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6/A Cara do Cinema Nacional:
gnero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros
(2002-2012)Marcia Rangel Candido
Gabriella Moratelli Vernica Toste Daflon
Joo Feres Jnior
textos paradiscusso
Grupo de Estudos Multidisciplinaresda Ao Afirmativa
Expediente
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
Instituto de Estudos Sociais e Polticos IESP
Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ao Afirmativa
gemaa.iesp.uerj.br
Coordenadores
Joo Feres Jnior
Luiz Augusto Campos
Pesquisadores Associados
Marcia Rangel Candido
Veronica Toste Daflon
Assistentes de pesquisa
Gabriella Moratelli
Thyago Simas
Leandro Guedes
Capa, layout e diagramao
Luiz Augusto Campos
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 2
6/ textos para discusso gemaa A Cara do Cinema Nacional: gnero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012)
Marcia Rangel Candido Pesquisadora IESP-UERJ
Gabriella Moratelli Pesquisadora IESP-UERJ
Vernica Toste Daflon Pesquisadora IESP-UERJ
Joo Feres Jnior Professor IESP-UERJ
Este texto discute a questo da diversidade na produo cinematogrfica brasileira. Para termos uma compreenso da distncia entre estatuto legal e realidade, primeiro apresentamos um levantamento da legislao existente no tocante incluso dos negros na produo audiovisual. Em seguida, a partir de uma anlise quantitativa dos filmes nacionais de maior bilheteria entre 2002 e 2012, estabelecemos a distribuio das funes de direo, roteirizao e atuao, de acordo com as variveis cor e gnero. O objetivo principal constatar quais so os agentes construtores da representao e como ela construda.
Os estudos sobre o cinema brasileiro que se ocupam das questes de cor e
gnero frequentemente concedem preferncia descrio de personagens e
abordagem de filmes especficos. O presente texto busca contribuir para o
debate sobre representao a partir de um recorte diferente, que d tratamento
quantitativo a um corpus composto por filmes brasileiros que conquistaram
maior bilheteria no pas ao longo da ltima dcada. Ao optar pelo presente
escopo de pesquisa, procuramos caracterizar a produo nacional que obteve
mais difuso comercial nos ltimos anos. Partimos de duas questes centrais:
h diversidade nos processos de criao dos filmes? Os diferentes grupos sociais
encontram-se representados nessas produes? Entende-se aqui que o cinema
um espao a partir do qual se difundem padres estticos e costumes que
ajudam a formar a percepo das pessoas sobre o mundo e sobre si mesmas
(Kellner, 2001). Embora no se possa negar a possibilidade de agncia dos
indivduos, necessrio atentar para as formas simblicas que participam em
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 3
sua formao. Se h uma linha tnue entre representaes, formao de valores
e de expectativas sociais, a democratizao dos espaos e, em particular, da
mdia de suma importncia para que os sujeitos possam obter estima social,
elemento constitutivo da integridade humana. Afinal, como assinala Axel
Honneth (1992), a introjeo pelo sujeito de uma imagem negativa de si mesmo
limita sua capacidade de se constituir como igual perante seus parceiros de
interao social. Nesse sentido, a constatao de que existe um monoplio na
produo de representaes por um grupo majoritariamente branco, de elite e
do gnero masculino sugere que os meios audiovisuais operam como uma caixa
de ressonncia das ideias de um grupo dominante e, portanto, difundem
esteretipos e representaes enviesadas das vivncias de outros grupos sociais.
Em outras palavras, eles hipoteticamente funcionam como uma pedagogia da
inferioridade e da hierarquia social, emprestando-lhes um aspecto de
naturalidade e legitimidade aos olhos de quem quer que consuma seus
produtos, no caso aqui, filmes.
O debate sobre representao e diversidade na cultura tema amplamente
explorado pelas cincias humanas. Regina Dalcastagn (2007), por exemplo,
demonstrou como o campo literrio se configura como um espao de
excluso1, no qual homens brancos so maioria, seja entre personagens ou
autores. Do mesmo modo, em nosso estudo sobre o campo do cinema,
buscamos dar centralidade s categorias de raa e gnero, visando a identificar
os grupos mais expostos a excluses e sub-representao.
O cinema brasileiro se configurou historicamente como um campo pouco
diverso. No temos aqui o objetivo de expor sua histria de modo exaustivo, seja
do ponto de vista das relaes raciais, seja do ponto de vista de gnero. Contudo,
vale ressaltar alguns momentos a ttulo de ilustrao. O trabalho de Noel dos
Santos Carvalho (2005) demonstra como o negro esteve historicamente exposto
a um papel de subalternidade, no obtendo protagonismo e tampouco uma
1 DALCASTAGN, Regina. A auto-representao de grupos marginalizados: tenses e estratgias na narrativa contempornea. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.42, n.4, p.18-31, dezembro 2007. Disponvel em: < http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/4110/3112>. Acesso em: 28 de julho de 2014.
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 4
participao significativa na produo cinematogrfica. Na poca do cinema
mudo, final do sculo XIX e comeo do sculo XX, negros s apareciam nas
filmagens como figurantes acidentais. A partir do desenvolvimento da tcnica de
decupagem, isto , a diviso de uma cena em planos, o cinema se embranqueceu
ainda mais, pois agora era tecnicamente possvel introduzir cortes e, assim,
eliminar imagens indesejadas de negros, pobres, indgenas, entre outros, nos
processos de montagem (Carvalho, 2005).
Isso permitiu que o ideal de embranquecimento da populao fosse transposto
para as telas. Em torno da dcada de 1950, o gnero da chanchada introduziu a
representao do negro, mas na forma de uma caricatura exotizada e
estereotipada (Carvalho, 2005). No mesmo perodo, com inspirao no sucesso
das chanchadas, mas buscando se dissociar daquilo que percebia como
vulgaridade, a burguesia paulistana direcionou investimentos para a construo
de uma cultura que se espelhasse na produo europeia e fosse acessvel elite.
A Companhia Vera Cruz nasceu desse desejo e deu preferncia contratao de
diretores estrangeiros ou brasileiros que haviam trabalhado no exterior (Stam,
1997). A idealizao da branquidade foi central na produo da Vera Cruz, que
era flagrantemente racista (Carvalho, 2005). Antes de fechar as portas, a
empresa ainda tentou popularizar a temtica de seus filmes, por vislumbrar
chances de maior sucesso comercial (Stam, 1997).
O marco que representou um avano na mudana na representao dos negros
foi o Cinema Novo, desenvolvido a partir de uma perspectiva de esquerda,
durante a dcada de 1960. Esse cinema configurou-se como antirracista e como
fundador de uma nova representao, contrria aos esteretipos dominantes do
negro (Carvalho, 2005). A despeito disso, h quem aponte para uma falta de
enfrentamento da ideologia do branqueamento que pairava no contexto
nacional, pois foram poucos os filmes que romperam com a esttica dominante
(Arajo, 2006). Se houve avanos na incluso de atores e atrizes negros, este
avano no se estendeu s funes de direo e roteiro, que permaneceram nas
mos de realizadores brancos (Carvalho, 2005). No que toca perspectiva de
gnero, a participao feminina continuou sendo irrisria (Alves et al; 2011).
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 5
Com o golpe de 1964, as mudanas que estavam em curso foram em parte
estancadas, ainda que na dcada de 1970 tenha havido no Brasil uma influncia
difusa dos movimentos sociais negros norte-americanos e africanos (Carvalho,
2005). Tambm nesta dcada, a representao da mulher comeou mudar, em
conjunto com outros valores sociais que marcam uma mudana cultural mais
ampla (Alves et al; 2011).
Segundo dados do IBGE (2010), 22% dos brasileiros so do sexo masculino e de
cor branca, 26% do sexo masculino e de cor parda ou preta, 24% do sexo
feminino e de cor branca e 27% do sexo feminino e de cor preta ou parda. A
despeito da diversidade da populao, os espaos de representao que possuem
mais visibilidade permanecem fechados ao monoplio de grupos minoritrios.
Nas telenovelas da Rede Globo transmitidas entre os anos de 1993 e 1997,
apenas 7,9% dos 830 atores eram de cor preta ou parda. O padro de excluso
foi verificado tambm na publicidade: do total de 1.204 modelos que figuraram
em anncios publicitrios veiculados pela Revista Veja entre 1994 e 1995,
somente 6,5% eram negros. Durante esse mesmo perodo, os anncios presentes
na Revista Nova, voltada para o pblico feminino, apresentaram apenas 4% de
modelos pretos e pardos (DAdesky apud Telles, 2004).
Ao examinar a situao de desigualdade de gnero no cinema brasileiro em
perspectiva histrica, Paula Alves et al. (2011) identificam uma participao
diminuta das mulheres em cargos de direo e roteiro ao longo do tempo,
embora tenha havido uma trajetria de crescimento nos ltimos anos. Segundo
Alves et al., ao entrarem em contato com o cinema como consumidoras, as
mulheres foram expostas ao olhar masculino dominante que as colocava em
uma posio objetificada e mercantilizada. No entanto, esta anlise permanece
alheia questo racial.
O presente estudo se prope a cobrir essa lacuna ao levar em conta as duas
variveis, raa e gnero, na anlise da produo cinematogrfica brasileira
comercial. Primeiro, elencaremos a legislao existente sobre a incluso dos
negros nos espaos de representao. Em seguida, apresentaremos a
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 6
metodologia de pesquisa empregada. Por fim, discutiremos os dados gerados e
as concluses.
Legislao e igualdade racial
Leis municipais. A partir de um mapeamento, encontramos um total de nove
leis municipais que tm por objetivo ampliar a representao dos negros na
mdia audiovisual. Destas nove, apenas cinco leis estabelecem efetivamente
cotas de representao. A obrigatoriedade de observncia de tais cotas, por sua
vez, recai apenas sobre agncias e produtoras independentes contratadas por
prefeituras, o que exclui produtoras e agncias privadas. Isso significa que as
poucas leis existentes que estipulam cotas de representao no audiovisual
recaem apenas sobre a produo independente, que no est vinculada aos
grandes estdios e tampouco s grandes distribuidoras. Em outras palavras, as
leis, alm de escassas, no atingem o cinema comercial. A nica lei que
contempla ambas as formas de produo a n 3.269, de 30 de agosto de 2011,
sancionada na cmara do municpio do Rio de Janeiro, e que determina a
incluso de no mnimo 40% de artistas e modelos negros na elaborao e
produo de filmes subvencionados ou coproduzidos pela Prefeitura.
Leis estaduais. Na esfera estadual encontramos trs leis. Duas so estatutos de
promoo da igualdade racial sancionados pelos governos do Rio Grande do Sul
(2011) e da Bahia (2014). Tais normas contm artigos quase idnticos aos do
Estatuto da Igualdade Racial2 aprovado em mbito federal em 2010. Assim
como ocorre com a maior parte das leis municipais, os artigos so voltados para
a esfera pblica e, ao se referirem promoo de igualdade de oportunidades,
utilizam redao vaga e inespecfica, como fica exemplificado nos excertos:
assegurar igualdade de representao (...); adotar a prtica de conferir
oportunidades; assegurar a representao justa e proporcional dos diversos
segmentos raciais da populao. Mesmo quando se tenta estabelecer
parmetros quantitativos para esta participao, so utilizados termos genricos
que, como mostra Silva (2010) ao analisar a trajetria do Estatuto da Igualdade
2 No se pretende com essa informao diminuir a importncia regional do avano e da promoo do debate pblico sobre o tema da igualdade racial. Porm, constatou-se que houve poucas mudanas nos textos destes estatutos comparando-se ao que foi formulado na esfera federal.
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 7
Racial federal, possuem carter mais autorizativo do que impositivo. Vejamos o
artigo 20 do Estatuto da Igualdade Racial do Rio Grande do Sul:
A idealizao, a realizao e a exibio das peas publicitrias veiculadas pelo Poder Pblico devero observar percentual de artistas, modelos e trabalhadores afrodescendentes em nmero equivalente ao resultante do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE - de afro-brasileiros na composio da populao do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul, 2011).
Leis federais. Na esfera federal, o Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em
20 de julho de 2010, representou um avano importante de atendimento s
demandas do movimento negro no Brasil. A elaborao deste estatuto teve como
ponto de partida o Projeto de Lei n 3.198/2000, proposto pelo senador Paulo
Paim e elaborado em colaborao com o movimento negro, seguido por dois
substitutivos (Silva, 2010)3. No que diz respeito participao de artistas negros
em filmes, programas e peas publicitrias, o estatuto determina, em seu artigo
44, que devam ser garantidas oportunidades iguais a atores, figurantes e
tcnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminao de natureza
poltica, ideolgica, tnica ou artstica (Brasil, 2010). Acrescenta ainda, em seu
artigo 46, a necessidade de incluir clusulas de participao de artistas negros
nos contratos de realizao de filmes, programas ou quaisquer outras peas de
carter publicitrio (Brasil, 2010). No entanto, o estatuto no estabelece um
percentual ou uma proporo especfica. No Grfico 1 podemos ver como as
proposies de leis se distribuem pelas esferas de governo.
Grfico 1: Quantidade de leis sobre representao visual dos negros propostas em cada esfera de governo, com destaque para cotas
3 Os substitutivos foram: PL n 213/2003 e o PL n 7.720/2010.
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textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 9
Tabela 1: Sntese das leis de promoo da diversidade na mdia e na produo cinematogrfica
4 Em seu artigo 2 determina que consideram-se pessoas afrodescendentes as que se enquadram como negros, pardos ou denominao equivalente, conforme classificao adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.
Categoria Local Data Nmero Direo Objetivo
Municipal Vitria 02/05/1995 4193 Agncias de publicidade e produtores independentes contratadas pela Prefeitura. Assegurar a pluralidade tnica na idealizao de
comercial e anncio.
Municipal Rio de Janeiro 15/05/1995 2325 Agncias de publicidade e produtores
independentes contratados pela Prefeitura. COTAS: incluso de 40% dos artistas e modelos negros na realizao de comercial ou anncio.
Municipal Belo Horizonte 17/11/1995 6979 Agncias de publicidade e produtores
independentes contratados pela Prefeitura. COTAS: incluso de 40% de modelos negros em
filmes e demais peas publicitrias.
Municipal So Paulo 13/06/1997 12353 Agncias de publicidade e produtores
independentes contratados pela Prefeitura do Municpio.
Incluir artistas e modelos negros na realizao de comercial ou anncio.
Municipal Rio de Janeiro 30/08/2001 3269 Filmes subvencionados ou coproduzidos pela
Prefeitura. COTAS: incluso de 40% de atores e modelos
negros na realizao de filmes.
Municipal So Mateus 16/09/2003 241 Agncias de publicidade e produtores
independentes contratados pela Prefeitura. Assegurar a pluralidade tnica na realizao de
comercial ou anncio.
Municipal Campinas 13/12/2004 12156 Empresas que participarem de licitaes e
concorrncias promovidas pela Administrao Municipal.
COTAS: observar a cota mnima de atores e modelos afrodescendentes4 nas peas
publicitrias.
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 10
5 Institui o Estatuto da Igualdade Racial no Estado do Rio Grande do Sul.
Municipal Joinville 09/06/2005 5229 Agncias de publicidade e propaganda contratadas pelo Poder Executivo Municipal. COTAS: incluso de no mnimo 20% de artistas negros na realizao de comercial ou anncio.
Municipal Cricima 02/12/2010 5709 Agncias de publicidade e/ou produtores independentes, contratados pelos rgos
pblicos municipais.
COTAS: incluso de no mnimo 20% de artistas e modelos negros da idealizao e realizao de
comercial ou anncio.
Estadual Esprito Santo 23/06/2005 8062 Agncias de publicidade e produtores
independentes, contratados pelo Governo do Estado.
COTAS: incluso de no mnimo 40% de artistas e modelos negros na realizao de comercial ou
anncio.
Estadual Rio
Grande do Sul
2011 136945 Poder Pblico (artigo 20).
Observar percentual de artistas, modelos e trabalhadores afrodescendentes em nmero
equivalente ao resultante do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE - de
afro-brasileiros na composio da populao do Rio Grande do Sul na idealizao, realizao e
exibio das peas publicitrias.
Estadual Rio
Grande do Sul
2011 13694 Emissoras de televiso e salas cinematogrficas (artigo 22).
Adotar a prtica de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e tcnicos
negros, sendo vedada toda e qualquer discriminao de natureza poltica, ideolgica,
tnica ou artstica na produo de filmes, programas e peas publicitrias.
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 11
6 Institui o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate Intolerncia Religiosa no Estado da Bahia. 7 Institui o Estatuto da Igualdade Racial
Estadual Rio
Grande do Sul
2011 13694 rgos e entidades da Administrao Pblica Estadual (artigo 23).
Tonar possvel a incluso de clusulas de participao de artistas negros nos contratos de
realizao de filmes, programas ou quaisquer outras peas de carter publicitrio nos termos
da Lei Federal n. 12.288/2010.
Estadual Bahia 2014 131826
Poltica de comunicao social do Estado e publicidade dos atos, programas, obras, servios
e campanhas institucionais do Estado (artigo 60).
Assegurar a representao justa e proporcional dos diversos segmentos raciais da populao nas peas institucionais, educacionais e publicitrias, observando-se o percentual da populao negra
na composio demogrfica do Estado.
Estadual Bahia 2014 13182 Emissoras pblicas estaduais de teledifuso e radiodifuso (artigo 61).
Desenvolver programao pluralista, assegurar a divulgao, valorizao e promoo dos diversos
segmentos tnico-raciais, religiosos e culturais do Estado.
Federal Brasil 20/07/2010 122887 Emissoras de televiso e salas cinematogrficas (artigo 44).
Adotar a prtica de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e tcnicos
negros, sendo vedada toda e qualquer discriminao de natureza poltica, ideolgica,
tnica ou artstica.
Federal Brasil 20/07/2010 12288
rgos e entidades da administrao pblica federal direta, autrquica ou fundacional, as
empresas pblicas e as sociedades de economia mista federais (artigo 46).
Incluir clusulas de participao de artistas negros nos contratos de realizao de filmes,
programas ou quaisquer outras peas de carter publicitrio.
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 12
A partir da coleta de dados do contedo das leis municipais, estaduais e
federais, observamos que houve uma evoluo maior nos estados e municpios
do que na esfera federal. Entretanto, em nenhuma das esferas houve avano
efetivo no que diz respeito interveno na mdia de carter privado. Ao no
estipularem cotas, metas e/ou quantidades especficas, optando pelo uso de
termos genricos, as leis do liberdade para que cada empresa, agncia ou
produtora, defina por si o contingente de negros nas suas produes, o que
contribui para a baixa efetividade dessas normas.
A cara do cinema brasileiro Metodologia
A metodologia do trabalho consistiu em uma anlise descritiva dos filmes de
maior bilheteria do cinema brasileiro entre 2002 e 2012. Para tal, foram usadas
como fonte de pesquisa as listagens anuais que a Agncia Nacional do Cinema
(Ancine) divulga em seu website (http://www.ancine.gov.br/). O recorte
estabelecido contemplou os 20 filmes que obtiveram maior bilheteria em cada
ano8, excluindo os documentrios e os filmes infantis, o que totalizou um corpus
de 218 longas-metragens.9 Tambm empregamos uma classificao mais
abrangente com outros critrios como ambientes10 de locao, regies11 e idade
dos atores e atrizes. Contudo, o presente texto se concentrar em algumas
variveis especficas. Analisaremos as caractersticas dos diretores, roteiristas e
atores/atrizes, que foram classificados segundo seu gnero feminino e
masculino - e cor.
Para definir a primeira varivel, optamos pelo conceito de gnero, segundo o
qual o feminino e o masculino so produtos de construes sociais e no
necessariamente do sexo biolgico. Com respeito varivel de cor, utilizamos a
heteroidentificao racial, ou seja, o grupo de cor de cada sujeito pesquisado foi
aferido pelos prprios pesquisadores. Para classificar a cor, utilizamos as
8 Com exceo para o ano de 2012, onde ao retirar os filmes infantis e os documentrios, s foram computados 18 filmes. 9 O filme 5 X favela foi retirado da amostra por ser um outlier, ou seja, por ter um nmero incomum de diretores, roteiristas e atores. 10 Os ambientes foram divididos entre: urbano, rural, rea indgena, serto, favela e asfalto. 11 As regies classificadas foram: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
textos para discusso do gemaa / ano 2014 / n. 6 / p. 13
categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE): branca,
preta, parda, amarela e indgena.12 A cartela de cor da Pesquisa Social Brasileira
(Almeida et al, 2002) serviu como parmetro para que os codificadores da
pesquisa categorizassem a cor dos atores, roteiristas e diretores dos filmes, cujas
fotografias foram obtidas em pesquisa na internet. Ocupamo-nos no apenas
dos protagonistas, mas tambm do elenco principal dos filmes, selecionando
atores e atrizes que tivessem algum tipo de destaque nos trailers, sinopses13 ou
cartazes de divulgao dos filmes. Alm disso, foi dada ateno para a questo
da heteronormatividade entre os personagens, isto , buscamos verificar se h
espao para a representao de orientaes sexuais diversas. O objetivo geral
aqui proposto mostrar quem so os agentes construtores da representao e
quem so os indivduos construdos por ela, buscando constatar se h
diversidade em ambos os quesitos.
Resultados
A presente pesquisa se prope a verificar se os padres de excluso de raa e
gnero verificados na televiso se repetem no cinema brasileiro comercial. A
srie de grficos que se segue apresenta os percentuais de participao de
homens e mulheres, negros e brancos no cinema. Examinamos as funes de
direo, roteirizao e, por fim, a de atuao, observando a distribuio dos
indivduos por gnero e cor. Uma rpida anlise da correlao entre o cargo de
diretor e os gneros cinematogrficos dos filmes permite tambm verificar se h
vis na presena de diretores e diretoras conforme o tipo de filme em questo.
1) Diretores
O diretor ocupa o cargo mais prestigioso dentro da produo de um filme e
tambm considerado o principal criador da obra cinematogrfica. O Grfico 2,
que expe as frequncias relativas de diretores dos gneros masculino (86,3%) e
feminino (13,7%), demonstra que h um vis muito desfavorvel s mulheres.
Em termos gerais, isso significa que ainda que as mulheres estejam presentes
nas telas de cinema, elas esto mormente em uma posio de objetos de
12 OSRIO, 2003. P. 7 13 O site usado como fonte para as sinopses foi o http://www.cineclick.com.br/
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todo caso, seja qual for sua natureza moderna ou ps-moderna a identidade na sociedade contempornea cada vez mais mediada pela mdia que, com suas imagens, fornece moldes e ideais para a modelagem da identidade pessoal. (Hall, 2006: 317)
A afinidade com a publicidade e o consumo, a lgica de produo industrial e a
ambio por uma ampla audincia, por sua vez, tendem a fazer do cinema um
meio predominantemente conservador, orientado por frmulas, cdigos e
normas convencionais, assim como normalmente refratrio a contedos que
contrariem um olhar presumidamente conservador do espectador. Se somarmos
a isso a predominncia de indivduos brancos, de elite, e do gnero masculino
nos mbitos da direo, roteirizao e atuao no cinema, o carter conservador
do cinema torna-se ainda mais pronunciado, uma vez que os contedos da
derivados tendem a reverberar opinies associadas classe social, raa e gnero
de seus produtores. A entrada de grupos minoritrios nesses espaos traria a
esperana de que novas perspectivas possam contribuir para uma viso de
mundo mais aberta, menos enviesada e livre de esteretipos, onde as diferenas
que compe nossa sociedade possam ser representadas, e no invisibilizadas.
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Como citar Candido, Marcia Rangel; Moratelli, Gabriela; Daflon, Vernica Toste;
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