24
Outsider «...O tempo pára e a caixa de música abre-se......» TIME SHIFTER DANIELA CARVALHO GATILHO # Nº16.FEVEREIRO.2015 Go Louder IV Fauvrelle, Petrix, Daniel Fontera e Miguel Brandão no Spark. “aprendiz de feiticeiro”, na área da Animação, tem já na história várias realizações “livres”. Exposição de Rui Oliveira Artista famalicense com exposição patente na Gatilho/Porta43

Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

Outsider «...O tempo pára e a caixa de música abre-se......» TIME SHIFTER

DANIELACARVALHO

GAT

ILHO

# N

º16.

FEVE

REIR

O.2

015

Go Louder IVFauvrelle, Petrix, Daniel Fontera eMiguel Brandão no Spark.

“aprendiz de feiticeiro”, naárea da Animação, temjá na história váriasrealizações “livres”.

Exposição deRui OliveiraArtista famalicense comexposição patente naGatilho/Porta43

Page 2: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

Livro: As Vinhas da Ira (1939) de John Steinbeck(Lisboa, Abril de 2011, Editora Livros do Brasil)

“O banco, o monstro, tem de recolher sempre lucros. Não pode esperar. Senão morre. Não, os juros estão continuamente a subir. Quando o monstro para de crescer, morre. Não pode estar sempre do mesmo tamanho.”

O romance de Steinbeck narra a história de Tom Joad e sua família enquanto viajam de Oklahoma para a Califórnia, em plena Grande Depressão.A história repete-se. A actual crise, filha da crise do subprime, produziu novos pobres e novos imigrantes, como todos conhecemos.Mas Tom Joad está disposto a quebrar a lei civil e a lutar contra mecanismos económicos impessoais para seguir os princípios humanos e universais da moral e da justiça.Um exemplo a não perder, um romance “sobre a dignidade humana em condições desesperadas”, um livro para ler.

Filme: A Leste do Paraíso (1955)Realização e produção: Elia KazanCom James Dean, Julie Harris...

“O assunto é o mesmo que cada homem tem utilizado como tema: a existência, o equilíbrio, a batalha e a vitória, na eterna guerra entre a sabedoria e a ignorância, a luz e a treva, o bem e o mal.”

Assim define Steinbeck o universo de A Leste do Paraíso.Elia Kazan assinou um belíssimo drama psicológico sobre as relações familiares, um filme ambíguo com a dimensão bíblica do episódio de Caim e Abel., que se desenrola durante o período crítico da 1ª Guerra Mundial no vale de Salinas, na Califórnia.Lee, o criado chinês, faz a certa altura esta afirmação notável: “Não dobrei a espinha perante os deuses, mas surgiu em mim um novo amor por esse instrumento brilhante que é a alma humana. É uma coisa maravilhosa e única no mundo. Está sempre a ser atacada e nunca é destruída porque TU PODES.”Muito actual.

Álbum: The Ghost of Tom Joad,Bruce Sprinsteen, 1995Grammy Award, 1997,Melhor ÁlbumFolk Contemporâneo.

E disse Tom Joad: “Mãe, onde quer que haja uma carga policial, sempre que um bébé chore com fome, onde quer que haja uma luta e sangue e ódio no ar, olha para mim, mãe, eu estarei lá. Sempre que haja alguém lutando por um lugar para ficar ou por um emprego decente, mãe, você vai ver-me.”Springsteen é um digno representante do rock operário. Aqui com Tom Morello, a cantar a magnífica música de protesto The Ghost of Tom Joad.

p’ra ti[ ]

JOSÉ BASTOAconselha criações culturais plenas de existencialismo, em

que a vida e o Homem e as suas eternas dicotomias sãoabordados quase «obcessivamente». Na música, a escolha recaisobre o que apelida de, «digno representante do rock oprário»,Bruce Springsteen. A gravar na mente para consulta as sugestóesdeste activista: sempre que alguém no, alutar contra uma injustiça.

Page 3: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

curtas[ ]

BUGALHOSTarde de músicatradicional emAldeia Velha

A jovem banda portuense Bugalhos esteve na tarde de domingo, no passado dia 11 de Janeiro a dar música às gentes de Aldeia Velha – São Simão. O concerto e posterior convívio foram promovidos pelo projecto Enred'arte.A banda fez a sua “estreia mundial em Amarante” segundo a percussionista e vocalista Rita Só.Os Bugalhos são uma banda de música tradicional e nessa tarde presentearam o público (muito variado no que respeita a faixas etárias) com versões de temas mais tradicionais e com um ou outro esboço original, tendo em conta que a banda só se formou nos finais de 2014.Blandino Soares, Rita Só e Ricardo Sousa são o núcleo do grupo a quem se juntam como convidadas Isabel Martinez, Elina Coon Matracis e Nézia Alexandra. De todos os músicos, Blandino é talvez o mais experiente na medida em que trabalha na música tradicional há cerca de 20 anos com as bandas Chamaste-m'Ó? e Comvinha Tradicional.O objectivo do grupo é gravar um álbum com temas “novos e velhos, tradicionais e modernos”, como afirma Blandino.Para os demais interessados aqui fica a sua página do facebook:https://www.facebook.com/pages/Bugalhos

Na manhã de 10 de Janeiro teve lugar a Assembleia Geral do Cineclube de Amarante. A sala para a reunião foi gentilmente cedida pela Casa da Juventude.Os pontos focados e debatidos foram os seguintes: eleição dos corpos sociais para o período de 2015/2017 e respectiva tomada de posse e relato da reunião com o Sr. Presidente da Câmara quanto ao apoio financeiro para o ano de 2015, à requalificação da sala Teixeira de Pascoaes e aquisição de equipamento digital e de som para a sala.Houve também tampo para dedicar à parceria entre o Cineclube e a Casa da Juventude na realização da 2ª edição do European Short Films Amarante e para que Elsa Cerqueira apresentasse os seus projectos como representante do Plano Nacional de Cinema em Amarante.Por tudo isto, a sala Teixeira de Pascoaes encontra-se encerrada e ainda não é possível lançar uma data para o recomeço das noites de cinema.

CINECLUBEAssembleia Geral elegeos novos corpos sociais.

por Gabriela Teixeirafotografia Ricardo Coelho

por Gabriela Teixeirafotografia Cineclube

Page 4: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

curtas[ ]

CLUBE DELEITORESDE AMARANTE

Teve lugar na manhã de sábado, 17 de Janeiro, na Mercearia do Covêlo a primeira reunião do Clube de Leitores de Amarante do ano de 2015. A obra em discussão foi Eusébio Macário de Camilo de Castelo Branco, um exemplar naturalista da sua escrita. Para os que ainda não leram a obra fica a pequena curiosidade relativamente ao facto da nossa Amarante ser mencionada quatro vezes ao longo das páginas deste romance.Um agradecimento especial à dona da Mercearia que presenteou o grupo com uns belíssimos petiscos que muito aprouveram a quem os degustou.A próxima reunião/debate terá lugar na Porta 43, pelas 10h da manhã do dia 28 de Fevereiro e terá como tema maior Os Fidalgos da Casa Mourisca de Júlio Dinis.Quem quiser comparecer será muito bem-vindo pelos restantes elementos do CLA.

O Plano Nacional de Cinema (PNC) está a ser implementado na Escola Secundária/3 de Amarante, numa iniciativa pioneira na região de Amarante. A coordenadora do projecto, Elsa Cerqueira, refere que “uma educação integral tem que desenvolver a literacia fílmica, promovendo a interdisciplinaridade e a intertextualidade. Por isso, o PNC não se poderá confinar a uma escola, mas deverá acolher e ser acolhido por todas as escolas da região potenciando um trabalho colaborativo que permita o acesso de todos os alunos a obras cinematográficas nacionais e estrangeiras.”O PNC conta com os apoios da Câmara Municipal de Amarante e do Cineclube de Amarante.

O Plano Nacional de Cinema está a ser implementadona Escola Secundária/3 de Amarante

(PNC)

por Gabriela Teixeira

por Elsa Cerqueiracartaz Paulo Martins

Page 5: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015
Page 6: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

A Go Louder deu cartas mais uma vez! Tendo vindo a apostar no clubbing, em Amarante, e no techno de qualidade, desde a sua fundação, já por cá passaram nomes como Diana Oliveira ou Miguel Rendeiro, e agora, Fauvrelle que marcam uma tendência de se fazer música em Portugal, explorando as diferentes vertentes do som electrónico. Assim, no passado dia 21, no Spark, apresentaram um line up de luxo, tendo Carlos Fauvrelle como cabeça de cartaz, Petrix e Miguel Brandão, este último responsável pela abertura da pista, ainda vazia e que continua a provar que o party people amarantino, à semelhança da maioria dos ravers nacionais, começa a fazer a festa quando ela já vai a meio. Numa incursão pelo house dançavel e melodioso, o amarantino Miguel Brandão fez as honras da casa para um público reduzido, em total desacordo com o nível do som que ofereceu. Embora poucos, os bailarinos de sorriso na cara, contagiavam os ânimos, ou não fosse a Alegria uma componente obrigatória deste tipo de festas. No entanto, a casa encheu quando Fauvrelle tomou conta da cabine. Também conhecido como Morrice, nas andanças da velha guarda do Techno, apresentou um trabalho baseado num beat de cadência forte e envolvente, deixando antever as suas origens enquanto dj de uma dimensão musical “mais inteligente”, talvez, da e music, como o techno parecia ser… É difícil não nos deixarmos ir na “viagem”! O Dj parece ser o mentor de uma multidão que, livre, dança num ritual tribal, em que palavras como “Mistica” ou “transcendência” fazem parte da rotina. A viagem é altamente emotiva e o dancefloor prende-se numa espécie de metafísica – “para além da física”, em que se aprofundam outros significados cheios de beleza e fascínio. “As sensações adquierem espiritualidade” e o intelecto emocionaliza-se… Andreia Pinheiro, 19 anos, estudante na Academia de Calçado e Design já há muitos anos que acompanha o evoluir da scene. Gosta de hard techno! Mostrou-se satisfeita, já ao final da noite, com o desempenho dos “guias espirituais” do CLub. “Gostei. Não é música muito soft é mais pesada; puxa por nós, levando nos, a outras paragens”, acrescentando entusiasticamente, “acho espectacular termos oportunidade aqui em Amarante, de conhecer DJs conceituados e novos talentos que estão a surgir no djjing na nossa cidade e termos acesso a boa música!” Como nos diz, e como é sabido, por norma, quem mantém estas aspirações de conhecimento e enriquecimento musical “tem que sair de Amarante para poder apreciar”. Ali, beira rio, naquela noite em que poucas centenas de rapazes e raparigas se transformam em seres mais conscientes, despreendidos de concepções limitadoras, em que a palavra de é ordem é “dançar”. Até porque a Go Louder tem por filosofia contribuir para as mais variadas causas humanitárias sociais: parte das receitas reverteram a favor da causa Há Ir e Voltar, que visa a construção de uma escola em Kibera, Nairobi, o bairro mais pobre do mundo. Quando a diversão se alia a uma causa superior, o mundo rola melhor para parâmetros mais justos! Há força espiritual na sala… É então que Petrix, um dos mentores da produtora, dá início a uma récita technóide humano sensual. Intenso, o Impacto do seu set. Os ravers entram em “êxtase planetário”! …e porque há noites assim, que marcam a história da música em Amarante!

Page 7: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

No final da noite, a Gatilho trocou umas impressões com Fauvrelle. Interessante o conceito abordado, “de controlar as pessoas através da música”, donde se subentende uma poderosa arma de “manipulação criativa”, o que pode querer dizer, que no fundo, é fazê-las evoluir para níveis de consciência mais altos. Sabe-se que numa linguagem aritmética e inteligente, estas vertentes da E music interagem com zonas da mente a que habitualmente, o homem não tem acesso, como o subconsciente, através das chamadas “mensagens subliminares”. “O techno é então subliminar”?! Parece que sim. Fica satisfeita a curiosidade dos que acreditam na música como umas das bases para o saber sentimental, que também é conhecimento e “controlo”. As emoções tendem a intelectualizarem-se ao longo da conversa, ou não estivéssemos perante um antigo Dj de Techno! Construída – a E-music - , por diferentes e varias camadas de som e combinações, “se for música bem feita tende a ser subliminar” diz-nos este artista que deixa transparecer a verdade de “deus universo”, na forma como se expressa e pela música que toca. É quase como uma subconsciência pensante, como diriam os criacionistas lusitanos. Para além do auto-conhecimento que proporciona, trata-se de elevação e descoberta permanente do Eu divino e misterioso, emanente desde sempre na música deste produtor. E, engane-se quem pensa que há conformismo nos pioneiros da scene. Morrice defende “uma revolução! Há coisas boas a sair, mas o clima geral é de estagnação. O house e o techno alimentam-se do house e do techno de há 20 anos atrás. Quando o Techno era mais fresco”. Quando surgiu a House music em Portugal, nos anos 80/90, pelas mãos de Tó Pereira, um dos seus colaboradores mais “polémicos” o movimento respirava Criatividade. Mais recentemente já, produziram Hot Room, juntos. “Amigos de estrada”, decidiram levar essa amizade mais longe, produzindo malhas que caem sempre bem. Este produtor de um beat escuro, mas que bate de forma perfeita na “mente”, aqui, serve-se da humildade para explicar que, Hot Room que, no nosso entender, é uma malha “relativamente morna”, comparando com a recente Rumble (“Estoiro”), esta capaz de causar Sensação entre a produção nacional e mundial que, “Hot Room foi trabalhada sobre pressão, tendo surgido algo mais imediato enquanto que Rumble decorreu num contexto mais relaxado, em que deixamos fluir as nossas ideias”. Agora, esperam-se temas que vão nesse sentido: “mais complexos”, adianta. Adivinham-se, portanto, “mais cerebrais” … Prepare-se o party people de Amarante e arredores planetários, para uma viragem no Pensamento colectivo. No fim, define-nos como “um party people muito open mind”, “podes passar som mais pesado ou mais melodioso … O que interessa é “saber conduzir bem” (risos) Há vibração, então! É o poder do Dj e, por isso, se diz na gíria electrónica: “God is a DJ”!!

por Carla Bentofotografia João Pinheiro

Page 8: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015
Page 9: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015
Page 10: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

DANIELACARVALHOA amarantina Daniela Carvalho é uma

“aprendiz de feiticeiro”, na área da

Animação, tendo presença marcada

no Flip, o Festival de curtas que a Gatilho

tem em mãos! Apesar dos seus 24 anos,

tem já na história várias realizações

“livres”, inclusive uma passagem pela

música enquanto realizadora. Quando a

liberdade “é medida pela possibilidade

de materializar pensamentos” numa

“arte maior”, que tem vindo a marcar

terreno no sector da publicidade, um

mercado que pretende explorar.

Sempre que a Criatividade informa

e “alerta consciências”.

entrevista [ ] por Carla Bento

Page 11: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015
Page 12: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

O que é a animação? Parece ser uma f o r m a i n t e l i g e n t e , m a i s “Libertadora e imaginativa”, nas tuas próprias palavras, de recriar a realidade “imaginária do mundo” ou a sua irrealidade?

Ambas...nenhuma! A animação pode ser o que nós quisermos, pode acrescentar realidades e irrealidades à realidade. Não diria mais inteligente, mas diria mais pura, mais crua e por consequente sim, mais libertadora, sendo que, neste caso, a liberdade é medida pela possibi l idade de materializar pensamentos. Por vezes a realidade pode ser aborrecida, sempre com as mesmas formas cores e contornos...

Qual o processo de realizar uma curta metragem?! Já tens algumas na bagagem, apesar dos teus 24 anos?

Tal como na construção de uma longa-metragem, o desenvolvimento de uma curta metragem respeita três fases de produção a pré produção, a produção e a pós-produção. A primeira fase procura estabelecer o conceito, o argumento, o estudo de personagem, o storyboard, enfim, todos os ingredientes que vão servir como matrizes do projeto. A produção é o conjunto de técnicas utilizadas para dar vida ao conceito e vai depender do tipo de projeto. Por fim, a pós produção é onde se limam as últimas arestas do projeto, corresponde aos processos de edição e tratamento de imagem, sincronização do som, enfim, é onde se acrescentam os detalhes que tornam a experiência mais autêntica. Costumo dizer que os únicos momentos em que me s into verdadeiramente feliz no decorrer do projeto são, o momento da concepção da ideia e o momento em que essa ideia se materializa. O processo em si, é muito desgastante. E só se justifica pela possibilidade criar algo.

Quais os ingredientes individuais – se assim podemos dizer que podemos apelidar de comuns, na tua obra – a que recorrer para uma obra “perfeita”, de sucesso?

Tudo aquilo que faz dos meus projetos únicos não os faz perfeitos... Sou uma aprendiz nesta área, ainda não encontrei a minha receita.

Segundo o que dizes esta aventura aconteceu porque te deixaste seduzir pelo “Poder da imagem e pelo seu fascínio”… “Uma imagem vale mais do que mil palavras?

A imagem é sem duvida uma forma de comunicação

Page 13: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

O artista Banksy é um ótimo exemplo. A sua obra é exposta na rua, visível para todos e carregada de sátiras sociais.

Que aspectos te fascinam nesta exploração das técnicas de animação? A quais costumas recorrer?! Fala-nos um bocado dos seus “efeitos” e ilusões ….

Uma das técnicas de animação que mais me fascina é o stop motion. Onde o objecto de animação é palpável bem como todos os cenários e ínfimos detalhes. A fantasia ganha dimensão física e mistura-se com a realidade. Cedo à nostalgia e volto a sentir-me pequenina. É provavelmente a técnica mais minuciosa e trabalhosa, porém a mais imersiva para quem a trabalha. Usei esta técnica em alguns projetos, e gostava muito de a conseguir explorar melhor. Anseio pelo dia em que me vir envolvida numa grande produção deste género.

“Oferta por tempo limitado” foi o teu trabalho para Projecto final, uma unidade no âmbito curricular no curso… O tempo é” abstracto”, não parando de fluir ?

Nesse caso não, o tempo é concreto. A curta explora o conceito de tempo e a eterna problemática humana relativa à aceitação da morte, pretendendo assim expor a minha própria sensibilidade sobre o tema. Passa-se num universo semelhante ao nosso, habitado por androides pensantes, conhecedores da sua data de expiração. Assiste-se aos últimos minutos de vida de John Wonderlust e à sua derradeira introspeção de como foi viver e como é preparar-se para morrer. No fundo, a retrospectiva de uma vida que sempre teve os dias contados.

poderosa que pode conter inúmeros significados e interpretações. O facto é que muitas vezes as palavras não traduzem exatamente tudo aquilo que sentimos e dessa forma sim, por vezes a imagem vale mais que do que mil palavras.

Abordar artisticamente a Injustiça trará alguma modificação no real? Na sensibilidade individual – e a arte é acima de tudo emotiva -, alterando a indiferença e despertando consciências?! Ou é apenas “Phantasia”, como de outra realidade paralela se tratasse?!

Sim, é uma forma válida de manifestação como todas as outra. Como tal poderá servir para despertar consciências.

Page 14: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

A animação é uma arte no teu entender?

Sim, se esse for o objetivo... Da mesma forma que nem todas as fotografias são arte, nem todas as animações o são. O que define o objecto artístico é a sua intenção e abordagem sensível. Hoje em dia a animação é usada com diferentes propósitos, nomeadamente o comercial e o informativo.

Achas que os responsáveis pela educação continuam a encarar a Animação como uma “arte menor”? São poucos os fundos e os apoios, costumam chamar-se “Resistentes” aos que nestas “areias se movem” …

Quem são os responsáveis pela educação? Se se referirem aos educadores, não considero que os meus a encarassem como uma arte menor, pelo contrário. Ao longo da minha formação encontrei vários professores que me inspiraram e aliciaram a prosseguir nesta área. Os apoios estatais são muito poucos e sei que não é com eles que posso contar. Felizmente as técnicas de animação têm vindo a conquistar o mercado publicitário e este será o meu porto mais seguro. Em paralelo tenciono continuar a fazer as minhas pequenas produções.

“imaginar é educar com fantasia” e a animação “como estimulante de capacidades fantásticas no universo infantil”… Que te parece uma vertente mais pedagógica da Animação? A Rua Sésamo faz parte do Imaginario colectivo…

É sem dúvida uma estratégia de educação interessante, sabemos que à partida as crianças são fãs de animação e dessa forma presume-se que estarão mais receptíveis para assimilar conhecimentos.

Foi fácil criar Gabriel o “amigo invisível” da miúda tímida com o mundo, talvez?!

Na verdade a personagem feminina da curta é inspirada no filme Amelie, a graciosidade do filme teve um impacto tão grande no cinema que quase lhe podemos atribuir um novo género fílmico. “Ah, este é um Amelie!”

Segundo o teu conhecimento, o que prevês, em Portugal, para o futuro da animação?!

A curto prazo, não prevejo grandes investimentos económicos nesta área. Porém, a animação tem vindo a ganhar território em Portugal. Os meios digitais vieram optimizar os processos para quem trabalha com animação e

Page 15: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

dessa forma acredito que as coisas estejam a mudar.

Existem correntes e movimentos!? E figuras importantes que contribuíram para inovar e trazer novos significados da arte ao mundo?

Sim, sem dúvida. As condições históricas do início do século XX, revolucionaram por completo o pensamento e as atitudes dos artistas. Com o surgimento da fotografia, por exemplo, deixa de fazer sentido retratar a realidade através da pintura. Desta altura são vários os artistas que contribuíram na inovação do significado da arte. Um dos nomes que não posso deixar de referir é Marcel Duchamp que aprecio pela sua irreverência. Outro nome importante é Eadweard Muybridge, fotografo que fez os primeiros estudos de imagem em movimento. Entre muitos outros...

Tens projectos na gaveta?

Confesso que ultimamente me tem sido difícil envolver em novos projetos, não tenho conseguido gerir bem o pouco tempo livre. Por forma a combater isso mesmo tenho um “sprint” combinado com um amigo, que consistirá em desenvolver uma pequena animação num só fim de semana!

Como vês o Flip, o Festival de curtas de animação que a Gatilho pretende levar a bom porto, no fundo, para promover uma área pouco promovida apesar de “convidativa” e pelo impacto que tende a criar pela sua natureza do fantástico?!

É uma excelente iniciativa, é com muito agrado que vejo a animação ser promovida em Amarante e Amarante ser promovida pela animação. Vai com certeza deliciar os que por lá passarem.

entrevista[ ]

Page 16: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

RUI OLIVEIRA

As obras pictóricas do artista plástico Rui Oliveira são habitadas por divindades quer da mitologia egípcia (Osíris, Anúbis), quer da mitologia grega (Thanatos), por seres reais e imaginados, urdidos por violentos contrastes cromáticos. As pinturas, manifestações viscerais do seu autor, reenviam o espectador para um universo onde onírico, o fantasioso, o temor, os medos, a revolta e o maravilhoso ressurgem e se fundem. Se nos fixarmos nos quadros do seu primeiro período, todos a preto e branco, perceberemos que para o pintor a experiência da cor implicou uma cedência, uma longa e angustiada caminhada, ainda que apoiada pelo Mestre Cruzeiro Seixas, e uma conquista porque a “cor era um sítio para onde eu não queria ir”. No diálogo que tive o privilégio de ter com ele, captei que a cor funciona segundo a dialéctica dos opostos: “tira força ao quadro mas abre-lhe outras portas” e que o seu processo de criação é análogo ao automatismo praticado pelos surrealistas. Como refere, “Quando estou a trabalhar levo-me à exaustão, à loucura” e depois “nem me lembro do que fiz e como fiz”. “Não será o temor da loucura que nos forçará a hastear a bandeira da imaginação a meio mastro” é a asserção de André Breton no Manifesto do Surrealismo, 1924, que Rui Oliveira cultiva e exercita. Um artista para quem a pintura implica um processo simultâneo de alienação total e de reencontro com a dimensão mais inacessível e profunda do psiquismo, transgredindo com/pela Arte a lucidez aparente ou a “patologia da normalidade” (Erich Fromm) merece ser (re)visitado.

Exposição patente ao público até ao dia 6 de março na Gatilho / Porta43.

por Elsa Cerqueirafotografia Diogo Cardoso

Page 17: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

TIME SH FTERI

Page 18: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

Sónia Vicente e Raquel Devesa são as Time Shifter, que sobem a palco

no Centro Cultural de Amarante, no próximo dia 6 de Março, “para chocar

consciências”, num espetáculo que viaja entre o trip hop e o

experimental. É a chamada da Alma, explorando os contrastes do homem,

“o que seria a mente sem loucura?”, ao som do violoncelo, acompanhado

pela voz e musica eletrónica. Uma estética em palco que atua “como

despertador” para mundos imaginários e para a “libertação de egos e

ideias pré-concebidas”. Elas são as Arquitectas sonoras do Ambiente,

criando e recriando sempre obededecendo a um conceito shocking.

A não perder.

TIME SH FTERIInventando Mitos Urbanos

Page 19: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

As Time Shiffter escondem um conceito “shocking” na música que criam? Obedecendo um pouco ao non sense irracional de uma corrente dadaísta que sempre esteve implícita no Experimental? Time Shifter - Não escondemos, nós somos um conceito “shocking” que para nós não é minimamente chocante, tudo é feito de uma forma bastante natural e espontânea, basta responder à alma, pelo menos à nossa. Compreendemos no entanto que por ser algo inovador, possa chocar alguns. Não obedecemos a nenhuma regra o nosso processo criativo é bastante simples, não obedecemos a parâmetros, obedecemos apenas a sentimentos e emoções.

Dizem que “têm a preocupação constante de exprimir novos ambientes”?! Criam-se novas “arquiteturas cénicas e atmosféricas” com o violoncelo, os sons electrónicos e a voz?! E toda a performance “fantástica” das artistas?

Time Shifter - Sempre que preparamos um novo espetáculo temos a preocupação de nos tentarmos inserir harmoniosamente com o local em questão. A partir daí a caixa ganha a sua própria identidade e nos limitamo-nos a segui-la.

Page 20: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

A vossa música parece resultar numa mistura de “elementos compositivos regressivos, que despertam zonas luz e algumas mais obscuras da consciência”, vinda de planetas distantes e futuristas … Como decorre o vosso processo criativo e o que costumam ter em mente, enquanto agentes criadores de um grupo que combina o trip hop e o experimental?!

Time Shifter - O que seria da luz sem as trevas? O que seria da mente sem a loucura? É nesse contraste que se cria o equílibrio, é nesse pararelismo de emoções que a alma desperta para se encontrar.O nosso processo criativo passa por explorar novas formas de dialogar com o nosso âmago interior em busca de uma nova identidade artística. Tentamos libertar-nos de egos e idéias pré concebidas.

Tendo em conta os vossos espectáculos, há pouco no Breyner 85, “a abstracção poderá ser muito bem o último nível do Pensamento?! Conseguem ler o que vai na mente do espectador de um espectáculo vosso?“Há quem diga que existe por aí uma caixa que viaja no tempo para te encontrar” . Alguns teóricos defendem que a música experimental usa o niilismo para se afastar de todos os géneros musicais e por outro lado, para se aproximar da Natureza … ou do “âmago da almahumana”! É uma caixinha de som “viajante”, a vossa? A que cria e recria consciências musicais?!

Page 21: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

Time Shifter - Não conseguimos “ler” mas conseguimos sentir. Tentamos criar um espaço no pensamento de quem nós vê para que se permita a si próprio abstrair-se de nós e abraçar o seu Mundo imaginário, a fantasia, um Mundo quase empírico. Gostamos de brincar com essas texturas do subconsciente, nós trazemos momentos do passado que querem viver no futuro. Um futuro de fantasia criado por nós.

Dizem os filósofos e neuro cientistas que o som do violoncelo, que pode atravessar “as regiões escarposas da rudeza á melancolia” é possuidor de qualia filosófico: “as propriedades das experiências sensoriais são, por definição, não cognoscíveis na ausência da sua própria experiência directa”. No fundo, descreve as características subjectivas das experiências mentais conscientes… Já pensaram que as “irrealidades” que inventam podem funcionar como estímulos para zonas mais adormecidas da consciência?! Explorando um mundo infinito de sensações, surgindo imaginação e contemplação estética que podem mudar o mundo?

Time Shifter - As frequências que o som de um violoncelo emana são as que mais se assemelham com a voz humana é um instrumento magnífico e repleto de alma e tem a capacidade de nos fazer sentir os extremos, da aspereza à tristeza. A música triste é pura terapia da alma, lava o que as lágrimas não conseguem enxugar. Temos plena consciência que a nossa estética em palco e a nossa forma de estar funcionam para quem nos vê como um despertador para o tal Mundo imaginário que falávamos à pouco.

Page 22: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015

A vossa música é um Acto continuum de um “admirável mundo novo”, onde se misturam sonoridades que são aplicadas de maneiras não convencionais ou a combinação de diversas vertentes musicais, como a electrónica ou a clássica. Há espaço para este tipo de experiência estética, em Portugal?!

Time Shifter - Claro que há, somos muito optimistas nesse sentido até porque o feedback de quem nós vê e de quem nos ouve tem sido incrível e lá está, cada vez mais, há quem procure novas sensações, novas formas de vivenciar um espetáculo. A caixa está pronta para viajar para todo o lado, está pronta para quem a quiser receber.

Parecem libertar-se do papel de meros executantes para se elevarem ao lugar de conceptualistas do som, ou a criação de realidades mentais … É algo deveras visionário, no sentido de serem responsáveis pela modulação das frequências humano sensuais e fantásticas, que compõem o Imaginario Colectivo?!

Time Shifter - Discordamos que alguém tenha de se dissociar de ser executante para se elevar a seja o que for, até porque quando crias estás a conceptualizar e tens de conseguir executar o que crias certo? Nós acreditamos em princípios básicos como a humildadee o silêncio.

Têm rituais antes de subirem a palco?

Time Shifter - Vários, mas são secretos...

O que esperar do concerto agendado para o Centro Cultural de Amarante?! Time Shifter - Gostaríamos de aproveitar para agradecer esta oportunidade que a Gatilho nos proporcionou e convidar todo o público local e não só a assistir a uma performance multidisciplinar de 40 minutos onde o som, o movimento, a luz, o cenário e as projeções multimédia se conjugam harmoniosamente em busca de uma nova identidade artística.

São ainda um projecto recente mas que inspira orgininalidade e criatividade. Quem são a Sónia Vicente e a Raquel Devesa em palco?!

Time Shifter - Na verdade, e com o devido respeito essa é uma questão à qual preferíamos que fosse o público a responder.

por Carla Bentofotografia Time Shifter

Page 23: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015
Page 24: Gatilho Nº 16 @ FEVEREIRO 2015