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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 1 Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma 6ª aula: A civilização da Mesopotâmia GEAEL Transcrito do livro Iniciação Espírita, 5ª edição, Editora Aliança Objetivo da aula: O povo hebreu, sua formação para receber o Messias. O povo, sua saga e quando distantes de Deus passavam pelo sofrimento (semelhança conosco ). A crença do Deus único, os contatos com o plano espiritual. O valor da obediência; fidelidade; o dever de bem usar a mediunidade; amor de mãe; educação das crianças; extrair ensinamentos dos desertos da vida; aliança com Deus; a passagem da escravidão para a liberdade; distribuição das tarefas para o êxito do trabalho. Aproveitar as informações das au- las anteriores e dar uma localização no tempo e espaço da origem do povo hebreu, suas dificuldades, já introduzindo e exercitando o preconceito. Aproveitar as passagens bíblicas e interpretá-las; o que a maioria dos alunos, que são iniciantes e não tiveram oportunida- de. Dar além do que significa as passagens de Sodoma e Gomorra, o teste a Abraão, filhos de Jacó, José, “milagres de Moisés Maná etc. 1. UR‑CRUZAMENTO DE ROTAS Entramos agora no estudo rápido da história do povo que foi preparado para receber o Messias, Jesus, e que, infe- lizmente, até hoje não o reconhece: o povo hebreu. O nome “hebreu” vem de Heber, descendente de Sem, relacionado na Gênese bíblica como um dos filhos de Noé. Depois de Heber muitas gerações se passaram até chegarmos a Abraão. Este é, realmente, o personagem de maior força entre aquele povo, na época, sendo considerado seu primeiro patriarca. O nome Abraão — segundo Waldomiro Lorenz, no livro A Cabala — significa pai Rama em hebraico. Logo, pode-se perfeitamente perceber a influência ariana na formação espi- ritual de Abraão; embora do ramo semita da Atlântida, ele deve ter absorvido a cultura ariana de que Rama foi o ex- poente. E isto pode ser melhor entendido se considerarmos que Abraão nasceu e foi educado em Ur, na Caldéia (hoje o Iraque). Esta cidade, naquela época, devia ter cerca de 250 mil habitantes e era um centro comercial e cultural do médio oriente, além de cruzamento de rotas das caravanas que de- mandavam o Egito vindas do Oriente e vice-versa. Logo, em Ur devia-se tomar contato com muitas culturas. Abraão era filho de Tare, que tinha mais dois filhos: Aram e Nachor. Com a morte de Aram, Taré desgostou-se de Ur; reuniu Nachor, Abraão e a mulher deste, Sara, mais os outros dois filhos de Aram, Lot e Melca (pois Sara também era filha de Aram), e mudam-se todos para Haran, cerca de mil km ao norte. Estávamos por volta do ano 3 mil a.C. 2. A ALIANÇA Abraão era um homem convicto, realmente, da existência de um único Deus. Uma personalidade marcante, pois apesar de toda a idolatria que o circundava e do fetichismo da épo- ca, manteve-se inabalável em sua crença. Foi, assim, o instru- mento utilizado por Deus (ou pelo Plano Espiritual Superior) para implantar a idéia do monoteísmo — do Deus único — entre os homens, preparando-os para a vinda do Messias. Na Gênese (12:1-3) encontramos os termos da aliança feita pelo Plano Espiritual com Abraão: ... sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, e vem para a terra que eu te mostrarei. E eu te farei pai de um grande povo, e te abençoarei: eu farei célebre o teu nome, e tu serás bendito. Eu abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei aos que te amaldiçoarem. E Deus lhe indicou a terra de Canaã como sua nova pá- tria. E Abraão obedeceu. Estava consagrada a aliança; reco- nhecendo a paternidade divina, a bondade do Pai, o homem se desliga do passado e busca o futuro luminoso: busca novas terras, novos interesses. Enquanto mantiver firme essa alian- ça — distanciamento cada vez maior do passado cheio de vícios — estará integrado na vontade do Pai, e, portanto, am- parado e feliz. 3. CANAÃ E EGITO Saiu, pois, Abraão rumo a Canaã — a Terra Prometida. Levou consigo sua mulher Sara, mais Lot e sua mulher, além de muitos servos e um rebanho. Estabeleceu-se nas mediações de Siquem. (Fig. 5) Uma grande seca assolava aquela região, e Abraão, tendo notícia de que no Egito havia abundância, deslocou-se para aquele país. Levou todo seu pessoal e o rebanho. A beleza de Sara chegou ao conhecimento do faraó, que mandou seus servos trazerem-na à sua presença. Pretendia toma-la como uma de suas esposas, pois Abraão — temendo represálias — fé-la passar por sua irmã. Diz a Bíblia que vá- rios incidentes ocorreram na casa do faraó e seus adivinhos lhe disseram que era por causa daquela mulher. Disseram-lhe que não era irmã e sim esposa de Abraão. O faraó mandou chamar Abraão, repreendeu-o por haver lhe mentido e orde- nou que se retirasse do Egito juntamente com Sara e os de- mais membros da família. Deu-lhe, porém, muitos animais que aumentaram o rebanho dos hebreus. 4. A MULHER DE LOT Retornaram a Canaã. Os cananeus, entretanto, consi- deravam os hebreus um perigo e passaram a hostilizá-los. “Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para vencer suas más tendências.” — ESE

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira · preconceito. Aproveitar as passagens bíblicas e interpretá-las; o que a maioria dos alunos, que são iniciantes e não tiveram

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Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 1

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma

6ª aula: A civilização da MesopotâmiaGEAEL

Transcrito do livro Iniciação Espírita, 5ª edição, Editora Aliança

Objetivo da aula: O povo hebreu, sua formação para receber o Messias. O povo, sua saga e quando distantes de Deus passavam pelo sofrimento (semelhança conosco ). A crença do Deus único, os contatos com o plano espiritual. O valor da obediência; fidelidade; o dever de bem usar a mediunidade; amor de mãe; educação das crianças; extrair ensinamentos dos desertos da vida; aliança com Deus; a passagem da escravidão para a liberdade; distribuição das tarefas para o êxito do trabalho. Aproveitar as informações das au-las anteriores e dar uma localização no tempo e espaço da origem do povo hebreu, suas dificuldades, já introduzindo e exercitando o preconceito. Aproveitar as passagens bíblicas e interpretá-las; o que a maioria dos alunos, que são iniciantes e não tiveram oportunida-de. Dar além do que significa as passagens de Sodoma e Gomorra, o teste a Abraão, filhos de Jacó, José, “milagres de Moisés Maná etc.

1. UR‑CRUZAMENTO DE ROTAS

Entramos agora no estudo rápido da história do povo que foi preparado para receber o Messias, Jesus, e que, infe-lizmente, até hoje não o reconhece: o povo hebreu. O nome “hebreu” vem de Heber, descendente de Sem, relacionado na Gênese bíblica como um dos filhos de Noé. Depois de Heber muitas gerações se passaram até chegarmos a Abraão. Este é, realmente, o personagem de maior força entre aquele povo, na época, sendo considerado seu primeiro patriarca.

O nome Abraão — segundo Waldomiro Lorenz, no livro A Ca bala — significa pai Rama em hebraico. Logo, pode-se perfeitamente perceber a influência ariana na formação espi-ritual de Abraão; embora do ramo semita da Atlântida, ele deve ter absorvido a cultura ariana de que Rama foi o ex-poente. E isto pode ser melhor entendido se considerarmos que Abraão nasceu e foi educado em Ur, na Caldéia (hoje o Iraque). Esta cidade, naquela época, devia ter cerca de 250 mil habitantes e era um centro comercial e cultural do médio oriente, além de cruzamento de rotas das caravanas que de-mandavam o Egito vindas do Oriente e vice-versa. Logo, em Ur devia-se tomar contato com muitas culturas.

Abraão era filho de Tare, que tinha mais dois filhos: Aram e Nachor. Com a morte de Aram, Taré desgostou-se de Ur; reuniu Nachor, Abraão e a mulher deste, Sara, mais os outros dois filhos de Aram, Lot e Melca (pois Sara também era filha de Aram), e mudam-se todos para Haran, cerca de mil km ao norte. Estávamos por volta do ano 3 mil a.C.

2. A ALIANÇA

Abraão era um homem convicto, realmente, da existência de um único Deus. Uma personalidade marcante, pois apesar de toda a idolatria que o circundava e do fetichismo da épo-ca, manteve-se inabalável em sua crença. Foi, assim, o instru-mento utilizado por Deus (ou pelo Plano Espiritual Supe rior) para implantar a idéia do monoteísmo — do Deus único — en tre os homens, preparando-os para a vinda do Messias.

Na Gênese (12:1-3) encontramos os termos da aliança feita pelo Plano Espiritual com Abraão:

... sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, e vem para a terra que eu te mostrarei. E eu te farei pai de um grande povo, e te abençoarei: eu farei célebre o teu nome, e tu serás bendito. Eu abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei aos que te amaldiçoarem.

E Deus lhe indicou a terra de Canaã como sua nova pá-tria. E Abraão obedeceu. Estava consagrada a aliança; reco-nhecendo a paternidade divina, a bondade do Pai, o homem se desliga do passado e busca o fu turo luminoso: busca novas terras, novos interesses. Enquanto mantiver firme essa alian-ça — distanciamento cada vez maior do passado cheio de vícios — estará integrado na vontade do Pai, e, portanto, am-parado e feliz.

3. CANAÃ E EGITO

Saiu, pois, Abraão rumo a Canaã — a Terra Prometida. Levou consigo sua mulher Sara, mais Lot e sua mulher, além de muitos servos e um rebanho. Estabeleceu-se nas mediações de Siquem. (Fig. 5)

Uma grande seca assolava aquela região, e Abraão, tendo notícia de que no Egito havia abundância, deslocou-se para aquele país. Levou todo seu pessoal e o rebanho.

A beleza de Sara chegou ao conhecimento do faraó, que mandou seus servos trazerem-na à sua presença. Pretendia toma-la como uma de suas esposas, pois Abraão — temendo represálias — fé-la passar por sua irmã. Diz a Bíblia que vá-rios incidentes ocorreram na casa do faraó e seus adivinhos lhe disseram que era por causa daquela mulher. Disseram-lhe que não era irmã e sim esposa de Abraão. O faraó mandou chamar Abraão, repreendeu-o por haver lhe mentido e orde-nou que se retirasse do Egito juntamente com Sara e os de-mais membros da família. Deu-lhe, porém, muitos animais que aumentaram o rebanho dos hebreus.

4. A MULHER DE LOT

Retornaram a Canaã. Os cana neus, entretanto, consi-deravam os hebreus um perigo e passaram a hostilizá-los.

“Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para vencer suas más tendências.” — ESE

2 6ª aula: A civilização da Mesopotâmia

Houve um desen tendimento entre os pastores de Lot e de Abraão, seu tio. Este, conciliador como sempre, pro-pôs que se separassem a fim de evitar maiores problemas. Lot e sua mulher, com os servos e o rebanho, fixaram-se nas mediações de Sodoma e Gomorra, às margens do mar Morto.

Abraão estabeleceu-se perto do Hebron, onde hoje é Israel.

Entretanto, Abraão nunca deixou de prestar solidariedade a Lot. Quan-do este se envolveu numa guerra com os cananeus e caiu prisioneiro, Abraão o libertou. Nunca o patriarca deixou de exercer a fraternidade, inclusive no episódio de Sodoma e Gomorra — ci-dades pecaminosas destruídas por um cataclismo. Diz a Bíblia que Abraão foi alertado pelos Espíritos Superiores de que Sodoma e Gomorra seriam destru-ídas, por não haver ali nenhum homem de bem. Abraão tentou interferir, pedin-do demência. Os espíritos lhe disseram que se encontrassem lá apenas um homem justo” poupariam as duas cidades. Abraão, então, interferiu em favor do sobrinho e de seus familiares. Esta intercessão, aliada a conduta reta de Lot, o salvaram.

Lot recebeu com alegria os emissários do plano espiri-tual, enquanto os demais habitantes os procuravam enxotar. Dessa forma, Lot recebeu instruções para se retirar da cidade juntamente com sua mulher. Fizeram-lhe, porém, uma adver-tência: fossem sempre para a frente e não olhassem jamais para trás. Lot e sua mulher deixaram a cidade momentos antes de Sodoma e Gomorra serem destruidas. A mulher de Lot, porém, desrespeitou a advertência e olhou para trás; diz a Bíblia que se transformou imediatamente numa estátua de sal. O simbolismo bíblico encerra uma grande verdade: o pas-sado nos escraviza, nos transforma em verdadeiras estátuas levando-nos ao estacionamento, se dele não nos desligarmos com grande força de vontade. A mulher de Lot, apesar de co-nhecer os erros dos moradores das duas cidades, demonstrou que não havia se desligado delas.

É o próprio esforço de reforma íntima. Temos que, decidida-mente, lutar contra as ligações viciadas do passado. Do contrá-rio, perma neceremos estacionados, como verdadeiras estátuas.

5. OBEDIÊNCIA DE ABRAÃO

Sara era estéril. Por isso, Abraão vivia triste; morreria sem deixar herdeiros. Aconselhado pela própria esposa, tomou a Agar, uma escrava, como concubina, a fim de ter um filho. Na-quela época a poligamia era prática natural entre os povos da região. Realmente, Agar deu à luz a Ismael, que é considerado pai dos ismaelitas — os árabes de hoje. Tempos depois, aler-tado pelo Plano Espiritual, Abraão soube que Sara poderia dar-lhe um filho. A promessa concretizou-se; nasceu Isaac.

Isaac cresceu envolto no carinho de Abraão e Sara. Quando já estava em plena juventude, Deus fez um teste com Abraão ordenando-lhe que sacrificasse o próprio filho. Abraão aprontou o altar, chamou a Isaac, explicou-lhe a or-dem do Senhor. Isaac concordou em entregar-se; também ele admitia firmemente a paternidade divina. Entretanto, quando Abraão ia sacrificar o filho, o Plano Espiritual in terfere, man-da suspender o sacrifício. Abraão dera uma demonstração de absoluta obediência ao Pai. Não acreditava apenas por pala-vras, exemplificava a crença.

Abraão morre de velhice deixando muitos bens, e Isaac como seu sucessor. Foi sepultado no campo de Efron, ao lado de Sara, sua mulher.

6. ISAAC E JACÓ

Isaac casa com Rebeca. E dela tem dois filhos: Esaú e Jacó, irmãos gêmeos. Esaú, contudo, nascera na frente; tinha, assim, o direito de primogenitura. Naquela época, ao primo-gênito cabia toda a herança do pai. Os demais filhos nada recebiam, nem a esposa. (Aliás, na época, as mulheres eram consideradas simples objetos de propriedade do homem).

Rebeca tinha predileção por Jacó, Isaac por Esaú. Estava Isaac já velho e quase cego, quando, um dia, chamou a Esaú e pediu-lhe que lhe servisse uma caça à refeição para que ele, Isaac, o abençoasse. A bênção, neste caso, representava a passagem de todos os direitos a Esaú. Rebeca ouviu o pedido de Isaac, preparou um guisado e mandou Jacó servir ao pai. Teve o cuidado, antes, de colocar uma pele de animal sobre os ombros e os braços de Jacó, para que o pai pensasse real-mente que se tratava de Esaú — pois este era muito peludo. O estratagema deu certo. Isaac abençoou a Jacó pensando que fosse Esaú. Quando este voltou da caça e se dirigiu ao pai, Isaac lhe contou que já o havia abençoado, percebendo Esaú

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 3

que fora ludibriado por Jacó.Aliás, Esaú nunca dera tanto

valor ao direito de primogenitura. Antes deste episódio já havia ven-dido a Jacó esse direito, trocan-do-o por um prato de lentilhas. É mais ou menos a nossa posição quando abrimos mão de verdades eternas a troco de mentiras que nos dão prazer momentâneo.

Contudo, Jacó, temendo repre sálias de Esaú e atendendo a conselho da própria mãe, deixou a casa paterna.

Foi para outras terras. Sofreu muito. Chegou praticamente a ser escravo do próprio sogro, longe do lar paterno. Chegou a duvidar da existência do Deus único. Foi a ele entretanto que Deus mostrou claramente a possibilidade de comunicação en tre “vivos e mortos”, a livre comunicação entre o céu e a terra. E a celebre “escada de Jacó”: um sonho no qual Jacó viu uma enorme escada que se perdia rumo ao céu, por onde subiam e desciam os anjos.

A descrença de Jacó chegou ao ponto de lutar com um anjo, conforme diz a Bíblia. Isto é, de lutar contra um emissá-rio do Pai. Por causa dessa luta, ele recebeu o nome de Israel, que, em hebraico significa “aquele que resistiu a um anjo”.

Depois de muitos anos longe da casa paterna, Jacó volta, casado e com um grande rebanho. Faz as pazes com Esaú e fortalece novamente sua crença no Deus único.

7. FILHOS DE JACÓ (ISRAEL)

Jacó deixou 12 filhos, que, mais tarde encabeçariam as doze tribos de Israel: Rubens, Simeão, Levi, Judá, lsaacar, Za-bulon, Dan, Neftali, Gad, Azer, José e Benjamin. (vide página seguinte).

Apenas para localizarmos estes acontecimentos com o povo hebreu, lembramos que na mesma época, grandes impé-rios e povos muito operosos estavam em franco florescimento: o império babilônico, o império assírio, a Grécia, os fenícios.

8. JOSÉ, CHANCELER DO EGITO

A tribo de Jacó, com seus doze filhos, muitos servos e grandes rebanhos, era a mais poderosa de Canaã. Dentre to-dos os filhos, Jacó tinha especial predileção por José, o penúl-timo. José, como nos conta Rochester no livro O Chanceler de Ferro possuía extra ordinárias faculdades mediúnicas, desen-volvidas com ajuda de um iniciado caldeu, o velho Schebna.

Certa feita, José contou a seu pai e irmãos dois sonhos que tivera. Em ambos, ele aparecia como figura de destaque e os irmãos curvando-se a seus pés. Isto revoltou os irmãos que, já não gostando de José por ser ele o favorito do pai, prometeram vingar-se. Assim, numa ocasião em que José fora

até o acampamento dos irmãos que pastoreavam o rebanho, estes o venderam como escravo a uma caravana de ismaelitas de passa-gem para o Egito.

No Egito, José foi compra-do por Putifar, chefe da guarda do faraó. Conquistou a confiança de seu amo e passou a gozar de quase total liberdade, exercendo praticamente o cargo de mordo-mo da casa. Ranofrit, mulher de Putifar, envolveu-o numa intriga e José foi açoitado e colocado na prisão. Em sua cela, foram parar o mordomo e o padeiro do faraó, que estavam envolvidos numa conspiração para derrubada do rei. José interpretou sonhos que

ambos tiveram numa mesma noite; sua interpretação foi to-talmente confirmada pelos fatos: o padeiro foi enforcado e o mordomo reintegrado em suas funções.

O faraó tivera um sonho que nenhum dos adivinhos do Egito conseguiu interpretar. O mordomo lembrou-se de José na prisão e tendo feito referência dele ao faraó, este mandou que trouxessem o prisioneiro a sua presença. José interpretou os sonhos do faraó: 7 vacas gordas representando 7 anos de

4 6ª aula: A civilização da Mesopotâmia

fartura para o Egito e 7 vacas magras, repre sentando 7 anos de miséria.

Aconselhou o faraó a fazer provi sões em todo o Egito durante os 7 anos de fartura, para que a fome não dizimasse a todos nos 7 anos de miséria. O faraó (Apopi) impres sionado com o discernimento de José nomeou-o Adon do Egito — uma espécie de chanceler, primeiro- ministro. Assim, durante muitos anos José governou o Egito com mão de ferro. Foi implacável, para servir ao faraó. Na época, o Egito não era governado pelas dinastias faraônicas: os hicsos, invasores ha-viam tomado o poder.

José casa-se com Asnath filha de Potifera, grão-sacerdote de Amon-Ra, o Deus Sol. Em seu governo, o Egito foi celeiro de muitos povos; a carestia não assolou somente aquele país, todo o Oriente Médio fora atingido.

9. JACÓ NO EGITO

A carestia atingiu também a Jacó e sua tribo. Mandou seus filhos ao Egito, a fim de adquirirem víveres. José os reco-nheceu mas eles não o reconheceram. José os envolve propo-sitadamente num roubo de objetos de arte para que, deixando

Simeão como refém, eles retornem a Canaã e levem Benjamin como escravo para o Egito. Apesar dos protestos de Jacó, os irmãos levam Benjamin (o irmão caçula), mas, à frente de José, Judá oferece-se para permanecer no lugar do irmão por-que, diz ele, o pai não suportará separar- se do filho menor; José comoveu-se com a atitude de Judá e revela-se. Todos fes-tejam o reencontro e, a pedido de José, vão buscar o pai e seus rebanhos para que se estabeleçam no Egito.

Jacó e sua família fixam-se nas imediações de Heliópolis e dedicam -se ao pastoreio. Quando chegaram eram 70 pesso-as ao todo. Jacó viveu 17 anos no Egito, onde morreu após haver recomendado aos filhos que dividissem os bens entre si; foi assim formado o patrimônio das 12 tribos de Israel. (Fig 6) José influiu o faraó para decretar 70 dias de luto em todo o Egito, pela morte de seu pai e levou o corpo para ser sepul-tado no Hebron, em Canaã.

José governou mais alguns anos após a morte do pai. Uma revolta popular derrubou o faraó e determinou a morte do filho de Jacó. Começa, assim, um duro período para os hebreus no Egito, já a esta altura bastante numerosos. Um período em que passaram 400 anos como escravos, exercendo os trabalhos mais pesados.

O conhecer‑se pela dorNey Pietro Peres — Manual Prático do Espírita

“Todos quantos sejam feridos no coração por reveses e decep-ções da vida, consultem serena mente a sua consciência, remon-tem pouco a pouco à causa dos males que os afligem, e verão, se as mais das vezes, não poderão confessar: se eu tivesse feito, ou se não tivesse feito tal coisa, não estaria nesta situação.”Allan Kardec — O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capí-tulo V. “Bem-Aventurados os Aflitos”.

A transgressão aos limites da nossa liberdade de ação, dentro do equilíbrio natural que rege as existências, é qua-se sempre por nós reco nhecida somente por meio das con-seqüências colhidas através dos efei tos das reações que nos atingem. A semeadura é livre, a colheita é obri gatória. “Quem semeia ventos, colhe tempestades.”

Pela dor retificamos as nossas mazelas do ontem longín-quo ou próximo: de outras existências ou da presente vida. Indubitavelmente, os processos de sofrimento, nas suas mais variadas formas, provocam, na nossa alma, o despertar da consciência e a ampliação do nosso grau de sensibilidade, para percebermos os aspectos edificantes que o coração, nas suas manifestações mais nobres, pode realizar.

Quando enfermos, vítimas do nosso próprio desequilí-brio, sofre mos os males físicos das doenças contraídas pela falta de vigilância, que abre nossas defesas vibratórias às investidas bacterianas no cam-po orgâ nico. É no tratamento e no restabelecimento da saúde que somos na turalmente levados a meditar sobre as origens e

os motivos da doença. Se estamos conformados e obedecemos as orientações médicas, mais rapidamente nos recompomos; se, porém, somos inflexíveis e descremos da necessidade de mudar nossos hábitos, mais lentamente nos restabe leceremos. Quem passa por um período de tratamento, sente e sabe o que sofreu e, nem que seja apenas por auto-defesa, toma certos cuidados, como mudar seus costumes, transformar sua con-duta, para que não venha a ter uma recaída e, assim, sofrer as mesmas dores, repetir as experiências desa gradáveis.

Realiza-se, desse modo, um processo de autoconhecimen-to com rela ção a alguns aspectos de nosso comportamento, de nossa forma de vida.

Nessas ocasiões em que adoecemos, muitas vezes somos obrigados a permanecer imóveis num leito, semiconscientes ou sentindo dores dila cerantes, à beira do desespero, por vários dias. E quando recebemos o alívio confortador de uma vibra-ção suave, transmitida por um coração amigo que nos cuida ou nos visita, como ficamos agradecidos! Como re conhecemos os valores aparentemente insignificantes dessas expressões de carinho! E quem recebe desperta em si o desejo de propor-

cionar a outros o mesmo alívio, o mesmo bálsamo. Amplia-se, assim, a nossa sensibilidade ao sofrimento do próximo, além do fortalecimento da fé na bon-dade do Criador e dos próprios corações humanos. Quantas

criaturas não se transformam radicalmente depois de uma grave enfer midade? Quantos não descobrem dentro de si os

“Quando estais indeciso quanto ao valor de vossas ações, perguntai como as qualificaríeis se tivessem sido praticadas por outra pessoa. Se as censurardes em outros, essa censura não poderia ser mais legítima pa ra vós, por-que Deus não usa de duas medidas para a justiça”.

GEAEL

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 5

valores eternos do es pírito, após terem sofrido longos períodos de tratamento ou perdas irreparáveis de entes queridos, após padecerem com dores morais, desi lusões de caráter afetivo ou dificuldades materiais, que nos ensinam a valorizar as coisas simples da vida? Quantos que, estando à beira da mor te, hoje valorizam a vida, praticando caridades e distribuindo carinho ao próximo?

As dores, sob qualquer forma, ensinam-nos profunda-mente a nos conhecer, a nos transformar, e, por mais que so-framos, precisamos ter a disposição íntima de agradecer, por-que no mundo de facilidades e de atrativos para os impulsos do ser imediatista e físico que ainda abriga mos, são as opor-tunidades que a dor nos proporciona, algumas das manei ras mais eficazes de transformação desse homem animalizado e insensí vel. Valorizemos a nossa dor, tomemos a nossa cruz e com ela caminhe mos para a nossa redenção.

O CONHECER‑SE PELA AUTO‑ANALISE

“Compreendemos toda a sabedoria dessa má xima (Conhece-te a ti mesmo) mas a dificul dade está precisa-mente em se conhecer a si pró prio. Qual o meio de chegar a isso?”

Allan Kardec — O Livro dos Espíritos. Pergunta 919a.

À pergunta formulada por Allan Kardec, responde Santo Agostinho, oferecendo o resultado de sua própria experiência:

— Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim de cada dia interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não ti-nha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma”.

Ainda ensina Santo Agostinho, perante a dúvida de como julgar-se a si mesmo:

“Quando estais indeciso quanto ao valor de vossas ações, perguntai como as qualificaríeis se tivessem sido praticadas por outra pessoa. Se as censurardes em outros, essa censura não poderia ser mais legítima pa ra vós, porque Deus não usa de duas medidas para a justiça”.

Insiste, depois, aconselhando:“Formulai, portanto, perguntas claras e precisas, e não

temais mul tiplicá-las”.Através desse processo viremos a nos conhecer, procuran-

do delibera damente realizar o trabalho de auto-análise, e não apenas nos deixando se guir ao sabor do tempo, reagindo e respondendo nas ocorrências do co tidiano, quando atingidos formos na nossa sensibilidade, ou, ainda, pela ação lapidado-ra da dor, que por algumas vezes sacode a nossa consciência.

A auto-análise é um processo sistemático e permanente de efeitos diários e contínuos, pois vamos ao encontro de nós mesmos para explo rar o nosso terreno íntimo, cultivando-o, preparando-o para produzir bons frutos.

Santo Agostinho interrogava a sua própria consciência e diariamente examinava os seus atos, conhecendo o que precisa-va melhorar e desen volvendo a força interior de aperfeiçoar-se.

A consciência é o campo a ser explorado e cultivado, dela extirpan do as más tendências com o esforço da nossa vontade.

A consciência reside na mente, que se constitui, conforme nos es clarece André Luiz,1 de modo semelhante a um edifício de três pavi mentos. No andar inferior está o inconsciente, com todo o acervo de experiências do passado, guardando ima-gens, quadros onde as emoções vividas ligam-se igualmente. Nas camadas mais profundas do inconscien te arquivam-se as histórias de nossas existências anteriores, a refletirem-se hoje através das reminiscências. No pavimento intermediário está o nosso consciente, o presente vivo, a faculdade pensante, a reflexão, a memória. No andar superior, o superconsciente, a esfera dos ideais, dos propósitos nobres e das disposições di-vinas, a chama impulsionadora do nosso progres so espiritual, alimentada pelos Planos Superiores da Criação.

O consciente pode, quando robustecido e treinado, pene-trar nos domínios do inconsciente, remontar os registros de nossa história, re cordar as experiências vividas para que as analisemos sob novos ângu los, e modificar aquelas disposi-ções antigas, com a visão ampliada de hoje. Ao mesmo tempo o consciente conjuga, ao receber do superconsciente os ru-mos delineadores da nossa evolução, os dados do passado, do presen te e do futuro, e, computando-os com os recursos da inteligência, apre senta os resultados sob forma de impulsos que nos levam a resoluções, a novos procedimentos. É um surpreendente mecanismo que nos faz avançar sempre ou, quando não, ao menos estacionar, mas nunca regredir.

É importante que deliberemos acelerar o nosso avanço, potencia lizando o nosso consciente pela auto-análise, o seu alcance e o seu do mínio sobre nós mesmos, e exercendo cons-tantes e progressivas muta ções individuais.

O processo de auto-análise pode e deve ser utilizado mais intensa mente pelo homem, como meio de auto-educação per-manente e ordenada.

Precisamos sair da condição de indivíduos conduzidos pelos envol vimentos do meio, reagindo e mudando, para pas-sarmos à categoria de condutores de nós mesmos, com amplo conhecimento das nossas po tencialidades em desenvolvimento.

É um trabalho de superar a densidade da nossa animali-dade, o peso da inércia aos impulsos espiritualizantes, alcan-çando esferas vibratórias mais elevadas, que passam a modi-ficar a constituição sutil dos envolto rios espiritual e mental.

Apontamos, adiante, meios eficazes para progressiva-mente enve redar-mos nessa senda, utilizando-se a prática da auto-análise e desenvol vendo a nossa vontade no combate aos vícios e aos defeitos.

1 No Mundo Maior. Capítulo III. “A Casa Mental”.

A auto-análise é um processo sistemático e permanen-te de efeitos diários e contínuos, pois vamos ao encontro de nós mesmos para explo rar o nosso terreno íntimo, culti-vando-o, preparando-o para produzir bons frutos.

6 6ª aula: A civilização da Mesopotâmia

Sede perfeitosGEAEL

Características da perfeição

1. Amai os vossos inimigos. Fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam, pois, se amardes somente os que vos amam, que recom-pensa tereis? Os publicanos não fazem o mesmo? E se saudardes só os vossos irmãos, que fazeis mais do que os outros? Os pagãos também não o fazem? Sede, pois, perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito. (Mateus, 5:44, 46-48).

2. Já que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, a máxima Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito, tomada ao pé da letra, faria supor a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se fosse dado à criatura ser tão perfeita quanto o Criador, ela se tornaria igual a Ele, o que é inadmissível. Sabendo que os homens a quem Se di-rigia não compreenderiam esse raciocínio, Jesus limitou-Se a lhes apresentar um modelo e a dizer que se esforçassem para segui-lo. É preciso, pois, entender essas palavras com o sentido de perfeição relativa, a única a que a humanidade é capaz de atingir e a que mais a aproxima da Divindade.

Mas, em que consiste essa perfeição? Jesus responde: “Amar seus inimigos; fazer o bem aos que nos odeiam; orar pelos que nos perseguem”. Com isso, Ele mostra que a es-sência da perfeição é a caridade em seu sentido mais amplo, porque ela envolve a prática de todas as outras virtudes. Re-almente, se observarmos as consequências de todos os vícios, ou mesmo dos simples defeitos, seremos forçados a reconhe-cer que não existe um que não perturbe, ou mais, ou menos, o sentimento da caridade, pois todos têm origem no egoísmo e no orgulho, que são a sua negação. Portanto, tudo o que excita excessivamente o sentimento da personalidade des-trói, ou no mínimo enfraquece, os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. O amor ao próximo, testemunhado até no amor pelos inimigos, não podendo ligar-se a nenhum defeito contrário à caridade, é, por isso mesmo, sempre um indício de maior ou menor superioridade moral. Donde se conclui que o grau de perfeição é proporcional à extensão desse amor. Eis por que Jesus, após ter dado aos Seus discípulos as regras da caridade, naquilo que ela tem de mais sublime, lhes disse: “Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito”.

O homem de bem

3. O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a Lei de Justiça, de Amor e de Caridade com pureza. Ao interrogar sua consciência sobre seus próprios atos, ele se pergunta se não violou essa Lei, se não fez algo errado, se fez todo bem que podia, se negligenciou instintivamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem algo a se queixar dele. Enfim, se fez

aos outros tudo o que gostaria que lhe fizessem. Ele confia em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que nada acontece sem a Sua permissão, e em tudo se submete à vontade do Criador. Acredita no futuro; por isso, põe os bens espirituais acima dos bens temporais. Sabe que todas as contrariedades da vida, todas as dores, todas as de-cepções, são provas ou expiações, e as aceita sem se queixar.

O homem de bem que já desenvolveu intimamente o sen-timento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar retorno; retribui o mal com o bem; toma a defesa do fraco contra o forte; e sempre sacrifica seus inte-resses em favor da justiça. Sente satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas coisas bem-sucedidas que faz, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro gesto é pensar nos outros, antes de pensar em si mesmo; é tratar dos interesses dos outros antes de cuidar dos seus. Ele é o oposto do egoísta, que calcula os ganhos e as perdas de toda ação generosa. Ele é bom, humano e afável para com todos, sem distinção de raças ou crenças, porque vê irmãos em todos os homens. Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não condena os que não pen-sam como ele. Em qualquer circunstância, a caridade é seu

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 7

guia. Diz a si mesmo que quem prejudica os outros com pa-lavras maldosas, quem fere a suscetibilidade de alguém com seu orgulho e desprezo, quem não recua diante da idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que amena, quando poderia evitá-la, falta com seu dever de amor ao pró-ximo e não merece a clemência do Senhor.

O homem de bem não tem ódio, nem rancor, nem de-sejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e só se lembra dos benefícios porque sabe que será perdoado conforme houver perdoado. É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que também precisa de in-dulgência, e recorda estas palavras de Jesus: “Que aquele que estiver sem pecado, lhe atire a primeira pedra!”. Não se com-praz em procurar os defeitos alheios nem em colocá-los em evidência. Se a necessidade o obriga a isso, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. Examina suas próprias im-perfeições e trabalha sem cessar para combatê-las. Todos os seus esforços se encaminham de forma a que possa dizer, no dia seguinte, que há nele algo melhor do que no dia anterior.

Não exalta sua inteligência nem suas habilidades à custa dos outros. Ao contrário, aproveita todas as ocasiões para ressaltar tudo o que favorece os outros. Não se envaidece com sua riqueza nem com suas honrarias pessoais, porque sabe que tudo o que lhe foi dado lhe pode ser tirado. Usa os bens que lhe são concedidos sem exagero, porque sabe que constituem um penhor do qual deverá prestar contas, e está ciente de que o emprego mais nefasto que pode lhes dar é servir-se deles para a satisfação de suas próprias paixões.

Se sua posição social colocou alguns homens sob seu co-mando, trata-os com bondade e benevolência, pois são seus semelhantes perante Deus. Por isso, usa de sua autoridade para erguer-lhe moralmente, e não para humilhá-los com seu orgulho. Evita tudo o que possa tornar-lhes mais penosa a posição de subalternos. O subordinado, por sua vez, compre-ende os deveres de sua posição e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Veja versículo número 9, deste capítulo).

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que as leis da natureza atribuem aos seus semelhantes, como gostaria que respeitassem os seus.

Esta não é a relação completa das qualidades que distin-guem o homem de bem, mas, quem quer que se esforce para possuir as que foram enumeradas aqui, está no caminho que conduz a todas as outras.

Os bons espíritas

4. Se bem compreendido e bem sentido, o espiritismo leva naturalmente aos resultados que acabamos de expor, e que caracterizam o espírita como o verdadeiro cristão, já que ambos são uma coisa só. O espiritismo não nos cria nenhu-ma nova ordem moral, mas facilita aos homens a compreen-são e a prática da moral do Cristo, dando uma fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam. Entretanto, muitos dos que crêem na existência das manifestações espíritas não compreendem suas consequências nem seu alcance moral, ou, se as compreendem, não as aplicam a si mesmos. A que

isso se deve? A uma falta de clareza da doutrina? Não, pois ela não contém metáforas nem alegorias que possam dar lu-gar a falsas interpretações. A clareza é sua própria essência, e é daí que vem a sua força, pois fala direto à inteligência. Nada tem de misterioso, e seus seguidores não detêm a posse de qualquer segredo oculto às pessoas comuns.

Será preciso então uma inteligência excepcional para compreendê-la? Não, pois vemos homens de reconhecida ca-pacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências mais simples, de jovens que mal saíram da adolescência, cap-tam-lhes com admirável clareza os detalhes mais sutis. Isso acontece porque o aspecto, digamos, material da ciência não requer outra coisa senão olhos para ser observada, enquanto que o aspecto essencial exige um certo grau de sensibilidade, ao qual se pode chamar de maturidade do senso moral, que não depende da idade nem do grau de instrução, porque é inerente à evolução do espírito encarnado.

Os laços da matéria ainda são muito fortes em alguns, para permitir que o espírito se desligue das coisas da Terra. É como se um véu lhes ocultasse a visão do Infinito. Por isso, não conseguem romper facilmente com gostos e hábitos exóticos, não compreendendo que possa existir algo melhor do que aquilo que possuem. A crença nos espíritos é para eles um simples detalhe que pouco, ou quase nada, modifi-ca suas tendências instintivas. Em resumo: não enxergam mais do que um raio de luz, insuficiente para orientá-los e proporcionar-lhes uma determinação capaz de fazê-los ven-cer suas tendências. Apegam-se mais aos fenômenos do que à moral, que lhes parece banal e monótona. Pedem constan-temente aos espíritos que os iniciem em novos mistérios, sem se questionarem se tornaram-se dignos de penetrar nos mis-térios do Criador. Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais estacionam pelo caminho, ou se afastam de seus irmãos de crença, porque recuam diante da obrigação de se reformarem, ou então reservam suas simpatias para aqueles que compartilham de suas fraquezas e de suas opiniões pre-concebidas. Contudo, a aceitação dos princípios da doutrina é um primeiro passo que lhes permitirá o segundo, mais fácil numa outra existência.

Aquele que pode ser considerado um espírita sincero e verdadeiro, está num grau superior de adiantamento moral, pois o espírito, ao dominar mais plenamente a matéria, lhe dá uma percepção mais clara do futuro. Os princípios da doutrina fazem vibrar nele qualidades que nos outros per-manecem adormecidas. Em suma: foi tocado no coração, e tem uma fé inabalável. Um é como o músico, que se emocio-na com os acordes, ao passo que o outro ouve apenas sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para vencer suas más ten-dências. Enquanto um se satisfaz em seu horizonte limitado, o outro, já bem mais esclarecido, se esforça por libertar-se dele, e sempre consegue quando o deseja com firmeza.

O Evangelho Segundo o EspiritismoAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

8 6ª aula: A civilização da Mesopotâmia

PER GUN TA: — O vício de fumar é, por ven tu ra, con si de-ra do um ato que ofen de a dig ni da de de Deus?

RAMATÍS: — O vício de fumar não sig ni fi ca nenhu ma ofen sa à mag na ni mi da de de Deus, pois o Cria dor não é atin gi-do pelas estul tí cias e igno rân cias huma nas. Os resul ta dos maus do vício do fumo não são con se qüen tes de san ções divi nas ou de puni ções cor re ti vas à parte, mas sim de exclu si va res pon sa-bi li da de do homem vicia do. Sem dúvi da, o uso do fumo é um deli to que a cria tu ra pra ti ca para con si go mesma, moti vo por-que deve sofrer-lhe as con se qüên cias nefas tas, tanto na saúde físi ca como no peris pí ri to, devi do à que bra das leis natu rais do mundo ter re no e tam bém à das que regem o mundo astral, cujos efei tos terá de sen tir após a sua desen car na ção.

PER GUN TA: — Como pode ría mos enten der melhor essa res pos ta a res pei to do fuman te inve te ra do e que por isso não pode aban do nar o vício de fumar?

RAMATÍS: — Natu ral men te o con si de ram uma víti ma de sua pró pria negli gên cia espi ri tual, pois se trata de cria tu ra que age volun ta ria men te con tra a sua inte gri da de físi ca e ainda cria uma situa ção má para a vida que a aguar da além da cova ter-re na. O fuman te inve te ra do é um infe liz escra vo que abdi ca de sua von ta de pró pria, ceden do o seu coman do ins tin ti vo a um cére bro impla cá vel e exi gen te, como o é o taba co.

PER GUN TA: — Qual a opi nião dos mes tres espi ri tuais a vossa expli ca ção?

RAMATÍS: — O taba gis mo é uma doen ça da qual pade-ce gran de parte da huma ni da de quan do, devi do à sua pro-ver bial dis pli cên cia, se deixa escra vi zar ao culto insa no para com o “ senhor” fumo que, então, a sub ju ga tanto na esfe ra dos pen sa men tos, das rela ções sociais e apti dões psí qui cas, como inter fe re até no campo das ins pi ra ções supe rio res. Cada homem domi na do por esse vício tenta apre sen tar suas razões pes soais para jus ti fi car sua escra vi dão à tira nia do taba co, cujo vício, por ter desen vol vi do for tes raí zes, já lhe coman da o pró prio psi quis mo. Uns ale gam que fumam para “matar o tempo” ou então por que pre ci sam de recur sos hip nó ti cos para acal ma rem os ner vos; outros atri buem à fuma ça pre gui ço sa do cigar ro ou do cachim bo o poder ins pi ra ti vo para o êxito dos bons negó cios ou para incen ti vo à pro du ção lite rá ria.

Atual men te, fumam pro fes so res, médi cos, mili ta res, advo-ga dos, enge nhei ros, poe tas, filó so fos ou cien tis tas; fumam sacer do tes e mal fei to res; ope rá rios e patrões! O vício só varia quan to à téc ni ca e o modo de se quei mar a erva escra vi zan-te, que é ajus ta do de con for mi da de com a clas se, a for tu na, a hie rar quia ou a dis tin ção social. Os ser ta ne jos e os aldeões fumam o mal chei ro so cigar ro de palha ou então usam sar ren-tos pitos de barro; os homens de clas se média fumam cigar ros de papel, enquan to os mais afor tu na dos se dis tin guem pelo uso de vis to sas pitei ras de aro de ouro; sugam pol pu dos cha-ru tos ou então se uti li zam de finís si mos cachim bos que lhes

pen dem dos lábios sali vo sos. Mas é claro que não tem valor essa osten si va e pito res ca dife ren ça no modo de se quei mar o fumo de con for mi da de com a clas se ou a posse da cria tu ra, pois o vício traz a todos as mes mas con se qüên cias noci vas e a escra vi dão men tal exe crá vel!

Notai que o fuman te inve te ra do vive incons cien te de sua pró pria escra vi dão, pois mete a mão no bolso, reti ra a cigar-rei ra pobre ou luxuo sa, abre-a, toma de um cigar ro, põe-no aos lábios e o acen de, alheio a todos esses movi men tos que o pró prio vício guia ins tin ti va men te. É um autô ma to vivo e tão con di cio na do ao vício de fumar que, em geral, desde o momen to em que reti ra a cigar rei ra do bolso até quan do acen de o cigar ro, cum pre exclu si va men te uma von ta de ocul-ta, noci va e indo má vel.

Em con se qüên cia, o fuman te inve te ra do já não fuma; ele é estu pi da men te fuma do; já não coman da a sua von ta de, mas é coman da do ser vil men te pelo taba co. O coman do sub ver ti do no seu psi quis mo, como se fora enti da de estra nha, con tro la todos os seus movi men tos e asse nho reia-se do seu auto ma-tis mo bio ló gi co, para inter vir dis cri cio na ria men te, a seu bel-pra zer, no espí ri to do fuman te, mesmo quan do este se dis trai preso a outras preo cu pa ções. É uma perda com ple ta de von-ta de e de domí nio da cria tu ra, por quan to o seu corpo físi co se trans for ma em um vivo e incons cien te inci ne ra dor de taba co.

PER GUN TA: — Atra vés de vos sas expli ca ções, dei xais trans pa re cer que o fumo se trans for ma numa enti da de tão obje ti va, que até nos pare ce pos suir força físi ca! Não é assim?

RAMATÍS: — Real men te, o taba co é uma enti da de sub-ver ti da, que a maior parte da huma ni da de vive ali men tan do dia ria men te! Serve-a docil men te em sua exi gên cia devo ra do-ra, tri bu tan do-lhe culto e sacri fí cio por meio da fuma ça féti da e irri tan te, atra vés das vias res pi ra tó rias. O taba co então se torna o cére bro, o coman dan te ou o senhor que, atra vés de vários ardis hip nó ti cos, como o cigar ro, o cachim bo, o cha ru to ou a pitei ra luxuo sa, satis faz a negli gên cia vicio sa e a vai da de huma na, mas tam bém age de modo sub-rep tí cio e impõe a sua pró pria força sobre a mecâ ni ca fisio ló gi ca dos fuman tes. Embo ra mui tas cria tu ras afir mem que fumam ape nas como ino fen si vo diver ti men to, são raras aque las que con se guem se livrar da obses são taba gis ta que, impe rio sa e mór bi da, lhes coman da o auto ma tis mo bio ló gi co e as deci sões men tais.

Fisiologia da AlmaRamatís / Hercílio Maes

Editora do ConhECimEnto

O vício de fumar e suas conseqüências futuras