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GEOMETRIAS – PARTE 2 Valdeni Soliani Franco [email protected]

GEOMETRIAS PARTE 2 · euclidiana, a saber, triângulo, círculo, quadrado, retângulo etc. O problema é que o ensino das figuras da geometria euclidiana é, muitas vezes, traduzido

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GEOMETRIAS – PARTE 2

Valdeni Soliani Franco [email protected]

No que diz respeito ao trabalho com a movimentação e

a localização, o ensino da geometria, no ciclo de

alfabetização, deve propiciar aos alunos desenvolver

noções de lateralidade (como direita e esquerda),

noções topológicas (como dentro e fora e vizinhança),

utilizando o próprio corpo e outros objetos/pessoas

como pontos de referências (BRASIL, 2012).

Em BRASIL, Ministério da Educação – Secretaria da

Educação Básica, temos que:

➢ Você é vizinho de Paulo?

➢ Maria derramou o café fora da xícara?

➢ José está separando Maria de Mário?

➢ Ou ele está entre Márcia e João?

➢ O móvel já está dentro da sala?

➢ Qual a divisa (fronteira) entre o Paraná e São Paulo?

➢ Roberto é um cara aberto?

➢ Já temos direção para caminhar ?

Compare as quatro primeiras perguntas com as demais

PERGUNTAS

➢ Qual é o comprimento desta sala?

➢ Qual a medida do ângulo feito por aquelas duas paredes?

➢ Qual área desta sala?

➢ Qual à distância de Londrina até Maringá?

Entre os dois grupos de perguntas anteriores, há então

uma diferença notável: o primeiro grupo está relacionado à

quantidade do objeto, do fenômeno etc., enquanto o

segundo grupo se relaciona com a qualidade.

UMA CONCLUSÃO

A mesma pergunta para o segundo grupo.

Vocês conhecem alguma “parte da Matemática” que

estuda o primeiro grupo, dando-lhe respostas satisfatórias?

A primeira pergunta será, com certeza, respondida

prontamente por você: “A Geometria que estudei nos

primeiros anos escolares”.

Quanto a segunda podemos lhe assegurar que existe

uma “parte” da Matemática, na qual você encontrará

repostas satisfatórias envolvendo os conceitos sublinhados

no segundo grupo de perguntas acima. Esta “parte” da

Matemática chama-se Topologia.

OUTRAS CONCLUSÕES

NOÇÕES TOPOLÓGICAS

Portanto, noções de longe/perto (vizinhança);

dentro/fora (interior/exterior); aberto/fechado;

separado/unido (conexo-desconexo); contínuo

/descontínuo; orientado/não-orientado, são noções

topológicas. Claramente, estas noções costumam vir

associadas à outras tais como: adjacências

(proximidade), ordem etc., as quais, igualmente se

incluem no rol das noções topológicas. Quando eu

digo: “estou junto de você”, emprego, por assim dizer,

uma linguagem topológica ou seja, nesta frase,

emprego noções topológicas.

NOÇÕES TOPOLÓGICAS

Considere as duas figuras abaixo

Qualquer pessoa de “bom senso” dirá

imediatamente: não há nenhuma coisa em comum a

essas duas figuras (a menos da cor é claro).

NOÇÕES TOPOLÓGICAS

A segunda figura é uma “deformação” da primeira e

pode lembrar tudo, menos o quadrado da sua

esquerda. No entanto, um exame mais atento revela o

seguinte: apesar de toda a “deformação” apresentada

pela segunda figura em relação à primeira, algumas

propriedades permaneceram invariantes pela distorção.

Quais são elas?

NOÇÕES TOPOLÓGICAS

• Ambas as figuras dividem o

plano em duas partes, a saber, o

interior e o exterior e temos

ainda o contorno da figura que

chamamos de fronteira.

• Ambas são constituídas de uma

única parte, ou seja, consigo

percorrer o interior de ambas sem

precisar passar pelo exterior.

• Pontos que são vizinhos no

quadrado, permanecem vizinhos

após a deformação.

NOÇÕES TOPOLÓGICAS

O tamanho e a forma de figuras não são

propriedades topológicas. Alguns autores chamam a

Topologia pitorescamente de: “Geometria da borracha”

ou “Geometria Elástica”, ou ainda, “Geometria das

Deformações”. É interessante observar que, as

propriedades topológicas de uma figura são

preservadas mesmo quando está submetida a

alterações na sua forma e tamanho, isto é, quando a

figura sob transformações topológicas perde muitas

de suas outras propriedades geométrica.

TRANSFORMAÇÕES TOPOLÓGICAS

Transformações topológicas, são alterações nos objetos,

que podem ser em uma linguagem coloquial, descritas

como:

➢ Esticar ou inflar o objeto, ou algumas de suas partes;

➢ Encolher o objeto, ou algumas de suas partes;

➢ Retorcer o objeto, ou algumas de suas partes;

➢ Cortar o objeto segundo uma linha suave nele demarcado

e, posteriormente, colar uma na outra as duas bordas que

foram geradas por esse corte, resgatando a superfície com a

linha nela originalmente demarcada (considerando a mesma

orientação) .

VEJAM E OUÇAM

https://www.youtube.com/watch?v=KLZMU0oyer8

https://www.youtube.com/watch?v=iN9fGDnWcFY

Focalizar o ensino de geometria nas instituições

educacionais e refletir sobre a construção de noções

geométricas pelas crianças abre espaço para outros

questionamentos:

➢ Como se dá a construção de noções geométricas

pela criança?

➢ Conhecimentos matemático-geométricos são desen-

volvidos somente via escolarização?

MAIS PERGUNTAS

Para responder essas perguntas, utilizamos como

referencial teórico Piaget e Inhelder (1993), que afirmam

que a intuição geométrica da criança é mais topológica do

que euclidiana e isso se prolonga aproximadamente até os

sete anos.

Como se dá a construção de noções

geométricas pela criança?

Em geral, por desconhecimento daqueles que atuam

nessa faixa etária os conceitos topológicos que são

trabalhados, não são percebidos pelos educadores como

tais, provavelmente por defasagem em suas formações.

Souza (2007) aponta que na escola há

predominância do ensino empírico de figuras da geometria

euclidiana, a saber, triângulo, círculo, quadrado, retângulo

etc. O problema é que o ensino das figuras da geometria

euclidiana é, muitas vezes, traduzido em erros conceituais.

Este ensino é realizado por uma conduta metodológica

equivocada em que os professores levam as crianças a

associarem as noções geométricas aos elementos postos

na natureza ou em construções feitas pelo próprio homem,

como se bastasse a elas identificá-los no ambiente

exterior por meio da percepção sensorial, visão e tato

especialmente.

Como se dá a construção de noções

geométricas pela criança?

Como se dá a construção de noções

geométricas pela criança?

Mas por que esta metodologia traduz-se em erros

conceituais? Porque a criança apenas realiza a tarefa de

associar elementos reais à teoria de Euclides, sem

elaborar os processos de ressignificação dos objetos e

seus padrões, pois é muito cedo cognitivamente para que

a criança compreenda o significado de tais elementos.

Se levarmos em conta a discussão de Piaget feita na

obra “A representação do espaço na criança”, o ensino

infantil poderia ser iniciado pela exploração de padrões da

“Topologia”, ou seja, da “Geometria das Deformações”

como também é conhecida. Essa maneira de denominar a

topologia nos indica o que devemos observar após uma

deformação no objeto. Como vimos, o sentido de

deformação topológico é o de esticar ou de encolher o

objeto como se este fosse de borracha.

Como se dá a construção de noções

geométricas pela criança?

Estádio Aviva (Dublin - Irlanda)

Fonte: https://sites.google.com/site/desmatematicos/3d/tira-de-moebius

MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói

MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói

O espelho d`água, natural ou artificial, é contemplado no

entorno de inúmeras obras de Niemeyer.

Museu Oscar Niemeyer - Curitiba

Mas também aparece em arquiteturas de

Santiago Pevsner Calatrava Vall.

EL HEMISFÈRIC

Questão

Alguns cientistas de um planeta chamado Planolândia, portanto

bidimensionais, tais como o Hum Quadrado, o Hum Triângulo e o

Hum Círculo resolveram conhecer melhor o mundo que viviam. Para

isso, organizaram uma expedição científica.

Planópolis

Planópolis

Quais são as possíveis formas deste planeta?

Esta linha vermelha foi pintada por eles

Planópolis

Planópolis

Em uma nova expedição científica, os mesmos cientistas resolveram

fazer uma nova rota. Ao invés de percorrer no sentido oeste-leste,

caminharam no sentido sul-norte. Deixaram agora uma marca verde.

Planópolis

Planópolis

Quais são as possíveis formas deste planeta?

Após este retorno,

eles observaram que

não haviam cruzado a

linha vermelha

nenhuma vez, ou seja, o

único lugar de

cruzamento das linhas

vermelha e verde foi no

início do percurso. E

agora?

Não teve!!!!!!!!

Planópolis

Impossível ser assim, não?

É possível ser assim?

TORO

A experiência da professora Janeti Marmontel Mariani,

que está na página 12 do caderno 5, e da citação de Piaget nos

leva a discussão de uma outra geometria: A Geometria

Projetiva.

Todo conhecimento é inseparável dos fenômenos de

representação

Raymond Duval [1995]

OLHEM ESSAS IMAGENS

OLHEM ESSAS IMAGENS

champs-elysees

OLHEM ESSAS IMAGENS

A Anunciação de

Santo Emídio

1486

Carlo Crivelli (1430-1495)

OLHEM ESSAS IMAGENS

OLHEM ESSAS IMAGENS

PERGUNTAS

Existe alguma parte da matemática que estuda isso?

É alguma Geometria?

Essa “parte” da Matemática ou a Geometria que estuda

esses objetos chama-se Geometria Projetiva.

VEJAM

GOBERT, Sophie. Questions de didactique liees aux

rapports entre la geometrie et l’espace sensible, dans le

cadre de l’enseignement a l’ecole elementaire. 2001. 318 p.

Diplome de Doctorat (Didactique des mathematiques) –

Universite Paris 7- Denis Diderot, Paris.

De acordo com Sophie Gobert

(2001), as seguintes competências

deveriam ser desenvolvida pelos

alunos:

➢ Ser consciente de que uma

representação indica um ponto de

vista, lugar no espaço de onde a

vemos;

➢ Ser capaz de mudar de ponto de

vista e de produzir uma

representação em consequência;

➢ Ser capaz de ler ou de deduzir

propriedades do objeto a partir de uma

representação, dominar as regras e as

convenções de escritura;

➢ Ter consciência da deformação das

propriedades geométricas, ou de sua

conservação, das ligações existentes

entre objetos e representações (...)

Como se dá a construção de noções

geométricas pela criança?

Um exemplo de uma ação da criança para a aprendizagem da

geometria projetiva, é oferecer a ela, a oportunidade de observar um

objeto de variados ângulos, mantendo a posição da criança e

mudando a posição do objeto e, mudando a posição da criança, mas

deixando o objeto imóvel. A partir do momento em que as crianças

reconhecem que as formas dos objetos dependem do ponto de vista

do observador inicia-se a estrutura projetiva.

A geometria euclidiana requer que as crianças construam a ideia

de que o espaço é constituído de objetos móveis e que a própria

criança também é um destes objetos. Assim, a movimentação de um

objeto sob esta perspectiva pressupõe que as formas, ângulos e

distâncias se conservem.

Conhecimentos matemático-geométricos são

desenvolvidos somente via escolarização?

Para Piaget o processo de se tornar humano é se tornar

matemático uma vez que nossa razão constrói-se pela lógica da ação.

Essa lógica permite-nos desenvolver o raciocínio lógico-matemático.

Segundo Becker (1998, p. 22) “Para Piaget, ser humano implica ser

matemático; tornar-se humano é tornar-se matemático, ou melhor,

lógico-matemático no sentido qualitativo e quantitativo, portanto,

matemático no sentido amplo”.

No caso da geometria, é possível observar as manifestações da

construção do espaço já no estágio sensório-motor, como por

exemplo, a capacidade de distinguir um objeto de outro, que é

necessária para qualquer construção espacial (topológica). Mais

tarde, quando começa a surgir o objeto permanente, o bebê aprende

que uma mamadeira vista de várias perspectivas é na realidade o

mesmo objeto (geometria projetiva) e ainda, torna-se capaz de

estimar a distância necessária para pegá-la (geometria euclidiana).

Conhecimentos matemático-geométricos são

desenvolvidos somente via escolarização?

Para a teoria construtivista, a fonte da aprendizagem está na

ação do sujeito, ou seja, “o indivíduo aprende por força das ações que

ele mesmo pratica: ações que buscam êxito e ações que, a partir do

êxito obtido, buscam a verdade ao apropriar-se das ações que

obtiveram êxito” (BECKER,2003, p.14).

Na relação professor e aluno isto é identificado quando as

crianças e os docentes aprendem juntos em patamares

diferenciados, porém ambos são modificados durante a relação que

estabelecem. Desta forma não há processo estático de ensino e

aprendizagem. Há o dinâmico, o inventivo, o novo.

Portanto, respondida negativamente a pergunta, o que se pode

fazer para que o desenvolvimento da criança e do adolescente, em

relação a compreensão do espaço em que vive, seja catalisado, via

escola?

PASSEIOS, OBSERVAÇÕES E ANOTAÇÕES

No caderno 5, na seção que trata da Geometria e o Ciclo de

Alfabetização, afirma que:

Muitas atividades podem ser realizadas no pátio ou na quadra da

escola, em um passeio ao zoológico, ao parque ou ainda a

cidades. Atividades de observação e registro de diferentes

figuras geométricas podem ser programadas pelo professor,

como por exemplo, uma visita a museus. Lá os alunos terão

contato com diferentes recursos utilizados pelos artistas, como

as figuras geométricas, a simetria, linhas retas e curvas,

paralelismo, proporções, regularidades e padrões. Um passeio

pela cidade pode propiciar às crianças a observação de placas de

trânsito que indicam como pedestres e motoristas podem se

movimentar, além de observação de fachadas de casas, prédios

e igrejas, bem como do formato das praças.

VEJAMOS UMA GEOMETRIA MUITO NOVA

conjunto de Mandelbrot

A GEOMETRIA DOS FRACTAIS

O nome “conjunto de

Mandelbrot” é devido ao

seu criador Benoit

Mandelbrot, que o

estudou por volta da

década de 1970.

Este conjunto é um

fractal e é um dos fractais

mais conhecidos e mais

estudados.

A GEOMETRIA DOS FRACTAIS

Vejamos algumas imagens do conjunto de Mandelbrot

ampliadas localmente:

A GEOMETRIA DOS FRACTAIS

A GEOMETRIA DOS FRACTAIS

Observamos que cada parte do conjunto (ampliada) se

assemelha ao conjunto todo, esta é uma propriedade dos

fractais, a auto-semelhança. Um fractal costuma apresentar

cópias de si mesmo em seu interior.

Olhando, por exemplo, para uma folha de uma árvore e

observando uma folhinha desta folha, vemos que esta

folhinha se assemelha a folha toda e se consideramos uma

parte ainda menor desta folhinha vemos que esta se

assemelha à anterior:

FRACTAIS NA NATUREZA

FRACTAIS NA NATUREZA

FRACTAIS NA NATUREZA

Obra do artista Maurits

Cornelis Escher

Cada vez menor

(1958), entalhe em

madeira e xilogravura

37,8 x 37,8 cm.

CONSTRUINDO FRACTAIS

BECKER, Fernando.Epistemologia genética e conhecimento matemático. In:

BECKER, Fernando; FRANCO, Sérgio (orgs). Revisitando Piaget.

Porto Alegre: Mediação, 1998.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e aprendizagem escolar.

Porto Alegre: Artmed, 2003.

FÁVERO, Maria Helena. Psicologia e conhecimento: subsídios da psicologia

do desenvolvimento para a análise de ensinar e aprender. Brasília, DF:

Editora Universidade de Brasília, 2005.

OCHI, Fusako Hori et al. O uso de quadriculados no ensino da geometria.

São Paulo: IME-USP, 1992.

PAVANELLO, Regina Maria. Geometria nas séries iniciais do ensino

fundamental: contribuições da pesquisa para o trabalho escolar. In:

PAVANELLO, Regina Maria (Org.). Matemática nas séries iniciais do

ensino fundamental: a pesquisa e a sala de aula. São Paulo: Biblioteca

do Educador Matemático, 2004. p.129-143.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PIAGET, Jean; INHELDER, Barbel. A representação do espaço na criança.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

SOUZA, Simone de.Geometria na educação infantil: da manipulação empirista

ao concreto piagetiano. Maringá, 2007. 146f. Dissertação (Mestrado em

Ensino de Ciências e Matemática) – Universidade Estadual de Maringá.