca foi muito ínti-ma nem muito assídua. Mas era uma história forte. Caetanoconta:

�Ela foi a primeira artista sofisticada da música populara se tornar conhecida através da televisão. Isso tem valor his-tórico, que, mesmo que Elis fosse uma péssima cantora, jáseria uma coisa de grande porte. O problema de Elis erasem dúvida um problema de insegurança intelectual e deprestígio, no sentido de saber se o que estava fazendo erauma coisa séria. E o Tropicalismo mexeu com tudo isso, o

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Rogério Costa gravou o show da irmã em fita cassete, só para registro,como sempre fazia. Não podia imaginar que essa fita acabaria

se transformando no álbum �Trem azul�.

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que era sério ou não, o que era respeitável ou não, o que erakitsch, o que era chique. Tenho a impressão de que oTropicalismo não deve ter parecido a ela uma coisa ameaça-dora ou má. Acho que ela ficou balançada, é isso � aquilo iapara todos os lados e acho que ela ficou sem saber.

�Conversamos algumas vezes. Ela conversava de umamaneira que variava de tom. Ela estava falando assim de umacoisa meio genérica e, no meio, entrava uma rixa com algu-ma pessoa. Podia começar a rir no meio ou assobiava feitomoleque, com os dois dedos. Era uma pessoa muito engra-çada.

�Quando Elis foi gravar Boa palavra, fiquei superfelizporque fiquei imaginando aquela voz. Quando ouvi, nãoadorei tanto porque o refrão da música tinha uma harmo-nia e uma coisa interessante na composição, que o arranjomudou. Para isso Elis mudava um pouco a melodia. Gosteimais de Samba em paz e, quando ouvi No dia em que eu vimme embora, em Falso Brilhante, desbundei. O show era des-lumbrante. Nós nos víamos algumas vezes, conversávamos eera bom. Ela era muito desconfiada e tenho a impressão deque uma vez falou para alguém: �Nunca sei se, quando oCaetano fala de mim, fala aquilo como realmente um elogioou se tem alguma ironia�. Me lembro de uma premiação emSão Paulo e depois de um coquetel, quando ficamos con-versando, eu, ela e o César. Era um lugar muito careta eentão sentamos no chão. Eu disse: �Elis, você cantou lindoNega do cabelo duro�. Ela ficou assim meio estrábica, olhoubem para mim e disse: �Por quê?�. �Mas como, por quê?�,eu falei, �eu gostei à beça de você cantando�. Aí o César ficouquieto, dando aquele sorriso. Depois a Elis riu, nos abraça-mos. Quando estávamos sentados lá, chegou um senhor meiocareca e falou para mim: �Você há anos atrás escreveu umartigo contra o meu livro�. Era o José Ramos Tinhorão. Elecomeçou a falar comigo de uma maneira gentil, porque eurealmente tinha escrito aquele artigo e ele sabia que minhas

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opiniões sobre música brasileira não coincidem com as dele.O Tinhorão começou a dizer coisas para a Elis, indireta-mente. Falou que ia escrever um artigo sobre a mentira dosucesso dos brasileiros no exterior, porque muita gente di-zia que ia para o Olympia e abafava. Elis não falou nada.Ficou zarolha e quieta.

�O show Transversal do Tempo motivou a carta-bilheteque ela me escreveu quando fui ver Trem Azul, em São Pau-lo. Não gostei da parte do show quando ela cantava Gente edescia aquele cartaz de Coca-Cola escrito �Beba gente�. Con-siderei aquilo agressivo. No dia em que fui assistir, não faleicom ela. Saí, cumprimentei o Aldir Blanc e o MaurícioTapajós, que estavam no hall, e fui embora. Achei uma boba-gem. E o show também era esquisito, muito para baixo. Foina época em que eu estava fazendo o Bicho Baile Show. Foi naépoca em que o Henfil falava mal de mim e o Cacá Dieguesfalou sobre as patrulhas ideológicas. O Henfil nos apelidoude patrulha odara. E essa música Gente era do Bicho BaileShow, que eu queria que fosse um espetáculo de danceteria.Quando vi o que ela tinha feito no Transversal do Tempo,não fiquei com raiva. Mas até que eu chegasse à platéia doTrem Azul, último show de sua vida, não falamos sobre isso.Nesse dia estávamos eu e a Sônia Braga, o Gil e a Flora. Elismandou um bilhete para o Gil e outro para mim. O meuera enorme, parecia uma carta. Era para dizer que me ado-rava e que no Transversal do Tempo ela não queria me agre-dir, que foram os diretores, que ela não concordava e queestava arrependida. Era uma carta explicativa. Depois fomosao camarim e ela estava bebendo conhaque e rindo muito.Me contou que chamou meu pai de João e o nome dele éJosé: não adiantava, ela iria sempre chamá-lo de João. Elaestava bem louca aquele dia. E, no show, com uma voz in-crível, explorando mais possibilidades. Quando a Elis mor-reu e a Veja publicou aquela matéria, considerei odioso. Fa-lei na televisão, e dizia para que os filhos de Elis não tivessem

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vergonha, que Billie Holiday também morreu por causa dedrogas. Ninguém tem o direito de medir a necessidade deuma pessoa chegar a isso. Não sabem como isso pode seruma coisa boa também. Quando vi Elis em Trem Azul, fi-quei pensando que o contato dela com a cocaína foi, artisti-camente, muito positivo. E, depois, para uma pessoa comaquele tipo de insegurança intelectual, a cocaína resolvia �em geral a droga dá esse tipo de segurança. Teria sido genialse ela tivesse conseguido equilibrar essas conquistas com acapacidade de continuar vivendo. Infelizmente, não conse-guiu�.

Elis tinha uma relação muito particular com a cocaína.Quando voltou de uma viagem, fez algumas presenças amembros da produção da TV Cultura, onde gravou sua úl-tima entrevista, no programa Jogo da Verdade. Mas não to-cava no assunto nem com o irmão Rogério, nem com o na-

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Elis no camarim: antes doshow, entrada proibida.

Depois, porta aberta paraos parabéns de amigos e fãs.

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Elis nas entrevistas: articulada, sincera, contraditória.

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morado Samuel MacDowell, nem com os amigos íntimos.Alguns sabiam. Mas Elis não usava drogas na frente deles.

Ela morava num apartamento alugado na Rua MelloAlves, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Era o seu pri-meiro apartamento sem marido. Colocou seus retratos naparede, como nunca fizera. Pendurou os cartazes dos shows,os discos de ouro. Decorou-o como se fosse uma mulhersolteira com três filhos. Para esse apartamento, Elis chamoudona Ercy, que se recuperava de uma operação de hérnia.Quase não se viam mais, por causa da briga com o pai. Elisqueria uma reaproximação. Dona Ercy:

�Ela passava noites em claro e chamava sempre alguémpara conversar com ela. Eu não conhecia essas pessoas. Sem-pre tinha alguém. E eu lá. Eu não entendia. Ela tambémnão ouvia ninguém. Elis, depois que subiu na carreira, mu-dou completamente. Até subir era tudo legal, mas depoisficou estranha, estranha mesmo. Não conversava comigo.Fiquei algumas vezes com as crianças, quando ela não tinhababá. Mas não entendo por que ela não ia me ver. Não en-tendo muitas outras coisas. Não é porque morreu que voudizer que ela era um doce de coco. Não era�.

Celina Silva tinha virado uma espécie de secretária deElis. Não saía do apartamento:

�Quando dona Ercy estava lá, Elis se tornava mais forte.Elas ficavam em casa, falando de costura. Com dona Ercy lá,também, perto da mãe, ela era ótima com as duas crianças�.

No Natal, Elis foi com Pedro e Maria Rita para Foz doIguaçu. João Marcelo não quis ir. Quando voltou, ela man-dou Celina comprar um monte de presentes. Cada músicorecebeu uma jóia � uma plaquinha com uma corrente deouro. Afinal, ela os chamava de �meus sete homens de ouro�.As mulheres e os filhos também ganharam presente. Comuma bolsa vermelha na cabeça, Elis dizia, correndo pela sala:

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�Eu sou a Mamãe Noela!�Entre o Natal e o Ano-Novo, Elis chamou uma velha

amiga para uma viagem curta à praia de Juqueí, no litoralnorte do Estado de São Paulo. Uma velha amiga que ela viucrescer, Patrícia Figueiredo:

�Fomos com as crianças e Elis estava ótima. Achei en-graçado porque ela falava do César como falava do Ronaldo,parecia meio um videoteipe. Mas a coisa que mais me inco-modou foi que ela falava igual dos dois e ficava vesga. A rela-ção dela com as crianças também me chocou. Certa hora,Elis deu um tapa na cara do Pedro e, em seguida, deu umbeijo na boca dele. Nessa temporada de Juqueí, percebi comoElis estava cheirando pó. Ela estava cheirando bastante. Eme disse que nem o Rogério nem o Samuel sabiam�.

1982 começou com mil projetos: o casamento com oadvogado Samuel MacDowell, uma gravadora nova, Som Li-vre, um disco novo � sem César Mariano. Uma banda nova.Uma casa nova, que ela estava procurando.

Trem Azul ganhava da crítica paulista o título de me-lhor do ano. Na noite em que soube disso, Elis estava comum casaco de peles, entrando no seu MP Lafer, quando gri-tou feito criança para Patrícia Figueiredo:

�Consegui, consegui ganhar da Gal e da Bethânia�.

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Ano novo, vida nova.Elis estava cheia de planos para 1982. Por isso, para ela

e Samuel a noite de 31 de dezembro de 1981 tinha significa-do todo especial. Depois de seis meses de namoro, eles ti-nham resolvido casar. No aspecto profissional, Elis estavaansiosa para gravar seu primeiro disco na Som Livre. Tinhacerteza de que a nova gravadora haveria de batalhar o disco,incluir uma das faixas em trilha de novela da Globo e, quem

31 de dezembrode 81: com o

namoradoSamuel.

O últimoréveillon.

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CAPÍTULO XIICAPÍTULO XIIÀs vezes, só porque fico nervosa, eu rebento,Ou necessariamente só porque estou viva.

Elis Regina em Rebento,de Gilberto Gil

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sabe, torná-la uma campeã de vendagem � o que em sua jálonga carreira só tinha ocorrido uma vez, e fazia muito tem-po, com o primeiro LP, Dois na Bossa, que ela gravou comJair Rodrigues, em 1965. Amor�sucesso�dinheiro: com essetrinômio, 1982 só poderia ser ótimo.

Nada melhor para entrar bem no ano novo do que umafesta de réveillon. Elis e o namorado foram a duas. A pri-meira, na casa do músico e amigo Natan. Lá pelas duas damanhã, o casal seguiu para outra, na casa de um amigo deSamuel. Ao ver Elis e Samuel juntos, o ator GianfrancescoGuarnieri, um dos convidados, fez um discurso de saudaçãoà nova dupla. Elis encostou a cabeça no ombro de Samuel,chorou um pouco e segredou para o noivo:

�É a primeira vez que um amigo seu me introduz numaroda�.

Elis não teria um ano pela frente. Apenas 19 dias. Eforam dias agitados, ocupados e nervosos. Ela trabalhava semparar, ouvindo fitas e fitas, à procura de repertório para odisco novo. Tinha o hábito de ouvir rigorosamente tudo oque lhe mandavam. Ao mesmo tempo, tratava de organizarsua equipe, seu staff pessoal. Escolheu Lea Millon para ad-ministradora. Tia Lea, como era conhecida no meio artísti-co, já cuidava dos negócios particulares dos baianos � Gil,Caetano, Gal. Animada com a escolha, Elis anotou com todocapricho em sua agenda as funções que caberiam à nova co-laboradora.

A entrada em cena de tia Lea não significava, em abso-luto, que Celina Silva não teria mais o que fazer. Até porqueLea morava no Rio e Elis precisava de alguém ali, bem pró-ximo. Todo dia, quando chegava à casa de Elis, Celina jáencontrava uma espécie de organograma do dia. Piscianacaprichosa, Elis anotava tudo o que a secretária tinha de re-solver durante o dia. De uma coisa Elis fazia questão de seocupar pessoalmente: encontrar uma casa para ir morar comos filhos e Samuel, assim que casassem. Queria ficar com ele

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full time. Nesses seis meses de namoro, Samuel raramentedormia no apartamento de Elis. Mãe zelosa, temia confun-dir a cabeça das crianças. Afinal, o rompimento com Césarainda era alguma coisa bem recente.

Página da agenda de Elis. Treze diasantes da morte: uma estrela superocupada.

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Quem sabe, sabe: não existe transtorno maior do quemudança. Elis não queria, de jeito nenhum, que esse trans-torno ocorresse simultaneamente à gravação do disco, quecomeçaria dia 26. E já estava agoniada por não encontrarum imóvel que lhe agradasse. Finalmente, no dia 16 de ja-neiro, depois de muitas idas e vindas, ela e Samuel encon-traram o que queriam e fecharam negócio: uma casa na RuaChile, Jardim América, um bairro �perto de tudo�, comodefinem os paulistanos. Elis delirava: ia derrubar aquelaparede, mexer aqui, mexer ali. Distribuiu mentalmente oscômodos e decidiu: semana que vem, sem falta, transar amudança. Queria entrar no estúdio inteiramente despreo-cupada desse assunto. Descarregado esse fardo, surgiu ou-tro, e inesperado: Samuel vacilou. Pai de três filhos, questio-nou com Elis a influência que poderia ter essa mudança nassuas crianças. E mais: ele próprio não sabia como ia ser aconvivência com as crianças dela. Os dois passaram o fim desemana � o último de Elis � discutindo isso.

Na segunda-feira, dia 18, logo de manhã, Elis foi ver denovo a casa. Foi sozinha e não demorou, tinha convidadospara o almoço: Rogério, a cunhada Biba e os sobrinhos Ca-rolina e Rodrigo. O irmão e a família estavam fora haviavinte dias: tinham ido passar as festas de fim de ano em SãoPedro da Aldeia, no Rio de Janeiro. O almoço seria umaespécie de comemoração tardia do Natal, com direito a pre-sentes e tudo.

Foi muito divertido, lembra Rogério:�Foi ótimo. Elis já sabia que eu não estava mais a fim de

empresariá-la e, enfim, ela compreendia. Quando cheguei,foi logo me dando uma bronca porque viajei sem deixar te-lefone. No meio da tarde, fui com a Biba levar a minha filhaCarolina ao médico. A Maria Rita foi junto. Lá pelas noveda noite, voltei ao apartamento levando a Maria Rita de vol-ta. A Biba nem subiu, permaneceu no carro. Fiquei algunsminutos e fui embora. Estava tudo normal. Foi espantoso�.

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No fim do almoço, toca o telefone. Era Ronaldo Bas-tos. Elis:

�Quer que eu fique aqui o dia inteiro te esperando?Venha já pra cá!�

Ronaldo Bastos nasceu em Niterói e sempre viveu noRio. Mesmo assim, muita gente pensa que ele é mineiro,por causa de suas parcerias com Milton Nascimento, BetoGuedes e o grupo mineiro. Antes de conhecer Elis, morriade medo dela. Depois, ficaram amigos. Grandes amigos.

�Quando cheguei, Rogério, Biba e as crianças estavamna sala. O Natan e a Celina também. Deixamos o pessoal láe fomos, Natan e eu, para o quarto de Elis. Passamos a tardeinteira lá, ouvindo fitas. A gente estava ajudando Elis a es-colher o repertório. Logo ela se juntou a nós e ficamos lá,ouvindo um monte de músicas. Não vi a Elis cheirar pó. Eue Natan tomamos duas cervejas, duas latinhas que o JoãoMarcelo trouxe. Lá pelas sete da noite, Elis pediu que a gen-te saísse do quarto e fosse para a sala: queria tomar banho.Aí chegou Samuel. Ficamos por lá, papeando e ouvindomúsica, ambiente ótimo. Elis não queria de jeito nenhumque a gente fosse embora. Só consegui sair do apartamentolá pelas dez da noite�.

Natan Marques, além de ajudar Elis na escolha do re-pertório, sugeria nomes para a banda que ia gravar com ela.

Entra Natan:�Na última semana, ela estava animada não só com o dis-

co, mas também com a formação do novo grupo, porque tí-nhamos conseguido armar um grupo em São Paulo, commúsicos daqui. No dia 18, fiquei lá no apartamento ouvindofita. O repertório ainda não estava definido. Certo mesmoera só Nos bailes da vida, do Milton e Fernando Brant, que iaficar sensacional. Íamos pegar a harmonia de Something, dosBeatles, e juntar com a da música do Milton.

�Na noite do dia 18, Elis me deu uma fita com músicasdo Gonzaguinha, e a última coisa que me disse no elevador,

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As preocupações deElis na última noite:

trabalho, trabalho, trabalho.

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Anotações feitas por Elis às vésperas da morte.

Repertório de novo disco?

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antes das dez da noite, quando saí, foi: �Puxa, que pena que oestúdio só está marcado para segunda-feira. Estou louca paraentrar nisso aí amanhã ou depois de amanhã�. Eu disse: �Porque você não arranja isso? Você tem força�. Elis terminou com-binando o encontro para o dia seguinte, às três da tarde�.

Elis e Samuel ficaram então, e finalmente, sós. As duasempregadas já tinham se recolhido. As crianças estavam dor-mindo. Abriram uma garrafa de vinho branco e sentaram-se para jantar. O assunto que mais os preocupava não tar-dou a vir à tona: a mudança, o casamento, as crianças, oreceio de Samuel, o receio de Elis... Mas ela já parecia enjo-ada daquele assunto. A certa altura da conversa, para de-monstrar o quanto aquele papo a aborrecia, pegou uma capade disco, colocou-a bem na frente do rosto e fingiu ler, en-quanto Samuel falava. Ele não teve dúvida: levantou-se e foiembora para sua casa. Eram onze e meia da noite.

Antes de dormir, Samuel ainda esperou que Elis tele-fonasse ou aparecesse, para desfazer o mal-estar. Nada. Elanão ligava. À meia-noite e meia, então, ligou ele. A discus-são do fim de semana e do jantar continuou por telefone.Elis, exaltada, reforçava suas frases e argumentos com pala-vrões. E declarou encerrada a conversa batendo o telefonena cara dele. Daí a cinco minutos arrependeu-se do gesto eligou para Samuel. Mais discussão, mais desentendimento,mais palavrões e nova desligada abrupta. Samuel não se con-formou e tornou a ligar. Uma, duas, três vezes... Ene vezes.Elis tinha ligado a secretária eletrônica. Samuel insistiu atéas três da manhã. Aí cansou e foi dormir.

Samuel MacDowell de Figueiredo guarda até hoje abso-luta reserva sobre esses telefonemas. Recusa-se a falar sobreeles � como, de resto, sobre as últimas horas de vida de ElisRegina. Procurei-o diversas vezes, ao longo de muitos me-ses, para colher seu depoimento. Afinal, foi ele a última

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pessoa a conversar com ela. Ele consentiu, enfim, em mereceber numa noite de julho de 1985. Quando cheguei àcasa dele, no bairro do Morumbi, me esperava com um tex-to manuscrito, rabiscado... e oco de informações. Dizia logono começo desse texto, na verdade uma carta a mim dirigida:

�Elis é uma pessoa pública, você dirá. Não eu; e nossarelação, do mesmo modo, também não é. Dela todos já sa-bem, você já sabe, sabem todos o suficiente sobre nós paraque eu me sinta no direito de proteger o pouco da nossaintimidade que não tenha sido devorada nos jornais e nasrevistas. Sempre fui muito cioso do que lhe digo agora. Nãohá razões para mudar�.

Li a carta inteira e ponderei com ele: eu queria areconstituição dos fatos e até suas considerações a respeito �mas não só estas. Ele era a única testemunha da derradeira noi-te de Elis. Ele disse que conversaria comigo, responderia àsminhas perguntas, mas só. Conversamos durante quatro ho-ras. Saí da casa dele, ao fim da conversa, em prantos. Não seicomo consegui dirigir meu carro do Morumbi até Higienópolis.

Às nove e meia de terça-feira, 19 de janeiro de 1982,toca o telefone no escritório do advogado Samuel MacDowellFigueiredo. Era Elis. Recomeçava a discussão sobre o casa-mento e a mudança. Ela contou que tinha passado a noiteem claro. O telefonema começou áspero e pouco a pouco osdois foram se entendendo. Samuel conseguiu fazer com queElis o ouvisse. Claro que ele queria casar com ela e morarcom ela. Não se sentisse insegura: a vacilação era natural,principalmente com crianças na jogada. Depois de muitasexplicações, ela enfim pareceu ceder. Suave, meiga, amoro-sa, dizia do outro lado da linha:

�Eu te amo, eu te amo, você é o homem da minha vida�.Samuel notou que a voz dela passou a soar meio pastosa.

As palavras saíam aos arrancos, incompletas. E, de repente,

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silêncio. Alô, alô, ele gritava. Nada. Nem um som. Aflito,ele desligou e discou para a casa dela. Ocupado. Ligou denovo. Ocupado. De novo. Sempre ocupado.

Não teve dúvida: saiu chispando do escritório, pegouum táxi e rumou para a Rua Mello Alves.

Encontrou a empregada e a babá com Pedro e MariaRita no playground do edifício. Elas disseram que estavamali fazendo hora, esperando a patroa acordar para dar o di-nheiro da feira, e que João Marcelo estava lá em cima, nasala, ouvindo música bem alto para acordar a mãe. Samuelpegou a chave e subiu para o quinto andar. A porta do cor-redor que dava para a suíte de Elis estava trancada. Samuel aesmurrou. Nenhuma resposta. Pediu então ao menino quepegasse as ferramentas e o ajudasse a arrombar a porta, poisElis tinha deixado a chave na fechadura do lado de dentro, equem estava de fora não conseguia abrir. Os dois arreben-taram a fechadura. E encontraram nova porta trancada, ado quarto. Outro arrombamento. Quando enfim a portacedeu, Samuel e João Marcelo viram Elis caída no chão, en-tre a cama e a estante. Do lado, fora do gancho, o telefone.Samuel afastou João Marcelo, entrou, fechou a porta, abai-xou-se e sacudiu Elis. Ela não se mexia. Nenhum sinal devida.

Samuel pegou o telefone e fez duas ligações: para oHospital das Clínicas, pedindo uma ambulância, e para osócio Marco Antônio Barbosa, pedindo um médico. Suacamisa estava ensopada de suor quando Celina Silva, a se-cretária, chegou:

�A porta da cozinha estava aberta, o João Marcelo pas-sou por mim e saiu. Aí veio o Samuel todo ensopado, ner-voso, transfigurado. �A ambulância...�, ele dizia, �não sei oque está acontecendo�. Ele tinha acabado de abrir a porta.Eu nem entrei no quarto, fui telefonar. Mas depois corripara o quarto e ela estava no chão. Deitada de frente, larga-da. Me chamaram a atenção seus pés, roxos.

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�O Samuel dizia: �Estou tentando chamar a ambulância,mas eles não vêm, estão demorando�. Eu não entendia nada.Ele só falava em ambulância, socorro, vamos rápido. Eu tenta-va, mas não conseguia ambulância. A Elis estava mole, sem qual-quer reação. O lábio estava roxo, a metade do rosto bem maisescura e uma olheira absurda. Samuel estava de perna bambaquando resolvemos enrolar Elis numa manta. Não sei se elaestava morta, mas não tinha sinal algum de retorno ou de res-piração. O corpo estava quente mas os pés e as mãos, frios.

�Tudo isso durou, no máximo, dez minutos. De pânico.Levamos a Elis para o elevador. O Samuel voltou pra dentropara pegar os documentos dela e eu fiquei segurando ela sozi-nha, no hall. Eu falava para ele me dizer o que estava aconte-cendo. Fiquei louca, eu chacoalhava ela, mexia. E nada, ne-nhum sinal de vida. Descemos pelo elevador e o Samuel ficousegurando ela enquanto eu chamava um táxi.

�Quando estávamos colocando ela no carro, chegououtro carro com o médico da família (Álvaro MachadoJúnior) e o Marco Antônio Barbosa, sócio do Samuel. Aí eufui com o Marco num carro e o médico e o Samuel com aElis, no táxi. No Hospital das Clínicas levei os documentosda Elis para fazer a ficha enquanto uns cinco, dez médicospulavam em cima dela, batendo. Foi tudo muito rápido. Deveter demorado quinze, vinte minutos. O médico chegou paranós e disse: �Ela não agüentou� �.

Celina correu para o telefone e ligou para os amigos maischegados. Desnorteados, foram chegando ao hospital. Nin-guém sabia o que fazer. Como Elis não tinha morrido de causasnaturais, tornava-se obrigatório fazer uma autópsia. Enquantoseu corpo era encaminhado ao Instituto Médico Legal, a pou-cos metros do Hospital das Clínicas, chegava o irmão Rogé-rio: ele acabara de ouvir a notícia no rádio do carro.

A notícia que se espalhava por todo o Brasil não podia,infelizmente, ser desmentida. Às doze horas daquela trágica

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manhã de terça-feira, 19 de janeiro de 1982, os médicos doHospital das Clínicas declararam Elis Regina Carvalho Cos-ta oficialmente morta. Às quatro da tarde, Elis voltava aopalco do Teatro Bandeirantes, onde seis anos antes apre-sentara, durante catorze meses, o maior sucesso de sua car-reira, o show Falso Brilhante. Nesse palco ela seria veladadurante toda a noite e a madrugada por uma multidão queenchia o teatro e se derramava em longas filas pela AvenidaBrigadeiro Luís Antônio. Era, principalmente, gente hu-milde, gente do povo, pessoas que provavelmente nuncapuderam vê-la de perto. Gostavam dela de longe.

Na manhã seguinte, no longo trajeto entre o teatro e oCemitério do Morumbi, outras multidões comovidas sau-

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20 de janeiro de 82: Avenida BrigadeiroLuís Antônio, SP:

o povo cerca o carro dos Bombeiros,que leva o corpo. Adeus, Elis.

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daram Elis. Em toda a história do Brasil, só dois artistas ha-viam provocado tamanha comoção popular: Chico Alves eCarmen Miranda.

Vinte e quatro horas depois de morta, tudo parecia aca-bado ali naquela cova.

Mas não tinha acabado. No dia 21, quinta-feira, eradivulgado o laudo do Instituto Médico Legal sobre a causamortis. O documento dizia que Elis tinha morrido em con-seqüência de uma intoxicação provocada por bebida alcoó-lica e cocaína. Surpresa geral. Parentes e amigos chegadosinsistiam em dizer que ela não usava drogas. Imediatamentesuspeitou-se do laudo, assinado pelo diretor do IML, omédico Harry Shibata. O mesmo Shibata que, em 1975,havia assinado o célebre laudo sobre a morte do jornalistaVladimir Herzog, o Vlado, declarando-o suicida sem terexaminado o corpo a ele encaminhado pelo II Exército,sob cuja jurisdição funcionava o temível DOI-Codi, ondeHerzog morreu. Atuando como um dos advogados da fa-mília Herzog, Samuel MacDowell de Figueiredo conse-guiu provar que a União era a responsável pela morte dojornalista. Agora, sete anos depois, o legista Shibata po-deria estar indo à forra, complicando a vida do advogadoSamuel.

O caso rendeu muito na imprensa. Abriu-se um inqué-rito para apurar se houve suicídio ou mesmo induzimentoao suicídio. No dia 26 de fevereiro de 1982, o juiz AntônioFilardi Luiz determinou o arquivamento do inquérito comum belíssimo parecer, de cinco laudas, onde exalta a perso-nalidade de Elis Regina e conclui:

�A prova colhida não demonstra, nem mesmo em tese,o delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio,mesmo porque não se pode falar, com segurança, em suicí-dio�.

Elis morreu, de fato, de uma dose letal de Cinzano ecocaína. Um erro de dose. Um acidente.

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Outros outubros virão. Elis morreu, e não há nada piordo que a sua morte. Na discussão sobre as causas que a mata-ram, o povo ficou de fora. Preferiu sentir a dor de sua perdae transformou seus funerais numa comoção nacional. O povonão cultua em vão seus mortos queridos. Elis, enterrada coma bandeira do Brasil no peito, cumpriu a sua missão.

Uma vida tão intensa e uma carreira tão intensa deixa-ram uma marca indestrutível na cultura do país. As rádiostocam cada vez mais as suas músicas. Um grupo de jovens seencontra toda semana na Associação Elis em Movimento,para lembrá-la. Escolas, ruas e praças ganharam seu nome.No Festival dos Festivais, da Rede Globo, quase 100 compo-sitores inscreveram músicas louvando Elis. No mês de julhode 1985, quando se inaugurou o Auditório Elis Regina, emSão Paulo, dona Ercy estava lá. Embaraçada com a quanti-dade de políticos municipais presentes e poucos conheci-dos, ela reergueu o orgulho da família Carvalho Costa aodeclarar, diante das câmeras da TV Globo:

�Ela merecia�.Por seus erros, por se descontrolar, por se desentender

com os outros e consigo própria, Elis descobriu ao longo davida o direito de mudar de idéia. Lutou desesperadamentepor isso em seus 36 anos. Ela tinha a força dos obstinados.Rompeu com a prudência e se atirou rápida e ágil em seusdesejos. Fez e disse o que queria � superou acusações, rótu-los, cobranças. Confundiu, anarquizou, gritou e esperneou.Não levou desaforo para casa. Foi uma mutanteespecialíssima, uma mulher valente, uma artista privilegia-damente talentosa.

Era mesmo um furacão. Devastadora. Comigo, ela eraassim. Nessa nervosa procura de sua personalidade inteira,sem meias verdades, Elis arrebentou meus conceitos, abriuespaços para a compreensão e me mostrou o universo sutilda alma de um artista. Finíssima lição de vida, embalada por

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um canto forte e brasileiro, que ainda me faz chorar quan-do a escuto. Maria, Maria, uma mulher que merece viver eamar como outra qualquer do planeta.

Uma dose mais forte, lenta. Oito ou oitenta. Nenhumadiferença. Elis não teve a unanimidade em vida, mas na mortea conseguiu. No palco do Teatro Bandeirantes, onde foi ve-lada, uma platéia respeitosa pôde ver sua fisionomia serena,enfim pacificada.

A música popular perdeu sua maior porta-bandeira. Osamigos, a irrequieta mola propulsora, a que instigava, a quedesnorteava. Linda e louca. Nervosa e doce pessoa, difícilde agarrar. Herdou de dona Ercy a mesma altivez. Herdoude dona Ercy a mania de não dar o braço a torcer.

�Eu gosto de encher o saco dos outros�, costumava medizer.

�Será que sou obrigada a aceitar quem passa pela minhafrente?�

Não, Elis, definitivamente não. Não é preciso aceitarnada. É preciso apenas viver.

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EPÍLOGO

Depois do Furacão

Desde que foi publicado, em 1985, nunca mais abriFuracão Elis. Parecia que minhas contas com a grande can-tora e a mulher arrebatadora, de sangue quente e personali-dade fascinante, estavam quites. Numa tarde morna à beirada piscina de sua casa na serra da Cantareira, conversamoslongamente sobre a vida e o futuro. Combinamos ali que eupoderia escrever, algum dia, um livro sobre ela. Anos de-pois de sua morte, ao jogar o livro no mundo, guardava umsentimento profundo de que já havia cumprido minha mis-são. O que se seguiu correspondeu exatamente ao que sepoderia esperar. Afinal, resolvi contar a história de umapessoa controvertida, uma mulher para quem a vida estavadividida em 8 ou 80, amor ou ódio. Muitos ficaram magoa-dos, indignados, enraivecidos. Sinceramente, eu não sabiao que era estar do outro lado. Passei longos anos escrevendosobre o trabalho alheio e era importante, para entendermelhor a minha profissão, que eu descobrisse o que sentemos criticados. Não é nada bom, confesso, mas nenhuma dorque me impedisse de realizar o trabalho. O livro estava

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feito. Por isso demorei tantos anos � quase dez � pararelançá-lo. Por uma inútil discussão judicial a respeito dedireitos autorais, rompi com as editoras que lançaram a pri-meira edição. Inútil porque a questão dos direitos autoraisno Brasil está longe de ser resolvida.

Depois de sete edições em livraria e quase 15 mil exem-plares pelo Círculo do Livro, Furacão Elis deixou de existir.Virou raridade de sebo. Quantos e quantos telefonemas,cartas e pedidos tive de recusar por não dispor mais de ne-nhum exemplar do livro! Quantas pessoas � incluindo osfilhos dela � ainda não me perdoaram por escrever este li-vro. Sinto muito. Jamais fugi da verdade e por ela sigo vi-vendo. O jornalista Renato Sérgio, da Manchete, não es-condeu sua indignação porque omiti que ele dirigiu o pri-meiro show de Elis. Erros são cometidos e podem ser con-sertados. Mas o jornalista foi intransigente. Tentei procurá-

�Eu quero uma casa no campo...�: Cantareira, 80.

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lo por intermédio de uma amiga comum antes desta reedição,mas ele continuava muito bravo. Eu não teria nenhum mo-tivo para duvidar de sua palavra e muito menos de omitir ainformação. O registro agora está aqui. De qualquer ma-neira, como dizia meu falecido marido Hamilton AlmeidaFilho, o trabalho já estava feito. Pertencia ao passado. Ok.Mas continuava me incomodando o fato de não encontrarFuracão Elis nas livrarias.

Ao decidir finalmente relançar Furacão Elis tinha duassaídas � ou reescrevia o livro todo, acrescentando novas in-formações e depoimentos, ou mexeria o mínimo, fazendoas correções necessárias e considerando, como realmentesinto no fundo do coração, que o trabalho já estava feito.Decidi pela segunda opção, levando em conta as coisas boasque me aconteceram por ter tido o privilégio de conhecer epoder escrever sobre Elis Regina. Uma das melhores sur-presas, certamente, veio do Canadá e de minha correspon-dência com Robert St. Louis. Por esses acasos inacreditáveis,Robert encontrou Elis num disco recebido de presente deuma amiga argentina. A partir daí, não sossegou até desco-brir quem era aquela cantora, recorrendo aos recursos dis-poníveis. Descobriu Furacão Elis na Biblioteca do Congres-so, em Washington, e por meio de �amigos eletrônicos� (redede computadores ligados num sistema de comunicação comvários países. Cartas pelo computador. Amizades pelo com-putador), em São Paulo, acabou chegando ao meu endere-ço. Foi tão boa a nossa troca de impressões e informaçõesque Robert, mesmo não dominando a língua portuguesa (leuFuracão Elis com um dicionário do lado) resolveu traduziro livro para o inglês. Em outro acaso, Gerry Williams, adidacultural adjunta do Serviço de Divulgação e Relações Cultu-rais (USIS), no Consulado dos Estados Unidos em São Pau-lo, também descobriu meu telefone. Outra apaixonada porElis. Consegui apresentar um ao outro e os dois, pelo siste-ma de Amigos Eletrônicos, começaram uma amizade. Robert

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e Gerry me contaram da quantidade de pessoas de todo omundo, em lugares os mais inesperados, que fazem partedeste fã-clube de amor por Elis Regina. Para mim, já basta-va isso.

Fora o incentivo imprescindível dos amigos, do fã quetodo aniversário de morte me ligava do cemitério para di-zer, triste e desconsolado: �Não tinha ninguém aqui, só eu.Deixei umas flores�. Ou da pintora que me mandou cartaspsicografadas por todo o tempo em que apurei e escrevi olivro. Pingos no universo.

Nos dez anos de sua morte, declarei à revista Mancheteque Elis estava esquecida. Era verdade. Por duas vezes, porexemplo, tentou-se produzir especiais para a televisão � umbaseado no livro, outro apenas consultando-o. Nas duas,César Camargo Mariano interveio (uma delas judicialmen-te) em nome dos filhos menores. Nunca mais nos falamos,não imagino o dano pessoal que a morte de Elis ainda estejacausando, depois de tantos anos, a ele, a João Marcelo, aPedro e a Maria Rita. Não me sinto no direito de julgar.Apenas de lamentar que não tenham orgulho de sua histó-ria, mesmo que ela tenha se acabado tão tragicamente. Elisnão se enfileirou ao lado de outros ídolos que morrerampor overdose.

Ao contrário. Há quem já se esqueceu disso, em nomeda arte maior da cantora de brilho nos olhos. Em maio de1994, o ex-sonoplasta da TV Record, Zuza Homem de Mello,nos presenteou com o registro sonoro de bons tempos. Umapaixonado pela música, Zuza registrou apresentações doFino da Bossa, procurou especialistas em apurar a qualidadedo som e lançou pela gravadora Velas (com a ajuda de VitorMartins, de quem Elis gostava tanto, Ivan Lins, que ela lan-çou, e Paulo Albuquerque) três CDs históricos.

Ouvindo novamente os sons da minha adolescência, acerteza me volta com a força de um furacão. Elis viveu anosà frente de seus parcos 36. Foi uma grande lançadora de

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novos autores, compositores e tendências. Quantas vezesesperávamos que seu novo LP chegasse às lojas para ver comoela gravaria determinada música, quais as surpresas sonorasque nos reservaria? Era uma parceira de compositores, demúsicos e de arranjadores. Presenciei várias vezes a petulân-cia com que se dirigia a sua banda. E, por que não, se ela seconsiderava mais uma na orquestra? Rainha Midas, comodisse a jornalista Inês Godinho, tudo o que cantava viravaouro puro. Que o futuro apague as mágoas e Elis possa serouvida como a mais linda voz que esse país já produziu.

Esta é a minha história de Elis Regina Carvalho Costa.Por favor, me contem outras.

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CRONOLOGIACRONOLOGIA

Maria Luiza Kfouri

194517 de março: Nasce em Porto Alegre, RS, no Hospital daBeneficência Portuguesa, às 15h10.

1952/1956Curso primário no Grupo Escolar Gonçalves Dias, PortoAlegre.

1956Setembro: Canta pela primeira vez no rádio, no programa�Clube do Guri�, animado por Ary Rego, na RádioFarroupilha de Porto Alegre. Passa a integrar o elenco fixodo programa, ganhando um pequeno cachê e presentes dospatrocinadores. Tempos depois, torna-se secretária do pro-grama: além de cantar, lê recados, nomes de aniversariantese apresenta os candidatos.

1957/1960Ginásio no Instituto de Educação Flores da Cunha, em PortoAlegre.

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1959O primeiro contrato profissional, com a Rádio Gaúcha dePorto Alegre, para se apresentar no Programa Maurício So-brinho, de Maurício Sirotsky Sobrinho.

1960Grava para a Continental um compacto simples com as mú-sicas Dá sorte e Sonhando.

1961Cursa seis meses de clássico no Colégio Estadual Júlio de Castilhoe transfere-se para o curso normal da Escola Diogo de Souza.

Grava o primeiro LP para a Continental: Viva a Brotolândia,produção de Nazareno de Brito. (Ver repertório e ficha téc-nica de todos os discos na Discografia.)

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Entre as princesas,com direito

a faixa e coroa.

O encontro com aestrelinha Brenda Lee,

em Porto Alegre.

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O primeiro trabalho demarketing das gravadoraspretendia transformar Elisnuma nova Cely Campelo, arainha da juventude brasileiradaqueles tempos.

Sua Majestade às gargalhadas, com o Conjunto Flamingo.

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6 de dezembro: Com uma grande festa, Elis é coroada�Rainha do Disco Clube�, em Porto Alegre.

1962Grava o segundo LP para a Continental: Poema.

31 de dezembro: Recebe no Salão de Atos da PUC, em Por-to Alegre, o prêmio de melhor cantora do ano.

1963Grava, para a CBS, o LP O bem do amor, produzido porEvandro Ribeiro.

Abandona o curso normal ao terminar o segundo ano.

1964Março: Elis transfere-se para o Rio de Janeiro. Assina con-trato com a TV Rio, onde participa do programa �Noites deGala�, ao lado de Marly Tavares, Trio Iraquitã, Jorge Ben eWilson Simonal. Da tevê é levada por Dom Um Romão parase apresentar no Beco das Garrafas. Lá, no Little Club, faz oshow Bossa Três, com o Copa Trio de Dom Um Romão eÍris Lettieri, e, na boate Bottle�s, o show Sósifor, com MarlyTavares e Gaguinho, sob a direção de Luiz Carlos Miele eRonaldo Bôscoli.

31 de agosto: Primeiro show de Elis em São Paulo: Boa Bos-sa, espetáculo beneficente para a Associação de Moças daColônia Sírio-Libanesa, dirigido por Walter Silva. Partici-pam Agostinho dos Santos, Sílvio César, Lennie Dale, PeriRibeiro e o Zimbo Trio.

Logo em seguida Elis estréia show na boate Djalma, ao ladode Sílvio César. Segundo Walter Silva, foi um fracasso totalde público.

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Outubro: Chama a atenção de Armando Pittigliani, da Com-panhia Brasileira de Discos, selo Philips. Participa, junto como Zimbo Trio, do programa �Primeira Audição�, apresentadono Colégio Rio Branco, SP, e gravado em vídeo pela TV Record.

19 de outubro: Participa do show Bossa Só, no ClubeHebraica, SP.

26 de outubro: Canta com Marcos Valle a música Terra deNinguém no show O Remédio é Bossa, promovido pela Es-cola Paulista de Medicina e dirigido por Walter Silva.

23 de novembro: Faz a segunda parte (que era considerada,na época, a parte nobre) do show I Denti-Samba, promovi-do pela Faculdade de Odontologia da Universidade de SãoPaulo e dirigido por Walter Silva. Elis canta acompanhadapelo Copa Trio, que tocava com ela desde o Beco das Garra-fas. Na primeira parte do show, as participações de WalterSantos, Peri Ribeiro, Geraldo Vandré, Oscar Castro Neves,Paulinho Nogueira, Alaíde Costa e Zimbo Trio.

19656 de abril: Recebe o prêmio Berimbau de Ouro por ter ven-cido o I Festival de Música Popular Brasileira, realizado pelaTV Excelsior, com a música Arrastão, de Edu Lobo e Viníciusde Moraes.

8 de abril: Estréia no Teatro Paramount, SP, o show Elis,Jair e Jongo Trio, produzido por Walter Silva. O show con-tinua, ainda, nos dias 9 e 12 e é gravado ao vivo. O disco,Dois na Bossa, faz um grande sucesso e Elis e Jair são con-tratados pela TV Record para fazer um programa semanalde música brasileira. Frase de Elis na época: �Você sabe lá oque é, com 20 anos, sair para rua e ser reconhecida? Vocêfica louca, se achando Deus�.

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10 de abril: Recebe o prêmio Roquette Pinto como a me-lhor cantora de 1964, na TV Record.

19 de maio: Estréia na TV Record o programa semanal OFino da Bossa, comandado por Elis, com a presença constan-te de Jair Rodrigues. Pelo programa passam os maiores no-mes da música brasileira, dos mais antigos aos mais novos. OFino da Bossa é gravado às segundas-feiras no Teatro Record,SP, transmitido às quartas para São Paulo e nos outros dias dasemana para o resto do país. Direção: Manoel Carlos, RaulDuarte, Tuta Machado de Carvalho e Nilton Travesso.

É lançado o disco Samba eu Canto Assim, primeiro LP in-dividual de Elis para a Companhia Brasileira de Discos, CBD,selo Philips.

22 de agosto: Estréia na TV Record o programa semanalJovem Guarda, sob o comando de Roberto Carlos, trans-mitido aos domingos.

1966Janeiro: Elis vai para a Europa e fica até o início de março. Fazshows em Lisboa e Luanda com Jair Rodrigues e Zimbo Trio.

10, 11 e 12 de março: Apresenta-se com o Zimbo Trio noJardim de Inverno Fasano, SP.

Lança o disco Elis, o segundo pela CBD�Philips. Grava Can-ção do sal, de Milton Nascimento, a estréia fonográfica docompositor.

Setembro: Participa do II Festival de Música Popular Brasi-leira, promovido pela TV Record, cantando Ensaio geral, deGilberto Gil, e Jogo de roda, de Edu Lobo e Ruy Guerra. SóEnsaio geral chega à classificação final, ficando em quinto lu-

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gar, e Elis é muito vaiada. Vencedores do festival: ChicoBuarque com A Banda, cantada por ele e Nara Leão, e Geral-do Vandré e Théo de Barros com Disparada, cantada por JairRodrigues. Durante o festival é gravado o primeiro disco in-dependente feito no Brasil � Viva o Festival da Música Popu-lar Brasileira �, lançado pelo selo Artistas Unidos e fabricadopela Rozenblit. Elis participa com Ensaio geral e Jogo de roda.

Lançamento de compacto. De um lado, Tristeza que se foi,de Adylson Godoy, de outro, Upa neguinho, de Edu Lobo eGianfrancesco Guarnieri, um dos maiores sucessos da car-reira de Elis.

Outubro: Canta Canto triste, de Edu Lobo e Vinícius deMoraes, na fase nacional do I Festival Internacional da Can-ção, promovido pela TV Globo, acompanhada por uma or-questra de cordas e por Edu Lobo ao violão. Vence Saveiros,de Dori Caymmi e Nelson Motta, cantada por Nana Caymmi,música que Elis viria a gravar no mesmo compacto de Cantotriste. Elis e Edu são vaiados quando a música é classificadapara a finalíssima da fase nacional.

Dezembro: Elis e Baden Powell fazem show na boate Zum-Zum, RJ.

1967Junho: No dia 19, a TV Record resolve tirar o Fino da Bossado ar. Depois de perder pontos no Ibope, o programa passaa ser dirigido por Miele e Bôscoli: é o Fino 67. Mesmo as-sim, o programa não se recupera, e a direção da Record re-solve englobá-lo em uma série chamada Frente Única � Noiteda MPB, gravada às segundas-feiras no Teatro Paramount,SP, produzida por Solano Ribeiro. A cada segunda, apre-sentadores diferentes: Geraldo Vandré, Chico e Nara, Gil-berto Gil, Elis e Jair.

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Elis e os Roquette Pinto, troféusdisputadíssimos na época (67).Pose de orgulho ou de deboche?

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3 de julho: Estréia a série Frente Única � Noite da MPB.

Primeiro programa: Elis, sob a direção de Miele e Bôscoli.A série dura nove programas, três deles apresentados porElis. Nessa ocasião ela participa, ao lado de Gilberto Gil eEdu Lobo, de uma passeata em defesa das raízes da MPB,contra a invasão da música estrangeira. A manifestação passapara a história como a �passeata contra as guitarras�.

Outubro: Elis se apresenta no III Festival de Música PopularBrasileira, TV Record, conhecido como �o festival da vira-da�. Nasce a Tropicália: Gilberto Gil e Os Mutantes cantamDomingo no parque, que ganha o segundo lugar, CaetanoVeloso, com o conjunto argentino Beat Boys, canta Alegria,alegria, e fica com a quarta classificação. Elis defende O

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cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta. A música é clas-sificada para a finalíssima, mas só leva um prêmio: o de me-lhor intérprete para Elis. Ponteio, de Edu Lobo e Capinam,vence. Chico Buarque fica em terceiro lugar com Roda-Viva.

Outubro e novembro: II Festival Internacional da Canção,promovido pela TV Globo. Na parte nacional vence a músi-ca Margarida, de Guttemberg Guarabyra. O segundo lugarvai para Milton Nascimento e sua Travessia, e o terceiro paraCarolina, de Chico Buarque. Elis não participa desse festi-val, mas lança um compacto com Travessia de um lado eManifesto, de Guto e Mariozinho Rocha, do outro.

Dezembro:dia 5: Elis Regina casa-se, no civil, com Ronaldo Bôscoli.Ela tem 22 anos, e ele, 38.

dia 7: Cerimônia religiosa do casamento na CapelinhaMairynk, Floresta da Tijuca, RJ, onde mal cabe o véu de 10metros da noiva. Frase de Ronaldo, na época: �Não sou rico,mas estou bem. Ela ganha 15 milhões (velhos) por mês e eu,dois e meio. O trivial da casa será mantido por mim. O luxo,por ela�. O casal vai morar na Avenida Niemeyer, SãoConrado, RJ.

1968Janeiro: Elis vai para a Europa representar o Brasil no IIMercado Internacional do Disco e da Edição Musical(Midem), em Cannes, França. Canta no show de abertura dofestival. Delirantemente aplaudida pela platéia de 2 mil pes-soas, Elis volta ao palco para bisar Upa, neguinho. Faz apre-sentações nas tevês inglesa, holandesa, belga, suíça e sueca.

7 de janeiro: Vai ao ar pela última vez o programa JovemGuarda.

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29 de janeiro: Estréia, na TV Record, o programa mensalElis Especial, dirigido por Miele e Bôscoli, gravado no Tea-tro Paramount, SP.

6 de março: Elis estréia no Olympia de Paris. Canta oitonúmeros, acompanhada pelo Bossa Jazz Trio. Entre as mú-sicas, Samba da Bênção, de Baden Powell e Vinícius deMoraes, cantada em francês, versão de Pierre Barouh. Voltaao palco seis vezes no final do show.

2 de abril: Elis volta ao Brasil.

7 de abril: A TV Record dedica o seu Show do Dia 7 a Elis.Três horas e meia de programa, contando a vida da canto-ra. É homenageada com as presenças dos pais, da avó, doirmão Rogério, de Francis Hime, Chico Buarque e MPB-4, Marcos Valle, Théo de Barros, Edu Lobo, Vinícius deMoraes, Baden Powell, Isaura Garcia, Sílvio César, Agnal-do Rayol, Ronald Golias, Chico Anísio, Wanderléa, ErasmoCarlos, Ronnie Von, Nelson Motta, Dori Caymmi, Már-cia, Hebe Camargo, Wilson Simonal, Miele e RonaldoBôscoli.

Maio: Elis substitui, às pressas, Cynara e Cybele num showque elas faziam com Baden Powell. Elis canta sem ensaiar.Além disso, apresenta-se com Jair Rodrigues e o Bossa JazzTrio no Teatro Ópera, em Buenos Aires.

11 de maio: Começa a I Bienal do Samba, promovida pelaTV Record. Elis participa e vence com Lapinha, de BadenPowell e Paulo César Pinheiro.

30 de maio: Vai ao ar pela TV Record o segundo programaElis Especial, gravado no Teatro Paramount, SP, dirigidopor Miele e Bôscoli.

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FIC 68: membro do júri, Elis dá um show no intervalo.

Paulinho Machadode Carvalho com os

vencedores da IBienal do Samba:

Elis e BadenPowell, autor de

�Lapinha�.

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27 de junho: Terceiro programa Elis Especial, gravado noTeatro Paramount, SP, dirigido por Miele e Bôscoli.

Agosto: Elis faz uma temporada de um mês na boate Sucata,de Ricardo Amaral, no Rio. Seiscentas pessoas assistem à es-tréia do show, dirigido por Miele e Bôscoli.

Outubro: Elis integra o júri internacional do III FestivalInternacional da Canção, promovido pela TV Globo. Ven-ce Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque, vaiada pela pla-téia, que prefere Caminhando (�Pra não dizer que não faleide flores�), de Geraldo Vandré. Um festival muito aciden-tado na parte nacional: Gil e Caetano são desclassificadosna eliminatória realizada no Tuca, em São Paulo. Gil comQuestão de ordem e Caetano com É proibido proibir. Cae-tano faz no palco um inflamado e belo discurso, pergun-tando à platéia que o vaiava sem parar: �Esta é a juventudeque diz que vai tomar o poder? (...) Se vocês forem em po-lítica como são em estética, estamos feitos�.

3 de outubro: Em entrevista ao Jornal da Tarde, Elis fuzila oTropicalismo: �Eu só digo uma coisa: vai bem quem faz coi-sa séria. Quem quer fazer galhofa, piada com o público, quese cuide. Tropicália é um movimento profissional epromocional, principalmente. De artístico mesmo não temnada, nada, nada�.

É lançado o LP Elis Especial, pela CBD�Philips. Do reper-tório, Corrida de Jangada, de Edu Lobo e Capinam, fazsucesso.

A TV Record promove o IV Festival de Música Popular Bra-sileira. Elis não participa. O júri é dividido em dois: o eru-dito e o popular. Pelo júri erudito vence São Paulo, MeuAmor, de Tom Zé; pelo popular, Bem-Vinda, de Chico

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Buarque. Divino Maravilhoso, de Caetano e Gil, cantadapor Gal Costa, fica em terceiro lugar no júri erudito e nãose classifica no popular. Memórias de Marta Saré, de EduLobo e Gianfrancesco Guarnieri, é a única a conseguir umconsenso entre os dois: fica em segundo lugar.

23 de outubro: Elis inicia nova temporada no Olympia, emParis. Para essa apresentação, leva os músicos Erlon Chaves,Roberto Menescal e Antônio Adolfo. A temporada esten-de-se até o dia 11 de novembro. A revista Fatos e Fotos de14.11.68 registra: �É a primeira vez que um artista conseguese apresentar duas vezes no mesmo ano no Olympia. Na es-tréia, Elis veste um Saint-Laurent preto, longo, e recebeoito cortinas. Entre muitos telegramas, exibe um: �Mil cor-tinas pra você. Beijos. Ronaldo� �.

Na França, Elis grava um compacto duplo, com a participa-ção de Pierre Barouh na música Noite dos mascarados, deChico Buarque, cantada em francês. Arranjos de EumirDeodato.

Apresenta-se, também, no Cassino Estoril, em Lisboa, Por-tugal.

28 de novembro: A TV Record apresenta o especial Elis emParis, gravado durante a temporada no Olympia.

1969Janeiro: Elis apresenta-se, mais uma vez, no Mercado In-ternacional do Disco e da Edição Musical (Midem), emCannes, França. Canta Corrida de jangada, de Edu Lobo eCapinam, Memórias de Marta Saré, de Edu Lobo eGianfrancesco Guarnieri, e Casa-forte, de Edu, com a par-ticipação dele. Faz programas nas tevês francesa, inglesa, suí-ça, sueca, belga e holandesa.

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20 de fevereiro: Elis volta ao Brasil.

18 de março: Estréia, na TV Record, a série de programasElis Studio, gravada sem a presença do público, dirigida porMiele e Bôscoli. A cada programa, um tema e um convidadoespecial. Um deles: Roberto Carlos.

5 de abril: Na quadra da Estação Primeira de Mangueira, a escoladesfila para Elis e lhe concede o título de �Cidadã da Mangueira�.

Maio: Elis sai da TV Record.

4 de maio: Vai para Londres, onde, nos dias 6 e 8, grava um LPcom o maestro inglês Peter Knight. Volta ao Brasil no dia 13.

Junho: Vai para a Suécia e grava um LP com o gaitista TootsThielemans. Os dois discos são lançados na Europa, e sóanos mais tarde no Brasil.

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Programa �Elis Studio�, 69: a Pimenta e o Brasa.

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Lança, no Brasil, o LP Elis, Como e Porquê. No repertó-rio, O sonho, de Egberto Gismonti, e Casa-forte, de EduLobo.

1º de julho: Estréia no Rio de Janeiro o show Elis com Mielee Bôscoli, no Teatro da Praia, que ela arrenda. Banda: RobertoMenescal (guitarra), Wilson das Neves (bateria), José Roberto(contrabaixo), Hermes (percussão) e Jurandir (piano).

Agosto: Em entrevista a Clarice Lispector, Elis afirma: �Opalco está tão ligado à minha maneira de ser, à minha evo-lução, aos meus traumas, que eu acho que me separar dopalco é a mesma coisa que castrar um garanhão�.

Elis lança, com Pelé, um compacto com duas composiçõesdele: Vexamão e Perdão não tem.

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Teatro da Praia, 69: com Miele, Pelé e Bôscoli, Anita e Laura Figueiredo.

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2 de novembro: O show Elis com Miele e Bôscoli estréia emSão Paulo, no Teatro Maria Della Costa. Elis está grávida.

No 5º e último Festival de Música Popular Brasileira, TVRecord, é proibido o uso da guitarra elétrica. Elis não par-ticipa. Vence Paulinho da Viola com Sinal fechado. Gilber-to Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Edu Lobo saemdo Brasil. Caetano e Gil para Londres, Chico para Roma, eEdu Lobo para Los Angeles.

19702 de abril: Entrando no sétimo mês de gravidez, Elis estréiano Canecão, RJ, um show dirigido por Miele e Bôscoli.Acompanham Elis uma banda e uma orquestra. Direçãomusical de Erlon Chaves. Elis canta uma música de CaetanoVeloso (Não tenha medo) e outra de Gilberto Gil (Fechadopra balanço), feitas especialmente para ela e enviadas deLondres, e também As curvas da estrada de Santos, deRoberto e Erasmo Carlos. Nesse show, Elis revela Tim Maia,cantor e compositor que já havia trabalhado com Roberto eErasmo Carlos no início de suas carreiras e que voltava dosEstados Unidos depois de morar lá por alguns anos.

Nessa mesma ocasião, Elis lança o LP ...Em pleno verão,pela CBD�Philips. No repertório, Vou deitar e rolar(Quaquaraquaquá), de Baden Powell e Paulo César Pinhei-ro e, com a participação de Tim Maia, These are the songs,do próprio Tim. Vou deitar e rolar faz sucesso.

17 de junho: Aos 25 anos, Elis dá à luz um menino, JoãoMarcelo, na Casa de Saúde São José, RJ. João Marcelo nasceforte, mas nos primeiros meses de vida tem muitos proble-mas por ser alérgico a leite de vaca, chegando a ficar hospi-talizado. Sem leite para amamentá-lo, Elis vai à televisão epede amas-de-leite para o filho.

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20 de novembro: Elis estréia, para uma curta temporada,na enorme casa de shows Di Mônaco, SP. Nome do show:Com a cuca fundida.

Lança um compacto duplo pela CBD�Philips, cuja primei-ra música é de dois compositores novatos: Madalena, de IvanLins e Ronaldo Monteiro de Souza. A gravação faz um grandesucesso.

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1970:explode Madalena

Com Ivan Lins, no�Som Livre

Exportação�, TVGlobo, 71.

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Nesse ano, a TV Globo promove o V Festival Internacionalda Canção. Elis não participa. Vence a música BR-3, deAntônio Adolfo e Tibério Gaspar, cantada por Tony Tor-nado. Ivan Lins fica em segundo lugar com a música O amoré meu país, dele e de Ronaldo Monteiro de Souza. Em ter-ceiro lugar, Encouraçado, de Sueli Costa e Tite de Lemos,em quarto, Um abraço terno em você, viu mãe?, autoria einterpretação de Gonzaguinha.

1971Janeiro: Elis assina contrato com a TV Globo para partici-par do programa Som Livre Exportação, dividindo seu co-mando com Ivan Lins. No dia 6, o programa é gravado emSão Paulo, no Palácio de Exposições do Anhembi. Cincohoras de show para uma platéia de quase 100 mil pessoas.

Abril: Lança, pela CBD�Philips, o LP Ela. Grava, alémde Madalena, já sucesso,Roberto e Erasmo Carlos,Lennon e McCartney, Caeta-no, e Black is beautiful, deMarcos e Paulo Sérgio Valle.

Junho: Estréia, pela TV Glo-bo, o programa mensal ElisEspecial, dirigido por Miele eBôscoli.

Outubro: Elis aceita presidiro júri do VI Festival Interna-cional da Canção, promovi-do pela TV Globo. Corremboatos de que artistas comoChico Buarque (já de volta ao

Ângela Maria e sua fã,na Globo, em 71.

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Brasil), Tom Jobim, Edu Lobo e Paulinho da Viola aprovei-tariam a transmissão ao vivo para protestar contra a censura.Os militares reagem e os artistas abandonam o festival. Ven-ce a música Kiriê, de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós.

Sai o disco Top Star Festival, gravado por encomenda da ONUem solidariedade aos refugiados de todo o mundo. Elis é aúnica convidada brasileira a participar. Canta Madalena.

19721º de março: Estréia no Teatro da Praia, RJ, o show É Elis,direção de Miele e Bôscoli. Banda: César Camargo Mariano(piano), Luisão (contrabaixo), Luís Cláudio Ramos (gui-tarra), Ronaldo (tumbadora) e Paulinho Braga (bateria).Nesse show, Elis lança músicas de compositores novos: SueliCosta, Vitor Martins, Fagner, João Bosco e Aldir Blanc.

11 de maio: Depois de várias separações e reconciliações, Elis eRonaldo Bôscoli se desquitam. O juiz determina que Elis nadatem a receber de Ronaldo. Este teria que dar uma pensão detrês salários mínimos para João Marcelo, que fica sob a guardada mãe.

Junho: Sai do ar o programa Elis Especial, depois de quase umano em cartaz. Elis rescinde seu contrato com a TV Globo,alegando falta de condições para trabalhar com o ex-marido.

Setembro: Elis canta nas Olimpíadas do Exército, no anodo Sesquicentenário da Independência.

Outubro: Elis estréia no Mônaco Music Hall, SP, com CésarMariano e uma banda de onze músicos.

LP Elis, pela CBD�Phonogram/Philips. Músicas marcantes:Águas de março, de Tom Jobim, Atrás da porta, de Francis

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Parece Hollywood,mas é TV Globo:�Elis Especial�, 72.

Cara de palhaço, roupa depalhaço: na Globo.

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Hime e Chico Buarque, Nada será como antes e Cais, ambasde Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Arranjos e tecla-dos: César Camargo Mariano.

A música Diálogo, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro,vence o Festival Internacional da Canção, promovido pelaTV Globo, já completamente esvaziado pela ausência deoutros grandes nomes da música brasileira. Em segundo lu-gar, Fio Maravilha, de Jorge Ben. É o sétimo e último FIC.

197310,11,12 e 13 de maio: A Philips promove, no Palácio de Con-venções do Anhembi, SP, a Phono 73, uma série de shows comseus contratados. Entre eles, Elis, Gal, Bethânia, Gil, Caetano,Chico, Fagner, Nara Leão. Os shows são gravados para posteriorlançamento em discos. Cada artista se apresenta sozinho e, an-tes de sair, canta um número com o artista seguinte. Elis é rece-bida com frieza pela platéia. Alguém do público solta um gra-cejo pesado para ela. Caetano Veloso, na platéia, levanta-se egrita: �Respeitem a maior cantora desta terra�. Ela canta Caba-ré, de João Bosco e Aldir Blanc, É com esse que eu vou, dePedro Caetano, e Ladeira da preguiça, com seu autor, GilbertoGil. A apresentação de Elis é no dia 11, sexta-feira, justamenteo dia em que são desligados os microfones de Gilberto Gil eChico Buarque, quando eles tentam cantar Cálice, a primeiraparceria dos dois, durante algum tempo proibida pela censura.

Julho: Lançamento do disco Elis, que estava sendo gravado desdemarço. O LP vem com dez músicas: quatro de Gil, quatro deJoão Bosco e Aldir Blanc, Folhas secas, de Nelson Cavaquinho eGuilherme de Brito, e É com esse que eu vou, de Pedro Caetano.

10 de agosto: Em um ônibus Mercedes-Benz, Elis parte doLord Hotel de São Paulo para uma excursão de 36 dias pelosEstados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná, pelo chama-

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do �Circuito Universitário�. Banda: César Mariano (tecla-dos), Paulinho Braga (bateria), Luisão (baixo), Chico Bate-ra (percussão), Olmir Stocker (guitarra), Rogério Costa(som). Levava, ainda, iluminador, bilheteira, administra-dor, contra-regra, um representante do empresário MarcosLázaro e o motorista. �Esse circuito, de universitário só temo nome. Foram poucos os estudantes que vi. A gente, porsaber que vai ao encontro dos universitários, prepara umtrabalho sério, consciente, de acordo com a idéia do que éproposto. E, no fim, tem que enfrentar uma massadescaracterizada, reunida em ginásios e cinemas, quando naverdade isso deveria ser feito no próprio campus� (Elis, paraa jornalista Pinky Wainer). Depois dessa excursão, Elis rom-pe seu contrato com o empresário Marcos Lázaro.

1974Fevereiro: Para comemorar os dez anos de carreira, Elis gravacom Tom Jobim em Los Angeles. Viajam com ela CésarMariano (teclados), Hélio Delmiro (guitarra e violão), Luisão(baixo), Paulinho Braga (bateria). Lá, junta-se ao conjuntoo compositor, arranjador e violonista Oscar Castro Neves,além de uma orquestra de cordas regida pelo maestro BillHitchcock. Tom Jobim participa do disco fazendo arranjos,tocando piano, violão, e cantando em algumas faixas. O discoé gravado nos estúdios da MGM, entre os dias 22 de feverei-ro e 9 de março. Antes de encontrar-se com Tom, Elis de-clara: �Ele me assusta um pouco. Mas é importante demaisconviver com esse monstro sagrado da nossa música, e a res-ponsabilidade de gravar a seu lado balança um pouco qual-quer pessoa�. Depois de encontrar-se com ele, disse: �Foimaravilhoso, e Tom é divino. Nunca vi pessoa mais simplese encantadora� (Folha de S.Paulo, 17.04.74).

Elis e César Mariano, já casados, mudam-se para São Pauloe passam a morar na Rua Califórnia, bairro do Brooklin.

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2 de maio: Estréia no Teatro Maria Della Costa, SP, o reci-tal Elis, com direção musical de César Mariano. Banda:Luisão (baixo), Hélio Delmiro (guitarra e violão), PaulinhoBraga (bateria), Chico Batera (percussão), além do próprioCésar (piano), mais a participação de cinco músicos do nai-pe de cordas da Orquestra Sinfônica Jovem de São Paulo.No programa do show, Elis escreve: �Já não é tão simplesreunir a intenção pura ao ato de cantar. Já não é tão fácilmostrar novas músicas, quando existem dificuldades paraencontrá-las. A voz e o modo mudam tudo�.

Julho: Elis participa do show de inauguração do Teatro Ban-deirantes, SP, ao lado de Chico Buarque, Maria Bethânia,Tim Maia e Rita Lee. Canta Conversando no bar, de MiltonNascimento e Fernando Brant, Travessia, de Milton, OMestre-sala dos mares, de João Bosco e Aldir Blanc, Só ti-nha de ser com você, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira,Triste, de Tom Jobim, e Pois é, de Jobim e Chico Buarque,esta com a participação de Chico. Logo após o show, Elisparte para mais um Circuito Universitário. Desta vez oorganizador é Roberto de Oliveira, e as apresentações sãoem Porto Alegre, Caxias do Sul, Curitiba, interior do Paranáe interior de São Paulo.

É lançado o disco gravado com Tom Jobim em Los Angeles.

3 e 4 de outubro: Elis e Tom se apresentam no TeatroBandeirantes, SP, em show dividido em três partes. Na pri-meira, recital de Elis. Tom canta sozinho na segunda, e seencontra com a cantora na terceira parte. Acompanhamen-to do quinteto de César Mariano e de orquestra dirigidapelo maestro Léo Peracchi. Arranjos de César Mariano, TomJobim e Peracchi. Havia nove anos Tom não se apresentavaem São Paulo, desde o show O remédio é bossa, produzidopor Walter Silva no Teatro Paramount em 1965.

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Novembro: Sai o disco anual pela CBD�Phonogram/Philips, Elis.Destaques: Dois pra lá, dois pra cá, de João Bosco e Aldir Blanc,e Conversando no bar, de Milton Nascimento e Fernando Brant.

20 a 23 de novembro: Elis faz recitais no Teatro da Universida-de Católica, Tuca, SP. Banda: César Mariano (teclados), NatanMarques (guitarra e violão), Luisão (baixo), Francisco José deSouza (percussão) e Antônio Pinheiro Filho (bateria).

1975No início do ano é criada a Trama, empresa de Elis e maistrês sócios � o mano Rogério, o marido César e mais umadvogado �, que passaria a produzir espetáculos musicais. Oprimeiro deles é Te pego pela palavra, com Marlene.

18 de abril: Nasce Pedro, na maternidade do Hospital SãoLuís, SP. Segundo filho de Elis, primeiro com CésarMariano. Elis: �Agora tenho dois primogênitos em casa�.

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Cidade do México, 75: jantando com amigos depois de um show.

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Setembro: Elis, César, Natan (guitarra), Crispim (guitarrae teclados), Wilson (baixo) e Nenê (bateria) começam a en-saiar o show Falso Brilhante. Elis e os músicos querem fazeralgo mais do que cantar e tocar. Para isso, fazem aulas deexpressão corporal com José Carlos Viola, laboratórios como psiquiatra Roberto Freire e exercícios de sensibilização tea-tral com Silvio Zilber e Miriam Muniz, a diretora do espe-táculo. Contam ainda com a participação de dois atores: Lígiade Paula e Janjão. Cenários: Naum Alves de Souza. Figuri-nos: Lu Martin. Direção musical: César Mariano. Produ-ção: Trama. A um mês da estréia, o grupo passa a ensaiarnum porão da prefeitura, ao lado de um banheiro público,debaixo do Viaduto do Chá, em pleno centro de São Paulo.

Com Milton: �Amigo écoisa pra se guardar...�.

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17 de dezembro: Falso Brilhante estréia no Teatro Bandei-rantes, SP. Um sucesso estrondoso do início ao fim da tem-porada de 14 meses. Uma média de 1.500 pessoas por dia.O espetáculo nunca viajou.

1976Fevereiro: Miriam Muniz e Naum Alves de Souza, diretora ecenógrafo de Falso Brilhante, reclamam junto à Trama, pro-dutora do espetáculo, o pagamento para cada um de 5% darenda bruta do show. A SBAT � Sociedade Brasileira deAutores Teatrais � consegue, então, o seqüestro de 16,66%da renda bruta do espetáculo, que ficaria depositado na CaixaEconômica Estadual até que as partes chegassem a um acor-do. O caso é entregue à Justiça.

Elis, César, Raul Cortez e Ruth Escobar vão a Brasília e con-seguem a liberação da peça Mockinpott, de Peter Weiss, cujamontagem � do Teatro de Arena de Porto Alegre � é proibi-da horas antes da estréia. Elis doa a renda de uma noite doshow Falso Brilhante para ajudar o grupo a pagar os prejuí-zos causados pelo adiamento da estréia.

Sai o disco Falso Brilhante com parte do repertório do show,gravado em estúdio. Destaques: duas músicas de Belchior �Como nossos pais e Velha roupa colorida � e Fascinação,grande sucesso de Carlos Galhardo, em versão de ArmandoLouzada.

15 de março: Premiação dos melhores do ano pela Associa-ção Paulista dos Críticos de Arte. Falso Brilhante ganha oprêmio de melhor show.

24 de março: A Trama, produtora de Falso Brilhante, vencena justiça a ação reclamatória de direitos autorais interpostapor Miriam Muniz e Naum Alves de Souza.

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21 de maio: Falso Brilhante comemora, com uma grandefesta, 100 apresentações no Teatro Bandeirantes, SP.

Setembro: Elis financia o segundo número do jornal NósMulheres, publicado pela Associação de Mulheres, SP.

20 de outubro: Falso Brilhante completa 200 representa-ções e bate um recorde no show business brasileiro: desde aestréia, em 17.12.75, tinha sido visto por 194.993 pessoas.Ainda ficaria mais quatro meses em cartaz.

23 de outubro: A TV Bandeirantes leva ao ar o programaElis Especial, produzido pela Clack e dirigido por Robertode Oliveira.

Dezembro: Elis, César e os dois filhos mudam-se doBrooklin para a serra da Cantareira, SP. �... Fundamentalmesmo foi eu ter me admitido como um ser rural. Não sóporque tenha sido uma vez rural. Não é isso. É rural porqueo meu inconsciente coletivo é do campo: minha avó era pas-tora de ovelhas, e meu avô, plantador de uvas. Mamãe é asíntese disso, papai veio dos índios que foram enxotados daserra dos Patos, e eu e meu irmão passamos a infância catan-do cocô de vaca para que eles misturassem e fizessem planta-ções no quintal. Cidade não é mesmo comigo. Asfalto e óleodiesel são com o César. Ele, sim, gosta da fumaça de umonibuzinho poluído. No dia em que entendi que eu fugiade volta para o meu elemento principal, o campo, resolviassumir tudo. E tive chance, pois logo pintou um terreno naCantareira, a quarenta minutos de São Paulo. Fomos. Noprincípio foi difícil, porque o César custou mais a se adap-tar. Afinal, ele é da Praça da Sé. Mas tudo bem. Hoje, ele devez em quando dá uma voltinha na cidade, toma fôlego napoluição geral e fica numa boa.�(Revista Amiga, 28.05.80).

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19776 de janeiro: Volta ao cartaz Falso Brilhante, interrompidono dia 18 de dezembro para um descanso da companhia.Como novidade, a inclusão de Marcha da quarta-feira decinzas, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes.

18 de fevereiro: Falso Brilhante encerra temporada depoisde 14 meses em cartaz, 257 apresentações, e de ter sido vistopor 280 mil pessoas, que lhe renderam uma bilheteria totalde 8 bilhões de cruzeiros para um gasto inicial de 560 mi-lhões (dados do jornal Última Hora, SP, 18.02.77).

Elis espera seu terceiro filho.

10 de março: César Mariano e seu grupo estréiam no TeatroBandeirantes, SP, o show São Paulo-Brasil, com roteiro edireção de Oswaldo Mendes e assistência de direção de Elis.O show, composto de quatro movimentos (�Chegada e Re-conhecimento�, �Construção da Cidade�, �Peso da Cida-de� e �Cidade Assumida�), tem textos de Oswaldo Mendes.No grupo de César: Natan Marques (guitarra e violão),Crispim del Cistia (guitarra e teclados), Wilson (contrabaixo)e Dudu Portes (bateria). O repertório do show é lançadoem disco pela RCA-Victor.

Maio: A Rádio Jovem Pan de São Paulo passa a promoveruma série de shows intitulada O Fino da Música, cuja preo-cupação é divulgar a música brasileira de bom nível. O pri-meiro show é dedicado ao choro e reúne o Regional de Ca-nhoto; o segundo apresenta Elizeth Cardoso, Paulo Mourae Severino Araújo & Orquestra Tabajara.

25 de junho: Grávida de sete meses, Elis apresenta-se noFino da Música número 3, para uma platéia de mais de 3.500pessoas, no Palácio de Convenções do Anhembi, SP. Ban-

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da: César Mariano & Grupo, mais Hélio Delmiro (guitarra)e Luisão (baixo), como convidados especiais. Participam doshow Renato Teixeira (Romaria é lançada nesse dia), IvanLins e Cláudio Lucci, um compositor ainda desconhecido,de quem Elis acabara de gravar Colagem e Vecchio novo.

Agosto: Lançamento do LP Elis pela Phonogram/Philips.

O disco conta com as participações de Milton Nascimento,Ivan Lins e Renato Teixeira. Destaques: Caxangá, de Miltone Fernando Brant, e Romaria, de Renato Teixeira.

16 de agosto: Elis grava sua participação no programa espe-cial de Milton Nascimento, apresentado pela TV Bandei-rantes no dia 21 de setembro. Direção de Roberto de Oli-veira. Às vésperas de dar à luz, Elis canta com Milton a músicaCaxangá, dele e de Fernando Brant.

9 de setembro: Nasce Maria Rita, na maternidade do Hos-pital São Luís, SP. Terceiro filho de Elis, segundo de seucasamento com César Mariano. �... Eu tive uma alegria maiortendo uma filha, porque, de uma certa forma, tinha muitohomem no meu pedaço. Eu acho que Maria Rita vai ter umavantagem, porque eu já fui para a vida. A minha mãe nuncasaiu de dentro de casa� (TV Globo, 1979).

17 de novembro: Estréia nacional do show Transversal doTempo, no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre. Roteiro edireção de Aldir Blanc e Maurício Tapajós. Direção musicalde César Mariano. Banda: César (teclados), Natan Marques(guitarra e violão), Crispim del Cistia (guitarra e teclados),Fernando Cisão (baixo), Dudu Portes (bateria). O show ficaem Porto Alegre até 6 de dezembro.

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19789 de janeiro: Reunião no Teatro Ruth Escobar, SP. Partici-pam: Elis, Ivan Lins, Marília Medalha, Paulinho Nogueira,Tom Zé, maestro Benito Juarez, Marcus Vinícius e mais trintaartistas. Em discussão uma proposta de estatuto para a cria-ção da seção paulista da Sombrás (Sociedade Musical Brasi-leira) e da Assim (Associação de Intérpretes e Músicos). AAssim é criada na tentativa de reparar uma grave injustiçapraticada com os músicos: eles são obrigados a �ceder� seusdireitos conexos de interpretação no momento em que fa-zem algum acompanhamento em disco. Em tese, cabe aosmúsicos que participam de uma gravação o pagamento de17% do que for arrecadado com o disco em vendagem e exe-cução. Como os músicos são obrigados a abrir mão dessepercentual, ele é remetido para a Ordem dos Músicos, quenão tem o poder de distribuí-lo. O dinheiro fica guardadopara a compra de cadeiras de rodas ou para pagar enterros.Elis passa a participar das diretorias das duas entidades.26 de janeiro: Elis, César Mariano, Martinho da Vila eMarcus Vinícius vão a Brasília para expor ao então ministroda Educação Ney Braga as diretrizes da Assim.20 de fevereiro: Elis apresenta Transversal do Tempo noTeatro Sistina de Roma, e, dias depois, no Teatro Lírico deMilão. Ela surpreende público e críticos italianos por apre-sentar um repertório praticamente desconhecido por eles,sem se preocupar em �puxar� os sucessos garantidos. Antesde começar o show, Elis fala ao público: �Carmen Mirandamorreu nos anos 50. A Europa precisa entender que nãosomos um povo só de Carnaval. Temos a nossa tristeza. Enão vim aqui para fazer concessões. Vou cantar exatamenteo que canto em meu país�.1º de março: Transversal do Tempo faz uma apresentaçãono Club de Vanguardia, em Barcelona.7 de março: Transversal do Tempo estréia no TeatroGinástico, RJ, para uma temporada de três meses.

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Junho: Sai o LP Transversal do Tempo, gravado ao vivo,com trechos do show. Uma particularidade envolve o lança-mento do disco: a RCA-Victor, que mantém César Marianosob contrato, proíbe que seu nome apareça comoinstrumentista, na capa do disco. Seu nome só pode apare-cer no que se refere às partes técnicas do show e do disco.20 a 30 de julho: Transversal do Tempo se apresenta noTeatro do ICEIA, em Salvador.

Agosto: O show cumpre temporadas em Belo Horizonte eCuritiba.

25 de outubro: Transversal do Tempo estréia no TeatroBrigadeiro, SP. Incluídas as músicas Altos e baixos, de Su-eli Costa e Aldir Blanc, e Meninas da cidade, de FátimaGuedes.

8 de outubro: A revista Veja diz que Elis se recusa a levarTransversal do Tempo para Buenos Aires, a convite do em-presário Ronnie Scally: �Enquanto meu disco (�Falso Bri-lhante�) continuar proibido pela censura argentina, não meapresento lá�. (A censura havia interditado o disco por cau-sa da música Gracias a la vida, de Violeta Parra.)

19791º de janeiro: Vai ao ar, pela TV Bandeirantes, um progra-ma especial que Elis gravara durante um mês. Ela aparecepasseando e cantando com Adoniran Barbosa, visita Rita Leeem uma discoteca paulista, e com ela canta Doce pimenta,música feita por Rita para Elis. Direção do programa:Roberto de Oliveira e Sueli Valente.

Fim de janeiro: Elis tira Transversal do Tempo de cartaz eviaja para descansar. Em mais de um ano de temporada oshow foi apresentado em Porto Alegre, Roma, Milão, Paris,

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Superproduzida para aTV: maxissaia e

maxidecote.

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Gravando um especial para a TV Bandeirantes: dezembro de 78.

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Barcelona, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Salvador, BeloHorizonte, Curitiba e São Paulo.

Fevereiro: Elis assina contrato com a gravadora WEA, mes-mo já tendo assinado, antes, com a EMI�Odeon. Entre osprojetos que envolvem o novo contrato, uma apresentaçãono Festival de Jazz de Montreux, Suíça, em julho. Dias de-pois do rompimento oficial de Elis com a Philips, a grava-dora lança, a toque de caixa, um LP intitulado Elis Especial,com músicas que ela havia cantado em ensaios de estúdio �como guia para arranjos �, além de outras que haviam sidocortadas das edições finais dos discos por não serem consi-deradas boas gravações. Motivo desse lançamento: Elis devia16 fonogramas à gravadora.

No quintal daWarner em SP, logodepois do contrato.

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Maio: Participa do Show de Maio, com renda revertida parao fundo de greve dos metalúrgicos de São Paulo, em umenorme galpão do velho estúdio da Cia. Vera Cruz de cine-ma, em São Bernardo do Campo, com 5 mil pessoas pre-sentes. Participam do show: João Bosco, Macalé,Gonzaguinha, Dominguinhos, Maria Martha, Fagner eCarlinhos Vergueiro.

15 de maio: É lançado o primeiro compacto simples de Elispela WEA. De um lado, a música O bêbado e a equilibrista,de João Bosco e Aldir Blanc; do outro, As aparências enga-nam, de dois compositores novos, Tunai (irmão de JoãoBosco) e Sérgio Natureza. O bêbado e a equilibrista é ime-diatamente apelidada de �Hino da Anistia�, cuja campanhase intensificava no Brasil.

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A mamãe coruja e os filhosna casa da serra da

Cantareira, SP, em 79.João Marcelo sem camisa,Pedro e, no colo de Elis, a

caçula Maria Rita. Tudo iabem nessa época, em casa e

no trabalho.

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Julho: A WEA lança o LP Essa Mulher, com O bêbado e aequilibrista e uma música inédita de Cartola, Basta de cla-mares inocência, além de uma inédita de Baden Powell e damúsica título, de Joyce e Ana Terra.

15 de julho: Elis apresenta-se no Grand Palace de Bruxelas,Bélgica, numa festa musical que comemora os mil anos dacidade. Toots Thielemans, um dos maiores jazzistas da gai-ta-de-boca e que já havia gravado um LP com Elis em 69,está presente e acompanha a cantora em Madalena, de IvanLins e Ronaldo Monteiro de Souza, e Maria, Maria, de Mil-ton Nascimento e Fernando Brant.

19 de julho: Apresenta-se na Noite Brasileira do 13º Festivalde Jazz de Montreux, Suíça. Banda: César Mariano (tecla-dos), Hélio Delmiro (guitarra), Luisão (baixo), PaulinhoBraga (bateria) e Chico Batera (percussão). No final da noi-te, Elis e Hermeto Paschoal fazem uma jam session.

25 de julho: Elis canta no Festival de Jazz de Tóquio, Japão.

30 de agosto: Começa uma série de apresentações do novoshow Elis, Essa Mulher. A temporada: 30.08 a 6.09 � interiorde São Paulo; 14 a 16.09 � São Paulo; 17.09 a 5.10 � interior deSão Paulo; 6.10 � Londrina; 9 a 21.10 � Porto Alegre; 25 a28.10 � Curitiba; 31.10 a 18.11 � Belo Horizonte; 22 a 25.11� Brasília; 28 a 31.11 � Belém; 1.12 � São Luís; 2.12 � Teresina;5 a 9.12 � Fortaleza; 11 a 16.12 � Recife; 18.12 � Aracaju; 19 a23.12 � Salvador. A estréia nacional do show é no ginásioMunicipal de Esportes de Sorocaba, interior de São Paulo,para uma platéia de 2.500 pessoas. Banda: César Mariano(teclados), Crispim del Cistia (guitarra e teclados), RicardoSilveira (guitarra, violão e viola), Luís Moreno (bateria), Nenê(baixo), Chacal (percussão). Direção musical: César Mariano.Som: Rogério Costa. Realização: Trama. Produção: Poladian

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Produções. No programa do show, Elis escreve: �Nessa hora emeia, a gente vai falando do jeito da gente. Os tempos daingenuidade. Da desatenção. Do não saber de nada. Do sustoque se tomou ao se conhecer quase nada. Dos tempos daquixotada. Dos restos de amadorismo. Do amadurecimento.Da raiva. Essas coisas todas que foram transformando a gente.Que hoje tem o mesmo riso, faz a mesma algazarra, gosta dacachaça, etc... Mas que melhorou o jogo de cintura, aprimo-rou o físico, desenvolveu o faro. Além de ter aprendido a pren-der a respiração quando o cheiro não é dos melhores. O con-certo é isso aí. Devagarinho vai se levando. Para, no final, aesperança ser posta na berlinda de novo. Esperança que pin-ta, mas já com a certeza de que a gente tem que cavar. Temque tomar. Na marra. Rindo. Se possível�.

1980Janeiro: Primeiros ensaios e seleção de elenco para o showSaudade do Brasil, no Teatro Procópio Ferreira, SP.

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Com os timesdo coração:

Corinthians eGrêmio.

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20 de março: Estréia no Canecão, RJ, o show Saudade doBrasil, com um elenco de 24 pessoas � treze músicos e onzebailarinos, a maioria novata. Direção de Ademar Guerra ecoreografia de Márika Gidali, com quem Elis faz aulas dedança. Há dez anos Elis não se apresenta no Canecão. Dire-ção musical: César Mariano. Figurinos: Kalma Murtinho.Cenário e programação visual: Marcos Flaksman. �Não setrata de saudade de alguma coisa que acabou ou pessoa quemorreu. É saudade do que está aí vivo, solto, e nunca deixoude existir. Se não temos acesso a isso, é por falta de umabatalha maior� (Elis, para o jornal O Globo, 20.03.80).

9 de julho: Morre Vinícius de Moraes. Elis cancela seu showe participa das homenagens póstumas. Segundo a escritoraRita Ruschel, Elis passou vários dias, depois do enterro deVinícius, dormindo no chão. �Superada essa fase, passou adormir sobre a colcha, entre as almofadas de coração e bor-boleta. (...) Só muitos dias depois conseguiu, com esforço,

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Na piscina de sua casa na Cantareira, em fevereiro de 80.

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entrar definitivamente entre os lençóis e dormir o sono dosjustos� (em Meus tesouros da juventude � Editora Summus).

É lançado o álbum duplo Saudade do Brasil, com a íntegrado show, mas gravado em estúdio. Do álbum participam to-dos os músicos do show, além dos bailarinos, que tambémfazem coro. O álbum duplo é lançado em edição limitadade 25 mil exemplares, e, mais tarde, desmembrado em dois:Saudade do Brasil 1 e 2.

Agosto: Depois de cinco meses de absoluto sucesso, Sauda-de do Brasil se despede do Canecão e do Rio de Janeiro.

4 de setembro: O show estréia em São Paulo, no Tuca �Teatro da Universidade Católica. Fica um mês em cartaz.

3 de outubro: A TV Globo leva ao ar o especial Elis ReginaCarvalho Costa, programa da série Grandes Nomes. Erapraxe do programa que o artista focalizado levasse um con-vidado e cantasse com ele um ou dois números. O convida-do de Elis é o próprio César Mariano. Sozinhos, eles apre-sentam Rebento, de Gilberto Gil, e Modinha, de Tom Jobime Vinícius de Moraes.

Novembro: Depois de já ter lançado um álbum duplo pelaWEA em julho, chega ao mercado novo LP de Elis. Dessavez, a gravadora é a EMI�Odeon, com a qual, na verdade, acantora havia assinado contrato antes de seu compromissocom a WEA. No disco, Elis recria O trem azul, de Lô Borgese Ronaldo Bastos, e Rebento, de Gilberto Gil, além de apre-sentar dois compositores até então não gravados: Jean e PauloGarfunkel. O LP é dedicado a Rita Lee, �Meu ídolo, minhaamiga e colega de internato�.

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1981Janeiro: Elis viaja a Los Angeles e começa os preparativos deum disco a ser gravado com Wayne Shorter, compositor esaxofonista que já havia trabalhado com Milton Nascimen-to. Esse disco nunca ficou pronto.

6 de março: Na série Grandes Nomes, a TV Globo apresen-ta o programa de Gal Costa. Convidada especial: Elis. Elavem de Los Angeles para atender ao convite de Gal. As duascantam juntas Amor até o fim, de Gilberto Gil, e Estrada dosol, de Tom Jobim e Dolores Duran, música que ambas, se-paradamente, já haviam gravado: Elis, em seu LP de 1971,Ela, e Gal, no disco Gal Tropical, de 1979.

9 de julho: Elis vai ao Chile participar de um programa detelevisão. Volta a São Paulo no dia 12, para ensaiar seu novoshow, cuja estréia está marcada para uma nova casa de espe-táculos paulista, o Canecão�Anhembi.

22 de julho: Estréia o show Trem Azul no Canecão paulista.Direção: Fernando Faro. Cenário: Elifas Andreato. Banda:Sérgio Henriques e Paulo Esteves (teclados), Natan Mar-ques (guitarra e violão), Luisão (baixo), Téo Lima (bateria),Otávio Bangla (saxes tenor e soprano), Nilton Rodrigues(trumpete e flugelhorn). Arranjos: César Mariano e NatanMarques. César não participa do show: ele e Elis estão defi-nitivamente separados depois de nove anos de casamento.O show fica um mês e meio em cartaz.

19 de setembro: Única apresentação de Trem Azul em PortoAlegre, no ginásio de esportes Gigantinho. É a última vezque Elis canta em sua cidade.

22 a 25 de outubro: O show volta a São Paulo, no Palácio deConvenções do Anhembi.

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26 de outubro: Durante um coquetel no salão do Hotel CaesarPark, RJ, Elis assina contrato com a gravadora Som Livre. �Euestou absolutamente desesperançada com todas as gravado-ras. Todas são iguais. Mas a Som Livre, pelo menos, toca norádio, põe os discos nas lojas, tem 30% do mercado, divulgana televisão e tudo� (Coojornal, outubro, 1981).

Com ocompositor e

amigoRonaldo

Bastos, logodepois de

assinar com aSom Livre,em outubro

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28 de outubro: Trem Azul estréia no Teatro João Caetano,RJ, e fica cinco dias em cartaz.

11 de dezembro: Apresentação de Trem Azul no hotel RioPalace, RJ.

31 de dezembro: Elis faz sua última apresentação na televi-são, num especial de fim de ano da TV Record. Canta Medeixas louca, de Armando Manzanero em versão de PauloCoelho, e O trem azul, de Lô Borges e Ronaldo Bastos.

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1982Janeiro: Elis começa a ouvir fitas para escolher o repertório deseu próximo disco, o primeiro para a gravadora Som Livre.

5 de janeiro: Dá sua última entrevista. É para o programaJogo da Verdade, da televisão Cultura de São Paulo � RTC.Participam do programa, como entrevistadores, SalomãoEsper, Zuza Homem de Mello e Maurício Kubrusly.

19 de janeiro, terça-feira: 11h45 � Morre em São Paulo,por intoxicação exógena aguda. Sua morte foi atestada noHospital das Clínicas. O corpo é levado para o Teatro Ban-deirantes, onde é velado até o dia seguinte. Veste a camisetaque não pôde ser usada no show Saudade do Brasil, doisanos antes: a bandeira brasileira, com seu nome no lugar de�Ordem e Progresso�. O Teatro Bandeirantes fica lotadodurante a noite e a madrugada. Vários artistas no velório:Rita Lee, Roberto de Carvalho, Raul Seixas, Jair Rodrigues,Ronald Golias, Martinha, Lélia Abramo, Ronaldo Bôscoli,Luiz Carlos Miele, César Mariano, Henfil, Tônia Carrero,Hebe Camargo, Ângela Maria, Fafá de Belém. Gilberto Gil,dos Estados Unidos, manda uma coroa de flores: �Sua vozserá de todas as canções, sua alma de todos os corações�. Amorte é manchete nos jornais:

�Perdemos nossa melhor cantora� � Jornal da Tarde � SP �20.01

�Suspeita de suicídio na morte de Elis Regina� � O Estado �SC � 20.01

�Causa da morte de Elis só vai ser confirmada amanhã� �Jornal do Brasil � RJ � 20.01

�Brasil chora morte de Elis� � A Notícia � Joinville � SC � 20.01

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�Coração mata Elis� � O Estado do Paraná � 20.01

�Elis� � Folha da Tarde � RS � 20.01

�O Brasil sem Elis Regina� � Folha de S.Paulo � 20.01

Desenho deChico Caruso,publicado na

�Isto� de27 de janeiro

de 82.

Algumas agências de propaganda fazem circular mensagensa respeito de Elis em todos os jornais:

�Choram Marias e Clarices... Chora a nossa pátria mãe gen-til. Em busca de um sol maior, Elis Regina embarcou numbrilhante trem azul, deixando conosco a eternidade de seucanto pelas coisas e pela gente de nossa terra. E uma imensasaudade.� (Lage Propaganda)

�A verdade não rima, a verdade não rima, a verdade nãorima...� (Visão Publicidade � PR � tirada da letra da músicaOnze fitas, de Fátima Guedes.)

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�Nada será como antes. Elis Regina Carvalho Costa� (SignoComunicação � RJ)

20 de janeiro: O Departamento de Trânsito de São Paulocria um esquema especial para o cortejo, do Teatro Bandei-rantes ao cemitério do Morumbi. A pé, de carro ou moto,milhares de pessoas acompanham o carro do Corpo de Bom-beiros que leva o caixão. Elis é sepultada por volta das 13horas no túmulo 2199, quadra 7, setor 5 do Cemitério doMorumbi.

21 de janeiro: O delegado do 4o Distrito Policial de São Pau-lo, Geraldo Branco de Camargo, divulga os resultados daautópsia e dos exames toxicológicos realizados em Elis. Olaudo, número 415/82, do Laboratório de Toxicologia doInstituto Médico-Legal, revela �resultado positivo para co-caína e álcool etílico, este na quantidade de 1 grama e 600miligramas de álcool etílico por litro de sangue; a quantida-de de álcool etílico encontrada em nível sangüíneo revelouestar a vítima sob estado de embriaguez, e a presença de co-caína caracterizou o estado tóxico, que em somatório poderesponder pelo evento letal�.

22 de janeiro: A TV Cultura e a TV Globo apresentam es-peciais com Elis Regina. A TV Cultura reapresenta um pro-grama feito em 1972 � por duas horas, Elis canta e fala desua carreira. Direção de Fernando Faro. A Globo apresentauma montagem das várias fases da carreira de Elis.

A Sudwestsunk, emissora de televisão alemã, com sede emBaden Baden, apresenta um especial de 45 minutos comgravações de Elis quando ela esteve na Alemanha.

26 de janeiro: Missas de sétimo dia são rezadas em SãoPaulo, Rio, e em várias cidades do Brasil. Em São Paulo,

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a missa acontece às 18 horas na Igreja Nossa Senhora doPerpétuo Socorro. Na igreja, mais de mil pessoas. Entreelas Rita Lee, César Mariano, Samuel MacDowell, WalterSilva, Teotônio Vilela, Audálio Dantas, Lula, Cauby Pei-xoto, Hebe Camargo, Henfil, Renato Consorte, LéliaAbramo. Os textos litúrgicos são lidos por Rita Lee eRogério Costa, irmão de Elis. No Rio, a missa é celebra-da na igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, com aspresenças de Gal Costa, Nana Caymmi, Fafá de Belém,Zezé Motta, Betty Faria e Hermínio Bello de Carvalho,entre outros.

29 de janeiro: Divulgado o resultado dos exames realizadospelo Laboratório de Toxicologia do Instituto Médico-Le-gal, que determinam a quantidade de cocaína que teria sidoingerida por Elis antes de morrer:

�Exame complementar Nº 00415 � Exame toxicológico �Resultado: A análise quantitativa de cocaína efetuada em fí-gado e urina forneceu os seguintes resultados: Urina: 23mg/100 ml (23 miligramas de cocaína por 100 mililitros deurina). Fígado: 2,4 mg/100 g de tecido (2,4 miligramas decocaína por 100 gramas de fígado). Observações: As dosa-gens acima foram efetuadas em cromatografia liquidogás,utilizando-se padrão de cocaína extrapura cristalizada deprocedência alemã (Merck).�

O laudo é assinado por Maria E. M. da Costa Amaral, VeraElisa Reihardt, Maria Isabel Garcia e Evilin Mansur.

30 de janeiro: No show �Festa do Interior� noMaracanãzinho, RJ, Gal Costa dedica a música Força estra-nha, de Caetano Veloso, a Elis, �uma estrela que luz eterna-mente�. Essa homenagem seria repetida durante toda a tem-porada do show pelo país.

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7 de fevereiro: Mais uma homenagem, e monumental. Noestádio do Morumbi, SP, 100 mil pessoas assistem ao showCanta Brasil. As atrações: Simone, Fagner, Toquinho, ChicoBuarque, Milton Nascimento, Baby Consuelo, Pepeu Go-mes, Gonzaguinha, Elba Ramalho, Paulinho da Viola,Djavan, Nara Leão, Clara Nunes e João Bosco. Sobe umenorme painel com o rosto de Elis, e todos � artistas, públi-co, 100 mil vozes � cantam O bêbado e a equilibrista, deJoão Bosco e Aldir Blanc.

16 de fevereiro: O promotor Pedro Franco de Campos,da 1a Vara Auxiliar do Júri, requer o arquivamento doinquérito sobre a morte de Elis ao juiz Antônio FiliardiLuiz, alegando �não haver crime a punir. Não houve odelito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio,mesmo porque não se pode falar com segurança em sui-cídio�.

23 de fevereiro: O juiz Antônio Filiardi Luiz manda arqui-var o inquérito instaurado para apurar a morte de Elis.

4 de março: Tem início o Mês Musical Elis Regina, promo-vido pela Prefeitura do Município de São Paulo, em seusteatros de bairro. Participam do evento: Adoniran Barbosa,Zimbo Trio, Tetê Espíndola, Grupo D�Alma, Tom Zé, Pre-meditando o Breque, Marlui Miranda, Belchior, Clementinade Jesus, Nelson Cavaquinho, Marina, Grupo Rumo, Re-nato Teixeira. A promoção vai até o dia 28.

No fim de março a WEA põe no mercado o disco Elis Regina� 13th Montreux Jazz Festival, com a gravação da apresenta-ção de Elis em julho de 1979. O disco não foi lançado naépoca porque tanto Elis quanto a gravadora não aprovarama qualidade técnica da gravação. Destaque no LP: o encon-tro de Elis com Hermeto Pascoal.

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1º de maio: É registrada oficialmente a Associação Brasilei-ra Elis em Movimento (Abem), com sede em São Paulo, cri-ada com o objetivo de preservar a arte e a memória de Elis.8 de maio: O prefeito Tito Costa, de São Bernardo do Cam-po, SP, inaugura o Teatro Elis Regina na Avenida JoãoFirmino, 900, no bairro de Assunção.

A gravadora Continental relança os dois primeiros discos deElis, gravados em 1961 e 1962. Viva a Brotolândia e Poemasão relançados em álbum duplo sob o nome de Nasce umaEstrela. Nesta mesma época, a Polygram/Philips, gravadorade Elis por 15 anos, lança uma caixa com quatro LPs queabrangem o período de 1965/1978 de sua carreira.

Agosto: A Abem lança o número zero do jornal Elis emMovimento, no qual são divulgados os objetivos da associa-ção.

Lançamento do álbum duplo Trem Azul, pela Som Livre,com a gravação da última apresentação do espetáculo em SãoPaulo, no Palácio de Convenções do Anhembi. A gravaçãooriginal fora feita em uma fita cassete normal, monoaural,pelo irmão e técnico de som de Elis, Rogério Costa. A fitapassou por uma série de processos de purificação. O som dodisco não é perfeito, mas a gravação guarda o calor do showe nos dá a oportunidade de ouvir Elis cantando Flora, deGilberto Gil, e Valsa de Eurídice, de Vinícius de Moraes,músicas nunca antes gravadas por ela.

198314 de janeiro: É aberta, no Centro Cultural São Paulo, a ISemana Elis Regina, uma promoção da Rede Globo, emconvênio com a Secretaria de Cultura de São Paulo. Na pro-gramação da semana: shows com Renato Teixeira, Ivan Lins,Lô Borges, Tetê Espíndola, Grupo Papavento, Grupo Me-

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dusa, Rosinha de Valença, Guilherme Arantes, Belchior eZé Rodrix; exposições de fotos e desenhos; espetáculo dedança � Elis � 4 Estações � coreografado por EsmeraldaMonteiro e apresentado pelo Ballet Art; mímica de DeniseStoklos para a música Se eu quiser falar com Deus, de Gil-berto Gil, na interpretação de Elis; lançamento de cartões-postais e de pôsteres, assinados por Elifas Andreato. Du-rante a promoção, a Rede Globo inclui em sua programaçãovespertina e noturna pequenos flashes focalizando os even-tos da semana no Centro Cultural.

19 de janeiro: Missa de primeiro aniversário de morte, naCatedral da Sé, SP, com a presença de 5 mil pessoas. MiltonNascimento participa cantando Essa Voz, música dele e deFernando Brant em homenagem a Elis, e Canção da Améri-ca, também dele e de Fernando Brant, acompanhado pelaOrquestra Sinfônica de Campinas, regida pelo maestroBenito Juarez.

A Rede Bandeirantes coloca em sua programação, entre 8h30e 24 horas, vinte breaks, de três e cinco minutos cada, comvinhetas homenageando Elis, além de apresentar, às 20 ho-ras, o especial Elis, com imagens de arquivo e depoimentosde Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan e Sueli Costa.

A Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, RJ, promove aNoite dos Imortais, com um show em homenagem a Elis.

São inauguradas duas exposições em São Paulo: Elis 100%Nacional, com guaches de Vicente Gil, na Galeria PauloFigueiredo, e Elis Paz, no Spazio Pirandello.

A gravadora EMI�Odeon lança Vento de Maio, com antigasgravações de Elis, como Tiro ao Álvaro, de Adoniran Bar-bosa e Osvaldo Molles, junto com Adoniran, e O que foi

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feito devera (de Vera), de Milton Nascimento, FernandoBrant e Márcio Borges, junto com Milton.

23 de fevereiro: A mímica Denise Stoklos estréia no Sesc�Pompéia, SP, um recital de mímica baseado em 15 interpre-tações de Elis.

27 de fevereiro: É aberto o II Mês de Elis Regina, uma sériede shows nos teatros da Prefeitura de São Paulo, com Joyce,Paulinho Boca de Cantor, Jards Macalé, Luli & Lucina.

Abril: O álbum duplo Trem Azul, com a íntegra do showgravado por Rogério Costa, ganha o Disco de Ouro por tervendido mais de 120 mil exemplares. Leva, também, o prê-mio especial da Associação Paulista dos Críticos de Arte(APCA), pelo tratamento dado à gravação original.

10 de novembro: O Ballet Art estréia no Teatro da Hebraica, SP,o espetáculo Elis � 4 Estações, que revive as fases de sua carreiracom os movimentos A Primavera dos Sonhos, O Verão do Amor,A Maturidade do Outono e A Descrença do Inverno.

198416 de janeiro: É aberta, no Centro Cultural São Paulo, a IISemana Elis Regina, promovida com a colaboração da Rá-dio e TV Gazeta, com shows de Cida Moreyra, EduardoGudin, Grupo Medusa, Tom Zé, Rosa Maria, Regina Tatit,Célia e Grupo Papavento.Lançado, pela Opus Vídeo e Fonográfica � selo Elenco �, oálbum duplo Elis Vive � uma seleção de sucessos de Elis.

22 de janeiro: O prefeito Mário Covas e o secretário deCultura Gianfrancesco Guarnieri inauguram, em São Pau-lo, a Praça Elis Regina, na altura do número 1670 da Aveni-da Corifeu de Azevedo Marques, bairro do Butantã.

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Fevereiro: A Escola de Samba União de Vila Prudente, SP,sai às ruas no Carnaval com o samba-enredo Elis Regina, oSom da Festa Eterna desta Musa, de autoria de Nelton Coe-lho, Roberto Lindolfo e Ditão. A letra do samba:

�Na terra do churrasco e chimarrãoEu me embalei na poesia onde brotou a revelaçãoElis, a luz que irradia, minha vila vem mostrarPra que chorar, cai comigo na folia pra despertarVamos pular, são só três diasHoje tem arrastãoEu vouUpa-neguinho na estradaAi que saudade nos dáFoi a hélice de tantos valores atuais

No falso brilhante da vida, jamais foram esquecidas suas obrasimortais

Era uma musa que surgia para sempre, quem diria, entretantas Marias

Trem azul, pimentinha ardida trazida do sul, Beco das Gar-rafas, rádio, circo e TV

Elis, a festa é sua, desça e vem sambar na rua.�

22 de fevereiro: Estréia no Teatro São Pedro, SP, o espe-táculo Elis, com um Pássaro no Ombro. Com dança, mú-sica, teatro, fotografia e literatura conta-se a história doBrasil entre os anos 60 e 80, tendo Elis como fio condu-tor. Criado pelo grupo Baleteatro de Minas, o espetáculojá havia sido apresentado em Belo Horizonte e no Rio deJaneiro. Depois de São Paulo, o grupo apresenta-se emBrasília.

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Novembro: A gravadora Som Livre lança o disco Elis � Luzdas Estrelas, feito a partir de uma gravação da Rede Bandei-rantes levada ao ar em 1976. Usou-se só a voz de Elis. WagnerTiso, Dori Caymmi, Natan Marques, Lincoln Olivetti,Eduardo Souto e Guto Graça Mello fizeram novos arranjos.A intenção declarada: mostrar Elis com um �som atual�. Odisco tem dez faixas, sete das quais inéditas em gravações deElis: Para Lennon e McCartney, de Lô Borges e Fernando Brant,No dia em que eu vim me embora, de Caetano Veloso e Gil-berto Gil, Velho arvoredo, de Hélio Delmiro e Paulo CésarPinheiro, Corsário, Gol anulado e Bodas de prata, de JoãoBosco e Aldir Blanc, e A banca do distinto, de Billy Blanco.

Novo LP de montagem é lançado pela PolyGram, selo FontanaSpecial: Nada será como antes � Elis interpreta Milton Nasci-mento, com dez faixas gravadas entre 1966 e 1978.

27 de dezembro: Morre, de câncer no pulmão, Romeu Cos-ta, pai de Elis, aos 66 anos.

198514 de janeiro: É aberta a III Semana Elis Regina, no CentroCultural São Paulo, com shows de Tom Zé, Cláudio Lucci(compositor lançado por Elis em 1977), Luli & Lucina, JeanGarfunkel (lançado por Elis em 1980), Regina Tatit, CidaMoreyra, Belchior, Filó.

No centro de São Paulo um outdoor homenageia Elis comversos do poeta Ricardo Viveiros:

�A alma é um céuO coração uma luaVocê é uma estrelaNessa paisagemNoturna�

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Lançado em Porto Alegre, pela Tchê/RBS, o livro Elis Regi-na, de autoria de Zeca Kiechaloski, na coleção �Esses Gaú-chos�.

14 de maio: Lançado em São Paulo o livro de fotografias,AquarELISta, pela Livraria Kosmos Editora. Fotografias:Célia Marisa de Ávila. Textos: Salma Tannus Muchail.

29 de julho: A Prefeitura de São Paulo e a Paulistur inaugu-ram, no Parque Anhembi, o Auditório Elis, com 1.015 lu-gares, para shows, teatro, congressos, seminários e pales-tras. Show de inauguração: Destino aventureiro, de NeyMatogrosso.

28 de agosto: É inaugurada, pela Prefeitura de São Paulo, aEscola Municipal de Educação Infantil Elis Regina, para cri-anças entre três e seis anos, no bairro Cidade de São Matheus,regional de Vila Prudente, SP.

29 de outubro: É lançado em São Paulo, pelo Círculo doLivro, em parceria com a Editorial Nórdica, o livro FuracãoElis, na livraria Brasiliense.

3 de dezembro: A Rede Bandeirantes leva ao ar o especialFuracão Elis, baseado no livro, com apresentação de MaríliaGabriela. No programa, vários depoimentos entre númerosmusicais da cantora.

198618 de janeiro: Missa de quatro anos de morte celebrada às20h30, na igreja Nossa Senhora da Achiropita, bairro doBixiga, SP.

21 de janeiro: É aberta a IV Semana Elis Regina, promovidapela Associação Brasileira Elis em Movimento, no Centro

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de Convivência do Sesc�Pompéia, SP, com exibição de vídeosda cantora e apresentação do grupo teatral Renascença.

21 a 24 de janeiro: A cantora Jane Duboc e a dupla Luli eLucina apresentam-se no Teatro Caetano de Campos, SP,na IV Semana Elis Regina.

7 e 8 de abril: A mímica Denise Stoklos apresenta o espetácu-lo Elis Aniversário, no Teatro de Cultura Artística de São Pau-lo, um recital de mímica e luz sobre 14 interpretações de Elis.

198718 de janeiro: Missa de cinco anos de morte, celebrada às19h00 na Igreja da Consolação, SP, por iniciativa da Asso-ciação Elis em Movimento.

13 a 20 de janeiro: V Semana Elis Regina: shows no TeatroCaetano de Campos, SP.

Fevereiro: O jornal cubano Granma dedica meia página aElis, lembrando o quinto aniversário de sua morte.

17 de março: No dia em que Elis faria 42 anos, é aberta, emPorto Alegre, a I Semana Elis, no Teatro São Pedro.

198818 a 24 de janeiro: VI Semana Elis Regina, promovida pelaAssociação Brasileira Elis em Movimento, no Centro Cul-tural São Paulo. Sete dias de shows, vídeos e exposição foto-gráfica, com as participações de Wanderléa, João Bosco,Renato Teixeira, Fátima Guedes, Adriana Calcanhoto, ZéGeraldo e Márcia, entre outros.

10 de março: O Ballet Stagium estréia o espetáculo Que Sau-dade, Elis!, no Teatro Procópio Ferreira, SP. Direção de

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Márika Gidali, coreografia de Décio Otero. A temporadaestende-se até o dia 27.

4 de abril: É lançado o vídeo Elis, com 77 minutos de ima-gens do arquivo da Rede Bandeirantes, editado por RogérioCosta. Lançamento VideoBan.

198919 de janeiro: Lembrando os sete anos da morte de Elis, aRádio Jovem Pan de SP apresenta o especial Elis Regina,Cantora do Brasil, com duas horas de duração, apresentan-do material de arquivo da emissora, onde Elis trabalhou nostempos em que era contratada da TV Record.

Carnaval: A Escola de Samba Mocidade Independente dePadre Miguel, Rio, desfila no Sambódromo com o enredoElis, um Trem de Emoções.

� O saxofonista japonês Sadao Watanabe lança o LP Elis,com uma balada composta em homenagem à cantora. Norelease que acompanha o LP, ele escreve: Elis foi, sem dúvi-da, uma das maiores cantoras do mundo.

25 de setembro: É aberta a VII Semana Elis Regina, promo-vida pela Associação Brasileira Elis em Movimento, no Cen-tro Cultural São Paulo. A promoção estende-se até 1º deoutubro, com shows de Danilo Caymmi, Verônica Sabino,Márcia, Ivan Lins, Lecy Brandão, Gonzaguinha, Wanderléa,Jessé e Renato Teixeira, entre outros.

1990Janeiro: César Camargo Mariano, como representante le-gal dos três filhos de Elis, impede que o diretor de tevê CarlosAugusto de Oliveira, o Guga, realize um documentário so-bre a vida e obra de Elis, baseado no livro Furacão Elis. O

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documentário pretendia traçar um paralelo entre o que Eliscantou e o que o País viveu, no período que começa com achegada da cantora ao Rio de Janeiro � em março de 1964 �e o verão de 1982, quando morreu. Em carta publicada nojornal O Estado de S.Paulo, em 27 de janeiro de 1990, Césardiz: �A imagem de Elis, enquanto sinônimo de vida privadae intimidade, como Direito de Personalidade, é inviolável,como a própria Constituição Federal de 1988 prevê em seuartigo 5º, inciso X, entre os direitos e garantias fundamen-tais�.

11 de abril: O fotógrafo Paulo Vasconcellos abre, em seu es-túdio paulistano, uma exposição com fotos inéditas de Elis,feitas entre 1976 e 1981.

199213 a 18 de janeiro: Lembrando os dez anos da morte dacantora, a Rádio Cultura AM de São Paulo apresenta aminissérie Elis. Instrumento: Voz. Uma Travessia em 6Tempos, com depoimentos dos músicos, compositores,diretores e produtores que trabalharam com a cantora.A série recebe o Prêmio Especial da Crítica, concedidopela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA),como o melhor programa de rádio do ano. Escrita, pro-duzida e dirigida por Maria Luiza Kfouri e VilmarBittencourt.

19 de janeiro: Especial da TV Cultura de São Paulo, Elis...que Saudade!, na série Cultura Especial. Documentário comdepoimentos e trechos de shows da cantora. Depoimento deMilton Nascimento ao final do programa: �(...) Elis foi ogrande amor da minha vida�.

As rádios Gazeta AM e Eldorado FM, de São Paulo, e Jornaldo Brasil AM, do Rio, dedicam programas a Elis.

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19947 de maio: O jornal O Estado de S.Paulo publica matériasobre o veto da família de Elis à minissérie que a Rede Glo-bo pretendia apresentar, escrita por Luis Carlos Maciel eRonaldo Bôscoli.

9 de maio: Festa de lançamento da caixa com três CDs, ElisRegina no Fino da Bossa, com produção e direção artísticade Zuza Homem de Mello, no Salão dos Arcos da EstaçãoJulio Prestes, São Paulo. Lançamento gravadora Velas, deIvan Lins, Vitor Martins e Paulo Albuquerque.

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DISCOGRAFIA

LONG-PLAYS

VIVA A BROTOLÂNDIAContinental, 1961

Lado 11 � Dá sorte � Eleu Salvador2 � Sonhando (Dream) � Vorzon/Ellis/versão Juvenal

Fernandes3 � Murmúrio � Luiz Antonio/Djalma Ferreira4 � Tu serás � Angelo Martignani/Othon Russo5 � Samba feito pra mim � Paulo Tito6 � Fala-me de amor (Take Me In Your Arms) � Markus/

Rotter/versão Max Gold

Lado 2l � Baby face � Davis/Akst/versão Fred Jorge2 � Dor-de-cotovelo � João Roberto Kelly3 � Garoto último tipo (Puppy Love) � Paul Anka/versão

Fred Jorge4 � As coisas que eu gosto � (My Favorite Things) � Rogers/

Hammerstein II/versão Fernando César5 � Mesmo de mentira � Carlos Imperial6 � Amor, amor (Love. Love) � Bill Caesar/versão Carlos

Imperial

DISCOGRAFIA

Maria Luiza Kfouri

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POEMAContinental, 1962

Lado 11 � Poema � Fernando Dias2 � Pororó-popó � João Roberto Kelly3 � Dá-me um beijo (Kiss Me, Kiss Me) � Trovajoli/Dannel/

versão Romeu Nunes4 � Nos teus lábios � Haroldo Eiras/Ataliba Santos5 � Vou comprar um coração � Paulo Tito/Romeu Nunes6 � Meu pequeno mundo de ilusão (My Little Corner of

The World) � Hilliard/Pockriss/versão José Mauro Pires

Lado 21 � Las secretarias � Pepe Luis/versão Martha Almeida2 � Saudade é recordar � Renan França/Verinha Falcão3 � Pizzicati-pizzicato � Stern/Marnay/versão Fred Jorge4 � Canção de enganar despedida � Walter/Joluz5 � Confissão � Umberto Silva/P. Aguiar/Luiz Mergulhão6 � Podes voltar � Othon Russo/Nazareno de Brito

Viva a Brotolândia e Poema foram relançados em 1982, emum álbum com o nome de Nasce uma Estrela, e em 1989,em discos separados, o primeiro com o título de Nasce umaEstrela, o segundo, A Estrela Brilha.

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ELLIS REGINACBS, 1963

Lado 11 � Silêncio � Túlio Piva2 � 1, 2, 3, Balançou � Alcyr Pires Vermelho/Nazareno de Brito3 � À noite � Sondheim/Bernstein/versão Roberto Côrte Real4 � Ressurreição � Pernambuco/Marino Pinto5 � Flertei � Castro Perret6 � Adeus amor � Newton Ramalho/Almeida Rêgo

Lado 21 � A virgem de macarena (La Virgen de la Macareña) � B.

B. Monterde/Calero/versão A.Bourget2 � Tango italiano � Malgoni/Pallesi/Beretta/versão Romeu

Nunes3 � Dengosa � Castro Perret4 � Formiguinha triste � Joãozinho5 � Tristeza de carnaval � Mutinho/Bidú6 � Outra vez (Again) � Cochran/Newman/versão Osvaldo

Santiago

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O BEM DO AMORCBS, 1963

Lado 11 � Alô, saudade � Umberto Silva/Paulo Aguiar2 � Sem teu amor � Luiz Mauro3 � Saudade e carinho � Renan França/Verinha Falcão4 � Mania de gostar � Luiz Mauro5 � Manhã de amor � Sérgio Malta/Joluz6 � Se você quiser � Baden Powell/Mario Telles

Lado 2l � Há uma história triste � Othon Russo/Niquinho2 � Domingo em Copacabana � Roberto Faissal/Paulo Tito3 � Meus olhos � Sérgio Napp4 � Retorno � Aécio Kauffmann5 � Mundo de paz � Túlio Piva6 � O bem do amor � Rildo Hora/Clóvis Mello

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SAMBA EU CANTO ASSIMCBD�Philips, 1965Produção: Armando Pittigliani

Lado 11 � Reza � Edu Lobo/Ruy Guerra2 � Menino das laranjas � Théo de Barros3 � Por um amor maior � Francis Hime/Ruy Guerra4 � João Valentão � Dorival Caymmi5 � Maria do Maranhão � Carlos Lyra/Nelson L. de Barros6 � Resolução � Edu Lobo/Lula Freire

Lado 21 � Sou sem paz � Adylson Godoy2 � Pot-pourri Consolação/Berimbau/Tem dó � Baden

Powell/Vinícius de Moraes3 � Aleluia � Edu Lobo/Ruy Guerra4 � Eternidade � Luiz Chaves/Adylson Godoy5 � Preciso aprender a ser só � Marcos e Paulo Sérgio Valle6 � Último canto � Francis Hime/Ruy Guerra

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DOIS NA BOSSA � com Jair RodriguesCBD�Philips, 1965Produção: Walter Silva e Mário DuarteGravado ao vivo no Teatro Paramount, SP, em 8, 9, 12, abril,com Elis, Jair Rodrigues e Jongo Trio.

Lado 11 � Pot-pourri � com Elis e Jair:

a) O morro não tem vez � Tom Jobim/Vinícius deMoraes; b) Feio não é bonito � Carlos Lyra/G.Guarnieri; c) Samba do carioca � Carlos Lyra/Viníciusde Moraes; d) Esse mundo é meu � Sérgio Ricardo/RuyGuerra; e) A felicidade � Tom Jobim/Vinícius deMoraes; f) Samba de negro � Roberto Corrêa/SylvioSon; g) Vou andar por aí � Newton Chaves; h) O solnascerá (A sorrir) � Cartola/Elton Medeiros; i) Diz quefui por aí � Zé Ketti/H. Rocha; j) Acender as velas � ZéKetti; k) A voz do morro � Zé Ketti; l) O morro nãotem vez � Tom Jobim/Vinícius de Moraes

2 � Preciso aprender a ser só � com Elis � Marcos e PauloSérgio Valle

3 � Ziguezague � com Jair Rodrigues � Alberto Paz/EdsonMenezes

4 � Terra de ninguém � com Elis � Marcos e Paulo Sérgio Valle

Lado 21 � Arrastão � com Elis � Edu Lobo/Vinícius de Moraes2 � Reza � com Elis � Edu Lobo/Ruy Guerra3 � Tá engrossando � com Jair � Alberto Paz/Edson Menezes4 � Deus com a família � com Elis � César Roldão Vieira5 � Ué � com Jair Rodrigues � Osmar Navarro/Alcina Maria6 � Menino das laranjas � com Elis e Jair � Théo de Barros

* Relançado em CD em 1994.

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O FINO DO FINO � com o Zimbo TrioCBD�Philips, 1965Produção: Manoel CarlosDireção artística: Mário DuarteGravado ao vivo no Teatro Record, SP.

Lado 11 � Zambi � com Elis e Zimbo � Edu Lobo/Vinícius de

Moraes2 � Aruanda � com Zimbo � Carlos Lyra/Geraldo Vandré3 � Canção do amanhecer � com Elis e Zimbo � Edu Lobo/

Vinícius de Moraes4 � Só eu sei o nome � com Zimbo � Luiz Chaves5 � Esse mundo é meu / Resolução � com Elis e Zimbo �

Sérgio Ricardo/Ruy Guerra/Edu Lobo/Lula Freire6 � Samba meu � com Zimbo � Adylson Godoy

Lado 21 � Expresso Sete � com Zimbo � Rubinho Barsotti2 � Até o sol raiar (Tempo feliz) � com Elis e Zimbo � Baden

Powell/Vinícius de Moraes3 � Chuva � com Zimbo � Durval Ferreira/Pedro Camargo4 � Amor demais � com Elis e Zimbo � Sílvio César/Ed

Lincoln5 � Samba novo � com Zimbo � Durval Ferreira/Newton

Chaves6 � Chegança � com Elis e Zimbo � Edu Lobo/Oduvaldo

Vianna Filho

* Relançado em CD em 1994.

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DOIS NA BOSSA Nº 2 � com Jair RodriguesCBD�Philips, 1966Músicos: Luiz Loy Quinteto e Bossa Jazz TrioProdução: Mário DuarteDireção musical: Adylson GodoyGravado ao vivo no Teatro Record, SP.

Lado 1:1 � Pot-pourri � com Elis e Jair

a) Introdução � Elis/Jair; b) Samba de mudar � Geral-do Vandré; c) Não me diga adeus � Paquito/L. Sobera-no/J. C. da Silva; d) Volta por cima � Paulo Vanzolini;e) O neguinho e a senhorita � Noel Rosa de Oliveira/A.da Silva; f) E daí � Miguel Gustavo; g) Samba de mudar� Geraldo Vandré; h) Enquanto a tristeza não vem �Sérgio Ricardo; i) Carnaval � D. Ferreira/Ataulfo Alves;j) Na ginga do samba � Ataulfo Alves; k) Guarda a san-dália dela � Sereno/Germano Mathias; l) Samba demudar � Geraldo Vandré

2 � Canto de ossanha � com Elis � Baden Powell/Viníciusde Moraes

3 � Tristeza � com Jair � Haroldo Lobo/Niltinho4 � Tristeza que se foi � com Elis � Adylson Godoy5 � São Salvador, Bahia � com Jair � Paulo da Cunha

Lado 21 � Louvação � com Elis e Jair � Gilberto Gil/Torquato Neto2 � Upa, neguinho � com Elis � Edu Lobo/Gianfrancesco

Guarnieri3 � Mascarada � Zé Ketti/Elton Medeiros / Sonho de um

carnaval � Chico Buarque � com Jair4 � Amor até o fim � com Elis � Gilberto Gil5 � Santuário do morro � com Jair � Adylson Godoy

* Relançado em CD em 1994.

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ELISCBD�Philips, 1966Músicos: Luiz Loy Quinteto, Bossa Jazz Trio, Regional doCaçulinha, Paulinho NogueiraProdução: Luiz MocarzelArranjos e regência: Chiquinho de Moraes

Lado 11 � Roda � Gilberto Gil/João Augusto2 � Samba em paz � Caetano Veloso3 � Pra dizer adeus � Edu Lobo/Torquato Neto4 � Estatuinha � Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri5 � Veleiro � Edu Lobo/Torquato Neto6 � Boa palavra � Caetano Veloso

Lado 21 � Lunik 9 � Gilberto Gil2 � Tem mais samba � Chico Buarque3 � Sonho de Maria � Marcos e Paulo Sérgio Valle4 � Tereza sabe sambar � Francis Hime/Vinícius de Moraes5 � Carinhoso � Pixinguinha/João de Barro6 � Canção do sal � Milton Nascimento

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DOIS NA BOSSA Nº 3 � com Jair RodriguesCBD�Philips, 1967Produção: Armando PittiglianiGravado ao vivo no Teatro Paramount (Record�Centro), SP.

Lado 1l � Imagem � com Elis � Luiz Eça/Ronaldo Bôscoli2 � Pot-pourri de Mangueira � com Elis e Jair

a) Mangueira � Assis Valente/Zequinha Reis; b) Fala,Mangueira � Mirabeau/Milton de Oliveira; c) Exaltaçãoà Mangueira � Enéas Brites da Silva/Aloísio A. Costa;d) Mundo de zinco � Nássara/Wilson Batista; e) Levan-ta, Mangueira � Luiz Antonio; f) Despedida de Man-gueira � Aldo Cabral/Benedito Lacerda; g) Pra machu-car meu coração � Ary Barroso

3 � O ser humano � com Jair � Osmar Navarro4 � Cruz de cinza, cruz de sal � com Elis � Walter Santos/

Teresa Souza5 � Serenata em teleco-teco � com Jair � Gilberto Gil

Lado 21 � Manifesto � com Elis � Guto/Mariozinho Rocha2 � Pot-pourri romântico � com Elis e Jair:

a) Minha namorada � Carlos Lyra/Vinícius de Moraes;b) Eu sei que vou te amar � Tom Jobim/Vinícius deMoraes; c) A volta � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli;d) Primavera � Carlos Lyra/Vinícius de Moraes

3 � Amor de carnaval � com Jair � Zé Ketti4 � Marcha da quarta-feira de cinzas � com Elis � Carlos

Lyra/Vinícius de Moraes5 � Capoeira camará � com Jair � Paulo da Cunha

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ELIS ESPECIALCBD�Philips, 1968Produção: Armando PittiglianiDireção musical: Erlon Chaves

Lado 11 � Samba do perdão � Baden Powell/Paulo César Pinheiro2 � Tributo a Tom Jobim

a) Vou te contar (Wave) � Tom Jobim; b) Fotografia �Tom Jobim; c) Outra vez � Tom Jobim; d) Vou te con-tar (Wave) � Tom Jobim

3 � De onde vens � Dori Caymmi/Nelson Motta4 � Bom tempo � Chico Buarque5 � Da cor do pecado � Bororó

Lado 21 � Corrida de jangada � Edu Lobo/José Carlos Capinam2 � Carta ao mar � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli3 � Vira-mundo � Gilberto Gil/José Carlos Capinam4 � Upa, neguinho � Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri5 � Tributo à Mangueira

a) Mangueira � Assis Valente/Zequinha Reis; b) Fala,Mangueira � Mirabeau/Milton de Oliveira; c) Exaltaçãoà Mangueira � Enéas B. da Silva/Aloísio A. Costa; d)Levanta, Mangueira � Luiz Antonio; e) Despedida deMangueira � Aldo Cabral/Benedito Lacerda; f) Pra ma-chucar meu coração � Ary Barroso

* Relançado em CD em 1994.

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ELIS, COMO E PORQUÊCBD�Philips, 1969Músicos: Antonio Adolfo � piano, Roberto Menescal � gui-tarra, José Roberto � contrabaixo, Wilson das Neves � bate-ria, Hermes � percussãoProdução: Armando PittiglianiArranjos do conjunto: Roberto MenescalArranjos de orquestra: Erlon Chaves

Lado 11 � Aquarela do Brasil � Ary Barroso / Nega do cabelo duro

� Rubens Soares/David Nasser2 � O sonho � Egberto Gismonti3 � Vera Cruz � Milton Nascimento/Márcio Borges4 � Casa-forte � Edu Lobo5 � Canto de Ossanha � Baden Powell/Vinícius de Moraes

Lado 21 � Giro � Antonio Adolfo/Tibério Gaspar2 � O barquinho � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli3 � Andança � Danilo Caymmi/Edmundo Souto/Paulinho

Tapajós4 � Récit de Cassard (do filme Les parapluies de Cherbourg)

� J. Demy/Michel Legrand5 � Samba da pergunta � Pingarilho/Marcos Vasconcelos6 � Memórias de Marta Saré � Edu Lobo/Gianfrancesco

Guarnieri

* Relançado em CD em 1994.

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ELIS REGINA E TOOTS THIELEMANSPhonogram Intern. B. V./Selo Fontana Especial, 1969

Lado 11 � Wave � Tom Jobim2 � Aquarela do Brasil � Ary Barroso / Nega do cabelo duro

� Rubens Soares/David Nasser3 � Visão � com Toots Thielemans � Antonio Adolfo/

Tibério Gaspar4 � Corrida de jangada � Edu Lobo/José Carlos Capinam5 � Wilsamba � com Toots Thielemans � Roberto Menescal6 � Canto de Ossanha � Baden Powell/Vinícius de Moraes

Lado 21 � O barquinho � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli2 � O sonho � Egberto Gismonti3 � Five for Elis � com Toots Thielemans � Toots Thielemans4 � Você � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli5 � Honeysuckle Rose � com Toots Thielemans � F. Waller/

A. Razaf6 � A volta � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli

* Gravado na Suécia no início de 1969. Lançado no Brasilem 1978. Relançado em CD em 1988.

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ELIS REGINA IN LONDONPolyGram (Phonogram Ltd., RU)/Selo Philips, 1969Músicos: Antonio Adolfo � piano, Jurandir Meirelles � bai-xo, Wilson das Neves � bateria, Hermes � percussão, RobertoMenescal � guitarraEstúdios: Stanhope House � Londres (RU)Direção musical e regência: Peter Knight

Lado 11 � Corrida de jangada � Edu Lobo/Capinam2 � A time for love � Webster/John Mandel3 � Se você pensa � Roberto e Erasmo Carlos4 � Giro � Antonio Adolfo/Tibério Gaspar5 � A volta � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli6 � Zazueira � Jorge Ben

Lado 21 � Upa, neguinho � Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri/

versão Gilbert2 � Watch what happens � Gimbel/Michel Legrand3 � Wave � Tom Jobim4 � How insensitive (A insensatez) � Tom Jobim/Vinícius

de Moraes/versão Gimbel5 � Você � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli/versão

Gilbert6 � O barquinho � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli/ver-

são Gimbel/Kayo

* Gravado nos dias 6 e 8 de maio de 1969. Lançado no Bra-sil em 1982.

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... EM PLENO VERÃOParticipação especial: Tim MaiaCBD�Philips, 1970Produção: Nelson MottaDireção musical: Erlon Chaves

Lado 11 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá) � Baden Powell/

Paulo César Pinheiro2 � Bicho do mato � Jorge Ben3 � Verão vermelho � Nonato Buzar4 � Até aí morreu Neves � Jorge Ben5 � Frevo � Tom Jobim/Vinícius de Moraes6 � As curvas da estrada de Santos � Roberto e Erasmo Carlos

Lado 21 � Fechado pra balanço � Gilberto Gil2 � Não tenha medo � Caetano Veloso3 � These are the songs � participação de Tim Maia � Tim

Maia4 � Comunicação � Edson Alencar/Hélio Matheus5 � Copacabana velha de guerra � Joyce/Sérgio Flaksman

* Relançado em CD em 1993.

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ELIS �no Teatro da Praia � com Miele & BôscoliCBD�Philips, 1970Músicos: Roberto Menescal � guitarra, Jurandir Meirelles �baixo, Zé Roberto � piano, Hermes � percussão, Wilson dasNeves � bateriaProdução: Roberto MenescalProdução e direção do show: Miele e BôscoliGravação ao Vivo.

Lado 11 � Introdução

a) Casa-forte � Edu Lobo; b) Reza � Edu Lobo/RuyGuerra; c) Noite dos mascarados � Chico Buarque; d)Samba da bênção � Baden Powell/Vinícius de Moraes;e) Makin� Whoopee � Donaldson/Kahn

2 � Zazueira � Jorge Ben3 � Minha � Francis Hime/Ruy Guerra4 � Irene � Caetano Veloso

Lado 21 � Musical de gala

a) Eu e a brisa � Johnny Alf; b) Preciso aprender a ser só� Marcos e Paulo Sérgio Valle; c) Carolina � ChicoBuarque; d) Nunca mais � Dorival Caymmi; e) Fran-queza � Denis Brean/O. Guilherme; f) Se todos fossemiguais a você � Tom Jobim/Vinícius de Moraes

2 � Aquele abraço � Gilberto Gil3 � Can�t take my eyes of you � Crewe/Gaudio4 � Se você pensa � Roberto e Erasmo Carlos

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ELACBD�Philips, 1971Direção de produção: Nelson MottaDireção de estúdio: Roberto MenescalArranjos: Chiquinho de Moraes

Lado 11 � Ih! Meu Deus do céu � Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de

Souza2 � Black is beautiful � Marcos e Paulo Sérgio Valle3 � Cinema Olympia � Caetano Veloso4 � Golden slumbers � Lennon/McCartney5 � Falei e disse � Baden Powell/Paulo César Pinheiro

Lado 21 � Aviso aos navegantes � Baden Powell/Paulo César Pi-

nheiro2 � Mundo deserto � Roberto e Erasmo Carlos3 � Ela � César Costa Filho/Aldir Blanc4 � Madalena � Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza5 � Os argonautas � Caetano Veloso6 � Estrada do sol � Tom Jobim/Dolores Duran

* Relançado em CD em 1994.

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ELISCBD�Philips, 1972Direção de produção: Roberto MenescalArranjos: César Camargo Mariano

Lado 11 � 20 anos blue � Sueli Costa/Vitor Martins2 � Bala com bala � João Bosco/Aldir Blanc3 � Nada será como antes � Milton Nascimento/Ronaldo

Bastos4 � Mucuripe � Fagner/Belchior5 � Olhos abertos � Zé Rodrix/Guarabyra6 � Vida de bailarina � Américo Seixas/Dorival Silva

Lado 21 � Águas de março � Tom Jobim2 � Atrás da porta � Francis Hime/Chico Buarque3 � Cais � Milton Nascimento/Ronaldo Bastos4 � Me deixa em paz � Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza5 � Casa no campo � Zé Rodrix/Tavito6 � Boa noite, amor � José Maria de Abreu/Francisco

Matoso

* Relançado em CD em 1988.

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ELISCBD Phonogram/Selo Philips, 1973Músicos: César Mariano � teclados, Luisão � baixo e fuzy,Paulinho Braga � bateria, gongo, tímpanos, Chico Batera �percussão, tímpanos, Toninho Horta � guitarra, Ari � gui-tarra, Ubirajara Silva � bandoneón, Roberto Menescal � vi-olão, Maurílio � trompeteDireção de produção: MazolaCoordenação de produção: Roberto MenescalCoordenação musical e arranjos: César C. Mariano

Lado 11 � Oriente � Gilberto Gil2 � O caçador de esmeralda � João Bosco/Aldir Blanc/Clau-

dio Tolomei3 � Doente morena � Gilberto Gil/Duda4 � Agnus sei � João Bosco/Aldir Blanc5 � Meio de campo � Gilberto Gil

Lado 21 � Cabaré � João Bosco/Aldir Blanc2 � Ladeira da preguiça � Gilberto Gil3 � Folhas secas � Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito4 � Comadre � João Bosco/Aldir Blanc5 � É com esse que eu vou � Pedro Caetano

* Relançado em CD em 1993.

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ELIS E TOMCBD Phonogram/Selo Philips, 1974Músicos: César Camargo Mariano � piano, Tom Jobim �piano e violão, Helio Delmiro, violão e guitarra, Luisão �baixo, Paulinho Braga � bateriaDireção de produção: Aloysio de OliveiraArranjos: César Camargo Mariano/Tom JobimRegência: Bill Hitchcock

Lado 1:1 � Águas de março � Tom Jobim2 � Pois é � Tom Jobim/Chico Buarque3 � Só tinha de ser com você � Tom Jobim/Aloysio de Oli-

veira4 � Modinha � Tom Jobim/Vinícius de Moraes5 � Triste � Tom Jobim6 � Corcovado � Tom Jobim7 � O que tinha de ser � Tom Jobim/Vinícius de Moraes

Lado 21 � Retrato em branco e preto � Tom Jobim/Chico Buarque2 � Brigas, nunca mais � Tom Jobim/Vinícius de Moraes3 � Por toda a minha vida � Tom Jobim/Vinícius de Moraes4 � Fotografia � Tom Jobim5 � Soneto de separação � Tom Jobim/Vinícius de Moraes6 � Chovendo na roseira � Tom Jobim7 � Inútil paisagem � Tom Jobim/Aloysio de Oliveira

* Gravado entre 22 de fevereiro e 9 de março, em LosAngeles, Califórnia � EUA. Relançado em CD em 1988.

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ELISCBD Phonogram, 1974Músicos: César Mariano � piano, piano elétrico, cravo,clavinete, órgão e phaser, Natan Marques � guitarra e violade 12 cordas, Luisão � baixo, Toninho � bateria, Chico Ba-tera � percussão. Em Dois pra lá, dois pra cá: Paulinho Braga� bongô, Hélio Delmiro � guitarra, Classic VIII � coroDireção de produção: MazolaDireção musical: César Camargo MarianoCoordenação: Roberto de OliveiraArranjos: César Camargo Mariano

Lado 11 � Na batucada da vida � Ary Barroso/Luiz Peixoto2 � Travessia � Milton Nascimento/Fernando Brant3 � Conversando no bar � Milton Nascimento/Fernando

Brant4 � Ponta de Areia � Milton Nascimento/Fernando Brant5 � O mestre-sala dos mares � João Bosco/Aldir Blanc

Lado 21 � Amor até o fim � Gilberto Gil2 � Dois pra lá, dois pra cá � João Bosco/Aldir Blanc3 � Maria Rosa � Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves4 � Caça à raposa � João Bosco/Aldir Blanc5 � O compositor me disse � Gilberto Gil

* Relançado em CD em 1993.

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FALSO BRILHANTECBD Phonogram/Selo Philips, 1976Músicos: César Camargo Mariano � piano e violão, NatanMarques � guitarra, violão, viola e percussão, Nenê � bate-ria, violão e piano elétrico, Wilson � contrabaixo, baixo elé-trico e percussão, Crispim del Cistia � guitarra, teclado, vi-olão e percussão.Direção de produção: MazolaDireção musical: César Camargo MarianoArranjos: César Camargo Mariano

Lado 1:1 � Como nossos pais � Belchior2 � Velha roupa colorida � Belchior3 � Los hermanos � Atahualpa Yupanqui4 � Um por todos � João Bosco/Aldir Blanc5 � Fascinação � F. D. Marchetti/M. de Feraudy/versão Ar-

mando Louzada

Lado 21 � Jardins de infância � João Bosco/Aldir Blanc2 � Quero � Thomas Roth3 � Gracias a la vida � Violeta Parra4 � O cavaleiro e os moinhos � João Bosco/Aldir Blanc5 � Tatuagem � Chico Buarque/Ruy Guerra

* Relançado em CD em 1988.

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ELISPhonogram/Selo Philips, 1977Músicos: César Camargo Mariano � piano, piano Fender,órgão Hammond, RMI e syntorchestra, Natan Marques �guitarra Gibson Les Paul, violão, viola-12, violão-aço e voz,Crispim del Cistia � guitarra Fender, violão, viola-12, vio-lão-aço e teclados, Wilson � baixo Rickenbacker, Dudu Portes� bateria e percussão; Grupo Água: Renato Teixeira � violãoe voz, Carlão � viola e voz, Sérgio Mineiro � flauta e voz,Márcio Werneck � flauta. Participações especiais: AntonioCarlos del Claro � cello em Morro Velho, Milton Nasci-mento � violão Ovationd em Morro Velho, viola-12 e vozem Caxangá, Ivan Lins � piano acústico e voz em Qualquerdia e Cartomante, Sirlan � voz em Caxangá, Thomas Roth �voz em Cartomante, Lucinha Lins � voz em Cartomante,Zéluiz � voz em Cartomante.Direção de produção e arranjos: César Mariano

Lado 11 � Caxangá � Milton Nascimento/Fernando Brant2 � Colagem � Cláudio Lucci3 � Vecchio novo � Cláudio Lucci/José Márcio Pereira4 � Morro velho � Milton Nascimento5 � Qualquer dia � Ivan Lins/Vitor Martins

Lado 21 � Romaria � Renato Teixeira2 � A dama do apocalipse � Natan Marques/Crispim del

Cistia3 � Cartomante � Ivan Lins/Vitor Martins4 � Sentimental eu fico � Renato Teixeira5 � Transversal do tempo � João Bosco/Aldir Blanc

* Relançado em CD em 1993.

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ELIS � TRANSVERSAL DO TEMPOPhonogram/Selo Philips, 1978Músicos: César Mariano � teclado e arranjos, Natan Mar-ques � guitarras, violão e viola, Crispim del Cistia � guitar-ras e teclado, Dudu Portes � bateria e percussão, FernandoSizão � baixos elétrico e acústicoProdução: César Mariano, Aldir Blanc, Maurício TapajósDireção musical: César MarianoGravado ao vivo no Teatro Ginástico, RJ, entrre 6 e 9 deabril, diretamente de mesa operada por Rogério Costa.

Lado 11 � Fascinação � F. D. Marchetti/M. de Feraudy/versão Ar-

mando Louzada2 � Sinal fechado � Paulinho da Viola3 � Deus lhe pague � Chico Buarque4 � O rancho da goiabada � João Bosco/Aldir Blanc / Cons-

trução � Chico Buarque5 � Saudosa maloca � Adoniran Barbosa

Lado 21 � Boto � Tom Jobim/Jararaca2 � Cão sem dono � Sueli Costa/Paulo César Pinheiro3 � Meio-termo � Lourenço Baeta/Cacaso / Corpos � Ivan

Lins/Vitor Martins4 � Querelas do Brasil � Maurício Tapajós/Aldir Blanc5 � Cartomante � Ivan Lins/Vitor Martins

* Relançado em CD em 1989.

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ELIS ESPECIALPolyGram/Selo Philips, 1979

Lado 11 � Noves fora � Fagner/Belchior2 � Violeta de Belfort Roxo � João Bosco/Aldir Blanc3 � Ou bola ou búlica � João Bosco/Aldir Blanc4 � Credo � Milton Nascimento/Fernando Brant5 � Dinorah, Dinorah � Ivan Lins/Vitor Martins6 � Joanna Francesa � Chico Buarque

Lado 21 � Bodas de prata � João Bosco/Aldir Blanc2 � Entrudo � Carlos Lyra/Ruy Guerra3 � Valsa rancho � Francis Hime/Chico Buarque4 � Bonita � Tom Jobim5 � Deixa o mundo e o sol entrar � Marcos e Paulo Sérgio

Valle

* Disco lançado à revelia de Elis, que deixara a gravadoradevendo alguns fonogramas. Reúne músicas que ficaram defora de seus discos anteriores e, também, provas de grava-ção. O disco não tem ficha técnica. Relançado em CD em1994.

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ELIS, ESSA MULHERWEA, 1979Músicos: César Mariano � teclados e arranjos, Hélio Delmiro� guitarra e violão, Luisão � baixo, Paulinho Braga � bateria epercussão, Ary Piassarello � guitarra, Maurílio � trompete,Márcio Montarroyos � trompete, Edmundo Maciel � trom-bone, Zé Bodega � sax tenor, Cidinho � tamborim, Carlinhosda Mocidade � agogô, Ronaldo da Mocidade � pandeiro,Chico Batera � percussão, bateria, Chiquinho � acordeão,Jorge Luís da Mocidade � agogô, Joyce � violão em Essa mu-lher, Celso, Altamiro, Jorginho e Jayme � flautas, Ronaldo,Roberto, Waldir, Mário, Regina, Viviane � vocal. Participa-ção especial: Cauby Peixoto em Bolero de Satã.Produção: MazolaCo-produção: César MarianoDireção artística: MazolaDireção musical: César Mariano

Lado 11 � Cai dentro � Baden Powell/Paulo César Pinheiro2 � O bêbado e a equilibrista � João Bosco/Aldir Blanc3 � Essa mulher � Joyce/Ana Terra4 � Basta de clamares inocência � Cartola5 � Beguine dodói � João Bosco/Aldir Blanc/Cláudio

Tolomei

Lado 21 � Eu, hein, Rosa! � João Nogueira/Paulo César Pinheiro2 � Altos e baixos � Sueli Costa/Aldir Blanc3 � Bolero de Satã � Guinga/Paulo César Pinheiro4 � Pé sem cabeça � Danilo Caymmi/Ana Terra5 � As aparências enganam � Tunai/Sérgio Natureza

* Disco dedicado: �À presença do Bituca. À ausência doTenório Jr.�. Relançado em CD em 1987.

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SAUDADE DO BRASILWEA, 1980Músicos: César Mariano � teclados, Sérgio Henriques � te-clados, Nenê Carmargo � trompete, Cláudio Faria �trompete, Octávio Bengla � sax tenor e clarinete, Lino Si-mão � sax tenor, Paulo Garfunkel � flauta, flautim, flautadoce, clarinete, sax alto e arranjo em Canção da América,Chiquinho Brandão � flauta, flauta doce e arranjo em Can-ção da América, Chacal � percussão, Natan Marques � gui-tarra, viola-12, violão-aço e arranjo em Canção da Améri-ca, Kzam � baixo e violão, Bocato � trombone, Sagica �bateria. Elenco e coro: Orlando Barros, Serjão, JorgeBueno, Carlos Nabarreto, Luiz Antonio Marrigo, JorgeDeffune, Rosaly Papadol, Albino Saré, Regina Machado,Waltinho, Brasília.Produção: Guti e César MarianoDireção de produção: GutiDireção musical e arranjos: César Mariano

Álbum duplo � Com a íntegra do show apresentado em 1980.

Disco 1

Lado 11 � Abertura � César Mariano � Arrastão � Edu Lobo/

Vinícius de Moraes / Lapinha � Baden Powell/PauloCésar Pinheiro

2 � Terra de ninguém � Marcos e Paulo Sérgio Valle3 � Maria, Maria � Milton Nascimento/Fernando Brant4 � Agora tá � Tunai/Sérgio Natureza5 � Alô, alô, marciano � Rita Lee/Roberto de Carvalho

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Lado 21 � Canção da América � Milton Nascimento/Fernando

Brant2 � As aparências enganam � Tunai/Sérgio Natureza3 � O primeiro jornal � Sueli Costa/Abel Silva4 � Moda de sangue � Jerônimo Jardim/Ivaldo Roque5 � Marambaia � Henricão/Rubens Campos

Disco 2

Lado 11 � Presidente bossa-nova � Juca Chaves2 � Conversando no bar � Milton Nascimento/Fernando

Brant3 � Onze fitas � Fátima Guedes4 � Menino � Milton Nascimento/Ronaldo Bastos5 � Aos nossos filhos � Ivan Lins/Vitor Martins

Lado 21 � Sabiá � Tom Jobim/Chico Buarque2 � Mundo novo, vida nova � Luiz Gonzaga Júnior3 � Aquarela do Brasil � Ary Barroso4 � O que foi feito devera (de Vera) � Milton Nascimento/

Fernando Brant5 � Redescobrir � Luiz Gonzaga Júnior

* Este álbum foi posteriormente desmembrado em dois, quepassaram a ser vendidos separadamente. Relançado em CDem 1987.

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ELISEMI�Odeon, 1980Músicos: César Mariano � teclados e arranjos, Kzam � bai-xo, Pedro Baldanza � baixo, Picolé � bateria, Chico Batera �percussão, Natan Marques � guitarras e violão Ovation, Pis-ca � guitarras e viola-12, José Roberto � sax. Coro em OTrem Azul: Elis, Natan, César, Marisa Fossa, Pisca, Pedro.Coro em Vento de Maio: Telo Borges, Nice Borges. Vocalincidental em Vento de Maio: Lô Borges (Um Girassol daCor de seus Cabelos � de Lô e Márcio Borges)Direção de produção: Renato CorrêaProdução executiva: Mayrton BahiaDireção musical: César Mariano

Lado 11 � Sai dessa � Natan Marques/Ana Terra2 � Rebento � Gilberto Gil3 � Nova estação � Luiz Guedes/Thomas Roth4 � O medo de amar é o medo de ser livre � Beto Guedes/

Fernando Brant

Lado 21 � Aprendendo a jogar � Guilherme Arantes2 � Só Deus é quem sabe � Guilherme Arantes3 � O trem azul � Lô Borges/Ronaldo Bastos4 � Vento de maio � Telo Borges/Márcio Borges5 � Calcanhar de Aquiles � Jean Garfunkel/Paulo Garfunkel

* Disco dedicado: �Dedico esse disco a meu ídolo, minhaamiga e colega de internato Rita Lee�. Último disco gravadopor Elis Regina.

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DISCOS COM GRAVAÇÕES INÉDITAS,LANÇADOS APÓS A MORTE DE ELIS

ELIS REGINA � 13th MONTREUX JAZZ FESTIVALWEA/Selo Elektra, 1982Participação de Hermeto PascoalMúsicos: César Mariano � teclados, Hélio Delmiro � gui-tarra, Luisão � baixo, Paulinho Braga � bateria, Chico Ba-tera � percussãoDireção de produção: André Midani e GutiDireção musical: César MarianoGravado em julho de 1979, no Festival de Jazz de Montreux,Suíça. Lançado em 1982.

Lado 11 � Cobra criada � João Bosco/Paulo Emílio2 � Cai dentro � Baden Powell/Paulo César Pinheiro3 � Madalena � Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza4 � Ponta de Areia � Milton Nascimento/Fernando Brant /

Fé cega, faca amolada � Milton Nascimento/RonaldoBastos / Maria, Maria � Milton Nascimento/FernandoBrant

Lado 21 � Na Baixa do Sapateiro � Ary Barroso2 � Upa, neguinho � Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri3 � Corcovado � participação de Hermeto Pascoal � Tom

Jobim4 � Garota de Ipanema � participação de Hermeto Pascoal

� Tom Jobim/Vinícius de Moraes5 � Asa Branca � participação de Hermeto Pascoal � Luiz

Gonzaga/Humberto Teixeira

* Relançado em CD em 1987.

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ELIS � TREM AZULSom Livre, 1982Músicos: Paulinho Esteves � teclados, Sérgio Henriques �teclados, Natan Marques � guitarra e violão, Luisão � baixo,Octávio Bangla � sax tenor e soprano, Nilton Rodrigues �trompete e flugelhorn, Picolé � bateria, Téo Lima � bateriaem Me deixas louca.Álbum duplo com a íntegra do show gravado na última apre-sentação, em outubro de 1981, no Palácio de Convençõesdo Anhembi, São Paulo. Gravado originalmente em fita cas-sete, recebeu tratamento com modernos recursos técnicosque possibilitaram sua transformação em estéreo.Direção de produção: Max PierreProdução executiva e gravação original: Rogério CostaArranjos: César Mariano e Natan Marques

Disco 1

Lado 11 � Abertura / Aprendendo a jogar � Guilherme Arantes2 � Alô, alô, marciano � Rita Lee/Roberto de Carvalho3 � O medo de amar é o medo de ser livre � Beto Guedes/

Fernando Brant4 � O trem azul � Lô Borges/Ronaldo Bastos5 � Vento de maio � Telo Borges/Márcio Borges

Lado 21 � Se eu quiser falar com Deus � Gilberto Gil2 � Flora � Gilberto Gil3 � Valsa de Eurídice � Vinícius de Moraes4 � Canção da América � Milton Nascimento/Fernando

Brant5 � Me deixas louca � Armando Manzanero/versão Paulo

Coelho

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Disco 2

Lado 11 � Apresentação dos músicos; Sai dessa � Natan Marques/

Ana Terra2 � País do futebol � Milton Nascimento/Fernando Brant3 � Texto (de Fernando Faro); Baila comigo � Rita Lee;

Amante à moda antiga � Roberto e Erasmo Carlos; Temado Fantástico � Guto Graça Mello/Boni; Começar denovo � Ivan Lins/Vitor Martins; Tema dos trapalhões �Zé Menezes; Menino do Rio � Caetano Veloso; The fuzz(Tema do Jornal Nacional) � Frank de Vol; Lança-per-fume � Rita Lee/Roberto de Carvalho

Lado 21 � Nove luas � Natan Marques2 � O que foi feito devera (de Vera) � Milton Nascimento/

Fernando Brant3 � Caxangá � Milton Nascimento/Fernando Brant4 � Maria, Maria � Milton Nascimento/Fernando Brant5 � O trem azul � Lô Borges/Ronaldo Bastos

* Relançado em CD em 1992.

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ELIS � LUZ DAS ESTRELASSom Livre, 1984Produção: Max Pierre e Rogério Costa

Lado 11 � Para Lennon e McCartney � Lô Borges/Márcio Borges/

Fernando Brant. Arranjo e regência: Wagner Tiso; ba-teria: Téo Lima; guitarra: Victor Biglione; baixo: NicoAssumpção; sax: Mauro Senise; teclados: Wagner Tiso;percussão: Peninha.

2 � No dia em que eu vim me embora � Caetano Veloso/Gilberto Gil. Arranjo e regência: Natan Marques; ba-teria: Sergio Herval; violão: Natan Marques; baixo: JorgeLuiz; teclados: Jorge Waldir (Jorjão); percussão: Ger-son.

3 � O mestre-sala dos mares � João Bosco/Aldir Blanc. Ar-ranjo e regência: Lincoln Olivetti; bateria: Picolé; te-clados: Jorge Waldir (Jorjão); baixo: Fernando Alves;guitarra: Robson Jorge; percussão: Peninha/Marçal/Armando Marçal e Lula; teclados: Lincoln Olivetti;trompetes: Bidinho/Márcio Montarroyos/DonaldHarris; sax: Léo Gandelman; trombone: Sérgio Trom-bone.

4 � Velho arvoredo � Hélio Delmiro/Paulo César Pinheiro.Arranjo e regência: Dori Caymmi; violão (1ª parte):Hélio Delmiro; bateria: Picolé; baixo: Jamil Joanes; vi-olão (2ª parte): Toninho Horta; dynomy piano: GilsonPeranzzeta; cordas: ver abaixo.

5 � A banca do distinto � Billy Blanco. Arranjo e regência:Lincoln Olivetti; teclados e bateria: Lincoln Olivetti;guitarra, teclados e ritmo: Robson Jorge.

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Lado 21 � Corsário � João Bosco/Aldir Blanc. Arranjo e regência:

Lincoln Olivetti; piano: Jorge Waldir (Jorjão); bateria:Picolé; baixo: Fernando Alves; guitarra: Robson Jorge;percussão: Peninha; sax: Léo Gandelman.

2 � Bodas de prata � João Bosco/Aldir Blanc. Arranjo e re-gência: Dori Caymmi; bateria: Téo Lima; dynomy pia-no: Gilson Peranzzeta; baixo: Jamil Joanes; violão:Toninho Horta; cordas: ver abaixo.

3 � Gol anulado � João Bosco/Aldir Blanc. Arranjo e regên-cia: Eduardo Souto; bateria: Téo Lima; baixo: Nando;guitarra: Natan Marques; dynomy piano e DX-7: EduardoSouto; percussão: Peninha; cordas: ver abaixo.

4 � Triste � Tom Jobim. Arranjo e regência: Guto GraçaMelo; bateria: Téo Lima; piano: Jotinha; baixo: NicoAssumpção; guitarra: Natan Marques; DX-7: Luiz PauloBello Simas; flautas: Mauro Senise/Lenir Siqueira; flau-tas e picolo: Celso Woltzenlogel/Franklin Correa; clarone:Biju; trompas: Toninho/Svab; cordas: ver abaixo.

5 � Doente morena � Gilberto Gil/Duda. Arranjo e regência:Dori Caymmi; bateria: Téo Lima; dynomy piano: GilsonPeranzzeta; baixo: Jamil Joanes; gaita: Maurício Einhorn.

Cordas: violinos: Alfredo Vidal/Aizik/Carlos E. Hack/Francis-co Perrota/João Daltro/Giancarlo Pareschi/José Alves da Silva/Jorge Faini/Luiz Carlos/Michel Bessler/Paschoal Perrota/WalterHack; violas: Maurício S. Loures/Nelson Macedo/Arlindo Pen-teado/Frederick Stephany; cellos: Alceu de Almeida Reis/JorgeKundert/Jacques Morelenbaum/Marcio Mallari.

* À exceção de Velho Arvoredo (fonograma WEA), as outrasmúsicas foram gravadas para um programa especial da TVBandeirantes em 1979, em mesa de 16 canais. Para este discoforam eliminados os arranjos originais e feitos novos arran-jos pelos músicos assinalados em cada música. Lançado em1984. Lançado em CD, na Europa, em 1988.

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COLETÂNEAS � DISCOS DE MONTAGENS

ELIS (É) REGINAContinental

Lado 11 � Pororó-popó2 � Vou comprar um coração3 � Saudade é recordar4 � Confissão5 � Canção de enganar despedida6 � Poema

Lado 21 � Mesmo de mentira2 � Murmúrio3 � Samba feito pra mim4 � Dor de cotovelo5 � Sonhando (Dream)6 � Tu serás

* Compilação dos discos Viva a Brotolândia (1961) e Poema(1962). Ver compositores nos discos originais.

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ELLIS REGINA � LA REGINA DELLA CANZONEBRASILIANACBS, Itália/Série �Rubino�, 1968

Lado 11 � Tango italiano � Malgoni/Pallesi/Beretta/versão Romeu

Nunes2 � Dengosa � Castro Perrer3 � Formiguinha triste � Joãozinho4 � Tristeza de carnaval � Mutinho/Bidu5 � Outra vez (Again) � Cochran/Newman/versão Oswaldo

Santiago6 � Silêncio � Túlio Piva

Lado 21 � 1, 2, 3 balançou � Alcyr Pires Vermelho/Nazareno de

Brito2 � À noite (Tonight) � L. Bernstein/S. Sondhein/versão

Roberto Corte Real3 � Ressurreição � Pernambuco/Marino Pinto4 � Há uma história triste � Othon Russo/Riquinho5 � Domingo em Copacabana � Roberto Faissal/Paulo Tito6 � Retorno � Aécio Kauffmann

* Compilação dos discos Ellis Regina (1963) e O Bem doAmor (1963). Lançado somente na Itália.

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ELIS REGINASérie �Autógrafos de Sucesso�Cia. Brasileira de Discos/Selo Philips, 1970

Lado 11 � Arrastão2 � Canto de Ossanha3 � Consolação / Berimbau / Tem dó4 � Lunik 95 � Sou sem paz6 � Roda

Lado 21 � Upa, neguinho2 � Menino das laranjas3 � Reza4 � Preciso aprender a ser só5 � Casa-forte6 � Chegança

* Ver compositores nos discos originais.

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ELLIS REGINACBS/Selo Okeh, 1971

Lado 11 � Saudade e carinho2 � Retorno3 � Outra vez (Again)4 � Manhã de amor5 � Se você quiser6 � Ressurreição

Lado 21 � Há uma história triste2 � O bem do amor3 � À noite (Tonight)4 � Meus olhos5 � Silêncio6 � 1, 2, 3 balançou

* Compilação dos discos Ellis Regina (1963) e O Bem doAmor (1963). Ver compositores nos discos originais.

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ELIS REGINASérie �Autógrafos de Sucesso N

o 2�

CBD Phonogram/Selo Fontana, 1973

Lado 11 � Madalena2 � Andança3 � A fia de Chico Brito � Chico Anysio4 � Ih! Meu Deus do céu5 � Black is beautiful6 � Fechado pra balanço

Lado 21 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro2 � As curvas da estrada de Santos3 � Vou deitar e rolar � Quaquaraquaquá4 � Bicho do mato5 � Samba do perdão6 � Tiradentes � Estanislau Silva/Mano Décio da Viola

* Ver demais compositores nos discos originais.

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A ARTE DE ELIS REGINAÁlbum duploCBD Phonogram/Selo Fontana especial, 1975

Disco 1

Lado 11 � Reza2 � Menino das laranjas3 � Pot-pourri com Jair Rodrigues: a) O morro não tem vez;

b) Feio não é bonito; c) Samba do carioca; d) Esse mundoé meu; e) A felicidade; f) Samba de negro; g) Vou andarpor aí; h) O Sol nascerá (A sorrir); i) Diz que fui por aí; j)Acender as velas; k) A voz do morro; l) O morro não tem vez

4 � Arrastão5 � Zambi � com Zimbo Trio

Lado 21 � Tristeza que se foi2 � Louvação � com Jair Rodrigues3 � Roda4 � Pra dizer adeus5 � Lunik 96 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro

Disco 2

Lado 11 � Upa, neguinho2 � Carinhoso3 � Corrida de jangada4 � Vera Cruz5 � Casa-forte6 � As curvas da estrada de Santos7 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá)

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Lado 21 � Ih! Meu Deus do céu2 � Madalena3 � Águas de março4 � Atrás da porta5 � Casa no campo6 � É com esse que eu vou

* Relançado em CD em 1988, com duas músicas a menos(Carinhoso e Roda). Ver compositores nos discos originais.

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O MELHOR DE ELISPolyGram/Selo Fontana especial, 1979

Lado 11 � Águas de março2 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá)3 � Nada será como antes4 � Zazueira5 � Upa, neguinho6 � Dois pra lá, dois pra cá

Lado 21 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro2 � Amor até o fim3 � Atrás da porta4 � É com esse que eu vou5 � Casa no campo6 � Madalena

* Ver compositores nos discos origjnais.

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ELIS REGINA E SEUS AMIGOS EM ENCONTROSHISTÓRICOSPolyGram/Selo Fontana, 1981

Lado 11 � Pot-pourri com Jair Rodrigues (reedição do disco Dois

na bossa Vol.1)2 � Só tinha de ser com você � com Tom Jobim3 � Noite dos mascarados � com Pierre Barouh � Chico

Buarque4 � Louvação � com Jair Rodrigues5 � These are the songs � com Tim Maia

Lado 21 � O barquinho � com Toots Thielemans2 � Ladeira da preguiça � com Gilberto Gil3 � Perdão não tem � com Pelé (Edson Arantes do Nasci-

mento)4 � Águas de março � com Tom Jobim5 � Zambi � com Zimbo Trio

* Ver os demais compositores nos discos originais.

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ELIS REGINA CARVALHO COSTA � POR UM AMORMAIORPolygram/Selo Philips, 1982Caixa com 4 LPs

Disco 1: Porta para o infinito

Lado 11 � Arrastão2 � Tem mais samba3 � Até o sol raiar (Tempo feliz) � com Zimbo Trio4 � Ensaio geral � Gilberto Gil5 � Águas de março � com Tom Jobim6 � Madalena7 � O mestre-sala dos mares

Lado 21 � Lapinha � Baden Powell/Paulo César Pinheiro2 � Tiradentes � Estanislau Silva/Mano Décio da Viola3 � Bala com bala4 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá)5 � Falei e disse6 � Deixa � Baden Powell/Vinícius de Moraes7 � Amor até o fim

Disco 2: Por um amor maior

Lado 11 � A volta � com Toots Thielemans2 � Último canto3 � Modinha � com Tom Jobim4 � Canção do amanhecer � com Zimbo Trio5 � Canto triste � Edu Lobo/Vinícius de Moraes6 � De onde vens7 � Atrás da porta

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Lado 21 � Pra dizer adeus2 � Estrada do sol3 � Morro velho4 � Cais5 � Mucuripe6 � Pois é � com Tom Jobim7 � Por um amor maior

Disco 3: Parando o tempo

Lado 11 � Travessia2 � Conversando no bar3 � Bom tempo4 � Noite dos mascarados � com Chico Buarque5 � Saveiros � Dori Caymmi/Nelson Motta6 � O cantador � Dori Caymmi/Nelson Motta7 � Cabaré

Lado 21 � Dois prá lá, dois pra cá2 � Chovendo na roseira � com Tom Jobim3 � Boto4 � Boa palavra5 � Cinema Olympia6 � Chegança � Zimbo Trio7 � Corrida de jangada

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Disco 4: Viagem a Ixtlan

Lado 11 � Querelas do Brasil2 � João Valentão3 � Carinhoso4 � A noite do meu bem � Dolores Duran5 � Saudosa maloca6 � Folhas secas7 � Vida de bailarina

Lado 21 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro2 � Maria Rosa3 � Na batucada da vida4 � Da cor do pecado5 � Cadeira vazia � Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçalves6 � Romaria7 � Boa noite, amor

* Ver demais compositores nos discos originais.

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ELIS REGINA � NASCE UMA ESTRELAContinental, 1982

* Albúm duplo com os dois primeiros discos lançados pelacantora: Viva a Brotolândia (1961) e Poema (1962).Relançados separadamente em 1989, com os títulos de Nas-ce uma Estrela e A Estrela Brilha. Já descritos no início destadiscografia.

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ELIS � VENTO DE MAIOEMI�Odeon, 1983

Lado 11 � Aprendendo a jogar2 � Rebento3 � O trem azul4 � Tiro ao Álvaro � Adoniran Barbosa/Oswaldo Molles �

Elis em disco de Adoniran Barbosa.5 � Nova estação

Lado 21 � Se eu quiser falar com Deus � Gilberto Gil2 � Vento de maio � com Lô Borges3 � Só Deus é quem sabe4 � Sai dessa5 � O que foi feito devera (de Vera) � Milton Nascimento/

Fernando Brant/Márcio Borges � Elis no disco Clubeda Esquina Nº 2, de Milton Nascimento

* Ver demais compositores nos discos originais. Relançadoem CD em 1988.

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O PRESTÍGIO DE ELIS REGINAPolyGram/Selo Fontana, 1983

Lado 11 � Fascinação2 � Dinorah, Dinorah3 � Ladeira da preguiça4 � Bala com bala5 � Cadeira vazia6 � Madalena7 � Retrato em branco e pretoLado 21 � Atrás da porta2 � Casa no campo3 � Mucuripe4 � Amor até o fim5 � Canto triste6 � Folhas secas7 � Cais

* Ver compositores nos discos originais.

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A ARTE MAIOR DE ELIS REGINAÁlbum duploPolyGram/Selo Fontana especial, 1983

Disco 1

Lado 11 � Como nossos pais2 � Dinorah, Dinorah3 � Cadeira vazia4 � Brigas, nunca mais5 � A volta � com Toots Thielemans6 � Bala com bala

Lado 21 � Querelas do Brasil2 � Triste3 � Carta ao mar4 � Folhas secas5 � Mucuripe6 � Alô... Alô... Taí Carmen Miranda � Maneco/Wilson

Diabo/Heitor

Disco 2

Lado 11 � Cais2 � Fotografia3 � O barquinho � com Toots Thielemans4 � Nada será como antes5 � Falei e disse6 � Tatuagem7 � Tiradentes � Estanislau Silva/Mano Décio da Viola

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Lado 21 � Romaria2 � Me deixa em paz3 � Dois pra lá, dois pra cá4 � Só tinha de ser com você5 � 20 anos blue6 � Da cor do pecado

* Ver demais compositores nos discos originais.

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ELIS REGINA INTERPRETA JOÃO BOSCO E ALDIRBLANCPolyGram/Selo Fontana, 1983

Lado 11 � Dois pra lá, dois pra cá2 � Bala com bala3 � Um por todos4 � O cavaleiro e os moinhos5 � Ou bola ou búlica6 � Cabaré

Lado 21 � O mestre-sala dos mares2 � O caçador de esmeralda3 � Violeta de Berlfort Roxo4 � Transversal do tempo5 � Caça à raposa6 � Agnus sei

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ELIS VIVEÁlbum duploOpus�Vídeo e Fonográfica/Selo Elenco, 1984

Disco 1

Lado 11 � Romaria2 � Águas de março3 � Como nossos pais4 � Aprendendo a jogar5 � Nada será como antes6 � Madalena

Lado 21 � Atrás da porta2 � Fascinação3 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro4 � Casa no campo5 � Pra dizer adeus6 � Folhas secas

Disco 2

Lado 11 � Upa, neguinho2 � Canto de Ossanha3 � Menino das laranjas4 � Arrastão5 � Amor até o fim6 � Preciso aprender a ser só

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Lado 21 � Dois pra lá, dois pra cá2 � É com esse que eu vou3 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá)4 � O mestre-sala dos mares5 � Me deixas louca � Armando Manzanero/versão Paulo

Coelho6 � Se eu quiser falar com Deus

* Ver demais compositores nos discos originais.

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NADA SERÁ COMO ANTES � ELIS INTERPRETA MIL-TON NASCIMENTOPolyGram/Selo Fontana especial, 1984

Lado 11 � Nada será como antes2 � Morro velho3 � Cais4 � Credo5 � Conversando no bar

Lado 21 � Travessia2 � Caxangá3 � Vera Cruz4 � Canção do sal5 � Ponta de Areia

* Ver parceiros de Milton Nascimento nos discos originais.Relançado em CD em 1988.

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A BOSSA MAIOR DE ELIS REGINAOpus�Vídeo e Fonográfica, 1985

Lado 11 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá)2 � Águas de março3 � Madalena4 � Amor até o fim5 � Aviso aos navegantes6 � Roda7 � Alô.. Alô... Taí, Carmen Miranda � Maneco, Wilson

Diabo e Heitor

Lado 21 � O mestre-sala dos mares2 � É com esse que eu vou3 � Me deixa em paz4 � Ladeira da preguiça5 � Falei e disse6 � Fechado pra balanço7 � Tiradentes � Estanislau Silva/Mano Décio da Viola

* Ver demais compositores nos discos originais.

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PERSONALIDADE � ELIS REGINAPolyGram/Philips, 1987

Lado 11 � Casa no campo2 � Dois pra lá, dois pra cá3 � Madalena4 � Atrás da porta5 � Triste6 � Águas de março7 � Mucuripe

Lado 21 � Folhas secas2 � Como nossos pais3 � Me deixa em paz4 � É com esse que eu vou5 � Você � com Toots Thielemans6 � Fascinação

* Lançado também em CD, com duas músicas a mais: Ro-maria e Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá). Ver compo-sitores nos discos originais.

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PRESENÇA DE ELIS REGINA E MAYSAÁlbum duploCBS, 1988

Disco 1

Lado 11 � Domingo em Copacabana2 � Alô saudade3 � O bem do amor4 � 1, 2, 3, balançou5 � Sem teu amor6 � Se você quiser

Lado 21 � Há uma história triste2 � Silêncio3 � Adeus, amor4 � Dengosa5 � Ressurreição6 � Manhã de amor

Disco 2

MAYSA

* Lançado simultaneamente em CD. Em 1991, lançado no-vamente em CD, só com o LP de Elis Regina.

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FASCINAÇÃO � O MELHOR DE ELIS REGINAVersão em vinil: Álbum DuploPolyGram/Philips, 1988

Disco 1

Lado 11 � Menino das laranjas2 � Upa, neguinho3 � Romaria4 � Corrida de jangada5 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá)6 � Pot-pourri do disco Dois na bossa Vol.1, com Jair

Rodrigues

Lado 21 � Velha roupa colorida2 � Como nossos pais3 � Casa no campo4 � Cartomante5 � Águas de março6 � O mestre-sala dos mares

Disco 2

Lado 11 � Arrastão2 � Mucuripe3 � Me deixas louca4 � Preciso aprender a ser só5 � Atrás da porta6 � O rancho da goiabada

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Lado 21 � Fascinação2 � Canto de Ossanha3 � Dois pra lá, dois pra cá4 � Reza5 � Madalena6 � Lapinha � Baden Powell/Paulo César Pinheiro

* Lançado também em CD, com as mesmas músicas em ou-tra ordem. Ver compositores das demais músicas nos discosoriginais.

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ELIS E JAIR � DOIS NA BOSSAFonogramas cedidos pela PolyGram ao Selo Laser, 1990

Lado 11 � Pot-pourri do disco Dois na bossa Vol. 1 � com Jair

Rodrigues2 � Louvação � com Jair Rodrigues3 � Preciso aprender a ser só4 � Ziguezague � Jair Rodrigues5 � Tristeza � Jair Rodrigues

Lado 21 � Pot-pourri do disco Dois na bossa Vol. 2 � com Jair

Rodrigues2 � Arrastão3 � Reza4 � Pot-pourri em homenagem à Mangueira do disco Dois

na bossa Vol. 3 � com Jair Rodrigues5 � Upa, neguinho

* Lançado também em CD. Ver compositores nos discosoriginais.

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ELIS REGINACaixa com 4 LPsWEA, 1990

Disco 1

Lado 11 � Abertura do show e disco Saudade do Brasil2 � Arrastão3 � Lapinha4 � Terra de ninguém5 � Menino6 � Aos nossos filhos

* Gravações do disco Saudade do Brasil

Lado 21 � O primeiro jornal2 � O bêbado e a equilibrista3 � Canção da América4 � Conversando no bar5 � Redescobrir

* Gravações do disco Saudade do Brasil, exceto O bêbado ea equilibrista, do disco Essa Mulher.

Disco 2

Lado 11 � Sabiá2 � Mundo novo, vida nova3 � Aquarela do Brasil4 � O que foi feito devera (de Vera)

* Gravações do disco Saudade do Brasil.

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Lado 21 � Na Baixa do Sapateiro2 � Corcovado � com Hermeto Pascoal3 � Garota de Ipanema � com Hermeto Pascoal4 � Asa Branca � com Hermeto Pascoal

* Gravações realizadas durante o XIII Festival de Jazz deMontreux, Suíça, 1979.

Disco 3

Lado 11 � Essa mulher2 � As aparências enganam3 � Moda de sangue4 � Beguine dodói5 � Basta de clamares inocência

* Gravações do disco Essa Mulher, exceto Moda de sangue,do disco Saudade do Brasil.

Lado 21 � Presidente bossa-nova2 � Onze fitas3 � Bolero de Satã4 � Pé sem cabeça5 � Altos e baixos

* Gravações do disco Essa Mulher, exceto Presidente bossa-nova e Onze fitas, do disco Saudade do Brasil.

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Disco 4

Lado 11 � Alô, alô, marciano2 � Eu, hein, Rosa!3 � Cai dentro4 � Agora tá5 � Marambaia

* Gravações do disco Saudade do Brasil, exceto Eu, hein,Rosa! e Cai dentro, do disco Essa Mulher.

Lado 21 � Cobra criada2 � Madalena3 � Ponta de Areia / Fé cega, faca amolada / Maria, Maria4 � Upa, neguinho

* Gravações realizadas durante o XIII Festival de Jazz deMontreux, Suíça, 1979. Ver compositores nos discos origi-nais.

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COLETÂNEAS � LANÇAMENTOS SOMENTE EM CD

O MELHOR DE ELIS REGINAPolyGram Discos, 1991

1 � Menino das laranjas2 � Carinhoso3 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro4 � Upa, neguinho5 � Wave6 � Corrida de jangada7 � Zazueira8 � Récit de Cassard9 � Águas de março10 � Agnus sei11 � Meio de campo12 � Ladeira da preguiça13 �É com esse que eu vou14 � Dois pra lá, dois pra cá15 �Conversando no bar16 � Ponta de Areia17 �Caxangá18 � Sinal fechado19 � Dinorah, Dinorah20 � Joanna Francesa

* Lançado somente na França. Ver compositores nos discosoriginais.

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PERSONALIDADE � ELIS REGINA VOL. 2PolyGram/Philips, 1992

1 � Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro2 � As curvas da estrada de Santos3 � Só tinha de ser com você4 � These are the songs � com Tim Maia5 � Arrastão6 � Comunicação7 � Pra dizer adeus8 � 20 anos blue9 � Cartomante10 � Amor até o fim11 � Copacabana velha de guerra12 � Tributo à Mangueira: a) Mangueira; b) Fala, Manguei-

ra; c) Exaltação à Mangueira; d) Levanta, Mangueira; e)Despedida de Mangueira; f) Pra machucar meu coração.

13 � Frevo14 � Fechado pra balanço15 � O mestre-sala dos mares16 � Pot-pourri do disco Dois na bossa Vol. 1 � com Jair

Rodrigues

* Ver compositores nos discos originais.

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MESTRES DA MPB � ELIS REGINAWEA, 1992

1 � O bêbado e a equilibrista2 � Alô, alô, marciano3 � Canção da América4 � Onze fitas5 � Menino6 � Aos nossos filhos7 � Maria, Maria8 � Garota de Ipanema � com Hermeto Pascoal9 � Upa, neguinho10 � Basta de clamares inocência11 � Aquarela do Brasil12 � Conversando no bar13 �Redescobrir14 � O que foi feito devera15 �Cai dentro16 � Madalena17 �Marambaia18 � Corcovado � com Hermeto Pascoal19 � Sabiá

* Ver compositores nos discos originais.

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ELIS POR ELAWEA, 1992

1 � Como nossos pais2 � Corcovado � com Hermeto Pascoal3 � Canção da América4 � Velha roupa colorida5 � O que foi feito devera6 � Menino7 � O bêbado e a equilibrista8 � O mestre-sala dos mares9 � Maria, Maria10 � Garota de Ipanema � com Hermeto Pascoal11 � Sabiá12 � Beguine dodói13 �Ponta de Areia / Fé cega, faca amolada / Maria, Maria14 � Cobra criada

* Lançado também em LP, sem as faixas 13 e 14. Ver compo-sitores nos discos originais.

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ELIS REGINA � MINHA HISTÓRIAPolygram/Philips, 1993

1 � O bêbado e a equilibrista2 � O mestre-sala dos mares3 � Atrás da porta4 � Dois pra lá, dois pra cá5 � Casa no campo6 � Romaria7 � Alô, alô, marciano8 � Me deixas louca � Armando Manzanero/versão Paulo

Coelho9 � Fascinação10 � Saudosa maloca11 � As aparências enganam12 � Madalena13 �Maria Rosa14 � Aprendendo a jogar

* Ver compositores das demais músicas nos discos originais.

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ELIS � O MITOSigla, 1993

1 � Romaria2 � Águas de março3 � Como nossos pais4 � Madalena5 � Atrás da porta6 � Dois pra lá, dois pra cá7 � Casa no campo8 � Arrastão9 � Fascinação10 � Nada será como antes11 � É com esse que eu vou12 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá) 13 � O mestre-sala dos mares14 � Casa-forte15 �Upa, neguinho16 � Preciso aprender a ser só17 �Aquarela do Brasil / Nega do cabelo duro18 � Me deixas louca � Armando Manzanero/versão Paulo

Coelho

* Ver compositores nos discos originais.

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ELIS REGINA NO FINO DA BOSSA � AO VIVOCaixa com 3 CDSVelas, 1994Produção e direção artística: Zuza Homem de Mello.

Volume 1

1 � Tema do prefixo (Terra de ninguém) � Influência dojazz � com Elis e Orquestra de Carlos Pipper (19.07.65)� Marcos e Paulo Sérgio Valle � Carlos Lyra

2 � Formosa � Baden Powell/Vinícius de Moraes � com Elis,Cyro Monteiro, Baden Powell e Zimbo Trio (17.05.65)

3 � Elis recebe Dorival Caymmi: Lá vem a baiana / Sauda-des da Bahia / Das rosas � Dorival Caymmi � com Elis,Caymmi e Zimbo Trio (29.11.65)

4 � Pra dizer adeus � Edu Lobo/Torquato Neto � com Elise Zimbo Trio (11.07.66)

5 � Discussão � Tom Jobim/NewtonMendonça � com Elis,Pery Ribeiro e Luiz Loy Trio (9.08.65)

6 � Insensatez � Tom Jobim/Vinícius de Moraes / Corcova-do � Tom Jobim / A felicidade � Tom Jobim/Viníciusde Moraes / Esse seu olhar � Tom Jobim / Só em teusbraços � Tom Jobim / Garota de Ipanema � Tom Jobim/Vinícius de Moraes / Se todos fossem iguais a você �Tom Jobim/Vinícius de Moraes � com Elis, JairRodrigues e Zimbo Trio (4.08.65)

7 � Garota de Ipanema � Tom Jobim/Vinícius de Moraes �com Baden Powell (17.05.65)

8 � Aleluia � Edu Lobo/Ruy Guerra � com Elis e Edu Lobo(4.08.65)

9 � Samba do avião � Tom Jobim � com Elis, Lennie Dale eLuiz Loy Trio (28.06.65)

10 � Vem balançar � Walter Santos/Tereza Souza � com Elise Quinteto de Luiz Loy (11.67)

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11 � Roda de samba no �Corte Rayol Show�: a) Roda de sam-ba � Lucio Alves; b) Despedida de Mangueira � Bene-dito Lacerda/Aldo Cabral; c) O morro não tem vez �Tom Jobim/Vinícius de Moraes; d) Zelão � SergioRicardo; e) O morro � Tom Jobim/Billy Blanco � comElis, Elza Soares, Agostinho dos Santos e Lucio Alves(30.11.65)

Volume 2

1 � Devagar com a louça � Haroldo Barbosa e Luis Reis �com Elis, Elza Soares e Quinteto de Luiz Loy (10.04.67)

2 � Mulata assanhada � Ataulfo Alves � com Elis, AtaulfoAlves e Zimbo Trio (24.05.65)

3 � Lunik 9 � Gilberto Gil � com Elis e Quinteto de LuizLoy (11.07.66)

4 � Eu vim da Bahia � Gilberto Gil � estréia de Gilberto Gilno programa (13.06.66)

5 � Consolação � Baden Powell/Vinícius de Moraes / Carcará� João do Vale/José Candido / Aleluia � Edu Lobo/RuyGuerra / Zelão � Sergio Ricardo � com Elis, JairRodrigues, Baden Powell e Zimbo Trio (12.07.65)

6 � Tristeza em mim � Baden Powell � com Baden Powell eRosinha de Valença (12.07.65)

7 � Amor em paz � Tom Jobim/Vinícius de Moraes � comElis e Zimbo Trio (15.11.65)

8 � Bocochê � Baden Powell/Vinícius de Moraes � com Elise Baden Powell (12.10.66)

9 � Estamos aí � Maurício Einhorn/Durval Ferreira/ReginaWerneck � com Quinteto de Luiz Loy (21.06.66)

10 � Sucessos de Elis em 1965: a) Reza � Edu Lobo/RuyGuerra; b) Esse mundo é meu � Sergio Ricardo/RuyGuerra; c) Aleluia � Edu Lobo/Ruy Guerra; d) Zambi �Edu Lobo/Vinícius de Moraes; e) Tem dó � BadenPowell/Vinícius de Moraes; f) Tempo feliz � Baden

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Powell/Vinícius de Moraes; g) Arrastão � Edu Lobo/Vinícius de Moraes; h) Menino das laranjas � Théo deBarros � com Elis e o Quinteto de Luiz Loy (20.12.65)

11 � Agora ninguém chora mais � Jorge Ben � com Elis, JorgeBen e Zinho (8.11.65)

12 � Falsa baiana � Geraldo Pereira / sufixo: Imagem � LuisEça � com Elis, Wilson Simonal e Quinteto de LuizLoy (22.05.67)

Volume 3

1 � Mas que nada � Jorge Ben � com Elis e Quinteto deLuiz Loy (8.11.65)

2 � Você � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli � com Elis,Pery Ribeiro e Luiz Loy Trio (9.08.65)

3 � Telefone � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli � comElis e Os Cariocas (18.10.65)

4 � Zé não é João (Alô João) � Baden Powell/Cyro Monteiro� com Cyro Monteiro e Baden Powell (17.05.65)

5 � Somewhere � Leonard Bernstein/Stephen Sondheim �com Elis e O Quarteto, no �Show Em Si...Monal�(7.06.66)

6 � Sambou sambou � João Donato/J. Mello � com ZimboTrio, Heraldo do Monte e Hermeto Pascoal (21.11.66)

7 � Elis recebe Adoniran Barbosa: a) Saudosa maloca �Adoniran; b) Luz da Light � Adoniran; c) Prova de cari-nho � Adoniran/Hervê Cordovil; d) As mariposas �Adoniran; e) Um samba no Bixiga � Adoniran; f) Bomdia, tristeza � Adoniran/Vinícius de Moraes; g) Trem dasonze � Adoniran � com Elis, Adoniran e Mário (12.07.65)

8 � Eu só queria ser � Vera Brasil/Miriam Ribeiro � com Elis,Claudete Soares e Orquestra de Ciro Pereira (12.10.66)

9 � Pot-pourri de Carlos Lyra: a) Minha namorada � Lyra/Vinícius de Moraes; b) Primavera � Lyra/Vinícius deMoraes; c) Cartão de visita � Lyra/Vinícius de Moraes;

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d) Feio não é bonito � Lyra/Gianfrancesco Guarnieri;e) Maria moita � Lyra/Vinícius de Moraes; f) Maria Nin-guém � Lyra; g) Maria do Maranhão � Lyra/Nelson Linsde Barros; h) Aruanda � Lyra/Geraldo Vandré; i) Sam-ba do carioca � Lyra/Vinícius de Moraes � com Elis, JairRodrigues e Zimbo Trio (8.11.65)

10 � Esse mundo é meu � Sergio Ricardo/Ruy Guerra � comElis e Zimbo Trio (12.07.65)

11 � Se acaso você chegasse � Lupicínio Rodrigues/FelisbertoMartins / sufixo: Terra de ninguém � Marcos e PauloSérgio Valle � com Elis, Elza Soares, Jair Rodrigues,Zimbo Trio e Orquestra de Carlos Pipper (29.11.65)

* Gravação original em gravador portátil monoaural, porZuza Homem de Mello (na época, sonoplasta do progra-ma). Restauração analógica, transferência digital eprocessamento pelo Sonic Solutions e masterização emDallas, EUA.

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COMPACTOS SIMPLES

COMPACTO SEM NUMERAÇÃOContinental, 19601 � Dá sorte � Eleu Salvador2 � Sonhando (Dream) � Vorzon/Ellis/versãoJuvenal

Fernandes

COMPACTO No 365068

CBD/Selo Philips, 19651 � Menino das laranjas � Théo de Barros2 � Sou sem paz � Adylson Godoy

COMPACTO No 365083

CBD/Selo Philips, 19651 � Arrastão � Edu Lobo/Vinícius de Moraes2 � Aleluia � Edu Lobo/Ruy Guerra

COMPACTO No 365111

CBD/Selo Philips, 19651 � Zambi � Edu Lobo/Vinícius de Moraes � com Zimbo Trio2 � Esse mundo é meu � Sérgio Ricardo/Ruy Guerra / Re-

solução � Edu Lobo/Lula Freire

COMPACTO No 365137

CBD/Selo Philips, 19661 � Canto de Ossanha � Baden Powell/Vinícius de Moraes2 � Rosa morena � Dorival Caymmi

COMPACTO No 7004

Rosenblit�Artistas Unidos, 19661 � Ensaio geral � Gilberto Gil2 � Jogo de roda � Edu Lobo/Ruy Guerra

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COMPACTO No 365159

CBD/Selo Philips, 19661 � Upa, neguinho � Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri2 � Tristeza que se foi � Adylson Godoy

COMPACTO No 365204

CBD/Selo Philips, 19661 � Saveiros � Dori Caymmi/Nelson Motta2 � Canto triste � Edu Lobo/Vinícius de Moraes

COMPACTO No 365225

CBD/Selo Philips, 19671 � Travessia � Milton Nascimento/Fernando Brant2 � Manifesto � Guto/Mariozinho RochaCOMPACTO N

o 365229

CBD/Selo Philips, 19681 � Yê-melê � Luiz Carlos Vinhas/Chico Feitosa2 � Upa, neguinho � Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri

(gravado ao vivo no Festival do MIDEM, em Cannes,França)

COMPACTO Nº 365234CBD/Selo Philips, 19681 � Samba da bênção � Baden Powell/Vinícius de Moraes/

versão Pierre Barouh (gravado ao vivo no TeatroOlympia, Paris, em março de 1968)

2 � Canção do sal � Milton Nascimento

COMPACTO Nº 365242CBD/Selo Philips, 19681 � Lapinha � Baden Powell/Paulo César Pinheiro2 � Cruz de cinza, cruz de sal � Walter Santos/Teresa Souza

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COMPACTO Nº 365266CBD/Selo Philips, 19691 � Casa-forte � Edu Lobo2 � Memórias de Marta Saré � Edu Lobo/Gianfrancesco

Guarnieri

TABELINHA ELIS x PELÉCOMPACTO Nº 365291CBD/Selo Philips, 19691 � Perdão não tem � Edson Arantes do Nascimento2 � Vexamão � Edson Arantes do Nascimento

COMPACTO Nº 6069035CBD/Selo Philips, 19721 � Águas de março � Tom Jobim2 � Entrudo � Carlos Lyra

COMPACTO SEM NUMERAÇÃOWEA/Selo Elektra, 19791 � O bêbado e a equilibrista � João Bosco/Aldir Blanc2 � As aparências enganam � Tunai/Sérgio Natureza

COMPACTO Nº 12056WEA/Selo Elektra, 19801 � Alô, alô, marciano � Rita Lee/Roberto de Carvalho2 � No céu da vibração � Gilberto Gil

COMPACTO Nº 006420207EMI�Odeon, 19801 � Se eu quiser falar com Deus � Gilberto Gil2 � O trem azul � Lô Borges/Ronaldo Bastos

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COMPACTO Nº 4016150Som Livre, 19821 � Me deixas louca � Armando Manzanero/versão Paulo

Coelho2 � Baby face � Davis/Askt/versão Fred Jorge (gravação ori-

ginal de 1961)

COMPACTOS DUPLOS

DOIS NA BOSSACOMPACTO Nº 440690CBD/Selo Philips, 19661 � Pot-pourri com Jair Rodrigues, editado no LP Dois na

Bossa Vol. 12 � Deus com a família � César Roldão Vieira3 � Ué � Osmar Navarro/Alcina Maria � com Jair Rodrigues

COMPACTO Nº 440692CBD/Selo Philips, 19661 � Menino das laranjas � Théo de Barros2 � Último canto � Francis Hime/Ruy Guerra3 � Preciso aprender a ser só � Marcos e Paulo Sérgio Valle4 � João Valentão � Dorival Caymmi

COMPACTO Nº 441403CBD/Selo Philips, 19661 � Saveiros � Dori Caymmi/Nelson Motta2 � Jogo de roda � Edu Lobo/Ruy Guerra3 � Ensaio geral � Gilberto Gil4 � Canto triste � Edu Lobo/Vinícius de Moraes

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ELIS REGINA EM PARISCOMPACTO Nº 441421CBD/Selo Philips, 1968Arranjos de orquestra: Eumir Deodato1 � Deixa � Baden Powell/Vinícius de Moraes2 � A noite do meu bem � Dolores Duran3 � Noite dos mascarados � Chico Buarque � com Pierre

Barouh4 � Tristeza � Haroldo Lobo/Niltinho

ELIS No1

COMPACTO Nº 441453CBD/Selo Philips, 19691 � Andança � Danilo Caymmi/Edmundo Souto/Paulinho

Tapajós2 � Samba da pergunta � Pingarilho/Marcos Vasconcellos3 � O sonho � Egberto Gismonti4 � Giro � Antônio Adolfo/Tibério Gaspar

COMPACTO Nº 441473CBD/Selo Philips, 19701 � Madalena � Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza2 � Fechado pra balanço � Gilberto Gil3 � Falei e disse � Baden Powell/Paulo César Pinheiro4 � Vou deitar e rolar (Quaquaraquaquá) � Baden Powell/

Paulo César Pinheiro

COMPACTO Nº 6245007CBD Phonogram/Selo Philips, 19711 � Osanah � Tony Osanah2 � Nada será como antes � Milton Nascimento/Ronaldo

Bastos3 � A fia de Chico Brito � Chico Anysio4 � Casa no campo � Zé Rodrix/Tavito

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FALSO BRILHANTECOMPACTO Nº 6245066CBD Phonogram/Selo Philips, 19761 � Como nossos pais � Belchior2 � Um por todos � João Bosco/Aldir Blanc3 � Fascinação � F. D. Marchetti/M. de Feraudy/versão Ar-

mando Louzada4 � Velha roupa colorida � Belchior

PARTICIPAÇÕES EM OUTROS DISCOS

LUPICÍNIO RODRIGUES NA INTERPRETAÇÃO DECAETANO VELOSO, ELIS REGINA, GAL COSTA,GILBERTO GILCOMPACTO Nº 6245040CBD Phonogram/Selo Philips, 19741 � Esses moços (Pobres moços) � por Gilberto Gil2 � Volta � por Gal Costa3 � Cadeira vazia � Lupicínio Rodrigues/Alcides Gonçal-

ves) � por Elis4 � Felicidade � por Caetano Veloso

A BOSSA NO PARAMOUNT (LP)RGE � gravado em 1964, lançado em 1965Produção: Walter SilvaMúsica: Terra de ninguém � com Marcos Valle � Marcos ePaulo Sérgio Valle

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VIVA O FESTIVAL DAMÚSICA POPULAR BRASILEIRA (LP)Rosenblit/Selo Artistas UnidosProdução: Bernardo SondermannDireção artística: Roberto Corte RealGravado ao vivo no Teatro Record de São Paulo, 19661 � Ensaio geral � Gilberto Gil2 � Jogo de roda � Edu Lobo/Ruy GuerraFoi o primeiro disco independente gravado e lançado noBrasil, e Elis � apesar de contratada pela Philips � conseguiuparticipar.

FESTIVAL DOS FESTIVAIS (LP)Cia. Brasileira de Discos/Selo Philips, 19661 � Saveiros � Dori Caymmi/Nelson Motta2 � Canção de não cantar � Sérgio Bittencourt3 � Jogo de roda � Edu Lobo/Ruy Guerra

GAROTA DE IPANEMA (trilha sonora do filme) (LP)Cia. Brasileira de Discos/Selo Philips, 1967Música: Noite dos mascarados � com Chico Buarque � ChicoBuarque

III FESTIVAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (LP)Cia. Brasileira de Discos/Selo Philips, 1967Música: O cantador � Dori Caymmi/Nelson Motta

I FESTIVAL UNIVERSITÁRIO DE MÚSICA POPULARBRASILEIRA (LP)Cia. Brasileira de Discos/Selo Philips, 1968Música: Um novo rumo � Arthur Verocai/Geraldo Flach

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I BIENAL DO SAMBA (LP)Cia. Brasileira de Discos/Selo Philips, 1968Música: Lapinha � Baden Powell/Paulo César Pinheiro

O CONJUNTO DE ROBERTO MENESCAL (LP)Cia. Brasileira de Discos/Selo Forma, 1969Música: Depois da queda � Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli

OS MAIORES SAMBAS-ENREDODE TODOS OS TEMPOS (LP)CBD Phonogram/Selo Philips, 1971Música: Tiradentes � Estanislau Silva/Mano Décio da Viola

OS MAIORES SAMBAS-ENREDODE TODOS OS TEMPOS � Vol. 2 (LP)CBD Phonogram/Selo Philips, 1972Música: Alô... Alô... Taí, Carmen Miranda � Maneco/Wil-son Diabo/Heitor

PHONO-73 � O CANTO DE UM POVO � Vol. 2 (LP)Músicas: É com esse que eu vou � Pedro Caetano / Ladeirada preguiça � com Gilberto Gil � Gilberto Gil

MÚSICA POPULAR DO SUL � Vol. 1 (LP)Marcus Pereira, 1975Arranjos: Rogério Duprat1 � Boi barroso � Folclore gaúcho2 � Alto da Bronze � Paulo Coelho/Plauto/Azambuja3 � Porto dos Casais � Jayme Lewgoy Lubianca4 � Os homens de preto � Paulo Ruschel* Relançado em CD, em 1994.

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O GRITO � Novela (Trilha Sonora) (LP)Som Livre, 1975Música: Um por todos � João Bosco/Aldir Blanc* Letra e arranjo diferentes da gravação do disco Falso Bri-lhante. Gravada originalmente para a primeira versão danovela Roque Santeiro, proibida pela censura em 1975.

CLUBE DA ESQUINA 2 � Milton NascimentoEMI�Odeon, 1978 (álbum duplo)Música: O que foi feito devera (de Vera) � com Milton Nas-cimento � Milton Nascimento/Fernando Brant/MárcioBorges

ADONIRAN BARBOSA (LP)EMI�Odeon, 1980Música: Tiro ao Álvaro � com Adoniran Barbosa � AdoniranBarbosa/Osvaldo Molles

A ARCA DE NOÉ (LP)Ariola, 1980Música: A corujinha � Toquinho/Vinícius de Moraes

RAUL ELLWANGER (LP)WEA, 1980Música: O pequeno exilado � com Raul Ellwanger � RaulEllwanger

OS BORGES (LP)EMI�Odeon, 1980Música: Outros cais � Marilton Borges/Duca Leal

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ADONIRAN BARBOSA � DOCUMENTO INÉDITO (LP)Estúdio EldoradoDistribuidora: EMI�Odeon, 1984

1 � Prefixo �O Fino da Bossa�Falas de Elis Regina e Adoniran Barbosa entre as músicas:

2 � Saudosa maloca � com Elis � Adoniran3 � Luz da Light � com Adoniran � Adoniran4 � Prova de carinho � com Adoniran � Adoniran/Hervê

Cordovil5 � As mariposas � com Adoniran � Adoniran6 � Um samba no Bixiga � com Adoniran � Adoniran7 � Bom dia tristeza � com Elis � Adoniran/Vinícius de

Moraes8 � Trem das onze � com Adoniran � Adoniran

Fonte: Programa �O Fino da Bossa� � TV Record, 1965

* Relançado em CD, em 1994.

* Existem vários fonogramas de Elis incluídos em discos di-versos, mas são as mesmas gravações que já constam de seuspróprios LPs ou compactos.

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OS PREFERIDOS DE ELISOS PREFERIDOS DE ELIS

1º � Tom Jobim � 24 músicasSó dele: 9; com Vinícius de Moraes: 8; com Chico Buarque:3; com Aloysio de Oliveira: 2; com Dolores Duran: 1; comJararaca: 1

2º � João Bosco � 19 músicascom Aldir Blanc: 16; com Aldir Blanc e Claudio Tolomei:2;com Paulo Emílio: 1

3º � Edu Lobo � 18 músicasSó dele: 1; com Vinícius de Moraes: 4; com Ruy Guerra: 4;com Gianfrancesco Guarnieri 3; com Torquato Neto: 2;comCapinam: 2; com Lula Freire: 1; com Oduvaldo Viana Fi-lho: 1

4º � Gilberto Gil � 17 músicasSó dele: 14; com João Augusto: 1; com Torquato Neto: 1;com Duda 1

5º � Milton Nascimento � 15 músicasSó dele: 2; com Fernando Brant: 9; com Ronaldo Bastos:3; com Márcio Borges: 1

6º � Baden Powell � 11 músicascom Paulo César Pinheiro: 6; com Vinícius de Moraes: 5 �Chico Buarque � 11 músicasSó dele: 5; com Tom Jobim: 3; com Francis Hime: 2

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7º � Ivan Lins � 9 músicascom Vitor Martins: 6; com Ronaldo Monteiro de Souza: 3

8º � Caetano Veloso � 6 músicas

9º � Marcos e Paulo Sérgio Valle � 5 músicas � RobertoMenescal e Ronaldo Bôscoli � 5 músicas

LETRISTAS MAIS GRAVADOS

1º � Aldir Blanc � 21(com parceiros diversos, incluindo João Bosco)

2º � Vinícius de Moraes � 12 (com parceiros diversos e uma só dele)

3º � Chico Buarque � 11 (6 só dele, 3 com Tom Jobim, 2 com Francis Hime)

4º � Fernando Brant � 10 (9 com Milton Nascimento, 1 com Beto Guedes)

5º � Paulo César Pinheiro � 9(com parceiros diversos, incluindo Baden Powell)6º � Ruy Guerra � 8 (com parceiros diversos)

7º � Vitor Martins � 7 (6 com Ivan Lins, 1 com Sueli Costa)

8º � Ronaldo Bôscoli � 6 (5 com Roberto Menescal, 1 com Luiz Eça)

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AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

Dona Ercy, Rogério, Biba, Rubens Molina, Lu, Zói,Luís Celso, Ana Emília, Justo, Mãe, Zuba, Joana, Bárbara,Tereza C., Acyr, Rosa, Toninho, Arnaldo, João Leão, Zuza,Maria Elisa, Rick, Talhes, Antônio Fernando, Ana LúciaNovaes, Menescal, Suzana, Chiodi, Abelardo, Laura, Mô-nica, Patrícia, Celina, Léo, Wagner, Suely, Walter Silva,Natan, Rita e Roberto, Amílton, Reinaldo, Sérgio Pompeu,Sérgio de Souza, Luisinho, Isadora, Sonia Dorothy, Miguel,Rui do Dedoc, Fernando Nuno, Esníder, Renê, Marta Góis,Geraldo Mayrink, Helena, Sílvio Lancellotti, Pereio, Ciçae, eternamente, a José Márcio Penido.

Novos agradecimentos, na reedição: a Mana por tudoe sempre, dona Luiza Amaral Kfouri, Cesar Giobbi,Nirlando Beirão, Mara Ziravello, Cynthia de Almeida,Rosângela Petta, Marcelo Ayres, Fran e Cidinha Oliveira,Nilson Garcia e toda a minha turma de CARAS, José Mariados Santos, José Carlos Costa Netto, Luciana Rangel, Hei-tor Paixão e Eliana Sá, Rita Lee e Roberto de Carvalho,Laurinha Figueredo, Bizuca do Dedoc, Marta Alves e LuisRaul Zapata Contreras pela gentileza e a todos os que torce-ram por mim, em todos esses anos, para que este livro con-tinuasse existindo.

Agradecimentos edição eletrônica: Marcos Weinstock,Sérgio Colletti, Editora Gráfica Takano, Sergio Gzeschnik.

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RAINHAS NO TRONO

As duas, Elis, cantora, e Regina, jornalista, eram ami-gas, e ambas rainhas até nos nomes latinos.

A biografia que uma rainha fez sobre a outra, FuracãoElis, nasceu em circunstâncias trágicas, quando uma mor-reu e a outra viveu para contar o que sabia. Numa madruga-da de 1982, as duas se encontraram numa sala da rua daConsolação, onde na época funcionava a redação da revistaIstoÉ. Dali saíram, até o dia nascer e depois ao sol de umcemitério, doze páginas da mais competente e digna biogra-fia da cantora, que acabara de morrer. Essas páginas,publicadas em 1986, ampliadas em forma de livro, passarama fazer parte também da biografia da jornalista. Foramreeditatadas em 1994 e agora reaparecem em nova edição,desta vez eletrônica.

Sobre a cantora tudo se saberá nas páginas que se se-guem. Sobre a jornalista, é preciso dizer agora, aos 50 anoscomemorados num dia também de trágica memória (6 deagosto em São Paulo, bomba atômica em Hiroshima), quesua paixão pela música brasileira continuou viva para fazerjus a mortos ilustres: John Lennon, Raul Seixas, Lady Di,que biografou em fascículos da revista IstoÉ. E principal-

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mente Cazuza, objeto de dois livros de sucesso, Só as MãesSão Felizes e Preciso Dizer que te Amo. A biografia de Elisfoi um ato de coragem, feito por conta e risco da autora,nos seus tempos livres na TV e no jornalismo esportivo, semnenhum editor em vista. Deu no que deu. Veio para ficar.

Regina Echeverria é multivida, que alguns chamam demultimídia. Imprimiu suas impressões digitais em várias re-vistas e jornais (Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, Veja,IstoÉ, Folha de S.Paulo), na Rede Bandeirantes, na RedeTV e agora dirige A Revista, uma publicação da Takano Edi-tora Gráfica que celebra as belezas que se podem conseguirem papel impresso.

Coisa de rainha. À altura de uma Elis Regina.

Geraldo Mayrink