164
Gilson Uehara Antunes AMÉRICO JACOMINO "CANHOTO" E O DESENVOLVIMENTO DA ARTE SOLÍSTICA DO VIOLÃO EM SÃO PAULO. Dissertação apresentada ao Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência Parcial para obtenção do título de Mestre em Musicologia. Orientadora: Prof. Dra. Flavia Camargo Toni São Paulo 2002

Gilson Antunes - Americo Jacomino

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Gilson Uehara Antunes

AMÉRICO JACOMINO "CANHOTO" E O DESENVOLVIMENTO DA ARTE SOLÍSTICA DO VIOLÃO EM SÃO PAULO.

Dissertação apresentada ao Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo, como exigência Parcial para obtenção do título de

Mestre em Musicologia. Orientadora:

Prof. Dra. Flavia Camargo Toni

São Paulo 2002

Page 2: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Canhoto. Nome do diabo, um dos mais populares, e ligado, na maioria dos casos, aos acontecimentos amorosos, seduções, bastardias. Seria Canhoto uma réplica católica do Asmodeu. Apesar do nome, canhoto, esquerdo, desastrado, é um demônio hábil na sua especialidade conquistadora. Luis Edmundo (O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis, 340, Rio de Janeiro, 1932): "O Canhoto ! Monstro com o dom de transforma-se em cavalheiro capaz de seduzir a melhor dama, mas sem poder dissimular dois pés de pato, amplos e feios, duende explosivo que arrebentava, em cacos, diante de qualquer cruz, deixando, com o estampido muito grande, uma nuvem azulada e um cheirinho de enxofre". Câmara Cascudo: Dicionário do Folclore Brasileiro, Ediouro, 9.ª Edição.

Page 3: Gilson Antunes - Americo Jacomino

AGRADECIMENTOS Antonio de Barros Leite Cláudia Batista das Neves Cláudio Arone Daniel Barreiro Edelton Gloeden Flávia Camargo Toni Luís Américo Jacomino Márcio de Souza Maurício Orosco Maurício Zamith Ricardo Cardim Ricardo Marui Ronoel Simões Selma Gimenes Garcia Teresinha Prada

Page 4: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Resumo Esta pesquisa visa estudar o período correspondente ao início do desenvolvimento da arte solística do violão brasileiro, com ênfase na cidade de São Paulo, além de resgatar a obra do maior violonista do período, o paulistano Américo Jacomino "Canhoto".

Page 5: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Abstract This research intends to study the beginning of the development of the guitar in Brazil, mainly in the city of São Paulo, besides to bring up the life and works from Américo Jacomino "Canhoto", the brazilian greatest guitarist in the first quarter of twentieth century.

Page 6: Gilson Antunes - Americo Jacomino

SUMÁRIO

001 - Introdução 007 - Capítulo I – Informações sobre a utilização do violão no Brasil entre os séculos XVI e XIX 007 - I.1 – Primeiras manifestações do violão no Brasil 008 - I.2 – O novo ambiente violonístico em São Paulo com os estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco 014 - I.3 – O ambiente violonístico em São Paulo – 1900 – 1930 032 - I.4 – Agustín Barrios em São Paulo – 1917/1929 038 - I.5 – Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil – 1917/1922 047 - Capítulo II – Américo Jacomino – 1889/1928 047 - II.1 – Nascimento de Américo Jacomino 049 - II.2 – Primeira gravação de Américo Jacomino – 1912 052 - II.3 – Em 1916, o primeiro grande recital de Américo Jacomino. A mudança de opinião da crítica em São Paulo 061 - II.4 – Casamento de Américo Jacomino e mudança para São Carlos 066 - II.5 – Em 1925, Américo Jacomino retorna à capital paulista 071 - II.6 – O concurso “O que é nosso” – 1927 084 - Capítulo III – Panorama do violão em São Paulo – 1904/1928 084 - III.1 – Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros 088 - III.2 – Os violonistas nos estúdios das gravadoras: Canhoto, Levino Albano, Rogério Guimarães e outros 096 - Capítulo IV – O violonista Américo Jacomino: O músico, a obra, o professor e seu instrumento 096 - IV.1 – Aspectos técnico-interpretativos e recursos violonísticos empregados 101 - IV.2 - Manuscritos e partituras impressas de Américo Jacomino 116 - IV.3 – Lacunas no repertório de Américo Jacomino 117 - IV.4 – O Método de violão de Américo Jacomino 120 - IV.5 – Comentários a respeito do violão que pertenceu a Américo Jacomino utilizado para a gravação do CD anexo 123 - IV.6 – Considerações sobre a gravação do CD anexo 128 - Conclusão 131 - Bibliografia Anexo I – Tabela de gravações realizadas por violonistas entre 1902 e 1928 Anexo II – O repertório dos violonistas e as salas de concerto em que se apresentaram Anexo III – Transcrição de obras de violonistas-compositores do início do século vinte

Page 7: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Introdução Com a abertura dos cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras,

amplia-se, aos poucos, o quadro para se escrever, no futuro, a história do violão no

Brasil, bem como seu repertório e intérpretes mais destacados. Ainda não se tem,

contudo, bibliografia volumosa, sendo necessário realizar pesquisa aprofundada em

fonte primária. Isso de fato se evidenciou na pesquisa feita em torno do violonista

Américo Jacomino, cujo nome, embora não fosse desconhecido, ainda não merecera

trabalho que o focalizasse de forma privilegiada; intérprete e compositor destacado do

início do século vinte, Américo Jacomino cumpriu, com efeito, um papel de relevo na

divulgação e introdução do violão em vários ambientes do Estado de São Paulo e do Rio

de Janeiro.

A presente dissertação busca situar o início do desenvolvimento da arte solística

do violão no Brasil, especificamente na cidade de São Paulo, nos idos de 1900 a 1930.

Se o foco do trabalho é Américo Jacomino, foi necessário, não obstante, situá-lo frente a

outros nomes do violão que comparecem nos palcos no mesmo momento, para se ter

uma visão mais precisa e abrangente do desenvolvimento dessa arte. “Canhoto” , como

o apelido indica, tocava violão invertendo a posição do instrumento e mantendo, no

entanto, a mesma afinação e ordem das cordas. Tomou para si a responsabilidade de se

“profissionalizar”, conforme seu próprio depoimento, e firmar o instrumento no meio

musical brasileiro. Como será visto, Américo realiza grande número de gravações,

apresenta-se em inúmeros recitais divulgados pela imprensa, compõe obras que

marcarão o repertório do instrumento no período, bem como faz dos meios de

divulgação disponíveis – rádio e discos – aliados na difusão de seu trabalho. Além

disso, suas composições apresentam aspectos técnico-musicais que ampliam recursos

que vinham sendo usados por seus contemporâneos brasileiros.

Assim, no intuito de determinarmos o panorama no qual Américo Jacomino

despontará foi importante retroagir no tempo para se recolherem as notícias sobre o uso

do instrumento no país. O foco, sem dúvida, é a cidade de São Paulo.

Ao tratarmos do violão no Brasil não nos debruçamos sobre Heitor Villa-Lobos

por entender que sua esfera de ação como violonista participando de grupos de choro se

circunscreveu à cidade do Rio de Janeiro. À época, suas composições não tiveram

papel preponderante na arte solística do instrumento, pois a primeira gravação comercial

de seu Choros n.º 1, embora escrito em 1921, data de 1940. As demais obras do

Page 8: Gilson Antunes - Americo Jacomino

maestro carioca foram editadas na década de 1950, sendo cultuadas até então por

violonistas que fogem do âmbito do presente trabalho. Aqui contemplamos os

violonistas compositores que gravaram discos, realizaram recitais e marcaram presença

no espaço do violão solista.

O trabalho divide-se em quatro capítulos. No primeiro acolhemos notícias sobre

a presença do instrumento apontando para a intrincada questão do que ora é chamado de

viola, ora de guitarra, ou mesmo de violão. O nome do instrumento só começa a se

firmar com a fundação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo,

em 1828, quando o movimento estudantil faz uso do instrumento, cenário para ser

anunciada, pela primeira vez, a venda de um método de violão, trabalho escrito pelo

italiano Francesco Molino. É o momento em que se anuncia, também, a apresentação

de um violonista conhecido apenas como Senhor Lisboa, executando as Variações

Sobre Temas da Traviata, de Giuseppe Verdi. Infelizmente não é possível saber se tais

variações foram escritas pelo espanhol Francisco Tárrega, ou por um contemporâneo

seu, o também espanhol Julian Arcas.

O movimento violonístico da capital entre 1900 e 1930 foi analisado

separadamente, tendo em vista destacar os papéis relevantes do paraguaio Agustín

Barrios e da espanhola Josefina Robledo.

No segundo capítulo a vida de Américo Jacomino é focalizada, tendo em vista a

recuperação de dados de sua biografia, bem como seu currículo artístico. As gravações e

recitais, a mudança para São Carlos, a volta a São Paulo e o concurso O Que É Nosso,

no Rio de Janeiro, fazem parte de um quadro no qual o violonista se destaca como

compositor, intérprete e professor.

No terceiro capítulo, um panorama do violão na cidade de São Paulo, reunimos

as carreiras dos violonistas atuantes nas salas de concerto, bem como nos estúdios de

gravação. As datas-limite são 1904 e 1928; a primeira assinala o mais antigo recital de

violonista após o nascimento de Canhoto e a outra registra a morte dele. No período foi

interessante para a pesquisa analisar o repertório e as salas de concerto mais utilizadas

pelos violonistas, bem como as gravações das quais participaram.

O quarto e último capítulo focaliza em separado o músico Américo Jacomino,

sua obra e a atividade de professor. É o espaço oportuno para descrever e analisar

também o violão modelo carioca usado por ele em concerto. Frente ao levantamento do

repertório de Canhoto divulgado pelos jornais e tendo em vista também as gravações

que realizou, é possível conhecer certos recursos técnico-interpretativos empregados

Page 9: Gilson Antunes - Americo Jacomino

pelo violonista, tais como trêmulos, pizzicati, efeitos de fala no violão, harmônicos,

rasqueados etc. Para tanto foi necessário percorrer vasto repertório, desde obras de sua

autoria bem como de outros compositores, panorama ampliado pelas informações de

seu método para violão. Vale dizer que o Método de Violão, editado na década de 1920,

é tido ainda hoje como de interesse.

No intuito de melhor conhecermos o repertório e os recursos técnicos de

Canhoto, gravamos um CD, anexo, no qual experimentamos um violão utilizado pelo

violonista, gentilmente cedido pelos seus herdeiros para o trabalho em estúdio de

gravação.

Anexo apresentamos dados complementares sobre os quais nos pautamos para as

análises. No primeiro, a relação das gravações dos violonistas no período de 1902 a

1928. No seguinte, a relação do repertório dos violonistas e as salas em que se

apresentaram. Finalmente, as transcrições de alguns compositores, violonistas que

escreveram para o instrumento, mas que não foram contemplados com edições. Nesse

sentido, cabe antecipar que Canhoto era músico de formação amadora, não grafando

suas composições, ou seja, não tendo visto, em vida, suas partituras editadas. Dele

transcrevemos somente as obras para violão solista, não nos atendo àquelas em que ele

participa de duos ou formações maiores. Entre os autores contemplados estão: Glauco

Vianna (com a peça Pertinho de Meu Bem), Levino Albano da Conceição (com

Saudades do Rio Grande), Mário Pinheiro (com Petita) e José Augusto de Freitas

(Soluços). Coube também anexar a partitura publicada da valsa Gotas de Lágrimas, de

Mozart Bicalho, um sucesso editorial da década de 1960 (quando de sua publicação); o

maxixe Cruzeiro, de Theotônio Corrêa, na transcrição de Attílio Bernardini, que se

pautou na gravação para três violões do trio Os Três Sustenidos; a transcrição da gavota

Edith, de João Avelino de Camargo – um dos integrantes daquele trio, a partir da cópia

manuscrita sem indicação de autor; finalmente, o manuscrito autógrafo do cateretê

Festa na Fazenda, de Antonio Giacomino, o único documento original encontrado

durante as pesquisas para esta dissertação1.

O violão foi, de fato, um dos principais instrumentos musicais utilizados para o

acompanhamento das canções, participando desde o primeiro registro comercial de que

se tem notícia, em 1902, a gravação da canção Ave Maria, na voz de Bahiano, e com

violonista não identificado. Curioso é notar que rapidamente, com o início do século

1 Estes dois documentos fazem parte do acervo do colecionador Ronoel Simões, a quem agradecemos as cópias cedidas.

Page 10: Gilson Antunes - Americo Jacomino

vinte, o instrumento passa a ser muito requisitado, contrastando com as parcas notícias

que se têm dele até então. Um dos motivos plausíveis poderia ter sido o de seu emprego

nos estúdios de gravações em substituição ao piano, hipótese que não nos coube

destacar.

Após a leitura da literatura disponível, passamos à consulta sistemática dos

jornais de época, acervo do Arquivo do Estado de São Paulo. Esta etapa da pesquisa,

notadamente sobre o jornal O Estado de São Paulo, fez parte de um projeto

compartilhado anteriormente com Paulo Castagna e Eduardo Fleury. Projeto de fôlego,

compreendeu a pesquisa sistemática em jornais para se recolherem as notícias sobre o

instrumento entre os anos de 1900 e 1930. Os resultados colhidos chegaram a ser

divulgados em artigo de 19942.

Numa terceira etapa, desta vez trabalho individual, foi consultado o repertório

disponível a partir das gravações dos próprios compositores-violonistas do início do

século vinte, entre eles Mário Pinheiro, João Pernambuco, Levino Albano da Conceição

e outros. Só então focamos o olhar para o paulistano Américo Jacomino, devido à

relevância de citações a seu respeito. Até 1958, as poucas informações sobre Jacomino

residiam na série de quatro artigos escritos por Ronoel Simões no jornal A Gazeta,

quando dos 30 anos da morte do violonista, crônicas estas inseridas no texto de 1978

que acompanha o livro de J. L. Ferrete e Juvenal Fernandes, obra que traz um valioso

catálogo de peças de Canhoto. Além desses textos, servimo-nos do que o próprio

Ronoel Simões publicaria na revista Violão e Mestres de 1964, em dois números, outra

biografia do violonista, na qual muitas das informações teriam sido obtidas por meio de

entrevistas com o cantor Roque Ricciardi, o Paraguaçu, conforme atestou o próprio

Simões em depoimento ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 1981. De

Paraguaçu foi utilizada também uma entrevista histórica concedida ao Museu da

Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974, com muitas histórias e informações sobre

Canhoto e o período em questão, especialmente sobre a São Paulo de inícios do século

vinte.

De grande valia foi a investigação feita por Henrique Foréis, o Almirante, por

ocasião dos quatro programas especiais de rádio, em 1954, para a comemoração do

quarto centenário da fundação da cidade de São Paulo, cujo material se encontra no

arquivo escrito do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Segundo Luís

2 CASTAGNA, Paulo & ANTUNES, Gilson. 1916, O Violão Brasileiro já é uma Arte. Revista Vozes. Editora Vozes, n.º 1, p. 18, 1994.

Page 11: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Américo, filho de Canhoto, Almirante teria tido muito contato com várias figuras

próximas a seu pai, além de ter feito várias entrevistas com a viúva do violonista. Foram

utilizadas também algumas entrevistas feitas com Luís Américo, que cedeu material de

grande valia para a dissertação. O farmacêutico Antônio de Barros Leite também

forneceu fotocópias de várias cartas de Américo Jacomino a seu pai, dados de interesse

para os biógrafos dos dois violonistas.

Também auxiliaram na pesquisa matérias divulgadas em 1978, cinqüentenário

da morte de Canhoto, textos publicados em jornais por ocasião de um disco no qual

doze músicos gravaram peças de sua autoria, aí incluindo seu próprio filho Luís

Américo. Ainda de 1978 há o documentário da TV Cultura, de São Paulo, um debate

no qual Ronoel Simões, J.L. Ferrete e Juvenal Fernandes analisam certos aspectos

históricos e musicais de Américo Jacomino. De lá para cá pouco foi escrito sobre o

violonista e compositor, apesar de sua mais famosa composição, Abismo de Rosas,

continuar como uma peça muito procurada pelos intérpretes e orquestras.

Mais recentemente o violonista Giácomo Bartoloni, professor de violão da

Universidade Estadual Paulista (UNESP), realizou uma pesquisa analisando aspectos

sociais sobre o violão brasileiro, incluindo o período estudado.

Entre os principais locais pesquisados devemos citar ainda:

- Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: Jornais e revistas da época em que viveu

Américo Jacomino, notadamente números do jornal Correio da Manhã, que organizou o

concurso O Que é Nosso, do qual tomou parte o violonista.

- Centro Cultural São Paulo: Foram utilizados inúmeros livros para a bibliografia geral

da dissertação, além de partituras raras do violonista publicadas para piano. Na pasta

que reúne matérias sobre o artista há poucos recortes de jornais. Na discoteca Oneyda

Alvarenga existem três discos com músicas do violonista, por Paulinho Nogueira,

Waldir Azevedo e o próprio Américo Jacomino (1 disco de 78 rotações).

- Biblioteca da Universidade de São Paulo (USP): Livros e teses para a bibliografia

geral, em especial a Discografia Musical Brasileira em 78 RPM, editada pela

FUNARTE em 1978.

- Arquivo particular de Gilson Antunes: Vários artigos de jornais, fotos, livros em geral

para a bibliografia (sobre a história do violão, história da música brasileira e da cidade

de São Paulo), gravações de Américo Jacomino e partituras particulares transcritas dos

discos de 78 RPM. Vários desses itens foram, desde 1988, adquiridos do arquivo

particular do colecionador Ronoel Simões.

Page 12: Gilson Antunes - Americo Jacomino

I – INFORMAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DO VIOLÃO NO BRA SIL

ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX

I.1 – Primeiras manifestações do violão no Brasil

Podemos considerar que a literatura com referência ao uso do violão no Brasil

data de c. 1549, coincidindo com a chegada dos jesuítas no país, e suas respectivas

citações em cartas e escritos gerais3.

3 TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Ed. 34, 1998, p. 41; DUDEQUE, Norton. História do Violão. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 1994, p.101.

Page 13: Gilson Antunes - Americo Jacomino

No século dezesseis, entre os principais instrumentos musicais cordofones em

uso na Europa estão o alaúde, em todo o continente, e a vihuela, na Península Ibérica.

Este último designa instrumentos musicais cordofones de três tipos diferentes: a vihuela

de arco, a vihuela de peñola (tocada com plectro) e a vihuela de mano (pulsada com os

dedos). Este instrumento possui seis cordas duplas (as chamadas "ordens"), com

afinação variável em altura (em geral, afina-se até que as cordas estejam esticadas o

bastante para não romperem), mas sempre com os mesmos intervalos, sendo eles, por

exemplo e por convenção quando da interpretação das músicas no violão moderno, mi-

si-fa#-re-la-mi.

Outro instrumento utilizado pelo povo, exclusivamente para acompanhamento

de canções, é a pequena guitarra, que possui quatro pares de cordas. Este instrumento

varia de nome conforme a região. Na França, por exemplo, é chamado de guiterne ou

guiterre, na Inglaterra, guitar e, na Itália, chitarrino. O nome etimologicamente provém

da kytara grega (de origem caldéia-assíria).

Sendo a vihuela, pois, o instrumento cultivado em Portugal – com o nome

aportuguesado de viola - e existindo também a guitarra de 4 ordens no país, tocado em

geral pelas pessoas de uma classe inferior, e que esta geraria variantes locais com o

decorrer do tempo, é de se supor que seriam os mesmos instrumentos trazidos ao Brasil

junto com a navegação. Pelas informações dos primeiros viajantes, existem também

nesta época o uso e a construção de instrumentos diversos pelos índios guarani nas

Reduções Jesuíticas do Paraguai, território que compreenderia hoje a Argentina, Brasil,

Uruguai e Paraguai4.

No século dezessete, a vihuela interrompe seu rumo de desenvolvimento

juntamente com seus intérpretes espanhóis, passando a pequena guitarra, agora com

cinco cordas duplas, a assumir seu papel de instrumento cordofônico mais praticado.

Por ter vários cultores na Espanha, começa a ser designada pelo nome de guitarra

espanhola.

O nome de Gregório de Matos Guerra (1633 / 1696) aparecerá posteriormente

como o primeiro grande nome da literatura brasileira, e com ele um papel bastante

difundido sobre o violão durante os séculos, o do boêmio violonista. Neste caso, o

poeta é apenas o continuador da tradição dos escudeiros trovadores quinhentistas de

Portugal, verdadeiros antecessores dos seresteiros, que se acompanharão ao violão.

4 REVISTA ASSOVIO. Associação Gaúcha do Violão, ano 1, n.º 4, Porto Alegre, maio de 2000, p. 08.

Page 14: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Depois disso, já na segunda metade do século dezoito, com a mudança do estilo

musical europeu como o rococó e o clássico, haverá mudanças significativas no violão

(inicialmente com seis ordens, posteriormente com seis cordas simples), sendo chamado

então no velho mundo de guitarra clássica. E é justamente quando os termos viola e

violão enfrentarão no Brasil os maiores equívocos, confundindo-se de tal maneira que

será difícil reconhecer quando da citação de um e de outro na literatura dos séculos

dezoito e dezenove5.

I.2 - O Novo Ambiente Violonístico em São Paulo com os Estudantes da Faculdade

de Direito do Largo São Francisco

Há vários documentos atestando a prática musical brasileira no século dezenove,

principalmente dos viajantes que aqui estiveram. As notícias sobre violão demonstram

que o instrumento é praticado em São Paulo e restante do Brasil. Já em 1813 o viajante

sueco Gustavo Beyer escreve que "canto e música são talentos comuns, que elas (as

paulistas) revelam com a mesma graça e facilidade. O primeiro consiste nas conhecidas

modinhas e os instrumentos mais freqüentes são o piano, a harpa, a guitarra e o órgão,

dos quais a guitarra é o mais comum e tocado até entre o povo do campo"6. Entre

outros escritores que atestam o uso do instrumento estão Levy Rocha, Auguste-Emílio

Zaluar, Spix e Martius.

Luiz D'Alincourt7publica em 1818 o livro Memória sobre a Viagem do Porto de

Santos à Cidade de Cuiabá8, no qual escreve a respeito da cidade de São Paulo: "Tem

esta cidade todas as proporções para o estabelecimento de uma Universidade; o baixo

preço dos gêneros, a abundância deles, a salubridade do ar, a temperatura do clima, as

poucas distrações, que se oferecem, finalmente tudo parece conspirar a preferir este a

outro qualquer sítio para a cultura de letras. [...]. Os paulistas são trabalhadores,

espirituosos, robustos, afáveis, generosos e bastantemente polidos; são dotados de

talentos próprios para grandes coisas, assim os pudessem cultivar".

5 Sobre esta questão, colocamos como “violão” todo o instrumento que se refere ao instrumento atual que recebe esta denominação, incluindo instrumentos correlatos dos séculos dezoito e dezenove, como a viola (guitarra de cinco ordens) e a própria guitarra (guitarra espanhola). 6 BEYER, Gustavo. Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro à capitania de São Paulo. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. XII, p. 289, 1908. 7 Nascido em Oeiras, Portugal, em 17 de fevereiro de 1787, D’Alincourt foi oficial de engenheiros, tendo numerosas e importantes comissões. Seu livro em questão foi publicado em1825. 8 D’ALINCOURT, Luiz. Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá (1818). São Paulo, Livraria Martins Editora S.A., 1980, pp. 34 e 35.

Page 15: Gilson Antunes - Americo Jacomino

No dia primeiro de março de 1828, dez anos após a publicação do livro de

D’Alincourt, é instituído o curso de Direito no prédio do Largo São Francisco em São

Paulo, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento cultural da cidade, até

então bastante tímida.

Talvez o mais importante livro sobre esta faculdade, no qual são narrados vários

acontecimentos musicais e notícias importantes sobre a prática do violão, foi o escrito

por Carlos Penteado de Rezende em 1954, intitulado Tradições Musicais da Faculdade

de Direito de São Paulo9. O escritor observa o seguinte panorama da capital quando da

vinda dos estudantes em 182810: "1- Existência de dois teatros, um popular e sempre em

uso, outro por assim dizer aristocrático e raramente aberto. 2- representação de peças

musicadas, como óperas e operetas, com acompanhamento rudimentar. 3- Gosto das

mulheres paulistas de cantar em serões e saraus e de dançar nos bailes. 4- Preferência

geral pelas modinhas, ‘inteiramente ao gosto do público’. 5- Conhecimento das obras de

Marcos Portugal, provando comunicação artística entre Côrte e Província. 6- Existência

na capital de pianos, harpas, órgãos e guitarras e notícia de ser a guitarra, ou violão,

instrumento popular. 7- Apuro em música sacra executada nas igrejas. 8- Desempenho

musical de bandas marciais. 9- hábito de serenatas na vizinha localidade de Santo

Amaro e possivelmente em São Paulo. 10- manifestações musicais de caráter

folclórico".

Vários estudantes poetas se utilizam do violão para acompanharem suas

composições. O primeiro poema acadêmico, por exemplo, escrito pelo estudante

mineiro Antonio Augusto de Queiroga, em 1834, possui acompanhamento deste

instrumento musical. Vários outros estudantes podem ser citados, como Augusto

Teixeira de Freitas, João Ribeiro Mendes e Batista Caetano de Almeida Nogueira.

Na página 42 do livro, em que evidencia o trabalho estatístico do Marechal

Daniel Pedro Müller, relativo ao ano de 1836, figuram na tabela número 15 do cadastro

das profissões (capital), além de 21 músicos, 6 violeiros. Este termo violeiro aplica-se,

a fabricantes ou vendedores de viola. Porém, sobre o violão solista utilizado por

virtuoses europeus, na página 83 o autor escreve: "O instrumento preferido pelos

acadêmicos prosseguia sendo o violão. Tanto que o Correio Paulistano andou

anunciando para vender em sua tipografia um Método de Violão, de Francesco Molino,

9 PENTEADO, Carlos Rezende. Tradições Musicais da Faculdade de Direito de São Paulo. São Paulo, Edição Saraiva, 1954. 10 Idem, ibidem, p. 25.

Page 16: Gilson Antunes - Americo Jacomino

que é, daquela época, a única referência didática musical que possuímos. Aliás, ainda

não se imprimiam músicas em São Paulo. No máximo haveria copistas, talvez entre os

funcionários da Sé Catedral. Tudo vinha de fora, da Corte ou da Europa, quer fossem

livros, compêndios, partituras ou simples resmas de papel pautado".

No mesmo livro escreve-se, a respeito da situação musical paulista na segunda

metade do século dezenove, "Os professores de música eram poucos e mal habilitados.

Os instrumentos e composições oferecidos à venda não primavam pela qualidade ou

bom gosto. Nenhuma casa especializada no ramo se abrira ainda na cidade. E quando se

realizava um concerto, o fato assumia aspectos de novidade sensacional. O público

ignorante nada exigia, contentando-se com ouvir os seus trechos preferidos, geralmente

tirados de óperas. Considere-se, também, que outrora os músicos não desfrutavam de

prestígio social, nem tinham forças para combater o velho e arraigado preconceito de

que o artista é um ser ocioso, inútil. Tudo, pois, contribuía para o marasmo geral"11

Havia, porém, conforme anúncios do jornal Correio Paulistano, vários professores de

piano e canto, o que iria contra a afirmação de que o violão era o único instrumento

estudado com esmero. E com relação aos compositores de modinhas e lundus, se faz

difícil um maior aprofundamento, pois a maioria ficou no anonimato por não ter suas

peças impressas e pelo fato de o gênero ser muito transmitido em tradição oral.

O ambiente musical paulista começa a mudar quando o imigrante israelita

francês Henrique Luís Levy inicia a venda de partituras musicais em sua loja de jóias,

situada na Rua da Imperatriz, no centro da capital. Outra figura de destaque na segunda

metade do século é a do professor francês Gabriel Giraudon, que passará à posteridade

musical paulista como professor de Henrique Oswald, Luís Levy, Alexandre Levy,

Antonieta Rudge e Magdalena Tagliaferro, todos pianistas.

Ainda no livro de Penteado, na página 209, um daguerreótipo apresenta o

período da mudança de um violão de modelo clássico para um modelo mais moderno,

sendo este segurado por Luís Levy. A mudança é significativa, quando se observa a

mão do instrumento (mais arredondada no caso do modelo antigo) e o cavalete (sem o

detalhe da ornamentação, no caso do modelo moderno). Na figura, Luís Levy aponta

para a palavra “cynismo” escrita na parede, cujo significado remete ao “spleen” – tédio,

monotonia - tão em voga entre os estudantes da Faculdade de Direito desde a sua

11 Idem, ibidem, p. 81.

Page 17: Gilson Antunes - Americo Jacomino

fundação, principalmente entre poetas que lá passaram, como Álvares de Azevedo e

Bernardo Guimarães12.

Na década de 1860 São Paulo possui cinco teatros, sendo eles o Teatro da Ópera

(no Pátio do Colégio), Teatro do Palácio do Governo (também situado no Pátio do

Colégio), "Teatrinho alemão do Dr. Rath"13 (situado no bairro da Glória, com

capacidade para 500 pessoas, construído pelo engenheiro de mesmo nome), Batuíra

(situado na Rua da Cruz Preta) e, o mais importante de todos, Teatro São José, situado

no Largo de São Gonçalo. Este teatro, inaugurado em 1864 e destruído em 1898 por

um incêndio, tornou-se um verdadeiro difusor de cultura para a capital. Em seu palco

passariam nomes como o do músico Gottschalk e da atriz Sarah Bernhardt.

Na década seguinte aparecem os primeiros ecos do progresso, com as

conseqüências da imigração e da criação da estrada de ferro, apesar de não serem

alterados os hábitos da população nem a fisionomia da cidade no decênio de 1860-

187014. Surgem novos professores de música, quase todos de piano e canto, nenhum

conhecido de violão, não obstante afirmar-se que "de acordo com o costume da época, a

música fazia parte obrigatória da educação feminina (...). Como as moças quase não

12 Essa palavra era própria da gíria acadêmica, não tendo relação com a desfaçatez ou impudência. 13 Escrito desta maneira no livro de Penteado. 14 Idem, ibidem, p. 177.

Page 18: Gilson Antunes - Americo Jacomino

saíam de casa, enchiam o tempo com os afazeres domésticos e divertiam-se dedilhando

piano e violão e cantando"15.

Ainda com relação ao instrumento, o jornal Correio Paulistano de 11 de maio de

1864 publica um artigo sobre um sarau em que participaram o professor de piano

Emílio do Lago e “um certo professor Lisboa”, que “executando trechos da Norma e da

Traviata conseguiu extrair das cordas do seu violão os mais harmoniosos e suaves sons,

que jamais violão algum poderá imitar”16. Há duas versões para esta peça de Verdi, a

Fantasia sobre temas da Traviata, escrita pelo espanhol Francisco Tárrega, ou as

mesmas variações, escritas por seu conterrâneo Julian Arcas. A de Norma é uma

incógnita, pois não se conhecem variações ou fantasias sobre trechos dessa ópera no

repertório violonístico. Apesar disso, durante todo esse decênio, não é registrado

nenhum outro recital de violão.

Na década seguinte começa a transformação da cidade de São Paulo em vários

aspectos, citando-se como exemplo a inauguração do serviço de iluminação a gás, os

bondes puxados por burros e o arruamento em redor da capital, além de intensificarem-

se a leva de imigrantes na capital. Em 1873 são fundadas algumas sociedades musicais,

Henrique Levy amplia ainda mais sua loja e em agosto é inaugurado o Teatro

Provisório, que abrirá caminho para o Lírico no ano seguinte. É nesse contexto de

mudanças que o advento da ópera se torna um marco na história artística da cidade.

Ainda em 1873 nasce em Porto Feliz, Estado de São Paulo, um dos mais antigos

violonistas a gravar discos no Brasil (em 1930), José Martins Duarte de Melo,

conhecido como Melinho de Piracicaba. Este violonista fará parte do trio “Os Três

Sustenidos” juntamente com os pioneiros Theotônio Corrêa e João Avelino de

Camargo. Melinho começa a estudar violão no interior, pelo método de Matteo

Carcassi sob orientação do professor Luiz Dutra, passando em seguida ao método de

Dionísio Aguado com o português Alberto Baltar na capital paulista em 1898. Baltar é

um dos mais antigos professores de violão erudito da cidade de São Paulo de que se tem

notícia17. Sobre este, escreve Domingo Prat em seu Diccionario de Guitarristas18:

“Alberto Baltar, violonista e compositor português, radicado na cidade do Rio de

Janeiro, Brasil. Goza de grande popularidade e é apreciado por seus méritos de

intérprete e compositor. Publicadas na revista A Voz do Violão, se lhe conhecem

15 Idem, ibidem, p. 187. 16 Idem, ibidem, p. 190. 17 VIOLÃO E MESTRES, n.º 7, 1967, p. 25. 18 PRAT, Domingo. Diccionario de guitarrista., Casa Romero y Fernandez, Buenos Ayres, 1934, p. 38.

Page 19: Gilson Antunes - Americo Jacomino

algumas peças originais, e pela Violão, outras. Possui uma grande quantidade de temas

folclóricos do Brasil adaptados ao violão, os quais vieram à luz pelas citadas

publicações”.

Como coincidência, Melinho de Piracicaba começa seus estudos de violão em

1889, ano da proclamação da República e data de nascimento do principal violonista do

início do desenvolvimento da arte do violão solista no Brasil, o paulistano Américo

Jacomino “Canhoto”.

As décadas de 1860, 1870 e 1890 marcam a data de nascimento de três

migrantes nordestinos ao Rio de Janeiro que terão fundamental importância para a

prática do violão solista no Brasil: Sátiro Bilhar (1860/1927), Joaquim Francisco dos

Santos (1883/1935), conhecido como Quincas Laranjeiras, e João Teixeira Guimarães

(1883/1947), mais conhecido como João Pernambuco. Este último fará várias

apresentações em São Paulo, primeiramente com seu Grupo de Caxangá e

posteriormente com os Oito Batutas, seminal grupo de choro do qual farão parte

também Pixinguinha e Donga. Dos três violonistas citados, apenas João Pernambuco

deixará registrado seu trabalho em discos, sendo ainda um dos poucos violonistas do

período a se manter no repertório.

Com esses nomes, o violão atingirá a maturidade necessária para o início de seu

desenvolvimento em princípios do novo século, sendo beneficiado pela era das

gravações e pelo ambiente musical do choro, no Rio de Janeiro, e das serestas, em São

Paulo.

I.3 – O ambiente violonístico em São Paulo – 1900/1930

No primeiro decênio do século vinte, entre 1903 e 1908, o violonista cubano Gil

Orosco leciona na capital paulista, sendo um dos mais antigos violonistas estrangeiros a

passar pela cidade. Em 1904 Orosco realiza um recital no Teatro Santana, apresentando

“obras clássicas, zarzuelas espanholas e uma Fantasia Original, de sua própria

autoria”19.

19 VIOLÃO E MESTRES, São Paulo, ano II, n.º 07 p. 25.

Page 20: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Já na década seguinte, em 13 de julho de 1911 o guitarrista espanhol Manuel

Gomes, "recém-chegado a esta capital"20, apresenta um recital aos representantes da

imprensa, na Casa Bevilacqua. A crítica assim se refere ao recital21:

“É, com efeito, um artista de valor o violonista espanhol Manuel Gomes, que

ontem à noite, no salão da Casa Bevilacqua, ofereceu uma audição aos representantes da

imprensa.

“Na música pura como nas mais ligeiras composições o instrumento, nas mãos

do Sr. Manuel Gomes, é de uma docilidade veludosa e as suas notas espalham-se pelo

ambiente com uma limpidez de cristal.

“No tango americano e nas jotas aragonezas o executante soube graduar as

vibrações, dando-nos efeitos imprevistos, reduzindo-os a uma expressão quase

imperceptível.

“O auditório premiou com calorosas palmas todos os números executados.

“O sr. Manuel Gomes deve-se apresentar ao público por estes dias”.

O primeiro recital aberto ao público acontece no dia 14 de agosto, no Salão

Nobre do Centro Espanhol. A crítica no dia seguinte escreve que o salão estava “repleto

de exmas. Famílias e cavalheiros que com entusiasmo aplaudiram o Sr. Gomes, que

executou com perícia”. O programa apresentou as seguintes peças:

Primeira Parte:

- Julian Arcas: Aires Andaluzas

a) Petenera; b) Granadina; c) Malaguenha

- Veiga: Gallegada

- Verdi : Miserere “do Trovador”

- :Sítio de Bilbao

- Gomes: Serenata

Segunda Parte:

- Vinhas: Fantasia Brilhante

20 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 37, coluna Artes e Artistas, 13 de julho de 1911, p. 06. 21 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 37, coluna Artes e Artistas, 14 de julho de 1911, p.05.

Page 21: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Damas: Tango Americano

- Arcas: Bolero

Gran Jota

As obras demonstram uma formação erudita-popular do violonista, com tendências

a uma música de inspiração popular espanhola, como as de Vinhas e Damas. Julian

Arcas por sua vez teria sido o principal violonista espanhol do período anterior a

Francisco Tárrega, de quem é provável a autoria da última música apresentada, a Gran

Jota, cuja execução seria realizada muitas outras vezes no Brasil por outros violonistas,

assim como a transcrição do Miserere da ópera Trovatore, de Verdi, que também

figurou no programa.

Este será o único violonista a aparecer na época em São Paulo com a divulgação

da imprensa. Manuel Gomes não figura no Diccionario de Guitarristas, de Domingo

Prat, nem em outros dicionários posteriores, o que dificulta a obtenção de dados

expressivos para sua biografia.

Já em 1914, no dia 22 de fevereiro, o violonista e luthier Francisco Pistoresi,

realiza recital de violão apresentando um instrumento de seu invento denominado

diamenofone, no qual se flagra um aberto ataque de preconceito ao violão. O jornal O

Estado de São Paulo escreve22:

“Com seleta assistência, composta de representantes da imprensa, artistas e

professores, realizou-se ontem, no salão nobre do Conservatório, a experiência do

interessante invento do Sr. Francisco Pistoresi. Esse invento consiste num pequeno

aparelho, muito simples, destinado a ser aplicado a todos os instrumentos de corda,

tanto de arco como de teclado para a produção de nota contínua ou prolongada.

“Ouvimos a execução de um pequeno repertório ao violoncelo e ao violão, sobre

os quais está aplicado o referido aparelho, e a impressão que nos causou foi excelente.

O violoncelo executado sem arco, com perfeição emitia notas muito agradáveis e de

grande intensidade.

“O violão, que atualmente é um instrumento vulgar e, por isso, sem valor, por

intermédio desse aparelho fica completamente transformado e adquire uma dignidade

superior.

22 “Um interessante invento”. O Estado de S.Paulo, ano 40, coluna Artes e Artistas, 22 de fevereiro de 1914, p. 03.

Page 22: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Tal instrumento, executado com a nota contínua, assemelha-se perfeitamente a

um poderoso orgão ou harmônio.

“Estas são as aplicações atuais e iniciais do invento. Porém onde ele produzirá

melhor resultado será no piano e na harpa, conforme pretende fazer mais tarde o

inventor.

“A audição a que assistimos convenceu-nos completamente do grande valor

artístico do invento e do brilhante futuro que lhe está reservado.

“Consideramos, somente pelo que tivemos ocasião de ouvir, que a arte musical

ficará transformada com esse invento.

“Foi o seguinte o programa a que obedeceu a audição:

- C. Gounod: Ave-Maria

- R. Schumann: Traumerei

- E. Dunkler: Reverie

- G. B. Pergolesi: Sicilienne

- A. Stradella: Preghiera

“Para finalizar a experiência, o sr. Francisco Pistoresi executou ao violão a

Traumerei de Schumann, tendo sido acompanhado ao violoncelo pelo professor

Simoncelli.

“Enfim, tratando-se de um invento muito recente é impossível dizer-se desde já,

em uma simples notícia, as vantagens de suas aplicações”.

Os termos utilizados para o violão, como sendo "vulgar, e por isso sem valor",

demonstram como ele é visto por pelo menos uma parte da sociedade. Mas Alfredo

Pistoresi apresenta em julho do mesmo ano seu invento para o público, com divulgação

da imprensa, antes de tentar seu sucesso na Europa. Sobre a audição escreve o jornal O

Estado de São Paulo23:

“Conservatório Dramático e Musical - Amanhã, no salão deste estabelecimento

realiza-se um concerto em que será posto à prova um invento do fabricante de

instrumentos de música, sr. Alfredo Pistoresi.

“Trata-se de dar a dois instrumentos de corda o som contínuo, coisa até hoje

desconhecida. Pelo invento do sr. Pistoresi, esses dois instrumentos produzirão em

23 “Concerto”. O Estado de S. Paulo, ano 40, coluna Artes e Artistas, 04 de julho de 1914, p. 05.

Page 23: Gilson Antunes - Americo Jacomino

força, sonoridade, harmonia e intensidade, uma riqueza musical que dez instrumentos

juntos não produziriam.

“O sr. Pistoresi vai partir para a Europa, a fim de apresentar o seu invento, que

se chama ‘Diamenofone’ ao Centro Musical de Milão.

“No concerto de amanhã, às 20 horas, será observado o seguinte programa:

Primeira Parte

- Godard: Berceuse de Jocelin

- Schumann: Traumerei

- Gounod: Ave Maria

- M. Giuliani : Gavotta (solo para guitarra)

- Becker: Scherzo

Segunda Parte

- Rossini: Stabat Mater (cujus animan)

- Handel: Largo Celebre

- Boccherini: Minuetto

- Dunkler : L'Absence

- Wagner: Tannhauser – Marcha

“Tomam parte nesta audição os srs. Professores Savério R. Simoncelli e Floriano

Steffan.

“Os bilhetes acham-se à venda em todas as casas de música”.

É a última notícia sobre o diamenofone, que pelo visto não alcançaria a

pretensão desejada por Pistoresi.

Em 5 de fevereiro de 1915, Affonso Arinos realiza uma conferência na

Sociedade Cultura Artística em São Paulo, com o título Lendas e Tradições Brasileiras.

É quando aparece em São Paulo um conjunto de nome Grupo de Caxangá, embrião de

um seminal grupo de choro posteriormente denominado Os Oito Batutas, que tinha em

sua liderança o violonista pernambucano João Teixeira Guimarães, residente no Rio de

Janeiro, com nome artístico de João Pernambuco.

Affonso Arinos continua suas conferências acompanhadas de sarau na mesma

Sociedade de Cultura Artística, versando ora sobre “O Rio S. Francisco e suas lendas”,

Page 24: Gilson Antunes - Americo Jacomino

ora sobre “A Serra das Esmeraldas”, ou ainda sobre “As principais bandeiras”. Nesta

ocasião o poeta e cantor Catullo da Paixão Cearense cantaria "várias trovas populares",

acompanhando-se ele mesmo ao violão.

Ainda em 1915, no início de março ocorre o recital do guitarrista (guitarra

portuguesa) Martinho Gouveia de Vasconcellos, que se fez acompanhar pelo jovem

violonista Oswaldo Soares, futuro aluno da espanhola Josefina Robledo e

correspondente paulista da revista carioca A Voz do Violão, que circularia entre 1929 e

1930. Soares executa como peça solo o Capricho Árabe, de Tárrega.

Deste momento até o fim da década de vinte, São Paulo verá a passagem dos três

principais nomes que ajudaram no desenvolvimento do violão como instrumento solista

no Brasil, sendo eles o paraguaio Agustín Barrios, a espanhola Josefina Robledo e o

paulistano Américo Jacomino, os quais, pela importância, serão tratados em itens

separados.

Já em 1920, no dia 20 de novembro, em Campinas ocorre um recital do

violonista Jorge Aleman Moreira e seu filho Oscar Marcello Aleman, de nove anos de

idade. A notícia também é única, sem programa.

Em 14 de fevereiro de 1921 o violonista Benedicto Soares Capelo apresenta-se

na redação da revista A Cigarra, com um interessante programa que consiste nas

seguintes peças:

Primeira Parte

- Napoleão Coste: Estudo em lá maior

- Emílio Pujol : Canção do Berço

- H. Montey: Valsa de Concerto

- Mendelssohn: Romanza sem Palavras, arranjo de Tárrega

Segunda Parte

- Verdi : Miserere da ópera Trovador

- Beethoven: Adagio da Sonata Patética, arranjo de Tárrega

- Chopin: Noturno n.º 2 op. 9, arranjo de Tárrega

Não foram encontradas maiores informações sobre este violonista. Pelo

programa podemos perceber que ele talvez tivesse mantido contato com Josefina

Page 25: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Robledo, tal a quantidade de arranjos de Tárrega, além da peça de Emílio Pujol, também

interpretada pela violonista espanhola quando de seus recitais em São Paulo.

Poucos dias depois, na Folha da Noite de 19 de fevereiro aparece a notícia de

que no salão do Correio Paulistano haverá uma audição dos Oito Batutas, com a

observação de que o grupo estaria sendo “dirigido pelo violonista Américo Jacomino”.

É a única informação encontrada deste evento, pouco divulgado entre artigos sobre

Jacomino e os Batutas.

O ano de 1922 é pouco produtivo para o violão em São Paulo. Apenas em

novembro novamente João Pernambuco aparece na capital paulista, desta vez com um

novo grupo, os Turunas Pernambucanos. Assim escreve o Jornal O Estado de São

Paulo de 14 de novembro de 192224:

"O apreciado folclorista Cornélio Pires, que acaba de realizar no Rio, com

sucesso, a ‘Semana sertaneja’, acha-se de novo nesta capital, onde organizou, com o

concurso dos Turunas Pernambucanos, uma série de festas nacionalistas intituladas

‘Noites Sertanejas’.

“A primeira dessas festas, a que está destinado, sem dúvida alguma, merecido

êxito, será no dia 18 do corrente, no Teatro Brasil, que se vai seguramente encher de

uma assistência elegante e distinta.

“Fazem parte do grupo dos Turunas: Pernambuco (Violão); Piquá (chocalho);

Jararaca (violão e cantos sertanejos característicos); Sapequinha (cavaquinho); Caxangá

(violão); Cobrinha (pandeiro); Pirajá (réco-réco) e Ratinho (saxophone).

“Cornélio Pires falará sobre: Caipiras; sua educação, resistência, desconfiança e

docilidade; casos jocosos de sua simplicidade; presença de espírito; vida roceira.

“Intercalados nas pilhérias, estes números dos Turunas: I - Vamos pra Caxangá

(choro do Norte); II - Passarinho Verde (toada do sertão); III - Sambinha de viola; IV -

A espingarda (canto sertanejo); V - Bamo simbor Maria (canção sertaneja); VI -

Variações de saxofone, pelo Ratinho.

“Como se vê, o programa de estréia é magnífico.

“Sexta-feira será oferecida uma audição à imprensa”.

24 Noites Sertanejas. O Estado de S. Paulo, ano 48, col. A Sociedade, 14 de novembro de 1922, p.4.

Page 26: Gilson Antunes - Americo Jacomino

No mesmo ano, dia 17 de novembro o jornal publica artigo com os verdadeiros

nomes dos Turunas, sendo eles Severino Rangel (Ratinho), João Teixeira Guimarães

(Pernambuco), José Calazans (Jararaca), Cypiano Silva (Pirana), Robinson, Florêncio

(Sapequinha), Aldemaro Adour (Cobrinha), Abrantes Pinheiro (Jandaia) e José Villela

(Cariry). A crítica do dia 19 é bastante favorável, tendo obtido o teatro boa assistência,

o mesmo ocorrendo nos dias dos recitais seguintes (entre 20 de novembro e 1 de

dezembro), no Teatro Brasil, Teatro Municipal (por ocasião da “Tarde da Criança” em

benefício do “Asilo da Sagrada Família”), Cine-Teatro República e Teatro São Pedro.

Já em 15 de dezembro o jornal O Estado de São Paulo anuncia a audição à

imprensa da “Troupe Regional dos Oito Turunas Paulistas” no salão nobre do Correio

Paulistano, o que ajuda a demonstrar a grande rapidez com que os sucessos eram

assimilados.

Passando para 1924, a primeira notícia de apresentação de um violonista

acontece em 29 de abril, na conferência mensal da Associação dos Ex-alunos

Salesianos, com o professor Leopoldo Silva tocando a Fantasia sobre temas do

Guarani, de Carlos Gomes, peça gravada por Jacomino e constantemente apresentada

em público.

Enquanto isto, inaugura-se no Parque D. Pedro I o Palácio da Agricultura e da

Indústria, que seria a futura sede da Rádio Bandeirantes, e a Sociedade Rádio

Educadora dirige uma circular a todas as Câmaras Municipais do interior, solicitando

apoio para o desenvolvimento da Radio-Telefonia em São Paulo, "com intuitos

meramente educativos" 25. Instalavam-se também microfones para a irradiação de

recitais como o da pianista Magdalena Tagliaferro. Os primeiros lugares a serem

contemplados foram o Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Santana e o Salão do

Conservatório Dramático e Musical. As irradiações ocorriam às terças, quintas e

sábados, das 21 horas em diante.

Em 15 de maio do mesmo ano, no Salão do Conservatório Dramático e Musical

o violonista Domingos Anastácio da Silva realiza um interessante recital, com peças

originais e de outros autores, cumprindo o seguinte programa:

Primeira Parte

-Francisco Manoel da Silva: Hino Nacional

25 Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S.Paulo, São Paulo, ano 50, 09 de maio de 1924, p. 4.

Page 27: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Verdi : Miserere da ópera Trovador

-Domingos da Silva: Fantasia da Solidão

-Domingos da Silva: Noite de Estrelas

- J. Machado: Tempestade (tarantela)

-Domingos Silva: Valsa

Segunda Parte

- Levino Conceição: Alvorada

- Carlos Gomes: Fantasia do Guarani

- Domingos Silva: Alice

- Domingos Silva: Eu Quero Ver

- Domingos Silva: Combate Irresistível

- Barrios: Bicho Feio

É interessante notar que novamente a Fantasia do Guarani estava presente, além

de uma peça do violonista cego Levino Albano da Conceição e a música Bicho Feio, de

Barrios, número infelizmente perdido e jamais publicado.

O mesmo Domingos Anastácio da Silva se apresenta em Campinas em 24 de

setembro, sendo chamado pela Gazeta de Campinas de “verdadeiro rival de Barrios”:

Primeira Parte

- Francisco Manoel da Silva: Hino Nacional

- Domingos A. Silva: Amor Eterno (polca)

- S. Machado: Bolero (Sonhando)

- Noite de Estrelas (valsa) – dedicada á exímia escritora gaúcha, mme.

Andradina de Oliveira.

- S. Machado: Tempestade (tarantela)

- Domingos A. Silva: Eu quero Ver (tango) – (a execução é feita com o violão nas

costas)

Segunda parte

- Levino Albano: Alvorada Brilhante –– marcha com variações e funções harmoniosas

- Giuseppe Verdi: Miserere, da ópera Trovador

- Carlos Gomes: Fantasia, da ópera O Guarani

Page 28: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Domingos A. Silva: Marina Correa (valsa) –– dedicada à menina Marina Correa

Lino

- Barrios: Bicho Feio (tango)

- Domingos A. da Silva: Combate Irresistível (dobrado) - Grande sucesso em São

Paulo e Rio de Janeiro, com imitação de descargas de fuzil e metralha, troar de canhão,

toque de cornetas e rufos de tambores.

Na crítica do dia seguinte, o mesmo jornal escreve que “o programa organizado

teve bom desempenho, tendo o professor Domingos Anastácio recebido grande salva de

palmas”26.

O ano de 1925 começa com Aristodemo Pistoresi (filho de Francisco Pistoresi)

se apresentando no dia 2 de janeiro, sendo este o primeiro concerto de violão erudito

transmitido pela Rádio em São Paulo. Infelizmente não é publicado o programa desta

apresentação. Em 20 de fevereiro Pistoresi toca a Marietta e Recuerdos de Alhambra,

de Tárrega, e um Noturno de Chopin, na União Católica Santo Agostinho, sendo talvez

algumas das mesmas músicas apresentadas no rádio no mês anterior.

Na Rádio Club, no dia 19 de maio do mesmo ano, o violonista Francisco Lerosa

apresenta a Tarantela de Levino Albano. Canhoto dá novamente um sarau no

Conservatório Dramático, desta vez com a participação de Roque Ricciardi e Santino

Gianatasio, com acompanhamento de piano. No final do mês, dia 28, quem aparece

para tocar é o violonista João Avelino de Camargo, integrante do trio "Os Três

Sustenidos", executando suas peças Gavotte, Choro Paulista e A Lágrima, no salão

nobre da União Católica Santo Agostinho. O mesmo violonista se apresenta no dia 27

de agosto em outro sarau promovido pela mesma União Católica, apresentando

Recuerdos de Alhambra, de Tárrega, e mais três números extras; e ainda no dia 12 de

outubro com as músicas A Lágrima, de Sagreras, Choro Paulista e Recordação

Saudosa, ambas de sua autoria.

Ainda em 1925, na coluna Notícias Teatrais do jornal O Estado de São Paulo de

3 de junho aparece a notícia de que o jovem Aristodemo Pistoresi havia dado uma

audição à imprensa no salão do Correio Paulistano, executando peças de Chopin,

Albeniz, Tárrega, Paderewsky, Mendelssohn, Schumman e Barrios. Foi a prévia de seu

concerto do dia 10, que seria irradiado pela Sociedade Rádio Educadora Paulista. A

26 “Concerto de Violão”. Gazeta de Campinas, ano 23, 25 de setembro de 1924, coluna Artes e Artistas, p.1.

Page 29: Gilson Antunes - Americo Jacomino

crítica é boa, afirmando que "a assistência foi escolhida e avultada, aplaudindo

calorosamente o distinto artista que na execução do bem escolhido programa confirmou

o conceito que merecera na sua exibição à imprensa, mostrando-se possuidor de boa

escola e dotado de fino temperamento. Ao seu domínio do instrumento corresponde

bem a sua versatilidade de interpretação, o que o faz, atualmente, um artista digno de

atenção, prometendo ainda melhores e maiores realizações para o futuro”27.

Dia 27 de novembro novamente Aristodemo Pistoresi apresenta uma parte de

violão em outro recital promovido pela Associação de ex-alunos Salesianos, situada na

Alameda Nothmann. O violonista toca Mathilde (mazurca), de C. Garcia; Adágio, de

Beethoven; Sonho, de Tárrega; Canção do Berço, de Pujol; Tua Imagem, de Barrios;

Ontem ao Luar, de Alcântara; Granada, de Albeniz; Miserere da ópera Trovador, de

Verdi; Noturno op. 9 n.º 2, de Chopin; e Capricho Árabe, de Tárrega.

Este concerto não é irradiado, mas Pistoresi, "conhecido artista paulistano, filho

de conhecido industrial, fabricante de instrumentos de cordas"28, acompanha os recitais

do violonista paraguaio Pablo Escobar no salão do Conservatório Dramático e Musical,

em 14 de dezembro. As poucas notícias existentes sobre o violonista falam que Pablo

Escobar Cáceres havia nascido em 22 de junho de 1900 em San Jose de los Arroyos,

mudando-se para Assunção para estudar violão e solfejo no Instituto Paraguaio, sendo

orientado por Dionísio Basualdo. O violonista apresentou-se como solista no ato

artístico “La Peregrinacioón de Caacupé”, organizado pelo irmão de Agustín Barrios,

Martin. Apresentou-se também com sucesso no Salão da Sociedade Italiana em

Assunção, partindo em seguida para a apresentação em São Paulo.

A notícia sobre o recital do Conservatório será publicada desta forma no Estado

de São Paulo29:

"São Paulo conta inúmeros apreciadores de violão. Por isso é natural que, hoje à

noite, a sala do Conservatório Dramático e Musical reúna um público numeroso. É que

ali se realizará, como temos anunciado, o concerto do violonista paraguaio sr. Pablo

Escobar, com o gracioso concurso do sr. Aristodemo Pistoresi, um dos mais distintos

artistas de violão em nossa capital.

27 “Festival do Violonista Aristodemo Pistoresi”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, coluna Palcos e Circos, 11 de junho de 1925, p. 6. 28 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, coluna Artes e Artistas, 14 de dezembro de 1925, p. 3. 29 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, Coluna Artes e Artistas, 16 de dezembro de 1925, p. 2.

Page 30: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Essa hora de arte despertou desde logo muitas simpatias, pois o artista que

agora nos visita veio em companhia dos escoteiros paraguaios e, nas festas oferecidas

àqueles rapazes, teve oportunidade de se fazer ouvir, recebendo justos aplausos. O

programa desta noite, carinhosamente escolhido, conta uma linda composição do

violonista paraguaio.

Primeira Parte

- Dr. Pinho: Marcha Paraguaia

- Iparraguirre : El Huerfano

- Escobar: Recuerdos de Zavala

- Barrios: Jha! Che Valle

Segunda Parte

- Barrios: Madrigal

- Garcia: Meditation

- Tarrega: Capricho Árabe

- Barrios: Valsa n.º 4

Terceira Parte

Dois violões, pelos srs. Pablo Escobar e Aristodemo Pistoresi.

- Garcia: Mathilde

- Alcântara: Ontem ao Luar

- Sinópoli: Vidalita

- Tárrega: Recuerdos de Alhambra”

A crítica do dia seguinte será bastante favorável ao concerto, irradiado nesta

ocasião pela Sociedade Rádio Educadora Paulista. Escobar ainda tocará alguns números

na rádio em 15 de dezembro, em especial peças de seu conterrâneo Agustín Barrios, e

um recital no salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo no dia seguinte,

tocando a Marcha Paraguaia, El Huerfano e Recuerdos de Zavala, de sua autoria, Jha!

Che Valle e Madrigal, de Barrios, Meditation, de Garcia, Capricho Árabe, de Tarrega e

Valsa n.º 4, de Barrios. Foi o último grande acontecimento violonístico do ano de 1925.

Uma interessante notícia será a da apresentação de João Pernambuco

acompanhando o poeta Catullo da Paixão Cearense, no Teatro Apollo. Os dois

Page 31: Gilson Antunes - Americo Jacomino

acabariam anos depois envolvendo-se numa disputa histórica por causa da canção Luar

do Sertão, terminando na justiça para provar de quem era a música, persistindo até hoje

uma polêmica quanto ao assunto.

Em 1926, no final do ano, quem mais se apresenta ao violão é Francisco Larosa

Sobrinho, tocando em dezembro nos dias 4, 11, 18 e 25, em geral, peças de sua própria

autoria.

Já em 1927, no dia 5 de março, no salão da SREP apresenta-se o Grupo dos

Turunas, formado por João de Lucca, Juca, Carlos Fernandes, Moacyr Pini, José e Zeca,

composto de violinos, violões, cavaquinho e clarinete. No mesmo programa,

Dormeville de Camargo, Luiz Buono e Aristodemo Pistoresi, este tocando a Vidalita, de

Sinópoli, El Huerfano, de Pistoresi, Miserere da ópera Travador, de Verdi (arranjo de

Sagreras) e Capricho Árabe, de Tárrega. Estes violonistas começam cada vez mais a

aparecer em apresentações pela capital, em geral no rádio.

Outro violonista a se apresentar é Benedito Chaves, com o seguinte programa

para a Sociedade Rádio Educadora Paulista:

- E. Campos: Ave-Maria

- Firpo : Sentimento Crioulo - tango

- Chaves: Marcha Militar

- Cachafaz: Tango

- Chaves: Lágrimas de mãe - valsa

Madrugando - maxixe

- Toselli: Rimpianto - serenata

Na rádio em 2 de abril de 1927 apresenta-se o violonista Antônio Giacomino -

que nenhum parentesco possui com Canhoto - tocando a Canção do Berço, de Pujol;

Reverie, de Schumann; e Uma Lágrima, de Sagreras. No mesmo dia, Dormeville de

Camargo e Luiz Buono, este tocando Abismo de Rosas, Cateretê Paulista e Gavotta.

Dia 10 do mesmo mês estréiam no Teatro Apollo, na capital, os Turunas da

Mauricéia, tendo entre seus integrantes o cantor Augusto Calheiros e o violonista

Manuel Lima "Manuelito", ambos premiados no concurso O que é Nosso, do Rio de

Janeiro.

No ano de 1928, a Congregação Mariana de Santa Efigênia realiza em 12 de

fevereiro uma apresentação em que participa o violonista João Avelino de Camargo,

Page 32: Gilson Antunes - Americo Jacomino

que integra o primeiro trio de violões de São Paulo, chamado Trio Os Três Sustenidos.

No programa o violonista apresenta as peças Organito de la Tarde, Edith (gavota) e

Lágrima (Garpar Sagreras).

A próxima notícia importante para o meio violonístico em 1928 será a

apresentação do argentino Juan M. Rodrigues no salão do Conservatório Dramático e

Musical, em 24 de outubro. O programa consta das seguintes peças:

Primeira Parte

- F. Sor: Allegretto de la Sonata op. 22

Gran Andante em lá maior

Cantabile

Andantino

Minueto (andante expressivo)

Segunda Parte

- J. A Rodrigues: Esitylo Classico

Coral del Norte

Chacarera (Gota de Água)

- Souto Rodrigues: Maxixe

- J. A Rodrigues: Minuet Federal (Época de Rosas, 1840)

Terceira Parte

- Porcel: Solitário (Mazurca Bouquet de Salão)

Canção de Hilanderas (Serenata Mexicana)

Danza Oriental (Valle de las Odaliscas)

Divertissement op. 16

Célebre Minueto (Allegro Cantabile)

O jornal O Estado de São Paulo assim se manifestaria30:

"Realizou-se ontem, às 21 horas, no salão do Conservatório, o concerto de violão

do notável artista argentino sr. Juan A. Rodrigues. O programa organizado para esse

recital incluía diversas peças clássicas, que tiveram magnífica interpretação por parte do

30 “Juan A Rodrigues”. O Estado de S. Paulo, ano 54, Coluna Artes e Artistas, 25 de outubro de 1928, p. 2.

Page 33: Gilson Antunes - Americo Jacomino

distinto violonista, tendo o público seleto que acorreu ao recital aplaudido

calorosamente todos os números do programa.

“Foram especialmente apreciados, ademais, o Coral del Norte, de autoria do

concertista, e o Maxixe, de Eduardo Souto".

Juan Rodrigues volta a se apresentar no Teatro Santa Helena em 17 de

novembro, enquanto Benedito Chaves se apresenta em 23 do mesmo mês, tocando entre

outros compositores Chopin e Carlos Gomes.

Até 1930 ocorrem recitais esparsos de violão, como em 20 de abril de 1929,

quando o trio Os Três Sustenidos, formado por João Avelino de Camargo, José Martins

de Mello e Theotonio Corrêa se apresentam no salão do Conservatório Dramático e

Musical de São Paulo. No mesmo dia Carlos Alberto Collet e Silva se apresenta na

sede da Congregação Mariana, interpretando o Capricho Árabe e Recuerdos de

Alhambra, de Tárrega; uma Valsa de Chopin; e o Miserere da ópera Trovador, de

Verdi. Juan Rodrigues volta a se apresentar em 16 de maio de 1929 no Teatro Apollo,

sem crítica impressa.

Um grande evento ocorre em 15 e 22 de junho de 1929, quando o então jovem

violonista Regino Sainz de la Maza se apresenta no Teatro Municipal. Será mais um

dos virtuoses a se apresentar no Brasil, contribuindo para a consolidação do instrumento

na cidade e no país. La Maza nasceu em Burgos, em 7 de setembro de 1897, iniciando-

se ao violão em 1910. Radicou-se na Argentina em 1913, retornando a Madrid para

estudar com Daniel Fortea. Em 1939 o compositor Joaquin Rodrigo lhe dedicaria o

conhecido Concierto de Aranjuez, tendo o mesmo violonista sido dedicatário de outra

importante obra para violão nos anos 30, a Sonata, de Antonio José.

Assim se manifesta o jornal O Estado de São Paulo, quando de seu primeiro

concerto na capital paulista31:

"A Espanha criou uma verdadeira escola de violão que tem elevado esse

instrumento, em verdade pobre, a ponto de formar verdadeiros ‘virtuosi’ de concerto.

Entre eles ocupa lugar de destaque o sr. Sainz de la Maza.

“Quem o ouvisse ontem, no Municipal, conpreenderia facilmente a razão desse

prestígio.

31 Sainz de la Maza. O Estado de S. Paulo, ano 55, Coluna Artes e Artistas, 16 de junho de 1929, p. 4.

Page 34: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“O grande violonista espanhol é realmente, no seu gênero, um artista notável.

Reúne a uma técnica que se afigura inexcedível, uma bela sonoridade, raro senso de

ritmo e grande musicalidade.

“O programa de ontem, muito bem organizado, teve execução admirável. Sainz

de la Maza que interpretou a Bourrée, de Bach, numa linha impecável, foi vibrante e

característico no esplêndido choro (sic) de Villa-Lobos, bem como no Fandanguillo, de

Turina, e no Vito e Zambra, de sua autoria.

“O sr. Sainz de la Maza dará o seu segundo concerto na próxima quinta-feira e

terá necessariamente numeroso público a aplaudi-lo”.

Sainz de La Maza aproveitaria sua passagem pelo Brasil para gravar no dia 26

de junho 3 discos pela Odeon, compreendendo os números 10431 (El Vito e Mazurca),

10432 (Motivo Andaluz e Scherzo Gavota) e 10433 (Reverie, de Tárrega e Boureé, de

Bach), sendo todos lançados no mês de agosto do mesmo ano.

Outro evento será o recital dos alaudistas do Quarteto Aguilar, formado pelos

irmãos Ezequiel, José, Elisa e Francisco. Infelizmente não é publicado o programa do

concerto, nem matéria específica, como ocorre em 1933 quando da volta do quarteto em

São Paulo em crítica de Mário de Andrade32.

Não foi publicado no Estado de São Paulo o programa de despedida de Barrios,

realizado em 25 de outubro.

Duas notícias aparecem na Gazeta de São Paulo de 2 e 6 de setembro, sobre a

música regionalista:

“Música Regional Brasileira. Dentro de alguns dias ouviremos em São Paulo um

excelente grupo de músicos regionalistas, entende-se especializados nesse gênero,

porém, constituídos de distintos moços da sociedade carioca. São eles os srs. Renato

Murce (foto), cantor e diretor do grupo; Oswaldo Lopes, violão; Mozart Bicalho, canto

e violão; Francisco Netto, bandolim; e Arlindo Vasquez, violão.

“A música regional brasileira, como dissemos, é o gênero a que se dedicam e no

qual se têm feito ouvir com apreciável êxito no Rio de Janeiro. Canções do norte e do

sul, sambas, choros e toda a sorte de tipos da nossa música constituem o seu repertório,

32 Diário de S. Paulo, São Paulo, 2 de julho de 1933.

Page 35: Gilson Antunes - Americo Jacomino

e dão-nos, dentro desse feitio, audições que tanto primam pela sua legitimidade como

pela sua corretíssima execução.

“Música Regional Brasileira. Conforme noticiamos realizar-se-á no próximo dia

16, no Teatro Municipal, uma audição de música regional brasileira, a cargo de um

grupo de amadores cariocas, pertencentes à sociedade do Rio e que vêm precedidos das

melhores referências da imprensa daquela Capital.

“Trata-se de Renato Murce (canto), Oswaldo Lopes (violão), Mozart Bicalho

(violão e canto), Francisco Netto (bandolim) e Arlindo Vasquez (violão), todos

amadores cheios de entusiasmo e cujo principal escopo é fazer a propaganda da nossa

música, visando colocá-la no plano que, de justiça, lhe compete.

“Os recitalistas destinarão parte da renda líquida à Cruz Azul.

“Renato Murce e seus companheiros darão uma audição à imprensa, no próximo

dia 14, no salão do Correio Paulistano.

“Chamamos a atenção dos nossos leitores para o interessante espetáculo do dia

16, do qual oportunamente publicaremos detalhes”.

Quando da publicação do programa, observamos que Mozart Bicalho interpretou

suas peças Uma Festa em Itambé, Sonhos de Nazareth, A Cabrocha do Fundão (toada

sertaneja), Dança das Pulgas (imitação de quadrilha na roça), Desafio de Bacatuba e

Sabiá (Catullo) e Divagações (valsa).

Em 1930 os violonistas que mais se apresentam são os do trio Os Três

Sustenidos, mas jovens violonistas começam a despontar, como Rogério Guimarães e

Diogo Piazza. O violonista Garoto inicia suas apresentações, como na Rádio Sociedade

Record em 16 de maio, quando, juntamente com Armandinho, acompanha o flautista

Canário. Aristodemo Pistoresi também apresenta recitais esporádicos como em 11 de

setembro, em que toca Canção dos Alpes, de Sinópoli, Astúrias, de Albeniz, Adágio, da

Sonata Patética, de Beethoven; e Gran Jota Aragoneza de Tárrega, e como o recital

ocorrido na sede do Collegio Stafford em 30 de julho, quando apresenta peças de

Albeniz, Beethoven e Tárrega. Mas o grande violonista a dar um recital será o cego

Levino Albano da Conceição, autor da peça Tarantella, gravada por Barrios e

interpretada por Canhoto e outros violonistas.

A primeira apresentação ocorre para a imprensa no dia 18 de setembro, na sede

do Correio Paulistano. Outros recitais ocorrem no Teatro Municipal em 5 de

Page 36: Gilson Antunes - Americo Jacomino

dezembro, com peças de Chopin, Albeniz, Beethoven e do próprio Levino, e no dia 20

do mesmo mês no salão nobre do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.

No dia 11 de outubro, o jornal A Gazeta de São Paulo publica o seguinte

comunicado:

“Recital de Violão

“Comunicado:

“Está marcado para o próximo dia 25, no Teatro Municipal, o recital de violão

do prof. Levino Albano da Conceição. O festejado violonista patrício é merecedor do

melhor aplauso pelo que tem feito em todos os Estados, tornando conhecidos os grandes

benefícios que aos cegos prestam os institutos existentes no Brasil e que merecem ser

olhados com carinho pelos nossos homens públicos.

“Ocupando um lugar de destaque entre os nossos violonistas, o prof. Levino

deverá ter um grande público a aplaudi-lo, no excelente programa que está organizado.

“E muito justo será todo e qualquer apoio que seja dado ao ‘cego iluminado’,

que pretende muito em breve seguir para a Europa, a fim de se aperfeiçoar na sua arte”.

O recital acaba ocorrendo em 5 de dezembro, com o violonista tocando, entre

outras peças, Grande Fantasia (capricho em sol maior), Tocata em ré maior (estudo n.º

5), Símbolo do Bem, Romance sem Palavras e Grande Estudo em Si menor; Chopin-

Levino: Marcha Fúnebre op. 35; Albeniz-Segóvia: Legenda; Beethoven-Barrios:

Minuetto; e Levino: Tarantella (estudo n.º 2 em lá menor).

I.4 - Agustin Barrios em São Paulo 1917/1929

Em inícios de abril de 1917 são marcados dois recitais do violonista paraguaio

Agustín Barrios, que já havia realizado dois concertos no Rio de Janeiro, com destaque.

A audição à imprensa acontece no salão do Correio Paulistano, e é documentada em

jornal33: “Iremos ouvi-lo e estamos certos de que, da anunciada audição, só excelente

impressão haveremos de colher, tanto mais por se tratar de um artista, cujo nome está de

há muito consagrado por toda a imprensa sul-americana”.

A crítica publicada é de interesse por vários motivos. Primeiramente por se

tratar do primeiro recital de um violonista estrangeiro de renome em São Paulo, sendo

33 “Audição de Violão”. O Estado de S.Paulo, ano 43, coluna Artes e Artistas, 26 de abril de 1917.

Page 37: Gilson Antunes - Americo Jacomino

que o programa realizado refletia um repertório diferenciado do que se fazia na Europa

em termos de violão erudito, a se julgar pelos recitais apresentados pela violonista

espanhola Josefina Robledo, que em breve tocaria na capital. Depois, porque o evento

em si poderia influenciar uma provável ascendência de estudantes de violão em São

Paulo, os quais tinham assistido apenas a Américo Jacomino como solista de destaque

na imprensa.

Agustín Barrios nasce em San Juan Batista de las Missiones, estudando com

Gustavo Sosa Escalada num ambiente isolado de qualquer tradição violonística. Viaja

muito, tendo contato maior justamente com o Brasil, onde conquista muitos amigos e

onde posteriormente se casa com uma carioca.

Assim se refere o jornal O Estado de São Paulo sobre o recital de Barrios no

salão do Correio Paulistano34:

“Realizou-se ontem à noite, numa das salas do Correio Paulistano, a audição de

violão, oferecida à imprensa e mais convidados pelo professor e compositor paraguaio,

sr. Augusto de Barrios (sic).

“Foi observado o seguinte programa:

-Garcia Tolosa: Meditação – Noturno

Marcha Heróica – Giuliani

-Barrios: Recuerdos del Pacífico – valsa de concerto

-Barrios: Tarantela – Souvenir Napolitano

-Barrios: Rapsódia Americana – poemas americanos

-Chopin: Noturno op. 9 n.o. 2

-Barrios: Tango Humorístico – Bicho Feio

-Barrios: Jota Aragonesa – 16 variações

-Francisco Manuel da Silva: Hino Brasileiro.

“Logo na Meditação o auditório compreendeu que tinha na sua frente um

autêntico ‘virtuose’.

“Com efeito, o Noturno de Garcia Tolosa é uma composição com ensanchas a

permitir que um artista consagrado afirme todas as suas aptidões.

34 “Audição de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14001, coluna Artes e Artistas, 27 de abril de 1917, p. 04.

Page 38: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Barrios executou-o com uma delicadeza de técnica que, ora revelava uma

familiaridade absoluta com o seu instrumento, ora uma interpretação que conferia a todo

esse trabalho as belezas melódicas de que é feito.

“As maiores dificuldades de som o bravo artista as venceu com uma galhardia

que jamais nos foi dado apreciar. À maneira que os valores da escala se multiplicavam,

as ‘mãos preciosas’ do executante, agora mais ágeis e dominadoras, obtinham dos

bordões e das toeiras a soma exata de acuidade e nitidez.

“É um virtuose galhardo fugindo a toda espécie de atordoamento e mantendo

sempre uma execução calma e preciosa.

“Em todo o programa em que, aliás, havia composições em que a técnica se

complica e parece não caber dentro daquelas seis cordas Barrios foi sempre o mesmo

soberano artista, consciente do seu trabalho, que é, com efeito, límpido e impecável.

“Para se aferir do respeito com que o professor paraguaio tem pela sua arte, é

bastante observar a inteligência com que ele interpreta a tarantella Souvenir de um

grande sabor napolitano.

“Qualquer outro artista menos consciencioso teria exagerado a execução. Ele

não. Realizou-a com um escrúpulo inexcedível, esmaltando uma por uma todas as

gradações que, em conjunto, dão a tarantela um caráter vivaz e enternecedor.

“No tango humorístico – Bicho Feio – original do executante, as primas e

segundas estabelecem diálogos, falam, vindo por fim os bordões numa ressonância

sóbria que mais evidencia o fino humor da composição.

“Enfim, a audição rematou com o Hino Brasileiro, esplendidamente executado,

e que todos os assistentes ouviram de pé.

“Barrios, seria desnecessário dizê-lo, foi fartamente aplaudido.

“Bem merecidas as palmas que lhe ofertaram. É realmente, um artista admirável,

no violão”.

O programa apresentado demonstra uma predominância de repertório próprio do

violonista. O noturno Meditação é uma composição de Garcia Tolsa, e não Tolosa,

como foi impresso. O Noturno de Chopin já havia tido uma transcrição de Francisco

Tárrega, bastante divulgada pelos violonistas europeus, assim como as variações sobre a

Jota Aragoneza, que é uma das peças mais executadas por violonistas desse período.

O violonista se apresenta em seguida no Teatro Municipal de São Paulo nos dias

5 e 9 de maio, ainda no ano de 1917, sendo estes os primeiros recitais do gênero no

Page 39: Gilson Antunes - Americo Jacomino

principal teatro da capital paulista. Em artigo, o jornal O Estado de São Paulo35 escreve

que o violão possui um poder de sonoridade pequeno e a “circunstância agravante de ter

um único timbre” e que “obedecia a uma execução da mais difícil técnica e era tão

aristocrático quanto o violino e o violoncelo, apesar de ser um instrumento melodioso e

com uma “suavidade e uma variedade de sons que falam a alma”. Escreve também

erroneamente que o violão descende do alaúde árabe.

O programa executado por Barrios no Teatro Municipal é bastante diferente do

primeiro:

Primeira Parte

- Giuliani : Marcha Heróica

- Mendelsshon: Chanson du Printemps

- Barrios: Recuerdos del Pacífico – valsa de concerto

- Aguado: Rondó Brilhante

- Tolsa: Meditação

Segunda Parte

- Chopin: Nocturno op. 9 n.º 2

- Verdi /Arcas: La Traviata (fantasia)

- Espinosa: Moraima, capricho mourisco

- Coste: a) Estudo para a mão esquerda

- Barrios: b) Bicho Feio: tango humorístico

Rapsódia Americana, poema popular – idem

Jota Aragoneza (variações) – idem

A crítica mais uma vez é interessante para sabermos como o violão é recebido

nestes primeiros recitais de maior importância36:

“Ontem à noite, no Teatro Municipal, realizou-se o primeiro dos anunciados

concertos do notável violonista paraguaio Agustín de Barrios (sic).

“Pouca gente. Uma verdadeira desolação. E foi pena. Foi pena, porque numa

capital, como a nossa, de quinhentos mil habitantes, muitos dos quais cultivando a

35 Concerto de Violão. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14005, coluna Artes e Artistas, 1 de maio de 1917, p. 02 36 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14010, coluna Artes e Artistas, 6 de maio de 1917, p. 03.

Page 40: Gilson Antunes - Americo Jacomino

música e muitíssimos sabendo apreciá-la até a comoção, havia o direito de esperar, já

não diremos os mil e quinhentos assistentes que no Teatro Solis, do Uruguai, renderam

cativante homenagem ao artista, mais uma parcela numérica que ao menos pudesse

corresponder à importância de S. Paulo como centro de cultura artística.

“Ainda assim, os que assistiram ao concerto do professor paraguaio souberam

resgatar a falta dos que lá não foram, aplaudindo com calor e entusiasmo os números do

programa.

“Barrios foi em todos eles um artista de execução impecável. Na Marcha

Heróica de Giuliani, Chanson du Printemps, de Mendelssohn; Recuerdos Del Pacifico,

de sua composição no Rondó Brilhante de Aguado; na Meditação de Tolsa e na

Fantasia de Concerto de Arcas, o seu mecanismo é de uma técnica riquíssima, realçada

por uma nitidez sem igual.

“A mão direita de Barrios não tem, como a de todos os executantes o necessário

apoio no instrumento. Ela se desarticula toda, e a maneira que desenvolve a execução,

vê-se que do punho à extremidade dos dedos o exercício do tato obedece ao sentido

rítmico do executante e que é como uma alma recebendo da (sic) do artista todos os

efeitos musicais.

“Claro, brilhante, imprevisto com delicadezas de frase que dão ao seu estilo um

colorido quente, Barrios interessa, entusiasma e comove, consoante o gênero de música

que aparece ao auditório.

“Na segunda parte do programa em que, além do seu tango humorístico Bicho

Feio, bisado por entre acclamações geraes, da Raspódia americana e Jota Aragonesa

havia trechos de Chopin, de Espinosa e um estudo de Corte (sic) para a mão esquerda, o

professor paraguaio evidenciou-se um verdadeiro mestre.

“Essa segunda parte do programa foi talvez a mais interessante e agradável, a

julgar pelo calor das palmas com que a assistência acolheu quase todos os números.

“Em resumo, foi uma verdadeira festa de arte, ontem à noite, no Municipal.

Resta ver se agora no segundo concerto, o público se torna mais acessível e enche o

teatro, como é justo”.

Com relação ao primeiro recital, há interesse em saber que no recital do Uruguai

havia um público de mil e quinhentas pessoas (diferente do recital em São Paulo) ou

Page 41: Gilson Antunes - Americo Jacomino

saber que o violonista utilizava a técnica “sem apoio” 37, que daria sonoridade

diferenciada da técnica “com apoio”, ao contrário da “escola” de Francisco Tárrega

(considerada a mais moderna de então)38. Barrios tem o costume de usar cordas de aço,

ao contrário dos violonistas europeus, que utilizam cordas de tripa. Porém, para abafar

um pouco o som e deixar menos metálico, o violonista coloca pedaços de borracha na

pestana do cavalete39.

O programa do segundo recital de Barrios causa interesse, a começar que o

violonista mais uma vez demonstra possuir um repertório considerável, pois apresenta

um terceiro programa inédito. Desta vez com peças mais variadas, em que se destacam

as árias de óperas, transcrições de compositores consagrados, composições próprias e, o

mais interessante, uma peça de um compositor brasileiro, a Tarantela, de Levino

Albano da Conceição, apresentada sob o título de Souvenir Napolitain. Esta peça será

gravada por Barrios duas vezes, com pequenas alterações entre elas, e será publicada

como sendo de sua autoria. Entre outros violonistas que interpretam a peça estão

também Américo Jacomino.

Barrios fará sua última apresentação no interior de São Paulo, em Campinas, no

dia 8 de 1917. Nesta mesma ocasião uma outra figura importante do meio musical

violonístico estaria para aportar no Brasil, a espanhola Josefina Robledo, discípula

direta daquele que já era considerado o introdutor de uma moderna escola violonística,

Francisco Tárrega. Junto aos recitais de Américo Jacomino e Agustin Barrios, quase ao

mesmo tempo, a presença de Josefina Robledo constituirá o tripé necessário para o

definitivo estabelecimento do violão em nossa sociedade, ainda mais em se tratando de

uma mulher violonista e virtuose, algo absolutamente inédito para o Brasil.

Barrios volta a se apresentar em São Paulo apenas em 1929, numa série de três

recitais noTeatro Municipal de São Paulo. Os programas são os seguintes:

Primeiro Concerto, 13 de outubro de 1929:

I - Barrios: 1- Serenata Mourisca; 2 - La Catedral a) andante religioso; b)

allegro; 3 - madrigal; 4 - Capricho Hespanhol 37 Esta técnica consiste em tocar uma corda do violão repousando o mesmo dedo na corda superior, dando sonoridade específica e diferente da técnica “sem apoio”, segundo a qual não se apóia o dedo na corda superior. 38 Tárrega nunca teve uma escola propriamente dita, mas seus ensinamentos foram passados adiante por seus vários discípulos, notadamente Emílio Pujol, que em 1934 escreveu sua Escola Razonada de la Guitarra, em 4 volumes, inspirado nos ensinamentos de seu mestre. 39 BARTOLONI, Giácomo. O violão na cidade de São Paulo no período de 1900 a 1950. Dissertação de mestrado / UNESP. São Paulo, 1995, p. 188.

Page 42: Gilson Antunes - Americo Jacomino

II - Bach: 5 - Prelude; 6 - Loure

Beethoven: 7 - Minueto

Mozart-Sors: 8 - Tema variado; Chopin: 9 - Noturno

III - Albeniz: 10 - Sevilla

Barrios: 11 - Souvenir d'un rêve; 12 - Harmonias de America; 13 -

Alvorada Histórica Paraguaia

Segundo Concerto, 18 de outubro de 1929:

I - Barrios: 1 - Confissão; 2 - Mazurca Apassionata; 3 - Valsa n.º 3; 4 - Allegro

Brilhante

II - Bach: 5 - Courante e 6 - Gavotte

Chopin: 7 - Mazurka

Granados: 8 - Danza

Arcas: 9 - Concerto em lá maior

III- A Napoleão: 10 - Romance

Barrios: 11- Cueca Chilena; 12 - Contemplação e 13 - Grande Jota

Aragonesa

Não é publicado no Estado de São Paulo o programa de despedida de Barrios,

realizado em 25 de outubro.

I.5 - Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil –

1917/1922 A biografia de Josefina Robledo é ainda hoje pouco conhecida. Segundo o

Diccionario de Guitarristas, de Domingos Pratt, Robledo (Josefina Robledo Gallego)

nasce na capital de Valência, Espanha, em 10 de maio de 1897, estudando com Tárrega

a partir dos 7 anos de idade, terminando em 1909, com a morte do professor. Estuda

harmonia e história da música com Peña Roja, tendo dado seu primeiro recital em 1907.

Em 1914 visita pela primeira vez a América do Sul, com apresentações na Argentina.

Sua fama provavelmente não ultrapassou o tempo pelo fato de a violonista não ter

registrado sua arte em discos, e alguns conhecem seu nome apenas pela partitura da

Sonata n.º 2, de Eduardo Lopes Chavarri, que dedicou a obra à violonista.

Page 43: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Robledo vem ao Brasil acompanhada de seu marido, Fernando Molina (segundo

Pratt, um violoncelista medíocre), após recitais em Montevidéu e Buenos Aires. Como

de praxe, sua primeira audição é um evento fechado à imprensa, no dia 23 de julho de

1917, na “Rotisserie Sportsman”. O jornal O Estado de São Paulo assim descreve o

evento40:

“Trouxemos da audição de ontem à tarde na ‘Rotisserie Sportsman’ uma

impressão excelente.

“A sra. Josefina Robledo é, em verdade, uma artista de talento, uma executante

que reúne a profundos conhecimentos de técnica uma sensibilidade comovente e

encantadora.

“Sóbria no estilo, segura no frasear, tirando das cordas do violão os máximos

efeitos, a sra. Robledo sabe elevar esse rebelde instrumento à categoria dos que, num

concerto público, exercem sobre o auditório a maior impressão de encanto.

“O violão, como aqui já uma vez dissemos, é um instrumento que teve no seu

longínquo passado um grande esplendor. Caiu mais tarde, maltratado pelas mãos

mercenárias de quem lhe não conhecia a estrutura, a alma, nem a capacidade de

produção. Modernamente, começa a reabilitar os seus créditos, já interessa os círculos

artísticos e documenta nos grandes salões as suas qualidades de instrumento

aristocrático. É claro que, para isso, só tendo ao seu serviço, dentro de uma esfera

superior de arte, cultores da envergadura de Tárrega, que é o violonista mais

maravilhoso que há hoje em Espanha, ou Barrios, o professor paraguaio que ainda não

há muito sensibilizou o nosso público ou ainda Josefina Robledo, que ontem à tarde, na

audição especial que ofereceu à imprensa, afirmou exuberantemente as suas altas

qualidades de ‘virtuose’, provando ao mesmo tempo como esse instrumento, dominado

por mãos autorizadas, pode interpretar os grandes clássicos.

“Na audição de ontem, a sra. Josefina Robledo deu-nos uma página romântica de

Chopin, outra de Schumann, interpretando também Beethoven e Bach. Isto bastaria

para lhe pôr em relevo as características da sua técnica. Mas depois interpretou a Jota

Aragonesa e La Mariposa, de Tárrega. Essa última composição é cheia de arpejos, que

Robledo só com a mão direita, os seus cinco dedos em constante movimento, dando-nos

a fina ressonância de um bater de asas nalgum pombal distante.

40 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14089, coluna Artes e Artistas, 24 de julho de 1917, p. 04.

Page 44: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Pertencem-lhe essa especialidade de efeitos, e só vendo a artista é que se pode

fazer uma idéia exata da superioridade com que ela os consegue tirar das cordas do seu

instrumento.

“Em Jota Aragoneza a execução de Robledo obedece a um estilo profundamente

sentimental. Sente-se bem através daqueles sons a alma de uma região singular com as

suas canções abeberadas de melancolia, que os dedos da artista e o seu espírito

enamorado traduzem com suavíssima ternura.

“Em resumo, a sra. Robledo é, no violão, uma artista finíssima, que o público vai

apreciar, dentro em breve, num dos nossos primeiros salões.

“Quanto ao sr. Fernando Molina, diremos que é um violoncelista de grandes

recursos, fraseando com sentimento, executando com segurança, evidenciando, enfim,

temperamento e arte”.

A estréia oficial de Robledo acontece no dia 29 de julho de 1917, domingo, no

salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. O programa apresenta as

seguintes músicas:

Primeira Parte

Josefina Robledo

- Albeniz: Serenata Espanhola

Waltz – Godard

Trêmolo – Gottschalk

Jota Aragoneza – Tarrega

Segunda Parte

Violoncello e violão – Molina e Robledo

- Squire: Priére

- Pergolese: Nina

- Godard: Sur lê Lac

- Glazounov: Serenata Espanhola

Terceira Parte

Josefina Robledo

- Albeniz: Granada

Page 45: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Bach: Bourré

- Chopin: Noturno op. 9 n.º 2

- Paganini: Carnaval de Veneza

Analisando o programa, observamos alguma semelhança com o repertório de

Agustín

Barrios como transcrições de peças de autores consagrados (Chopin, Bach), peças

originais de autores contemporâneos (Tárrega) e peças de autores da própria

nacionalidade da artista (Albeniz, no caso de Robledo, em provável transcrição de seu

mestre Francisco Tárrega).

A crítica do dia posterior ao recital, 30 de julho, é também um importante

documento sobre este início de apresentações do violão solo no Brasil41:

“Nesta seção já temos feito várias referências ao excepcional valor da concertista

Josefina Robledo, que ontem deu a sua primeira audição pública de violão, no salão do

Conservatório.

“Foi, por isso, com alguma surpresa que verificamos não corresponder o número

de pessoas presentes ao acontecimento artístico que devia ser, como foi, o concerto de

Josefina Robledo. Não seria difícil, entretanto, encontrar vários motivos que

explicassem razoavelmente a diminuta concorrência; a maioria deles, porém, escapam à

nossa esfera de ação e interessam apenas ao empresário.

“Há uma circunstância que, de algum modo, justifica a pouca curiosidade do

público pelas execuções de violão. Esse instrumento vulgar muito raramente encontra

quem o eleve da sua condição de simples acompanhador de cantos e danças populares,

para que, fora de seu meio habitual, possa interessar a uma platéia educada. É natural,

pois, certa desconfiança com que se recebem os violonistas, máxime (sic) num

momento em que toda gente hesita diante da mais insignificante despesa...

“Mas Josefina Robledo é um caso de exceção. Nesta admirável ‘virtuose’ reúne-

se, num conjunto incomparável, uma técnica de escol. Na execução, de uma nitidez fora

do comum, dispõe de recursos assombrosos que lhe asseguram o domínio completo de

seu instrumento e lhe permitem realçar todo o seu talento de intérprete vibrátil e

finamente sensível, mas conscienciosamente e de uma rara probidade artística”.

41 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14095, coluna Artes e Artistas, 30 de julho de 1917, p. 03.

Page 46: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“O seu concerto de ontem foi um triunfo. O programa prestava-se igualmente à

exibição de técnica e à revelação das suas qualidades de intérprete. Desde o trêmolo de

Gottschalk até o Noturno op. 9 n.º 2 de Chopin e a Bourré de Bach, com escalas pelas

Jotas Aragonezas e outras peças características. Não se pode destacar nenhuma delas,

pois que em todas a sra. Robledo pôde ostentar qualidades extraordinárias.

“Também tomou parte no concerto o sr. Fernando Molina, distinto violoncelista,

de boa escola e de execução correta e sóbria, que se ouve com o máximo prazer.

“Estamos certos de que num segundo concerto o público paulista saberá

corresponder ao extraordinário valor da violonista sra. Josefina Robledo, que é, sem

nenhum favor, uma autêntica notabilidade”.

O segundo concerto de Robledo dá-se no primeiro dia de agosto de 1917.

Novamente para a chamada da apresentação o jornal enaltece o violão como

instrumento de concerto e as qualidades da violonista como uma musicista superior42:

“[...] Também não é possível que o fato de se tratar de um concerto de violão

não despertasse em alguns espíritos o necessário interesse. Diga-se, porém, desde já,

que se os cultores da boa música e os que a amam pelo que ela tem de beleza e bondade

houvessem assistido ao festival de domingo, não sairiam dali menos impressionados e

menos satisfeitos que quando assistiram aos concertos das notabilidades que se têm

apresentado ao nosso público no piano, no violino e no violoncelo”. E continua: “É

preciso insistir neste ponto: o instrumento da sra. Robledo não se parece em coisa

nenhuma com o violão popular, das serenatas e troças, dos bailaricos e ‘assustados’.

Para todas as coisas deste mundo se estabelecem uma hierarquia e não há um só recanto

da vida onde se não possa encontrá-la . No que respeita ao mundo musical bastará dizer

que o ‘virtuosismo’ achou no violão uma alma e conseguiu elevá-la ao nível em que se

acham hoje as dos mais aristocráticos instrumentos. E de como o domínio absoluto

desse instrumento é tanto ou mais difícil que o do piano, violino ou violoncelo, di-lo

eloqüentemente o limitadíssimo número dos seus executantes”.

Com o sucesso alcançado, a Sociedade de Cultura Artística resolve reiniciar suas

reuniões, com outro recital de Robledo e poesias recitadas por Martins Fontes, presentes

em seu livro Verão. No programa, a única novidade é a inclusão de uma das 12 Danças

Espanholas, de Granados, escritas originalmente para piano, além do fato de seu marido

42 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14096, coluna Artes e Artistas, 31 de julho de 1917, p. 04.

Page 47: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Francisco Molina ser acompanhado pelo renomado pianista Agostino Cantú, um dos

mais importantes nomes da sociedade musical paulista, sendo professor do

Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e lecionando para, entre outros, Mário

de Andrade e Francisco Mignone. Mas desta vez a assistência é bem mais numerosa, a

ponto de todos os lugares estarem ocupados e muitos sócios terem de ficar de fora da

apresentação, o que ocasiona um novo esquema de limitação de números de entradas

para os não-sócios da Sociedade.

Com a saída de Robledo da capital, após alguns recitais, o paraguaio Agustin

Barrios retorna para outros concertos, inclusive em cidades do interior como Ribeirão

Preto em 8 de outubro de 1917, no Teatro Carlos Gomes, onde apresenta dois recitais

que estavam marcados e mais dois extras a preços populares, dado o sucesso alcançado.

Adiante-se que, no fim de 1917, também Américo Jacomino retorna à capital.

Dois anos depois, em 25 de maio de 1919 Josefina Robledo apresenta o que

inicialmente será seu recital de despedida em São Paulo, pois regressaria para a Espanha

logo em seguida, o que, no entanto, não acontece. A audição se dá no Conservatório e

tem como novidade no programa a apresentação de duas Danças Espanholas, de

Enrique Granados (as de número 10 e 11), e a Canção do Berço, de Emílio Pujol, outro

ex-aluno de Tárrega. Assim se manifestou a crítica43:

“O concerto desta notável violonista, realizado ontem no salão do Conservatório,

teve uma esplêndida concorrência, e deu ensejo a uma entusiástica manifestação do

auditório à simpática artista.

“Devemos a d. Josefina Robledo a primeira audição de 2 peças de Granados, o

ilustre compositor espanhol, cujo nome, já célebre pelas suas produções, ganhou ainda

maior notoriedade pelo desgraçado fim do artista. Como é sabido, Granados em viagem

para Nova York, onde devia dirigir a representação de sua última ópera, Goyescas,

morreu no naufrágio do paquete ‘Sussex’, torpedeado pelos Alemães.

“As suas duas composições que ontem ouvimos foram as Danças Espanholas,

n.º 10 e 11. Ambas muito belas, especialmente a segunda, não só como inspiração mas

também como técnica de composição.

43 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14754, coluna Artes e Artistas, 27 de maio de 1919, p. 02.

Page 48: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“O resto do programa, que ontem publicamos, foi executado magistralmente

pela sra. Robledo, que teve no sr. Molina um colaborador eficaz e consciencioso, cuja

parte foi desempenhada com bastante emoção e louvável probidade.

“Não nos parece demais insistir no valor excepcional da sra. Robledo, como

‘virtuose’ do violão, porquanto não vimos ontem no salão do Conservatório muitos dos

nossos ‘habitués’ das audições musicais e só pudemos registrar a presença de limitado

número dos nossos musicistas. O violão, de fato, não é instrumento de concerto que

ordinariamente desperte grande interesse. Mas, já o dissemos aqui e não nos

cansaremos de repetir, nas mãos da sra. Robledo ele apresenta modalidades tais que o

elevam a uma altura nunca atingida. De certo muitos dos nossos entendidos em

assuntos musicais sorriram ao ver no programa da sra. Robledo a Bourré de Bach;

outros talvez se indignassem, considerando um sacrilégio. Nem uns, nem outros têm

razão. Se tivessem ouvido a exímia violonista como os que a ouviram ontem, como

estes a teriam aplaudido com o melhor do seu entusiasmo, pois o grande mestre alemão

foi interpretado com o rigoroso respeito e de forma a realçar todas as belezas de sua

música, por meio de recursos técnicos de efeitos surpreendentes no violão. Convém

acrescentar que a sra. Robledo toca em violão autêntico de cordas de tripa e que a sua

execução obedece aos melhores preceitos da técnica do seu instrumento, sem truques,

nem artifícios para impressionar o público.

“Por isso cada concerto é para essa extraordinária violonista um novo triunfo e

para a maior parte dos seus ouvintes uma revelação. Assim foi ontem, tanto que muitos

dos presentes insistiram com os dois simpáticos artistas para que dêem mais uma

audição em S. Paulo.

“Apesar de terem a sua partida marcada, ambos acederam, fixando seu segundo

e verdadeiramente último concerto para o dia 11 de junho, no Conservatório”.

Este "último" concerto ocorre com bastante público e uma grande novidade: a

inclusão da versão para violão solo do Minueto e Gavota da ópera O Contratador de

Diamantes, de Francisco Braga. Esta partitura está, infelizmente, perdida.

Robledo apresenta em seguida recitais no Automóvel Club e na Associação da

Câmara Portuguesa de Comércio, depois ruma para Santos, onde toca no salão do Real

Centro Português no dia 2 de setembro, seguindo para o Rio de Janeiro.

A violonista aparecerá novamente na capital apenas em 1923, para recital no

Conservatório Dramático e Musical. O programa não apresentará nenhuma novidade

Page 49: Gilson Antunes - Americo Jacomino

em relação a seus recitais anteriores, apesar da violonista não se apresentar mais com

seu esposo Molina. Outra diferença é que os recitais serão agora em duas partes:

Primeira Parte

- Tarrega: Capricho Árabe - Serenata

- Mendelssohn: Romanza n.º 6 e 12

- Tarrega: Dois Estudos

- Albeniz: Granada - Serenata

- Pujol: Canção do Berço

- Tárrega: Sueño - Trêmulo

Segunda Parte

- Albeniz: Cadiz

- Beethoven: Minueto del septimino

- Bach: Loure

- Chopin-Robledo: Vals op. 34 n.º 2

- Chopin: Nocturno op. 9 n.º 2

- Tarrega: Jota Aragoneza

A crítica para este concerto em 1923, no jornal O Estado de São Paulo se

reporta às audições de 191944 "[...] Não se pode afirmar que tenha progredido, nestes

últimos tempos, a sra. Josefina Robledo. Quando se apresentou em São Paulo, a sua

interpretação já era admirável, e insuperável a sua técnica. Ainda hoje, é a mesma

artista completa e inexcedível."

Em fevereiro de 1922, vésperas dos festivais da semana de arte moderna,

enquanto músicos, críticos e público preparam-se para ouvir a música de Villa-Lobos no

Teatro Municipal, Robledo se apresenta novamente no Cine Teatro República, a 1.º de

fevereiro, e no Salão Germânia, no dia 7 do mesmo mês. A principal notícia ocorre no

dia 8 de maio, quando o Estado de São Paulo anuncia que “A notável violonista

Josefina Robledo, que o nosso público tem várias vezes aplaudido como um dos

maiores ‘virtuosi’ do violão, resolveu definitivamente fixar-se em São Paulo, onde se

dedicará também ao ensino do instrumento com o qual tem conquistado tantos triunfos”.

44 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 49, n.º 16073, coluna Artes e Artistas, 25 de janeiro de 1923, p. 03.

Page 50: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Josefina Robledo, na verdade, muda-se para Mar del Plata logo em seguida,

sendo nomeada no ano seguinte professora do Conservatório Willians, regressando

então para a Europa, onde não se apresentava havia 10 anos.

Molina, o violoncelista casado com Robledo, acaba por impedi-la de se

apresentar. Domingo Prat, expressando certa revolta pela ausência da violonista nos

palcos, assim termina seu verbete a ela dedicado: “O Amor, dominante e egoísta,

privou-a do contato com o público. Desde esse momento, não tivemos mais

oportunidade de escutá-la. A arte de Robledo era nobre e sóbria; sua execução,

delicada e arrogante, maravilhava o auditório. Dos discípulos que se seguiram ao

maestro Tárrega, ao deixar de pulsar com gema-unha, ninguém se sobressaiu tão

vantajosamente quanto essa que nos ocupa. Como compositora, não se conhece

nenhuma obra original publicada. Seu repertório foi eclético, abundante e do melhor,

dominando as transcrições. A dor de perdê-la, vivendo, é muito para quem admirou a

arte de Josefina Robledo, ainda mais havendo chegado à altura dos maiores

instrumentistas que já temos conhecido”.

Capítulo II - Américo Jacomino – 1889/1930

II.1 - Nascimento de Américo Jacomino

Américo Jacomino nasce em São Paulo em 12 de fevereiro de 188945, na Rua do

Carmo, sendo o terceiro filho do casal Crescêncio Jacomino e Vicência46 Gargiula

45 Tomamos como referência as informações de Luís Américo Jacomino, filho de Canhoto, pois, segundo sua certidão de nascimento, Jacomino teria nascido na Itália e, segundo sua carteira de identidade, no ano de 1890. Ainda segundo seu atestado de óbito, o violonista teria falecido aos 38 anos de idade, e não aos 39, que seria o correto. 46 Segundo o atestado de óbito de Jacomino, o nome de sua mãe está grafado como Vicenta.

Page 51: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Jacomino, imigrantes vindos de Nápoles na década de 1880. Antes dele teriam nascido,

em Nápoles, Ernesto e Edoardo, sem referência de datas, além de Amadeu (1983).

Alfredo, o caçula, nasce em São Paulo, em 1901.

Crescencio trabalha em diversos empregos, como ourives e, principalmente,

decorador e pintor paisagista de casas antigas, além de ser professor de primeiras letras,

sendo responsável pela educação formal de todos os filhos. Em Nápoles teve uma

grande fábrica de jóias, tendo saído do país devido a uma doença de coração da esposa,

aproveitando o forte movimento imigratório de então. São Paulo foi o lugar ideal

escolhido, pelo bom clima da cidade na época e pelas crescentes opções de trabalho.

Américo Jacomino não vai a escola e estuda com o pai e o irmão mais velho

Ernesto. Esta educação informal talvez explique os erros de gramática do violonista,

comprovados pelas cartas enviadas a seus amigos no futuro. Como é canhoto, os pais

tudo fazem para que ele aprenda a usar a mão direita, pois na Itália os canhotos são tidos

como pessoas mal educadas.

Não se sabe ao certo sobre a formação musical da família Jacomino, mas as

indicações sobre o início do aprendizado no violão são de que Américo tem o primeiro

contato com o instrumento por volta de 1901, através do irmão Ernesto, que também lhe

ensina bandolim. Este irmão compra um violão por 3 ou 4 mil réis, que o pai chega a

quebrar para que os filhos não levem a sério o aprendizado do instrumento. Américo

então conserta o violão e tenta estudar escondido dos pais.

Aos 14 anos de idade, ainda a morar na Rua do Carmo, Américo Jacomino vê o

irmão Ernesto tocar violão e bandolim e lhe pede para que o ensine. Este, achando que

como canhoto seu irmão não pode aprender, desencoraja-o. Américo fala fluentemente

o italiano, e canta nesta língua canções napolitanas aprendidas com os pais. Segundo a

revista Violão e Mestres47, em 1904 tem Américo suas primeiras experiências como

violonista profissional, dando seu primeiro recital no Cinema Guarani, em Campinas.

Por volta de 1905, com 16 anos, tem contato com o cavaquinho, que passa a

estudar seriamente. Nesta época, Américo já está trabalhando como pintor e jornaleiro.

Com o dinheiro compra seu primeiro violão.

Em 1907 adquire um violão fabricado por Di Giorgio, e com este violão

Jacomino faz suas primeiras e importantes gravações, até 1917, quando adquire um

violão fabricado por Tranquillo Giannini, até hoje em posse de seu filho Luís Américo.

47 VIOLÃO E MESTRES, São Paulo, Violões Giannini S. A, n.º 1, 1964, pp. 4-8.

Page 52: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Em 1908 morre sua mãe. A família muda-se, então, para a Rua Santo Amaro,

número 39, ainda no centro da cidade, não longe do local da antiga moradia.

Um ano depois é que vem a conhecer seu mais famoso parceiro de serestas, o

cantor Roque Ricciardi, que mais tarde assumiria o nome artístico de Paraguaçu. Em

depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974, o cantor assim

descreveu o encontro:

“Conheci Canhoto numa serenata na Mooca, na Rua Taquari. Numa festa de

aniversário, perto do final, lá pelas duas e meia da noite, estávamos indo a pé para o

Cascata, que era um bar que ficava aberto dia e noite. Perto da Rua Borges Figueiredo

Canhoto e sua turma, que tinha o Belchior da Silveira, um gaúcho, fizeram uma serenata

para dizerem que eram melhores que nós. Eu vi um tocando violão com as cordas ao

contrário, um violão bonito tachado com madrepérolas. Perguntei sobre quem era o

violonista e o Domingo Rubiero disse: ‘Mas esse é o famoso Canhoto!’. Eu só o

conhecia de nome, e quando ele terminou de tocar eu fui cumprimentá-lo, nos

abraçamos e nos tornamos amigos dessa noite até a sua morte. Fui eu quem levou o

caixão para o cemitério”.

Segundo Paraguaçu, cada bairro tinha seu conjunto de serestas, com um

respectivo chefe. Ele teria sido o chefe do conjunto do Brás, e Canhoto teria sido o

chefe do conjunto da Bela Vista. Pelas informações concedidas a Henrique Fôreis, o

Almirante, em 1954, existem algumas mudanças quanto aos dados deste encontro. O

cantor teria dito que estava cantando com seu grupo na Rua da Mooca e Canhoto vinha

de uma serenata. Quando teria acabado, o violonista teria continuado a música, mas

sem solar.

Jacomino logo monta um pequeno grupo instrumental com o nome Grupo do

Canhoto, que o acompanharia muito nesses primeiros anos de atividade, em concertos e,

principalmente, em gravações.

Ainda com Paraguaçu, em 1907, Jacomino começa a se apresentar em cinemas

como o Bresser, Braz-Bijou e o Éden, onde os ingressos custam 300 réis48, e em teatros,

circos e restaurantes como o Cascata, na esquina da Senador Feijó com a Quintino

Bocaiúva. Essas apresentações são fundamentais pelos contatos que o violonista vai

estabelecendo, além da prática em se apresentar em público. Isto sem dizer do futuro

48 Idem, ibidem.

Page 53: Gilson Antunes - Americo Jacomino

contrato que o violonista teria na Odeon, que apareceria como conseqüência dessas

primeiras apresentações. Outro aspecto a ser ressaltado é que o violonista vai

adquirindo prática como compositor, pois em suas primeiras gravações predominam

músicas de sua própria autoria.

II.2 - Primeiras gravações de Américo Jacomino – 1912

A Discografia Brasileira em 78 RPM, editada em 5 volumes pela FUNARTE

em 1978, apresenta como prováveis primeiras gravações de Canhoto músicas com seu

conjunto (Grupo do Canhoto), e em solo de violão, lançadas pela gravadora Odeon,

compreendidas na série 120.000, entre 1912 e 1913, em sistema mecânico de uma face

apenas. As músicas executadas com seu conjunto foram, com respectivos números, a

polca Saci, de João Batista do Nascimento (120.589), a valsa do mesmo autor,

intitulada Saudades de Iguape (120.590); a valsa Suplication de W.J. Peans (120.591); a

valsa de Antonio Picucci, Tuim-Tuim (120.592); a mazurca Amores Noturnos (120.593)

e a polca Babi (120.594), ambas sem indicação de autor. Como gravações solo estão a

valsa Belo Horizonte (120.595); a polca Pisando na Mala (120.596); o dobrado Campos

Sales (120.597) e a mazurca Devaneio (120.598), todas de autoria de Américo

Jacomino.

A pequena gravadora Gaúcho, do sul do país, na série 4.000 (lançada entre 1912

e 1920) iria lançar duas gravações, sendo a primeira com música de Américo Jacomino

e a segunda de autoria incerta, ambas interpretadas pelo grupo Os Geraldos (V. Geraldo

e G. Magalhães), compreendendo os sambas Nhá Maruca Foi s'imbora (4.042-A) e Nhá

Moça (4.042-B).

Na mesma época, entre 1912 e 1913, pela gravadora paulista Phoenix (filial da

Odeon em São Paulo), Américo Jacomino lança uma série de discos de uma face, ainda

no sistema mecânico. A primeira gravação é a valsa Saudades de minha Aurora

(número 70.786), de sua própria autoria, interpretada ao violão solo, e a segunda é a

valsa Saudade de São Bernardo (número 70.790), de Antonio Picucci, interpretada pelo

Grupo do Canhoto.

O equívoco com relação ao primeiro registro fonográfico do violonista acontece

justamente pelas datas coincidirem quanto ao lançamento dos discos, sendo que a

numeração não corresponde exatamente à ordem gravada pelos músicos, e sim uma

ordem de organização da gravadora. O que é certo é que estas são as primeiras

Page 54: Gilson Antunes - Americo Jacomino

gravações do violonista, hoje raríssimas de serem encontradas. Outro fator a ser

salientado é que a Odeon era coordenada por Frederico Figner e a Phoenix por seu

irmão Gustavo Figner, o que possibilitava a ambos utilizar os mesmos artistas.

Tomando-se como exemplo as gravações de Nhá Maruca Foi S’imbora, Nhá

Moça e Saudades de Minha Aurora, podemos avaliar a técnica do violonista naquele

momento, a partir de seu eclético repertório musical, executando com habilidade obras

de gêneros diversos (valsas, sambas, polcas, mazurcas e dobrados). Apesar de serem

gravações antigas, nota-se a obtenção de timbres diversos no violão, como no dobrado

Campos Sales, em que Canhoto se utilizará pela primeira vez do rufo, efeito que imita

caixa-clara, como nas bandas marciais. Este curioso efeito seria retomado em uma de

suas peças mais interpretadas, a Marcha Triunfal Brasileira.

Em 1914, aparece a primeira referência à venda de discos de Canhoto. Trata-se

de um anúncio da Casa Edson, sobre “grandes novidades paulistas gravadas” pelos

grupos Tupinambá, Veríssimo, Excêntrico, do Choroso, do Canhoto, do Phoenix, e

sobre o repertório do Jaime Redondo e os duetos de Pepe & Oterito, “cantando pela

primeira vez para gramophones”49.

Em 27 de dezembro de 1915 o jornal O Estado de São Paulo publica a primeira

notícia sobre recital de Américo Jacomino: “High-Life: Na tela serão exibidos doze

filmes escolhidos. No palco grande estréia do trio brasileiro - Caramurú, Américo, o

canhoto, e Edú Gomes”. Estas apresentações continuam nos dias 28, 29 e 30 do

mesmo mês.

No decorrer do ano de 1916, em 17 de abril, o barítono Luiz de Freitas organiza

um espetáculo em benefício de um amigo enfermo, Ramiro Freire. Entre os artistas que

participam estão “várias senhoritas do bairro da Consolação” e Américo Jacomino.

Será a preparação do violonista para sua estréia definitiva, o que virá a acontecer

precisamente no dia 23 de abril, conforme pequeno anúncio do Jornal O Estado de São

Paulo50. Este escreve: “Estréia do aplaudido violinista (sic) da casa Edson”, com

apenas o apelido de “Canhoto”, no Teatro Colombo, no bairro do Brás, sendo que na

ocasião estreará também o já citado barítono Luiz de Freitas. O mesmo anúncio aparece

no dia 29 do mesmo mês. Antes, porém, no dia 25, uma nota maior aparece na coluna

49 ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, Ed. Perspectiva, coleção debates n.º 163, p. 324. 50 O Estado de S. Paulo, 23 de abril de 1916, p. 16.

Page 55: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Palcos e Circos, responsável pela divulgação dos eventos culturais da cidade. Esta

diz51:

"Colombo - Esta confortável Casa anuncia para hoje em ‘Soirée’ popular, os

comoventes dramas – ‘Nunca Mais...’, ‘Os Fugitivos’ e ‘Justiça da Montanha’. No

palco, teremos dois interessantes números de variedades: diversas execuções pelo

aplaudido violonista da Casa Edson – Canhoto, e pelo barítono brasileiro Luiz de

Freitas, da Academia Nacional de Música, de Roma. Como se vê, o programa é

bastante convidativo”.

No dia 16 de maio de 1916 novamente o violonista João Pernambuco, cada vez

mais conhecido no Rio de Janeiro – onde mora - aparece em São Paulo com um novo

grupo, ou “troupe” sertaneja. João Pernambuco dará concertos até o final do mês,

quando ruma para Santos e cidades do interior paulista. Não há notícias de que

Américo Jacomino tenha assistido a essas apresentações, mas não é difícil imaginar

afirmativamente. A Protofonia do Guarani, apresentada pelo “sexteto”, é uma das

obras que Canhoto grava em disco, numa versão para violão solo. E ambos,

Pernambuco e Canhoto, são justamente os dois violonistas brasileiros que mais fama

atingem neste primeiro quarto do século vinte.

II.3 – Em 1916, o primeiro grande recital de Américo Jacomino. A mudança de

opinião da crítica em São Paulo

No anúncio de 12 de julho de 1916 o jornal O Estado de São Paulo escreve52:

“Deve seguir hoje para o interior, visitando Descalvado e Amparo, onde pretende

realizar concertos, o hábil violonista sr. Américo Jacomino (canhoto) sobre o qual a

imprensa de São Paulo tem feito as mais encomiásticas referências”. Sobre os dois

concertos em Descalvado, no Ideal Cinema, a crítica diz que “Canhoto, que organizará

excelente programa para ambos os festivais, soube conquistar no seu violão, com a

execução simplesmente arrebatadora de cada número, os mais sinceros e frenéticos

aplausos da grande e seleta assistência que teve a ventura de o ouvir”. E, terminando a

51 CINEMATÓGRAFOS. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13636, coluna Palcos e Circos, 25 de abril de 1916, p. 02. 52 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13714, coluna Palcos e Circos, 12 de julho de 1916, p. 02.

Page 56: Gilson Antunes - Americo Jacomino

notícia, “consta que Canhoto virá em breve a esta cidade realizando então mais um

concerto”. E é justamente o que acontece em notícia do dia 30 de agosto53:

“Em 5 de setembro próximo, às 20 horas e meia no Salão do Conservatório

Dramático, este professor de violão dará um concerto cujo programa foi confeccionado

com muito bom gosto.

“Já nesta folha tivemos a ocasião de pôr em relevo os dotes artísticos do

simpático moço. Depois disso ele fez-se ouvir no Automóvel Club, no Trianon, no

Conservatório Dramático e em alguns dos mais elegantes salões da capital, colhendo

largo prêmio da sua fina execução.

“A festa abrirá por uma conferência sobre instrumentos, escrita expressamente

pelo nosso companheiro Manuel Leiroz e que, com sua gentileza com o violonista, será

lida pelo Sr. Danton Vampré.

“Durante a conferência, Américo Jacomino executará as composições

Suplicando Amor, Magia de Olhar, Tango da Agarra, etc.

“Na Segunda parte do concerto – parte exclusivamente musical – serão

executados a protofonia do Guarani, Cateretê, imitação da vila caipira; dobrado

Campos Sales e as valsas Medrosa e Sonhando.

“É de se esperar que o público encha o salão, dadas as qualidades de Américo

Jacomino, que é um tocador exímio e um artista cheio de sentimento”.

Causa vivo interesse realmente o recital de Canhoto, pois nos dias posteriores

vários artigos foram publicados enfatizando as qualidades do violonista e também a

conferência, que “reabilitaria o instrumento”54. Do ponto de vista histórico o fato

interessa sobremaneira para o instrumento em São Paulo, pois pela primeira vez se falou

de forma mais “séria” sobre as possibilidades reais que o violão poderia atingir. É

justamente sobre isto que o jornal O Estado de São Paulo dedica seu artigo do dia 2 de

setembro de 191655:

53 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13763, coluna Artes e Artistas, 30 de agosto de 1916, p. 04. 54 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13766, coluna Artes e Artistas, 2 de setembro de 1916, p. 02. 55 Idem, ibidem.

Page 57: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“... Far-se-á a reabilitação desse instrumento, despoetisado (sic) por mãos

inábeis, mas reivindicado por tradições românticas, em que figuram ‘los hermosos’ da

velha Espanha, os famosos Scarpins da poética Itália, os alegres e espirituosos boêmios

da França de Luís XVI.”

E, mais adiante, prossegue o artigo:

“E provar-se-á que o violão, a que o plebeísmo do nosso povo deu

irreverentemente a classificação de ‘pinho’, é um instrumento que tem tanto de

aristocrático e de fino quanto o violino e o violoncelo, ambos da mesma família, e que a

canção e os cantores populares, antes de subirem das ruas para os palcos e salões,

fizeram o encanto dos ambientes rústicos e alcançaram a glória depois de uma fatigante

existência.

“Além da conferência haverá cantos expressivos do sertão brasileiro assim como

um cateretê em que as cordas do violão de Jacomino farão evocar ao auditório um

‘batuque’ do mais característico efeito coreográfico.

“Vai ser um festival de magníficas impressões”.

No grande dia do concerto, 5 de setembro de 1916, novamente o jornal O Estado

de São Paulo publica artigo a respeito, mas desta vez com mais ênfase ainda na palestra

que será proferida por Manuel Leiroz. O artigo publicado no jornal, apesar de não ser o

formato definitivo, constitui documento mais próximo do que poderá vir a ser a palestra,

importantíssima para a história do violão brasileiro, por ser um dos primeiros grandes

artigos a exaltar as qualidades do instrumento56:

“É hoje à noite que se realiza o concerto de violão organizado por este simpático

artista com o concurso do sr. Danton Vampré, que lerá a conferência do nosso

companheiro Manuel Leiroz, do sr. Trajano Vaz, que cantará lindas canções do Brasil,

entre as quais o ‘Marroeiro’, e do sr. Silvério Gaudêncio, que acompanhará ao violão.

“O festival será iniciado com a conferência sobre instrumentos. Seguindo o

pensamento de Miguel Zamacois, o conferente porá em relevo a função e préstimo de

vários instrumentos”.

“Depois, reivindicará para o violão o crédito que ele, na antigüidade, sempre

gozou, mostrando que em Portugal, nos séculos heróicos das viagens e das batalhas,

56 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13769, coluna Artes e Artistas, 5 de setembro de 1916, p. 05.

Page 58: Gilson Antunes - Americo Jacomino

esse instrumento acompanhava trovadores e troveiros na sua vida amorosa e de

aventuras, conhecera desde os paços dos reis às vielas da mouraria e embarcara com

mais de cinco mil violas para os areiares da África, onde testemunhou a derrota de

Alcácer Kibir. O violão exerceu a ditadura nas salas mais elegantes, figurou nos teatros,

perturbou e endoideceu uma legião de mulheres e obrigou muitos escritores estrangeiros

a render homenagem ao seu domínio encantador”.

“O seu papel saliente nos ‘minuetos’ da cidade e da corte, nos ‘fandangos’, no

‘arrepia’, no ‘oitavado’, no ‘arromba’ e outras danças, jamais poderá ser esquecido. D.

João V, que era um rei folgazão, considerava-o um instrumento precioso para aligeirar o

fardo da vida.

“Em França, no primeiro império, na devassidão dissolvente do segundo, sob a

restauração, o violão entrou no gosto do público, juntamente com as primeiras ‘troupes’

vindas da Itália, tomou parte num concerto de cães, inventado para divertir Luís XI,

deliciou epicuristas do bairro latino, os cabarés de Montmartre, deu serenatas às mais

aristocráticas mulheres e foi a causa, um dia, de Margarida de Escócia, esposa de Luís

XI, ao ver a dormir o normando Alain Chartier, beijar-lhe a ‘preciosa boca’, de onde

tinham saído as palavras de um madrigal feiticeiro.

“O violão acompanhou os cantos de Ninon, nas poesias folgazans de Chaulieu e

nas coplas ferinas de João Batista Rousseau. E nos bailes de máscaras introduzidos em

França, em 1716, esteve ao serviço da princesa de Valois e do Duque de Modena, seu

noivo, encantando os ‘cavalheiros de indústria’, que sempre os acompanhavam.

“Em Espanha, no século XVII, pontifica nas reuniões elegantes e nas alfurjas

das mancebas. Desce com escala ruidosa e despreocupação de vida de Madri até

Sevilha; faz-se ouvir na Triana e na Torre del Cro, atrai os eirados de tijolo, cobertos de

flores as chiquetas de olhos negros e camélias no penteado, as donas de bloco escuro, os

espadachins de manto negro e bravura truculenta. Mistura-se com ciganas de face

morena e grandes brincos nos lobulos das orelhas e chega a impor-se ao gosto estético e

moral dos mouros enamorados. Toma parte nos concertos, espetáculos de estudantes de

La Picola Escuela e dos Hidalgos Hermosos e no corro assombrado em que se exibia foi

muita vez coberto pelo frêmito de aplausos e de gritos das ‘niñas’ entusiasmadas.

“Na Itália o violão inspirou árias, villotas e villancellas, fez parte de uma

orquestra no palácio de Joanna de Aragão, deu concepções às melodias de Gesualdo,

príncipe de Venosa, concorreu para a restauração da música pagã. Introduziu-se nas

academias, acordou as águas de Veneza em serenatas de gelfos e escarpins. Serviu o

Page 59: Gilson Antunes - Americo Jacomino

amor num período em que a música fazia a paixão da época e concorreu com os

filarmônicos de Verona, instituídos por Alberto Lavezzola.

“Nos Países Baixos, quando ainda no estado de uma só corda – ‘a tromba

marinha’, e depois em transformações sucessivas, já com trinta e seis cordas alcançou

ruidoso sucesso em Bruxelas num concerto de gatos verdadeiros, que os Belgas

ofereceram a Felipe II de Espanha. Finalmente em quase todos os países da Europa, o

violão acompanhou a natureza das tradições e a disposição psicológica dos respectivos

povos.

“Como se vê, o programa da festa é atraente e porque o preço do ingresso é

reduzido, é de se esperar que hoje à noite não haja um lugar no Conservatório

Dramático”.

Na quarta-feira, dia 6 de setembro, a crítica do primeiro grande recital de violão

de um instrumentista brasileiro em São Paulo será publicada no jornal O Estado de São

Paulo. Será a primeira de uma série que Américo Jacomino receberá durante toda sua

carreira, até seu falecimento em 192857:

“Realizou-se ontem, como estava anunciado, o concerto deste simpático artista,

que teve o concurso dos srs. Danton Vampré, Trajano Vaz e Álvaro Gaudêncio.

“O sr. Danton Vampré apresentou ao auditório que enchia o salão por completo,

o artista Jacomino e seus companheiros, pondo em relevo as excelentes qualidades

daquele violonista, a segurança da sua técnica e o senso estético que predomina em toda

a execução das suas peças.

“Também encareceu os méritos dos srs. Trajano Vaz e Álvaro Gaudêncio

considerando cada um no seu gênero. Foi, ao terminar o seu elegante discurso,

muitíssimo aplaudido.

“Passou-se depois à conferência do nosso companheiro Manuel Leiroz de que

ontem demos o resumo. O auditório recebeu-a com vivo agrado, a julgar pelo

entusiasmo dos aplausos com que premiou a leitura do sr. Danton Vampré.

“Jacomino, na primeira parte da conferência, executou as valsas Súplica de

Amor, Serenata Árabe, Cigarra na ponta e Magia de olhar. Como era de se esperar,

afirmou uma grande beleza de expressão, ainda com calor, visando a Cigarra na Ponta.

57 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13770, coluna Artes e Artistas, 6 de setembro de 1916, p. 05.

Page 60: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“O sr. Trajano Vaz fez a caricatura de Jacomino, e cantou a Choça do Monte,

com uma voz que, falemos com franqueza, já não o ajuda a vencer as dificuldades da

vocalização. Foi, porém, muito interessante, no Marroeiro, de Catulo da Paixão

Cearense.

“Recitou com expressão, com relevo, com graça. A sala ofertou-lhe uma

vibrante salva de palmas.

“A segunda parte do programa teve uma execução rigorosa. Jacomino, Trajano e

Álvaro Gaudêncio continuaram a merecer dos assistentes as palmas mais entusiásticas.

“O festival terminou com a valsa Sonhando, que Américo Jacomino executou ao

violão em diversas posições difíceis. O público, entusiasmado, fez-lhe uma verdadeira

ovação”.

Paralelamente, na cidade de São Paulo, no ano seguinte, 1917, dois outros

recitais de violão darão impulso para a consolidação do instrumento nos palcos paulistas

e brasileiros, com as apresentações do paraguaio Agustín Barrios e da espanhola

Josefina Robledo.

Chega 1919. Em janeiro Canhoto sai em turnê artística juntamente com o ator

Alves Júnior pelo norte do Estado de São Paulo. Outra vez Agustín Barrios se

apresentará na capital, iniciando turnê pelo Teatro São Pedro, passando em seguida pelo

Royal, Pathê Palácio e Coliseu Campos Elísios. O violonista se despedirá

definitivamente do público paulista no dia 8 de abril de 1919 no Salão do Conservatório

Dramático e Musical, em apresentação em três partes na forma de sarau literário, com a

participação de poetas.

Em maio, enquanto a violonista espanhola Josefina Robledo apresenta-se em

Campinas com boa crítica (“técnica admirável, sentimento natural, delicado e uma

afinação impecável...”) e assistência pequena (“... o violão não era conhecido como

instrumento de concerto, próprio para músicas sérias. Daí, certamente, o não ter sido

avultada a assistência, como deveria ser e merece a notável artista...”) , Canhoto faz a

primeira participação de um trio caipira que marcará época na história da música

sertaneja, infelizmente não registrado em disco. A apresentação ocorre no Royal

Teatro, na rua Sebastião Pereira.

Em 6 de maio de 1919 o jornal O Estado de São Paulo assim escreve58:

58 NOTÍCIAS DO CANHOTO. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14730, coluna Palcos e Circos, 6 de maio de 1919, p. 02.

Page 61: Gilson Antunes - Americo Jacomino

" Uma soirée interessante será a desta noite no Royal Teatro. Interessante pelo

assunto, interessante pela maneira porque foi organizado o respectivo programa.

“É que Viterbo de Azevedo, festejado imitador, escondendo-se num perfeito

Jeca Tatu, conforme denominou o teu tipo, vai produzir as cenas que provocaram no

Rio o mais ruidoso sucesso pela veracidade com que observa e conduz o nosso caboclo.

Viterbo, que é paulista e que melhor do que ninguém apanhou os costumes do caipira de

S. Paulo, apresentará ao público do Royal o tipo perfeito do Jeca Tatu - essa criação de

Monteiro Lobato, com que as suas anedotas ingênuas, episódios de caça, mentiras de

mutirões rompantes, alardes de valentia, etc, de modo a fazer rir.

“Tomará parte do festival o conhecido violonista Jacomino - o Canhoto, que

dará um concerto de violão, executando criações suas, principalmente sertanejas.

“Será como se disse um espetáculo interessante ao qual concorrerão certamente

os freqüentadores do Royal, dos quais é já avultado o número de pedidos de

localidades”.

Enquanto isso, o Trio Viterbo-Abgail-Canhoto estréia definitivamente na capital

paulista em apresentação no Royal Teatro, em 9 de junho de 1919, com platéia lotada.

No dia 13 e 29, estão no Teatro São Paulo (ficando até o dia 10 de julho); dia 14 no

Teatro São Pedro; dia 17, no Teatro Brasil e dia 20, no Teatro Avenida, no Largo do

Paissandu, para uma série de apresentações. Em julho estão no Teatro América, na Rua

da Consolação, entre os dias 11 e 22, e novamente no Teatro Brasil entre 23 e 27. Em

agosto, apresentam-se entre 1 e 3 no Colyseu Campos Elíseos, voltam ao Teatro São

Paulo entre os dias 4 e 10, sendo este último uma apresentação em homenagem ao trio.

O jornal O Estado de São Paulo assim se refere a este recital59:

“Conforme noticiamos, está organizado para amanhã, no Teatro S. Paulo, um

atraente espetáculo em homenagem aos festejados artistas Viterbo Azevedo, Abigail

Gonçalves e Américo Jacomino, que formam o aplaudido trio.

“Nessa noite, Viterbo Azevedo narrará novos episódios do ‘Jeca Tatu’, cujas

pilhérias têm feito tanto sucesso; a graciosa e inteligente menina Abigail Gonçalves

cantará escolhidas canções sertanejas do seu excelente repertório e o Canhoto dará um

concerto de violão, instrumento em que é exímio.

“Como as récitas do trio têm levado numerosa assistência ao teatro da praça S.

Paulo, cuja lotação se tem esgotado, é de supor para amanhã uma enchente, tanto mais

59 TRIO VITERBO-ABGAIL-CANHOTO. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14829, coluna Palcos e Circos, 10 de agosto de 1919, p. 04.

Page 62: Gilson Antunes - Americo Jacomino

que o programa vai ser enriquecido com as canções regionais, cantadas gentilmente por

Afonsito, e com os bailados clássicos de Mykoff e Vanity, número de sucesso, ora no

Cassino”.

Pela matéria, fica em dúvida a forma como era conduzido o espetáculo. Seria

Viterbo de Azevedo apenas um ator a interpretar o papel do conhecido personagem de

Monteiro Lobato e nada mais? Abigail Gonçalves cantava acompanhada apenas de

Américo Jacomino ou de mais alguém? E Canhoto, aparecia apenas para apresentação

de violão solo, sem maiores contatos com os outros dois? Seria o trio apenas uma

forma de juntar diferentes manifestações como parte de um todo, para o espetáculo ficar

mais variado? No programa do dia 11 de agosto o jornal escreve, a respeito da

apresentação do trio no Teatro São Paulo, que “Viterbo e Abigail exibir-se-ão em novo

trabalho, o primeiro no gênero caipira em que é exímio, e a segunda em canções

brasileiras. Canhoto, o conhecido violonista paulista, tocará diversas peças do seu

repertório em dois violões ao mesmo tempo...”60.

As últimas apresentações do trio Viterbo-Abgail-Canhoto se dão neste mesmo

mês de agosto. Entre 13 e 15 estão no Royal Teatro, depois no Teatro Melita, para

estrearem novamente no Teatro S. Pedro entre 19 e 26. Em seguida, de 27 a 31, partem

para o Teatro Avenida para suas últimas aparições antes do fim trágico do trio. Viterbo,

durante excursão a Poços de Caldas para um concerto de caridade, será morto

acidentalmente com um tiro na testa.

Após o incidente, Abgail Gonçalves, agora com o apelido de “a sertanejinha”,

estréia inicialmente como cantora solista no Teatro Rio Branco. Traumatizada pelo

acontecimento com Viterbo ficará 20 anos sem cantar, e tempos depois mudará seu

nome para Abgail Aléssio, dedicando-se ao canto lírico, com o qual chegará a se

apresentar no Metropolitan Opera House de Nova York.

Américo Jacomino por sua vez é notícia novamente no dia 19 de novembro de

1919, quando de seu sucesso em apresentações no Rio de Janeiro: “Temperamento

acentuadamente artístico possuindo como poucos uma técnica acurada, conhecendo

todos os recursos e regados do seu instrumento predileto”. Canhoto sairá em nova

excursão pelo Brasil em dezembro. Pouco antes, em 2 de setembro, o jornal O Estado

de São Paulo, edição noturna, publica a partitura de sua música “Quem não... Vota

não... Voga”.

60 Sobre os malabarismos de Jacomino, há uma sessão de fotos tiradas neste ano de 1919, nas quais o violonista aparece tocando com o violão nas costas, na nuca e com dois violões ao mesmo tempo.

Page 63: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Em 17 de fevereiro de 1920, último dia de carnaval, Américo Jacomino

presencia um episódio que irá resultar na partitura de um de seus maiores sucessos de

venda. Uma jovem de nome Ottília Valentini, após sair de um baile de madrugada

vestida de Colombina, encontra-se com o namorado Domingos Dalazza na Avenida

Celso Garcia, zona leste de São Paulo. Enciumado por tê-la proibido de participar dos

festejos, o jovem namorado saca um revólver e mata a garota, e só não se suicida por

intervenção de pessoas que estão próximas ao local. Canhoto é uma delas, e compõe a

música Triste Carnaval, que recebe letra de Arlindo Leal, sendo difundida por todo o

Brasil. Canhoto comporá várias músicas carnavalescas entre 1920 e 1928, sendo que no

primeiro ano compõe o tanguinho sertanejo Ai Balbina, novamente com letra de Arlindo

Leal.

A primeira notícia sobre Américo Jacomino em 1920, que já se apresenta com

menos assiduidade na capital, ocorre no jornal O Estado de São Paulo, edição noturna,

de 1 de setembro, com participação em recital no Teatro Boa Vista. Luiz Buono, seu

parceiro em alguns recitais, organiza, por sua vez, um festival em benefício do Hospital

Umberto I, dando um recital de violão. Não há crítica nem programa impresso do

evento. Em 18 de setembro de 1920 aparece novamente o nome de Canhoto, com sua

“troupe”. Assim descreve o jornal O Estado de São Paulo61:

"De regresso da cidade de Santos, onde logrou absoluto êxito, no Teatro

Guarany, esta ‘troupe’ entrou agora a trabalhar no Coliseu dos Campos Elíseos,

continuando ali a carreira brilhante dos seus sucessos.

“Com o repertório melhorado, a ‘troupe’ apresenta-se todas as noites após a

exibição dos filmes, sendo os seus componentes os artistas Luís de Freitas, barítono,

Maria Mesquita, cançonetista, e Américo Jacomino (canhoto), violonista, todos sob a

direção do aplaudido parodista cômico Miguel Max”.

No final do ano, dia 15 de dezembro de 1920, Canhoto aparece no Royal Teatro

para a “Festa do Retrato”, participando na terceira parte do evento. Na mesma

apresentação está o cantor (baixo) Mário Pinheiro, um dos primeiros a gravar um disco

de violão solo no Brasil, com a música Petita. Américo Jacomino viria a gravar uma

peça muito parecida com esta, o romance Pensamento. Canhoto estará ainda no

61 Notícias Teatrais. O Estado de S. Paulo, ano 47, n.º 15588, coluna Palcos e Circos, 18 de setembro de 1921, p. 05.

Page 64: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Conservatório Dramático e Musical entre os dias 14 e 22 de dezembro, junto ao trio

Canhoto-Freitas-Altomar.

Na Folha da Noite de 19 de fevereiro de 1921 aparece a notícia de que no salão

do Correio Paulistano haverá uma audição dos Oito Batutas, sendo o conjunto “dirigido

por Américo Jacomino”. Para este ano, Jacomino comporá o tanguinho amoroso Já se

Acabô, com o parceiro Arlindo Leal.

II.4 - Casamento de Américo Jacomino e mudança para São Carlos em 1922

Em 7 de janeiro de 1922 Américo Jacomino envia ao jornal O Estado de São

Paulo a partitura de duas novas músicas, Arrependida (valsa brasileira) e A Gente Se

Defende (choro carnavalesco). Em anúncio do mesmo dia no jornal O Estado de São

Paulo, edição noturna, a última música aparece como sendo um maxixe.

No decorrer do ano de 1922, em março, Américo Jacomino se apresenta no

Cinema São José, na pequena cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, onde vem a

conhecer sua futura esposa.

O violonista se casa no dia 12 de setembro com Maria Rita de Moraes (nascida

em 25 de agosto de 1893 em Itapetininga), filha de importante político de sua cidade

natal, Antonio Vieira de Moraes, conhecido como Nhonho Pereira, e irmã do prefeito da

cidade, Ramiro Vieira de Moraes. A esposa é apelidada carinhosamente pelo violonista

como Dona Mariquinha. A certidão de casamento é inexplicavelmente confusa, visto a

importância de Maria Rita para a cidade. Não houve testemunhas no casamento. O

local de nascimento de Jacomino aparece como sendo a Itália (sem especificação da

cidade) e não consta também sua data de nascimento. Na profissão de Jacomino está

escrito “artista” e na de Maria Rita “prendas domésticas”. Não consta também a

maneira como a esposa passaria a assinar seu nome. Por fim, o nome da mãe de

Jacomino aparece como sendo Vicência Carjullo e não Vicência Cargiula.

O casal se muda para a pequena cidade de São Carlos, interior de São Paulo,

onde abrem uma loja de música chamada Casa Carlos Gomes, situada à rua Conde do

Pinhal, número 54-A. No cartão da loja se lê:

“CASA CARLOS GOMES – AMÉRICO JACOMINO. Métodos completos para

piano e violino de todos os autores. Vende-se piano a prestações. Sempre novidades

Page 65: Gilson Antunes - Americo Jacomino

para orquestra e piano semanalmente. Músicas, instrumentos e acessórios. Seção de

Discos e Gramofones”.62

Um dos principais amigos e acompanhadores em recitais de Américo Jacomino

durante esta fase é, sem dúvida, Antônio de Barros Leite. Nascido em Piracicaba em 3

de junho de 1894, Barros Leite aos 10 anos de idade conheceria na capital paulista um

primo que tocava bem violão, Nhô-Zinho, aprendendo rapidamente a tocar o

instrumento. Uma vez amigo de Canhoto, teria sido a principal pessoa a convidar o

violonista a abrir uma loja de música na cidade. O filho de Canhoto, Luís Américo,

diria que na verdade seu pai mudou-se para São Carlos pela facilidade em se locomover

para suas excursões, devido ao grande número de recitais que apareciam. Barros Leite é

não apenas um simples acompanhador, mas também um fiel amigo, a ponto de

emprestar dinheiro para Jacomino, como diz uma carta não datada63:

“Amigo Barros,

“Como tenho que pagar uma duplicata que se acha no protesto e sendo hoje o

último dia peço-te que me faças o favor você fazer um vale no escritório de cinqüenta

mil réis e me emprestares para inteirar a importância de 533.000 pois conto com esse

favor e por estes dias lhe darei.

“Do amigo abraços

“A. Jacomino”.64

O jornal São Carlense A Tarde assim escreveria sobre um recital de Jacomino e

Antônio de Barros no Teatro São Carlos:

“Nota de Arte. Festival Artístico no teatro S. Carlos. Américo Jacomino ‘O

Canhoto’ obtém novos sucessos com seu ‘pinho’ mavioso.

“Foi uma noitada agradável a de ontem, no teatro S. Carlos, conforme prevíamos

esse centro de diversões encontrava-se literalmente ocupado pelo escol de nossa

sociedade.

62 Cartão atualmente em posse de Luís Américo Jacomino, filho de Canhoto. 63 Carta em posse do filho de Antonio de Barros Leite, residente em Jundiaí, interior de São Paulo. 64 Para a transcrição das cartas de Canhoto foi atualizada a grafia, mas mantida a ordem gramatical.

Page 66: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Após a focalização do filme Tempestade de um crânio à luz da ribalta surgiu a

simpática figura do notável violonista patrício Américo Jacomino, o celebrado

‘Canhoto’ o ‘rei do pinho’, como foi cognominado pela imprensa do país.

“Logo previmos que Américo Jacomino obteria novos triunfos, pois em todas as

partes onde se exibe é alvo das mais expressivas provas de admiração pelo modo com

que sabe tanger o seu ‘pinho’ mavioso, com o dom fascinante que sabe imprimir às

cordas desse instrumento.

“’O Canhoto’ com o seu concerto de ontem, obteve unânimes e sinceros

aplausos, conseguindo prender a atenção dos espectadores durante muito tempo

executando músicas populares tais como valsas, sambas, maxixes, marcha, etc., próprias

do nosso povo e dos nossos costumes pois em todas as músicas que ontem tivemos o

prazer de ouvir, sentimos que nelas palpita o romantismo brasileiro, não dessa

brasilidade mistificada que se observa em muitos compositores, mas sim o espontâneo

lirismo enternecedor de nossa gente, tão bem sentido por esse admirável artista que é o

‘Canhoto’.

“Não é preciso que nós falemos algo que seja sobre o valor do grande violonista.

Ele já tem o seu nome feito em todo o Brasil, constantemente é aclamado como o maior

artista no gênero que possuímos.

“Américo Jacomino é um artista nato, que aliando aos seus dotes de musicista

possui também o divino dom de interpretar o nosso sentir espiritual. As suas

composições, todas vazadas na escola em tão boa hora criada por Catulo da Paixão

Cearense, são as mais apreciadas por todos os amantes da arte de Mozart.

“O concerto de ‘Canhoto’ ontem realizado no S. Carlos foi mais uma vitória do

ilustre musicista.

“Felicitando o rei do violão pelo novo triunfo alcançado, dedicamos-lhe estas

linhas, poucas, mas sinceras, que tão bem condizem com os sentimentos dos

sancarlenses pelos méritos do insuperável violonista “.

Américo Jacomino continua seus recitais pelo interior do Estado. Em 15 de

agosto de 1923 organiza no anfiteatro da Escola Normal de São Carlos um sarau

artístico e musical, tocando na segunda parte com acompanhamento de seu colega

Antônio de Barros Leite. No programa as seguintes peças são apresentadas:

Primeira Parte:

- Ouverture pela Orquestrinha da Escola

Page 67: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Poesias de A. Nobre e Augusto dos Anjos, por Fernando Vargas

- Senhorita Iracema de Arruda Campos – Poesias

- Senhorita Sylvia Toledo – Poesias

-Senhorita Maria Apparecida (sic) M. Vieira – Poesias

- A. Cimino: Guarani, fantasia violino e piano

- S. Cimino: Deuse Negre – Caprice – piano

- Nair G. Veltri : Madrigale – violino solo

Segunda Parte

- Ouverture pela Orquestrinha da Escola

- Gaspar Sagreras: Uma Lágrima – solo de violão

- Souto: Do Sorriso das Mulheres nascem as flores

- Verdi : Trovador – Miserere – transcrito para violão

- A. Jacomino: Gavota – favorita

- A. Jacomino: Valsa para concerto – Lembrança de um Sonho

- A. Jacomino: Marcha Militar Brasileira

- A. Jacomino: Uma Noite na Roça - cateretê

No sábado, dia 8 de setembro deste mesmo ano, novamente no Anfiteatro da

Escola Normal de São Carlos, Canhoto se apresenta com Antônio de Barros Leite, desta

vez em “Grande Concerto Musical Literario” em benefício da Santa Casa de

Misericórdia.

Em 17 de setembro de 1923 nasce em São Carlos sua primeira filha, Maria

Aparecida, hoje residente em Bebedouro, interior de São Paulo. Canhoto compõe em

sua homenagem uma de suas mais belas músicas, a valsa Manhãs de Sol, dedicada a sua

esposa. O violonista aguarda nesta época uma nomeação da Prefeitura de São Paulo

para trabalhar como lançador de impostos, visto que os negócios no comércio não

estavam caminhando bem. Em carta de 20 de setembro a Antônio de Barros Leite o

violonista se queixa da vida do interior65:

“Meu prezado Amigo Barros

65 Carta em posse do filho de Antonio Barros Leite.

Page 68: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Saúde

“Recebi sua carta e muito me comoveu e cada vez mais lhe considero pois tenho

a certeza que és um bom amigo e sincero.

“Caro Barros. Eu estava até hoje esperando a nimiação (sic) e se essa tal

nomeação demorar mais eu mandarei às favas tudo isso farei conforme minha grande

vontade a torne (sic) pelo sul.

“Você compreende eu não me acostumo com esta vida de estar parado e com o

domínio da indolência que é o mal do interior. Já estive em São Paulo e não foi

possível realizar um concerto devido a situação atual provavelmente mais tarde

realizarei um concerto na Capital. Realizo o meu primeiro concerto em Sorocaba no dia

24 do corrente e já estão passando a casa.

“Aceite um abraço do amigo

“Américo Jacomino

“Queira aceitar recomendações a D. Rosa minhas e de Mariquinha e recomenda-

me também aos bons amigos Arruda.

Após o recital em Sorocaba, Jacomino realiza um concerto em Jundiaí em 16 de

outubro no Ideal Teatro e dia 19 no Gabinete de Leitura.

Em 1924, em São Paulo, inaugura-se no Parque D. Pedro I o Palácio da

Agricultura e da Indústria, que será a futura sede da Rádio Bandeirantes, e a Sociedade

Rádio Educadora dirige uma circular a todas as Câmaras Municipais do interior

solicitando apoio para o desenvolvimento da radiotelefonia em São Paulo, "com intuitos

meramente educativos"66. Instalam-se também microfones para a irradiação de recitais

como o da pianista Magdalena Tagliaferro. Os lugares escolhidos inicialmente foram o

Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Santana e o Salão do Conservatório Dramático

e Musical. As irradiações ocorrem às terças, quintas e sábados, das 21 horas em diante.

Canhoto, no entanto, está distante. O primeiro programa da Sociedade Rádio Educadora

Paulista a incluir uma obra de Américo Jacomino acontece no dia 12 de novembro de

1924, com a peça Se o Telefone Falasse, pelo Trio Rádio-Bandeirante.

Próximo ao natal, em 18 de dezembro do mesmo ano, Jacomino escreve

novamente a Antônio de Barros Leite67:

“Itapetininga, 18-12-924

“Bom e Saudoso Amigo Barros

66 Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S. Paulo, ano 50, n.º 16535, 9 de maio de 1924. 67 Cartão em posse do filho de Antônio de Barros Leite.

Page 69: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Sua saúde e de todos de sua família em primeiro lugar o que lhe desejo.

“Recebi sua prezada carta e fiquei muito satisfeito em receber notícias do bom

amigo que muito considero.

“Então continuas nas célebres 24 horas? pois sinto imensamente estares

perdendo teu tempo em trabalhar muito e ganhares pouco.

“Eu muito breve irei para Espírito Santo do Pinhal e quando for te avisarei e

contar-te-ei como foi o concerto de Jundiaí.

“Junto te remeto dois jornais que se referem aos meus concertos.

“Como é o negócio do Chico Salles? Estou esperando carta dele e conforme me

escreveu na sua última.

“Eu não quero perder o direito do terreno fale com ele.

“Você me faça o favor de falar ao Carlos que me mande o endereço onde ele

mora para escrever a ele e minhas lembranças.

“Me recomenda aos bons amigos Arruda e um abraço de leve. Aceite o mesmo

do teu amigo.

“A. Jacomino.

“Recomendações minhas e de Mariquinha a Dna. Rosa e parentes”.

II.5 – Em 1925, Américo Jacomino retorna à capital paulista.

Para o carnaval de 1925, Américo Jacomino compõe a marchinha carnavalesca

Ai Momo. Neste mesmo ano o violonista muda-se novamente para a capital paulista,

após 3 anos em São Carlos, morando inicialmente na Pensão Mathias na Rua da

Conceição, partindo depois para a Rua Bueno de Andrade número 91.

Finalmente, em 5 de março Canhoto realiza seu primeiro recital na Sociedade

Rádio Educadora Paulista às 21 horas. Foi também a primeira vez que aparece no jornal

O Estado de São Paulo um programa em que o violonista acompanha Roque Ricciardi.

O programa apresentado constou das seguintes peças:

- A Jacomino: Marcha Triunfal Brasileira.

- Frontini : Serenata Árabe

- A. Jacomino: Abismo de Rosas - valsa

- A. Jacomino: Feiticeiro - maxixe de salão

Page 70: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Sagreras: Uma lágrima - delírio.

- A.Jacomino:Quando os corações se querem

- Calasan: Favorita - gavota

-A.Jacomino: Viola, Minha Viola - samba à moda do Norte.

O Jornal O Estado de São Paulo publica a seguinte crítica68:

"Alcançou inteiro êxito a irradiação do concerto que, gentilmente, realizou

ontem, no estúdio da Rádio Educadora, o popular e aplaudido violinista (sic) sr.

Américo Jacomino (canhoto). Não só pelo critério que predominou na organização do

programa do concerto como pela execução dos números que o compunham, a irradiação

de ontem provocou excepcional entusiasmo e despertou vivo agrado, a julgar pelos

inúmeros telefonemas de amadores felicitando o conhecido artista do violão, que, a

pedido, teve que executar alguns números extra programa, a todos eles dando cabal

execução.

“Prestou também seu concurso no programa da irradiação da noite de ontem,

cantando belas músicas, com acompanhamento de violão pelo Canhoto, o tenor sr.

Roque Ricciardi”.

Sobre a relação de Canhoto com o rádio sempre foi escrito, sem maiores

comprovações, que o violonista inaugurou a transmissão da Rádio Bandeirante, futura

Rádio Educadora Paulista, um ano antes, em 1924, juntamente com seu parceiro

Paraguaçu, que assim comenta o caso69:

“Inauguramos a Rádio Educadora Paulista em 1924, eu, o Canhoto e o Alberto

Marino, que foi o primeiro diretor artístico. O estúdio era pequeno, dois e meio por dois

e meio metros. Não havia microfone ainda, apenas em 1926 apareceu o microfone de

carvão. Eu cantava de costas para não estourar os microfones”.

68 Radiotelefonia / Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S. Paulo, ano 51, n.º 16813, 6 de março de 1925, p. 06. 69 Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974.

Page 71: Gilson Antunes - Americo Jacomino

O que é certo é que ambos foram alguns dos primeiros a se utilizarem do rádio, e

Canhoto seria certamente um dos mais requisitados violonistas, com várias de suas

audições sendo irradiadas até 1927, um ano antes de sua morte.

Ainda em 1925, em 23 de março Jacomino se apresenta no Salão do

Conservatório em recital em homenagem a Oswaldo Soares e João Avelino de

Camargo. No programa:

Primeira Parte:

- A. Jacomino: Marcha Triunfal Brasileira (inclusive Hino Nacional) -

acompanhado ao violão pelo sr. Carlos R. Souza

- A. Jacomino: Esmeralda – valsa lenta. (ao meu distinto amigo sr. José Ozório

Fonseca), acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza

- A. Jacomino: Trovador (Miserere) - solo, adaptação ao violão

- Sagreras: Uma Lágrima (delírio) - solo

- A pedido: Abismo de Rosas, valsa lenta. Acompanhada pelo sr. Carlos R.

Souza

Segunda Parte:

- Carlos Gomes: Protofonia do Guarani – Adaptação para violão, por A.

Jacomino, acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza

- A.Jacomino: Feiticeiro – tango de salão – solo

- Calazans: Favorita – gavota – acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza

- A.Jacomino: Quando os corações se querem, fox-trot – acompanhado pelo sr.

Carlos R. Souza.

- Frontini : Serenata Árabe –– solo

- A. Jacomino: Viola, Minha Viola - cateretê paulista imitando o grito da

cabloca. Acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza

Já no dia 29 de março, a apresentação de Jacomino no rádio terá o seguinte

programa:

- S. N. - Padre Nuestro - fox-trot - solo de banjo, com acompanhamento de

piano

- A. Jacomino: Sudan - fox-trot - banjo e piano

Page 72: Gilson Antunes - Americo Jacomino

-A. Jacomino: Tico-tico assanhado - polca característica - cavaquinho com

acompanhamento de violão

- G. Verdi: Miserere do Trovador - solo de violão

Os acompanhamentos de violão e piano ficaram a cargo de Carlos R. Souza. É a

primeira vez que Jacomino faria uma apresentação com banjo e cavaquinho, programa

que incluiu uma peça de sua autoria, o maxixe A Gente Se Defende. Ainda no mesmo

mês, no dia 30 e em maio, nos dias 3 e 5, Canhoto apresentou-se em novos recitais, dos

quais o último apresenta o seguinte programa:

- Silvestre: Serenata d'autre fois.

- A. Jacomino: Sombras do passado - valsa “Boston”

- E. Souto: Do sorriso das mulheres nascem as flores

- A. Jacomino: Por que te vuelves a mi ? - tango argentino

- Mendelssohn: 3.º Prelúdio

- A. Jacomino: Quando os corações se querem - fox-trot.

Américo Jacomino acompanha um recital do sanfonista amador Arcangelo

Zordo em 8 de agosto. Antes escreve uma carta a Antônio de Barros Leite, falando

sobre a atual situação de sua carreira70:

“S. Paulo 1-8-925

“Meu bom e prezadíssimo amigo Barros

“Em primeiro lugar desejo que esta vá encontrar você e sua Esma. (sic) Família

gozando saúde.

“Eu e os meus vamos indo bem graças a Deus.

“Não te escrevi há mais tempo devido não me encontrar na Capital na ocasião

que chegou a sua carta, não imaginas com que prazer recebi notícias tuas que há muito

não me escrevias uma de suas saudosas notícias. Aqui em São Paulo é um sucesso e

tantos. Alunos que não venço tenho tocado nas principais Casas de São Paulo como

Conde Lira Prates em outras o meu nome aqui cada vez se torna mais popular.

70 Carta em posse do filho de Antonio de Barros Leite.

Page 73: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Soube que o Sr. Carlos anunciou um concerto de violão aí e parece-me que o

mesmo não chegou a realizar é verdade? Também me disseram que um jornal de São

Carlos noticiou que o sr. Carlos era rival de Canhoto se isso é fato é sinal que o crítico

desse Jornal não tem a minimíssima competência de crítico porque comparar um

simples amador a um concertista é mesmo para ser meu rival deveria se apresentar com

um repertório próprio dele e não com músicas minhas que tenho a certeza que são

assassinadas digo isso porque tenho certeza enfim se isso for verdade de que o Sr.

Carlos anunciou um concerto com o meu programa deu prova de minha desconfiança

que há tempos tenho.

“Junto te envio o programa de meu último concerto realizado no Salão do

Concervatório (sic) é no próximo sábado. Vão irradiar pelo telefone sem fio todos

meus concertos têm sido sós e sem acompanhamento. Estou com muita [saudade] de

nosso choro e daquelas noites saudosas quando na casinha de músicas fazíamos os

nossos choros e também das boas macarronadas que comia em sua casa.

“Sem mais aceite um sincero abraço do amigo que sempre te considera e

recomendações minhas e de minha esposa a D. Rosa.

“Américo Jacomino Canhoto”.

Para o amigo Canhoto conta, entre outros sucessos, o de professor muito

procurado, fato que será veiculado a 28 de abril, no jornal O Estado de São Paulo:

“Américo Jacomino – Canhoto, dá aulas, tem perto de ‘200 alunos da elite

paulistana’. Preços: duas lições por semana – mensalidade 100$000, lições avulsas

20$000”. Américo Jacomino é então professor de importantes figuras da sociedade

paulista, entre elas a filha do governador do Estado de São Paulo Carlos de Campos, da

esposa e da filha de Júlio Prestes e da filha do Dr. Piza Sobrinho71.

Mas naquele ano de 1925, a 6 de setembro, ele se apresenta ainda no Teatro

Municipal de São Paulo, na Tarde da Criança, juntamente com outros artistas,

executando a Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas e Viola Minha Viola.

Seriam as mesmas peças apresentadas no Concurso O Que é Nosso, que seria realizado

no Rio de Janeiro.

Entre um recital e outro, a 26 de janeiro de 1926 nasce o segundo filho de

Canhoto, Luís Américo Jacomino, atualmente residente em São Paulo.

71 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S. A., n.º 1, 1964, p. 06.

Page 74: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Américo Jacomino apresenta-se no Conservatório Dramático a 2 de março e

volta a se apresentar na Rádio Educadora Paulista em 11 de julho e nos dias 17 e 21 de

setembro, este último sendo transferido - como em outras ocasiões - para o dia 20 de

outubro, "por motivo de força maior".

Pelas constantes mudanças das datas de seus recitais, é provável que a saúde de

Jacomino não fosse bem ou que seus compromissos burocráticos lhe tomassem maior

tempo.

Em dezembro de 1926 são lançados os primeiros discos de Canhoto pelo sistema

elétrico, pela Odeon, série 123000, compreendida entre dezembro de 1925 e julho de

1927. Como trata-se da primeira série elétrica, Canhoto, se não inaugurou o sistema,

por certo foi um dos pioneiros a se utilizar desta técnica. Não é conhecida a data exata

das gravações, mas Jacomino lança, entre outros, os seguintes discos: Marcha dos

Marinheiros, A Menina do Sorriso Triste (fox-tango), Reminiscências (valsa) e

Alvorada de Estrelas (gavota).

II.6 - O Concurso O QUE É NOSSO - 1927

A partir de janeiro de 1927 a imprensa do Rio de Janeiro noticia um concurso

musical no qual concorrerão alguns dos maiores nomes do cenário artístico brasileiro,

com o patrocínio do jornal Correio da Manhã. O nome do concurso é, muito

apropriadamente, O Que é Nosso, com realização prevista para os dias 19 e 20

fevereiro.

Em 15 de fevereiro ocorre o sorteio para a apresentação dos concorrentes. Na

prova de violão é estabelecida a seguinte ordem: 1) Américo Jacomino; 2) Manoel de

Lima; 3) Ivonne Rebello. As provas ocorrerão em 19 de fevereiro, sábado, no Teatro

Lírico à 1 hora da tarde. O patrono do prêmio será João Pernambuco.

Na capa do Correio da Manhã de 18 de fevereiro aparece, em foto de destaque,

Américo Jacomino e Adalbrum Pinto, funcionário do jornal. A nota72:

“Vindo de São Paulo especialmente para tomar parte nas provas de violão do

concurso promovido por esta folha chegou ontem de manhã o brilhante violonista

72 Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1927, p. 05.

Page 75: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Américo Jacomino. Na gare Pedro II foi recebê-lo pelo Correio da Manhã nosso

companheiro Adalbrum Pinto”.

Sobre o julgamento é publicada a seguinte nota73:

“O julgamento público será feito por aclamação, mediante a fiscalização de uma

comissão de arbitramento, presidida pelo diretor-geral do concurso, podendo ser o

resultado anunciado imediatamente após a terminação de cada série de provas ou no

prazo máximo de 48 horas, com o respectivo parecer. Os números só serão bisados por

ordem do diretor-geral.

“As provas no Teatro Lírico serão presididas pelos srs. Dr. João Itiberê da

Cunha, crítico musical do Correio da Manhã; o festejado barítono Patrício Corbiniano

Villaça; e dr. Homero Álvares. A comissão dirá sobre a capacidade dos concorrentes”.

No dia seguinte ao concurso, 20 de fevereiro, o jornal Correio da Manhã publica

matéria sobre a apresentação74:

“O Prestígio do Violão.

“Mas o Pinto vem em seguida dar uma novidade, que alenta a alma da platéia,

entregando-a a novo frenesi.

“Vai entrar na exibição dos violões.

“É um outro momento sério do programa, que vai ser aberto pelo inigualável

Américo Jacomino (Canhoto), vindo de São Paulo, na véspera, especialmente para esta

prova, em homenagem ao Correio da Manhã.

“E o anunciador reclama o máximo silêncio. A sala aplaude frenética, enquanto

entra em palco a figura simpática de Jacomino. E este se prepara para os primeiros

acordes, num assédio de rara curiosidade. Canhoto, a maneira de pegar o violão é ainda

mais eloqüente de atração.

“Jacomino se impõe logo à platéia com o seu domínio absoluto das cordas do

violão, que se transforma em tudo ao contato de seu dedo. Começa pelo Abismo de

Rosas, uma valsa esquisitíssima sua, atraente de novidades harmônicas. Depois com o

mesmo prestígio, faz o violeir (sic) paulista, cantando às cordas do violão – Viola,

Minha Viola. Jacomino agrada e provoca risos, com os seus diálogos nas cordas, em

73 Idem, ibidem. 74 Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1927, p. 03.

Page 76: Gilson Antunes - Americo Jacomino

raras proezas de malabarismo musical. A platéia consagra-o, como já havia feito com

Calheiros.

“E, a este sucede-se Manoel de Lima, o ceguinho, a quem Pinto anuncia como ‘o

poeta do violão’. A entrada do ceguinho, que em cena, guiado pelo Pinto, cria um

ambiente de ansiedade, dramática, logo transformada em rara admiração. O ceguinho

toca com o violão deitado sobre a perna, à maneira de pequena harpa. E a sua música

sai toda tecida de uma fina espiritualidade. A platéia reconhece no ceguinho,

finalmente, o doce poeta do violão.

“Por fim, é um violão mimoso que se faz ouvir.

“É a menina Ivone Rebello, de cerca de 10 anos. Mal acaba de chegar. A sua

execução era graciosa e fina. Sucedia aos dois com vitoriosa galhardia infantil”.

Sobre Manoel de Lima não encontramos maiores informações. Ivonne Rebello

já era conhecida no meio violonístico carioca por ser filha de José Rebello da Silva,

apelidado de José Cavaquinho, um dos pioneiros no ensino do violão erudito no Rio de

Janeiro. A revista O Violão de dezembro de 1928 escreve sobre a violonista75: “Ivone

Rebello é um nome consagrado no meio violonístico carioca. A sua educação artística

corre à corte de seu pai, o hábil violonista José Rebello. O desembaraço com que Ivone

interpreta peças clássicas de responsabilidade faz prever para muito breve a consagração

definitiva e justa da pequenina e talentosa violonista”.

No dia 22 de fevereiro, o Correio da Manhã publica finalmente a matéria com o

resultado do concurso76:

“Dos três concorrentes que se apresentaram apenas Ivonne Rebello solou em

violão de cordas 1.ª, 2.ª, e 3.ª de tripa, em posição clássica, executando das peças

exigidas o Capricho Árabe, de Tárrega. Em se tratando, porém, de um concurso de

caráter puramente brasileiro, não seria lícito deixar de ter em conta o que é nosso.

Orientando, pois, seu julgamento, segundo a maneira de tocar e o estilo de cada

concorrente, a comissão técnica que, por delegação do diretor-geral do concurso

presidiu as provas, resolveu apreciá-los separadamente. Aos prêmios instituídos pelo

Correio da Manhã foi dado, a cada deles, o nome de um patrono, entre os intérpretes

consagrados do violão. O critério adotado na escolha dos patronos foi inspirado

justamente na seleção dos estilos para o caso da classificação dos concorrentes. Assim,

75 O VIOLÃO. Rio de Janeiro, ano 1, 1928, p. 13. 76 Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1927, p. 05.

Page 77: Gilson Antunes - Americo Jacomino

pois, os srs. Dr. João Itiberê da Cunha, Corbiniano Villaça e dr. Homero Álvares

resolveram conferir:

“O Prêmio João Pernambuco ao sr. Américo Jacomino (Canhoto), porque

satisfazendo o programa, em peças nacionais de sua composição, destacadamente o

arranjo intitulado Viola, Minha Viola, fez-o (sic) com brilhantismo;

“O Prêmio Joaquim dos Santos à menina Ivone Rebello, pela perfeição técnica

que demonstrou além da circunstância de haver executado um dos clássicos do violão,

fazendo juz aos louvores da comissão e do público que a aplaudiu;

“O Prêmio Levino Conceição, ao sr. Manoel de Lima, artista de excepcional

inspiração, cego como o patrono do prêmio, cujo mérito está consagrado e não permite

confrontos”.

Analisando hoje, vemos que o primeiro concurso de violão do Brasil foi um

evento sui generis, com três violonistas distintos e fora do âmbito de qualquer outro tipo

de concurso. Havia uma peça de confronto que apenas Ivone Rebello tocou (no caso, o

Capricho Árabe, de Tárrega), mas ela era apenas uma menina, não teria talvez maior

atração em premia-la em primeiro lugar, além de que poderia ter faltado maior

maturidade em sua interpretação, o que só seria possível saber se a violonista tivesse

deixado algum registro de sua arte musical. Manoel de Lima tocou com o violão

deitado nas pernas, o que também fugiria aos padrões do violão clássico estabelecidos

até então, além do fato de ele não ter tocado a peça de confronto. Américo Jacomino já

tinha sua fama estabelecida, a única explicação para ele participar do concurso seria

uma premiação em dinheiro que ele porventura estivesse precisando ou uma indicação

de alguém por saber que ele não tinha concorrentes. Um fato interessante é saber que os

dois violonistas tocaram com cordas de aço. A própria participação de Manoel de Lima

faz crer que o violonista cego participou porque estava de passagem pelo Rio de Janeiro

integrando o grupo pernambucano de música regional Turunas da Mauricéia, que

possuía também Augusto Calheiros como cantor, Atilio Grany na flauta e Luperce

Miranda no bandolim. E Ivone Rebello talvez fosse o maior trunfo dos cariocas por ser

filha de um conhecido professor de violão da cidade, amigo de um dos jurados, o

violonista amador Homero Álvares, que nos três números iniciais da revista O Violão

publicaria artigos sobre a “Escola” de Tárrega. A decisão dos jurados acabou sendo

plausível, tendo em vista que dedicou prêmios adequados a cada concorrente. O

principal, Prêmio João Pernambuco, foi dado a Canhoto. Aliás, é provável que Canhoto

Page 78: Gilson Antunes - Americo Jacomino

conhecesse pessoalmente o patrono de seu prêmio, uma vez que ele se apresentara por

diversas vezes em São Paulo, tanto como integrante do Grupo de Caxangá como dos

Oito Batutas. O prêmio de Manoel de Lima teve como patrono outro violonista carioca,

o também cego Levino Albano da Conceição, que estudara no Instituto Benjamin

Constant, adquirindo fama crescente em todo o país. Quanto a Ivonne Rebello coube-

lhe o prêmio Joaquim dos Santos, músico mais conhecido como Quincas Laranjeiras,

um dos pilares do violão erudito no Rio de Janeiro, o que explicaria a premiação.

Na falta de concorrentes de sua categoria, Américo acaba por ser conhecido

como aquele que venceu o concurso sozinho, imagem explorada pelo próprio jornal

Correio da Manhã quando das notícias de seu falecimento em 1928. O fato lhe valeria

a alcunha de “O Rei do Violão Brasileiro”.

Cumpre assinalar que o júri pôde escutar a valsa Abismo de Rosas, que tanto

sucesso faria nas décadas seguintes, além da Marcha Triunfal Brasileira e Viola, Minha

Viola, talvez as duas obras de maior efeito musical compostas pelo violonista.

Passado o Concurso, Jacomino entra no estúdio para gravar novamente, desta

vez pelo sistema elétrico de gravação, o que preservaria de modo fiel a maneira como

Canhoto interpretava ao violão. Pelas gravações que o violonista faz nesta época, é

justo dizer que Jacomino atravessava a melhor fase de sua carreira. Todas as gravações

elétricas demonstram um alto nível de aprimoramento técnico-musical, muito por conta

das regravações de antigos sucessos como Abismo de Rosas, Marcha Triunfal

Brasileira e Arrependida. E pela gravação da peça Viola, Minha Viola, que tanto

agradou o público do concurso, em que o violonista utiliza efeitos inusitados para a

descrição de uma cena de vida sertaneja, como rasqueados à maneira da viola caipira e

um curioso efeito tocado na região da boca do violão, soando como uma fala de

caboclo, efeito único no repertório violonístico brasileiro até hoje, não é difícil perceber

o porquê de ele ter ganho o prêmio principal. As gravações elétricas também favorecem

uma avaliação de como era o violonista na época de O Que é Nosso. Abismo de Rosas e

Marcha Triunfal Brasileira mostram aspectos relevantes da técnica alcançada pelo

músico. A Marcha demonstra, por exemplo, o violão soando com efeitos de caixa-clara,

flautins e trombones, lembrando a formação de uma banda marcial completa. Naquele

fevereiro de 1927, aproveitando a estada no Rio de Janeiro, Canhoto se apresenta ainda

no Rádio Club do Brasil no dia 24.

A outra série de gravações conta com Roque Ricciardi para Berço e

Túmulo, Choça do Monte e Aracy. São desta época as lembranças do amigo em relação

Page 79: Gilson Antunes - Americo Jacomino

às primeiras anormalidades na saúde do violonista, que reclama de falta de ar, sendo

medicado pelo então jovem estudante de medicina Joubert de Carvalho. Sobre estas que

serão as últimas gravações, Paraguaçu assim contou77:

“A última gravação que ele fez, já na gravação elétrica em 1927 – que nós

viemos de São Paulo para inaugurar a gravação elétrica aqui no Rio – eu tinha musicado

uns versos de Casimiro de Abreu, Berço e Túmulo. Então eu gravei o primeiro disco

elétrico, com essa música numa faixa e outra de Catullo na outra, A Choça do Monte.

(...) O Canhoto falou ‘Arruma outro nome pra música !’ mas eu disse que era poesia do

Casimiro de Abreu e não podia. Parecia que ele previa a própria morte. Sentiu-se mal

este dia, daí o dia seguinte fomos ao Joubert de Carvalho, que fez um exame e constatou

aorta viratada”.

No dia 8 de maio de 1927 ocorre no Teatro Municipal de São Paulo a “Noite

Brasileira”, organizada por Américo Jacomino. Assim escreve o jornal O Estado de

São Paulo78:

“Logrou grande sucesso a ‘Noite Brasileira’, organizada pelo artista brasileiro sr.

Américo Jacomino, o ‘Canhoto’, com o patrocínio da Liga das Senhoras Católicas e

com o concurso dos srs. Arnaldo Pescuma, Roque Ricciardi e o grupo dos ‘Turunas

Paulistas’.

“Iniciou o festival o sr. Dr. Plínio de Castro Ferraz, com uma interessante

conferência sobre os nossos sertões e a nossa gente chã que os habita e os trabalha.

“O grupo dos ‘Turunas Paulistas’ executou agradáveis modinhas, choros,

sambas e emboladas. Os violões, reco-recos, cavaquinhos e maracaxás emprestaram um

cunho forte de regionalismo àquela ‘Noite Brasileira’, que foi brilhantemente encerrada

pelos números executados pelo ‘Canhoto’”.

O sucesso desta apresentação no Teatro Municipal faz o espetáculo ser

reapresentado em 20, 21 e 22 de maio, no Teatro Boa Vista. Para estas apresentações

tomam parte, além de Canhoto, Arnaldo Pescuma e Roque Ricciardi; os músicos que

formavam os Turunas Paulistas: Manuel dos Santos, em emboladas e sambas;

77 Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974. 78 Noite Brasileira. O Estado de S. Paulo, ano 53, n.º 17601, coluna A Sociedade, 10 de maio de 1927, p. 04.

Page 80: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Alexandre Carrara, flautista; Francisco Lima, saxofone; José Sampaio, violão; Mário

Ramos e José dos Santos, cavaquinho; Cavalheiro Mulato, pandeiro; Domingos Marino,

maracaxá e Mario Alvarenga, reco-reco. A cada dia o evento apresenta uma

programação diferenciada, sendo que Canhoto apresenta as seguintes músicas em solos

de violão:

Primeiro dia: Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas, Reminiscências e

Viola Mimosa.

Segundo Dia: Em Pleno Mar, Feiticeiro, Fluminense e Viola, Minha Viola.

Terceiro e último dia: Marcha dos Marinheiros, Foi-se embora Maria,

Brasileiro e Viola, Minha Viola.

Canhoto e os Turunas Paulistas começam em seguida uma série de noitadas no

Cine Teatro Roma. O nome do violonista volta a aparecer em programas de rádio, sem

especificações de que Américo Jacomino tenha ido ao estúdio tocar, mas sim que os

programas incluem suas interpretações através de novas gravações em disco. As

principais são Olhos Feiticeiros, Reminiscências, Marcha dos Marinheiros, Sonsa, Por

Que Tu Vuelves a Mi?, Feiticeiro, Viola, Minha Viola e Abismo de Rosas.

Apresentações em público ocorrerão ainda em 4, 7, 18, 25 e 27 de outubro, com violão e

cavaquinho, no mesmo programa, alternados com Roque Ricciardi.

Canhoto recebe finalmente a notícia de que é nomeado lançador de impostos da

prefeitura, o que causa protestos de algumas pessoas pelo apadrinhamento político, já

que Jacomino fora ajudado pelas boas relações que possuía com importantes

personalidades da época, além do fato de ser genro de uma pessoa politicamente

bastante influente.

Em 15 de novembro de 1927, por ocasião da Proclamação da República,

Canhoto aparece no Cine-Teatro Central para um recital com novas composições. Será

a última apresentação do violonista neste ano, e também a última de Jacomino

anunciado no jornal O Estado de São Paulo até 1928.

Já em 1928, em 3 de janeiro, Américo Jacomino se apresenta na Sociedade

Rádio Educadora Paulista em programa de música regional, o mesmo ocorrendo em 8

de fevereiro.

Em março, Jacomino realiza definitivamente sua última sessão de gravações

solo, entre os dias 13 e 16, pela Odeon, série 10000, série que abriga as gravações

Page 81: Gilson Antunes - Americo Jacomino

realizadas entre julho de 1927 e maio de 1933. Os registros de Canhoto receberão os

números 10164 e 10165, correspondendo respectivamente às músicas Amor de

Argentina (milonga) e Arrependida (Valsa lenta), e Os Teus Olhos (canção) e

Pensamento (valsa). Ambos os discos são lançados no mês de maio. No mês anterior,

entre 7 e 15 de abril, Américo Jacomino se apresenta novamente em sarau beneficente,

desta vez denominado Semana Festiva. O violonista acompanha a cantora Nené Moura

Azevedo em Canções Brasileiras. No Conservatório Dramático e Musical, José

Sampaio Formozinho e João Batista Ferraz organizam um recital no dia 29 de abril “em

benefício de um amigo enfermo”, em que tomam parte apenas funcionários municipais.

Canhoto apresenta-se como D. da Receita (sic). É bastante provável que o “amigo

enfermo” fosse mesmo Américo Jacomino, que começa a desmarcar alguns recitais sem

maiores explicações. É a última notícia do violonista no jornal O Estado de São Paulo

antes de sua morte.

Em 6 de junho de 1928 o violonista assim escreve a seu amigo Antonio de

Barros Leite79:

“São Paulo, 6 de junho de 928.

“Bom e saudoso Amigo Barros

“Saúde

“Recebi há dias sua prezadíssima carta e fiquei muito contente em saber notícias

suas e de sua Exma Família. Deves estar bem sentido comigo, não? Eu não tenho te

escrito mais tempo por não saber de seu novo endereço mas enfim a nossa amizade está

acima disso tudo.

“Você não pode calcular o quanto tenho trabalhado no meu emprego você

compreende de violões para lançador, é um caso sério não é verdade? Mas graças ao

bom Deus já estou mais ou menos prático do cargo o meu violão está sempre na

atividade todas as noites faço o meu exercício de uma a 2 horas e se tivesse mais tempo

mais horas exercitaria. Fiz há cerca de um mês uma nova gravação de discos. Gravei

12 musicas novas estive no Rio de Janeiro um mês. Você quando for em (sic) São

Carlos procure esses novos discos. São os seguintes:

“Arrependida (valsa); Amor de Argentina (tango argentino); Pensamento

(capricho), um solo do melhor que tenho; Delirios (valsa) e outras que na ocasião

encontrarás.

79 Carta em posse do filho de Antônio Barros Leite.

Page 82: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Quanto ao convite que me fazes para ir aí sinto imensamente não poder aceitá-

lo pois ainda não tenho direito à licença só depois de um ano é que temos direito a 10

dias e como faltam só 2 meses para completar um ano, acho melhor então esperar mais

um pouco e assim irei passar uns 8 dias com o bom amigo e tocaremos violão até dizer

chega o meu endereço e cartão que vão junto.

“Sem mais outro abraço do amigo que sempre o considera.

“Recomendações minhas e de Mariquinha a D. Rosa.

“Américo Jacomino

“Venha passear um dia em São Paulo e me avise que te espero”.

Pela carta pode-se saber a data exata em que o violonista assume o cargo de

lançador da Prefeitura: agosto de 1927.

Em 9 de julho de 1928, dois meses antes de falecer, Américo Jacomino, em nova

carta a Antônio de Barros, escreve sobre seu atual estágio de saúde:

“Prezado e bom amigo Barros

“Saúde

“Com grande prazer recebi o meu belo presente de 6 bons frangos e muito

satisfeitos ficamos pois não podia ver presente melhor mais uma vez muito grato.

“Quanto a minha ida para aí sinto não poder ser já devido me achar em

tratamento e o médico aconselhou-me para não fazer excesso de forma alguma por isso

eu acho que devo fazer o que diz o médico e logo que me sentir melhor eu te escrevo e

marcando o dia de minha ida para aí.

“Sem mais aceite juntamente com D. Rosa nossos agradecimentos e

recomendações.

“Recomendações ao seu mano e um abraço do Amigo grato.

“Américo Jacomino Canhoto.

“Quanto à vinda de você e D. Rosa aqui em casa estamos esperando com muito

prazer”.

Com o estado de saúde agravado, em São Paulo Jacomino é atendido pelo doutor

Celestino Borroul, que o aconselha a procurar o doutor Miguel Couto no Rio de Janeiro,

o que faz Jacomino quando volta à cidade para uma nova série de gravações. Para isso

vai de carro, numa tortuosa viagem que dura três dias, ao lado da esposa e do irmão

Page 83: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Amadeu. Ao passar mal Jacomino regressa rapidamente a São Paulo, onde uma

ambulância do Instituto Paulista o espera na estação de trem. Será atendido desta vez

pelo Dr. José Rubião Meira.

A 7 de setembro, uma sexta-feira, Américo Jacomino falece de insuficiência

aórtica em São Paulo no Hospital Santa Catarina, na Avenida Paulista, às 17 horas e 30

minutos. O atestado de óbito é assinado pelo doutor Alcides Ribeiro de Abreu. Ainda

de acordo com o registro, Jacomino falece aos 38 anos de idade. Entre muitas notícias

de seu falecimento, assim se manifesta o Correio da Manhã do Rio de Janeiro80, no qual

há um trecho de leitura impossível devido ao fato de o jornal estar rasgado:

“Morreu o ‘Rei do Violão’. Jacomino, o ‘Canhoto’, finou-se anteontem em São

Paulo.

“A música regional acaba de perder um de seus elementos mais brilhantes.

Américo Jacomino – ‘Canhoto’ – primeiro prêmio do nosso concurso ‘O Que é Nosso’,

o popular ‘Canhoto’, que todos tanto apreciaram e admiraram através da suavidade de

sua melodia encantadora, finou-se em São Paulo.

“A morte de Américo Jacomino, que ainda há pouco estivera no Rio, não é uma

dessas mortes que se perca no simples registro do noticiário fúnebre. Cantor de nossa

terra, compositor, como poucos, da música regional cheia de graça e beleza, o autor de

Abismo de Rosas foi um desses musicistas que mais se salientaram no cotejo de seus

companheiros. Mestre do violão, compositor de um sem número de músicas que, hoje,

se espalham pelo país inteiro, ‘Canhoto’ [...] aquele que melhor fazia tanger uma corda,

vibrando em sua amplitude a própria alma que ele parecia depositar na nota melancólica

e sentida.

“Melhor elogio não se pode fazer de Américo Jacomino que o lembrar a sua

participação admirável no concurso de músicas regionais, organizado por esta folha,

concorrendo ao grande certame de então e competindo com inúmeros adversários de

vários Estados da União, todos, cheios de prestígio, ‘Canhoto’ logrou empolgar um júri

severíssimo e fazer-se coroar o ‘Rei do Violão’. Se sua fama já vazava os limites de sua

modéstia e irradiava por todo o Brasil, essa época marcou, então, sua consagração.

Hoje, no Rio, nos Estados, no bulício das cidades ou na tranqüilidade encantadora do

sertão, não há quem não lhe saiba o nome.

80 Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1928, p. 06.

Page 84: Gilson Antunes - Americo Jacomino

“Popular, querido pelo seu mérito, ‘Canhoto’ teve uma morte cheia de

repercussão e sentimento. Por isso é que, fazendo esse registro à parte, quisemos

salientar o fato, um acontecimento de mágoa, para todos e de dor para a música

regional”.

O coche fúnebre sai às 16 horas de sua residência, rua 13 de Maio, n.º 156, em

direção ao cemitério do Araçá, onde é sepultado o violonista.

No mês de outubro de 1928 as lojas começam a vender o último disco de

Jacomino, com as músicas Mexicana (valsa) e Uma Noite na Roça (cateretê), ambas

gravadas naquele 14 de março.

Page 85: Gilson Antunes - Americo Jacomino
Page 86: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Capítulo III – Panorama do violão em São Paulo: 1904 –

1928

III.1 – Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros.

Page 87: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Após os primeiros registros em disco de Américo Jacomino, na primeira etapa

da carreira artística de Jacomino, a partir de finais de 1915, os jornais começam a

noticiar seus recitais. O repertório do violonista é bastante extenso, sendo que várias

composições que Canhoto gravou em disco não foram tocadas em público (caso de

Quando os Corações se Querem), da mesma forma que outras peças executadas em

concerto não foram gravadas em disco (caso de Magia de Olhar e Tango da Agarra).

Após 5 de março de 1925, o maior número de apresentações de Jacomino se dá

no rádio - o então emergente meio de comunicação -, mais especificamente na

Sociedade Rádio Educadora Paulista. As notícias de que o violonista teria inaugurado

esta rádio são incertas, já que, por artigos do jornal O Estado de São Paulo, vê-se que o

violonista foi um dos primeiros a tocar na rádio, mas não há maiores detalhes sobre o

assunto (vide capítulo II).

Entre os locais em que o violonista mais se apresentou em toda sua carreira estão

(sem incluir as temporadas):

Conservatório Dramático e Musical de São Paulo: 14 vezes

Teatro São Pedro: 6 vezes

Teatro Avenida: 4 vezes

Teatro Boa Vista: 4 vezes

Teatro São Paulo: 4 vezes

Além destes, Jacomino apresentou-se em praticamente todos os palcos principais

da cidade de São Paulo, incluindo o Municipal (duas vezes), Teatro Colombo e Teatro

Santana, somando-se ao todo mais de trinta e cinco palcos. São várias também as

informações sobre turnês pelo interior do Estado de São Paulo, em cidades como

Descalvado, Campinas, Santos, Itu, Amparo, Bauru e Jaú, além de outros Estados como

Rio de Janeiro.

Américo Jacomino esteve tão presente nos noticiários que por várias vezes o

jornal O Estado de São Paulo colocou uma coluna intitulada “Notícias do Canhoto”.

As informações de outros violonistas são em número muito menor (vide capítulos I e

II).

No primeiro capítulo reunimos notícias sobre violonistas atuantes na cidade de

São Paulo, seus repertórios e locais de atuação, com o intuito de apontarmos o

surgimento do nome de Américo Jacomino. Tabulando as datas de atuação,

Page 88: Gilson Antunes - Americo Jacomino

compositores executados, seus intérpretes e locais onde tocavam, é possível esboçar um

panorama do instrumento na metrópole, que se desenvolvia rapidamente.

A análise dos resultados obtidos (vide anexo I) levará em conta datas que

estabelecemos na cronologia da vida e obra de Jacomino: ele nasce em 1889 e grava

Belo Horizonte para violão solo, peça de sua autoria, em 1912; a primeira audição do

violonista, noticiada pelos jornais, dá-se em 1915, e ele permanece atuante na cidade até

1922, quando se muda para São Carlos após seu casamento; em 1925 ele volta para a

capital, onde permanece até a morte, em 1928.

Primeiro momento: 1889 a 1912

É de 1904 a primeira notícia de recital de um violonista, F. P. Catton, a

apresentar-se no Club Germânia, sem indicação de repertório, no entanto. Mas durante

esta primeira década do século vinte, até 1911, Gil Orosco e Manuel Gomes, além do

Tercetto Espanhol e da dupla Gil Orosco/Alberto Baltar, apresentam-se no Salão

Steinway, nome de uma das salas do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e

no Centro Espanhol. Aliás, neste segundo espaço só Manuel Gomes se apresenta. O

repertório traz, como compositores da literatura do violão erudito, o nome de Francisco

Tárrega e o de Julian Arcas, principalmente. O restante do repertório inclui transcrições

de Chopin, Meyerbeer e Verdi, além de peças originais dos próprios violonistas que

tocaram (caso de Orozco e de Manuel Gomes).

Segundo momento: 1914 a 1922

O segundo momento contempla os recitais de Francisco Pistoresi, que realiza

alguns recitais ao violão apresentando seu invento, o diamenofone, uma espécie de

amplificador. Todo o repertório deste violonista era composto de transcrições de obras

de autores célebres como Wagner e Boccherini, com exceção de uma gavota de Mauro

Giuliani, obra original para violão.

Em 1916, com a estréia de Américo Jacomino em São Paulo, o movimento

violonístico toma um impulso jamais visto até então. O repertório de concerto deste

violonista durante o ano é composto exclusivamente de obras de sua autoria. Nos anos

subseqüentes, até 1922, o violonista apresentaria peças de autores como Levino Albano

da Conceição (Tarantella) e Frontini (Serenata Árabe).

Page 89: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Em 1917 ocorrem as estréias de Agustín Barrios e Josefina Robledo na capital

paulista. O repertório de Barrios é variado, com muitas obras de sua autoria, peças de

compositores paraguaios, como Garcia Tolsa e Alberto Baltar, e transcrições de autores

como Beethoven, Chopin e Mendelssohn. Como peças originais Barrios interpreta

Tárrega, Giuliani, Aguado, Coste e Regondi. Josefina Robledo não é compositora e,

por sua vez, interpreta como peças originais apenas as de seu professor Francisco

Tárrega e de seu colega Emílio Pujol. Todo o restante do repertório é composto de

transcrições de autores espanhóis como Isaac Albeniz e Enrique Granados, além de

compositores consagrados como Bach, Chopin e Paganini. Um terceiro nome se

apresenta para o público paulista, o de Benedito S. Capello, que interpreta os mesmos

autores que os demais e, a exemplo de Josefina Robledo, inclui uma obra de Emílio

Pujol (Canção do Berço). Uma exceção ao padrão de autores escolhidos é a inclusão,

em 1919, da transcrição de duas peças (gavota e minueto) da ópera O Contratador de

Diamantes de Francisco Braga, transcrições estas que estão perdidas. Esta composição,

juntamente com a Fantasia sobre O Guarani, de Carlos Gomes, transcrição a cargo de

Américo Jacomino, são as duas únicas obras de compositores eruditos brasileiros

executados no período.

As salas escolhidas para os recitais se diversificam e o público pode, então,

freqüentar o Salão do Correio Paulistano, Teatro Municipal de São Paulo, Salão do

Automóvel Clube, Pavilhão Central, Teatro São Pedro e o Salão da revista A Cigarra,

embora a mais requisitada seja a sala do Conservatório Dramático e Musical de São

Paulo.

Terceiro momento: 1923 a 1928

Este último momento, que, como dissemos, compreende a volta de Canhoto para

a capital até a sua morte, ainda traz apresentações de Josefina Robledo seguindo o

mesmo padrão apontado. Américo Jacomino continua interpretando peças de sua

autoria, além de peças originais de outros autores como Julian Sagreras (Uma Lágrima),

João Pernambuco (Randon) e transcrições de Mendelssohn (3.º Prelúdio) e Verdi

(Miserere da ópera O Trovador).

Novos violonistas vão surgindo. João Avelino de Camargo, que formaria o

primeiro trio de violões brasileiro de que se tem notícia, o trio Os Três Sustenidos,

começa a se apresentar em recitais com obras de sua autoria. Domingos Silva aparece

Page 90: Gilson Antunes - Americo Jacomino

interpretando peças próprias e composições do repertório de outros violonistas, como

obras de Verdi (Miserere), Carlos Gomes (O Guarani) e Levino Albano da Conceição

(Tarantella). Alfredo Pistoresi (filho de Francisco) inicia seus recitais com obras de

Tárrega e Chopin, nitidamente inspirado em Josefina Robledo. Esta violonista possui

como aluno em São Paulo Osvaldo Soares, que em 1925 realiza seus primeiros recitais,

interpretando obras de compositores como Schumann, Albeniz, Tárrega e Pujol, entre

outros, a exemplo de sua professora.

Em 1925 e 1926 o paraguaio Pablo Escobar apresenta-se com um repertório

variado, destacando-se peças de conterrâneos como Barrios e Garcia Tolsa, além de

Tárrega, Sinópoli e peças de sua própria autoria. Canhoto, ao voltar à capital paulista,

começa a demonstrar suas preferências quanto ao repertório, sendo várias as vezes em

que o violonista interpreta a Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas e Viola,

Minha Viola, justamente as obras que interpretaria no concurso O Que é Nosso, no Rio

de Janeiro.

Entre novos nomes que aparecem a partir de 1926 estão Larosa Sobrinho, Luiz

Buono, José Navarro, Benedito Chaves, Pedro J. Moraes, Leopoldo Silva Hugo

Banzatto, Totó, J. Sebastião Lima e Pedro Cavalheiro, que contemplam em boa parte de

seus repertórios, obras de suas autorias. A exceção fica a cargo de Juan Rodrigues, que

amplia o repertório, incluindo originais de Fernando Sor e transcrições de Porcel, além

de peças de sua própria autoria.

Com relação às salas de concerto mais requisitadas neste terceiro momento, os

teatros que acolhem as apresentações de violonistas são o salão do Conservatório

Dramático e Musical de São Paulo, o Teatro Municipal, a União Católica Santo

Agostinho, Associação dos ex-alunos Salesianos e o Teatro Boa Vista. A grande

novidade é que na Sociedade Rádio Educadora Paulista começam a ocorrer

apresentações dos vários novos violonistas já citados anteriormente.

Conforme fica demonstrado, este terceiro momento se caracteriza sobretudo pelo

grande número de apresentações de solistas nos palcos de São Paulo, proeminência que

se acentua, se considerarmos que o instrumento também passa a ser muito divulgado

nas rádios que vão surgindo.

III.2 – Os violonistas nos estúdios das gravadoras: Canhoto, Levino Albano,

Rogério Guimarães e outros.

Page 91: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Através de uma listagem com os discos gravados entre 1902 (vide anexo II),

quando se registra o primeiro disco comercial no Brasil, até o final da década de 1920,

quando da morte de Américo Jacomino, é possível obter dados expressivos sobre a

atuação dos violonistas neste início do desenvolvimento da arte solística do violão no

Brasil.

A fase mecânica dura aproximadamente de 1902 a 1927, com cerca de 7000

discos, dos quais mais da metade são registrados pela Casa Edson. Fred Figner, o

diretor desta empresa, passa a prensar suas chapas no Brasil em 1913, com a instalação

da Fábrica de Discos Odeon.

A fase da gravação elétrica de 78 RPM no Brasil inaugura-se em julho de 1927,

totalizando 28000 discos, sendo editados de 1927 a 1964, quando o sistema cai em

desuso.

Entre os primeiros registros de violão solo no Brasil há uma gravação do cantor

lírico Mário Pinheiro com a música Petita, de sua própria autoria, gravada em 1910, em

disco de uma face apenas, e há um disco gravado pela Columbia entre 1908 e 1912, de

duas faces, com a gavota Jaci e o batuque Sertanejo, compostas e interpretadas por João

Pernambuco.

Com relação a Canhoto e demais violonistas do período, é provável que

Jacomino agradasse por suas composições, pelo repertório e pela qualidade de seu

trabalho, uma vez que foi o violonista que mais discos gravou, como comprova a

Discografia Brasileira em 78 RPM. Até meados de 1940, ou seja, 12 anos após a sua

morte, ele aparece como o nome mais expressivo nas gravadoras:

Américo Jacomino: 47 discos com violão, 5 com cavaquinho e 40 com seu grupo.

Mozart Bicalho: 9 discos

Glauco Vianna: 11 discos

Levino Albano da Conceição: 8 discos

João Pernambuco: 10 discos

Rogério Guimarães: 15 discos

José Augusto de Freitas: 4 discos

Benedito Chaves: 7 discos

Henrique Brito: 9 discos

Antônio Giacomino: 2 discos

Trio Os Três Sustenidos: 4 discos

Page 92: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Tal panorama começaria a mudar quando outra geração de violonistas entra no

estúdio para gravar, caso de Aníbal Augusto Sardinha (em 1930), mais conhecido como

Garoto - que foi aluno de Canhoto -, Dilermando Reis (em 1941), Laurindo de Almeida

(em 1938) e o próprio Heitor Villa-Lobos, que gravaria seu Choros n.º 1

comercialmente no dia 25 de abril de 1940, sendo lançado em abril do ano seguinte.

O colecionador Ronoel Simões possui ainda uma gravação do tango argentino Se

Acabaram Los Otários, disco matriz não citado na Discografia Brasileira em 78 RPM.

Uma curiosidade é que o nome da música é o nome do primeiro filme sonoro brasileiro,

do qual participa seu companheiro Roque Ricciardi, o Paraguaçu. O filme foi lançado

comercialmente em 1929, um ano após o falecimento de Américo Jacomino, portanto é

provável que, caso a vida lhe tivesse fornecido mais tempo, ele também tivesse

participado do filme.

A Odeon era a que mais gravava o instrumento, seguida da Victor Records,

Favorite Records e Columbia. A Zon-o-Phone teve uma participação expressiva no

início das gravações em 1902, sendo, porém, um caso isolado. Canhoto trabalharia para

duas companhias, a Odeon e a Phoenix, sendo que seu nome sairia também pela

pequena gravadora Gaúcho através de uma gravação do grupo Os Geraldos,

interpretando duas músicas de sua autoria. O nome de Canhoto foi o único que figurou

nos catálogos dessas gravadoras entre 1912 e 1933, cinco anos após sua morte.

Relacionamos, a seguir, as gravadoras para as quais os violonistas trabalharam:

ZON-O-PHONE: Os primeiros discos brasileiros foram os da gravadora Zon-

o-Phone, séries 10000 e x-100 (gravadas no Brasil e fabricadas na Alemanha pela

International Zonophone Co.), respectivamente, de discos de 7 e 10 polegadas de

diâmetro. Como as séries são simultâneas, tanto o 10.001 (Isto é bom) como o x-1001

(Ave Maria) poderiam ser considerados os primeiros discos brasileiros, gravados em

1902 ou, alguns, em 1901. A Zon-o-Phone prensa os discos em duas faces, ao contrário

das demais. Os cantores Bahiano e Cadete registram inúmeros discos acompanhados ao

violão, sendo que a contagem geral dos catálogos desta empresa se aproxima de 200

gravações. Não há nenhum solo de violão registrado pela Zon-o-Phone..

ODEON:

Page 93: Gilson Antunes - Americo Jacomino

-1.ª Série Brasileira – 40000 (1904/1907): Os discos com acompanhamento de

violão registrados nesta série somam 39. Há, por um lado, várias gravações sem

indicação de acompanhamento. Por outro lado, há indicações mostrando que muitos

foram acompanhados pelo cantor e violonista Mário Pinheiro. Os discos são todos de

duas faces.

-Série 10000 (1907/1913): Nesta série são registrados 17 discos com

acompanhamento de violão, sendo que vários não possuem indicação de

acompanhamento. O cantor Mário Pinheiro novamente acompanha a maior parte das

gravações. Dois grupos possuem violão em sua formação: Grupo da Casa Edson e

Grupo Novo Cordão.

-Série 108000 (1907/1912): Nesta série são registrados 33 discos com

acompanhamento de violão. Bahiano, Cadete e Eduardo das Neves acompanham a

maior parte das gravações.

-Série 70500 (1908/1912): Há várias gravações com Mário Pinheiro. Não se

sabe ao certo se há algum solo de violão, mas o instrumento é utilizado para grande

número de acompanhamentos.

-Série 137000 (1912/1914): Esta série teve pouca duração e poucos discos foram

lançados.

-Série 120000 (1912/1915): Nesta série aparecem os primeiros registros

fonográficos de Américo Jacomino, o Canhoto. Este violonista lançou a maior parte das

gravações em solos de violão até a metade do século vinte, fato comprovado pela

listagem de gravações até o período. Há ainda vários discos de Cadete, Bahiano e

Eduardo das Neves.

-Série 121000 (1915/1921): Nesta série são registrados 4 discos com

acompanhamento de flauta, cavaquinho e violão, 4 com flauta e violão, 1 com violão e

piano, 2 com violão e bandolim, 72 com violão e cavaquinho, e 13 com violão.

Américo Jacomino aparece acompanhando o cantor Bahiano em 2 discos. Existem

também vários registros com Canhoto, Eduardo das Neves, Bahiano e Mário Pinheiro,

Page 94: Gilson Antunes - Americo Jacomino

certificando que, nesta época, o violão era o instrumento que mais acompanhava os

cantores. Mais ou menos 28 grupos que gravaram discos possuíam violão em sua

formação.

-Série 122000 (1921/1926): Há nesta série várias gravações do cantor Bahiano,

sem, contudo, haver uma certeza de quantos são acompanhados de violão. O grupo

Turunas Pernambucanos é formado de 3 violões, 1 cavaquinho e 1 saxofone, e grava 4

discos. Há ainda algumas gravações de Canhoto, Levino Albano da Conceição, entre

outros.

-Série 123000 (dez. 1925/ jul. 1927): Cada face desta série possui uma

numeração distinta. Aqui aparecem várias gravações de João Pernambuco com

acompanhamento de Rogério Guimarães. Há também curiosas gravações de Américo

Jacomino tocando cavaquinho e até cantando.

-Série 10000 (julho 27/ maio 33): A importância artística desta série é

incomparável. Há inúmeras gravações com acompanhamento de violão solo ou com

outros instrumentos, com intérpretes como Rogério Guimarães, Mozart Bicalho,

Canhoto e Sainz de la Maza. Vários cantores de importância gravaram nesta série, entre

eles a cantora e violonista Olga Praguer Coelho. Há também gravações de Francisco

Alves tocando violão e sendo acompanhado por Canhoto. Somando-se o número de

acompanhamentos de violão solo ou com outros instrumentos, chega-se a mais ou

menos 70 gravações, considerando ainda o fato de que muitas músicas aparecem sem

indicação de acompanhamento.

-Série 11000 (maio 33/ julho 41): Há mais ou menos 78 músicas com

acompanhamento de violão nesta série, a maioria por Rogério Guimarães. Há duas

curiosas gravações de Ari Barroso tocando piano e sendo acompanhado por Laurindo de

Almeida e Garoto em agosto de 39. O Regional de Laurindo (de Almeida) e Garoto

grava 7 discos. Rogério Guimarães grava 18 discos com acompanhamento de violão

solo, além daqueles com outros instrumentos.

ODONETE: (1.º Semestre de 1927)

Page 95: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Aparecem apenas um dueto de guitarra e violão e um dueto de violão e

cavaquinho.

FAVORITE RECORDS: (1910/1913)

Nesta gravadora aparecem 33 discos com acompanhamento de violão. Os

intérpretes são: Neco, Alberto, Artur Castro, Orestes de Matos, Zeca, Acácio, Pacheco e

Serrano.

VICTOR RECORD : (1908/1912)

A maioria das gravações foi feita com acompanhamento de violão, mais

precisamente 80 registros, sendo grande parte a cargo de Mário Pinheiro. Dois

conjuntos mantinham violão em sua formação: Quarteto Os Sustenidos e o Quarteto

Oriente.

COLUMBIA : (1908/1912)

Há uma gravação de João Guimarães (Pernambuco) tocando violão. A maioria

dos discos desta gravadora – vinte e oito - possuía acompanhamento de violão, muitos

desses discos pelo Belchior da Silveira, “Caramuru”, o principal cantor da Columbia.

Quatro grupos possuíam violão em sua formação nesta série: Grupo Nicanor, Grupo K.

Laranjeira, Grupo Chiquinha Gonzaga e Grupo Lulu o Cavaquinho.

BRASIL: (1911/1914)

Há apenas a informação de um grupo, o Terceto Paulino, formado por violão,

bandolim e bandola.

PHOENIX: (1913/1918)

Há várias gravações do Grupo do Canhoto e dele próprio tocando violão solo.

Há também gravações de vários conjuntos que utilizam o instrumento. São eles:

Caravana de São Francisco, Grupo do Louro, Trio Aurora, Grupo dos Descarados,

Page 96: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Grupo dos Chorosos, Grupo dos Excêntricos, Grupo dos Fiteiros, Grupo Phoenix,

Grupo Diamantino, Grupo Faceiro e Grupo Sulferino.

GAÚCHO: (1912 / Início dos anos 20)

Há apenas uma gravação do conjunto Os Geraldos interpretando uma música de

Américo Jacomino.

VICTOR:

- Série 33200 (nov. 29/ dez. 35): Nesta série há inúmeras gravações com

acompanhamento de violão solo ou com outros instrumentos. Os principais violonistas

acompanhadores são Rogério Guimarães, Garoto e Glauco Vianna.

- Série 34000 (dez. 35/ set. 42): Nesta série há diversos discos sem indicação de

instrumento acompanhador. Na maioria das gravações de música sertaneja os cantores

interpretam ao som de viola caipira. O violão está presente como acompanhante em

quase todas as gravações, excetuando-se as com orquestra. A cantora Olga Praguer

Coelho tinha como violonistas acompanhantes Pereira Filho e Luiz Bittencourt, além de

Rogério Guimarães e outros.

COLUMBIA:

- Série 5000 (fev. 29/ jul. 30): Nesta série há vários discos sem indicação de

instrumento acompanhador. O cantor Paraguaçu e a cantora Stefana de Macedo faziam-

se acompanhar por violonistas. Alguns violonistas que aparecem nesta série são:

Benedito Chaves “Guru”, Jararaca (José Luiz Calazans), José Pedroso Camargo, João

Pernambuco, Petit (Hudson Gaia) e José Sampaio. Há também alguns solos com

Benedito Chaves “Guru” interpretando peças eruditas e várias gravações com João

Pernambuco.

Page 97: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Nas séries 20000 (maio 29 /set. 30), 7000 (ago. 30/ out. 30) e 22000 (jan. 31/

nov. 34) não há solos de violão. Aos poucos os acompanhamentos com o instrumento

vão diminuindo e as orquestras vão ocupando mais espaço nas gravadoras.

- Série 8100 (dez. 34/ out. 38): Há algumas gravações de Aníbal Augusto

Sardinha, o Garoto, tocando guitarra havaiana e violão tenor. Vários discos não

possuem indicação de acompanhamento. Os conjuntos instrumentais acompanham a

maioria dos discos.

- Série 55001 (dez. 38/ out. 43): A importância desta série reside no fato que

Dilermando Reis grava seu primeiro disco, com a música Noite de Lua. Há algumas

poucas gravações com acompanhamento de violão e alguns solos deste instrumento.

PARLOPHON:

- Série 12801 (ago. 28/ago. 29): Há uma gravação de Guido Santórsola tocando

violino. Este iria ser um dos grandes compositores para o violão no século vinte,

criando importantes peças para o repertório de grandes violonistas como Abel Carlevaro

e Sérgio Abreu. Há também algumas gravações de Rogério Guimarães. Muitos discos

não possuem especificação de acompanhamento. Nas notas da Discografia Brasileira

em 78 RPM, editada pela FUNARTE, há uma citação sobre Glauco Vianna: “O

violonista e compositor Glauco Viana era, então, ‘quase uma criança’, segundo

Monoarte. Também muito jovem era o violonista e acompanhante Jaime Florence, um

feliz exemplo de longevidade artística, em atividade até os dias atuais”.

- Série 13000 (ago. 29/ ago. 32): Nesta série, a última da Parlophon, há mais

algumas poucas gravações com violão, com intérpretes como Armando Neves, Tito,

Tute e Luperce Miranda, entre outros. Em uma gravação Garoto aparece com o nome

Aníbal da Cruz. Há também gravações com Glauco Vianna, Carlos Campos, entre

outros.

BRUNSWICK:

Page 98: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Série 10000 (dez. 29/ fev 31): Há diversos discos em que o acompanhamento

não está especificado. O total soma quatorze. Há gravações do mais antigo trio de

violões brasileiro de que se tem notícia, o trio Os Três Sustenidos, formado por Melinho

de Piracicaba, João Avelino e Teotônio Corrêa, sendo poucos os registros em solos de

violão.

ARTE-PHONE: (SP início dos anos 30): Há apenas duas gravações com violão, uma

delas com Antonio Giacomino, que não possuía parentesco com Américo Jacomino.

Capítulo IV - O violonista Américo Jacomino: A música, a obra, o professor e seu

instrumento

IV.1 - Aspectos técnico-interpretativos e recursos violonísticos empregados

O principal nome do violão durante finais do século dezenove e inícios do

século vinte foi o espanhol Francisco Tárrega, cuja aluna Josefina Robledo se

apresentou no Brasil durante as décadas de 1910 e 1920 (vide capítulo I), chegando a se

instalar por um breve período em São Paulo e Rio de Janeiro. As peças de Tárrega

eram as que apresentavam os mais variados recursos timbrísticos no instrumento, e pela

coincidência das apresentações de Robledo e Barrios com os primeiros recitais

importantes de Américo Jacomino, é provável que o violonista brasileiro tenha neles se

inspirado para utilizar alguns desses recursos. Os exemplos mais utilizados por

Jacomino são:

- Pizzicati: apesar de ser um recurso conhecido e utilizado por compositores desde o

período clássico, foi bastante difundido por Tárrega, chegando a apresentar uma nova

forma de executar, tocando com a palma da mão sobre a região da roseta do violão, em

sua Gran Jota Aragonesa, aliás, uma das peças mais tocadas por Josefina Robledo no

Brasil. Américo Jacomino apresenta em Viola, Minha Viola um efeito de fala se

utilizando do pizzicato tocado de forma normal (sobre o cavalete), porém com a mão

esquerda (ou direita, no caso de Jacomino) tocando na mesma região da roseta do

Page 99: Gilson Antunes - Americo Jacomino

instrumento, apresentando, desta forma, sons indeterminados. Este efeito é inédito até

então, e nenhum outro compositor, até onde se saiba, se utilizou do mesmo recurso.

- Harmônicos: O efeito de harmônico conhecido no violão é realizado de duas formas: o

harmônico natural, obtido com a ressonância das cordas soltas do instrumento, e o

harmônico oitavado, obtido com a ajuda da mão esquerda, que prende a nota específica

que se quer escutar. Jacomino utilizou principalmente o harmônico natural, que tocava

de maneira bastante ressonante e projetada, efeito este facilitado pela própria

ressonância de seu violão (como pode ser certificado na gravação do CD anexo à

dissertação). Entre as obras em que Jacomino se utiliza deste efeito, estão a gavota

Alvorada de Estrelas, as valsas Abismo de Rosas e Luizinha e o tango Por que tu

vuelves a mi?.

- Trêmulo: Este efeito é obtido tocando-se de forma rápida e seguida três ou mais notas

iguais. Normalmente se faz com o polegar pinçando os baixos e indicador, médio e

anular pinçando o canto (melodia). É impossível certificar qual a digitação utilizada por

Jacomino, mas há a suposição, pela posição da mão quando se toca de forma canhota,

que seja o dedo anular para os baixos e o anular, o indicador e o polegar para o canto.

Jacomino se utiliza deste efeito para tocar a peça Um Delírio, de Gaspar Sagreras, o

noturno Melancolia e a Fantasia sobre O Guarani, de Carlos Gomes.

- Rufo: Efeito de tambor, bastante utilizado para músicas de caráter militar. Um dos

exemplos mais contundentes está na já citada Gran Jota Aragonesa, de Francisco

Tárrega. Jacomino utiliza este efeito em suas marchas de forma bastante eficaz,

servindo de referência a outros compositores brasileiros que fizeram peças do mesmo

caráter (Benedito Chaves, por exemplo, em sua peça Marcha Colombina). Os

principais exemplos de Jacomino são o dobrado Campos Sales e a Marcha Triunfal

Brasileira. Na primeira gravação da Marcha dos Marinheiros, Jacomino também se

utiliza deste efeito, que foi excluído na segunda gravação da mesma peça, realizada pelo

próprio compositor.

- Glissandi: Efeito bastante utilizado por Jacomino por facilidade de seu violão, que

possuía tensão muito pequena (cordas baixas em relação ao espelho, que é a parte do

braço do violão em que apertamos as cordas com os dedos da mão esquerda) e grande

Page 100: Gilson Antunes - Americo Jacomino

vibração da madeira, fato este comprovado também pela gravação do CD anexo para a

dissertação. O principal exemplo do uso deste efeito em uma obra de Jacomino está na

valsa Burgueta.

- Rasqueados: Efeito utilizado desde o período renascentista em instrumentos de cordas

dedilhadas. No violão brasileiro foi fundamental como demonstração de músicas de

caráter regional, sendo ainda hoje símbolo e recurso principal de músicas de estilo

popular, principalmente quando tocado em viola caipira. É o oposto do ponteado, estilo

em que o violonista dedilha as cordas. Américo Jacomino se utiliza deste efeito

principalmente nas peças Viola, Minha Viola, Marcha dos Marinheiros e Fantasia

sobre o Guarani, de Carlos Gomes.

As tonalidades preferidas por Jacomino, a julgar pelo número de gravações,

foram as de Lá maior e Mi maior, as mais comuns do violão no período. O violonista

gravou quase que exclusivamente peças de sua autoria, fazendo exceção aos

compositores Donato, Joubert de Carvalho, Canaro, Fresedo e Carlos Gomes.

Luís Américo, seu filho, contou81 que, segundo sua mãe lhe dizia, Américo

Jacomino estudava praticamente o dia inteiro, e não gostava de ser incomodado para

não perder a concentração. Pelos discos é possível conferir que o violonista pouco

falhava nas notas, em uma época em que não podiam ser feitos cortes de edição nas

gravações.

As poucas críticas desfavoráveis a Américo Jacomino partiram de violonistas

contemporâneos a ele como Atílio Bernardini82 e da revista O Violão83. Bernardini foi

um dos pioneiros do ensino do violão no Brasil, mais especificamente na cidade de São

Paulo, tendo estudado teoria musical no Conservatório Dramático e Musical de São

Paulo, e foi um dos primeiros a publicar um método de violão com idéias mais

modernas no Brasil. Com relação à revista O Violão, a mesma já havia publicado

artigos em que elogiava o violonista84.

Apesar do ensaio fotográfico feito por Jacomino em 1919, não se conhece,

infelizmente, até o momento, fotografias de Américo Jacomino durante uma

apresentação, para se ter melhor noção da postura corporal e das noções técnicas do

81 Entrevista de Luís Américo Jacomino a Gilson Antunes em São Paulo, no dia 27 de novembro de 1999. 82 Entrevista de Ronoel Simões a Gilson Antunes em São Paulo, no dia 30 de março de 1994. 83 O Que é Nosso: O “Correio da Manhã” prosseguirá na defesa do nosso patrimônio. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 5, pp. 15-16, abr. 1929. 84 “A Cultura do Violão em São Paulo”. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, p. 17, dez. 1928.

Page 101: Gilson Antunes - Americo Jacomino

violonista, e até que ponto ele aplicava seu método em prática para uso próprio. Ao que

parece, não é raro o aparecimento de violonistas canhotos que tocam o instrumento sem

inverter as cordas, principalmente entre aqueles que não tiveram acesso a escolas de

música. Cita-se como exemplo de violonistas solistas que gravaram discos ou deixaram

imagens, Canhoto da Paraíba e Rogério Guimarães. No caso de violonistas cuja técnica

se baseia no esquema popular de tocar por cifras, com “batidas” (pulsações) rítmicas da

mão direita, verificam-se vários cantores de duplas sertanejas, mas estes são casos

específicos, sem relação com o violão solista e com esta monografia.

Sobre informações dos dois violonistas citados, Rogério Guimarães nasce em

Campinas em 8 de junho de 1898, tendo iniciado sua carreira artística no ano de 1922,

gravando dois anos depois seu primeiro disco, com a valsa Martha e o fox-trot

Marinetti. Foi um dos primeiros artistas a gravar na Victor com fabricação nacional em

1929, tornando-se diretor artístico desta mesma gravadora por três anos no Rio de

Janeiro. Como Jacomino, liderou um conjunto musical que acompanhou vários artistas,

o Regional Rogério Guimarães. Em 1954, por ocasião do 4.º Centenário da Cidade de

São Paulo, gravou em disco a mais conhecida composição de Américo Jacomino, a

valsa Abismo de Rosas, tendo sido acompanhado por uma orquestra. A peça possui

originalmente três partes, em Lá maior, Lá menor e Ré maior, sendo que nesta gravação

eles não executaram a terceira parte da música.

Ao se escutarem algumas gravações deste violonista, percebe-se que possuía

uma técnica diversa da de Jacomino. Isso é perceptível por meio dos poucos recursos

violonísticos utilizados (pouco ou nada de trêmulos, pizzicati, harmônicos e demais

efeitos timbrísticos), além de gravar quase que integralmente com acompanhamento de

outro violonista, ao contrário de Jacomino. Do mesmo modo, não é possível perceber

que seja um violonista canhoto que esteja tocando e suas peças são bastante passíveis de

serem interpretadas a partir da maneira tradicional de pinçar as cordas. Acrescente-se a

isto o fato de sua valsa Gotas de Lágrimas ainda permanecer no repertório de

violonistas mais antigos.

Canhoto da Paraíba é o pseudônimo de Francisco Soares. Em 1959 faz sua

primeira apresentação no Rio de Janeiro, ganhando a admiração de pessoas como

Radamés Gnattali e Paulinho da Viola. Gravou poucos discos, sendo que o mais

conhecido foi registrado em 1977, com produção de Paulinho da Viola para a Marcus

Pereira Discos. Felizmente no caso deste violonista é possível ter acesso a análises

mais pormenorizadas pelo fato de existirem imagens gravadas em programas de

Page 102: Gilson Antunes - Americo Jacomino

televisão, ao contrário de Jacomino ou Guimarães. Analisando um programa de

televisão85, observa-se que o violonista utiliza digitações alternativas de mão esquerda

(a que pinça as cordas) e direita (a que marca a posição das notas), tanto para pinçar as

cordas quanto para realizar determinados recursos técnico-musicais, como ligados

ascendentes e descendentes.

Uma questão é mister ser analisada. O fato de os violonistas serem canhotos

teria, ao utilizarem uma técnica diferenciada, influência no resultado sonoro, ao

contrário dos violonistas destros? Teoricamente sim, pelo fato daqueles se aproveitarem

de uma técnica cujo peso dos dedos, ao pinçarem as cordas, é diferente do peso dos

dedos utilizados pelos violonistas destros. É certo que isso poderia ser controlado com

um estudo sistemático de independência dos dedos, tão comum em métodos de violão.

Mas, caso isso não ocorresse, o resultado seria bastante singular. Poder-se-ia pensar na

possibilidade de uma digitação base para os violonistas canhotos, com o dedo anular

pulsando os bordões e o dedo médio para a terceira corda, o indicador para a segunda e

o polegar para a primeira. É óbvio que as variantes seriam muitas, como no caso dos

violonistas destros, inclusive um grande número de digitações alternativas, e por que

não, o uso do dedo mínimo da mão esquerda, ainda pouco utilizado por violonistas em

geral (e, no começo do século vinte, menos ainda).

Ao se escutarem os discos de Américo Jacomino e Rogério Guimarães, essa

possível diferenciação sonora não é perceptível, comparando-se com violonistas destros.

Inclusive, ao ater-se em técnicas intrinsecamente baseadas na mão direita, como no caso

do trêmulo, em Américo Jacomino (nas músicas Melancolia e Fantasia sobre o

Guarani) não se percebe que o violonista esteja tocando de forma invertida. Para uma

digitação base de polegar, indicador, médio e anular, com o dedo anular para os

bordões, uma provável mudança para anular, médio, indicador e polegar dos canhotos

resultou em sonoridade idêntica.

Não se pode afirmar, como Ronoel Simões86, que Américo Jacomino tenha

formado uma Escola Violonística. A justificativa de que isso tenha ocorrido pelo

simples fato de o violonista tocar da forma que tocava é vaga, se apoiada apenas no fato

de que seu Método de Violão é feito para destros; além disso, não se conhece nenhum

aluno de Jacomino que tenha servido como referência para gerações futuras, o que

85 “Canhoto da Paraíba”. Projeto Brahma Extra – Grandes Músicos. Fita de VHS, VI – 00508.17. Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. 86 Depoimento de Ronoel Simões ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Fitas n.º 75.1.2 e 75.3.4.

Page 103: Gilson Antunes - Americo Jacomino

acaba por desvalidar a justificativa de Simões. Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, que

como foi dito estudou com Américo Jacomino, chegou até mesmo a gravar Abismo de

Rosas duas vezes, além de fazer um arranjo “exótico”87 para a Marcha dos Marinheiros,

que iria gravar pouco antes de sua morte prematura. Porém, este mesmo violonista

passaria para a história como aluno de Atílio Bernardini, o mesmo que fez crítica

desfavorável a Américo Jacomino. O Método de Violão de Américo Jacomino, além de

ser desenvolvido para pessoas destras, é baseado em suas informações iniciais nos

métodos de violonistas do período clássico. O fato de tocar com o dedo mínimo junto

ao tampo do instrumento, com o violão na perna esquerda e sem unhas mostra uma

ligação direta com a escola do violonista espanhol Fernando Sor88.

IV.2 – Manuscritos e partituras impressas de Américo

Jacomino

Esta relação está feita em ordem alfabética para facilitar sua localização. Ela se

baseia em partituras encontradas em arquivo - pessoal e de particulares - além de

notícias de jornais e citações do jornalista Juvenal Fernandes no álbum editado pela

Fermata, em 1978.

Sigla:

MS: manuscrito

p.: página

s.d.: sem data

IV.2.1 - As peças publicadas ou presentes em manuscritos

de transcritores segundo o gênero musical

FOX-TROT

87 Idem. 88 Sor era partidário do uso do toque sem unhas, como escreve em seu Método de Violão, ao contrário de seu amigo e conterrâneo Dionísio Aguado. Ambos marcaram vertentes estéticas diferentes, muito discutidas pelos violonistas da geração dos alunos de Tárrega (primeira metade do século vinte), principalmente por Emílio Pujol, que viria a escrever o livro El Dilema Del Sonido de la Guitarra, especificamente sobre este assunto.

Page 104: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Américo Jacomino se utilizou três vezes desse gênero musical. A peça A

menina do sorriso triste parece ter servido de modelo para Quando os corações se

querem e Sudan (esta a versão cantada da anterior), sendo a primeira parte das peças

praticamente idêntica.

A MENINA DO SORRISO TRISTE

Esta música foi gravada pelo próprio Américo Jacomino pela gravadora Odeon,

com número de série 123.199, entre dezembro de 1925 e julho de 1927, sistema

mecânico de 1 face apenas. A matriz recebeu o número 1009, sendo lançado em

dezembro de 1926. A indicação de gênero aparece como sendo um híbrido fox-tango,

sendo as características rítmicas semelhantes às encontradas nesses dois gêneros

musicais. A estrutura é uma forma canção A - B, com introdução e repetição. A

tonalidade é de Lá (modo menor na parte A e maior na parte B), com as funções

harmônicas de T, S, D7, T, S ,T e D7 (parte A, 2 vezes) e T, Dd, D7, T, D, Dd , T, S, T,

D7 e T. No compasso 20 aparece um acorde de subdominante com sexta napolitana,

muito comum em gêneros como o choro.

QUANDO OS CORAÇÕES SE QUEREM

Esta música foi gravada pela Odeon, série 10.188, lado B, matriz 1595, lançada

em junho de 1928. Ela possui uma versão cantada que virou propaganda de marca de

cigarro, chamada Sudan. É uma forma canção A - B, com introdução. A tonalidade é

de Lá, com modo menor na primeira parte e maior na segunda.

SUDAN

Versão cantada de Quando os corações se querem. Segundo seu filho Luís

Américo, trata-se de uma espécie de pré-jingle, ou algo que se assemelhe a isso

atualmente. Na capa da partitura aparece o dizer “Brinde da premiada fábrica de

cigarros Sudan”. Como curiosidade, numa foto em que Américo Jacomino aparece com

seu Grupo, a música que está na estante de música é justamente esta. Ao que parece a

melodia agradou bastante o compositor, que a utilizou novamente em outras ocasiões,

como explicado anteriormente. Os versos são do Duque de Abramonte, e a música é

Page 105: Gilson Antunes - Americo Jacomino

dedicada a Sabbado D’Angelo, que parece ser o proprietário de tal marca de cigarros

(na contracapa da partitura aparecem várias caixas do fumo, com o citado nome em

destaque na parte central inferior. A letra é bastante sugestiva: “Quando no meu quarto

a meditar / No amor /Para sonhar / Fumo o meu cigarro divinal /Ideal /E sem rival /

Sudan Sudan que faz sonhar Oh! Que cigarro enlevador /Quanta ventura, que sonho

divinal de amor... Foi a fumar que aprendi a amar / Sudan eu te devo o amor consolador

Da minha dôr / Meu amigo divinal /O, Sudan, não tem rival... / Fumo Sudan chic que os

meus ais / Evola em nuvens vans / E também o bom Sudan Ovaes / E todos os Sudans, /

E Sudanita o triunphador / Esse cigarro enlevador / E Sudaneza, Sudan sempre o Sudan

Record...”.

AMOROSA

Esta peça foi publicada para piano pela EMP, sem data, com letra de Luiz de

Freitas. Bastante característico, é um fox em forma de canção, com introdução, parte

única em Mi maior e refrão (2 vezes), com repetição da capo. A letra é tipicamente

romântica e graciosa, e vem aqui reproduzida sem alteração: “Amorosa, És tão gentil e

carinhosa/ Da flor tu tens a alma porosa/ Que é luz, vida e esplendor! / Tem o candor da

madrugada/ E ameniza o teu amor! / És vibração que o mundo e o céu encheu de vida! /

Da inspiração Deus te formou minha querida!/ Tens no falar doces carinhos, Dos

passarinhos, Dentro dos ninhos, a pipilar !”.

ENTRE DUAS ALMAS

Editada para piano com letra de Duque de Abramonte pela Est. Graph. Musical,

sem data. A cópia disponível no CCSP vem com a data de doação de 8 de outubro de

1942. O esquema é de canção A (2x) B, sem introdução, com tonalidade de Sol (modo

menor na parte A e maior na parte B). "Entre duas almas esplendor feitas de amor e de

calor / Fulge luminosa esplendorosa a linda rosa de Thabor / E abre-se azul num céu de

luar a enamorar num longo olhar / Almas que são vans almas de flor feitas de amor e de

esplendor. Oh! Que ilusão Oh! Que ilusão / Oh! Que luar/ No fundo de cada emoção /

Rebrilha refulge um olhar / Oh! Quanto amor / Oh, como é ideal / Que esplendor Oh!

Que esperança Descansa /Balança Entre esse amor".

Page 106: Gilson Antunes - Americo Jacomino

SAMBA

FECHE A PORTA E LEVE A CHAVE

Editada para piano, sem data e sem nome de editora. O arranjo é de Alcebíades

Corrêa, com letra e música de Américo Jacomino. O esquema encaixa-se na construção

de introdução instrumental, solista (estrofe) e coral (refrão). A tonalidade única é de Lá

maior, com 6 letras diferentes, com o tema gracioso e romântico característico. Refrão:

“Vem comigo/ Vem comigo brincar / Lá na praia eu te digo / Tudo vou confessar”.

SCHOTTISCH

FLÔR PAULISTA

Editada para piano pela “Campassi & Carmin”, sem data. A adaptação rítmica é

de L. Rinaldo. A letra, novamente com o tema romântico e gracioso, não aparece com

especificação, julgando-se tratar também de Américo Jacomino. É uma forma canção

simples A - B, com pequena introdução e repetição da capo. A tonalidade é de Lá

menor. No carimbo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro aparece a data de 1921,

sendo esta ao que parece a data de entrada no estabelecimento.

SERTANEJA

AI! BARBINA!...

Música do repertório do Trio Viterbo-Abigail-Canhoto, editada pela C.E.M.B,

sem data. Na capa da partitura aparece a música como sendo do repertório da Orchestra

Andreozzi do Rio de Janeiro. Pelo carimbo de entrada da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro aparece a data de 1920. A letra é de Arlindo Leal, com quatro estrofes

diferentes. O musicólogo Paulo Castagna conseguiu uma cópia editada para canto,

violino ou bandolim, julgando-se possuir outras partes da música, sendo provavelmente

um arranjo para pequena orquestra. A referida cópia foi encontrada no Arquivo

Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, sem código (arquivo 6 - gaveta 3 - pasta 41).

Page 107: Gilson Antunes - Americo Jacomino

A estrutura é de canção simples com introdução e temas A e B, com repetição da capo.

A tonalidade é de Fá maior.

MAZURCA

TEMPO ANTIGO

Gravada por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 123.305, com

matriz 1119, lançada em maio de 1927. O esquema é de parte A, parte B e A'. A

tonalidade é de Lá, com modo menor na parte A e maior na parte B.

GAVOTA

ALVORADA DE ESTRELAS

Gravada por Américo Jacomino pela gravadora Odeon, número de série

123.201, matriz 1010 e lançada em dezembro de 1926. Uma das mais belas músicas

gravadas por Canhoto, na tonalidade de Ré maior, utilizando o violonista da scordattura,

abaixando em um tom a sexta corda do instrumento, para ganhar em ressonância e

extensão. O esquema é de introdução, partes A e B, e coda. Os acordes de Sol menor e

Sol menor com sexta da coda dão um caráter todo especial, e a interpretação do

violonista em sua gravação, com rubatos propositalmente exagerados reforçam o caráter

romântico desejado.

ROMANCE

PENSAMENTO

Esta peça foi gravada por Américo Jacomino na Odeon, série 10.165, lado B,

matriz 1615, no dia 16 de março de 1928, e lançada em maio do mesmo ano. Na

Discografia Brasileira em 78 RPM, o gênero aparece como sendo valsa. A estrutura é

de introdução, parte A em Mi menor, parte B em Lá menor e parte C em Mi maior,

seguida da repetição da parte A e uma coda.

Page 108: Gilson Antunes - Americo Jacomino

CATERETÊ

NOITE NA ROÇA !!

Gravada por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.265, lado B,

com Lúcio Chamék ao piano. A matriz é 1604. A data de gravação é 14 de março de

1928, tendo sido lançada em outubro do mesmo ano. Foi editada para piano pela A. Di

Franco, sem data, com versos de João do Sul. Na cópia disponível no CCSP, a data de

doação é de 3 de outubro de 1942. Segue o esquema de canção, com introdução, parte

A, refrão duas vezes, parte B e repetição da capo. A tonalidade é de Fá maior.

NHÁ MARUCA FOI S'IMBORA

Gravada por Os Geraldos pela gravadora Gaúcho, número de série 4.042, lado

A, em sistema elétrico de duas faces, após 1912. Segundo a Discografia Brasileira 78

RPM, o gênero é samba. Na partitura para piano com letra, editada pela A di Franco, de

São Paulo, o gênero é a catira. Os versos são do próprio Américo Jacomino. Na capa

da partitura a música aparece como sendo um sucesso do “popular humorista,

cancionetista e ventríloquo Baptista Júnior”. O esquema é de canção, com introdução,

parte A e B, e repetição da capo. A tonalidade é de Lá maior.

CHORO

OLHOS FEITICEIROS

Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.017, lado A,

número da matriz 1223, tendo sido lançado em agosto de 1927. Segundo a Discografia

Brasileira 78 RPM, o gênero é o tango. Na partitura editada pela Fermata do Brasil em

1978, com arranjo de Edmar Fenício, o gênero seria o choro maxixe. A estrutura,

simples, é de duas partes em Lá menor.

NITERÓI

Page 109: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.200, lado A,

matriz 1596, em 13 de março de 1928. Na Discografia Brasileira 78 RPM aparece

como gênero o tango-maxixe. Na partitura editada pela Fermata do Brasil em 1978,

com arranjo de Nelson Cruz, o gênero é o choro. A estrutura é de 3 partes, sendo a

primeira em Lá maior, a Segunda em Fá sustenido menor (com repetição da capo) e a

terceira em Ré maior com repetição da capo ao fim.

MENTIROSO

Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.166, lado B,

com Lúcio Chamek ao piano. O número da matriz é 1606, tendo sido gravada em 14 de

março de 1928 e lançada em maio do mesmo ano. Segundo a Discografia Brasileira 78

RPM, o gênero seria um maxixe. A estrutura é de 3 partes, com A, B, repetição de A e

C. A tonalidade é de Lá menor.

MAXIXE

!! ESSE CACHORRO SÓ FALTA FALAR !!

Editado para piano, pela Off. Musical ARS, São Paulo, sem data. Na partitura

do CCSP aparece como data de doação 8 de outubro de 1942. Os versos aparecem sem

especificação de autor, o que nos faz crer serem do próprio Américo Jacomino. A

estrutura é de 3 partes em Lá maior.

PONTA GROSSA É BOA TERRA

Editado para piano pela Off. Graph. Musical Campassi & Camin, sem

especificação de data. O gênero aparece como sendo maxixe carnavalesco. A estrutura

é de forma canção A (3 vezes) - B, com introdução e repetição da capo. A tonalidade é

de Lá maior.

DA BAHIA EU QUERO O CÔCO

Page 110: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Editado para piano, com letra de Fernandes de Aguiar pela Est. Graph. Musical

U. Della Latta, sem data específica. Na partitura disponível no CCSP, a data de doação

é de 8 de outubro de 1942. A estrutura é de parte A com refrão (duas vezes) e repetição

da capo. A tonalidade é de Ré maior.

A GENTE SE DEFENDE

Gravado por Frederico Rocha pelo selo Odeon, número de série 123.227, matriz

1064, sistema mecânico de 1 face, entre dezembro de 1925 e julho de 1927. A estrutura

da peça é parte A (duas vezes), parte B e parte C, com repetição da capo. A tonalidade

é de Lá maior. Foi editado para violão pela Fermata do Brasil em 1955, com arranjo de

Domingos Semenzato.

VALSA

A valsa foi o gênero musical preferido por Américo Jacomino, que compôs suas

mais famosas peças nesse estilo, servindo principalmente para o compositor expressar

seu talento melódico nato, ao mesmo tempo que as marchas serviam para o compositor

expressar suas idéias timbrísticas no instrumento. Entre as várias peças estão: Abismo

de Rosas, Manhã Fatal, Delírios, Recordações de Dalva, Sombras que Vivem, Amor de

Argentina, Arrependida e Escuta Minh’Alma.

REMINISCÊNCIAS

Possui uma introdução, uma parte A na tonalidade de Mi menor, parte B em Sol Maior

e um trio em Mi maior.

TRISTE CARNAVAL (SONHO DE PIERROT)

Valsa lenta. Possui uma introdução em compasso binário composto e três partes

na tonalidade de Lá menor (parte C em Lá menor). Na versão impressa para piano

possui uma introdução em compasso binário composto e duas partes em Dó menor. A

letra da música, na partitura de piano é de Arlindo Leal.

Page 111: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Na partitura mais antiga, a instrumentação possui flauta, dois violinos, baixo e

violoncelo, com introdução (moderato) parte A duas vezes, parte B duas vezes com da

capo para o primeiro tema e trio duas vezes, com nova repetição da capo ao fim.

TRISTE PIERROT

Valsa impressa como composição de Paraguaçu e Canhoto. Possui uma

introdução e duas partes em Lá menor, com um trio em Lá maior.

SONHEI, SORRI, AMEI, DESCRI

Publicada para piano, com cópia de Clorir Mamede. Possui uma introdução e

três partes, sendo A e B em Dó menor e C em Dó maior, com repetição da capo.

CHUVA DE PÉROLAS

Publicada para piano, possui uma introdução, parte A em Ré maior, B em Lá

maior, C em Ré maior e trio em Sol Maior, com repetição da capo e coda em Ré maior.

ROSAS DESFOLHADAS

Valsa gravada duas vezes pelo compositor. Possui introdução parte A em Lá

maior e B em Lá menor, com repetição da capo e coda.

LAMENTOS

Peça em Lá Maior. O esquema da peça, bastante simples, é de uma introdução

bastante rítmica e de três partes, A, B e C.

MARCHA

Page 112: Gilson Antunes - Americo Jacomino

MARCHA DOS MARINHEIROS

A obra possui duas partes e um trio. Composta, segundo aparenta, para

homenagear os voluntários brasileiros por ocasião da Primeira Guerra Mundial. A força

interpretativa e a invenção melódica e rítmica fazem desta peça uma das mais

conhecidas do violonista entre os intérpretes do instrumento.

MARCHA TRIUNFAL BRASILEIRA

A obra possui apenas duas partes A e B, com uma intervenção em rufo na parte

central. Jacomino queria, como na Marcha dos Marinheiros, mas até mais que esta,

fazer com que o violão soasse como uma banda marcial, com todos os efeitos

característicos a que se propõe. A força com que se apresenta a obra, os efeitos de

sopros (metais e flautins) e de caixa clara e a energia interpretativa do violonista fazem

com que a peça se destaque das gravações da época.

AI MARGARIDA... AI MARGARIDA!...

Impressa como "marchinha carnavalesca à rag-time" com letra de Juca Meu

Nego. O esquema é de introdução, parte A com quatro letras e estribilho tocado duas

vezes. Possui instrumentação e coral.

TANGO

JÁ SE ACABÔ...

Impressa para piano como tanguinho sertanejo, com letra de Arlindo Leal.

Possui uma introdução e duas partes, com A em Sol menor e B em Si bemol maior e Sol

menor, com repetição da capo.

CAPRICHOSO

Possui uma parte A em Lá maior e parte B em Fá # menor com repetição da

capo.

Page 113: Gilson Antunes - Americo Jacomino

IV.2.2 – Arranjos para violão de Domingos Semenzato

A Gente Se Defende (maxixe); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata do

Brasil, 1955, 2p., violão.

A Gente Se Defende (maxixe); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,

1965. 2 p., violão.

Alvorada de Estrelas (gavota); arranjo de Domingos Semenzato. Manuscrito, coleção

Ronoel Simões, 3 p., violão.

Amor de Argentina (tango milonga); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo,

Fermata, 1962. violão.

Amor de Argentina (tango-milonga); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo

Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 18-19, violão.

Arrependida (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1955.

Violão.

Arrependida (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1965.

Violão.

Arrependida (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino

Canhoto.

São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 21-23.

Burguêta . Transcrição de Domingos Semenzato. MS coleção Ronel Simões, 4 p.,

violão.

Brasilerita (tango argentino); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,

1962, violão.

Brasilerita (tango canção) ; arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,

1963, 2 p., violão.

Brasilerita (tango argentino); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino

Canhoto. São Paulo, Fermata, FB-2859, s.d, pp. 24-26.

Caprichoso (tango); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Ed. Del Vecchio,

s.d., n.º 19.337, 1 p., violão.

Delírios (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões, 3 p.,

violão.

Escuta Minh'Alma (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962,

violão.

Page 114: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Guitarra de Mi Tierra (tango); arranjo de Domingos Semenzato. MS: por Isidoro

Geraldo.

Coleção de Ronoel Simões, 2 p..

Manhã Fatal (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões,

3 p., violão.

Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. (São Paulo, Ed.

Del Vecchio?), s.d., n.º 2.474, 3 p., violão.

Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo,

Bandeirante Editora Musical, 1964, 3 p., violão.

Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo

Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, FM-2859, s.d. , p p. 34-37, violão.

MarchaTtriunfal Brasileira (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo,

Fermata, 1962, violão.

MarchaTriunfal Brasileira (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo

Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 38-43, violão.

Mentiroso (choro); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões,

3 p., violão.

Pensamento (romance); arranjo de Domingos Semenzato . MS: coleção de Ronoel

Simões, 4 p..

Quando Os Corações Se Querem (fox-trot); arranjo de Domingos Semenzato. São

Paulo, Ed. Del Vecchio? , n.º 19.336, 2 p., violão.

Recordações de Dalva (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,

1962, violão.

Reminiscências (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, c.

19633, 2 p., violão.

Reminiscências (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino

Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d. , FB-2859, pp. 51-53.

Reminiscências (valsa lenta); arranjo para violão de Domingos Semenzato. São Pauo,

Fermata, c. 1963, 3 p., violão.

Tempo Antigo (mazurca); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel

Simões. 2 p.

Triste Carnaval (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, RJ, Cembra

Ltda., 1952, Violão.

Page 115: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Triste Carnaval (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino

Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 54-56.

IV.2.3 – Arranjos para violão de outros autores

Abismo de Rosas (valsa lenta); arranjo de Isaías Sávio. São Paulo e Rio de Janeiro,

Cembra Ltda., 1944 e 1955. Violão.

Abismo de Rosas (valsa lenta); arranjo para violão de Isaías Sávio; letra de João do Sul.

São Paulo, Cembra, 1952. 3 p..

Abismo de Rosas (valsa ); versão de Garoto; transcrição de “Rubinho” (jan. 1987 ).

MS

coleção Ronoel Simões. 4 p..

Dia de Folia. São Paulo, Fermata do Brasil, 1977: violão.

Escuta Minh'Alma (valsa). In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d.,

FB-2859, pp. 27-30. Violão.

Lamentos (valsa); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1978. Violão.

Lamentos (valsa); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo,

Fermata, FB 2859, pp. 31-33, violão.

Método de Violão; s.l., s.ed., s.d., 28 p. ( existem 2 outras edições ).

Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1976, violão.

Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1978, violão.

Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo,

Fermata, s.d., FB-2859, pp. 44-45.

Olhos Feiticeiros (choro-maxixe); arranjo de Edmar Fenício. São Paulo, Fermata,

1978. Violão.

Olhos Feiticeiros (choro-maxixe); arranjo de Edmar Fenício. In: Américo Jacomino

Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 46-47.

Primeiras Rosas (valsa); arranjo de Nelson da Cruz. São Paulo, Fermata, 1969,

violão.

Primeiras Rosas (valsa); arranjo de Nelson da Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto.

São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 48-50.

Rosas Desfolhadas (valsa); transcrição de Isidoro Geraldo. MS: coleção de Ronoel

Simões, 3 p., violão.

Page 116: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Sombras Que Vivem (valsa); arranjo de Paulo Barreiros. São Paulo e Rio de Janeiro,

Irmãos Vitale, 1929, n.º 56, 4 p., ( com biografia de Américo Jacomino ).

Triste Pierrot (valsa); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1969. Violão.

Triste Pierrot (valsa); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São

Paulo, Fermata, s.d., p. FB-2859, pp. 57-60.

IV.2.4 – Arranjos para piano

A Gente Se Defende (maxixe). São Paulo, Pedro Tommasi, s.d., 3 p., piano.

A Gente Se Defende (maxixe). São Paulo, Casa Editora “Ars” ou EMPG, s.d. n.º 1.012:

piano.

Abismo de Rosas (valsa); Cembra. 3p., piano.

Amor Sertanejo (tango). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Amores na Praia (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Arrependida (valsa) . São Paulo, EMP ou Oficinas Musicais “ARS”, n.º 1.014,

piano.

Chuva de Pérolas (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Depois do Beijo (schottisch). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Feche a Porta e Leve a Chave (samba carnavalesco); arranjo para piano de Alcebíades

Corrêa, s.n.t., 3 p., piano.

O Gato Comeu o Pato (samba). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Já Se Acabou (tango). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Manhã fatal (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

Manhoso. Edição EGMP, piano.

Olhar de Deusa (valsa ). São Paulo, E. Bevilacqua, piano.

Ponta Grossa é Boa Terra (maxixe carnavalesco). Ponta Grossa, Casa Progresso, s.d., 3

p. piano.

Sonho de Primavera (valsa); São Paulo, Bevilacqua, s.d., 3 p., piano.

Triste Carnaval (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.

IV.2.5 – Arranjos para piano e canto

Ai! Barbina! (canção sertaneja). São Paulo, CEMB, Campassi & Vamin, n.º 725,

canto e piano.

Page 117: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Ai Margarida . . . Ai Margarida (marchinha carnavalesca à ragtime); letra de Juca

Meu

Nego. São Paulo, Irmãos Vitale, s. d., n.º 324, piano e canto.

Deixe Meu Bem de Tolice (tango carnavalesco). São Paulo, Bevilacqua, s.d., 3 p.,

piano e

canto.

Foi-Se Embora Maria (marcha-rancho); versos de Guilherme Fontana. Rio de Janeiro,

OGEM, s.d., 3 p., n.º 66, piano e canto.

Já Se Acabô . . . (tanguinho sertanejo); letra de Arlindo Leal. São Paulo, Campassi,

s.d.,

3 p., piano e canto.

IV.2.6 – Arranjos para outros instrumentos

A Gente Se Defende (maxixe). Genève, Europe Continenal by International Melodies,

1965, acordeon

Abismo de Rosas (valsa); S. Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra.

Amorosa (fox-trot); letra de Luiz de Freitas. São Paulo, EMP ou Oficinas Musicais

“ARS”, s.d., n.º 1; piano e canto; n.º 1.001: piano e septeto.

Da Bahia Eu Quero o Côco (maxixe); letra de Fernandes Aguiar. São Paulo, Casa

Editora Ars, s.d., n.º 307: piano e canto; n.º 1.168 : piano e 8 instrumentos.

Entre Duas Almas (fox-tot); letra de Duque de Abramonte. São Paulo, Oficinas

Musicais

Ars, n.º 303: piano e canto; n.º 1174 : piano e orquestra.

Esse Cachorro Só Falta Falar (maxixe). São Paulo, Editora Ars, n.º 214 : piano;

n.º1.106 : piano e orquestra.

Flor Paulista (schottisch); adaptação rítmica de L. Rinaldo. São Paulo, CEMB,

Campassi & Camin, n.º 775: piano e canto; n.º 20178: piano e orquestra.

Longe de Quem Adoro (valsa). São Paulo, Ars ou EGMP, n.º 1038: piano e orquestra.

Nhá Maruca (maxixe). São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra.

Noite na Roça (cateretê); versos de João do Sul. São Paulo, A. Di Franco, piano,

canto e pequena orquestra.

Se o Telefone Falasse (maxixe). São Paulo, Ars ou EGMP. n.º 1.034: piano e septeto.

Suplicando Amor. São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra.

Page 118: Gilson Antunes - Americo Jacomino

IV.2.7 - Obras editadas pela Casa Bevilacqua, São Paulo, com autoria provável de

Américo Jacomino: piano

Aparece na Segunda-Feira (tango)

Deu-Se A Melodia (tango)

Me Arranca O Cavanhaque (samba)

Mi Deixa A Tartaruga ! (samba)

Não Pega Na Gente (samba)

Que Muié Impossível... (tango)

Teu Bigode Me Cotuca! (tango)

IV.3 – Lacunas no repertório de Américo Jacomino

Várias composições de Américo Jacomino foram citadas no jornal O Estado de

São Paulo por ocasião de seus recitais, mas não foram gravadas ou encontradas em

partituras. O mesmo ocorre em relação ao catálogo do pesquisador Juvenal Fernandes,

listado na contracapa do álbum da Editora Fermata sobre o violonista Américo

Jacomino, editado em 1977, por ocasião do cinqüentenário da morte de Canhoto.

Nestes casos é impossível ter-se uma noção de como seriam estas peças e até o

momento haveria de se aguardar o aparecimento destas músicas por meio de

colecionadores particulares de partituras ou discos, apesar de, no caso destes últimos,

ser pouco provável que se encontre algo novo, já que os catálogos de gravação de

Américo Jacomino são bastante precisos.

Entre as peças não encontradas que constam do catálogo de Juvenal Fernandes

estão: Acordes do Coração (valsa), O Beijinho Que Te Dei (marcha), Lembranças de

Lina (valsa), Mamãe Me Leve (marchinha carnavalesca), Ondas Desertas (mazurca),

Pagando Dívidas (polca), Queixumes de Amor (valsa), Saci (polca) e Tudo Mexe

(polca).

A estas, acrescente-se as obras citadas em programas veiculados pelo jornal O

Estado de São Paulo como Alucinação (gavota / valsa concerto), Alucinação de Um

Sonho (valsa de concerto / fantasia), Argentina (chótis), Argonautas (tango

característico), Brasileiro (tango), Cateretê Paulista (imitação da viola caipira), A

Page 119: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Cigarra na Ponta (tango), Esmeralda (valsa lenta), Falena (valsa), Feiticeiro (maxixe

de salão / tanguinho / tango brasileiro), Favorita (gavota), Hasta Luego (tango

argentino), Luzita (tango argentino), Medrosa (valsa), Prelúdio em Mi Maior (estudo),

Samba do Norte (samba humorístico), Solidão (valsa), Sombras do Passado (valsa-

boston), Sonhando (valsa), Sonho de Amor (valsa) e Tico-Tico assanhado (polca

característica).

Além destas, duas outras são citadas, tanto no jornal quanto no catálogo de

Juvenal Fernandes: Ai Momo (marchinha carnavalesca) e De Quem São Os Teus Olhos

(valsa). Mas em relação a elas é possível supor que seus nomes tenham sido alterados,

apesar de não haver documentos comprobatórios.

É possível supor que algumas dentre as obras não localizadas tenham sido

rebatizadas em algum momento, como por exemplo a valsa Acordes do Coração, que

poderia ter sido originalmente Acordes do Violão, e que, por sua vez, é o embrião

daquela que seria Abismo de Rosas. Também é provável que Alucinação e Alucinação

de Um Sonho sejam a mesma música, o mesmo ocorrendo com Brasileiro e Brasilerita,

pois ambas são tangos. Caso diverso é o do Cateretê Paulista, que por alusão talvez se

trate de Uma Noite no Sertão, pois ambas as peças aparecem com o subtítulo “imitação

da viola caipira”, ou ainda Noite na Roça e até mesmo Uma Noite na Roça.

IV. 4 - O Método de Violão, de Américo Jacomino

À primeira vista o Método de Violão de Américo Jacomino parece bastante

elementar. É provável que o professor, mestre bastante procurado no meio musical

paulistano tenha editado a obra na segunda metade da década de 1920, pensando em

seus alunos. O empenho na edição do volume pode ter valido a pena, já que no ano de

1928, vésperas de seu falecimento, um anúncio do jornal O Estado de São Paulo

informava que Canhoto tinha mais de 200 alunos da alta sociedade.

As edições mais antigas do manual não ajudam a esclarecer o fato. Segundo a

coleção de Ronoel Simões, existem três versões base, sendo que duas delas não

especificam datas de edição. A outra apresenta uma provável data de 1945. São elas89:

1) methodo pratico para violão por Américo Jacomino (Canhoto). Sem data,

sem edição, 28 páginas.

89 Para o título dos métodos utilizou-se a grafia original.

Page 120: Gilson Antunes - Americo Jacomino

2) methodo pratico para violão por Américo Jacomino. (São Paulo), Casa Del

Vecchio, sem data (c. 1945). 27 páginas.

3) metodo de violão (prático) (Canhoto) Américo Jacomino, contendo todas as

tonalidades e acompanhado com sete acordes em cada tom. São Paulo, Casa Manon

S.A., sem data, 32 páginas.

A edição escolhida para análise é a da Casa Manon, ainda hoje editada.

Apesar da maneira como Américo Jacomino tocava, seu método é destinado a

pessoas destras, e não a canhotos (comprovado pelos círculos brancos onde se devem

pinçar as cordas com o dedo polegar). O autor mostra as posições maiores e menores

com suas antigas variantes (1.ª, 2.ª , 3.ª de Dó etc.), apresentadas pela ordem dos graus

da escala e com seus cromatismos. Ou seja, na posição de Dó maior, a primeira é a

fundamental, a segunda corresponde ao quinto grau com sétima (Sol com sétima), a

terceira correspondendo ao Fá maior etc.. No final, todas as posições são novamente

apresentadas de formas diferentes das anteriores, isso sem dúvida para uma maior

variedade quando do acompanhamento de outros instrumentos ou cantores.

A grande curiosidade do método está no prefácio. Primeiramente ensina-se a

afinar o violão da maneira tradicional, pelas relações de som entre uma corda e outra (o

ré na quinta casa da quinta corda corresponde à quarta corda solta etc.). Porém, como

sempre acontece neste caso, é difícil supor que os leigos em música obtivessem um

resultado satisfatório para esta explicação de afinação, o que necessitaria obviamente de

uma orientação inicial ou mesmo de maior prática. Em seguida, o autor ensina a

postura corporal para se tocar violão:

“Para bem suster o violão é preciso o executante sentar-se numa cadeira ou

banco e pousar o pé esquerdo sobre um tamborete com 20 centímetros de

altura, mais ou menos. Recua-se um pouco o pé direito, conservando-se a

perna esquerda na posição natural. O corpo deve ficar levemente inclinado

para a frente de modo que o seu peso recaia sobre a perna esquerda e o violão

põe-se transversalmente sobre a coxa esquerda – A posição acima descrita é

preferida a outra qualquer, visto como oferece três pontos de apoio ao violão e

este ficará em equilíbrio sem que as mãos sejam forçadas a mantê-lo”.

Como se observa, nada parecido com a posição corporal na qual, por vezes,

ele se exibiu para sessão de fotos em que aparece tocando o instrumento de costas

Page 121: Gilson Antunes - Americo Jacomino

ou com o violão deitado sobre uma mesa, posições que poderiam inspirar nos alunos

a idéia de certo malabarismo ao tocar. Note-se, ainda, que o texto é redigido de

forma clara, o que faz supor o auxílio de alguém, visto que nas cartas endereçadas a

seus amigos percebe-se que Canhoto não dominava bem a língua portuguesa. Outro

fato que chama atenção é que a posição recomendada é muito próxima àquela

convencionada até então pelos violonistas de repertório erudito, se considerarmos

que até aquele momento os violonistas amadores e populares costumavam tocar

com a perna cruzada, como se observa até hoje.

Após esta introdução o autor do método escreve pormenorizadamente sobre

como colocar as mãos no instrumento. Vários detalhes chamam a atenção; em primeiro

lugar, o cuidado com relação ao movimento do pulso e polegar da mão esquerda para se

atingir as cordas graves. Com relação à mão direita, o autor pede para se pousar o dedo

mínimo (mindinho) no tampo do instrumento - como na técnica do período clássico - “a

pouca distância do cavalete”. O polegar deverá pousar sobre um dos bordões e os

outros dedos deverão conservar-se “sobre as três cordas de tripa”.

No parágrafo intitulado, o “modo de ferir as cordas”, o que mais chama atenção

é o fato de o autor pedir para se tocar sem unhas, ou seja, com as extremidades dos

dedos. O polegar serviria para se tocarem os bordões, e o indicador e médio para as

demais cordas. O anular seria apenas para os casos de tocar acordes e arpejos de 4, 5 e

6 cordas. Pelo último parágrafo, percebe-se a preocupação do autor com a variedade,

escrevendo que o dedo polegar poderá pinçar até as 2.ª e 3.ª cordas, e os dedos indicador

e médio as 4.ª e 5.ª cordas para acordes, arpejos, passagens de terceiras, sextas e oitavas,

“e ainda nas frases cantantes”.

No subcapítulo “instruções” tem-se a impressão de um equívoco do autor

quando afirma que se devem pinçar as três primeiras cordas com os dedos médio, anular

e indicador, respectivamente, pois pela disposição normal da mão seria o dedo anular

para a primeira corda, médio para a segunda e indicador para a terceira. Em seguida

escreve sobre os sinais convencionais para as posições, como um sinal para a pestana e

círculos brancos para o polegar e pretos para os demais dedos da mão direita. No final,

numa observação, o autor escreve sobre a realização do vibrato: “Para se conseguir as

vibrações é necessário colocar o dedo na corda desejada e balancear com toda a rapidez

a mão, e firmar bem o dedo na corda”. Cabe um parêntese a este respeito, uma vez que

se criou uma lenda a respeito da morte de Américo Jacomino, afirmando-se que a

Page 122: Gilson Antunes - Americo Jacomino

intensidade despendida para a realização de um vibrato de tal natureza poderia ter

ocasionado o problema cardíaco do qual ele veio a falecer em 1928.

Concluindo, Canhoto escreve sobre os sons harmônicos “nos trastes 5, 7 e 12”,

“podendo ser feitos nas 6 cordas de uma em uma”.

Pôde ser observado que o violonista demonstrou cuidado e perspicácia na

elaboração de um manual para os alunos, voltado basicamente para o acompanhamento,

mas com informações úteis para os compositores e uma visão essencialmente inspirada

nos métodos clássicos para violão então disponíveis, sabendo-se que o Método de

Violão do violonista italiano Francesco Molino já havia sido editado em meados do

século dezenove em São Paulo (vide capítulo II).

IV. 5 - Comentários a respeito do violão que pertenceu a Américo Jacomino,

utilizado para a gravação do CD anexo

Em agosto de 2002, Luís Américo Jacomino nos emprestou um instrumento que

pertenceu a seu pai para que pudéssemos registrar algumas peças em estúdio. No

entanto não é possível afirmar que este tenha sido o mesmo instrumento utilizado por

Canhoto nas gravações e recitais que realizou. O exame de fotografias de Américo

empunhando um instrumento apontam diferenças em relação àquele instrumento

emprestado, o que indicaria a existência de dois violões, pelo menos. A suposição

maior de que não tenha sido o violão principal utilizado pelo violonista reside no fato de

que na maioria das fotografias ele aparece com um violão específico, bastante parecido

com o utilizado na gravação, porém com o ornamento da faixa lateral e da roseta

diferentes. Não é improvável que o violão tenha sido modificado através de todas as

restaurações, porém no caso da roseta é difícil que se faça uma mudança radical, pois

era talhada na própria madeira do tampo. Caso seja realmente o mesmo violão, é, dessa

forma, certeza que o tampo tenha sido trocado. Porém, outra questão ocorre,

relacionada à mão do instrumento – região onde ficam as cravelhas -, que também é

diferente da observada nas fotografias.

O instrumento utilizado para as presentes gravações é o chamado “modelo

carioca”, com as seguintes medidas e madeiras utilizadas:

- Escala Maior: 66,5 cm.

- Aro ou lateral: 6,5 cm. No fundo possui 67 cm.

Page 123: Gilson Antunes - Americo Jacomino

- Cintura: Parte larga: 67 cm.

Cintura: 24 cm.

Cintura menor: 28 cm.

- Tampo: Abeto europeu.

- Fundo e lateral: Jacarandá da Bahia. Talvez tenham sido utilizadas duas madeiras

distintas, mas não podemos afirmar com exatidão, o que demandaria uma análise mais

aprofundada.

- Espelho: Este foi nitidamente modificado, pois o braço do instrumento afundou com a

ação do tempo. O novo é de jacarandá da Bahia.

Dentro do violão há um cartão de 5,5 por 9,0 cm no qual está escrito:

“Construído especialmente para

Américo Jacomino (Canhoto)

em 1907 conforme atestado

em nosso Poder

Romeu Di Giorgio90

‘Romeu Di Giogio’ (ass.)

Rua Venâncio Ayres, 309 S. Paulo”

A etiqueta acima refere-se a instrumento fabricado na empresa fundada por

Tranquillo Giannini, um italiano pintor de carros alegóricos que imigrou para o Brasil

entre 1895 e 1900. Inicialmente a fábrica ficava na então Rua São João, número 84, lá

permanecendo até 1912. Com o crescimento das atividades, o estabelecimento mudou-

se para a Rua General Osório, ali permanecendo até 1924. Após este período

construíram uma fábrica com recursos próprios na Rua dos Gusmões, números 64 e 66

e, posteriormente, na Alameda Olga, número 84 (atualmente número 414 / 420), na Rua

Carlos Weber e na cidade de Salto, no interior paulista.

A inauguração da primeira fábrica foi a 15 de novembro de 1900. Inicialmente

possuía 100 metros quadrados, duplicando suas instalações quando da mudança para a

Rua General Osório em 1924. É interessante observar que a construção de violões da

fábrica Di Giorgio está diretamente ligada à de Giannini, já que o mesmo foi casado

90 Etiqueta impressa, grifada “Romeu Di Giorgio” e assinada pelo mesmo.

Page 124: Gilson Antunes - Americo Jacomino

com uma viúva que possuía 4 filhos, que eram os Di Giorgio. Entre eles estava Romeu,

que trabalhou com o padrasto até montar um negócio paralelo. O principal ramo de

lutherias em larga escala do Brasil no século vinte foi criado, então, por famílias de

mesma origem.

Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo é informado que até

1930 teriam sido fabricados 600 violões por mês, saltando para 800 unidades na década

de 1910, número praticamente triplicado na década de 1920, quando a fabricação

atingiu a marca de 2200 violões por mês.

No entanto, a etiqueta que está dentro do instrumento cedido por Luís Américo

Jacomino traz o endereço da Rua Venâncio Ayres. Logo, este teria sido fabricado pelo

próprio Romeu, quando estabelecido em outra empresa? A indicação da existência de

um outro instrumento se deve ao depoimento de Ronoel Simões para o mesmo Museu

da Imagem e do Som de São Paulo, em que diz ter ouvido de Paraguaçu que Barrios e

Jacomino tocavam na fábrica de Romeu Di Giorgio, instalada na Rua Rangel Pestana,

próximo ao Ministério da Fazenda, na praça da Sé, a partir das 16 horas até o

fechamento do estabelecimento. A dúvida se impõe porque, pelo relato, a prática se

dava durante o ano de 1916 e o endereço de Romeu Di Giorgio é o da Rua Venâncio

Ayres. Resta a possibilidade de que o cartão assinado pelo luthier fornecesse seu

endereço particular enquanto funcionário de Tranquillo Gianinni. Assim, não parece

improvável que o violão tenha sido construído pelo próprio Romeu Di Giorgio, já que

na época os violões eram fabricados de forma mais ou menos artesanal.

Que o instrumento utilizado para esta gravação pertenceu de fato a Américo

Jacomino é endossado pelo depoimento de seu filho, Luís Américo, bem como pelo

cartão em seu interior. O instrumento foi construído há quase cem anos, o que

compromete sua afinação, que, como se sabe, é muito afetada pelo deslocamento do

braço do instrumento em decorrência de sua antiguidade. Além disso, é preciso

considerar que possivelmente ele foi modificado por luthiers ou pela ação do próprio

tempo.

IV.6 - Considerações sobre a gravação do CD anexo

Para a gravação do CD anexo foram escolhidas 20 músicas representativas de

compositores-violonistas do início do século vinte. A maior quantidade de músicas de

Page 125: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Américo Jacomino explica-se por ser o objeto principal da dissertação e por ser o

violonista com maior quantidade de gravações dentre todos do mesmo período.

As gravações foram feitas no dia 11 de agosto de 2001 no Estúdio GTR, em

Mairiporã, especializado em gravações de violão. Na tentativa de resgatar ao máximo a

sonoridade da época foram escolhidas cordas de tripa por serem bastante usadas pelos

violonistas no período. Estas foram preferidas ao aço, para a gravação, por se entender

que o som metálico do aço não corresponderia à sonoridade escutada nos discos de 78

RPM, quando interpretadas em CD nos equipamentos modernos.

Foram usadas, então, a primeira, segunda e terceira cordas de tripa e os bordões

de aço não-recentes (ou, mais especificamente, "não-novos"). Esta prática, ou seja, o

emprego de bordões “amaciados” era freqüente no início do século vinte. Porém,

houve problemas relacionados à durabilidade das cordas de tripa, principalmente com a

primeira, Mi, a qual foi se desgastando durante a gravação. No final, teve-se, então, que

se utilizar a primeira corda de um material equivalente à tripa e que possui praticamente

o mesmo som, chamado nail-gut, muito utilizado atualmente por intérpretes de

instrumentos de cordas dedilhadas antigas (guitarras barroca, clássica etc.). Assim

sendo, a primeira parte do CD, com obras de Américo Jacomino foram inteiramente

interpretadas com as primeiras cordas de tripa, com exceção das duas marchas (Marcha

Triunfal Brasileira e Marcha dos Marinheiros). Em todo o restante do CD a primeira

corda é de nail-gut.

A seleção do repertório – 20 peças, no total, - contemplou principalmente a obra

de Américo Jacomino, além de certos compositores, como veremos a seguir. De um

lado, buscou-se a variedade de estilos e obras gravadas pelos intérpretes do período. De

Américo Jacomino foram gravadas duas marchas que, além do caráter patriótico

apontam ainda riqueza de recursos timbrísticos. São elas a Marcha Triunfal Brasileira

e a Marcha dos Marinheiros. Olhos Feiticeiros, um choro, interessa tanto pelo gênero

quanto pelo fato de ter uma escrita cômoda para o intérprete, favorecendo a sonoridade

do instrumento; também um choro, Niterói foi gravado pelo próprio Canhoto. Com o

intuito de apontar a variedade de gêneros, foram selecionadas também duas valsas,

Abismo de Rosas – uma de suas composições mais famosas –, Reminiscências, peça

muito divulgada, bem como uma terceira peça desse gênero, Arrependida, que ainda

apresenta a curiosidade de ter sido muito divulgada como canção por Paraguaçu. Em

relação a ele, conta-se também que este mesmo cantor teria declarado a grande

felicidade por ter cantado a peça com acompanhamento de Canhoto. Alvorada de

Page 126: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Estrelas, uma gavota, apresenta um gênero erudito empregado por Canhoto em escrita

que pede a scordattura do instrumento. Mas, dentre os gêneros preferidos pelo

compositor e violonista, está o tango, que o CD contempla com as faixas Caprichoso,

obra cuja melodia se desenvolve na região grave do instrumento, Guitarra de Mi Tierra

e Amor de Argentina, respectivamente um tango argentino e um tango-milonga. Dentre

as obras divulgadas com mais de uma versão, foram escolhidos o foxtrot Quando os

Corações se Querem, publicado três vezes com nomes diferentes e A Menina do Sorriso

Triste, um fox-tango que também é versão de Quando Os Corações se Querem.

Os compositores que completam a relação do repertório são contemporâneos de

Américo Jacomino, caso de Levino Albano da Conceição, Glauco Vianna, Mozart

Bicalho, José Augusto de Freitas, Antonio Giacomino e Theotônio Corrêa. No caso

deste último, apresenta ainda o interesse de ter participado do primeiro trio de violões

de que se tem notícia no Brasil – Os Três Sustenidos – e de ter gravado junto a esse Trio

o maxixe Cruzeiro. Outro compositor gravado, Mário Pinheiro, é cronologicamente

anterior, porém foi o primeiro a entrar em estúdio e fazer uma gravação de violão solo

no Brasil, com o romance Petita. O CD apresenta a seguinte ordem de faixas:

Américo Jacomino

1- Marcha Triunfal Brasileira

2- Abismo de Rosas (valsa)

3- Nictheroy (choro)

4- Caprichoso (tango)

5- Quando Os Corações Se Querem (fox-trot)

6- Reminiscências (valsa)

7- Olhos Feiticeiros (choro)

8- Arrependida (valsa)

9- Guitarra de Mi Tierra (tango argentino)

10- Amor de Argentina (tango-milonga)

11- Alvorada de Estrelas (gavota)

12- Marcha dos Marinheiros

13- A Menina do Sorriso Triste (fox-tango)

Levino Albano da Conceição

14- Saudades do Rio Grande (valsa-serenata)

Page 127: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Glauco Vianna

15- Pertinho de Meu Bem (polca-choro)

Mozart Bicalho

16- Gotas de Lágrimas (valsa)

Mário Pinheiro

17- Petita (romance)

Theotônio Corrêa

18- Cruzeiro (maxixe)

José Augusto de Freitas

19- Soluços (valsa)

Antonio Giacomino

20- Festa na Fazendo (cateretê)

Para gravarmos o CD, escutamos as obras em discos de 78 rotações e

transcrevemos as peças aqui apresentadas no anexo III. Da audição das obras surgiu a

questão se deveriam ou não ser interpretadas de maneira idêntica à conferida por seus

autores e intérpretes originais. A solução não foi uniforme, uma vez que, como foi dito,

adotamos a pesquisa pela sonoridade da época, mas no caso da interpretação, não

quisemos correr o risco de caricaturizá-las utilizando a interpretação antiga.

A escolha das músicas também obedeceu ao critério relacionado às

características mais marcantes de cada compositor. O maior número de valsas, no caso

de Américo Jacomino, deveu-se, portanto à maior quantidade de peças neste estilo

interpretadas pelo violonista.

A inclusão das duas marchas foi em função do sucesso alcançado por essas peças

durante a vida do violonista e a longevidade que ainda obtêm no repertório violonístico

brasileiro. No caso de Levino Albano da Conceição, o violonista viveu um tempo no

sul do país, e esta música lhe era especial, sendo uma das editadas pelo compositor em

vida. De Glauco Vianna, a polca-choro Pertinho de Meu Bem é adequada para se ter

Page 128: Gilson Antunes - Americo Jacomino

uma idéia dos recursos técnicos do violonista. A valsa Gotas de Lágrimas, de Mozart

Bicalho, foi a peça de maior resposta comercial do violonista e representa uma das

poucas obras do período a entrar no repertório de alguns violonistas durante o século.

Essa peça foi gravada originalmente em dois violões, nitidamente com cordas de aço. O

romance Petita, de Mário Pinheiro, foi incluído por se tratar da peça mais antiga a ser

gravada em violão solo no Brasil, no ano de 1910. O maxixe Cruzeiro, de Theotônio

Corrêa, foi originalmente gravado em três violões com o trio Os Três Sustenidos, o mais

antigo trio de violões a gravar discos no Brasil, tendo entre seus integrantes um dos

mais antigos violonistas solistas que se conhece no país, João Avelino de Camargo, o

Melinho de Piracicaba. A valsa Soluços, de José Augusto de Freitas, é uma boa

referência de como interpretava e compunha o violonista. Por fim, o cateretê Festa na

Fazenda nos mostra um curioso violonista paulista com sobrenome igual ao de

Canhoto, Antonio Giacomino. Para esta gravação foi utilizado o manuscrito do próprio

compositor, o único encontrado nesta pesquisa dentre todos os textos dos violonistas

apresentados neste CD.

Page 129: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Conclusão

Ainda que as primeiras notícias sobre o uso do violão no Brasil sejam esparsas e

um tanto incertas quanto ao tipo de instrumento usado até o início do século vinte, é

claro que o instrumento esteve presente desde o início da colonização portuguesa no

país. A partir das primeiras notícias do violão na vida musical especificamente paulista,

percebe-se sua importância como acompanhante de canções ou manifestações populares

diversas, em festas folclóricas, embora não se tenha certeza de sua prática solista

anterior à segunda metade do século dezenove. No que tange à história do violão em

São Paulo, as notícias de relevo são as que datam da fundação da Faculdade de Direito

do Largo São Francisco. São valiosas as notícias sobre a venda do Método para Violão,

de Francesco Molino, bem como sobre a participação de um certo Professor Lisboa

apresentando-se em recital em São Paulo, violonista que executou ao instrumento as

Variações sobre Temas da Traviata. Não se sabe se estas variações foram escritas por

Francisco Tárrega ou Julian Arcas.

Com o início da comercialização de discos no Brasil, percebe-se que o violão

está presente em muitas gravações, embora como instrumento acompanhador dos

principais cantores do período, Bahiano, Cadete e Eduardo das Neves. Somente em

1910 o instrumento é gravado em solo no Brasil, por Mário Pinheiro, um baixo,

justamente mais conhecido como cantor de ópera. No mesmo período Agustín Barrios

também entra em estúdio, no Paraguai, fato que coloca os dois paises cronologicamente

como os pioneiros das gravações de violão solo em todo o mundo.

Em São Paulo, por volta de 1915, o nome de Américo Jacomino começa a se

firmar com prestígio nas salas de concerto e nos jornais, posto que manterá até sua

morte prematura aos 38 anos de idade. Atestam sua popularidade as informações

veiculadas no jornal O Estado de São Paulo, que chegou a publicar uma coluna não

oficial intitulada “Notícias do Canhoto”. Ficou demonstrado que foi ele quem mais

discos gravou e quem mais se apresentou em público e no rádio, pelo menos na capital

paulista. No final de sua vida a repercussão de seu nome recebeu ainda o impulso do

prêmio O Que é Nosso, do Rio de Janeiro, valendo-lhe o título de “O Rei do Violão

Brasileiro”.

Com a morte de Jacomino outros violonistas surgem, também solistas, mas que

na falta de uma escola oficial para o instrumento tocavam principalmente de cor e

Page 130: Gilson Antunes - Americo Jacomino

dedicavam-se ao repertório popular. Apesar da notícia no início do século de recitais do

cubano Gil Orozco, da informação de que havia professores de violão erudito no Brasil,

da vinda de Agustin Barrios e Josefina Robledo para o país na década de 1910 e Sanz

de La Maza e Juan Rodrigues na década de 1920, trazendo consigo as mais recentes

informações sobre o violão erudito na Europa, o Brasil demoraria a assimilar de forma

mais contundente esta prática instrumental, mesmo com o respaldo da pioneira revista

carioca O Violão, que possuía um correspondente paulista de nome Osvaldo Soares,

discípulo da mesma Josefina Robledo, e o respaldo de figuras como Quincas

Laranjeiras, que possuía uma associação de violão erudito no Rio de Janeiro. Isso iria

sistematicamente acontecer apenas na década de 1940, quando do estabelecimento no

Brasil do uruguaio Isaías Sávio, abrindo caminho para um maior estudo do violão

erudito e o início definitivo de uma nova era do violão no país. Isso demonstrou

também uma certa incongruência, no caso de Américo Jacomino, pois o local em que o

violonista mais se apresentou foi o salão do Conservatório Dramático e Musical de São

Paulo, justamente o lugar que abriria a primeira cadeira de violão erudito no Brasil, mas

apenas quase duas décadas após a sua morte.

Retrospectivamente podemos apontar para uma primeira geração de violonistas

solistas que passaram pelos palcos de São Paulo ou que aqui nasceram e que deixaram

registros em discos: Américo Jacomino, Antonio Giacomino, Mozart Bicalho, Rogério

Guimarães, Henrique Brito, Levino Albano da Conceição, Henrique Xavier Pinheiro,

Glauco Vianna, José Augusto de Freitas, Theotônio Corrêa e João Avelino de Camargo.

Outro ponto em comum foi o fato de terem explorado o instrumento de forma solista,

não apenas como instrumento acompanhador, aqui não importando se os repertórios

veiculados eram de caráter erudito ou popular.

Chama a atenção, também, a atividade intensa de Américo Jacomino, o que deve

ter colaborado bastante para sua popularização. Assim como soube absorver e utilizar

todos os meios de comunicação emergentes, desde as gravações em discos de 78 RPM,

no sistema mecânico e, posteriormente, no sistema elétrico, até o rádio, também valeu-

se da imprensa escrita e das apresentações em teatros por todo o Brasil, em especial nos

Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O violonista também concorreu em concursos

de música carnavalesca, publicando várias destas músicas em partituras para piano,

supostamente porque eram mais fáceis de serem vendidas, o que demonstra mais um

talento para a auto-publicidade. A esse respeito, não foi encontrada nenhuma partitura

publicada para violão por Américo Jacomino até sua morte. Isso poderia mostrar que

Page 131: Gilson Antunes - Americo Jacomino

havia poucos violonistas familiarizados com a escrita em partitura musical para que se

compensasse a edição das mesmas para violão solo. Um outro aspecto a ser destacado é

que Canhoto se mantivesse atualizado a respeito de seu instrumento, considerando-se o

depoimento de Paraguaçu, segundo o qual Agustin Barrios e Canhoto freqüentavam

juntos a oficina de Romeu Di Giorgio. Assim, naturalmente, deve ter comparecido

também a algum recital de Josefina Robledo, já que os ambos estiveram em São Paulo

na mesma época em plena atividade, a partir do que se poderá deduzir uma possível

influência da intérprete espanhola na sua maneira de tocar ou de compor. Apesar de

autodidata, os efeitos utilizados por esse violonista eram os mesmos praticados pelos

violonistas eruditos citados. Com relação à sua técnica instrumental, embora específica

(por ser canhoto), não demonstrava diferenciação sonora se comparada à técnica dos

violonistas citados, e as gravações existentes comprovam isso. O fato de tocar com a

mão esquerda sem inverter a ordem das cordas não alterou a sonoridade das músicas.

O marco principal deste período em São Paulo é o ano de 1916, por ocasião do

recital de Américo Jacomino, e 1917, por ocasião dos recitais de Agustín Barrios e

Josefina Robledo, a partir dos quais o violão passa então a ser considerado de outra

forma pela imprensa escrita, com muito menos preconceito e muito mais admiração. As

informações do jornal O Estado de São Paulo contidas antes e após o ano de 1916

demonstram claramente o fato.

Pelas informações subseqüentes ao nascimento de Américo Jacomino em 1889 e

posteriores à sua morte em 1928, pode-se concluir que o período que percorre a carreira

artística do violonista corresponde ao início definitivo do desenvolvimento da arte

solística do violão no Brasil.

BIBLIOGRAFIA

1. LIVROS

Page 132: Gilson Antunes - Americo Jacomino

ALALEONA, Domingos. História da Música, desde a antiguidade até nossos dias. 14.ª

ed., São Paulo. Ricordi, 1984.

ALMEIDA, Renato. História da Música Brasileira. 1.ª ed., Rio de Janeiro. F. Briguiet

& Comp., 1927.

ANDRADE, Mário de. Aspectos da Música Brasileira. São Paulo, Livraria Martins

Editora, 1965.

___________________. Dicionário Musical Brasileiro. Coord. Oneyda Alvarenga e

Flávia Camargo Toni. Belo Horizonte, Itatiaia; Brasília, Ministério da Cultura;

São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, EDUSP, 1989.

___________________. Modinhas Imperiais. São Paulo, Livraria Martins Editora,

1964.

___________________. Músic,. Doce Música, 2.ª ed., São Paulo, Editora Martins /

MEC, 1976.

___________________. Pequena História da Música, 9.ª ed., Belo Horizonte, Editora

Itatiaia Limitada, 1987.

ANTÔNIO, Irati & PEREIRA, Regina. Garoto, Sinal dos Tempos. (coleção MPB, 5).

Rio de Janeiro, Funarte, 1982.

ARAÚJO, Mozart de: A Modinha e o Lundú no século XVIII, São Paulo, Ricordi,

1963.

ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, Circos e Cinemas de São Paulo. São Paulo,

Editora Perspectiva, 1981.

AUSTIN, William. Music in the Twentieth Century. London, J. M. Dent, 1966.

AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de: 150 anos de Música no Brasil: 1800 - 1950. Rio

de Janeiro, José Olympio, 1956.

AZPIAZU, José de. La Guitarra y los guitarristas. Buenos Aires, Ricordi Americana,

1959.

BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. 5.ª Ed., São Paulo, Editora

Ática, 1989.

BARROS, Maria Paes de. No Tempo de Dantes. São Paulo, Paz e Terra, 1998.

BELLOW, Alexander. The Illustrated History of the guitar. New York, Franco

Colombo (Belwin-Mills), 1970.

BONE, Phillip J. The Guitar and Mandolin. 2.nd. Ed., London, Schott, 1972.

CABRAL, Sérgio. Pixinguinha, Vida e Obra. Rio de Janeiro, MEC Funarte, 1967.

Page 133: Gilson Antunes - Americo Jacomino

CALDAS, Waldenyr. Iniciação à Música Popular Brasileira. 2.ª ed., São Paulo,

Editora Ática, 1989.

_________________. Luz Neon: Canção e Cultura na Cidade. São Paulo, SESC,

1995.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro, Belo Horizonte,

Itatiaia, São Paulo, Editora USP, 1988.

CATÁLOGO geral Odeon. Officina Graphica Carlos Meier & Cia. S/d.

CÁURIO, Rita: Brasil Musical Básico, Viagem a jato pelos sons e ritmos populares,

Rio de Janeiro, Art Bureau, 1989.

CAZES, Henrique. Choro: do Quintal ao Municipal. São Paulo, Ed. 34 Ltda, 1998.

DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga: Uma História de Vida. Rio de Janeiro, Rosa

dos Tempos, 1991.

DISCOGRAFIA brasileira em 78 RPM. Organização: Santos, Alcino e Outros. Rio de

Janeiro, Funarte, 1982.

DUDEQUE, Norton. História do Violão. Curitiba, Ed. da UFPR, 1994.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 14.ª edição, São Paulo, Perspectiva, 1996.

ENCICLOPÉDIA da Música Brasileira: Erudita, Folclórica e Popular. São Paulo, Art.

Ed, 1977. 2v.

EVANS, Tom & EVANS, Mary. Guitars: Music, History, Construction and Players

from Renaissance to Rock. London, Paddington Press, 1977.

JEFFERY, Brian. Fernando Sor, Composer and Guitarrist. London, Tecla, 1977.

GAISBERG, F. W.. La Musica e il Disco. Milano, Fratelli Bocca Editori, 1949.

GODOY, Sila & SZARÁN, Luiz. Mangoré: Vida y obra de Agustin Barrios.

Assunção-Paraguai, Editorial Don Bosco, Editorial Ñanduti, 1994.

GRUNFIELD, Frederick. The Art and Times of The Guitar. New York, Collier-

Macmillan, 1969.

HURST, P. G.. The Golden Age Recorded: A collector's survey. Edição Particular,

Sussex, 1946.

IAFELICCE, Carlos. Gênios da Música. São Paulo, Livraria Trio Editora Ltda., 1974.

KERMAN, Joseph. Musicology. Fontana Press/Collins, 1985.

KIEFFER, Bruno. A Modinha e o Lundú - duas raízes da música popular brasileira, 2.ª

Ed., Porto Alegre, Editora Movimento, 1986.

______________. História da Música Brasileira - dos primórdios ao início do século

XX, 3.ª ed. Porto Alegre, Editora Movimento, 1982.

Page 134: Gilson Antunes - Americo Jacomino

______________. Música e Dança Popular - sua influência na música erudita, Porto

Alegre, Editora Movimento, 1979.

LAMAS, Dulce Martins. Música Popular Gravada na Segunda Década do Século.

Rio de Janeiro, UFRJ, 1997.

LEAL, José de Souza & Barbosa, Artur Luiz. João Pernambuco, arte de um povo,

(coleção MPB 6), Rio de Janeiro, Funarte, 1982.

LIMA, Rossini Tavares de. Estudo sobre Viola. Revista Brasileira do Folclore -

Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro, jan./dez. de 1964.

IDEM. Moda de Viola, Poesia de Circunstância, DEMA - Comissão Estadual do

Folclore. S/d.

LIMA, Souza. Comentário sobre a Obra Pianística de Villa-Lobos. 3.ª ed., Ministério

da Cultura, Fundação Nacional Pró-Memória, Museu Villa-Lobos. S/d.

LIRA, Marisa. Chiquinha Gonzaga: Grande Compositora Popular Brasileira. Rio de

Janeiro, Funarte, 1978.

LOPES, Luiz Roberto. Cultura Brasileira: das Origens a 1808. 1.ª ed., Editora da

Universidade/ UFRGS, 1988.

LUCENA, Célia Toledo. Bairro do Bexiga, a sobrevivência cultural. São Paulo,

Brasiliense, s/d.

MACHADO, António de Alcântara. Novelas Paulistanas. Editora Itatiaia Ltda.

Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

MARIZ, Vasco. A Canção Brasileira: Erudita, Folclórica, Popular. 3.ª Ed., Editora

Civilização Brasileira / MEC, 1977.

____________. Dicionário Biográfico Musical. Rio de Janeiro, Kosmos, 1948.

____________. História da Música no Brasil. 4.ª ed. Rio de Janeiro, Civilização

Brasileira, 1994.

MARTINS, José Eduardo. Henrique Oswald; Personagem de uma saga Romântica.

São Paulo, EDUSP, 1995.

MATTOS, Cleofe Person de. José Maurício Nunes Garcia: biografia. Rio de Janeiro,

Fundação Biblioteca Nacional, 1996.

MORAES, José Geraldo Vinci de. Sonoridades Paulistanas: final do século XIX ao

início do século XX. Rio de Janeiro, Editora Bienal / Funarte, 1997.

NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da Roça ao Rodeio. São Paulo, Editora 34,

1999.

Page 135: Gilson Antunes - Americo Jacomino

NÓBREGA, Adhemar. Os Choros de Villa-Lobos. 2.ª ed. Ministério da Cultura,

Fundação Nacional Pró-Memória, Museu Villa-Lobos. s/d.

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de. Instrumentos Populares Portugueses, Lisboa, Fundação

Calouste Goubenkian, 1966.

PAZ, Juan Carlos: Introdução à Música do Nosso Tempo, São Paulo, Duas Cidades,

1976.

PEREIRA, Marco. Heitor Villa-Lobos: sua obra para violão, Brasília, Musiméd,

1984.

PINTO, Alexandre Gonçalves. O Choro. Rio de Janeiro, Funarte, 1978.

PONCIANO, Levino. Mil Faces de São Paulo. Pequeno Dicionário Histórico e

Amoroso dos Bairros de São Paulo. São Paulo, Editora Fênix, 2000.

PORTO, Antônio Rodrigues. História da Cidade de São Paulo através de suas ruas.

São Paulo, Carthago, 2.ª ed., 1997.

_______________________. História Urbanística da Cidade de São Paulo (1554-

1988). São Paulo, Carthago & Forte, 1992.

PRADO JR, Caio. A Cidade de São Paulo, geografia e história. 2.ª ed. São Paulo,

Editora Brasiliense, 1989.

PRAT, Domingo. Diccionario de guitaristas. Buenos Aires, Casa Romero y

Fernandez, 1934.

PUJOL, Emilio. La Guitarra y su Historia, Buenos Aires. Casa Romero y Fernandes,

s.d.

____________. Tárrega, Ensayo Biográfico. Lisboa, Ramos Alfonso & Moita, 1960.

RESENDE, Carlos Penteado de. Tradições Musicais da Faculdade de Direito de São

Paulo, São Paulo, São Paulo, Edição Saraiva, 1954.

SANTOS, Turíbio. Heitor Villa-Lobos e o violão. Rio de Janeiro, MEC/Museu Villa-

Lobos, 1978.

SCHIC, Anna Stella. Villa-Lobos o índio branco, Rio de Janeiro, Imago Editora, 1989.

SOUZA, Mário das Graças Nogueira. Patápio, Músico Erudito ou Popular ? Rio de

Janeiro, Funarte, 1983.

STOVER, Richard D. Six Silver Moonbeans, The Life and Times of Agustín Barrios

Mangoré. Clovis, Querico Publications, 1992.

TINHORÃO, José Ramos. História Social da Música Popular Brasileira, São Paulo,

Editora 34, 1998.

Page 136: Gilson Antunes - Americo Jacomino

______________________. Música Popular: do gramofone ao rádio e TV. São

Paulo, Editora Ática, 1981.

______________________. Música Popular: um tema em debate. 3.ª ed. São Paulo,

Editora 34, 1997.

______________________. Pequena História da Música Popular, da Modinha ao

Tropicalismo, 5.ª Ed. São Paulo, Art Editora, 1986.

TURNBULL Harvey. The Guitar: from the renaissance to the present day. London,

Batsford, 1974.

UNES, Wolney. Entre Músicos e Tradutores: A figura do Intérprete. Goiânia, Editora

UFG, 1988.

VASCONCELLOS, Ary. A Música na República Velha, Rio de Janeiro, Edição do

Autor, 1985.

____________________. Panorama da Música Popular Brasileira na Belle Époque,

Rio de Janeiro, Livraria Sant'Anna, 1977.

____________________. Raízes da Música Popular Brasileira (1500 – 1889). Martins

/ MEC, Brasília, 1977.

WISNIK, J. Miguel. O Côro dos Contrários: A Música em torno da Semana de 22.

São Paulo, Duas Cidades, 1983.

2. MÉTODOS E SIMILARES

AGUADO, Dionísio. Méthode Complète pour la guitare. Paris. Richaut, 1827

3. MONOGRAFIAS E DISSERTAÇÕES

ANTUNES, Gilson. Edelton Gloeden, monografia escrita para a disciplina História da

Música Brasileira, ministrada pelo professor Alberto Ikeda durante o curso de

bacharelado em música pela UNESP, São Paulo, 1993.

BARTOLONI, Giácomo. Compositores paulistas na literatura violonística.

Dissertação de Mestrado em História, São Paulo, UNESP, 1990.

BARTOLONI, Giácomo. Violão: A imagem que fez Escola. São Paulo 1900 - 1960.

Tese de doutorado em História, Assis, UNESP, 2000.

CASTAGNA, Paulo e SCHWARTZ, Werner. Uma Bibliografia do Violão Brasileiro

1916-1990. Monografia Independente, São Paulo,1989.

Page 137: Gilson Antunes - Americo Jacomino

CASTAGNA, Paulo & PEREIRA, Alexander & CARDIM, Ricardo. Índice

Onomástico do Violão no Brasil (1927-1991). Monografia Independente, São

Paulo, 1995.

ESTEPHAN, Sérgio. O Violão Instrumental brasileiro: 1884-1924. Tese de mestrado

em História pela PUC/São Paulo, 1999.

GLOEDEN, Edelton. O Ressurgimento do Violão no Século XX: Miguel Llobet,

Emilio Pujol e Andrés Segóvia. Dissertação de Mestrado, ECA-USP, São Paulo,

1996.

MARTINS, José Eduardo. Henrique Oswald: Compositor Romântico. Tese de

Doutoramento, USP, FFLCH, São Paulo, 1988. 3 v.

IV.3 – REVISTAS E PERIÓDICOS (PUBLICAÇÕES ESPECÍFIC AS E

JORNAIS)

CASTAGNA, Paulo & ANTUNES, Gilson. 1916, O Violão Brasileiro já é uma arte.

Revista Cultura Vozes, n.º 1, ano 88, jan./fev., 1994, p. 37-51.

PUNTO MARGINAL: Revista de Cultura y Politica. En Homenaje a Agustin Barrios.

Ano 1, número 4, agosto-setembro 1994. Assunção, Paraguai.

REVISTA RODA DE CHORO. Volumes 0 a 5. Rio de Janeiro, 1995- 1997

VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Gianinni S. A, 1964-68.

2 - BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA SOBRE AMÉRICO JACOMINO

(INCLUI ARTIGOS DE JORNAIS, REVISTAS E VERBETES DE

DICIONÁRIOS)

A CULTURA do violão em S. Paulo. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, dez.

1928, p. 17.

À SOMBRA de Pixinguinha ( mas tão bons quanto eles) . Jornal

da Tarde, São Paulo, 12 jul. 1979.

AIMORÉ (José Alves da Silva). In:Enciclopédia da música brasileira: erudita,

folclórica, popular. São Paulo, Art. Ed. , 1977. V. 1, p. 8.

Page 138: Gilson Antunes - Americo Jacomino

ALMEIDA, Sérgio Pinto de. Um violão tocado ao avesso. Folha de São Paulo,

Ilustrada, ano 57, n.º 18.165, p. 35, Quarta-feira, 27 dez. 1978.

AMÉRICO JACOMINO - O trespasse do conhecido violonista brasileiro. Folha da

Noite, São Paulo, ano 8, n.º 2.392, sábado, 08 set. 1928 , p. 5.

ARMANDINHO (Armando Neves ). In: Enciclopédia da música brasileira. Op. Cit.,

v. 1, p. 47.

ARMANDO Neves: o violão no tempo de Canhoto; o conhecido compositor

Armandinho fala da época de ouro das serenatas. Violão e Mestres, São Paulo,

v. 1, p. 20-23.

CANHOTO (Américo Jacomino). In: Enciclopédia da música brasileira; erudita,

folclórica, popular. São Paulo, art Ed. , 1977. V. 1, p. 139.

“CANHOTO” ( Américo Jacomino). In: IAFELICE, Carlos. Gênios da música:

biografia de compositores célebres; origem e dados completos sobre

instrumentos musicais. São Paulo, Livraria Trio Editora Ltda. , 1974. P 28- 34.

(CANHOTO). Jornal de Jundiai . 07 jan. 1979. P. 5.

CANHOTO e Jundiaí , uma estreita ligação. Jornal de Jundiaí . 07 jan. 1979. p. 1.

CANHOTO do violão, 50 anos depois. Folha de São Paulo, 07 SET. 1978.

NA CIDADE um rico acervo sobre Américo Jacomino, o Canhoto. Jornal de Jundiaí ,

07 jan. 1979. P. 7.

CHAGAS, Luiz. A história começou com “Abismo de Rosas “ . Jornal da Tarde, São

Paulo, Suplemento Especial, 27 maio 1989, p. 4.

FERNANDES, Juvenal. O Cartaz da Semana. (?), 19 SET. 1922 e 1983.

FERNANDES, Juvenal. O Cartaz da Semana. In: Américo Jacomino Canhoto. São

Paulo, Fermata do Brasil, s. d. p. 13-14.

FALECEU o maior violonista brasileiro; “Canhoto” foi o vencedor do concurso “o que

é nosso”. Folha da Manhã, São Paulo, 08 SET.1928..

FALLECIMENTO / Fallecimento de um conhecido violonista. A Tribuna, Santos, ano

35, n.º 165, col. São Paulo, sáb.8 set. 1928. p. 1.

FALLECIMENTOS - Américo Jacomino. O Estado de S.Paulo, ano 54, n.º 18.026,

sábado, 08 set. 1928, p. 2.

FALLECIMENTOS - Américo Jacomino. Diário Nacional, São Paulo, ano 2, n.º

363, Domingo, 09 de setembro 1928, p. 10.

Page 139: Gilson Antunes - Americo Jacomino

JACOMINO, Américo “Canhoto”. In: PRAT, Domingo. Diccionario biografico,

bibliografico, historico, critico de guitarras ( instrumentos afines), guitarristas (

. . . ) . Buenos Aires, Casa Romero y Fernandes, (1934). P. 167.

( LANCELLOTTI, Sílvio) . Canhoto. In: DENYER, Ralph. Toque; curso completo

de violão & guitarra. Rio de janeiro, Rio Gráfica e Editora, Ltda. , 1982. P.

89-91.

MAGYAR, Vera. A Musa: aos 93 anos, dona Laura das Dores lembra do tempo em

que inspirou o Abismo de Rosas, de Canhoto. Jornal da Tarde, São Paulo, 10

de outubro de 1978. P. 15.

NASSIF, Luís. Toque de mestre; um modesto registro da obra do grande Garoto. Veja,

São Paulo, n.º 551, mar. 1979, p. 77-78.

NECROLOGIA. Diário Popular, São Paulo, ano 44, n.º 14.705, , sábado, 8 de

setembro 1928, p. 12.

NECROLOGIA - Américo Jacomino. Diário da Noite, São Paulo, ano 41, n.º 62,

sábado, 08 set. 1928. p. 2.

NOTAS violonísticas. Violão e Mestres, São Paulo, v. 2, n.º 1, dez. 1967, p. 59-61.

(NOTÍCIA sem título ). Jornal do Commercio, São Paulo, ano 12, n.º 267, sábado 08

set. 1928, p. 3.

NUNES, Olavo Rodrigues. Armandinho, chorão paulista, coração brasileiro.

Urubumalandro; Caderno do Clube do Choro de São Paulo, n.º especial, ago

1978. p. 7-11.

O QUE é nosso; O “Correio da Manhã” prosseguirá na defesa do nosso patrimônio. O

Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 5, abr. 1929. p. 15-16.

O VIOLÃO entre nós. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, dez. 1928, p. 8-9.

O VIOLÃO nos estados. A Voz do Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, fev. 1931. p.

17-18.

OS ASTROS brasileiros do violão. A Voz do Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 2,

mar. 1931, p. 11-12.

PARAGUAÇU (Roque Ricciardi ). In: Enciclopédia da música brasileira. Op. Cit.,

v.2, p. 587.

REGISTRO - Fallecimentos. Jornal do Commercio, São Paulo, ano 12, n.º 267, sábado,

08 de setembro 1928, p. 3.

REGISTRO – Enterros – Americo Jacomino. Jornal do Commercio, São Paulo, ano 12,

n.º 268, dom.9 set. 1928, p. 5.

Page 140: Gilson Antunes - Americo Jacomino

RIBEIRO, Rubens & BORGES, Almir. As mãos que souberam dar beleza ao som.

Periódico não identificado, c. 1968.

SIMÕES, Ronoel. Américo Jacomino “Canhoto”. A Gazeta, São Paulo, série de 4

artigos, dez. 1958.

SIMÕES , Ronoel. Américo Jacomino, “Canhoto”. In: Américo Jacomino Canhoto.

São Paulo, Fermata do Brasil, s.d. p. 5-9.

SIMÕES, Ronoel. Américo Jacomino Canhoto (1887-1928); un grande chitarrista

Brasiliano. L’arte chitarristica, Modena, v. 3, n.º 17, p. 3. 1949.

SIMÕES, Ronoel. Américo Jacomino, o Canhoto. Violão e Mestres, São Paulo , v. 1,

n.º 1, p. 4-8, mar. 1964; v. 1, n.º 2, ago 1964, p. 24-28.

THOMÉ, Nadra Michel. O violão de Romeu di Giorgio. Violão: suplemento especial

do Jornal da Tarde, São Paulo, 27 de maio 1989, p.7.

TIGRE , Bastos. Como os nossos intellectuaes apreciam o violão. A Voz do Violão,

Rio de Janeiro, ano 1, n.º 2, mar. 1931, p. 21-23.

Page 141: Gilson Antunes - Americo Jacomino

ANO OBRA COMPOSITOR INTÉRPRETE LOCAL 1904 F. P. Catton Club Germânia 1904 Noturno em mi bemol Chopin Terceto

Espanhol Salão Carlos Gomes

1906 Prelúdio em acordes Tárrega Gil Orozco Salão Steinway 1906 Estúdo em harpejos Tárrega Gil Orozco Salão Steinway 1906 Valsa em Lá Arcas Gil Orozco Salão Steinway 1906 Cantos de Andaluzia Arcas / Tobosso Gil Orozco Salão Steinway 1906 Dança Cubana Tabarez / Orozco Gil Orozco Salão Steinway 1906 Duas Mazurcas Soria / Penella Orozco e Baltar Salão Steinway 1906 Prelúdio Tárrega Gil Orozco Salão Steinway 1906 Minuetto Tárrega Gil Orozco Salão Steinway 1906 Coro de Bispos Meyerber Gil Orozco Salão Steinway 1906 Capricho Árabe Tárrega Gil Orozco Salão Steinway 1906 Jota Aragonesa Arcas / Tárrega Gil Orozco Salão Steinway 1911 Aires Andaluzas Arcas Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Gallegada Veiga Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Miserere do Trovador Verdi Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Sítio de Bilbao Manuel Gomes Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Serenata Manuel Gomes Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Fantasia Brilhante Vinhas Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Tango Americano Damas Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Bolero Arcas Manuel Gomes Centro

Espanhol 1911 Gran Jota Aragonesa Arcas / Tárrega Manuel Gomes Centro

Espanhol 1914 Ave Maria Gounod F. Pistoresi Cons.

Dramático 1914 Traumerei Schumann F. Pistoresi Cons.

Dramático 1914 Reverie Dunkler F. Pistoresi Cons.

Dramático 1914 Siciliene Pergolesi F. Pistoresi Cons.

Dramático 1914 Preghiera Stradela F. Pistoresi Cons.

Dramático 1914 Berceuse de Jocelin Godard F. Pistoresi Cons.

Dramático 1914 Gavotta Giuliani F. Pistoresi Cons.

Dramático

Page 142: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1914 Scherzo Becker F. Pistoresi Cons. Dramático

1914 Stabat Mater Rossini F. Pistoresi Cons. Dramático

1914 Largo Celebre Handel F. Pistoresi Cons. Dramático

1914 Minueto Boccherini F. Pistoresi Cons. Dramático

1914 L’Absence Dunkler F. Pistoresi Cons. Dramático

1914 Marcha / Tannhauser Wagner F. Pistoresi Cons. Dramático

1916 Suplica de Amor Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Serenata Árabe Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Cigarra na Ponta Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Magia de Olhar Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Sonhando Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Tango da Agarra Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Guarany Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Cateretê Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Campos Sales Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Medrosa Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Alucinação de um Sonho Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1916 Sonho de Amor Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1917 Meditação Garcia Tolsa Barrios Correio Paulist. 1917 Marcha Eróica Giuliani Barrios Correio Paulist. 1917 Recuerdos del Pacífico Barrios Barrios Correio Paulist. 1917 Tarantella Barrios Barrios Correio Paulist. 1917 Nocturno op. 9 n.º 2 Chopin Barrios Correio Paulist. 1917 Rapsódia Americana Barrios Barrios Correio Paulist. 1917 Bicho Feio Barrios Barrios Correio Paulist. 1917 Jota Aragoneza Barrios Barrios Correio Paulist. 1917 Chanson du Printemps Mendelsohnn Barrios Theatro Mun. 1917 Rondó Brilhante Aguado Barrios Theatro Mun. 1917 Fantasia de Concerto Arcas Barrios Theatro Mun. 1917 Fantasia de La Traviata Verdi / Arcas Barrios Theatro Mun. 1917 Moraima Espinosa Barrios Theatro Mun.

Page 143: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1917 Estudo p/ mão esquerda Coste Barrios Theatro Mun. 1917 Rapsódia Americana Barrios Barrios Theatro Mun. 1917 Dança Macabra Regondi Barrios Theatro Mun. 1917 Andante Haydn Barrios Theatro Mun. 1917 Tanda deValses Tolsa Barrios Theatro Mun. 1917 Aminha Mãe Barrios Barrios Theatro Mun. 1917 Lucia de Lammermoor Donizetti Barrios Theatro Mun. 1917 Capricho Espanhol Barrios Barrios Theatro Mun. 1917 Mazurca Chopin Barrios Theatro Mun. 1917 Romance Barrios Barrios Theatro Mun. 1917 Serenata Arabe Tarrega Barrios Theatro Mun. 1917 Tango n.º2 Barrios Barrios Theatro Mun. 1917 Il Trovatore, Miserere Verdi Barrios Theatro Mun. 1917 Gavota Romântica Czibulka Barrios Theatro Mun. 1917 Fantasia em Mi Vinas Barrios Cons.

Dramático 1917 Impressões de um Conto Baltar Barrios Cons.

Dramático 1917 Saudades do Rio de Jan. Barrios Barrios Cons.

Dramático 1917 Página de Álbum Barrios Barrios Cons.

Dramático 1917 Minuetto Beethoven Barrios Cons.

Dramático 1917 Scherzo Hípico Barrios Barrios Cons.

Dramático 1917 Polonaise FAntastique Arcas Barrios Cons.

Dramático 1917 Romance sem Palavras Mendelssohnn Barrios Cons.

Dramático 1917 Meditação Tolsa Barrios Cons.

Dramático 1917 Tango n. 3 Barrios Barrios Cons.

Dramático 1917 Marcha Dupuy Barrios Cons.

Dramático 1917 Serenata Espanhola Albeniz Robledo Cons.

Dramático 1917 Valsa Godard Robledo Cons.

Dramático 1917 Trêmulo Gottschalk Robledo Cons.

Dramático 1917 Jota Aragoneza Tárrega Robledo Cons.

Dramático 1917 Priere Squire Robledo Cons.

Dramático 1917 Nina Pergolese Robledo Cons.

Dramático 1917 Sur lê Lac Godard Robledo Cons.

Page 144: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Dramático 1917 Serenata Espanhola Glazounov Robledo Cons.

Dramático 1917 Granada Albeniz Robledo Cons.

Dramático 1917 Bourré Bach Robledo Cons.

Dramático 1917 Nocturno op.9 n.º2 Chopin Robledo Cons.

Dramático 1917 Carnaval de Veneza Paganini Robledo Cons.

Dramático 1917 Capricho Árabe Tárrega Robledo Cons.

Dramático 1917 Recuerdos de Alambra Tárrega Robledo Cons.

Dramático 1917 Cançonetta Mendelssohn Robledo Cons.

Dramático 1917 Carnaval de Veneza Paganini Robledo Cons.

Dramático 1917 Berceuse Godard Robledo Cons.

Dramático 1917 O Cisne Saint Saens Robledo Cons.

Dramático 1917 Era um sonho Molina Robledo Cons.

Dramático 1917 Canção Andaluza Ros Robledo Cons.

Dramático 1917 Serenata Malats Robledo Cons.

Dramático 1917 Loure Bach Robledo Cons.

Dramático 1917 Astúrias Albeniz Robledo Cons.

Dramático 1917 Air de Ballet Massenet Robledo Cons.

Dramático 1917 Dança Espanhola Granados Robledo Cons.

Dramático 1917 Sueno Tárrega Robledo Automóvel

Club 1917 Berceuse Schumann Robledo Cons.

Dramático 1917 Minuetto de L’Arlesiene Bizet Robledo Cons.

Dramático 1917 Reverie Schumann Robledo Cons.

Dramático 1917 Oriental Cesar Cui Robledo Cons.

Dramático 1917 Ave Maria Schubert Robledo Cons.

Dramático

Page 145: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1917 Canção e Pavana Couperin Robledo Cons. Dramático

1917 Adágio / Sonata Patética Beethoven Robledo Cons. Dramático

1917 Danza Mora Tárrega Robledo Cons. Dramático

1917 Sán Nicolas Schumann Robledo Cons. Dramático

1918 Alucinação de um Sonho Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Argonautas Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Asta Luego Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Olhar de Deusa Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Em ti Pensando Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Alma Portuguesa Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Uma Noite na Roça Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1918 Marcha Eróica Giuliani Barrios Pavilhão Central

1918 Chant du Printemps Mendelssohn Barrios Pavilhão Central

1918 Recuerdos del Pacífico Barrios Barrios Pavilhão Central

1918 Meditação (noturno) Tolsa Barrios Pavilhão Central

1918 Rapsódia Espanhola Barrios Barrios Pavilhão Central

1918 Gran Concerto em Lá Arcas Barrios Pavilhão Central

1918 Noturno op.9 n.º 2 Chopin Barrios Pavilhão Central

1918 Gavota Romântica Czibulka Barrios Pavilhão Central

1918 Bicho Feio Barrios Barrios Pavilhão Central

1918 Jota Aragoneza Barrios Barrios Pavilhão Central

1918 Fantasia Variada Sor Barrios Cons. Dramático

1918 Adágio Beethoven Barrios Cons. Dramático

1918 Rondó Brilhante Aguado Barrios Cons.

Page 146: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Dramático 1918 Gavotte Madrigal Barrios Barrios Cons.

Dramático 1918 Meditação Tolsa Barrios Cons.

Dramático 1918 Capricho Árabe Tárrega Barrios Cons.

Dramático 1918 Chant du Paysan Grieg Barrios Cons.

Dramático 1918 Página de Álbum Barrios Barrios Cons.

Dramático 1918 Minuetto em Lá Bufaleti Barrios Cons.

Dramático 1918 Gran Jota Barrios Barrios Cons.

Dramático 1919 Souvenir d’un Reve Barrios Barrios Teatro S. Pedro 1919 Reverie Schumann Barrios Teatro S. Pedro 1919 Gran Jota Barrios Barrios Teatro S. Pedro 1919 Minueto em Sol Beethoven Barrios Teatro S. Pedro 1919 Bourré Bach Barrios Teatro S. Pedro 1919 Meditação Tolsa Barrios Cons.

Dramático 1919 Berceuse Schumann Barrios Cons.

Dramático 1919 Marcha Eróica Giuliani Barrios Cons.

Dramático 1919 Capricho Árabe Tarrega Barrios Cons.

Dramático 1919 Noturno op.9 n.o.2 Chopin Barrios Cons.

Dramático 1919 Bourre Bach Barrios Cons.

Dramático 1919 Altair (valsa) Barrios Barrios Cons.

Dramático 1919 Gavota Czibulka Barrios Cons.

Dramático 1919 Gran Jota BArrios Barrios Cons.

Dramático 1919 Serenata Española Malats Robledo Cons.

Dramático 1919 Dança Española n.o. 10 Granados Robledo Cons.

Dramático 1919 Dança Española n.o. 11 Granados Robledo Cons.

Dramático 1919 Recuerdos de Alhambra Tárrega Robledo Cons.

Dramático 1919 Noturno op.9 n.o. 2 Chopin Robledo Cons.

Dramático 1919 Canção Andaluz Ros Robledo Cons.

Page 147: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Dramático 1919 O Cisne Saint Saens Robledo Cons.

Dramático 1919 Oriental Cesar Cui Robledo Cons.

Dramático 1919 Coro de Anjos Cramer Robledo Cons.

Dramático 1919 Serenata Espanhola Glazounov Robledo Cons.

Dramático 1919 Astúrias Albeniz Robledo Cons.

Dramático 1919 Granada Albeniz Robledo Cons.

Dramático 1919 Canção do Berço Pujol Robledo Cons.

Dramático 1919 Bourré Bacho Robledo Cons.

Dramático 1919 Jota Aragonesa Tárrega Robledo Cons.

Dramático 1919 Berceuse Schumann Robledo Cons.

Dramático 1919 Gavota Francisco Braga Robledo Cons.

Dramático 1919 Minuetto Francisco Braga Robledo Cons.

Dramático 1919 Adágio – sonata Patética Beethoven Robledo Cons.

Dramático 1919 Dança Espanhola n.º 5 Granados Robledo Cons.

Dramático 1919 Dança Espanhola n.º12 Granados Robledo Cons.

Dramático 1919 Nina Pergolesi Robledo Cons.

Dramático 1919 Elegia Massenet Robledo Cons.

Dramático 1919 Era um sonho Molina Robledo Cons.

Dramático 1919 Melodia Rubinstein Robledo Cons.

Dramático 1919 Coro de Anjos Cramer Robledo Cons.

Dramático 1919 Cadiz Albeniz Robledo Cons.

Dramático 1919 Minueto Mozart Robledo Cons.

Dramático 1919 Loure Bach Robledo Cons.

Dramático 1919 Sueno Tárrega Robledo Cons.

Dramático

Page 148: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1920 Marcha Triunfal Brasileira

Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1920 Lês Diamants Lichne Canhoto Cons. Dramático

1920 Serenata Árabe Frontini Canhoto Cons. Dramático

1920 Invejoso Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1920 Alucinação de um Sonho Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1920 Favorita Joan Aragones Canhoto Cons. Dramático

1920 Brasil Thiers Cardoso Canhoto Cons. Dramático

1920 Tarantella Albano Canhoto Cons. Dramático

1920 Samba do Norte Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1921 Estudo em Lá maior Coste Benedito S. Capello

A Cigarra

1921 Canção do Berço Pujol Benedito S. Capello

A Cigarra

1921 Valsa de Concerto H. Montey Benedito S. Capello

A Cigarra

1921 Romance sem Palavras Mendelssohn Benedito S. Capello

A Cigarra

1921 Miserere do Trovador Verdi Benedito S. Capello

A Cigarra

1921 Adágio da Sonata Patética

Beethoven Benedito S. Capello

A Cigarra

1921 Noturno op.9 n.º 2 Chopin Benedito S. Capello

A Cigarra

1923 Capricho Árabe Tarrega Robledo Cons. Dramático

1923 Romanzan. 6 e 12 Mendelssohn Robledo Cons. Dramático

1923 Estudos Tárrega Robledo Cons. Dramático

1923 Granada Albeniz Robledo Cons. Dramático

1923 Canção do Berço Pujol Robledo Cons. Dramático

1923 Sueno Tarrega Robledo Cons. Dramático

1923 Cadiz Albeniz Robledo Cons. Dramático

1923 Minueto del Septimino Beethoven Robledo Cons. Dramático

1923 Loure Bach Robledo Cons.

Page 149: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Dramático 1923 Valsa op. 34 no.2 Chopin Robledo Cons.

Dramático 1923 Noturno op. 9 n.o. 2 Chopin Robledo Cons.

Dramático 1923 Jota Aragoneza Tárrega Robledo Cons.

Dramático 1924 O Guarany (Fantasia) Carlos Gomes Leopoldo Silva Ass. Salesianos 1924 Himo Nacional Domingos Silva Cons. Dram 1924 Miserere Verdi Domingos Silva Cons. Dram 1924 Fantasia da Solidão Domingos Silva Domingos Silva Cons. Dram 1924 Noite de Estrelas Domingos Silva Domingos Silva Cons. Dram 1924 Tempestade J. Machado Domingos Silva Cons. Dram 1924 Valsa D. Silva Domingos Silva Cons. Dram 1924 Alvorada Levino Albano Domingos Silva Cons. Dram 1924 Fantasia do Guarany Carlos Gomes Domingos Silva Cons. Dram 1924 Alice Domingos Silva Domingos Silva Cons. Dram 1924 Eu Quero Ver Domingos Silva Domingos Silva Cons. Dram 1924 Combate irresistível Domingos Silva Domingos Silva Cons. Dram 1924 O Bicho Feio Barrios Domingos Silva Cons. Dram Marieta Tarrega A Pistoresi União. Cat. S.

Agostinho 1924 Noturno n.º2 Chopin A Pistoresi União. Cat. S.

Agostinho 1924 Recuerdos de Alhambra Tarrega A Pistoresi União. Cat. S.

Agostinho 1925 Marcha Triunf. Brás. Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Serenata Árabe Frontini Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Feiticeiro Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Uma Lágrima Sagreras Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Quando os Corações... Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Favorita Calazans Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Viola, minha viola Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Padre Nuestro (banjo) S. N. Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Sudan (banjo) Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Tico Tico Assanhando

(cavaquinho) Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Miserere Verdi Canhoto Soc. R. Ed.

Page 150: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Paul. 1925 A Gente se Defende Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Madre Los Valencias Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Caminico de la Fuente Los Valencias Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Los Ojazos de mi negra Los Valencias Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Ya canta el gallo Los Valencias Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Mi Granada Los Valencias Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Serenata Silvestre Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Sombras do Passado Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Do Sorriso das

Mulheres... Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Por que te vuelves a mi? Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 3.o. Prelúdio Mendelssohn Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. 1925 Quando os Corações... Canhoto Canhoto Soc. R. Ed.

Paul. Gavota J. Avelino de C. J. Avelino de C. Um. Cat. S.

Agostinho 1925 Choro Paulista J. Avelino de C. J. Avelino de C. Um. Cat. S.

Agostinho 1925 A Lágrima J. Avelino de C. J. Avelino de C. Um. Cat. S.

Agostinho 1925 Prelúdio em mi Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Marcha T. Br. Canhoto Cons.

Dramático 1925 Alucinação de um sonho Canhoto Cons.

Dramático 1925 A Flor é a Fonte Otero Canhoto Cons.

Dramático 1925 Do sorriso das

mulheres... E. Souto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Miserere Verdi Canhoto Cons.

Dramático 1925 Amor de Argentina Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Tarantella Levino Albano Canhoto Cons.

Dramático 1925 Serenata Árabe Frontini Canhoto Cons.

Dramático

Page 151: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1925 Uma Noite na Roça Canhoto Canhoto Cons. Dramático

1925 Reverie Schumann Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Granada Albeniz Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Gran Vals Tarrega Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Vidalita Sinópoli Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Capricho Árabe Tarrega Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Canção dos Alpes Sinópoli Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Recuerdos de Alhambra Tarrega Osvaldo Soares Soc. R. Ed. Paul.

1925 Recuerdos de Alhambra Tarrega J. Avelino Un. Cat. S. Ago.

1925 Marcha Triunfal Bras. Canhoto Canhoto Teatro Mun. S.P.

1925 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto Teatro Mun. S.P.

1925 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto Teatro Mun. S.P.

1925 A lágrima Sagreras J. Avelino Um. C. S. Ago. 1925 Choro Paulista J. Avelino J. Avelino Um. C. S. Ago. 1925 Recordação Saudosa J. Avelino J. Avelino Um. C. S. Ago. 1925 Marcha dos Marinheiros Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Reminiscências Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Miserere (Trovador) Verdi Canhoto Cons.

Dramático 1925 Rondon (Tango Brás.) J. Pernambuco Canhoto Cons.

Dramático 1925 Alucinação Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Esmeralda Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Julian Donato Canhoto Cons.

Dramático 1925 Uma Lágrima Sagreras Canhoto Cons.

Dramático 1925 Uma noite em

Copacabana Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1925 Serenata Árabe Frontini Canhoto Cons.

Dramático 1925 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto Cons.

Dramático

Page 152: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1925 Mathilde C. Garcia A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Adágio Beethoven A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Sonho Tárrega A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Canção do Berço Pujol A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Tua Imagem Barrios A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Ontem ao Luar Alcântara A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Granada Albeniz A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Miserere (Trovador) Verdi A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Noturno op. 9 n. 2 Chopin A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Capricho Árabe Tarrega A Pistoresi Ass. Salesianos 1925 Marcha Paraguaia Dr. Pinho Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Iparraguirre El Huerfano Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Recuerdos de Zavala Escobar Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Jha! Che valle Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Madrigal Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Meditation Garcia Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Capricho Árabe Tarrega Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Valsa n.o. 4 Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1925 Mathilde Garcia P. Escobar / A

Pistoresi Cons. Dramático

1925 Ontem ao Luar Alcantara P. Escobar / A Pistoresi

Cons. Dramático

1925 Vidalita Sinópoli P. Escobar / A Pistoresi

Cons. Dramático

1925 Recuerdos de Alhambra Tárrega P. Escobar / A Pistoresi

Cons. Dramático

1926 Marcha dos Marinheiros Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Desgraciao Benlock Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Reminiscências Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Feiticeiro Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Favorita Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Luzita Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Serenata Árabe Frontini Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Viola, Minha Viola Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Madrigal Barrios Pablo Escobar S R. Ed. Paul. 1926 Recuerdos de Alhambra Tarrega Pablo Escobar S R. Ed. Paul. 1926 Página de Álbum Barrios Pablo Escobar S R. Ed. Paul. 1926 Estefania Czibulka Pablo Escobar S R. Ed. Paul. 1926 Valsa n.o. 4 Barrios Pablo Escobar S R. Ed. Paul. 1926 Marcha Paraguaia Pablo Escobar Pablo Escobar S R. Ed. Paul. 1926 Marcha Triunfal Bras. Canhoto Canhoto Cons.

Page 153: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Dramático 1926 Alucinação de um sonho Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Desgraciao Belloch Canhoto Cons.

Dramático 1926 Serenata Árabe Frontini Canhoto Cons.

Dramático 1926 Lábios Roxos Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Do Sorriso das

mulheres... Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Natal Pablo Escobar Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 El Huerfano Aieta Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Stephania Cibulka Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Vidalita Sinópoli Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Jha! Che Valle Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Madrigal Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Página de Álbum Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Meditação Garcia Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Aires de América Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Lágrima Tarrega Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Noturno op. 9 n.º 2 Chopin Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Valsa n.º 4 Barrios Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Recuerdos de Alhambra Tarrega Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Marcha Paraguaia Dr. Pinho Pablo Escobar Cons.

Dramático 1926 Marcha Triunfal Brás. Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Reminiscências Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Sonsa Frontini Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Uma Lágrima Sagreras Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Uma noite em

Copacabana Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul.

1926 Viola minha Viola Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1926 Natal Pablo Escobar Pablo Escobar S. R. Ed. Paul.

Page 154: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1926 Lágrima Tarrega Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Desgraciao Julian Benlock Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Capricho Espanhol A. Sinópoli Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Valsa op. 79 n.º 1 Chopin Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Noturno op. 9 n.º1 Chopin Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Astúrias Albeniz Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Choro Brasileiro João Reis Santos Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. 1926 Industrian Larosa Sobrino Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Estudos Originais Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Graciosa Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Guarani (abertura) Carlos Gomes Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Lamentos Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Tarantella Levino Albano Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Marcha Triunfal Brás. Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Reminiscências Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Serenata Árabe Frontini Canhoto Cons.

Dramático 1926 Phalena Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Alucinação Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto Cons.

Dramático 1926 Miserere (Trovador) Verdi Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Valsa Clássica Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Casamento na Roça Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 A caminho da Roça Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Recordação Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1926 Melodia Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1926 Samba Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1926 Rosa Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Sonhos de Cardeal Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Todos Dançam Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. Sonsa Raul de los

Hoyos

1926 Murmúrios Larosa Sobriho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Julian Donato Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Simpatia Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Brasil Thiers Cardoso Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Passagens da Vida Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Padre Nuestro Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Fado das Mãos Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 No vai-vem das ondas Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Casamento na Roça Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Rosas Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Meu Primor Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Todos Dançam Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul.

Page 155: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1926 Sonho de Cardeal Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Até a Volta Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Soluçando Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Francesita Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1926 Rádio Eduacadora Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Ilusão que morre Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 chorão Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Queixumes da fonte Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Serenata Árabe Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Orodisoito Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Primavera José Navarro José Navarro S. R. Ed. Paul. 1927 Meu violão José Navarro José Navarro S. R. Ed. Paul. 1927 Cateretê clássico José Navarro José Navarro S. R. Ed. Paul. 1927 São Paulo Chic José Navarro José Navarro S. R. Ed. Paul. 1927 Recordações Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Samba estilo nortista Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Gavota Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Sonhando Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Vidalita Sinópoli A Pistoresi S. R. Ed. Paul. 1927 Aieta Pistoresi A Pistoresi S. R. Ed. Paul. 1927 Miserere (Trovador) Verdi A Pistoresi S. R. Ed. Paul. 1927 Capricho Árabe Tarrega A Pistoresi S. R. Ed. Paul. 1927 Ave Maria E. Campos Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Sentimento Crioulo Firpo Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Marcha Militar Chaves Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Tango Cachafaz Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Lágrimas de mãe Chaves Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Madrugando Chaves Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Rimpianto Toselle Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Afeição Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Marcha Triunfal Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Não me Toques Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Pout-pourri lírico Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Fantasia do Guarany Carlos Gomes Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. 1927 Noturno op. 9 n.o 2 Chopin Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. 1927 Céu do Paraná Leopoldo Silva Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. 1927 Abismo de Rosas Canhoto Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Cateretê Paulista Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Gavota Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Canção do Berço Pujol A Jacomino/ A

Araújo S. R. Ed. Paul.

1927 Reverie Schuman A Jacomino/ A Araújo

S. R. Ed. Paul.

1927 Uma Lágrima Sagreras A Jacomino/ A Araújo

S. R. Ed. Paul.

1927 Recordação Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Serenata Árabe Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Não me Toques Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Ave Maria Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul.

Page 156: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1927 Marcha Militar Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Fado das mãos Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Marcha Triunfal Brás. Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Reminiscências Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Viola Mimosa Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Ave Maria Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Hora Fatal Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Uma Lágrima Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Sonsa Benedito Chaves S. R. Ed. Paul. 1927 Em pleno mar Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Feiticeiro Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Fluminense Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Viola Minha Vila Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Marcha dos Marinheiros Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Brasileiro Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto T. Boa Vista 1927 Saudades de Iguape Pedro J. Moraes Pedro J. Moraes S. R. Ed. Paul. 1927 Saudades de Amparo Pedro J. Moraes Pedro J. Moraes S. R. Ed. Paul. 1927 Granada Albeniz Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. 1927 Na tarde triste Zequinha de

Abreu Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul.

1927 Céu do Paraná Leopoldo Silva Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. 1927 Noturno op. 9 n.º 2 Chopin Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. 1927 No reino dos sonhos Hugo Banzatto Hugo Banzatto S. R. Ed. Paul. 1927 Langosta Filisberto Hugo Banzatto S. R. Ed. Paul. 1927 Adoração Hugo Banzatto Hugo Banzatto S. R. Ed. Paul. 1927 Pachá Hugo Banzatto Hugo Banzatto S. R. Ed. Paul. 1927 O polido Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Fumando espero Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Graciosa Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Gavotta Luiz Buono S. R. Ed. Paul. 1927 Lamento Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Julieta Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Casamento na Roça Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 M<eu Primor Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Simpatia Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1927 Olhos Feiticeiros Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Reminiscências Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Sonsa Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Por que te vuelves a mi? Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Em pleno mar Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Feiticeiro Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 O Guarani Carlos Gomes Canhoto S. R. Ed. Paul. 1927 Prece da saudade Levino Albano Levino Albano S. R. Ed. Paul. 1927 Escovado Nazareth Levino Albano S. R. Ed. Paul.

Page 157: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1927 Melodia Sentimental Levino Albano Levino Albano S. R. Ed. Paul. 1928 Dobrado Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Cateretê rebuliço Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Colar de Pérolas Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Hino Nacional Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Amparo Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Julia Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Arrependido Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Hino Nacional Totó S. R. Ed. Paul. 1928 Patrício J. Sebastião

Lima J. Sebastião Lima

S. R. Ed. Paul.

1928 Loca J. Sebastião Lima

J. Sebastião Lima

S. R. Ed. Paul.

1928 Implorando J. Sebastião Lima

J. Sebastião Lima

S. R. Ed. Paul.

1928 Ora vejam só Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1928 Julieta Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1928 Lamento Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1928 Murmúrios Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. 1928 Lágrimas de mãe Pedro

Cavalheiro Pedro Cavalheiro

S. R. Ed. Paul.

1928 Flor do Sertão Pedro Cavalheiro

Pedro Cavalheiro

S. R. Ed. Paul.

1928 Um sururu no terreiro Pedro Cavalheiro

Pedro Cavalheiro

S. R. Ed. Paul.

1928 Allegro da sonata op. 22 Sor Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Gran Andante em A Maior

Sor Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Cantabile Sor Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Andantino Sor Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Minueto Sor Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Estilo clássico Juan Rodrigues Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Coral Del Norte Juan Rodrigues Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Chacarera Juan Rodrigues Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Maxixe Souto Rodrigues Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Solitário Porcel Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Canção de Filandeiras Porcel Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Dança Oriental Porcel Juan Rodrigues Cons. Dramático

Page 158: Gilson Antunes - Americo Jacomino

1928 Divertimento op. 16 Porcel Juan Rodrigues Cons. Dramático

1928 Célebre Minueto Porcel Juan Rodrigues Cons. Dramático

Page 159: Gilson Antunes - Americo Jacomino
Page 160: Gilson Antunes - Americo Jacomino

ODEON Número do disco

Repertório Gênero Número da matriz Intérpretes Autores Data de lançamento

40003 Ter amor não é defeito Modinha RX-279 Mário Pinheiro

10210 Monteiro no sarilho Polca Cavaquinho, violão e flautim 10221 Violetas Choro Flauta, violão e cavaquinho 108069 Rato Rato Choro XR-602 Casemiro Rondo c/ cavaquinho e violão 108748 Os caçadores Lundu XR-1411 Eduardo das Neves Bahiano e Risoleto (violões) 137052 Bahiano dengoso Cançoneta Bahiano H.Retinho Abril/13 137053 Dorisa Polca Antonio F. Rabelo (concertina) Artur Moreira (violão) D.P. Abril/13 137054 Quindins de Iaiá Polca Antonio F. Rabelo(concertina) Artur Moreira (violão) D.P. Abril/13 137088 Descascando o pessoal Samba Clarinete, cavaquinho e violão Arranjos de motivos populares Jan/14 137089 Urubu malandro Samba Clarinete, cavaquinho e violão Arranjos de motivos populares Jan/14 120589 Saci Polca Grupo do Canhoto João Batista do Nascimento 120590 Saudades de Iguape Valsa Grupo do Canhoto João Batista do Nascimento 120591 Suplication Valsa SP.3 Grupo do Canhoto W. J. Peans 120592 Tuim-Tuim Valsa S.P.4 Grupo do Canhoto [Antonio Picucci] 120593 Amores noturnos Mazurca S.P.5 Grupo do Canhoto 120594 Babi Polca Grupo do Canhoto 120595 Belo Horizonte Valsa Américo Jacomino [Américo Jacomi no] 120596 Pisando na mala Polca Américo Jacomino [Américo Jacomino] 120597 Campos Sales Dobrado Américo Jacomino [Américo Jacomino] 120598 Devaneio Mazurca Américo Jacomino 120599 Seiscentos e vinte e três Polca Grupo do canhoto 120600 Adeus Helena Valsa Grupo do Canhoto 120757 Mambira Polca Hugo (gaita) Mabilde (violão) Dez/13 120758 Mimosa Chótis Mabilde (violão) Álvaro Mabilde 121044 Casa Brancato Valsa Banda 52 de caçadores Américo Jacomino " Canhoto " 121228 Odeon One-step Grupo do Canhoto Fred Del Ré 121229 O Frederico no choro Tango Grupo do Canhoto Fred Del Ré 121230 Nas asas de um anjo Valsa Grupo do Canhoto [Antonio A.Lemos] 121231 Longe de ti Mazurca Grupo do Canhoto 121232 O último sorriso Valsa Grupo do Canhoto Fred Del Ré 121233 Deixe de luxo Polca Grupo do Canhoto Fred Del Ré 121234 Angústias de amor Valsa Grupo do Canhoto 121235 O Paulista Tango Grupo do Canhoto 121236 Amores na praia Valsa Grupo do Canhoto Américo Jacomino 121237 Depois do beijo Chótis Grupo do Canhoto Américo Jacomino 121238 Pensando em ti Valsa Grupo do Canhoto 121239 Ida Valsa Grupo do Canhoto Fred Del ré 121240 Ciúmes de amor Valsa Grupo do Canhoto Fred Del Ré 121241 Noites de farra Polca Grupo do Canhoto Fred Del Ré 121242 Lembranças de Lima Valsa Grupo do Canhoto Luiz Argento

Page 161: Gilson Antunes - Americo Jacomino

121243 Tudo mexe Polca Grupo do Canhoto Luiz Argento 121244 Beijar depois morrer Valsa Grupo do Canhoto Luiz Argento 121245 Suspirando Mazurca Grupo do Canhoto Luiz Argento 121246 Suplicando amor Valsa Grupo do Canhoto Américo Jacomino 121247 Sudan Tango Grupo do Canhoto Américo Jacomino 121248 Beijo e lágrimas Valsa Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" 121249 Acordes do violão Valsa Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" 121270 Olhos que falam Valsa Grupo dos chorosos Américo Jacomino 121371 Samaritana (Olhos que

falam) Canção Vicente Celestino Américo Jacomino Inácio Raposo

121478 Madrugando Tango Américo Jacomino 121479 Recordações de Cotinha Tango Américo Jacomino 121514 Nhá Maruca foi

s'imbora Catira Grupo O Passo no choro Américo Jacomino "Canhoto"

121645 Fatalidade de um beijo Chótis Bahiano (acompanhado de Canhoto ao violão) Américo Jacomino "Canhoto" 121644 Na coeita Canção

Sertaneja Bahiano (acompanhado de Canhoto ao violão) F.Nascimento Pinto Franc. Ponzio

Sobrinho

122103 Cuzcuz de Sinhá Chica Bahiano João Pernambuco 122214 Triste carnaval Valsa Vicente Celestino Canhoto - Arlindo Leal 122540 Triste ausência Mazurca

Lírica Levino da Conceição ( violão) Levino da Conceição

122541 A Carioca P. Tango Levino da Conceição (violão) Levino da Conceição 122924 Saudades do Rio

Grande Valsa lenta Levino da Conceição (violão) Levino da Conceição

122925 Reminiscências Bahianas

Maxixe Levino da Conceição (violão) Levino da Conceição

122926 Há quem resista? Maxixe Levino da Conceição ( violão ) Levino da Conceição 122927 El Pasado (Audacioso) Tango

Argent. Levino da Conceição (violão ) Levino da Conceição

122932 Marcha Triunfal Brasileira

Marcha Américo Jacomino ( violão) Américo Jacomino " Canhoto"

122933 Abismo de Rosas Valsa Américo Jacomino (violão) Américo Jacomino "Canhoto" 122934 Porque te vuelve a mi Tango Américo Jacomino (violão) Américo Jacomino "Canhoto" 122935 Uma noite em

Copacabana Maxixe Américo Jacomino (violão) Américo Jacomino "Canhoto"

122937 Feche a porta e leve a chave

Sambinha Paraguaçu Américo Jacomino "Canhoto"

122105 Tiá de Junqueiro Samba Bahiano João Pernambuco 123048 Fado do vagabundo Carlos Serra (acomp. de violões e bandolins) Motivo popular 123049 Alzajama Carlos Serra (acomp. de violões e bandolins) 123070 Mimoso Maxixe João Pernambuco (acomp. de Rogério Guimarães ao

violão) João Pernambuco

123071 Lágrimas Maxixe João Pernambuco (acomp. de Rogério Guimarães ao violão)

Page 162: Gilson Antunes - Americo Jacomino

123076 Martha Valsa Rogério Guimarães (violão) Rogério Guimarães 123077 Marinetti Fox-trot Rogério Guimarães (violão) Rogério Guimarães 123162 Jandaia C. Sertanejo Patrício Teixeira João Pernambuco Nov/26 123163 "Seu Coutinho pegue o

boi" Embolada Patrício Teixeira João Pernambuco Nov/26

123164 Magoado Choro João Pernambuco (violão) Nelson Alves (cavaq.) João Pernambuco Dez/26 123165 Sons de Carrilhões Choro João Pernambuco (violão Nelson Alves (cavaq.) João Pernambuco Dez/26 123198 Marcha dos

Marinheiros Marcha 1007 Américo Jacomino "Canhoto" (violão) Américo Jacomino "Canhoto" Dez/26

123199 A menina do sorriso triste

F.Tango 1009 Américo Jacomino "Canhoto" (violão) Américo Jacomino "Canhoto" Dez/26

123200 Reminiscências Valsa lenta 1008 Américo Jacomino "Canhoto"(violão) Américo Jacomino "Canhoto" Dez/26 123201 Alvorada de estrelas Gavota 1010 Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" Dez/26 123210 O Guarani Fantasia 1031 Américo Jacomino "Canhoto"(violão) Carlos Gomes Arr: Canhoto 123211 Sonsa Tango 1013 Américo Jacomino "Canhoto "(violão) Fresedo 123212 Invejoso Maxixe 1012 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto" 123213 Viloa minha viola Samba 1014 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto" 123225 Mamãe eu vou com ele! M.Carnav 1053 Frederico Rocha Américo Jacomino "Canhoto" 123226 Só na Bahia é que tem Samba 1025 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto" 123227 A gente se defende Maxixe 1064 Frederico Rocha Américo Jacomino "Canhoto 123229 Carnaval à noite Maxixe 1065 Frederico Rocha Américo Jacomino "Canhoto 123246 "Rosas desfolhadas Valsa lenta 1011 Américo Jacomino "Canhoto" (violão ) Américo Jacomino "Canhoto 123247 "Guitarra de mi terra Tango 1017 Américo Jacomino "Canhoto "( violão) Américo Jacomino "Canhoto" 123248 Melancolia Noturno 1015 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto" 123242 Primeiras Rosas Valsa 1029 Paraguassu Américo Jacomino e Roque

Ricciardi

123281 Só na Bahia tem Samba 1137 Francisco Alves Américo Jacomino "Canhoto" 123282 "Trepadeira Francisco Alves Américo Jacomino "Canhoto" Abril/27 123289 Foi-se embora Maria Oscar Pereira Gomes Américo Jacomino "Canhoto" Abril/27 123290 Luizinha Valsa lenta 1103 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto Äbril/27 123291 Fluminense-Tango Tango 1104 Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" Abril/27 123292 Tico Tico no farelo Choro Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" 123293 Um noite em Ipanema Valsa Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" 123304 Em pleno mar Valsa 1118 Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" Maio/27 123303 Fantasia s/ Tango "A

média Luz" Américo Jacomino "Canhoto" (violão ) E. Dorato Maio/27

123305 Tempo Antigo Mazurca 1119 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto" Maio/27 ODONETE 114 A-Saudade de Portugal

B-Lá vai madeira Dueto guitarra e violão

Dueto cavaq. E violão Sem indicação Luperce Miranda

COLUM BIA

Page 163: Gilson Antunes - Americo Jacomino

B-139 O Epifânio brincando Polca Grupo Honório Jaci e Sertanejo Gavota e

Batuque João Guimarães ( violão )

PHOENIX 70786 Saudades de minha

Aurora Valsa Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"

70790 Saudades de São Bernardo

Valsa Grupo do Canhoto Antonio Picucci

70796 Tenho pressa Polca Grupo do Canhoto Antonio Picucci 70797 Sempre feliz a teu lado Mazurca Grupo do Canhoto J. Rafaille 70799 Nas asas de um anjo Valsa Grupo do Canhoto Antonio A Lemos 70802 Alda Chótis Grupo do Canhoto 70803 Belo Horizonte Valsa Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" 70804 Uiára Polca Américo Jacomino "Canhoto"( violão) 70805 Devaneio Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) 70806 Sempre teu Américo Jacomino "Canhoto"( violão) 70814 Onde está Idalina Polca Grupo do Canhoto Antonio Picucci 70815 Tuim,Tuim,Tuim Valsa Grupo do Canhoto Antonio Picucci 70815 Amor constante Valsa Grupo do Canhoto Antonio Picucci 70817 Pierrota Valsa Grupo do Canhoto Antonio Picucci 70818 Não si impressiona Polca Grupo do Canhoto Américo Jacomino "Canhoto GAÚCHO 4042 Nhá Maruca foi

s'imbora Nhá moça

Samba Samba

Os Geraldos Américo Jacomino ?

ODEON 10010 A-Rosas desfolhadas

B-Viola,minha viola Valsa Toada

1242 1211 Canhoto ( violão) Pilé (acompanhamento do grupo do Canhoto)

Canhoto Canhoto

Julho/27

10014 A-Foi s'imbora Maria B-Dengoso

Samba P.Choro

1200 1202 Pilé Canhoto(cavaquinho)

Canhoto Canhoto

Agosto/27

0015 A-O coco de Iaiá B-Santa Terezinha

Maxixe Valsa

1212 1201 Pilé (acompanhamento do grupo do Canhoto) Canhoto (cavaquinho)

Canhoto Canhoto

Agosto/27

10017 A-Olhos feiticeiros B-Burgueto

Tango V lenta

1223 1235 Canhoto ( violão ) Canhoto Canhoto

Agosto/27

10019 A-Dengoso B-Reflexos da mina alma

Toada Modinha

Francisco Alves c/ Canhoto ( violão ) Francisco Alves Francisco Alves

10020 A-Marcha T Brasileira B-Reminiscências

Marcha Valsa lenta

1243 1231 Canhoto ( violão ) Canhoto Canhoto

Anterior aout/1927

10021 A-Abismo de Rosas B-Marcha dos

Valsa lenta Marcha

1230 1244 Canhoto ( violão ) Canhoto Canhoto

Page 164: Gilson Antunes - Americo Jacomino

Marinheiros 10022 A-Uma noite em

Ipanema B-Tico tico no farelo

Valsa Choro

1236 1237 Canhoto(cavaquinho) Canhoto Canhoto

10024 A-Brasilerita B-Caprichoso

Tango Argent Maxixe

1248 1228 Canhoto ( violão) Canhoto Canhoto

Setembro/27

10026 A-Berço e Túmulo B-Bebê

Modinha V.lenta

1203 1225 Paraguaçu acompanhado do grupo do Canhoto Canhoto(cavaquinho)

Paraguaçu Canhoto

10027 A-Choça do monte B-Araci

Choro Valsa

1204 1234 Paraguaçu acompanhado do grupo do Canhoto Canhoto (cavaquinho)

Catulo Cearense

10028 A-Luar da minha terra B-A Solina voou

Canção Canção

1210 1213 Pilé acompanhado do grupo do Canhoto Canhoto Canhoto

Set/27

10029 A-Paulista de Taubaté B-Vamos embora Maria

Toada Embolada

1214 1224 Pilé acompanhado do grupo do Canhoto Canhoto "Jararaca"

Set/27

10107 A-Prelúdio de violão B-Atlântico

Tango

1451 1452 Rogério Guimarães(violão) Rogério Guimarães

10148 A-Sonho de gaúcho B-Campanha do sul

Canção Fox-trot

1553 1558 Francisco Alves Francisco Alves e Rogério Guimarães (violões)

Sinhô Rogério Guimarães

Março/28