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UNIVERIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM
TERAPIA DE FAMÍLIA
GUARDA COMPARTILHADA – UMA NOVA ALTERNATIVA PARA CONVIVÊNCIA ENTRE
PAIS E FILHOS.
Por: Camille de Andrade Saraiva
Professor Orientador: Maria Poppe
Rio de Janeiro 2010
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UNIVERIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM
TERAPIA DE FAMÍLIA
GUARDA COMPARTILHADA – UMA NOVA ALTERNATIVA PARA CONVIVÊNCIA ENTRE
PAIS E FILHOS.
Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Terapia de Família. Por: Camille de Andrade Saraiva
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AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares, pelas horas
que deixei de desfrutar de suas
companhias.
Aos colegas de curso, pelos
incentivos nas horas de desânimo.
A todos os professores dessa pós-
graduação, pelos conhecimentos e
experiências transmitidos.
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DEDICATÓRIA
Ao meu querido Ronaldo, pelo o
incentivo ao longo de todos os anos
de convivência.
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RESUMO
O presente estudo monográfico versa sobre a temática da guarda
compartilhada dos filhos. Examinou-se, através de um levantamento
bibliográfico, quais os benefícios tal modalidade de guarda poderia gerar na
vida da família após o divórcio do casal e, ainda, se haveria algum tipo de
vantagem para o relacionamento entre pais e filhos e entre o ex-casal. Foi
verificado que, da perspectiva psicológica, o compartilhamento da guarda é
mais benéfico aos filhos, pois propicia uma convivência mais estreita com
ambos os pais, evitando um tempo de afastamento excessivamente longo,
como ocorre no caso de visitas quinzenais. Para os adultos envolvidos,
observou-se que a responsabilização conjunta pelos filhos também pode ser
favorável, tendo em vista atenuar o estresse de cuidar sozinho dos filhos e a
possibilidade de diminuição dos conflitos relativos ao esquema de visitação do
não-guardião aos filhos.
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METODOLOGIA
Para elaboração do presente estudo monográfico foi realizada uma
revisão bibliográfica sobre a história da família, as configurações
contemporâneas da família, o casamento, a separação conjugal e, ainda, as
tipologias de guarda existentes no Brasil. Utilizou-se do referencial da
psicologia jurídica, assim como dos conhecimentos produzidos pela ciência
jurídica e de outros ramos das ciências sociais para se efetivar a análise
desses temas. Foram enfatizados os estudos que versam sobre a guarda
compartilhada, a fim de se atingir os objetivos propostos neste trabalho.
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SUMÁRIO
Introdução 8 Capítulo I: A família na atualidade: multiplicidade de configurações 11 Capítulo II: Separação conjugal: como fica a família 21 Capítulo III: Convivência entre pais e filhos após o fim do enlace conjugal: tipos de guarda 30 Capítulo VI: Guarda compartilhada como uma nova possibilidade de arranjo familiar pós-divórcio 37 Considerações finais 46 Referências Bibliografias 47
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INTRODUÇÃO
Os dados do IBGE apontam que, entre os anos de 1991 e 2002, houve
um aumento de 30,7% no número de separações e de 55,9% no de divórcios.
Esse crescente número de separações/divórcios gera transformações sociais,
tendo em vista que criam uma nova organização familiar, com um novo padrão
de convivência entre pais e filhos.
O interesse em desenvolver uma pesquisa relacionada à vivência da
família, após a ruptura do laço conjugal, surgiu da prática profissional como
psicóloga jurídica, com atuação em Varas de Família da Justiça do Rio de
Janeiro. Neste cotidiano de trabalho, as causas judiciais mais comuns referem-
se à organização da vida dos filhos, após o fim da união conjugal. A maior
parte dos processos que chegam ao Setor de Psicologia, gravitam entre a
disputa formal pela guarda dos filhos menores e a regulamentação de visitas
do não detentor da guarda judicial.
Diante dessa realidade, constatou-se a existência de verdadeiras
batalhas judiciais acerca da convivência com os filhos: pais e mães
estabelecem uma disputa entorno da maneira como se dará o convívio com os
filhos, a partir do fim do relacionamento amoroso (seja casamento, união
estável ou namoro). Já restou comprovado que esta disputa é prejudicial ao
desenvolvimento psíquico dos filhos, na medida em que o convívio dos filhos
com ambos os genitores é fundamental para construção de sua subjetividade e
identidade social.
Muito acerca dessas batalhas judiciais pode ser compreendida pela via
legislativa. Durante décadas seguidas, praticou-se a guarda exclusiva – aquela
em que apenas um dos pais exerce a guarda do(s) filho(s), relegando ao outro
genitor o posto de visitante. De uma forma geral, nas últimas décadas, na
prática forense, essa tipologia de guarda foi aplicada de forma praticamente
generalizada, onde à mãe cabia a guarda do(s) filho(s), e ao pai o direito de
visita, quinzenalmente, aos fins de semana. Desta feita, percebe-se que, no
mundo jurídico prevaleceu, ao longo das últimas décadas, o referencial da
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mulher como a cuidadora, por excelência, dos filhos; enquanto ao homem,
cabia a função de sustento, através da pensão alimentícia.
Com as mudanças nos papéis sociais de homens e mulheres ocorridas
durante o século XX, as previsões do Direito de Família em relação à guarda
dos filhos não mais se mostraram adequadas às demandas sociais que
começaram a emergir. Neste contexto, surgiram questionamentos acerca da
atribuição da guarda dos filhos exclusivamente (ou quase) às mulheres1. A
partir da década de 1990, a divisão das responsabilidades parentais, após o
rompimento conjugal, começa a vigorar em diversos países, na esteira das
previsões da Convenção Internacional dos Direitos da Criança. No Brasil,
somente no início desta década, que organizações sociais de defesa dos
direitos dos pais começaram uma campanha pela mudança da legislação
brasileira acerca da guarda de filhos. Apareceram, em consonância com essa
nova demanda, interpretações jurídicas que asseguravam a legalidade de
novas formas de organização da guarda dos filhos2.
Somente após anos de mobilização, no ano de 2008, foi sancionada
uma mudança legislativa no Código Civil, onde se passou a prever a guarda
compartilhada (ou conjunta). Entende-se que a previsão da guarda
compartilhada na legislação brasileira inaugura um novo tempo no que diz
respeito à organização da convivência entre pais e filhos, após o fim da união
conjugal. A esse respeito podemos citar os inúmeros estudos que exaltam esse
tipo de guarda como o mais benéfico para a saúde psíquica dos filhos, apesar
de existirem algumas (poucas) vozes dissonantes. Neste sentido, apregoa-se
que a inserção dessa modalidade, em nosso ordenamento jurídico, é um
avanço nesta seara. Do ponto de vista psicológico, sugere-se que a guarda
compartilhada dos filhos surge como um novo arranjo familiar, que parece
beneficiar a manutenção do vínculo entre pais e filhos (Dantas, 2004).
1 Em dados do IBGE (2004), foi averiguado que, na grande maioria dos casos de dissolução do casamento, a responsabilidade da guarda (exclusiva) dos filhos era das mães: 91,3% nas separações e 89,7% nos divórcios. 2 O Superior Tribunal de Justiça havia aprovado, ainda no ano de 2002, um enunciado prevendo a interpretação do termo “guarda dos filhos”, do art. 1583 do Código Civil/2002, tanto como guarda unilateral quanto compartilhada, em atendimento ao princípio do melhor interesse da criança.
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Diante dessa novidade legal, faz-se oportuno nos debruçarmos sobre os
estudos desse novo modelo de convivência entre pais e filhos, após o fim do
casamento. Autores nacionais e internacionais destacam a necessidade da
elaboração de pesquisas sobre as vivências e a organização da família pós-
divórcio, tendo em vista não só o aumento do número de separações, mas
também com o objetivo de se propiciar uma articulação entre os conhecimentos
psicossociais e a aplicação da nova lei.
O presente trabalho monográfico visa discutir acerca da organização da
convivência dos pais com os filhos, após o fim da união conjugal, analisando-se
a modalidade da guarda compartilhada. Mais especificamente, busca investigar
os benefícios que o compartilhamento da guarda pode gerar para a vida dos
filhos. Ainda buscou-se averiguar se ocorre ou não uma melhora na qualidade
dos relacionamentos entre pais e filhos e também entre os ex-cônjuges,
quando se estabelece a responsabilização conjunta pela prole.
No primeiro capítulo, discorremos sobre a família pós-moderna. Porém,
para chegarmos até ela, foi realizado um pequeno esboço histórico, a fim de
ressaltar a historicidade dessa instituição humana. Ressaltam-se, ainda, as
particularidades da história da família no Brasil. Aborda-se, também, as
múltiplas formas que a família adquiriu na atualidade, dando-se ênfase as
famílias monoparentais, recompostas e homoafetivas. No capítulo seguinte,
aborda-se a separação conjugal e suas consequências sobre a vida familiar.
De início, discute-se sobre o casamento e, logo após, adentra-se às questões
inerentes ao fim do enlace matrimonial e seus efeitos na dinâmica familiar e na
vida dos filhos. No terceiro capítulo, é discutida a convivência entre pais e
filhos, após o fim da união conjugal. Este capítulo, inclui ainda uma discussão
sobre as modalidades de guarda vigentes em nossa legislação. No capítulo
seguinte, foi debatida a temática da guarda compartilhada mais
detalhadamente, quando foram analisadas as consequências do
compartilhamento da guarda na vida de pais e filhos.
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CAPÍTULO I
A FAMÍLIA NA ATUALIDADE: MULTIPLICIDADE DE
CONFIGURAÇÕES.
Pode-se afirmar que não existe um modelo universal de família. Ao
longo da história, essa instituição humana foi modificando suas características.
Hoje, em nossa sociedade, a família adquiriu fundamental importância para o
desenvolvimento das potencialidades humanas. Diante de tamanha relevância
vale determo-nos em seu histórico e nas suas atuais configurações.
1.1 – Um pouco da História da Família.
Antes do século XVI, o grupo familiar tinha a função de transmissão de
nome e de bens e também exercia o papel de proteger os seus membros.
Porém, não exercia qualquer função afetiva. Ao longo dos séculos XVI e XVII a
configuração da família vai se alterando e a afetividade, gradativamente, vai
adquirindo destaque. Aos poucos, essa instituição vai se constituindo num
verdadeiro valor a ser exaltado pela sociedade, ultrapassando as funções antes
exercidas (Áries, 1981).
Como Áries (1981) demonstra com sua análise iconográfica, as
profundas transformações culturais, econômicas e políticas do século XVIII
modificaram a atmosfera social e criaram o cenário para a caracterização da
família moderna. O afeto, antes dividido difusamente entre todos os membros
da casa, passou a ser centralizado no casal e nos filhos. Começa-se a
observar mudanças nos costumes e na própria organização dos espaços da
casa. Inicia-se a separação entre a vida privada e a pública. Os cômodos que
antes não permitiam a intimidade, foram divididos funcionalmente (Áries, ib.id.).
No transcorrer do século XIX, a família vai se tornando cada vez mais um
refúgio idealizado (Senett, 1989).
É notório que a pesquisa de Ariés (1981) abre novo horizonte nos
estudos sobre família, uma vez que sua investigação foi responsável por
desnaturalizar o modelo burguês de família (família nuclear), circunscrevendo o
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surgimento desse paradigma, em um determinado contexto histórico. Porém,
parece que, até os dias de hoje, o modelo nuclear habita nossas idealizações,
quando nos referimos à família.
Até o século XIX, pode-se dizer que a família possuía a função de
produção, pois homens e mulheres executavam tarefas diferentes e
representavam papéis diferenciados dentro da unidade familiar, sendo que a
produção material da família dependia de ambos os membros do casal. No
século XX, com a consolidação da economia capitalista e as mudanças nos
modos de produção, a família deixa de ser uma unidade de produção, para se
tornar uma unidade de consumo (Bruschini, 1990), acarretando grandes
transformações na vida familiar.
Enquanto na Europa se desenvolvia o modelo da família nuclear
burguesa, entre os séculos XVI e XVIII, no Brasil, a família extensa patriarcal
se fazia presente, sendo que ambas se tornaram modelos hegemônicos em
suas respectivas sociedades. Essa família patriarcal, apresentada pelos
celebres estudos de Gilberto Freire (1933), era caracterizada por um grupo
extenso, composto pelo casal e seus filhos, juntamente com parentes,
afilhados, agregados, escravos, e, inclusive, concubinas e bastardos. O
patriarca dominava com autoridade absoluta e incontestável e possuía
influência política e econômica, alcançando todas as esferas da sociedade
(Szapiro, 1998, apud Moncorvo, 2008). Era um tipo de organização doméstica
intimamente ligada ao modo de produção colonial, não podendo ser entendida
afastada de seu contexto histórico.
A historiografia tradicional brasileira tem contado a história da família
brasileira como a história do tipo patriarcal, que se desintegrou e deu origem a
família nuclear. É como se a história da família no Brasil se resumisse à história
desses tipos específicos de organização. Como argumenta Da Matta (1987), a
família patriarcal do Brasil-Côlonia era apenas uma forma dominante de
constituição social e política da época. Com certeza, não era a única, tendo em
vista que este modelo só podia existir nas camadas mais ricas. Vale destacar,
por exemplo, que apenas 26% dos domicílios de São Paulo, eram do tipo
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extenso, no século XIX (Sâmara, 1983). Porém, não é possível negar que esse
modelo familiar possuía grande visibilidade social. Sendo assim, é de grande
importância seu estudo, pois estes modelos hegemônicos acabam por oferecer
paradigmas sociais fundamentais, uma vez que servem de referencial para as
demais configurações familiares (Da Matta, 1987).
A família é objeto de difícil caracterização, tendo em vista sua
multiplicidade de formas. Numa análise histórica, podemos nos dar conta da
variedade de formatos que ela tomou ao longo da história; assim como, num
estudo sincrônico, em diferentes continentes ou num mesmo país, é possível
se verificar fortes variações na configuração familiar. Poster (1979), ao analisar
as famílias aristocrática e camponesa, assim como a burguesa e a proletária da
Europa, demonstrou a possibilidade de coexistência de diferentes modelos de
organização familiar, em um mesmo contexto histórico. No Brasil, o estudo de
Corrêa (1993) também sinaliza essa diversidade de modelos de família,
convivendo em um mesmo período histórico. Ao pesquisar a respeito das
camadas intermediárias do período colonial brasileiro, a historiadora observou
que estas camadas organizavam sua vida familiar de modo diferente do
modelo patriarcal dos grandes produtores de cana-de-açúcar e café, muitas
vezes visto como o único tipo de família existente naquela época. Como bem
demonstraram os estudos de Sâmara (1983) e de Corrêa (1993), nas classes
sociais mais baixas, devido aos altos custos do casamento, formas alternativas
de organização familiar, como o concubinato e as uniões consensuais, eram
bastante comuns; além disso, os escravos eram impedidos de constituir família
pelas vias legais, levando a existência de semifamílias ou antifamílias (Da
Matta, 1987).
Durante a época colonial, fazer parte de um grupo familiar era
considerado indispensável. O vínculo familiar era cultuado como um valor
indissolúvel e vigorava associado à idéia de prestígio social. Não pertencer a
uma família, ou renegá-la, era mal-visto socialmente (Da Matta, 1987).
Observa-se que, no contexto brasileiro, a família adquiriu status importante na
escala social, se tornando a célula básica de nossa sociedade, tendo em vista
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ter penetrado todas as esferas do mundo social, como a política, as relações
de trabalho e poder e as relações interpessoais (Almeida, 1987).
A idéia da família nuclear burguesa chega ao Brasil e encontra uma
realidade social completamente diversa daquela vivida na Europa: éramos
latifundiários, escravocratas, e não citadinos e industriais. O aburguesamento
das famílias brasileiras, se deu, inicialmente, de maneira superficial, atingindo
apenas parte dos hábitos das elites urbanas. Porém, sempre coexistiu com o
substrato do patriarcalismo. Em terra nacional, o modelo nuclear vai ser
remodelado e adaptado a nossa a realidade (Almeida, 1987). Aqui, ocorre o
casamento entre a família patriarcal e a nuclear burguesa, dando como
resultado algo particular: a família brasileira conjugal.
Costa (1989) argumenta que a medicina higienista teve papel
preponderante nessa reorganização da família, ao exercer controle do novo
ambiente familiar, que se organizava junto ao processo de urbanização. O
homem, que antes exercia sua dominação sobre todos os seus dependentes,
ficou restrito a exercer seu poder somente sobre sua esposa. A mulher tornou-
se a “rainha do lar”, aumentando ainda mais sua responsabilidade com o
andamento da casa e com a educação e saúde da prole. À família moderna,
coube a cobrança de dedicação aos filhos, recaindo a grande parcela dessa
responsabilidade sobre a figura materna (Moncorvo, 2008).
Os diversos estudos sobre a família brasileira têm destacado como
fatores de transformação no universo familiar, a partir do século XX: a
urbanização e a industrialização cada vez mais intensas; a inserção da mulher
no mundo profissional; a transformação dos meios de comunicação,
responsável pela divulgação de informações e/ou conhecimentos; a redução do
número de filhos; as novas formas de contrato de casamento; as novas
representações de gravidez; a separação conjugal; o aumento da expectativa
de vida, que vem favorecendo uma maior convivência entre gerações (Costa,
1989).
A título de ilustração das modificações socioculturais das últimas
décadas, podemos citar a Constituição Federal promulgada em 1988, que
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evoluiu em sua conceituação de família – incluindo as famílias monoparentais –
e previu duas mudanças fundamentais no que refere a seus preceitos acerca
da instituição familiar (art. 226, § 4º § 5º e § 6º, CF) 3. Essas alterações
legislativas trouxeram reflexos para os papéis sociais e se refletiram nas
vivências subjetivas de homens e mulheres, no Brasil. Surge o contexto social
para a configuração de um novo tipo de maternidade, com mudanças
significativas na vida familiar. A mulher começou a passar mais tempo fora de
casa e a dedicar menos tempo aos cuidados com os filhos (Dantas, 2003).
As mudanças no comportamento feminino tiveram repercussão no
mundo masculino. Surge um novo modelo de paternidade. Até a década de
1990, a imagem social do pai se relacionava, exclusivamente, ao de provedor
das necessidades materiais da família, distante das questões afetivas que
abrangem a vida familiar. Na atualidade, observa-se que estes não são os
únicos atributos apresentados pelos pais. Hoje, de acordo com Goldenberg
(2000), os homens vivem uma época onde são incitados a acompanhar o
crescimento dos filhos e aproximar-se afetivamente deles. Jablonski (1999)
nomeia esse novo modelo de paternidade de paternidade responsável, onde o
pai participa continua e ativamente da vida da prole e investe afetivamente na
relação com os filhos.
1.2 – Configurações familiares contemporâneas.
A Pós-modernidade inaugurou a família dita "contemporânea", ou "pós-
moderna" – aquela que valoriza a vida privada, onde os laços conjugais se
fundam exclusivamente na relação amorosa entre seus membros, onde se
observa a fragilização da figura paterna e a feminilização do corpo social.
Diante desse quadro, faz-se premente a adoção de uma perspectiva histórico-
cultural, a fim de se acompanhar as configurações familiares inovadoras que se
apresentam na atualidade (Roudinesco, 2003).
3 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.
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Uma característica das famílias atuais é o reduzindo número de filhos. A
PNAD 2006 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) confirmou que o
número médio de pessoas por família passou de 3,6 pessoas, em 1996, para
3,2 pessoas, em 2006. Outro dado que mostra a mudança do perfil da família
brasileira contemporânea é aquele relativo à composição da família: em 1996,
era de 73,3% o percentual de famílias compostas de pai, ou mãe, e filhos,
independentemente da presença de outros parentes. Mas, em 2006, este
percentual caiu para 67,6% das famílias brasileiras (IBGE, 2007).
1.2.1 – Família monoparentais:
Do ponto vista legal, podemos definir família monoparental como aquela
constituída por um dos pais e seus descendentes. Ou seja, a
monoparentalidade se caracteriza pela presença única e exclusiva de um dos
genitores e seus filhos numa determinada residência.
Uziel (2007) destaca que o termo família monoparental, foi cunhado na
década de 1970, com o intuito de se valorizar aqueles lares que eram
chefiados por mulheres, a fim de lhes darem o mesmo estatuto das famílias
clássicas. Em nosso contexto sociocultural, dados estatísticos recentes
demonstram que o número de mulheres chefes de família aumentou
consideravelmente entre 1996 e 2006, passando de 10,3 milhões para 18,5
milhões, nesse período (IBGE, 2007).
Em geral, a monoparentalidade decorre da viuvez, da decisão da mulher
de gerar um filho sem a presença de um companheiro (mãe solteira), da
adoção (por um solteiro, viúvo ou separado), assim como do divórcio ou
separação. Repara-se, a partir daí, que por trás dessa denominação
enquadram-se todas aqueles pais (ou mesmo tios e avós) que cuidam sozinhos
de seus filhos, a despeito das diferentes características que podem ter cada um
dos núcleos familiares. Existe um ponto em comum –criar filhos sozinho – e
uma infinidade de pontos diferentes (como sexo, condições socioeconômicas, a
origem da criança, o modo de vida de quem cuida). Junta-se sob uma mesma
nomenclatura casos os mais diversos: solterice, viuvez, divórcio (Uziel, 2007).
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Vale destacar que, apesar de somente prevista em nossa legislação, a
partir de 1988, alguns estudiosos apontam que a existência de lares
monoparentais, no Brasil, data da época colonial. Porém, ficavam restritas às
classes trabalhadoras (Sâmara, 1983 e Correa, 1982).
Autores como Clément e Lebocivi, conforme destaca Uziel (2007),
apontam a monoparentalidade como prioritariamente maléfica para o
desenvolvimento psíquico da criança, uma vez que a parentalidade se constitui
a dois, biológica ou simbolicamente. Uziel (ib. id.) argumenta, que numa análise
exclusivamente psicológica, sem a devida contextualização do fator gerador da
monoparentalidade, esta última só poderá ser vista com problemática. “No
lugar da diferença, cristaliza-se a inferioridade” (ib. id., p.36/37). Numa crítica a
essa visão, a autora ressalta a necessidade de nova reflexão acerca do tema,
tendo em vista a maciça presença dessa configuração familiar no cotidiano. A
percepção desse modelo como marginal ou anormal deve ser superada.
1.2.2 – Famílias recompostas:
A família recomposta ou reconstituída pode ser caracterizada como:
“um novo tipo de família extensa, com novos laços de
parentesco e uma variedade de pessoas exercendo
praticamente a mesma função, como, por exemplo, duas
mães, dois pais, meio-irmãos, vários avós e assim por
diante, de maneira que se compõe uma rede social cada
vez mais complexa, com novas relações de poder, de
gênero, com tendência a uma maior horizontalidade nas
relações, assim como a decisões mais explicitadas e
desveladas.” (Guimarães, 1998, p. 16).
Como fenômeno recente no contexto social, as famílias recompostas ou
reconstituídas necessitam ainda de uma nomenclatura adequada para designar
seus membros. Os termos clássicos de padrasto e madrasta, vistos nos contos
infantis como figuras não-gratas, hoje não correspondem mais aos tipos de
relacionamento estabelecido entre os filhos e nova(o) companheira(o) do pai
(mãe) (Uziel, 2007). No meio jurídico, eles têm sido substituídos por pai afim,
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mãe afim. Segundo a autora, a resistência a se cunhar novos termos para
essas relações, pode estar relacionada à sacralização do modelo nuclear.
A esse respeito, Dias (1999) assim se pronuncia:
“Não bastam os vocábulos disponíveis para diferenciar o
par formado por quem é egresso de relacionamentos
anteriores. A prole de cada um também não dispõe de
uma palavra que permita identificar quem seja, por
exemplo, o companheiro da mãe; o filho da mulher do pai
diante de seu próprio filho, e ainda o novo filho desta
relação frente aos filhos de cada um dos pais. Claro que
termos madrasta, padrasto, enteado, assim como as
expressões filho da companheira do pai ou filha do
convivente da mãe, meio-irmão e outras não servem,
pois trazem uma forte carga de negatividade, ainda
resquício da intolerância social, por lembrarem vínculos
pecaminosos.” (p. 3).
Com a formação de uma família recomposta, forma-se também um
conjunto próprio de regras de convivência para aquele novo núcleo familiar,
principalmente no que se refere à continuidade da criação e educação dos
filhos. Isso ocorre, devido a interferências que derivam das novas pessoas que
se agregaram àquele núcleo familiar primário (ou família primitiva). Assim,
comumente acontece algum conflito entre seus integrantes, particularmente
quando não existe a definição prévia dos espaços e dos papéis de cada
integrante dentro deste arranjo familiar. Se na família primária esses papéis
são preestabelecidos, na família reconstituída somente a partir da convivência
cotidiana é que os papéis poderão ser definidos (Valadares, 2007).
1.2.3 – Famílias homoafetivas:
Nenhuma família contemporânea parece revolucionar tanto, quanto a
família homoafetiva, uma vez que ela apaga um dos princípios fundamentais da
família: a diferenciação sexual.
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Ainda persiste, até os dias atuais, a idéia de que a procriação é o fator
que determina a constituição de uma família. A família homoafetiva exerce uma
sexualidade que não visa à procriação, o que a sociedade tende a não suportar
(Uziel, 2007).
Vale esclarecer que os pesquisadores brasileiros têm preferido
investigar esse tipo de família, afastando-se do viés americano. Nos E.U.A, se
costuma pesquisar se a orientação homoafetiva dos pais tem repercussões na
relação entre pais e filhos. No Brasil, assim como na França, as pesquisas
sobre o tema seguem o paradigma inverso e visam compreender como se
estabelecem essas relações (Uziel, 2007).
Passos (2005) argumenta que a formação dessa configuração familiar é,
até hoje, muitas vezes dissimulada em nossa sociedade. Existe ainda a
necessidade de maior flexibilidade, a fim de compreendê-las, tendo em vista
fundar-se em algo distinto da tradicional. Do ponto de vista da autora, não
devemos nos basear no modelo clássico para buscar a compreensão acerca
das novas configurações familiares, pois novas experiências afetivas estão
sendo criadas na contemporaneidade.
A família homoafetiva estaria sustentada em alguns fundamentos:
“1. Ausência de papéis fixos entre os membros. Isso
significa que a estrutura do grupo familiar deve suportar
trocas e deslocamentos de papéis e lugares.
2. Prevalência de uma horizontalidade nas relações
internas, marcada pela inexistência de hierarquias e por
uma circulação permanente das lideranças no grupo.
3. Múltiplas formas de composição familiar e,
conseqüentemente, de formação dos laços afetivos e
sociais, o que possibilita distintas referências de
autoridade, tanto dentro do grupo como no mundo
externo.
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4. Tendência a uma constituição de sujeitos que se filiam
não só à família, mas também a grupos onde
preponderam os laços de amizade.” (Passos, 2005, p.
37/38).
Pesquisas sobre a temática destacam que a maioria dos pais
homoafetivos, esconde seu parceiro, pois são mais aceitos socialmente,
enquanto sozinhos. É certo que a ilegitimidade jurídica e social em que vive a
grande maioria das famílias homoafetivas gera sofrimento para seus membros,
sobretudo para as crianças e adolescentes (Passos, 2005).
Atualmente, ainda vivemos reflexos de nossa história patriarcal. A
sociedade brasileira não é mais agrária, nem tampouco escravocrata. No
entanto, alguns hábitos e costumes, por menores que sejam, persistem e nos
caracterizam. É certo também que intensas transformações sociais se fizeram
presentes, desde o início do século passado, e reconfiguraram nossos modos
de ser, estar e conviver, assim como alteraram o estilo de vida das famílias
brasileiras.
Podemos afirmar que, nas últimas décadas, as transformações
socioeconômicas e a modificação dos costumes que a acompanharam,
geraram intensas transformações no seio da família. As grandes unidades
familiares de outros tempos, atualmente cede lugar a inúmeros tipos de
modelos de famílias, que convivem em nosso cotidiano, como as
monoparentais, recompostas e homoafetivas.
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CAPÍTULO II
SEPARAÇÃO CONJUGAL: COMO FICA A FAMÍLIA?
Do ponto de vista sistêmico, o divórcio4 pode ser entendido como uma
crise no ciclo de desenvolvimento (ou ciclo vital) da família. Como toda crise,
abala emocionalmente seus protagonistas e propicia intensas mudanças.
Pesquisadores dessa temática destacam que a separação conjugal é um
fenômeno complexo, multifacetado e que ocorre de forma diferenciada em
cada núcleo familiar (Féres-Carneiro, 2003). No entanto, existem algumas
características comuns a todas as famílias, quando se enfrenta uma dissolução
conjugal. Algumas delas serão abordadas a seguir.
2.1 – Considerações sobre o casamento.
Antes de iniciarmos nossas reflexões acerca da separação conjugal,
vale fazer algumas ponderações acerca daquilo que ocorre anteriormente a
qualquer separação: o casamento (ou união consensual).
Um novo ideal de conjugalidade se formou na era burguesa. Com a
revolução burguesa, uma nova ordem social se inaugurou e ocorreu uma
dessacralização do poder da Igreja. O casamento, antes visto como um
contrato entre duas famílias, tornou-se o lugar da felicidade, onde o sexo e o
amor passaram a ser elementos fundamentais. Vale frisar que, somente a partir
do século XVIII, a sexualidade foi incluída na instituição casamento. Parece
consenso entre os historiadores que, até pelo menos o século XVIII, o
cristianismo ditou as regras morais que regiam a união conjugal, restringindo a
sexualidade a sua função reprodutiva e repudiando qualquer relação sexual
fora do casamento (Araújo,2002).
Ariés (1987) afirma que as significativas transformações no casamento
iniciaram-se na Modernidade. A união conjugal por amor, amor-paixão, se
estabeleceu na espreita da valorização do amor individual, vigente na ideologia
burguesa. Surge, então, um novo ideal de casamento que impõe ao casal que 4 Os termos separação e divórcio serão utilizados, ao longo deste texto, sem as distinções jurídicas que lhes cabem.
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se ame e se respeite mutuamente e mantenham ideais de felicidade
matrimonial. No entanto, Araújo (2002) destaca que essa idealização da união
entre homem e mulher criou uma armadilha para a convivência conjugal, uma
vez que acentuou os conflitos que resultam da desilusão pelo não atendimento
das expectativas criadas.
Quando o amor romântico coloca-se como fator primordial das uniões
conjugais, outra questão surge: a durabilidade dessas uniões. O amor-paixão é
o tipo de sentimento que tem prazo de validade e chega ao fim, após algum
tempo. Desta feita, o amor conjugal ligado a ele também tende a chegar a um
final. Nesta conjuntura, a separação aparece como uma possibilidade.
Shine (2002) argumenta a esse respeito, que o casamento, tal como o
vivenciamos a partir da Modernidade, pode ser considerado a relação
interpessoal de maior durabilidade e intimidade. Ainda segundo o autor, o
casamento possui aspectos tanto de satisfação como de conflito. As pessoas
buscam a satisfação na união, mas o conflito faz parte de toda dimensão
humana.
No casamento, cada membro do casal precisa ajustar com o outro aquilo
que espera da relação conjugal. É preciso que ambos possam suportar as
frustrações e conflitos resultantes dessa negociação. A separação conjugal
pode estar relacionada à impossibilidade da continuidade da negociação entre
marido e mulher (Shine, 2002).
2.2 – Quando chega à separação...
Juridicamente a separação conjugal põe fim aos deveres de fidelidade
recíproca e coabitação, assim como ao regime de bens – ou seja, dá termo ao
contrato de casamento. Do ponto de vista psicológico, podemos afirmar que o
divórcio não significa o fim da família, mas, sim, sua transformação (Cano et
al.,2009).
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Segundo Pereira (2003), a separação conjugal pode ser considerada
como o mais sofrido rito de passagem5 que um indivíduo pode enfrentara na
vida. Pondera-se que o sofrimento advém da dissolução de projetos elaborados
em conjunto pelo casal. Com o fim da união, inúmeros projetos de vida são
deixados de lado e isso pode representar, em muitos casos, o surgimento de
sentimentos de abandono e rejeição. Sendo assim, pode-se afirmar que o
processo de separação é doloroso e, muitas vezes, traumático (Farkas,2003;
Pereira, 2003).
É neste sentido que Farkas (2003) afirma que toda separação implica
na passagem por um período de luto. O luto consiste numa reação à perda. O
processo de luto demanda tempo e energia para ser ultrapassado e, em geral,
trata-se de um processo penoso e demorado. A elaboração do luto pela perda
associada ao fim da união conjugal é fundamental. Como destaca Farkas (ib.
id.), faz-se imprescindível reconhecer que existiu uma separação e que com ela
algumas propostas de vida se liquidaram; porém, também é preciso que cada
um possa perceber que tal ruptura não destrói seu ser, apenas dá fim ao
vínculo mantido até então.
Após uma separação, muitos não conseguem superar o período de luto
e podem, então, passar a idealizar exageradamente aquilo que perderam com
o fim do casamento, assim como a odiar extremamente o que terminou,
denegrindo a imagem do outro cônjuge. As duas posições trazem sofrimento
inesgotável (Farkas, 2003).
É comum que um ou os dois ex-cônjuges adotem uma postura de
relembrar apenas os aspectos negativos da relação amorosa. Segundo Shine
(2002), é na possibilidade que os membros do ex-casal têm de integrarem
aspectos negativos e positivos do relacionamento acabado, que reside a
chance deles conseguirem discriminar o que diz respeito ao ex-casal conjugal e
o que se relaciona ao casal parental (aquele formando por pai e mãe). “Quanto
maior a cisão e a necessidade de ataque e defesa, menor a capacidade de
discriminação.” (Shine, 2002, p. 68). 5 Segundo Pereira, rito de passagem consiste naquilo que ajuda uma pessoa a iniciar numa nova fase, uma nova posição social, lugar, idade etc; no caso, passar de casado a separado/divorciado.
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Os motivos que levam a separação de um casal são incontáveis. Castro
(2003) avalia que, tanto a imaturidade emocional, quanto o processo de
amadurecimento de um dos membros do casal, podem levar ao divórcio. A
esse respeito, podem-se destacar alguns conhecidos fatores que levam à
separação:
“a diferença de status socioeconômico (quando a mulher
ganha mais, instabilidade de renda e do emprego do
marido); o menor grau de instrução do homem (quando
comparado com a sua esposa); a idade dos cônjuges
(quanto mais jovens, mais alta é a incidência); a
ocorrência de gravidez pré-nupcial; a diferença racial, e
as questões de gênero.” (Peck & Manocherian, 1980/2001
apud. Cano et al.,1999, p. 216)
Ainda pode-se destacar que, em alguns casos, sobretudo aqueles que
vão parar na Justiça, o fim da união pode ter sido causada por algum tipo de
distúrbio da paternidade. A chegada de um filho coloca à prova o equilíbrio da
relação conjugal. Muitas vezes, o casal vivia bem até a chegada dos filhos,
mas, com o nascimento deles, ocorre uma modificação na dinâmica vivenciada
até então, que pode resultar em conflitos incontornáveis e que culminam no fim
do relacionamento amoroso (Castro, 2003).
2.3 – Os efeitos do divórcio na vida familiar.
O divórcio é um evento que pode ser caracterizado por abranger
aspectos legais, sociais, psicológicos e econômicos e produz mudanças
significativas na dinâmica familiar como um todo, assim como para cada
membro da família (Motta,1998). De acordo com Cano (2009), o fim do
casamento afeta todos o membros da família, porém de forma individualizada.
Neste sentido, o divórcio pode ser considerado um processo singular que
atinge cada um dos envolvidos, dependendo de fatores individuais. É desse
aspecto que decorre as diferentes reações ao divórcio observados nas diversas
famílias que enfrentam essa circunstância.
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A despeito do crescente número de separações/divórcios observados
em nosso meio social, conforme atestam dados do IBGE, é possível afirmar
que, de uma forma genérica, os membros da família nunca se encontram
preparados para enfrentarem suas consequências sociais, econômicas e
emocionais (Peck & Manocherian, 1980/2001 apud. Cano et al., 2009).
Torres (1999), em seus estudos sobre divórcio na Europa, percebeu que
o aumento do número de divórcios, observado no final do século passado,
longe de retratar uma desvalorização do casamento, parece apontar para a
valorização da vida afetiva, a ponto dos sujeitos não suportarem que ela se
desenrole de forma insatisfatória.
É certo que o divórcio, atualmente, pode ser vivido de maneira não
estigmatizante para os ex-cônjuges e para os filhos. Porém, é fato também que
nem todos vivem essa situação de forma tranqüila. Percebe-se que, quando as
mulheres não têm independência financeira, possuem idade mais avançada e
vivem em um meio social onde o divórcio é pouco freqüente, as situações pós-
divórcio tornam-se mais complicadas (Torres, 1999).
O estágio de desenvolvimento que a família vivência no momento da
separação atua de forma decisiva em suas repercussões na dinâmica familiar.
Peck & Manocherian (1980/2001 apud Cano et al., 2009) descreveram acerca
dos diferentes efeitos do divórcio de acordo com a etapa do ciclo de vida
familiar. No caso de recém-casados, o fim da união tende a ser facilitado, tendo
em vista o curto tempo de convívio e os poucos laços familiares formados.
Já em famílias com filhos pequenos, observa-se que existe uma
dificuldade na comunicação sobre a decisão de separação aos filhos, o que
pode causar uma sensação de confusão nas crianças. Pesquisas têm
demonstrado que o maior número de separações ocorre no período após o
nascimento do filho até este completar dezoito meses, ou seja, no período de
transição para parentalidade, onde o casal precisa lidar com as
responsabilidades implicadas nos papéis paterno e materno (Cano et al.,
2009).
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No caso de famílias com filhos adolescentes, verifica-se uma
intensificação dos conflitos entre pais e filhos, tendo em vista que ambos os
pólos estão passando por situações parecidas relativas à independência,
sexualidade e novos relacionamentos. Nas separações em famílias com filhos
jovens que já saíram de casa, em geral, os filhos passam a se preocupar com
seus próprios relacionamentos amorosos, uma vez que seu modelo de
conjugalidade (aquele relativo ao casamento de seus pais) se desfez. E,
quando o fim da união ocorre na terceira idade, torna-se um choque para toda
família, tendo em vista a expectativa de eternidade da relação. Tal choque
causa uma redefinição dos valores morais nas gerações mais novas da família.
Muitas vezes, as dificuldades econômicas transformam-se em motivos
para o litígio entre o ex-casal, quando ocorre a separação. Sabe-se que uma
das principais consequências do divórcio é o declínio financeiro dos ex-
cônjuges. As mulheres, em geral, obtêm salário inferior ao do homem no
mercado de trabalho nacional e também são elas, em sua maioria, que detêm a
guarda dos filhos. Os homens, por sua vez, freqüentemente precisam aumentar
sua carga de trabalho para dar conta das novas obrigações advindas da
separação. Estudos têm apontado que grande parte dos problemas emocionais
vivenciados pelas crianças no período pós-separação, advém do estresse
provocado pelos problemas financeiros (Motta,1998).
A vida após a separação incluiu uma nova rotina e surgem novos
desejos para os membros do ex-casal, agora solteiros. Com isso,
provavelmente novos gastos financeiros serão efetuados. Ainda existe a
possibilidade de que os membros do ex-casal constituam nova família, onde a
responsabilidade financeira aumenta consideravelmente.
Motta (1998) destacou que muitas mulheres, nas negociações sobre a
pensão alimentícia, aceitam valores menores do que aqueles a que fazem jus.
Nessas negociações, muitas vezes aspectos emocionais ainda não resolvidos,
relativos ao relacionamento amoroso, são os responsáveis por dificultar a
resolução da questão de forma satisfatória. Muitas vezes, tempos depois, elas
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retornam à Justiça, a fim de rever esses valores acordados anteriormente. São
muito freqüentes batalhas judiciais intermináveis acerca da pensão alimentícia.
Vale lembrar o valor simbólico do dinheiro. Ele possui um significado
muito além de sua dimensão econômica. O dinheiro abrange concepções
sócio-culturais, relaciona-se com a história pessoal de cada indivíduo, sua
dinâmica intrapsíquica e sua maneira de se relacionar com os demais. Neste
sentido, podemos analisar as questões que envolvem o pagamento da pensão
alimentícia. Como Motta (1998) observou, muitos homens, a fim de punir a ex-
esposa ou alegando que elas gastarão o dinheiro de forma indevida, pagam os
alimentos de forma irregular, ou mesmo não pagam o valor devido. Em outros
casos, o pai ou a mãe enche o filho de presentes para aplacarem sua culpa ou
como forma de buscar a lealdade da criança. Na verdade, existem inúmeros
motivos que levam o ex-casal a litigar a respeito do dinheiro.
Em geral, estudiosos do tema divórcio têm referido que a crise gerada
pela ruptura conjugal tende a ser ultrapassada com a passagem do tempo.
Autores propõem o período de dois a três anos para que haja um ajuste da
família à situação do divórcio. Posteriormente a esse período de adaptação, os
efeitos negativos da separação conjugal não são vistos com tanta freqüência
(Cano et al., 2009). Com o passar do tempo, o divórcio pode ser percebido
como favorável pelos membros da família, desde que eles avaliem melhorias
na qualidade de vida de pais e filhos (Wagner & Féres-Carneiro, 2000 apud
Cano et al., 2009).
2.4 – As conseqüências da separação conjugal para os filhos.
Estudos americanos a respeito dos efeitos do divórcio sobre os filhos
destacam a idéia de que seria mais saudável para as crianças viverem num lar
pacífico com apenas um dos genitores, do que viverem junto aos dois pais,
mas num lar permeado por conflitos conjugais (Raschke, 1987, citado por
Torres, 1999).
Em alguns estudos foi percebido que os efeitos do divórcio para os filhos
dependem diretamente da atitude dos pais, assim como da idade da criança.
Alguns fatores podem contribuir para facilitar o ajuste das crianças à situação
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do divórcio, como: informar aos filhos sobre a decisão da separação do casal, o
envolvimento e proximidade do genitor que não detém a guarda dos filhos,
assim como livre acesso da criança ao genitor não-guardião; a ausência de
hostilidade entre os membros do ex-casal; e, também, a manutenção de uma
rotina organizada e estável para os filhos (Torres, 1999).
Ramires (2004), em seu estudo sobre como crianças e pré-adolescentes
vivenciam a separação dos pais, destaca que:
“Nas crianças de 5 e 6 anos de idade, associada à
conflitiva edípica, surgiu a fantasia de culpa pela
separação dos pais e temores de retaliação. Nas crianças
de 8 e 9 anos de idade encontramos conflitos importantes
no processo identificatório, possivelmente resultantes das
fantasias agressivas dirigidas aos pais, do tipo de vínculo
que haviam estabelecido com eles e das inadequações
percebidas nessas figuras parentais em alguns casos.
Finalmente, nos pré-adolescentes percebemos certa
ambivalência em relação às tarefas e atividades próprias
da idade, acompanhada da fantasia de que tinham que
cuidar dos pais, o que também lhes ocasionava
sentimentos de raiva.” (Ramires, 2004, p.191)
Souza (2000), em seu estudo sobre a percepção dos filhos em relação à
separação conjugal dos pais, entrevistou quinze adolescentes que vivenciaram
a separação dos pais, durante a infância. Em relação ao período em que o
evento ocorreu, dez dos participantes contaram que observaram o conflito
conjugal entre seus pais. O marco da separação para os entrevistados foi a
saída do pai de casa. Os sentimentos comuns entre eles foram de tristeza,
angústia, raiva e medo do que poderia acontecer. No entanto, os entrevistados
reconheceram a separação como uma saída para as dificuldades enfrentadas
pela família.
De acordo com Motta (1998), os efeitos da discórdia a respeito da
pensão alimentícia entre os pais atingem aos filhos. Além de, muitas vezes
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perderem conforto, as crianças podem sentir-se desprotegidas e abandonados
pelo pai/mãe que não oferece a pensão alimentícia adequada às suas
necessidades.
Ainda segundo a mesma autora, outra situação muito comum em casos
de separação é que o genitor-guardião incite o filho a pedir dinheiro ou outro
bem diretamente ao outro genitor. Esta situação tende a gerar uma sobrecarga
para criança/adolescente que, em geral, não apresentam condições de
enfrentar essa situação sozinha.
Motta (1998) destacou a constatação feita por pesquisadores do
assunto, de que entre um terço e a metade das mães americanas obstruem a
visitação do pai aos filhos, como maneira de expressarem sua raiva. Da parte
dos pais, o artifício mais utilizado para retaliação é o inadimplemento da
pensão alimentícia.
Quando ocorre o casamento, poucos pensam que ele pode resultar em
uma separação. No entanto, tal realidade tem se tornado cada vez mais
comum em nosso cotidiano, como atestam os levantamentos estatísticos das
últimas décadas. Por tanto, torna-se importante reconhecer como se dá esse
fenômeno em todas as suas dimensões. Psicologicamente, um divórcio pode
acarretar severas consequências para os envolvidos, dependendo da maneira
como os adultos irão lidar com ele. Para os filhos, os efeitos tendem a ser
menor quando existe a capacidade dos pais de cindir as questões da
parentalidade e as da conjugalidade.
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CAPÍTULO III
CONVIVÊNCIA ENTRE PAIS E FILHOS APÓS O FIM DO
ENLACE CONJUGAL: TIPOS DE GUARDA.
É certo que o fim do casamento gera consequências para a dinâmica
familiar, demandando uma reorganização. Pais e filhos vêem-se envolvidos em
um novo cotidiano. A convivência estreita com apenas um dos pais e o
afastamento, ao menos físico e habitual, do outro genitor é uma dessas
consequências. Mesmo que ambos os pais impliquem-se em manter contato
rotineiro com os filhos, algo se modifica na rotina familiar quando os membros
do casal passam a residir em casas separadas.
3.1 – Algumas considerações acerca da interação entre pais e
filhos pós-separação conjugal.
A separação conjugal não dá fim somente ao matrimônio. Ocorre
também um afastamento de um dos genitores em relação à convivência com a
prole. A esse respeito foi percebido que muitos pais não-residentes abdicam
de sua autoridade e, com isso, exercem pouca influência direta na educação
das crianças (Dantas, 2003).
As pesquisas acerca da interação entre o não-guardião e os filhos não
são unívocas. Algumas pesquisas relatam uma melhora qualitativa na
convivência entre pais (homens não-guardiões) e filhos, no período pós-
divórcio (Ramires,1997, apud Dantas, 2004). Porém, existem estudos que
apontam um decréscimo na interação entre pais que não detém a guarda e o
filho, destacando que o recasamento do pai ou uma mudança geográfica pode
reduzir o contato deste com os filhos da união anterior (Brito, 2002;
Furstenberg e Nord, 1985 apud Dantas, 2004). Por fim, há ainda algumas
pesquisas que indicam uma transição entre um período de intensa interação e
um período de maior afastamento entre o pai não-residente e o filho – o que
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geralmente ocorre a partir de um recasamento (Dantas; Jablonski & Féres-
Carneiro, 2004).
Na pesquisa apresentada por Furstenberg e Nord (1985 apud Dantas,
2004), foi verificado que a maioria dos pais não manteve contato regular com
os filhos, após o fim do casamento, demonstrando uma atuação limitada dos
pais que não residem com os filhos. A maioria dos pais não-guardiãos deixa de
participar do auxílio nas atividades escolares ou dos cuidados rotineiros (como
higiene, alimentação). Os contatos com os filhos se dão basicamente em
atividades de lazer. No mesmo estudo elaborado pelos pesquisadores
supracitados, foi averiguado que os filhos não costumam dormir na casa do
genitor não-guardião e, em geral, eles não possuem espaço para guardar seus
pertences.
Vale ressaltar que a não participação do pai ou da mãe no processo de
educação e de cuidados com os filhos pode levar a constituição de frágeis
vínculos entre o genitor não-guardião e o filho. Alguns estudiosos perceberam
que uma mera visitação ao filho tende a enfraquecer o vínculo entre o não-
guardião e a criança, promovendo-se um desapego entre eles (Wolchik, 1985
apud. Silva, 2003). Neste sentido, conforme bem pontua o estudo de Dantas,
Jablonski & Féres-Carneiro (2004), a manutenção de contato entre o genitor
não-residente e o filho seria a única maneira de manter o vínculo entre ambos.
A esse respeito Grisard Filho (2002) destaca que a condição de visitas
periódicas costuma atingir o relacionamento entre o filho e o não-guardião de
forma destrutiva, tendo em vista que leva ao lento e gradual afastamento.
Segundo o autor, isso decorre do fato da ocorrência de reiteradas separações,
após a visitação, que levam angústia aos envolvidos.
O tipo de relacionamento entre os membros do ex-casal também deve
ser levado em conta, quando se pensa na questão da manutenção da
convivência entre pais e filhos pós-separação conjugal, pois os pais também
influenciam seus filhos pela maneira como lidam com o ex-cônjuge. Pesquisas
nacionais e internacionais relataram que a comunicação entre os pais
separados é limitada, e, em geral, é feita através dos filhos (Eggebeen &
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Knoester, 2001 apud. Dantas, Jablonski e Féres-Carneiro, 2004; Brito, 2007).
Em recente estudo, ficou evidenciado que o entendimento entre os pais está
diretamente ligado à tranqüilidade e segurança dos filhos (Dantas, Jablonski e
Féres-Carneiro, 2004). O conflito aberto e agressivo entre os pais, decerto
afetará os filhos. No entanto, mesmo que os pais não se entendam, se houver
cooperação em relação aos cuidados com a prole, esta última tenderá a se
adaptar a nova situação de separação dos pais (King & Heard, 1999 apud
Dantas, Jablonski e Féres-Carneiro, 2004).
Dantas (2003) destaca que é prejudicial à criança ser colocada como
parte do conflito entre os pais. Nestes casos, a criança tende a ficar confusa
quanto a como se posicionar e insegura com relação a quem devem confiar.
Os motivos para o afastamento que comumente ocorre entre pai não-
guardião e seus filhos podem relacionar-se com uma falta de habilidade em
lidar com a prole, assim como com as dificuldades em lidar com o ex-cônjuge
(Dantas, 2003).
Um outro aspecto que merece destaque refere-se ao recasamento de
um ou de ambos os genitores. A partir desse novo envolvimento afetivo dos
pais, outras pessoas (padrasto/madrasta) passam a participar dos cuidados e
educação das crianças (Dantas, 2003). Conforme destacam pesquisas
internacionais, os filhos tem se saído bem nessa nova teia de relações
formadas a partir do recasamento de seus pais.
Em geral, as mães (grande maioria de guardiã dos filhos) reclamam da
falta de participação dos pais na vida dos filhos. A satisfação delas tende a
aumentar quando existe contato entre pai e filhos, mesmo que haja conflito
entre os ex-cônjuges. Pesquisas acerca da temática da visitação apontam para
a importância da satisfação materna, quando a mãe é a guardiã. Crianças
vivendo em um contexto onde o pai a visita freqüentemente e a mãe encontra-
se insatisfeita tendem a apresentar problemas de comportamento – o que pode
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ser conseqüência de um possível conflito de lealdade6 que a criança vivencia
(Dantas, 2003).
3.2 – Tipos de guarda de filhos.
Guarda de filhos pode ser entendida como o conjunto de direitos e
deveres dos pais em relação aos filhos e abrange à prestação de assistência
material, moral e educacional à criança ou adolescente. “A guarda é direito
consistente na posse de menor oponível a terceiros e que acarreta dever de
vigilância e ampla assistência em relação a este.” (Santos Neto, J.,1994 apud.
Mazia, 2004, p. 159). Neste sentido, guarda significa tanto custódia como
proteção dos pais aos filhos (Rodrigues et al., 2005). Pode-se afirmar, assim,
que a guarda é um poder-dever dos pais em face dos filhos menores.
Anteriormente às reformas jurídicas de igualdade entre os sexos
ocorridas a partir de nossa Constituição Federal de 1988, cabia exclusivamente
a figura do pai a responsabilidade pela guarda dos filhos menores de idade,
pois era ele quem exercia o pátrio poder. Com a evolução de nossa legislação,
o pátrio poder (hoje, poder parental ou familiar) hoje é dividido entre ambos os
genitores.
Pode-se destacar, que a partir da Convenção Internacional dos Direitos
das Crianças (1989), o infante adquiriu relevância jurídica, sendo concebido
também como um sujeito de direitos. O princípio do maior interesse da criança,
preconizado na supracitada legislação, passou a ser levado em conta na
elaboração de toda a legislação brasileira. Este princípio é atualmente
considerado superior e basilar e deve ser levado em conta também em todas
as ações decorrentes da relação de filiação – inclusive no que se refere à
guarda dos filhos, quando do fim do casamento dos pais. É neste princípio que
tem se pautado os parâmetros para o exercício da guarda (Mazia,2004).
Vale esclarecer que a separação do casal não desobriga a nenhum dos
genitores em relação à guarda dos filhos menores de dezoito anos. Ou seja, o
exercício do poder familiar em nada é atingido pela ruptura da união conjugal.
6 Nestes casos, a criança sente que, ao amar o genitor não-guardião, está magoando o guardião.
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Alguns tipos de guarda são admitidos em nosso ordenamento jurídico: a
guarda exclusiva ou monoparental, a guarda alternada, o aninhamento ou
nidação e a guarda compartilha. Nesta última, nos deteremos mais
esmiuçadamente no próximo capítulo.
3.2.1 – Guarda exclusiva, monoparental ou unilateral.
A modalidade mais comum de guarda observada em nossa sociedade é
a guarda exclusiva ou monoparental, onde apenas um dos genitores detém a
guarda física dos filhos.
Neste caso, quando ocorre a ruptura da união conjugal, a família
matrimonial torna-se monoparental e, com isso, a autoridade parental é
exercida por apenas um dos pais. Ao genitor não-guardião cabe o direito de
visitas (geralmente quinzenais), o dever de prestar alimentos e de fiscalização
do exercício de guarda pelo guardião (Mazia,2004).
“Nesse modelo, não se exige sequer que o guardião
consulte o outro (pai ou mãe) não-guardião sobre as
decisões importantes a tomar relativamente ao menor. O
não-guardião não pode, nem direta e nem indiretamente,
participar da educação dos filhos, nem goza de um direito
a ser ouvido pelo seu ex-cônjuge em relação às questões
importantes da educação do menor.” (CANEZIN,2005,
p.15, apud Leite, 2006, p.38)
A decisão sobre qual dos pais deterá a guarda dos filhos, ou seja, sobre
aquele que terá o efetivo exercício do poder familiar, pode ocorrer de duas
formas: por um acordo entre o ex-casal ou por decisão judicial. Neste último
caso, o juiz deverá deferir a guarda àquele genitor que apresentar melhores
condições de exercê-la, competindo ao genitor não-guardião o dever de
supervisionar o exercício da guarda e zelar pelos interesses da prole.
Azambuja (s/d) assinala que tal arranjo de guarda pode obter bons resultados
quando existe uma flexibilização dos acordos entre os pais, a fim de abarcar as
necessidades das crianças.
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De acordo com dados do IBGE (2007), em 89,5% dos casos é a mulher
quem fica com a guarda dos filhos. Acerca desse dado pode-se pontuar que,
de uma forma geral, em nossa cultura, homens e mulheres são educados de
maneira a aceitar que a criação dos filhos é uma atribuição exclusiva das
mães, cabendo ao pai prover financeiramente a família e impor a disciplina.
Esse aspecto cultural gera consequências para as dinâmicas familiares. Na
maioria dos lares brasileiros, ainda é a mulher quem cuida diretamente dos
filhos e os homens têm um envolvimento ainda muito restrito nos cuidados com
a prole. Como conseqüência disso, a maior parte dos homens não consegue
planejar como será sua participação na vida dos filhos, quando ocorre a
separação conjugal (Motta,1998). Sendo assim, pode-se buscar compreender o
enorme percentual de mulher a cuidar diretamente dos filhos, após o fim do
casamento.
Motta (2000) destaca ainda que os conhecimentos produzidos pela
psicanálise, no século passado, que destacavam a importância fundamental da
convivência entre mãe e filhos, fomentou o embasamento para atribuição da
guarda dos filhos às mães, prioritariamente.
Leite (2006) argumenta que o exercício unilateral da guarda gera a
situação de pais visitantes. As negociações acerca de como se dará a visitação
é comumente causa de intensos conflitos entre o ex-casal, o que pode ser um
fator de afastamento entre o não-guardião e filho.
Vale ressaltar que o direito a regulamentação de visitas ao genitor não-
guardião visa atender aos interesses da criança ou adolescente e não aos
desejos dos adultos envolvidos (Buére Xavier, 2008).
3.2.2 – Guarda Alternada.
Como explica Rodrigues (2005), o modelo de guarda alternada
descende do direito anglo-saxão e pode ser definida como o tipo de guarda
onde as crianças permanecerão, de forma exclusiva, com cada um dos pais,
por um período pré-estabelecido de tempo (semana, mês, semestre). Durante
esse período, apenas o genitor guardião irá exercer os poderes-deveres que
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integram o poder parental. Neste caso, existe a alternância da residência da
criança entre as moradias dos pais (LEVY, 2009).
Esse tipo de guarda não é bem vista pelos juristas, sendo evitada pelos
tribunais. Alega-se, neste sentido, que a guarda alternada atende mais aos
interesses dos pais do que aos dos filhos, ocorrendo uma divisão quase literal
dos filhos.
Acerca dessa tipologia de guarda existem inúmeras críticas que
destacam sobretudo a violação do princípio de continuidade do lar, o que
prejudicaria a manutenção dos hábitos e costumes das crianças e a
continuidade de seus padrões de personalidade, gerando uma instabilidade
emocional (Rodrigues et al., 2005).
No entanto, Silva (2003) observou, em seu estudo sobre o tema, que a
alternância de residências não prejudicaria o desenvolvimento dos filhos, mas,
sim, as desavenças entre os pais. Neste sentido, o autor afirma que as
crianças teriam recursos para adaptar-se a esse revezamento de casas, caso
houvesse apoio das figuras parentais.
3.2.3 – Aninhamento ou nidação.
No tipo de guarda chamado de aninhamento ou nidação a alternância de
casa cabe aos pais e não aos filhos; ou seja, cabe aos filhos permaneceram
em uma mesma residência, que será ocupada por cada um dos pais, em
períodos alternados de tempo. Esse tipo de guarda costuma ser onerosa e não
é comumente visto em nossa realidade social.
Do ponto de vista psicológico, Azambuja (s/d) também destaca que essa
modalidade dificulta a manutenção de vínculos afetivos estáveis, assim como
de rotinas – o que é essencial para a formação da personalidade de crianças e
adolescentes.
Após o fim do casamento, a família precisa adaptar-se a sua nova
configuração. É a hora de decidir como se estabelecerá o contato dos filhos
com os pais – já que agora os pais residem em casas distintas. Percebe-se que
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tal situação, nem sempre, consegue ser resolvida de forma pacífica. A decisão
acerca de como ficará definida a guarda dos filhos leva muitos ex-casais às
barras dos tribunais. As dificuldades de lidar com a visitação do não-guardião
aos filhos, muitas vezes, geram intensos conflitos entre os pais e atua de forma
a afastar o pai não-residente de seus filhos. Desta forma, acredita-se que é
preciso superar a visão de que apenas um dos pais será o detentor da guarda
dos filhos (ou seja, dos poderes sob a prole). Deve-se buscar a situação em
que ambos os pais possam exercer seu poder-dever em relação aos filhos,
responsabilizando-se conjuntamente por eles.
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CAPÍTULO IV
GUARDA COMPARTILHADA COMO UMA NOVA
POSSIBILIDADE DE ARRANJO FAMILIAR PÓS-DIVÓRCIO.
Os diversos estudos que versam sobre a temática da convivência entre
pais e filhos após a separação, enfatizam a necessidade da continuidade de
participação efetiva de ambas as figuras parentais na vida da
criança/adolescente. Os estudos jurídicos e psicossociais que versam sobre o
tema destacam mais aspectos positivos do que negativos em relação à guarda
compartilhada. Acredita-se que esta modalidade de guarda tende a reduzir as
dificuldades das crianças em se adequaram à vida familiar pós-divórcio,
facilitando a adaptação delas à nova rotina e às novas formas de convívio com
os pais.
4.1- Guarda compartilhada: o que é?
No ano de 2008, passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico a
guarda compartilhada. Já comum em outros países, somente após muitos anos
de luta da sociedade civil, este arranjo de guarda foi finalmente aprovado.
A Lei nº 11.698, de 13 de Junho de 2008, alterou os arts. 1.583 e 1.584
do Código Civil/2002, para instituir e disciplinar a guarda compartilhada:
“Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.
§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.
§ 2o A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores:
I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;
II – saúde e segurança;
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III – educação.
§ 3o A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos.
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.
§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo descumprimento de suas cláusulas.
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada.
§ 3o Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar.
§ 4o A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda, unilateral ou compartilhada, poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor, inclusive quanto ao número de horas de convivência com o filho.
§ 5o Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.”
A nova redação dada aos artigos 1.583 e 1.584 do Código Civil
prevêem a possibilidade da responsabilização conjunta dos pais em relação
aos filhos. A guarda compartilhada (ou conjunta) é tipo de arranjo que visa
repartir, entre as duas figuras parentais, todos os aspectos do processo
educativo dos filhos, assim como as decisões acerca da vida das
crianças/adolescentes. Na guarda compartilhada, de uma forma genérica, um
dos pais detém a guarda física (ou material) dos filhos: ou seja, os filhos têm
como residência principal, a moradia de um dos genitores. No entanto, o outro
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genitor continua com o direito de ampla participação nos cuidados e decisões
acerca dos filhos.
Vale destacar ainda que é possível, no modelo da guarda compartilhada,
haver a alternância da criança entre as residências materna e paterna, porém
isso depende de acordo entre os genitores. A principal diferença em relação à
guarda alternada é que, na guarda compartilhada, quando o filho está na casa
de qualquer um dos pais, as responsabilidades em relação a ele ficam divididas
entre os dois. No caso da guarda alternada não existe essa responsabilização
conjunta: cada um dos pais deve cuidar do filho somente nos períodos em que
estiver residindo com ele.
O mais relevante no caso da responsabilização conjunta pelos filhos
refere-se à efetiva participação de ambos os pais na vida dos filhos. Em
conjunto, os pais devem decidir sobre a escola que os filhos irão estudar, sobre
os tratamentos médicos, os cursos extracurriculares, as viagens, etc. Além
disso, o genitor que não reside com os filhos terá o direito de ter acesso a eles,
sem as restrições antes impostas pelas visitações determinadas em juízo.
Esse instituto de guarda parece ter nascido em um momento histórico de
valorização da igualdade entre os sexos. A guarda monoparental, sobretudo
deferida às mães, gerava um desequilíbrio dos direitos parentais. Outro fator a
contribuir para o surgimento desse tipo de guarda refere-se à cultura atual, que
desloca o centro de seu interesse para a criança (Silva, 2003).
A definição de guarda compartilha parece despertar um debate sobre
quais situações indicariam ou desaconselhariam o estabelecimento desse tipo
de guarda. Bruno (2008) fez um levantamento sobre as situações que
desaconselhariam a aplicação da guarda compartilhada, como os casos onde
existe violência doméstica e também naqueles onde há intenso conflito entre os
pais, pois a criança poderia ficar aprisionada no meio do litígio dos adultos. A
esse respeito, pode-se dizer que é quase um consenso entre os juristas que
atuam na área de Direito de Família, que, quando os genitores estão em lide ou
moram em cidades distantes, a guarda compartilhada não é indicada (Ost,
2009).
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Muitos juristas argumentam que o compartilhamento da guarda só
funciona no caso dos adultos saírem da união conjugal sem mágoas ou
ressentimentos. Caso contrário, a lide se perpetuará e o ideal seria o
deferimento da guarda monoparental. Alguns chegam a argumentar que a
previsão da guarda compartilhada, nos moldes previstos no Código Civil é
inconstitucional, “isto porquê: fere a dignidade do casal, o melhor interesse do
menor é relegado, e, é uma forma coercitiva de se resolver à guarda, em razão
da intervenção estatal na autonomia, na vontade do casal.” (Cruz, 2008, p.3).
Na seara psicológica, existe a indicação do deferimento da guarda
conjunta, mesmo que haja contenta entre o ex-casal. Silva (2003) destaca que,
mesmo em casos de litígio entre os pais, a responsabilização conjunta pelos
filhos é indicada. Para ele, os filhos precisam conhecer ambos os pais e formar
suas próprias percepções sobre eles. Para tanto, a convivência, e não apenas
visitas, é fundamental. O autor destaca que, caso não haja convivência com
ambos os pais, aquele que convive rotineiramente com o filho, exerce
interferência na constituição da imagem que o filho fará do outro progenitor
(que não convive com o filho). O autor acredita que, em caso de litígio entre os
pais, o deferimento da guarda unilateral poderia funcionar como uma forma de
obstruir o contato do genitor não-guardião ao filho.
A esse respeito, Brito (2005) adverte que os vínculos entre pais e filhos e
o exercício da parentalidade não podem depender das negociações entre os
ex-cônjuges. Cabe ao Estado, através da legislação, garantir o exercício da
parentalidade por ambos os genitores, preservando o direito das crianças de
conviver com pai e mãe, conforme previsto na Convenção Internacional do
Direito da Criança.
Silva (2005), em sua pesquisa sobre guarda de filhos, percebeu que nos
casos de ex-cônjuges em litígio, o deferimento de qualquer dos tipos de guarda
não gerava o arrefecimento do conflito. Para ele, essa relação conflituosa entre
os pais se perpetuará independente do tipo de guarda estabelecido. Neste
sentido, pontua que, sob prisma psicológico, a guarda compartilhada é a
melhor solução para os filhos.
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Alguns pesquisadores dessa temática destacam que a escolha pela
guarda compartilhada deveria estar associada a modelos de família onde já
existia uma responsabilização conjunta pelos filhos, antes mesmo da
separação. Ou seja, a guarda compartilhada seria indicada nos casos onde a
criança/adolescente era efetivamente cuidada pelos dois genitores, durante a
vigência do casamento. Já nos casos das famílias onde ocorria uma divisão
mais tradicional das responsabilidades (onde os pais sustentavam
financeiramente e as mães cuidavam dos filhos), a guarda exclusiva seria mais
indicada (Dolto, 1989; Silva, 2003).
Do ponto de vista psicológico, os estudiosos do tema relatam a
importância das particularidades de cada caso e da vinculação afetiva entre
pais e filhos. Dolto (1989) destaca que, em alguns casos, um dos genitores
pode ter uma fraca vinculação afetiva com o filho, não sendo indicado o
compartilhamento da guarda. Na mesma medida, se os dois pais apresentam
forte vinculação com os filhos, o afastamento de um deles, poderia gerar
prejuízos psicológicos ao infante.
Dantas (2003) argumenta que a guarda conjunta pode funcionar bem
com crianças maiores, a partir de oito anos. No caso de crianças mais novas,
esse tipo de esquema poderia ser prejudicial, tendo em vista a necessidade,
por parte dessas crianças, de uma rotina mais rígida que lhe dê referências.
4.2 – Quando a guarda é compartilhada, como ficam os filhos?
Para Shapiro & Lambert (1999 apud Dantas, 2003) o compartilhamento
da guarda dos filhos é o tipo de organização familiar que propicia a melhor
qualidade das relações entre pais e filhos, após o divórcio. Este tipo de arranjo
mantém os dois pais participando de todos os aspectos da vida dos filhos. Para
os autores não é a separação conjugal em si que afasta pai e filho, mas sim o
fato de morarem em casas distintas.
A guarda conjunta representa o arranjo mais benéfico, levando-se em
conta a saúde psíquica das crianças. Isto porque este tipo de guarda diminui o
tempo de afastamento do genitor que não reside com o filho. Sendo assim,
evita o surgimento da sensação de abandono – o que é comum nos casos de
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visitas apenas quinzenais, que ocorrem nos esquemas padrões de visitação. A
esse respeito, podemos pontuar que a criança tende a sentir-se abandonada
pelo genitor que deixa o lar conjugal e, muitos dos sintomas psicológicos que
aparecem na criança, após a separação dos pais (como, dificuldades
cognitivas, ansiedade, agressividade e depressão), têm relação direta com o
sentimento de abandono (Silva, 2005).
Neste mesmo sentido, com a guarda compartilhada os filhos sofrem
menos, tendo em vista ser menor o período de afastamento de ambos os
genitores, ou seja, este tipo de guarda fomenta o contato freqüente e próximo a
ambos os pais.
Silva (2003) observou ainda, no desenvolvimento de sua pesquisa sobre
a guarda de filhos, que a alternância entre a casa materna e paterna, não
gerava sintomas psicológicos. As crianças apresentaram capacidade de
adaptação a essa situação. Utilizando-se do conhecimento psicanalítico, o
autor argumenta, que é importante, para o desenvolvimento das crianças, a
convivência com a diversidade. Sendo assim, o contato com o ambiente
externo ao lar familiar torna-se fundamental.
Segundo a teoria psicanalítica a respeito do desenvolvimento infantil,
uma criança de um ano de idade já tem recursos internos para lidar com o
mundo externo. Ela já pode se afastar do lar, freqüentar creches e criar outros
vínculos afetivos. É, a partir dessas experiências, que o ego da criança vai se
estruturando. “A criança amada, que confia nos pais, consegue administrar
bem a sua nova rotina, e tem condições internas suficientes para esta
adaptação, pois o seu ego já está devidamente estruturado.” (Silva, s/d, p.6).
Nesta mesma direção, destacamos o entendimento de Thery (1996 apud
Brito, 2002) de que as diferenças que possam existir nos códigos educativos de
pais separados não são necessariamente um problema para os filhos, na
medida em que a constatação da diversidade faz parte da socialização infantil.
A respeito da possibilidade de alternância entre as residências paterna e
materna, Silva (2003) averiguou que as crianças apresentam boa adaptação a
esse arranjo e a capacidade de fazerem vínculos nas duas casas. Porém, o
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autor faz a ressalva de que é necessário que ambos os pais tenham
consistentes vínculos afetivos com os filhos e possam partilhar os cuidados
com eles. Tal constatação refuta a visão jurídica, de que as crianças precisam
de uma única referência de lar.
Entende-se que a guarda compartilhada pode ser um modelo menos
desgastante emocionalmente para todos os envolvidos, quando comparada
com a guarda monoparental (Brito, 2005). Neste modelo, as crianças estão
mais livres para buscar tanto o pai quanto a mãe, quando necessitam de apoio.
Vale aqui ressaltar que, quando falamos em compartilhamento da guarda dos
filhos, não se quer dizer a divisão exata do tempo em que a criança passará
com os pais. Esta característica refere-se à guarda alterna. Na conjunta, busca-
se uma divisão mais equilibrada do tempo de convívio com o filho, visando que
ambos os pais possam participar da educação da prole.
Wallerstein e Kelly (1998) observam, em seu estudo longitudinal com
famílias separadas, que os filhos consideravam como muito bom poderem
estar com o genitor não-guardião (no caso da pesquisa, sempre homens)
quando desejavam. Enquanto, aquelas crianças que tinham um contato restrito
com um dos genitores, após a separação, demonstravam raiva e tristeza.
Pesquisas realizadas a respeito do tema da guarda dos filhos,
verificaram que, no caso da guarda monoparental, o genitor não-guardião
participa bem menos das decisões da vida do filho. Neste sentido, acredita-se
que o deferimento da guarda compartilhada possa minimizar este efeito, tendo
em vista propiciar condições de igualdade de direitos e deveres entre os
genitores.
Além disso, observou-se que a guarda monoparental ainda diminui a
intensidade das relações afetivas mantidas entre o filho e aquele que não
detém a guarda. Este parece ser um dos nefastos efeitos da visitação. O
compartilhamento da guarda dos filhos também pode funcionar de forma a
manter os vínculos afetivos com ambos os pais, mesmo após o fim da união
conjugal, na medida que fomenta a continuidade da convivência com os dois
progenitores.
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4.3 – Consequências do compartilhamento da guarda para os
pais.
Levando-se em conta que, na maior parte dos casos a guarda
monoparental é deferida à mãe, o compartilhamento da guarda traz a
oportunidade dos filhos aproximarem-se mais da figura paterna (Brito, 2005).
Britto (1997), em sua pesquisa sobre a percepção e prática de pais
separados acerca do exercício da parentalidade, após o fim da união conjugal,
averiguou que os pais vivenciam o deferimento da guarda unilateral à mãe,
como uma espécie de cerceamento ao exercício da parentalidade e sentem
que pouco podem contribuir para educação dos filhos. É neste contexto que
surge a figura do “pai de final de semana”, hoje naturalizada pela sociedade em
geral.
Acredita-se que a guarda compartilhada poderá atuar no sentido
aproximar ainda mais os pais de seus filhos. Se antes da separação os pais
relegavam os principais cuidados com a prole à figura materna, tê-los
exclusivamente em sua companhia, quando se vêem obrigados a dar conta das
necessidades da criança, pode auxiliar no estreitamento dos vínculos afetivos.
A esse respeito, Silva (2005) observou de que muitos homens, ao se verem
cuidando diretamente dos filhos, longe da presença das mães, estreitaram o
vínculo afetivo com eles.
A guarda compartilhada também pode trazer vantagens para os adultos
envolvidos. Estudos verificaram que o compartilhamento da guarda dos filhos
reduz o estresse, já que permite a divisão das responsabilidades e cuidados
com a prole, evitando, desta forma, o acúmulo dessas funções por apenas um
dos pais (Bastien & Pagani, 1996 apud Bruno, 2008).
Pode-se ainda destacar que a guarda conjunta acaba com a figura do
genitor visitante (Brito, 2005). A extinção da visitação pode diminuir o conflito
entre os pais em dois sentidos. Primeiramente, com o fim das designações de
guardião e visitante, parece existir uma equalização da importância e do poder
de ambos os pais sobre a vida dos filhos. Pode-se afirmar, neste caso, que os
pais serão valorizados na mesma medida. Além disso, o próprio stress
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associado à rigidez imposta às visitação, se extingue. Não será mais
necessário se estabelecer rigorosamente dias e horários para o contato entre
pais e filhos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conjunto das mudanças do mundo pós-moderno refletiu-se no mundo
familiar. O modelo da família nuclear, hoje, mostra-se como algo difícil de se
sustentar como o tipo ideal de família. As multiplicidades de modelos familiares
coexistentes em nosso meio social leva-nos a uma reflexão acerca da
necessidade da flexibilização do conceito de família. Roudinesco (2003),
inclusive, afirma que, no futuro, a família precisará ser reinventada, já que são
cada vez mais ampliadas as possibilidades de arranjos familiares.
As famílias separadas, outrora tão estigmatizadas, são, hoje, cada vez
mais comum em nossa sociedade – basta a constatação da onda de
separações e divórcios revelados pelas estatísticas anuais. Tal fato gera
algumas consequências para o meio social, como, por exemplo, a necessidade
de adaptação da legislação acerca dessa temática e o aumento do número de
recasamentos. As alterações na legislação acerca da separação conjugal
devem levar em conta as necessidades dos envolvidos, para que possam
realmente trazer benefícios para a vida dos sujeitos. O aumento do número de
recasamentos tem gerado a necessidade de readaptações das famílias, que
precisam aprender a lidar com várias pessoas exercendo quase que a mesma
função.
A separação conjugal é considerada como um evento doloroso, que
demanda, inclusive, um processo de luto. Percebe-se que, muitas vezes, a
partir do fim do casamento, o relacionamento entre os membros do ex-casal
torna-se dificultado, em virtude de ressentimentos advindos da separação.
Após a ruptura da união conjugal, é necessário organizar a convivência
entre pais e filhos. Para tanto, nossa legislação conta com a previsão de
algumas modalidades de guarda: a exclusiva ou monoparental, a alternada, o
aninhamento ou nidação e, mais recentemente, a guarda compartilha. A
responsabilização conjunta pela prole, após a ruptura do laço conjugal, é uma
realidade ainda em construção em nosso país. Recentemente foi incluída em
nosso ordenamento jurídico, mais ainda aparece pouco difundida no cotidiano
das famílias separadas. Dados estatísticos do ano de 2007, atestam que a
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guarda compartilhada pode ser considerada rara no contexto nacional,
abrangendo somente 2,9% das guardas de filhos.
Atualmente, ao separar-se, o casal pode optar pela responsabilização
conjunta pelos filhos. Neste caso, ambos os genitores devem dividir as
responsabilidades e cuidados com a prole. Nos demais casos, a guarda dos
filhos menores é exercida por apenas um dos pais, exclusivamente, levando o
outro genitor à condição de visitante.
Estudos sobre essa temática já comprovaram que a mera visitação de
um dos pais ao filho gera desapego, com a formação de frágeis vínculos
afetivos entre eles. Tal constatação é grave, tendo em vista a importância de
ambas as figuras parentais para o desenvolvimento psicossocial dos filhos.
Neste sentido, acreditamos na importância da Terapia Familiar, no caso de
famílias separadas onde ocorram dificuldades com relação ao convívio entre
pais e filhos. A Terapia Familiar poderia auxiliar estas famílias a encontrarem
uma forma saudável de convivência, a fim de se preservar a saúde mental de
todos os envolvidos.
Vale ressaltar que, diante dos estudos psicológicos que versam sobre
esse assunto, não há dúvidas de que o compartilhamento da guarda é a
modalidade mais favorável para as crianças envolvidas, uma vez que propicia a
manutenção da convivência com os dois pais. Para os pais, esse tipo de
guarda também pode trazer benefícios, uma vez que um poderá contar com o
apoio do outro, nas questões relativas à prole, e também porque a
responsabilização conjunta dá fim aos rígidos esquemas de visitação que,
comumente, são motivos de desavenças entre os pais.
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