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Gramado – RS De 29 de setembro a 2 de outubro de 2014 EXPERIMENTO PARA A CRIAÇÃO DE PERSONAGENS A PARTIR DOS ESTUDOS DA EDADE E PRINCÍPIOS DO DESENHO Danielle Araújo Silva Trinta IFPB Instituto Federal de Ciências e Tecnologia da Paraíba [email protected] Resumo: Este trabalho tem como proposta realizar um experimento com crianças do quarto ano, com idades entre 9 e 10 anos do Ensino Fundamental, tendo como objetos de estudo: fundamentos básicos do design e a criação de personagens, a fim de analisar o design como forma de ensino. O experimento foi montado em formato de aula, onde abordamos os princípios da cor e forma, utilizando os estudos da Edade. Tivemos como parâmetros de comparação personagens desenhados antes e depois da aula, além de um questionário aplicado com as crianças após todo o processo. Desse modo, analisamos a influência dos princípios do desenho e da EdaDe nesses alunos. Palavras-chave: Edade, cor, forma, personagens. Abstract:This paper aims at conduct an experiment with children of the fourth year, aged 9 and 10 years of elementary school, taking as objects of study: basic fundamentals of design and creation of characters in order to analyze the design as a way of teaching . The experiment was performed in classroom format, in which we discussed the principles of color and form, using studies of EdaDe. We had as a comparison parameters drawn characters before and after class, and a questionnaire applied to the children after the whole process. In this way, we analyzed the influence of the principles of design and EdaDe in these students. Keywords: EdaDe, color, shape, characters. 1. INTRODUÇÃO A utilização de princípios visuais, como a cor e a forma, juntamente com a criação de um desenho - elementos básicos nos estudos sobre design - são muito utilizados nas séries menores, mas logo são esquecidos nos primeiros anos do Ensino Fundamental na maioria das escolas. Se a linguagem visual constitui o desenho e se, de acordo com Wong (1998) “o desenho é um processo de criação que tem

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Gramado – RS

De 29 de setembro a 2 de outubro de 2014

EXPERIMENTO PARA A CRIAÇÃO DE PERSONAGENS A PARTIR DOS ESTUDOS DA EDADE E PRINCÍPIOS DO DESENHO

Danielle Araújo Silva Trinta

IFPB – Instituto Federal de Ciências e Tecnologia da Paraíba

[email protected]

Resumo: Este trabalho tem como proposta realizar um experimento com crianças do quarto ano, com idades entre 9 e 10 anos do Ensino Fundamental, tendo como objetos de estudo: fundamentos básicos do design e a criação de personagens, a fim de analisar o design como forma de ensino. O experimento foi montado em formato de aula, onde abordamos os princípios da cor e forma, utilizando os estudos da Edade. Tivemos como parâmetros de comparação personagens desenhados antes e depois da aula, além de um questionário aplicado com as crianças após todo o processo. Desse modo, analisamos a influência dos princípios do desenho e da EdaDe nesses alunos. Palavras-chave: Edade, cor, forma, personagens. Abstract:This paper aims at conduct an experiment with children of the fourth year, aged 9 and 10 years of elementary school, taking as objects of study: basic fundamentals of design and creation of characters in order to analyze the design as a way of teaching . The experiment was performed in classroom format, in which we discussed the principles of color and form, using studies of EdaDe. We had as a comparison parameters drawn characters before and after class, and a questionnaire applied to the children after the whole process. In this way, we analyzed the influence of the principles of design and EdaDe in these students.

Keywords: EdaDe, color, shape, characters.

1. INTRODUÇÃO A utilização de princípios visuais, como a cor e a forma, juntamente com a criação de um desenho - elementos básicos nos estudos sobre design - são muito utilizados nas séries menores, mas logo são esquecidos nos primeiros anos do Ensino Fundamental na maioria das escolas. Se a linguagem visual constitui o desenho e se, de acordo com Wong (1998) “o desenho é um processo de criação que tem

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propósito”, essa ferramenta deveria ser cada vez mais inserida na educação, não somente por ser mais atrativa para a criança, mas por facilitar a busca por soluções. Esta pesquisa verificou como o contato das crianças com o design pode ocorrer na prática, observando os limites e as possibilidades da utilização das técnicas de design em idade escolar entre 9 e 10 anos. Para tanto, desenvolvemos um experimento que pretende auxiliar a resolução de um problema pré-definido através dos princípios de cor e forma. Focamos na construção básica de um desenho, que no quesito forma envolve o estudo geral do desenho bidimensional e combinação de elementos; e a cor, que abrange aspectos de harmonia, sentidos e significados. Complementando a pesquisa, a Edade facilitou no processo de aprendizagem das crianças por meio de estudos sobre a linguagem infantil. Esse método já é utilizado em outros países, de acordo com Mazzaroto (2010), “buscando formas mais interdisciplinares e participativas, contextualizadas com a vida real dos aprendizes, conferindo a estes uma maior autonomia no processo de aprendizagem, ao mesmo tempo em que transforma o professor em um facilitador e guia do processo”.

2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Edade: A EdaDe é uma das maneiras que auxiliam na formação integral dos estudantes, pois traz para o ambiente escolar um leque de disciplinas que pouco são vistas nas escolas, como as matérias de artes e tecnologia, trabalhando de forma prática e relacionando-as ao cotidiano do aluno.

EdaDe trabalha com a construção de conhecimentos técnicos, tecnológicos, científicos e artísticos, com a intencionalidade de promover uma compreensão mais ampla destes conhecimentos e das relações existentes entre eles – visão interdisciplinar, que propicie a construção de uma cidadania mais crítica e criativa. (FONTOURA, página 184, 2002)

Além de contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem da criança otimizando a transmissão de conhecimentos, a EdaDe também nos apresenta maneiras de construir uma sociedade mais preocupada com a educação, preenchendo lacunas antes não conhecidas na forma do ensino tradicional.

Se o design deixasse de ser considerado apenas uma profissão ou carreira de nível superior, e passasse a ser visto como atividade realizada por todos e como um processo para resolver problemas, ele poderia fazer parte da cultura da sociedade brasileira de forma mais ampla e contínua – e o ensino do design poderia começar muito antes, atendendo às visões e tendências holísticas e integradoras do conhecimento reconhecidas nas pesquisas pedagógicas relacionadas à educação das crianças.(EGG, página7, 2010)

2.2. Forma: Baseamo-nos no livro “Princípios da Forma e Desenho”, de Wucius Wong. Utilizamos estudos sobre Desenho Bidimensional, no qual focamos na Introdução e Conceitos Formais.

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a. Repetição: Quando utilizamos a mesma forma mais de uma vez. Exemplos: Colunas e janela, pisos e padrões em tecidos.

Figura 1 – Exemplo de repetição. (WONG, 1998) b. Similaridade: Repetição de formas semelhantes, mas não idênticas. Exemplos: grãos de areia, ondas do mar, folhas de árvores e árvores em uma floresta.

Figura 2 – Exemplo de Similaridade. (WONG, 1998)

c. Radiação: Unidades de forma ou subdivisões estruturais repetidas que revolvem regularmente em torno de um centro comum. Exemplos: pétalas entreabertas de uma flor e ondulações que se formam na superfície de um lago ao cair de uma pedra.

Figura 3 – Exemplo de Radiação. (WONG, 1998)

d. Concentração: Modo de distribuição desigual e informal de unidades de forma, às vezes tendo um local de agrupamento mais denso ou de dispersão. Exemplo: aglomerados das cidades.

Figura 4 – Exemplo de Concentração. (WONG, 1998)

2.3.Cor: Utilizamos o livro “Da cor à cor Inexistente”, de Israel Pedrosa, com os assuntos: A Natureza da Cor e sua Ação Psíquica, Simbólica e Mística; As cores; e Elementos de Harmonia. Também utilizamos o livro “Psicodinâmica das Cores em Comunicação”, de Modesto Farina, Clotilde Perez e Dorinho Bastos. Aproveitamos assuntos como: O Fenômeno do Cromatismo; Cor: Signo Cultural e Psicológico; e A Cor na Comunicação. Destes livros, separamos os seguintes tópicos utilizados em sala de aula:

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a. Elementos Psicológicos: Hábitos sociais, culturais, a diferença das idades e estímulos físicos e emocionais são alguns exemplos dos aspectos influenciadores do nosso entendimento sobre o significado psicológico das cores.

b. Elementos de Harmonia: Quando dentro da totalidade de uma pintura, por exemplo, percebemos cada elemento trabalhando para compor a obra, temos uma harmonia.

Figura 5 – Exemplo de Harmonia. Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.

c. Contraste: Enquanto a harmonia tenta criar um diálogo entre as cores, o contraste apela para o choque.

Figura 6 – Exemplo de Contraste. Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada. 2.4.Personagem: Utilizamos o livro “Eu Que Fiz” de Ellen Lupton e os livros de cor e forma citados acima. Os assuntos escolhidos foram:

a. Forma: Aplicada aos personagens. Abordamos assuntos como: Expressões Básicas; Proximidade; Semelhança; Movimento; Boa Continuação; e Tedência.

b. Cor: Levamos em conta toda a parte psicológica que estudamos para a aplicação mais congruente com a personalidade e aspectos físicos do personagem.

c. Cor e Forma: Combinação harmoniosa entre todos os elementos estudados.

Figura 7 – Estudo de movimento e expressões básicas. (PEDROSA, 2010) Em todos os tópicos, os assuntos e a profundidade destes são justificados pela idade que trabalharemos no experimento. As crianças de 9 e 10 anos não conseguem assimilar grande quantidade de assuntos em uma aula, embora Edwards (1984) afirme

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estarem no estágio de complexidade e mais preocupadas com detalhes e com a aparência das formas. A partir do diálogo com professoras da escola e com o exemplo do livro “Desenhando o Mundo”, de Antônio M. Fontoura, adaptamos todo o material para a aula, com resumos ilustrados das introduções.

3. METODOLOGIA 3.1. Sujeito: Alunos da Escola Municipal Silvana Oliveira Pontes, em Cabedelo, Paraíba. São crianças do quarto ano, com idade entre nove e dez anos, de classe social baixa.

3.2. Delineamentos: Esta ação foi um experimento de comparação, e todas as etapas foram acompanhadas de perto pelo pesquisador envolvido. Em um primeiro momento, apresentamos uma história-problema e pedimos para que os alunos o resolvessem com um desenho de um personagem, utilizando lápis comum, de cor e papel. Logo após, coletamos os dados desse primeiro teste (A). Ministramos uma aula contendo todas as ferramentas necessárias para resolver de fato o problema e novamente expusemos a mesma história, oferecendo os mesmos materiais do teste A, para coletar os dados do segundo teste (B). Após o experimento, aplicamos um questionário com perguntas abertas- pesquisa qualitativa. Por fim, fizemos um levantamento de dados, a fim de aferir as variáveis no desenvolvimento das tarefas (teste A e B), que avalia a criança de acordo com o uso correto das ferramentas dispostas.

3.3. Experimento: Cada escola possui uma diversidade de materiais e recursos humanos disponíveis, e outros tantos que são desejáveis, dependendo do ambiente em que está situada. Apesar das dificuldades, o aluno deve sair da escola tendo vivenciado o maior número possível de atividades artísticas:

O estudo, a análise e a apreciação das formas (artísticas) podem contribuir tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como também para o conhecimento progressivo e significativo da função que a arte desempenha nas culturas humanas. (MEC, 1998)

A ilustração de um personagem é uma das atividades artísticas necessárias para o aluno, pois além de ser uma das vertentes visuais que necessariamente lidam com o texto, ajuda na crítica que os alunos fazem a si mesmos frente aos seus desenhos.

3.3.1. Escolha de conteúdo: O MEC indica critérios para a escolha de conteúdos do ensino fundamental. São eles: conteúdos compatíveis com as possibilidades de aprendizagem do aluno; valorização do ensino de conteúdos básicos de arte necessários à formação do cidadão; especificidades do conhecimento e da ação artística.E também especifica os conteúdos gerais, do primeiro e segundo ciclo: convivência com produções visuais e suas concepções estéticas nas diferentes culturas; identificação dos significados expressivos e comunicativos das formas visuais; contato sensível, reconhecimento e análise de formas visuais presentes na natureza e nas diversas culturas; reconhecimento e experimentação de leitura dos elementos básicos da linguagem visual; contato sensível, reconhecimento, observação e experimentação de leitura das formas visuais em diversos meios de comunicação da

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imagem; identificação e reconhecimento de algumas técnicas e procedimentos artísticos presentes nas obras visuais; fala, escrita e outros registros (gráfico, audiográfico, pictórico, sonoro, dramático, videográfico) sobre as questões trabalhadas na apreciação de imagens.

A partir desses conhecimentos gerais sobre o plano de aulas e com base na conversa com os professores da escola em que o experimento foi aplicado, escolhemos entre uma gama extensa de assuntos: quatro tópicos de forma (Repetição, Similaridade, Radiação e Concentração) e três de Cor (Elementos psicológicos, Elementos de Harmonia e Contraste), levando em conta o grau de complexidade e o tempo de concentração das crianças, que é menor. A aula se baseará nos livros “Eu Que Fiz”, de Ellen e Julia Lupton (2008) e “Desenhando o Mundo”, de Antônio Fontoura (1962).

3.3.2. História-problema : Na idade escolhida, a diferenciação de gêneros é forte e a da figura humana é constantemente desenhada. Por isso, o personagem da história-problema é um monstro, pois não possui sexo nem formas definidas. Dessa forma, evitamos a escolha de cor e forma pelo gênero e a criança fica a vontade para criar personagens sem a preocupação em desenhar nas proporções “erradas”.

A imaginação criadora permite ao ser humano conceber situações, fatos, idéias {sic} e sentimentos que se realizam como imagens internas, a partir da manipulação da linguagem. É essa capacidade de formar imagens que torna possível a evolução do homem e o desenvolvimento da criança; visualizar situações que não existem, mas que podem vir a existir, abre o acesso a possibilidades que estão além da experiência imediata. [...] A flexibilidade é o atributo característico da atividade imaginativa, pois é o que permite exercitar inúmeras composições entre imagens, para investigar possibilidades e não apenas reproduzir relações conhecidas. (MEC, 1998)

3.3.3. Apresentação da aula: A escolha de a apresentação e da aula possuírem elementos básicos do design foi baseada na liberdade de composição que estas possibilitam. A partir dos assuntos abordados na aula, a criança poderá criar suas próprias combinações sem a interferência de elementos visuais prontos.

3.3.3.1. Aplicação do experimento: Dentre as propostas do MEC (1997), direcionadas aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Artes, temos dois tipos de problemas que fazem parte das atividades artísticas escolares. Escolhemos aquele que é instigado pelo professor, onde este intervém de maneira fundamentada com questionamentos relacionados aos conhecimentos artísticos como parte da atividade. Esse método é mais controlado e facilita a apuração dos resultados.

3.3.3.2. Planejamento da aula: Baseado no método de Rosa Iavelberg para a matéria de Produção de Ilustrações para a Revista Nova Escola. (NOVA ESCOLA, 2014)

a. Apresentação da história : Leitura em voz alta da história, do pesquisador para a turma. Após a leitura, propor o exercício de desenho.

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b.Desenho: Tempo reservado para os alunos desenharem seus personagens. c. Aula: c.1. Objetivos: Conhecer princípios básicos de cor e forma e estudar como aplicar os conhecimentos adquiridos em seus personagens. c.2. Desenvolvimento: Apresentar o material a todos e propor um momento coletivo para a assimilação dos assuntos e perguntas. Encaminhar o debate para as diferenças entre as funções das imagens em cada objeto e questionar os alunos sobre o que pensam sobre cada uma delas. d.Apresentação da história: Leitura em voz alta da história para a turma, a mesma aplicada antes da aula. Após a leitura, novamente propomos o exercício. e.Desenho: Tempo reservado para os alunos desenharem seus personagens. f.Questionário: Tempo para os alunos responderem ao questionário, que indaga sobre as ferramentas utilizadas nos personagens antes e depois da aula. 4. ANÁLISE O material foi analisado de acordo com os delineamentos do MEC, que avalia o aluno de acordo com as seguintes premissas: a. A produção artística visual em espaços diversos por meio de: desenho, pintura, colagem, gravura, construção, escultura, instalação, fotografia, cinema, vídeo, meios eletroeletrônicos, design, artes gráficas e outros.

b. Observação, análise, utilização dos elementos da linguagem visual e suas articulações nas imagens produzidas.

c. Representação e comunicação das formas visuais, concretizando as próprias intenções e aprimorando o domínio dessas ações.

d. Conhecimento e utilização dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas nos trabalhos pessoais, explorando e pesquisando suas qualidades expressivas e construtivas. 4.1. Análise do questionário 1. Para desenhar seu segundo personagem, você utilizou o que foi mostrado na aula sobre cor e forma?

a. Onze respostas positivas. Exemplo: “Aprendi algo com a aula” ou “Achei que o desenho ficou mais bonito” ou “Prestei bastante atenção”;

b. Sete respostas positivas. Exemplo: “Quis desenhar assim”;

c. Três respostas negativas. Exemplo: “Não queria” ou “ Queria fazer do meu jeito”.

2. Você entendeu tudo o que foi explicado na aula sobre cor e forma? Se não entendeu, explique qual é a sua dúvida.

a. Dezoito crianças afirmam que entenderam, e entre estas, treze explicam que entenderam as cores e as formas;

b. Duas crianças não entenderam algumas partes da aula. Entre elas, uma afirmou que não entendeu contraste e harmonia, enquanto a outra criança não entendeu cor e forma;

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c. Uma resposta não obteve nem afirmação ou negação. 3.Na criação do segundo personagem, você alterou alguma forma? Se você alterou, explique porque utilizou essa nova forma?

a. Quinze alteraram a forma, e entre esses, cinco justificaram que se sentiram mais inspirados ou gostaram;

b. Seis não alteraram. 4.Na criação do segundo personagem, você alterou alguma cor? Se você alterou, explique porque utilizou essa nova cor?

a. Treze modificaram, citaram as cores mudadas e justificaram: “gosto mais delas”;

b. Três mudaram para o desenho “ficar bonito” ou para não ficar “sem graça”;

c. Quatro não justificaram, mas colocaram as cores que foram mudadas 4.2. Análise dos desenhos 1. Sete alunos ressaltaram mais as cores e as formas no segundo desenho, sendo que: a. Duas crianças que tinham utilizado dobraduras, na criação do segundo desenho utilizaram mais cores e formas básicas;

b. Três ressaltaram mais as formas básicas;

c. Uma passou de formas básicas para um desenho com formas mais complexas.

d. Uma criança fez o segundo desenho baseada em personagens conhecidos de desenho animado;

2. Cinco crianças trabalhavam bem com formas básicas e cores e mantiveram no segundo desenho, sendo que: a. Quatro distribuíram melhor as cores e utilizaram ainda mais formas, mais focadas no personagem;

b. Uma utilizou menos cores e formas.

3. Três crianças desenharam personagens conhecidos de filmes e desenhos animados, com formas mais complexas, sendo que: a. Um deles utilizou mais cores no segundo desenho;

b. Um deles manteve sua forma de desenhar;

c. Um deles deixou o desenho com menos cores e formas, porém, estas últimas eram mais básicas.

4. Duas crianças praticamente mantiveram suas paletas de cores, ressaltando as formas básicas no segundo desenho;

5. Duas crianças utilizaram mais formas básicas e mais cor no primeiro desenho e no segundo utilizaram mais formas complexas e menos cores;

6. Uma criança adicionou mais cores no segundo desenho.

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4.3. Análise mais detalhada:

1.Participante1, 9 anos

Figura 8 - Desenho antes da aula à esquerda e depois da aula à direita. a. Uso das formas: Antes da aula: Utiliza formatos quadrados e retangulares em grande parte do desenho. Dedos, orelhas e detalhes do rosto surgem de formas circulares. Depois da aula: Utilizou outras formas além do quadrado, como triângulo e círculo, aumentando as escalas e dando maior evidência às expressões.

b. Uso das cores: Antes da aula: Utilizou o verde, vermelho, azul e marrom. A pintura foi feita de forma retangular no corpo do monstro, ressaltando sua forma quadrada. Depois da aula: Utilizou somente o azul, vermelho e verde, cores consideradas primárias nas cores-pigmentos transparentes. Cada monstro da torre possui uma cor.

c. A relação das formas e cores: Antes da aula: Utiliza várias cores diferente em todo o corpo do personagem. Sua personalidade, portanto, é expressa no alinhamento dos braços, transmitindo a sensação de alegria. Depois da aula: A personalidade de cada monstro da torre é identificada pela cor e pela expressão de cada um.

2. Participante2, 9 anos

Figura 9 - Desenho antes da aula à esquerda e depois da aula à direita. a. Uso das formas: Antes da aula: Utiliza formas básicas, mas percebemos algumas formas mais trabalhadas utilizando princípios de união, vistos nas mãos, pés, chifres e galhos de árvores. Depois da aula: Utilizou somente formas básicas. As mãos e os pés, antes detalhados, agora são desenhados pelo princípio de união e foram simplificados.

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O cabelo é a junção de três formas circulares, em cada lado da cabeça. Utiliza o princípio de repetição nas bolinhas de malabarismo, que se encontram em disposição circular.

b. Uso das cores: Antes da aula: Utiliza o verde, marrom e laranja em tons mais só-brios, tanto na paisagem quanto no personagem, relacionando-os. Depois da aula: O azul, verde e laranja são bem distribuídos, formando uma harmonia. São tons mais leves que a paleta do primeiro desenho e causam sensação de alegria e tranquilidade.

c. A relação das formas e cores: Antes da aula: A mensagem que percebemos é que o monstro é assustador por conta dos chifres, dentes pontiagudos e das cores mais sóbrias. No entanto, ele é feliz e se encontra numa paisagem ensolarada e cheia de árvores. Depois da aula: As cores claras, juntamente com as formas dos olhos transmitem a personalidade leve e feliz do personagem.

3. Participante3, 8 anos

Figura 10 - Desenho antes da aula à esquerda e depois da aula à direita. a. Uso das formas: Antes da aula: Desenha com formas básicas e utiliza princípios de união de círculos nas nuvens. Depois da aula: Os elementos recebem mais detalhes, como os chapéus dos monstros, estampados com formas básicas em princípio de repetição.

b. Uso das cores: Antes da aula: Predominância de cores escuras com contrastes fortes, como o vinho e o verde-escuro. Depois da aula: Cores mais claras como laranja, vermelho e amarelo, que participam do grupo de cores harmoniosas.

c. A relação das formas e cores: Antes da aula: Apesar das cores escuras, os personagens expressam felicidade a partir dos sorrisos, da disposição dos braços, e da grande quantidade de pernas, que dão noção de movimento. Depois da aula: O personagem maior parece sério, apesar de suas cores serem mais leves e possuir um chapéu colorido e estampado. Os outros personagens demostram grande felicidade, expressa tanto no formato do sorriso quanto nas mãos levantadas.

5. CONCLUSÃO Durante toda a pesquisa, procuramos aplicar os princípios de EdaDe em sala de aula a fim de avaliar sua ação no aprendizado das crianças, ensinando-as a solucionar problemas simples através da construção de personagens, e que esse aprendizado

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fosse duradouro. No experimento, observamos que os estudos de Fontoura (2002) foram confirmados, principalmente quando ele fala sobre o enriquecimento da educação da criança através do envolvimento físico e mental com a atividade e a possibilidade do emprego da interdisciplinaridade com a ação ativa do professor e do aluno. A utilização do texto que conta a história do monstro, escolhida pela forma mais livre e lúdica que as crianças poderiam trabalhar, também facilitou o engajamento destas na atividade, tornando o aprendizado mais agradável. Durante a aula também percebemos nos alunos uma abertura para discutir e propor novas ideias ao exercício, criticar os desenhos criados pelos colegas de classe e os seus próprios. A mudança entre os desenhos antes e depois da aula tiveram algumas mudanças significativas, mostrando a eficácia da influência da aula nos alunos. Como foi dito por Edwards (1984), as crianças da faixa etária do experimento, “tentam adicionar mais detalhes e passam a se preocupar mais com a aparência da forma do que com a organização da página.” Esse e outros dados como a diferença entre os sexos e a preferência do desenho com o cartum foram confirmados. No segundo desenho, os alunos rea-valiaram o que fizeram no primeiro personagem e conseguiram adaptar o que foi aprendido para o segundo monstro. Esse dado nos mostra a utilização da criatividade, item necessário para a solução de problemas e para a construção da autonomia. Tivemos também bons resultados na análise dos questionários, pois a maioria das crianças deram respostas favoráveis a vários pontos do experimento, o que nos leva a considerar que nossa análise dos testes visuais está de acordo com o sentimento dos alunos em relação à aula. Sabemos, no entanto, que para tirar conclusões científicas mais satisfatórias, além dos aperfeiçoamentos, precisaríamos de mais tempo para a aplicação do material com mais crianças, a fim de analisarmos uma quantidade maior de desenhos.

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PEDROSA, Israel. Da Cor à Cor Inexistente. 10ª Edição. Rio de Janeiro, 2010.

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WONG, Wucius. Princípios de Forma e Desenho. 1ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1998.