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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS UNIFAL-MG Emanuel Fonseca Vieira Beatriz Barbosa de Carvalho GRANDES PROJETOS HIDRELÉTRICOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENTORNO DO LAGO DE FURNAS E AS ÁREAS INUNDADAS NO MUNICÍPIO DE ALFENAS-MG Alfenas/MG 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

UNIFAL-MG

Emanuel Fonseca Vieira

Beatriz Barbosa de Carvalho

GRANDES PROJETOS HIDRELÉTRICOS:

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENTORNO DO LAGO DE

FURNAS E AS ÁREAS INUNDADAS NO MUNICÍPIO DE

ALFENAS-MG

Alfenas/MG

2010

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Emanuel Fonseca Vieira

Beatriz Barbosa de Carvalho

GRANDES PROJETOS HIDRELÉTRICOS:

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENTORNO DO LAGO DE

FURNAS E AS ÁREAS INUNDADAS NO MUNICÍPIO DE

ALFENAS-MG

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel e Licenciado em Geografia pelo Instituto de Ciências da Natureza da Universidade Federal de Alfenas- MG, sob orientação da Professora Doutora Ana Rute do Vale.

Alfenas-MG

2013

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Emanuel Fonseca Vieira

Beatriz Barbosa de Carvalho

GRANDES PROJETOS HIDRELÉTRICOS:

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENTORNO DO LAGO DE

FURNAS E AS ÁREAS INUNDADAS NO MUNICÍPIO DE

ALFENAS-MG

A Banca Examinadora abaixo assinada, aprova a dissertação como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharelado e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Alfenas. Área de concentração: Geografia Agrária.

Aprovada em:

Prof.:

Instituição: Assinatura:

Prof.:

Instituição: Assinatura:

Prof.:

Instituição: Assinatura:

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Dedicamos a realização deste trabalho à nossas famílias, amigos, a todos aqueles que nos receberam em suas casas, e, principalmente, à nossa professora Ana Rute do Vale, que foi nossa maior apoiadora.

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AGRADECIMENTOS

À nossa grande mestra e incentivadora Professora Doutora Ana Rute do Vale.

Aos meus tios Leonel Leite Vieira e Maria Leonor Leite Vieira que nunca deixaram de

acreditar de mim.

A minha mãe e amigos que sempre foram grandes apoiadores.

Emanuel F. Vieira

À Professora Dra. Ana Rute do Vale, pela confiança e dedicação.

Ao meu namorado Arthur Credo Rodrigues, pelo exemplo, amor e cuidado.

À família, fundamental para que eu pudesse realizar este trabalho.

Aos amigos, que sempre ofereceram apoio e boa companhia, e ao amigo Emanuel F.

Vieira, por compartilhar deste passo em minha trajetória acadêmica.

Beatriz B. Carvalho

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“[...] em se tratando de deslocamentos compulsórios, a guerra do desenvolvimento tem sido tão implacável quanto as guerras propriamente ditas. E suas vítimas, sem dúvida alguma, bem mais numerosas” (CARLOS VAINER, 1992).

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RESUMO

As hidrelétricas no Brasil tem representado, para o desenvolvimento industrial do país, uma força motriz. O início desse processo deu-se na década de 1950, sob o governo de Juscelino Kubitscheck, que acabou priorizando a expansão da matriz energética brasileira, pautada nos recursos hídricos. Todos os governos seguintes aprovaram essa decisão e a perpetuaram. Atualmente, o Brasil possui mais de 500 centrais hidrelétricas, o que lhe atribuiu o título de expoente mundial na produção de energia. No entanto, este mérito camufla outra realidade bastante prejudicial a uma minoria. Compostas por reservatórios que chegam a centenas de km², essas grandes hidrelétricas tem sido amplamente criticadas devido aos seus aspectos negativos. Essas grandes barragens, impõe a milhares de pessoas a obrigatoriedade de lhe cederem seus espaços. Para que o país atingisse sua autonomia energética e pudesse sustentar o seu desenvolvimento, 1 milhão de pessoas tiveram de se deslocar de suas casas, e 3,4 milhões de hectares de terras cultiváveis foram inundadas. Alfenas é uma cidade com forte influência do rural, sua localização e solo fértil mantiveram a expansão da cidade até meados do século passado. A represa de Furnas provocou impactos significativos com a construção de sua barragem. As mesmas áreas agricultáveis que fomentavam a economia do município foram inundadas, desperdiçando seu potencial. Por outro lado, a usina impulsionou o desenvolvimento do país e ofereceu novas perspectivas para a região. Desde então, o município se constrói em uma nova realidade, consequência de uma reordenação social provocada pelo lago. Objetivando uma abordagem geográfica desta questão, o presente trabalho toma como referência a situação gerada pela implantação da hidrelétrica de Furnas, localizada na bacia hidrográfica do rio Grande na região sul do estado de Minas Gerais.

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ABSTRACT

The hydroelectric dams in Brazil represents a driving force for the country's industrial development. This process took place in 1950, under the Government of Juscelino Kubitscheck, and prioritizes the expansion of the energy matrix based on water resources. All the following governments approved and perpetuated this decision and. Currently, Brazil has more than 500 hydropower plants, and it is leader in energy production. However, this merit camouflages another reality quite harmful to a minority. Composed of reservoirs that reach hundreds of square miles, these dams has been widely criticized due to their negative aspects. They imposes to thousands of people to give up their spaces. For the country to attain energy autonomy and could sustain its development, 1 million people had to move from their homes, and 3.4 million hectares of farmland were flooded. Alfenas is a city with strong rural influence. Its location and fertile soil maintained its expansion until the middle of the last century. The dam caused significant impacts with building their dam. The same arable areas that mantain the economy of the town were flooded, wasting its potential. On the other hand, it has boosted the development of the country and offered new perspectives for the region. Since tethen, the city is in a new reality, result of a social reorganization triggered by the lake. Aiming a geographical approach , this paper takes as reference the situation generated by the deployment of the Furnas dam, located in the rio Grande basin in the southern of Minas Gerais state.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Vista aérea da Usina Hidrelétrica de Furnas (MG)........................................28

Figura 2: Juscelino Kubitschek em visita às obras de Furnas........................................28

Figura 3: Localização do Município de Alfenas............................................................31

Figura 4: Capela São José e Nossa Senhora das Dores, 1917........................................32

Figura 5: Estação Ferroviaria de Alfenas.......................................................................32

Figura 6 e 7: Município de Alfenas (MG) antes de (1950) e depois (1960) da inundação de suas terras pelo lago de Furnas..................................................................33

Figura 8: Fazenda do Retiro, 25 de agosto de 1940.......................................................35

Figura 9: Fazenda do Retiro, 23 de agosto de 2013.......................................................35

Figura 10: Edificações antigas de Barranco Alto que foram destruídas com a inundação provocada pelo lago de Furnas........................................................................................39

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LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1: Localização, áreas inundadas e pessoas deslocadas por UHEs.....................15

Tabela 2: Deslocamento compulsório provocado pela construção de algumas hidrelétricas selecionadas................................................................................................21

Tabela 3: Distribuição de centrais hidrelétricas em operação por faixa de potência em 2003.................................................................................................................................21

Tabela 4: População Total do Município de Alfenas entre 1950 – 1970.......................37

Gráfico 1: Participação de Furnas no suprimento de energia elétrica por estado.......... 30

Gráfico 2: Áreas cultivada na agricultura e produtos.....................................................36

Gráfico 3: Participação (%) das população urbana e da rural em Alfenas, de 1970 a 2010.................................................................................................................................37

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................12

1. GRANDES PROJETOS HIDRELÉTRICOS NO BRASIL.................................18

1.1 Impactos causados pela construção de barragens..........................................19

1.2 Mobilizações da sociedade............................................................................23

2. IMPLANTAÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE FURNAS NO CONTEXTO

NACIONAL...................................................................................................................27

2.1 Histórico.........................................................................................................27

2.2 Situação atual.................................................................................................29

3. IMPACTOS PROVOCADOS NAS ÁREAS INUNDADAS PELO LAGO DE

FURNAS NO MUNICÍPIO DE ALFENAS................................................................31

3.1 Transformações na atividades agrícolas provocadas pela inundação............34

3.2 Impactos sobre o espaço rural........................................................................37

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................43

REFERÊNCIAS............................................................................................................44

APÊNDICE....................................................................................................................46

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INTRODUÇÃO

Para estabelecer-se em civilizações, o homem necessitou primeiramente

desenvolver técnicas que possibilitassem o domínio do meio-ambiente, das

características de cada paisagem a ser ocupada, e dos métodos de adaptá-las a seu favor.

A água, como fator determinante para a sobrevivência, teve amplo significado na

evolução das sociedades, a partir do momento em que foi manejada em prol de manter

um povoado abastado, contrariando as circunstâncias naturais. Existem registros dos

primeiros alagomentos de água que antecedem o tempo cristão (a.C.), com o objetivo de

garantir a reserva do recurso em espaços que sofriam períodos de seca. Desde então, os

usos da água foram se tornando cada vez mais variados, a irrigação agrícola,

abastecimento urbano e industrial.

A força da água em movimento produz a chamada energia potencial, que o

homem transformou em geração de energia elétrica. A grande quantidade de rios e o

relevo brasileiro mostraram-se propício para a implantação desta técnica no nosso país.

O desenvolvimento nacional, portanto, contou com esta capacidade hidrelétrica desde o

Período Imperial. Em busca da independência energética, os governos investiram em

sucessivas políticas de geração e distribuição de energia.

Atualmente, a matriz energética brasileira passa por um momento de franca

expansão com a construção de várias hidrelétrica e barragens, sobre tudo na região

Norte do país. Tal expansão se deve a uma iniciativa do governo, que ao mesmo tempo

espera atender à crescente demanda de energia, como também acelerar o processo de

desenvolvimento.

No Brasil, a produção e distribuição desse recurso teve sua evolução baseada

principalmente no crescimento econômico, atrelado à necessidade de industrialização, e

sua produção sempre foi palco de debates (LEMOS JÚNIOR, 2010).

Este tema se popularizou quando, no ano de 2001, uma série de medidas do

governo pregava o racionamento de energia sob ameaça de um “apagão”. No entanto,

este assunto já vem sendo discutido e questionado há muitos anos por diferentes atores

sociais, desde centros de pesquisa e institutos acadêmicos, ONGs e movimentos sociais

(VIANA, 2003).

Mesmo após a visibilidade do tema, muitos pontos desta atual política de

expansão energética permanecem obscuros aos olhos do grande público, apenas

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estudada nos meios acadêmicos e sentida pelos diretamente atingidos por estas obras

(VIANA, 2003).

A lógica norteadora dessa política é o próprio modelo de desenvolvimento

excludente adotado pelo nosso país, que tem como objetivo atender aos interesses do

grande capital, nacional e internacional. São estes os maiores consumidores e os

principais beneficiados desse insumo, já que são eles os executores desses megaprojetos

de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica (VAINER, 1992). Apesar da

finalidade destes projetos encontrarem justificativa na necessidade de progresso e

desenvolvimento, na prática, o que se constata é uma contradição envolvendo os grupos

sociais. De um lado, temos aqueles que se beneficiam, e do outro, aqueles que arcam

com os prejuízos.

As duas afirmações acima encontram respaldo, quando em 2006, no Rio de

Janeiro, movimento social MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), denunciou

a criminalização da população atingida ao CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da

Pessoa Humana), que “decidiu instituir uma Comissão Especial para acompanhar as

denúncias de violações de direitos humanos em processos envolvendo o planejamento,

licenciamento, implantação e operação de barragens”. Esta comissão, após a

averiguação das denuncias, aprovaria um relatório contendo mais de 600 páginas. Os

estudos do caso concluem que a implantação dessas obras violam os direitos humanos,

acentuando as desigualdades sociais. Além disso, identifica um conjunto de 16 direitos,

sistematicamente corrompidos ao logo do processo de implantação dos projetos

(CDDPH, 2010, p.12).

Somente em 2010, com a aprovação deste relatório, a problemática que envolve

os grandes empreendimentos hidrelétricos e os atingidos por eles se tornaram visíveis à

sociedade, no entanto, na prática pouca coisa mudou. Fato este que nos alerta para o

aprofundamento na discussão, haja vista a atual conjuntura de produção energética.

Tais medidas recentes nos levam a traçar um paralelo com a década de 1950,

quando o ideário nacional-desenvolvimentista, personificado na figura do presidente da

república Juscelino Kubitschek de Oliveira, estabelece suas diretrizes

desenvolvimentistas de governo. Em resposta a uma grande estiagem, que perdurou de

1951 a 1956, o governo JK e seu Plano de Metas (50 anos em 5) priorizaram a

construção e expansão hidroelétrica no País culminando no mega projeto de FURNAS

(CLEMENTE, 2011).

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Diante deste quadro histórico, a ampliação da matriz energética brasileira se fez

pautada principalmente na produção de energia elétrica de origem hídrica e de formação

de enormes reservatórios, que por muitas vezes tomam espaços já ocupados. Sendo

assim, o indivíduo é privado de seu território, e obrigado a se liberar dos elos culturais e

de identidade com o lugar, constituindo a sua própria desterritorialização

(HAESBAERT, 2004, p.172).

Quando estes grandes empreendimentos provocam a desapropriação dos imóveis

eles geram o chamado deslocamento compulsório que, juntamente com as baixas

compensações indenizatórias e a desterritorialização, são a gênese dos conflitos que

envolvem a construção de barragens. Sabemos que o atual modelo de expansão elétrica

prevê a construção de inúmeras barragens, gerando não somente impactos ambientais,

mas também produzindo além de energia um verdadeiro exército de desapropriados.

A transposição da população em decorrência dos grandes projetos hidrelétricos foi

amplamente estudada por inúmeros autores. Em consequência da mesma, ficou

conhecido o deslocamento compulsório, que designa o processo pelo quais

determinados grupos sociais, em circunstâncias sobre as quais não dispõem de poder de

deliberação, são obrigados a deixar ou a transferir-se de suas casas ou de suas terras

(SANTOS, 2003).

Dessa forma, os atingidos por barragens somam-se a um grupo de pessoas

motivadas a se deslocarem de seu espaço/território, por grandes obras de infraestrutura.

Neste grupo, encontramos contingentes populacionais que se viram obrigados a

abandonar suas casas devido à construção de lagos, estradas, ferrovias, bases de

lançamento aeroespaciais, portos, etc., ficando conhecidos como “refugiados do

desenvolvimento”.

Apresentados sob este signo, estes grandes projetos foram responsáveis, entre 1990

e 2000, pelo deslocamento compulsório, e por uma queda na qualidade de vida de

aproximadamente cem milhões de pessoas em todo o mundo. Essa dimensão somente

encontra paralelo quando comparada aos 43,3 milhões de pessoas realocadas por

motivos de guerras, conflitos e perseguições (NOBREGA, 2008).

Numa escala global, especula-se um valor que gira entre 40 e 80 milhões de

indivíduos que sofreram deslocamento compulsório, ocasionado pela implantação de

uma barragem hidrelétrica. A tabela 1 expressa em números essa questão mundial, sua

inserção neste trabalho tem como objetivo demonstrar de maneira quantitativa a

problemática do deslocamento compulsório. Para sua elaboração foram coletados dados

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de algumas UHEs de diferentes países, a partir daí os dados foram dispostos de maneira

decrescente pela migração de pessoas (da Silva).

Tabela 1: Localização, áreas inundadas e pessoas deslocadas por UHEs.

PROJETO HIDRELÉTRICO

PAÍS ÁREA INUNDADA (hectares)

PESSOAS DESLOCADAS

Três Gargantas China 110.000 1.300.000

Xiaolangdi China 27.200 181.600

Aswan High Egito 400.000 100.000

Tarbela Paquistão 24.280 96.000

Kalabagh Índia 55.000 83.000

Narmanda Índia 90.829 80.500

Longta China 37.000 73.000

Yacyreta Argentina/Paraguai 17.200 50.000

Kainji Nigéria 125 50.000

Ertan China 10.100 30.000

Cabora Bassa Moçambique 380.000 25.000

Bakun Malásia 70.000 10.000

Indravat Índia 40.000 8.800

Labuge China 145 5.000

Pak Mun Tailândia 6.000 4.950

Nam Theum Laos 34.000 4.500

TOTAL 740.399 2.102.350

Fonte: Adaptado de CARVALHO (2006, p.57) .

No Brasil, o MAB estima que estas obras de engenharia já prejudicaram 1 milhão de

pessoas, inutilizando 3,4 milhões de hectares de terras produtivas (SILVA, 2008).

Em um empreendimento de grande porte, como um dique de contenção de água para

uso hidrelétrico, podemos salientar vários impactos socioambientais. Sua construção

provoca uma verdadeira reordenação territorial, com a remoção compulsória das

populações que ocupavam estes espaços, conforme já salientado. Neste sentido, é

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importante conceituar a noção de espaço cultural, esta concepção prioriza a dimensão

emblemática e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo, como o produto da

apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido.

(HAESBAERT, 2004, p.40)

O estudo de impacto ambiental (EIA) de grandes barragens é uma exigência

ambiental legislativa, requerida na obtenção da licença de funcionamento. Ele costuma

integrar o aspecto social, mesmo que este item receba menos relevância em alguns

casos. Ler um estudo de impacto de grandes barragens nos aspectos que tangem o

“social” revela uma experiência extraordinariamente monótona, já que os aspectos

sociais são tratados de maneira corriqueira, e até mesmo simplória. “Por mais diferentes

que sejam as realidades econômicas, políticas, culturais e sociais das áreas onde as

barragens serão implantadas, os estudos se parecem uns com os outros tanto quanto

duas gotas das águas que serão alagadas” (VAINER, 1992).

Sendo a geografia uma área da ciência cujo objeto de estudo se estende entre

diferentes aspectos acerca da relação entre o homem e o ambiente, problemáticas sociais

naturalmente passam a integrá-la em forma de interpretações e questionamentos.

Este trabalho tece considerações sobre a implantação de hidrelétricas no Brasil.

Nosso objeto de estudo encontra embasamento em diversos autores que defendem e

entendem a geografia coma uma associação entre os fatores físicos e humanos.

Para Santos (2008, p. 59):

Os objetos que interessam à geografia não são apenas objetos móveis, mas também imóveis, tal como uma cidade, uma barragem, uma estrada de rodagem, um porto, uma floresta, uma plantação, um lago, uma montanha. Tudo isso são objetos geográficos. Esses objetos geográficos são do domínio tanto do que se chama Geografia Física como do que se chama Geografia Humana e através da história desses objetos, isto é, da forma como foram produzidas e mudam, essa Geografia física e essa Geografia Humana se encontram.

No decorrer deste trabalho, o deslocamento compulsório e a desterritorialização

causada pelos grandes empreendimentos públicos são abordados, a fim de

complementar o traçado do histórico de lutas e reivindicações dos atingidos por

barragens.

Em seguida, são analisados os processos e transformações rurais na cidade de

Alfenas após a implantação do reservatório de Furnas, e a caracterização do espaço rural

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do município, em termos de produção agrícola e estrutura fundiária antes e depois de

Furnas (1950 – 2010).

Outro ponto abordado é a dinâmica populacional, sobretudo com relação ao

deslocamento compulsório e perda da territorialidade no município de Alfenas.

O desenvolvimento deste trabalho contempla inicialmente as medidas de geração de

energia propostas no país, especialmente no que se refere ao processo de implantação

do Complexo Hidrelétrico de Furnas.

Seu detalhamento foi realizado a partir de um levantamento bibliográfico, de

maneira a embasar os questionamentos sobre os impactos socioeconômicos

desencadeados a partir da chegada desse empreendimento à região. Os dados fornecidos

pelos censos do IBGE foram importantes para que fosse possível a produção de tabelas

e gráficos de comparação sobre a movimentação populacional, explicitando-a em

números e atribuindo-a ao alagamento das águas.

O estudo do caso estimulou a consulta da população, no que diz respeito à instalação

de Furnas e seus impactos. Incluir a este projeto o testemunho dos atingidos visa

complementar qualquer levantamento já feito. Nesse intuito, foram criadas perguntas

pontuais para estimular que os entrevistados fornecessem informações úteis para a

pesquisa.

Mais adiante, as declarações dadas por antigos moradores que presenciaram a

chegada da lago à várzea alfenense complementou o trabalho. As áreas rurais do

município, por terem sentido mais fortemente as transformações provocadas pela

barragem de Furnas, foram escolhidas para esta etapa da pesquisa. Para isso, foram

selecionados os bairros rurais Matão, Mandassaia e Harmonia, bem como o distrito de

Barranco Alto, no entorno da cidade de Alfenas. A partir de uma pesquisa prévia com

alguns moradores, foi possível a identificação e seleção dos cidadãos que poderiam ser

consultados para as entrevistas em anexo.

As questões foram feitas oralmente, em visitas informais, e gravadas em áudio

mediante autorização. Nelas, pudemos colher informações e detalhes que apenas os

próprios atingidos pela lago poderiam fornecer. Além disso, em alguns casos, imagens e

fotos embasaram os relatos dos entrevistados.

O método adotado preocupava-se em compreender diferenças e complexidades das

questões humanas, sociais, levando em conta a diversidade de contextos e significados

do mesmo fenômeno em cada depoimento colhido.

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O objetivo de se utilizar este tipo de investigação é o contato com o ambiente que

circunda o entrevistado. A observação de seu meio de vida, a geração de renda da

família, organização social, e o papel dos indivíduos nessa organização. Desse modo,

foi possível compreender as disparidades nos pontos de vista de cada morador, porque

as memórias se mostram influenciada por diferentes contextos.

Outro aspecto considerado na escolha do método é a perspectiva temporal que

envolve as entrevistas, levando em conta que os acontecimentos, agora em forma de

lembranças de um passado distante, tomam outro significado para os atingidos. Sua

avaliação já está influenciada pelo tempo e os fatos que se deram entre a construção das

barragens e o presente momento. No caso, alguns dos benefícios trazidos pelo

empreendimento geram este efeito.

Apesar de terem idades, vivências e opiniões diversas sobre a chegada da lago,

existe um consenso entre os atingidos relativo à inundação, que transformou a realidade

daquela geração. Os relatos em geral condiziam com o que já havia sido constatado na

pesquisa bibliográfica realizada até então, a respeito do tratamento que se deu aos

proprietários de terra do lugar, os valores indenizatórios, e a consequente evasão da

população rural.

A utilidade dessas informações, partindo da população que vivenciou o processo, foi

a de constituir um banco de informações que complementassem a pesquisa bibliográfica

e respaldassem as conclusões deste trabalho.

1. GRANDES PROJETOS HIDRELÉTRICOS NO BRASIL

A ampliação do Sistema Elétrico Brasileiro tem como marco o governo do

presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Desde este momento, priorizou-se no

Brasil a construção de hidrelétricas. Neste período, foram construídas várias usinas, que

afetaram diversas regiões do país não apenas no aspecto físico, mas também no domínio

das relações humanas, no lugar e no território, é neste contexto que Furnas está inserida

(ALBANI DE CARVALHO, 2006)

O Plano de Metas do governo JK se constituía no comprimento de 31 objetivos

previamente determinados e estudados. As metas tiveram como base um aprofundado

estudo sobre a economia brasileira, enfatizando técnicas de planejamento. Entre seus

idealizadores encontramos o economista Celso Furtado, especialistas da Comissão

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Econômica para a America Latina (CEPAL) e o Banco nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE), (LEMOS JÚNIOR, 2010).

Ao prazo de cinco anos para a sua execução, seu plano priorizava o setor de

energia, transportes, alimentação, indústria, educação e por fim a construção de Brasília.

Já os PNDs (Planos Nacionais de Desenvolvimento), também inseridos no ideal

desenvolvimentista, diferem do Plano de Metas do governo Juscelino, pois foram

organizados segundo uma lógica militar. O primeiro PND (1969-1974) propôs altos

investimentos no setor de transporte rodoviário, seu intuito era a integração da nação.

O segundo PND (1974-1979), concentrou sua atenção no setor de energia em

resposta a crise mundial do petróleo, sua intenção era reduzir a dependência energética

de combustíveis fósseis no Brasil. Neste período incentivava-se a construção de

barragens como alternativa energética à dependência do petróleo. O segundo plano se

destacou pelo início da construção da usina de Itaipu, com o acordo nuclear Brasil-

Alemanha e a criação do Pró-Álcool, todas estas medidas ligadas à crise energética

mundial.

Com estes Planos de Metas, se percebe que o Estado brasileiro esteve em pleno

desenvolvimento, sendo ele um dos principais indutores no processo de crescimento

econômico. Para esta participação do Estado tinha como objetivo facilitar os caminhos

para grande capital. De modo geral, estas políticas públicas subsidiavam com dinheiro

do povo a produção do espaço em benefício do setor privado (PORTO GONÇALVES,

1984 apud Souza, 2011).

1.1 Impactos causados pela construção de barragens

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) define como impacto

ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia. Segundo o artigo 5º da

Resolução do Conama nº 01, de 23 de janeiro de 1986, o estudo de impacto ambiental

(EIA) e o relatório de impacto ambiental (RIMA):

Devem ser elaborados, por equipe multidisciplinar e contemplará todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de sua não execução, a identificação e avaliação sistemática dos impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação e a definição dos limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área

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de influência do projeto. Levará ainda em consideração a bacia hidrográfica na qual se localizam os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade com o empreendimento cujos impactos estão sendo avaliados.

O processo de expansão energética brasileira iniciada no governo de Juscelino, e

perpetuada pelos governos seguintes, rendeu ao Brasil em 1980, o status de expoente da

hidroeletricidade mundial. Este período foi marcado pela inauguração de algumas mega

obras. Ao logo do tempo, consequências desastrosas vêm se apresentando.

Como exemplo destas complicações, podemos citar o fechamento das comportas da

Usina de Serra da Mesa, em Lajeado, no estado do Tocantins, secando um extenso

trecho do rio. Três anos depois registrou-se uma enorme mortandade de peixes, e a

principal praia da lago teve de ser interditada por motivos sanitários. Outro exemplo

pouco conhecido, ocorreu dez anos antes, em 1988, mas foi abafada pela Companhia

Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) e pelo governo militar, foi a morte de 88

pessoas e a intoxicação de outras 2.392 que contraíram hepatoxicoses ao terem entrado

em contato com a água da lago em áreas próximas a cidade de Petrolândia. Essa

intoxicação se deu porque não foram realizadas na cidade as devidas medidas de

limpeza e descontaminação de esgotos, fossas e cemitério que deveriam anteceder a

inundação da área (SEVÁ FILHO, 2004).

Na implantação de um empreendimento de grande porte, como uma usina

hidrelétrica, podemos salientar graves impactos socioeconômicos, culturais e ambientais

que ocorrem de diferentes maneiras na região (BORTOLETO, 2001, p.54). A

construção de uma barragem provoca uma reordenação territorial e a remoção

compulsória das populações que ocupavam estes espaços. A tabela 2 ilustra bem essa

situação, no entanto, os dados apresentados representam uma pequena parcela do total.

21

Tabela 2: Deslocamento compulsório provocado pela construção de algumas hidrelétricas selecionadas.

USINA HIDRELÉTRICA LOCALIZAÇÃO RIO PESSOAS DESLOCADAS

Sobradinho Bahia São Francisco 72.000

Itaipu Paraná Paraná 42.000

Itaparica Bahia/Pernambuco São Francisco 40.000

Tucuruí Pará Tocantins 30.000

Itá Rio Grande do Sul/Santa Catarina

Uruguai 14.240

Machadinho Rio Grande do Sul/Santa Catarina

Pelotas 6.800

Irapé Minas Gerais Jequitinhonha 3.500

TOTAL 20.8540

Fonte: Adaptado de CARVALHO (2006, p.59) .

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), até 2003 havia se

registrado um total de 517 centrais hidrelétricas em operação no Brasil, dos quais 378

eram empreendimentos de pequeno e médio porte. Como indicado na tabela 3, as usinas

acima de 30 MW correspondem a 98,4% da capacidade hidrelétrica instalada no país

(ANEEL, 2003).

Tabela 3: Distribuição de centrais hidrelétricas em operação por faixa de potência em

2003.

FAIXA DE POTÊNCIA NUMERO DE

USINAS MW

POTÊNCIA

%UEH (acima de 30MW) 139 69563 298,40

PCH (de 1 até 30MW,inclusive) 230 1048 1,48CGH (até 1MW, inclusive) 148 81 0,12

TOTAL 517 70693 100

Fonte: AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Banco de Informações de Geração - BIG. 2003. Disponível em: www.aneel.gov.br/15.htm.

A partir das tabelas 2 e 3, fica evidente que o número de deslocados expostos na

tabela 2 é na verdade um pequeno contingente de pessoas quando se confrontado com a

tabela 2, pois analisando apenas 7 hidrelétricas, já encontramos 208540 pessoas

22

realocadas. Se levarmos em conta todas as centrais hidrelétricas em operação, esse

número pode superar a casa dos milhões.

No que diz respeito aos impactos ambientais, podemos citar as áreas inundadas

que excedem as matas ciliares e cobrem a vegetação nativa, provocando desequilíbrio

ecológico. Além disso, a própria interferência no regime hídrico pode ocasionar a

extinção de determinadas espécies do meio aquático e terrestre.

Nesse contexto, segundo Sevá Filho (2004, p.4) algumas experiências confirmam a

importância das análises de impactos ambientais, bem como o planejamento dessas

obras.

• A obra de Assuan, no rio Nilo, inundou vários sítios arqueológicos no Egito de valor inestimável, além disso, provocou mudanças negativas na agricultura de vazante e na fertilidade pesqueira do delta do Nilo.

• Kariba, situada entre Zâmbia e o Zimbabwe, no rio Zambéze, registrou grandes prejuízos para os agricultores e criadores de suas margens, um surto rápido de pesca foi seguido por um declínio longo na atividade pesqueira.

• A Usina Hidrelétrica de Akozombo, em Ghana, feita quase exclusivamente para uma fundição de alumínio, dividiu o país e várias tribos em duas partes, levando à desorganização agrícola e uma crise no abastecimento de gêneros alimentícios durante muitos anos.

• Tetom Dam, nos EUA, fez o chão tremer durante as etapas de sua construção, mesmo diante deste aviso as autoridades insistiram em terminar a obra. O resultado foi o colapso total da obra, que se destruiu durante o enchimento, provocando uma enxurrada de detritos e rochas, arrasando fazendas e moradias rio abaixo.

• Na Itália, a lago de Vajont, atingida por uma avalanche de origens sísmicas, acabou por extravasar seu reservatório sobre a crista da barragem, o resultado disso foi a destruição de tudo rio abaixo, incluindo vilarejos e matando seus habitantes.

• No Peru, na lago de Yungay, uma cidade de 50 mil habitantes foi destruída junto de sua barragem, atingidas por ondas gigantes originadas do degelo da cordilheira branca.

As catástrofes mundiais acima mencionadas nos demonstram a importância de

um estudo prévio que contemple diferentes áreas do conhecimento. Isto porque uma

falha ou deslize em algum fator ambiental, social ou técnico, pode criar uma série de

impactos.

1.2 Mobilizações da sociedade

23

A ocorrência da luta social de pequenos produtores rurais é um fato presente na

história do Brasil, mesmo que a versão apresentada ao público se resuma a resquícios

escamoteados da verdade. Neste traçado, o Movimento dos Atingidos por Barragens

tem como objetivo defender os interesses de uma população, de maioria rural, frente à

eminência da desapropriação de suas terras para o armazenamento da água. As

reivindicações do movimento incluem a criação de uma política nacional de direitos dos

atingidos e a formação de um fundo de auxílio, para reparar os prejuízos das pessoas

afetadas na implantação de uma barragem.

O MAB foi fundado no final da década de 1970, na região do Alto Uruguai

(RS/SC), e continua ativo até os dias de hoje. Sua fundação nos remete a um contexto

militar, onde se iniciava o processo de redemocratização do país.

Neste caso, a princípio ocorreu uma pequena mobilização de agricultores

apreensivos com a inevitável da perda de suas propriedades, devido à construção de Itá

e Machadinho, no rio Uruguai, duas grandes obras de engenharia destinada à produção

elétrica (REIS, 2007).

Esta reação de pequenos produtores rurais atingidos por este projeto permitiu o

reconhecimento de que a instalação de hidrelétricas resultava em uma complexa

problemática, que está longe de se esgotar. Esta luta se expandiu nos anos seguintes,

sendo formadas comissões regionais em todo o país.

Entre as décadas de 1980 e 1990, era sabido que havia uma desigualdade no

tratamento das comunidades a serem realocadas, em decorrência da implantação de

projetos hidrelétricos. De uma região para outra, a resistência da população variava

muito, mesmo assim, grande parte das famílias foram expulsas de suas propriedades,

sem condições de defender seus direitos. A privatização do setor elétrico dramatizou a

questão dos desapropriados com a entrada das empresas transnacionais que, com o

respaldo do Estado, tornaram mais agressivo o avanço do desenvolvimento no Brasil

(ROTHMAN, 2011).

A virada do milênio trouxe novas perspectivas, e aspectos antes ignorados pelo

poder público foram ganhando visibilidade e importância no progresso do país. Os

processos jurídicos iniciados na época revela o contingente de pessoas que vinham

sendo prejudicadas.

Denúncias de violação de direitos humanos no processo de implantação de

barragens no nosso país levam a uma análise pontual do contexto que envolve a

24

construção de barragens e a realocação das famílias originárias de regiões a serem

inundadas.

A ocorrência de conflitos ambientais e os impactos sociais econômicos

culminam em perdas materiais para as comunidades envolvidas pela área de inundação,

mas a transformação do espaço físico interfere diretamente na identidade da população

envolvida, provocando principalmente a perda cultural que afeta a qualidade de vida da

comunidade (ROTHMAN, 2011).

O CDDPH é o órgão do Estado brasileiro equivalente à Comissão de Direitos

Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Em seu papel regulador, institui

então, uma Comissão Especial para receber e analisar denúncias feitas no processo de

implantação de barragens no Brasil (ROTHMAN, 2011).

No ano de 2006, o movimento se fez presente na reunião do Conselho de Defesa

dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), realizada no Rio de Janeiro, para formalizar

denúncias de violação dos direitos humanos e a criminalização dos atingidos por

barragens (ROTHMAN, 2011).

Essa comissão surgiu após um documento apresentado pelo MAB, ainda em

2006, que tratava sobre a violação dos direitos humanos na construção de hidrelétricas

na Bacia do Rio Uruguai. Desde então, ela acompanha estes processos no objetivo de

prevenir, avaliar e mitigar impactos sociais e ambientais, e de preservar e reparar os

direitos das populações envolvidas. A participação da comissão em cada caso depende

da consistência das denúncias e da diversidade de fatores envolvidos, como aspectos

locais, temporais, os objetivos e métodos de cada empreendimento (ROTHMAN, 2011).

Durante quatro anos, foram acompanhados casos de construção de barragens a

partir de missões, coleta de depoimentos, consulta de documentos oficiais, estudos

acadêmicos e informações de empresas, agências governamentais, e demais envolvidos.

Daí elaborou-se um relatório de 600 páginas, tratando da temática como um todo, e

especificando a problemática de casos previamente selecionados (ROTHMAN, 2011).

Algumas das barragens acompanhadas foram as de Tucuruí (Pará), Cana Brava

(Goiás), Aimorés (Minas Gerais/Espírito Santo) e Foz do Chapecó (Santa Catarina e

Rio Grande do Sul), além de UHE Emboque e PCH Fumaça (ROTHMAN, 2011).

Um dos pontos importantes do relatório foi a definição do “conceito de

atingidos”, que determinou quem seriam aqueles passíveis de ser considerados vítimas

das barragens, enfrentando prejuízos sociais, ambientais, econômicos ou culturais.

25

Uma caracterização restritiva ou limitada do que sejam os atingidos, ou seja, do que sejam os prejuízos e os prejudicados pelo planejamento, implantação e operação da barragem acaba por desconhecer uma série de direitos, bem como desqualificar famílias e grupos sociais que deveriam ser considerados elegíveis para algum tipo de reparação. Alguns dos casos eleitos pela Comissão para análise ilustram que o conceito de atingido adotado tem propiciado e justificado a violação de direitos a uma justa reparação ou compensação, entre outros, de ocupantes e posseiros, pequenos comerciantes, garimpeiros artesanais, pescadores e outros grupos cuja sobrevivência depende do acesso a determinados recursos naturais (CDDPH, 2010, p. 14).

Também segundo a CDDPH, existem diversos fatores que causam as violações

de direitos humanos. Entre eles está a ausência de uma política nacional que reconheça

e garanta os direitos das populações atingidas, a falta de uma atuação do poder público

para implementar estes direitos, a precariedade e insuficiência dos estudos ambientais

realizados pelos governos federal e estaduais, e a definição restritiva e limitada do

conceito de atingido adotados pelas empresas. Portanto, o relatório confirma as

denúncias que o Movimento dos Atingidos por Barragens vem fazendo há anos.

A participação da população foi imprescindível. Sendo assim, garante a

CDDPH: “A principal garantia do pleno exercício dos Direitos Humanos está na

presença de uma sólida organização da sociedade civil, informada e vigilante”

(CDDPH, 2010, p. 14).

Destacaram-se alguns itens de maior impacto sobre as comunidades, a questão

da moradia foi o mais significativo entre eles. No entanto, com a chegada dos

empreendimentos hidroelétricos foram violados o direito à informação e participação, à

liberdade de negociação, à reparação de perdas, e o direito ao trabalho, à saúde, à

cultura, e o de ir e vir. Foram identificadas dezesseis tipos de violações dos direitos

humanos. Segundo o relatório,

[...] os estudos de caso permitiram concluir que o padrão vigente de implantação de barragens tem propiciado, de maneira recorrente, graves violações de direitos humanos, cujas consequências acabam por acentuar as já graves desigualdades sociais, traduzindo-se em situações de miséria e desestruturação social, familiar e individual (CDDPH, 2010, p. 12).

Diante desse contexto, a Comissão Especial estabeleceu medidas a serem

tomadas, encaminhando as seguintes formas de ação:

26

• Imediata suspensão de situações, processos e ações, de responsabilidade direta ou indireta de agentes público ou privados, que configurem violação de direitos humanos;

• Reparação e compensação de violações de direitos humanos constatadas, de modo a resgatar, ainda que progressivamente, a dívida social e ambiental acumulada ao longo das últimas décadas;

• Prevenção de novas violações no futuro, através de políticas, programas e instrumentos legais que assegurem o pleno gozo dos direitos por parte das populações, grupos sociais, comunidades, famílias e indivíduos atingidos por barragens (CDDPH, 2010, p. 36).

Um dos reflexos do relatório foi a instituição de um cadastro socioeconômico

que identificasse, qualificasse e fosse referente à um registro público da população

atingida por barragens, utilizando-se do conceito de atingidos. Porém, ainda hoje, a

legitimidade desse conceito é contestada pelo poder público, significando uma longa

batalha para essas comunidades em prol do seu reconhecimento e amparo.

Sendo assim, a criação da Comissão Especial do Conselho de Defesa dos

Direitos da Pessoa Humana para investigar denúncias de violações de direitos humanos

dos atingidos foi uma conquista importante do MAB. Por outro lado, há iniciativas

controversas e dificuldades burocráticas. Constatou-se durante os acompanhamentos

que as denúncias não são suficientes para coibir a violação dos direitos humanos nem os

conflitos ligados a ela, nem mesmo para reparar danos já provocados, e tampouco para

prevenir futuros excessos que surgem no processo de implantação das usinas

hidrelétricas e suas barragens.

Nesse sentido, a CE recomendou mais de cem medidas para garantir e preservar

os direitos humanos dos atingidos por barragens, e sugere que se faça uma ampla

divulgação dos relatórios já realizados, e seu encaminhamento ao maior número de

instituições e órgãos representativos, na intenção de que sejam tomadas providências

prévias que garantam a conscientização e a minimização dos danos desses

empreendimentos à população, bem como a reparação de prejuízos causados no

passado.

Reparar, nestas condições, significa criar as condições objetivas e subjetivas, materiais e imateriais, econômico-financeiras e institucionais, políticas e culturais para que indivíduos, famílias e comunidades submetidas, a sua revelia, ao imperativo de recomeçar a vida em condições novas e frequentemente desconhecidas, tenham acesso a meios que assegurem pelo menos níveis equivalentes de bem-estar e, preferencialmente, meios de alcançar a melhoria contínua das

27

condições de vida. Assim, há que considerar reparações materiais e morais, que devem envolver reposição, restituição ou recomposição de bens, situações e condições preexistentes, ressarcimentos e indenizações de natureza pecuniária, bem como compensações materiais e imateriais (CDDPH, 2010. p. 34 e 35).

2. IMPLANTAÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE FURNAS NO CONTEXTO

NACIONAL

2.1 Histórico

Antecedendo o Movimento dos Atingidos por Barragens, os mineiros da bacia

do rio Grande e do Sapucaí mobilizaram-se contrários ao empreendimento federal, que

visava à construção de uma grande barragem hidroelétrica. Porém, a empreitada e as

reivindicações dos produtores rurais da região não foram atendidas, pois a implantação

da hidrelétrica de Furnas já era fato consumado.

O represamento das águas da região Sul de Minas transformou a vida de uma

população tradicional. Por mais que o Estado tenha considerado satisfatório o valor

pago em indenizações, um grande contingente de pessoas não demonstrava sentir-se

recompensado. Ainda hoje, cinquenta anos após a finalização da barragem, é possível

encontrar pessoas que carregam ressentimentos com relação a FURNAS e com o

Governo Federal. Frente a esse quadro é importante lembrar que, para alguns, o preço

de seus territórios não era medido apenas por valores materiais, mas também éticos,

simbólicos e afetivos.

Furnas cobre uma superfície de 1.440 Km², configurando um perímetro de 3.500

Km. Sua bacia de drenagem apresenta uma área total de 54.464 Km², atingindo 34

municípios que ali se encontram. O lago é formado por dois “braços”, o primeiro é

formado pelo Rio Grande, e conta com uma extensão de 240 km e situa-se a leste do

reservatório, já o segundo, ao sul, é formado pela junção dos rios Verde, Sapucaí e

Machado. O reservatório de Furnas ainda hoje é um dos maiores lagos artificiais do

mundo (LEMOS JUNIOR, 2010).

28

Figura 1: Vista Aérea da Usina Hidrelétrica de Furnas (MG).Fonte: Arquivo Furnas

Segundo o Plano de Metas do governo JK, a base para o progresso estava na

expansão da produção industrial. No entanto, ele também sabia que era impossível

industrializar o Brasil sem antes equacionar o grave problema da energia elétrica. A

solução e força motriz de seu plano foi à implantação de duas hidroelétricas, Três

Marias e Furnas, ambas em Minas Gerais (LEMOS JUNIOR, 2010).

1. Figura 2: Juscelino Kubitschek em visita às obras de FurnasFonte: Arquivo Furnas

29

Furnas objetivava atender os três principais centros socioeconômicos do país, São

Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, fato que teria proporções nunca antes

imaginadas em solo brasileiro.

A Central Elétrica de Furnas contaria com uma barragem com represamento na cota

750, e uma usina com capacidade para 900.000 KW, com possibilidade de elevação da

potência para 1.100.000 kW, sem aumento no número de máquinas, contaria com o

capital compartilhado pela União (51%), Estado de Minas Gerais, representado pela

CEMIG (25%), Estado de São Paulo, representado pela DAEE (24%), e empresas

privadas com o restante (LEMOS JUNIOR, 2010).

Sua fundação se deu na manhã do dia 10 de fevereiro de 1958, no Palácio do Catete

(RJ), quando Juscelino Kubitschek assinou o Decreto 41.066, que autorizava o

funcionamento de Furnas S.A. como empresa de energia elétrica (VIEIRA, 2002).

As desapropriações logo seguiram a assinatura do decreto. O DSR, departamento de

Furnas responsável pelas desapropriações, estima que mais 35 mil pessoas foram

compelidas a abandonar suas casas (relatório Furnas).

Sua construção teve inicio em julho de 1958, entrando em funcionamento somente

no ano de 1963. Seu reservatório era o maior do país na época, com 1.440 Km²,

banhando 34 municípios de Minas Gerais (LEMOS JUNIOR, 2010).

2.2 Situação atual

FURNAS Centrais Elétricas S.A. é uma empresa controlada pela Eletrobrás e

vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Atualmente é uma empresa de geração,

transmissão e comercialização de energia, e possui um complexo de 11 usinas

hidrelétricas e duas termoelétricas, com 1.9278 km de linha de transmissão e 46

subestações. Sua sede administrativa está localizada na cidade do Rio de Janeiro. Sua

atuação se estende por oito estados brasileiros, além do Distrito Federal, sendo sua

participação no suprimento energia elétrica destes estados bastante relevante, conforme

demonstra o gráfico 1(RSF, 2009).

30

Gráfico 1: Participação de FURNAS no suprimento de energia elétrica por estado.Fonte: Balanço social FURNAS, 2006, p. 18.

Furnas manteve-se como uma das principais fontes de eletricidade da região

Sudeste até 2001, quando a falta de chuvas deixou o reservatório com apenas 12% de

sua capacidade. A partir de então, a geração de energia tornou-se um assunto ainda mais

recorrente nos veículos de comunicação, e trazendo a questão do racionamento caso as

chuvas não se intensificassem. A estiagem reforçou a necessidade de se buscar

eletricidade em outras fontes, mesmo assim, as hidrelétricas ainda são responsáveis pela

maior parte do fornecimento de energia (DALTRO, 2012).

No ano de 2012, a falta de chuvas voltou a preocupar a população, o reservatório

de Furnas teve o seu período mais seco e outras atividades relacionadas ao lago, como o

turismo, ficaram comprometidas. Porém, é a problemática dos apagões que agrava essa

situação. Ainda que não houvesse a questão da falta de chuvas, o consumo atual supera

a capacidade de geração de energia do país. O crescimento econômico significa uma

aceleração nas atividades industriais e uma maior demanda energética (DALTRO,

2012).

Sendo assim, o racionamento mantém-se como um cuidado necessário enquanto

o nível dos reservatórios não se estabiliza, e até que se descubra uma fonte de

eletricidade menos vulnerável às condições naturais, que valha a pena diante dos

transtornos ambientais, sociais e econômicos que estas provocam.

Desde 2001, FURNAS, vem adotando políticas administrativas que visam

aspectos sustentáveis. Dentro destas medidas podemos apontar dez princípios que

regem suas futuras ações: respeitar e proteger os direitos humanos; impedir violações de

31

direitos humanos; apoiar a liberdade de associação no trabalho; abolir o trabalho

forçado; abolir o trabalho infantil; eliminar a discriminação no ambiente de trabalho;

apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; promover a responsabilidade

ambiental; encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente; e combater a

corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina (BSF, 2006).

Neste ponto é importante salientar que tais medidas adotadas pela empresa são

louváveis, no entanto, elas apenas mitigarão impactos futuros e, de certa forma,

abrandar os problemas passados conforme o apresentado no capítulo seguinte.

3. IMPACTOS PROVOCADOS NAS ÁREAS INUNDADAS PELO LAGO DE

FURNAS NO MUNICÍPIO DE ALFENAS

O município de Alfenas encontra-se entre os vales dos rios Sapucaí, Machado e

Verde, na mesorregião Sul/Sudoeste de Minas (figura 3).

Figura 3: Localização do Município de Alfenas.Fonte: Diogo Olivetti (2013)

A história do município nos remete a um período em que muitas famílias

migraram para a região em busca de terras férteis e disponibilidade de água abundante.

Nesta época, a principal atividade da região era a agropastoril, sendo que a região

possui um clima ameno, propício para esta atividade. O povoado que mais tarde, em

1869, seria elevado à categoria de cidade, tem sua fundação atrelada com a construção

da Capela São José e Nossa Senhora das Dores (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ALFENAS, 2006).

32

Figura 4: Capela São José e Nossa Senhora das Dores, 1917.Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas (2006).

Durante boa parte do século XIX, a principal atividade econômica da região era

o café. Outras atividades agropastoris eram o cultivo de cereais, cana e a criação de

gado e porcos. No entanto, a falta de uma rede de transporte e de comunicações era um

empecilho econômico para o município de Alfenas, este problema foi solucionado

apenas ao raiar do século XX, quando a região foi integrada à Rede Ferroviária Sul

Mineira e aos serviços de telefonia nacionais (PREFEITURA MUNICIPAL DE

ALFENAS, 2006).

Figura 5: Estação Ferroviária de Alfenas, 1932.Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas (2006).

33

O setor de transportes de Alfenas foi complementado em 1914, quando duas

redes de navegação fluvial foram integradas à rede ferroviária. As embarcações tinham

itinerários definidos, com capacidade para 20 passageiros e 30 mil toneladas de carga,

sua principal finalidade era suprir as necessidades dos comerciantes da região. Neste

princípio de século as principais lavouras eram café, cereais e cana, as atividades

industriais começavam a tomar forma com destaque para a de laticínios, de manteiga,

macarrão e arreios (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006).

Em 1950, a cidade já se encontrava bem estruturada, com avenidas e ruas largas,

e em grande parte calçadas com paralelepípedos. Nesta época foram construídos o

prédio da prefeitura municipal, o cinema, e o prédio central da Escola de Odontologia e

Farmácia de Alfenas. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006).

Como já mencionado, a década de 1960 marca um período de profundas

transformações para Alfenas e o Sul de Minas, com a implantação da usina hidrelétrica

de Furnas, cujo reservatório inundaria uma extensão de terras nesta região. Em Alfenas,

foram submersas áreas rurais, bem como os distritos de Barranco Alto e Fama (figuras 6

e 7).

Figura 6 e 7: Município de Alfenas (MG) antes (1950) e depois (1960) da inundação de suas terras pelo lago de Furnas.Fonte: Prefeitura Municipal de Alfenas (2006).3.1 Transformações nas atividades agrícolas provocadas pela inundação

34

Uma boa maneira de se observar as mudanças provocadas pela construção da

barragem de Furnas seria comparar as características sócio econômicas do município de

Alfenas, no período que se seguiu após a chegada do empreendimento. Analisando a

Leitura Técnica do Plano Diretor de Alfenas, deparamo-nos com dados numéricos que

explicitam as transformações estruturais da organização social, atividades que perderam

a força, outras que se desenvolveram significativamente. E assim, é possível analisar a

influência da chegada da lago a essa região. Indicadores e índices de qualidade de vida

são números que procuram descrever um determinado aspecto da realidade, ou

apresentam uma relação entre várias características, entretanto, é necessário lembrar que

estas informações estão vulneráveis a outros fatores, que podem atrapalhar a sua

interpretação.

A PEA (População Economicamente Ativa) se viu decadente no que diz respeito

às atividades de agropecuária, extração vegetal e pesca. Essa redução ocorreu

paulatinamente, mas entre os anos de 1980 e 1991 chegou a atingir um déficit de 4% ao

ano.

Pelo fato de que as terras da zona rural terem sido as mais atingidas pelo

represamento das águas, foram essas também as que apresentaram maiores

transformações, tanto espaciais como socioambientais. Sendo assim, as atividades

primárias claramente sofreram alterações, o que não pode ser necessariamente

considerado algo negativo, pois está relacionada ao progresso do município. Por outro

lado, é sabido que o desenvolvimento não favorece todas as classes no mesmo sentido,

por isso, neste caso, a população do campo foi sujeita a se readaptar para o benefício do

restante da comunidade.

A principal fonte de renda dessa população baseava-se na atividade agrícola,

uma vez que as áreas de várzea possuíam terras férteis e culturas adaptadas, que

sofreram fortes impactos, assim como o caso do arroz, que era um dos cultivos mais

representativos antes da inundação. Atualmente, está configurada uma nova estrutura

nesse setor do município, outras culturas, com novas técnicas, que incluem a fertilização

química dos solos então agricultáveis, como é o caso da cafeicultura.

35

Figura 8: Fazenda do Retiro, 25 de agosto de 1940.Fonte: Família Fonseca.

Figura 9: Fazenda do Retiro, 23 de agosto de 2013.Fonte: Família Fonseca.

36

As figuras 8 e 9 exemplificam as diferenças que se estabeleceram no território

com o represamento de Furnas, a primeira mostra a produção de arroz que se realizava

na fazenda, a segunda figura expõe uma nova realidade, em que o espaço é utilizado

para lazer, e não mais para a produção agrícola.

De acordo com a Leitura Técnica do Plano Diretor, que utilizou dados do IBGE,

o cultivo de arroz teve uma queda de aproximadamente 20% entre 1950 e 1975.

Todavia, o momento foi oportuno para a ascensão do café, que passou a ser a principal

cultura da região, com podemos observar na gráfico 2 que mostra como ocorreu o seu

processo de expansão nas décadas que sucederam a implantação de Furnas.

Grafico 2: Área Cultivada na Agricultura e Produtos.Fonte: Censo Agropecuário, IBGE, 1970, 1980, 1985 e 1998.

Entretanto, observando esse gráfico, é preciso ter cuidado com as considerações

que podem ser feitas. Pois podemos por ele interpretar o crescimento do cultivo, mas

não a diferença que existe entre os produtores de grande escala e a agricultura familiar.

Sendo esta última fornecedora local, de volumes mais modestos de produção vegetal,

dificilmente pode ser percebida em um gráfico como este. Porém, essa fatia da

população foi a primeira a sentir os prejuízos provocados pela inundação da área.

Desse modo, traduz-se a dificuldade imposta às famílias pertencentes ao campo

nessa região, que perderam seu espaço e sua fonte de renda, mas esse fator não significa

grandes alterações para a população alfenense no geral, pelo contrário, fica claro que a

37

maior parte da comunidade, sobretudo a urbana, enxerga na chegada da lago apenas o

progresso.

3.2 Impactos sobre o espaço rural

Com a instalação da Hidrelétrica de Furnas, Alfenas teve seu processo de êxodo

rural acelerado. As áreas rurais, que foram as mais prejudicadas pelo reservatório,

puderam sentir seus benefícios apenas trinta anos depois, quando a energia elétrica

atendeu aos anseios desta população.

Na década de 1950, a relação da população rural/urbana apresentava-se bastante

equilibrada, sendo 46,383,6% de população urbana e 53,64% de rural. Este equilíbrio

foi bastante alterado nas décadas seguintes (tabela 4).

Tabela 4: População total do Município de Alfenas entre 1950-1970.

População 1950 1960 1970Urbana 9781 16674 21067Rural 10022 9314 7264TOTAL 19803 25988 28331Fonte: Censo Demográfico IBGE, 2000. (Adaptado)

Grafico 3: Participação (%) da população urbana e da rural em Alfenas, de 1970 a 2010.Fonte: IBGE, 2011.

Essa alteração no equilíbrio demográfico entre o rural e o urbano, pode ser

atribuída à inundação provocada pela lago de Furnas, com a perda das terras essa

38

população rural passou a residir na cidade, Alfenas passou a ter um alvo migratório na

região devido as melhores chances de se conseguir trabalho. Além disso, esse processo

intensificou-se com a introdução da cafeicultura e sua mecanização, a partir da década

de 1980, fortalecendo a rede urbana (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS,

2006).

Com a perda das terras mais férteis dessa região, muitas famílias tiveram que

abandonar suas atividades agrícolas e o próprio território. Esta grande obra, na sua

época, foi responsável pelo deslocamento forçado de uma maioria de trabalhadores

humildes que praticavam agricultura familiar.

Ficou evidenciado com este trabalho que, a construção e implantação do

reservatório de FURNAS, ocorreram de forma autoritária, sendo uma obra imposta a

uma parcela de população nacional que somente colheria os frutos do progresso quase

trinta anos depois.

Outro ponto que contribuiu para o aumento da problemática acerca Furnas, foi que

as pessoas atingidas não se organizaram para reivindicarem seus direitos. Distritos e

bairros rurais inteiros se viram isolados da sede administrativa do município de Alfenas,

como é o caso do distrito do Barranco Alto e dos bairros rurais Mandassaia e Harmonia.

No caso de Barranco Alto, após a inundação, foram desativados vários serviços de

competência pública, tais como: uma agência dos correios, um posto bancário, um posto

telefônico e um cartório, gerando prejuízos nítidos para aquela comunidade, que até

hoje sofre pelo seu isolamento.

Em conversas com moradores, foi possível saber que, a estrada e a ponte, que

interligavam o Barranco Alto, Mandassaia e Harmonia com a sede do município de

Alfenas, foram inundadas. Para suprir a rede de comunicação e transporte dessa região,

foi instalada uma balsa para a travessia tanto de pessoas quando de cargas. No entanto,

foi relatado por um dos moradores que nesse início a especulação monetária em cima

desta balsa acabou por contribuir ainda mais para o isolamento dessa população. Por

conta desta dificuldade, essas pessoas passaram a interagir e depender muito mais dos

municípios vizinhos de mais fácil acesso do que da sua própria cede administrativa.

Outro ponto observado no distrito e confirmado por uma moradora idosa, é que, com a

desapropriação das casas, muitas pessoas abandonaram a região e migraram para as

cidades vizinhas. A imagem que aparece na figura 8 trata-se de um pôster que fica

exposto em uma mercearia em Barranco Alto, mostrando fotos de casas e construções

antigas que ficaram cobertas pelas águas do lago.

39

Figura 10: Edificações antigas de Barranco Alto que foram destruídas com a inundação provocada pelo lago de Furnas.Fonte: Pesquisa de campo (julho de 2013).

Com o alagamento das áreas de várzea, foi se modificando os alvos produtivos do

setor primário, culturais tradicionais, mais ligadas à agricultura familiar foram perdendo

espaço para a monocultura de café e de cana-de-açúcar, que eram menos dependentes

das férteis terras de várzea.

Furnas foi concluída em 1962, período no qual ainda não eram exigidos por lei os

estudos de impacto ambiental (EIAs/RIMAs) e o MAB ainda não havia sido fundado.

Por estes motivos, muitos problemas ambientais, sociais e econômicos ocorreram, sem

que fossem tomadas medidas compensatórias para a minimização dos danos causados à

população atingida por este mega empreendimento.

A partir das entrevistas realizadas, ficou mais claro o impacto que a implantação do

lago causou à parcela rural, sobretudo, os agricultores de várzea, no município. Nos

diálogos, foi possível perceber que as Centrais Hidrelétricas de Furnas não

consideraram a realidade dessas pessoas, e que a construção ocorreu de forma imposta,

em que a convivência comum dessas vizinhanças sofreu modificações, justamente

porque a população diretamente atingida não teve participação alguma nas tomadas de

decisão.

No que tange ao patrimônio material, é evidente que os proprietários na época foram

abalados com a perda de suas terras, ou de parte delas. Ainda que tenham sido

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indenizados, os padrões da época desfavoreceram os que possuíam terras a serem

alagadas. Suas habitações e construções em geral ficaram embaixo d’água, espaços já

estabelecidos para usos de plantio e armazenamento também foram perdidos, e, junto

com eles, áreas de convivência comum dessas vizinhanças.

Nas conversas que se seguiram, quando questionados sobre o esvaziamento da

população rural das suas proximidades, todos os entrevistados nos relataram que houve

muitos moradores, inclusive familiares deles, que abandonaram a vida rural. No

entanto, também nos alertaram para a chegada de novos agrupamentos de pessoas, que

por sua vez compraram áreas as margens do lago e as utilizam com finalidade de lazer

(casas de veraneio). Sobre essa nova realidade, um dos antigos moradores do bairro do

Matão argumenta: “Eu acho que era melhor, não vou dizer que tá ruim, mas tinha mais

gente, mais amigos. Tem menos amigos, muita gente de fora daqui” (G.R., 79 anos,

2013).

A idade média dos entrevistados é de 75 anos, então, na época da inundação das

terras ainda eram bastante jovens e por isso não participavam ativamente dos assuntos

da comunidade em relação à inundação de suas terras. Nesse caso, eles contam sobre as

reações de seus pais, a forma como receberam a notícia, seu modo de agir nas

negociações e como procedeu ao futuro destas famílias.

Na fala dos entrevistados, percebeu-se uma postura desfavorável e resentida,

herdada dos mais velhos, ao vê-los em uma situação tão complexa quanto perder seu

chão.

Isso ficou evidenciado com o relato de um morador do bairro rural do Matão que

teve a maior parte da propriedade rural de sua família inundada, e que tiveram que

migrar para as cidades da região: “Triste, né? A gente sai dali, vê inundando a casa da

gente, o meu pai sentou e chorou. Se não fosse Furnas eu estaria vivendo lá até hoje. Eu

nasci lá! É tão gostoso poder ficar no lugar onde a gente nasceu” (J.V., 67 anos).

Outra dificuldade para as famílias foi o fato de que elas tiveram que readaptar

suas realidades e tiveram de buscar novas formas de trabalharem a terra. Um ponto

negativo foi o procedimento indenizatório das terras que foram inundadas pelo

reservatório da usina, que foi um processo compensatório bastante injusto.

Para um proprietário de terras no bairro rural Harmonia e grande produtor de

café de Alfenas, a questão das indenizações terem sido satisfatórios, ou não, foram

resumidas da seguinte maneira:

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O pagamento foi assim: meu pai foi o primeiro a vender, então dizem que ele vendeu muito bem, mas vendeu a 22 cruzeiros o alqueire, ai passou um tempo, veio a água. Ficamos sem caminho, ficaram uns canos ali passando. Quando veio essa balsa, ela veio cobrando uma taxa, e nós estávamos devolvendo um alqueire de terra pra eles. Uma viagem que vinha e que voltava era 22 cruzeiros. Aí passou o tempo, foi diminuindo, pertencia à Navegação São Francisco, depois passou pra terceirizado, depois passou pra prefeitura, ficou bom. Bom, não tá bom, mas tá melhor do que era (J.A., 77 anos).

Indagado ainda na mesma questão indenizatória, mas em relação aos vizinhos e

antigos produtores rurais ele nos relata: “Acabou com muita gente, porque o que eles

venderam não deu pra comprar depois nada. Quem ficou por último ficou pior ainda” (J.

V. 67 anos).

A maioria dos relatos levanta questionamentos sobre a clareza nas negociações,

sobre a pressão para a venda das terras e o processo indenizatório com quantias injustas

oferecidas em ressarcimento. A falta de articulação política entre cidadãos locais gerou

um sentimento de impotência em relação à obra, fato que se confirma ao constatarmos

que não houve nenhum tipo de manifestação contrária, nem reivindicações por medidas

que amenizassem os impactos do empreendimento. “O povo não pediu nada, ficou só

brigando. Fama reivindicou, fizeram manifestação, fizeram uma rodovia e puseram uma

ponte no Rio Machado, mas aqui não, eles ficaram brigando” (J.A., 77 anos).

Alguns proprietários recorreram à justiça de maneira isolada e poucos

conseguiram aumentar as compensações pela perda de suas terras. Por outro lado,

muitos alegam que os terrenos passíveis de ser comprados com a indenização não se

comparavam, em tamanho ou qualidade, às terras tomadas pela água, como podemos

verificar nessas falas:

No final teve que por na mão da justiça, porque eles pagavam muito pouquinho, sabe? O dinheiro que eles davam não era nem 40% do valor da terra. Não dava pra comprar nada. Depois melhorou um pouquinho, mas ainda foi mixaria. Passou uns anos depois pra pagar, porque o que pagava era quase q nada (G.R., 79 anos).

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Um tio meu aqui, que ele não quis vender, achou que eles pagavam muito pouco, não dava pra fazer nada, aí meu tio não quis vender. Mas não adiantou nada, acho que passou dez anos, que veio a relação do processo, e a mesma coisa, não pagaram mais nada. E ele acabou morrendo antes disso. Foi quando meu pai ficou muito desgostoso, aí saiu, foi embora pra cidade (P.P., 76 anos).

Logo após a inundação do lago inicia-se uma modificação na estrutura rural do

município. Por isso, a agricultura familiar que era antes pautada nas culturas

tradicionais e realizada nos espaços tomados pelo lago, sofreu também um colapso, já

que as áreas mais produtivas se encontravam nas faixas de alagamento. Naquelas

condições, não era possível manter os mesmos cultivares em solos de características

diferentes.

Ah, tinha uma gleba, a gente plantava milho e feijão, aí pra várzea ali era um colosso, antes de furnas, pra dar arroz, feijão, milho, não existia melhor. Às vezes perdia com enchente, né? Mas dava, mas dava horrores. A gente plantava de tudo beirando o rio. Depois que Furnas entrou a gente planta, mas não dá muita coisa, a terra pra cima não é a mesma coisa” (G. R., 79 anos).

O plantio de arroz, por exemplo, exercia papel significativo na produção das

famílias atingidas, e praticamente se extinguiu. Houve também uma diminuição do

plantio de milho e feijão, entre outras variedades, que foram rapidamente substituídas

pelo café e pela cana-de-açúcar - conforme já mencionamos -, que se caracterizam pela

grande monocultura, em larga escala.

Fazendo uma análise mais ampla, toda a readaptação exigiu muito daquelas

comunidades. A perda de seus bens materiais representou uma mudança radical em sua

situação financeira, porém, através do rompimento do vínculo afetivo com o lugar de

origem, seus costumes e tradições sofreram transformações que abalaram o seio das

famílias. Além disso, foi constatado que algumas localidades rurais, antes bem

integradas com a sede administrativa do município, ficaram isoladas após a implantação

da barragem, e tiveram sua economia bastante comprometida, como foi o caso já citado

do distrito de Barranco Alto.

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Dessa forma, embora já fosse uma tendência, o processo de urbanização se

acentuou a partir da implantação do lago de Furnas no Sul de Minas. Nesse contexto, os

filhos e netos dos moradores dessas comunidades, que já almejavam ir para o centro

urbano, viram nessa fase um estímulo para abandonar de vez a vida rural. Os que

permaneceram fazem parte de uma minoria, apegada ao campo, já bem estabelecida e

adaptada às novas condições da região. Atualmente, encontram-se residindo nesses

bairros casais, que guardam lembranças de uma antiga realidade.

Agora, estes indivíduos vivem de aposentadoria, compram o que consomem no

comércio da cidade e em apenas em alguns casos possuem alguma renda obtida pela

agricultura, já que essa está mais voltada para o autoconsumo.

O conjunto destas situações reflete um problema de desestruturação social na

zona rural de Alfenas, ocasionado pela inundação provocada pelo lago de Furnas e

consequente mudança na relação dessa população com a terra. Percebe-se um

distanciamento das populações rural e urbana, e infelizmente, com isto, parte da cultura

local também se perde.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As usinas hidrelétricas têm um importante papel no processo de desenvolvimento no

Brasil. Porém, sua implantação exige uma infraestrutura que inclui, por exemplo, a

construção de uma barragem. Dentro desse contexto, não se pode negligenciar os

estudos de impacto ambiental (EIAs/RIMAs), nem tampouco ignorar a existência de

uma população tradicional que habita o espaço destinado à lago. Estes aspectos só mais

recentemente foram agregados à implantação de um grande projeto hidrelétrico.

O processo de construção da usina hidrelétrica de Furnas não foi muito diferente do

modelo adotado atualmente, no entanto, naquela época, os estudos de impacto

ambiental não tinham grande influência nos projetos, assim como os estudos sociais das

regiões que se tornariam reservatórios também eram pouco considerados.

A implantação de uma usina hidrelétrica de grande porte, como é o caso de

Furnas, representa uma ruptura no cotidiano das populações que ficam dentro de sua

área de abrangência. Sua construção provoca, inevitavelmente, inúmeros impactos

sociais, econômicos e ambientais cujos efeitos são sentidos de forma diferente pela

população e pelos principais agentes conflitivos ali envolvidos.

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No Sul de Minas, o processo de urbanização e êxodo rural já era sensível e

difícil de reverter, como no restante do país, foi intensificado pela implantação do lago.

Mesmo assim, ficou claro que, se não tivesse ocorrido a desapropriação das terras

inundadas, essa população tendia a permanecer no local, ainda que as novas gerações

não acompanhassem esse ideal.

Para algumas das famílias realocadas, a construção de Furnas representou a

destruição de seus projetos de vida, a elas foram impostas compensações, que em

muitas vezes não poderiam assegurar o mesmo padrão de vida de antes da implantação

do lago.

Através do estudo desta experiência histórica pouco conhecida, concluímos que

o deslocamento compulsório, somado a perda de uma territorialidade, alteram

drasticamente a relação com a terra e modificam as escalas produtivas regionais tanto na

indústria quanto na agricultura, transformando a sociedade. Observamos que através dos

acontecimentos passados, que as vontades individuais ou coletivas de um determinado

grupo ou segmento social, podem ser facilmente sobrepujados para o atendimento de

vontades externas, sobre o pretexto do desenvolvimento.

5. REFERÊNCIAS

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Nacional de Energia Elétrica. 3. ed., Brasília : Aneel, 2008. Disponível em <

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VIEIRA, Ildeu. Mandassais. Alfenas, Gráfica Atenas 2002.

APÊNDICE

Roteiro da entrevista com proprietários rurais que tiveram suas terras inundadas

pelo lago de Furnas no município de Alfenas/MG.

Nome:

Origem:

Idade:

1. O senhor (a) é de origem rural?

2. Como era o bairro rural onde senhor tem (ou tinha) propriedade rural antes da

implantação Furnas?

3. O senhor (a) possuía terras que foram inundadas pelo Lago de Furnas?

4. Que produtos cultivava em suas terras nessa época? Qual era a rentabilidade dessa

atividade?

5. O senhor (a) mantinha uma boa relação com a vizinhança?

6. O senhor (a) foi consultado sobre a construção de Furnas?

7. O que o senhor (a) sentiu quando soube que dariam início às obras?

8. O senhor (a) recebeu alguma indenização de Furnas? Quanto tempo levou para

receber?

9. O senhor (a) acha que a quantia oferecida por Furnas foi satisfatória?

10.O que mudou no bairro depois da implantação Furnas?

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11.Como foi a sensação de ver o lago formado e já ocupando suas terras?

12. Depois da inundação, sua família permaneceu na terra?

13.No caso daquelas famílias que se mudaram: para onde foram? De que passou a

sobreviver?

14.O senhor (a) ainda possui uma propriedade rural?

15.O que produz nela? Qual a renda obtida atualmente?

16.O senhor (a) acha que a agricultura foi prejudicada após a inundação de éreas rurais

no município de Alfenas?

17.O senhor (a) percebeu avanços econômicos no município após a construção da usina

hidrelétrica de Furnas?

18.O senhor (a) acha que as gerações posteriores foram beneficiadas com a formação

lago? Por quê?