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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS LUCENI CAETANO DA SILVA GAZZI DE SÁ COMPONDO O PRELÚDIO DA EDUCAÇÃO MUSICAL DA PARAÍBA: UMA HISTÓRIA MUSICAL DA PARAÍBA NAS DÉCADAS DE 30 A 50 João Pessoa, março de 2006.

Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

LUCENI CAETANO DA SILVA GAZZI DE SÁ COMPONDO O PRELÚDIO DA EDUCAÇÃO MUSICAL

DA PARAÍBA: UMA HISTÓRIA MUSICAL DA PARAÍBA NAS DÉCADAS DE 30 A 50

João Pessoa, março de 2006.

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LUCENI CAETANO DA SILVA

GAZZI DE SÁ COMPONDO O PRELÚDIO DA EDUCAÇÃO MUSICAL DA PARAÍBA: UMA HISTÓRIA MUSICAL DA PARAÍBA NAS

DÉCADAS DE 30 A 50.

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Doutor em Letras, na área de Literatura e Cultura.

Orientadora: Prof ª Dr ª Socorro de Fátima Pacífico Barbosa

João Pessoa, março de 2006.

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LUCENI CAETANO DA SILVA

GAZZI DE SÁ COMPONDO O PRELÚDIO DA EDUCAÇÃO MUSICAL

DA PARAÍBA: UMA HISTÓRIA MUSICAL DA PARAÍBA NAS DÉCADAS DE 30 A 50

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Doutor em Letras, na área de Literatura e Cultura.

Banca Examinadora ___________________________________

Prof ª Drª Socorro de Fátima Pacífico Barbosa (Orientadora)

________________________________

Prof ª. Drª. Jusamara Souza (Examinadora)

___________________________________ Prof ª Drª Maria Ignez Novais Ayala

(Examinadora)

________________________________

Prof. Dr. Radegundis Feitosa Nunes (Examinador)

_______________________________ Prof. Dr. Lúcio Fávio Vasconcelos

(Examinador)

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A José Carlos (marido), Fernando e

Lucas (filhos) com amor e carinho

pela paciência e companheirismo.

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AGRADECIMENTOS A José Carlos, meu marido, por estar presente em todos os momentos. Por também resolver todas as minhas dificuldades e problemas relacionados ao computador. A Socorro, minha orientadora, que me proporcionou a chance de crescer. Pelas suas orientações e chamadas firmes e necessárias, na intenção de abrir meus olhos para as coisas que ainda não conseguia enxergar. Pela coragem e gentileza de se dispor a trilhar caminhos novos em direção à música. Pelo apoio e compreensão no momento da mudança do personagem principal do trabalho, me fazendo compreender que era o resultado de toda a pesquisa já desenvolvida. Agradeço por estar do meu lado quando necessitava de tempo para superar as minhas dificuldades. E pela amizade que conseguimos construir durante esse período. A Jusamara que me mostrou um caminho menor e rico de seguir com a pesquisa. A Maura Penna que ajudou a enxergar quais os primeiros passos que poderiam ser dados, no momento conflitante de mudança de personagem principal. Não esquecerei aquela conversa amiga que me encorajou a seguir o novo rumo na pesquisa. Aos professores do curso da Pós-Graduação, que tive oportunidade de tê-los como professores.

A todos os entrevistados que foram de suma importância para pesquisa. Agradeço pelo material cedido. A Marcus Antonius, grande amigo e fotógrafo, que não mediu esforços para fazer quantas fotos fossem necessárias. A Socorro, funcionária da secretaria da Pós-Graduação, que sempre me atendeu tão gentilmente com sua calma e tranqüilidade. A Isabel, minha sogra, que esteve presente nos momentos finais, dando força na organização familiar. A Girlene pela leitura cuidadosa e delicadas sugestões. A Fabiana pela pontual revisão bibliográfica transmitindo segurança com relação ao tempo. A Marcílio pela gentileza de ouvir os meus argumentos com relação ao resumo.

Aos amigos que souberam entender a minha ausência em alguns encontros. E a todos que de alguma forma contribuíram para realização deste trabalho.

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Pois, se o retrato não me responde e apenas me fita, contemplando-se

em meus olhos empoeirados, não é seu silêncio que inquieta, mas a

profusão das falas que emite. Na tentativa de ordená-las,

esquadrinha-se um método. Não se escapa, no entanto, de ver em

meus olhos empoeirados, novamente, o retrato a se contemplar.

Diana Gonçalves Vidal

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RESUMO

Esta pesquisa analisa, discute e conta a história de Gazzi de Sá que se confunde com a história da música na Paraíba nas décadas de 1930 a 1950. Ao tomar como base o livro Gazzi de Sá, do historiador paraibano Domingos de Azevedo, foi possível ampliar e descobrir outras narrativas e personagens desse período. A par desses fatos, evidencia-se Gazzi de Sá como responsável pela educação musical de sua terra bem como um promotor cultural, além de empreendedor de vários eventos culturais no Estado. Sua trajetória de vida, incluindo a importância de sua família para o desenvolvimento do Estado, traz ao conhecimento de todos a história de resistência da Escola de Música do Estado criada por ele em 1929. Entre os vários projetos realizados na Paraíba sob seu comando, destaca-se o movimento do canto orfeônico – projeto criado por Villa-Lobos, das grandes concentrações orfeônicas. Ao sair do seu Estado em 1947, para ensinar no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico do Rio de Janeiro, a convite de Villa-Lobos, Gazzi de Sá permaneceu mantendo esforços para continuar a sua obra musical na Paraíba. No Rio de Janeiro, dedicando-se ao ensino na área de educação musical, foi reconhecido como um grande professor e deixou os seus ensinamentos registrados em um método de musicalização, uma contribuição para a educação musical no Brasil. Palavras-chave: História da música na Paraíba, Gazzi de Sá, Educação Musical.

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ABSTRACT

This research analyses, discusses and narrates the story of Gazzi de Sá which is closely connected to the history of music in Paraíba between the 1930’s and the 1950’s. The book Gazzi de Sá – written by the historian Domingos de Azevedo from Paraíba - formed the basis for developing and discovering other stories and characters of this period. Being aware of these facts, it becomes clear that Gazzi de Sá was responsible not only for the music education in his homeland but also for the promotion of culture, and the undertaking of several cultural events in the state of Paraíba. His life story, which includes the important role of his family in the development of the state, reveals the history of endurance of the Escola de Música do Estado which he founded in 1929. Among the several projects carried out under his control in Paraíba, the community singing movement – a project which was created by Villa-Lobos – stands out from the great community singing concentrations. When he left his state in 1947 to be a teacher at Conservatório Nacional de Canto Orfeônico do Rio de Janeiro, accepting an invitation made by Villa-Lobos, Gazzi de Sá made every effort to ensure continuity of his music work in Paraíba. Since he devoted himself to the teaching of music education in Rio de Janeiro, he was regarded as a great teacher and he left his teachings recorded in a method for musicalization - a contribution to music education in Brazil. Keywords: History of music in Paraíba, Gazzi de Sá, Music Education

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Lista de fotos Página

Foto 1 Fachada da casa do avô de Gazzi de Sá. .................................................. 20

Foto 2 Detalhe da fachada superior com as iniciais do nome do avô. ................ 20

Foto 3 Primeiro cinema da capital da Paraíba. ................................................... 22

Foto 4 Casa do pai de Gazzi de Sá. ..................................................................... 23

Foto 5 Casa onde foi instalada a primeira empresa de telefone da Paraíba. ....... 24

Foto 6 Gazzi quando estudava no curso ginasial do Colégio Pio X. .................. 26

Foto 7 Quando Gazzi fazia medicina em 1923. .................................................. 27

Foto 8 Gazzi de Sá e as professoras Maya Fauser e Carmem Barros. ................ 29

Foto 9 Professor Gazzi de Sá regendo diante do túmulo de Anthenor Navarro. 40

Foto 10 Gazzi de Sá na inauguração da praça Anthenor Navarro. ....................... 41

Foto 11 Curso de Piano Soares de Sá. .................................................................. 43

Foto 12 Casa onde funcionou a Escola de Música, em 1931. ............................... 44

Foto 13 Casa dos pais de Gazzi de Sá. .................................................................. 44

Foto 14 Prédio onde foi a residência de Gazzi de Sá, por volta de 1936. ............. 46

Foto 15 A quarta casa de Gazzi de Sá, na rua Odon Bezerra. .............................. 47

Foto 16 Casa de Luzia Simões. ............................................................................. 49

Foto 17 Casa doada por José Américo de Almeida para Escola de Música. ........ 50

Foto 18 Edifício Epitácio Pessoa, conhecido como edifício dos 18 andares. ....... 51

Foto 19 Momento do acordo do IAPB com o Governo. (1956). .......................... 53

Foto 20 Casa ao lado da catedral. ......................................................................... 54

Foto 21 Casa da rua Duque de Caxias. ................................................................. 56

Foto 22 Solenidade da criação do Curso Colegial Artístico. ................................ 57

Foto 23 Primeira turma concluinte (1965) dos alunos do Colegial Artístico ....... 58

Foto 24 Casa de Gazzi de Sá. ................................................................................ 60

Foto 25 Casa da rua D. Pedro I. ............................................................................ 61

Foto 26 Última casa por onde a escola passou antes do Espaço Cultural. ............ 62

Foto 27 Visão externa do Espaço Cultural. .......................................................... 63

Foto 28 Visão interna do Espaço Cultural. ........................................................... 63

Foto 29 A entrada da Escola de Música Anthenor Navarro. ................................ 64

Foto 30 Entrada da Escola de Música Anthenor Navarro ao fundo. .................... 65

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Foto 31 As concentrações orfeônicas regidas por Gazzi de Sá. ........................... 71

Foto 32 Gazzi de Sá com os alunos no interior da Escola Normal, década de 30. 77

Foto 33 Integrantes da Embaixada Artística Educacional. ................................... 78

Foto 34 Gazzi de Sá após uma aula de canto orfeônico em Montevidéu. ............ 79

Foto 35 Gazzi de Sá e o Coral Villa-Lobos. ......................................................... 81

Foto 36 Ambrosina de Sá (Dona Santina) e o Coral Villa-Lobos. ....................... 81

Foto 37 Primeiro concerto da Orquestra Sinfônica da Paraíba. ............................ 83

Foto 38 Villa-Lobos com os alunos do Conservatório Nacional de Canto

Orfeônico no Rio. ....................................................................................

89

Foto 39 Concluintes do Conservatório e os professores em 1955. ....................... 91

Foto 40 Turma de Luzia Simões no Conservatório Nacional de Canto

Orfeônico, em 1954. ................................................................................

91

Foto 41 Concentração orfeônica sob a regência de Luzia Simões. ....................... 92

Foto 42 Luzia regendo uma concentração orfeônica. ........................................... 93

Foto 43 Última apresentação de concentração Orfeônica na Paraíba em 1952. ... 94

Foto 44 Coral “Madrigal da Paraíba” sob a regência de Luzia Simões ................ 95

Foto 45 Coral Villa-Lobos, sob a regência de Luzia Simões Bartolini. ............... 96

Foto 46 Alunos da Escola de Música Anthenor Navarro. Bandinha rítmica. ....... 100

Foto 47 Alunos da Anthenor Navarro, na frente da casa da rua General Osório. 100

Foto 48 Formatura da primeira turma de Conservatório de Canto Orfeônico da

Paraíba em 1957. .....................................................................................

102

Foto 49 Gazzi de Sá ministrando aula no Conservatório Nacional de Canto

Orfeônico. ................................................................................................

104

Foto 50 Gazzi de Sá no jornal, pondo em prática a sua coluna. ........................... 109

Foto 51 Foto na escadaria da Escola Normal. (com Bidú Sayão) ........................ 111

Foto 52 Sessão inaugural de fundação da Sociedade dos Amigos da Música. ..... 119

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Lista de figuras

Página

Figura 1 Programa da primeira audição dos alunos de Gazzi de Sá, em 1925. ..... 30

Figura 2 Programa da primeira audição de alunos da Escola de Música. .............. 31/32

Figura 3 Audição Villa-Lobos, m 12 de junho de 1930. ........................................ 36

Figura 4 O menor regente paraibano Temístocles Bezerra. ................................... 73

Figura 5 Reportagem sobre a primeira irradiação da SEA. ................................... 74

Figura 6 Documento em agradecimento a Gazzi de Sá. ........................................ 80

Figura 7 Documento de Villa-Lobos atestando a capacidade de Gazzi de Sá. ...... 85

Figura 8 Diploma do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico de Luzia

Simões, 1955. ..........................................................................................

90

Figura 9 Programa do 1º. dia da Missão Artística Musical. .................................. 98

Figura 10 Programa do 2º. dia da Missão Artística Musical. ................................ 99

Figura 11 1a coluna Notas de Artes. ........................................................................ 108

Figura 12 Bidú Sayão com o coral do Lyceu Parahybano. ...................................... 111

Figura 13 Programa do Concerto de Bidú Sayão ..................................................... 112

Figura 14 Manchete de jornal anunciava a apresentação do Festival. ..................... 114

Figura 15 Capas dos programas dos Festivais, dos anos de 1940 e 1942. ............... 115

Figura 16 Manchete de jornal mostrando cena da apresentação do Festival de

Arte de 1936. ...........................................................................................

115

Figura 17 O orfeão “Carlos Gomes ......................................................................... 116

Figura 18 Cenas de jornal do Festival de Arte de 1941. ......................................... 117

Figura 19 Anúncio do Concerto de estréia da SAM .............................................. 120

Figura 20 Programa do 1o Concerto da Sociedade dos Amigos da Música. ........... 120

Figura 21 12 º Concerto da Sociedade dos Amigos da Música. .............................. 122

Figura 22 Programa apresentado no Festival de Arte de 1941. ............................... 126

Figura 23 Programa do Festival de Arte de 1937. ................................................... 129

Figura 24 Música extraída da cultura popular, harmonização de Gazzi de Sá. ....... 134

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SUMÁRIO DOS ANEXOS

ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

ANEXO A: ACERVOS E ARQUIVOS CONSULTADOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

ANEXO B: RELAÇÃO DOS ENTREVISTADOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152

ANEXO C: RECORTES DE JORNAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153

ANEXO D: PLANTA DA ESCOLA DE MÚSICA ANTHENOR NAVARRO. . . . 212

ANEXO E: ENTREVISTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215

ANEXO F: DEPOIMENTO DE LUZIA SIMÕES DATILOGRAFADO . . . . . . . . . 276

ANEXO G: E-MAILS DE ERMANO SOARES DE SÁ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285

ANEXO H: DEPOIMENTOS SOBRE O MÉTODO GAZZI DE SÁ . . . . . . . . . . . . 289

ANEXO I: FOTO DE GAZZI DE SÁ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 13

1. CAPÍTULO I - Gazzi de Sá: um personagem de romance . . . . . . . . . . . . p. 19

1.1- Gazzi de Sá e o destino musical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 25

1.2 - O contexto histórico de 1930 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 35

1.3 - A morte de Anthenor Navarro e as conseqüências para a Escola de Música . . . . p. 38

2. CAPÍTULO II - Escola de Música: sinônimo de resistência . . . . . . . . . . p. 42

3. CAPÍTULO III - Os contos do canto orfeônico na Paraíba . . . . . . . . . . . p. 66

3.1- Luzia Simões e a responsabilidade de continuar uma obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 90

4. CAPÍTULO IV - Gazzi de Sá: um promotor cultural . . . . . . . . . . . . . . . . p. 107

4.1 - Os festivais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 114

4.2 - A Influência da cultura popular no trabalho de Gazzi de Sá . . . . . . . . . . . . . . . p. 124

CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 136

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 139

ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 150

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INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta uma história singular, uma vez que foi sendo gerado de forma

natural e inusitada, mesmo antes de Gazzi de Sá ter se transformado no principal objeto de

estudo, pois, inicialmente, na tentativa de fazer uma leitura sobre a “música erudita” na

Paraíba, elegi como principal interesse de pesquisa o professor e pianista Gerardo Parente,

que, através da sua história, seria feita uma leitura da década de 1950 a 1990, devido a sua

atuação em todos os movimentos musicais desse período, inclusive na criação do curso de

música da Universidade Federal da Paraíba. A pesquisa, de fato, foi realizada: escrevi toda a

sua trajetória desde o momento em que colocou a mão no piano pela primeira vez, aos cinco

anos de idade, em sua cidade de Fortaleza–CE, até chegar a João Pessoa–PB, atraído pelo

grande movimento musical existente na época, quando passava em tournée pela cidade.

Entre as inúmeras descobertas, uma me chamou mais atenção: a efervescência musical

daquele momento havia se iniciado entre 1930 e 1940, com Gazzi de Sá, um paraibano

nascido em João Pessoa. Embora o próprio Gerardo Parente tenha me levado a essas décadas

para completar a sua história, e esclarecido bastante acerca daquele momento e suscitado

muitas outras indagações, não conseguia ultrapassar tal período, tendo em vista as

significativas descobertas históricas envolvendo essa época e personagens da história

paraibana, entre os quais Anthenor Navarro e José Américo de Almeida, que também

contribuíram em favor da música no nosso Estado.

Com o desenvolvimento da pesquisa e riqueza do material levantado nos jornais e

arquivos, compreendi que este trabalho deveria ser voltado para as décadas de 1930 a 1950,

tendo como personagem principal Gazzi de Sá. A escolha deu-se por duas razões: a primeira

por ter sido responsável pelo intenso movimento do canto orfeônico na Paraíba, em 30 e 40 −

um projeto criado por Villa-Lobos, implantado no país pelo presidente Getúlio Vargas, mas

pouco visto e estudado fora do território do Rio de Janeiro, local onde o projeto era

desenvolvido pelo próprio Villa-Lobos; a segunda diz respeito ao seu papel de grande

educador e promotor cultural na Paraíba, portanto, merecedor de uma pesquisa que mostrasse

a sua relevância para a história da música na Paraíba.

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14

Dessa forma, apesar de um pouco de resistência em deixar para trás tudo o que já

havia pesquisado sobre o projeto inicial, percebi que a contribuição deste estudo seria maior,

até mesmo para a história da educação musical do país, se escrevesse sobre a importância de

Gazzi de Sá na educação musical da Paraíba, ressaltando a sua atuação como um grande

professor, responsável pela criação de um método de musicalização. Além disso, havia a

necessidade de trazer à tona a história desse paraibano, tendo em vista ser um nome mais

conhecido no Rio de Janeiro que em seu próprio Estado, por ter fixado residência naquela

cidade a partir de 1947.

As novas gerações de músicos da Paraíba desconhecem a história do homem que

praticamente estruturou a música e especificamente a educação musical em nosso Estado.

Recentemente, ao comentar com um colega músico acerca desta investigação, esse qualificou

Gazzi de Sá como um carioca que escreveu um método baseado em quintas. O exemplo serve

para confirmar a necessidade de trazer para o centro dos estudos o registro da trajetória da

música na Paraíba, especialmente um protagonista como Gazzi de Sá, impedindo que o tempo

o torne cada vez mais imerso no desconhecimento da nossa história musical.

Felizmente, podemos contar com o trabalho do único historiador a se debruçar sobre o

período de que trato − Domingos de Azevedo Ribeiro, cuja obra recebeu o nome Gazzi de Sá.

Esta pesquisa vem, portanto, discutir e contar histórias; algumas originais, outras sabidas e

conhecidas, muitas das quais a partir do livro de Domingos de Azevedo, histórias por vezes

apenas citadas por ele, e aqui ampliadas, divididas em capítulos, a saber:

No primeiro capítulo – Gazzi de Sá: um personagem de romance –, apresento o papel

autobiográfico desse protagonista da história da música paraibana, a partir das informações

fornecidas por Domingos de Azevedo Ribeiro que o define como parte de uma “família

distinta” e importante para o desenvolvimento da Paraíba. Além de mostrar o percurso

profissional de Gazzi de Sá até se tornar músico, situo os acontecimentos musicais no

contexto histórico dos anos 1930.

Ainda no sentido de ampliar ou contar a história de Domingos de Azevedo Ribeiro

sobre Gazzi de Sá, discuto e apresento no segundo capítulo – Escola de Música: sinônimo de

resistência – a Escola de Música criada por Gazzi de Sá na capital paraibana, porém, conto

tanto a respeito da história já sabida como histórias de bastidores, contadas por personagens

contemporâneos do protagonista, incluindo o percurso geográfico por que passou a Escola de

Música Anthenor Navarro, exibindo as fotos de todos os locais onde ela funcionou.

No terceiro capítulo – Os contos do canto orfeônico –, traço um paralelo entre o canto

orfeônico existente no Rio de Janeiro e na Paraíba; este desenvolvido por Gazzi de Sá, aquele

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15

por Villa-Lobos. Ademais, discorro sobre a estreita ligação entre esses dois amantes da

música. Em seguida, apresento a sua atuação como professor no Conservatório Nacional de

Canto Orfeônico, no Rio de Janeiro, e o seu empenho em criar um Conservatório de Canto

Orfeônico na Paraíba, mesmo já tendo fixado residência no Sudeste do país, reforçando,

através das histórias apresentadas, seu relevante papel como educador musical na Paraíba.

No último capítulo – Gazzi de Sá: um promotor cultural –, torno visível a sua atuação

como promotor cultural. Neste capítulo, apresento a proposição principal da tese, qual seja:

Gazzi de Sá foi o grande produtor cultural, incentivador da música na Paraíba e, basicamente,

responsável pela transformação da música no Estado de forma sistematizada até hoje. Mostro,

ainda, a valorização com que Gazzi de Sá tratava os compositores brasileiros; da mesma

forma comprovo o seu interesse em pesquisar a música da cultura popular.

Para esta pesquisa, utilizei como suporte teórico a concepção de história oral de

Thompson (1992, p. 44).

[...] uma história constituída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Traz a história para dentro da comunidade e extra i a história de dentro da comunidade.

O método da história oral é utilizado por muitos estudiosos, "particularmente por

sociólogos, antropólogos e jornalistas, que não se consideram historiadores. Contudo, todos

eles podem estar escrevendo história; e, sem dúvida, estão promovendo a história"

(THOMPSON, 1992, p. 104)

Ainda recorri a diversos depoimentos, os quais serviram como fonte oral para

fundamentar a questão histórica social da música na Paraíba. Como afirma Beth Brait (1997),

é preciso não perder de vista o dialogismo duplo de indissolúvel dimensão. Um diz respeito

ao permanente diálogo, nem sempre harmonioso, existente entre discursos. Um outro diz

respeito às relações que se estabelecem entre o eu e o outro, como discursos instaurados

historicamente pelos sujeitos. No mesmo pensamento, a autora menciona que Bakhtin (1997)

se refere ao eu que se realiza no nós, insistindo não na síntese, mas no caráter polifônico dessa

relação exibida pela linguagem. É nesse sentido que analisei essas falas, como discursos de

sujeitos sócio-históricos que refletem e refratam outros discursos.

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16

Como a maioria dos depoimentos foi dada por idosos, é possível se verificar uma

história social já bem desenvolvida, fruto de experiências vividas na sociedade, na família e

culturalmente reconhecíveis. Segundo Ecléa Bosi (1979, p.22):

Pode ser desenhada sobre um pano de fundo mais definido do que a memória de um jovem, ou mesmo adulto, que ainda está absorvido nas lutas e contradições de um presente que o solicite muito mais i ntensamente do que a uma pessoa de idade.

Sobre o idoso, Ecléa Bosi (1979, p. 48) esclarece ainda a função da memória,

afirmando que “hoje, a sua função é o conhecimento do passado que se organiza, ordena o

tempo, localiza cronologicamente”.

Há alguns anos, era muito comum as pessoas ouvirem as histórias dos mais velhos.

Mas esta prática decaiu, talvez porque tenha decaído o hábito de trocar experiências. “Hoje

não há mais conselhos, nem para nós nem para os outros. Na época da informação, a busca da

sabedoria perde forças, foi substituída pela opinião” (BOSI, 1979, p. 42-43).

Através das entrevistas com os personagens dessa história, outros personagens iam

sendo descobertos à medida que eram indicados pelos entrevistados. Estes, ao sentir a

necessidade de confirmar ou acrescentar seus discursos, faziam a indicação. Por conseguinte,

utilizei-me da memória coletiva para que essas pessoas se apoiassem não somente em suas

lembranças, mas também na dos outros, dando-lhes maior confiança na exatidão de sua

evocação, “como se uma mesma experiência fosse recomeçada, não somente pela mesma

pessoa, mas por várias” (HALBWACHS, 1990, p. 25).

Ainda segundo o autor, através da memória coletiva, pode acontecer,

com efeito, que uma ou mais pessoas, reunindo suas lembran ças, possam descrever muito exatamente os fatos ou objetos que vimos ao mesmo tempo que elas, e mesmo reconstituir toda a seqüência de nossos atos e de nossas palavras dentro das circunstâncias deferidas, sem que nos lembrássemos de tudo aquilo (HALBWACHS, 1990, p. 27).

Assim, se a memória coletiva tira sua força e sua duração do fato de ter por suporte um

conjunto de homens, não obstante eles são indivíduos que se lembram, enquanto membros do

grupo. Desse conjunto de lembranças comuns, e que se apóiam uma sobre as outras, não são

as mesmas que aparecerão com mais intensidade para cada um deles. Seguindo Halbwachs

(1990), diríamos que “voluntariamente cada memória individual é um ponto de vista sobre a

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17

memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o lugar que ali eu ocupo, e que

mesmo este lugar muda segundo as relações que mantenho com outros meios”.

A memória coletiva se distingue da história pelo menos sob dois aspectos. “É uma

corrente de pensamento contínuo, de uma continuidade que nada tem de artificial, já que

retém do passado, somente, aquilo que ainda está vivo ou capaz de viver na consciência do

grupo que a mantém” (HALBWACHS, 1990, p. 81). A segunda característica pela qual ela se

distingue da história é que há, com efeito, muitas memórias coletivas.

Cada grupo tem uma história, neles distinguimos imagens e acontecimentos. O que nos chama a atenção é que, na memória, as similitudes passam, entretanto para o primeiro plano. O grupo, no momento em que considera seu passado, sente acertadamente que permaneceu o mesmo e toma consciência de sua identidade através do tempo, porque o que mudou foram as relações ou contatos do grupo com os outros. Entretanto, a história deixa parecer esses intervalos onde nada acontece aparentemente, onde a vi da se limita a repetir-se, sob formas um pouco diferentes, mas sem alteração essencial, sem ruptura, nem revoluções (HALBWACHS, 1990, p. 87).

Quanto ao tempo e à forma da história que são examinados, observa-se a seguinte

distinção:

[...] a história examina os grupos de fora, e porque ela abrange uma duração bastante longa. A memória coletiva, ao contrário, é o grupo visto de dentro, e durante um período que não ultrapasse a duração média da vida humana, que lhe é, freqüentemente, bem inferior (HALBWACHS, 1990, p.88).

Tal concepção está de acordo com a análise feita sobre a vida musical ativa do

professor Gazzi de Sá. Apesar de as pessoas de sua geração com as quais conviveram estarem

se extinguindo, ainda pude averiguar os relatos colhidos, através dos depoimentos dos

entrevistados, com as reportagens de jornais pesquisadas.

Para a realização deste trabalho, as pesquisas em jornais foram de suma importância,

bem como a utilização de um gravador portátil. Sobre esse procedimento, Triviños (1987,

p.148) defende que “se a entrevista gravada é acompanhada de anotações gerais sobre atitudes

e comportamentos do entrevistado, pode contribuir melhor ainda aos esclarecimentos que

perseguem o cientista”. As anotações serviram para a elaboração dos relatos de visita, como

também no momento da transcrição das gravações, de forma a facilitar a descrição dos gestos

ou pausas do entrevistado para explicar determinadas situações.

Page 19: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

18

Fazendo uso dos avanços da tecnologia, recorri aos recursos de e-mail e páginas de

internet. Acrescidos a esses instrumentos, foi também utilizada uma câmera fotográfica

digital, que proporcionou o direito de fotografar as reportagens dos jornais, caso contrário não

teria acesso aos recortes de jornais anexados a este trabalho. A câmara digital foi igualmente

útil para registrar os recortes de jornais e para algumas fotos das casas, enquanto as demais

fotos foram tiradas com máquina convencional, exceto as adquiridas de arquivos pessoais,

fontes bibliográficas ou jornais.

Um traço marcante, neste trabalho, é a utilização da fotografia como uma importante

fonte histórica, visto que acredito no discurso construído através da fotografia como uma

outra forma do dizer. Para tanto, apropriei-me do pensamento de Vidal (1998), ao defender

que o belo registro fotográfico, além de emocionar, representar, produzindo imagens do

passado, apesar de desterradas do caráter de uma verdade, abre-se à leitura de múltiplas

verdades sobre o ontem.

Do ponto de vista da análise desses dados, tive sempre a preocupação em não esquecer

que estava lidando com discursos, naturalmente nem sempre harmoniosos, que me falavam de

uma história social e cultural múltipla e heterogênea, com vários pontos de vista.

Page 20: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

19

CAPÍTULO I − GAZZI DE SÁ: UM PERSONAGE M DE ROMANCE

Na Paraíba, no século XXI que se inicia, tornou-se comum presenciar o crescimento

do número de pessoas que produz música, a considerada “música erudita”, bem como o

crescimento do número de orquestras, principalmente de orquestras jovens, além do

surgimento de grupos de música de câmara.

Essa expansão musical é fruto de um trabalho muito bem estruturado por um professor

que se responsabilizou, em nosso estado, pelo movimento nacional de música estabelecido no

país, inclusive com o ensino obrigatório de música nas escolas, preparando excelentes alunos

para ajudá-lo nessa tarefa a fim de dar continuidade aos seus ensinamentos. Gazzi de Sá criou

uma escola oficial de música e trouxe excelentes músicos para se apresentar na cidade de João

Pessoa, se esforçando para criar, nos cidadãos paraibanos, um gosto pela música erudita.

Aliado ao fato de Gazzi de Sá ter sido um dos primeiros paraibano a iniciar a educação

musical sistematizada em nosso Estado, soma-se o impulso que houve a partir dos anos de

1980, no governo de Tarcísio de Miranda Burity, estrutura da qual tratarei no capítulo III,

configurando, dessa forma, iniciativas, com formações sólidas, capazes de resistir ao tempo,

quando até hoje são visíveis os resultados.

Descobri a origem dessa estrutura ou movimento musical quando comecei pesquisar a

década de 1950 e quis saber por que e quando se organizou a efervescência musical na

Paraíba daquela década. Desse modo, fui retornando ao tempo e, depois de um longo

percurso, através de várias entrevistas, fotografias, leituras bibliográficas, pesquisas de jornais

e, principalmente, após o conhecimento da história da Paraíba de 1930, descobri que tudo

começou com Gazzi de Sá no ano de 1929. Antes, porém, de comentar sobre os acontecimentos de 1930, considero relevante

apresentar a origem do principal personagem desta pesquisa, mostrando discursos de outros

personagens que até o momento encontravam-se no silêncio, apesar de terem sido de suma

importância para o desenvolvimento da Paraíba.

A família Gazzi de Sá se origina do nome Henriques de Sá, Manoel Henriques de Sá e

Ana Jacinta Medeiros Henriques de Sá, avós paternos de Gazzi de Sá, que moravam em

Page 21: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

20

Catolé do Rocha, uma cidade localizada no sertão da Paraíba. Fugindo das inúmeras secas que

assolavam o sertão paraibano, resolveram sair da cidade de origem para a capital do estado,

que ainda se chamava Parahyba, em 1873, antes da grande seca de 1877, quando o pai de

Gazzi tinha apenas três anos de idade.

Conta Manoel Henriques de Sá Campos, sobrinho de Gazzi de Sá, em entrevista, que o

menino Gazzi de Sá, “veio dentro de um caçuá, que é um tipo de cesto que se coloca no

lombo do burro ou de um cavalo, um cesto em cada lado do animal, naquela época não havia

trem e o único meio de transporte era esse, o cavalo ou o burro”. Esse relato representa um

pouco da “família ilustre”, a que se refere Domingos de Azevedo Ribeiro (1977, p. 15). Tal

denominação à família aguçou a minha curiosidade em saber qual era o seu real significado.

Eis algumas descobertas:

Seus avós vieram para capital e aqui se estabeleceram na rua Duque de Caxias (foto

1), onde ainda hoje existe a antiga casa, embora permaneça somente de pé a sua parte frontal,

contendo na parte superior de sua fachada as iniciais do nome do avô de Gazzi, Manoel

Henriques de Sá – MHS.

Foto 2 – (acima) Detalhe da fachada superior com as iniciais do nome do avô: MHS – Manoel Henriques de Sá. Foto: (ANTÔNIUS, Marcus 2005).

Foto 1−(esquerda) Fachada da casa do avô de Gazzi de Sá, que se encontra em ruínas, na atual rua Duque de Caxias. Foto: (CUSTÓDIO, José Carlos, 2005).

Page 22: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

21

A casa da antiga rua Direita, atual rua Duque de Caxias, que pertenceu ao avô de Gazzi de Sá,

ainda é da família. Pertence aos herdeiros do tio Raul (irmão do pai de Gazzi de Sá). Dois

desses herdeiros ainda vivem em João Pessoa, dois vivem no Rio de Janeiro e três já são

falecidos.

O avô de Gazzi de Sá era um homem adepto às inovações. Gostava, especialmente, de

comercializar objetos que na época eram novidades, como, por exemplo, a fotografia. Foi o

primeiro paraibano a colocar uma casa de fotografia quando ninguém entendia o

funcionamento do processo químico de fixar a imagem no papel. Criou uma gráfica, porque a

falta de uma na cidade era um problema muito sério no período; além disso, instalou uma

importadora de móveis e utensílios domésticos, produtos que só chegavam à cidade graças

aos serviços de importação de Seu Manoel Henriques. Segundo relato da família, ele mudava

anualmente os móveis da casa, renovando tudo, pela facilidade que tinha de comprar e vender

tais produtos.

Por sua vez, o seu filho, aquele que veio aos três anos para a capital, além de ter

herdado o nome do pai, Manoel Henriques de Sá Filho, herdou o seu lado empreendedor.

Quando adulto, casado e já sendo pai de Gazzi de Sá, apresentou a primeira fita de cinema na

capital, no teatro Santa Roza, dessa forma fundou o cinema na capital, ou melhor, do Estado.

Como na época, obviamente, o cinema era mudo, contava com a presença de músicos que

tocavam ao vivo. A princípio, as apresentações aconteciam no teatro Santa Roza;

posteriormente, nos três outros cinemas construídos por ele: dois em João Pessoa e um na

cidade vizinha de Santa Rita, cidade natal de sua esposa. Dois deles receberam os nomes de

Cine Edson e Cine Morse. Infelizmente não foi possível descobrir o nome do terceiro cinema.

Esses nomes foram dados em homenagem a dois dos oito filhos, frutos do casamento com

Maria Leopoldina Galvão de Sá, São eles: Alice Sá Corrêa de Oliveira, Gazzi Galvão de Sá,

Renato Galvão de Sá, Amanda Galvão de Sá Ribeiro Campos, Hermes Galvão de Sá, Edson

Galvão de Sá, Morse Galvão de Sá e Walfredo Galvão de Sá.

O cinema apresentado na foto 3, depois de algum tempo, passou a ser chamado de

Cine Filipéia. Infelizmente, as novas gerações desconhecem completamente que já houve, um

dia, cinema na rua General Osório.

Page 23: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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Foto 3 – Primeiro cinema da capital da Paraíba, construído por Manoel Henriques de Sá Filho

(pai de Gazzi de Sá), não se sabe se era Cine Edson ou Cine Morse. Foto: (CAETANO, Luceni, 2005).

Em entrevista, o sobrinho de Gazzi de Sá, filho da sua irmã Amanda, que também tem

o mesmo nome do avô – Manoel Henriques de Sá Campos – revela outra façanha do avô: foi

ele quem colocou a primeira empresa de telefone em João Pessoa, evidentemente a primeira

do Estado. Tudo aconteceu casualmente. O pai de Gazzi foi levar sua filha mais velha, Alice,

para estudar na Suíça. Chegando lá, tomou conhecimento desse novo meio de comunicação e

resolveu trazer um par do aparelho. Colocou um na sua casa e o outro na casa do seu pai.

Comenta Manoel Henriques:

As pessoas vendo aquela novidade, um falando de cá, outro de lá, foram querendo também, e ele começou a comprar para as pessoas. Quando viu, já eram vinte telefones. Então, ele criou uma empresa 1.

1 Entrevista realizada em 09/04/2005. Gravada em fita magnética de 60 minutos.

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Foto 4 – Casa do pai de Gazzi de Sá e, ao fundo do lado direito, observa-se o prédio da empresa de telefone criada por ele. Esta casa hoje vende material hospitalar.

Foto: (CAETANO, Luceni, 2005).

A primeira empresa, cuja razão social é denominada Sá Filho & Cia, foi instalada na

ladeira Feliciano Coelho, que começa na rua General Osório, próxima à loja maçônica Branca

Dias, numa casa de primeiro andar pequena, de frente à rua São Mamede. Uma curiosidade da

época, observada pelo sobrinho de Gazzi de Sá, é que

Hoje em dia, os fios de telefone são nos postes. Naquela época, meu avô já colocou tudo subterrâneo, eram tantos mil telefones e toda a fiação era subterrânea. E a empresa foi crescendo cada vez mais. A minha av ó foi a primeira telefonista, porque naquela época era tudo manual, se pedia a ligação e se colocava fio prá lá, fio prá cá. E um certo dia, minha avó se esqueceu que era telefonista e saiu, então foi uma imensa reclamação para o meu avô. Acho engraçado contar isto (Manoel Henriques)2.

A parte superior da casa onde funcionou a empresa era coberta por uma pirâmide de

base quadrática, cujas faces triangulares laterais eram formadas por vitrais coloridos. Hoje,

funciona a ÍTER – Engenharia de Construções LTDA.

2 Entrevista realizada em 09/04/2005. Gravada em fita magnética de 60 minutos.

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Foto 5 – Casa onde foi instalada a primeira empresa de telefone da Paraíba – hoje funciona uma empresa de engenharia. Foto: (CUSTÓDIO José Carlos, 2005).

A mãe de Gazzi, filha de senhor de engenho na época dos escravos, era considerada

uma mulher muito dinâmica para o seu tempo. Além de auxiliar o marido na empresa de

telefone, fazia bolos artísticos para a alta sociedade pessoense da época. O seu neto, Manoel

Henriques, conta como ela preparava esses bolos:

Ela se baseava em todo um instrumental vindo da Europa. Além dos inúmeros equipamentos apropriados, ela possuía muitos livros grandes, grossos e bem confeccionados com receitas e bonitas fotografias de modelos de bolos. Além de tudo, Dindinha era muito católica, organizada e g ostava de ler (Manoel Henriques)3.

Quando o pai de Gazzi de Sá faleceu, em 1937, a sua mãe assumiu a empresa com a

filha Amanda, porque três de seus filhos eram funcionários do Banco do Brasil, considerado o

3 Ibdem

Page 26: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

25

melhor emprego do país na época; as duas filhas não podiam ser nomeadas pelo Banco porque

eram mulheres; Morse se interessou por outro tipo de comércio; o caçula, Walfredo, que

ajudava o pai na empresa, morreu bem moço; e Gazzi, fugindo a tradição da família, dedicou-

se à música. Em face disso, nenhum dos filhos quis assumir a empresa, os que eram do Banco

do Brasil não quiseram deixar seus categorizados empregos, remunerados com catorze bons

salários ao ano. E os outros, que já tinham decidido os seus destinos, rejeitaram o trabalho no

comércio do pai. Logo, a matriarca, diante da recusa dos filhos, assumiu a administração da

empresa, juntamente com a filha Amanda, de 1937 a 1946, quando, já cansada, decidiu vendê-

la a Ericsson, empresa de telefone que até hoje atua no mercado brasileiro. Como a venda foi

bastante rentável, conta-se que daria para comprar umas trinta fazendas grandes no Estado, o

que corresponderia a um terço das terras da Paraíba, considerando que, na época, elas eram

valorizadas porque toda produção vinha delas e não havia ainda uma industrialização

fortalecida. Mesmo assim, a mãe não quis aplicar em fazendas, decidindo, então, dividir o

dinheiro em partes iguais entre ela e os oito filhos, ou seja, rejeitou os 50% que lhe eram de

direito, dividindo igualmente o montante da venda entre os herdeiros.

1.1– Gazzi de Sá e o destino musical

Quando Gazzi de Sá nasceu em 13 de dezembro de 1901, a família já estava

estabelecida economicamente. Dessa forma, a situação financeira dos seus pais permitia que

os filhos tivessem uma boa educação e estudassem nos melhores colégios da capital da

Paraíba: o primário, no tradicional Colégio Nossa Senhora das Neves; e o secundário, no

Colégio Pio X.

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Foto 6 – Gazzi quando estudava no curso ginasial do Colégio Pio X. Na fila do meio em pé da esquerda para direita, Gazzi de Sá é o terceiro. (RIBEIRO, 1977)

Não sendo muito comum, o nome Gazzi despertava e continua despertando a

curiosidade de algumas pessoas, inclusive a minha, em saber a razão desse nome. Para

esclarecer o fato, recorri à família, descobrindo com Manoel Henriques de Sá Campos sua

origem. A mesma versão é dada por Domingos de Azevedo Ribeiro, que relata: “Sobre a

origem do seu nome, um fato curioso aconteceu. Sua mãe costumava ler romances durante o

período da gravidez. Por acaso, encontrou o nome GAZZI, um personagem amante da música

e dotado de coração magnânimo” (RIBEIRO, 1977, p.16). Foi assim que surgiu o nome do

amante da música.

Seguindo os estudos, iniciados no Colégio Nossa Senhora das Neves e Pio X, Gazzi

foi para Salvador fazer o curso de medicina, pois seu pai o considerava muito inteligente,

ademais alimentava o sonho de ter um médico na família. Afinal, naquela época, era comum

os pais desejarem que seus filhos seguissem a carreira de médico, padre ou advogado.

Chegando em Salvador, consciente de sua tendência para música, Gazzi, com o

dinheiro mandado pelo pai destinado ao pagamento do curso que o tornaria médico, pagava

professores para ter aulas de piano e teoria musical. Quando o pai descobriu a sua dedicação

Page 28: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

27

extrema à música, retirou-lhe a mesada. Para seu Manoel Henriques, a música era apenas um

lazer, já que ele próprio tocava piano de ouvido e estimulava a filha Amanda aos estudos

desse instrumento. Felizmente, a mãe, solidária com o gosto do filho, continuou enviando

dinheiro às escondidas. O fato, porém, não o impediu de desistir da medicina definitivamente,

partindo de Salvador para o Rio de Janeiro, onde “estudou piano com o renomado mestre do

piano e crítico musical, Oscar Guanabarino e fez estudos preliminares de fuga, harmonia e

contra-ponto com outros mestres da época” (RIBEIRO, 1977, p. 15).

Foto 7 – Quando Gazzi fazia medicina em 1923, com outros estudantes paraibanos. Gazzi de Sá está sentado no centro da foto com os braços cruzados. Foto: (RIBEIRO, 1977 p. 27).

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28

O pai de Gazzi, então, exigiu que ele voltasse à Paraíba para assumir um cargo na

Empresa Telefônica, da qual era presidente e dono. Assim conta o paraibano Adhemar

Nóbrega4:

Ele volta e assume o cargo, isto é, submete -se à sentença. Mas, um operário da Companhia ia casar-se e solicitou seus bons ofícios para conseguir um empréstimo do patrão. Gazzi de Sá apadrinhou o pedido e transmitiu ao pai. A reação foi fulminante, em tom de desaprovação. Gazzi de Sá, desgostoso com a atitude do pai ante um pedido tão simples (tal como lhe parecia – ele não era capitalista nem empresário) retrucou -lhe que também não precisava de sua empresa para viver, portanto demitia -se: iria ser professor de piano. Mas o velho e orgulhoso Manoel Henriques não ficaria sem a última palavra: ao ouvir esse rompante de independência do filho, anunciou que derreteria na palma da mão o primeiro tostão que ele ganhasse como professor de piano. Felizmente desistiu em tempo de cumprir com a promessa: Gazzi anunciou-se com professor e foi bem-sucedido, não apenas do ponto de vista didático, mas também em termos de remuneração (SÁ, 1990, p. 06) 5.

Segundo Domingos de Azevedo Ribeiro, ao regressar à terra natal, Gazzi de Sá

também continuou seu estudo de piano com uma conceituada professora alemã, Maya Fauser,

que havia conquistado uma excelente receptividade do público paraibano pelas inúmeras

apresentações nos meios culturais da cidade. Considerada virtuose do piano, Fauser era

professora do Instituto Spencer, instalado na rua Visconde de Pelotas, nesta Capital. Este

estabelecimento de ensino teve uma evidente contribuição na formação artística e educacional

dos jovens paraibanos, pela competência de seu corpo docente e pela atualização dos métodos

empregados. Além de estudar com Maya Fauser, Gazzi de Sá estudou ainda com o professor

José Augusto, consagrado mestre pernambucano (RIBEIRO, 1977, p. 15).

4 Adhemar Alves Nóbrega foi ex-aluno de Gazzi de Sá, tornou-se Musicólogo paraibano, Membro da

AcademiaBrasileira de Música, Professor de História da Música e Prosódia Musical. 5 Trecho de Adhemar Nóbrega extraído do prefácio do método de musicalização de Gazzi de Sá.

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Foto 8 – Gazzi de Sá e as professoras Maya Fauser, à direita, e Carmem Barros, à esquerda. Números de piano e canto. Participação na Festa da Inteligência, em 20 de setembro de 1923. Foi a primeira apresentação do professor Gazzi em público (RIBEIRO, 1977, p. 41).

Apesar da exposição de Ribeiro (1977) sobre o Instituto Spencer ser reconhecido pela

competência do seu corpo docente e atualização dos métodos empregados, sabe-se que

naquela época o ensino de piano seguia

antigas receitas, tidas como infalíveis e passadas de geração em geração, sem que ninguém se desse ao trabalho de d iscutir-lhe a validade, atemorizaram ânimos mais valentes e extinguiram muitos talentos promissores. Conhecemos alguns professores remanescentes dessa fase obscurantista do ensino do instrumento, bem como algumas de suas vítimas. E os seus métodos? Uma vigilante régua de madeira ou um presto bastão vibrava golpes cruéis sobre os dedos crispados dos alunos, para corrigir -lhes um erro de nota (NÓBREGA, 1979, apud SÁ, 1990 p. 6).

Sem demora, Gazzi de Sá passou a ser professor de piano, pois havia conhecido novos

repertórios com seus estudos no Rio de Janeiro. “Basta dizer que foi Gazzi quem introduziu

BACH no ensino de piano em nossa terra. Até então, na Paraíba, o mestre dos mestres

continuava adormecido. Logo que se divulgou a “novidade”, os velhos professores

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“adotaram” BACH nos seus ensinamentos” (NÓBREGA, 1979, apud SÁ, 1990, p.6). Apesar

da sua pouca idade, Gazzi de Sá desde cedo já se destacava pela sua particular didática

musical.

Segue o primeiro programa da audição dos alunos de Gazzi de Sá. Observa-se, no

programa, quatro peças musicais do compositor Bach.

Figura 1: Programa da primeira audição dos alunos de Gazzi de Sá, em 1925. Programa:

(RIBEIRO, 1977, p. 43).

Page 32: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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Da mesma forma, o canto coral até o momento era desconhecido, pois não havia

nenhum registro de tentativa nesse sentido. “Esse território era ainda a selva virgem. A

primeira experiência do público paraibano com esse complexo instrumento de expressão

musical ocorreu numa audição, a 31 de agosto de 1931, por parte dos alunos da Escola de

Música fundada por Gazzi de Sá” (NÓBREGA, 1979, apud SÁ, 1990, p. 7). Segue abaixo o

programa citado.

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Figura 2: Programa da primeira audição de alunos da Escola de Música.

No final deste programa, três peças cantadas pelo orfeão feminino.

Programa: (RIBEIRO, 1977 p. 45-46).

Algum tempo depois, o pai de Gazzi de Sá, após assistir a uma das apresentações dos

alunos de seu filho, reconheceu o seu talento para música.

Ainda no que se refere à questão do nome Gazzi, cuja origem já foi citada

anteriormente neste capítulo, uma outra dúvida merece um esclarecimento acerca do seu

sobrenome. Apesar de ser Galvão de Sá – Galvão, da mãe e Sá, do pai –, encontrei algumas

vezes escrito Soares de Sá. Acredito que a explicação para o fato tenha sido a tão sólida união

com sua esposa, Ambrosina Soares, mais conhecida como Dona Santinha, pois, ao colocarem

a escola de música em casa, uniram os dois nomes, denominando-a de Curso de Piano Soares

de Sá, em 1929, quando tudo começou. O casamento foi realizado no dia 26 de maio de 1926

e tiveram quatro filhos: Fernando, Ermano, Marcelo e Geruza Soares de Sá e dez netos: dois

de Fernando, três de Ermano, dois de Marcelo e três de Gerusa.

Dos filhos de Gazzi de Sá, o mais velho, Fernando, quando criança, estudou um

pouco de violino, hoje, encontra-se aposentado como funcionário público do Rio de Janeiro.

O terceiro filho, Marcelo, é funcionário aposentado como aviador da empresa aérea Varig,

ambos residem no Rio de Janeiro. A sua única filha, Gerusa, a caçula, faleceu no ano de 2000

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33

vítima de câncer de mama. Gerusa foi sempre dona de casa, mas lia música (solfejava) muito

bem.

O seu segundo filho, Ermano, foi o único a seguir a carreira de músico. Iniciou-se na

música (piano e leitura musical) aos 4 anos e meio de idade, tendo seus pais como

professores, e já aos 5 anos tocava uma pequena peça durante um festival promovido por

Gazzi e Santinha de Sá. Dedicou-se ao piano até os 28 anos, contendo em seu currículo

inúmeras participações em audições de alunos de Gazzi de Sá e em muitos concertos

individuais, entre eles inclui-se a execução como solista com a Orquestra Sinfônica Brasileira,

tocando dois concertos de piano em 1951: Bachiana Brasileira número 3, com regência de

Walter Handl; e em 1952: Concerto número 2 para piano e orquestra, com regência de Eleazar

de Carvalho, ambas músicas de Villa-Lobos. A Bachiana também foi tocada na Rádio

Nacional com sua orquestra e regência de Alceo Bocchino.

Ermano Soares de Sá estudou piano com seu pai durante toda a infância e

adolescência, quando morava em João Pessoa; já no Rio de Janeiro, cursou o Conservatório

Nacional de Canto Orfeônico, como aluno de Villa-Lobos e Gazzi de Sá; estudou piano na

Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ocasião em que ganhou uma

bolsa de estudos para Paris, onde morou por algum tempo na capital francesa, com o objetivo

de aprofundar seus estudos de piano. Ao retornar ao Brasil, em 1957, resolveu se dedicar ao

ensino da música nas escolas de primeiro e segundo graus, tornando um conceituado

professor da rede estadual do Rio de Janeiro após passar em dois concursos estaduais.

Atualmente, ele está aposentado de dois cargos que exerceu na Prefeitura do Rio de

Janeiro bem como das funções exercidas no Centro Educacional de Niterói (CEN)6, iniciadas

a partir de 1960, quais sejam: Professor de Educação Musical, Coordenador de Educação

Musical e Regente dos Corais, Professor de Linguagem Musical na FACEN – Faculdade de

Formação de Professores do Centro Educacional de Niterói, onde ministrou aulas de

Educação Musical (antigo Canto Orfeônico). Porém, mesmo depois de aposentado, não parou

de trabalhar.

No momento, Ermano Soares de Sá orienta um ex-aluno do CEN, prof. Luiz Carlos

Peçanha, no preparo do Coral Infantil e, ao mesmo tempo, prepara o Coral Infantil, o Coral

Juvenil e o Grupo Laetare, este último é formado por doze jovens adultos. O mais antigo é o

Coral Juvenil, criado em 1962, portanto, completando 44 anos de existência, sempre sob a sua

regência. O Coral Juvenil do CEN tem sido, certamente, um dos maiores vencedores de

6 Daqui em diante, citarei o Centro Educacional de Niterói como CEN.

Page 35: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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concursos ou, talvez, o maior vencedor de concursos de corais do Brasil. Em 17 disputas, foi

eliminado antes de chegar às provas finais somente uma única vez; ficou em 2 º lugar 3 vezes,

e venceu todas as outras 13 vezes, conseguindo o primeiro lugar. Também fez duas turnês ao

estrangeiro: em 1976 foi a Aberdeen (Escócia) e Londres; e em 1996 foi a Carlos Paz

(Córdoba, Argentina). O Grupo Laetare é formado por 12 jovens entre 16 e 25 anos, quase

todos ex-alunos do Coral Juvenil.

Ermano de Sá, casado com Janete Lorêdo de Sá, teve três filhos: Eduardo Lorêdo de

Sá, Cláudio Lorêdo de Sá e Leonardo Lorêdo de Sá. Porém, apenas o mais novo seguiu os

passos do pai e do avô: toca um instrumento antigo – corba alaúde – e mora na França, em

Paris. Os outros dois filhos moram no Rio, o mais velho é empresário e o segundo é médico7.

Gazzi de Sá faleceu aos 80 anos na cidade do Rio de Janeiro, em 21 de outubro de

1981, devido a problemas cardíacos. No dia seguinte de sua morte, é publicada uma manchete

no jornal “O Globo” anunciando o falecimento e comunicando o local (Cemitério São João

Batista) e o horário do enterro (às 9h). Junto à reportagem, continha uma pequena biografia

homenageando o grande mestre e educador:

Cinco dias depois da expressiva homenagem que um grupo de admiradores e antigos alunos lhe ofereceram no auditório Vera Janacopulos da Uni -Rio, e à qual ele não pôde comparecer, morr eu ontem de manhã, na sua residência em Ipanema, o professor Gazzi de Sá, autoridade a quem o Brasil deve, além da iniciação de artistas como o pianista Antônio Guedes Barbosa e de musicólogos como Adhemar Alves da Nóbrega, já falecido, inúmeras vitórias na campanha que, com Villa-Lobos, empreendeu em favor do canto coral [...] (HERNANDEZ, 1981 8 ver Anexo jornal Recorte n º 59).

Sua esposa Ambrosina de Sá faleceu aos 87 anos também no Rio de Janeiro, em 06 de

junho de 1990, com esclerose.

7 As informações sobre Ermano de Sá foram dadas pelo próprio Ermano através de e-mail. 8HERNANDEZ, Antônio. Morre no Rio aos 80 anos o professor Gazzi de Sá. Jornal O Globo, Rio de Janeiro, 22 out, 1981.

Page 36: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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1.2 – O contexto histórico de 1930

Como já mencionado, no ano de 1929, Gazzi de Sá, com sua esposa Ambrosina Soares

de Sá, Dona Santinha, criaram um curso de música em sua própria casa: Curso de Piano

Soares de Sá. Ele era professor de piano, teoria musical e coral; ela, professora também de

piano, coral e de dança.

Para situar melhor, na história da Paraíba, o momento em que foi criado este curso de

música, é importante ressaltar que, apesar dos conflitos políticos por que passava o Brasil e

especificamente a Paraíba, na década se 1930, Gazzi de Sá estava preocupado com a música,

com a sua escola que já começava a se consolidar.

Neste período, João Pessoa era o Presidente da Paraíba, tratamento atribuído ao

governador da província. Período em que também se candidatou a vice-presidência na chapa

de Getúlio Vargas candidato à presidência do país, pelo partido da Aliança Liberal, embora

tivesse perdido as eleições para o candidato Júlio Prestes do Partido Republicano Paulista

(PRP).

Os contínuos combates na Paraíba e a campanha para presidente do país não tiveram

fim com o término das eleições, pois o partido da Aliança Liberal não se conformou com a

derrota nas urnas, e esses conflitos alcançaram seu auge com a morte de João Pessoa,

assassinado no dia 26 de julho de 1930, fato histórico que dá impulso para a revolução de 30.

Apesar dos conflitos na capital e no Estado, em 12 de julho de 1930, sem imaginar que

estava a Paraíba às vésperas do acontecimento trágico da morte de João Pessoa, Gazzi de Sá e

sua esposa realizaram a primeira audição dos seus alunos, intitulada “Audição Villa-Lobos”.

Antes de começar a audição, Anthenor Navarro, que era um grande apreciador das artes e

principalmente da música, proferiu uma palestra sobre Villa-Lobos.

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36

Figura 3: Audição Villa-Lobos – Em 12 de junho de 1930, alunos dos professores Santinha

e Gazzi de Sá. (RIBEIRO, 1977)

Anthenor Navarro, amigo de infância de Gazzi de Sá, ajudava João Pessoa na

campanha da Aliança Liberal para Presidência. Com a morte de João Pessoa, José Américo,

que era o Secretário de Segurança do Estado, assume o Governo da Paraíba, mas logo em

seguida passa o cargo de Interventor Federal da Paraíba para Anthenor Navarro, assumindo o

Ministério da Aviação, do Governo de Getúlio Vargas.

Segundo Domingos de Azevedo Ribeiro (1977), acredita-se que, com a ajuda de

Anthenor Navarro − Interventor da Paraíba, o Curso de Piano Soares de Sá passou a ser do

Estado, com o nome apenas de Escola de Música, cuja criação data de 1o de fevereiro de

1931. Infelizmente, no ano seguinte, morre o seu grande amigo Anthenor Navarro em um

acidente de avião, e, como forma de homenageá-lo, Gazzi de Sá modificou o nome da escola,

que passou a se chamar Escola de Música Anthenor Navarro, como é chamada até hoje.

Até o momento esta era a versão que se tinha sobre a oficialização da Escola. No

entanto, através desta pesquisa, foi possível descobrir que em parte essa informação está

correta, apenas não procede quando menciona que a Escola, em 1931, passou a pertencer ao

Estado. De forma igual não procede quando omite o nome de outras pessoas envolvidas nessa

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37

criação, como veremos nas palavras do professor Augusto Simões9, em entrevista a mim

concedida, sobre a Escola de Música.

A Escola Anthenor Navarro ofic ialmente consta que tenha sido fundada em fevereiro de 1931, tanto que o concerto de ontem, dia 15 de novembro de 2001, foi uma homenagem ao 70 o aniversário da Escola de Música. Agora, era uma instituição particular. Nessa fundação participou Anthenor Navarro, que foi o nosso primeiro Interventor Federal, depois da Revolução de 30. Então o Anthenor era muito amigo de Gazzi de Sá, uma amizade que vinha desde da infância e era um entusiasta, um artista, mas digamos, com dedicação e tudo mais e por influência do próprio Anthenor junto a Gazzi é que veio à tona a criação da escola de música... Então para dar mais uma concretude mais interessante a essa escola que já existia, pensaram na criação de uma escola de música, como se fosse um conservatório de música, mas não pensaram no nome conservatório e sim Escola de Música e essa história foi unificada com a participação desses nomes que são esquecidos: Gazzi de Sá, Ambrosina Soares de Sá, Luzia Simões e Anita Araújo. Foram esses quatro professores envolvidos responsáveis pela fundação da Escola de Música. Morre Anthenor, num acidente de avião e aí achou por bem prestar uma homenagem ao seu amigo Anthenor e a escola passou a ser denominada Escola de Música Anthenor Navarro. Bem, nessa condição de escola particular, ela veio até o ano de 1952, quer dizer, 21 anos depois que ela veio a ser oficializada, no Governo de José Américo de Almeida, ora posterior a esse negócio, a escola passou a ser um ponto de apoio para todas as manifestações, porque aí já se tornou oficial”(Augusto Simões).

O professor Augusto Simões, irmão de Luzia Simões, que também vivenciou o fato,

contou-me de uma forma bastante lúcida como se estivesse revivendo o momento passado

naquele instante. Tal comportamento é fundamentado por Ecléa Bosi (1979 p. 23) quando

expõe o seguinte pensamento: “ao lembrar o passado, o velho não está entregando-se

fugitivamente às delícias do sonho, ele está-se ocupando consciente e atentamente do próprio

passado”. Desta forma, responsável como transmitiu a informação, tenho a comprovação,

através do jornal A União, notificando que, após dois dias da criação da escola, ela realmente

não se tornou oficial naquele momento, ou seja, continuou particular. A Escola foi criada em

1o de fevereiro de 1931, e no dia 3 de fevereiro saiu a seguinte nota no jornal A União:

9 Professor Augusto Simões era um grande conhecedor da história da música na Paraíba. Foi ex-aluno de Gazzi de Sá, era professor de música, regente de coral e participava de todo movimento musical da época de Gazzi de Sá. Era irmão de Luzia Simões. Faleceu um ano após ter concedido esta entrevista.

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ESCOLA DE MÚSICA

De hoje em diante estão abertas as matrículas para a Escola de

Música mantida pela Sociedade Musical Paraibana e sob a direção do Sr.

Professor Gazzi de Sá.

Na sede provisória da Sociedade Mus ical Paraibana, à rua Duque

de Caxias no. 592, os interessados encontrarão quem preste as

informações necessárias.

Na verdade, era uma Escola particular mantida, ou melhor, apoiada e divulgada pela

Sociedade Musical, criada pelo próprio Gazzi de Sá que, em 1930, trazia músicos e promovia

concertos. Explicarei sobre a Sociedade Musical no capítulo IV.

Acredito que a intenção de Anthenor Navarro seria consolidar a Escola de Música,

criando sede própria para depois oficializar, pois como Interventor da Paraíba sua

responsabilidade era imensa. Também não poderia oficializá-la sem ter uma casa apropriada,

com instalações adequadas para o funcionamento de uma escola de música, principalmente

porque o Estado passava por muitos problemas depois dos conflitos da revolução de 30.

Estavam sendo criados inúmeros decretos de lei diariamente, numa tentativa de reestruturar o

Governo, como pode ser observado nos arquivos do jornal A União da época.

1.3 – A morte de Anthenor Navarro e as conseqüências para a Escola de Música

A morte de Anthenor Navarro foi o fim do sonho de uma sede para a Escola de

Música. Todos foram surpreendidos com sua morte. O Interventor estava a trabalho em uma

viagem quando o hidroavião pousou na água quebrando a asa que estava do seu lado,

atingindo-o no estômago. Das poucas pessoas que se encontravam no avião, todas

sobreviveram, exceto ele.

Anthenor Navarro, juntamente com o engenheiro Francisco Cícero de Melo e Gazzi de

Sá, já havia feito um projeto para a construção do prédio da escola de música. “Um magnífico

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edifício com amplas acomodações para o ensino de música, cujo projeto não foi executado em

face do inesperado falecimento do grande benfeitor das artes na Paraíba” (RIBEIRO, 1977 p.

16). Anthenor Navarro era crítico de arte, além de grande apreciador da música, motivo da

grande afinidade existente entre o político e o músico. Ambos promoviam concertos,

conferências, audições e sensibilizavam os jovens para o estudo da música.

Por ocasião da morte de Anthenor Navarro, aconteceu um fato interessante. Em

entrevista, a sua sobrinha Ana Maria Navarro menciona:

o professor Gazzi tinha um problema sério de estômago, então um dia ele esteve muito ruim e meu tio Anthenor ia viajar, justamente essa viagem que ele morreu, então meu tio ia viajar e foi visitá-lo. Aí quando ele saiu de lá, disse: meu Deus, será que quando voltar eu encontrarei o meu amigo vivo? E aí, o resultado! Quem faleceu foi o meu tio, ele continuou 10.

Gazzi de Sá, apesar de ser amigo de Anthenor Navarro e de tantos mais envolvidos

com a política, vencedores do embate de 1930, não esteve envolvido nos fatos e polêmicas

políticas, segundo depoimento do seu sobrinho, Manoel Henriques de Sá:

Ele não era envolvido na política, mas admirava esse movimento. Todo esse pessoal tinha as idéias avançadas e gostava de ler Hendel, Marx, como o Anthenor e o tio Gazzi, eles liam e discutiam, mas o tio Gazzi não era conspirador não11.

A esposa do sobrinho de Gazzi de Sá, que, por sua vez, é sobrinha de Anthenor

Navarro, Ana Maria Navarro, também comenta:

Ele admirava porque achava justamente o movimento da revolução de 30 justo. As coisas deveriam mudar, as coisas não estavam ocorrendo certas como deviam ser, mas nunca se envolveu na política, pelo contrário, ele era apolítico, ele achava aquilo muito sujo, era um homem puro, de uma cabeça lá acima de muita coisa, de muita banalidade, era uma cabeça maravilhosa12.

A construção do prédio para o funcionamento da Escola de Música que Anthenor

Navarro e Gazzi de Sá planejaram não se concretizou, devido ao falecimento do

administrador público, em 26 de abril de 1932. Gazzi de Sá, então, viu seu sonho e do seu

amigo se dissipar. Até hoje, a Escola ainda não tem sede própria. Depois de passar por

diversas casas, passou a funcionar na FUNESC – Fundação Espaço Cultural.

10 Entrevita realizada em 09/04/2005. Gravada em fita magnética de 60 minutos. 11 Ibdem. 12 Ibdem.

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Anthenor Navarro nunca foi esquecido como benfeitor da Escola de Música. Todos os

anos, por ocasião do aniversário do seu falecimento, a Escola mandava celebrar uma Missa,

sempre cantada, e depois era realizada uma romaria ao cemitério onde se cantava junto ao seu

túmulo. Gazzi de Sá levava o coro escolar que era acompanhado pela banda da polícia.

Foto 9 – Professor Gazzi de Sá regendo diante do túmulo de Anthenor Navarro, o coro escolar acompanhado pela Banda da Polícia Militar. Fonte: (RIBEIRO, 1977).

Gazzi também esteve presente com o seu coro escolar dando mais brilho à solenidade

de inauguração da praça e busto de Anthenor Navarro, que aconteceu no ano de 1936. Hoje, a

praça foi revitalizada, os casarões a sua volta foram restaurados e pintados, tornando-se um

ponto turístico da cidade conhecido como Centro Histórico da cidade de João Pessoa.

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Foto 10 – Gazzi de Sá na inauguração da praça Anthenor Navarro, regendo o coro escolar em 1936. (RIBEIRO, 1977)

Assim, Gazzi de Sá seguiu a sua obra, sem a presença do seu grande amigo e

incentivador das artes, o Interventor do Estado Anthenor Navarro.

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CAPÍTULO II – ESCOLA DE MÚSICA: SINÔNIMO DE RESISTÊNC IA

Neste capítulo, farei uma retrospectiva histórica da Escola de Música, que foi criada

inicialmente por Gazzi de Sá e sua esposa Ambrosina Soares de Sá, com o nome de Curso de

Piano Soares de Sá. Posteriormente, passou a se chamar apenas de Escola de Música e

finalmente fixou o seu nome como Escola de Música Anthenor Navarro. Este relato é ao

mesmo tempo narrativo e iconográfico com as imagens de todas as casas que abrigaram a

Escola de Música. Para isto, utilizarei a fotografia como uma importante ferramenta para

resgatar essa história. Desde o seu início, a fotografia, “no que tange à produção do olhar

fotográfico, no século XIX, surgia como a possibilidade de construção de um olhar mais

positivo sobre o real” (VIDAL, 1998, p. 81). Tal pensamento vem ao encontro das minhas

observações, pois percebi que, além de causar uma sensação de “conhecer” o passado,

visualizando o que se está relatando, o uso da fotografia ainda causa um efeito de descoberta

para quem não viveu na época. E, para quem viveu, motiva uma sensação de saudade e de

resgate do passado. Foi dessa forma que percebi os sentimentos de algumas pessoas, ao

mostrar as fotos acerca dessa história da música na Paraíba, podendo comparar as duas

circunstâncias: as que vivenciaram e as que não vivenciaram aquele momento.

Sobre a fotografia como fonte para a historiografia, Diana Gonçalves Vidal (1998, p.

85) destaca que:

narrativas imagéticas diferem de outras narrativas como as dos documentos escritos. Ao perceber que lógicas diversas organizam a construção dessas linguagens, alertamos para a especificidade de cada fonte documental, explicitando, assim que cada metodologia singular impõe uma análise distinta, o que nos leva a pensar que a complementaridade das fontes não se restringe ao acréscimo de dados à pesquisa, mas informa, sobre a diversidade de percepção da e sobre a época estudada.

A fachada da primeira casa onde começou o Curso de Piano Soares de Sá infelizmente

não foi localizada, por não se encontrar nem fotografia, tampouco referências de pessoas que

viveram na época para descrever o local. A foto mais antiga encontrada mostra os alunos do

Curso de Piano Soares de Sá, com Dona Santinha e Gazzi de Sá.

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Foto 11 – Curso de Piano Soares de Sá – 1929. Os primeiros alunos. Sentados no centro da foto estão Gazzi de Sá e sua esposa Dona Santinha, como era conhecida. Foto: (RIBEIRO, 1977 p. 31).

Luzia Simões, com a autoridade de quem pode falar por ter sido a “discípula” de Gazzi

de Sá, a continuadora da sua obra na Paraíba, em conferência13 realizada na Escola Técnica

Federal (atualmente Centro Federal de Educação Tecnológico da Paraíba – CEFET-PB) sobre

a história da música na Paraíba, aproximadamente em 1978, comenta que, em fevereiro 1931,

quando Anthenor Navarro – Interventor da Paraíba – incentivou Gazzi de Sá a criar a Escola

de Música, a Escola foi para a casa da rua General Osório. Anos depois foi demolida para a

construção do prédio dos 18 andares, como hoje é conhecido. Luzia Simões descreve como

tudo aconteceu:

Para a sua instalação da Escola de Música à época, Anthenor Navarro mandou fornecer carteiras, mesas, cadeiras, quadros -negros e uma pianola que funcionava como piano. O professor Gazzi, a fim de atender às suas alunas, transportou o seu próprio piano para a Escola. O cor po docente inicial era composto de Gazzi, também diretor, Santinha de Sá, Anita Araújo, aluna já com um certo adiantamento (hoje falecida), e eu que atendia ao serviço de secretaria e era responsável pala iniciação do ensino. Falece Anthenor Navarro em um desastre de avião. A escola de Música passa a adotar o nome de seu incentivador. Começa, entretanto, a entrar em crise

13 SIMÕES, Luzia. A música na Paraíba. In: conferência na Escola Técnica Federal da Paraíba, João Pessoa, [1978]. 8 p. ( Este documento encontra-se datilografado no arquivo de Eliani Batolini). Agradeço a filha de Luzia Simões, Eliani Bartolini, a gentileza de ter cedido esse documento.

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com o pedido para que fosse desocupado o prédio, onde foi instalada a Guarda civil. O professor Gazzi entrega o material retirando -se com o seu piano. Vai a escola funcionar na residência dos seus pais, à avenida General Osório, 164. (Luzia Simões).

Foto 12 – Casa onde funcionou a Escola de Música, em 1931, incentivada por Anthenor Navarro. Fonte: (RIBEIRO, 1977, p. 37).

Foto 13 – Casa dos pais de Gazzi de Sá, para onde se mudou a escola, depois do fechamento da que foi instalada por Anthenor Navarro. Foto: (CAETANO, Luceni, 2005).

Na conferência de Luzia Simões, descobre-se o detalhe da segunda e terceira casas por

onde passou a escola, principalmente o fato de a escola ter ido para casa dos pais de Gazzi de

Sá.

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Foi extremamente difícil localizar as três primeiras casas, porque não havia mais

ninguém que tivesse vivido naquela época para informar sobre elas. Inclusive, o que todos

sabem, atualmente, é que a escola começou na quarta casa por onde passou. No entanto,

através da informação de Iraci Menezes, uma ex-professora da Escola, foi possível localizar

uma ex-aluna de Gazzi de Sá, Débora Soares Araújo, que também fazia aula de dança com

Dona Santinha na casa do casal Sá. Com muita alegria aos 81 anos, Dona Débora se recorda

com muita lucidez sobre a época, tanto que se prontificou a me levar até a casa para eu

conhecê-la e fotografá-la. Ela ainda revela que a primeira casa onde começou a estudar foi na

rua General Osório, próximo aos fundos do Palácio do Governo: “eu sei porque eu estudei lá,

por volta de 1936, quando comecei, e depois é que foi para a rua Odon Bezerra”.

Após a exposição dos relatos, o que se faz acreditar é que, com a saída da casa que

Anthenor Navarro instalou para a Escola, Gazzi de Sá, ao levá-la para casa dos seus pais, teve

que dar aula na sua própria casa com sua esposa Ambrosina, para poder dividir a quantidade

de alunos.

A ex-aluna Débora conta que conheceu os professores Gazzi e Santinha de Sá quando

estudava na Escola Normal. Dona Santinha era a professora de teoria musical, e o professor

era de canto orfeônico. Segundo ela, o professor, reconhecendo seu talento musical,

convidou-a para estudar na Escola de Música, mas, a princípio, não aceitou em virtude da

situação financeira de sua família: o pai havia morrido há pouco tempo, a mãe tinha ficado

com muitos filhos para criar. Em meio a essas lembranças, ela fez outra revelação,

confirmando o que o professor Augusto Simões havia afirmado: a escola de música continuou

sendo particular e freqüentada pelos filhos das pessoas da alta sociedade, o que a

impossibilitava de freqüentá-la. Porém, movida pelo desejo de estudar música, propôs ao

professor Gazzi de Sá:

Professor, eu não tenho condições de estudar na sua escola porque não posso pagar. Ele foi tão generoso comigo, que disse : Não, você não vai pagar nada, porque sua tendência musical é tão gra nde e eu senti em você uma maneira tão forte de continuar a estudar música, que eu faço questão de lhe ensinar gratuitamente. Aí eu fui para Escola de Música Anthenor Navarro de professor Gazzi, estudar particular junto com a elite de João Pessoa (Débora Soares).

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Foto 14 – Prédio onde foi a residência de Gazzi de Sá, por volta de 1936, onde Débora Soares estudou. Esquina da rua General Osório com a rua Riachuelo. Foto: (CAETANO, Luceni, 2005).

A casa em que Débora Araújo estudou foi totalmente modificada na sua fachada; na

entrada havia um portão baixo e um terraço. Gazzi morava no térreo e a casa seguia até o

fundo do prédio. Hoje, funcionam três lojas comerciais, pois é uma casa de longa extensão.

Nela, Dona Santinha, além de ensinar teoria musical, ensinava uma educação artística

musicada com dança que hoje corresponderia ao balé. As apresentações da Escola, tanto as do

coral como as de dança de Dona Santinha, aconteciam no Cine Teatro Rex, raramente se

aconteciam no Teatro Santa Rosa. O Cine Theatro Rex, pelas observações em jornais da

época, era mais utilizado para apresentações musicais, enquanto o Teatro Santa Rosa para as

apresentações teatrais.

A ex-aluna de Gazzi e de Dona Santinha de Sá apresenta vivamente suas lembranças:

Eu lembro que nós quatro, eu, Ana Arco Verde e mais duas, fizemos As Quatro Estações de Vivaldi em dança rítmica. E foi lindo, porque foi colorido com aqueles holofotes coloridos. Foi lindo a nossa dança rítmica. Era musicado não era cantado, só fazíamos dança r, mas era muito bonito. (Débora Araújo)14.

14 Entrevista realizada em 30/06/2005. Gravada em fita magnética de 60 minutos

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Depois desta casa (foto14) e do período em que a escola funcionou na casa dos pais de

Gazzi (foto 13), a Escola de Música, necessitando de um espaço maior, se muda para outro

local na rua Odon Bezerra (foto 15). Luzia Simões acrescenta, em seu discurso, que:

com a continuação dos trabalhos, sempre crescendo o número de alunos, o casal resolve alugar um sobrado à rua Sete de Setembro, 390, em Tambiá, hoje rua Odon Bezerra. Neste momento houve a necessidade de um acréscimo de professores. Orlandina Barbosa, Blesila, Maria da Natividade Guedes e Teresia de Oliveira começam a auxiliar no ensino.(Luzia Simões)

Foto 15 – A quarta casa de Gazzi de Sá, na rua Odon Bezerra. Ele e sua esposa Dona Santinha moravam na parte de cima, onde davam as aulas. Embaixo, morava sua irmã Amanda com o marido e filhos. Foto: (ANTONIUS, Marcus, 2003).

A casa de Gazzi de Sá da rua Odon Bezerra é a que todos pensam ter sido o lugar onde

tudo começou, mas na verdade essa foi a quarta casa por onde Gazzi e Dona Santinha

passaram, ou seja, por onde a Escola de Música passou. Esta casa foi restaurada em 2003, sua

fachada permaneceu a mesma de sua construção, o que modificou foi apenas a retirada de um

terraço que acompanhava toda a lateral da casa; o telhado do terraço ficava acima da porta e

das janelas, entre um andar e outro, apoiado sob pilares de alvenaria que ficavam no lugar do

corrimão da lateral. A casa foi restaurada para o funcionamento de um órgão público, o TRE-

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PB. A foto 15 foi feita na semana da inauguração, em 09 de fevereiro de 2003. Hoje,

permanece ainda bem conservada a sua pintura.

Gazzi de Sá passou a ensinar música nesta casa com sua esposa, e foi nela que houve a

necessidade de um acréscimo de professores, como já foi mencionado. Estes nomes, que

ajudaram Gazzi no ensino da música, merecem destaque: Orlandina Barbosa, Blesila, Maria

da Natividade Guedes e Teresia de Oliveira, todas “discípulas” de Gazzi de Sá.

Com o envolvimento de Gazzi de Sá com o canto orfeônico – sobre o qual trataremos

no capítulo III – idealizado na Paraíba a partir de 1932, conseqüentemente a Escola de Música

estava ligada a esse movimento, por ser o único centro musical de maior evidência no Estado

e assim o professor ser o responsável por ambas funções. Sobre o fato Luzia Simões

acrescenta que

nesta época havia também em João Pessoa dois cursos particulares de piano, das professoras Zulmira Botelho e Carminha Gouveia. Porém, a Escola de Música Anthenor Navarro diplomou ainda duas de suas alunas, Orlandina Barbosa Rangel e Blesila Guedes, numa festa bonita no cine -teatro Rex, com um recital das duas pianistas” (Luzia Simões).

Vale destacar que era na casa localizada na rua Odon Bezerra que Gazzi estava quando

decidiu ir para o Rio de Janeiro.

O sobrinho de Gazzi de Sá, Manoel Henriques, que morava na casa de baixo comenta:

Eu lembro quando eu era criança, que tio Gazzi fazia aquelas peças musicais com personagens e dança. Em uma delas eu era o besouro, os ensaios eram na parte de cima da casa e o piso era de tablado, que chamava assoalho e esse besouro tinha uma parte que batia muito no chão e o meu pai em baixo ficava nervoso dizendo assim: meu Deus! Vejo a hora esses lustres caírem com esses ensaios de Gazzi lá em cima.(Ma noel Henriques).

Nesta casa, o professor, além de realizar muitos concertos, trazia pessoas para tocar

piano. As apresentações eram feitas na parte de baixo da casa, na sala de jantar, onde ele

colocava cadeiras e usava o seu piano de cauda que ficava em um canto da sala.

A Escola de Música permaneceu no mesmo local até 1947, quando ele, sua esposa e

filhos foram para o Rio de Janeiro. Infelizmente, não conseguiu realizar o sonho de uma sede

própria para Escola, e é a partir de sua ida para o Rio que começa uma verdadeira

peregrinação da Escola de Música, passando por diversas locais.

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Quando chegou o momento da partida de Gazzi de Sá para o Rio de Janeiro, já havia

um significativo número de ex-alunas, agora professoras preparadas por ele, para continuar o

seu trabalho, entre as quais uma aluna e discípula que estava presente na criação da Escola e

tinha grande conhecimento musical, além de estar envolvida em todas atividades realizadas

pelo professor, Luzia Simões. Foi ela quem assumiu todas as atividades musicais na Paraíba.

A Escola de Música Anthenor Navarro entregou a casa da rua Odon Bezerra, passando

a funcionar precariamente na residência de Luzia Simões, auxiliada apenas por suas alunas

Isabel Maria de Miranda Burity e Germana Vidal, que, seguindo os passos do mestre,

dedicaram e contribuíram para a música paraibana. Germana, hoje aposentada, foi uma das

professoras fundadoras do Departamento de Música da UFPB, na função de professora de

piano. Já Isabel Burity (falecida), além de ter sido professora de piano da UFPB, foi criadora

da Orquestra Jovem do Estado e do Projeto Suzuki para todos os instrumentos de cordas.

Foto 16 – Casa de Luzia Simões quando assumiu a Escola de Música Anthenor Navarro. Foto: (ANTONIUS, Marcus, 2003).

Depois da ida de Gazzi de Sá para o Rio de Janeiro, a Escola passou pela sua primeira

dificuldade, mais uma vez relacionada à falta de um local definitivo para o seu

funcionamento. Luzia Simões morava na casa (foto 16) onde hoje funciona a farmácia do

Estado – FARMIPEP, localizada na rua Peregrino de Carvalho, 102, no centro da cidade.

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A casa foi totalmente reformada, como se percebe na foto 16, se comparadas às casas

vizinhas que continuam com suas fachadas praticamente originais. Era um ambiente muito

pequeno, portanto, impossibilitado de funcionar uma escola de música. Por esta razão, Luzia

Simões determinou que cada professora levasse seus alunos para suas casas, onde deveriam

ser ministradas as aulas. Luzia Simões também continuou ensinando nesta casa até encontrar

um local adequado para o funcionamento da Escola. Percebe-se que, naquele momento, a

Escola ficou totalmente dividida, mas, embora estivesse funcionando em espaços separados,

mantinha-se como a Escola de Música Anthenor Navarro e não se considerava acabada. A

solução para o caso surgiu com o Governador José Américo de Almeida, que tinha muita

consideração por Luzia Simões. Ao tomar conhecimento da situação, fez a doação de uma

casa à Escola de Música Anthenor Navarro, onde hoje é o edifício dos 18 andares, na rua

General Osório. Finalmente, sabe-se que, pela segunda vez, a Escola volta para casa onde

havia sido a segunda residência dela e a primeira depois que mudou o nome Curso de Piano

Soares de Sá para Escola de Música.

Foto 17 – Casa doada por José Américo de Almeida para Escola de Música

Anthenor Navarro (RIBEIRO, 1977).

A casa (foto 17) é novamente apresentada por ter sido um local de acontecimentos

relevantes para música na Paraíba. Aqui, a Escola funcionou durante a década de 50. Foi nela

que finalmente, em 1952, a escola foi oficializada.

No governo do ministro José Américo de Almeida foi mais uma vez reorganizada a Divisão de Educação Artística, através a Lei n º 838 de 28 de novembro de 1952, dando-lhe uma estrutura mais ampla com a criação do

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Canto Orfeônico, Serviço de Bandas e conjuntos musicais, Serviço de Dança, Teatro e Artes Plásticas. No mesmo decreto passa a jurisdição do Estado a Escola de Música Anthenor Navarro e é criado o Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba (RIBEIRO, 1977, p.23).

Com relação à estabilidade do local, quando se pensava que tudo estivesse resolvido, a

casa é pedida para a construção do prédio (foto 18), conhecido como edifício dos 18 andares,

cujo nome oficial é Edifício Epitácio Pessoa.

Foto 18 – Edifício Epitácio Pessoa, conhecido como edifício dos 18 andares. Foto: (ANTONIUS, Marcus, 2003).

Em entrevista, Iraci Menezes, ex-aluna do Conservatório de Canto Orfeônico e depois

professora da Escola de Música Anthenor Navarro, conta:

Eu fiquei com amizade com Luzia Simões bem depois que Gazzi de Sá foi embora, porque ela era minha vizinha na rua 13 de maio. Então eu ia à noite para casa dela e ela me contava tudo sobre a escola, desde a época de Gazzi de Sá e é por isso que sei muita coisa. (Iraci Menezes)

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Iraci é uma das poucas pessoas que ainda conhece a história da casa pedida para a

construção do prédio e do acordo feito entre as partes envolvidas quando a casa foi cedida.

Segundo ela, o acordo foi firmado da seguinte maneira: terminado o edifício, seria destinado à

Escola o quarto andar inteiro, o que corresponderia ao segundo andar inteiro (olhando o

prédio de frente, contando todo um pavimento do andar que fica antes de começar os

apartamentos). Além disso seria firmado um contrato de dez anos. Caso o Governo não

providenciasse as instalações para a Escola após este período, conforme acordado nas

negociações com o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários – IAPB, para fazer o

funcionamento da escola nas suas dependências, perderia o direito à utilização do referido

local.

O pavimento inteiro foi doado sem as divisórias, cabendo ao Estado providenciá-las

para a Escola de Música. Iraci Menezes conta como tudo aconteceu:

O dinheiro sempre que veio foi desvi ado, em vários governos. A última vez que se soube deste desvio foi no Governo de João Agripino. Luzia Simões foi até o Monsenhor Vieira, que foi o secretário de educação, para saber sobre esta verba. Ele disse que ficasse tranqüila porque se existisse ess a verba ele lhe daria conta. Depois a chamou e comunicou que a verba tinha vindo, mas tinha sido desviada. Com isso, como a Escola não fez nada, passados os dez anos, o Governo perdeu o direito. Esse acordo de ceder a casa para o IAPB foi feito no Governo de Flávio Ribeiro Coutinho em 1956. Pedro M. Gondim era o vice-governador. (Iraci Menezes)

O acordo entre o IAPB e o Governo do Estado foi publicado no Diário oficial da

União da seguinte forma:

Lei nº.1.615, de 29 de novembro de 1956. Autoriza a doação de terreno e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DA PARAÍBA Faça saber que o poder legislativo decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1o.– Fica o poder legislativo autorizado a doar ao Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários, para a construção de sua sede, o terreno em que está edificado o prédio da Escola de Música Anthenor Navarro; situado entre as ruas General Osório, Peregrino de Carvalho e Areia, nesta capital. Art. 2o.– O Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários se ob riga a reservar no edifício a ser construído, a disposição do Estado e como lotação gratuita, pelo prazo de dez (10) anos, uma dependência destinada à instalação da mencionada Escola de Música. Art. 3o.– Na hipótese de não ser providenciada a construção a que se refere o art.1o, no prazo de um (1) ano, reverterá o imóvel doado ao patrimônio estadual.

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Art 4º.– Revogam-se as disposições em contrário. Palácio do Governo do Estado da Paraíba, em João pessoa, 29 de novembro de 1956. 68o. Proclamação da República. FLÁVIO RIBEIRO COUTINHO – Governador” Dumerval Trigueiro Mendes – Secretário da Educação e Cultura Fernando Paulo Carrilho Milanez 15

Foto 19 − Momento do acordo do IAPB com o Governo. (1956). Da direita para esquerda: Gerardo Parente, Luzia Simões Bartolini, Pedro M. Gondim, José Francisco de Holanda e Danilo Luna. Foto cedida por Eliane Bartolini – filha de Luzia Simões Bartolini

O jornal A União em 27 de novembro de 1956 traz a notícia do acordo:

O governador Pedro Gondim recebeu, n a manhã de ontem, a chave do quarto pavimento do edifício do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários, onde funcionará a Escola de Música Anthenor Navarro, pertencente ao Instituto Superior de Educação Musical, da Secretaria de Educação e Cultura. O edifício, como se sabe, foi construído em terreno do Estado, onde funcionava a Escola de Música, cabendo a esta, de acordo firmado entre o Governo e o Instituto, um dos pavimentos. Na foto, o momento em que o sr. José Francisco de Holanda, delegado do IAPB na Paraíba, fazia a entrega da chave ao Governador, em presença da professora

15 Publicado no Diário Oficial do Estado da Paraíba em 3 de dezembro de 1956.

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Luzia Simões, diretora da Escola de Música Anthenor Navarro, professor Gerardo Parente e médico Danilo Luna.” 16

Mesmo depois de firmado acordo, a Escola ficou ainda funcionando na antiga casa por

algum tempo, mas em seguida foi interditada para a construção do prédio, que era sempre

adiada. Enquanto isso, os alunos foram transformados em nômades. Assim conta Débora, que

estudava Canto Orfeônico no momento das mudanças:

Depois desse decreto, nós andávamos como judeus errantes, quero lhe dizer que até num dos salões do Palácio do Governo nós tivemos aulas, porque ficamos nômades, nós não tínhamos lugar certo para estudar, porque a casa ficou interditada e nós não tínhamos aces so, então ficamos assim em uma casa em outra, tivemos aula no Palácio, na biblioteca pública, tivemos na Escola Normal, que naquela época não era mais Escola Normal já era o Tribunal de Justiça, o juiz desembargador nos cedeu uma sala, tínhamos uma sala na Academia Epitácio Pessoa e ficamos assim de joguete, sem lugar certo, até que arranjaram aquela casa ao lado da catedral.(Débora Araújo)

Depois dessa peregrinação, a escola foi para uma casa ao lado da Catedral

Metropolitana, onde a primeira turma de Canto orfeônico concluiu em 1957.

Foto 20 – Casa ao lado da catedral, onde funcionou a Escola de Música Anthenor Navarro e o Canto orfeônico. Foto: (ANTONIUS, Marcus, 2003).

16 Agradeço a Iraci, que gentilmente cedeu esse texto, que havia sido copiado por ela desde a época. É interessante observar que, nos arquivos da Paraíba, falta a página do jornal correspondente a este dia.

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Iraci Menezes, ex-professora da Escola Anthenor Navarro, além de saber sobre o

acordo da casa, é também uma das poucas pessoas que conhece bem as casas por onde a

Escola passou, mas, como todos, não tinha conhecimento das três primeiras casas, onde Gazzi

iniciou suas atividades. Ela começou a estudar a partir da casa ao lado da catedral (foto 20),

porém convivia com Luzia Simões anteriormente, razão pela qual acompanhou desde então as

mudanças por que passou a Escola.

De posse de todas as fotos das casas e de todo o percurso seguido pela Escola, restava

apenas uma dúvida sobre a ordem das duas últimas casas. Por isso, para confirmar o roteiro

delas, recorri à memória de Iraci que, com surpreendente facilidade, revelou toda a trajetória.

Ela trabalhou para Escola de Música como tesoureira e como professora durante muito tempo.

Por sinal, era ela, como tesoureira, quem se encarregava das mudanças, o que justifica seu

conhecimento sobre o assunto.

Até hoje eu ainda sou a tesoureira. Eu brinco com ela (a diretora da Escola) que sou a tesourinha porque a escola tem pouco dinhei ro. Então eu ainda trabalho para a Escola de Música Anthenor Navarro, apesar de ser em casa, eu continuo, eu sou funcionária da escola, só que eu estou aposentada, mas eu recebo pela caixa escolar, ela me paga para tomar conta do dinheiro, eu faço toda essa parte financeira. Vólia, que é sobrinha de Luzia Simões, hoje é diretora e a gente se conhece desde de muito nova e eu continuo com ela. Nunca saí não, eu trabalhei mesmo foram trinta e sete anos e tinha que trabalhar vinte e cinco anos, mas eu gostava d o ambiente, não tinha vontade de sair de lá e ir trabalhar em outro canto, pra quê? Para me aborrecer? Então o ambiente lá foi sempre muito bom.(Iraci Menezes).

A casa situada ao lado da Catedral era muito pequena e não oferecia condições

necessárias para o funcionamento adequado da Escola de Música. Vale salientar que o

Conservatório de Canto Orfeônico funcionava nas dependências da Escola de Música

Anthenor Navarro. O Canto Orfeônico, que começou na casa da rua General Osório, teve

dificuldade de se acomodar, devido ao fato da nova casa ser excessivamente pequena. Mesmo

assim, a Escola ainda funcionou neste local por uns cinco anos, mudando-se para uma outra

casa, na rua Duque de Caxias por volta de 1963.

Uma curiosidade com relação a este novo local merece destaque: antes da Escola,

funcionava a Reitoria da Universidade Federal da Paraíba, que saiu deste local para um prédio

na lagoa, próximo ao Parque Sólon de Lucena, onde hoje funciona um setor do INSS. Este foi

o último local por onde a Reitoria passou antes de se fixar na Cidade Universitária do Campus

I da UFPB.

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Foi na casa da rua Duque de Caxias que Iraci Menezes, já tendo concluído o curso de

Canto Orfeônico, começou a ensinar piano. A professora narra como aconteceu a mudança:

A casa da rua Duque de Caxias, antes era a Reitoria da UFPB, o reitor era Mário Moacir Porto. Estávamos ao lado da Catedral quando Dona Luzia falou com ele. Olha, todo mundo gostava de Dona Luzia e todo mundo gostava dela, ela pedia, pode ter certeza que ela conseguia, por que todo mundo tinha muito respeito, era uma pessoa muito segura do que queria e ela quando se metia a fazer, fazia mesmo, então Mário Moacir Porto quando saiu para esse prédio na lagoa, passou a casa para a escola de música, a escola ficou lá.(Iraci Menezes).

Foto 21 – Casa da rua Duque de Caxias, local onde funcionou a Escola de Música Anthenor Navarro. Antes da escola, funcionava a Reitoria da UFPB. Foto: (ANTONIUS, Marcus, 2003).

A casa da rua Duque de Caxias foi o local onde a escola funcionou por mais tempo,

mais ou menos dez anos: de 1963 a 1973-1974.

Neste local, finda-se o Curso de Canto Orfeônico em 1963 e inicia-se o Curso Colegial

Artístico, implantado por lei, em 1962, mas iniciado apenas em 1963. Era um curso que

equivalia a qualquer outro de segundo grau, como o científico, o pedagógico, porém com uma

diferença: preparava especificamente para o curso superior de música. Constava no currículo,

além das disciplinas de música, como Teoria e Solfejo, Apreciação Musical, Canto Orfeônico,

Estética e Apreciação às Artes, disciplinas comuns aos cursos regulares, a exemplo de

Português, História, Geografia, Biologia, Inglês e Francês. O curso permitia que seus

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concluintes ficassem habilitados a prestar exames de vestibular dos cursos universitários e ao

ingresso nos cursos superiores de música existentes no Brasil. Foi o primeiro no gênero a

funcionar em território nacional. O Curso Colegial Artístico funcionava nas dependências da

Escola de Música Anthenor Navarro, assim como funcionou o Conservatório de Canto

Orfeônico17.

Foto 22 – Solenidade da criação do Curso Colegial Artístico no Palácio da Redenção. Presentes o Governador Pedro Gondim, Luzia Simões, professor Augusto Simões (o primeiro da esquerda) e pessoas ligadas à arte na Paraíba. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliani, 1963).

Essas informações sobre o Colegial Artístico foram colhidas através das entrevistas

com Iraci Menezes, Eliane Bartolini (que foi aluna da primeira turma) e da plaqueta de Maria

das Graças P. Santiago, publicada pela editora do jornal A União, na Série Histórica –

Paraíba, Nomes do Século, sobre Luzia Simões Bartolini, no ano 2000.

Maria das Graças P. Santiago, ex-aluna de Luzia Simões, escreve sobre o Colegial

Artístico:

Neste curso o conceito de educação envolvia uma perspectiva mais abrangente que a simples transmissão de conhecimentos. Foi uma tentativa de colocar a arte como elemento educativo atuando num processo criativo, buscando a formação integral da pessoa. Ali, a educação era encarad a como atividade estética enfatizando o aprendizado de valores que permitissem harmonizar as experiências significativas com o conhecimento assimilado. Infelizmente, o curso não sobreviveu por muito tempo, tendo a experiência se encerrado no ano de 1968 (SANTIAGO, 2000 p.15-16).

17 Estas informações estão contidas na entrevista de Iraci Menezes, no depoimento de Luzia Simões e em Maria das Graças Santiago, 2000.

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Foto: 23 – Primeira turma concluinte (1965) dos alunos do Colegial Artístico com os professores. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliani). Nesta foto, apresento os professores e alunos do Curso Colegial Artístico. Da esquerda para direita: Zamir Machado Fernandes – Teoria e percepção musical, João Vanderley – Biologia, Maurício Gurgel – Coral, Gerardo Parente – Apreciação Musical (Música Brasileira e Folclórica), Nair Martins Ribeiro – Francês, Selma Ataíde de Carvalho – Inglês, Luzia Simões – Diretora e professora de Teoria e Solfejo, José Paulo Pires – Filosofia, Wills Leal – Cinema e Artes. E os alunos: Wilihelme, Eliane Bartolini, Adélia Torres, Josinete Dantas e Zaneles Brito de Lima.

O Curso Colegial Artístico começou a exercer suas atividades na casa da rua Duque de

Caxias, em 1963, e terminou no mesmo local, em 1968, formando quatro turmas, de 1965 a

1968. Com o espírito de promover e continuar o movimento musical paraibano, capacitando

novos músicos, é que se tentou criar o Ginasial Artístico, com o objetivo de revitalizar o

Colegial Artístico, infelizmente, as tentativas não foram bem-sucedidas.

Não se sabe o real motivo da mudança desta casa. O que se sabe é que ela estava muito

deteriorada, motivo pelo qual a escola se mudou mais uma vez. Hoje, a casa se encontra

fechada e abandonada.

Enquanto a Escola funcionava na casa da rua Duque de Caxias, durante o Governo de

João Agripino, foi feito um projeto para construção de uma sede para Escola. O anteprojeto

foi feito pelo arquiteto Pedro Abrahão Dieb com data de agosto de 1969, época em que a

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Escola de Música Anthenor Navarro estava sob a direção de Maurício Matos Gurgel que

contou que o impasse sobre a construção da nova sede foi decidido em uma reunião na qual o

Governo, sem interesse de construir, apresentou aos presentes a proposta de aumento salarial

para o funcionário público em troca da construção da Escola. “Ora, se todos que estavam ali

eram funcionários públicos e ansiosos por aumento que não tinham há algum tempo, foi

evidente a escolha pelo aumento salarial, ou seja, a decisão já era prevista” (Maurício Gurgel).

Maurício Gurgel revela ainda que o terreno onde deveria ter sido construído a escola,

hoje funciona um colégio bastante conhecido na cidade, o Sesquicentenário. Tal informação

foi confirmada por Débora Soares Araújo e Iraci Menezes. O mais interessante é que Iraci,

procurando um material da época para esta pesquisa, encontrou por acaso a planta da

construção da Escola que nem ela mesma sabia ou lembrava que havia guardado.

A Escola seria construída em um terreno enorme, contendo todas as acomodações

necessárias a uma escola bem planejada. Para se ter uma idéia de como seria a Escola, farei a

descrição da planta que se encontra em anexo D: a entrada teria um grande hall; a sua direita

estaria a Secretaria; o Gabinete do diretor teria uma sala de espera, com a sala de secretário e

um WC; ligado ao Gabinete do diretor, haveria uma sala de reunião, um arquivo e um outro

WC; à esquerda, de quem entra, uma enorme sala de professores com dois WC, um

almoxarifado, uma sala, cozinha, quarto e WC. Esta seria a parte administrativa da Escola.

Seguindo o hall, haveria um auditório para 200 lugares, contendo uma cabine de projeção, um

palco com dois camarins e sala de som. Seguindo um caminho que liga à parte administrativa

ao auditório, um longo prédio de primeiro andar com as seguintes salas, a saber: no térreo,

uma biblioteca, uma cantina, sala de serventes, uma sala grande para desenho, pintura e

modelagem, em frente a esta sala, dois sanitários e escadarias. Neste projeto foram pensadas

acomodações para uma sala para bandinha, para conjunto de câmera, gravação, discoteca,

uma sala para canto coral, além de doze pequenas cabines para estudo individual de

instrumento e canto, e, ao lado das cabines, mais uma escadaria bem como dois sanitários. No

primeiro andar, quatro salas para 40 alunos, quatro salas para 20 alunos, uma sala de

professores, uma sala de serventes, e, ao lado das duas escadarias, dois WC. É curioso notar

que, ao lado deste prédio, no espaço enorme de terreno que restou, estariam na planta duas

quadras de esportes, uma para basquetebol e futebol de salão e uma outra quadra de voleibol.

Creio que esta indicação para quadra de esporte não partiu dos professores de música,

pois alguns querem até proibir que seus alunos pratiquem tais esportes a fim de preservar as

mãos e os dedos daqueles que são instrumentistas. Imagine um dedo da mão quebrado de um

pianista, um violinista ou flautista!

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Mais uma vez aconteceu a frustração de se ter a casa na planta e não ser realizada a

construção, como aconteceu com Gazzi de Sá, que havia feito um projeto juntamente com

Anthenor Navarro e um engenheiro para a construção da Escola e, devido à morte de

Anthenor Navarro, não foi concretizado.

A esperança da construção de um espaço da Escola aconteceu quando funcionava na

rua Duque de Caxias. Ela saiu desta casa e voltou para antiga residência de Gazzi de Sá, na

rua Odon Bezerra, 309, em Tambiá. A mudança ocorreu por volta de 1974, ficando neste local

durante quatro a cinco anos.

A Escola só deixou de funcionar na casa que foi de Gazzi porque naquela época, 1978

ou 1979, o local não oferecia condições necessárias para o exercício das atividades ali

desenvolvidas, principalmente o assoalho do primeiro andar. Desta vez a escola ocupava os

dois pavimentos da casa.

Foto 24 – Casa de Gazzi de Sá, a Escola volta para esta casa pela segunda vez, entre 1974–1978. Foto: (ANTONIUS Marcus, 2003).

Sobre esta casa (foto 24) Iraci Menezes faz o seguinte comentário: “A casa estava com

o piso de cima, que era de madeira, muito estragado, então uma professora, que estava dando

aula, afundou o salto do sapato no piso. Com isto, todos ficaram com muito medo e

apressaram uma outra mudança”.

Na nova casa que ainda existe na rua D. Pedro I, hoje funciona um órgão do Governo,

a Secretaria de Segurança Pública – Superintendência Geral da Polícia Civil (2a. Delegacia

Distrital).

Nela aconteceu um fato inesperado: foi assaltada. Entraram pelos fundos levando

todos os instrumentos e todo material de secretaria, deixando somente os pianos. Os

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instrumentos roubados se resumiam a violões e um trompete que haviam sido doados. Com

relação aos instrumentos, quando a escola começou, na época de Gazzi de Sá, apenas se

ensinava piano e canto orfeônico, mais tarde violino. Só depois, quando Luzia assumiu, ela

foi convidando professores para ensinar outros instrumentos, tais como: violino, violão,

trompete, clarinete e flauta. No caso dos sopros, os instrumentos eram ensinados por apenas

um professor de sopro, e quem estudava tal modalidade tinha seu próprio instrumento. Hoje, a

escola ensina uma maior diversidade de instrumentos, quais sejam: violino, violoncelo, viola,

contrabaixo, flauta transversal e doce, clarinete, sax, trompete, trombone, percussão, canto,

violão e piano. Deste último, a escola conta com dez unidades no momento.

Foto 25 – Casa da rua D. Pedro I, onde a Escola funcionou no período de 1979 – 1981. Foto: (ANTONIUS Marcus, 2003).

E finalmente chegamos até o local onde será o último, entre inúmeros por que a Escola

passou. A casa (foto 26), apesar de muito bonita e parecer grande, era muito pequena para o

exercício das atividades. Nela, a secretaria funcionava no térreo e os professores davam aula

no primeiro piso.

Na época, a casa não era tão conservada como hoje. Atualmente, lá funciona o

escritório do deputado Gilvan Freire. A falta de conservação foi o motivo pelo qual foi

transferida para o local onde a escola se encontra até hoje, o Espaço Cultural, como discorre

Iraci:

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Um certo dia nós estávamos na secretaria da escola quando Giselda Navarro apareceu por lá, de repente, ela se abaixa com um morcego que passa voando sobre a cabeça, assustada ela diz que nã o é possível que a gente conviva com aqueles morcegos daquela forma e convida a escola para ir para o Espaço Cultural. (Iraci Menezes)

O Espaço Cultural José Lins do Rego − criado no Governo de Tarcísio de Miranda

Burity − havia sido recém inaugurado, sob a presidência de Giselda Navarro. A convite dela,

a escola foi para o Espaço Cultural, onde funciona desde 1983.

Foto 26 – Última casa por onde a escola passou antes de se estabelecer no Espaço Cultural. Foto: (CAETANO, Luceni, 2004).

Gazzi de Sá, criador da Escola de Música Anthenor Navarro, mesmo depois que foi

para o Rio de Janeiro, por muito tempo ainda, manteve contato com Luzia Simões, tentando

ajudá-la de diversas formas. O mesmo exemplo foi seguido por Luzia, depois que se

aposentou, em 1966, jamais deixou de estar por dentro de tudo que acontecia, sendo

consultada pelos novos diretores, quando tinham que tomar decisões. No dia 18 de dezembro

de 1978, em sua casa, Luzia Simões morre vítima de infarto do miocárdio.

Foram diretores da escola após a saída de Gazzi para o Rio de Janeiro, por ordem de

quem ia assumindo, as seguintes pessoas: Luzia Simões, Zamir Machado Fernandes, Naide

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Alverga, Maurício Matos Gurgel, João Gadelha, Augusto Simões (irmão de Luzia), Jaiel

Jacqueline Catão de Lucena, Luis Carlos Durier e Vólia Simões (sobrinha de Luzia), atual

Diretora.

Como se percebe, a existência do sobrenome Simões ainda continua muito ligado à

história da Escola, através de Augusto Simões, irmão de Luzia, que faleceu em 2002, e sua

filha Vólia Simões, sobrinha de Luzia, que ocupa a Direção da escola há dez anos com

bastante competência, continuando, portanto, a história da família junto à música da Paraíba.

Vólia também tem uma filha, Renata Simões, que é professora de violino da Escola, sobrinha-

neta de Luzia. Pode ser que algum dia ela também assuma a direção da Escola, dando

continuidade à história da sua família − história de resistência e de amor pela música iniciada

por Gazzi de Sá.

Foto 27 – Visão externa do Espaço Cultural. Foto: (CUSTÓDIO José C., 1990)

Foto 28 – Visão interna do Espaço Cultural. Foto: (CUSTÓDIO, José C. 1990)

A Escola de Música pertence ao nosso Estado, mas cobra uma taxa de matrícula, com

a qual se mantém, para comprar material de limpeza, de secretaria, e para comprar e consertar

os instrumentos musicais. O Estado mantém os professores mais antigos, que são poucos. Os

novos, contratados pelo Estado, são prestadores de serviço. Então, como o número de

professores contratados pelo Estado não é suficiente para suprir as necessidades da Escola, a

caixa escolar também paga a vários deles, além de arcar com as despesas de dois funcionários

e algumas gratificações, quando necessário, em virtude da quantidade de alunos.

A Escola de Música Anthenor Navarro, apesar da sua resistência, foi perdendo a sua

tradição na área do canto coral, mas esse sintoma de não se cantar mais no Brasil foi

acontecendo no país inteiro, após o término da obrigatoriedade do ensino de música nas

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escolas e do canto orfeônico. Existem ainda lugares no Brasil onde mantém a tradição do

ensino da música e do canto coral na escola, como é o caso do Centro Educacional de Niterói,

no Rio de Janeiro, dirigido pelo professor de música e coral deste estabelecimento há mais de

40 anos, Ermano de Sá, filho de Gazzi de Sá, que mantém o coral infantil, infanto-juvenil e de

adultos (Grupo Laetare), como já foi citado anteriormente.

Por outro lado, a Escola, criada pelo pai de Ermano de Sá, acompanhou o processo do

tempo. Hoje, mesmo com a perda de uma das coisas que mais se destacava − o canto, ampliou

a área instrumental. Afinal de contas, a Escola começou com um curso apenas de piano

(Curso de Piano Soares de Sá), e hoje ensina, além deste instrumento, quase todos os demais

de uma orquestra, assim como aula de canto, embora a Escola não tenha um coral. No

entanto, continua fazendo as audições dos alunos em forma de concerto, promovendo o

ingresso de alunos nas orquestras jovem e profissional do Estado, além de prepará-los para o

Bacharelado em Música da UFPB.

Foto 29 − A entrada da Escola de Música Anthenor Navarro. Foto: (CAETANO, Luceni, 2005).

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Foto 30 − Entrada da Escola de Música Anthenor Navarro ao fundo. Do lado esquerdo deste corredor existe uma porta de madeira que é a entrada do Teatro Paulo Pontes. Foto: (CAETANO, Luceni, 2005).

Atualmente, a Escola possui 845 alunos, número que poderia ser maior caso não fosse

a exigüidade do espaço, pois a procura por vagas é muito grande. É incompreensível o pouco

espaço da Escola, considerando o tamanho do Espaço Cultural: a foto 31 mostra que ela está

localizada em um cantinho do lado direito da entrada do Teatro Paulo Pontes. Mesmo assim,

continua superando todos os obstáculos, sem nunca desistir. É o resultado da semente musical

plantada por Gazzi de Sá, em nossa terra, despertando o interesse para a música de futuros

músicos e professores. A começar do ano em que ele iniciou em sua casa até o momento, são

77 anos de admirável existência da Escola de Música Anthenor Navarro.

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CAPÍTULO III – OS CONTOS DO CANTO ORFEÔNICO NA PARAÍBA

Para os educadores, especificamente os envolvidos com a música, e para as pessoas de

um modo geral, é automático mencionar o termo “canto orfeônico” e relacioná-lo a Villa-

Lobos, no Rio de Janeiro. Até o momento, há poucos estudos relativos à música na Paraíba,

da década de 1930 e 1940, exceto o de Domingos de Azevedo Ribeiro, cuja obra não

apresenta repercussão nacional. O Brasil desconhece que houve na Paraíba um forte

movimento do canto orfeônico, semelhante ao do Rio de Janeiro. Em nosso Estado, quando se

fala no termo “canto orfeônico” se pensa em Gazzi de Sá, mas, infelizmente, é apenas

lembrado por uma geração mais antiga, razão pela qual lancei o desafio de mostrar e divulgar

para as novas gerações, principalmente da área musical paraibana e do Brasil, que esse

movimento foi igualmente intenso aqui.

Gazzi de Sá deixou a Paraíba e foi para o Rio de Janeiro, tornando-se conhecido como

um grande professor, graças ao seu método de musicalização. No entanto, as pessoas

desconhecem quanto esse amigo de Villa-Lobos foi importante para a Paraíba em todos os

âmbitos musicais. Desde 1932, esse paraibano mantinha contato com Villa-Lobos, recebendo

orientações para a realização do canto orfeônico na Paraíba, ou seja, desde o início do

movimento do grande projeto de canto orfeônico, no Rio de Janeiro, com Villa-Lobos, que

Gazzi começa a estruturar tal projeto em nosso estado.

Para elucidar um pouco o começo de todo esse movimento no Brasil, podemos

começar lembrando que “foi com a volta de Villa-Lobos da França, em 1930, que este iniciou

o seu trabalho artístico educacional, através de concertos e conferências” (CUNHA, 1995 p.

27). Embora o que ele realmente idealizasse fosse uma educação musical coletiva para o povo

brasileiro através do canto.Villa-Lobos iniciou o seu trabalho de canto orfeônico em São

Paulo. Conforme esclarece Horta (1988, p. 08), “salvou-o no início do regime de Getúlio

Vargas, e sobretudo o conhecimento de um político influente no novo regime, João Alberto.

Interventor em São Paulo, João Alberto "comprou" o projeto de educação musical em grande

escala proposto por Villa-Lobos”. O projeto canto orfeônico foi colocado em prática

inicialmente em São Paulo, e logo a seguir, já radicalizado no Rio de Janeiro, difundiu-o em

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termos nacionais. Horta acrescenta que “o trabalho de Villa-Lobos alcançou tal projeção que

conseguia reger gigantescas concentrações corais realizadas no Rio de Janeiro que serviram

de pretexto a acusações de que o artista estaria colaborando com a propaganda do Estado

Novo getuliano” (HORTA, 1988, p. 218).

Foi então, em 1931, que se realizou pela primeira vez no Brasil uma demonstração

orfeônica de “caráter cívico”, sob o patrocínio do interventor de São Paulo, João Alberto, num

imponente conjunto de cerca de 12.000 vozes (VILLA-LOBOS, 1946, p. 14).

Inconformado com a situação das artes e especificamente da música no Brasil, Villa-

Lobos resolve escrever um apelo ao então Presidente da República Getúlio Vargas no qual

mostra a precária situação em que se encontrava o meio artístico brasileiro. Segundo o seu

ponto de vista, um povo possuidor dos melhores dons da suprema arte. Assim sendo, propõe

encontrar meios práticos para acudir o artista; mostrando também que se encontravam

desamparados mais de trinta mil musicistas profissionais em todo o país.

Para se ter uma noção mais clara desse apelo, faço uma citação de um trecho, com as

palavras do próprio Villa-Lobos, dirigidas a Getúlio Vargas:

Peço permissão para lembrar a Vossa Excelência que é incontestavelmente a música, como linguagem universal, que melhor poderá fazer a mais eficaz propaganda do Brasil no estrangeiro, sobretudo se for lançada por elementos genuinamente brasileiros, porque desta forma ficará gravada a personalidade nacional, processo este que melhor define uma raça, mesmo que esta seja mista e não tenha tido uma velha tradição". "De modo que hoje, dia 1o. de fevereiro de 1932, espero que Vossa Excelência irá decidir, com acerto, a verdadeira situação dos artistas no Brasil"... "E então, ou Vossa Excelência será além de grande e benemérito Homem Público e estadista arguto, o amigo leal das artes e dos artistas da nossa Pátria, colaborador de um dos maiores monumentos artísticos que o mundo produziu e que a História Universal das Artes inscreverá como um dos seus capítulos mais interessantes, ou somente o grande e enérgico Chefe do Governo Provisório da República Brasileira, o invicto patriota que sacudiu o jugo atroz das rotinas políticas passadas que pesavam sobre o povo brasileiro, cujos filhos são à Vossa Excelência reconhecidos e que não cansam de exaltar Vossa Excelência nesta ascensão."... "E com isso Vossa Excelência terá salvo nossas art es e nossos artistas que bendirão toda a existência de Vossa Excelência. Seu humilde patrício, (a) H. Villa-Lobos" (VILLA-LOBOS, 1972, apud CUNHA, 1995, p. 28 -29)

Getúlio Vargas atende ao apelo aprovando o projeto de Villa-Lobos. Já tendo instalado

em São Paulo e com o intuito de instalar esse mesmo movimento musical cívico-artístico-

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educacional nas escolas do Distrito Federal, contando com o apoio da então Diretoria da

Instrução, foi criado o Curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico (VILLA-LOBOS,

1946, p. 15). Esse curso, exatamente com a orientação precedente, seria para facilitar aos

professores do magistério público a prática da teoria musical e técnica dos processos

orfeônicos, que seriam mais tarde postos em prática nas escolas municipais, de acordo com

uma metodologia absolutamente brasileira. Assim idealizava Villa-Lobos, apesar da forte

influência do modelo de ensino da música européia.

Para que o Curso Pedagógico de Música e Canto Orfeônico pudesse progredir pelo

contato de “forças novas”, isto é, de pessoas novas que pudessem contribuir com o projeto,

foram incitadas por edital e convites as pessoas que tivessem cultura musical ou que

sentissem desejo de se integrar ao curso. Essa iniciativa “teve um resultado surpreendente,

pois na sua aula inicial, realizada a 10 de março de 1932, compareceram não só artista de

renome no mundo musical brasileiro, como também professores da Escola Nacional de

Música da Universidade do Brasil” (VILLA-LOBOS, 1946, p. 15).

Gazzi de Sá não estava presente na primeira turma do Curso Pedagógico de Música e

Canto Orfeônico, porém, nos anos de 1934 e 1935, foi ao Rio de Janeiro fazer o Curso de

Pedagogia e Aperfeiçoamento do Ensino de Canto Orfeônico, dirigido por Villa-Lobos, na

Secretaria Geral de Educação e Cultura do Distrito Federal. Data dessa época “os contatos

entre o grande professor militante na província e o mestre consagrado da criação musical

brasileira” (SÁ, 1990, p. 07), período em que se fortaleceram os laços de amizade entre os

dois.

Gazzi de Sá e sua esposa Santinha de Sá fixaram residência temporária no Rio de

Janeiro, onde integraram “o Coral de Professores da Superintendência de Educação Musical e

Artística – SEMA, da então Prefeitura do Distrito Federal, com o qual participaram de

memoráveis concertos dirigidos por Villa-Lobos” (SÁ,1990 p. 07). Nesses concertos, foram

apresentadas em primeiras audições brasileiras da Missa em Si menor de Bach, da Missa

Solene de Beethoven e de outras grandes obras corais sinfônica.

A organização do ensino de Canto Orfeônico a princípio não foi tão simples. Tratava-

se de saber quais os processos a adotar para o ensino de canto orfeônico nas escolas

brasileiras, bem como a metodologia e melodias a ensinar para o caso nacional. Eram

problemas complexos de se resolver, em virtude da necessidade de uma base inicial de

experiência e pesquisas, “pois a aplicação de métodos estrangeiros seria de uma perfeita

inadequação, assim como também os métodos nacionais existentes, cuja ineficiência era uma

coisa comprovada” (VILLA-LOBOS, 1946, p. 17).

Page 70: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

69

Para objetivar essa questão artístico-educacional, foi criado por Anísio Teixeira, então

Secretário da Educação da Prefeitura do Distrito Federal junto com o grande projeto em 1932,

o organismo denominado Superintendência de Educação Musical e Artística – SEMA – para

que Villa-Lobos executasse o projeto orfeônico, tendo o próprio compositor como o primeiro

diretor. Vale ressaltar que essa Superintendência foi criada inicialmente com o nome de

Serviço de Música e Canto Orfeônico, passando somente em 1933 a denominar-se

Superintendência de Educação Musical e Artística. Para executar o projeto, a SEMA

organizou um esquema de orientação para os professores de música, constando de: reuniões

obrigatórias às quintas-feiras; um calendário cívico-escolar enviado aos professores, através

de boletins, destinado à orientação deles, contendo sugestões de cânticos adequados às datas

comemorativas; visitas periódicas de técnicos de educação musical e artística, que iam às

escolas para ajudar na preparação musical dos eventos orfeônicos (FUCKS, 1991, p. 119).

Para Domingos de Azevedo Ribeiro (1977, p.9-10), o canto orfeônico pode ser assim

definido:

Com o advento da escola nova, o chamado canto orfeônico, assim denominado em homenagem a Orfeu, o Deus da Música na mitologia grega, foi introduzido nas escolas como meio de educação cívica -artística-social das massas, escola de disciplina, de patriotismo e de arte da coletividade. Tem o canto orfeônico a capacidade de desenvolver a expressão e subordinar o indivíduo à direção, colocando-o de acordo com os demais. Instaura, ainda, sentimentos de coesão, de cooperação, de solidariedade e sociabilidade e impede a pessoa de se ajustar às contingências do meio pela comunhão de idéias, de ações e hábitos. Firma-se como elemento de união, de ordem e disciplina. Pelo contágio mental e estado de sugestibilidade, ele se apresenta capaz de imprimir a completa abdicação momentânea da personalidade, de orientar as idéias e sentimentos numa única direção, em obediência a determinado modelo, em proveito da unificação. Expõe por conseguinte, em estado psicológico único e global. Plasma no educando a prática igualitária do instinto e da afetividade, em detrimento do individualismo.

O pensamento de Ribeiro não é muito diferente daquele que alguns autores identificam

com o envolvimento político do canto orfeônico, porém considero que é expresso de uma

forma mais efetiva, pois abrange todos os aspectos que comumente são mencionados

separadamente, como: autoridade, coesão, não individualismo em prol da coletividade, do

comando e controle da massa, entre outros citados18.

18 Sobre esse debate de longa duração, sobre o compromisso de Villa-Lobos com a ditadura de Vargas e a utilização da música como instrumento de “civismo e disciplina coletiva”, remeto o leitor para (FUCKS,1991; SOUZA, 1999; WISNIK, 1983).

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70

Considero importante destacar o trabalho de Jusamara Souza, título que analisa a

educação musical institucionalizada do Brasil no período de 1930-1945, procurando

compreender suas relações e implicações com a política vigente, ao apontar o fato de que: “os

resultados mostram que a política educacional autoritária de Vargas e o projeto de

nacionalização influenciam diretamente a educação musical nas escolas, introduzindo a aula

de música obrigatória para todos os níveis (Decreto-lei nº 19.890 de 18 de abril de 1931 art.

3)” (SOUZA, 1999, p. 18).

O canto orfeônico na Paraíba foi idealizado em 26 de abril de 1932 ficando sob a

responsabilidade do professor Gazzi de Sá elaborar a programação das atividades e

encaminhá-las ao setor competente para as providências necessárias.

Após a criação do Curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico, em março de

1932, no Rio de Janeiro, foi criado o Orfeão de Professores, incorporado às reuniões técnicas

e aos Cursos de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico, que

vieram a ser criados posteriormente, com o intuito de exercer práticas constantes de leitura

musical à primeira vista de obras musicais a várias vozes.

Na Paraíba, no governo do interventor Gratuliano de Brito, através do decreto-lei nº

948, de 12 de março de 1934, é criado o Orfeão Escola do Estado, igualmente instituído o

Orfeão de professores (RIBEIRO, 1977, p. 18). Este se constituía de professores que

ensinavam nas escolas o canto orfeônico, auxiliando o professor Gazzi de Sá na preparação

das grandes concentrações orfeônicas.

Enquanto no Rio de Janeiro o órgão denominado SEMA foi criado junto com o projeto

de 1932, na Paraíba, coube ao professor Gazzi de Sá propor ao Interventor em exercício,

Argemiro de Figueiredo, a criação da Superintendência de Educação Artística (SEA),

concretizada pela Lei nº 16, de 13 de dezembro de 1935, e mais tarde reorganizada pelo

Decreto Lei nº 961, de 11 de fevereiro de 1938. A Superintendência de Educação Artística

integrou a educação na Paraíba no forte espírito nacionalista, criado pelo Estado Novo que,

num vasto programa de ação pelo bem coletivo, era convicto de que conduzia o Brasil para

destinos gloriosos dignos da cultura e da civilização contemporânea.

A SEA orientava todos os trabalhos de orfeões escolares e escolas de música, tanto na

capital como no interior. O Governo do Estado confia a direção do movimento artístico das

escolas ao professor Gazzi de Sá, destacando-o como:

um dos maiores propugnadores da arte musical da Paraíba e uma das nossas maiores expressões artísticas, assim, na certeza de que muito teremos a

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71

ganhar nesse plano de ação cultural com a atuação proficiente desse mestre de profunda sensibilidade e real valor no mundo musical brasileiro (A UNIÃO, 25/09/1938).

Após a reorganização da SEA, em 1938, Gazzi de Sá seguiu para o interior do Estado

para inspecionar os alunos, a fim de estudar as suas possibilidades e observar o que haviam

realizado, além de aplicar um programa de atividades artísticas em cumprimento ao decreto

que dispõe sobre esse setor de educação. O Governo do Estado lhe deu amplos poderes para

agir dentro das suas funções com inteira independência para obter e colher os promissores e

melhores resultados, conforme prova a seguinte publicação do jornal A União: “O Sr.

Interventor Federal neste Estado recomenda, pois, aos Srs. Prefeitos municipais que dêem

todo o apoio ao Sr. Gazzi de Sá para melhor cumprimento da sua missão de grande relevância

para a educação na Paraíba” (A UNIÃO, 25/09/1938).

A SEA, na Paraíba, funcionava nos moldes do órgão SEMA, no Rio de Janeiro. Os

professores na Paraíba eram orientados por Gazzi de Sá, que também preparava os alunos nas

escolas e os ajudava nas concentrações orfeônicas, realizadas geralmente na praça João

Pessoa, em frente ao Palácio do Governo.

Foto 31 - As concentrações orfeônicas regidas por Gazzi de Sá, com o acompanhamento da Banda da Polícia. As apresentações aconteciam nas comemorações das datas cívicas nacionais. Esta concentração aconteceu na praça João Pessoa, em frente ao Palácio do Governo. Foto: (RIBEIRO, 1977, p. 111).

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Portanto, o ensino obrigatório de música nas escolas, com a criação da

Superintendência de Educação Artística, no governo de Argemiro de Figueiredo, teve como

Superintendente o professor Gazzi de Sá, e como auxiliares foram contratadas as professoras:

Virgínia Xavier, Maria da Natividade Guedes, Elza Cunha e Luzia Simões para lecionar canto

orfeônico nos sete Grupos Escolares da capital. São eles: Thomaz Mindelo, Epitácio Pessoa,

Antônio Pessoa, Isabel Maria das Neves, Pedro II, Duarte da Silveira e Escola de Aplicação.

Cada escola tinha seu próprio orfeão organizado, havendo sempre competições com o

objetivo de incentivar os participantes do coro orfeônico. Foram organizadas em praça pública

várias concentrações escolares, todas organizadas e regidas por Gazzi de Sá, durante os

festejos da Semana da Pátria, em anos seguidos. A programação constava sempre de Hinos

Oficiais, canções folclóricas e marchas escolares, acompanhando sempre a banda da Polícia

Militar do Estado, como lembra Luzia Simões em seu depoimento (ver anexo F).

Dentro das atividades da Superintendência de Educação Artística, várias apresentações

foram realizadas, entre as quais uma audição orfeônica na Escola Normal, com a presença do

Interventor José Mariz e autoridades do magistério, apresentando um regente precoce de

apenas oito anos de idade. Os alunos do curso primário eram da professora Virgínia Xavier.

Na ocasião, foi executado o seguinte programa:

Carneirinho de Algodão, Capelinha de Melão e a Canoa Virou − H. Villa-Lobos. Os

alunos eram do jardim da infância, 1o. e 2o. ano, sob a regência de Temístocles Manoel da

Silva.

Hino Nacional − Francisco Manoel da Silva.

Cantar é viver, Candieiro acordei de madrugada, A gatinha parda − H. Villa-Lobos −

Os orfeões do 3o. ao 6o. ano primário, sob a regência da professora Virgínia Xavier. Em

seguida, apresentou-se o Orfeão “Carlos Gomes” composto de alunas da Escola Secundária

do Instituto de Educação, sob a regência da professora Santinha de Sá, cantando: Hino

Nacional – Francisco Manoel da Silva.

Harmonização a quatro vozes de Gazzi de Sá.

Baile na Flor − Alberto Nepomuceno.

Glória da Lapinha e Rosa Amarela − Arranjos de Gazzi de Sá.

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73

Figura 4: O menor regente paraibano Temístocles Bezerra, de oito anos de idade, e o seu orfeão (A UNIÃO, 1938).

Neste mesmo ano, fazendo parte dos seus objetivos, a SEA iniciou sua primeira

irradiação quando fez um breve relato sobre os seus trabalhos desenvolvidos no mesmo

período, realizando uma apresentação de canto orfeônico através do Coral Villa-Lobos, sob a

regência de Gazzi de Sá. O programa foi apresentado de forma didática e educativa; as peças

cantadas eram precedidas de comentários relativos à época e biografia do autor.

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74

Figura 5 – Reportagem sobre a primeira irradiação da SEA (A UNIÃO, 30/10/1938).

Observa-se, nos dois programas, um repertório no qual Gazzi de Sá valoriza os

compositores brasileiros, revelando em sua pesquisa sobre a cultura popular, por intermédio

da coleta de cantos, o seu lado de compositor com suas harmonizações. Tudo se realizava paralelamente nas dependências da Escola de Música Anthenor

Navarro, onde também funcionava o orfeão de professores, que consistia na preparação de

profissionais para ensinar o canto orfeônico nas escolas. Esses professores eram todos

preparados e orientados por Gazzi de Sá, que também supervisionava uma ou duas vezes por

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75

mês os grupos escolares, verificando o desenvolvimento do canto orfeônico de todas as

escolas.

Com a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas, Gazzi de Sá programou,

durante a intervenção de Ruy Carneiro, uma completa reorganização da Escola de Música

Anthenor Navarro, com a fundação do curso de formação de professores de música.

É de justiça destacar o trabalho de equipe desenvolvido pelos seus alunos, entre os quais podemos mencionar Luzia Simões, Orlandina Barbosa, Anit a Araújo, Virgínia Xavier, Bresila Guedes, Natividade Guedes, Elza Cunha, Glaura Guedes, Theresia de Oliveira, Wanda Soares de Oliveira, Augusto Simões, Adhemar Nóbrega, Vinícius Fonseca e Fernando Sá, cuja colaboração desinteressada e altamente valiosa pr oporcionou frutos ao meio artístico local (RIBEIRO, 1977, p. 18).

Com relação ao ensino de música nas escolas, Villa-Lobos considerava que, para ser

proveitoso e viesse completar e não perturbar a evolução natural da educação da criança, era

preciso que fosse ministrado com o conhecimento da música nacional, conforme defende:

“Encarado, pois, sob esse aspecto, o ensino e a prática do canto orfeônico nas escolas impõe-

se como uma solução lógica, não só à formação de uma consciência musical, mas também

como um fator de civismo e disciplina social coletiva” (VILLA-LOBOS, 1946, p. 11).

Gazzi de Sá, sendo o pioneiro na Paraíba no ensino de canto orfeônico nas escolas

oficiais, ensinou na Escola Normal e no Lyceu Paraibano. Quando “Getúlio criou, na

Constituição de 1937, a proibição de acúmulo de cargos, Gazzi teve que optar por um dos

dois empregos, decidindo ficar ensinando na Escola Normal” (Augusto Simões). Para ocupar

o seu lugar no Lyceu Paraibano, indicou o professor Augusto Simões. Os fatos demonstrados,

ao longo dessa pesquisa, comprovam a dedicação de Gazzi de Sá aos assuntos relacionados à

música, somados aos relatos de todos que o conheceram, definindo como “uma pessoa que

vivia para a música”. Além da Escola Normal, o professor era responsável pelo canto

orfeônico na Paraíba, pela sua Escola de Música Anthenor Navarro, e ainda ensinava no

Colégio Nossa Senhora das Neves e no Colégio Pio X, sem contar com o seu empenho como

promotor cultural cuja finalidade era trazer artistas para se apresentarem na cidade.

Em entrevista concedida pela ex-aluna do professor Gazzi de Sá, Débora Soares

Araújo, que também foi professora de canto orfeônico nas escolas, observo que ela não

esconde a admiração pela pessoa de Gazzi de Sá e pelo grande professor que ele foi:

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76

O professor Gazzi foi o precursor do canto orfeônico da Paraíba e naquela época ele cresceu o programa de canto orfeônico e de música em geral da Paraíba, porque ele era extraordinário. Ele tinha um método que só vendo para crer, o método musical de Gazzi era uma coisa extraordinária. E Dona Santinha por sua vez, ela também colaborava muito, mais muito mesmo e os meninos dela, Ermano, Marcelo. Naquele tempo, nas escolas públicas tinha que ter um professor de canto orfeônico e os alunos cantavam, porq ue os quatro hinos oficiais eram obrigatórios nas escolas aprender, eram o Hino Nacional, Hino da Bandeira, Hino da Independência e o Hino da Proclamação da República, então eram os quatro hinos oficiais que eram obrigatórios, todos os alunos das escolas p rimárias sabiam, e sabiam decorada tanto a letra como também o ritmo (Débora Araújo).

Débora Soares de Araújo, além de ter sido aluna da Escola de Música Anthenor

Navarro, foi também ex-aluna de Gazzi de Sá na Escola Normal. Quando lhe perguntei se os

alunos gostavam das aulas de música ministradas pelo mestre paraibano, mesmo aqueles

alunos que não tinham interesse pela continuação dos estudos musicais, ela respondeu sem

hesitação:

Gostavam demais, porque ele tinha uma facilidade de conquistar o aluno que ninguém rejeitava, além de tudo a turma era pequena, de 29 alunos, sendo 26 moças e três rapazes, então todos adoravam, ninguém se sentia obrigado, eram aulas espontâneas. Mas sabe por quê? A distância entre o professor e o aluno era muito grande, tinha professor que não colocava a nota dez no aluno de jeito nenhum, poderia fazer a prova melhor do mundo, a maior nota que ele dava ao aluno era seis, tinha um outro que dizia que a maior nota do aluno era oito, porque nove era do professor e dez era do aut or do livro. Mas o professor Gazzi não era desse jeito, ele não queria nem que a gente o chamasse de professor, era Gazzi, todo aluno só chamava Gazzi, não chamava professor Gazzi porque ele não admitia, ele dizia, não, não, me chame de Gazzi, não me chama de professor, é Gazzi. Os outros professores, quem era doido de chamar só pelo nome? Era professor tal. Pois ele não. Era aberto dessa maneira, por isso era querido, estimado e todo mundo queria a aula de Gazzi. E as aulas de Gazzi eram maravilhosas, com isso ele conquistava e tinha êxito no trabalho dele, porque o trabalho dele era muito bem feito, porque além dele ser capacitado, você sabe que o professor também precisa do aluno, pois bem, além dele ser muito capacitado o aluno colaborava com ele, era uma colaboração total, então daí vinha o fruto (Débora Araújo).

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Foto 32 − Gazzi de Sá (da direita para esquerda sentado, a quinta pessoa, e, ao seu lado de vestido branco, Luzia Simões) com os alunos no interior da Escola Normal na década de 30. Arquivo fotográfico de Eliani Bartolini, filha de Luzia Simões. (Década de 30).

Para se ter mais uma idéia de como era o carisma do professor Gazzi de Sá, a sua ex-

aluna acrescenta que, no Colégio Nossa Senhora das Neves, as freiras eram tão rígidas que

não admitiam, de forma alguma, a entrada de homens no colégio. Porém, tal norma não se

estendia a Gazzi de Sá, pois era muito querido pelas freiras, sendo convidado, inclusive, pelas

irmãs para ser o professor de canto orfeônico daquela instituição.

Adhemar Alves da Nóbrega, ex-aluno de Gazzi de Sá do Lyceu Paraibano, que se

tornou um musicólogo, Membro da Academia Brasileira de Música e professor de História da

Música e Prosódia Musical, é um outro exemplo de profissional que despertou para música

graças ao professor Gazzi, conforme assegura em um de seus depoimentos:

Os alunos que integravam os conjuntos vocais criados por Gazzi para a prática da música coral e que freqüentaram sua residência, atraídos pelo fascínio de sua personalidade escol, puderam conhecer, na prática, motetes e madrigais da Renascença que foram depois cantados em público; obras pianísticas da música moderna e contemporânea que ele tocava ao piano, além disso, farta messe de música brasileira, notadamente de Villa-Lobos, de quem era assíduo leitor, chamando a atenção dos seus discípulos e amigos para as novidades e beleza dessa música (e em parte desconhecida), inclusive no Sul.

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A importância que assumiu sua missão educativa de esclarecimento cultural pode ser aferida por um testemunho simples e incisivo de Villa -Lobos. Quando em 1941 cheguei ao Rio, naturalmente procurei logo conhecer Villa-Lobos de quem meu professor me fizera um admirador sem reservas. Mas como apresentar -me, acanhado e sem títulos? Disse -lhe apenas: “sou aluno de Gazzi” − ao que o mestre respondeu sem titubear: “Então é meu neto”, isso dá a medida da importância que Villa -Lobos conferia (ou reconhecia) à atuação de Gazzi de Sá, de quem era amigo certo. (SÁ, 1990, p. 07).

Gazzi de Sá integrou a Embaixada Artística Brasileira, chefiada por Villa-Lobos em

1940, viajando para Argentina e Uruguai. Nesta excursão da Embaixada Artística Brasileira

que foi a Buenos Aires e a Montevidéu, Gazzi de Sá foi exercendo o cargo de secretário e

representante de ensino da música e canto orfeônico do Norte do País. Teve uma importante

participação, nessa viagem, ao expor para os professores e alunos daqueles países os nossos

processos de ensino de canto orfeônico, como também na preparação de escolas que lhe foram

confiadas para ilustrar as conferências pronunciadas por Villa-Lobos, pois o Brasil foi o

primeiro país da América Latina a fazer as grandes concentrações orfeônicas. Tais

conferências eram dadas “com o objetivo de fazer a propaganda dos métodos de ensino do

canto orfeônico adotados nas escolas brasileiras” (VILLA-LOBOS, 1946, p. 46).

Foto 33 − Integrantes da Embaixada Artística Educacional que esteve no Uruguai e Argentina, em 1940, chefiada por Villa-Lobos. Em pé, no centro da foto, encontra-se Gazzi de Sá, e, sentado, Villa-Lobos. Foto: (VILLA-LOBOS, 1947, p.47).

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Foto 34 – Gazzi de Sá após uma aula de canto orfeônico na Universidade de Mujeres, de Montevidéu, cercado de alunas. Foto: (RIBEIRO, 1977 p.53).

O reconhecimento do trabalho de Gazzi de Sá por Villa-Lobos é explícito na carta que

segue, direcionada ao mestre paraibano agradecendo sua brilhante atuação na Embaixada

Artística.

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Figura 6: Documento em agradecimento a Gazzi de Sá. Fonte: (RIBEIRO, 1977, p. 52).

Gazzi de Sá criou, em abril de 1936, o Coral Villa-Lobos com a finalidade de difundir a

prática de canto coral na Paraíba. Foi mais uma atividade marcante no desenvolvimento

musical paraibano. Gazzi programou uma série de concertos didáticos, chamados de

Concertos Culturais. “O coral era formado de professores e alunos da Escola de Música e de

alunos do Liceu Paraibano” (Luzia Simões).

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Foto 35 − Gazzi de Sá e o Coral Villa-Lobos. Foto: Arquivo: (BARTOLINI, Eliane). A entrevistada Débora S. de Araújo se encontra nesta foto, da direita para a esquerda é a quinta integrante da segunda fila. (Período entre 1936 a 1947).

Foto 36 − Ambrosina de Sá (Dona Santina) no centro da foto, na direção do Coral Villa-Lobos. Ao lado da mãe, Ermano Soares de Sá, filho de Gazzi de Sá. Foto: (RIBEIRO, 1977, p. 101).

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Sobre o Coral Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez dá um depoimento no Diário de

Pernambuco, datado de 22 de julho de 1947, não escondendo a admiração pelo

desenvolvimento da obra de Gazzi na Paraíba.

A princípio relutei, dados os meus interesses no Rio em aceitar o convite de Gazzi para estender minha excursão até João Pessoa. Não me arrependi, porém, de ter cedido. Acabo de chegar de lá, encantado com o qu e, em matéria de arte musical, chegou a fazer Gazzi na Paraíba. Antes de mais nada, devo dizer que o Coral VILLA LOBOS é, por si, uma afirmação de fino sentimento artístico que informa toda a obra de Gazzi. Não posso furtar -me ao prazer de externar a minha admiração pelo disciplinado conjunto coral que tive a oportunidade de reger. Tenho viajado por muitas cidades do Brasil, e poucos, muito poucos mesmo, se podem orgulhar de um coral de tão pronunciada sensibilidade. Para julgar do quanto é capaz o Coral Vi lla Lobos, basta dizer que, à última hora, incerto no programa o número “Côco de Engenho Novo” de minha autoria, que fiz vir do Rio por telegrama e julguei não ser possível levar. À minha chegada, porém, nas vésperas do concerto, verifiquei, depois de um ensaio, com toda surpresa, que uma leitura apenas fora suficiente para garantir êxito ao número, de difícil desempenho, e que, aliás aconteceu. E, concluindo: Gazzi é um batalhador, um IDEALISTA visceralmente honesto, conhecido nos mais altos círculos artísticos do país. E acrescenta: Que João Pessoa, graças a Gazzi, já é tido no Rio como um ponto de referência para este movimento artístico que, cada dia, se pronuncia mais decidido. Esta é minha opinião pessoal, desinteressada e sincera sobre a obra de Gazzi , na Paraíba. Igual elogio, tenho certeza, lhe fará o maestro Villa -Lobos se, quando regressar da Europa, for consultado a respeito. Desejo voltar, ainda, ao Recife e grande prazer terei se encontrar nesta cidade um Coral, igual ao de Gazzi na Paraíba (RIBEIRO, 1977, p.165-166).

Chega o momento de Gazzi de Sá partir para o Rio de Janeiro com a família, em fins

de 1947. Todos ou quase todos que conhecem a história de Gazzi sempre comentam que ele

saiu da Paraíba, atendendo ao convite de Villa-Lobos para ensinar no Conservatório de Canto

Orfeônico. A informação está parcialmente correta, porém, há uma outra razão conhecida por

pouquíssimas pessoas que ainda estão vivas, qual seja: ele não teria saído da sua cidade

querida se não tivesse sofrido uma campanha sistemática contra sua pessoa através de um

jornal do Estado. Em entrevista, seu filho, Ermano de Sá, conta que pouco lembra sobre o

caso, acrescentando que tomou mais conhecimento do fato mediante conversa com o irmão,

cinco anos mais velho que ele, razão por que vivenciou bem aquele momento, e com sua mãe,

que comentava muito pouco, pois achava que ela não queria reavivar o assunto:

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Eu sei que alguém escrevia, todo dia ou toda semana, uma coluna que destacava meu pai como uma pessoa nociva em João Pessoa . Era uma inimizade gratuita. Só pode ter um caráter assim comercial, porque não era nem músico. Ele devia ganhar alguma coisa com a organização da Orquestra Sinfônica da Paraíba, mas não havia quem tocar, era preciso importar pessoas, parece que eles defendiam que não, já tinham uns elementos lá. Meu pai era totalmente contrário a essa situação, entendia, sim, que não resultaria em orquestra nenhuma (Ermano de Sá).

O professor Gazzi de Sá era contra a formação da Orquestra Sinfônica da Paraíba

(OSPB), por entender que não havia pessoas preparadas suficientemente para tocar em uma

orquestra, mas amadores, ou seja, os integrantes eram pessoas que tinham outras profissões

sem nível técnico no instrumento para compor uma orquestra. O pensamento dele era

primeiramente preparar bons instrumentistas para depois formar a orquestra, importando,

inclusive, músicos de bom nível para integrá-los em sua criação. O seu pensamento estava

correto, visto que os anos comprovaram o que dizia. A orquestra durante anos foi caminhando

sem nunca ter uma expressividade de uma grande orquestra. Realizou muitos concertos, mas

“na administração João Agripino a OSPB foi desativada e parte dos seus componentes foram

aproveitados na Orquestra de Câmara do Estado da Paraíba, então criada” (RIBEIRO,1995, p.

28).

Foto 37 − Primeiro concerto da Orquestra Sinfônica da Paraíba, realizado em 29 de maio de 1946, no Cine Teatro Plaza, sob a regência do maestro Francisco Picado. Foto: (RIBEIRO, 1995, p. 37).

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Até que em 1980, durante o mandato do governador de Tarcisio de Miranda Burity, a

Orquestra passou a ter caráter profissional, após a sua reestruturação nesse Governo, ser

reconhecida como uma das três melhores do Brasil em qualidade e ter o maior salário de

orquestra do País. O então Governador colocou em prática o mesmo pensamento de Gazzi de

Sá: trouxe músicos de fora e, em convênio com a Universidade Federal da Paraíba e o apoio

do reitor em exercício Linaldo Cavalcante, convidou os professores músicos estrangeiros do

Departamento de Música, que formavam os quintetos de metais e sopros e o quinteto de

cordas, para fazer parte da nova Orquestra. Esses mesmos professores – alguns ainda

ensinando na UFPB – formaram os alunos que hoje são os músicos profissionais da

Orquestra. Em 1980, quando esta foi reestruturada, era composta de 90% de músicos

estrangeiros, e 10% de músicos da terra; hoje, a composição se encontra invertida: a orquestra

é composta de 90% de músicos da terra, que foram preparados aqui, e 10% de músicos de

fora. Não resta dúvida de que foi no Governo de Burity que a Paraíba teve um impulso

muito grande na música, principalmente no que se refere ao aspecto da Orquestra, talvez

porque o Governador fosse um grande apreciador de música.

Ainda sobre a campanha que teve contra Gazzi de Sá, em entrevista, seu sobrinho

Manoel Henriques de Sá e sua esposa Ana Maria Navarro comentam:

MANOEL: Porque ele de fato era erudito, ele tinha capacidade intelectual, era um homem de elevação moral intelectual, integridade, era u ma coisa fora de série, então ele se destacava automaticamente e as opiniões dele com relação à música, com relação à administração musical aqui no Estado, ele representava o que tinha de melhor no mundo, ele estava apresentando uma coisa nova. ANA: Isso é claro, incomoda a alguns e outros. MANOEL: Isso incomoda aqueles rasteiros que não têm aquela visão. ANA: Aqueles que estão querendo subir sem capacidade, sem a base. MANOEL: Isso ocasionou uma série de ciumeira e tio Gazzi não gostava disso. Se houvesse um negócio desse tipo ele ia embora, como de fato foi. ANA: Ele preferia se excluir, nunca haver polêmica, para ele polemizar. MANOEL: No dia que ele ia embora, Virgílio Veloso Borges, irmão de Dr Agnaldo que era senador pelo Rio de Janeiro, então no tempo que o tio Gazzi ia embora, ele esteve lá em casa pedindo que tio Gazzi ficasse, que relevasse aquela besteirada toda, que ele era um homem de uma outra visão, de outra educação. Pois é, aí tio Gazzi não aceitou... ANA: Ele já havia decidido, não é? E foi melhor para ele, lá ele se uniu a Villa-Lobos, para ele foi bem mais produtivo. (Manoel Henriques de Sá e Ana Maria Navarro) 19

19 A opção por esta estrutura deu-se pela intervenção da fala de Ana concomitantemente à fala de Manoel.

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Figura 7: Documento de Villa-Lobos atestando a capacidade de Gazzi de Sá a exercer a cadeira de Apreciação Musical no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no Rio de Janeiro. Foto: (RIBEIRO, 1977).

Gazzi segue, então, para o Rio de Janeiro com o propósito de ser professor de

Apreciação Musical no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico a convite de Villa-Lobos.

O Conservatório foi criado em 26 de novembro de 1942. Assim, a formação do Conservatório

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Nacional de Canto Orfeônico foi devido ao sucesso da SEMA e das atividades decorrentes desse

órgão. Ricardo Goldemberg define o Conservatório como

uma instituição modelar, no âmbito do Ministério da Educação e Saúde, que se propunha a criar um centro de educadores musicais de alto nível. O Conservatório teria a incumbência não só de formar professores, como também orientar e fiscalizar todas as iniciativas do canto orfeônico no país inteiro (GOLDEMBERG, 2002, p. 03).

Apesar de sua ida para o Rio de Janeiro em 1947, Gazzi continua acreditando no canto

orfeônico como instrumento de educação. Ele não deixa de lutar para melhorar as atividades

musicais que deixou na Paraíba. A prova disso é que consegue, juntamente com sua

“discípula” Luzia Simões, que assumiu todas as suas atividades musicais na Paraíba, por

intermédio do então governador do Estado José Américo de Almeida, criar o Conservatório

de Canto Orfeônico da Paraíba. Foi reorganizada a Divisão de Educação Artística, através da

Lei nº 838 de 28 de novembro de 1952, dando-lhe uma estrutura mais ampla com a criação do

Canto orfeônico, Serviço de Bandas e conjuntos musicais, Serviços de Dança, Teatro e Artes

Plástica (RIBEIRO, 1977). Dessa forma, Gazzi de Sá vê, após 21 anos de sua criação, a

Escola de Música Anthenor Navarro ser oficializada, pois no mesmo decreto ela passa para a

jurisdição do Estado e é criado o Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba.

O Conservatório da Paraíba era ligado ao Conservatório Nacional de Canto Orfeônico

do Rio de Janeiro. É importante salientar que a Paraíba foi o único estado em todo Norte e

Nordeste do país a ter um conservatório de canto orfeônico na época, conforme comprova o

depoimento do professor Gerardo Parente, que fez parte da equipe dos professores do

Conservatório da Paraíba: “no Brasil só existia em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba”. A

Paraíba era o centro musical que orientava e oferecia curso para todo Norte e Nordeste de

canto orfeônico.

O Professor Gerardo Parente chegou em João Pessoa para ensinar no Conservatório de

Canto Orfeônico da Paraíba, em 1957, depois de ter vivido no Rio, de ter ensinado na Pró-

Arte em São Paulo e ter feito várias turnês pelo Brasil, pois já era conhecido como um

excelente pianista, principalmente como um pianista de música de câmera, motivo pelo qual

era convidado para acompanhar artistas de todo o Brasil e do exterior quando aqui chegavam.

Quando necessitavam de um pianista que os acompanhassem, a Pro-Arte o solicitava, visto

que era conhecido pela sua extraordinária capacidade de leitura à primeira vista. Ao passar em

uma turnê na capital da Paraíba, por volta de 1954, relata em entrevista a sua surpresa:

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87

A minha surpresa maior foi ver em João Pessoa coisas que não existia em outros lugares do país. O nível de ensino de música em João Pessoa era melhor do que no resto do país. E logo entendi que tudo aquilo era graças à estruturação feita por Gazzi de Sá. Ele é um dos grandes nomes em toda a história da educação musical no Brasil (Gerardo Parente).

Outra personalidade da música também reconhece o valor de Gazzi de Sá. O professor

aposentado da UFPB maestro e compositor José Alberto Kaplan, argentino, radicalizado na

Paraíba, destaca, em sua obra Caso me esqueça(m) – Memórias musicais, que ao chegar à

Paraíba, no início da década de 1960, já encontrou um movimento musical bem desenvolvido.

Havia uma tradição que remontava a década de 30, quando o professor Gazzi de Sá iniciara [...] um movimento sério no ensino da música e na prática coral que prosseguia, nas mãos competentes de seus discípulos [...] Gazzi de Sá fora uma personalidade marcante na Província, um verdadeiro desbravador. Tive o prazer de conhecê -lo na ultima visita que fez a João Pessoa, quando seu estado de saúde já era bastante precário. Apesar do evidente declínio físico, impressionou -me sua vivacidade mental. Estava a par de tudo o que sucedia no mundo musical, no país e no exterior. (KAPLAN, 1999, p. 95)

Para iniciar as atividades do Conservatório de Canto Orfeônico, o Governador José

Américo forneceu bolsas de estudo às professoras Luzia Simões, Heloisa Leite Nóbrega,

Rejane Carvalho, Jória Toscano, Olga Ribeiro Silva e Maria Lúcia Soares de Oliveira (todas

ex-alunas de Gazzi de Sá), com a finalidade de formar o corpo docente, fazendo curso regular

no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, no Rio de Janeiro, durante dois anos.

Enquanto estas se preparavam, foram contratados do Rio os professores Gazzi de Sá, Santinha

Soares de Sá e Asdrúbal Lima, para iniciarem as atividades do nosso futuro Conservatório,

com o curso de preparação durante dois anos.(Luzia Simões e Heloisa Leite).

É interessante destacar que o trabalho desenvolvido por Gazzi não foi importante

apenas para a cidade de João Pessoa, mas para todo o Estado. Para ilustrar tal afirmação, entre

outros exemplos, há o de Heloísa Leite que morava em Patos, cidade do sertão da Paraíba, e

estudava em um colégio de freiras quando se interessou pelo violino. Ela aprendeu sozinha a

tocar o instrumento, chegando a ponto de tocar as difíceis músicas de Paganini. Heloísa se

depara, então, com o momento em que está sendo obrigatório o ensino de música nas escolas

e precisando de professor de música, justamente, na escola onde acabara de se formar.

Decidiu, aconselhada por uma amiga e pelo maestro da banda de sua cidade, professor

Marinho (que havia sido aluno de Gazzi de Sá), procurar Gazzi de Sá para prepará-la, a fim de

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que pudesse começar o ano letivo ensinando no colégio em Patos. Assim conta a própria

Heloisa Leite em seu depoimento:

Arrumei a mala e vim para João Pessoa estudar com o professor Gazzi. O colégio que estudei estava precisando de professor de música por lei do Governo Federal, e os colégios de Patos estavam sem professor, então eu tive que vir com urgência, pegar as férias aqui, estudando sozinha com o professor Gazzi de Sá. Era uma aluna especial porque não tinha mais ninguém, era férias, então ele exigia de mim. Muito risonh o, muito alegre, ele dizia: Santinha traga água para Heloisa que ela está dizendo CLA, não mais o LÁ. Era de tanto cantar, aquele solfejo de Frederico Nascimento, o Rodolfo, que era o solfejo nas sete claves. Eu estudava todos os dias. E o professor se entusiasmou tanto comigo que esqueceu que eu ia ensinar num colégio. Peguei três turmas da Escola Normal, duas turmas do colégio ginásio e a outra turma colegial. Eu dava aula a esse povo o dia todo; quer dizer, a minha preparação feita por Gazzi de Sá foi su ficiente para eu pegar um papel de qualquer coisa e cantar afinado, e eu mudava para qualquer tom, era só dizer, transformava toda a nomenclatura das sete notas. Os professores se entusiasmavam com minha música. Tinha um violino que era de irmã Rita, americana, que não queria mais, aí me emprestou, então as pessoas diziam: “Heloisa vai pegar o violino de irmã Rita”. Pronto, foi aí que eu me fiz no violino, comecei sem professor até o dia de hoje, nunca tive um professor, tocava de manhã, de tarde e de noite . Tive uma grande amiga, ela era pianista, tocava de ouvido, Dona Maria Rosalina, que o nome dela deve merecer destaque aqui na música do Estado da Paraíba. Ela tocava muito bem.(Heloisa Leite).

Depois, Heloísa volta para João Pessoa para estudar no Conservatório, porém já estava

capacitada para dá aula com a experiência que tinha adquirido. Assim sendo, Gazzi de Sá a

convida junto com as demais professoras para fazer o curso de Canto Orfeônico no

Conservatório Nacional do Rio.

Hoje, Heloisa está com 80 anos e mora em João Pessoa. Na entrevista, ela também fala

sobre todos os professores e como eram as aulas deles, porém, destaca Gazzi de Sá como um

professor especial, não escondendo a sua admiração:

Por fim, o professor Gazzi foi excelente, ele botou pra trás aqueles musicistas de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, da Argentina, que era gente especial, que vieram assistir às aulas de Apreciação Musical. Isso era só com ele, mais ninguém, não tinha regente de canto nenhum que fizesse o que ele fez lá.(Heloisa Leite).

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Seguiu com Heloisa para o Rio a sua melhor amiga da turma, Olga Ribeiro, que

atualmente mora em Itabuna, na Bahia, dirigindo um coral da terceira idade, o Coralito (coral

de crianças) e ainda ensina técnica vocal, piano e teclado. Com 76 anos de idade, continua

vivendo em plena atividade musical. Tive oportunidade de falar com Olga Ribeiro por

telefone, e, apesar da curta conversa, deu para verificar a alegria de poder falar sobre o seu

professor: “considero Gazzi de Sá o melhor professor de música que já tive. Olha que já tive

professor fora do Brasil, nos Estados Unidos. Mas como Villa-Lobos tinha a perfeição para a

composição, Gazzi tinha para ensinar e reger”. Olga ensinou no Conservatório de Canto

Orfeônico da Paraíba nos anos de 1955, 1956 e 1957 e foi professora de Fisiologia da voz,

Teoria musical e Órgão.

Foto 38 − Villa-Lobos com os alunos do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no Rio. Entre os alunos estão as cinco alunas paraibanas. Da esquerda para direita em pé, contando apenas as alunas, cito-as: a primeira aluna: Olga Ribeiro da Silva, a quinta aluna: Heloisa Nóbrega Leite, a nona aluna: Lúcia Soares (falecida) e na primeira fila, sentadas, da esquerda para direita, a sexta: Rejane Carvalho e a sétima: Jória Toscano. Foto: (LEITE, Heloisa, 1954 – 1955).

As cinco professoras que foram, em 1954, se aperfeiçoar no Rio de Janeiro voltaram

para ensinar no Conservatório da Paraíba. Todos os professores daqui que iniciaram o ensino

no Conservatório tiveram essa oportunidade de ir ao Rio: a intenção era que fossem bem

qualificados para ensinar no Conservatório na Paraíba.

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3.1 – Luzia Simões e a responsabilidade de continuar uma obra

Luzia Simões foi uma das professoras a se formar no o Conservatório no Rio de

Janeiro. Ao ser criado o Conservatório da Paraíba, em 28 de novembro de 1952, Luzia foi de

imediato, no início do ano seguinte para o Rio, a fim de fazer o curso de dois anos no

Conservatório Nacional de Canto Orfeônico. Deixou na Paraíba o marido e dois filhos, ainda

pequenos. “Fez o curso regular e realizou estágio para Diretor e Professor de Conservatório de

Canto Orfeônico” (RIBEIRO, 1977, p. 123). Retornando a sua terra em 1955, assumiu o lugar

de Diretora do Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, conduzindo sempre com muita

fibra e determinação todas as outras atividades deixadas por Gazzi de Sá. Dirigia a Escola de

Música Anthenor Navarro, o coral Villa-Lobos e o Madrigal da Paraíba.

Figura 8: Diploma do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico de Luzia Simões, 1955. Documento: (Aquivo: BARTOLINI, Eliane).

Gazzi de Sá chegou a assumir a Direção do Conservatório no Rio, quando Villa-Lobos

viajava para os Estados Unidos ou Europa. No ano da conclusão do curso da turma da aluna

Luzia Simões, coincidiu de ele estar como Diretor. No diploma (fig. 8), percebe-se o seu

nome e assinatura.

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Foto 39 − Concluintes do Conservatório e os professores em 1955. No centro sentado, Gazzi de Sá e, na segunda fila em pé de vestido preto, atrás de Gazzi de Sá está Luzia Simões. Entre os professores sentados, o primeiro da esquerda para direita José Vieira Brandão e o segundo da direita para esquerda o professor José de Andrade Muricy. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane, 1953-1955).

Foto 40 − Turma de Luzia Simões no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, em 1954. Entre os professores: Villa-Lobos, Dona Arminda e Gazzi de Sá. Luzia Simões é a quarta aluna da direta para esquerda em pé, localizada por atrás de Gazzi de Sá. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane, 1954).

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Como já foi citado, Luzia Simões assumiu todas as atividades de Gazzi de Sá,

inclusive a regência das concentrações orfeônicas. A partir de 1948, era Luzia quem

supervisionava o canto orfeônico nas escolas e organizava, sob sua regência, as concentrações

orfeônicas na Paraíba.

Foto 41 − Concentração orfeônica sob a regência de Luzia Simões, na praça João Pessoa, no final da década de 1940. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane).

As Concentrações orfeônicas eram sempre acompanhadas pela Banda da Polícia, sob a

regência do maestro João Eduardo.

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Foto 42 − Luzia regendo uma concentração orfeônica. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane).

Aconteceu em 1952, sob a regência de Luzia Simões, a última apresentação de uma

concentração orfeônica na Paraíba. Como era de costume, foi na praça João Pessoa

acompanhada pela Banda da Polícia. A própria Luzia explica, em depoimento datilografado,

cedido por sua filha Eliane Bartolini, o que estava acontecendo naquele momento no campo

da música:

Inicia-se o governo do Ministro José Américo de Almeida. Surge a grande possibilidade de se fazer alguma coisa. Havia apenas naquela época três professores de música contratados pelo Estado: Augusto de Almeida Simões no Liceu Paraibano, Altina Sá no Grupo Escolar Epitácio Pessoa e Luzia Simões Bartolini nos grupos escolares Thomas Mindelo e Antônio Pessoa. Conhecedor da precariedade do ensino de música nas escolas, o Governador José Américo ao lado do seu secretário da educação, D r. José Medeiros Vieira, manda que se instale um curso intensivo de preparação ao ensino, durante seis meses, para novos professores, sendo logo nomeados para preencherem as vagas existentes. Ainda foram realizadas duas concentrações orfeônicas, sendo a última com um número de 2.500 escolares (Luzia Simões).

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Foto: 43 − Última apresentação de uma concentração Orfeônica na Paraíba em 1952, sob a regência de Luzia Simões. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane).

Ainda sob o comando de Luzia Simões, foi criado o coral “Madrigal da Paraíba”,

formado por professores e alunos do Conservatório e Escola de Música Anthenor Navarro.

Era um coral misto, a quatro vozes. Luzia faz o seu comentário sobre o Madrigal: “Em 14 de

dezembro e 1958, no Teatro Santa Rosa, apresentou-se em um concerto de Natal. Era

composto principalmente de professores, sob minha regência. Teve pouca duração, embora

fosse um trabalho de muito proveito” (Luzia Simões).

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Foto 44 − Coral “Madrigal da Paraíba” sob a regência de Luzia Simões. Atrás, da esquerda para direita: Urbano Andrade, Arthur Andrade, Gerardo Parente, Otamar Ribeiro, Augusto Simões, Pedro Santos, Antônio Queiroga, Zamir Machado Fernandes. Na frente, da direita para esquerda: Rejane Carvalho, Marne Cunha, Djanira Nóbrega, Irenita Bronzeado, Lucemar, Eulina Maria, Dalva Estela, Heloisa Nóbrega e Naide Alverga. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane, 1952).

Em 1952, com a reestrutura feita pelo Governador José Américo de Almeida, ressurge

o Coral Villa-Lobos, também sob a regência de Luzia Simões, que ficou à frente deste grupo

coral até se aposentar em 1966. Sobre isso, Maria das Graças Paiva Santiago, que foi ex-aluna

de Luzia Simões, escreve:

Constantemente solicitada pelos nossos Governantes, era comum vê -la no Palácio da Redenção, em solenidades cívicas ou sociais, regendo o seu coral, mostrando aos visitantes que aqui eram recebidos, o trabalho feito na Paraíba. Regia e cantava onde quer que fosse chamada: palácios, teatros, escolas, praças públicas, tudo lhe servia de palco e então, lá estava ela, numa total e perfeita intimidade com a música, envolta numa aura de encantamento, conduzindo com maestria os jovens que ela formava (SANTIAGO, 2000, p. 9).

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Foto 45 − Coral Villa-Lobos, sob a regência de Luzia Simões Bartolini. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane, 1952).

Neste mesmo ano, a Paraíba recebeu a visita da Primeira Missão Artística Musical

enviada pelo Ministério da Educação e Saúde aos Estados do Brasil, uma iniciativa do

Ministro Simões Filho. A Missão era chefiada por Villa-Lobos e formada por excelentes

músicos que se apresentavam para o público de algumas capitais do Nordeste, com o intuito

de observar e avaliar o comportamento do público com a música erudita. Segundo Domingos

de Azevedo Ribeiro, “a Missão tinha como finalidade proferir conferências cívico-artístico-

musicais, além de apresentações de um grupo integrado por eméritos professores do bel-canto

e de música erudita” (RIBEIRO,1977).

Confirmando a observação de Ribeiro, da citação anterior, Villa-Lobos realmente não

deixou de proferir o seu discurso na Paraíba. Esse discurso aconteceu no Teatro Santa Rosa

por ocasião da passagem da Missão Artística Musical, quando foi gravado ao vivo e

posteriormente editado pelo Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, em disco vinil: Villa-

Lobos - o intérprete. Eurico Nóbrega França, autor do comentário da capa do disco vinil, se

expressa da seguinte forma:

Este disco é precioso porque nos traz nosso maior músico ao piano. O autor

deste breve comentário teve o privilégio de ouv i-lo pessoalmente (João

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Pessoa, 195120), quando acompanhava a Caravana Artística que, dirigida

por ele, fez tournée pelo NE do Brasil. O próprio Villa -Lobos subiu ao

palco e tocou a “Lenda do Caboclo”. Proferiu, naquela ocasião, também, o

discurso que será conservado por este disco. O fraseado sutil, o sentimento

recôndito. Uma interpretação verdadeiramente poética, que recria a obra,

como se a improvisasse (FRANÇA, s/d) 21.

A Primeira Missão Artística Musical esteve na cidade de João Pessoa nos dias 9 e 10

de outubro de 1952, quando os músicos se apresentaram no Teatro Santa Rosa com um

programa diferente para cada dia de apresentação. Vieram acompanhando a missão os

seguintes músicos: Cristina Maristany (soprano), Alceu Bocchino (piano), Célio Nogueira

(violino), Iberê Gomes Grosso (violoncello) e Ivy Improta (piano).

Sobre essa passagem de Villa-Lobos em João Pessoa, além de o seu discurso ter sido

gravado em disco vinil, de ter tocado a sua própria música ao piano, aconteceu um fato que

pode ser classificado como extra-oficial, posto que não estava previsto no programa

anunciado.

Gazzi de Sá, através do coral Villa-Lobos, fez uma homenagem ao próprio Villa-

Lobos. O professor paraibano já se encontrava na cidade há alguns dias e preparou o coral

para fazer tal deferência. Assim conta Débora Araújo, ex-aluna de Gazzi de Sá, que fez parte

do coral na ocasião:

Gazzi quando chegava, ele não parava. Pois bem, ele então fez questão,

porque nos ensinou o solfejo, essa coisa toda do Marcha para o Oeste, não

foi nem Luzia, foi Gazzi que ele trouxe de lá as partituras. Luzia nem

conhecia, foi Gazzi, já preparando a vinda de Villa -Lobos. Quando Villa-

Lobos chegou, nós cantamos Marcha para o Oeste, regida pelo próprio

autor. Foram duas músicas que ele regeu: O meu engenho é de Humaitá22,

que é de Gazzi de Sá, um coco, e Marcha para o oeste de autoria de Villa-

Lobos. Ele regeu essas duas peças, eu me lembro como hoje de Villa -Lobos

regendo. Ele regeu primeiro o Humaitá e depois Marcha para o Oeste

(Débora Araújo).

20 No comentário do disco consta que o ano deste acontecimento foi em 1951, porém, a ano correto foi em 1952, fato constatado pelas reportagens de jornais coletadas. Ver em anexo jornal nº. 56 e 57. 21 A referência completa encontra-se na referência bibliográfica. 22 No final desta pesquisa, tive a oportunidade de ter esta partitura em mãos, foi então que consegui entender corretamente a pronúncia e escrita desta peça musical.

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Luzia Simões, apesar de não ter preparado o coral, deixando ao comando do seu

mestre, estava presente entre as pessoas que foram recepcionar a comitiva no aeroporto e

ficou a disposição para dar uma assessoria musical caso houvesse necessidade.

Figura 9: Programa do 1º. dia da Missão Artística Musical. Teatro Santa Rosa, 09/10/1952

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Figura 10: Programa do 2º. dia da Missão Artística Musical. Teatro Santa Rosa, 10/10/1952.

O currículo de Luzia Simões comprova a sua contribuição para a história da música na

Paraíba. Foi Diretora da Escola de Música Anthenor Navarro, ajudando desde a sua fundação;

foi professora de música nas escolas oficiais do Estado; ensinou iniciação musical às crianças

da Escola de Música; além de fazer apresentações de musicalização com bandinha rítmica,

utilizando pequenos instrumentos de percussão. Na foto 46, observa-se que a Escola criou um

uniforme para as crianças.

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Foto 46 − Alunos da Escola de Música Anthenor Navarro. Bandinha rítmica, sob a regência de uma aluna. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane).

Foto 47 − Alunos da Anthenor Navarro, na frente da casa da rua General Osório, de 1952-1958. Foto: (Arquivo: BARTOLINI Eliane).

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Acerca do Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, a primeira turma concluiu o

curso em 1957, chegando a formar sete turmas. Registra-se ainda a formatura de 35

professores de Educação Artística, registrados e reconhecidos pelo Ministério da Educação e

Cultura. A última turma concluiu no ano de 1963. A seguir relaciono as turmas, indicando o

ano de conclusão23.

PRIMEIRA TURMA − 1957: Maria Lídia de Carvalho Atayde, Maria das Mercês de

Araújo Gambarra, Marne Azevedo, Neuza Nóbrega, Terezinha de Lourdes Avelar de

Aquino,Vilma Figueiredo Bezerril.

SEGUNDA TURMA − 1958: Beatriz, Djanira Holanda, Iracema Lucena, Irenita

Bronzeado Cavalcanti, Irmã Maria Coelis, Zamir Machado Fernandes.

TERCEIRA TURMA − 1959: Dalva Stella, Ione Ferreira Marinho, Lucemar Navarro,

Naide Martins R. Alvarenga.

QUARTA TURMA − 1960: Irmã Veneranda – OSF (Ordem São Francisco), Irmã

Maria de Fátima - (OSF), Eulina Maia, Glenda Jorge.

QUINTA TURMA − 1961: Dinalva, Isis Ferreira Marinho Nicolau, Júlia Nóbrega

Guerra, Iaci Ferreira Marinho Nicolau, Maria Iraci Menezes, Maria Sirena Gurgel, Maurício

Matos Gurgel.

SEXTA TURMA − 1962: Letícia Andrade, Zuleide Fernandes.

SÉTIMA TURMA − 1963: Célia Castor, Creusa Teixeira, Laurentino Silva, Osanete,

Marilda Eduardo, Ridete Lemos.

É interessante descobrir que pessoas do nosso convívio fizeram parte dessas turmas24.

Entre as inúmeras que tiveram destaque, na Paraíba, algumas ainda se encontram em

23 Todos os nomes dos alunos e respectivas turmas foram recolhidos no arquivo de Eliane Bartolini. 24 Merecem destaque cinco pessoas que se tornaram professoras do Departamento de Música da UFPB: Maria das Mercês (falecida), Irenita Bronzeado (foram minhas professoras no curso de extensão), Terezinha Avelar de Aquino, Iracema Lucena e Creusa Teixeira (esta última foi minha colega no Depto.). Todas estão aposentadas. Maurício Gurgel (e esposa Sirena Gurgel) − Maurício foi diretor da Escola de Música Anthenor Navarro durante 20 anos. Foram importantes no ensino de coral nas escolas e permanecem com uma escola de música na cidade. Marilda Eduardo − ainda é regente de coral, tem um excelente coral que tem o nome do seu pai “Coral João Eduardo”, foi o regente da Banda da Polícia Militar que acompanhava as concentrações orfeônicas na época de Gazzi de Sá. Marilda hoje ocupa a cadeira nº 11 da Academia Paraibana de Música, cadeira ocupada pelo pai como patrono. Em 1999, o coral gravou um CD com composições do seu pai, que completaria seus 103 anos. Júlia Nóbrega − (conhecida como Dona Júlia), toca órgão até hoje na missa da Catedral da cidade. Naide Alvarenga − foi diretora por pouco tempo da Escola de Música Anthenor Navarro. Glenda Jorge − ainda é professora de piano da Escola de Música Anthenor Navarro. Iraci Menezes − foi professora de piano e ainda é tesoureira da Anthenor Navarro.

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atividades, embora não tivessem se destacado em âmbito nacional, mas contribuíram, e muito,

com a cultura musical em nosso Estado. O importante é evidenciar que Gazzi de Sá, apesar de

não ter sido professor de todas as turmas, por não mais estar residindo na Paraíba, foi o

responsável pela criação do Conservatório na Paraíba, uma vez que não mediu esforços para

se deslocar do Rio de Janeiro inúmeras vezes como representante do Conservatório Nacional,

para tentar implantá-lo, acompanhado da sua aluna Luzia Simões, junto ao Órgão do Estado.

Foi ele com sua esposa e o professor Asdrúbal que deram início ao Curso, saindo do Rio de

Janeiro para ministrarem aulas de preparação para o Curso durante os dois primeiros anos,

enquanto as suas alunas se preparavam no Conservatório Nacional para assumirem as aulas do

Conservatório da Paraíba.

Foto 48− Formatura da primeira turma de Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba em 1957. Compondo a mesa: Luzia Simões − Diretora do Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, José Américo de Almeida − Governador do Estado, Gazzi de Sá − Representante do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico e o Secretário da Educação e Cultura do Estado. Oradora da Turma: Vilma Bezerril. Foto: (Arquivo: BARTOLINI, Eliane, 1957).

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O Conservatório da Paraíba, criado em 1952, encerrou suas atividades em 1963,

quando passou a ser Instituto Superior de Educação Musical, onde funcionava o Colegial

Artístico. Hoje, a Escola de Música Anthenor Navarro é o único Departamento do Instituto

Superior de Educação Musical na Paraíba.

Luzia Simões, em seu discurso que deixou escrito em 1978, contando sobre a música

na Paraíba, revela:

Não podemos deixar de reconhecer que a Paraíba muito deve ao Prof. Gazzi de Sá. Foi ele o marco de tudo que temos hoje. Sempre trabalhando com verdadeira abnegação, não visando lucros, entregando -se inteiramente ao ensino, com amor e interesse na formação dos seus discípulos. Sua esposa Santinha foi sempre a sua querida companheira inseparável, auxiliando -o e incentivando-o em qualquer realização pretendida. Hoje assistindo e testemunhando o trabalho daqueles que continuam a dirigir os destinos da música em nosso Estado, sinto-me feliz por ter sido uma pedrinha no alicerce deste grande edifício que integra a cultura artística de um povo. (Luzia Simões).

Ao re-escrever esses pequenos contos sobre o canto orfeônico (com suas

concentrações) e sobre o Conservatório da Paraíba, tenho a impressão de que, na Paraíba,

mesmo funcionando sob as orientações de Villa-Lobos, inserido no contexto político da

época, o ensino da música apresentava um diferencial. Parece que Gazzi de Sá passava o

imenso prazer que ele sentia pela música aos seus alunos, sem exigir esforço algum,

naturalmente devido a sua extraordinária metodologia de ensino que conquistava a todos. É

impressionante a admiração que todos os entrevistados que o conheceram sentem pelo

professor e pela pessoa de Gazzi.

Acerca de sua metodologia que venho mencionando, em termos mais concretos, ele

chegou a escrever o seu método, interrompendo-o por motivo de saúde, e, devido ao primeiro

problema cardíaco, ficou impossibilitado de viajar como queria, pois o seu desejo era viajar o

Brasil divulgando o seu método. Gazzi de Sá ensinou no Conservatório Nacional até 1964, no

entanto, “é na Escola Maria José Imperial da União das Operárias de Jesus, onde foi diretor

durante sete anos, que pôde como professor, desenvolver e aprimorar a sua obra didática,

fundamentalmente brasileira, nascida da realidade musical e formação da nossa gente” (SÁ,

1990, p. 297).

No livro Pedagogia Musical Brasileira no Século XX, de Ermelinda A. Paz, ela relata

as várias metodologias que marcaram a educação musical no Brasil. Sobre o método do

músico paraibano, ela emite o seu parecer:

Page 105: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

104

O método do paraibano Gazzi de Sá foi por algum tempo o único no Brasil, que se baseia no sistema relativo. Sabe-se que atualmente, na Bulgária, é utilizado o c anto com números, representando os graus da escala. O professor Gazzi de Sá, segundo consta, apesar de seus contatos com o mundo europeu, não conhecia o método Kodaly, e é muito interessante observar as bases do seu método, comparando-o com o anteriormente citado, visto que ambos encontraram, pode-se dizer, as mesmas respostas para os mesmos problemas (PAZ, 2000, p. 26).

Foto 49 − Gazzi de Sá ministrando aula no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico. No quadro uma representação do seu método. Em pé ao lado do quadro, uma aluna paraibana, Jória Toscano. A data desta foto é 1954 ou 1955, período em que a aluna cursou o Conservatório. Foto cedida por Heloisa Leite.25

Em 1990, com o patrocínio do Instituto Nacional de Música − INM da FUNARTE,

com sua política de resgate e recuperação da cultura nacional, os Seminários de Música Pro-

Arte puderam realizar a publicação da obra didática de Gazzi de Sá. Juntaram-se a esse

projeto seus ex-discípulos, amigos e admiradores do mestre. A coordenação ficou a cargo de

Rejane Carvalho de França (ex-aluna), revisão de Ermano Soares de Sá (filho) e Theresia de

Oliveira (ex-aluna). A obra completa de Gazzi de Sá foi organizada e estruturada pelo amigo

Adhemar Nóbrega assessorado por Gerardo Parente. As obras completas são:

25 Agradeço a Heloísa Leite por ter cedido as fotos e pelas informações prestadas.

Page 106: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

105

1o. volume − MÚSICA SACRA

2o. volume − MÚSICA CORAL (motivos folclóricos do nordeste)

3o. volume − MÚSICA CORAL

4o. volume − MÚSICA PARA CANTO E PIANO

5o. volume − MÚSICA PARA PIANO

6o. volume − MÉTODO DE MUSICALIZAÇÃO.

Apesar de estar fixado no último volume publicado que todas as obras foram

publicadas, infelizmente isto não aconteceu, somente foi publicado o primeiro e sexto volume.

Do segundo ao quinto volume foram prometidas as publicações, mas até o momento não foi

reproduzida.

O Método de Musicalização de Gazzi de Sá se consolidou no Rio de Janeiro,

onde o compositor pôde atuar e comprovar mais seguramente a eficiência de sua metodologia,

pois, apesar de já utilizar na Paraíba, provavelmente não lhe havia ocorrido a preocupação de

registrar o seu método, além disso, não havia o incentivo de pessoas capazes de perceber a

importância de transformá-lo em livro. Por outro lado, naquela época, Gazzi de Sá não

dispunha de tempo para pensar nessa possibilidade, uma vez que tinha uma vida muito

ocupada, dividida entre aulas e direção musical. Afinal, era responsável por todas as

atividades relacionadas à música na Paraíba. É inegável que a sua ida para o Rio de Janeiro

foi proveitosa em muitos sentidos. Lá havia uma concentração de grandes músicos, por ser

considerado um grande centro musical editorial; ademais, Gazzi de Sá contava com a amizade

e a admiração de Villa-Lobos, que teve a oportunidade de ver pessoalmente a sua comprovada

competência. Em face disso, não poderia ter sido reconhecido em um local mais apropriado.

No início do seu método, contém um item denominado Outras opiniões sobre o método que

trago para este trabalho, com o objetivo de valorizar a estratégia de ensino do músico

paraibano, reconhecido por profissionais de todo o território nacional e, infelizmente,

desconhecido por muitos de seus contemporâneos. Algumas dessas opiniões estão citadas

abaixo, as demais encontram-se em anexo.

[...] Gazzi de Sá, que Villa-Lobos trouxe da Paraíba, impressionado pela eficiência de suas realizações locais no campo do orfeonismo.

No âmbito do Conservatório de Canto Orfeônico traçou linha nítida de autonomia didática, que foi se acentuando e desabrochou nesta floração presente dum processo de preparação analítica e de preservação da integridade rítmica dos textos corais.

Page 107: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

106

[...] Gazzi de Sá conseguiu de um todo bastante coeso, de presença alerta e interessada: confirmação da validade do seu método, e mais ainda de suas qualidades pedagógicas (MURICY, 1960 26). Seria uma temeridade e mesmo absurdo, se eu aqui viesse com o título de lhes demonstrar, na íntegra, o que é o Método Global de Iniciação Orfeônica do professor Gazzi Galvão de Sá. Quero apenas relatar, aos distintos colegas, o que me foi dado observar no curto espaço de quatro aulas, dadas pelo eminente educador, no Colégio de Aplicação da Capital, e nas quais ele aplicou a bases do seu método, com resultados satisfatórios. [...]Como podemos observar, quase todo o programa da 1 a. série ginasial foi inteligentemente aplicado, coisa curi osa, pela primeira vez em cinco anos de magistério, os alunos pediram-me a continuação da aula e para tanto, desistiram do recreio” (CORRÊA, 1960 27).

Por Gazzi de Sá ter partido para o Rio, em 1947, o convívio da Paraíba com seu

grande mestre, ao longo dos anos, foi ficando naturalmente longínquo, apesar dos

depoimentos das suas alunas, que tive oportunidade de entrevistar, serem unânimes em

afirmar a eficiência do seu método. Porém, essas alunas, ao deixarem de ensinar, iam

deixando de propagá-lo, motivo por que o método na Paraíba tornou-se praticamente

desconhecido, com exceção de uma pequena parcela de seus ex-alunos e uma outra parcela

resumida da nova geração. Algumas pessoas dessa nova geração até conhecem a existência da

publicação do método, mas não sabem como desenvolvê-lo, ao passo que as ex-alunas que

entrevistei sabem como funciona, mas desconhecem a sua publicação. “Estamos convictos da

qualidade deste trabalho e lamentamos o fato de o Brasil ser ainda um país “sem memória”.

Em outra cultura, ele seguramente já teria extrapolado fronteiras e adquirido status de método

de musicalização” (PAZ, 2000, p. 27).

Indiscutivelmente, Gazzi de Sá foi um grande educador musical. Infelizmente a

Paraíba não soube compreender a grandiosidade do seu trabalho, deixando que fosse embora

um filho da terra que tanto lutou em favor da música no Estado. A Paraíba tem de reconhecer

que, se hoje somos um dos estados que se destaca no cenário musical do país, devemos aos

primeiros esforços de Gazzi de Sá, em querer educar musicalmente o povo paraibano, quando

tomou para si a tarefa de transmitir, sentir e viver a música de forma prazerosa.

26 Artigo publicado no Jornal do Comércio em 27/11/1960, pelo José de Andrade Muricy, crítico Musical. 27 Artigo publicado pelo Prof. Sergio O. de Vasconcelos Corrêa, Professor de Canto Orfeônico do Estado de São Paulo em Escola Secundária, nº 14, Setembro de 1960.

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107

CAPÍTULO IV – GAZZI DE SÁ, UM PROMOTOR CULTURAL

O espírito de promotor cultural de Gazzi de Sá começou com a criação do Curso de

Piano Soares de Sá, em 1929, quando iniciou as freqüentes apresentações musicais de seus

alunos, ampliando essa vivência musical a maiores eventos através da Sociedade Musical,

criada por ele em 1930, com a cooperação da Prefeitura Municipal de João Pessoa, na gestão

de Oswaldo Trigueiro. Essa Sociedade trouxe diversos músicos nacionais e internacionais

para se apresentar na cidade, no Cine-Teatro Rex. O primeiro concerto, realizado em 25 de

outubro de 1930, foi com o pianista Ernani Braga, que na época dirigia o Conservatório

Pernambucano de Música. O segundo foi com o violinista Vicente Fittipaldi, acompanhado ao

piano pelo próprio Gazzi de Sá. Graças à Sociedade, foi possível apresentar grandes nomes da

música nacional e internacional, como a cantora Bidú Sayão, a pianista Guiomar Novais e o

violonista André Sergóvia.

O pianista Tomás Terán, considerado o maior pianista da Espanha, atendendo ao

convite da Sociedade Musical, se apresentou no Salão Nobre da Escola Normal no dia 8 de

fevereiro de 1931. Em seu repertório, abordou vários gêneros musicais, apresentando ao

público sua complexa musicalidade. Apreciador da música brasileira, sobretudo das músicas

de Villa-Lobos, em entrevista cedida ao Diário da Manhã, comentou o reconhecimento da

obra de Villa-Lobos na Europa, e após esse comentário acrescentou:

Devo dizer, porém, que tive muito boa impressão de compositores como Oswaldo, Luciano Gallet e Lourenzo Fernandes. Desse último, estudei agora uma “sonatina brasileira”, realmente admirável, do ponto de vista pianístico. Entre os compositores populares aqui do Rio, interessa -me sobretudo Nazareth, pela solidez de sua factura. 28

No recital se ouviu vários compositores europeus, por fim, ouviu-se Villa-Lobos, que

tinha em Terán o seu melhor intérprete estrangeiro, segundo as críticas de jornais29. Neste

período, quando começou a trazer músicos para se apresentarem na cidade, Gazzi de Sá

28 Esta entrevista foi cedida por Tomás Terán ao “Diário da Manhã”, porém, foi publicada no Jornal A União em 05 de fevereiro de 1931, quando se anunciava a chegada do músico à cidade de João Pessoa. 29 Ver anexo jornal n º 3.

Page 109: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

108

“mantinha nas páginas do jornal a União, uma coluna − Notas de Artes, focalizando aspectos

do nosso movimento musical” (RIBEIRO, 1977, p. 20). Esta coluna começou a constar no

jornal a partir de 1931, criada com o objetivo de divulgar os eventos musicais que aconteciam

na cidade de João Pessoa e do Estado, além de informar sobre as atividades artísticas do Sul

do país. Porém, não divulgava apenas as atividades musicais, como se pode verificar no

“anexo jornal” deste trabalho30. Algumas divulgações consistiam em exposições de artistas

plásticos, recitais de poesia e tudo que se relacionava com artes, afinal de contas, as

reportagens faziam jus ao título da coluna “Notas de Arte”. A primeira coluna encontrada, em

05 de março de 1931, não se referia à divulgação de concertos, mas a uma música nova, como

se pode observar abaixo:

Figura 11: 1a coluna Notas de Artes. A UNIÃO, 05/03/193131.

30 Alguns exemplos podem ser vistos no anexo jornal n º 8, 10, 13, 22, 43. 31 A coluna Notas de Arte foi mantida por Gazzi de Sá.

Page 110: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

109

A coluna foi de grande importância para a divulgação dos eventos culturais do Estado,

tanto para os eventos musicais promovidos por Gazzi de Sá, como para os eventos de artes em

geral.

Foto 50 − Gazzi de Sá no jornal, pondo em prática a sua coluna. Foto: cedida por Ermano Soares de Sá (filho de Gazzi de Sá). (Década de 1930 e 1940).

Gazzi de Sá e Santinha, após terem passado os dois anos fazendo curso no Rio de

Janeiro (1934 e 1935), época já retratada em capítulo anterior, voltaram à terra natal

motivados em continuar a sua obra. Ele se empenhou em trazer artistas para promover no

público pessoense o gosto pela música erudita. Essas apresentações aconteciam, em geral, no

Cine Teatro Rex, no Salão Nobre da Escola Normal e no Cine Plaza.

No ano de 1936 se apresentaram vários artistas, tais como: a cantora lírica baiana

Alexandrina Ramalho, considerada uma das cantoras mais consagradas pela crítica nacional e

européia32; a violinista Carmem Yvancko, paulista, considerada uma virtuose no instrumento

32 Ver reportagem completa em anexo jornal n º 14 e 15.

Page 111: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

110

e conhecida pelos seus sutis segredos de interpretação33, cuja apresentação data de 17 de

outubro de 1936, no Salão Nobre da Escola Normal; o violinista Mylton de Castro Ferreira,

pernambucano da cidade de Recife, acompanhado pelo irmão, João Evangelista Ferreira, um

hábil pianista, ambos considerados as novas revelações do Recife. O violinista Mylton de

Castro, apesar da sua pouca idade, ainda estudante do Conservatório de Música de Recife,

mostrou seu talento e alto nível técnico em seu repertório, apresentado no dia 25 de outubro

de 1936 no Salão Nobre da Escola Normal34.

Em 11 de novembro de 1936, Gazzi de Sá promoveu o seu primeiro Festival de Arte

como encerramento das suas atividades do ano, apresentando ao público seus alunos e o

trabalho que vinha desenvolvendo, tema sobre o qual tratarei a seguir.

A vinda da cantora lírica brasileira Bidú Sayão à Paraíba, a convite de Gazzi de Sá, em

novembro de 1936, fechou a temporada do ano com chave de ouro pelo sucesso da sua

apresentação. Foi a maior emoção musical deste gênero, presenciada pelos paraibanos até

aquele momento, razão pela qual merece destaque.

A chegada da cantora foi um grande acontecimento que movimentou a cidade, afinal

chegava a maior expressão do canto lírico brasileiro que também havia conquistado o

reconhecimento das platéias de Paris e Nova York com calorosos aplausos. A reportagem do

jornal A União cita que os estrangeiros “associaram a sua glória ao nome da Pátria.

Estrangeiros que tinham uma vaga idéia de nós − da nossa existência no planeta − ficaram

conhecendo-nos mais e admirando-nos depois de ouvir Bidú Sayão” (A UNIÃO, 21/11/1936).

Chegando dois dias antes do concerto, a cantora já encontrou uma agenda a cumprir.

No primeiro dia, fez uma visita ao prefeito Oswaldo Trigueiro e, em seguida, percorreu de

carro os principais pontos da cidade. No dia seguinte, pela manhã, a convite do tenente

coronel Antônio Thomé Rodrigues do 22o BC, visitou aquela unidade do Exército; à tarde, foi

homenageada pelos estudantes no Salão Nobre da Escola Normal com um concerto do orfeão

do Lyceu Paraibano, sob a regência do professor Gazzi de Sá.

33 Anexo jornal n º 18. 34 Programa do recital e reportagem completa em anexo jornal n º 16 e 17.

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111

Foto 51 − Foto na escadaria da Escola Normal com os estudantes e personalidades, entre tantos estão: Bidú Sayão, Gazzi de Sá, Oswaldo Trigueiro, então Prefeito da Capital, Orris Barbosa, Diretor do Jornal A UNIÃO, e Braz Baracuhy, representante do Poder Judiciário Foto e legenda: (RIBEIRO, 1977, p.70).

Figura 12: Bidú Sayão com o coral do Lyceu Parahybano. Transcrevendo a legenda: Bidú Sayão em pose especial para a nossa reportagem photographica entre os componentes do orfheon do Lyceu Parahybano ontem na Escola Normal. (A UNIÃO, 22/11/1936).

O concerto foi realizado no Cine Teatro Rex. Observa-se (fig.11) o zelo de Gazzi de

Sá na confecção dos programas. Em todos os concertos, realizados na cidade de João Pessoa

Page 113: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

112

através dos seus contatos, havia a preocupação com os programas, como é comum nos

principais centros de cultura do país e do mundo.

Figura 13: Programa do Concerto de Bidú Sayão (RIBEIRO, 1977).

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113

Sobre o concerto de Bidú Sayão, o jornal A União o anunciou, com um certo exagero,

como o maior acontecimento artístico de nossa terra. “A platéia de João Pessoa esteve, pode-

se dizer, à altura da glória de Bidú Sayão, exprimindo em palmas prolongadas e insistentes a

sua admirativa compreensão dos incomparáveis recursos melódicos da mais notável soprano

dos nossos dias” (A UNIÃO, 1936). As Bandas do 22o BC e a da Força Pública solenizaram a

presença da cantora na entrada do Rex, onde se concentrava uma grande quantidade de

pessoas. Antes de iniciar a interpretação das canções brasileiras, num gesto encantador para

com o público que não conseguiu entrar no Rex, já inteiramente lotado, Bidú Sayão ordenou a

abertura de todas as portas do teatro, que foi completamente invadido pelo povo interessado

em assistir à apresentação. Segundo a reportagem do referido jornal, “tornando-se a noite

artística mais brilhante. Após o concerto, a multidão aclamou delirante a saída da cantora” (A

União, 24 nov, 1936). Um artigo de jornal, escrito pela esposa de Gazzi de Sá, dez anos após

o ocorrido, comprova o acontecimento: “formaram-se alas na rua e Bidú passou entre

calorosas palmas, sendo ainda acompanhada até o Parahyba Palace Hotel por toda aquela

gente empolgada pela voz que acabara de ouvir” (A UNIÃO, 18/03/1947).

Assim, seguiram-se os anos, uns com mais apresentações, outros com menos, pois

Gazzi de Sá dependia do patrocínio do Governo para realizar os eventos. Abaixo, estão

relacionados alguns concertos antes da sua partida para o Rio de Janeiro.

O concerto do pianista Ernani Braga, também diretor do Conservatório de Música do

Recife, realizado na Escola Normal em 14 de dezembro de 1938. Era um pianista que unia a

técnica a sua grande cultura musical35.

O concerto de Rosina De Rimini, brasileira, soprano ligeiro conhecida em todo o país

como a garota prodígio, realizado no Cine Plaza, em 20 de setembro de 1939.

O recital da soprano Letícia Figueiredo, carioca, elogiada pela crítica Nacional, foi

apresentado no Clube Astréia em 27 de outubro de 1939.

A pianista Maria Luiza Vaz, classificada pela crítica Européia como uma das maiores

expressões da arte brasileira, apresentou-se em 10 de novembro de 1939. “Um crítico de

Berlim chegou a dizer que sua técnica era assombrosa e que por isso lhe foram dadas aplausos

tempestuosos”36 (A UNIÃO, 1939).

Com elogios da crítica brasileira, a pianista Ana Carolina se apresentou na cidade de

João Pessoa, em 31 de dezembro de 193937.

35 Reportagem completa em anexo jornal nº 28 e 29. 36 Anexo jornal nº 35. 37 Anexo jornal nº 36.

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114

4.1- Os Festivais

Vários festivais também foram realizados por Gazzi de Sá e sua esposa Santinha de

Sá, chamados de “Festival de Arte”, organizados pela Superintendência de Educação Artística

− SEA − e pelos respectivos professores. Nesses festivais, geralmente, se apresentavam os

alunos da Escola de Música Anthenor Navarro com a colaboração de alunas de ginástica e

dança da professora Santinha e do Coral Villa-Lobos e Orquestra, pois Gazzi de Sá também

regia uma pequena orquestra que formava para tocar apenas nessas apresentações, a exemplo

do que aconteceu no festival de 193738.

Seguem algumas fotos com cenas de danças que aconteciam nos festivais e capas de

programas.

Figura 14: Manchete de jornal anunciava a apresentação do Festival. São as alunas da professora Santinha, em um número de dança helênica. (A UNIÃO, 20/10/1937).

38 O programa deste Festival de Arte, de 1937, encontra-se no final deste Capítulo. A reportagem completa está em anexo jornal nº 24.

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Figura 15: Capas dos programas dos Festivais, dos anos de 1940 e 1942. (RIBEIRO, 1977, p. 81 e 100).

Figura 16: Manchete de jornal mostrando cena da apresentação do Festival de Arte de 1936. Reescrevendo a legenda da foto: Minueto dançado pelas meninas Lenilde Sá e Evany Régis, ontem no Rex. Reportagem completa em anexo jornal n º 19 (A UNIÃO, 11/11/1936).

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116

Santinha de Sá merece destaque pela sua forte atuação junto a Gazzi de Sá no cenário

musical paraibano. O Orfeão Carlos Gomes do Lyceu Paraibano, regido por ela, era bastante

conhecido pelas suas excelentes apresentações. Dentro das programações de festivais, no ano

de 1939, o Orfeão Carlos Gomes promoveu um festival em benefício do Departamento de

Assistência Social do Círculo Operário Católico, apresentado-se com sucesso, em 31 de

outubro, no cine-teatro Plaza39.

Figura 17: O orfeão “Carlos Gomes. Reescrevendo a legenda: O orfeão “Carlos Gomes” dirigido pela professora Santinha Sá. (A UNIÃO, 29/10/1939).

O 4o. Festival de Arte da Escola de Música Anthenor Navarro, promovido pela

Superintendência de Educação Artística − SEA, obteve um enorme sucesso. O interesse do

público em assistir à apresentação foi demonstrado pela grande quantidade de pessoas que

ficaram do lado de fora do cine teatro Plaza, em virtude da superlotação. Devido a esse

interesse e expectativa do público, a SEA repetiu a apresentação na semana seguinte,

precisamente em 21 de novembro de 1941.

39 Anexo jornal nº 32.

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117

Figura 18: Cenas de jornal do Festival de Arte de 1941. Transcrevendo a legenda: Dois aspectos do “Festival de Arte”, focalizando uma cena de “Arabesco” e outra do “Minueto”. (A UNIÃO, 20/11/1941).

Na programação, foi apresentado um grande conjunto orfeônico considerado, pela

crítica local, o mais preparado que a capital já ouviu. Apesar do pouco tempo de ensaio que

tiveram para aquela apresentação, o sucesso foi atribuído à preparação e á regência de Gazzi

de Sá. Além do orfeão, foram apresentadas cena de um Arabesco e um Minueto com a

utilização de músicas e coreografia40. Com relação a essa apresentação, segue a transcrição de

um trecho da reportagem de jornal que destaca os esforços educativos de Gazzi de Sá:

[...] o expectador, mesmo desprovido de um interesse espontâneo, vai travando um conhecimento mais íntimo, estabelecendo uma familiaridade entre ele e a cena artística que se passa dentro do pa lco. Com isso, vai-se educando a sua capacidade de julgamento, relacionando as suas preferências, moldando-lhe uma atitude estética capaz de orientá -lo

40 Reportagem completa em anexo jornal nº 37.

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118

depois, sem a necessidade de um estímulo energético, para as realizações verdadeiramente artísticas. Esse é um dos principais objetivos do trabalho intenso a que se entregou o professor Gazzi de Sá e estamos certos de que os resultados são os mais animadores (A UNIÃO, 20/11/1941).

O último festival realizado por Santinha e Gazzi de Sá, considerado o 7o, data de 28 de

outubro de 1947, foi em benefício do Centro de Estudos Musicais. O palco do Plaza foi mais

uma vez escolhido, desta vez para a realização do último festival organizado por Gazzi de Sá.

Fizeram parte do festival os alunos do curso de balé da professora Santinha, que também

funcionava na Escola de Música. O programa constou de Danças Clássicas, Expressionistas e

Típicas Estilizadas41.

Entre as apresentações da Escola de Música Anthenor Navarro, uma merece destaque,

desta vez não pela apresentação em si, mas pela pessoa. Descobri, em uma reportagem de

jornal que descrevia sobre a apresentação ocorrida, a foto de uma ex-aluna de Gazzi de Sá

tocando piano42, Theresia de Oliveira, que veio para Paraíba estudar música com o professor

paraibano. A própria Theresia, em entrevista, confessa: “havia estudado dez anos de música,

porém com péssimos professores. Fui então estudar com Gazzi de Sá, na Paraíba e, pela

primeira vez, a música começou a soar como música, o estudo foi fascinante” (OLIVEIRA,

1945 apud PAZ, 2000, p. 28).

O destaque é importante pelo fato de Theresia de Oliveira ter acompanhado os passos

do seu professor, no Rio de Janeiro, e sempre ter se empenhado tanto na conservação de seus

arquivos como também em deixar registrado o seu método de musicalização, além dos outros

volumes cuja publicação foi prometida, após a morte de Gazzi de Sá. Ela foi ainda

responsável pela revisão do método de musicalização, junto com Ermano de Sá, deixando

claro a intenção de tornar viva, no Rio, a memória de seu mestre. Ermano, em entrevista para

esta pesquisa, confessa que considerava Theresia uma irmã, lamentando o seu falecimento

ocorrido no ano de 2004.

A entidade Sociedade da Música, criada por Gazzi de Sá em 1930, com o propósito de

trazer pessoas para se apresentar na cidade, foi bastante atuante até 1936, incluindo também o

ano de 1939, quando se conseguiu trazer um bom número de artistas. Porém, a partir de então,

devido ao pouco apoio dos governantes, o número foi reduzido, embora o fato não tenha

impedido Gazzi de Sá de continuar desenvolvendo seu trabalho.

41 Reportagem completa em anexo jornal nº 49. 42 Foto e reportagem em anexo jornal nº 40

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119

Em 1946, foi fundada uma nova entidade – Sociedade dos Amigos da Música, com o

apoio de algumas pessoas interessadas no movimento musical, que também se empenhava em

trazer artistas para se apresentar na cidade. Esta sociedade funcionava da seguinte forma: os

associados pagavam mensalmente uma quantia em dinheiro e tinham o direito de assistir a

todos os concertos gratuitamente. Em nota de jornal43, Santinha de Sá, ao escrever sobre a

nova Sociedade dos Amigos da Música, mostra a coincidência de Oswaldo Trigueiro ter sido

prefeito, em 1936, época em que a Sociedade Musical foi bastante apoiada por ele e, no

momento da criação da Sociedade dos Amigos da Música, estar novamente na administração

do Estado, desta vez como governador da Paraíba. Após dez anos da vinda de Bidú Sayão,

com total apoio do governador Argemiro de Figueiredo e do prefeito Oswaldo Trigueiro, no

ano de 1936, ela teve a esperança de contar novamente com o apoio do governador Oswaldo

Trigueiro para trazer outros nomes de igual relevância.

Foto 52 − Sessão inaugural de fundação da Sociedade dos Amigos da Música − 14 de novembro de 1946. Gazzi de Sá é o terceiro (da esquerda para direita), os demais que estão compondo a mesa são da comissão que resolveram criar esta Sociedade (RIBEIRO, 1977, p. 103).

43 Reportagem completa em anexo jornal n º 41.

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120

Figura 19: Anúncio do Concerto de estréia

da SAM44. A UNIÃO, 23/03/1947. Figura 20: Programa do 1o. Concerto (RIBEIRO, 1977).

A Sociedade dos Amigos da Música via a possibilidade de trazer uma série de grandes

concertos. Criada em 14 de novembro de 1946, estava com seu primeiro concerto marcado

para abril de 1947, com o pianista norte-americano Hellmut Baerwald.

No ano de 1947, percebe-se, pelo estilo das reportagens dos jornais sobre música ou na

coluna “Notas de Arte”, que as matérias já não estavam sendo mantidas sob os cuidados de

Gazzi de Sá. Para entender melhor o porquê desta observação e o que estava acontecendo,

faço uma viagem histórica, um pouco antes de 1947.

Em 1943, é fundada a Sociedade de Cultura Musical da Paraíba, com a finalidade de incentivar criações de orquestras e realizar conferências alusivas a compositores eruditos. Dois acontecimentos importantes marcaram a presença desta Sociedade, conseguiu criar a Orquestra Sinfônica da Paraíba em 4 de novembro de 1945 e realizar o 1 o. Congresso de Música do Nordeste em setembro de 1949 (RIBEIRO, 1983, p. 04).

44 SAM - Sociedade dos Amigos da Música

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121

A Sociedade de Cultura Musical também criou uma escola de música, denominada

Conservatório Paraibano de Música, na intenção de investir na formação de novos músicos

para a Orquestra, porém a instituição não se consolidou, encerrando suas atividades após

alguns anos de existência.

A Sociedade de Cultura Musical da Paraíba era formada por pessoas influentes da

sociedade paraibana. Como não tiveram o apoio de Gazzi de Sá na criação da Orquestra

Sinfônica (assunto já tratado no capítulo anterior), investiram contra ele, através de um jornal,

com insultos, agressões e perseguições – causa maior de sua partida para o Rio de Janeiro.

Poucos são os que têm conhecimento sobre o assunto. O seu filho, Ermano Soares de Sá, ao

informar o nome do jornal responsável pelos ataques contra seu pai, não soube dizer com

precisão seus nomes, indicando-os como A Tribuna ou A Tribuna da Imprensa45. Depois da

procura intensa por esses jornais, nos principais arquivos da cidade de João Pessoa, verifiquei

a existência de dois jornais: A Tribuna e A Imprensa. A Tribuna pertencia ao partido de

oposição, a UDN − União Democrática Nacional, que tinha como foco principal à política

partidária, embora tratasse de assuntos gerais, enquanto A Imprensa, dirigido pelo Padre

Odilon Pedrosa, apesar de tratar de assuntos gerais, focalizava mais informações e

aconselhamentos católicos, tentando transmitir para o leitor atitudes pedagógicas e

moralizantes.

A situação constrangedora pela qual passou Gazzi de Sá, ao receber insultos pelos

jornais, sem jamais refutá-los, começou com a criação da Orquestra em 1945, mas ficou

insustentável em 1947, quando ele resolveu ir embora, como bem assegurou em entrevista seu

filho, Ermano, e seu sobrinho, Manoel Henriques.

Em relação às reportagens de não estarem mais sob os cuidados de Gazzi de Sá, deu-se

pelo fato de que havia pessoas muito influentes, politicamente, na Sociedade de Cultura

Musical, com prestígio suficiente para utilizar praticamente toda coluna do jornal do Estado A

União, com os assuntos musicais relativos às recém-criadas − Orquestra Sinfônica da Paraíba,

Sociedade de Cultura Musical, Conservatório Paraibano de Música e atrações musicais

trazidas pela Sociedade de Cultura Musical.

As reportagens sobre os eventos realizados por Gazzi de Sá, algumas vezes, ficavam

perdidas em relação ao tamanho das grandes reportagens dos segmentos mencionados

anteriormente. Nota-se, pelo estilo de algumas reportagens, que provavelmente Gazzi de Sá

entregava prontas as matérias sobre seus eventos, cabendo apenas ao jornal publicá-las, sendo

45 Verificar anexo e-mail n º 2.1.

Page 123: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

122

possível verificar que, em algumas delas, as informações eram excessivamente resumidas.

Também pode ser observado que a freqüência com que apareciam os eventos musicais

trazidos por Gazzi de Sá havia diminuído de forma drástica, diferente do que ocorria

anteriormente.

O fato foi percebido quando, ao pesquisar o jornal A União do ano de 1947 quase

inteiro, para verificar as apresentações trazidas pela recém-criada Sociedade dos Amigos da

Música, encontrei o concerto de estréia do dia 15 de abril e apenas mais uma reportagem do

dia 23 de outubro, uma pequena nota, em que a própria Sociedade dos Amigos da Música

mencionava o concerto com o Quarteto Borgeth como o 12º promovido pela Sociedade, e o

último da temporada. Pode-se observar que, em sete meses, ele conseguiu trazer doze

apresentações, entre as quais dez deixaram de ser divulgadas no referido jornal.

Segue um trecho da reportagem mencionando o 12o concerto promovido pela

Sociedade dos Amigos da Música46.

Figura 21: 12 º Concerto da Sociedade dos Amigos da Música. A UNIÃO, 23/10/1947.

Isto confirma a suspeita de que Gazzi de Sá já não tinha tanto acesso ao jornal do

Estado A União, como antes, e possivelmente não estava tendo o apoio por parte do Governo

Oswaldo Trigueiro para continuar trazendo os artistas. Caso contrário, certamente as

manchetes no jornal anunciariam esses eventos, de modo a promover o Governo. Ademais,

encontrei algumas reportagens de concertos que eram trazidos pela Sociedade de Cultura

Musical em homenagem ao Governo, porém não explicitando o patrocínio. Percebe-se que,

diferente do que pensou Santinha, isto é, em o Governo apoiar a Sociedade dos Amigos da 46 Reportagem completa em anexo Jornal nº 48.

Page 124: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

123

Música, como o fez em 1936, Oswaldo Trigueiro, talvez por força política dos que faziam a

Sociedade de Cultura Musical, que não era o caso de Gazzi de Sá, estava mais propenso a

apoiar esse segmento, apesar de nenhuma das Sociedades apresentarem vínculo formal com o

Governo.

Uma outra descoberta nos jornais encontrados47 merece ser mencionada. No jornal A

Tribuna, de 1946, no período de abril a junho, foram encontrados freqüentes anúncios de

propaganda da Escola de Música Anthenor Navarro e, no dia 24 de abril, esse anúncio era

seguido por uma reportagem sobre a 19ª audição dos alunos da Escola de Música Anthenor

Navarro48. Apesar desse jornal, da UDN, ser o responsável pelos insultos proferidos contra

Gazzi de Sá, acredito que até junho do ano de 1946 o fato ainda não acontecia. Infelizmente

os exemplares de 1947 não foram encontrados nos arquivos de João Pessoa. Em vista disso,

apenas resta a espera por Ermano de Sá encontrar nos arquivos de família fatos que

comprovem efetivamente o que os entrevistados afirmam.

Com relação ao jornal A Imprensa, descobri que, enquanto as notícias da Sociedade

dos Amigos da Música não eram veiculadas no jornal A União, elas estavam sendo divulgadas

nesse jornal, a exemplo do 9º e 10º concerto com Lorenzo Fernandes. Após o concerto, A

Imprensa publicou uma enorme reportagem descrevendo as impressões de Lorenzo Fernandes

acerca dos excelentes resultados musicais de Gazzi de Sá na cidade, elogiando o público bem

preparado e o excelente Coral Villa-Lobos.

O 11º concerto com a violinista Nair Rotman também foi divulgado por este jornal,

assim como o 12º concerto com o Quarteto Borgeth, o último da temporada.

Ao fechar o volume encadernado do jornal A Tribuna, encontrei em uma folha

manuscrita, do tamanho da folha de jornal, um tipo de dedicatória em relação àquele volume,

que seria uma lembrança da campanha da UDN em favor do primeiro Governador Oswaldo

Trigueiro eleito pelo voto direto na Paraíba. Ao fazer esta leitura, entendi melhor a posição

política que envolvia a situação por que passava Gazzi de Sá, pois já não eram as pessoas do

partido que sempre comandaram desde a década de trinta, e sim as pessoas de partidos da

oposição, como as do jornal A Tribuna, que tinham acesso ao governo por terem feito sua

campanha, assim como a Sociedade de Cultura Musical, composta também por alguns

integrantes da oposição.

47 Os jornais A Tribuna e A Imprensa só foram encontrados nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Com relação A Tribuna, consta apenas um volume do ano de 1917 e um volume datado de 01 de janeiro a 30 de junho de 1946, são os únicos volumes existentes. Com relação A Imprensa, foram encontrados uns cinco volumes com datas bem anteriores ao ano de 1945, e isoladamente um volume do ano de 1947. 48 Ver anexo jornal nº 55.

Page 125: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

124

Apesar da boicotagem contra Gazzi de Sá, ele não se intimidou nem tampouco parou

suas atividades culturais, pois, na ocasião, contava com a herança, fruto da venda da Empresa

Telefônica da família, patrocinando dessa forma os concertos no Estado. O seu sobrinho

Manoel Henriques de Sá Campos, em entrevista, comenta:

Ele já estava empenhado em construir um patrimônio cultural e musical na Paraíba. Sabe o que foi que tio Gazzi fez com todo esse dinheiro? Gastou quase todo fazendo festivais de música e contratando grandes artistas, veja bem, ele alugava o Cine Plaza e dava esses concertos, trazia violonistas, violinistas, cantores líricos, o que tinha de melhor da musica erudita do mundo, ele patrocinava, tivesse lucro ou não, cobrava o ingresso barato pra ver se tirava o prejuízo, era uma coisa impressionante, todo mês tinh a uma apresentação desses músicos que vinham tocar aqui. O tio Gazzi era um amante da música, e sabe por que ele fazia isto? Era para educar o povo a gostar da música erudita, para o povo se acostumar a ouvi -la. Ora, hoje é difícil, imagine naquela época! Ele gastou sua fortuna para fazer isso, ninguém fez isso, nem o Estado, ele fez particularmente (Manoel Henriques).

Não dá para negar que Gazzi de Sá foi quem realmente plantou a semente da “música

erudita” em nosso Estado, evidentemente, nem sempre com próprios recursos. Durante muito

tempo, ele buscou o apoio das autoridades governamentais, que, infelizmente, nos últimos

anos deixaram de apoiá-lo. Ele tomava para si a responsabilidade que deveria ser atribuída aos

próprios governantes locais. Mesmo com o pouco interesse demonstrado por parte dos órgãos

públicos, ele se empenhava para conseguir patrocínio e apoio do Governo; algumas vezes

com sucesso a fim de promover a cultura na Paraíba.

4. 2 – A influência da cultura popular no trabalho de Gazzi d e Sá.

Este capítulo se encerraria no parágrafo anterior se não fosse de suma importância

destacar o gosto de Gazzi de Sá pela música da cultura popular e pela música de compositores

brasileiros.

Apesar de inúmeras publicações sobre as perspectivas de análise acerca da cultura

popular, continuam existindo antigos enfoques que “insistem em ver as manifestações da

cultura popular como sobrevivências do passado no presente, como práticas isoladas,

Page 126: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

125

cristalizadas, imutáveis” (AYALA, 1987, p. 08). Para muitos estudiosos do assunto, estas

concepções foram superadas por novos enfoques. Entre os pesquisadores, Marcos e Maria

Ignez Ayala discutem essa concepção:

Este tipo de enfoque é que pode ser considerado anacrônico, “atrasado”, pois desconhece estudos que vêem as práticas culturais populares da mesma maneira que qualquer manifestação de cultura, como parte de um contexto sociocultural historicamente determinado. Este contexto as explica, torna possível sua existência e, ao se modificar, faz com que também aquela s práticas culturais se transformem (AYALA, 1987, p. 09).

Sobre o assunto, Roger Bastide, em suas pesquisas sobre folclore, firma-se a uma

perspectiva: “a de analisar a cultura popular como parte de um contexto cultural e social mais

amplo. Enfatiza-se a idéia de que a cultura popular deve ser entendida em termos atuais e não

como simples sobrevivência” (BASTIDE apud AYALA, 1987, p. 32).

Não poderia deixar de mencionar sobre a cultura popular, embora de forma breve, por

considerar que este assunto já extrapola os limites do principal objetivo do trabalho, mas

acredito que abre caminhos para um novo projeto, que poderei desenvolver futuramente ou

abrir perspectivas para outros pesquisadores fazê-lo.

Para mostrar que Gazzi de Sá privilegiava a cultura popular, fazendo seus próprios

arranjos sobre os temas populares e apreciando os compositores brasileiros, exibo um dos

vários programas que apresentava em audições dos seus alunos.

O programa que segue apresenta tanto os compositores brasileiros como a sua

produção na composição de músicas sobre um tema popular.

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126

Figura 22: Programa apresentado no Festival de Arte de 1941 (RIBEIRO, 1977).

Page 128: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

127

Percebe-se que os compositores europeus faziam parte do programa, mas sempre

dividiam o espaço com os compositores brasileiros. Naquela época, não era comum o

professor de música privilegiar os compositores brasileiros, uma vez que os repertórios eram

baseados nos compositores europeus, reconhecidos como consagrados, sem contar que os

nossos compositores eruditos ainda se encontravam em fase de reconhecimento e afirmação

nacional.

A música brasileira não teve a felicidade que tiveram as mais antigas escolas musicais européias, bem como as músicas das grandes civilizações asiáticas, de um desenvolvimento por assim dizer inconsciente, ou pelo menos, mais livre de preocupações quanto a sua afirmação nacional e social (ANDRADE, 1975, p. 15).

Para entender um pouco sobre esta evolução da música no Brasil, eis um pequeno

resumo sobre o assunto.

Ainda na época do Império, dando o primeiro passo em composições brasileiras, surge

Francisco Manoel, (autor do Hino Nacional Brasileiro) definido por Mário de Andrade como

“a maior figura musical que o Brasil produziu até aquele momento, este é o criador que funda

a nossa técnica musical definitivamente” (1975, p. 26). É ele quem cria a Academia Imperial

de Ópera. Francisco Manuel fixa a teoria, fixa a escola, e facilita a nacionalizar a ópera

imperial, dando-lhe organização permanente e sem aventuras (ANDRADE, 1975, p. 26).

O resultado dos esforços de Francisco Manoel é percebido nas produções musicais de

Carlos Gomes. No entanto, apesar do empenho desses dois compositores, ao nascer a

República, a nossa música erudita encontrava-se na mesma situação: era internacionalista em

suas formas cultas, igualmente em inspiração, e ainda muito longínqua da Pátria, “mas é do

Instituto Nacional de Música que nascem, derivam ou nele se agrupam os numerosos

compositores nacionais da República recém-nascida” (ANDRADE, 1975, p. 30). O Instituto

de Francisco Manuel viera desenvolver e proteger a produção, dando enorme passo à técnica

de compor, embora ainda não conseguisse libertar essa produção e técnica da tutela geral da

Europa internacionalista. No entanto, é justo verificar que as composições nacionais

já apresentavam uma técnica suficientemente forte para que a nossa música alimentasse umas primeiras aspirações de caminhar por si. Nos últimos dias do Império finalmente e primeiros da República, com a modinha já então passada do piano dos salões para o violão das esquinas, com o maxixe, com o samba, com a formação e fixação dos conjuntos seresteiros dos choros e a evolução da toada e das danças rurais, a música

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128

popular cresce e se define com a rapidez incrível, tornando -se violentamente a criação mais forte e a caracterização mais bela da nossa raça (ANDRADE, 1975, p. 31).

Surgem as guerras no Sul para apurar no peito brasileiro a convicção de uma pátria

completa, unida, e por outro lado a independência econômica e relativa fartura do café,

propícias às afirmações da personalidade nacional. Neste contexto, aparecem Alexandre Levy

e Alberto Nepomuceno, as primeiras conformações eruditas do novo estado-de-consciência

coletivo que se formava na evolução social da nossa música, o nacionalista. Logo depois,

surgiram Luciano Gallet e Lourenzo Fernandez. Entrosaram-se no movimento novo, em

especial dois compositores do primeiro período republicano, Francisco Braga e Barroso Neto.

E em seguida vieram os novos como: Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Frutuoso

Viana e Radames Gnatalli (ANDRADE, 1975, p. 32).

Embora Mário de Andrade não tenha mencionado Villa-Lobos ao relacionar os

compositores, é importante não se esquecer de citá-lo como um compositor interessado pela

cultura popular.

Imagina-se, naquela época, apesar dos esforços dos novos compositores brasileiros em

criar uma música genuinamente nacional, como seria o acesso a essas músicas? Nas grandes

capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, não eram tão divulgadas, porém Gazzi de Sá já as

utilizava com seus alunos na Paraíba, desde o início da criação da sua Escola de Música.

No programa do Festival de Arte, de 193749, na primeira parte, estavam os alunos e o

público apreciando a música de compositores europeus; na segunda parte, apresentavam os

compositores brasileiros e o Coral Villa-Lobos canta Villa-Lobos; na terceira parte,

apresentava uma Dança indígena brasileira − uma música do professor Gazzi de Sá sobre

motivos indígenas brasileiros, com coreografia original da professora Santinha de Sá. Segue

(Fig. 21) o programa:

49 Nesta primeira parte tocam os dois filhos do casal, Fernando Soare de Sá − violino e Ermano Soares de Sá − piano. Esta foi a primeira apresentação de Ermano, aos cinco anos de idade (Ermano toca na IX música e Fernando na IV).

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129

Figura 23: Programa do Festival de Arte de 1937 (RIBEIRO, 1977). Capa e primeira folha do programa.

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130

Segunda folha do programa.

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131

Terceira e última folha do programa do Festival de 1937.

Como integrantes do Coral Villa-Lobos, encontrava-se Adhemar Nóbrega na voz do

baixo e Augusto Simões na voz do tenor, personagens importantes para a história da música

na Paraíba, já citados neste trabalho.

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132

Durante as pesquisas de Mário de Andrade e Villa-Lobos sobre o folclore brasileiro,

Gazzi de Sá também já manifestava bastante interesse sobre o assunto. Sensível à beleza da

cultura paraibana, deu início as suas pesquisas e anotações.

O registro dos cocos, iniciado por Mário de Andrade em 1928, ganhou continuidade

dez anos depois com a Missão de Pesquisas Folclóricas, do Departamento de Cultura do

Município de São Paulo, expedição iniciada em janeiro de 1938 e concluída em julho do

mesmo ano. Os quatro pesquisadores da Missão − Luiz Saia, Martin Braunwieser, Benedicto

Pacheco e Antônio Ladeira − foram escolhidos por Mário de Andrade (na época, Diretor do

Departamento de Cultura e Chefe da Divisão de Expansão Cultural) para fazer uma ampla

documentação sobre as danças e a poética popular no Nordeste e Norte do país (ANDRADE,

1984, p. 11).

Enquanto o poeta modernista pesquisava sobre a cultura popular, no Rio de Janeiro,

viajando por todo o país para colher material, Gazzi de Sá, de forma isolada, buscava

valorizar os cocos e, em geral, a cultura popular da Paraíba.

Ao apreciá-la, esses motivos serviam de inspiração para suas composições, que

tinham como título alguns nomes como: "Misticismo; Três ameríndios para piano: Uiára,

Saci, e Curupira" (RIBEIRO, 1977, p. 175). São inúmeras as harmonizações com temas

folclóricos que compôs para coro, a exemplo de: "Rosa amarela − coco; Maracatu −

maracatu; A maré encheu − coco (sobre um tema popular); Barco veleiro − coco" (ibid, p.

183). Apesar de Gazzi de Sá ter uma forte inclinação para composição, esse lado sempre era

sacrificado, por causa da sua grande ocupação administrativa com a música e sua função

como professor.

Munidos de aparelhagem de grande qualidade técnica para época e de formação segura

para um desempenho com rigor científico, os integrantes da Missão visitaram mais de trinta

localidades em pelo menos vinte cidades na Paraíba, onde permaneceram mais de dois meses,

entre 23 de março (quando chegaram três dos integrantes da Missão a João Pessoa) e 30 de

maio de 1938. Além da Paraíba, visitaram algumas cidades de outros Estados do Nordeste e

Norte: Pernambuco, Piauí, Ceará, Maranhão e Pará, reunindo uma quantidade fantástica de

registros. Dentre as manifestações documentadas na Paraíba, através de gravação de discos,

fotos, filmes e anotações em cadernetas, estão muitos cocos encontrados em diferentes

localidades, quais sejam: João Pessoa, Patos, Pombal, Souza, Itabaiana, Areia, São Francisco

e Baia da Traição.

Page 134: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

133

Domingos de Azevedo Ribeiro, quando ainda era estudante do Lyceu Paraibano,

lembra da chegada da equipe de Mário de Andrade aqui em João Pessoa, em 1938. O

musicólogo paraibano, que fazia parte do coral do Lyceu, foi convidado pelo padre Matias

para acompanhar a equipe do autor de Macunaíma, cuja finalidade era estudar o folclore

paraibano. Em entrevista, ele comenta: "Saí com aquele povo todo equipado com aquelas

máquinas filmadoras e aparelhos de gravar, saímos pelas praias e fomos gravar em Tambaú a

Nau Catarineta". Domingos de Azevedo acrescenta em seu depoimento:

Nesta época, encontrava-se em João Pessoa um professor de música que se destacava e já era conhecido pela sociedade paraibana, pela sua luta em favor da música, trata-se do professor Gazzi de Sá. Ele era um pesquisador da Música folclórica na Paraíba, junto com sua esposa Ambrosina Soares de Sá, mais conhecida por Dona Santinha, que também era professora de piano e dança.

Através da fala do musicólogo, percebe-se uma clara associação entre Mário de

Andrade e Gazzi de Sá: ambos tinham em comum o interesse pela cultura popular, embora

apresentassem formas distintas de pesquisa e utilização do conteúdo, como também fazia

Villa-Lobos.

Assim como Mário de Andrade teve a percepção de observar a riqueza da cultura

popular, realizando uma intensa pesquisa pelo Brasil com a preocupação de registrar

melodias, ritmos e dança, Villa-Lobos, igualmente, pesquisava a música folclórica brasileira

absorvendo suas melodias e ritmos como inspiração para suas composições. Da mesma forma,

Gazzi de Sá, na Paraíba, também realizava essas pesquisas que serviam de inspiração para

suas composições e harmonizações sobre temas folclóricos, utilizando-as em suas

apresentações com o coro orfeônico.

Segundo incansáveis relatos de Gerardo Parente e de depoimento de Ermano de Sá,

Santinha de Sá foi a responsável por colher no interior da Paraíba e entregar a Villa-Lobos o

tema da Bachiana nº 4, mais conhecida popularmente como: “Oh mana deixa eu ir, oh mana

eu vou só, oh mana deixa eu ir, prá o sertão do Caicó”.

A admiração de Gazzi de Sá por Villa-Lobos foi transmitida para seus alunos na

Paraíba, através de suas aulas e da valorização do repertório com músicas de compositores

brasileiros bem como de músicas da cultura popular para coro ou piano, suas duas maiores

atividades.

Page 135: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

134

A seguir uma das inúmeras harmonizações que Gazzi de Sá fez sobre temas da cultura

popular:

Figura 24: Música extraída da cultura popular com a harmonização de Gazzi de Sá, em 1938. (RIBEIRO, 1977).

Page 136: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

135

Nas obras completas de Gazzi de Sá, o segundo volume é sobre Música Coral −

Motivos Folclóricos do Nordeste. Infelizmente, este é um dos volumes cuja publicação foi

prometida, mas não concretizada até o momento.

Page 137: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

136

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa revela uma história da música na Paraíba, da década de 1930 a 1950,

período de fundamental importância para consolidação da música em nosso Estado. Os

jornais, as entrevistas, as fotografias, os e-mails, além dos livros, foram fontes importantes

utilizadas para compor o prelúdio desta história. Em meio a tais fontes, a descoberta de novos

personagens e discursos foi determinante para construir, refazer e ampliar essa história.

Personagens que, de forma direta ou indiretamente, contribuíram com o movimento musical

da Paraíba, a exemplo de políticos como João Pessoa, Anthenor Navarro, Getúlio Vargas, e

José Américo de Almeida; e músicos como Villa-Lobos e Gazzi de Sá, objeto deste estudo.

Gazzi de Sá, situado no contexto histórico de 30, apesar de não estar envolvido

diretamente na política, era amigo de infância do primeiro Interventor da Paraíba, Anthenor

Navarro. Mesmo após a morte do Interventor, certamente, essa amizade lhe permitiu que

politicamente não fosse impedido de continuar desenvolvendo seu projeto de educação

musical, usufruindo o direito de manter uma coluna no jornal do Estado, instrumento de suma

importância para a divulgação de seus empreendimentos musicais.

Foi possível verificar, no decorrer desta pesquisa, que a música na Paraíba ganhava

mais impulso à medida que os dirigentes públicos se empenhavam em favorecê-la, como nos

governos de Anthenor Navarro, Oswaldo Trigueiro, José Américo de Almeida, Pedro Gondin

e Tarcísio de Miranda Burity.

Ao relatar sobre a história da Escola de Música, criada por Gazzi de Sá, mostrando o

percurso por que passou desde sua fundação, em 1929, quando se chamava Curso de Piano

Soares de Sá, até os dias de hoje denominada de Escola de Música Anthenor Navarro,

percebe-se que, sem dúvida, sua criação foi o primeiro passo para a solidificação da música na

Paraíba, o primeiro setor oficial de música do Estado, permanecendo até então como o único

estabelecimento de ensino musical ligado ao Governo. O registro desta história é de grande

valor tanto para a própria Escola, bem como para os paraibanos, especialmente para as novas

gerações, que ainda procuram com bastante freqüência os seus ensinamentos, tornando cientes

de sua competência e contribuição na história da música da Paraíba.

O perfil de Gazzi de Sá aqui apresentado demonstra o profissional comprometido com

o seu trabalho. No início da década de 1930, quando iniciava a sua obra musical, com pouco

apoio do Estado, surge à idéia do projeto coletivo de canto orfeônico, idealizado por Villa-

Lobos. Ora, era a melhor forma de criar uma educação musical para o seu Estado! Naquele

momento, não havia mais necessidade de Gazzi lutar por uma Lei Estadual que favorecesse

Page 138: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

137

seu projeto cultural, pois havia se tornado Lei Federal o ensino obrigatório de música nas

escolas. Faz-se acreditar que, apesar de Gazzi de Sá se utilizar das orientações de Villa-Lobos,

– durante o Governo de Getúlio Vargas – promovendo as grandes concentrações orfeônicas,

seu objetivo extrapolava o projeto nacional, que envolvia interesses políticos daquele

governo, pois desejava educar musicalmente as pessoas de sua cidade. Tal observação não é

feita de forma ingênua, visto que é possível atestar, pelas inúmeras informações, a sua isenção

da política partidária, seu fino caráter de pessoa íntegra, consciente do que estava ocorrendo

no Brasil e no mundo, tanto no que se referia à música como nos demais assuntos e,

principalmente, o seu tato com os escolares, não medindo esforços para supervisionar todas as

escolas de João Pessoa, tentando passar para os alunos o gosto pela música. Porém,

diferentemente do Rio de Janeiro, onde Villa-Lobos não tinha condições de ir a todas as

escolas do grande Rio passando essa tarefa para inúmeros professores que faziam esse

trabalho sob sua era orientação e da SEMA, na cidade de João Pessoa Gazzi de Sá era o

próprio educador, pois atuava nas escolas com o auxilio de poucas professoras, devidamente

preparadas por ele com o objetivo de ajudá-lo. Para se ter uma idéia, quando a SEA foi

reestruturada, na Paraíba, apenas quatro professoras foram contratadas pelo Governo, a fim de

auxiliá-lo nos sete grupos escolares da capital. Essas professoras eram alunas adiantadas da

Escola de Música Anthenor Navarro, que continuavam sendo orientadas por Gazzi de Sá.

Algum tempo depois, muitos alunos das escolas vieram a fazer parte dos quadros musicais da

Paraíba.

Além de Gazzi de Sá ter sido um grande educador musical, desempenhou com muita

eficiência seu papel de promotor cultural, pois, para ele, não bastava apenas educar

musicalmente os seus alunos, a cidade precisava adquirir o gosto pela “música erudita”, pelos

compositores brasileiros e pelas músicas oriundas da cultura popular. Assim sendo, a

educação musical da cidade começou a ser feita de forma sistematizada, com freqüentes

concertos, trazendo excelentes músicos nacionais e internacionais para se apresentarem. Neste

momento, o movimento musical na Paraíba teve um grande impulso, como pode ser

verificado pelos teatros lotados na ocasião da apresentação de Bidú Sayão, em 1936, bem

como na apresentação do 4o Festival de Arte, em 1941, tendo que ser repetido por causa da

superlotação do teatro, evidenciando os resultados dos esforços de Gazzi de Sá.

O ano da partida de Gazzi de Sá com a família definitivamente para o Rio de Janeiro

não foi fácil. Apesar do seu grande empenho em impedir que nada atrapalhasse seus

objetivos, era difícil deixar a cidade que tanto lutou para educá-la musicalmente. E foi isto

que fez: ao sair da Paraíba deixando para trás a Sociedade dos Amigos da Música, continuou

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138

se empenhando para a Paraíba continuar assistindo aos melhores artistas Nacionais e

Internacionais. Ver anexo jornal nº 58.

Posteriormente, seus esforços foram dirigidos à criação do Conservatório de Canto

Orfeônico da Paraíba, que ficou sob a responsabilidade de Luzia Simões, como todas as

outras atividades musicais, conforme foi tratado no capítulo III. A Associação dos Amigos da

Música funcionou sob o comando de Luzia Simões até 1962.

Quando ele partiu para o Rio de Janeiro, deixando todas as atividades musicais sob a

responsabilidade de sua ex-aluna, Luzia Simões, a Paraíba já não era mais a mesma. A

transformação musical era visível com a prática de as pessoas assistirem aos concertos

regularmente. Mesmo distante, Gazzi de Sá continuou contribuindo com o desenvolvimento

da música em seu Estado. O cargo que ocupou no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico

do Rio de Janeiro, oferecido por Villa-Lobos, permitiu que fosse representante deste

Conservatório, em visita a Paraíba, empenhando esforços junto às autoridades, para tornar

possível a criação do Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba, vinculado ao do Rio,

cumprindo, assim, mais uma meta para dá continuidade a sua obra musical.

Outros fatos, outras histórias de Gazzi de Sá não foram contadas em virtude do

recorte obrigatório exigido pela própria pesquisa. No entanto, creio que meu objetivo foi

alcançado. Assim, acredito que qualquer paraibano que tome conhecimento da história de

Gazzi de Sá se orgulhará de sua obra musical e reconhecerá os seus esforços em favor da

música na Paraíba.

Hoje, podemos afirmar, utilizando uma metáfora familar, que são os descendentes da

geração educada por Gazzi de Sá que usufruem e multiplicam a sua herança musical, levando

a Paraíba para o cenário musical brasileiro.

Page 140: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

139

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140

______. Casa onde funcionou a Escola de Música Anthenor Navarro. 2003. 1 fotografia, color.

______. Casa da rua Duque de Caxias, local onde funcionou a Escola de Música Anthenor Navarro. 2003. 1 fotografia, color.

______. Casa de Gazzi de Sá, a escola volta para esta casa pela segunda vez. 2003. 2 fotografias, color.

______. Casa da rua D. Pedro I. 2003. 1 fotografia, color.

______. Detalhe da fachada superior com as iniciais do nome do avô: MHS – Manoel Henriques de Sá. 2005. 1 fotografia, color.

A UNIÃO. Escola de Música. João Pessoa, 03 de fev. 1931.

______. O menor regente paraibano Temístocles Bezerra. João Pessoa. 1938. 1 gravura, preto e branco.

______. Reportagem sobre a primeira irradiação da S.E.A. João Pessoa, 30 de out. de 1938. 1 gravura, preto e branco.

______. Bidú Sayão em pose especial. João Pessoa, 22 de nov. de 1936. 1 gravura, preto e branco.

______. Festival de artes. João Pessoa, 20 de out. de 1937. 1 gravura, preto e branco.

______. Festival de artes. João Pessoa, 11 de nov. de 1936. 1 gravura, preto e branco.

______. Notas de Artes. João Pessoa, 29 de out. de 1939. 1 gravura, preto e branco.

______. Festival de artes. João Pessoa, 20 de nov. de 1941. 1 gravura, preto e branco.

______. Notas de Artes. João Pessoa, 23 de mar. de 1947. 1 gravura, preto e branco.

Page 142: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

141

A UNIÃO. Sociedade dos Amigos da Música. João Pessoa, 23 de out. de 1947. 1 gravura, preto e branco.

______. Notas de Artes. João Pessoa, 25 de nov. de 1947. 1 gravura, preto e branco.

______. Notas de Artes. João Pessoa, 05 de mar. de 1931. 1 gravura, preto e branco.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. Aurora Fomani Bernadini. 3. ed. São Paulo: Editora da UNESP,1993.

BARTOLINI, Eliane. Momento do acordo do IAPB com o Governo. 1956. 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular.

______. Solenidade da criação do Curso Colegial Artístico no Palácio da Redenção. 1963. Coleção Particular.

______. Primeira turma concluinte (1965). Coleção Particular.

______. Diploma do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico de Luzia Simões. 1955. 1 gravura, preto e branco. Coleção particular.

______. Concluintes do Conservatório e os professores. (Período de 1953-1954). 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular.

______. Turma de Luzia Simões no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, em 1954. 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular.

______. Concentração orfeônica sob a regência de Luzia Simões. Final da década de 40. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Luzia regendo uma concentração orfeônica. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Última apresentação de uma concentração Orfeônica na Paraíba. 1952. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

Page 143: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

142

BARTOLINI, Eliane. Coral “Madrigal da Paraíba” sob a regência de Luzia Simões. 1952. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Coral Villa-Lobos, sob a regência de Luzia Simões Bartolini. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Alunos da Escola de Música Anthenor Navarro. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Alunos da Anthenor Navarro, na frente da casa da rua General Osório, de 1952-1958. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Formatura da primeira turma de Conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba. 1957. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

______. Gazzi de Sá com os alunos no interior da Escola Normal na década de 30. 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular.

______. Gazzi de Sá e o Coral Villa-Lobos. (Período entre 1936 a 1947) 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular. BEZERRA, Dinarte Varela. O romance paraibano e revolução de 30: o discurso conta ordem. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Universidade Federal da Paraíba, 2002.

BRAIT, Beth. (Org.). Dialogismo e construção de sentido. Campinas: Unicamp, 1997.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.

BOTELHO, Zulmira. Curso de música Santa Cecília. João Pessoa: [s.n.], 1948. 26 p.

CAETANO, Luceni. Primeiro cinema da capital da Parahyba. 2005. 1 fotografia, color.

______. Casa do pai de Gazzi de Sá. 2005. 1 fotografia, color.

______. Casa dos pais de Gazzi de Sá. 2005. 2 fotografia, color.

Page 144: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

143

CAETANO, Luceni. 2005. Residência de Gazzi de Sá, por volta de 1936. 1 fotografia, color.

______. Última casa por onde a escola passou antes de se estabelecer no Espaço Cultural. 2004. 1 fotografia, color.

______. A entrada da Escola de Música Anthenor Navarro. 2005. 1 fotografia, color.

______. Entrada do Teatro Paulo Pontes e a entrada da Escola de Música Anthenor Navarro. 2005. 1 fotografia, color.

CHAUI, Marilena. Seminários: o nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1984.

CORAL JOÃO EDUARDO. Recordações. João Pessoa: Studio A, 1999. 1 CD.

CORREIA, Antônia Guimarães. Música para todos. Campina Grande: Edições URNE, 1983, v.1, 48 p., v.2, 51 p. (2v).

CUNHA, Atenilde. Educação Musical: um processo em crise. Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1995.

CUSTÓDIO, José Carlos. Fachada da casa do avô de Gazzi de Sá. 2005. 1 fotografia, color.

______. Visão externa do Espaço Cultural. 1990. 1 fotografia, color.

______. Visão interna do Espaço Cultural. 1990. 1 fotografia, color.

______. Fachada da casa do avô de Gazzi de Sá. 2005. 1 fotografia, color.

______. Casa onde foi instalada a primeira empresa de telefone da Paraíba. 2005. 1 fotografia, color.

DE DECCA, Edgard. 1930: o silêncio dos vencidos. São Paulo: Brasiliense, 1981.

Page 145: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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FONSECA, Aleilton. Enredo romântico, música ao fundo. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.

FRANÇA, Eurico Nogueira. Villa-Lobos: o interprete. Rio de Janeiro: Polygran do Brasil. Industria Brasileira. 1disco vinil stereo, s/d.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1994.

FUKS, Rosa. O discurso do silêncio. Rio de Janeiro: Enelivros, 1991. (Série Música e cultura; 1)

GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiência do Canto Orfeônico no Brasil. (Texto Mimeo), 2002.

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HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Leon Schaffter. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990. (Biblioteca Vertece. Sociologia e política).

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KAPLAN, José Alberto.Caso me esqueça(m): memórias musicais. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura, Quebra-Quilo, 1999. (Páginas Paraibanas, 2).

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KOTHE, Flávio R. O herói. 1. ed. São Paulo: Ática, 1985 (Série Princípios).

LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão et al. 3. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994.

Page 146: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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LEITE, Heloisa. Villa-Lobos com os alunos do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no Rio. (1954 – 1955). 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular.

______. Gazzi de Sá ministrando aula no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico. 1954/1955. 1 fotografia, preto e branco. Coleção Particular.

MAIA, Benedito. Governadores da Paraíba. 1947-1986. 3. ed. s/e, 1986.

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MELO, Fernando. João Dantas: uma biografia/Fernando Melo. 2. ed. João Pessoa: Idéia, 2002.

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HORTA, Luiz Paulo In: MCLEISH, Valerie. Guia do ouvinte de música clássica. Trad. Enio Silveira e Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1993.

MONTENEGRO, Antônio Torres. História oral e memória: a cultura popular revisada. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1994. (caminhos da história).

NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1981.

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PARIS, Robert. As origens do Fascismo. São Paulo. Editora Perspectiva, 1972.

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______. Pedagogia musical brasileira no século XX: metodologia e tendências. Brasília: Editora Musimed, 2000.

Page 147: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura. Relatos Orais: do indizível ao dizível. In: Variações sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991, p. 1-16.

______. História de vida e depoimentos pessoais. Revista de Sociologia. UFPE, v. 15 (1), p. 8-24, março de 1953.

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RIBEIRO, Domingos de Azevedo. Antenor Navarro e a Revolução de 30. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1981.

______ . Caderno de Música nº 1. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1983.

______ . Caderno de Música nº 2. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1983.

______ . Caderno de Música nº 3. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1983.

______ . Caderno de Música nº 4. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1983.

______ . Caderno de Música nº 5. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1983.

______ . Caderno de Música nº 6. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1983.

______ . Caderno de Música nº 7. João Pessoa: Diretoria Geral de Cultura - Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1985, ilust.

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Page 148: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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RIBEIRO, Domingos de Azevedo. O Compositor Paraibano Baptista Siqueira. João Pessoa: UNIGRAF - União Artes Gráficas, 1981.

______. Coriolano de Medeiros e a Música. Separata da Revista Nº 23 do IHGP. João Pessoa: Editora Universitária/UFPb, 1982/1984.

______. Gazzi de Sá. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba, 1977, ilust.

______. João Pessoa e a Música. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Paraíba/ A União Editora, 1978, ilust.

______ . Música e História - revolução de 1817. João Pessoa: [s.n], 1980, ilust.

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______ . Areia e sua música. João Pessoa: [s.n], 1992.

______. Colégio Pio X. 1977. 1 fotografia, preto e branco.

______. Gazzi fazendo medicina em 1923. 1977. 1 fotografia, preto e branco.

______. Primeira apresentação do professor Gazzi em público. 1977. 1 fotografia, preto e branco.

______. Professor Gazzi de Sá regendo o coro escolar. 1977. 1 fotografia, preto e branco.

______. Gazzi de Sá regendo o coro escolar na inauguração da praça Anthenor Navarro, em 1936. 1 fotografia, preto e branco.

______. Curso de Piano Soares de Sá – 1929. 1977. p. 31. 1 fotografia, preto e branco.

______. Casa onde funcionou a Escola de Música, em 1931. 1977. p. 37. 1 fotografia, preto e branco.

Page 149: Gazzi de Sá Compndo o Prelúdio da Educação Musical da Paraíba

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RIBEIRO, Domingos de Azevedo. Ambrosina de Sá. 1977. p. 101. 1 fotografia, preto e branco.

______. Primeiro concerto da Orquestra Sinfônica da Paraíba. 1995. p. 37. 1 fotografia, preto e branco.

______. Documento de Villa-Lobos. 1977. 1 fotografia, preto e branco.

______. Escadaria da Escola Normal com os estudantes e personalidades. 1977. p. 70. 1 fotografia, preto e branco.

______. Capas dos programas dos Festivais, dos anos de 1940 e 1942. 1977. p. 81 e 100. 1 gravura, preto e branco.

______. Sessão inaugural de fundação da Sociedade dos Amigos da Música. 1977. p. 103.

______. As concentrações orfeônicas regidas por Gazzi de Sá. 1977. p. 111. 1 fotografia, preto e branco.

______. Gazzi de Sá após uma aula de canto orfeônico na Universidade de Mujeres, de Montevidéu. 1977. p. 57. 1 fotografia, preto e branco.

RIBEIRO, Joaquim. Maestro José Siqueira, o artista e o líder. Rio de Janeiro: Polypress, 1963, ilust.

RODRIGUES, E. Gerardo Parente: uma vida dedicada ao ensino da arte maior, a música. A União, João Pessoa, 20 ago. 1996. Cultura, p.3.

SÁ, Gazzi Galvão de. Musicalização: método Gazzi de Sá. Rio de Janeiro: Os Seminários de Música Pró-Arte, 1990. (Obras completas de Gazzi de Sá n º 6)

SÁ, Ermano Soares de. Gazzi de Sá no jornal. 1 fotografia, preto e branco. Coleção particular.

SCHAPOCHNIK, Nelson. Como se escreve a história? Revista Brasileira de História. São Paulo: v. 13, n. 25/26, p. 67-80, set. 92/ago. 93.

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149

SCHIAVINATTO, Iara. Henri Berr: a história como vida e valor. Revista Brasileira de História. São Paulo: v. 13, n. 25/26. 105-120, set.92/ago. 93D.

SOUZA, Jusamara. A concepção de Villa-Lobos sobre educação musical. In: Brasiliana-Revista da Academia Brasileira de Música. Rio de Janeiro, n. 3, p. 8-25, Edição Especial Villa-Lobos 40 anos de morte, 1999.

THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1982.

VIDAL, Diana Gonçalves. A fotografia como fonte para a historiografia educacional sobre o século XIX: uma primeira aproximação. In: FARIA FILHO, Luciano Mendes de (Org) [et al.]. Educação, Modernidade e Civilização. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

VILLA-LOBOS, Heitor. Educação musical. Rio de Janeiro: Museu Villa-Lobos, 1991. 115 p.: il., música, ret.; 21cm. - (Presença de Villa-Lobos; v. 13.) Reedição do texto Educação Musical de H, Villa-Lobos publicado no Boletim Latino-Americano de Música, Ano VI, Tomo VI - Rio de Janeiro, 1946.

______. Integrantes da Embaixada Artística-Educacional. 1947, p. 47. 1 fotografia, preto e branco.

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150

ANEXOS

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ANEXO - A

ACERVOS E ARQUIVOS CONSULTADOS 1 − Arquivo do Instituto Histórico Geográfico Paraibano – João Pessoa

2 − Arquivo do Instituto Superior de Educação Musical – João Pessoa

3 − Arquivo do Memorial Gerardo Parente – João Pessoa

4 – Arquivo de Documentação do Espaço Cultural – João Pessoa

5 − Arquivo Particular de Eliani Bartolini – João Pessoa

6 − Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba (seção jornais) – João Pessoa

7 − Biblioteca Nacional – seção de música – Rio de Janeiro

8 − Biblioteca do UNIPÊ – João Pessoa

9 − Arquivo da Fundação Casa de José Américo − João Pessoa

10 − Jornal A UNIÃO – coleção de 1930 a 1947 – João Pessoa

11 − Jornal A TRIBUNA – coleção de 01 de janeiro a junho de 1946 – João Pessoa

12 − Jornal A IMPRENSA – coleção de 1947– João Pessoa

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ANEXO - B

RELAÇÃO DOS ENTREVISTADOS

1 − Augusto Simões

2 − Manoel Henriques de Sá Campos

3 − Ana Maria de Navarro Coutinho Campos

4 − Débora Soares de Araújo

5 − Iraci Menezes

6 − Heloísa Nóbrega Leite

7 − Maurício Gurgel

8 − Ermano Soares de Sá

9 − Gerardo Parente

10 − Vólia Simões

11 − Irenita Bronzeado Cavalcante

12 − Atenilde Cunha

13 − Eliane Bartolini

14 − Terezinha de Avelar de Aquino

15 − Maria das Graças Madruga Paiva Santiago

16 − Glênda Jorge de Oliveira Romero

17 − Idalina Venusta Lemos

18 − Júlia Nóbrega

19 − Marilda Eduardo Sousa

20 − Domingos de Azevedo Ribeiro

21 − Olga Ribeiro

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ANEXO - C

RECORTES DE JORNAIS

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Recorte n º 1 - A União, 3 de Fevereiro de 1931. Recorte n º 2 - A União, 8 de Fevereiro de 1931.

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Recorte n º 3 - A União, 7 de fevereiro de 1931.

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Recorte n º 4 - A União, 24 de fevereiro de 1931.

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157

Recorte n º 5 - A União, 27 de fevereiro de 1931.

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158

Recorte n º 6 - A União, setembro de 1936.

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159

Recorte n º 7 - A União, 17 de novembro de 1936.

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Recorte n º 8 - A União, 19 de novembro de 1936.

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161

Recorte n º 9 - A União, 15 de novembro de 1936.

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162

Recorte n º 10 - A União, 18 de novembro de 1936.

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163

Recorte n º 11 - A União, 19 de novembro de 1936.

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164

Recorte n º 12 - A União, 21 de novembro de 1936.

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165

Recorte n º 13 - A União, 12 de setembro de 1936.

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166

Recorte n º 14 - A União, 16 de setembro de 1936.

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167

Recorte n º 15 - A União, 20 de setembro de 1936.

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168

Recorte n º 16 - A União, 4 de outubro de 1936.

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Recorte n º 17 - A União, 6 de outubro de 1936.

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170

Recorte n º 18 - A União, 17 de outubro de 1936.

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171

Recorte n º 19 - A União, 11 de novembro de 1936.

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172

Recorte n º 20 - A União, 5 de janeiro de 1937.

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Recorte n º 21 - A União, 10 de janeiro de 1937.

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Recorte n º 22 - A União, 13 de janeiro de 1937.

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Recorte n º 23 - A União, 10 de setembro de 1937.

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Recorte n º 24 - A União, 20 de outubro de 1937.

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Recorte n º 25- A União, 25 de setembro de 1938.

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Recorte n º 26 - A União, 30 de outubro de 1938.

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Recorte n º 27 - A União, 30 de outubro de 1938.

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Recorte n º 28 - A União, 4 de dezembro de 1938.

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Recorte n º 29 - A União, 14 de dezembro de 1938.

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Recorte n º 30 - A União, 20 de setembro de 1939.

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Recorte n º 31 - A União, 27 de outubro de 1939.

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Recorte n º 32 - A União, 29 de outubro de 1939.

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Recorte n º 33 - A União, 1 de novembro de 1939.

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Recorte n º 34 - A União, 11 de novembro de 1939.

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Recorte n º 35 - A União, 10 de dezembro de 1939.

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Recorte n º 36 - A União, 31 de dezembro de 1939.

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Recorte n º 37 - A União, 20 de novembro de 1941.

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Recorte n º 38 - A União, 09 de setembro de 1943.

Transcrevendo a legenda: “CONCENTRAÇÃO ORFEÕNICA NA PRAÇA JOÃO PESSOA - Como parte das solenidades em homenagem ao Dia da Pátria, realizou-se terça-feira última, na praça João Pessoa, uma grande concentração orfeônica, da qual participaram centenas de escolares da capital. Executando um escolhido programa de canções patrióticas, iniciando com o Hino Nacional, o coro foi regido pelo prof. Gazzi de Sá, na primeira parte, e a seguir pela prof. Luzia Simões. Grande massa popular esteve presente à concentração, sendo apanhado no momento o flagrante do clichê acima.”

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Recorte n º 39 - A União, 6 de setembro de 1944.

Transcrevendo a legenda: “A juventude paraibana desfilou, ontem, numa expressiva demonstração de brasilidade. À esquerda, vê-se parte da concentração de escolares na Praça João Pessoa e a direita as representações dos nossos estabelecimentos de ensino quando desfilavam diante o interventor Ruy Carneiro, coronéis Edgard de Oliveira, comandante da 2 ª Bgda. I. e Wolgrand Pinheiro da Cruz, comandante do 15 º R. I. e autoridades, que se achavam na sacada do Palácio da Redenção. (Texto na 3 ª página).”

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Recorte n º 40 - A União, 16 de setembro de 1945.

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Recorte n º 41 - A União, 18 de março de 1947.

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Recorte n º 42 - A União, 8 de abril 1947.

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Recorte n º 43 - A União, 1 de outubro de 1947.

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Recorte n º 44 - A União, 7 de outubro de 1947.

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Recorte n º 45 - A União, 11 de outubro de 1947.

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Recorte n º 46 - A União, 11 de outubro de 1947.

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Recorte n º 47 - A União, 12 de outubro de 1947.

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Recorte n º 48 - A União, 23 de outubro de 1947.

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Recorte n º 49 - A União, 26 de outubro de 1947.

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Recorte n º 50 - A União, 1 de novembro de 1947.

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Recorte n º 51 - A União, 2 de dezembro de 1947.

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Recorte n º 52 - A União, 30 de dezembro de 1947.

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Recorte n º 53 - A União, 25 de novembro de 1947.

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Recorte n º 54 - A União, 2 de dezembro de 1947.

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N º 55 - A Tribuna, 24 de abril de 1946.

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Recorte n º 56- A União, 07 de outubro de 1952.

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Recorte n º 57 - A União, 10 de outubro de 1952.

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Recorte n º 58 - A União, 25 de novembro de 1947.

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Recorte n º 59 - O Globo, 22 de outubro de 1981.

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ANEXO - D

PLANTA DA ESCOLA DE MÚSICA ANTHENOR NAVARRO

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Planta nº 1

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Planta nº 2

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ANEXO - E ENTREVISTAS

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Entrevista com Manoel Henriques e sua esposa Ana Maria Navarro - 28/04/2004

Entrevista com Manoel Henriques de Sá Campos, sobrinho de Gazzi de Sá e sua esposa Ana Maria de Navarro Coutinho Campos. Falando sobre Gazzi de Sá, Manoel Henriques começa:

MANOEL: Porque ele era de fato, ele era erudito, ele tinha capacidade intelectual, era um homem de elevação moral intelectual, integridade. Era uma coisa fora de série. Então ele se destacava automaticamente e as opiniões dele com relação à música, com relação a administração musical aqui no estado, ele representava o que tinha de melhor do mundo. Ele estava apresentando uma coisa nova. ANA: Isso é claro incomodava a alguns e outros. MANOEL: Isto incomoda aqueles rasteiros que não tem aquela visão. ANA: Aqueles que estão querendo subir sem a capacidade, sem a base. MANOEL: Então isso ocasionou uma série de ciumeira e o tio Gazzi, não gostava disso. Se houvesse um negócio desse tipo ele já ia embora, como de fato foi. ANA: Ele preferia se excluir, nunca haver polêmica, ele polemisar. MANOEL: No dia que ele ia embora, Virgínio Velozo Borges, era irmão de Dr. Agnaldo, era senador pelo Rio de Janeiro, não era daqui, mas tinha usina em Campos, então no tempo que tio Gazzi ia embora, ele esteve lá em casa, pedindo que tio Gazzi que ele ficasse, que relevasse aquela besteirada toda. Era um homem de uma outra visão, de outra educação. Pois é, aí o tio Gazzi não aceitou... ANA: Ele já havia decidido, não é? E foi melhor pra ele. Lá ele se uniu a Villa-Lobos, pra ele foi bem mais produtivo. MANOEL: Então essa ciumeira de gente aqui, é... inclusive teve aqui um episódio com o irmão de Luzia.

Ah é? Com Simões?50 MANOEL: Foi com Simões... e eles se distanciaram.

Foi mesmo? MANOEL: Foi, e eles se distanciaram. Luzia ficava com o tio Gazzi, mas o tio Gazzi

não gostava de certas coisas que Simões queria fazer, ele não gostava. Então houve um

50 O marcador indicar a interlocução da entrevistadora, Luceni Caetano.

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distanciamento entre Simões e o tio Gazzi. Então houve um distanciamento e ele e tio Gazzi nunca mais se chegaram, agora Luzia era outra coisa. ANA: Porque quem privava realmente, Dona Luzia foi aluna dele, e quem privava no dia a dia do cotidiano do professor Gazzi, ficava encantado. Você falou com Terezia, chegou a conversar com ela?

Liguei pra ela.

ANA: Então ela está bem?

Ela esta bem.

ANA: Ela tem uma voz arrastada.

Não, ela tem uma voz boa. Ela deve ter o que? Uns setenta?

ANA: Ah, mais de setenta, já próximo dos oitenta.

Ela pareceu já uma pessoa de idade. Já pela dificuldade de falar.

ANA: De falar? MANOEL: De se lembrar?

Não, de organizar as idéias rapidamente. Por exemplo, eu dei o meu endereço pra ela e ela passou meia hora, anotando o meu endereço. Eu repetindo, repetindo... (RISOS)

MANOEL: Ela contou alguma coisa?

Ela contou, mas eu fiquei de ligar pra ela, entendeu, mas ela não está mais assim, conciliando.

ANA: Ah, que pena.

Ela conta, mas não dá mais muitos detalhes.

MANOEL: Sei, sei, sei...

Ela diz assim o essencial.

ANA: Pode ser também que ela esteja desmotivada. MANOEL: Pode ser também a idade mesmo.

Uma pessoa que eu entrevistei e sabe muito sobre a história da música na Paraíba foi o Domingos de Azevedo. Então assim, ele me falou, porque eu vim saber que houve algum desentendimento com Gazzi de Sá por acaso. Porque eu não sabia, então eu perguntei pra ele, aí ele colocou a questão da Orquestra

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Sinfônica, que foi criada e Gazzi de Sá não concordou com a idéia de criar a Orquestra Sinfônica. Porque ele achava que deveria formar os músicos para depois formar a Orquestra Sinfônica, que na verdade, ele tinha total razão, né?

MANOEL: Mas isso talvez seja um dos pontos.

Um dos pontos?

MANOEL: É, um dos pontos, mas foram muitos. Questão da administração, questão de despesa, de como se gastar os recursos. Tio Gazzi queria otimizar, não é, o uso de recursos, surtir melhor efeito e muita gente queria mais fazer alguma coisa para aparecer e ele não gostava disso. Tio Gazzi não era homem disso, fazer politicagem desse tipo... e já alguns outros queriam. Realmente foi isso, então teve educação. Porque, tio Gazzi foi morto(ELE USOU ESSA PALAVRA “MORTO” NO SENTIDO DELE TER SIDO ESCANTEADO, TER SIDO EXCLUIDO, POR ESSAS PESSOAS). A empresa telefônica era nossa e em 1938 meu avô falece, mas naquela época já havia até cabo subterrâneo naquela rua nova. É, não era mais por cima não. Como ainda hoke tem, você vê.

Mas aí só uma pergunta. O que nós sabemos é que ele iniciou medicina.

MANOEL: Iniciou o curso de medicina em Salvador.

E eu sabia que era no Rio de Janeiro.

MANOEL: Não, foi em Salvador. Aí ele abandonou a medicina e continuou estudando música. Aí a minha avó, como meu avô cortou a mesada, minha avó ficou mandando mesada para ele, aí foi quando ele se transferiu para o Rio, pra estudar no Rio. Pra estudar já música. Aí... depois, ele voltou... Ele chegou aqui e começou. Quando ele recebeu a herança, que quando meu avô morreu, a empresa ainda passou muitos anos com minha avó, mamãe inclusive ainda foi uma das diretoras da empresa. Porque os filhos não queriam, porque naquela época, toda família queria que seu filho fosse funcionário do Banco do Brasil, ou padre, ou juiz. A função de ser funcionário público do Banco do Brasil era excelente naquela época e passou sendo assim por muitos anos como a melhor do Brasil. Então, meu avô conseguiu que três filhos fossem pra lá. Foi o tio Hermes de Sá, tio Edson e tio Renato, para o Banco do Brasil. Então aqueles três tinham o salário muito elevado. O tio Gazzi era um artista, não queria saber de administração. Tia Biá, a tia mais velha, etc, tio Morce era assim meio aéreo, ninguém queria entregar a administração de uma empresa daquele porte pra ele. Mas minha avó ficou ainda com minha irmã. Aí vai, aí vai... em 45 ou 46 resolveram vender porque não agüentavam mais.

Então ela era muito dinâmica, não era?

MANOEL: Era, ela era de Espírito Santo, o pai dela era senhor de engenho. Naquela época dos escravos, que antigamente era Santa Rita, era distrito de Santa Rita. Então em 46 venderam, e quem comprou foi a Ericson, com essa aqui e repartiram irmãmente, ela não ficou com 50% não, naquela época quando venderam a empresa ela vendeu por 800 contos de Reis, era dinheiro... com o diabo, 800 contos de Reis, dava pra comprar um terço da Paraíba em fazendas. Aí ela dividiu com todos. Eram oito filhos, ela ficou com uma parte e dividiu o restante. Ela dividiu em nove, uma pra ela e oito pra os filhos. O dinheiro de tio Gazzi, veja bem, ele alugava o Plaza, trazia aqueles artistas de fora, violonista, cantores líricos, era uma

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coisa impressionante. Todo mês tinha uma apresentação. Só tinha gente do alto. A fina flor da música erudita do mundo. Ele patrocinava, desse ou não desse lucro, cobrava o ingresso barato, pra ver se tirava do prejuízo, mas ele gastou uma parte da fortuna pra educar o povo. Ele queria educar o povo pra acostumar o povo com música erudita. Ora, naquela época... Hoje é difícil, imagine naquela época... Ele fez isso, (isso ninguém sabe, ou pensava) isso ele já pensava.

E ele plantou a semente, viu?

MANOEL: É, mas ninguém, mas nem o Estado fez isso. Ele fez, particularmente. Bom, aí ele foi embora, eu ainda fui assistir umas apresentações dele lá no Rio de Janeiro, mas nos colégios onde ele ensinava, aquele método novo, aí ele fazia questão que eu fosse lá e assistisse uma apresentação num colégio, quer dizer, uma aula. Ele fez uma apresentação pra mim, aí chamou uma daquelas meninas aluna dele e a menina começou a fazer não sei o que, não sei o que e o pessoal cantando, certo, sobre aquele método dele. O colégio era o Sagrado Coração de Jesus, ali no Botafogo, se não me engano. (OLHANDO FOTOS ANTIGAS) Não estou vendo a família toda, acho que Raquel levou para ficar vendo a família (RAQUEL É A FILHA DO CASAL QUE ESTÁ MORANDO NA ALEMANHA). ANA: Raquel é a minha filha que mora na Alemanha, ela tirou muita coisa aqui da família pra botar lá na casa dela. Olha aqui, você não mostrou não? MANOEL: Já mostrei.

Essa aí eu já vi.

ANA: Olha aqui Gazzi, Santinha. MANOEL: e esse aqui, de cá, é Siqueira. Olhe a Dinah.

Quem é Dinah?

MANOEL: É minha irmã. O tio Gazzi tinha uma predileção por ela, porque ela estudava piano. Tio Gazzi ensinou piano, pra ela, ela tocava bem, mas tio Gazzi era muito exigente, eu tentando ver um pouco de música com ele, mas ele era exigente demais... porque ele fazia com ele mesmo, ele acordava de manhãzinha, ia para o piano e repetia não sei quantas vezes, ficava meia hora repetindo as mesmas notas, tururum, tururum... Só prá treinar, ele era assim só com ele. E ele queria que Dinah fizesse a mesma coisa, e Dinah fazia. Dinah ficou tocando bonito, até a posição da mão tinha que ser da maneira que ele queria e assim mesmo foi com um filho dele, o do meio, Ermano. Ermano tinha um amor pela música muito grande. Aí fez um concurso passou em primeiro lugar, aí ganhou uma bolsa de estudo e foi para França. Hoje, se não me engano, ele é regente de lá de Niterói, de um colégio ou de uma organização lá de Niterói. É, lá em Niterói ele é conhecido.

Ermano Soares de Sá

MANOEL: Ermano Soares de Sá. Os irmãos eram Fernando, Marcelo e Gerusa. Gerusa falecida, Marcelo foi aviador da Varig, foi para o Rio Grande do Sul, fez aquele curso e pro final já era comandante internacional, estava viajando para o exterior.

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E ele mora no Rio?

MANOEL: Mora no Rio, todos eles moram no Rio. O tio Gazzi foi um homem muito enriquecedor, eu só me lembro, só faço comparação com aquele de Sapé, poeta, Augusto dos Anjos, que foi muito injustiçado aqui. Um homem, daquele foi injustiçado, não conseguiu ser nomeado professor do Liceu, por questão política, etc. Não sei... aí saiu daqui. Augusto dos Anjos saiu daqui com raiva da Paraíba, foi excluído daqui da Paraíba. (OLHANDO FOTOS) O Siqueira, tio Gazzi de Sá.

O maestro Siqueira, o Gazzi e sua irmã que foi bailarina.

MANOEL: Olha a Terezia aí. ANA: Onde você está vendo Terezia? MANOEL: Ah! é não. Tá aqui, essa daqui.

E essa foto pequena de Anthenor Navarro?

ANA: Essa eu lhe dou. Eu tiro até uma pra você, se você quiser.

**********************

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Entrevista com o professor Augusto Simões - 16/11/2001

Gostaria de saber em que ano e como o Sr. conheceu ou em que circunstância o Sr. conheceu o prof. Gerardo Parente.

SIMÕES: O ser, a pessoa, o artista, conheci bem antes dele vir para Paraíba porque o

Gerardo se deu muito bem como pianista, mas a fazer a música de câmera, quer dizer, ele no piano e o outro artista na sua especialidade de instrumento, de cantor... a primeira vez que ele veio aqui à Paraíba, em João Pessoa, foi acompanhando um artista francês chamado Chabloz, que me parece que era não um violinista, mas um violoncelista, não tenho muita certeza, mas foi aí que eu conheci a pessoa do Gerardo. E ele esteve aqui na Paraíba acompanhando artistas. Isso aconteceu um contato mais próximo, na realidade entre ele e minha irmã Luzia que era diretora da escola de música, não sei se ainda era diretora da escola de música, deixa me ver..., era sim, porque isto foi na década de 50 e ela só se afastou da escola em 1966, quando se aposentou do Estado. Ah, aliás, por coincidência, antes que eu me esqueça, nós dois nos aposentamos do Estado em 1966, no governo de João Agripino. Bom, nesse ínterim, desde o início que ele esteve aqui, que eu acho que foi com esse Chabloz em 1957, que foi o ano, porque ele vivia sempre naquelas conversas e minha irmã fez nesse tempo todo, todo em doutrinação em cima dele, porque realmente nós precisávamos, estávamos precisando de um pianista que pudesse nos ensinar, digamos dentro de uma técnica maior, de forma um pouco mais aprimorada, um pouco mais experiente, aqui na Paraíba, que até então nos vivíamos, Gazzi foi um ótimo professor de piano, mas para o Gazzi não tínhamos, assim, uma pessoa que se destacasse realmente pela sua maneira de ser, por exemplo, alguns alunos de Gazzi tinham alguma experiência, adquirida através do contato com ele, mas digamos que não era uma coisa personalizada, de uma criatura de uma formação mais avançada, Gazzi tinha isso, era um professor magnífico, pois bem, e, finalmente o Gerardo cedeu, em 1957 ele veio para aqui. Aí verdadeiramente em termos de contato, foi o ano em que conheci verdadeiramente o Gerardo, porque aí começamos a viver na mesma cidade. E sua ligação com a Escola de Música, que foi onde eu estudei, ensinei e dirigi e sempre tive contato pessoal com a escola de música, em 57. E essa nossa ligação não era assim de um bom dia, boa tarde... Que neste ano teve um Concurso Nacional de Canto Orfeônico, onde a prova final no Rio de Janeiro, deveria ser os coros vencedores das regiões e da região norte-nordeste, foi o nosso coral do Liceu que junto com...51 fomos aqui, defender as nossas cores. Ora, tudo isto tem à ver com o Gerardo, é que o Gerardo nos acompanhou, deu uma extraordinária assistência através das amizades dele no Rio de Janeiro e São Paulo o tempo todo. Teve um coral de São Paulo que ficou com muita ligação conosco, tanto assim que eles nos convidaram para passar uma semana com eles, nos rompemos ano-novo lá, em Pindamonhangaba, passamos o Natal no Rio, o concurso foi no dia 21 ou 22 e nós passamos lá, e esse pessoal nos tratou bem demais, nos ofereceu um recital, nos deu de presente uma viagem à capital do Estado e repentinamente chegamos de manhã e a tarde estávamos cantando numa TV, foi arranjo de Gerardo. Ele nos levou a vários lugares, ele tinha muita ligação ao Carlos Magno, que por sinal era o Secretário do Juscelino Kubitschek, que cuidava, dessa parte cultural. Cantamos até no Palácio do Catete, não cantamos para o Juscelino, porque ele tinha viajado por causa da construção de Brasília, tanto assim, segundo Luzia (Simões) a música predileta de Juscelino era Peixe Vivo e levava daqui, um arranjo para coral e cantamos lá, no Catete para Juscelino.

E este coral tinha um nome?

51 Não compreendi a palavra na gravação.

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SIMÕES: Era um coral composto de alunos do Liceu, exclusivamente selecionados de várias classes, selecionado mais do ponto de vista da espontaneidade, daqueles que queriam trabalhar esta proposta. Eram alunos de música e tínhamos ensaios extraordinários durante a semana.

Quem era o regente? Era o senhor?

SIMÕES: Claro que era, o Gazzi era professor do Liceu até início de 1938, ele foi professor do Liceu e da Escola Normal, não sei se você sabe? Era ali na Praça João Pessoa onde é a Faculdade de Direito, ali era o Liceu, e no Palácio da Justiça, a Escola Normal, eram os dois principais estabelecimentos de ensino da Paraíba. O Getúlio criou aquela constituição de 1937, depois do Golpe de Estado, então ficou proibido a acumulação de cargos. O Gazzi tinha dois cargos, como em termos de remuneração o professor de música do Liceu recebia menos do que o professor de música da Escola Normal, naturalmente que ele optou pela Escola Normal, nesta vaga por indicação dele eu assumi, isto que eu estava falando era a 19 anos depois, de 1938 a 1957.

Nesta viagem ele participou tocando piano? SIMÕES: Não, ele participou como um elemento amigo, como se fosse um

empresário. E nem cantava também? SIMÕES: Também não. Ele não era do grupo. Foi a participação dele, através de

relacionamento que ele tinha com o ministro do Brasil. E ele chegou em que mês aqui? SIMÕES: Em fevereiro ou março. Assim que ele chegou, nós tivemos logo uma

ligação muito forte. Gerardo foi sempre assim muito dado, muito brincalhão, e assim se tornava uma criatura muito simpática, hoje está completamente antipático. (SORRIMOS). Assim foi o começo de nossa amizade. Houve até uma particularidade mais ou menos interessante. Quando nós viajamos de trem do Rio para Pindamonhangaba, Gerardo ia conosco, me lembro que ele batendo assim na perna cantava um côco do Ceará (que me lembro, era eu vou, eu vou) e ... eu ouvindo aquilo, escrevi num papel para não esquecer e guardei. Nós voltamos para Paraíba e Gerardo ficou por lá, para gozar o resto das férias por lá. Pois bem, eu aqui fiz um arranjo, e resolvemos em função em tom de agradecimento nosso, quando ele chegasse fazer uma festinha, isto na nossa casa. E fomos buscar Gerardo e todo coral ficou na casa nos aguardando e ficaram as escuras. Quando chegamos, o Gerardo disse, já está todo mundo dormindo, e eu disse, o pessoal já deve estar cochilando lá por dentro, mas não tem importância não, vamos entrar. E quando entramos foi aquela festa, logo, nós reunimos o coral e cantamos através do meu arranjo aquela música que ele nos transmitiu durante a viajem, com aquele tema. Logicamente não era minha, daquele tema fiz um arranjo. E posteriormente houve uma coisa interessante, houve um concurso de arranjos de corais na Bahia e um colega meu daqui, Hugo Moura, chegou para mim e disse, seu Augusto eu vi esse anuncio aqui, o senhor não se interessa por esse negócio não? Então eu mandei para Bahia, me parece três arranjos, entre os quais esse arranjo. Pois bem, como as coisas se entrelaçam, curiosamente, eu fui para o Rio, que era a centralização do ensino e recebei um telefonema no

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meu hotel de Gerardo. Olha, está acontecendo alguma coisa lá na Bahia, porque Meerwein, um oboista, que Gerardo trouxe várias vezes aqui na Paraíba, o Meerwein esteve comigo e me perguntou se eu não sabia quem era alguém que assinava por SS, na Paraíba, porque um arranjo mandado para lá estava numa disputa muito grande com um outro de São Paulo que deu em primeiro lugar. Ora, eu sabia que era seu, mas eu não quis revelar coisa nenhuma. Então resolveram dar o primeiro lugar para o de São Paulo porque era um arranjo mais vasto, abordando vários temas: branco, negro, índio, português, digamos assim. E o meu não, era um tema só do nosso povo, era mais simples, mais eu sei que causou essa confusão lá na hora e deram o primeiro premio para ele e o segundo para mim. Ganhei dinheiro, cinco mil cruzeiros. Não era muita coisa, mas era alguma coisa. Para você ver como são as coisas, uma coisa feita para ele, ele tomou logo conhecimento, justamente porque o Neerwein fazia parte dessa comissão julgadora. E o Gerardo sabia que eu ia mandar, tudo que eu fazia mostrava pra ele... e ele ficava a par. Mas foi fundado pelo Gazzi de Sá aqui, acho por volta de 1948 ou 1942 a Sociedade dos Amigos da Música, com finalidade de trazer músicos aqui para João Pessoa e daí então Gazzi saiu daqui, mas deixou toda essa responsabilidade, da Escola de Música e tudo mais, nessa época a escola de música era particular. Essa condição atual foi só no governo de José Américo... dei... deixando toda a responsabilidade para Luzia Simões, e que dessa maneira que havia sempre um contato muito grande entre ela e artistas que essa sociedade contratava para o concerto. Muitos bons concertistas vieram a Paraíba nessa época, e Gerardo era um deles. Então houve esse conhecimento de Gerardo e Luzia, não o conheciam antes, tenho certeza, porque ele veio outras vezes na mesma missa, até que ela conseguiu fisgá-lo para Paraíba, e ele tornou-se paraibano.

Qual foi a importância, de uma certa maneira o senhor já respondeu, mas, qual foi a importância da vinda do professor Gerardo Parente para Paraíba diante do atual movimento musical existente na época? Já havia um movimento grande ou ele contribuiu para aumentar esse movimento? SIMÕES: A contribuição de Gerardo me pareceu a mais importante, foi a

contribuição do ponto de vista do músico didático, ele trouxe uma experiência pianística muito grande e introduziu essa coisa no ensino da Escola de Música e assim tomou um rumo mais aperfeiçoado, um tanto mais desenvolvido, mais atualizado no ensino, isso foi a contribuição número um, porque foi um resultado imediato, que aconteceu, agora, há resultados não imediatos, que tem a participação dele em todos os movimentos, os movimentos que iam ocorrendo do ponto de vista artística, principalmente os musicais, ele estava presente dando a sua contribuição, ele levava também a sua capacidade e sua contribuição se deu com muita força, quer dizer, não houve uma mudança de estagnação, não, isso foi em relação a coisa, agora nessa época por exemplo já havia sido inaugurada a Orquestra Sinfônica, Mas a orquestra de início, tendo seguido uma convenção de empresas privadas, dispondo, ou melhor, não dispondo de instrumentistas de maneira que era assim... ela não foi criada para funcionar, mas foi criada para tentar o funcionamento. A orquestra sinfônica neste ponto de vista, a sociedade paraibana não dispunha de nenhum instrumentistas com capacidade suficiente de tocar numa Orquestra, tanto que eu participei desse grupo e senti essa ansiedade e em princípio eu fui contra a criação desta Orquestra Sinfônica. Eu opinei para que aquele crescimento fosse voltado para a criação de uma escola de música, um pouco mais aberta e que formasse instrumentistas para manter a orquestra sinfônica. Eu posso lhe dizer que fui co-proprietário da idéia, idéia da orquestra sinfônica foi minha, e fui contrário, agora, fui contrário por causa desse ponto de vista, porque criar uma orquestra sinfônica, sem músicos, sem músicos capacitados, com experiência não tinha, violinista, por

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exemplo, violoncelistas nenhum e assim por diante. Então a minha idéia, era aproveitar aquele entusiasmo, e criar uma escola de música para fazer a formação desse pessoal.

Eu soube que o professor Gerardo tinha encontros com Villa-Lobos. O senhor sabe dizer alguma coisa nesse aspecto?

SIMÕES: Não. Ele tinha costume, quando estava no Rio de Janeiro, Gerardo viajava muito, mesmo quando ele já era professor daqui, ele era chamado para fazer uma turnê com artistas que o conheciam, ele sempre arranjava uma maneira de atendê-los. Quando ele estava no Rio de Janeiro e o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico criado por Villa-Lobos, o instituto oficial, mas a cabeça de tudo era Villa-Lobos, ele costumava, creio que nas quintas feiras, havia reuniões assim, apresentações, trabalhos de música, audições musicais, ele sempre promovia isto. Daí ele (Gerardo) sempre mantinha um certo contato com Villa-Lobos, que quando estava no Rio, coincidentemente, havia esses encontros. E desse ponto de vista, o Villa-Lobos era um indivíduo bastante simples. Ele não se mostrava o grande que era na presença desses rapazes, nesses encontros, pessoais. Então tive essa impressão pessoal de Villa-Lobos, tive três encontros com Villa-Lobos, dois na Paraíba e um no Rio. Fui tratado como gente, viu?

Não tinha estrelismo, não é? SIMÕES: Não, não... Villa-Lobos era um cara extraordinário. O Pedro Santos foi trazido por Gerardo para cá. Pedro Santos era de Manaus, ele foi para Fortaleza e ficou morando na casa de Gerardo, mas aquela coisa sem expectativa. Sabe? Gerardo aqui pensou em trazer para cá... Pedro veio para Paraíba estudar, aqui ele fez o Conservatório de Canto Orfeônico, que nós tínhamos aqui, o Conservatório Nacional na Paraíba, quando foi fundado já na ausência de Gazzi, quem atuou foi Luzia e as coisas oficiais com o Ministério da Educação foram feitas por meu intermédio porque eu era do Ministério da Educação, como inspetor, e a diretoria do ensino superior solicitou a nossa colaboração no ensino. Fui eu que fiz todo processo de verificação de exame de ensino e posteriormente... regularizada.

Então me explique uma coisa que as vezes fico em dúvida. Então existia o canto orfeônico que foi fundado por Luzia Simões e regularizada pelo senhor, e depois é que foi criada a Escola Antenor Navarro? Não?

SIMÕES: Não. A Escola Antenor Navarro oficialmente consta que tenha sido fundada em 1931, em fevereiro de 1931, tanto que o concerto de ontem, foi uma homenagem ao 70º aniversário da Escola de Música, agora, o que aconteceu de extraordinário para aparecer essa escola de música tão falada? Vamos dizer assim, eu não disse tão mal falada, eu disse tão falada.

Essa Antenor Navarro? SIMÕES: Sim. Primeiro, ela não foi criada com o nome Antenor Navarro, simplesmente Escola de Música. Agora, nessa fundação participou pela sua influência, pela sua vontade de ajudar, o Anthenor Navarro, que foi o nosso primeiro interventor Federal, depois da revolução de 30. Então o Anthenor era muito amigo do Gazzi, colega de escola de jardim da infância, quer dizer, uma amizade que vinha desde a infância e era um entusiasta, o

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Antenor era um artista, mas um artista, mas digamos com dedicação e tudo mais e por influência do próprio Anthenor junto ao Gazzi é que veio a tona a criação da escola de música. Sim, mas você irá dizer, mas o Gazzi já não lecionava piano? Lecionava, o curso de piano Soares de Sá, porque a apelidada Dona Santinha, que era Dona Ambrozina Soares de Sá que tomou de Gazzi com o casamento de Sá, entendeu? Então eles denominaram, sendo de piano, desse que se faz dentro de casa, que o camarada sabe de alguma coisa e se o camarada coloca na janela, “ensina-se alguma coisa” e vem um alunozinho ou outro. Era esse tipo de coisa que existia, não só o Gazzi não, outras pessoas também tinham. Mas era o curso de piano Soares de Sá, pois bem, mas era essa coisa assim... para menosprezar um pouquinho, era esses cursinhos de fundo de quintal, entendeu? Então, para dar mais uma concretude mais interessante pensaram, e o Anthenor participou disso e pensaram na criação de uma escola de música como se fosse conservatório de música. Uma coisa assim, mas não pensaram no nome conservatório, e sim numa escola de música... e essa história foi iniciada com a participação desses nomes que são esquecidos: Gazzi de Sá, Ambrozina Soares de Sá, Luzia Simões e Anita Araújo, porque os quatro professores envolvidos, responsáveis pela fundação da escola de música, quer dizer, de uma certa forma foi uma transformação, mas eu estava falando em outro âmbito... Parece-me que no final de 31 morre o Anthenor, num acidente de avião e aí achou por bem prestar uma homenagem ao seu amigo Antenor (colocar o nome da escola de) e a escola passou a ser denominada; Escola de Música Antenor Navarro. Ele era da música também, participava dos movimentos literários, dessa coisa, escritor interessante, um homem inteligente. Bem, nessa condição de escola particular ele veio até o ano de 1952, quer dizer, 21 anos depois que ela veio a ser oficializada, no governo de José Américo que aconteceu isso. Ora, posteriormente a esse negócio, a escola passou a ser um ponto de apoio para todas essas manifestações, porque aí já se tornou oficial, entendeu? E as outras coisas giravam em torno disso. Bem, o Conservatório de Canto Orfeônico, então nasce, não nas dependências da escola, mas numa situação mais ou menos agregada, não sabe?

E em outro lugar também? SIMÕES: Não. Aí que está, muito ligada por isso, nas mesmas dependências. Viu?

Por isso que eu pensava que era uma coisa só. Porque eu já ouvi falar que era no mesmo lugar. Por isso perguntei.

SIMÕES: De uma certa maneira, éramos irmãos. Agora, um irmão muito mais velho que eu.

Que aí é no caso da Escola de Canto Orfeônico, que já foi depois de 1952, não foi? SIMÕES: Foi sim. Ora, nesse tempo, por exemplo, o José Américo cedeu uma casa ali na General Osório, naquela esquina, onde tem aquele prédio 18 andares. Naquele tempo era uma casa do Estado, que foi cedida pelo Anhenor para sede da escola. Por duas vezes a escola esteve naquela casa, a Anthenor Navarro, e foi naquela casa que foi criada, estávamos exatamente naquela casa quando foi criado o Conservatório de Canto Orfeônico.

Quando o professor Gerardo chegou aqui, o canto orfeônico ainda era ativo? SIMÕES: Ah, ainda era ativo (CONFIRMANDO COM BASTANTE VEEMÊNCIA).

E ele acabou em que ano mais ou menos? Por que ele acabou?

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SIMÕES: Ele acabou porque em decorrência de vários fatores. Abrindo um parêntese,

em que ano Luzia morreu? (COM MUITA DIFICULDADE, COM DÚVIDA NA DATA, FALOU, EM 1978). Estou em dúvida. Mas estou lembrando da época que eu era diretor da Escola de Música e fazendo uma daquelas festinhas lá. Quando me levantei e anunciei que aquela festinha também estávamos comemorando o 10º aniversario de morte de Luzia Simões e nós cantamos aquela canção de aniversário de Villa-Lobos – Saldamos, o grande dia que tu hoje comemora... então cantamos em homenagem a Luzia, em uma homenagem viva, não estávamos homenageando uma morta, mas estávamos homenageando uma pessoa que saiu do nosso convívio. Exatamente 10 anos ali, 78 ou 79... PENSANDO... Saí de Brasília em 76... em 77 passei o tempo todo recobrindo o meu apartamento. Foi em 78, estava associando lembranças, foi em 78. E quando Luzia morreu, recebi a visita de um irmão com o meu sobrinho lá e aí me lembrei porque ele estava todo bonitinho, o que não foi em 77, foi em 78, porque dez anos depois eu era o diretor da escola.

Mas eu perguntei porque acabou o canto orfeônico, em que ano e em que circunstância. E o professor Gerardo participou deste centro como professor, não foi? SIMÕES: Participou, como professor ele ficou com a parte de música brasileira e

folclore. Era professor nessa época quando ele veio para cá? SIMÕES: Quando ele veio para cá, foi aproveitado, mas aí espera... E como eu não

participava assim bem nitidamente, pois eu estava em outro setor de trabalho, mas dá pra chegar a uma conclusão; agora, o Conservatório de Canto Orfeônico decaiu, tanto quanto decaiu o nacionalismo, mesmo porque ele era específico na preparação do professor de canto orfeônico, canto orfeônico, naquela temática que foi criado por Villa-Lobos, o canto orfeônico desapareceu das escolas.

Que era obrigatório, não era? SIMÕES: Era obrigatório. Na sua formulação própria, ele desaparece. A lei de

Diretrizes de Base, por exemplo, de 1962, já começou a estrangular o canto orfeônico sem ter essa intenção, mas o resultado foi esse. Veio a educação musical, educação artística e essas coisas todas, cuja interpretação varia de acordo com o bom gosto de cada um. Eu encontrei colégios ensinando educação artística através de crochê, coisas dessa natureza. Confundindo artes com digamos, artes domésticas, coisinha assim, sem significado doméstico, pode ter até sua beleza, mas não tem... Pois bem, isso foi determinando sua morte, quer dizer, hoje não existe sequer qualquer manifestação sequer de música. Agora, o que é que existe? Certos movimentos de seleção de pessoal para formar um coral, o que, educacionalmente não dá em nada em termos de educação escolar, como também colégios e mais colégios aí, que se vêm em disputa esportiva. Aquilo é o resultado, digamos, de uma prática esportiva feita no colégio? Em termos de educação esportiva, não, não é. É o aproveitamento de cada um, com sua tendência de jogar melhor a bola, com as pernas ou com as mãos, não é? E assim conseguiram formar essas equipes, quer dizer, não provem da educação física, devia provir disso, aí tá certo? Pois foi o que aconteceu com a música.

Mas não sabe mais ou menos em que ano acabou, foi extinto? Deve ter sido nessa época de 62...

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SIMÕES: Ele formou várias turmas, eu me lembro até, uma dessas turmas, aí a escola

já não estava naquela casa, estava naquela casa da rua da catedral, eu fui até paraninfo de uma turma, de uma grande turma (SORRIU), de duas alunas, duas formandas, mas fiz um discurso... Eu não sei quem foi o representante do secretário de educação, teve o Everaldo Lucena. Ah! Eu fiz um discurso... Na minha linguagem assim um pouco polida as vezes brincalhona, etc. Eu me lembro que disse: Vocês na sua missão de ensino de música na escola, quando entrarem na classe, esqueçam de tudo que aprenderam, nesse seu desenvolvimento, não vão atrás de nada dessas teorias. O que vocês devem procurar é a música que está no coração de cada um e desenvolvê-la (SORRIU). O meu conselho (SORRIU). Não, hoje não se faz isso.

Quando o professor Gerardo chegou aqui o que o senhor fazia? Era professor de música, era membro da Comissão da Secretaria de Cultura? SIMÕES: Quando Gerardo chegou, em 57, eu ainda era professor do Lyceu, de

música. Tanto assim que a vinda de Pedro Santos pra cá, dependeu em parte da minha contribuição que foi abrir mão de determinadas turmas para Pedro Santos ensinar, porque ele vinha pra cá, mas vinha com a missão não de ficar dependente, mas de trabalhar, de ganhar o seu dia a dia. A mesma coisa fez Luzia em função da escola de música que ia assim sobrevivendo através dos pequenos ganhos que ia acontecendo nesses lugares, não sabe? Então, portanto, eu já cedia, naturalmente com a participação de Gerardo, eu já cedia parte do meu trabalho do Lyceu para o Pedro.

O senhor tocava piano também? SIMÕES: Eu fui iniciado no piano, mas não cheguei a um ponto de tocar como um

pianista não, e como eu me dediquei muito mais a regência coral e ao ensino de classe, então toda a mecânica pianista que eu adquiri desapareceu, hoje eu só conheço um teclado quando estou de óculos (SORRISO).

Depois de ser professor do Lyceu, aí fez parte daquela comissão? SIMÕES: Não. Eu fui membro... (PAUSA PARA LEMBRAR) do Conselho Estadual

de Educação. Foi aí que eu tive então uma participação para o funcionamento da escola. Veja aí que a escola centralizava, né? Mesmo que não tivesse tal intenção, mas centralizava um tanto essa coisa, então, foi criado o Curso Colegial Artístico, que foi uma coisa boa... Para dar possibilidade a criação dos cursos colegiais de vários aspectos, então nós criamos, aqui na Paraíba, que foi o primeiro do Brasil. Aconteceu em 63 a implementação dele, a lei foi de 62; o Curso Colegial Artístico funcionou por vários anos que também sofreu a influência de manter um curso, aí, começando com 40 alunos no primeiro ano e essa coisa foi decrescendo, decrescendo, até não ter mais aluno. Chegou a formar várias turmas, quatro ou cinco, acabou, morreu de inanição (UM PEQUENO AR DE SORRISO). Mas foi um curso feito com finalidade de dar um grau colegial, não é? Para quem conseguisse seus estudos musicais para além e depois universidade.

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Era como se fosse o científico? SIMÕES: Exato, sendo que o científico a especialidade era ciência e o outro era artes,

predominantemente música. Tratava de outras artes, mas a predominância era música, era formação musical.

E nesse, o professor Gerardo ensinava? SIMÕES: Ensinou. Ele era justamente o professor da cadeira de folclore musical e

música brasileira, tinham bons professores de todas as áreas, professores de matérias comuns, de inglês, português.

Era uma escola de 2º grau? SIMÕES: Por exemplo, a minha filha Vólia, fez os dois primeiros anos aí neste

colegial, mas depois ela quis mudar de campo e fez o 3º ano no Lyceu, quer dizer, os dois primeiros foram reconhecidos.

Onde funcionava esta escola? SIMÕES: (COM UM SORRISO RESPONDE) Dentro da Escola de Música Antenor

Navarro. (SORRIMOS) Essa família é sólida... (e repete) essa família é sólida! Aí nessa época já tinha acabado o canto orfeônico? SIMÕES: Já (em 63) isso era uma tentativa para ver se conseguia, renascia todo esse

negócio. É interessante, porque quem resistiu mesmo até hoje é a Escola Antenor Navarro. SIMÕES: Ela não era uma escola de melhor, a gente não pode dizer que a escola de

música seja uma grande escola, não é uma escola melhor porque imaginava-se que ela oficializada, criasse asas, sabe repartição de Estado como é...

Mas eu considero que hoje ela está bem melhor do que já esteve, principalmente por conta dos alunos muito bons que sairam do Departamento de Música e estão ensinando lá, não é? Tem os meninos como Renata, que é excelente no violino. Como também Ronedilk que é excelente no violino, ensiando lá, achei que ela teve, assim..., um avanço excelente. SIMÕES: A oportunidade está melhor pra estudar violino, o desenvolvimento que foi

dado agora para o campo do violino, através de Isabel Burity. Porque todos esses anos que você citou, a Renata não nasceu na universidade. Estudaram lá, mas nasceram no método Suzuki e Escola de Música Antenor Navarro. Mas eu queria dizer outra coisa. Que isto não significa nada contra a universidade, apenas um retrato da situação, quando Renata fez aquele vestibular especial, aquele específico, tocou simplesmente uma peça que seria válida na conclusão do curso, de maneira que, aquela menina, de certa maneira foi o resultado de alguns professores que mais ou menos controlados por Isabel Burity, todos aqueles alunos, Renata, Ronedilk, Hulk, outros, todos aqueles outros, foi o trabalho de Yerko (professor da UFPB)

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com os alunos dele fora da universidade, fora de tudo, fora da própria escola de música, era aquele trabalho feito no Espaço Cultural.

O método Suzuki, que ela fez (Isabel)? SIMÕES: Mas o método Suzuki não influenciou esse pessoal que está atuando agora,

vai aparecer, essa parte do Suzuki está mais ou menos sendo desenvolvida pela escola de Ademar, que está indo muito bem. Quer dizer, quando aquele pessoal entrou na universidade, quer dizer instrumentalmente estavam preparados para terminar.

Ele fala sobre a decisão da filha dele – Vólia – fazer um outro curso sem ser o de música – economia. SIMÕES: Ela fez o concurso, se saiu bem em Recife, fez dois anos e foi no tempo

que me transferi para o Rio de Janeiro e ela fez mais dois anos e completou o curso na Biblioteca Nacional. Depois de casada, é que uma vez, Gerardo nos visitando em Brasília, o Gerardo hospedou-se conosco lá, tinha ido fazer um recital, naquela tônica dele, e tudo mais, de repente ela dispara num choro dizendo que queria voltar a estudar. Eu comprei o segundo piano da vida dela. Ela passou a estudar na Universidade de Brasília, depois o marido dela foi trabalhar no Rio, ela foi também e estudou na Universidade também Escola Nacional de Música do Brasil, com um professor muito bom e depois, voltamos para aqui. Foi quando me aposentei e fomos morar em Brasília, passamos três anos lá, ela fez o curso de piano e licenciatura musical.

Ela já fez os dois, não é? SIMÕES: Como professor ela ensinou, foi aluna por uns quinze anos, com o contato

pessoal do dia a dia como professor e aluno, então ela naturalmente compreende o Gerardo muito mais que eu. Ela viveu o Gerardo estudando. Comigo não, era um colega. Ela poderá dizer alguma coisa interessante. Possivelmente até cheio de elogios.

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Entrevista com Heloisa Leite - 08/08/2005

Entrevista com Heloisa Leite, ex-aluna do professor Gazzi de Sá. Heloisa começa logo dizendo:

HELOISA: Eu quando estive aqui, não foi em trinta (30) não, ele já dava aula, naturalmente, aula a outras pessoas e lá em Patos, porque eu sou de Patos, me informaram, porque eu vivia tocando violino, de manhã, de tarde, de noite, não tinha hora para eu parar de tocar violino, então me informaram sobre ele, né? Então eu vim pra cá e estudei com ele.

Em que ano veio de Patos pra cá?

HELOISA: Você olhe pelo retrato. O professor Marinho, que foi aluno dele mais antigo e

eu aqui já no ano de... que eu vou descobrir pelo meu papel. Aqui é Severino Araújo pra vocês aqui presente, no Cabo Branco antigo, junto da Igreja do Rosário, que tinha um clube.

As voluntárias? Não?

HELOISA: Não, o Cabo branco.

O Cabo Branco era perto da Igreja do Rosário? HELOISA: Do Rosário, ali onde tem aquelas construções que estão as oficinas. Ali junto

da Igreja do Rosário, era justamente o clube, o Clube Cabo Branco. Aqui estou eu e essa minha amiga, era filha de um senhor que era, que tinha uma oficina de mosaicos, aqui em João Pessoa, então eu me hospedei na casa dela, porque meu pai trabalhava nisso também e levava mercadoria para Patos. E morava naquele prédio que ficava no começo da Rua Getúlio Vargas.

Sei, é aquele que fica perto do prédio do INSS. Cadê o Severino Araújo?

HELOISA: Ele está tocando.

Ah! Ele está tocando. Ah, sei. Foi na orquestra dele, a orquestra estava tocando.

HELOISA: É, foi sobre a orquestra dele. Aqui deve ter um quinto do pessoal que estava lá, foi o começo da execução dele, né? Como regente.

E vocês estavam vestidas assim, era o que? HELOISA: Era um baile muito importante.

Mas era alguma atividade da Escola de Música? HELOISA: Não, isso era Severino Araújo, particular.

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Então isso foi na década de 40?

HELOISA: Isso foi mais ou menos em 42, 43. Foi mais ou menos assim. Esse também

foi em 42, 43 foi, o professor Marinho. (A SUA NORA PERGUNTA QUANDO ELA VEIO DE PATOS). Ela responde: - Ah! Eu vim de Patos várias vezes. A primeira vez eu vim aqui pra começar a estudar com Gazzi de Sá...

Não lembra em que ano foi?

HELOISA: Não, eu vou dizer, foi em 1942, eu tinha me formado, foi no ano de 1943.

Sim, certo. HELOISA: Que eu já estava com o curso de professora e é por isso que eu vim estudar

aqui com o professor Gazzi, por informação do professor Marinho, que era regente da banda de música lá de Patos. Era um rapaz de 23 anos, era um rapaz muito novo. E então era ele que dava as informações, né? Da escola de música e uma amiga minha, Marister Fernandes, ela quem fazia os biscoitos, nas recepções do colégio que eu estudei, então ela disse: Heloisa, você está perdendo o seu tempo aqui, vá estudar com o professor Gazzi de Sá, porque eu estudava violino de manhã, de tarde e de noite, eu comia, não dormia, estudava violino direto, então ela disse: você está perdendo tempo aqui, vá embora onde está o professor Gazzi de Sá. Aí o professor Marinho arrochou do outro lado, vá estudar com Gazzi. Então eu arrumei a mala e vim embora pra cá, pra o professor Gazzi. Então, meu pai foi quem me trouxe, ainda, então foi em 42 ou 43, foi 43 como lhe disse. Ele me trouxe, eu me hospedei nesse prédio... (APONTA PARA UM LADO DA RUA)

Que tinha o telhado bem inclinado, né?

HELOISA: Foi, então não tinha mais ninguém, foi período de férias. Mas o colégio que

eu estudei, estava precisando de professor de música por lei, lei do Governo Federal, e os colégios de Patos estavam sem professor. Então eu tive que vir com urgência pegar as férias aqui, eu passei as férias aqui em João Pessoa, estudando, eu sozinha com o professor Gazzi de Sá.

Com Gazzi de Sá?

HELOISA: Era uma aluna especial, não tinha ninguém de férias, então ele exigia de mim,

muito rizonho, muito alegre, ele dizia: Santinha, traga água para Heloisa, que ela está dizendo “FLA”, não mais um LÁ de tanto cantar, aquele solfejo de Frederico do Nascimento, o Rodolfo, que era o solfejo nas sete claves: DÓ, SOL, RÉ, LÁ, MÍ, SÍ e um intermediário também que nós falamos, eu sei que todas as claves a gente tinha que solfejar, aí eu já não tinha mais saída, mas eu estudava naquela salinha lá de cima do prédio, sozinha, estudava todos os dias, eu vinha pra cá, era aqui nesse prédio velho, tambiá.

Que hoje é o TER, não é? Que reformaram, que hoje é o TER.

HELOISA: É, pois é. Então eu vinha diariamente de lá pra casa, era o Rodolfo do

Nascimento. E o professor Gazzi se entusiasmou comigo, se entusiasmou tanto que se esqueceu de uma coisa muito importante, que eu ia ensinar num colégio, peguei três turmas da

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escola normal, duas turmas do colégio ginásio e a outra turma colegial. Eu dava aula a esse povo o dia todo, quer dizer a minha preparação, feita por Gazzi de Sá, foi suficiente pra eu pegar um papel, se você me desse um papel com qualquer coisa, afinado tocando, e no papel eu mudava o tom, era só dizer: DÓ, SOL, RÉ, eu mudava o tom, transformava toda a nomenclatura, né? Das sete notas e os professores foram se entusiasmando comigo. Daí tinha um violino que era de irmã Rita, Americana lá de Patos, que não queria mais, aí me emprestou. Aí as freiras, todo mundo ali se entusiasmava com minha música, né? (DIZIAM) “Heloisa, vai pegar o violino de irmã Rita”. Pronto, foi aí que eu me fiz, no violino, comecei sem professor até o dia de hoje nunca tive um professor, tocava de manhã, de tarde e de noite. Tive uma grande amiga, ela pianista, tocava de ouvido, Dona Maria Rosalina, que o nome dela, deve merecer aqui na música do Estado da Paraíba, por sinal o filho dela, o mais novo, esteve aqui em casa, que eu fui professora dele pequenininho, assim com 10 anos.

Ele ainda vive? HELOISA: Não. Ele Tinha 10 anos de idade e eu tinha 17 anos, depois evaporou-se. Ela

se mudou daqui, foi pra Campina, foi quando Fernando Gomes levou ela pra Goiânia e lá se foi a família todinha e eu fiquei sozinha. Eu não me agüentei, não é? (FEZ UMA EXPRESSÃO DE TRISTEZA) Fui ver se conseguia acompanhá-la, mas não pude. Quando foi, eu com 80 e ele com 70, mas ele se lembrando, não se esquecia de mim. “Não me esqueço de Heloisa”, telefonava, telefonava, “Cadê Heloisa”, até que terminou me encontrando aqui. Foi uma hora de muito emoção para mim. Porque ele desenvolve no teclado o que você não imagina.

Como é o nome dele?

HELOISA: Cláudio Xavier.

Ele morava aqui em João Pessoa? HELOISA: Nada. Ele veio de Alagoas para me visitar, queria me ver por cima de pau e

pedra. (SORRIU) O Cláudio era o mais novo filho de Dona Maria Rosalina Xavier que tinha naquela época quinze filhos vivos. Quando ela foi para Campina teve mais filhos. Os filhos dela são pianistas de arrebentar qualquer auditório. Lá em Brasília, um chegou a ser senador, no Governo Color. Mas nesse período que Dona Rosalina se mudou de João Pessoa.

Ela foi aluna de Gazzi de Sá também?

HELOISA: Ela é aluna dela mesma. É como eu no meu violino, professora minha

mesmo. É exercício, é dedilhação que faz o musicista e percepção, não é? Então ela tinha uma percepção extraordinária, os filhos dela já nasciam dançando. Era a coisa mais engraçada, pequenininho quando dizia Dona Maria teve um menino, espere que daqui a um ano estava tudo dançando no meio da sala. A gente cantava na Igreja de Fátima, de Nossa. Sra. da Guia, a gente organizava programa, ela me chamava Bezerro, o marido dela me chamava Bezerro, porque era muito ruim de ir pra mesa na hora, tanto ela tocava direto, era ela lá e eu no violino, aí o marido dela dizia, “Chega Bezerro”, porque aí já matava ele. Aí a gente ia pra mesa almoçar. (SORRIU) E assim era de dia, de tarde, de noite, sem horário para cochilar. Nisso, ela diz pra mim, “Heloisa, você precisa voltar para estudar com Santinha, esposa do professor Gazzide Sá, que ela sabia violino”.

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E ela sabia violino também? HELOISA: Era professora de violino, mas dona de casa, sabe com é, a música fica pela

metade. Mas eu disse, não Dona Maria, o que ela sabe eu sei, é só dedilhar, é só botar os dedos no violino, a música eu já tinha preparado com o professor Gazzi, que ele era excelente no ritmo e no som. Ninguém sabia mais que ele, então ele me preparou muito bem.

Ele lhe preparou na parte teórica, não é? Não estudou piano com ele não?

HELOISA: Não, de piano ele dava aula aquela Soares de Oliveira e me obrigava a ficar

assistindo, então ela já estudava, tocava muitas músicas complicadas, muitas estrangeiras. Naquele tempo a música brasileira não tinha nenhum valor, não se usava, era só música da Europa, Italiana. Então a Wanda Soares de Oliveira executava com uma precisão muito grande e o professor Gazzi ali ao lado dela, e eu tive que ficar só escutando, e aquilo vai enchendo porque eu tinha muita percepção também, não é? Aquilo foi me enchendo os ouvidos e fui melhorando muito com aquelas aulas com Wanda Soares de Oliveira. Então a minha amiga Dona Maria Rosalina disse, “Heloisa, você vai, eu pago pra você, volte pra João Pessoa pra estudar. (SEGUE UMA PEQUENA FRASE QUE NÃO SE CONSEGUE OUVIR BEM NO GRAVADOR). Então foi o tempo que eu perdi o meu pai, eu me decidi, eu não sei mais viver em Patos sem música, eu tenho que ir embora daqui. Arrumei a mala, deixei minha mãe chorando, meus irmãos chorando, toquei pra aqui. Aqui eu ia continuar a estudar violino, mas fui requisitada logo para ensinar. O professor Gazzi disse: “ Heloisa, você vai ensinar, você tem uma letra muito bonita”, eu fazia as notas, os ritmos, eu só fazia com o giz em pé, então ele admirava muito a minha escrita, né? musical. E disse, “Heloisa, você deve estudar”. Chega Gerardo Parente, professsor de piano, grande pianista que veio do Ceará, ele veio de Fortaleza. Então a gente já se reunia na casa dele.

Mas nessa época, já era Luzia Simões, quando Gerardo veio? HELOISA: Não, já era Luzia Simões.

Já era com Luzia,né? HELOISA: Então começou com Luzia Simões e a Fundação, acho que se deu em 1940,

mas eu não estava aqui, né?

Não, a criação da Escola de Música Anthenor Navarro foi em fevereiro de 1931. HELOISA: Sim, mas ali foi somente Luzia Simões, professor Augusto Simões, que o

professor Gazzi achava muita graça. Augusto Simões? Cá, cá, cá... ria. Porque certamente Augusto ainda era vai lá, vem cá, não sei. Naquele tempo as coisas eram muito vagas, mas foi Augusto Simões, que quando eu cheguei era o Secretário da Educação e o Diretor do Departamento de Educação. A minha amiga Maria Rosalina, que eles foram visitá-la, disse, essa é uma candidata para fazer parte da Escola de Música Anthenor Navarro, eles olharam assim pra mim, eu era garotinha de meia curta e ..., não deram nem valor, não deram nem resposta. Aí eu disse, “vou ao professor Gazzi, que estou acostumada, eu vou a ele”, fiz a mala de Campina, toquei pra aqui. Professor Gazzi me deu um abraço, “ Você aqui Heloisa, você espera aí”, pegou o telefone e telefonou para o Secretário da Educação e disse, “ aqui

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tem mais uma aluna para a Escola de Música”, aí ele disse que não podia porque já encerrara a matrícula, não tem mais.

Mas era para ser professora? ou...

(HELOISA CONTINUA)

HELOISA: Mas ele disse, mas essa menina tem que ficar aqui, ela é uma pessoa que vai nos ajudar ao curso docente, a turma docente. Aí passou, tá bom. Quando eu fui treinar em Educação, quem recebeu foi o Departamento de... foi o Diretor do Depto. De Educação, era bonitão. Quando eu cheguei assim e disse: “ Pessoal, eu vim indicada por Gazzi de Sá”. Aí ele olhou pra mim e disse: “Você mexe com todo mundo, né menina”? É, eu posso, né? Se eu não pudesse, não estava aqui. Aí ele riu e disse: “Ta certo, ta aí o seu contrato”. Me deu em mãos e disse, vá levar a Gazzi. Aí cheguei para o professor Gazzi e ele disse: “ta bem, só que ele botou você como aluna”, mas eu era uma aluna, que quando cheguei na classe, podia botar tudinho pra estudar comigo que eu dava conta de tudinho, assim, eu tinha muita experiência, né? Eu tinha muita experiência, vinha ensinando, entrei em nível médio em três turmas. A música em Patos, fui eu que ensinei o Hino Nacional, mas com toda precisão, até aquele Si Bemol para o Si Natural que os brasileiros não cantavam naquela época, nem o futebol cantava o Hino Nacional. Então vem o Villa-Lobos, o professor Gazzi disse: “Heloisa, você fale com sua família que vou lhe levar para o Rio de Janeiro. Eu disse: “Não, eu não vou falar com minha mãe não, se não ela me prende, vou daqui mesmo” (AO COMENTAR ISTO SORRIMOS)... aí me juntei com outra colega, Olga Ribeiro Silva, filha de Pacheco Lins Silva e eu convidei ela.

Olga Ribeiro?

HELOISA: É.

Liguei pra ela, descobri. HELOISA: Mas ela está aqui?

Não. Ela está em Itabuna. HELOISA: Ela não lhe deu nenhuma informação ainda?

Eu liguei pra ela e conversei com ela por telefone, mas muito pouco, porque é longe também, não tem muito contato. Mas continue.

HELOISA: Pois sim, então eu convidei a Olga. Eu disse: “Olga, o professor Gazzi

convidou a mim e a você”. Ela disse: “Não, eu tô com medo, a gente ir para o Rio de Janeiro. Mas que inocência, no Rio de Janeiro. Eu disse: “Tem nada haver com isso menina, vamos embora pra frente”.

Que era pra fazer o Conservatório de Canto Orfeônico? Era?

HELOISA: Aqui já estava feito.

Eu sei, mas era pra fazer lá? Fazer no Rio, né?

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HELOISA: Aí vamos, vamos, vamos indo, aí ela se animou e disse: “Vamos embora.

Saiu nós duas daqui, duas inocentes, mas mesmo assim foi uma época muito feliz, muito boa. Isso já foi em 53 mais ou menos?

HELOISA: Foi, eu trabalhava na Chevrolet, tinha uma raiva porque na Chevrolet era uma

coisa completamente diferente, não é? Escritório. Aí quando a gente chegou lá no Rio de Janeiro... Sim, mas antes disso ele veio dar aula aqui em João Pessoa, antes de 53, por aí assim. A gente era essa turma de gente que gosta de música, mas gosta para ouvir, mas saber, penetrar. Ninguém sabia, só Isabel Burity, que era pianista e é irmã de Burity, né?

Eu sei, de Tarcísio Burity.

HELOISA: Ela tocava, Isabel sabia música, tinha outro rapaz da polícia que também

tocava na banda da polícia. Tinha outros rapazes que tocavam na banda da polícia, esse pessoal sabia, mas o mulheril, ninguém sabia.

E você era uma das que sabia?

HELOISA: Ah! Eu sabia, é claro. Aluno do professor Gazzi, olhe, pisava duro no chão.

Ele gostava porque além de saber música, eu tinha uma letra muito bonita. Então quando eu vim pra cá, mais Olga, que a gente ficou assistindo as aulas aqui do professor Gazzi, veio ele, o professor Asdrúbal, que era da técnica vocal, prof...(FICA PENSANDO NOS NOMES DOS OUTROS PROFESSORES)

Ademar Nóbrega?

HELOISA: Ademar Nóbrega foi só na inauguração e desapareceu, não fez mais nada

não.

Sei. HELOISA: Não fez mais parte de nada não. Então, quando vi o professor Muricy,

Asdrúbal foi o que veio, Tiberê, a prof. de teoria musical que ninguém quis vir e eu fiquei assumindo, a de polirritmia que era outra professora que tem o retrato delas duas aí, e a professora Mindinha, que era a esposa do maestro Villa-Lobos, que fazia percepção dos intervalos isolados, a nossa prova era dura. NESSE MOMENTO HELOISA CANTA ALGUNS INTERVALOS, DIZENDO: “Isso é uma segunda maior, isso é uma segunda menor”. Ah! Não era isso não, foram sete professores.

Diga aí os nomes, depois eu quero essa relação, viu?

HELOISA: Eram uns vinte professores.

Que vieram pra preparar vocês ou fazer a prova? HELOISA: Não. Aqui só veio o prof. Gazzi, prof Asdrúbal. Vieram aqui os dois, mas

acontece que...

E esses eram os professores de lá do Canto Orfeônico do Rio de Janeiro?

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HELOISA: Era, então o professor Gazzi, numa das viagens que todo mês ele tinha que

vir pra cá, todo mês, ele e o professor Asdrúbal. Porque o prof. Asdrúbal tinha muitos alunos de técnica vocal. A minha aula de violino foi eu mesmo. Mas a mulher do prof. Gazzi, que estava no Rio de Janeiro, né? Quando ela saiu daqui, eu disse: “Não, o que ela ensina é no mínimo o início, isso eu já sei”. Quem toca de manhã, de tarde e de noite não vai dizer que não sabe de nada, tinha que saber, tinha que saber. E o meu livro primo, dado pelo professor Gazzi, eu nunca perdi, aquele livro se você encontrar, acho que é minha filha que tem, o catálogo de Rodolfo do Nascimento, com todas as sete claves, quem é que faz isso? Nem naquele tempo não se fazia, só se fosse aluno de professor Gazzi, porque era logo o que ele mandava a gente fazer, as sete claves. Se tivesse no tom de LÁ, ele dizia “Mude pra DÓ” e a gente imediatamente fazia.

Disse que ele tinha uma metodologia fantástica, não é?

HELOISA: Vou chegar lá, vou chegar lá...

Diga. HELOISA: Ele só não me deu, justamente, o que eu não gostei, foi ele não ter me dado

nenhuma cançãozinha pra trabalhar no colégio. Quando eu cheguei no colégio eu não sabia ensinar nenhuma canção, a única que eu ensinei foi: (ELA CANTAROLA) “Eram 4 pretinhos, todos 4 da guiné, nam nam nam nam, dançando Sericoté”. Aí todo mundo deu risada, eu era menina, com 17, maião e laço no cabelo. As freiras acharam graça. PERDE-SE UM POUCO DA CONVERSA PORQUE A FITA ACABOU O LADO E NÃO PERCEBÍ IMEDIATAMENTE.

Esse acidente que o professor Gazzi sofreu, para o Rio de Janeiro, foi mais ou menos em que ano? Já tinha feito esse concurso de canto orfeônico no Rio?

HELOISA: Já funcionava lá.

Não, os professores. HELOISA: Você quer os nomes deles?

Não. A senhora estava lá no Rio fazendo o curso de canto orfeônico? No Rio? HELOISA: Estava. Fiz dois anos lá.

Na época desse acidente? Estava lá ou já estava aqui? HELOISA: Olhe, quando houve o acidente ele levou a gente. Levou a gente. Olhe

quantas ele levou, levou Luzia Simões, Lúcia Soares - que quando chegou aqui em João Pessoa, adoeceu de câncer e morreu em poucos meses, era professora de som. Jória Toscano que depois foi pra França, fez o curso também. Essas são as que ele levou, né? Luzia, Lúcia Soares, Jória Toscano, Olga Ribeiro, Rejane Tavares e eu. Só fomos nós.

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E foi em 53. HELOISA: Foi. A gente pegou um avião aqui e tocamos para o Rio de Janeiro.

Vocês foram na companhia dele? HELOISA: Não, a gente foi sozinha.

Não, não é? Certo. HELOISA: No maior medo. (SORRIU) Olga tinha um medo que era uma coisa.

(CONTINUOU SORRINDO) Ela dizia: “ Não Heloisa...”. Aí eu dizia: “ Não o que, eu não quero saber. Tem que ir. Não é coisa do outro mundo, todo mundo vai. Porque a gente não vai?”. A gente tocou e foi. Não avisei em casa, minha mãe não sabia, minha mãe era bem gordona, ficou com um babado deste tamanho aqui (MOSTRANDO NO BRAÇO), a apreensão né? Mas fomos, então lá quando a gente entrou na escola, já existia esses professores, na escola de música do Rio de Janeiro.

No conservatório de Canto Orfeônico?

HELOISA: Do Rio de Janeiro.

Do Rio de Janeiro. HELOISA: Sim, o professor Asdrúbal de técnica vocal, a ...(NÃO ENTENDI O NOME)

de Lima, o professor de História da Música, o professor Muricy, era uma capacidade. Ele escrevia nos jornais, ele falava de toda música do mundo inteiro, era um homem excepcional na história da música.

Ele escreveu uma crítica sobre o professor Gerardo muito boa.

HELOISA: Ah! O professor Gerardo era só pianista.

Quando eu estava pesquisando... HELOISA: Mas aqui são outras coisas, outras matérias. Regência, o professor José Vieira

Brandão e o irmão dele, que eu ia assistir as aulas de regência, mas eu detalhava muito. TATI, TATI, TATI, TATAI, então ele dizia: “A senhora está detalhando muito, não precisa disso não”. Mas eu (PEQUENA PAUSA) não sei, fiz, de qualquer maneira. Era o José Vieira Brandão e o irmão dele. Professor Iberê a gente chamava de quarto de fusa. Ele era bem magrinho e muito alérgico. Chegava na porta da escola fumando e ficava esperando que alguma aluna abrisse a porta. Porque ele não conseguia nem abrir a porta da escola. Aí a turma sussurrava (CONTA ESSA PASSAGEM SORRINDO). Aquele jeito de aluno é uma droga, não é? Tiberê, era o professor do TU, TU, TU, TU (E IMEDIATAMENTE ELA FALA EM TOM DE AUTORIDADE, IMITANDO O PROFESSOR), “venha cá” (FAZ UMA PEQUENA PAUSA E CONTINUA) aí a gente se levantava e tinha que escrever TU, TU TU (GESTICULANDO QUE ESCREVIA NO QUADRO, O RÍTMO DO TU,TU,TU QUE ELE DIZIA), e assim ele ia chamando os alunos seguidamente para escrever o TU, TU, TU.(E ELA FAZ OUTRO RÍTMO COM TU). TU, TU, TU, TUUU, TU TU, venha você, todos passionais né? Mas menina era muito engraçado (SORRIMOS).

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Como era o nome dele?

HELOISA: Era Iberê.

E tem Iberê e Tiberê? HELOISA: Tiberê era o professor quarto de fusa.

Eram irmãos? HELOISA: Não. Um era Tiberê e o outro Iberê.

Parece irmão. Tiberê e Iberê. HELOISA: Não eram não (CONTINUOU SORRINDO). O coitado chegava lá na porta.

Aí tinha uma loura lá, muito engraçada. Uma menina nova, uma moça. Ela dizia: “Já sei que está na aula de eu abrir aquela porta”. Ela era muito engraçada (SORRIMOS).

E ele era professor de que?

HELOISA: Era de folclore. Virge! Junto a ele veio uma pessoa de fora para colaborar as

aulas de folclore, mas eu mesma não me interessei. O nível foi alto demais e ele era muito profundo e folclore naquela época era muito difícil e outra coisa que ele fez também, fez a educação musical. Deu aulas de educação musical e informação a música eletrônica que foi no início da construção de órgãos, teclados, então ele chamou dois rapazes de fora e uma moça, para mostrar o que era o teclado eletrônico, que foi muito bom pra turma toda. Nessa época ainda não existia, ainda não existia televisão. Ele estava começando a construir, a fazer a televisão. Com uns meses depois, quando eles chegaram a fazer a televisão, a imagem era muito assim, trêmula, indecisa, muito misturada e só veio a ficar boa, dois anos depois quando a gente estava pra vir embora, foi quando eles começaram a vivificar a imagem na televisão. Tudo isso foi o começo e que eles faziam lá pra gente ver na escola. É esse o professor de educação musical, (MOSTRANDO UMA FOTO) não me lembro do nome dele não. A professora Mindinha era esposa do maestro Villa-Lobos, ela dava aula, exibindo o luxo dela, que ela trazia as coisas lá dos Estados Unidos, né? Ainda hoje eu tenho guardado aqui em casa, nunca lavei aquela saia que ela trouxe dos Estados Unidos. Ela dava aula lá em cima do palco, os professores davam aula lá em cima do palco, né? Aí ela levantava o vestido pra mostrar aquela saia que ela tinha trazido dos Estados Unidos, (SORRIMOS) era professora de percepção e intervalos isolados. Ela era especial. Galega, de quinze em quinze dias ela pintava os cabelos, não deixava passar um dia, era muito bem penteada, muito bem vestida e muito exibicionista, mas era uma excelente professora de percepção musical. A gente quando fazia prova de percepção musical, não é de dizer assim: nam, nam (CANTOU INTERVALOS MUSICAIS), a turma ficava todinha pertinho dela só assim (PRESTANDO ATENÇÃO), e ela: “Ah! Ah! Ah! Ah!”, zombando da turma (SORRIMOS), ela ria mais para se exibir. Aí tem mais outras duas que tem os retratos delas aqui, mas eu não tenho o nome delas. Percepção de intervalos isolados, era tudo isolado, ela podia dar uma 6ª maior e no fim uma 3ª menor e a gente tinha que dar essa aparência menor. O de folclore, de teoria musical, de polirritmia, foi a outra professora que tinha o retrato dela aqui, a Mindinha, o professor que veio de fora, dá a informação da música eletrônica e por fim o nosso guerreiro Gazzi de Sá que era diretor Gazzi Galvão de Sá. Era a matéria mais difícil, vinha regentes de São Paulo,

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famosos, para assistir essas aulas, aí ele me pegou na garapa. Eu não sei nem uma coisa nem outra (DEU UMA GARGALHADA), porque era o seguinte, ele passava a Sarabanda, eu nunca tinha estudado as músicas dos outros séculos assim, né? Então eu estava muito por fora, mas ele pegou pra fazer raiva a mim. Sarabanda, o que era que ele fazia, botava a sarabanda lá pra tocar e a gente aqui riscava, os acentos tônicos, os duplos, as metades. Aquilo a gente tinha que fazer ligeiro, que a música ia passando, a música não para, não é? Então era tônica, eu sei lá...

Vocês tinham a partitura, olhando a partitura e a música tocando.

HELOISA: Que tinha partitura, coisa nenhuma, era de ouvido aquilo.

Ia escrevendo as notas não? era só a acentuação, né? HELOISA: Não era nota, não era nada.

Só acentuação?

HELOISA: Era acento rítmico, acento tônico, incisos, meia frases, frases, tema, tudo isso,

mas em músicas do século XVI. Eu não tinha nenhum estudo disso, eu tinha alunas especiais, alunas não, colegas. Tinha a Irací, que fazia turnês em todo o Brasil, tinham outras lá muito importantes, tinha a esposa daquele apresentador que tirava os óculos assim, como era o nome dele?

Clécio Cavalcante.

HELOISA: Pronto! Cavalcante, a mulher dele era aluna também. Fazia parte do curso e

ela conversava muito, tinha muita intimidade com os professores, dada a importância dela, né? Naquela época o Flávio Cavalcante estava começando as apresentações dele.

Era Flávio Cavalcante ou Clécio Cavalcante.

HELOISA: Era Flávio Cavalcante.

Ah! Ta... HELOISA: Que tinha até aquele que toca órgão no Faustão.

Caçulinha. HELOISA: Caçulinha, naquela época ainda não sabia, era ele direto no acordeon de 120

baixos, bem pesado. Caçulinha, ele quem tocava. Ele tocava, tocava, dava sinal e dava início a orquestra também. A gente assistia, a gente era obrigado a assistir o teatro a qualquer apresentação que houvesse, não era drama, era música, tudo que houvesse de música no teatro do Rio de Janeiro a gente morava em frente ao Palácio do Catete, de lá para o teatro, a gente ia a pé, era pertinho. Eu e Olga saiamos a meia-noite pra lá, diariamente, existia festas lá no teatro e era o único local que a gente assistia era lá no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Eu e Olga, só nos duas, as outras, uma morava lá naquela cidade que é do outro lado.

Niterói?

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HELOISA: Niterói. Tinha gente do Piauí, gente do Maranhão, gente do amazonas, gente

do Brasil inteiro. Entendeu? Que formou aquelas aulas que o professor Gazzi organizou. Ele era o presidente. Era. Ele organizou, o maestro só fazia, o livro do maestro era maior do que isso, era desse tamanho o livro do maestro e tinha uma estante especial só pra ele. Tinha uma sala só pra ele, que chegava a hora dele...

De Gazzi.

HELOISA: Não.

Não, do maestro Villa-Lobos. HELOISA: Maestro Villa-Lobos, quando ele chegava para dar as aulas de piano, de

como ensinar piano com vida, pra ele era com vida ele estava morto. Um dia eu fui dá essa aula aqui no Colégio das Neves, aí desmantelei essa mão, agora porque já mudou, eu já estou ficando mais magrinha, ela já mudou, mas o osso na minha mão saltou, porque eu fui imitar Villa-Lobos, porque Villa-Lobos quando dava com a mão na mesa era com uma força, chega a gente tremia. Nisso, não somente iam os alunos do 1º e 2º ano para a preparação, como ia musicistas de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina. O salão ficava assim (FAZ UM GESTO DE LOTADO), então o maestro organizava uma música de improviso, para todo aquele pessoal cantar, ele fazia o Manossolfa, eu não consigo.

Dó, ré,mi... (FIZ AS NOTAS COM OS GESTOS DAS MÃOS)

HELOISA: Eu fui dar aula de manossolfa, mas não tive condição, mas ele fazia aquilo

com uma maestria, com uma rapidez, que era até... (FAZ UMA PAUSA) Então ele dava a aula e pegava as ondas com os passos cantando, os baixos, os barítonos, os tenores e a gente também. Soprano, meio-soprano, contralto, eu era contralto e soprano cada uma voz lindíssima, de encantar. Os homens também tinham cada voz, cada tenor, cada coisa linda. Então ele fazia o manossolfa, mas destacava, porque quando ele pára uma manossolfa na turma, ele para, né? E fica assim subindo, o povo todinho cantando só aquelas notas que ele dava, de cada naipe, ficava subindo, subindo, aí ele indicava o tenor, e o tenor cantava o que ele mandava na hora. Aquilo foi uma coisa excepcional. Também tinham os sopranos, suspendia o tenor, né? Suspendia o tenor e a turma toda suspensa e o tenor sozinho, era uma coisa linda. Então ele chamava o soprano, menina, era de arrepiar cabelo. Ô homem medonho. Ele tinha conseguido o 5º lugar na música erudita nos Estados Unidos, foi o 5º lugar, o maior maestro de música erudita no mundo, foi ele. Então como ele estava doente de câncer no intestino, ele tinha uma saída pela lateral, né? Então ele não podia mais ficar lá, os médicos eram de lá, tudinho, mas era incurável naquela época. Então ele veio embora para o Brasil, mas assim mesmo ele dava as aulas. Então aquele livro grande, quando ele entrava no pré-auditório, aquele livro era aberto, pra toda vez que ele chegasse com inspiração, ele escrevia ali, todos os instrumentos, quando fosse os clarinetes, requintas, os tambores, os instrumentos de cordas. Quando ele queria só os violinos, ele fazia aquilo tudinho, assim, na maior tranqüilidade, tocando lá e ele aqui escrevendo, agora aquilo, quando ele acabava, a gente ia olhar, não escrevia toda não, a peça toda não....(SEGUE FRASE NÃO ENTENDIDA)... umas não, então quando ele saia a gente ia olhar, todos os instrumentos, assim, de cada linha ele de ouvido fazia um pedacinho, por exemplo, um membro de frase, aí aqui nos baixos ele fazia outra coisa.

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Ele ia criando na hora. HELOISA: Ele já trazia no ouvido, né? Naturalmente já tinha estudado tudo em casa, né?

Mas lá ele transcrevia, e a gente ia olhar tudo de boca aberta, “como era que um homem fazia uma coisa daquela”. Aquele homem, menina, foi um homem feito, ele já nasceu com música, porque a 1ª música que ele fez, foi quando ele começou a tocar violão, e no violão ele passou muito tempo. Ele tocava muito nos bares, ele era...

Boêmio?

HELOISA: Boêmio, boêmio, mas era um boêmio decente, porque ele só se dedicava à

música. Então ele passou do violão para o teclado, né? Então um dia chegou um aluno da França, na hora que estava todo mundo lá, da altura disso aqui(MOSTRA EM GESTO QUE O ALUNO ERA MUITO ALTO), cheio de gente, do Brasil inteiro, professores, alunos, gente de fora, assistentes, tudo ali, não é? Então veio esse rapaz, um rapaz ruivo, aí ele conversou. Villa-Lobos conversou com ele e disse, pode sentar, toque. Já vinha fazer a apresentação no Teatro Municipal, esse rapaz. Aí tocou a música todinha. Aí Villa-Lobos se levantou e disse: Ta muito bom meu filho, sua apresentação tá ótima mas volte pra estudar que é assim, viu? Aí ele se levantou, veio para o piano, ele sentou os pulsos no piano e disse, olhe, esse pedaço é assim: (HELOISA TENTA REPRODUZIR NA VOZ O SOM FORTE E RÁPIDO QUE ELE FEZ: PÔ, PÔ, PÔ, ETC.) tudo no murro menina, parecia uma mentira, parecia uma trovoada. É essa a música que você está fazendo. Vamos ver se você faz isso.

E era uma música dele, de Villa-Lobos?

HELOISA: Não, o menino tava vindo da França, francês, lá tocava, apresentava música

francesa no Brasil, naquele tempo era meio selvagem né? O povo naquele tempo não copiava a música do Brasil não. Mas o pobre do rapaz ficou meio encabulado. Mas ele (Villa-Lobos) disse, não, mas pode tocar, é assim mesmo, lá você faça o que você quiser, a música é essa, música não é só aquela sensibilidade não, a música é som, de vir de onde vier toque como tocar, é assim. Aí o rapaz foi indo, ele disse, está bom, está ótimo, pode levar assim mesmo que esta bom!

Todo mundo vendo? HELOISA: Todo mundo vendo. O rapaz enfrentou né? Já tinha vindo de fora né?

(PEQUENA PAUSA E CONTINUOU). Depois foi distribuindo para todos nós uma música que eu deveria ter comprado, aquela música e eu não comprei. Como era o nome? Honomatopaica (enomatopaica) (emenotopaica), esta num disco desse tamanho assim, grande, ele fez esse disco justamente para as sinfonias e as outras músicas que ele compunha, né? Aí ele ensaiou aquela música, eu estava para me operar de apêndice, mas eu disse, eu vou, eu vou. Disseram: Heloisa, você vai? Não, não vai estourar não, eu vou, eu morava pertinho do teatro. À tarde fomos, menina, esse povo aplaudiu de pé, o povo gritava, ô coisa linda que ele fez. Eu ainda tentei comprar, Maria José, o marido dela foi para o Rio Grande do Sul, para uma reunião dos surdos, compra essa música lá, era Emenomatopaica, que era a apresentação da 1ª missa aqui no Brasil, com a presença dos índios, tocando e cantando do jeito deles, então, a trovejada, a chuva, com aquelas lâminas de metal deste tamanho assim (IMITOU O

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SOM), aí tapava-se os ouvidos era uma coisa, a música muito bonita, pronto! Foi aí a última música que eu vi do maestro.

Ele regeu?

HELOISA: Não, ele tinha um assistente, ele botou outro professor pra tocar.

Pra reger. HELOISA: Pra reger, é. E chegou outro regente lá, francês, por conta da apresentação

que preparou-se o Conservatório de Canto Orfeônico, preparou-se o Conservatório de Música, prepararam uma escola de música, da primeira mulher dele também. Esse povo todinho se reuniu, cada um ensaiou nos seus locais né? Aí ele levou pra lá, pra cantar e quem foi reger foi esse francês, pequenininho, magrinho, mas esse homem pulava tanto, que era a coisa mais engraçada desse mundo, a regência dele, não era simpática não, era assim, (FEZ OS GESTOS) ele fazia isso né? Não tem aquilo 1, 2, 3, 4, de jeito nenhum, isso já naquela época, lá, já não regia mais, lá ninguém regia marcando compasso não, você dava a indicação do instrumento, grupo de instrumento, levantava o grupo de cá, suspendia o de lá, suspendia o de cá, mandava a cantora cantar, agora, isso é pulando, imagine como era que ele fazia. Ele era pequenininho, magrinho, aí ele fazia assim...

(NESTE MOMENTO HELOISA SE LEVANTA E IMITA A REGÊNCIA DESSE MAESTRO QUE ELA ESTÁ MENCIONANDO, EU (A ENTREVISTADORA) COMEÇO A SORRIR COM A IMITAÇÃO DELA E A SEGUIR HELOISA CONTINUA: HELOISA: Mas menina, ele dava cada pulo, a gente cantava rindo assim... mas era assim, gente de três escolas.

Nessa música, você estava cantando? HELOISA: Ah, toda gente, toda gente era o coral das escolas de música, todos três eram

corais.

(HELOISA FAZ UMA PEQUENA PAUSA E VOLTA AO ASSUNTO SOBRE OS PROFESSORES DO CONSERVATÓRIO).

HELOISA: Aí por fim, o professor Gazzi foi excelente, o professor Gazzi botou pra trás aqueles musicistas de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, aquele povo todinho, que veio rala, da Argentina, veio tudinho que era gente especial, né? Assistir as aulas de Apreciação Musical.

Do professor Gazzi?

HELOISA: Do professor Gazzi. “-Heloisa”, (o professor Gazzi chamou), eu me levantei.

Sarabanda, pra você. Eu disse: Sei não professor. O professor disse: “-E agora, o inciso tal? E o tema?” E eu não sabia. Menina, eu fiquei tal encabulada.

Na frente de todo mundo, né?

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HELOISA: Tudinho, minha filha, com aqueles professores, com aquele povo, com aqueles musicistas, eu quase que me enfiei dentro da calça... (CONTA SORRINDO).Ele ao invés de chamar as professoras pianistas, porque as pianistas naquela época tocavam muito essas músicas do século XVI, né? E eu nunca toquei. E eu ia saber nada daquilo? Eu ia quase perdendo o curso por causa disso, ia levar pau mesmo.

Aí o que foi que ele fez? Passou pra outro.

HELOISA: O regente de lá de São Paulo, começou a conversar com ele, e disse, mas

Gazzi isso é complicado demais. É, mas é muito interessante. Aí o professor Gazzi disse: Mas essa é a maneira de você cantar as músicas do século XVI e qualquer outra música que você queira, que vai pelos acentos, todos os acentos, dos incisos e começou a explicar, mas aquilo era uma percepção excepcional, era somente aquele povo que tocava algumas músicas ou então os regentes de música extraordinário que vive ouvindo música todo dia, né? Tocando na regência, aí, só chamou a mim mesmo. Eu acho que se ele tivesse chamado das minhas colegas ninguém sabia também não... (SORRIU) (SORRIMOS). Eu já ia ficando no pau. Quer dizer, reprovada.

Logo com Gazzi. HELOISA: Logo com ele... mas ele dispensou porque era uma coisa que eu não ia

ensinar aqui, aqui não tinha isso. Aí ele... me salvou.

E as pessoas? Ele era considerado um dos melhores professores? HELOISA: Eu não estou lhe dizendo que foi a matéria especial que entregaram a ele,

essa de percepção, como é?

Apreciação musical. HELOISA: Apreciação musical, isso era só com ele, mais ninguém, não tinha professor,

regente de canto, nenhum que fizesse o que ele fez lá.

Pronto. HELOISA: Aí encerrou.

Era o melhor que tinha, né? HELOISA: Era o melhor que tinha. Ele era um dos diretores do Conservatório Nacional

de Canto Orfeônico do Rio de Janeiro. Quando a gente veio para cá, foi com o diploma, não foi? Dado por ele, o diploma do curso dado pelo diretor, de Especialização de Canto Orfeônico, mas o curso, ele o professor Gazzi achou que a turma daqui, pelo menos aquelas oito pessoas, a gente estava especializada, preparada, muito bem preparada. Eu que já tinha começado com o solfejo de Rodolfo Nascimento, aquilo eu tinha que dar decorado, decorado não, quer dizer tem que dar passando de tom pra tom de escala, de escala não, de clave pra clave que era uma coisa que não se existia mais. Estudar as claves é diferente de estudar as tonalidades. Você está em Dó maior dá dois sustenidos, é Ré maior, isso é muito fácil, qualquer musicista sabe. Ele me preparou com clave, estava na clave de Sol, passe para clave de Fá, aí a gente mudava o nome de todas as notas, mudava tudinho. Então eu já tinha ido

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para o Rio de Janeiro preparada, mas quando chegou na apreciação musical, eu desapreciei... (DEU UMA GARGALHADA). Fiquei na mal, foi horrível! A lá... Eu vim pra aqui para namorar, eu não vim pra cá para tocar musica mais não. Eu vou embora. Aí Olga achava graça e dizia, tem que ficar. (OLHANDO UM ÁLBUM DE FOTOGRAFIA, ELA PROCURA UMA FOTO) Achei. Aqui tem um quinto da turma que se formou no Rio, olha aqui.

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Entrevista com Débora Soares de Araújo - 30/06/2005.

Entrevista com Débora Soares de Araújo ex-aluna do professor Gazzi de Sá, fez o Curso de Canto Orfeônico. Então é sobre isto que vim conversar.

Conheceu Gazzi de Sá em que ano mais ou menos, como aconteceu? DÉBORA: Minha querida eu conheci o professor Gazzi de Sá mais ou menos em 1932,

33 porque eu fui aluna da Escola Normal, primeiro, sabe, eu tenho curso normal, o curso de professora, de pedagogia, né? Pois bem, então ele foi nosso professor de música na Escola e Dona Santinha, a esposa dele, ensinava a teoria e ele sempre procurava ensinar o Canto Orfeônico, a parte dela era teoria e a dele quase sempre a prática. Então, na Escola Normal, ele sentiu em mim assim uma tendência musical muito forte, que ele ficou assim insistindo comigo, porque eu era pobre, meu pai tinha morrido a pouco tempo e minha mãe tinha ficado cheia de filhos pequenos sem quase recursos para educa-los e então ele já tinha a escola de música Antenor Navarro dele, que era uma escola particular e ele então me convidou para participar da escola. E então eu disse: professor eu não tenho condição de ir para essa escola porque era uma escola de elite, então eu não podia absolutamente ter condições de ir para essa escola porque se pagava uma mensalidade que minha mãe não tinha condição de pagar. Ele foi tão generoso comigo que disse: não, você não vai pagar, porque sua tendência musical é tão grande, eu senti em você uma maneira tão forte de continuar a estudar, que eu faço questão de lhe ensinar gratuitamente. Ai eu fui para a Escola de Música Antenor Navarro do professor Gazzi, estudar partícula junto com a elite de João Pessoa. Era Orlanda de Azevedo, Dores Guimarães, Elza Cunha, que foram minhas colegas na Escola de Música. Aí eu comecei arranhando piano que Luzia nessa época, Luzia Simões ela inda era aluna, ela e Augusto, o irmão dela.

E era mais ou menos em que ano? mais ou menos em 30?

DÉBORA: Não! Foi depois de 30, foi 35, 36, porque eu comecei a estudar com ele na escola normal em 33 até 35, porque eu terminei o curso normal em 35. Não em 35 não, em 38 eu terminei, eu comecei em 34 e terminei em 38, porque eram quatro anos, mas ali eu já estava freqüentando a escola dele. Que nós tínhamos aula particular com ele, aulas práticas, quer dizer, aulas teóricas com Dona Santinha, ali na General Osório onde eles residiam, na parte de baixo, não é na parte de cima, depois que passa o viaduto, era no Cartório de Damásio Franca, na primeira esquina depois da Eletropeças que hoje parece que é uma casa comercial.

Quer dizer, lembra que ele colocou a escola dele em 29? Mas já era na casa da General Osório?

DÉBORA: Já era na General Osório.

Então quer dizer que ele morava na rua General Osório e não na rua Odon Bezerra?

DÉBORA: Não, ele morava na General Osório; na General Osório ... Quase nos fundos do Palácio do Governo.

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Depois ele foi para a Odon Bezerra?

DÉBORA: É, justamente.

Quer dizer que a primeira residência onde ele colocou a Escola foi na rua General Osório?

DÉBORA: É foi. Depois ele passou a escola para a Escola de Música que ficou nos

fundos do grupo escolar Thomas Mindelo, que hoje é o 18 andares. Mas antes era pra cá, a Escola de Música

. Ficava do lado do Palácio?

DÉBORA: Não, ficava do outro lado, mas era antes nos fundos do Palácio.

Não sabe o número da casa?

DÉBORA: Não, não sei. Eu me lembro da casa que tinha um portãozinho baixo, nós entrávamos tinha um terraçozinho ai nós tínhamos aula na sala de jantar da casa dele. E ali Dona Santinha, além da teoria que ela nos ensinava de música, ela também nos ensinava educação artística que hoje é o tal balé...(UMA PEQUENA PAUSA) Então nós tínhamos também a aula de educação artística musicada, que tínhamos dança, que tínhamos dança, que eu também participei dessas danças, (SORRISO), com, aquela, como era o nome meu Deus? (PENSA) que era da família Nóbrega, sobrinha de Fernando Nóbrega que era deputado Federal, como era o nome dela?... ele ainda hoje parece que existe. Pois bem. Tinha uma filha de um arquiteto, Arco Verde, que era Ana Arco Verde, essa menina dançava bem que era uma coisa, né? Agora as nossas apresentações, eu ainda fiz uma apresentação, naquele tempo era Cine Teatro Rex.

Eu sei onde é, agora é o HSBC, um banco. DÉBORA: Onde hoje é um banco. É ali na esquina da General Osório; da General Osório

não, da Duque de Caxias com a Peregrino de Carvalho que é de fronte a uma igreja, né? Pois bem, ai nós no apresentávamos ali. Era o Cine Teatro Rex, invés de nos apresentarmos no Teatro Santa Rosa que já existia, mas raramente nós nos apresentávamos no Teatro Santa Rosa, quase sempre as nossas apresentações eram no Cine Teatro Rex, tanto do coral quanto da dança de Dona Santinha. Era Lúcia Arco Verde, era essa menina, essa Nóbrega que eu esqueci o nome dela, que ela ainda hoje tem parente dela ai. Eu me lembro de nós quatro eu Lúcia Arco Verde e mais duas, que nós fizemos as Quatro Estações em dança rítmica... e foi lindo! Porque foi colorido com aqueles holofotes coloridos, ficou lindo, lindo, lindo... a nossa dança rítmica.

Mas essa “Quatro Estações” usava a música de Vivaldi, ou não?

DÉBORA: De Vivaldi, eram as Quatro Estações de Vivaldi, justamente, era isso ai.

Agora musicado, né? Nós só fazíamos dançar não cantávamos, era só musicado, pois bem, mas era muito bonito. O professor Gazzi foi o precursor do canto orfeônico da Paraíba, e ele naquela época, cresceu o programa de canto orfeônico e de música em geral na Paraíba, porque ele era extraordinário, ele tinha um método que só vendo pra crer, o método de Gazzi,

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o método musical de Gazzi, era uma coisa extraordinária. Eu acho que você já teve informações desse método.

Já!

DÉBORA: Era uma coisa extraordinária e Dona Santinha, por sua vez também, o nome

dela era Ambrosina de Sá,

Soares. DÉBORA: Soares de Sá, justamente, pois bem. Dona Santinha por sua vez ela também

colaborava muito, mas muito mesmo, e os meninos dela, Ermano, Marcelo... eu quero dizer Mercelo, o professor Gazzi foi tão esforçado no canto orfeônico da Paraíba, que foi numa dessas apresentações na Praça João Pessoa, Marcelo foi o regente, o pequeno regente, sabe quantos anos ele tinha? Oito anos. Você já teve essa informação?

Não.

DÉBORA: Pois, Marcelo filho de Gazzi foi o pequeno regente numa apresentação na

Praça João Pessoa, isso mais ou menos em 1936 para 1937.

Engraçado, mas quem se dedicou a música foi Ermano.

DÉBORA: É, pois é, mas Marcelo hoje é da aeronáutica. É aviador.

Ele foi né?

DÉBORA: É justamente, mas Marcelo foi o pequeno regente aos oito anos, eu me lembro tanto porque eu fui regida por Marcelo.

Mas ele foi porque assim? O professor botou por algum motivo ou porque ele queria reger?

DÉBORA: O professor botou para incentivar a juventude, a mocidade, a criançada,

porque ele regeu os grupos escolares, porque naquele tempo nas escolas públicas e em todos os grupos escolares tinha que ter um professor de canto orfeônico.

É eu já estou sabendo dessa informação.

DÉBORA: Pois é, todo grupo escolar de João Pessoa tinha um professor de canto

orfeônico, porque os alunos aí cantavam, porque os quatro hinos oficiais eram obrigatório na escola.

Quais eram os hinos oficiais.

DÉBORA: O hino Nacional, O hino da Bandeira, O hino da Independência e o hino da

Proclamação da República. Então eram os quatro hinos oficiais que eram obrigatórios, todos os alunos das escolas primárias sabiam e sabiam decorado tanto a letra como também sabiam o ritmo da música e tudo isso, porque você sabe que hoje em dia infelizmente são poucos os brasileiros que cantam o hino Nacional Brasileiro certo.

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É, isso é verdade.

DÉBORA: Não é? Porque o nosso hino é difícil, pois bem, tanto no ritmo como na

música, ele é muito difícil, mas nós tínhamos obrigação de cantar o hino certo. E depois que eu fui para a Escola de Música Antenor Navarro, quer dizer, para o Instituto Superior de Ensino Musical, do ensino, era ISEA, Instituto de Ensino Superior de Educação Artística, aí foi obrigado, porque além de cantarmos, termos que cantar certo, ainda tínhamos que fazer a interpretação do hino. E ai não tínhamos somente os hinos oficiais, o hino da Paraíba, por exemplo.

Como era essa interpretação do hino nacional?

DÉBORA: Não, nós fazíamos uma interpretação assim em prosa, né? Fazia como

transformar o verso em prosa, então fazíamos a interpretação como nós entendíamos, porque a letra do hino é difícil, aí nós tínhamos que interpretar porque foi cantado o hino daquela maneira, porque a letra do hino é difícil e têm palavras difíceis que a pessoa não sabe nem o que significa, então agente tinha que verificar o significado das palavras mais difíceis para fazer a interpretação do hino, até isso. Eu agora no governo de Cássio Cunha Lima, eu achei engraçado, no começo do governo dele, eu achei graça porque ele, parece que foi no turismo, na Secretaria do Turismo ele um dia fez uma reunião e perguntou as pessoas presentes quem sabia o hino da Paraíba.

Ninguém. (ELA DEU UMA PARADA OLHANDO PARA MIM BALANÇANDO A CABEÇA, NO SENTIDO QUE NINGUÉM SABIA).

DÉBORA: Ai eu aqui, depois que foi comentado na televisão, eu digo, é porque ele não

foi no conservatório de música, aqui na escola de música, porque se ele tivesse ido na escola de Música ele encontrava alguém que sabia o hino da Paraíba, né?

Que era cantado também?

DÉBORA: Era cantado.

O hino que era cantado era aquela versão de João Pessoa? DÉBORA: Não.

Era o oficial mesmo. DÉBORA: Era o oficial da Paraíba.

Que a letra eu esqueci, mas a música é Albidon Milanez.

DÉBORA: É de Albidon Milanez, justamente.

A letra, eu esqueci agora, é de Ferreira Cavalcanti, não lembro.

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249

DÉBORA: Inclusive, não sei se você sabe esse detalhe, quando Luiza morreu, Luzia POF, o hino da Paraíba tem assim umas confusões no ritmo, né? Pois bem, então Luiza estava fazendo uma correção no hino da Paraíba, justamente com Maurício.

Com Gerardo Parente, não? DÉBORA: Com Maurício e Gerardo, pois bem, então disse que depois, era mais ou

menos dez horas da noite, ela estava com a bíblia na mesa, disse que ela leu um salmo, e deu boa noite, eles foram embora e ela foi dormir e de madrugada ela morreu. Tem esse detalhe.

Eu não sabia dessa não.

DÉBORA: Ela estava corrigindo, fazendo umas correções do hino da Paraíba, juntamente

com Mauricio e Gerardo. Que hoje só existe Maurício, Gerardo já se foi, só a saudosa memória que era aquela sumidade, Gerardo Parente. Pois é minha querida. Mas quando o professor Gazzi veio para fundar o Instituto Superior de Educação Artística ele trouxe com ele dois professores e Dona Santinha, que o acompanhava sempre, mas dois professores; só me lembro de um, pelejei para me lembrar do nome do outro, mas não me lembro, não sei se você teve essa informação, ele trouxe professor Asdrubal Lima, não sei se você já ouviu falar, que ele era do ensino superior no Rio de Janeiro, né?

Será que o outro não foi Ademar Nóbrega? DÉBORA: Pronto, bem que Iraci disse! Ela vai lembrar Débora, (sorriu) porque ele era

paraibano.

Pronto, Ademar Nóbrega, porque eu tenho uma foto dessa, do Ademar Nóbrega com o Asdrúbal, eu vou até trazer para a Senhora me confirmar se são essas pessoas e quem são. Ta certo?

DÉBORA: Certo. Pois bem. Então o professor Asdrúbal ele, todos dois eram do

Conservatório de Música, porque inclusive o professor Gazzi também era, foi diretor do Conservatório de Música, foi em 54 para 55.

Não foi em 52 não, eu tenho o decreto lei em 52.

DÉBORA: O decreto da lei de 52, é mais ou menos isso. É, pois é, agora eu não conclui o

curso todo porque eu fui acometida de uma gripe muito forte, uma pneumonia e deixei no ultimo estágio,- Há!

E não tinha como terminar, não?

DÉBORA: Eu fui da primeira turma, a fundadora, mas depois desestimulei, não fui mais, mas também a dificuldade de transporte, essa coisa toda, eu também tinha outras obrigações, porque nessa época eu era diretora do grupo escolar João Augusto de Santa Rita, ai eu passava o dia todinho trabalhando e o curso era sempre à noite. Como eu já lhe contei, quando nos começamos o curso não tinha sede própria.

Sim, ai quando esse curso começou estava ali naquela casa que hoje é os 18 andares.

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DÉBORA: É, mais acontece que era no governo de José Américo de Almeida, que foi de Dr. Flávio para José Américo, foi, então ele já estava projetando, ele já tinha o projeto da construção dos 18 andares, então nós podíamos estar, ficar lá ma temporada e depois eles solicitavam o prédio porque eles iam demolir para começar o 18 andares, que inclusive prometeram no ato, eles prometeram que nós tínhamos que ter dois pavimentos, né? E no fim não cumpriram essa promessa, pois bem, e nós ficamos nômades.

Quer dizer que, Iraci me deu o decreto que saiu no jornal no dia 29 de novembro de 1956, esse decreto afirmando esse acordo, que a Escola de Música ganhou para construção do prédio e que o IAPB, que foi construído o IAPB ali, estava em acordo de entregar o quarto pavimento a escola se estabeleceu, que na frente pela General Osório é o segundo pavimento, que descendo ele fica sendo o quarto, né?

DÉBORA: Justamente, é...

Então eu tenho esse acordo, ela escreveu para mim, ela pegou lá do jornal, copiou para mim e me entregou.

DÉBORA: Sei, sei.

Ela me entregou antes de ontem quando eu fui lá na sua casa, aí agente estava fazendo a cronologia das casa, então essa história é que vai de acordo com isso, por quê? Se esse acordo foi feito em 1956 e eles pediam a casa, então desse prédio de 56 a mais ou menos que período foi a catedral? Porque continuou lá ainda, né? Porque quando Gerardo Parente chegou em 57, ainda funcionava na casa, né?

DÉBORA: É justamente, funcionava lá na casa.

Então qual foi o ano mais ou menos que foi para o lado da Catedral? - Cinqüenta e nove?

DÉBORA: Cinqüenta e oito para cinqüenta e nove, que foi para aquele lado da Catedral

uma caixinha pequena, é, pois é. Mas antes disso, nós andávamos como judeu errante, né? (sorriso), eu quero lhe dizer que até num dos salões do Palácio do Governo nós tivemos aula.

Depois desse decreto então.

DÉBORA: Depois desse decreto nós ficamos nômades, nós não tínhamos lugar certo para

estudar.

Mas ainda chegava a funcionar a escola? Ou não? Ou derrubaram a casa? DÉBORA: Derrubaram, não, não derrubaram, mas ficou interditada, né? Interditaram e

derruba de hoje derruba de amanhã e nós não tínhamos acesso, então ficamos assim, numa casa noutra, no palácio, na biblioteca que era ali também na General Osório, não tem uma biblioteca pública?

Tem.

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DÉBORA: Nós tivemos aula ali na biblioteca pública, tivemos no palácio, tivemos na Escola Normal, que naquele tempo não era Escola Normal, já era Tribunal de Justiça, porque a nossa Escola Normal foi ali.

É, eu sei.

DÉBORA: Pois é, eu estudei ali, pois bem. Ai nós tivemos como Tribunal de Justiça, já

era Tribunal de Justiça, o juiz, desembargador nos cedeu uma sala, depois tínhamos uma na Academia de Epitácio Pessoa e ficamos assim de joguete, sabe?

Sei.

DÉBORA: Até que se arranjou aquela sala da Catedral, foi quando nós fomos firmados,

ficar ali na Catedral.

Que nessa época já era Luzia que tomava conta. DÉBORA: Já era Luzia, o primeiro professor tinha ido embora, né?

Ele só fez fundar o Instituto, não é, ele esteve aqui de passagem dele aqui foi muito rápida, porque ele era professor do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (DO RIO DE JANEIRO), também o professor Asdrubal, era de técnica, por isso que têm muitas pessoas que diz, que minha voz é assim um pouco postada.

É uma voz muito bonita, viu? DÉBORA: Porque tive aula de técnica vocal com o professor Asdrubal.

O professor Asdrubal? DÉBORA: Como o professor Asdrubal Lima, ele era alto, gordo, assim simpático até, o

professor Ademar era mais baixo, mais franzino, me lembro como hoje, as nossas aulas, e foram valiosíssimas as nossas aulas. Depois ficou com o professor. Luzia, Gerardo, Maurício e Cirena, foram meus colegas como alunos.

Já era na Catedral, não era?

DÉBORA: Era na Catedral, justamente. Era Selma e era, não sei se você conheceu Selma,

hoje está no Rio, ainda hoje ela é professora do Conservatório do Rio, é Selma e Rejane, conheceu Rejane?

Não.

DÉBORA: Também no conservatório, foram alunos logo cedo do professor Gazzi e elas

ficaram também ajudando a Luzia. Aí ficou na nossa turma, Elza Cunha, mas depois esfacelou, né?

Elza Cunha, eu conhecia.

DÉBORA: Elza Cunha, conheceu, né? Pois bem. Por sinal ela faleceu, é, justamente.

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252

Fiquei sabendo agora, eu queria até marca uma entrevista com ela, aí quando eu falei com uma pessoa, ela disse: não, ela faleceu. Tem pouco tempo.

DÉBORA: Faleceu acho que não tem nem um ano. Outra pessoa que era também aluna,

mas que era alvoroçada, era Isabel Burity.

Eu conheci também, ainda foi minha professora de piano, mas não tive aula não... (RISOS).

DÉBORA: Era um alvoroço muito grande, não era? (SORRISO). Isabel era muito

alvoroçada, que inclusive não terminou o canto orfeônico, não terminou por conta do alvoroço dela. Inclusive Germana, não sei se você conheceu.

Conheci Germana. DÉBORA: Pronto Germana Vidal, Germana foi professora nossa, aquela calma dela,

enquanto Isabel era aquela loucura, Germana era a calma do mundo inteiro, pois bem, foi Germana quem, quando houve um decreto do Governo, parece que foi João Agripino ou foi Pedro Gondim, que a menina... Isabel não terminou o curso, mas Germana estava no Rio, e ela, até quem ia era eu, ao Rio buscar isso, Isabel telefonou para germana pedindo para ela dá um comprovante como ela tinha concluído o curso de canto orfeônico, e Germana fez uma arranjo lá pelo Rio, e deu a conclusão de curso a ela, que ela Isabel me participou, até me pediu: Déborah, você é quem vai buscar isso, porque você também pode muito bem conseguir seu certificado de conclusão, mas eu não sei porque meu marido parece que adoeceu, foi uma coisa dessa, que eu não pude ir, e ela mandou por correio, pelo correio mesmo, que Isabel ficou com o curso de conclusão do curso, mas ela não tinha conclusão exata. Agora era uma pianista exímia, não é? Extraordinária, agora era uma criatura alvoroçada demais.

Alvoroçada, não é?

DÉBORA: Demais, era alvoroçada demais. (RISOS). Foi uma das fundadoras da

orquestra jovem daqui de João Pessoa, foi ela, foi Isabel, mas era alvoroçada demais, era aquela agonia.

E em que ano a Senhora Saiu de lá da escola, lembra?

DÉBORA: Me lembro.

Já estava na Catedral? DÉBORA: Já estava na Catedral.

A primeira turma foi em que ano? Em 57?

DÉBORA: Em 55, terminou em 58, a primeira turma. Era Mercês Araújo, conheceu Mercês?

Conheci, ah... foi minha professora maravilhosa, minha iniciação musical foi com ela.

DÉBORA: Pronto então.

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253

Adorei como professora, toquei na missa dela, quando ela morreu.

DÉBORA: Sei, sei.

Reuni os amigos do Deputado, foi eu que organizei pra tocar na missa dela. DÉBORA: Foi né? Pois bem. Então, nós trabalhamos juntas, na Escola Modelo do

Estado, eu e Mercês.

Gambarra, né DÉBORA: Ela era Araújo de nascimento, ela é Araújo, que ela é irmã do Dom

Epaminondas, agora casou com Gambarra né? Pois bem, Mercês era aquela criatura. Pois bem, então a primeira turma foi Mercês, foi como era o nome, era não sei o que Toscano, não era Consuelo, Consuelo Toscano foi da outra turma, era Naide Alberga, que também é falecida, acho que quase tudo dessa turma, se eu tivesse terminado, que eu ia terminar com essa turma, acho que viva só tinha eu. Porque era Naide, Mercês, Maria Lídia de... era filha de Seu Enéias, Carvalho, era Maria Lídia Carvalho, que era também era uma grande professora de Ed. Musical, de Ed. Artística, mas morreu também, morreu de câncer, era Lídia, era essa Toscano que estou esquecida do nome dela, eram oito, foram oito, a turma concluinte foram sete, era oito comigo, mas eu não termine, foram sete da turma concluinte. Sim, essa menina que mora aqui na pracinha.

Desse conjunto Pedro Gondim?

DÉBORA: Sim, como é o nome dela meu Deus? Ela foi até a oradora. Ela era filha do

Desembargador...

Eu vi uma foto que tinha, não sei o que Bezerril. DÉBORA: Bezerril, pronto! (SORRISO). É... (RISOS) como é o nome dela, é uma

criatura tranqüila, tanto quanto Mercês, ela foi a oradora.

Ela ainda está viva? DÉBORA: Está viva. E mora aqui perto.

Então, eu queria saber, se tem o telefone dela? Sabe onde ela mora?

DÉBORA: Tenho não, mas eu sei onde ela mora. Você indo por aqui, não tem uma

pracinha dos militares aqui no conjunto?

Tem, essa que tem uma padaria ali em frente, saindo nessa rua direto aqui? DÉBORA: Mas seguindo em frente, né?

Ah! Então é uma pracinha que fica em frente ao Grupamento de Engenharia mesmo.

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DÉBORA: Não fica propriamente de fronte ao Grupamento, pronto, ela mora naquela casa de esquina, da pracinha.

Sei, que fica do lado da rua asfaltada.

DÉBORA: Do lado da rua asfaltada que tem a Vila dos Militares, sabe?

Sei. DÉBORA: Pronto, ela mora naquela casa da esquina. Como é o nome dala meu Deus.

Wilma. DÉBORA: Wilma Bezerril, pronto! Wilma foi uma das turmas concluintes52.

FALANDO SOBRE AS CASAS POR ONDE A ESCOLA PASSOU E RESIDÊNCIA DE GAZZI DE SÁ. (INÍCIO DO LADO B)

Agora um dia bom que seria para a Sra. ir comigo seria assim, num final de semana, num sábado, porque não está movimentado, dia de semana é muito carro, a gente não pode nem parar na rua, num sábado a tarde.

DÉBORA: Está certo, está ótimo.

Porque aí a Sra. poderia reconhecer se tem a casa ainda. DÉBORA: Acredito que não tenha mais. Outra coisa também. Depois que ele saiu daí, ele

não foi morar na Odon Bezerra não.

De onde, dessa casa da General Osório? De lá, perto do governo. DÉBORA: Sim.

Ele foi pra essa onde é os 18 andares, então. DÉBORA: Não.

Foi pra onde? Pra morar, em residência dele?

DÉBORA: Sim. Ele foi morar aqui, perto da praça da Independência, aquela casa hoje que é um shopping, aquilo ali era uma casa de residência enorme... e Gazzi de Sá morou ali.

Que derrubaram. Ali, não era na esquina?

DÉBORA: É, na esquina. Que derrubaram...Que derrubaram e fizeram um shopping.Fizeram um shopping ali. Pronto, então aquela casa de prof. Gazzi, era uma casa enorme, tinha uns terraços vastos, enormes, ele organizava os corais, o coral, era lá nos

52 Final do lado A. Não percebi que a fita havia acabado, perdi um pouco da conversa.

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fazíamos os ensaios lá, ali defronte a praça da Independência. Sim Senhora, isso eu tenho certeza absoluta.

Porque a senhora ia, né? Lógico. DÉBORA: Eu ia, pra lá.

Mas quer dizer que ele morando ali nessa casa perto da Independência, funcionava a Escola de Música também lá?

DÉBORA: Não, somente, ele só dava ensaio, era uma casa de residência dele.

E essa casa da General Osório, era casa dele e escola? DÉBORA: Não.

Lá em baixo. DÉBORA: Era residência e escola, lá em baixo, quando começou, né?

Era residência e escola, quando começou. DÉBORA: Aí depois a casa dele ficou lá e ele veio dar aula, porque a escola cresceu e ele

veio dar aula na General Osório, nos fundos do Grupo Escolar Thomas Mindelo, foi justamente, que hoje é o 18 andares.

Quer dizer que ele passou a escola pra essa casa e ficou morando lá na praça da Independência.

DÉBORA: Não minha filha, antes ele ficou morando na General Osório, lá em baixo,

depois é que ele mudou-se para a praça da Independência.

Mas eu digo assim, deixe eu entender. Ele morava nessa casa da General Osório e quando começou e colocou a escola, aí a escola foi crescendo aí ele continuou morando nessa casa e voltou a escola pra onde é o 18 andares hoje, né?

DÉBORA: É, certo, certo.

Aí depois que ele saiu dessa casa, onde começou é que foi para praça da Independência.

DÉBORA: Era moradia, residência dele, na praça da Independência, mas a escola

continuou aí.

Aí depois daqui ele botou a escola dele lá pra Odon Bezerra. DÉBORA: Mas na Odon Bezerra já era com Luzia, a Odon Bezzera já foi muito antiga. A

escola quando foi pra Odon Bezerra já tinha saído dali de junto da catedral.

Não, mas antes ele não dava aula nessa Odon Bezerra também?

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DÉBORA: Eu não me lembro.

Ou então ele chegou a morar. DÉBORA: Eu não me lembro dessa moradia de Prof. Gazzi na Odon Bezerra, não me

lembro de jeito nenhum.

Porque quem me deu uma entrevista foi o sobrinho dele. E ele falou que a escola de Música ficou nessa casa da Odon Bezerra que ele morava com a família em baixo e Gazzi de Sá em cima.

DÉBORA: Quem foi? Foi João Alfredo, foi?

Não. Foi Manoel Henriques de Sá. DÉBORA: Sei.

Conhece? DÉBORA: Não, conheço João Alfredo que era casado com Dores Guimarães.

Eu não sei quem é Dores. Quem é Dores?

DÉBORA: Dores foi casada com João Alfredo que é sobrinho do prof. (Gazzi), era filho de Amanda.Pronto! E esse Manoel Henriques é filho de Amanda também. - É, pois é, então ele morava na Odon Bezerra. Sabe qual é uma casa que hoje é o Fórum?

Sei,

DÉBORA: Então foi numa época, porque teve uma época que eu fui embora para o sertão, fui pra Taperoá.

Ah!...

DÉBORA: Então pode ter sido isso, por isso que eu não sei dessa moradia do prof. Na Odon Bezerra. Eu sei na praça da Independência, porque, Ave Maria, como a gente ensaiava na praça da Independência.

E foi mais ou menos em que ano isso na praça da Independência? DÉBORA: Mais ou menos em ... que eu fui para o sertão... mais ou menos em 38 pra 39,

mais ou menos isso, que ele foi pra praça da Independência, que eu fui para o sertão em 40, pra o sertão não, pra o Cariri... (RIU).

Então eu acho que nesse período ele foi pra lá, pra essa casa.

DÉBORA: É, quando eu cheguei de volta do Cariri, de volta à escola, o professor já tinha

viajado para o Rio, já estava no Rio.

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Pronto, porque ele foi em 47. DÉBORA: Ele decepcionou-se com o Governo, foi no governo de Flavio Ribeiro, né?

Flávio Ribeiro. É, foi em 47. DÉBORA: Que ele decepcionou-se e foi para o Rio.

Mais ou menos em 47. Foi governo de Flávio Ribeiro. DÉBORA: E eu vim pra cá depois do governo... Flavio Trigueiro substituiu Osvaldo

Trigueiro do Vale, né? Parece que foi.

Eu peguei esse livro pra saber justamente essa relação de governadores, porque eu conversando com as pessoas, e eu não sei. Conhece esse livro?

DÉBORA: Conheço.

Acho que Flávio Ribeiro foi substituto de Osvaldo Trigueiro, verifique aí, depois vem José Américo.Olhe, foi aqui. Osvaldo Trigueiro em 47 com o vice era José Targino, em 50 José Américo de Almeida e o vice era João Fernandes de Lima e Flávio Rieiro Cantinho foi em 55.

DÉBORA: Foi quando eu voltei para Santa Rita.

Tenho como vice, Pedro Gondim, aí Pedro Gondim assumiu depois em 60 como governador e o vice ficou André Avelino.

DÉBORA: André Avelino Gadelha.

É, Gadelha. Depois, João Agripino em 65 e o vice era Severino Bezerra Cabral.

DÉBORA: Justamente, que era de Campina Grande.

Aí eu peguei isso hoje, esse livro pra saber, porque as pessoas diziam, era no governo de tal? Eu não sei. (risos)

DÉBORA: É, pois é.

Ai eu peguei isso pra saber.(UM LIVRO SOBRE OS GOVERNADORES DA PARAÍBA)

DÉBORA: Então parece que ele se decepcionou assim, entre o governo de Osvaldo

Trigueiro pra o de José Américo, foi mais ou menos isso, aí foi embora para o Rio de Janeiro, aí foi quando eu vim para cá, pra Santa Rita, porque eu morei 16 anos no sertão.

Então foi exatamente essa fase que ele deve ter ido pra essa casa.

DÉBORA: Justamente, porque eu não me lembro dessa casa do professor de jeito

nenhum.

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O que tenho conseguido apurar é que ele ficou nessa casa e dessa casa é que ele foi para o Rio de Janeiro.

DÉBORA: Agora, quando ele voltou, que eu vim como professora do Grupo João Ursulo

em 51 aí quando foi em 52 eu fui, em 55 eu fui diretora, foi 54 prá 55 foi época de Dr. Flávio, que ele voltou para fundar o Conservatório, o professor Gazzi, voltou para fundar o Conservatório, mais ou menos em 54, 53 prá 54, a fundação do Instituto Superior de Educação Artística (ISEA).

Agora, no livro de Gazzi de Sá do professor Domingos de Azevedo, ele tem lá a resolução da lei que foi em 52.

DÉBORA: Em 52, é, pois é, foi mais ou menos isso, eu cheguei em Santa Rita em 51, é

mais ou menos isso, porque ele mandou me procurar, procurou saber de Luzia, onde eu andava, veja como ele gostava do meu trabalho, e gostava, não sei porque, ele tinha uma simpatia demais pela minha pessoa, então ele procurou saber de Luzia se sabia onde eu andava. Aí Luzia disse: Débora chegou agora a pouco tempo do interior, está em Santa Rita. Ele mandou Luzia ir me procurar em Santa Rita para eu fazer o curso de Canto Orfeônico. Pois é.

Eu já fiz mais ou menos uma cronologia das casas por onde andaram, né? Então eu vou mostrar aqui a senhora, tirei foto de todas as casas por onde a escola passou.

DÉBORA: Ah, foi?...

Por isso eu queria muito encontrar essa primeira casa onde ele colocou uma placa dizendo “Ensina-se piano”, quer dizer, “Curso de piano Soares de Sá”.

DÉBORA: Pronto! Era isso aí. Justo.

Não era o nome Curso de Piano Soares de Sá? DÉBORA: Era, justamente.

Então eu queria muito encontrar essa casa. DÉBORA: É, agora eu não sei se ainda existe a casa, mas eu sei o local. Sorriu. Acho que

hoje talvez seja uma casa de comércio.

De comércio, não é? DÉBORA: Então, aqui olhe (ESTOU MOSTRANDO AS FOTOS DAS CASAS ONDE

A ESCOLA DE MÚSICA PASSOU) quando ele foi embora em 1947, deixe eu pegar a foto da casa que hoje está modificada e bonita.

Em 47, como eu estou dizendo, eu estava no sertão.

DÉBORA: É, exatamente. Então a casa foi essa aqui que está modificada, a casa de Gazzi

de Sá, ela está, a fachada continua a mesma.

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259

Isso aqui é em Tambiá.

DÉBORA: É, em Tambiá na Odon Bezerra.

É, sei. DÉBORA: Pronto.

Então, essa casa, a única modificação que foi feita, era que tinha um terraço aqui (MOSTRANDO A FOTO) que era o pilastre que sustentava de alvenaria aqui nesse corrimão, então era assim acima das portas, né? Aquela lateral que faz o terraço.

DÉBORA: Sei, sei.

Não sei se lembra dessa casa assim. DÉBORA: Me lembro, me lembro.

Não era assim. DÉBORA: Era, era, era.

Então a única modificação para se transformar nesse TER, foi isso que fizeram. Isso aqui foi feito em 2003 e eu fiz essa foto na semana que foi inaugurada.

DÉBORA: Foi, né?

Foi, essa foto. Então ele saiu daqui, ele estava aqui, quem morava em baixo era Amanda e ele morava em cima e dava aula em cima.

DÉBORA: Em cima, é sei.

Então, sai fotografando. Depois que Gazzi de Sá foi embora Luzia Simões morava nessa casa do lado do Rei dos Esportes.

DÉBORA: Certo, justamente.

Me confirma, que coisa boa. DÉBORA: Confirmo.

Então ela morava que hoje é a farmácia do IPEP. DÉBORA: Farmácia do IPEP, inclusive, na casa dela, que parece que era a única casa

talvez de morada que tinha ali, parece que era. Eu não sei se você... essa procissão dos passos, que tem os sete passos de Jesus, na casa dela era um dos passos, na casa de Luzia, aí tinha um nichozinho e tinha o santo ali, todo mundo que vinha da catedral rezando, era o primeiro passo, era na casa de Luzia. (Sorriu) Era, dali saia, que era na esquina era o cinema, né?

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Rex, o cinema Rex, era lá no final, Rex. DÉBORA: Lá no final, justamente, pois bem, aí descia pela Duque de Caxias.

Então eu fiz a foto dos 18 andares, a foto que vai sair no trabalho vai ser essa, porque eu falo que a casa foi modificada, reformada, não está com a faixada que as vizinhas tem, as vizinhas permaneceram com a fachada quase intacta, a única modificação aqui é essa porta, né?

DÉBORA: É, é, é.

Mas pra pessoa ter idéia mais ou menos de como era a casa DÉBORA: Era, justamente.

Não era mais ou menos assim? DÉBORA: Era assim, justamente.

Então eu vou botar essa foto no meu trabalho. DÉBORA: Essa foto no seu trabalho, né?

É. Aí é a casa do lado da Catedral, aqui, aqui é a outra, deixa eu ver se eu encontro. Pronto, aí saindo dos 18 andares veio para essa casa do lado da Catedral.

DÉBORA: Da Catedral, justamente, foi isso aí.

Ela saiu bonitinha, ela estava bem pintadinha nesse dia. Aí depois da Catedral ela veio pra esta da Duque de Caxias,

DÉBORA: Foi a casa de moradia de José Américo de Almeida, casou, a lua de mel de José Américo foi nessa casa, que é na esquina, que nos fundos dela que dá para Igreja do Carmo é aquela casa de azulejo, né?

É. DÉBORA: Pronto, justamente. Exatamente.Mas aqui já era Luzia.

Sim, era, já era Luzia, a partir daqui, dessa casa já era Luzia (MOSTRO A FOTO DA CASA).

DÉBORA: Que as meninas diziam que essa casa era mal assombrada. (SORIU)

E era?... (SORRIMOS) Por que?

DÉBORA: Porque a gente tinha aula aqui em cima, aí as meninas diziam que era mal

assombrada, eu não sei porque.

Mas a senhora ainda chegou a ter aula aqui?

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261

DÉBORA: Cheguei, quer dizer, não foi aula, de, de, nós nos reuníamos porque eu fiquei

participando, quando eu voltei, ainda fiquei participando do coral, era o coral Villa-Lobos e a gente se reunia nas quarta-feiras e eu vinha de Santa Rita para assistir o coral. Não... eu assistia aula, que muitas vezes eu vinha de Santa Rita e vinha pra escola assistir aula e daí não ia nem pra casa almoçar que não tinha tempo e almoçava aqui na Epitácio, e voltava novamente por causa do coral de quarta-feira.

Mas a senhora estudava o que? Piano?

DÉBORA: Não.

Chegou a estudar piano? DÉBORA: Não, eu cheguei a estudar piano com o professor, com o professor Gazzi, né?

Arranhei ainda um pouco. Pois bem, mas eram aulas de curso de especialização com Gerardo, com, as vezes, Maurício também dava aula, nos cursos assim, esporádicos, né? Porque ainda tenho vários diplomas assim.

Agora uma pergunta que ainda está uma interrogação com a gente. Quando saiu dessa casa da Catedral, ainda funcionava o Canto Orfeônico, que o Maurício Gurgel disse que quando chegou aqui em 60, era aqui nessa casa.

DÉBORA: É.

E ele falou, que acha que veio para esta (estou mostrando as fotos da casa) em 64 e aí a pergunta: Quando veio para essa, ainda funcionava o Canto Orfeônico ou já era o Colegial Artístico?

DÉBORA: Não, o Colegial Artístico funcionava em baixo.

Nessa casa? DÉBORA: Nessa casa, e nós tínhamos Canto Orfeônico em cima.

Porque permanecia com a Anthenor Navarro, ne? DÉBORA: Justamente, é. Tínhamos canto orfeônico, inclusive, nós fizemos o curso com

Gerardo, Música do Século XX e fizemos esse curso com Gerardo, Gerardo Parente. Depois nós fizemos outro curso, um curso de música, como foi meu Deus, que teve solfejo, teve tudo isso, com quem foi, foi com outra pessoa, eu estou esquecida. Esse curso com outra pessoa que teve um teste com regência. Um curso de regência, nós tivemos esse curso de regência que aliás, depois quando caiu na sorte pra tirar quais eram os hinos que a gente ia reger, eu me lembro, foi no governo de João Agripino, já era no governo de João Agripino, pra tirar na sorte qual era o hino que ia reger para a platéia. Me lembro como hoje. Elza Cunha tirou o hino a Bandeira, e eu tirei o hino da Paraíba, que era um dos mais difíceis, eu fui quem regi o hino da Paraíba para os alunos cantarem. (Sorriu) Porque eu fiz o curso de regência, né?

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E teve apresentação, ou foi lá na escola mesmo? DÉBORA: Foi lá na escola mesmo, foi aqui nesse prédio (apontou para a foto), nesse da

escola, né? Numa das salas de aula que fez como um auditório, né? Porque nós não tínhamos auditório, né?

Sei. Aí essa pergunta: Nessa época, quando se mudou pra cá (apontando a foto), ainda teve um ano de Canto Orfeônico ou já foi Colegial Artístico?

DÉBORA: O Colegial Artístico foi depois.

Foi depois do Canto Orfeônico, então eu tenho impressão de que aqui ainda existia o Canto Orfeônico.

DÉBORA: O Canto Orfeônico.

E o Colegial Artístico foi nessa época de 64, 65 que começou. DÉBORA: É porque o governo de João Agripino, começou em 62, 61, 62, procura aí no

teu livro. Agripino eu me lembro. Primeiro eu vou dizer, primeiro José Américo. José Américo você sabe que era fã do canto orfeônico, né?

João Agripino foi em 65.

DÉBORA: Pronto, então João Agripino ia conversar com Luzia nesta casa, e Luzia

muitas vezes pedia, que Luzia tinha intimidade com ele, não chamava ele de Governador, nem nada, nem doutor, não, chamava João.

João Agripino? Era?

DÉBORA: Era, ela chamava João. Pois bem, e ela pediu não sei o que pra ele e ele disse:

ta certo, eu vou fazer. Depois quando ele ia saindo ela chegou e disse: Você vai fazer mesmo? Ele disse: Oh! Luzia, quem é o Governador do Estado? Ela disse: Você. Ele disse: Pois então Luzia, diabo leve o poder que não pode. Me lembro tanto dessas palavras dele, mais que tudo; diabo leve Luzia o poder que não pode, se eu to dizendo a você que faço, é porque faço.

E era para fazer o que?

DÉBORA: Era uma coisa que ele pediu para o Conservatório e ele fez mesmo. Parece

que era uma nomeação, uma coisa qualquer e ele fez mesmo. Porque ele respondeu pra ela que, diabo leve o poder que não pode, já nesta casa. (Apontando para foto)

Então pronto, que ele assumiu em 65, e Maurício Gurgel disse que acha que vieram para cá em 64.

DÉBORA: É, mais ou menos isso, eu só sei que eu participei muito, muito, muito.

Inclusive quando José Américo foi Governador, Luzia nos levava para cantar...

No palácio?

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DÉBORA: Não, na casa dele. Ele já estava na solidão dele. Ali na praia de Tambaú.

Não é Cabo Branco não? Que hoje é o museu? DÉBORA: Não. É Cabo Branco?

É Cabo Branco. DÉBORA: É, pois bem, a gente ia para aquela casa, cantar para José Américo, ele

gostava de ouvir o nosso coral e Luzia levava a gente pra cantar pra José Américo ouvir. Mas ele não era mais Governador, né? Ele estava isolado, estava já na solidão dele, agora o governador era João Agripino.

Porque eu queria uma confirmação de quando começou o Colegial Artístico, ainda não consegui encontrar.

DÉBORA: Eu disse a Iraci o seguinte, quem tem mais ou menos idéia de quando o

colegial foi fundado e criado, quer dizer iniciado, quem deve ter é Vólia.

Sim. DÉBORA: Você conhece Vólia?

Sei quem é Vólia. DÉBORA: Pois bem.

Não tenho intimidade com ela, mas sei quem é, mas é muito amiga de Irací, né? DÉBORA: É amicíssima, pois bem, Vólia foi a única de Augusto.

Cheguei a fazer uma entrevista com ele, adorei aquele homem. DÉBORA: Era extraordinário, Augusto era extraordinário.

Era ótimo mesmo. DÉBORA: Pois bem, eu digo que Vólia sabe, porque Maria Fábia, mãe dela foi uma das

professoras do Colegial Artístico.

Mas a mãe dela não dava aula de música não, era de outra matéria. DÉBORA: Era de outra matéria, não sei qual era a matéria, mas sei que ela foi professora

do Colegial Artístico, Maria Fábia, que ainda hoje existe, mas está caducando, quer dizer, não é pela idade, é porque teve um precoce, foi como uma amnésia uma esclerose precoce. Porque por incrível que pareça ela é mais moça que eu.

É mesmo?

DÉBORA: Maria Fábia é mais moça que eu.

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Eu só a vi uma vez, quando eu fui fazer uma entrevista com o professor Augusto. Ela desceu o elevador com a gente, mas falando assim besteira, aí ele fez um não não , com gesto de que ela não estava bem da cabeça. Mas depois não me comentou nada, então eu percebi que ela não estava batendo muito bem.

DÉBORA: Pois é, mas mesmo assim ela não batia bem, mas por incrível que pareça, ela

nunca me desconheceu e por incrível que pareça, que me contou foi Vólia, no dia que ele faleceu, porque ela era muito apegada a ele, e ele a ela também. No dia que ele faleceu, que no outro dia ela procurou e não o encontrou, ai ela chegou e disse, mesmo na loucura dela ela gostava de dizer que Augusto era meu namorado. (e sorriu)... Ela dizia: Garanto que ele ta na casa de Débora namorando com Débora, porque ele é namorado de Débora (e sorria, sorrimos juntas). As vezes eu dizia pra ela: Augusto é meu namorado, porque antes dele conhecer você, já me conhecia. E foi mesmo, porque eu conheci Augusto solteiro.

Mas não chegaram a namorar não? Né? DÉBORA: Não, de jeito nenhum, toda vida foi só meu amigo, mas ele era muito

bonachão, era muito brincalhão, era aquela coisa extraordinária, né? E eu gostava muito dele. Pois bem, eu conheci Augusto solteiro e Luzia também, conheci Luzia solteira também, Luzia, Augusto, todos solteiros. Somente a mãe de Zinares, como era o nome dela? Morreu muito cedo, foi quando eu conheci, já conheci casada, mas Augusto e Luzia, porque Luzia já casou de meia idade, né? Tem dois filhos né? Conhece os filhos de Luzia?

Conheço. Conheço Eliane, o outro eu não conheço não.

DÉBORA: Não conhece não? Maninho?

Não. DÉBORA: Que é da faculdade? O nome dele é Edgard Bartolini, não conhece Maninho

não?

Não. Conheço Eliane. DÉBORA: É né?

Olhe, então fazendo o percurso. Depois saiu desta casa da Duque de Caxias, aí ela veio para essa antiga casa de Gazzi de Sá, do começo aqui que lhe mostrei, que é o Fórum.

DÉBORA: É que eu não conheci.

Que é a antiga casa de Gazzi de Sá. DÉBORA: Que eu não conheci, pois é.

Depois desta casa de Gazzi de Sá, eles se mudaram, porque a casa estava muito velha, assim, aí Irací me falou que uma professor dando aula, fez assim (PISOU MAIS

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FORTE) e o salto do sapato afundou na casa, e todo mundo ficou morrendo de medo de dar aula ali, porque era lá em cima, também, em cima e em baixo nessa época. Aí providenciaram e saíram para essa casa na D. Pedro I.

DÉBORA: Que ainda hoje existe.

Que ainda hoje existe, eu bati a foto. DÉBORA: Que parece que é de alguma coisa científica.

Não, ela é da Secretaria de Segurança Pública, Superintendência Geral da Polícia Cicil, Primeiro Núcleo de Policiamento.

DÉBORA: Hoje é uma Secretaria, né?

É Segunda Delegacia Distrital, da Secretaria de Segurança Pública. DÉBORA: Pois é.

Aí veio para essa casa, (MOSTRANDO AS FOTOS), esta aqui foi uma casa que eu bati em ruínas porque disseram que Anthenor Navarro morou nela, mas depois eu descobri que não foi não, na General Osório. Pronto, aqui é a foto do prédio.

DÉBORA: O 18 andares.

É essa foto que eu vou colocar no trabalho, porque mostra o pavimento que ia ser a escola de música.

DÉBORA: Que ia ser nosso, da Escola de Música. Pronto, que não cumpriram com a

promessa.

Olha, conhece? Ela quem foi comigo, mostrando as casas por onde a Escola passou. DÉBORA: É, como é o nome dela meu Deus...

Irenita Bronzeado. DÉBORA: Ah! Irenita e Gerardo.

Não, aqui é o marido dela. É Cavalcanti... esquecí o nome dele. DÉBORA: Eu já fiz os convites de casamento da filha dela.

Esqueci o nome dele... Hamilton Cavalcante.

DÉBORA: Irenita era uma endiabrada no nosso curso.

Por que? (SORRIMOS)

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DÉBORA: Porque ela era uma levada da breca. Toda vez ela pagava um piano. Quando eu ouço Ernesto Nazareth eu só me lembro de Irenita, era o compositor preferido dela, era Ernesto Nazareth, por causa daqueles maxixes, daquelas coisas, é a cara de Irenita. (SORRISO)

Olhe esta foto de Gerardo, foi a mãe de um aluno da Orquestra Infanto-Juvenil que bateu da gente e eu nem sabia, então ela deu.

DÉBORA: E nem sabia né? Pois é.

Então quando saiu da D. Pedro I veio para esta casa aqui, que ficava quase em frente a casa de Gazzi de Sá.

DÉBORA: É justamente, ali em Tambiá.

Em Tambiá. Essa ficou muito bonita, né? Vou botar essa no trabalho. DÉBORA: É muito bonita, é justamente, é53.

DÉBORA: É, justamente.

Então pergunto para ela: Mas me conte a sua versão, o que aconteceu. DÉBORA: Não, eu não estava aqui como lhe contei, eu estava no sertão. E quando

procurei saber, quando cheguei aqui de férias, eu visitava sempre ele e trazia uns presentes do sertão, carne de sol, ovos, queijo do sertão, eu sempre trazia pra o professor, eu queria muito bem a ele, assim como ele me queria. Pois bem, aí quando cheguei aqui, procurei saber de Luzia, Luzia disse: A não, Gazzi viajou, foi embora. Aí eu disse: Pelo amor de Deus, o que foi que houve Luzia? Porque ele foi embora? Aí ela disse que foi uma decepção que ele teve do Governo, que ele teve com o Governo. Aí ela me relatou, mas não me lembro qual foi a causa, mas sei que foi uma decepção com o Governo, com certeza foi esse negócio da Orquestra Sinfônica, né? Ela me relatou, mas eu não estou lembrada. Inclusive, o presente que eu trouxe para ele, dei pra ela (SORRIU)... Ela disse: então quem mereceu fui eu. Eu disse: Pois é, que é da música também e você é quem vai merecer.

Já que ela sucedeu tudo, né? DÉBORA: É, justamente. E ela era uma criatura esforçadíssima. Conheceu Luzia?

Não.

53 Final da 1ª. Fita-final do lado B. Continuação da entrevista com Débora Araújo. Mudando de assunto, quero saber se ela sabe o motivo da ida de de Gazzi de Sá para Rio. Falo que fiquei sabendo que foi por causa da criação da Orquestra Sinfônica que ele foi contra, porque ele achava que deveria formar músicos para formar a orquestra e então faze-la com músicos amadores, como foi criada que não ia nem completa, né?

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DÉBORA: Ela foi convidada várias vezes para participar como professora do Conservatório de Música do Rio de Janeiro, mas ela nunca quis. Ela não trocava a terra dela, pela terra de ninguém, não saia daqui jamais para ir para canto nenhum.

Ela morreu no ano que eu comecei a estudar música.

DÉBORA: Foi né?

Então eu não me ligava, né? DÉBORA: Em 78 não foi?

Eu comecei na metade do ano de 78. DÉBORA: Ela morreu em Dezembro de 78, acho que foi 20 de Dezembro, foi próximo

ao Natal.

Agora em Outubro que passou eu fui ao Rio para um Encontro de Educação Musical e eu já tinha tido um contato por telefone com o filho de Gazzi de Sá, Ermano de Sá, que mora em Niterói e por coincidência a minha sogra também mora em Niterói e ele foi na casa dela e fiz uma entrevista com ele, conversamos e ele é ótimo, é uma pessoa ótima!

DÉBORA: Pois bem, a última vez que eu vi o professor Gazzi, ele estava morando no

Leblon, mas um apartamento maravilhoso, tinha uma sala...

Foi lá? DÉBORA: Eu fui, eu sempre ia ao Rio porque minha mãe morava no Rio e eu tinha cinco

irmãos no Rio, né? E o meu irmão que é oficial da marinha, levou minha mãe para o Rio e eu ia sempre ao Rio visitar mamãe. E uma dessas eu fui visitar o professor, ele estava morando no Leblon, só estava com Dona Santinha, os meninos eu não vi, somente a menina estava com ela (Gerusa). Mas ele sempre com a idéia musical, aí me levou para olhar a biblioteca dele, era uma sala completa, eu só queria que você visse. Eu só queria saber aquele acervo para quem ficou. Com certeza Ermano conserva, né?

É, não sei.

DÉBORA: Porque era um grande acervo.

Talvez uma pessoa que eu conversei em junho, por telefone, quando eu fui lá em outubro, ela tinha morrido, em julho, Terezia. Conheceu Terezia?

DÉBORA: Conheci.

Pronto, ela quem conhecia de tudo de Gazzi, e lá no Rio, ela quem tomava conta das coisas dele.

DÉBORA: Pois é, mas ela morreu agora, né?Porque o acervo dele era valiosíssimo.

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268

Porque o acervo de Gerardo ele doou a Escola de Música, né? Inclusive quando ele doou a Escola que começaram a chegar as obras dele, os livros todos, mas quando viu tudo na Escola, numa sala, como ele chorou, Gerardo era muito emotivo, né?

Sim. DÉBORA: Chorou tanto, tanto, que Vólia disse: Quer que eu volte? Ele disse: Não, é que

já estou sentindo saudade dos meus livros, e além de tudo, a idéia de Gerardo era a organização do folclore, né? Ele fazia muita questão do folclore nordestino, o acervo dele sobre o folclore nordestino é uma coisa extraordinária.

Ele foi a pessoa aqui na Paraíba que incentivou a música brasileira, as pessoas gostarem da música brasileira.

DÉBORA: É, as pessoas gostarem da música brasileira.

Eu acho que no Departamento de Música então, ele quem plantou a semente, de hoje os grupos tocarem a música brasileira, foi ele. Ele era professor da cadeira de música brasileira.

DÉBORA: Era, né? De música brasileira.

Do Departamento de Música, e ele quem incentivava esse pessoal da minha geração pra cá, todinha, eu não cheguei a ter aula com ele propriamente dita da música brasileira, eu assisti uma ou duas aulas somente, porque quando eu entrei pra fazer o curso superior ele já estava saindo, dessa cadeira, porque era uma optativa e eu não fiz, foi um negócio assim, na época.

DÉBORA: Sei, pois é. Aquele folclorista do Rio grande do Norte... o Cascudo.

Câmara Cascudo.

DÉBORA: Ele era amicíssimo de Câmara Cascudo e trouxe muita coisa do folclore

nordestino, que estava esquecido e Gerardo foi quem reavivou, o problema de alguma coisa do Nordeste, porque ele não somente queria o folclore da região, da Paraíba, ele queria de toda a região Nordeste. Era como as pesquisas de Gazzi de Sá, Gazzi pesquisou muito o coco de roda, né?

É, eu soube que ele também foi um pesquisador da cultura, por sinal essa coisa da cultura popular de Gazzi de Sá, é uma coisa que vou destacar no meu trabalho, essa pesquisa da cultura popular de Gazzi de Sá, tanto ele como Santinha, né?

DÉBORA: É justamente, todos dois, ele gostava muito de ir as praias, procurar dos

praieiros e ele mandava que cantasse e ele copiava a música, preparava a música e depois no nosso coral, do tempo que ele foi regente, nos tínhamos muita coisa do coco de roda, por exemplo, “A maré encheu” (SORRIU), é arranjo dele, né? Quer ver outro que ele gostava muito... (PENSANDO)

Rosa Amarela.

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DÉBORA: Rosa Amarela, ah! Como ele gostava de Rosa Amarela. (E CANTOU) “Os cabelos da morena”, só parece com Irenita Bronzeado, era ela quem fazia o solo. (SORRIU)

Ah é?... (SORRISO)

DÉBORA: Irenita é uma beleza. Pois bem, ele gostava muito de pesquisar coco de roda

nas praias de todo canto ele estava procurando saber. Tem muita coisa dele de Gazzi, arranjos de Gazzi, a respeito disso. Por isso é que eu digo, eu não sei com quem está esse acervo de Gazzi, porque era riquíssimo, valiosíssimo de um valor muito grande e para Paraíba principalmente, mas, o povo da Paraíba não se interessou, infelizmente, eu não sei como ainda tem um coral com o nome dele.

É de lá da Universidade.

DÉBORA: É justamente, não sei como ainda tem. Foi Tom-K, foi?

Não, esse coral Gazzi de Sá é o coral universitário que tem desde Kaplan, eu acho que antes de Kaplan eu acho que já tinha esse nome de Gazzi de Sá.

DÉBORA: Então foi do tempo daquele que morreu, como é o nome dele meu Deus... que

ele também depois foi para o Rio Grande do Sul, é... que foi regente do coral da universidade.

E eu sei quem é, não estou lembrando o nome. DÉBORA: Eu não estou lembrada do nome também.

Não foi da minha época não, mas já ouvi falar. DÉBORA: É casado com uma amigo minha, quer dizer, a esposa dele é amiga das minhas

irmãs, né? Tem Ercila e Erenita o nome da esposa dele, estou esquecida do nome dele, meu Deus como é... ele até deu um disco do coral da universidade a meu irmão quando eles estiveram numa excursão porque foi no tempo que o coral da universidade cresceu, foi nas mãos dele... Oh meu Deus como é o nome dele... depois ele se decepcionou e foi para o Rio Grande do Sul. Mas no segundo governo de Burity. Burity chamou-o, foi na segunda gestão de Burity. Burity o convidou para ele voltar para Paraíba, pra dar uma coisa a ele, parece que ia ser Secretário de Educação Artística, uma coisa dessa. E quando chegou aqui, depois que ele nomeou os secretários todos, escanteou-o e ele por conta disso teve um infarto.

E morreu?

DÉBORA: Morreu aqui em João Pessoa, eu digo isso porque uma cunhada dele, Ercila,

que mora aqui na Epitácio Pessoa foi quem me contou. Ercila e Erenita estavam no Rio Grande do Sul, esperando que ele se instalasse para vir com a família toda pra cá, de volta, mas Burity depois que convidou, que ele largou tudo no Rio Grande do Sul e veio pra cá e ele o recanteou.

Já pensou?

DÉBORA: Mas meu Deus, como é o nome da criatura? Que eu quero lembrar e não me

lembro...

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Eu me lembro que quando eu estava em Campina Grande, o pessoal falava muito o nome dele também. Não sei se ele ensinou em Campina Grande também.

DÉBORA: Não sei. Esqueci do nome dele, to esquecida completamente, me lembro do

nome da esposa e dele não me lembro, já pensou?

Pois é, muito obrigada pela sua valiosa contribuição. DÉBORA: Não foi nenhum. Quizera ter as minhas coisas guardadas para lhe dar, para

ajudar a você, mas infelizmente...

Mas ajudou, só em dizer essa casa de Gazzi de Sá, que não começou nessa que lhe mostrei e você nem sabia...

DÉBORA: Não, não...

Que até agora as pessoas me diziam essa. DÉBORA: Não, na General Osório lá no final, eu sei tanto da casa, o local, eu não sei se

a casa existe, mas sei o local, eu fui aluna da escola.

Pronto, então a gente vai combinar, viu? De ir lá. DÉBORA: É só você telefonar, você vindo de carro eu vou tranqüilamente lhe mostrar, é

bom dia de sábado de tarde, né?

É, porque de manhã ainda funciona. DÉBORA: Funciona até meio dia ainda funciona, como nesse dia vou lhe mostrar

também a casa da menina...

Bezerril? DÉBORA: De Bezerril. (Vilma Bezerril)

Pronto. DEPOIS DE TER ENCERRADO A ENTREVISTA, DEBORÁ MENCIONA SOBRE À VINDA DE VILLA-LOBOS NA PARAÍBA E A APRESENTAÇÃO DO CORAL DE GAZZI DE SÁ QUE SE CHAMAVA CORAL VILLA-LOBOS. VOLTO A GRAVAR NOVAMENTE.

Isso, eu quero que você me diga, quer dizer que quando Villa-Lobos esteve aqui regeu o coral de Villa-Lobos?

DÉBORA: O coral de Gazzi de Sá.

Ah! O coral de Gazzi de Sá, que se chamava Villa-Lobos?

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DÉBORA: Não, ainda não tinha o nome de Villa-Lobos, Villa-Lobos foi depois que Luzia começou, né? Era coral, coral... como era o nome meus Deus?... Não, já era Villa-Lobos, inclusive ele veio aqui por conta dessa homenagem, que Gazzi fez a ele. Ele regeu, eu me lembro tanto que Augusto fazia assim: as viúvas de Villa-Lobos, porque o nosso traje era saia preta e blusa branca e Augusto que era muito brincalhão dizia: menina, Villa-Lobos tem muita viúva (RISOS), quando Villa-Lobos morrer né? Uma porção de viúvas de Villa-Lobos que somos nós que éramos do coral. Pois é, ele me regeu. Sabe qual foi a música que ele regeu pra gente? Vou lhe dizer, “Marcha para o Oeste”. E canta: “Marcha, para o oeste”, que é dele, de Villa-Lobos. E continua cantarolando. Não conhece isso não?

Não, não conheço não. (ELA CONTINUA CANTAROLANDO MARCHA PARA O OESTE)

DÉBORA: É lindo isso! Que é já a fundação de Brasília.

Ah!.. DÉBORA: Continua cantarolando. “Você está vendo, nan, nan, nan, nan, nan, é Brasil,

que era o oeste havendo a mudança... é Brasil”. Eu tinha essa música. E era isso que queria mostrar pra você. Era uma música que já estava preparando já para ser construída a capital do Brasil em Brasília?

Que ele fez essa música? DÉBORA: É, que ele fez essa música.

Ele esteve aqui nos dois dias, dia 9 e 10 de novembro ou outubro, quando ele esteve aqui, foram dois dias de apresentação, então vieram uns músicos com ele, porque era uma caravana que ele estava fazendo em algumas capitais do Nordeste pra ver como era o público, como se comportava com a música clássica, e ele depois mandou um ofício para o Ministro da Cultura, dizendo que tinha encontrado um excelente público na Paraíba, o nível.

DÉBORA: Pois bem, ele regeu isso e regeu o Mai Tá. (CANTA UM TRECHO): “ O meu

engenho é do Imaitá” , que é de Gazzi, que é um coco. Canta novamente: “ O meu engenho é de Imaitá, é do Imaitá”. O meu engenho é do Imaitá, é do Imaitá, é do Imaitá”. Pronto, quem fazia sempre o solo era Irenita. (CANTAROLA O SOLO COM A SÍLABA NAN, NAN). E depois o coro canta: “ O meu engenho é do Imaitá, é do Imaitá, é do Imaitá”. Pronto! Ele regeu essas duas peças, eu me lembro como hoje, de Villa-Lobos, regendo, ele regeu primeiro o Maitá e depois regeu Marcha para o Oeste.

E a senhora foi para as apresentações nos dois dias? DÉBORA: Fui! E eu não fazia parte desse tempo?

E o coral cantou nos dois dias? DÉBORA: Nos dois dias, justamente nos Teatro Santa Rosa.

Ah! Eu tenho a reportagem, que saiu no jornal.

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DÉBORA: Pois é, não saiu que ele regeu?

Não, aliás eu não tenho a reportagem no jornal, eu tenho o programa. DÉBORA: O programa, né?

Mas o programa que veio deles, dos músicos, eu acho que isso foi uma modificação feita quando chegou aqui, né?

DÉBORA: Foi, foi uma surpresa, né?

É. DÉBORA: Foi uma surpresa, foi por Gazzi a ele. Gazzi apresentou o nosso coral, aí

depois convidou para ele reger. Ele regeu uma peça dele, de autoria dele, aí regeu outra, que era um arranjo de Gazzi de Sá.

Que jóia, ta vendo? Isso é uma novidade que eu não sabia. (RISOS NOSSOS)

DÉBORA: Foi Engenho para o Maitá e Marcha para o Oeste.Que eu acredito que é capaz de Iraci ter a partitutra de Marcha para o Oeste. É linda, linda, linda, linda... muito bonita!

E Iracy cantou nesse coral? DÉBORA: Não, não me lembro se Iraci cantou nesse coral, Iraci não foi muito de Gazzi

não, Iraci já foi do tempo de Luzia, né? Parece que essa não foi aluna de Gazzi.

Mas esse ano que ele esteve aqui foi em 52. DÉBORA: Foi em 52, justamente, é isso aí. Eu tinha voltado, pronto, como eu disse a

você, voltei em 51 e estava fazendo parte do Instituto Superior de Ensino Musical, eu fui da primeira turma, justamente, era eu, era Dores, era Elza Cunha.

Que já estava naquela casa onde era os 18 andares?

DÉBORA: É justamente, correto, era aquela menina.

Wilma Bezerril? DÉBORA: Wilma Bezerril, tudo isso fizemos parte. Me lembro tanto, eu tinha até um

retrato disso, que aquela menina, a filha de Luzia.

Retrato de que? Dessa apresentação? DÉBORA: Dessa apresentação.

Ah... meu Deus!

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DÉBORA: Sabe a quem eu dei esse retrato? Que me pediu e eu dei esse retrato. Foi, parece que foi, eu dei esse. Dei a...

A Eliane?

DÉBORA: A Eliane, porque Eliane era garota, estava sentada numa cadeira com um

ramalhete de flores pra dar, pra ofertar a Villa-Lobos, e eu mostrei esse retrato a ela e ela disse: Não, esse retrato vai ficar comigo. (sorrimos)

Pois eu vou lá na casa dela pra ver. DÉBORA: Pois é, justamente.

Porque eu peguei e scaniei, peguei muitas fotos da casa dela e scaniei, eu tenho muitas fotos no meu computador, dessas coisas, entendeu? Acho que tenho umas 100 fotos, mais ou menos, arrecadando de um e de outro.

DÉBORA: Fotos até do coral regido por Luzia?

Sim. DÉBORA: Tem? Então...

Tenho do Villa-Lobos e do Madrigal, que não tinha o Madrigal que era de homens e mulheres.

DÉBORA: É, justamente.

E o Villa-Lobos que era só de mulheres. DÉBORA: Era, justamente, só de mulher. Então você tem minha cara por lá.

Então deve ter, mas eu não lhe conhecia... (SORRIMOS JUNTAS)

DÉBORA: Pois é, justamente tem que ter minha cara por lá.

Por isso foi ótimo saber, porque eu pensava que tinha sido só uma passagem. DÉBORA: Não, ele regeu, Gazzi fez questão que ele regesse.

E isso foi uma informação muito boa, porque eu perguntei a não sei quem foi, se o dia que Villa-Lobos esteve aqui, se Gazzi estava aqui, e não souberam dizer.

DÉBORA: Ele estava aqui, e eu acho que ele fez parte da comitiva dele. Foi, parece que

foi. Não, ele já estava aqui, ele veio passar umas férias, uma coisa, ele estava aqui. E fez questão, que Gazzi quando chegava, ele não parava, pois bem, ele então fez questão, porque nos ensinou o solfejo, essa coisa toda do Marcha para o Oeste, não foi nem Luzia, foi Gazzi. Que ele trouxe de lá, as partituras. Luzia nem conhecia, foi Gazzi, já preparando a vinda de

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Villa-Lobos, quando Villa-Lobos chegou nós cantamos Marcha para o Oeste regida pelo próprio autor.

É, eu estou agora com a impressão que ele veio em 56, eu tenho a data. DÉBORA: Foi depois de 50, logo depois ele morreu.

Pronto, 59, ele morreu em 59.

DÉBORA: Pois é, mas ele regeu o nosso coral.

O coral Villa-Lobos, só de mulheres. DÉBORA: É, cantamos o Engenho do Maitá e Marcha para o Oeste. Mas eu acredito que

Iraci tenha todas as partituras, era isso que eu quera lhe apresentar, mas a minha querida sobrinha tocou fogo, fez com Naide. Que Naide Albergue é que tocou fogo no arquivo todo da escola, você sabe disso, né?

Iraci comentou comigo. Porque ela fez isso?

DÉBORA: Ela era diretora da escola, né? E achou que documentário não valia, acho que

era dessas que não valorizava documentário, não gostava de papel velho, aí tocou fogo.

É, Naide... DÉBORA: É Naide Albergue, ela já está falecida, ela faleceu até de um câncer no

estômago.

É preocupação. É, eu sei que depois que Luzia deixou a direção, aí veio Zamir, depois de Zamir foi ela e depois Augusto Simões.

DÉBORA: É, Augusto Simões, justamente. Não, João Gadelha.

Não, Augusto Simões não, Maurício.

DÉBORA: É, Maurício, depois João Gadelha.

É, depois João Gadelha, só que ela foi um pouco rápido, né?

DÉBORA: Foi, ela passou, acho que ela não passou nem um ano, se ela passou, a fase

dela foi rápida, né? Também não deixou nada que dissesse assim: fez esse benefício ao nosso conservatório, pelo contrário, ela desfez muita coisa e houve decadência na administração dela, infelizmente, ficou decadente porque ela não tinha interesse, você sabe, quando a pessoa não tem interesse pela coisa, aquilo morre. As vezes morre no nascedouro, né? E a nossa Escola é antiga, tem mais de 60 anos, né? Pois é. Então, mas ela não se interessou, eu não sei porque cargas d´água ela foi ser diretora da Escola, não sei.

E ela foi aluna?

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DÉBORA: Ela foi aluna, né? Pois bem. Acho que questão política, essa coisa toda, porque você sabe que a política influi muito nessas coisas e muitas vezes a pessoa ao invés de continuar, destrói. E foi o que aconteceu na Paraíba porque ao invés do nosso trabalho educacional de Educação Artística progredir, declinou, né? Declinou até demais, hoje não, é que Vólia vive coitada, morrendo, sofrendo demais, Vólia é uma sofredora e além de tudo uma heroína, porque você sabe, não sei se Iraci lhe disse, porque Vólia para manter aquela escola, ela paga parece a 4 ou 5 professores pela caixa da escola, porque o governo não contrata professores para a escola. Basta lhe dizer que a Secretaria de Educação no tempo que eu fui assessora da escola, não mandava nem papel higiênico pra escola, tudo era do nosso trabalho, do nosso esforço, não é brincadeira a pessoa manter uma escola com 400 alunos como tem a escola de música, com recurso próprio, porque os professores que tem pago pelo estado são pouquíssimos, porque a maioria já se aposentou, né? E não foram substituídos, é isso aí.

Olhe, eu trouxe umas fotos aqui de Gerardo Parente, quer ver?

DÉBORA: Quero!

De quando ele já estava doente... DÉBORA: Ah! Meu Deus do céu. Não, não.

Então, foi da época que eu comecei a fazer a pesquisa sobre ele. DÉBORA: Sei, sei.

Olhe essa aqui, é Atenilde Cunha.

DÉBORA: Eu me lembro de Atenilde. É cantora, cantou muito tempo com ele. Aliás, ela

vinha cantar e sempre quem a acompanhava no piano era ele. Ela era do recife?

De Natal. Mais uma vez obrigada, viu?

**********************

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ANEXO - F DEPOIMENTO DE LUZIA SIMÕES DATILOGRAFADO

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ANEXO - G EMAILS DE ERMANO SOARES DE SÁ

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De: Ermano

Data: 11/01/2006 (11:03:32)

Assunto: foto de Gazzi (V. anexo) Prioridade: Normal

Para: <lucenicaetano >

[ ver cabeçalho da mensagem ]

Prezada Luceni, Este é um teste para eu verificar se as fotos que eu enviar chegarão ao seu endereço de e-mail. Responda logo que puder, por favor. Lamento muito. Coloquei minha casa de cabeça para o ar e não encontrei a preciosa pasta em que minha mãe arquivou recortes de jornais mais ou menos de 1945 a 1947 incluindo a polêmica de alguns rapazes da época que fizeram uma aparentemente gratuita agressão e perseguição a meu pai como profissional da música. Meu filho Leonardo, que mora em Paris, esteve aqui em abril do ano passado (2005) e, como nós pensamos em vender nossa maravilhosa casa e comprar um apartamento no centro de Niterói, resolveu me ajudar e colocou em caixas muitos livros e papéis para auxiliar na mudança que aconteceria e guardou tudo no sótão. Mas, telefonando para ele, ele não reconhece que este arquivo esteja em alguma dessas caixas... E eu não vejo motivo para que ele fizesse isto pois ela ficava guardada em um armário no meu escritório que não entrou naquela arrumação das caixas. Posso rever, e o estou fazendo, a minha procura mas já perdi a esperança de que eu venha achar no pouco tempo que me resta aquele arquivo. Estão indo mais e-mails com mais fotos! Um abraço. Ermano.

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De: Ermano

Data: 19/01/2006 (09:46:05) Assunto: Dificuldade em ajudar.

Prioridade: Normal Para: 'lucenicaetano'

[ ver cabeçalho da mensagem ]

Prezada Luceni, Você é uma pessoa muito paciente, compreensiva. É muito bom trabalhar com alguém assim. A falha é minha: prometi coisas antecipadamente que não estou conseguindo, infelizmente, cumprir. Peço-lhe mil desculpas. Mas considere que não esquecerei nunca minhas promessas e vou cumpri-las se puder e assim que puder! Ainda há cerca de um ano ou um ano e meio estive com os recortes de minha mãe nas mãos. Só entendo uma coisa: ou eu os guardei em outro lugar ou, pior, meu filho Leonardo pode tê-los trancafiados em uma de dezenas de caixas, lacradas, com papéis importantes da família, livros etc e colocado no sótão onde, fisicamente, não tenho acesso. A sua ótima intenção era de nos ajudar a, um dia, estarmos prontos para nos mudarmos para um apartamento mais central, em Niterói. Mas não estou afirmando que esses recortes estejam lá em cima. Ele diz, de Paris, que não estão. Então, é continuar procurando!... Procurando e re-arrumando. Não sossegarei. Mas você não sabe as montanhas de papéis que tenho em casa, muitos desarrumados. É também uma chance que tenho em reorganizar tudo. Os jornais que eu lia, que eu me lembre, em 1946, 1947 em João Pessoa, eram A União (do governo) e A Tribuna ou A Tribuna da Imprensa (da oposição; acho que era de um partido chamado União Democrática Nacional ou UDN, adversária do partido do poder , o Partido Social Democrático ou PSD que a "revolução" de 1964 fechou). Provavelmente você não terá muitas dificuldades de determinar o seu nome exato. O trabalho agora é você procurar se há cópias deles guardadas em algum depósito, biblioteca etc. Estes jornais ainda circulam? Aqui fico, sempre à sua disposição. Dê-me sempre notícias suas e das suas necessidades quanto ao estudo de Gazzi de Sá. Continuarei sempre tentando ajudá-la. Um abraço. Ermano.

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De: Ermano

Data: 3/02/2006 (01:29:02) Assunto: Re: Sobre Gazzi de Sá

Prioridade: Normal Para: 'lucenicaetano'

[ ver cabeçalho da mensagem ]

Prezada Luceni, É bom saber que você está no final do trabalho. Algum dia eu vou poder lê-lo? A prometida impressão das obras completas de Gazzi de Sá nunca foi totalmente cumprida, como acontece muito no Brasil. Só o primeiro e o sexto volume da coleção ficou preparada. Nunca foram imprimidos do 2o ao 5o, nenhum deles! E nem o serão! Lamento! Um abraço. Ermano.

----- Original Message -----

From: lucenicaetano

To: ermano

Sent: Wednesday, February 01, 2006 12:28 PM

Subject: Sobre Gazzi de Sá

Ermano, tudo bem?

Estou no final do trabalho. Te escrevo para saber como é possível adquirir o segundo volume das obras de Gazzi de Sá(Música coral- motivos folclóricos do Nordeste), pois escrevo um pouco sobre o interesse dele pela cultura popular e por isso gostaria de conhecer este volume. E mais adiante, gostaria de adquirir todos os outros volumes.

Aguardo sua resposta.

Um abraço,

Luceni.

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ANEXO - H DEPOIMENTOS SOBRE O MÉTODO GAZZI DE SÁ

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“... A razão de minha visita era justamente a de conhecer e apreciar

um novo sistema para dar virtude, utilidade, humanidade, eficácia,

eficiência, proficuidade, interesse a um ensino que o excesso de ferozes

teorias e ausência da própria música estão desvirtuando, desfigurando,

adulterando, estropiando. Villa-Lobos bem teria gostado do seu Auditório

repleto de juventude (como nunca eu tinha visto) finalmente entusiasta e

canora.

A audição - apresentada pelo próprio diretor, Professor Otacílio Braga -

baseava-se em estudos e experiências do Prof. Gazzi Galvão de Sá; este

criou um sistema de aproximar os jovens da música, cuja aparência um

pouco artificiosa e complexa, imediatamente desaparece diante dos

resultados.

Assisti às primeiras tentativas de um grupo de crianças das escolas

primárias, que, com apenas poucos dias de estudo, conseguiram decifrar

uma melodia que logo cantaram com o evidente prazer da conquista

alcançada. Assisti às tranqüilas realizações de Scarlatti, Buxtehude e

Vitória.

Não era então isso, com que sonhava Heitor Villa-Lobos?

A audição de quinta-feira pede que se estudem, mais detidamente, esses

métodos novos, e os resultados alcançados. Oxalá que aí que tenhamos um

ponto de partida para que a música se torne útil e viva nas escolas como

nas tantas do exterior das quais me ocupei aqui tantas vezes.”

RENZO MASSARANI Crítico musical do “Jornal do Brasil” e Assessor

Musical do Ministério da Educação e Cultura

Do artigo publicado no “ Jornal do Brasil” de

11/04/61.

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“Venho prestar-lhe meu depoimento sobre seu método de musicalização,

como uma contribuição da experiência que tive ao empregá-lo

pessoalmente, assim como orientando professores no uso da mesma

técnica, a mais de 4 (quatro) anos em várias escolas do Estado da

Guanabara, ex-Distrito Federal.

Em primeiro lugar, devo destacar que reputo o seu método como o mais

eficiente processo pedagógico para musicalização que tive oportunidade de

conhecer.

Creio, e estou absolutamente convencido, de que o uso desta técnica

pelos professores de música em geral, resolverá vários problemas

fundamentais, com rapidez e suavidade, o que somente é conseguido com

grande esforço, pelos processos rotineiros e tradicionais.

Ao seu método pode-se aplicar o velho chavão: ‘de obter o máximo

rendimento com um mínimo de esforço’.

De fato, sua técnica de ensino, a todos os que a praticam, surpreende

pela lógica com que explica os fenômenos da formação de uma consciência

de som, ritmo, harmonia, fraseologia, etc.

Acompanhando a didática mais avançada dia a dia conquistada pela

pedagogia em geral, seu método de musicalização veio colocar o ensino de

canto orfeônico no lugar de destaque que seu criador, o Maestro Heitor

Villa-Lobos, imaginou ver um dia situado.

...Desejo consignar mais uma vez a valiosíssima contribuição que sua

técnica de ensino trouxe para a pedagogia da música e do canto orfeônico

em particular, proporcionando aos professores uma maior economia de

meios, fazendo-os despojarem-se do supérfluo que ainda, infelizmente,

constitui a rotina observada no ensino da música em nosso país.”

JOSÉ VIEIRA BRANDÃO Pianista, compositor, professor catedrático do

Consevatório Brasileiro de Música

Livre docente de Piano da Escola da UFRJ de Música

Membro da Academia Brasileira de Música.

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Anexo - I