44

Grandes Culturas - Cultivar 151

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Dezembro de 2011

Citation preview

Incidência favorecida..................29Como manejar doenças como a ramulária no cultivo doalgodão adensado

Destaques

Índice

Diretas 05

Fertirrigação em cafeeiro 06

Controle de vaquinhas em feijoeiro 08

Empresas - Syngenta ingressa em nutrição vegetal 10

Adubação no solo ou na planta? 12

Lagarta-do-cartucho em áreas de milho Bt 14

Sucessão de culturas no manejo de nematoides 16

Nossa capa - Lagarta Striacosta albicosta no Brasil 20

Ferrugem asiática em soja 24

Deficiência de manganês em soja RR 26

Ramulária em algodão adensado 29

Quando tratar sementes em arroz 34

Efeitos da hora da aplicação no percevejo-do-colmo 36

Coluna ANPII 40

Coluna Agronegócios 41

Mercado Agrícola 42

Nova e voraz......................................20Como identificar a lagarta Striacosta albicosta, espécie que acaba deser relatada em lavouras de milho, soja e algodão do Mato Grosso

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 151 • Dezembro 11 / Janeiro 12 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Sucessão adequada.....................16A importância de acertar na sequência de culturas parao manejo de nematoides

Sensível ao calor........................24A influência da temperatura na folha superior da soja em relação à germinaçãode esporos da ferrugem asiática

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer• Vendas

Pedro Batistin

Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assistente

Ariane Baquini• Assinaturas

Natália Rodrigues• Expedição

Edson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Jurema Rattes

05www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

Diretas

LançamentoA Basf lançou o fungicida Abacus HC, para o controle de doenças na cultura do milho. “O principal objetivo é auxiliar o produtor de milho a ter maior rendimento, qua-lidade e a combater com eficiência as doenças que atacam sua lavoura, como a ferrugem e a mancha foliar”, comenta o gerente de Marketing e Relacionamento da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Oswaldo Marques.

ParceriaA Universidade Federal do Piauí (UFPI), em parceria com a Syngenta, im-plantou no campus da instituição o primeiro Laboratório de Diagnose de Plantas da região Mapitopaba (Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará e Bahia) para mapear a ocorrência de nematoides na parte sudeste do estado. Antes da iniciativa, as análises eram enviadas para outros estados, como Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A empresa doou parte dos equipamentos e reagentes necessários para a realização das análises e também vai dar treinamento sobre a coleta das amostras de solo. Três em um

O Ministério da Agricultura da Argentina aprovou para cultivo no país milho da Syngen-ta que combina os eventos Bt11 x MIR 162 x GA21, denominado Agrisure Viptera 3. O evento triplo estará disponível para os produto-res argentinos na safra 2012/2013. A semente foi lançada no Brasil em 2011, após aprovação da CTNBio em novembro do ano passado. “A aprovação desta semente confirma nossa oferta líder para controle de insetos na Argentina”, afirmou John Atkin, Chief Operating Officer da Syngenta. O milho combina tolerância a herbicidas e resistência a insetos.

ParticipaçãoA Bayer CropScience participou em novembro da 37ª edição do Con-gresso Brasileiro de Café, em Poços de Caldas, Minas Gerais. A empresa destacou o Disco de Recomendações Sphere Max, utilizado para facilitar

Nova sedeO Instituto Phytuy está com novas instalações. A cerimônia de inau-guração contou a participação do presidente da Sociedade de Agrono-mia de Santa Maria (Sasm), Valmor Christmann; do representante da Bayer, Julio Barbosa; dos representantes da Syngenta, Adilson Jauer e Tiago Santos; dos gerentes da Caixa Econômica Federal, Hildo Luiz Gelatti e Jéferson Paz; do gerente do Banco do Brasil, Bruno Moleta; e do sócio-diretor da Phytus Comunicação, Guilherme de Freitas, além de representantes de alianças estratégicas do Instituto. “É com muita felicidade que, em meio a tantas novidades, inauguramos o nosso novo espaço, que coroa todo esse sentimento de evolução constante”, disse a diretora do Instituto Phytus, Clarice Balardin.

De canaA FMC lançou durante o Clube da Cana 2011 a bombona ecológica Green Jug, que utiliza o etanol proveniente da cana como substituto de parte do petróleo empregado em sua composição e, por ser à base de plan-ta, diminui a dependência de recursos não renováveis. Segundo estudos preliminares, para cada mil unidades de bombona contendo 51% de PE

Oswaldo Marques

verde, é possível reduzir 2.815kg de CO2eq. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a Unipac e atende a aos pré-requisitos para enva-se de agroquímicos. A FMC tem exclusividade do produto por dois anos. O envase começará pelo herbicida Boral, mas os planos são de am-pliação para outros defensivos da marca.John Atkin

José Frugis

RelacionamentoA Bayer CropScience acaba de lançar o Bayer Agro Services, primeiro programa de relaciona-mento com clientes do segmento agrícola volta-do à gestão de negócios. Aproximadamente 300 clientes de atendimento direto, entre grandes produtores rurais e representantes da agroindús-tria, passam a contar com uma gama de serviços que auxiliarão na identificação de oportunidades e soluções para suas necessidades, recebendo informações atuais relacionadas aos modelos de gestão de negócios existentes. “O Bayer Agro Services é um passo estratégico e importante para estarmos ainda mais próximos do produtor rural brasileiro”, explica Gerhard Bohne, diretor de Operações de Negócios Brasil.Gerhard Bohne

PrêmioO artigo “Aplicação Planejada”, publicado na edição de outubro, é um resumo do trabalho “Classificação do Risco de Deriva para o Planejamento das Aplicações de Produtos Fitossanitários”, vencedor do concurso sobre melhores práticas de redução de deriva de defensivos agrícolas, no Sintag 2011. Patrocinadora do evento, a Dow AgroSciences idealizou o concurso, que ofereceu prêmio de incentivo à pesquisa aos três finalistas. A iniciativa tem por objetivo reforçar o compromisso da empresa com a sustentabili-dade do agronegócio brasileiro através de ações que disseminam as boas práticas e o uso correto e seguro de defensivos.

a aplicação do fungicida no manejo da ferrugem do cafeeiro. A ferramenta possibilita avaliar variáveis e faz reco-mendações para o uso personalizado do produto. São verificadas questões como a suscetibilidade das variedades à doença, altura e espaçamento das plantas, além da época de aplicação. “Com todos os dados analisados, o Disco de Recomen-dações indica o melhor momento para a utilização do Sphere Max, assim como a dose adequada para aplicação”, explica José Frugis, gerente de Cultura do Café da Bayer CropScience.

Dose certa

Atualmente no Brasil existem apro-ximadamente 233 mil hectares de café irrigado, o que representa

10% da área total plantada com a cultura, responsável por 20% a 25% da produção anual de café. Esses 10% estão distribuídos no Brasil com 4,5% a 5% em Minas Gerais, 3% a 3,5% no Espírito Santo, 1% a 1,5% na Bahia e de 0,5% a 1% em Goiás (Santinato et al, 2008). Tendo em vista que as maiores regiões produtoras de café do Brasil estão sob condições climáticas adequadas quanto à deficiência hídrica, seria difícil imaginar que as lavouras cafeeiras situadas em tais regiões pudessem vir a utilizar tecnologia de irrigação. Porém, de acordo com fabricantes de equipa-mentos, há um investimento crescente por parte do cafeicultor nesta tecnologia também nestas regiões.

O trabalho conjunto dos três principais segmentos: pesquisa, ensino e extensão, tem levado ao cafeicultor novas opções de mate-riais genéticos adaptados e mais produtivos, mecanização e técnicas de manejo para os mais diversos tipos de lavoura, priorizando desde o pequeno até o grande produtor. Dentre as tecnologias, a irrigação consolida seu espaço no cenário da cafeicultura contabilizando com a sua utilização inúmeros benefícios de ordem técnica e econômica, pois quando conduzida de forma adequada otimiza os demais insumos aplicados de forma tal que também a produ-

tividade é maximizada. Porém, o cafeicultor deve ter em mente que a lavoura irrigada não pode ser conduzida como uma área de sequeiro+água, pois se agir dessa forma corre o risco de ver seu empreendimento fracassar.

Dentre todas as possibilidades de di-versificação no sistema produtivo irrigado, a fertirrigação é uma das mais promissoras, pois reduz gastos com mão de obra, pode aumentar a eficiência da adubação reduzindo gastos com fertilizantes, além da possibilidade de aplicações parceladas e de acordo com as necessidades das diferentes fases fenológicas da planta. Nutrientes essenciais ao cafeeiro, como N e K, são facilmente oferecidos às plantas e sua aplicação, via fertirrigação, é uma prática comum entre cafeicultores usuários da irrigação.

O consumo anual de nitrogênio (N) e potássio (K2O) nos cafezais brasileiros pode chegar a 900 mil toneladas por ano de cada nutriente (Guimarães et al, 1999). Com adu-bação adequada e sem interferência ou limi-tação de outros fatores, a planta bem suprida deste nutriente apresenta crescimento rápido e folhas com coloração verde e brilhante. O potássio atua na abertura e fechamento de es-tômatos, juntamente com a luz, e sua carência pode ocasionar menor atividade fotossintética. Plantas deficientes em potássio apresentam aumento de sensibilidade a doenças, déficit hídrico e injúrias pelo frio.

Ambos os nutrientes apresentam alta mobilidade no solo, porém, necessitam de umidade para que o processo de absorção se dê de forma rápida e efetiva, sem que ocorram perdas por lixiviação e/ou volatilização (no caso do N). No caso das lavouras de sequei-ro, o nível de umidade do solo é dependente da intensidade e distribuição de chuvas por ocasião das aplicações em cobertura. Já na lavoura irrigada, desde que o sistema esteja bem dimensionado, a uniformidade de apli-cação de água dentro do recomendado, a fonte de nutriente utilizada tenha boa solubilidade em água, a eficiência na aplicação de N e K2O pode aumentar significativamente. O uso inadequado da irrigação e da fertirrigação pode gerar prejuízos drásticos ao cafeicultor, pois o retorno econômico da atividade fica

06 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Café

Aparelho (Horiba) para determinação do nitrato da solução do solo

Dose certa

Nitrogênio (N) e potássio (K2O) são essenciais ao cafeeiro e a fertirrigação é uma das formas eficientes de fornecer esse tipo de nutriente à cultura. Diante desse panorama, recomendações de adubação para lavouras irrigadas vêm sendo definidas para auxiliar produtores de regiões como o sul de Minas Gerais, que até pouco tempo seguiam os critérios para lavouras de sequeiro

Nitrogênio (N) e potássio (K2O) são essenciais ao cafeeiro e a fertirrigação é uma das formas eficientes de fornecer esse tipo de nutriente à cultura. Diante desse panorama, recomendações de adubação para lavouras irrigadas vêm sendo definidas para auxiliar produtores de regiões como o sul de Minas Gerais, que até pouco tempo seguiam os critérios para lavouras de sequeiro

Fotos Rubens José Guimarães

Rubens José Guimarães, Myriane Stella Scalco, Alberto Colombo, Gleice Aparecida Assis, Fabrício Moreira Sobreira e Iraci Fidelis,Ufla

07www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

CC

aquém do viável em função do alto investi-mento na irrigação. Por outro lado, existem problemas ambientais passíveis de ocorrer tanto pelo desperdício de água e nutrientes quanto pela contaminação dos mananciais e fontes de água.

Doses e épocas de fornecimento destes e demais nutrientes ao cafeeiro irrigado geram controvérsias e neste contexto o cafeicultor pode estar subutilizando ou desperdiçando insumos, recursos hídricos e energia elétrica.

Com o intuito de fornecer ao cafeicultor informações mais consistentes, em convênio com o Consórcio Pesquisa Café e Fapemig, pesquisadores de universidades e de órgãos de pesquisa têm realizado vários estudos sobre o uso da irrigação na cafeicultura, abrangendo os seus mais diversos aspectos, inclusive aqueles relacionados à nutrição e fertilidade das lavouras irrigadas. Dentro deste programa, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Lavras/MG implantaram um projeto experimental cujo objetivo é avaliar o efeito de diferentes doses e parcelamentos de adubação nitrogenada e potássica em cafeeiros fertirrigados por um sistema de gotejamento, que é um dos que melhor se adaptam às características morfológicas da cultura, além das vantagens quanto fertirrigação, redução de mão de obra, água e energia elétrica. Objetiva, ainda, apresentar aos cafeicultores da região sul de Minas Gerais uma recomendação de adubação para lavouras irrigadas em fase de formação e produção, pois até o momento a adubação da lavoura irrigada na região sul de Minas Gerais segue os critérios para lavouras de sequeiro, (Guimarães, 1999).

PrinciPais resultados Práticos obtidosOs resultados obtidos pelos pesquisadores

da Ufla e que já foram publicados como disser-tações e artigos em revistas técnico-científicas (Coffee Science e PAB) revelam um aspecto prático de alta aplicabilidade às lavouras cafe-eiras irrigadas da região de estudo.

Analisando cafeeiros fertirrigados e de sequeiro ao longo do primeiro e segundo anos de formação, doses de N e K2O (ureia e nitrato de potássio) correspondentes a 70%, 100%, 130%, 160% e 190% do recomendado não diferenciaram o padrão de crescimento do cafeeiro em relação à altura de plantas, diâmetro de copa e caule e número de ramos plagiotrópicos primários sendo, porém, supe-riores às plantas não irrigadas e que receberam 100% da dose recomendada aplicada em quatro parcelamentos na época das águas. Diante desses resultados é possível inferir que para lavouras de primeiro e segundo ano de formação e fertirrigadas pode-se reduzir 30% de adubação com N e K2O em relação à dose recomendada para lavouras de sequeiro.

Quando se trabalhou com quatro ou 12

parcelamentos da adubação, esses experimen-tos permitiram concluir que o parcelamento de 12 aplicações mensais proporcionou maior crescimento aos cafeeiros (embora diferencia-do nos meses do ano) que àqueles com quatro parcelamentos, inclusive com produtividade de café beneficiado 32% superior. Ou seja, novos estudos estão sendo realizados para se determinar as doses de N e K2O que devem ser aplicadas em doses diferenciadas ao longo do ano em função das fases fenológicas da cultura.

Outro aspecto importante em relação à aplicação de nitrato (NO3-) diz respeito às perdas que podem ocorrer por lixiviação em função do manejo da adubação. Dependendo da dose e do parcelamento desse nutriente essas perdas podem ser minimizadas. Na pesquisa conduzida na Ufla, para o primeiro ano de formação da lavoura foi verificado que no parcelamento de 12 aplicações de N a perda foi 8% menor em relação ao parcelamento de quatro aplicações. Porém, nos dois tipos de parcelamentos sempre ocorreram perdas de N quando da aplicação da maior dose de N (190% do recomendado) indicando que as

doses de N na fase de formação podem ser reduzidas no sistema fertirrigado.

recomendações Para aPlicação técnicaOs resultados com a cultivar Catiguá

MG-3 na região de Lavras, Minas Gerais, indicam benefícios do uso da fertirrigação para primeiro e segundo ano de formação da lavoura cafeeira com uma redução de 30% na dose de N e K2O, recomendada pela Comissão de Fertilidade do Solo de Minas Gerais para lavoura de sequeiro.

Outra recomendação é de que o parcela-mento de 12 aplicações é indicado em lavouras fertirrigadas em formação por proporcionar um crescimento vegetativo vigoroso das plantas e possibilidade de aumento de pro-dutividade.

Área experimental - (a) plantas adubadas com N e K2O parcelados em quatro vezes na época das águas e não irrigadas, (b) e adubadas em quatro parcelamentos, porém irrigadas com 70% da dose recomendada

Avaliação de diferentes doses e parcelamentos de adubação nitrogenada e potássica em cafeeiro

Bomba utilizada no processo de fertirrigação

Feijão

As vaquinhas têm sido constatadas na maioria das regiões produtoras de feijão e podem causar danos

severos ao feijoeiro, especialmente quando ocorrem altas populações no início de desen-volvimento da cultura.

A vaquinha do feijoeiro Diabrotica speciosa (Germar) é um besourinho crisomelídeo com aproximadamente 6mm de comprimento, corpo verde, cabeça castanha e manchas amarelas nas asas (Figura 1A). Os ovos são co-locados no solo, onde as larvas se desenvolvem, alimentando-se de raízes, principalmente de gramíneas, como milho, aveia, cevada e outros. Os adultos migram para as leguminosas, onde extraem comida das folhas. No feijoeiro, os principais danos são sentidos durante os 15

primeiros dias após a emergência das plantas, quando apresentam poucas folhas e os insetos consomem também o broto apical, com poder

de provocar sua morte (Martinez, 2003). A vaquinha Cerotoma arcuata (Olivier) é

um besouro de 5mm a 6mm de comprimento

Pequenas e mortais

Besouros com tamanho que varia de 5mm a 6mm, as vaquinhas Diabrotica speciosa e Cerotoma arcuata causam prejuízos severos ao feijoeiro, com perdas acima de 50% na produção e em situações de ataque mais intenso levam a planta à morte. Controle biológico, químico e o uso de variedades mais resistentes ao inseto estão entre as

ferramentas disponíveis para o manejo

08 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Murillo Lobo Junior

Figura 1 - A vaquinha do feijoeiro Diabrotica speciosa (Germar) é um besouro crisomelídeo com aproximada-mente 6mm de comprimento (A) e a vaquinha Cerotoma arcuata (Olivier) é um besouro de 5mm a 6mm (B)

A) b)

Pequenas e mortais

Mel

ina

Vie

ro d

e M

orae

s

e Abastecimento (Mapa). Com destaque para os grupos dos piretroides, organofosforados e neonicotinoides (Mapa, 2010).

Quando os produtos químicos são utili-zados, torna-se importante sua rotação como também a alternância dos ingredientes ativos e grupos químicos de diferentes modos de ação para o manejo da resistência desses importan-tes insetos-praga.

resistência de PlantasQuanto às vaquinhas, em trabalho com

o objetivo de avaliar a preferência alimentar de adultos de D. speciosa por genótipos de feijoeiro, observou-se que, de forma geral, os genótipos andinos apresentam resistência a D. speciosa do tipo não preferência para alimenta-ção e que os genótipos mais suscetíveis, entre os avaliados foram Emgopa 201 Ouro e Iapar 57 (Figura 3) (Paron & Lara, 2001).

(Figura 1B), de coloração amarelada com manchas pretas nos élitros. As larvas podem atacar as sementes em germinação, plântulas e raízes de plantas em desenvolvimento (Fan-celli & Dourado Netto, 2007).

danos e PrejuízosQuando as plantas começam a emis-

são de folhas primárias, os ataques de vaquinhas são importantes, pelo fato de reduzirem a área fotossintética, em uma fase de pequena oferta foliar (Leite et al, 1993). Os danos mais severos causados são decorrentes da alimentação da parte aérea de plantas pelos adultos (Figura 2A) e quando larvas, de raízes (Figuras 2B e 2C) e tubérculos (Gassen, 1989; Boiça Junior & Tomaso, 1998). Em ensaio de laboratório, Hohmann & Carvalho (1989) estimaram que o consumo foliar médio de D. speciosa foi de 0,70cm2 por dia, poden-do atingir 10,32cm2 até o final do estádio adulto. Mais de dois adultos por planta, na primeira semana após a emergência, causam perdas acima de 50% na produção, podendo causar até a morte da planta (Magalhães & Carvalho, 1988).

PlAntAs hosPedeirAs Para as vaquinhas, em especial D. spe-

ciosa é considerada uma praga polífaga de ampla disseminação nos estados brasileiros e em alguns países da América do Sul (Christensen, 1944; Gassen, 1989; Gallo et al, 2002). Os adultos são polífagos e se alimentam de folhas de hortaliças em geral, feijoeiro, soja, girassol, bananeira, algodo-eiro, entre outras, contudo, as larvas se alimentam das raízes de milho e tubérculos de batata (Zuchi et al, 1993). Já C. arcuata é considerada praga de importância agríco-la por ser polífaga, causando prejuízos em muitas espécies vegetais, dentre elas soja, feijão e caupi (Fazolin, 1995).

AmostrAgem As amostragens desses insetos são realiza-

das nas folhas com verificação do seu número em 2m lineares, da emergência até plântulas com três a quatro folhas trifolioladas, ou com o pano de batida do estágio de três a quatro trifólios até a formação das vagens. O nível de ação é de 20 indivíduos/pano de batida ou em 2m lineares (Quintela, 2005).

controle biológico As espécies de vaquinhas C. arcuata e D.

speciosa são naturalmente parasitadas por Ce-latoria bosqi Blanchard (Diptera: Tachinidae). Foram registrados índices consideráveis de parasitismo de C. bosqi sobre C. arcuata com até 32,2% dos adultos parasitados. Os fungos Beauveria bassiana (Balsamo) e Metarhizium anisopliae (Metsch.) infectam naturalmente larvas e adultos de D. speciosa e Cerotoma sp. no campo (Quintela, 2005).

Químico Para as vaquinhas recomenda-se o uso de

inseticidas de contato e ingestão. Há 55 pro-dutos registrados atualmente para a cultura do feijoeiro no Ministério da Agricultura Pecuária

Figura 3 - Avaliação dos genótipos

Figura 2 - Os danos mais severos causados são decorrentes da alimentação da parteaérea de plantas pelos adultos (A) e quando larvas, de raízes (B e C) e tubérculos

A) b) C)

Anderson Gonçalves da Silva, Bruno Henrique S. de Souza eArlindo Leal Boiça Júnior,FCAV/Unesp

Dirceu Gassen

CC

09www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

DivulgaçãoDivulgação

Empresas

10 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Foto

s Sy

ngen

ta

Aposta na nutriçãoSyngenta entra no mercado de nutrição vegetal com o

lançamento do Quantis, primeiro fertilizante foliar da empresa

O Brasil foi o país escolhido pela Syngenta para dar o seu pontapé inicial no segmento de nutrição

para plantas. A empresa lançou no final de novembro o seu primeiro fertilizante foliar, que estará disponível para as culturas de soja e feijão já a partir dos próximos meses.

Apresentado como uma tecnologia inédita pela Syngenta, o Quantis agregará no mesmo produto macronutrientes, micronutrientes e aminoácidos. O fertilizante, que será produzi-do por uma empresa argentina, é uma nutri-ção foliar proveniente de extrato de leveduras e aminoácidos, contendo K2O (9%), N (1%), Ca (1%), Carbono Orgânico (16%) e baixas concentrações de micronutrientes.

Segundo André Savino, diretor de soja Brasil, “os testes de campo para a soja apresen-taram resultados que mostram um incremento médio de três sacas por hectare, chegando a picos de seis sacas em áreas da região Norte do Brasil, comparando-se com a produção em áreas de testes realizadas com o mesmo manejo sem uso da tecnologia”.

“Essa é uma categoria diferenciada, com enorme potencial de crescimento e que será um importante complemento à aplicação de fertilizantes. Sabemos que os solos brasileiros, em sua maioria, apresentam baixa fertilidade e por isso o complemento nutricional passa a ser essencial”, explica o gerente de novos negócios da Syngenta, Marcelo Gregorin. “Quantis

será a primeira alternativa do mercado de nutrientes especiais produzida pela Syngenta e contará com um sistema de orientação técnica e distribuição altamente qualificado, trazendo a expertise e o know how Syngenta em soluções agronômicas para este segmento”, garante Gregorin.

comPosição e eFeitosSegundo dados da pesquisa desenvolvidos

pela Syngenta, a aplicação de 2L/ha, no início do florescimento das culturas de soja e feijão (R1 e R2), possibilitará o fornecimento de pouco mais de 230g/ha de potássio, via foliar, o que deverá contribuir para o controle do uso e distribuição da água pela planta, além da melhoria na formação, qualidade e peso dos grãos. Os mesmos trabalhos também relatam

que a suplementação de potássio, via foliar, nos estádios reprodutivos iniciais, em quantidades variáveis entre 180g/ha e 450g/ha de potássio, resultam na maior taxa de fixação de frutos (vagens), devido a sua influência na economia de água, bem como no incremento de massa de grãos (peso).

Já a presença de nitrogênio e de cálcio, apesar de suas baixas concentrações, poderá favorecer as alterações no pH do citoplasma, favorecendo a ação de sinalizadores e mo-duladores de metabolismo, como a calmo-dulina. O que facilita a absorção destes três macronutrientes pela planta é a presença dos aminoácidos na formulação do Quantis.

Os aminoácidos, presentes na composi-ção, apresentam acentuada permeabilidade na cutícula, quando aplicados via foliar e, portanto, quando um nutriente (mineral) é as-sociado a aminoácidos, mediante o processo de quelatização (neutralização de carga iônica), evidencia-se maior eficiência e velocidade de absorção. Os dados também apontam que os aminoácidos atuam como protetores de plan-tas da ação de sais minerais e de agroquímicos e como amplificadores de tolerância da planta a estresses hídricos, térmicos e fitotóxicos.

Segundo Negrini, esta tecnologia “surge para suprir a demanda de agricultores exi-gentes, que utilizam alto nível de tecnologia e estão preocupados com as propriedades nutri-cionais do solo”. Quantis estará disponível em galões de 20 litros e, além da soja e do feijão, já foi submetido para registro para uso em milho, algodão e café. Este produto também encontra-se em fase de registro na Argentina e diversas pesquisas ocorrem no sentido de utilizá-lo em outros países da América Latina, além dos Estados Unidos. Atualmente, o ferti-lizante é sintetizado por uma unidade argen-tina da empresa francesa Lesaffre – detentora da patente – e a Syngenta tem exclusividade na distribuição do produto.

Equipe da Syngenta anunciou o ingresso da companhia no segmento de nutrição vegetal

CC

Empresas

12 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Foto

s Se

men

tes

Mut

uca

Solo ou planta?Experiência acumulada em fazenda de empresa produtora de sementes,

localizada no Sul do Brasil, ajuda a responder questões sobre nutrição do sistema de produção de trigo em rotação com culturas como soja e milho

Onde, quando, de que forma e em que quantidade adubar. Essas são algumas indagações

que surgem quando o assunto é a nutri-ção de sistemas produtivos. Um exemplo concreto de aplicação desses conceitos e que auxilia na resposta a esses questiona-mentos pode ser extraído da experiência acumulada na fazenda de uma empresa de sementes, localizada no Sul do Brasil.

Em 1993, após uma análise crítica da produtividade agrícola (trigo, soja, milho) e em função da necessidade de melhorar a qualidade e a quantidade produzida para atender à demanda crescente por parte da agroindústria, a Sementes Mutuca mudou sua estratégia. Alterou a direção dos investimentos de recursos financeiros, concentrando o foco na fertilidade em profundidade do solo, que originalmente apresenta baixa fertilidade natural. Nesse formato, no lugar de imobilizar recursos na estrutura física da Fazenda, optou por elevar estes índices de fertilidade de solo, apostando alto em calcário calcítico ou dolomítico – conforme análise prévia. Concomitantemente, o gesso também é aplicado, seguindo recomendações para elevar a quantidade de cálcio em

profundidade e também suprindo as necessidades das culturas em enxofre, para a formação de proteínas, essencial na formação da cisteína, presente em grande quantidade no gérmen de trigo e não menos importante para a formação de proteínas nas culturas de soja e milho. “Na medida em que se elevava o pH do solo, com o uso dos corretivos, não negli-genciávamos, em hipótese alguma, o uso em maior quantidade do que o habitual do elemento potássio”, explica Ivo Frare, diretor técnico da Fazenda.

As elevações de qualquer nível no uso de adubo, corretivo ou condicionador de solo devem ser acompanhadas, criterio-samente, para que seus efeitos colaterais sejam imediatamente minimizados. Exemplo: no caso de um determinado talhão da empresa estar com pH em 6,2 em cloreto de cálcio, é provável que com o baixo teor de argila do solo apareça deficiência de micros (Zn, Cu, Fe, Mn). Mas por que a Mutuca trabalha com pH tão elevado? Para ter maior eficiência a campo de fósforo, potássio e nitrogênio, que representam a maior parte no custo de produção em termos de fertilizantes. Nessa “brincadeira de alquimista”, muitas

mudanças na forma de adubação tiveram e ainda terão de ser feitas.

alterações no uso dos recursosAntes, a empresa utilizava gesso, em

doses maiores, a cada dois anos. Hoje, emprega doses menores em todas as áre-as, todos os anos, para diminuir a perda por lixiviação do S (perda de S no perfil do solo), também devido ao cálcio já se encontrar em bom teor em profundidade. Foi adotado o parcelamento do potássio entre as culturas de trigo, soja e milho, sempre a lanço, pois já havia sido atingido

Área com solo descompactado

o nível desejado, acima de 3,5 na CTC do solo de 0cm a 20cm de profundidade. “Não usamos potássio na linha de plan-tio há mais de 18 anos, mesmo em solos de primeiro ano de cultivo. Dividimos o nitrogênio entre adubação de base e duas adubações de cobertura nas culturas de trigo e milho”, detalha Frare. Já o fósforo sempre é aplicado na linha de plantio, principalmente nas gramíneas, trigo, milho, com doses maiores na cultura do trigo ou aveia (espaçamento entre linhas menor, melhor distribuição espacial). No caso específico do fósforo, a empresa tem investindo por último nesse elemento, devido ao grande número de interações com ferro, alumínio, zinco, cálcio e outros tantos. No passado (anos 70), os micro-nutrientes não eram usados nas lavouras. Posteriormente (anos 80), passaram a ser empregados nas formulações dos adubos. Atualmente, a empresa utiliza via trata-mento de sementes e com complemento nas aplicações aéreas. No caso específico do boro, as aplicações eram efetuadas antes da cultura de inverno.

Atualmente, a empresa aplica metade da dose antes da cultura de inverno e outra metade antes da cultura de verão, operação efetuada conjuntamente com as dessecações. Com o aumento do pH causado por doses maciças de calcário e das cargas negativas aportadas via ferti-lizantes, fósforo, cloro, gesso e outros ao solo, ocorre diminuição da Capacidade de Troca Aniônica (CTA) e aumento da Capacidade de Troca Catiônica (CTC). “No nosso caso, é indispensável a divisão no volume de nitrogênio, enxofre nas aplicações dos talhões de solos arenosos, principalmente em anos de El Niño (alta precipitação pluviométrica)”, relata.

Outra forma adotada pela empresa é a de não fazer a aplicação antecipada do cloreto de potássio devido à preferência dos sítios do solo na adsorção pelos íons H2PO4²-, NO3-, SO4². Nessa briga por ocupar a CTA do solo entre ânions, ocorre deslocamento no perfil do solo favorecen-do a lixiviação de cloro, enxofre, nitrato, sulfato, fugindo desta forma do sistema radicular e poluindo o lençol freático, com

enxofre elementar, também é muito usada para diminuição do mal do pé em trigo, e aumento na disponibilidade dos micros, Fe, Cu, Mn, Zn.

Para avaliação da fertilidade do solo e das plantas a empresa utiliza ferramen-tas como a análise de solo, análise foliar, análise de estrato, saturação, análise da

solução do solo (lisímetro), análise bioló-gica e análise visual.

atividade biológica do solo Para incrementar a atividade biológica

do solo, a empresa investe na aplicação de bactérias, para recuperar a degradação química ou física imposta pela mecani-zação intensiva e pelo uso constante de altas doses de corretivos, fertilizantes, herbicidas, fungicidas e inseticidas. “Tam-bém mantemos foco no incremento da produção de maior volume de palhadas, para atender à demanda de aumento da atividade biológica, haja vista que além do aspecto químico, físico, também estamos descompactando nosso solo mecanica-mente (subsolador)”, explica.

13www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

histórico de compactação do solo

Q1s

Q2A

s

Ano2005200620072008200920102011

Q5/6

s

Q7

s

Q4s

Q2b

s

Q3s

Q8

s

Q9

s

Q10A

s

Q10b

s

Q11

s

Q12s

s

Q13s

Q14A

s

Q14b

s

Q15

s

g.P

s

Q16

s

s

Q17s

s

Q18s

s

Q19s

s

Q20s

s

l1s

s

l2s

s

Q21

s

Q22

sCaixa de profundidade fertilidade do solo. - gP = teste com grade pesada.

tabela de corretivos e condicionadores de solo 2011

área

96160108481971786369

150232551161291505567472844843017149127238

safra 2009gesso

CalcíticoCalcítico

Calcítico + CamaCalcíticogessogesso

Calcítico

gessoCalcíticoCalcíticoCalcíticoCalcíticogessogesso

CalcíticoCalcíticoCalcíticoCalcíticoCalcíticoCalcíticogesso

dolomíticoCalcíticoCalcítico

safra 2010

Calcíticogessogesso

dolomítico

gessodolomítico

Cama c/gessodolomítico

gessogessogessogesso

dolomíticodolomítico

Cama c/gessogesso

dolomíticogessogessogesso

gessogessogesso

Quadro

12A2b34

5/6789

10A10b11121314A14b1516171819202122l1l2

ton/total19248032414457142234189207

22558765348387180833021415613225290513147318595

enxofre elementarkgs/ha

30303030300303030

030303030000300000003030

total kgs2.8804.8003.2401.4405700

2.3401.8902.070

0690

7.6503.4803.870

000

1.410000000

4.8107.140

safra 2011

dolomíticodolomíticoCalcítico

dolomíticodolomítico

gessodolomíticoCalcíticoCalcítico

gessodolomíticodolomíticodolomíticodolomítico

gessogesso

dolomíticodolomítico

gessodolomíticoCalcítico

dolomíticoCalcíticoCalcítico

dolomíticodolomítico

ton/ha2,03,03,03,03,02,03,03,03,0

1,52,53,03,03,01,21,54,53,02,03,03,03,03,03,02,52,5

aumento nos custos de produção. Por esse e outros motivos, a partir dessa safra a Sementes Mutuca passará a investir na aplicação de gesso, nitrogênio e cloreto de potássio após a instalação das culturas.

A acidificação na linha de plantio de gramíneas, trigo, mi-lho, com fórmulas de adubo que contenham sulfato de amônia e

Grande produção de parte aérea e raiz

Ivo Frare,Dep. Téc. da Sementes Mutuca

CC

14 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Resposta diferenciadaO desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas, resistentes ao ataque de insetos, como a lagarta-do-cartucho do milho, ampliou as alternativas para o manejo de pragas na cultura. Para a exploração racional dessa nova tecnologia é importante que produtores e técnicos estejam atentos a aspectos como o efeito dessa ferramenta sobre o desenvolvimento do inseto e a preferência alimentar da praga em relação aos híbridos

A lagarta-do-cartucho do milho (LCM), Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera:

Noctuidae), é uma das espécies mais nocivas das regiões tropicais, tanto pela sua incidên-cia durante todo ano, quanto por sua ampla distribuição geográfica, que ocorre em toda a América em mais de 80 plantas hospedeiras.

A utilização de inseticidas químicos e bio-lógicos, na tentativa de minimizar os prejuízos provocados por essa praga, na maioria das vezes não tem produzido o efeito esperado, o que acarreta em aumento de riscos de conta-minação ambiental e em elevação de custos de produção. Isso ocorre, principalmente, pela dificuldade de atingir as lagartas no interior do cartucho da planta. Também, o controle químico é muitas vezes incompatível com a utilização de outros métodos como, por exemplo, o biológico.

As plantas geneticamente modificadas, desenvolvidas para resistir eficientemente ao ataque de insetos-praga, podem, potencial-mente, causar impactos positivos ao ambiente, em função da redução do uso de inseticidas químicos, com os consequentes benefícios associados: a diminuição de poluição por resíduos tóxicos no ambiente (solo, água e alimentos ou matéria-prima); a segurança do

trabalhador e o possível aumento da eficiência do controle biológico natural. Por outro lado, potenciais impactos negativos devem ser ava-liados, como a redução de espécies benéficas e o aumento da densidade de pragas não alvo em função da redução do controle químico de amplo espectro em grandes áreas.

Existem, atualmente, disponíveis no mercado cinco eventos transgênicos com resistência a insetos-praga e cada um desses eventos possui diferentes níveis de resistência para a lagarta-do-cartucho. Depois de intro-gredido na planta, a eficiência do gene também pode variar. Assim, a expressão e eficácia da resistência na planta são complexas e podem ser influenciadas tanto por fatores da planta, como do ambiente. Portanto, para a explora-ção racional dessa nova tecnologia é muito importante ampliar os conhecimentos das interações praga-alvo, planta resistente e am-biente, envolvendo todo o agroecossistema.

Entre as prioridades para se pesquisar essa complexa interação de fatores, destacam-se a avaliação da eficácia da tecnologia para o controle das espécies-alvo, a atividade sobre as pragas não alvo, o impacto sobre os principais inimigos naturais para a definição de estraté-gias de segurança ambiental, a avaliação do risco de quebra de resistência das plantas pelas

espécies-alvo e a implementação de estratégias para o manejo de resistência das espécies-alvo, incluindo a realização de estudos de acom-panhamento pós-liberação das variedades geneticamente modificadas.

Para avaliar o efeito do milho Bt, expres-sando a toxina Cry 1 A(b), no desenvolvi-mento da lagarta-do-cartucho, vários estudo foram realizados com o uso de seis diferentes híbridos, contendo o mesmo evento transgêni-co (MON 810) e os seus respectivos híbridos isogênicos não transgênicos. Também foi avaliada a não preferência para alimentação de larvas de lagarta-do-cartucho, recém-eclodidas, nesses mesmos híbridos.

Spodoptera frugiperda, uma das espécies mais nocivas das regiões tropicais

O desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas, resistentes ao ataque de insetos, como a lagarta-do-cartucho do milho, ampliou as alternativas para o manejo de pragas na cultura. Para a exploração racional dessa nova tecnologia é importante que produtores e técnicos estejam atentos a aspectos como o efeito dessa ferramenta sobre o desenvolvimento do inseto e a preferência alimentar da praga em relação aos híbridos

Resposta diferenciada

Fotos Simone Martins Mendes

15www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

A sobrevivência de larvas de lagarta-do-cartucho, logo após a eclosão e mantidas por 48 horas com alimentação a partir de seções de folhas de milho, foi menor no híbrido Bt (Cry 1 A(b)) do que nos híbridos não Bts (Figura 1). Adicionalmente, essa mortalidade aumenta ao longo do período de desenvolvi-mento, sendo as fases de transformação, em pupa e em adulto, críticas, ou seja, grande parte das larvas que conseguem sobreviver às primeiras mudas não consegue completar o desenvolvimento (Figura 1).

A biomassa de larvas, aos 14 dias após a eclosão, apresentou diferenças significativas para todos os pares de híbridos (Bt e não Bt) comparados (Figura 2). Observou-se, ainda, que mesmo nos híbridos Bts em que a sobrevivência larval foi significativamente maior, quando comparada aos outros híbridos Bts avaliados, a biomassa média das larvas foi, significativamente, reduzida em relação aos híbridos não Bts (Figuras 1 e 2). Outro fato observado, em função da alimentação da lagarta-do-cartucho em milho Bt foi o au-mento do período de desenvolvimento larval dos insetos sobreviventes, quando comparado àqueles que se alimentaram do milho não Bt (Figura 3).

A redução de peso da lagarta-do-cartucho é consequência de um menor consumo ali-mentar, fato importante para o manejo dos

insetos no campo. Com menor consumo foliar haverá redução no dano do inseto na planta e diminuição das perdas de produção. Assim, verifica-se que, além da menor sobrevivência larval, os insetos sobreviventes apresentaram menor acúmulo de biomassa e maior período de desenvolvimento quando alimentados em folhas de milho Bt, o que reduz sua compe-titividade no ambiente, estando essas larvas mais suscetíveis aos outros fatores externos de mortalidade.

Para as variáveis observadas: sobrevivên-cia, biomassa e período de desenvolvimento foi possível detectar diferenças, mesmo entre os híbridos de milho transgênicos expressando a toxina Cry 1 A(b). Assim, é possível inferir que existe interação entre a base genética do híbrido e a expressão da toxina Cry 1A(b), ou seja, quando se tratar de híbridos expressando essa toxina, poderá haver variação de resulta-dos, dependendo do híbrido em questão.

No teste de livre escolha (modelo de arena), todos os híbridos avaliados apresen-taram diferença significativa no percentual de lagartas alimentando-se nos híbridos de milho Bt e não Bt (Figura 4). Para o híbrido DKB 330, 86% das lagartas recém-eclodidas apresentaram preferência para o isogênico não Bt e a diferença entre as versões Bt e não Bt foi de aproximadamente oito vezes. Nas duas versões (Bt e não Bt) desse híbrido é que foi ob-

servada a maior diferença na preferência para alimentação das lagartas recém-eclodidas.

Essa característica de não preferência para alimentação da lagarta-do-cartucho no milho Bt, em relação ao convencional não Bt, pode explicar o baixo ganho de peso das larvas ali-mentadas com milho Bt, indicando que, além do efeito direto da toxina nas larvas, existe o efeito indireto de redução do consumo foliar.

Finalmente, pode-se concluir que larvas de S. frugiperda, alimentadas com milho Bt, expressando a toxina Cry 1 A(b), apresen-taram menor taxa de sobrevivência, menor biomassa e maior período de desenvolvimento, estando, assim, esses insetos mais suscetíveis a fatores externos de mortalidade. Além disso, esses insetos apresentaram maior preferência para alimentação em milho não Bt. Assim, a capacidade desses insetos de causarem dano ao milho Bt, expressando a toxina Cry 1 A(b), é reduzida. Outra questão importante a se considerar é a existência da interação entre a base genética da planta e a expressão da toxina Cry 1 A(b), afetando as variáveis sobrevivência e desenvolvimento do inseto, indicando uma resposta diferenciada para híbridos transgêni-cos com esse evento.

Figura 1 – Percentual de sobrevivência (±ep) de lagartas de spodoptera frugiperda, 48 horas após a eclosão e, até a fase adulta, alimentando-se em folhas de híbridos de milho bt expres-sando a toxina cry 1 a(b) e de seus respectivos isogênicos não-bt

Figura 2 – biomassa (mg) aos 14 dias após a eclosão de lagartas de spodoptera frugiperda, alimentando-se em folhas de híbridos de milho bt expressando a toxina cry 1 a(b) e de seus respectivos isogênicos não-bt

Figura 3 - Período de desenvolvimento pré-imaginal (recém-eclodido à adulto) de lagartas de spodoptera frugiperda, alimentando-se em folhas de híbridos de milho bt expressando a toxina cry 1 a(b) e de seus respectivos isogênicos não-bt

Figura 4 - larvas neonatas (%) de spodoptera frugiperda, em híbridos de milho bt, expressando a toxina cry 1 a(b) e seus respectivos isogênicos não bt, 24 horas após liberação em teste de livre escolha (modelo de arena)

Simone Martins Mendes, Kátia Gisele Brasil Boregas e José Magid Waquil,Embrapa Milho e Sorgo

CC

Pragas

16 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Sucessão adequada

Um dos mais conhecidos méto-dos de controle de fitonema-toides é a rotação de culturas,

que consiste na rotação (= troca temporal) de uma cultura suscetível por uma resis-tente ao nematoide. No Brasil, em culturas extensivas, como soja, feijão, algodão, milho e sorgo, existe enorme dificuldade para a adoção da rotação de culturas como método de controle de fitonematoides ou para qualquer finalidade que seja. A rotação exige mudanças significativas na rotina de trabalho do agricultor e ainda limita as opções de culturas, sacrifícios que poucos agricultores aceitam. É importante

esclarecer ainda que, frequentemente, o termo rotação de culturas é utilizado erro-neamente para denominar a sequência de duas ou mais culturas durante o mesmo ano, cuja designação mais apropriada é a sucessão de culturas.

Diferentemente da rotação de culturas, a sucessão é amplamente adotada em cul-turas extensivas no Brasil, porém não com o objetivo de controlar fitonematoides. O objetivo principal da sucessão é utilizar mais intensamente a terra e/ou propiciar renda adicional ao agricultor por meio da segunda safra. Apesar disso, com adequado planejamento, é possível utilizar a sucessão

para reduzir o aumento excessivo de pragas e agentes patogênicos.

PrinciPais sucessões no brasilUma das sucessões mais utilizadas no

Brasil é soja (1ª safra)/milho (2ª safra). Examinando a Tabela 1, que apresenta informações sobre a reação (suscetibilida-de ou resistência) das principais culturas anuais do Brasil aos nematoides Heterodera glycines, Rotylenchulus reniformis, Meloido-gyne javanica, M. incognita, Pratylenchus brachyurus e P. zeae, verifica-se que a soja é suscetível a todas essas espécies, exceto P. zeae. O milho é resistente a duas espécies

No combate a fitonematoides em soja, milho, feijão, algodão e sorgo granífero, acertar na sequência das culturas adotadas durante o mesmo ano pode se transformar

em estratégia importante de manejo de pragas e agentes patogênicos. Porém, seu êxito depende da identificação correta das espécies que ocorrem em cada propriedade

e talhão. A partir desse conhecimento é possível escolher a sucessão com maiores chances de reduzir as perdas causadas por esses microrganismos

Fotos Mário Inomoto

Rosangela Silva

(H. glycines e R. reniformis) e suscetível a três (M. incognita, P. brachyurus e P. zeae). Para M. javanica, a reação do milho é variável, ou seja, há híbridos de milho suscetíveis (a maioria deles, em torno de 70%-80%) e há os resistentes. Qual o significado ou valor dessas informações? Confrontando as reações das duas culturas, quatro perspectivas podem ser delineadas para a sucessão soja/milho:

1) Trata-se de importante ferramenta para o controle de H. glycines e R. renifor-mis, pois o milho, sendo resistente a ambas as espécies de fitonematoides, causará a redução das suas densidades, por conse-guinte acarretando benefícios à soja.

2) Essa sucessão também é válida para o controle de P. zeae, pois a soja, sendo re-sistente, provocará a redução da densidade do nematoide, nesse caso com benefícios ao milho.

3) Por outro lado, essa sucessão deve ser evitada em locais onde M. incognita e P. brachyurus estão presentes, pois ocorrerá o rápido crescimento da densidade desses fitonematoides, com consequências nega-tivas principalmente para a soja.

4) Para M. javanica, como regra a su-cessão não é recomendada sob o ponto de vista nematológico, pois tanto a soja como o milho são suscetíveis. Porém, há híbri-dos de milho resistentes, que podem ser indicados desde que sua reação tenha sido

perfeitamente determinada, resultando em diminuição da densidade do nematoide e aumento de produtividade da soja.

A reação do sorgo granífero aos prin-cipais fitonematoides do Brasil é muito semelhante à do milho (Tabela 1), e as observações listadas para a sucessão soja/milho são válidas também para a sucessão soja/sorgo granífero. Neste ponto, é preciso lembrar ao leitor que as reações indicadas na Tabela 1 para o sorgo granífero não se aplicam ao sorgo silageiro e ao forrageiro.

Outra sucessão muito popular atual-mente no Brasil é soja (1ª safra)/algodão (2ª safra). O algodão é resistente a H. glyci-nes e M. javanica (Tabela 1), mas suscetível a R. reniformis, M. incognita e P. brachyurus. Portanto, as seguintes considerações são cabíveis nessa sucessão:

1) É ferramenta válida para o controle de H. glycines e M. javanica, com benefícios à soja, devido à redução da densidade de ambas as espécies de fitonematoides du-rante o ciclo cultural do algodão.

2) A “grosso modo”, essa sucessão deve ser evitada em locais infestados por R. reni-formis e M. incognita, pois tanto a soja como o algodão são suscetíveis e intolerantes (= sofrem danos significativos na presença do nematoide) a ambas as espécies de

nematoides. Porém, há cultivares de soja altamente resistentes a esses nematoides. Desde que essas cultivares sejam conheci-das, seu uso trará consequências positivas para a cultura do algodão.

3) É uma sucessão a ser evitada em locais infestados por P. brachyurus, pois soja e algodão são suscetíveis e intolerantes. Portanto, essa sucessão provavelmente re-sultará em danos de monta para o algodão e principalmente para a soja.

A sucessão milho/algodão é encontrada em propriedades irrigadas do oeste baiano. Tendo em vista as reações do milho e algodão aos fitonematoides, as seguintes previsões e considerações são pertinentes:

1) Trata-se de sucessão extremamente válida para o controle de R. reniformis, por causa da resistência do milho ao nematoi-de, com benefícios para o algodão.

2) Também pode ser recomendada para o controle de P. zeae, pela resistência do algodão ao nematoide, resultando em benefícios para o milho.

3) Por outro lado, é sucessão que não deve ser cogitada em locais infestados por M. incognita. O milho e o algodão são

Podridão de raízes de soja causada por Pratylenchus brachyurus

Amarelecimento e redução de porte em algodão. Os sintomas foram causados por Pratylenchus brachyurus

Galhas causadas por Meloidogyne incognita e obtidas das plantas de algodão

Raízes de algodão exibindo galhas causadas por Meloidogyne incognita

Reboleira causada por Meloidogyne incognita em cultura de algodão

17www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

Rosangela Silva

18 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

suscetíveis a M. incognita, mas o milho é tolerante (ou seja, sofre danos significativos somente quando a densidade do nematoide é muito elevada) e o algodão intolerante. É comum o agricultor se enganar ao ver sua lavoura de milho apresentar desenvol-vimento vigoroso em um local infestado por M. incógnita e acreditar que o algodão terá o mesmo comportamento. Densidades da ordem de 400 a 800 indivíduos de M. incognita por 200cm3 de solo são neces-sárias para causar danos significativos ao milho, enquanto o mesmo nematoide causa danos ao algodão a partir da faixa de dez a 50 indivíduos por 200cm3 de solo. Assim, se, por hipótese, um milharal for implan-tado em local com 100 indivíduos de M. incognita por 200cm3 de solo, não serão notados danos significativos atribuíveis ao nematoide. Contrariamente, se o algodão for plantado no mesmo local ou, ainda pior, logo depois do milho, sofrerá danos de elevada monta.

4) Da mesma forma, a sucessão milho/

algodão não deve ser utilizada em locais infestados por P. brachyurus. A diferença em relação à situação anterior é que os da-nos causados por P. brachyurus ao algodão são muito menores que os causados por M. incógnita.

Dentre as várias sucessões, a pior combinação possível é soja (1ª safra)/feijão (2ª safra), pois ambas as culturas são suscetíveis aos mesmos nematoides. Em locais infestados por H. glycines, R. reniformis, M. javanica, M. incognita e/ou P. brachyurus, a sucessão soja/feijão jamais deve ser utilizada, pois ambas as culturas causarão forte crescimento da densidade de qualquer das cinco espécies de fitone-matoides acima listadas, sendo previsíveis perdas para soja e/ou feijão.

Em suma, as sucessões (soja/milho, soja/sorgo granífero, soja/algodão, milho/algodão e soja/feijão), têm elevado valor para o controle de Heterodera glycines, Roty-lenchulus reniformis e/ou Pratylenchus zeae. Porém, as mesmas sucessões são, como

Culturas

sojamilho

sorgo graníferoAlgodãoFeijão

Amendoimbraquiárias2

PanicummaximumCrotalaria spectabilis

heterodera glycinessuscetível/resistente1

resistenteresistenteresistentesuscetívelresistenteresistenteresistenteresistente

rotylenchulus reniformissuscetível/resistente1

resistenteresistentesuscetívelsuscetívelresistenteresistenteresistenteresistente

nematoides

tabela 1 – reação (suscetibilidade ou resistência) das principais culturas extensivas a seis espécies de fitonematoides

1a planta é suscetível ao nematoide, porém existem cultivares com elevada resistência a algumas raças ou populações do nematoide. 2brachiaria brizantha, b. decumbens e b. ruziziensis.

meloidogyne javanicasuscetível

suscetível/resistente1

suscetível/resistente1

resistentesuscetívelresistenteresistenteresistenteresistente

meloidogyne incognitasuscetível/resistente1

suscetívelsuscetívelsuscetívelsuscetívelresistenteresistenteresistenteresistente

Pratylenchus brachyurussuscetívelsuscetívelsuscetívelsuscetívelsuscetívelsuscetívelsuscetívelsuscetívelresistente

Pratylenchus zeaeresistentesuscetívelsuscetívelresistenteresistenteresistentesuscetívelsuscetívelresistente

regra, contraindicadas em locais infestados por M. incognita e/ou P. brachyurus. A razão é que todas as culturas que compõem essas sucessões são suscetíveis a M. incognita e P. brachyurus.

sucessões Para o controle dem. inCognitA e P. brachyurusEm locais infestados por Meloidogyne

incognita, a principal opção é a inclusão das braquiárias (Brachiaria brizantha, B. decumbens e B. ruziziensis) e de Panicum maximum (Tabela 1). Portanto, a integração lavoura-pecuária tem alta probabilidade de sucesso no controle de M. incognita em culturas como o algodão. Como vantagem adicional, as braquiárias e P. maximum são também resistentes a H. glycines, R. reni-formis e M. javanica. A desvantagem dessa opção é a previsível elevação da densidade de P. brachyurus e P. zeae.

Outra opção que merece ser citada é a inclusão do amendoim, cultura que é altamente efetiva para o controle de M. incognita.

Há reduzidas opções de sucessão para o controle de P. brachyurus. Na cultura da soja, que atualmente sofre danos significa-tivos causados por P. brachyurus, a medida mais efetiva é a sucessão soja/Crotalaria spectabilis. Esse adubo verde apresenta a vantagem adicional de ser resistente a vários outros fitonematoides (Tabela 1).

conclusãoA escolha adequada da sucessão é

extremamente valiosa para o controle dos fitonematoides de grandes culturas (soja, milho, feijão, algodão e sorgo granífero), porém, depende da identificação das espécies de fitonematoides que ocorrem em cada propriedade e mesmo em cada talhão da propriedade. A partir desse co-nhecimento, é possível escolher a sucessão com maiores chances de reduzir as perdas causadas por fitonematoides.

Mario Inomoto,Esalq

Már

io In

omot

o

CC

Milho em local infestado por Meloidogyne incognita. A cultura não apresenta redução de crescimento, exceto quando a densidade do nematoide é muito elevada

Capa

20 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Nova e voraz

Na Região Central do Brasil tem ocorrido alta incidência de lagartas que atacam a base

das plantas de soja, milho, algodão, feijão, girassol, crotalária, entre outras, com hábitos semelhantes ao ataque da lagarta-rosca (Agrotis ipsolon), comprometendo o estande inicial das culturas e pela seme-lhança nos hábitos tem sido muitas vezes confundidas com a A. ipsolon.

Sendo o milho preferencialmente cul-tivado nesta região no período de safrinha a incidência do ataque destas lagartas tem sido mais expressiva nesta cultura e con-sequentemente causado maiores prejuízos. As espécies que têm apresentado estes há-bitos são a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), as lagartas pretas da soja (Spo-doptera eridanea e S. cosmiodes) e a própria lagarta-rosca (A. ipsilon), sendo todas estas espécies agora denominadas como “lagartas com hábito de rosca” por se alojarem nos primeiros centímetros dentro do solo (protegidas sob os restos culturais) e/ou na superfície, alimentando-se da base (coletos) das plântulas logo após

a emergência, e pelos seus hábitos, sendo lagartas de difíceis controles.

Com esse mesmo hábito, foi detectada na região norte do Mato Grosso, em áreas dos municípios de Nova Ubiratan, Sinop, Sorriso, Lucas de Rio Verde e Nova Mutum a presença de uma nova espécie de lagarta ainda sem ocorrência registrada no Brasil, atacando lavouras de milho, inclusive os materiais geneticamente modificados com as mais altas tecnologias Bt.

Trata-se da Striacosta albicosta (Smith) conhecida vulgarmente nos Estados Uni-dos como Western Bean cutworm. É uma lepidoptera da família Noctuidae e o único membro do gênero Striacosta, tendo como sinomímia Agrotis albicosta, Loxagrotis

albicosta, Richia albicosta. É uma praga endêmica da parte ocidental dos Estados Unidos e, desde 2000, a espécie tem se propagado para o leste através de Iowa, Minnesota, Illinois, Missouri, Indiana, Wisconsin, Michigan e Ohio (Caps-Coope-rative Agricultural Pest Suvey, 2010).

A biologia e ecologia desta espécie tem sido estudada nos EUA, por diversos

pesquisadores (Blickenstaff, C.C., & Jolly, P.M.; Catangui, M.A. &

Espécie de lagarta Striacosta albicosta acaba de ser detectada em lavouras de milho, no norte do Mato Grosso, com ataques inclusive a materiais geneticamente modificados, com tecnologia Bt. Relatos indicam também a presença do inseto em

áreas de produção de soja e algodão dos municípios de Sapezal e região dos Parecis. Endêmica na parte Ocidental dos Estados Unidos, a praga no Brasil se constitui em mais um desafio a ser manejado pelos produtores, que devem ter especial atenção

para não confundi-la com outras de hábito semelhante, como Agrotis ipsolon

Os ovos inicialmente são de coloração branca, colocados em massa de 200 a 500 ovos

Fotos Jurema Rattes

Berg, R.K.; Dorhout, D.L. & Rice, R.K.; Dourhout, D.L., & Rice, M.E., Eichensee, Strohbehn, R., and Burks, J.; Holtzer, T.O.; Tooker, J.F. e Tooker, J.F., and Fleisher, S.J). E, segundo esses autores, as mariposas colocam seus ovos preferencialmente nas folhas do milho quando se encontram no estádio de três a quatro folhas. Os ovos inicialmente são de coloração branca, co-locados em massa de 200 a 500 ovos. Na fase larval passam por seis a sete instares apresentando faixa marrom-escuro desu-niforme (serrilhada) sobre o dorso. Não apresentam hábitos canibais e nos EUA,

alimentam-se de milho e feijão, podendo permanecer aproximadamente 60 dias na fase larval em condições de laboratório, em temperaturas de 27ºC.

No Brasil, a primeira observação da ocorrência desta lagarta foi realizada pelo engenheiro agrônomo Elias Borba Correia Salomão, no município de Nova Ubiratan,

Durante o dia a praga, que possui hábito norturno, costuma se proteger sob a palhada

Nome científico: Striacosta albicosta (Smith)Sinônimos: Agrotis albicosta, Loxagrotis albicosta, Richia albicostanome comum: cutworm feijão WesternClasse: InsectaOrdem: LepidopteraFamília: Noctuidae

CARACTERÍSTICAS

22 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Mato Grosso, na cultura do milho safrinha. Posteriormente, técnicos e produtores dos municípios de Sapezal e Região dos Parecis relataram a presença desta praga atacando as culturas de soja e algodão na safra 2010/2011.

Os fatores que mais diferenciam a S. Albicosta das demais lagartas que aprensen-tam hábito de rosca é a agressividade desta espécie e a dificuldade de controle.

Controle Observou-se nesta região grande difi-

culdade de controle da S. albicosta com os inseticidas (metomil e clorpirifos) e doses tradicionalmente utilizadas no controle das lagartas que apresentam estes hábitos.

Embora o milho transgênico tenha sido bem-sucedido no controle de várias espécies de lepidopteros, por ser a S. albicosta uma espécie de difícil controle, proteínas como Cry1Ab, Cry1F e a VT Pro não mostram-se eficazes no combate desta praga tanto nos EUA, como também na região norte do Mato Grosso.

Devido ao desconhecimento dos hábi-

tos desta praga no Brasil, faz-se necessário intensificar as pesquisas sobre a biologia e a dinamica desta praga, para que poste-riormente seja possível definir o melhor manejo, sem causar grandes impactos ao meio ambiente.

• S. albicosta atacam preferencialmente a base das plântulas, mas posteriormen-te são desfolhadoras na fase inicial do desenvolvimento das culturas; • Ataque ocorre em reboleiras expres-sivas (90ha a 300ha); • Alimentam-se de grãos de soja que se encontram ao solo na ocasião da colheita;• São muito vorazes; • Apresentam hábito noturno, saindo do solo e/ou sob coberturas para se alimentarem neste horário;• Durante o dia protegem-se sob as pahadas;• Não são controladas pelo milhos Bt.

HÁBITOS

As mariposas colocam seus ovos nas folhas do milho quando se encontram no estádio de 3 a 4 folhas

Em curto espaço de dias a lagarta costuma provocar severos estragos na lavoura

Jurema Rattes,Fesurv

De hábito enrolador, inseto tende a ser confundido com outras lagartas

O milho é uma das culturas afetadas pela voracidade do inseto

Jurema alerta para a correta identificação e a impor-tância de desenvolvimento de estratégias de manejo

CC

Fotos Jurema Rattes

Soja

24 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Sensível ao calor

A soja (Glycine max L.) é a cultu-ra agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas

e corresponde a 49% da área plantada em grãos do país. O aumento da produtividade está associado aos avanços tecnológicos, ao manejo e à eficiência dos produtores. O grão é componente essencial na fabricação de rações animais e com uso crescente na alimentação humana encontra-se em franco crescimento. O complexo de soja (grão, farelo e óleo) é o principal gerador de divisas cambiais do Brasil (Mapa, 2011). Contudo, a cultura é ameaçada por vários fatores que impedem que o potencial máximo de produção seja atingido. Destacam-se as doenças, cujos danos se traduzem em perdas econômicas significa-tivas. Atualmente a ferrugem da soja, doença causada pelo fungo biotrófico Phakopsora pachyrhizi Sydow, se destaca em importância para a cultura, pois pode causar danos de até 75% (Yorinori et al, 2002).

No Brasil, as primeiras epidemias da fer-rugem da soja ocorreram a partir de 2001. Em 2002 a doença já estava disseminada em 60%

da área de cultivo do país e em 90% no ano seguinte. As perdas, 125 milhões de dólares na safra de 2001/2002, alcançaram mais de um bilhão de dólares em 2002/2003 e mais de dois bilhões de dólares em 2003/2004 (Yorinori, 2005). Esse patógeno encontrou no país condições favoráveis para se estabelecer e se manter mesmo na entressafra, ocorrendo de forma endêmica, ou seja, todos os anos pode ser encontrado em qualquer região produtora, ocasionando impactos variáveis na produtivi-dade da soja.

Após uma década convivendo com a ferrugem asiática da soja no Brasil, muitos e contínuos estudos têm sido realizados na busca de soluções para o manejo racional e eficiente da doença. O conhecimento epidemiológico sob condições controladas e naturais, com o objetivo de elucidar os fatores que afetam os processos do ciclo da doença, tem sido fundamental para dar base a estudos epidemiológicos.

O conhecimento detalhado dos efeitos do clima (fatores climáticos) sobre as fases do ciclo biológico de P. pachyrhizi é limitado

pela carência de informações. A quantifi-cação das interações dos fatores climáticos no desenvolvimento do processo da doença pode contribuir para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de um sistema de previsão baseado no modelo climático.

Radiação solar, temperatura e umidade relativa são as variáveis ambientais mais im-portantes para a sobrevivência dos patógenos. Há alguns estudos de efeitos da temperatura sobre a viabilidade dos esporos dos fungos e sua deposição sobre substratos úmidos (Car-lini, 2009; Blum, 2009, Zoldan et al, 2011) mas o efeito quando estão em superfície seca não foi ainda quantificado. Durante o período estudado, em 3/2/2010 e em 23/3/2011, a temperatura máxima encontrada nas folhas superiores da soja no campo atingiu 35,8ºC e 35ºC, respectivamente. Por quantas horas os uredosporos suportam esta temperatura sem perderem a viabilidade? É a resposta que se procurou neste trabalho.

metodologiAEm experimentos conduzidos em ambien-

Radiação solar, temperatura e umidade relativa são as variáveis ambientais mais importantes para a sobrevivência de patógenos, como os uredosporos de Phakopsora

pachyrhizi, fungo causador da ferrugem asiática na soja. Quando a temperatura na folha superior permanece acima dos 25ºC, por período maior que quatro horas, a diminuição

da germinação dos esporos pode chegar a mais de 40%

Radiação solar, temperatura e umidade relativa são as variáveis ambientais mais importantes para a sobrevivência de patógenos, como os uredosporos de Phakopsora

pachyrhizi, fungo causador da ferrugem asiática na soja. Quando a temperatura na folha superior permanece acima dos 25ºC, por período maior que quatro horas, a diminuição

da germinação dos esporos pode chegar a mais de 40%

José

Tad

ashi

te controlado (estufas do tipo BOD) foi estu-dado o efeito de temperaturas e de períodos de exposição sobre a germinação de uredosporos de P. pachyrhizi, agente causal da ferrugem da soja, a seco. O experimento foi conduzido em BOD sob cinco temperaturas (20ºC, 25ºC, 30ºC, 35ºC e 40ºC), no escuro. No dia ante-rior à realização de cada experimento, folhas de soja com ferrugem mantidas em casa de vegetação foram coletadas e armazenadas em ambiente seco e arejado. Para o experimento os esporos foram transferidos para as placas de petri vazias por pincelamento das urédias presentes nos folíolos da soja. As placas (quatro placas por repetição) foram transferidas para BOD com as temperaturas estabelecidas permanecendo por duas, quatro e seis horas. No término do tempo as placas foram retira-das das BODs e os esporos transferidos para placas contendo meio de cultura extrato-folha soja-ágar. Para essa transferência utilizou-se 0,5ml de água destilada por placa. As placas contendo meio de cultura e os esporos subme-tidos a diferentes temperaturas e tempos de exposição foram transferidos para uma BOD com temperatura de 20°C, permanecendo por seis horas no escuro, após esse período os esporos foram inativados pela adição de aceto-na 100% + corante azul. Como testemunha (duas repetições), o inóculo (esporos secos)

utilizado em cada um dos experimentos foi colocado em meio de cultura extrato de folha de soja, permanecendo por seis horas em BOD 20ºC, no escuro. A germinação dos esporos foi determinada ao microscópio ótico no aumento de 10x, sendo considerado germinado o esporo que apresentou o tubo germinativo mais longo do que o maior diâmetro do propágulo. Os dados de germinação foram corrigidos, con-siderando as testemunhas com germinação

de 100%.

resultados e discussãoA 20°C, temperatura considerada óti-

ma ao patógeno, houve em dois experimen-tos pequena interferência na germinação nos tempos testados. Ocorreu redução de germinação principalmente nas tempera-turas de 35ºC e 40°C, sendo que a 40°C/seis horas de exposição a germinação foi de 19,4%, 30,3% e 7,5%, nas três vezes em que o experimento foi repetido. No experimento 3, nas temperaturas de 25ºC, 30ºC e 40°C o comportamento foi seme-lhante havendo decréscimo acentuado na germinação dos esporos após seis horas. A temperatura na folha superior da soja, per-manecendo por mais de quatro horas acima dos 25°C, pode ocasionar diminuição da germinação dos esporos em mais de 40%. Tempos de exposição superiores a seis ho-ras não foram testados, pois a temperatura das folhas superiores da soja no ambiente do dossel não permanece constante e alta por tanto tempo.

Dirceu Gassen

Sandra Maria Zoldan,Erlei Melo Reis,Fernanda Nicolini eAnderson Danelli, Universidade de Passo Fundo

No Brasil, as primeiras epidemias da ferrugem da soja ocorreram a partir de 2001

CC

Soja

26 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Precisa aplicar?

O manganês (Mn) é um ele-mento essencial na nutrição de plantas e desempenha

importantes funções. Destacam-se a participação na fotossíntese, me-tabolismo do nitrogênio, bem como, precursor de aminoácidos aromáticos, hormonais (auxinas), fenóis e ligninas. Esse mesmo elemento age como cofator, ativando mais de 35 diferentes enzimas, comandando desde a biossíntese de ami-noácidos aromáticos até a de produtos secundários como os flavonoides que nos extratos radiculares das legumino-sas estimulam a expressão do gene da nodulação. Uma baixa concentração de lignina e de flavonoides devido à defici-ência de Mn pode diminuir a resistência de plantas a doenças. O Mn é absorvido na forma Mn+2 e transportado pelo xilema até a parte aérea. Na planta, os micronutrientes de uma maneira geral são pouco móveis, logo, os sintomas da

deficiência de Mn aparecem inicialmen-te nos tecidos jovens das plantas (folhas apicais e extremidade de ramos). A dis-ponibilidade de Mn às plantas depende de diversos fatores, contudo, práticas como a correção da acidez do solo quan-do realizadas de forma incorreta, onde ocorre elevação do pH do solo a valores muito altos, se por um lado favorecem a disponibilidade de macronutriente às plantas como é caso do fósforo, por ou-tro, poderão representar um decréscimo na oferta da maioria dos micronutrien-tes e entre eles o Mn.

Alguns autores têm relatado que o gene adicionado na soja resistente ao herbicida glifosato, tecnologia Roudup Ready (RR), pode ter alterado alguns processos fisiológicos na planta e que esse herbicida pode retardar a absorção e a translocação do manganês na planta, o que exigiria uma adição suplementar deste micronutriente, para evitar pos-

sível deficiência e comprometimento da produtividade da soja. Além disso, alguns autores também têm questionado a influência do glifosato na fixação e no metabolismo do nitrogênio. Respostas fisiológicas e produtivas de variedades RR também podem ser variáveis e de-pendentes da localização geográfica, das condições ambientais, do tipo de solo, da época de semeadura, população de plantas e da própria sensibilidade a populações nativas de Bradyrhizobium japonicum.

Em campo é bastante perceptível visualmente certo amarelecimento da soja resistente ao RR após aplicação do glifosato, situação que faz com que muitos produtores e técnicos associem isso a uma possível deficiência de Mn. A pergunta que fica é: essa deficiência aparente de Mn afeta a produtividade? Para tentar responder a essa questão foi desenvolvido um trabalho no Cesnors/

O amarelecimento da soja resistente após a aplicação de glifosato tem levado produtores e técnicos a associarem o sintoma à deficiência de manganês. Para tentar explicar esse fenômeno e responder se há reflexos na produtividade, experimentos foram realizados por pesquisadores no Rio Grande do Sul. Apesar do efeito visual, se o solo se encontra equilibrado do ponto de

vista nutricional a aplicação foliar tende a não interferir na produtividade

de Mn 7 DAAG (dias após aplicação glifosato); T3) aplicação de glifosato sem Mn; T4) aplicação de glifosato na mistura com Mn; T5) aplicação de glifosato mais uma aplicação de Mn 7 DAAG; T6) aplicação de glifosato mais duas de aplicações de Mn uma de 1L/ha aos 7 DAAG e outra de 1L/ha aos 14 DAAG; T7) aplicação de glifosato e uma de Mn 14 DAAG. A dose para todos os tratamentos que receberam Mn foliar foi de 2L/ha (produto solúvel em água com 14% de Mn) sendo a única aplicação de glifosato na soja feita no estádio V5 na dose de 2L/ha 360g/L i.a - glifosato). A semeadura da soja BMX Magna e Fun-dacep 53 para Taquaruçu do Sul e Boa Vista das Missões, respectivamente, foi feita no mês de dezembro de 2009, um pouco tarde dentro da melhor época de plantio para a região devido ao excesso de chuva no período.

Mesmo havendo diferença nos te-ores foliares de Mn para os diferentes tratamentos (Tabela 1), de uma maneira geral ficaram acima dos teores colocados na literatura como adequados para a cultura da soja. Os dados mostram ainda

um menor teor foliar de Mn nos trata-mentos que não receberam aplicação fo-liar de Mn (T1 e T3) e no tratamento 4 quando esse Mn foi aplicado em mistura com glifosato. Para os demais tratamen-tos a aplicação foliar de Mn aumentou o teor desse elemento na folha.

Com exceção do T4, em todos os tratamentos com aplicação foliar de Mn houve um incremento no teor deste micronutriente na folha, mostrando que o glifosato não afetou a absorção de Mn quando aplicado separadamente. Por isso a utilização de micronutriente na mistura com herbicidas não tem sido prática recomendada pela comunidade científica.

Para a soja convencional, na prática, o produtor tem evitado aplicação foliar de micronutrientes na mistura com herbicidas latifolicidas, isso porque o Mn potencializa a fitotoxidez na soja principalmente para a região do Cerrado brasileiro. Com relação à soja Roudup Ready, a aplicação de Mn na mistura de tanque com glifosato pode reduzir a eficiência do herbicida. Trabalho de-senvolvido pela professora Lamego et

Respostas fisiológicas e produtivas de variedades RR também podem ser variáveis e dependentes da localização geográfica

UFSM, Campus de Frederico Westpha-len, no Rio Grande do Sul, com objetivo de buscar uma possível resposta ou não da aplicação foliar de Mn em soja RR resistente ao glifosato. Para isso foram desenvolvidos dois trabalhos, um no município de Taquaruçu do Sul, Rio Grande do Sul, na propriedade de Mil-ton Turchetto, e outro no município de Boa Vista das Missões, no Rio Grande do Sul, na propriedade de Valdomiro Santi. Em ambos os locais o solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico tí-pico, sendo que os resultados da análise de solo mostraram um teor de Mn bem acima dos teores já considerados ótimos para o desenvolvimento da soja. Foram testados os seguintes tratamentos: T1) sem aplicação de glifosato e sem aplicação de Mn foliar (testemunha); T2) sem aplicação de glifosato e uma

Fotos Claudir Basso

Pode ser perceptível visualmente certo amarelecimento da soja resistente ao RR após aplicação do glifosato

28 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

al (2010) - (Cesnors/UFSM) tem mos-trado que Mn na mistura com glifosato tem diminuído a eficiência do herbicida no controle de algumas ervas daninhas (dados ainda não publicados). Nesse sentido, o aumento da dose de glifosato (hoje muita vezes adotada pelo produtor quando faz essa mistura) não é a melhor estratégia.

Quando se observa a produtividade (Figura 1), mesmo havendo diferença nos teores foliares entre os tratamentos com e sem aplicação de Mn (Tabela 1) não houve resposta na produtividade na cultura da soja.

A utilização de formulação de NPK + micro tem sido prática muito comum entre produtores. Por isso, em áreas com longo histórico de cultivo (áreas velhas) e com adição anual de micronutriente na mistura com NPK, a aplicação foliar de micronutriente em culturas comer-ciais como a soja pode não apresentar resposta mesmo em regiões como do Cerrado brasileiro, naturalmente pobres em micronutrientes. É comum a preocu-pação com a deficiência de nutrientes, porém, com relação aos micronutrien-tes, é bom lembrar que pode haver toxicidade destes elementos quando seu

uso for feito sem muito critério. Micro-nutriente como zinco, cobre e o próprio manganês é fortemente adsorvido pelo solo, ocorrendo, portanto um efeito cumulativo no solo com seu uso cons-tante em fórmulas de adubo e isso tal-vez justifique essa falta de resposta em áreas com longo histórico de cultivo. A probabilidade de uma resposta positiva a aplicações foliares de micronutrientes é mais provável que ocorra em áreas novas (de abertura) principalmente pela dose de calcário utilizada como corretivo.

É comum ouvir por parte de produ-tores que a aplicação de glifosato na soja RR deixa a cultura com um tom mais amarelado, o que é facilmente perceptí-vel no campo. Esse tom mais amarelado muda para um verde mais intenso após aplicação foliar de Mn, melhorando o aspecto visual da lavoura. Vale lembrar, que essa deficiência aparente de Mn em função da aplicação do glifosato na soja RR é momentânea e se o solo se encontra equilibrado sob o ponto de vista nutricional, dificilmente se observará resposta à aplicação foliar de Mn na cultura da soja. É bom lembrar, também, que a análise química do solo continua sendo a principal ferramenta

para se monitorar o estado da fertilidade do solo e a necessidade ou não de micro-nutriente. Além disso, a principal porta de entrada de todo e qualquer nutriente ocorre via sistema radicular, sendo a aplicação foliar de todo e qualquer mi-cronutriente, quando necessário, uma intervenção mais pontual.

Semelhante ao que foi observado em outros trabalhos, esse mostrou que a apli-cação de glifosato em soja RR não afetou a absorção de Mn e a aplicação foliar ou não de manganês não teve efeito sobre a produtividade de soja. Claudir Basso, Antônio Luiz Santi, Fabiane Pinto Lamego, Felipe Fritch, Júlio Cesar Orlandi, Altamir Mateus Bertollo, Gustavo Miguel Colognese e Tiago José Brigo, UFSM/Cesnors

CC

Foto

s D

ivul

gaçã

o

tabela 1 - teor foliar de mn na soja. Frederico Wes-tphalen (rs), cesnors/uFsm(1)

t1t2t3t4t5t6t7

boa vista das missões/rs

135,87 cd (2)312,60 bcd133,37 d135,90 cd338,05 abc517,57 a362,85 abcv% 15,26

taquaruçu do sul/rs

229,77 c1015,95 a240,00 c226,40 c506,47 cb1011,70 a890,25 abcv% 17,77

(1) amostragem de folha feita no pleno florescimento (dez trifólios/parcela) coletando-se o 5º trifólio do ápice em direção à base. (2) médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de tukey a 5%. t1) sem aplicação de glifosato e sem aplicação de mn foliar (testemunha); t2) sem aplicação de glifosato e uma de mn 7 daag (dias após aplicação glifosato); t3) aplicação de glifosato sem mn; t4) aplicação de glifosato na mistura com mn; t5) aplicação de glifosato mais uma aplicação de mn 7 daag; t6) aplicação de glifosato mais duas de aplicações de mn, uma de 1l/ha aos 7 daag e outra de 1l/ha aos 14 daag; t7) aplicação de glifosato e uma de mn 14 daag.

--- mg/kg matéria seca ---

Basso, Santi, Fabiane e Fritch integram equipe que estuda a absorçãode Mn e os efeitos de aplicação foliar desse nutriente em soja RR

Figura 1 - Produtividade da soja em função de diferentes manejos de manganês foliar. Frederico Westphalen (rs), cesnors/uFsm(1)

(1) médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de tukey a 5%. t1) sem aplicação de glifosato e sem aplicação de mn foliar (testemunha); t2) sem aplicação de glifosato e uma de mn 7 daag (dias após aplicação glifosato); t3) aplicação de glifosato sem mn; t4) aplicação de glifosato na mistura com mn; t5) aplicação de glifosato mais uma aplicação de mn 7 daag; t6) aplicação de glifosato mais duas aplicações de mn, uma de 1l/ha aos 7 daag e outra de 1l/ha aos 14 daag; t7) aplicação de glifosato e uma de mn 14 dAAg.

Os sintomas da deficiência de Mn aparecem inicialmente nos tecidos jovens das plantas (folhas apicais e extremidades de ramos)

Claudir Basso

29www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

Algodão

Incidência favorecidaCom o advento da tecnologia do cultivo adensado de algodoeiro surgem novos desafios e

necessidades de readequações de manejo. É o caso de doenças, como a ramulária, que encontram nas alterações de espaçamento e densidade condições que favorecem o seu desenvolvimento por conta do maior tempo de molhamento e sombreamento foliar. O momento adequado das aplicações dos fungicidas, empregados preferencialmente de forma preventiva, está entre as estratégias que em conjunto com outras ferramentas ajudam a obter sucesso no controle

O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) destaca-se entre as culturas anuais, como uma das mais im-

portantes no Brasil, pelo seu valor econômico e social. As condições climáticas que ocorrem na região Centro-Oeste do Brasil favorecem o seu desenvolvimento, no entanto, tais condições, como altos índices pluviométricos, temperatu-ras diurnas elevadas e noturnas amenas, favo-recem também o desenvolvimento de doenças fúngicas, com destaque para a ramulária, que segundo Chimatti et al, (2011) é responsável por prejuízos estimados em 30% da produção na região do cerrado. Em experimentos realiza-dos na Fundação Chapadão as perdas giraram em torno de 27% na produtividade de algodão cultivado em sistema adensado.

A cultura do algodoeiro é cultivada na região dos Chapadões em períodos de safra (verão) e safrinha (outono/inverno). No ve-

rão, a época mais indicada para as cultivares explorarem o maior potencial produtivo em sistema convencional, ou seja, cultivado em espaçamento de 0,70m a 0,90m entre as linhas de semeadura, corresponde às datas de seme-

adura da primeira quinzena de dezembro. No outono/inverno, com o advento da tecnologia do algodoeiro cultivado em espaçamentos adensados, ou seja, espaçamentos de 0,40m a 0,50m entre as linhas, a época de semeadura mais indicada corresponde ao período entre 5 de janeiro a 5 de fevereiro, de acordo com os resultados ao longo das últimas três safras consecutivas nos anos de 2009, 2010 e 2011 (Anselmo et al, 2011). A densidade de seme-adura para os dois espaçamentos utilizados é de oito a dez plantas por metro de acordo com a variedade selecionada. Entretanto, os dois sistemas de produção requerem cuidados no manejo da cultura, desde a escolha do material como também do manejo químico utilizado para que o controle da ramulária seja satisfatório.

Alterações em espaçamento e densidade favorecem maior tempo de molhamento e

O controle químico é utilizado de forma mais eficaz quando associado com outras medidas de controle

Fotos Alfredo Ricieri Dias

30 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

sombreamento foliar, proporcionando micro-clima favorável ao progresso da doença, como também induzem uma série de modificações no crescimento e no desenvolvimento das plantas, que precisa ser melhor conhecida, além do manejo fitossanitário da cultura que é preciso ser revisto e readequado a esse sistema de cultivo.

mancha de ramuláriaO início da infecção da mancha de ra-

mulária ocorre nas folhas do terço inferior da planta, onde os sintomas observados são pequenas lesões, conhecidas como véu ou

mancha azulada pela característica da cor. A evolução dos sintomas caracteriza-se por manchas de aspecto pulverulento, cons-tituído por esporos do fungo, geralmente angulosas e delimitadas pelas nervuras, de coloração branca ou amarelada, e quando em alta severidade podem ser observadas na parte superior das folhas. Após a infecção são observadas manchas arroxeadas ao redor das lesões, provocando amarelecimento e queda das folhas, ocasionando desfolha precoce do baixeiro, o que limita a área fotossintética, des-favorecendo o enchimento de maçãs, levando à menor produtividade da cultura.

A principal forma de controle atual dessa doença é através da aplicação de fungicidas. No entanto, as demais alternativas, como o uso da rotação de culturas, trabalhar com cultivares que possuem certo grau de tolerân-cia/resistência, além de realizar o diagnóstico correto na determinação de incidência da doença (através de equipe técnica capacitada), monitoramento constate dos talhões na pro-priedade, são táticas de manejo que reduzem a taxa de progresso da doença no campo.

condições climáticasA cultura do algodoeiro é extremamente

Figura 1 - condições climáticas, Produtividade (@.ha-1 de algodão em caroço) e AACPd (área abaixo da curva de Progresso da doença) em função de diferentes manejos químicos de fungicidas. t1=tratamento testemunha; t2 a t9 diferentes manejo de fungicidas. médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente entre si pelo teste skott-Knott a 5% de probabilidade. cv = 6,18% e 13,11% respectivamente. chapadão do sul – ms, safra 2009/2010. Fundação chapadão, 2011

Figura 2 - condições climáticas, Produtividade (@.ha-1 de algodão em caroço) e AACPd (área abaixo da curva de Progresso da doença) em função de diferentes manejos químicos de fungicidas. t1=tratamento testemunha; t2 a t5 diferentes manejo de fungicidas.médias seguidas de letras iguais/colunas na mesma cor não diferem estatisticamente entre si pelo teste skott-Knott a 5% de probabilidade. cv = 3,59% e 11,46% respectivamente. chapadão do sul – ms, safra 2010/2011. Fundação chapadão, 2011

31www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

do Brasil. O controle químico é utilizado de forma mais eficaz quando associado com outras medidas de controle, especialmente aquelas que reduzem o potencial de inóculo de um patógeno como, por exemplo, a rotação de culturas, além da destruição dos restos culturais.

Uma medida importante dentro do manejo químico da mancha de ramulária em algodão cultivado em sistema adensado é o momento adequado das aplicações dos fungi-cidas. Em geral, quando utilizado de maneira preventiva atua protegendo as plantas, propor-ciona maior eficácia do produto e menor taxa de progresso de ramulária, garantindo o poten-cial produtivo da lavoura. Quando a aplicação do fungicida ocorre de maneira curativa (com presença da doença), dependendo da pressão do fungo, pode comprometer a eficácia da aplicação, ocasionando maiores danos.

O produtor tem realizado de três a cinco aplicações de fungicidas no cultivo adensado, em uma única safra, com o objetivo de ma-nejar a mancha de ramulária, sendo muitas

vezes com o mesmo produto, comprometen-do a eficácia do fungicida, além de criar ou facilitar uma possível resistência do patógeno a determinado produto. Avaliar a eficácia de diferentes fungicidas, com mistura de grupos químicos distintos e também isolados, tem sido objetivo de diversos trabalhos realizados pela Fundação Chapadão. Em um de seus trabalhos (Figura 3), os resultados mostram a evolução da doença (AACPD) em função de diferentes fungicidas com menor taxa de progresso de ramulária quando comparado ao tratamento Testemunha (sem aplicações de fungicidas) e ainda a produtividade (arroba por hectare de algodão em caroço) superior em todos os tratamentos com pulverização de fungicidas quando comparado ao tratamento Testemunha. Sendo assim, existem disponí-veis no mercado defensivos que podem formar um programa de pulverização alternando fungicidas com diferentes modos de ação e misturas de ingrediente ativo, garantindo me-lhor eficácia de controle e consequentemente proporcionar maior rendimento das lavouras de algodão cultivado em sistema adensado.

No momento da escolha de um programa de aplicação de defensivos para controle de doenças deve-se levar em consideração, antes de tudo, a eficácia comprovada do fungicida, usar produtos registrados com mistura de di-ferentes ingredientes ativos, alternar produtos com diversos modos de ação. E ainda deve o controle químico ser trabalhado dentro do manejo integrado de doenças, ou seja, inte-grar estratégias para manejar ou prevenir as doenças de plantas com o controle genético, regulatório, biológico, físico e cultural.

Alfredo R. Dias

sensível a condições ambientais adversas ao seu desenvolvimento, principalmente quando coincidem com o início do estádio reprodutivo, momento em que a cultura determina seu potencial produtivo que ocorre próximo dos 60 dias após a emergência do algodão. Caso tais condições, como temperaturas baixas (menor que 18oC) e deficiência hídrica, coincidam com este momento, irão prevalecer, como fator determinante, impossibilitando adequada formação de frutos, retardando o desenvol-vimento e consequentemente ocasionando queda de sua produtividade (Chiavegato, 2011). Trabalhos foram realizados na Região dos Chapadões com diferentes manejos de fungicidas durante duas safras 2009/2010 e 2010/2011. A semeadura ocorreu em ambos os experimentos em meados de janeiro. Na safra 2009/2010 observou-se que estas dimi-nuições de temperatura influenciaram nos re-sultados de colheita. No período que a cultura estava definindo o seu potencial produtivo, no mês de março, analisando os dados da região constatou-se que durante este mês na safra 2009/2010 ocorreu queda de temperatura e deficiência hídrica no período, o que pode ter influenciado a não ocorrência de diferenças significativas na produtividade, em função de diferentes manejos de fungicidas comparados ao tratamento sem aplicações químicas (T1) - (Figura 1), enquanto que no mesmo período da safra 2010/2011, as condições climáticas favoreceram o desenvolvimento da cultura proporcionando incremento de produtividade em função de diferentes manejos de fungicidas (Figura 2). No entanto, vale ressaltar que durante os dois anos da pesquisa os manejos químicos foram eficientes no controle, redu-zindo a taxa de progresso de ramulária.

manejo QuímicoDentre várias alternativas, o controle

químico é a principal estratégia de manejo adotada por produtores em diferentes regiões

Alterações em espaçamento e densidade favorecem maior tempo de molhamento e sombreamento foliar, proporcionando microclima favorável ao progresso da doença

Alfredo Ricieri Dias,Germison Vital Tonquelsqui,Jefferson Luis Anselmo eEdson Pereira Borges,Fundação Chapadão

CC

Figura 3 - Produtividade (@.ha-1 de algodão em caroço) e área abaixo da curva de Progresso da doença de ramularia(aacPd) em função de diferentes fungicidas aplicado na cultura do algodão cultivado em sistema adensado. chapadão do sul – ms, safra 2010/2011. Fundação chapadão, 2011

Ao optar pelo tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas para o controle de insetos e doenças na cultura do arroz, os produtores precisam estar atentos aos critérios técnicos

que devem embasar esse tipo de decisão

Arroz

34 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Quando tratar

Um complexo de pragas, destaca-damente de doenças, insetos e plantas daninhas, pode provocar

queda de produtividade da cultura do arroz irrigado por inundação no Rio Grande do Sul. O manejo integrado de cada uma dessas categorias de praga inclui vários métodos de controle, alguns de aplicação geral e outros mais específicos. O controle químico e o controle cultural (apoiado principalmente em boas práticas de manejo do solo, da água de irrigação e da adubação nitrogenada) são perfeitamente aplicáveis às três categorias. A resistência genética de plantas é aplicável tanto ao controle de doenças como de insetos, enquanto o controle biológico é mais voltado a insetos.

Dos quatro métodos de controle de pragas do arroz indicados, o uso de agroquímicos (controle químico) é predominante no Rio Grande do Sul. Entre as modalidades de utilização desses produtos destacam-se a pulverização foliar (aplicável no controle das três categorias de pragas) e o tratamento de se-mentes (mais aplicável ao controle de doenças e insetos). Como existem implicações técnicas, sociais, ambientais e comerciais, entre outras, associadas ao tratamento de sementes de arroz, com o objetivo de controlar doenças e insetos-praga, considera-se importante tra-çar uma análise sobre o estado da arte dessa técnica de modo a detectar possíveis falhas,

propor ajustes e identificar necessidades de pesquisa a respeito.

O tratamento de sementes de arroz com inseticidas no Rio Grande do Sul tem buscado o controle de insetos-praga potencialmente mais prejudiciais às raízes das plantas, antes e após a inundação da lavoura, basicamente do pulgão-da-raiz Rhopalosiphum rufiabdominale e das larvas do gorgulho-aquático Oryzophagus oryzae (bicheira-da-raiz), respectivamente. O uso dessa estratégia contra o pulgão é concentrado na região da Fronteira Oeste (± 300 mil hectares), enquanto à bicheira-da-raiz estende-se a outras regiões orizícolas do estado, atingindo ± 650 mil hectares.

É importante destacar que no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(Mapa) não há inseticidas registrados para o controle do pulgão-da-raiz em arroz, via qual-quer método de aplicação. Para tratamento de sementes, há apenas inseticidas registrados para o controle da bicheira-da-raiz. Diante dis-so, esses inseticidas são aplicados, misturados ou isoladamente, com o objetivo de também evitar danos às raízes por insetos como o pulgão-da-raiz, no período de pré-inundação. Apesar disso, o tratamento de sementes de ar-roz com inseticidas deve ser praticado apenas conforme as diretrizes técnicas para o controle da bicheira-da-raiz, destacando-se alguns as-pectos: 1) garante, em áreas com histórico de ocorrência de pragas que atacam raízes, uma população adequada de plantas, na fase inicial da cultura, um elevadíssimo índice de controle da bicheira-da-raiz e a manutenção de índices normais de produtividade; 2) tratando-se de cultivares híbridas, cuja semente deve ser “obrigatoriamente protegida”, devido a conter elevado valor agregado e serem utilizadas em baixa densidade (aproximadamente 40kg/ha), o tratamento de sementes, além de garantir uma população adequada de plantas, torna possível uma redução de ± 60% na quanti-dade de inseticida aportada à área de cultivo, reduzindo riscos de contaminação ambiental; 3) determinado ingrediente ativo inseticida, aplicado às sementes de arroz, portanto ao solo, de imediato, atribui ao ecossistema orizícola um risco muito menor de distúrbio ambiental do que via outro método de aplica-ção como a pulverização foliar; via sementes não atinge inimigos naturais (parasitoides e/ou predadores) de insetos nocivos à parte aérea das plantas de arroz, acrescentando-se ainda

Gorgulho-aquático (2,7 x 3,5 mm) que oviposita em partes submersas da planta de arroz e daorigem as larvas que são a bicheira-da-raiz e bicheira-da-raiz (8,5 mm) que corta as raízes de arroz

José

Fra

ncis

co d

a Si

lva

Mar

tins

Luis

Ant

onio

Sui

ta d

e C

astr

o

Car

los

Jorg

e Ro

sset

to

menor risco direto de dano à fauna aquática, e de deriva a áreas não visadas.

Se o produtor estiver disposto a utilizar o tratamento de sementes, devido à área a ser cultivada possuir histórico de ocorrência de insetos nocivos às raízes (prioritariamente a bicheira-da-raiz), recomenda-se tratar apenas a quantidade de semente a ser utilizada nas primeiras partes da lavoura, no máximo, em 30% do total da área. Essa prática, além de im-pedir maior distribuição do inseto na lavoura, a partir das margens (pontos de entrada de água) evita que áreas a não serem infestadas pelo inseto sejam tratadas desnecessariamente com inseticidas, via sementes. Ao contrário, se parte ou o restante da lavoura for infestado pelo inseto, em pós-inundação, poderão ser adotados procedimentos que apontem a necessidade de aplicar ou não métodos de controle curativo.

Alerta-se que em arrozais em áreas incli-nadas (lavouras de coxilha), principalmente na Fronteira Oeste, o nível populacional do pulgão-da-raiz e da bicheira-da-raiz tem sido muito baixo. No caso de ambos os insetos seria justificado pelo uso contínuo do tratamento de sementes em várias safras, que pode ter reduzido a população (estoque) dos insetos nas entressafras. Especificamente no caso da bicheira-da-raiz, aponta-se a quase ausência de lâmina de água nos quadros da maioria das lavouras, o que impede o estabelecimento do inseto que obrigatoriamente possui vida aquática. Poucas larvas, quando encontradas, estão fixadas às raízes de plantas nos leiveiros. Assim sendo, deve ser feita uma reflexão sobre a real necessidade do tratamento de sementes naquela região orizícola.

O tratamento de sementes de arroz com fungicidas tem sido amplamente praticado pelos orizicultores do Rio Grande do Sul, pre-ocupados com o estabelecimento das lavouras, no sentido de evitar eventuais falhas ao estabe-lecimento da população de plântulas, muitas vezes inócuo quando a semente é de alta qua-lidade. A semente de baixa qualidade, porém, é o principal vetor de patógenos causadores

de rizoctonioses (Rhizoctonia spp.), mancha-parda (Bilopolaris spp.), brusone (Pyricularia oryzae), queima-de-plântula (Fusarium sp.), entre outras. Há ainda outros fungos que se estabelecem na semente durante a colheita e o armazenamento, destacando-se Aspergillus spp. e Penicillium sp., responsáveis pela redu-ção do vigor das sementes e emergência das plântulas. A baixa qualidade sanitária tem servido de justificativa para o tratamento das sementes, principalmente quando a semeadu-ra é realizada mais cedo, em épocas de baixa temperatura do solo.

A semente de alta qualidade é um insumo moderno que torna possível o aumento de produtividade, por concentrar uma série de ca-racterísticas genéticas positivas como o maior aproveitamento de insumos, principalmente dos fertilizantes, e resistência e/ou tolerância a fatores bióticos (doenças; insetos, nematoi-des...) e abióticos (salinidade; toxidez por ferro e alumínio, baixas e altas temperaturas...), entre outros. Portanto, independentemente do custo, a semente com qualidade superior é um fator que se constitui em base sólida para o sucesso de qualquer cultura como a do arroz.

O uso de sementes de alta qualidade, não tratadas com fungicidas, mesmo em épocas em que a temperatura do solo é baixa, não tem determinado diferença de produtividade

comparativamente ao uso de sementes de igual padrão e tratadas.

Isso ocorre devido aos microrganismos decompositores terem baixa atividade no solo e consequentemente não interferirem na fisio-logia das sementes. Isso evidencia que não há necessidade de tratar, com fungicidas, semente de qualidade superior, independentemente da época de semeadura.

Atualmente, há várias argumentações so-bre efeitos positivos (fitotônicos) que os inse-ticidas e fungicidas registrados para o controle de insetos e doenças do arroz, via tratamento de sementes, podem exercer na germinação ou no crescimento das plântulas. Até ao momen-to, entretanto, não há resultados de pesquisa que demonstrem que esses possíveis efeitos sobre as sementes e plântulas transformem-se em ganhos de produtividade. Sobre este aspec-to considera-se que em qualquer circunstância a decisão de adotar o tratamento de semente com inseticidas e fungicidas deve ser baseada exclusivamente na necessidade do controle de insetos e doenças, devendo os “possíveis efeitos fitotônicos” serem considerados como um benefício complementar.

Mancha-parda causada pelo fungo Bipolaris spp.que se dissemina pelas sementes: sintoma na folha e agente causal

Colônia do pulgão-da-raiz na base da planta (acima) e raízes de arroz destruídas pelo pulgão (abaixo)

José Francisco da Silva Martins,Cley Donizeti Martins Nunes,Ana Paula Schneid Afonso Rosa eMaria Laura Turino Mattos,Embrapa Clima Temperado

Queima-da-bainha causada pelofungo de solo Rhizoctonia solani

35www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012

CC

Fotos Cley Donizeti Martins Nunes Fotos José Francisco da Silva Martins

Cle

y D

oniz

eti M

arti

ns N

unes

Na batalha contra o percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris, os produtores de arroz devem dar preferência a aplicações de inseticidas no período da tarde, quando os insetos estão mais expostos à ação de contato. Além do horário, a forma de pulverização e o defensivo

escolhido interferem na eficiência do controle da praga

Arroz

36 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Hora de aplicar

Com trabalho na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Manejo

Integrado de Pragas (Nemip) da Universi-dade Federal do Pampa (Unipampa) campus Itaqui, coordenado pelo professor Fernando Felisberto da Silva, verificou que a maioria das pesquisas com inseticidas químicos tem se limitado ao estudo de sua eficiência, seleti-vidade e toxicidade, desconsiderando aspectos relacionados à bioecologia do inseto-praga a ser controlado, bem como as implicações da forma de aplicação e translocação destes produtos na planta. Por isto, partiu-se da hipótese de que a eficiência do inseticida varia

de acordo com seu grupo químico, horário e forma de aplicação. A partir daí realizou-se experimento em uma lavoura de arroz irri-gado da Estância Pitangueira, localizada no Km 78 da BR-472, no município de Itaqui, Rio Grande do Sul, no sistema de cultivo mínimo com taipas niveladas semeada com a cultivar BR Irga 417. O objetivo foi avaliar a eficiência de controle do percevejo-do-colmo, relacionando aspectos bioecológicos do inseto com aplicação de diferentes inseticidas em períodos diversos do dia.

material e métodosEm relação à identificação do método e da

forma de aplicação de inseticidas para o con-trole do percevejo-do-colmo do arroz foram realizadas entrevistas livres, abrangendo 16% dos orizicultores do município.

Para determinar a eficiência de inseticidas aplicados em diferentes horários para o contro-le do percevejo-do-colmo, antecipadamente à aplicação dos controles avaliou-se a ocorrência de infestação do percevejo-do-colmo na la-voura. O experimento foi montado sobre as taipas, testando quatro tratamentos (Tabela 1) em dois horários de aplicação (7h30min e 16h30min), formando um fatorial 4 x 2, em quatro repetições dispostas em blocos ao acaso correspondendo ao topo das taipas.

A aplicação dos tratamentos foi feita com o auxílio de pulverizador costal, com pressão constante (mantida por CO2 comprimido), equipado com uma barra contendo quatro bicos (marca Teejet, com jato em ângulo de 110°, vazão de 0,2gal/mine pressão de 40 PSI), utilizando um volume de calda de 150L/ha. Durante a instalação do experimento, a cultura encontrava-se no estádio entre emborrachamento e emissão da panícula. As parcelas tinham 5m de comprimento sobre as taipas que tinham em média 0,5m de largura. Entre parcelas foi deixado um espaçamento de 2m. As amostragens foram realizadas nos dois metros centrais da parcela em intervalos de sete dias, encerrando aos 21 DAA (Dias Após Aplicação). A avaliação da eficiência dos inseticidas foi calculada pela Fórmula de Henderson-Tilton.

resultados e discussãoEm 100% dos orizicultores entrevistados

a aplicação aérea do inseticida foi o método utilizado. Normalmente os orizicultores da região Fronteira Oeste realizam pulverizações aéreas no horário da manhã, porém, a alta umidade sobre as folhas das plantas (orvalho) e a localização do inseto neste horário são situações desfavoráveis para obter sucesso no controle.

Outro fato observado é que geralmente esta aplicação não é realizada no momento adequado, em relação ao nível de dano, pois verificam-se carências no monitoramento populacional do percevejo-do-colmo.

Com base nesta constatação, procuramos avaliar também o efeito desta prática na efi-ciência de controle de Tibraca limbativentris,

através de inseticidas registrados e da sua combinação.

Os resultados demonstram que o controle no período da tarde é mais eficiente, possivel-mente por coincidir com o momento que a maioria de adultos e ninfas acima de 3° instar se encontram em partes superiores das folhas da cultura (Tabela 2), ao contrário do período

Para aplicações de inseticidas contra Tibraca limbativentris, o orizicultor deve estar atento ao fato de que em alguns períodos poucos adultos estarão expostos ao alcance do defensivo

Fotos Fernando Felisberto da Silva

38 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

da manhã e início da noite onde estes insetos localizam-se abrigados entre os colmos da cul-tura. Nestas condições, porém, é interessante lembrar que são necessários cuidados para se evitar a evaporação da gota.

A eficiência do tiametoxam pode ser ex-plicada devido ao fato de se tratar de produto altamente sistêmico, o que permite utilizá-lo em doses relativamente baixas. Apresenta, ainda, alta solubilidade em água (4.100mg/L) e baixo coeficiente de partição octanol/água (-0,13). Cabe observar que quanto mais alta for a solubilidade e mais baixo for o coeficiente de partição, mais sistêmico será o produto. Porém, na formulação para aplicação no solo ou pulverização foliar o transporte do ingre-diente ativo é acropetal (via xilema) e ocorre rapidamente após a aplicação, distribuindo-se por toda a planta a partir do local de aplicação e acumulando-se nas pontas das folhas, além de uma pequena quantidade do produto ser transportada via floema (basipetal). O pro-duto formulado degrada-se rapidamente nas superfícies tratadas e a sua ação pode ocorrer por contato e ingestão.

Em estudos com mamoneira constatou-se a translocação do tiametoxam tanto no xilema como no floema, se redistribuindo pela planta, sugerindo que insetos sugadores de seiva elaborada podem ser controlados pelo inseticida quando aplicado nas folhas, mas não os mastigadores presentes em raízes ou folhas emergidas após a aplicação. Porém, raríssimos são os inseticidas que se translocam a longas distâncias via floema, sendo esta condição comum somente em herbicidas, como exemplo do glifosato, que apresenta um coeficiente de partição octanol/água bastante baixo (-3,20) e uma alta solubilidade em água (10.500mg/L).

Ao contrário do tiametoxam a lambda-cialotrina é uma substância essencialmente insolúvel em água (0,005mg/L), com elevado coeficiente octanol/água (6,90), ou seja, não

sistêmica e com atuação nos insetos por conta-to ou ingestão. Além disso, há evidências de rá-pida fotodegradação tanto em solo, água, como em superfícies expostas à radiação solar.

Ninfas de percevejos, além de serem desprovidas de asas, alimentam-se da seiva como os adultos, assim podem ser controladas quando o inseticida aplicado é sistêmico. Ob-servamos que o neonicotinoide comportou-se como um ingrediente ativo (i.a.) eficiente no controle de ninfas e o piretroide para adultos. Este fato deve-se em grande parte ao comportamento do inseto que, na fase ninfal movimenta-se pouco e permanece agregado próximo ao local da postura, ou seja, próximos à base das plantas, com difícil acesso pelos i.a. com característica de contato e não sistêmicos. Os adultos, por sua vez, apresentam maior movimentação nas plantas e podem entrar em contato com os produtos não sistêmicos depositados na superfície das plantas. Quando estes dois inseticidas são utilizados em con-junto, porém em concentrações reduzidas do neonicotinoide e aumentadas do piretroide, observou-se efeito potencializador de controle. Ainda, associado a este fato, verificou-se que no período da tarde houve maior eficiência, uma vez que os insetos adultos estavam mais expostos à ação de contato.

A ação do tiametoxam está em fase de quantificação em plantas de arroz irrigado

pela equipe do Nemip/Unipampa.

considerações FinaisNa escolha da prática da aviação agrícola,

principalmente no turno da manhã, para aplicações de inseticidas contra Tibraca limba-tiventris, o orizicultor deve estar atento para o fato de que este é um período em que poucos adultos estarão expostos ao inseticida e, apesar desta possível ação sistêmica pela transloca-ção basipetal do tiametoxam, a eficiência é limitada, não correspondendo a um controle eficiente na maioria das ocasiões. Desta forma, é necessário considerar questões como as ca-racterísticas físico-químicas dos agroquímicos utilizados, as condições climáticas e fisiológicas da planta, além dos aspectos relacionados à bioecologia dos insetos-praga a serem con-trolados. Todos estes cuidados refletirão em maior eficiência de controle, redução do im-pacto ambiental e consequente maximização da lucratividade da cultura, uma vez que estes cuidados implicarão na redução do custo para o manejo de pragas na cultura.

Fernando, Nereu, Naymã, Juliano e Robson abordam como manejar o percevejo-do-colmo

tabela 1 - ingredientes ativos utilizados nos tratamentos para o controle do percevejo-do-colmo (tibraca limbativentris)

Concentração50g/l250g/l

141g/l+106g/l

dose150 ml/ha125 g/ha175 ml/ha

grupo químicoPiretroide

neonicotinoidePiretroide + neonicotinoide

ingrediente ativolambda-cialotrina

tiametoxamtiametoxam+lambda-cialotrina*

*combinação não registrada para a cultura.

tabela 2 - eficiência de controle (%) de ninfas + adultos de tibraca limbativentris conforme henderson-tilton em diferentes turnos de aplicação

manhã43,8

094,2

0

tarde550800

7 dAAingrediente ativo

tiametoxamlambda-cialotrina

tiametoxam+lambda-cialotrinatestemunha

manhã: equivalente às 7h30min; tarde: equivalente às 16h30min, ambos no horário brasileiro de verão.

manhã0

65,77,70

tarde78,682,471,4

0

14 dAAmanhã

500

53,80

tarde92,576,91000

21 dAA

Nereu Carpes Meus,Juliano Bastos Pazini,Robson Antonio Botta,Naymã Pinto Dias eFernando Felisberto da Silva,Nemip/Unipampa Campus Itaqui

As ninfas, além de serem desprovidas de asas, alimentam-se da seiva como os adultos

CC

Fotos Fernando Felisberto da Silva

40 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANPII

longe do fim

A Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é um dos fenômenos mais intrigantes da natureza,

dentro do que, aparentemente, é um para-doxo. O nitrogênio é um dos três macronu-trientes essenciais às plantas, extremamente abundante na atmosfera. Como se encontra em uma forma pouco reativa torna-se escasso e caro para a atividade agrícola.

Durante séculos o nitrogênio foi aporta-do aos solos pelas chuvas, através da clivagem da molécula de N2 pelas descargas elétricas e, em maior volume, pela FBN, realizada pelas bactérias fixadoras de nitrogênio, sejam as de vida livre ou as simbióticas. Somente a partir do século XIX, com as descobertas de Liebig e do processo Habber-Bosch de reação industrial do nitrogênio com o hidrogênio, formando amônia e, a partir daí, os demais compostos químicos nitrogenados, este nutriente passou a ser aportado ao sistema solo-planta sob a forma de produtos quími-cos. A Figura 1, com o ciclo do nitrogênio, esclarece mais este ponto.

Na fase áurea do uso da química em agricultura, o emprego da FBN passou a ser considerado uma tecnologia “menor”, “alternativa”, sendo substituída pela “mo-derna” adubação química. Por outro lado,

a agricultura orgânica “natural” preconi-zava a abolição total do uso de elementos industrializados na agricultura. Mas, como a tendência é sempre a busca do equilíbrio, hoje se podem usar as duas tecnologias, FBN e química, dentro dos pontos positivos e das limitações de cada uma.

Se por um lado pode-se cultivar soja com zero de nitrogênio mineral, este ainda é indispensável na maioria das culturas não leguminosas. Embora hoje se busque com maior intensidade formas de usar a FBN em culturas de gramíneas, já existindo inclusive produtos comerciais para esta finalidade, ainda há um longo caminho a percorrer, até que se possa substituir grande parte ou a totalidade do nitrogênio químico nestas culturas.

Assim, discute-se hoje até onde a FBN poderá chegar na agricultura. No caso das leguminosas, com a genética desenvolven-do cultivares cada vez mais produtivas, com necessidades crescentes de nitrogênio, a inoculação com Rhizobium/Bradyrhizo-bium poderá fornecer todo o N necessário? E no caso das gramíneas, que quantidade do nutriente poderá ser suprida pela ino-culação com Azospirillum, Herbaspirillum ou outras bactérias?

Solon de AraujoConsultor da ANPII

No caso das leguminosas, em especial em soja, parece não haver mais dúvidas de que a FBN será capaz de fornecer todo o N para as mais elevadas produtividades. Todos os indicadores que temos até hoje levam à firme convicção de que a técnica de inoculação bem-feita, com estirpes de alta eficiência selecionadas pela pesquisa, com inoculantes de alta qualidade como os que são produzi-dos pelas empresas filiadas à ANPII e com um uso correto por parte do agricultor, será capaz de fornecer nitrogênio nas quantidades suficientes para suportar produtividades de seis mil quilos de grãos por hectare ou ainda mais. Já no caso de feijão e outras leguminosas, isto também poderá ser obtido, embora não de imediato, incrementando-se a pesquisa, tanto a de microbiologia como a de melhoramento de cultivares que respondam mais à bactéria.

Já no caso das gramíneas o caminho é mais longo. Enquanto no sistema simbió-tico, nas leguminosas, 80% do nitrogênio captado pelo nódulo é transferido para a planta, no sistema de associação do Azos-pirillum com gramíneas, estima-se uma transferência em torno de 15%. Desta forma, a otimização do processo para uma maior taxa de transferência passa por muitos fatores, desde seleção de cepas da bactéria, até o processo de escolha de plan-tas. Neste caso, deve-se levar em conta, também, o efeito não só da FBN como a ação de promotor de crescimento que estas bactérias possuem, o que as leva a ter um efeito não só no aporte de N como no de maior absorção de águas e nutrientes.

Desse modo, embora não se possa afirmar que não existam limites para a FBN, ainda falta muito para se encon-trar o “final da linha”. O horizonte para maiores incrementos da tecnologia ainda está muito além do que podemos enxergar hoje, o que estimula que se busque cada vez mais eficiência agronômica do pro-cesso, com todos seus evidentes ganhos para o agricultor em particular e para a sociedade como um todo.

Apesar dos limites, presentes em qualquer tecnologia, a FixaçãoBiológica do Nitrogênio (FBN) ainda tem vasto potencial a ser explorado

CC

Figura 1 – ciclo do nitrogênio (martins, cláudia rocha et al http//qnint.sbq.org.br/qni/visualizartema.php?idtema=7)

Coluna Agronegócios

41www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012 2011

biologia sintética

Agora que as variedades transgê-nicas viraram realidade factual, na esteira da biotecnologia e da

nanotecnologia surge novo ramo da Ciên-cia: a Biologia Sintética. Pode-se concei-tuar este novo ramo como: a) a concepção e a construção de novas partes biológicas, dispositivos e sistemas e b) um redesenho de sistemas biológicos naturais existentes, para fins úteis. A Biologia Sintética envol-ve a síntese de novos sistemas biológicos, que não são encontrados na natureza. Isto pode significar a produção em massa de medicamentos baratos, bactérias progra-madas para procurar e destruir tumores no corpo, o desenvolvimento de alimentos fortificados ou novos biocombustíveis.

Sistemas vivos são complexos, muitas vezes envolvem dezenas de milhares de

Igualmente, é oportuna a comparação da Biologia Sintética com a microeletrônica. Uma placa de circuito impresso é necessária para a construção de circuitos, montados sobre a mesma, com o uso de resistores, transistores (chips, circuitos integrados) e condensadores. Os biologistas sintéticos usam um microrganismo base, desprovido de código genético (ou com código míni-mo), e sobre esta “placa” montam um novo organismo, projetado em computador, que deve cumprir uma finalidade específica. Só que na montagem, ao invés de transistores, usam o DNA.

PadronizaçãoOutra comparação, para melhor en-

tender a Biologia Sintética, é a semelhança com as peças do jogo Lego, em que, a partir

plantas são o primeiro alvo óbvio para este tipo de abordagem. As plantas possuem amplo espectro de atividades biossintéticas e podem ser manipuladas geneticamente. A montagem de novos circuitos genéticos poderia modificar vegetais, com o objetivo de usá-los para a produção de biomassa, alimentos, polímeros, medicamentos ou biocombustíveis.

o FuturoA aplicação da Biologia Sintética em

plantas requer um circuito de controle adequado, combinando partes intercam-biáveis de DNA, dispositivos e sistemas (peças ou módulos). Não só a expressão do gene deve ser robusta, como prover um nível apropriado de expressão a ser atingido, por vezes considerando detalhes

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

Outra comparação, para melhor entender a Biologia Sintética é a semelhança com as peças do jogo “Lego”

componentes geneticamente codificados, e possuem mecanismos de feedback para a auto-organização, reprodução e reparação. Produzem estruturas funcionais que são muito mais complexas que os mais sofisti-cados artefatos humanos já desenvolvidos. O entendimento dos complexos sistemas genéticos requer mais do que uma des-crição de suas partes componentes, exige também o conhecimento das interações dinâmicas dentro de um sistema. Esta é a base conceitual da Biologia Sintética, que objetiva empregar os princípios da padro-nização e da dissociação, bem conhecidos em diversos ramos da engenharia, para a construção de complexos circuitos biológi-cos, que se comportam exatamente como os sistemas vivos, porém com funções inovativas e pré-programadas.

similAridAdesPara entender a Biologia Sintética use-

mos a Química como exemplo. Até o início do século 19, a Química praticamente se restringia ao estudo de substâncias já exis-tentes. O salto ocorre quando os químicos sintetizaram novas substâncias, dando ori-gem às milhares de utilidades do cotidiano.

de peças padronizadas, é possível construir múltiplas estruturas diferenciadas. A Bio-logia Sintética usa componentes genéticos (blocos ou peças) bem caracterizados e reutilizáveis, em combinação com mode-los numéricos para projetar e desenvolver circuitos biológicos. Os estudos iniciais foram realizados com microrganismos, pois esta abordagem fornece poderosa estrutura conceitual e prática para a engenharia da expressão e comportamento dos genes, em organismos simples, unicelulares.

O primeiro exemplo prático deste novo ramo da Ciência é o diesel vegetal, produ-zido a partir de cana-de-açúcar por um fermento “montado” com uso de técnicas de Biologia Sintética. Com as mesmas ferramentas pode-se produzir biogasolina ou bioquerosene, antibióticos, vacinas, an-ticancerígenos e uma plêiade de utilidades. Inclusive bactérias que “comem” petróleo, para limpar a poluição causada por sua exploração e uso.

Entrementes, a pergunta óbvia é: a ferramenta pode ser aplicada em sistemas multicelulares, com maior diversidade de tipos de células e especialização bioquími-ca? De todos os sistemas multicelulares, as

como hora (dia, noite), local da expressão (caule, folhas, frutos etc), em qual mo-mento do ciclo de vida da planta, entre outros aspectos.

Os cientistas da área organizam uma biblioteca de circuitos genéticos e peças intercambiáveis, que está sendo denomi-nada de PhytoBricks, para permitir a enge-nharia biológica de sistemas vegetais. Um ambiente de software também está sendo construído para modelar as propriedades de sistemas multicelulares, descrevendo tanto as interações físicas entre as células quanto as suas propriedades genéticas. Isso permite a concepção e o ensaio de novos programas morfogenéticos em modelos computacio-nais, antes de criar os sistemas biológicos propriamente ditos.

Obviamente, a nova Ciência exige que se estude a sua biossegurança, que se reavalie o marco legal de acesso à biodi-versidade e a legislação de patentes, assim como devem ser propostos incentivos governamentais para que a sociedade colha os benefícios. CC

Coluna Mercado Agrícola

brasil caminha para nova supersafra e bons lucros em 2012

TRIGO - O mercado do trigo brasileiro novamente esteve dependente do apoio dos pregões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) do governo, até mesmo para exportação. Mesmo que a safra deste ano seja menor que as projeções e deva ficar ao redor de 5,5 milhões de toneladas (praticamente 50% do que o Brasil irá consumir) o setor seguia com pouca liquidez, porque as indústrias dão preferência ao importado, pois conseguem comprar com prazos longos e por isso deixam de lado o produto nacional, que resta com cotações frágeis, abaixo dos R$ 400,00 por tonelada. Em 2012 o mercado tende a mostrar um quadro melhor para o trigo, porque o dólar avançou muito acima de R$ 1,70 e desta forma aumentarão os custos de importação, o que deve dar fôlego ao produto nacional de fevereiro em diante.

ALGODÃO - O plantio deverá crescer neste ano, porque a soja teve a maior parte das áreas cultivadas no cedo no Mato Grosso e desta forma abriu espaço para o algodão safrinha, que poderá chegar a 1,5 milhão de hectares neste ano ou 6% acima do que foi plantado na última safra. Os produtores aproveitaram para vender boa parte antecipadamente na expor-tação, sendo que o Mato Grosso deverá plantar 800 mil hectares. O dólar em alta e as cotações girando a um dólar por libra garantem lucratividade antecipada aos produtores.

eua - A safra ficou abaixo das projeções, com a soja na casa de 82,8

milhoPouco espaço para reaçãoO mercado do milho está na reta de fecha-

mento do ano, daqui para frente há pouco espaço para reação e aparentemente tudo que tinha que crescer já cresceu e de agora em diante tende a ter menor número de compradores em atividade. Como a safra está em bom desenvolvimento e do final de janeiro em diante teremos início das primeiras colheitas, abre-se espaço para pressão negativa nas cotações e desta forma pouco espaço para reação interna. As cotações da exportação comandarão o mercado de agora em diante e os números até poderiam cair mais se o dólar não tivesse melhorado, mas o espaço que aparece é de leve queda em direção aos valores que resultam da exportação, porque os consumidores devem atuar menos no mercado interno, mesmo assim as cotações são atrativas e lucrativas para os produtores.

soJAEntressafra e negócios regionalizadosO mercado da soja mostra o final de ano

chegando rapidamente, com poucas indústrias em atividade. Com isso as cotações estão com espaço limitado para reação e somente nos lo-cais em que a indústria está trabalhando e tem

contratos de óleo e farelo para cumprir pode ocorrer alguma negociação mais atrativa. Em geral, o espaço de alteração é pequeno e não há fôlego para grandes mudanças, porque o clima é favorável e isso tende a ser um fator limitante de ganho em Chicago e aqui no Brasil. A crise europeia ainda seguirá atrapalhando os ganhos do agronegócio brasileiro e somente quando conseguirem equilibrar as contas e venderem títulos com juros menores é que poderá ocorrer novo salto nos indicativos (que poderiam estar pelo menos um dólar por saca acima dos pata-mares atuais). Poucos negócios devem aparecer neste restante de ano.

FeijãoPoucas áreas com Feijão neste verão O mercado do feijão teve um ano com poucas

alterações nas cotações, dando aos produtores ganhos médios menores que em anos anteriores. Principalmente o Preto teve forte concorrência com o produto importado, o que resultou em nú-meros entre R$ 55,00 e R$ 70,00 aos produtores. Remuneração que não servia de estímulo ao novo plantio. O Carioca esteve entre os R$ 80,00 e os R$ 120,00 com poucos conseguindo comercializar acima desse valor. Realidade distante dos bons tempos de outros anos. Como outros produtos

tiveram ganhos melhores, como é o caso da soja e do milho, houve forte queda no plantio desta primeira safra e isso irá refletir nas cotações em 2012 (que tendem a alcançar patamares bem acima do que foi praticado neste ano). O feijão terá um bom 2012.

arrozReação abaixo do esperado Os produtores do arroz não conseguiram

alcançar as cotações que sonhavam para o cereal. Com valores na faixa de R$ 23,00 a R$ 26,00 pelo casca do Rio Grande do Sul, não foi possível avançar para patamares entre R$ 27,00 e R$ 30,00, permanecendo bem distante das expectativas dos orizicultores. Mas o bom fator do ano é que a crise e as baixas cotações fizeram o Brasil exportar grandes volumes, o que pode se tornar rotina de agora em diante. Com isso cria-se liquidez constante para as indústrias, favorecendo os produtores, porque os produ-tos exportáveis geralmente são lucrativos. Os períodos de cotações baixas são momentâneos e o arroz brasileiro está tendo boa aceitação no mercado internacional. O País caminha para fechar o ano comercial com mais de 1,5 milhão de toneladas exportadas, abrindo boas expectativas para 2012.

CURTAS E BOASmilhões de toneladas, distante das 90 milhões de toneladas que se chegou a cogitar. O milho com 312,6 milhões de toneladas, frente a 350 milhões de toneladas que poderia ter colhido. O arroz com 8,5 milhões de toneladas contra as 11 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Esses números dão sinais de que os americanos perderão espaço nas exportações mundiais e tudo aponta que o Brasil, pela primeira vez na história, será o maior ex-portador mundial de soja em 2012.

CHINa - Os chineses comentam que as importações serão crescentes, com a soja devendo superar a marca das 60 milhões de toneladas pela primeira vez na história. Cogita-se que o milho poderá ir a dez milhões de toneladas importadas. Ambos para sustentar o setor de ração, em forte expansão, de-vido ao crescimento de consumo de carne de suínos e frangos. Junto a isso, os chineses esperam aumentar os estoques, porque acham que as cotações atuais dos grãos estão baratas.

aRGeNTINa - O clima ainda é uma incógnita para a safra, mas até agora ocorrem chuvas regulares. Há alto potencial de colheita no milho, que poderá superar as 28 milhões de toneladas, e na soja, que tende a alcançar 55 milhões de toneladas. Ainda tem um e outro especialista em clima apontando que de janeiro em diante poderão ocorrer efeitos do fenômeno La Niña, mas a maior parte do setor já não acredita em grandes perdas.

42 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

O plantio de mais uma grande safra está em andamento, com a maior parte das lavouras de soja, milho e arroz já plantada e bons indicativos de colheita. Com otimismo, os produtores apostam em tecnologia, buscando crescer em produtividade, com investimentos em sementes. Soja e milho apresentavam escassez das melhores variedades e muitas das sementes de milho da safrinha já tinham sido comer-cializadas antes de outubro (cinco meses antes do plantio do Mato Grosso). Ao mesmo tempo, estes produtores comercializaram mais de 60% do que esperam colher no período, sinalizando que o ritmo comercial avançou. Os produtores agora não esperam mais pela colheita e a venda na “boca da safra”, que para os compradores é o melhor momento e na maioria das vezes o pior para os produtores. Desta forma, os agricultores não vendem mais na “bacia das almas”, quando os preços são os mais baixos do ano e os fretes os mais altos. Também não apostam em vender em cima de números ilusórios, mas sim nos momentos que lhes garantem a continuidade para se manter na atividade com lucratividade. O Brasil entra em uma safra que promete. A soja terá produção ao redor de 80 milhões de toneladas e o milho irá superar 60 milhões de toneladas. Mesmo em queda de área o arroz resultará em mais de 11 milhões de toneladas, porque também apresenta avanço na tecnologia, com os produtores buscando superar a crise com ganhos de produtividade. Aliado a feijão, trigo, sorgo e demais grãos o País caminha em busca de uma colheita acima de 170 milhões de toneladas, que neste ano será mais concentrada, demandará maior volume de fretes (em um período curto e, ao que tudo indica, com forte avanço nos preços). Diante desse cenário recomenda-se que não se deixe para negociar “na boca da colheita”, para não correr riscos de pegar as cotações mais baixas do ano. A comercialização antecipada tem servido para desafogar os produtores e deixar o setor mais lucrativo!