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Gazeta Feminina

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Gazeta Feminina

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Muito Além do Batom

A revista

A Gazeta Feminina nasceu para fazer história. É uma revista virtual quinzenal, que aborda assuntos de interesse não apenas femi-nino. Feita para todos os públicos, vai além do batom, falando sobre o que acredita, quebran-do paradigmas e superando preconceitos. Os assuntos da revista são organizados por seções. A seção “A mulher maravilha” aborda perfis de mulheres que fazem diferença na so-ciedade e comportamento. “À moda da casa” traz matérias sobre moda a estilo, em que você é quem dita as tendências. “O circo brasileiro” traz textos de cunho po-lítico, com reflexões sobre os acontecimentos que ocorrem ou repercutem no cenário nacio-nal. Já os nossos “Correspondentes” trazem os fatos que ocorrem em vários lugares do país e do mundo. “Mais uma dose” é sobre aquilo que quere-mos sempre mais: música, cinema, literatura, teatro, exposições, enfim, cultura! “Desfrute!” vem para tratar de diversão, com matérias so-bre viagens, passeios e tecnologia. “Camisa 10” é o nosso espaço para falar aquele que faz o coração bater mais forte: o futebol. Já a seção “Furou o disco!” aborda aqueles temas que nós não cansamos de repetir: amor, amizade, cotidiano, família, entre outros as-suntos. Entre! Sinta-se à vontade! A Gazeta Femi-nina é a sua segunda casa.

A Gazeta Feminina é formada por:

Ana Paula Souza - Editora-chefe, colunista e designer do layout

Brisa Libardi, Victor Passarelli,

Bruna Rodrigues, Erica Lima,

Marcela Castro, Susana Berbert e

Lucas Coelho - Colunistas

Daniel Morbi-Fotógrafo e colunista

Thiago Formigoni, Naira Mattia e Carol Siqueira - Fotógrafos

Sofia Calabria - Designer da capa e contra-capa

Gabriela Fachin - Assistente de layout

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A mulher maravilha

À moda da casa

O circo brasileiro

Correspondentes

Mais uma dose

Desfrute!

Camisa 10

Furou o disco!

A equipe Nesta edição

ContatosTelefone: (11) 4323 - 2197E-mail: [email protected]: @gfemininaFacebook.com/gazetafeminina

A mulher maravilha A mulher maravilha

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Não canse a minha belezaPor Ana Paula Souza

Quem a vê linda e loira sobre um salto alto poderia dizer que ela é uma editora de moda. É verdade que o que ela faz está vinculado à mídia, mas não da maneira que poderíamos imaginar à primeira vista. Na realida-de, seu trabalho é analisar a cobertu-ra dos veículos de comunicação em relação a um fato que, infelizmente, está se tornando tendência: o uso da violência extrema no combate ao terrorismo. Entre os possíveis atingi-dos pelos resultados de seu trabalho, está aquele cujo poderio econômico,

político e militar seria suficiente para inibir a ousadia de muita gente: o go-verno dos Estados Unidos. No entan-to, nem mesmo ele é capaz de cansar a beleza e a coragem daquela que é “A mulher maravilha” dessa edição: Lisa Parks.

Lisa Parks é professora e ex-presi-dente do Departamento de Cinema e Estudos de Mídia da Universidade da Califórnia-Santa Bárbara, e também atua como diretora do Centro de Tec-nologia da Informação e Sociedade,

na mesma instituição. Tem desen-volvido uma ampla pesquisa sobre o uso da tecnologia, principalmente no âmbito dos conflitos internacio-nais. Já publicou inúmeros trabalhos, entre os quais dois livros, e tem pro-ferido palestras sobre uma temática extremamente delicada no contexto geopolítico: o uso de drones para vi-gilância e assassinato seletivo.

Os drones consistem em veícu-los aéreos não tripulados que são controlados à distância, por con-trole remoto. Aqueles de menor porte são usados geralmente para vigilância, enquanto os de maiores dimensões são comumente utiliza-dos para transportar projetéis, os quais podem ser lançados a qualquer momento se o drone identificar um indivíduo que apresente um compor-tamento suspeito – ou seja, que se caracterize como um possível alvo. Em entrevista exclusiva à Gazeta Fe-minina, a professora afirmou que os drones “são perigosos no sentido de que eles são frequentemente usados

para alvejar e matar as pessoas que estão no chão. Centenas de civis e crianças inocentes foram mortos por eles nas áreas de administração fe-deral tribais do Paquistão, durante a última década. Os EUA estão aumen-tando o uso desses equipamentos em conflitos em todo o mundo, para apoiar a guerra contra o terror”. Para a norte-americana, “o uso de drones levanta muitas questões éticas so-bre a guerra de controle remoto e a prática de assassinato seletivo. Com o crescimento do uso de drones ao redor do mundo, os cidadãos se en-contram na posição de potenciais membros de uma ‘classe-alvo’, em que podem ser vítimas acidentais ou incidentais de ataques de drones”.

Lisa Parks começou a se interessar sobre o assunto a partir de pesquisas que desenvolveu sobre o material obtido por satélites em inúmeros conflitos, mais especificamente as imagens da guerra que ocorreu na antiga Iugoslávia, na década de 1990. Os drones lhe chamaram atenção

A professora estadunidense Lisa Parks e a capa de seu mais recente livro

A mulher maravilha A mulher maravilha

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pelo fato de que eles também usam sistemas de imagem e pontos de vis-ta aéreos para monitorar e intervir dentro dos territórios. No entanto, Lisa só começou a escrever sobre o assunto em 2009, quando foram di-vulgadas na mídia informações de que a CIA fazia uso de drones no Pa-quistão: “Comecei então a realização de pesquisas sobre a relação entre o uso de drones, as guerras e a cultu-ra de mídia, e estou no processo de terminar um capítulo de livro sobre estas questões”.

Sua conexão com o tema está rela-cionada ao fato de que Parks se opõe à idéia vigente de que o uso dos dro-nes seja uma forma humanitária de guerra – muitos consideram isso pelo fato de serem aviões não tripulados. “Satélites e drones são cada vez mais utilizados para participarem de inter-venções militares e de violência na terra, em diferentes partes do mun-do. Nos últimos 10 anos, os drones se tornaram tecnologia-chave na guerra contra o terror. Porque nós, contri-buintes dos EUA, pagamos impostos que subsidiam essas tecnologias, de-vemos nos preocupar com as formas

mas acredita que mesmo aqueles que discordam de sua opinião não a impediriam de fazer a crítica, em função dos lemas de democracia e liberdade vigentes na sociedade es-tadunidense.

Para Lisa Parks, todos os possíveis riscos são compensados pelo senti-mento de solidariedade em relação às vitimas dos ataques: “Eu sei que eles não merecem ser submetidos a essas condições de risco diário e violência. Os civis devem ser protegi-dos do tipo de violência que a guer-ra dos drones trouxe para aldeias no Paquistão e em outras partes do mundo. Precisamos seguir políticas destinadas a manter os civis a salvo e em segurança. Isso é o que impul-siona o meu interesse e me mantém interessado em pesquisa de mídia, de tecnologia militar e de guerra”.

A discriminação por ser mulher também não a intimida. Ela afirma que o preconceito está vinculado ao fato de que algumas pessoas não es-tão acostumadas a ouvir as mulheres falarem de maneira tão politicamen-te carregada sobre os acontecimen-

em que elas são usadas. É importan-te para mim que os cidadãos comuns desenvolvam uma compreensão so-bre as formas em que as tecnologias militares, muitos das quais são invi-síveis para nós no cotidiano, estão sendo usadas para lutar em guerras em nosso nome, como cidadãos dos EUA”, disse.

Entre as maiores dificuldades en-contradas durante sua pesquisa so-bre os drones, a estadunidense des-tacou o contato com as imagens das regiões atingidas. Corpos feridos ou mortos e casas destruídas eram as principais personagens das fotogra-fias que a professora teve que anali-sar. “É difícil testemunhar a violência extrema e os danos causados por drones e saber que há pessoas no governo dos EUA descrevendo isso como uma forma ‘necessária’ e ‘hu-manitária’ de guerra”, afirmou Parks. Apesar de ser um tema delicado, que pode despertar reações negativas de diversos setores, Lisa não tem medo e nunca pensou em desistir. Afirma compreender que investigações so-bre as estratégias militares dos Esta-dos Unidos envolvem riscos pessoais,

tos mundiais. No entanto, ela se diz muito orgulhosa e feliz por ser uma mulher e por desenvolver um traba-lho que se posiciona a favor do ser humano e contra a violência.

Com suas longas madeixas loiras, Lisa Parks vive para aquilo que consi-dera certo: a luta por um mundo mais humano, onde o uso de drones para assassinatos seletivos não seja uma tendência ou política nacional. Para isso, viaja ao redor do mundo pro-curando fazer com que a comunida-de internacional se torne consciente do que está acontecendo em países como o Paquistão. E nem Obama, Washington ou a Casa Branca são capazes de fazê-la desistir de seus objetivos. E muito menos de cansar a sua beleza.

À moda da casa À moda da casa

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O eterno retornoPor Bruna de Alencar

impulsiona-da por essa nova classe, que modifi-cou toda a estrutura so-cial vigente e suas rami-ficações nos setores adja-centes, como no político e cultural.

A classe que acaba-ra de surgir, embora ti-vesse dinheiro, não tinha os mesmos modos e costumes dos nobres, o que prejudicava a inserção na elite. Devi-do a isso, a burguesia passou a copiar o estilo de literatura, pintura, moda - da arte em geral - dos primeiros. Ob-viamente que a nobreza não queria se igualar aos últimos, o que acabou gerando uma série de estilos que ora eram adotados, ora subjugados.

Podemos o b s e r v a r essa ten-dência atu-almente: o estilo hippie, que hoje é vintage, vol-tou com mui-ta força com suas calças e shorts de cós alto e muitas cores, mas pouco tem-po depois m e r g u l h a -mos em uma

apresentação de acessórios e roupas com spikes, pretas num estilo mais agressivo. Isso nada mais é do que o retorno aos anos 60, mas que após uma ou duas estações passa a ser subjugado pelo estilo influenciado pelo movimento punk, que foi suces-so nos anos 70.

O que para uns é motivo de muito alarde, comemorações e festas, para outros é mais um sinal de como a moda se baseia no consumismo ime-diato e de curta duração. Refiro-me à periodicidade da moda, que, a cada seis meses, aproximadamente, exibe seus trabalhos por meio de grandes desfiles.

Quando nos vemos prestes a en-trar em uma nova estação, começa a efervescência no mundo fashion, que busca ditar tendência segundo um ou outro determinado estilo. Estilo esse que, quase sempre, busca modificar o paradigma estético que estava con-solidado anteriormente.

Que a moda é cíclica e que os es-tilos, roupas, acessórias e dogmas voltam a tona com um certo tempo todo mundo já sabe, agora entender como e porquê isso acontece são ou-tros quinhentos. No fim do período feudal, com o surgimento da burgue-sia e decadência da nobreza, houve uma mudança no setor financeiro,

Diferentemente da Idade Média, a questão não é de manutenção do status quo - pelo menos não unica-mente. A indústria da moda cresceu, desenvolveu-se, e tem responsabi-lidades cada vez maiores com um mercado consumidor, o qual exige a possibilidade de usufruir de outros estilos e épocas com criatividade, inovação, conforto, e outros quesitos que nem sempre podem ser sanados, como identificação pessoal e repre-sentação física-visual da personalida-de do comprador.

E assim, com grande expectativa, herança histórica e cobrança de su-peração, surge uma nova coleção. Essa nova temporada, após sua exi-bição nas semanas de moda, tem um grande percurso do ciclo a ser per-corrido, que inclui ateliês, lojas finas e exclusivas, adaptações e lojas de varejo, para enfim serem considera-das “demodês” e ficarem no modo de espera até que alguém veja nis-so uma grande inspiração e comece tudo novamente.

Campanha mostrando como roupas de outras épocas podem ser adaptadas ao guarda-roupa

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Dilma Rousseff - Dois anos de governoPor Brisa Libardi

1º de janeiro de 2011. Assume a presidência do Brasil Dilma Vana Rousseff (PT), ex- Ministra de Minas e Energia e ex- Ministra-chefe da Casa Civil do Brasil, no Governo Lula. Derrotando seu adversário, José Serra (PSDB), Dilma entra para a história como a primeira mulher a assumir o mais alto cargo do executivo do país. Completos os dois primeiros anos de mandato, com críticas e elogios, Dilma tem governado, superado e atingido marcas que até mesmo seu antecessor, Lula, não havia atingido.

Aliás, falando no ex-presidente Lula, este continuou a respirar, durante alguns meses, os ares da nova administração. Os partidos de oposição e os veículos de comunicação não pouparam críticas ao ex-chefe do Poder Executivo. A presidenta foi até mesmo apelidada de “fantoche de Lula”, porém, com o passar dos meses e amadurecimento na gestão, a figura da presidenta firmou-se e Dilma conseguiu estabelecer a liderança que vinha construindo.

Logo nos primeiros meses de mandato, a partir de junho de 2011, enfrentou uma série de mudanças em seu Governo, o que muitos jornais caracterizaram como “o troca-troca de Dilma” e que se estendeu, pelo menos, até o ano passado. Começando por Antônio Palocci, após o escândalo de seu patrimônio ter aumentado

20 vezes entre 2006 e 2010, o “entra e sai” de ministros parecia não acabar. Depois da Casa Civil, seguiram-se mudanças nos Transportes, Defesa, Agricultura, Turismo, Esportes, Trabalho, Educação, Ciência e Tecnologia, Cidades, Secretaria das Mulheres, Pesca, Desenvolvimento Agrário e Cultura. Ao todo, 14 Ministérios e 28 pessoas movendo-se pelo Governo. Alguns afastados por denúncias de corrupção, outros porque não cumpriam suas funções.

Registrados no balanço do Governo, nesses dois anos estão o aumento do IPI para produtos importados, juros baixos (menos de 2%, uma meta que foi prometida e cumprida), valorização da produção, dentre outros e, o mais recente feito, corte das tarifas de energia que irá atingir positivamente todos os brasileiros. A inflação de 4,5%, número prometido por Dilma, ainda não foi alcançado. Porém, os números indicam cada vez mais que a presidenta cumprirá essa meta. 2013 começou com promessas de crescimento sustentável e extinção da miséria até 2014. Resta-nos esperar para ver se as mesmas pessoas que afirmaram – e erraram – a vinda de um colapso do setor energético brasileiro e o não cumprimento do número da redução da tarifa de energia, também anunciarão o fracasso no cumprimento das promessas feitas para 2013 por nossa Presidenta. Resta-nos esperar.

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Palhaçadas inesquecíveis - RacismoPor Brisa Libardi

Acredita-se que cerca de 3.600.000 negros foram trazidos para o Brasil para serem escravizados. Para a maioria dos leitores da Gazeta Feminina, a frase “O Brasil é o país da miscigenação” não é novidade. Frase realista, sem dúvidas. Outra frase também realista é aquela que diz: “O Brasil é um país altamente preconceituoso”. Retiramos os negros de onde moravam, trouxemos para o Brasil, os escravizamos, os humilhamos e, mesmo após o término da escravidão, durante anos proibimos legalmente que práticas como a capoeira e sua religiosidade fossem praticadas. Como se não bastassem os séculos de maus tratos, no vigente século 21 ainda continuamos desprezando aqueles que ajudaram a construir o que chamamos de Brasil.

Há mais de trezentos anos, Zumbi literalmente travou batalhas pelo fim do sofrimento de quem nasce com a beleza negra. Um dos maiores líderes

da resistência contra a escravidão, Zumbi lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil colonial. 20 de novembro, data de sua morte, é lembrado e comemorado em todo o país como o Dia da Consciência Negra.

Numa realidade mais recente, o falecido político (deputado federal, secretário de estado e senador

da república) Abdias Nascimento dedicou sua trajetória política em defesa do fim do preconceito, que continua mesmo após 120 anos do término da escravidão. Nascimento atuou na implantação de projetos de lei contra o racismo, incluindo direitos dos afrodescendentes brasileiros por meio de políticas públicas. Foi pioneiro na implantação de diversos direitos para a comunidade negra.

Mais de duzentos anos separam o assassinato de Zumbi dos Palmares e o nascimento de Abdias. Ambos são grandes nomes e exemplos contra o fim do preconceito racial. Entretanto, apesar de todo o empenho da comunidade negra para o fim da intolerância, não é com dificuldade que se toma conhecimento de situações de racismo no Brasil.

12/01/2013: “No Rio de Janeiro, casal tem seu filho adotivo, negro, expulso de concessionária da BMW”. Priscilla Celeste e Ronald Munk foram até a concessionária AutoKraft, na Barra da Tijuca, olhar alguns modelos de carro. Segundo o casal, o menino de sete anos ficou em uma área separada da loja assistindo televisão e, quando decidiu procurar os pais, o gerente que fazia o atendimento ao casal viu o menino e disse: “Você não pode ficar aqui dentro. Aqui não é lugar para você. Saia da loja”. Ainda segundo o casal de pais do menino, quando o gerente

À esquerda, pintura em homenagem a Zumbi dos Palmares. À direita, o falecido político Abdias Nascimento

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viu que a criança estava com eles, “gaguejou” desculpas. A resposta da concessionária só chegou ao casal uma semana depois do ocorrido, tratando ainda o episódio como um mal-entendido. A revolta de Priscilla e Ronald os levou a criar, no Facebook, a página “Preconceito racial não é mal-entendido”, que até a sexta-feira, 25 de janeiro, já contava com mais de 87 mil seguidores.

23/01/2013: “PM de Campinas determina abordagem de suspeitos de ‘cor parda e negra’”. O documento, uma ordem de serviço, assinado pelo Capitão Ubiratan Beneducci, diz que os policiais deveriam abordar transeuntes e veículos com atitudes suspeitas, “principalmente indivíduos de cor parda e negra, com idade de 18 a 25 anos”. O documento gerou polêmica e indignação, e diversas entidades de direitos humanos enxergam o documento como ato discriminatório. Porém o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), manifestou-se dizendo que o que houve foi apenas a caracterização física de um grupo de criminosos que estavam agindo na

localidade para a qual o documento havia sido enviado.

24/01/2013: “Maternidade estimula alisamento em cabelo de crianças”. O Hospital e Maternidade Santa Joana foi duramente criticado após colocar em sua página na internet um texto com o título: “Minha filha tem o cabelo muito crespo. A partir de qual idade posso alisá-lo?”. Ao longo do texto, é dito que muitas mães têm filhas que nascem com os cabelos muito rebeldes e crespos e, para deixar suas filhas “mais bonitas”, recorre-se a técnicas modernas de alisamento dos cabelos que não agridem a saúde de suas crianças. É como foi dito no blog “Encrespo e não aliso!”: “em séculos, a figura negra foi associada ao que é ruim - e “cabelo ruim” para cabelo crespo se tornou sinônimo em nossa sociedade com ideias de embranquecimento -, ao que é feio e indesejável”. A maternidade tentou se retratar, dizendo que os textos são feitos com base em perguntas dos leitores, mas o preconceito está no texto para todos verem. Aliás, estava, pois foi retirado do ar no dia 25 de janeiro.

O nome do norte-americano Martin Luther King Jr. também é lembrado na luta contra o racismo. Seu discurso mais famoso, “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”), proferido em agosto de 1963, evidencia o desejo de que todos os negros (norte americanos ou não) fossem tratados como iguais: “Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial [...] / Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele / Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais”. Apesar de um discurso, este não foi e não é um sonho individual.

Enquanto houver situações as quais sejam de menosprezo aos afrodescendentes, o sonho de King, a luta de Zumbi e a atuação de Abdias Nascimento – bem como de todas as outras entidades que atuam em prol do término do preconceito

e racismo - nunca serão causas individuais, mas sim coletivas. De todos os negros de todo o mundo, bem como de brancos, amarelos ou indígenas, que creem na construção de uma sociedade tolerante que enxergue em si o passado de todos os negros que deixaram suas marcas, seja na fisionomia do brasileiro, seja na religião, seja na culinária, ou em qualquer outra categoria em que há a contribuição dos negros do Brasil.

Correspondentes Correspondentes

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Terra seca, corações que transbordamPor Susana Berbert

Aproximadamente 10:15 da ma-nhã, desci do avião. Lá no alto, com um pouco de medo de olhar para baixo, já havia visto a terra judiada e seca de Aracaju. O mar, no horizonte, deixava a paisagem mais bonita, mas não menos triste.

Senti logo o ar carregado e o sol quente queimando minha pele. O percurso de Aracaju até o povoado de Tomar do Geru demorou cerca de três horas. Nesse tempo cochilei, acordei, conversei um pouco e olhei

a paisagem ainda sem saber o que exatamente estaria me esperando… E ainda que eu tivesse me esforçado em imaginar, acho que nunca chega-ria perto do que realmente foram os dias lá.

Tomar do Geru é uma cidade pe-quena com aproximadamente 12 mil habitantes, então imaginem o po-voado. Nele encontramos uma rua com casas simples, pessoas simples e muito para ensinar.

Fiquei hospedada em uma creche do local com os outros voluntários. Convivi com pessoas maravilhosas. Gente séria, que ama, que ensina e que encheu meu espírito. Fátima tra-balhou na cozinha: mulher humilde, batalhadora, que faz uma comida maravilhosa e que me inspirou a que-rer servir como ela. Com a Fátima, trabalhou Rosa, outra inspiração que conheci e que, além da flor no nome, tem flores na alma. Fernanda e Lude, jovens e cheias de planos para o fu-

turo, compartilharam a palavra e o amor de Deus com as crianças. Au-gusto, marido de Fátima, me encheu de prosas e ensinos sobre a vida. Com sotaque carregado, contou so-bre suas experiências que poderiam formar um livro. Fui também apre-sentada ao Manuel, que com seu ta-manho que não passa do meu e com certa timidez, ensinou sobre como ser grande em fé e sobre como um simples projeto, como o “Nossa Mis-são”, pode mudar a vida de alguém. Marcos, ou “Quinho”, transbordando amor pelas pessoas, me fez rir e amar mais a Deus. Gabi e Sérgio, casados e dentistas, deram uma aula sobre como servir ao próximo. Danilo, nosso pediatra, cuidou das crianças como se fossem filhos. Leonardo me ensinou sobre os desafios de traba-lhar para a obra de Deus e Josmar em como superar nossas dificuldades. As pequenas Gabrielas me deram um banho de sinceridade, dedicação e amor por Jesus. Me senti em casa e em família. Família de Deus.

No dia 14 de janeiro, Susana em-barcou rumo a Sergipe, em uma via-gem missionária no povoado de uma cidade chamada Tomar do Geru. Por oito dias, ela e um grupo de volun-tários do projeto “Nossa Missão” atenderam as pessoas do local com consultas odontológias e pediátricas, atividades infantis e de evangeliza-ção. Depois dessa experiência única, ela tem muitas histórias e aprendiza-dos para contar...

Correspondentes Correspondentes

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Os dias foram preciosos. Pela ma-nhã, acordávamos, tomávamos café e tínhamos uma devocional. Logo após, dentistas e pediatra seguiam para o hospital para realizarem os atendimentos, que ocorriam duran-te todo o dia, enquanto outros pas-savam pelas casas para evangelizar e convidar os moradores para o cul-to que ocorreria a noite. Pela tarde, um trabalho era feito com as crian-ças. Elas recebiam lanche, ouviam a respeito do amor de Jesus por suas vidas, aprendiam histórias, canções e brincadeiras. À noite, recebíamos as pessoas do povoado para o culto. Cantamos juntos, oramos juntos, as-sistimos teatro e apresentações dos pequenos… Crescemos juntos.

A visita que fizemos a algumas ci-dades no sertão regou um pouco da terra árida que tinha no meu coração. Fez crescer em mim mais amor pelo outro, mais compaixão, mais sonhos, mais gratidão e fez morrer resquícios de individualismo. Passar por tanta seca e chegar até o Rio São Francisco foi um banho para alma, assim como ver o amor de Cristo inundando cada vida ali, a começar pela minha.

Em cada dia vi Deus agir de uma maneira assombrosa e completa-mente diferente da que estamos acostumados. Vi Ele agir na miséria do povo, em meio a seca, em meio a pobreza, e me vi constrangida com o amor e fé das pessoas. Vi também, através dos sorrisos tímidos e um pouco surpresos, um povo sofrido, um povo carente, pessoas que têm sede de vida mais do que de água, que precisam de amor mais do que de pão. Vi manifestações da graça do Pai no choro da Dona Nilsa, senhora que recebeu uma prótese dentária e que não segurou as lágrimas, no sorriso de Célia, nos olhos e mãos pequenas de cada criança. Vi a força e o consolo de Deus sobre a vida do Adriano, que trabalha diariamente em uma pedreira para sustentar a família. Vi suas mãos, calejadas por quebrarem pedras, dispostas a ser-vir o Reino, vi seu sorriso cheio de alegria e seu coração cheio de fé. Vi a pequena Gabriela falar sobre Cristo para as pessoas como se ti-vesse passado por uma vida inteira de experiências e aprendizados, e vi analfabetos que escrevem e falam

perfeitamente a língua do amor. Me vi, atônita, sendo abençoada mais do que abençoando. Vi um povo com mãos prontas para receber e braços abertos para dar. Gente que faz fes-ta com pouco e que precisa de muito para desistir da vida. Pessoas que se compadecem com a dor do outro, que já sofreram a dor do outro e que têm muito o que nos ensinar sobre humildade, sobre amar a Deus mes-mo quando as bênçãos parecem não vir… Sobre amar a Deus pelo que Ele é e não pelo que Ele faz. Me vi com

os olhos cheios de lágrimas em vá-rios momentos e ao mesmo tempo com a vida cheia de paz. Vi, naquele horizonte seco, alguns verdes de es-perança. Senti aquela terra quente como quem sente um abraço aper-tado e ouvi aquele sotaque como se fosse música. Lembrei na face e no jeito de cada um, um pouco de minha avó, a Dona Osana, e compreendi por que ela falava sobre o nordeste com tanta saudade. Entendi a razão pela qual ela me abraçava e me pedia um cheiro e por que fazia tanta questão em acentuar o sotaque quando tínha-mos visita. Entendi o orgulho, enten-di o amor. Entendi o motivo de cada homem e cada mulher bater no peito para dizer o nome da sua terra e por que depois de alguns dias eu já tenta-va falar como eles e me sentia parte daquele chão…

… Porque o nordeste somos nós, cada um de nós. Paulistanos ou não, mineiros ou não, nortistas, sulistas… Cada pedacinho daquela terra seca carrega um pouco de toda humani-dade. Um pouco de todo abandono, um pouco de toda carência e muito de nossa esperança.

O sorriso de Célia. Foto: Susana Berbert

Intervalo fotográfico Intervalo fotográfico

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Por Maria M.Por Susana Berbert

Mais uma dose Mais uma dose

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A temporada está só começandoPor Victor Passarelli

A primeira premiação da temporada 2013 ocorreu no dia 13: o Globo de Ouro foi entregue aos melhores atores, atrizes, roteiristas e diretores do ano que passou, segundo a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood. Enquanto alguns dos premiados foram bastante previsíveis, outros surpreenderam bastante – assim como as engraçadíssimas apresentadoras da noite: Tina Fey e Amy Poehler.

Na última edição de 2012 da Gazeta Feminina, você leu aqui que “Os Miseráveis” era uma das grandes promessas para o ano que viria e, bem, nós estávamos certos! Não só o filme promete ser um sucesso de bilheteria como também

o musical venceu o prêmio Melhor Filme na sua categoria, assim como Hugh Jackman e Anne Hathaway ganharam como Melhor Ator em um Musical ou Comédia e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente.

Da outra grande atração de 2013, Django Livre, Quentin Tarantino foi merecidamente premiado com uma estatueta pelo brilhante e argiloso roteiro do filme. Além disso, o excelente Christoph Waltz ganhou seu segundo Globo de Ouro como Melhor Ator Coadjuvante. Aqui na GF, você também leu, na edição anterior, que “Django” seria um grande sucesso e cá está a prova disso.

O grande Daniel Day Lewis também venceu como Melhor Ator em Drama, por sua atuação no aclamado “Lincoln”. O ator também foi indicado ao Oscar e está muito bem cotado para vencer aquele que seria seu terceiro prêmio e o colocaria em um patamar sem precedentes na história de 84 anos da premiação:

nenhum outro ator antes ganhou três estatuetas do Oscar de Melhor Ator.

A grande surpresa da noite, no entanto, ficou com Ben Affleck. O ator, que nos últimos anos também assumiu a direção de filmes, produziu e dirigiu “Argo”, filme que trata do resgate de diplomatas americanos no Irã em 1979. Ele venceu o prêmio de Melhor Diretor, batendo grandes nomes como Steven Spielberg e Ang Lee. Além disso, “Argo” também venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme – Drama.

Jessica Chastain e Jennifer Lawrence venceram os prêmios de Melhor Atriz em um Drama e em um Musical ou Comédia, respectivamente.

A lendária Maggie Smith, apesar de não ter ido à premiação, estava indicada em duas categorais diferentes - Melhor Atriz em Comédia ou Musical e Melhor Atriz Coadjuvante em um Seriado - sendo

que venceu no segundo, agregando mais um prêmio aos outros dois que ela já tinha e mais uma indicação, entre as outras 10 que possui em toda sua carreira.

Falando em grande número de indicações e prêmios, Meryl Streep, que possui 8 prêmios e 27 (!) indicações, não foi à premiação porque estava com gripe, apesar de também ter sido indicada na categoria Melhor Atriz em Comédia ou Musical por “Hope Springs”.

E assim, 2013 já começou bastante competitivo nas premiações de cinema em Hollywood. E a temporada só está começando. Que vençam os melhores!

Tina Fey e Amy Poehler Ben Affleck, a grande surpresa da noite. Foto: AP

Desfrute!Desfrute!

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É óbvio! Meu Deus, é muito óbvio! Um tema desses tem que passar pela GF! Como nunca vi isso antes? Talvez seja uma daquelas ideias evidentes, mas tão evidentes, que precisamos de uma ajudinha para percebê-la na nossa frente (obrigado, Ariane!).

Uma coluna de tecnologia em uma revista com “Feminina” no nome tem que falar, mais cedo ou mais tarde, do papel que a mulher toma nesse mundo louco dos gadgets, bits e bytes! Não é óbvio? Claro que é! Portanto, para começarmos nossos trabalhos em 2013, irei me arriscar a dar passos nesse território instável.

Sim, é óbvio fala sobre isso na GF. Agora, infelizmente, o mercado tecnológico trata o sexo feminino com visões que são, para ele, igualmente óbvias: ou nos deparamos com a rasa ideia de que “mulheres não se interessam por esse assunto” ou com o confuso pensamento que diz que “mulheres se interessam, sim, mas não como os homens”.

computador! É, esse mundo de contas e algoritmos é historicamente (e lamentavelmente) controlado pelo sexo masculino. Será que é por isso que meninas que estudam áreas mais voltadas para exatas são, tradicionalmente, caçoadas por possuírem um suposto “jeito masculino”? Hum...

Bom, como incluir, então, a mulher em uma área “desinteressante” a ela? De maneira rasa. Nas grandes feiras, do Salão do Automóvel aqui no Brasil até o recém-encerrado Consumer Electronics Show de Las Vegas, as mulheres são usadas como um rostinho bonito: são as chamadas booth babes, algo como “gatas do estande”. Com corpos bem definidos e, algumas vezes, pouca vestimenta, essas modelos são contratadas pelas empresas para ficarem nos estandes, demonstrando os produtos expostos. Mas, o objetivo principal do uso de uma booth babe é previsível: chamar a atenção de marmanjos que possam

A feminilidade da tecnologiaPor Daniel Morbi

Talvez tudo fique mais claro se analisarmos as grandes corporações, como Apple e Microsoft. Nelas, é notável como a presença feminina no quadro de funcionários é bem menor se comparada à masculina. Dados da própria Microsoft mostram que mais de 75% da empresa era formada por homens em setembro de 2012. A mesma situação se repete se subirmos aos cargos do alto escalão: dos nove integrantes da mesa diretora da Microsoft, duas são mulheres; na Apple, dos oito integrantes, há apenas uma mulher.

Longe de mim criticar os homens a cargo da produção tecnológica mundial. Eles, provavelmente, são pessoas bem competentes em comandar (para o bem ou para o mal) esses conglomerados. O ponto aqui é perceber a pequena representação feminina nessa área. Basta ver os grandes eventos realizados por essas companhias: raramente uma mulher sobe ao palco e toma a palavra.

No entanto, guarde seus xingamentos a essas empresas, pois o problema é ainda mais fundo. Elas não fazem isso por serem, em sua base, discriminatórias. Já imaginou uma firma que, por suas leis de conduta, contrata um sexo em detrimento do outro e, publicamente, não vê problema nisso? Pense na confusão que isso daria, uma empresa que ofende os direitos das mulheres! Não, não fazem isso conscientemente. Fazem-no devido à rasa ideia acima citada.

O pensamento discriminatório de que mulheres não se interessam por tecnologia acaba contaminando as empresas e toda a indústria ao redor. É uma ideologia que já se tornou histórica, provavelmente surgida quando o primeiro computador foi criado por um homem. Não, antes disso! Provavelmente, na época em que mulheres eram privadas da educação básica necessária que poderia levar à construção de um

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estar passando em frente ao estande. É aquela velha equação “homens + mulheres ‘gostosas’ = interesse”.

Algumas produtoras de eventos já tiveram problemas com as booth babes. Grandes feiras, como a E3, voltada aos vídeo games, já chegaram a proibi-las para evitar uma superssexualização do evento. Atualmente, elas voltaram, porém mais comedidas. Já na Brasil Game Show (feira coberta pela GF na edição 16; confira lá, se ainda não viu!) elas estavam a torto e a direito, em grande parte dos estandes, tirando fotos com gamers boquiabertos.

Agora, você há de concordar que, ao utilizar a mulher somente dessa maneira, o mercado acaba perdendo consumidoras que se interessam, sim, por tecnologia. Qual é o sentido de comprar produtos de uma marca que me ofenda por suas visões de mundo, certo? As empresas percebem isso e, para manterem essa fatia do público, também se direcionam a essas mulheres modernas e conectadas. Mas, nem sempre da melhor forma possível...

É aqui que surge a confusa opinião de que o interesse feminino por tecnologia é diferente do masculino. E por “diferente” leia-se “mais casual”. A indústria pensa que o uso pesado dos gadgets irá partir do homem, enquanto a mulher ficará com as funções mais simples. “O iPad, para o homem, é um instrumento de trabalho; para a mulher, é de lazer, com aplicativos ‘fofinhos e cor-de-rosa’”. Não é difícil encontrar casais cujo tablet é prioritariamente utilizado pelo parceiro, enquanto uma ou outra aplicação menos complexa é dedicada à companheira.

Isso é muito comum nos games. Buscando atrair cada vez mais consumidores, as grandes produtoras lançam produtos mais voltados ao público feminino. Porém, muitos desses lançamentos tratam a mulher como uma jogadora casual. Assume-se que ela prefere jogos menos exigentes, com objetivos mais fáceis de serem cumpridos. Nintendogs, da Nintendo, é um exemplo. Uma vez lançado para o portátil Nintendo DS, a fabricante japonesa viu nesse game uma grande oportunidade de atrair as garotas. Afinal, a meta do jogo é somente cuidar de filhotezinhos bonitinhos de cachorros durante curtas sessões de jogatina por dia. Que garota não amaria esse jogo não é mesmo? Esse pensamento foi tão fixado que, no lançamento da sequencia Nintendogs + Cats, para o também portátil Nintendo 3DS, pacotes que incluíam o jogo e um 3DS rosa foram vendidos, focados no público feminino.

Não que as empresas estejam erradas em pensar assim. Afinal, muitas mulheres realmente preferem esse lado mais simples da tecnologia.

Porém, nem sempre também estão certas. Mulheres também gostam de organizar seus trabalhos em seus iPads, de utilizar todas as funções de seus smartphones, de realizar golpes extremamente complexos nos jogos de luta ou de matar zumbis com um headshot (em um game, quero dizer). Da mesma forma, homens também gostam de aplicativos menos complicados ou de cuidar de cachorrinhos virtuais. É tudo uma questão de não se deixar levar pelos estereótipos.

A esta altura do texto você já deve estar achando que o mundo tecnológico não entende mesmo a mulher. Mas, calma, minha querida e meu querido, as coisas não são bem assim. Com a presença cada vez maior da mulher nessa área, a indústria começa a perceber sua importância. Empresas como HP, Yahoo, IBM, Xerox e Wikimedia já possuem mulheres ocupando a direção executiva. Já outras, como o Google, devem grande parte de suas receitas ao trabalho feminino. São cargos de grande responsabilidade e prestígio!

Booth babe do jogo Lollipop Chainsaw na E3 2012: pou-ca roupa chama atenção (Akira Suzuki/UOL)

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Quem também tem prestígio é Jade Raymond, uma das diretoras do estúdio de games Ubisoft Toronto e co-criadora de “Assassin’s Creed”, uma das franquias mais famosas da atual geração. Para se ter uma noção do tamanho da criação de Jade, o último episódio da série, “Assassin’s Creed III”, vendeu mais de 3,5 milhões de cópias em sua primeira semana. Sim, é inevitável encontrar por aí algum comentário de alguém dizendo que ela é *aspas*gostosa*aspas*. Sem dúvidas, ela é muito bonita, mas veja só o que ela fez: criou um jogo de

sucesso que não tem nada a ver com os estereótipos dados pela indústria às mulheres! Ela é a prova viva de que, nesse meio, a mulher não é só um rosto bonito!

Aliás, toda essa ideia de “rosto bonito” está diminuindo nos próprios games. Os anos 80 e 90 viram o surgimento de protagonistas mulheres nos jogos. O espanto foi grande quando, em 1986, o game “Metroid” nos apresentou uma heroína em uma época na qual a mulher cumpria o papel da princesa

raptada. Samus Aran, com sua armadura futurística e canhões de laser, nada tinha a ver com a Princesa Peach, de “Mario”. Isso abriu caminho para que mais jogos colocassem o sexo feminino no comando da história. Jill Valentine, de “Resident Evil”, e Lara Croft, de “Tomb Raider”, são alguns exemplos.

Porém, na época de sua criação, elas ainda possuíam visões exageradas da mulher. Samus aparecia ao final do jogo de biquini e Lara Croft possuía atributos corporais impossíveis de se reproduzir naturalmente em uma pessoa. Somente agora vemos os produtores se afastando da visão clichê da mulher e se aproximando mais do ser humano em cada uma delas. Em “Metroid: Other M”, de 2010, vemos o lado mais emocional de Samus. O mesmo ocorrerá em “Tomb Raider”, reformulação da série a ser lançada em março deste ano. No jogo, Lara perde toda sua sensualidade às vezes caricata para assumir uma personalidade comum: uma pessoa que se fere, que sente medo, alegria, fome e sede, e que supera suas dificuldades persistindo.

Personalidade essa que está presente em toda mulher. Em todo ser humano.

Bom, como disse antes, me arrisquei nessa área complexa. Posso ter dito alguma besteira que meus olhos de homem não me deixaram enxergar. Por isso, qualquer erro ou ofensa, me desculpo. Minha única intenção é relatar como vejo essa situação, descolado de qualquer linha de pensamento social ou político. Sou adepto da ideia de que todos são iguais. Simplesmente, iguais!

Ufa, que maneira de começarmos o ano, hein?

Fontes:

Dados do quadro de funcionários da Microsoft

Mesa diretora da Apple

As 10 mulheres mais poderosas do mundo da tecnologia

Assassin’s Creed 3 first-week sales exceed 3.5 million copies, Ubisoft says

Jade Raymond com sua equipe da Ubisoft Toronto

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Nesta semana, tivemos a convocação da nova seleção do Felipão. Ou devo dizer velha? Bom, acho que o ideal é dizer que é uma mescla de velha com nova, talvez um pouco mais experiente que a seleção que Mano vinha formando. Scolari resgatou alguns nomes esquecidos, jogadores que o “povo” pedia (como Hernanes e Fred), mas a verdade é que a seleção titular deverá continuar praticamente igual à do final de 2012.

O goleiro, se Felipão for justo, deverá permanecer Diego Alves. Os laterais continuarão sendo Marcelo e Daniel Alves. A dupla de zaga ideal ainda é David Luiz e Thiago Silva, que ficou de fora por estar lesionado. A melhor dupla de volantes na atualidade é Paulinho e Ramires. Oscar, pelo o que jogou desde que se tornou titular da seleção, deve ser mantido. Neymar nem se discute, e Hulk e Lucas devem continuar brigando por uma posição. Sobra uma última vaga no time titular,

Ano novo, seleção novaPor Lucas Coelho

que deverá ser preenchida por Luis Fabiano ou Fred, que já vinham sendo chamados por Mano em suas últimas convocações.

Essa posição de centro avante fixo, preferência de Scolari que muitos estão louvando, penso ser um retrocesso. Mano vinha utilizando Neymar como um falso centro avante, o que permitiu que Kaká pudesse ocupar a parte esquerda do ataque. Isso dava bastante mobilidade ao time, com os volantes leves e ofensivos, Oscar armando as jogadas, mas caindo em todos os lados do campo, e Hulk entrando em diagonal. Mano tentava imitar o que Guardiola já tinha feito com sucesso no Barcelona, quando colocou Messi para jogar com um “falso” 9. E Messi passou a fazer muito mais gols. Com Fred ou Luis Fabiano, o time vai acabar perdendo mobilidade e isso pode se tornar um problema grave naquelas partidas que forem mais amarradas.

Já o lado mais “old school” de Felipão deve trazer algo de positivo a esse time: experiência. O retorno de Júlio Cesar, Ronaldinho Gaúcho, Miranda, Fred e Luis Fabiano, mesmo que não sejam titulares, vai ajudar a dividir a atenção com os jovens e passar mais tranqüilidade para estes jogarem. Ainda por cima, aposto que Kaká, assim que voltar a jogar, deve retornar também. A seleção de 2002 foi campeã por causa do rendimento incrível de Ronaldo e Rivaldo. Se Felipão conseguir dar condições para Neymar, Lucas, Oscar e, quem sabe, Ganso e Pato renderem o que sabem, já será um grande trabalho.

Com relação aos nomes chamados, tenho apenas uma discordância. Não gosto da convocação do Arouca. Ralf merecia mais e daria uma opção de primeiro volante, o que é sempre bom. Outros nomes foram chamados merecidamente, mas temos de ficar de olho. Hernanes e Fred já tiveram chances na seleção

e não jogaram nada. Filipe Luis já foi chamado algumas vezes e ainda não impressionou. Ronaldinho precisa jogar o que jogou no Galo ano passado. Lucas tem de se tornar um jogador decisivo. E por último, Daniel Alves nunca irá me agradar com a amarelinha, mas nessa eu sei que sou voto vencido.

A seleção é um tema legal de discutir porque dá pano pra manga. Mas, pra falar a verdade, pouco importa se Hernanes finalmente irá jogar bem, se Filipe Luis irá corresponder às expectativas, se a nossa 4ª opção de volante será Arouca ou Ralf, ou se o titular no ataque será Hulk ou Lucas. Não esqueçamos que fomos campeões do mundo em 2002 com Kléberson e Roque Júnior em campo! O que importa mesmo é se Thiago Silva, Marcelo, Paulinho, Oscar e Neymar estarão em campo e jogando o que sabem. E isso eu acredito que o Felipão conseguirá fazer.

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Carta para um novo amigoPor Bruna Rodrigues

24 de janeiro de 2013

Caro Werther,

Creio que você não me conhece. No entanto, sei até bastante sobre a sua vida. Depois de ler mais de 70 cartas suas para um tal de Guilher-me, já me sinto bem próxima a você. Bom, não fique constrangido. Não

fui bisbilhotar as suas coisas, apenas encontrei a sua triste história em um livro, “Os Sofrimentos do Jovem Wer-ther” – um belo título para um grande clássico. Mas, tudo bem, não precisa me responder, pois sei que não pode.Entretanto, tenho a certeza de que ficará muito surpreso com os rumos da sua obra.

Sim, sinto em lhe informar que a sua trajetória foi um grande marco no romantismo alemão, descrita de uma forma sem igual por Goethe. Pode-se até dizer que foi o primeiro best-seller mundial e que o seu com-portamento influenciou várias pesso-as, seja por seu casaco azul e colete amarelo que viraram moda, ou pela onda de suicídios cometida por jo-vens que sofriam por amor como você, e é sobre essa influência que tanto quero lhe falar.

Desculpe-me por ser tão indiscreta desse modo. Deveria respeitar a sua dor por não poder unir-se a Carlo-ta nessa vida. Sei que foram muitos baques e emoções que acabaram levando a sua existência ao fim, to-davia existem coisas que hoje não consigo compreender, e por isso o tempo transformou-se em uma bar-reira para que eu pudesse sentir mais o seu sofrimento.

Tudo mudou, Werther, desde sua primeira edição em 1774. Talvez hoje

o seu suicídio fosse plenamente evi-tável, e - quem sabe? - Carlota pode-ria enfim largar Alberto e descansar em seus braços. Essa é somente uma possibilidade, há tantas pessoas no mundo para se apaixonar...

Assumo que clássicos como o seu me causam certo temor ao ler. Eles são tão sisudos, e parecem que nos cobram desde a capa uma compre-ensão que talvez nunca exista. Será esse o peso que os grandes livros car-regam? Você se sente incompreendi-do, Werther?

Sabia que temos algo em comum? Adoro a natureza, e toda vez que você a descrevia para Guilherme, sentia uma ponta de inveja por eu estar em uma cidade cinzenta enquanto você desfrutava de belas paisagens.

Tenho que lhe dizer também que entendo o seu amor por Carlota. Al-gumas vezes idealizamos as pessoas e acabamos por amar a imagem que criamos delas, e não a realidade. Não

Pintura em alusão à obra “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, do alemão Goethe.

Furou o disco! Furou o disco!

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fique bravo comigo, mas foi isso que senti ao ler as suas declarações de amor. Mas o que é o amor além de idealizações e desprendimentos?

E falando de amor, nisso eu não consigo me identificar com você. Nunca tive a mesma coragem de abdicar de tudo por alguém. Possi-velmente foi por isso que a sua tra-jetória tanto me incomodou. Esse seu desprendimento cego, essa sua coragem sem medidas, que eu nunca tive e creio que nem pela maior pai-xão conseguirei terei. É por isso que queria saudá-lo também. Aquilo que muitos chamaram de covardia, eu chamo de bravura: viver e morrer por um grande sentimento.

Não pude segurar a sua mão e evi-tar o tão famoso desfecho. No entan-to, penso que, em todas as vezes que alguém lê os seus sofrimentos, um Werther dentro de cada um de nós também puxa o gatilho e se junta aos vários amantes, literários ou não, que se encontraram na eternidade.

Furou o disco! Furou o disco!

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20 anos de BregaPor Ana Paula Souza

Neste dia 27 de janeiro, data em que um novo número da GF vem ao mundo, comemoro o meu vigésimo aniversário. Poderia mentir e dizer que foram 20 anos de elegância, charme e humor refinado, mas a ver-dade é que foram duas décadas as-sumidamente Bregas. Bregas com B maiúsculo.

O Brega é muito mais do que esti-los musicais extravagantes: ele é um lema de vida. Ser brega é não se in-teressar pelo que os outros vão pen-sar, como bem fez Odair José em “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”. É amar alguém e gritar para todo mundo ouvir, como o Roupa Nova em “Vol-ta Pra Mim”. É ser poliglota como a Gretchen em “Conga, Conga, Con-ga”. É ser amigo na primavera ou em qualquer das estações, como Jane e Herondy em “Amigos para sempre”. E, principalmente, é saber ser conci-so, resumindo em um “meu iaiá, meu ioiô”, o que nem um Aurélio cheio de vocábulos é capaz de expressar.

Desde criança, assumi o meu jeiti-nho Brega de ser. Seja nas unhas mul-ticoloridas que eu mantinha quando pequena ou nos inovadores cortes de cabelo que eu mesma fazia em mi-nha cabeleira, podia-se notar que eu era, no mínimo, de um visual curioso. Com o tempo, meu gosto musical foi se aprimorando, e fui internalizando os ensinamentos dos mestres do es-tilo. De todos os aprendizados que eu pude ter ao longo da minha vida, está aquele que, até hoje, é o meu lema maior: Lua de Cristal, da Xuxa.

Para o meu coraçãozinho sonha-dor, sempre foi um conforto ouvir que “Tudo pode ser, se quiser será/ O sonho sempre vem pra quem sonhar/ Tudo pode ser, só basta acreditar/ Tudo que tiver que ser, será”. Mas eu sempre soube que, para alcançar os meus sonhos, eu precisava ser dedi-cada, ter disciplina, e ir atrás do que eu acreditava, não importa onde. Não à toa, quando eu decidi o que eu queria para a minha vida, pensei: “Tudo que eu fizer/ Eu vou tentar

melhor do que já fiz/ Esteja o meu destino onde estiver/ Eu vou buscar a sorte e ser feliz”. E lá fui eu, com ma-las nas costas e sonhos no coração, aterrissar em São Paulo para alcançar tudo o que eu queria. A mudança não foi fácil, várias dificuldades surgiram e ainda surgem, mas é como diz a Rainha: “Tudo o que eu quiser/ O cara lá de cima vai me dar/ Me dar toda coragem que puder/ Que não me fal-te forças pra lutar”.

E foi assim, ao som e à inspiração de tantos clássicos, que cheguei a mais um aniversário. Não sei se a Lua de Cristal que me faz sonhar vai fazer de mim estrela, não sei se nasci para brilhar, mas espero que os próximos vinte anos da minha vida também sejam cheios de emoção. Cheios de Wando, Beto Barbosa, Luiz Caldas, e, obviamente, de Sidney Magal, que carinhosamente lhe chama para este mundo no qual, há 20 anos, eu come-moro aniversários: “Um mundo que é cor-de-rosa/ De coisas maravilhosas/ Que tanto sonhavas ter”.

Muito Além do Batom

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