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GODS OF FIRE LANDS A Fire Nation spin-off.

Gods of Fire Lands

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GODS OFFIRE LANDSA Fire Nation spin-off.

PRLOGO150 ANOS ANTES DE ARYN. Quando criana o senhor me sugeriu que a mesma deusa que criou aqueles Davis, criou a ns Valouis. No h nada a fazer por agora, papai. Pontuou Francis que seguia olhando o cu. A no ser olhar essa lua que est to linda. Franchesco no se daria o trabalho de retrucar. A idade demasiado avanada e os males que vinham com ela impediam o idoso sentado logo ao lado de enxergar algo que fosse alm de seu rosto rabugento quando estava diante do espelho. De certo a herana de sua vaidade, velho narcisista. Pensou Francis no alto daquela fortaleza. Seus olhos esverdeados como esmeraldas se perdiam em pensamentos alheios encarando a lua cheia e avermelhada que pairava no cu lmpido e azulado. No havia sequer uma nuvem. Era a primeira vez em seus pouco mais de vinte anos que testemunhava um fenmeno daqueles. As chamadas luas sangrentas, volta e meia eram vistas naquela parte do planeta especialmente aps invernos rigorosos como os que haviam ocorrido ultimamente. Francis sequer sentia medo de estar na torre mais alta da imensa fortaleza Valouis. Na verdade, em sua cabea, Valouis nasceram para temer apenas uma coisa: os Davis a famlia prima deles. Com a voz falha e quase gaga, seu pai interrompera suas reflexes. Eu deveria me preocupar com a situao das plantaes, no em tentar ver bobagens to triviais como essa. Resmungou Franchesco pensando que de algum seu filho fosse ver relevncia em sua fala. Estava errado. O senhor no deveria se preocupar com nada, meu pai. Francis parou de encarar a lua, passou os olhos pela imensa mata de grandes pinhais cobertos por uma fina camada de gelo. Voltou o olhar ao pai e concluiu. Primeiro, porque sua idade avanada demais pra isso. E segundo, porque todos sabemos que eu ainda no ocupo o seu trono e nem uso sua coroa por meras formalidades. Franchesco claramente no gostou. Mas as palavras no saiam de seus lbios para argumentar. O silncio calmo e profundo perdurou por aquela noite, ouvia-se apenas uma leve brisa esvoaando os cabelos longos castanho-escuros de Francis. O silncio pareceu ser quebrado. Ao distante, bem ao distante no interminvel horizonte foi ouvido o que pareceu ser o som de uma trombeta. Um leve sorriso cnico desabrochou na face do prncipe. So os Davis! Pontuou Franchesco com um pavor ntido em sua fala. Antes que Francis fosse mencionar algo, a porta amadeirada atrs deles rangeu enquanto se abria. Uma voz masculina macia e calma pronunciou a Francis. Milorde, Sor Meryn demanda v-lo urgentemente. Achei que trataram bem nosso convidado. Francis destilou sua ironia. Suas tiradas levam um pssimo humor negro. Balbuciou Franchesco irritado, j que sempre odiara os sarcasmos de seu filho. Aprecie a lua, pai. tudo o que o resta fazer. Francis saiu calmamente. Fechou a porta detrs dele e seguiu pelo corredor, diversos criados o seguiam iluminando seu caminho com tochas. O corredor era obscuro, as paredes pareciam gastas e o som de rangido era ouvido a cada passo que Francis dava. Sua expresso se fechou em um sadismo enquanto caminhava. Agora se escutavam gritos. De ajuda, de horror, eram agonizantes. Estressavam mais o prncipe Valouis, os servos perceberam ficando em ntida aflio. Ele est nesse quarto, milorde. Disse um servo, temeroso. Eu ouvi pelos gritos dessa peste. Limpe minha espada. O servo saiu correndo aps a ordem de seu amo. Francis empurrou a porta dura de ferro que separava o cmodo, adentrou no local escuro. A iluminao pelas tochas dos servos fez um incontvel bando de ratos sair correndo e barulhando de cima do corpo de Sor Meryn. Seu corpo estava em carne viva, o sangue escorria por todos os seus orifcios. Estava dbil, frgil na escurido. Atas o prendiam suas mos e ps a uma cama de pregos na qual estava preso. Ele ofegou ao ver Francis, parecia desesperado. O prncipe deu um nico passo at ele. Aumentou o temor daquele refm que no estado deplorvel e sub humano que estava mal teve palavras para falar. O sorriso sdico desabrochou de Francis. Para que me chamou? Eu... Tentou indagar algo, lgrimas saiam de seu olhar e um n estava em sua garganta. Eu tenho sede. Misericrdia, por favor, misericrdia, milorde! Majestade pra voc. Mas estou piedoso essa noite. Lentamente se locomoveu at uma caapa com vinho sobre uma tbua amadeirada. Pegou e voltou at o refm aproximando dele lentamente. vinho. E das terras que eu te cedi, alias. Deve matar a sede no? Sor Meryn sorriu com os olhos brilhando, j passava sede h metade de um dia. Fora privado de comida por mais de trs noites, mas s desejava aquele gole de vinho. Sadicamente, Francis ingeriu todo o vinho da caapa, e vendo o sorriso de Sor Meryn se apagar e jogou o objeto no cho pisando em cima. Francis virou aos servos que estavam atrs dele. Deem as costas. Ordenou, sendo prontamente obedecido. Majestade... Indagou o refm em tom de splica. No quero que os servos vejam o que todas as garotas do pas se matariam pra ter. Francis aproximou mais da cama de pregos e do refm, retirou a fivela do cinto e abaixou as calas diante do refm. J enojado, Sor Meryn fechou os olhos, sentindo a urina cair em sua face ele tossia com nsias de vomito, querendo no encarar enquanto Francis seguia sua sesso de torturas. Aps dar-se por satisfeito, fez meno de balanar seu rgo genital o pondo dentro das calas novamente. Sor Meryn tossiu no cho, escorrendo o lquido de sua boca ao mximo que podia. Francis estralou os dedos e os servos se desviraram. Um deles se aproximou. Por favor, majestade, por favor. Acabe logo com isso. Implore com mais vontade, conspirador. Sor Meryn se calou com o olhar psictico de Francis sobre ele. Eu odeio gente pedante! Berrou o prncipe com fria, socando o trax dele contra a cama de pregos que havia abaixo. Ele berrou de dor mais uma vez. No aguentava mais tudo aquilo. Eu imploro! Eu imploro, milorde. Eu pequei! Disse Sor Meryn se debulhando em suas lgrimas. Eu errei em minha ambio contra vossa casa, me puna como eu mereo de uma vez! Mate-me, Majestade! Mate-me! Mate-me de uma vez! Agora ele fez como devia fazer. Ocorreu pela mente de Francis que ficou calado. Milorde... Disse o servo que estava ao lado. Sua espada j est limpa. timo. Sirvam gua ao nosso hspede e noticie vossa famlia, se tudo ocorrer como planejado, os urubus faro festins pela manh. Francis preparou-se para sair, vitorioso. Seus planos no poderiam sair melhor, exceto por algo. A porta de ferro se abriu, por ela entrou uma tpica serva franzina, pr-adolescente que olhou aterrorizada para seu lder. Antes que fosse falar algo, o som de um canho disparando ao longe, o eco de um berro e o barulho de cavalos avanando do lado de fora foi ouvido intensamente. Era tarde demais para o recado que a serva trazia. Os Davis... Ofegou. Adolph IV e suas tropas esto vindo nos atacar milorde, querem usurpar vosso trono! Disse com o pavor expresso no rosto. Agora sim. O futuro rei esboou seu clssico sorriso sarcstico, se antes faltava algo para completar seus planos, agora tinha cincia de que tudo estava perfeito.

CAPTULO I ADOLPH I Adolph IV no via. Mas o relinche de seu cavalo branco era quase um grito de desespero enquanto suas patas, assim como a de toda a multido de cavalos pela frente e a multido de cavalos atrs trotavam geis contra a neve dura no solo. Os homens avanavam pela mata, se esquivavam por entre as altssimas rvores, erguiam espadas e lutavam com elas, rompiam a calmaria sbria da noite de lua sangrenta. Pouco a pouco, Adolph via a fina camada de neve no solo se manchar com um tom vermelho sangue. Avante, homens! Avante. Gritou o escudeiro que tocava o som infernal daquela trombeta e balanava o grande estandarte de uma coroa sobre uma cruz atravessada por uma espada. Ele foi o primeiro a cair morto quando um soldado Valouis flechou direto em seu trax. Os cabelos dourados e compridos do Davis balanavam com a ventania forte e a correria, ele ergue a espada agora comandando seus homens. Passou com seu cavalo a frente dos outros na zona de ataque. Arqueiros deles saltaram de cavalos, comearam a disparar flechas em bestas contra os rivais. Adolph via-se cercado. Saiu logo da mata marchando com os homens rumo ao castelo, de onde saia uma interminvel frota de soldados em posse das espadas, liderados por Francis montado num imponente cavalo negro. A espada do prncipe se sujou de sangue. Um homem da casa Davis caiu decapitado no cho, sua cabea parou bem longe do corpo. uma questo de honra! Repetia-se continuamente como um mantra na mente do zardan. Tinha de tirar o prncipe sdico da fortaleza e pregar sua cabea na estaca. O povo do Oeste jamais mereceria um rei to sdico. Ataquem-no! Derrubem-no do cavalo e o tragam para mim vivo! Berrou Francis com seus olhos esverdeados quase num tom rubro como a lua. Os homens de Adolph se puseram em formao em sua frente. Era ntido como os Valouis j estavam preparados para a batalha como se j soubessem. Aquela era s mais uma de muitas que vieram antes, mas Adolph sentia que na hesitao de Francis em simplesmente exigir sua cabea havia algo de diferente. Eu no vou morrer essa noite, Francis! Berrou Adolph. Desista! E devolva-me o que nos de direito! Adolph estava mais prximo da entrada do castelo. No viu o arqueiro no alto de uma rvore atirar uma flecha contra ele. Atravessou seu ombro, o fez berrar de dor. Mas ele resistiu. Ergueu a espada com a outra mo da qual no tinha habilidade, tremeu um tanto, mas ainda conseguiu cravar num cavaleiro que vinha logo a sua frente e o derrubou. O sorriso pela vtima que fez se apagou quando olhou ao redor. Foi o que dissera Francis que o fez perceber a real situao. A peste e a fome no matou gente o bastante em seu exilio, priminho? Berrou Francis aos risos erguendo a espada. Ento trouxe os poucos que a guerra e a praga deixaram vivos pra vir morrer a entrada da fortaleza! O Oeste sempre revida. Retrucava Adolph mentalmente. No era um homem de muitas palavras, os Davis ainda no eram criados para ser bons oradores. Entre seus mantras e preces mentais, rezava para algum deus ajuda-lo no impossvel: arrancar a cabea de Francis. Fazia isso e invadir o castelo para matar um idoso adoentado e assumir o trono que fora roubado de seu pai e de outro Valouis pelo mesmo no seria to difcil. Numa jogada arriscada, ele ergueu a rdea do cavalo e o chicoteou. Diversos grupos de homens apressaram seus cavalos e puseram-se na frente dele. Atacaram com toda a fora a tropa dos Valouis, os minutos do conflito pareciam eternos para Adolph. Mas no para Francis cuja vitria era certa. Os mortos j se acumulavam pelo campo branco. Com aquela quantidade de mortos, os abutres dariam festins entrada do castelo at o fim daquela estao. Adolph atento em meio batalha enquanto Francis o cercava e o encurralava ainda mais, arriscou tudo saltando de seu cavalo e partindo para cima de Francis. Ele sentiu apenas o toque glido de metal afiado em sua boca e um rasgo subsequente da espada que torou um pedao de sua lngua. O sangue encharcou o cho, onde ele caiu em seguida urrando de dor. pra matar, milorde? Ouviu um homem questionar. Pergunte ao pai dele que nem hesitou em cravar uma espada na barriga da minha me quando ela estava parindo meu irmo. Retrucou Francis. Adolph no via, mas sabia que Francis o observava. A sua dor era estridente. O corpo no aguentou muito e ele teve uma sbita perca de conscincia. Quando seus olhos se abriram de novo, ouviu risos, era motivo de piada. Ainda tentava assimilar o que estava havendo. Viu muitos de seus homens mortos, cados ao lado dele. Alguns com membros variados do corpo decepados, outros haviam se virado ao inimigo, mas ele ainda estava vivo e no podia entender o porqu. Ouviu um rugido bravo que silenciou as gozaes. Olhou zonzo o que havia a frente. O sadismo tpico dos Valouis que logo no seria exclusivo a eles fizera Francis ir longe demais. Um leo albino, forte e impotente rugia bem a frente de Adolph e era segurado por Francis com uma corrente que o prendia. Era um esforo para tortura-lo que Francis no precisava fazer. Mas fazia questo. Voc sempre disse em suas cartas carregadas de desprezo que Francis Valouis no tinha a fora de um guerreiro zardan. Provocou o prncipe. Mas para o seu prprio bem bom que eu tenha fora o bastante pra conter essa fera faminta. Adolph tentava falar algo. Mas havia um vo, um rasgo imenso em sua boca que o impedia com aquela nova circunstncia. Estava farto dos gracejos do rival. Discretamente tirou de dentro de sua roupa uma faca extremamente afiada. Num mpeto sbito correu para cravar no corao do Valouis, mas seus passos no foram rpidos o bastante. Uma pancada o acertou por trs, bateu forte em sua cabea e agora ele caia novamente inconsciente merc do inimigo.

CAPTULO II ADOLPH II Beba. Meu prprio filho se certificou que no h veneno. Ouviu uma voz idosa e j tremula o dizer. A viso se clareou abruptamente, Franchesco o estendia um ch. O ambiente no era desconhecido, pois Adolph crescera ali. Era o escritrio da fortaleza do Leste, onde o trono vermelho constitudo por quilates imensos de rubis decidia o destino do Leste e do Oeste daquelas terras. Haviam mapas, escritos em cuneiforme pelo ambiente que velas iluminavam. Adolph IV pegou desconfiado o ch das mos de Franchesco. Bebeu com raiva explicita na cara e jogou a xcara no cho, estilhaando-a. Foi quando notou que vrios homens a porta armados com espadas e lanas o rendiam. Se recomps. Por que ele ainda no me matou? Se esse infeliz pensa que me manter prisioneiro... No esse nosso interesse. Cortou Franchesco. No desperdiamos comida com forasteiros e muito menos com convidados da sua estirpe. Ento por que eu ainda estou vivo e preso aqui? Francis responder melhor do que eu. O silncio perdurou por algum tempo. Franchesco sinalizou para um servo ajuda-lo, o homem o pegou nos braos e o guiou at uma poltrona onde o mesmo se sentou. Soltou um longo arroto, sendo servido de uma taa de vinho em seguida. Adolph observava arredio. Franchesco o estendeu a taa que foi recusada. Onde est teu pai, meu jovem? Questionou com o ar sarcstico que tanto odeia no filho. Sim, pois mandar um filho to despreparado para a guerra, francamente, tinha que ser coisa de um Davis mesmo. Adolph o encarou atravessado. Fez questo de no responder no mesmo tom. Faleceu h duas primaveras. E voc sabe muito bem disso. E essa lua vermelha, no? to bonita no Oeste como aqui? Tossiu e gaguejou nas palavras em seguida. Perdoe a pergunta, mas meus olhos j no enxergam to bem como antes. A lua igual em todos os lugares. O velho nem para o sarcasmo presta. Pensou, vendo quo limitado era o humor negro de Franchesco. Sequer passou por sua cabea questionar o que haveria consigo a seguir, Francis apreciava o pavor de seus inimigos, ele queria esse pavor em Adolph. Queria ver o medo no inimigo antes de contar-lhe seu destino. E isso fez com que Adolph ficasse cara a cara com Franchesco no mais profundo silncio por horas a fio sem que Francis desse as caras. Aps mais um longo tempo, a porta daquela sala foi se abrindo. O invasor conteve o suspiro de alivio da tenso que aquela espera o havia causado. Francis adentrou cercado de homens com diversos papeis em mos, fez sinal para todos colocarem sobre a mesa que havia e ali foi colocado junto com um vidro repleto de tinta preta e uma longa pena quase mergulhada no vidro. Seu jantar est servido, pai. Logo o chamarei de volta. Eu j jantei esta noite, Francis. No tenho fome. Francis olhou para seu servo e fez um gesto com o olhar. Franchesco no acreditara no que via, o servo se aproximou e pegou Franchesco no colo. Ora, Francis, tire-me daqui! Bradou Franchesco. Essa conversa privativa. Tirem-no. Franchesco foi levado do escritrio sobre protestos pelo servo, logo que a porta foi fechada seus gritos j no eram mais ouvidos. O prncipe puxou a cadeira e fez gesto para Adolph sentar. O convidado se manteve imvel. No me faa exigir duas vezes. Eu no sou o tipo de rei que faz isso. Adolph seguiu a ordem de Francis e saiu do sof onde acordara, sentando-se numa cadeira a frente dele. O prncipe sinalizou a um servo que guiou a cadeira de seu pai at a mesa. Francis sentou de frente ao invasor. At que a sua prepotncia nos serviu de algo, no Adolph? Deixe-me adivinhar, os corvos que sussurram no Oeste disseram que minha situao estava teoricamente fragilizada aqui na fortaleza, no? Problemas com aliados, talvez. E voc se aproveitou dessa ocasio pra virar seu exrcito contra ns. Pelo visto meus corvos estavam enganados. Homem sbio, muito esperto. Ponderou Francis sorrindo, ele desfez o sorriso e seriamente abriu um papel que estava na mesa, exibindo ao outro, onde havia um mapa dividido em dois. Adolph o encara desentendido. Mas eu suponho que seus corvos no o puseram a par de qual a real situao, no mesmo? Alguns de seus aliados. A casa Hendrix e a Dorian, lideradas pela casa Meryn se voltaram contra voc. Olha, mas quem diria... Francis ironizou a prpria surpresa Parece que os corvos dos Davis no so to mal informados. Mas no o bastante porque no te contaram a real situao. Francis... Advertiu Adolph. Acabe logo com esse circo. Um bom rei no se esquece de seus inimigos, mas tambm jamais tira o olho daqueles que considera seus amigos. Memorize isso. O silncio perdurou por poucos instantes. Francis tirou a fita que enrolava uma carta e desdobrou estendendo a Adolph que pegou e leu, desconfiado. Sor Meryn no estava simplesmente pretendendo se rebelar contra ns e se aliar aos Davis na nossa disputinha pelo trono. Nem de longe essa era a inteno. Oh meu Deus. Era tudo o que se passava na mente de Adolph aps ler o que havia lido, com fora nas mos amassou a carta e a deixou sobre a mesa, exttico. Sim, uma casa to insignificante como a casa Meryn pretendia derrubar a casa Valouis, derrubar a casa Davis e assumir o trono eles mesmos. Ento voc no me matou porque quer minha ajuda? Para domar os seus aliados traidores? Frisou na ltima frase. No. Com certeza no. Riu Francis que lanou um olhar a um servo que o serviu com vinho novamente, Francis pausou para beber e continuou em seguida. Eu massacrei o movimento. Matei nobre por nobre do Leste que conspirou contra eu e meu pai. Mas o Sor Meryn, o lder de toda essa farsa eu fiz questo de deixar vivo. E claro que no voc no deve supor que eu fiz isso por bondade. V ao ponto. Francis sorriu complacente para Adolph. Saiu de sua cadeira. Pegou um imenso livro da estante cuja forma de uma mulher esbelta com formas de sereia estampava a capa, colocou sobre a mesa e abriu numa pgina marcada. Sentou-se e comeou a ler. E ento, no incio de todos os tempos, os deuses viram que ambos homens distintos de terras to prximas eram bons. E os deram os dons para guiar seus povos, mas quando a ganncia e a ambio de um nico homem unificou as duas terras, a fria dos quatro deuses recaiu sobre o planeta. Adolph cortou a leitura de Francis, concluindo-a. E o deus da terra lanou sobre os povos as pragas, o solo infrtil e fez chuvas de larvas escorrerem pelas colinas durante as noites mais quentes do vero e as mais frias de um longo inverno. E enfurecido com o despeito e a ambio, o deus do caos praguejou 20.000 anos de guerras dinsticas entre as duas famlias que cruzariam geraes e espalhariam o dio e o sangue por todos que nascessem envolto em sangue azul. A Fria dos Quatro Deuses e a Saga dos Anjos do Fogo, a obra magna de Heliseu. Disse Francis suspirando e fechando o livro, o servo o tirou da mesa e guardou sobre a estante Demorei sete anos pra terminar de ler esse livro. Sete longos anos, Adolph. Mas essa pgina jamais saiu de minha cabea. Quando seu pai matou meu irmo na barriga de minha me e nem a deixou pra contar o resto da histria, eu orei aos deuses pra poder entender a razo e eles me responderam naquele trecho. Pela primeira vez, uma lgrima desceu do olhar de Francis que rapidamente a enxugou e manteve a pose na frente do inimigo. Adolph sugeriu um sorriso no rosto, mas a apreenso da situao o impediu. Quando mataram meus tios, meu av e meus primos eu busquei entender o porqu. Mas quando s restou meu pai e eu pra continuarmos essa histria, eu vi o que os deuses queriam de ns. Tudo silenciou por ali. Adolph sentiu como Francis engolira seu orgulho diante das trgicas memrias que o ocorreram. Francis notou o desprezo de Adolph. Eu pararei de fingir que no sei o rumo dessa conversa quando voc disser com palavras inteiras o rumo ao qual anseia lev-la. Ns destrumos esse trono, ns fundimos nossa coroa e queimamos nossa bandeira. Teremos duas novas coroas e dois tronos pra dois reis. Eu exijo a separao de Leste e Oeste. Adolph j o encarava atravessado, no fundo dos olhos, Francis o enfrentou cara a cara. Sequer hesitou em continuar. Eu exijo que pelo fim dessa guerra, a coroa e o territrio se partam em dois. O choque de Adolph com as palavras de Francis foi intenso. Queria ter uma faca para mat-lo ai mesmo. Ocorreu na mente do refm, mas olhou para os lados, os homens do prncipe armados at os dentes logo porta no o deixariam dar um passo se ousasse por as mos sobre Francis. No havia opo. Tragam o rei de volta. Esta noite meu pai far histria. Disse em tom irnico. Um servo assentiu e deixou o ambiente, deixando a porta aberta. Logo trouxeram Franchesco carregado no colo, ainda resmungava pela forma pela qual foi expulso. O servo fechou a porta, Francis apontou para que pusesse o pai em sua cadeira. O colocaram. Todos se entreolharam tensos ali, o domnio de Francis sobre a situao era uma coisa que amedrontava at mesmo seu prprio pai. Voc ainda no assinou o papel, Adolph. Meu pai jamais concordaria com algo assim. Ele no passou a vida perseguindo a coroa que seu pai roubou dele pra que eu acabe com o legado assim! Gritava Adolph histrico, com o rosto vermelho de raiva. Francis mantinha-se calmo. O que voc fez, Francis? Perguntou Franchesco pausadamente, apreensivo com a resposta que teria. Seus olhos mopes tentaram focalizar o filho. Faremos um Tratado esta noite. O territrio se torna duas naes independentes. Como que ? Berrou Franchesco injuriado. Tentou se erguer e bater na mesa exigindo o fim do que considerava loucura, mas suas pernas no o ajudaram a ser erguer. Francis mantevese firme. a nica sada coerente, meu pai. Se exaltou. Ns no podemos continuar morrendo, matando nossos homens e lidando com conspiraes de nossos aliados enquanto essa guerra entre as duas grandes casas continuar! No h sentido. Eu sou o rei disso aqui! O destino da nao ainda est em minhas mos! A voz falha e grave de Franchesco berrou. Agora havia irritado Francis. O filho o ergueu pela gola de suas vestes e o encarou nos olhos, raivoso. Voc s um velho! Um velho vaidoso, decrpito e invlido! Todos estavam pasmos pelo semblante de Francis. Voc sabe que at o prximo inverno j estar morto de velhice e que eu s no pego sua coroa ainda s por formalidade porque o rei disso aqui sou eu! Francis soltou o pai sobre a cadeira. Franchesco caiu sem estruturas com o que ouviu. Queria cair morto ali mesmo a ouvir aquilo. Voc... Voc... No tinha esse direito. Me perdoe, papai. Exaltei-me Se recomps Francis, como um mero espectador, Adolph apenas observava. Mas o fato : do jeito que est, no h mais como ficar. Enquanto lutamos uns contra os outros, metade do mundo conspira contra ns. Eu s preciso que assinem a droga desse papel e o banho de sangue terminar. O silncio perdurou por instantes. Adolph e Franchesco se olhavam, mudos. Voc ser o primeiro, papai. Francis estendeu o papel sobre a mesa, pegou a pena que estava mergulhada no vidro de tinta preta e passou ao pai. A mo trmula de Franchesco pegou, o dio estava ntido em seu olhar, sequer queria olhar para o filho e acreditar o que ele havia feito. De certo ele tramou o circo todo. Pensavam Adolph e Franchesco. Uma lgrima desceu do olhar de Franchesco, ele era orgulhoso demais para fazer aquilo sem sentir a dor de uma facada por dentro. Ele sabia que para o bem ou para o mal, o destino daquelas duas naes j no mais seria o mesmo. Com a mo falha, com dificuldades de segurar a pena, ele rubricou o papel. Passou a Adolph e jogou a pena sobre a mesa com raiva. Francis deu um leve sorriso, pegando a pena e estendendo ao rival. Eu no vou assinar isso. Vamos relembrar sua situao. Francis puxou uma cadeira e sentouse na lateral, ainda segurava a pena querendo Adolph a pegasse. Voc invadiu a fortaleza do rei, tentou me matar, matou alguns de meus homens, sair daqui com no mximo um tero do seu exrcito porque metade eu vou pegar como tributo pela invaso e o resto est morto naquele campo e eu ainda estou te dando a chance de sair daqui vivo, de no ter sua famlia caada e chacinada at o inferno e de ainda por cima ter uma coroa e um trono s seus... Ns somos uma s nao! Os Davis nasceram pra governar as duas terras! Assine. Disse entre os dentes, raivoso. Eu, o futuro rei do Leste e do Oeste te dou a chance de sair daqui como o rei da sua prpria nao ou como um morto. No haviam mais escolhas. Ponderou Adolph, com dio no olhar pegou a pena, no fez muita cerimnia em assinar o Tratado, ele sabia que apesar de por fim a uma das guerras mais dinsticas da Histria, os destinos de Davis e do Valouis, das terras do Oeste e das terras do Leste estariam sempre entrelaados. Francis sorriu singelamente vitorioso. O asco do pai e do rival era idnticos na forma de encar-lo agora, mas ele realmente no se importava. Encarou o papel assinado com um imenso sorriso no rosto e o dobrou, o estendendo a um servo que retirou-se com o Tratado dali. Em silncio, Adolph se levantou. Fez o que devia ser feito pelo melhor de todos ns. Estou livre para ir? Disse o Davis cabisbaixo, sentindo-se humilhado. No antes de uma ltima cerimnia. Agora no temos mais uma nao em guerra, ns temos duas naes amigas, no? Amigussimas. Retrucou Adolph baixo, com sarcasmo. E para provar que no h conspirao que retire os Valouis ou os Davis do poder, haver uma linda cerimnia antes do nascer do sol. Voc cortar a cabea do conspirador para mim. Eu disse que no dou ponto sem n, no? Adolph o olha frio. Franchesco mudo como se no estivesse ali, olhou de relance para Francis balanando a cabea em desacordo. O novo rei notou que os homens j no estavam mais ali o vigiando no escritrio, haviam deixado. Adolph fez o mesmo. Nem olhou para ambos e deixou a sala ficando no corredor de piso amadeirado, onde nada se via devido a grande escurido alm da grande lua cheia vermelha refletida nas vidraas gticas. Parou e encostou-se parede, ao lado da porta do escritrio. Comeou a ouvir a conversa que se seguia. O pai do Adolph teria vergonha dele como eu tenho de voc. Desabafou Franchesco, com a voz abafada dentro da sala. Mas diferente do senhor, aquele outro no est mais vivo para fazer histria e testemunhar os novos tempos. Adolph ouviu um riso contido de dentro da sala e o tom de voz de Francis se abaixou em seguida Ou voc acha que mandei nossos espies envenenarem o velhote at a morte de graa? Pausou antes de concluir. O melhor de tudo isso que o Adolph jamais saber. Uma lgrima de dio escorreu do rosto de Adolph. Regicida! Como no pensei nisso antes!? Berrava consigo mesmo. Mas j era tarde demais, agora ele j havia cado na cilada de armar contra o inimigo mais forte, j no havia nada que pudesse ser feito, muito menos na situao em que ele estava. Adolph s caminhou pelo castelo. Relembrou de partes soltas de sua infncia que vivera ali at que tiraram o trono de seu pai e eles se exilaram para o Oeste do territrio. Agora aquela fortaleza em que Adolph vivia, to pomposa, grandiosa e to medonha como aquela seria tambm a sede do reino, no tirava isso da cabea. Foi melhor dessa maneira. Adolph repetia para si mesmo como um mantra. Ele sabia que de fato foi o melhor a ser feito, mas queria realmente se convencer disso, fora criado com o pensamento de que ou os Davis ou os Valouis dominariam todo o territrio. Estava mais triste pela desonra de dividir metade do territrio com os rivais do que feliz por continuar vivo. No fundo, preferia estar morto. O rei caminhou pelo castelo. Corredor por corredor, passando pelas vidraas e sacadas que cobriram todo o estreito e cumprido corredor e iluminado pela lua vermelha, ele aproximou-se de uma das sacadas. Viu uma dezena de homens do lado de fora da fortaleza recolhendo os corpos e pedaos dos mortos. Deviam ser centenas deles que no fim morreram em vo, como tantos e tantos e tantos outros morreram. O rei seguiu at um quarto. Abriu a porta e entrou em seguida, fechou a porta. Muitas velas penduradas no alto iluminavam. No ambiente havia uma cama, um pinico e um barril com uma torneira, perto de um copo de metal. Ele abriu a torneira despejando vinho no copo, bebeu at notar um bilhete sobre o barril. O melhor vinho das terras Valouis. Cortesia para o novo rei. Leu a escritura. Aps beber, deixou suavemente o copo sobre o barril. Nitidamente ele andava sem um rumo, andava pelo quarto at notar um espelho atrs da porta, pegou uma vela que iluminava sua face e seguiu at diante do espelho. Viu a mais horrenda cicatriz que vira na vida. Havia um corte ainda aberto que pegava da ponta direita dos lbios percorrendo at o fim da ma do rosto, era grande, medonho e simplesmente bizarro, desfigurava a face do rei. Seria aquela cicatriz que ele carregaria pelo resto da vida que lembraria a todos da noite histrica da qual ele fez parte.

CAPTULO III SOR MERYN I Passaram-se poucas horas desde sua ltima tortura. Mas em sua atormentada mente parecia que foi um dia. Agora uma vela iluminava o rosto enrugado pela meia-idade de Sor Meryn, o rudo dos ratos naquele lugar era infernal. Queria gritar, queria berrar com a sensao agonizante das dezenas de roedores em cima dele comendo lascas de sua pele, mas ele sabia como seria pior. A cama onde o torturador girava uma alavanca e esticava os membros de seu corpo como se fosse arranc-los era bem pior. Ele sabia que iria morrer, ento passava os minutos pensando em qual forma o prncipe escolheria para execut-lo. Enforcamento muito trivial. Passaria batido e ele sabe que eu mereo mais, acho que ele amarrar meus membros a cavalos e ir me esquartejar em pleno salo. Seria pico... Se bem que o rei Francis at sdico, mas no to criativo para inovar quanto os Davis. Limpem minha espada e levem at o alto da Fortaleza. Ouviu a voz de Francis dizer ao lado de fora. Um sorriso bobo despontou em seu rosto, agora Sor Meryn sabia de seu destino e tinha acertado quanto o modo de sua sentena. E ainda sim no se arrependia por um minuto do que fizera, mas sim de ter sido pego. Com o jogo doentio que Francis vinha excercendo com ele nas ltimas quatro semanas em que o fez refm, outros presos polticos em seu lugar estariam certos que pela espera de Francis para execut-lo haviam de sair dali vivos. Errados. Todos tolamente errados. Mas no Sor Meryn, este sabia que coisas aconteciam alm da porta de seu quarto, alm das muralhas da fortaleza que ele sonhou dominar, mas de onde queria fugir agora. Fugir para longe e para nunca mais voltar. Sor Meryn sabia que pelas coisas que aconteciam, sua morte no seria apenas mais uma morte de um conspirador, seria um evento. Ele conhecia seu rei suficiente para saber suas pretenses, mas no o bastante para no subestimar sua esperteza. Os pensamentos aleatrios se acabaram com o barulho. Um feixe de luz adentrou pela fresta da porta. Ficou maior e maior e ento Sor Meryn se deu conta que a porta estava se abrindo, entraram dois homens encapuzados. Executores, pensou. Os homens foram at ele e o tiraram de suas correntes. Foi com fora e brutalidade que o agarraram pelo brao. Ele no tinha foras para correr ou tentar algo contra os mesmos. Estava rendido e a truculncia era desnecessria. Francis entrou no calabouo, sorriu para ele. Voc ser um dos pouqussimos homens a ter a sorte de morrer em noite de Lua Sangrenta. Essa uma noite que j entrou para a histria, Sor Meryn. Se orgulhe porque eu o deixei fazer parte dela. Pausou e encarou os algozes. Levem-no. O nobre com roupas sujas e fedorentas, a pele devastada foi tirado dali, quando a porta se abriu ele viu dezenas de pessoas encostadas na parede do corredor, olhavam para ele como se o aguardassem. Os olhos marejaram ao notar nos observadores sua esposa Mary abraada com sua amante Shae, ambas choravam desconsoladas unanimes a multido que o olhava atravessado e o vaiava. Shae... Balbuciou com a voz falhando a garganta. Ele lembrava-se de tudo o que fizeram um pelo outro, ele a tirou da casa de prostituio, a fez uma mulher rica, amada e feliz. Mas sua esposa complacente sempre o avisar Mulher sua sou eu, Shae mulher da vida, mulher do mundo. Shae era mulher de quem pagasse mais. Foi mulher dos nobres e errantes de todo o Leste, foi mulher de Franchesco e recorreu ao filho aps o pai. E foi na oferta mais generosa, de um futuro rei que curiosamente j reinava que Shae contou tudo o que deveria manter secreto. Mas diferente do que pensava Sor Meryn, Francis tinha alguma piedade, tanto que passou por aquele corredor sem sequer tripudiar a traio que Shae cometera. Fingia no conhecer e nem lidar com damas de sua estirpe, ele deixaria Sor Meryn morrer sem a decepo da nica mulher que ele amou. Traidor merece morrer! Ele ouviu um homem da corte berrar a ele. A mulher ao lado escarrou em sua cara, ele no se moveu para enxugar. Deixou o cuspe escorrer por sua face. Oh, Vossa Majestade, eu imploro! Disse a esposa dele, debulhando-se num estado deplorvel de lgrimas. Se atirou aos ps de Francis que a ignorava, Sor Meryn ouvia suas splicas, de cabea erguida. No dizia uma nica palavra. Entre um berro e outro, algum berrava ofensas contra ele e sua famlia (sua me falecida era o principal alvo de ofensas), outro o atingia com tomates podres. No fundo, humilhaes suprfluas no o atingiam. Francis j havia lutado uma batalha naquela noite, mas no estava cansado o bastante para caminhar desde o calabouo at a sacada externa da Torre onde seria a execuo. Detrs dele um padre rezava o tero seguindo os passos do traidor, rezando em lngua latina coisas que Sor Meryn no conseguia compreender. Ele curvou para outro corredor. Francis atrs dele estava sorridente, a caminhada vexatria seguia. Ele j estava cansado, no tinha foras para andar. Mas no cairei, eu no vou cair. Pensava. Queria chegar at sua morte com suas prprias pernas, queria estar de cabea erguida at que o carrasco a arrancasse. Guiado pelos homens, o prisioneiro subiu uma grande fileira de escadas interminveis. Estava mais perto e agora sua respirao estava rala. Prometeu a si mesmo que no sentiria medo, mas agora ele sentia. E o medo o afligia. No havia ningum alm dele e os carrascos ali. Francis comeou a entrar na escadaria e a segui-lo. Passou pela mente dele se rebelar, agredir os guardas e tentar correr, mas quo longe iria? Ele no iria. Seria morto sem qualquer dignidade assim que desse o primeiro p para fora da escadaria. Escolheu seguir. A interminvel caminhada finalmente acabou. Ele se viu no alto de uma das torres da fortaleza, era uma espcie de sacada, era ampla, bela e externa, muitas velas iluminavam. Via-se a lua sangrenta ainda mais brilhante no cu daquela madrugada. Sor Meryn olhou para um aparato montado quase na beira do espao na torre como espcie de altar com espao para ele ajoelhar e prostrar sua cabea sobre uma grande tora de madeira. Tentou achar a espada com o olhar. No espere que eu o d a honra, Sor Meryn. A voz de Francis o disse ao longe, ficou mais prxima agora. Meu convidado especial far isso. Ele deu as costas, no podia acreditar no que via. Adolph com a cara fechada e semblante glido estava em p, ereto passando despercebido no ambiente, apoiava a grande espada de Francis ainda dentro da bainha. Voc!? Questionou o prisioneiro. Eu disse que voc faria histria. Concluiu Francis. Francis se aproximou da sacada e saldou os cortesos que acompanhavam. Foi exaustivamente ovacionado. Quando ele deu s costas aos cortesos e se virou a Sor Meryn, um frio o percorreu dos ps a espinha. Seu p tremeu como vara fina, achou que ia cair ali mesmo, estava tremulo para dar um passo, sentia um ar denso no ambiente. Foi ento que se virou de costas ao rei, viu dois seres msculos, fortes, com vestes uniformemente pretas que iam do pescoo a ponta dos ps no mostrando nada do corpo deles ali, eles usavam uma mscara de touro vermelho que davam um contraste medonho ao que eles vestiam. A mscara do touro simbolizava a figura de Danibalis, dos quatro deuses, o deus da morte. Segundo a mitologia daquelas terras, perdia apenas em crueldade ao deus do caos. Hoje, eu reno meus cortesos aqui para a execuo de um condenado por traio. O homem que ousou conspirar contra a casa Valouis e contra a casa Davis. Um homem de cuja pretenso ameaou um reino, um povo e duas dinastias. Fez uma breve pausa, encarou Adolph e lanou um olhar para que ele se aproximasse. Tambm esta noite iniciamos uma longa e prspera amizade com a nossa nova nao vizinha. A populao se calou. Estava perplexa com o escutado num misto de alegria, perplexidade e tristeza. Sor Meryn no se surpreendeu com o inevitvel. Na verdade, ele sabia que cedo ou tarde isso acabaria acontecendo, e por isso agiu de forma afobada em sua conspirao. Ns, homens e mulheres legtimos e juramentados a casa Valouis, soberanos do leste das terras nortenho-ocidentais, que a partir hoje passam a denominar-se como Winster, reconhecemos e recebemos Adolph IV, juramentado a casa Davis como supremo lder e rei do Oeste destas vastas terras. Disse solenemente. Adolph aproximou-se da sacada. Um riso cnico despontou de Sor Meryn, era o momento que achou que jamais viveria para viver. Curiosamente, era de certo o ltimo momento que veria. O povo encarou Adolph sem saber o que fazer, Franchesco que estava sentado na sacada com a cara amarrada notou o choque de todos, a situao era desconfortvel ao novo rei e Franchesco sabia. Aplausos a Adolph IV, meu povo. Clamou Franchesco. O rei-pai foi imediatamente obedecido e uma salva de aplausos falsos e vazios foi dada ao novo rei Davis. Com o tempo eles aprenderiam a lidar bem com a situao, mas aquela notcia foi claramente indigesta naquela hora. Vida longa ao rei de Zardan, vida longa a casa Davis! Bradou Francis. Vida longa ao rei de Zardan, vida longa a casa Davis! Ecoou a populao. Passada as apresentaes, os homens com mscara de touro guiaram Sor Meryn at a sacada dali. Ele viu toda a multido que o aguardava, olhou para a lua. Nesta noite, as casas Davis e Valouis dividem seus territrios, mas se unem em laos de amizade e cumplicidade. Nossas coroas e nossos tronos no sero usurpados por qualquer um que no tenha sangue azul. Ns condenamos os nobres sobreviventes da casa Hendrix, da casa Dorian e de Meryn que conspiraram contra as coroas quando ainda eram s uma terra, ao exlio permanente para alm de nossas pennsulas. E condenamos o lder desse movimento morte por decapitao. Francis olhou para Sor Meryn Quais so suas ltimas palavras? Sor Meryn estava mudo at o momento. Desejava continuar assim, mas aquelas seriam as ltimas palavras de um homem condenado. O silncio se apossou dos cortesos, a expectativa era grande para as ltimas palavras do primeiro executado por um Davis e um Valouis na histria. Ele hesitava em dizer, at que um pequeno burburinho comeou na multido exaustada pela demora. No h ltimas palavras, Sor Meryn? Perguntou, provocando o rei Valouis. Sor Meryn tomou coragem. Encarou com um semblante transtornado os dois reis. Malditos sejam seus reinados e suas casas! Ele berrou. Francis no conseguia apagar o sorriso de satisfao do rosto, Adolph IV continuou a manter sua pose de inatingvel. Francis sinalizou aos carrascos. Os homens pegaram Sor Meryn e o puseram de joelhos sobre o altar, agacharam seu pescoo sobre a tora de madeira. Adolph no estava disposto a fazer discurso, somente encarou profundamente a espada e foi se aproximando. Aguardava apenas um olhar de Francis e acabaria logo com aquele circo. Ele ouviu o barulho da espada ser retirada da bainha. Todos ouviram aquilo. Ele encarou a multido com seu corao disparado, sua viso estava zonza e ouvia seu corao batia forte, to forte como nunca batera antes. O frio percorria toda sua espinha, parecia que estava gelando. Ele olhou para a esposa e Shae em prantos. Queria sair daquela posio e registrar uma ltima vez o rosto de Francis Valouis. No foi permitido isso. Ele s ouviu a espada ir mais ao alto e ento, pensou. Que todos os deuses estejam comigo. Sentiu um nico golpe atravessar-lhe o pescoo e j no pde sentir mais nada. A espada nas mos do Davis ainda pingava sangue e a cabea rolava lentamente pelo cho espalhando um rastro sangrento at parar justamente nos ps do prncipe Francis que sobre uma salva de aplausos dos cortesos, pisou sobre o membro do defunto. O sacrifcio do nobre estava feito. E mais uma vez, as dinastias daquelas terras veriam o sol nascer no horizonte ao dia seguinte. Mas certamente no seria o mesmo horizonte de antes.

CAPTULO IV RHAEL IANO DE ARYN. Era um dia ensolarado de um vero chuvoso como no se via h tempos naquelas terras. Um rei Davis como Rhael no auge de seus trinta anos, alto, de olhos azuis e longos cabelos loiros bebia uma dose de vinho no escritrio da Fortaleza Valouis, encarava o mundo exterior que parecia haver fora daquela janela. Divine, a me do meu filho Nyan se foi h dois anos. No parto de meu primognito. Suspirou Rhael, lamuriando-se. Nas mesmas circunstncias nas quais Diane se encontra agora. Que os deuses me confortem, padre. O padre idoso que estava logo atrs o observando discordava de Rhael. As circunstncias so bem diferentes, filho meu. Pontuou o sacerdote. Rhael ignorou e se embebedou mais, serenamente. E depois de tudo aquilo, na visita da Diane e os Valouis ao meu castelo, mesmo eu sabendo que entre um rei Davis e uma princesa Valouis no era certo, era sujo, perigoso, ns no resistimos. Ns pecamos, padre. Disse com um carregado tom de pesar. E agora eu s quero meu filho e a mulher que amo nos braos. Rhael notou como o padre foi sbio e incisivo na escolha das palavras. O homem do Oeste pode ter as mulheres que desejar, mas jamais uma senhora do Leste. Ele concluiu em seguida. Conforme-se se Deus ainda permitir que o fruto desse pecado que a princesa carrega se crie entre os Davis, milorde. Rhael bebeu mais uma dose e outra em seguida. Sequer notou que o padre havia sado, ele via o sol brilhar prximo a sua face, refletindo na janela. Como odiava estar naquele lugar! Pensou apenas para si mesmo. Absorto em seus pensamentos, sequer viu o futuro rei Valouis adentrar pela porta. Sebastian II a fechou, Rhael virou-se ao quase anfitrio olhando seus cabelos castanhos e olhos verdes e claros o encarando atravessado. Beber antes da justa pedir para ser morto. Advertiu Sebastian. A mulher que amo est em trabalho de parto de meu filho agora e vocs sequer deixam eu chegar perto dela. O que queria, Sebastian? Diane no sua mulher! Se exaltou o prncipe. Minha irm uma Valouis, voc um Davis e sua mulher j est morta! Que voc aceitasse isso e no tentasse tirar o trono de minha famlia engravidando uma princesa de Winster! Voltou a abaixar o tom. Por um sculo e meio, Rhael. Por um sculo e meio desde que Adolph IV e Francis I aceitaram a separao, a paz tem se mantido entre Davis e Valouis. Uma paz que a sua inconsequncia e de minha irm fez questo de destruir ponto um sangue misto entre as duas famlias. Rhael j estava estressado com a eloquncia de Sebastian. Tratou de olh-lo nos olhos, pondo o copo de vinho sobre uma mesa. Davis e Valouis nunca deixaram de ser mais do mesmo. No fundo, o sangue de um sempre correu nas veias do outro. Voc est bastante enganado, meu caro. O aguardo na arena e nem pense em olhar por Diane antes disso, ela estar melhor sem voc. Prepare-se, Sebastian. No ser fcil lidar com a frustao de perder em casa. Isso o que ns veremos. Aquela criana foi concebida por um Davis, ser parida por um Valouis e entre Valouis ela ser criada. Que os deuses decidam atravs dessa justa qual cl criar o sangue misto. A resposta seca e silbica de Rhael, Sebastian saiu sem alarde em seguida. Por algum tempo, Rhael ficou a encarar o que h pela janela, no fundo escondia o temor de sair de l. Se embebedava na esperana que o vinho espairecesse sua tenso, mas o lcool no o subia fcil cabea. Rhael deixou lentamente o cmodo andando pelos clssicos corredores da fortaleza Davis, o solo ainda de madeira rangia menos do que h um sculo e meio atrs. Ele via homens espreita no corredor, mesmo com a amizade recente entre as casas, a desconfiana ainda reinava, principalmente com um sangue misto por nascer. Rhael sabia que estava sendo vigiado. Queria apenas um sinal de sua amada e seu mpeto o fez entrar num corredor. Os homens comearam a segui-lo. Ele ouvia os berros dela de longe, estava em contrao. Sofria. Aquilo o despertava memrias mistas, das noites trridas de inverno na fortaleza dos Davis em que ambos tiveram um caso, da morte no parto de Lady Divine que berrava do mesmo modo que Diane no dia do parto. O servo j o perseguida pelo corredor dali. Era expressamente proibido contato entre ele e Diane antes da amigvel torneio que viria minutos aps, mas algo nele precisava v-la. Os gritos dela pareciam mais prximos, porm notava-se que estavam sendo abafados, quando o Davis comeou a correr encontrou de onde viam os berros. Parou na frente de um quarto, pela fresta da porta viu a amada. Est doendo! Est doendo demais. Bradou dentro do quarto. Rhael! Eu quero v-lo agora, Rhael! Aaaahhh! Ela berrava como se fosse expelir aquele beb a qualquer instante. Calma, milady, tenha calma. Dizia uma parteira passando um pano mido na testa dela. A mulher de olhos castanho-esverdeados e longos cabelos pretos sofria na cama onde dava a luz. Eu preciso estar com ela agora. Rhael foi para agir conforme seu mpeto. Foi para abrir a porta do quarto, mas uma mo apoiou-se em seu ombro. Ele virou para ver quem era. Deu de cara com um servo que sorria para Rhael, o som de uma trombeta tocou do lado de fora. O servo noticiou sorrindo de orelha a orelha. Milorde, a hora da justa chegou.

CAPTULO V RHAEL II A multido estava vida por sangue. Rhael concluiu isso ao sair do castelo prestes a entrar na ampla arena que estava montada, usava uma armadura com destreza, com uma espada nas mos. Na plateia havia no mnimo mil pessoas entre nobres, senhores, populares e servos. Todos unidos berravam, se divertiam no xtase daquela tarde de vero. O rei Sebastian I, idoso, muito alto, de olhos verdes estonteantes e com pose imponente, sempre de cara fechada sentava num assento de honra, lado a alguns outros seletos senhores e senhoras dali. Rhael sequer olhava o anfitrio. Notou que servos arrastavam um corpo de um morto com a armadura encharcada de sangue dali, metade da espada de madeira estava largada com sangue no cho. A outra metade atravessava a cara do morto. Hoje o povo est animado mesmo, hein. Ouviu um servo comentar enquanto arrastava o corpo com indiferena. Esse foi o quarto do dia e olha que s estamos na metade. Os servos saram rapidamente ao notar o olhar de Rhael ameaador para eles. Havia uma cerca onde ocorriam as justas entre as plateias. Uma madeira que ia de uma ponta da cerca outra dividia em dois, no lado esquerdo j estava Sebastian com a pesada armadura de ferro e nas mos uma lana, alisando seu robusto cavalo negro. Rhael entrou pela direita j montando em seu cavalo dourado. Que preparem-se os duelistas! Anunciou um juiz. S se ouviram os gritos de euforia da multido. Apontou para o prncipe Valouis. De um lado, o prncipe Valouis, o segundo de seu nome e o futuro rei de Winster, Sebastian II Valouis! Os aplausos da multido. Sebastian II os abria os braos, prestava reverncias. Todos eram claramente devotos do futuro rei ali. E do outro lado, o segundo duelista, Rhael, rei de Zardan. Aplausos ao competidor pela casa Davis! Todos aplaudiam Rhael que sequer encarou a multido. Tinha apenas olhos para a lana em sua mo e a vontade de acabar logo com aquilo ali, de preferncia derrotando publicamente o cunhado da casa Valouis. O juiz saiu da cerca e sentou-se numa cadeira de honra a frente do rei. O prncipe montou seu cavalo. Fez que sim, balanando a cabea e junto de Rhael abaixou a viseira da armadura. Agora restava apenas o comando. A multido silenciou. Todos os olhares estavam voltados ao rei de Winster, Sebastian I ensaiou um curto sorriso. Curvou o corpo para ver o filho e o homem que engravidara sua filha lutando. Bateu uma nica palma. E com os berros de euforia da multido o silncio se quebrou. Era o sinal para a batalha comear. Rhael ergueu a rdea do cavalo, Sebastian fez o mesmo em seguida. Eles correram um na direo do outro velozmente, Sebastian ergueu a lana, Rhael com a espada abaixada. Quando os cavalos se cruzaram, Sebastian foi para atingir Rhael no trax com toda sua fora, mas o cavalo relinchou. Ergueu as patas como num susto e Sebastian se segurou para no cair. Rhael correu at a ponta direita da cerca. Agora Sebastian estava na ponta esquerda. Imediatamente puseram os cavalos para correr de novo, a cara do rei ao assistir estava fechada, tensa como se ele estivesse naquele torneio. Os cavalos esto para se cruzar de novo, agora Rhael ergueu sua espada com fora total. Sebastian fez o mesmo, o cavalo de Rhael trotava mais rpido que o do Valouis, a espada e a lana se bateram forte. Um tentava desarmar o outro, os cavalos pararam ali. Sebastian tentou acertar com fora a lana no trax de Rhael. Errou. Rhael bateu com fora a espada na lana dele, quase a jogou longe. Sebastian reluta para conseguir atingir o inimigo, mas sempre falha. Rhael deu um giro rpido com a espada at acertar forte o cabo dela na cabea do rival. Vena! Vena esse torneio, Sebastian! Bradava o rei exaltado em seu assento. Ambos pegam nas rdeas dos cavalos e correm para os extremos da cerca. Rapidamente aceleram em confronto novamente, mas o cavalo de Sebastian desacelera a corrida. Rhael o encurrala prximo ao extremo da cerca, num salto o cavalo do prncipe joga a viseira dele no cho. Rhael se prepara para atacar Sebastian na cara, desprotegido. Todos na arena se erguem em desespero. No mpeto Sebastian atravessa a lana no pescoo do cavalo de Rhael e a puxa bruscamente. O cavalo e seu rei caem no cho ao mesmo tempo que o cavalo negro do prncipe relincha, salta e o joga no cho lamoso, correndo. Desgraado!!! Berrou alto o rei de Zardan para todos ali ouvirem, se levantando. Sebastian havia burlado uma regra do torneio e sabia disso. Mas como a viseira caiu e Rhael estava prestes a atac-lo, no viu outra opo. O juiz vai at a arena a passos largos, nitidamente nervoso. Abaixem as viseiras. Sem mais cavalos, sigam o torneio! Bradou o juiz a mando do rei. A populao estava mais excitada e apreensiva com a batalha do que nunca. O primeiro torneio amigvel entre Davis e Valouis estava rendendo. Sebastian se levanta. Rhael recua dando as costas para o pblico at o limite da cerca encostando na madeira. Sebastian pula a cerca com a lana em mos, Rhael com a espada ainda agachada, a segura firme. Esse desgraado vai apanhar como nunca apanhou antes. Sebastian partiu para cima dele com a lana. Tentou atac-lo entre as pernas, errou e agiu novamente contra as regras que para ele no importavam. Rhael se agachou, debaixo acertou seu trax com a espada. Sebastian sentiu o impacto recuando, tentou acertar a lana na cara de Rhael, errou. Mas o Davis segurou firme a lana do rival. Sebastian foi tentar puxar sem ver o imenso sorriso de satisfao que Rhael ocultava detrs da viseira. O rei quebrou a lana dele e jogou metade no cho. Sebastian I estava extremamente nervoso com a situao. Vena logo, Sebastian! Motivava o rei aos berros. Rhael empurra Sebastian contra a lama. A plateia mais nervosa. Sebastian ainda tentou se levantar, mas com fora Sebastian enfiou a espada contra sua armadura. Bateu forte contra o trax trs vezes. No iria quebrar as regras e dar golpe baixo, embora vontade no faltasse. Sebastian se ergueu do lamaal e se atracou contra o rei. O empurrou e o desequilibrou contra a madeira da cerca, quando se agachou para pegar a lana, Rhael o avanou com dio. A espada de Rhael brilhou com a luz do sol. Sebastian estava agachado e de costas para ele, mas Rhael no hesitou em cravar a espada pelas costas dele. Agora sou eu quem burla as regras. O horror de todos se deu ao notar que a espada atravessou a armadura. Sangue escorreu da armadura. Chega! Basta! Basta! Se renda agora Sebastian! Berrou o rei se levantando de seu assento, nervoso. Sentia uma forte pontada no peito, o branco de seus olhos se tornou vermelho de fria. Levou a mo ao corao, o filho era quem havia perdido e estava ferido, mas o morto parecia que seria ele. Intervenha seu filho da me! Berrou o rei ao juiz que estava sem ao. Se Sebastian no erguer a viseira, no possuo razo pra intervir. Respondeu nervoso. A multido perplexa com o que vira. Se for sangue que eles queriam, foi sangue o que Rhael os deu. Sebastian ainda virou ficando de frente ao inimigo. Pegou um pedao da lana e se preparou para fincar entre as pernas de Rhael, mas com dio e fora Rhael acertou a espada em sua mo. O corte pegou fundo no pulso dele, se no fosse pela armadura, Sebastian j no teria mais duas mos. s erguer a viseira. Pensava Rhael. Era s Sebastian erguer a viseira que pouparia a si mesmo de uma morte desnecessria, e iria viver com a vergonha de ter perdido mesmo jogando baixo. A mo que Sebastian tinha para lutar no tinha mais foras. Rhael sabia que ele tremia e agora era hora do golpe final. No! Erga a viseira, Sebastian! Berrou o rei de Winster com a mo no peito. Rhael desceu com toda sua fora a espada rumo cara do adversrio. Sebastian moveu a outra mo no desespero. Quando a espada estava prestes a feri-lo drasticamente, Sebastian ergueu a viseira. No ltimo segundo, Rhael abaixou sua espada. O rei caiu sobre seu trono num suspiro aliviado. Rhael jogou a espada no cho. Sabia como Sebastian ficaria tentado a pegar aquela espada e machuc-lo fatalmente. Mas ele no tinha coragem e loucura o bastante. O juiz correu at Rhael e ergueu sua mo direita. Ele foi vencedor. Os aplausos da plateia foram ouvidos. Lentamente, um tanto dolorido, Rhael foi at o rei que sentava em seu trono com a cara mais fechada de dio que ele j viu. Rhael estendeu a mo ao rei na frente de todos. Demorou alguns instantes, mas o rei se levantou e a imenso contragosto cumprimentou o rei da nao vizinha. Agora, se me permite Majestade, vou assistir o meu filho vir ao mundo. Sebastian I olhou para o filho homnimo com sangue nos olhos. Mas j no havia nada que pudesse ser feito. E ento, no meio daquela tarde quente e ensolarada, repentinamente o cu lmpido se encheu de nuvens negras e a lama da arena ficaria ainda mais encharcada com a tempestade que comeara a cair.

CAPTULO VI DIANE I As crianas que nasciam no inverno eram protegidas ao deus do caos. Aquelas sortudas que nasciam no outono, tinham como deus regente, o deus da terra. As da primavera pertenciam deusa me. E aqueles que como o filho que Diane paria, nasciam no vero pertenciam ao deus da morte. Deus da morte, deus da morte... Repetia uma parteira segurando firme as mos de Diane. Elas se contorcia e se debatia na cama. Urrava de dor como nunca. A ventania entrava pela janela junto da chuva na tarde tempestuosa. Atravs dos sons de raios e troves parecia que o deus a estava respondendo. Guie suas criaturas atravs da escurido. D a vida a vosso filho, traga ao mundo essa criana. Deus da morte, deus da morte, d a luz ao seu protegido. Os cabelos morenos, volumosos e lisos dela balanavam com o vento. Ela berrava de dor, chorava. Fazia um esforo brutal, conforme as parteiras seguravam sua mo e passavam panos em sua pele. Seus berros eram ouvidos por todo o castelo. Ela s queria ver Rhael ali, que ele estivesse junto dela, pensava exatamente no momento em que Rhael entrou pela porta e correu at a amada. Ele no disse nada, apenas segurou sua mo. Ela o olhou firme nos olhos. Sofria. Respira, Diane. Respira e seja forte! Seja forte, Diane! Forte! Ele exigia. Ah! Meu Deus, est doendo! Ah! Fora, milady, fora! Est coroando. Disse uma parteira. Diane fez um esforo descomunal, ergueu parte de seu corpo. Subitamente a ventania que bateu forte uma janela apagara uma vela. Tudo estava escuro, parecia que a noite cairia cedo demais para uma tarde de vero. Os sons da tempestade eram escutados. Os raios e troves pareciam se mesclar aos berros da gravida. Por entre as pernas de Diane, suja de sangue a cabea de um beb comeava a surgir. A parteira demandava fora da grvida. Ela j estava frgil, sua pele plida como a neve. Sangue escorria por entre suas pernas. Rhael se desesperava notando aquilo. Diane, Diane, eu imploro! No me deixa, Diane! Seja forte! Seja forte! Atravs da porta, Sebastian I e Sebastian II observavam mudos. Uma parteira que limpava o suor dela correu at a janela que insistia em bater e barulhar contra a parede pelo vento. Ela escancarou as janelas, pegou uma cruz e estendeu ao cu. Deus da morte, deus da morte. Guie suas criaturas atravs da escurido! Ela bradava. Um raio seguiu de sua fala, como em resposta. Ela repetiu. O raio tambm insistiu em cair em seguida, o vento entrava, parecia tomar forma de uma sombra negra naquele quarto, jogava objetos no cho, batia outra janela. Deus da morte, deus da morte, d a luz ao vosso filho! Eu no aguento mais! Est doendo tanto, eu no aguento mais. Diane no tinha foras para falar. Fechava os olhos e berrava como nunca. Berrava. Um sorriso se abriu no rosto da parteira, a criana estava sendo expelida por entre suas pernas. Diane tratou de fazer mais fora, segurando a mo do amado. No estrondo de um raio, escutou-se um choro de um beb. Diane pareceu extasiada. A dor havia acabado. A ventania bizarra que tomava o ambiente pareceu se dissipar aps rondar o corpo da criana que logo abriu seus pequenos olhos. Rhael e Diane deram um sorriso bobo, Diane sequer teve tempo para segurar o filho. Virou-se a Rhael. Obrigado... Obrigado por estar comigo. Ela apenas balbuciou isso. Diane, Diane, fale comigo! Ele percebeu algo errado, que Diane no percebera. A dor parecia no existir, apenas um cansao. Um rduo cansao, sua viso ficava mais zonza e embaada. Ela apenas viu o desespero de Rhael pela ltima vez. E sua viso escureceu.

CAPTULO VII DIANE II Lentamente tudo fora ficando s claras. Diane notou ainda estar seu quarto, aias a cercavam encosta nas paredes, as velas iluminavam a noite. Rhael sorriu para ela. Eu... Eu estou viva. Falou consigo mesma como se no acreditasse. Fiquei preocupado. Achei que no a veria acordar mais. Desabafou o Davis. Eu dormi por quanto tempo? No muito. Em algumas horas o dia nascer novamente. Rhael fez uma pausa e percebeu que estava segurando a mo da princesa. Tratou de afast-la, constrangido. Os fsicos vieram v-la no comeo da noite. Dizem que muito provvel que voc no consiga ter mais filhos e que tenha contrado alguma infeco durante a gestao, Diane. Ela no se importava. Deu um sorriso singelo para Rhael. Isso no importa, Rhael. Eu tive um sonho nesse perodo. Foi to real. Iniciou Diane, ela fez um esforo para se erguer, mas tudo doa em seu corpo. Danibalis me recebia porta do paraso. Ele disse que minha misso estava cumprida. Eu o ouvi dizer que Aryn era minha misso. Os zardans no creiam tanto no politeismo como os winsterlens, mas Rhael, em particular acreditava em algo sobre isso. Encarou Diane intrigado. Aryn? Como sabe que um menino se nem chegou a v-lo? Eu sei que esse deve ser o nome de nosso filho. No trs mau pressgio? No ao nosso Aryn. Diane pegou na mo de Rhael em seguida. Ela fazia o grande rei parecer um adolescente apaixonado, mas nos ltimos tempos, Rhael lutava para manter a postura. Se manteve firme na frente da princesa. Assim ser ento. Ser Aryn Davis Castillo Valouis. Rhael saiu do cmodo por algum tempo. Diane estava na cama como inerte. Um pensamento rodeava sua mente, eu sei que no viverei para v-lo crescer. Ela repetia para si mesma como se tentasse aceitar uma verdade inquestionvel. Minutos aps, Rhael chegou trazendo Aryn no colo. Diane abriu um sorriso lindo ao v-lo e estendeu os braos, Rhael o deu a ela. Diane notou a beleza da criana que lentamente abriu os olhos para ela. Ela encarou o que via com uma enorme surpresa, voltou-se a Rhael que sorriu. . Eu ainda no entendi o que seus deuses quiseram nos dizer com isso. Rhael tambm olhou para Aryn, um olho da criana era verde como esmeraldas assim como os da me, o outro extremamente azul como os do pai. O duelo... Eu ouvi falar que meu pai demandou um duelo para decidir qual famlia criaria a criana. Disse ela cabisbaixa, encarando Aryn como se fosse uma das ltimas vezes. Voc ou meu irmo, quem ganhou? Eu. Assim que as negociaes diplomticas entre Zardan e Winster acabarem, eu o levo pra minha terra, Diane. E muito provvel que eu nunca mais o traga aqui. Tudo bem. Diane foi sucinta. Fazia questo de sempre se fazer de forte. Voc sabe que jamais poderamos criar essa criana juntos. Que foi um erro. Ela foi uma consequncia, Rhael. No um erro. Retrucou Diane. Mas sempre que quiser visit-la em Zardan, as portas estaro abertas. Diane se comoveu. Uma lgrima insistiu em cair do olhar, mas ela logo a enxugou. Rhael cabisbaixo, tentava no encar-la, olha o beb. Eu sinto que no viverei para poder ir visit-lo. O prprio fsico falou da infeco, Rhael. uma questo de tempo at se espalhar por todo o corpo. No diga isso, Diane! Repreendeu Rhael com a voz embargada. Agora ele a olhava nos olhos e segurava seu queixo. Voc ficar bem. E essa criana ser muito amada. Haja o que houver, ela vai saber quem foi, quem a me dela. Eu tenho certeza que sim, Rhael.

CAPTULO VIII RHAEL III Haviam se passado seis meses daquele parto como se fossem seis dcadas. Ainda estava Rhael na fortaleza Valouis, sentado num campo ermo com grama seca, a frente dele servos pregavam uma cruz de madeira no cho, atrs da terra remexida onde Diane havia sido enterrada. Os assuntos que Zardan e Winster tratavam desde que Rhael fora visit-los dois meses antes do parto de Diane, haviam acabado de serem resolvidos. J eram duas semanas aps a infeco que Diane contraiu entre o final da gravidez e o trabalho de parto haviam a matado e por mais que Rhael fingisse que j havia superado, no havia. Aquela era sua ltima visita ao tmulo. Ele j estava preparado para voltar a Zardan, deixara a nao sobre os cuidados de Adolph VI j que seu filho com sua falecida esposa tinha apenas dois anos. Rhael respirou fundo, se levantou em seguida e caminhou pelo vasto campo at adentrar no estbulo. Havia diversos cavalos ali, mas parou diante um em especial. Era negro, muito robusto e forte, s eram comuns cavalos assim ao mais Leste daquele territrio, mas aquele presente do rei Sebastian era um agrado pela detestvel visita diplomtica de Rhael e tambm ao neto recm-nascido que Sebastian culpava pela morte de Diane e desejava nunca mais ver em sua frente. Foi justamente ele que entrou no estbulo, aproximando-se passo a passo do rei da nao vizinha. Embarcar ao meio do dia? Questionou o idoso. Sim. Obrigado pela visita foi bastante agradvel. Rhael se esforava para no exalar falsidade nos agradecimentos. Mas da prxima vez, vocs iro a Zardan. Da ltima vez que fomos l, voc engravidou minha filha. E agora ela est morta. Dou-te um conselho, quando voc amar uma mulher, no a engravide. Rhael fez questo de ignorar o sarcasmo de Sebastian. Aproximou-se de seu cavalo e comeo a afivelar a cela em cima dele. Sebastian o fitou de canto de olho. Sabe? Ns dois sabemos a razo pela qual eu fiz questo de uma justa para decidir o destino da criana. Voc sabe que o sacrifcio feito por bens maiores. Sebastian iniciou o assunto nas entrelinhas. Mas Rhael j havia se dado conta. Eu venci aquela justa, pois sei que no importa o tempo que passe, um Valouis no teme nada no mundo como a fora de algum com o nome Davis. Rhael faz uma pausa. Sequer encara o rei. Eu imagino o que seria de Aryn se eu perdesse. Sebastian era conhecido por suas medidas prticas. No questionava, no pensava emocionalmente, apenas fazia o que julgava correto. Apesar de ser Valouis, no fundo no era um homem to ruim, s fazia o achava que devia ser feito. Julgava Rhael. Meu jovem, partindo do suposto de que voc letrado, j leu Heliseu, no? Rhael riu ligeiramente. Amansava o cavalo, fazendo carinho em sua cara. A Fria dos Quatro Deuses e a Saga dos Anjos do Fogo... Qualquer letrado nortenho-ocidental j teve contato com essa obra. Pois bem... Pontuou Sebastian. Voc deve saber que narrado que o homem que ambicionou dominar as duas terras era conhecido como Aryn, numa lngua morta da poca. Rhael parou de amansar o cavalo e virou-se ao anfitrio com um sorriso no rosto. Aryn apenas um nome mitolgico. Todos sabem que o verdadeiro Aryn que existiu foi o nobre, pai de Heliseu. Ele ambicionava derrubar os Valouis e os Davis e dominar as duas terras, mas ao perder a esposa na peste negra e se dar conta que era uma ambio inalcanvel, ele enlouqueceu. Ento, no auge de sua loucura, ele trancou todos os filhos e filhas na torre mais alta do castelo e comeou a... Rhael buscava um eufemismo para concluir. Us-los. Us-los como se fosse a finada esposa. At que Heliseu matou o pai e deu o nome dele ao monstro ganancioso mais conhecido por todo esse canto da Europa. Sebastian expressa indiferena para Rhael que ri para ele, sarcasticamente. Pensei que soubesse da historinha por trs do livro de Heliseu que quase to conhecida quanto A Fria dos Quatro Deuses, mas a diferena que essa real. Rhael deu as costas para Sebastian, foi checar as patas e ferraduras do cavalo enquanto o mesmo comia grama dentro do estbulo. O rei de Winster o encarou. Rhael, pela amizade de quase dois sculos entre as duas casas, devo alert-lo que essa criana foi um erro! Sebastian indaga firme. E voc sabe que eu no falo isso apenas porque essa criana matou minha filha para nascer. Foi um erro do qual eu cuidarei daqui em diante, dispenso seus conselhos. Rhael retrucou de forma rspida, continuando em seguida. Mas se a sua preocupao que Aryn chegue ao trono de Zardan e dali tente dominar Winster, lembre que Aryn meu filho mais novo. E que Nyan, dois anos mais velho, o Davis sangue-puro que vai comandar Zardan. Sebastian calou-se. Foi at a sada, mas parou na entrada do local. Quando Rhael pensara que o rei j o tinha deixado livre, Sebastian conclui. Que os deuses preservem a vida de seu primognito... Antes que Rhael pudesse agradecer os bons votos do Valouis, Sebastian ameaou. Porque se Aryn sentar naquele trono, meu amigo... Guerras dinsticas voltaro! Ento proteja sua fortaleza, meu caro. Porque eu cumprirei meus deveres. Aps essa, Sebastian I finalmente deixou o zardan em paz. Ele bufou aps a sada do rei, logo conteve a ira e deixou o local. Rhael organizou tudo o que tinha de organizar ao longo daquela manh ensolarada de inverno. Era quase anormal um dia ameno como aquele numa estao to gelada naqueles cantos. Foi ao comeo daquela tarde, na entrada da fortaleza, uma imensa comitiva aguardava o rei. Uma criada segurava Aryn que dormia em seus braos, Rhael deixou o castelo seguido de Sebastian I e seu filho. Adeus, Majestade. Estendeu a mo ao rei que a apertou. O irmo de Diane o olhava atravessado com dio, ele nunca mais andaria com a mesma agilidade desde o golpe desferido pelo Davis durante a justa. Rhael apenas olhou em deboche e desprezo para Sebastian II e adentrou na carruagem. S tenho pena dos winsterlens tendo um futuro rei como aquilo ali. Pensava em desprezo. Finalmente ele ouviu o condutor estralar o chicote no cavalo e a imensa comitiva deixava a fortaleza Valouis regressando a terra natal. S sinto que esse garoto far histria, Majestade. Disse a serva puxando assunto. Davis eram extremamente frios com seus criados, apenas os falavam para ordenar, mas daquilo, o rei no pde discordar. Com certeza ele far. Rhael sequer imaginava, mas no podia estar mais certo sobre os fatos.

CAPTULO IX ARYN I10 ANOS DEPOIS DE ARYN. Apesar de um dos veres mais rigorosos dos ltimos tempos, os veres andavam amanhecendo frios e nublados naquela poca. Mas dentro da carruagem estava quente. Com dez anos agora, Aryn buscava encarar-se num pequeno espelho no teto da carruagem que balanava. Seus cabelos prateados e lisos contrastavam com um olho esverdeado e o outro azul que possua. Aryn, junto do pai, do irmo e do irmo dois anos mais velho e de Puck, um co que o prncipe levava para cima e para baixo, partiram ao amanhecer para a execuo de um herege acusado de matar duas crianas num castelo aos arredores da pomposa corte de Zardan. Como ele pode estar to animado com um evento desses? Pensava o garoto olhando seu irmo mais velho com uma feio de animao. Fazia meses que Nyan no assistia um assassinato, estava extremamente animado para ver cabeas rolarem, de novo. Falou disso pela viagem inteira, embrulhava o estomago do irmo. Logo chegaram ao destino. A carruagem parou, o servo abriu a porta e os quatro saram. O acusado j estava algemado e com a cabea posta sobre a tora. O vassalo de Rhael aproximou-se dele, o cumprimentou e j o estendera o machado. Entendeu na carta que recebeu mais cedo que o rei no estava paciente para aquilo. Nyan e Aryn se posicionaram para assistir a execuo. Mata logo. Era o que faltava o futuro rei gritar ao pai, mas se conteve. Aryn sabia que no deveria desviar o olhar ou seria punido por sua fraqueza. Rhael pegou o machado e se aproximou da vtima que pedia misericrdia. Eu, Rhael I, rei de Zardan e senhor de todo o reino executo este homem por prticas hereges que causaram danos irreparveis a duas famlias e seus filhos. Pronuncie suas ltimas palavras. Por favor, Majestade. Implorou o homicida desesperado. Nesta hora, todos imploram mesmo. Rhael sequer o ouviu e atingiu logo a cabea dele. No caiu de uma vez s, e precisou de outro golpe mais certeiro para que a cabea rolasse pela grama fresca. O sorriso de excitao de Nyan era descomunal. Como ele era ruim. Aps cumprir com seu dever, Rhael largou o machado com seu vassalo enquanto os homens vinham recolher o corpo. Ele aproximou-se do filho mais velho, se agachou at sua altura e delicadamente apoiou a mo nos ombros dele. Quando a hora de reinar essas terras chegar, sei que cumprir seu dever, mas no deve sentir prazer ao faz-lo, meu filho. S homens maus sentem prazer nisso. Logo Aryn notou Puck correndo pela grama do castelo, azucrinando os criados dali. Aryn se agachou e sinalizou para o co, Rhael continuou falando com Nyan. Mas tambm no deve hesitar e nem fraquejar em seu dever quando tiver de faz-lo, me fiz claro? Interrogou Rhael aps dar sua lio de moral do dia. Seu filho balanou a cabea, complacente. Puck, Puck, vem garoto, vem. Disse ao cachorro que correu at ele e pulou em seu brao. Girando enquanto brincava com o dono, Puck bateu a cauda levemente na perna de Nyan que encarou o animal com dio. Quando eu for rei, eu vou matar todos que encherem meu saco. Inclusive esse co pulguento que no para de lamber meu sapato. Disse Nyan olhando para o cachorro. Aryn se levantou ao ouvir a clara ameaa. Ainda vou servir essa peste num jantar para voc comer, escreva o que eu digo. Ameaou Nyan. Rhael fez sinal para Aryn ignorar a provocao do irmo. E ele o fez. No fundo no era Puck a quem ele odiava. Conclua o garoto consigo mesmo. Calado, ele pegou Puck no colo e correu para a carruagem. Esperou alguns instantes que montassem nela e partissem de volta a corte. O clima era entediante ali dentro, aps algum tempo estavam diante da grande fortaleza Davis. Quando as portas se abriram, cada um foi para um lado. Nyan foi se divertir com seus ces de caa e colegas de companhia, Aryn, como sempre, se viu a vagar pelo castelo. J havia se perdido de Rhael h algum tempo, sabia que seria por aquele dia que a jovem Sansa e seu tio Clements chegariam corte, haveria um grande jantar para celebrar. Sansa tinha a idade de Rhael e j era prometida em casamento a Nyan, ambos nunca puderam ter muito contato, mas Rhael sempre admirou sua beleza. Ser que jantaremos juntos essa noite? Ocorria na mente dele, porm, para sua surpresa, quando foi virar um corredor ouviu uma voz que no era desconhecida. De um homem de meia-idade calvo, loiro, de olhos pretos. Era Clements, o tio de Sansa a falar com Rhael sorrateiramente no corredor. Escute, voc j me estressou em suas cartas com essas insinuaes sobre meu filho. Alegou Rhael j estressado com Clements. Aryn sentia que no fundo era ele o assunto da conversa, e para variar, no estava errado. Rhael, que antes pensava em ser cordial e se mostrar no corredor, cumprimentando Lorde Clements preferiu se esconder para ouvir a conversa. Eu falo para o bem de Zardan, milorde! Aryn nitidamente uma ameaa. Ele tem modos estranhos, fica o tempo inteiro calado, encarando o irmo de canto de olho, como um parasita zanzando pela corte. Perdo, eu sei que ele seu filho. Rhael o cortou de forma extremamente grossa. Ento nunca mais se refira a ele assim. Ele ainda um prncipe de Zardan. Aquele garoto tem sangue Valouis nas veias! Sem querer questionar sua deciso de cri-lo, milorde, mas ntido que ele um risco para essa casa e para as duas naes, ele pe a paz entre vocs em risco! Eu quero aquele garoto o mais da longe da minha sobrinha e daquele trono possvel. Sussurrou corajosamente Clements. Ele viu a ira no olhar de Rhael com suas palavras. Aryn vira isso tambm, mas Rhael no pde abrir a boca para defend-lo simplesmente por no conseguir discordar. E como isso doa em Aryn. Ficou sem reao com o que ouvira s escondidas, mas no foi a primeira vez, muitos antes de Clements deram a Rhael o mesmo conselho: Livre-se dele. A nica diferena no discurso que o garoto j conhecia era que o livre-se de alguns era mais drstico do que o de outros.

CAPTULO X ARYN II Pssaros voavam por entre as rvores beira do lago, Aryn buscava a calmaria daquele lugar que adorava. Enquanto treinava com uma espada pequena, de madeira e sem ponta movimentos aleatrios no ar, nem notava seu adorado Puck balanando o rabo para ele, queria brincar tambm de certo. Aryn olhava fixo para o nada como se fosse um alvo. Esquivava de golpes imaginrios e agachava passando a espada por entre as pernas do adversrio que teria aproximadamente sua altura pelo visto. Estava animado. Os minutos que passou no treino o ajudaram a esquecer do que ouviu no castelo. Nesse momento, Sansa saiu por entre os arbustos e sorriu para o futuro cunhado. Tinha a idade dele. Seus olhos tom de mbar e cabelos castanho-claros fascinavam o menino. Ele retribuiu o sorriso, tentando ser ao mximo impessoal para com ela. Posso brincar tambm? Parece interessante. Disse sorrindo. S tenho essa espada, infelizmente... Tentava simular Aryn escondendo a outra espada de madeira idntica a que ele tinha que estava de reserva no cho. Ah, mas para isso no h problemas. Sansa sempre foi muito sagaz. J encontrei outra espada igualzinha a sua ali, olha. Apontou com o dedo. Aryn sorriu constrangido enquanto Sansa foi e pegou a espada. E a, vamos ou no? Eu estou bastante entediada aqui nessa corte. Devo alert-la que esse no um esporte para garotas. Alm do mais, se algum me pega te ensinando esses maus modos masculinos eu estaria encrencado, certo? Mas eu insisto. Ningum vir aqui. Alm do mais j estou enjoada lendo Heliseu h dois anos, aquele livro gigantesco, parece que no acaba nunca. O sorriso que ela dera a Aryn em seguida foi argumento mais que suficiente. Est bem. Vamos jogar ento. Primeiro, o passo mais importante para ferir o adversrio inicialmente se esquivando dele e depois o golpeando. Vamos, tente me acertar, Sansa. Sansa sorriu, tentou acertar Aryn com certo medo de feri-lo. Ele fechou a cara como se pedisse para ela tentar de verdade. Sansa foi atingi-lo com a espada na barriga, mas Aryn esquivou, deu um leve giro e rapidamente se posicionou atrs dela, imobilizando a mo dela que estava com a espada e passou muito de leve a espada nas costas da mesma. A soltou em seguida. Falta de prtica, no? Brincou Aryn. Sansa fez que sim. E num movimento inesperado acertou Aryn no trax. Nunca baixe a guarda. Essa lio eu aprendi ouvindo os cavaleiros. Disse ela. At que ela era tima para uma iniciante. Aryn riu, ambos comearam de verdade a brincar com os objetos. Cruzavam a espada de um lado e do outro, tentavam acertar-se agora batendo a espada com mais fora. Conseguiu. Acertou Sansa na barriga, ela se desequilibrou no susto e caiu na grama. Aryn se desesperou. Correu, estendendo-a a mo e a puxando. Nesse instante, Aryn ainda no vira, mas Nyan surgia por entre as rvores da clareira. Me perdoa, me perdoa, senhora Sansa. Eu avisei que no deveramos. No. Est tudo bem, nem me machuquei. De verdade. Disse Sansa aos risos. Aryn terminou de ergue-la, ela se afligiu quando Nyan surgiu ali para ambos. Golpeando uma dama indefesa, seu crpula! Bradou Nyan com o irmo. No, Nyan, no foi assim! Eu insisti para treinarmos, ele no quis, foi um acidente! Ele no fez nada comigo. Aryn encarava encantado, sem palavras sendo defendido por Sansa. Nyan sabia que foi um acidente, mas o dio que ficou de ver sua prometida com o irmo foi imenso. E ela ao defend-lo o deu ainda mais dio. Ora seu, voc pagar por isso! Disse truculento, j indo para cima de Aryn indefeso no cho e dando com fora um chute em sua costela. Os olhos dele se encheram de lgrimas vendo Sansa o olhando. Nyan notou. Fracote! Voc um invejoso pattico, Aryn! S serve para lutar sozinho ou com garotas porque no plio para algum que veste calas. Voc uma piada, Aryn! Nyan dizia enquanto pisava na barriga de Aryn, o soltou. Vem, vem se meter besta comigo, para ver se eu no te ponho no seu lugar, pirralho! Disse Nyan. A vontade de exibir para Sansa e se mostrar superior era enorme. Puck que estava deitado na grama avanou para eles. Comeou a latir para Nyan, Sansa correu at o cachorro e o acariciou. Queria evitar uma confuso ainda maior caso o co de Aryn atacasse Nyan. O garoto ainda estava exttico no cho. Voc no serve nem para isso, Aryn. Voc envergonha essa famlia. Voc envergonha meu pai, envergonha a mim e a todo mundo aqui. Nyan! Disse Sansa alto, totalmente incrdula com o que Nyan dizia. Nyan no se importava. Voc no podia nos fazer o favor de s deitar e morrer duma vez? Concluiu. Cala a boca! Gritou Aryn. Espantou at Nyan que deu um sorriso. Aryn se levantou e fora para cima do irmo, quando foi para soc-lo, um empurro de Nyan o jogou no lago, Puck escapuliu dos braos de Sansa e correu at Nyan mordendo forte seu calcanhar. O futuro rei berrou de dor. Ah, peste! Bradava. Enquanto Aryn tentava nadar no lago, batia os braos em desespero, Nyan pegou a espada de madeira e com fora bateu contra Puck. O cachorro chorou, no satisfeito o bastante, Nyan o puxou pela cabea e o jogou no lago assim como Aryn. Faam-me um favor e morram afogados vocs! Gritava Nyan que ainda cuspiu contra o irmo no lago, errou. Sansa estava pasma, uma lgrima estava em seu olhar com o que vira. S sentiu Nyan a puxando pela mo e a tirando dali. Aryn se conteve para no chorar, foi at Puck no lago e agarrou seu fiel amigo. Totalmente humilhado saiu com ele do lago. No tinha a quem contar. Pensou entre uma lgrima que o escorreu do rosto. Mas Nyan tinha. Nyan dar um escndalo contra mim e s para variar, ele conseguiria o que quer.

CAPTULO XI SANSA I Eu quero que voc diga a verdade, Sansa. Ouviu docemente de Rhael num dos quartos da fortaleza, bem frente Nyan a lanava um olhar ameaador. Seu tio estivera minutos antes naquela sala e a forou a confirmar a verso dos fatos do noivo. Sansa no queria, queria dizer a verdade. E aquele era o momento. Rhael a sua frente estava paciente e calmo, mas ainda aguardava a resposta. Sansa? Foi mesmo assim que aconteceu? Sim. Ela respondeu silabicamente, contra a prpria vontade. Rhael assentiu positivamente, acariciou seus cabelos longos enquanto Sansa olhava a Nyan. Est vendo, pai? Eu no menti. O Aryn culpado de tudo! Ele forou a Sansa a participar daquilo, quando eu o questionei me agrediu e mandou aquela peste do co dele para me atacar. E ainda por cima ele o maior mentiroso! A verso que o Aryn deu para essa histria bem diferente. Mas de qualquer forma, ele j est sendo punido. Informou a Nyan, Sansa abaixou a cabea, se sentia culpada por ser complacente, viu que Nyan despontava um sorriso. Mas o irmo dele! Como o Nyan pode ser to cruel assim com ele? Tente ser um irmo melhor para Aryn, Nyan. Mas pai, ele um Valouis! Protestou Nyan. Eu no sei nem o que ele faz nessa casa. E o prprio Meister me ensinou a no confiar num Valouis. Valouis so nossos amigos, Nyan! Disse alto para que soasse claro para Nyan. Nossos melhores amigos, ultimamente. Do cl que veio os Davis, veio os Valouis tambm e independente do sangue que o Aryn tem, ele um de ns. E lembre-se que caso voc no produza herdeiros, quem ocupar o trono em sua falta ser ele. Nyan riu em deboche. O pai estava claramente insatisfeito. Isso nunca. Ele teria que matar primeiro. Conclui num tom ameaador. S que mais fcil eu o matar. S tente ser mais paciente com seu irmo. Ele no anda numa fase fcil. Rhael saiu em seguida. Sansa estava acuada, ela sentia medo de Nyan que percebia isso. Ele a deu um sorriso sdico. Se levantou da cadeira em que sentava e passo a passo caminhava at ela. Ela queria recuar, mas j estava encostada na parede. Ele sorriu sadicamente para ela. Agora, de Nyan ela sentia um certo pavor. Ele pegou em sua mo. Ela deu um sorriso amarelo de medo para ele. Vamos passear, milady? H algo que quero mostra-la. Sansa no queria. Mas acabou aceitando. Ele a puxou pela mo suavemente, andaram ambos pelo corredor com os nobres que passavam por ali olhando admirados, apreciando o casal que graas aos interesses polticos das famlias foram feitos um para o outro. Logo eles saram do castelo. O sol no brilhava no cu nublado. Parecia que ia chover naquela tarde, ele a levava por meio das rvores a passos largos. Ela comeou a se soltar, ele soltou de sua mo no meio da mata e comeou a correr. Sabia que ela no conhecia muito bem o local e por isso o seguiria. Ela tratou de tentar se distrair, abrir um sorriso e correr atrs de Nyan. Vem, vem logo Sansa! Ou vai ficar tarde demais hein. J vou, j vou. Eu no sei correr muito, Nyan. Ela se perdeu dele por instantes. Corria pelas rvores, buscava a voz dele que estava mudo. Ouviu um latido e seguiu correndo na direo do barulho, estava sorrindo, ela gostava daquele tipo de jogo. At que parou, viu que Nyan j no corria mais e tambm havia parado. Ele estava sentado na frente do lago da corte. Ele estava de costas para ela. Sansa o chamava, mas Nyan no respondia. Fez questo que ela desse a volta e parasse na frente dele. Sansa notou que ele segurava Puck nos braos, o cachorro tentava sair. Calma Puck, calma, amigo. Disse o garoto amigavelmente abrindo um sorriso. Eu s pareo meio duro com o Puck, porque eu queria que ele fosse um co de caa, sabe? Que nem os quatro que eu mantenho no canil, mas o Aryn... o Aryn, voc sabe n? Tratou de desconversar e acariciar Puck sorrindo. O co queria escapulir. Eu tambm adoro esse cachorro, no fundo. Sansa riu para ele, estava para sentar ao lado dele, mas desistiu. Melhor no. O silncio durou por alguns instantes, Nyan encara o lago. Puck era um cachorro muito dcil e amigvel, se deixou ficar no colo de Nyan. Gosta de cozinhar, Sansa? Ouvi dizer que voc ama comer carne. No. Mas comer comigo mesmo. Respondeu ela sorrindo. Ah sim. Ele esboou um sorriso. Que tipo de carne voc j provou? Eu j provei de cavalo, de cordeiro e a mais saborosa a de veado. De coelho e de r j comi tambm, mas no gostei muito. Nyan discretamente sacou uma faca com uma das mos no bolso. Acariciou Puck na cabea com um sorriso, Puck chiando para sair dos braos dele lambeu o cotovelo do prncipe. Sansa desatenta quilo, no fundo ainda pensava em Aryn. Sim, entendo. Iniciou Nyan, Sansa agora notou o sorriso quase doentio em sua cara. Mas a de cachorro a melhor de todas. No! Ela berrou desesperada, Puck ainda tentou chiar. Mas num golpe nico Nyan cravou a faca no peito do cachorro do irmo. Eles j tinham a carne do jantar.

CAPTULO XII RHAEL IV As velas rsticas em luminrias do teto refletiam no ambiente, como bom anfitrio, o rei tratou de ocupar a cabeceira da mesa onde estavam todos. Adolph VI, Rhael, Sansa, Clements, muitos nobres de famlias ricas e parentes de Rhael ocupavam os lugares na mesa. Clements e Adolph estavam esquerda, aos risos. direita, logo ao lado de Rhael sentava o futuro prncipe, do lado de Sansa. Na ltima cadeira da direita, distante e isolado dos demais, sentava Aryn. Afastado da famlia como no fundo sempre estivera. Seus cabelos estavam mais curtos, quase arrepiados. Havia cortado o cabelo ainda aquela tarde. Ao longo do jantar a iguaria especial fora servida pelos servos. Ningum tinha ideia da carne que estava no prato, Nyan saboreava com vontade, como se estivesse morrendo de fome. Rhael notara o nojo de Sansa enquanto olhava para o prato. Por alguma razo, Rhael intua que ela queria gritar, berrar, contar-lhe algo. Mas no o fez. Enojada por dentro e por fora, engoliu a carne feita com os restos de Puck. Ela olhava muito discretamente para Aryn que no sabia o que estava comendo. O clima de sorrisos e conversas no contagiava Rhael, estava tenso com a noo de que algo de ruim pairava no ar. Era muito intuitivo. Lady Sansa, a carne no est de seu agrado? Questionou Rhael. No, no isso. Disse ela abrindo um sorriso, constrangida. Ela sempre sorria. que eu no tenho muita fome hoje. Disse sucinta. Tratou de provar dos gros em seguida, deixando de ser observada por Rhael que agora olhara Aryn. Ele tinha essa mania de tentar socializar e integrar todos no ambiente, at porque ele amava ambos os filhos, embora as circunstncias o forassem a sempre privilegiar o primognito. O silncio se instaurou na mesa. Nyan teve de quebra-lo. Voc cortou o cabelo enquanto estava de castigo essa tarde, Aryn? Sim. Respondeu pondo logo uma garfada da carne de Puck na boca. Hum. Ficou bonito, apreciei o novo corte. Obrigado, Nyan. Aryn realmente estava disposto a usar poucas palavras. Nyan no podia perder a chance de sacanear o irmo. E no perderia. Mas ainda sim formou um pssimo contraste com esse troo medonho que voc chama de olhos. Disse aos risos apontando para os olhos bicoloridos do irmo. Todos riram, gargalharam com o sadismo do prncipe. Exceto Rhael, Sansa e principalmente Aryn que no viram tanta graa enquanto Adolph VI e Clements tinham crises de risos mesa com os outros nobres. Nyan sempre o humilhava, sempre, mas no havia nada que se pudesse fazer. Pensava o pai. Um brinde ao futuro rei piadista. Se ergueu Adolph com uma taa de vinho em mos, ainda aos risos. Todos se levantaram e brindaram tambm, Aryn foi forado a brindar a prpria humilhao, tentava no expressar seu desgosto. Rhael at pensou em reprimir Nyan pelo que dissera, mas... Aryn ouviu esse tipo de coisa de todos naquela corte os dez anos da vida dele, essa era s mais uma. Ele podia lidar bem com isso. Tentava conformar a si mesmo. Aquele dia, Nyan estava animado. Aquele era o jantar para celebrar a visita de Sansa e Clements corte, atraiu muitos nobres e era a melhor oportunidade para Nyan exalar seu veneno. Agora vai tio, conta aquela l que eu te ensinei. Disse Nyan entusiasmada a Adolph. Todos prestaram bastante ateno, Aryn olhou atravessado j sabendo qual seria o assunto da piada: ele. Adolph se levantou, j ria da prpria piada. Ah, essa a melhor! Exclamara Adolph, batendo uma colher num copo de metal, fazendo com que todos se voltassem a ele, que iniciou. Um Davis e um Valouis terminaram de ler Heliseu. O Davis foi dormir normalmente enquanto o Valouis ainda urinava nas calas. Uma breve pausa para os risos contidos de todos e ele seguiu. Mas adivinha quem sonhou com Aryn enquanto dormia? Questionou. A piada era bvia, Aryn temia a resposta que veio por Nyan. O Valouis claro! Porque sonhar com Aryn, para um Davis, s se for pesadelo. Disse enquanto lanava olhares ao irmo. Todos riram mais do que da outra vez, Sansa que ainda lia a obra riu tambm, at Rhael achou essa engraada, apesar de ser esperto o bastante para notar a indireta que Nyan queria expressar. Rhal nota Aryn cabisbaixo. Apenas ele viu naquela mesa, mas uma lgrima escorreu pelos olhos do filho que enxugou antes que todos naquela mesa vissem. Naquele momento o rei queria berrar, queria puxar o filho mais velho pela gola da camisa, explodir com ele e tirar Aryn do show de horrores que estava sendo aquela reunio para o garoto. Mas ele no podia. S que e se a situao fosse inversa, o que ele faria? Perguntava-se, mas a resposta era bvia. Espero que no tenha se ofendido, irmo. Disse Nyan num tom pacifico. Todos prestaram ateno. Eu sei que por seu intelecto voc ainda no sabe ler direito, mas sabe que a outro Aryn que eu me referi, no mesmo? Sim. A rispidez na resposta do irmo era tudo que o prncipe precisava. Me entenda, Aryn, no minha culpa se nem para escolher nome sua me serviu. Ele havia passado de todos os limites! Aryn estava farto. Se ergueu na mesa, bateu forte contra ela atraindo a ateno de todos e berrou com o irmo. No fala da minha me, Nyan! Gritou com lgrimas nos olhos. Ofegava, queria chorar, estava ntido como queria pegar aquele garfo dourado de duas pontas e enfiar na jugular do irmo. Mas jamais poderia. Voc no deveria se importar tanto. Iniciou calmo. Voc matou a sua me, Aryn! Se fez alto, para que todo o castelo ouvisse. Isso mentira! Agora foi Rhael que