Ginna g - Tempestade de emocoes -.doc

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  • 8/11/2019 Ginna g - Tempestade de emocoes -.doc

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    Romances Nova Cultural

    Ginna Gray

    Um patro que era um tirano.

    Uma assistente que o desafiava.

    Carcias ousadas e um beijo louco fizeram Beatrice perceber seu imenso amor. H poucos dias,

    vestira-se como uma beata para disfarar a beleza e conseguir o emprego. Agora estava ali, nos

    braos do patro, vibrando de amor, numa confuso de desejos descon!ecidos.

    Ap"s tantos anos de autocontrole, sentia-se desorientada. #or $ue apai%onar-se por &ard, um

    !omem temperamental $ue tin!a fama de con$uistador' (as ela o amava com f)ria e pai%o*

    +igitalizao imonin!a

    eviso /dna 0i$uer

    CAPTULO I

    Beatrice &inters entrou em casa batendo a porta com tanta fora, $ue o antigo lustre c!egou

    a tilintar. #or um momento, ela fitou a luz tremulante com um sorriso de satisfao. 1 desejo de

    De f para fs, sem ns lucrativos.

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    Ginna Gray Tempestade de emoes

    praticar alguma esp2cie de viol3ncia a perseguira o dia inteiro, e agora ela sentia um grande alvio

    ao dar vazo 4 sua frustrao, mesmo $ue fosse de uma maneira infantil.

    Ao enfiar o guarda-c!uva ainda mol!ado no suporte de cobre, com mais mpeto do $ue o

    necessrio, voltou-l!e a vontade de t3-lo $uebrado na cabea do sr. 5en6ins. /le bem $ue o teria

    merecido*Bufando de raiva, Beatrice subiu as escadas, com passadas rpidas e decididas. 1s longos

    cabelos castan!os balanavam-l!e nas costas, como a cauda de um tigre enfurecido.

    /ra inacreditvel* /ra realmente inacreditvel $ue durante $uatro anos tivesse circulado no

    mundo dos neg"cios $uase em estado de graa. (as essa ing2nua ignor7ncia !avia terminado.

    8as duas )ltimas semanas, ela sofrera uma se$u3ncia de c!o$ues e decep9es, e nem na$uele

    dia fora poupada.

    Ao dei%ar a :!omas Barlo; < Cia., onde fora gerente de uma seo, estava confiante de $uesua compet3ncia profissional garantiria-l!e um novo emprego, to interessante e to bem remu-

    nerado $uanto o anterior. (as, ao inv2s disso, vin!a sendo preterida, sob a alegao de ter um

    currculo super$ualificado para os cargos disponveis. 1u, o $ue era pior, os empregados em

    potencial mostravam-se mais interessados em suas $ualidades como possvel parceira de cama

    do $ue em sua capacidade para gerenciar um escrit"rio.

    =uando alcanou o patamar e abriu a porta do apartamento, estava ofegante. 8o s" pelo

    esforo fsico, mas, principalmente, pelo desgaste emocional.

    /la tin!a um problema. / a e%peri3ncia ensinara-l!e $ue a )nica forma de solucion-lo seria

    fazer uma anlise pr2via dos fatos, estabelecer um plano de ao e, em seguida, e%ecut-lo com

    paci3ncia e obstinao. +ei%ar-se levar por uma e%ploso temperamental podia faz3-la rela%ar na

    !ora, mas no iria resolver nada.

    A apar3ncia e%terna de Beatrice &inters era enganadora. ob a figura suave e feminina, sob

    o ar tran$uilo e frio, escondiam-se uma vontade f2rrea e um esprito rebelde e independente. /la

    demonstrava ser tolerante e tratvel, e, 4s vezes, at2 pessoas mais pr"%imas podiam levar anos

    para descobrir a verdadeira Beatrice, uma moa determinada $ue, ao fi%ar uma meta, fazia de

    tudo para alcan-la. e, por acaso, ela enfrentasse algum obstculo $ue no pudesse transpor

    de imediato, logo tomava um camin!o alternativo, e o atacava sob outro 7ngulo. A mesma im-

    placvel determinao em algu2m mais agressivo seria assustadora.

    :o logo Beatrice ultrapassou a porta do apartamento, o telefone tocou. /ngolindo a raiva, ela

    foi atend3-lo.

    > Al?*

    > 1i* Acabei de c!egar ao campus, e resolvi telefonar antes de comear a devorar os livros.

    > A voz do irmo do outro lado da lin!a, parecia animada e c!eia de confiana. > / ento, como

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    foi a entrevista'

    > #ara ser franca, no foi muito boa > respondeu Beatrice com um suspiro.

    > 1!... > 1 tom de @reg mudou drasticamente. A$uela )nica slaba traduzia todo o seu

    desapontamento. > 1 $ue aconteceu' > ele $uis saber.

    A pergunta trou%e-l!e 4 mem"ria a imagem da mo gorda e pegajosa do sr. 5en6insapalpando-l!e o joel!o, e Beatrice sentiu um espasmo de nojo.

    > /u... eu ac!o $ue ele j tin!a algu2m em perspectiva, e min!a entrevista no passou de

    mera formalidade > mentiu.

    #or nada deste mundo diria a verdade a @reg. /le tin!a apenas dezenove anos. /ra seis

    anos mais moo do $ue ela, mas sempre tomava atitudes de irmo mais vel!o. e @reg viesse a

    saber $ue a$uele sujeito as$ueroso fizera-l!e propostas obscenas, seria bem capaz de parti-lo ao

    meio.> #aci3ncia > murmurou @reg, num tom ressentido. > oc3 tem outra coisa em vista'

    Beatrice relanceou um ol!ar pela seo de classificados do jornal $ue dei%ara aberto sobre a

    mesa do caf2, e sorriu fracamente.

    > Ainda no, mas vou continuar batal!ando. 0ez-se um breve sil3ncio e @reg pigarreou.

    > 1l!e a$ui, mana. /u poderia conseguir um emprego de meio e%pediente. ei $ue no 2

    muito, mas sempre ajuda.

    > 8o* +e forma alguma* > revidou Beatrice. > Concentre-se apenas nos estudos, e dei%e

    a parte financeira por min!a conta.

    1 oferecimento de @reg a comovera e, ao mesmo tempo, a !orrorizara. /le vin!a

    conseguindo notas altas no cursin!o, e um trabal!o, mesmo $ue de meio perodo, prejudicaria os

    estudos. 8o podia admitir $ue isso acontecesse. H muito @reg son!ava formar-se engen!eiro.

    / nem $ue fosse para mover c2us e terra, ela !averia de transformar esse son!o em realidade.

    > /st bem. e 2 assim $ue voc3 prefere... > concordou o irmo, com relut7ncia, > (as a

    oferta fica de p2. embre-se disso, se as coisas comearem a apertar.

    > embrarei, mas no se preocupe. ogo, logo tudo vai entrar nos ei%os > ela assegurou,

    tentando imprimir confiana 4 voz. > (esmo $ue demore um pouco, no se es$uea de $ue

    sempre posso recorrer 4s min!as economias. > Como uma criana tra$uina, Beatrice cruzou os

    dedos para anular a mentira.

    > oc3 2 $uem sabe. > Apesar de con!ecer a tenacidade da irm, !avia d)vida na voz de

    @reg. > igo pra voc3 aman!, mana. Agora vou dar um pulo at2 a biblioteca, antes $ue fec!e.

    > com +eus* / no se preocupe*

    Beatrice desligou o telefone e ficou ol!ando para o aparel!o, com um ar pensativo. +etestava

    enganar @reg, mas de pouco adiantaria $ue ambos se martirizassem por causa da situao.

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    A c!uva de janeiro transformava-se rapidamente em granizo. 1s pe$ueninos pedaos de gelo

    estalavam nos vidros da janela $uando Beatrice tirou as luvas, colocando-as no bolso do casaco.

    ma umidade gelada invadira o apartamento, e ela foi ligar o a$uecimento central.

    8a verdade, o apartamento era apenas o andar superior de uma vel!a casa em estilo

    vitoriano $ue a av" l!e dei%ara como !erana, ! $uatro anos. (uitos imaginaram $ue ela fossevender o im"vel, mas, para Beatrice, a certeza de ter um teto seguro prevalecera sobre $ual$uer

    outro argumento. sando o $ue restara da !erana, resolveu transformar a casa em dois

    apartamentos. Alugou o t2rreo para um casal, +an e 5udD 0isc!er. 0oi assim $ue ela pode arcar

    com as despesas de manuteno do vel!o edifcio. / ainda sobrava um pe$ueno saldo para as

    situa9es de emerg3ncia, como a$uela em $ue estava vivendo no momento. Bem ou mal, sempre

    contaria com um abrigo.

    #endurando o casaco sobre o espaldar de uma cadeira. Beatrice suspirou. #ensava nope$ueno e bem-cuidado carro guardado na garagem da casa. e no conseguisse logo um

    emprego decente, talvez precisasse vend3-lo para custear a matrcula de @reg na 0aculdade.

    =uanto 4s mensalidades, s" +eus sabia como !averia de pag-las.

    +escalando os sapatos de salto alto, dirigiu-se para a cozin!a e preparou uma %cara de caf2

    sol)vel, $ue levou para a sala de estar. entando-se no sof, de pernas entrelaadas, pegou um

    lpis vermel!o e comeou a assinalar os an)ncios do jornal com renovada ateno. 8a primeira

    consulta, rejeitara ofertas de emprego, mas, agora, no podia se dar ao lu%o de fazer e%ig3ncias.

    +uas novas c!ances !aviam surgido $uando a campain!a da porta tocou.

    /stran!o. As pessoas con!ecidas nunca iriam procur-la 4s cinco da tarde, !ora em $ue

    raramente se encontrava em casa. " podia ser algum vendedor, e ela no estava com a mnima

    disposio para atender ningu2m* (as, por via das d)vidas, abriu a porta.

    > 5udD* > Beatrice pestanejou diante da figura redonda e saudvel da jovem futura mame

    $ue estava parada na soleira. > Como 2 $ue voc3 voltou para casa to cedo' amos entrando*

    > E $ue !oje eu tin!a !ora marcada com o dentista, e sa do escrit"rio mais cedo. > 5udD

    entrou no apartamento, sorrindo diante do espanto da amiga. > i seu carro na garagem e no

    pude refrear min!a curiosidade por mais tempo. Como 2' Como foi a entrevista de !oje'

    > ma droga* > Beatrice indicou-l!e o sof. > (as sente-se. ou servir-l!e um cafezin!o.

    5udD recusou o sof e acomodou-se entre as almofadas de damasco, meneando a cabea.

    > 8o se incomode, $uerida. e eu tomar mais uma %cara de caf2, vou acabar tendo uma

    into%icao de cafena.

    Beatrice tamb2m desistiu do caf2 e foi sentar-se no sof, com um ar acabrun!ado.

    > 1 $ue aconteceu desta vez' 8o me diga $ue ouviu de novo a$uela ladain!a de $ue voc3

    tem $ualificao demais para o cargo' > perguntou a visitante.

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    > +esta vez no foi assim. 1 emprego estaria garantido, mas eu desisti. E $ue no estava

    disposta a desfrutar de todas as vantagens $ue o sr. 5en6ins me ofereceu.

    #or alguns instantes, 5udD pareceu confusa, mas logo captou o sentido da frase.

    > =uer dizer $ue ele l!e deu uma cantada'

    > Cantada' /le fez um avano em regra*> Fsso 2 $ue se c!ama uma garota de sorte*

    > oc3 no diria tal coisa se tivesse visto o sr. 5en6ins.

    > #or $u3' /le 2 to desprezvel assim'

    Beatrice apenas revidou os ol!os significativamente, e a outra in$uiriu

    > / o $ue voc3 disse a ele'

    > /u disse e%atamente o $ue ele deveria fazer com a$uele emprego e com a proposta

    indecorosa, e, em seguida, derramei todo o caf2 da %cara na$uela careca reluzente. Ainda bem$ue o caf2 j estava morno*

    > 8o me diga*

    > 5uro*

    > Como foi isso' A linda, maravil!osa e to serena srta. Beatrice &inters praticando uma

    grosseria dessas'

    > (as eu me contive muito. /ra para ter estraal!ado meu guarda-c!uva na$uela cabea de

    ovo*

    Ambas caram na gargal!ada.

    > 1 !omenzin!o ficou to surpreendido $uanto voc3 > confessou.

    #or algum tempo, ela tamb2m conseguiu rir, lembrando-se da cara de espanto do sr. 5en6ins,

    $ue ficara im"vel, por trs da escrivanin!a, com o l$uido marrom escorregando-l!e pela ponta do

    nariz. (as o fato de ter reagido de forma to agressiva a perturbou, e logo ficou s2ria. 8o era

    normal $ue descarregasse a raiva da$uela maneira. 1s anos $ue passara na casa dos tios, ap"s

    a morte dos pais, tin!am-na ensinado a virtude de manter-se fria, $ual$uer $ue fosse a

    provocao. 1 marido da tia era um !omem brutal, de temperamento e%plosivo. Beatrice apren-

    dera, a duras custas, $ue a mais prudente e segura forma de proceder era controlar os impulsos e

    manter-se calma e serena.

    1s ol!os castan!os de 5udD suavizaram-se, c!eios de piedade e simpatia, ao notarem a

    e%presso desalentada da amiga.

    > #osso entender $ue esteja deprimida, Bea, mas receio $ue voce possa voltar a enfrentar

    esse tipo de coisa em toda parte onde for. Conven!amos $ue os :!omas Barlo; da vida so uma

    esp2cie em e%tino.

    > E... estou comeando a me dar conta disso.

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    " recentemente Beatrice estava dando valor 4 sorte $ue tivera ao conseguir a$uele emprego

    nas Fnd)strias Barlo;, logo ap"s a formatura. :!omas Barlo; beirava os sessenta anos e era um

    eterno apai%onado pela maternal matrona com a $ual se casara ! $uase $uarenta. Apesar de

    saber $ue era ben$uista, o relacionamento com o patro sempre ficara limitado ao campo

    profissional. 1 sr. Barlo; era um !omem ntegro e moralista, $ue avaliava seus funcionrios pelacapacidade e efici3ncia, tratando a todos, indistintamente, com o maior respeito.

    A descoberta de $ue nem todos os patr9es eram iguais foi um amargo despertar para

    Beatrice.

    > /m todo o caso, ac!o $ue voc3 agora ad$uiriu bastante e%peri3ncia para lidar com esses

    mac!9es atrevidos > disse 5udD, ol!ando com inveja para as belas e clssicas fei9es da amiga.

    > oc3 precisa levar em conta $ue 2 uma moa no esplendor de seus vinte e cinco anos,

    vendendo beleza e c!arme, e, ainda por cima, solteira. +urante esses $uatro anos $ue moro a$ui,deu para ver a fila de jovens $ue ficam na sua cola* 8o posso acreditar $ue todos eles se

    comportaram como perfeitos caval!eiros.

    > Claro $ue no > admitiu. > (as 2 $ue, pelo menos na min!a vida particular, eu consigo

    controlar os abusados. e um !omem com o $ual marco um encontro no aceita uma negativa,

    eu simplesmente o risco do mapa. 8o trabal!o, no ten!o essa opo.

    Beatrice no era vaidosa nem convencida, mas tin!a consci3ncia de $ue era bonita, uma

    realidade constatada diariamente em frente ao espel!o. (as, sob seu ponto de vista, os lmpidos

    ol!os azuis, os cabelos castan!os e sedosos e as fei9es clssicas de seu rosto no passavam

    de um dom. +o resultado de uma feliz combinao de genes. ua beleza era uma ddiva de

    +eus, pela $ual ela se sentia grata. Afinal, nen!uma mul!er deseja ser feia.

    +e fato, ela ad$uirira e%peri3ncia para conter a sofreguido dos admiradores. (as, uma coisa

    era a vida social, e outra, bem diferente, a vida profissional.

    > ei muito bem " $ue voc3 est $uerendo dizer > concordou 5udD. > oc3 est precisando

    2 de um patro como o meu.

    Beatrice soltou uma risadin!a zombeteira.

    > E isso a* 8unca eu iria imaginar a sra. #er6ins perseguindo voc3, louca, babando ao redor

    de uma mesa de trabal!o*

    > 8o estou falando da sra. #er6ins. /stou me referindo a &ard Gingman, o dono da

    empresa.

    m lampejo de desd2m passou pelos ol!os azuis de Bea.

    > =uem' 1play-boylA$uele $ue aparece em todos os jornais, sempre com alguma pantera

    a tiracolo'

    > Bem, no sei se 2 o caso de classific-lo como um play-boy, mas 2 dele mesmo $ue estou

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    falando. 8o obstante o $ue voc3 possa ter visto ou lido nos jornais, &ard Gingman 2 um !omem

    de neg"cios muito astuto e inteligente, e $uando ele est no escrit"rio, 2 o prprio e%ecutivo. #or

    sinal, ele est procurando uma nova assistente. A srta. +unston ocupou o cargo durante os

    )ltimos dez anos, mas agora est $uerendo se aposentar.

    1 corao de Beatrice alvoroou-se.> /st me parecendo um cargo bem semel!ante ao $ue eu ocupei na Barlo;. #u%a vida,

    5udD* #or $ue voc3 no falou sobre isso antes' E e%atamente o tipo de emprego $ue ando pro-

    curando* oc3 precisa marcar uma entrevista para mim, aman! de man!, logo 4 primeira !ora.

    > into muito, Bea, mas seria um total desperdcio de tempo > respondeu 5udD, meneando

    a cabea com des7nimo. > 0oi por isso $ue no falei nada at2 agora. oc3 nem conseguiria

    passar pela entrevista preliminar com a sra. #er6ins.

    > #or $ue no'* > perguntou Beatrice, ferida em seu amor-pr"prio. > Afinal, ten!o $uatroanos de e%peri3ncia nas Fnd)strias Barlo; < Cia., o )ltimo deles na funo de assistente direta de

    :!omas Barlo;* 8a min!a opinio, estou mais do $ue $ualificada para esse emprego*

    > =ualificada, sim. Aceitvel, no.

    > 1 $ue est $uerendo dizer com isso'

    > 1 problema 2 $ue voc3 2 bonita demais* > 5udD ergueu ai mo, interrompendo o protesto

    da amiga. > Apesar de &ard Gingman ter fama de ser um con$uistador inveterado, posso l!e

    garantir $ue, no trabal!o, ele joga duro, e nunca mistura as esta9es. =uando c!egou ao

    +epartamento do #essoal o pedido para $ue comeassem a entrevistar candidatas, soubemos

    $ue o sr. Gingman fazia $uesto de contratar uma e%ecutiva madura, ponderada e totalmente

    dedicada ao trabal!o. :raduo uma dessas solteironas secas e plidas, $ue trabal!am como um

    automato, com a cabea inteiramente voltada para os neg"cios. Algu2m assim, como a pr"pria

    srta. +unston.

    Beatrice abriu a boca para argumentar, mas a e%presso fisionomica de 5udD dizia-l!e

    claramente $ue seria in)til insistir, o ela esticou o corpo tenso no sof, praguejando mentalmente.

    (aldio* /la $ueria tanto esse emprego* #recisava tanto trabal!ar* +evia e%istir uma

    maneira para...

    > Ac!ei* Ac!ei* > gritou de s)bito, tornando a aprumar o corpo. > :udo o $ue preciso fazer,

    5udD, 2 mascarar min!a apar3ncia*

    > Como' > perguntou 5udD, muito c2tica.

    / fcil, amiga. A mesma ma$uilagem $ue d realce pode ser usada para apagar, se voc3

    souber como aplic-la. / com um penteado anti$uado e roupas do tipo acompan!ante de

    freira, . . > Beatrice semicerrou os ol!os, antevendo sua futura imagem, e completou > ai dar

    certo* e o sr. Gingman $uer um bofe, ter um bofe*

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    > 1!, Bea, no sei se 2 uma boa ideia. / se... '

    > 8o se preocupe com isso. :omarei o m%imo cuidado. oce se encarrega de marcar a

    entrevista com a sra. #er6ins, e o resto fica por min!a conta.

    Beatrice alisou a saia verde-oliva do tailleur, e cruzou as mos pudicamente sobre o regao,observando &ard Gingman procurar na pasta o resultado dos testes. (as o rosto austero,

    parecendo cinzelado em granito, no dava mostras do $ue ele estava pensando.

    1s testes $ue ela fizera no dia anterior tin!am sido uma barbada, e a entrevista com a sra.

    #er6ins decorrera bem demais. " $ue, desta vez, ela tin!a o angustiante pressentimento de $ue

    a conversa no seria fcil.

    As fotos $ue ela tin!a visto publicadas nos jornais j tin!am-na preparado para enfrentar a

    presena mscula de &ard Gingman, mas no para mant3-la impermevel diante do fluido $uaseselvagem $ue ele emanava. /ra como se ela estivesse recebendo uma descarga el2trica de alta-

    tenso $ue fazia a pele arrepiar e o est?mago se contrair.

    Frritada com as estran!as sensa9es $ue ele l!e provocava, Beatrice comeou a estudar-l!e

    as fei9es. &ard Gingman no podia ser considerado bonito, na verdadeira acepo da palavra.

    As faces tin!am lin!as angulosas e rudes demais, o nariz era demasiado a$uilino, e a boca larga

    possua lbios cerrados demais. Havia traos demais para $ue ele pudesse ser considerado um

    prot"tipo da beleza masculina. (as era inegvel $ue ele era dono de um notvel poder de

    atrao.

    1 cabelo escuro e liso, os ombros largos e possantes, o peito musculoso, e o rosto de $uei%o

    $uadrado, parecendo esculpido nas roc!as do monte us!more, transmitiam ine$uvoca sensa-

    o de virilidade, fora, poder e... perigo.

    8em o bem-tal!ado e caro terno conseguia disfarar o !omem primitivo $ue se ocultava por

    detrs da face social de &ard Gingman.

    0inalmente, ele ergueu a vista dos formulrios, e o corao de Beatrice deu um salto.

    urpreendentemente, os ol!os castan!os eram doces, encimados por sobrancel!as incrivelmente

    longas e cerradas, $ue l!e emprestavam um ol!ar son!ador, incongruente com a dureza das

    lin!as do rosto.

    > /stou vendo a$ui $ue voc3 tem um diploma de bac!arel em Administrao de /mpresas.

    > 1s doces ol!os castan!os bai%aram para a fic!a de inscrio, e voltaram a fit-la.

    > :en!o, sim sen!or.

    > / voc3 diz tamb2m $ue dei%ou a Barlo; por$ue a empresa foi vendida' 8em por isso os

    novos proprietrios iriam substituir toda a e$uipe, no ac!a'

    /le se recostou indolentemente no espaldar da cadeira de couro, e esperou por uma

    !

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    e%plicao. Beatrice notou $ue os ol!os castan!os j no pareciam to doces como ! pouco.

    > ealmente, no foi esse o caso. " fizeram substitui9es nos cargos em $ue !averia

    redund7ncia. Como o novo proprietrio j tin!a um antigo assistente, os meus servios tornaram-

    se sup2rfluos. > Beatrice sentiu $ue as palmas das mos transpiravam, mas fez fora para

    sustentar a$uele ol!ar penetrante. > Como poder verificar nos documentos ane%os, ten!o umacarta de recomendao do pr"prio sr. Barlo;.

    > 5 vi. Conferi tudo ! pouco. eu e%-patro pareceu-me muito impressionado com sua

    efici3ncia. > &ard Gingman tornou a sentar-se ereto, e fec!ou o currculo. > A$ui voc3 diz $ue

    tem um irmo de dezenove anos, $ue 2 seu dependente. 8o ac!a $ue ele 2 um tanto

    crescidindo para depender da irm'

    #or tabela, Beatrice sentiu-se atingida em seus brios.

    > E $ue @reg est fre$uentando o pr2-vestibular, preparando-se para ingressar na0aculdade de /ngen!aria > respondeu, secamente.

    > 8ormalmente, $uando no so fil!os de pais ricos, os rapazes costumam trabal!ar para

    custearem os estudos, sabia disso'

    > im, eu sei. /u mesma fiz isso. (as, en$uanto eu puder pagar as mensalidades, no vejo

    razo para $ue meu irmo se sacrifi$ue tanto.

    Beatrice precisou recorrer a toda a sua capacidade de auto-doinnio para controlar a raiva $ue

    se avolumava dentro dela.

    +esde o trgico acidente de carro $ue causara a morte dos pais, $uando ela tin!a apenas dez

    anos, Beatrice tomara conta de @reg como uma mezin!a e%tremosa, ajudando-o nos deveres

    escolares e protegendo-o dos maus-tratos do tio Bill. (as, to logo se formara em Administrao,

    conseguindo o emprego na Barlo;, ela se mudara para a casa legada pela av", entrando na

    justia com um pedido de tutela do irmo caula.

    @reg era sua )nica famlia, e ela o amava de todo o corao. A crtica velada, fria e intolerante

    de &ard Gingman tivera o puder de e%asper-la.

    > eu irmo mora com voc3'

    > " durante as f2rias de vero. 1 restante do ano ele passa no campus da universidade.

    #osso assegurar-l!e $ue ele 2 um rapaz responsvel e auto-suficiente.

    > Ainda bem. E $ue o cargo de assistente particular e%ige !oras e%tras de trabal!o, assim

    como viagens eventuais a outras cidades, na maioria das vezes, sem pr2vio aviso. +emasiados

    compromissos familiares tornariam isso impraticvel.

    A maneira brusca com $ue ele falara aumentou o ressentimento de Beatrice, mas ela

    comprimiu os ma%ilares e ficou calada.

    @reg no precisava de uma ama-seca, mas dependia de ajuda financeira para estudar.

    "

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    Sabrina n 470

    adoeceu, acometida de apendicite aguda, sendo obrigada a se submeter a uma cirurgia de

    emerg3ncia.

    Heatrice foi dei%ada 4 deriva, tendo de aprender tudo sozin!a, sem contar com a orientao

    da antiga funcionria.

    1 c!efe mostrou logo ser difcil, e%igente, autoritrio e brusco, mas tamb2m demonstrou teruma intelig3ncia bril!ante, $ualidade $ue ela precisou recon!ecer, mesmo contra a vontade. &ard

    Gingman possua uma agilidade mental fora do comum, trabal!ando com a velocidade e a

    preciso de um computador, mas com tend3ncia a impacientar-se com $ual$uer pessoa $ue no

    conseguisse acompan!ar-l!e o ritmo e o raciocnio.

    8a maior parte do tempo, Beatrice se sentia como se tivesse participando de uma maratona.

    Bem, voc3 no $ueria desafios' #ois agora os tem*, pensou ela, ao e%aminar as pastas de

    um ar$uivo, numa tentativa de se familiarizar com o sistema de trabal!o da srta. +unston.> =ueira vir at2 a$ui, srta. &inters > ordenou a voz imperiosa de &ard Gingman atrav2s do

    interfone.

    elanceando um ol!ar irritado para o aparel!o de comunio interno, ela empurrou a gaveta

    metlica do ar$uivo com uma guinada de $uadril, e, ap"s alisar a saia do conjunto cinzento e

    verificar se o co$ue estava no devido lugar, empertigou o corpo e encamin!ou-se para a sala do

    c!efe.

    > #ois no, sen!or.

    > =ual 2 a situao atual da$uela greve de metal)rgicos da en;aD'

    > /u... eu no sei > confessou, pois nunca ouvira falar na en;aD,

    1s ol!os castan!os no tin!am nen!um res$ucio da$uela suposta doura, $uando a fitaram.

    > Como no sabe' /u disse 4 srta. +unston $ue $ueria um relat"rio dirio sobre o andamento da

    greve at2 $ue entrassem em acordo*

    Beatrice enviou-l!e um ol!ar constrangido, e desculpou-se como p?de.

    > into muito, mas ac!o $ue essa 2 mais uma das tantas tarefas $ue ela no teve c!ance de

    me e%plicar.

    +ava para notar a raiva crescendo na$uele rosto de granito. /ra assustador. A boca ficou to

    cerrada $ue se transformou numa )nica lin!a. 1s ol!os apertaram-se como os de um felino

    pronto para dar o bote, e ele jogou bruscamente o lpis sobre a mesa, inclinando-se para a frente.

    > /nto, srta. &inters, sugiro $ue entre imediatamente em contato com C!arlie (iller para

    $ue ele l!e preste esclarecimentos. > Agora, os ol!os mais pareciam uma fenda. > 8o v me

    dizer $ue tamb2m no sabe $uem 2 C!arlie (iller' > perguntou ele com uma voz to bai%a e

    suave $ue provocou arrepios na espin!a de Beatrice.

    +esde $ue comeara a trabal!ar, uma coisa ela j tin!a aprendido $uanto mais suave era a

    ##

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    Ginna Gray Tempestade de emoes

    voz de &ard Gingman, mais violento seria o estouro $ue viria a seguir.

    > 8o sen!or, no sei > respondeu ela, impvida, apesar do tremor interno. > +evo

    lembrar-l!e $ue trabal!o a$ui ! apenas $uatro dias*

    > #ara mim, tanto faria se voc3 estivesse trabal!ando ! apenas $uatro !oras* oc3 foi

    contratada como min!a assistente, e uma assistente alienada 2 de pouca valia, concorda' > elee%plodiu, a voz aumentando de volume at2 c!egar ao grito. > #ois voc3 disp9e de, no m%imo,

    trinta minutos para descobrir $uem 2 C!arlie (iller e obter as informa9es $ue l!e pedi. e no

    conseguir, nem precisa se desculpar. Basta dei%ar a empresa*

    > Assim, sem mais nem menos' > perguntou Beatrice, atonita.

    > /u no ten!o nem tempo, nem paci3ncia para conduzi-la, passo a passo, pela mo, srta.

    &inters. #reciso de uma pessoa $ue tome iniciativas sempre $ue for necessrio. e no se sentir

    apta, no vejo razo para arrastar a e%peri3ncia por tr3s meses.> 0ez uma pausa para $ue ela absorvesse a mensagem, antes de acrescentar > 8esses

    pr"%imos trinta minutos, cabe a voc3 decidir seu destino.

    Custou-l!e um enorme esforo, mas Beatrice conseguiu manter uma tran$uilidade aparente

    diante da ameaa de ser demitida. Fmpassvel, girou sobre os calcan!ares, e, sem uma palavra,

    voltou para a sua sala. " ento afobou-se em consultar o caderno de endereos $ue contin!a os

    nomes, por ordem alfab2tica, dos e%ecutivos-c!ave das vrias empresas associadas, com os

    respecti vos n)meros de telefone.

    1 jato particular prateado de &ard Gingman rasgava o c2u azul-cobalto. Ao norte, nuvens

    negras pairavam sobre os picos das (ontan!as oc!osas. Ao sul, a grande plancie de solo rido

    reverberava o fulgor dourado do sol a pino. As terras semidesertas $ue estavam sobrevoando

    pareciam $ue dormitavam numa esp2cie de marasmo, contrastando com a atmosfera carregada e

    turbulenta do interior do avio.

    &nrd Gingman e (artin #!illips, o consultor jurdico, estavam sentados em poltronas

    adjacentes, as cabeas $uase unidas e inclinadas sobre uma pil!a de documentos.

    m pouco mais afastada, sentada por trs de uma escrivanin!a, Beatrice somava colunas e

    mais colunas de n)meros com a calculadora eletr?nica. 5 fizera a operao duas vezes, obtendo

    resultados diferentes. A frustrao e a ansiedade estavam-na dei%ando cada vez mais tensa.

    > 5 terminou com essas estimativas'

    A pergunta incisiva fez com $ue ela desse um salto na cadeira. Como de !bito, $uando &ard

    Gingman tin!a pressa de algum servio, sua voz ad$uiria o tom cortante de uma c!icotada.

    > Ainda no, mas vo ficar prontas dentro de um minuto > respondeu com uma serenidade

    simulada, recomeando o clculo pela terceira vez.

    #2

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    Ao c!egar ao t2rmino da coluna, apertou o boto do resultado, e a cifra bateu com a anterior.

    apidamente, ela anotou o n)mero, juntou os pap2is e os levou, apressada, ao impaciente

    patro.

    Ao pegar as fol!as dos clculos, &ard Gingman se$uer fez um gesto de aprovao, ou

    mesmo levantou os ol!os da pasta $ue tin!a sobre os joel!os, em sinal de agradecimento.+epois de $uatro meses no emprego, Beatrice j se acostumava com a$ueles modos

    rspidos e impessoais de trat-la. &ard Gingman simplesmente a ignorava, e s" a c!amava no

    caso de precisar $ue ela e%ecutasse algum servio especfico. /ra como se ele a considerasse

    parte integrante dos m"veis e utenslios do escrit"rio > uma m$uina eficiente $ue ele ad$uirira

    para implementar seu e$uipamento.

    1 e%orbitante !orrio de trabal!o confirmava esse conceito. +e fato, desde o aman!ecer at2 o

    anoitecer, Beatrice &inters pertencia 4s /mpresas Gingman.5uclD tin!a razo ao dizer $ue, em servio, &ard Gingman em um verdadeiro dnamo, um

    !omem ativo e incansvel, $ue e%igia o m%imo de seus funcionrios. A$ueles $ue no davam o

    sangue 4 empresa pouco es$uentava suas cadeiras.

    / $uando ele fazia perguntas, esperava respostas objetivas e concisas, no tolerando

    justificativas ou argumentos. /ra uma lio $ue Beatrice aprendera desde a primeira semana de

    trabal!o, e nunca mais ela cometera o erro de alegar descon!ecimento sobre $ual$uer assunto.

    sando de toda a sua fora de vontade, propusera-se a con!ecer todos os setores da empresa, e

    aprender tudo sobre os e%ecutivos $ue a administravam.

    Como conse$u3ncia, al2m das !oras interminveis $ue passava no escrit"rio, ainda levava

    para casa montes de pastas e fic!rios das vrias compan!ias filiadas 4 Gingman, bem como

    relat"rios dos acionistas, previs9es oramentrias e projetos para futuras a$uisi9es ou fus9es

    com outras firmas.

    eus deveres e obriga9es abrangiam uma ampla escala, desde preparar cafezin!os, at2

    ta$uigrafar tudo o $ue era dito e acertado nas reuni9es de c)pula. #or outro lado, cartas e

    relat"rios confidenciais ficavam sempre a seu encargo, e s" o restante da correspond3ncia

    rotineira era datilografada pela srta. &ilson, a secretria da +iretoria.

    1casionalmente, ela tamb2m era solicitada a comparecer a festas, co$uet2is e jantares

    realizados com finalidade comercial, tendo por misso apresentar no dia seguinte um relat"rio

    escrito, contendo o m%imo de informa9es sobre os neg"cios tratados durante essas reuni9es. /

    se, porventura, fosse solicitada a emitir um parecer sobre aspecto das negocia9es, esperava-se

    $ue ela desse uma resposta rpida, clara e condensada, sem divaga9es

    (ais uma de suas variadas incumb3ncias era controlar todas as c!amadas telef"nicas e toda

    a correspond3ncia particular de &ard Gingman.

    #3

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    Beatrice voltou a sentar-se junto 4 escrivanin!a de bordo e esfregou os ol!os com os n"s dos

    dedos. /ra apenas meio-dia, e ela j estava e%austa.

    1l!ando pela janelin!a do avio, procurou rela%ar, admirando a paisagem ensolarada $ue se

    estendia l embai%o, a perder de vista. H $uanto tempo no tirava um dia inteiro de folga' +uas

    semanas' :r3s' +esde $ue tin!a comeado a$uelas novas negocia9es, &ard a mantin!a numaverdadeira roda-viva, arrastando tanto a ela $uanto aos demais empregados da firma. 1 !omem

    era um trator, e Bea ficou imaginando de onde ele conseguia tirar tanta energia. e &ard usava

    apenas a metade dessa energia com suas parceiras se%uais, no era 4-toa $ue as mul!eres o

    perseguiam com tanta vontade*

    (as $uando estava envolvido at2 os ol!os com algum neg"cio, como no presente caso, a

    vida social e amorosa do c!efe sofria um recesso. A prova estava nos fre$uentes e irados tele-

    fonemas de +ebora! ang, a atual amante, c!amadas $ue Beatrice tomava a cautela deinterceptar.

    > e j acabou de son!ar acordada, talvez fosse o caso de voltar ao trabal!o, srta. &inters.

    #reciso ditar umas poucas cartas en$uanto dispon!o de tempo. > A voz ir"nica e incisiva fez com

    $ue ela se sobressaltasse.

    #or alguns instantes, uma onda de ressentimento cresceu em seu corao, mas logo se

    dominou, sem dei%ar $ue sua fisionomia revelasse a mnima emoo. 5 estava cansada de

    saber $ue o rancor de pouco l!e valeria, e talvez at2 l!e custasse o emprego. 1 tru$ue para lidar

    com mac!9es dominadores e prepotentes era manter a calma e mostrar-se obse$uiosa, e at2 um

    tanto servil.

    > #ois no, sr. Gingman. /stou 4s suas ordens > respondeu, alando com o dedo o aro dos

    "culos, en$uanto $ue, com a mo livre, alcanava o bloco de estenografia.

    As poucas cartas, afinal, foram nove. Ao aterrissarem na Calif"rnia, os dedos de Beatrice

    estavam duros e dodos.

    8o aeroporto, alugaram uma limusine, e, ap"s dei%arem a bagagem no !otel, rumaram

    diretamente para os escrit"rios da (unlcD 8orton, localizados no centro comercial de os

    Angeles. 1 sr. 8orton era um !omenzin!o jovial e avermel!ado, com uma risada fcil e

    contagiante e ol!in!os pretos, vivos e perspicazes. 8o era bem a imagem $ue Beatrice &inters

    fazia de um economista internacional, mas ap"s ouvir durante alguns minutos o dilogo entre o

    patro e o gorduc!o consultor sobre a e%panso $ue as /mpresas Gingman propun!am, ela

    conseguiu entender como a$uela figura $uase comica con$uistara to grande reputao no

    mundo dos neg"cios.

    As tr3s !oras seguintes foram gastas em discuss9es e pondera9es minuciosas dos itens

    principais do acordo a ser firmado entre &ard e tanleD, com (artin dando apartes sobre o

    #4

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    aspecto legal dos entendimentos.

    A mo de Beatrice voava sobre o bloco de ta$uigrafia, anotando cada palavra $ue estava

    sendo pronunciada. Ao final das conversa9es, o bloco c!egara ao fim, assim como suas foras.

    > #rovidencie para $ue a minuta do contrato seja datilograda, e aman! min!a assessoria

    jurdica dar uma vista dIol!os no te%to, meu colega > finalizou tanleD. / $uando todos sepreparavam para dei%ar o escrit"rio, ele acrescentou > e no estiver de acordo, prepararemos

    o contrato definitivo.

    > #erfeito, tanleD. 0icarei aguardando seu pronunciamento.

    &ard estendeu a mo $ue tanleD apertou e, nesse meio-tempo, uma jovem muito bem-

    vestida e atraente levantou-se de uma das poltronas da recepo, indo ao encontro do sr. 8orton.

    > 1i, papai* #ensei $ue essa reunio no fosse acabar nunca* orrindo, a moa deu o brao

    ao pai, alongando um ol!ar apreciativo a &ard.A (artin foi concedida apenas uma ol!adela displicente.

    > Como 2' 8o vai apresentar seus amigos' > continuou a jovem, com uma voz insinuante

    e um tanto melosa.

    > Al?, ic6D* /u no sabia $ue voc3 estava 4 min!a espera, $uerida. > /, com um sorriso

    de orgul!o, tanleD apresentou a fil!a.

    > E um prazer con!ec3-los > disse ictoria 8orton, fitando ostensivamente &ard Gingman.

    > #apai sempre fala muito a seu respeito, sr. Gingman. / no 2 s" meu pai. 1s jornais tamb2m

    vivem publicando comentrios.

    &ard enviou 4 jovem um da$ueles sorrisos devastadores e irresistveis $ue l!e davam tanto

    cartaz junto 4s mul!eres.

    > 8o acredite em tudo o $ue l3 a meu respeito, srta. 8orton. 8o sou o diabo $ue os jornais

    costumam pintar.

    Beatrice s" ficou observando a cena. 8aturalmente, j o vira entrar em ao, mas o c!arme

    de &ard Gingman sempre ultrapassava as e%pectativas, e ele possua o dom de superar a si

    mesmo, desde $ue estivesse interessado. " com ela, Beatrice, &ard era indiferente e at2

    rspido.

    > 8o sei por $ue no deverei acreditar > retrucou ictoria 8orton, num flerte declarado. >

    :alvez !oje 4 noite possamos tirar a limpo essa d)vida. #apai vai dar uma festin!a informal l em

    casa, e, $uem sabe, o sen!or e seu assessor decidam comparecer.

    > / tamb2m a sen!orita &inters, naturalmente > aduziu tanleD, enviando 4 fil!a um ol!ar

    de repreenso, $ue a moa ignorou.

    > eceio $ue a srta. &inters v estar muito ocupada, datilografando a minuta do contrato.

    (as, sem d)vida, (artin e eu teremos muito prazer em comparecer.

    #5

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    Beatrice foi remoendo a raiva durante todo o trajeto de volta ao !otel. /videntemente, no

    teria a mnima inteno de aceitar o convite. " se fosse cega, surda e muda no teria percebido

    $ue convid-la para a festa era a )ltima coisa $ue a srta, 8orton pretendia. (as &ard deveria ter

    dei%ado $ue ela falasse por si mesma. Al2m disso, o fato de ter $ue trabal!ar 4 noite, en$uanto

    ele e (artin estivessem sedivertindo, era de enfurecer $ual$uer pessoa. 1 $ue a$uele !omemestava pensando' =ue ela era um rob?' ma escrava'

    Ainda de cara emburrada, Beatrice acompan!ou os dois !omens at2 a lu%uosa suite do !otel.

    8a primeira vez em $ue viajara a neg"cios com o c!efe, ela ficara cismada por ter $ue repartir

    uma suite com ele, mas logo convencera-se da praticidade do arranjo. Fnvariavelmente, essas

    viagens e%igiam longas e laboriosas !oras de trabal!o, e &ard $ueria t3-la sempre 4 mo. +e

    $ual$uer forma, ela poderia ter um ol!o )nico na testa e um nariz do taman!o de uma lanterna

    $ue ele pouca ateno daria a isso. 1 relacionamento entre ambos limitava-se estritamente aosneg"cios.

    +esde a entrevista, ! cinco meses, &ard nunca l!e fizera perguntas de ordem pessoal. A

    conversa sempre girava em torno do servio. /le dava-l!e ordens, e ela as cumpria. A iga das

    feministas iria ador-lo, pois ele dispensava-l!e tratamento id3ntico ao $ue dava aos funcionrios

    do se%o masculino. /m certas ocasi9es, Beatrice c!egava at2 a duvidar se ele sabia $ue ela era

    mul!er.

    Ap"s l!e transmitir algumas instru9es e%tras, &ard sumiu dentro do $uarto a fim de se

    aprontar para a alegre noitada.

    Ainda agastada, e comprimindo nervosamente os lbios, Beatrice foi apan!ar a m$uina de

    escrever, mas (artin a antecedeu.

    > A$ui est* > ele anunciou, colocando a m$uina porttil em cima de uma mesa $ue seria

    usada como escrivanin!a. > (ais alguma outra coisa $ue eu possa fazer por voc3, antes de

    lrmos'

    1 simptico sorriso de (artin aplacou-l!e um pouco a ira. /la gostava do advogado, um

    jovem agradvel e bem-apessoado, de cabelos e ol!os castan!os, $ue, assim como &ard, devia

    estar na casa dos trinta anos. 8o $ue ele tivesse $ual$uer outro interesse por ela, mas (artin

    sempre mostrava-se polido, diferente e prestativo. Ao menos, tratava-a como gente e no como

    rob?.

    olteiro e bonito, (artn devia ter seu $uin!o de sucesso com as mul!eres, desde $ue

    &ard Gingman no entrasse na concorr3ncia. 8esse caso, ele sempre acabaria sobrando.

    > 8o, obrigada, (artin. oc3 j ajudou bastante > agradeceu, retribuindo o sorriso. /,

    tirando uma resma de papel sulfite da maleta, acrescentou > e voc3 vai mesmo a essa tal

    festa, 2 mel!or se apressar. oc3 sabe muito bem $ue o sr. Gingman detesta esperar pelos

    #

    http://estivessem.se/http://estivessem.se/
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    outros.

    > E isso a* Ac!o $ue voc3 tem razo. > Ap"s relancear um ol!ar ao rel"gio de pulso, (artin

    foi para o pr"prio apartamento.

    #ouco mais tarde, $uando os dois !omens se reencontraram na sala, Beatrice estava

    batendo a m$uina diligentemente, mas, levantando os ol!os do papel, viu de relance aimponente figura de &ard Gingman, rec2m-barbeado, de ban!o tomado, e vestido com um

    impecvel terno marin!o. eu corao comeou a bater aceleradamente. 1 !omem estava

    simplesmente um estouro*

    > =uando terminar de datilografar esse contrato, pode dei%-lo sobre a mesa, srta. &inters.

    ogo $ue eu voltar, vou dar uma c!ecada. > em esperar resposta, virou-se para (artin e

    sugeriu > / ento, vamos indo' > m leve sorriso suavizou-l!e a dureza das lin!as da boca, e

    os dois !omens trocaram um ol!ar de cumplicidade masculina. > 8o gostaria $ue a srta. 8ortonficasse 4 nossa espera > ele completou.

    Beatrice acompan!ou com um ol!ar o trajeto de ambos at2 a porta, e, antes de sarem, (artin

    estacou, e com um ar de culpa dirigiu-se a ela.

    > :em certeza de $ue vai ficar bem, a$ui sozin!a' > A pergunta provocou uma ruga de

    aborrecimento na testa de &ard, e o assessor logo acrescentou > =uero dizer, se voc3 precisar

    de alguma ajuda ou orientao, no me incomodo em ficar.

    1 generoso oferecimento fez com $ue os ol!os azuis de Beatrice ficassem marejados de

    lgrimas, e ela fez fora para ret3-las.

    > 1brigada, (artin. /u estou "tima. 8o se preocupe comigo.

    > Bem... se voc3 tem tanta certeza...

    > :en!o. Boa-noite e... divirta-se*

    (artin deu de ombros e foi abrir a porta, mas &ard no saiu do lugar. 1s ol!os castan!os a

    fitaram intensamente, dos p2s 4 cabea, e pela primeira vez, desde o dia da entrevista, Beatrice

    sentiu $ue estava sendo avaliada.

    1 p7nico tomou conta dela. er $ue depois de tanto tempo ele estava notando o disfarce'

    +roga* #or $ue (artin tin!a $ue ter uma crise de consci3ncia logo agora'

    Com uma displic3ncia $ue estava longe de sentir, ergueu o $uei%o e enfrentou a$uele ol!ar

    analtico.

    > Alguma coisa mais, sr. Gingman'

    &ard franziu a testa, ainda mais profundamente, e abanou a cabea.

    > 8o, nada. Boa-noite, srta. &inters, e at2 aman!.

    #or muito tempo Beatrice ficou ol!ando para a porta $ue se fec!ara, e o medo deu lugar 4

    desolao. Fncapaz de retomar o trabal!o, levantou-se e comeou a passear pelo elegante salo

    #7

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    Ginna Gray Tempestade de emoes

    do estar da suite.

    :udo estava to $uieto... to solitrio... 0oi at2 o terrao e ficou observando as luzes noturnas

    de os Angeles. uspirou. 8em $ue ela teria gostado de ir a alguma festa. #recisava tanto de

    distrao. +esde $ue comeara a trabal!ar para as /mpresas Gingman, sua vida social

    terminara. A jornada e%austiva somada ao tempo $ue l!e era roubado das !oras de folgadesencorajavam $ual$uer eventual admirador $ue se dispusesse a marcar um encontro.

    ubitamente, Beatrice deu-se conta de $uo vazia estava ficando sua vida, sem $ual$uer

    esperana de mel!ores no futuro.

    1 pensamento depressivo a fez suspirar novamente. Agora voc3 sabe como Cinderela deve

    ter se sentido antes $ue aparecesse a 0ada (adrin!a, ela sussurrou para si mesma. /

    acrescentou a seguir " $ue voc3 est mais parecida com a$uelas feiosas irms de criao, do

    $ue com Cinderela.8um mpeto, tirou os "culos in)teis, jogando-os sobre uma mesin!a, e apalpou o co$ue

    deselegante.

    Como detestava parecer uma bru%a* 8o era por acaso $ue &ard a tratava como se fosse

    parte do e$uipamento do es-rll"rio*

    +ei%ando o terrao, Beatrice voltou para a sala e comeou a andar para bai%o e para cima,

    ind"cil.

    =ual fora a causa da$uele s)bito ata$ue de descontentamento depresso' &ard Gingman

    podia ser um patro autoritrio e e%igente, mas ele a pagava regiamente para atur-lo* " o

    abono e%tra $ue recebera no m3s anterior pelo fec!amento de um neg"cio com o (c=uirter dera

    para pagar a matrcula de @reg e ainda sobrara din!eiro. Al2m disso, ela aprendera mais sobre

    neg"cios nos )ltimos cinco meses do $ue nos $uatro anos de profissional na Barlo;. #or mais

    $ue l!e custasse, precisava admitir $ue seu progresso devia-se 4 conviv3ncia diria com o novo

    patro. e ao menos ele a tratasse como mul!er...

    Beatrice assustou-se com o rumo $ue seus pensamentos estavam tomando. idculo* 8unca

    ela iria usar sua beleza natural para atra-lo. #ara $u3' #ara fazer parte do !ar2m de um sulto'

    8em pensar nisso* e ele viesse a descobrir a farsa, o mais provvel 2 $ue fosse despedida no

    ato*

    +ominando a turbul3ncia de emo9es contradit"rias, retomou o trabal!o interrompido.

    #assava da meia-noite $uando terminou de bater o )ltimo pargrafo da minuta.

    Bem $ue ela gostaria de tomar um rela%ante ban!o de imerso, mas, em vez disso optou por

    uma rpida c!uveirada, e, logo em seguida, caiu na cama, prostrada. &ard e (artin ainda no

    tin!am voltado.

    8o dia seguinte, a crise de autocomiserao j !avia sido superada. Afinal, ela tin!a um

    #!

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    Sabrina n 470

    e%celente emprego, muito bem remunerado, $ue l!e permitia garantir o futuro de @reg. e pre-

    cisasse abrir mo das divers9es pr"prias da juventude, $ue assim fosse. #aci3ncia.

    Conforme previsto, os consultores jurdicos de tanleD 8orton contestaram algumas das

    clusulas do contrato, e o dia seguinte foi inteiramente dedicado a reuni9es interminveis, at2 $ue

    ambas as partes c!egassem a um consenso.J noite, en$uanto &ard cumpria mais um compromisso com ictoria 8orton, Beatrice e (artin

    labutaram na reviso do te%to. (esmo e%austa para alimentar sentimentos de inveja ou rancor,

    ela no p?de dei%ar de admirar o f?lego do patro.

    Ao voltarem de avio para Houston, no dia seguinte, ele ainda teve disposio e lucidez para

    ditar uma s2rie de memorandos.

    > Bem, por !oje c!ega. e $uiser, descanse um pouco no sof. #elo seu aspecto, voc3 est

    precisando rela%ar./la nem discutiu, e antes $ue ele mudasse de ideia e inventasse outro servio, descalou os

    sapatos e foi se deitar no macio div cor-de-laranja. /m poucos minutos adormeceu.

    Acordou aos poucos, sentindo um delicioso langor no corpo. :amb2m foi aos poucos $ue se

    deu conta de $ue algu2m a cobrira com uma manta. 8aturalmente, !avia sido mais um gesto de

    generosidade de (artin, pois seria impossvel $ue &ard tivesse taman!a considerao com ela.

    @radualmente, comeou a tomar consci3ncia da conversa entre os outros dois passageiros do

    jato particular.

    > /spere l, &ard, me d3 uma folga* > estava dizendo (artin. > oc3 sabe muito bem

    $uanto eu detesto a$uelas reuni9es de /stelle e am*

    > (as voc3 vai ter $ue sofrer mais um pouco, meu c!apa.

    > #or $ue eu' #or $ue no vai voc3, e leva +ebora! na festa'

    > #or$ue prometi a ela $ue a levaria para comer fora, num jantar a dois, to logo voltasse da

    viagem. /la anda reclamando $ue eu no l!e ten!o dado muita ateno ultimamente.

    Beatrice sorriu por bai%o da manta $ue l!e cobria parte do rosto.

    (artin resmungou alguma coisa, bai%in!o, e &ard continuou falando.

    > oc3 no precisa se eternizar na festa. E s" dar o ar de sua graa. E $ue estou $uerendo

    saber se HarrD pretende e%ercer seu direito de acionista majoritrio na$uele neg"cio das terras.

    > (as a festa 2 !oje 4 noite, e eu no ten!o acompan!ante, e voc3 est cansado de saber o

    $ue /stelle pensa sobre !omens sozin!os* /la at2 parece 8o2. 8ingu2m entra na arca sem ter

    um par*

    > / da' Arrume algu2m* e no conseguir, sempre ter uma alternativa a srta. &inters*

    Beatrice escancarou os ol!os. A audcia da$uele !omem* er $ue ele pensava $ue ela iria

    saltitar de alegria por ter a oportunidade de sair com (artin ou com $ual$uer outro !omem'

    #"

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    Ginna Gray Tempestade de emoes

    > amos l, &ard, ten!a d"* oc3 no vai $uerer $ue eu v com a srta. &inters, vai'

    > / por $ue no' /la 2 solteira e disponvel* > &ard soltou uma risada deboc!ada. > #ode

    ser $ue ela no seja um dcslumbramento para os ol!os, mas tem um cr7nio invejvel.

    (artin resmungou mais um pouco, mas &ard logo mudou de assunto.

    +urante o resto da viagem, Beatrice no conseguiu mais dormir. /stava to zangada $ue, sepudesse, teria dado uma surra em ambos. =uando, finalmente, aterrissaram em Houston, ela saiu

    do avio amuada, sem dizer uma s" palavra.

    8o escrit"rio, descarregou a raiva nas teclas da m$uina de escrever, e $uase ficou com as

    un!as no toco. 1s dois !omens tin!am desaparecido dentro da sala de &ard, dei%ando a porta

    semi-aberta, e ela p?de ouvir (artin discando freneticamente o dial do telefone, ligando para uma

    mul!er atrs da outra. A cada c!amada, sua irritao aumentava. =uando o advogado saiu da

    sala duas !oras mais tarde, e postou-se num dos cantos da escrivanin!a, com cara de $uem estenfrentando um destino trgico, Beatrce estava no auge do "dio. 1l!ando para ele friamente,

    perguntou

    > +eseja alguma coisa, sr. #!illips' H meses $ue ambos se tratavam pelo primeiro nome,

    mas Beatrice estava por demais irritada para ser amistosa e informal. (artin pigarreou antes de

    responder.

    > Bem... 2 $ue eu... eu estive pensando... =uero dizer... fez uma pausa e respirou fundo,

    antes de propor de um s" f?lego > oc3 gostaria de ir a uma festa comigo !oje 4 noite'

    /la fitou o rapaz, de ol!os apertados, sem dizer nada. /nto, lentamente, com um sorriso

    felino e um ol!ar maldoso poe bai%o das lentes fume $ue l!e escondiam os belos ol!os azuis,

    murmurou

    > 1!, (artin, eu gostaria muito*

    CAPITULO III

    Beatrice deu a )ltima escovadela nos cabelos e retrocedeu um passo para e%aminar sua

    imagem em frente ao espel!o. orriu, satisfeita.

    #recisara lavar a cabea $uatro vezes para tirar a rinsagem cinzenta, mas agora seus cabelos

    caam soltos pelos ombros como uma cascata. 1s clios longos, escurecidos com rmel, e as

    plpebras sombreadas de azul-prateado davam maior desta$ue a seus ol!os. ma leve camada

    de base emprestava-l!e 4 pele uma nova luminosidade, e um to$ue de blush enfatizava a

    perfeio escultural das mas do rosto. Com um batom claro e uma camada de bril!o, os lbios

    pareciam ainda mais carnudos e sensuais.

    1 vestido de crepe azul-noite, apesar de comprado de )ltima !ora, caa-l!e como uma luva,

    20

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    moldando-l!e cada curva do corpo e evidenciando os $uadris. 1 decote drapeado descia pelas

    costas at2 a cintura, dei%ando as espduas nuas. A )nica j"ia $ue ela estava usando era um

    pendenteantigo de diamantes e safiras $ue pertencera 4 me, mas $ue agora se anin!ava de

    modo provocante na fenda formada pelos seios.

    0itando sua imagem refletida no espel!o, ela sentiu uma enorme sensao de alegria e deliberdade. 8um impulso, abriu os braos, fec!ou os ol!os, e rodopiou pelo $uarto. /ra to mara-

    vil!oso voltar a ser elanovamente*

    abia $ue estava cometendo uma temeridade, mas pouco importava. 1s comentrios de

    &ard tin!am fomentado uma rebelio interior, e $uando (artin fizera a$uele convite relutante,

    despejara a )ltima gota num copo prestes a transbordar.

    Beatrice &inters estava cansada de apresentar-se feiosa e deformada. /stava cansada de

    trabal!ar e dormir, trabal!ar e comer, trabal!ar e trabal!ar* Acima de tudo, estava cansada de servista como uma engrenagem de m$uina. /la era jovem e c!eia de vida e, ao menos na$uela

    noite, iria soltar as amarras e se divertir*

    =uanto a &ard Gingman, $ue fosse para o diabo*

    oc3 est se arriscando demais, soprou-l!e a voz da consci3ncia, mas ela desprezou o

    aviso. (artin era um caval!eiro, e saberia compreender as raz9es $ue a tin!am obrigado a viver

    a$uela farsa. Certamente, ele guardaria seu grande segredo, e da estaria a salvo. Afinal, seria

    apenas por uma noite. &ard nunca saberia.

    A campain!a da porta tocou no momento em $ue ela estava panssando um perfume franc3s,

    seu predileto, por trs da orel!a.

    Correu para a porta e foi espiar pelo ol!o mgico. m sorriso maroto iluminou-l!e o rosto ao

    ver a figura pat2tica de (artin, $ue mudava de um p2 para outro, muito nervoso, como algu2m

    $ue vai ser forado a engolir purgante.

    ecompondo a fisionomia, ela afofou os cabelos, alisou a saia nobre os $uadris, e finalmente

    abriu a porta.

    > Al?, Beatrice... eu... 1!, $ueira perdoar-me* Ac!o... ac!o $ue me enganei de apartamento

    > gaguejou (artin, e seu rosto foi ficando de todas as cores ao ver $ue estava sendo recebid

    com um sorriso insinuante.

    > Al?, (artin. 8o $uer entrar'

    Konzo, (artin transp?s o limiar da porta automaticamente, como algu2m $ue bebeu demais.

    / os ol!os castan!os foram ficando cada vez mais arregalados.

    > Beatrice' E voc3' > perguntou ele, num sussurro $uase inaudvel, como se no se

    atrevesse a fazer a pergunta em voz alta.

    > im, sou eu > ela confirmou, segurando-se para no e%plodir numa gargal!ada, ao ver o

    2#

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    $uei%o de (artin cair. / l ficar.

    orrindo complacentemente, segurou-l!e o cotovelo e o fez entrar na sala de estar,

    apontando um dos sofs cor de amei%a para $ue ele se sentasse. (as (artin continuou de p2,

    balanando a cabea de um lado para o outro, como se no estivesse acreditando nos pr"prios

    ol!os.> E incrvel* > ele murmurou. > Como... por $u3... $uer dizer, $ual a razo $ue a levou

    a...'

    > /sconder-me por trs de uma mscara' > ela completou. ou contar-l!e tudo, mas antes

    2 mel!or $ue se sente. E uma !ist"ria muito comprida.

    Ainda aturdido, (artin dei%ou-se cair sentado no sof. /la pu%ou uma cadeira para junto dele

    e narrou-l!e tudo, desde o inicio, lenta e claramente, observando-l!e as mudanas fision"micas 4

    medida $ue falava, e $ue passaram do pasmo para a compreeno, mesclada de um certoembarao.

    > ... e $uando acordei, e ouvi, por acaso, voc3 e &ard fazendo comentrios a meu respeito,

    foi a gota dIgua* oc3s falavam de mim como se eu fosse uma criatura abominvel e ridicula,

    $ue deveria se sentir grata por receber $ual$uer migal!a de ateno $ue algu2m me

    dispensasse. 0oi demais* /u sabia $ue se no tirasse uma desforra, ao menos em carter

    provis"rio, acabaria perdendo a cabea e dando um murro na cara de &ard.

    (artin sorriu, compreensivo.

    > / voc3 ac!ou $ue me fazendo passar por trou%a seria uma forma indireta de atingir &ard.

    / com menos risco, naturalmente.

    > (ais ou menos isso. oc3 no est zangado comigo, est'

    > 8o, claro $ue no. 1ua, Beatrice > ele comeou a dizer, !esitante. > into muito $ue

    voc3 ten!a ouvido nossa conversa, mas posso l!e garantir $ue no !ouve maldade no $ue

    dissemos.

    > 1!* eu sei. #elo menos de sua parte* > A ironia era fina...

    > 8em da parte de &ard. A!, eu sei $ue, 4s vezes, ele se torna um tanto brusco e

    impaciente, mas 2 o jeito dele. Acredite em mim. /le nunca ofenderia algu2m intencionalmente.

    > e voc3 est dizendo... > concedeu com estudada indiferena. > (as isso pouco me

    importa. 1 sr. Gingman pode pensar o $ue $uiser de mim. Contanto $ue eu conserve meu

    emprego, 2 o $ue me interessa.

    > /u entendo sua situao, e bem $ue gostaria de acabar de uma vez por todas com essa

    mistificao. (as preciso adverti-la de uma coisa se &ard descobrir $ue foi ludibriado, voc3 vai

    se ver em maus len"is > preveniu (artin. > /le no 2 !omem para brincadeiras.

    > (as no ! por $ue ele ficar sabendo > disse mais do $ue depressa. / com menos

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    afoiteza acrescentou > A no ser $ue voc3 resolva contar. Hoje 4 noite ele se manter muito

    entretido com +ebora! ang, e eu duvido $ue as pessoas $ue estaro na festa me recon!eam.

    :udo o $ue $uero, (artin, 2 ter uma noitada divertida e alegre. #rometo $ue aman!, a feiosa

    srta. &inters estar de volta a seu posto. > Beatrice inclinou-se para a frente e sorriu para o

    advogado com o mais cativante de seus sorrisos. > +iga $ue voc3 no vai me entregar, (artin.#or favor*

    /la sabia $ue no estava fazendo um jogo limpo. sar de seus atrativos femininos com (artin

    era o mesmo $ue l!e apontar um rev"lver na testa. 1 pobre rapaz era um caval!eiro nato. (as,

    ignorando os protestos da pr"pria consci3ncia, enviou-l!e um ol!ar $ue derreteria at2 uma pedra.

    8as situa9es desesperadas, as pessoas usavam $ual$uer arma. / a$uela era uma situao

    desesperada*

    #elo ol!ar indeciso de (artin, era "bvio $ue estava se sentindo dividido. /le desejava ajud-la, e, ao mesmo tempo, no $ueria ser desleal para com &ard.

    Fnd"cil, comeou a ol!-la por todos os 7ngulos, e um bril!o de admirao masculina foi

    iluminando seus ol!os castan!os. #or fim, respirou fundo, e fez uma e%presso de resignao.

    > /st bem, voc3 gan!ou. @uardarei seu segredo.

    > 1!, (artin, muito obrigada* /u sabia $ue podia contar com voc3* > /m seguida, Beatrice

    levantou da cadeira e foi andando em direo ao $uarto. > " vou buscar min!a estola e j

    vamos. /spero $ue voc3 esteja com esprito festivo, por$ue desde j vou avisando $ue eu

    pretendo rasgar a fantasia > brincou, sentindo-se como a prisioneira $ue conseguiu um habeas-

    corpus.

    A manso cinematogrfica de /stelle e am (ason localizava-se num dos bairros mais

    aristocrticos de Houston, :e%as, e j estava repleta de convidados $uando eles c!egaram.

    evoluteando de grupin!o em grupin!o, com (artin a tiracolo, Beatrice ria e tagarelava,

    bebericando um delicioso c!ampan!a $ue estava sendo servido com prodigalidade. (uitos dos

    convidados eram pessoas $ue ela con!ecera no escrit"rio de &ard, mas, conforme previra,

    ningu2m a recon!eceu.

    8a$uele vaiv2m, Beatrice foi descobrindo $ue (artin era um e%celente compan!eiro, muito

    atencioso e cordato. /le parecia fascinado pela transformao da crislida em borboleta, e docil-

    mente acatava todas as suas sugest9es, inclusive $uando ela o arrastou at2 o ptio interno da

    casa, onde se improvisara um espao para danar.

    #arecendo muito satisfeito da vida, ele logo se abandonou ao ritmo da m)sica. #or sua vez,

    Beatrice fec!ou os ol!os e comeou a mover o corpo sensualmente, acompan!ando as batidas

    dos instrumentos de percusso.

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    > Como 2, est gostando' > perguntou (artin, sorrindo diante da e%presso de prazer do

    rosto dela.

    /la jogou a cabea para trs, agitando os cabelos, e o fitou, semicerrando os ol!os.

    > !mmmm... 2 a gl"ria* > e%clamou, euf"rica, pois tin!a at2 es$uecido o $uanto era bom

    soltar os cabelos, livrar as amarras, e ser aut3ntica*> abendo agora $ue por bai%o da$uelas roupas de beata e da$ueles "culos de doutora em

    0sica 8uclear e%iste uma mul!er to c!armosa e c!eia de vida, vou $uerer repetir a dose com

    mais fre$u3ncia > disse (artin, entusiasmado.

    > @enial, (artin* er "timo* > A e%clamao foi acompan!ada por um sorriso de felicidade,

    e, tornando a fec!ar os ol!os, Beatrice entregou-se mais uma vez ao ritmo alucinante da m)sica.

    #or alguns instantes, ambos ficaram em sil3ncio, apenas saboreando o prazer da dana, at2

    $ue (artin soltou uma imprecao surda $ue fez com $ue Beatrice abrisse os ol!os.> 1 $ue foi' > ela perguntou, apreensiva, ao ver a e%presso apavorada de (artin, $ue

    logo desviou o ol!ar da porta $ue dava sada para o ptio.

    > 8o ol!e agora, mas o manda-c!uva acabou de c!egar > sussurrou (artin, e ela sentiu

    $ue l!e faltavam as pernas.

    > 8o 2 mesmo um lugar fabuloso, meu $uerido' > perguntou +ebora! ang, agarrando a

    manga do palet" escuro de &ard Gingman com a mo de longas un!as esmaltadas de escarlate,

    $uando ambos pararam na porta $ue dava acesso ao ptio. > / ol!e s" montaram uma pista de

    dana de onde se pode avistar o golfo*

    &ard ignorou o comentrio de +ebora!, e ficou im"vel, ol!ando indolentemente para

    centenas de convidados $ue se acotovelavam na pista, com aparente indiferena, mas

    remoendo-se por dentro.

    1nde diabos se meteu (artin' /stelle me disse $ue ele e a moa $ue o acompan!ava

    deviam estar a$ui fora*

    m sorriso zombeteiro repu%ou os lbios severo de &ard $uando ele comeou a observar a

    decorao da parte e%terna da manso. 0lores e%"ticas de todos os tipos espal!avam-se por

    todos os lados, penduradas nas rvores, ladeando as alamedas de sei%os, enfeitando o

    ancoradouro, e at2 boiando na gua da piscina olmpica. /ntremeando as flores, e suspensos por

    invisveis fios de nilon, viam-se centenas de passarin!os de cristal, $ue tilintavam sob a brisa

    noturna. Como sempre, /stella tin!a gasto uma fortuna com a$uele carnaval, e, como sempre, o

    efeito final era de um mau-gosto indescritvel. ma verdadeira cafonice, pensou &ard,

    contrariando a opinio de +ebora!.

    empre $ue encontrava uma justificativa razovel, ele evitava as festas dos (ason, e teria

    feito o mesmo na$uela noite, se no fosse o fato de +ebora! insistir para $ue comparecessem ao

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    grande acontecimento social da temporada. / ele preferia ir 4 festa do $ue ficar sozin!o com

    +ebora!, curtindo um t2dio mortal.

    1 recon!ecimento de $ue ele estava entediado trou%e-l!e um sentimento de culpa e remorso.

    8a verdade, a culpa no era de +ebora!. e $uisesse ser sincero, a )nica mul!er $ue no o

    entediava ultimamente c!amava-se Beatrice &inters.8o mesmo instante em $ue completou o pensamento, &ard levou um susto. +e onde tirara

    a$uela ideia absurda' ogo $uem, a srta. &inters' /stava enlou$uecendo' A$uela... a$uela...

    acompan!ante de freira'*

    orriu ao se lembrar do $uanto ela parecera indefesa e vulnervel na$uele dia, no avio, em

    $ue ele a cobrira com uma manta. 8a serenidade do sono, seu rostin!o descolorido ad$uirira uma

    e%presso $uase sedutora, de to comovente.

    1 sorriso de &ard abriu-se ainda mais. 8aturalmente, se a srta. &inters soubesse $ue estavasendo analisada, teria logo assumido a$uele ar ausente e recatado. / talvez tivesse at2 l!e

    enviado um da$ueles ol!ares g2lidos $ue ela sabia usar to bem. A moa era sempre to

    comportada, to aparentemente calma... mas ele tin!a uma intuio de $ue por bai%o da$uela

    capa de frieza e%istiam labaredas de pai%o* /ra justamente isso o $ue mais o perturbava no

    poder p?r a mo no fogo*

    Frritado, &ard tentou afastar a$ueles pensamentos absurdos. /ra uma tolice muito grande ele

    estar de braos dados com uma mul!er espl3ndida, c!eia de sensualidade e vida, e ficar

    ocupando a cabea com sua triste e asse%uada assistente.

    +e repente, seu ol!ar foi atrado pelos meneios graciosos e provocantes de uma mul!er $ue

    danava na pista. /la estava de costas, e &ard no podia ver-l!e o rosto, mas o corpo era

    esbelto e, ao mesmo tempo, curvilneo, cada curva em seu devido lugar.

    ma cascata de cabelos loiros e lisos caa-l!e pelas costas perfeitas, at2 $uase a fina cintura,

    flutuando de um lado para o outro, ao som da m)sica, e bril!ando sob a luz dos lampi9es, como

    se fossem ouro l$uido.

    1 decote generoso do vestido azul dei%ava 4 mostra a pele leitosa, e &ard sentiu um s)bito

    impulso de toc-la, de e%perimentar-l!e a te%tura. =uando o ol!ar bai%ou at2 os $uadris

    ondulantes, ele foi tomado por um desejo insano de senti-la mover-se da$uela forma sensual,

    colada a ele... por bai%o dele. em tirar os ol!os da moa, ele ficou torcendo para $ue ela se

    virasse para poder ver-l!e o rosto.

    Como se estivesse obedecendo a apelo mudo, a jovem mudou de posio, e &ard c!egou a

    engolir em seco ao ver a beleza clssica da$uele perfil.

    Ainda sem despregar os ol!os da$uela escultura viva, &ard encamin!ou-se para a pista,

    esperando encontrar algum con!ecido $ue pudesse apresent-la. 8esse instante, um tanto c!o-

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    Ginna Gray Tempestade de emoes

    cado, ele percebeu $ue o par da bela deusa era... (artin.

    =uer dizer ento $ue, apesar das reclama9es, (artin conseguiu arrumar uma

    acompan!ante' / $ue acompan!ante*

    &ard Gingman estacou-se de repente. (artin e ele eram amigos ! muitos anos, e nunca ele

    tentara l!e roubar deliberadamente as eventuais namoradas. (as, desta vez, tin!a o descon-fortvel pressentimento de $ue ia ser diferente. A$uela mul!er era fora de s2rie* " de ol!ar para

    ela, ele ficava to e%citado como jamais acontecera antes. &ard podia at2 sentir o sangue

    fervendo nas veias.

    Apro%imando-se com cautela, deu um jeito de ficar a poucos passos da dupla, no momento

    em $ue a m)sica terminou, e s" ento adiantou-seL

    > Al?, (artin* #elo $ue vejo, afinal, voc3 no veio sozin!o*

    > 8o, eu vim acompan!ado. Al? +ebora!* > (artin acrescentou, muito encabulado,dirigindo-se 4 mul!er $ue continuava pendurada no brao de &ard.

    /sperando a oportunidade, &ard ficou ol!ando para a moa, cada vez mais curioso e

    interessado, at2 $ue, dirigindo-se novamente a (artin, $ue emudecera, fez a pergunta

    > Como 2' 8o vai nos apresentar'

    Beatrice fec!ou os ol!os e e%pirou o ar $ue estivera retendo nos pulm9es. /la no tin!a

    escapat"ria. /stendendo a mo, cumprimentou

    > Boa-noite, sr. Gingman.

    &ard abriu os ol!os desmesuradamente, para, em seguida, estreit-los. (artin pigarreou.

    > Como pode ver, segui seu consel!o, e convidei Beatrice para vir comigo 4 festa > disse

    ele.

    > /stou vendo... > disse &ard, com a$uela voz amena $ue prenunciava uma tempestade.

    /la sentiu um calafrio na espin!a ao ver os ol!os castan!os fuzilando de raiva, en$uanto a

    percorriam de alto a bai%o.

    > e me permite dizer, srta. &inters, a sen!orita esta realmente encantadora > completou

    &ard, num tom ir"nico.

    > rta. &inters' /ssa moa 2 a srta. &inters, sua assistente' > e%plodiu +ebora! ang,

    antes $ue ela pudesse formular uma resposta.

    1s ol!os de gata da mul!er morena e%peliam fascas de "dio ao medirem Beatrice dos p2s 4

    cabea, e, com um ar de desprezo, ela comentou maldosamente

    > #elo visto, a srta. &inters no o $ue aparenta ser. 8a min!a opinio, ela 2 uma

    embusteira. > /, apertando o brao de &ard junto ao seio, completou > (eu $uerido, parece

    $ue ela andou tapeando voc3 o tempo todo*

    > E o $ue parece > concordou &ard, com a$uela mesma voz serena e perigosa.

    2

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    1s m)sicos comearam a tocar uma balada lenta. em tirar os ol!os da$uela figura

    magnetizante, &ard desvencil!ou-se do brao de +ebora! e comeou a empurrar a assistente

    para o centro da pista de dana, ao mesmo tempo $ue se justificava com a amante.

    > e 2 como voc3 disse, $ue ela andou me enganando, ac!o $ue voc3 no ir se incomodar

    se eu trocar umas palavrin!as com a srta. &inters, no 2 mesmo' /n$uanto isso, (artin l!e farcompan!ia. > em dar uma c!ance para $ue a moa morena contestasse, enlaou Beatrice pela

    cintura e deslizou com ela pela pista.

    /la engoliu em seco e enrijeceu o corpo, $ue &ard pu%ou mais para junto dele, com uma

    intimidade inesperada e c!ocante.

    Fnstintivamente, ela tentou afast-lo, mas era o mesmo $ue $uerer empurrar uma mural!a de

    pedra.

    > #or favor, sr. Gingman > ela suplicou, e%asperada, $uando ele abai%ou a cabea e colou orosto ao dela.

    1 $ue ele est fazendo, meu +eus'

    As pernas da moa bambearam $uando ele escorregou a mo pelo decote das costas, at2 a

    altura dos $uadris, e a pu%ou ainda para mais perto, fazendo com $ue ela sentisse todo o impacto

    de sua virilidade.

    Agora, eles estavam como se fundidos num s" corpo, movendo-se sensualmente ao som da

    m)sica lenta. 1 corao de Beatrice comeou a bater to forte, $ue ela mal podia respirar.

    entia-se sufocar.

    A face morena de &ard estava literalmente grudada ao seu pescoo, e ela podia at2 sentir-l!e

    o calor da respirao e a inebriante fragr7ncia da gua-de-col?nia $ue valorizava o odor saudvel

    e natural da$uele !omem incrvel e indomvel.

    /la esperava $ue ele reagisse de outro modo diante da revelao. 1!, ele devia estar dando

    vazo a uma de suas famosas e%plos9es temperamentais. (as, contra a$uela atitude, ela no

    tin!a defesa. Beatrice &inters era perita num debate verbal, mas no tin!a como lutar contra o

    ass2dio sensual de &ard Gingman. 8esse campo, ele era bem mais e%periente...

    Ainda colada a ele, comeou a tremer de apreenso. +evagar, as mos de &ard se

    insinuaram pelo drapeado do decote, e ele comeou a sussurrar-l!e junto ao ouvido

    > ela%e... +ei%e-se levar... oc3 vai ver como 2 bom > e deu-l!e uma mordidin!a no l"bulo

    da orel!a.

    Beatrice sobressaltou-se com a$uele contato ntimo junto 4 pele to sensvel e comeou a

    gaguejar.

    > /u... o!, o sen!or disse... disse $ue $ueria falar comigo, mas.. .

    > #ara $ue usar de palavras, se n"s dois j estamos nos comunicando de uma forma bem

    27

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    Ginna Gray Tempestade de emoes

    mais agradvel' > ele disse, com voz $uente e rouca.

    > #or favor, sr. Gingman, pare com isso* > ela $uase gritou, ao sentir os lbios mornos e

    )midos percorrerem-l!e a curva do pescoo e dos ombros com pe$uenos beijos. > Fsso no 2

    pr"prio do sen!or*

    &ard parou de danar e afastou-se um pouco. " ento ela se deu conta de $ue ele aconduzira at2 um caramanc!o de rosas trepadeiras $ue ficava nos fundos do ptio. onge da

    vista de todos.

    > Ac!a mesmo, srta. &inters' oc3 me surpreende. 8o 2 justamente esse o tipo de

    comportamento $ue esperava de mim' / no foi por isso $ue voc3 mascarou sua beleza' oc3

    receava despertar o !omem selvagem $ue e%iste dentro de mim, no 2 mesmo' 8o foi o medo

    de ser caada na$uele escrit"rio por um stiro sensual $ue fez a ninfa esconder sua formosura'

    > A cada pergunta, a voz de &ard tornava se mais spera.> 8o, claro $ue no* > (as &ard ignorou a negativa. A fora do abrao se ampliou, e os

    lbios estavam $uase pousados sobre os dela $uando ele murmurou

    > 8o gostaria de desapont-la, srla. &inters...

    m beijo enlou$uecedor a fez desfalecer, e ela submeteu-se a todas as e%ig3ncias da$uela

    boca se$uiosa, at2 $ue ele pareceu saciado.

    > Agora $ue seus temores foram confirmados, seria bom $ue esclarec3ssemos esta situao

    ambgua. Comparea ao meu escrit"rio na segunda-feira, logo cedo, srta. &inlers > disse ele

    com a antiga frieza.

    Beatrice mal se segurava nas pernas $uando comeou a se afastar dele. Com o corao aos

    saltos, passou os dedos sobre os lbios ainda )midos, e enviou-l!e um )ltimo ol!ar.

    /le a beijara* / com $ue pai%o* 8unca ela imaginara $ue o rancor de &ard pudesse tomar

    a$uele rumo. upusera $ue ele se enfurecesse* =ue a despedisse no ato* 1u, na mel!or das

    !ip"teses, $ue ordenasse $ue ela se retirasse da festa...

    &ard Gingman era um !omem inprevisvel* 1!, no, ele era simplesmente diab"lico* /le no

    s" a perturbara, mas a tin!a levado a um estado de e%acerbao. eu corpo reagira a todos

    a$ueles to$ues, como se ela fosse um violino tradivarius vibrando sob os dedos de um virtuose.

    8ada poderia ser pior do $ue isso* /nvolver-se com um !omem como &ard Gingman seria um

    desastre total*

    8aturalmente, &ard pensara de outra forma. /le s" $uisera enerv-la, e, o pior, 2 $ue fora

    bem-sucedido. Beatrice passaria o fim de semana preocupando-se em ser demitida. ecomeou

    a imaginar a via crucis em busca de um novo emprego.

    1!, anto +eus* #or $u3, por $ue cargas dIgua ela arriscara todo o seu futuro, e o futuro de

    @reg, por uma noite de divertimento' /la precisava da$uele emprego. / como precisava*

    2!

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    ua )nica esperana era $ue, at2 segunda-feira, o 7nimo de &ard Gingman tivesse mudado.

    CAPITULO IV

    > oc3 est brincando* #or favor, diga $ue tudo no passa de uma brincadeira, Beatrice*> Bem $ue eu gostaria $ue fosse, mas 2 a pura verdade. > Antes de colocar o ancin!o na

    terra a fim de arrancar as ervas danin!as, Beatrice ol!ou para 5udD com ar pesaroso.

    > / o $ue aconteceu' 1 $ue foi $ue ele disse' > $uis saber a amiga, levantando-se da

    cadeira de balano, e indo sentar-se numa ban$ueta dobrvel de lona, com os ol!os to

    escancarados como se tivesse visto assombrao.

    Beatrice ajoel!ou-se no gramado, en%ugou o suor da testa, encarou 5udD, e soltou um

    suspiro.> 8o aconteceu nada de e%traordinrio. > Apagando deliberadamente da lembrana o

    sabor do beijo e os momentos de intimidade $ue passara nos braos de &ard, ela continuou >

    Como voc3 pode imaginar, o sr. Gingman ficou uma fera, e convocou-me a comparecer 4 sala

    dele na segunda-feira, pela man!.

    (esmo sendo 5udD sua mel!or amiga, Beatrice no poderia contar os detal!es da$uele

    encontro desastroso.

    > /u sabia $ue essa sua ideia maluca no ia dar certo* -> e%clamou MudD. > =uem pode

    garantir $ue ele no v despedi-la'

    > 0ale bai%o* > Com um gesto de cabea, Beatrice indicou o irmo $ue, na$uele momento,

    aparava com uma tesoura de jardinagem a sebe $ue separava o $uintal da casa com o do vi-

    zin!o. > 8o $uero $ue @reg fi$ue sabendo de nada. #ara $ue causar-l!e aborrecimentos

    in)teis'

    > #elo amor de +eus, Bea, $uando voc3 vai parar de poupar @reg' > perguntou 5udD, num

    de seus raros momentos de irritao.

    /nviando 4 amiga um ol!ar $ue dizia claramente no $uerer abordar a$uele assunto, ela

    levantou o $uei%o antes de retrucar

    > 8unca* > /, mais uma vez, atacou com o ancin!o o mato $ue invadia os canteiros, com a

    f)ria de $uem est e%ecutando um ato de vingana.

    Beatrice estava convencida de $ue se 5udD soubesse como a inf7ncia de @reg tin!a sido

    triste e amargurada, no iria critic-la por tentar facilitar ao m%imo a vida do irmo. " $ue ela

    no estava com disposio para falar sobre a$ueles anos to deprimentes e sofridos. @reg nunca

    cultivara, como ela, o dom de esconder seus verdadeiros sentimentos, e todas as vezes $ue o tio

    Bill Holland se dei%ava levar por um de seus acessos de mau g2nio, ele revidava 4 altura,

    2"

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    agravando ainda mais a situao dom2stica. 8a primeira vez, Beatrice correra em socorro do

    irmo, mas c!egou 4 concluso de $ue cometera um grave erro. Afinal, o tio tivera a enorme

    satisfao em praticar uma dupla punio. :anto pela reao de @reg, $uanto pela interfer3ncia

    dela. +epois desse doloroso acontecimento, fora forada a aguentar estoicamente as injustias e

    os maus-tratos, ficando apenas atenta e apreensiva $uando o tio tentava disciplinar @reg. +esdea$uela 2poca, ela jurara para si mesma $ue faria tudo o $ue estivesse a seu alcance para

    proporcionar uma vida feliz ao irmo caula.

    / 2 e%atamente isso o $ue vou fazer, ela pensou, arrancando com a mo mais um talo de

    erva danin!a, $ue jogou com determinao dentro da cesta. /, ai de $uem se atrever a me

    criticar*, acrescentou, mentalmente.

    5ardinagem era seu m2todo favorito para rela%ar as tens9es. +esde $ue !erdara a casa, !

    $uatro anos, muitos de seus problemas tin!am sido enterrados na$uele solo f2rtil. Com redobradaenergia, ela retomou a tarefa de limpar o jardim.

    > abe, 5udD, ac!o $ue vou ter $ue e%plicar ao sr. Gingman as raz9es por $ue procedi

    da$uela maneira > disse Beatrice, num tom mais ameno, comeando a rolar o cortador de grama

    sobre a relva. > 8aturalmente, no pretendo revelar $ual foi min!a fonte de informa9es, sobre a

    vaga na empresa, mas se o sr. Gingman vier a descobrir $ue moramos no mesmo endereo,

    certamente ele vai desconfiar de voc3. E bom $ue fi$ue prevenida, 5udD.

    5udD foi apan!ar seu copo de limonada na mesa de vime e tornou a sentar-se na cadeira de

    balano.

    > 1!, no se preocupe por mim* > Acariciando o ventre volumoso, completou > 8o se

    preocupe mesmo* /u pretendia pedir demisso dentro de um ou dois meses. =uando 5)nior

    c!egar ao mundo, $uero ser uma mezin!a de e%pediente integral, curtindo todos os momentos

    junto dele. +an tamb2m concorda.

    ma sombra de ceticismo e compai%o toldou os ol!os azuis de Beatrice. /la no tin!a a

    menor d)vida de $ue 5udD seria uma e%celente me, mas no conseguia visualizar +an 0isc!er

    vivendo o papel de pai e%tremoso. endo um piloto comercial bem-apessoado e c!armoso, o

    marido de 5udD parecia muito satisfeito em voar continuamente para os pontos mais distantes do

    globo, dei%ando 5udD entregue a si mesma. Ao contrrio da amiga, Beatrice no alimentava

    ilus9es sobre a fidelidade do rapaz durante a$uelas prolongadas aus3ncias. / no precisava ir

    muito longe. Certa feita, na 2poca em $ue o jovem casal acabara de mudar-se para o

    apartamento t2rreo, +an tentara dar umas cantadas na pr"pria Beatrice, $ue logo o pusera em

    seu devido lugar. +esde ento, ela criou uma certa averso pelo marido de 5udD, e s" no rompeu

    o contrato de aluguel em considerao 4 vel!a amizade $ue unia as duas. Apesar de os 0isc!er

    terem meios de alugar uma moradia com mais privacidade, 5udD preferia a$uele arranjo para no

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    se sentir completamente sozin!a durante as longas viagens de +an.

    > (esmo assim, vou fazer o possvel para $ue voc3 no seja envolvida nessa atrapal!ada

    toda > garantiu Beatrice, prosseguindo a conversa.

    Ao rangido de pneus no pedregul!o, 5udD comeou a respirar afanosamente,

    entrecortadamente, o $ue fez Beatrice correr at2 a amiga, alarmada.> 8esta altura dos acontecimentos, ac!o $ue suas boas inten9es c!egaram tarde demais

    > disse 5udD, observando, muito assustada, o porto de entrada da garagem.

    eguindo a direo do ol!ar da amiga, Beatrice virou-se, ainda em tempo de ver o sr.

    Gingman saltando de um espetacular carro Continental cor-de-bronze.

    1 $ue ele estava fazendo ali' er $ue no pudera esperar at2 segunda-feira para demiti-la'

    Beatrice p?s-se de p2 com a desagradvel sensao de estar com barro at2 os joel!os, de

    $ue o jeans desbotado era de corte antigo, e de $ue uma mec!a de cabelos desprendera do rolo$ue ela fizera no alto da cabea. +etal!es esses $ue o ol!ar agudo de &ard estava catalogando

    4 medida $ue se apro%imava.

    #arando a poucos passos dela, ele afastou as pernas musculosas e apoiou as mos sobre os

    estreitos $uadris. &ard estava vestido com uma cala esporte creme, $ue l!e realava as co%as

    fortes e a cintura fina. A camisa de mal!a cor-de-caf2, de mangas curtas, com apenas tr3s bot9es

    desabotoados no peito, dava uma ideia mais e%ata do taman!o do t"ra%. 1 corao de Beatrice

    comeou a bater como um tambor, e ela sentiu um estran!o amargor na garganta. (as, mesmo

    em p7nico, no p?de dei%ar de notar a possante musculatura dos bceps, nem o negror do tufo de

    p3los $ue emergiam pela abertura da camisa. A lembrana de j ter sido aprisionada por a$ueles

    braos tumultuava-l!e a mente.

    > Boa-tarde, srta. &inters > cumprimentou &ard, mas logo seu ol!ar desviou-se para a

    cadeira de balano. > #or acaso, no 2 a sra. 0isc!er' > /le meneou a cabea em sinal de

    recon!ecimento. > 8unca imaginei $ue a sen!ora e a srta. &inters fossem amigas.

    > /u... u!mmm... > 5udD limpou a garganta, e enviou 4 amiga um ol!ar de socorro. >

    Bem... realmente, n"s duas somos amigas ! anos... > 5udD fez um gesto em direo a casa. >

    (eu marido e eu tamb2m somos in$uilinos de Beatrice. abe, n"s alugamos o apartamento do

    andar t2rreo.

    &ard relanceou um ol!ar para a antiga casa vitoriana, parecendo apreciar a intrincada

    ar$uitetura, c!eia de p"rticos, alpendres, torrin!as e colunetas.

    > Belo lugar > disse ele, laconicamente, comeando a inspecionar com os ol!os o jardim

    florido e o $uintal bem-cuidado.

    1s ol!os castan!os ad$uiriram a$uela costumeira frieza ao deparar-se com um rapaz

    bronzeado e sem camisa, $ue se encamin!ava na direo deles. @reg parou ao lado de Beatrice

    3#

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    dedos pelos cabelos loiro-escuros. > 1l!e, nem sei o $ue dizer.

    Beatrice teve vontade de gritar.

    1 $ue estava fazendo a$uele maldito !omem' /stava $uerendo revolucionar sua vida' /la

    no $ueria $ue @reg fosse trabal!ar, e menos ainda numa plataforma de e%trao de petr"leo* /

    tin!a o palpite de $ue &ard sabia muito bem disso. :odavia, no podia entrar numa altercaocom o c!efe, ao menos en$uanto no tivesse a esperana de $ue continuaria no emprego. / o

    fato de &ard preocupar-se em arrumar trabal!o para @reg era um bom sinal. 1u no era'

    > 1 sen!or... bem... /m $ue posso l!e ser )til, sr. Gingman' 8o gostaria de desperdiar

    nem um minuto de seu precioso tempo > disse ela, com o corao confrangido.

    > @reg, voc3 pode me ajudar l dentro por um instante' > prop?s 5udD mais $ue depressa.

    > E $ue dei%ei cair um brinco atrs da penteadeira, e o m"vel 2 muito pesado para ser afastado

    sem ajuda, principalmente no meu estado.> Claro, claro > admitiu @reg, subindo a escadaria de entrada, de dois em dois degraus.

    +epois $ue a porta foi fec!ada, Beatrice ol!ou para &ard Gingman e esperou $ue ele falasse.

    (as ele parecia no ter pressa. Com um sorriso $uase imperceptvel, e%aminou-l!e o rosto sujo

    de terra, as roupas amarrotadas, e a massa de cabelos loiros $ue despencara sobre os ombros.

    Beatrice retraiu-se. /stava acalorada e imunda, sendo difcil enfrentar algu2m to perfumado

    e elegante sem se intimidar. #or $ue ele no despejava logo tudo o $ue tin!a a dizer'

    ma gota de suor tomou volume em sua testa, e escorreu pela face e pelo pescoo,

    desaparecendo na fenda dos seios. &ard acompan!ou-a vagarosamente, suspendeu os ol!os do

    decote da camiseta-regata, e Beatrice reteve a respirao ao ver o desejo estampado na$uele

    rosto moreno. (as logo as fei9es endureceram, voltando a parecerem cinzeladas em granito.

    > " vim para dizer-l!e $ue $uando voltar ao escrit"rio, na segunda-feira, dei%e de lado seu

    disfarce. 8o $uero mais ver voc3 com a$uela apar3ncia de solteirona carola, candidata 4

    beatificao*

    > 1!, mas. . .

    > /stou falando s2rio, Beatrice. e voc3 me aparecer com a$uelas roupas !orrorosas,

    mando voc3 de volta para casa*

    / sem mais uma palavra, ele girou sobre os calcan!ares e entrou no carro, dei%ando Beatrice

    bo$uiaberta. A forte pancada da porta do carro fez com $ue ela tivesse um sobressalto, seguido

    por outro, $uando ele saiu para a rua, com os pneus cantando.

    +e uma coisa Beatrice estava certa o mau-g3nio do patro no tin!a mel!orado nem um

    pouco. (as como poderia ter certeza de $ue tudo se resumia em abandonar o ridculo disfarce'

    1 bom-senso dizia-l!e $ue ela no poderia mudar drasticamente de apar3ncia, do dia para a

    noite, sem provocar uma avalanc!a de me%ericos. e ele iria permitir $ue ela continuasse no

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    emprego, o mais certo seria fazer as mudanas gradualmente, ao longo de alguns meses, para

    $ue ningu2m ficasse c!ocado.

    aivosa, sacudiu a lama seca dos joel!os, $ue se desprendeu em forma de poeira.

    (aldito &ard Gingman* @raas a ele, os funcionrios da firma teriam motivos para fofocar

    durante semanas*> Bea'

    /la ergueu os ol!os e viu @reg parado junto 4 porta da casa, parecendo apreensivo.

    > im' =ual 2 o problema'

    > :io Bill est ao telefone*

    A )ltima coisa $ue ela desejava na$uele momento era ter $ue enfrentar o tio, mas se

    conformou, e foi atender.

    @reg no saiu mais de seus calcan!ares, postando-se ao lado do telefone como um co deguarda.

    > Al? > ela fez fora para manter a voz imperturbvel. > 1 $ue posso fazer pelo sen!or, tio

    Bill'

    > #ara comeo de conversa, voc3 poderia me arrumar uns dois mil d"lares' > perguntou

    Bill Holland, sem maiores pre7mbulos. > /stou com meu cr2dito do banco esgotado, e ten!o

    alguns credores a $uem no posso pedir para renovarem os papagaios.

    Beatrice fec!ou os ol!os e respirou fundo. /ra previsvel $ue o tio ia $uerer alguma coisa

    dela. :anto ele como a tia nunca l!e telefonavam ou escreviam a no ser para fazer pedidos de

    din!eiro At2 pareciam pensar $ue ela deveria ressarci-los at2 o fim da vida pelos anos $ue

    passara na casa deles, juntamente com @reg. (as, afinal, o din!eiro $ue os pais tin!am dei%ado,

    atrav2s do seguro de vida, somado 4 ajuda $ue ela e o irmo tin!am prestado na loja de Bill

    Holland era uma compensao mais do $ue suficiente para os gastos de ambos.

    (esmo assim, preferia no entrar em atrito com o tio, alis, como sempre fizera no passado.

    > into muito, tio, mas, no momento, no dispon!o de uma $uantia to grande. :udo o $ue

    consegui poupar somam uns duzentos d"lares.