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GALLÆCIA III Congresso Internacional de Linguística Histórica Homenagem aos Professores Ramón Lorenzo e Antón Santamarina Facultade de Filoloxía Universidade de Santiago de Compostela Santiago de Compostela, 27-30 de julho / xullo de 2015 RESUMOS

GALLÆCIA RESUMOS - ilg.usc.esilg.usc.es/3cilh/wp-content/uploads/2014/06/3CILH_Resumos1.pdfJoão Veloso (Universidade do Porto) Coord. Internacional João Dionísio (Universidade

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  • GALLÆCIA

    III Congresso Internacional

    de Linguística Histórica

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    Homenagem aos Professores Ramón Lorenzo e Antón Santamarina

    ORGANIZADORES

    COLABORADORES

    Facultade de FiloloxíaUniversidade de Santiago de Compostela

    Santiago de Compostela, 27-30 de julho / xullo de 2015

    RESUMOS

    RES

    UM

    OS

  • Comitê Organizador | Comité Organizador

    Presidência | PresidenciaRosario Álvarez (Universidade de Santiago de Compostela)

    Secretaria | SecretaríaErnesto González Seoane (Universidade de Santiago de Compostela)

    Secretaria adjunta | Secretaría adxuntaMaría Álvarez de la Granja (Universidade de Santiago de Compostela)

    Valéria Gil Condé (Universidade de São Paulo)Tânia Lobo (Universidade Federal da Bahia)

    Secretaria técnica | Secretaría técnicaMarta Negro Romero (Universidade de Santiago de Compostela)

    Hélen Cristina da Silva (Universidade Estadual de Londrina)María Beatriz Domínguez Oroña (Universidade de Santiago de Compostela)

    Raquel Vila Amado (Universidade de Santiago de Compostela)

    Coord. Brasil e América LatinaValéria Gil Condé (Universidade de São Paulo)

    Coord. GaliciaEduardo Moscoso (Universidade de Santiago de Compostela)

    Coord. PortugalJoão Veloso (Universidade do Porto)

    Coord. InternacionalJoão Dionísio (Universidade de Lisboa)

    FinanciamentoAna Boullón Agrelo (Universidade de Santiago de Compostela)

    Filomena Gonçalves (Universidade de Évora)Tânia Lobo (Universidade Federal da Bahia)

    Logística | LoxísticaEduardo Moscoso (Universidade de Santiago de Compostela)

    Relações institucionais e comunicação | Relacións institucionais e comunicaciónHenrique Monteagudo (Universidade de Santiago de Compostela)

    Aparecida Torres Morais (Universidade de São Paulo)Teresa Brocardo (Universidade Nova de Lisboa)

    Coordenação acadêmica | Coordinación académicaXavier Varela Barreiro (Universidade de Santiago de Compostela)

    Xoán Lagares Díaz (Universidade Federal Fluminense)

  • Comitê Científico | Comité Científico

    Presidente de HonraAtaliba Teixeira de Castilho

    Abdelhak Razky (Universidade Federal do Pará)Ana Maria Brito (Universidade do Porto)

    Ana Maria Martins (Universidade de Lisboa)Anabela Leal de Barros (Universidade do Minho)

    Carlos Alberto Faraco (Universidade Federal do Paraná)Carlos Assunção (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

    Carsten Sinner (Universität Leipzig)Clarinda de Azevedo Maia (Universidade de Coimbra)

    Dante Lucchesi (Universidade Federal da Bahia)Eva Gugenberger (Universität Leipzig)

    Francisco Dubert García (Universidade de Santiago de Compostela)Gabriel Rei-Doval (University of Wisconsin–Milwaukee)

    Gilvan Müller de Oliveira (Instituto Internacional da Língua Portuguesa)Gonzalo Navaza Blanco (Universidade de Vigo)

    Harvey Sharrer (University of California, Santa Barbara)Ivo Castro (Universidade de Lisboa)

    Johannes Kabatek (Universität Zürich)José del Valle (The City University of New York)

    Juan Uriagereka (University of Maryland)Jussara Abraçado (Universidade Federal Fluminense)Manuel Ferreiro Fernández (Universidade da Coruña)

    Maria Ana Ramos (Universität Zürich)Maria Antónia Mota (Universidade de Lisboa)

    Maria Célia Lima-Hernandes (Universidade de São Paulo)Maria Francisca Xavier (Universidade Nova de Lisboa)

    Mário Viaro (Universidade de São Paulo)Martin Becker (Universität zu Köln)

    Michael J. Ferreira (Georgetown University)Ramón Mariño Paz (Universidade de Santiago de Compostela)

    Sílvia Brandão (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Telmo Verdelho (Universidade de Aveiro)

    Vanderci Aguilera (Universidade Estadual de Londrina)

  • RESUMOSRESUMOS

  • ÍNDICE

    Conferências plenárias | Conferencias plenarias.......................................................................................................................7

    Simpósios | Simposios................................................................................................................................................................................................ 11

    Comunicações coordenadas | Comunicacións coordinadas............................................................................... 49

    Comunicações livres | Comunicacións libres...................................................................................................................... 141

    Pôsteres | Pósters............................................................................................................................................................................................................. 257

    Minicursos................................................................................................................................................................................................................................ 271

  • CONFERÊNCIAS PLENÁRIAS | CONFERENCIAS PLENARIAS

  • Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica

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    A lingua no tempo, os tempos da lingua. Gramática diacrónica e historia socialHenrique Monteagudo (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)

    Sistemas complexos e mudança linguísticaAtaliba Teixeira de Castilho (Universidade de São Paulo)

    Novas visualizacións dos datos lingüísticosJohannes Kabatek (Universität Zürich)

    Os de VasconcellosIvo Castro (Universidade de Lisboa)

  • SIMPÓSIOS | SIMPOSIOS

  • Edição de textos | Edición de textos

    Maria Ana Ramos (Universität Zürich), coord.João Dionísio (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa), coord.

  • Simpósios / Simposios

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    I. Tradições antológicas. Problemas editoriais

    Um caso de absorção linguística, literária e social na Compilação Geral do corpus lírico galego-português: as cantigas de Vidal, Judeu d’ Elvas

    Yara Frateschi Vieira (Universidade Estadual de Campinas)

    Entre as incorporações mais tardias ao Cancioneiro profano galego-português, destacam-se as duas can-tigas fragmentárias de Vidal, judeu d’ Elvas. A identificação do autor como judeu, a rubrica que lhes foi anteposta e o lugar onde foram copiadas as cantigas no Cancioneiro suscitam, antes de mais nada, questões importantes sobre os critérios que teriam levado o compilador a incluir na recolha trovadoresca cantigas reconhecidamente truncadas de um trovador pertencente a uma minoria religiosa e social. A fim de es-clarecer as questões envolvidas, de natureza social, religiosa, poética e compilatória, pretendo examinar os seguintes aspectos: dados referentes à biografia de Vidal; o contexto da cultura judaica na Península nos séculos XIII-XIV; a produção poética de outros judeus peninsulares e occitanos da mesma época: língua e gêneros; a (des)adequação das cantigas vidalianas ao «modelo» galego-português da cantiga de amor.

    A edición dos trobadores: tradición plúrima vs. tradición únicaMariña Arbor (Universidade de Santiago de Compostela)

    A metodoloxía da crítica textual establece unha diferenza nítida entre os principios que guían a edición dun documentos enviado por varios testes e a edición dun texto transmitido por un único testemuño. Durante a nosa exposición repasaremos brevemente estes principios metodolóxicos, ofrecendo exem-plos tomados da nosa práctica ecdótica, que contempla tanto a edición de trobadores copiados en A, B e V (Afonso Sanchez, Pai Gomez Charinho, Estevan Perez Froian, Fernan Rodriguez de Calheiros) como aquela que versa sobre manuscritos únicos (os propios Charinho e Calheiros), incluíndo, neste último caso, a edición «de cancioneiro» (edición do Cancioneiro da Ajuda).

    Llengua poètica i criteris d’edició en la lírica catalana dels segles XIV-XVAnna Alberni (ICREA, Universitat de Barcelona)

    La major part de la lírica catalana anterior a Ausiàs March es conserva en manuscrits del segle xv, en particular el cançoner VeAg (Barcelona, Biblioteca de Catalunya, mss. 7-8). En les edicions de poesia posttrobadoresca, encara que sovint l’anàlisi estemmàtica ha portat a adoptar un testimoni de base tardà (cas de L [Barcelona, BC, ms. 9] per a Sant Jordi i per a la meitat de les composicions de Pere March transmeses per més d’un testimoni), s’ha tendit a «aspirar» a la lliçó del cançoner VeAg, el manuscrit més antic i occitanitzant, considerant-lo idealment com el més proper al text volgut pels autors, almenys en la forma lingüística. El fet de ser l’únic testimoni conservat de l’obra de dos poetes importants com Andreu Febrer i Gilabert de Pròixida, hereus directes de la poesia dels trobadors, sens dubte ha ajudat a con-solidar aquesta tendència. El pressupòsit de base és que els poetes catalans dels segles xiv-xv escriuen en una llengua que vol ser el provençal trobadoresc, i que si de cas són els copistes (o els autors) menys competents, i més tardans, els qui la catalanitzen, per desconeixement i laxitud en l’adopció de les regles del gay saber. Subjau, en el rerefons, la idea d’una «progressiva descomposició» de la llengua híbrida de la poesia, fins al català «pur» dels poetes de la generació d’Ausiàs March (segona meitat del segle xv).

    Els estudis lingüístics i les notes al text de les edicions crítiques dels últims trenta anys han incidit en el caràcter ambivalent de la llengua en què escriuen els poetes catalans dels segles xiv-xv, i en el paper actiu de copistes i compiladors en la transmissió i la recepció del text. Darrerament, la lingüística de contacte ha ajudat a fer veure fins a quin punt aquesta llengua occitanocatalana és una construcció

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    literària on la selecció i distribució de trets gràfics i fonètics dels dos sistemes en joc respon a estímuls que es poden explicar a partir de categories sociolingüístiques.

    En aquesta comunicació es comenten alguns exemples extrets del cançoner VeAg que mostren com aquests estímuls de canvi són en essència els mateixos per a copistes i autors, i depenen tant de la pragmàtica com de la gramàtica del text, sovint associada a aspectes culturals i de prestigi del registre poètic. La conclusió que se’n desprèn és que no hi ha una progressió unívoca en el suposat procés de desprovençalització (o catalanització) del vehicle lingüístic de la lírica: que s’hi observen ruptures i salts enrere, com en el cas del copista de VeAg, responsable de la primera transmissió manuscrita de Jordi de Sant Jordi i de la transmissió única del text de bona part dels poetes catalans anteriors a Ausiàs March. Això planteja problemes editorials de diversa mena: en la comunicació es proposen solucions concretes i, quan és possible, criteris de tipus general que tinguin en compte aquest estat de coses.

    II. Estemática

    Vita Christi: exame de variantes e filiação de testemunhosSílvio Toledo Neto (Universidade de São Paulo)

    O livro Vita Domini nostri Jesu Christi ex quatuor evangeliis, escrito por Ludolfo de Saxónia, na se-gunda metade do século xiv, teve uma enorme difusão; nos finais desse século e no começo do século seguinte circulavam por toda a Europa inúmeros manuscritos, dos quais se conservam cerca de centena e meia. Nos finais do século xv multiplicaram-se as impressões em cidades europeias. O sucesso do tratado pode explicar-se pelos seus objetivos de edificação da vida espiritual e pela sua inspiração em obras clássicas como De Contemplatione de Guido de Ponte, a Legenda Aurea de Voragine ou as Me-ditationes do pseudo-Boaventura. O seguimento da devotio moderna em Portugal terá favorecido a tradução e divulgação da obra. No século xv e nos seguintes tornou-se leitura obrigatória, influenciou profundamente figuras como Inácio de Loyola e Teresa de Ávila e viajou, pelas mãos dos navegantes portugueses, para a Índia e Brasil.

    Em Portugal, o texto latino foi traduzido no reinado de D. Duarte; levada para o mosteiro de Alco-baça, a tradução foi aí copiada pelos monges cistercienses; em finais do século XV, o tratado é impresso por Valentim de Morávia e Nicolau da Saxónia. Entre o manuscrito mais antigo atualmente preservado e o impresso, restam manuscritos incompletos que testemunham a ampla circulação da obra.

    Neste trabalho, apresentamos a descrição dos testemunhos da tradição direta da obra; as variantes substanciais recolhidas a partir da colação entre todos os testemunhos manuscritos da obra e o incunábu-lo; a classificação das variantes encontradas e as propostas para um estema da tradição direta da obra.

    A edição de cancioneiros poéticos luso-brasileiros e relações entre crítica textual e campo historiográfico

    Marcello Moreira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

    Visa-se a apresentar uma análise de cancioneiros pertencentes à tradição de Gregório de Matos e Guer-ra, poeta luso-brasileiro do século XVII, com o objetivo de demonstrar as práticas escribais que deram origem a essas coletâneas. Falar-se-á da circulação de folhas poéticas volantes, de sua coleção durante os últimos anos do século XVII, na cidade da Bahia, por aficionados da poesia gregoriana ou que assim se reputava, da ordenação das folhas segundo critérios genéricos e/ou político/estamentais, de sua posterior inscrição em livros de mão e da dispositio dos textos no interior dos volumes. Demonstrar-se-á, outros-sim, a dependência dos cancioneiros luso-brasileiros frente a matrizes ou modelos cancioneiris europeus, como aqueles em que se reuniu a obra vulgar de Francesco Petrarca, ou a de poetas ibéricos, como Gar-cilaso e Góngora. A análise de cancioneiros europeus centrar-se-á naqueles que articulam paratextos do

  • Simpósios / Simposios

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    tipo vita com o conjunto de textos poéticos que se lhes seguem. Demonstrar-se-á como essa articulação doutrina a legibilidade dos poemas no interior dos cancioneiros e como a manutenção da estrutura can-cioneiril, quando do preparo de edições críticas, é de fundamental importância para o resguardo e a inte-ligibilidade da historicidade de uma dada tradição textual e dos códices ou testemunhos que a compõem. Por fim, demonstrar-se-á como os escritos de Joseph Bédier, que tratam do método filológico, apresentam uma maior acuidade no que concerne à relação entre crítica de textos e reflexão historiográfica.

    Estemática em português: termos, história, conceitosCristina Sobral (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)

    Partindo da experiência da construção de um Dicionário Terminológico de Crítica Textual, propõe-se, nesta comunicação, reflectir sobre a ocorrência, desde 1951, em bibliografia de crítica textual em português, de termos do campo da estemática e sobre o modo como eles são utilizados e definidos. Pretende-se observar a progressiva formação de uma terminologia de crítica textual em português e a sua correlação com práticas, conceptualizações e influências.

    III. Materialidade e filologia digital

    «Laurencius qui notuit»: análise material dos documentos escritos pelo escriba da Notícia de torto

    Susana Pedro (Centro de Histórica, Universidade de Lisboa)

    Na sequência da identificação (em 2008) de dois documentos escritos pela mão de quem também escreveu a Notícia de torto de Lourenço Fernandes da Cunha, faz-se uma análise comparativa e pormenorizada dos aspectos materiais dos três textos e propõe-se uma nova datação para a notícia. Conclui-se com algu-mas notas acerca de opções editoriais anteriores influenciadas pelas condições físicas da matéria subjectiva.

    À medida de um corpo: flexibilidade, rigor e condicionalismos do suporte na edição de teatro e poesia do século XVI

    José Camões (Centro de Estudos de Teatro, Universidade de Lisboa)

    A experiência acumulada ao longo de vários anos na edição de corpora textuais de dimensões consi-deráveis (todo o teatro de autores portugueses dos séculos XVI e XVII, a poesia de Sá de Miranda, a documentação para a história do teatro em Portugal, maioritariamente setecentista) e de tipologia de transmissão variada (original ausente, testemunho apócrifo único, testemunhos apócrifos abundantes, testemunho impresso único, lições de múltiplas variantes, lições de múltiplas versões, etc.) accionou mecanismos de produção de que darei conta nesta comunicação. Prendem-se, sobretudo, com a escolha de suportes que, por sua vez, ditam opções editoriais, não só na arquitectura da edição, mas também na prática ecdótica, como a da escolha de lições, o estabelecimento de critérios de transcrição, a fixação de texto, num processo de disponibilização do património textual.

    Desafios da edição de textos: debates e horizonteMaria Ana Ramos (Universität Zürich)

    João Dionísio (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)

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    OnomásticaAna Boullón (Instituto da Lingua Galega,

    Universidade de Santiago de Compostela), coord.Gonzalo Navaza (Universidade de Vigo), coord.

    Preténdese ofrecer por primeira vez unha descrición contrastiva dos principais sistemas onomásticos (toponimia e antroponimia) en Galicia, Portugal e Brasil. Propúxoselle a cada un dos participantes un esquema moi semellante para pór de relevo a evolución en cada un dos territorios: por unha banda, o estado da cuestión no que atinxe á bibli-ografía (sesión 1) e, por outra, como, a partir da conformación da situación onomásti-ca na alta Idade Media, a expansión cara ó sur, primeiro, e ultramarina, despois, se foi configurando unha situación diferenciada en cada un dos territorios (sesións 2 e 3).

  • Simpósios / Simposios

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    I. Panorámica dos estudos de onomástica nos últimos anos

    Os estudos de onomástica en GaliciaPaulo Martínez Lema (Instituto da Lingua Galega,

    Universidade de Santiago de Compostela)

    Na nosa intervención tentaremos trazar unha visión panorámica da historia dos estudos onomásticos galegos, tanto os centrados no estudo dos nomes de lugar (toponimia) como no dos nomes de persoa (antroponomia). Para iso, e adoptando un criterio cronolóxico liñal, partiremos das achegas pioneiras do padre Sarmiento, que consideraremos autor fundacional da disciplina toponomástica propiamente dita en Galicia, e percorreremos os traballos realizados por diferentes investigadores que, con maior ou menor fortuna e preparación filolóxica en cada caso (e case sempre cun interese centrado moi especi-ficamente na vertente etimolóxica) foron contribuíndo para un mellor coñecemento do sistema topo-nímico e antroponímico galego. Finalmente, completaremos a nosa revisión coas achegas máis actuais, tanto as de carácter individual como as encadradas en proxectos de investigación (institucionais ou de calquera outro tipo).

    Os estudos de onomástica em PortugalJoão Paulo Silvestre (King’s College)

    Os estudos de onomástica no âmbito de Portugal ainda não permitiram substituir, como obra de refe-rência, o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de J.P. Machado (1984). Este facto demonstra como ainda está incompleto um percurso de recolha de dados e consolidação metodológica. Propõe-se um roteiro da bibliografia produzida nas últimas décadas, em que continua ser visível o quan-to se deve aos estudos de Leite de Vasconcelos e Piel. Além dos trabalhos investigação em antroponímia ou onomástica, interessa observar o tratamento dos nomes próprios em dicionários gerais e especiali-zados. É justamente em áreas contíguas, como a lexicologia e a lexicografia, que se podem encontrar contributos para a descrição dos antropónimos, epónimos e topónimos. Por fim, considerando o contí-nuo alargamento dos corpora textuais, apresentam-se algumas fontes documentais disponibilizadas em formato digital.

    Caminhos da onomástica no BrasilMaria Cândida Trindade Costa de Seabra (Universidade Federal de Minas Gerais)

    Nossa proposta é apresentar um panorama dos estudos onomásticos, Toponímia e Antroponímia, de-senvolvidos no âmbito das universidades brasileiras, pontuando o que já foi feito e o que, ainda, está por se fazer.

    O sistema onomástico brasileiro tem suas raízes no mundo português, sobretudo, dos seiscentos e setecentos, quando ocorreu a grande migração de habitantes desse território para a América portu-guesa. Na Terra Brasilis, outros estratos se juntaram à língua portuguesa – os indígenas, os africanos (em número bem menor) e os estrangeiros, que chegaram ao longo do povoamento e desenvolvimento do país, vindos de diversas partes do mundo, sobretudo nos últimos duzentos anos, ora se fixando em regiões específicas, ora se espalhando pela extensa área territorial do Brasil. Esse quadro histórico-so-cial, construído ao longo do tempo, oferece um rico material de pesquisa aos estudiosos da Onomástica, nas suas duas áreas, Toponímia e Antroponímia.

    Calcado na vertente europeia, o estudo sistematizado da Toponímia no Brasil integrou-se, em um primeiro momento, aos estudos linguísticos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

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    (FFLCH) da Universidade de São Paulo, privilegiando, inicialmente, os nomes de origem indígena at-ravés das pesquisas de Drumond (1958, 1965, 1968) sobre o Tupi e a Toponímia Brasileira. Como pro-fessora e pesquisadora dessa área, Dick (1980, 1990) seguiu as orientações de Drumond e a teoria de Al-bert Dauzat (1928), enriquecendo a partir de uma visão física e antropocultural os estudos toponímicos através dos seus Princípios Teóricos e Modelos Taxeonômicos (1980), aplicados aos nomes de lugares. Em um segundo momento, seguindo orientações metodológicas de Dick e incentivados por ela, pesqui-sadores de outras universidades brasileiras, construíram corpora e desenvolveram no âmbito, sobretudo da Pós-Graduação, Projetos de Pesquisa que, ao longo dos anos, tomaram rumos próprios.

    No que se refere à Antroponímia, os estudos são mais pontuais em nossas universidades, contabili-zando, ainda, menor número, se comparados aos estudos toponímicos. Merecem, também, destaque os estudos antropotoponímicos (antropotopônimos = nomes de lugares motivados por nomes de pessoas) que se caracterizam por resgatar a história sociocultural e por confirmar que as diferenças genéricas que caracterizam o campo de estudos específicos da Onomástica – Toponímia e Antroponímia, não impedem a aproximação dessas duas áreas.

    II. A toponimia

    Toponimia de GaliciaGonzalo Navaza (Universidade de Vigo)

    A intervención consistirá nunha descrición sucinta do sistema toponímico galego con atención a algúns aspectos significativos.

    —Os topónimos galegos. Algunhas cifras.—O tesouro da microtoponimia.—Toponimia e historia. Pervivencia dos topónimos. Retoponimizacións.—Estratos da toponimia galega. Proporcións dos diferentes estratos. —Topónimos prelatinos e topónimos que conteñen formas de orixe prelatina. A cuestión do subs-

    trato. O elemento celta.—Topónimos latinos e latinorromances. Cronoloxía dos antropotopónimos. A pervivencia do uso

    onomástico do xenitivo.—Información cronolóxica na fonética e na morfoloxía dos topónimos (Sabucedo/Sabuguido, suf.

    -elo, Souteliño, Acea, Pombal/Pombar)—O elemento xermánico. O elemento árabe. —As divisións da administración relixiosa e a xeografía toponímica. Algúns fenómenos dialectais.

    Advocacións parroquiais e cronoloxía.—Formás castelás, castelanizadas e deturpadas.—O auxilio da documentación antiga, medieval e moderna. Fontes documentais e bibliografía.—Situación legal da toponimia. —A imprescindible documentación antiga e medieval.

    Breve ensaio de toponímia portuguesa medievalEsperança Cardeira (Universidade de Lisboa)

    Maria Alice Fernandes (Universidade do Algarve)

    O objetivo desta comunicação é traçar um esboço da paisagem linguística medieval, através da identifi-cação das áreas de implantação toponímica das línguas faladas durante aquela época no atual território português. Como enquadramento definimos os seguintes períodos linguístico-históricos, que refletem

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    os usos linguísticos das populações desse território entre os séculos VIII e XV: (i) andaluz; (ii) galego-português; (iii) português. Para o período andaluz (que compreende o árabe e o moçárabe, em situação de bilinguismo), além da distinção entre topónimos de origem árabe ou moçárabe, consideramos igual-mente os híbridos resultantes do contacto linguístico. Para o período galego-português, procuramos rastrear, através da toponímia, a sua transplantação desde a Galécia Magna ao Algarve. Para o período português propriamente dito, que entendemos estar representado a partir do início do português médio, distinguimos entre variantes toponímicas dialetais e estândares. Quanto à metodologia, seguimos uma abordagem comparativa entre as línguas e variedades referidas, partindo quer de topónimos com a mes-ma etimologia, quer de topónimos com o mesmo significado, embora em línguas diferentes. Servimo-nos, como fonte, do Reportório Toponímico de Portugal Continental (1963), dos Serviços Cartográficos do Exército, e, como principal ferramenta de trabalho, do NOTVS (Fraga da Silva 2002), um programa de análise e georreferenciação toponímica.

    Toponímia do Brasil. Achegas para a compreensão do sistema toponomástico brasileiro

    Aparecida Negri Isquerdo (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

    Este trabalho tem como objetivo apresentar um panorama geral das pesquisas toponímicas em territó-rio brasileiro e discutir tendências gerais já documentadas por esses estudos. Para tanto, o trabalho foi organizado a partir de três eixos: i) apresentação e discussão das fases da pesquisa toponímica no Brasil proposta por Isquerdo (2012) que, tomando como parâmetro o conceito lato de historiografia (o traba-lho de estudar e descrever a história – no caso, a dos estudos toponímicos em território brasileiro) e o resgate de aspectos do processo histórico dos estudos toponímicos no Brasil, estabeleceu três sincronias que marcaram o percurso desses estudos em território brasileiro; ii) discussão de fundamentos teórico-metodológicos do modelo de Dick (1990; 1992; 1999; 2006) construído pela toponimista brasileira para o estudo da toponímia das diferentes regiões administrativas do Brasil, com destaque para a importân-cia desse constructo teórico para os estudos toponímicos no Brasil; iii) apresentação de considerações gerais sobre pesquisas toponímicas realizadas no Brasil, apontando tendências gerais da matriz toponí-mica brasileira, como a questão das bases linguísticas, em especial os topônimos de etimologia indígena, portuguesa e africana, estrutura dos topônimos e a questão da motivação toponímica. Para a abordagem do tema segundo o terceiro eixo, o estudo vale-se de resultados de estudos realizados por Dick (1990; 2004) para o Atlas Toponímico do Brasil (ATB) e para o Atlas Toponímico do Estado de São Paulo (ATESP) e pelas equipes de projetos estaduais como o Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul (ATEMS), Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais (ATEMIG), Atlas Toponímico do Estado do Paraná (ATEPAR), Atlas Toponímico do Tocantins (ATITO).

    II. A antroponimia

    Conformación e desenvolvemento do sistema antroponímico en GaliciaAna Boullón (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)

    A antroponimia de Galicia ten o seu período de conformación na Alta Idade Media. Nesa altura come-zou a configurarse a dobre denominación, composta por un primeiro elemento e mais un segundo que podía ser patronímico, ou sobrenome lexical ou toponímico. A finais da Idade Media o sistema patroní-mico deixou de ser produtivo e comezou a converterse en hereditario. O sistema foi fixado legalmente no séc. XIX (contra 1857), e estipulou un nome propio, e dous apelidos hereditarios, un procedente do pai e o outro da nai. Amais de explicar esta evolución, teranse en conta os compoñentes etimolóxicos.

  • Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica

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    Son máis cambiantes no caso dos prenomes, que van mudando de xeración en xeración, e están máis suxeitos ás imposicións ou ás modas, e máis estables nos apelidos, polo seu carácter hereditario; estes poden clasificarse en prerromanos, xermánicos e latinos.

    Antroponímia de PortugalAurora Rego (Universidade do Porto)

    Segundo a metodologia de Norberta Amorim (1991), é possível efetuar a reconstituição de comunidades históricas em longa duração, seguindo o trajeto de vida de indivíduos e famílias onde se encontram inse-ridas. Com base nas paróquias por mim reconstituídas, foi encontrado um número apreciável de famílias galegas que se fixaram em V. P. Âncora (concelho de Caminha) entre 1815 e 1924 e ainda de matrimónios celebrados entre 1628 e 1831 em Monserrate (paróquia ribeirinha de Viana do Castelo) nos quais um ou dois nubentes tinham origem galega. Entre outros aspetos, para além de uma abordagem acerca da transmissão dos apelidos na legislação portuguesa, da contextualização histórica da recolha de dados, da elencagem dos apelidos, naturalidade, profissões dos indivíduos galegos encontrados nas paróquias em estudo, abordaremos as diferenças existentes entre os nomes e apelidos galegos e portugueses.

    Antroponímia do BrasilMailson dos Santos Lopes (Universidade Federal da Bahia)

    É um fato consabido a existência de intrincados processos que formatam a estruturação hodierna da antroponímia brasileira, objeto de estudo altamente implexo, devido ao próprio caráter escorregadiço, mutável e multidimensional dos nomes próprios. A constituição histórico-cultural da sociedade brasileira, notavelmente dinâmica e multifacética, aliada a outros fatores intrínsecos e extrínsecos a ela, conduzirá ao estabelecimento (e à reestruturação permanente) de um sistema de nomeação pessoal altamente complexo, tanto no que concerne às suas distintas pautas etimológicas e à diversidade de seus esquemas morfolexicais estruturantes, quanto no que se refere ao seu sistema legal de controle e imposição. De uma prática altamente tradicional de atribuição de prenomes e sobrenomes (ainda que com determinadas alterações temporo-espaciais), vigente no Brasil até ao menos a primeira quadra do século XX, passa-se, em seguida, a um verdadeiro turbilhão de inovações, que configurará uma espécie de revolução antroponímica, mas que altera especificamente os elementos iniciais do esquema de nomeação pessoal (i.e., os prenomes), visto que não incide de forma recorrente nos elementos mediais ou finais destes mesmos esquemas (i.e., os sobrenomes). Destarte, comparando-se o português brasileiro com o galego ou o português peninsular, parece ser possível cogitar que a diversidade no quadro antroponímico não deve ser mais expressiva nos sobrenomes (apelidos), mas, sim, nos prenomes propriamente ditos. Por conseguinte, em comparação ao português europeu (e, certamente, às outras línguas ibero-românicas), deve haver para o português brasileiro uma relativamente pequena diversidade de sobrenomes, sobretudo por causa do apagamento dos traços aborígenes e africanos na nomeação de indiodescendentes e afrodescendentes, a que eram atribuídos principalmente sobrenomes de matiz religioso, devido à grande influência e poder do Catolicismo Romano em plagas americanas, mormente nos períodos colonial e imperial. A proposta aqui sintetizada, que enxerga a onomástica como manancial formidável para a compreensão da história social do Brasil, visa a estabelecer alguns escólios sobre as questões cardeais acima apresentadas: o sistema legal e a história de transmissão desses constituintes antroponímicos (sobrenomes / apelidos), suas pautas e componentes etimológicos funda-mentais e, na medida do possível, a representatividade quantitativa de seus principais elementos.

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    Historiografia linguística | Historiografía lingüística

    Ricardo Cavaliere (Universidade Federal Fluminense), coord.O simpósio pretende discutir temas atinentes ao percurso dos estudos linguísticos na área da romanística em todas as suas vertentes, seja a histórica, que cuida de fatos, modelos teóri-cos e produção científica decorrentes da atividade do filólogo ou do linguista no cenário acadêmico nacional, a historiográfica, que se ocupa do estudo interdisciplinar da construção do saber linguístico no percurso da atividade científica, ou a ideológica, que avalia a presença do ideário filosófico e epistemológico norteador do pensamento linguístico ao longo dos períodos evolutivos da Linguística como ciência. Na vertente histórica, incluem-se trabalhos específicos sobre a obra e a biografia de filólogos e linguistas que exerceram papel proemi-nente na formação do pensamento linguístico nos países em que se falam as línguas români-cas, bem como estudos específicos sobre gramáticas missionárias e seu papel no processo de colonização e edificação do Novo Mundo, inclusive no tocante ao contato linguístico em perspectiva diacrônica. A vertente historiográfica poderá abranger temas como o da grama-tização das língua românicas, a construção do saber linguístico e temas pontuais atinentes à influência doutrinária, às fontes canônicas e marginais e à metodologia estabelecida pela meta-historiografia. A senda ideológica avança pelo terreno da política linguística e integ-ra trabalhos que avaliam a produção linguística em face das forças axiológicas, do ideário político e do inventário cultural em que está inscrita. O simpósio também abre oportuni-dade para a apresentação de textos em áreas conexas, referentes à reflexão sobre o papel social do linguista, as estratégias de ensino do vernáculo e as políticas públicas referentes ao desenvolvimento e aprimoramento do ensino na área da linguagem. Nessas linhas adje-tivas, são bem-vindas contribuições que toquem questões como norma gramatical, conceito de purismo, exemplaridade linguística, preconceito linguístico dentre outras congêneres.

  • Simpósios / Simposios

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    Panorámica historiográfica da lingüística histórica galega segundo os datos da Bibliografía Informatizada da Lingua Galega (BILEGA)

    Francisco García Gondar (Universidade de Santiago de Compostela / Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades)

    A BILEGA: Bibliografía Informatizada da Lingua Galega é un recurso en liña (http://www.cirp.es/bdo/bil) do Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades cuxa construción se iniciou en 1994. O seu obxectivo é ofrecer información bibliográfica exhaustiva e actualizada sobre os traballos de investigación, divulgación ou opinión dedicados ao idioma galego –de forma exclusiva ou parcial– nas diferentes fases do seu desenvolvemento histórico. Transcorridas dúas décadas de desenvolvemento, a base de datos alberga arestora unha notable cantidade de información: preto de 45.000 referencias bibliográficas organizadas en 19.300 rexistros, clasificados cuns 157.000 atributos; ademais, dado o seu carácter de bibliografía analítica, os rexistros ofrecen unha sinopse do contido dos traballos referidos. O eido da lingüística histórica –tendo en conta unicamente o ámbito da investigación e incluíndo tamén a crítica textual– está representado neste intre por uns 5.300 traballos, entre os que figuran achegas procedentes do ámbito da romanística e mais estudos relativos fundamentalmente ao galego-portugués realizados en Portugal e no Brasil. O obxectivo desta comunicación é utilizar a información sobre os mesmos para debuxar unha panorámica historiográfica actualizada do desenvolvemento desta parcela de lingüística galega, concentrada, sobre todo, nos aspectos cuantitativos.

    O tratamento dos pronomes pessoais átonos na gramaticografia do português (séculos XVI-XVIII)

    Rogelio Ponce de León Romeo (Universidade do Porto)

    A comunicação tem por objetivo estudar a descrição que, nas obras metagramaticais do português – publicadas no período cronológico indicado no título –, é realizada dos pronomes pessoais átonos, também designados, na gramática contemporânea, como pronomes clíticos ou clíticos especiais (Brito, Duarte & Matos 2003[1983]: 826-867). Partindo de trabalhos que, entre outros aspetos, abordam com algum pormenor o pronome na tradição gramatical do português – entre os quais sobressai o de Schä-fer-Priess (2000: 166-178) –, bem como outros estudos que se têm debruçado sobre esta classe de pala-vras – por exemplo o de Rumeu (2008: 129-159) –, é analisado o grau de gramatização das formas em estudo, bem como, no caso de estas aparecerem registadas, o discurso gramatical acerca delas, tanto no que se refere à descrição como à prescrição, e os paradigmas em que se integram. No âmbito destes dois últimos aspetos, é estudada – dada a identidade formal entre os pronomes clíticos e as formas do artigo (Nunes 1956: 250; Huber 2006[1933]) – a relação, no corpus de obras analisadas, dos pessoais átonos na exposição gramatical sobre o artigo, bem como eventuais observações sobre a função sintática daqueles e sobre a sua posição a respeito do verbo.

    ReferênciasBRITO, Ana Maria, Inês Duarte & Gabriela MATOS (2003[1983]). «Tipologia e distribuição das expres-

    sões nominais». Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho (5ª ed., revista e aumen-tada). 795-867.

    HUBER, Joseph (2006[1933]). Gramática do português antigo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (2ª ed. da tradução portuguesa).

    NUNES, José Joaquim (1956[1919]). Compêndio de gramática histórica portuguesa (fonética e mor-fologia). Lisboa: Livraria Clássica Editora (5ª ed.).

    RUMEU, Márcia Cristina de Brito (2008). «A categoria «pronome» na construção da metalinguagem no português», Revista da ABRALIN, 7.1. 129-159.

  • Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica

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    SCHÄFER-PRIESS, Barbara (2000). Die portugiesische Grammatikschreibung von 1540 bis 1822. Entstehungsbedingungen und Kategorisierungsverfahren vor dem Hintergrund der lateinischen, spanischen und französischen Tradition. Tübingen: Max Niemeyer.

    A Arte explicada (1728-1734) de João de Morais Madureira Feijó e a sua importância para história da gramática alvaresiana

    Rolf Kemmler (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

    Graças a vários estudos publicados ao longo das últimas duas décadas (Winkelmann 1994; Gonçalves 1992; 2003; Kemmler 2001, 2007), é sobejamente conhecida a importância que a Orthografia, ou Arte de Escrever, e Pronunciar com acerto a Lingua Portugueza do transmontano João de Morais Madureira Feijó (1689-1741) tem para a história da ortografia portuguesa.

    No entanto, convém recordar que qualquer abordagem desta monumental obra metaortográfica se-tecentista deverá tomar em consideração que «[...] a Orthographia de Feijó não é uma obra totalmente autónoma [...]», uma vez que se trata «[...] do quarto volume de um comentário da obra De institutione grammatica libri tres do jesuíta Manuel Álvares [...]» (Kemmler 2001: 207). É precisamente neste âmbito que se devem encarar não somente as breves considerações que Gonçalves (1992: 41; 47, 48) tece a este conjunto alvaresiano do mesmo autor que leva o título Arte explicada, mas também o subcapítulo mais recente de Kemmler (2007: 17-28).

    Numa altura em que tudo nos leva a crer que, apesar da realização de grandes esforços bibliográficos ao longo destas últimas décadas, ainda não nos parece possível oferecermos as conclusões desejadas sobre o que poderia ser a totalidade das edições e das tiragens da Arte explicada, a identificação de alguns novos elementos permite-nos retomar o assunto, aprofundando-o. Assim, tendo em consider-ação a história da gramática alvaresiana até à expulsão da Companhia de Jesus de Portugal em 1759, pretendemos oferecer e discutir a existência de novos elementos que nos permitam enquadrar melhor o conjunto de livros dentro do universo editorial alvaresiano de expressão portuguesa.

    ReferênciasGONÇALVES, Maria Filomena (1992): Madureira Feijó: Ortografista do século XVIII, Para uma

    História da Ortografia Portuguesa, Lisboa: Ministério da Educação (Identidade Série Língua Portuguesa).

    GONÇALVES, Maria Filomena (2003): As Ideias ortográficas em Portugal: De Madureira Feijó a Gonçalves Viana (1734-1911), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e a Tecnologia; Ministério da Ciência e do Ensino Superior (Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas).

    KEMMLER, Rolf (2001): «Para uma História da Ortografia Portuguesa: o texto metaortográfico e a sua periodização do século XVI até à reforma ortográfica de 1911», em: Lusorama 47-48 (Ok-tober), págs. 128-319.

    KEMMLER, Rolf (2007): A Academia Orthográfica Portugueza na Lisboa do Século das Luzes: Vida, obras e actividades de João Pinheiro Freire da Cunha (1738-1811), Frankfurt am Main: Domus Editoria Europaea (Beihefte zu Lusorama; 1. Reihe, 12. Band).

    WINKELMANN, Otto (1994): «Portugiesisch: «Geschichte der Verschriftung», em: HOLTUS, Günter / METZELTIN, Michael / SCHMITT, Christian (Hrsg.) (1994): Lexikon der Romanistischen Lin-guistik (LRL): Band VI, 2, Galegisch / Portugiesisch, Tübingen: Max Niemeyer Verlag, págs. 472-498.

  • Simpósios / Simposios

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    Ainda sobre a Gramática Poliglota e o multilinguismo gramatical em Oitocentos

    Maria Filomena Gonçalves (Universidade de Évora)

    O século XIX destaca-se, no que respeita ao ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, pela prolife-ração de materiais destinados a apoiar o contraste gramatical e lexical entre várias línguas. Embora este exercício contrastivo fosse, como é sabido, uma prática antiga, no século XIX regista-se uma assinável variedade de textos didácticos que, visando quatro ou mais línguas, ostentam no título o adjectivo «po-liglota» (Rossebastiano, 2003; Rius Dalmau, 2009; Gonçalves, 2014). Ainda que despretensiosa quanto à explanação teórica e ao desenvolvimento dos aspectos gramaticais confrontados, a produção destes materiais em toda a Europa traduz a importância conferida aos rudimentos de idiomas estrangeiros pertencentes a distintas famílias linguísticas, cujo conhecimento não só constituía manifestação de saber humanístico e de cosmopolitismo como era útil às relações internacionais, aos negócios e às viagens.

    A partir deste contexto, o objectivo desta comunicação é analisar os materiais didácticos plurilín-gues – gramáticas, métodos, quadros sinópticos e tábuas, guias, etc. – que incluem mais de uma língua românica (português, espanhol, francês, italiano). Dando continuação a um estudo preliminar sobre a gramática poliglota como «género» ou «subgénero» gramatical, trabalho em que a nossa atenção incidiu sobretudo na Grammaire Polyglotte de Jean-Noël Blondin (1753-1832), nesta ocasião estendemos a análise a outros textos – Lindner (1827), Jost (1840), Michelsen (1860), por exemplo – e a outras línguas românicas, com o propósito de analisar: i. os aspectos contrastados nas várias línguas (pronúncia, or-tografia, classes de palavras e sua classificação, estruturas sintácticas, léxico e fraseologia); ii. as estraté-gias contrastivas aplicadas pelos autores dos manuais; iii. a existência (ou não) de uma moldura teórica subjacente ao exercício comparativo.

    ReferênciasBLONDIN, Jean-Noël (21826[1811]): Grammaire polyglotte française, latine, italienne, espagnole, portu-

    gaise et anglaise, dans laquelle ces diverses langues sont considérées sous le rapport du mécanisme et de l’analogie propres à chacune d’elle. Paris: Chez Brianchon.

    GONÇALVES, Maria Filomena (2014): «La gramática políglota: un eslabón en la historia de las grama-ticografías portuguesa y española». In: María Luisa Calero, Alfonso Zamorano, F. Javier Perea, Carmen García Manga e María Martínez-Atienza (eds.): Métodos y resultados actuales en Histo-riografía de la Lingüística. München: Nodus Publikationen (no prelo).

    JOST, Simon (1840): Grammaire polyglotte ou tableaux synoptiques comparés des langues française, al-lemande, anglaise, italienne, espagnole et hébraïque accompagnés de la prononciation figurée et d’annotations philologiques, exégétiques et archéologiques, à la portée de la jeunesse et des personnes qui veulent, sans maître, s’initier dans ces langues. Paris: L’auteur-éditeur. 

    MICHELSEN, E. H. (1860): The merchant’s polyglot manual in nine languages [...]. London: Longman, Green, Longamn, and Roberts.

    RIUS DALMAU, María Inmaculada (2009): «L’enseignement/apprentissage multilingue dans le contexte culturel européen de la première moitié du XIXe siècle: à propos de la Grammaire polyglotte de Simon Jost (1840)». Documents pour l’histoire du français langue étrangère ou seconde. 42: 127-148. Disponível em : http://dhfles.revues.org/732 [Data da consulta 22/11/2014].

    ROSSEBASTIANO, Alda (2003): «La tradition des manuels polyglottes dans l’enseignement des lan-gues». History of Linguistics 1999: Selected Papers from the Eighth International Conference on the History of the Language Sciences. Ed. por Sylvain Auroux. Amsterdam / New York: John Benja-mins, 688-698.

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    Variação e mudança nas primeiras descrições da língua portuguesaCarlos Assunção (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

    Foi apenas no séc XVI, com a publicação dos textos de Oliveira e de Barros, que se criou uma verdadeira consciência linguística da língua portuguesa, em Portugal. Pretende-se com esta comunicação fazer a contextualização do aparecimento das primeiras gramáticas da língua portuguesa, procedendo-se a um breve excurso sobre o quadro humanista europeu coevo desses textos metalinguísticos; num segundo momento, apresentar-se-á uma sumária descrição de alguns aspetos das obras gramaticais de Fernão de Oliveira, de João de Barros e de Amaro de Roboredo considerados relevantes dessa consciência linguís-tica, pondo-se em destaque os conceitos de variação e mudança linguística. Tratar-se-ão os conceitos de variação linguística diacrónica, de variação linguística sincrónica, mais especificamente de carácter diatópico e diastrático, que posteriormente foram objeto de tratamento pelo alemão Hugo Schuchardt, por Silva Neto e por Herculano de Carvalho, entre outos.

    ReferênciasBarros, João de (1540): Grammatica da Lingua Portugueza. Olyssipone: apud Ludouicum Rotorigiu

    Typographum.Oliveira, Fernão de (2000 [1536]): Gramática da Linguagem Portuguesa. Edição Crítica, Semidiplomáti-

    ca e Anastática por Amadeu Torres e Carlos Assunção com Estudo Introdutório de Eugenio Coseriu. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.

    Roboredo, Amaro de (2007 [1619]): Methodo Grammatical para todas as Linguas. Edição facsimilada. Prefácio e Estudo Introdutório de Carlos Assunção e Gonçalo Fernandes. Vila Real: Centro de Estudos em Letras, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Colecção Linguística, 1.

    O celtismo lingüístico decimonónico en Portugal e en Galicia. Xenio, evolución e mestura

    Beatriz García Turnes (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)

    A influencia do iluminismo leva a certos eruditos portugueses da primeira metade do século XIX a introduciren unha idea innovadora na reflexión lingüística do seu país e provocaren, con ela, unha po-lémica que se manterá, polo menos, ata a década dos 70. Trátase da defensa da orixe celta, e non latina, do portugués. Tamén do outro lado da fronteira, as ideas sobre as orixes celtas do galego prenderon en autores relevantes do nacente galeguismo. Detrás desa tese atópase, entre outras cousas, unha particular concepción do que é o xenio dunha lingua e de como se produce a evolución desta no tempo. Compar-ten os celtistas galegos, nalgún caso coñecedores dos traballos dos portugueses, as mesmas concepcións? Ou é diferente o celtismo ao norte e ao sur do Miño?

    O passo inaugural da teoria linguística no Brasil oitocentistaRicardo Cavaliere (Universidade Federal Fluminense)

    O Brasil, à semelhança dos demais países sul-americanos, sempre caracterizou-se por desenvolver estu-dos linguísticos à luz de paradigmas importados dos grandes centros científicos mundiais, um fato epis-temológico que se pode denominar «linguística de recepção». No século XIX, as teses da grammaire raisonnée chegaram às páginas dos primeiros compêndios gramaticais brasileiros sobretudo pela obra de César Dumarsais (1676-1756) Antoine de Tracy (1754-1836), Étienne de Condillac (1714-1780), Nicolas Beauzée (1717-1789) e, mais diretamente, Jerônimo Soares Barbosa (1737-1816). Cuidava-se, então, ao longo de mais de meio século, desde a publicação em 1806 do Epítome da gramática portuguesa, por Antônio de Morais Silva (1755-1824), até a publicação, em 1875, da Gramática portuguesa, por Augusto

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    Freire da Silva (1836-?), de uma aplicação das teses racionalistas à descrição do português em textos pri-oritariamente destinados ao ensino da língua vernácula nas classes fundamentais e intermediárias. Com a chegada do paradigma histórico-comparativo às páginas gramaticais brasileiras, cujo pioneirismo or-dinariamente atribuído à Gramática portuguesa, de Júlio Ribeiro (1845-1890) põe-se hoje na pauta das discussões mais prementes sobre a história da gramática no Brasil, o propósito eminentemente pedagógico das gramáticas cede espaço para publicações de caráter científico-pedagógico, a par de outras obras que se podem caracterizar como doutrinárias, ou exclusivamente científicas, visto que tinham o propósito de difundir as novéis teses da linguística oitocentista no ambiente acadêmico brasileiro. Dentre esses textos doutrinários destaca-se o opúsculo Traços gerais de linguística , publicado por Júlio Ribeiro em 1880, no corpo de um movimento editorial voltado para a popularização da ciência em todas as áreas do conheci-mento; este trabalho dedica-se à análise historiográfica dessa obra de Júlio Ribeiro, que bem se pode qual-ificar como o texto pioneiro da teorização sobre a linguagem humana na bibliografia linguística brasileira.

    Primeiras descrições das línguas africanas em língua portuguesaGonçalo Fernandes (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

    Nesta comunicação apresentaremos uma visão panorâmica das primeiras descrições gramaticais das línguas africanas de Angola e Moçambique pelos missionários portugueses e/ou ao serviço do padroado português. Merecem particular destaque as obras Gentio de Angola (Lisboa 1642; Roma 1661), Arte da Lingua de Cafre (ca. 1745 [ca. 1680]) e Arte da Lingua de Angola (Lisboa 1697), de Francesco Pacco-nio S.J. (1589–1641), António do Couto, S.J. (1614–1666) e António Maria da Monte Prandone, O.F.M. (1607–1687), anónimo (fl. ca. 1680) e Pedro Dias, S.J. (1621/1622–1700), respetivamente. Também apre-sentaremos a Obra nova da Lingoa geral de mina (Minas Gerais 1741) de António da Costa Peixoto (1703–1763), que, sendo um leigo, descreve uma língua bantu da família Kwa, falada em Minas Gerais por escravos oriundos do Golfo do Benim, na costa ocidental de África.

    Referências. Fontes primáriasÁLVARES, Manuel.  De institutione grammatica libri tres.  Olyssipone: Ioannes Barrerius,  1572. On-

    line: http://purl.pt/23043 and http://purl.pt/23121 (National Library of Portugal)._________. De institutione grammatica libri tres. Olyssipone: Ioannes Barrerius, 1573.ANCHIETA, José de. Arte de Gramática da Língua mais usada na costa do Brasil. Fac-símile da edição

    de 1595. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933.ANÓNIMO.  Arte da Lingua de Cafre.  Biblioteca da Ajuda, Lisboa, manuscrito, coleção «Jesuítas na

    Ásia», ca. 1745 [ca. 1680] (Códice Ms. 49-v-18, f. 201-223).DIAS, Pedro. Arte da Lingua de Angola, oeferecida a Virgem Senhora Nossa do Rosario, Mãy, e Senhora

    dos mesmos Pretos. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1697.JORGE, Marcos; MARTINS,  Inácio; CARDOSO, Mateus. Doutrina Christaã. Composta Pelo P. Marcos

    Jorge da Companhia de IESV Doutor em Theologia. Acrescentada pelo Padre Ignacio Martinz da mesma Companhia Doutor Theologo. De nouo traduzida na lingoa do Reyno de Congo, por ordem do P. Mattheus Cardoso Theologo, da Companhia de IESV. Lisboa: Geraldo da Vinha, 1624.

    PACCONIO, Francisco & COUTO, António do. Gentio de Angola sufficientemente instruido nos myste-rios de nossa sancta Fé. Obra posthuma, composta pello Padre Francisco Pacconio da Companhia de Iesu. Redusida a methodo mais breve & accomodado á capacidade dos sogeitos, que se instruem pello Padre Antonio do Couto da mesma Companhia. Lisboa: Domingos Lopes Rosa, 1642.

    PACCONIO, Francesco; COUTO, António do; MONTE PRANDONE, Antonio Maria de. Gentilis An-gollae fidei mysteriis Lusitano olim idiomate per R. P. Antonium de Coucto Soc. Iesv Theologum; nunc autem Latino per Fr. Antonivm Mariam Prandomontanum, Concionatorem Capucinum, Ad-mod. Rev. Patris Procuratoris Generalis Comissarij Socium, Instructus, atque locupletatus. Romæ: Typis S. Congreg. de Propaganda Fide, 1661.

  • Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica

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    PEIXOTO, António da Costa. Alguns Apontamentos da Lingoa minna com as Palavras Portugue-zas correspondentes. Manuscrito, Biblioteca Nacional de Lisboa, 1731 (F. 2355 códice 3052).

    _________. Lingoa geral de mina, traduzida, ao nosso Igdioma por Antonio da Costa Peixoto, Naciognal do Reino de Portugal, da Provincia de Entre Douro e Minho, do comcelho de Filgueiras. Manuscri-to, Biblioteca Pública de Évora, 1741 (códice CXVI/1-14).

    _________. Obra nova de língua geral de Mina de António da Costa Peixoto: Manuscrito da Biblioteca Pública de Évora publicado e apresentado por Luís Silveira. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1944.

    _________. Obra nova de língua geral de Mina de António da Costa Peixoto: Manuscrito da Biblioteca Pública de Évora publicado e apresentado por Luís Silveira. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1945.

    VETRALLA, Giacinto Brusciotto a. Doctrina Christiana ad profectum Missionis totius Regni Congi in quatuor linguas per correlatiuas columnas distincta. Romæ: Typis, & sumptibus eiusdem Sac. Con-greg., 1650.

    _________. Regulae quaedam pro difficillimi Congensium idiomatis faciliori captu ad grammaticae nor-mam redactae a F. Hyacintho Brusciotto a Vetralla Concionatore Capuccino Regni Congi Apostoli-cae Missionis Praefecto. Romæ: Typis S. Congr. de Prop. Fide, 1659.

    O tempo e o aspecto verbais na tradição gramatical brasileiraAndré Crim Valente (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)José Carlos Azeredo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

    Uma tradição ocidental que remonta a Aristóteles vincula a categoria do verbo (rhéma) à expressão do tempo, segmentado em presente, passado e futuro. Os estoicos, por sua vez, distinguiram nuances as-pectuais – processo durativo X processo concluído – no presente, assim como no passado. São dois mil e quinhentos anos de uma história que perdura nos nossos dias. A distinção entre tempo e aspecto fica evidente já na caracterização que Soares Barbosa (1803) fez das «ideias acessórias» expressas pelo verbo, mas as gramáticas da língua portuguesa produzidas ao longo dos séculos XIX e XX tendem a privilegiar a categoria do tempo e a abordar a categoria do aspecto, quando o fazem, como uma variação subsidiária do tempo. Este, como se sabe, sempre foi vinculado à correspondência entre as formas linguísticas de presente, passado e futuro e as noções cronológicas de agora, antes e depois. Esta equivalência opera bem em relação ao antes e ao depois, mas falha em relação ao agora, já que o momento do ato da enun-ciação não é o único ponto de referência das relações temporais. A insistência em manter no «ato da palavra» o eixo único de todo o sistema criou algumas dificuldades descritivas, levando à adoção de uma nomenclatura aparentemente paradoxal, como ‘futuro do pretérito’, e de outra que aponta para um traço de sentido que se reduplica na mesma forma, como é o caso da designação ‘pretérito mais-que-perfeito’. Por seu turno, a categoria do aspecto vez por outra sai da sombra do tempo, mas não chega a ganhar foco próprio nas gramáticas. Na tradição brasileira, somente Claudio Brandão, autor da Sintaxe Clássica (1963) lhe deu espaço e identidade terminológica. Nossa intervenção tem por propósito principal passar em revista obras de autores brasileiros do final do século XIX e do período que se estende até os anos 1960, nas quais se revela uma compreensão mais consistente do que a atualmente disseminada nas obras didáticas sobre as relações de tempo e de aspecto do verbo em português.

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    Gramática, variação e mudança | Gramática, variación e mudanzaErnestina Carrilho (Centro de Linguística,

    Universidade de Lisboa), coord.

  • Simpósios / Simposios

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    I. Projetos e recursos

    Projeto Perfil Sociolinguístico da Fala BracarensePilar Barbosa (Universidade do Minho)

    Nesta comunicação apresenta-se o corpus ‘Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense’, recolhido no âm-bito do projeto com o mesmo nome sediado no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, Portugal (2010-2014). O projeto visou dois objetivos:

    1) a constituição de uma base de dados (digitalizada) representativa do português contemporâneo falado na cidade de Braga, tomando como base de organização três variáveis de análise sociolinguística: o género, a idade e a escolaridade;

    2) a descrição e discussão dessa base de dados segundo diversos níveis de análise linguística. Para além da descrição do corpus, serão apresentados alguns dos estudos já efetuados no âmbito do

    projeto.

    Corpus Dialetal para o Estudo da Sintaxe (Cordial-sin)Ernestina Carrilho (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)

    O Corpus Dialetal para o Estudo da Sintaxe (CORDIAL-SIN) foi constituído no âmbito de diferentes projetos de investigação no domínio da sintaxe dialetal, desenvolvidos no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Este corpus foi concebido como um recurso para acesso sistemático a dados morfossintáticos de variedades regionais do português europeu, tornando assim possível integrar na investigação sintática do português, como em estudos de sintaxe comparativa em geral, um tipo de evidência empírica normalmente menos acessível mas relevante para os estudos gramaticais. A relação entre aspetos da variação sintática sincrónica e diacrónica constitui uma das vertentes dos estudos gra-maticais desenvolvidos com base neste corpus.

    Uma vez que os materiais do CORDIAL-SIN são provenientes de inquéritos dialetais realizados no âmbito de diferentes projetos de geolinguística tradicional, o corpus permite também aceder a infor-mação sobre a distribuição geográfica de dados linguísticos produzidos por falantes de perfil social ho-mogéneo. Desta forma, como os atlas linguísticos tradicionais em relação a domínios como o léxico ou a fonologia, o CORDIAL-SIN tem aberto novas vias de acesso ao estudo da sintaxe diacrónica, a partir dos vestígios encontrados em variantes morfossintáticas regionais.

    Nesta comunicação serão apresentados alguns dos trabalhos que, a partir do CORDIAL-SIN, con-sideram a articulação entre variação e mudança nos estudos morfossintáticos do português.

    CV Words: dados orais de Cabo VerdeFernanda Pratas (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)

    O recurso CV Words consiste num conjunto alargado de frases extraídas de entrevistas com falantes de cabo-verdiano, sendo o seu principal objetivo a disponibilização de dados orais desta língua crioula de base portuguesa, ainda pouco estudada de um ponto de vista formal e à espera de vir a ser declarada língua oficial no seu país.

    As frases do corpus são sujeitas a transcrição ortográfica, seguindo genericamente as regras do ALU-PEC, alfabeto oficial do cabo-verdiano, bem como a marcação morfológica e sintática, o que permite ao utilizador dois tipos de pesquisa: (i) um básico, Google-like, através do qual podem ser obtidas todas as construções disponíveis que contenham determinada palavra ou expressão da língua; (ii) uma pesquisa

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    avançada, que consiste na combinação de diversos elementos gramaticais, a fim de obter resultados pre-cisos, de acordo com exigências mais específicas.

    Para cada frase obtida, o CV Words disponibiliza ainda: uma glosa, de acordo com as Leipzig Gloss-ing Rules; traduções em português e inglês; um ficheiro áudio; as informações relevantes sobre o falante que a produziu.

    O CV Words foi criado com tecnologias Open Source no âmbito do projecto ‘Eventos Subeventos em Caboverdiano’ (com financiamento independente da FCT e desenvolvido entre 2010 e 2013, no CLUNL-FCSH). Findo esse projeto, o CV Words continua a ser apoiado pela FCT mas agora através do CLUL-FLUL.

    Na presente comunicação, este recurso será apresentado e explicado, terminando com a demon-stração de possíveis utilizações dos seus resultados, nomeadamente para os estudos sobre variação e mudança. Esta vocação específica (que não é, no entanto, exclusiva) deve-se não só ao facto de a génese do cabo-verdiano ter ocorrido em contexto de contacto linguístico, mas também às propriedades atuais da língua no que respeita à variação dialetal (em sentido lato), bem como a complexas questões relacio-nadas com atitudes linguísticas.

    II. Sujeito e ordem de palavras

    Ordem de palavras em orações gerundivas do portuguêsMaria Lobo (Universidade Nova de Lisboa)

    Alexandra Fiéis (Universidade Nova de Lisboa)

    Vários autores têm estabelecido uma correlação entre ordem de palavras em orações absolutas e Parâ-metro do Sujeito Nulo (Roberts 1994, Barbosa 1995, 2002, Santos 1999): as línguas de sujeito obrigató-rio, como o francês e o inglês, teriam ordem Sujeito-Verbo, ao passo que as línguas de sujeito nulo, como o português europeu, teriam ordem Verbo-Sujeito:

    (1) a. Les enfants étant malades, nous sommes restés à la maison. b. *Étant les enfants malades,… (2) a. The children being sick, we stayed home. b. *Being the children sick,… (3) a. Estando as crianças doentes, ficámos em casa. b. ??As crianças estando doentes, ficámos em casa.

    Nesta comunicação, mostraremos que a correlação entre o Parâmetro do Sujeito Nulo e a obrigato-riedade de ordem Verbo-Sujeito em orações gerundivas é demasiado forte quando se consideram dados do português antigo e de variedades dialetais do português europeu. Partindo de dados de dois corpora (Corpus Informatizado do Português Medieval e CORDIAL-SIN - Corpus dialetal para o estudo da Sin-taxe), mostraremos que, nestas variedades, podem encontrar-se quer ordens Sujeito-Verbo, quer ordens Verbo-Sujeito em orações gerundivas:

    (4) a. E, estando Elle em nós, reçebemos seus dões. (1504, Cat) b. E, elle estando em sua oraçon (...), veeo subitamente sobre elle hu~u~ grande lume do ceeo (...) (s. 14, CGE) (5) a. Agora, em abalando a senhora ainda quero ter uma conversa, que ele falta-me aqui umas peças do tear, quero saber onde elas estão. (MST16) b. Agora em eu vindo para baixo, querem ir ver além os molhos (...) como é que são? (MST34)

    Exploraremos a relevância de diferentes fatores na determinação das diferentes ordens de palavras (tipo de verbo, tipo de sujeito, estatuto informacional do sujeito, presença de conectores, valor semânti-

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    co da oração) e procuraremos dar conta da variação interlinguística através da especificação do domínio funcional nas diferentes línguas.

    A nossa hipótese é que as diferenças de ordem de palavras se relacionem antes com a especificação de traços do domínio funcional periférico, o que explicaria diferenças na legitimação de sujeitos em diferentes línguas (em francês não é possível ter sujeitos clíticos nestas orações) e nos possíveis valores semânticos associados às orações gerundivas. Seguindo Costa (2010), assumiremos que a aparente op-cionalidade pode ser explicada através de restrições de interface, estando as ordens Su-V e V-Su associa-das ao diferente estatuto informacional do sujeito.

    Construcións causativas e anticausativas no galego: o caso de aprenderMaría Beatriz Domínguez Oroña (Instituto da Lingua Galega,

    Universidade de Santiago de Compostela)

    No galego encontramos unha serie de pares verbais, como ensinar/aprender ou queimar/arder, que pre-sentan unha alternancia causativa-anticausativa nos predicados que conforman. Prototipicamente, o primeiro verbo de cada par constrúe predicados causativos –predicados nos que se presenta un evento que causa un cambio de estado–, aínda que tamén pode formar predicados anticausativos –aqueles nos que o cambio de estado se presenta como un proceso intrínseco do participante que o experimenta–, a través dun proceso de derivación de predicados; pola súa banda, o outro verbo do par só constrúe predicados anticausativos.

    Non obstante, ao analizar os resultados que nos ofrece un corpus lingüístico do galego medieval, como o TMILG (Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega), ou do galego contemporáneo, como o TILG (Tesouro Informatizado da Lingua Galega), encontramos construcións causativas do membro anticausativo. Co obxectivo de coñecer mellor este tipo de alternancia, nesta comunicación analizamos o caso concreto de aprender. Para iso definimos, desde unha perspectiva funcionalista, os principais marcos predicativos que presenta este verbo nos predicados tirados dos córpora lingüísticos mencionados, atendendo, principalmente, ao número de argumentos e as funcións semánticas e sin-tácticas que desenvolven. Tamén prestamos atención ao contexto deses predicados e ás características dos textos aos que pertencen para poder achegar información sobre o tipo de variación que se dá nas construcións causativas e anticausativas deste predicador léxico.

    A posição do sujeito na história do português brasileiro: sintaxe e estrutura informacional da sentença

    Sílvia Cavalcante (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

    No Português Brasileiro (PB), a ordem Verbo-Sujeito é restrita a contextos de verbos inacusativos ou construções apresentativas (Tarallo, 1993; Berlinck 1998; Kato, 1999; Kato, Duarte, Cyrino, Berlinck, 2006). Diversos estudos diacrônicos têm mostrado a diminuição da ordem VS ao longo tempo, não só em relação à ordem SV, mas também em diversos contextos sintáticos: o trabalho de Berlinck (1993) mostra uma mudança na influência de fatores condicionadores da ordem VS: de fatores discursivos para fatores estritamente sintáticos. Cavalcante (2014), analisando a ordem SV/VS em um corpus constituído de cartas familiares escritas entre os séculos XIX e XX que compõem o Corpus Compartilhado Dia-crônico (http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico) observou, além da diminuição da ordem VS ao longo do tempo uma diferença de uso entre os missivistas (Homens vs. Mulheres). No geral, as mulheres desde o fim do século XIX apresentam índices de VS menores do que os dos homens e um tipo de VS restrita a contextos inacusativos; ao passo que os homens apresentam VS em contextos morfossintáticos mais variados (sentenças interrogativas e subordinadas, por exemplo).

    Neste trabalho, retomo os dados de pesquisa anterior (Cavalcante 2014) a fim de testar a relação entre a diminuição da ordem VS e a estrutura informacional da sentença numa amostra constituída

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    de cartas pessoais pertencentes a cinco famílias escritas no Brasil e que fazem parte do Corpus Com-partilhado Diacrônico (http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico/). Para tanto, foi considerado o estatuto informacional do sujeito em sentenças VS levando em consideração a proposta de Duarte (2003). Os dados foram analisados segundo a metodologia de pesquisa de trabalhos quantitativos: foram levanta-dos e codificados para serem submetidos ao programa GoldVarbX (2005). Foram eliminados dos dados os sujeitos pronominais, nulos, e os pronomes relativos que exercem função de sujeito em orações sub-ordinadas relativas.

    Os resultados iniciais com duas famílias revelam uma diferença entre a data de escrita da carta: o índice de VS é maior em sentenças com sujeito focalizado ou novo nas cartas do Missivista Christiano Ottoni (final do século XIX), o que não foi observado nas cartas escritas nos anos 1930’s.

    Uma análise da realização do sujeito pronominal e da ordem VS no português brasileiro ao longo dos séculos XIX e XX

    Maria Eugênia Duarte (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Humberto Soares da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

    O português brasileiro (PB) tem sido considerado uma língua de sujeito nulo parcial, que licencia su-jeitos nulos referenciais em contextos estruturais bastante restritos e mantém sujeitos não-referenciais nulos. O objetivo do trabalho é mostrar que o PB não se revela como um sistema estável de língua de sujeito nulo parcial, nem no que diz respeito aos sujeitos referenciais nem no que diz respeito aos não- referenciais (ou expletivos) (cf. proposta em Roberts e Holmberg, 2010). Ambos os tipos de sujeito apresentam competição entre sujeitos nulos e expressos. Enquanto os nulos referenciais se mostram em competição com pronomes plenos, nos contextos de línguas de sujeito nulo parcial, os expletivos nulos aparecem em competição com constituintes (genitivos, dativos, locativos) alçados ou elementos inseri-dos na posição estrutural do sujeito. Entre os casos de alçamento aqui enfocados estão os inacusativos, que propiciam a chamada «inversão livre» em sentenças apresentativas. Os dados provêm de análises de peças de teatro escritas e ambientadas no Rio de Janeiro ao longo dos séculos XIX e XX. Evidências adi-cionais vêm de análises sincrônicas da fala carioca. O trabalho associa o modelo de estudo da mudança da Sociolinguística Variacionista com desenvolvimentos recentes da Teoria de Princípios e Parâmetros. Nossos resultados confirmam a hipótese levantada por Biberauer (2010), para quem o rótulo parcial pode abarcar sistemas muito desiguais, o que exige um exame rigoroso dos contextos que licenciam sujeitos nulos e da sintaxe das sentenças impessoais.

    ReferênciasBIBERAUER, T. 2010. Semi pro-drop languages, expletives and expletive pro reconsidered. In T. BIB-

    ERAUER et al.(eds) Parametric Variation: null subjects in Minimalist Theory. Cambridge: Cam-bridge University Press. 153-199.

    ROBERTS, I.; HOLMBERG, A. 2010. Introduction: parameters in Minimalist theory. In T. BIBERAU-ER et al. (eds) Parametric Variation: null subjects in Minimalist Theory. Cambridge: Cambridge University Press. 1-57.

    A posição do sujeito no Português medievalEsther Rinke (Goethe-Universität Frankfurt am Main)

    Esta apresentaҫão investiga a relação entre a sintaxe e a estrutura informacional no Português antigo e discute como explicar as mudanças ocorridas na ordem de palavras na história da língua portuguesa com respeito à estrutura sintática. Proporei que estão disponíveis três diferentes posições sintácticas: SpecvP, SpecTP e uma posição funcional (FP/TopP). Relativamente à evolução linguística, proporei que se perde a posição estruturalmente mais baixa (SpecTP) e, em consequência, FP/TopP torna-se a posi-

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    ção não-marcada do sujeito no Português moderno. Tomando como diagnóstico a posição do sujeito vis-à-vis advérbios curtos, pronomes clíticos, advérbios proclisadores/negativos e a própria negação ob-servam-se as seguintes ordens de palavras:

    a.) os sujeitos pós-verbais aparecem à direita, o verbo finito à esquerda dos advérbios curtos: (1) & esta grana sobredjta more senp(re) un nosso frade por jur do mosteyro;... (Lugo 1281,

    Maia 1986) Conclui-se que o verbo se desloca pelo menos para a posição T° (Martins 1994, 2002) enquanto que

    o sujeito pós-verbal permanece no interior do sintagma verbal (SpecvP) e faz parte de uma frase que expressa um juízo tético.

    b.) os sujeitos pré-verbais ocorrem à direita assim como à esquerda do pronome clítico e do elemento proclisador ou negativo:

    (2)a. E nos, don abbade, & ffrey Jo(han) M(a)r(tins) & ffrey Ssaluador ... assy o outo(r)gamos porlo conbento ... (Orense 1292, Maia 1986)

    b. das q(ua)es h(er)dades lhy eu hej ff(ei)ta Doaçon ... (Estremadura 1294, Martins 2001) Assumo com Martins (1994, 2002) que o clítico em (2a.-b.) é adjunto ao sintagma TP e marca a

    fronteira entre o domínio da periferia esquerda e do campo médio («Mittelfeld») da frase. O sujeito pode ou ocorrer à esquerda da categoria ΣP ou à direita do clítico dentro da categoria TP. No último caso, observa-se interpolação do sujeito e de mais constituintes (IP-scrambling no sentido de Martins 2002). Assinalam-se as seguintes mudanças linguísticas: a) a perda de interpolação e b) a cliticização progressiva dos pronomes objeto que se adjungem ao núcleo T°. Como consequência a posição mais alta do sujeito torna-se a posição não marcada do sujeito. Outra consequência é o surgimento de uma nova posição extra-frásica para os tópicos (Raposo 1996). Levando todos os diferentes aspetos em consider-ação conclui-se que as mudanças acima mencionadas refletem a reoganização da estructura sintáctica do Latim para a estrutura SVO das línguas românicas modernas.

    Uso variável de pretéritos fortes em português europeuPilar Barbosa (Universidade do Minho)

    1. Goals In the Minho region in Portugal, the 1st and 3rd person singular forms of strong preterites can be

    leveled and the form used for leveling can vary: (1) Pois ela estive lá três anos parada [68M3A] Anyhow she was1P.SG there three years still (2) Eu foi para a tropa em cinquenta e quatro [38H4B] I went3P.SG to the troop in fifty and four

    The goals of this paper are: (a) to determine which linguistic and social factors favor this variation, and (c) to offer an explanatory account of this phenomenon.

    2. Methodology We examined 50 interviews from the stratified corpus ‘Sociolinguistics Profile of the Speech of Bra-

    ga’. We selected speakers from three age groups (26-59 / 60 – 75 / > 75) and four different education levels (without degree / 4-9 school years /10-12 school years / university degree). A total of 3595 tokens were coded.

    We ran a mixed effect binominal analysis using Rbrul (Johnson, 2009), with five independent factors: ‘age’, level of education; ‘verb’, ‘subject expression’ and ‘subject position’. The factor ‘verb’ included the forms ‘estive/ esteve’ (1P/3P of to be-stative), ‘tive/ teve’ (1P/3P of to have), ‘fiz/ fez’ (1P/3P of to do) and ‘fui/ foi’ (1P/3P of to be and to go).

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    3. Results The regression analysis identified as main predictors the factors ‘speaker’ (a random effect), ‘subject

    expression’, ‘verb’ and ‘age’. Variable leveling is almost insignificant in the younger group, thus probably indicating a process of ongoing change. It rarely occurs with null subjects. Subject position does not have a predictive effect.

    There is a clear difference between ter/estar/fazer, on one hand, and ser/ir, on the other. While in the former case leveling can be realized by either the form for the 1st or the form for 3rd person, in the case of ser/ir only one form is used, namely the 3rd person form foi. There is also an individual tendency to use only one form for leveling: a given speaker either uses the 3rd person or the 1st person, but not both forms of one verb randomly. Thus, there is inter-linguistic variation in this regard.

    4. Theoretical consequences In our analysis, we follow the «late insertion» model of Distributed Morphology (Halle & Marantz

    l993). We develop an account of these agreement leveling effects that is based on the interaction between the internal syntax of the strong preterites and the late insertion of underspecified functional Vocabu-lary items. We propose a derivation of the different forms in the standard dialect and then we offer an analysis of leveling where intra-speaker variation is tied to the probabilistic application of impoverish-ment rules along the lines of Nevins and Parrot 2010 and Oltra-Massuet 2013. Inter-speaker variation is due to different choices as to which feature sets are subject to impoverishment: [+author; +participant] (= 1st person) or T. In the case a verb such as ter, this yields /teve/ or /tive/, respectively. In the case of ser or ir the resulting forms are homophonous, namely /foj/ in both cases.

    References HALLE, M. & MARANTZ, A. (1993). Distributed morphology and the pieces of inflection. In: Hale, K.,

    Keyser, S.J. (Eds.), The View from Building 20: Essays in Linguistics in Honor of Sylvain Brom-berger. MIT Press, Cambridge, MA, pp. 111–176.

    JOHNSON, D. (2009). Getting off the GoldVarb Standard: Introducing Rbrul for Mixed Effects Variable Rule Analysis. Language and Linguistics Compass 3/1, 359–383.

    LABOV, W. (1972). Sociolinguistic patterns. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press. NEVINS, A. & PARROTT, J. K. (2010). Variable rules meet Impoverishment theory: Patterns of agree-

    ment leveling in English varieties. Lingua 120, 1135-1159. OLTRA-MASSUET, Isabel (l999) On the notion of theme vowel: a new approach to Catalan verbal mor-

    phology. Masters thesis. Cambridge, MA: MIT Press. OLTRA-MASSUET, Isabel and Karlos ARREGI (2005) Stress-by-Structure in Spanish. Linguistic Inqui-

    ry 36-1: 43-84.OLTRA-MASSUET, Isabel (2013) Variability and allomorphy in the morphosyntax of Catalan past

    perfective. In: Ora Matushanksy & Alec Marantz (eds.) Distributed Morphology Today – Mor-phemes for Morris Halle. Cambridge, MA: Mass: MIT Press. 1-20.

    VIVAS, Vítor de Moura. (2010). A alternância vocálica no português: regularidade e sistematização. Cadernos do NEMP, vol. 1, n. 1, 33-44.

    WEINREICH, U., LABOV, W. & HERZOG, M. (1968). Empirical foundations for a theory of language change. In: W. Lehmann and Y. Malkiel (eds.), Directions for Historical Linguistics. Austin: U. of Texas Press.

    TEIXEIRA, Gabriel Sanches (2012). As formas verbais regulares e simples do português brasileiro: uma proposta à luz da morfologia distribuída. Doctorate dissertation: Universidade Federal de Santa Catarina.

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    Aproximación ó funcionamento do suxeito na construción dos verbos de movemento: comportamento prototípico e singularidades construtivas

    Soraya Domínguez Portela (IES Pazo da Mercé)

    O suxeito é unha categoría da gramática tradicional que se pode definir como un sintagma ou frase nominal que concorda co verbo en número e persoa. Adoita referir o axente da acción e situarse antes do verbo. Mais o que semella unha caracterización pechada, non deixa de ser unha descrición moi su-perficial que deixa innúmeras portas abertas ó redor dun concepto máis descoñecido do que se podería pensar nun primeiro momento.

    Unha frase preposicional, unha oración de infinitivo, unha cláusula de relativo son algunhas outras unidades que poden desenvolver o rol de axente da acción cunha plasmación no esquema sintáctico de suxeito; pero o suxeito pode proxectarse no esquema semántico tamén como o paciente da acción; incluso o suxeito pode non aparecer na oración, sexa por elisión ou por ser unha construción impersoal. Tamén encontramos contextos en que a concordancia entre suxeito e verbo non deixa de provocar dúbidas na falante, nun proceso de cambio lingüístico. Estas son só algunhas das cuestións que lle pode aparecer á investigadora cando tenta afrontarse a unha definición da figura sintáctica que nos compete. E a pregunta que se pode formular é: a que son debidas? Que pautas regulan cada unha das posibilidades descritas?

    Deste modo, na nosa intervención, buscamos describir o funcionamento deste rol sintáctico dentro do marco predicativo dos verbos de movemento. Precisamos acoutar a nosa análise a un ámbito semán-tico concreto; mais será a partir deste traballo e doutros parellos como se poderá propor un espazo que oferte unha caracterización máis completa e xeral que aínda está por facer.

    Dende a análise do corpus, atenderemos cinco parámetros que afectan a construción do suxeito: o tipo de unidade que desenvolve esta figura sintáctica, a súa capacidade de elisión, a indeterminación do sux-eito, a posición dentro da oración e a súa proxección no esquema semántico. A delimitación das diferentes casuísticas axudaranos para propor unhas pautas de comportamento que nos leven a poder entender que condicionantes ou contextos son máis propios de cada unha das posibilidades de construción desta figura.

    Sujeitos não-nominativos no português brasileiro: distribuição e variaçãoAroldo Leal de Andrade (Universidade Estadual de Campinas)

    O português brasileiro apresenta sujeitos não-temáticos, que podem ter valor genitivo – cf. (1a) – ou locativo – cf. (2a) -, e têm sido objeto de estudos desde o trabalho seminal de Pontes (1987). As cons-truções em que ocorrem, identificadas em alguns trabalhos como de «tópico-sujeito» (Galves, 1998) devido à combinação de anteposição de um constituinte mais encaixado - cf. as variantes em (1b) e (2b) com a presença de concordância verbal, vieram a receber estudos específicos sobre sua distribuição nos últimos anos, após algumas análises voltadas para a questão da concordância. Nessa comunicação re-tomo tais abordagens sobre estrutura argumental a fim de identificar as previsões que elas fazem para a variação no uso dessa construção: uma de Munhoz & Naves (2012), que observa um contraste entre ver-bos alternantes e verbos não-alternantes; e outra que supõe a existência de uma predicação secundária nos contextos relevantes (Andrade & Galves 2014). A partir disso, relaciono os sujeitos não-temáticos como um caso tipologicamente parecido ao instanciado por sujeitos não-nominativos em várias línguas do mundo, como o Hindi. No que respeita à variação intralinguística, buscarei demonstrar o caráter in-formacional dos sujeitos não-temáticos como tópicos de continuidade, a partir de dados de corpora do português brasileiro. A partir desses resultados, apontarei que a mudança em causa adveio da erosão em determinados usos de preposições funcionais, fato que vem sendo explorado em uma série de trabalhos no âmbito dessa variedade do português. O português europeu não teria desenvolvido essa construção por manter mecanismos que garantem a atribuição de caso (genitivo ou locativo).

    (1) a. A mesa quebrou o pé. b. O pé da mesa quebrou.

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    (2) a. Essas casas batem muito sol. b.Bate muito sol nessas casas.

    ReferênciasANDRADE, Aroldo & Charlotte GALVES. 2014. A Unified Analysis for Subject Topics in Brazilian

    Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics 13:1, 117-147. GALVES, Charlotte. 1998. Tópicos, sujeitos, pronomes e concordância no Português Brasileiro. Cader-

    nos de Estudos Linguísticos, 34, 19–32. MUNHOZ, Ana Terra & Rozana NAVES. 2012. Construções de Tópico-Sujeito: uma proposta em ter-

    mos de estrutura argumental e de transferência de traços de C. Signum, 15, 245–265. PONTES, Eunice. 1987. O tópico no português do Brasil. Campinas: Pontes.

    Sujeitos oblíquos nos crioulos drávido-portuguesesHugo Cardoso (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)

    Na antiga costa do Malabar fundaram-se, no início do séc. XVI, os primeiros estabelecimentos portu-gueses na Ásia. Aí vieram a ser falados crioulos de base lexical portuguesa desenvolvidos em contacto com o malaiala, a língua dravídica dominante na região, que chegaram a ser dados como extintos mas, apesar da escassez de falantes, têm vindo a ser documentados. O trabalho de descrição assenta em dados orais recolhidos em Vaipim (Cochim) e Cananor. Nesse processo, observa-se que os crioulos do Malabar convergiram de forma notável com as estruturas gramaticais do malaiala. Aqui, exploraremos paralelis-mos na valência de certos verbos que atribuem aos seus sujeitos uma marcação casual não-prototípica associada em geral a argumentos com a função de objecto. Ilustremo-lo com o verbo gostar:

    (1) Crioulo do Malabar [Cananor] tudə-pə mãgɑ tə-gostɑ tudo-OBL manga PRS-gostar ‘Todos gostam de manga.’(2) Português todos gostam de manga(3) Malaiala [Asher & Kumari 1997: 199] ennikə avaɭe işʈam aaƞə 1s-DAT 3sf-AC gosto ser-PRS ‘Eu gosto dela.’

    Como se pode notar, a forma verbal gostɑ no crioulo do Malabar (1) deriva do étimo português (2) mas, quanto à atribuição de caso, trata os seus argumentos de forma muito semelhante ao malaiala (3). A distinção na caracterização dos marcadores casuais associados ao primeiro argumento em (1) e (3) deriva de uma diferença entre o crioulo do Malabar e o malaiala, que é a de o primeiro marcar de forma indistinta objectos directos (animados) e indirectos.

    Este padrão de marcação do sujeito manifesta-se não apenas com verbos psicológicos que tenham na sua estrutura argumental um Experienciador mas também com verbos de posse, tal como acontece no malaiala e demais línguas da Ásia Meridional. Com efeito, os chamados ‘sujeitos dativos’ constituem uma das características mais robustas do Sprachbund indiano (v. Emeneau 1956; Subbarao 2012); ao adoptarem estas estruturas argumentais, os crioulos do Malabar caminham pois para a integração ti-pológica na área linguística onde se inserem. A reconstituição diacrónica do processo não é fácil, dada a escassez de dados linguísticos disp