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 H IS T O R I D G U E R R D O P R G U Y

Guerra Do Paraguai Vol 1

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história américa latina

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H I S T O R I D G U E R R D O P R G U Y

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HISTORIA

D A

G U E R R A D O B R A S I L

C O N T R A

A S R E P U B L I C A S Ü O U R U G U A Y E P A R A G U A Y

C O N T E N D O

CONSIDERAÇÕES SOBRE O E XER CITO DO BRASIL E SUA S CAMPANHAS

NO SUL ATÉ 1852.

CAMPANHA

  DO ESTADO ORIENTAL EM 1865.

MARCHA DO EXERCITO PELAS PROVÍNCIAS ARGENTINAS.

CAMPANHA

  DO PARAGUA Y..

OPERAÇÕES DO EXERCITO E DA ESQUADRA.

ACOMPANHADA

  DO JUÍZO CRITICO SOBRE TODOS OS ACONTECIMENTOS QUE

TIVERAM LUGAR NESTA MEMORÁVEL CAMPANHA.

Le vrai

  moyen d'eloigner

  la

 guerre

  et de conserver

une longiae

 paix, c'«st

  d e   cultiver

 les armes.

FÈNBLON.

VOLUME I .

R I O DE J ANEI R O

LlYRABlA

  D B A . G .

  GUIMARÃES

  & C. — RUA DO

  SABÃO

  N . 2 6 .

1870.

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T y p o g r a p h i a — P E R S E V E R A N Ç A — r u a d o  Hospício  n 91

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  O E X E R C I T O

  E Á

  A R M A D A

D O

IMPÉRIO DO BR SIL

O A U T O R

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Í N D I C E

DAS

  MATÉRIAS  QUE  CONTEM ESTE VOLUME.

INTRODUCÇÀO.

Influen cia da revolução de 7 de A bril de 1831 sobre oexercito.—

Campanhas do Sul contra Art igas, durante

 o

governo do príncipe,

dep ois el-rei D . João V I, desde 1811 até 1820.—Política do gabine

te do Bio

  de

Jane iro adoptada com relação aos neg ócios do sul .—

Guerra da Cisp latina, de 1825 a1828; suas causas eresultados.—

Tratado  de29- de Maio de 1851, com  oEstado Oriental eco m o

govern ador da provín cia de E ntre-Rios.— Ca mp anh a de 1851 e 1852-—•

Aniqui lamento  doexercito nos anno s seg uin tes . — Considerações

sobre a política do governo im perial , em relação ao E stado Orien

ta l ,

 e

ao Paraguay .—C omo se dev ia ter feito a guerra ao Parag uay.

—D emonstração da necessid ade de forças regulares estacionadas no

Bio Grande.—D ominação dos Jezuitas no Paraguay.

LIVRO I.

Sfcrte política dos relatórios  doministério dos negócios e3tran-

3

e i r

° s  e1853  a1855, em relação  ás republicas do Rio da Prata.

—Missão do Paraguay confiada  aochefe de esquadra Pedro Fe r-

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reira de Oliveira; seu comportamento como militar  "e  como diplo

m ata ,

  e

 seu s resultados.—R eflexOes sobre este s aco ntec ime ntos ,

 e

sobre

  a

política do governo imperial n'aquelles annos.

LIVRO

 II.

Parte política do relatório do ministério dos negócios estrangei

ros do anno de 1856, em relação

 á

política adoptada  pelo  gover

no imperial para com as republicas do R io da Prata.

LIVRO III.

Parte política dos relatórios do ministério dos  negócios estran

ge iros dos ann os de 1857, 1858, 1859

 e

  1860, em  relação

 á

política

adoptada pelo governo imperial para com

 a

republica  do üruguay.

— Reclamações da legação imperial em Montevidéo  ao governo ori

ental.— M issão ao Paraguay encarregada ao conselheiro José Maria

do Amaral.—Missão ao Paraguay encarregada ao conselheiro José

Maria da Silva Paranhos. — A ssassina tos perpetrados em subd itos

brasileiros no Estado Oriental.

LIVRO

  IV.

Parte política dos relatórios  do  ministério dos negócios estrangei

ros nos annos de 1861, 1862, 1863

 e

  1864, em relação

  á

política

adoptada pelo governo imperial, para com

  as

  republicas

  do

Rio

da Prata.—Abusos

  e

 violências comm ettidos contra os Brasileiros

residentes

  no

Estado Oriental pelas autoridades do departamento

de Taquarembó.—Providencias adoptadas pelo governo imperial em

1864,

  relativamente ao que se passava no Estado Oriental.—M issão

confidencial do Brasil enviada a Buenos-Ayres.—M otivos justificativos

da missão Saraiva, no Rio da Prata.

LIVRO  V.

Reclamações na câmara dos deputados, na sessão de 1864, so

bre perseguições

  e

  attentados soffridos por Brasileiros no Estado

O rientei.—R esposta do ministro dos negócios estrangeiros, JoSo

Pedro Dias Vieira.

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LIVRO VI

MissSo enviada ao Bio da Prata em Maio de 18(54, enca rrega da

ao conselheiro José A ntônio Saraiva. — A pre senta ção do min istro

brasileiro ao governo de M ontevidéo .—C orrespo ndên cia official relati

vamente

  ás

  reclamações fe i tas

  ao

governo

  do

Estado Oriental .

—C orrespondência com o corpo diplom ático.— Instrucç ões do gov erno

imperial expedidas  á21 de Julho de 1864, ao vice-almirante bra

sileiro eao commandante do exercito  doRio-Grande, para sefa

zerem represálias.

LIVRO

 VIL

Protoeollo celebrado com  aRepublica Argentina sobre  aposição

assumida pelo Império

  no

E stado Oriental .—Instrucções do vice -

almirante brasileiro ao s com ma ndan tes dos nav ios de gu err a, para

se proceder  ás operações navaes.— Co rrespondên cia official  dog o

verno imperial com as  autoridades brasi le ira s  doSul .—Relatór io

do presidente do Rio Grande, mostrando  aforça que havia na

provincia, em 1864.— Discurso do deputado N ery, na sessão dè

 26

de Agosto de 1864, em relação  ápol í t ica do governo imperial pa

ra com oEstado Oriental .—N ova posição assum ida pelo Império no

Estado Oriental.—Reflexões sobre estes acontecim entos.— M ediação

offerecida pelo govern o do Parag uay a o gove rno imp erial. — R es

posta da missão especia l no Rio da Prata edo governo imperial .—

Nota de 30 de Agosto de 1864, do governo do Paraguay  ao mi

nistro brasi le iro em Assumpção.—Resposta deste .—Continuação da

correspondência official com o governo de A ssum pçã o.

LIVRO VIII-

Accordo entre o vice-almirante brasileiro eo general D. Venancio

Flores para hostil isarem ao gover no de M ontevidéo.—P articipação do

vice-almirante brasileiro aos m inistros estrangeiros em M ontevidéo,

sobre obloqueio dos portos do Uruguay.—Effectividade do bloqueio.

—Correspondência com os commandantes das praças bloqueadas.—

Tomada da vil la do Salto.—Discurso do conselheiro José Maria da

Silva Paranhos no sena do, sobre  acooperação do general D. Ve

nancio Flores.—Movimento combinado dos dous generaes.—M issão

ao Rio da Prata encarregada ao conselh eiro Jo sé Maria da Silv a Pa-

2

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ranh os.— Sua apresentação ao pr esid en te da R epu blica ÂrgeatÉB*

—Instrucções dadas  aomesmo embaixador.

LIVRO

  IX.

Captura do vapor mercante

  Marquez ãe

  Olinda,

  nas águas

  do rio

Paraguay.— Correspondência do governo de A ssum pçã o com  al e ga -

ção imperial n'essa capital .— D iscurso do deputado A ntô nio Corrêa

do C outo, na sessão de 1858, sobre aattitude  doParaguay.—Dis

curso do conselh eiro José M aria da Silva Paranho s  nasessão de

11 de Julho de 1862, sobre as questões que

 o

Brasil tem tido com

as republicas  doRio da Prata e  com  o(Paraguay desde 1850.

—Invasão da província de Matto-Grosso.—Importantes documentos

comprovando

  os

  at tentados

  e

  inau ditas barbaridades praticadas

pelos Paraguayos.

w

LIVRO X.

Discurso do conselheiro José Maria  daSilva Paranhos no se

nado,

  sobre  os movim entos do general D . Venancio Flores e  do

vice-alm irante brasileiro.— Officio do conselh eiro José A ntô nio Sa

raiva ao vice -alm iran te, para este proceder

 a

respresalias.—Conside

rações sobre  os  acontecimen tos, que  se  seguiram. —Discurso do

con selheir o José Maria da* Silva Par anh os, sobre asua missão ao

Rio da Prata.—Ataque

  á

praça de Paysandú nos dias

 6, 7 e 8

do

Dezembro de 1864.—Marcha da divisão brasileira commandada pelo

m arech al João Propicio Menna Barreto, desde- o R io-Gra nde

 até

Paysandú.—Ataque  aesta praça  a31 de Dezembro,  e a 1 e 2

de Jane iro de 1865.— Parte official do m are cha l J. P. M enna Barreto

ao governo imperial.—Discurso

  do

conselheiro Paranhos. sobre

 a

campanha no Estado Oriental.—Recordação histórica da guerra da

Pe ní ns ul a, tomada da praça d e Badajoz em 1812.

LIVRO XI.

Continuação da descrição do ataque  apraça de Paysandú.—Pri-

níeir a carta do L° tene nte d'armada Francisco José de F reitas,—

Seg un da carta do mesm o 1.° tenen te.-D ocu m en toe officiaes sobre

o ataque

 á

praça de Paysandú.

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LIV3R.O XII.

Marcha do exercito sobre Montevidéo.—Correspondência official do

ministro brasileiro, com

 o

  governo argentino

 e o

 corpo diplomático

de Buênos-Ayres.—Ofiieiò  do ministro italiano em Montevidéo ao

Tice-almirante  brasileiro, pedindo a  suspensão  de hostil idades até

15 de Fevereiro.—Resposta do vice-almirante.—Officio do mesmo mi

nistro de Itália ao conselheiro Paranhos para o mesmo fim.—Res

posta do ministro brasileiro.—Estado da população de Montevidéo

debaixo da influencia do governo  de Aguirre.—O ministro dos ne

gócios estrangeiros, Dias Vieira, dá conta d'estes acontecimentos no

relatório de 1865.—Correspondência official entre

  o

  general D. Ve-

nancio Flores

 e o

 ministro brasileiro, sobre

  as

 reclamações que

'motivaram  o ultimatum  de 4de Agosto.

LIVRO

  XXII.

Discurso do conselheiro Paranhos no senado, sobre

 o

  que se pas

sou antes

  do

 convênio de 20

  de

  Fevereiro,

  e a

  correspondência

com o ministro dos negócios estrangeiros, Dias Vieira.—Mediação do

governo argentino ofíerecida ao oriental  e por este regeitada.—Cor

respondência de Montevidéo narrando acontecimentos importantes.

—Ataque  á  cidade  de  Jaguarão pelos chefes orientaes Basi lio

Mufioz e  Apparicio, em Janeiro de 1865.

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INTRODUCÇÃO.

A revolução que teve lug ar no anno de 1831, á

qua l se guio-se a a bdic a ç ã o do S r . D. Pe dr o I , p r ò -

duz io uma m uda n ç a to ta l e m tod os os ra m os da

a dm inis t ra ç ã o do Es ta d o, c omo c onse qüê n c ia ne c e s

sária do que acabava de acontecer .

Esta mudança pol i t ica exacerbou o povo no sent ido

de que re r obte r ma ior l ibe rda de . Com e s ta e spe ra nç a

as m udanças p ol i t icas que a revo lução foi fazendo em

a lguma s provinc ia s t ra nsforma ra m-se e m c omple ta

desordem , e sofFreram os gr an de s m ales qu e d 'aq ui

deviam seguir-se .

A insubordina ç ã o qu e se guida m e nte fo i a p pa r e c e nd o

nos corpos do exer ci to logo dep ois da rev olu ção ,

obrigou a R egência a disso lvêl-os . O gov erno nã o

teve outro m eio par a ex t ing uir a insub ord ina ção «mi

li tar, mais perigosa do que a civil , se não armar os

homens que lh e m erec eram confiança, e com elles

de sa rma r os c orpos insu bo rdin a do s . Foi n 'e s ta oc c a -

éiào que se formou o ba talh ão de oínc iaes, p ar a fazer

o serviço de soldados .

D este modo ext inguio-se o ex erci to que o prim eiro

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I I

I m p e r a d o r t i n h a c r e a d o , e c o m o q u a l fez a in de

p e n d ê n c i a . O r g a n i so u - s e a g u a r d a c i v i c a , q u e um

a n n o d e p o i s f o i s u b s t i t u í d a p e l a n a c i o n a l . A assem -

b l é a g e r a l c o n h e c e u q u e e r a i n d i s p e n s á v e l t e r um

p e q u e n o e x e r c i t o ; d e c r e t o u q u e s e c r e a s s e m algung

c o r p o s d a s t r e s a r m a s , o s q u a e s n ã o c h e g a r a m p a ra

g u a r n e c e r m e t a d e d a s p r o v í n c i a s . O r e s u l t a d o foi

an iq ui la r -s e a c la sse m i l i ta r , e co m el l a a influencia

q u e p o d i a t e r n o g o v e r n o . A s p r o m o ç õ e s f o ra m p r o -

h i b i d a s p o r a l g u n s a n n o s p e l a a s s e m b l é a g e r a l , t a n t o

n o e x e r c it o c o m o n ' a r m a d a . P r i n c i p i o u l o g o a ap p a-

r ece r a i n f lu en c i a d e o u t r a c l as s e d a s o c i e d a d e , e a

t e r a p r i n c i p a l p a r t e n a a d m i n i s t r a ç ã o d o E s t a d o d e

ta l m odo que o que a té en tão se fazia co m a espa

d a , d ' es s a ép o ca em d i an t e f ez- s e co m a p en n a .

D ' aqu i s e co n c l u e q u e o p e i o r l eg ad o q u e n o s d e i x o u

a revolução de 7 de Abr i l de 1831, fo i o aniqui la-

m en t o d a c l ass e m i l i ta r , r e s u l t ad o q u e s e d ev i a es

p e r a r d ' a q u e l la m u d a n ç a d e g o v e r n o ; e s t e a n i q u i l a -

m e n t o c o n t i n u a r i a se n ã o h o u v e s s e n a s p r o v í n c i a s a s

c o m m o ç õ e s q u e e x i g i r a m o e m p r e g o d a f o rç a a r m a d a

p a r a a s r e d u z i r á o r d e m .

A r ev o l u ção e g u er r a c i v i l d o R i o G r a n d e , q u e

d u r o u 10 a n n o s , o b r i g o u o g o v e r n o i m p e r i a l a c r e a r

u m p e q u e n o e x e r c i to n ' a q u e ü a p r o v i n c i a . E s te e x e r c i t o

em p r eg o u - s e n a cam p a n h a d e 1851 a 1852 co n t r a R o

s a s e O r ib e ; m a s p o u c o t e m p o d e p o i s c o n t i n u o u a

c o n s i d e r a r -s e a c l a ss e m i l it a r c o m o u m a c o r p o r a ç ã o

q u ae i i n ú t i l e p es a d a ao E s t ad o . C o m o en t ão n& o

h o u v es s e r ece i o d e g u er r a c i v i l o u ex t e r n a , s e r v i o o

r es t o d o ex e r c i t o p a r a d i v i d i r - s e p e l as p r o v í n c i a s eaa

p e q u e n o s d e s t a c a m e n t o s p o l i c í a e s .

O a b a n d o n o e m q u e e s ta v a a

  j

 c l as se m i l i t a r , t i o

ne ce ssá r ia a to d as as naçõ es para co ns erv ar a e*t»~

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I I I

^biU& a& e dos gov e r n os , a o r d e m in te r io r , e p a r a s u a

de f e s a , f e z c om que , qua ndo o gove r no im pe r ia l p r e

c i s ou , e m 1864 , de s ta c or por a ç ã o pa r a f a z e r a gue r r a

q u e n ã o e s p e r a v a t i v e s s e l u g a r , c o n t r a o E s t a d o O r i e n

tal,,

  n ã o t i n h a e x e r c i t o n e m f o rç a a l g u m a m o b i l i s a d a

p a r a t a l fim ; a p r o m p t o u a l g u n s c o r p o s p a r a e n t r a

r e m e m c a m p a n h a , o q u e s ó t e v e l u g a r m e z e s d e

p o i s .

S a b e -s e q u e o s r e c r u t a s p r e c i s a m d e a l g u m t e m p o

d e e x e r c i c i o c o n t i n u a d o p a r a p o d e r e m e n t r a r e m f o g o ,

e , a lé m da m or os id a d e c om qu e tu d o s e f ez , a q ue l le s

b a t a l h õ e s t in h a m p o u c a g e n t e ; a ss i m , o I m p é r i o n ã o

e s t a v a p r e p a r a d o p a r a a g u e r r a , p o r f a l t a d e s o l d a

d o s .  O s b a t a l h õ e s d e v o l u n t á r i o s q u e m a r c h a r a m n o

p r i n c i p i o d a l u t a n ã o s e c o m p u n h a m d e s o l d a d o s ,

m a s d e h o m e n s a r m a d o s . O q u a n t o a g u e r r a d o P a

r a gua y f o i f a ta l a o Br a s i l , va i vê r - s e na h i s tor ia que

e s c r e v e m o s .

O g o v e r n o i m p e r i a l d e v i a s a b e r q u e n ã o t i n h a e x e r

c i to q u a n d o m a n d o u o e n v i a d o a M o n t e v i d é o e x i g i r

d ' a q u e l l e g o v e r n o r e p a r a ç ã o a o s m a l e s q u e n o s t i n h a

c a u s a d o ; g o v e r n o n e n h u m t e m e s t e p r o c e d i m e n t o s e m

te r ba s e e m que s e a p oie , qu e é a f o r ç a a r m a d a ; s e

o g o v e r n o i m p e r i a l o sa b i a , c o m o , a l é m d e m a n d a r u m

e n v i a d o p r e m a t u r a m e n t e , o r d e n o u , a 2 1 d e S e t e m b r o

q u e s e p r o c e d e s s e a r e p r e s á l i a s c o n t r a a q u e l l a R e p u

b l i c a ? E s t e e s t a d o d i m i n u t o e i m p e r f e i t o . d o n o s s o a r

m a m e n t o e m t e m p o d e p a z , p o r s e q u e r e r d i m i n u i r

o e x e r c i t o , p a r e c i a q u e c o n v i n h a á e s t a b i l i d a d e d e

a l g un s m i n i s té r i o s, q u e q u e r i a m g o v e r n a r i n d e p e n

dentes ou l ivres d e to d a a inf luencia m il i t ar .

N o te m po do S r . D . J oã o V I to da s a s c la s s e s d à

s o ci ed a d e e s t av a m c o n v e n i e n t e m e n t e r e p r e s e n t a d a s ;

s obr e toda s a c la s s e m i l i t a r t inha a p r e ponde r â nc ia

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IV

q u e d e v ia t e r e q u e l h e p e r t e n c i a , s e m i n v a d i r  u'

a t t ri b u i ç õ e s d a s o u t r a s c l a s s e s d a n a ç ã o .

E s t e e q u i l í b r i o p o l í t i c o e s o c i a l a i n d a s e c o n s e r v o u

n o r e i n a d o d ò p r i m e i r o I m p e r a d o r , a i n d a e n t á o a

c la s se m i l i t a r t e v e a p r e p o n d e r â n c i a q u e l h e e r a d e

v i d a , p o r q u e o g o v e r n o d ' a q u e l l a é p o c a c o n h e c e u a

n e c e s s i d a d e d e c o n s e r v a r u m e x e r c i t o b e m o r g a n i z a

d o p a r a d e fe sa d o p a i z , e p a r a s u a s e g u r a n ç a e x t e r n a

e i n t e r n a ; n ' aq u e l le t e m p o s e rv i o t a m b é m p a r a d e s

t r u i r a a n a r c h i a ou a d e s o r d e m q u e s e m a n i f e s t o u

e m a l g u m a s p r o v í n c i a s d o n o r t e l o g o d e p o i s d a i n

d e p e n d ê n c i a .

No s e g u n d o r e i n a d o n u n c a a c l a ss e m i l i t a r t e v e a

c o n s i d e r a ç ã o q u e p e lo s s e u s s e r v i ç o s a d q u i r i o n o t e m

po do Sr . D. Pe dro I . D esde 1831 qu e a influ en cia

e s s e n c i a lm e n t e c i v il t e m t i d o a p r i n c i p a l p a r t e n o

g o v e r n o d o p a iz ; e s t e s y s t e m a d e a d m i n i s t r a ç ã o p r o -

duzio o que se tem vis to a té agora . D'es ta causa pr i

m o r d i a l n a sc e r a m s e g u i d a m e n t e o u t r o s a c o n t e c i m e n t o s

q u e n ã o c o n v é m a q u i e x p e n d e r , m a s q u e i g u a l m e n t e

inf lu í ram pa ra se pe rd er esse eq ui l íb r io tão ne ce ssá r io

á s n a ç õ e s . V e r e m o s s e d 'o r a e m d i a n t e a c l a s s e m i l i

t a r c o n s e r v a a c o n s i d e r a ç ã o q u e a d q u i r i o c o m a c a m

p a n h a q u e t e r m i n o u .

A n t e s de t r a t a r m o s d a h i s t o r i a d a g u e r r a c o n t r a o

P a r a g u a y , c o n v é m s a b e r - s e q u e d e t o d a s a s c a m p a

n h a s q u e o B r a s i l t e m s u s t e n t a d o n a s m a r g e n s d o Ri o

da P ra ta des de 1811 a té 1852, ne nh um a lhe foi t i o

f a t a l c o m o a g u e r r a q u e a c a b o u .

A p r i m e i r a c a m p a n h a , a i n d a n o g o v e r n o d o p r í n

c ip e re ge nt e D. Joã o, du ro u de sde 1811 a té 1814. O

n o s s o e x e r c i t o n ã o e x c e d i a d e 8,000  h o m e n s , c o m p o s

t o d e t r o p a s d a 1 .- e 2 / li n h a d a s p r o v í n c i a s d e S .

P a u l o e d o R i o G r a n d e , e m d u a s d i vi sõ e s c o m a m -

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J o a q u i m X a v i e r C u r a d o ; c o m m a n d o u e m c h e fe o t e -

neafce-genera l D. D iogo de S ouza , de po is Co nde do R io

P a r d o .

N * es ta c a m p a n h a a s t r o p a s b r a s i l e i r a s fica ram se m

p r e v i c t o r i o s a s ; em R i o N e g r o , n o S a l t o , n a s i m m e -

d i a çõ e s d o C e r ro L a r g o , o s i n s u r g e n t e s f o r a m c o m p l e

t a m e n t e b a t i d o s : o n o s s o e x e r c i t o c h e g o u a P a y s a n d ú .

N a s e g u n d a c a m p a n h a , q u e p r i n c i p i o u e m 1 81 6,

m a r c h o u d o R i o G r a n d e u m a d i v i s ã o d e 5,000  h o m e n s

d a s t r ê s a r m a s , c o m m a n d a d a p e l o g e n e r a l J o a q u i m

X a v i e r C u r a d o ; e n t r o u n o E s t a d o O r i e n t a l p o r C e r r o

L a r g o u m a b r i g a d a d ' e s t a d i v i s ã o , c o m m a n d a d a p e l o

c o r o n e l Jo sé d e A b r e u , d e p o i s B a r ã o d o C e r r o L a r g o ,

d e r r o t o u A r t i g a s p e r t o d e S . B o r j a , e o g e n e r a l Jo ã o

d e D e u s M e n n a B a r r e t o o b t e v e o u t r o t r i u m p h o e m

Q u a r a h i m ; o s c o r o n é i s J o a q u i m d e O l iv e ir a A l v a r es

c o m a l e g i ã o d e S . Pa u l o e Jo sé d e A b r e u d e r r o t a

ram os H espa nhó es em Cata lan: de ste m od o ficaram

a s f r o n t e i r a s d o U r u g u a y l i v r e s d o s i n s u r g e n t e s e d o

se u c h e fe A r t i g a s .

E m q u a n t o o g e n e r a l C u r a d o fez e s t a c a m p a n h a

c o m t a n t a h o n r a p a r a a s a r m a s b r a s i l e i r a s , d e s e m b a r

c o u e m S a n t a C a t h a r i n a o g e n e r a l p o r t u g u e z C a r l o s

F r e d e r i c o L e c o r , c o m m a n d a n d o u m a d i v i s ã o d e 4 , 8 0 0

h o m e n s d a s t i e s a r m a s , o r g a n í s a d a e m P o r t u g a l , c o m

p o s t a d e t r o p a s a g u e r r i d a s , q u S t i n h a m a c a b a d o a

c a m p a n h a d a P e n í n s u l a c o n t r a o s F r a n c e z e s . L e c o r

fo i u m g e n e r a l h á b i l , q u e t i n h a c o m m a n d a d o b r i g a

d a s so b a s o r d e n s d e L o r d W e l l i n g t o n . C h e g a n d o a o

B r a s i l c o m o s me smo s so l d a d o s v e n c e d o r e s d o s Fr a n

cezes,

  d e v i a d e c i d i r a se g u n d a c a m p a n h a a f a v o r d o

Bragi i , e ass im aconteceu no anuo seguinte .

O g e n e r al L e c o r e a d i v isã o p o r t u g u e z a c h e g a r a m

3

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V I

ao R io d e Ja n e ir o e m A go s t o d e 1816; d e p o i s d e e st ar

n a A r m aç ão d a Pr a ia G r an d e a l gu m t e m p o , f o i m a

n ob r ar c om a d iv i são n o c am p o d e S . B e n t o , n a p r e

s e n ç a d o S r. D . J o ã o V I , e m b a r c a n d o p o u c o d e p oi s

para Santa Cathar ina.

D 'e s te p or t o se g u io p ar a a p r o v ín c i a d o R io G rand e..

d 'on d e p a sso u p ar a o E s t ad o O r ie n t a l , t o m a n d o a d í-

r e c ç S o d e - M a l d o n a d o .

L o g o q u e L e c o r c h e g o u á f r o n t e i r a , d e s t a c o u o b r i

gad e ir o S e b as t ião P in t o d e A r aú j o C o r r ê a q u e f o i t o

m ar o f or t e d e S a n t a T h e r e z a , o q u a l se r e n d e i [

d e p o i s - d e p e q u en a r e s i s t ê n c i a ; e s e g u i d a m e n t e b a t eu

a t r o pa d o i n s u r g e n t e F r u t u o s o R i v e r a n a p r o x i m i

d a d e d a a l d êa d e I n d i a -M o r t a , m a t a n d o - l h e a l g u m a

ge n t e e f u g in d o o r e s t o . A d iv i são se gu io a oc c u p ar

M a l d o n a d o , p e q u e n a a l d ê a , t e n d o i m p o r t â n c i a s ó p o r

se r p or t o d e m ar d e a lgu m ab r igo p ar a a n ave gaç ão

d o R i o d a P r at a. N e s t e p o r t o s é c o r r e s p o n d e u o g e

neral Lecor com o chefe de d iv isã o C onde de Viann a,

. c o m m a n d a n t e d a d i v i s ã o n a v a l d e s t i n a d a a b l o q u e a r

M o n t e v i d é o . D e M a l d o n a d o m a r c h o u a d i v i s ã o , s e m

e n c on t r a r r e s i s t ê n c ia , a t é M on t e v i d é o . Pe r t o d a c id a

d e u m a d e p u ta ç ã o d a m u n i c i p a l i d a d e v e i o e n c o n t r a r

o ge n e r a l e e n t r e gar - lh e as c h ave s d a p r aç a , n a q u a l

en tro u a d iv isã o a 20 de Ja ne iro de 18 17, ten do

f u g id o an t e s D . M an oe l B ar r e r os , q u e a gove r n ava

e m n o m e d e A r t i g a s . C o m a t o m a d a d a c a p i t a l a

c a m p a n h a n ã o e s ta v a a c a b a d a ; n u m e r o s o s b a n d o s d e

gu e r r i lh as , a in d a q u e m al ar m ad os , c or r iam a c am p a

n h a e m d i f fe r e n t e s d ir e c ç ô e s . O ge n e r a l L e c or t in h a

d e i x a d o g u a r n e c i d a a a l d ê a d e M a l d o n a d o , e m a n d o u

oc c u p a r a c o l ôn ia d o S ac r am e n t o , p or t o d e m ar d o z e

lé g u as ac im a d e M on t e v id é o , p e lo c or on e l M an oe l tor-

g e R od r ig u e s , c o m o b at a lh ão d o se u c o m m an d o ,• e

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V I I

o b r i g a d e i r o A r a ú j o C o rr oa , c o r a u m a b r i g a d a f oi o c

c up a r a v i l l a d o Ce r r o L a r g o . T a l foi a m a r c h a qu e

s e g u i o a d i v i s ã o d o g e n e r a l L e c o r n ' e s t a s e g u n d a c a m

p a n h a . A s si m fico u a q u e l l e E s t a d o e n c ô r p o r a d o a o

B r a s i l p e l o d i r e i t o d e c o n q u i s t a , c o m o n o m e d e p r o

v í n c i a C i s p l a t i n a . E i s a q u i

  n

O   r e s u l t a d o d a p o l i t i c a d o

g a b i n e t e d o S r . D . J o ã o V I p a r a c o m a s r e p u b l i c a s

d o R i o P r a t a .

« A t o m a d a e o c c u p a ç ã o d e M o n t e v i d é o , c o l ô n i a

d o S a c r a m e n t o e M a l d o n a d o , d i z A b r e u e L i m a , a l é m

d e s er u m b r i l h a n t e c o m e ç o d e o p e r a ç õ e s , m u i t o c o n

c o r r e u a p r i n c i p i o p a r a a d i m i n u i ç ã o d o s n u m e r o s o s

p i r a t a s q u e , c o m a b a n d e i r a d e A r t i g a s , i n f e s t a v a m

a s nos s as c os ta s , por fic are m a s s im p r iv a d os dos pr in -

c i p a e s p o r t o s , o n d e s e a r m a v a m e r e c o l h i a m - s e . »

O g a b i n e t e d o S r . D . J o ã o V I e n t e n d e u q u e a s s i m

firm ava os l im i te s n a t ur a e s do s u l do Br a s i l ; po l í t i c a

p r e v i d e n t e , q u e m o s t r o u o a c e r t o d e t a e s m e d i d a s ,

m a s q u e m a i s t a r d e d e p o u c o s e r v i o .

O s h o m e n s q u e f o r m a r a m o s m i n i s t é r i o s d o S r . D .

J o ã o V I f o r am : M a r q u e z d e A g u i a r , C o n d e d a B a r c a ,

Conde da s G a lvê a s , Cond e de L inh a r e s , J oã o P a u o

B e z e r ra , T h o m a z A n t ô n i o d e V i ll a N o v a P o r t u g a l ; f o

r a m e s te s os m in is t r os que d i r ig i r a m n*a que l le t e m po

os  negócios  p o l í t i c o s c o m a s r e p u b l i c a s d o R i o d a

P r a t a . E s t e s m i n i s t r o s , h o m e n s v e l h o s e a c o s t u m a d o s

a d i ri g i r a a d m i n i s t r a ç ã o d o E s t a d o , s o u b e r a m b e m

d a r t o d a s a s p r o v i d e n c i a s p a r a f a z e r e m - s e a s c a m p a

n h a s d o s u l d o m o d o p o r q u e a c a b a m o s d e v e r , d a s

qua e s o Br a s i l c o lhe u bo ns r e s u l ta do s ; a o m e n os nã o

f ora m o s s e u s e x é r c i t o s c o m m a n d a d o s p o r e s t r a n

g e i r o s, n ã o s e a g i t o u a n a ç ã o c o m u m r e c r u t a m e n t o

f or ç a do , v io le n ta ndo hom e ns de d i f f e r e n te s c ondiç õe s ;

nã o s e c o m pr a r a m e s c r a vos pa r a os f az er s o l da do s ,

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VIII

n ã o p r o m o v e r a m a d e s g r a ç a p u b l i c a ; p e l o c o n t r a r io

o p o v o v iv i a c o n t e n t e , p o r q u e a q u e l l a s c a m p a n h a *

não l h e causaram m al es se ns í ve i s : o d e c o ro e a hon

r a d o B r a si l c o n s e r v a r a m - s e s e m m a n c h a .

E m q u a n t o o S r . D , J o ã o V I e s t e v e n o R i o d e J a

n e i r o ,

  as f ron t e i ras do su l es t i v er am ao ab r i g o das

c o r r e r i a s d o s a v e n t u r e i r o s r e p u b l i c a n o s , p o r q u e o s e u

g o v e r n o s o u b e s e m p r e s u s t e n t a r o q u e t i n h a f e it o a

beneficio do Brasi l .

O m i n i s té r io d o S r . D . J o ã o V I p r o c u r o u s e m p r e c o n -

n h e c e r a q u a l i d a d e d a g e n t e q u e p o v o a v a a s c o l ô n i a s

h e s p a n h o l a s do R i o d a P r a t a . A l é m d a r i v a l i d a d e q u e

h o u v e s e m p r e e n t r e p o r t u g u e z e s e h e s p a n h ó e s , o q u e

n a A m e r i c a e x i s ti o e e x i s t e c o m o n a E u r o p a , h a v i a

a f a lt a d e c i vi li sa ç ã o m a i s c o m m u m n a s m a s s a s p o

pu l ares , e a falta de i ns t ruc çá o n a c l asse m ai s e l eva

da da sua soc i eda de ; onde fa l t avam en t ão es t es e l e

m e n t o s , a s i n s u r re i ç õ e s o u d e s o r d e n s e r a m f r e q ü e n t e s .

A q u ell es p o v o s t i v e r a m m o t iv o s f o r t e s p a r a s e p a r a r e m -

s e d a H e s p a h h a ; m a s d e c l a r a d a a s u a i n d e p e n d ê n c i a ,

dev i am l i m i t a r -se a o rg an i sar os seus go ve rn o s , con-

so lfc ia l-os com o pu de sse m , e não of fendere m ao B ras i l ,

com o l ogo fizeram com o ca rac t er de g u er r i l h e i ro s ,

p a r a a p o d e r a r e m - s e d a p r o p r i e d a d e d o s s e u s v i s i n h o s .

Não foi só pela di fferença da fôrm a de go ve rn o

q u e e x i s t i o e n t r e o s d o u s p a i z e s , d e s d e o a c t o d a i n

de pe n dê n cia , que aqu el les po vos do sul foram-fcos

s e m p r e h o s t i s ; o h a b i t o d e v i v e r e m e m a n a r c h i a i a -

flu io m ai s do que a an t i g a r i v a l i d ad e p a ra o seu p ro

c e d i m e n t o c o n t r a o B r a s i l .

O g o v e r n o d o S r . D . J o ã o V I l o g o  no  a n u o s o g u i a t e

a i n d e p e n d ê n c i a d ' a q u e l l a s r e p u b l i c a s , f o i o b r i g a d o *

m a n d a r r e p e l l i r c o m e n e r g i a o s b a n d o s d e a v e n t u r e i r o *

q u e i n f e s t a v a m a f r o n t e i ra d o R i o G r a n d e ,

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n ã o p ô d e i n f u n d i r a m e n o r c o n f i a n ç a ; s e g u í r - s e - h i á a

e m i g r a ç ã o d o s c a p i t a l i s t a » , e t o r n a r i a a s e r o q u e fo i ,

o t h e a t r o d á a n a r c h i a e a p r e z a d e u m a m b i c i o s o

a t r e v i d o , j s e m o u t r a l e i q u e a d a s a t i s f a ç ã o d a s s u a s

p a i x õ e s .

« H a a l g u m h o m e m q u e d e s e j e v e r a s u a p á t r i a e m

t r i s t e s i t u a ç ã o ? L o g o é e v i d e n t e q u e a B a n d a O r i e n

t a l , n ã o p o d e n d o s e r a c t u a l m e n t e n a ç ã o . , d e v e c o n s t i

t u i r - s e p a r t e d e o u t r o E s t a d o c a p a z d e s u s t e n t a l - a e m

p a z e s e g u r a n ç a . B u e n o s - A y r e s , n o m e i o d a s s u a s

g u e r r a s c i v i s , n ã o p ô d e p r e e n c h e r e s t e s o b j e c t o s ;

m u i t o m e n o s E n t r e - R i o s , e t ã o p o u c o a H e s p a n h a ,

p o r q u e a s u a d o m i n a ç ã o t e m c o n t r a s i o v o t o d o s

p o v o s , e p o r q u e , n o s e u e s t a d o a c t u a l , n e m p ô d e s o -

c o r r e l - a , n e m e v i t a r q u e e s t a p r o v í n c i a f o s s e o t h e a t r o

s a n g u i n o l e n t o d a g u e r r a d e t o d a s a s m a i s , q u e p r o

c l a m a r a m a s u a i n d e p e n d ê n c i a . C o n s e g u i n t e m e n t e n ã o

r e s t a o u t r o r e c u r s o s e n ã o a i n c o r p o r a ç ã o á m o n a r -

c h i a p o r t ü g u e z a , d e b a i x o d e u m a c o n s t i t u i ç ã o l i b e r a l . »

E s t e v o t o f o i â p p r o v a d o p o r o u t r o s d e p u t a d o s d o

c o n g r e s s o , e e m c o n s e q ü ê n c i a a 3 1 d e J u l h o d e 1 8 2 1 ,

s e l a v r o u e m M o n t e v i d é o u m a a c t a , n a q u a l o p r e s i

d e n t e e m a i s d e p u t a d o s d o s E s t a d o C i s p l a t i n o , r e p r e

s e n t a n d o o s s e u s h a b i t a n t e s , e o S r . B a r ã o d a L a g u n a

r e p r e s e n t a n d o a S u a M a g e s t a d e F i d e l i s s i m a , e m v i r

t u d e d a s f a c u l d a d e s e s p e c i a e s q u e l h e s f ei ra m c o n f e

r i d a s ,

  d e c l a r a r a m :

« Q u e h a v e n d o p e s a d o a s c r i t i c a s c i r c u m s t a n c i a s e m

q u e s e a c h a o p a i z , e c o n s u l t a n d o o s v e r d a d e i r o s i n

t e r e s s e s d o s p o v o s e d a s f a m í l i a s , a c c o r d a r a m e p e l a

p r e s e n t e c o n v i e r a m e m q u e a p r o v í n c i a o r i e n t a l 4 o

R i o d a P r a t a s e i n c o r p o r e a o r e i n o u n i d o d e P o r t u g a l ,

B r a z i l e A l g a r v e s c o n s t i t u c i o n a l , c o m a o b r i g a ç ã o

i m p r e s c i n d í v e l

  d e s e r e s p e i t a r e m , c u m p r i r e m , o b s e r -

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XI,

y a r è r a , e s e f a z e r e m o b s e r v a r a s b a s e s q u e s e a p r e

s e n t a r a m e e r a m 2 1 . »

D e l l a s t r *M a s c r ev e r em o s a s s e g u i n t e s ;

<( l.

a

  E s t e t e r r i t o r r i o d e v e c o n s i d e r a r - s e c o m o u m

E s t a d o d i v e r s o d o s d e m a i s d o R e i n o - U n i d o , d e b a i x o

d o n o m e d e C i s p l a t i n a .

« 3 .

a

  G o z a r á d a m e s m a d i g n i d a d e q u e o s d e m a i s d a

m o n a r c h i a , e t e r á d e s d e j á a s u a r e p r e s e n t a ç ã o n o

C o n g r e s s o N a c i o n a l .

« 7." O c o m m e r c i o , i n d u s t r i a e a g r i c u l t u r a s e r ã o

i s e n t o s d e t o d o s o s v e x a m e s .

« 8 .

a

  L o g o q u e s e v e r i f i c a r a i n c o r p o r a ç ã o , t o d o s o s

c a r g o s e e m p r e g o s , e x c e p t o p o r a g o r a o s d a c a p i t a n i a

g e r a l , s e r ã o c o n c e d i d o s aG s n a t u r a e s o u a o s h a b i

t a n t e s c a s a d o s e e s t a b e l e c i d o s n a C i s p l a t i n a . »

E i s a q u i c o m o a m o n a r c h i a p o r t ü g u e z a , a o r e t i

r a r - s e d o B r a s i l , d e i x o u a q u e s t ã o d o R i o d a P r a t a .

V e r e m o s b r e v e m e n t e c o m o a d e i x a r a m o s m i n i s t é r i o s

d o p r i m e i r o I m p e r a d o r . ( * )

E s t a p a r t e h i s t ó r i c a d a p o l i t i c a d o m i n i s t é r i o d o

S r . D . J o ã o V I , q u e a c a b a m o s d e t r a n s c r e v e r , e m r e

l a ç ã o á o c c u p a ç ã o d e M o n t e v i d é o e q u e f e z c o n s e r v a r

p o r m u i t o a n n o s e m r e s p e i t o a s n o s s a s f r o n t e i r a s d o

s o l , d e v i a t e r s e r v i d o d e g o v e r n o a o s m i n i s t é r i o s d o

S r. D . P e d r o I p a r a p o d e r e m , p o r m e i o d e u m a a d m i

n i s t r a ç ã o a p r o p r i a d a , c o n s e r v a r u n i d a a o B r a s i l a q u e l l a

p r o v í n c i a , o u a b a n d o n a l - a l o g o q u e s e m a n i f e s t a r a m

o s p r i m e i r o s s i g n a e s d o i n s u r r e i ç ã o , e m A b r i l d e

1 8 2 5 ,

  p a r a c o m e l l a n ã o s e d i s p e n d e r m a i s d i n h e i r o ;

o c o n t r a r i o d e t u d o i s t o f o i o q u e f i z e r a m .

O  m i n i s t é r i o d o Sr . D . P e d r o I p e r s i s t i n d o n a s u a

p o l i t i c a e r r a d a , c o n s e r v o u n a p r a ç a d e M o n t e v i d é o

u m g o v e r n a d o r m i l i t a r s e m r e c u r s o s p a r a d o m i n a r , a

(*) Carrgio

  Mercantil

  de 24 de Dezembro de 1859.

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XII

c a m p a n h a , o q u e e r a m u i t o u t i l á d e f e z a d a s n o s s a s

f r o n t e i r a s .

N ' e s t as c i r c u m s t á n c i a s f a l t a r a m f o r ç a s c o m q u e s e

fizessem a s o p e r a ç õ e s m i l i t a r e s , q u a n d o p r i n c i p i o u a

i n s u r r e i ç ã o : f a l t o u u m m i nis tr o" d a g u e r r a q u e s o u

b e s s e d i r i g i r o s n e g ó c i o s d o s u l .

D e p o i s d a d e c l a r a ç ã o d o c o n g r e s s o r e u n i d o e m M o n

t e v i d é o , c o m o f i c a m e n c i o n a d o , d e v i a a p r o v í n c i a C í s p l ã -

t i n a ficar u n i d a a o B r a s i l , d e p o i s q u e e s t e s e s e p a r o u d e

P o r t u g a l ; a p o l i t i c a d o s m i n i s t r o s d o p r i m e i r o I m p e

r a d o r f o i i m p r ó p r i a p a r a c o n s e r v a r a u n i ã o .

O g o v e r n o d e B u o n o s - A y r e s , a s t u t o q u a n t o e r a p o s

s í v e l , a p r o v e i t o u a i n é r c i a d o g o v e r n o i m p e r i a l , c o n s -

t i t u i o - s e o r e p r e s e n t a n t e d a i d é a f e d e r a l , e o r g a n i s o n

d e v a g a r a r e a c ç ã o o u i n s u r r e i ç ã o c o n t r a o B r a s i l .

E m N o v e m b r o d e 1 8 23 m a n d o u a o R i o d e J a n e i r o

e m c o m m i s s â o V a l e n t i m G o m e s , o q u a l c o m m u n i c o u

a o g o v e r n o i m p e r i a l e m u m a n o t a d e 2 6 d ' a q u e l l e  met:

« Q u e o c a b i l d o d e M o n t e v i d é o , c o m o r e p r e s e n t a n t e

e m n o m e d o s h a b i t a n t e s , r e c o n h e c e n d o q u e o g e n e r a l d o

e x e r c i t o q u e g u a r d a v a a p r a ç a tr a t a v a d e s o l i c i t a r u m a

s u s p e n s ã o d e a r m a s , a f im d e o b t e r u m s a l v o - c o n d u t o

p a r a r e t i r a r - s e , e q u e c r e s c i a m o s p e r i g o s d e s e r d o

m i n a d o s p o r u m a a u t o r id a d e q u e d e s c o n h e c i a m ; d i

r i g i r a u m a d e p u t a ç ã o e s p e c i a l a o g o v e r n o d e B u e n o s -

A y r e s , p e d i n d o c o m u r g ê n c i a ' a s u a p r o t e c ç ã o , e f a

z e n d o v a l e r d e n o v o o s s e u s j u s t i f i c a d o s d i r e i t o s á

m e s m a : v i s t o s e r s u a d e c i d i d a v o n t a d e t o r n a r a e n t r a r

n a a s s o c i a ç ã o g e r a l d a s p r o v í n c i a s d o P r a t a , d e q u e

h a v i a s i d o s e p a r a d o c o m v i o l ê n c i a , e r e c o r d a n d o a o

m e s m o t e m p o a s e s t i p u l a ç ô e s e a j u s t e s f e i t o s n o m o

m e n t o d a o c c u p a ç â o d a p r a ç a p e l a s t r o p a s d e S u a

M a g e s t a d e F i d e l i s s i m á ' ; c h e g a r a o c a s o d e q u e e l l à s

  ,

  j a w i - m

  sp r  a s c h a v e s e n t r e g u e s e ra

a e v a c u a s s e m , e d e v i a m s e r » u

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X I I I

p o d e r

  da

  m u n i c i p a l i d a d e p á ra d i s p o r

  da sua

  s o r t e ,

s e g u n d o j u l g a s s e c o n v e n i e n t e .

«  Que o  g o v e r n o  de Buenos-Âyrés

1

, que se  e m p e

n h a r a  em não  c h e g a r  a um  r o m p i m e n t o , a n t e s  de ter

e s g o t a d o t o d o s

  os

  - m e i o s

  de

  p r u d ê n c i a

  e

  c o n c i l i a ç ã o ,

c o m

  um

  E s t a d o

  que

  a c a b a

  de

  o b t e r

  a sua

  e m a n c i

p a ç ã o , d e b a i x o

  dos

  m e s m o s p r i n c í p i o s c o m o

  os

  d e m a i s

E s t a d o s a m e r i c a n o s ,

  e a

  r e s p e i t o

  do

  q u a l c o n c o r r e

d e m a i s  a  c i r c u m s t a n c i a r e c o m m e n d a v e l  de  v i z i n h a n ç a ,

e o u t r a s r e l a ç õ e s ; a d v e r t i d o  por uma  part e»  da  r h y s -

t e r i o s a c o n d u c t a

  do

  g a b i n e t e

  do

  B r a s i l ,

  no

  t r a t a d o

d a n e g o c i a ç ã o p e n d e n t e

  e

  i m p r e s s i o n a d o

  por

  o u t r a

p a r t i c u l a r g r a v i d a d e

  do

  a s s u m p t o

  por

  c a u s a

  d a

s i t u a ç ã o  de  M o n t e v i d é o : j u l g o u a c e r t a d o  dar  c o n t a

á h o n r a d a j u n t a  da  p r o v í n c i a , i n s t r u i n d o - a d e t a l h a

d a m e n t e

  de

  t u d o

  o que se

  t r a t o u

  Com a

  c o r t e

  do

R io

  de

  J a n e i r o , p a r a

  que se

  d i g n a s s e d e c i d i r

  o que

j u j g a s s e c o n v e n i e n t e . T u d o

  o que

  p r o d u z i r a c o n s t e r

n a ç ã o , t a n t o

  nos

  h o n r a d o s m e m b r o s

  da

  j u n t a , c o m o

e m t o d o s  os  h a b i t a n t e s  da  p r o v í n c i a ,  que  c h e g a r a m -

a c o n c e b e r

  que o

  g a b i n e t e

  do

  B r a s i l ,

  não

  d a n d o

  uma

d e c i s ã o d e f i n i t i v a , t r a t a v a

  só de

  g a n h a r t e m p o p a r a

q u e

  as

  t r o p a s i m p e r í a e s o c c ü p a s s e m M o n t e v i d é o ,

  e

f e i t o i s t o , p o d e s s é m m a i s f r a n c a m e n t e r e p e l l i r

  a pre-

t e n ç ã o  da sua  e n t r e g a  a  M o n t e v i d é o .

« C o n c l u í a e x i g i n d o t e n n i n a n t e m e n t e  u m a  d e c l a r a ç ã o

d e f i n i t i v a ,

  se o

  m i n i s t é r i o i m p e r i a l e n t r e g a v a

  ou nã o

a o g o v e r n o

  de

  B u e n o s - A y e s

  á

  p r a ç a

  de

  M o n t e v i d é o

e

  a sua

  c a m p a n h a

  ás

  p r o v í n c i a s u n i d a s ,

  na

  inte l l i -*

g e i i c i à  de que  t a n t o  a  n e g a t i v a c o m o  a  d e m o r a  d e

v i a m t r a z e r c o n s e q ü ê n c i a s  mui  g r a v e s ,  de que  n i n g ü e n í

s e r i a r e s p o n s á v e l , s e n ã o

  o

  g o v e r n o

  do

  B r a s i l .

  »

A ' e s t a n o t a r e s p o n d e u

  o

  g o v e r n o i m p e r i a l

  em

  d ê

  F e v e r e i r o

  de 1824, e

  d i s s e :

4

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XIV

« Que a não serem os co n sta nt es d es ej o s deJjkia Ma-

g e s t a d e I m p e r ia l p a ra m o s t r a r a o g o v e r n o d e B u e n o s -

A vres o apr eço que d'e ll e faz ia , e nã o qu er en d o co nse -

g u i n t e m e n t e q u e u m a m a i o r d i l a ç a o n a e x i g i d a d e c i s ã o

f izess e duv i d a r d ' e ll e s, po de r - s e -b i a m o s tra r

  ejà

  r e s

po s ta o qua nto era i m pra t i cá v e l da r um a dec i s ã o de

fin itiv a s o bre o n eg o c i o da re i n teg ra çã o de M o nte

v i d é o á p r o v í n c i a d e B u e n o s - A y r e s , p e l o s m e s m o s

pr i nc í p i o s em que D . V a l ent i m s e funda v a pa ra ex i -

g i l -a ; po i s funda ndo -s e Sua M a g es ta de pr i nc i pa l m ente na

v o nta de da pro v í nc i a de M o nte v i déo , que de s e ja v a e

requer i a a Bueno s -A y res a s ua s epa ra çã o do I m pér i o ,

e ha v endo pe l o co ntra r i o to da a pres um pçã o jur í d i ca "

de que o s M o ntev i dea n o s nã o des e ja v a m s em el h a n te

separ ação , só res tar ia o recu rso em ta l d i ve rg ên cia

de asserções , e no caso de s incera duvida e de es tar

fixo o d ire i to da rec lam ação p or parte de Bu en os -

A y res , de co ns u l ta r - s e pu bl i ca m ente a v o nta de g era l

do Es ta do C i s p l a t i no ; recurs o , po rém , des neces s á r i o

e fa l l iv e l ; des neces s á r i o po r s e t er já co n h ec i d o pe l o s

meios poss íve i s essa vontade gera l , e ser mais preju

d i c i a l que s e dê cred i to a o co ng r es s o do s rep res en

ta n tes de to d o o E s ta do , que em 1 821 r es o l v e u a s ua

incorporação ao Bras i l ; e ás actas de todos os cabi l -

do s da ca m pa nha , que s ubs eqüentem ente a cc l a m a ra m ,

rec o n hec era m a Sua M a g es ta de I m p er i a l, do q ue da r - s e

cred i to a o s i m pl es e i l l eg a l ca b i l do da m es m a c i da de

de M o nte v i déo , que n o m e i o d e pa r t i do s que um a

inf luen cia es tranha nlli pro m ove, requ er a B ue no s-

A y res e s s a i nco rpo ra çã o , que nã o é a po i a da pe l o s

o utro s ca b i l do s ; fa l l i v e l po rque , a i nda qua ndo s e t i

v e s s e po r co us a nenhum a a ex pres s ã o já enu nc i a d a

da v o nta de g era l do s M o ntev i dea no s a fa v o r de s ua

i n c o r p o r a ç ã o a e s t e I m p é r i o , e s e q u i s e s s e c o w u i -

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X V

t a l - o s .  n o v a m e n t e , n ã o p o d i a i s t o e f fe c tu a r -p e : 1 .°, p o r

q u e e s t a n d o a c a n á p a n - h a g u a r n e c i d a p o r t r o p a s b r a

s i l e i r a s i n d i s p e n s á v e i s á s e g u r a n ç a e d e f e s a d o s s e u s

h a b i t a n t e s , e e s t a n d o a i n d a p o r o u t r o l a d o a c i d a d e

d e M o n t e v i d é o m i l i t a r m e n t e o c c u p a d a p o r t r o p a s p o r

t u g u e s a s c o n t r a r i a s á q u e l l a s , t o d a e q u a l q u e r d e c l a -

r a ç a o p o p u l a r s e r e p u t a r i a m u t u a m e n t e c o a c t a e i l le g a l

p o r a m b o s o s p a r t i d o s , e e n t r a r ia n o v a m e n t e n o c ir

c u l o d e q u e D . V a l e n t i m q u e r i a q u e s e s a h i s s e ; 2 ." ,

p o r q u e e r a c o n s t a n t e q u e s e e x i s t i a a l g u m p a r t i d o n o

E s t a d o C i s p l a t i n o a f a v o r d e B u e n o s - A y r e s , d o q u e

n ã o s e p o d e r i a r a c i o n a l m e n t e d u v i d a r , t a m b é m e ra

c o n s t a n t e q u e p o r c a u sa d a l u t a p e n d e n t e e n t r e a s

a r m a s q u e o c c u p a v a m a p r o v í n c i a , se t i n h a m d e s e n

v o l v i d o o u t r o s p a r t i d o s d i ff e r en t e s, f o m e n t a d o s p e l o s

i n i m i g o s d o I m p é r i o , c o m o f o s s e m o d o s q u e q u e

r i a m a u n i ã o a P o r t u g a l , á I n g l a t e r r a , e o d o s q u e

a s p i r a v a m á i n d e p e n d ê n c i a a b s o l u t a d o E s t a d o C i s p la

t i n o ,

  o s q u a e s p o s t o q u e p o u c o n u m e r o s o s e d i s s e m i

n a d o s n a g r a n d e m a s s a d o s q u e. d e s e j a v a m e j u r a v a m

m a n t e r a s u a i n c o r p o r a ç ã o a o I m p e n o , o f f e re c i a m

c o m t u d o e m s e m e l h a n t e f e r m e n t a ç ã o t o d o s o s o b s t á

c u l o s p a r a s e c o l l i g i r a e x p r e s s ã o d e u m a v o n t a d e

g e r a l l i v r e m e n t e a n n u n c i a d a . »

A e s t a s r a z õ e s o g o v e r n o i m p e r i a l a c c r e s c e n t a v a ,

a d e s e r a q u e s t ã o d a n a t u r e z a d ' a q u e l l a s q u e d e p e n

d i a m d o p o d e r l e g i s l a t i v o , v i s t o q u e s e t r a t a v a d e

c e s s ã o d e t e r r i t ó r i o . T o d a v i a , r e c o n h e c e n d o a u r g ê n c i a

e i m p o r t â n c i a d e u m a s o l u ç ã o , o g o v e r n o i m p e r i a l

d e c l a r a v a :

« Q u e a i n d a q u a n d o s e c o n s u l t a s s e n o v a m e n t e a

v o n t a d e g e r a l d a p r o v í n c i a C i s p l a ti n a p o r q u a l q u e r

m e i o q u e s e p r o p u z e s s e , a i n d a q u a n d o e s t a v o n t a d e

s e e x p r i m i s s e p e l a i n c o r p o r a ç ã o q u e r a B u e n o s - A y r e s ,

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X V I

q u e r a P o r t u g a l , q u e r a o u t r a q u a l q u e r p o t è f t c i a , n áo

p o d e r i a o g o v e r n o i m p e r i a l d e i x a r d e r e p u t a U um

a t a q u e fe ito n ã o só a o s v e r d a d e i r o s i n t e r e s s e s d o E s

t a d o C i s p l a t in c , m a s a t é a o s d i r e i t o s a d q u i r i d o s co m

t a n t o s s a c r i f í c i o s p e l o B r a s i l a o r e f e r i d o E s t a d o ; p o i s

q u e u m a s o l e m n e c o n v e n ç ã o f e it a e n t r e e s t e E s t a d o e

o I m p é r i o d o B r a s i l , a q u e m f o r a e e r a m u i o n e r o s a ,

n ã o p o d i a d i ss o l v er -s e s ó p e lo a r r e p e n d i m e n t o d e u m a

d a s p a r t e s c o n t r a c t a n t e s , m a s p e l a d e a m b a s , e p o r -

t an t o s e v e r i a o b r i g ad o o d e f en d e l - o s . E s t e s d i ff cíí 0§

e r a m t ã o s a g r a d o s ( d i zi a a n o t a d o g o v e r n o i m p e r i a l )

q u a n t o e r a a o r i g e m d e q u e d e r i v a v a m , p o i s j á p r e s

c i n d i n d o d e a n t i g o s t r a t a d o s d e l i m i t e s c e l e b r a d o s c o m

a c o r t e d e H e s p a n h a , b a s t a v a p o n d e r a r : 1.°, q u e e s

t a n d o o s M o n t e v i d e a n o s e n t r e g u e s a o d e s p o t i s m o d o

c h e fe A r t i g a s , e q u a s i a n i q u i l a d a a p r o v í n c i a p e l o s

f u r o r e s d a g u e r r a c i v i l, n ã o a c h a r a m a m p a r o e m p o

t ê n c i a a l g u m a, s e n ão n o B r as i l , q u e o s l i v r o u d ' a -

q u e l l e ch ef e f e ro z , e fez r e n a s c er a p a z e a a b u n

d â n c i a n a s u a c a m p a n h a ; ao m e s m o t e m p o q u e n e m

B u e n o s - A y r e s , n e m a H e s p a n h a fizeram o m e n o r s a c r i

fíc io p a r a a j u d a l - o s e p r o t eg e l - o s ; 2 . °, q u e o g o v e r n o

b r a s i l e i r o f i z e r a d e s d e e n t ã o i m m e n s a s e a v u l t a d a s

d e s p e z a s c o m a q u e l l a p r o v í n c i a , d a s q u a e s t i n h a t a n t o

d i r e i t o a s e r i n d e m n i s a d o , q u a n d o h o u v e s s e d e a b a n -

d o n a l - a , q u e a p r ó p r i a c o r t e d e M a d r i d r e c o n h e c e r a

f o r m a l m e n t e o d i r e i t o q u e t í n h a m o s a i n d e m n i s a ç â o ,

q u a n d o p r o c u r o u , m a s s em f r u c to , i n t e r e s s a r a s p t i n -

c i p a e s c o r t e s d a E u r o p a n a r e s t i t u i ç ã o d e M o n t e v i d é o

p o r S u a M a g e s t a d e F i d e l i s s i m a ; 3.°, q u e d e p o i s d e s o c e -

g a d a e l i v r e a p r o v í n c i a , f ac i l i t á r a - l h e S u a M ag es la& e

F i d e l i s s i m a q u e e s c o l h e s s e a s u a s o r t e s e m c o a ç ã o a l

g u m a , è a p r o v í n c i a l e g a l m e n t e r e p r e s e n t a d a e m u m

c o n g r e s s o , c o n h e c e n d o q u e o m e s m o d i r e i t o q u é t t e t o o

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h i á t h n o c o n h e c i m e n t o d o g o v e r n o i m p e r i a l . E m B u e n o s -

A y r e s e s t a b e l e c e u - s e u m a c o m m í s s á o c o m o t i t u l o d e

O r i e n t a l , e n c a r r e g a d a d e r e m e t t e r q u a n t o f o s s e n e c e s

s á r i o ,

  n ã o s ó p a r a d a r f o r ç a a o s c h e f e s d a r e v o l u ç ã o

c o n t r a o B r a s i l , m a s a t é p a r a t e n t a r o a p r e z a m e n t o

d e v a s o s d a m a r i n h a b r a s i l e i r a . B o t e s , b a l i e i r a s e h * -

l a n d r a s d e c o r s á r i o s s a h i r a m d ' a l l i c o m e s s e d e s ti n o u

E p o r f i m , p u b l i c a r a m - s e n a s f o l h a s . a r g e n t i n a s t r e s

d e c r e t o s d e u m s u p p o s t o c o r p o l e g i s l a t i v o , d e t e r m i

n a n d o q u e a p r o v í n c i a O r i e n t a l ficaria u n i d a á s d e

m a i s d o R i o d a P r a t a .

O g o v e r n o i m p e r i a l e m p r e g o u d e n o v o m e i o s d i

p l o m á t i c o s , c o m a s p e c t o m a r c i a l ; o q u e m o s t r o u f r a

q u e z a d e g o v e r n o , e n ã o m e i o s e n é r g i c o s p a r a o b t e r

q u a l q u e r r e p a r a ç ã o d o g o v e r n o d e B u e n o s - A y r e s .

P r i m e i r o f o i o v i c e - a l m i r a n t e R o d r i g o L o b o , n a

c o r v e t a  Liberal;  d e p o i s o c a p i t ã o d e f r a g a t a F a l c ã o d a

F r o t a , c a d a q u a l a p e d i r e x p l i c a ç ã o d ' e s t e s a c t o s .

A m b o s o s d i p l o m a t a s t i v e r a m e m r e s p o s t a p a l a v r a s

a m b í g u a s , s u b t e r f ú g i o s r i d í c u l o s . S o b r e v e i o e n t ã o u m

s u c c e s s o q u e c o r o a v a t o d a e s t a o b r a d e p e q u e n o s

a c i n t e s , d e t r a i ç õ e s s o r r a t e ir a s , e d e p r o c e d i m e n t o

a a v i l l o s o .

A 2 6 d e O u t u b r o o a g e n t e b r a s i l e i r o s q f f r e u u m

m u i g r a v e e p u b l i c o i n s u l t o n a s u a p e s s o a e n a c a s a

d a s u a r e s i d ê n c i a , p r e t e n d e n d o - s e a r r o m b a r a s p o r t a s

d a I e g a ç ã o . V e n d o - s e a s s i m d e s r e s p e i t a d o , s e m q u e

o g o v e r n o a r g e n t i n o d e s s e m o s t r a s d e v i d a , o c ô n s u l

d e u p o r finda a s u a m i s s ã o , e p e d i o p a s s a p o r t e s ,

N ã o e r a m a i s p o s s í v e l a o g o v e r n o d e B u e n o s - A y r e s

c o n t i n u a r n o  seu  p r o p ó s i t o d e d i s f a r c e . L a r g a n d o fi

n a l m e n t e a m a s c a r a , d i r i g i o a  3  d e N o v e m b r o u m a

n o t a a o g o v e r n o i m p e r i a l .

N ' e s t a n o t a , d i z i a o g o v e r n o a r g e n t i n o : « Q u e h a -

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X I X

vendo os habi t an t es da Proví nc i a Or i t n t a l recuperado ,

pelos seus próprios esforços, a l iberdade de seu ter-

r i tor io , ocoupado pelas arm as de Sua M agestade I m perial

e depois de instal lar um governo regular para o regimen

da sua proví nc i a , dec l araram so l emnement e a nu l l i -

dade dos actos pelos quaes se pretendeu uni r aquel le

pa iz ao Im pér i o do Bra s i l ; e con segui n t em ent e m a

ni festaram que seu voto geral , constante e decidido,

era pe l a un i dade com as demai s proví nc i as a rgent i

n as ,  a que sem pre per ten cera m pelos vínculos m ais

sagrados que o m undo conh ece. O cong resso geral da s

províncias unidas, em sessão de 25 do mez de

O ut ubro passado sancc i on ou: « Que de con form i

dade com o voto uni forme das províncias

  -

  do Es

t a d o ,  e do que de l i beradam eat e r epro du zi o a P ro

víncia Oriental p91o órgão legi t imo dos seus repre

sentan tes na lei de 25 A gosto do pre sen te a n u o ; o

Congresso em nome dos povos que representa a re

conhece de fei to inco rpo rada á R epu bl ica das P ro

víncias Unidas do Rio da Prata, a que por direi to

per t ence e que r per t en cer . » Por es t a so l emne dec l a

r a ç ã o ,

  o governo gera l es t á compromet t i do a prover

a segurança da Província Oriental . El le desempenhará

o seu compromisso por quantos meios est iverem ao

seu a l cance , e pe l os me smos ac ce l erar a evac uação

dos dpus ún i cos pont os mi l i t a res , que guarnecem a i nda

as t ropas de Sua Mages t ade Imper i a l .

« 0 abaixo assignado está ao mesm o temp o au to -

r i sad o a d ec lara ^ que n 'es ta nova s i tuaç ão, o gov ern o

das Províncias Unidas conserva o mesmo espi r i to de

moderação e de just iça , que serve de base á sua po

l í t ica , e que di r ígio as tentat ivas , que repet io a té aqui

em vão , para negoci ar ami gavel ment e a res t i t u i ção da

Província Oriental , e da qui t l dará novas provas todas

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a s v e z e s q u e o p e r m i t t i r a s u a d i g n i d a d e ; q u e e m

t o d o s o s c a s o s \ n ã o a t a c a r á s e n ã o p a r a d e f e n d e r - s e

e o b t e r a r e s t i t u i ç ã o d o s p o n t o s a i n d a o c . c u p a d o s ,

r e d u z i n d o as s u a s p r e t e n ç õ e s a c o n s e r v a r a i n t e g r i

d a d e d o t e r r i t ó r i o d a s P r o v i n c i a s U n i d a s , e g a r a n t i r

s o l e m n e n i e n t e p a r a o f u t u ro a i n v i o l a b i l i d a d e d o s s e u s

l i m i t e s c o n t r a a fo rç a, o u s e d u c ç ã o .

« E m t a l c a s o , e d e p o i s d e t e r f e i t o c o n h e c e r a o

E x m . m i n i s t r o d ' e st a d o d o B r a s i l a s i n t e n ç õ e s e

d e s e j o s d o g o v e r n o d a s p r o v í n c i a s u n i d a s , r e s t a - l h e

a c c r e s c e n t a r q u e d e p e n d e r á u n i c a m e n t e d a v o n t a d e

d e S u a M a g e s t a d e I m p e r i a l r e s t a b e l e c e r u m a p a z

a s sa z p r e c i o s a a o s i n t e r e s s e s d o s e s t a d o s v i s i n h o s e

a i n d a d e t o d o o c o n t i n e n t e . »

A e s t a n o t a r e s p o n d e u o g o v e r n o i m p e r i a l c o m o

m a n i f e s t o d e 10 d e D e z e m b r o d e i 8 2 5 , d e c l a r a n d o a

g u e r r a a B u e n o s - A y r e s .

E i s a h i c o m o a c e i t a n d o - s e o l e g a d o d a m o n a r

c h i a p o r t ü g u e z a , o I m p é r i o d o B r a s il f o i a r r a s t a d o á

g u e r r a c o m B u e n o s - A y r e s , p a r a s u s t e n t a r n o n u m e r o

d a s p r o v i n c i a s d o B r a si l u m a n a c i o n a l i d a d e d e o r i g e m

d i v e r s a , q u e n o s o d i a v a t a m b é m e a u x i l i a v a o s e s

f o r ç o s d e s e u s v i s i n h o s c o n t r a n ó s .

D .  P e d r o e s e u s m i n i s t r o s d e i x a r a m - s e d o m i n a r

p o r u m a i d é a f al sa d e d i g n i d a d e n a c i o n a l . N ã o h a v i a ,

e n t r e t a n t o p r u d ê n c i a e m a c e i t a r a p o s i ç ã o d e v i s i -

n h o c o n q u i s t a d o r a g g r e s s i v o p a r a u m i m p é r i o q u e s e

a c a b a v a d e f u n d a r , q u e p r e c i s a v a d o c o n c u r s o d e s u a s

f o r ç a s , e n ã o d e v i a d e s p e r t a r o c i ú m e d a I n g l a t e r r a .

H a v i a m e s m o i n j u s t i ç a e m q u e r e r á f o r ç a d e a r m a s

c o n s t r a n g e r M o n t e v i d é o a s u s t e n t a r u m v o t o d e a d h e -

s ã o ,  a r r a n c a d o d e b a i x o d o s t r i s t e s a u s p i c i o s d e u m a

o c c u p a ç ã o m i l i t a r .

S u p p o s t o m e s m o q u e nfto p r e v a l e c e s s e m e s t a s c o n -

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XXÍ

s i d e ra ç õ e s q u e a b i l a n ç a m o s a o c o r re r d a p e n u a , I ) .

P e d ro d e v i a p re s t a r o u v i d o s a o su ssu r ro d a o p i n i ã o

p u b l i c a d e n t r o d o I m p é r i o .

Já e n t ã o se fo rm a v a e sse n ú c l e o b r i l h a n t e d e

m o ç o s i l l u s t r a d o s , q u e t i n h a m d e a p o i a r - s e n o r e s

p e i t o e c o n s i d e ra ç ã o d o p o v o , e d e v i v e r l o n g e d a s

r e g i õ e s d o p o d e r , a t é a o d i a e m q u e a t e m p e s t a d e

p a ss a n d o p o r e ssa s re g i õ e s , e x i g i sse o c o n c u rso d e

t o d o s o s h o m e n s d e b e m p a r a a s a l v a ç ã o d o p a i z .

Esse s m o ç o s i l l u s t r a d o s , q u e fo ram o s c h e fe s , d o v e r

d a d e i r o p a r t i d o n a c i o n a l , e n s i n a r a m a o p o v o , p o r m e i o

d a i m p r e n s a e d o a l t o d a t r i b u n a , o s d o g m a s l i b e -

r a e s ;

  e ss es m o ç o s p e r g u n t a v a m d e s d e e n t ã o : — Q u e

p r e t e n d e m o s c o n s e l h e i r o s d a c o r o a ? G l o r i a p a r a o

m o n a r c h a ? E s s a n ã o . s e a d q u i r e p e l a c o n q u i s t a d e

p a i z e s e s t ra n g e i ro s , m a s s i m p e l a c o n so l i d a ç ã o d o se u

i m p é r i o .

« N o s s os r e c u r s o s s ã o p o u c o s , g u a r d e m o l - o s p a r a

n ó s .  F o ra p a ra d e se j a r q u e t i v é s se m o s c o m o l i m i t e o

R i o d a P r a t a ; m a s ] p o r b e m d e u m f u tu r o r e m o t í s s i m o

n ã o sa c r i f i q u e m o s o p r e se n t e n a s d e p l o rá v e i s c o n t i n

g ê n c i a s d e u m a g u e r r a , e m q u e a i n e x p e r i ê n c i a d o s

g e n e r a e s , a p o u c a v o n t a d e d o s s o l d a d o s , o c o r s o i n -

s o l e n t e d o s p i r a t a s , e m u i t a s o u t r a s c i r c u m s t a n c i a s h ã o

d e c o n su m i r a v i d a e a fo r t u n a d o c i d a d ã o e d o Im

p é r i o B r a s i l e i r o . P e n s e b e m o c h e fe d o E s t a d o . O

p e i o r q u e l h e p ô d e a c o n t e c e r é a t é m e s m o a v i c t o -

r ia , po rq ue se a g u e rr a no s va i de bi l i ta r , ficaremos

d e p o i s a b s o l u t a m e n t e p r o s t a d o s c o m a c o n s e r v a ç ã o d e

M o n t e v i d é o . » P a l a v r a s p r o p h e t i c a s q u e o f u t u ro c o n

verteu em factos. (*)

O q u e a c a b a m o s d e t r a n s c r e v e r s o b r e a p r o v í n c i a

C i s p l a ti n a , m o s t r a q u e b e m p r o c e d e u o m i n i s t é r i o d o

(*) Correio

  Mercantil

  de 27 de Dezem bro de 1859 .

•M

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S r . D . J o ão V I , m a n d a n d o c o n s u l t a r a v o n t a d e   4Ü

C i s p l a t i n o s , p a r a s a b e r s e q u e r i a m c o n s e r v a r - s e u n i d o »

á m o n a r c h i a p o r t ü g u e z a , o u a o u t r o E s t a d o . L o g o q u e

o B ra sil se c o n s t it u i o e m I m p é r i o i n d e p e n d e n t e ,

  dmh

o s e u g o v e r n o t e r m a n d a d o n o v a m e n t e c o n s u l t a r a

v o n t a d e d 'a q u el le p o v o ; e q u a n d o s e p r o n u n c i a s s e

p e l a s u a s e p a r a ç ã o d o B r a s i l , c o n v i n h a n ' a q u e l l a é p o c a

a o s i n t e r e s s e s d ' e s t e n o v o I m p é r i o , a b a d o n a l - o á s u a

sor te , po rq ue , com o se v io , o e s t ad o d a s finanças do

B r a s i l , sjia s d i s c ó r d i a s i n t e r n a s , t e n d o e m 1 8 24 s u s

t e n t a d o a g u e r r a ci vi l e m P e r n a m b u c o , n ã o p r e m i t -

t i a m q u e e m p r e h e n d e s s e u m a g u e r r a e s t r a n g e i r a , e s

t a n d o c o n s o li d a n d o a s u a i n d e p e n d ê n c i a : e r a i s t o o

que se dev ia te r fe i to .

S u p p o n d o a g o r a q u e e s t e s m o t i v o s n ã o e x i s t i a m e

q u e o B r a s il t i n h a o d i r e i t o d e c o n s e r v a r u n i d a a o

s e u t e r r i t ó r i o a p r o v í n c i a C i s p l a t i n a , e d i n h e i r o p a r a

fa ze r a g u e r r a a B u e n o s- A y r e s, p o r q u e a s s i m c o n v i n h a

a seus in te resses , os meios que o  governo  i m p e r i a l

e m p r e g o u p a r a o c o n s e g u i r fo i a m a l d i r i g i d a e i n ú

t i l ca m pa nh a de 1825 a 1828, qu e te rm in o u p e la paz

c o n c l u í d a n o fim d e 3 a n n o s d e g u e r r a , s e m v a n t a

g e m a l g u m a p a r a o B r a s i l ; o b r i g a d o p e l a i n t e r v e n

ç ã o d o g o v e r n o i n g le z p a r a c o n s t i t u i r - s e a p r o v í n c i a

C i s p l a ti n a em E s t a d o i n d e p e n d e n t e , o q u e t e v e p o r

fim f a v o r e c e r a s d u a s r e p u b l i c a s v i z i n h a s .

A g u e r r a q u e d e s d e e n t ã o t e m f e it o o E s t a d o O r i e n

t a l a o B r a s i l e a o s B r a s i l e i r o s a l l i e s t a b e l e c i d o s , a

d e s p e z a q u e e s t e t e m f e it o e m a r m a t n e n t o s p o r c a u s a

d ' a q u e l l a r e p u b l i c a , t e m s i d o p r e j u í z o s m a i o r e s d o

q u e t e v e c o m a q u e l l a p r o v í n c i a e m q u a n t o e s t e v e u n i d a

a e s t e I m p é r i o .

C o m o s e v i o a c i m a , a d e s i n t e l i g ê n c i a d o g o v e r n o ,

i m p e r i a l c o m o d e B u e no s -A y re s p r i n c i p i o u p e l * | | t «

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X X I V

A lé m ( T e sta fa l ta d e p r e v i d ê n c i a d ' a q u e l l e m i n i tt i© ,

n ã o se i n f o rm o u d a f o r ç a d e q u e p o d i a d i s p o r a R e pu

b l i c a A r g e n t i n a p a r a a t a c a r o B r a s i l ; s ó s o u b e d e po i*

q u e o e x e r c i t o i n i m i g o e n t r o u p a c i f i c a m e n t e s e m op~

p o s i ç ã o n o R i o G r a n d e .

N ã o e s c o l h e u u m g e n e r a l c a p a z d e c o m m a n d a r

a q u e l l e . n ú c l e o d e e x e r c i t o , p o i s q u e a l g u n s h a v ia

q u e p o d e ss e m d e s e m p e n h a r a q u e l l a c o m m i s s ã o . A p r a ç a

d e M o n t e v id é o e s t a v a o c c u p a d a p o r t r e s b a t a l h õ e s

d e in f a n t a r ia , q u e n ã o t i n h a m m a i s d e 2 ,0 0 0 h o m e n s

e a l g u m a c a v a l l a r i a . E s t a p e q u e n a f o r ç a p o d i a t e r

s i d o a u g m e n t a d a , l o g o q u e h o u v e p r i n c i p i o d e i n s u r *

r e i ç ã o , se o m i n i s t é r i o q u e e n t ã o e x i s t i a t i v e s s e v i s t a

m a i s l o n g a , p a r a s e r v i r d e b a s e á f o r m a ç ã o d e u m

co r p o d e ex er c i t o , q u e s ah i s s e a b a t e r d e f l an co o

e x e r c i t o a r g e n t i n o q u a n d o a t r a v e s s o u a c a m p a n h a d o

E s t a d o O r ie n t al p a r a i n v a d i r o R i o G r a n d e , c o m o

ac on tec eu no fim de 1826, ou a tac al -o p e la re ta

g u a r d a .

O g e n e r a l L e c o r e s ta v a i n a c t i v o g o v e r n a n d o a p r a ç a

d e M o n t e v id é o , p o r q u e a s i n t r i g a s d a c o r t e o q u i s e

r a m i n u t i l i z a r c o n s e r v a n d o - o a l l i .

C o m o n ão s e ap r o v e i t o u a f o r ça q u e es t av a em

M o n t e v id é o e q u e d e v i a t e r s i d o a u g m e n t a d a p a r a o

fim ac i m a d i t o d e o p er a r n a ca m p a n h a , ficaram o s

t r e s b a t a l h õ e s g u a r n e c e n d o M o n t e v i d é o a t é a o fim

d a g u er r a . P o r es t e m o d o ficou a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a

d e s e m b a r a ç a d a e d o m i n a d a p e l a i n s u r r e i ç ã o , c a u s a n -

d o - n o s o s g a ú c h o s m a l e s b e m s e n s í v e i s , c o m o v a m o s

v er n a g u er r a d e g u er r i l h as q u e n o s fizeram n o a a n ó

de 1825.

Joã o V ieira de C arvalho quiz d i r i g i r do R io <l*

J a n e i r o a s p r i m e i r a s o p e r a ç õ e s d ' a q u e l i a ç a m p a a h ^

m a n d a n d o i n s i n u a ç õ e s a o g e n e r a l R o s a d o s o b r e o

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X X V

d e v i a f a z e r ; p r e t e r i ç ã o i m p r u d e n t e e i n a d m i s s í v e l , p o r

q u e n ã o s e p o d i a r e a l i z a r d e m o d o a l g u m . F o i , p o r

t a n t o ,

  a q u e l l e m i n i s t r o o a u t o r d e t o d a s a s e r r a d a s

p r o v i d e n c i a s q u e  *  s e t o m a r a m n o p r i n c i p i o d ' a q u e l l a

g u e r r a , d o q u e r e s u l t a r a m o s r e v e z e s q u e s of if re ra m

a s n o s s a s t r o p a s n a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a , a l é m d e a s

n ã o r e f o r ç a r c o m o d e v i a .

N a p r o v i n c i a d o R i o G r a n d e , e m 1 8 2 5 , j á n ã o e x i s

t i a m o s g e n e r a e s q u e t i n h a m f e i t o a s c a m p a n h a s d e

1 8 1 1 a t é 1 8 2 0 , e x c e p t u a n d o o s g e n e r a e s L e c o r e B a r S o

d o C e r r o L a r g o ; p o r t a n t o , e s t e s g e n e r a e s e s t a v a m n o

c a s o d e d e s e m p e n h a r e m e d i r i g i r e m q u a l q u e r d ' e l le s

a q u e l l a c a m p a n h a e u l t i m a l - a e m p o u c o t e m p o , l o g o

q u e c a d a u m t i v e s s e u m a d i v i s ã o d e

 -

 6 a 8 , 0 0 0 h o

m e n s d a s t r e s a r m a s , p a r a o p e r a r c a d a u m d o s e u

l a d o ,

  i s t o é , L e c o r s a h i r d e M o n t e v i d é o , e o B a r ã o

d o C e r r o L a r g o d a f r o n t e i r a d o R i o G r a n d e . T o m a d a s

e s t a s d i s p o s i ç õ e s , o s g e n e r a e s f a r ia m d e p o i s o q u e

e n t e n d e s s e m , e o e x e r c i t o a r g e n t i n o t e r i a s i d o a n n i -

q u i l a d o a n t e s d e c h e g a r á f r o n t e i r a d o R i o G r a n d e .

E m 1 8 2 5 a s p o u c a s f o r ç a s q u e h a v i a n a p r o v i n c i a

d o R i o G r a n d e e s t a v a m s e m o r g a n i s a ç ã o r e g u l a r d e

u m e x e r c i t o ; c o m m a n d a d a s p e l o B a r ã o d o C e r ro L a r g o ,

m i l i t a r b r i o s o e v a l e n t e , e p r a t i c o d ' a q u e l l a g u e r r a d o

s u l , n a d a p ô d e f a z e r p e l a o p p o s i ç ã o q u e l h e f e z o

m i n i s t r o d a g u e r r a , t e n d e - s e d e s d e A b r i l d ' e s s e a n n o

o u v i d o o g r i t o d e r e v o l t a n a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a .

E s t e g e n e r a l m a r c h o u c o m u m a b r i g a d a d e c a v a l l a r i a

p a r a a v i l l a d e M e r c e d e s , n a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a , á

r e q u i s i ç ã o d o g e n e r a l L e c o r , q u e e s t a v a e m M o n t e v i d é o .

O g e n e r a l B a r ã o d o C e r r o L a r g o c o n s e r v o u - s e p o r

a l g u m t e m p o n a p o s i ç ã o q u e o e c u p o u , s e m e t u p r e -

h e n d e r o p e r a ç ã o a l g u m a , p o r q u e n ã o d i s p u n h a d e

f o r ç a s u f i c i e n t e p a r a p o d e r d o m i n a r a c a m p a n h a , j á

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e n t f t o c h e i a d e b a n d o s d e g u e r r i l h a s q u e h o s t í l í s a v a m

o s B r a s i l e i r o s ; e p o r i s s o n ã o p ô d e o p e r a r c o n t r a o s

i n s u r g e n t e s . A l é m d ' a q u e ll a b r i g a d a t e r f a l t o d e g e n t e ,

n ã o t i n h a i n f a n t a r ia e a r t i l h a r i a . D ' e s t e m o d o o m i

n i s t r o d a g u e r r a p r o v i d e n c i o u s o b r e a o r g a n i s a ç ã o d o

e x e r c i t o do su l .

E s t a s o b s e r v a ç õ e s , t i r a d a s d a m e m ó r i a q u e o c o r o

n e l J o s é J o a q u i m M a c h a d o d e O l i v e ir a t r a n s m i t t i o a o

I n s t i t u t o H i s t ó r i c o s o b r e a c a m p a n h a d o s u l d e 1 8 25

a 18 28 , t o r n a m - s e a g o r a m a i s i n t e r e s s a n t e s d e p o i s d a

g u e r r a c o n t r a o P a r a g u a y . T r a n s c r e v e m o s n ' e s t e l o g a r

p a r t e d ' a q u e l la s — R e c o r d a ç õ e s H i s t ó r i c a s — q u e n o s

pa r e c e m m a i s i n t e r e ssa nt e s . ( * )

« A l é m d e o u t r o s r e v e z e s p a r c i a e s , s o f f r i d o s p o r p e

q u e n a s p a r t i d a s d e s t a c a d a s d o e x e r c i t o b r a s i l e i r o , o

d o R i n c ã o d as' G a l l in h a s , o c c o r r i d o e m 2 4 d e S e t e m b r o

d' a qu e l l e a nn o , e m que um f o r te r e f o r ç o de c a v a l l a r i a ,

q u e d a p r o v i n c i a d e  S .  P e d r o m a r c h a r a  a  r e u n i r - s e

á d i v i sã o do g e n e r a l B a r ã o do Ce r ro L a r g o p o s t a d a

e m M e r c ed e s , fo i c o m p l e t a m e n t e d e s b a r a t a d o ; e o s u b -

s e q a e n t e d e 1 2 d e O u tu b r o n o S a r a n d y , e m q u e a

d i v i s ã o e x p e d i d a d e M o n t e v i d é o s o b o c o m m a n d o d o

c o r o n e l B e n t o M a n o e l R i b e i r o f o i q u a s i t o d a d e r r o

t a d a ; d e r a m g r a n d e i m p u l s o e c o n s i s t ê n c i a á s u b l e -

v a ç ã o d a B a n d a O r i e n ta l ,, . e c o l l o c a r a m o s i n d e p e n

d e n t e s d o m i n a n d o e x c l u s i v a m e n t e  a  s i t u a ç ã o , e s e

n h o r e s d o s e u p a iz c o m e x c l u s ã o d a s p r a ç a s d e M o n

t e v i d é o e d a C o l ô n i a , q u e . f o ra m l o g o p o s t a s e m r i

g o r o s o s i t i o . N ' es te e s t a d o d e c o u s a s , p e n o s a e a r r i s

c a da f o i a r e t i r a da que f e z de M e r c e de s  a  d i v i s ã o d ó

g e n e r a l B a r ã o d o f ^ r r o L a r g o , q u e a p r i n c i p i o t o m o u

p o s i ç ã o n a f ó z d o A r a p e h y , f r o n t e i ra d a p r o v í n c i a d e

T o m o X X I I I

  da

  Reviste Trimensal dó lást i t i i to Histórico

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X.XVU

P ed r o , e ao d ep o i s t ev e d e i n t e r n ar - s e p e l o s eu

t e r r i t ó r i o , a f i m d e m a i s f a c i l m e n t e r e m o n t a r - s e .

« A co n s i s t ên c i a q u e d e t aes e o u t r as d es as t r o s a s

em er g ên c i a s , s o ff ri das p e l as t r o p as i m p e r i ae s , t o m o u

a ca us a dos O r ien taes , cujo paiz ficara á in te i ra m erc ê

d ' e l l es d e p o i s q u e es s as t r o p as d ' ah i s e r e t i r a r am ,

o b r i g o u o g o v er n o b r a s i l e i r o a fazer m an t er s ó e r e s

t r i t i v a m e n t e a o c c u p a ç ã o d 'a q u e ll a s d u a s p r a ç a s , e

a t o m ar - s e a d ef en s i v a n a f r o n t e i r a d a p r o v i n c i a d e

 •

S . P e d r o , j á e n t ã o a m e a ç a d a s e r i a m e n t e e m a l g u n s

dos seus pontos mais vulneráveis , e que f icavam ao

a l c an ce d o f oco d a s u b l ev ação o r i e n t a l : e n em p o r

i ss o p r e s c i n d i o - s e d e , e m s e g u i d a , e m p h a t i c a m e n t e d e

c l a r a r g u e r r a á R e p u b l i c a A r g e n t in a , c o m o f u n d a m e n

t o d e q u e j á o s t e n s i v a m e n t e p r o t e g i a e a u x i l i a v a c o m

p r ó p r i o e s fo r ço e a n i m a ç ã o a p r o c l a m a d a i n d e p e n d ê n c i a

d a B a n d a O r i e n t a l . N a d a m a i s se p ô d e r e c o n h e c e r

n ' e s t e p a s s o i m p o l i t i c o e i m p r e v i d e n t e , e q u e d e t a

m an h o g r av am e f o i ao B r as i l n o co m eço d a s u a i n

d e p e n d ê n c i a , p o i s q u e e n t ã o s ó c o n v i n h a o c u ra r -s e

s e r i a m e n t e d e s u a r e o r g a n i s a ç ã o p o l i t i c a , a f i m d e

p ó l - a c o n s e n t a n e a c o m a s f ô rm a s r e p r e s e n t a t i v a s p o r

e l le a d o p t a d a s , q u e a t o t a l e i n q u a li fi c á v e l i g n o r â n

c i a d a o p i n i ã o p u b l i c a , o u t a l v e z a c i n t o s o d e s p r e s o

p o r e l l a ; a q u a l s e f o r a c o n s c i o s a m e n t e p r e s c r u t a d a ,

c l a r o r e v e l a r i a s e u p e r f e i t o a n t a g o n i s m o a o e s t a d o

d e v i o l e n t a c o a c ç ã o e m q u e d e n o v o s e p r o c u r a v a

co l l o ca r a B an d a O r i en t a l , d ep o i s d e h a v e r j á firm ado

s u a i n d e p e n d ê n c i a , e t o m a d o a d e q u a d a a t t i t u d e d e

s u s t e n t a l - a a i o d o t r a n s e .

« A s t r o p a s b r a s i l e i r a s q u e e v a c u a r a m o t e r r i t ó r i o

d a e x - p r o v i n c i a C i s p l a ti n a , r e t i ra n d o - s e p a r a a p r o

v i n c i a d e S . P e d r o d e p o i s d e b r e v e o c c u p a ç ã o d a

f r o n t e i r a d o A r a p e h y , s e r v i r a m d e n ú c l e o p a r a a r e -

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X X V I I I

c o m p o s i ç ã o d o e x e r c i t o q u e a o g o v e r n o i m p e r i a l c u n r

p r i a e m p e n h a r n a l u t a c o n t r a a e s t a b e l e c i d a i n d e p e n

d ê n c i a d o s O r i e n t a e s , e e m s u s t e n t a ç ã o d a d e c l a r a d a

g u e r r a á R e p u b l i c a A r g e n t i n a : e s e n d o d e s t i t u í d o

d o c o m m a n d o d ' a q u e l la s t r o p a s o g e n e r a l B a r ã o d o

C e r ro -L a rg o , a q u e m s e i m p ô z a r e s p o n s a b i l i d a d e d o s

r e v e z e s p o r q u e e l l a s p a s s a r a m , e q u e m e l h o r q u a d r a

v a c o m o g a b i n e t e b r a s i l e i r o q u e t ã o i m p r e v i d e n t e ,

l e v i a n o e p h i l a u c i o so se h o u v e e m q u e s t ã o d e t a n t a

m o n t a ; fo i s u b s t i t u í d o p e l o b r i g a d e i r o F r a n c i s c o d e

P a u l a D a m a s c e n o R o s a d o o q u a l s e m p r ó p r i a i m p o r

t â n c i a e p r e s t i g i o m i l i t a r , e e s t o l i d a m e n t e p r e t e n c i o s o

a u m g r a n d e n o m e , q u iz s u p p r i r a d e fi c iê n c ia a d o p t a n d o

e n t ão o a p p e l l id o d e g e n e r a l— M a s s e n a R o s a d o .

« S e m v o n t a d e p r ó p r i a , b a l d o d e t i n o e d i s c e r n i m e n

t o , g e r a l m e n t e t i d o e m m á o c o n c e i t o , e a p e n a s a l a r d e a n d o

por notável serviço a pró do Brasi l , a a í fouteza de el le

s ó d e s a r m a r o b a t a l h ã o q u e c o m m a n d a v a n a o c c a s i ã o

d a su b l e v a ç ã o d a d i v i sã o l u s i t a n a e m M o n t e v i d é o , e

q u e p o u c a h e s i ta ç ã o e n e n h u m a r e l u c t a n c i a m a n i f e s t a r a

c o n t r a a s u a d e s e n c o r p o r a ç ã o d a d i v i s ã o . O n o v o g e

n e ra l i n v e c t i v a n d o c o n t ra t o d a s a s d i sp o s i ç õ e s d o se u

p r e d e c e s s o r , r e l a t i v a m e n t e á g u a r n i ç ã o d a f r o n t e i r a

(e m q u e m a l i á s se n ã o p o d i a n e g a r o m a i o r c o n h e c i

m e n t o p ra t i c o d a t o p o g ra p h i a d ' a q u e l l a p ro v i n c i a , e

a q u a l i d a d e d e m u i a m e s t ra d o n a e s t ra t é g i a p e c u l i a r

á g ue rr a do su l , un ind o a i s to va lor e san gu e f r io

n o s c o m b a t e s ) ; e st r eo u o s eu c o m m a n d o o s t e n t a n d o ^ e

p re ssu ro s o e m d i a m e t ra l o p p o s i ç ã o a t o d a s e l l a s , i n

ve r te nd o tu do q uan to se hav ia fe i to a be m da defesa

d a f ro n t e i ra e p ro v i m e n t o d o e x e rc i t o , c o n c e n t ra n d o

as t ropas que achou co l locadas em diversas posições

ad eq u ad as a essa defesa , nos ar red or es da Capel la do

L i v ra m e n t o , n a c o x i l h a d e Sa n fA n n a , a c u j o l o c a l

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X X I X

d e u o n o m e d ' a h i a v a n t e d e — A c a m p a m e n t o d a I m

p e r i a l C a r o l i n a , — t e n d o a n t e s p e r c o r r i d o u m a p e q u e n a

p a r t e d a f r o n t e i r a d e E n t r e - R i o s , e v i s i t a d o o a c a m

p a m e n t o d e C a t a l a n , o c c u p a d o p e l a b r i g a d a a o m a n d o

d o c o r o n e l B e n t o M a n o e l R i b e i r o .

« I n v o c o o t e s t e m u n h o d o s c o n t e m p o r â n e o s d o e x e r

c i t o ,

  q u e e n t ã o s e r v i r a m n o s u l, e t e m c o n h e c i m e n t o

d a s l o c a l i d a d e s d a C a pe ll a d o L i v r a m e n t o , p a r a q u e d i g a m

c o n s c i e n c i o s a m e n t e s e e s s a p o v o a ç ã o a s s e n t a d a n o p o n t o

m a i s p r o e m i n e n t e d a c o x i l h a d e S a n f A n n a , n o c e n tr o

d a f r o n t e i r a g er a l , t en d o as d e Mi s s õ es e E n t r e - Ri o s

á d i r e i t a , e a d o R i o Gr an d e á es q u e r d a , ach a n d o - s e

a g r a n d e s d i s t a n c i a s d a p r i m e i r a e t e r c e i r a , e a m u i t o

m a i o r d o c e n t r o d a p o p u l a ç ã o m a i s v a s t a , e d a c a

p i t a l d a p r o v i n c i a ; h a v e n d o d e p e r m e i o a e s t a e a

c a p e l l a t r e s g r a n d e s r i o s i n v a d e a v e i s , a l é m d e u m

n u m e r o d e a r r o i o s , s e r r a s e a l a g a d i ç o s , a t r a v é s d e

u m t e r r i t ó r i o n i m i a m e n t e a c c i d e n t a d o , q u e f a z m u i

d if fic il o t r a n s i t o p ar a o r o d a m e ; e r a es s e p o n t o o

m a i s a z a d o p a r a o e s t a c i o n a m e n t o d e t r o p a s , q u e b e m

p eu co f a l t o u p ar a q u e d a C i s p l a t i n a s e n ão r e t i r as s em

e m c o m p l e t a d e b a n d a d a ; o n d e c o n v i n h a c e n t r a l i s a r

o u t r a s f o r ç a s d e c a v a l l a r i a d i s s e m i n a d a s p e l a p r o v i n c i a ;

e s p e r a r c o n t i n g e n t e s d e t r o p a s q u e d e v i a m s e r e x p e

d i d a s d e d i f fe r e n te s p o n t o s d o I m p é r i o ; e e m fim

o r g a n i s a r ' e p r o v e r o e x e r c i to q u e em b r e v e d e v ia

af fr o n ta r a co l l i s ão a r m ad a d a u n i ão - ar g en t i n a , q u e

t o m a v a a a t t i t u d e d e m o v e r - s e ; v e l a r n a d e fe sa d a

p r o v i n c i a d e S . P e d r o , e r e c u p e r a r a C i s p l a ti n a , c u ja

p o p u l a ç ã o e r g u e r a - s e d e i m p r o v i s o c o m o u m s ó h o m e m

e m s u s t e n t a ç ã o d a s u a i n d e p e n d ê n c i a .

« E m u m p e q u e n o r e c i n t o m o n t u o s o d ' e s ta p o v o a -

çfto n o v a e i s o l a d a , c o b e r t o d e a r ê a d e s a r b o r i s a d o e

b a n h a d o a p e n a s e m u m a d e s u a s o rla g p o r p e q u e -

6

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X X X

n o s r e g a t o s , o r i g e n s d o I b i c u h y , q u e n o v e r ã o o u

s e c e a m o u s e t o r n a m i n s a l u b r e s ; e s t a b e l e c e u o b r i g a

d e i r o R o s a d o o s e u q u a r t e l g e n e r a l e m M a r ç o d e

  1826,

o c c u p a n d o o s p o u c o s c a s e b r e s q u e a l l i d e p a r o u , e e m

d e r r e d o r d e s i fez a m o n t o a r a s t r o p a s , q u e e m d i

v e r s o s p e r í o d o s , e d e d i í f e r e n t e s p r o v i n c i a s c o n v e r g i r a m

p a r a a q u e l le p o n t o p a r a o r g a n i s a ç ã o d o e x e r c i t o .

« D * esta c o n c e n t ra ç ã o d e fo rç a s p a r a a c a p e l l a d o

L i v r a m e n t o , f o ra u n i c a m e n t e d i s p e n s a d a a b r i g a d a d e

c a v a l l a r i a d o c o m m a n d o d o c o r o n e l B e n t o G o n ç a l v e s

d a S i lv a , q u e o c c u p a v a u m a p a r t e d a f r o n t e i r a d o

R i o G r a n d e ; e i s to p o r q u e e s t e c o m m a n d a n t e o p p o z -

se a e f fe c tu a r d a su a p a r t e a q u e l l e m o v i m e n t o c e n -

t r a l i s a d o r ; e a i n d a b e m q u e a e n e r g i a p o r e l l e e m p r e g a d a

n a re cu sa d 'esse p asso (salva a offensa á su b o rd in a ç ã o

m i l i t a r q u e a h i s e p o s s a e n x e r g a r ) , p ô d e d e m o v e r o

g e n e r a l d e i n s i s t i r e m u m p r o p ó s i t o , c u ja n o v i d a d e

e l le n ã o sa b i a a v a l i a r , e q u e e ra a ssá s p r e j u d i c i a l

á q u e l la f ro n t e i r a , p o n d o a d e s c o b e r t o o s e u r e s p e c t i v o

t e r r i t ó r i o , a o n d e s e a c h a v a m a g g l o m e r a d a s a s m a i o r e s

e s t â n c i a s e ' c h a r q u e a d a s d a p r o v i n c i a , e p a r a o q u a l

t i n h a c o r r i d o a p o p u l a ç ã o d o E s t a d o O r i e n t a l , q u e

se n ã o q u i z e n v o l v e r n a su b l e v a ç ã o d ' ã q u e l l e p a i z .

«

  O

 R i n c ã o d e C a t a l an , o n d e h a v i a e s t a c i o n a d o o u t r a

b r i g a d a d e c a v a l l a r i a , c o m m a n d a d a p e l o c o r o n e l B e n t o

M a n o e l R i b e i ro , o fferec ia t re s e sse n c i a e s v a n t a g e n s ,

q u e l h e d a v a m p r e f e r e n c i a a o u t r o q u a l q u e r l o c a l n a

f r o n t e i r a g e r a l , p a r a d e v e r s e r o c c u p a d o p e l o e x e r

c i t o d u r a n t e a s u a ç e o r g a n i s a ç ã o : e r a a p r i m e i r a o

s e r e s s e r i n c ã o c o n s i d e r a d o c o m o p a r t e c e n t r a l d a

f o r n t e i r a d e E n t r e - R i o s , d ' o n d e c o m p r o m p t i d a o s e

p o d i a m e x p e d i r f o r ça s , n ão só p a r a q u a l q u e r d o s

po n to s d 'es ta f ron te i ra , que n 'e l la conf inam, com a l

g u m a s d a s p r o v i n c i a s d a C o n fe d er aç ã o A r g e n t i n a , e

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@#ni o s K n l i t e s a e p t e n t r i o n a e s d a B a n d a O r i e n t a l p e l a

l i n h a d o A r a p e h y , c o m o p a r a a s f r o n t e i r a s d e M i s s õ e s ,

e d o R i o G r a n d e , q u e l h e ficam c o n t í g u a s ; s e g u n d a ,

a d e p o d e r e m a s t r o p a s a l l i p o s t a d a s c o b r i r o t e r r i

t ó r i o c o r r e s p o n d e n t e a essa f r o n t e ir a c o m p r e h e n d i d o

e n t r e o s r i o s Q u a r a h i m e A r a p e h y , d e q u e o B r a s i l

e s t a v a d e p o s s e , e q u e c o m e ç a v a a p o v o a r -s e c o in

g r a n d e a n i m a ç ã o ; t e r c e i r a , e m fi m , a d e a s s e g u r a r e

d e f e n d e r a s v a s t a s e e x c e l l e n t e s p a s t a g e n s d e c h ã o

p e d r e g o s o d a s c a b e c e i r a s o r i e n t a e s d o Q u a r a h i m ; o n d e

f o l g a d a m e n t e p o d i a p a s s a r o i n v e r n o a c a v a l h a d a d o

e x e r c i t o , e s e m r i s c o d e s e r a p p r e h e n d i d a p e l o i n i m i g o .

P o i s b e m ; p a r a

ê

q u e t u d o f o ss e a o c o n t r a r i o d o b e m

c o n c e r t a d o p l a n o d e d e f e sa , q u e t r a ç a r a e p r i n c i

p i a r a a p ô r e m p r a t i c a n a s f r o n t e i r a s o p r e d e c e s s o r

d o g e n e r a l R o s a d o , e s t e , o u p o r e s p i r i t o r e a c c i o n a r i o ,

o u p o r c e g a o b e d i ê n c i a ás s u g g e s t õ e s q u e d o m i n i s

t é r i o d a g u e r r a l h e e r a m d i r i g i d a s e m c o r r e s p o n d ê n

c i a c o n f i d e n c i a l , o n d e ( c o u s a e s t r a n h a v e l ) a t é s e l h e

p r e s c r e v i a m d e t a l h e s e s t r a t é g i c o s ; e ss a b r i g a d a foi

i g u a l m e n t e a r r a s t a d a p a r a a C a pe lla d o L i v r a m e n t o ;

e a m u i t a s r o g a t i v a s d o s e u c o m m a n d a n t e , f a c u l t o u -

s e - l h e a i s e n ç ã o d e e n t r a r p a r a o n u m e r o d o s c o r

p o s ,

  j á i n c o n s i d e r a d a m e n t e a c c u m u l a d o s n o p e q u e n o

r e c i n t o d ' a q u e l l a p o v o . a ç ão , i n d o a c a m p a r - s e a m e i a

l é g u a d ' a l l i .

« C u m p r e a q u i n o t a r - s e q u e , e m s e g u i d a á d e s l o c a -

ç ã o d ' a q u e l l a b r i g a d a d o s e u p r i m i t i v o a c a m p a m e n t o ,

f o i a f r o n t e i r a d e E n t r e - R i o s i n v a d i d a p o r d u a s v e z e s

p o r c o l u m n a s d e c a v a l l a r i a i n i m i g a , a p r i m e i r a d a s

q u a e s e n t r a n d o p e l a c o x i l h a d o L u n a r e j o , c h e g o u

p e l a s p o r t a s d o Q u a r a h i m a a m e a ç a r b e m d e p e r t o a

C a p e l l a d o L i v r a m e n t o ; e a s e g u n d a , p a s s a n d o o U r u -

g u a y , a b a i x o d o

  fó z

  d o I b i c u h y , l e v o u em c o n t i n e n t e

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XXXII

a s a q u e e d e v a s t a ç ã o o t e r r i t ó r i o q u e l h e fica a d j a

c e n t e , e m s o c c p r r o d o q u a l t e v e d e i r e s s a m e s m a

b r i g a d a , q u e c o m q u a n t o o p r a t i c a s s e c o m m a r c h a s

f o r ç a d a s , n a d a m a i s p ô d e f a z e r q u e p r e s e n c i a r a r e

t i r a d a da p e q u e n a f o r ça q u e o i n i m i g o c o l l o c a r a d e

o b s e rv a ç ã o n a m a r g e m e s q u e r d a d o U r u g u a y , e m

q u an to e l l e e f f e c tu ava a p a ssa ge m d 'e ss e r i o , c o m o

e s p o l i o q u e a s e u s a l v o c o l h e r a d o t e r r i t ó r i o b r a s i

l e i r o .

« 0 i n q u a l if i cá v e l a m o n t o a m e n t o n a C a p e l l a d o L a

m e n t o d a s t r o p a s q u e d e v i a m e n t r a r n a r e c o m p o s i ç ã o

d o e x e r c i t o , a p r e s e n t o u e m r e s u l t a d o , d e n t r o d e p o u c o

tem po, a q u e l l e s m a l e s e i n c o n v e n i e n t e s , q u e f o r a m b e m

p r e v i s t o s , e v a t i c i n a d o s p e l o s fi l h o s d o s u l ; p r á t i c o s

d a gu e r r a q u e é p e c u l ia r aq u e l la r e g ião ; ao s q u ae s o

g e n e r a l t i n h a e m c o n t a d e v i s i o n á r i o s e g u e r r i l h e i r o s ,

só c ap a z e s p ar a as c or r e r ias d o c a m p o , i s t o é , p ar a

o a p a n h a m e n t o d o g a d o b r a v i o .

« O s c or p os d e ou t r as p r ov in c ias , q u e p ar a a l l i m ar

c h ar am , e aos q u ae s , p e lo a f an d e se r e m p o s t o s e m

c am p an h a , a fim d e se d ar m aior vu l t o ao e xe r c i t o , s e

n ã o d e u t e m p o a l g u m p a ra a f a z e r e m - s e n a s p o v o a ç õ e s

d o su l ao n o vo c l im a , e m q u e iam v iv e r , e q u e b e m

d i v e r s o e ra d o d e su a t e r r a n a t a l ; p e r d e r a m u m

q u i n t o d o s e u p e s s o a l p o r m o r t e e d e s e r ç ã o ; r e c o

n h e c i d a e s s a e x t r a o r d i n á r i a r e d u ç ã o n a r e v i s t a g e r a l

q u e s e p a s s o u a o e x e r c i t o , q u a n d o t o m o u p o s s e d o

c o m m a n d o d 'e lle o n o v o c o m m a n d a n t e . E s t a d e m i n u i -

ç ã o d o e x e r c i t o , t a n t o m a i s d e p l o r á v e l q u a n t o e x e r c e u

e l la sob r e su as f u t u r as op e r aç õe s u m a in f lu e n c ia q u e

o l e v ou a n ão p o d e r t r iu m p h ar n a b at a lh a d e 20 d e

F e v e r e i r o , d e v e u - s e e m m á x i m a p a r t e á l o c a l i d a d e e m

que se o fez es ta c io na r , satu rad a, co m o ficou e m

p o u c o t e m p o , d e e l e m e n t o s i n s a l u b r e s , e e m c u j o

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XXXI I I

a c a n h a d o c i r c u i t o h a b i t a ra m - m i l h a r e s d e h o m e n s ex

p a t r i a d o s , r e s p i r a n d o u m a r c o n s t a n t e m e n t e m e p h i -

t i c o ,

  e s u je i to s á r ig o r o s s im a d i s c ip l in a m i l i t a r ; d o

q u e r e s u l t o u s e r e m a c o m m e t t i d o s d e g r a v e s e n d e m í a s ,

q u e a o s p o u c o s q u e r e s i s t i r a m s o b r e v e i o o r a c h i t i s m o ,

q u e o s t o r n o u v a l e t u d i n a r i o s p o r l o n g o t e m p o . N ã o

m e n o s c o o p e r o u p a r a i s so a p r i v a ç ã o d o p r o v i m e n t o

d e to d a a q u a l i d a d e p o r q u e p a s s o u o e x e r c i to , f a l

t a n d o - l h e f r e q ü e n t e m e n t e o s o l d o , v i t u a J h as e f a rd a -

d a m e n to n a e sta ç ã o in v e r n o s a ; e, e m fim , c u m p r e d i-

z e l - o ,

  a i m p o p u l a r i d a d e q u e , a t r a v é s d a d i s c ip l i n a

m i l i t a r , r e s s u m b r a v a d e u m a g u e r r a p r o m o v i d a c o n t r a

a p r o c l a m a d a i n d e p e n d ê n c i a d a B a n d a - O r i e n t a l , a o

m es m o te m p o qu e o Bras il a in da se do ia dos e ffeitos

d a r e l u t â n c i a q u e d e p a r o u n o p r o n u n c i a m e n t o d e s u a

e m a n c i p a ç ã o p o l i t i c a .

« P a r a * o l a m e n tá v e l in c r e m e n to cT e sta s c a la m id a d e s

n ã o p o d ia f a l ta r a a s q u e r o s a . d e s a v e n ç a q u e e x s i t ia

e n t r e o b r i g a d e i r o R o s a d o e o p r e s i d e n t e G o r d i l h o ,

q u e a e s se t e m p o g o v e r n a v a a p r o v i n c i a d e S . P e d r o .

E , p o is , q u e a in d a q u a n d o s u b s i s t i s s e d e lo n g a d a ta

e s s a d e s a b r id a e p e r n ic io s a m a lq u e r e n ç a , n ã o d e v ia m i

o b o m s e n s o , a p r u d ê n c i a , a h o n e s t i d a d e e d e c o r o d e

f u n e c i o n a r i o s d e t a l c a t h e g o r i a , e o p r ó p r i o p u n d o n o r

d e s v ia r d e s o b r e o s e r v iç o e m g e r a l e d a d i s c ip l in a

e p r o v i m e n t o d o e x e r c i t o d o s u l em p a r t i c u l a r , a s

a n i m o s i d a d e s e g r a v e s r e c r i m i n a ç ò e s q u e , c o m i n a u d i t o

e s c a n d a l - o , j o g a v a m á s e s c a n c a r a s e n t r e s i a s d u a s p r i

m e i r a s a u t h o r i d a d e s d ^ q u e l l a p r o v i n c i a ; e q u e n a s

m u i p o n d e r o s a s c i r c u m s t a n c i a s e m q u e s e a c h a v a m o s

n e g ó c io s p ú b l ic o s , a o m e io d ia d o B r a s i l, t ã o inf en -

s a s lh e f o r a m .

« S o b e s te e s p i r i to d e r a n c o r o s a a n im a d v e r s á o , o ge *

n e r a l , m a l a v i s a d o , f o r m u l a v a e r e p r o d u z i a q u a s i d i a -

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r i a m e n t e s u a s e x a g e r a d a s e x i g ê n c i a s a o   p r e s i d e n t e ,

d e n v o l t a c o m i m p u t a ç õ e s a l l u s i v a s *ao a n i q u i l a m e n t o

d e q u e d e d i a a d i a s e i a r e s e n t i n d o o e x e r c i t o , e

a t t r i b u i n d o só a e l le t ã o d e p l o r á v e l s i t u a ç ã o ; n ã o

s em l a n ç a r - l h e e m r o s t o s u a f a l ta d e p r e v i d ê n c i a e

z e l o; e o p r e s i d e n t e , n ã o q u e r e n d o d i s c r i m i n a r o e s t a d o

m e s q u i n h o d o e x e r c i t o n o m o d o p o r q u e s e f a z i a m e s s a s

e x i g ê n ci a s, a s i n v e r t i a e m m e i o s d e o a p o q u e n t a r ,

r e d a r g u i n d o c om a sp e r e z a e v i r u l ê n c i a s e m e l h a n t e s

i n c r e p a ç õ e s . e s e a a l g u m a s a c c e d i a e r a m p r e s t a d a s

c o m b a s t a n t e r e t a r d a m e n t o e p a r c i m ô n i a .

« P o r s e m d u v i d a q u e o g o v e r n o i m p e r i a l s e a c h a v a

b e m a o a l c a n c e d a s c o n t r a r i e d a d e s , q u e l e v a r a m o

e x e r c i t o a t ã o m i s e r a n d o e s t a d o , p o i s q u e , q u e r d e

u m l a d o , q u e r d o o u t r o , d ' e s t e s d e s p e i t o s o s c o n t e n -

d o r e s ,

  p o s t o s n a a r e n a p o r a n t i g a s d e s a v e n ç a s , h a v i a

p o r fi a do e m p e n h o d e i n c u l c a r o s e u a d v e r s á r i o c o m o

a o r i g e m d e t a e s m a l e s , e d e a s s i m a p r e s e n t a l - o a n t e

o m e s m o g o v e r n o ; e e s t as r e c i p r o c a s r e c i i m i n a ç õ e s

p o d i a m d a r a e s t e s e g u r o s d a d o s , q u e p o r c e r t o o

l e v a r i a m á a p r e c i a ç ã o d a v e r d a d e , q u e e r a i m p r e s -

c i n d i v e l m e n t e d e s u a h o n r a e p o s i ç ã o r e c o n h e c e r :

m a s n ã o d e s c r i d o o g o v e r n o , d ' e ss a s l a s t i m o s a s e m e r g ê n

c i a s ,  q u e p e s a v a m s o b r e o o l v i d a d o e x e r c i t o d o s u l ,

a t r a v e s s o u e s t e q u a s i u m a n n o d e p r i v a ç õ e s , d e d ô r

e d e s o f fr im e n t o s , c o m i n i m i t á v e l c o n s t â n c i a e r e s i g

n a ç ã o ; e a t i r a d o á m i s é r i a e á i n a c ç ã o , q u e d e i x a r a m

u m va sio em sua s fi leiras , e qu e a cu sto e só d e p o is

d e e n t r a r o e x e r c i t o e m ' o p e r a ç õ e s , é q u e p ô d e s e r

r e p a r a d o : n ã o o b s t a n t e , s ó a o t e r m i n a r e s s e a n n o é

q u e m u d o u e l le d e c o m m a n d a n t e , e a p r o v i n c i a d e

a d m i n i s t r a d o r .

. « E ' b e m p a r a s u p p ô r , q u e o e s t a d o c a l a m i t o s o a q u e

t i n h a c h e g a d o o e x e r c i t o d o s u l , p e r f u r a n d o o « a »

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x x x v i

porque o inopinado regresso do mona rc ha dava margem

a nensar-se que, como re conhecesse el le p or fim a

insustentabilidade da causa com que se lidava, vista

a attitude que havia tomado a un iã o- ar ge nt in a em

adhesão á independência da Banda Oriental, queria

assim evitar qualquer acontecimento em sua presença,

que fosse menos decoroso da sua alta dignidade.

« Dos homens notáveis , que un icamen te por deffe-

rencia ao propósi to do Imperador de as sist ir á futura

campanha, se haviam pronunc iado pela pres ta ção de

seus serviços no exerci to, só o genera l Barão do

Cerro Largo levou a effeito sua promessa, pois que,

logo em seguida ao regresso do Imperado r, dedicou-se

ao chamamento de gente de gue rra e dos de se rt or es,

que foram então indultados para reunirem-se aos seus

corpos,

  e se achavam refugiados nos di st ri ct os da

Serra; para cujas localidades di rigio-se em pessoa

unindo-se depois ao exercito, como adiante se verá.

« Igual esfriamento presentio-se na col lec ta da av ul -

tadi ssima subscrição monetária que fora pr om ov id a

na imperial presença, e para subvenção da caixa mi

litar. Retirado o monarcha, foi ella quando mu it o

realisavel em pouco mais do algar ismo que se ostentava

espontaneamente promettido, e mesmo assim não foi

sua obtenção sem omitti r-se diligencia. Estes dous

factos,

  bem claro revelam que as mais das vezes pe rde

sua efücacia e praticabi lidade o acto produsido pelo

enthusiasmo do momento, que é diverso do sen timento

de intima consciência, logo que se esvaece o pensa

mento que o inspira.

« O pagamento do soldo ao exercito achava-se em

grande atraso, ou porque a mal provida caixa mili ta r

não dava para poder haver exatidão ne ss e serviço im

prescindível, e sobre o qual basea-se a disciplina nu-

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xxxvu

l i t a r , o u p a r q u e d ' a h i s e s u b t r a h i s s e m , q u a s i d i a r i a

m e n t e , c o p i o s a s s o m m a s a t i t u l o d e d e s p e z a s s e c r e t a s

c o m b o m b e i r o s , ( e sp i õ e s ) q u e , s e o s h a v i a , m e l h o r

s e r v i a m a o i n i m i g o d o q u e a q u e m l h e s p a g a v a c o m

t a m a n h a p r o d i g a l i d a d e . E s e a s t r o p a s v i v i a m i m m e r -

s a s n a p e n ú r i a , p r i n c i p a l m e n t e a s d e fo r a d a p r o v í n c i a ,

s o f l r e n d o n ã o p o u c a s v e z e s o s e f f ei t o s d a f o m e e

n u d e z , o g e n e r a l , s e u s p r e d i l e c t o s e f a v o r i t o s n a d a v a m

n a a b u n d â n c i a ; d a v a m - s e r e c i p r o c a m e n t e b a i l e s s u m p -

t u o s o s , e o s t e n t a v a m c o m e s c â n d a l o u m l u x o a s i á t i c o .

« N ã o m e n o s q u e o u t r o s m a l e s , q u e t ã o d e p r o p ó

s i t o fa z i a m - s e p e s a r s o b r e o e x e r c i t o , o d a d i m i

n u i ç ã o e m á o e s t a d o d e s u a c a v a l h a d a , p r o v e n i e n t e s

d e r u i m p a s t o q u e s e l h e d e p a r o u e m c a m p o s i m p r ó

p r i o s e d e p e q u e n a e x t e n s ã o , c o n c o r r e u p o d e r o s a m e n t e

p a r a o m á o d e s f e c h o d ' a q u e l la c a m p a n h a . S a b e - s e q u e

u m a b o a e n u m e r o s a c a v a l h a d a é a p r i m e i r a n e c e s s i

d a d e d a s t r o p a s d o s u l , e q u e e n t r e f o r ç a s q u e c o n

t e n d e m n ' a q u e l l a r e g i ã o , a v i c t o r i a s e r á s e m p r e d a

q u e p o d e r d i s p o r d e m u i t o s e b o n s c a v a l l o s . P o i s

b e m ; a d o e x e r c i t o , q u a n d o o i n i m i g o p e l o r o m p i -

• m e n t o q u e f e z n a f r o n t e i r a d o R i o G r a n d e , c o m o m a i s

a b a i x o s e v e r á , o b r i g o u - o a p ô r - s e e m m o v i m e n t o ,

e x c e d i a d e 2 0 ,0 0 0 c a v a l l o s ; m a s o s e u e s t a d o e r a t a l ,

q u e n e m a q u i n t a p a r t e d a s u a t o t a l i d a d e p o d i a

p r e s t a r p a r a o s e r v i ç o d a c a m p a n h a , p o s t o q u e n o

e x e r c i t o f o s s e m e n o s f o r t e q u e a s o u t r a s a a r m a d e

c a v a l l a r i a ; e a n a d a m a i s s e p o d i a a t t r i b u i r e s s e m a l

s e n ã o á p e r t i n a z i m p e r i c i a d o g e n e r a l e m e s t a b e l e c e r o

a c a m p a m e n t o d o e x e r c i t o e m lo c a l q u e p a r a t e r c a

v a l h a d a s o l t a a o a l c a n c e d o e x e r c i t o , e a o m e s m o

t e m p o a c o b e r t o d a s a p p r e h e n s ô e s d o i n i m i g o , f oi d e

m i s t e r c o n s e r v a l - a e m d i v e r s o s c a m p o s , n a s e s p a l d a s

d o a c a m p a m e n t o , d e i n f er i o r e m e s q u i n h o p a s t o ; a o

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XXXVIII

q u e a c c r e s c i a a i m p r e v i d e n c i a e d e s l e i x o e m s e u

t r a ta m e n t o e c u s t e i o , d e m o d o q u e u m a g r a n d e p a r t e

d.'ella f oi d i s p e r s a e e x t r a v i a d a p e l o s d e s e r t o r e s . /

O c o m m a n d o d o b r i g a d e i r o R o s a d o p r i n c i p i o u a 3

d e F e v e r e i r o d e 1 82 6, e t e r m i n o u a 11 d e J a n e i r o

d e 1 82 7. P o r e s p a ç o d e u m a n n o e s te V e a q u e l l e p e

q u e n o e x e r c i t o , q u e n ã o c h e g a v a a 4 ;0 0 0 h o m e n s ,

m e t t i d o e m u m l u g a r a p e r t a d o , c o m o a c a b a d e v e r

se ,

  e x p o s t o a t o d a s as p r i v a ç õ e s , á s e p i d e m i a s , e p o r

c o n s e q ü ê n c i a i n u t i í i s a d o , p o r q u e a s s i m o q u i z o m i

n i s t é r io d ' aq u e ll e t e m p o ; e m q u a n t o o s A r g e n t i n o s s e

p r e p a r a v am p a ra n o s v i r a t a c a r n a m e s m a p r o v i n

c ia do R io Gra nde .

O M a r q u ez d e B a r b a c e n a c h e g o u á C a p e l l a d o L i

v r a m e n to , o n d e e s t a v a a c a m p a d o o e x e r c i to , a 1 d e

J a n e ir o d e 1 82 7, e to m o u o c o m m a n d o a 11 d o m e s

m o m e z . N a r e v i s t a q u e l h e p a s s o u a c h o u

v

4 , 0 0 0 h o

m e n s em d i s p o n i b i l i d a d e e c e n t o e t a n t o s i n v á l i d o s .

E m c o n s e q ü ê n c i a d a d e m o r a p o r m a i s d e n o v e m e z e s ,

d e e st ar o e x e r c i to e n c e r r a d o n ' a q u e l l e p e q u e n o r e

c i n t o ,

  t e v e a p e r d a d e q u a s i 2 ,0 0 0 h o m e n s , c a u

s a d a p o r d i ff e re n te s m o l é s t i a s , t u d o m o t i v a d o p e l a

t e i m a e i g n o r ân c i a d o b r i g a d e i r o R o s a d o , e m c o n s e r

v a r o e x e r c i t o a o n d e n ã o s e r v i a d e n a d a , e p e r d e n d o

g e n t e t o d o s o s d i a s . O m i n i s t r o d a g u e r r a i g n o r a v a

o u f in g ia i g n o r a r o e s ta d o m i s e r á v e l e m q u e e s t a v a

o exerc i to no Rio Grande .

O M a r q u e z d e B a r b a c e n a e n te n d e u c o m r a z ã o , q u e

e r a p r e c i s o t i ra l -o l o g o d ' a q u e ll e l u g a r , p a r a m e l h o r a r

o s e u e s ta d o s a n i tá r i o , o r g a n i s a l -o e a u g m e n ta l -o c o m

os re f orç os que esperava , e ass im o fez ; e de p o i s de

s e l h e i n c o r p o r a r o b r i g a d e i r o C a ll ad o c o m d o u s b a

t a l h õ e s , m a r c h o » a i r p r o c u r a r o e x e r c i t o a r g e n t i n o ,

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X X X I X

q u e , a p e z a r d e s e r m a i o r ( c o m p u n h a - s e d e m a i s d e

9 ,0 0 0 h o m e n s ) , p r o o u r a v a r e t ir a r - se ; m a s s a b e n d o q u e

o g e n e r a l b r a s i l e i r o o s e g u i a , q u i z a n t e s e s p e r a l - o d o

q u e s e r p e r s e g u i d o p e l a r e t a g u a r d a . O M a r q u e z d e

B a r b a c e n a f o i m a l a c o n s e l h a d o e m p r o c u r a r o i n i m i

g o ,  d e v i a l i m i t a r - s e a f a z er a g u e r r a d e f e n s i v a .

O g e n e r a l a r g e n t i n o A l v e a r t e v e a h a b i l i d a d e d e

e n g a n a r o M a r q u ez d e B a r b a c e n a c o m o s s e u s m o v i

m e n t o s ; fi n g io r e t ir a r - s e, p a s s a n d o a s u a b a g a g e m p a r a

o ou t ro l ad o do r i o San t a M *r i a , e ve i o e sp era r o

e x e r c i t o i m p e r i a l n o l u g a r q u e a n t e s t i n h a e s c o l h i

d o :  n o fim d e 11 h o r a s d e c o m b a t e o n o s s o e x e r c i t o

f o i o b r i g a d o a r e t ir a r - s e , p o r n ã o t e r m u n i ç õ e s p a r a

c o n t i n u a r o f o g o .

V e j a - s e o q u e d i z a e s t e r e s p e i t o o c o r o n e l J o s é

J o a q u i m M a c h a d o d e O l i v e ir a a p a g i n a s 5 4 4 d o v o l u m e

c i t a d o :

« A o d e s e n v o l v e r - s e o e x e r c i t o p a r a o s e u m o v i

m e n t o d e a c ç ã o , a i n d a n ã o s e l h e h a v i a m r e u n i d o o s

t r a n s p o r t e s , q u e c o n t i n h a m o s e u t r e m d e g u e r r a e

b a g a g e m , p a r a q u e e s t i v e s s e m s o b s e u a p o i o , j á q u e

n e n h u m a f o rç a s e l h e s d e s t i n o u q u e c o m e l l e s m a r

c h a s s e , e p u d e s s e e f fi c a zm e n t e g a r a n t i l - o s d e q u a l q u e r

g o l p e d e m ã o d o i n i m i g o ; e d o a ç o d a m e n t o q u e

h o u v e e m a ff ro n ta r a s s u a s p r i m e i r a s m a n o b r a s , a p e n a s

a m b o s o s e x é r c i t o s s e a v i s t a r a m , s e m q u e s e a t t e n -

t a s s e q u e a o i n i m i g o s o b r o u t e m p o p a r a b e m e s t u d a r

e p r e c i s a r o t e r r e n o , e a d a p t a r a e l l e s e u s m o v i

m e n t o s s e g u n d o a s d i v e r s a s h y p o t h e s e s q u e s e l h e figu

r a ra m , e o e x e r c i t o im p r o v i s a r a n ' e s s e m o m e n t o o s e u

p l a n o d e a t a q u e ; d ' es se i m p r u d e n t e a f a n , q u e s ó s e

p ô d e j u s ti fi c a r c o m o i m p e t o d e a u d á c i a , q u e d o m i

n o u n o e x e r c i t o a o p r e s e n c i a r a a t t i t u d e p r o v o c f t d o r a

q u e t o m o u o i n i m i g o , d e r i v o u - s e q u é , r e c o n h e c e n d o

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X L

e s t e a i n e f i c á c i a d e a t a c a r a o e x e r c i t o d e f r e n t e , e

q u e o s t r a n s p o r t e s v i n h a m d e s a p e r c e b i d o s , e a in d a a

g r a n d e d i s t a n c i a d o e x e r c i t o ; d e p p e d i o s o b r e

  e l le*

u m a f o r t e c o l u m n a d e c a v a l l a r i a q u e o s t o m o u , d e

s a r m a n d o p o r e s te m o d o o e x e r c i t o ao t e m p o

  que o

i n i m i g o j á c o m e ç a v a a s e r d e r r o t a d o p e l o s e u flanco

e s q u e r d o . »

A l é m d o n o s s o e x e r c i t o n ã o p o d e r c o n t i n u a r o fo go

p e l a f al ta d e m u n i ç ã o , e o b r i g a d o p o r i s s o a r e t i

r a r - s e , f o i a i n d a h o s t i l i s a d o p e l a r e t a g u a r d a .

« O v a g a r c o m q u e m a r c h a v a o e x e r c i t o p o r c a u s a

d a s u a a r t i l h a r i a (d iz o m e s m o e s c r i p t o r ) , e p o r n ã o

d e v e r a b a n d o n a r a n e n h u m d o s s e u s f e r i d o s , fe z c o m

q u e s e l h e a v i s i n h a s s e m a i s a i n f a n t a r i a i n i m i g a , q u e

e m o r d e m e s t e n d i d a l h e p i c a v a a r e t a g u a r d a , e q u e

er a p r o t e g i d a , p o r ca v a l l a r i a n o s s eu s flancos; e p a r a

b a l d a r - l h e a o u s a d i a c o b r i o - s e e ss e l a d o c o m u m a l i n h a

d e a t i r a d o r e s , q u e f e z r e t r o c e d e r a d o i n i m i g o e d e -

s a p p a r e c e l - a c o m p l e t a m e n t e . »

D o e x p o s t o c o n c l u e - s e q u e , a m a i o r v a n t a g e m q u e

t e v e o e x e r c i t o a r g e n t i n o n a b a t a l h a d e I t u s a i n g o , f oi

a s u a c a v a l l a r i a t e r a f a c i l i d a d e d e t o m a r a b a g a g e m

d o e x e r c i t o b r a s i l e i r o , q u e o s e u c o m m a n d a n t e n ã o

m a n d o u d e f e n d e r .

« F o i n / e ss e s t r a n s p o r t e s ( c o n t i n u a o m e s m o a u t o r )

q u e o i n i m i g o e n c o n t r o u a s b a n d e i r a s d o s b a t a l h õ e s

d e c a ç a d o r e s d o e x e r c i t o , a h i g u a r d a d a s c o m a s u a

b a g a g e m e o i n s t r u m e n t a l d e s u a s b a n d a s d e m u s i c a ,

e q u e p o r c u m u l o d o r i d í c u l o o s t e n t a m - s e h o j e a b a

t i d a s n a c a t h e d r a l d e B u e n os -A y r es , c o m o t r o p h é o s

a d q u i r i d o s e m c o m b a t e , e c o m e l la s f e s te j a -s e o a n n i -

v e r s a r i o d a b a t a l h a d e I t u s a i n g o , co m o s e e l l a f o ss e

e m r i g o r g a n h a p e l o i n i m i g o . »

O q u e t e m o s m e n c i o n a d o s o b r e a c a m p a n h a d e

  1826

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XLI

e 18W, escr ipto pe lo coronel Ol ive ira , basta para

mo s tr ar , o q u a n t o a q u e l la g u e r r a f o i ma l d i r ig id a p e lo s

m in is té r io s do Sr* D . Ped ro I , e os pre ju ízo s qu e

ca us ou , para no fim de t res ann os largar -se a pr ov in

c ia C isp la t ina . Os m inis té r ios do Sr . D . Ped ro I , não

sou be ram im itar ao gov ern o do Sr . D . João VI , e os

g a b i n e t e s d e 1 8 6 4 a i n d a t i v e r a m p e i o r p r o c e d i m e n t o

d o q u e o s d o S r . D . P e d r o I . D e v e - s e r e c o n h e c e r q u e

o m inis té r io q ue fez a guer ra a Oribe e a R osas d i -

r ig io c o m mu i t o t in o a q u e l la c a mp a n h a .

E m 1 8 5 1, o m in i s t é r io d ' e s s e t e m p o r e s o lv e u l i v r a r

a p r o v i n c ia d o R io G r a n d e , e m q u a n t o e r a t e m p o ,

d a in v a s ã o q u e p r o j e c t a v a R o s a s c o n t r a o I m p é r io ,

l o g o q u e O r ib e s u b m e t t e s s e a o s e u d o m i n i o a p r a ç a ,

d e M o n t e v i d é o , q u e t i n h a s i t i a d a . O g o v e r n o l e g a l d o

Estado Orienta l , que a l l i se achava encerrado , pôde

r e s i s t i r a o c e r c o d e O r ib e p o r e s p a ç o d e n o v e a n n o s ,

a juda do pe lo d in he iro do Bras i l e da França , a té qu e

t e v e lu g a r a e n t r a d a d o e x e r c i t o imp e r ia l n 'a q u e l l e

E s t a d o , b e m c o m o o d e E n t r e - R io s . P a r a e s t e fim

o r g a n i s o u - s e n o R io G r a n d e , e m q u a t r o m e z e s , u m

e x e r c i t o d e 1 6,0 00 h o m e n s , c o m m a n d a d o p e l o e n t ã o

Con de d e C ax ias , o qua l entro u no E stado O rienta l

a 4 de Se tem br o de 1851 .

V e j a - s e o q u e d iz d ' e s ta c a m p a n h a o c a p i t ã o L a -

d i s l á o d o s S a n t o s T i tá r a n a s — M e m ó r i a s d o g r a n d e

e x e r c i t o a l l i a d o l ib e r t a d o r d o S u l d a A m e r ic a , n a

g u e r r a d e 18 51 a 1 8 5 2 — e m r e l a ç ã o a o e x e r c i t o i m p e

ria l e a o d e E n t r e - R io s c o m m a n d a d o p o r U r q u iz a .

« E n t r e t a n t o q u e o e x e r c i t o im p e r ia l p o r t a n t o s

i m p e d i m e n t o s a s s á s d i f fi c ei s d e su p e r a r , m a r c h a v a

d i l i g e n t e a v e n c e r t ã o l o n g a d i s t a n c i a , c o n s e g u i o o

g e n e r a l U r q u iz a , p o r v i r d e m a i s p e r t o , a v i s f h h a r - s e

d o c e n t r o d a s f o r ç a s in im ig a s , o c c u p a d a j á t o d a a

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X U

c o s t a o r i e n t a l d o U r u g u a y a t é a o R i o N e g r o , sem

r e s i s t ê n c i a , r e c e b e n d o p e l o c o n t r a r i o d i a r i a m e n t e m u â *

t o s t r a n s f u g a s d e O r i b e ; e q u a n d o * a c a b a v a d e m o n t a r

o R i o N e g r o , s e l h e e n c o r p o r o u o c o m m a n d a n t e V il la -

r u e t a c o m a s f o r ç a s d o d e p a r t a m e n t o d e D u r a s n o , e

ou tro s m ui to s chefes e off ic iaes só s , ou com ge nte

q u e l h e o b e d e c i a . In f e r i o - s e d e t u d o q u e a s i t u a ç ã o

d e O r i b e e r a d e s e s p e r a d a , e q u e e l l e p a r e c i a f u n d a r

s u a s a l v a ç ã o e a d o s s e u s n a f u g i d a p a r a B u e n o s -

A y r e s , c o m a i n t e n ç ã o d e a l l i c o m e ç a r d e n o v o a

g u e r r a , o u c o a d j u v a r a s e u s c o m p a n h e i r o s : m a s n ' u m

t a l p r o j e c t o fo i b u r l a d o p o r n ã o t e r c o n t a d o c o m a

v i g i l a n t e a c t i v i d a d e d a s f o r ç a s n a v a e s d o I m p é r i o

s o b r e a s m a r g e n s d o R i o d a P r a t a .

« E m c o n s e q ü ê n c i a d o g r a n d e a v a n ç o q u e t i n h a m

a s t r o p a s d o g e n e r a l Ur q u i z a , p e l o s m o t i v o s j á r e f e

r i d o s ,

  a c h a v a - s e o e x e r c i t o b r a s i l e i r o n a s T r e s C r u z e s ,

q u a n d o a q u el le g e n e r a l t r a n s p u n h a o R i o G y, e S e r -

v a n d o Go m e s e s t a v a e m Sa n t a Lu z i a . Ao c o r o n e l D.

V e n t u r a C o ro n e l f e it o p r i s i o n e i r o , e q u e m u i b e m r e c e b i

do fora po r U rqu iza , deu -se a op ção de , o u ficar co m

e s t e ,o u v o l t a r p a r a O r i b e : o p r i s i o n e i r o p r e f e r i o fica r,

a o v o l t a r p a r a s e u a n t i g o t y r a n n o .

« N 'e s t e e s t a d o d o s n e g ó c i o s , e s e n d o i m p o s s í v e l a

f u g a d o a l e iv o s o g e n e r a l O r i b e , p e l a s a c e r t a d a s m e

d i d a s q u e t o m a r a a n o s s a e s q u a d r a , b l o q u e a n d o d e

co nt inu o as co s ta s , r ios e po r to s ; finalmente as se d ia

d o e ll e p o r t o d o s o s l a d o s , a p r e s s o u - s e , n o P a s s o

d e i M o l in o , a p e d i r c a p i t u l a ç ã o a o g e n e r a l . e m c h e f e

d a v a n g u a r d a d o s e x é r c i t o s a l u a d o s o g e n e r a l U r q u i

za , an tes qu e o ex erc i to bra s i le i ro ef fectuasse a ju n

ç ã o c o m a d i t a v a n g u a r d a . D e le g o u , p o r t a n t o , L u i i

M o r e n o p a r a p r o p o r , p o r e n tr e o u t r a s c o n d i ç ^ * , o

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X L I H

rendimento do res to das forças or ientaes , mediante a

perm i s s ã o de seg u i rem pa ra Bu euo s -A y res a s t ro pa s

argent inas . I s to fo i - lhe negado a 30 de Setembro por

Urquiaa.

« N o já refer ido dia 30 de Setem bro , hav ia m ar

chado o d i to Oribe para S . José , de ixando o genera l

Laz ala e nc arr ega do do* m an do da s forças do C erri to ,

d i r i g i nd o pr im e i ra m ente á s s ua s t ro pa s um a pr o c l a -

m açã o , aonde acusava o gene ra l Urquiza de de sertor

da sagrada causa das republ icas do Prata . Ao mes

m o tem po e s te gene ra l se adiantav a , e av i s inha nd o-se

do i n i m i g o cheg o u sua v a ng ua rda a

  2

  de Outubro de

1851 ao Colorado, e ahi teve de disputar o passo, do que

resu ltou recua r o ge ne ral Oribe, e de ixar fran co o

ca m i nho á ca v a l l a r i a do m es m o U rqui za , que pro s s e -

g u i n do co m pe l l i a o i n i m i g o a s em pre perder t erreno .

« Con t inuando a m archa tr ium ph ante de Urquiza ,

pô de e l l e e s ta be l ecer co m m uni ca çõ es cpm a fo r ta l eza

do Cerro , no se gu inte d ia

  4

  de Outubro e prevenir

do o cco rr i do o co m m a nda nte em che fe da e s qua dra

bra s i le i ra , o qua l i m m edi a ta m ente s eg u i o no v a po r

Affonso

  para o Bu cêo , o nd e já estav a a fragata

  Cons

tituição,  l ev a ndo m a i s a co rv e ta  Berenice;  e era tal a

v ig i lân cia , qu e não de ixav a rece iar que se esca pas se

um s ô do s s o l da do s a rg ent i no s . M a rcho u ta m bém pa ra

o Bucêo , a 5 do mesmo Outubro , o genera l Medina

co m 1 , 7 0 0 ho m ens , a f i m de m e l ho r to l her - s e a fug a

de Oribe por aquel l e porto .

« P ro g red i n do a s o pera çõ es do g ra nde ex e rc i to a l -

l i a d o ,

  co m to da a d i l i g enc i a e bo m êx i to , f i co u c i r -

cum s cr i p to o g enera l Or i be num a ra i a de m e i a l ég ua ,

perdida tod a a esp eran ça de sa lvação por m eio d e

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f u g a , o u d e a l g u m a o u t r a r e s o l u ç ã o q u e n ã o f o ss e

c a p i t u l a r : i n s i s t io p o r i s s o e p r i m e i r o q u e o

 exercite

i m p e r i a l m a i s s e l h e a p p r o x i m a s s e , n o p e d i d o q u e

h a v i a e n d e r e ç a d o a o g e n e r a l U r q u i z a . E m 1 0 d e Qfi-

t u b r o ,  f a z e n d o - l h e a p e n a s a l g u m a s c o n c e s s õ e s f av or á

v e i s ,

  r e d i g i o o d i t o U r q u i z a p e l o t e o r q u e s e l ê e m

a n o t a 5 1 , o s a r t i g o s d a c a p i t u l a ç ã o p e l o m o d o q u e

l h e a p p r o u v e c o n c e d e r , a « q u a l f o i a c e i t a p e lo

v e n c i d o O r i be , n o i m m e d i a t o d i a 1 1 , o q u e t a m b é m

m o s t r a - s e p e l o o u t r o d o c u m e n t o 5 2 , f i c a n d o a e s c o l h a d e

r e t i r a r e m - s e , o u p e r m a n e c e r e m n o p a i z , s o m e n t e a o s

c h e f e s e o f f i c i a e s a r g e n t i n o s . O p t a r a m a l g u n s p e l a p r i

m e i r a , e o s m a i s u n i r a m - s e a o g e n e r a l U r q u i z a c o m

3 ,8 0 0 p r a ç a s d e p r e t .

« R e n d e u - s e , p o i s , O r ib e , c o m t o d o o p e s s o a l e m a

t e r i a l d o s e u e x e r c i t o : o p a r q u e t o m a d o f o i a v a l i a d o

e m u m m i l h ã o d e p e z o s f o r t e s , c o m p r e h e n d i d a s as

m u n i ç õ e s e a r m a m e n t o , q u e j u n t o a e l le d e p o s i t a v a

o i n i q u o d i c t a d o r , p a r a a e n c a r n i ç a d a g u e r r a q u e t i n h a

de fazer ao Bras i l .

« N o s e g u i n t e d i a , 1 2 d e O u t u b r o , c o n s u m m a d a j á a

c a p i t u l a ç ã o , c o m o t e m o s r e f e r i d o , c o m m u n i c o u o g e

n e r a l U r q u i z a , p e l o o f fi c io d a n o t a 5 3 , a c a d a u m d o s

a l u a d o s d e t a l h a d a m e n t e a s c o n c e s s õ e s f e i t a s , e o s m o

tivos q u e d e c i d i r a m - n o a a c e i t a r a c a p i t u l a ç ã o , s e m

c o n s u l t a r p r i m e i r o a s r e s o l u ç õ e s d o s g o v e r n o s a l u a d o s ,

c o m o e r a i n d i s p e n s á v e l . O P r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a

O r i e n ta l , D . J o a q u i m S o a r e z , r e s p o n d e u p e l a f ô r m a q u e

a c h a - s e e m a n o t a 5 4 ; e o g e n e r a l e m c h e f e d o

e x e r c i t o i m p e r i a l , C o n d e d e C a x i a s , q u e a i n d a s e a c h a v a

n a m a r g e m e s q u e r d a d o R i o G y , s o b r e o P a s s o d e P o -

l a n c o , e a t e r c e i r a d i v i s ã o n o P a s s o d ' É l - R e i , s o b r e

o m e s m o G y a 5 l é g u a s á e s q u e r d a , d e i x a n d o i n t e

r i n a m e n t e e n c a r r e g a d o d o c o m m a n d o d o e x e r c i t o o

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XLV

m a r e c h a l B e n t o M a n o e l R i b e i r o , c o m o r d e m d e a p r e s

s ar -s e para Santa L uz ia Grande , e ah i aguardar as s uas

o r d e n s ; p a r t i o l o g o p a r a o q u a r t e l g e n e r a l d e U r q u i z a ,

e n t ã o n o P a n t a n o s o , a o n d e c h e g o u á s 4 h o r a s d a t a r d e

d o d i a 1 4 , s o m e n t e a c o m p a n h a d o d o 2 . ° r e g i m e n t o d e c a

v a l l a r i a d e l i n h a . A l li c o n f e r e n c i a r a m , e , d e p o i s d e

e x p l i c a ç õ e s q u e e n t e n d e u i n d i s p e n s á v e i s n a s c i r c u m s -

t a n c i a s o c c o r r i d a s , d i r i g i o - s e o d i t o g e n e r a l á 1 7 p a r a

M o n t e v i d é o , a o n d e v i o - s e tã o a p p l a u d i d o e r e s p e i

t a d o ,

  q u e r d o s s e u s , q u e r d o s e s t r a n h o s , e c o m e s

p e c i a l i d a d e d o s h e r ó i c o s O r i e n t a e s d e f e n s o r e s d a p r a ç a ,

q u e f o i u m a o v a ç ã o c o m p l e t a a m a n e i r a p o r q u e o v i c -

t o r ia r a m . E m M o n t e v i d é o c o m m u n i c o u - s e p e s s o a l m e n t e

c o m o i l l u s t r e c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s b r a s i l e i r a s , a

c u j o b o r d o r e c e b e u t o d a s a s h o n r a s d e v i d a s á s u a

a l t a g e r a r c h i a .

« O c o n v ê n i o d e 2 9 d e M a i o d e 1 8 5 1 , c e l e b r a d o e n t r e

o B r a s i l , a R e p u b l i c a O r i e n t al d o U r u g a u y a e o E s

t a d o d e E n t r e - R i o s , p a r a u m a a l l i a n ç a o f f e n s i v a e d e

f e n s i v a , a f i m d e m a n t e r a i n d e p e n d ê n c i a , e d e p a c i

ficar 0 ter r i tó r io d 'aqu e l la R ep u b l ic a , d iz no ar t . 3 .°

o s e g u i n t e :

« A r t . 3 . ° O s E s t a d o s a l u a d o s p o d e r ã o a n t e s d e r o m -

« p i m e n t o d e s u a a c ç a o r e s p e c t i v a , f a z e r a o g e n e r a l

« O r ib e a s i n t i m a ç ô e s q u e j u l g a r e m c o n v e n i e n t e s , s e m

« o u t r a r e s t r i c ç ã o m a i s d o q u e d a r - se c o n h e c i m e n t o

41 r e c i p r o c o d ' e s s a s i n t i m a ç ô e s a n t e s d e v e r i í i c a l - a s , a fi m

« d e q u e c o n c o r d e m n o s e n t i d o , e h a ja e m t a e s i n t i -

« m a ç ó e s u n i d a d e e c o h e r e n c i a . »

« V i o - s e a c i m a c o m o e s t e t e r c e i r o a r t i g o f o i c u m p r i d o

p e l o g e n e r a l U r q u i z a : e s t e g e n e r a l f e z s ó a c a p i t u l a

ç ã o c o m O r i b e , e d e u p a r t e d o q u e f e z d e p o i s d e

u l t i m a d o s o s s e u s a j u s t e s ; d ' e s te m o d o f a l to u a o

c o m p r i m e n t o c o m o s s e u s a l i ja d o s .

8

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XÉVI

NOTA 51.

A r t ig o s d a c a p i t u l a ç ã o c o n c e d i d a a O r i b e :

« 1.» R ec on he ce -se que a re s i s tên c ia fe i ta pe lo s mi

l i ta r e s e c i d a d ã o s á i n t e r v e n ç ã o A n g l o - F r a n c e z a , fo i

n a c r e n ç a d e q u e c o m e l l a d e f e n d i a m a i n d e p e n d ê n

c i a d a R e p u b l i c a .

« 2 .° R e c o n h e c e - s e e n t r e t o d o s o s c i d a d ã o s d a s d if-

f e r e n t e s o p i n i õ e s e m q u e t e m e s t a d o d i v i d i d a a R e

p u b l i c a , i g u a e s d i r e i t o s , i g u a e s s e r v i ç o s , m é r i t o e

o p ç ã o a o s e m p r e g o s p ú b l i c o s e m c o n f o r m i d a d e d a

c o n s t i t u i ç ã o .

« 3 . ° A R e p u b l i c a r e c o n h e c e r á c o m o d i v i d a n a c i o n a l ,

aque l la que haja contrahido o genera l Or ibe , em re

laçã o ao que para taes cas os e s ta t ue o d i r e i to pu bl i c o .

« 4 .° P r o c e d e r - s e - h a o p p o r t u n a m e n t e e em c o n f o r m i

dad e da con st i tu i ção , á e l e i ção de sen ad ores e repre -

t a n t e s e m t o d o s o s d e p a r t a m e n t o s , o s q u a e s n o m e a

rão o pres iden te da R epu bl i ca .

« 5 .° D eclara-se q ue entre to d as as differentes o p i

n iõe s em que tem es tado d iv id id os os or i e nta es , n ão

h a v e r á v e n c i d o s n e m v e n c e d o r e s , p o i s t o d o s d e v e m

un ir-se de ba ixo do e stand arte nac ional para o b em

da pátr ia , e para de fender suas l e i s e independênc ia .

« 6 .° O genera l Oribe, ass im com o to d os os m ais

c i d a d ã o s d a R e p u b l i c a f i c a m s u b m e t t i d o s á s a u t o r i

d a d e s c o n s t i t u i d a s d o E s t a d o .

« 7 .° Em conform idade com o que disp õe o art igo

ant er ior , o gen eral D . M anoel Oribe po de rá dispo r

l ivrem en te de sua pesso a . — yua rte l genera l , 10 de

Outubro de 1851.— Justo José de Urquiza.»

ROTA. 52 .

Carta de Oribe dirigida a Urquiza:

« Passo dei Molino, 11 de Outubro de 1851.

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XLVII

« M e u e s t i m a d o a m i g o e g e n e ra l .— N ã o t e n h o a m e n o r

duv ida em ac ei ta r as novas conce ssões que m odif i

c a n d o a s a n t e r i o r e s , m e r e m e t t e u V . E x . c o m s u a a p r e

c i á v e l d e h o n t e m 10 d e c o r r e n t e . S o m e n t e t e n h o f e it o

a s e u r e s p e i t o a o D r . Y i l l a d e m o r o s , q u e e n t r e g a r á

e s t a a V . E x . , a l g u m a s o b s e r v a ç õ e s v e r b a e s q u e e s

pe ro V . Ex . se s i rva o uvi l -as , e pôr em pr a t i ca com a

b e n e v o l ê n c i a q u e m e t e m m a n i f e s t a d o e m t o d o e s te

n e g o c i o . S e m o u t r o o b j e c t o , c o n f e ss o - m e d e V . E x .

a t ten to e ef fec tuos iss imo serv idor .—

M an oel Oribe. »

NOTA.  N .

 53.

« O g o v e r n a d o r e c a p i t ã o g e n e r a l d e E n t r e R i o s ,

g e n e r a l e m c h e f e d o s e u e x e r c i t o , e g e n e r a l d a v a n -

g n a r d a d o e x e r c i t o d e o p e r a ç õ e s .

« Q u a r t e l g e n e r a l n o P a n t a n o s o , 12 d e O u t u b r o d e

1851.

« A o E x m . S r . P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a O r i e n t a l d o

U r u g u a y , o c i d a d ã o D . J o a q u i m S u a r e z .

« M i n h a s a n t e r i o r e s c o m m u n i c a ç õ e s e c o m e s p e c i a

l i d a d e a d e 8 d o c o r r e n t e , t e r ã o i n s t r u í d o a V . E x .

d o s r e s u l t a d o s o b t i d o s p e l o s e x é r c i t o s a l l ia d o s s o b r e

o d o c o m m a n d o d e D . M a n o el O r ib e . V e n h o p o i s c u m

pr i r a p ro m es sa qu e e n tão f iz a V . Ex . d e ins t ru i l -o

d e t a l h a d a m e n t e d a s c o n c e s s õ e s f e it a s a o g e n e r a l O ri

b e ,  e d o s m o t i v o s q u e m e d e c i d i r a m a i s s o , a fim

d e q u e a p r e c i a n d o - a s V . E x . e m s e u í l l u s t r a d o j u í z o ,

q u e i r a d a r - l h e a s a n c ç ã o d a s u a a p p r o v a ç ã o .

« V . E x . c o n h e c e a - s e r i e d e a c o n t e c i m e n t o s f av o

r á v e i s q u e m e c o n d u z i r a m a t é p ô r - m e á f r e n t e d o s

ú l ti m o s e n t r i n c h e i r a m e n t o s d o g e n e r a l O r i b e. N e s s a

p o s i ç ã o n ã o r e s t a v a o u t r a a l t e r n a t i v a s e n ã o d a r u m a

batalha

  c o n t r a u m e x e r c i t o q u e a i n d a c o n ta v a

  8,500

h o m e n s d a s t r e s a r m a s , o u c o n t i n u a r e m p r e g a n d o o s

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XIiYIII

m e i o s p a c í f ic o s , c u j o s r e s u l t a d o s h a v i a m s i d o a t é e u tã o

tão felizes*.

« o  u l t i m o m e i o p o d i a c o n d u z i r á t e r m i n a ç ã o i n s

t a n tâ n e a e c o m p l e t a d e u m a g u e r r a , q u e h a v i a d u

r a d o m a i s d e 8 a n n o s . O f f e r ec i a e s t e r e s u l t a d o s e m

e ff us ão d e s a n g u e , s e m o s a c r i f í c i o d e n o v a s v i c t i m á s ,

e o o b j e c t o d a p r e s e n t e c a m p a n h a s e p r e e n c h i a d o

m o d o m a i s s a t i s f a c t o r i o .

« N ' e s t e s m o m e n t o s d e s e j e i m a i s q u e n u n c a c o n

s u l t a r a s r e s o l u ç õ e s q u e e r a m n e c e s s á r i a s d o s g o v e r

n o s a l l i a d o s . E s t a e r a u m a c o n d i ç ã o d a a l l i a n ç a , e

u m a c o n s i d e r a ç ã o d e v i d a a o n o b r e i n t e r e s s e q u e h a

v i a m m a n i f e s t a d o p e l a p a c i f i c a ç ã o d a R e p u b l i c a O ri

e n t a l . P o r é m a o p o n t o a q u e o s s u c c e s s o s h a v i a m '

c h e g a d o , t o d a a d i la ç ã o s e t o r n a v a i m p o s s i v e l . A a c ç ã o

e m q u a lq u e r d o s e x t r e m o s q u e s e a d o p t a s s e , d e v i a

s e r d e m o m e n t o .

« E m ta l c o l l i s ã o , t i v e s ó em v i s t a o o b j e c t o p r i n

c ip a l d a a l l i a n ç a ; e , d e a c c o r d o c o m o g e n e r a l e m

c h e f e d o e x e r c i t o o r i e n t a l , a s s u m i a r e s p o n s a b i l i d a d e

d o s r e s u l t a d o s e m m e u c a r a c t e r d e g e n e r a l e m c h e f e

d o m e u e x e r c i t o , e c o m o r e p r e s e n t a n t e d o s g o v e r n o s

d e E n t r e - R io s e C o r r ie n t e s .

« F i z a o g e n e r a l O r i b e a l g u m a s c o n c e s s õ e s , q u e t a l

v e z n ã o s e p o d e s s e m r a c io n a l m e n t e n e g a r , d e p o i s d e

u m a v i c t o r i a e n s a n g ü e n t a d a . F i l - a s s o b a c o n d i ç ã o

d e o b t e r a a c q u i e s c e n c i a d o s g o v e r n o s a l l i a d o s , e

c o m a c o n f ia n ç a d e q u e e l l e s a v a l i a r i a m d e v i d a r q e n t e

o s m o t i v o s d e m i n h a r e s o l u ç ã o , , e a p r e c i a r ã o b e m s e u s

r e s u l t a d o s .

« H o j e c u m p r o c o m e s t e d e v e r , s u b m e t t e n d o á c o n

s i d e r a ç ã o d o s g o v e r n o s a l l i a d o s a s c o n c e s s õ e s f e i t a s

a o e x e r c i t o d o g e n e r a l O r i b e, c o m a s q u a e s s e c o n

f o r m o u , e q u e t e m d a d o e m r e s u l t a d o a p a c i f i c a ç ã o

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X L I X

d a R e p u b l i c a ; o r e c o n h e c i m e n t o d a ú n i c a a u t o r i d a d e

d e s e u g o v e r n o ; a r e - i n s t a l l a ç ã o d a o r d e m c o n s t i t u

c i o n a l , e o l i v r e e x e r c i c i o d e s e u s d i r e i t o s c o m o

N a ç ão I n d e p e n d e n t e . T a e s s ão o s o b j e c t o s e s s e n c i a e s

d a a l l i a n ç a , e o s m o t i v o s d e t a n t o s e t ã o s a g u i n o l e n -

t o s c o m b a t e s .

« A s t r o p a s o r i e n t a e s e s t ã o j á s o b o i r a m e d i a t o

c o m m a n d o d o g e n e r a l e m c h e fe d o e x e r c i t o d a R e

p u b l i c a ; a s a r g e n t i n a s s u b m e t t i d a s e x p o n t a n e a m e n t e

á s m i n h a s o r d e n s , s a h i r ã o i m m e d i a t a m e n t e d ' e s t e t e r

r i t ó r i o ; t o d a a a r t i l h a r i a e t o d o o m a t e r i a l d o e x e r c i t o

fo i j á e n t r e g u e . S ó r e s t a p o i s , q u e u m e s q u e c i m e n t o

a b s o l u t o d o p a s s a d o s e l le p a r a s e m p r e a p a z , q u e

t ã o f e l iz m e n t e s e t e m o b t i d o , e d e q u e t a n t o n e c e s s i

ta es te formoso paiz .

« Pa ra con seg ui l -o cre io qu e na da é m ais eff icaz

q u e o t r i u m p h o d 'e s sa p o l i t i c a t ã o h u m a n a q u a n t o

e l e v a d a , a c u j a f re n t e s e t e m c o l l o c a d o V . E x . , e e s s a

c o n v i c ç ã o é a q u e m e f e z c o n c e d e r a o g e n e r a l O r i b e

a s c o n c e s s õ e s q u e s o l l i c i t o u .

« E l l a s p o r o u t r a p a r t e n ã o s ã o m a i s q u e a r e a l i

d a d e d a s p a t r i ó t i c a s e l i b e r a e s d e c l a r a ç õ e s f e i ta s p o r

V.  E x . , e q u e t a n t a s v e z e s h ã o e n c h i d o d e o r g u l h o

a o s a m i g o s e d e f e n s o r e s d a c a u s a p r e s i d i d a p o r V . E x . ,

q u e e m fim a b r a ç a r a m t o d o s o s O r i e n ta e s p a r a b e m

d e s u a d i l a c e r a d a p á t r i a .

« D e s e ja n d o v i v a m e n t e q u e m e u p r o c e d e r e n c o n t r e

n o g o v e r n o d e V . E x . a a p p r o v a ç ã o n e c e s s á r i a , c o n c l u o ,

S r . p r e s i d e n t e , r e i t e r a n d o a V . E x . a s e g u r a n ç a d e

m i n h a m a i # a l t a e d i s t i n c t a c o n s i d e r a ç ã o . — Justo José

de Urquiza. »

N O T A 5 4 .

«  o

  P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a O r i e n t a l d o U r u g u a y .

« M o n t i v í d é o ,

  13

  d e O u t u b r o d e 1 8 5 1 . — R e c e b i c o m

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g ra n de s a t i s fa çã o a no ta qu e m e d i r i g i o V . E x . co m

d a t a d e 1 2 d o c o r r e n t e , d a n d o - m e c o n t a d a s c o n c e s

s õ e s que V . E x . ho u v e po r be m fa zer a o g en era l D .

M a no e l Or i be, e do s m o t i v o s qu e o co l l o ca r a m no

caso de as fazer.

« A pres s o -m e , p o i s , a m a n i fe s ta r a V . E x . que co n

f i rm o e a ppro v o na pa r te que m e co rres po nde , tudo

q u a n t o V . E x . c o n c e d e u a o g e n e r a l O r i b e , e q u e c o n s t a d o

do cum ento a que V . Ex . s e re fere em s ua no ta c i ta da .

« Sa t i s f e i to s a s s i m o s d es e jo s que m o s tr a v a V . E x .,

s e ja -m e perm i t t i v o ex pres s a r - l he a s i ncera g ra t i dã o que

m e a n i m a p e l o n o b r e e g e n e r o s o i n t e r e s s e q u e l h e

i ns p i ra a v en tura do m eu pa i z , e o s i n d e l é v e i s ser

v i ço s co m que V . Ex , a ca ba de a t t ra h i r o s re s pe i to s

,e s y m pa th i a s d 'e s te po v o tã o v i r tuo s o , co m o bra v o .

Que i ra V . Ex . a ce i ta r , e t c , e t c . — S u a r e z .— Manoel Her-

rera y Obes.—Lourenço Batlle. »

O art . 3 . ° do C onvên io de 2 3 de Maio d e 1851 , d iz :

« Q u e o s E s t a d o s A l l i a d o s p o d e r ã o a n t e s d o r o m p i

m ento de s ua a cçã o res pec t i v a fa zer a o g enera l Or i be

a s i n t i m a ç ô e s q u e j u l g a r e m c o n v e n i e n t e s , s e m o u t r a

' r e s t r i c ç ã o m a i s d o q u e d a r - s e c o n h e c i m e n t o r e c i p r o c o

d ' es s a s i n t i m a çô es a n tes d e v er i f i ca l-a s , e t c . » O g e

nera l U rqui za nã o po d i a de i x a r de cum pr i r e s t e t er

ce i ro a r t i g o do C o nv ên i o , em bo ra e l l e d i s s e s s e na pa r te

que m a n do u a o pr es i d ent e do E s ta do O r i enta l, que

a o p o n t o a q u e o s s u c c e s s o s h a v i a m c h e g a d o , t o d a

a d i l a ç ã o s e t o r n a v a i m p o s s i v e l . C o n h e c e u - s e q u e U r

qu i za nã o qu i z cum pr i r a que l l e a r t i g o pa ra fa zer a

M a no e l Or i be a s co nces s õ es que qu i zes s e , pa ra o fa

v o r e c e r o u p r o t e g e r c o m o s e u p r i s i o n e i r o . D ' e s t e m o d o

o g en era l em che fe do ex erc i to im p er i a l nã o t ev e pa r te

n ' a que l l a ca p i tu l a çã o , co m o dev i a á v i s ta do d i to

a r t i g o .

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LII

c i a , p o r s e j u l g a r d e s n e c e s s á r i a e n t ã o m a i s c a v a ll a ri a ,;

J á d ' es d e 2 3 d e O u t u b r o t a m b é m h a v i a s i d o d i s p e n

s a d a a g u a r d a n a c i o n a l d a b r i g a d a d e r e s e r v a d o

m e s m o e x e r c i t o , c o m m a n d a d a p e l o c o r o n e l M a n o e l

L u c a s d e O l i v e i r a ; e f o r a m t a m b é m d i s p e n s a d o s e

m a n d a d o s r e g r e s s a r t o d o s o s o f f ic i a es d a m e s m a g u a r d a

q u e e s t a v a m a d d i d o s p o r n ã o t e r e m s e u s c o r p o s n o

e x e r c i t o , e m a i s d e . z p r a ç a s p o r c a d a c o m p a n h i a d e n

t r e o s c a s a d o s . »

T e r m i n a d a a c a m p a n h a n o E s t a d o O r i e n ta l p e l a c o n

v e n ç ã o d o P a n t a n o s o , s e g u i o - s e a ' i n v a s ã o * d o e x e r c i t o

d e U r q u i z a n a R e p u b l i c a A r g e n t i n a , a o q u a l s e u n i o

u m a d i v i s ã o d e 4 , 00 0 h o m e n s d o e x e r c i t o b r a s i l e i r o ,

c o m m a n d a d a p e l o b r i g a d e i r o M a n o e l M a r q u e s d e S o u -

*  z a . N a b a t a l h a d e M o n t e - C a s s e r o s , q u e f o i o . r e s u l t a d o

d a i n v a s ã o d o e x e r c i t o d e U r q u i z a , n a q u a l e l l e c o m -

m a n d o u e m c h e f e , a d i v i s ã o b r a s i l e i r a , c o l l o c a d a n o

c e n t ro d a l i n h a d e c o m b a t e , d e c i d i o d a a c ç a o t o m a n d o

a a r t i l h a r i a a r g e n t i n a n a s a l t u r a s q u e e s t a v a m n a s u a

f r e n t e . N o d i a 3 d e F e v e r e i r o d e 1 8 5 2 a s a r m a s b r a

s i l e i ra s g a n h a r a m u m t r i u m p h o c o m p l e t o .

T e n d o e s t a c a m p a n h a d u r a d o d e 5 a 6 m e z e s , l i v r o u

o B r a s i l d e u m d o s m a i o r e s i n i m i g o s q u e e n t ã o t i n h a ;

a r a p i d e z c o m q u e s e f ez d e v i a t e r c o n v e n c i d o a o s

a n a r c h i s t a s d o s u l , q u e o B r a s i l t e m f o r ç a s s u f i c i e n t e s

p a r a o s c o n t e r n a s s u a s c o r r e r i a s .

E s t a v a n t a g e m q u e o B r a s i l o b t e v e c o n t r a o d i c t a -

d o r d e B u e n o s - A y r e s , d e c l a r a d o i n i m i g o d ' e st e I m p é r i o

e m b o r a f o s s e a l c a n ç a d a e m p a r t e p o r i n t e r m é d i o d e

u m g e n e r a l a r g e n t i n o , d e u - n o s n ' e ss a o c c a s i ã o m u i t a

f o r ç a m o r a l . Os s o l d a d o s a r g e n t i n o s n ã o s e t i n h a m e n

c o n t r a d o c o m o n o s s o e x e r c i t o d e s d e a c a m p a n h a d e

1 8 2 7, n a b a t a l h a d e I t u z a i a g o ; e n t ã o t o m a r a m - n o s a

b a g a g e m , q u e o g e n e r a l e m c h e f e n ã o s o u b e m a n d a r

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LTII

g u ar d ar , co m e ll a as m u n i çõ es , e , p o r es t a cau s a , o

fo go p a r o u ; e m M o n t e -C a s s e r o s a n o s s a d i v i s ã o t o m o u

t o d a a a r t i l h ar i a d e R o z as , e p ô z o s s eu s s o l d a d o s em

c o m p l e t a d e r r o t a .

O s m i n i s t é r i o s , q u e s e s u c c e d e r a m n ' e s te I m p é r i o

d e p o i s d o an n o d e 1 85 3, m o d i f i ca r am a s u a p o l i t i ca

p a r a c o m o s g o v e r n o s d a s r e p u b l i c a s d o s u l . T o d o s

e n t e n d e r a m q u e a p o l i t i c a d e t o l e r â n c i a e d e m o d e

r a ç ã o , e r a a q u e c o n v i n h a s e g u i r, p a r a ' v i v e r- s e b e m

co m os go ve rno s d 'aqu el les Estados*, Infe l izm ente a

e x p e r i ê n c i a d e m u i t o s a n n o s n ã o d e s e n g a n o u a o s es ta

d i s t a s b r a s i l e i r o s , q u e m a r c h a v a m p o r c a m i n h o f a l so .

O s p r i n c i p i o s p o l i t i c o s q u e s e g u i r a m o s m i n i s t r o s d e

e s t r a n g e i r o s p a r a c o m os g o v e r n o s d ' a q u e l l a s r e p u

b l i c a s , e s t ã o e x p e n d i d o s n o s s e u s r e l a t ó r i o s d e s d e

1 8 5 3 ;

  a s u a d o u t r i n a c o n f i r m a o q u e d i z e m o s . T o d o s

o s a n n o s e s p e r a v a m p e l o b o m r e s u l t a d o d a s r e c l a

m a ç õ e s d a l e g a ç ã o i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o , m a s e s t a s

r e c l a m a ç õ e s , p e l a m a i o r p a r t e , n ã o f o ra m a t t e n d i d a s

n o e s p a ç o d e d o z e a n n o s , e o g o v e r n o i m p e r i a l v i v i a

n a e s p e r a n ç a .

A s offensas re ce b id as pelo Bra s i l , no esp aço de

t a n t o s a n n o s , d e u m a n a ç ã o p e q u e n a , p o b r e e f r a c a ,

q u e t a n t o s b e n e f í c io s h a v i a r e c e b i d o d o I m p é r i o , e r a m

m o t i v o s m u i t o j u s t if i c a d o s , p a r a n ã o se q u e r e r m a i s

e m p r e g a r r e c l a m a ç õ e s i n ú t e i s , p a r a o b t e r m o s r e p a

r a ç ã o d o s m a l e s c a u s a d o s ; m a s o u t r a p o l i t i c a n ã o

t i n h a l e m b r a d o .

O m i n i s t é r i o d e 1 5 d e J a n e i r o e sp e r a v a v e n c e r a s

d e s i n t e l l i g e n c i a s c o m o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o

  so

m e n t e p o r m e i o s d i p l o m á t i c o s , p o i s q u e e m M a io

d e 1864 n ã o s e f az ia a r m am en t o a l g u m q u e m o s t r a s s e

q t tê t è r e m p r e g a r - s e a fo r ç a a r m a d a , a o m e n o s p a r a

d ef es a d as n o s s as f r o n t e i r as d o s u l .

9

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Q u a n d o o m i n i s t é r i o d e q u e t r a t a m o s v i o - s e o b r i -

g ad o a f azer a l g u m a co u s a a f av o r d o s s u b d i t o i

b r a s il e i ro s r e s i d e n t e s n o E s t a d o O r i e n t a l , e m c o n s e

qüên cia das m anifes ta çõe s qu e fizeram na câ m ar a os

d e p u t a d o s N e r y e F e r r e i r a d a V e i g a , m a n d o u

  um

em i s s ár io p e d i r s a t i s façõ es e am ea ça r ao g o v e r n o d e

M o n t ev i d éo d e em p r eg ar a f o r ça , q u an d o n ão fo sse

a t t e n d i d o . D ' es te m o d o e n v o l v e u - se i m p r u d e n t e m e n t e

o m i n i s t é r i o d e  15  d e J a n e i í f e m u m a q u e s t ã o d a

q u a l se o r i g i n o u a g u e r r a q u e t ã o g r a n d e s m a l e s t e m

c a u s a d o e q u e p o r m u i t o s a n n o s s e d e v e m s e n t i r .

C o m o n ã o h a v i a f o r ç a d e t e r r a o r g a n i s a d a e p r o m p t a

a m a r c h a r n a p r o v i n c i a d o R i o - G r a n d e , d e n a d a s e rv i o

m a n d a r - s e a q u e l l e e m i s s á r i o , n ã o s e n d o a t t e n d i d a s a s

s u a s r e c l a m a ç õ e s ; f o i n e c e s s á r i o e s p e r a r a l g u n s m e z e s

q u e s e a p r o m p t a s s e a f o r ç a a c i m a m e n c i o n a d a , p a r a

h o s t i l i sa r - s e o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o . O e n v i a d o

b r a s i l e i r o n ã o e s p e r o u q u e h o u v e s s e e x e r c i t o n a f r o n

t e i r a d o R i o - G r a n d e p a r a a p o i a r a s s u a s r e c l a m a ç õ e s ,

j u l g o u t a l v ez q u e i ss o e r a d es n ece s s ár i o , e q u e a s u a

p r e s e n ç a b a s t a v a ; a p r e s e n t o u o s e u u l t i m a t u m a

  4

  d e

A g o s t o , c o n f o rm e l h e o r d e n a v a m a s s u a s i n s t r u c ç õ e s ,

e t ev e o d es g o s t o d e n ão co n s eg u i r d ' aq u e l l e g o v er n o

o q u e o m i n i s t é r i o d e  15  d e J a n e i r o e x i g i a ,

A d i v i s ão n av a l q u e h av i a n o R i o d a P r a t a e r a

p e q u e n a p a r a e m p r e h e n d e r o p e r a ç õ e s d e g u e r r a e m

g r a n d e e s c a l a ; a s s i m m e s m o m a n d o u - s e b l o q u e a r o s

p o r t o s

  de*

 P a y s a n d ú e d o S a l to , q u a n d o a i n d a o e x e r

cito-

  b r a s i l e i r o n ã o t i n h a e n t r a d o n o E s t a d o O r i e n t a l .

C o m e l l a acco m m et t eu o v i ce- a l m i r an t e b r as i l e i r o a

p r a ç a d e P a y s a n d ú , d e s e m b a r c o u c o m   400  h o m e n s

d a s g u a r n i ç õ e s d o s n a v i o s p a r a t o m a r a q u e l l a p r a ç a ,

g u a r n e c i d a c o m   15  p eç as d e a r t i l h ar i a e  1,500  h o m e n s

de bo a t ro pa , o qu e só faz qu em n ão

  é

  a c o n s e l h a d o

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LV

p e t a p r u d ê n c i a . D e v e m o s o b s e r v a r q u e t e n d o o v i c e -

a l m i r a n t e b r a s i l e i r o o r d e m p a r a f a z e r r e p r e s á l i a s , p r e

t e n d e u t o m a r P a y s a n d ú s ó c o m a p e q u e n a f o r ç a q u e

c o m m a n d a v a , e c o m a d p g e n e r a l F l o r e s .

A p r a ç a d e P a y s a n d ú , n a s c i rc u m s t a n c i a s em q u e

se ac h a v a e co m o s m ei o s d e d ef eza q u e t i n h a , n ã o

d ev i a t e r s i d o i n v es t i d a s en ão p o r u m a d i v i s ão d e

6 ,0 00 a 7 , 00 0 h o m en s . A l ém d e n ão t e r m o s es s a f o r ça

n o E s t ad o O r i en t a l n o m ez d e D ezem b r o , n ão l ev o u a

d i v i s ã o d o m a r e c h a l M e n n a B a r r e t o a r t i lh a r i a p a r a

b a t e r a s m u r a l h a s . M a s, n ã o a n t e c i p e m o s o s a c o n t e c i

m e n t o s .

N ã o t e n d o t r a t a d o o g o v e r n o i m p e r i a l d e m e l h o r a r

o es t a d o d o ex e r c i t o an t e s d a g u er r a , d e r eo r g an i s a l - o

d e n o v o , p o i s es t av a em t o t a l d e cad ên c i a , p ó d e- s e d i zer

q u e n ã o p r i n c i p i o u o s a r m am en t o s p e l o s o ff en sas q u e

o s B r as i l e i r o s s o í f r e r am n o E s t ad o Or i en t a l , m as s i m

p e l a s r e c l a m a ç õ e s d e a l g u n s d e p u t a d o s : n ã o f oi , p o r

t a n t o , p o r a c t o e s p o n t â n e o d o g o v e r n o i m p e r i a l , e

m e n o s p o r c o n v i c ç ã o q u e t i v e s s e d e s s a n e c e s s i d a d e ,

m as p o r q u e a i ss o fo i o b r i g ad o . H a 1 2 o u 1 5 an n o s

q u e n a c â m a r a d o s d e p u t a d o s o r e p r e s e n t a n t e p o r

M at t o - Gr o s s o A n t ô n i o C o r r êa d o C o u t o , d i s s e q u e a

s u a p r o v i n c i a es t av a s em d ef eza , e q u e o P a r ag u a y

e s t a v a s e a r m a n d o p a r a a t a c a r o B r a s il n a p r i m e i r a

o cc as i ão q u e s e o f fe r ecess e . N i n g u ém d eu a t t en çã o ao

q u e e ll e r e c l a m o u d o g o v e r n o ; t u d o c o n t i n u o u n o

m e s m o e s t a d o , p o r q u e j u l g a v a - s e o P a r a g u a y <um a r e

p u b l i ca s em f o r ça p ar a a t acar o B r as i l .

Era n ot áv el o es ta do em qu e e ís tava esse re s to de

fo rç a a r m a d a a q u e s e d a v a o n o m e d e e x e r c i t o b r a

s il e ir o , e s p a l h a d o p e l a s p r o v i n c i a s d o n o r t e e m p e

q u e n o s d e s t a c a m e n t o s . N a i n t e n ç ã o d e n ã o s e r v i r p a r a

o

  v e r d a d e i r o fim d a s u a i n s t i t u i ç ã o , t i n h a - s e - l h e d a d o

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LVI

o u t r o d e s t i n o p o u c o h o n r o s o . O a o ff ic ia es f o ra m e m

p r e g a d o s p o r a l g u n s p r e s i d e n t e s e m a g e n t e s p o l i c i a * *

E m a lg u m a s p r o v i n c i a s o s b a t a l h õ e s n a o e s t a v a m em

e s t a d o d e p r e s t a r o s e rv i ç o p e r f e i t o d e g u a r n i ç â o ; o s

s o l d a d o s t i n h a m p e r d i d o e m p a r t e a d i s c i p l i n a m i l i

t a r , n ã o c o n h e c i a m a a u t o r i d a d e d o s c o m m a n d a n t e s ,

p o r q u e v i v i a m d e s o r d e n a d a m e n t e n ' e s se s d e s t a c a m e n t o s

l o n g í n q u o s .

P a s s a v a m m e z e s s e m o s c o m m a n d a n t e s r e u n i r e m

o s c o r p o s p a r a r e v i s t a s e e x e r c í c i o s . O a r m a m e n t o e

e q u i p a m e n t o e s t a v a m e s t r a g a d o s , o f a r d a m e n t o v e l h o .

P o r c o n s e q ü ê n c i a n ã o h a v i a e m a l g u m a s p r o v i n c i a s .

n o s a n n o s a n t e r i o r e s á g u e r r a , f o r ç a a r m a d a e m e s

t a d o d e r e s i s ti r a q u a l q u e r a c o m m e t t i m e n t o e x t e r n o ,

o u d e s o r d e m i n t e r n a , á e x c e p ç ã o d o s c o r p o s q u e e s

t a v a m n e s t a c o r t e e p r o v i n c i a d o R i o G r a n d e , e e s t e s

m e s m o s t i n h a m m e t a d e d a f o r ç a d o s e u e s t a d o c o m

p l e t o .

  (*)

N ' e s te e s t a d o d e d e s a r m a m e n t o , s e r v i n d o - n o s d e u m

t e r m o m a r í t i m o , c o n s e r v o u - s e o e x e r c i t o a t é 1 8 6 4 , o

q u e m o s t r a v a d a p a r t e d o g o v e r n o a p o u c a o u n e

n h u m a t e n ç ã o q u e h a v i a d e o e m p r e g a r e m o p e r a ç õ e s

d e g u er r a , ap e zar d as d e s i n t e l l i g e n c i as e o ff en sas r e

c e b i d a s d o g o v e r n o d o E s t a d o O r i e n t a l .

A p r o v i n c i a d o R io G r a n d e , q u e d e t o d a s é a q u e

d e v i a e s t a r m e l h o r g u a r n e c i d a p o r c a u s a d a f r o n t e i r a

t i n h a m u i t o p o u co t r o p a , co m o >se m o s t r a r á , i s to é ,

q u a n t o a o p e s s o a l ; a g o r a q u a n t o a o m a t e r i a l , o s a r

s e n a i s e s t a v a m d e s p r o v i d o s d e f a r d a m e n t o e d e a r

m a m e n t o , s o b r e t o d o s o d e P o r t o A l e g r e . O r e g i m e n t o

d e a r t i l h a r i a a ç a v a l i o t i n h a p e ç a s v e l h a s q u a s i i n u -

t i l i s a d a s ; e m O u t u b r o d e 1864 é q u e m a n d a r à m - s e

(*) O qu e dizemo s não é por informaçã o; em 1863 vimo s e admiramos o es

tado em qu e estava m os batalhões de guárn içaô ha Ba hi a: nàó se çonheciarft

os uniform es por estarem | ve lho s $ rotos»

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LVI1

d e s t a c o r t e a s p r i m e i r a s s e i s p e ç a s d e b r o n z e r a i a d a s

d e c a l i b r e  6.  A i n d a n ã o h a v i a g e n e r a l n o m e a d o p a r a

c o m m a n d a r o e x e r c i t o q u e se s u p p u n h a e x i s t ir n a p r o

v i n c i a d o R i o G r a n d e , m a s q u e a i n d a n ã o e x i s t i a ; p o r

q u e n ã o se p ô d e c h a m a r e x e rc i t o a a l g u n s c o rp o s d e

c a v a l l a r i a e i n f a n t a r i a c o m p o u c a g e n t e , e s p a l h a d o s

e m u m a e x t e n s a p r o v i n c i a , s e m o r g a n i s a ç â o a l g u m a

r e g u l a r .

Em O u t u b ro é q u e foi n o m e a d o o m a rc h a i Jo ã o

P r o p i c i o M e n n a B a r r e t o p a r a c o m m a n d a r e s s e s c o r p o s ,

q u e c o n s t i t u i r a m u m a p e q u e n a d i v i s ã o m a l a r m a d a n a

for ça de 4 ,500 ho m en s, m ui to insuff icien te pa ra i r

fa z e r a c a m p a n h a n o Es t a d o O r i e n t a l .

N o l u g a r c o m p e t e n t e c o n s i d e r a r e m o s o m o d o p o r q u e

se o rg a n i so u e s t a p e q u e n a fo rç a , su a m a rc h a e o p e

r a ç õ e s n o E s t a d o O r i e n t a l. E p o s t o q u e o m a r e c h a l

M e n n a B a r r e t o , c o m o g e n e r a l d o R i o G r a n d e , p a r e c e u

se r m u i t o c a p a z d e fa z e r a q u e l l a c a m p a n h a , c o m t u d o

a c r e d i t a m o s q u e o g e n e r a l q u e a s c i r c u m s t a n c í a s í n -

d ic a V a m p a r a c o m m a n d a r u m e x e r c i t o n o s u l, n o

p r i n c i p i o d e u m a g u e r r a q u e s e d e v i a r e c e i a r d u r a

d o u r a e t r a b a l h o s a , e r a a q u e l l e q u e o m i n i s t é r i o

F u r t a d o n ã o q u i z n o m e a r p o r s e r d e o u t r o c r e d o p o

l í t i c o . A o s o f f i c i a e s su p e r i o re s q u e fo ra m n ' a q u e l l a d i

v i sã o e a o u t ro s q u e m a rc h a ra m d e p o i s , n ã o fez

o p p o s i ç ã o a q u e l l e m i n i s t é r i o ; a l g u n s q u e n u n c a t i n h a m

v i s t o a g u e r ra p o r t a r a m -se c o m o o ff ic ia es a c o s t u m a d o s

a o s c o m b a t e s , e d e ra m p ro v a s d o se u t a l e n t o e v a l o r

n o c a m p o d a b a t a l h a : v i o - s e q u e e s t a v a m d e s t i n a d o s

p a r a e ra p o u c o t e m p o c o n q u i s t a r e m o v e r d a d e i r o

n o m e d e g e n e r a e s .

S a h & ã o o I m p é r i o d o e s t a d o d e p a z em q u e p o r

t a n t o s a n n o s e x i s t i o p a r a o d e g u e r r a , m o s t r a r a m

l o go a s u a i n t e l l i g e n c i a , v a l o r h e r ó i c o n o s c o m b a t e s ,

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L V I I I

e e l e v a ra m o n o m e b r a s i l e i r o á a l t u r a d a s p r i m e i r a s

n a ç õ e s d o m u n d o .

F a c to s d e t a l o r d e m , a c o n t e c i m e n t o s t ã o e x t r a o r

d i n á r i o s s u c c e d i d o s e m u m p a i z q u e a t é a g o r a n ã o

s e r e p u t a v a p o t ê n c i a m i l i t a r , f a r ã o d ' o r a e m d i a n t e

c om q u e o I m p é r i o d o B r a si l s e ja c o n s i d e r a d o c o m o

a p r i m e i r a n a ç ã o d a A m e r i c a d o S u l ; m a i s r e s p e i t a

d o p e l a s r e p u b l i c a s h e s p a n h ó l a s d o q u e o t e m s i d o

a t é a g o r a , s e t i v e r g o v e r n o s q u e l h e s u s t e n t e m a c o n

s i d e r a ç ã o q u e a d q u i r i o n ' e s t a g u e r r a , e q u e l h e c o n

s e rv e o p o d e r m i l i t a r c o m o u m e l e m e n t o o m a i s n e

c e s s á r i o

  á

  s u a e x i s t ê n c i a . »

A g l o r i a e a h o n r a d a s a r m a s b r a s i l e i r a s , e o s a c t o s

d e b ra v ur % d e t a n t o s v a r õ e s i l l u s t r e s q u e s e a s s i g n a -

l a r a m e m t ã o á r d u a c a m p a n h a , a p p a r e c e r ã o c o m t o d o

o s e u b r i l h o q u a n d o a s s u a s a c ç õ e s h e r ó i c a s f o re m

d e s c r i p t a s n o l u g a r q u e l h e s c o m p e t e .

C o n s i d e r a r em o s a c a m p a n h a d o P a r a g u a y c o m o a

m a i o r

  i

 g u e r r a q u e t e m h a v i d o n a A m e r i c a d o S u l , e

t a m b é m a m a i s d if fic il e t r a b a l h o s a q u e o B r a s i l

t e m s u s t e n t a d o , p e l a n a t u r e z a d o t e r r e n o o n d e fo i

f ei ta e o u t r a s c i r c u m s t a n c i a s q u e o c c o r r e r a m .

A c a m p a n h a foi d e m o r a d a p e l a d i r e c ç ã o q u e o e x e r

c i t o l e v o u , r e s u l t a d o do* T r a t a d o d e A l l i a n ç a d o   1.*

d e M a io . O p r i m e i r o g e n e r a l b r a s i l e ir o p o u c o p ô d e

f az e r p o r e s t a r s u j e i t o à s d i s p o s i ç õ e s d o t r a t a d o , n a d a

h o n r o s o a o B r a s i l ; o s e g u n d o e s t e v e n o m e s m o c a s o ;

s ó o t e r c e i r o p ô d e p r i n c i p i a r a c a m p a n h a c o m m a i s

l i b e r d a d e d e a c ç ã o .

O M a r q u e z d e C a x i a s p ô d e d i r i g i r a s o p e r a ç õ e s

q u a n d o s e r v i o d e g e n e r a l e m c h e f e d o s e x é r c i t o s

a l l i a d o s . P a r a i s t o a c o n t e c e r foi n e c e s s á r i o q u # o g e

n e r a l e m c h e f e a r g e n t i n o , c r e a d o p e l o T r a t a d o d e A l l i

a n ç a d o l .

u

  d e M a io d e 186 5, s e a u s e n t a s s e d o e i ü l

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oi to em Jan ei ro de 1868. Nao ba stou pa ra desgraça

do Brasi l ter de su ste nta r aquel la gu err a , teve ainda

a  infe l icid ad e do seu ex erc i to ficar sujei to a unia

força ou a um p o de r es t ran ho , que po uco i n t e resse

po dia ter na glor ia de suas arm as.

Na Criméa não hou ve gen eral em chefe, porq ue

os governos de França e Ing l a t e r ra ass i m o en t ende

ram ; en t reta nto aquel la cam pan ha, fe ita tão longe

d'aq ue l las naçõ es, du ro u 13 m ezes, e não se sent io

a fa l ta d 'aquel la au tor ida de supre m a. No Paragu ay,

on de o Brasi l reun io um ex erci to seis vezes m aior

do que o argent ino, consent io o minis tér io de 12 de

M aio que este exe rci to f icasse su bo rdin ad o ao gen e

ra l que commandava uma d i v i são .

A i nexper i ênc i a em pol i t i ca é semel hant e á i nexpe

riê nc ia nas profissões da vida civi l ou m il i tar, isto é,

ace r t a -se pou cas vezes . A a r t e da guerra não é uma

sc i enc i a que se apre nde no es tudo do g ab i n e t e ;

apr ènd e-se no campo da ba t a l ha , e só quem t em

pr a t i c a de m ui t os annos de cam panh a é que pôde

e m p r e h e n d e r o p e r aç õ e s d e g u e r r a c om s e g u r a n ç a .

A pro va d o que dizem os foi o que se passo u no

ataq ue a Ctrru pa i ty; op eraç ão que não se devia ter

feito d 'aqu el le m odo , pelas razões qu e se di rão qua ndo

t r a t a r m o s d ' e s s e a c o n t e c i m e n t o .

No f im de quasí dous annos de campanha, pelo re-

«t r i tado d 'aquel la operação, que foi um grande revez

pa ra as a rm as a l u ad as , é que o governo i mp er i a l

conheceu o engano em que v i v i a re l a t i vament e ao

com m ando em chefe do e xerc i t o a l l i ado , i gnora ndo

as  divergências que exist iam entre os generaes. (*)

O fevez q u e o nosso ex erc i to soffreu em Cu rup ai ty

(*) Assim o declarou o presidente do conselho no senad o na sessão d e 5 de

Junno de 18d7.  l

:

hP

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foi o que m oveu o go ver no , ou o pre sid en te do ga

binete de 3 de A gosto, a i r pe di r ao gen eral que

estava no caso de continuar aquella campanha, para

commandar o nosso exerci to no Paraguay. Foi

  o

único meio que teve aquel le minis tér io de diminuir

o mal que dev orav a o nosso exe rcito hav ia quasi

dous annos . A ' influencia de um pa rt i do po l í t ico, ao

que elle t in h a feito d e er ra do , estava sujeita a sorte

da guerra .

Logo que o general bras i le iro pôde ser o comman

dan te em chefe do exerci to a lu ad o, a cam pan ha fez-se

com energia, passando do estado de guerra defensif»

para o de operações act ivas , de modo,que Lopez co

nheceu a differença dos co m m an do s; o qu e o general

bras ileiro fez em um ann o, o arg entin o não t in h a

feito em do us, ou nu nca . Se não t ivesse exis tido o

ga bin ete de 31 de A gosto, o M arquez de Caxias te ria

s ido com m andante em chefe do exerci to desde o pr in

cipio d 'es ta campanha, e também outras medidas pre

vent ivas se te r iam tomado.

A inda quando foi o conselheiro S araiva pa ra M onte

vidé o, o governo imp erial ignorava que o Paragu ay

estava-se arm and o par a ata ca r o Im pé rio ; os avisos

que havia annos t inha recebido, deviam ter bastado

para tom ar as medidas prec isas , sobre tud o par a pô r

em estad o de defeza, a pr ov in cia de M atto-G rosso. (*)

Por es te m otivo , da guer ra con tra o Paraguay, co

n h e c e u - s e

 (

  que a m aior pa rte d a gente de med iana

instrucção não tem conhecimento algum de his toria

militar, e por esta rasão foi fácil fazer-lhe acreditar

que a dem ora da cam panha nos dous primeiros annos,

as pe rda s qu e teve o nosso exe rcito, p or exem plo

(*) Veja-se o que disse o depu tado cVaquella provincia Antônio do Co nto em

1858,

  acima citado.

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L X I

n os dia s 2 e 24 de M aio, tu do foi efíeito do acc aso ,

e não iaad ve r ten c ia de quem com m andava . Na Europa

a ins t ru cçã o m i l i t a r es tá m ais vu lgar i sada en t re a

classe m éd ia, ou seja po rq ue estas nações são m ais

gu er re i ra s do que tem s ido o B rasil a té agora , e

d 'aqu i vem a n ecess id ade de adqui r i rem essa ins t ru c

ç ã o ,  ou po rqu e ha ma is gosto para es te e s tud o.

No Im pé rio do Brasi l, a pr im eira nação d 'A merica

do S ul, a m aio r e a m ais civil isada, a qual até ha

po uc o tempo não se qu er ia que fosse um a potê ncia

m il i tar , foi fácil ad or m ec er o povo sobre os negócios

da g ue rra , po rqu e nâp es tá no caso de ju lg ar dos

aco ntec im ento s de um a cam panh a . Como nos pr i

mei ros dous annos todos ju lgaram que as cousas iam

be m , qu e não ha via outro m odo de fazer a gu err a ao

P a r a g u a y , p o u c o s t r a t a v a m d e i n d a g a r d a m a r c h a q u e

seguiam as operações mi l i t a res .

Em 30 de Março de 1864, d iscut indo-se na câmara

dos deputados a le i da f ixação das forças de terra ,

agi tou -se a qu estã o se basta va m 14,000 ho m ens , ou

se era m pr ec iso s 18,000; es tava presen te o minis t ro

d a g u e r r a , J o s é M a r i a n n o d e M a t t o s . O d e p u t a d o C a r

ne i ro de Campos , d i sse o seguin te :

— « Que no R io G rande hav ia t res ba ta lhõ es de

inf an taria , de n s . 3, 6 e 13, com o tota l de 1,500 ho

m e n s ;

  qua t ro reg imentos de cava l la r ia com 1 ,000praças ;

um reg im en to de a r t i lh ar i a a cava l lo , com 276 pra ças ;

ao todo 2 ,776 praças de l inha . Não ha a l l i um corpo

ve rda de i ram en te c om ple to , e nas condições dese jáve is ,

a não ser na mantença da discipl ina e no respei to ,

que fazem-se guardar os off ic iaes; mas mesmo para

os exercíc ios não ha quanto baste . Emfim, por fa l ta

de gente , quando os corpos sahem dos quar té i s , cons

ta -me que já se t em fechado os por tões . Es tou t ra

io

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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LX11

tando d-esta fronteira do Império, que

  m u i t o

  tncom-

m odo nos pôde dar; que deve in teressar

  al tamente

á

  nossa pol i t ica , porque o povo v is inho

  náo es tá

  na

mesma razão dos outros povos* de que nos

  achamos

distantes , e de quem estamos ao abrigo de

  qualquer

ataque repent ino. Mas d

?

ál l i , senhores , podem vk-nos

a g g r e s s õ e s

  inexp erad as, com o já tem acon tecido, ha

vendo nós receb ido por paga dos benef í c ios

  prestados,

provas exuberantes de ingratidão. A fronteira  do  Es

tado Oriental e da Confederação Argentina,  é  bem

co nh ec id a do nobre gen eral (o m inis tro da guerra),

e el le pode dizer quantas cautelas, quanta vigi lância

devemos ter por esse lado. »

F oi este de pu tad o o prim eiro que n'aquella sessão

lem bro u ao gov ern o, — que era pr ec iso acautelar-nos

para nos defendermos de Montevidéo. Esta advertência,

que podia ter despertado o ministério do lethargo em que

se achava, relat ivam ente ás n ossa s relações com as

R epubl icas do Sul, pa ssou desa perc ebida pela câmara e

pelo ministér io ; por conseqüência nenhuma importância

se deu ao que disse o deputado Carneiro de Campos:

a câmara votou

  18,000

  homens para circumstancias

ordinárias.

Todas as nações precisam ter um exercito conforme

a sua população, extensão de território e posição geo-

gra phica . O Brasil é uma nação grande pela extensão

de terreno, e grande numero de portos abertos ao

commercio do mundo; precisa ter sempre prompto

um exercito para sua defesa. Está cercado

  de

  Repu

blicas, cujas populações são areadas no meio das guerras

civis ,  que devastam e em brutec em aquelles paizes, no s

quaes predo m ina a ignor ânc ia e a superstição

  d o

  povo.

A

  anarchia, que ás vezes apparece n

'aquelles Saltados,

parece ser um elemento necessário  á sua existência,

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L X I Í I

p o r q u e o s d i ff e re n t es p r e t e n d e n t e s a o g o v e r n o , q u e

r e n d o c o n q u i s t a r o p o d e r p o r m e i o d a s a r m a s , fo r

t i fi cam aq u e l l e q u e o ex er ce , em b o r a o s d i r e i t o s d e

u n s e d e o u t r o s s e j a m i g u a e s . D e q u a l q u e r m o d o q u e

o s r e p u b l i c a n o s g a n h e m o p o d e r , l o g o q u e o c o n s e

g u e m , r e s p e i t a m p o u c o a s o b e r a n i a d o I m p é r i o d o

B r a s i l , c o m o a p r i m e i r a n a ç ã o d a A m e r i c a d o S u l .

P o r t o d a s e s t a s r a z õ e s , p e l a p r o x i m i d a d e d o s m . . .

v i s i n h o s d as n o s s as f r o n t e i r as , o B r as i l n ão p ô d e p r es

c i n d i r d e t e r u m e x e r c i t o b e m o r g a n i s a d o . A f o rç a

a r m a d a é a ú n i c a m u r a l h a q u e o p ô d e d e f e n d e r d a s

a g g r e s s õ e s r e p u b l i c a n a s d o R i o d a P r a t a e d o P e r u .

S e n ão s e a t t en d er a es t a n eces s i d ad e , o B r as i l co n

t i n u a r á a s e r i n v a d i d o p e l a s n o s s a s fr o n t e i r a s d e b a i x o

d e q u a l q u e r p r e t e x t o , o u q u a n d o a s a c h e m d e s a r

m a d a s ,

S e o s g o v e r n o s p a s s a d o s t i v e s s e m s id o m a i s p r e v i

d e n t e s em t u d o q u e d i z r e s p e i t o á n o s s a o r g a n i s a ç â o

m i l i ta r , a l é m d e t e r e x i s t i d o s e m p r e u m e x e r c i t o r e

g u l a r e b e m o r g a n i s a d o , t e r i a m m a n d a d o a l g un s of

fic iaes su p er io re s á Eu ro pa , á Cr im éa em 1855, e á

I t á l i a em 1 85 9, as s i s t i r aq u e l l as ca m p a n h as ; ex am i n ar

e e s t u d a r as for ti f icações qu e os France zes f izeram

n o c e r c o d e S e b a s t o p o l ; v e r o s s e u s m e i o s d e a t a q u e :

e x a m i n a r t o d o o s eu m a t e r i a l d e g u e r r a ; i n s t r u i r e m -

s e n a s e v o l u ç õ e s q u e s e d e r a m n a c a m p a n h a d e I t á

l i a .

N a g u e r r a q u e t e r m i n o u , p o d i a m a q u e l l e s o ffic iae s

t e r p r e s t a d o s e rv i ç o s i m p o r t a n t e s . A I n g l a t e r r a e a

F r a n ç a m a n d a r a m a l g u m a s v e z e s o ffic ia es a s s i s ti r á s

c a m p a n h a s d o s o u t r o s p a i z e s . S o b r e a n e c e s s i d a d e

d o I m p é r i o d o B r as i l t e r ex e r c i t o p a r a s u a d ef eza ,

d is se o m i n i s t r o d a g u e r r a J e r o n y m o F r a n c i s c o C o e

l h o ,

  n o s eu r e l a t ó r i o d o an n o d e 1 85 8 :

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LXSV

« Se tantas não fossem as di f icu lda de s para se com

pleta r uma força qu e fosse d ec reta da em nu m ero

  su

perio r , de cer to que um e xerci to de  16,000  h o m e n s

não só é insigni f icante para todas as necessidades do

-serviço pu bl ico , mas a té não corres po nd e á posição

e c athe go ria qu e já hoje o cc up a o vasto e f lorescen

te Im pé rio do Brasi l na escala hiera rch ica das naçõ es .

A força actual do exerci to do Brasi l regula pela das

nações da Europa de ordem a mai s segundar i a .

« Lembrar -vos-he i que , comparando aquel l e numero

de força com o da pop ul açã o do Im pé r i o , com pu t a

da em 8 mi lhões de ha bi tan tes , o paiz co nt r ib ue com

um impo sto de 1 por 500 individu os .

« A prop orçã o ord inária nos paizes que tem um

exerc i to reg ularm ente org anisa do é , no p é de paz, 1

po r 100; n 'es ta pro po rçã o, se o Brasi l t ivesse de

imi tal -os , o seu exerci to em ci rcumstancias ordinárias

devia ser de 80,000 hom ens. A noss a con t r ibuição m i

l i tar é po rtan to a qu inta pa r te do que ser ia , s egu n

do as regras es tabe l eci das ; cum pr i ndo t oda vi a reco

nh ece r q ue aquel las reg ras não po dem em todo o r ig or

te r ent re nós perfei ta appl icação , p elas nossas c i r

cumstancias pecul iares , já de local idade e posição,

já em relação aos E stados com quem estam os em

i mmedi a t o cont ac t o . »

Foi este um do s pou cos m i l i tares , m inis t ros da gue r

ra que tem hav ido, que m elhor conh eceu a necessi

dad e ,do Brasi l ter um exe rci to bem orga nisad o. A

este respe i to disse o d ep utad o Brand ão, na sessão de

22 de Agosto de 1864, o seguinte, depois de ci tar

o re latór io acima mencionado :

« En caran do a go ra a questão sob o pon to de V ista

geral , e qu anto ao dev er qu e tem tod o o paiz de

m anter um ex erc i to sufficiente pa ra ga ra nt ir os seus

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L X V

d i r e it o s » e f azer r es p e i t a r a s u a h o n r a e s o b er an i a ;

p e d i r e i a i n d a l i c e n ç a p a r a , em a b o n o d o q u e t e n h o

d i t o ,

  e x i b i r a o p i n i ão d e u m r e s p e i t áv e l p a t r i o t a f r an -

c e i ,  o S r . S c h u t z e n b e r g e r , p e r t e n c e n t e á e s c o l a l i b e r a l

m a i s a d i a n t a d a . D iz e l le :

« U m g o v e r n o q u e n ã o d i s p õ e d e u m a f o rç a m a t e

r i a l s u f fi c ien t e p a r a a s s e g u r ar n o ex t e r i o r e n o i n t e

r i o r a i n v i o l a b i l i d a d e e o r es p e i t o d o s d i r e i t o s d e

s o b e r a n i a d e q u e é d e p o s i t á r i o , é i m p o t e n t e e n ã o

p o d e p r e e n c h e r n e n h u m d o s d e v e r e s q u e l h e s ão i m

p o s t o s p e l a d e l e g a ç ã o d o s d i r e i t o s d e s o b e r a n i a . A

ex i s t ên c i a d o E s t ad o , as co n d i çõ e s d a p az p u b l i ca , d a

o r d e m , d a l i b e r d a d e e d o p r o g r e ss o , d e p e n d e m d a

cr eação d e u m a f o r ça a r m ad a s u f f i c i en t e p ar a d ef en

d e r c o n t r a o e s t r a n g e i r o a i n d e p e n d ê n c i a , o s d i r e i t o s ,

o s i n t e r e s s e s , a h o n r a e a d i g n i d a d e d o E s t a d o ; p a r a

m a n t e r n o i n t e r i o r o s d i r e i t o s l e g í t im o s d o s p o d e r e s .

« U m es t ad o q u e , p o r s u a f raq u eza , s e ach a á m er cê

d o e s t r a n g e i r o , n ã o t e m m a i s d o q u e u m a e x i s t ê n c i a

p r e c á r i a . O p o d e r s o c i a l p a r a l i s a d o p e l a s r e s i s t ê n c i a s

q u e n ã o p ô d e v en cer , ces s a d e s e r o r ep r es e n t a n t e

d a u n i d a d e p e s s o a l d o E s t a d o . O e n f r a q u e c i m e n t o d o

p o d e r é o s i g n a l p r e c u r s o r d a d e c a d ê n c i a , d e s o r g a -

n i s a ç ã o e a g o n i a d o s c o r p o s p o l í t i c o s ; a s a t t r i b u i ç õ e s

q u e ,  n o s eu i n t e r es s e , a s o c i ed ad e d e l eg a ao s p o d e r es

p ú b l i c o s , t o r n a m - s e i l l u s o r i a s se e l le s n ã o p o d e m

d i s p o r d e u m a f o r ça m at er i a l s u f f i c i en t e p ar a t o r n ar

e x e q ü í v e i s s u a s r e s o l u ç õ e s c o n s t i t u c i o n a e s e d e c i s õ e s

l e g a e s .

« O s g o v e r n o s q u e s e d e s c u i d a m d e p r e p a r a r s e u s

m eios de defeza»-e de rep res sã o ao n iv ei d os per ig o s

e x t e r i o r e s o u i n t e r i o r e s , q u e o s p o s s a m a m e a ç a r ,

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L X Y I

p e r e c e m . U m a n a ç ã o q u e p e r d e s u a s v i r t u d e s m i l í»

t a r e s ,

  fica  á m e r c ê d o s s e u s in im ig o s

«  O e x e r c i to é o u l t im o a sy lo d o p a t r io t i s m o  e da

h o n r a n a c io n a l . A s e g u r a n ç a d o f u tu r o , a p a z n o

e x te r io r e  n o ^ in te r io r , a ' s o b e r a n ia d o d i r e i to , to d a s

as  c o n d iç õ e s d a v i d a s o c i a l t o r n a m - s e p r e c á r i a s ,  e

ficam am eaç ada s de sde qu e o ex erc i to nã o possue a

força  m a t e r i a l e a s q u a l i d a d e s m o r a e s n e c e s s á r i a s p a r a

a  s a n c ç ã o d a s d e c i s õ e s p r o f e r id a s p e lo s ó r g ã o s  d o

p o d e r s o c i a l .

« Um exe rc i to cora joso e br av o é a escola da s

v i r t u d e s c ív ic a s e d o s g r a n d e s c a r a c te r e s : u m e x e r

c i to d e v o ta d o a o c u l to d o s s e u s d e v e r e s , e a n im a d o

d o s n o b r e s s e n t im e n to s d e h o n r a , d e g lo r i a e d e

a m o r d a p á t r ia , é o c o r p o d e e s c o lh a d a n a ç ã o .

O e x e r c i to , g u a r d a 'f ie l d a l ib e r d a d e e d o d i r e i to ,

s e m p r e p r o m p t o a e m p r e h e n d e r o u a e m p e n h a r - s e n a

d e f es a d o s in te r e s s e s e d o s d i r e i to s d o E s ta d o ,  é a

p e r s o n i f ic a ç ã o a m a is p o d e r o s a d o p r in c ip io d e o r d e m

e d e  a u t o r i d a d e . »

C o n t i n u a a g o r a o d e p u t a d o B r a n d ã o :  •

« Cre io , sen ho res , que as obse rvaçõ es" do i l lu s t r e

p u b l ic i s ta , q u e a c a b a is d e o u v i r , n a d a d e ix a m a d e

se ja r , e que em face d 'e l las n i ng ué m em b o a  fé

p o d e r á c o n t e s t a r q u e a f o r ç a a r m a d a  é  u m a  n e c e s s i

d a d e p u b l i c a d e p r i m e i r a o r d e m ; t a n t o m a i s i n d i s

p e n s á v e l q u a n t o  se  e lla n ã o e x i s t i r a h o n r a  do paiz e

a p r ó p r i a l i b e r d a d e d o s c i d a d ã o s n ã o  p o d e r ã o  a c h a r-se

c o m p l e ta m e n t e g a r a n t i d a s . »

O   q u e  d i s s e r a m ,  o  d e p u t a d o  C a r n e i r o d e C a m p o s ,

o m i n i s t r o d a g u e r r a J e r o n y m o F r a n c i sc o  Coelh o, e

o d e p u ta d o B r a n d ã o , f o r am  r a z õ e s  b è m c o n v i n c e n t e s

p a r a p e r s u a r d i r a o g o v e r n o d * aq u el le t e m p o d a  n e c e s

s i d a d e d e t e r p r o m p t o u m e x e r c i t o s u f i c i e n t e p a r a

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LXV1I

as acc urre ncias que se dess em . Do lado do sul é

q u e  deviam vir a ggr essõe s inexperadas , disse o depu

tado C arneiro de C am pos; mas a j ies in tel l ige nc ia com,

o governo de Montevidéo não fez lemb

dade de ter prompta a força armada.

F icará dem onstrad o no lugar com petente que na

m arg em do rio Ur ugu ay podia-se ter anniquilado 6

ex er ci t o paraguay o quando v eio para o nosso terri

tó rio ; isto não se fez porqu e a pro vinc ia do Rio

Grande não t inh a um pre siden te official general , que

t ivesse reunida toda a força armada que estava espa

lhada na provincia, e que excedia de oi to mil homens .

O ex erc ito par agu ayo, mal arm ado, sem artilharia

e com pouca caval laria , infal l ivelmente teria s ido

derrotado quando passou o rio se fosse atacado

pela força que havia na provincia, sendo bem com

m a n d a d a .

C onsta dos doc um en tos officiaes, m anda dos pub licar

pelo ministro da guerra (Ferraz), que os tres officiaes

gen erae s que comm andav am forças achavam-se em di

versos lugares , longe de  S .  Borja, e que, além de

não se reunirem, achivam-se em des inte l l igenci^;

d e s te s t res um era então comm andante das armas,

t inh a a au tor ida de e as ord ens nece ssár ias para fazer

o

  4

u e

  en ten de sse , não fez o que dev ia fazer.

Em qua nto o exe rc ito paraguayo* m archo u até Uru -

guaya na, foi ho st i l i sado por com m andantes da guarda

nacion al , e pelo prime iro b atalhão de Voluntários da

Pátria , commandado pelo valente , então coronel , João

Manoel Menna Barreto; general dis t incto (bem como

outros), f icará o seu nome gravado nas paginas da

historia d'esta •m em orá vel ca m panha do Paraguay .

Foi , por tanto, para deplorar que o governo impe

rial não de t ivesse lembrado n'aquella occasiao de

rar a necess i -

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L X V H I

g u e r r a d e n o m e a r u m p r e s i d e n t e m i l i t a r p a r a a p r o

v í n c i a d o R i o G ra n d e , e q u e fo sse a o m e sm o t e m p o

c o m m a n d a n t e d a s a ç m a s , p a r a o r g a n i s a r u m a d i v i s ã o

c o m fo rç a n e c e ssá r i a p a ra b a t e r e d e s t r u i r o s P a ra -

g u ay os ; o qu e não f izeram os chefes m i l i ta re s qu e

e x i s t i a m n a p ro v i n c i a .

P o r c o n se q ü ê n c i a , e s t a s i t u a ç ã o c r i t i c a e m q u e e s

tava a provincia do Rio Grande no anno de 1865 fo i

o r e s u l t a d o d a s p r o v i d e n c i a s q u e d e r a m a s a d m i n i s

t r a ç õ e s q u e t i n h a m e x i s t i d o ; e o g a b i n e t e q u e a p p a -

re c e u a 12 d e M a io d ' e sse a n n o se g u i o o m e sm o c a m i

n h o d o s se u s a n t e c e sso re s e m re l a ç ã o a o s n e g ó c i o s d a

g u e r r a .

Que dev ia te r ' fe ito o gov erno im pe ria l qu an do em

A bril* de 1864 quiz at rê nd er ás qu eix as qu e lh e f ize

ra m a l g u n s d e p u t a d o s so b re o e s t a d o e m q u e j a z i a m

o s B ra s i l e i ro s n o Es t a d o O r i e n t a l ?

N ã o t e r m a n d a d o e m i s s á r i o a l g u m a M o n t e v i d é o

f az e r r e c l a m a ç õ e s e a m e a ç a s p r e m a t u r a s a u m g o v e r n o

q u e e s t a v a e m d e s i n t e l l i g e n c i a c o m o B ra s i l , p o rq u e

o Im p é r i o n ã o t i n h a e n t ã o m e i o s d e g u e r ra p a ra o b r i

g a a q u e l l e g o v e rn o a sa t is fa z e r o q u e e x i g í a m o s . C o n

s u l t a r o s h o m e n s c o m p e t e n t e s s o b r e t a e s a s s u m p t o s .

O u v i r a o p i n i ã o d o s g e n e ra e s , q u a l se r i a o m e l h o r

m o d o d e o rg a n i sa r d e p re ssa o e x e rc i t o q u e o B ra s i l

n ã o t i n h a ; q u e m o d e v i a c o m m a n d a r , e c o m b i n a r c o m

e ll es o p l a n o d e c a m p a n h a .

D e p o i s d o g o v e rn o i m p e r i a l t o m a r e s t a s m e d i d a s

i n d i sp e n sá v e i s á se g u ra n ç a d o Im p é r i o d o l a d o d o

su l, e e s t a rm o s p ro m p t o s p a ra o p e ra r , n ã o sé d o l a d o

d a t e r ra c o m o d o m a r , p o d i a e n t ã o o m i n i s t é r i o d e

1 5 d e Ja n e i ro t e r e n v i a d o u m e m i ssá r i o

  S ü

  M o n t e v i d é o

ex ig i r do g ove rno de A gü i rrç o que fosse ju s t o , o <jue

fo sse i n d i sp e n sá v e l á d i g n i d a d e d o B ra s i l , p a ra se -

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L X X

Gr ande; formar a ba se das tu as opera ções n'aquella

provincia, m archar div idido em dous ou tres corp os,

passar por S. Borja, pr ov incia do Paraná e pe lo sul

de S. Paulo em direção á Assumpção.

Em quanto o ex erc ito est ives se no R io Grande em

organisação, embora se demorasse alguns mezes, f i

cava re co lhid o em qu artéis, all i se lh e reuniriam os

corpos que marchassem das outras provincias; rece

beria tod o o material nece ssário para aquella campa

n h a ; pode ria ser bem al ime ntado , e f icar l ivre das en

fermidades que soffreu e perdas que teve em quanto

esteve acampado na margem do Rio de S. Francisco,

e C oncó rdia; ainda com a grande uti l ida de de que a

despeza que fizesse ficava na provincia.

N'aquella provincia ha extenso s cam pos, próp rios

para acampar qualquer exercito, com a faci l idade

de mud ar de p osição quando fo sse nec ess ário ; ha em

alguns lugares abundância de agua, pasto para a ca

valha da, faci l idade para transporte do s fornec ime ntos,

e a pro xim idad e das povo ações para ahi estabe lecer

ho sp i tae s; com estes recursos e em m elhores con di

ções de salubridade, marcharia o ex ercito quando

fosse necessário. Em quanto est ivesse no Rio Grande

observaria o E stado Oriental, t inh a em baraçad o a en

trada do s Paraguayos na pr ov in cia ; tinha-se feito

m uita econ om ia de dinheiro e de gente . Quando o

exercito atravessasse os territórios de Comentes e

do Paraguay, encontraria difficuldades que vencer,

sobre tudo na passagem do Alto Paraná, mas estas

difficuldades naturaes são ven cid as com m ais ou

menos trabalho, e para esse f im acompanha o exer

c i to um corpo de engenheiros .

Não teria o exer cito encon trado no cam inho para

o Paraguay grandes fortif icações, porque não se

  t e r i a

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L X X I I

p i a r f o ra m i n s u f i c i e n t e s ,

  á

  v i s t a d o s r e c u r s o s q u e

h a v i a .

D e 2 0 d e F e v e r e i r o a t é fim d e A b r i l t e v e m u i t o

t e m p o o g o v e r n o i m p e r i a l p a r a a j u s t a r c o m o d a

C o n f e d e r a ç ã o A r g e n t i n a d a r - l h e u m a d i v i s ã o d e 6 ,0 00

h o m e n s d a s t r e s a r m a s , p a r a a u x i l i a r o s e u e x e r c i t o ;

e o g o v e r n o d e B u e n o s - A y r e s d e i x a r e n t r a r n o r i o

P a r a n á a n o s s a e s q u a d r a , e f i c a r a n a v e g a ç ã o d ' a q u e l l e

r i o l i v r e á s s u a s o p e r a ç õ e s , q u e d e v i a m s e r d e a c -

c o r d o c o m a s d o e x e r c i t o a r g e n t i n o : e s t e a j u s t e p a

r e c i a o m a i s r a c i o n a l e m l u g a r d a a l l i a n ç a q u e

fizeram.

Depois do Convênio de 20 de Fevereiro, f icou o

n o s s a e x e r c i t o a c a m p a d o p r ó x i m o a M o n t e v i d é o ;

a h i r e c e b e u a l g u n s c o r p o s d e i n f a n t a r i a q u e d ' a q u i

f o r a m , e o r g a n i s o u - s e m e l h o r p a r a p r i n c i p i a r a n o v a

c a m p a n h a , c o n t r a o P a r a g u a y . J u lg o u - se q u e a q u e l l a

d e m o r a q u e t e v e n o E s t a d o O r i e n t a l f oi c a u s a d a p e l a

i n c e r t e z a e m q u e e s t a v a o g o v e r n o i m p e r i a l s o b r e o

d e s t i n o q u e d e v i a s e g u i r o e x e r c i t o b r a s i l e i r o , d e p o i s

d a p a z c o m a R e p u b l i c a O r i e n t a l . A n t e s d e s e f a z e r

o T r a t a d o d e A l l ia n ç a , i s t o é em A b r i l, o n o s s o e x e r

c i t o p r i n c i p i o u a e m b a r c a r p a r a S . F r a n c i s c o , ô u a s

l é g u a s a c i m a d e P a y s a n d ú ; o q u e m o s t r a v a q u e o

g o v e r n o i m p e r i a l t i n h a j á e n t ã o r e c e b i d o i n s t r u c ç õ e s

d e s e u m i n i s t r o d e B u e n o s - A y r e s p a r a a s s i m o d e l i

b e r a r : j á d e l á l h e t i n h a a p o n t a d o q u a l e r a o c a

m i n h o q u e o e x e r c i t o d e v i a s e g u i r .

D o E s t a d o O r i e n t a l p a s s o u o e x e r c i t o d e p o i s p a r a

a p r o v i n c i a a r g e n t i n a d e E n t r e - R i o s . A q u i m e t t i d o

t a m b é m e m t e r r i t ó r i o e s t r a n g e i r o , f i c o u s e m b a s e

p a r a a s s u a s o p e r a ç õ e s ; o ú n i c o a p o i o q u e p o d i a t e r

n ' a q u e l l e l u g a r e r a a e s q u a d r a ; o s n a v i o s q u e a c o m

p u n h a m , a l é m d e s e r e m a i n d a e n t ã o e m n u m e r o lijm -

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LXXI V

P a r a n á n o P a s s o d a P á t r ia , d e s d e Ab r i l d e

  1865

  a té

A b r i l d e 1 866 , s e n d o e s t a m o r t a l i d a d e c a u s a d a p o r

d i f f e r e n te s m o lé s t ia s .

N a c a m p a n h a d a C r i m é a o s e x é r c i t o s a l l i a d o s s o í -

f re ra m t r a b a l h o s e x t r a o r d i n á r i o s p a r a p o d e r e m e s t a

b e l e c e r o c e r c o á p r a ç a d e S e b a s t o p o o l ; m a s v e n c e

r a m a c a m p a n h a n o fim d e 1 3 m e z e s . ( V e ja -s e B a n -

z a n c o u r t ) .

S e f o i r e c o n h e c i d a a s u p e r i o r i d a d e d a s a r m a s f r a n -

c e z a s n a c a m p a n h a d a C r i m é a , t a m b é m n a g u e r r a d o

P a r a g u a y f o i r e c o n h e c i d a c o m a d m i r a ç ã o a s u p e r i o r i

d a d e d a s a r m a s b r a s i le i r a s . O v a lo r d o s o fficia es e

s o l d a d o s b r a s i l e i r o s fo i a d m i r a d o n o s c o m b a t e s d e

2 e 2 4 d e M a io d e 1 86 6, q u a n d o f o r a m s u r p r e h e n -

d i d o s p e l o s P a r a g u a y o s . a o s q u a e s n ã o f a lt o u a u d á c i a

e r e s o l u ç ã o p a r a a t a c a r e m , m a s fa l to u p r e v i d ê n c i a d a

p a r t e d o c o m m a n d a n t e e m c h e f e d o s a l l i a d o s .

S e r á d i f f ic i l a c h a r - s e n a h i s to r ia d a s c a m p a n h a s d e

o u t r a s n a ç õ e s , f a c t o s c o m o o s q u e a c o n t e c e r a m n o s

p r i m e i r o s d o u s a n n o s n o P a r a g u a y . J a m a i s s e v i o q u e

u m e x e r c i t o i n v a s o r d e i x e d e p e r s e g u i r o i n i m i g o q u e

f o g e , p a r a n o m e s m o l u g a r e s p e r a r n o v o s a t a q u e s , e

p e r d e r t o d a s a s v a n t a g e n s q u e p o d i a o b t e r . A s s i m s e

p r i n c i p i o u a p r o l o n g a r a g u e r r a .

A e s q u a d r a f oi b l o q u e a r a s T r e s B o ca s q u a n d o o

e x e r c i t o p a r a g u a y o j á d o m i n a v a m e t a d e d a p r o v i n c i a

d e C o m e n t e s e a m a r g e m e s q u e r d a d o r i o P a r a n á ,

o n d e d e p o i s t e n t o u b l o q u e a l - a c o m b a t e r i a s e m t e r r a .

L o p e z c o n h e c e u a p o s i ç ã o e m q u e e s t a v a m o s n a v i o s

b r a s i l e i r o s ; n ã o e s p e r o u m a i s t e m p o p a r a f az er o q u e

j u l g o u c o n v e n i e n t e . O c o m b a t e d e R i a c h u e l o p o d i a t e r

s i d o m a i s f a ta l á e s q u a d r a b r a s i l e i r a , a t t e n d e n d o a o

l u g a r e m q u e fo i p r o v o c a d o e á p r o t e c ç ã o d a s d i t a s

b a t e r i a s a o s n a v i o s p a r a g u a y o s .

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LXXV

A p a s s a g e m p o r M e r c e d e s e Ç u ê v as s a l v o u a e s q u a

d r a d e ficar b l o q u e ad a p o r aq u e l l as b a t e r i a s , s o ff ren d o

n ' a q u e l l e s d o u s l u g a r e s g r a v e s a v a r i a s e p e r d a d e

g e n t e , o .qu e p o d i a t e r - s e ev i t ad o , s e o u t r as t i v es s e m

s i d o as d i s p o s i çõ es d o g o v er n o r e l a t i v am en t e á n o s s a

f o r ç a n a v a l d e s d e o p r i n c i p i o d a g u e r r a .

C o m r e l a ç ã o a e s t e s m e m o r á v e i s a c o n t e c i m e n t o s , a

i m p r e n s a d o R i o d a P r a t a m a n i f e s t a v a - s e p o r e s s e

t e m p o d a m a n e i r a s e g u i n t e :

« A   A L L IA N Ç A E A E S Q U A D R A .  — S o b e s t e t i t u l o p u b l i -

car am as f o l h as d e B u en o s - Ay r es d i v er s o s a r t i g o s , o s

q u a e s s e a c h a m n o  Jornal do Commercio  d e 2 5 d e F ev e

r e i r o d e 1 86 6. De u m d e s s e s a r t i g o s e x t r a h i m o s o q u e

s e s eg u e , q u e t em r e l ação co m as n o s s as i d é as ac i m a

e m i t t i d a s , s o b r e o E s t a d o O r i e n ta l d o U r u g u a y , e s u a

e x i s t ê n c i a p o l i t i c a .

« P ar a a p az d as n açõ es n ã o h a m el h o r co u s a q u e

o s e u p o d e r e r e s p e i t o s r e c í p r o c o s . N ã o h a p a r a e s s a

p a z m a i o r p e r i g o q u e o s E s t a d o s p e q u e n o s q u e l h e s

b a t e m á s p o r t a s p a r a d e s p e r t a r o s c i ú m e s , o u a s

a m b i ç õ e s i l l e g i t i m a s .

« U m p o v o p e q u e n o , g e n e r o s o e v a l e n t e , m a s s e m

o s e l e m e n t o s n e c e s s á r i o s p a r a c o n s t i t u i r - s e u m a n a c i o

n a l i d a d e q u e b a s t e a s i m e s m a , c o n d e m n a d o a e s t r a n

g u l a r - s e p o r s u as p r ó p r i a s m ão s , e ao s acri fí c io d a

s u a d i g n i d a d e , s o ff re n d o e v i v e n d o d a i n t e r v e n ç ã o d o s

s e u s v i s i n h o s ; t a l fo i o d e s t i n o q u e os t r a t a d o s d e r a m

á R e p u b l i c a O r i e n ta l .

« E e m b e n e f ic i o d e q u e m ? D e n i n g u é m . Q u e t e m

l u c r a d o o B r as il c o m a i n d e p e n d ê n c i a o r i e n t a l ?

« G u e r r a s e i n t e r v e n ç õ e s r u i n o s a s , d e s c o n fi a n ça s e

ó d i o s p r o f u n d o s . Q u e p r o v e i t o t e m t i r a d o a R e p u b l i c a

A r g e n ti n a d e s sa m e s m a i n d e p e n d ê n c i a ? D e b i l id a d e ,

g u e r r a s e t r e m e n d a s r e c r i m i n a ç ô e s c o m u m f un d o t r i s -

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LXXVI

tissirao de verdade, pois concor remos para a in de

pendência d'aquelle Es tado ; para envolvel-o nas nossas

próprias guerras, para tornal-o alvo da sanha dos

nossos próprios tyrannos, fazendo correr sobre a sua

athmosphera o sopro ardente da nossa revolução,

como a tempestade que nas entranhas leva o fogo da

cólera divina.

« E" esta a politica das ci rcumí tanc ia s de 1828; o

suicídio para o Estado Oriental, a agitação, o sangue,

e a sempre eterna desconfiança para a Republ ica Ar

gent ina e para o Brasil. E tudo isto pela estravagan-

te utopia de crear um Estado independente, que se

parasse as duas grandes nac ionalidades. O perigo nunca

esteve em que as fronteiras de ambas se tocassem,

mas em outras cauzas^na is profundas e sociaes.

« Mas se

  ^isso

  estava o perigo, não se evitou,

porque se a desgraça da America nos levasse algum

dia a uma guerra com o Brasil, fornecendo mais um

escândalo aos annaes do novo mundo, os Orientaes

não estariam com o Brasil, mas comnosco ; po rque

assim o queriria quem pôde mais que os Impérios e

as Republicas, quem sabe mais que os governos e

os protocollos, porque assim o queriria a natureza.»

Des tas reflexões do escriptor argentino concluímos

q u e ,

  quando qualquer dos dous Estados da margem

do Rio da Prata declarar guerra ao Brasil, elles se

acharão sempre juntos contra nós. Estes sent imentos

da imprensa argentina não são novos, elles estão lem

brados em mais de um lugar na historia da guerra,

que se segue. A all iança de 1852 com o Estado Orien

tal foi feita pela grande necessidade que teve aquella

Republica da protecção do Brasil; o mesmo aconteceu

com Buenos-Ayres em 1865 : cessando a Necessidade

da protecção, esquece o alliado e protector .

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L X X V I l

Não d es e j am o s q u e as d i v er g ên c i as q u e p o r m u i t o s

an n o » ex i s t i r am en t r e o B r as i l e as Rep u b l i cas d o R i o

d a P r a t a , t o r n e m a a p p a r e c e r d e p o i s d a g u e r r a q u e

t e r m i n o u .

Gom o an d a r d o s t em p o s , es s e p r o f í cu o r e s u l t a d o

s e c o n s e g u i r á , c o n v e n c e n d o - s e a q u e l le s p o v o s , q u e r e s

p e i t a m o s s u a a u t o n o m i a , e m a n t e m o s i n t e i r a n e u t r a

l id ad e no s seus negó*cios in t er no s , a l inda nas m aio res

a g i t a ç õ e s , p o r q u e p o r v e n t u r a p a s s a r e m .

A n t es d e p r i n c i p i a r m o s a e s c r e v e r a h i s t o r i a d a

g u e r r a d o P a r a g u a y , c o n v é m m e n c i o n a r n *e ste l u g a r

u m a d a s c a u s a s r e m o t a s q u e c o n c o r r e r a m p a r a o e m -

b r u t e c i m e n t o e m q u e t e m v i v i d o a t é a g o r a o p o v o p a

r ag u ay o s u j e i to ao d es p o t i s m o d e u m cr u e l d i c t a d o r , e

s em t e r p o d i d o m el h o r a r a f ô r m a d e s eu g o v e r n o , e o

es t a d o d e c i v i l is ação em q u e ex i s t e .

Q u a n d o s e d e s c o b n o , o P a r a g u a y e s t a v a p o v o a d o

p el o s í n d i o s g u ar a n y s , r aça q u e se m i s t u r o u co m o s

H e s p a n h ó e s , s e u s c o n q u i s t a d o r e s . P o u c o t e m p o d e p o i s

o s j es u i t as f o r am o s d o m i n a d o r es d ' aq u e l l e p o v o , ao

q u a l i m p r i m i r a m u m a e d u c a ç ã o t h e o c r a t i c a , e s t ú p i d a

e f an á t i ca , co n s er v a n d o - o n a i g n o r â n c i a e n a ceg a

o b e d i ê n c i a a o s p a d r e s q u e o g o v e r n a v a m . N ' e s te e s

t a d o d e t o t a l i g n o r â n c i a d o s d i r e i t o s d o h o m e m , p a s

s o u a p o p u l a ç ã o p a r a g u a y a p a r a o d o m í n i o d o s g o

v e r n a d o r e s h e s p a n h ó e s , a o s q u a e s c o n v i n h a c o n s e r v a r

a e d u c a ç ã o j e z u i t i c ã ; i s t o fo i f ác il c o n s e g u i r - s e , p o r

q u e a l li n ão p e n e t r a r a es s a t a l o u q u a l c i v i l i s ação q u e

f o i ch eg an d o d e v ag ar ás o u t r as co l ô n i as h es p an h o l as

d o R i o d a P r a t a . A q u e l l e p a i z , s i t u ad o n o cen t r o d a

A m er ica d o S u l , q u a s i s em co m m u n i caçô es co m o r es t o

d o m u n d o , a p p r o x i m a v a - s e a o e s t a d o p r i m i t i v o d a

natureza.

  A l ém d ' i s to n o s sé c u l o s X V I I e X V I I I a H e s

p a n h a n ã o e r a a n a ç ã o m a i s c i v i l i s à d a d a E u r o p a ;

12

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L X X V I I I

os s e u s g o v e r n o s i m p o r t a v a m - s e p o u c o c o m a c i v i l i

s a ç ã o d a s s u a s c o lô n ia s d 'A m e r ic a , e a i n d a m e n o s

c o m o P a r a g u a y . E s ta s c i r c u m s la n c ia s f a v o r e c e r a m o

d o m í n i o d o s J e s u í t a s , q u e á p o d e r a r a m - s e d o p a i z e

d a s c o n s c iê n c ia s d o s ^ h a b i ta n te s , f ican do e s te s e n t r e

g u es a u m e s t a d o d e v e r d a d e i r o o b s c u r a n t i s m o . O s

g o v e r n a d o r e s h e s p a n h ó e s t i n h a m m e n o s p o d e r s o b r e

o e s p i r i t o d ' a q u e l le p o v o d o q u e o s j e s u í t a s ; m a s

q u a n d o e s te s d e s a p p a r e c e r a m , a q u e l l e s g o v e r n a d o r e s

n ã o t r a t a r a m d e m e l h o r a r o e s t a d o d e s g r a ç a d o e m

q u e e x i s t i a a c o l ô n i a p a r a g u a y a . | A o s g o v e r n a d o r e s

h e s p a n h ó e s s e g u i o - se o d i c t a d o r F r a n c i a , q u e c o n s e r

v o u a e d u c a ç ã o je z u i t i c a , a c e g a o b e d iê n c ia , o u a e s

c r a v id ã o d ' a q u e l le p o v o d e b a i x o d o f al so n o m e d e

r e p u b l ic a . L o p e z p a i éP L o p e z filh o, q u e h e r d a r a m o

g o v e r n o d o P a r a g u a y , c o m o s e f o s se u m a f a z e n d a d e

s u a p r o p r i e d a d e , s e g u i r a m o m e s m o s y s t e m a d e F r a n

c ia , pa ra conse rva r na esc rav idã o o infe l iz pov o qu e

t i n h a m s u b j u g a d o .

Conclue-se do que f ica expos to , quê o es tado mise

r á v e l e m q u e te m v iv id o a té a g o r a o s h a b i ta n te s d o

P a r a g u a y , o g o v e r n o d e s p o t i c o d o s s e u s d i c t a d o r e s ,

o mal que acaba de fazer aque l le governo ao Bras i l ,

p e la g u e r r a q u e lh e d e c la r o u , c o m o f im d e s e a p o

d e r a r d a p r o v i n c i a b r a s i l e i r a d e M a t t o - G r o s s o ; t u d o

t e m o r i g e m n a e d u c a ç ã o q u e r e c e b e u d o d o m í n i o d o s

J e s u í ta s . G r a n d e s e r v iço f ez o M a r q u e z d e P o m b a l á

n a ç ã o p o r tü g u e z a e a o I m p é r io d o B r a s i l c o m a e x

t in ç ã o d ' a q u e l le s h o m e n s , q u e s e r e p u ta v a m o s m a is

necessár ios ás nações .

P a r a e s c r ev e r m o s a h i s to r ia d e u m a c a m p a n h a tã o

l o n g a e t r a b a l h o s a c o m o n u n c a h o u v e o u t r a n a A m e

r ic a d o S u l , fo i n e c e s s á r io c o p ia r u m g r a n d e n u m e r o

d e d o c u m e n to s q u e e x is te m p u b l ic a d o s , e q u e s e r v e m

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L X X I X

p a r a e s c la r e c im e n to e p r o v a d o s f a c to s q u e a q u i s e

e x p e n d e m ; n ' e s t e s d o c u m e n t o s s e i n c l u e m o s r e l a t ó

r i o s d o m i n i s t é r i o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s d e s d e

1853 a té 1865, dos quaes copiamos o que e l les contem,

e m r e l a ç ã o á p o l i t i c a s e g u i d a e m t o d o s a q u e l l e s

a n n o s p a r a c o m a s R e p u b l i c a s d o U r u g u a y e d o P a

r a g u a y . A s c o r r e s p o n d ê n c i a s , i n fo r m a ç õ es m i n i s t r a d a s

p o r a q u e l l e s q u e p r e s e n c i a r a m o s a c o n t e c i m e n t o s , o u

p o r o u t r o s q u e t i v e r a m p a r t e n ' e l l e s , f o r a m o s m a t e -

r i a e s q u e s e r v i r a m p a r a a o r g a n i s a ç ã o d ' e s te t r a b a l h o .

S o b r e c a d a p a r te d ' e s ta h i s to r ia fiz em o s o n o s s o

j u i z o c r i t i c o á v i s t a d o q u e a c o n t e c e u , p r i n c i p a l m e n t e

n o s p r i m e i r o s d o u s a n n o s d e c a m p a n h a . E p o s t o q u e

i s t o n ã o r e m e d e i e o s m a l e s q u e . a g u e r r a p r o d u z i o ,

n ã o d e v e m o s d e i x a r d e e s c r e v e r a v e r d a d e s o b r e t u d o

o q u e v a m o s n a r r a r , e m b o r a n ã o a g r a d e a q u e l l e s q u e

f o ra m o s a u t o r e s d o s p r i m e i r o s a c o n t e c i m e n t o s .

N u n c a h o u v e t a n t a n e c e s s i d a d e d e d i z e r f r a n c a -

mento á nação o que e l la deve saber .

S e c o m e s t e i n c o m p l e t o t r a b a l h o , n e c e s s a r i a m e n t e

d e f e it u o s o a m u i t o s r e s p e i t o s , n ã o p r e e n c h e r m o s o

n o s s o f im , a o m e n o s s e r v i r á d e a p o n ta m e n to s a q u e l le s

q u e m a i s t a r d e , e c o m p e n n a s m e l h o r a p a r a d a s , e s

c r e v e r e m a h i s to r ia d a g u e r r a d o B r a s i l c o n t r a a s

R e p u b l i c a s d o U r u g u a y e d o P a r a g u a y .

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I M O PRIMEIRO.

CONSIDERAÇÕES

  GERAES.

Às cam panhas que t iveram lugar no Su l do Bras il contra

as pov oaçõe s hespanh olas desde 1811

  até

1820 , tendo s ido

dir ig idas por um gove rno i l lus trado  e enérg ico  e  por gener aes

hábeis , t iveram por resultado

  a

segurança das fronteiras

 do

S u l e ahonra nacional desaffrontada.

A histo ria d'estas cam pan ha s, das qu aes já fizemos men çã o

n a in t r o d u c ç ã o , m o s t r a  oacerto da acção adminis trat iva mi

l i tar na direcção que

  se

 deu áqu el las guerras do S ul , para

 se

con c lu íre m com honra das armas bras i le iras .

E m b o r a  oexerc i to bras i le iro nunca excedesse  a 10,000

h o m e n s , f o i asua força em relação e  sempre superior  ãdos

i n s u r g e n t e s ,

 e

  o s n o s s o s s o ld a d o s , c o m m a n d a d o s p e lo s v a le n t e s

g e n e r a e s r io - g r a n d e n s e s , v e n c e r a m - o s e m t o d o s

  os

  e n c o n t r o s ;

então

  o

Bras il com pouca gen te

  e

  pouco d inhe iro obteve

o q u e  lhe foi  necessá rio para  serrespe i tado  poraquel les

povos.

O   m o v i m e n t o  de d e s o r d e m  e  de anarchia qu e tem ex is t ida

ao povo hespanhol do Rio da Prata desde que proc lamou a sua

independênc ia ,

  a

educação que recebeu

  no

meio das guerras

ovis

  que tem do m ina do aqu el les pauses , d ir ig idas pe los go -

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— 2 —

vemos que (TeUas nascem, é a razão porque aquel les homens

não tem respeitado até ha pouco tempo os direitos dos

v is inhos .

O despotismo repub l icano qu e os tem reg ido não c ív i l í s ou

ainda quanto é necessár io aos qu e descen dem dos H es pa nh óe s ,

e que povoam a Am erica do Su l , para converter as R e p u

blicas hesp anho las e m naç ões i l lustradas, pacif icas , ind ust rios as

e comm erc iantes . O que te m os v is to a té agora e m qua s i

todas as Republ icas hespanholas? Temos v is to um pres idente

governar ap oiado na força que o sus ten ta e qu e faz tu do

quanto quer. Se aquelles Estados t ivessem t ido outra fôrma

de governo, talvez o seu adiantamento teria s ido maior, e o

caracter feroz da gente da ultima classe estaria extincto.

E ste caracter é herdado dos seu s antepassa dos. Os H es pa -

panhóes europêos são em grande parte descendentes dos Sar-

racenos, po vos sem i-baw aros do norte da Áfr ica qu e por

a lguns sécu los habi taram na Penínsu la da Europa; por es ta

razão ju lg am os que es tes costum es q ue a inda ex i s tem na

raça hespanhola, são herdados d'aquelles dominadores.

As Rep ubl icas do R io da Prata acostumadas ao gov ern o

absoluto de um presidente , que con seg ue c onq uista r o po der

porque tem m aior força que lh e ob edece do qu e outro qu al

quer pretendente , não olham para o Brasi l pacif icamente, em

razão da sua crescente prosperidad e, a qu e e ll a s ain da nã o

puderam att ingir . D 'aqui tem na scido o desejo de ho st i l isar

sempre que podiam aos subditos do Impér io , host i l idades ora

praticadas, ora toleradas pelas autorid ades polic iaes d o Est ad o

Oriental , como o dizem os relatórios do ministério dos negó

cios estrangeiros ad iante tran scrip tos.

E m todas as guerras c ivis qu e appareceram n*aquelles pa izes

desde 1810, quando ainda o Estado Oriental não t inha Brasi

le iros domic i l iados na campanha, sempre os chefes revo luc io

nários procuraram env olve r n os seu s distúrb ios aos hab itante s

das fronteiras do Bio Grande, apezar d'estes nã o proc urare m

metter-se nas suas desordens domesticas; nunca, respeitaram

os limites e a soberan ia do ent ão reino do Brasil .

Todas as provinc ias do R io da Prata foram dom ina da s pela

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— 5 —

guerra 'civil logo

  q u e

  sacudiram o jugo da Hespanha, che

gando os seus estragos ás nossas fronteiras; n'estas circums-

tancias o Brasil não podia ficar indiferente a este estado de

desordem que podia passar para o Rio Grande, foi necessário

que o governo do Príncipe Regente

  D .

 João providenciasse,

e tivesse o procedimento que vimos na introducção.

Considerando agora os acontecimentos d'esta época, diremos

que os males que provieram ao Brasil de uma guerra que

podia ter-se demorado ainda por alguns annos, e para a qual

não estava preparado; tem origem nos homens que sendo

encarregados de dirigir os negócios públicos, foram pouco a

pouco precipitando os acontecimentos dos quaes proveio- a

guerra.

O que preparou e precipitou a guerra que durou mais de

cinco annos foi o comportamento pacifico do governo impe

rial,

  e a falta de providencias no coftrer de doze annos, desde

1 8 5 2   até  1 8 6 4 ,  para defender aos Brasileiros residentes no

Estado Oriental. O que os ministérios fizeram n'este longo

espaço de tempo, foi ordenar  á  legação imperial em Monte

vidéo que reclamasse do governo d'aquella Republica as satis

fações e indemnisações a que tínhamos direito, em virtude

das violências de toda a ordem perpetradas constantemente

contra os sobditos do Xmperio alli domiciliados.

A isto limitou-se a acção do governo imperial.

Esta politica empregada no espaço de doze annos para com

uma nação pequena, que só tem existido para ser o  foco  de

desordens e de anarchia, não fez respeitar os Brasileiros, pro

tegendo-os como era de sua obrigação.  D'este estado de inac-

ção do governo do Brasil, aproveitaram-se os gaúchos da

campanha do Estado Oriental para continuarem nas suas tro-

pelias,  certos da impunidade, porque os seus actos estavam

de accordo com as instrucções e desejos do governo blanco

da Republica.

A*  primeira vista parece inexplicável que uma nação como

o Brasil, que tem força sufficiente para fazer-se respeitar

d'aquellas republicas, aoffresse as repetidas aggressões

  q u e

 por

espaço de tantos annos lhe dirigio o povo e o governo blanco

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— 4 —

do pequeno Estado Oriental; sem gente e sem aendas para

poder sustentar a sua independência, com governos vacilantes,

sujeitos ás revoluções que alli são communs ; mas quem re-

Üectisse e conhecesse a índole e o caracter político de alguns

homens que neste espaço de tempo estiveram encarregados

dos negócios públicos, e soubesse que a maior parte d'elles

occuparani-se de preferencia da politica interna, irnportando-se

em segundo lugar da politica externa, não se admiraria de

que o seu comportamento fosse o que se vio.

A A ssembléa Geral nun ca tinha impellido o governo a tom ar

um a parte activa no que se passava no Estado O rienta l, o que

só aconteceu em A bril de 1864, como faremos ver no livro 5,°

A câmara dos deputados tinha conhecimento do que con

tinham os relatórios dos ministérios de estrangeiros, e nem

assim os seus membros se estimulavam com os factos que

elles referiam todos   Q S   annos.

Com a presença do general D. Venancio Flores no Estado

Oriental, em Abril de   1 8 6 3 ,  para reunir gente armada com o

fim de derribar o governo alli existente, o m inistério limitou -se

a ordenar á legação imperial em M ontevidéo, e ao presidente

da provincia do Rio Grande, que obstassern a que os Brasi

leiros do Estado Oriental e da fronteira se incorporassem ás

tropas do general D. V enancio.. F lo re s; convindo ao Brasil

conservar toda a neutralidade na guerra civil que principiava

na Republica visinha.

0 aviso do Marquez de Abrantes, como ministro dos ne

gócios estrangeiros ao p residente do R io G rande, de cla ro u: —

Que os Brasileiros que se incorporassem ás forças do general

D.

  Venancio Flores seriam reputados rebeldes e mereceriam

processo.—

 Os

  factos passaram-se de modo differente, do que

o ministério pensava. Muitos Brasileiros, que se uniram ao

general D. Venancio Flores, tinham n^aquelia Republica os

seus estabelecimentos e as suas famílias, a quem queriam de

fender das aggrjssões dos O rientaes do partid o blanco , e tamfeem

já estavam desenganados de esperarem, pela protecção do go

verno imperial, porque este não ünfya meios promptos nem

os procurava para os proteger immediatamente.

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Desde 1855, que não havia exercito organisado na provincia

do Rio Grande, ou alguma força para guarnecer a fronteira;

único modo de conter as aggressões externas.

Existia a guerra civil no Estado Oriental desde Abril de

1863;

  ern Outubro de

  1 8 6 4

  é

  que se principiou a organisar

uma divisão das tres armas, que completou

  4 , 5 0 0

  homens,

com pouco material de guerra, a qual passou a fronteira em

2   de Dezembro, da qual trataremos no lugar competente.

Para tornar esta historia mais completa e interessante, jul

gamos necessário copiar dos relatórios do ministério dos ne

gócios estrangeiros a parte que diz respeito ás Republicas do

Sul, para se poder conhecer qual foi a politica do governo

imperial para com aquelles Estados, durante o periodo de mais

de doze annos. Estes relatórios são os melhores documentos

que se podem apresentar dos actos dos differentes ministérios

que existiram naquelle tempo.

As revelações que os ministros dos negócios estrangeiros fizeram

todos os annos nos seus relatórios ao corpo legislativo, sobre o

que se passava com   os Brasileiros residentes no Estado Oriental,

tinham sido aquelles acontecimentos motivos mais que suffi-

cientes para

  o

  corpo legislativo obrigar o governo a mudar da

politica passiva em que vivia para outra mais activa e enérgica.

Esta mudança nunca se pôde fazer, porque a maior parte

dos deputados sempre dependendo do governo, necessariamente

approvavam tudo quanto o ministério lhes indicasse. Este

comportamento prova duas cousas: o pouco patriotismo de

alguns, e a indifferença de muitos para com os negócios ex

ternos; uns e outros não se interessaram pela causa publica,

e trataram só da politica interna ou pessoal.

Estabelecidos estes principios, vamos tratar dos iactos; que

confirmam o que acabamos de expender.

No anno seguinte aquelle em que terminou a campanha

contra Oribe e Rosas, o relatório do ministério dos negócios

estrangeiros apresentado á Assembléa Geral Legislativa em 1853

pelo respectivo ministro Paulino José Soares de Souza-, disse

o seguinte na parte política, referindo-se á R epublica do

Paraguay :

13

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6

« A o nosso encarregado de negócios no Pa rag uay foi en

viado o conve niente projecto, e foram dad as instru cçõ es p ar a

celebrar com o gove rno d*essa R epublica u m tratado de l i

mi tes ,

  navegação e com mercio, Fora m feitas todas aqu el las

concessões qu e a respeito de lim ites po dem os fazer, sem

quebra do nosso direito e dignidade.

« A fal ta de solução das questões de l imites com o P ar a

guay tem embaraçado a de ou t ras tam bém de m om ento , e

pôde prejudica r se riam en te para o futuro as boas relaç ões qu e

tem subsist ido e subsistem entre os dous paizes.

« O tempo que passa vai enredando e d i f ic u l ta nd o cada vez

mais a solução d essas questões, que as nossas ant igas m e

trópoles debalde por m uita s vezes proc urara m resolver . F i -

xando-se cada uma das par tes em preteneões incompat íveis

com as da outra, e del iberadas ambas a não recuar, é impos

sível che gar-s e a u m accôrdo, e por isáo du ra nte séc ulo s

nun ca pôde haver . S omen te a guerra poder ia não desatar

mas cortar essas difficuldades.

« Esses t ratados, ainda de pen den tes de dem arca çõe s pa ra

a f ixação das l inhas, não remo vem todas as duvi da s, ina s

resolvem as principaes. E ' indispensá vel , em ordem a evi ta r

o estabelecimento de novas posses e ma iores com plica çõe s

para o futuro, fixar os pon tos c ardiaes dos l imites do I m p é ri o

(o que é unicamente possível por ora) , e 'determinar, desen

volver, e explicar depois, por meio de commissarios, as l inhas

que os devem l igar . S upposto, ante s de serem corrida s as

l inhas divisórias, possam ter luga r usurp açõ es, haverá com-

tudo uma base para as reconhecer e inut i l isar , fei ta a demarcação pratica.

« A experiência tem mostrado que a populaç ão dos Es ta

dos v is inhos com áreas m ui to menore s que a do Im pér io , e

principalmente a dos centraes, tende a alargar-se sobre as no s

sas fronteiras, ao passo que a nossa pop ulaç ão, an tig am en te

attrahid a para esses pontos pela ind us tria da s m in as , e a isso

levada peto systema da nossa ant ig a m etrópole , ten de hoje a

approximar-se do l i toral . Assim é que não somente não se

tem formado novos esta bele cim ento s n as nossas fronteiras,

mas parte dos ant igos tem sido a ban don ado s, ou se acha m

em decadência. »

Não t inha sido para desprezar pelos governos que se se

guira m , o que disse no seu relatório a qu elle m inistro , sobre

a fal ta de solução das questões de l imites com o Paraguay ;

e que podiam prejudicar seria m ente para o futuro as boas

relações que tin ha m e xistido até então entr e os do us paizes.

Que o tempo que passava en red ava e difficuitava cad a

  vez

mais a solução d'essas que stõe s. Pa lav ras profecticas qu e se

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realisaram

  1 1

  an&os

  4ejj>ois.

  O tratado de limites tíunca se fez,

e o de oommercio e navegação foi concluído á von tade do

governo do Paraguay. Mostraremos que os factos, ou os acon

tecimentos

  ex

 pendidos em todos os relatórios do m inist ério

dos negooios estrangeiros, nu nc a serviram para o gov erno

imperial modificar a sua politica para com as Republicas do

Saí.  ^

Em Fevereiro de

  1852

  acabou o Brasil de livrar com o con

curso do seu exercito e esquadra as provincias argentinas e

oriental dos seus dominadores, Oribe e Rosas; era de esperar

que aquelles povos, sobre tudo os O rientaes, ficassem agrad e

cidos a este Im pério por aqu elle serviço, e que quisessem

viver em boa intellige ncia com os Brasileiros residen tes na

campanha d'aquelle Estado, onde viviam da sua industria e

commercio, o que era util

  á

  prosperidade da Republica; mas

estes sentimentos de gratidão e de reconhecimento nun ca exis

tiram na maior parte do povo oaixo oriental, que não tem

educação nem civilisação bastante para possuirem aquellas

qualidades, que tem as nações cultas. N'este mesmo ann o

principiaram as desintelligencias entre as autoridades policiaes

do Estado. O riental e os Brasileiros que habitavam na R ep u

blica, per motivos filhos da rivalidade inherente aos dous

povos; e logo seguidamente principiaram os assassinatos nos

Brasileiros alli residentes.

As notas abaixo transcriptas annexas ao relatório do minis

tério dos negócios estrangeiros de  1853,  provam o que aca

bamos de expor:

« Legação do Brasil em Montevidéo,

  31

  de Agosto de

  1852.

« O abaixo assignado, ministro residente de Sua Magestade

o Imperador do Brasil, e em missão especial junto da Repu

blica Oriental do Uruguay, tem a honra de dirigir-se a

S.  Ex. o Sr.  D .  Florentino Castellanos, ministro e secretario

d'estado das relações exteriores, para cham ar a seria* attenção

de  S.  Ex. sobre os factos seguintes que constam de conimu-

nicaçoes officiaes datadas de 4 do mez ultim o e transm ittidas

ao governo impe rial pelo com m andante d as arm as da prov in-

vincia de  S.  Pedro do Rio Grande do Sul.

« Em

  24

  de M aio próximo passado foi encontrado entre os

arroyos Gesca e Mole o corpo mutilado do guarda nacional

brasileiro Joaquim Silveira, vulgarmente chamado o Saco.

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  8 —

Constava que outro subdito brasileiro,  de nome Manoel Nobre,

íôra assassinado junto ao arroyo Maio.

  i

«pNas  fronteiras de Bagé e do Jaguarao, e presume-se que

também na do Quarahim, se estava cobrando o imposto de

680

  rs. em prata por cada rez que passava para a provincia

de S. Pedro, entretanto que d'esta tem passado para a cam

panha oriental, sem ônus nem estorvo algum, não pequeno

numero de gado, tendo sido strictamente observado por parte

do Império o art.  4.°  do tratado de comniercío.

« Guardas recentemente collocadas na Estância Velha e no

Serro da Carpintaria não exigiam somente um imposto inde

vido e illicitò, prohibiam absolutamente o movimento de gado

para o território imperial.  ™

cc   Além das guardas acima mencionadas, outras se tem pos

tado de próximo em pontos onde nunca houve, que se acham

fora  da nova e actual linha divisória. Havia em toda a fron

teira um movimento de tropas, que não tendo um fim co

nhecido, e coincidindo com a imposição, ou impedimento

sobre a passagem de gado, inquietava os proprietários brasi

leiros estabelecidos nas povoações limitropnes, e podia dar

lugar a successos desagradáveis.

cc   0 abaixo assignado, reproduzindo estas communicações que

os commandantes militares da fronteira dirigiram por inter

médio do seu chefe ao governo imperial, não pretende apre

sentai-as como factos e circumstanoias bem averiguadas sobre

que deva assentar a reclamação que elles exigiriam conforme

os direitos e encargos contratados pelo Império.

cc   O

  fim único e urgente que o abaixo assignado tem n'este mo

mento em vista é o que expressou verbalmente ao Sr.  D.  Floren-

tino CastelLanos, a vem a ser, rogar com instância ao governo

oriental, que se digne proceder ás averiguações que o caso exige,

e antecipe as ordens preventivas que se fazem necessárias para

que cesse a violação e o abuso, se abuso e violação se tem enec-

tivamente praticado, como dizem as communicações referidas.

« O  assassinato do subdito brasileiro Joaquim Silveira  é

desgraçadamente um facto averiguado, e o abaixo assignado

pede a iespeito d'elle, bem como a respeito do outro homi

cídio acinia referido, de que havia fundada presumpçao, que

o governo oriental mande proceder como o prescrevem e o

exigem a humanidade e a justiça.

a O abaixo assignado aguarda as informações que o Sr. D.

Florentino Castellanos de certo se ha de dignar transmittir-lhe

sobre cada um dos factos articulados, quando tenha recebido

o resultado das diligencias que são para esse íim necessárias \

e entretanto renova a S. Ex. os protestos de sua  alta  con*

sideraoão e apreço.

  [:...rlr)i

cc Illm, e Bxra. Sr. Dr.  D.  Florentino Castellanos, ministro

e secretario de estado das relações exteriores da Republica

Oriental do TJruguãy.—Joèé Maria da Silva Paranhw. »

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«1  10 —

travir a

  essa

  ilhcita e

  acintosa

  prohibiçào,

  m a s

  eües

  a

tem   sofFrido pass ivam ente , e vit an do por  sua parle  gue«m

perturbe a paz da fronteira, e o respeito e   a  h a r m o n i a ,  que

tanto convém existam e ntre dou s povos visin ho s,  amigos  e

all iados, o que se não cessa de recomraendar   a todos os

r io-graadenses em vir tude de  ordens  do gove r no

  dje Sua M a

gestade o Imperador .

a  Essa flagrante v iolação do trata do de com m ercio vi ge nt e

entre o Im pér io e a R epub l ica , é tam bém com m un icad a e

confirmada pelo presidente da prov incia de S . Pe dro do R io

G r a nde do S u l .

« Quasi ao mesm o tempo que o com m and ante   da  l inha de

Bagé, aos 13 dias do dito mez de J u lh o , se q ueix ava o co

ronel commandante da l inha de Quarahim de abusos e ex

cessos que n 'aq ue lla par te da f ronteira se tem pratic ado co ntr a

s ubdi tos de S ua M a ge s ta de o I m pe r a dor r e s ide n te s no te r r i

tór io or ienta l . Menciona par t icularmente um exemplo d 'essesrepetidos vexames que o abaixo assignado passa

  a

  referir .

O utros factos se po deria m exibir, se fossem prec isos para qu e

a t ranq üi l idade da f rontei ra e a harm on ia en tre os hab i tantes

de u m e ou tro lado m erecessem a m ais sér ia at te nçã o do

gove rno or iental , e para qu e se obtivesse da su a sab edo ria e

das disposições que por vezes tem professado o governo im

perial , medidas de justiça e de precaução.

« H aven do o major Francisco M acie l de O l iveira expedido

o seu capataz de nom e A ntônio M edin a em segu im ento de

um escravo que fugira para a cam pa nh a d'este Es tad o, foi o

dito capataz preso por esse un icò e inn oc en te facto, e ass im

privado de sua liberdade e coarctado na diligencia legai de

que seu patrão o encarreg ara. O effeito im m ed iato d 'esta

arbitrariedade foi o comp leto aba nd on o d e ma is de tres mil

anim aes que na estância s ituada entre Canas e  E A r ap e h y -

Chico t inha aquelle ind ivíd uo debaixo de sua gu arda e cu ida do .

« O facto ac ima referido passou-se aos 2 3 dias de J u n h o

próximo passado, co ntra el le - representou em con tin en te o

coronel comm andan te da l inha de Qu arah im , mas à p á data

de 3 de Julh o ul t imo, ne nh um a resposta havia recebido do

Sr . capitão or ienta l Bo aventu ra T orrem , a qu em com esse

motivo se dirigira.

« Ne nh um resultado satisfatório, diz o m ui to conhecido e

respeitável S r . ma rechal de campo Ba rão d e Po rto-A legre, se

te m até ao presen te obtido de reclamações sem elhantes, e pro

vado está que esse meio  é  insufiicieute para obstar  ás conti

nuadas tropelias e perseguições de que estão  s*odo  victiruas

os Brasileiros residentes na campanha or iental .

«. O p residente da pro víncia repo rtan do - se  aquel las  commu

nicações, informa que os subditos brasileiros  menos  favoreci

dos da for tuna não gosam ain da na cam pa nh a d'este  Estada

da segurança que era de esperar fosse para todos o resultado

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— l i

mais prom pto da pacif icação e restabe lecim ento da ord em

const i tucional .

« A os factos qu e ficam m encion ados se associam na tur al

me nte os assass inatos dos bras ile iros Joa q ui m S i lveira e M a

noel Nobre, a extorçào do imposto de

 680

 rs .  fortes pela exportação

de gados , a ordem do co m m an da nte da for ta leza de S anta T h e -

reza , declarando em nome do governo or ienta l , l ivres os escra

vo s  cjue fugirem para o terr i tór io da Re pu blica , e arbitra r ieda des

pr a t ic a da s e m P a y s a nd ú c ont ra A dr ia no M uniz F a g und e s , o

que tudo consta das notas d 'es ta legação, des ignadas com os

nú m ero s 24, 27 e 14, datad as de 31 de A gosto,

  iS

  d e S e

tem br o e 13 de Ju lh o próxim o f indo. S e alg un s d 'estes factos

eram duvidosos para o abaixo ass ignado, quando sobre e l les

rec lam ou , hoje está o abaixo assignado auto r isado para sup pô -

los verdadeiros .

« N ing ué m duv idará e m enos o abaixo ass ignado, de queta e s de s m a ndos e ve xa m e s s ã o a be r ta m e nte c ont r á r ios á s in

tenç ões do go ve rno o r iental , aos pr incipios cu ltos de su a

adm inis t raçã o, á cor respondência de boa inte l ligencia e am i-

sade qu e S . E x. o S r . Pres idente da R epu bl ica tem por m ais

de u m a ve z, e do mod o m uito l isongeiro professado a Su a

M a g e st ad e o I m p e r a d o r . M a s é t a m b é m i n n e g a v e l q u e o s

sub ditos Brasileiros residentes n a c am pan ha d'este Estado,

estão soffrendo abu sos e violên cias qu e, se nã o forem com

pro m ptid ão e energia reprimid os, avivarão todas as dissensões

e offensas passadas, produzirão reações perigosas, conduzirão

a resultados funestos a tranquil l idade da fronteira, e as boas

relações ent re os dou s gove rnos e povo s.

« Esse proceder im pru de nte e at tentator io dos tratado s qu e

reg ul am as re lações de am isade, jus t iça e com mercio entre

o gov erno or ienta l e o de S ua M agestade Im pe r ia l , essas

vexações não auto r isadas , e m eno s jus ti ficáveis de a lg un s

agentes c ivis e mil i tares da R epub l ica , não podem ser con

siderados com o factos isolados, co mo effeitos na tu rae s de c au -

zas,  qu e nã o pod iam ser de todo extinctas no m esm o dia

da pacif icação legal da Republica.

« O governo imp er ia l , com o o abaixo ass ignado , confia

ua n to de ve na s re c ta s in te nç õe s e nos s e n t im e ntos a m igá ve is

o gov erno o r i en ta l ; m as o abaixo ass ignado é o pr ime iro

a reconhe cer qu e não pôde repousar ; s i lenciosam ente n a fé

das segu ranças do m esm o go verno or ie nta l , em presença de

abusos qu e se estão p assand o na fronteira dos do us Esta do s,

e o abaixo assignado sente ter de o confessar em presença de

factos do própr io go vern o or ienta l , contra os qua es lhe cu m

pre reclamar em no m e do seu gov erno .

« À despei to das prevenções manifes tadas por a l g un s re

pr e s en ta n te s da R e pu bl ic a , na t r ib un a e pe la im p r e ns a , é

m n e ga v e l q ue o pr oc e dim e n to do gove r no de S ua M a ge s ta de

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o Im perador não, tem sido somente pautado pela fé do s Paetog

que o ligam ao governo or ien ta l; tem sido guiado por dis

posições as mais generosas e amigáveis.

« Depois de haver sacrificado o precioso sang ue de se us

subditos, e despendido um cabedal considerável para ass eg u

rar a independência e a paz da R epublica O riental, Sua M a

gestade o Im perad or teve o gra nd e desgosto de ver por algumtempo como que desconhecidos esses seus serviços, e os le

gítimos e honrosos direitos qu e por elles havia adquirido* e

cuja manutenção não interessavam mais ao Império do que

a este Estado. »

Continou o conselheiro José M aria da S ilva Pa ran ho s,

n'esta nota de

  2 7

  de S etembro de  1 8 5 2 ,  a queixar-se ao go

verno oriental da falta de cum prime nto do tratado de

  1 2

de O utubro, de actos d 'aquelle governo contrários aos in te

resses de subditos brasileiros e ao gov erno im perial ; m ostrou

que tendo o governo brasileiro concorrido com um subsidio

mensal para ajudar a firmar-se o governo orien tal, este faltou

aos seus compromissos, deixando de os cumprir ; que o go

verno imperial tem os mais justos motivos de queixa e

pezar, que era de seu dever expressar de um mo do franco

e official, como acabava de o fazer.

Por tanto, pelo docu me nto do qu al transcrevemos parte,

vê-se que em   1 8 5 2  principiou a legação imp erial em M on

tevidéo (*) a reclamar contra as violências e assassin atos p ra

ticados na campanha do Estado Oriental contra os Brasi

leiros alli residentes ; vê-se tamb ém qu e o gov erno ori en tai

não deu providencias sobre estas reclamações, pois que em

1 4

  de Dezembro d'aquelle anno ainda o nosso m inistro re

sidente continuo u a reclamar pelos mesmos m otivos ; e isto

acontecia com um governo que estava recebendo um a sonima

não pequena do thesouro do Brasil ; despendeu-se m uito

dinheiro com aquella R epublica, que tem pago ao seu credo r,

(*) De um documento que o presidente de Rio Grande remetteu ftogGWetffe

imperial cm data de 20 d e F ever eiro de 1847 , constou qu e 13Í) Bra sileiros foram

assassinados por Orientaes do partido blan co, nos d epartam entos de Ser ro-L arg o,

Cordovez 6 Taquaremb o, nos annos de 1843 a 1846. D iversa s reclamações foram

feitas ao gover no do Estado OrienÉd a este respeito pelo encarregado do s ne

gócios do Brasil, R odrigo de S ouza da Silva Po ntes. Estas reclamações tiver am

o meámo resultado, que tiveram dep ois a s qu e se dirigiram por iguaes m otivo s

desde 185) até 18 64.

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— 13 —

desde que se cpnstituio nação, com roubos, assassinatos e

violências de toda a ordem.

Eis aqui como se estabeleceram as boas relações de

 paz e

amizade

  entre o Império do Brasil e a Republica Oriental do

Uruguay, no mesmo anno em que as armas brasileiras con

correram, para livrar os dous povos da margem do Rio da

Prata dos tyrannos que os opprimiam. Isto era de esperar

logo que foi eleito

1

  presidente da R epublica O riental João

Francisco Giro, que pertencia ao partido blanco, creatura de

M anoel O ribe, eleito por uma assembléa cuja maioria era

hostil ao Brasil. O comportamento que teve o governo de

Giro para com o Brasil, tiveram-no os outros que se lhe se

guiram até Fevereiro de

  1 8 6 5 ,

  com pequena differença. Ainda

depois d'esta pequena campanha no Estado Osiental, ainda

depois de Orientaes verem quanto podem as armas do Império

contra os anarchistas da margem esquerda do Rio da Prata,

depois da demonstração que lhe fizeram sobre as muralhas

de Paysandftà ; ainda continuaram os Brasileiros a se rinsu l-

tados nas ruas de M ontevidéo, na presença* da sua força

naval, e quando o Brasil ainda tinha um grande exercito e

armada no Paraguay,

O comportamento que teve o governo de Giro para com

o Brasil, se fosse com outro governo dotado de mais energia,

tinha sido bastante para se obrigar por meio da força a pôr

termo a tantas ofíensas, feitas a uma nação que tem meios

para se desaggravar. O exercito que fez a campanha de

  1 8 5 2

• podia ter parado por algum tempo na fronteira do Rio Grande,

para observar o que se passava no Estado O riental ; dissol

veu-se paia não fazer despeza. Em

  1 8 5 4

  organisou-se uma

divisão de

  4 , 0 0 0

  homens, para ir proteger o governo de

M ontevidéo; mas apezar das desordens internas, continuaram

a hostilisar os Brasileiros na campanha, e a tropa brasileira

não servio para os proteger ou deíTender : o Brasil cumpria o

Tratado de

  1 2

  de Outubro, a Republica não o queria cumprir.

Antônio Paulino Limpo de Abreu* ex-ministro dos negócios

estrangeiros, disse no seu relatório que apresentou á Assem

bléa

  Geral, no anno de

  1 8 5 4 ,

  o seguinte :

u

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<c

 O

  governo imperial depois dos acontec imentos qu e sobre-

vieram no R io da Pr ata nos an nos de 1851 e 1852; o ha vendo

dado tantas demonstrações n'esses annos e nos anteriores, de

consideração part icular para com a Republica do Paraguaj ,

de que resultou o reconnecimento d'essa Republica por parte

da Confederação Argentina, Republica Oriental do Uruguay,

e varias naçOes da Europa, que ainda não haviam adherido

ao convite q ue fizera o mesm o g overn o, para com pr ete nd er

aquella Republica no numero das nações l ivres e indepen

de nte s; t in ha razão para suppor que encon traria da parte d 'aquella

Republica, as melhores disposições para chegar a um accôrdo

sobre varias questões, resultantes do tratado com ella cele

brado em 25 de Dezembro de 1850; quanto á navegação dos

r ios,

  e commercio, e principalmente sobre as questões dos seus

respectivos limites.

« Para este fim o governo imperial mandou um agente seu

ao Paraguay, dando-lhe todas as instrucções convenientes para

regular esses importantes assumptos. Na occasião em que, do

minado pelo espirito da maior moderação, o governo imperial

mandava propor ao governo da Republica do Paraguay todas

aquellas concessões, que a respeito de seus limites podia fazer

sem quebra de nosso direi to e dignidade; na admissão dessas

concessões encontrou embaraços imprevistos. O presidente da

Republica acabava de celebrar tratados com os governos da

Grã-Bretanha, França, Estados-Unidos e Sardenha; e quando

o nosso agente no Paraguay procurou entender-se com elle,

para a conclusão dos tratados que tivera ordem de negociar

por parte do Brasil , relativos á navegação e commercio; de

clarou o Presidente que nada ajustaria sem prévio accordo

a respeito do de limites; e quanto a este, apresentou ^reten

ções absolutamente inadmissíveis. As mais graves accusações

foram então prodigalisadas ao agente brasileiro, e a discussão

desagradável com elle h a vi d a, deu em resultado rem etter

o governo da Republica, de ordem do presidente, aquelle nosso

agen te, os seus passaportes, declarando q ue daria os motivos *

d*esta sua extraordinária deliberação ao governo imperial .

« Com efíeito, o gov erno imp erial recebeu u m a no ta doministro de relações exteriores da republica do Paraguay, com

data de 12 de Agosto do anno passado, e n'ella se referiam

os factos constantes das notas dirigidas ao nosso encarregado

de negócios, em data de 10 e 12 d'aquelle mez.

« O governo im perial não pôde suppor que motivos pes-

soaes tivessem dictado o procedim ento do governo d'aqu@lla

Republica, para se não prestar

  á

  conclusão ao menos do tra

tado de lim ites ; segundo as ordens q ue havia recibido o

nosso agente.

« Pre sta a estas difficuldades toda a consideração e proeu»

rar a resolvel-as de um modo decoroso p ara o Im pério | sem

que se alterem as relações de paz entre as duas nações. »

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O ex-ministro Limpo de Abreu, no relatório que acabamos

de transcrever, mostra que o governo não queria guerra com

o Paraguay, apezar d'este lhe dirigir offensas na pessoa do

seu representante, e de não querer fazer os tratados com o

Brasil, ajustados na convenção de 25 de Dezembro de

  1 8 5 0 . 

A bondade e as attençoes do governo imperial para com

o de Montevidéo desde o anno de 1852, continuaram do

mesmo modo; e a legação imperial a reclamar contra o

comportamento perseguidor feito aos subditos Brasileiros.

O mesmo ex-ministro dos estrangeiros apresentou um se-

gundo relatório á Assembléa Geral em 1855, o' qual contem

o seguinte :

RELAÇÕES DO BRASIL COM

 0

  PARAGUAY.

« O governo imperial, prestando toda a sua attenção ao es

tado em que se achavam as relaçOes entre o Império e a Re

publica do Paraguay, segundo vos informei no ultimo relatório,

encarregou de uma missão especial junto do Presidente

d'aquella Republica, o chefe de esquadra Pedro Ferreira de

Oliveira.

« E' sabido que pelo art. 3.° da convenção de 25 de De

zembro de 1850, celebrada entre o governo imperial e a Repu

blica do Paraguay; obrigaram-se os dous governos a auxiliar-se

reciprocamente, afim de que a navegação do rio Paraná até

ao Rio da Prata ficasse livre para os subditos de ambas as

nações.

  D'esta estipulação resulta que o governo da Republica

reconheceu o direito do Império á navegação do rio Para

guay, e obrigou-se a franquear-lhe essa navegação, e a do

Paraná na parte d'estes rios que lhe pertence. Se o commer

cio brasileiro não pudesse subir e descer livremente pelo rio

Paraguay, não haveria reciprocidade n'aquella estipulação,

nem interesse especial para o Brasil, como evidentemente

ahi se presuppõe, em tornar-se livre aos subditos de ambas

as nações a navegação d'aquelles nos.

« O governo do Paraguay, por cuja independência tanto

fez  o governo imperial, devendo ás allianças e aos esforços

do  Brasil, sem o menor sacrifício de sua parte, o poder na

vegar o

  Paraná até ao Rio da Prata; já concedeu a diffe-

rentes  nações a navegação de seus rios, mas julgou-se com

direito  e justiça para recusar igual concessão á bandeira bra

sileira.

« A navegação do Paraná está aberta  a  todas  as  nações,

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— 16 —

pelos actos dos governos de Buenos-Ayres, e da Confederação

A rgentina, que a franqu earam ; m as o Brasil não pôde ap ro

ve ita ss e d'ella para chegar á provincia de M atto-Grosso, por

que o Para gua y prohib e-lhe a entrada e sahida dos barcos

brasileiros pelos seus rios.

« O governo imperial abrio ao commercio nacional e estran

geiro o porto de Albuquerque, n 'aquella provincia; e o go

verno da R epub lica tem até hoje interdito aquelle comm ercio

á bandeira do Brasil, não obstante a sua qualidade de ribei

rinho, e as circumstancias especiaes acima ponderadas.

« Por outro lado, tendo-se obrigado S ua M agestade o I m

perador do B rasil, e o Presid ente da R epu blica do Pa rag ua y,

pelo artigo 15 do tratado de 25 de D ezem bro de 1850, a n o

mear, logo que o permittissem as circumstancias, e dentro

do prazo d'aquelle tratado, os seus plenipotenciarios, afim de

regularem por o utro o comm ercio, navegação e limites entre

ambos os paizes; o governo imperial apressou-se a dar anda

mento a estas negociações. Nenhum dos plenipotenciarios,

que o governo imperial nom eou , pôde conclu ir o tratad o, a

que se obrigara o Presidente da Republica do Paraguay pelo

artigo 15 da citada convenção. O ajuste sobre estas questões

e independente da obrigação contrahida pelo governo da Re

publica do Pa rag uay , pelo artigo 3.° da mesm a con ven ção .

A obrigação imposta no artigo 3.° não podia deixar ao go

verno do Paraguay pretexto algum para recusar-nos a livre

navegação do no Paraguay.

« Além disto, depois dos tratados celebrados pelo Presidente

da R epublica com a Fran ça, In glaterra, Estados-U nidos, e

S ard enn a, aq uella recusa seria u m a offensa flagrante á vista

dos compromissos dos artigos já mencionados do tratado de

25 de Dezembro de 1850, Entre tanto o governo da Repu

blica do Pa ragu ay não se quiz prestar a nenh um a das nego

ciações, allegandó, entre outros pretextos, a necessidade de

resolver-se primeiro a questão dos limites com o Império.

« O governo imperial facilitou a aceitação d'este ultimo ajuste,

fazendo ao da R epu blica as m ais am plas propo stas, e fun

dan do o seu direito em titu los que não po diam ser con tes

ta do s; m as não pôde chegar a um accordo "n^essa que stão, decuja solução fazia dep enden tes o govern o da R ep ub lica quae s-

auer outros ajustes, em vista das pretenções absolutamente

inadraissiveis do mesmo governo.

« Quando o encarregado de negócios Fehppe José Pereira Leal

instava pelo cumprimento das obrigações expressa e solemne

mente contrahidas pelo governo do Paraguay, mandou-lhe este os

seus passaportes por um m odo violento e insólito, pretextando

offensas e aggravos que não existiam, e nunca poderiam justificar

sem elhante procedim ento e seus effeitos. A ssim é qu e os ajustes

sobre commercio, navegação e limites ficaram adiados indefinida

m en te, e trancados os rios da R epub lica á navegação brasileira.

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— flr-

« Este u l t im o acontec im ento , dos passapor tes dados sem

razões que o podessem just if icar, pelo gove rno do P ar ag ua y,

o g o v e r n o d e Su a M a g e st ad e o I m p e r a d o r a p r o c u

rar um a solução a estas ques tões. A missão especial env iada

ao Paraguay teve pois por objecto: 1 .° Reclamar uma sat is

fação pelo acto praticado como encarregado de negócios do

Brasi l , Fel ippe José Pereira Leal . 2 ." Exigir que a navegação

do r io Par agu ay e do Pa raná , na par te em que um a de suas

m argens pertence á R epu blica do Pa rag ua y, seja f ranq uea da

aos navios e subdi tos brasi le iros, em vir tud e do a rt . 3 .° da con

venç ão celebrada em 25 de Deze m bro de 1850. 3 .° S ol l ic i tar

a celebração do t ratado de comm ercio, n avegação e l im ites, a

qu e está obrigado o govern o do Pa rag ua y, p elo ar t . 15 da m esm a

conv enção . O gove rno imp erial perten de fazer valer os se us

direitos, sem offensa nem prejuizo dos da Republica.

<t A m issão do chefe de esqu adra Pe dro Fe rre ira de O li-

vei foi aco m pan had a de um a torça na va l . — Esta força era

apenas uma condicção de dignidade nacional , e um meio de

at tender a interesses assaz importantes do Império. *

Qual poderia ser a intençã o do ex-m inistro de estrangeiros

L i mp o d e A b r e u , q u a n d o ma n d o u a q u e l la e sq u a d r a c o mo

condição de d ignidade nac ional? Vamos ver se encont ramos

alguma expl icação a este pensamento.

O Presid ente d 'aq ue l la R epu blica offendeu o Bras i l na

pessoa do seu re pr es en tan te; além d'isso neg ou- se a fazer os

tratados a que estava obrigado pela convenção de 25 de De- .

zembro de 185 0, . sobre tud o o de l imites. D eclaro u aqu el le

gov erno, qu e o t ra tado de navegação e com m ercio não ter ia

lugar sem se fazer o de l imites; para este apresentava o go

vern o do Para gu ay condições qu e o Bras i l não podia acei tar ;

segue-se qu e não era possível fazer-se t ra tado alg um com

aquel la Republ ica , e e ra i sso o que pre tendia o Pres idente ,

para os f ins que em outro lugar se dirá .

Foi n 'es tas c i rcum stanc ias , qu e o minis té r io que go ve rna va

e m 1 854 m a n d o u u m e mi ssá ri o a o Pa r a g u a y , a c o m p a n h a d o

de força que e l le mesmo commandou.

Julg ou-s e com razão, que aquel la força nava l e ra de st in ad a

a obrigar o governo do Paraguay a dar as sat isfações devidas

ao Brasi l , e a con cluir os t ra tados a q u e estava obrigado

aquel le governo pe la d i ta convenção . O minis té r io aparentou

que esse era o seu f im; m as acr ed i tou -se q ue as instrucç ões

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— 18 —

W Quando foi Ped ro Ferreira de O liveira, a fortaleza de Hum aitá consistia

e m

  dez ou doz e peças de pequ eno calibre sobre a ma rgem do rio , fortificaoko

que teria sido facilmente destruída, com a nossa artilharia.

ordenavam que tudo se subm ettesse ao arbítrio do governo

do Paraguay , não se emp regando as ar m as ; o m inistério

estava persuadido, avista das ordens qae deu ao seu pleni-

poteneiario, que o Brasil não podia exigir, pelo meio  dá  força

das armas, o cum prime nto dos tratados de navegação e com

mercio, e o de limites, que deviam deixar livre a navegação

brasileira para M atto-Grosso.

Para se cum prir este pensamen to do govern o im per ial,

bastava que o emissário tivesse ido só, sendo inútil n'este

caso a esquadra que elle coramandou; mas disse o ex-minis

tro:—que esta era apenas uma condição de dignidade nacio

nal ;— que r dizer, qu e não foi para se em pre ga r co ntr a o

governo do Paraguay.

Quando o plenipotenciario voltou, conheceu-se então de

que natureza tinha sido a sua  honrosa  com m issão, e qu e o  .

Brasil ficou subjugado ao governo do Paraguay.

Se a força naval foi também para attender a interesses

assaz importantes do Império, a esses interesses não attendeu

o emissário, á vista do tratado que con cluio, no qu al a

nossa dignidade e interesses foram esquecidos e despres ados.

Com tal politica não se devia ter mandado uma esquadra ao

Paraguay inutilmente, ao menos tinha-se poupado a despeza

que se fez com o seu armamento. Com outra politica, tinha-

se conseguido tudo q uan to a nossa dignidade exigia ; não

existia H um aitá , (*) e a nossa força nava l tin ha feito o resto .

Parece estar dem onstrad o, qu e aqu ella esqu adra não foi

para sustentar os direitos do Brasil, e que o seu armamento

foi inútil.

A força armada de terra, ou de mar serve para se em pregar

principalmente na defeza das nações, e na sus tenta ção dos

seu» direitos; nen hum a nação a tem só para lhe servir de

guarda de honra, como aconteceu na missão de Pedro Fer

reira d e O live ira: a força arm ad a serve para pu ni r as offensas  ^

recebidas. Os m inistério s passados, t ujos relatório s dos negócios

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- n -

estrangeiros estamos cop iando , entenderam que era melhor

soifrer, do que tom ar u m a attitud e mais enérgica para com

os governos das R epublicas do Sul. A demonstração do qu e

acabamos d e expender, e do qu e se segue , está nos rela

tórios, que continuam os a transcrever, e nos docum entos qu e

os acompanham.

Se n'aquella occasião tivesse-mos obrigado ao governo do

Paraguay pela força a cumprir com o que devia, e conser

vando o Brasil n*Assumpção força naval sufficiente para sus

ten tar os seus direitos de ribeirinho ; tinh a ficado dese m ba

raçada a navegação para a provincia de M atto-Grosso. Se

tivesse havido um a politica previdente nas nossas relações

com o Paraguay , anteriormente á enviatura de Pedro Ferreira

de O liveira, politica d irigida por um governo activo e conh er

cedor das circumstancias em que estava ainda aquella Re

publica, relativamente aos meios de guerra de que dispu nh a:

as fortificações de. H um aitá nun ca se tinham conc luido.

Foi Pedro Ferreira de O liveira acompanhado de u m a gr an

de esquadra e não levou instrucções precisas para operar

activamente contra o governo do P ara gu ay , conforme o nosso

decoro e hon ra o exigiam; e quand o o governo imperial lhe

tivesse dado instrucções para hostiiisar ao governo d'aquella

Republica, aquelle official general não era o homem o mais

próprio para aquella commissão.

Dotado de espirito frouxo, não tinha a actividade e a en er

gia precisas a qualqu er official de m arin ha em certas cir

cumstancias de guerra. Foi este o hom em que o m inistério

de 6 de Setembro de 1854 escolheu para ir ao Paraguay de-

saffrontar a honra nacional, offendida por aquelle governo.

N as circumstancias em que estava o Pa ragua y, era m ais

preciso empregar  a* força do que enviar notas diplom áticas,

que nada fizeram. Viram-se depois quantos prejuisos se se

guiram, por se tornar nulla aquella missão diplomática mili

tar. O  arm am ento dos navios e o seu custeio por seis m e ie s,

a honra naciona l ultrajad a, o desgosto porq ue passou a cor

poração da m arinh a de gue rra com tal procedime nto; e no

fim

  de tudo isto n egar-se o governo do P araguay a cum prir

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— 26 —

a convenção de  2 5  de Dezembro de

  1 8 5 0 ,

  pára se fazerem

os tratados que o Brasil exigia, *sobre tudo o de lim ites; a

navegação para M atto-Grosso ficou sujeita aos regulamentos

üuviaes, que aquelle governo estabeleceu para difficultar o

transito á bandeira brasileira no rio Paraguay. No livro

 9 . °

d'este volume acha-se a historia das nossas rei aço*es diplo

máticas com o Paraguay desde

  1 8 5 0 ,

  extrahidá do discurso

que o conselheiro Paranhos pronunciou na câmara dos depu

tados a  11  Julho de  1 8 6 Í . '

A esquadra de  1 6  vasos de guerra que devia subir até

Assumpção para vingar a honra do Brasil offendida na pes

soa de seu representante, ficou fundeada nas Tres-Bocas, fora

do rio Paraguay ; porque a intimação de um agente de poli

cia e de vinte soldados a fez parar. O chefe da esquadra sub-

metteu-se a esta intimação, e esperou pela licença do governo

paraguayo para subir no vapor  Amazonas  depois de partici

par que ia em missão pacifica, como se lhe exigio.

Perto do rio' Vermelho encalhou o vapor

  Amazonas,

  onde

esteve dous dias. O chefe mandou um guarda marinha com

ordem ao seu immediato para mandar dous vapores peque-

dos para alliviar o

  Amazonas; o

  forte de Humaitá não deixou

passar o escaler, sem licença do seu governo ; este deixou

subir só o vapor

  Ypiranga,

  mas quando chegou já o

  Amazo

n a s   estava navegando. Como tornasse a encalhar, o chefe o

mandou descer e ficou com o

  Ypiranga.

A ultima condescendência  d'

aquelle

  chefe, foi pedir licença

ao governo paraguayo para mandar um navio de guerra a

Matto-Grosso, e isso ser-lhe negado. Comtudo se acommodou

o commandante da esquadra; não quiz oppòr-se ás delibera

ções do governo  d'

aquella

  Republica, no que ia de accordo

com as instrucções que tinha recebido para bem cumprir a

commissão de que o encarregaram, isto   é ,  não empregar a

forca que commandava contra a Republica

  do

 «Paraguay.

Ò   Paraguay não estava ai nda armado convenientemente

para atacar o Brasil; o seu governo servio-se de boas pala

vras,  com que illudio o diplomata militar. Fez-se o tratado

de navegação e commercio, nada vantajoso para o Brasil,

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que felizmente não foi rectificado pelo governo imperial; e

ficou interrompida a navegação para Matto-Grosso: não se fez

o de limites, porque a isso—se oppôz o governo paraguayo,

obrigando d'este modo ao enviado a retirar-se.

D'esta maneira terminou a missão de que foi encarre

gado Pedro Ferreira de Oliveira ao Paraguay, acompanhado

de uma esquadra para dignidade nacional. (*)

Quando escrevemos esta parte da historia da guerra do

Brasil contra o Paraguay, publicou o Dr. Mello Moraes no

Cnrreio Mercantil  de 16 de Fevereiro de 1868, o seguinte:

« Uma armada poderosa e forte, e a maior que vio o Rio

da Prata, indo ao Paraguay exigir uma satisfação por um

insulto feito á nação brasileira na pessoa do seu agente diplomático, não se humilharia tanto, como se humilhou o

Sr. Pedro Ferreira de Oliveira, se suas instrucções fossem

claras e terminantes; e

 o

  Paraguay não estivesse instruído,

como afíirma o Sr. Dr. Antônio Corrêa do Couto, na sua

Dissertação sobre o actual governo do Paraguay,

  a pag. 83

e

 .84.

  »

Diz o Sr. Dr. Couto :

«

 Tivemos a franqueza de pronunciar na câmara dos de

putados, em Agosto de

  1 8 5 8 ,

  um discurso contra as vistas e

interesses do tyranno do Paraguay.a Fomos perseguidos por aquelles mesmos que talvez ti

vessem o cuidado de transmittir ao fallecido Lopez, com a

necessária antecedência, cópia das instrucções que levava o

fallecido S r. Pedro Ferreira de Oliveira para o Paraguay, por

cujo motivo se malogrou sua missão. O que é fora de du

vida é que com a noticia da nossa esquadra nas águas da

R epublica, tudo era confusão na A ssumpção: as famílias tra*

tavam de sahir em carretas para fora da capital conduzindo

o que tinham de melhor; o próprio Lopez destinava reti

rar-se para a sua quin ta, que demora duas léguas da cidade;

e n'este ínterim fundèa no porto um vapor, o Taçuary, que

lhe conduz cartas que lhe tinham sido dirigidas d'esta corte;

o Presidente sahe logo só a passeiar pelas ruas, cousa rara,

como prova que nada mais receiava, e a população se tran-

quilisa immediatamente.

« O

  Brasil e  o  seu governo estavam atraiçoados pelo  Jornal

do ÇommerciOj  que privando infelizmente nas confidencias e

vivendo da inexperiência dos nossos homens de estado, tirava

(*) Disse o conselheiro Paranhos, na câmara dos deputados em 1862: f Todavia,

ella foi digna do n osso paiz ; deu uma idéa vantajosa dos recursos militares do

Império ante os governos do Prata. »

15

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como continua a t irar em seu pro ve ito, partido de todo s <e

de tudo.

« O

 Paraguay nada t inh a . A for ta leza de H um ai tá não es tava

nas condições de hoje. As peças de pouco calibre enferrujadas,não podiam com as de 80 que guarneciam os nossos vasos

de guerra . Os próprios Paragua yos q ue v inha m vender gêneros

do paiz á nossa esquadra, aõ verem as peças, tomados de

espanto , d iz iam uns para os ou t ros , apontando para e l las : — Que

b ich as )

« Até os officiaes subalternos paraguayos

  ,

 sab iam que o d i

plomata brasileiro, apezar do grande apparato naval e beliico,

nã o podia fazer uso do poder de que dis pu nh a I Q ue em bora al l i

se achasse na frente de uma esquadra, o diplomata não ia

desaffrontar pelas armas e com os morrões accesos, um in

sulto feito á sua nação; e sim em

  missão pacifica,

  embora o

presidente Lopez tivesse desfeiteado ao governo brasileiro na

pessoa de seu agente diplomático.

« Com um a esquadra poderosa, e com d irei tos na tura es á

navegação do r io Paraguay, a não ter o diotador Lopez, como

tinha, segurança das instrucções que levara o Sr . Pedro Fer

reira de Oliveira, não seria tão r idiculamente embaraçado como

foi,

  e nem tão hum ilhado a obrigarem a fundear nas T res-Boceas,

fora das águas de um rio commum ao Paraguay e ao Brasi l ;

chegando a insolencia dos Pa ragu ayo s a ob star q ue viessem

dous vapores pequenos para ajudar a dese nca ihar a fragata

A m a zona s

« L opez impoz ao Sr. Pe dro F erreira de O liveira, para q ue

V iesse só a A ssum pção, deixando fora das águas do P ar ag ua y

a sua esquadra, e para isso lhe mandou offerecer carruagem,

para o seu t ranspor te do Passo de Tucumbú para a Assump

ção.

  O papel que estava representando o S r . Pedro Ferr eira

de Oliveira no encalhe do

  Amazonas,

  e as hum ilhações porqu e

•passou, tendo á sua disposição uma esquadra bem forte, não

podiam ser maiores. » (*)

Quaesquer que fossem as instrucções pacificas, que o mi

nistério do anno de 1854 deu ao chefe de esquadra Pedro

Ferreira de Oliveira, para ir á Assumpção, jamais aquelle chefe

podia obedecer aos officiaes paraguayos, que estavam policiando

o r i o ; nem tão pouco as instrucções por m ais cautelosas qu e

fossem, podiam prever sem elhan te aco ntecim ento, para orde nar

ao commandante da esquadra que obedecesse ao official da

policia do rio.

Por conseqüência, logo qu e o chefe Pedro Ferre ira de

(*) Até aqui é o que diz o Dr. Mello Moraes.

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O livera. teve a bonho m ia de sujeitar a força qu e com m and ava

a um a intim ação de tal naturez a, perdeu a' força m or al, e

tornou-se inú til a sua commissão. Nos annaes m arítimo s de

todas, as nações, não se encontra um facto como este.   O B rasil

m andou um a esqu adra para desaggravar a sua hon ra offen-

dida ; mas não mandou quem a devia com m andar .   O  governo

dietatorial de uma pequena nação, ainda embrutecida pela

falta de civilisação, com poucos recursos, e n'aq uelle tem po ,

mal armada, conseguio inutilisar os meios que o governo

imperial se propoz para a obrigar a cumprir o tratado de

25 de Deze mb ro de 1850. T ud o se deve ás instrucções que

deu o governo, e á escolha dó plenipotenciario. Quando uma

nação trata d e desaggravar-se de oífensas receb idas, qu e com

pro m etteram a sua honr a, emprega os meios enérgicos qu e

tem á sua disposição. Assim aconteceu quando a esquadra

franceza forçou a entrad a do T ejo, no tem po do governo de

D .  M i g u e l .  w

  j

A qui ajuntam os parte de um ofHcio reservado qu e "o chefe

Pedro Ferreira de .O liveira dirigio ao m inistro dos negócios

estrangeiros; o qual confirma o que acabamos de dizer sobre

o caracter passivo da missão de que foi encarregado. (Copiado

do  Correio Mercantil),

« Cidade da A ssumpção do Par agu ay, 10 de A bril de 1855.

• To das estas considerações me conv enceram da necessidade

de ser cauteloso observador das instrucções que V. Ex. me

havia d ad o ; sobre tudo qu and o não encontrasse o ge ner al

Urq uiza franca e lea lm ente decidido o nosso favor.

« Na Bajada tanto o m inistro Gu tierres, como o vice-p resi

dente da Confederação, se mostraram partidários da politica

do governo brasileiro, na questão da navegação fluvial; mas

não deixaram de dizer qu e ju lgav am acertado q ue antes d e

se empregar a força, se empresassem os meios diplomáticos,

fallaram-me na conveniência ae intimação prévia, e na de

não offender-se o m eliudre das republicas visin has , onde a

população se acha va um tanto assu stada com o apparato de

força por parte do Brasil n'estes paizes. T iveram a co nv e

nie nte resposta, qu e acabava co m a asserção seguinte:—- Nas

mão s do presidente L opez está a escolha; nosso procedimento

será a justa conseqüência do d 'eile .

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«No porto da Bajada o commandante do vapor norte-

americano

  Water Vich

 e seu imm ediato me procuraram e re

lataram os pormenores do conilicto com a bateria pa ra

guay a de I tapirú etc .  •  •

i

  O s conselhos (que ou tra cousa n ão foi a conversação

d'estes officiaes comigo) de em preg ar a força desde qu e ch e

gasse, procediam nã o só do desejo de vere m cahir o actua l

goverao paragua yo, como da convicção em qu e estavam elles,

e m uita gente de Co m ente s, de que L opez não nos poderia

resistir. A s medidas de precaução tom adas pelo Pre side nte r e

velavam que elle contava com a derrota.

« Consistiam as prinoipaes d'essas m edid as, na retirad a

das familias que ha hita m á beira do rio , para o interior ;

na remoção dos cofres onde ha valores metálicos ; na co n

centração de forças nas baterias de H um ait á; e, finalmente,

na repetição de resistência no ponto de T uc um bú , qu e cobre

a capital.

« Estou certo de que esta resistência facilmente desappare

ceria, m as julgo ter sido mais vantajoso o and am ent o qu e os

negócios tomaram em conseqüên cia da declaração e dos r ei

terados protestos qu e recebi, de que o governo p aragu ayo es

tava disposto a tratar, a conceder o que fosse justo e razoá

ve l .

  »

Con tinua o relatório do min istério dos negócios de estran

geiros de 1855.

« Expedição do chefe de esquadra Pedro Ferreira de Olivei

ra, desde que sahio d'este porto até Assumpção.—Estado das

negociações q ue fizeram o objecto de sua m issão .

« O chefe de esq uadra Pedro F erreira de O liveira sahio d'este

porto no dia 10 de Dezembro do anno passado, sendo acom

panhado por um a força nav al; chegou a M ontevidéo no dia

15 do mesmo mez ; e to m and o no dia 16 o co m m and o da

divisão alli estacionada partio no dia 22 para B uen os -A yre s.

« No dia 25 de Jane iro seguio do porto de Bu enos -A yres

>ara as ilhas denominadas— Dos Hermanos.— Chegou a l i d e

fevereiro á capital d e Corrien tes, e d'ah i partio a expedição

no dia 18 para as T res Boccas, onde chegou no dia 20 as

11 e meia horas da manhã. N'este mesmo dia, ao aproximar-

se do porto do Cerrito, recebeu o dito chefe de esq uad ra

um officio do commandante da policia do rio Paraguay, de-

clarando-lhe que não haveria inconveniente algum em sub ir

â Assumpção, uma vez que se dirigisse á Republica em mis- |

são pacifica e diplom ática, e a'es te caso convida va-o a qu e

fizesse conhecer, por um a nota ao m inistro das relações ex

teriores da R epub lica, o seu caracter publico, como era  de

estylo em taes casos.

« Em resposta ao officio su pr a, dan do na mesm a da ta o

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com mandante em chefe da esquadra brasileira todas as

seguranças sobre o fim da sua missão, remetteu para ser

encaminhada ao ministro de relações exteriores da Repu

blica uma nota, participando-lhe a posição que havia tomado

no porto Cerri to, nas Tres Bocas; e que assim o fizesse cons

tar ao Presidente, bem como que Sua Magestade o Imperador

havia-lhe conferido plenos poderes para tratar e terminar as

questões pendentes entre os dous governos.

«  O governo do Paraguay recebeu no dia 22 a nota supra,

e no dia seguinte expeaio a sua resposta concebida nos se

guintes termos: — que nutrindo sempre o Presidente da Repu

blica os mais vivos e sinceros desejos de manter inalteráveis

as relações de perfeita amisade e cordial intelligencia com o

governo de Sua Magestade o Imperador, recebia com a mais

viva e lisongeira satisfação a noticia de que o mesmo Augusto

Senhor se dispunha a enviar á Republica um agente diplo

mático para o ajuste das questões pendentes entre os dous

governos.—

« Os sentimentos assim manifestados pelo governo do Pa

raguay, confirmaram a esperança que nunca perdeu (*) o

governo de Sua Magestade o Imperador de que a occurrencia

dos passaportes dados ao encarregado de negócios do Brasil,

que se achava acreditado junto do mesmo governo, termi

naria de um modo honroso, e sem que se alterassem a

relações de paz entre as duas nações. Assim pois, apezar das

observações que se lêem n'aquella nota com referencia ao

apparecimento da força naval do Império nas águas da Re

publica, declarou o governo da mesma republica, que estava

prompto a receber o plenipotenciario brasileiro, e entrar com

elle em uma discussão e negociação pacifica sobre as questões

pendentes, uma vez que se afastasse das mesmas águas aquella

força.

« O plenipotenciario brasileiro annuio a este pedido, cuja

satisfação em nada prejudicava a sua missão, e antes era uma

prova não equivoca da sinceridade dos desejos que havia ma

nifestado em nome do governo imperial, de manter a paz e

amizade com os estados visinhos. Em conseqüência d'essa in

tell igencia, resolveu o chefe de esquadra commandante da

força naval brasileira, fazer fundear a esquadra do seu com

mando fora da embocadura do Paraguay, e seguir no vapor

onde tinha a sua ins ignia, no dia 27 de Fevereiro, para

Assumpção, em missão pacifica e diplomática. A subida do

plenipotenciario brasileiro até Assumpção não teve lugar no

vapor

  Amazonas.

  Com o fim de accelerar a viagem, passou o

dito plenipotenciario para o vapor  Ypiranga,  chegando á As

sumpção no dia 14 de Março.

(*)

  O

 governo imperial

  viveu

  sempre na esperança de conservar a paz a todo

o

  custo com as

  Republicas

  do Sul.

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«  Np dia 15 ás 5  horas  da  tarde  foi  recebido  o  pienipotea-

ciario brasileiro pelo Presidente  da  Republica, tendo antes

sido entregue  ao  ministro  das  relações exteriores  a  nota  do

governo imperial  de 10 de  Dezembro  do  anno próximo pas

sado ,

  em

  resposta

  á

  d'aquelle ministro

  de 12 de

  Agosto,

  de

que

  vos dei

  conhecimento

  no

  relatório d'esta repartição

  do

anno próximo passado.

«  N aquella nota declarou  o  governo imperial,  que não

podia considerar procedentes  os  motivos  que  levaram  o go

verno  da  Republica  a  praticar  o  acto violento  de  mandar  os

passaportes  ao  encarregado  dos  negócios  do  Brasil, *Felippe

José Pereira Leal; pelas seguinte razões:  1.°  Porque  a  des

pedida  de  qualquer agente diplomático  não  pôde ser justificada

se  não em  casos graves  e  urgentes, visto como  o  agente  di

plomático  não  depende somente  do  governo" perante  o  qual

está acreditado para

  a sua

  gestão.

  2.°

  Porque

  o

 governo

  que

obriga

  um

  agente

  a

  partir

  do

  paiz, junto

  do

  qual está acre

ditado,  pondo termo  ás  suas funcções nulliíica  a sua nomeação

que unicamente depende  do  governo  do  estado  que dá os

poderes.

  3.°  Porque,  por  aquelle facto,  os  subditos  do  paiz  ao

qual pertence aquelle agente ficam privados  do seu  protéctor

legitimo,  e o  chefe  do  estado  e a  nação,  sem  terem quem os

represente.  4.°  Porque sendo esta uma situação violenta,  o go

verno  que a  crêa perturba  o  exerci cio  de  direitos  que a lei

internacional reconhece  e  manda respeitar,  não podendo assim

proceder  sem motivos imperiosos,  os  quaes  nao  existiam contra

o encarregado

  de

  negócios

  do

  Brasil,

  a

  quem apenas

  se fa

ziam imputações vagas*  e  destituídas  de  provas  na  nota  do

ministro  de  relações exteriores  de 12 de  Agosto  do  anno pró

ximo passado.  5.°  Porque, sendo  de  estylo quando  ha  rosoa-

veis queixas contra  um  agente,  uma  intelligencia previa com

o governo  de  quem elle  tem a sua  carta  de  crença,  não

havia assim procedido,  na  caso vertente,  o  governo  da Re

publica.  (*)

« Pelas razões expostas  não  julgava suíficiente  o  governo

imperial,

  a

  segurança

  que por

  nota

  de 12 de

  Agosto dera

  o

ministro

  das

  relações exteriores

  da

  Republica,

  de que

  recebe

ria  com a  devida consideração qualquer outro agente  que

houvesse  por bem Sua  Magestade  o Imperador acreditar junto

do governo  da  mesma Republica;  e  exigia  uma  reparação que

podesse  com  honra  e  dignidade  do  Império  pôr  termo  a  esta

desagradável oceurrencia.

«  O governo imperial  deu  igualmente conhecimento, pela

sua mencionada nota

  de 10 de

  Dezembro,

  ao da

  Republica

  do

Paraguay,  dos  outros objectos  da  missão  do Sr.  Pedro Fer

reira  de  Oliveira, convidando-o  ao  ajuste  das  negociações  pen-

{*) Todas estas razoes

  tinham

  exigido

  que o

 governo imperial tivesse

  tido

outro comportamento  com o do  Paraguay.

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— 27 -

dentes, afim de restabelecer-se entre os dous Estados as rela

ções de uma amigável intelligencia.

« O governo da R epublica do Paraguay accusando a re

cepção da nota acima por outra dirigida ao plenipotenciario

brasileiro em data de 17 de M arço, declarou a sua satisfação

por ver chegada a occasião que assim lhe offerecia

 o

 governo

imperial de se abrirem conferências para o ajuste d'aquellas

questões entre os dous Estados; e que logo que lhe fosse

annunciado, segundo os estylos, o seu caracter representativo

se daria andamento ás correspondentes discussões.

« Satisfez o plenipotenciario brasileiro ao objecto d'aquella

nota, declarando officialmente em o dia

  19

  estar competente-

menre autorisado a pôr termo, por um ajuste rasoavel, á

desagradável occurrencia de que tratava a do governo impe

rial de

  1 0

  de Dezembro do anno j roximo passado; e achar-se

' munido também de plenos poderes para ajustar e concluir

com o governo da Republica as negociações interrompidas

com a despedida do encarregado de negócios do Brasil, FelippeJosé Pereira Leal.

« Não podia aquelle plenipotenciario entrar no ajuste dos

assumptos, que deviam fazer o objecto d'estas negociações,

sem prévio accordo sobre o modo da satisfação que reclamava

do governo da R epublica, pelos passaportes dados ao encar

regado de negócios do Brasil, e sobre este ponto versa a

discussão que passo a referir-vos.

k

  Sobre esta questão manifestou o ministro de relações

exteriores, que estava convencido de quanto importava, tanio

á

  R epublica, como ao Império do Brasil, m anter e estreitar

boas e amigáveis relações; que este era e tinha sido o

constante desejo do governo da R epublica, assegurando ao

governo de S ua M agestade o Imperador que m ui longe do

pensam ento do Presidente da R epublica estava querer oífender

no menor ponto a alta dignidade e decoro de Sua Magestade

o Im perad or, nem romper ou alterar as relações amigáveis

entre os dous governos, e que estava prompto e disposto para

receber com as devidas considerações, a qualquer agente que

Sua Magestade o Imperador quizesse enviar junto ao governo

da republica.

« Accrescentou o mesmo ministro, que tão distante estava

o Presidente da Republica de pensar que o deplorável incidente

occomào  com o Sr. Leal alteraria, ou romperia aquellas

relações, que continuou a manter com o cônsul geral ae S ua

Sua Magestade na Assumpção a mais perfeita harmonia, con-

cluindo d'ahi que não era possivel duvidar das boas e am i

gáveis disposições do governo da Republica, em chegar a

um accordo pacifico a este respeito com o governo imperial,

e que se nã o fosse sufficiente esta declaração, não se recusaria

o mesmo governo a admittir tudo quanto parecesse ao pleni

potenciario brasileiro rasoavel e conveniente para tornal-a

mais completa.

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- 29

« £ m 5 de A gosto ultim o assignei com o m inistro oriental

n'esta corte um accordo, documento n.

  2

  do annexo L, com

o fim de determinar oom clareza o objecto, as c on diç õe s e

a duração do auxilio da força militar que o Império presta

  á

Republica Oriental do Uruguay. Esse accordo foi em devido

tempo ratificado por Sua Magestade o Imperador, e pelo

Presidente da Republica. Ficou declarado:

« Que o au xilio de força m ilitar, que actualm ente presta o

Império do Brasil á Rep ublica Oriental do U rug uay , tinha e

tem por ún ico objecto auxiliar o govern o da dita R epu blica ,

seg un do o exigiam e exigem as sua s circum stancias, para for

tificar a nacionalidade oriental por meio da paz interna e

dos hábitos constitucionaes, que fora e  é  um dos fins prin -

cipaes da alliança celebrada em

  12

  de Outubro de

  1851.

<c Que a duração d'este auxilio depend eria de accordo entre

os dous governo s, não podendo em caso alg um exceder o

actual período presidencial. Que no mesmo dia em que lhenotificasse o governo da R epu blica que se achava nas feli

zes circumstancias de poder dispensar a presença das tropas

brasileiras no território oriental; ordenaria a com pleta e im -

m ediata evacuação do dito território por aqu ella força, d e

ven do a evacuação effectuar-se no me nor espaço de tem po

possivel, não excedendo em caso algum a d ou sm ez es , con

tados d'aquella notificação.

« Que o go verno imperial poderia tam bém; antes de findar

o prazo de que trata a declaração segund a, retirar a força

em parte, ou no todo , com tanto que notificasse a sua re

solução ao governo oriental com antecipação de um m ez.

« Que posto se ho uvess e estipulado, no accordo celebrado

e approvado pela honrada A ssembléa da R epu blica, para a en

trada das forças imp eriaes no território orien tal, que as des-

pezas qu e com ellas se fizesse correriam por conta da m esm a

Republica, nos termos do artigo  10  do tratado de alliança

de

  12

  de Outubro de

  1851,

  o governo imperial, desejando

dar m ais um a prova não equivoca do desinteresse com que

prestava aquelle a uxilio e de seu sincero anhe lo de melhorar

o porvir do E stado Oriental, convin ha em acceder ao pedido

do env iado extraordinário e m inistro plenipotenciario d*esteE stado, de alterar o men cionado accordo para aqu elle caso

somente nos termos seguintes

  : 1.°

  Que os soldos ordinários

dos ch efe s, officiaes e soldados da tropa de lin ha da divisão

brasileira, e o seu equipamento e armamento correriam por

conta do Império.

  2.°

  Que todos o s outros gastos feitos co m

a tropa de lin ha , com a ún ica excepção dos declarados no

paragrapho antecedente, e todos os da guarda nacional, que

fazia ou faz parte da dita d ivis ão , sem excep ção algu m a, cor

reriam por conta da Republica.

« Concordou-se qu e permaneceria em pleno vigor , e seria

applicado e cumprido, emquauto as circumstancias o aconse-

1 6

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  5 0 -

lhassem, o artigo 11 do tratado de alliança de 12 de Outu

bro de 1851, e especialmente o § 4.° do dito  artigo que

dispõe o seguinte : « O governo da Republica se obriga a

a tomar medidas efficazes, para restabelecer e conservar a

« todos os habitantes da Republica no pleno goso das ga-

« rantias que lhe concedem os artigos 130, 134, 135, 136, 140,

<c 142, 143, 144, 145, 146 e 147 dá sua Constituição. »

« Concordou- se mais que o auxilio da força prestado pelo

governo imperial, não se estenderia além dos casos especifi

cados no artigo 6.° do tratado de alliança de 12 de Outubro

de 1851, pelo modo n'elle determinado.

« E' manifesto que segundo o accordo mencionado, a perma

nência da divisão brasileira em Montevidéo, não poderá ir

além do dia 12 de Março de 1856, e posso assegurar-vos que

o governo imperial deseja ardentemente que as circumstancias

da Republica permitiam, antes mesmo d'aquelle praso, o re

gresso da divisão para o Império. Se isto não se tem já rea-

hsado,

  é porque o governo oriental entendeu que, tendo

sido fixado por um convênio o tempo da permanência da

divisão brasileira em Montevidéo, não havia rasão legitima,

nem consideração attendivel, para anticipar-se a sua retirada,

não tendo ainda decorrido tempo sufficiente, depois do esta

belecimento de uma ordem regular na republica. »

SUBSIDIO

 A MONTEVIDÉO.

<( Tendo o governo imperial sido autorisado pela lei n. 723

de 30 de Setembro de 1853, a fornecer por empréstimo ao

governo da Republica Oriental do Uruguay, emquanto o jul

gasse conveniente, e sob as condições que tivesse por me

lhores ; um subsidio que não poderia exceder de 60,000 patacões

por mez, nem durar mais de um anno sem nova autorisação

do corpo legislativo; nos termos da mesma lei, celebrou o

o governo imperial com aquella Republica, em 1 de Junho

ultimo,

  uma convenção. Documento n. 1 do annexo L.

« A prestação do novo empréstimo autorisado pela referida

lei n. 723 de 30 de Setembro de 1853, verificou-se em virtude

de notas trocadas em Montevidéo entre o governo da Republica

e a legação imperial, fornecendo o governo imperial 30,000

patacões mensaes, a começar do mez de Dezembro do refe

rido anno.

« Em virtude da nova convenção, aquella quantia foi ele

vada a 60,000 patacões mensaes a contar do mez de Março,

pagando o governo imperial a differença de 30,000 para 60,000

patacões, correspondente aos niezés de Dezembro, Janeiro e

Fevereiro.

r< A importância da divida contrahida pelo governo da Re-

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— 5\ —

publica Oriental do Uruguay por aquelle empréstimo foi por

conseguinte 720,000 patacões, ou 1,382:4008000 rs.,  como  ve-

reis oa respectiva conta.

« O governo imperial encontrou n'este empréstimo a somm a

de 84,000 patacões e seus respectivos jur os , em vir tud e do

contracto que com o governo oriental celebrara em 9 de M aiode 1853, o Barão de M aú a, na importância de 98,207 pesos,

segundo fora estipulado no art. 7.° da convenção do subsi

dio,  que submetto á vossa consideração. O governo imperial

fez com a devida anticipação ao governo da Republica, o

aviso de que não co ntinu aria a fornecer-lhe o subsidio além

do mez de Novembro. »

Aqui terminou o que disse o Visconde de Abaeté no seu

relatório de 1855, sobre a politica seg uida por elle em relação

á Republica do Paraguay.

A nota que o mesmo Visconde de Abaeté dirigio ao governo

do Paraguay, em 10 de Dezembro de 1854, de que foi porta

dor plenipotenciario Pedro Ferreira de Oliveira, commandante

da esquadra qu e o acom panhou, e de cuja nota deu conta

no relatório que acabam os de transc reve r; é digno de nota r-se

o se gu int e: d epois de se queixar das offensas do govern o do

Pa ragu ay ao I m pério , da falta do cum prime nto da convenção *

de 25 de Dezembro de 1850; co ntinua o V isconde de A baeté

na sua citada nota, dirigida aque lle governo :

« O gov erno do Paraguay pretextou a necessidade de re

solver antes de tudo a questão de limites com o Império, e

ao mesmo tempo excluio as propostas que o governo imperial

lhe fez, contendo aliás as mais amplas concessões. O governo

imperial propôz o adiamento do tratado de limites, conten

tando-se com o tratado de navegação

  q

  commercio.

« O governo do Para guay repellio esta proposta.

« A despedida do encarregado Felippe José Pere ira L eal,

coincidio com as instâncias que elle fazia perante o governo

da Republica, para celebrar os dous tratados mencionados, ou

pelo menos o de navegação e commercio.

« O gov erno im peria l, no intu ito de fazer cessar esta si

tuação, e de restabelecer sobre bases sólidas as relações, que

devem existir entre os dous Estados, segundo os direitos que

lhe confere a convenção de 1850, celebrada com o fim de

promover interesses recíprocos; manda offerecer

  á

  considera

ção do governo da Republica um projecto de tratado, regu

lando o commercio, navegação e limites entre o Império e

a Republica.

< O   governo  imperial  n o  qu e respeita ao com mercio e na -

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vegação pede as mesmas concessões que o governo da Repu

bl ica tem feito ás outras naçõ es, com os desenv olvim entos

que as c ircumstancias de ser r ibeir inho torna indispensáveis;

e pelo qu e pertence a l im ites a l inh a divisória q ue se pro

põe ,

  fun dando-se no princip io do  utis possidetis é  sem con

testação muito favorável á Republica do Paraguay.

« As concessões do gove rno imp erial não podem n'esta parte

ir além das que se fazem no projecto.

« O governo im per ia l nu t re ã esperança de q ue o da R ep u

blica aceitará de Dom grado o projecto de tratado, que lhe

será offerecido pelo seu plenipotenciario; terminando-se assim

as questões p end entes, e restabelecendo-se entre os do us

Estad os as re lações de u m a am igável intel l igenc ia , q ue tanto

devem concorrer para consol idar a paz en tre os dous Estad os,

e para promover os interesses de sua industr ia e com

merc io .« O abaixo assignado prevalece-se d'esta opportunidade para

offerecer ao S r. D. Be nito V arella os protestos de sua per

feita estima e distincta consideração.— Visconde de Abaeté. »

A doutr ina d 'esta nota faz acredi tar que ao governo im

perial só pertencia pedir ao do Paraguay que fizesse os tra

tados prom ett ido s; que não t inha u m direi to f irmado de

exigir por meio da força, que se fizesse o tratado de nave

gação e commercio, para ficar l ivre a navegação do rio Para

gua y até M atto-Grosso á band eira brasi le ira; o que não acon

tecia a té então . Qu ando a a t t i tude que o governo im per ial

tomo u m andan do um a esquadra ao P aragu ay era para te r

outro com portam ento, e não m and ar ped ir aqui l lo q ue a

força devia ter exigido. O governo imperial já então devia

saber, qu e não era com notas cheias de satisfações, de pe di -

tor ios,

  e de propostas e concessões amigáveis, que se levava

o governo do Paraguay .

A theoria do governo im perial , ou antes do V isconde de

A baeté, foi facilm ente com preh end ida e fielmente exec utada pelo

seu plenipotenciario Pedro Ferreira de Oliveira .

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— 54 —

nham, não só pela distancia em que se davam aquelles acon

tecimentos, como também por suocederem em épocas arras

tadas, o que prendia pouco a attenção do governo imperial.

Este descuido que por muitos annos houve, em não ter a

provincia de Matto-Grosso suficientemente armada, facilitou

aquellas incursões e depois o desejo da conquista, quando se

offereceu occasião.

Alguns ministérios persuadiram-se de que a política de

abstenção completa, era a que mais convinha ao Brasil, para

se conservarem as boas relações de amizade entre o Império

e os Estados republicanos do Sul. Na verdade essa politica

de abstenção completa conviria ao Império, se os interesses

dos subditos brasileiros não fossem envolvidos nas revoluções,

que alli são freqüentes.  ,<y-

Por conseqüência não devia o governo imperial ser indiffe-

rente ás revoluções que tem havido no Estado Oriental, e aos

actos dos governos que d'ellas tem nascido, actos que todos

se dirigiam a offender aos Brasileiros; infelizmente, contra

esta situação nunca o governo imperial se dicidio a intervir

activamente antes de

  1 8 6 4 ,

 na persuasão de que não con

vinha á politica que o governo imperial devia sustentar para

com aquelle Estado visinho, politica que não podia ter uma

explicação satisfatória. O que acabamos de expender vai ser

demonstrado com os documentos seguintes.

RELATÓRIO

  DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRA NGE IROS DE 1856 .

O

  relatório do ministério dos negócios estrangeiros, do conse

lheiro José Maria da Silva Paranhos de

  1 8 5 6 ,

  contem sobre

as relações com o Estado Oriental o que se segue.

RE P UBLICA ORIE NTAL  DO  U R U G U A Y .

a São conhecidas as circumstancias que determinaram a

nossa intervenção no Estado Oriental do Uruguay em   1 8 5 4 ,

bem como os fins a que ella se porpôz.

«

 A

  intervenção do império foi solicitada pelo governo da

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— 55 —

R epub lica, em conseqüência^ dos acontecimentos poli ticos de

Setembro de 1853, e não tinham outros uns que promover e

assegurar o restabelecimento da paz e da ordem constitucional

n'aquelle Estado.

« O duplo auxilio de força e de subsidio pecu niário, qu e

prestamos ao governo da Republica não podia pois deixar de

ser regulado pelos factos existentes entre os dous Estado s

e assim foi declarado e ajustado, com appiicação ás circums

tancias especiaes da época, no protocollo ou accordo assignado

u'esta corte em 5 de Agosto de. 1854. A intervenção do Im

pério foi de certo muito profícuo á conservação da paz da

R epub lica. O governo oriental deu repetidas vezes testemu nho

do efficaz e desinteressado apoio que d'ella recebeu.

a   Infelizmente, porém, quando já havia terminado o nosso

auxilio pecuniário, e approximava-se o dia em que a força

brasileira devia regressar ao seu paiz, occurrencias sobrevieram

que produziram uma perturbação, ainda que passageira, dapaz e ordem legal da Republica.

« O s successos a que m e refiro tiveram lugar em M on te

vidéo, no decurso do mez de Agosto ultimo, e originaram-se

de um decreto promulgado no dia 10 do mesmo mez, pelo

qual, o Presidente da Republica restringira fortemente a li

berdade de imprensa.

<c

  As boas relações tão longo tempo mantidas entre a le

gação imperial e o governo da Republica, foram em conse

qüência d'aquella medida alteradas repentinamente. O ministro

do Brasil não podia dar o seu assentimento a uma medida

excep cional, que a ordem publica sufficientemente defendida

pela intervenção brasileira, não reclamava. Elle tinha o direito

de ser ouvido previamente, e de ser attendido a respeito de

medidas de semelhante natureza.

« O governo oriental, se carecia ou não queria prescindir do

apoio material do Brasil, não devia também prescindir do prévio

accordo da legação imperial para o emprego de taes medidas.

« O ministro de Sua Magestade em Montevidéo julgava muito

inconveniente a promulgação do decreto de 10 de Agosto, e

francamente manifestou este seu pensamento. Não obstante,

porém, suas amigáveis observações, o governo da Republicaentendeu que devia sahir da senda constitucional, e assim

aconselhado não duvidou interromper as boas relações que

entre tinh a com a legação imperial. O s actos do governo da

Republica levantaram grande clamor, e quebrantaram a tal

ponto a força moral de sua autoridade, que dentro em poucos

dias o Presidente vio-se obrigado a sahir da capital, deixando-a

interinamente acéphala. D'ahi nasceu immediatamente o esta

belecimento de um governo de facto em Montevidéo, com

posto de um governador provisório e tres ministros.

« Estes successos surprenderam e causaram a ma is desa

gradável impressão ao governo imperial.

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« O   governo imperial julgara que as circumstancias da Re-

ublica já não exigiam a sua intervenção, e conforme os

esejos que vos manifestou, e também ao governo oriental,

contava que a divisão brasileira estacionada em Montevidéo

se retiraria dentro do praso estipulado no accordo de

  5

 de

Agosto de

  1 8 5 4 .

u Os acontecimentos de Agosto em M ontevidéo vieram,

portanto, causar um duplo pesar ao governo imperial. Era

de receiar o reapparecimento da guerra civil na R epublica, e

consequentemente a necessidade da continuação do nosso

auxilio militar, que o governo imperial não retiraria de certo

em taes circumstancias.

« Não podendo prever o curso que teriam tomado esses

acontecimentos, e todas as suas contingências, entendeu o

governo imperial indispensável enviar a M ontevidéo um mi

nistro plenamente autorisado para auxiliar o restabeleci

mento da paz da Republica, pelos meios que estivessem ao

nosso alcance, e as circumstancias aconselhassem como mais

convenientes. Sua Magestade o Imperador houve por bem

conüar esta missão ás luzes e consummada experiência do

Sr. Visconde de Abaeté.

« No dia immediato ao da partida do referido ministro ple

nipotenciario, recebeu o governo imperial a noticia de haver

terminado a crise politica no Estado O riental, sem effusão

de sangue, e salvando-se o principio da ordem constitu

cional.

«t O ex-presidente da Republica, o S r. general Flores, e o

governo de facto estabelecido na capital, compenetrando-se

ambos da necessidade de sobrepor a tudo a conservação da

paz do seu paiz, por mutuas concessões evitaram a guerra

civil, e puzeram termo á situação anormal em que se

achava.

« O Sr. general Fíòres declarou que renunciava irrevogá

vel e espontaneamente ao cargo de Presidente da Republica,

e enviou a sua renuncia n'estes termos a assembléa geral

legislativa, que aceitando-a, convidou o presidente do senado,

o Sr. D. Manoel Basilio Bustamante, para assumir o go

verno da Republica, como o prescreve a sua constituição,

« A legação imperial, no entretanto que aguardava as ins

trucções e ordens que solicitara, conservou-se na mais pru

dente abstenção, sem todavia deixar de prestar ao commercio

6 '  aos paciücos habitantes da capital os bons serviços da força

brasileira alli estacionada

<( O acertado procedimento da legação imperial exerceu mui

benéfica influencia para o prompto restabelecimento da paz

publica.

« Um dos primeiros actos do novo presidente foi restabelecer

as relações de boa intelligencia e amizade entre o governo da

Republica e a legação imperial.

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— a r —

« Tal era a situaçã o da R epub lica, quand o o Sr, Viscon de

de Abaeté chegou a M ontevid éo; no dia  24  de Setembro. Tres

factos a caraoterisam com o perfeitamente con stitu cion al;  1.*

a espontânea renuncia do general Flores;  2.°  a aceitação

d*esta ren un cia pela assembléa convocad a extraordinariamente,

co m o o prescreve, em casos sem elhan tes a constituição da

R e p u b l i c a ;

  3.°

  a devo lução da presidência da R epu blica ao

presidente do senad o, também conforme a mesm a consti tuição.

« O Sr. Visconde de Abaeté entendeu, de perfeito accordo

com o pensa me nto do governo imp erial , que o objecto prin

cipal de sua missão estava preenchido, e . que devia im m e-

diatam ente reconhecer, com o r econh eceu, o governo do Sr.

Bustamante, apresentando-lhe as suas credenciaes de enviado

extraordinário e m inistro plenipotenciario do Brasil em missão

especial.

« Com o restabelecimento da paz e de um governo regular

na Republica, t inham igualmente cessado as c ircumstanciasque podiam adiar a retirada da força brasileira estacionada

em Montevidéo . O   S r .  Visconde de Abaeté procurou conhecer

se o gov erno da R epu blica era do m esm o parecer, e acho u-o

de perfeito accordo.

« Foi, por tanto, ajustado por notas reversaes, que encon-

trareis entre os documentos aqui annexos, a cessação do au

xil io de força de terra, que h avia quasi dou s ann os prestá

vamos ao Estado Oriental.

« Desde o dia  1.°  de Novembro deixou a divisão imperial

de fazer o serviço de guarn içáo e destacam ento em M un te-

v i dé o ,  no dia

  14

  do mesmo mez se poz em marcha, e a

  19

de Dezembro passou a fronteira.

« O comportamento de que a força brasileira deu exemplo

no lo ng o espaço de tem po qu e estev e destacada fora do paiz,

vo s é co nh ec ido . N ão farei aqiíi o se u e log io, para deixar esta

tarefa ao gov ern o da R epu blica, cujo testem un ho é tão justo

quanto honroso. Respondendo á notiticação feita pelo nosso

en viad o extraordinário, o go ver no orientai se exprim io nos

seguintes termos .

« — Em vista das exactas e pon derosa s considerações qu e de

term inaram aqu el la resolução imperial , o governo crê que só

lhe cabe cumprir o dever de manifestar a

  S .

  Ex. o

  S r .

  V i s

con de de Ab aeté qu e adhere a um a determinação que é a

mais completa  p r o v a  do elevado desinteresse que preside á

pol í t ica do governo imperial em suas relações com a Repu

blica .

« — M as esse dever não f icaria preenchido de um a maueira

correspondente á honra da R epub lica, e ao qu e exig em a

justiça tu .xis notória e o s sen tim en tos nob res e gen erosos qu e

fazem a pby siorioiu ia pr oem ine nte do caracter naciona l, se ao

convir na execução  ái  referida resolu ção, não recon hecess e a

disciplina, mo deração e mo ral idade qu e a divisão imperial

n

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— 5 8 —

nu nc a desm ent i o dura nte sua longa perm anên cia no terr itór io

O riental , do qu e cada um de seus hab i tantes dará sem pre

testem un ho , sem que n ' isso faça mais do que pagar um . t r i

bu to de inneg avel justiça e de me recida adm iração por tão

re levantes v i r tudes .—»

« Depois da ret i rada da divisão imp erial , e qu an do el la

ainda se achava em ma rcha pelo terr i tór io da R ep ub l ica,

occorreu em M ontevidéo um conüicto de mã o arm ada en tre

a autor idade e algun s poucos cidadãos, que tentara m imp or

condições ao gov erno , allegan do falta de ga ra nti as e receios

contra certos chefes m ilitares qu e m erec iam a confiança do

m e s m o g o v e r n o .

« Es ta l amentável occur rencia , qu e fo i m om entâ ne a , t e r

m inando pela submissão dos insurgen tes , m ost rou que a au

toridade da R epub lica estava assás forte pa ra se fazer respe i

tar e obedecer.

« D uran te as ci rcumstancias a qu e me ref iro, o gov erno

oriental di rigio-se of icialm ente á legação do Bras i l , co m -

municando que resolvera permit t i r aos agentes- diplomáticos

que tinham forças navaes de sua nação no p orto de M on

tevidéo , qu e fizessem desem barca r alg um a tropa para protege r

os interesses commerciaes dos seus respect ivos subdi tos guar-

nec on do o edifício da alfândega.

« Foi este o único auxilio que o gove rno da R ep ub lica

requisi tou dos m inist ros de S ua M agestade que lh 'o pre staram

imm ediata m ente, fazendo desembarcar par a a al fândega u m a

pe qu en a força igual á que m and aram as legações de F ra nç a,

H esp an ha e Estado s-Unid os. Esta força recolheu-se para bordo

dos navios brasileiros logo que cessou a crise revolucionaria. »

Po r este relatór io do conselheiro Pa ran ho s, vê-se qu e, te r

m ina da a luta com R osas, o Brasil em prestou ao Estado

O riental por espaço de um a nn o a som m a de 60,000 pata

cões m en sa es ; pagando aquel le Es tado u m peque no ju ro .

A lém d'esta despeza que fez o thesouro do Im pé rio para

aq ue lla R ep ub lica po der prov er a defficiencia de sua s ren da s,

ainda o Brasi l conservou por quasi dous annos uma divisão

de 4,000 ho m en s á sua custa, estacionada em M ontevidéo,

para auxiliar a consolidação do governo legal .

A exposição do relatór io do conselheiro Pa ran ho s, com o

t i tulo—Subsidio prestado á Republ ica Oriental do Uruguay—

mostra que o Estado O riental não t inh a rend a para as suas

de.-pezas ord iná rias . A té 1853 o au xilio do Brasil servio p ara

aquel le f im ; d 'esse tempo em diante o governo imperial não

estava autorisado pelo corpo legislativo para co ntin ua r com

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a prestação de 60,000 patacões m ensa es, como o governo

oriental exigia ; ou qu e o governo imp erial lhe garantisse

um empréstimo que tencionava negociar n'esta corte.

« O governo imperial (diz o conselheiro Paranhos) em con

formidade do que havia por vezes manifestado ao

  goyerno

  daRepublica, pela sua legação n'esta corte e pela legação im

perial em M ontevidéo, respondeu em 11 de Ju nh o que não

estav a autorisado* pelo poder legislativo pa ra prestar novo

subsidio á Republica, nem julgava conveniente pedir essa autori-

sação, e ntendend o que a garan tia do Im pério, que aquelle go

verno pretendia na falta do subsidio, para reatisação de um

em préstim o, ou operação de cre dito ; ainda que o governo

orientai podesse assegurar, que seria pura me nte n om inal,

eqüivaleria em seus possíveis a um empenho eventual de pa

gamento .

(( No va sollicitação fez p ara esse fim o gov erno oriental em

27 de J ul ho , a. qual apenas difleria das a nteriore s em excluir

o subsidio mensal, determinar o  quantum  do empréstimo para

que o governo imperial teria de prestar a sua garantia offi

cial, e expressar a applicação que o governo da R epu blica tinh a

em vista dar ao empréstimo que tratava de obter.

« N ão tendo *sido a recusa do governo im pe rial m otiva da

por circum stancias accídentaes e transitór ias, fundand o-se em

razões m uito ponderosas, ainda subsis ten tes; declarou elle

que apesar de lhe ser mui sensivel ver a Republica ainda em

circum stancias diffieeis e precárias, n em podia renov ar os sa

crifícios já feitos, nem julgava que esses auxilios externos só

•por si fossem um rem édio efficaz para as finanças da R e p u

blica, sendo que apena s poderia m inor ar os effeitos do m al

por algum tempo, mas não extinguil-o ou cural-o radical

mente . »

A inda por esta vez ficou o Im pé rio livre de gastar o seu

apitai com uma pequena nação, que continuou a ineommo-

dal-o.

  Quando o Brasil fez aquelle empréstimo devia de pre

ferencia em prega r o seu dinhe iro em ^melhorar as finanças, o

meio circulante, e promover os melhoramentos materiaes que

o paiz reclamava; em lugar de fazer isto, foi beneficiar com

elle os seus visin hos . O s estadistas diziam entã o, qu e era u til

ao Brasil sustenta r a inde pen dên cia do Estado O rientai, para

servir de barre ira á amb ição e aos projectos hostis da R e

publica A rgentina. O s acontecim entos passados já mo straram

qua nto tem sido condesce ndente a politica do Brasil , pa ra

com as republicas do R io da Pra ta. A sexta parte do di

nheiro que o nosso thesouro tem despendido com em pre s-

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— AO —

timo s aqu ellas Rep ublicas, tinha bastado para sustentar um

exercito de  8 , 0 0 0  ho m en s na fronteira do R io Grande, para

nos defender das suas hostilidades.

O Estado Oriental qu e, sem ter m eios sufficientes para poder

sustentar a sua independência, separou -se do Im pério ; depois

de lhe fazer a guerra por mais de tres annos, veio mais

tarde pedir dinheiro  á  nação a quem tinha offendido, e força

armada para o defender. Qual tem sido o agradecimento

d'aquella Republica ao Império que tantas vezes a tem pro

tegido

 ?

O seu comportamento tem sido, em difíerentes époc as, o

que consta dos relatórios dos ministérios estrangeiros, até aqui

látados, e dos que adiante se mencionam.

E S T A D O O R I E N T A L .

ATTENTADO S COMMETTIDOS NO ESTADO ORIEN TAL, CONTRA OS SUBDITOS

BRASILEIROS.

« Occorreram ha pou cos m ezes na campanha do Estado

Oriental, junto  á  fronteira do Império, alguns attentados

graves, de que foram victimas subditos brasileiros alli resi

dentes . Ninguém desconhece quanto  é difScial  policiar urna

fronteira tão extensa, e em grande parte despovoada, e também

é certo que as circumstancias anormaes em que se achava a

Republica deviam acoroçoar os malfeitores dê um e outro

paiz, que alli se refugiam.

« T oda via, a gravidade e repetição d'esses attendados, a

qualidade das victim as, e a frouxidào. se não ind iferen ça,

com que se houveram algumas das autoridades orientaes

d"aquelles districtos, tornaram taes occurrencias m uito notáv eis,

e deviam impressionar, como impressionaram, os residentes

brasileiros.

« A legação imperial em M ontevid éo dirigio ao governo

oriental as ma is instantes reclam ações, e recebeu d'este m ui

dignas m anifestações e p rotesto s; m as infelizmen te não consta

aind a qu e os autore s e co súplices de tão graves delictos est e

jam ein poder da jus tiç a. Entre os attentados a qu e m e

refiro mencionarei  o  d o assassinato da família de Joã o da

Silveira, perpetrado no dia 27 de Setembro

  tiWfcno

  no Curraldas Pedras, districto do departamento de Cerro Largo. Segundo

informações fidedignas; e que não foram contestadas, consta

  qvft

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aqu elle infeliz subd ito brasileiro, ho m em pacif ico, sua m ulhe r ,

cinco f ilhos m enores e un ia escrava, foram barb aram ente

assassinados dentro de sua habitarão.

« O gove rno imp er ia l espera que as autor idades da R epu

blica, hoje q ue sua acção se m ostra mais forte, sen do que

cessaram os rou bos e assassinatos qu e se iam am iud an do

nas visinhanças da nossa f ronteira, não deixarão impunes

aquelles at ten tad os A s boas relações entre os dou s paizes

dependem muito de que o Brasileiro no terr i tór io or iental , e

o O riental n o terr i tór io b rasileiro, enco ntrem a m aior protec

ção,  e que mais do que todas as outras autor idades dos distr ictos

lim itrop hes se esforcem para assegurar essa m utu a gara ntia .

«. O gove rno imp erial por sua par te tem essas conv eniências

m uit o em vista, como o attestam num erosos factos . S uas

autoridades civis e militares da fronteira são escolhidas com

o maior escrúpulo, e não ha reclamação fundada do governo

orie nta i qu e nã o ten ha sido por el le a t tendid a. »

V E X A M E S D E Q U E S E Q U E I X A M A L G U N S S U B D I T O S B R A S I L E I R O S

E S T A B E L E C I D O S N O E S T A D O O R I E N T A L .

« Cheg ando ao conh ecim ento do gove rno im perial , qu e o

commissar io de policia do Cerro Branco, no Estado Oriental ,

estava exigindo dous pesos por cada individuo qi-e passava a

pá, d'a] | i para a provincia do Rio Grande, e 240 réis pelos

que iam para o terr i tór io da Republica, ordenou á legação

im pe rial em M onte vidé o, que averiguasse se era exacta esta

noticia; e que no caso aff irmaúvo reclamasse como conviesse

con tra sem elha nte imposto . S egundo o ar t. 10 do t ra tado de com

mercio com a Republica, a passagem de gado é isenta de

todo e qualquer imposto . Ora a imposição não mudará de

natureza, nem se tornará legal, por ser applicada ás pessoas que

c onduz e m o ga do . »

RELAÇÕES DO BRASIL COM A REPUBLICA DO PÀRAGUÀV.

« J á fos tes informado s dos mot ivos que dete rm inara m o

governo imper ia l a enviar urna missão especia l , acompanhada

de a lg um a força á Rep ubl ica- do Pa ragu ay. Convém todavia ,

para dar -vos conta do seguiniento que teve essa missão a té

ao seu desenlace , recordar -vos aqui que os seus f ins eram:

« 1 . ° R ec lam ar um a satisfação pela otTensa feita ao Im pé rio

na peâvsoa do seu en carre ga do de negó cios, o S r. Felipp e Jos é

P e r e i r a L e a l ;

«

  2 , °

 R eclam ar q ue o s imp les transito pelos r ios Pa rag ua y e

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Paraná, na par te em que suas águas per tencem á Republ ica ,

fosse f ranqueado aos navios e subditos brasileiros, como se

ach a estipulado, no a r i 3.° do tratado de 25 d e D ez em bro

de 185 0; \

  : :

.

« 3.° Celebrar , se o governo da Republica a isso se prestasse,

os ajustes concernentes aos l imites, e á navegação e commer

cio entre os dous paizes, em conform idade do ar t . 15 do m esm o

tratado.

« 0 me u an tecessor vos expôz o mo do pacif ico e ho nro so

para ambos os paizes, porque terminou a desinteil igencia a

que deu causa a violência praticada com o encarregado de

negócios do Brasil na Assumpção. Restabelecidas assim as re

lações entre o Impér io e a Republ ica , encetou o plenipoten

ciar io brasileiro a negociação das outras questões pendentes .

O governo imper ia l mostrou -se sempre dispos to a ce lebrar , e

por varias vezes tentou realisal-o, os ajustes de que falia o

art. 15 do tratado de 25 de Dezembro de 1850, isto é, o de

limites, e o de navegação e commercio entre os dous paizes .

M as o que o governo imper ia l rec lamava com u rgê ncia era

a liberdade do transito fluvial, cujo exercioio não dependia

d'aquelles ajustes, cujo direito era perfeito em virtude do art.

3.° do mesmo* trata do .

« Desde 1852 a navegação do P ara ná ach a-se f ranqu ead a

a todas as bandeiras, por effeito dos acontecimentos em que

o Im pér io teve não pequ ena pa r te ; e , todavia , apezar da

obrigação que a Republica do Paraguay contrahira pelo tra

tado de 1850, de perm ittir esse tran sito fluvial aos su bd ito s

e navios brasileiros, a provincia de M atto-Grosso co nti nu av a

privada de sua fácil e natural communicação com o Rio da

Prata.

« O exercício do l ivre transito pelos r ios Pa rag ua y e P a

raná, na pai te em que per tencem á R epublica, era po rtan to

o objecto principal da missão de que se trata. Em respeito

porém á obrigação contrahida pelos dous governos, de regu

larem dentro do prazo do tratado de 1850, os limites e as

relações commerciaes dos dous paizes, e porque estes ajustes

poderiam facilitar a solução amigável d'aquella reclamação, o

plenipotenciario brasileiro, foi autorisado para celebral-os.

« O governo imp erial com prehend eu em u m projecto de

tratado de amizade, navegação e commercio, os ajustes de

todas as questões pendentes com a Republica, podendo o seu

plenipotenciario subdividir em dous tratados o dito projecto,

se o governo da Republica desejasse que ò ajuste de l imi

tes fosse separado.

« N'esta sua proposta o governo imperial não pedia, quanto

á navegação e co m me rcio, se não a confirmação e desetivo i-

vim eato das bazes já estabelecidas no tratado vige nte, con

sultando pelo modo mais amigável os interesses recíprocos

dos dou s pa izes ; e q ua nto a lim ites, offereceu á R epu blica a

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ma ior concessão q ue el la poderá razoavelm ente pretender, um a

divisa que ia além do que o governg paraguayo propuzera

por d if feren tes vezes a té ao ann o d e * 8 5 3 .

« O projecto de tratad o do gov erno im per ial, foi assim

ofTerecido com o com ple m en to da sua nota de 10 de D eze m

bro de 1854, de que já tendes conh ecim ento . R espon dendo

a

  esta nota em data de 10 de A bril do ann o passado, de

clarou o gov erno da R epu blic a, que os seus desejos era m

acce der a tud o qua nt o fosse rasoavel, decoroso, e comp atível

com a sua segurança e t ranquiUidade, m as que não podendo

as concessões iei tas pelo Império acerca de l imites i r além

do que estava no projecto, e sendo-lhe annunciadas como um

ultimatum   inva riáve l , receiava q ue se us bons desejos fossem

inú til isad

 os.

« Esta declaração, de pois do desenlace amigável da questão

que interrompera as relações dos dous governos, não podia

deixa r de sorpreh ende r e causar o ma is profundo pesar ao

g o v er n o i m p er i a l .

« A ssim se e nun ciou o m eu antecessor em sua nota de 30

de A bri l, accrescentando q ue sent ir ia profunda me nte qu e não

fossem bem apreciados pelo  goYemo  da Republ ica , os es

forços pacificos qu e co ntin ua va a fazer o gove rno de S ua

M agestade pa ra obte r por meios de negociações pacificas e

ho nro sa s, a justiça que não lhe poderia ser nega da, sem of-

fensa dos direi tos do B rasi l , sem violação de u m pacto in

ternacional , sobre assumptos cuja solução era de tão vi tal

intere sse para a civil isação, e para o desenv olvimen to do

com m ercio e ind ustr ia, não só dos dous paizes como de

todos  os Estados  visinhos.

« A s duv idas e objecções do governo da R epu blica , refe

r iam -se un icam ente á questão de l imi tes. O seu p len ipoten

ciario dec laran do que um ajuste a respeito da navegação e

comm ercio en t re os dous paizes n ão encont rar ia a me nor

dÜBcuIdade, por q ua nto em sua celebração via o gov ern o da

R epu bl ica conven iências e van tagen s para ambas as par tes ; ,

exigiò que a negociação começasse pelo ajuste de l imites .

« O plen ipotenc iario brasi leiro an nu io a essa exigência,

na esperança de que em nenhum caso ser ia recusada a ce

lebração do t ra tado de com me rcio e nav ega çã o, ou pelo m en os

o  recon hecim ento do d i re i to do Im pé r io , ao s imples transito

fluvial estipulado no art . 3 .° do tratado de 1850.

« A discussã o sobre l imites nã o cond uzio a outro resul

tado qu e deixar a questão indecisa, e n o m esm o pé em qu e

se  acua va. O governo da R epu bl ica , como vereis da corres

pondência annexa, declarou que não accei tava a proposta do

governo  imper ia l , mas sem d izer f raucamente porque a re

c e i t a v a ,

  nem offerecer outro accordo que entendesse mais

justo ou  Convenien te .

« Depois de

  inú teis esforços de s ua pa rte, o plènipoten-

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ciario brasileiro teve de annuir a que ficasse indecisa aqM»a

questão e assignou com o da R epub lica, aos 27 dias de Aortl

ao anuo próximo passjldo, duas convenções, uma relativa ao

simples transito fluvial, e á navegação e commercio entre os

dons paizes, a outra marcando o prazo de um anno para o

ajuste de limites.

« A primeira das duas supraditas con ven ções, segundo um a

cláusula n'ella expressa, não podia ter efieito sem que se

decidisse a questão de limites ; e a conven ção relativa a

este assumpto apenas estipulava, como fica dito, que

  deutro

de

  vm  anno procurariam os dous governos chegar a um ac

cordo amigável e definitivo. Ambas as convenções, portanto,

nada mais eram nem valiam do que uma promessa de cu m

primento de obrigações ha m uito contrahidas pelos dous go

vernos, continuando no entretanto interdicto á bandeira bra

sileira o uso da navegação dos rios Paraguay o Paraná.

« A esta consideração aceresce que, nem nos actos de quese trata nem em documento algum de sua negociação, se

fez, a mais leve referencia ao tratado de 2 5 de de D ezem bro

de

  1 8 5 0 ,

  e que este silencio poderia ser considerado como

desconhecimento do direito que nos garante aquelle tratado.

« Sua Magestade o Imperador attendendo ás razões qu e

ficam expostas, houve por bem não ratificar as referidas con

venções, o que se comm unicou ao governo da Repu blica por

nota de 8 de Julho próximo passado. O governo imperial de

monstrou por esta occasiào o seu direito perfeito ao livre

transito fluvial pelas águas do Paraguay e do Paraná, na

parte em que a Republica tem a soberania destes rios, bem

como os fundamentos da-muito moderada proposta,

  ;

  que ofe

recera para ajuste de limites.

«H a via sempre allegado o governo da Repu blica, para

justificar a falta de cumprimento do tratado de 2 5 D ezem bro

de   1 8 5 0 ,  que o simples transito fluvial estipulado no art. 3 . °

dependia dos ajustes a que se refere o art. 1 5 . Esta in te l

igên cia, porém, era evidentemente contraria á letra e espirito

d'aquellas estipulaçOes, que por sua parte o Brasil cumprira

com o mais amigável zelo, e em toda a sua extensão,

« Os ajustes indicados no art. 1 5 do tratado de

  1 8 5 0 ,

  são

de certo muito convenientes para as boas relações e todos os

interesses permanentes dos dous paizes, mas a pendem ia d'esees

ajustes, ou de algum dYdles, nào podia prejudicar o exercício

do direito perfeito que pelo art. 3

  o

  tem o Brasil a que a

sua bandeira e seus subditos possam transitar livrem ente pelo

rio Paraguay

« Culpa nao é do governo imperial o nào se terem reali-

sado os referidos ajustes com a proniptidào que se devia es

perar da ann/ade que existia entro elle o a Republica.

« O   governo imperial nunca se recusou a celebrai-os. Esteve

sempre disposto a entender-se com o governo paraguayo pari

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e s s e fim , e t e n t o u p o r m a i s d e u m a v e z c o n s e g u i J - o . A q u e s

t ã o d e l i m i t e s e r a a c a u s a d e t ão l a m e n t á v e l d e s i n t e l i g ê n c i a ;

m a s e s t a q u e s t ã o e s t a r ia h a m u i t o r e s o l v i d a , s e o g o v e r n o

p a r a g u a y o n ã o p r e t e n d e s s e m a i s d o q u e é r a z o á v e l e p o s s í v e l .

« F e l i z m e n t e , s e n h o r e s , o g o v e r n o d a R e p u b l i c a m e l h o r

a c o n s e l h a d o p e l a s u a i I l u s t r a ç ã o e e x p e r i ê n c i a , d e s i s t i o d o i n

t e n t o d e t o t n a r d e p e n d e n t e d tf* a j u s t e d e l i m i t e s o e x e r c i c i o

d o d i r e i t o d q B r a s i l á l i v r e n a v e g a ç ã o f l u v i a l .

« N a c i t a d a n o t a d e 8 d e J u l h o , d e p o i s d e m o s t r a r t o d a

a r a z ã o q u e m i l i t a v a a s e u fa v o r , r e c l a m o u o g o v e r n o i m

p e r i a l q u e l h e f o s s e d e s d e l o g o r e c o n h e c i d o e r e s p e i t a d o o

d i r e i t o , q u e d e r i v a d o a rt . 3 . ° d o t r a t a d o d e 1 8 5 0 ; e p a ra

q u e n ã o c o n t i n u a s s e a d i a d o o a j u s t e d o s a s s n n i p t o s a q u e s e

r e f e r e o ar t . 1 5 d o m e s m o t r a t a d o , s o l l i c i t o u a o m e s m o t e m p o

a v i n d a d e u m p l e n i p o t e n c i a r i o p a r a g u a y o a e s t a c o r t e .

« O g o v e r n o d a R e p u b l i c a r e s p o n d e u á n o s s a r e c l a m a ç ã o

e m d a t a d e 2 4 d e S e t e m b r o , d e c l a r a n d o q u e e n v i a r i a o m a i s

b r e v e m e n t e p o s s í v e l u m p l e n i p o t e n c i a r i o m u n i d o d a s i n s t ru c -

ç O e s p r e c i s a s p a r a t r a t a r e c e l e b r a r o s a j u s t e s c o n v e n i e n t e s

s o b r e t o d a s a s q u e s t õ e s p e n d e n t e s . E s t a d e c l a r a ç ã o n ã o c o n

t i n h a e m s i o r e c o n h e c i m e n t o p r e c i s o e m u i t o e x p l i c i t o q u e

o g o v e r n o i m p e r i a l e x i g i r a a r e s p e i t o d o t r a n s i t o f l u v i a l , m a s

f o i t o d a v i a a c c e i t a c o m o u m a s e g u r a n ç a i n e q u í v o c a d e q u e o

o v e r n o d a R e p u b l i c a e s t a v a r e s o l v i d o a c u m p r i r o t r a ta d o

e 2 5 d e D e z e m b r o d e 1 8 5 0 .

« O p l e n i p o t e n c i a r i o p a r a g u a y o , o S r . D . J o s é B e r g e s , a p r e

s e n t o u a s s u a s c r e d e n c i a e s a S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r e m

5 d e M a r ç o u l t i m o , e n o d i a 9 d o m e s m o m e z d e u - s e c o

m e ç o á n e g o c i a ç ã o , q u e t e r m i n o u a 6 d e A b r i l . D e s d e a

p r i m e i r a c o n f e r ê n c i a , o p l e n i p o t e n c i a r i o d a R e p u b l i c a d e c l a

r o u - s e a u t o r i s a d o a c e l e b r a r u m t r a ta d o d e a m i z a d e , n a v e g a ç ã o

e c o m m e r c i o c o n f o r m e a o q u e f or a a s s i g n a d o n a A s s u m p ç ã o

e m 2 7 d e A b r i l d o a n n o p r ó x i m o p a s s a d o , e q u e S u a M a

g e s t a d e o I m p e r a d o r n ã o p o u d e r a t if ic a r , p e l o s m o t i v o s j á

e x p o s t o s . O g o v e r n o d a R e p u b l i c a a t l e n d i a a e s s e s m o t i v o s ,

n ã o t o r n a n d o o r e f e r id o t r a ta d o d e p e n d e n t e d o a j u s t e d e l i m i t e s ,

m a s e x i g i a q u e n * e ss e m e s m o a c t o , o u e m u m a c o n v e n ç ã o

d i . s t i n c t a , s e e s t i p u l a s s e c e r t o p r a z o e c l á u s u l a s p a r a a q u e l l e

a j u s t e . O g o v e r n o i m p e r i a l d e s e j a v a q u e a m b a s a s q u e s t õ e s

p e n d e n t e s f o s s e m r e s o l v i d a s a o m e s m o t e m p o , e d o m o d o

B i a í s s a t i s f a t ó r i o , m a s n ã o l h e f o i p o s s í v e l c o n s e g u i r t ã o a m i

g á v e l a c c o r d o .

« D e p o i s d e l o n g a d i s c u s s ã o , c u j o s p r o t o c o l l o s v o s s e r ã o

o p p o r t u n a m e n t e a p r e s e n t a d o s , c o n c l u i o - s e e a s s i g n o u - s e n o

d i a ti d e A b r i l c o m o p l e n i p o t e n c i a r i o d a R e p u b l i c o , u m

t r at a d o d e a m i z a d e , n a v e g a ç ã o e c o m m e r c i o , q u e d e s e n v o l v e

o s p r i n c i p i o s e s t a b e l e c i d o s n o d e 2 5 d e D e z e m b r o d e 1 8 5 0 ;

e u m a c o n v e n ç ã o p e l a q u a l s e e s t i p u l a , q u e d e n t r o d o p ra s o

d ' a q u e l l e t r a t a d o s e n o m e a r ã o n o v o s p l e n i p o t e n c i a r i o s p a ra

18

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— 46 —

examinarem e reconhecerem definitivamente a linha dirÜoria

dos dous paizes. Sua Magestade o Imperador houve por

bem ratificar os referidos ajustes. A s ratificações serão tr o

cadas na A ssumpção no prazo de oitenta dias, c ontado s de 6

de Abril, ou antes se fôr possivel. »

Hoje podemos dizer que a convenção de 6 de Abril de 1866,

foi um meio que teve o governo do Paraguay de iiludir ao

governo imperial, co ntinu índo a su a p retenção sobre a posse

da provincia de Matto-Grosso. A navegação fluvial não ficou

livre para os navios de g uerra, m as com r estricçã o; o trata do

de limites não se fez.

Depois de concluidos os tratados acima m enc iona dos , o

governo do Paraguay preparou-se vagarosa e occultamente

para hostilisar o Brasil, logo que podesse: dissemos occulta

mente, porque parece que o governo imperial nunca cuidou

de ter, pelo menos no Para guay , esta espionagem diplo m ática

que deve estar a cargo dos age ntes, para avisar aos seu s

governos do que se passa. A questão com o Estado O riental

veio proporcionar á Republica do Paraguay a occasião de

effectuar a invasão, que ha m uitos ann os p rojectava, da pro

vincia de M atto-Grosso; do que havia , além da descon fiança,

factos que o indicavam. Tal foi até 1856 a politica adoptada

pelo governo imperial, para com o do Paraguay.

Em quanto esta R epublica procedia activã m ente aos seu s

armamentos de terra e de m ar, co nstruin do n avio s, fund indo

m uito artilharia , levan tando fortificações na m arg em do rio ,

mandando vir da Europa muito arm am ento, acc um ulan do

nos seus arsenaes um immenso material de g ue rr a : vejamos

o que dizem os ministros dos negócios estrangeiros nos seus

relatórios, que nos ann os seguintes apre sen tara m á assem bléa

geral.

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1

  H

L I V R O T E R C E I R O .

R E L A T Ó R I O D O M I N I S T É R I O D O S N E G Ó C I O S E S T R A N G E I R O S .

Do relatório apresentado á Assembléa Geral em 1857, pelo

respectivo m inistro, conselheiro José M aria da S ilva P ar a

nhos,

  lê-se o seguinte:

P ARTE P OLÍTICA.

« O estado de nossas relações com as demais potências, é

pacifico e amigável. O Império adquire de dia em dia, pelos

seus elementos de grandeza, e sobre tudo pela alta razão, e

m agn ânim o coração qu e preside aos seus destinos, mais justo

apreço e mais pronunciadas sympathias.

« Estão ainda pendentes os ajustes de limites com a França,

e com os Estados de Venezuela e Nova Granada, comprehen-

dendo-se n'estes últimos, a convenção que diz respeito á na

vegação fluvial.

« O governo da R epublica do Paraguay adoptou disposi

ções taes de policia e tiscalisação no rio o?aquelle nome, que

forçoso no s foi reclam ar con tra ellas, em vista dos vexames

com que im pediam a nascente navegação de M atto-Grosso, e

porque ainda quando innocentes em seus effeitos, seriam

offeusivas das convenções de 6 de Abril do anno passado.

« O governo do Estado O riental do U rug ua y propoz a re

visão do tratado de commercio e navegação de 12 de Outubro

de 1851, e o governo de Sua Magestade annuio a essa pro-

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48 —

posição, no intuito de completar e de?envolver as disposà|Ê>es

a aquelle tratado, como aconselham as novas circumstancias

de ambos os paizes. »

RBLAÇOES

  DO BRASIL COM A REPUBLICA DO PAKAGIJAY.

cc Submetto á vossa consideração, com o presente relatório,

os protocollos das conferências que precederam a celebração

dos ajustes de 6 de Abril do anno passado, com a Republica

do Paraguay.

« V ereis dos referidos documentos que foram attendidas no

tratado de amizade, navegação e com me rei o as justas recla

mações do Brasil, acerca do livre transito dos navios e s ub

ditos brasileiros pelos rio Paraguay e Paraná, segundo se

achava estipulado no art. 3.° do tratado de 25 de Dezembro

de  1850 ;  e assentadas e desenvolvidas as bases que deviam

regular a navegação e commercio entre os dous paizes, em

conformidade do art. 15 do mesmo tratado de 18i0. »

Q U E S T Ã O

  D E  L I M I T E S .

« Sente o governo imperial que o ajuste de limites não

fosse definitivo, e o resultado log"ico e irreci savei da discussão que o precedeu. Não dependeu, porém, este justo

accordo de alguma concessão razoável e possível que da

nossa parte se recusasse. Até onde a moderação, a equidade,

todas as considerações que nos deve merecer a Republica

permittiam 'chegar, chegou o plenipotenciario brasileiro para

decidir de uma vez essas seculares e tão desagradáveis

questões.

« O governo imperial offereceu a mesma proposta que in i

ciara em em 18 53 , o reiterara em 185 4 e  1835. Demonstrou

até a evidencia que essa proposta era a maior concessão que

podia fazer á R epublica, a prova mais assignalada dos de-

„ seios, que tem constantemente manifestado, de estabelecer

sobre bases sólidas, e de um modo justo e honroso, as re

lações de amisade, e a reprocidade dos interesses dos dous

paizes.

« Na proposta a que alludo a linha divisória dos territó

rios do Império e da Republica,

  é

  assim descripta.

«  Ò reconhecimento (festa fronteira funda-se nos mesm os

princípios adoptados pejo governo imperial, para o ajuste de

limites com as outras R epublicas visinhas :  1.°  o  uit pnssi•

«  dtíiê

  ; 2.°

  as estipulações celebradas entre as coroas de Por-

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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— 49 —

tugal e Hespanha, nos pontos em que ellas não contrariam

os factos de possessão, e esclarecem as duvidas resultantes

de falta de occupação nffectiva. ,

« O governo paraguayo admíttio a primeira base, mas re

cusou a segunda, que é auxiliar indispensável para discri

minar o domínio originário ; traçar a raia divisória de um

e outro Estado nos lugares despovoados e sem marcas de

possessão.

cc

 A caducidade dos antigos tratados, era o argum ento da

recusa do governo da Republica. Demonstrou-se, mas em

vão,  que a invalidade d'essas estipulações não annullava o

direito anterior, de que ellas são documentos históricos in -

ternacionaes de fé indubitavel, uma prova irreffragavel e evi

dente na questão do Império com a R epublica. A dissidência

entre os dous governos versava sobre a fronteira compre-

hendida entre a margem direita do Paran á e a esquerda

do Paraguay.

« No intuito de dicidii-a propoz o governo da R epublica,

por meio de seu plenipotenciario, como condição indis

pensável, que se nomeassem commissanos para examinar os

terrenos contestados, e verificar as posses, ou monumentos

de posse das duas nações.

cc Em quanto esse exame se não fizer, dizia o plenipoten

ciario paraguayo, a Republica sustentará que a divisa dos

dous paizes nào pode ser outra senão do lado do rio Pa

raná, o rio Ivinheima, e do lado do rio Paraguay o rio

Branco, que corre ao norte do Apa, unidos estes dous riospelas serras de M aracajú ou Anhambahy, desde as suas ca

beceiras, que d'ellas nascem.

« No entretanto é certo, e o próprio representante da Re

publica o declarou na segunda conferência, que a Republica

não possue actualmente nem uma povoaçáo, estabelecimento,

ou monum ento de posse além do Iguatem y, e além do A pa.

cc O que o governo paraguayo allegava para pretender a

divisa do Ivinheima eram as posses que ahi tiveram os Hes

panh óes; e para provar o seu direito ao território entre o

Apa e o chamado rio Branco era o estabelecimento do Forte

Olvnipo, outr'ora Bourbon, que fica fronteiro, sobre a mar

gem direita do Paraguay.

a

  Fez-se

  ver por parte do governo imperial, que não era

razoável o adiam ento proposto, afim de que com missa rios

fossem percorrer o terreno e verificar as pessoas de um e

outro Estado.

cc

 Que a questão estava resolvida

  â priore,

  uma vez que o

próprio governo paraguayo declarava que, além do íguatemy,

e além do Apa nada possuia. Que o exame dos terrenos sobre

as linhas contestadas nada daria em resultado, porque correm

ellas por pontos desertos, despovoados, sem vestigios de occu

pação. Que o direito primitivo dos dous paizes decidia pe-

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— 5 0 —

remptoriamente a questão em favor do Império, visto

  quir a

R epublica cão podia he rdar de sua m etrópole u m direi to

mais extenso do que o d'esta. Que além do terri tório que per

tencia á H espan ha, não podia pretend er se não o qu e eiiee t i vã

mente houvesse tomado ao dom ínio portuguez , hoje bra si le iro .

« Que o Brasil estava no mesmo caso relativamente ao ter

ritório que n'esta parte da A m erica per tenc e á coroa de P or

tugal . Que as occupações hespanholas, a que quiz soccorrer-se

o plenipotenciario paraguay o, re lat ivam ente á l inha do Iv i

nheima, t iveram lugar du rante a un ião de Po rtugal á H e s

panha , e deseppareceram logo que se separara m as du as coroas ;

eram factos m uito ante riores aos tratado s de 1750 e 1777,

que reconheceram e assignaram o  uti possidetis  das duas me

trópoles, n 'essa parte de suas possessõeslimitrophes.

« Qu e, quando se construio o Forte Bou rbon ou O lym po ,

sobre a margem direita do rio P ara gu ay , já os H es pa nh óe s e

Portuguezes se achavam ha muito estabelecidos em uma

e outra ' margem d'aquelle rio, já t inh am sido cele bra do s os

tratados de 13 de Jan eiro de 1750 e de 1 de O ut ub ro de

1777,  que reconheceram o m eio d'esse rio po r fronteira da s

possessões de Hespanha e Portugal . Que por tanto aquelle

estabelecimento não podia conferir direitos sobre a margem

opposta.

« Q u e a R epublica nen hu m a posse ou d om ínio tem no

território que pretende ou contesta ao Brasil , pr ov am -n o as

propostas feitas pela m esm a R ep ub lica em 1844, 1847, 1852 e

1853,

  as declarações do seu plenipotenciario na segunda con

ferência, e os poucos factos sem im po rtân cia e ev en tua es q u e

foram invocados a titulo de posse effectiva.

« O governo imperial , não se aprovei tando da proposta que

lhe ofíereceu a Republica em 1844, pela qual se reconhecia

a divisa de 1777 , não aceitand o a cessão do territó rio d o

A guapehy, que se lhe quiz fazer em 1847, e of ere ce nd o ho ie

a R epu blica, como offerecia em 1853, u m a lin ha div isór ia

que cobre todas as suas possessões e estab elecim ento s, m ais

vantajosos do que aquellas que a mesma Republica propôz

em 1847, 1852 e 1853 ; exceptuando a idéa do terri tó rio n eu -

t r a l ;

  entendeu que era tud o qua nto p odia fazer, para ob ter

da Republica o reconhecimento da moderação e benevolência

com que se prestava á solução d a inv etera da questão de

limites entre os dous Estados.

« Não sendo possível chegar a u m accordo definitivo

conveio-se em adiar o ajuste de limites obrigando-se os dous

governos a nomear, logo que as circumstancias o permitiam,

o dentro do prazo de seis ann os, os seus plen ipo tenc iarios

para ser de novo exam inada a qu estão , e resolvida de fin iti

vam ente. N o entretanto obrigaram-se outrosim amba s as partes

a respeitar e fazer respeitar recip roc am en te o s eu

  uti pos

sidetis  actual .

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N A V E G A Ç Ã O F L U V I A L .

« Cus ta-me d izer -vos , que a execu ção dos a jus tes de qu e

acabo de fal iar, não foi en ce tad a de u m m od o sat isfa ctor io

por par te da R epubl ica .

« Preva lecendo-se o governo p ara gu ay o da d i spo s ição do

ar t . 6 . ° do t ra tado de amizade , navegação e commerc io , pe la

qual se reservaram as dua s par tes con t ra tan tes , o d i re i to de

adoptar , em regulamentos f i scaes e po l ic iaes , as medidas que

fossem convenientes , para ev i ta r o cont rabando, e p rover á

s u a s e g u r a n ç a , p r o m u l g o u v á r i o s r e g u l a m e n t o s q u e e n c o n t r a m

com os nossos d i re i tos e pre judicam gravemente ao commer

cio e navegação da

#

  p r o v i n c i a d e M a t t o - G r o s s o .

(( O p r im e i r o d 'e s se s r e g u l a m e n t o s d e 1 5 d e J u l h o u l t i m o ,

es tabe lece qu e ne nh um navio pôde subi r da capi ta l da R e

publ ica co tn des t ino ao por to de A lbu qu erq ue , ha bi l i t ad o pe lo

governo imper ia l desde 1853 para o commerc io nac ional e

es t rangeiro , sem que leve a seu bordo u m pra t ico , qu e re ce

b e rá s u c c e ss i vã m e n t e n a A s s u m p ç ã o , e n o s p o s to s m i l i t a r e s

da Conceição, fóz do A pa e O lym po .

cc No seu regresso do A lto Pa rag ua y, de ve m os n av io s re

vezar os prá t icos que t rou xerem com os qu e h ou ve re m de i

xado nos d i fe re n tes pontos d 'aqu el la esca la . Es tes prá t ico s são

t i rados d 'en t re 12 mat r icu lados na capi tan ia do por to de As

sum pçã o, e são re t r ibu ídos pe los capi tães dos na vio s , m e

diante cuii tracto por dia , mez ou viage m , feito an te a a u to

r idade mil i tar do lugar .

« O segundo de 10 de A gos to , con tém as ins t ru cçõ es da da s

ao com m anda nte do Cerro O ccidenta l , pos to mi l i ta r m u i re ce n

tem ente es tabelecido em f ren te do Pã o d 'A ssucar , e ao co m

m a n d a n t e d o F o r te O l y m p i o , p a ra e x e c u ç ão d a s m e d i d a s c o m

qu e o governo da R epub l ica ju l go u necessár io po l ic ia r a n a

vegação co mm um .

« Prescrevem as re fer idas ins t rucções q ue todo o n av io , pa

raguayo ou brasi le i ro, qualquer que seja o seu dest ino, deve

tocar não só no por to d 'A ssum pção , m as tam bé m n os dou s

pos tos mi l i ta res do Cer ro Occidenta l e For te Olympo, s i tuado

á margem di re i ta do r io Pa rag uay , ac im a da fóz do A pa .

Em cada um dos sobreditos pontos , é cada u m navio ob r i

gado a dar fundo, e sub m et t i Jo aos seg uin tes exa m es e for

m a l i d a d e s .

cc O capi tão ou m estre deve i r á pre sen ça da au to r id ad e

m il i tar e ap res en tar - lh e: 1.° o passaporte do n av io ; 2-.° o rol

da equipagem ;  3 . °  o man ifesto da car ga ; 4 .° a l is ta dos pas

sageiros . Os passageiros, sem dis tinoçáo de procedên cia ne m

de nac ional idade , devem exhib i r pesso a lme nte os seu s pa ssa

portes ás autor idades paraguay

 as .

« Exige-se para que esses do cum ento s se jam t idos por

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va lid os : 1.° qu e o passaporte* do navio e o man ifesto da

carga ten ha m o visto do agente co nsular do Brasil na A s

sumpção; 2.° que os passaportes de passageiros estrangeiros,

procedentes d e fora do terr i tór io da R epu blica, e com destino

ara a prov incia de M atto-Grosso , sejam visados no porto

'Assumpção pelo chefe de policia e pelos agentes consulares

do Brasil , e cia nacionalidade do viajante.

cc O comÉ nandante do ponto que o regulam ento den om ina

Cerro O ccide ntal v isa rá : 1.° o passaporte do na vio ; 2.° o rol

da equ ipag em ; 3.° a lista dos passa geiros; 4.° o ma nifesto da

c a rg a ; 5.° o passap orte de cad a u m dos passageiros. Estes

vistos custam, os tres do passaporte do navio, rol da equi

pagem e manifesto da carga, qua tro pezos paragu ayo s, ou

tri n ta e do us reaes (prata), e o de cad a passageiro oito reaes.

cc N o Forte O lym po tem os navio s que sobem de sujeitar-se

ás mesmas condições, com a diferença de que os vistos que

ah i receba m os seus papeis e os passapo rtes dos passageirossão gratu itos . São por tanto obrigados a fundear m ais um a

vez , e a exhibir pela fôrma já especificada, os seu s p assap ortes

e os de cada passageiro, a l is ta d 'estes, o rol da eq ui pa ge m

e o manifesto da carga. Isto pelo que toca aos navios que

subirem para M atto-Grosso. Os navios que descerem dos portos

do Brasil farão a m esm a escala pelo Fo rte O lym po , Cerro O cci

dental e A ssump ção ; e passarão pelas m esm as operações policiaes,

sendo n e st e caso gratuito s os actos da auto r idade do Cerro

O ccidental , como na su bida o são os do Forte O lymp o. Os

documentos exigidos devem ser visados pelo cônsul do Para-

uay em M at to-Grosso, e o com m and ante do For te O lympo

rma e assigna a lista dos passageiros que na viagem rio

acima é apenas visada, percebendo por este acto mais oito reaes. »

S e gue m - s e a s . m ul ta s e m qu e inc or re r e m os na v ios que

co ntra vie rem ás disposições po liciaes e fiscaes do gov erno da

R e p u b l i c a .

cc 0 terceiro re gu lam en to contém precauções sanitár ias c on

cernentes aos navios que procederem dos portos do Brasil ,

nos casos em que não apresentem car ta de saúde, nem seja

es ta l impa, ou tenha occorr ido durante a viagem alguma mo

lés t ia epidêmica .

« E' evid ente que as m edidas f iscaes ado ptad as pelo go vern o

da R ep ub lica , não estão d e accordo com o tratado de 6 de

A bril . E llas confund em a naveg ação directa do Brasil com os

outros Estados visinhos, o u en tre os seus próprios p ortos, com

a navegação qu e se des t ina aos por tos da R epu bl ica . E a in da

a respeito d'e sta faltam á cl áu su la final do a rt. 6.° do m esm o

tra tado , pois nã o p odem ser cons ideradas com o as m ais favo

ráveis ao seu desenvolvimento .

19

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« O tratado de  6  de Abril dist inguio m uito clara e t er m i-

nanternente unia e outra navegação. A que tem por objecto

o commercio reciproco dos dous paizes,  é  regulada por dis

posições temporárias. A navegação directa ou o  simples  t r a n

sito dos navios brasileiros,  é  um direito permanente, l ivre de

todo

  ônus, cujo exercicio por tanto só pôde ser regulado por

mutuo accordo. Sem embargo, p orém, de di sp os i^ es tão cla

ras e justas, os novos regulamentos paraguayos oorigam   todos

os  navios brasileiros a tocar nas Tres-Boccas, em Hurnaytá, no

Pilar, no porto da capitai, na Conceição, na foz do Apa, no

Cerro Occidental, e finalmente, no Forte Olympo.

« Os capitães e passageiros são forçados a desem barca r n a

ma ior parte d'esses pontos, para exhibir e le ga íisa r ah i os

seus docum entos e passaportes, pagando ida e vo lta os re qu e

ridos  2  pesos por cada passaporte, e os p rim eiros oito p es os ,

além da despeza dos práticos, e outras que , ao q ue pa rec e,

estão implicitamente comprehendidas nos ditos regulamentos.

Tão longa e demorada escala, ainda sem o m enor ôn us pe cu

niár io, fecharia de facto o rio Parag uay ao s na vio s bra si

leiros.

« E com o se taes m edidas não fossem assaz vex ató rias , o

cônsul da Republica em B uen os-A vres tem procurado aggr a-

vaí-as.

  O s  papeis dos navios brasileiros, e os passaportes dos

passageiros que se destinam   á  provincia de Matto-Grosso, en

tende'elle que devem receber o seu visto. Se no todo ou em

parte, a carga pertence a alg ué m suspeito por qu alq ue r

motivo ao governo paraguayo, julga -se com direito a im

pedir a negociação e a obstar q ue esse ind ivíd uo transite

como passageiro pelas águas da Republica.

cc Confiando na s franqu ezas e g arantias d o tratado de  6  de

Abril , vários negociantes de Buenos-Ayres empréhenderam'

licitas esp eculações para a prov incia brasileira, qu e p or tan to

tempo estava seqüestrada do commercio dos outros povos.

Esse m ovimen to foi começado por cinco emb arcações bras i

leiras,

  as escunas

  Leverger, Diamantina,

  Pedro II  e

  Ulysses,

  o

vapor  Corsa,  além de dous barcos paraguayo s, e dos nav ios

de guerra brasileiros  Maracanã  e  Paraquassú.  Podeis imaginar

o transtorno que as inexperadas exigências do governo para

guay o causariam aos que se aventuaram a ir procurar u m

mercado inteiramente descon hecido, onde não pode riam colher

senão módicos lucros, se todas as circumstancias lhes corres

sem favoravelmente.

« 0 governo imperial não podia conservar-se silen cios o e m

vista de semelhante estado de cousas: e tendo o governo da

Republica dado-lhe con hec ime nto das medidas qu e acaba va

de promulgar, em resposta a esta sua communicação se fize

ram as convenientes observações, reclamando:

« 1 ° ,

  contra a vexatória e of en siv a policia a que suje itou-s eo com mercio da provincia de M atto-Grosso, e o transito das

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pessoas qu e d 'e l la san em , ou para e l la se dir igem sob a ba n

deira brasileira; 2.° contra, a longa escala a que para esse fim são

forçados os navios brasi le iros, que somente t ransi tam pelas águas

da Republica; 3 .° , contra a exigência de ser essa navegação

somente dir igida, por prát icos paraguayos; 4 .° , contra as impo

sições com que a t i tulo de vistos e de pratigagem é ag*gra-

vado o simples t ransi to dos navios e subai tos brasi le iros; 5 .° ,

con tra a sob erania exclusiva que o governo paraguay o as su m e

n 'aquel les regulam entos , sobre a parte do rio com prehe ndida

ent re o Apa e o For te Olympo.

K   As m edidas adoptadas pe la R epubl ica , sem qu e precedesse

accordo algum com o gove rno im peria l , não co ntra riam só a

letra e espir i to do t ra tado de navegação e commercio, offen-

dem igua lm ente a co nvenção prel imin ar de l imites , visto com o

presupõe um di re i to , que não tem a R epu bl ica , de exc lu

siva jurisdicção nas águas do r io Paraguay, que correm entre

o For te Olympo e o Apa .

« N*esse t recho do r io a marge m esqu erda pertenc e ao I m

pér io, posto qu e a sua posse seja dispu tada pela R epu blica .

Em qu an to sub sisti r a referida conve nção, ou até qu e se co n

siga o seu fim am igá ve l, essa parte do rio se deve co ns ide rar

neu t ra ou eon im um , e por tanto a sua pol i tica não pôde co m

pet i r exc lusivamente nem ao Im pér io nem á R epub l ica . O s

regulam entos parag uayos, porém , a inda n 'esses pontos im põ e

u m a escala forçada ao t ransi to dos nav ios brasi le iros, e os

sujeitam ás autoridades da R epu blica, do m esm o m odo qu e

na parte inferior do r io, onde a R epublica possue as dua s

m a r g e n s .

« E

1

  de esperar que o governo da Republ ica ouça benevola-

mente nossas justas reclamações, e venha a um perfei to accordo

com o governo im per ia l , para dar á navegação com m um o

im pulso e tavo r de qu e el la careça . O s interesses q ue d 'essa

boa intel l igen cia e d esse m ov im en to com m ercial provirão ao

Império, não são mais desejáveis do que os que pôde colher

a R e p u b l i c a .

« O s receios de contrab ando e de perigo pa ra a pol ic ia e

segurança interna da Republica, não exigem essas disposições

vexa tórias e exhorbi tantes. O con traban do e a en trad a ou fuga

de criminosos, se póie dizer que são impossíveis nas desertas

e in t ransi tave is m argens em que o goverob paraguay o quiz

tom ar tan tas e tão r igorosas precauções. T oda ev en tua l ida de

possível está á qu em dos m eios de vig ilância e rep res são de

que já d isp un ha a R epub l ica , e que pôde am pl ia r sem pr e

judicar os nossos interesses, nem violentar ao nosso direi to .

|  O env iado ext raordinár io de S ua M agestade o Im perad or na

Coufederaçáo Argent ina fo i t ambém acredi tado junto á Republ ica ,

e já partio para a A ssum pção , afim de prom over o accordo

<$ue o gov erno im pe ria l espera da i l lus traç ao e am izad e do

governo parag uay o. No an nexo G. va i inser ta a correspo n-

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deu cia trocada entre este m inistério e o das relações ex te

riores da R epublica, relativam ente aos ponto s sob re qu e ten ho

n'este artigo cham ado a vossa atten çâo , bem com o al gu m as

communicações do consulado do Im pério em Bu en os- A yre s ,

que versam sobre o mesmo assumpto. »

No mesm o relatório a p agin a 59, lê-se o seg uin te :

RECL AMAÇÕES BRASIL EIRAS.

REPUBLICA ORIENTAL DO URUGUA Y. — ESTADO DAS RECLAMAÇÕES

PECUNIÁRIAS DOS SUBDITOS BRASILEIROS.

« O governo imp erial, por consideração ao estado criti co

das f inanças da Republica Oriental do Uruguay, tem dei

xado de insistir com o gove rno da mesm a R ep ub lica para

que attenda aos direitos de vários credores brasileiros.

« M anifestando o apreço q ue o seu govern o faz d o pr oc e

dimento que tem t ido o Im pério nas suas reclam ações pe

cuniárias, assegurou o m inistro oriental qu e, se por v en tu ra

se concluísse algum accordo definitivo á cerca das reclama

ções pecuniárias de outros governos em favor de seu s re s

pectivos subditos, os subd itos brasileiros se ria m att en did os ,

com as condições ma is favoráveis que se conc edes sem aos

de qualquer outro paiz.

« Esta man ifestação do

  5

  agente diplomático da R ep ub lica

Oriental do Uruguay, posto que de rig-orosa justiça, foi rece

bida como um a prova de disposições am igáv eis da pa rte do

governo da R epublica .

ASSASSINATO DO SUBDITO BRASILEIRO MANOEL CUSTODIO E VIO LÊN CIA S

FEITAS A OUTRO SUBDITO BRASILEIRO DE NOME LE OVIGILDO

ANTÔNIO DE LIMA.

« Nos primeiros dias do mez de O utub ro de 1856, aôh an

do-se aquelles brasileiros no Olimar Chico, no departamento

de M inas, foram citados pelo juiz de paz Ig na cio O torvós pa ra

comparecer perante esta autoridade como testemunhas do

roubo de um a vacca, commett ido por Jo aq uim A lvarisa, per

tencente a Francisco Baldomero de A lm ada , em cuja casa

estavam hospedados.

« A esta citação seguio-se u m a ordem do juiz de ten do em

seu d is trio to os dou s Brasileiros até a conc lusão do pr oc ess o,

em que haviam de ser ouvidos com o testem un has . D ur an te

esta detenção foram de passeio ao sitio em q u e viv e Ju st o

Benites, cunhado de Baldomero»

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— 57 -

« ^chando-se alli, foram surprendidos e atacados por cinco

ho m en s armados. M anoel Custodio que primeiro sahio ao en

contro dos aggre ssores, foi por estes ferido com dou s tiros,

am arrado, arrastado para lo ng e da ca sa e dego llado ; e Leo*

vigildo A ntôn io de L im a, depois de estaqueado e ultrajado

pelos salteadores, comprou a vida por trinta onças.

<( Seg und o dizem pessoas d o « lu g a r em que o facto se

passou os cinco s ind ivídu os que com m etteram estes crimes,'

foram o com m issario de policia Ru fino G om es, o sargento S e-

gundino Carrasco e tres soldados de policia.

« A transacçâo das trinta onças foi. negociada pelo sargento

e po r u m solda do, sob a direcçào do com missario de po

licia.. Informada d'esses factos, a legação imperial levou-os ao

con hec im ent o do governo oriental, reclamando a prisão e

castigo dos criminosos.

« O governo da R epu blica ordenou ao chefe polit ico de

M ina s qu e sem perda de tem po procedesse, á averiguação

d'esses crime s, e remettesse os delinqüe ntes presos para a

capital , sem prejuizo do summario que tinha de levantar-se.

« E ssa autoridade, officiando sobre este assum pto ao seu

gov erno , com m un icou -que o comm issario Gom es lhe dera

parte de qu e hav ia p erseg uido d ous Brasileiros n'aquelle des-

tricto por com m etter em roubos, tend o m orto um d" elles por

lhe haver resistido com as armas, levando os mesmos n'essa

occasião dous caval los roubados; e que tendo mandado pro

ce d er , ás averiguaçõ es recornmendadas pelo governo sobre

esses factos, nada tinha resultado contra o com m issario G om es

e seus zeladores, conserv and o-os entretanto na vil la de M ina s

com o em custodia até a conclusão do sum m ario que se es

tava form ando . N ada se diz acerca da extorsão das trinta

onças.

« E ssas inform ações foram transm ittidas á nossa lega ção,

que de ordem do governo imperial m andou proceder e m

M in as a averigua ções sobre os referidos aco ntec im ento s. »

A S S A S S I N A T O D E C L A U D I N O D A S I L V A .

« O presidente da provin cia de

  S .

  Pedro do Rio Grandedo Su l com m unico u ao governo imper ial , que segundo in

formaçõ es do com m an da nte geral das brigadas e fronteiras,

t inha sido assassinado no Estado Oriental, nas immediações

do Passo do Ce nturiáo, o subdito brasileiro Claudino da

Si lva .

« E m cons eqü ência de instrucções do governo imperial ,

levou a sua legação em M ontev idéo este facto ao conh eci

mento do governo da Republica, reclamando a puuiçào dos

qu e o com m etteram . O govern o oriental respondeu que não

tinha noticia d'esse assassinato, e qu e ia pedir as in form açõ es

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necessárias.  N ão  tendo  a  nossa legação recebido outra  res

posta até  o  dia  26  de Fevereiro d'este anno, reiterou n*essa  d a t a

aquella sua reclamação. »

ASSASSINA TO DO SUBDITO BRASILEIRO JOSÉ VIE IRA .

« Jo sé V ieira, natural da provincia de S. Pa ulo , foi ass as

sinado em   14  de Março de  1856,  na costa do Rio N egr o, na

picada denominada de Japujú. O vice -côn sul do Brasil em

Pay sandú , tendo conhecim ento d' isso, dirigio-se ao chefe p o -

litico d'esse departamento, e este fnn ccionario m an do u fazer

algum as ,diligencias para descobrir e apprebender o ass ass ino ,

ellas porem foram infructiferas. Apezar d'isso, c on tin ua nd o o

mencionado vice-consu l a indagar por si , cheg ou a verif icar

que o crime havia sido commettido pelos cidadãos Orientaes

Francisco Figueirôa e José Figueirôa, os quaes depois de as

sassinarem a José Vieira, ro ubar am -lhe cen to e cinc oen ta e

tantas onças que levava com sigo, e fugiram para G ua le-

gú ay ch ú, na província argentina de Entre-Rios. S en do a l e

gação brasileira informada do occorrido, dirigio ao go ve rn o

oriental uma nota, levando esse facto ao seu conhecimento,

afim de que houvesse de tomar as medidas co nv en ien tes para

a captura d'esses indivíduos logo que regressa ssem ao E stado

Oriental. »

PROCESSO DO SUBDITO BRASILEIRO BOAVENTURA AL VA RE S.

« E ste subdito brasileiro residente em M albajar, dep arta

mento de Durasno, foi preso em sua casa no mez de No

vembro de  1854,  e condusido  á  cidade da Colônia no dep ar

tame nto do me sm o nom e, onde tem estado preso até ho je,

sem que se tenha dado segu ime nio ao seu processo.

« A legação imperial em Mo ntevidéo informada d'esse fac to,

d'el le deu corhe cime nto ao governo oriental , r eclam ando   a

immediata conclusão do processo d'aqueile brasileiro que

fora cruelm ente tratado e ferido, e q ue tinha todo s os s e u s

bens embargados com grande prejuizo seu e de su a fam ilia,

a qual soffna as maiores privações, bem com o elle na prisão.

« Em resposta a essa nota, l im ito u-s e o gov erno oriental

a remetter  á  nossa legação cópia das informa ções qu e re ce

bera do jui z do eivei e crime da C olônia sobre a prisão e

estado do processo de Boaventura.

« Ptess e docu me nto se diz, que o dito subd ito bra sileiro

foi preso por cum plicidade em diversos roubos e ass as sin a

tos ; que além do sum m ario nada m ais se tem feito desde

1854,  e que esta dem ora é devid a ás difficuldades de cont*

mun icaçâo na campanha, e pouco zelo e inteUigen cia

  das

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— 5 9 —

PROCESSO DO SUBDITO BRASILEIRO BERNARDINO JOSÉ DA SILVE IRA.

« Be rnard ino José da S i lveira , representou em Dezem bro de

1856 á legação imp erial em M ontev idéo, qu e fora preso no

dep artam ent o do S alto em M arço de 1854, rem ett ido depois

para o depar tam ento de Pa ysa nd ú, abi empregado no t raba

lho forçado das obras publicas, e transferido finalmente para

M on tevid éo, onde a inda se acha encarcerado . M andando aquel la

legaçã o verificar a nacio nalida de do peticionario e o m otivo

d e sua prisão , e send o inform ada de qu e era brasileiro, e

havia sido preso por homicidio, passou em 27 de Dezembro

u m a no ta ao governo or ienta l denu nciand o-lhe a procras ti -

naçã o do processo, e ped ind o a expedição das necessárias

ord ens pa ra que fosse term inado com brevidade. N ão obtendo

resposta até ao dia 26 de Fevereiro, insis tio na reclamação ,

obse rvan do qu e o aceusado hav ia sido forçado a trab alha r

na s obras publicas , antes de ser com petentem ente senten ciado . »

E X T R A D I CÇ Ã O D O D E S E R T O R J O S É I G N A C I O D A S I L V A .

« H av en do desertado para o departam ento do Cerro L argo

o soldado José Ign acio da S i lva, reclamou-se do respectivo

chefe po litico a su a entreg a. Este recuso u satisfazer á recla

m ação em qu an to não fossem preench idas as formalidades pres-

criptas pelo tratado de extradicção. T end o o governo im peria l

conh ecim ento d 'es ta rec usa , ordenou á sua legação em M o n

tevidéo q ue se entend esse com o governo oriental , vis to com o

aquellas form alidades não podiam ser applicadas aos deser

tores , e eram exigidas unicamente para a extradicção de cri

m ino so s, e escravos fugidos . O govern o oriental reconh ecend o

o fund am ento d 'es ta reclam ação, expedio orden s ás autoridad es

da fronteira pa ra qu e a entre ga do s desertores fosse feita m e

diante a s imples rec lamação das autor idades bras i le i ras , sem

d e p e n d ê n c i a d e o u t ra m e d i d a ,  como  até então se praticara e

m an do u ent reg ar o desertor . »

N'es te mesmo re la tór io (annexo E) encontra-se a nota do

conse lhe i ro Pa ran ho s ao governo do Pa rag ua y, em data de 12 de

A bril de 1856, na qu al d iz o d i to min is t ro : — que S ua M ages tad e

o Im pe rad or ho uv e por bem ratificar o t ratado de am izad e, n a

vegação e com m erc io; bem como a convenção re la t iva ao

ajuste de l imite s , q ue no d ia 6 do co rrente coube ao m esm o

autoridades encarregadas das di l igencias a que se tem man

dado procede r. »

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— 6 0 —

cc O Sr. conselheiro Jo sé M aria do A m aral, en via do extraordi

nário e ministro plenipotenciario de Sua M agestade o Im perador

na Confederação Argen tina, foi encarregado de sus tent ar as res

pectivas reclamações junto do governo da Republica. »

O Viscon de de Maranguape, depois de relatar m in u ci os a

m ente as diligencias que fez o co nselh eiro Jo sé M aria do

Amaral para com o governo do Paraguay, mostrando quanto

eram offeasivas dos pactos cxtistente s, algum as das m ed ida s

estabelecidas pelos regulam entos da R epu blica; diz qu e m an

dou solicitar o governo imp erial, co m o m aior em pe nh o e

desde logo , a cessação de taes m edida s. T erm ina esta' parte

do seu relatório do modo seguinte:

<c A nota de   11  de Maio do governo da Republica repellia

em todos o s pon tos as justas reclamações* do gov ern o im per ial,

e com ella ficou rnallograda a neg ociaçã o confiada ao Sr .

conselheiro José Maria do Amaral. »

abaixo assignado a satisfação de assignar com o Sr. D . Jo sé

Berges, plenipotenciario da Republica.

No relatório de estrangeiros de  1858  apresentado á A ssem -

bléa Geral pelo Visconde de Maranguape, lê-se o seguinte:

RELAÇÕES   DO  BRASIL COM 0 PÂRÁGÜÀY.

MISSÃO DO

  . S R .

  CONSELHEIRO JOSÉ

  M A R I A

  DO

  A M A R A L .

« O governo imperial, com o fostes informados pelo relatório

do meu antecessor, do an no próximo passado, reclam ou por

nota de  26  de Janeiro do mesmo anno contra as medidas  fis

caes e de policia, a qu e o governo da R epu blica do Pa rag ua y

sujeitou pelos seus regulamentos de  15  de Julh o e  10  d e

Agosto de  1856,  os navios brasileiros nas águ as da m es m a

Republica.

« A lgum as d'estas m edida s contrariavam o tratado de am i

zade, navegação e commercio, celebrado com aquel la Repu

blica em   6  de Abril de  1856,  e gravemente prejudicavam o

comm ercio e navegação da provincia de M atto-G rosso. N ada

portanto mais razoável do qu e reclamar o go ver no im per ial

a fiel execução das estipulações contidas n'aquelle tratado.

« Pelos seus regulamentos fLuviaes o gov ern o da R ep ub lica

assum ia outrosim um a soberania exc lusiva sobre a parte do

Rio Paraguay,

 j

com prehen dida entre o Apa e o forte O lym po.

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Até ao f im de 1857, o governo do Paraguay não t inha at ten-

dido ao Brasil nas su as m ais jus tas reclam ações, emb araçando

a  navegação para o M atto-Grosso: tudo causado pela im por-

ticua missão de 1855.

Con t inua o re latór io do V isconde de M ara ng ua pe :

MISSÃO ESPECIAL DO SR. CONSELHEIRO JOSÉ MARIA DA SILVA

PARANHOS.

« Era porém , de gran de interesse para o Brasi l q ue progre

dissem as suas reclamações para terem a devida solução. A im

periosa necessidade de um ministro especialmente encarregado

de lhes dar a nd am en to e de conseguir o desejado res ultad o,

foi desde logo reconhecida pelo governo imperial .

« O S r . conse lhe iro José M aria da S i lva Paranho s , que

ha via neg ociado o trata do de 6 de A bril de 1856, e consig

na do n os respectivos protocollos, os principio s e as razões em

qu e se fun dara m as estipulações qu e elle consag ra, foi a

pessoa escolhida para essa importente missão.

« O gov erno im perial deu a este novo minis tro instrucções

ad eq ua da s ao estado da que stão, espera ndo que, reconsiderando

as suas justas reclamações, não insistiria em desáttendel-as o

i l lus t rado governo do Paraguay .

'< Essas pretenções dev iam buscar-se, como semp re se bus

cara m , nos regu lam ento s da navegação fluvial de o utros povos

qu e po r sua civilisação, com m ercio e patrica de s em elhan tes

relações internacionaes, nos podiam servir de exemplo.

« Qu e o em pen ho do gove rno im perial não era exigir

outra s faci l idades para a navegação do Pa rag ua y, que não

estivesse disposto a conceder par a a navegação dos rios do

Brasil .

« Esta nd o a qu estão fluvial por tal fôrma ligada com a de

limite s , que trata r de um a adiand o a outr a séria tornar a so

luçã o de am bas mu ito difflci l, teve o governo imp erial em

tod a a c onsid eração a su a definitiva fixação, fazendo ver qu e

o Brasi l não t in ha necessidade de estender o seu terri tório,

e nã o q ueria se nã o o qu e por direi to lhe pertencia .

« Nà o lhe send o porém perm ett ido instar pela solução

d'essa qu estã o, em vis ta do qu e se havia es t ipulado pela

convenção respectiva de 6 de Abri l de 1856, l isongeava-se en

tretan to o go ve rno imp erial de poder cons eguir es te benéfico

resu ltad o, pa ra as boas relações en tre os dous paizes, se fossem

iguaes as disposições do go verno da R epublica, no correr da

negociação sobre a navegação do Paraguay .

v

  « Pátra este fim foi o ministro brasileiro munido dos necessá

rios plenos poderes , »

20

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Eram estas as ideas do gov erno imp erial q ua nd o foi o

conselheiro Paranhos em   1858  ao Paraguay, sendo esta a ter>

ceira missão, depois da que stão dos pas sap ortes , q u e o go ve rn o

imperial enviava, para propor as suas razões; pedir  aquelle

governo que attendesse ás reclamações do Brasil . Com effeito,

o conselheiro Paranhos conseguiu muito mais do que os seus

antecessores, como vamos ver ; mas não deixou de empregar

a mesma poli t ica de moderação seguida pelo governo imperial ,

para com as Republicas da America do Sul .

a A convenção celebrada com a R epub l ica (cont in ua o re

latór io do V isconde de M arangua pe) resolveu todas as q ue s

tõe s de ü m mo do satisfatório.

« Por ellas os navios qu e se em pre ga rem no co m m ercio

directo de Matto-Grosso somente serão obrigados a tocar em

dous pontos .

« No primeiro terão de exhibir cart a d e saú de , com ce rti

f icado da sua nacionalidade, tonelagem, procedência e destino.

No segundo entregarão o passe que all i t iverem recebido. Só

eventualmente , ou nos por tos em que voluntar iamente entra

rem, terão de mostrar os seus papeis, e sujeitar os passaportes

dos seus passageiros ao exame e visto da autoridade par.-fguaya.

« Estas operações não im po rtam ônu s algu m pe cu ni ár io , e

serão executadas do modo o mais expedito, a qualquer hora

do dia, desde o nascer até ao pôr do sol.

« Os paquetes de vapor, assim com o os navios de g ue rra,

gozarão de maior facilidade, podendo commumcar com a au

toridade local até ás 10 horas da noite durante o verão, e

até ás 9 dura nte o inv ern o. O serviço d a praticagem foi d e

clarado por uma e outra par te inteiram ente facultativo. Qu alq ue r

navio pôde navegar sem pratico, ou pôde empregar o pratico

que lhe aprouver , sem ^nenhuma restr icção qu anto á n ac io

nalidade d'este. A questão relativa á policia da parte do rio,

que corresponde ao território contestado, f icou decidida como

prescreve o art.  12.  Esta foi a m aio r difficu Idade q u e se tev e

de vencer,

<<

  O plenipotenciario brasileiro propôz qu e, en tre a que lles

pontos, a policia pudesse ser feita por embarcações de um   e

outro Estado.

« Não sendo aceito este arbitrio, afinal chegaram a accordar

os respectivos plenipotenciarios em prescindir, n'esta parte do rio,

dos meios autorisaaos pela convenção, salvos os casos de invasão

dos selvagens^ em que a uma e outra autoridade seria alli

licito perseguir os invasores do seu território. O forte Olympo

foi designado para uma das estaçOes em que são obrigados a

commumcar os navios mercantes .

« A hnuio o plenipotenciario brasileiro sem rep ug nâ nc ia a

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esta designação, que era agradável ao governo da Republica,

porque podia resalv ar, como resalvou (art. 13) qu alq ue r al

teração para o futuro, relat ivamente ao terri tório contestado,

e porque de o ut ro mo do apparece na provav elmente a pre tenção

de que alli se parasse para fallar á fortaleza.

« N ão foi possivel acaba r de u m a vez com a restricçã o

pos ta ao t rans i to de nossos navios de guerra . Mas o p leni

potenciar io bras i le i ro obteve supp r imi l -a com ple tamente quan to

ao rio P ar an á, como devia ser em vis ta das concessões d o

gove rno arge nt ino , que é o soberano da maior par te navegá

vel d*esse r i o ; e pelo que toca ao r io Pa rag ua y, am pliou -se

a disposição do art . 18 do tratado de 6 de Abril .

a Em luga r de dou s nav ios , poderão passar até t res , sem

condição a lguma quanto ao seu armamento e capacidade . O

transito d'estes navios foi ainda facilitado em relação aos na

vios me rc an te s. S om en te são obrigados a fallar á fortaleza de

Humaytá , ass im na subida como na desc ida , a té ás horas

fixadas para os paquetes de vapor. »

V ê-se , por tant o, q ue o resultado d 'esta quarta missão con

fiada ao conse lheiro Jo sé M aria da S i lva Pa ran ho s, foi  só o

governo do Paraguay faci l i tar a nossa navegação mercante

a té M at to-G rosso ; m as qua nto á de guerra , só perm it t io qu e

em lugar de dous, passassem tres navios de guerra de qual

quer a r m am en to ; n ão fez o t ra tado de l im i tes ; e a inda a i sto

se sujei tou o go vern o imp erial na pessoa de um dos seus

m ais há be is dip lom atas . Estes principios es tavam arreigados

na pol i t ica do govern o im per ia l , desde a missão de Pedro

Ferre i ra de O l ive i ra ; por tanto o e rro v in ha de t raz .  0  governo

do Pa rag ua y de u l icença par a passarem só tres navios de

gu err a, po rqu e calculou qu e aq uella força não defendia a

pro vin cia de M atto-G rosso con tra os seus futuros projeotos

hostis ; ass im fazia com que aquella provincia brasi leira f i

casse sem defesa, e sem o gov erno imp erial a pod er soccorrer

quando fosse necessário.

O   go vern o imp erial devia ter então considerado, q ue quem

pu nh a em baraço s á navegação bras ile ira no r io Paragu ay, e ra

quem podia agredir aquella provincia; is to bastava para não

se fazer a ul t i m a co nv en ção , em bo ra resultasse a gu er ra .

Fez -se o segu nd o t ra tad o d e naveg ação e de com me rcio , sem

lem brar es tas con sidera ções , o qu e faz acred itar qu e o gov erno

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65 —

« O s inco nve nien tes expostos são em grande parte devidos

á falta de u m tratad o de extradicção entre a R epublica O ri

en tal e a Confederação. Na execução do que foi celebrado no

P ar an á, em 14 de Dezembro do 1857, entre os plenipotencia

r ios do Im pé rio e da Confederação, terá o governo impe rial

opp ortunid ade para promover algum ajuste co m m um aos t respaizes l imitro phe s, no intui to de pôr term o a um a si tuação

tão an ôm al a e contraria aos interesses qu e os respectivos go

vernos tem na conservação de relações de boa inteiligencia e

am i zad e .

a N o relatório d 'este m inistério aprese ntado em 1857 se

vo s deu conh ecim ento do assassinato do subdito brasi leiro José

Vieira, perpetrado a 14 de Março de 1856 na costa do Rio

N eg r o ,

« Fora m autore s d 'esse cr ime os orientaes Francisco Fi-

gueirôa e José Fígueirôa, que, depois de despojarem a vict i -

m a, ev adiram-se para Gu alegua ychú , na Confederação A rgen

t i n a .

«  0

  governo O riental , at tende ndo ás reclamações da nossa

lega ção , expedio ordem ao chefe polit ico do depar tam ento de

Pa ys an dú para pren der aquelles indivíduo s, logo que fossem

encont rados no mesmo depar tamento .

« Em data de 1 de O utubro do anno f indo, informou o

govern o da R epublica, que os assassinos não t inham até então

apparecido n 'aque l le depa r tamen to ; m as que o respect ivo

chefe politico pro segu ia em su as pesquizas para desco brir se

'existiam em algum outro ponto do território Oriental .

« O subd ito brasileiro M anoe l R ibeiro dos S antos foi preso

em Jan eiro do ann o passado no departam ento do Cerro L argo,

por u m a força que se acha va ás ordens de D . T homaz Bo rges,

chefe polit ico inte rino do dito de pa rta m en to. Essa força tendo

de co nd uz ir o preso á presenç a do chefe polit ico, ma tou- o

e m c a m i n h o .

c c   Dizem as informações das autoridades locaes, t ran srai t -

t idas pelo governo oriental á nossa legação, que esse subdito

brasi leiro era de máos costu m es, e que ao ser perseguido

resis tira disp ara ndo u m a pistola sobre o official com m an da nte

da força que o preten dia pre nd er; q ue este fora assim com-

pel l ido a fazer- lbe fogo, matando-o instantaneamente.

« Pasc oal N olasco , subd ito brasileiro , foi assa ssinado em 13

de Fev ereiro de 1858 pelo O riental Francisc o Be rro, em um a

casa de ne goc io de qu e este era caixeiro, s i tuad a na fron

te i ra do Quarahim.

« R esp ond end o á reclamação da legação imp erial , declarou

o gove rno da R epubl ica qu e a au tor idade po lic ia l, apenas

teve co nh ec im en to do successo, se dir igira ao lug ar; mas

qu e alli ch eg ara tar de , po rqu e o réo havia conseguido evadir-se

para a vi l la da Concórdia, terr i tório argentino, segundo se

soube depois .

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- 67 —

« Dias depois (Peste assassinato, coube igual sorte no Chuy

ao sub dito brasileiro M ariano Borba. F oi perpetrador o Ori-

ental Jo sé N ob le, que além de ter sido um dos assassino?

de Jo ão da Silveira e sua família, contribuirá ultima m ente

para qu e N icom ede s Coronel, tamb ém cúmp lice d'esse assassi

nato, se evadisse da prisão em que estava por haver morto

a Leonardo da Silva.

« O governo da Republica, acudindo ás reclamações da le

gação imperial e aos deveres da justiça, expedio prom pta-

mente ordens terminantes aos chefe políticos do litoral do

U ru gu ay para a prisão d'aquelles crim inoso s; e mandou que

o chefe politico de M ina s m archasse para o Cerro-Largo com

a su a força, atím de auxiliar a d'esse departam ento na captura

dos réos que tinham de ser remettidos para a capital.

« O presiden te da provincia de S. Pedro Rio Grande do

Sul informou que os subditos brasileiros Manoel José de

Sant'Anna, Manoel Leão e Manoel do Couto tinham sido

assassinados, no departamento do Cerro-Largo, pelo commis

sario de policia José L ind on ga ; os do as primeiros por se

, recusarem a servir no exercito da Republica, o terceiro por

delicto de pouca importância,, e depois de preso.

« A legação imperial, denu nciand o estes assassinatos ao

governo da Republica, reclamou que se procedesse ás neces

sárias averiguações, e ao julgamento dos criminosos.

« Com as informações ministradas pelo comm andante Bo r-

ches ,

  a cujas orden s servia Lin do nga respondeu o governo

oriental que eram de scon hecid os os factos allegados. pois

qu e não só o mesm o Lindonga os negava, com o também

nenhum esclarecimento resultará das investigações que se

haviam praticado.

« F inalm en te, em 15 de Outubro do ann o próximo pas

sado, foi assassinado no lugar denominado Arapehy, departa

m ento do S alto , o subd ito brasileiro M anoel An tônio da

Silv a, por um cab o e do us soldados de policia de Santa

R osa , os quae s com pun ham um a das tres partidas que por

ová^m

  do commissario de policia d'aquelle lugar, tinham

sabido em busca do dito Silva.

« Francisco Queiroz, u m dos assassinos, o que por ordem

do cabo Athanasio degollou a victuna, evadio-se para a pro

vín cia do Rio Grande do S ul, onde foi preso e recolhido á

vi]Ia de Sant'Anna do Livramento.

« A. legaçã o imp erial lev ou sem dem ora o facto e todas a s

suas circumálancias ao conhecim ento do governo da R epu blica;

e este expedio logo as precisas ordens para o devido castigo

dos culpados.

 i>

G relatório dos negócios estrangeiros apresentado á Assem-

bléa Geral e m 1860, pelo m inistro Sin im bú , con tém a se

guinte expos ição:

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- 68 -

A S S A S S IN A T O S D E S U B DI T O S B R A S I L E I R O S .

« Continuam os assassinatos de subd itos Brasileiros no E s

tado Oriental. E m additam ento ao que vos te m sido com >

municado a respeito do Eduardo Taylor, cumpre-me partici

par-vos que tendo um dos assassin os d'esse desgraçado jov en

commettido outra morte no departamento de Pa ys an dú ; deu

a legação imperial con hec ime nto d'esse facto ao go ve rno da

R epublica, nào porque a victim a d'esse no vo crim e fosse

brasileira, mas com o fim de facilitar-se a apprehensão do

crim inoso , em cuja punição está o gov erno imperial int e

ressado.

« Aquella informação consta da nota dirigida e m   6  de Junho

do anno próximo passado ao ministério das relaçõ es ex te

riores.

« Os assassinios com me ttidos depois da apresentação do ultimo relatório, e que chegaram ao conhecimento da legação

imperial , sobem ao numero de nove, e são os seg ui nt e: de

Fortunato da Si lva, A ntônio D om ingu es, Jo sé Luiz de Souza,

de mais dous cujos nomes se ignoram, .e de João Alves da'

Fontoura Riquinho, no departamento de Taquarembó; de Ma

noel André, no departamento do Salto; de José Orlando, no

departam ento do Cerro Largo, e de Jo aq uim de M oraes C unh a,

no departamento de Soriano. F ortunato da Silva foi a ssassi

nado em Abril, no lugar d eno min ado — Arrojo M aio .

« A legação imperial den uncio u esse crime por nota de   2 3

de Maio, e o goveruo oriental respondeu no dia seguinte,

assegurando que se tinham expedido as ordens precisas.

« Antônio D om ingues e José Luiz de Sou^a foram assassi

nados em a noute  22  para  23  de Jun ho lugar cham ado —

Trauquera. Constou a principio que dous companheiros seus,

favorecidos pela escuridão, tinham conseguido escapar  á  m esm a

sorte, sendo porém um

  d'e l l3s

  ferido ; mas d epois verifi

cou-se que eram quatro os assassinados, e isso fez crer que

aquelles dous completavam o num ero.

« O m inistro residente de S ua M agestade e o secretario da

legação que a rege em sua ausê ncia, dirigiram -se a esse res

peito ao ministro de relações exteriores por notas de 22 de

Julho e  20  de Setembro, e d'esta consta que se attribuia o

delicio  a indiv íduo s pertencentes  á  policia do departamento.

« Aq uelle ministro respondeu primeiro que expediria as

ordens que o caso exigia, e depois com m un ico u -que, seg un do

informação do respectivo chefe politico, tinha sido o indiví

duo Máximo Roldan preso o posto  á  disposição do ju iz or

dinário, como accusado de culpabilidade no mencionado

atteniado.

<* Por m otivo do assassinato d'esses quatro Bra sileiro s jul ge i

conveniente dirigir ao ministro Oriental a nota de

  6

  de Ou-

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- 7 0 —

o  assassinato de José O rlando , cõinm ettido por ag en tes da

policia do Cerro L argo, na occasião em qu e o con du ziam

preso de Olimar para a capital d*aquelle departamento.

C

( O Sr . min istro de relações exter iores respondeu no di a

24 assegurando qu e t in ha etped ido as orde ns solici tadas. O

S r . Dr . Barbosa da S ilva, de nu ncia nd o esse novo deiicto , ch a

mo u a at tenção de S. Ex. para a resposta qu e sobre el le

deu o chefe poli t ico, ao vice-con sul do Im p ér io .

« R esulta d essa resposta que o pardo- Jo sé fora preso po r

ter insul tado e acomm ett ido com armas a u m ind ivídu o, e qu e

fora mo rto em cam inh o, s imp lesm ente porqu e ten tara fugir.

Por um dei ic to que não era nem podia ser punido com pe

na capital , e que ainda não estava pro vad o, foi m orto u m

subdito brasileiro, e mo rto pela policia, proc ura nd o-se da r

a este proce dim ento um carac ter de legaiic ad e.

« Este facto dispensa todo o com m entar io. O bservarei u n i

cam ente que são freqüentes os casos de m ortes dados pe la

policia a subditos do Im pério , por motivos sem elha ntes ao

qu e acabo de referir .

« Em M arço do corrente an no , cerca da vil la de M erce des

departam ento de So riano , foi assassinado Joaquim, de M ora es

Cu nha. Segu ndo informação do respectivo vice -co nsu l, ha via m

sido apprehendidos tres individuo s por suspeita de cu m

plicidade u'esae deiicto.

« A legação imperial denunciou-o por nota de 17 de Abril ,

e a 19 respondeu-lhe o ministro de relações exteriores, asse

gurando que ia expedir as ordens necessárias.

oc Po r informação do presidente da provincia do R io G ra n

de do S ul, consta que João A lves, da Fo nto ura R iq ui nh o,

gu ard a nacional destacado no fronteira do Q ua rah im , ten do

passado além da cochilha de H aedo pa ra ir á 'casa de seu

pai ,  fora no r incão de A rtigas, dep artam ento de T aq ua rem bó ,

assassinado no. dia 18 de M arço por u m sarge nto da policia

orien tal, de nom e Israel,* qu e serve sob as orde ns d o co m

missario Carrasco.

« O brigadeiro Can avarro ia dirigir-se a este respe ito ao

chefe politico do men ciouado dep artam ento ; e a legação im

perial informada pelo presidente do Rio Gr an de , e ins truid aconvenientemente pelo governo, nào deixará de fazer a enér

gica reclamação exigida por este novo attentado.

A RR EB A TA M EN TO

  DE

  UMA PORÇÃO DE GADO PERT ENC ENT E Á HERANÇA.

DO SUBDITO BRASILEIRO FORTUNATO DA SI L V A , ASSASSINADO SM

TAQUAREMBÓ*

cc O subd ito brasileiro Fo rtun ato d a Silva, assassinado no

departamen to de T aqua remb ó, deixou alguns bens, qu e ooas*

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— 7 2 —

VIOLÊNCIAS PRATICADAS CONTRA A PESSOA E PROPRIEDADE D E

SERAFIM JOSÉ DOS SANTOS.

« Serafim Jo sé dos S antos, estabelecido no dep artam ento

de Taquarembó, possue aí l i um campo que tem pertencido   á

su a familia desde 1808. Essa prop riedad e, nà o inte rro m pid a

nem contestada ha mais de meio século, acaba de ser recla

ma da pelo coronel argent ino D. M ar iano M aza, como pr o

curador dos herdeiros de Fel ippe Contuci .

« Pa ra fazer effectiva essa reclam ação interv eio u m

  j u i z

  d e

paz . T ento u este compe ll ir Serafim José dos San tos a as -

signar um termo reconhecendo os direitos allegados pelos re

clam antes ; m as apesar das violências a que para isso re

correu, não conseguio o seu objecto .

« R econhe cida a inefncacia d esse violento abus o da au to

ridad e, recorreu-se a um a violência ainda m aior. S an tos foi

espoliado da sua p ropr ieda de, s endo arrasados os edifícios qu e

exist iam nos seus campos, e estes vendidos a pessoas que lhe

eram adversas.

« O Sr . Dr . B arbosa, encarregado de negócios inte rino do

Im pério, depois de ter levado esses factos ao con hec im ento

do Sr. ministro de relações exteriores em conferência* e de

que effectuasse o pagamento a que era violentado, e para o

qual acabava de recorrer a ou tre m .

« Não podendo satisfazer esse forçado com pro m isso , foi de

novo amarrado , remet tido para Pay san dú, lançado em u m a

cadeia, e conservado em com pleta incom mu nica ção sem pr o

cesso de nenhuma especie.

#

  T ão i n au d i t o p r o ced i m en t o n ã o

podia escapar á

 *

 aüen eào dó encarregado de negócios do im

pério. Em 19 de ou tub ro iniciou elle*, por ta nt o, a nec essá ria

reclamaçã o, em vir tude da qua l , como se lhe assegu rou em

resposta do dia 2 de N ovem bro, m and ou o gov erno orien tal

proceder a averiguações.

« S eg u n d o as u l ti m as n o ti ci as , co n s ta q u e J a n u ár i o J u s

tiniano de Araújo havia sido posto em liberdade sob fiança,

não podendo com tudo ausentar -se da Vi l la de Paysandú .

« A ttr ibuia-se a esse individuo o cr ime de abig eato , e porelle se lhe havia instaurado processo.

« O S r . Dr . Barbosa instando verbalm ente pela c onc lusão

d'esse negocio, declarou ao S r. m inistr o de relações exte riores

que se h avia deiicto, não prete ndia favorecer a im pu ni da de

o?elle, ma s que exigia jus tiça , e que fossem sev era m en te cas

t igados os autores das arbi trar iedades com m ett idas . S . Ex .

resp ond eu-lh e, q ue seguia o processo contra A raújo, m as qu e

se t inham reiterado as ordens para qu e tam bém fosse pr o

cessado o commandante Fronday . »

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ter chamado para elles a sua attenção por meio de um a nota

verbal,

  á

  qual juntou os documentos que instruiam a recla

mação julgou de seu dever dirigir a S. Ex. a nota de 25 do

mez próximo passado, reclamando a prompta e efficaz inter

venção do governo da Republica, afim de que se restitua a

Santos a propiedade que lhe foi extorquida, e que só lhe

pôde ser disputada perante os tribunaes competentes.

« Tão fundada é essa reclamação, que o governo imperial

não hesita em crer que o da R epublica a ella attenderá,

como  é  de justiça, fazendo respeitar os direitos de um subdito

brasileiro, e punir com todo o rigor da lei os autores das

arbitrariedades commettidas. »

A T T E N T A D O S C O M M E T T 1 D O S N O T E R R I T Ó R IO B R A S IL E I R O P O R

U M A P A R T I D A O R I E N T A L .

a   O presidente da provincia de S. Pedro do R io Grande

do Sul participou ao governo imperial por officios de  1 8 e

2 1

  do mez próximo passado, que no dia  1 0  de Março uma

partida oriental de nove hom ens, commandada pelo alferes

João Senna, transpondo a linha divisória, exerceu actos de

violência na propriedade dos subditos brasileiros João Hen

rique e Anacleto José Soares; levando o seu arrojo ao

ponto de insultar a guarda da fronteira, que então apenas

se compunha de tres praças, commandada pelo sargento Flo-

risbello da Silva.

cc O com mandante da fronteira do Quarahim, dirigindo-se

em officio ao chefe politico do departamento de Taquarembó,

reclamou o castigo dos delinqüentes.  .

« O governo imperial desejando prevenir e remover as

sérias complicações que podem resulta r de factos d*essa

ordem, e firm e em fazer respeitar a inviolabilidade do seu

território, e a prestar a todos os subditos do Im perador

devida e efficaz protecção, ordenou

  á

  legação imperial em

M ontevidéo que fizesse sentir ao governo da R epublica a

urgente necessidade de serem contidos pela acção de sua

própria autoridade os desmandos de seus funccionarios. »

Ao terminar o extracto d'este relatório do anno de   1 8 6 0 ,

não podemos continuar sem fazer algumas reflexões sobre o

ultimo facto que narramos.

Além das atrocidades praticadas nos subditos brasileiros,

de que fazem menção todos os relatórios até aqui mencio

nados,  .  sem que o governo imperial no espaço de tantos

annos desse signal de si, para pôr cobro a tantas mortes,

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r o u b o s e p r e p o t e n c i a s d e t o d a a q u a l i d a d e ; a l é m d ' e s s a s r e

c l a m a ç õ e s e x - o m c i o , d e q u e o g o v e r n o o r ie n t a l f az ia p o u c o

c a s o ; o c c o r r e u m a i s e n t r a r f o rç a o r i e n t a l n o R i o G r a n d e , e

e x e r c e r a c t o s d e v i o l ê n c i a n a p r o p r i e d a d e d e s u b d i t o s b r a s i

l e i r o s ,

  o i n s u l t a r n a p a s s a g e m a g u a r d a d a f r o n t e i r a : t u d o

a c o n t e c e u s e m h a v e r u m a a u t o r i d a d e m i l i t a r q u e t i v e s s e f o r ç a

a r m a d a s u f f i ci e n t e p a r a o s p r e n d e r . E s t e g r a n d e a t t e n t a d o

c o n t r a a i n t e g r i d a d e d o n o s s o t e r ri t ó r i o , q u e e m o u t r a n a ç ã o

t i n h a s i d o c a u s a m u i t o s u f f i c i e n t e p a r a h a v e r h o s t i l i d a d e s , o

g o v e r n o im p e r i a l l i m i t o u - s e a — « o r d e n a r á l e g a ç ã o i m p e r i a l

e m M o n t e v i d é o , q u e f izesse s e n t i r a o g o v e r n o d a - R e p u b l i c a ,

q u e a s s u a s a u t o r i d a d e s c o n t i v e s s e m o s s e u s f u n c c i o n a r i o s . » —

C o m e s t e p r o c e d i m e n t o , o m i n i s t é r i o q u e g o v e r n a v a e m 1 8 6 0

d e u t a m b é m , c o m o o s s e u s a n t e c e s s o r e s , o m a i o r s i g n a l d e

attenção

  q u e p o d i a m a n i f e s t a r e m r e l a ç ã o a o g o v e r n o o r i e n t a l .

I s t o q u e r d i z e r q u e c o m t o d a s a s v i o l ê n c i a s p r a t ic a d a s p e l o

g o v e r n o d o E s t a d o O r i e n t a l c o n t r a o B r a s i l , e s t e l i m i t o u - s e

a r e c l a m a r .

J á s e t i n h a m p a s s a d o o i t o a n n o s , d e p o i s q u e t e r m i n o u o

d o m i n i o d e R o s a s e d e O r i b e , e q u e o s B r a s i l e i r o s c o n t i n u a

r a m a s e r p r e s e g u i d o s n o E s t a d o O r i e n t a l, q u a n d o e n t r a r a m

o s s o l d a d o s o r i e n t a e s n o R i o G r a n d e ; p o r e n t e n d e r e m q u e

n ã o b a s t a v a a p e r s e g u i ç ã o q u e f a z i a m a o s B r a s i l e i r o s n o s e u

p a i z , e r a a i n d a n e c e s s á r i o v i r o f t e n d e l - o s n o t e r r i t ó r io d o

I m p é r i o .

N ' e s t a s c i r c u m s t a n c i a s , q u a n d o o g o v e r n o i m p e r i a l n ã o q u i -

z e s s e

  •

 t o m a r u m a d e l ib e r a ç ã o m a i s e n é r g i c a , d e v i a t er c o n s e r

v a d o n a f r o n t ei r a u m a d i v i s ã o d e 6 , 0 0 0 h o m e n s p a r a n ã o s e

p r a t i c a r e m i n s u l t o s c o n t r a a i n t e g r i d a d e d o t e r r i tó r i o b r a s i l e i r o .

E s t a m e d i d a p r e v e n t i v a e d e s e g u r a n ç a p a r a a s n o s s a s f r o n

t e ir a s d e v i a t e r s i d o p r e v i s t a p e l a c â m a r a d o s d e p u t a d o s p a r a

n ã o d i m i n u i r a f o r ça d o e x e r c i t o , o q u e p r o c u r a v a f a z er v o

t a n d o e m c a d a a n n o o u 1 6 o u 1 8 , 0 0 0 h o m e n s , o q u e n u n c a

f oi s u f i c i e n t e m e n t e p a ra a s n e c e s s i d a d e s d o s e r v i ç o ; e t a m b é m

o s m i n i s t r o s d a g u e r r a p o u c a s v e z e s p e d i r a m 2 0 , 0 0 0 h o m e n s .

A c â m a r a d o s d e p u t a d o s d i l i g e n c i a v a d i f ir i n u ir a f o r ç a d o

e x e r c i t o p a ra n ã o fa z er g r a n d e s d e s p e z a s , m a s n u n c a s e « f o r -

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— 75 —

n t a v a s e a s f r o n t e i r a s e s t a v a m g u a r n e c i d a s o u d e f e n d i d a s . O

e x e r c i t o e m t e m p o d e p a z , n ã o p ô d e t e r m e n o s d e 2 4 , 0 0 0

h o m e n s d i v i d i d o s e m 2 4 b a t a l h õ e s d e i n f a n t a r i a e c a ç a d o r e s ,

8 co rp o s de ca v a l l a r i a , e 1 0 co rpo s de a r t i l ha r i a a pé e m o n

t a d a ; s e m e s t a f o r ça e ff e c t i y a o I m p é r i o n ã o fica d e f e n d i d o ;

a g u a r d a n a c i o n a l c o m o s e g u n d a l i n h a , c o l l o c a l - a d e b a i x o d a

j u r i s d i c ç ã o d o m i n i s t r o d a g u e r r a . ( * )

(.*) Além d'esia força effectiva de 24,000 homens deve haver os corpos dt

engenheiros e sapadòres, que se pôde clacular em mais 2,000 homens*

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L I V R O Q U A R T O .

U U T D U O W M i l S t E R I O B O S I W O C I O S E S T R A N G E I R O S .

O relatório apresentado  á  A ssembléa Geral pelo conselheiro

Antônio Coelho de

  S á e

  Albuquerque em  1 8 6 1 ,  contém o se

guin te , que é a continuação dos factos referidos no relatório

anterior:

PARTE

  POLÍTICA.

« Nenhuma alteração sobreveio em nossas relações interna-

çíonaes com a Confederação Argentina;

  e

  se algumas das

questões pendentes com a Republica Oriental do Uruguay,

como foram descriptas no relatório do anno passado, não

foram ainda terminadas de um modo satisfatório, cabe-me por

outro lado o prazer de dar-vos conta da solução de vários

assumptos graves, discutidos de longa data com os governosde outros paizes.

 #

« A convenção de

  1 2

 de Fevereiro de 1858, celebrada com

a Republica do Paraguay, vai produzindo os benéficos resul

tados que se aguardavam de suas estipulações, baseadas no

pensamento de estreitar cada vez mais as relações entre os

uous pauses.

« O modo porque tem sido cum prido aquelle ajuste, ao

mesmo tempo que manifesta as boas disposições que hoje sub

sistem entre os dous governos, tende a remover as preocou-

pações que até aqui tem retardado a

 fixação

 da mutua fronteira.

22

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« Em A bril do anno próximo futuro expira o prazo den tro

do qual devem ser nomeados os respectivos plenipotenciarios*

para reatar esta negociação, que ticou suspensa em 1856.

« Com o arranjo definitivo desta questão   secular  e de outros

assumptos de menor importância, mas também convenientes,

poderão considerar-se consolidadas as relações e ntre o Im pé rio

e aquella Republica.»

I N V A S Ã O D O T E R R I T Ó R I O D O IM P É R I O P O R U M A P A R T I D A D E

S O L D A D O S D O E S T A D O O R I E N T A L .

« No dia 10 de Março do anno próximo passado uma par

tida de oito soldados, de policia do departam ento de T aq ua

rembó, sob o commando do alferes Senna, penetrou no ter

ritório do Im pé rio, passando a linn a divisória n a coc hilha deHaedo, em lugar onde se acha postada uma pequena guarda

brasileira.

« O alferes S enna assumio im me diatam ente attitude hos til ,

perseguindo com todos os seus e tentando desarmar a força,

aggravada com insulto s as tres praças da gua rda, qu e lhe sa-

hiram ao encon tro, mal arm adas, com o único fim de inq uirir

a causa d'aquella incursão: não contente com isso extorquio

alguma cavalhada ao capitão A nacleto José S oares, e a A ntônio

Nunes, ambos subditos brasileiros.

« Estes factos foram levados ao con hec ime nto do gove rno

oriental pela legação de S ua M agestade, prime iro verba lmen te

e depois por escripto em nota de

  2 2

  de Junho .

« O chefe politico do dep artamento de T aqu arem bó, dand o

ao seu governo as informações que elle lhe requisitara em

conseqüência d'aquella nota, pretendeu inverter a ordem dos

factos. Disse que o território invadido fora não o do I m pé rio ,

m as o do Estado O riental; e q ue n'este procurando o alferes

S enn a desarmar alguns soldados da gua rda bra sileira, que

tinham passado a linha, lhe fizera fogo um d'esses soldados.

« Posteriorm ente, em   2 6  de S etembro do mesmo an no ,

iniciou a legação oriental uma contra-reclamação, que foi

depois renovada perante a de S ua M agestade pelo ministro

das íelações exteriores.

  §

« Esta contra-reclamação, fundada nos tardios esclarecimen

tos . do chefe politico de T aqua rem bó, não tem o menor fun

dam ento . Como vereis da correspondência ann ex a, não hou ve

invasão algum a por parte de soldados b rasileiros .

« Actos mediante os quaes se pretende privar aos subditos

brasileiros A ntônio José de V argas e R eginaldo Fe rna nde s,

de campo s que possuem em território do Im pé rio .

« Expoliação praticad a em prejuizo de S erafiim J os é dos

Santos.

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- 79 -

fflfcForturas soffridas por Sebastião Amado, Felippe José

Pires e José Vicente.

€ Imposição de serviço militar a João de Moraes Ortiz, Ma

noel Cunha e Francisco Berro.

, « V arejamento das moradas de José R odrigues Penteado ,

e Raymundo, por força armada.

« Violências comraettidas contra os subditos brasileiros por

autoridades do departamento de Taquarembó com o pretexto

de executarem uma ordem relativa a despejo de campos oc-

cupados por intrusos.

c T en taú va de esbulho, praticada pelo cidadão oriental

Fran cisco de la S erna contra vários subditos brasileiros, e

muitos outros estrangeiros estabelecidos na margem esquerda

do S olis-Grande.

a A rrebatamento de dous filhos menores de um subdito

brasileiro.

« A ssalto e saque da casa do subdito brasileiro Condeixa, e

ferimento grave de um filho seu.

« A ssalto e saque da casa de A mancio V az, e tentativas

contra a honra de mu lheres n'ella existentes.

« V iolências soffridas por José de O liveira, M anoel S alva

dor, Zeferino Oliveira e José Gutierres, arbitrariamente des

tinados ao serviço militar.

<c Prisão injusta e torturas de q ue foi victima M anoel

M arques. »

A S S A S S I N A T O S D E S U B D I T O S B R A S I L E I R O S .

S egue-se a descripção de seis assassinatos : Francisco Bor

ges,

  Igna cio Pereira da S ilva e M anoel A ntônio Pere ira,

residentes no mesmo departamen to de T aqua rem bó. N . Corrêa

foi  morto no  dia  22 de Fevereiro,  no lugar denominado—

Corfiovez,— de partam ento do Cerro L argo, pelo sargento de

policia do mesmo lugar Raphael Mendonça. Valentim Morei

ra , residente no districto de S. Carlos, departamento de M al

do nad o, foi ahi assassinado no dia 16 de M arço. No dia 20

i e O utub ro do a nno próximo passado foi Florisbello da S ilva

Pímentel morto á traição no Estado Orientai, no lugar cha

mad o Ca ntas, por um sargento de policia e um indio seu

com pan

 beiro.

«c

  O encarregado interin o de negócios do Brasil (continua o

relatório) denunciou esses homieidios ao Sr. ministro das

relações exterio res, e segu ndo a nota de S» Ex . dè 13 de

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- 80 -

« À legação denunciou ambos esses delictos, por nota de

2 3

  d'aquelle mez, e no 1.° de Abril participou-lhe o ministrodas relações exteriores que ordenara aos respectivos chefes po-,

liticos que .procedessem ás necessárias investigações. »

Não vão extratados por extenso os últimos assassinatos de

subditos brasileiros commettidos no Estado Oriental, referidos

n'este relatório, por não ser absolutamente necessário; basta

citar os factos para se saber que as relações  amigáveis  que

o governo imperial se esforçava para conservar com o Estado

Oriental, continuavam d'este modo. Estas relações de reciproca

amizade,

 que existiam entre os dous Estados, consistiam na contir

nuação dos assassinatos, roubos, violências de toda ordem e per

seguição aos subditos brasileiros residentes n'aquella R epublica.

O relatório do ministério dos negócios estrangeiros de   1 8 6 2 ,

apresentado á Assembléa Geral pelo conselheiro Magalhães

Taques, contém o seguinte:

RELAÇÕES  POLÍTICAS.

« As nossas relações com as Republicas do Prata, continuam

quasi no mesmo pé em que se achavam o anno próximo

passado.

v  As violências e vexames que soffrem os subditos do I m

pério estabelecidos ou residentes nos departamentos da Re

publica Oriental, próximos da fronteira brasileira, tem despertado

a mais séria attenção do governo imperial, e exigem as mais

enérgicas providencias da autoridade superior, como não cessam

de reclamar os agentes do Império, a bem dos direitos e le

gítimos interesses dos nossos nacionaes.

« Seria para deplorar, que por falta d'essas providencias, se

alterassem as condições de boa intelligencia e harmonia entre

as respectivas populações.

« Do governo da mesma Republica deverão merecer parti

cular consideração as obrigações que ella contrahio pela con

venção de subsidio de 12 de Outubro de 1851, e os princípios que

dictaram o a cordo celebrado para a liquidação das reclamações

brasileiras provenientes de prejuízos de guerra.

« Com a terminação do prazo fixado para as isenções de

que trata o art.

  4 . °

 do tratado de commercio e navegação.

M arço, escripta á vista de informação do respectivo alcaide

ordinário, só faltavam algumas citações para que o processo

subisse ao juiz superior.

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ficaram livres o s dou s gov eruo s para* reg ula r as sua s relações

commerciaes conforme aconselha os seus próprios interesses .

« Em conseqü ência dos extraordinários acontecimentos oc-

corr idos nas provincias argentinas, depois de roto o pacto de

união celebrado entre a Confederação e Buenos-Ayres, não tem

podido o governo imperial continuar a activar a solução dos

ajustes concluidos em 1857, e que ainda pendem de consi

deração do governo nacional ,

« Acaba o governo imperial de ter communicação off icial de

ha ve r o gov ernador de Buen os-A yres assum ido as faculdades

que lhe foram confer idas por aquellas provincias, para representar

a R epub lica em suas relações com as potênc ias estrangeiras

no s term os do decreto de 12 de A bril do corrente an no .

« O governo impe r ia l deve esperar do governo supremo

encarregado hoje de dirigir os negócios da Confederação, a*

precisa cooperação para que se promovam os bem entendidos

interesses dos dous paizes .

« T en do de f indar a 6 de Abril do corrente ann o o prazo

fixado no art, 1.° da co nv enç ão celebrada n 'esta corte em 6

de Abr i l de 1856, dentro do qual se comprometteram o

Bras i l e o Parag uay a nom ear os respectivos plenip oten

ciar ios para se entenderem sobre a questão dos seus l imites;

o gov erno im pe rial , fiel aos seus com promissos, deu p ara

esse fim os precisos plen os poderes ao seu agente diplom ático

e m A s s u m p ç ã o .

« O   statu quo  das possessões dos dous Estados, ao  tempo

d'aquel le a jus te , foi mant ido inal terável .

« O s estab elec im ento s brasileiro s nas cabeceiras dos rio s

Do urado s e M iranda , os quaes const i tuíam o

  uti possidetis

  do

Império em terrenos que lhe não podem ser contestados, nào

foram com prehen didos no pensam ento que di tou a convenção

de 1856.

« En tre ta nto u m a par tida paraguaya de 60 ou 70 ho m en s

foi a té aqu el las colônias, sob o com ma ndo de um tenen te ,

que pre tendeu duvidar do nosso dire i to a essa occupação.

a  S egu nd o as informações que teve o governo imp er ia l , o

facto não passou de uma s imples exploração.

« Cabe aq ui info rmar-vo s de qu e o gove rno im perial d esap-

pr ovou

  o

  procedimento que por esta occasião teve o encar

regado de negócios do Impér io no Paraguay, de re t i rar -se

pa ra es ta corte sem a necessár ia l i ce n ça ; e resolveu exoneral-o

d ' a que l le c a r go .

E S T A D O O R I E N T A L .

ABUSOS E VIOLÊN CIAS COM METT ID03 CONTRA BRASILEIROS POR AUTORIDADES

DO DEPARTAMENTO DE TAQUAREMBÓ.

« A presidência d a provincia de S. Pedro do Rio-Grande

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do Sul fez subir á presença do governo imp erial um a re pr e

sentação assignada por grande numero de subditos brasi leiros

residentes no departamento de Taquarembó, expondo os at ten

tados e violências q ue sofTriam da parte das respectivas a u to

ridades orientaes.

« Os factos de que procedem taes queixas, não são mais do

que a reproducçâo ou continuação de outros, que o relatório

do ann o passado noticiou hav erem occorrido du ra nt e a ad m i

nistração de D. Jac inth o Barbat, antecessor do actu al chefe

poli t ico, D. Tris tão Azambuja .

« In felizm en te esses excessos não tem ficado lim itad os a

esse departamento; iguaes occurrencias ha a deplorar em

outros , se bem na general idade não sejam acompanhados de

circumstancias tão aggravantes .

« A ttendendo as reclamações feitas sob vários titu lo s, por

governos

  representados por seus agentes em M ontev idéo,recomm endou o governo da R epublica em 9 de Jan eir o d o

corrente anno, que as autoridades departamentaes no desem

penho de seus deveres , se houvessem com a maior mode

ração, e que as commissões mais importantes fossem desem

pen had as pelos próprios com missarios, afim de pre vin ir abuso s

de funccionarios subalternos.

« A vultando mais o num ero de Brasi leiros residen tes ou

estabelecidos no território oriental, m ais freq üentes são as re

clamações do governo imperial .

« O governo da R epu blica dem itt io de suas funcções

vários chefes políticos e commissarios dos departamentos de

M aldonado, Canelones, e S al to . Igua l procedim ento teve com

D .  Jacinto Barbat, chefe politico no departamento de Ta

q u a re m b ó .

» M as, nem as recommendações do governo da R epu blica,

nem a demissão d ' aquella autoridade, puz eram termo ás

violências que alli se praticam con tra os sub ditos d e S u a

Magestade o Imperador, sob a adminis tração do actual chefe

político.

« O s actos de perseguição oomm ettidos d ur an te essa a d m i

nistraç ão po dem ser classificados em du as cathe goria s : ou se

referem a um a comp licada questão sobrevinda em extensos

campos, era que tem posse antiga muitos subditos brasi

leiros ; ou na m áxim a parte a assassinatos, esp oli aç õe s,

prisões arbitrarias e toda a sorte de vexames.

« O governo imp erial , devendo prestar aos subditos do I m

pério a protecção que lhes é devida, tem cham ado co nsta n

temente a at tenção do governo da Republica sobre este de

plorável es tado de cousas .

« Os úl t imos successos induziram o mesmo governo a or

den ar que se procedesse ás precisas diligencias, afim de be m

averiguar a justiça que assiste aos reclam antes bra sileir os, e

para este flm dete rm ino u, po r despacho de 16 de Fe ve reiro

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— 85

do cor rente ann o, qu e o cousul gera l do Im pér io o Sr .

M eiehior Carneiro de M end onç a Franco , se di r igisse , ao

refer ido dep artam en to, pá ra habil i tar a legação im perial a

cumpr ir as ins t rucções que lhe tem s ido remet t idas .

« R esu l ta do re la tór io , que apresentou o nosso agente

c o n s u l a r

f

  bm 30 de M arço ul t im o em desempenho de sua

árd ua com m issão , qu e não é ainda possível fazer-se u m juizo

seguro acerca do procedimento das autor idades or ientae s ,

re la t iv am ente ao esou lho de campos e gados , ar rasamento

de casas e bemfeitor ias , questões tão freqüentes no departa

mento de Taquarembó. Já antes havia informado a legação

imperial , que n 'essas questões estão envolvidos interesses

não só de par t iculares mas também do f isco.

« Nào desconhece o governo imper ia l que es te assumpto é

especia lme nte da com petência dos t r ibun aes , e qu e aos su b

ditos brasileiros per tence promover pelos meios legaes o que

lhes convier, e fôr a bem do seu direito.

« Este é o pr inc ipio regu lado r das relações intern acio nae s

em sem elhan te m atér ia , mas n em por isso pôde ser excluída

a inte rven ção do governo imper ia l , qu and o nos ple i tos qu e

se m ove rem por taes qu estõe s, forem po stergados os p r i n

cípios dè justiç a un ive rsal , ou se d er m anifesto abu so e

v io lê nc ia .

« Deplora entre tanto o governo imper ia l ver conf i rmadas no

relatór io do côn sul g eral do Im pério as queixas dos subd itos

brasileiros, por causa dos at tentado s de q ue tem sido victim as,

os quaes , segundo as aver iguações a que se procedeu, tem

sido cpm m ettidos de modo in justi í icavei, até pelas próprias

autor idades da 'Republica, com violação de suas leis .

« Esse s actos atrozes vem relacionados em u m a nota qu e

em conseqüência d 'aquel las di l igencias di r igio a legação im

per ia l , em 29 de M arço ul t im o, ao minis t ro das re lações ex

ter iores .

« Essa n ota d á . tam bé m c onhe cime nto de vár ios assassinatos

de qu e a té esse tem po não o t inh a a legação.

« A ' vista do qu e n 'el la se expõe, pôd e dizer-se qu e nã o

ex istem sob a a dm inistraç ão do actual chefe poli t ico, n e

nhumas garant ias individuaes para a população bras i le i ra , que

res ide em T aq ua rem bó . S obe de ponto a gravidad e d 'cs ta s i

tuação se se a t tender ás preoccupações t radic ionaes com que

são olhados na Republica os estabelecimentos brasileiros .

« T om a n do o go ve r n o da R e publ ic a e m c ons ide r aç ã o a s

representações do gov erno im per ia l , assegurou ao seu rep re

sentan te qu e ado pt an a med idas qu e as sa t is t izessem, e qu e

faria q u an d o estivesse ao seu alcance para q u e , ver if icados

os factos, fossem os seus autores severamente punidos.

« Conf ia o go vern o im per ia l qu e essas prom essas serão rea

l izadas, com o o pedem as boas relações en tre os do us p aizes .

«

  O

  gove r no im p e r ia l ve ia r á inc e s s a n te m e nte pa r a que se ja m

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m

  — 8 4 —

respeitados os direitos e intere sses dos subd itos bra sileiro s ao

Estado O riental , tornan do-se effectivas as ga rantia s q ue de ve m

encontrar sob a protecção das leis e do go ve rno su pr em o

da Republica.

« Se forem improticuos os esforços dos agen tes do I m p ér io ,

as conse qüên cias da indifferença official ou da inefficacia d aacção do governo da R epub lica, não] correrão por con ta do

governo imperial . »

ASSASSINATOS DE SUBDITOS BRASILEIROS.

« No decurso do anno próximo passado, ho uv e a lam en tar

vários assassinatos de subd itos b rasileiros em difíerente s d e

par tamentos da R epubl ica O r ienta i do U rug ua y. A legação im

perial em M ontevidéo nào tem cessado de recla m ar c on tra

esses cr imes, e pela punição de seus autores .

« Estes factos nem sempre são acom pan hado s de circ um s

tancias grav es ; mu i tas vezes são conseqüência de r ixas ent re

indivíduos de baixa condição; a lguns , porém, tem s ido com-

mettidos com participação de autoridades ou agentes da força

publ ica da Republ ica

« Nas relações comp licadas existentes en tre os do us paiz es,

as garantias dos direitos individu aes são o pr im eiro elem en to

de harmonia e boa intell igencia.

« As autor idades, pois , encarregadas de m an ter a or de m

pu blica (os chefes políticos, s eu s delega dos e a força po licial)

devem ser consti tuídas de modo que respeitem e façam res

peitar tão preciosos direitos.

« Dar-vos-hei con hecim ento d o estado d'estas q uestõ es, de

cada um dos successos que tem feito objecto da intervenção

diplomática brasileira jun to ao gov erno or ien tal .

« O sargento de policia R aph ael M endonza, indigi tado c om o

auto r da mo rte do subdito brasileiro R oberto Corrêa, no d e

parta m ento do Cerro L argo , foi preso e p osto á disposiçã o da

justiça ordinár ia respectiva.

« O governo imper ia l recomm endou que cont inuasse a lega

ção em M ontevidéo a reclamar as necessár ias prov iden cias

para que o autor d'esse crime não escapasse á vinaicta da lei.»

Segue-se a descr ipção de mais cinco assassinatos perpetra

dos em subditos brasileiros, nos departamentos do Estado

Oriental , por agentes da policia . Sobre todos estes aconteci

men tos nao deixou a legação imperial de reclamar do go ver no

da Republ ica a punição dos culpados; aquel le governo apa

rentava dar as provid encias exigidas, m as os cu lpa do s ficavam

sempre impunes .

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— 8 5 —

« U lt im am en te teve o governo imperial not icia de outros

assass inatos commet t idos no depar tamento de T aqu arem bó.

Foram el les levados ao conhecimento do governo da Repu

blica por nota da legação imperial de 29 de Março ultimo,

em qu e se referem todas as violências e vexam es qu e alli

soffrem os sub dito s brasileiros da par te das respectivas a uto

r i d ad es .

a

Não com prehen de esta nota a morte do subdito brasi leiro

Es trug i ldo S i lva , perto do Passo dos T oros. Este facto fez

objecto da reclamação iniciada pela mesma legaçàu em 12de Feverei ro . O governo da R epubl ica com mun icou em 22

de M arço ter mand ado proceder á prisão de todos os ind i

v íduos envolv idos n 'es te cr ime. »

DEPREDAÇÕES NO DEPARTAMENTO DE MALDONADO.

« V ários grup os de sa i teadores escolheram aqu el le depar

tam ento para theatro de suas corre r ias e depredações. T antas

eram as violências que prat icavam, e tão freqüentes, que as

famílias brasileira s alli estabelecidas viam-se na n ecessidade

de emigrar para a p rovincia do Rio Grande do Su l .

« P or nota s de 23 de Ju lh o e 23 de Novem bro do an no

próxim o passado, a legação im per ial reclamou do m inistro

das relações exteriore s, providencias que garan t issem aos sub

di tos brasi leiros a segurança de suas vidas e propriedades.

Em a t tenç ão ás ju sta s qu eixa s do nosso encarregado de negó

cios,  o gov erno da R epublica- èxpedio em 20 de De zem bro

do m esmo an no , o decreto pelo qual e xone rou o S r . Gabriel

R odrigues do cargo de chefe pol i tico do referido dep artam ento ,

e n o m eo u p ar a s u b s t i t u i l - o o S r . O l eg âr i o R o d r i g u es .

3 3

« De todos os attentados, porém, que fazem objecto especial

d 'esta exposição, o de ma ior gravidad e occorreu coro D om in

ós;  de M oraes , guard ião da canhonei ra  Ivahy,  surta n o porto

J g M o n t e v i d é o .

«x E sta nd o este official m ari nh eir o em terr a, com licença

de*

 seu s supe riores, de uniform e e desarm ado, foi preso, sob

pretexto de ser des ertor do exercito orienta l, por ú*m sarge nto

ao 1.° batalhão de caçadores.

(( L eva do p ara o qu arte l d 'aq ue lle corpo, foi ahi m altrata do

e m or ta lm en te ferido pelo official Ele uterio Pires , e n 'este

estado tran spo rtad o para o hospital de caridade, onde falieceu.

« À legação imp erial reclam ou imm ediatam ente a puniçã o

do assassino, e um a ind em nisaç ão pecuniária em favor da

fam ília do fallecido. S into dizer-vos qu e bem pouco satisfató

r ias são, até ao presente, as respostas que a legação impe

rial te/u recebido do ministério das relações exteriores da Re

p u b l i ca .

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— 86

ARRKBATAMENTO DO ESCUDO DAS ARMAS IMPERTAES DA F RE NT E

DA CASA DO VICE -CO NSU L RASILEIRO EM TAQUAREMBÓ.

« Este at tentad o foi perpetrado em 16 de Nove m bro ul t im o

por José do Couto , cunhado de

  D .

  Tris tâo Azambuja, chefe

poli tico do» mencionado dep ar tam ento . O minis t ro das re la

ções exteriores com m unic ou á legação impe rial , por nota de

7 de Jan eir o, qu e ordena ra ao respectivo chefe poli t ico, q u e

reprehendesse severamente ao autor do deiicto, e lhe appli-

casse a pen a correccio nai de seis a oito dias de prisà o. Es ta

ordem porém não foi cumprida.

c( No dia 6 de Jane i ro o nosso v ice-consul em T aq ua re m

bó recebeu um a com m un i cação do chefe politico do dia an

tecedente, part icipando-lhe que o referido Couto fora preso.

N'.esse m esm o dia apr esen tou -se esse ín div idu o a ca vai] o em

frente da casa do vice-c onsu l, lev an do de rastos pela ru a o

escudo das a rmas imp er iaes , por e lle anter iorm ente a rr eb ata

do ; e, apeand o-se, passou a injuria r e am eaçar com faca o

me smo vice-consul . Um a das m ui tas tes tem unh as , que as

s is t iram a essa aggressão, im ped io aind a m ais sérios at te nt a

dos .

« A legação im peria l teve po rtan to de solicitar, em 21 do

dito mez, providencias m ais enérgicas . E m 22 part icipou o

gove rno da R epub lica haver fei to as precisas rec om m en da -

ções,  para qu e o réo fosse com pete ntem ente processado. E m

qu an to estas ordens eram expedidas, em 23 o alcaide ordi

n á r i o ,

  sem ouvir as tes tem unh as presenciaes do crim e, .pro

feria a sentença de absolvição do réo , con sidera ndo -o ébrio

e louco,» e as offensas sem o cara cter qu e se lhe s attr ibu ia.

a  Nã o sendo possivel aceitar sem elh an te justificação, ins is

t i o a legação imp erial para que o crime não ficasse i m p u n e,

e pelo gov erno da R epublica foram reiterad as as ord ens q ue

exigia a natureza da orFensa. Em conseqüência d'estas ultimas

ord en s, tornou a ser preso o ind ivid uo de que se t rata , e

foi sub m ettid o a nov o proce sso. )>

ASSALTO DA CASA DA BRASILEIRA ANNA DA SíL VA , EM CUN HA -PÊR U.

cc Em  D ezembro do ann o próximo passado um a part ida de

policia de , T aqu arem bó, ás ordens do com missario da 4.»

secção Horacio Rodrigues, sob o pretexto de prender um in

divíduo de nome Gaspar Oribe, accusado do crime de rapto

de tres  menores  de côr, assaltou a casa da Brasileira A n na d a

S ilva, viuv a de Seraí im Nu nes Garcia , m orado ra em Cunha»

Pe ru , a pequena dis tancia da l inh a divisória , entre o  Império

e a

  Republica .

« Sendo encon trado, não  Gaspar Oribe,  porém  Gaspar  d a

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Sita*, foi este preso e levado amarrado á presença do com

missario, e depois solto por não ser o mesmo indivíduo que

se  procurava.

« A legação im perial, tendo notícia d'este guccesso em

  11

de Fevereiro do corrente anno, dirigio-se em

  12

  de Março

ao governo da Rep ublica, reclamando a punição dos culpados,

e a adopção de providencias adequadas, contra actos de v er

dadeira tropelia, com o os praticados n'aquella diligencia. »

Este relatório do ex-ministro de estrangeiros Taques,

  p u b l i

cado em   1 8 6 2 ,  além de continuar a relatar as atrocidades de

que eram victimas os Brasileiros residentes no Estado Oriental,

e de mencionar o grande numero de assassinatos, diz:

« Que deplora o governo imperial ver confirmadas no relatório

do cônsu l geral do Império, as queixas dos subditos brasileiros,

por causa dos attentados, de que tem sido victim as; os quaes,

segundo as averiguações a que se procedeu, tem sido com-

mettidas de modo injustificáve l, até pelas próprias autoridades

da R epub lica, com yiolação das suas leis. »

Ainda no anno de

  1 8 6 2 ,

  esta exposição não despertou as

câmaras do lethargo em que jaziam, havia tantos annos, em

relação ás Republicas hespanholas.

A' vista de um tal comportamento dos poderes do Estado,

parece que aqueilas offensas eram commettidas contra indi

víduos de outras nações, e não contra Brasileiros, á vista do

seu govern o .

  m

Coutem este relatório alguns factos mais notáveis, que me

recem que se faça d'elles menção especial.

Em   1 8 6 1 ,  setenta soldados paraguayos commandados por

um official, foram ás margens dos rios Dourado e Miranda,

duvidando da nossa posse sobre aquelles terrenos. A este

respeito continua o ministro dos negócios estrangeiros Taques

dizendo:

« Segund o as informações que teve o governo irap em l,

o facto não passou de um a simples exploração. »

Era a segunda vez que os Paraguayos invadiam a pro

vincia de Matto-Grosso, isto é, o que constava oficialmente,

e o governo imperial sabendo que estas explorações fizeram-se

com força armada, contentou-se em pedir simples informa

ções; já que não tinha podido previnir aquellas explorações

armadas ou reconhecimento do terreno, para algum fim do

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governo de Assumpção; e tomar uma attitude enérgica contra

aquelle governo.

Estas explorações dos Paraguayos têm ainda outras expli

cações ;  a proviacia de Matto-Grosso, muito extensa, pouco

povoada, situada a Oeste da costa do Brasil, teve sempre por

estas razões poucos meios de defeza; por conseqüência nas

campinas do Sul não havia gente que se oppusesse aquellas

invasões armadas, isto facilitou a entrada dos soldados para

guayos, que tinham a certeza de não achar resistência;

aquella provincia teve sempre pequena guarnição, porque os

corpos de linha nunca poderam chegar a ler o seu estado

completo; para obstar.á invasão paraguay a de Dezembro de

  1 8 6 5 ,

era necessário que tivesse de tres a quatro mil homens das

tres armas.

Vamos terminar o que diz o relatório de  1 8 6 2  com a recor

dação dos dous factos seguintes.

A prisão e assassinato do guardião da canhoneira  Ivahy,

fundeada em Montevidéo, foi um motivo bastante forte para

se ter exigido immediatamente d'aquelle governo a satisfação

devida a tão grande insulto. Se o caso se tivesse dado com

uma praça dos outros navios de guerra de qualquer nação,

que alli tem suas estações, o «governo que então existia

u ' a q u e l l a

  Republica tinha-se visto bastante embaraçado para

attenuar o crime que seus subditos commetteram. Apezar

das muitas reclamações da legação imperial em M ontevidéo,

aquelle governo não deu à satisfação conveniente, porque o

governo imperial não teve logo o procedimento que o caso

exigia.

O arrebatamento do escudo das armas imperiaes da frente

d a

1

  casa do vice-consul brasileiro na villa de Taquarembó,

foi um insulto feito á nação o qual com outra qualquer po

tência, tinha sido motivo mais do que sufficiente para haver

serias complicações.

O relatório dos negócios estrangeiros que devia ser apre

sentado á Assemblóa Geral, em   1863, pelo M arquez de Abrantes,

contém o seguinte:

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— 89 —

ABUSOS E VIOLÊNCIAS COMMETTIDAS NO DEPARTAMENTO DE TAQUAREMBÓ,

DURANTE A ADMINISTRAÇÃO DO CHEFE POLÍTICO TRISTÃO DE AZAMBUJA.

« O meu antecessor já vos deu conta da séria attenção que

mereceram ap governo imperial os successos que occorreram

n'aqu elle departamento, e de que eram victimas vários subditos

brasileiros.

« Os factos levados ao conhecimento do governo da Repu

blica eram de natureza tal, que reconhecendo não ser pos

sível a continuação de um tal estado de cousas sem grave

eom pro m ettim ento das relações entre os dou s paizes ;  resolveu

o mesmo governo por decreto de  12  de Junho ultimo, de-

mittir o chefe politico, que em vez de os prevenir os acoro-

çoava com o seu espirito de hostilidade ao Império.

« O Sr . Eduardo Ca ste%no s, continua a exercer interina

mente aquelle importante cargo.

« Esta providencia, devida como satisfação ás justas recla

mações do governo imperial pelos numerosos attentados per

petrados durante a administração do chefe politico demittido,

removeu a principal causa de desintelligencia entre os dous

paizes.

« Sobre o mérito do relatório a que procedeu o cônsul geral

do Brasil em Taq uarem bó, para bem verificar os abusos,

vio lên cia s e toda a sorte de vexames de que se queixavam

os subditos brasileiros, na sua representação dirigida ao pre

sidente da prbvincia do Rio Grande do Sul, ouvio*o goveino

da R epu blica as respectivas auto ridad es; e julgand o deficientes

as inform ações recebidas, exigi o nov as e m ais amplas averi*

gnações sobre a culpabilidade dos criminosos, e as circums

tancias que acompanharam os seus delictos, afim de adoptar

as providencias que os casos exijam.  dj

« O govern o imp erial aguarda estas providencias, na co nvic

ção de que serão correspon dentes aos atrozes crimes de que

não estão escoimadas as autoridades locaes, e das quaes

foram até algumas os próprios autores. »

R E L A Ç Õ E S P 0 M T 1 C À S .

<* A s n ossas qu estõ es com a R epub lica O riental, Confede

ração Argentina e Paraguay,  acham-se  quasi no mesmo pé

ém que as deixou o meu iIlustre antecessor.

« As nos sas relações com a Repu blica do Paraguay apre

sentam um

  aspecto lisongeiro,

  e aguarda o governo imperial

uma época não  r e m o t a  de se entenderem os dous governos

sobre o  í inal  reconhecimento de sua respectiva linha divi

sória. »

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— 90 —

A S S A S S IN A T O D O G UA R D IÃ O D A A R M A D A N A C IO N A L D O M IN G O S D E M O R A E S .

« S i n t o t er d e c d m m u n i e a r - v o s q u e a i n d a s e a c h a p e n d e n t e

d e s o l u ç ã o d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a a r e c l a m a ç ã o i n i c i a d a

d e s d e 3 1 d e A g o s t o d e 1 8 6 1 p e l o g o v e r n o i m p e r i a l , p o r m o t i v o

d o a t t e n t a d o c o m i n e t t i d o n a p e s s o a d o g u a r d i ã o d a a r m a d a

n a c i o n a l D o m i n g o s d e M o r a e s .

<c D i s c o r d a m o s d o u s g o v e r n o s s o b r e a tfa cio na lid ad e d o

i n d i v i d u o d e q u e m s e t r a t a , firm an dó -se a m b o s n o s l i v r o s d e

r e g i s t r o d e q u e f o r a m e x t r a h i d a s a s c e r t i d õ e s d o s a s s e n t a

m e n t o s d e p r a ç a , q u e t e v e n a m a r i n h a b r a s il e ir a D o m i n g o s

d e M o r a e s , e n o e x e r c it o d a R e p u b l i c a u m t a l D o m i n g o s

M o r a l

 es'.

« N ' e s t e e s t a d o d a q u e s t ã o , p r o p ô z o g o v e r n o d a R e p u b l i c a

q u e f os se e l l a s u b m e t t i d a , c o m t o d o s o s d o c u m e n t o s q u e l h e

s ã o r e l a t i v o s , a u m j u i z o a r b i tr a i d e d o u s a g e n t e s d i p l o m á

t i c o s ,  n o m e a d o s p o r c a d a u m a d a s p a r t e s , s e n d o D O c a s o d e

d i v e r g ê n c i a n o m e a d o u m t e rc e ir o a r bi tr o e s c o l h i d o t a m b é m

d ' e n t r e o s a g e n t e s d i p l o m á t i c o s .

cc R e c o n h e c e n d o o g o v e r n o i m p e r i a l n a o f íe r ta d o d a R e

p u b l i c a u m m e i o c o n c i l i a t ó r i o , e p o r v e n t u r a e q u i t a t i v o d e

r e s o l v e r s e m e l h a n t e c o n f l i c t o , n ã o p ô d e c o m t u d o a n n u i r a

e s s e c o n v i t e , p o r q u e s e n d o i n c o n t e s t á v e i s o s f u n d a m e n t o s d a

r e c l a m a ç ã o d o g o v e r n o i m p e r i a l , e t ã o c l a m o r o s a a j u s t i ç a

q u e l h e a s s i s t e , s u b m e t t e r - s e a u m t e r c e i r o a s o l u ç ã o d e s e

m e l h a n t e n e g o c i o , i m p o r t a r ia o d u v i d a r c a d a u m d o s d o u s

g o v e r n o s d a p r ó p r ia r e c t i d ã o e e n e r g i a . P r o s e g u i o , p o i s , a

l e g a ç ã o i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o  $m  s u a s i n s t â n c i a s j u n t o d o

g o v e r n o d a R e p u b l i c a .

cc A s a t i s fa ç ã o r e c l a m a d a p e l o g o v e r n o i m p e r i a l , c o n s i s t i a

n a e x e m p l a r p u n i ç ã o d o a u t o r d o a t t e n t a d o c o m m e t t i d o c o n

t r a o s u b d i t o b r a s i l e ir o d e q u e s e t r a t a , e b e m a s s i m e m u m a

r a s o a v e l i n d e m n i s a ç ã o p e c u n i á r i a q u e p u z e s s e a c o b e r t o d a í n -

d i g e n c i a , a q u e f i c o u r e d u s i d a , a f a m í l i a d e M o r a e s .

« O g o v e r n o i m p e r i a l a c a b a d e t e r i n f o r m a ç õ e s d e q u e e s

t a s e x i g ê n c i a s f o ra m t o m a d a s e m c o n s i d e r a ç ã o p e l o d a R e p u

b l i c a , p r o p o n d o e s t e , p e l a - i r r e g u l a r i d a d e h a v i d a n a p r i s ã o ,

n o c a s o v e r t e n t e , m a n d a r c a s t i g a r o o f f ic i al q u e a e f f e c t u o u ,

e r c p r e h e n d er o c o m m a n d a n t e d o c o r p o d e c a ç a d o r e s , d e b a i x o

d e c u j a s o r d e n s e l l e s e r v i a , a r b i t r a n d o o u t r o s i n i a q u a n t i a d e

m i l p e s o s e m f a v o r d a f a m í l i a d e s v a l i d a d e M o r a e s . »

VÁRIOS OUTROS ASSASSINATOS»

« N ã o t e m s i d o f e l i z m e n t e t ã o f r e q ü e n t e a p e r p e t r a ç ã o d e

c r i m e s d V s t a m t u r e z a n o E s t a d o O r i e n t a i e m s u b d i t o s d e

I m p é r i o . A s m e d i d a s to m a d a s p e lo g o v e r n o d a R e p u b l i c a p a r a

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92

pelo  ju iz do c r ime respec t ivo a do us an no s de pr i são e  nas

cus tas do processo. »

ARREBATAM ENTO 1)0 ESCUDO DAS ARMAS 1MPERIAES DA FR EN TE DA CASA

D O V I C E - C O N S U L B R A S I L E I R O E M T A Q U A R E M B Ó .

« O Bras i le i ro José do Cou to , cu nh ad o de  D .  T r i s t ã o  de

A z a m b u ja , q u e c o m m e t t e u o d e s a c a t o , q u e j á foi l e v a d o a o

a o v o s s o c o n h e c i m e n t o , c o n t r a o e s c u d o d a s a r m a s i m p e r i a e s

que in d i ca va a res idência do v ice cônsul do Bras i l em T aqu a

rem bó, foi p reso e su bm et t ido a novo processo , por  ser

t u t n u l t u a r i o o s u m m a r i o a q u e a n t e s s e h a v i a p r o c e d i d o , e  por

conte r a sente nça profer ida pelo alcaide or diná r io u m a n ov a

aggressáo, a lém das

  v

offensas i r rogad as ao Im pér io n 'es se gra ve

successo .

« N 'es tas c i rcum stanc ias , e pe lo r igor com qu e e ra de t ido

em cus todia , imploro u o perdão de £>ua M ages tad e o I m p e

ra d o r ; m as es tando o negocio a ffec to aos t r ibu na es , o go v er n o

i m p e r i a l j u l g o u d e v e r a b s t e r - s e d e q u a l q u e r i n t e r v e n ç ã o , e

deixar o processo correr seus t ramites legaes . »

O re la tór io dos negócios . . . es trangei ros , q u e o M arq ue z de

A brante s apresento u á A ssembléa Ge ra l de 8 de Ja ne i ro d e

1864,

  contém o seguin te , cont inuação do re la tór io de 1863:

P A R T E P O L Í T I C A .

RELAÇÕES DO ESTADO ORIENTAL COM O BRASIL E A CONFEDERAÇÃO

ARGENTINA, POR OCCASIÃO DA INVASÃO DO TERRITÓRIO DA

R E P U B L I C A P E L O G E N E R A L D . V E N A N C I O F L O R E S .

« E m p r i n c í p io s d ' e st e a n n o r e p r o d u z i r a m - s e n o E s t a d o

O r i e n ta l o s l a m e n t á v e i s s u c es s o s q u e t ã o s e r i a m e n t e c o m p r o -

m et te ram a paz da R epu bl ica em 1858 . Em 19 de A br i l foi

n o v a m e n t e i n v a d i d a a R e p u b l i c a p o r a lg u n s e m i g r a d o s o r i e n

t a e s ,  re fugiados em Bu eno s-A yres . A ' t es ta d 'es te m ov im en to

a p r e s e n t o u - s e o g e n e r a l V e n a n c i o F l o r e s , E s t e g e n e r a l , t e n d o

d e s e m b a r c a d o n o R i c o n d e I a s G a l i n a s s o b re o u r u g u a y , s e

guio ixn med i a tam ente para a ca m pa nh a . Em S ant a R osa e

anto Eugênio foram-se- lhe reuni r vár ios chefes com forças

u e s e d i z i am o r g a n i s a d a s n a n o n t e i r a d e Q u a r a h i m e  e m

orr ientes . Começou então a Ikta com a rebsf l iâo .

« Não ob s tan te confiar nos* e lem en tos nac io&aes pára de be l -

la l -a , rec lamou o governo da R epubl ica dos agentes d ip lomát icos

n 'el la acredi tados, o auxi l io que

  estivessem

  n o caso de p restar

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e m b e n e f i c io , d a p a z , e d o s i n t e r e s s e s e s t r a n g e i r o s c o m p r o -

m e t t i d o s n a s i t u a ç ã o a n o r m a l e m q u e s e a c h a v a o p a i z .

« H a v i a r az O e s p a ra cr e r q u e a l g u n s B r a s i l e i r o s , m e n o s

r e f le c t id o s , s y m p a í h i s a v a m e e s p o s a v a m a c a u s a d o s r e b e l d e s .

R i a m m a i s f u n d a d a s a s s u s p e i t a s d e q u e t i r a v a e l l a p r i n

c i p a l m e n t e a s u a f o rç a e d e s e n v o l v i m e n t o d e B u e n o s - A y r e s e

d e C o r r i e n t e s . C o m e s t a s a pp rt h e n s õ e s , o p r i m e i r o c u i d a d o

d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a foi r e c l a m a r d o s g o v e r n o s d o B r a s i l

e d a C o n f e d e r a ç ã o A r g e n t i n a , a s p r e c i s as p r o v i d e n c i a s , p a r a

q u e a s a u t o r i d a d e s e h a b i t a n t e s d o s r e s p e c t i v o s p a i z e s s e m a n

t i v e s s e m e m f r e n te d e t ã o d e p l o r á v e i s a c o n t e c i m e n t o s n a m a i s

s t r i c t a n e u t r a l i d a d e . »

P R O V I D E N C I A S A D 0 P T A D A 3 P E L O G O V E R N O I M P E R I A L .

« N ã o h a v i a q u e d u v i d a r d a p o l it ic a q u e , e m s e m e l h a n t e s

c i r c u m s t a n c i a s , s e r ia a d o p t a d a p e l o I m p é r i o , q u e t a n t a s p r o v a s

t e m d a d o d o s e u e m p e n h o e m m a n t e r n o p é d a m a i s p e r

f e i ta c o r d i a l i d a d e a s s u a s r e l a ç õ e s c o m a R e p u b l i c a . A n i m a d o

e n t r e t a n t o d o s s e n t i m e n t o s o s m a i s - « ge n er o so s e a m i g á v e i s ,

e d e c o n f o r m i d a d e c o m o s s e u s p r e c e d e n t es , r e ç o m m e n d o u

o g o v e r n o i m p e r i a l , e m t e r m o s p r e c i s o s e e x p l íc i t o s , a l i n h a

d e c o n d u c t a q u e d e v i a m t er , e m s e m e l h a n t e c o n j u n c t u r a , a s

a u t o r i d a d e s d a p r o v i n c i a d e S . P e d r o d o R i o G r a n d e d o S u l .

N e n h u m a p r o t e c ç ã o e a u x i l i o d e v i a p r e s ta r - s e á c a u s a d a r e -

b e l l i á o . A s f o r ç as r e b e l d e s q u e s e a s y l a s s e m n a p r o v i n c i a ,

d e v i a m se r c o l l o c a d a s e m u m a p o s i çã o i n t e i r a m e n t e i n o f e n

s i v a . A s a u t o r i d a d e s q u e s e d e s u s a s s e m d e s e u s d e v e r e s , n ã o

g u a r d a n d o o u n ã o f a z e n d o r e s p e i ta r a m a i s p e r f e i ta e a b s o

l u t a n e u t r a l i d a d e p o r p a r te d o I m p é r i o , d e v i a m s e r s e v e r a

m e n t e p u n i d a s .

« O p r e s i d e n t e d ' a q u e l l a p r o v i n c i a h a v i a j á a n t e c i p a d o e s t a s

o r d e n s , r e c o m m e n d a n d o t a m b é m p or s u a p a r t e , l o g o q u e a l l i

c o r r e u o b o a t o d e u m a t e n t a t i v a d e i n v a s ã o n o t e r r i tó r i o d a

R e p u b l i c a , t o d a a v i g i l â n c i a n a r e s p e c t i v a f r o n t e i r a , a f i m d e

o b s t a r a q u a l q u e r i n t e r v e n ç ã o d e B r a s i l e i r o s o u O r i e n t a e s ^ a l li

r e s i d e n t e s , n a s l u t a s i n t e s t i n a s d e q u e e s t a v a a m e a ç a d o o

E s l a d o^ - li m it ro p h e * F o r a m t a m b é m a d o p t a d a s a s p r o v i d e n c i a s

n e c e s s á r i a s p a r a t o r n a r - s e e f fe c t iv a a q u e l l a v i g i l â n c i a . E s t a s

p r o v i d e n c i a s s q r j i r a m o d e s e j a d o e f f e i t o .

« O s c h e f e s

  :

r e v o l t o s o s M a r c o s S a l v a t i l l a , e P e d r o A l g a -

n a r á s , d e r r o t a d o s e m J u n h o a o S u l d o A r a p e h y , p e l a s fo rç a s

s o b o c o m m a n d o d o g e n e r a l L a m a s , b u s c a r a m a s y l o n o te r

r i t ó r i o b r a s i l e i r o ; m a s a p e n a s h a v i a m p a s s a d o a f r o n te i ra ^

f o r a m i m m e d i a l a m e n t e d e s a r m a d o s e i n t e r n a d o s p o r o r d e m d o

b r i g a d e i r o D a v i d O a n a v a r r o , f i c a n d o o a r m a m e n t o d e p o s i t a d o

p a r a s e r e n t r e g u e á a u t o r i d a d e b g a l d a R e p u b l i c a , q u e o r e

c l a m a s s e .

  0

  f a c t o d e t e r e m - s e d a d o a l g u n s c a s o s i s o l a d o s d e

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entrada  e  sabida  d o  território brasileiro de alg un s rebeldes*

sem   se  lh es applicar as regras prescriptas  em com protni^sos

dos do us g ove rno s, nào indicam tolerância

  ou

  convivência

das respectivas autoridades, que não podem estar presentes

e m   todos os pontos da extensissima  e  despovoada  fronteira,

qu e separa o Império da R epu blica. Os Brasileiros que i n -

consid erada m ente hav iam transposto a. fronteira, para tom ar

parte na revolta, a despeito da vigilância das autoridades,

nela maior parte arripiaram logo carreira, conhecendo as

funestas conseqü ências qu e resultariam do seu crim inoso pro

cedimento.

« E '-m e satisfactorio ter d e inform ar-vos que os sub ditos

d 'este Império residentes na Republica, no meio dos sérios

conflictos que se tem dado na campanha, mantiveram na sua

maior generalidade com honra o nome de Brasileiro, deixando

de ingerir-se nas dissenções domesticas do Estado Oriental.

E '

  entretanto de deplorar que, apreciando mal este procedi

mento, tenham alguns d'esses Brasileiros soifrido depredações

e violências em suas propriedades, da parte das próprias forças

do governo da Republica. Este governo reconheceu, por um

accordo de  30  de Outubro ultimo, o direito que tem os pos

suidores dos certificados passados pelos chefes do exercito da

legalidade em campanha, de cobrar do Estado o justo valor

da propriedade tomada, pelo preço corrente nos respectivos

departamentos. A legação imperial em Montevidéo está encar

regada de proseguir nas reclamações que forem convenientes,

para que esta medida se torne efficaz e sejam indemnisados

os subditos do Im pério d a s' espoliações arbitrarias, qu e nã o

tem ainda tido a devida reparação pelos meios competentes. »

MISSÃO CONFIDENCIAL DO BRASIL EM BUENOS-AYRES.

a O objecto especial d'esta missão era obter do governo da

Confederação explicações sufficientes, que removessem as ap-

preh ensões e as duvidas de que. estava possuído o govern o oriental.

Preenchia assim o governo imperial um dever de lealdade e

de boa visinhança, e dava mais uma prova de fidelidade aos

seu s ajustes internacionaes. O governo a rgentino felicitand o-se

de que se lhe houvesse proporcionado a occasião de confirmar

as declarações de stricta neutralidade, que prometteu guardar

na luta que affiige a Republica do Uruguay, não hesitou

um momento em explicar os factos sobre que da maneira a

mais benevola procurou o ageute confidencial brasileiro ser

esclarecido* »

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— 95 —

POSIÇÃO DO IMPÉRIO.

« N'estas circumstancias  a  política do Império continua  a

ser a da mais absoluta abstenção e imparcialidade, tanto nas

desavenças e conflictos extern os, com o nas lutas in testin as

dos Estados visinhos, sem prejuízo dos bons officios e apoio

m ora l, q ue estejam os %eus age ntes n o caso de poder prestar,

no interesse da paz, e sem prejuízo também de seus com

prom issos iutem acion aes, e da protecção que d eve ter as vidas

e propriedades dos subditos do Império resideutes n'aquelles

Estados. Para que esta protecção se torne mais efficaz na Re

publica Oriental do Uruguay, recommendou-se mais uma vez

ao presidente da província do Rio Grande do Sul, de reprimir

com todo o rigor da lei os que a despeito das ordens ins

tantes e reiteradas do governo imperial, surdos á razão e ao

seu dever, persistissem em prestar apoio e concurso á rebel-

lião que flagella aquelle Estado, e dissuadir os que por merairreflcxão se compromettem a si e aos interesses do Império. »

O m arquez de Ab rantes deu instru cções ao presidente da

prov incia do R io Grande, em d ata de 7 de Maio de 1863,

para se conservar a neutralidade do Im pério na luta do Estado

O riental. A lgu ns destacam entos collocados na fronteira deviam

embaraçar a passagem dos Brasileiros armados para as forças

de F lore s, e desarmar os qu e fugissem para o nosso terri

tório.

  A legaçã o imperial em M ontev idéo officiou aos v ice-

consules do Estado Oriental, para que dissuadissem os sub

dit os brasileiros de tomar parte na lu ta d'aquelle E stado.

A 20 de O utubro de 1863, a legação im perial reclamou do

go ve rn o oriental contra os actos de violênc ia e depredação

q ue soífriam na cam panh a os subd itos brasileiros.

Dizia a nota da legação o seguinte:

« T en do as forças do general Lam as acampado desde o dia

1 3  a té  16  de Julho* junto  á  estância de Mattaperros, de pro

prieda de de M an oel A ntônio Br ag a, alli praticaram toda a

espécie de violência e expoliação, queimando ranchos, curral

e madeiras destinadas a construcções; matando indistincta-

mente, entre gado manso e bravio, cerca de 300 rezes; isto

som en te d ur an te aq ue lles tres dias, sem contar outras m uitas

qu e, dep ois de ha ver a divisão passado o S arandy, foram arre

banhadas no ca m p o; e f inalmente levantando toda a cava

lhada existente na estância, sem ao menos deixar os animaes

necessários, para os serviços m ais urgen tes. Por todo este

prejuízo, passou a m uito custo o general Lamas um recibo

d e

  l imitado numero de rezes .

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96 —

« Os estabelecim entos- de Jo&o Ign acio , vizinh o d e Braga,

de M anoel F errão, na s pontas de Sopa s, e lugar de nom inad o

Curral de la Piedras; de Lu cind o Jo sé Tarouco, e L aurian o

Jo sé Tarouco, tiveram igua l sorte; a m esma deva stação e

expoliação foi reproduzida em todos elles.

« Na estância de Ferrão nem a m esm a casa de habitação

foi respeitada, parte d*ella foi destru ida e inc en dia da .

« Taes violências, de qu e tem sido quasi exclusiv am ente

victima s o s sub ditos brasileiros residentes na cam panh a da

Republica, não se podem de maneira alguma justificar com

as necessidades extremas da gu err a, em que infelizm ente

anda envolvido o paiz; s&o ellas verdadeiros attentados, que

só  tem explicação nas prevenções e resen timen tos, qu e ainda

se nutr em , contra um a tão im portan te parte da população

do Estado.

« Apresentando esses factos á apreciação do Sr. m inistro

de relações exteriores, e esperando da rectidão de S. E x.que será attendida a reclamação, que em prol dos direitos

de seus compatriotas vem d e fazer, o abaixo assignado rei-

teira a S E x. as expressões de su a m ais distincta co ns ide

ração.—Júlio Henrique de

 Mello

 e Alvim.—A S. Ex. o Sr. Dr. João

José Herrera. »

O m inistro Herrera, depois de defender o general Lam as, d iz :

« A iniciativ a, Sr. encarregado de neg ócio s, é brasileira,

e por conseqü ência o go ver no não pode aceitar, nem a respon

sabilidade dos prejuizos até agora soffridos, nem a d os mu ito

maiores que se seguirão, se continuar a impunidade dos au

tores de desorden s, roubos, assaltos e toda a espécie d e pi

lha gem , que se perpetra na fronteira do Brasil, de com bina

ção com os invasores, que não representam outra cousa. »

Pouco tempo antes da legação imperial fazer esta recla

mação, o governo oriental pedio a cooperação do corpo di

plomático estrangeiro a 15 de Junho de 1863, nas difficul

dades com que lutava, procedentes da invasão do general

F lores. N 'esta protecção pedida ao corpo diplom ático inclu ia-se

o Brasil; m as ao mesm o tempo o gover no oriental deixava o

seu general apoderar-se da propriedade dos Brasileiros resi^

den tes n'aquelie E stado. E m todo este an no de 1863 a legação

imperial teve m otivos para reclamar contra as violên cias de toda

a ordem que soffriam os subd itos do Im pério. Poucos foram o s

resultados favoráveis que obtiveram aquellas reclamações.

A 2$ de D ezembro de 1863, quando o estado p olitico da

Republica se achava em peiores circumstancias, o governo

imperial recom mend ou ao presidente da provincia do R io

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— 97 —

G ra nd e: — « q u e empregasse todos os meios ao seu aleance,

par a fazer effectivo o pe nsa m en to do gove rno im per ial, já

pro cu rand o pers uad ir os nossos concidadãos do dever e da

conveniência de se manterem completamente estranhos a

essa luta, para pouparem a si e ao paiz perigos e difficul

dades mui graves, já fazendo punir com todo o rigor da lei

aq uelle s qu e, su rd o s' á voz da razão e do dever, persistissem

em seu desatina do propósito. » — A guerra civil já existia desde

A li il no E stado O rien tal; as complicações com os subditos

bra sileiro s cada d ia se au grh en tav am ; e a protecção que lhe

prestava o governo imperial consist ia nas notas da legação

ao governo da Republica, e este officio ao presidente do Rio

Grande; nunca o ministério entendeu, sobre tudo depois da

invasão do general Flores, que era absolutamente necessário

gu arn ec er a nossa fronteira do S u l , n a presença de um a

guerra, á qual o Brasil não podia ser indifferente, já pela

contiguidade do terreno, já pelas vidas e propriedades dos

Brasileiros. As armas que o ministério tinha promptas para

defende r o nosso te rritór io, eram as notas diplomáticas, se

gu nd o consta dos relató rios: o exercito conservava-se no

estado qu e m enc ionám os na introducção . Na verdade era mais

fácil es crev er no tas diplom áticas do q ue orga nisar um exercito

n a fro nte ira; era necessá rio conservar a paz, emb ora a gue rra

estivesse ás nossas portas. Tal era o prisma pelo qual o ga

bin ete q ue gov erno u em 1863 via o que se passou na R e

publica visinha. Vio como viram os outros ministérios, que

o precederam; a politica foi sempre a mesma, embora as

figuras que a executassem fossem diversas.

O relatório da repartição dos negócios estrangeiros, apresen

tado á A ssem bléa Geral em 1864 pelo ex-m inistro Joã o Pedro

B í as Vi e i ra , con t ém o segui n t e :

PARTE rOLITICA.

R E L A Ç Õ E S

  DO BRASIL' COM A REPUBLICA

  O R I E N T A L

  DO URUGUAY. — CO N-

PLICTO ENTRE O   E S T A D O  ORtSlfTAL E A REPUBLICA ARGENTINA.

« E'

  conhec ido o resu ltado d a missão confidencial que o

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governo imperial julgou dever enviar a Buenos-Ayres nos fins

do anno passado.

« Se felizmente acudindo ao nosso reclamo, o governo argen

tino foi prompto em dar todas as provas e seguranças pre*

cisas para remover as apprehensões e receios que manifestara

o governo do Estado Oriental, sobre a neutralidade d'aquelle

governo em relação aos acontecimentos que se passavam no

mes n í o

  Estado; é todavia para sentir que não surtissem os

devidos e desejados effeitos as negociações n'esse sentido enta-

boladas e concluidas em Buenos-Ayres entre os dous gover

nos,

  havendo pelo contrario surgido novas complicações.

« Motivaram ellas duas outras missões, a do Sr. D. José

Marinol por parte do governo da Republica Argentina, e a do

Sr.

  Eduardo Thornton, ministro de S. M. Britannica em Bue

nos-Ayres.

< i

  Ambas foram, porém, mal logra

 I a s ;

  a primeira por não

chegarem os dous governos a* um accordo sobre os preliminares da negociação; e a outra por não se prestar o governo

oriental a entrar em discussão diplomática sobre os aconteci

mentos que haviam occasionado a interrupção de suas rela

ções com  o  governo argentino, a menos que não abrisse este

mão do armamento da ilha de Martim Garcia, e das medi

das que havia adoptado para impedir a passagem de qualquer

navio de guerra oriental.

« Referindo-se  o  governo oriental a este ultimo facto, e

qualilicando-o  em uma nota que a 12 de Fevereiro do cor

rente

  a n n o

  dirigio a legação imperial em Montevidéo. como

uma violação flagrante dos pactos vigentes com o Império ea Republica Argentina; reclamou do governo de Sua Mages

tade  o  Imperador providencias adequadas para a completa

neutralidade da dita ilha. »

PRINCÍPIOS E 1NTELLIGEN CIAS DOS TRATADOS SOBRE AS CONDI ÇÕES

COM QUE DEVIA SER POSSUÍDA A ILHA DE MARTIM GARCIA.

(( A reclamação fundava-se nas disposições dos arts. 18 dos

tratados de 12 de Outubro de 1851, e 7 de Março de 1856,

celebrados entre os tres Estados.

« Reconheceram as altas partes contratantes no primeiro

á'aquelles tratados que a ilha de Martim Garcia podia pôr

embaraços e impedir a livre navegação dos affluentes do

Rio da Prata, em que são interessados todos os ribeirinhos,

e a conveniência da neutralidade da dita ilha em tempo de

guerra, quer entre os Estados do Prata, quer entre um d elles,

e qualquer outra potência, em utilidade commum e como

garantia da navegação dos referidos rios.

« A mesma garantia tomou-se extensiva pelos tratados  de

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- 9» -

S . José de Flores de 10 de Julh o de 1853, á França, In gla

terra e Estados-Unidos.

« As estipulações a que acabo de alludir tiveram por fim,

sem prejuígar a questão de dominio e soberania que tinh a

de ser resolvida exclusivamente entre os Estados do R io da

P r a t a ; assegurar quan to fosse possível a neutralisação da

ilha de M ar ti m Garcia, e prevenir que fosse ella occupadapor qualquer d'elles, estorvando a navegação d

1

 aquelle n o e

ãe seus afílueutes, declarados livres por tratados os m ais

solem  nes.

« Não se impedio nem se perniittio o seu arm am ento :

houve apenas um voto e um accordo eutre as partes con

tratantes para obter d'aquelle que estivesse de posse da ilha,

o consentir na sua neutralisação em tempo de guerra.

« Discutio-se este assumpto pela primeira vez, formalmente,

em   1 8 5 9 ,  quando a provincia de Buenos-Ayres em desint

 1-

ligencia com a Confederação e a Republica Oriental, armou

e fortificou a ilha de M artim Garcia com intenção m ani

festa de fazer d'ella a base de suas operações militares.

« Dando os governos da Confederação e Estado Oriental a

este facto um alcance internacional que não tinha, exigiram

do governo imperial que interviesse para o desarmamento da

ilha e empregasse mesmo a força, se a sua intimação não

fosse attendida.

r <   Com qua nto o governo imperial não se julgasse autori

sado por virtude dos tratados existentes a empregar meios

coercitivos para obrigar Buenos-Ayres a desarmar e desoc-

eupar Martim Garcia, pois que a tanto não se elevavam os

e/Feitos dos compromissos contratados por esses actos in ter -

nacionaes ; todavia apreciando devidamente o seu alcance, e

reconhecendo que o armamento poderia attrahir para alli

hostilidades que prejudicassem a navegação e commercio dos

neutros, procurou por todos os meios suasorios, convencer o

governo de B.ienos-Ayres das vantagens de a neutralisar.

« Nenhum resultado porém teve esta negociação. Sobreveio

a convenção de paz de  1 1  de Novembro de

  1 8 5 9 ;

  reorga-

nisou-se a R epublica A rgentina, e manteve esta o direito de

occupar e arm ar a ilha sem nenhum outro correctivo maisdo que tornal-a inteiramente inoifensiva à livre navegação

dos rios Uruguay e Paraná. •

À F P L I C A Ç Ã O D E S T E S P R I N C Í P I O S A. Q U E S T Ã O A C T U A L D E A R M A M E N T O

D E M A R T I M G A R C I A .

« No conceito do ministro das relações exteriores do Estado

O riental, a po&ição que alli tomou ultimam ente o governo

arg -ritmo constituo um a ameaça perm anente contra a R e-

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— 400 —

DEVER INDECLINÁVEL DO BRASIL DE PROTEGER OS SEUS SUBDITOS

RESIDENTES NO ESTADO ORIENTAL.

c< A poli t ica do Im pé rio, de act iva pass ou a s er com o acab o

de expôr-vos, desde 1857, de abstençã o e ne utra l ida de , nào só

nas aisáenções e confl ictos externos, como nas lutas inte

r iores d 'aquei la R epu bl ica , sem pre juízo, porém, dos bon s orH-

cios e apoio moral que est ivessem os seus agentes no caso de

poder prestar no interesse da paz, e sem prejuízo também de

seus comprom issos in tern acio nae s , e d a protecção devida aos

subdi tos bras i le i ros .

$ Esta polí t ica foi inv ariav elm ente seguida na luta ac tua l ,

não só pelas auto ridade s da fronteira da pro vín cia de S . Pe -

pu blic a, tendo por na tu ral effeito de bil i ta r os esforço» q ue

fazia o governo legal para co m prim ir a revo luçã o e pre s tar

indi rec tam ente a es ta poderoso auxi l io em pre juízo d e su a

s o b e r a n i a e i n d e p e n d ê n c i a .  *&rl

« Considerando o gov erno im per ia l a rec la ma ção di r ig ida

p o r a q u e ll e m i n i s t r o á l e g a ç ã o i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o , n a o

duvidou com prazer a inda um a vez com os desejos do g o

v e r no o r i e n t a l , so l ic i ta n d o e x p l ic a ç õ e s d o g o v e r n o d a R e p u

b l i c a A r g e n t i n a a s e m e l h a n t e r e s p e i t o .

« Nã o exigio , porém , ne m podia exigi r , d 'es te gov erno o

desa rm am ento da i lha , cujas condições t in ha m ai nd a de ser

r e g u l a d a s d e c o m m u m a c c o r d o e n t r e o s E s t a d o s r i b e i r i n h o s ,

e as potências s ignatár ias dos t ra tado s de 10 Ju lh o de 1853.

« No in teresse da paz e para pre ve ni r com pl icações qu e pod e

r i a m r e s u l t a r d o a r m a m e n t o p a r a o p r ó p ri o g o v e r n o a r g e n t i n o ,

manifes tou o gov erno imp er ia l a con ven iência de rem ove r-se

m ais es te e lemen to d e d iscórdia n os conf lic tos infe l iz m ente

f reqüentes no Rio da P ra ta .

« O objecto da in tervenç ão of fic iosa do gov ern o de S ua M ag es

tade o I mperador n 'es te inc idente , parece ter s ido conseguido com

a seg uran ça dada pelo m inis t ro das re lações exter iores da R e

publ ica A rgen t ina , nas conferências qu e com S . E x . teve o m i

nis t ro bras i le i ro em Buenos-Ayres , de que não era a in tenção

do seu governo a t tentar cont ra a soberania e independência

do E stado vis inho, nem impedir a l ivre navegação e com

mercio es t rangei ro , com as medidas coerc i t iva •>  q u e h a v i a p r e

parad o p ara obter d 'aquelle Estad o repa ração do

  3

  aggravos feitos

á n a ç ã o a r g e n t i n a , a i n d a d e p e n d e n t e s d e u m a s o l u ç ã o a m i

gável .

« E stas medidas não tem , en t re ta nto , t ido as c on seqü ênc ias

de que tanto se ar receiava o governo da Republ ica Or ienta l

do u ru g u a y : a i lha de M ar t im Garcia f icou de fac to desa r

m a d a . *

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- 4or—

dro do R io Grande do S ul, como pelos agentes brasileiros no

Rio da Prata.

« O me u illustre antecessor já vos informou do procedi

mento que tem tido aquellas autoridades com os revoltosos

asvlados no território do Império.

« Devo agora cemm unicar-vos, que o mesmo

  rigoT

  temsido observado em relação aos subciitos do Im pé rio , tr a n s

gressores das ordens expedidas pelo governo imperial, respoa-

sabilisando-se os que tem esposado a causa do general F lo

res,  quando cahem sob a acção d*aquellas autoridades.

a   Nos conflictos entre a R epublica A rgentina e o E stado

O riental , nenhum perigo ba que ameace a autonom ia d 'este

f

pa ra poder invoc ar o govern o impe rial a fiei execução dos

compromissos d'aquelle seu alliado para com o Império,

« A posição portan to, q ue acaba de tomar o Im pé rio , com

a missão extraordinária que enviou a M ontevid éo, só tem

or objecto prestar aos subd itos brasileiros alli reside ntes a

evida protecção. »

MOTIVOS QUE JUSTIFICAM A MISSÃO BRASILEIRA NO RIO DA PRA TA .

« São conhecidas as violências, roubos e perseguições com-

mettidas no Estado Orientai pelas próprias autoridades civis

e militares da R epub lica, contra as pessoas e prop riedade s

de subd itos brasileiros alli reside ntes. Estes attentad os sem preme receram a mais séria attenção do governo -imperial, como

provam os documentos officiaes das reclamações que tem in

cessantemente sido endereçadas ao gove rno d 'aquella R ep u

blica. F orça é, porém , confessar que avu ltand o tanto o n u

mero d'estas reclamações, só em um ou outro caso tem ellas

tido u m a solução satisfactoria.

« U m a porção conside rável de Brasileiros reside e possue

importantes estabelecimeutos na Republica Oriental. E' sabido

que não gozam elles plenam ente das garantias que lhes

concedem as leis do Estado. São sem distincçào comprehe%-

didos n'essas tropelias aquelles m esm os qu e inoffensivos Qe

conservara dedicados exc lusivamente ao seu trabalh o, e á sua

industria. D'ahi o recrudescimento das queixas d^quelles

Brasileiros e de toda a provincia de S . Pedro do R io G ran de

do S ul , e o estado de excitaçào em qu e se acha hojP a

respectiva fronteira com o Estado visinho . O governo imp erial

tem feito os m aiores esforços para rem ov er as causa s d essas

justas queixas, mas inuti lmente. As providencias que como

satisfação ás ins tan tes e reitera das reclam açõe s dos ag ente s

brasileiros expede o governo da R epublica para coh ibir

tantas violências e atrocida des, são quasf sem pre illudid as.

O s seus autores, nà o p oucas «vezes os próprios chefes e d e -

35

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— m —

legados da policia, f icam im pu ne s ; e quando m uit o, e em

casos mu ito especiaes, são demitt idos sem nenh um outro ca s

t igo.

  Esta im pun idad e, a iuefficacia ou indifferença official

em assumpto tão grave é in toleráve l .

«  0 go verno imperial tem procurado, tanto qua nto é p o s

sível, na extensa fronteira que separa a importante provincia

do Rio Grande da Republica, prevenir que os resentimentos

degenerem em actos ofensivos emanados do território brasi

leiro; mas não lhe é dado exercer a mesma acção sobre os

subditos do Império que residem na Republica; sendo quanto

a estes indispen sável que o governo oriental , por actos sign if i

cativos, e medidas enérgicas, procure convencei-os de que

terão uma solução satisfactoria as suas justas reclamações, e

serão para o futuro respeitados os seus interesses e direitos,

aliás garan tidos pela própria con stituiçã o do Estado . F oi no

intu ito de evitar as con seqü ênc ias de tão critico estado decousas, que del iberou o governo imperial enviar uma missão

especial á R epu blica Oriental do Ur ug ua y. »

O B J E C T O D ' E S T A M I S S Ã O .

« E sta m issão confiada ao Sr. conselheiro José A ntônio Sa

raiva, tem por objecto conseguir por meios amigáveis do go

ver no da R epub lica Oriental do Ur ugu ay, a solução de va

rias reclamações importantes, que perante el le temos pendentes,

e a adopção de providencias e de med idas que e fic az m en te

protejam e garanta m no futuro a vi da , honra e propriedade

dos Brasileiros.

« O go ver no imperial estava no firme propósito de não

affastar-se da politica que até aqui tem seguido nas sua s

relações co m aquella R ep ub lica ; m as considerando atten ta-

mente a gravidade da situação, reconheceu ser chegada a

oceasiáo de exigir o cumprimento da referida obrigação, se

gura m ente com plehend ida na polit ica de neutralidade e ab s

tenç ão que adoptára. F azendo um ultimo appello -ao go ver no

da (R epu blica , no interesse das boas*relações entre os dous

paiíes, tem por fim o governo imperial obter:

« l .o O devido ca stigo, se não de todos, ao m en os dos prin-

cipaes criminosos qu e existem im pun es, ocoupando até alguns

d elle s postos no exercito orie nta l, ou exerc end o carg os c iv is

do listado.

« 2.°  A immediata destituição e responsabilidade dos agentes

de policia que tem abusado da autoridade de que se acham

revest idos . %

«   3.0   a  indemnisa ção da propriedade qu e, sob qu alque r

prete xto, tenha sii |o extorqui da aos Brasileiros, pelas auto ri

dades militares ou civis da Republica.

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« 4.°  Que sejam po stos em plena liberdade todos os Brasi

leiros, que h ouverem sido constrangidos ao serviço da s arm as.

« 5.°  A s con ven ientes ordens e instrucções aos diversos

agentes da autoridade, recommendando-lhes a maior solicitude

no cumprimento de seus dever

 es,

  communicando-lhes as penas

em que terào de incorrer se deixarem de tornar eífectivas as

garantias a que tem direito os habitantes da Republica.

<t  6.° O  tiel com prim ento do accordo celebrado e subs istente

entre o governo imperial e o da Republica, pelas notas re

vê rsaes de

  28

  de Novembro e

  3

  de Dezembro de

  1857,

  no

sentido de serem reciprocamente respeitados os certificados de

nacionalidade, passados pelos competentes agentes dos dous

governos aos seus respectivos concidadões.

« 7.°  Que os agentes consu lares brasileiros residentes na

R epub lica, sejam tratados co m a consideração e deferencia

devidas ao cargo que occupam.

« Está o governo imperial convencido de que o da Repu

blica, n ão podendo desconhecer o fundam ento e procedência

d'este ultimo reclamo, que amigavelmente lhe dirigimos, se

apressará a, corresponder com a solução desejada.

« São Sem duv ida melindrosas as circumstancias do governo

oriental, mas não é menos certo que nem ellas impossibi

litam a satisfação de nossas justas exigências, nem pode por

iss o o governo imperial prescindir do cum primen to do se u

rigoroso dever.

« A missão brasileira, com o se deprehende do qu e de ixo

exposto, é inteiramente pacifica; mas no intuito de fazer

respeitar o território do Império, e melhor impedir a passa

gem de qua esquer c ont inge ntes pelas fronteiras da p rovinc ia

do R io Grande para o gen eral F lores, resolveu o gov erno

imperial mandar collocar nas mesmas fronteiras uma força

su fic ien te , a qual servirá ao mesmo tempo para proteger e

defender a vid a, a honra e a propriedade dos subditos d o

Império, se, contra o que é de esperar, o governo da Re

publica, desattendendo ao nosso ultimo appello amigável, não

quizer ou não puder fazei-o por si próprio. »

t

EXPLICAÇÕES SOLICITADAS POR PARTE DA REPUBLICA ARGE NTINA S0B 1B

O

  ALCANCE DAS MEDIDAS EXTRA ORD INÁRIAS ADOPTADAS

PELO GOVERNO IMPERIAL.

« O m inistro d'aq uella republica acreditado n'es ta cor te,

invocan do a franqueza e lealdade do s4h gov erno , em relação

á presente situaçã o do E stado O riental do U ru gu ay , e reco

nhecendo que a nen hum govern o custara meno s corresponder

a estes sentim entos do que ao de Sua M tgestad e o Imperador,

pela elevação e lealdade que o dis ting uem , solicitou algum as

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explioacOes sobre o alcance da politica que ia desenvolver

n'aque lle Estado o m inistro brasileiro que acabava de ser

para alli nomeado em missão especial.

«

  O

  governo imperial não se demorou em satisfazer aos de se

jos assim manifestados por parte da R epublica A rgen tina, d e clarando franca e lealmente que nao tinh a outro objecto

aquella missão, senão realizar o pensam ento já ena un ciad o

pelo mesmo governo á A ssembléa Geral, o que mais de se n-

volvidamente exponho no presente relatório. »

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L I V R O Q U I N T O .

D I S C U R S O S D O S D E P U T A D O S N A S E S S Ã O D E

  mi

Tendo sido dissolvida a câmara dos deputados em Maio

de

  1 8 6 3 ,

  reunio-se a Assembléa Geral no  1 . ' de Janeiro

de

  1 8 6 4 .

O

  ministério presidido pelo conselheiro Zacarias de Góes e

Vasconcellos foi nomeado a  1 5  d'este mez.

A politica que seguio em relação ao Estado O riental foi,

nos primeiros mezes de sua administração, a mesma até então

seguida pelos anteriores ministérios.

Por espaço de doze annos, todos os relatórios do min is

tério dos negócios estrangeiros, repetiram como temos mos

trado,

  as mesmas offensas contra os Brasileiros residentes no

Estado Oriental; nunca os ministérios mudaram de politica,

ou trataram de remediar tão grande m al ; até que dous de

putados fizeram a exposição d'estes acontecimentos* de modo

t a l ,

  que obrigaram o governo a fazer alguma cousa a favor

dos que viviam sem protecção n'aquella R epublica. Foi a

primeira vez que no parlamento brasileiro se fizeram accu-

sações d'aquella ordem.

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106 —

No tomo 4 .° dos

  An n aes da Câmara dos Deputados

  d e 1864,

na sessão de

  5

  de Abr i l , l ê-se o seguin te :

« S egu nda par te da ordem do d ia. Ent ram em d iscussão

as in terpel lações dos S rs . Nery e .Ferrei ra da V eiga, a n n u n -

oiadas na sessão de 30 do passado, acerca das violências,

rou bos e perseguições c om me tt idas no Estado O riental pelas

autoridades civis e mil i tares da Republica, contra as pessoas

e propriedades de subditos brasileiros alli residentes.

«  O Sr. Ferreira da Veiga.

—Sr. presidente, o nobre ministro

de estran geiros , por occasião das inte rpe liaç ões feitas a S Ex ,

pelo meu dist incto col lega e amigo, deputado pela pro

v incia de S . Pa ulo , declarou á câm ara qu e a po l ít ica de

gov ern o imp erial , em relação á luta que di lacera o Esta do

O riental do U rug ua y nào podia ser outra sen ão de str icta

neut ra l idad e, mas qu e o governo imp er ia l t inha os o lhos

voltados para aque l le ponto da A me rica, onde existem m uito s

Brasi leiros, sobre cuja vida e propriedade c um pr e velar .

d

  Disse ainda S . Ex. , que o governo era sol icito em prom ove r

po r meio dos agentes diplomáticos as respect ivas reclamaç ões,

e -que em qu an to não perdesse a esperança de q ue este m eio

fosse profícuo, não podia recorre r a outro m ais ené rgico , m ais

positivo, e sem duvida mais efficaz.

« Disse ainda o nobre min istro , qu e a vinda do gen eral

Ne tto á capitai do I m pé rio, não devia fazer algué m crer que

podesse al terar , que podesse modificar a pol i t ica de neutra

l idade adoptada pelo governo imperial ; que aquel le dist incto

general veio a esta corte, como qualquer outro cidadão, em

caracter puramente par t icu lar .

« Declarou por u l t imo o nob re m in is t ro , qu e qua lque r

m edid a, qu e o governo julgasse de necessidade adoptar , prom p-

tamente ser ia communicada ao par lamento .

« Se eu julgasse, S r . presidente, que na luta t ravad a n#

Estado O r ien tal do U ru gu ay , não es tão com promet t idos m ui tos

e im porta ntes interesses de subditos b rasi leiros ; se eu não

soub esse qu e a necessida de de deffender a vida, a ho nr a,

  e

a propriedade, obrigou cerca de 2,£00 dos nossos concidadãos

al l i res identes a em pun hara m as arm as, tomand o ass im um a

parte act iva na guerra civi l que assola aquel le paiz; eu não

estra nha ria que o nobre m inistro nos declarasse n 'esta casa,

qu e a pol i tica do governo era de str icta n eu tra l id ad e;

  e

  e m

bora nào acredite na força magnética dos olhos de S. Ex. '

e dos seus col legas, eu co nte nta r-m e-h ia com

  a

  declaração

feita, de q ue o governo imperial t in ha os olhos vol tados para

aquel le ponto da America.

<c M as infelizm ente, sen hore s, eu sei qu e contra a asserç ão

do nobre min is t ro ,

  a

  v inda do g eneral A ntônio de S ouza

Netto a esta corte não foi a vinda de um simples cidadão;

o dist incto e bravo general , representando cerca de 40,000

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— 407 —

Brasileiros residentes no Estado Oriantal do Uruguay, cons

tituindo-se órgão de suas qu eixas, éco de seu s gem ido s, ve io

em,

  nom e d'elles representar ao g overn o imp erial .'contra as

violências e, attentados de que são victimas; veio saber se

esses  40,000  Brasileiros tem direito  á  protecção do Estado,

ou se devem só contiar em sua farça, em seu valor. O dis

tincto general veio a esta corte ver se pess oalm ente po dia

conseguir o que não pôde obter por meio de um a repre

sentação, que me consta foi dirigida ao governo imperial em

fins do m ez ;ie N ovemb ro por interm édio do digno Sr. Viscon de

de Abaeté; o intrépido Rio-grandense, veio talvez para declarar

ao governo que, se  40,000  Brasileiros residentes no Estado

Oriental do Uruguay, nào tem direito  á  protecção do governo

imperial, elles tem meios, tem recursos, tem força para se

prote gerem , para fazer justiça por suas próprias mã os.

« Já vê pois V . E x., Sr. presidente, que a vinda d'esse

bravo militar a esta corte não foi a de um simples cidadão,como nos declarou o nobre ministro. E estando elle entre

nó s ha m ais <|e um m ez, e tendo o nobre m inistro no s pro-

mettido, que qualquer medida que julgue de necessidade

adoptar, em relaçã o ao E stado Oriental do Ur ug ua y, prom p-

tam en te com m unicar ia á câmara, creio que presto um favor

ao governo, proporcionando a occasião opportuna para esta

declaração.

« Como V

n

  E x. , sabe, Sr. presidente, sou op po sicion ista;

não posso estar ao facto dos segredos das secretarias de es

tado;

  e não querendo pedir informações ao govern o por m eio

de requerimentos, por isso que, quando votados n'esta casa,

podem ter a sorte que creio teve um que foi apresentado

por um illustre deputado pelo R io Grande do Su l, o qual

mi  adoptado ha mais de um mez, sem que até agora pro

duzisse nenhum resultado; n'estas circumstancias eu tenho

necessidade de com m unica r á câmara o que se m e tem dito,

o que con tém essa representação, que foi dirigida ao gove rno

imperial pelo valente general Antônio de Souza Netto; tenho

necessidad e de expo r á casa, o qu e ten ho lido em um jornal

publicado rxesta corte, redigido por um dos nossos mais dis-

tincto s diplo m atas, e qu e tem perfeito con hec im ento dos factos

qu e se tem dado ultim am ente no R io da Pra ta, e de todas

as questões que abi tem sido debatidas.

« Sr. presidente, é fora de duvida que cerca de   2,000  Bra

sileiros se ach am em armas no Estado •Oriental do U rug uay ,

sob o mando do general Flores; não pense, porém, V. Ex.

que ell es foram levados a este acto de desespero, ou de cora-

ggm porque o partido colorado seja aqu elle qu e m en os hos til

se mostra para com o Império; não, como já disse, foi a

necessidade d e defender a vid a, a honr a e a propriedade, qu e

levou esses noss os conc idadã os a esse acto extrem o. E lles foram

arrastados a tomar tão audaz e arriscada deliberação, porque

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— ws —

com razão pouco, ou nad a dev iam espera r das reclam ações

feitas por interm édio dos nossos agen tes diplom áticos, as qu aes

tem sido sem n en hu m resultad o até hoje . e , pois . resolveram

appellar para o cam po da bat alh a, preferindo mo rrer abi  a

serem assassinados em suas próprias casas, depois de rouba

dos,

  depois de profanad a a hon ra de suas fam ílias.

« A lém de m uit os factos escand alosos, de m uit os crim es,

de muitas violências praticadas pela força do actual governo

da Republica Oriental do Uruguay contra subditos brasi lei

ros ,'"è qu e vem m encionad os no relatório de estrangeiros , sou

informado de qu e n 'es tes úl t im os tem pos outro s m uitos e

mais graves at tentados tem se dado n 'aquelle paiz .

« Eu sei, S r. presiden te, qu e o gene ral Netto é um d*a-

quelles que mais tem soffrido em sua propriedade; sei que

depois de sua partida para esta corte, foram acc om m ettid as

alg um as de suas e stâncias, e d'ellas ro uba do s m ais de 1.500

cavallos , e grand e q uan tidade de g ado , a m aior parte do qu al

era deixado m orto pelas estradas, t irando-se-lh e apena s as lí n

g u as .  Estes e outros actos de violência, estes e o utros cr i

m e s :

  estas e outras muitas provocações não puderam demover

ao valente general a annuir ao convite de seus amigos, de

seus antigos companheiros de armas, para se collocar á frente

dos brasileiros armados; que não confiando na protecção do

governo imperial, reccorreram á sua força, ao seu valor.

« Essas violências , S r . presidente, no Estado O riental são

qua si toda s com m ettidas pelos agentes officiaes, são co m m et -

tidas pelo exercito da R epu blica ; ás forças da lega lidad e se

at tr ibue a morte de muitos Brasi leiros , que são encontrados

decapitados pelas estradas, pelos cam po s, trazen do alg un s

d'elles por escarneo na boca o titulo de sua na cio nal ida de.

« S r. presiden te, esta que stão não é que stão de par tido.

V . Ex. vio que havendo eu ann un ciad o á casa estas in ter -

el lações, um honrado membro meu adversário, dis t incto

eputado pela província do R io Gran de do S ul , declarou

qu e também tinha de interpe llar o gov erno sobre m otivo

idênt ico . Eu comprehendo que es ta ques tão mais i n t im am en

te interessa á provim ia do R io G ran de do S ul : e, po is, de

bom grado entrego aos nobres depu tados por essa provinc ia,

o desenvolvim ento d 'es ta questão, que m e parece mu ito gra

v e ,  para a qual não vejo nenhuma solução satisfatória, por

qu an to respeitando a opinião au torisada do digno redactor

do  Espectador da America do Sul,  me parece, Sr . presidente,

qu e d*ella ha de vir necessariam ente, ou u m a gu erra civi l ,

o u u m a g u e r ra i n t e rn a c io n a l .

« S e o governo julga r que deve affastar-se da ne utr alid ad e

a  qu e se tem proposto, violando assim um com prom isso to

mado com a Republica Oriental do Uruguay, o Brasi l neces

sariamente terá d e lut ar com o govern o d*aquella R epu blic a,

e não nos i l ludam os, não estamos em 1850, n ào tem os a

1

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  J09

  —

situação econôm ica e financeira favorável de então , não temo s

boje os auxiliares poderosos que então encontrámos.

<< Mas se o g ov ern o imp erial julg ar que os recla m os de

40,000  Brasileiros existentes no Estado Oriental do U ru gu ay

nã o dev em ser attend idos, se julgar que essa grande fracçfto

da immensa familia brasileira nào tem direito á protecção do

E stado, então as relações de com m ercio, as relações de sa n

gu e, o espirito de nacionalidade, podem erguer um a luta

na provincia do R io Grande do Su l, cujos filhos sabem apre

ciar mais que tudo o valor e a honra.

« A im prensa d'essa provincia tem ligado a maior im po r

tân cia a esta questão ; peço permissão para ler á câmara o

trecho de um jornal que já chama a população do R io Gran

de ás armas.

« — M ais uma vez a primeira potência sul-ame ricana ultra

jad a, escarnecida, insultad a e provocada m il vezes pelo gover

no orien tal, por seu s decretos, por sua im pren sa, por seu s

m inistr os plenipotenciarios, por suas hordas de assassinos, por

seus alcaides, por todos e por tudo em fim ; mais uma vez

a primeira potência sul-americana foi humilde beijar a franja

do sangrento chiripá do gaúcho oriental.

« — M ais um a vez o Brasil hum ilhou-se, desfez-se em sa

tisfações, quando devia atirar a luva  á  face d'aquelle gov erno

falsário e perverso. E nv iou hu m ilde um m inistro para limpar

com as abas de sua casaca a poeira da secretaria de estran

geiros em M ontev idéo; quando devia enviar u m exercito

para proteger os interesses de seu s sub ditos , e derribar de

um a vez para sempre os tigres de Quinteros, que são in i

migos natos de todos os Brasileiros.

« — E o gabinete de S. Christovão se conserva surdo a

esse clamo r, despresa as reclamações do n osso va lente N et to ,

soffre calado os insu ltos da im prensa m onte vedia na, tolera a

emissão de decretos que manifestamente violam os tratados

existentes.  fjjjfc

« — E o gabinete de S. Christovão se conserva mu do e

quedo ante a desgraça de tantos mil Brasileiros, não compre-

hende, ou não quer comprehender a nobre missão que Deus

deu ao Brasil, fadando-o para ser a prim eira potência da

America do Sul.

« — Po br es comp atriotas que estais indefesos sem pro

tecção entregues ao furor dos vossos ve rd ug os Infelizes

40,000

  Brasileiros do Estado Oriental, que não tendes um

governo que faça respeitar o vosso direito  I  Não conteis com

o vosso paiz ; confiai em vó s, e só em v ó s Quando não

puderdes soffrer m ais a vexa ção a que estais exp osto s tom areis

as armas em vossa própria defeza, e á vossa frente en co n-

trareís o valente Netto í — »

« J á vê, pois , o nobre ministro que com razão eu m e

dirijo a V . E x. inquerind o quaes as providencias que tom ou

26

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o gov erno im perial á cerca das violências, roubo s e perse

gu içõ es com m et i idas na cam panh a do Estado O r ienta l do

u ru g u ay , pe las , au tor ida des da R epubl ica , cont ra as pessoas

e propriedades dos subditos brasileiros all i residentes, como

in d o foi representad o ao m esm o govern o, pelo gene ral A ntôniode Souza Net to .

Em Paysandú acaba de decl inar a honra de ser nosso

vièe-con sul n 'aquel le depar tam ento o d igno S r . Carne iro de

Campos, dec larando que não podia cont inuar n 'aquel le ca-

rac ter , porqu e nào t inh a coragem para presenciar as h u m i

lhações, as otfensas, os ultrages feitos a nossos patricios.

« A respei to do  3.°  ar t igo das minhas interpel lações, digo

ao nobre ministro que sei que nossas reclamações tem sido

sem ne nh um resul tado até hoje , e creio que assim con t i

nu ar ão , con t inuan do essa pol it ica de neutral ida de tão preco-

nisada por S. Ex.

« S ei qu e são estas causas accum uladas qu e tem levado a

2,000 de nossos concidadãos a esse acto de desespero, ou de

co rag em ; sei que são essas causas a ccum ulada s q ue tem pro-

du sido m uito s dos factos que acabo de expor á c â m a r a ;

ten ho pois direito d e perguntar ao nobre m inis tro , quaes os

m otivos qu e tem dem orado estas reclamações até hoje . S . Ex .

dev e con nece l-os, po rque S . Ex. nos declarou n 'esta casa qu e

o governo era sol ic i to em prom over as rec lam aç õe s; q ue

em qu an to não perdesse a esperança de qu e esse meio fosseprofícuo, não podia o nobre m inistro recorrer a outro m ais

enérgico, mais posi t ivo.

« Em que se funda, porém , a esperança do nobre m inis tro?

Interpel lo a S. Ex. para que declare á câmara para que pos

sam os apreciar a solidez de su as bases. Q uan to ao ulti m o

ar t igo , Sr . pres idente , coníesso a V. Ex . que quando soube

qu e o governo imp erial m and ara reprehender seriamen te o nosso

m inistro em M ontevidéo , só por ter e l le consent ido q ue o

bravo general N et to, se t ransportasse em um navio de gue rra

nacional de Buenos-Ayres para aquel la capi tal , f iquei acre

di tando que o dist incto Rio-grandense pouco ou nada devia

esp erar de u m gov erno assim tão suspeitoso em favor de

objecto de sua representação.

a M as essa representação ha de Ser a t tendid a na parte em que

pe de protecção para m ais de 40,000 Brasileiros, que se n â e

forem at tendidos pelo governo impe rial , ante o qual se apre sen

tam por meu in te rmédio , porque me posso const i tu i r repre

sen tan te d 'esses 40,000 compatr iotas no sso s; a provincia d e

R io G ran de do S ul , essa tào im po rtan te fracção da familia

brasileira, poderá se erguer toda inteira, para vingar os seus

direitos offendidos, na pessoa e na propriedade d'esses nossos

i r mã o s .

« S r . presiden te , a neutral idad e em face de um a gu err a

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travada entre duas nações, ou entre uma fraoção de um Es

tado e o seu governo leg itimo , ou legal, eu ten ho visto

aconselhada por estadistas européos e americanos e por publi

cistas notáv eis, e ten ho v isto posta em partica por ma is de

um governo justo e cauteloso. E

7

  assim que a Europa assisfio

impassivel á grande luta dos Estados-Unidos, ás invasões do

Piemonte, e ao externiinio atrocissimo dos Polacos.

« M as o que nen hum estadista, o que nen hu m publicista

tem aconselhado, nem poderá aconselhar, é que um Estado

se conserve tranquillo e indifferente, em stricta ne utra lida de ,

era frente do extermínio de seus concidadãos, praticado em

territó rio de um a nação amiga, ou qu e deve ser, porque a

sua independência e liberdade nos tem custado muitos sacri

fícios- de sangue, muitos sacrifícios de dinheiro.

« T erá, porém, o governo cumprido á risca essa ne utr al i

dade de que nos fal lou o nobre ministro? Será neutral idade

recommendar-se aos nossos agentes diplomáticos no EstadoO riental do U rug ua y, e ao presidente da provincia do R io

Grande do Sul, que procurem por todos os meios afíastar os

Brasileiros do exercito do general F lor es , sem qu e se reclame

em favor dos" nossos c om patrio tas qu e são co nstra ngid os a se

alistar no exercito da Republica? Será neutralidade tratar o

governo em suas notas e em seus officios como rebeldes aos

soldados do general Flores? Nào sabe o nobre ministro que

a m elho r força do gen eral Flores está n a sym pathia e adhesã o

que tem inspirado aos Brasi leiros?

« Pergunto ainda ao nobre ministro: reconhece S. Ex. como

legit imo o governo actual do Estado Oriental do Uruguay?

Nã o tem o no bre min istro noticia do manifesto feito pelos

senadores deportados?

« Não sabe S. Ex. das violências, dos excessos, das illega-

lidades e dos crim es com m ettidos, para que fosse eleito pre

sidente da republica o Sr. Aguirre?

a  T em calcu lado o nob re m inistro quaes serão as conse

qüências de uma victoria alcançada pêlo exerci to da Republica?

A caso não teme S. Ex. o  vm victis* dos vencedo res, e após

este grito de exte rm inio , os gritos e gem idos de 40,000

Brasileiros m orib und os? U m a consideração de tão grande

alcance parece-me que não deve ser despresada.

« Pa ra o gue tem servido, S r . presidente, a nossa diplo

macia no Rio da Prata? Qual a missão da diplomacia em

todos os pon tos do globo ? Que resultad os tem colhido e

nosso paiz da intervenç ão d'esses juiz es de paz das naç ões,

a

  que se ch am a embaixadores e plenipoten ciarios? Nã o servem

para e vitar a gu er ra , ne m para deífender os direitos e os

interesses dos nossos concidadã os 1

« S r. preside nte, dizem os publicistas— Si vis pacem para

W/iíJtt-—

quizera

  qu e o governo imp erial , de accordo com o

espirito ou com a letra d'este preceito, tomasse uma decisão

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digna e honrosa para o Império, na actual situação dos

negócios gravíssimos do Estado Oriental do Uruguay. Não

me pertence suggerir o alvítre que deva ser seguido; não

quero para mim nem a gloria nem a responsabilidade de

uma medida qualquer n'esta emergência diíficil. A soluçSo

pertence ao governo, porque o governo e quem dirige a

sociedade em sua vida interna, em suas relações internacio-

naes Cumpra cada um com o seu dever: eu creio que tenho

famprido com o meu. »

A i este discurso do digno deputado Ferreira Veiga, ao qual

não temos reflexões que fazer, porque  é  mais um documento

que apresentamos da inércia e da  bondade  dos ministérios

d'aquelle tempo, em relação á politica seguida ha muitos

annos para com as Republicas do Sul; respondeu o ex-ministro

de estrangeiros João Pedro Dias Vieira, o seguinte:

«

  0

  Sr Dias Vieira

— Sr. presidente, o nobre deputado

que acaba de fallar, sustentando as interpellações que dirigio

ao governo, entrou em uma serie de considerações, ás quaes

seguramente cumpre attender.

« V. Ex., Sr. presidente, e a casa sabem perfeitamente que

os Brasileiros residentes na Banda Oriental, não gozam em

toda a plenitude dos direitos que a própria constituição da

Republica confere a todos os estrangeiros.

tt As causas, porém, são antigas e graves, e para removel-as

tem o próprio governo imperial mudado de politica em tres

épocas bem distinctas e não mui remotas. Assim pelos mo

tivos especificados no manifesto que fizemos em 1851, o go

verno imperial tomou a resolução de intervir efficazniente na

politica d'aquellas regiões. Fez ainda mais, para salvar a in

dependência e a integridade do Estado Oriental do Uruguay:

havendo a este faltado o auxilio pecuniário da França, tomou

a si esse encargo. ,

a

  O resultado d'essa intervenção em que gastamos sommas

consideráveis, e em que correu o sangue brasileiro, afim de

conseguir-se para os nossos concidadãos alli residentes a se

gurança e as garantias que lhe eram devidas, e ao mesmo

tempo no intuiio de auxiliar o governo da Republica a cons

tituir-se em bases sólidas, que onerecessem garantias de ordem

a todos os seus habitantes, o resultado, digo, de todos esses

sacrifícios foi vermos quasi com pequenas modificações, o mesmo

tjatamento dado pelo governo e pelos povos d'aqueile paiz aos

Brasileiros residentes na campanha.

<c Em 1854, tres annos depois, ainda o  governo  imperial,

levado pelas mesmas considerações, teve de celebrar um ac

cordo com o general Flores, então presidente da Republica

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Oriental. As p romessas so lem nem ente feitas n

'esse

  accordo, no

sentido de se tornar efficaz a protecção aos direitos dos Bra

sileiros alli residentes, mais uma vez foram illudidas; tudo

continuou do mesmo modo.

« As reclamações d'esse segundo periodo tiveram pela maior

parte a mesma sorte que as do primeiro, e marcharam os

negócios de maneira que em

  1857,

  vio-se o governo imperial

forçado a mudar novamente a sua politica, e a concordar em.

que se inutilisassem diversos artigos do tratado de

  1851,

  què

eram relativos ao complexo de medidas tendentes a garantir

a paz, a ordem e a tranquillidade d'aquelle Estado.

« De então em diante continuando, por assim dizer, as cousas

do mesmo modo, julgou o governo imperial conveniente adoptar

a politica de abstenção completa nos negócios internos da Re

pub lica visin ha. E sta politica, além de outras razões obv ias,

era aconselhada pela necessidade de desvanecer apprehensões

e suspeitas que se manifestavam claramente em Estados cir-

cumvisinhos, e mesmo nos representantes de algumas outras

nações alli residentes, acerca das vistas do governo imperial

sobre aquella Republica, bem que se devesse conhecer que

os interesses do Império como os de todos, não podiam ser

outros se não os de manter a paz, a ordem e a estabilidade

das instituições da mesma Republica, condições indispensáveis

para a segurança da vida e propriedade dos seus habitantes.

« D 'este procedimento a que al iis o governo imperial até

certo ponto estava tam bém lidad o por ajustes intern acion aes

anteriores, não podia de certo affastar-se pelo simples facto

da luta civil promovida ultimamente pelo general Flores.

« A revolta do general F lores com eçou a manifestar-se em

Abril, ou M aio do anno passado. E' voz geral que d irigira-

se elle para Santa Rosa, e ahi encontrara contingentes, não

s6

  de Brasileiros como de Argentinos. Com esses contingen

tes encetou a luta.

« Logo* qu e con stou hav er F lores descid o para atacar o

Salto,

  o gove rno im peria l, posto qu e no propósito de nào

intervir nas dissensões intestinas da R epub lica, não hesitou

em expedir para aq ue lle ponto uma embarcação de guerra,

afim de dar a de vid a protecção e garantia aos sub dito s bra

sileiros alli residentes, fazendo ao m esm o temp o as con ve

nientes recomm eudaçOes á legação em M ontevidéo, para re

clamar com energia contra quaesquer vexa m es ou violê nc ias

que soffressem otf no sso s c on cid ad ãos .

« Outras naçõ es, a Inglaterra e a Confederação A rgen tiua,

procederam do m esm o m odo, mandando igualmente embar

cações de guerra para proteger os seu s respectidos sub ditos.

<f Pelo qu e toca á Confederação, a idéa gera lm ente aceita

da protecção dada a F lores por Buen os-Ayres, em con se-

uencia de acharem-se muitos argentinos envolvidos na luta,

eu lugar, pelo iacto do Pam pero , a sérias com plicações en-

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tre o govern o argentino e o oriental, qu e felizmente consta

haverem terminado pela mediação do ministro ingle z, o Sr.

Thornton.

«

  O  governo imperial então foi convidad o pelo do U r u

gu ay , e por m ais de um a vez para intervir, considera ndo

este chegado a hypothese dos tratados, por julgar qu e se

attentava contra a autonomia da mesma republica.

«

  O  governo im perial, n ão obstante, con tin uo u na su a

politica de neutralidade, e unicamente pe

l

os meios d iplomá

ticos tratou de pôr-se em communicação, quer com Buenos-

Ayres, quer com o governo de outros paizes , igualmente in

teressados na sorte d'aquella repub lica.

« Quando do Salto passou F lores para Pa ysa nd ú, tam bém

ma ndam os para lá o contingente de um a corveta, que foi a

Belmonte,  no intuito de prestar aos Brasileiros a protecção de

que carecessem.

« A câmara não ignora qu e. o gov erno imperial, pelos

m eio s a seu alcan ce, tratou de fazer persuadir aos Br asi lei

ros que se achavam com as armas n a mão na cam panh a,

qu e desistissem d'esse em pen ho, que elle cuidav a da seg u

rança de suas pessoas e propriedades, e que o facto de esta

rem com as armas empun hadas difficnltava o dese m pen ho

de sua missão.

« D eixo ao critério da câmara a apreciação  £ 0   escrúpulo

com que em taes circumstancias cumpria ao governo impe

rial proceder afim de arredar de si as susp eitas qu e ha via m

recanido sobre o da Confederação A rgentina. N o entr etan to

é fora de duvida que o go verno impe rial, apezar de tu do ,

quando soube que entre os vencidos algu ns brasileiros tin ha m

sido fuzilados, não hesitou em reclamar im m ed iata m en te,

allegando q ue era um acto de barbaridade, um acto de sh u-

m ano ,

  o que se praticara ; e ainda posteriorm ente tev e de

reclamar a favor de Brasileiros, aliás envolvidos na luta, tendo

algumas d'essas reclamações sido attendidas.

« A ntes da vinda do Sr. brigadeiro N etto a esta corte,

o gover no imperial já estudava os m eios de proteger os in

teresses dos su bditos b rasileiros na cam panh a orien tal, sem

que ao m esm o tempo d'esse azo a que se dissesse que elle

abandonava a politica de neutralidade, que havia proclamado.

« Quando aqui chegou esse general para trazer ao co nh e

cim ento do gov erno imperial algun s factos no intuito d e j u s

tificar o .proce dim ento dos Brasileiros, que hav iam recorrido

ás armas arrastados pela força dos vei a m os e violên cias qu e

se commettiam na campanha, contra suas pessoas e pro

priedades, o gov ern o imperial m andava ao mesm o tem po

organisar um quadro de todas as reclamações feitas desde

18 õl, com declaração da solução qu e tiveram, afim de firmar

melhor o direito da nova e m ais positiva rec lam ação que

tinha de dirigir ao governo da R epu blica, no interesse de

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con ven eel-o de que se reprova e conde m na que os Brasi

leiros intervenham nas lutas e dissensõ es intestinas da m esma,

Republica; nào está disposto a tolerar que sob esse pretexto

se pratiquem vio lên cia s e atrocidades, e fiquem sem protecção

e sem g aran tia, a vida, a honra e a propriedade dos sub ditos

brasileiros alli residentes.

« Senhores, o governo imperial, comprehende bem que deveolhar para a luta actual da republica visioha, não só consi

derando a protecção que lhe cumpre dar aos Brasileiros alli

residentes, como também attendendo á influencia que essa

luta pode exercer na provincia do Rio Grande do Sul.

ç<

  H oje é fora de duv ida qu e seguida a luta como está

sen do , por essa guerra de recursos, com o lá a den om ina m ,

é bem provável que se torne duradoura. A gue rra da espécie

de que se trata occasiona freqüentes movimentos de tropas,

e esse estado de cousas não pôde deixar de influir pod ero

sam en te nos Brasileiros al li residentes, ou seja porque se

vejam forçados, contra a sua von tade , e por ven tura para

salvarem a sua propriedade, a darem auxilio aos be ilig e-

rantes, o u seja porque estes fazem imp osições a que elle s

irremediavelmente tem de sujeitar-se.

« N'estas circumstancias entende o governo imperial que é

in dis pe ns áv el reforçar as suas fronteiras, e chamar m ais ser ia

m en te a attenção do gove rno oriental para o que se passa

na campanha.

« Por este modo poderá o governo imperial, não só habi-

Ktar-se para evitar violações do nosso território, como se tem

dad o, pela força revo ltosa, com o tamb ém im pedir a passagem

de contigentes brasileiros para a campanha, accrescendo que

assim licará igu alm en te h abilitado com o s precisos m eio s

para proteger os interesses brasileiros, dado o caso, que

aliás não espera, de ser infructifero o ultim o appello am igáv el

que vai fazer ao governo oriental.

« Estou persuadido de que se a posição que vai assumir

o gover no imp erial, e que lbe é imposta pelas circum stancias,

fôr acompan hada do desarm amen to dos Brasileiros, con scios

de que o mesmo governo occupa-se seriamente dos seus di

reitos e interesses, serão satisfeitas com mais facilidade e semgrande sacrifício para o paiz , as repre sentações e que ixas

dos subditos do Império.

« Se , poré m , isto não se verificar, não é m eno s certo, que o

governo imper ial ha de ir por dian te, com o lhe cum pre, e

nào pôde deixar d e fazer ; embora sem a esperança de qu e

a interven ção seja coroada de resultado feliz e dur adou ro,

attenta a experiênc ia do passado. A historia d'aq uellas

regiões con ve nc e-m e d'esta verd ade.

« A intervenção á força p ói e aproveitar n o mo m ento dado ;

m as depois as cou sas continuarão do m esm o m odo, e cons

tantemente teremos de no s vôr alli a braços com difficul-

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-

  \\7 -

N*esi£  â w u r s o  diz  o  ex-ministro  do estrangei ros Dias  Vieira,

q u e

  a

  potitioa que o

  governo imperial continuava a seguir era

a de abstenção completa nos negócios da republica visinha;

que.  todas as reclamações sobre violências contra os subditos

brasileiros foram sempre ílludidas. Diz que o governo impe

rial, soube que alguns Brasileiros foram fuzilados, e que logo

não hesitou em reclamar immediatamente, allegando que  e r a

uma barbaridade; e n'essa reclamação ficou toda a energia do

governo imperial; que mandara organisar um quadro de todas

as reclamações feitas ao governo da republica desde

  1 8 5 1 ,

para melhor firmar o seu direito, para nova e mais positiva

reclamação. Disse, que a intervenção á força pôde aproveitar

no momento dado, mas que depois as cousas continuavam no

mesmo estado. Desculpou o governo da republica que não

se podia consolidar, e por isso não podia responder aos go

vernos estrangeiros pelas extorções e violências que se com-

mettiam nos seus subditos. Que é necessário que o governo

faça um estudo mais apurado do que tem feito até agora

sobre o mal, para que tenha por resultado medidas que ga

rantam para o futuro a vida, a propriedade e a honra dos

Brasileiros alli residentes.

Foi em Abril de  1 8 6 4 ,  isto é , depois de terem passado mais

de 10 annos que os Brasileiros estavam sendo massacrados no

Estado Oriental, que um ministro de estado disse que devia

continuar o systema de neutralidade. A câmara dos depu

tados d'aquelle anno, á excepção de poucos membros, ficou

satisfeita com as explicações que deu o ministro Dias Vieira»

para desculpar o  gove r n o  imperial do seu procedimento para

com aquella republica, e convencer a câmara de que a po

lítica seguida até então era a melhor; a mesma politica que o

gabinete de 15 de Janeiro tinha herdado dos ministérios an

teriores.

  Estando conhecida a política de todas as adminis

trações  desde 1853 até 1864, em relação ao Estado Oriental,

dírefmos que, sabendo o governo imperial o que gse  passava

n o   Estado Oriental com os Brasileiros alli residentes, logo q u e

a s

  primeiras reclamações nào fossem  at t end ida s; devia  intèrvit

aet ivamente

  para obrigar ao governo

  d e

  Montevidéo a

  c u m -

37

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prir com os devores de nação civilisada; com este compor

tamento tinha o Império ficado mais respeitado das outras

R epublicas, o soffrimento ou a desgraça dos Brasileiros

naquella Republica tinha parado ha muitos annos.

Se esta politica tivessse sido segu ida pelo governo do I m

pério desde que terminou a campanha contra Rozas, que tanta

força moral deu ao Brasil, não tinham sido os Brasileiros

fuzilados e degollados pelas autoridades policiaes do Estado

Oriental, para se apoderarem do que elles tinham, pois que

foi sempre o fim que tiveram as perseguições feitas aos Bra

sileiros; não tinham os soffrido um a guerra de cinco an no s,

e ficado o Império reduzido á miséria publica pelos impostos,

falta de meios de subsistência, e deminuição de população.

Às administrações passadas nunca quizeram seguir a poli

tica que adoptou o governo do Principe D . João para com

a Republica do Uruguay, ou por ignorarem o que então se

passou, ou por ir resolução, vacillando sobre o que deviam

fazer, e deixando que continuassem as desgraças a que es

tavam sujeitos o s ' sètis concidadãos, do modo porque o de

clararam todos os ministros de estrangeiros rios seus relatórios..

Causou admiração um tal procedimento dos ministérios do

Império á vista dos factos expendidos; os quaes não se

podem ler sem ' se sentir um a commoção de horror contra os

perpetradores de tantos crimes, que ficaram e ficarão im pu ne s.

Ao discurso do ex-ministro dos negócios estrangeiros, se -

guio-se outro do deputado Nery, que é um documento jus

tificativo do que temos exposto até esta época, o qual a qu i

copiamos.

« O Sr .

  Nery

:

  —

 S r. presiden te, folguei de ouvir agora na

contestação que S. Ex. deu ao iílustre deputado por minas-

Geraes, ter ouvido a S. E*. a confirmação. d'aquiilo que a

confiança que deposito no patriotismo do actual gabinete,

tinh a anticipado na minha convicção; isto ó, a crença de que

o gabinete actual trata seriamente de remover os males* qu e

afüigem o% Brasileiros sesidentes no Estado. O riental, e d e

fazer assumir a politica do Im pério, aquella politica digna

e altiva a que a nossa posição na A merica do S ul e os

nossos brios uacionaes não tem somente direito, porém dãoo caracter de verdadeiro dever.

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— I I I —

cc S , Ex . por ém , p areoe-me ter man ifestado alg um receio,

de que um a poli t ica posi t ivamente enérgica traga os incon

venientes que enxergou no * má o êxito das intervenções de

1851,

  e nos auxílios de  .1854.

« S . E x. recorda ndo essas dua s paginas da nossa historia,

tirou d*ellas a co nse qü ên cia, de que tantas vezes qu an tas o

Brasi l tem lançado o peso da sua espada na s lutas da R e

publica Oriental, para proteger os legítimos interesses dos

Bra sileiros alli re sidentes, o resultado tem sido sempre contra

pr od uc en te ; é porq ue a politica im perial n'essas duas occasiões

nã o quiz ser conseqüen te comsigo m esm a, e recuou diante

do seu próprio pensamento; sendo o governo imperial o pri

m eiro a falsear a obra a qu e parecia ter hypotnec ado todo

o poderio do Im pé rio. E ' um facto histórico que está na

lembrança de toda a casa, qual foi a maneira porque se

falseou o resultad o da nossa interven ção em 185 1.

« Parece incr ível que quando o Império punha em marchatodas as suas hostes para derrocar, não simplesmente um ho

m em , porém u m systema, pa ra acabar com a barbara poli

tica que tin ha levado o gen eral O ribe ao pé dos m uro s de

M onte vidé o, lhe entregássemos no fim da luta o poder; que

deixássemos na s mã os não dò mesm o indivídu o, porém da

mesma politica, do mesmo systema, toda a autoridade que

tín ha m os ido arrebaáarvihe. M entimos á missão que nos ha

víamos imposto, t raiamos a confiança dos que nos haviam

cham ado

« O que para mim é patente, é o íacto singular de que no

momento em que o governo brasileiro parecia levar a força

e prest igio das armas imperiaes para sustentação d 'esse go

verno, as tropas brasileiras se fechavam dentro das quatro

pare des dos seus q uar téis, em qua nto me ia dúzia de patriotas

derríbavam a própria autoridade que t inham ido manter.

« O que resultou d 'esse proceder? Algumas dezenas de pa

triotas, algumas dezenas de homens a quem respeito e venero,

porque procederia como elles, se como elles eu fosse Oriental,

conseguiram abater o governo da Republica, diante da divisão

brasi leira que o t inha ido auxil iar .

« A inda a qu i qu al foi a acção da intervenção brasileira?

Nulla, como da primeira vez, tornou-se a fechar dentro dos

quartéis; e não o digo em estylo figurado, porém tal qual

o que fazia-se e aconteceu; porque de conformidade com   a

política do nosso governo, as próprias sentinellas foram fe

chadas no interior dos prédios, para evitar-se até a sombra

de um confl icto.

« Flores

  a

  seu turno t r iumphou; a revol ta baqueou diante

da oolligação dos dous generaes, como ante ella baqueara pré-

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— 42i —

Nào é o pu nh al do siçarip ferindo nas trevas e a hora s

po rta s, o desarmado peito de sua victima ; é sempre a es

pada dos agentes da lei, rasgando em nom e d'esta o coração

de nossos conterrâneo s, e abrindo-o covarde, traidora e a 1 eivo-

samente, depois de presos e amarrados pelo prestigio da sua

autorid ade , ou lançando-se dez contra um , a titulo de reprim ir

crimes imaginários.

« No enta nto compulsei cuidadosam ente uma longa serie

de relatórios da nossa secretaria de estrange iros, e nã o

encontrei um só exemplo de reparação completa, um só

caso qu e fosse de satisfação con digna. As reclamações passam*

de um para outro anno, perpetuando-se

  n*

 um a discussão

estéril ; nossos ministros transcrevem uma por uma as notas

mais ou menos energidas da legação brasileira, e as contes

tações cavilosas, dúbias, ás vezes mesmo sarcásticas, irônicas

do governo oriental, que declina de hoje para amanhã, ora a

satisfação , ora a explicação de tudo ; até que afinal fatiga-se

a diplomacia, cansa d'essa luta, esquece-a e dormindo no

caso,

  deixa esmorecer a reclamação, e finalmente perde-a, e

desapparece do histórico dos relatórios.

« M ais de u m exemplo d'estes podem verificar os m eus

iilus tres collegas n a collecção de relatórios da secretaria de

estrangeiros; mais de uma vez hão de encontrar casos de que

se occupa o governo d ous ou tres annos seguidos, reclam a

ções muitas vezes pendentes, sobre um crime horrivel, e que

acabam por desapparecer, por ser postas á margem, sem que

se saiba se a nossa legação foi satisfeita. »

Além d'esta parte do discurso do deputado Nery, que aca

bamos de transcrever, pron unciado também no dia 5 de

Abril de 1864, continuou o dito deputado, a fazer descripção

de m uit os assassinatos de Brasileiros, perpetrados só por serem

d'esta nacionalidade; alguns dos quaes já nós fizemos menção

no livro T. Apresentou os mais celebres em atrocidades, das

autoridades orientaes, que maiores males fizeram aos Bra

sileiros ; m encio nou o facto de serem que im ada s 15 proprie

dades brasileiras no districto de Taquarembó, ficando as fa

m ílias privadas do único abrigo que tin ha m ; e o governo

oriental nenhuma satisfação deu ás reclamações da nossa le

gação.

« Soffriam e não encon travam allivio; invocavam o a m - 1

paro da m ãe — pá tria (diz o deputado Nery), e a m ãe— pátria

não podia, ou não lhes sabia valer. Homens corajosos, ho

m ens de brio, ho m ens de gue rra, fácil era que olhassem para

o seu lado esquerdo, fácil era que requestassem a espada,

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— 122 —

que tantas vezes menearam, e que ao primeiro sopro procla

massem a guerra e a ving ança. »

Faz a descripção da en trad a do ge ner al Flo res no Es tado

Oriental, mostra como as perseguições feitas aos Brasileiros,

obrigavam estes a procurarem a protecção d 'aquelle general ;

e d 'este modo augm entara m -se as su as forças . A o que diss e

ram os deputados Ferre i ra d a V eiga e Nery , convém a juntar

o que expendeu o deputado Barros Pimentel sobre as obser

vações do ministro de estrangeiros, á vista do modo porque

tem sido tratados os nossos negócios no R io da Pr ata . As

partes m ais notáveis do seu discurso é o qu e se s e g u e :

« Nu nca, applaud i a m an eir a pela qu al tem sido dirigida

a politica do governo imperial, em relação ás republicas que

nos f icam ao S u l ; sempre a considerei vacil lante, tendo por

norma a inconsequencia e a fraqueza. Para demonstrar os

fundamentos d 'es te juizo, peço l icença á câmara e ao nobre

m inis tro dos negócios es trangeiros , para ju nt ar ao his tórico,

que S. Ex. acaba de fazer, da politica brasileira no Rio da

Pr a ta , a lguns rápidos com men tar ios . Par t io-se sempre de um

equ ivo co; tem entendido o governo brasi le i ro que devia es

tender á R epubl ica do Uru guay especia lmente , o mesmo

proceder elevado e nobre que tem t ido com outras p otências ,

r íã o via , não qu eria ver que tratávam os com povos m uito

menos civi l isados, que nunca souberam aquilatar a generosi

dade do nosso procedimento , qu e sempre procuraram a t t r ibui r

aos actos do governo imperial uma segunda intenção, incom-

pativel com um governo que se presa .

« Nã o m e re m ontar ei á época da separação da prov incia

Cisplatina; sendo certo que muito havia a dizer, e que desde

en tão nu nc a m ais hou ve socego pa ra os povos do sul do

Im pér io. T om em os os factos desde quand o começou a apre -

cial-os o nob re ministro dos negócios estrange iros. N ing uém

se pôde ter esquecido da lingua gem desabrida, de qu e con tra

nó s semp re se serviram os nossos visinhos. A inda es tá viva

a lem bra nç a das no tas insolentes e ameaçadoras q ue n os di

r igira o representante do dictador R osas . ' S abem os a despeito

dos tratados, especialm ente da convençã o pre lim inar da paz

de 27 de A gosto de 1828, pela qual a In gla terr a, a Jfran ça

e a Confederação A rgentina se comp rom etteram a sustentar e

defender a independência de Montevidéo; quantos meios ca-

• yilosos emp regou o g over no de Bu enos-A yres para despojar*

nos do direito de garantia e de viçilancia sobre o novo 'Es

tado,

  e dom inar seu governo. Felizmen te aos olhos, do go

ver no im peria l, não se pô de occultar o desígnio do dictador,

qu e sendo ambicioso e de alg um gên io, pretendia absorver

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todos   Q S   Estad os do R io da Prata . Gomo via no Brasil um

obs táculo a seu s plan os, con tra o Brasil dirigi o su as setas.

Conhecemos os meios de que para esse fim se ser  vio.  Annos

depois de ter descido da cadeira presidencial o general Oribe,

sem ter concluído o tempo da sua presidência, vendo Rosas

qu e não podia exercer com a ordem de cousas então exis

tente, uma influencia directa e immediata sobre o Estado

O rien tal, arm ou o braço de O ribe, e env iou-o á conquista de

M ontev idéo. Ne nhu m de nós é tão moço que se n&o re

corde das depredações e morticínios praticados nos cam pos

orie nta es, por ond e O ribe passava; qu al novo A tilla, como um

üag ello talando , incendian do e assassinando. Nao tardou q ue

puzesse em assedio M ontevidéo.

« M as R osas receiand$ enc ontra r difficuldades nas potências

sig na tária s da con venç ão de paz de 1828, conseguio descartar-

se da interv ençã o da Fran ça, e em seguida da In glaterra.

M as os interesses da In glaterra e da França não são os m es

mos que os do Brasil. O Brasil é potência confínante, tem

direitos e deveres especiaes a cumprir .

« L ogo que o dictador engodou aquellas potências, com

promessas de aberturas de r ios, e tc , entendeu que se appro-

xiniava o dia tão desejado de transportar suas forças para os

campos do Rio Grande .

o   Felizmente, n'este estado de cousas, tivemos um ministro

patriota , qu e bem médio a situação e com prehendeu qu e a

abstenção absoluta, que se tinha arvorado como politica per

petu a, já não era só um erro , era um cri m e; por conse

guinte, resolveu intervir no Rio da Prata .

« M as tirou o Brasil as vantagens que devia esperar de.

tan tos sacrifícios ; foi a politica im perial tão hab ilm ente en

cetada, conv enientem ente concluída ? E' o que v amos ver .

S abe-se qu e dem os a U rquiz a o comm ando dos exércitos. Não

en tro no jul ga m en to d'esta concessão. Partiram os dous ge

nerae s, um de 'Entre -R ios, e outro do R io Grande do S ul .

Em qu an to o nob re M arquez se dir igio para o R io Negro, as

com m unicaçõ es, os correios se cruzavam constantemente . No

di a em qu e o gen eral brasileiro passou o R io Negro, deixou

de receber despachos do general entrerian o. O s seus agen tes

iam e não voltavam. E' que Urquiza assim que teve certeza

de que as forças do Brasil haviam passado aquella linha,

qu e lhe gua rdava a retaguarda, não se imp ortou m ais com

o general brasileiro.

« Não tem endo m ais o inimigo correu-lhe ao encontro, e

alcançando-o a ssign ou a nefasta capitulação do P ant ano so.

Significa esta celebre ca pitulação, o recon hecim ento de que

nao havia vencedores nem vencidos, o reconhecimento ainda

de todas as posições, de todos os direitos ad qu irido s, um

amplexo  fraternal, a sancção em fim da revolução feita por

Oribe.

  In dig na do o g en era l brasileiro da precipitação e da

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m á fé do argen tino, arg ue -lhe a inconv eniência do ac to :

O argentino escusa-se com o desejo de evitar derramamento

de sangue. O general brasileiro subscreveu á capitulação.

Não sei se haveriam m uitos generaes qu e t ivessem tan ta

m a gna nim ida de . A inda * não é tudo ; o nosso ple nip o

tenciar io, o fal lecido M arquez de Pa ran á, acom panh ou o

nosso gen eral, e recon hec eu a cap itulaçã o Eis um dos erros

mais fataes de nossa politica no Rio da Prata. E' elle in

questionavelmente a or igem das desordens que hoje de

ploramos .

« Gom a capitulação voltaram os b atalh ões de O ribe a

concluirem   como  legaes a obra da devastação, qu e como re

beldes haviam incetado nas provincias do interior. Com ella

foi derribado o heróico governo da*praça, e se Oribe não

pôde entra r, m an do u em seu lugar seu ex-ministro, Giro.

Com a capitulação do Pan tano so dem os a victoria aos nossos

inimigos, e arreamos do poder aquelles que por tanto tempo

protegem os. A penas instalou-se o novo go verno, exigio o

nosso plenipotenciario que fossem ratificados os tratados cele

brados du ran te o assedio. P ara esse povo sem g ratidã o, o

seu primeiro acto foi negar a ratificação a esses tratados. Foi

preciso toda a energia do M arquez de Para ná, para por me io

de um convi te comm inator io ch amal-os a seu de ve r : ou

ratificação, ou entrada de nossas forças na praça. Entretanto

cu m pre nã o desconhecer , era isso a cons eqüê ncia de u m

erro d 'essa poli t ica sem rumo sem unidade. Passada a efer

vescê ncia, outro s ajustes foram celebrados no int uito de de sen

volver as bases a w tratados de 1851, e com todos usa ram

. nossos visinho s da mesm a má fé, e nós da mesm a sim pli

c idade .  H

« Não obstan te tanta s decepçõ es, a solicitações de u m ca u

dilho feito presidente, lá fomos outra vez com o nosso exer

cito e com o nosso dinheiro. Não careço recordar á

câm ara as chican as e subterfúgios emp regados com o tratado

de lim ites, com pe rm uta s de território, etc. Bem fresca a ind a

está a historia dos tratados de  4  de S etembro de 1857. E ram

dous tratados, um de commercio e outro de l imites . Estava

estipulado qu e um não podia ser executado sem o ou tro. E ogo vern o da repu blica ratificou o prim eiro, e n egou a ratifi

cação ao seg un do . V im o-n os afinai na necessidade de su s

pender um e outro .

« O ra, senhores, qua ndo temos a tratar com u m gov erno

d'esta ordem, devemos levar nossa condescendência a ponto de

nos tomarem por f racos ou por néscios? Ainda não é tudo;

e este facto a q ue vou all ud ir revelia nfio m eno s a m á fé

d'esse govern o, como a ingen uidade do nosso. Com prom etten-

do-se as potências s igna tár ias da convenção prelimina r de paz

de 1828, a sust ent ar e g arantir a indepe ndênc ia do Estado

O rienta l, firmar as condições n 'u m tratado definitivo , o Brasil

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— 125 -

por motivos a que não posso attingir, sempre instou com

M ontevidéo a concorrer para reaíisar-se aquella promessa; até

que em fim,  3 0  annos depois, celebrou-se o tratado, com que

mais que ninguém tinha Montevidéo a ganhar, e só por pa

recer obra do Brasil nao foi ractiticado.

« A* imitação do Estado O riental, o Paraguay e a Confe

deração Argentina tem escarnecido da nossa boa fé, e faltando

a seus compromissos tem-se collocado em posição pouco

digna de nações civilisadas. T emos ainda presentes os successos

lamen táveis de um a infeliz aventura no Paraguay, afim de

pedir satisfação por passaportes enviados ao nosso encarregado

de negócios. N'esta occasião lamento, como um nobre depu

tado,  a mesquinhez de nossos relatórios, que apenas dão os

factos, sem trazerem a explicação d'elles. »

Depois do fallar na missão de Pedro Ferreira d'01iveira ao

Paraguay continua':

« Senhores, se as scenas que desenrolou o nobre deputado

pelo Rio Grande do Sul, nos enchem de horror pelas atroci

dades que as acom panharam , esta nos enche de indignação,

porque uma nação altiva como o Brasil, foi escarnecida por

meia dúzia de H espanhóes nas margens do Pr a ta ; elles •  ; J |

tiveram a habilidade de conservar nosso plenipotenciario durante

seis mezes, até as águas baixarem. Mais de uma vez, a

no bre oficialidade teve de corar d'esse papel aviltante que

se estava representando, e d'essa politica de condescendência

que nos levava a sacrificar a nossa dignidade de nação.

« Quanto á Confederação, o mesmo resultado, as mesmas

duvidas, a mesma falta de compromissos, de pagamento de

subsídios, etc.

« A* vista do que acabo de expor, da má vontade d'esses

povos, e dos péssimos resultados que temos tirado d'essa poli

tica demasiadamente condescendente, não podemos deixar de

mudar de rumo; e estas considerações sobem de ponto em

relação a Montevidéo, que

  pelos* «eus

  hábitos tradiccionaes de

derram am ento de sangu e, pela ^sua ingratidão, pela ausência

de um typo nacional, pois dous terços da sua população sãoestrangeiros pela instabilidade do seu governo, não tem de

nação senão o nom e. Um paiz cujo governo não tem acção

quatro léguas além de sua sede, que tem em sua capital,

pub licam ente protegida, um a comm andita destinada a fabricar

títulos de dividas de Brasileiros, títulos falsos ; em um paiz onde

nada. pertence á nação , porque tudo está ou hypotecado por

uma eternidad e, ou definitivamente ven dido ; onde só a ca-

thedral não está allienada; d'onde a fé publica desappareceu

 ;

 um

paiz d'estes, é antes um a negação de nação, do que um a

nação; é uma ficção dos tratados.

« E pois, entendo que com o governo de Montevidéo não

2 8

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— 126 —

p o d e m o s t er a m e s m a p o l i t ic a q u e c o m a s ' n a ç õ e s c i v i li s a d a s .

P a r a a b i a c ç ã o e n é r g i c a - d a d i p l o m a c i a , e f o r ç a ' p a r a n o s f a

z e r m o s o u v i r . »

O r e s to d o d i s c u r s o d o d e p u t a d o B a r r o s P i m e n t e l , n ã o p r e

c i s a s e r a q u i c o p i a d o , p a ra c o r r o b o r a r a s n o s s a s a s s e r ç õ e s .

F o i n e c e s s á r i o q u e n a s e s s ã o d e 5 d e A b r i l d ' e s se a n n o

e s t e s d e p u t a d o s , c u j o s d i s c u r s o s ficam t r a n s c r i p t o s a c i m a , t o

m a s s e m a d e l i b e r a ç ã o d e c h a m a r a a t t e n ç ã o d o m i n i s t é r i o d e

1 5 d e J a n e i r o d e 1 8 6 4 , p r e s i d i d o p e l o c o n s e l h e i r o Z a c a r i a s d e

G ó e s e V a s c o n c e l l o s , p a r a o s a t t e n t a d o s q u e s e p r a t i c a v a m

c o n t r a o s B r a s i l e i r o s d o m i c i l i a d o s  .n õ E s t a d o O r i e n t a l .

IN Pessa o c c a s i ã o o m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s . J . P .

D i a s V i e i r a , a l é m d o q u e j á m e n c i o n a m o s , a i n d a d e s c u l p o u o

g o v e r n o i m p e r i a l c o n f o r m e p ô d e , « d e c l a r a n d o q u e n ã o e r a d e

o p i n i ã o h a v e r i n t e r v e n ç ã o d i r e c t a n o s n e g o c i e s d o E s t a d o

O r i e n t a l d o P a r a g u a y . A i n t e r v e n ç ã o á f o r ça p o d e a p r o v e i t a r

n o m o m e n t o d a d o ; m a s d e p o i s a s c o u s a s c o n t i n u a r ã o d o

m e s m o m o d o , e c o n s t a n t e m e n t e t e r e m o s d e n o s v e r a l l i a

b r a ç o s c o m d i f f i c u l d a d e s . A c â m a r a n a o i g n o r a q u e a t é c e r t o

p o n t o e x i s t e a l l i u m a n t a g o n i s m o d e r a ç a s , e q u e a q u e l l a

R e p u b l i c a v i v e p o e i s s o e m c o n t i n u a a g i t a ç ã o . »

D e p o i s d o q u e s e p a s s o u n a c â m a r a d o s d e p u t a d o s , r e s o l

v e u - s e e n t ã o o m i n i s t é r i o d e 15 d e J a n e i r o m a n d a r o c o n s e

l h e i r o J o s é A n t ô n i o S a r a i v a e m m i s s ã o e s p e c i a l a M o n t e v i d é o ,

d a q u a l v a m o s t r a t a r .

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— 428 —

« Triste e desesperada tornou-se com effeito a sorte dos

nossos compatriotas, e a noticia dos seus soffrimentos exci

tava o clamor geral do paiz.

« Não podia, pois, o governo imperial prescindir por mais

tempo de intervir prompta e efficazmente em defesa de tãosagrados interesses, a despeito mesmo da situação excepcional

em que pela guerra civil achava-se collocado o governo da

Republica.

« Foi sob estas inspirações que o S r. conselheiro Saraiva

apresentou em   1 3 de M aio do anno passado as suas creden-

ciaes ao governo de M ontevidéo, declarando-lhe n'essa occasião

que só a adopção de uma politica previdente e com perse

verança executada, conseguiria dissipar todas as causas pró

ximas e remotas que no futuro poderiam perturbar as boas

relações que o governo imperial tinha a peito cultivar com

a Republica.

« Desenvolvendo este mesmo pensamento, o Sr. conselheiro

Saraiva, em sua primeira nota datada de

  1 8

  do citado mez,

disse ao governo oriental que, para obter-se o fim desejado,

indispensável era que o mesmo governo fizesse effectivas as

seguintes providencias:

« l .

a

  Que o governo da R epublica fizesse effectivo o devido

castigo, se não de todos, ao menos d*aquelles dos crimi

nosos reconhecidos, que passeiavam impunes, occupando até

alguns d'elles postos no exercito oriental, ou exeroendo cargos

civis do Estado.

«

  2 .

a

  Que fossem immediatamente destituidos e responsabi-

lisados os agentes^ de policia, que haviam abusado da auto

ridade de que se achavam revestidos.

«

  3 .

a

  Que se indemnisasse competentemente a propriedade

que,  sob qualquer pretexto, tivesse sido extorquida aos sub

ditos do Império.

<<   4 .

a

  Finalmente, que fossem postos em plena liberdade todos

os Brasileiros que houvessem sido constrangidos ao serviço

das armas da Republica.

« E para que de futuro se não reproduzissem os attentados de

que se trata, solicitava maiâ-ip Sr. conselheiro Saraiva do go

verno da Republica:

« A expedição das convenientes ordens e instrucções aos

diversos ag*entes da autoridade, nas quaes condemnando so-

lemnem ente os alludidos escândalos e attentados, se recom-

mendasse a maior solicitude e desvelo na execução das leis

da Republica, e se comminassem as penas por essas mesmas

leis impostas aos transgressores, de modo a tornar effectivas

as garantias n'ellas promettidas aos habitantes do seu território.

<(  Que se expedisse do mesmo modo as ordens e instruc

ções precisas, para que fosse fielmente cumprido o accordo

celebrado e subsistente entre o governo imperial e o da R epublica, pelas notas reversaes de

  2 8

  de Novembro e S de

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o S r. conselheiro S araiva na primeira conferência qu e teve

com o S r. min istro das relações exteriores, *~ a declarar fran

camente que o pensamento do governo imperial era todo ami

gável, emquanto as circumstancias e os acontecimentos nâo

aconselhassem outra politica.

« Era, por tanto , de esperar que o governo da R epub lica,

reconhecendo o espirito amigável e conciliador da missão, ex-

pontaneamente e sem demora correspondesse aos justos reclamos

do governo imperial .

« Em vez, porém, de proceder assim, em vez de procurar

entender-se com o representante do Império para resolver a

questão de um modo pacifico, e ao mesmo tempo decoroso

e digno, o governo da Republica, repellindo as nossas recla

mações e prorompendo em acerbas recriminações, fundadas em

inexactas apreciações dos acontecimentos, declarou ao Sr. con

selheiro Saraiva, em nota de  2 4 d'aquelle mez , que não podia

e não estava disposto a attender ás solicitações que se lhe

faziam.

<( A ' esta nota , respon deu o S r. con selheiro S araiv a, em   4

de Junho, restabelecendo a verdade dos factos, e mantendo

com a precisa circumspecção e firmeza a posição que havia

assumido em sua nota inicial. As circumstancias, como se vê,

eram graves, subindo de ponto pelos termos desabridos com

que negou-se formalmente o governo da Republica ás justas

solicitações do de Sua Magestado o Imperador.

« Pare cia , pois, chegado o caso da apresentação do  ultimatum,

e do subsequente emprego dos meios a que a diplomacia cede

então o passo.

« O Sr. conselheiro Saraiva, porém, por considerações sem

duvida plausiveis, e na esperança de que, melhor aconselhado

pela reflexão, retirasse o governo oriental a sua nota e mudasse

de resolução, suspendeu por assim dizer a negociação emquanto

aguardava instrucções do governo imperial a quem commu-

nicára o que se tinha passado. »

P A R T I D A D O C O N S E L H E I R O J O S É A N T Ô N I O S A R A I V A .

No dia

  2 7

  de Abril de

  1 8 6 4

  sahio d'este porto a fragata a

vapor  Amazonas,  conduzindo a seu bordo o conselheiro José

Antônio Saraiva, enviado extraordinário e ministro plenipoten

ciario do Brasil em missão especial junto ao governo do Estado

Oriental do Uruguay. Era secretario d'esta missão especial o

Dr. Aureliano Cândido Tavares Bastos, então deputado pelas

Alagoas.

O vapor  Amazonas chegou a M ontevidéo a 6 de M aio se

guin te, e a 12 do mesmo mez o conselheiro S araiva ápre-

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« O governo oriental não tem podido nem pôde deix ar d e

reconhecer  a reciproca conveniência de manter a mais franca,

leal  e amigável  relação com o de S ua M agestade o Im perad or

do Brasil, e que crê ter dado provas de sua solicitude, para

que  esta  bôa relação seja permanente e inalterável,  recebe

com  satisfação a m issão de V . Ex. dirigida a tão im po rtante objecto.

« R econheço, como V . E x., que nen hu m esforço  se deve

omittir da parte de am bos os governo s, para que os in te

resses de dous Estados limitropnes e am igos sejam firme

m ente gara ntido s por meio de relações' interna cion aes, fun

dad as no franco e effectivo acatam ento da justiç a e do direito

reciproco, no respeito do principio de ordem e de autoridade ,

únicas bases sólidas de um a am izade sincera e pe rm ane nte.

c<

 Nao pôde have r nem diíficuldade, nem perigo para os

direitos e interesses legítimo s dos cidadãos dos dou s paizes,

nem causas próximas ou remotas capazes de perturbar as

relaçõe s de perfeita cordialidade en tre am bos os povos e go

vern os, quan do estes se inspiram de u m a politica baseada

n'aquelles principios, se essa politica é leal e perseverantemente

observada.

« Portanto, aceito  e ^  agradeço, S r. M inistro, as benevolas

manifestações de V . E* ., e assim como espero que a  rectidão

e iliustração do enviado extraordinário de S ua M agestade  o

Im pe rad or do Brasil saberá fazer patente a  nobreza dos sen

timentos que anim am o seu augusto soberano para  com este

paiz. V. Ex. deve estar seguro de que o governo   oriental,

conseqüente com suas declarações e com seus actos,  hade dar

testemunho ao de Sua Magestade da elevação das suas   idéas

e da lealdade dos seus sentimentos. »

Quatro dias depois de ter apresentado as suas credencias

o enviado brasileiro, dirigio-lhe o ministro das relações  exte

riores da Republica, João José de Herrera, a nota  seguinte :

et  M inistério das relações exteriores. — M ontevidéo,  16 de

Maio  de  1 8 6 4 .

cc

  S r. M iuistro. — Em 26 de A bril próximo  passado tive a

hon ra de dirigir a S. Ex. o S r. D r. L oureiro,  ministro resi

dente do Brasil, uma nota solicitando  de S . E x . que se

servisse confirmar, ou rectificar a  exposição que fazia na refe

rida  nota de  u m a  declaração que S. Ex. me transmittio ver

balmente  de  ordem  de  seu  governo, relativa aos fins que o

mesmo  governo tinha em vista, collocando  um exercito na

fronteira do Império com a Republica.

c< S . Ex. o S r. D r. L oureiro não julg ou   dever responder'

aquella minha nota, assim como também  ás posteriores que

sobre o mesmo assumpto recebi ordem de dirigir -lhe, com as

datas de 4 e 13 do corrente.

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133 —

« N a entrevista com que  V .  Ex. honrou-me a  14,  acom

panhado de S. Ex. o Sr. ministro residente do Império,

teve

  V .

  E x. a bondade de manifestar-me que, devendo co n

testar os p ontos das min has citadas notas no correr da missão

extraordinária que desem pen ha; devia S. Ex. o Sr. Loureiro

considerar-se fora do caso de tratar d'esses assumptos, decla

rando V . E x., se bem m e lembro, que não obstante a d if i

culdade de prever hoje successos que poderiam desenv olver-se

para o futuro, podia assegurar desde já, que não era da

intenção do governo imperial fazer passar o seu exercito a

linha da fronteira.

»<c N ão achei in con ven ient e em receber, no curso da m issão

de S. Ex. o Sr. enviado extraordinário e ministro plenipoten

ciario de Sua Ma gestade o Imperador do Bra sil, a resposta

ue devia ter dado ás minhas notas de  26  de Abril,  4  e 13

o corrente a legação permam ente do Brasil.

« Ao referir a conferência tida com   V .  Ex. ,  S .  Ex. o Sr.

Pre siden te da R epub lica, q ue ficara satisfeito do espirito de

que

  V .

  Ex. se tem mostrado animado ; ordenou-m e não obs

tante, relativamente ao ponto de que me occupo, que fizesse

antes de tudo saber a  S .  Ex. o Sr. conselheiro Saraiva que,

em qualquer circumstancia, a passagem não consentida de

tropas brasileiras pelo território orien tal, seria considerada

com o um ultrage á soberania e independência da R epublica.

« Essa passagem pelo território oriental de forças do Im

pério do Brasil seria u m passo tanto ma is grav e, qua nto

m ais difficii são as circu mstan cias em que o paiz se acha

por causa da invasão F lores, especialmente quando ainda

não tem sido satisfeitas, e estão sem respostas, as sérias

queix as e reclam ações que por motivo d'essa invasão , e para

prevenir suas fataes conse qüên cias em prejuizo de todos os

habitantes da Republica, incluída a população brasileira,

foram dirigidas reiteradamente pelo governo da Republica ao

de Sua Magestade o Imperador do Brasil.

<ç V . E x. digno representante de um governo zeloso de sua

dignidade e de seus direitos, achará sem duvida justificado

o m otivo da declaração que acabo de fazer, tend ente não só

a salvar em todo o caso os direitos e a dignidade da Repu

blica, que podessem chegar a ser comp rom ettidos, co m o a

tornar m ais facil^e m ais cordial a intelligencia a que deseja

ardentemente chegar o governo oriental com o de Sua Ma

gestade o Imperador do Brasil. T enho a honra de con fes

sar-me com a mais alta consideração de V. Ex. attento e

seguro servidor.

« A S. Ex. o Sr. Jo sé A ntônio Saraiva, enviado extraor

dinário e ministro plenipotenciario do governo do Brasil.

—João José Herrera, »

N ão consta que o nosso enviado respondesse a esta nota

3 9

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do governo o rie nta l; principiou as reclamações de que ia en

carregado pela nota de 18 de M aio, que se se g ue :

N O T A D O M I N I S T R O B R A S I L E I R O E M M I S SÃ O   ESPECIAL AO  G O V E R N O

O R I E N T A L .

(( M issão especial do Brasil. — M ontev idéo, 18 de M aio de

1864.

(( O abaixo assignado, do conselho de S ua M agestade o

Imperador do Brasil, e seu enviado extraordinário e minisjro

plenipotenciario junto ao governo da Republica Oriental,

tem a honra de dirigir-se a S . Ex. o S r. ministro das re

lações exteriores, para com m unica r-lhe o objecto da missão

de que se acha encarregado.

Í Í   Esse objecto não é n ovo , e tem merecido a solicitude

constante da legação . impe rial em M ontevidéo desde

  1 8 5 2 ,

para não fazer referencia a uma época anterior. E' elle ainda,

com o foi se mp re, obter para os cidadãos brasileiros residentes

no Estado Oriental, a segurança e a protecção que as leis

da R epublica dispensam a todos, nacionaes ou estrangeiros.

cc   O S r. m inistro das. relações exteriores sabe que o go

vern o imperial tem sido incansável em occupar a attenção

do governo da R epublica com as violências de todo o gênero

commettidas contra Brasileiros domiciliados na campanha. O

quadro incompleto d'essas violências, transumpto de longos,

acerbos e n-ão inte rro m pid os sofTrimentos, o qu al temo abaixo assignado a h onra de pôr de no vo sob as vistas

illustradas de S . Ex ., mo stra perfeitamente q ue quasi todas

as justas reclamações do governo imperial tem sido co nsta n

temente desattendidas.

« Se alguma vez as violências commettidas por particulares

contra Brasileiros foram averiguadas e punidas pelos tribu-

naes da Republica, não era, porém, castigado o abuso da

autoridade, que freqüentemnte mostrava-se caprichosa e par

cial em relação aos subditos de S ua M agestade o Im pera dor.

« M uitas vezes o governo d'este paiz tirava argu me nto dos

seus embaraços internos, para explicar a impunidade dos

attentados contra a vida e a propriedade de Brasileiros, e o

governo imperial, pesando taes dim c u ld a d e s^ a v a provas sem

pre da mais assignalada longanimidade perárite esses atten

tados,

  interessado como era, e como é ainda, na consolidação

das instituições do paiz, e certo também de que d'ahi de

vera nascer um a ordem de cousas em q ue pudessem alcançar

justiça inteira e segurança completa os seus infelizes compa

triotas.

« O governo im perial acreditava qu e o d'estã R epu blica

ga nh aria de dia e m dia mais força e influencia legal, nào só

para tor na r effectiva a punição dos crim es com m ettidos pelos

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- m —

p a r ti cu l aj p es , c o m o p a r a r e p r i m i r e c a s t i g a r o s - d e s m a n d o s e

v i o l ê n c i a s d o s s e u s a g e n t e s a d m i n i s t r a t i v o s e p o l i c i a e s. E s s a s

e s p e r a n ç a s , p o r é m , S r . m i n i s t r o , s e t e m d e s v a n e c i d o .

<c O q u a d r o j u n t o d e m o n s t r a q u e c a d a r e c l a m a ç ã o d e s a t t e n -

d i d a , c a d a a b u s o d e a u t o r i d a d e i m p u n e f oi o r i g e m d e n o v o s

e n u m e r o s o s a t t e n t a d o s , e m u i t o s d e c a ra c te r a i n d a m a i s g r a v e .

T u d o i s s o g e r o u n o e s p i r i t o d o s B r a s i l ei r o s d o m i c i l i a d o s n o

i n t e r i o r d a R e p u b l i c a a c o n v i c ç ã o d e q u e o s e s f o r ç o s d o s e u

g o v e r n o e r a m i n e f i c a z e s pa ra g a r a n t i r - l h e s a v i d a , a h o n r a

e a p r o p r i e d a d e . T a l f o i , S r . m i n i s t r o , a c o n s e q ü ê n c i a d e p l o

r á v e l  ,  d a i m p r e v i d e n t e p o l i t i c a o b s e r v a d a p e l o s a g e n t e s d o

g o v e r n o d a R e p u b l i c a .

c< E a s c o n s t a n t e s r e c l a m a ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , s e m p r e

d e s a t t e n d i d a s , t i n h a m p o r i r a j u s t a m e n t e p r e v e n i r u m a s i

t u a ç ã o t ã o g r a v e , q u a l a q u e r e s u l t a d e s e m e l h a n t e , c o n v i c ç ã o

f o r m a d a

  1

  n o e s p i r i t o d e e s t r a n g e i r o s p a c í f i c o s e i n d u s t r i o s o s ,

d e c u j a s e g u r a n ç a d e p e n d i a t a m b é m a p r o s p e r i d a d e d a R e

p u b l i c a , q u e p r o m o v i a m p or s e u t r a b a l h o .

« E m q u a n t o o s s o f f r i m e n t o s d a p o p u l a ç ã o b r a si l e ir a , t ã o

n u m e r o s a n a R e p u b l i c a e t ã o d i g n a d e p r o t e c ç ã o , n ã o f o r a m

s o b r e m a n e i r a a g g r a v a d o s p e l a a c t u a l g u e r r a c i v i l ; e r a m e l l e s

s u p p o r t a d o s c o m p a t r i ó ti c a e n o b r e r e s i g n a ç ã o ; e p o d i a o g o

v e r n o i m p e r i a l , p o r si e p o r s e u s d e l e g a d o s , i n s p i r a r a o s

s e u s c o m p a t r i o t a s a s e s p e r a n ç a s q u e a i n d a d e p o s i t a v a n a i l l u s -

t r a ç ã o d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a , e m . s p e r s e v e r a n t e s e s f o r ç o s

p a r a a l c a n ç a r d e u m E s t a d o v i s i n h o e a m i g o , a q u i l l o a q u e

t i n h a i n d i s p u t á v e l d i r e i t o . M a n i f e s t o u - s e fin alm en te, S r . m i

n i s t r o , a s i t u a ç ã o q u e o g o v e r n o i m p e r i a l r e c e i a v a , e p r o c u r o u

s e m p r e e v i t a r .

« Á d e s c r e n ç a e o d e s e s p e r o g e r a r a m a n i m o s i d a d e s d e p l o

r á v e i s , q u e , e s t i m u l a n d o

  a

  d e s f o r ç o i n d i v i d u a l d o s o f f e n d i d o s ,

o s t o r n a r a m a u x i l i a r e s d a g u e r r a c i v i l , n ã o o b s t a n t e o s c o n

s e l h o s e a s o r d e n s e m a n a d a s d o g a b i n e t e d e S u a M a g e s t a d e ,

<c O g o v e r n o o r i e n t a l e s t á b e m i n f o r m a d o d e q u e o g o v e r n o

i m p e r i a l , o b s e r v a n d o a m a i s e s c r u p u l o s a n e u t r a l i d a d e n a s

l u t a s i n t e s t i n a s d ' e st e p a i z , h a s i d o i n c a n s á v e l e m r e c o m -

m e n d a r á p r e s i d ê n c i a d a p r o v i n c i a d e S . P e d r o d o R i o G r a n d e

d o S u l , m e d i d a s q u e o b s t e m a p a s s a g e m p e l a f r o n te i r a d e

t r o p a e m a u x i l i o d a r e b e l l i ã o , q u e d o m i n a u m a p a r t e d a R e

p u b l i c a . N ã o o b s t a n t e , p o r é m , e s s a s p r o v i d e n c i a s , u m c r e s -

e i d o n u m e r o d e b r a s i l e i r o s a p o i a e a u x i l i a a c a u s a d o g e n e r a l

D .  V e n a n c i o F l o r e s , e x h i b i n d o p e r a n te o g o v e r n o i m p e r i a l ,

c o m o m o t i v o s d e s e u p r o c e d i m e n t o , n ã o s y m p a t h i s a r p o r u m

d o s p a r t i d o s p o l í t i c o s d ' e s t e E s t a d o , m a s a n e c e s s i d a d e d e

d e f e n d e r e m a s u a v i d a , h o n r a e p r o p r i e d a d e c o n t r a o s p r ó

p r i o s a g e n t e s d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a . O g r i t o d ' e s s e s B r a

s i l e i r o s r e p e r c u t e p o r t o d o o I m p é r i o , e p r i n c i p a l m e n t e n a

p r o v i n c i a v i s i n h a d e S . P e d r o d o R i o G r a n d e d o S u l ; e o

g o v e r n o i m p e r i a l n ã o p ô d e p r e v e r , n e m p o d e r á t a l ve z e v i t a r

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brasileira domiciliada n'a qu elle território. No fim de arg u

mentos inqualificáveis, de recriminações sem fim, termina a

dita nota do modo seguinte:

ti  Pareceria que o  desideratum  do governo imperial, em

solicitar e obter reparação á males de mo me nto, efeito s decausas permanentes, que se desconhecem, ou se oceuitam, e

a repetição d'esses ene itos contra que as chancellarias do

Im pério recla m am ha doze an no s; se .conseguiria adoptaado-se

os me ios de evitar no fu turo sua rep roduc ção.

« Se alguma cousa provassem essas listas, seria não a neces

sidade de repetil-as evocando um passado que se reconhece

m áo, m as o dever de buscar, gu iado s pelas lições da expe

riênc ia, os meios de resgua rdar o porvir. »

A ' esta longa nota do governo oriental, respondeu o m i

nistro brasileiro com outra de

  4

  de Junho de

  1 8 6 4 .

N'esta nota que por ser muito longa não a podemos copiar

toda, o conselheiro S araiva su stentou com toda a dignidade

os princípios em que fundou as suas rec lam açõ es; destruio

de um modo eíficaz as accusações que, para encobrir os seus

crim es, fez ao Brasil o governo or ie nt al ; provou a since ri

dade e a lealdade do  governo  imperial, para com o oriental.

Que se esforçou sempre por conservar perfeita neutralidade na

gu erra civil capitaneada pelo general D . V enancio Flores, do

que apresentou docu m entos. Que a invasão do Estado O riental

não foi organisada em território brasileiro, como falsamente

accusou o governo oriental. Insistio, em nome do gove rno

im pe rial, pelas providen cias reclamadas para defender aos Br a

sileiros, na o já d as calam idades inheren tes ás commoçòes po lí

ticas,

  ma s das violências e crimes que , com esse pretex to,

ou sem elle, foram e con tinuam a ser praticadas pelos próprios

agentes do governo da Republica.

a Quando S r. ministro (disse o conselheiro S ara iva) ,

offereci á consideração do governo o riental o qua dro das

reclamações brasileiras, tive em vista demonstrar que a

desa ttença o com que foram con stantem ente acolhidas as nossas

solicitações, hav ia anima do o abuso de autoridad e, e g e

rado no espiiito dos m eu s concidadãos a descrença da pr o

tecção do seu governo. (*) Que os funccionarios civis  m

militares da Republica punham freqüentemente em perigo

(*) Eis aqui confirmado o que temos dito, qu e o gov erno or iental desp resousempre as rec lamações do BrasiL

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— m —

a, vida* a ho nra e a propriedade dos Brasileiros. Que isto

constituio o governo imperial na necessidade de alterar a

sua politica, e de pedir com energia providencias promptas

e emcazes, que offerecessem aos subditos brasileiros a segu

rança e as garantias sempre prom et tidas e nu nca rea li-

sadas. Que nos acontecimentos mais graves, contra os quaes

tem semp re reclamado a legação imp erial n'esta R epu blica ,

figuram como personagen s principaes d'esses dram as sang ui -

no lento s, como os autores ou cúm plices de violências e assas

sin atos , as próp rias autoridades dos differentes departam entos.

« H ave m os de con seguir, S r. m inistro, q ue o Brasileiro na

Republica seja tão  .  protegido e garan tido como é o O riental

no Im pér io. O tempo e os nossos esforços perseverantes hão

de produzir duplo resultado de induzir os nossos com pa

triotas a serem absolutam ente neutraes na politica d'este E s

tado,  e o gov erno orien tal a satisfazer as nossas justas re

clamações.

« A long anim idad e, S r , m inistro, com que o governo im

perial tem procedido para com o da R ep ub lic a; a benevo*-

lencia e  .  notória moderação que sempre o inspira ram , o

desejo de não actu ar fortemente sobre o go verno de u m

paiz am igo, que cuidava o rganisar-se ; não podem ser inv o

cados contra elle, agora que uma longa serie de aconteci

m en tos o con stituiram na necessidade de reclam ar com energ ia

a bem dos seus concidadãos, a execução sincera das leis da

R epub lica. O governo imperial até ha pouco m an tinh a-s e naresolução de esperar que este paiz, melhor administrado,

proporcionasse aos residentes brasileiros as garantias que elle

em vão tem solicitado no decurso de 12. ann os. M as não

está por isso inhibido de proceder de outro modo, tendo

chegado ao termo de suas illusões, e crendo com o crê, que

a sua politica de condescencia tem sido interpre tada como

fraqueza e irresoluç ão, a cujo favor pôde o go vern o orie ntal

liquid ar as que stões pendentes com os que lhe oppõem

embaraços sérios, m enos com o Brasil, estado visinho , e qu e

considera dever sagrado, respeitar a independência e integri

dade do território da Republica.

« A gora mesm o sou informado de q ue se está processando

ao gene ral N etto, pelo crime certam ente de ir ao R io de

Janeiro representar ao seu governo contra os abusos de auto

ridades de que são victimas os Brasileiros. Em Durasno ha

poucos dias foram barb aram ente assassinadas um a Brasileira

com sua filha de 10 ann os de idade, o q ue segu rame nte

não pôde acreditar o systema de protecção de que gosam na

Republica os meus concidadãos.

i

  A fraqueza do poder supremo da R epublica, proveniente

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— —

algu m as vezes do estado politico do paiz, e actual m en te da

guerra civil,  é  o motivo invocado constantemente para justi

ficar a ineficácia das providencias adoptadas pelo governo,

o desleixo e abuso das autoridades iocaes, e o escândalo dos

julgamentos.

tc   Esperar que o poder suprem o se torne respeitado em

todos os pontos do paiz, confiar na reorganisação da adminis

tração e do poder jud iciár io, e fazer votos pela paz, é um

conselho que o governo imperial não desprezaria, se, infeliz

m ente, a experiência dolorosa de perturbações nun ca inter

rom pid as, e cujo term o não é licito prev er, não houvesse

tornado incontestável a sua esterilidade.

« M as, se o governo não pôde pun ir os crim ino sos; se

os commandantes das suas forças exercem tal influencia que

estão ao abrigo de demissões e da effectiva responsabilidade,

pelas violências que autorisam ou comm ettem, então cum pre

reconhecer que é mais do que muito critica, é extrema a

situação do governo oriental. Em taes circumstancias, o go

vern o imperial deve e pôde cu idar de garan tir por si m esm o,

e pelos meios que o direito das gentes lhe perm itte, aos

seus concidadãos.

cc Com prehendo, S r. m inistro, todo o alcance de sem e

lhante deliberação: e é por isso e porque o governo imperial

não se desvia do propósito de ser demasiadamente prudente,

e prefere incorrer ás vezes na censura de fraco do que na

de violento, que elle tem procurado, com a mais notória lon-

ganimidade, exhaunr os meios possíveis de persuadir o governo

oriental da justiça de nossas queixas, da gravidade de nossas

reclamações, e dos perigos da nossa indiferença.

« Respondida por esta fôrma a nota de V. Ex., dou-me por

inteirado de não poder e de não estar disposto o g*overno

oriental, nas actuaes circumstancias, a satisfazer ás solicitações

amigáveis que o governo imperial lhe fez por meu inter

médio. »

Po r esta no tá, p arte da qual acabamos de transcrever, ficou

confirmado tudo quanto dissemos nos tres primeiros livros

sobre a politica seguida em tantos annos pelo governo im

perial, para com as R epublicas do S ul. Foi necessário que

passassem 12 annos, e que em todo este tempo fossem os

Brasileiros torturados do modo porque o referiram todos os

ministros dos negócios estrangeiros nos seus relatórios, para

que o governo do Estado Oriental recebesse pela primeira vez

uma nota redigida nos termos que acabamos de ver. Se nos anãos

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o s s e u s s u b o r d i n a d o s , n ã o s e p o d i a t ra ta r s ó d i p l o m a t i c a m e n t e .

D i z e m o s s ó , p o r q u e n o R i o G r a n d e n ã o h a v i a f or ça a l g u m a

o r g a n i s a d a d u r a n t e a m i s s ã o d ò c o n s e l h e i r o S a r a i v a .

O e n v i a d o b r a s i l e i r o r e t i r o u - s e p a r a B u e n o s - A y r e s ,  depois

d e t e n t a r a p a c i f i c a ç ã o d a R e p u b l i c a , d o m o d o p o r q u e v a m o s

v e r n o r e l a t ó r i o d o m i n i s t é r i o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s d e 1 8 6 5 .

T E N T A T I V A S P A R A U M A N E G O C I A Ç Ã O D E P A Z N O E S T A D O . O R I E N T A L .

« C o m o e r a n a t u r a l , a p o s i ç ã o e m q u e n o s a c h á v a m o s

c o m a R e p u b l i c a O r i e n t a l p r e o e c u p a v a o g o v e r n o d a C o n f e

d e r a ç ã o A r g e n t i n a , q u e v i s i n h o e h m i t r o p h e da m e s m a R e p u

b l i c a , v i a n a s c o m m o ç õ e s i n t e s t i n a s d ' e s ta , a c a u s a c o n s

t a n t e d e d i f f i c u l d a d e s i n t e r n a c i o n a e s e m s u a s r e l a ç õ e s c o m

e l l a , e a i n d a d e p r e j u i z o a s u a p r ó p r i a s i t u a ç ã o i n t e r n a .

« C o m a q u e l l e g o v e r n o e s t a v a m c o n v e n c i d o s o c o r p o d i p l o

m á t i c o e s t r a n g e i r o r e s i d e n t e e m M o n t e v i d é o , e t o d o s o s h o m e n s

s e n s a t o s e n o t á v e i s d o E s t a d o O r i e n t a l, d e q u e p a r a r e m o

v e r e m - s e a s d i f f i c u l d a d e s e x i s t e n t e s , e r a d e u r g e n t e e i n d e c l i

n á v e l n e c e s s i d a d e , a p a c i f ic a ç ã o i n t e r n a d o m e s m o E s t a d o .

« C o m e s t e p e n s a m e n t o e n o i n t u i t o d e p r o m o v e r a s u a

r e a l is a ç ã o , v i e r a m d e B u e n o s - A y r e s e c h e g a r a m a M o n t e v i d é o

n o d i a  6  d e J u n h o , o s S r s . D . R u f i . n o E l i z a l d e , m i n i s t r o

d a s r e l a ç õ e s e x t e r i o r e s d a R e p u b l i c a A r g e n t i n a , e E d u a r d o

T h o r n t o n , m i n i s t r o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n n i c a , q u e , c o m o

c a v a l h e i r o i n t e r e s s a d o n o c o n s e g u i m e n t o d e t ã o v a n t a j o s a

t e n t a t i v a , s e d i s p o s e r a a a u x i l i a l - a c o m o s s e u s b o n s o f fi c io s ,

e e s f o r ç o s p e s s o a e s .

cc E s t e s s e n h o r e s p r o c u r a r a m l o g o c o n f e r e n c i a r c o m o S r .

c o n s e l h e i r o S a r a i v a , a q u e m m a n i f e s t a r a m c o m f r a n q u e z a o

s e u i n t e n t o .

« A p r e c i a n d o d e v i d a m e n t e o n o s s o r e p r e s e n t a n t e o s b o n s

o f f ic i o s q u e s e l h e o f f e r e c i a m , n ã o h e s i t o u e m a c e i t a l - o s ,

d e c l a r a n d o q u e c o o p e r a r i a t a m b é m p a r a a p a z , p e r s u a d i d o

c o m o e s t a v a d e q u e m u i t o p o d e r i a e s t a f a c i li t a r o b o m

ê x i t o d e s u a m i s s ã o .

(( P o s t o s a s s i m d e c o m m u m a c c o r d o , s o l i c i t a r a m n o d i a %

d e J u n h o u m a c o n f e r ê n c i a c o m o S r . A g u i r r e , p r e s i d e n t e

d a R e p u b l i c a .

« N e s s a c o n f e r ê n c i a e x p ô z o S r . E l i z a l d e q u e a g u e r r a

c i v i l e r a a o r i g e m d e q u a s i t o d o s o s a g g r a v o s q u e h a v i a m

p e r t u r b a d o à s r e l a ç õ e s d o s e u p a i z c o m o E s t a d o O r i e n t a l ,

e q u e a C o n f e d e r a ç ã o t u d o o l v i d a r i a , s e s e c o n s e g u i s s e a p a a,

t a l e r a a v i r t u d e e i m p o r t â n c i a q u e l h e a t t r i b u i a ,

« O S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a d e c l a r o u e m s e g u i d a q u e a s

r e c l a m a ç õ e s e d i ff i cú l d a cl e s c ò m o I m p é r i o e r a m m a i s s é r i a s e

m a i s g r a v e s ; m a s q u e , r e s o l v e n d o a p a z m e t a d e d ' es sa s . d ií fi -

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cuidados, ficava o governo oriental habilitado para attender

desafíron tadam ente ás nossas reclamaçõ es, fazendo effectivas as

providencias que ellas exigiam.

a 0 Sr. A guirre, l isongeado d'esta abertura, -prometteu o

seu concurso para a realisaçâo de tão louvável intento, se se

pudesse conseguir sem comprometimento do principio da

autoridade.

« Esta manifestação do S r. A guirre, deixava e ntreve r qu e

o governo oriental propunha-se a retroceder da politica obsti

nad a, que revelava a sua nota de 24 de M aio.

«

  O princ ipio da autorida de era com effeito a mais alta

conveniência da Republica, e a sua necessidade mais palpi

tante ; m as a verdade era também que, sc não t inha a auto

rid ad e força p ara suffocar a gu erra civil, a prolo nga ção

d'esta, sem termo previsto, enfraqueceria cada vez m ais o

principio invocado, acoroçoando as tendências revolucio

nárias.

« Conseguintemente, impossibilitar a paz, quando não podia

o governo reprimir a guerra civil, seria uma politica funesta

para o paiz. S em duvida, n'esta convicção foram asse ntad as

no dia  9  de Ju nh o as seguintes bases :

« A mnist ia ple na e inteira para todos qu e se houvessem

envolvido na guerra civil .

« R econhe cimen to dos postos que anteriorm ente t ivessem

no exercito da Republica, e  1  mesm o dos que o general

Flores houvesse dado, se fosse isto uma condição  sine qua non

da paz.  | $

« Concessão de uma quantia que se arbitrasse, e com que

o general Flores remisse as dividas contrahidas para a guerra,

e indemnisasse aos individuos de quem havia recebido gado

e cavalhada.

« Liberdade plena de eleição.

« Completadas estas condições com a adopção de uma poli

tica moderada nos conselhos do governo, razão havia certa

mente para esperar-se um accordo sincerc entre os partidos

dissidentes.

« A ssim preparad os para entra r em negociação com o ge

ner al Flo res, partiram aquelles ministros para as — P un tasdei R osário — rios limites do dep artame nto da Colônia e S o-

r i a n o ,

  onde t inha el le então o seu acampamento.

« Os S rs . D . A ndré L amas e Florentino Castellanos deviam

igua lm ente tomar parte nas negociações, como delegados do

governo da Republica.

« No dia 18 de Ju n ho a ssignou-se en tre todos, e  ad  refe-

rendum,  por aquelles commissarios um protocollo concebido nos

seguintes termos:

« 1.° T odos os cidadãos orientae s dev iam , d'esde aq uella

da ta, ficar no plen o gozo de se us direitos políticos e civis,

quaesquer que tivessem sido suas opiniões anteriores.

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« 2.°  O  desarmamento das forças verificar~se-hià pelo modo

e na forma que fosse resolvido pelo poder executivo, que se

entenderia:; com o gen era l D . Ve nan cio P iores , qu anto á m a

neira de èffectuai-o , pe lo que respeita as forças que estavam

debaixo de suas ordens.

«  3.° Seriam reconhecidos os postos conferidos durante a luta*

pelo gen eral Flo res e qu e est iv essem nas attribuiçôes do poder

executivo , o qual so l ic i tar ia do senado a precisa autonsação

para a confirmação d'aquel les que, pe la const i tuição do Es-

a d o ,

  necess i tassem d'esse requis i to .

« 4 .° Seriam também reconhecidas como div ida nacional , todas

as despezas feitas pelas forças d'aquelle general, até a quantia

de 500 mil pezos .

« 5 .° A s som m as pelo m esm o arrecadadas, procedentes de

contr ibuições , patentes , ou quaesquer outros impostos , se con

s iderariam como entradas no thesouro nacional .

« Além das c láusulas d^teprotoco l lo , em uma car ta reservada ,

dir ig ida ao pres id ente da R epu blica , add ic ionou o general

D .

  ve na nc io F lores a da organisação de um m inistér io qu e, se

cundando a polit ica da paz iniciadora, acalmasse os espiritos

e preparasse o paiz para entrar no seu estado normal, e ser

regido segundo a respect iva const i tuição.

« E n em era para estranhar sem elhan te c láusula , porque

nã o d evia esperar-se que um part ido com as armas na m ão,

e qu e n ão estava ven cido , as depu zesse espon taneam ente ,

sem essa ou outra equivalente garantia para si e para seus

correligionários. Para attender, porém, ao principio da autoridad e, concordara o gen eral F lores em qu e não figurasse a

menc ionada condição no convênio os tens ivo . Os commissar ios

da R epu blica não se esqueceram de expl icar ao Sr . Aguirre

ue esta era uma condição  sine

  qua

  non, para que pudesse o

ito convênio produzir os seus devidos effeitos.

<c Su bm ettid o o ajuste á consideração do govern o orie nta l,

deu - lhe o pres idente d a Re pub l ica o seu assent imento c om as

s e g u i n t e s m o d i f i c a ç õ e s :

« l .

a

  Q ue os pos tos, cuja confirmação fora estip ula da , não

poderiam recahir em pessoas qu e as leis inh ibi sse m de ser pro

m ovid as , ou n om eadas , ass im com o que deveriam taes postos

ser unicamente aque l le s dados pe lo genera l F lores em ordem

do dia do seu exercito.

« 2 .

a

  Que a som m a pedida para os gastos da guerra, con

vinha que fosse reduzida, o mais poss ive l , em proveito da

Republ ica .

« Estas modif icações foram eom m uh icad as aos m inistros

mediadores em 23 de Junho, e no dia 30 part iram os Srs .

El iza lde e Thornton para transmitt i l -as ao general Flores , com

cuja adhesão contavam. »

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  145 —

R O M P I M E N T O

  DAS NEGOCIAÇÕES DE PAZ.

I

« Do que  fica exposto resulta  que  tudo fazia esperar  que

fossem  bem  succedidos  os  esforços,  que tão  decücadamente

haviam feito  os  ministros mediadores para  a  pacificação  da

Republica.

« A ssim , porém , infelizmente

  não

  aconteceu, porque

  o Sr.

Aguirre,  não se  dando  por  instruido  da  cláusula  da  carta

reservada,  que lhe  havia dirigido  o  general Flores,  nem se

quer consultou

  os

  seus m inistros sobre esse im po rtan te pon to,

que aliás, como sabia,

  era

  essencial

  da

  negociação.

« T nterpellado depois  a  esse respeito,  só  então declarou

q u e  não  havia dado importância  á  carta  do  general Flores,

por entender

  que a

  exigência relativa

  á

  organisação

  de um

novo ministério,

  não era uma

  condição essencial

  do

  ajuste

  de

paz, accrescentando  que  não duvidaria tomal-a em consideração,

effectuada

  que

  fosse esta;

  mas não

  como

  uma

  imposição,

  a

que não

  'lhe era

  possível sujeitar-se,

  sem

  dezar para

  o

  prin

cipio  da  autoridade,  que lhe  cumpria respeitar  e  manter  a

todo

  o

  custo.

«  Em . con seqü ência d'esta deliberação,  as  hostilidades  da

guerra civil,  que  haviam ficado susp ensas d esde  o dia 1 9 de

Junho, pela negociação  de paz,  recomeçaram  no dia 6 de

J u l h o ,  4 8 ho ras depois  de  denunciada  a  cessação  do  a rmis

tício pelo general Flores.

« Ret iraram-se

  em

  seguida para Buenos-Ayres

  os

  ministros

mediadores, resolvendo-se também  o Sr.  conselheiro S araiva

a aguardar alli ordens

  do

  governo imperial, antes

  de

  tomar

uma resolução definitiva acerca  do  objecto princ ipal  da sua

missão. )>

TERMO

  DA

 MISSÃO

 DO SR.

 CONSELHEIRO SA RA IVA .

U L T I M A T Ü M

  D E

  4

  DE

  A G O S T O

  E

  E M P R E G O

  D E

  R E P R E S Á L I A S .

«

  Era

  inquestionavelmente

  a paz a

  única* solução,

  que

 con

sul tava  a um  tempo  os  mais vitaes interesses  do  Estado

Oriental .

  No

  interior, além

  do

  sacrificio

  do

  sangue

 de

  i rmãose

  de

  dinheiro

  que se

  poupava, salvara-se

  o

  principio

  da au

toridade, aliás  tão  invocado; restabelecia-se  a  ordem publica,

se

  não a uma

  situação normal,

  ao

  menos

  ao

  caminho

  que

para alli devia conduzil-a

  com

  rapidez.

  No

  exterior ficavam

removidas  as  difficuldades  com a  Confederação Argentina,  e

em grande parte aplanadas  as que  embaraçavam  as  relações

de  boa e  cordial intelligencia  com o  Impér io .

« Pertinaz, poré m ,  em seu  capricho,  o  presidente Aguirre

tudo subordinou  ao  espirito  de  partido, frustrando assim os es

forços  tão  nobrem ente empregados p ara salvar  o seu  paiz  da

crise gravíssima

  com que se

  achava

  a

  braços.

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— 146 —

« Em taes circumstancias o governo imperial, apenas infor

mado dos successos que deixo referidos, comprehendendo a

inutilidade de insistir em fallar á razão e á consciência do

governo oriental; ordenou ao ministro, em

  2 1

 de Julho, que

regressasse a Montevidéo, e ahi intimasse ao respectivo go

verno, um prazo dentro do qual desse este as satisfações que

exigíamos, sob pena de passarmos a fazer, pelas nossas pró

prias mãos, a justiça que nos era negada.

<t Expirado aquelle prazo, devia retirar-se a missão espe

cial, depois de haver annunciado ao governo da RepuhRca o

começo das represálias.

cc

 Em seguida, ordenou outrosim o governo im perial, que

nossas forças marítimas tomassem posição no Uruguay, afim

de prestar aos Brasileiros a devida protecção, e que as

  tropas

existentes na fronteira do Rio Gran de,

  estivessem preparadas

para qualquer eventualidade.

cc

 Chegado a 4 de Agosto em M ontevidéo, n'esse mesmo

dia o Sr. conselheiro Saraiva,* exigindo do governo da Re

publica as satisfações pedidas em sua nota de 18 de M aio,

accrescentou que, se dentro do prazo improrrogável de seis

dias,  não fossem attendidos os reclamos do Império, e sendo

certo que não podia este tolerar por mais tempo os vexames

e perseguições, que soffriam- seus concidadãos, nem deixar de

prover á indiclinavel necessidade de garantil-os por qual

quer modo, estava autorisado para declarar o seguinte :

cc

  Que as forças do exercito brasileiro, estacionadas na fron

teira, receberiam ordem para proceder a represálias sempre que

fossem violentados os subditos de Sua Magestade, ou amea

çadas as suas vidas e segurança; incumbindo ao respectivo

commandante providenciar pela forma, que fosse mais conve

niente e efficaz a bem da protecção de que elles carecessem.

cc

 Que também o vice-almirante brasileiro receberia ordem

e instrucções para proteger, com a ' força da esquadra ás

suas ordens, os agentes corisulares, e os cidadãos brasileiros

offendidos por quaesquer autoridades, ou indivíduos incitados

a commetter desordens, pela violência da imprensa, ou ins-

tigaçoes das mesmas autoridades.

<c

 Não sendo as represálias, a que se via forçado a recor

rer o governo imperial, verdadeiros actos de guerra, esperava

o mesmo

  governo

  que o da Republica evitaria, que se aug-

mentasse a gravidade d'aquellas medidas, impedindo successos

lamentáveis, cuja responsabilidade pezaria exclusivamente

sobre elle.

cc O ministro das relações exteriores da Republica respon

deu em o dia  9  de Agosto, recusando-se a fazer punir os

attentados e abusos de autoridade, assignãlados em a nota do

ministro brasileiro, e devolvendo o

  ultimatum

  do mesmo mi

nistro, com a declaração de que não podia ficar nos archivos

da Republica. Accrescentava uma exposição inexacta dos factos

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— 147 —

em termos descomedidos; e concluía propondo que as diver

gências entre o Imp ério e a R epublica, íbssem jB tó m et ti d as

ao arbitramento de um a ou mais potências, devafip) os arbi

tres deoidir:

%

  1.° sobre a opportunidade das reclamações do

governo imperial; 2.° admittida essa opportunidade. sobre os

meios práticos de proceder ao exam e e satisfação das re ci

procas reclamações pendentes.« S em elhante expediente era visivelmente um meio prote-

latorio de qu e se soocorria o governo da R epu blica, para.

procrastinar se não frustrar a missão brasileira.

« O S r . conselheiro S araiva não o desc onh eceu ; e, pois no

dia imm ediato com mu nicou ao governo oriental, qu s de con

formidade com a sua nota do dia 4 de A gosto, e segu nd o

as orden s do g ov erno im peria l, iam ser expedidas instrucções

ao vice-alm irante brasileiro, e ao com m and ante dos corpos

do exercito estacionados na fronteira, para procederem a re

presálias, e empregarem as medidas mais convenientes, em

ordem a tornar enectiva por si mesma a protecção a que

tinh am direito os subd itos brasileiros, e qu e não podia asse

gurar-lhes o governo oriental .

« A ccrescentou qu e o governo imp erial julgav a do seu dev er

permanecer n'essa atti tude, em quan to o da R epub lica não

adoptasse as providencias, e não desse as satisfações reclam ada s,

nem reparasse as offensas praticadas contra a nação brasileira.

(c E term ino u declaran do que apezar de ser o principa l d e

sígnio do governo im perial, garantir por si m esm o, a seg u

ranç a pessoal e de propriedade dos seus concidadão s, até qu e

se tornasse effectiva a observâ ncia das leis da R ep ub lica, p ro

cederia ás represá lias especiaes, a respeito d e cada um do s

factos occorrentes, e só aug m entaria a grav ida de das m edid as,

que iam ser autorisadas, se a attitud e que ass um io, fosse

insu ficiente para alcançar tudo quan to em nom e do gov erno,

exigira na referida n ota de 18 de M aio.   $jfòf?

« L imitan do-se a manifestar esta resolução do gov erno im

perial, o ministro brasileiro julgou com razão, que seria pura

perda de tem po, qualificar os termos em que se expressara

o govern o da R epu blica, e rectificar as inexa ctidões dos factos

por elle allegados; contentou-se apenas com devolver a men

cionada nota do dia

  9 .

« No mesm o dia 10 dirigio aquelle min istro u m a circular

aos membros do corpo diplomático, communicando-lhes as

medidas extraordinárias, que o governo imperial havia sido

compelHdo a adoptar.

« No dia 11 officiou ao vic e-a lm iran te brasileiro pa ra q ue ,

como medida preliminar, estacionassem alguns navios de guerra

em Paysandú, Salto e Colônia, afim de proteger aos nossos

concidadãos e em baraçar que navios orientaes levassem a u

xílios militares aquelles portos.

« N*esse mesmo dia dirigio-se ao cônsul gerai do Im pé rio

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em Montevidéo, dando-lhe, e aos vice-consules de sua de

pendência as instrucções, porque deviam guiar-se em tão grave

emergência»**»

Diz a este respeito o ex-ministro de estrangeiros João Pedro

Dias Vieira, no seu relatório de

  1 8 6 5 ,

  a pag.

  4 ,

  que conti

nuamos a extractar;

« Terminara então a missão confiada ao Sr. conselheiro José

Antônio Saraiva, sem que houvéssemos podido obter ajustar

a reparação que exigimos, e que fez objecto da mesma missão,

pelas offensas praticadas contra os direitos e le gi tim o* in te

resses dos subditos do Império residentes na Republica.

« Conseqüentes com o  uhimatum  apresentado pelo Sr. Sa

raiva, e/a que não attendeu o governo de M ontevidéo, tivemos

de assumir alli uma posição mais enérgica, empregando os

meios coercitivos, autorisados pelo direito das gentes e que

infelizmente se tornavam indispensáveis para manter o decoro

e a dignidade nacional.

« Iniciando as represálias a que me refiro, procedeu o vice-

almirante brasileiro com a maior moderação de modo a

salvaguardar qua nto fosse possivel os interesses dos neu tros, e

mesmo prejudicar o menos que pudesse, aos próprios n at u -

raes da R epublica, que não eram responsáveis immediatos da

situação creada pelo seu governo.

cc Se posteriormente a pe rtinácia do mesmo governo impoz

aquelle distincto chefe a necessidade de recorrer a meios de

mais vigor, como o bloqueio, em seguida a tomada de Pay

sandú ;  nem por isso deixa de ser certo que, mesmo depois

de injustamen te repellido, deu o Im pério repetidas provas de

prudência e de longanimidade para com seus visinhos. »

Ainda depois de injustamente ser o conselheiro José An

tônio Saraiva repellido do Estado Oriental, deu o Império

provas da sua prudência para com seus visinhos D'este

modo terminou a sua embaixada, da qual se não tirou pro

veito algum.

Não tendo tido resultado, como acabamos de ver, a missão

dos tres ministros, para fazerem a paz entre o general Flores

e o presidente da R epublica, aquelle gen eral participou o

rompimento das hostilidades no dia 4 de Julho.

N O T A D O G O V E R N O   ORIENTAL  A O M I N I S T R O B R A S I L E I R O E M M I S S Ã O

ESPECIAL.

cc

 M inistério das relações exteriores.— M ontevidéo,

  5

 de Julho

de   1 8 6 4 .

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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i49

 

« Sr.

  ministro.—O

  governo recebeu hoje,  ás  d u a s  horas  da

t a r d e , j y r '  d o c u m e n t o s  que, por cópia, levo  á  presença  de  V. Ex.

« S E C U N D O  aílirma explicita

  e

  categoriamentc  H  Venancio

F l o r e s  a o  general em  chefe  do  exercito iiacional/clle procede

e m   virtude  de  noticia que lhe foi  transmittida  por V. Ex. e

pelos  Srs.  ministros  da  Republica Argentina, e de  Inglaterra,

e m   que

  SS.

  EExs.  lhe  faziam saber,  por commünicação que

haviam tido

  no dia 4, que

  estavam rotas

  as

  negociações

 qúè

até este momento seguiam

  SS.*

  EExs.

  cem o

  governo, ten

dentes

  á

  pacificação interior

  do

 paiz.

<c  À'  vista d'èsta affirmação da parte  do  chefe  da  rebellíão,

que sorprehende  o meu  governo, S. Ex. o  presidente  da Re

publica ordenou-me  que solicitasse  uma explicação  de

 V.

 Ex.

como tenho

  a

  honra

  de

 fazel-o pela presente nota.

« Cem este motivo reitero  a V. Ex. a  segurança  da  minha

alta  e  distineta consideração.

« A S .  Ex. o Sr. conselheiro José Antônio Saraiva. —

 João

José Herrera.

  »

N O T A   DO  M I N I S T R O B R A S I L E I R O  EM  M IS SÃ O E S P E C I A L ,  AO  G O V E R N O

O R I E N T A L .

« Missão especial do Brasil.—Montevidéo,

 7

 de Julho

  de

  1 8 6 4 .

«  Sr.  ministro.— S.  Ex. o  Sr.  Presidente  da  Republica

Oriental  do  "Uruguay teve  a bem  declarar-me  que não se

prestava  ás  indicações  que lhe  haviam sido feitas  por S. Ex-

o  Sr.  brigadeiro general  D .  Venancio Flores,  e em  conse

qüência ficava concluída

  a

  negociação de

  paz,

 denunciándo-se

portanto

  a

  suspensão

  de

  hostilidades,

  è, em

  vista

  d'istò,

assim

  o fez

  constar

  a

 S.

 Ex. o

  Sr.  brigadeiro general D .

 Ve

nancio Flores

« Julgo satisfazer

  com

  esta commünicação

  aos

  desejos

 de

V.  Ex. manifestados  em sua  nota  5 do  corrente.

TE   Havendo-se mallogradp  as  esperanças concebidas poste

riormente,  de  alcançar-se  a  pacificação  do  paiz, pois que

S.  Ex. o Sr.  Presidente entendeu dever insistir  em idéas que

não tornam possíveis aquellas esperanças, parece-me comple

tamente inútil apreciar

  o que V. Ex.

  expõe

  em

  -outra nota

  4 do

 corrente,

  nem

 rectificar alguns

  dos

  pontos indicados

n/essa mesma nota.

«  Ao dar por  concluída  a  minha officiosa participação  a

bem   da paz d'esta Republica, que lamento não se haja conse

guido, tenho  a  honra  de  reiterar  a

 V.

  Ex. as  expressões de

minha mais alta

  e

  distineta consideração.

« A S .  Ex.  o Sr. D . João José Herrera, ministro das relações

exteriores.—José  Antônio Saraiva, »

T e n d o  o  conselheiro Saraiva communicado  ao governo im-

derial

  as

  ultimas oceurrenciás n o Estado Oriental,

  e que não

31

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tin ha podido obter d'aqu elle gove rno satisfação algum a ás

suas reclamações; o govern o imperial mandou-lhe as segu intes

instrucções, em conseqüência do rompimento das negociações

de .paz.

« Rio de Janeiro.—Ministério dos negócios estrangeiros, em

21 de Julho de 1864.

« Il lm. e Exm. Sr.  r -Acuso recebida, e tenho presente a

correspondência de V. Ex. constante dos seus officios, eonfi-

denciaes números  18, 19  e  20,  de  10, 12  e  13  do correate.

« Por essa correspondência vê o govern o imperial confir

mada a noticia que , pelos seus anteriores officios, de que

foi portador o  Saintonge,  annunciara V. E x. de haver com

pletamente  * abortado a intentad a pacificação da R epu blica

Oriental.

« C omm unica m ais V. Ex. pela- referida correspondê ncia a

sua chegada a essa capital, as conferências que teve com o

chefe da. Republica Argentina e com o seu governo, as im

pressões que lhe deixaram taes conferê ncias; e, por u ltim o,

offerece á consideração do gover no imperial os alvitres q ue

as circumstancias lhe suggerem para proseguir no desempenho

do objecto principal da sua missão.

-« De tudo inteirado, çabe-me em resposta dizer a V . E x.

que, visto terem-se mallogrado inteiramente os esforços em

pregados para a paz, mediante a qual, restituindo o soc eg o

á Republica Oriental, podiamos melhor conseguir do seu

gove rno as satisfações e reparações a que tem os direito pelas

offensas alli praticadas contra subditos brasileiros; entende o

governo imperial que estando como está o govern o da R ep u

blica A rgentina certo de nossas boas intenç ões, nada m ais

resta a fazer do que regressar  V .  Ex. a Montevidéo, e ahi

reatando a negociação que encetara, e na qual por amor das

esperanças da paz se sobr esteve; marcar ao governo da R ep u

blica um prazo mais ou m eno s breve, segundo as cir cu m s

tancias aconselharem, dentro do qual o mesmo governo possa

dar as satisfações exigidas na fôrma das instruc ções d e que

foi V. Ex. munido, sob a comminação n'ella estabelecida depassarmos a fazer pelas nossas próprias m ãos a justiça q ue

nos é negada, visto não termos outro recurso, e não ser

possivel o governo imperial tolerar por mais tempo os vexa

mes e perseguições feitas aos subditos de sua nação.

a Julga o governo imperial conv eniente que o Sr. Barão de

Tamandaré tome desde já posição no U ru gua y, afim de impo r

ao governo de M ontevidéo o respeito devido aos nossos na cio-

na es ; sendo que n'essa conformidade receberá aqu elle chefe

as precisas instrucções do ministério da marinha.

«  Ê '  necessário que na apresentação do  ultimatum  fique

bem patente que das conseqü ências sup ervenientes só terá o

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governo da Republica de queixar-se de si próprio, não tendo

o governo imperial em vista senão um único interesse, e é

qu e os Brasileiros como estrangeiros qu e são na R epub lica,

ozem de todas as g arantia s que a constituição confere aos (pie

abitam o seu território.

« Enten de o governo imperial que os ministros das dem ais

potências, acreditados no Estado Oriental, devem ter conhe

cimento do nosso  ultimatum,  e das razões que a isso nos

conduzem.

« Entende também o governo imperial, que a legação per

manente de Sua Magestade em Montevidéo deve alli conti

nuar, dado mesmo o rompimento das represálias por nossa

parte, pois que não significam estas necessariamente a guerra,

caso ún ico em que deve verificar-se a retirada da mesm a le*-

gação, porque importa a interrupção das relações diplomáticas.

« Ju lga , porém* o mesmo governo qu e, expirado o prazo

que fôr por V . Ex. marcado no  ultimatum,  deverá a missão*

especial retirar-se depois de haver intimado ao governo da

Republica o começo das referidas represálias, fazendo n'ess%

hypothese aviso ás nossas autoridades na fronteira.

« Previno por ultim o a V . Ex. que ao presidente da

provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul se expede ordem

pa ra que as tropas existentes na fronteira estejam preparadas e

prom ptas para obrar, no sentido de fazermos ju stiça pela s

nossas próprias mãos.

« R enovo a V . E x. as seguranças *de m inha perfeita es

tima e distineta co nsideração. '

« A S. Ex. o Sr. José Antônio Saraiva.—/.

  P. Dias Vieira. »

Logo que o conselheiro Saraiva recebeu estas instrucções,

apresentou ao governo oriental o seu  ultimatum  em data de

4   de Agosto, nos termos seguintes:

« M issão especial do B rasil.— M ontevid éo,

  4

  de Agosto de

1 8 6 4 .

á Sr. m inistro.— O governo de Sua M agestade o Imp erador

do Brasil, acaba de ordenar-me que eu communique ao go

verno da Republica Oriental do uruguay a grave deliberação

de que venho dar conhecimento a V . Ex, »

Expõe seguidamente o conselheiro Saraiva,—as violências e

as extorsões, os roubos e os assassinatos perpetrados no ter

ritório da Republica desde   1 8 5 2 ,  contra cidadãos brasileiros,

e em que figuravam como cúmp lices, m andantes, e até com o

executores, os próprios agentes do poder.

Transcreveremos as partes mais essenciaes desta nota:

« A convicção derramada entre os meus compatriotas, cujo

numero no Estado Oriental excede talvez de um quarto da

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totalidade  dos  seus habitantes,  em  grande parte estrangeires,

de

  que é

 svglematica

  a

  perseguição

  das

  suas pessoas

 e a

 devas

tação

  das  suas

  propriedades. Tudo isso exigia,

  Sr.

  ministro,

qué

  o

  governo imperial, convencido

  da

  ineôícacia

  das

  suas

diligencias anteriores, formulasse  o  ultimo appeUft amigável

ao governo d'esta Republica,

  de

  cuja prudência ainda espe

rava  a  reparação devida  por  factos  de tão  notória gravidade.

Insistir  nas  reclamações  por  taes crimes,  e  conseguir  que me

didas enérgicas

  e

  preventivas obstem

  a sua

  reprodueçao,

  era,

Sr. ministro, direito perfeito

  do

  Império, tanto quanto

  uma

pretenção moderada.

  Os

  motivos

  do seu

  proceder,

  e o 'fim a

que  se  propunha exprimioros  o meu  governo  de um  modo

explicito,  e sem  reserva  alguma,  em  documentos públicos, do

mesmo modo porque  eu  depois  o fiz a V. Ex. em  nota  de 18

de Maio.

Queixa-se  da  imprensa official  da  Republica sempre contra

o

  Império,

  e que não

  permitte  publicaçõesI contrarias

  á sua

politica,  e  continua  :

a Reprimindo

  meu

  profundo pezar,

  na

  crença

  de que o

governo

  da

  Republica resistiria

  por fim as

  suggestões exal

tadas

  do

  partido

  da

 situação, tive

  a

  honra de-passar

  á V. Ex.

a nota citada

  de 18 de

  Maio, acompanhada

  da

  memória

  dos

factos constitutivos  das  reclamações pendentes.' Servi-me  de

uma linguagem moderada, abstrahi

  de

  considerações

  que

pudessem perturbar

  a

  calma

  em que

  parecia-me necessário

manter

  a

  discussão, limitei-me

  a

  expor

  e

  justificar

  as me

didas repressivas

  dos

  crimes

  e

  abusos

  de

  autoridade, muitos

dos quaes

  são

  notórios

  a

  nacionaes

  e

  estrangeiros.

Seguem-se

  as

  reclamações

  da

  nota

  de 18 de

  Maio.

« Quando

  eu

  dirigia-me

  ao bom

  senso

  e á

  honra

  do go

verno oriental, formulando  um  pedido  de  caracter  tão  mode

rado como  o  d'essas providencias,  que  é  dever  de  todo  o

governo civilisado adoptar, espontaneamente  e sem  provo

cação

  das

  potências estrangeiras,

  por bem da

  tranqüilidade

d'aquelles

  que,

  procurando

  o seu

  território, confiam

  na

  jus

tiça dos tribunaes

  e nos

  agentes

  do

  poder publico, estav*

bem longe  de  acreditar,  Sr.  ministro,  que VY Ex* em  res

posta recorria, como  o fez por sua  nota  de 24 de Maio,  a re-

crimináçoes inopportunas contra  o  próprio governo  de Sua

Magestade,  no  intuito certamente  de  perturbar  e  desviar  a

discussão.

<c Fiel  ao  propósito funesto  de não  encarar  as  questões

internacionaes senão pelo prisma

  das

  paixões

  de partido* que

commovem

  e

  arruinam

  o

  paiz,

  o

  governo oriental preferio

óppôr aos

  reclamos

  do de Sua

  Magestade

  as

  accusaçòes  vui*

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gares cja imprensa desvairada, imputando ao Brasil e á Re

publica Argentina a responsabilidade da presente guerra civil.

Como se os

  paizes

  visinhos pudessem participaiPdos

  deplo

ráveis erros da

  politica

  interna do Estado Oriental, cujo go

verno a$o *omprehendeu ainda o dever da tolerância e da

moderação nas lutas dos partidos, e cuja historia reduz-se ao

*.

  *

  r

  -,—  £ T " ~  .1  r~ 

sivo ae outros,

« Longe de manifestar a intenção de garantir por q ua l

quer modo a sorte dós subditos de Sua M agestade, o go

verno da R epublica limitou-se a accusal-os de auxiliarem a

rebélliãó, julgando-se por ventum dispensado por isso de

proteger4h.es>  a vida e a propriedade, e aceitando assim a

complicidade com os ehefes militares, que, ás ordens do

general D . Diogo L amas, actual ministro da guerra, devas

taram e até incendiaram estâncias de Brasileiros, sob o futilpretexto de que sympathisavam com a revolta.

« Não ficou esquecido o facto de se haverem alistado sob

as bandeiras do genaral D. Venancio Flores, vários dos meus

compatriotas, muitos d'elle aliás, convém notal-o, victimas

de violências impunes, permittidas ou praticadas pelas au to

ridades, entretanto que o exercito legal conta centenares de

estrangeiros violentados ao serviço militar. Invocando esse

facto, porém,

  ó

  governo da Republica não podia crer que

elle lhe permittisse izentar-se da obrigação de não consentir

que no seu território seja o estrangeiro, como o tem sido

alguns dos subditos de Sua Magestade, impunemente esfa

queados, assassinados, e até açoitados de . òruem e na pre

sença de autoridades sifperiores, tal como foi praticado por D .

L eandro Gomez, chefe militar do departamento de Paysandú.

« Ao passo que V . Ex. procurava, na sua nota alludida, .

excitar contra o Brasil o espirito nacional, o governo da R epu

blica esquecia-se de promover o restabelecimento da tran-

quillidade, a harmonia de todos os Orientaes, chamando-os á

um centro de acção contra os perigos que V . Ex. denunciava.'"

Isto demonstra claramente que o governo de V. Ex. nada

receiava d'esses fantásticos perigos, e só de caso pensado re-'petia os mesmos erros vulgares d'aquelles que não compre-

hendem o que houve de nobre e u til nas convenções que

aèràm existência e asseguraram a integridade e a soberania

d'esta R epublica, digna seguramente, por todos os títulos, de

melhor sorte.

« Na franqueza com que se expressava V . Ex. revelou que

nada podia ver

 -

  senão pelo prisma das questões internas, e que

confundia a .attitude séria e grave do Império do Brasil com

o s i n t e r e s s e s  que agitam-se em derredor do partido dominante

na R epublica, e ameaçam a existência do governo actual.

« ftab careço de insistir no que já ponderei á este respeito

na   m i n h a  nota de  4  de Junho.

exilio e ao supplicio em proveito exclu-

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« M ostrei então a  V .  E x. prevalecendo-^*, e de  palavras

muito significativas da sua  própria  correspondência com  a

legação imperial, qu e, e até uma data bem recente  (31 de

Dezembro), o governo da Republica se manifestara sempre

mu ito reconhecido pelo esforço com que o de  S u a  Magestade

procurava evitar e reprimir a interv enç ão de Brasileiros  n a

luta travada n'este p a iz ; qu e

  V .

  E x. invocara por vezes o

auxilio dos delegados de Su a M agestade, e que este jam ais

faltou -lhe para sem elhante fim, que certamente nenh um Bra

sileiro encorporar-se-hia ás forças revoltosas se encontrasse

justiça nos tribunaes e protecção nas autoridades.

« A

  politica intolerante* do go ve rn o or iental forçara algu ns

do s m eu s compatriotas a recorrer ás armas, para se defen

derem a si e as suas fam ilias; e é notável, Sr. m inistro, que,

partindo d'esse facto sem assignar -lhe a causa,  V .  Ex. pre

ten de sse accusar o m eu go vern o de concorrer para o triumpho

da rebellião.« Isto dava-me a med ida das paixões que dom inavam o

•governo da R epu blica, victima da m ais inexp licável a iiuc i-

nação.

« A nota cujo pensam ento acabo de expor em res um o,

desvan eceu toda a esperança que podia eu ter de conseg uir

as garantias e as reparações solicitadas por meu governo.

« Se , n'essa occasião, venc ido pelo m odo com qu e Y . E x.

julg ou poder contestar, á m inh a primeira nota, tão moderada

quanto   ã  de V. Ex. foi inconveniente, eu houvesse respon

dido com um  ultimatum  lacô nico e dec isivo á negativa formal

opposta pelo governo da Republica ás solicitações de Sua

Magestade, exerceria certamente u m direito de que V . Ex.

me estimulara a prevalecer-me sem demora.

« N ão o fiz, po ré m ; e , pelo contrario, fiel á politica de

longan imida de que tem distm guido o proceder do governo do

Imp erador nas suas relações especiaes com este paiz, aven

turei, mesmo no momento em que vindicava a honra ofíen-

dida do m eu paiz e os direitos dos m eus concidadãos, con

selhos amigáveis, que fizessem o governo oriental comprehender

*a fatalidade das suas preoccupações e os perigos do seu pro

ced im ento . O m eu governo applaudiria sempre a moderação

do seu represen tante n'esta R ep ub lic a; estava eu certo d'isso,

e julg ue i não dever romper as nego ciaçõe s sem exhaurir a

ultim a esperança de conciliação; entendi que me cumpria

indicar ao govern o oriental o m odo pratico de h abilitar-se

para resolver prom ptamen te as suas ques tões intcrnacionaes,

isto é, a pacificação de seu paiz.

a Para qu e n ão reste somb ra de duv ida sobre o interesse

sincero que ainda um a vez o governo de Su a  Magestade

reve lou pela sorte do E stado O riental, long e de regosijar-se

com as lutas que o estão ann iquilan do, transcreverei  aqui

textualmente as palavras de que servi-me na citada nota de

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—   1S -

4 de

  J u n h o ,

  e que

  re s ume m

  o

  me s mo pe ns a me nt o

  das mi

nhas

  conferências

  com V. Ex., e com S. Ex. o Sr.

  pre

s idente .

« Agua rda ndo

  as

  ordens

  do

  governo

  imperial, a

  quem logo

informei

  da

  resposta negativa opposta

  ás

  suas reclamações,

eu fazia votos para

  que o

  governo

  da

  Republica reflectisse

na gravidade

  da

  s i tuação

  e na

  responsabil idade

  que

  assumira .

«

  Um

  supremo esforço

  de

  pat r iot i smo

  e

  abnegação poderia

rest i tuir

  a paz ao

  Estado Oriental

  por

  me i o

  de

  transacções

rasoaveis .

« L i be r t a do

  das

  preoccupações

  da

  politica interior,

  que o

t o r n a m

  tão

  suspeitoso

  e

  intratável para

  com o

  Impé r i o ,

  o

gove rno

  da

  Republ ica comprehender ia então

  a

  necessidade

  de

cirj|entar

  as

  relações

  de

  amizade,

  que

  devem

  ser

  cul t ivadas

por

  toàos os

  Brasileiros

  e

  Orientaes , como reclamam

  os

  inte

resses recíprocos

  de

  a mbos

  os

  paizes .

  ^ ]

«

  Não era eu

  somente quem depos i tava

  na paz

  interna

  do

Estado Oriental

  a

  esperança

  da

  solução completa

  de

  suas

questões internacionaes,

  das

  difficuldades

  que

  cercam

  o seu

gove rno ,

  e o

  isolam

  dos

  seus vis inhos.

  A

  população laboriosa

da Re publ i c a

  e os

  seus homens mais notáveis t inham iguaes

sent imentos .

I

  O

  i l lustrado governo

  da

  R epubl ica A rgent ina , vence ndo

nobre me nt e

  a

  distancia

  que o

  separava

  do

  governo or ien ta l ,

com quem havia interrompido

  as

 relações diplom áticas , en vio u

a esta capital

  uma

  personagem

  de

  elevado caracter

  ©

  s upe

r ior merecimento,

  o

  próprio ministro

  das

  relações exteriores,*afim

  de

  promover ajpeal isação

  da paz,

  almejada

  por

  todos.

cc

 E,

  para assignalar

  o

  caracter generoso

  das

  diligencias

feitas n'esse sentido, basta-me dizer

  que não

  duvi dou pre s

tar- lhes

  o seu

  muito val ioso concurso

  o

  nobre cavalheiro

 que

em Buenos-Ayres representa

  com

  tanta dignidad e

  o

  governo

de

  Sua

  Mages tade Bri tannica .

«

  Os

  hon rados minis tros

  a que

  tenho a l ludido,

  Srs.

  Rufi.no 

de Elizalde

  e

  Eduardo Thornton, conscios

  das

  intenções .

 e do

fim

  da missão especial

  do

  Brasi l , procederam sempre

  de

  per

fei to accordo comigo;

  e

  todos, durante longos dias , expondo

a provas mui to duras

  a

  nossa,

  paciência, julgamos

  ter

  feito

  a

bem

  da

  pacificação

  do

  Es tado Orienta l

  os

  esforços possiveis,

no meio

  dos

  preconceitos

  de

  part ido, através

  dos

  interesses

a m e a ç a d o s ,

  e

  apezar

  das

  injus t iças

  da

  própria imprensa official.

<c Des va ne cid a

  a

  esperança

  de

  verificar-se

  a paz

  i n t e rna ,

acheJHme

  no

  ponto

  em que me

  deixara

  a

  pr imeira nota

  de

V.

  J Ü . | S J

« Solicitei então

  as

  ul t imas ordens

  do meu

  governo, dan do

  'entanto

  ao da

  Republ ica tempo para

  que

  reflectisse sobre

as difficuldades

  da sua

  s i tuação,

  e

  effectúasse

  por si

  inesmo

  a

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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  156 —

paz do Estado Oriental, que aliegára nào ter se verificado em

conseqüência da pressão estrangeira. Tenho por tanto, Sr.

ministro, exhaurido os esforços possíveis para conservar A

minha missão o caracter amigável, que lhe dera o governo

de Sua Magestade, Como o exigem os verdadeiros interesses

do Império e da Republica.

« Agora, porém, não me cabe outro arbitrio se não cum

prir as ordens do meu governo.

ix Em virtude* d'ellas, venho notificar a V. Ex. o ultimo

appello amigavéf que o governo de Sua Magestade o Impe

rador do Brasil dirige ao governo da Repuhca Orientai do

Uruguay, solicitando as satisfações pedidas em minha nota de

18 de Maio, pela fôrma n'elia contida e acima transcripta.

« E, se dentro do praso improrogavel de seis dias, con

tados d'esta data, não houver o governo oriental attenílido

aos reclamos do governo imperial, não podendo este tolerar

por mais tempo os vexames e perseguições que soffrem seus

concidadãos, e tendo indeclinável necessidade de garantil-os

por qualquer modo, estou habilitado para declarar a V. Ex.

o seguinte :

« Que as forças do exercito brasileiro estacionadas nas

fronteiras receberão ordem para procederem ás represálias,

sempre que forem violentados os subditos de Sua Magestade,

ou fôr ameaçada a sua vida e segurança, incumbindo ao res

pectivo commandante providenciar, pela fôrma mais conve

niente e efficaz, a bem da protecção de que elles carecerem.

« Que também o almirante Barão de Tamandaré receberá

instrucções para do mesmo modo proteger, com a força da

esquadra ás suas ordens, aos agentes consulares e aos cidadãos

brasileiros ofíendidos por quaesquer autoridades, ou individuos

incitados a desacatos pela violência da imprensa, ou insti-

gação das mesmas autoridades.

« As represálias e as providencias para garantia dos meus

concidadãos, acima indicadas, não são, como V. Ex. sabe,

actos de guerra; e eu espero que o governo d'esta Republica

evite augmentar a gravidade aaquellas medidas, impedindo

successos lamentáveis, cuja responsabilidade pezará exclusi

vamente sobre o mesmo governo. Cumpre o governo oriental

ponderar os embaraços, e medir os resultados da posição que

assumir.

« Cumpre-lhe reflectir, que quaesquer que sejam as coase-

quencias supervenientes, unicamente de si próprio dever-se-ha

queixar, e da pertinácia com que tem querido desconhecer a

gravidade da situação do seu paiz. Desempenhando por esta

fôrma as ordens do meu governo, reitero a V. Ex. os votos

de minha muito distineta consideração.  Wfc.M? .  tó&a

« A S. Ex. o Sr. D. João José de Herrera, ministro das

relações exteriores da Republica Oriental do Uruguay.—

Jetê

Antônio Saraiva.  1

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— 157 -

O governo oriental respondeu ao conselheiro Saraiva, em

uma longa nota, da qual transcrevemos o final.

« Penosa foi a impressão recebida por S. Ex. o f>r. Pre

sidente da Republica ao tomar conhecimento da nota de S. Ex.

o Sr. conselheiro Saraiva.

« Em seu conceito, nem são aceitáveis os termos que se

permittio, V . Ex. empregar ao dirigir-se ao governo da R e

publica, nem é aceitável a comminação. Para o governo da

Republica é sempre a mesma razão e a justiça, e tanto as

respeitará e sustentará na discussão, como ante a força e a

ameaça.

« Attendendo a isto, recebi .ordem de S. Ex. o Sr. Presi

dente da Republica de devolver a V. Ex. por inaceitável, a

nota

  ultimatum

  que dirigio ao governo. Ella não pode per

manecer nos archivos orientaes.

« O governo já declarou, e fica consignado n'esta nota, que

os seus principios obrigam-no a prestar attenção a qualquerreclamação justa do governo do Brasil, esperando que de igual

modo procederá este governo em relação ao oriental; mas

hoje depois da ameaça, julga como já julgou inopportuna a

occasião actual para satisfazer reclamações feitas ha doze annos,

e que se apresentam„ para justificar aquelles que estão com

as armas na mão combatendo as instituições da Republica.

« Não obstante esta convicção, e attenta a pouca confiança

ue tem de alcançar de S. Ex. Sr. o conselheiro Saraiva o ajuste

as difficuldades existentes, desejando o governo arredar de si

qualquer suspeita de proceder inconveniente, ou injusto, em

suas relações'•com o

  d e

^ 3 u a

  Magestade Imperial; propõe por

meu intermédio a S. Ex. como o meio o mais efficaz, e que

nenhum a exigência fundada em justiça pôde repellir, o sub-

mettimento de commum accordo, das actuaes differenças entre

ambos os governos, o arbitramento de um a ou mais potências

das representadas em Montevidéo por SS. EExs. os Srs. en

carregados de negócios de Hespanha D. Carlos Créus, de Itália

Raphael Ullysses Barbolani, de Portugal Leonardo de Souza

L eite de Azevedo, #de França M artin M aillefer, da Prússia

H ermanin V on Gulich, e de Inglaterra Guilherme G. L ettson.

« Os árbitros decidirão sobre a opportunidade das reclama

ções apresentadas ante o governo oriental pelo Brasil, e em

seguida, caso seja essa opportunidade reconhecida, proporão

os meios práticos de proceder-se ao exame e satisfação das

reclamações reciprocas pendentes.

« Havendo'o governo de Sua Magistade o Imperador do Bra-

zil aceitado os principios do congresso de Paris, e havendo-

os recentemente posto em pratica em suas questões com uma

das grandes potências signatárias n'aquelle congresso, não

pôde acreditar o governo da R epublica de que V . JEx. re

cuse esta proposta.

3 3

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< t

  R eitero a S. Ex. o S r. e nviado extraordinário e ministro

plenipotenciario de Sua M agestade o Im perado r do Brasi l os

votos de minha muito dist ineta consideração.

« A S .

  Ex. o S r . conselheiro José A ntônio Saraiva . —João

José Berrem . »

Em 10 de A gosto respondeu o conselheiro S araiva ao g o

verno de Montevidéo com a nota seguinte :

« M issão especial do Brasil . — M ontevid éo, 10 de A gosto

de 1864.

« Sr . ministro .—Tendo o governo oriental del iberado desat-

tender ao ul t imo appel lo amigável que por meu intermédio

lhe dir igira o governo de S ua M agestade o Im pera dor , a bem

da justiça e protecção devida aos B rasileiros residentes na

R epu blica , recusand o-se a ffazer pu ni r os graves attentad os e

abusos de autorida de, assignalados em m inh a nota de 18 de

M a i o ;

  e propond o-m e V . Ex. em data de h on tem , expedientequ e i l lude a que stão, ou adia a diff iculdade; sendo ao co n

trario urg en te providen ciar em prol da seguran ça d a vid a e

propriedade dos Brasi le iros domici l iados nos departamentos

interiore s, e em m anifesto perigo n o m eio da s perturb ações

d'este paiz , que desgraçadamente aggravam-se e prolongam-se

yejo-me na imperiosa necessidade de an nu nci ar a V . Ex .

g u e ,  segundo as ordens do meu governo, vão ser expedidas

instrucções ao almirante Barão de Tamandaré, e ao comman

dante dos corpos do exercito estacionados na fronteira, para

procederem a represál ias, e em preg arem as medidas m ais con

ven iente s em ordem a torna r eífectiva por si me sm os a pro

tecção a qu e tem direito os subd itos Brasileiros, e qu e não

pôde assegurar- lhes o governo oriental .

« Pa ra que V . Ex . nq ue p lenam ente informado da de l ibe

ração do governo de Sua Magestade, cabe-me acerescentar ,

que elle ju lga do seu dever perman ecer n 'essa a t t i tude em

qu an to o governo oriental não adop tar as providencias, e

não der as satisfações rec lam ad as, ne m rep arar as offensas

praticadas contra a nação brasileira.

« O u tr o sim , posto que o desígnio principal do m eu governo

seja garantir por si mesmjo a segurança pessoal e a propriedade dos s eus con cidad ãos, até que se torne effectivo o cum

pr im ento das lei s da R epubl ica , não du vidará comtudo p ro

ceder a represálias especiaes a respeito d e cada um dos casos

oceorr idos , e mesm o aug m entar a grav idade das medidas que

vão ser auto risad as, se a a t t i tu de qu e ass um e fôr insu ficiente

pa ra alcanç ar tud o qu an to em no m e d'elle sollicitei pela nota

referida de 18 de M aio.

a T al é , S r . m inistr o, a del iberação do m eu go vern o  em

vista da resposta neg at iva do gov erno oriental , cons tante d *

nota datad a de hon tem a qu al devolvo a  V. Ex.  n ã ò s ó

pela razão qtte V. Ex. invocou para justiücar igual procedi-

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-  <59 -

raento,

  isto é, por ser formulada em termos

  que

  não desejo

qualificar, mas por conter estranhas inexactidões de facto, que

fora; ocioso elucidar. Dando assim por finda a missão espe

cial de que eu fora encarregado perante o governo oriental,

tenho a honra de reiterar a S. Ex. o Sr. ministro das rela

ções exteriores os votos de minha muito alta consideração.

« A S .

  Ex. o Sr. D. João José Herrera.—

José Antônio Saraiva.»

Na mesma data offíciou o conselheiro ^Saraiva ao corpo

diplomático residente em Montevidéo, participando-lhe que

tinha dirigido a

  4

  d^quelle* mez um

  ultimatum

  ao governo

oriental, pedindo-lhe de novo a resposta das reclamações

feitas na nota de  18 de Maio, tendentes a garantir a vida

e a propriedade dos subditos brasileiros alli residentes; e que

tinha recebido resposta negativa, que illudia a questão. Que

tinha ordem do seu governo para fazer-lhe esta commünicação,

acompanhando cópias d'aquelles documentos, das quaes conhe

ceriam a natureza dos fatos que houvessem de pratiear as

forças brasileiras, e os motivos do procedimento do governo

imperial.

Em data de  11 de Agosto dirigio o conselheiro Saraiva o

ofncte seguinte ao commandante das forças  navaes

1

 brasileiras

no Rio da Prata.

« Missão especial do Brasil.

 —

 Montevidéo,

  11

  de Agosto

de  1864.

« Illm. e Exm. Sr.—Passando por. cópia a V. Ex. as con-

clnsões do meu

  uUvmatum

 e a nota em que annunciei ao

governo oriental a execução das ordens do governo imperial,

creio haver habilitado á V. Ex. para comprenender e cumprir

as ordens do meu governo.

« Os nossos cônsules darão á V. Ex. noticia de tudo o

que souberem, e referir-se á aggravos soffridos por Brasileiros.

a Para corresponder ás vistas do governo imperial, pare

ce-me conveniente xiaver êm Paysandú, Salto e Colônia, esta

cionados navios de guerra, e que estes, além da protecção

devida aos nossos concidadãos, não devem tolerar que os

dous vapores de guerra do governo oriental, e quaesquer

outros,

  levem tropas para os pontos indicados, e em quanto

V. Ex. não julgar preciso apressar a execução de represálias,

ou  dar outro destino a esses navios.

« Julgo

  ocioso dizer mais, porque o patriotismo e a illus-

tração de V. Ex. dispensam quaesquer esclarecimentos.

« Prevaleço-me da opportunidade para exprimir  á  V. Ex.

os

  votos

  de

  meu

  respeito e alta consideração.

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 460

  —

« À S .

  iSx. o Sr. vice-almirante conselheiro de guerra

Barão de Tamandaré. —José Antônio Saraiva. »

« Missão especial do Brasil. — Montev idéo, 11 de Agosto

de 1864,  |

Bif e. Sr. — Haja V. S. de previnir aos vice-consules, exe

cutando-as por sua parte, das seguintes instrucções, em quanto

permanecer a attitude que assumio o governo do Brasil de

proteger por si mesmo aos seus nacionaes.

« 1.° Commuaique aos commandantes das forças de terra

ou de mar qualquer attentados contra a vida e a propriedade

de Brasileiros.

« I Ê .

0

  Faça constar aos nossos* concidadãos que servem no

exercito oriental que, se procurarem os nossos navios, n'elles

acharão a protecção que se lhes deve.

«

  3 , ° Solicite dos mesmos commandantes qualquer prov i

dencias que julgue conveniente para que sejam os Bras ileiros

efficazmente protegidos.

« 4.° Preste aos Brasileiros constrangidos ao serviço mili tar

os meios necessários para que possam procurar o nosso

exercito, ou os navios de guerra.

« Cumpre que os vice-consules observem aos Brasileiros

que não . devem envolver-se nas lutas internas da Re pu -

« Deus guarde a V. S.

« Ao Sr. Melchior Carneiro de Mendonça Franco. —  José

N'este mesmo dia

  11

  de Agosto sahio de Montevidéo o

conselheiro Saraiva ; ás 3 horas da tarde embarcou para a

correta

  Nitherohy,

  ao anoitecer seguio para Buenos -Ayres ,

onde chegou no dia seguinte.

Depois da partida do enviado brasileiro, o governo oriental

expedio u m a . circular aos chefes politicos, recommendan-

do-lhes que dessem toda a protecção e garantia aos subditos

brasileiros, e determinou a entrega de todos os qu e foram

forçados ao serviço militar da flepuMica. Pareceu com aquelles

a c t o s ,  que o^governo oriental principiava à reconhecer que

iinha procedido mal para com o enyiado brasileiro.

Dirigio uma circular ao corpo diplomático, sobre a missão

brasileira que acabava de findar.  0  ministro de Hespanha,

como decano do corpo diplomático, sem entrar env apre

ciações dos factos, limitou-se a responder por si e em nome

de todos os seus collegas, que sent ia profundamente que ò

enviado brasileiro não tivesse aceitado o principio da arbi*

Antônio Saraiva »

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—  \§\ —

tragem proposta, e que não havia motivo para

  fftna

  commü

nicação especial aos respectivos governos.

A

  população àa capitál^do pa/tido b lanco, continu ou m uito

exaltada contra os Brasileiros; foi necessário haver dajparte

d*õstes

  m uita moderação , para evitarem-se sérias conseqü ências.

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L I V R O S E P T I M O .

E X P L I C A Ç Õ E S O F F I C I A E S , E N T R E O I M P É R I O

 I

  A R E P U B L I C A A R G E N T I N A .

Como não se tivesse realizado a pacificação do Estado

Oriental pela intervenção dos ministros argentino e ing lez,

aos quaes se reun io o brasileiro, e tendo-se depois recusado

o dito governo a attender ás reclamações do ministro brasi

leiro,

  este declarou no

  ultimatum

  que lhe dirigio, que as

forças do Império passavam a fazer represálias, até que aquelle

gove rno desse as satisfações exigidas pelo governo imperial ;

então esta nov a posição do Brasil no E stado O riental despe r

t o u ,

  como era natural, ao governo argentino. O conselheiro

Saraiva, que já estava em Buenos-Ayres, entendeu-se a este

respeito com aq uelle gov ern o, no sentido de ficar bem claro

quaes eram as intenções do Brasil para com o Estado Oriental.

E is como o ex-ministro dos negócios estrangeiros, J. P .

D ias V ieira, deu parte no seu relatório de

  1865.

M A N

  IFESTAÇÕE3  D O G O V E R N O A R G E N T I N O R E L A T I V A M E N T E i P O S I Ç Ã O

A S S U M I D A P E L O G O V E R N O I M P E R I A L E M M O N T E V I D É O .

« Como já o havia declarado o respectivo ministro das rela

ções exteriores, estava o gover no da Confederação A rge ntin a

convencido, como o do Império, que a pacificação interna do

Estado OrientaU era um dos meios mais próprios para con

seguir a conveniente solução de suas questões e dificuldades

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  4 0 4

  —

com a mesma R epu blica; e p ara a realisaçáo d/esse m eio

tinha já em commum com o representante brasileiro empre

gado os seus esforços, reconhecendo en tão m ais u m a  vG&t

pelo procedimento do m esm o represe ntan te, 'q u e a politica do

Império não era guiada pelas vistas ambiciosas, que se lhe

emprestavam, e nem de leve implicava com a independência

e integridade da dita Republica.

cc

 Pa ra qu e em um doc um ento official ficasse con sagra da a

opinião dos dous governos, assignaram em 22 de Agosto, o

S r. Elizalde e' o Sr. conselheiro S araiva , u m prótocollo,

pelo qual reconheceu aquelle o pleno direito que assistia ao

Im pério de proceder, n a conjunctura qu e surg ira em suas

relações com o Estado O riental, do mesm o modo como pr o

cedem euk circum stancias idênticas todas as naçõe s, em pre

gando os^Hfeos" pa ra isso autorisados pelo direito das g en te s,

salva e subentendida sempre a l imitação de qu e, qua lque r

que fosse o resultado do emprego d

7

esses meios, respeitar-se-

hiam os tratados, que garantem a independência e integri

dade do território, bem como a soberania do mesmo Estado.

« Foi mais declarado q te , por effeito da boa h ar m oa ia e

intelligencia existentes entre os dous governos, o do Império

e o da Confederação? conv inham os seus repre sen tante s em

que m utuam ente se au xiliariam os mesmos governos no

ajuste de suas pendências com o Estado Oriental, demons

trando assinr o sincero desejo de ve r ter m in ad a a situ aç ão

que existia, e que tanto prejudicava a paz do Rio da Prata.

« Depois de referir-vos este inc ide nte , qu e intere ssa á h is

toria dos acontecimentos de que me vou occupando, cabe-me

dizer-vos qu e o governo oriental, em seguida ao ro m pi

mento da negociação para o restabelecimento da paz na Re

pub lica, dirigio aos agentes diplom áticos acreditados em M o n

tevidéo uma circular, chamando a sua attenção para a gra

vidade da situação, em que se achava a m esm a Republica.*

« Bem que soubessem os m encionad os agentes que na df

havia a receiar pela independên cia e integridade da R epub lica,

porque semelhante pretenção, além de attentatoria da boa fé

dos tratados, e dos seus respectivos compromissos, prejudicava

aos próprios interesses do Im pé rio ; reconheciam com tudo quão

melindrosa era a situação, considerando que as medidas, que

se adoptassem para conseguir as reparaçõe s qu e exig íam os,

poderiam affectar a propriedade e os interesses dos seus res

pectivos concidadãos domiciliados na Republica.

j§|& F und ado s n'esta razão, dirig iram -se pois os m enc iona dos

agentes diplomáticos ao então representante do Império em

Montevidéo, o Sr. Dr. João Alves Loureiro, manifestando-lhe

o receio de que no uso das represálias pelo gov erno imperia%

fossem prejudicados os alludidos interesses.

« Como cum pria, apressou-se o representante do

  Impeli*»

a desvanecer semelhante apprehensão, declarando que àe

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forma algu m a seria com promet tida a propriedade devida m ente

carao |s r isada  e os interesses legit imes dos neutros,  nos  actos

de

  coerçáo

  que hou vessem de empregar

  as

  forças

  marítimas

brasileiras.»

Por está exposição, que acabamos de transcrever do ex-mi

nistro de estrangeiros Dias Vieira,  v ê- s e  que o accordo que

fez o conselheiro José Antônio Sairava com o governo ar

ge nti no , foi um a prova de que*este go ver no desejava ver ter

minada a questão entre o Império e o Estado Oriental.

P R O T O C O L L O C E L E B R A D O C O M A R E P U B L I C A A R G E N T I N A S O B R E A P O S I Ç Ã O

A S S U M I D A P E L O I M P É R I O N O E S T A D O O R I B N T A

  f

« Reunidos na secretaria do ministério das relações exteriores,

S. Ex. o Sr. ministro e secretario de estado d'esta repar

t ição,

  Dr. D. Rufino de Elizalde, e S. Ex. o Sr. enviado

e xt r a or d iná r io

  o m inistro plenipo tenciario de Su a Magestade

o Imperador do Brasil, em missão especial

  j u n t o

  ao governo

argentino, conselheiro José Antônio Saraiva, afim de confe-

renciarem acerca das eventualidades possiveis no Rio da

Prata por causa da questão oriental, concordaram em proto-

collisar as segu intes declarações, em nom e de seu s respec

tivos governos, os quaes em virtude dos tratados vigentes,,

tem o dever e interesse de manter a independência, a in te

gridade de território, e a soberania da R epu blica O riental do

Uruguay.

«  1.°  R econ hec em que a paz da R epublica Oriental do

U ru gu ay, é a condição indispensável para solução completa

e satisfactoria de suas questões e difficuldades intern aciona es

com a m esma R epu blica; e que auxiliando e promovendo

essa paz semp re que ella seja comp ativel com o decoro de

seus respectivos paizes, e com a soberania da Republica

O riental: julga m praticar u m acto proveitoso não só a essa

R ep ub lica , como aos paizes l imitrophes, que tem com ella

relações mui especiaes.

« 2.°

  Tanto a R epublica Argentina com o Imp ério do Brasil ,

na plenitud e de sua soberania co m o E stados indepe nde ntes,

podem em suas relações com a Republica Oriental do Uru

gua y, igualm ente soberana e independente f  proceder nos casos

de desintelügencia como proceejem todas as nações, servinan-se

para exting uil-a dos m eios, que se reconhecem lícitos pelo

direito das gentes,, com a únic a limitação de q ue , qualquer

que seja o resultado que o emp rego n es te s m eios produsa,

serão sempre respeitados os tratados que garantem a inde

pend ência, a integr idade de território e a sober ania da m es m a

Republica.

« 3,°  Os governos, argentino e o de Su a M agestade o Im -

3 3

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— 466 —

perador do Brasil, tratarão do ajuste de suas respectivas

questões com o governo oriental, auxiliando-se m u tu a m e n te

por

1

  meios am igáveis, como u m a prova do* sêu since ro desejo

de ver terminar a si tuação a ctua l que pe rturba a paz do R io

da Prata.

« E n'esta conformidade, firmam dou s de u m sõ te or, e m

Bu enos-A yres aos 22 de A gosto de 1864.—José Antônio Saraiva.

— Rufino de Elizalde.»

Em 22 de Agosto o commandante em chefe das forças na-

vaes brasileiras no R io da P rata , offíciou á legação im pe rial

em M ontevidéo, particip and o-lhe que estava auto risad o pelo

conselheüo Saraiva para fazer represá lias; m as an tes de assim

proceder exigia que a legação recom men dasse ao go ve rno da

R epublica, e este a seus delegados, que tratasse m bem aos

nossos concidadãos, para po upa r qu an to fosse possivel q u e

aquelle Estado soffresse a menor humilhação das forças do

seu commando.

« Parece-me, porém (continua o vice-a lmira nte), qu e se o

governo oriental fizesse algu m pequ eno esforço pa ra ser ju st o ,

e reconhecesse a razão que nos assiste para não ab an do na r

a causa de nossos compatriotas, fácil seria caminharmos na

Tia ordinária de nossas relações, infelizmente abaladas. Para

isto conviria essencialmente que o dito governo ordenasse ainstauração dos processos das reclamaç ões feitas, e m ostra sse

boa vontade em fazel-os seguir seu curso legal.

« Peço, pois, a  V .  Ex. que faça algum a d eligencia n'es te

sentido, para que o governo oriental se esclareça e nos at-

tenda, e para assim conseguir-mos o fim que almejamos e

acima manifesto ; pois qu e se elle não der este passo, com

que prove querer entrar em via de reparação para comnosoo,

ver-me-hei forçado a sahir do estado de espectativa pacifica,

para proceder a alguma represália que, sem prejuízo dos ha

bitantes inoffensivos, aggrave a situação precária em que já

se acha o governo, o que justam ente tenho pr ocu rad o ev itar.»

Deu então o vice-almirante brasileiro instrucções ao com-

nÉmdante da  3 . divisão das forças navaes do Império no Rio

da Prata para:

1.° V elar na gu ard a das pessoas dos Brasileiros reside ntes

n'essas localidades, prestando todo o apoio qu e lh es for de vid o.

2.° Em prega r a força q ue for com patív el com os m ei os es»

peciaes de sua acção, para repe llir as aggressões q*e foNto

feitas a subditos brasileiros, capturando os autores d*esses

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- 167 -

a t t e n t a d o s , q u e r s e j a m a u t o r i d a d e s , q u e r s i m p l e s c i d a d ã o s d o

E s t a d a O r i e n t a l .

3 . ° P r e s t a r t o d a a c o a d j u v a ç ã o a o s c ô n s u l e s e v i c e - c o n s u l e s

b r a s i l e i r o s . A o c r i t é r i o d e

  V .

  S . e s e u z e l o p e l o b e m d o

s e r v i ç o , c o n f i o a e x e c u ç ã o d * e s t e s t r e s p r e c e i t o s i m p o r t a n t e s ,

b a s e c o r d i a l d a s p r e s e n t e s i n s t r u c ç õ e s .

. A l é m d ' e s t e s t r e s p o n t o s c a p i t ã e s , p r e v i n i o t o d o s o s c a s o s

q u e p u d e s s e m o c c or r e r n a e x e c u ç ã o d a s i n s t r u c ç õ e s q u e l h e

d a v a .

O s a c t o s p r a t i c a d o s p e l o c a p i t ã o d e m a r e g u e r r a F r a n c i s c o

P e r e i r a P i n t o , c o m m a n d a n t e d a 3 .

a

  d i v i s ã o n a v a l , c o n s e

q ü ê n c i a d a s i n s t r u c ç õ e s q u e t i n b a r e c e b i d o , f o r a m : e m P a y

s a n d ú , a 2 8 d e A g o s t o , e x i g i r d o c o m m a n d a n t e d a p r a ç a q u e

l h e d e c l a r a s s e s e o s s u b d i t o s b r a s i l e i r o s a l l i r e s i d e n t e s p o d i a m

c o n t a r c o m a p r o t e c ç ã o q u e l h e s o f í e r e c i a u í a s l e i s d a R e

p u b l i c a ; e s e e s t a v a r e s o l v i d o a d e s a r m a r o v a p o r  Villa dei

Salto.  O c o m m a n d a n t e m i l i ta r , L e a n d ro G o m e s , r e s p o n d e u - l h e

q u e , e m c o n s e q ü ê n c i a d a s r e c o m m e n d a ç õ e s d o g o v e r n o d a R e

p u b l i c a , c o n t i n u a v a a r e s p ei ta r e p r ot e g e r a v i d a e a p r ó p r i a ^

d a d e d o s s u b d i t o s b r a s i l e i r o s c o m o d o s o u t r o s h a b i t a n t e s d a

R e p u b l i c a ; e r e c u s o u - s e a d e sa r m a r o v a p o r d e g u e r r a o r i e n t a l

Villa dei Salto.  N o d i a 3 d e S e t e m b r o f ez a m e s m a e x i g ê n c i a

a o c o m m a n d a n t e m i l i t a r d a V i l l a d o S a l t o , q u e l h e r e s p o n d e u

no*

  m e s m o s e n t i d o d e L e a n d r o G o m e s .

E m o f fi c io d e 8 d e S e t e m b r o , d e b o r d o d a c o r v e t a a v a p o r

Jequüinhonha,  p a r t i c i p a o c a p i t ã o d e m a r e g u e r r a F r a n c i s c o P e

r e i r a P i n t o a o v i c e - a l m i r a n t e , q u e n o d i a 7 d a n d o c a ç a a o y a p o r

d e g u e r r a o r i e n t a l

  Villa dei Salto

  c o m a s c o r v e t a s

  Belmonte

  e J e -

quitinhonha,

  a q u e l l e v a p o r , t en ,d o s a h i d o d a C o n c d r d i a á s c h o r a s

d a t a r d e , p ô d e r e f u g ia r - se e m P a y s a n d ú , o n d e a g u a r n i ç a o o

a b a n d o n o u e l a n ç o u - l h e f o go .

E m c o n s e q ü ê n c i a d ' es ta s o p e r a ç õ e s n a v a e s n o R i o U r u g u a y ,

o g o v e r n o o r i e n t a l r o m p e u a s s u a s r e l a ç õ e s c o m a l e g a ç ã o

i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o . E m n o t a d e 3 0 d e A g o s t o d i r i g i d a

a o D r , J o ã o A l v e s L o u r e i r o , l h e d iz o s e g u i n t e :

« A ' v i s t a d ' e s t es f a c t o s , e t e n d o g o v e r n o d o B r a s i l d i s p a

r a d o o p r i m e i r o t i r o d e c a n h ã o n o P r a t a , S . E x . o S r . m i n i s t r o

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residente junto do gov erno da Republica coniprehenderá que

é inútil sua permanência diplomática no território naeionajL

Po r con segu inte S . E x. se servirá fazer «uso, dentro Se  24

horas contadas d o mom en to em que receber esta nota, dos

passaportes qu e S. E x. o Sr. Presiden te da R epublica m e or

dena que passe ás suas mãos. »

No dia 31 retirou-se o ministro residente com a legação

imperial para bordo da cor veta dfitheroy.  No dia

  1 . °

  de Setembro

dirigio uma circular aos agentes diplomáticos residentes em

Montevidéo. N'esta circular refere o ministro residente tudo

o que se tem passado entre o Império e o Estado Oriental,

d'esde a chegada do conselheiro Saraiva, a Montevidéo em

missão especial, até ao incêndio do vapor oriental

  Villa dei

Salto,

  no porto de Paysandú. A' esta circular responderam os

agentes estrangeiros com o convin ha á dignidade do Império.

E m 3 de «Setembro man dou o gov erno oriental um a nota

ao cônsul geral do Brasil em Montevidéo, na qual lhe com-

municava a resolução do dito governo tomada n'aquella data,

a qual se segue:

RESOLUÇÃO.

cc

  Reproduzindo-se todos os dias, com caracteres de maior gra

vidade, os actos attentatorios da marinha imperial do Brasil

contra o pavilhão nacional, e até que sejam dadas á R epublica

as reparações que exigem sua honra ultrajada pelos actos de

injustificável hostilidad e, que, sem preencher- os requisitos es

tabelecidos pelo direito das gentes têm sido prepetrados em

no m e do govern o do Im pério, creando um a situação de guerra

que torna aggravante a permanência no território da Repu

blic a: do escud o das armas e da bandeira, sob cuja sombra se

tem comm ettido aquelles attentados: o Presidente da Repu

blica, em conselho de ministros, resolveu que hoje mesmo

sejam caçados os  exequatur  expedidos ás patentes consulares do

Brasil na Republica, devendo, ao dar conhecimento d

,

est* re

solução á quem tompete, por intermédio dos chefes políticos

dó i departam eutos, ser notificados ao m esm o tempo os agentes

consu lares brasileiros de que uca prohibida toda a com m uni-

cação das forças marítim as e terrestaes de seu governo com

o território da R ep ub lica , send o desde hoje exclusivamente

sua a responsabilidade por qualquer acto que dê lugar á ia*

fracção da presente resolução.

« Com a rubrica de

  S .

  Ex. —

  Herrera.

 —

 Lapido.— Gomes.—

Per es.  »

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Emquanto se davam estes acontecimentos no Estado Oriental

e no R io U rug ua y, conservou-se o min istro brasileiro em

Buenos-Ayres. Antes de se retirar entendeu que devia maudar

instrucções ao presidente da provincia do Rio Grande; como

medidas indispensáveis á segurança dos Brasileiros no Estado

Oriental . Em data de 7 de Setembro, diz o conselheiro Sa

ra iva aquel le presidente:

k  Q ue parece-lhe m uito necessário e urgen te, que o e xer

cito brasileiro en tre no território da R epu blica, para o fim

de expellir de Cerro L argo , Pa ysa nd ú e S alto, as forças

do governo de Montevidéo que n'esses pontos existem, e

am eaç am exercer represálias sobre nossos concidadãos .

Qu e a divisão qu e ho uv er de effectuar operações m ilita

res contra Pa ys an dú e S alto, deve ter a gente e material

necessário para sitiar e tomar á viva força, se necessário fôr,

a cidade de Pa ysa nd ú, onde ha hoje um a guarnição pouco

inferior a mil praças, e mais de 20 peças de campanha bem

collocadas. Que convém atacar primeiro o Salto, que tem

menor guarnição, para depois seguir com toda a força para

P a y s a n d ú . »

Seguem-se outras muitas instrucções, suppondo existir na

pro vin cia do R io Gran de u m g rand e exercite para as executar,

as quaes não transcrevemos, porque não se executaram n'aquella

occasião pelos motivos que vão ver-se. Offieiou também ao

commandante das forças navaes, cujo officio está copiado no

Kvro  10.

S egu em -se as ordens expedidas de conformidade com as

instrucções acima.

« R io de Ja ne iro . — M inistério dos negócios estrangeiros-

em 21 de Setembro de  1864.

« I ll m . Exm . S r . — O officio de V . E x. , n.  8,  de  6  d o

co rren te, qu e ten ho prese nte, bem como todas as peças offi

ciaes qu e por cópia o acom panh am, expõem circumstan ciada-

mente ao governo imperial o facto occorrido no dia

  26

  do

mez findo com o vapor de guerra oriental  Villa dei Salto,

e a nova face que consequentemente tomou a nossa posição

n'essa Republica .

« A lém da correspondência de V . Ex . foi o governo im

perial verbalmente informado pelo Sr . conselheiro Saraiva de

todo o occorrido a qu e a m esm a correspondência allude,

bem como d as med idas qu e julgo u o dito conselheiro deviam

ser adoptadas, em vista do proced imen to do gov erno o riental.

« A guardando a entrad a do paquete  Saintoae  para, com co

nh ecim ento dos officios de V . Ex. qu e elle trouxe sse res-

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ponder aqu el la correspondê ncia , acaba de entra r  o  dito pa

q ue te sem sèr po rtado r de officio alg um de

  V .

  Ex . ,

  o

  que

at ír ib u o a circum stancia de achar-se infelizmente in com  m o -

da do , segun do noticia o S r . L eal, em* um dos s eus offi

cios.

« Passan do pois a da r , com o o pe rm itte a estreiteza do

tempo, a devida resposta ao primeiro citado officio de

  V. Ex.

cabe -m e signif icar- lhe que o govern o de S ua M agestade o

Imperador , coherente com as razões que o de terminaram a

m and ar o Sr . conselheiro S ara iva em m issão especia l a M on

tevidéo, approv a com ple tam ente a resolução que tomou o

m esm o con selh eiro , de q ue fossem occupa das por nossas forças

as c idades de Pa ys an dú , Sa l to e Cerro L argo ; entendendo

que deve essa occupação verif icar-se sem perda de tempo.

cc  Como

  V .

  Ex . sa be , ne nhuma in te nç ã o , ou pr e te nç ã o

abr iga o governo imper ia l , contrar ia  á  indepen dência do

Esta do vis inh o, e ne m mesm o dá preferencia a este , ou

aquelle dos partidos em que all i se divide a opinião. Absolu

tam en te ne utra l , e de propósito deliberado a não inte rvir

nas questões e nas lu tas que se t ravem, o governo imper ia l

tão somente exige do da Republica, qualquer que seja a

opinião polit ica a que per tenç a, a solução de suas justas re

clam ações, e as garan tias precisas á vida, honra e proprie

dade dos cidadãos brasileiros que all i residem.

cc  Co nseqü ente com este pen sam ento , entend e o governo

im per ial qu e a occupação dos pontos indicados só deve

subsistir em quanto  , n 'elles não se achar que m dê as ga

rantias desejadas e as faça effectivas.

« A ssim qu e, se as forças do gene ral D . V enancio F lores,

vierem occupar os departam entos mencionados, desde qu e

ellas,  em bo ra como gov ern o de facto, offerecerem as dese

jadas seguranças á vida, honra e propriedade dos Brasileiros,

cumprirá que as forças imperiaes se retraiam, pois que,

com o já disse, não tem o gov erno do Im perador o inten to

de favorecer u m a, ou ou tra parcialidade, m as conseguir de

qu alq ue r d'ellas, que effectivam ente exerça o poder, as ga

rantias devidas, e que a própria consti tuição da Republica

affiança aos qu e h ab itam o seu território.

« Co m m uníc and o por este modo a V . Ex. o pensamento

do governo im pe rial , que ora igualm ente transmitto ao S r .

presiden te da provincia de S . Pedro do R io Grande do S ul,

fica o governo imperial tranquillo sobre a execução que suas

ord ens h ão de ter da p arte de V . Ex. qu e tão repetidas

pro vas tem dad o do valor, critério e prudê ncia, que dis

t inguem o seu caracter .

« R eitero a V . E x. as segu rança s de minh a perfeita estima

é distineta consideração.

cc A S . E x. o Sr. Ba rão d e Tamandaré.—

•Cario* Carneiro de

Campos. »

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 \7\

 —

cc  M inistério dos negócios estrangeiros, em 21 de S etembro

de 1864.

« Il lm . e Ex m . S r. — N a cópia inclusa do despacho que

n'esta data dirijo ao S r. Barão de T am andaré, com m anda nte

em chefe de nossas forças

#

  m arítimas no R io da P rata , verá

"V.

  Ex. a resolução tomada pelo governo imperial, relativa

m en te á posição qu e devemos assumir no Estado O riental.

Cou vindo activar o cum prim ento im med iato da referida reso

lução, solicito de V. Ex. a expedição das ordens para isso

precisas pelo ministério a seu cargo, ao commandante da

força no Rio Grande do Sul.

« Previno a V. Ex. de que as ordens a que acabo de re

ferir-me devem estar promptas para seguirem esta tarde pelo

vapor de guerra  Recife,  ou pelo

  Apa,

  cuja sabida os jornaes

de hoje a nn un cia m para o dia 23 do corrente.

cc

  R eitero a V . E x. as segurança de m inh a perfeita estima e

consideração.

cc

  A S . Ex. o Sr . H enrique de Beaurepaire R ohan. —

  Carlos

Carneiro de Campos.

« M inisté rio dos negócios estrangeiros, em 21 de S etembro

de 1864.

<< Il lm . e E xm . Sr.*— O despacho por cópia incluso que

n'es ta data dirijo ao Sr. Barão de T aman daré, contra a reso

luçã o to m ada pelo governo im perial, em presença dos últim os

acontec ime ntos occorridos no Estado O riental, de qu e está

V . Ex. sem d uvida igualmente inteirado. Devendo V . Ex.

receb er pelo m inistério da gu erra as convenientes instrucçõe s

pa ra o cum prim en to da referida resolução na parte que lhe

resp eita, n ad a m e resta accrescentar senão que nca o governo

imperial certo de que V. Ex. envidará todos os possíveis

esforços para qu e a deliberação qu e acaba de to m ar o m esm o

governo tenha a melhor e a mais completa execução.

« R eitero a V . Ex. as seguranças de m inha perfeita estima

e distineta consideração.

cc  A S . E x. o S r. Jo ão M arcellino de Souza Gonzaga.

— Carlos Carneiro de Campos.

I N S T R U C Ç Õ E S D A D A S   P E L O  M I N I S T É R I O D A G U E R R A P A R A . o  S E R V I Ç O

D A S

  F O R Ç A S E S T A C I O N A D A S N A F R O N T E I R A D O R I O

  G R A N D E

  D O S U L .

« 1.° A divisão situada em Bagé, deverá estar sempre prompta

para expedir força em todas as direcções de nossa fronteira,

e deve estar preparada para marchar para o Estado Orientai

se sueceder que alguma força considerável do mesmo Estado

ameace algum ponto de nossa fronteira.

« 2.° A fronteira de Quarahim e S ant 'A nna do L ivram ento

con tinua rá guarn ecida do m elhor modo que fôr possível, e

as forças qu e n 'ellas estacionarem se conservarão se m pre em

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perfeito estado de m obillidade , de sorte que possam opetar

prom ptam ente. O m esm o se procurará observar a respeito

das forças que g ua rn ec em as fronteiras de Jaguarão. A fron

teira de Chuy conv ém qu e seja bem guarnecida e c om m an

dada por um official de inteir a confian ça, áq uem se prescreva

toda a vigilância e cuidado de su a defeza, a qual não d e

verá ser confiada s óm en U á guarda de forças de cavallaria,

attenta a sua posição topograp hica, em relação á cidade do

Rio Grande.  \ *

« 3.° Os com m and ante s parciaes d'estás fronteiras, deverão

ter as necessárias orden s, para obrar repentina m ente, como

o caso ex igir, nas segu intes hypo theses: i . ° policia da fron

teira;  2 .°  repellir qualquer inva são do nosso território;  3 .

9

exercer represálias.

« 4.° Na policia das fronteiras empregarão todos os meios

para m anter a tranquillidade e ordem , ap prehendendo os cri

minosos e desertores, e pessoas suspeitas que pretendam en

trar ou sahir pela fronteira, não con sentin do na reunião de

ind ivid uo s que pretendam passar para o Estado Oriental,

com o fim de introm etterem -se nas qu est õe s* intestinas d'a-

quelle paiz.

« 5.°

  N a defeza contra qualqu er inva são do nosso territó

rio, o gov erno im perial conta que os bravos soldados do

Im pér io emp enharão ^todo o seu costum ado valor e lealdade

na defeza dos direitos de nos sa sobera nia territorial, quer

defendendo por si m esm os os pontos que forem invadido s,

quer auxiliando-se reciprocamente as forças destacadas umasás outras, conforme as circumstancias exigirem.

« 6.° A s represálias deverão consistir : 1.° N a apprehensão

dos individuos reconhecidos como criminosos, contra as pessoas,

o u propriedades dos Br asileir os; quer sejam autoridades, ou

com m anda ntes de forças, quer perm aneçam sob sua protecção;

2.° na perseguição e captura d 'aqu elles que comm etterem

atten tado s contra as pessoa s e propriedades dos B rasileiros;

3.° con sum m ada a represália, as partidas, ou forças que as

fizerem se recolherão immediatamente ao território brasileiro;

4.° os individuos que forem presos em virtude das represá

l ias ,

  serão rem ettidos para as p risões das gua rniçó es mais

próx ima s, e ficarão sujeitos ás ordens do com m anda nte das

armas;  5.°  a esphera das ev olu çõ es nece ssárias para realça

rem-se as represálias, deverá ser os departamentos dá fron

teira terrestre do Estado O rientai, não só porque é n^ lles

que avultam os interesses brasileiros, como porque não con

vém estender a muito longe a acção de pequenas forcas iso

ladas.

• 7.°  O presidente d o R io Grande do S u l, de aocordo com

o com m an a ante das arm as, pode rá, confo rm e as oircumstan*

cias que occo rrerem , m andar realisar quaesque r outras pro»

viden cias que não se acharem contida s nas presentes.  i-nsfÈüe*.;

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odes,

  mas forem necessárias para fiel execução do pensamento

do governo imperial, em relação á guarda e defeza da nossa

fronteira, e apoio e protecção ás pessoas e propriedades dos

cidadãos brasileiros.

« Paço, em   2 1  de Julh o de  1864.—Francisco  Carlos

 de Araújo

Brusque. »

I N S T R U C Ç Õ E S D A D A S P E L O M I N I S T É R I O D A M A R I N H A A O C O M M A N D A N T E E M

C H E F E D A S F O R Ç A S N A V A E S B R A S I LE I R A S N O R I O D A P R A T A .

« Ao com m andante em chefe das forças navaes, incumb e :

«

  1 . °  Dar toda a protecção aos Brasileiros, até mesmo,

com força, contra as perseguições que lhes forem feitas, e

auxiliando, com os recursos á sua disposição, as requisições

qu e lhe dirigirem os nossos agentes diplomáticos e consu

lares.

« Fazer estacionar no S alto, em Pa ysan dú, em M aldonado,ou em qualquer outro ponto, as canhoneiras que forem neces

sárias, em ordem a prestar o mais efficaz amparo e protecção

aos subditos do Império, e apoio á acção das forças incum

bidas de represálias pela fronteira do Chuy e do Qu arahim.

cc A os respectivos comm andantes inb um be especialm ente:

cc 1 ,° V elar na guarda*das pessoas dos Brasileiros residentes

n'essas localidades, e prestar todo o auxilio que lhes for

possivel.

«

  2 . ° Em pregar a força que for com pativel com os meios

de sua acção, para repellir as aggressões feitas a subditos

Brasileiros, capturando aquelles que forem autores d'esses

attentados, ou sejam autoridades, ou simples cidadãos do

Estado Oriental.

cc Pre star toda a coadjuvação aos cônsules brasileiros.

« S ecretaria d'estado dos negócios da m arin ha , em   2 1  de

Julho de

  1 8 6 4 . —

  Francisco

  Carlos de Araújo Brusque. »

O governo imperial estava persuadido de que com as me

didas tomadas nos documentos que acabamos de transcrever,

conseguia que o governo do Estado Oriental satisfizesse ple

namente ás suas reclamações; que bastavam as represálias

ordenad as para tudo se acabar.

A s operações navaes que tiveram lugar no rio Uru gu ay,

desde Setembro até fim de Novembro, foi o encontro da

corveta

  Jequitinhonha

  com o vapor oriental

  Villa

  dst

 SaMo,

  que

já referimos.

O ex -m inistro dos negócios estrangeiros Dias V ieira, deu a

este acontecimento gran de im portância (importância qu e não

merecia,) e trata d'elle em seu relatório do modo se g u in te :

3 4

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« Dous conflictos, porém, succederam depois com o   Villa dd

Salto  q ue, em eomm issão do governo oriental, ia levar soe-

corros á villa de M ercedes, situada sobre a costa do Rio

Negro .

(c O fim da m ari nh a brasileira era. como fica dito, un ica

mente tolher o movimento dos navios, segundo as disposições

tomadas pelo Visconde de Tamandaré.

<c No prim eiro conflicto não pôde con segu ir, por se haver

refugiado aquelle vapor em águas argentinas, onde não era

possível perseguil-o, attenta a neutralidade declarada pelo

governo da Confederação.

« Os dous portos, da Conceição e da Concórdia, lhe serviram

por tanto de abrigo, o que levou o governo argentino a

mandar estacionar alli dous vapores, afim de ser mantida a

inviolabilidade de suas águas; não pelos navios de guerra

brasileiros, que conhecia haverem a este respeito sempre pro

cedido com o m aior escrúpulo e circum specção, m as pelos

vapores e embarcações orientaes, que assim abusavam do di

reito de asylo de um Estado amigo e neutral.

« No segund o co nflicto, que verificou-se  érájl  de S etembro,

ainda se frustrou a diligencia, porque encontrado pelo vapor

de guerra brasileiro  JequitMionha,  que lhe deu caça, e sobre

elle fez fogo, conseguio o  Villa  dei  Salto  escapar, alcançando

as águas da praia em frente a Pay san dú , onde pelo sen calado

não podia o  Jequitinhonha  chegar; e alli para de todo inu-

tilisar a diligencia do nosso vapor, fez o commandante saltar

a guarnição em terra, e lançou fogo ao navio.

c<

 A s comm unicações officiaes do com m andan te da

  3 .

a

  d i

visão naval, vos informarão dos promenores d'estes incidentes.  *>

As represálias na fronteira do Rio Grande não tiveram lugar

n'este tempo, conforme as instrucções, porque não havia

exercito prompto para as fazer, como vamos ver. Existiam

em algun s pontos da fronteira pequenos destacamentos de

cavallaria, para policia nos lugares mais freqüentados da pas

sagem para o Estado Oriental; e todos esses destacamentos,

espalhados em uma extensa fronteira de mais de

  6 0

  léguas,

não chegavam a ter

  1 , 0 0 0

  homens .

Póde-se oonjecturar que quando o governo imperial enviou

a missão ao governo de Montevidéo, não receiava que hou

vesse guerra, porque os preparativos que n'aquelle anno se

fizeram foram poucos e vagarosos.

O conselheiro Saraiva, sahindo de Buenos-Ayres a  7  de

Setembro para o Rio de Janeiro, oficiou ao presidente do

R io Grande, como já se vio , 4Uendo4 iiô que o exercito

  b t « -

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leiro devia entrar no território da Republica, com o  f ira  de

expellir do Cerro Largo, P aysa ndú e Salto, as forças do go

verno de Montevidéo,

Esta com mü nicação estava de accordo com as ordens e in s

trucções dadas pelo governo impe rial, em   21  de Julho, ao

commandante da esquadra no Rio da Prata, e ao commau-

daute das forças estacionadas na fronteira do Rio Grande.

Essas poucas forças que, até Outubro de  1864,  estavam espa

lhadas na provincia, não constituiam um exercito; por tanto

o governo imperial, ou o ministério de

  15

  de Janeiro, deu

ordens e instrucções a um exercito que não existia.

Para justificarmos o que acabamos de dizer sobre a pouca

força existente na provincia do R io Grande no ann o de  1864,

transcrevemos parte do relatório com que o presidente João

Marcellino de Souza Gonzaga, entregou a administração ao

seu successor, a  4  de Agosto de  1865.

EXTRÂCTO DO RELATÓRIO DO PRESIDEN TE DO RIO GRANDE DO SU L.

« As instrucções do governo imperial, pela secretaria de

estado dos negócios estrangeiros, recommendavam-me expres

samente o m utu o accordo entre a presidenoia e o chefe da

missào

  esp ecia l; nã o he sitei por tanto em mandar organisar

uma divisão de observação, para acampar no ponto   estratégico

das fronteiras, que julgasse mais conveniente o illustre ge

neral, que com

ni

andava as armas da provincia* Dando com

m ünica ção d'esta m inha deliberação ao ministério da guerra, por

officios de  26  e  30  de Maio e  1.°  de Junho, procurei justi

ficai-a,  ponderando entretanto as difficuldades com que eu

tinha de lutar para organisar e acampar a divisão . Po uca s

eram as forças de linha de guarnição na provincia, e estas

m al armadas, m al fardadas, e dissem inada s em diverso s pon tos

íong iquo s. O arsenal e os* depósitos bellicos estavam despro

vidos de material; os regimentos não tinham cavalhada, e a

estação invernosa approximava-se. Havia na província cinco

reg im ento s de linh a, um dè artilharia a c ava llo, e quatro de

cavallaria ligeira com   1,319  praças; tres batalhões de infan

taria  com  1,184  praças. O gov erno imperial hav ia dado ordem

para virem para  a  província dous batalhões o 4.° com  703

praças, e o

  12.°

  com

  511.

  Deduzindo-se as praças incapazes

do serviço de guerra, podia-se apenas contar com cerca de

3,200  praças de linha das tres armas. Foi preciso, por tanto,

destacar a guarda nacion al, para organisar-se a divisã o, qu e

eu entendi não dever ser menor de  4,000  homens. »

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— m —

Este relatório, cora que o presidente do Rio Grande entre

g ou a adm inistração da prov incia ao seu successor, e m   4  de

Agosto de  1865 ,  é um documento just if icat ivo do que f ica

mencionado sobre a falta de força, e de mobilisação do exer

cito na occasiãq da missão do conselheiro Saraiva. Continua

o presidente G onzaga a dar conta das su as disposições bellicas,

para defender a provincia.

cc  Posteriormente , eom m unic an do-m e a missão especial o

m allog ro d as neg ocia çõe s para a paz no Estado Oriental, e

uai era o estado das relações diplomáticas com o governo

'aquelle pa iz ; deliberei chamar a destacamento m ais 2,418

praças da guarda nacional, formando seis corpos provisórios,

aos quaes um mandei que reforçasse a guarnição da fron

teira de Missões, e os cinco, formando duas brigadas, mandei

incorporar á divisão de observação.

cc  E '  este o corpo de exercito que no memorável dia 2 de

Janeiro cobrio-se de gloria em Pay sand ú, sob o com ma ndo

do bravo general Barão de S. Gabriel.

cc Em m eiados de Dezem bro, chegaram -me os primeiros an-

nu nc ios das disposições bellicas do Para guay . A ntecedente*

m ente já o Sr. m inistro dos estrangeiros hav ia-m e noticiado

o estado pou co agradável das relações diplomáticas com aquelle

Estado, e por isso já eu havia mandado reforçar a guarnição

da fronteira de Missões, elevando-a  1,071  praças; recebendo,

porém, communicações da missão especial de Buenos-Ayres,

cha m and o a m inha attenção para as fronteiras do U rugu ay,

deliberei immediatamente a organisação de uma divisão sob

o co m m an do do bravo e distincto brigadeiro D avid Canavarro.

cc

  M ande i organisar a l .

a

  divisão sob o plano de

  4,000

  ho

m en s de cav allaria e de toda a força de infantaria da guar da

nacion al, tanto da activa com o da reserva, que se pudesse

reun ir nos c om m an do s superiores de Q uarahim e de S. Borja.

cc  O rganisei a d ivisão com duas brigadas, entregando o

commando da i .

a

  ao coronel A ntônio Fernandes de Lima e

a

  2 .

a

  ao coronel João A ntônio da Sil ve ira ; officiaes m uito co

nhecidos pela sua bravura e perícia militar.

cc E xp edi ta m bé m orden s afim de m archarem para a fron

teira do U rug ua y, a encorparem-se á divisão, os dous bata

lhões de l inha,  2 . °  e  10.° ,  que hav iam chegado  i  provincia

em fins de D eze m br o; e os oito canhõ es obuzes que havia

em S. Gabriel, em estado de prestarem algum serviço.

cc

  A té o mo m ent o de entregar a administração a V. E x. ,

o arsenal de guerra estava inteiramente desprovido de arma

mento de cavallaria, com excepção de lanças.

cc  A lém dos corpos da g ua rda nacional chamados a serviço

de guerra, qu e era pre ciso fardar, os batalhões que chegaram

á provincia vinham necessitados de artigos de fardamento.

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« Bem poucas eram as m un içõe s de gu erra existentes nos

depósitos a esta cidade e do Rio G rande, até o m om ento de

entregar a administração a V. Ex. Junto entre os annexos a

no ta da s qu e remetsti pa ra o deposito qu e deliberei crea r em

Alegrete .

« T en do -m e requisitad o o gen eral era chefe do exercito er a

operações contra o Para gu ay, a remessa de m uniç ões para

canhões o buz es, enviei o pedido pa ra o arsenal de gu erra da

corte, porqu e não era possivel satisfazel-o aqu i hav end o re -

m ettido todas as qu e h avia para o deposito de A legrete .

« D e abarraca me ntos ha grand e falta nos corpos da l .

a

divisão. Poucas são as barracas que tem sido possível remet-

ter, as quaes não excedem de cerca de

  6 0 0 .

  Comprou-se ma

tér ia pr ima para as fabricar aqui, visto não poder o arsenal

de gu err a da corte satisfazer os pedido s qu e ten ho feito d'este

ar t igo. »

T al era o estado de arm am ento da provincia do R io

Grande em   1 8 6 4 ,  du rante a adminis t ração do Dr . João M ar-

eel l ino de Souza Gonzaga, quando em Dezembro d 'esse anno

foi ameaçada da invasão paraguaya .

Eis aqui a que se reduzio toda a actividade dos m inis té

r ios de

  1 8 6 4 ,

  para fazerem a guerra que provocaram , e que

d u r o u  5  annos. Na sessão de  2 6  de A gosto do dito an no ,

disse o dep utad o Ne ry o segu inte, em relação a po litica se

gu ida pelo gov erno imperial para cora o Estado O rie n ta l:

«  O Sr.  Nery.  O governo a inda não dem onstrou que os

graves ins ulto s e affrontas, q ue os subd itos brasileiros tem

sonrido da par te do governo or ien tal , terão a satifação n e

cessár ia ; aquella que solemuemente se  .  t inh a protestado que

se lhes havia de dar.

« O que eu censuro no governo, senh ores , é qu e depois

de ter conh ecimen to pelas de nun cias d a tr ib un a de qu e as

perseguições das autor idades or ientaes hav iam violentad o su b-

uitos brasileiros a recorrerem ás arm as, pa ra se de fen de rem ;

que depois que o governo t inha manda do ao Estado O r ien

tal u m a missão especial com o objecto ostensivo de os pro

teger , e defendel-os; de os arrancar da s i tuação anormal em

qu e se a c h a v am ; essa protecção não se tin ha feito effectiva,

e que a s i tuação anormal se perpetua .

« Digo aind a como a ma ioria dos que leram essas no tas ,

qu e não vejo n 'el la s intim ação de q ue represálias serão fei

tas em satisfação do passado ; não vejo n 'el las essa in ti m a

ção como meio coactivo para obter do governo or iental a re-

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paraçâo das offensas qu e no s tem feito e de qu e nos qu ei

xamos.

(

( E u preferiria que a um a affronta, com o a qu e receb e

mos ,  se  respondesse imm ediatam ente com a declaração de

guerra e operações repressivas e efficazes. Preferiria um a s i

tuação definida e clara, qu e permáttiria, com o já disse o outro

dia, que os sacrifícios ex igido s • ao Brasil terminassem e m

pequeno prazo ; a um a situação vaga, incerta, com o aqu ella

que se nos desenha, e na qual Deus queira que o elemento

m ais efficaz de comp ressão, sobre o go ver no or ien tal, não seja

o da revolta, qu e se atêa n'aquelle paiz.

cc N ão posso ver com socego que c on tinu em os nossos na-

cionaes em armas, não debaixo do pavilhão do Império, mas

sob os estandartes da rebellião or ie nt al ; e desejava q ue o

governo dissesse quaes são as provid encias, quaes os m eios

com qu e espera resolver a questão, definindo a posição m e

lindrosa em que esses Brasileiros se acham.

« N ão haja m edo, repito, que q ue o m eu enth usiasm o

diminua na questão oriental; o que diminuio, e muito,  é

o enthusiasmo com que eu esperava que o governo levaria

por diante a exigência das reparações, que nos eram de vid as;

foi a confiança que me inspirava o ministério, quando occu-

pei- m e d'este assumpto a primeira vez. E já que S . E x. o

Sr.

  ministro do Imp ério fez m enção d'esse m eu discurso,

permita-me S. Ex. lembrar-lhe, que não dei nem podia dar

apoio algum a uma politica que ainda não era nascida; que

não pude haver approvado a marcha traçada pelo governo á

missão que ainda não havia no m ead o; ne m applaudido actos

que nem sequer não tinham ensinuado. Aonde eu visava já

então, qual era a politica que preçonisava, dizem-nas as

palavras com que findei o m eu discurso:— Tom e o gov erno

a posição que lhe pertence, excla m ei; cam inhe avante, che gu e

até onde for preciso chegar, para qu e os no ssos direito s

sejam respeitados.—

« O

  governo não podia entender estas palavras, que eu

julgasse devesse ficar sobre a fronteira, aguardando descan-çadamente pelo desen volvim ento da politica interna do Bstado

O riental, para qu e a revolta haja, se lhe apr ou ver, de nos

fazer justiça.

« Agora á palavra do nobre ministro do Império tenho de

oppôr as minhas informações, a respeito do estado em que

se acha o armam ento da m inh a p rovincia (R io Grande). R e

pito e affianço a S.  E x .  que no  1.°  de Agosto de  1864,  não

navia na fronteira elem ent os de acção taes com o in sin u ou á

casa.

« Mas, nao vou atraz de palavras *Ôcas: não acredito n'esses

improvisos; os exércitos, os elementos de guerra se preparai*

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— 179 —

labo riosam ente ; mas tr is te ser ia a s i tuação do Brasil se no

u m   de quatro m eses n ão houv esse podido arranjar u m exer

cito de 5 ou

  6

,000 homens, para entrar em operações.

« Não será acaso qu e o ministér io não ten ha com prehen dido

a magnitude da s i tuação que se desenhava? Pois é d ' is to que

eu faço cabedal na s i tuação a ctual . V ejamos se não . Nosso

enviado especia l fez uma ul t ima e solemne int imação ao

governo or iental , com praso peremptório e fatal , appellando

se não para a ult ima razão dos reis .

« O governo or iental denegou-lhe toda a satisfação, aceitou

o car te l do Im pér io . Nosso m inis t ro cor respondeu á ar r o

gância or iental , despachando um vapor com pregos para a

m in ha provincia ; mas na m inha provincia as forças não

estão organisadas, nada está prevenido para entrar em acção.

Pergunto eu: que resposta poderá ter dado ao nosso diplo

m at a, o háb il e bravo gen eral a qu em está confiada esta

missão na fronteira*?. . . Não bastavam 4 mezes para preparar

o exercito de op er aç õe s . . . Pergunta is -me, senhores , como

querias que declarássemos a guerra, se não estávamos prepa

rados para isso? P ois b e m ; eu vos responderei , qu e em 1851,

qua ndo houv e um a vontade enérgica e s incera , mui to m eno s

tempo do que este foi bastante para se preparar ura exercito

não de 6, mas de 16,000 homens, e dar em terra com o

poder de Rosas, e de Oribe no Estado Oriental , Não posso,

pois ,  cont i t íuar deposi tando confiança no capi tão qu e d iz : —

Eu não cuidei . »

Depois que o conselheiro S araiva se re t irou de M on te

vidéo, a posição do Império para com a Republica tornou-se

decidida men te ho st i l ; embora poucos meios de acção t ivesse

para em preg ar . So bre is to diz o senador Joã o Ped ro Dias

Vieira, no seu relatório dos negócios estrangeiros:

NOVA POSIÇÃO ASSUMIDA PELO IMPÉRIO NO ESTADO ORIENTAL,

« O s successos que acabo de re la tar-vos , cham ava m o I m pério a tomar no Estado O riental u m a posição ho sti l m ais

caracterisada e m ais definida, ta nto m ais qu e a elles accrescia

a importante circumstancia de haver-se collocado á testa

all i da administração o Sr . Antônio de Ias Carreras .

« O no m e d*este senho r , que tantas provas tem dado d e

sua tenaz animosidad e contra o Bras i l , symbol isava o pen sa

mento da m ais encarniçada reacção contra o I m pé r io , com o

emprego dos meios os mais extremos .

« Com es te chefe do par t ido exal tado, qu e do m inav a M o n

tevidéo, fora inúti l esperar qualquer resolução d'aqueile go

verno, que concil iasse os interesses do paiz com as suas ou-

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— 480

ficuldades ex tern as. A s invecfcivas d a im pr en sa alli t o m a

vam-se cada vez mais vehementes .

« Concitavam-se as nacio nalida des de origem hes pan hola ,

exis tentes

  n o

  R i o d a Pra t a , a p ro n u n c i a re m -s e c o n t ra o I m

pér io . Prom ovia-se toda a espécie de compl icação in ter na

cional , para pôr embaraços à pressão que ia exercer o

Brasil .

« N 'es ta s c i rcum stancias , e de accordo com o pen same nto

do governo imper ia l , resolveu o Sr . conse lhe i ro Sara iva ,

an tes do seu regresso a es ta corte , em 7 de S etem bro, qu e

se procdesse m ais energ icam ente e de u m m od o dec is ivo no

uso das represá l ias , de que se achava in t imado o governo de

M on tevid éo . Pa ra i s so d i r ig io-se ao pres idente da provínc ia

de S . Ped ro do R io Gran de do S ul , e ao v ice-a lm irante

bras i leiro ; afim de qu e pelas forças de m ar e terra , aux i-

l ian do -se m ut ua m en te , fossem expell idas da v i l la d e M el lo ,

cabeça do depa r tam ento do Cerro L argo, de Pa ysa nd ú e S a l to ,

as guarn ições do g overn o orient al , qu e exis t issem n 'esses pon tos ,

n o s q u a e s se a c h a v a m i m m i n e n t e m e n t e a m e a ç a d a s , e s em a

menor protecção, a honra , a v ida e a propr iedade dos sub

di tos bra s i le i ro s ; conservando-se a l l i as me sm as forças só -

mente em quanto para esses lugares não fossem nomeadas

elo gene ral Flo res nova s auto rida des , qu e sob a rospo nsa-

i l idade d 'es te , dessem gara ntia s e insp irassem confiança.

« P re ve nd o as prováveis conseqüên cias d 'es ta resolução,

ten tou o genera l U rqu iza um a n o m negociação de paz , sob

os bo ns auspícios ao governo arg en tino . Esta negociação,

porém, teve o mesmo resul tado das anter iores .

« Pa ra evi ta r qu e embarcações me rcantes es t rang eiras se

em pregassem no t ranspor te de gente e m uniç ões de gu erra

do go ver no , para os por tos no l itora l na R epub l ica , Pa ysa nd ú

e S a l t o ; o v ice-a lm irante bras ile iro d i r ig io-se conf idencia i -

mente , por c i rcular de

  11

  d e O u t u b ro , a o c o rp o d i p l o m á

t ico de M ontev idéo, so l ic i tando providencias para qu e os

navios de suas respectivas nações, no interesse do seu com

m ercio l ic i to, n ão .se prestasse aqu elle serviço .

cc  E n x e rg a n d o , p o ré m / n ' e s t e p e d i d o a re s ol u çã o d e e xe rc er

o direi to de vis i ta , os mencionados agentes em nota ostensiva

com que responderam ao v ice-a lmirante , e que fo i publ icada

na im pre nsa de M ontevid éo, antes de chegar ás mãos do

m e s m o v i c e -a l m i ra n t e ; r e c u s a ra m o s e u a s s e n t i m e n t o á s o l i

ci tação, que lhes fora fei ta , sem uma declaração expressa de

gu err a , ou ao m en os not if icação de b loqu eio , com as forma

l idades e os prazos indispensáveis , deixando aos seus respec

t ivos gove rnos o d ic idk a té qu e po nto devia caber ao do

Brasi l a responsabil idade dos prejuizos, que d 'essas operações

houvessem de resul ta r para os neutros .

« A ' vis ta d 'es ta resp osta , apressou-se então o

  chefe das

forças nav aes do I m pé rio , a co m m ua ica r aos referidos agentes,

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por outra c ircular ostensiva de 26 de Outubro, que mandava

effectivãmente bloq ueiar os portos do Salto e P ay sa nd ú, sob re

os quaes t inh a de operar em apoio do exercito im p er ia l ;

declarando que este bloqueio seria observado com as penas

estabelecidas pa ra os qu e o não respeitassem, e ao m esm o

tempo que poderiam os navios, que se achassem nos di tos

portos, sahir d'elles l ivremente até ao dia 15 de Novembro.

« A s instrucções, que em v ir tude das ordens do go vern o

im perial , de u em seguida o vice-almirante aos co m m and antes

dos nossos navios de guerra, para a execução d'aquelle blo

que io, revelam ainda a c ircumspecção e a prudência com qu e

o mesmo governo procurava conciliar os direitos com os in

teresses estrangeiros, com que ia achar-se em collisão.

cc  Chegada a Buen os-A yres a noticia da resolução de que

se trata, quer o i l lustrado governo da Confederação, qu er o

corpo diplomático all i residente, vio n'ella mais uma prova

da defereneia que ao governo imperial merecia o commercio

licito dos neutros.

cc  Po r outro lado, o gene ral Flores q ue se achava á frente

da revolução do seu paiz, e que já então era de facto ver

dadeiro bellig

,

erante , recon hecend o a proced ência e justiça de

nossas reclamações, como hav iam sido formu ladas pela m issão

do Sr . conselheiro Saraiva, e contrahindo espontaneamente o

comprom isso de oüerecer-nos um a reparação condigna, logo

que conseguisse o t r ium ph o de sua ca u sa ; manifestava ao

vice -alm irante b rasileiro o desejo de un ir os seu s aos esforços

das armas imp eriaes, para o restabelecimento da paz na R e

pub lica, e das relações amigáveis d'esta com o Im pé rio.

cc  N en hu m a razão havia para deixar de acolher sem elhante

concurso, sobre tudo considerados os termos em que fora offere-

cido. Era, porém, necessário principalmente regularisar e de

finir bem a nossa posição com a Republica Argentina. Pelos

nossos compromissos e communidade de interesses, estávamos

no r igoroso dever de nos entender sobre o meio co m m um ,

de mais prom ptam ente pôr termo á desastrada luta , q ue t ra

zendo em continuo sobresalto a população pacifica, e os es

t range iros que tão avul tados interesses tem em M ontev idéo,

era fonte perenne de graves complicações internacionaes.

« A ccrescia que o governo do Paragu ay hav ia so lem ne-

m en te protestado contra qua lque r occupação do terr i tório

oriental por forças imperiaes, como attentatoria do equilíbrio

das Republ icas do Pra ta ; pro tes to que conf i rmara logo que

teve con hecim ento dos successos ocorridos no rio U ru gu ay ,

com o vapor oriental

  VU la dei Salto.

| A contecendo posteriormente o incêndio do mesm o vapor, e

a entrada de u m a brigada brasi le ira no Cerro L argo , qu e faci

l i tou a entrega da vi l la de M ello ás forças do gener al F lo re s;

era de suppôr que á vista d'estes factos quizesse o governo

paraguayo in te rv i r na questão .

3 5

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— 182 —

« Convinha pois que sobre esta eventualidade nos en ten

dêssemos também com o governo da Confederação : e por isso

resolveu o governo imperial enviar uma nova missão especial

ao Rio da Prata, escolhendo para desempenhal-a o S r. con

selheiro José Maria da Silva Paranhos.

« O governo da R epublica do Paraguay. logo que teve co

nhecimento da 'missão especial confiada ao Sr. conselheiro

Saraiva, dirigio-se a este senhor e directamente ao governo

imperial; offerecendo a sua mediação para a solução amigável

de nossas pendências com o Estado Oriental.

« Esta onerta foi feita depois que o governo oriental res

pondeu com uma reconvenção • á  nota com que o Sr. conse-

ministros argentino e de Sua Magestade ÍJritânnica. tratavam

de resolver pacificamente a guerra civil, que flagellava a Re

publica ; havendo então fundada esperança de que medrasse

este empenho, em cujo resultado enxergava-se um dos meios

mais promptos e mais efficazes de solver as difficuldades in-

ternacionaes, com que a mesma Republica se achava a braços.

« Estas considerações motivaram a resposta que ao governe

do Paraguay deu o Sr. conselheiro Saraiva, e que o governo

imperial confirmou, declarando não ser possivel acolher, como

alias desejaria, a offerta de que se trata.

cc   Não sabia então o governo imperial, mas soube depois

e officialmente, pela nota que com data de

  3 0

 de Agosto do

anno passado dirigio o ministro das relações exteriores do

Paraguay ao representante do Estado Oriental, alli residente,

que a mediação que aliás fora pelo governo d'este Estado

solicitada, tinha sido também por elle próprio adiada, decla

rando seu representante no Paraguay, em

  4

  de Julho, que

na confiança fundada, e no interesse de restabelecer prompta-

mente cordiaes relações com o Brasil, julgara cumprir um

dever, não fazendo uso, por ora, d'essa importante mediação.

« Até aqui seguramente nenhuma razão plausível havia para

suppôr que a R epublica do Paraguay nutrisse resentimentos e

intenções hostis contra o Im pério: pelo o contrario; o passo

que acabava de dar, fazia presum ir que estava o seu governo

animado de disposições pacificas e amigáveis para comnosco;

revelando ainda melhor essas disposições no modo porque

acolhera o nosso agente diplomático.

« A illusão, porém, durou pouco, porque chegando

  á

  A s

sumpção a noticia do  %Utimatum  apresentado ao governo de

Montevidéo pelo Sr. conselheiro Saraiva, apressou-se o mi

nistro das relações exteriores d 'aquella Republica, a dirigir ao

nosso ministro alli residente a significativa nota de

  3 0

  de

Agosto.

« Como vereis por essa nota, que vai integralmente pu*

blicada entre os áppensos a este relatório, o governo da Re

publica do Paraguay erigia-se em arbitro supremo entre o

e quando elle com os

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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183 —

g o v e r n o i m p e r i a l e a R e p u b l i c a O r i e n t a l , p r e t e n d e n d o p o r

u m a i n t i m a ç ã o : a m e a ç a d o r a c o a r t a r a o B r a s i l , s o b p r e te x t o d e

perigo

  p a r a a i n d e p e n d ê n c i a d 'a q u e l l a R e p u b l i c a , u m a p a r te

d e s e u s d i r e i t o s d e s o b e r a n i a , n o c o n f l i c t o e m q u e s e a c h a v a

c o m o s e u g o v e r n o , d o q u a l a l iá s e r a i n t e i r a m e n t e e s t r a n h o

o P a r a g u a y .

« O n o s s o m i n i s t r o , j u l g a n d o - s e c o m r az ã o d i s p e n s a d o d e

e x p l ic a r a o g o v e r n o d o P a r a g u a y a s c a u s a s q u e h a v i a m c o m -

p e l l i d o o d o I m p é r i o a u s a r d e r e p r e sá l i a s c o n t r a o d a R e

p u b l i c a d o U r u g u a y , po r s e a c h a r e m já e s s a s c a u s a s c l a r a

m e n t e e x p o s t a s , e d e s e n v o l v i d a s ' e m d o c u m e n t o s o f fi ci ae s e

s o l e m n e s , d e q u e t i n h a a q u e l l e g o v e r n o p e r fe i to c o n h e c i

m e n t o , l i m i t o u - s e a r e s p o n d e r .

« — Q u e n e n h u m a a p p r e h e n s ã o f u n d a d a p o d i a e x is t ir d e q u e

p r e t e n d e s s e o I m p é r i o a t te n t ar c o n t r a a i n d e p e n d ê n c i a e i n t e

g r id a d e d o E s t a d o O r i e n t al . Q u e e n v i a n d o u m a m i s s ã o e s p e

c i a l a M o n t e v i d é o , p a r a o f i m d e j u s t a r r e c l a m a ç õ e s p e n d e n t e s ,

d e r a o g o v e r n o i m p e r i a l u m n o v o t e s t e m u n h o d e m o d e r a ç ã o ,

e d o d e s e j o d e v e r a m i g a v e l m e n t e r e s o l v id a s a s m e s m a s r e c l a

m a ç õ e s .

« — Q u e es t a s u a m o d e r a ç ã o n ã o fo ra b e m c o m p r e h e n d i d a ,

r e s i s t i n d o s y s t e m a t i c a m e n t e o g o v e r n o d a R e p u b l i c a a o s m e i o s

d e s o l v e r p a c i f i c a m e n t e a q u e s t ã o . —

ct A ' e s t a s d e c l a r a ç õ e s , t ã o j u s t a s e t ã o m o d e r a d a s , e s t a v a

o g o v e r n o i m p e r i a l l o n g e d e e s p e r ar q u e r e s p o n d e s s e o g o

v e r n o d a R e p u b l i c a c o m o o f ez , e m n o t a - d e 3 d e S e t e m b r o ,

a o n o s s o m i n i s t r o , r a ti fi ca n d o o s e u p r o t e s to e a n n u n c i a n d o

q u e o f a r ia e f f e c t i v o , s e s e r e a l i s a s s e m a s a p p r e h e n s o e s d e

q u e e s t a v a p o s s u i d o .

ct P a r a t r a d u z ir m e l h o r s u a s i n t e n ç õ e s , a p r o v e i t o u o g o v e r n o

d o P a r a g u a y o c o n f l i c t o o c c o r r i d o c o m o v a p o r  Villa dei Salto,

e q u e s e r v i o d e p r e t e x t o a o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o p a r a c o r t a r

s u a s r e l a ç õ e s c o m o d o I m p é r i o . D e m o n s t r a - o a n o t a d e 1 4

d e S e t e m b r o , d i r i g id a a o n o s s o a g e n t e d i p l o m á t i c o e m A s

s u m p ç ã o .

« D e s d e e n t ã o a l i n g u a g e m d o ó r g ã o o f fi c ia l d a i m p r e n s a

p a r a g u a y a a u g m e n t o u d e v e h e m e n c i a ; e p r o m o v e r a m - s e a b e r

t a m e n t e m a n i f e s t a ç õ e s p o p u l a r e s c o n t r a a p o l i t ic a d o I m

p é r i o n o R i o d a P r a t a .

ct C h e g a r a m e s t e s f a ct o s a o c o n h e c i m e n t o d o g o v e r n o i m p e r i a l

e m O u t u b r o e N o v e m b r o , q u a n d o j á c o r ri a t a m b é m , q u e

p r e t e n d i a o g o v e r n o d a R e p u b l i c a m a n d a r o c c u p a r o t e r r it ó r io

c o n t e s t a d o e n t r e A p a e o R i o - B r a n c o , s e f o r ç a s b r a s i l e i r a s

e n t r a s s e m n a B a n d a O r i e n t a l .

ct R e c o n h e c e n d o q u e , e m b o r a s e m a m e n o r r a z ão e f u n

d a m e n t o , m o s t r a v a - s e t o d a v i a o g o v e r n o d o P a r a g u a y d i s p o s t o a

h o s t i l i s a r - n o s , r e s o l v e u o g o v e r n o i m p e r a i t o m a r a l g u m a s p r o

v i d e n c i a s c o m r e l a ç ã o á p r o v i n c i a d e M a t t o - G r o s s o - , c o n f i a n d o

a e x e c u ç ã o d ' e l í a s a o c o r o n e l F r e d e r i c o C a r n e i r o d e C a m p o s . »

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P e l o s d o c u m e n t o s q u e a c a b am o s ; d e t r a n s c re v e r , v ê - s e q u e o

g o v e r n o i m p e r i a l d e u o r d e m p a r a p r o c e d e r - s e a r e p r e s á l i a s e m

d a t a d e 2 1 d e J u l h o , q u a n d o s o u b e q u e o g o v e r n o d o E s t a d o

O r i e n t a l n e g a v a - s e a d a r a s s a t i s f a ç õ e s ex i gi d as * , n ã o e s p e r o u

q u e o c o n s e l h e i r o S a r a i v a a p r e s e n t a s s e o

  ultimatum.

  A s s è p r e -

s a l i a s

;

  o u o p r i i f e i p i o d e h o s t i l i d a d e s a o g o v e r n o o r i e n t a l

t i v e r a m l u g a r l o g o p e l o m a r , m a n d a n d o - s e b l o q u e a r o s p o r to s

d e P a y s a n d ú e d o S a l t o ; n a d a s e fe z p e l o l a d o d e t erra, p o r

q u e n ã o h a v i a f o r ç a a l g u m a o r g a n i s a d a n a f r o n t e i r a , p a ra

o p e r a r a o m e s m o t e m p o ; o r e l a tó r i o d o p r e s i d e n t e d o R i o

G r a n d e a c i m a t r a n s c r ip t o , m o s t r a q u a l e r a o e s t a d o d e a r m a .

m e n t o d ' a q u e l l a p r o v i n c i a e m 1 8 6 4 . C o m t a e s d i s p o s i ç õ e s

n ã o e r a p o s s i v e l f a z e r- s e a g u e r r a e n t ã o a o E s t a d o O r i e n t a l ,

c o n f o r m e a s o r d e n s e i n s t r u c ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l .

B a s t a a p o n t a r o s f a c t o s, o u o s a c o n t e c i m e n t o s q u e s e f or a m

s u c c e d e n d o , p ar a s e c o n h e c e r q u e n ã o s e p o d i a t ir ar v a n

t a g e m i m m e d i a t a d o m o d o p o r q u e s e p r i n c i p i o u a fa ze r a

g u e r r a a o E s t a d o O r i e n t a l , e d e p o i s a o P a r a g u a y . N ã o h a v i a

o s m e i o s n e c e s s á r i o s , p r o m p t o s c o m a n t e c e d ê n c i a p a r a e s s e

fim ; a p e n a s u n h a m o s n o R i o d a P r a t a o i t o n a v i o s d e g u e r r a .

Q u a n d o o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o r e c u s o u s a ti sf az e r á s r e

c l a m a ç õ e s d o e n v i a d o b r a s i l e i r o , m a n d o u q u e o s e u r e p r e s e n

t a n t e n a " A s s u m p ç ã o s o l i c i t a s s e d o g o v e r n o d o P a r a g u a y q u e

i n t e r v i e s s e n a s d e s i n t e l l i g e n c i a s c o m o B r a s il . N ã o s e p ô d e

a c r e d i ta r q u e e s ta r e q u i s i ç ã o d o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o f o s s e

s i n c e r a p o r q u e t i n h a m e i o s d e c h e g a r a a l g u m a c c o r d o , s e

q u i z e s s e v i v e r e m p a z c o m o I m p é r i o , s e m s e r n e c e s s á r i o

p r o c u r a r o s b o n s o f fi c io s d o g o v e r n o d o P a r a g u a y . P o r e s t e

m e i o f o i o g o v e r n o d e A g u i r r e p r o c u r a r u m a l l i a d o c o n t r a o

B r a s i l , p o r c o n h e c e r q u e n ã o t i n h a f o r ça s p a r a o h o s t i l is á r .

O g o v e r n o d o P a r a g u a y , q u e d e s e j a v a a p o s s a r- se d o S u l d a

p r o v i n c i a d e M a t t o - G r o s s o , a c c e i t o u o c o n v i t e e a p r o v e it o u

a o c c a s i ã o , q u e s e l h e o f e r e c i a , p a r a c h e g a r a s e u s fin s, e

c o n s e g u i r o q u e h a v i a m u i t o t e m p o p r e m e d i t a v a .

U n i o - s e a o g o v e r n o d o E s t a d o O r i e n t a l p a ra i n t e r v ir d i r e -

c t a m e n t e n a s q u e s t õ e s e x i s t e n t e s c o m o I m p é r i o ; . j u l g o u q u e a

s u a a u t o r i d a d e e r a r e s p e i t a d a , e q u e p o d i a d i r i g i r t o d o s o s

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— 1 8 5 —

n e g ó c i o s q u e e x i s t i s s e m c o m a s r e p u b l i c a s d o R i o d a P r a t a .

O g o v e r n o i m p e r i a l n ã o c o n h e c e u o fim d e s t a i n t e r v e n ç ã o

o ff er ec id a p e l o g o v e r n o d o P a r a g u a y ; j u l g o u s e r u m o f f e r e-

c i m e n t o f e i to e x - o f fi c io , s e m fim p r e m i d i t a d o ; e p o r i s s o —

s e g u r a m e n t e n e n h u m a r a zã o p l a u s í v e l h a v u # p a r a « s up p ô r q u e

a R e p u b l i c a d o P a r a g u a y n u t r i s s e r e s e n t i m e n t o s e i n t e n ç õ e s

h o s t i s c o n t r a o I m p é r i o ; — d i s s e o e x - m i n i s t r o J o ã o P e d r o

D i a s V i e i r a n o s e u r e l a t ó r i o , c o n f o r m e j á f izem os v e r n e s t e

l i v r o ,

V a m o s v e r a g o r a e m q u e t e r m o s fo i c o n c e b i d a e o q u e

r e s u l t o u d * e s t a m e d i a ç ã o d o g o v e r n o d o P a r a g u a y .

MEDIAÇÃO OFFERE CIDA PELO GOVERNO DA REPUBLICA DO PARAGUAY

A O G O VE R N O IM PE R IA L .

« M i n i s t é r i o d e r e l a çõ e s e x t e r i o r e s . — A s s u m p ç ã o , 1 1 d e J u

n h o d e 1 8 6 4 .

« O a b a i x o a s s i g n a d o , m i n i s t r o e s e c r e t a r i o d e e s t a d o d a s

r e l a ç õ e s e x t e r i o r e s , t e m a h o n r a d e d i r i g i r - s e a V . E x . p a r a

c o m m u n i e a r - l h e q u e a l e g a ç ã o o r i e n t a l n ' e s ta c i d a d e s o l i c i

t o u ,

  e m n o m e d o s e u g o v e r n o , a a m i g á v e l m e d i a ç ã o d o

d ' e s t a R e p u b l i c a p a r a o a j u s t e d a s q u e s t õ e s c o n f i a d a s p e l o

g a b i n e t e i m p e r i a l a S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a , e m

s u a m i s s ã o e s p e c i a l n ' a q u e l l a r e p u b l i c a .

« O g o v e r n o d o a b a i x o a s s i g n a d o q u e v ê c o m p e z a r t u d o

q u a n t o p ô d e d e s t r u i r a h a r m o n i a e n t r e d o u s p o v o s v i s i n h o s

e a m i g o s , e s e n s í v e l á m a n i f e s t a ç ã o d e c o n f i a n ç a q u e o

g o v e r n o o r i e n t a l de po & ita e m s u a r e c t i d ã o e j u s t i ç a , a c c e d e u

a o p e d i d o d a l e g a ç ã o o r i e n t a l , a c e i t a n d o o e n c a r g o d e m e d i a

d o r q u e l h e o r T er ec eu o s e u g o v e r n o .

« O g o v e r n o i m p e r i a l j u s t o a p r e c i a d o r d o v e r d a d e i r o v a l o r

d o s i n t e r e s s e s b e m e n t e n d i d o s d e t o d o s o s r i b e i r i n h o s d o

P r a t a e d e s e u s a f f iu e n t e s, c o n h e c e t a m b é m a i m p e r i o s a n e

c e s s i d a d e d e a m i g á v e i s r e l a ç õ e s e n t r e t o d o s e l l e s , e d o a j u s t e

d o s i n t e r e s s e s ' o p p o s t o s q u e p o s s a m s u r g i r .

« E s t a c o n v i c ç ã o e a p o l i t i c a  •  d e m o d e r a ç ã o q u e d i s t i n g u e o

g a b i n e t e i m p e r i a l , f a z e m e s p e ra r a o g o v e r n o d o a b a i x o a s

s i g n a d o , q u e o ' d e S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r h a d e r e s o l

v e r , d e a c c o r d o c o m e s t a p o l i t i c a , a s d i f í e r e n ç a s q u e m o t i

v a r a m a m i s s ã o e x t r a o r d i n á r i a d e S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o

S a r a i v a .

« O g o v e r n o d o a b a i x o a s s i g n a d o s e c o n s i d e r a r á m u i f e l i z

s e ,  e m p e n h a n d o a s u a c o o p e r a ç ã o , p u d e r c o n t r i b u i r p a r a u m

r e s u l t a d o t a o s a t i s f a c t o r i o ,

« O a b a i x o a s s i g n a d o a p r o v e i t a e s ta o c c a s i ã o p a r a o f f e r e c e r

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—  186 —

a V. Ex. as seguranças de sua mui distineta consideração  e

estima.

« Ao Illm. e Exm. Sr. ministro e secretario de estado dos

negócios estrangeiros do Império do  Brasil.—José  Berges.  »

NOTA

  UO GOVERNO $A RA GU AT O Á MISS ÃO E SPECIAL EM MONTEVIDÉO.

« Ministério de relações exteriores.—Assumpção,  1 7 de Junho

de  1864.

« O abaixo assignado, ministro e secretario das relações

exteriores, tem a

y

  nonra de communicar a V. Ex. que o go

verno da Republica Oriental do Uruguay solicitou, por in

termédio do seu ministro residente n'esta capital, a mediação

do governo do abaixo assignado para o ajuste amigável das

questões internacionaes confiadas a V. Ex. pelo governo im

perial.

« O governo do abaixo assignado* no intuito de remover

todo o  motivo  de desavença entre duas nações amigas e vi-

sinhas, aceitou esta honrosa prova de confiança que lhe dá

o governo do Estado Oriental; e assim o participa n*esta data

a S. Ex. o Sr. ministro dos negócios estrangeiros de Sua

Magestade o Imperador.

« O abaixo assignado aproveita esta oceasião para s audar

a V. Ex. com a sua mui distineta consideração.

« A S. Ex. o Sr. conselheiro José Antônio Saraiva.

 —

 José

Berges.

 »

RESPOSTA

  DA MISSÃO ESPECIAL DO BRASIL EM MONTEVIDÉO.

« Missão especial do Brasil.—Montevidéo,  2 4  Junho de  1 8 6 4 .

« Sr. ministro.—Tive a honra de receber a nota, pela qual

dignou-se V. Ex. communicar-me que, por solicitação do

governo oriental, resolvera dirigir-se ao Sr. ministro dos ne

gócios estrangeiros de Sua Magestade o Imperador, para oífe-

recer a mediação do governo paraguayo a bem do ajuste

amigável das questões que determinaram a missão especial

do Brasil n'esta republica.

v   Aguardando como me cumpre as ordens do meu governo,

corre-me, entretanto, o dever de declarar a V# Ex. que nu

trindo as mais fundadas esperanças de obter amigavelmente

do governo oriental a solução das mencionadas questões, pa

rece-me por emquanto, sem objecto a mediação do governo

paraguayo, sempre apreciada pelo governo de Sua Magestade.

« Aproveito a oceasião para manifestar a V. Ex. os votos

de minha distineta consideração.

<

 A S«g.Éx. o Sr. José  Berges.—José  Antônio Sarawa.  »

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— Í8J —

RESPOSTA DO GOVERNO IMPERIAL.

« Ministério dos negó cios estrangeiros, em 7 de Ju lho

de

  1 8 6 4 .

« O   abaixo assignado, do conselho de S ua M agestade o

Imperador do Brasil, ministro e secretario d'estado dos negó

cios estrangeiros, tem a satisfação de accusar recebida a nota

ue com data de 17 do mez próximo findo, fez-lhe a honra

e dirigir S. Ex. o Sr. D. José Berges, ministro das relações

exteriores da Republica do Paraguay.

«: N 'essa nota, com m unican do ao abaixo assignado que a le

gação oriental em nom e do seu governo solicitara a am igá

ve l mediação do da Repub lica do P araguay para o ajuste

da s questões qu e fizeram objecto da m issão especial do Sr. con

selheiro José An tônio Saraiva a Montev idéo, o Sr. D . José

Berges, depois de abundar nas mais apreciáveis expressões de

benevolência e de sympathia, e n os mais dignos sen tim ento s,

pelo que respeita  ás  boas relações em que o governo do Pa

ragu ay deseja vêr os estados visin ho s, declara haver o m esm o

governo aceitado a posição de mediador que lhe fora offe-

recida.

« Quando chegou  ás  mãos do abaixo assignado a nota do

Sr. D . Jos é Berges, acabava elle de lêr a resposta qu e  á  nota

idêntica de S. Ex. havia dado em Montevidéo o Sr. conse

lheiro J. A. Saraiva.

« T end o-se o governo de Sua M agestade o Imperador co m

pletamente conformado com essa resposta, o abaixo assignado

cum pre o dever de assim o comm umcar ao Sr. D . José B er

g es ,

  aproveitando a oceasião para pedir a S. Ex. se sirva serperante, o seu gov erno órgão dos sentim entos de gratidão e

de apreço que ao governo de Sua M agestade o Imperador

inspirou o cavalheiroso procedimento do da Republica.

« O baixo assignado renova á S. E x. o S r. JD. Jos é Ber

ges,  as seguranças de sua alta consideração.

« A S. E x, o Sr. D . José Berges.—  João Pedro Dias Vieira. »

Logo que o governo do Paraguay soube do   ultimatum,  que

o conselhe iro Saraiva apresentou ao gover no do E stado O rien

tal, á

  4-

 de A gosto, remetteu aq uelle governo ao encarregado

dos negócios do Brasil, alli residente, a nota que se segue.

« M inistério das relações exteriores.— A ssum pçã o, 30 de

Agosto de  1864.

« O   abaixo assignado , m inistro e secretario d'estado da s

relações exteriores, teve ordem do Exm. Sr. Presidente da Re

publica para dirigir a  V .  Ex. esta commünicação, com o fim

que passa a expor.

c O abaixo asig.nado recebeu de S. Ex. o Sr. Vasquez

Sagastume, ministro residente da Republica Orienta^ do Úru*

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- 189 ™

n a s n o t a s d e S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a d e 4 e 1 0 d o

c o r r e n t e a o g o v e r n o o r i e n t a l , e x i g i n d o d ? e ll e u m i m p o s s í v e l

e l o o b s t á c u l o q u e o p p ô e a si t u a ç ã o i n t e r n a d

?

 a q u e l l a R e p u -

l io a , è p a r a c u j a r e m o ç ã o n ã o t e m s i d o b a s t a n t e s , n e m o

p r e s t í g i o S S . E E x . o s S r s . T h o r n t o n , E l i& a ld e e S a r a i v a , n e m

o c o n c u r s o e a b n e g a ç ã o d o g o v e r n o o r ie n t a l .

« N ã o m e n o s p e n o s a f oi p a r a o g o v e r n o d o a b a i x o a s s i g n a

d o a n e g a t i v a d e S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a

  á

  p r o p o

s i ç ã o d e a r b i t r a m e n t o , q u e l h e f o i fe i t a p o r p a r t e d o g o v e r n o

o r i e n t a l ; m u i t o m a i s q u a n d o e s t e p r i n c i p i o h a v i a s e r v i d o d e

b a s e a o g a b i n e t e i m p e r i a l e m s u a s r e c l a m a ç õ e s c o n t r a o g o

v e r n o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n n i c a .

« O g o v e r n o d a R e p u b l i c a d o P a r a g u a y d e p l o r a p r o f u n d a

m e n t e q u e o d e V . E x . h a j a j u l g a d o o p p o r t u n o a f fa s ta r -s e

n ' e s t a o c e a s i ã o d a p o l i t i c a d e m o d e r a ç ã o e m q u e d e v i a c o n f i a r ,

a g o r a m a i s d o q u e n u n c a , d e p o i s d a s u a a d n e s ã o á s e s t i p u l a

ç õ e s d o c o n g r e s s o d e P a r i z ; n ã o p Ó d e p o r é m v ê r c o m i n d i f f e r e n ç a ,

e m e n o s c o n s e n t i r q u e e m e x e c u ç ã o d a a l t e r n a t i v a d o w / f i-

matum

  i m p e r i a l , a s f o r ça s b r a s i l e i r a s , q u e r s e j a m n a v a e s , q u e r

t e r r e s t r e s , o e c u p e m p a r t e d o t e r r it ó r i o d a R e p u b l i c a O r i e n t a l

d o U r u g u a y , n e m t e m p or á r ia n e m p e r m a n e n t e m e n t e , e S . E x .

o S r . P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a o r d e n o u a o a b a i x o ^ a s s ig n a d o ,

q u e d e c l a r e a V . E x . , c o m o r e p r e s e n t a n t e d e S u a M a g e s t a d e

o I m p e r a d o r d o B r a s i l : q u e o g o v e r n o d a R e p u b l i c a d o P a

r a g u a y , c o n s i d e r a r á q u a l q u e r o c c u p a ç ã o d o t e r r i t ó r i o o r i e n t a l

o r f o r ça s i m p e r i a e s , p e l o s m o t i v o s c o n s i g n a d o s n o

  uUi%\aium

e 4 d o c o r r e n t e , i n t i m a d o a o g o v e r n o o r i e n t a l p e l o m i n i s t r o

p l e n i p o t e n c i a r i o d o i m p e r a d o r , e m m i s s ã o e s p e c ia l j u n t o d ' a q u e l l e

g o v e r n o , c o m o a t t e n t a t o r i o d o e q u i l i b r i o d o s E s t a d o s d o P r a t a ;

q u e i n t e r e s s a á R e p u b l i c a d o P a r a g u a y , c o m o g a r a n t i a d e s u a

s e g u r a n ç a , p a z e p r o s p e r i d a d e ; e q u e p r e t e s t a d a m a n e i r a a

m a i s s o l e m n e c o n t r a t a l a c t o , d e s o n e r a n d o - s e d e s d e j á , d e

t o da a r e s p o n s a b i l i d a d e p e l a s c o n s e q ü ê n c i a s d a p r e s e n t e d e c l a

r a ç ã o .

cr  D e i x a n d o a s s i m c u m p r i d a s a s o r d e n s d o E x m . S r . P r e s i -

d e n t e d a R e p u b l i c a , o a b a i x o a s s i g n a d o a p r o v e i t a e s t a o c e a s i ã o

p a r a s a u d a r a V . E x . c o m a s u a m u i d i s t i n e t a c o n s i d e r a ç ã o .

« A S .  E x . o S r . C é s a r S a u v a n d e L i m a , m i n i s t r o r e s i d e n

t e d e S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r d o B r a s i l. — J o s é  Berges .»

O m i n i s t r o b r a s i l e i r o r e s p o n d e u - l h e e m d a t a d e

  1

  d e S e

t e m b r o o s e g u i n t e :

« S i n t o q u e o g o v e r n o d e q u e V . E x . f az p a r t e , n u t r a

j pe ce io s s o b r e a s v e r d a d e i r a s i n t e n ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , e

v e j a n a a c t u a l c o n j u e t u r a p e r i g o s , q u e n ã o e x i s t e m , p a r a a

i n d e p e n d ê n c i a e i n t e g r i d a d e d o E s t a d o O r i e n t a l .

« E r a l i c i t o s u p p ô r q u e a s p r o v a s r e i t e r a d a s d e f r a n q u e z a e

l e a l d a d e d e q u e a b u n d a a p o l i t i c a d o g o v e r n o i m p e r i a l p a r a

c o m o s e s t a d o s v i s i n h o s , b a s t a r i a m p a r a a r r e d a r d o â n i m o * d o

36

Page 281: Guerra Do Paraguai Vol 1

7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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governo paraguayo qualquer apprehensão

 sobre

  o fim  que  tem

o de Sua Magestade o Imperador, na resolução que foi obrí-

ado a tomar em presença da constante denegação de justiça

s reclamações que desde longo tempo tem infructuosamentè

dirigido ao Estado Oriental.

«

  O governo imperial, pelo facto de mandar a Montevidéo

S. Ex. o Sr. conselheiro Saraiva, cujas elevadas qualidades

o tornavam tão recommendavel para semelhante missão, deu

um novo e irrefragavel testemunho de moderação e desejo de

ver resolvidas de modo amigável as suas reclamações ; mas,

infelizmente, esse derradeiro appello feito ao governo oriental,

e os esforços do distincto diplomata brasileiro, foram bal

dados pela resistência systematica que lhe oppôz aquelle

governo. »

Depois de dizer quaes eram as reclamações do governo im

perial ao de M ontevidéo, e que este governo parecia estar

no propósito firme de não acolher as reclamações brasileiras,

ultima assim a sua nota:

<r O governo imperial tem repetidas vezes explicado em

vários documentos, que estão hoje no dominio do publico,

os justos fundamentos das suas queixas, contra o governo

oriental; comprovado com o testemunho irrecusável dos factos

a seu respeito, pela independência e autonomia d'aquelle

Estado ; e dado exuberantes provas de longanimidade e mo

deração ;  mas, vendo frustrados os esforços ultimamente em

pregados para chegar a um accordo amigável, recorre aos

.meios coercitivos, que o direito das gentes autorisa, afim de

conseguir aquillo que não poude obter por meios suassorios,

isto é, que justiça seja feita ás suas reclamações. D e certo

nenhuma consideração o fará sobrestar no desempenho da

sagrada missão que lhe incumbe, de proteger a vida, honra

e propriedade dos subditos de Sua Magestade o Imperador.

Ultimarei a presente commünicação, assegurando a V. Ex.

que vou dar conhecimento ao governo imperial da nota a

que respondo. »

Esta nota do 1 .° de Setembro do ministro brasileiro na

Assumpção, teve uma resposta, com

 t

data de $ de Setembro,

do ministro de relações exteriores, que não merece fazer-se

d'ella menção. ,Mas, a 14 de mesmo mez recebeu o ministro

brasileiro a nota seguinte :

« Ministério de relações exteriores. — Assumpção, 1 4 de

Setembro de  1 8 6 4 .

« O abaixo assignado, ministro e secretario de estado d a s

relações exteriores, tem a honra de communicar a V. E x .

que, com data de 1 2 do corrente,; recebeu aviso da legaç&o

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oriental n'esta cidade, de que o vapor transporte de seu go

verno

  V Ula dei Salta,

  navegando o rio Uruguay em águas

argentinas, foi atacado por uma corveta brasileira, que lhe

disparou quatro tiros de peça com bala, com o fim de tomal-o,

ou de impedir-lhe a passagem do R io-Negro, para onde se

dirigia de ordem do governo oriental, no intuito de levar

auxílios  á  villa de M ercedes, situada sobre a costa d'este

rio,

  e ameaçada pelas forças que obedecem ao general D.

Venancio Flores, resultando d'este attentado não poder chegar

ao seu destino o  Villa dei Salto,  que levara os elementos neces

sários aos defensores de Mercedes, por lh'o impedirem os

canhões da marinha imperial, por esta fôrma postos em bôa

oceasião ao serviço da invasão capitaneada pelo citado ge

neral Flores, que por esta circumstancia poude apoderar-se

de Mercedes no dia  2 7  do mesmo mez, passando em  2 8 ao

norte do Rio-Negro com a intenção de atacar a povoação de

Paysandú, a cujo porto tinham também chegado as canho

neiras brasileiras.

« Factos tão significativos como os que a legação oriental

denuncia, consummados em apoio de uma rebellião, com ol

vido dos principios de legalidade, base dos direitos de dynas-

tia dos governos monarchicos, impressionaram profundamente ao

overno do abaixo assignado, que não pode deixar de corro-

orar por esta commünicação as suas declarações de 30 de

Agosto e de  3  do  corrente.—José  Berges.»

A esta nota do governo paraguayo, respondeu o ministro

brasileiro o seguinte.

N O T A D A L E G A Ç Ã O I M P E R I A L A O G O V E R N O P A R A G U A Y O .

« Legação imperial do Brasil.—A ssumpção, 15 de Setembro

de  1 8 6 4

« Sr. m inistro.— T enho presente a nota que V . Ex. me fez

a honra de dirigir com data de hontem, communicando-me

que a Jegação oriental n'esta cidade lhe participara haver um

navio de guerra brasileiro feito fogo sobre um

#

vapor d'aquella

Republica, com o fim de captural-o, ou de impedir que de

sembarcasse forças destinadas á defeza da V illa de M ercedes,

por cujo motivo julgou V . Ex. dever confirmar as declarações

contidas nas suas notas de 30 de Agosto e de 3 do corrente.

« Tendo esta legação, na data do 1.° d'este mez, ministrado

M

  a

  V. Ex. explicações francas sobre a politica do governo im

perial na actual questão com o da R epublica O riental, e res

pondido ao protexto de que trata a nota de V. Ex. de 30 de

  A gosto; n'esta  oceasião só  se  me offerece dizer a V. Ex. que

a respeito do facto agora alludido não tenho outras noticias

senão aquellas que li no ultimo numero do  Semanário,  e na

commünicação a que respondo. Em taes circumstancias, e

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— Í92 —

ignorando quaes são as instrucções ultimamente expedidas aos

commandantes dos vasos da armada imperial, estacionados no

Bio da Prata e seus affluentes, no intuito de se levar a efíeíto

as medidas de represálias intimadas pelo

  ultimatum

  de 4 de

Agosto, abstenho-me por ora de toda e qualquer reflexão

acerca do conteúdo da supracitada nota de hontem.

« Aproveito esta oceasião para novamente ófferecér a V .  Ex.

os protestos de minha mui distineta consideração.

« A S .  Ex. o Sr. D . José

  Berges.—César  Sauvan Viann a de

Lima.*

Em Outubro recebeu o ministro brasileiro na Assumpção a

nota do governo imperial de

  %%

  de Setembro de 1864, a qual

se segue:

« Ministério dos negócios estrangeiros.—Rio de- Janeiro, em%%  de Setembro de 1864.

« Com o officio de  V .  S. n. 3, de 3 do corrente, que

tenho presente, recebi as cópias, que o acompanharam, da

nota que a essa legação passou o governo da Republica, pro

testando contra qualquer occupação do território oriental, que

possa vir a ter lug ar por parte das forças do Império em

consequeia do

  ultimatum

  comminatorio do Sr. conselheiro

Saraiva; e bem assim da resposta por

  V .

  S. dada á referida

nota.

« Inteirado o governo imperial desta comm ünicação, com

pletamente approva os termos da resposta de

  V .

  S., que

nada deixam a desejar.

« Públicos e notórios como são os verdadeiros motivos que

determinaram a posição que o Império foi forçado a assumir

ultimamente no Estado Oriental; e sendo não menos publicas

e notórias, como de incontestável verdade, as declarações

explicitas e solemnes que o governo imperial tem feito

do respeito que consagra

  á

  independência d'aquelle Estado,

e até da neutralidade e abstenção que está no propósito de

observar em suas questões e lutas internas; é claro que o

protesto do governo paraguayo ficaria sem razão de ser, a

menos que não pretendesse esse governo arvorar-se em juiz

do direito com que exigimos do governo oriental a satisfação

de nossas reclamações, e ainda dos meios de que, para

conseguil-a, entendemos dever lançar mão; pretençfto que

seguramente importaria desconhecer a soberania, e por ven

tura a dignidade do Brasil.

<<  Com razão, pois, repellio V, S. o protesto de que se

trata, cumprindo que n'esse terreno se mantenha com toda a

energia.

« E porque convém que  V .  S. ao corrente de todas as

resoluções do governo imperial, relativas

  á

  posição em que

nos achamos no Estado Oriental, inclusa envio-lhe a cópia de

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despacho que n'esta oceasião dirigio ao commandante em chefe

de nossas torças navaes nas águas d'aquella Republica.

« Por esse despacho verá V. *S. que o governo imperial

appuevando as medidas indicadas pelo Sr. conselheiro Saraiva,

em seguida ao {acto do vapor denominado

  Villa  dei

  Salto,

ainda uma vez põe em evidencia todo o seu pensamento a

respeito d'aquelle Estado.

« V.  S. em termos hábeis usará do referido despacho, para

convencer o governo Paraguay de quanto são infundadas as

apprehensões que revela em seu protesto.

"

  « Reteiro a V. S. as seguranças da minha estima e con

sideração

« Ao Sr. César Sauvan. Vianna de

  Lima.—

Carlos  Carneiro

de  Campos. »

Por este despacho, que fica transcripto, dirigido ao ministro

brasileiro na Assumpção com data de 22 de Setembro, vê-se

que o governo imperial ainda não estava desenganado da

politica que devia ter para com o governo do Paraguay,

muito principalmente depois da nota e protesto d'este governo

de 30 de Agosto, que foi já uma ameaça de hostilidades ao

Brasil. Apezar do que continha esta nota ainda o governo

imperial continuou a dar satisfação da sua politica ao go

verno do Paraguay como se vê n'este officio de 22 de Se

tembro de

  1864,

  a qual termina dizendo ao ministro brasileiro:

que convença o governo do Paraguay, de quanto são infun

dadas as apprehensões que revela em seu protesto. Ou o

governo imperial julgava que o protesto do Paraguay não

teria más conseqüências, ou estava persuadido que vencia

aquelle governo só com explicações nas suas notas: o desen

gano chegou tarde.

A historia diplomática entre o Brasil e o Paraguay, como

a referio o conselheiro Paranhos na câmara dos deputados

na sessão de 11 de Julho de 1862, cujo discurso está trans

crito no livro 9.* d'este volume, devia bastar para quando

o governo do Paraguay remetteu ao enviado do Império

^Assumpção a dita nota de 30 de Agosto de 1864, rece

ber-se aquelle documento como uma declaração de guerra

contra o Império, e preparar-se este para a fazer. O governo

imperial sempre possuido de bôa fé para com os Estados do

Sul) parece que nfto deu grande importância aquella^ com-

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  m

 —

municação e mandou proceder a represálias contra o Estado

Oriental, do que n os vam os occupar no livro segu in te.

D eve-se declarar n'este lugar qu e a pro va, de q ue o go

verno imperial não deu bastante attenção aquella nota, foi

mandar o coronel de engenheiros Frederico Carneiro de

Campos presidente para Matto-Grosso no principio de No

vembro do m esm o an no, dous m ezes depois de recebida a

nota de 30 de Agosto, pelo caminho do Paraguay. As hosti

lidades do presidente Lopez principiaram pela captura do

vapor

  Marquei de Olinda

  em que ia aquelle alto func

i o n á r i o .

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L I V R O   O I T A V O .

CONVENCI» ENTRE O -VICE-ALMIRANTE BRASILEIRO COMMANDANTE DA

ESQUADRA E O GENERAL

 D.

  VENANCO FLORES PARA PROCEDEREM A HOSTILIDADES

CONTRA O GOVERNO DE  MONTEVIDÉO

No livro anterior está transcripto o officio do ministro dos

negócios estrangeiros, Carlos Carneiro de Campos, de 21 de

Setembro de 186 4, dirigido ao com m and ante da esquadra

brasileira no R io da Prata, no qual lhe diz :

« Que o g overno de Sua M agestade o Imperador, coh eren te

com as razões que o determinaram a mandar o Sr. con selheiro

Saraiva em missão especial a Montevidéo, approva completa

mente a resolução que tomou o mesmo conselheiro, de que

fossem occupadas por nossas forças as cidades de' Paysandú,

Salto e Cerro La rgo; entend endo que dev e essa occu paçã o

verificar-se sem perda de tempo.

« Conseqüente com este pensam ento, en tende o govern o im

perial que a occupação dos pontos indicado s só dev e subsistir

em qu ant o n'elles não se achar que m dè as garantias d es e

jadas e as faça effectivas.

« A ssim que , se as forças do general D . Ve nan cio F lores v ie

rem occupar os departamentos m enciona dos, desde q ue el la s,

embora co m o gov erno de facto, offerecerem as desejadas se gu

ranças á vida, honra e propriedade dos Brasileiros, cumprirá

qu e as forças imp eriae s se retraiam, pois qu e, com o já diss e,

não tem o gov erno do Imperador o intento de favorecer u m a

ou outra parcialidade, mas conseguir de qualquer d'ellas que

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—  m —

effectivamente exerça o poder, as gara ntias devida s e qu e a

própria constituição da R epublica am ança aos que habitam o

seu território.»

{Teste officio, cujos trec hos acabam os de tran scre ve r, o m i

nistro de estrangeiros não deu autorisação ao commandante

da esquadra para se ajustar com o general D . V enancio Flo res ,

afim de fazerem juntos hostilidades ao governo do Estado

O riental; só recomm endou-lhe que , quan do as forças do ge

neral D. Venancio Flores occupassem aquelles pontos, as brasi

leiras se retirassem. Os acontecimentos passaram-se de modo

muito differente do que o governo imperial pensava.

O general D. V enancio Flore s, chefe da revolução, mas. aind a

não reconhecido belligerante pelo Império, queria um apoio

para poder oontinuar as hostilidades com m ais seg ura nç a; e

como já os navios de guerra brasileiros estavam no Uruguay

para o mesmo fim, officiou ao vice-almirante, reconhecendo

a justiça das reclamações feitas pelo conselheiro S ara iva, e

offerecendo dar uma reparação ás nossas que ixas, logo que

dirigisse os destinos da Republica.

Eis o officio de D. Venancio Flores:

« Quartel General.— Barra de Santa Lúcia,  2 0  de Outubro

de

  1 8 6 4 .

« Sr, alm iran te. — Collocado á frente da revolução orie ntai,

qu e não se faz solidaria da responsabilidade qu e assum io o

governo de facto de Montevidéo e contra o qual o paiz pro

testou por meio d'essa revolução, que conaemna os actos

ofiensivos com mettidos contra o Im pé rio do Brasil e se us

cidadãos, cumpre-me fazer presente ao Sr. almirante que

considero necessário tornar communs os nossos esforços para

chegar á solução das difficuldades inte rna s da R epu blica , e

das suscitadas com o governo do Império, ao qual estou dis

posto,

  na intelligencia de que a revolução á que presido em

nome do paiz, attenderá ás reclamações do governo imperial,

formu ladas nas notas da missão especial confiada a S . Exl o

Sr. conselheiro José Antônio Saraiva, e lhes dará condigna

reparação em tudo aquillo q ue seja justo e equitativo, e qu e

esteja em harmonia com a dignidade nacional, e que não

seja obtido como uma conseqüência natural e forçosa do trium-

pho da revolução.

a   A o fazer esta manifestação a V . Ex. julgo ser écho da

opinião do meu paiz, em cujo nom e contraio este com pro

misso, que será executado assim que fôr obtido o completo

triumpho da causa que representamos.

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« Deus guarde ao Sr. almirante muitos annos.

c<  A S.  E x .  o Sr. Barão de Tamandaré.— Venancio Flores.»

O vice-almirante brasileiro respondeu a esta participação do

general D. Venancio   F l o r e s ,  em officio de  2 0  de Outubro de

1 8 6 4 ,   o qual é o seguinte:

« Commando em chefe da força naval do Brasil no Rio da

Prata.— Bordo da corveta

  Recife,

  na Barra de Santa Lúcia, em

2 0

  de Outubro de  1 8 6 4 .

« Illm. e  E x m .  Sr.— Tenho presente a nota que V .  E x .

acaba de dirigir-me em data de hoje, na qual me communica

que como chefe da revolução da Republica Oriental do Uru

guay, julga necessário unir os seus esforços aos meus, para

chegar á solução das difficuldades internas do seu paiz, e das

que tem sido suscitadas ao governo imperial pólo governo de

Montevidéo, visto que a revolução á que V.   E x .  preside re

conhece a justiça das reclamações do governo im perial, for

muladas nas notas da missão especial, confiada a S .

  E x .

  o Sr.conselheiro José Antônio Saraiva., e condemna os actos offen-

sivos ao Império do Brasil, do referido governo.

«c  Accrescenta V.  E x .  que ao fazer-me esta manifestação crê

ser o écho da opinião de seu paiz, em cujo nome contrahe

o compromisso, que será rivaíidado, obtido o triumpho da

causa que representa, de dar a condigna reparação aquellas re

clamações cujo fundamento V.  E x .  tem demonstrado reconhecer.

« Fazendo a devida justiça á nobreza dos sentimentos de

V .  E x . e á maneira honrosa com que se mostra disposto a

reparar estes males e offensas, devo declarar a V .  E x . que

terei a maior satisfação em cooperar com V.

  E x .

 para o im

portante fim de restabelecer a paz da Republica, e de reatar

as amigáveis relações d'ella com o Império, rotas pela im

prudência d'aquelle governo, tão anti-patriotico, como injusto

em todos os seus actos.

«c Para tornar uma realidade esta cooperação, a divisão do

exercito imperial que  penetra no Estado Oriental,  com o con

curso da esquadra do meu commando, se apoderará   do Salto

e Paysandú, como represálias, e immediatamente subordinará

estas povoações á junsdicção de V.   E x , ,  visto o compromisso

de reparação que V.

  E x .

  contrahio, entregando-as ás autori

dades legaes que V.

  E x .

 designar para tomar conta d'ellas,

e só conservara abi a força  qu e

  V.

  Ex. requisitar  para garan-

til-as,  de que não tornem a cahir no poder do governo de

Montevidéo.

« Não duvidarei também operar com o apoio das forças

dependentes de V.  E x . que se acham em M ercedes, e ao

norte do Rio Negro, para, não só impedir que o general

Servando Gomes passe para o sul d'esse rio com o exercito

que commanda, como para obrigal-o a largar as armas.

87

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& Creio que V. Ex. avaliará o quanto efficaz

 é

  o apoio que

lhe garanto debaixo de minha responsabilidade, o qual se

traduzirá immediatamente em factos, que reconhecerá n*elle

mais uma prova da syrn.pathia do Brasil pela Republica Oriental,

a cujos males estimaria pôr um termo, concorrendo para cons

tituir o governo que a maioria da nação deseja, e que só

encontra opposição em um redusido numero de cidadãos.

<x Deus guarde a V. Ex.

« Il lm. e Exm. Sr. brigadeiro generalD. Venancio Flores,

commandante em chefe do exercito

  l ibertador .—Barão  de Ta

mandaré.

Desde  2 8 de Outubro que ficaram bloqueiados os portos do

rio Uruguay * pelos navios de guerra brasileiros. Este bloqueio

foi participado ás legações estrangeiras em Montevidéo, pel

a

nota do vice-almirante brasileiro, a qual é a seguinte :

« Commando em chefe, da força naval do Brasil no Rio da

Prata.—Bordo da corve.ta  Nitherohy  em Buenos-Ayres,  2 6 de

Outubro de  1 8 6 4 .

« Sr. ministro.—O governo de Sua Magestade o Imperador

do Brasil, meu Augusto Soberano, no desejo, de evitar todo o

prejuízo ao commercio

  f

e propriedade dos neutros na Repu

blica Oriental, compatível com o exerçjçip indispensável das

medidas absolutamente --'requeridas para .obrigar ao governo

de Montevidéo a .ajttemde&íás justas exigências que lhe dirigio,

para garantir os direitos de, seus subditos, e obter as repara

ções devidas, por violações, das mais injustificáveis, contra

sua propriedade, honra  e

(

, vida  ; > ordenou ao ,-abaixo assignado,

que limitasse o exercício sd/estas medidas ao estrictamente

necessário, para obrigar a esse governo-., a respeitar aquelles

direitos e a dar.; as reparações competentes.

« Foi em execução d'esta ordem do governo do meu Au

gusto Soberano, que tive, a honra de dirigir-me a V. Er .

em  1 1 do corrente, fazen4&-lhe .saber o que estava disposto

a praticar. A resposta que recebi de V. Ex. me revela que

os nobres desejos e sãs intenções do meu governo não fo

ram comprehendidos, nem apreciados, e que se pretende

coilocal-o no caso desagradável de não poder reduzir ao me

nos possível os inconvenientes que os neutros devem soÉfrer

n'esta inesperada emergência.

« Violentado a fazer- o que V. Ex. crê necessário, e para

evitar toda discussão que não tem agora opportunidade, me

vejo no caso de notificar a, V. Ex., que passo a mandar blo

quear os portos da Republica Oriental do Uruguay, o Salto e

Paysandú, sobre os quaes, como já preveni a V. Ex. na minha

citada circular, tenho de operar em apoio do exercito imperial.

« Este bloqueio será vigorosamente observado em  quámfe

Subsistirem os motivos que determinaram o governo a tomar

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a attitude em que se acha, pela dehegaçüo de justiça ás suas

reclamações; e em Conseqüência, as forças navaes sob minhas

ordens,  Mo permittirSo que nenhum navio entre n'esses

portos,

  notificando aquelles que se apresentarem da existên

cia e erfectividade do bloqueio, e ficando sujeitos os que inten

tarem violal-o ao que estabelecem os'

1

 principios ao direito

das gentes. Aos que se acharem nos ditos"'portos ser-lhes-ha

livre a sahida até o dia 15 de Novembro próximo.

« Com este motivo aproveito a opportunidade de reiterar

a V.

  E x .

  as expressões de minha mais 'altár.e distineta con

sideração.

« A S. Ex. o Sr. ministro  d e . . . . . —

B a r ã o

  de  Tamandaré.  »

EFFECTIVIDÀDE  DO BLOQUEIO.

INSTRUCÇÕES

  PARA OS COMMANDANTES DOS NAVIOS DE GUERRA

BRASILEIROS  ENCARREGADOS DE BLOQUEAR OS PORTOS DE

PAYSANDÚ

  E SALTO.

« .Bordo da corveta  Nitheroy,  em Buenos-Ayr.es,  28 de Ou

tubro de 1864.

« 1.° Como um porto se considera éfféótivamente bloqueado

d'esde que ha manifesto perigo de se entrar,.n'elle ou sahir,

devem as nossas canhoneiras collocar-s

:

e na, posição conve

niente para realisar-se esta condição indispensável.

« 2.°

  Aos navios que encontrarem nos' portos referidos, no

tificarão os com mandantes a existência 'dò bloqueio, e lhes

concederá a sahida até o dia 15 de Novembro, .próximo.,

« 3.° Aos navios que se apresentarem na linha do bloqueio

mandarão os commandantes fazer igual notificação por um

official, que a notará nos seus papeis*, com preferencia no

documento comprobatorio de sua naqionalidacle, e também no

diário de navegação, pedindo ao capitão um recibo.

« 4.° Os commandantes me remetterão lüma relação dos

navios notificados, com a declaração de seu nome, nome do

capitão,  procedência, carga, dia da notificação, lugar em que

foi effectuada, e mais esclarecimentos que lhe parecer ut il

transmittir-me.

« 5.° Os commandantes só apprehenderão aquelles navios

q u e ,  depois da notificação, se apresentarem novamente á

linha do bloqueio tentando violal-o.

« N

?

este caso ainda tratarão*» as respectivas equipagens com

  #

toda  a  modemGàOy  e só empregarão a força como vitimo re

curso,

  depois de esgotados todos os meios paciticos para a

apprehensão ; porque o meu intento é diminuir quanto possa

os rigores d'esta  medida em attenção aos interesses com-

merciaes.

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«  6." Se depois  da advertência tentarem  novamente infringir

o bloqueio, esta tentavia se considerará um a viola ção do

bloqueio,  e,  por conseguinte, bôa preza  os navios que a  pra

ticarem.

  Pilw

« 7 . °  T en do apresado qualquer navio,  conjuctamente com o

capitão e  piloto, o commandante fará pôr  selíos em todas

as  escotühas, a não consentirá que se retire  de bordo da

presa, ne m que se despenda objecto algum a ella  pertencente,

ou á  sua guarnição.

« 8.° O commandante que deixar de  cumprir as disp osiçõe s

anteriores tomadas para se gur anç a dos nav ios  dos neutros,

será responsável pelos prejuizos que causar. »

Em quanto o vice-almirante brasileiro, Barão de  T a m a n

daré, projectava este bloqueio dos portos do  rio Ur ugu ay,

conforme as ordens que tinba do governo im peria l,  e dava

as instrucções que ficam escriptas, approxim ava-se da fron

teira do Estado Oriental a primeira força brasileira  que se

tinha organisado.

Com effeito, a 12 de Outubro entrou n'aque lla  Republica

uma brigada brasileira, composta do batalhão 3 de  infantaria e

dous corpos de cavallaria, comm andada pe lo brigadeiro  José

Luiz M enna Barreto, com o fim de fazer represálias  ; á 14

chego u a Cerro Lar go, e entrou na villa de Me llo ,  capital

d'aquelle departamento, conseguindo desalojar a guarnição  que

alli estava, a qual fugio pelo rio Ta quary, qu e  fica a um

lado da villa.

A 21 seg uio a brigada para a vill a de Cerro  Largo, e a

24  retirou-se para o A cêgu á, em direcção a cidade  de Bagé ;

seguio depois para Pirahy, onde se estavam   reunind o ' os

outros corpos, que deviam formar uma divisão  das tres

armas.

Foi um passeio militar que effectuou a   brigada brasileira,

sem utilidade alguma, porque os pontos  oocupados  a  titulo

de represálias foram logo abandonados,  por uão se poder sus

tentar em um paiz inimigo  tão peq uena força, longe da fron

teira, por consequenoia sem base para as  suas operações.

Com tão pouca tropa não  se emprehendem operações mili

tares  em paizes inimigos;  ainda que o governo imperial

mandou  fazer represálias,  o de  Aguirre  tomou-as como actos

de guerra; devia-se esperar  a correspondente resistência, ô,

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por isso,  nao se  devia  ter  mandado aquella pequena brigada

sem ficar outra  na  fronteira  que a  apoiasse.

BLOQUEIO

  BA

  VILLA

  DO

  SALTO PELAS CANHONEIRAS BRASILEIRAS,

  E

OCCUPAÇÃO PELO GENERAL FLORES.

Depois

  que o

  general

 D.

 V enancio Flores

 e o

  vice-almirante

brasileiro  se  entenderam, como consta  das  notas transcriptas,

seguio  o  general Flores para  o Rio  U rug uay , para esperar

que  a  villa  do  Salto, situada  na  margem esquerda d'aquelle

r io,

  e

  porto

  de

  com mercio, fosse bloqueada pelos navios

  de

guerra brasileiros.

No  dia

 9

  de  Novembro  deu  ordem  o  chefe de divisão Fra n

cisco Pereira Pinto, commandante  da  3 .

a

  divisão naval, ao

  1 /

tenente Joaquim José Pinto, commandante

  da

  canhoneira

Itajahy,

  para

  ir com a

  canhoneira

  Mearim

  bloquear

  o

  porto

do Salto.

Transcrevemos parte

  do

  relatório

  que o

  dito  1 . °  tenente

Joaquim José Pinto publicou d'esta commissão.  (*)

«  No dia  2 2 de  Novembro officiei  ao Sr.  chefe  da  3 .

a

 di

visão naval  que ia  subir n'aquelle  dia  para o S al to . Subimos

para  a  frente  de uma  cidade onde  a  autoridade militar  nos

ameaçou,

  e até

  mandou dizer

 á

  Concórdia (povoação argentina

situada  na  margem direita  do  Uruguay, abaixo  do  Salto) que

relevassem   as  balas  que  alli cahissem quando atiradas  ás ca

nhoneiras brasileiras*  mas nem por  isso deixámos  de  seguir

ás

  8

  horas  da  "manhã  a  vapor  rio  acima, apresentando

 1 5

bocas  de  fogo para  a  banda oriental.

«

  Era

  immensa

  a

  porção

  de

  curiosos

  que na

  margem

  ar-

 1

gentina affiuiram para verem executadas  as  ameaças  do

coronel Leandro Gomes;  e na  margem oriental notava-se

grande movimento

  de

  gente

  e

  cavalleiros

  que

  corriam

  em

diversos sentidos. Fundeados

  a tão

  curta distancia

  da

  cidade,

que vínhamos desafiar  a  cólera  de  suas autoridades, passá

m os  os  dias  e  noites seguintes  com  toda  a  vigilância, prohi-

bindo

  por

  meio

  de

  escaleres toda

  a

  com mü nicação fluvial,

sem  que  fossemos h os ti Usados  por  modo algum.

« O  coronel L eandro Gomes sabendo  da  approximação  das

forças  do  general Flores, reconhecendo  a  pouca guarnição que

(*) Jornal do  Commercio  de 16 de Março de 1865.

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t inha o Salto para resist ir-lhe, entregou a praça ao coronel

Palomequ e e ret irou-se para Pa ysa ndú .

« No dia 23 de N ovem bro notava -se em terra mov imento

de tropa como approx imaçã o de inim igo. No dia 24 achava -se

a cidade cercada de tropa, que parecia ser do exercito liber

tador ao mando do general Flores, e ás 10 horas nos cert i

ficamos da verdade por sentir-mos guerri lhas em terra, eapparecer na praia do lado do norte, um esquadrão de ca

vallaria do mesm o exe rci to; d 'onde veio entend er-se com m igo

sobre o ataqu e da cidade , e algum as necessidade qu e t inh a o

general Flores , o coronel A costa: m and ei en tão o 1 / tenente

José M arques Guim arães entender-se com o di to general, e

regressando disse-me que este ficava certo da nossa coadjuva-

ção,  e que ia acampar aquella noite na parte do sul , no

S aladeiro, em frente ao porto da Concórdia, onde esperav a

vários objectos qu e lhe devia traze r u m vapor q ue esta va

em Paysandú fretado para esse fim.

« N o dia 27 pre pa rou -se o exercito libertad or par a  atacar

no dia seguinte o Sal to , e nós conservamos sempre durante

os dias e noites , toda a vigilânc ia possivel ao n ort e do rio ,

penetrando pelos arroios, onde tomamos embarcações miúdas,

que entregamos a seus donos no dia 29.

« No dia 28 acha va -se a cidade sitiada pelo exercito libe r

tador

 ;

  o porto bloqueado pelas canhoneiras; e as forças da

cidade concentradas na praça principal .

« U m a part ida do exercito libertado r qu e veio a cav allo á

praia na par te do no rte soffreria alg un s tiros dos sitiados,

qu e em n um er o de oito vin ha m offendêl-os, se do vapo r qu e

os avistava não atirassem sobre elles uma bomba de 12 e um

foguete de guerra, que os fez retroceder. Em qua nto estav am

na cidade tratando-se entre o general Flo res e algu ns co m m er -

eiantes, e vice-consul portuguez, sobre a* capitulação da pra ça,

reinava suspensão de hosti l idades, não se ouvindo t iro algum.

cc N este m esm o dia 28 ás 5 ho ras da tard e, fez o co ron el

Pa lom equ e entre ga por capitulaç ão da cidade ás forças do exe r

cito libertador, com a co ndição de receber para elle e pa ra os

officiaes até alferes, passapo rtes p ara ond e lhes c on vie sse ;

porém  • não e ntre ga ram a praça como de viam ; foram fugindo

pa ra a praia officiaes e sold ado s, on de a m aior pa rte ficou

retida pelos tiros do

  Gualeguay

  e por nossos escaleres. Offi

ciaes e soldados atrav essaram depo is o rio a cavallo e a n a d o ;

o maior nu m ero foram recolhido s a bordo d o vapor de

guerra argentino, inclusive o coronel Palomeque,

« En tregou -se no dia 28 de No vem bro a cidade do S alto

ás forças do exercito libertad or; tra tei de leva ntar o bloq ueio

no dia seg uin te, conforme as m inh as instruc ções , e ped ido

que t ive do general Flores.

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- 203 -

K

  Na

  dia 30 retirou-se por terra o general Flores com toda

a cavallaria e parte da artilharia' em dírecçâo a Paysandú; e

na noite d'este mesm o dia, embarcou toda a infantaria e o

resto da artilharia em dous lancho es â reboque do vapor

Gualeguay,  auxiliando os nossos escalerès, e se dirigiram para

Paysandú.

« Como ficasse a cidade do

  Salto, sem

  tropa depois da reti

rada do exercito libertador, e em estado de poder ser nova

mente tomada por aquelles que a entregaram, e que residiam

na Concórdia; tivemos de desembarcar  100  praças e uma

peça de artilharia de campanha para guardar a cidade, por

pedido que me fez o commandante militar e o chefe poli

tico.

  Esta força conservou-se muitos dias em terra, até que

as autoridades pudessem organisar um a força sufficiente para

guardar a cidade, o que levou muitos dias do mez de

Dezembro.

« Além d'estas praças que tínham os em terra, todas as

vezes que havia desconfiança de tentativa de invasão, haviaa bordo das canhoneiras, prompta para desembarcar, outra

força de  120  a  150  homens com duas peças de campanha;

N o m eiado de Janeiro a cidade já tinha muitos engajados

para o serviço, e nós ainda conservávamos   50  praças em ter

ra,

  que só se retiraram para bordo nas vésperas da nossa

descida. »

Com tomar a cidade do Salto, ficou o general D . Venancio

Flores com base segura para as operações que projectava

fazer. Ficando aquella cidade guarnecida por forças suffici-

entes,

  resolveu elle marchar contra Paysandú, onde esperava

também ser auxiliado pelos navios de guerra brasileiros que

estavam bloqueando o porto. Esta praça, depois da de Mon

tevidéo, era a mais fortificada do Estado Oriental; isto o de

via conter na sua marcha, á vista da pouca força que com-

m andava.

A correspondência acima transcripta, entre os dous generaes,

o vice-almirante brasileiro e o general D . Venancio F lores, era

para este uma garantia certa para poder continuar as hosti

lidades contra o governo de M ontevidéo. Por tanto entendeu

que ficou reconhecido belligerante pelo governo imperial, e,

como tal, habilitado para, de combinação com os generaes

brasileiros, continuar a guerra.

O   general D . Venancio Flores % não tinha exercito organisado,

nem tão pouco o material necessário para pôr cerco e atacar

praças de guerra, ou para dar ba talh as; pois que não se

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— 204 —

c h a m a e x e rc i to a u m a p a r t i d a d e 1 , 6 0 0 h o m e n s q u e e l l e

c o m m a n d a v a , m a l a r m a d o s e p e i o r f a r d a d o s , s e n d o a m a i o r

p a rt e d e c a v a l l a r i a ; c o m p o u c o s m e i o s d e a u g m e n t a r a s u a

f or ça , s e m t er d e p ó s i t o s d e a r m a m e n t o e m u n i ç õ e s , e s c a s s o s

r e c u r so s d e s u b s i s t ê n c i a ; t r a zi a a l g u m a s p e ç a s d e a r t i lh a r i a

d e p e q u e n o c a l i b r e , q u e n ã o s e r v i a m p a r a o c e r c o d e u m a

p r a ç a . C o m t ã o p o u c o s m e i o s d e a g g r e s s ã o , p r o p o z - s è o g e

n e r a l F l o r e s a a ta c ar a p r a ç a d e P a y s a n d ú , b e m g u a r n e c i d a

e a r t i l h a d a .

D a p a r t e d ' e s t e g e n e r a l o s e u p r o j e c t o e r a u m a l o u c u r a ,

m e s m o c o m o p e q u e n o a u x i l i o q u e l h e p u d e s s e d a r o v i c e -

a l m i r a n t e b r a s i l e ir o ; d a p a r t e d ' e s t e n o t o u - s e q u e n ã o t e v e a

p r u d ê n c i a q u e e s p e r á v a m o s d o s s e u s p r e c e d e n t e s , a s s o c i a n d o -

s e a u m c h e f e d e r e v o l u ç ã o a i n d a n ã o r e c o n h e c i d o o ff ie ia li -

m e n t e b e l l i g e r a n t e p e l o g o v e r n o i m p e r i a l .

C o m t ão p o u c o s m e i o s d e g u e r r a d e q u e d i s p u n h a , o g e

n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s q u a n d o f o i p ô r c e r c o á p r a ç a d e P a y

s a n d ú m o s t r o u q u e n ã o t i n h a p r a ti c a d ' a q u e l l a s o p e r a ç õ e s ;

m a s d e p o i s f e z c o n h e c e r q u e e r a b o m g e n e r a l n o c a m p o , o

q u e j u s t i f i c o u n a b a t a l h a d e Y a t a y , q u e e l l e c o m m a n d o u .

S o b r e o a j u s te d o s d o u s g e n e r a e s , c o m o c o n s t a d a s s u a s

n o t a s d e 2 0 d e O u t u b r o d e 1 8 6 4 , d i z a e s t e r e s p e i t o o c o n s e

l h e i r o J o s é M a r i a d a S i l v a P a r a n h o s , n o s e u f o l h e t o , q u e

p u b l i c o u e m 1 8 6 5 , a p a g i n a 1 8 , o s e g u i n t e :

« V ê o s e n a d o q u e o g e n e r a l F l o r e s s ó p r o m e t t i a e m s u a

n o t a d ar c o n d i g n a r e p a r a ç ã o a t u d o q u a n t o f o s s e j u s t o <e

e q u i t a t i v o , e s t i v e ss e e m h a r m o n i a c o m a d i g n i d a d e n a c i o n a l

e n ã o f o s s e c o n s e q ü ê n c i a n e c e s s á r i a o u f o r ç os a d o t r i u m p h o

d a r e v o l u ç ã o .

« E s t e a c t o d o n o s s o a l m i r a n t e t e v e o u n ã o a a p p r o v a ç ã o

d o g o v e r n o i m p e r i a l ? T e v è - a : e , q u a n d o a s s i m n ã o f os se , a

d e s a p p r o v a ç ã o d e v o r a s e r p u b l i c a . N ã o s e p ô d e , p o r é m , n u t r i r

a m e n o r d u v i d a s o b r e e st e p o n t o , á v i s t a d a s s e g u i n t e s d e

c l a r a ç õ e s f e i ta s p e l o S r . e x - m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s

n o s e u r e l a t ó r i o .

« P o r o u t r o l a d o , o g e n e r a l F l o r e s , q u e s e a c h a v a á f r e n t e

d a r e v o l u ç ã o d o s e u p a i z , e q u e j á e n t ã o e r a d e f a c t o v e r

d a d e i r o b e l l i g e r a n t e , r e c o n h e c e n d o a p r o c e d ê n c i a e j u s t i ç a d e -

n o s s a s r e c l a m a ç õ e s , c o m o h a v i a m s i d o f o r m u l a d a s p e l a m i s s ã o

d o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a , e c o n t r a h i ri d o e s p o n t a n e a m e n t e o

c o m p r o m i s s o d e o f fe r e ce r -n o s u m a r e p a r a ç ã o c o n d i g n a ,  loM

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2 0 5 —

que conseguisse o triumpho de sua causa, manifestava ao

vice-almirante brasileiro o desejo de unir os seus aos esforços

das armas imperiaes para o restabelecimento da paz na Re

publica e das relações amigáveis d'esta com o Império.

« N enh um razão havia para deixar de acolher sem elhan te

concur so, sobretu do considerados os termos em que fora offe-

recido.

sendo que d'elle teve noticia o governo oriental, bem como

os agen tes diplomáticos residentes em M ontevidéo, o govern o

argentino, o publico em geral do R io da Prata? Era o prin

cipio da alliança entre o Brasil e o chefe da revoluçã o. M as

por ventura ia de accordo este nosso procedimento com as

nossas declarações anteriores

 ?

  Seguramente não; por quanto

o governo imp erial havia dito : Não estou em guerra, sou

neu tro, abstenno -me na questão interna ; exerço represálias

afim de obter as reparações que me são devidas, e tão de

pressa m e sejam ellas dadas, restabelecidas ficarão as re lações amigáveis entre os dous Estados.

« Pend entes estas declarações officiaes, nós em Santa Lú cia

secretamente tratávamos com o chefe da revolução, ajustava-

mos a cooperação das duas forças, estipulávamos a troca dos

serviços \ e isto sob a simples promessa de que as nossas re

clamações seriam attendidas nos termos em que o general

Flores promettia fazel-o, se elle ficasse vencedor e viesse a

ser governo reconhecido em toda a Republica Orientai. Con

fessemos, senhores, que taes factos não são regulares; que a

falta de franqueza que nesse mom ento se notava da nossa

parte dev ia alienar de nós as sy.mpathias do corpo dip lomá tica r eside nte em M ontevid éo, e tornar suspeitas as nossas in

tenções; cumpre reconhecer igualmente que,  á  vista d'esses

factos, natural era que o governo de M ontevidéo e o seu

partido se tomassem de maior irritação contra o Brasil.

« Este nosso procedimento, as represálias levadas a esse ponto,

até mediante a cooperação do chefe de uma revolução, tem

exemplos, é certo, mesmo no Rio da Prata.

a  iVesde  1838,  durante  10  annos, a França e a Inglaterra,

ora conjuncta, ora separadamente, assim procederam contra o

dictador Rosas e seu lugar-tenente o general Oribe. Outros

exemplos se podem citar. Como, porém, se explica semelhante

systema de represálias? Allega-se que é moderação do forte

para com o fraco, e consideração aos interesses neutros. Não

ó

  egtado de paz, nem de guerra: é um estado mixto, que

o  jmiéffoTte  estabelece a seu arbitrio, com o fito de pou-

par»fe os sacrifícios de uma guerra formal, e para desviar a

intervenção das potências neutras. Mas esta doutrina é muito

contestada, mesmo no Rio da Prata.

« Como quer que seja, os acontecimentos nos tinham levado

até aquelle ponto; não só já empregávamos represálias que

«

ficou em segredo,

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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— 2 0 6 —

propr iamente se devem chamar host i l idades de guerra , mas

até tratávamos e obrávamos de concerto com o chefe da re

volução;

cc O governo arg en tin o em qu e posição se ac ha va á v ista

d'estes successos? M ostrava-se benevolo para com o go ve rno

imp erial . Elle tam bém estava desav indo com o gov erno de

Montevidéo, suas re lações diplomáticas se achavam interrom

pida s ;

  tinha aggravos que vingar, e d 'ahi esse interdicto das

relações officiaes; m as conserva-se ne utr o no qu e toca

  á

  questão

interna. N ão con testava ao gov erno im peri al o direito qu e

estava exercendo, o de represálias contra o Estado Oriental,

não via n'isso uma offensa ás estipulações que protegem a

independência e integr idade do di to Estado, promett ia-nos

mesmo o seu concurso moral, fazendo justiça ás nossas in

tenções moderadas, mas recusava intervir comnosco.

« O S r . conselheiro S araiva tinh a p rocurado conhecer as

disposições do governo argentino em face do nosso conflicto,

e as declarações que obteve foram muito positivas, e constam

de protocollos.

« A quelle governo enten dia qu e, para resolver a qu estão

orie nta i, já considerada em relação aos interesses inte rno s qu e

se achavam em luta, já considerada em relação aos dous Es

tados visinhos, se podiam empregar duas ordens de meios,

directos e iudirectos. Os meios directos consistir iam na inter

venção collectiva do Brasil e da Republica Argentina, para

impor a paz aos contendores internos d'aquelle Estado inter

mediár io ; mas ponderava o governo argen tino, qu e ta l meio

encontrava difficuldades no direito publico dos tres Estados,

além do grave inconveniente de f icarem os interventores res

ponsáveis pela situação que assim creassem, e pelas reacções

que sóe produzir o t r iumpho de uma revolução.

« Con sequentem ente ente nd ia o governo argentino qu e os

me ios a seguir eram os indirectos, e que estes deviam co n

sistir , por parte da R epu blica A rgen tina, na posição em qu e

se achava o seu governo para com o Estado O riental, e ,

por parte do Bras il , no emp rego de repre sálias , e m esm o,

em ul t im o caso, no recurso á gu erra . Esperava e l le que ,

prestando o seu concurso moral ao governo imperial, man

tendo interrompidas as suas relações com o governo oriental,

ou não se prestando a ne nh um accordo com este que não

fosse aco m pan had o de ou tro com o Brasil, as nossas rep re

sálias,  e por fim a guerra, dariam o triplice resultado que se

desejava—pacificação da Republica Oriental, apparecimento de

um governo qu e se podesse entender com os visinhos, e re

paração am igáve l das offensas de qu e se queixav am o Im pé rio

e a R e p u b l i c a A r g e n t i n a .

cc   Era m estas as disposições do govern o argen tino. O S r .

conselheiro S araiva tam bém enco ntrav a objecções n os tratados

vigen tes con tra a inte rven ção collectiva, no ponto de vista

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— 207 —

em que a considerara o gov erno argentino ; este meio lhe

repugnava, mas não esperava que do emprego dos meios

indirectos, que já estavam em execução, pudessem resu ltar

todas as oonseq uencias benéficas que se a ntolhav ám ao g o

verno arge ntin o ; o previa que as circumstancias p odia m

aggravar-se por tal modo, que a intervenção collectiva e

arm ad a fosse ind ispe nsá vel, afim de pacificar o Estado O rienta l,

e resolver as questões internacionaes pendentes entre aquelle

Estado e os dous visinhos,

« Eis aq ui , s enh ores , qua l era a nossa situação no R io

da Pra ta : — neutralid ade da parte do governo argen tino,

qu an to á lut a inter na do Estado O riental, apenas o seu co n

curso moral ao governo imperial a bem de nossas justas

reclam ações ; o corpo diplomático de M ontevidéo, prevenido

con tra nós, porque os nossos factos, apparentem ente ao m enos,

estavam em contradicção com as. nossas declarações officiaes:

já estávamos ameaçados pelo governo do Paraguay desde a

no ta de 30 de A gosto, e o gov erno argentino , considerandoa hypothese da intervenção pa raga ay a, só declarava

  casus belli

para elle o que ha pouco se deu, a violação do território

arg en tino ; fora d'este caso elle tam bém se conservaria ne utro

entre o Brasil e o Paraguay. »

Esta exposição do conselheiro Paranh os mostra q ual era q

estado de nossas relações diplomáticas com as duas Repu

blicas do Rio da Prata e com a do Paraguay, depois que

terminou a missão do conselheiro Saraiva.

O governo 'da R epublica A rgentina q ueria conservar a s ua

neuÉralidade; ao mesmo tempo desejava ver^terminada a guerra

civil no Estad o O riental, apparecendo outro governo com o

qual ficasse em boa intelligencia.

O governo de A guirre, susten tado pelos exaltados e per

versos da Republica, conservava-se na esperança da protecção

promettida pelo governo do Paraguay. Este ameaçou o Brasil

se as tropas imperiaes entrassem no Estado Oriental.

N 'es ta reun ião de circumstancias todas graves, o Brasil não

tinh a no R io da Pra ta um representante que tratasse d

1

 estes

negócios com os do us Estado s, e harmo nisasse estas questões,

suste ntan do os direitos, os interesses e a dignidade do I m

pério, além do encarregado de negócios em Montevidéo, que

tinha outras cousas em que cuidar . H avia também um m i-

' nistro residente em Buenos-A yres, no mesmo caso.

Desde 7 de Setembro em que o conselheiro Saraiva sahio

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d e B u e n o s - A y r e s a t é 2  do Dezembro,  f o i  o commandante em

c h e f e d a e s q u a d r a b r a s i l e i r a q u e m t o m o u a d i r e e ç ã o doe

n o s s o s n e g ó c i o s q u e a l l i s e a g i t a v a m , s e n d o o m a i s i m p o r

t a n t e o a j u s te c o m o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s p a r a a t a c a r e m

a p r a ç a d e P a y s a n d ú .

O m o d o d e r e m e d i a r e s te e s t a d o q u a s i i n d e f i n i d o d o

8

n o s s o s n e g ó c i o s n o R i o d a P r a t a , e r a s e m d u v i d a n o m e a r

u m e m i s s á r i o c a p a z d e e n d i r e i t a r o q u e e s t a v a t o r t o , s e a i n d a

f o ss e t e m p o ; a e s c o l h a f e l i z m e n t e r e c a h i o n o c o n s e l h e i r o J o s é

M a r i a d a S i l v a P a r a n h o s . (*)

D e p o i s q u e o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s t o m o u a c i d a d e d o

S a l t o e s e d i r i g i o p a r a P a y s a n d ú . o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o

v i o - s e m a i s e m b a r a ç a d o p e l o a u g m e n t o d a f o rç a p h y s i c á e

m o r a l q u e g a n h a v a a q u e l l e c h e f e d a r e v o l u ç ã o o r i e n t a l .

A p p r o x i m a v a m - s e n o fim d e N o v e m b r o o s d o u s c h e f e s d a

p r a ç a d e P a y s a n d ú . O v i c e - a l m i r a n t e b r a s i le i r o , q u e e s t a v a

e m B u e n o s - A y r e s , s a b e n d o q u e o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s i a e m

m i s s ã o e s p e c i a l a o R i o d a P r a t a , f o i n o s u t i m o s d i a s d ' a q u e l l e

m e z p a r a P a y s a n d ú , p a ra e n t e n d e r - s e c o m o g e n e r a l D . V e n a n

c i o F l o r e s . A i n d a e n t ã o n ã o c o n s t a v a d a e n t r a d a d a d i v i s ã o

b r a s i l e ir a n o E s t a d o O r i e n t a l . O v i c e - a l m i r a n t e e s p e r a v a a

a p p r o x i m a ç ã o d ' a q u e l l a f o r ç a p a r a a u x i l i a r d o l a d o d o m a r o

a t a q u e á p r a ç a ; c o m o n ã o h o u v e s s e n o t i c i a d ' el la , r e s o l v e r a m

o s d o u s c h e f e s o p e r a r d e c o m b i n a ç ã o c o m a s p o u c a s f or ç as d e

q u e d i s p u n h a m ; o q u e q u a l i f ic a m o s d e p o u c o p r u d e n t e e s e r á

d e m o n s t r a d o n o l u g a r c o m p e t e n t e .

P o r c a u s a d a d e m o r a d a d i v i s ã o b r a s i le i r a , q u e h a v i a m u i t o s

d i a s e s p e r a v a - s e q u e f o s se o c c u p a r p r i m e i r o C e r r o L a r g o e

d e p o i s a s o u t r a s p o v o a ç õ e s d o n o r t e , e s c r e v e r a m d e B u e n o s -

A y r e s p a r a o R i o d e J a n e i r o a 2 6 d e N o v e m b r o o s e g u i n t e :

— C o l l o q u e - s e o B r a s il n a s i t u a ç ã o q u e é s u a , m o s t r e s u a

p r o m p t i d ã o e s u a f o r ç a , e s e r á s e m p r e r e s p e i t a d o . D e q u a l

q u e r o u t r a m a n e i r a n ã o . H a d e c o n t i n u a r a s e r o l u d i b r i o d e

q u a l q u e r g o v e r n i c h ó d o R i u d a P r a t a .

— A i n a c ç â o d o B r a s i l t e m s i d o o a l v o d e t o d o s o s c o m m e n -

{*) Foi uma exc epç ão da  politica  dos m m istè íios de 1864.

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— 209 —

tarios , e a imp rensa arg entin a já a censur a, porque a co ns i

dera a causa de todas as com plicaçõe s que pod em sur gir; da

demora da solução da questão oriental. Carrera e Barra con

ceberam seu pla no , e fazem esforços para vingar, aproveitan do

os e lem ento s favoráve is que encontram. Se gu nd o es te p lan o ,

o Pa ra gu ay , Corrientes , E ntre -R ios, E stado Oriental e R io

G rand e, formarão u m E stado co nfeder ado; para contrabalançar

a inf lu enc ia que pod em ter no R io da Prata, Confederação

Argent ina e o Impér io do Bras i l .—

N ã o ha duvida de que a inacção do governo imper ia l

em todo o ann o de 1864, o pouco acerto das suas pro viden

cias em relação á ques tão oriental com prom etteram a nossa

causa, e deram lugar ás manifestações do Paraguay.

D ou s aco ntec im entos importantes occorreram n o R io da

Prata em De zem bro de 1 86 4: o pr imeiro fo i a chegada a

Bu en os-A yre s do conse lhe iro Paranhos; o segund o o a taque

á praça de Pa ys an dú pelos dou s chefes , brasi le iro e ori en

tal . T ratarem os primeiro da missão do conselheiro P ar an ho s.

F o i u m facto extraordinár io a nom eação do conse lhe iro Jo sé

M aria da Si l va Pa ran hos para env iado extraordinário em

m issã o especial ao R io da Prata, pelo m inistério de 31 de

Agosto; mas devemos reconhecer que aque l le min is tér io acertou

com a nomeação d 'aquel le d ip lomata , conhec ido como o mais

hab il i tado para tratar do s nos sos neg ócio s co m as R epu blicas do

Su l , do qu e t inha dado provas nas outras com missõe s de que fo i

encarregado. Pareceu que o gabinete de 31 de Agosto quis

remediar a m á direeção qu e se t inha dado á nos sa po l it ica

para com o E stado O riental co m a nom eaçã o qu e fez; m as,

se foram estas as suas in tenções , depressa se arrependeu.

O cons e lhe iro Pa ranhos d isse no senado sobre a sua n om ea

ção para ir ao R io da Prata em 186 4, o qu e se lê no folh eto

de sua defesa , a pag inas 7 :

« .Em dias de N ov em br o do ann o passado , Sr . pres id ente

f u i c o n v id a d o p e lo n o b r e e x - m in i s t r o d o s n e g ó c io s e s t r a n

ge iros para encarregar-me da missão d ip lomát ica do Bras i l no

R io da Prata . Porq ue , senh ores , era eu conv idado para es ta

c o m m iss ã o

 ?

  P o r q u e o s n o b r e s e x - m in i s t r o s m e q u iz e s s e n

fazer um obséquio ?  N ã o , t a n t o n ã o lh e s p o d ia e u m e r e c e r ;

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— 2i0 —

era convidado porque se tratav a de um a coramissão trab a

lhosa, de grande responsab i l idade, para a qu al eu t inha o

único méri to de alguma experiência de nossas questões com

aquelles Estados.

« Estava im m ine ntè a gue rra com o Estado O rien tal ; as

nossas represálias já tocavam o estado de g u e rr a ; estávam os

ameaçados de um rom pim ento por par te do P ar ag ua y; as

circumstancias eram difficeis: entendi que não podia recusar-me

a tão honroso c on vite : não hesi tei em a ce itar a coram issão,

um a vez que p m eu pen sam ento est ivesse de accordo com a

opniião que o governo pretendesse seguir em face do novo

estado das cousas. Na estação dá vida em que me acho, e tendo

desem penhado tres comm issões diplomáticas no R io da Pr ata,

era-m e licito ter u m a opin ião a respeito d'aq ue lles negócios,

e na m in ha posição social eu não podia aceitar m an da to

cujos preceitos fossem contrários ás minhas convicções.

« O uvi a exposição succinta do nobre ex-m inistro dos neg ó

cios estrangeiros sobre o estado da nossa questão com o Estado

O rie nta l : esta exposição não al terou o juízo qu e, eu t inh a for

m ado á v ista dos factos , que já eram do dom inio p ub l ic o;

pelo que respondi ao nobre m inistro que estava pro m pto , m as

qu e nece ssitava, pa ra formar juizo definitivo, ver a co rre s

pon dênc ia reservada. En tretanto ma nifestei-lhe, á vista do qu e

eu conhecia e das informações que S. Ex. acabava de pre s

tar -m e, q ua l o m eu parecer sobre a poli t ica a seg uir-se , e

achamo-nos de accordo.

<x O estudo da co rrespondênc ia reserv ada confirm ou-m e no

pr im ei ro j u i zo ; escrev i dous" 'm em orand os , '  urn dirigido ao

nob re ex-m inistro dos negócios estrangeiros, e outro ao seu

collega do ministério da guerra, , o S r . B eau rep aire R oh an ,

porqu e não se tratava, senho res, so m ente de diplomac ia, a

acção mil i tar era elem ento indispensável e que já estava em

act ividade. C ohvinha-m e, portan to , conhecer quaes eram as

no ssa s disposições m ilitar es, e o estado da nossa força ex pe

dicionária,  ú&ã

a N o  memorandum  que dirigi ao no bre ex-ministro dos ne

gócios estrangeiros apresentei-lhe o plano da m in ha negocia

ção ; haviam hypotheses já con hecidas , out ras q ue se podiam

rever, pedio arbitrio q ue era essencial a u m a com m issão

'aquella nature za, m as pedi autorisaçoes expressas para as

hypotheses conhecidas e prováveis .

« O governo im perial cont inu ou de accordo com as idéas

que eu lhe havia m anife s tado ; as ins t rucções que o nob re

ex-mínistro dos negócios estrangeiros entre gou -m e, na vés

pera de minha par t ida á noi te , eram um t ránsumpto do me-

fhorandum

 qu e apre sen tei-lhe corn o plano de negociação qu eme parecia mais conveniente .

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2 « —

« A ceitei, Sr. presid ente, esta

  com missão

  seria

  . m e s m o

  ter

tempo para consultar os principaes dos meus a m ig o sp o l i t i

co®. A penas com dou s ou tres, que m e honram m ais a m iúdo ,

pud e conversar a esse respeito ; ach ei n'clles b en evo lên cia e

approvação, confiei, pois, do critério  o  patriotismo dos outros

pensariam e sentiriam da mesm a m aneira. Sempre pr o-

ei e aind a hoje professo qu e a p olitica externa não de ve

estar sugeita ás vicissitudes da politica interna, que deve ter prin

cipio s trádiccionaes e fixos, com m un s a todos os partidos ; e,

seguramente, senhores, desgraçado o paiz que, depois de tan

tos annos de

 •

  indepen dência com o conta o Brasil, nem ao

menos tenha ainda principios fixos acerca de sua politica ex

terna com relação aos E stados limitrophes. E sta m inha opi

nião parecia-me e parece-me incontestável em circumstancias

como aquellas em que então nos achávamos, imminente uma

guerra externa. A nte o inim igo externo, en tendo e entend i

sempre que somos todos amigos e alliados.

« Par ti para a com m issão disposto a servir com todo o

zel o e dedicação de que fosse capaz

  ; e

  os nobres ex-m inistros

se me quizerem hoje fazer alguma justiça, dirão que outrem

poderia servir com mais illustração, mas não com mais zelo

nem com mais lealdade.

« C ump re ter prese nte qual a situação politica do Império

no R io da Prata quand o aceitei a m issão, e qual o pensa

m en to cardeal das instrucç ões de que fui mun ido,

« M as o silen cio seria ma is prejudicial á causa pu blica do

que a discussão a que fui provocado,

  e

  que eu devia aceitar

e aceito. Confie o senado no

  c o n h e c i m e n t o

  pratico que tenho

do terre no que vo u percorrer, e n*esse tal ou qu al critério e pru

dência de que creio ter dado algum as provas. Para tran qui-

lisar com pletamen te o senado e. o governo, devo tamb ém

declarar-lhes desde já qu e não darei informações que sejam

novidades para os nossos visinho s do 'R io da Pr ata ; os factos

u e he i de citar, toda a historia que conv ém  referir  ao sena-

o é conhecida em Montevidéo e em Buenos-Ayres.

« A m issão do Sr. con selheir o Saraiva tevê por objecto

obter satisfações de aggravos recebidos pelo Império em varias

épocas, a partir de

  1852,

  nas pessoas e propriedades de sub

ditos bra sileiros residentes no E stado Oriental. O Sr. co ns e

lhe iro Saraiva d evi a exig ir reparação d'aquellas offensas, e

segur ança para o futuro ; e, se nossas reclamações não fos

sem attendidas, devia apresentar o seu  ultimatum  e com minar

o emprego de represálias.

« Sabem tod os qu e esta nossa primeira m issão foi recebida em

M ontevidéo com p revenção e animosidade ; prevenção e anim osi

dade que não tinham sua origem somente nas preocupações

trádiccionaes entre Portuguezès e Hespanhóes, ou nos precon

ceitos de raça, mas tamb ém em  causas  novas e próximas.

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« 0

  E s t a d o O r i e n t a l a r d i a d e s d e

  1862

  e m g u e r r a c i v i l »

m u i t o s c i d a d ã o s b r a s i l e i r o s, s e g u n d o a s d e c l a r a ç õ e s o f f ic i a e s

d o p r ó p r i o g o v e r n o i m p e r i a l , h a v i a m a d h e r i d o á c a u s a d o

g e n e r a l F l o r e s , e s t a v a m e m a r m a s c o n t r a o g o v e r n o d a R e

p u b l i c a ; p o r o u t r o l a d o a s n o s s a s r e c l a m a ç õ e s e x i g i a m a

p u n i ç ã o d e i n d i v i d u o s q u e r e p r e s e n t a v a m u m p a p el i m p o r

t a n t e n a l u t a d o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o c o m a r e v o l u ç ã o ,

i s t o é , r e c a h i a m s o b r e p e s s o a s a d d i c t a s a e s s e g o v e r n o , e d e

c u j o a p o i o t a l v e z e l l e n ã o p u d e s s e e n t ã o p r e s c i n d i r . E , p o i s ,

c o m q u a n t o o g o v e r n o i m p e r i a l , d u r a n t e o g a b i n e t e d e 1 5 d e

J a n e i r o , q u e i n i c i o u a m i s s ã o d e q u e t r a t o , s e d e c l a r a s s e

s e m p r e n e u t r o n a q u e s t ã o i n t e r n a d a R e p u b l i c a , e q u e n ã o

s ó s e c o n s e r v a v a n e u t r o , m a s q u e a t é g u a r d a r i a a b s t e n ç ã o

( s ã o p a l a v r a s t e x t u a e s d o r e l a tó r i o d o m i n i s t é r i o d o s n e g ó c i o s

e s t r a n g e i r o s d o a n n o p a s s a d o ) , t o d a v i a , o f a c to d e s u s c i t a r m o s

u m c o n f li c to n ' a q u e l l e s m o m e n t o s , e q u a n d o n ã o p o d i a m o s

d e s v i a r d a s fileiras d o g e n e r a l F l o r e s m u i t o s s u b d i t o s b r a s i

l e i r o s q u e n ' è l l a s s e a c h a v a m , a l l u c i n o u , e a t é c e r t o p o n t o

e r a n a t u r a l q u e a l l u c i n a s s e o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o .

« E l l e s u p p ô z q u e n o s s a s e x i g ê n c i a s t i n h a m p o r fim a u x i

l i a r a r e v o l u ç ã o . O e n v i a d o b r a s i l e ir o f e z t o d o s o s e s f o r ç o s

q u e e s t a v a m a o s e u a l c a n c e p a r a d i s si p a r s e m e l h a n t e s d e s

c o n f i a n ç a s ; s u a m o d e r a ç ã o n ã o p o d i a i r m a i s l o n g e , m a s o

s e n a d o c o n h e c e t a m b é m q u e f o r ç a e g r a v i d a d e t ê m a s p a i x õ e s

o l i t i c a s n ' a q u e l l e s E s t a d o s . A c h a v a - s e n o p o d e r o p a r ti d o

l a n ç o ,

  e e s t e p a r t i d o d e s d e m u i t o t e i m p o n o s c o n s i d e r a i n -

f e n s o s á s u a i n f l u e n c i a e a o s e u p r e d o m n i o n a B a n d a O r i e n

t a l .

I

  « O S r , c o n s e l h e i r o S a r a i v a c o l l o c o u - s e n o t e r r e n o d a s o

l u ç ã o p r a t i c a ; r e c o n h e c e u q u e a m e d i d a p r e l i m i n a r i n d i s p e n

s á v e l p a r a o b o m ê x i t o d a s u a m i s s ã o , p a r a c o r r e s p o n d e r á s

v i s t a s p a c i f i c a s e i m p a r c i a e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , e r a p r o m o v e r

a p a c if i c a ç ã o i n t e r n a d a R e p u b l i c a . N ' e s t a s d i s p o s i ç õ e s d e

a n i m o s e a c h a v a e l l e q u a n d o o g o v e r n o a r g e n t i n o , q u e , p o r c i r

c u m s t a n c i a s q u e e s c u s o r e c o r d a r , t a m b é m v i r a c o m a l g u m r e p a r o

a e n v i a f u r a d a m i s s ã o b r a s i le i r a a c o m p a n h a d a d e f o r ç a , e n

t e n d e u - s e c o m o m i n i s t r o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n u i c a , e

i n i c i o u a m e d i a ç ã o c o n j u n c t a d o s t re s E s t a d o s — R e p u b l i c a

A r g e n t i n a , G r ã - B r e t a n h a e B r a si l — p a r a p a c i f i c a r -s e o E s t a d o

O r i e n t a l .

« N ' e s t e e m p e n h o f o r a m a M o n t e v i d é o o s S r s . E l i z a l d e e

T h o r n t o n , o p r i m e i r p ; m i n i s t r o d a s r e l a ç õ e s e x t e r i o r e s d a

R e p u b l i c a A r g e n t i n a , o s e g u n d o , e n v i a d o e xt r ao r d in á r io e

m i n i s t r o p l e n i p o t e n c i a r i o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n u i c a e m

B u e n o s - A y r e s . O S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a n ã o h e s i t o u e m u n i r - s e

a e s s a t e n t a t i v a d e p a z , e c o m a q u e l l e s m i n i s t r o s p r o c u r o u

f a z e r c e s s a r a g u e r r a c i v i l n o E s t a d o O r i e n t a l , t e n d o e m v i s t a

u e a s s i m t i r a v a t o d o p r e t e x t o a o g o v e r n o o r i e n t a l p a r a s u a s

e s c o n f i a n ç a s , c o m o d i s s e , a t é c e r to p o n t o p l a u s í v e i s , c o n t r a o I m -

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perio. Sabe, porém, o senado que aquella teatativa mallo"

grou-se; a pacificação amigável não foi possível.

« S abe-se outro -sim pelas declarações do nosso governo

exaradas no relatório creste an no e no anterior, qu e, se a

tríplice mediação houvesse sido bem sucçedida, o resultado fora

continuar a m esma influencia que governava o Estado O rien

tal ; não haveria mu dança de governo, mas apenas m uda nçade m inistro s. Dar-se-ia algum a influencia ao general Flo res

no governo interno d'aquelle Estado, e far-se-lhe-iam algu

m as outras concessões de caracter diverso, ficando as nossa s.

reclamações para serem liquidadas posteriormente.

« Es ta solução, segundo o relatório do nob re ex-m inistro

dos negócios estrangeiros, teria a grande vantagem de salvar

o principio de autoridad e, e apianaria em grand e parte as

difficuldades sobrevindas entre o Brasil e a Republica; por

outros termos  deixaria em gran de parte

  satisfeitas

  as

  reclamações

brasileiras.

« Não sendo be m , succedido o projecto de med iação, o

nosso enviado extraordinário e ministro plenipotenciario pro -

seguio em sua negociação especial, e term inou pela apresen

tação do

  ultimatum,

  no qual declarou que reccorreriamos ao

emprego de represálias.

« As represálias então comm inadas nao eram bem difini-

d a s ;  mas comprehendia-se que o exercito que se estava reu

nindo na fronteira de S. Pedro do Rio Grande do Sul, (*) e

a esquadra imperial, dariam protecção aos agentes e subditos

do Império que d*ella carecessem; e declarou-se expressamente

que ,

  pelos factos que motivaram o conflicto, o governo imperial se reservava também o direito de fazer represálias es-

peciaes.

« Não era a guerra, disse o Sr. conselheiro Saraiva ao go

verno oriental, e tanto que elle retirou-se sem pedir passa

portes, deu apenas a sua missão por finda. A legação perma

nente do B rasil continuou em M ontevidé o; os nossos cônsules

continuaram também no exercicio de suas respectivas func-

ções;

  depois d*esse successo, no dia  2 5  de Agosto, anniversario

da independência da Republica, os nossos navios surtos no

porta de Montevidéo, embandeiraram e salvaram á nação

Oriental .

« J á se vê que o pensamento do governo impe rial era não

levar m uito longe as suas represálias, evitar a gu erra , exer

cendo com mo deração m edidas coercitivas que trouxessem o

governo de M ontevidéo á satisfação exigida, a qu e tinha m os

direito. Desde o mo me nto em qu e o governo de M ontevidéo

prestasse ouvidos á razã o, se m ostrasse sincera m ente disposto

^ Julgamos qu e o con selhe iro Paranhos não estava inform ado de qu e, em

todo g: ann o de 1864, não havia força alguma organisada n o Rio Grande, o

que está dem onstrado por docum entos

  nesta

  historia.

3 9

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a reparar os aggra^os de que justamente nos queixávamos, a

questão estava finda, as nossas relações am igá ve is com a R e

publica estavam restabelecidas.

t  O governo de M ontevidéo pareceu com prehend er então  *á

moderação com qu e o governo impe rial qu eria proce der e

tanto qu e, consistindo a nossa p rime ira represália ém in ti

mar-se-lhe que immobilisasse o vapor

  Genera^

  Artigas,

  que se

achava no porto de M ontevidéo, elle presto u-se a esta exi

gência que faziamos por meio da força. M as o nosso a lm i

rante ordenara também que se procedesse do   • mesm o "modo

para com o vapor  Villa  dei  Salto,  que se achava nas águas

do U ru gu ay . O mo do de fazer as rep resálias tin ha ficado ao

arbitr io do almirante.

« Para fazer pressão sobre o gov erno de M onte vidé o po r

meio da esquad ra, eram esses os meios, as me didas q ue na

tura lm en te se offereciani como m ai s fáceis e efficazes; cu m

pre,

  porém, apreciar o éffeito d'ellas, afim de que possamosbem julg ar de todas as em ergên cias dVfsta nossa ca m pa nh a

diplomática militar no Estado O riental .

«

  O que importava immo bil isar aq uel les dous vapores, ú nico s

de propriedade do Estado, qu e eram emp regados no transporte

de tropas e muniç ões entre M ontevidéo e os pon tos do li toral

atacados pela revolução ? E ra um auxilio inv olu ntá rio e in -

directo,  sim , m as auxilio á causa da revolução. E u  o  t inha

previsto e dito n'esta casa. A inda que o gov erno im peria l

não o queira, nas circumstan cias ac tuaes em q ue se acha a

R epublica, a sua acção coercitiva ha de tradu zir-se em a u

xil io á. revolução. Cum pria , é v erdade, o gov erno de M on te

vidéo pesar todas estas con seqü ências e  evital-asf'

 •

 mas nem

por isso é menos certo que taes eram os efíeitos dos nossos

actos,

  a despeito de nossas intenções. »i

Diz o conselheiro Pa ran ho s que foi escolhido para ir em

missão especial ao R io da Prata porq ue se tratava de u m a

commissão trabalhosa, de grande responsa bilidade, pa ra a q u al

éiftl tinh a o ún ico m érito de alg um a exp eriência d e nossas

questões cpm^ aquelles Estados. O ministério de 31 de A gosto,

que fez aquella nom eação , foi de certo po rqu e nã o e n c ra -

irb u ü e m

1

  r e u n i s s ^

l

'

v

^h ab i l i ta çõ es que tem o conselhe iro

p a r a n h o s  jjajji  .tratar dos nossos, negócios com as Republicas

dOiS.UíL'  Apezqr de,iconhecer±se as habilitaçõe s qu e tem o co n -

stíb 'eir^

  í

Parat ihós

> i

t ísífá

i

  tVatar   dos nossos negócios diplo m á

ticos,

  não satisfez, no objecto mais im po rta nte da sua com-

missjJLQ no R io da Pr at# , a j

n

vi$tasdo gabine te que o nomeou, e

etftettdètí^títf

  6

hi

ãW f

^Éffp^ ^.

  missão em qu e se açliatãu

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Diz o conselheiro Para nh os— qu e a politica externa nflo deve

estar sujeita ás vicissitudes da politica interna ;— isto, qu e é

um a verdade reconhecida po r todos, não foi reconhecida pelos

nojnisterios q ue dirigiram a g uer ra nos primeiros do us an no s,

e ainda depois até que as operações tomaram actividade.

São idéias que nos occorreram á vista da exposição acima

transcripta . Con tinuamo s a tratar da missão ás R epublicas

do R io da P rata em 1864.

Sahio o conselheiro Paranhos d'esta corte em Novembro,

e che go u a Bu enos-À vres á 2 cte Deze m bro de

  1 8 6 4 .

  Foi

recebido em audiência publica pelo Presidente da Republica,

Ba rtholom eu M itre, no dia 7 de D ezembro. N 'essá oceasião

ó "nosso enviado proferio o discurso se guin te, o qu al o ex-

rninisto dos negócios* estrangeiros, Joã o Pedro D ias V ieira,

não mandou publicar no seu Relatório, porque já tinha sido

demit t ido o conselheiro Paranhos;

A P R E S E N T A Ç Ã O D l » C A R T A C R E D E N C I A L ,

Exm . S r . Presidente . — A honra que recebo n 'es te m o

m ento depositando nas mãos de V . Ex. a carta de Su a M ages

tade o Im perad or, impõé-me como primeiro dever o m an i

festar mais uma vez os sentimentos da alta estima que omesm o A ugu sto S enh or ' t r ibuta , á pessoa de V I Ex. , bem

como o gr an de apreço em que o governo im perial tem as-

relações de perfeita intelligencia e estreita amisade que feliz

mente subsistem entre a R epublica A rgentina e o Brasil .

« Firm adas em vinculos natu raes indissolúveis* tão justa

m ente aquilatadas pela sabedoria dos dous governo s, e sem pre

aviv ada s pela m em ór ia do feito glorioso que em 1852 a

America e a Europa applaudiram unanimemente , as boas re

lações entre o I m pério e a R epublica A rgentina não pre

cisão de palavras qu e as encareçam ; m as não   é  possível

con tem plai-as hoje, em meio das actuaes emergências do

Rio da Prata, sem que todos os amigos da paz e da civili

sação expe rim entem , como eu , u m a nova e agradável emoção.

« Enc arregado pelo governo do Im perado r, no caracter de

seu representante em missão especial junto a R epublica A rgen

tina, de sustentar os direitos do Brasil ante as novas e graves

circumstancias qu e presenciamos, feliz m e julga rei , S r . P re

sidente, se eu puder conseguir fortalecer ainda mais essa

amisade t i o dign a das duas nações, m erecendo ao m esm o

tem po a b enevo lência e e stim a pessoal de

  V.

  Ex. Este duplo

resultad o será o fito con stante de me us assiduos esforços. »

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O p r e si de n te d a R e p u b l i c a r e s p o n d e u :

a

  E x m . S r . M i n i s t r o . — A o t e r a h o n r a d e r e c e b e r a c a r t a

d e v o s s o A u g u s t o S o b e r a n o , q u e v o s a c r e d i t a e m m i s s ã o

e s pe c ia l j u n t o a o g o v e r n o a r g e n t i n o , c o n g r a t u l o - m e p o r t e r - s e

l em b r a d o S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r d o B r a s i l d a v o s s a

d i st in e ta p e s s o a p a ra d e s e m p e n h a r t ã o i m p o r t a n t e e n c a r g o .

« A s s i s t e - m e a c o n f i a n ç a , S r . M i n i s t r o , d e q u e v o s s a m i s s ã o

h a d e c o n t r i b r u i r p a r a e s t r e i t a r m a i s a i n d a , s e é  possível,  a s

c o r d ia e s r e l a ç õ e ã d e p e r f e it a a m i z a d e e b o a v i s i n h a n ç a q u e

f e l i z m e n t e e x i s t e m e n t r e a m b o s o s p a i z e s , l i g a d o s p o r i n t e

r e s s e s p e r m a n e n t e s e c o m m u n s , e p o r g r a t a s e g l o r i o s a s

r e c o r d a ç õ e s , q u e e m t e m p o a l g u m s e a p a g a r ã o d o c o r a ç ã o

d o p o v o a r g e n t i n o .

« F a z e n d o a d e v i d a h o n r a a o s e l e v a d o s s e n t i m e n t o s d e S u a

M a g e s t a d e o I m p e r a d o r d o B r a s i l , e á s ã p o l i t i c a d e s e u

i l l u s t r a d o g o v e r n o , n ã o d u v i d o , S r . M i n i s t r o , q u e e m a s

n o v a s e g r a v e s c i r c u m s t a n c i a s e m q u e i d e s t er q u e r e p r e s e n t a r

o s d i r e i t o s d o I m p é r i o p r o c e d e r e i s c o m o t i n o e p r u d ê n c i a d e

q u e t e n d e s d a d o t a n t a s p r o v a s f

% A g r a d e c e n d o a s v o s s a s c o r d i a e s f e l ic i t a ç õ e s , e f a z e n d o v o t o s

a o c é o p e l a p r o sp e r i d a d e e e n g r a n d e c i m e n t o d a g e n e r o s a n a ç ã o

b r a s i l e ir a , e p e l a f e l i c id a d e p e s s o a l d e v o s s o A u g u s t o e d i g n o

S o b e r a n o , S u a M a g e s t a d e D . P e d r o I I , é - m e a g r a d á v e l fa z e l- o s

i g u a l m e n t e p e l a felicid ad e d e v o s s a d i s t i n e t a p e s s o a , m u i

d i g n a d a c o n s i d e s a ç ã o e s p e c i a l d o p o v o e g o v e r n o a r g e n t i n o . »

O q u e s a b e m o s d a s i n s t r u c ç õ e s q u e o m i n i s t é r i o F u r t a d o

d e u a o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s p a r a e l l e d e s e m p e n h a r a m e

l i n d r o s a c d n & m i ss a o d e q u e f o i e n c a r r e g a d o p a r a o R i o d a

P r a t a , é o q u e e l l e d i z n o s e u f o l h e t o a p a g i n a s 2 2 , q u e

j u l g a m o s m e l h o r c o p ia r .

« O p e n s a m e n t o c a r d e a l d ' e ss a s i n s t r u c ç õ e s e r a o b t e r a

a l l i a n ç a d o g o v e r n o a r g e n t i n o , o u a i n t e r v e n ç ã o c o l l e o t i v a

d o s d o u s g o v e r n o s , t o m a n d o - s e p o r b a s e o e l e m e n t o o r i e n t a l

r e p r e s e n t a d o p e l o g e n e r a l F l o r e s : s e e s s a a l l i a n ç a n ã o f o s s e

p o s s i v e l , e m t o d o c a s o a a l l i a n ç a c o m o g e n e r a l F l o r e s , p a r a

p a c i f ic a r a R e p u b l i c a e r e s o l v e r a s q u e s t õ e s p e n d e n t e s *

« S e g u n d o o p e n s a m e n t o d o g o v e r n o i m p e r i a l , n o e s t a d o

e m q u e s e a c h a v a m a s c o u s a s , a t te n t a a m a l e v o l e n c i a q u e j á

m o s t r a v a o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o , a g a r a n t i a m a i s s a t i s -

f a c to r i a p a r a o s i n t e r e s s e s b r a s i l e i r o s s e r i a d u e d e a o s s a i n

t e r v e n ç ã o r e s u l t a s s e ficar n a p r e s i d ê n c i a d a R e p u b l i c a o n o s s o

a l l i a d o , o g e n e r a l F l o r e s .

« A e s t a c o n s e q ü ê n c i a l i g a v a o g o v e r n o i m p e r i a l a m a i o r

i m p o r t â n c i a : e s e g u r a m e n t e u n h a r a z ã o , p o r q u e e r a o n o v o

P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a a v e r d a d e i r a g a r a n t i a q u e t e r i a o

B r a s i l n o p r e s e n t e e n o f u t u r o d e s u a s r e l a ç õ e s c o m a q ú e l í e

E s t a d o .  S i

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— 217 —

« S $ o go vern o que se es tabelecesse não fosse um governo

am igo , possu ído de boa von tade e leal para com o Brasi l ,

todas a reparações que nos fossem promett idas não offere-

cer iam g ara nt ia s sufnc ientes , ser iam le t ra m or ta ; e a inda

ua nd o os agg rayos antigos fossem repa rado s, hav eria o perigo

e novas complicações ae novos aggravos e confl ictos .

« À al l ianç a com o gene ral Flo res era ainda necessária

para legi t im ar o procedimen to que t ivem os em S anta L úcia ,

e de que d&o prova ' as duas notas , que ha pouco l i , ass ig-

n ad a s em 20 de O utu bro . (*) Era de mis ter mos t rar que o

go ve rn o im per ia l nu nca t ra tou por esse mo do com o chefe

a e u m a rev olu çã o; conv inha q ue o própr io genera l Flores o

rec on he ces se, era necessário inspirar*lhes a confiança de qu e

o Bra s i l , qu an do ass im procedeu em 20 de O utub ro , já es tava

firmemente resolv ido a ace itar a allianç a do m esm o gen eral

F lo re s, a correr tod os os seus azares e a fazer todo o sacri

f ício de com bin açã o com elle , para pacificar a R epublica e

d ar lug ar ao es tabelec imen to de um gov erno, do qual o

m es m o gen eral fosse chefe, ou qu e pod esse ser acei to por

el le e ofierecer plena garantia ao Brasi l . »

« A s represál ias t ivera m por f im em sua origem trazer o

g o v e rn o d e M o n t e v i d é o a u m a c co rdo a m i g á v el c o m n o s c o ;

co m o enca rrega do da nossa m issão diplom ática n 'essas cir

cum stanc ias , pedi ao no bre ex-m inis t ro dos negócios es t ra n

geiros qu e escrevesse aos agentes brasi leiros em Bu eno s-A yres ,

is to é , ao nosso alm iran te e ao nosso m ini s tro residen te,

para que a not ic ia de m in ha nom eação chegasse ao co nh e

c im ento do g overn o arge nt ino , e ao m esm o tempo se nào

al te rasse o nosso ,

  statu quo,

  salvo o caso de força m aio r,

como o de operações já encetadas, .e nas quaes não se pu

desse sobres tar sem det r im ento de nossa d ignida de . O no bre

ex-m inis tro dos negócios es trang eiros assegurou -me qu e assim

o faria , e e ifect ivamente o fez, pois antes da minha part ida

S. Ex. recebera resposta á correspondência em que fal iava da

m i n h a n o m e a ç ã o .

cc T odav ia , qu an do cheg uei a Buen os-A yres no d ia 2 d e

D eze m bro , a s i tuação pol i t ica do Bras il já não era a m esm a,

ou ante s a nossa a l l iança com o gene ra l Flo res , a nossa in

te rv enç ão na gu err a c iv i l , es tava ma is def in ida. Em conse

qü ên cia da dem ora do exerc ito imp er ia l , o nosso a lm irante

t in ha resolvido a tacar a praça de Pa ys an dú , de com binação

com o g ene ra l Flo res , e para a l l i ha via par t ido com esse

in ten to . T a l foi a pr im eira not ic ia qu e achei em B ue no s-

Ayres . |

« O a t a q u e d e P a y s a n d ú , d a s e g u n d a c i d a d e d a R e p u b l i c a

(*) São   a s no t a s  que já transcrevemos do vice-almirante brasileiro e  d o  ge

neral Flores. Convenção entre os dous chefes.

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Oriental em com m um com o chefe da rev oluç ão, era a

  i n

tervenção armada do B rasil na questão intern a, era a alliança

de facto com o general F lores, a guerra contra o go ve rn o de

M ontevidéo. M as e sta nossa posição não estava estabelecida

regularmente, subsistiam as declarações officiaes feitas pelo

Sr.  conselheiro Saraiva em M ontev idéo . O senado ha de re

conhecer que d'estes factos devia resultar algum excitamento

á

  animo sidade do governo oriental contra nós .

« E com effeito, depois do ataque de Pa ysan dú , o governo

de Montevidéo e o seu partido enfureceram-se contra nós;

desde então entregarémi-se aos maiores desatinos. Queimaram

em uma praça publica os autographos dos tratados subsisten

tes entre o Im pério e a Rep ublic a, e interromp eram as rela

ções commerciaes entre os dous paizes; a sua imprensa não

soltava se não gritos ferozes contra o governo do Brasil e

todos os Brasileiros.

« U m dos pontos de m inha s instru cções, com o já disse, era

a alliança com o governo argentino, para um a interv enç ão

conjuncta; mas, pelas declarações que o mesmo governo ar

gentino havia feito durante a missão do Sr. conselheiro Sa

raiva, sua opinião estava conhecida, e effectivãmente achei-a

inabalável como uma rocha.

« O gover no argentino precedia assim de inteira boa fé. 0

general Mitre era um partidário decidido da paz; /azia con

sistir a m aior glor ia da sua presidênc ia em transm ittir a seu s

suceessores o m ando suprem o da R epu blica depois de um

periodo não interrompido de vida pacifica.

  A.

  guerra civil do

Estado Oriental o inquietava, porque a Republica Argentina

podia ser contagiada, desejava a extincção do incêndio tão

pró xim o, m as temia os azares da em preza., os sacrifícios qu e

ella custaria ao seu paiz.

« Por outro lado via que o Impé rio do Brasil tinha qu eixa s

muito mais graves centra o governo de Montevidéo, que já

estava m ui to m ais adiantado em suas represálias, que de facto

se ach ava em estado d e guerra , e, por tanto, que era natural

esperar-se que da acção do Brasil resultasse a remoção do

perigo qu e preoçcunava, a guerra civ il n

f

aquel le Estado v is inho.

« Se fora possível dissim ular aos olh os de al gu ém que o

governo do Brasil já não podia voltar ao seu primeiro plano

fie represálias, conservando-se neutro na contenda internados

Orientaes, o ataque de Paysandú não permittia mais tal dis

simulação. Estava manifesto que, depois do Império ter ata

cad o a praça de Paysa ndú em alliança com o general F lor es,

e da reacção qu e este successo produzio e m M on tev id éo ,

reacção violenta e frenética, o g overn o imperial já não podia

parar, era forçoso ir por dian te, levar a guerra a M on tev idé o,

cortar a questão pela raiz.

«  O gene ral M itre, pois, por um lado desejando a paz, c

por outro vend o q ue o B rasd era pelo se u próprio interesse

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— » t i —

o4>rigado a remover

  o

  ú n i c o

  perigo

 >  qu e poderia com

 pellir

  o>

governa

  a r g e n t i n o

  a

  in tervi r

  na luta

  do Estado

  Oriental,

inaa. teve-se

  em

  su as declarações, anteriores, posto

  q u e  a b u n

d a n d o

  sem pre em manifestações das ma is am igáveis para

0%$ ,

  o Império.

  Era tam bém ái ífioil con vence r

  o

  governo argentino

  de

que o Brasil, quando  j á  hajvia decorrido longo prazo para os

seu s preparativos m ilitares, não p udesse por si sò, e ne mainda em alliança com o general F lores, terminar dentro em

breve tempo a questão oriental.

cc  E u , pois, senho res, n o primeiro passo da m inha m issão

tinha sido mal sueced ido; pretendi u m im possivel, obter a

allia nça do governo argentino em taes «fircumstancias. N ão o

con segu i, e eom m un ique i logo ao governo imperial o resul

tado de m eu s esforços.

« A resposta do no bre ex-m inistro de estrangeiros foi lou^

vando meu zelo, animando-me

  á

  proseguir na minha missão,

reconhecendo que eu havia feito quanto humanamente era

po ssive l, e qu e o máo êxito d'essa tentativa não se podia

im pu tar, nem a falta de zelo, nem a pouca habilidade do

negociador. Esta resposta do nobre ministro mais me confir

m ou na persuação; de que S. Ex. e os seus collegas jam ais

veriam com ináo s olhos ou com injustiça o meu procedi

m e n to ; que não queriam de m im se não o triumpho da

causa nacional, o cumprim ento religioso do m eu dever, e

qu e se mostrariam sempre justos e benevolos para com o

se u delega do, que por sua* parte não declinav a trabalho, nem

responsabil idade.

cc

  N ão sendo po ssivel a alliança do governo argentino, es

tando o Império já empenhado no ataque de Paysandú, ten

d o

-se co ncl uid o esta operação pelo nosso triump ho, não h e -

sitei, de accordo com o pensam ento de m inha s instrucções,

em reconhecer

  o

  gen eral Flor es com o belligerante e declarar

a intervenção armada do Brasil, de combinação com esse

ii

 1

 us.tre  general, para pacificar a Republica Oriental.

« Esta solução não nascia do arbitrio que o gov erna m e

havia conferido,

  j á .

  estav a escripta no s factos, era um dos

pon tos capitães de minhas instrucções. Não obstante, o s es -

Çfaptores m inisteria es, a m ilicia ano uym a dos nobres ex -m i

nistr os, entre outras aceusa ções, que correram com o asseve -

raçõ es m inisteria es, faziam-m e esta — que eu tinha rebaixado

a dignidade

  do

  Im pé rio , procurando a alliança do general

Flores, quando

  o >

 Brasil não carecia de semelhante aiha do.—

« A regular*me pela letra

  de

  minhas instrucções,. o governo

o

  q u e

  queria era ver pacificada a Republica Oriental, a in

fluencia

  do

  general

  D .

  Venancio Flores aceita entre os seus

compatriotas, pela confiança que inspiravam as boas dispo

sições

  e lealdade do mesm o general para com o B ra sil

; e

as

  reclama ções que motivaram a guerra seriam depois liqu i-

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dadas. Tanto

  é

  assina, foe as instrucções que recebi do

nobre e x-minis tro c onc lu ía m di z e nd o: — C om pe te ta mbé m á

-vossa missão liq uid ar nossas reclam açõe s com o go ve rno

oriental, e para este fim m ais tard e vos serão e nv iad as as

instrucções n ecessárias. — E com effeito, m ais tar de, nas vé s

peras de 20 de Fevereiro, chegaram-me as promettidas ins

trucções especiaes, a q ue alludia o nobre ex-m inistro , e qu e

se l imitaram apenas a um quad ro syn optico da s reclamações,

onde appareciam somente as datas, as circumstancias prin-

cipaes do s factos e os no m es de algu ns dos in diciad os.

« Nào obstante o theor de m in ha s instrucç ões, posto qu e

estas não o prescrevessem e antes add iassem , en tend i qu e,

pendente uma questão de houra ent ie o governo imperia l e

o de M ontevidéo , origem da gu erra a que fomos levados, não

deviam os march ar de Pa ysa nd ú em alliança com o gen eral

D .  V enan cio Flor es, sem qu e essa questão de ho nr a fosse

decidida; entendi que a a l l iança do general D. Venancio

Flores p resu pp un ha qu e elle conhecia a justiça de nossas re

clamações e que nos daria plena reparação, quando estivesse

no caso de fazel-o ; de outro m od o, depois de pacificada a

R ep ub lica, podia-mos entrar ém luta com o nosso a ll iado e m il

difficuldades surgirem m esm o da pa rte do part ido qu e elle re

presentava, o qual n 'essa revolução não era todo. un iso no .

« Para este fim fui a Fr ay -B en tos , en ten di- m e com* o

general D. Venancio Flores, e , procurando conhecer as suas

disposições, m anifestei-lhe a necessidade qu e h av ia d e qu e

essa questão de hon ra entre o Im pério e o govern o de M on

tevidéo ficasse resolvida. 0 general mostrou-se nas melhores

disposições, prom etteu-m e espon taneam ente qu e reconheceria a

jus tiça de todas as nossas reclam ações, e qu e não só rec o

nheceria a justiça do

  ultimatum

  S ara iva , mas a inda a dos pre -

juizos da antiga gu erra civil . A ccrescentou m ais, qu e a al l ianç a

da Republica com o Brasil contra o Paraguay seria um

empenho de honra para e l le .

« Eu desejava que estes comp romissos espon tâneos e so-

lemnes do general D. Venancio Flores me fossem dados offi-

cialmen te antes da su a part ida par a M onte vidéo , isto é antes

que eu o reconhecesse como belligerante e declarasse a inter

venção armada do Brasil ; não porque desconfiasse do general,

m as porq ue m e parecia que o Brasil não dev ia associar-se

ao general D . V enancio Flores sem que este m ostrasse acceder

plen am ente a justiça qu e nos assistia na que stão de ho nra

qu e nos t inha posto as arm as nas mãos. O genaral D. V e

nancio Flores, porém , hesitou então em passar-me a su a

no ta, e tin ha para isso m otivos pon dero sos. Elle era. au to

 *

ridade de facto no terri tório que d om inava, m as não t in ha

ainda declarado qu e assum ia a autoridade sup rema da R epu

blica, nem praticado actos de soberania exterior. O bservo u-m e

que lhe era necesssario dar u m m anifesto á na ção , q# e

  o

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daria em Santa Lúcia, e que então, declarado o caracter da

sua autoridade suprema, me passaria os documentos dos com

promissos que espontaneamente contrahia.

<c E ste f acto é im po rtan te, porque mostra toda a confiança

de que é digno o general Flores, e a responsabilidade que

tomei. Posto que, como já ponderei, minhas instrucções não

prescrevessem esse accordo, eu o julgava indisp ensáv el; e,

tod avia , toma va sobre m im reconhecer o general F (ôres com o

belligerante, declarar a intervenção armada do Brasil, sem

ter ain da receb ido o titulo d'aquelles compro rrissos, confiado

unicamente na palavra do general. O governo imperial, que

aliá s^ pp ro va ra ímm ediatamente todo a meu procedimento,

teve a prova de que nao me engarM. Apenas chegou a

San ta Lú cia, o general F lor es, depois de publicar o seu ma

nifesto, dirigio-me a nota de

  28

  de Jan eiro, cujo theor é

conhecido do senado.

« O governo imperial approvou todos estes actos, as minhas

circulares, que definiram a nossa posição para com o go

verno do Montevidéo e para com o do Paraguay, merece

ram-lhe igualmente plena approvação: tudo por esse tempo

lh e parecia perfeito. »

Vejamos agora o que diz o ex-ministro de estrangeiros no

seu relatório de

  1865

  sobre a missão do conselheiro Paranhos.

MISSÃO DO SR.  C O N S E L H E I R O  JOS É .MARIA DA SILV A  P A R A N H O S .

cc

  O objecto principal da missão do Sr. conselheiro Para

nhos fica exposto no artigo anterior.« S. Ex . chegou a B uenos-A yres no dia

  2

  de Dezembro

do an no passado, e alli já não encontrou o Sr. Visconde de

Tamandaré, que informado da tomada da villa do Salto no

dia

  28

  de N ovem bro pelo general F lores, favorecido pelas

nossas forças nav aes, e m ediante a simples intimação feita

ao commandante militar da praça resolveu apressar o ataque

de

  P a y s a n d ú

  em conseqüência das noticias da posição assu

mida pelo Paraguay.

a

  D ispun ha-se pois o vice-alm irante brasileiro a atacar Pa y

sandú com o auxilio do nosso exercito, quando foi igualmente

alli p reve nid o pelas forças do m esm o general Flores.

« Sendo indispensável não perder tempo, e   n ão  tendo então

ainda cheg ado a Paysan dú o nosso exercito, resolveu o vice-

almirante brasileiro proceder ao ataque em commum com as

forças' do general Flores, visto

  n ão

  se ter rendido o com

mandante da guarnição da cidade

  á

  intimação, que se lhe

fez. E sse ataq ue, depois de um a suspe nsão de arm as, durante

a qual che gou o no sso exerc ito, foi renovado e levada a praça

de vencida.

« São conhecidos os pormenores d'esse brilhante feito d'armas,

4 0

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em que tanto sobresahiram a brav ura e a gen erosida de  do

soldado brasi leiro. Pay sand ú, rend eu-se no dia 2 de l a n e i r o ,

depois de 52 horas de porfiada luta, e o general  Flores alli

assnmio logo a jurisdicção de que já estava dè posse na

villa do Salto, e em toda a campanha.

« A lém dos factos ante riore s, para justific ar a hostilidad e

aberta em qu e posteriormente o Brasil en trou contra a R e publica, exist iam as seguin tes raz õe s: achav am -se rotas as

relações entre o Brasil e o Pa rag ua y, hav end o o fundado re

ceio de qu e pude ssem vir 'd alli aux ilios pa ra o gov erno

oriental.

« Os nossos tratados de 12 de O utub ro de  185,1,  e suas

modificações de 15 de M aio de 185 2, ann ullad os e c an # lla d os

por decreto d 'aquelle governo de 13 de Dez emb ro do an no

findo, tin ha m sido que ima dos em au to de fé com a maio r

ostentação e solemn idade na praça de M ontevidéo.

« Po r este decreto e outro da m esm a data t in ha m sidoabertas as águas da L agoa M irim aos nav ios e com me rcio

de todas as naç ões, e fechados os portos d a R epu blica á

bandeira mercante do Império .

cc   O governo da Confederação A rge ntina hav ia já d eclarado

ao nosso m inistro em missão especial qu e, co ntin uan do a

prestar-nos o seu apoio moral , e a reconhecer o direi to com

qu e procedíam os, m anter-se-h ia com tudo ne utr al na qu estão ,

convencido de que era essa a posição, que lhe ind ica va ,

além de outras considerações ponderosas, a conveniência de

evitar maiores complicações inter nãc ion aes . *

« E pois, conseguida a toma da de P ay sa nd ú, resolveram os

chefes da marinha e exercito imperial, de accordo com o

Sr. conselheiro Paranhos e general Flores, não demorar o

ataque contra Montevidéo, u l t imo ponto da Republ ica a que

ficava então l imitada a autoridade do presidente Aguirre.

« Fo i n'e sta situação que o min istro das relações exteriore s

de M ontevidéo, em 11 de Jan eiro , dirigio ao corpo diplo m á

tico al l i residente uma circular, sol l ici tando novamente uma

declaração clara e term inan te sobre a at t i tude que assu m iriam

as forças navaes estrangeiras no caso de rep etir- sé por par te

do Império n'aquella cidade a aggressão feita contra a praça

de Paysandú .

« Era a repetição da circular de 13 de D eze m bro,  á  qual

havia respondido verbalmente  o  representante da I tá l ia em

seu nome e no de seus collegas, que considerava prematura

qualquer declaração a este respeito.

<*

  Entregue assim aos seus únicos recursos, adoptou

 ^

 o g o

verno do Sr. A guirre, para defeza da cap ital, as m edid as a s

mais violentas .

« Contra estas me didas clam aram todos, nacio naes e estran*

geiros, e era g eral o desejo de q ue as forças alliadas

  se

approximassem quanto antes da cidade.

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«t O s ag ente s do corpo diplom ático rep resen taram ao gov erno

orie nta l, para q u e se nã o sacrificassem vid as e propried ades

em unia res is tênc ia inút i l .

« A n ad a, porém , at tend ia o presidente A guirre, declarando

que t inha elementos de resis tência, e res is t ir ia .

« S ua s esperanças consis t iam sem pre em qu e o auxil iariam

forças da fronteiras argen tina e do Pa rag ua y, es tando já

en tão es ta u l t im a R epubl ica em guerra dec larada contra o

Bras i l .

« N'esta s circum stancias , julgou o S r, conselheiro Pa ran ho s

deve r com m unic ar ao corpo d ip lomát ico res idente em Buenos-

A yres a resolução extrema, mais indicl inavel , q ue h avia o

governo imper ia l tomado na u l t ima pÉase que apresentava

as nossas desavenças com o governo oriental .

« Na referida commünicação, que tem a data de 19 de Ja

neiro do corrente an no , declarara o nosso minis tro que o go

ve rn o im pe rial nã o podia deixar de proseguir na gu err a a qu e

o hav ia provocado o governo de M ontevidéo, nem m anterm ai s a poli t ica de nen tral idad e qua nto ao confl icto intern o da

Republ ica , por se haver tornado aquel la neutra l idade incom

patív el não só com o fim qu e o govern o de S ua M agestade

se t in ha propo sto em suas justas reclamaçõ es, m as até com a

segurança do Im pér io , então ameaçado por dous in imigos , que

ostensivamente se t inham aluado para feri l-o em sua dignidade

e desco nhe cer os seu s direi tos .

« A n n u n c i o u , p o r t a n t o , q u e , c o n t i n u a n d o e m g u e r ra c om o

go vern o de M on tevid éo, es lava o governo imp erial resolvido a

concorrer  tamb ém com as suas armas e com seus conselhos

pa ra a pacificação inte rna do paiz, procedendo de accordo com

o ge ne ral Flo res , a qu em reconhecia como legitimo bell igerante,

e m ov ido pelo sincero desejo de salvar sua pátria do estado

ano rm al em que se achava .

« E m sentido idên tico e com relação aos interesses especiaes ,

qu e l igavam os dou s paizes n 'es ta q uestã o, dir ig io-se na m es

m a d a ta o S r . conselhe iro Pa ran ho s ao

#

  m inis tro das relações

exter iores da Republ ica Argent ina .

« O corpo diplom ático, deploran do tão grave s successos, e fa

zen do votos pelo restabelecim ento da paz e pela solução sat is -

factoria das aifficuldades existen tes, resp ond eu expressan do-seno s term os os m ais l isongeiros sobre a parte da com m ünicação

do S r . Pa ran ho s , em qu e ma is um a vez assegurara qu e ne

n h u m a t tentad o soffrer ia a independ ência e soberania da R ep u

blica Oriental do Uruguay, qualquer que fosse o êxito da guerra .

« O g o v e rn o d a R e p u b l i ca A rg e n t in a a b u n d a n d o t a m b é m

n'es tes sen t im ento s , re i te rou ao m esm o tem po a necess idade

em qu e se achava de conservar-se n a m ais s t ric ta ne utr a

l idad e, qu e se hav ia imp osto , m ovido por al tas considerações,

super iores ás jus ta s causa s , qu e podiam por ven tura aut or i

zar o abo no d'essa politica. »

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P o u c o s e s c l a r e c i m e n t o s d e u o e x - m i n i s t r o J o ã o P e d r o

D i a s V i e i r a , n *e st a p a r t e d o s e u r e l a t ó r i o , q u e a c a b a m o s d e

t r a n sc r e v e r, s o b r e a m i s s ã o d o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s ; e , p o r

d a r -s e e s t a f a lt a , j á c o p i a m o s o q u e n o s p a r e c e u m a i s i n t e

r e ss an t e s o b r e a s i n s t r u c ç õ e s q u e o m e s m o c o n s e l h e i r o l e v o u

p ar a a m i s s ã o d e q u e f oi e n c a r r e g a d o , e q u e p u b l i c o u n a

s u a j u s t i f i c a ç ã o s o b r e o c o n v ê n i o d e 2 0 d e F e v e r e i r o d e

1 8 6 5 .

A n t e s d e c h e g a r m o s a o a t a q u e d e P a y s a n d ú , a 6 , 7 e 8

d e D e z e m b r o , v e j a m o s o q u e s e p a s s o u n ' A s s u m p ç i o e m -

N o v e m b r o d e 1 8 6 *

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L I V R O N O N O .

C A P T U R A D O V A P O R « M A R Q U E Z D E O L I N D A » .

Q u a n t o m a i s o g o v e r n o i m p e r i a l s e e s f o r ç a v a p e r a n t e o d o

P a r a g u a y p a r a c o n s e r v a r a s s u a s b o a s r e l a ç õ e s , c o m m a i s

i n d i f f e r e n ç a e s t e t r a t a v a o B r a s i l , n ã o l b e d a n d o a i m p o r

t â n c i a e a c o n s i d e r a ç ã o q u e d e v i a * d a r - l h e , c o m o a p r i m e i r a

n a ç ã o d \ A m e r i c a d o S u l . A q u e l l e g f jp e r no s a b ia q u e n ã o t i

n h a c u m p r i d o c o m o q u e d e t e r m i n a v a a c o n v e n ç ã o d e 2 5 d e

D e z e m b r o d e 1 8 5 0 ; q u e o r e c o n h e c i m e n t o da s u a i n d e p e n

d ê n c i a d e v i a e m g r a n d e p a r te a o g o v e r n o d o I m p é r i o ; e m

l u g a r d e l h e se r g r a t o , n u n c a e m t e m p o a l g u m o m o s

t r o u ; t r a t o u m a l e e x p e l l i o o e n v i a d o b r a s i l e i r o F . J . P .

L e a l ; n ã o d e u a s s a t i s f a ç õ e s q u e d e v i a d a r a P e d r o F e r r e i

r a d e O l i v e i r a ; c o n t i n u o u a d a r p o u c a a t t e n ç ã o á s r e c l a

m a ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , i l l u d i n d o - a s s e m p r e q u e p o d i a ,

c o m o a c o n t e c e u c o m o t r a ta d o d e l i m i t e s , q u e n u n c a s e f e z .

D e p o i s d e i r e m a o P a r a g u a y q u a t ro e n v i a d o s p a r a s e e s

t a b e l e c e r e m a s r e l a ç õ e s d e c o m m e r c i o , d e n a v e g a ç ã o e d e

I m i t e s , o r e s u l t a d o d e t o d a s a s s o l i c i t a ç õ e s e e x p l i c a ç õ e s d o

g o v e r n o i m p e r i a l s o b r e a s u a p o l i t i c a e i n t e n ç õ e s p a r a c o m

o E s t a d o O r i e n t a l , f oi o g o v e r n o d o P a r a g u a y , c u m p r i n d o

o q u e t i n h a p r o m e t t i d o n a s u a n o t a d e 3 0 d e A g o s t o , m a n

d a r a p r i s i o n a r o v a p o r m e r c a n t e  Marqu es de Ottoda,  q u e n a -

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vegava para a provincia de M attò Grosso condusindp o pre

sidente e outros officiaes, sem prévia declaração dé gue rra .

Vejamos o que diz a este respeito o ex-ministro dos negócios

estrangeiros João Pedro Dias Vieira, no relatório de

  1 8 6 5

  a

paginas 30 :

« A 55 de O utubro chegou á A ssumpção a noticia da en

trada da vanguarda do nosso exercito no território oriental,

e da occupação da villa de Mello pelo general Flores. (*)

« No dia

  1 1

  de Novembro o vapor brasileiro  Marquez de

Olinda,  da companhia que "faz a navegação *ado A lto Pa ragu ay ,

tocou em ^Assunipçãoy levando a seu bordo, além de ou tros

passageiros, o nov% presidente nomeado para a provincia de

Matto-Grosso.

« O vapor, a cujo bordo não havia tropa nem armamento,

ia comq de costume proseguir tranquillo em sua viagem , aoabrigo dos ujustes solemnes que lhe garantiam o livre transi

to,  e do estado de paz em que se achava a R epublica com

o Império ; quando a poucas léguas áquem da villa da Con

ceição foi abordado, conduzido ao porto d

7

onde sahira, e alli

detido com os passageiros e a sua tripolação sob as baterias

do vapor de guerra paraguayo

  Taquary.

« A penas constou á legação imperial tão insólito aconteci

mento, em nota datada do dia  1 3  exigio ella do governo

do R epublica as devidas explicações, quando foi surpre hen-

dida pela nota do mesmo governo do, dia

  1 2 ,

  na qual calan

do-sé completamente aquelle extranho facto, e só alludindo-

se á entrada do nosso exercito no território do Estado O rientai^

reputava-se como violada a integridade territorial d'este; e decla

ravam-se interrompidas as relações com o, Império, e impedida a

navegação  de  suas águas, tanto para a bandeira de .guerra,

como para a mercante do Brasil. E o protesto de

  3 0

  de

Agosto foi allegado como prévia e solemne declaração de

guerra, para justificar o inqualificável abuso de boa fé, com

que ia aquelle governo iniciar as suas hostilidades.

« A legação imperial protestou imm ediatamente e do modo

mais solemne, passando a nota do dia   1 4 ,  contra o acto de

hostilidade praticado em plena paz para com o referido vapor,

com violação do que foi convencionado entre os dous paizes

a respeito do direito fluvial, resalvando os direitos da com

panhia de navegação do Alto Paraguay, pelas perdas e dam-

nos,  que soffria e viria a soffrer em conseqüência da resolução

tomada pelo governo da Republica, e pedindo os precisos

passaportes para retirar-se com sua família e pessoal da legação.

« Ao passo que se lhe enviavam no dia

  15

  os passaportes

{*) Foi a nequetra brigada sob o comm ando do brigad eiro José Lu iz Menna

Barreto de que já fizemos men ção.

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pedidos, obstava o governoWa Republica a retirada do agente

diplomático brasileiro, prohmindo

  a

  todos os navios mercantes

a sahida^uo porto   d a A s s u m p ç ã o ,  onde nenhum vaso de

guerra estrangeiro existia.

« Pretendia  o  nosso ministro  f a z e r  viagem  p a r a  Buenos-

Ayres

  a o p a q u e t e

  Marques de Olinda;  mas

  e s t e

  único meio

de transporte

  l h e f o i r e c u s a d o .

« A r e t i r a d a , p o i s , $ d ' a q u e l l e a g e n t e d i p l o m á t i c o , c u j a s i m -

m u n i d a d e s f o r am t ã o g r o s s e i r a m e n t e d e s c o n h e c i d a s p e l o g o

v e r n o d o P a r a g u a y , s ó s e p ô d e r e a i i s ar n o d ia 2 9 , p o r i n t e r

v e n ç ã o d o S r . W a s b u r n , m i n i s t r o d o s E s t a d o s - T J n i d o s ,

  a

b o r d o d e u m v a p e r p a r a g u a y o : m a s a t f Ü a s o b a. g a r a n t i a ,

q u e s e e x i g i o d o m e s m o m i n i s t r o , d e n ã o s e r  o  É i t o v a p o r

m o l e s t a d o e m s u a v i a g e m d e i d a e v o l t t a

« O o f fi c io d o m i n i s t r o b r a s i l e i r o d e 7 d e D e z e m b r o , q u e

v a i p u b l i c a d o e n t r e o s a p p e n s o s , v o s i n f o r m a r á d o s m o r m e -

n o r e s r e l a t i v o s a e s t e a t t e n t a d o , q u e o g o v e r n o d o P a r a g u a y

c o r o o u f a z e n d o j u l g a r b o a p r e s a o v a p o r

  Marquez de Olinda,

e d e s t e r r a n d o p a r a a c a p e l l a d e S . J o a q u i m o p r e s i d e n t e n o

m e a d o , c o r o n e l F r e d e r i c o C a r n e i r o d e C a m p o s , e o u t r o s B r a s i

l e i r o s q u e c o m e l l e i a m d e p a s s a g e m n o m e s m o v a p o r . »

A t é a q u i é o r e l a t ó r i o d o e x - m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s .

E s t e c o m p o r t a m e n t o d o g o v e r n o d o P a r a g u a y c o n t r a o

B r a s i l e m 1 8 6 4 , é u m a p r o v a e x a c t a d o q u e d i s s e m o s n o

p r i n c i p i o d ' e s t a h i s t o r i a , d o g o v e r n o i m p e r i a l t e r a d o p t a d o

p a r a c o m a s R e p u b l i c a s d o S u l , u m a p o l i t i c a d u v i d o s a e

fraca;

  o s f a c t o s m e n c i o n a d o s n 'e s t a h i s t o r i a o C o n f i r m a m .

E s t a p o l i t i c a d o g o v e r n o i m p e r i a l d e u o s r e s u l t a d o s q u e

o b s e r v a m o s d e s d e 1 8 5 2 a t é 1 8 6 4 .

V e j a - s e a g o r a a c o r r e s p o n d ê n c i a o ff ic ia l e n t r e

  o

  g o v e r n o d o

P a r a g u a y e o m i n i s t r o b r a s i l e ir o n a c a p i t a l d ' a q u e l l a R e p u

b l i c a .

N O T A D O G O V E R N O P A R A G U A Y O Á L E G A Ç Ã O I M P E R I A L *

'< M i n i s t é r i o  de relações exteriores.—Assumpção,  1 2  de  N o

vembro de

  1 8 6 4 .

« O abaixo assignado, ministro e secretario de estado dos

negócios estrangeiros, recebeu ordem do Exm. Sr. Presidente

d a   Republica para declarar a

  V .

  Ex.:

« Que com quanto essa legação em sua nota de

  1

  de Se

tembro, afirmasse em resposta ao protesto

  d 'e s t e

  ministério

d e

  30

  d e

  A gosto, que de certo nenhum a consideração faria so-

brestar o governo imperial na politica que havia adoptado

para com o governo oriental, esperou, entretanto, o de aoaixo

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assignado, que a moderação do governo imperial e a  comi»

deração de seus verdadeiros interess es, assim com o ;Jos se nti

mentos de jusfiça, que consti tuem a garantia  dW  respeito

de todo o governo, influir iam em seu animo para que, apre

ciando o exposto na citada nota de 30 de Agosto, adoptasse

uma politica mais conforme com os interesses geraes, e ao

equilibrio do Rio da Prata, como por si mesmo aconselhavatão grave si tuação.

« E' , porém, com profundo pezar que o governo do abaixo

assignado vê, que, longe de haver merecido a attenção do

governo imperial, sua moderação, as declarações officiaes de

30 de Agosto e a confirmação de 3 de Setembro, .res

ponde  á  ellas com actos aggressivos e provocadores, occupando

com forças im periaes a villa de M ello, cabeça do de pa rtam en to

oriental do Cerro Largo, no dia 16 do mez próximo passado,

sem prévia declaração de guerra, ou outro qualquer acto pu

blico dos que prescreve o direito das gentes.

« Este acto violento, e a patente falta de consideração que

esta Republica merece do governo imperial , chamaram

  seria

mente a attenção do governo do abaixo assignado sobre suas

ulteriores conseqüências, sobre a lealdade da politica do go

verno imperial , e sobre o seu respeito á integridade terr i to

rial d'esta Republica, tão pouca segura, já pelas continuas e

clandestinas usurpações de seus territórios, e collocam o go

verno nacional no imprescendivel dever de lançar mão aos

meios de que trata em seu protesto de 30 de Agosto da ma

neira que julgar mais conveniente para o conseguimento dos

fins que motivaram aquella declaração, usando assim do di

reito qu e lhe assiste pa ra im ped ir os fun esto s effeitos da

politica do governo imperial, que ameaça não só deslocar o

equilibrio dos Estados do Prata, como atacar os maiores in

teresses e a segurança da Republica do Paraguay.

« Em conseqüência de um a provocação tão directa, devo

declarar a V. Ex. que ficam rotas as relações entre este go

verno e o de Sua Magestade o Imperador, impedida a nave

gação das águas da R epublica para a b and eira de gue rra e

mercante do Im pério do Brasil, sob qua lque r pretexto ou

denom inação qu e seja ; e perm ittida a navegação do R ioParagu ay para o com mercio aa provincia brasileira de M atto-

Grosso, a ban deira mercan te de todas as nações a m iga s, c om

as reservas auto risadas pelo direito das ge n te s.

« A proveito esta oceasião para reiterar a V . Ex. as se gu

ranças de minha consideração e estima.

« A S .  Ex. o S r . César S auva n V ianna de L ima.

  ~José

Berges* »

NOTA DA LEGAÇÃO IMPERIAL AO GOVERNO PARAGUAY.

« Legação im perial do Bra sil. —

 Assuraf»çáo,

  13  de Novembro

de

  18$4»

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— 229 —

N O T A D A L ÜGrA Ç Ã O I M P E R I A L A O GO V E R N O P A R A G U A Y O .

« L egação im peria l do Brasil . — A ssumpção , 14 de Nov emb ro

de 1864.

« S r . m inis t ro . — H on tem á noute chegou ás minhas mãos

a nota de V . Ex. datada do dia anter ior com mu nican do-m e

que recebera ordem de S. Ex. o Sr . Presidente da Republica

pa ra m e no tificar qu e, em conse qüên cia de não ter sido

attendido pelo meu governo o protesto contido na nota de

V . Ex . de 30 de A gosto ult im o, contra a en trada d e forças

impe riaes no Estado O riental , f icavam interrom pidas as re

lações entre os dous governos e impedida a navegação nas

águas d 'esta Republica para a bandeira de guerra e mercante

do Im pé rio , sob qualq uer pretexto ou deno m inação que seja.

« E' sem du vid a devido a esta grave resolução do governo de

que V. Ex faz parte o acto de violência commettiao sobre o

jaquete brasileiro

  Marquez de Olinda,

 qu e se dir igia a Co rum bá,

evand o a seu bordo o S r . preside nte no vam ente nomeado para

a provin cia de M attó Gro sso; acto acerca do qu al apressei-me

hon tem me sm o a pedir a V . Ex. explicações que até este m o

m e nto a inda nã o r e c e b i , c on t inua ndo o c om m a nda nte , pa s s a

geiros e tr ipolação do paqu ete a perm anecerem detidos e in -

com mu nicav eis com a terra .

« Em presença de am sem elhan te estado de co usas, prescin

d e de discutir as considerações de qu e V . Ex. acom panh ou a

sua com mü nicação, e l imito-me a protes tar do modo o mais

41

« S r . m in is t r o . — N * e s te ins ta n te , 9 hor as ^da m a nh a , fui

info rm ad* de qu e o paq uete bras ilei ro

  Marquez de Olinda,

 que

sahira d 'este porto para M atto Grosso ante-hon tem ás duas

ho ras da tarde , levando a seu bordo o S r . presidente no

meado para aq ue lla p rov intia , se acha desde esta m adrug ada

ancorado no porto de Assumpção, e debaixo das bater ias do

vapor de guer ra paraguayo

  Taquary.

« Não se tendo o commandante do

  Marques de Olinda

  apre

sen tad o n*esta legação para explicar o mo tivo do seu i n e s

r

pera do regresso, devo sup pôr fundados os boatos que aq ui

circu lam de ter sido o dito paq uete p erseguido e detido pelo

Taquary,

  que deixou este ancoradouro porcas horas depois do

Marquez de Olinda,

  achando-se es te ac tualmente incommuni-

cavel com a terra .

« Em taes circumstancias dir i jo-me immediatamente a V. Ex.

pedindo-lhe explicação sobre o grave facto que acabo dé expor.

« R eitero a V . Ex. as expressões da m inh a dist ineta con

s ideração.

« A S. Ex. o S r . D . Jo sé Berges. —

 César  Sauvan Vianna de

Lima. »

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  23

solemne em nome do governo de  Sm  Magestade o Imperador áo

Brasil contra o aito de hostilidade praticado em plenafjpaz contra

o referido paquete

  Marques  de  Olinda,

  em violação do que foi

convencionado entre os dous governos, a respeito do transito

fluvial; e desde já resalvo os direitos da companhia de Nave

gação do Alto Paraguay pelas perdas e damnos, que lhe possa

occasionar a interrupção que o dito paquete sonre e vier a

soffer nas suas viagens, em conseqüência da decisão tomada

pelo geverno da Republica.

« Tendo portanto de retirar-me quanto antes d'esta capital,

peço a V. Ex. que se sirva mandar os passaportes para mim,

minha familia, o secretario da legação e comitiva, afim de

poder-mos seguir viagem no paquete

  Marquez  de  Olinda.

cc Reitero a V. Ex. as expressões de minha distineta conside

ração.

ct  AééL E X . O Sr.  D.  José

  Berges.—César  Sauvan Vianna  de

Lima.

  »

N O T A  D O G O V E R N O P A R A G U A Y O Á L E G A Ç Ã O I M P E R I A L .

« Ministério de relações exteriores.—Assumpção,  1 4 de No

vembro de  1 8 6 4 .

« Recebi a nota que em resposta á d'este ministério de 1 2 do

corrente V. Ex. me fez a honra de dirigir com data de hontem,

protestando contra a detenção do paquete

  Marquez

  de

 Olinda,

  a

respeito da qual havia pedido explicações, que diz não ter ainda

recebido, attribuindo o facto á enunciada resolução do meu

governo, e pedindo passaportes para retirar-se quanto antes

3'esta capital com o pessoal da legaçEo.

cc Se ao fechara nota a que respondo, não havia V. Ex. rece

bido a minha resposta á nota em que pede explicações sobre o

facto occorrido no dia

  1 3 ,

  a terá com tudo recebido logo depois,

e por ella terá sido informado de que não se enganou attribuin

do a detenção do

  Marquez

  de

  Olinda

  á minha notificação de 1 2

do corrente.

(c Incluso tenho a honra de remetter a V, Ex. o passaporte

que pede, para retirar-se quanto antes d'esta capital com sua

familia, secretario da legação e comitiva.

« Aproveito esta oceasião para renovar a V. Ex. a expressão

de minha distineta consideração.

« A S. Ex. o Sr. César Sauvan Vianna de

  Lima,—José  Berges. »

N O T A  D O G O V E R N O P A R A G U A Y O A L E O A Ç À O I M P E R I A L .

« Ministério de relações exteriores.—Assumpção, 1 4 de No

vembro de

  1 8 6 4 .

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— 3 M —

« A c a b o d a t o m a r c o n h e c i m e n t o d a n o t a q u e  V.  E x . m a n

d a r a esÉ reg ajr n ' e s t a r e p a r t i ç ã o h o n t e m , d o m i n g o , c o m a d a t a

d o d i a , p e d i n d o e x p l i c a ç õ e s s o b r e a d e t e n ç ã o d o p a q u e t e

b r a s i l e i r o M a r q u e *  da

  Olinda,

  q u e h a v e n d o s a b i d o d ' e s t e p o r t o

p a r a M a t t o - G r o s s o n a t a r d e d e

  11,

  s e a c h a v a d e v o l t a n a

m a d r u g a d a d e h o n t e m a n c o r a d o so b r e a s b a t e r i a s d o v a p o r

Tmquary.  m

« T e n h o p o r e s c u s a d a q u a l q u e r e x p l i c a ç ã o s o b r e a m a t é

ria,  v i s t o  q u e V . E x . d e v e e n c o n t r a l - a n a n o t a q u e t i v e a

h o n r a d e d i r i g i r a e s s a l e g a ç ã o e m 1 2 d o c o r r e n t e .

«  A p r o v e i t o a o c e a s i ã o p a r a s a u d a r a V . E x . c o m a m i

n h a m a i s d i s t i n e t a c o n s i d e r a d o .

«  A S . E x . o S r . C é s ar S a u v a n V i a n n a d e L i m a . —

José

Berges »

A s h o s t i l i d a d e s * d o g o v e r n o d o P a r a g u a y c o n t r a o B r a s i l

p r i n c i p i a r a m p e l o a p r i s i o n a m e n t o d o v a p o r  Marques de Olinda •

n o p o r t o d e A s s u m p ç ã o .

O

  g o v e r n o i m p e r i a l t i n h a s i d o a v i s a d o p e l o d e p u t a d o d e

M a t t o G r e s s o A n t ô n i o C o r r ê a d o C o u t o n a s e s s ã o d e

  1858.

C o n v é m n ' e s t e l u g a r t r a n s c r e v er o q u e d i s s e a q u e l l e d e p u

t a d o s o b r e o s p o u c o s m e i o s d e d e f e z a q u e t i n h a a p r o v i n c i a

d e  M a t t o - G r o s s o , e o s a r m a m e n t o s q u e fa z ia o P a r a g u a y , q u e

n ã o p o d i a m te r o u t r o fim s e n ã o h o s t i l i s a r a o B r a s i l .

O d e p u t a d o A n t ô n i o C o r r ê a d o C o u t o d e p o i s d e f az er a l g u m a s

c o n s i d e r a ç õ e s s o b r e o a r s e n a l d e g u e r r a d e M a t t o - G r o s s o ,

d i s s e :

« E u e s t o u c o n v e n c i d o q u e s e s e d e s s e a g o r a o c a s o d e

g u e r r a c o m o P a r a g u a y , a l é m d a p r o v i n c i a n ã o e s ta r p r e p a

r a d a , o g o v e r n o s e v e r i a e m b a r a ç a d o e m m a n d a r p a r a a l l i o

q u e a i n d a l h e f a l ta , p o i s q u e n a d a e s t á p r ep a r a d o n a p r o

v i n c i a , n e m p a r a t r a n s p o r t e s .  *

cc O S r . m i n i s t r o d a m a r i n h a r e s p o n d e u : — T e m o s e s p e r a n ç a

d e q u e a p a z c o n t i n u e .

<c E e u p a r t i c u l a r m e n t e n a o t e n h o e s s a e s p e r a n ç a ; e s e e u  -

t i v e s s e o c e a s i ã o d e f a l la r n o s n o s s o s c e g o c i o s c o m r e la ç ã o a o

P a r a g u a y , d i r i a a r a z ã o .

« M a s é n o t á v e l q u e t e m o s f e it o v á r i o s t r a t a d o s c o m o P a

r a g u a y , t e m o s o t r a ta d o d e

  25

  d e D e z e m b r o d e

  1850,

  o q u a l

n a o f oi c u m p r i d o . L o g o q u e o P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a d o

P a r a g u a y v i o - s e s e m o e n o r r h e p e s a d e l o d o d i c ta d o r d e B u e n o s -

A y r e s , c o m e ç o u a m o s t r a r u m a t e n d ê n c i a p ar a u m a p o l i t i c a

i n t e i r a m e n t e d i v e r s a a n o s s o r e s p e i t o ; e t e n d o n ó s p o r a q u e l l e

t r a t a d o a n a v e g a ç ã o f r a n c a d o s r i o s P a r a g u a y e P a r a n á , v i -

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— 252 —

« Par a provar qu e o receio do dictador d e Bu eno s-A yres

conteve por algum tempo a polit ica que depois desenvolveua R epublica do P arag ua y para com o Brasil , direi qu e qu and o

se fez o tratado de

  25

  de Dezembro de

  1850 ,

  t ra tado qu e no

seu art .  3.°  declarava livre a navegação do Paraná até o

Prata, tanto para os subditos brasileiros, como para os do

Paraguay; e quando mesmo se recebia, e ainda seria preciso

a protecção ao Brasil , o Presidente d'aquella Republica,

apesar de explicações do nosso encarregad o d e n egó cios, sobre

a ocupação do Pão de A ssucar; ao passo qu e com u m a m ão

recebia os benefícios já relatad os, com a o ut ra crav av a-n os o

mortifero punhal, mandando por assim dizer assassinar  25

soldados brasileiros, que guarneoiam o Pão de Assucar, por

uma força considerável. Pouco tempo depois offendeu profun

damente o Brasil na pessoa de seu encarregado de negócios,

o Sr . Leal, pelo que foi necessário que nós tomássemos pro

viden cias, indo para alli um encarrega do de negócios firmado

em uma força naval, missão que não foi muito feliz.

« Sou informado também de que a c idade de A ssum pção,

em vez de apresentar o aspecto de um a praça int eira m en te

com me rcial, mo stra-se u m a verdadeira p raça de arm as : não

se vê alli quo tidianam ente senão m ovim ento de soldados,

exe rcido s con tinuo s, para qu e f iquem b em disciplinados, etc.

T enh o também n oticu ud e qu e se estão edif icando n a me s

m a capital quatro fortes, e um de lle s, con sta-m e, com mu ita

regra e segurança.

« A inda ma is, senh ores, depois que se fez o tratado de

12  de Fevereiro, o Presidente da R epublica do Paragua y es

tabeleceu o imposto de  400  rs. por cada jornal que alli en

trasse: ul t imamente par t io para a Europa o vapor paraguayo

Rio-Blanco

  com a missão, segu ndo era vos gerai all i , de

con tratar officiaes. De tudo isto conc luo qu e n ão tem os mo

tivos para tran qu illis ar-m o-n os ; qu e estas não são disposi

ções que deve manifestar um povo amigo.»

mo-nos depois na necessidade de ma nd ar para alli uni encar

regado de negócios firmado e m u m a força n av al .

« A politica do Pres iden te do Pa rag ua y tem sido p ro er as -

tinar. Depois d'iato fez-se o tratado de.6 de Abri de  1856,

tratado que por si só poderia fazer com que as nossas rela

ções com aquella Republica f icassem em bom pé; mas nós

vimos que por dous regulamentos policiaes e f iscaes do Pa

raguay, ficaram frustrados nossos desíg nios e boa vo nta de .

« M ando u-se para a l li o Sr . conselheiro A maral , o qual

nada pode conseguir; foi o Sr . conselheiro Paranhos, eonse-

guio em verda de alg um a cousa em relação aos nossos negócios

de limites, e póde-se dizer  m a m o  conseguio alguma cousa

mais sobre navegação, porém não estou satisfeito com isto.

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Te rm inando o que disse aquelle deputado sobre a Re»

pub lica ao Pa ra gu ay , co nv ém n'este lugar tranijjpever parte

do disourso que o conselheiro Paranhos pronunciou na câ

mara dos deputados, na sessão de 11 de Julho de   1802,  s o

bre a sua m issã o ao Par agu ay em 1867, o qual trata das

qu estõ es qu e o Bra sil tem tido no Rio da Prata desde 1850,

e particularmente oom o Paraguay. (*)

O con selhe iro Paranho s disse :

« La nce m os agora, Sr. p re m en te , um a vista d'olhos sobre

os factos da n-.-ssa historia diplomática com a Republica do

Parag"uay ; e n'este bre ve retrospecto terei oceasiã o de resp on

der ao nobre deputado pela provincia das Alagoas sobre as

Censuras que dirigi

  >

  á  missão especial de  1857.

« D ur an te o dom inio de Rosas, sob o perigo das even tua

lidades com qu e elle no s ameaçava, o governo imperial ti

nha tornado a peito, como interesse permanente do Império,

a defeza da indep end ência da R epublica do Paraguay. Por

ventu ra no em pen ho com qu e o governo imperial procurou

auxiliar o gove rno paraguayo na sustentação da sua in de pe n

dência, com que a diplomacia brasileira na America e na Eu

ropa procurou dem onstrar os direitos que assistiam ao g o

vern o da Assu m pção, não houve longa previdência, não se

attendeu   á  segurança do Império, a seus interesses presentes

e futuros.

<f ,D 'ess e  empenho do governo  imperial resultou aggrav a-

rem -se as sua s relações com o dictador R osa s, porque elle

via no Im pér io o m aior obstáculo aos fins do seu plano, a

con qu ista do Estado Oriental do Ur ug uay •— a conquista da

Republica do Paraguay.

« D irigidos por esta politica, celebramo s com o Paragu ay

o tratado de alliança defensiva de   25  de Dezembro de  1850,

E

;

  preciso que eu recorde  á  câmara quaes eram os fins que

o go ver no im perial se pro pun ha n'esse tratado de alliança.

« O objecto princip al do tratado de  25  de Dezembro de

1850 era a defeza da R epu blica do Pa rag uay , dado o caso de

um a aggressão por parte do dictador^ Ro sas, contra a su a

independência. Todavia o governo i i iperial , como necessida

de,

  n ão

  só do Império, mas também e vital para a indepen

dên cia da R epu blica do Paragu ay, não se descuidou dos

interesses da nav egação , e estipu lou que a alliança tinha por

objec to, assim a defeza reciproca dos dous Estados contra o

dictador, como obter a livre navegação do Paraná até ao Rio

da Prata.

« A navegação do Paraná não dependia do Paraguay s ò -

(*) Extrabidodo  Jornal do Commercio  de  1 6  de  M a r ç o d e 1 8 6 5 .

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— 2 5 5 —

« O gov erno paraguayo não se prestou a um a negociação

Bra sil, cuja confiança para coninoseo cheg ara a ponto de dar

car ta brtgaca ao m inis tro que o govern o im peri al nomeasse

para representar-nos em Buenos-Ayres , dada

  j p a

  supposta

interven ção do I m pé rio com a Fran ça e Inglaterra, o governo

do Pa rag ua y en tão deixo u-se possuir de prevenções contra o

Brasil, receiou que, ufanos com os resultados que havia-mos

alcançad o na s m arge ns do Prata, nos tornássemos ambiciosos

e quizesse -inos subs tituir o dictador R osas, em seus desígnios

con tra a R epublica do Pa rag ua y/ Deus sabe se a poli tica

estrangeira teve ou não grande parte n 'essas prevenções que

assaltaram o espir i to do governo paraguayo.

« A ssim aconselhado, o governo da R epublica do Parag uay

ne go u- no s o direito á navegação do rio que dá nom e aquelle

Esta do, r io com m um á R epublica e ao Im pé r io ; e e lle não

no s negav a o direito em principio, mas negav a-o fundando-se

em que o exercicio d'esse direito dependia, por outro artigo

do tratado, de regulamentos que deviam ser accordados entre

os do us gov ernos. O ra, como as estipulações d*esse regula

m en to elle as considerava depend entes da questão de lim ites,

a navegação estava adiada, e f icaria adiada por muito tempo.

« O artigo do tratado de  2 5  de Dezem bro de

  1 8 5 0 ,

  que

falia de regulamento para a navegação do rio Paraguay, não

se refere ao simples transito, á navegação directa; refere-se á

navegação e commercio entre os dous paizes, cousa distineta.

Era indubitavel que a navegação e commercio entre os dous

paizes dependia de estipulações uiteriores, mas o livre transito

pelo r io co m m um era direito perfeito, segundo esse tratad o,

e segundo as estipulações que tinhamos celebrado com os

governos

  argentin o e or iental , ás quaes implic i tamente t inha

adher ido o governo paraguayo.

<

  T oda via , o governo do Paragu ay discorr ia como o nobre

deputado pelas Alagoas, tornava o nosso direito á navegação

do rio Pa rag ua y de pend ente de nov as estipulações, e sobre

tu do . do ajuste de lim ites. Foi n 'estas circum stancias que o

governo imper ial enviou em   1 8 5 2  um encarregado de negócios

á A ssu m pçã o, Com in strucçõ es para reclam ar o exercício da

naveg ação a qu e tinha m os direito, para regulal-o do mo do

mais conveniente aos interesses dos dous paizes, e ao mesmo

tem po para resolver a questão de lim ite s, a que o governo

pa rag ua yo ligava forçosamente a ou tra, se por ve ntu ra fosse

poss ível obte r d'a qu elle gover no a este respeito u m accordo

satisfatório.

« A câmara conhece bem o q ue então oceorreu. O governo

da A ssumpção , domina do pelas impressões a que já a l lud i ,

não quiz separar a questão f luvial da questão de limites; e

n 'es ta questão pretendeu o que nunca pretendera .

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236 —

amigável.

  Na

  questão

  de

  Jimites não queria as estipulações do

tratado

  do l.° de

  Janeiro de 1777, que elle

  nos  havia offere-

cido em

  l f # 4 ;

  não pretendia mais  a  linha divisora que  o

se u

  representante n'esta corte havia proposto  em 1816; não

aceitava a linha divisória que lhe propuzemos, e  que

  desde

então temos•sustentado, a linha de Iguateiny, serra de

  M ara-

cajú e Apa.

« Ao passo que se mostrava tãoinconsiliavel na questão

  dc

limites,

  não separava esta questão da fluvial. Entendia

  el le

que a questão fluvial era a mais importante para o Império,

por isso mesmo que o Império quiz sempre separal -a;

  que

não devia, portanto, prestar-se a um accordo a respeito  d'elia

sem que ao mesmo tempo ficasse ajustada a demarcação  da

fronteira.

« Teve esse governo um procedimento violento para com o

representante do Brasil na Assumpção; este foi obrigado a re

tirar-se;

  resultou d'ahi uma situação muito desagradável,

muito grave para os dous paizes.

(( Ora, como procedeu então o governo imperial? Entendeu

que não podia enviar um negociador á Assumpção sem que

este fosse acompanhado de força, porque a sua missão devia

ter por fim obter satisfação da offensa feita ao Império na

pessoa do seu representante, e o reconhecimento do nosso

direito á livre navegação, ao simples transito pelo rio Para

guay, quando não fosse possivel chegar simultaneamente a

um ajuste satisfactorio, tanto a respeito da navegação e com

mercio reciproco, como a respeito da questão de limites.

« O nosso plenipotenciario foi acompanhado de uma força

naval. Esta força naval foi preparada sem estrepito, sem que

excedêssemos a fixação decretada para circumstancias ordiná

r i as ,  apenas reduzindo-se as tnpolações dos navios que fica

ram nas estações do Império: todavia ella foi digna do nosso

paiz, deu uma idéa vantajosa dos recursos militares do Im

pério ante os governos do Prata.

« Chegando a nossa esquadra ás Tres Bocas, o governo

paraguayo fez annunciar que estava disposto para uma nego

ciação pacifica; que, porém, se lhe evitasse a presença  de

uma força estrangeira, ^ u e tornaria impossível qualquer ac

cordo amigável.  0  noss<f*plenipotenciario, levado por esse avi

so ,

  deixou a esquadra ancorada áquem das Tres Bocas, e Foi

á Assumpção como simples agente diplomático.

« E' certo que confiou demasiado nas apparencias qúe lhe

manifestou o governo paraguayo; suppoz conseguir tudo, que

poderia resolver a questão fluvial, e também  a  de limites,

ou pelo menos a primeira: é certo que não comprehendeu

bem as disposições do governo paraguayo, e quando quiz

usar da força posta á sua disposição era, tarde.

  Teve portanto

de retirar-se com um tratado de navegação e

  c o m m e r c i o

  que

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— 2 5 8 —

a A presentando u m projecto de con venç ão fluvial* aná logo

ao que tinhamos celebrado com a Confederação Argentina, o

governo paraguayo pelo órgão do seu plenipotenciario, for*

mulou um còntra-projecto. Seguio-se uma larga discussão de

que os protocoilos dão apenas uma idéa succinta.

« Dei conhecim ento m uito m inucioso ao governo im per ial

de toda essa discussão e seus incidentes, e pelo que

  é

  notório;

e algum dia melhor se verá dos documentos a que al ludo,

a dignidade e interesses do governo do Império foram man

t idos com toda a prudência e moderação, s im, mas sem que

soffressem a mais ligeira offensa. Consegui a convenção de 12

de Fevereiro de 1858.

« O que é a convenção de 12 de Fev ereiro de 1858? O

nosso fim era obter de facto a livre navegação do rio Para

guay; por outros termos, conseguir a revogação dos regula

mentos paraguayos, e sua substi tuição por medidas que ga

rantissem aquelle direi to, prevenindo iguaes desintel l igencias .A convenção de 12 de Feve reiro os revogou e> sub stitu io

completa e satisfatoriamente.

<< Os regulamen tos paraguayos im pu nh am ôn us pecu niários

aos nossos navios, obriga vam -os a u m a escala forçada, to

cando em diversos pontos do litoral da Republica, a varias

formalidades, todas elfas vexa tórias ; tudo isto desa ppare ceu

pela convenção de 12 de Fevereiro.

« Como dizia, S r. presiden te, fiz ab ertur as pa ra resolver a

questão de limites; não foi possivel, porém, apezar dos es

forços que empreguei, entabolar uma negociação formal (nem

era este, repito, o objecto essencial da m in ha m issão, este

estava conseg uido); vi que ne nh um resultado obtinha , e o

governo paraguayo terminou dizendo — a questão está adia da;

respeitemos o nosso accordo de adiamento.

« Isto confirmou-me mais no meu juizo anterior, de qu e,

se a questão de limites pode ser resolvida como espero, ami

gavelm ente, a oceasião não era aqu ella. Quand o o go vern o

parag uay o sahia de um a situação m uito difficil, t in h a ce

dido muito na questão fluvial, t inha cedido muito, não pelo

ue toca ao direito e á razão, m as rela tivam en te ás suas

esconfianças e preterições exageradas, não era natural que

elle cedesse na outra questão, que era a causa originaria de

todas essas dissenções.

« Isto p osto, S r. presidente, po der-se-ha com justiça dize r

que a missão de 1857, como foi planejada, com o fim prin

cipal que se teve em vista — evitar u m a gue rra po r c au sa

da navegação fluvial , pend ente u m tratado que adiava a

questão de limites, foi esté ril , porq ue nã o resolveu ao mesm o

tempo esta segunda questão?

« Para resolver esta questão ao mesmo tempo era preciso,

ou fazer concessões á R epublica do Par agu ay (o qu ê não

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estava no meu pensamento, nem   m e  foi autorisado), ou re-

solvêi-a por meio da força. Ora, nenhu m de nós sustentará

qu e a questão de limites deva ser resolvida pelo m eio da

força, antes de esgotarmos todos os meios pacíficos.

« Esta questão nào é urgente. Não  é  urgente porque as

fronteiras com o Paraguay se compõe em parte de território

inhabitavel, em parte de desertos, que não podemos occupar

agora. O q ue no s cumpre é policiar e exercer vigilânc ia

constan te sobre nossa s fronteiras. O Brasil é forte, com o disse

o nobre deputado, em relação ao Paraguay ; o Paraguay não

pôde deixar de respeitar-nos.

« O Paraguay não pôde provocar uma guerra comnosco;  não

está isto nos seus interesses, não pôde desconh ecer a des i

gualdade de recursos que ha entre um e outro paiz. Vig ie

m os as nossas fronteiras, irnpeçamos que o govern o paraguayo,

se o tem em vista, o que não presum o, possa estabelecer

ess es além da linha que se tem demonstrado ser a verd a-

eira divisa dos dous paizes; mas d'ahi a dizer-se que deve

mos resolver a questão de limites pela força, sem que a isso

sejamos levados pelo gover no parag uayo , vai grande distan

cia. Quando se trata com um a nação fraca, não queiram os

só resolver as questões á valentona, porque pôde haver tam

bém uma nação forte que nos queira apphcar a pena de

T alião . E' necessário que sejamos m oderados, prudentes e

justos para com todos.

« Se o Par agu ay não respeitar o nosso território, se repetir

explorações como essa de  60  ou  70  homens que foram  á

colônia dos Dourados, sem duvida alguma que provoca um

rompimento, não respeitará o nosso  uti possidetis,  violando o

nosso território: então

  é

  o Paraguay que torna esta questão

urgente; sua solução immediata será uma questão de paz ou

de guerra entre o s dou s paizes. M as por ora não considero

que se dê esta hypothese.

c< A que stão de ltmit es foi adiada em   1856,  e a convenção

de  12  de F evereiro prestou ma is este serviço que v ou po n

derar á câmara. Era de prever que o tempo necessário para

trazer o governo do Paraguay ao reconhecimento  amigável de

noss as fronteiras, fosse mais lon go que o de sei s an no s, esta

belecido no tratado de

  6

  de Ab ril de

 ^ 8 5 6 ;

  porém conviemos

n'este prazo para evitar conflictos que tornassem inevitável a

solução pela espada. Na convenção de  12  de Fevereiro de

1858,  procurei inserir estipulações que removessem taes em

baraços, ou a possibilidade de taes conflictos.

« A questão de lim ites prendia-se n u m ponto á questão

fluvial. O território contestado sobre a margem esquerda do

Paraguay é o que demora entre o Rio Apa e a sauga de

nom inada R io Bran co. D efronte d'esse território tem o P a

raguay o forte O lym po, ou Bo urbo n. Por este estabelecim ento

julgava-se com direito de propriedade sobre a margem opposta,

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— 2 4 0

e conseq uentem ente pre ten dia fazer por s i

  S Q

  a pol ic ia da

parte do r io correspondente a esse terr i tório .

« Pe lo s r e g u l a m e n t o s q u e d e i x a r a m d e v i g o r a r e m v i r t u d e

da convenção de 12 de Fev ere i ro , o governo da R ep ub l ica

t inha querido estabelecer u m po sto m il i tar defronte do di t o

terr itório contestad o, para ex ercer abi actos de so be ran ia , a

sua pol icia . Conv inha evi ta r es te em baraç o . Não podiam ospermi t t i r que o Paraguay exercesse exc lusivamente ac tos de

soberania na parte do r io que corresponde ao terr i tório con

testado, e por outro lado não hav ia necessida de de pol iciar

des er to s ; con seg ui , pois , que em a nov a con ven ção se es t i

p u l a sse q u e e n t re o A p a e o c h a m a d o R i o B r a n c o n e n h u m

dos dous governos far ia a pol ic ia por meio de embarcações

e guardas, sel lando as escot i lhas, e tc .

« S e o g overn o d o Pa rag ua y quizesse exercer a po l ic ia

n aque l la p ar te do r io , em qu e a sob erania não per te nce ex

c l u s i v a me n t e a n e n h u m d o s d o u s g o v e r n o s , p o r q u e a m a r g e me sq u e r d a n o s p e r t e n c e , p o s to q u e a R e p u b l i c a d o Pa r a g u a y

no- la contes te , e a margem di re i ta é posse do Paraguay (se

ha questão é entre aq ue l la R epu blica e a da Bo livia) ; se e l le

quizesse exercer ahi pol icia ex clu siv am en te, não po díam os co n-

sent ii -o , e então de duas u m a : ou a questão de l imi tes se

resolver ia am igavelmente , ' ou a guerra ser ia inev i táve l . A con

venção de 1858 remov eu es te o bs tác ul o; a pol ic ia não será

exerc ida por nenhum dos dous governos, na forma es tabe le

cida para os outros p ontos, em qú e a sob eran ia do r io P a

raguay per tence exc lusivamente a um d 'e l les , e i s to em qu an to

pender a questão de l imi tes . De manei ra que es ta questão

de l im i tes pode f icar pen den te a lém d os se is an no s, s em qu e

caus e o m en or emb araço á nav egaç ão f luvial.

« Esta que stão, repi to, só pode torn ar-s e  casus heíli,  u m a

ques tão urge nte , se o nosso  uti possidetis  não fôr resp ei tado .

Ora , eu c re io que o governo imper ia l t em mui tos meios ,

sem rom per hoje n ' u m a gu erra com o Ba rag ua y, para fazer

resp eitar o nosso terri tó rio, para exercer policia efficaz so bre

as fronteiras.

« Precisa rei agora, S r . pres idente , o estado de nossas r e

lações com a R epubl ica do Par ag ua y . J á pon dere i qu e a

conv enção de 12 de Fev ereiro de 1858 preven io a hy po the se,

qu e se pód l dar , de con t inuar pen den te a que stão de l imi tes

a lém do praso de se is ann os . O em baraç o q u e es ta questão

podia t razer com relação ao direi to que tem os de exe rcer

todos os dias o da n ave gaç ão fluvial, qu e no s põe em c o n -

tacto quot id iano com o gov erno par agu ayo , é o qu e na c i tada

convenção procurou-se evi ta r , e evi tou-se .

(( J á d isso 'á câm ara q ue esta que stão só pôde ser cau sa

de gu erra , se o nosso

  uti possidetis

  não fôr respei tado,

  o que

n ão  é de esperar da bôa fé e prudemiu do governo paraguay**

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  242 —

ao governo

  do

  Paraguay

  os

  meios

  de

  guerra

  de que o

 Brasil

podia dispo r; — que

  o

  Paraguay

  não

  podia provocar

 uma

guerra comnosco

  (*) ; que não

  podia desconhecer

  a

 desigual

dade

  de

  recursos

  que

  havia entre

  um e

  outro paiz. —

Estas theorias diplomáticas habilmente collocadas pelo con

selheiro Paranhos

  no

  seu discurso, puderam então acreditar-se,

porque foram pronunciadas pelo diplomata mais competente

 e

que conhecia

  o

  Paraguay;

  mas

  dous annos depois

  as

  suas

informações sobre

  o

  estado d'aquella R epublica foram des

truídas pelos factos:

  o

  Paraguay tinha 80,000 hom ens

  em

armas para fazer

  a

  guerra

  ao

  Brasil,  400 peças

  nas

  fortifi-

cações,  e  principiou  as  hostilidades  do  modo porque  se vio.

Das quatro missões mandadas

  ao

  Paraguay

  a que

  devia

  ter

conseguido tudo quanto exigia

  o

  Império,

  foi a

  confiada

  a.

Pedro Ferreira d'01iveira, pelas razões

  que já

  expendemos;

não

  se

  aproveitou aquella oceasião para sustentar-m os depois

um guerra  de  cinco annos.

O governo  do  Império  não  esgotou  a sua  paciência  com

enviar

  ao

  Paraguay quatro missões para obter algum a

cousa, também nunca pôde fazer respeitar

  as

  suas fronteiras

do

  sul de

  Matto Grosso pela demarcação

  dos

  limites

  dos

dous Estados

 ;

  porque

  o

  governo

  do

  Paraguay nunca quiz

 fa

zer este tratado, para apoderar-se

  dos

  terrenos

  ao

  norte

 do

rio

  Apa. Não

  sabemos

  se o

  governo imperial chegou

  a

  estar

prevenido d'esta pretenção,

  mas

  parece

  que não,

  pelas rela

ções

  amigáveis  que a

  todo

  o

  custo queria conservar

  com o

governo d'aquella Republica.

  O

 Paraguay desejava hostilisar

 o

Brasil; servio-se

  da

  questão

  com o

  Estado Oriental para

 o

fazer.

I N V A S Ã O P A R A G ü A Y A   EM  M A T T O G R O S S O .

Diz

  o

  relatório

  do

  ex-ministro

  dos

  negócios estrangeiros

 de

1865,  o  seguinte sobre  a  invasão  de  Matto Grosso :

«

 O

  Paraguay havia allegado

  que a

  necessidade

  de

  manter

o equilibrio

 das

  Republicas

  do

  Prata

  o

  chamava

  a

  protestar

(*) E' para

  a d m i r a r

  o seu engano.

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a

con tra q ua lqu er inva são de forças brasileiras no território do

Estado O riental, acto qu e consideraria como a t tenta to ri o da

independência e integridade do mesmo Estado , e o governo

de A guirre em balado oom a idéa de que essa dec laraç ão, tra-

dusida em facto, importaria um auxilio efficaz contra o Im

pério, obstin ou- se em suas recusas ás nossas ju sta s recl am a

ções.; illudio toda s as propostas para a solução pacifica e

am igáve l das difficuldades inte rna s da R epublica, que co m

plicavam se não eram causa essencial dos embaraços inter-

nacionaes que assoberbavam-na.

« M as o tempo não tardou em dem onstrar , que a al lega

ção do P arag uay era apen as u m pretexto, em bora futil , com

qu e p rocurav a colorir , ou antes encob rir as suas verdadeiras

inten çõe s contra o Brasil, e além d'isso um estratag em a a qu e

recorria para distrahir a attenção do governo imperial, dos

projectos q u e cogitav a afim de m elho r levar a effeito seu s

pérfidos intentos.

« A ssim qu e, deixando a R epublica O riental entregu e a sim es m a no mo m en to m ais critico, ao passo que fazia circ u

lar boatos de que v inh a em seu auxilio, por ventu ra no in

ten to de illudir ainda as esperanças d'aquella, e conc entrar

toda a at tenção do governo imperial para a luta em que se

achava com a mesm a R ep ub k ca; o governo do Parag uay

resolvia e leva va a effeito de sorpresa a invasã o da prov incia

de M atto Grosso, prevalecendo-se da proximidade em qu e lhe

ficava a m esm a provin cia, conh ecendo o estado indefenso em

qu e ella se achav a, e a im m ensa distancia qu e a separava

dos recu rso s de qu e carecia, além da difficuldade, se não

impossibilidade de nos distrairmos então da luta em que nos

achávamos empenhados no Estado vis inho.

« A primeira expedição que part io da capital do Par agu ay

 •

no dia 15 de Dezembro constava dos vapores de guerra  Ta

quary, Paraguary, Iguarey, Rio Bran co   e  Iporá;  rebocando

tres goletas e dous lanchões com forças consideráveis para

atacar o forte de Coimbra.

« Co m punh am -se estas forças de 4 batalhões de infantaria

com 800 ho m ens cada u m , 12 peças raiadas e foguetes de

Congrève de 24; devendo a ellas reunir-se na villa da Con

ceição um corpo de cavallaria de mais de mil homens.

« Um outro exerci to de 5 a 6 mil homens, principalmente

de cavallaria, e com 6 peças de artilharia, ao mando do co

ronel R esq uin , t inha de operar sobre Corum bá, onde se reu

niriam as duas expedições para invadir a provincia.

« A 27 de Dezem bro effectuou-se o ataq ue ao forte de

Coim bra. Dep ois de um a heróica e brilha nte resistência da

parte de su a guarn ição, em nu m ero apenas de 120 ho m ens ,

m as hábil e va len tem en te auxiliad a p elo bravo official qu e

com man dava a canhon eira  Anhambahy,  que se acha va al l i

estac ion ada , na noite de 28 para 29, aproveitand o a suspe nsão

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244

  —

do fogo do inimigo , vio-se forçado o co m m an da nte do forte

a ret irar-se para Corumbá.

cc À parte official da da e m 30 de Dez em bro por este co m

mand ante, o tenente-coronel ^Jüernienegildo de A lbu qu erq ue

Porto-Carrero, contém as razoes do abandono d 'aqueile ponto.

« De posse do forte de Coim bra, assa ltaram os P ar a gu ay os

e tomaram no dia 2 de Janeiro a povoação de Corumbá.

« À canhon eira  Anhambahy,  prestando n'essa oceasião os

soecorros ao seu alcance á pop ulaçã o indefesa d'aq ue lle log ar,

seguio entretanto em direcção a  Cuyabá,  quando á ent rada do

S. Lourenço conseguiram alcançal-a quatro vapores para

guayo s; e da luta imm ensa m ente desigual , que al l i se t ravou

no dia 6, resultou ser batido e aprisiona do aque lle vap or,

comm ettendo o inimigo , segun do consta, horrorosos a t tenta

dos.  A poderaram-se tamb ém os Pa ragu ayo s dos estabe lecim en

tos de Dourados , M iranda e N io ac

« Estes novo s actos de aggressão vêm expo stos no officio

do presidente da provincia de 28 de Fe vere iro ult im o; e as

atrocidades prat icadas pelas forças invaso ras, ac ha m -se m e n

cionadas no officio da mesma data do chefe de policia, e

depoimentos que o acompanham.

« No dia 11 de Ja ne iro tend o no ticia official do ata qu e

do forte de Coimbra, o presidente da p rovincia nom eou com

m and ante superior da guarda nacional o chefe de e squ adr a

Augusto Leverger, ê deu as necessárias providencias para de

feza da capital.

« N'estas circumstancias, dirigio o Sr. conselheiro Paranhos,

em 26 de Jan eiro , um a circular ao corpo diplomático, ma

nifestando os justos motivos que tinha o Império para repel-

lir tão gratuitas e insólitas aggressões.

« Em 10 do m ez próximo passado foram expedidas as p re

cisas ordens para serem bloqueados e hostilisaaos os portos e

litoral do Pa rag ua y ; deven do este bloqueio torn ar- se effectivo

desde o dia em qu e fosse estabelecido pela s forças na va es do

Império, e flxando-se o praso de 20 dias para a sahida das

embarcações estrangeiras, que estivessem à carga nos portos

d'aquella Republica.« D'estas disposições deram as nossas legaçpes em M on te vi

déo e Buenos-A yres conhecimento em 24 de A bril u l t im o aos

membros do corpo diplomático residentes u 'aquellas Republi

cas,  e aos respectivos governos d'e sta s.

« O governo do Paragu ay havia dirigido ao da Con federa

ção um a nota , solicitando o con sen time nto d'este, afim d e

que pudesse  o  seu exercito transpor livremente a fronteira, da

provincia de Corrientes.

« O

  governo a rge ntino , firmando-se em sua posição de tü u -

tro,

  não annuio á solicitação. Tanto bastou para que, for

jando pretextos, conseguisse o Pre siden te do P ara gu ay do seu

congresso uma autorisação para, a despeito de todas

 *

 as con*

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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— 2 4 5 —

s i d e r aç õ e s i n te r n ac i on ae s , faz e r p assar p e l o te r r i tór io ar g e n

t i n o o s e u e x e r c i t o , i n d e p e n d e n t e m e n t e d e p e r m i s s ã o d o r e s

p e c t i v o g o v e r n o ; e e m s e g u i d a h o u v e s s e a q u e l l e P r e s i d e n t e

c o m a R e p u b l i c a A r g e n t i n a , d o m e s m o m o d o c o m o p r o c e d e u

c o m o I m p é r i o , s e m p r é v i a d e c l a r a ç ã o d e g u e r r a , e e m e s t a d o

d e p az .

« A R e p u b l i c a A r g e n t i n a f oi p r o m p t a e m a p a n h a r a l u v a

q u e l h e a t i r ar am , e t r a ta d e v i n gar o u l tr age fe i to á su a so

b e r a n i a e d i g n i d a d e .

« E i s e m r e s u m o o q u e t e n h o d e c o m m u n i c a r - v o s r e la

t i v a m e n t e  á  R e p u b l i c a d o P a r a g u a y \ p a r e c e n d o - m e p o d e r

a c c r e s c e n t a r , s e m r e c e i o d e s e r c o n t r a r i a d o , q u e s e n ã o h a

u m s ó B r a s i l e i r o q u e d e s c o n h e ç a a r e v o l t a n t e i n j u s t i ç a e n e g r a

p e r f íd i a c o m q u e f o m o s g r a t u i t a m e n t e p r o v o c a d o s e a g g r e d i d o s ,

n e n h u m h a t a m b é m q u e , c h e i o d e i n d i g n a ç ã o , n ã o e s te j a

c o n v e n c i d o d a i n d e c l i n á v e l n e c e s s id a d e d e v i n g a r d e v i d a m e n t e

t a m a n h a a f lr o n t a á s o b e r a n i a e d i g n i d a d e d o I m p é r i o , n ã o

m e n o s q u e a o s p i i n c i p i o s d e h u m a n i d a d e e d e c i v i l i s a ç ã o d o

s é c u l o a c t u a l . E s o b r e m o d o l i s o n g e i r o m e é a q u i c o n s i g n a r

q u e n o d e s e m p e n h o d

1

 e s se sagr ad o d e ve r d e h o n r a , t e m o

g o v e r n o i m p e r i a l e n c o n t r a d o o m a i s d e c i d i d o e o m a i s e n t h u -

ã & s t i c o a p o i o e c o n c u r s o d a n a ç ã o . »

C o m o o e x - m i n i s t r o d e e s t r a n g ei r o s f o i m u i t o r e s u m i d o n a

s u a e x p o s i ç ã o s o b r e a i n v a s ã o p a r a g u a y a n a p r o v i n c i a d e

M a t t o G r o s s o , t r a n s c r e v e m o s a s p a r t e s o f f i c i a e s q u e o g o v e r n o

r e c e b e u d ' a q u e l l a p r o v i n c i a .

PART E D O T ENENT E CO RO NEL P0 RT O - CARRER0 .

« Q u a r t e l d o c o m m a n d o d o d i st r ic t o m i l i t a r e m C o r u m b á ,

3 0 d e D e z e m b r o d e 1 8 6 4 .

ct I l l m . e E x m . S r . — S o b a s in a^ s g l o r i o s a s i m p r e s s õ e s d e d o u s

d i a s d a m a i s v i g o r o s a r e s i s t ê n c i a f e i ta p e l o c o r p o d e a r t i lh a r i a

d e M a t t o G r o s s o , c o a d j u v a d o p o r d e z c a n i n d é s d a t r ib u d o

c a p i t ã o L i x a g o t a , p o r q u a t r o v i g i a s d a a l f â n d e g a , e p o r t r es

o u q u a t r o p a i z a n o s d e A l b u q u e r q u e , d i s t r i c t o m i l i t a r c i o m e u

c o m m a n d o ; a o s a t a q u e s s u c c e s s i v o s e d e s es p e ra d o s d e e s c a

l a d a a o f o r t e d e C o i m b r a , p e l a d i v i s ã o p a r a g u a y a e m o p e r a

ç õ e s n o A l t o P a r a g u a y , a o m a n d o d o c o r o n e l V i c e n t e D a p p y :

a n t e c i p o - m e e m l e v a r a o c o n h e c i m e n t o d e V . E x . p a ra o s f in s

c o n v e n i e n t e s , q u e t o d o s o s o f f ic i a es d o d i t o c o r p o m a n i f e s

t a r a m e d e s e n v o l v e r a m o m a i s p r o n u n c i a d o e e n t h u s i a s t i c o

v a l o r , s e n d o a c o m p a n h a d o s n o s m e s m o s s e n t i m e n t o s p o r t o d as

a s pr a ç a s e m a i s i n d i v i d u o s a c i m a r e f e r id o s .

« N ã o n o s s o d e i x a r d e f az er e s p ec ia l m e n ç ã o d o s e g u n d o

t e n e n t e J o ã o d e O l i v e i r a M e l l o , n o c o m m a n d o d a f u z il a ri a

43

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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- 246 —

que defendia, nas seteiras da se gu nd a bateria na golla da

fortificação, os ataq ues de escalada a qu e acim a me refiro,

com oitenta baio netas, con tra u m bata lhão de infan taria d e 700

praças e duas bocas de fogo bem guarne eidas, qu e ata ca ra m

a dita retaguarda, chegando muitas vezes a porem a mão

sobre o parapeito.

« T odos os dem ais officiaes se torn am igu alm en te d ignos

da mesma especial m en ção ; qu an to á artilh aria da 1.* ba teria

que jogou constan teme nte dura nte os dou s dias, contra duas

baterias üuotuantes de 68, que se assestava, ora aqui , ora

acolá, onde melhor lhe convinha; t res baterias de art i lharia

a cavallo, raiad a, qu e assestadas na fralda do m orro em frente

ao forte, uma de foguetes á congrève á direita do dito forte,

e 5 vapores que também jogavam com o cal ibre de 68 e

outros, não deixando tamb ém de se dist inguirem por seu

tur no na fuzilaria das ba nq ue tas, e qu an do coaájuvarvam o

referido 2.° tene nte Joã o de O liveira M ello na das se te ira s.

« Passando agora a detalhar em t ran su m pto , para o fazer

extensamente em oceasião opportuna, o ataque e defeza do

forte de Coimbra, informarei que no dia 27 pelas 5 horas da

m an hã foram avistados pelas sentine llas e vigias do forte, ao

levantar de uma forte cerração que houve no referido dia,

diversas embarcações ao norte, e reconhecendo-se serem al

gu m as a vapor, fundeadas proxim am ente a u m a lég ua rio

ab ai xo ; reunida toda* a guarnição do forte e dispostas todas

as cousas em ordeni de combate com a única força de que

disp un ha , qu e apenas chegou para gua rnec er cinco bocas de

fogo com 35 homens, seis banquetas com 40 homens, as se

teiras da se gund a bateria com 80 ;' ag ua rda va qu e se app rox i-

massem , quan do ás 8 1/2 da m an hã dirigin do- se ao forte um

escaler procedente das embarcações acima referidas, c on du

zindo u m official para gua yo, qu e ent re go u- m e o officio de

que V. Ex. já teve conhecimento, que me era dirigido pelo

chefe da referida divisão paraguaya, declarando-me que eram

8 1/2 da m an hã e ag ua rd av a resposta* até á s 9 1/2; feita  a

minha di ta resposta , de que também V. Ex. já teve conheci

mento, uma hora passada começaram a prat icar desembarquee

ás m argens direita e esquerda do r io . A qui cump ro u m dever

declarando que o vapor de guerra

  A n h a m b a h y ,

  ao m ando do

1.° tenente Balduino José Ferre ira de A guiar, com eçou a

desempenhar o mais bri lhan te papel que effectivamente de

sempenhou durante os dous

<

  dias do ata qu e, fazendo-se até

ousado muitas vezes, approximando-se a umas e a outras ba

terias, que batiam o forte, jogando habilmente com seus does

canhões de 82, e me smo em barga ndo por m uita s vezes o

passo ao inimigo que se dirigia a retag uar da do forte pe lã

traída da m on tan ha . Este vapor ás 10 1/2 hor as da

  manha,

passando pela frente do forte, dirigio-se ao ponto do pr im ei ro

desem barque á dire ita do rio,* e rom peu o fogo, d an do tres

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tiros sobre diversas columnas de infantaria e uma de artilha

ria a cavallo • que já se achavam em marcha.

« No mesmo momento rompeu também o fogo o inimigo

com os seus vapores e baterias üuctuantes de tão longe que

seus projectis apenas alcançavam a meia distancia. O forte

conservou-se á vista disto calado como lhe cumpria, até que

o inimigo se approximasse. A's % horas rompeu o dito forte

seu fogo de artilharia, e na mesma oceasião do fuzilaria das

seteiras. Engajado as^im o combate, sem a menor inter

rupção durou até 7 e meia horas da noite. O inimigou cessou

o seu fogo, reembarcou as suas forças e retirou-se. V. Ex.

sabe que no forte de Coimbra só existiam 10,000 cartuxos

embalados, os quaes reunidos a

  2, 0 0 0

  que me foram forne

cidos pelo vapor

  Anhambahy

  perfaziam o numero de  1 2 , 0 0 0 .

« Terminada a mais vigorosa resistência de que venhp de

fallar, aòs ataques de escalada do dia 27, reconheci só exis

tirem cerca de 2,500 cartuxos; tornou-se por tanto mister

que todas as mulheres que se achavam homisiadas no in

terior do forte, em numero de 70, fabricassem cartuxame

para a infantaria, durante toda a noite, sem dormirem um

só instante, visto não poderem os soldados deixar por um

momento os parapeitos.

« Assim consegui para oppôr aos novos ataques do dia

seguinte ' 6,000 e tantos cartuxos, tendorse tornado preciso

transformar as balas de adarme 17, machucando-as com pedras

e pequenos cylindros, para se acommodarem ás espingardas

á Minié.

« Com effeito, no segundo dia, 2 8   do corrente, dando o

inimigo novas disposições ás suas baterias üuctuantes, mos

trando claramente que queriam arrombar o portão principal

com a sua artilharia de

6 8

e abrir brecha ao lado com as

raiadas, entretive este fogo desde as 7 da manhã até ás  2  da

tarde,

  e neste ultimo momento carregou com a infantaria

sobre as seteiras da 2.

4

  bateria, e com tal furor que bem se

deixava ver que vinham animados na firme esperança de

effectuarem o assalto. -Cheguei ao ponto mais brilhante da

minha exposição.

« O inimigo vinha a cada momento ao parapeito e era re

chaçado com valor inaudito provocado pelos vivas do inimigo

e gritos desordenados de—rendam-se—, os quaes eram cor

respondidos pelos nossos soldados de — vivas ao Imperador,

aos Brasileiros e ao corpo de artilharia de Matto Grosso. —

Postos em retirada ás 7 horas da noite, mandei sahir duas

sortidas, uma com o bravo capitão Antônio Augusto Conrado,

e outra com o não menos* bravo 2.° tenente João de Oli

veira Mello, afim de recolherem todos os corpos semivivos

para  s e T e m  tratados com a humanidade que nos cumpre.  •

« Foram recolhidos n'essas circumstancias 18, dos quaes

um foi immediatamente amputado no braço esquerdo, outro

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— 2 4 8 —

morreu em seguida, e os demais foram conv enientem ente

curados: as ditas sorttdas recolheram ao forte

  8 5

  armas dos

que haviam fallecido, muitos bonés, inclusive dous qu e pa re

ciam de officiaes, e outros muitos objectos encontrados de

pouco valor no lugar do com bate ; informando-me que os

mortos subiam de

  100,

  e que ainda existiam muitos feridos

por dentro do m atto, onde se ouviam gem idos, mas -que

pela approximação da noite se não podiam enco ntrar. Entre

os expolios acima ditos foi encontrada um a prociamação, e

algumas notas de dinheiro paraguayo, o que a esta acom

panha, para que V. Ex. lhes dê o eonveniente destino.

« No momento em que isto se dava, em qu e o corpo de

artilharia de Matto Grosso acabava de colher louros tão glorio

sos,  e de cobrir-se de tanto orgulho, ao passo que o inimi

go rechaçado reembarcára como acima disse, reconhecem

as sentinellas que desembarcavam -novas forças em nu m ero

muito superior, frescas e que já se dirigiam para o forte em

massas de infantaria, cavallaria e quatro bocas de fogo pu

xadas a cavallos, que se dirigiam á frente do portão , á som

bra dos tamarindeiros que alli existem na distanc ia de cer

ca de

  300

 braças. Era pois evidente que, ou na m esma noite

ou ao amanhecer do seguinte dia 29, teriamos novos e pre

cisamente mais desesperados ataques, para os quaes comtudo

a guarnição do forte se achava sobejamente disposta a re -

cebel-os e a repellil-os ainda um a vez. N'este m om ento fatal

dirigi-me ao comm andante do forte para saber que cartux am e

de infantaria nos restava para colher-mos novos louros, fuiinformado de que talvez não excedessem de  1,000,  pois que

cinco mil e tanto se haviam gasto n'aqu ella ultim a tard e,

e estes dos feitos pelas mulheres.

í Estas mulheres que já a dous dias, como nós todos, não

comiam nem dormiam, não podiam fazer novo cartuxame, por

ser isto um esforço sobrena tural e mesmo inven civel, tanto mais

que em termo de comparação não se poderia contar gastar no dia

seguinte menos do dobro do que se havia gasto n'aque lla tarde.

« A' vista d'isto forçoso me foi reunir em conselho a todos

os officiaes, inclusive

 o

  bravo commandanje do vapor

  Anhambahy,

e resolveu-se que, sendo a falta do cartuxame de infantaria

uma razão de força maior, e um a difficuldade invencivel pelas

razões acima mencionadas, accrescendo a terem-se também aca

bado as balas de adarme

  17

  que serviam para a transformação

acima referida; que abandonássemos o forte, para não serem

sacrificadas tantas vidas, salvando-se assim sua guarnição, e

que isso se efíectuasse sem perda de um instante, visto que

o inimigo, já se achando nas posições novam ente tomadas

com forças frescas, podia engajar novo combate, e nós teria-

mos de cessar o fogo ao cabo de meia hora, por total aca

bamento do cartuxame de infantaria, e o inimigo em todo

o caso empossar-se do forte, levando a effeito sua carnificina.

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« Embarquei com toda a guarnição debaixo de todas as

precauções, prevalecendo-me da escuridão da noite, e dirigi-me

a este ponto, onde apresentando-me a V . Ex. fico aguar

dando as suas

  ordens ;

  restando-me a maior satisfação em

declarar a V. Ex. que nenhuma só praça da guarnição do

dito forte, nem mesmo d'aquelles cidadãos que coadjuvaram,

soffreu o mais leve ferimento. »

« Deos guarde a V. Ex,

« Illm e Exm. Sr. coronel Carlos Augusto de O liveira,

commandante das armas da provincia.

 —

  Hermen egildo de Al

buquerque Porto-Carrero,

  tenente-coronel commandante. »

EXTRACTO DO OFFICIO DA PRESIDÊNCIA DE MATTO GROSSO DE 28 DE

F E V E R E IR O D E 1 8 6 5 .

« J á

  V. Ex. deve estar sciente da desleal invasão que os

Paraguayos

 fizeram

 n'esta provincia, tendo atacado com grandes

forças o forte de Coimbra no dia

  2 7

  de Dezembro ultimo,

  ò

qual resistindo até o dia  2 8 ;  a sua guarnição,

  á

  vista do nu

mero de inimigos, evacuou-o n'essa noite. Desde então até

hoje foram seguidos os desastres, em razão dos poucos meios

de resistência que haviam na provincia.

«c

  No dia

  2

  de Janeiro o coronel commandante das armas

abandonou precipitadamente a florescente povoação do Co

rumbá, embarcando-se coca o

  2 . °

  batalhão de artilharia a pé

no vapor

  Ànhambahy,

  e vindo-se metter encurrallado em um

pantanal sem sahida, no lugar denominado—Sará—sobre o

rio S . Lourénço, deixando em Corumbá, em uma escuna par

ticular, o corpo de artilharia da provincia que se havia batido

com bravura no forte de Coimbra, e- mais  4 0 praças do 2 . °

batalhão.

« Em taes angustias o povo de Corumbá embarcou-se como

pôde, e o que pôde em diversas canoas e egarités e subiram

pelo rio Paraguay. O corpo de artilharia, guiado pelo deno-

clado  2 . °  tenente João de Oliveira de Mello, subio como pôde

á espia até certa altura, de onde, distinguindo-se dous vapores

paraguayos, fez o tenente Mello desembarcar a gente e com

ella seguio oito dias por dentro d'agua pelos pantanaes, edepois de atravessar um braço do Paraguay, pôde chegar

com toda gente salva em uma fazenda do interior, mas com

cento e tantas pessoas doentes de fadigas, fome, etc . : ahi

mesmo foi essa gente dispersa pelos Paraguayos, e ainda hoje

se não sabe ao certo que é feito d'ella.

« No dia  6  de Janeiro o vapor

  Anhambahy,

  que deixara o

commandante das armas com perto •  de 500 pessoas no Sará

e descia a auxiliar o resto da gente sahida de Corumbá, foi

batido e aprisionado por quatro vapores paraguayos.

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<( Depois cVisto os m esm os Par ag ua yo s arra sara m o

  e s t a b e

lecimen to dos D ourados, onde   s e g u n d o , a s  ultimas  n o t i c i a s

dadas por alguma gente nossa d'elles escapada, tem elles feoje

muito grande força, e se estão fortificando.

« O com m andante das arm as, depois *áe estar algum tempo

no Sará, passou o rio  S.  Lourenço para a margem esquerda,

e d'alli se dirigio pelos campos alagados em d uas canoas como seu estado maior e parte do

  2 . °

  batalh ão de artilharia a

pé em deman da do rio P iqu iry , deixando outra parte em um a

Fazenda. A parte que ficou foi dispersa pêlos Paragu ayo s, qu e

aprisionaram algumas praças e officiaes, e do com m and ante

das armas ainda se não tem outra noticia.

« Os Paraguayos tem quatro vapo res, em tudo superiores

ao nossos, crusando nos rios Cuyabá e S. L ou renço , e vão

aprisionan do toda a gen te qu e busca a capital. A s fazendas

de gado e mais estabelecimentos dos rios Cu yab á, S. L ou

renço e Parag uay , estão abandonadas, avaliando-se em m aisde

  1 0 0 , 0 0 0

  o numero de rezes das ditas fazendas.

« Consta que um tenente e o capellão do corpo de cava l

laria chegaram a um a fazenda do rio T aqu ary, e dão a n o

ticia de que o districto de M iranda fora atacado pelos P a ra

guayos, com uma divisão de   6 , 0 0 0  homens de infantaria e

2 , 0 0 0

  de cavallaria ; que em Nioac houv era grande m o rta n

dade, que desapparecêra o tenente-coronel José A ntônio D ias

da S ilva, comm andante do corpo de cavallaria, e que a villa

de M irand a, onde estava o casco do batalhão de caçadores,

e o 7 . ° da guarda nacional, se rend era sem resistência.

« A gente dispersa pelos mattos e pan tanaes dos rios Pa

raguay e S. Lourenço é regulada em mais de

  2 , 0 0 0

  pessoas,

das quaes tem chegado algumas a esta capital, nuas, exte

nuad as de miséria e fadiga; de hoje até am an hã espera-se

cento e tan tas, gran de parte tem mo rrido de fome, afogadas,

de peste, e t c , e outras tem sido a prisiona das.

« Por esta descripção V . E x . vê que hoje não tem a p ro

vincia um só corpo de linh a. A força qu e a gua rnece pre

sentemente é de 9 7 0 guardas nacionaes n 'esta capital , 8 0 5

em M elgaço (a 2 0 léguas da capital, onde é hoje a fronteira

da p rovin cia), inclusive as

  1 5 2

  praças de linh a, cento e

  t à à t a s

em Paconé, e   5 8 1  em V illa M aria, inclusive 8 3 praças de

linha. N'esta força não comprehendo pequenos destacamentos

dos sertões e do districto de Matto Grosso, nem a pequena

flotilha. »

Por este officio do preside nte de M atto Grosso de 2 8 de

Fevereiro, que acabam os de transcrev er, vê -se  o  abandono

em que ha muitos annos estava aquella provincia, em r e -

lação a armamento para a sua defeza ; o corpo de artilharia

da provincia estava redu zido a  1 2 0 p r a ç a s ,  que g u a r a n á  o

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— 251

f o r t e  de Coimbra; o  2 . °  batalhão de artilharia do exercito

não passava de

  2 0 0

  ; os outros dous corpos de linha estavam

reduzidos  a  poucas praças.

Depois que o governo imperial recebeu

  a

  nota de 30 de

Agosto do igoverno do Paraguay, é que conheceu o engano

em que tinh a existido até então, masj apezar de vôr o que

contenha aquella nota, de ameaças contra o Brasil, limitou-se

a

  tomar algumas providencias em relação á provincia de

M atto Grosso. Estas providencias foram a nomeação de um

presidente para aquella provincia, em quem, e com boas

razões, depositava toda a sua confiança.

A escolha do presidente para aquella provincia tinha sido

muito boa pelas qualidades da pessoa nomeada, e suas habi

litações scientificas como coronel do corpo de engenheiros.

O nome do coronel Frederico Carneiro de Campos era já uma

garantia para a provincia de Matto Grosso; se elle tivesse

sido nomeado algum tempo antes, teria podido talvez defender

a provincia da invasão paraguaya, ao menos não seria devas

tada como o foi; mas o m inistério que fez tão boa nomeação

acordou tarde também a este respeito; com a demora em dar

as providencias que o estado d'aquella provincia exigia, sa

crificou o presidente nomeado, digno a todos os respeitos da

veneração publica, e privou a provincia do primeiro auxilio

que lhe mandava para a sua segurança. (*)

Era preciso ter-se sido mais previdente para tomar-se em

grande consideração o primeiro insulto que o governo do

Paraguay fez ao Brasil em

  1 8 4 6

  no Pão de A ssucar, e depois

o que se passou com o encarregado de negócios na Assumpção

em   1 8 5 3 ,  para que na oceasião em que foi a esquadra com-

(*) A familia Carneiro de Cam pos, da Bahia, é uma das famílias que tem

dado maior n um ero de hom ens para o serviço do Estado,- a maior parte dos

m em bros d'esta familia tem occupddo lugares distinetos no serviço publico,

quasi todos foram c onhecidos pelo seu caracter franco e lea l; o seu nome de

honradez e de probidade como empregados públicos, unido aos muitos se r

viços que prestaram^ nos altos cargos do E stado, os constituíram homens d is

tinetos d'este Im pério: basta citar os som es d o Marquez de Caravellas, senador,

ministro do im pé rio e um dos signatários da nossa constituição politica,- F ran

cisco Ca rneiro ae Campos, senador, João Carneiro de Campos, official maior

da secretaria da justiç a, e ou tro s; bem conhecidos nesta corte, para confirmar-se

o que dizemos dos me mb ros d'esta familia. D 'estas qualidades participava o

infeliz coronel Frederico Carneiro de Campos, que está sepultado em Humaytá.

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H Y R O D É C I M O .

DISCURSO   O   C O N S E L H E I R O P A R A N H O S S O B R E O C O M P O R T A M E N T O   O   G E N E R A L

D.

  V E N A N C I O F L O R E S E D O V I C E - A L M I R A N T E B R A S I L E I R O .

O governo imperial mandou instrucções para se proceder a

represálias contra o Estado Oriental por mar e por terra, de

cujas ordens fizemos menção no livro VII.

Tiveram lugar logo com a força marítima, porque n'essa

oceasião já tinhamos no Rio da Prata oito navios de guerra.

As primeiras represálias por terra consistiram no que fizeram

os dous chefes que se tinham ajustado, o vice-almirante bra

sileiro, e o general D. Venancio Flores; o que vamos mostrar do

modo seguinte.

Quando o general D. Venancio Flores, chefe da revolução que

elle tinha iniciado em 1863 no Estado Oriental, soube que o

governo imperial mandou hostilisar o governo de Montevi

déo,  principiou os seus movimentos.

Diz o conselheiro Paranhos a este respeito o seguinte, a

pag. 13 da sua defeza:

« O vapor  Villa dei Salto  resistio á intimação, procurou es

capar e conseguio-o refugiando-se no porto de Paysandú,

onde as próprias autoridades orientaes o mandaram incen

diar.

« Observando o general Flores que o governo imperial,

mallograda a mediação, começava a exercer represálias contra

44

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 254 —

o governo  de  Montevidéo,  que já  tinhamos

  immobilisado o

vapor  Gen eral Artigas  e  dado causa  ao  incêndio  do  Villa dei

Salto;  que, ao  passo  que  assim procedíamos para  com o go

verno

  de

  Montevidéo,

  não nos

  entendiamos

  com

  el le; hábil

como  é, e  querendo popularisar também  a sua  causa

  com

uma demonstração  de  zelo pela dignidade oriental, aquelle

general pedia explicações sobre

  o

  facto

  do

 vapor

  Villa dei Salto.

O senado recorda-se

  de que o

  commandante

  da

  nossa divi

são estacionada  no  Uruguay prestou-se  ao  intento  do  general

Flores, dirigindo-lhe  um  longo officio,  que já foi  publicado  o

anno passado

  nas

  gazetas d'esta corte.

  O

  dito commandante

explicou  o  facto,  e  declarou  que não  tivera intenção  de offen-

der  a  bandeira oriental; offerecendo,  em  prova  de  suas dis

posições pacificas,

  se o

  general Flores

  o

  julgasse conveniente ,

salvar

  á

  bandeira  da  Republ ica  com  2 1   tiros.

«  O  senado  vê que  esta occurrencia  era  também própria para

aggçaivar

  o

  nosso conflicto

  com o

  governo

  de

  Montevidéo.Já

 não nos

  l imitávamos

  a

  immobilisar vapores

  de que

  aquelle

governo carecia para defender-se

  nos

  pontes

  do

  litoral contra

seus adversários internos;  o  commandante  de uma  divisão

brasileira justificava perante  o  general Flores  a  represália  que

praticara,

  e que

  aliás

  era o

  exercicio

  de um

  direi to: mais

do  que  isso, promettia  uma  satisfação  ao  chefe  da  revolução,

que  até  esse momento  não  estava reconhecido  por nós  como

belligerante.

  yjèjfi

«

  E'

  certo

  que o

  governo imperial

  não

  approvou esse pro

cedimento,  mas a sua desapprovação  não foi  publ ica;  e  porque

ficaria esta desapprovação reservada, quando aliás

  era

  cohe-

rente

  com as

  declarações solemnes

  que

  haviam os feito

  ao

governo  de  Montevidéo? (D'aqui  por  diante  os  acontecimentos

correm  sob a  direcção  do  gabinete  de 31 de  Agosto). Porque

não  se  desapprovou publicamente aquelle acto? Seria porque

o commandante

  da

  estação naval

  do

  Ur ugu ay valesse m ais

do  que o  plenipotenciario brasileiro,  que por  menos mereceu

o decreto  de 3 de  Março?  Não;  ficou  em  reserva, senhores,

porque então

  o

  nosso horisonte politico

  no Rio da

  Prata

  se

cobria  de  nuvens negras, grandes difficuldades  nos  ameaçavam,

não

  era

  opportuno

  o

  momento para

  que os

  valentes

  do ga

binete  de 31 de  Agosto carregassem seus sobr'olhos,  ou  m o s

trassem

  sua

  feia catadura.

« Depois d'este facto,

  que se

  apresentava

  já

  c o m o

  um

  prin

cipio  de  alliança  com o  general Flores,  o  governo  de  M o n

tevidéo allucinou-se ainda mais; rompeu então suas

  relações

diplomáticas  com o  Império, rompeu  âo  mesmo

  tempo

  as

relações consulares. Mandou

  passaportes

  ao

  nosso ministro

residente, cassou  o  exequatur  dos  nossos agentes consulattfc*

mas ainda manteve  as

  relações

  de  commercio pacifico

  entre

os dous povos.

« D esde esta em ergência ach am o-n os sobre  uni

 deciitfc,

  i

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— 2 5 5 —

ue era m uito diíücii : resis tir . A ssim como crescia no animo

o g ov erno ori en tai ã su a desconfiança con tra nós, crescia

também da nossa par te a necessidade de reagir com mais

força. O carac ter e significação politica que assu m iram os

nosso s actos* de en tão por dia nte são dign os de nota r-se, e

para el les chamo a at tenção do senado, porque cumpre tel-os

m uito pres ente s , quand o houv er-mos de tomar contas ao ini

migo vencido, e graduar o r igor com que devamos proceder

para com elle .

« O nosso a lm ira nte , á vista de todos estes factos e com

autorisação superior , entendeu que devia empregar medidas

mais enérgicas ; e com es te empenho dir igio uma nota con

fidencial aos ageiLtes diplom áticos residente s em M ontev idéo.

E ste do cum ento foi logo publicado pela imp rensa do R io da

Prata e corte do Rio de Janeiro, e a elle se refere o nobre

ex-ministro dos negócios estrangeiros em seu ult imo relatór io.

R equ isitav a o nos so, alm irante aos agentes diplomáticos de

M onte vidé o qu e não consentissem qu e, sob as bandeiras de

su as naç ões , se transportassem tropas e mu niçõe s de guerra

do governo oriental para diversas portos do seu litoral no Rio

da Pra ta e no r io Uru gu ay. Pon derava o nosso a lmirante

que os agentes es t rangeiros deviam conservar -se neutros no

conflicto en tre o governo im perial e o de M ontev idéo, e d e

clarav a qu e, se el les nã o impedissem aos seus navios mercan

tes aqu elle serviço ao governo de M ontevidéo, a esqua dra

bra sileira exercer ia constante vigilância sobre os ditos tran s

portes, e far ia apprehensão do contrabando de guerra.

a   O s agentes diplomát icos res identes em M ontevidéo res

ponderam á referida nota, recusando-.se á nossa requisição,

e es tra nh an do m esm o q u e ella lhes fosse feita. E' preciso,

senhores, reconhecer que elles t inham razão.

« Qu al era a p osição do govern o "imperial para com o de

M onte vidé o, segun do a defenio o conselheiro S araiva , seg un

do declarações officiaes que não tinham sido ainda modifica

das? Nã o es távamo s em  \guer ra com aquel le governo; pra t i

cavam-se represálias af im de chegar a um accordo com elle,

q u e evitasse a gu er ra. Co m o, pois , fallar-se em neu tralidade

e c on trab an do de gue rra? Como a llud ir-se ao direito de visi

ta? E qu al o f im que t inha m os em vis ta? T olher ao governo

de M on tevid éo todos os meios de ir em soccorro dos po ntos

d o seu l i toral qu e fossem atacados pela revoluç ão. S e os agen

tes diplomáticos se prestassem á nossa requisição, é manifesto

qu e ef les se torn aria m auxil iares indirectos da revolu ção, como

nó s iá iam os send o. *

« Em conseqüência da resposta negat iva dos agentes diplo

má t icos es t rangeiros , o nosso a lmiran te ordenou o bloqueio

dos po r tos d e Pa ys an dú e S al to , e entrou em accordo com

o

  general Flores em S an ta L úcia . Este accordo não é segredo,

conhece -o  todos os ho m en s polí ticos do R io da Pr ata , e o

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nobre ex-m inistro dos neg óc io s estran geiros refere-se a isso

muito expressamente em sen relatório.

« D e que natur eza foi aq ue lle accordo? E ntã o prop unh a-se

o governo imperial a expelu r dos pon tos ao norte do R io N e

gro as forcas do govern o de M on tev idé o que a hi se ac h as

sem .

  0 nosso a lm irante e nten deu -se com o general F lor es ,

com m unica ndo -lhe o nosso p lano de represálias , e procurand o

pôr-se de intel l igencia a esse respeito com o general oriental .

<t A ceita va a cooperação d*este , offerecendo -lhe a da es q u a

dra e do exercito para co ns eg ui r-s e aqu elle f im. Esta co op e

ração,

  po rém , das forças brasile iras com as do general Flo res ,

do s nossos ch efes militares com o chefe da revoluç ão oriental ,

devia ter luga r m edi ante algum a seguran ça a respeito de

nossa s reclam ações, e qua nto ao futuro de n ossa s relações

com aquel le Estado. »

R es ul to u, pois , d'esta entrevista o accordo con stan te das

notas reversaes de 20 de Outubro de 1864, que se acham já

transcriptas.

O g e ner a l F lo r es to m o u a Vi l la do Sa l to a 2 8 de N o v e m

bro de 1864, sem dif i cu lda de , porqu e , á approx imaçã o das

forças d*aquelle chefe da revoluçã o orienta l , a guarn ição fu -

g i o .  A chou 2 50 pris ioneiros , qu e fez encorporar ás forças qu e

elle commandava, 4 peças de arti lharia de pequeno calibre,

e a lg um a s mu niç õ e s de g ue r r a. O g e ne r a l F lo r e s no m e o u

com m an dan te m ilitar d'esta praça ao coronel Jo aq ui m de

Sant'Anna, que es tava a l l i preso . F icou guarnec ida por 400

ho m en s, dos quaes 100 eram Brasile iros . A quelle general di -

g io -se para as im m ediaç ões de Pa ysa nd ú, para se encontrar

com o vice-almirante brasile iro, conforme o ajuste anterior

mente fe ito.

A es te tem po es tava o v ice -a lm irante em Bu enos-A yres

(f izemos mensao dis to no l ivro antecedente); logo que soube

da rendição da Vil la do Salt o, e sab end o tam bém que ia

um m inistro brasile iro em mis são espec ial ao R io da Prata,

não esperou por e l le , sahio d*aquelle porto antes da sua che

gada; foi encontrar-se com o general Flores para procederem

ambos a operações be l l icas contra P ay sa nd ú, o que foi m ui to

inc on ven ien te antes de cheg ar o m inist ro qu e ia tratar dos

nossos negócios ,

E m qua nto o c o ns elhe ir o Pa r a nho s e ste v e em Bu e no s -A y r e s

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- 257 —

f a z e n d o a s uf c a p r e s e n t a ç ã o a o P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a , t i

v e r a m lu g a r o s a c o n t e c i m e n t o s q u e v a m o s n a r r ar .

O

  g e n e r a l

  D.

  V e n a n c i o F l o r e s n ã o e st a v a r e c o n h e c i d o b el -

l i g e r a n t e p e l o g o v e r n o , i m p e r i a l , e , q u a n d o j á o e s t i v e s s e ,

d e v i a c o n h e c e r q u e n ã o t i n h a f o r ç as p a r a , j u n t o c o m o y i ç e -

a l m i r a n t e b r a s i l e i r o , a t a c ar a p r a ç a d e P a y s a n d ú ; o s d o u s g e

n e r a e s d e v i a m s a b e r q u e n ã o t o m a r i a m a q u e l l a p r a ç a c o m a

m e s m a f a c i l i d a d e c o m q u e o g e n e r a l F l o r e s t o m o u a V i l l a d o

S a l t o .

  Q v i c e - a l m i r a n t e b r a s i l e i r o t i n h a r e c e b i d o i n s t r u c ç õ e s

d o m i n i s t r o e n c a r r e g a d o d a m i s s ã o e s p e c i a l , q u a n d o e s t e s e

r e t i r o u d e B u e n o s - A y r e s   á  7 d e S e t e m b r o , p a r a c o o p e r a r c o m

a s f o r ç a s d e t e r r a q u a n d o e n t r a s s e m n o E s t a d o O r i e n t a l , d o

q u e j á fizem os m e n s ã o n o l i v r o V I I , q u a n d o t r a n s c r e v e m o s

a s i n s t r u c ç õ e s m a n d a d a s a o p r e s i d e n t e d o R i o G r a n d e ; ag or a

é n e c e s s á r i o c o p i a r n ' e s t e l u g a r o o f fi c io d o c o n s e l h e i r o S a

r a i v a a o d i t o v i c e - a l m i r a n t e , p a r a s e c o m p a r a r o q u e e l l e

d i s p u n h a c o m o s a c t o s q u e s e p r a t ic a r a m .

« M i s s ã o e s p e c ia l d o B r a s i l . — B u e n o s - A y r e s , 7 d e S e te m b r o

d e 1 8 6 4 .

<( I l l m . e E x m . S r . — A c o p i a i n c l u s a d o o f fi c io q u e n

T

e s t a

d a t a d i r i j o a o S r . p r e s i d e n t e d o R i o G r a n d e d o S u l , m o s t r a

a V . E x . q u a l o p e n s a m e n t o q u e v a i s er e x e c u t a d o , e o e s

p i r i t o q u e d e v e p re s id i r a o s m o v i m e n t o s d o n o s s o e x e r c i t o ,

r í ã o p r e c i s o d i z e r a V . E x . q u e a e s q u a d r a t e m p o r s u a p a r t e

d e a u x i l i a r a e s s e s m o v i m e n t o s .

« V . E x . s a b e q u e n ã o t e m o s s o b r e q u e e x e r c e r r e p r a s a l i a s ,

o u o u t r o s a c t o s d e f o r ç a p o r m e i o d o s n o s s o s v a s o s d e g u e r r a ,

e p o i s c o n v é m q u e a s n o s s a s v i s t a s s e c o n c e n t r e m n o U r u

g u a y , e q u e p r o c u r e m o s e x p e l l i r d o li t o r a l d ' e s s e r i o a s f o r c a s

d o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o .

« J u l g o q u e V . E x . d e v e r á e n t e n d e r - s e c o m as a u t o r id a d e s

q u e o g e n e r a l F l o r e s t i y e r n o s p o r t o s d o U r u g u a y q u e f ôr

o c c u p a n d o ; c o n v i n d o q u e s e j a m t ra ta d a s c o m d e f er e n c ia e m

u a n t o p r o t e g e r e m , c o m o é p r o p ó s i t o s e u d e m o n s t r a d o p or

i v e r s o s f a c t o s , a o s n o s s o s c o m p a t r i o t a s . N a d a m a i s c a r e ç o

a c c r e s c e n t a r .

« E s t o u s e g u i o

1

  d e q u e V . E x . c o m p r e h e n d a , e h a d e e x e

c u t a r a s o r d e n s d o g o v e r n o i m p e r i a l p e l a f ô r m a m a i s c o n

v e n i e n t e e m a i s h o n r o s a a o n o s s o p a i z .

« R e i t e r o a V. E x. o s v o t o s d o m e u r e s p e i t o e c o n s i d e r a ç ã o .

« Illm.

  e

  Exm. Sr.

  B a r ã o d e T a m a n d a r é . —

 José  Antônio Sa

raiva. »

Do  o f fi c io d o . m i n i s t r o b r a s i l e ir o a o c o m m a n d a n t e d a e s -

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quadra, vê-se que tinha por principãL objecto auxiliar os

movimentos do exercito quando elle chegasse ás margens do

Uruguay, e expellir do litoral d*esse rio as forças do governo

de Montevidéo. Para se dar cumprimento a estas instrucções

era necessário que o exercito brasileiro se approximasse da

margem do Uruguay, o que só teve lugar a

  2 9

 de Dezembro;

devia entretanto o vice-almirante entender-se com as autori

dades que o general Flores tivesse collocado nos portos do

Uruguay, que fosse occupando. Em lugar de se fazer o que

indicava o officio do conselheiro Saraiva, que tinham sido

medidas muito acertadas se, quando foram ordenadas, esti

vesse o nosso exercito no centro do Estado O riental, e o

general Flores tivesse outro com força sufficiente para occu

par as povoações da margem do ri o; principiaram os dous

generaes, que se tinham ajustado, as hostilidades, sem terem

forças nem meios para as emprehender. Não tinham forças

para atacar a praça de Paysandú, nem o vice-almirante ordem

para o fazer; não esperaram que chegasse o exercito brasi

leiro,

  assim mesmo foram sitiar aquella praça,, defendida por

15  peças de artilharia e 1,500 homens.

Não podemos deixar de dizer que foi uma imprudência do

general Flores persuadir-se que com tão pequena força que elle

cbmmandava, sendo  a  maior parte cavallaria, pudesse tomar

aquella praça, embora fosse ajudado por alguma gente da

marinha imperial.

O general Flores devia ter uma divisão de 6,000 homens,

e artilharia equivalente

  a

  esta força, para poder tomar

  P a y

sandú, e considerar o contingente da marinha imperial como

uma reserva auxiliar, que de pouco servia pelo seu pequeno

numero.

No mesmo caso se achou o vice-almirante brasileiro; de

vendo esperar o exercito, persuadiorse que com

  4 0 0

  homens

e  4  peças podia apossar-se de uma praça bem fortificada.

A conseqüência d'estas precipitadas operações de guerra, foi

cercar-se a praça por tres dias, e no fim d^elles levántar-fee

o cerco com perda de muita gente em relação ao   numero

dos sitiadores, o qüê consideramos

1

  coínò  utn  revés*

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— 259 -

Os dous generaes, , brasi le iro e oriental , achavam-se á vista

de Pay sand ú no d ia 4 de Dezem bro, quando in t im aram a

Leandro Gomes, seu commandante , que se rendesse ; o par-

lamentario foi repellido a t iros de espingarda: á vista d'isto

resolveram atacar a praça no dia 6.

Sobre estes acontecimentos, que se passaram entre os dous

chefes a nte s da em preza de P ay sa n d ú , eis aq ui o que diz o

conselheiro Pa ran ho s, na sua defeza a pag inas 180.

« A cei tando o en cargo de m inistro do Brasi l no R io da

Prata , manifestei ao nobre ex-ministro dos negócios estran

geiros qu e, não receiava conflicto algu m com o nosso a lm i

ran te , porq ue conhecia o seu caracter e éramos amigos par

t iculares. Portanto, da minha parte não podia haver, e não

ho uv e, se não m uita deferencia para com o S r . V isconde de

T am an da ré . Esta deferencia , porém , não podia i r a té ao ponto

de ren un ciar eu ao cum prim ento de m eus deveres , ou de

hu m ilha r-m e . R espe ite i a l inha que dem arcava as a t t ribuições

do ministro e as .do almirante .

« El le , porém , segundo mani fes tou-me em um a de nossas

conversações, desde 1843 ou 1845 crê que um general em

chefe, "desde que com eçam as operações de gu erra , é o únic o

com peten te para decidir da opp ortunid ade e condições da paz ;

qu e o diplom ata d esde então só pôde inter vir como co ns e

lheiro. Desde o si t io de Paysandú (estas expl icações são ne

cessárias, porq ue algun s dos d ocu m ento s l idos fazem refe

rencia a um desaccordo entre o a lmirante e o ministro) eu

percebi , ou antes receei a lguma desintel igência entre os dous

principaes agentes do Brasi l . Este receio nasceu-m e de algu m as

car tas qu e t roquei com o S r . V isconde de T am and aré , an tes

de nos avistar-mos em Bu en os -A yre s; e , com o o confl ic to,

qu e eu pr evia nã o podia deixar de ser nocivo á caus a de

que ambos nos achávamos encarregados, sempre coherente em

m in ha f ranqueza e lea ldade , apresse i -me a com m unicar ao

governo imper ia l as minhas apprehensões . Aconteceu, porém,

q u e ,  vol tando S . Ex . de Paysandú, aquel las impressões des

vaneceram-se, julgando eu ter encontrado (e creio que effec-t i v a me n t e e n c o n t r e i ) n o Sr . V i sc o n d e d e T a ma n d a r é o me u

antigo a m igo . N a prim eira oceasião qu e se m e offereceu, es cre

vendo de Fra y-B ento s á u m a hora da no i te , depois de te r

um a conferênc ia com o genera l Flores , co m m un iqu ei ao no bre

ex-m inistro dos negócios estrangeiros aq ue l le , para m im , feliz

suecesso, declara ndo a S . Ex. qu e m inh as relações com o

S r . a lm iran te , qu er p art icu lares , que r officiaes, estavam n o

m e l h o r p é .  txtgá

« fV estas disposições de an im o p erm an ec i . Desde então

fiquei

  tão longe d e pres um ir um confl ic to de com petên cia

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— 260 —

c o m o no ss o a l m i r a nt e , q u e , c o m m u n i o a n d o - m e e l l e , e m d i a s

de F evere iro , a resposta qu e dera ao m inis t ro de I tá l ia , o

S r .

  B a r b o la n i , q u a n d o e s t e p e d io a s u s p e n s ã o d e h o s t i l id a d e s

e m M o n t e v i d é o , e u l h e * m a n i f e s t e i q u e s u a r e sp o s ta m e p a

r e cia m u i t o a c e rt a d a, n ã o p e n s a n d o q u e n e s s a r es p o s t a e s t i

v e s s e t a ci t a m e n t e c o m p r e h e n d id a a s u a a n t ig a id é a d e s e r

e l le o c o m p e t e n t e p a ra d e c id ir d a n o s s a q u e s t ã o , n o s t e r m o s

e m q u e e l la e n t ã o s e a c h a v a : s ó d e p o i s , q u a n d o a d v e r t id o

por e l le na v i l la da U n iã o , é qu e v i q ue S . Ex. hav ia d i to

a o S r . B a r b o la n i q u e m e c h a m a r ia s ó p a r a o u v ir o m e u c o n

se lho .

« N a oceas ião e m q ue eu tratava co m o gen era l F lores e

o S r . He r re r a y O b e s , q u a n d o c o n v o q u e i o s * n o s s o s g e n e r a es

p a ra a c o n s e lh a r - m e c o m e l l e s , e m a n i f e s t a r - lh e s o s t e r m o s

e m qu e se achav a a neg oc ia ção já enc etad a , fo i qu e o Sr .

V i s c o n d e d e T a m a n d a r é d e c l a r o u - m e q u e n ã o m e j u l g a v a c o m

p e t e n t e p ar a e s s a n e g o c ia ç ã o ; n a s u a o p in iã o e l l e e r a o c o m

p e t e n t e . D i s c u t im o s ; e u r e f e r i- m e á s in s t r u c ç õ e s q u e r e c e b i d o

g o v e r n o im p e r ia l , e d e q u e e s t e r e m e t t e u c ó p ia a o S r . a lm i

r a n t e : á s c o m m u n ic a ç õ e s e m q u e o n o b r e e x -n i ia & s tr o d o s

n e g ó c i o s e s tr a n g e ir o s , s e g u n d o d e c l a r o u - m e . e m m a i s d e u m

d e s p a c h o , f e z s e n t i r a o m e s m o S r . a lm ir a n t e q u e a d i r e c ç ã o

pol í t ica da guerra me  com petia exclusivamen te; e, poT fira,

a p p e l l e i p a r a o s m e u s p le n o s p o d e r e s .

« D esd e q ue a l leg ue i es tar ha bi l i tad o co m po de res firmados

p o r S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r , o S r . V i s c o n d e d e T a m a n

d a ré d e s is t io d a s u a r e c la m a ç ã o , d e c la r o u q u e j á s e n ã o q u e i

x a v a d e m i m , m a s s i m d o g o v e r n o i m p e r i a l ; t e v e a t é a

d e l i ca d e s a d e d i s p e n s a r a e x h ib iç ã o d e m in h a c a r t a d e p l e n o s

p o d e r e s . O in c id e n t e t e r m in o u , e p o r n ó s a m b o s f o i l o g o

c o m m u n ic a d o a o g o v e r n o im p e r ia l , p a ra q u e p r o v id e a ô à a s s e

quanto ao futuro .

« P e n s a v a e u q u e o n o s s o b r a v o a lm ir a n t e n ã o t in h a r a zã o

a l g u m a n a s s u a s e x i g ê n c i a s . F e l i z m e n t e , p o r é m , o g o v e r n o

i m p e r i a l n ã o a l l e g o u e s s a i n c o m p e t ê n c i a , n ã o

  j

 u l g o u q u e

h o u v e s s e d a m in h a p a r t e u s u r p a ç ã o d e a t t r ib u iç õ e s p e r t e n c e n

t e s a o a lm ir a n t e . E j u i z e s m u i t o i l lu s t r a d o s n^ esta c a s a t a m

b é m e s t ã o d e a c co r d o c o m m i g o e m r e c o n h e c e r q u e , t r a t a n

d o - s e d e u m a c to e s s e n c i a l m e n t e p o l i t i c o , n ã o d e u m a

c o n v e n ç ã o m i l i t a r , m a s d e u m a c o n v e n ç ã o e m q u e e r a

n e c e s s á r io t e r e m v i s t a v a r ia s e im p o r t a n t e s c o n s id e r a ç õ e s

p o l í t i c a s , o n e g o c ia d o r c o m p e t e n t e e r a o m in i s t r o e n ã o o

g e n e r a l e m c h e t e . »

Vo l t e m o s a g or a a n o s s a a t t e n ç ã o p a r a a p r a ç a d e P a y

sandú.

D o s n a v i o s d e g u e r r a b r a s il e ir o s d e s e m b a r c a r a m 4 0 0 h o

m e n s ,

  d o s q u a e s 2 0 0 e r a m s o ld a d o s d o b a t a lh ã o d e in -

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 261

  —

Jantaria/,

  qu e

  e s t a v a m

  no

  A m a z o n a s .

  Flores

  t i n h a

  1,500, do s

q u a e s

  sô 600

  e r a m

  de

  i n f a n t a r i a ,

  s e m

  a r t i l h a r i a ; a t a c a r a m

a praga  noa  d i a s  6, 7 e 8 de  D e z e m b r o  de 186 4.  S e i s n a v i o s

d e g u e r r a ,  q u e  n ' a q u e l l e s d i a s ,  de 6 a 8 de " D e z e m b r o , e s t i

v e r a m

  e m

  P a y s a n d ú , c u j a s g u a r n í ç õ e s p o u c o e x c e d i a m

  a

700

  h o m e n s ,

  n ão

  p o d i a m d e s e m b a r c ar

  400,

  c o m o

  o

  fizeram,

porque f icaram  s e m  g e n t e s u f f i c i e n t e p ar a q u a l q u e r e v e n

t u a l i d a d e

  ; m as

  t u d o a s s i m

  fo i

  o r d e n a d o ,

S e L e a n d r o G o m e s , c o m m a n d a n t e d ' a q u e l la p ra ç a , f o s se

b o m g e n e r a l , p o d i a  ter  i m p e d i d o  o  d e s e m b a r q u e  da  n o s s a

p e q u e n a f o r ç a n a v a l ,

  o u

  p e l o m e n o s d i f f i c u l t a r - l h e s

  a

  m a r

c h a , c o n h e c e n d o

  a

  p o u c a g e n t e d e s e m b a r c a d a

  e os

  p o u c o s

m e i o s '  d é  a t a q u e  de que  d i s p u n h a m o s  e m  terra  ; s e  t iv e s s e

t i d o

  a

  d e l i b e r a ç ã o

  d e

  t e n t a r

  u m

  m o v i m e n t o f o r a

  da

  p r a ç a

d u r a n t e

  a

  n o i t e

  na

  o c e a s i ã o

  que lhe

  p a r e c e s s e p r ó p r i a , t i n h a

b a t i d o

  a

  f o r ç a b r a s i l e i r a , l a n ç a n d o - a

  no r io;

  d e p o i s d i r i g i r - s e

p a r a  a que  c o m m a n d a v a  o  g e n e r a l  D .  V e n a n c i o F l o r e s ,  e

b a t e i - a s e p a r a d a m e n t e ,

  s e m u m a

  p o d e r s o e c o r r e r

  a

  o u t r a ,

  que

fic ar am e m g r a n d e d i s t a n c ia .

  D o

  l a d o

  dos

  a t a c a n t e s

  não hon-

v e c a l c u l o ,  não-  h o u v e p r u d ê n c i a  ; do  l a d o  dos  s i t i a d o s  não

h o u v e d e l i b e r a ç ã o .

L e a n d r o G o m e s p ô d e d e f e n d e r - s e

  por

  a l g u m t e m p o ,

  e m

q u a n t o t e v e d o u s o f f i c i a e s

  que

  s o u b e r a m d i r i g i r

  a

  d e f e z a ;

  o

q u e c ò r f c o r r e u p a r a  a  d i f i c u l d a d e  que  t i v e r a m  o s  a t a c a n t e s

e m t o m a r

  a

  p r a ç a .

N o " p rim e ir o

  d ia

  d u r o u

  o

  f o g o

  das 7

  h o r a s

  da

  m a n h ã

  até

á s  3 da  t a r d e . N ' e s t e a t a q u e f o r a m  os  B r a s i l e i r o s  os  h e r ó e s

d o

  d i a ;

  d e p o i s

  de

  h a v e r e m t o m a d o

  á

  b a i o n e t a

  os

  p r i m e i r o s

c a n t õ e s , c h e g a r a m

  até ás

  u l t i f o a s t r i n c h e i r a s , o n d e ' p e l o

  seu

p e q u e n o n u m e r o

  n ã o

  p u d e r a m e n t r a r : n ' e st e

  dia foi

  f e r id o

o c a p i t ã o G u i m a r ã e s P e i x o t o ,  q u e  c o m m a n d a v a  o  d e s t a c a

m e n t o

  de 200

  h o m e n s

  do 1.°

  b a t a l h ã o

  d e

  i n f a n t a r i a

  do

  e x e r

c i t o .

C o n t i n u o u  o  a t a q u e  n o s  d i a s  7 e 8,  s e n d o  ao  m e s m o t e m

p o b o m b a r d e a d a

  a

  p r a ç a p e l o s n a v i o s

  de

  g u e r r a b r a s i l e i r o s ,

Belmonte, Pdrnahyba

  e

  Araguay,

  q u e

  l a n ç a r a m m u i t a s b o m b a s

d e n t r o  da  p r a ç a .

4 5

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1

  O a t a q u e s u s p e n d e u - s e n o d i a 9 p or , i n t e r v e n ç ã o d o s c o m

m a n d a n t e s d o s n a v i o s i n g l e z , f r a n ç e z e h e s p a n h p l , q u e s o u y

c i ta r a m d o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s u m a r m i s t í c i o p a r a

d a r l u g a r á s a h i d a d a s f a m í l i a s , q u e a i n d a s e c o n s e r v a v a m

n a p r a ç a ; m a i s d e d u a s m i l p e s s o a s p a s s a r a m p a r a a s , i l h a s

d o U r u g u a y , e n ' e s s a o c e a s i ã o 5 0 s o l d a d o s f u g i r a m p a r a o g e

n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s . A p e r d a d o s B r a s i l e i r o s u ^ es te s t r e s

d i a s f o i d e 1 2 m o r t o s e 4 0 f e r i d o s . A t r o p a d o g e n e r a l D .

V e n a n c i o F l o r e s t e v e 6 o f f ic i a e s e 3 6 s o l d a d o s m o r t o s ; f e ri d o s,

1 0 o f f i c i a e s e 4 0 s o l d a d o s ; d e n t r o d a p r a ç a c o n s t o u t e r e m

f ic a d o m a i s d e 1 0 0 h o m e n s f o r a d e c o m b a t e .

P a y s a n d ú e r a e n t ã o  a  p r a ç a m a i s f o r ti f ic a d a d o E s t a d o

O r i e n t a l ; a l li t i n h a m r e u n i d o o m a t e r i a l n e c e s s á r i o p a r a u m a

r e s i s t ê n c i a d e m o r a d a , m u i t a s m u n i ç õ e s e v i v e r e s .

N o s tr e s p r i m e i r o s d i a s d o c e r c o , á 6 , 7 e 8 d e D e z e m b r o ,

a f o r ç a b r a s i le i r a a b a n d o n o u a s p o s i ç õ e s d u r a n t e   a  n o i t e , e

v e i o a c a m p a r n o p o r t o p a r a e s t a r p r o m p t a a e m b a r c a r , s e

f o s s e a t a c a d a n ' a q u e l l e l u g a r ;  a  d o g e n e r a l D . V e n a n c i o

F l o r e s t a m b é m s e r e ti r o u d e n o i t e p a r a o u t r a p o s i ç ã o m a i s

d e f e n s á v e l ; v o l t a v a m u n s e o u t r o s d e m a n h ã

  a

  o c c u p a r o

l u g a r d o d i a . a n t e c e d e n t e . (* )

E s t e s m o v i m e n t o s m o s t r a v a m q u e o s d o u s c h e f e s c o n h e

c e r a m q u ã o d i m i n u t a s e r a m a s f o r ça s p a r a t o m a r  a  praça , o

q u e n ã o c o n s e g u i r a m e m q u a n t o n ã o c h e g o u o m a r e c h a l J o ã o

P r o p i c i o M e n n a B a r re to c o m

  a

  d i v i sã o q u e c o m m a n d a v a .

C o n s t o u a o s c h e f e s s i t i a d o r e s q u e o g e n e r a l o r i e n t a l S á a ,

t e n d o s a b id o d e M o n t e v i d é o n o s p r i m e i r o s d i a s d e D e z e m b r o ,

c o m 3 , 0 0 0 h o m e n s d a s t re s a r m a s , m a r c h a v a a f a z er l e v a n t a r

o s i t i o d e P a y s a n d ú ; s e i s t o s e t i v e s s e r e a l i s a d o , o s s i t i a r

d o r e s t e r i a m a b a n d o n a d o o s e u p r o je c to a n t e s d e s e a p r o

x i m a r a q u e l l a f o r ç a . N o c a s o d e d u v i d a , o c h e f e 4 a f or ç a

n a v a l e m b a r c o u a s u a a r t i l h a r i a e t o d o o m a t e r i a l q u e t i n h a

e m te r r a ; e n t r e g o u a o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s 2 # 0

5

h o m e n s , e r e ti r ou - rs e p a r a a b o r d o d o s n a v i o s . O g e n e r a l

f ) Foi um acontecimento que nunca se vio em campanha algum a, e que

Jica assignalâdo na historia de sta gue rra; cerca r-se uma praça de  dia

i

  e abfti-

oonar-se o cerco dó noite*

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D *

  Ve n a n c io F lo r e s l e v a n t o u o s i t io n o d ia 2 0 d e D e z e m b r o ,

em com pan hia do genera l bras ile iro N et to (Antônio d e Souza) ,

o qual do us d ias an tes t inha chegado com 1 ,000 h om en s d e

caval lar ia , m al armad os e pe ior m un ic iad os , e , por ta nt o ,

in út e is para o cerco . Com o o genera l Sáa vo l tou para M o n

tev idéo , o genera l D . Venancio Flores fo i res tabe lecer o

c e r c o ;

  o v i c e - a lm ir a n t e b r a si le i ro d e s e m b a r c o u n o v a m e n t e

co m artilharia e a ge nt e qu e a ind a pôd e tirar dos navios,'

que f icaram com poucas praças .

Sendo a art i lhar ia naval de grande a lcance , dev iam as

peç as ser co l locadas em pos ição qu e , destru indo as fort if i-

ca çõ es , nã o f icassem os art i lheiros expostos as balas inim iga s

e m c u r t a d i s t a n c i a ; fo i j u s t a m e n t e o q u e a c o n t e c e u . D iz o

pr im eiro ten en te d 'armada F ranc isco José de F re i tas , qu e a

art i lhar ia de bordo fo i co l loc ar-se na m es m a d is tanc ia da

art i lhar ia de cam pan ha do exerc i to  ; á  vista da dirTerença do

s eu cal ibre, d evi a a art i lharia naval f icar m ais  á  retaguarda,

para empr egar m elho r os seus project ís ; v io -se então q ue as

b a la s in i m ig a s v in h a m m a t a r n o s s o s a r t ilh e ir o s . A h i m o r r e u

o 1 .° ten en te H en riq ue Jo sé M art in s , v ic t im a d 'es ta fal ta

de não se ca lcu lar a d is tanc ia segu ndo os ca libres das p eç as :

uma bala de 18 acertou-lhe na cabeça.

MARCHA DO  EXERCITO PARA 0 ÍSTADO ORIENTAL.

E m qu an to o s dou s chefes , o v ice -a lm iran te bras ileiro e o

g e n e r a l D . V e n a n c io F lo r e s , s e o c c u p a v a m c o m o c e r c o d e

P a y s a n d ú , v a m o s a c o m p a n h a r o s m o v i m e n t o s d a d i v is ã o d o

m a r e c h a l J o ã o P r o p ic io M e n n a B a r r e t o , d e s d e o a c a m p a m e n t o

e m q u e e s t a v a n o P ir a h y Gr a n d e , a t é t e r m in a r a c a m p a n h a

d d E s t a d o O r ie n t a l.

Já  s e v io e m o u t r o lu g a r q u a l e r a o e s t a d o d e d e s a r m a

m e n t o d a p r o v i n c i a . d o R i o G r a n d e e m 1 8 6 4 .

N o P ir a h y Gr a n d e r e u n ir a m - s e t o d o s o s c o r p o s q u e d e v ia m

f or m a r a d i v i s ã o q u e s o b o c o m m a n d o d o m a r e c h a l M e n n a

Barreto entrar ia no Estado Orienta l .

H a v ia c in c o b a t a lh õ e s d e in f a n t a r ia , q u a t r o r e g im e n t o s d e

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— 264 —

caval lar ia e ura de art i lhar ia montada; todos es tes corpos de

l inh a , excepto u m bata lhão , t inha m pouc a força , o q u e já

fo i m en cio na do ; não se t in ha tratado de com pletar os corpo s

com antecedência , sobre tudo os de in fantar ia que é a base

dos exérc itos. O gov ern o m an do u doz e peç as de bronze de

ca l ibres se i s e do ze , s endo es tas ra iad as ; c om o os art i lhe iros

não con he c ia m es ta art ilhar ia , o gene ra l n om eo u ao capi tão

Sampaio, of f ic ial d'esta arma, para instructor.

P e l o e s ta d o d e g u e r r a e m q u e s e a c h a v a o I m p é r i o c o m

a R epu bl ica O rienta l , t end o os do us che fes , bras i l e i ro e

or ienta l , pr inc ip iado as hos t i l idad es con tra o go ve rn o de M o n

t e v i d é o , r e c e b e u o g e n e r a l M e n n a B a r r e to i n s t r u c ç õ e s p a r a

organisar com pressa aquel la d iv i são e marchar para o

Es tado Orienta l ; não houve t empo para os art i lhe iros se 'exer

ci tarem co m a art i lharia raiada, se nd o m ui to m ais di f fic il

aprender- se o exerc ic io de art i lhar ia do que o de in fantar ia;

o gen era l man dou fazer exerc ic io u m dia , cada peça d i sp aro u

quatro t i ros . Com es te exer c ic io ju l go u os art i lhe iros ap tos

para entrar em campanha; ordenou a marcha para o d ia 1

de D ezem bro de 1864 . Cada peça l e vo u 70 t iros , de ix and o n o

a c a m p a m e n t o d o P i r a h y a s c a rr e ta s c o m m u n i ç õ e s , q u e d e v i a m

a c o m p a n h a r a d i v i s ã o ; o g e n e r a l d i s s e q u e c o m p o u c a b a g a

gem marchava mais depressa , mas não ref l ec t io se os 70 t i ros

pod iam bastar , porque e l l e não podia ca lcu lar a du raç ão

da ca m pa nh a; só no caso de não querer , fazer us o da art i"

lhar ia é que podia t er f e i to aquel l e ca lcu lo . Por es te modo

princ ip iou a march a a 1 ." d iv i são qu e fo i fazer a ca m pa nh a

do E s tado Orienta l. O gen era l d iv id io a força e m d ua s br i

gada s de in fantar ia , e u m a de cava l lar ia . Á br igada de ca va l

l a r ia fo i c o m m a n d a d a p e l o b r i g ad e i r o M a n o e l L u i z O s ó r i o ;

a i n fa n t ar ia f oi c o m m a n d a d a p e l o b r i g a d e i r o J o s é L u i z M é n n a

B a r r e t o ; a 1 / b r i g a d a c o m o s b a t a l h õ e s 4 , 6 e 1 2 , c o m m a n

d ad a p e l o c o r o ne l A n t ô n i o d e S a m p a i o ; a l « c o m o s b a t a l h õ e s

3 e 13 , pe lo coron el Carlos R es in . A art i lhar ia sob o c o m

m a n d o d o t e n e n t e - c o r o n e l M a l l e t . A c a v a l la r i a d a g u a r d a

nacional marchou em máo es tado , a cavalhada era ord inár ia

e b a r m a m e n t o p é s s i m o ; o s o l d a d o q u e l e v o u c a r a b i n a n a o

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t inha outra ar m a; o qu e t inha espada ou lança es tava no

m es m o ca so , e ass im foram to d os ; accrescente-se a es te m áo

e irregular armamento a pouca instrucção dos art i lheiros no

manejo das novas peças , poucas munições; e ve ja-se se era

pos sivel con tar-se co m *tal força para em pre hen der -se u m a

cam pa nha contra o E stado Orienta l , qu e n*esse tem po es tav a

m elhor arm ado do q ue o Bras il . A es ta pequena e m al

arm ada d iv isão deu -se o nom e de exerc i to do S ul .

N as c ircum stanc ias em que es tava aqu el la d iv isão , ho uv e

u m g e n e r a l q u e s e p r e st o u a t o m a r o c o m m a n d o , s e m p e n s a r

que ia com pro m etter o seu c redito , expor aq uella forÇa a

soffrer um revez atravessando o Estado O ri en ta l; logo se ver á

que houve esse per igo .

E m m a r c h a r e c e b e u o m a r e c h a l M e n n a B a r re to p a r t i c i

pação do Barão de Tamandaré , na qual lhe d iz ia que apres

sasse a m archa qu anto pud esse , porque tentand o toma r a

p r a ça d e P a y s a n d ú d e c o m b in a ç ã o c o m o g e n e r a l F lo r e s ,

não o puderam conseguir . Com este av iso fez a d iv isão

m archas das 6 hora s da ma nh ã até ás 6 horas da tarde e m

alg un s d ias , m as cofh grande d i f icu lda de , porqu e a m aior

parte da cav alh ad a consist ia em pòtr os, pe la falta de c av allo s

qu e e s t ivessem em estado de fazer a cam panj ia do U ru gu ay .

A s orden s que deu o gov ern o imp er ia l para es ta cam pa nh a,

foram m ui to dem oradas para se poder reunir no R io Grande

u m exerc i to qu e se emp regasse n as represá l ias ordenadas e m

data de 21 de J u l ho de 18 64 ; do us bata lhõe s de in fantar ia

qu e emba rcaram n'es ta corte (o 2 . ° a 25 de No ve m br o com

400 praças , e o 10 . ° a 15 de D ezem bro co m 450) não c h e

garam á fronte ira do R io G rande a te m po de se encorporarem

á d iv isão do m arec hal M en na Barreto , u m ficou e m  Bagé,

e o outro em A leg re te ; n ão serv iram para defender a c idad e

d e J a g u a r ã o d a in v a s ã o d e M u n h o z a 2 7 d e J a n e ir o d e 1 8 6 5 .

ATAQUE Á PRAÇA DE PAYSANDÚ NO DIA 31 DE DEZEMBRO DE 186 4,

1 £ 2 DE JANEIRO DE 186 5, COMMANDANDO O MARECHAL

JOÃO PROPICIO MENNA BARRETO.

C o n s e g u io o m a r e c h a l M e n n a B a r r e to , c o m a s u a d i m i -

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— 266 —

nu ta e mal armada div i são* acam par á v i s ta de Pa ysa nd ú no

dia 29 de Dezembro de 1864, ás 7 horas da tarde.

E m m ar ch a p a ra P a y s a n d ú a c o n t e c e u o s e g u i n t e :

N o dia 27 ás 6 horas da tarde tev e not ic ia o brigad eiro

Manoe l Luiz Ozor io que o genera l or ienta l Sáa t inha passado

com algu m a força para o norte d o R io N eg ro ; destacou u m

e s q u ad r ã o d e c a v a ll a r ia d o R i o G r a n d e d e 4 0 h o m e n s c o m

mandado por um capitão , para saber se era verdade e obser

v ar o s m o v i m e n t o s d o i n i m i g o , q u e ti n h a s a h i d o d e M o n t e v i d é o

co m 3,000 h om en s das tres arm as e 4 bo cas de fogo para

soccorrer P ay san dú . À 's 10 horas da no i te d o m es m o dia

receb eu outra par t ic ipação , q ue o d i to genera l Sáa t in ha

p a s s a d o o u t ra fo rç a e m u m p o n t o d o R i o N e g r o m a i s a c i m a ;

m a n d o u l o g o o u t r o e s q u a d r ão d e c a v a ll a ri a , t a m b é m c o m m a n

da do por capitã o , para ir ver if icar on de es tav a o in im ig o .

O genera l or ienta l Sáa , ch ego u a m en os de tres l égu as do

a c a m p a m e n t o d a b r i ga d a d e c a v a l l a r ia d o b r i g a d e i r o M a n o e l

Lu iz O zorio , e pou co fa ltou para o sur pre hen de r , co m o f im

de a fazer retrogradar e m eter a lg u m a força na p ra ça ; m a s

o genera l S áa ju l gou qu e a d iv i são bras i leira q u e se d ir ig ia

a atacar a praça de P ay sa n dú era m ui to m aior , e rece iou

a p p r o x i m a r - s e m a i s , e . n a m e s m a n o i t e d e 27 p a s s o u o R i o

Negro para o sul .

I s t o n ã o e m b a r a ç o u q u e a d i v i s ã o d o m a r e c h a l M e n n a

Barreto seguisse a su a m arch a n o dia seg ui nt e de ma nh ã , e

c h e g a s s e a P a y s a n d ú n o d i a 2 9 á n o i t e , c o m o d i s s e m o s .

N o d i a 3 0 f o i o g e n e r a l c o m o t e n e n t e - c o r o n e l M a l l e t e x a

minar o terreno nas proximidades da praça, e n'essa noite fo i

o d i to tenente -corone l a sses tar a ar t i lhar ia sobre uma e levação ,

a que n

?

 a q u e l l e p a i z c h a m a m c o x i l h a ; e s t a c o l l o c a ç ã o s ó p ô d e

ser fe i ta de noite , porque de dia a art i lharia da praça, de

grande a lcance , o ter ia embaraçado. Na frente da art i lharia;

em dis tanc ia de 50 braças , mandou o genera l e s tender duas

com pan hias do 4 . ° bata lhão de infan tar ia , para proteger a

a r t i l h a r i a c o n t r a a l g u m a s o r t i d a d o i n i m i g o d u r a n t e a n o i t e ;

e na re taguarda , em dis tan c ia , ficou o 4 . * bata lhã o tam bé m

de protecção; na frente das duas companhias do 4 . ° bata lhão

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havia outra ooxilha, que as livrava das balas inimigas, porque

o terreno entre as duas coxilhas era m ais b ai xo : os outros

quatro batalhões estavam mais longe, formando duas brigadas.

Quando na manha do dia 31 principiou o combate, o ge

neral não mandou retirar as duas companhias que estavam

em linha na frente da artilharia, ficaram arriscadas debaixo

dó fogo das peça s, e de nada servio a sua contin uaçã o n'aq uelle

lugar; foi um descuido que causou prejuízo. A falta de pra

tica dos artilheiros, não sabendo graduar as espoletas das

granadas, fez com que-  umas granadas rebentassem na reta

guarda das companhias que estiveram por algum tempo na

frente; outras passavam-lhe por cima e rebentavam adiante;

uma das granadas que rebentaram na retaguarda das compa

nhias do 4.° batalhão, queimou as pernas do tenente José

A ntô nio de Lim a Júnior, e sobre vindo -lhe a gangrena* falleceu

no dia

 -

  4 de Ja neiro a bordo do vapor

  Recife,

  que conduzia

tis feridos para Buen os-Ay res; & m esm a granada ficaram tam bém

feridos dous soldados.

Logo que aconteceu aquelle desastre, retiraram-se as duas

com pan hias da frente, da artilharia, onde de dia nã o eram

necessárias.

O pequeno alcance da nossa artilharia de campanha, não

permittia que os projéetís chegassem á praça: ftá um fogo

inútil . A' 9 horas da manhã a artilharia não tinha mais mu

nições, parou os ssus fogos; o general Menna Barreto mandou

dizer ao vicfr-almii&ute que fizesse parar o fogo dos- navios

e das baterias em terra, que elle mandava avançar a infan

taria por ter-se-lhe acabado as munições; todas as peças tinham

disparado o s 70 tiros qu e trou xeram do- Bit) Gran de.

Lo go que cesso u o fogo da esqua dra e o das baterias* o

general mandou

1

' avançar os quatro batalhões que>  formavam

duas brigadas, uma pelo lado do norte, e a õütra*  por les te;

marcharam em 'còTumna cerrada ao toque de cometa e tam

bores,

  a entrar pelas ruas da cidade, Cujas primeiras casas

estavam guarnecidas de infantaria, fazendo fogo das jauellãs

6

  das soté as; ãifidâ' qu e o ini m igo fosse em peq uen o nu m era ,

tinha a vantagem da posição, fe por toso fez grande estrago'

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na nossa tropa, que ficou exposta aos fogos dos inimigos,

que se cruzavam.

Vamos acompanhar os m ovim entos da nossa tropa que entrou

pelo lado de leste.

 brigada dos batalhões 3 e 13 com m andad a pelo coro

nel Carlos R esin , q uan do en trou em um a rua (marchava na

frente o batalhão 13 ), à primeira d escarga que recebeu do s

pontos fortificados cahiram mortos 27 solda do s .e m uit os fe

ridos,

  dos primeiros pelotões; cahio também ferido o coronel

Resin, f icando o cavallo morto; uma nuvem espeça de fumo

cobrio por algum tempo a tropa, não deixando fazer-se fogo

com ac er to; passado este es tado , vio-se o batalhão dividid o e

encostado ás casas para procurar abrigo; nao houve mais

form atura; principiou o combate nas casas, passand o de um as

para as outras até á noite, onde ficaram occupand o as p os i

ções tomadas.

N o dia seguinte, 1.° de Janeiro de 1865, con tinu ou o c om

bate por todos os lados, com perdas sensive is fora e dentro

da praça; n'este dia morreram tres officiaes supe riores, a qu em

Leandro Gomes tinha entregado a defeza da praça; ainda

assim os Orientaes con tinuaram a defender-se com va lo r; pela

tarde d'este dia já era difficil aos nossos soldados sustentar

os pontos tomados e avançar. N'estas circumstancias, mandou

o general Menna Barreto dizer ao brigadeiro Osório que no

dia seguinte, 2 de Janeiro de manhã, lhe mandasse a pé to

dos os soldados que tivessem car abin as; a cavallaria a pé era

destinada a ajudar a infantaria, por não ter reserva. A briga

da de cavallaria estava acampada á distancia de m en os de

meia légua da praça.

N o dia 2 de Janeiro de m anhã , vendo Leandro Gom es que

as tropas brasileiras ava nç ava m e estando elle sem os. seu s

principaes officiaes qu e até então é qu e tin ha m dirigido a d e

feza, en treg ou -se ás tropas brasileiras, q ue foram as qu e pr i

meiro entraram na praça. Leandro Gomes feito prisioneiro pelo

coronel Resina foi entr egu e ao coron el oriental Go yo Soarez

e por este mandado fuzilar. Os officiaes prisioneiros foram pos

tos em liberdade por inter ven ção do vice-alm iran te brasileiro,

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-  269

que. não o podia e não o devia fazer, autorisando-os a elles

irem continuar a hostihsar-nos em Montevidéo, quando fosse

sitiado pelo nosso exercito.

Este facto, filho

  de.

 excessiva

  liberalídade

  do vice-almirante

brasileiro para com os nossos Inimigos, mostrou a irregulari

dade que havia na direcção dos negócios antes de estar pre

sente o ministro brasileiro em missão especial, a quem com

petia ddcidir de todos os negócios diplomáticos, mesmo os

que tivessem relação com as operações de guerra.

O primeiro batalhão que entrou na praça de Paysandú foi

o 13; encontrou na esplanada 900 homeus com as armas

ensarilhadas; o seu armamento era de boa qualidade, e ti

nham ainda muitas munições para poderem prolongar a de

feza, e talvez rechassar as tropas brasileiras se os seus com

mandantes não tivessem morrido.

Tinham chegado a Fray-Bento, a 1.° de Janeiro, os tres

corpos que tinham sahido  d'esta  corte a 26 de Dezembro com

1,700  homens. O marechal Menna Barreto devia saber, por

participação official, que da corte tinham sahido aquelles tres

batalhões e que elle ds ia encontrar no Estado Oriental;

n'este caso podia ter demorado o ataque mais tres dias, e es

perar a juncção d'aquella força á divisão; quando a não

empregasse immediatamente contra a praça, era uma forte

reserva que tinha prompta para qualquer eventualidade.

As operações de guerra quando se emprehendem com pe

quena força, que não está em relação com o objecto que se

quer destruir ou tomar, são sempre os seus resultados duvi

dosos,

  e d'este modo devia ter pensado o marechal Menna

Barreto quando foi atacar Paysandú.

Deixaram se cinco batalhões de infanteria (dous no Rio

Grande com

  850

  praças, e tres em Fray-Bento com

  1,700),

fora da acção do combate contra Paysandú, isto é, quasi

3,000 homens que deviam ter-se reunido á divisão do mare

chal Menna Barreto; formando então esta força um corpo de

exercito melhor organisado do que aquelle que entrou no Estado

Oriental; devendo ter levado artilharia de maior calibre e em

relação a esta força, e a sua cavallaria melhor montada e armada,

46

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Este corpo

  de

  exercito

  de  7  ou  8 , 0 0 0

  homens ter ia s ido

então sufficiente para invadir

  o

  Estado

  Oriental,

  d e ix an d o

  uma

reserva proporcionada

  á sua

  força

  na

  fronteira

  do

  J a g u a r á o

para operar conforme

  as

  c i r c u m s t a n c i a s

  que

  o c c o r r e s s e m ;

to m ar M o n tev id éo , ev i tan d o -s e as s im

  o

  a t a q u e

  que se fez

contra

  a

  p raça

  de

  P a y s a n d ú .

OFFICIO   DO  MARECHAL JOÃO PRO PICIO MENNA BARRETO , E M  <|ÜE DÁ

CONTA  DO  COMBATE CONTRA  A  PRAÇA  DE  PAYSANDÚ,

« I l l m .

  e Exm.

  S r . — N o

  meu

  officio

  de 3 do

  co r ren te

  mez

t ra te i m ui to perfunctor iam ente

  do

  m em o ráv e l co m b ate t rav ad o

sobre

  os

  m u r o s

  de

  P a y s a n d ú ,

  e no

  q u a l co n q u is to u

  o

  e x e r

ci to imperia l mais

  uma vez

  i m m u r c h a v e i s l o u r o s .

«

  Não me foi

  possive l «então c olligir tod os

  os

  dados par a

formular

  do

  s an g u in o len to d ram a

  circumstanc4ado

  relatório

  ;

hoj e ,

  p o rém ,

  que

  es tão conhecidos

  os

  difíerentes successos

que precederam

  a

  v ictor ia ,

  o

  n u m e r o d ' a q u e l l e s

  que por

m o rto s

  ou

  feridos fizeram rarear

  as

  nossas fi leiras, apressô-ine

em s u p p r i r

  a

  l acu n a

  do dia 3,

  fazendo

  a V. Ex.

  m i n u c i o s o

relatór io

  dos

  preparat ivos para

  o

  c o m b a t e ,

  dos

  successos

  que

durante e l le

  se

  d eram

  e do seu

  final

  e

  g r a n di o so r e s u l t a d o .

« A n tes

  de

  co m m e m o rar ess es aco n tec im e n to s , s e ja -m e

  per-

m it t id o ,

  em

  n o m e

  do

  exerc ito, felicitar

  ao

  gove rno imp erial

p o r

  tão

  significativo feito d *a rm as: elle

  nos era

  in d i s p en s áv e l ,

p o r q u e

  a

  h o n r a n a c i o n a l ,

  os

  brios

  do

  m e s m o e x e r c it o

  o

  e x i

g i a m .

«

  No

  officio acima mencionado, disse

  eu a V. Ex que

  t i n h a

deixado

  no dia 29 do

  passado

  a

  força

  de

  caval lar ia

  sob o

c o m m a n d o

  do

  br igadeiro Manoel Luiz Ozorio légua

  e

  m e i a

distante

  de

  P a y s a n d ú ,

  e que com as

  d u as b r ig ad as

  de

  i n f a n

tar ia

  e as

  baterias

  de

  a r t i lh ar ia t in h a acam p ad o

  ás 7

  h o ras

d 'aq u e l le m es m o

  dia nas

  in im ed iaçò es

  da

  c idade.

« Depois

  de

  a c o m m o d a r

  a

  t ropa,

  foi o meu

  p r i m e i r o c u i

d ad o en ten d er -m e

  com os

  E x r h s .

  Srs.

  Barão

  de

  T a m a n d a r é

e general Flores , para cujo

  fim me

  dirigi

  com

  es te u l t im o ,

q u e

  me

  t i n h a

  ido

  encontrar , para bordo

  do

  navio a lmiran te»

A l l i ,

  e

  depois

  de

  p ro lo n g ad a co n ferên c ia , as s en to u -s e

  não só

n o

  dia do

  a taq u e , co m o tam b ém

  na

  m a n e i r a

  de o

  ex eo u tar .

« Resolv ido

  o

  p r i n c i p a l p r o b l e m a , e m p r e g u e i

  o

  resto

  do

dia

  e o

  s u b s eq u en te

  no

  reco n h ec im en to

  do

  t e r ren o p ara

  a

collocação

  da

  ar t i lhar ia , operação

  que se

  effectuou du ra nt e

  a

noi te

  do dia 30.

  Ao 'escurecer d 'es te

  dia,

  d e i x a n do c o n v e n i e n

tem en te aco m m o d ad as

  as

  b ag ag en s ,

  fiz

  a v a n ç a r

  as

  forças para

as posições prefe ridas .

«

  A's 2

  h o ras

  da

  m a d r u g a d a

  do dia 31

  e m p r e h e n d e u

  o

inimigo

  uma

  sort ida sobre

  as

  nossas bate r ias , sor t ida

  que

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devia ter por fim reco nhe cerm os as po siç õe s; cobertas,

porém, as nossas peças por uma forte linha de atiradores,

tendo além d'isso de reserva o 4.° batalhão de infantaria, os

fogos dos atiradore s fizeram ma llograr o arrojado int en to,

« S.  Ex. o S r. Barão de T am and aré me hav ia scien ti ficado

que os sitiados pretend iam en trar n'aq ue lle dia em acei

táveis neg ocia çõe s: esta cireum stancia levou-m e a ordenar

que não se rompesse o fogo até segunda ordem.

« A 's 4 horas e vinte m inu tos da m an hã partio do forte

inim igo o prime iro tiro ; foi elle o signal de com bate, qu e

logo se travou mortífero por um con tinuo e bem ap rov ei

tado canhòneio,

« A 's 9 horas man dei avançar as duas brigadas de infan

taria, .commandadas a

  2 .

a

 pelo coronel Carlos R es in, e a

  5 .

a

pelo coronel Antônio de Sampaio. Levaram ordem de abrir

passagem pelas casas, para cujo fim conduziam a conve

niente ferramenta. As poucas forças do general D. Tenancio

Flores deviam atacar pelo flanco esquerdo, entrando as nossas

pela direita e frente da po.voação.

« Derram ado o inimigo em area tão extensa, servindo-lhe

cada sotéa de bem defendido forte, era necessário co nq uis

tar-lhe palmo a palmo as posições  .guarnecidas, e tomar-lhe

as principaes, ob rigando-o a reunir-s e nas su as ultim as obras,

para sobre ellas conv ergir os fogos de a rtilha ria, e os esforços

de nossos batalhões. T al foi o m eu in ten to, q u e ' felizmen te

se reahsou pela bravura dos nossos soldados.

« A o m eio dia tinham os já tomado algu ma s posições ao

inim igo , nas quae s ma ndei assestar duas peças a L a H ittesob o com ma ndo do bravo 1.° tenen te Ernesto A ugusto da

Cunha Mattos*

« A confusão qu e se ma nifestou logo nas fileiras co n

trarias, provou o acerto d'esta providencia.

« Cahio a noite de 31 sobre os combatentes. Ordenar a re

tirada das nossas tropas seria moralisar o inimigo e dar-lhe

anho d e causa : m and ei pois que o a judante-general exp e-

isse as precisas ordens para que a todo transe fossem sus

tentadas as posições occupadas

  •

  o que feito o combate con

t inu ou nas trevas com o mesmo vigor que t inha t ido dura nte

o dia.

« A aurora do anno de

  1 8 6 5

  encontrou aind a os nossos

•bravos nas mesmas posições conquistadas na véspera com

tanto sacrificio. D ur an te o dia ou tras foram tom ada s, e a

peleja seguio-se sempre tenaz até ao dia   2  pelas 8 horas e

z O   min utos da m an ha , hora em que se entregaram  á  dis-

cripção os valentes deíéhâores da praça, victimas immoladas

pelo insolente capricho dò governo do M ontev idéo.

« Cincoenta e duas horas consecutivas batalharam os nossos

bravos; nenhum obstáculo pôde contel -os , nada res is t ioáin-

domita coragem dos nascidos na terra de Cabral Trincheiras,

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ruas,  barricadas, áreas, pontes

  e

  vallas,  não  fizeram trepida*

um

  só

  momento

  as

  phalanges

  do

  Império,

  que

  registraram

com

  as

  pontas

  das

  baionetas

  no dia 2 de

  Janeiro, mais

 uma

pagina  de  gloria  no  grande livro  da  nossa historia pátria.

Durante

  o

  combate

  4 , 0 0 0  e

  tantos projectis

  de

  artilharia

  fo

ram lançados sobre

  a

  cidade.

« Mais difficil ainda  me  teria sido este triumpho,  se não

fosse eficazm ente coadjuvado pelo Exm.

 Sr.

 Barão

  de

  Taman

daré,

  pondo

  á

  minha disposição

  não só

  boccas

  de

  fogo

  de

vários ••calibres, como também  os  officiaes  de  marinha, e todas

as praças

  de

  pret

  de que

  pôde dispor; officiaes

  e

  praças

  que

me prestaram relevantissimos serviços,

  que

  estou certo serio

devidamente aquilatados  por Sua  Magestade  o  Imperador.

«

 A V. Ex. não

  escaparão

  por

  certo

  os

  effeitos d'este com

bate,  sendo como  foi  elle  ao  começar  de uma  campanha.

Ao passo

 que as

  nossas tropas

  se

  moralisam,

  e se

  acostumam

a encarar

  o

  perigo

  sem

  temor, apossam-se

  das

  fileiras con

trarias

  o

  desanimo

  e a

  certeza

  da

  improíicuidade

  dos

  seus

esforços; assim  é que

 o

  governo  de  Montevidéo hade  vêr na

nossa primeira victoria

  o

  prognostico

  da sua

  infallivel queda,

e

  o seu

  exercito recuará sempre

  que se

  achar

  em

  frente

  dos

vencedores  de  Paysandú.

« Esta brilhante victoria tirou  ao  inimigo quasi todos  os

seus principaes chefes

  ao

  norte

  do Rio

  Negro:

  70 0

 prisio

neiros, inclusive

  9 7

  officiaes, cujos postos

 e

 nomes verá V .

 Ex.

pela relação  que  ajunto;  4 0 0  mortos  e  feridos, dous  mil

  e

tantos fuzis, sete peças  de  artilharia, grande quantidade  de

munições

  e

  outros petrechos bellicos, foram

  os

 despojos d'este

grande combate. Infelizmente custou-nos elle

  a

  perda

  de vá

rios officiaes  e  praças, cujos nomes, assim como dos  feridos,

encontrará  V. Ex. em  relações especiaes.

« Deus guarde

 a  V .

  Ex.— Quartel general

  do

  commando

  em

chefe

  do

  exercito

  do Rio

  Grande

  do Sul,

  junto

  do

  Arroio

Negro,  no  Estado Oriental,  7  de  Janeiro  de  1 8 6 5 .—  Illm.  e

Exm.  Sr.  conselheiro Henrique  de  Beaurepaire Rohan, minis

tro

  e

  secretario

 de

  estado

 dos

  negócios

  da

  guerra.—

  João

  Pro-

 $

fido

  Menna

  Barreto,

  marechal de campo. »

A divisão  do  marechal Menna Barreto teve  a  perda  se

guinte,  nos  tres dias  de  combate contra Paysandú,  3 1 de

Dezembro,

  1  e  2  de

  Janeiro: officiaes mortos

  4,

  feridos

  1 3 $

praças

  de

  pret, mortas  1 7 3 ,  feridas mais

  de  3 0 0 . Um dos

officiaes feridos falleceu depois  do  combate.

N'este officio, acima transcripto, omittimos  as  reeommenda-

ções

 que fez ao

  governo imperial

  o

  marechal Menna Barreto

dos officiaes

  da sua

  divisão, porque

  o

  julgamos desnecessário.

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«E ' notável qu an to differe este officio, que acabamos de

transcrever, do que se passou n'aqu elle assedio. Depois de se

tomar a praga é que se soube que a artilharia da divisão

tinha parado os seus fogos por não ter munições. Entendeu

o general que também não devia continuar o bombardeio da

esquadra, que foi o que produzio os estragos que houve, e,

por isso, é que devia continuar até que a infantaria pudesse

penetrar na praça sem deitar paredes abaixo; este procedi

mento não o quiz ter o general, e preferio os machados á

artilharia dos navios para abrir brechas. Foi a primeira vez

que um exercito sitiou uma praça fortificada sem levar arti

lharia de bater.

Para a praça de Paysandú ter sido cercada conforme as

regras da arte militar, devia-se ter mandado uma divisão de

sete ou oito mil homens de infantaria com a artilharia pró

pria de sitio, e o pessoal de engenheiros e sapadores, o que

tudo faltou. O ministério que d'esta corte dirigia a campanha

no Estado Oriental, sem ouvir a opinião dos generaes, os

competentes nos negócios da guerra, deixou que tudo corresse

do m odo porque temos exposto, do que resultou a perda de

m uita gente, que se podia ter po upado ; tudo se fez de modo

irregular e tumultuario. Disseram os órgãos officiaes: vence

mos e tomámos Paysandú; mas não publicaram as circums

tancias que acompanharam aquelle cerco.

Nos assédios das praças sempre se empregou a artilharia

até destruir as obras externas de defeza, abrir brechas nas

muralha s, etc. E' uma regra infallivel da sciencia m ilitar,

para reservar a infantaria para o assalto; é notável que no

ataque a Paysandú fez-se o contrario do que prescrevem as

regras da arte m ilitar, isto é, em pregar a artilharia para des

truir as fortificações que abriga o inimigo, quando o terreno

o perm itte. Não podia haver duvida de que aquella praça se

rendesse em mais ou menos tempo, logo que fosse conve

nientemente investida; devia por tanto ter-se empregado os

meios convenientes para tal fim.

O exercito não tinha artilharia para bater as m ur al ha s;

collocou-se a artilharia dos navios, de calibre

  6 8 ,

 a tiro de

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fuzil da praça; não se fez a mais pequena obra de defeza*

um parapeito ao menos para abrigar os artilheiros, porque não

havia um official engenheiro.

D*este modo foi prompta a divisão que marchou do Rio

Grande para ir tomar Paysandú, não houve quem a provesse

do mais necessário para uma campanha, que jã promettia

ser longa e muito trabalhosa.

À este respeito, e para justificar o

q u e

  fica dito acima,

léia-se agora o que disse o conselheiro José Maria da Silva

Paranhos no senado, copiado do seu primeiro discurso, a

paginas 8 da sua defeza:

« Notei, senhores, pelo que toca ás nossas disposições mi

litares, que havia alguma desintelligencia entre o general do

exercito expedicionário e o presidente da provincia de S. Pedrodo Rio Grande do Sul. O primeiro requisitava, o segundo

dizia que tinha satisfeito á requisição; mas o general não se

dava por satisfeito; e em verdade o exercito destinado ás

operações no Estado Oriental não tinha força sufficiente para

a empreza que lhe estava designada. Estava fraco na arma

de infantaria, e, devendo atacar praças, não tinha artilharia

de bater, nem mesmo o maior calibre da nossa artilharia de

campanha. O seu estado maior era deficiente, não contava

um só engenheiro. Fiz n'este sentido varias observações ao

nobre ministro da guerra de então, porque me pareceu que

o general encarregado d'essa importante commissão militar

tinha muita razão nas observações que fazia; e foi de certo

injusto accusal-o pela demora do exercito. »

A

  pagina 29, diz ainda o conselheiro Paranhos :

« Não tinhamos ainda no Estado Oriental força sufficiente

para assegurar o bom êxito do ataque á praça de Montevidéo;

o governo imperial promettia remetter novos contingentes,

mas a força que existia não era bastante. »

A   paginas  3 1 ,  continua o conselheiro Paranhos a expender

os factos que convém que fiquem declarados na historia da

guerra de que tratamos.

« O governo do Brasil, que pretendia dar uma demons

tração de força no Rio da Prata, tinha apenas, até o ataque

de Paysandú, podido apresentar n*aquelle território um exer

cito de cerca de 6,000 praças. (*) O governo de Montevidéo,

(*) 'Incluindo a cavallaria do general

  Netto,

  que foi t5o -mal armada que

não

  podia entrar em combate algum, c também não servio de nada em

Paysanâú.

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governo fraco, havia .desenvolvido mais açtividade e energia,

havia sido muito mais fértil em suas iniciativas ; por quanto

pôde resistir em M ontevidéo, resistir em Paysandú, destacar

urn

:

 corpo  de exercito para auxiliar aquella praça, obrigaüdo-nos

a suspender o sitio, o que foi um verdadeiro revez. A lém

disso pôde mandar uma expedição numerosa contra a nossa

fronteira do Jaguarão, que a foi achar desguarnecida

«

  O

  senado comprehende a impressão que estes facto?

deviam produzir. Mandamos um exercito para atacar a praça

de Paysandú, praça bem fortificada, defendida por uma guar

nição de  1 , 3 0 0  homens aguerridos, que ainda depois de ven

cidos lançavam olhares de despeito aos vencedores, tentamos

esta importante em preza com um exercito cuja força de in

fantaria não excedia de

  2 , 0 0 0

  praças, quando os mestres da

arte militar dizem, que, para atacar uma íortirjcação perma

nente, é necessária uma força que seja cinco ou dez vezes

superior á da guarnição sitiada.

« O nosso exercito não levou um engenheiro, não tinha

um engenheiro que pudesse dirigir a abertura de um fosso e

a construcção de um parapeito, em que se abrigassem os

nossos artilheiros, que ficaram inteiramente expostos, ao

alcance do tiro de fuzil, em frente das baterias de Paysandú,

onde morreu o bravo í.° tenente M artins Não levou esse

exercito na sua bagagem um a machadinha, um só .  dos ins

trumentos necessários para romper cercas, abrir portas e

escalar muralhas

 

Eis, senhores, como o gabinete de

  3 1

 de

Agosto procurava defender a dignidade do Império, eis comoelle compromettia o credito de nossas armas, sacrificava o

sangue de nossos bravos

« Tal era a nossa posição militar no Estado O riental ; o

que se pôde dizer e se deve confessar, porque o Brasil

teria apresentado outra força em M ontevidéo, se tivesse um

governo menos patriótico e menos valente do. que o gabinete

de

  3 1

  de Agosto.

« Essa era a nossa posição militar no Estado O riental.

Provamos, é certo, muita bravura, muita dedicação,* muita

moralidade em Pa ysandú ; mas tínhamos , arrostrado um a

empreza superior aos elementos de que dispunhamos; aquelle

triumpho custou-nos sangue precioso, que se podia ter evitado,

se outras fossem as disposições do governo imperial.

« E não se allegue falta de tempo, porque o governo tivera

em suas mãos não romper as hostilidades antes de estar pre

parado para ellas. A Inglaterra e à Hespanha conservaram-se

desde  1 8 4 8  até  1 8 5 0  com suas relações interrompidas sem

chegarem ao estado de guerra. O príncipe de Menchikoff

retirou-se de Gonstantinopia a   2 1  de M aio, o  ultimatum  do

conde de Nesselrode foi de

  3 1

  do jmesmo mez, e a Turquia

só declarou a guerra

  á

  Rússia em

  4

  de Outubro, não come-

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  2T6  P

çando as hostilidades senão a 13 no Danúbio, e a 2 de

Novembro em Oltenitzá. E* direito de qualquer governo, e

direito que, por via de regra, só pôde ser exercido pelo mais

forte,  aaiar o rompimento de suas hostilidades; esse adia

mento significa ou moderação, porque se queira dar tempo

ao adversário para que reílicta e venha a um accordo ami

gável, ou sobranceira, ou finalmente, necessidade de procurar

alliança e preparar os meios materiaes de entrar em acção.

Senão estávamos preparados, não devíamos romper logo em

actos de guerra.

« Nosso credito militar devia ficar muito bem firmado no

Estado Oriental, porque era nosso intento dar uma demons

tração de força, que nos deixasse alli bem respeitados, e evi

tasse futuras complicações. Tinha sobrevindo o rompimento de

nossas  relações* com a Republica do Paraguay, uma segunda

campanha ia abrir-se ás nossas armas, era preciso que do

Estado Oriental sahissemos com muita força moral. Mas o

governo imperial 'não havia preparado os elementos, e entre-'

tanto concorria para que se allucinasse a opinião publica da

corte e de todo o Império fazendo crer que nossas circum

stancias na Banda Oriental não podiam ser mais brilhantes,

que podíamos alli proceder, não já como alliados do general

Flores,

  cuja alliança foi procurada desde

  20

  de Outubro em

Santa Lúcia, mas como conquistadores, que tinham por auxi

liar aquelle general da Republica. Como toquei n'este ponto,

Sr. presidente, vou mostrar ao senado com dados seguros,

qual a força que apresentamos no Estado Oriental até 20 de

Fevereiro, e ainda dias depois.

« Invadimos o Estado Oriental e atacamos Paysandú, com

uma força de 5,711 praças de todas as classes, não fallando

na força menos regular ao mando do general Netto, e que

não excedeu de 1,500 homens, A força de infantaria era

de 1,095 praças de pret; a de artilharia de 198 praças,

incluidos os officiaes. Não tinhamos artilharia de bater pra

ças : a nossa artilharia á La Hitte era de calibre 4 e a de

Phaixans de calibre 6.

< t

 A força do nosso exercito no dia 20 de Fevereiro era

de 8,116 praças de todas as classes, comprehendidas n'este

numero 1,228 que chegaram no dia 16 d'aquelle mez, a sa

ber : do 8.° batalhão de infantaria, do batalhão dè caçadores

da Bahia, e do corpo policial da mesma provincia. As pra

ças de pret de infantaria e artilharia não excediam de 4,498,

sendo a guarnição da praça de Montevidéo de 4 a 5,000

praças .  Os jornaes davam aquella praça essa força, e uma

informação que obtive do general Flores me assegura o

mesmo.

« Eis o documento a que acabo de referir-M# t

« —Montevidéo, 29 de Março de

  1865*

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- 277 —

« Illm. e Exin. Sr. conselheiro José M aria da Silva Para nho s.

M eu presado ainigo.— R espondendo ao que V . Ex . teve a bon

dade de perguntar-mo, devo dizer a

  y

Ex. que a força q ue

havia em Montevidéo para sua defeza era de

  3 , 5 0 0

  a  4,000

homens, com

  4 0

 peças de artilharia de calibre

 4

  a

  4 6 ,

  e gran

de abundância de munições. Sou como sempre de V . Ex. mu i

sincero amigo e criado,

  Venan cio Flores.—»

« Quando esta era a verdade, como haviamos de atacar

Montevidéo, na confiança de que a sua guarnição era apenas

de   2,000  hom ens? Deviamos, em caso de tão graves conse

qüências, presuppôr o que nos fosse mais favorável, ou a

prudência a mais commum "recommendava o contrario em

uma operação que decidiria do bom ou máo êxito da guerra.

« Em   2 8  de Fevereiro, oito dias depois do  fatal  convênio,

tinhamos mais  1 , 0 1 5 praças de infantaria, pertencentes ao

corpo de guarnição do Espirito Santo, dito policial do Rio de

Janeiro, e segundo contingente do corpo de eng enh eiros.

A ssim, o total das praças de pret de infantaria e artilharia eran*aquella data de

  5 , 5 0 4 .

« Em

  4

  de Março, com a chegada do batalhão da guarda

nacional da corte, contingente do batalhão do deposito e

ainda outro corpo policiai do R io de Janeiro , ao todo

  6 3 0

praças de pret de infantaria, elevou-se a totalidade das praças

d'esta arma e da de artilharia a

  6 , 1 3 4 .

« Além d'esta força só tinham os   2 , 4 4 7  praças de pret de

cavallaria, que se achavam litteralmente a pé. Havia falta de

munições, e alguns corpos, os de voluntários, careciam ainda

de instrucçâo.

« Não tinham os, pois, força de infantaria sufficiente para

atacar, com certeza de bom êxito, uma praça bem fortificada

e guarnecida por

  3 , 5 0 0

  a

  4 , 0 0 0

  homens com

  4 0

  peças de ar

tilharia de calibre

  4

  a

  4 6 ,

 grande abundância de m unições e

coberta de extensa linha de minas. »

O que acaba de ler-se julgamos ser bastante para justificar

tudo quanto temos escripto sobre a cam panha do Estado

Oriental. O que o conselheiro Paranhos escreveu na sua de

feza, confirma os factos narrados n'esta histo ria. M ostramos

a precipitação com que se provocou esta guerra, para a qual

o Brasil não estava preparado; a falta de meios m ateriaes, o

pequeno numero de soldados com que se invad io o Estado

Oriental, e a má direcção que se deu ás operações da guer

ra, tudo concorreu para as perdas que tivemos, as quaes se

podiam ter evitado.

Os militares e os homens instruídos na arte da guerra, que

lerem esta descripçáo da campanha do Estado Oriental, po-

47

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— 278 —

dem julgar melhor do que os outros das faltas que houve,

para se conseguir o fim d'aquella guerra contra o governo

de uma pequena R epublica, cujos meios de fazer a guerra

não tinham comparação com os do Im pério; e por esta ra

zão se o governo imperial tivesse empregado, quando fosse

tempo, os seus elementos de guerra, dirigidos de outro modo

e por outro caminho mais curto, o governo de Montevidéo

tinha cabido mais depressa, não se lhe dando tempo para

pedir a alliança e a  protecção do governo do Paraguay, o qual

também nos desejava hostilisar.

Felizmente a terminação d'esta curta campanha do Estado

Oriental poupou ao Brasil a perda dos seus officiaes e sol

dados nas fortificações de M ontevidéo ; resultado satisfactorio

do convênio de

  2 0

 de Fevereiro, que o ministério de  3 1 de

Agosto não soube avaliar devidamente.

A praça de Paysandú não foi tomada conforme as regras

da arte militar, nem com os meios próprios para tal fim. A

este respeito occorre-nos  a  idéa de mostrar como se atacou e

tomou  a  praça de Badajoz na guerra peninsular, a  6  de

Abril de

  1 8 1 2 ;

  e se conhecerá

  a

  differença que houve nos

meios de acção.

Estamos certos que, os que tomaram parte no cerco de

Paysandú não se lembravam talvez do que se passou na

guerra da Península,  5 0  annos antes, para poderem imitar

a campanha d'aquella época. Ainda que não sirva de utili

dade  o  que vamos expor, servirá de recreio quando não lhes

sirva também de instrucçâo.

G U E R R A  D A  P E N Í N S U L A .

EXERCITO ALUADO  EU P O R T U G A L .

Officios do commandante em chefe Lord Wellington ao se

cretario de guerra Lord Liverpool;

« Elvas  1 3  de Março de  1 8 1 2 . —  Deixei o quartel general

de Freineda a  6 ,  e cheguei aqui a  1 1 do corrente; não ha

tropas inimigas na Extremadura, exoepto a parte do

  5

  0

  corpoque está de guarnição em Badajoz e cujo quartel general

está em Villa Franca.—   Lord WeU ingion.

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279

 —

« Campo ante Badajoz, 20 de Março de

  181$.**

 Segundo as

intenções que participei a V. S, fiz sahir o exercito dos seus

acantonainentos a 15 e 16 d'este mez, e investi Badajoz pela

margem esquerda do rio Guadiaria, a 16 com a divisão li

geira, e a l

1

  e 4.

a

  divisão de infantaria; e uma brigada da

divisão do tenente-general Hamilton, pela direita. Estas tropas

estão sob o commando do marechal Sir Guilherme Beresford,

e do tenente-general Picton. Na manhã seguinte abrimos a

trincheira, e estabelecemos uma parailela a 200 toezas da

obra exterior chamada Picurina, a qual encerra todo o an

gulo sudueste do forte. Os trabalhos tem continuado desde

então com grande actividade, apezar do máo tempo que te

mos tido desde 17.

« O inimigo fez hontem uma sortida pela porta chamada

da Trindade, sobre a direita do nosso ataque, com cerca de

2,000 homens. Foi quasi immediatamente repellido com

grande perda, sem obter vantagem alguma, pelo major ge

neral Baines, que commandava a guarda nas trincheiras. Per

demos n'esta oceasião um official de grandes esperanças, que

foi morto, o capitão Cutbbert. Não tenho ainda recebido as

relações,

  mas creio que a nossa perda desde o começo das

operações chega a 120 homens entre mortos e feridos. No mes

mo dia em que investi Badajoz, o tenente-general Graham

passou o Guadiana com a l.

a

  e 6.

a

  divisões de infantaria.—

Lord  Wettington. »

« Campo ante Badajoz, 27 de Março de 1812. — As opera

ções do cerco de Badajoz tem continuado desde que vos

escrevi a 20, não obstante o máo tempo até ao dia 25. N'esse

dia abrimos o nosso fogo com 28 peças em seis baterias; na

primeira parailela duas, as quaes eram destinadas a bater

a obra exterior chamada Picurina, e as outras quatro a en

fiar ou destruir as defensas do forte pelo lado atacado. Orde

nei ao major-general Kemp, que commandava as trincheiras

n'aquella tarde, que atacasse por assalto a Picurina, depois

de ser noite escura; este serviço foi executado da maneira

a mais judiciosa e galharda. Fez o ataque com 500 homens

da 3.

a

  divisão, formados em tres destacamentos. A commüni

cação da obra exterior com o corpo da praça, foi entrada

pela esquerda e direita, consistindo cada u.m em 200 ho

m e n s .  O destacamento do centro de 100 homens foi o pri

meiro que entrou, o qual escalou a obra no angulo saliente.

A guarnição do inimigo nesta obra exterior consistia em

250 homens com 7 peças. Um coronel, tres officiaes e 86

homens ficaram prisioneiros; e o resto ou foi morto ou afo

gado no rio Rivellas.—Lord

  Wetlington.

  »

Morto»

  e feridos no cerco de

  Badajoz

  de

  18

  até

  26

  de Março,

Mortos,

  officiaes 9; sargentos, 5 soldados 144.

1

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—  280 —

Feridos, officiaes

  34;

  sargentos,

  20;

  soldados

  532.

«Campo ante Badajoz,  3  de  Abril  de  1812. — Abrimos  o

nosso fogo  a 31  de  Março  com 26 becas  na  segunda parailela,

para fazer brecha

  em

  face

  do

  bastião

  do

  angulo sudueste;

  o

fogo  tem  continuado  com  grande effeito.  O  inimigo  fez uma

sortida

  na

  noite

  de  29

  sobre

  as

  tropas

  da

  divisão

 do

  general

Hamilton; foram iinmediatamente repellidos,

  nós não

  per

demos-ninguém.—Lord

  Wellington.y)

« Campo ante Badajoz,  7  de  Abril  de  1812.—O  meu  offi

cio  de  3  do  corrente terá informado  a V.  S.  do  estado  das

operações contra Badajoz

  até

  aquella data,

  que se

  analisaram

a  6  com a  tomada  da  praça  por  assalto. Continuou  o  fogo  a

4  e  5  contra  a  face  do  bastião chamado  da  Trindade,  e o

flanco

  do

  bastião Santa Maria;

  e a  4

  pela manhã abrimos

outra bateria  de  6  peças,  na  segunda pararella, contra  a

espalda  de  revalim  de S.  Roque,  e a  muralha  em seu  collo.

Etiectuaram-se brechas praticaveis

  nos

  bastiões acima men

cionados  na  noite  de  5;  mas eu  tinha observado  que o  ini

migo havia entrincheirado

  o

  bastião Trindade,

  e se

  faziam

os mais formidáveis preparativos para

  a

  defeza, tanto

  da

brecha n'aquelle bastião, como  no  bastião Santa Maria.  Eu

determinei demorar

  o

  ataque para

  o

  outro

  dia, e

  voltar todas

as peças  das baterias,  na  segunda parailela, sobre  a cortina  da

Trindade.;  com a  esperança  de que  effectuando-se terceira

brecha, -

 as

  tropas poderiam voltar

 as

  obras

  do

  inimigo para

  a

defeza  das  outras duas; cujo ataque além disso seria combi

nado  com as  tropas destinadas  a  atacar  a  brecha  na  cortina.

Esta brecha

  se

  effectuou

  na

  noite

  de

  6

; e

  téndo-se superado

o fogo  da  face  do  bastião  de  Santa Maria,  e do  flanco  do

bastião  da  Trindade, determinei atacar  a praça n'aquella noite.

Tinha

  eu

  conservado

  em

 reserva

  nas

 visinhanças

 d

 este campo,

a  5.

a

  divisão  sob o  commando  do  tenente-general Leith,  que

tinha deixado Castella somente pelo meiado  de  Março;  e o

fiz

  marchar para aqui aquella noite.

« Consequentemente  fiz  o  ataque  ás  10  horas  da  noite;  a

3.

a  divisão estabeleceu-se

  no

  castello

  ás  11

  horas

  da

  noite.

Em quanto isto  se  fazia,  o  major Wilson  do 48,  tomou  o

revelin

  de S.

  Roque pelo collo,

  com um

  destacameuto

  de

200

  homens

  da

  guarda

  das

  trincheiras,

  e com o-

 ajudante

  do

major Squiré,  dos  engenheiros, se estabeleceu dentro d'aque ta

obra.  As  divisões  4.

a

  e  ligeira marcharam  do  campo para  o

ataque

  ao

  longo

  da

 esquerda

  do rio

  Riv

 ellas,  e da

  inundação.

Não foram elles percebidos pelo inimigo  até que  chegaram

á estrada coberta;  e as  guardas avançadas  das  duas divisões

desceram

  sem

  difficuldade para

  os,

 fossos, protegidos pelo fogo

das partidas postadas  na  esplanada para esse  fim; e  avança

ram  ao  assalto  das  brechas, guiadas pelos seus valentes offi

ciaes,

  com a

  maior intrépidos; porém

  era tal a

  natareza

  dos

obstáculos preparados £elô inimigo  no  cimo  e por  detraz  das

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- m

 —

trin ch eir as, e tão determ inada foi a sua resistência, que as

nossas tropas se não pud eram estabelecer dentro da praça.

« M uitos valoroso s officiaes e soldados loram m orto s ou

feridos pelas explosões no cimo das brechas; outros qu e foram

depois aelles, foram obrigados a retroceder, achando impos

sível o pen etrar os obstáculos que o inimigo tinh a prep arado

par a impe dir o seu progresso. Estas tentativas foram repetidas

até ás  9  horas da noite, quando .achando-se que não eta pos

sivel obter bom successo, e que o tenente-general P icton se

tinha estabelecido no castello; ordenei que as divisões  4 .

a

 e

ligeira se retirassem para o terren o em qu e tinham formado

para o ataq ue. No entanto o major gen eral L eith t inha av an

çado com a brigada do inajor-general W alk er pela esq uerd a;

sustentada pelo regimento

  3 8

  sob o comm ando do tenen te-

coronel Nugent, e o regimento portuguez  1 5  sob o commando

do tenen te-coro nel L uiz do R ego; e t inha feito um ataque

falso sobre Pa rde leras com o

  8 . °

  de caçadores sob o com mando do major Hi l l .

  O

  m ajor-general W alk er forçou a ba r

reira na estrada de O livença, e entro u na estrada coberta,

pela esquerda do bastião de  S .  V icente , jun to ao r io Gua-

di an a. A qu i desceu elle pa ra o fosso, e escalou a face do

bastião de  S .  Vicente .  O  tenente-general Leith sustentou este

ataque com os regimentos  3 8  e  1 5  portuguez ; e estando as

nossas tropas assim estabelecidas no castello, que commanda

todas as obras da praça, e estando as divisões  4 .

a

  e ligeira

formadas ou tra vez para o ataqu e das brechas, cessou toda

a resistência; e ao romper da manhã o governador Phil ippon

que se tinha retirado para o forte de

  S .

  Christovão, se rendeu

jun to com o general V eilande, todo o estado-ma ior, e toda

a guarnição.

« Eu nã o tenh o obtido relações exactas da força da g ua r

nição nem do numero de pris ioneiros; porém o general Phi

lippon me informou de que consistia em   5 , 0 0 0  hom ens no

principio do cerco, dos quaes   1 , 2 0 0  foram mortos ou feridos

durante as operações, além dos que se perderam no assalto

da praça. Havia  5  batalhões francezes, além dos dous regi

mentos de Hesse Daunstadt , e ar t i lharia , engenharia , e tc , ed iz e m-me que ha

  4 , 0 0 0

  prisioneiros.

« E ' impossível qu e nen hu m as expressões min has possam

transm itt ir a V . S. os sentimen tos que entreten ho da ga

lhardia dos officiaes e tTopa n'esta oceasião. A lista dos mortos

e feridos mostrará que os officiaes generaes e o estado-maior

ue lhe estava annexo, os commandantes e os outros officiaes

os regimentos sé puzeram á frente dos ataques, que cada

um d'eiles dirigia; e deram o exemplo de valentia, que foi

também imitado pela sua gente. O serviço das trincheiras loi

conduzido suecessivamente pelo honrado major-general Colville,

major-general Bowes, e major-general Kenpt, debaixo da su-

pentendeecia do tenente-general Picton. Tenho t ido oceasião

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de mencionar todos es tes of f ic iaes durante o curso das ope

raçõe s, e todos elles se tem dist in gu i d o, e todos foram feridos

no a s sa l to . E s tou pa r t i c u la r m e nte obr iga do a o te ne nte - ge n e r a l

Pic ton. pela maneira em que ar ranjou o a taque do Caste l lo ,

e es tabeleceu as suas t ropas n*aqueí le impor tante ponto .

«

  0

  marechal S i r Gui lherme Beresford me a judou a con

duzir os detalhes d 'este cerco, e lhe sou muito obrigado pelooordeaiÉ auxil io qu e d 'el le recebi du ra nt e o seu progresso,

ass im com o n a ul t im a operação qu e o con clu io . O s ar ranja-

xnentos do tenente-general Lei th para o fa lso a taque de Par -

de le ra s e o do m a jor - ge ne r a l W a lk e r , d e u m a m a n e i r a q ue

lhe.  dá gra nd e credi to .

A g a l h a r d i a e co n d u c t a d o m a j o r -g e n e ra l W a l k e r q u e t a m

bém ficou ferido , e a do s officiaes e trop as deb aixo do seu

c om m a ndo, f o r a m a l ta m e nte c ons p ic uos . Os a r r a n ja m e ntos

feitos pelo m ajor-general Colvil le par a o ata qu e da 4 .

a

  d i

visão foram m ui judic iosos , e condu zio a sua ge nte ao a ta qu e

c om a m a ior ga lha r d ia . T e nh o ta m b é m de m e nc io na r o m a jor

ge ne r a l H a r ve y do s er v iç o por tugue z , c om m a nd a nd o um a

br iga da da 4 .

a

  d iv i s ã o ; e o b r igade i ro Ch a m ple m ond , c o m

m a n da nte da br iga da por tügue z a da 3 .

a

  d i v i s ã o , c o m o a l t a

m e nte d i s tinc tos . ( S e gue -s e a m e ns ã o dos c o m m a n da nte s dos

corpos.)

  —  Lord Welligton.

RELAÇÃO DOS MORTOS, FERIDOS E EXTRAVIADOS DURAN TE O CERCO DE

BADAJOZ, DESDE   16  DE MARÇO ATÉ  6  D E AB RI L .

Exercito Inglez.

Mortos . Feridos .

Ex t ra v ia d o s

60 251

0

45 178

1

0 14

0

Cabos e solda do s. 715 2,564

32

820 3,007

33

Exercito Portuguez.

Mortos .

F er id o s .

Bxtravisdoâ,

12

55

0

6 38

0

2

3

0

Cabos e sold ado s. 195

684

3 0

S o m n i a to ta l . . . .

215

780 30

S o m n i a to ta l . . . . 1,035 3,787

63

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— 28 5 ~

Arm amento e m u Bicões qu e ae acho u da praça;

Pe ça s de fortaleza e de campan ha, 165.

Espingardas com baionetas, 3,481.

Pólvora, bala, etc.

A praça de Badajoz estava gua m èc ida por 5,000 hom ens

do exercito franeèz, tinha m uita artilharia nas m ura lhas e

obras exteriores. Lord W elling ton inv estio -a com m ais de

30,000 homens e 40 peças de artilharia.

Pa ysa nd ú tinha 1,500 hom ens e 15 peças nas m uralhas,

algu m as de calibre 1 8 ; esta praça, que se dev ia considerar

forte n'aqu elle p aiz, foi inv estid a no dia 6 de D ezembro de

1864 por 900 a 1,000 ho m en s, 400 Brasileiros e 500 O rientaes,

quando o devia ser por 6,000 infantes.

Apresentamos aquelle facto histórico só para mostrar a dif-

ferença que ho uv e na força empregada contra um a e outra

praça, em relação ás guarnições que as defen diam ; em Ba

dajoz hav ia 5,000 ho m en s, foi cercada por força se is vez es

m aio r; em Pay sand ú havia 1,500, foi cercada de 6 a 8 de

D ezem bro por 1,000 hom ens , e nos dias 30 a 2 de Jane iro de

1865 por menos de 3,000.

Estes algarismos explicam tudo quanto se pôde dizer a este

respeito.

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L I V R O D É C I M O

C O N T I N U A Ç Ã O D A C A M P A N H A O R I E N T A L .

Pelo que fica escripto no livro antecedente, conhece-se per

feitamente como se fez a cam panha do Estado Oriental no fim

do anno de 1864, quaes foram as forças empregadas, o seu

material de guerra, etc. O plano adoptado pelos dous generaes

de tomar-se a V illa do Salto e a praça

  de

  Paysandú como re

presá lias-até que o governo de M ontevidéo desse as satisfações

exigidas, converteu-se em guerra, que não devia ter sido ex e

cutada do modo porque a fizeram; mas o valor dos nossos

officiaes e soldados venceu tudo.

D uas circumstancias existiam para que não se pudesse effec-

tuar o systema das'repr esálias contra o Estado O riental: a

primeira era que em Montevidéo não havia em que fazer re

presálias pelo mar, o que aco nte ceu ; a segunda era que este

meio póde-se empregar com um povo mais civiiisado, mas

nunca com governos como os que tem existido n'aquella R e

publica, com raras excepções; porque tem mostrado desco

nhecerem os direitos internaeionaes. Portanto, o único m eio

que tinha o Império para obter as reparações devidas, con

sistia em empregar a força directamente contra aquelle go

verno.

48

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Continuamos a referir o que se passou no ataque a Pay

sandú.

O correspondente de Buenos Ayres para o  Jornal do Com-

mercio  diz, a 14 de Janeiro de 18 65 , o seg uin te:

« Cahio no dia

  2

  do corrente o mais forte baluarte da ty-

rannia blanca na infeliz R epublica Oriental, diante do ataque

vigoroso e renhido das forças imperiaes reunidas ás do gene

ral F lores. Já não dom ina em P aysand ú o celebre general

Leandro Gomes, que tinha convertido aquella florescente po-

voação do Uruguay em uma praça forte; theatro em que se

julgava seguro para praticar quantas crueldades queria contra

Brasileiros e colorados. Ahi m esm o recebeu o prêm io de suas

iniqu idades, e pagou a affronta qu e havia inferido á ba n

deira brasileira.

« O ataque e tomada de Pay sand ú, bem que no s tenh a

custado muito sangue precioso,

  é

  um Üorão mais que se reunio

aos trophéos victoriosos de nossas armas, e um

  bello

  começo

de campanha no Rio da Prata.

« Nossas tropas de mar e terra rivalisaram de ardor e va

lentia, e todos que assistiram aos combates e operações glo

riosas que tiveram lugar, são unanimes em elogiai-as. As

grandes perdas que sonremos são devidas na maior parte ao

desprezo com que encaravam o perigo; ao arrojo com que

acommettiam   a  peito descoberto o inimigo prudentemente es

condido em trincheiras densas de material, protegidas ainda

por mais cautela por immensos fardos de lã de carneiro, que

se elevavam

  a

  grande altura.

cc

 Era um combate desigual, em que foi preciso tomar casa

por casa, trincheira por trincheira, e em que se fizeram pro-

digios

  de valor, que sinto não poder referir, para não men

cionar nomes e despertar ciúmes, quando todos, officiaes e

soldados, cumpriram nobremente o seu dever.

« A marinha imperial, qu e tantos serviços prestou n'esta

oceasião, e a quem cabe uma notável parte no triumpho que

hoje descrevo, está de luto com a morte do distincto official,

o l.o tenente H enrique J osé Martins, qu e, sendo imm ediato

da corveta  Nüheroy,  mostrou desejos de ir para o campo da

guerra, e o conseguio, sendo nomeado commandante interino

da canhoneira

  Parnahyba.

« Por ordem superior tinha elle levado quatro peças raia

das   d'aquella corveta, duas de 30 e duas de 12 , (*) e com ellas

montou uma formidável bateria em terra, contígua â de   32

estabelecida pelo 1.° tenente Barros, commandante do  Recife,

desde o dia 6, com a qual este official tinha feito e faria

grande  dam no  á praça.

« Podia o l.o tenente Martins tercoliocado suas pecas fów.

(*) Ha eDgaao; as  peças  de 30 eram l isas .

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ok>  alcance da  artilharia inimiga, pela superioridade do seu al

cance ;  ta »%  aliou

 to,

  qu iz tirar d ella s o m áxim o effeito util,

fazendo-as bater em brecha

  á

  curta distanoia das fortificações

contrarias .  Com o interesse e sangue-frio do co stu m e, ratifi

cava elle uma pontaria, quando uma bala de 18 lhe levou a

cabeça.

« O serviço de sua bateria nem por isso se ento rpec eu, e

continuou seu fogo destruidor sobre a praça.

  O

  exercito per

deu tamb ém alg un s officiaes valen tes e de p restimo, entre e lle s

o tenente José Antônio de Lima Júnior, que foi um heróe

no campo de batalha, do qual sahio gravemente ferido, vindo

a  fallecer a bordo do vapor  Recife,  qua ndo descia para esta

cidad e com o iilustre almirante brasileiro. Seu corpo foi se

pultado na Ilha de Martin Garcia.

« A noticia da tomada de Pay sand ú e da bravura de n os

sos soldados e marinheiros, causou aqui grande enthusiasmo.

Toda a imprensa exalta o denod o com que com batem os, e

até o

  Pueblo,

  nosso incansável inimigo, não podendo negal-o,

diz que o fizemos por ostentação.

« N ossos officiaes salvaram um sem nu m ero de prisione iros,

officiaes e soldados, e vieram entregar estes preciosos d es po

jes ao almirante e ao general brasileiro.

cc A gora é que se pôde saber com exactidão o n um ero de

praças que guàrneciam Paysandú. Quando atacámos esta ci

dade em 6 e 8 de Dezembio com   350  infantes e marinheiros

brasileiros, e com 600 infantes orientaes, tinha ella 1.274 c o m

baten tes, cobertos inteiram ente pelas fortificações exc ellen tes

que Leandro Gomes havia feito levantar.

« E ntretanto nossos soldados chegaram até u m a quadra d e

distancia da igreja, e tomaram varias posições ao in im igo , qu e

abandonaram â noite, pelo seu reduzido numero, e não con

vir dividil-os. Por ahi se deve avaliar o arrojo do capitão Pei

xoto e officiaes que o acompanharam, e do punhado de va

lentes do 1.° de fuzileiros da corte, do contingente do bata

lhão naval, e de imperiaes marinheiros.

« N os combates de 1 e 2 de Jan eiro entraram em acção

1,500 soldados brasileiros de infa ntaria, e 500 or ien tae s do

general Flores, contra mais de 1,000 homens que ainda res

tavam na praça, Os outros batalhõ es de infan taria e toda a

cavallaria conservaram-se na reserva formados. (*)

« Ora, deve ndo um a praça fortificada ser inv estid a pelo d ec u-

plo   da força que  a  defende, segu nd o a opinião de m ilitares

os

  mais distinctos da Europa, o nosso ataque apenas com o

duplo, revela a superioridade de nossa infantaria, que nao he

s ita em m archar sobre o inim igo debaixo de um den so ch u

veiro  de balas, que abre claros em suas fileiras.

a.

 SlJLí

  e n g a n o d 0

  correspondendente;

 não

 havia outros batalhões

  de

  infantaria

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— 2 8 8 —

(

( Os coronéis R esin e Boi lo deram novas provas de seu

valor e perícia. O primeiro teve quatro ferimentos leves, o

cavallo morto e o selim crivado de balas. O segu nd o tam bém

perdeu o cavallo.

« Pretendem os blanc os que o general Leandro G om es e

tres outros chefes secundários, foram fuzilados depois de to

mados prisioneiros no ardor do combate. Tenho averiguado

o que ha a este respeito, e o que julgo mais exacto é o se

guinte. Te ndo morrido no dia 31 o general Lu cas Pires, qu e

era a alm a da defeza de Pa ysa nd ú, o general Leandro Gom es

desanimou logo, e com elle todos os combatentes da praça,

que sabiam a perda que tinham soffrido.

« A resistência afrouxou se ns ive lm en te, e cada vez se tornou

m ais débil com a morte de Tristâo de A zam buja , ferim ento

do coronel Ranna, e de m ais algu ns officiaes de im por tân cia.

Na manhã do dia

  2

  mandou Leandro Gomes um parlamen-

tario aos 'tres chefes inimigos, pedindo uma suspensão de hos

tilidades por oito horas, para enterrar os mortos e cuida r do s

feridos. Impaciente pela resposta, não esperou que elle voltasse,

e mandou o prisioneiro oriental Anatazil de Saldana, que

conservava preso havia mais de um anno, para solicitar aos

referidos chefes uma resposta favorável.

a Responderam elles como era de presumir, que dentro do

prazo pedido a praça seria tomad a, e que nã o pod iam s u s

pender as hostilidades, porque este tempo podia ser aprovei

tado pelos sitiados para prolongar uma luta, que já por obs

tinada se tornava um crime da parte de um inimigo que não

tinha salvação possivel. Que para evitar erTusão de sangue,

conc ediam ainda a liberdade ao chefe e ao s officiaes da praça,

se se rendessem á discripção, e lhes garantiam a vida.

cc E m quanto isto se passava, os a ssaltantes ganh avam ter

reno,

  e uma força brasileira commandada pelo coronel Belio

e outra oriental commandada pelo coronel Goyo Soares pene

travam no próprio recinto em q ue se achava Leandro G om es ,

que é tomado prisioneiro por aqu elle chefe brasileiro.

« N'esta oceasião o chefe oriental reclamou-o em nome do

general Flores, e pondera ao general Gomes que tão bemgarantida estaria sua vida sob a bandeira imperial como sob

sua própria bandeira. A este reclamo elle nào hesita, orgu

lhoso como é, em preferir acompanhar os Orientaes, que o

conduziram a uma casa affastada e ahi o fuzilaram.

cc  O almirante brasileiro, que foi um dos prim eiros che fes

que entrou na praça, e que o procurava, qua ndo sou be *

que tinha succeâido, ficou indignado, e não oceultou a sua

reprovação a um acto que lhe repugnava.

cc  Procurou im medi atam ente o gen eral F lore s, e m an ifes

tou-lhe os sentimen tos de que se achava possuído. O chefe

da revolução, que tamb ém não queria que se man chasse a

victoria com a menor nodoa, mostrou igualmente profundo

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desgosto, e prometteu que

  castigaria

  o culpado

  da

  morte

  d e

Leandro Gomes, fosse quem fosse.

« Nào posso deixar de reconhecer que

  a

  sooiedade oriental

tem hoje de m enos um hom em fatal, um dos principa es

protagonistas do triste dram a qu e se está represe ntan do, e

que já conta in num eras victim as,

« A obstinação em render-se quando ainda no dia 31 lh e

foram propostas condições honrosas para qu alquer m ili ta r,

longe de ser uma virtude, não foi mais do que um acto de

m aldad e, um crime digno de severa punição, porque oc ea-

sionou muitas desgraças. »

Logo depois de tomada a praça foi levantad o o bloq ueio , e

o general D . Venancio F lores tomo u diversas medidas te n

dentes a restituir a tranquillidade aos habitantes

  d*

aquella

parte da Republica.

Convém para o perfeito conhecimento do modo porque foi

feita esta curta campanha

  d ò

  E stado Oriental, em qu e

tomaram parte as forças brasileiras de mar e de terra, desde

4 de Dezembro de   . 1 8 6 4  até   2 0   de Fevereiro de

  1 8 6 5 ,

  copiar

a parte que deu ao gover no o vice -alm iran te brasileiro, e

alg um as cartas de officiaes que tomaram parte no ataque e

tomada da praça de Paysandú.

E '  interessante saber-se o que aconteceu em quanto P a y

sandú esteve sitiada, com um a com missão que foi de M on

tevidéo, para curar os feridos e soccorrej^jos moribundos.

«t  No dia

  1 5

  de Dezembro de  1 8 6 4  de m anhã concordou o

general D . Venancio Flores com o vice-almirante brasileiro

para deixar entrar na praça uma commissão que tinha sahido

de Montevidéo, composta do vigário apostólico, o vigário de

S. F rancisco, Martin Perez, m ais dou s padres, quatro  iTmás

de caridade, e o presidente da jun ta de h yg ie n e pu blic a, o

D r. Vich. E sta comm issão protestou qu e só a co nd uzia o

nobre fim de curar- os enfer m os, e dar os soccorros e sp ir i-

tuaes aos m oribundos. O general D . V ena ncio F lor es, que

conhecia a sua gente, desconfiou alguma cousa.

« Marchava a procissão a seu destino , quan do no ult im o

posto avançado foram a bagag em e caix a de ins tru m en tos

examinados pelo official que alli se achava. Descobrio-se que

o Dr. Vich era um carteiro do correio disfarçado em medico ;

além de va no s e importantes officios que foram ap pr eh en -

didos,  trazia m ais de 50 cartas, que e xaltav am o valor de

Leandro Gomes pela sua heróica defesa, e o comparava aos

mais denodados homens da antigüidade.

« Como se isto nã o bastasse para desacreditar a com m iaaqp,

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reconheceu-se que una indivíduo que acompanhava o Dr, Vich

como seu assistente, era uma Francesa vestida de hom em,

com quem elle andava publicamente em Montevidéo.

« Foi excessiva a indignação que sé manifestou no acam pa

mento por esta ridícula farça*

(( O general D . V enancio Flores deu ordem immedlata

mente para que toda a commissão se embarcasse no paquete

Teixeira  em que ti D ha ido . e dirigi o algumas palavras de

censura ao padre Vera, o qual protestou achar-se innocente

em toda aquella trama. Os padres ficaram desesperados contra

o doutor que os expoz assim ao desrespeito publico. Este não

se alterou, e pareceu ficar satisfeito da sua commissão. Sendo

interrogado pelo general respondeu com aerim onia, porque o

general estava unido aos Brasileiros. Este respondeu-lhe com

energ ia, e foi interrompido por vivas acelamações, em qu e o

Brasil era simultaneamente victoriado.

« Por este facto esteve o falso Dr. preso

 4

  horas no acampamento, depois do que teve licença para reunir-se a seus com

panheiros. Este procedimento do general Flores foi muito d i

verso do que tinham os chefes do partido blan co ; que por

muito menos degolavam os seus adversários, como Tez L e

andro Gomes a um tambor da canhoneira

  Ivahy,

  que extra-

viando-se do acampamento, foi horrivelmente m artyrisado,

depois degolJado, pondo a cabeça exposta em frente á ba te

ria de marinha, com o boné para de bordo ser conhecido.

« Tendo chegado noticia ao acampamento de que o general

Sáa tinha sahido de M ontevidéo com   3 , 0 0 0  homens para

soccorrer Paysandú, e se preparava para passar o norte do

Rio Negro, o general Flores levantou o cerco d'aquella praça

no dia  20  de D ezembro, e levou com as suas tropas  3 2 0

homens de infantaria brasileira ; m ar :hou seis léguas , pô de

verificar que o general S áa não se tinha passado para o norte

do R io Negro ; porque soube que a divisão brasileira que vin ha

do R io Grande sob o mando do marechal M enna Barreto

tinha passado a fronteira a  2  de Dezembro, e para nào ficar

entre as duas forças com o rio na retaguarda, em cuja po

sição ficava perdido, voltou logo para M ontevidéo, O gene

ral Flores no dia

  22

  restabeleceu o cerco de Paysandú.

« Durante a ausência de Flores, L eandro Gom es mandou

incendiar os ranchos que as nossas tropas tinham occupado;

prendeu alguns Italianos que alli se achavam por terem ven-

aido gêneros no acampamento. N'esfca oceasião convidou para

um lunch aos com mau dantes das canhoneiras iugiem , france-

za, hespanhola e italiana, que estavam no porto. Todos acei

taram e entraram na casa d'aquelle general, que estava ador

nada com varias bandeiras. A chando-se a reunião com pleta,

o dono da casa disse a seus convivas que passassem para a

sala de jantar, que estava adornada do mesmo modo, e tin hapor tapete a bandeira brasileira. Ninguém hesitou pisar

  toVsto

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emblema sagrado de nossa nacionalidade; só  o  c o m m a n d a n t e

inglês, official de brio e de h on ra, com preh end eu o qu e

havia de ignominioso em sem elhante proced imen to. Estacou

na porta e com toda a franqueza perg unto u o qu e signifi

cava aqüillo. L eandro Gomes, que percebeu aque lla pe rgu n

ta, e mais ain da o mod o por qu e era feita, des culp ou «se

declarando que por descuido o criado a tinha collocado alli ;

então o com m anda nte abaixou -se, levan tou-a e pôl-a sobre

uma cadeira com toda a attençã o. »

vejamos as informações que deu o 1 . ° te nen te d'arm ad a

Francisco José de Freitas, sobre o que aconteceu na tom ada

d'aque lla praça ; o qu e se pub licou no  Jornal do Comm ercio

de 1 5 de Fevereiro de   1 8 6 5 .

P R IM E I RA C A RT A D O U .

0

  TENENTE D'ARMADA FRANCISCO JOSÉ DE FREITAS.

« Pays andú , 1 0 de Dezembro de

  1 8 6 4 .

« Não devo furtar-me ao desejo de na rrar -lh e o com bate

do dia 6 de D ezembro, ainda qu e d'eiie já ten ha m con hec i

mento os leitores. Foi um d'esses rasgos de intrepidez, a que

só um arrojo napoleonico se equipara.

Depois de fazer a descripção da cidade e praça de Paysandú,

c o n t i n u a :

« O dia 3 já passamos fundeados em frente a P ay sa n dú ,

onde nos encon tramos com os navio s

  Parn ahyba, Belmon te,Âraguay  e  Ivaky,  e no dia 4 pelas seis horas da tarde

desembarcara uma parte das nossas forças no arroio Sacra,

afim de acampar a oeste da cidade.

Compunha-se a força de mais de   3 0 0  h o m e n s , s e n do 2 5 0

de soldados do 1 . ° batalhão de infan taria, e fusileiros na va es ,

commaudados pelo capitão Guimarães Peixoto; de alguns ma

r inheiros guarnecendo tres peças de cam pan ha, com ma ndad as

pelo 1 .° tenente T eixeira de Freita s, e um a força de im p e

riaes marinheiros sob o meu commando, com o f im de

proteger a artilharia.

« Na noite de 5 recebemos ordem para marchar na madru

gada seguinte; e com effeito ao nascer do sol do dia 6 nos

approximavarnos da cidade pelo lado do norte, chegando ás 6

horas ao alcance do canhão inimigo. Assestada a nossa bate

ria, recebi ordem para accommetter a povoação; assim o tia,

encontrando-rae na marcha com o con tingen te do 1 . ° de fuzi

leiros.  A  arti lharia começou a atirar sobre os inim igo s, e

aos,

  marinheiros e soldados, a inda que re la t ivamente em

pequeno num ero, carregamos á baioneta sobre elles, qu e, sem

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duvida espantados por tanta audá c ia , corr iam para den t ro do

ent r inchei ram ento , a esperar -nos encober tos e defendidos . D es

cíamo s a m arche-m arche u m a colu na a b uscar a fralda do

declive onde se recqsta a cidade, e já as balas do fuzil ini

migo davam principio ao estrago, diz im an do as nossas f ile iras .

Ao approxim ar-mo-no s das pr im ei ras casas supp or tam os v ivo

fogo de fuzi lar ia, e t ivem os qu e pres encia r a m orte ins tan

tânea de a lguns camaradas e fe r imentos de out ros . Não eram

essas perdas qu e nos arrefeciam o a rd o r; e l las ao con trario

dim inuiam a d is tanc ia do in im igo, po rqu anto co m m ais força

carregávamos sobre el les .

ct  H a v i a - mo s t ra n sp os to a p r i me i r a r u a , e m u d a m o s d e t a c -

t ica , invest indo então em l inhas de a t i radore s , quan do s ignaes

evid en tes de grossa arti lh aria se fizeram sen tir E ra a nos sa arti

lharia de 68 da  Araguay, Tvahy, e  sob re todas as da  Parnahyba

e  Belmonte,  que fa ílavam ás turb as in im igas . De balde es tes

i n t e n t a v a m r e sp o n d e r a q u e l l a s b o m b a s q u e o s f u l m i n a v a m ;grand e era a distancia a qu e estavam d 'e l las, e só o gra nd e

ca l ibre e qua l idade da nossa a r t i lhar ia pod iam ven ce l -a . A inda

m ais iam os foguetes de cong rève m ort i f ical-os, perfurando~lh.es 

as paredes .

« A pezar do fogo mort i fero qu e se nos fazia, co ns eg uim os

chegar a u m a m ura lh a , d i s tante dua s qua dras da p raça . D er

ru ba r esse obstácu lo e ga n h a r o ou tro lado foi obra de po uc os

momentos; para ta l f im servi ram a lguns machados, que eu

havia levado com o re forço de imper iaes mar inhei ros que me

acom pan hav a. Era um passo m il i tar a t revido i r a lém d 'essa

m u r a l h a , q u e n o s e n c o b r ia d o i n i m i g o . E n t r e t a n t o a p e i to

descoberto conqu is tamos u m a quad ra m ais d e te r re no , a t ravez

de um chuvei ro de ba las que nos env iavam os s i t iados .

o Não posso nem devo esquecer os nomes dos companhei ros

que commigo es tavam n 'esse momento; e ram e l les : o capi tão

G u i ma r ã e s Pe i x o t o , t e n e n t e E d u a r d o E . d a Fo n se c a , a l f er es

E w e r t o n , e Pa u l o P e r e i r a , e o c a d e te H e l v é c io d e M e n e z e s ,

todos do  1.° d e fu z i le i ro s ; o s g u a r d a s - m a r i n h a s E l i e se r , Jo a

quim Lamare , Conrado e Affonso . Mais ta rde reuni ram-se a

nós o 2 .° tene nte com missar io Cast ro , e os gu ard as- m ar in ha

S a l d a n h a o Y i c to r L a m a r e , co m a l g u m a s p r a ç a s q u e h a v i a m

ficado dist rahidas com diversos t i roteios.

cc  O s inimig os que a princip io re spo nd iam só ao nosso fogo,

eram agora d is t rahidos para out ro ponto , e t iveram que sus

tentar as posições de oeste , a tacadas por 200 imperiaes ma

r inhe i ros sob o com m ando do 1.° tene nte M on tau ry , e por

500 a 600 praças de Flore s. Po r esse lado n ão m eno s d ign o

de elogio foram os nossos soldados e officiaes.

cc

  Co m qu antq o fogo fosse entã o m en os viv o, não podia

de ixar de inspi ra r -nos rece ios o pequeno numero de so ldados

qu e n os rod eav am se fossemos ata cad os por 300 ou 400 praç&s

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 295 —

« Finalmente a 29 chegou o nosso exercito composto de

6,000  homens, (*) dos quaes só 2,000 de infantaria.

« Na tarde de 30 de Dezembro desembarcaram dos navios

da esquadra oito peças de artilharia, sendo tres do systema

La-Hitte, confiadas ao 1.° tenente Abreu, tres outras Phaixans

de calibre 30, dirigidas pelo 1.* tenente Barros, e duas raiadas

de Withworth, com mandadas pela 1.° tenente Martins.

« Dispostas as peças em carretilhas, seguiram acompa

nhadas por seus commandantes, officiaes e cerca de 80 impe

riaes marinheiros, até á Boa-Vista, terreno situado ao norte

da cidade, quasi ao alcance de fusil, e posição magnífica

para descortinar os pontos mais fortes do inimigo. Chegados

a esse lugar, encontraram-se com oito peças de campanha dó

nosso exercito; e formou-se assim uma bateria de 18 peças,

sob o commando do tenente-coronel Mallet.

«   N

*essa

  mesma noite marchou do porto para a retaguarda

da bateria o brioso contingente do 1.° de infantaria, comman

dado agora pelo major José Antônio Corrêa da Câmara, que,

vindo a Paysandú em commissão, quando ainda o exercito

se achava em marcha, foi requisitado pelo almirante para di

rigir essa força em substituição do capitão que estava ferido.

Eram seus officiaes os mesmos do exercito que citei na minha

primeira carta, e os da armada 1.° tenente Xavier de Castro,

2.° tenente Ferrão, commissario de 2.

a

  classe Castro, e guar-

das-marinha Eliezer Tavares, Saldanha da Gama, Joaquim

Lamare e Conrado. Com esse batalhão também eu marchei e

entrei em acção, representando o duplo papel de major e

ajudante de ordens; mas abstendo-me sempre das manobras

inherentes ao primeiro d'estes postos, por quanto aos officiaes

do exercito competiam taes prerogativas, se nào por direito

n

?

aquella circumstancia, ao menos por homenagem á arte.

« Quando chegamos á Boa-Vista formamos na retaguarda

da bate/ia, em distancia proximamente de 400 braças, e ahi

encontramo-nos com os batalhões de infantaria, 3.°, 4.°,  6.°,

12 e 13. Fomos logo incorporados á brigada commanda*da pelo

coronel Sampaio, composta dos batalhões  6.°  e 12 e parte do

4.°.

  Além d'esta brigada havia outra commandada pelo tenente-

coronel Resin, composta dos batalhões 3.° e 13. A outra parte

"do 4.° batalhão protegia a artilharia,

«r O numero de nossos soldados reunidos aos de Flores não

faziam 3,000; o numero de inimigos era 1,000 mais ou menos.

Não se atacava por tanto, nem mesmo com a metade das

forças que recommendam as regras da ar te E o que fazer?...

Exaetamente o que se fez; expor muitas vidas, porém vencqr.

« Eram 4 horas do dia 31 ; e os inimigos que ao baixar

do sol miravam-nos acampados muito além da cidade, vêem

agora aos primeiros raios do crepúsculo da manha 3,000

*)

  Foram  4 ,500.

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baionetas tocando-lhes os peitos, uma bateria de  18  peças

ameaçando-lhes as fortificaçôes, e mais de

  6,000

  h o m e n s - f )

de cavallaria apertando-lhes o sitio e tirau-io-lhos o recurso

da fuga. Foi por certo um a bella sorpreza. Nào con taram ell es

com tanta rapidez de man obra êm um a só noite.

« Sem duvida que tremeram com essa am eaça, e teriam

certamente deposto as armas se, como a luz que moribunda

bruxoleia sem pre, a mão, de Lu cas Pir es nao disparasse o*

primeiro can hã o, e os susten tasse ainda por do us dia s. A fra

queza, essa pusilauimidade do espirito, também nos seus úl

timos momentos adquire forças para bater-se. Já não eram

as idéias que os arremeçavam á luta, era o delírio que os

conduzia ao fogo, onde extinguiram a existên cia. E assim foi,

bateram-se por amor á vida.

«. Ao primeiro tiro do baluarte *inimigo res po nd eu -se-lh e

com 18 bombas, que quasi a um tempo foram rebentar nas

immediações da praça. Começou então a destruição da cidade.  O fogo da nossa artilharia con tinu a vivo até ás 9 h o

ras,  tendo começado ás 4. N ào pude conter-me aos prim ei

ros tiros da nossa artilharia, e com o não tinham os orde m de

marchar, fui visitar a bateria e apreciar os meus collegas de

bordo que não estranhavam o elem ento , e b atiam -se c om co

ragem ao lado dos valentes officiaes do exercite.

<c Ah i estava o m odes to e brioso 1.° ten en te A br eu , qu e

com todo o sangue frio. verificava as pontarias dos seus che

fes de peça e ordenava.lhes de atirar; figurava não menos o

1.° tenente Barros, que enthusiasticamente dava vivas a cada

tiro.

  Era de notar e m uito o 1.° tenen te M artin s, essa pérola

da nossa marinha, dando sobejas provas de bravura.

« Ainda se conservam viva s na m inha m em ória as palavras

que me dirigio. «F reit as, me diz elle , con segu i m uito da

guarnição d'estas duas raiadas , nen hu m hom em se chega á

trincheira quando vem a bala inim iga . » E foi essa idé ia

precipitada que causou a morte. Os inim igo s nào tinham e s

poletas de artilharia, trabalhavam com morrão, de modo que,

quando o applicavam ás peças que estavam descobertas, a n -

nun ciavam com antecedê ncia o tiro. Ao passo qu e os offi

ciaes e guarniçòes abrigavam-se m uitas vezes ás trincheiras

que haviam feito com saccos de terra, o 1.° t en en te M artins

apresentava-se sempre a peito descoberto, junto ás suas pe

ças.

<< F oi geralm ente sen tida a m orte d'esse bra vo official, e

aquelles que de perto o con hec iam , viram expirar com el le

algumas esperanças para a regeneração da nossa marinha. Se

existisse alguns annos m ais , seria um dos m ais fortes e ste io s

da corporação; para isso sobrava-lhe inte iligen cia, app licaçà o,

energia e bravura. Com sua morte perdeu a armada um dis-

( •) H a e n g a n o : n ã o c h e g a v a m a 3 , 0 0 0 .

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tincto  official, a  sociedade um cidadão hon rado e o pa iz u m

filho prestixaoso.

« Pe las 9 horas da man hã a infantaria recebeu ordem de

accomuietter a cidade, deven do a brigada do coronel Sam

paio atacar pelo norte e d o tenente-co rone l R esin por les te .

As duas brigadas, que até então se conservavam unidas, dis

seram-se adeos cheias de fé e confiança uma na outra, e

marcharam.

•« Seg uiam na frente linh a de atiradores, que alguns passo s

distantes da bateria já nos annunciavam balas da mosquetaría

inimiga. Carregamos então a marche-marche até meio cami

nho,  ond e nos foi preciso fazer u m a peq uena parada, e perder

não pouca ge nte ; tinham os um fosso a transpor Passa m ol-o

sem grande difficuldade, pois que a sua profundidade excedia

a pouco mais de uma braça.

ct A lcan çam os as primeiras ruas m eia hora depois do

ataque, e já tinhamos vencido o

  terreno

  mais arriscado.

Agora de casa em casa, de uma Tua a outra, iamos distin

guin do m elhor as trincheiras, até que por fim app roxim a-

m o- n os d'ellas a tiro de pistola. E stávamos na primeira rua

do norte parailela á praça ; era a m esm a a q ue no dia 6

havíamos chegado por cam inho diverso. Su bim os ás sotéas

dos sobrados que por ahi encontramos, n'ellas plantamos

bandeiras brasileiras, e fazendo brecha s no s parapeitos por

ellas feriamos ao inimigo.

« Passamos os dias  31  e  1.°  debaixo de fogo seg uid o.

D urante a noite era elle quasi tão viv o com o duran te o dia ;

as pontarias eram então feitas para os ponto s on de se da vam

as exp losõ es. Com este fogo conse cutiv o obtivem os fatigar os

sitiados, que no fim do segundo dia de ataque mostraram-se

menos vigorosos.

« No dia 2 pela madrugada tocam os um dos can tões que

defendiam a praça, ficando á direita uma trincheira e um

fosso,

  com que não contávamos, porque havíamos derrubado"

as paredes dos edifícios, e gan háv am os terren o por dentro

d'elles.

« Eram 5 horas da m an hã do dia 2 , quan do Leand ro

Gomes mandou pedir ao almirante uma suspensão de armas

por oito horas , para acu dir aos feridos e en terrar os m ortos ;

obtendo im m ediatam ente com o resposta — qu e n'esse espaço

de tempo as tropas aluadas estariam de posse da c id a d e .—

Foi isso bastante para lavrar o de san im o nas fileiras in im ig a s.

« Pelas  8  horas ap rese ntou -se em um cantão de oeste o

coronel colorado Saldanha, que se achava preso entre os

bíancos, e pede que cessemos o fogo, porque vão render-se

os  da  cidade.

« Cessamos de facto o fogo, mas fomos investindo pela cidade,

apoderando-nos do s pon tos principaes, e receb end o os prisio-

neiroe que se nos apresentava m , rogando que lhe s gara n-

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— 2 9 8 —

tisse-mos a vida. M uitos d 'en tre elles, officiaes su pe rior es, com

bastante servilismo o faziam, pois que chegaram a dizer que

como escravos serviriam a bandeira brasileira d'alli em diante,

«t  Eram esses os herdes de Pa ysa nd ú, qu e tão cobard em ente

se entregavam a inim igos civilisados e generosos. O s qu e

poucos antes cha m avam -nos de cobardes, escravos, e as qu e

rosos, agora saudav am ao va len te Barão de T amandaré» e á

bravura das tropas brasileiras.

« Quando entram os p ela cidade, o imp erial marinheiro

A lexandre José da S i lva, que tantas provas deu de bravura,

tirando de u m a sotéa o nosso pavilhão, foi corren do a M atriz

e collocou-o no al to do zimborio, aba tend o a ban deira oriental-

blanquilha que al l i se achava.

« Pa ysa nd ú era nosso, custa ndo -nos a victoria cerca de

400 ho m ens fora de co m bate , dos qu ae s m ortos 150, pouco

mais ou m enos . E L eandro Gomes ? V ejamol-o .

« Quando no ataqu e de

  6

  de Dezembro, d iziam algunsjornaes do Rio da Prata, o vento dissipava fumo de milhares

de bombas que se cr usavam, appa recia impávido o vu lto de

L eandro Gomes dictando ordens aos seus soldados. A gora é

o mesmo Leandro Gomes que por entre o pó levantado pelo

exercito brasileiro aprese nta seu vulto pallido e tre m ul o, pe

dindo que seja levado ao chefe brasileiro. Observando-lhe um

dos officiaes colorados que o cercavam qu e deveria an tes en

tregar-se aos seus com patriotas, embo ra inim igos polí ticos,

approvou el le a idéa, pedindo sempre que lhe conservassem

a vida.

« Em quan to nossas forças m arch ava m , alguns colorados

prat icavam um assassinato na pessoa de L eand ro Go m es, que

como cobarde supplicava aos seus algozes.

« A ssim finalisou aqu elle qu e dizia : — S ó será rend ida

Pay sand ú qua ndo o m eu cadáver ro lar sobre as cinzas d'esta

Sebastopool da America do Sul.—  Francisco José de Freitas,  1.°

tenente d 'armada. »

Os alliados fizeram 700 prisioneiros, 15 peças de artilharia,

e grande qua ntidad e de mu nições de g ue rra ainda foram e n

contradas. Todos os officiaes foram postos em liberdade, em

nu m ero de 18. Per to de 200 soldados obtive ram licença

para irem para suas famílias.

No ma is forte da acção do dia 2 u m a sen ho ra orien tal ,

de rara formosura, verda deira he roin a, atravessou pelo m eio

dos com batentes e foi obter do Barão de T am and aré ca pitu

lação para um cantão commandado por seu marido; aquém

assim salvou a vida e a m ais 50 com patriotas . O gra nd e n u

me ro de feridos da divisão bras ileira foram tratar-se em

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— 2 9 9 —

Buenos Ayres, em um hospital que ò doramandante da

força naval tin ha mandado preparar com anteced ência. A s se

nhoras d'aquella capital visitavam diariamente os feridos bra

sileiros, levando-lhe fios e outro s objectos para o seu tra ta

mento.

D O C U M E N T O S

  R E L A T I V O S

  A O

  A S S A L T O

  E  T O M A D A  DE  P A Y S A N D Ú .

« Comm ando em chefe da força nav al do Brasil no R io d a

Prata. — Bardo da corveta

  Nüherohy,

  em M ontevidéo, 2 de

Fevereiro de  1 8 6 5 .

« I llm . e Ex m . Sr.—A proveito a pa rtida do paquete nacio

nal

  Oyapock

  para dar con ta detalhada a

  Y.

  Ex. das operações

feitas contra Paysandú pelas nossas forças combinadas de

mar e terra, aluadas com o gene ral D. V enancio Flores,

commandante em chefe do exercito oriental; as quaes termi

naram pela tom ada d'aquella im portante praça militar no dia

2 do mez findo.

i Peço desculpa a V. Ex. por não ter logo dado parte

d*este glorioso feito d'armas. Para escrever esta brilhante pa

gina da h istoria pátria, precisava o conhecimento da^ ver

dade em toda a sua extensão. Desejava-o fazer com critério

e justiça, porque se ella interessa á honra do paiz, não im

porta menos ao credito dos valentes officiaes, marinheiros e

soldados que expuseram  . suas vidas para salvar a dignida de

nacional orlendiaa, e que por isso tem direito a uma menção

que os assignale pelo seu comportamento na acção, a qual

deve ser baseada na certeza dos factos occorridos, e não fun

dada somente nas informações do momento, que não podem

ser averiguadas, e que ordinariamente trazem o cunho da

afeição pessoal, ou de o utra s sy m pá tria s e affinidades, e pro*

duzem injusta apreciação do merecimento relativo.

« Hoje com mais clama e reflexão posso referir os aconteci

me ntos, e dizer ao meu governo os nom es d'aquelles que

mais se distinguiram, que concorreram para o trium ph o de

nossas arm as por serviços de toda a espécie, para qu e os con

temple na distribuição dos prêmios merecidos pelas virtudes

militares que manifestaram, e para q ue os recom m ende á es

tima, publica.

« Julga ndo oppo rtuno, por considerações políticas de q ue

V, Ex. está ao facto, a oceasião de r eu nir as-forças de d e

sembarque da esquadra do m eu com ma ndo ás do gen eral

Flore», que estava acam pado com perto de 3,000 h om en s na s

immediaç#es d'aquella cidade, pelo lado do arroyo Secco, para

a t a c a i

- a ,  aproveitando o effeito moral da rendição da Villa

do Salto, que se tinha entreg ue facilmente aqu elle gene ral

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alguns dias antes; decidi esse desembarque, que se effectuou

no dia 4 com toda a commodidade , a uma légua de d is tan

c ia dos in imigos . Dispunha o genera l Flores nas suas t ropas

de 800 infantes , e de 7 peças de art i lh aria , 3 das qu aes eram

raiadas . Pe la minha par te apresentava um cont ingente de 400

praças,  tirado

  dos

  vapores

  Recife, Belmon te, Parn ahyba, Araguay

e

  Ivahy,

  a lém de u m a reserva de 100 ho m ens que dev ia

desembarcar .

« A que lla força se co m pu nh a de 200 praças do 1.° bat a

lhão de infantaria , qu e t inh a vin do da corte reforçar as

guarnições da esquadra, de 100 soldados do batalhão naval ,

e 10 0 i m p e r i a e s m a r i n h e i ro s . A c o m p a n h a v a -a u m a b a t e ri a

de tres peças de cam pan ha de cal ibre 12, com sua com pe

tente dotação, commandada pe lo 1 .° tenente Antônio da S i lva

Teixeira de Frei tas , secretario ajudante de ordens d 'es te com

mando. Es ta ba ter ia t inha também uma es ta t iva para lançar

foguetes a Congrève , a cargo do 2 . ° tene nte M iguel A ntônio

Pe stan a. Co m m and ava toda esta força o capitão do 1.° ba ta

lhão de infantar ia Francisco M aria dos G uim arães Pe ix oto .

» Para comple tar a sua organisação, seg uiam -o os 2 .

0 S

  c i rur

g i õ e s D r . L u i z A l ve s d o B a n h o , e J o a q u i m d a C o st a A n t u n e s ,

com am bulânc ias , ca ixa de ins t ru m ento s e tud o qu ant o era

necessário para o primeiro curat ivo dos feridos no campo.

« A relação  n .  1  contém o  n o m e de tod os os officiaes e

p ra ç a s q u e e n tã o s a lt a ra m , e q u e m a n i fe s t a ra m o m a i o r e n t h u

s i a s m o , p r i n c ip a l m e n t e q u a n d o , fo rm a n d o -o s e m q u a d ra d o ,

f iz - lhe u m a enérgica a l locução, lem bra nd o- lhe s a m issão de

h o n ra q u e v i n h a m d e s e m p e n h a r n o E s t a d o O r i e n t a l ; t e n d o

o prazer de ouvir n 'essa oceasião m in ha s ul t i m as palav ras

serem cobertas dos mais vivos applausos a Sua Magestade o

Im pe rad or, á familia im per ial , á naçã o brasi leira , ao exerci to

e á a rmada .

« Devo francamen te d eclarar a V . Ex. qu e a maior diffi-

culdade que encontrei na organisação d 'es ta fotça, foi conter

o ardor com que todos que riam fazer parte d 'e l la . A ssim é

qu e para satisfazer o m ais possivel tão nob res desejos, qu e

m e ench iam d e org ulho por m e ver á frente de jov ens tão

br iosos , t ive que d esem barcar a lgu ns co m m an da nte s de navios ,

officiaes de fazenda e todo o m eu esta do -m aio r, ficando só

no momento da acção . Tinhamos infantar ia e a r t i lhar ia , e

ape nas no s faltava a cavallaria. A ' vista d' isto , o estan cieiro

b ra s il e iro J o s é B o n ifác io M a c h a d o q u e c o m m a d a v a u m e s q u a

drão de 160 com patrio tas que form avam no exerci to l ibe r

tador ; pedio- ine uma bandeira nac ional , e ve io immedia ta-

mente reunir-se á nossa gente .

a A ntes de tenta r-se o a taque da praça , fo i in t im ad o o

com m andan te d^ l la , que era o coronel D . L eand ro Gom es ,

para render-se com as hon ras da g u er ra ; e preveni aos co m m an

dantes dos navios de g ue rra es trang eiros , qu e se ach avam no

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—   SOI —

porto, que este  ataque teria  lugar  depois do  prazo  de 48 hora*,

q u e  marcava  para evacuação dá praça, pelas famílias que não

se  quisessem  expor ás tristes eventualidades da guerra.

  4

« Aquelle

  coronel, que tinh a dentro de suas l>em orga ni-

sadas trincheiras perto de 1,400 ho m ens , como finalm ente se

soufee qu an d o se tomou a praça; num eros os officiaes, e en tre

elles  alg un s de reconhecido valor, como o coronel L uc as

Pires ,  q ue constituio-se a a lm a da defesa, abu ndân cia de m u

nições ae guerra e de boca, algumas fortificâções bem colio-

c a da s ,

  guarn eoidas com 7 peças de artilharia de 18 e 1 2 , e

q u e contava com o aux ilio do exercito blan co, que estava

em campanha, e que se dizia em marcha, assim como com

a v ia d a dos Paraguayos , e de a lguns bandos de E nt re -R io s ;

repolho a ' intimação com arrogância, atirando sobre o par-

lam entario dous tiros , qu e declarou ser sua ún ica resposta.

S abia elle, além d'isso, que o iriam accomm etter apenas 1,300

a  ±,400  infantes a peito descoberto ; pois qu e a cavallaria

não podia en trar em acção, e nào pensava que o fogo das

can ho ne iras alcansass e suas fortificâções situ adas a ma is deduas mil varas hespanh olas, da posição mais próxima q ue

podiam occupar no r io.

« No dia 6 pela m adr ug ada mov eu-se a no ssa força com a

do gen eral Flo res, para inv estir os postos avançados do

inimigo ; e arrojou logo para o interior da praça todas as

partidas e gu erril ha s q ue ainda permaneciam fora ; tal foi o

denodo da carga com que os acGommetteram. Nas partes em

detalhe que junto remetto por copia a   V.  Ex. estão mencio

nados os factos occorridos em cada um dos pontos atacados,

e da lingu age m since ra e franca d'ellas translu z os esforçosde valor e biza rria qu e foram praticados n'este com bate me

mo rável por nossas torças de m ar e terra. A arti lharia de

cam pan ha desm onto u-se toda depois de algum fogo. pela

fraqueza de seus repa ros , e a estativa de lança r foguetes a

Congrève f icou inutil isada, porque uma bala a entortou.

« Não o bs tan te a resistência dos sitiados, n ossos soldad os e

alliados gan hav am visivelm ente terreno e tom aram posições

vantajosas para inco m m od ar o inim igo . N'esta carga de in

fantaria, o capitão Peixo to foi feria o em u m ded o, ten do

além d'isso O utra bala lhe partido a espada. N ào obs tant e,

este official pe rm an ec eu sem pre á frente de sua força. Er a

tempo de começar o bom bardea m ento da p raça, para obr igar

a

  calar-se a sua artilh aria , que fazia um terrível fogo sobre

os   nossos.

* Por tanto ás 7 horas e 3 m inu tos da m an hã começou a

canhoneira  Araguay,  on de m e ac hav a com o chefe da divisão

Pereira Pin to , a atir ar bom bas de 68 sob re as fortificâções,

sendo

  logo segu ida pelo fogo da  Belmonte,  da  Parnnfujba  e

que t inh am toma do posição favorável n o dia anter io r .

N este mom ento determin ei ao 1,° tenen te Euzebio José A ntu ne s,

50

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secretario e ajudante de ordens, qu e assumisse inte rina m en te o

commando da canhoneira  Parnahyba  durante o bom bardea

m ento , e qu e dirigisse o fogo ;   a n d o   o qu al. este official

veio continuar a desem penhar a m eu, lad o os deveres de

seu cargo.

« Nao pôde V . Ex. calcu lar o effeito prodigioso causad o

pela artilharia d'estes qu atro nav ios, qu e a ah i a pouco fazia

calar todas as peças do inim igo . A s pontarias foram dirigidas

com uma precisão admirável, que honram aos nossos artilhei

ros navaes, e aos officiaes de b ord o, de tal sorte qu e as

bombas iam estourar exactamente nos fortes, ou no centro 4 a

p ra ça ; espalhando a m orte e a destruição por toda a parte

onde chegavam seus estilhaços. Conforme m inha recom m en-

daçao , só se fazia fogo sobre os edificios qu e o inim igo ti

nha convertido em fortificâções e onde tinia seus  mais te

míveis  balua rtes. O s outros edificios eram poup ados o m ais

possivel, e pouco soffreram como depois se verificou. Co ns

tou d epois, que este bom bardeam ento pôz fora de com bate

a mais de

  1 5 0

 homens,

  e

  que tinha atacado bastante a gu ar

nição da praça, desmoralisando-a ; po rque a fez com prehe nde r

qu e nos canhões dos navios encon trava u m adversário com

que não contava.

« Pouco antes de começar o fogo dos navios,  e  logo que

app areceu no porto um a força de cavallaria colorada, conforme

estava combinado com o general Flores, desem barquei  á  frente

dos

  1 0 0

  imperiaes marinheiros da reserva e de um a peça de

12,

  os quaes seguiam para a linha de combate commandadospelo

  1 .°

  tenente João Baptista de O liveira M ontaurv, m eu

ajudante de ordens, prorompendo em vivas enthusíasticos.

Esta força occupou a posição que lhe foi de term inada pelo

general, e ahi permaneceu até á noite, batendo-se sempre com

o cantão que lhe ficava em frente. M archo u com ella o

2.° cirurgião Dr. Balduino Athanasio do Nascimento, o pra

tico Etc hebarne , que se offereceu para to m ar u m fuzil, e por

tou-se com valor, e o voluntário Joa qu im M arques L isboa

Júnior .

« A's 2 horas da tarde o inimigo estava reduzido ao recintoda praça; mas nossos marinheiros e soldados estavam fàfo

gados,

  por tantas horas seguidas de fogo, debaixo de um sol

ard en te, e não tinham os tropas frescas para prosegu ir nas

vantagens que podiamos obter sem reserva para apoiai-as.

« Conservamo-nos por conseg uinte a té á noite nos pontos

tomados. Então resolveu o general abandonar alguns paira,

não enfraquecer a nossa força, espaihando-a por uma Unha.

tão extensa a gu arn ece r, no que con corde i. Por isso fez

convergir parte d

v

ella para o porto onde acampou , e ou tra

parte iicou guarnecendo a artilharia, que pennaneceu no campo

em que operou.

<c Desde esse dia tinh am os um pé na cidade. S e o coronel

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— 505 —

Leandro Gomes t ivesse o menor sentimento de humanidade,

para com os desgraçados hab itantes que ainda existiam alli

dentro, e um pouco de amor pátrio para poupar a seu paiz

a ru ín a d'elle, teria comprehenaido que não lhe restava sen ão

a alternativ a, ou de tentar romper a linha do sitio para nos

fazer recu ar, ou pedir um a capitulação honro sa. Nã o ob s

tan te elle proseg uio na sua lu ta infruetífera e hom icida. E stava feito o reconhecimento que projectavamos, no qual tive

mos perdas mui pequenas, relativamente ás do inimigo, e á

desp roporçã o de nossas forças ás d'elle. Estas perda s li m i

taram-se a 6 homens mortos e a   2 5  feridos.

« No dia  7  mandei desembarcar duas peças de calibre

32 e uma de 68 da 6.

a

  class e, para collocal-as em bate ria

na em inência da Boa V ista, que dom ina a praça pelo lado do

norte . Esta operação, executada du ran te a noite pelo 1.° t e

nente commandante do  Recife,  A ntônio Carlos ae M ariz e

Barros, e apoiada por um destacamento de 100 praças do l.o

batalhão de infantaria , commandado pelo tenente Eduardo Emi-

liano da Fonseca, foi vivamente incommodado pelo fogo de

fuzilaria e de artilharia do inimigo, a que não respondemos,

e que nenhum mal causou.

« N a m an hã do dia 8 rom pia esta bateria , protegida por

saccos de arêa , u m mag nifico fogo sobre o forte de S eb ast op oo l;

a matr iz e a com m andan cia era acom panhada pelas c an ho

neiras  Belmonte e  Parnahyba.  que de espaço em espaço ati ra

vam algum as bom bas. En tretan to t inha m archado toda a nossa

forçai para emprehender um acommettimento em um ponto

mais-

  vu lne ráv el, porq ue o inim igo acabava de sorprehender

e de degollar barbaram ente um a partida de 40 O rientaes

nossos alliados; e fiquei no posto com o meu estado-maior,

e uma gu arda de 30 imper iaes mar inh eiros com m andad a pelo

1.° tenente Antônio Severiano Nunes, que servia de defesa

aos infelizes feridos, qu e jaziam n o ho spita l de san gu e, q ue

estabeleci n a capitania do porto , *e qu e eram assistidos, nã o

só  pelos tres médicos acima mencionados que entraram em

combate, como pelo chefe de saúde Dr. Cláudio José Pereira

da S ilva, e 2.° cirurgião D r. Jo ão A drião Chav es, e 1.° pha r-

maceutico 2.° tene nte A lbino Gonçalves de C arvalho, os qu ae s

todos

  merecem os m aiores elogios, pela hum an id ad e, zelo e

perícia com que cumpriram o seu dever sagrado.

« O

  gra nd e efe i to m oral que quer ía m os consegu ir es tava

wcancado.

  Nossas . tropas reconheceram sua superioridade sobre

É úiimigo,

  e mostravam-se dispostas a maiores empresas .

*odia*mos  por tan to , tentar o assa lto , com espera nça de co m -

 

leto t r ium ph o, porque nos constava que os s i t iados a té t in h am

J M   de espole tas fulminantes , e que usavam de phosphoros

^ .c e ra . M as era prec iso contar com gran des perdas , ,e jaáo

| | P  Gxpftr os nossos marinheiros, que com tanta tJUfficuldade

s&bstituero, e são necessários para

  a

  c on t inua ç ã o

  da cam-

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p a n h a ,  q u e  a i n d a a g o r a p r i n c i p i a . A l é m d i s s o  não  h a v i a  nos

n a v i o s  se n ã o o  n u m e r o s u f fi c ie n te  d e  b o m b a s p a r a a t i r a r ,

q u a n d o r e s o l v ê s s e m o s  o  a s s a l t o ;  e  t a m b é m  o  g e n e r a l F l o r e s

c a r e c i a

  de

  p r o j e c t í s p a r a

  s u a

  a r t i l h a r i a r a i a d a ,

  e d e

  p ó l v o r a

  e

c a r t u x a m e .

« N ' e s t a e m e r g ê n c i a r e s o l v e m o s e n t r e t e r  o tempo  p a r a a g u a r

d a r

  o

  e x e r c i t o i m p e r i a l ,

  q u e j á

  e s t a v a

  e m

  m a r c h a

  n o

  > E s t a d o

O r i e n t a l :  fiz  p a r t i r  o  s e c r e t a r i o  e  a j u d a n t e d " o r d e n s  1.°  t e

n e n t e A n t u n e s  n a  Parnahyba  p a r a B u e n o s A y r e s , a f im  d e  p r o

v e r - s e n ' a q u e l l e p o r t o  d o s  n a v i o s  q u e  a l l i t i n h a m o s ,  d e  t u d o

q u a n t o p r e c i s á v a m o s .

« N o ' f i m  d e 72  h o r a s a q u e l l e o ff ic ia l  s e  a c h a v a  d e  v o l t a

a o a c a m p a m e n t o , t r a z e n d o m u i t o s r e c u r s o s b e l l ic o s , g r a n d e

p a r t e  d o  a r r r a m e n t o  e  m u n i ç õ e s  q u e a  c o r v e t a  Bahiana  c o n -

d u z i o  d a  c o r t e ,  a  q u a l  p o r u m a  f el iz c o i n c i d ê n c i a , c h e g o u

a q u e l l e p o r t o  n o  m e s m o  d i a q u e  a q u e l l a c a n h o n e i r a ;  100  p r a

ç a s

  d o

  b a t a l h ã o n a v a l

  e d e

  i m p e r i a e s m a r i n h e i r o s t i r a d o s

  d a s

g u a r n i ç õ e s  d o  Paraense  e d a  Nitherohy;  d u a s p e ç a s  d e  c a l i b r e

3 0 d ' e s t e n a v i o ,  e  o u t r a s d u a s  d e  s e i s  d e  d e s e m b a r q u e ;  o

1.°  t e n e n t e H e n r i q u e F r a n c i s c o M a r t i n s ,  a  q u e m  e u  d e s t i

n a v a  o  c o m m a n d o i n t e r i n o  d a  r e f e r i d a c a n h o n e i r a ,  e a d i -

r e c ç ã o  d a  b a t e r i a  q u e s e i a  e s ta b e le c e r e m ' t e r r a  c o m  a q u e l

l a s p e ç a s ;

  os

  t r e s

  2 .°

s

  c i r u r g i õ e s a l u m n o s p e n s i o n i s t a s L u i z

d a S i l v a F l o r e s , J u s t i n i a n o  d e  C a s t r o R e b e l l o  e  F e l i p p e  P e

r e i r a C a l d a s ,

  q u e

  v i e r a m s e r v ir

  n a

  e s q u a d r a ,

  e

  f o r a m l o g o

e m p r e g a d o s  n o  h o s p i t a l  d e  s a n g u e  e m  P a y s a n d ú , o n d e p r e s

t a r a m b o n s s e r v i ç o s .

«

  A o

  m e s m o t e m p o

  n ã o

  p a s s a v a

  u m só d i a e m q u e n ão

fizé ss em o s p a r t i r c o r r e i o s p a r a  o  c o m m a n d a n t e  e m  c h e f e  d o

e x e r c i t o  e  p a r a  o  g e n e r a l N e t t o ,  c o m  c o m m u n i c a ç õ e s , c h a

m a n d o - o s  a  t o d a  a  p r e s s a  a-  P a y s a n d ú ,  e  d a n d o - l h e s i n f o r

m a ç õ e s c e r t a s  d a  m a r c h a  d o  e x e r c i t o  d o  g e n e r a l  S á a , q u e

v i n h a  e m  s o c c o r r o  d a  p r a ç a .

«  No d ia 14  c h e g o u p e la m a n h ã  a o  a c a m p a m e n t o  o  m a j o r

d o

  2 .°

  r e g i m e n t o

  d e

  c a v a l l a r i a J o s é A n t ô n i o C o r r ê a

  d a

  C â m a r a ,

c o m o f f i c i o s  d o  g e n e r a l  e m  c h e f e  e  i n f o r m a ç õ e s v e r b a e s ,  q u e

m e o r i e n t a v a m

  d a

  p o s i ç ã o

  em q u e s e

  a c h a v a

  o

  e x e r c i t o

  e o

d i a p r o v á v e l

  e m q u e

  e l l e e s t a r i a c o m n o s c o .

  A

  e s s a h o r a

  j á

e u s a b i a

  q u e o

  g e n e r a l N e t t o

  n a

  m a n h a s e g u i n t e c h e g a r i a

c o m  1,200  h o m e n s ,  m a s  t o d o s  d e  c a v a l l a r i a ;  o q u e se n o s

c o l l o c a v a

  e m u m a

  p o s i ç ã o v a n t a j o s a p a r a

  s e

  o f i e re c e r c o m

b a t e  a o  g e n e r a l  S á a c o m  c e r t e z a  d e  t r i u m p h o ,  n ã o  m u d o u  a

n o s s a a t t i t u d e

  d e

  e s p e c t a t i v a

  e m

  r e l a ç ã o

  á-

  p r a ç a . R e a l i s o u - s e

c o m e f f e i t o ,  a  i n c o r p o r a ç ã o d ' e s t a f o r ça  n a  o c e a s i ã o e s p e r a d a ,

e

  foi

  e l l a a c a m p a r

  a o

  n o r t e

  de

  P a y s a n d ú ,

  d o

  l a d o

  d e S .

  F r a n

c i s c o .

« C o m o  e r a  n e c e s s á r i o  t e r  t o d a  a  f o rç a d e s e m b a r c a d a 'so fc

o c o m m a n d o

  d e u m

  o f fi c ia l s u p e r i o r ,

  d e i

  e s t a c o m n n s s ã o

  ao

s o b r e d i t o m a j o r C â m a r a ;  e  p a r a p r o v i d e n c i a r  d e  p r o m p t o

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~ ovo ^

sobre qualquer acon tecime nto, estive sempre dia e noite no

acampamento  com os officiaes do meu estado-maior. Era

preciso oonserval-o na mais activa vigilância, para frustrar

qualquer sorpreaa do inimigo, com que eu contava a todos

os momentos. Elle não se animou a isso nem uma só vez,

porque já tinha reconhecido qu e a peito descoberto, fora das

trincheiras com que se protegia, não podia resistir ao arrojo

dos nossos. Portanto não nos facilitou o ensejo de entrar

com elle na praça, desejando arden temente um a tentativa

d'este gênero, que nos daria mais um triumpho.

> E ntretanto o general F lores tev e parte ae que o general

Sáa , com m andante do exercito de operações do governo de

Montevidéo, havia passado o Rio-Negro com perto de

  3,000

hom ens. D eliberamos levantar o sitio e marchar sobre ell e.

Reem barquei prorn^tamente a artilharia pesada que estava

em terra, os feridos e todo e material que hav ia n o aca m

pamento ; e a nossa força com os officiaes ind ispe nsá veis ,

seguio o exercito alliado até o Rabão, cinco léguas distante

de Paysandú, aonde elle parou, por terem chegado noticias

posteriores, que referiam que aquelle exercito h avia repassado

o Rio-Negro para o sul.

« D ous dias apenas respiraram os defenso res de Pay san dú

livres de nossa presença ; o genera l F lores com as u ltima s

noticias retrogradou sobre seus passos, e veio occupar as

mesmas posiçõe s, que aquelles abandonaram logo que nos

avistaram.

« N o dia 29 chegou também o marechal M enna Barreto

com uma divisão do 'nosso exercito de operações, forte de

mais de

  6,000

  homens (*), entre os quaes

  2,000

  infantes, poucomais ou menos, e um parque de artilharia de 12 peças.

« A.

  posição do inim igo tornou -se a m ais critica possivel.

Ainda assim não quiz capitular, quando recebeu intimação

para isso. Preparou-se tudo para romper novamente as hos

tilidades. O exercito m ontou suas baterias em posição bem

escolhida, a esquadra praticou o m esm o assestando as duas

peças Whitworth de 30, de que já f iz menção, e que eram

commandadas pelo 1.° tenente He nriqu e José M artins, além

das duas de 32 do commando do i.° tenente Barros.

« A artilharia volante da esquadra co m pu nh a-s e de duas

peças de Whitworth de calibre 6, commandadas pelo 1.° te-

nente  An tônio da Silva Teixeira d e F reitas, e de 12 d e bronze

q u e

  seguiam os pelotõ es confiados a vários officiaes de ma

rinha.

« No dia 3 1 de D ezembro pela mad rugada, a dou s tiros

de  p ec ad o forte Sebastopool, nossas baterias começaram um

fogo nutrido incessantem ente, que não deixou m ais o s sitia

dos

  descançar, nem p arar em su as baterias. N 'este dia a m a-

H

  En ganou-se, foram  4,500.

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— 506 —

rinha chorou a m orte do bravo e activo 1.° ten ente M artins,

que levou um a bala de artilharia na cabeça, na oceasião em

que verificava a pontaria de uma. de suas peças. Foi uma

perd a bastante sensivel para nó s, e eu ou so recom m enda r a

familia d'este valente official á protecção de S ua M agestade

o Imperador, e do governo imperial.<( Co ntinua o fogo quasi sem in terru pç ão em todo o dia

3 1

  de Dezembro e no

  1 . °

  de Jan eiro . Ao am anhecer do dia

2 ,  sahio da praça um indivíduo chamado Moreira que nos

informou ter m orrido no dia anterior o general L ucas Pires,

ue era o sustentaculo da defeza ; e nos apresentou uma nota

o com m andan te d'ella pedindo em nome da hum anidad e

uma suspensão dehostilidades por

  8

  horas, para enterrar os

mo rtos e cuidar dos feridos. Estáv am os respondend o a esta

nota, declarando-lhe que mesmo em nome da humanidade,

lhe deviamos recusar esta concessão, porque ella lhe daria

temp o de reparar os estragos soffridos, e pro lon gar u m a re

sistência inú til, que provocaria novo derram am ento de sa n -

u e ,

  acerescendo que antes das

  8

  horas estariamo s senhores

a pra ça ; quando appareceu A tanasildo S aldana, qu e era

prisioneiro ha mais de um an no , querendo saber, em nom e

do dito general, nossa decisão. N'essa resposta dissemos tam

bém que se elle se rendesse  á  discripção seria tratado bem

pelos alliados.

« Entretanto o fogo continuava por toda a parte, e nossas

tropas foram avançando e chegaram ao interior da praça,

quan do o general L eandro Gomes escrevia sua resposta a esta

ultima concessão, que não pôde concluir porque foi aprisio

nado pelo coronel Bello, que o entregou ao coronel oriental

Goyo S oares, em virtude de reclama-lo este em nom e do g e

neral em chefe, e preferir aquelle seguil-o. D'ahi a poucos

m om entos éramo s informados cVaquelle facto, e de qu e o g e

nera l L eandro Gom es, com dous ou tres officiaes, tin na m sido

fuzilados.

« Não pude conter a indignação que se apoderou de mim

por ver man char assim um a tão esplendida vic toria Grande

era a affrònta que tinhamos a vingar, innumeros os insultos

qu e o Brasil e os Brasileiros soffreram d'este ho m em . Com

tudo,  eu queria que sua vida fosse respeitada como havia

positivamente recommendado, com uma solicitude que não

disfarçava, para mo strar a nossa relig ião , e os princípios da

civilisação moderna.

« Mas a fatalidade impellio a seu destino, fazendo-o deixar

pelo seu orgulho a protecção da band eira brasileira, sem se

recordar que os ódios políticos são sempre mais crué is que

os nacionaes.

« Curüpro um acto de rigorosa justiça registrando que nosso

distincto alliado, o general Flores, mostrou-se igii^lmente

mui sentido por este desagradável facto, e tratou dé proce-

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— 5 0 7 —

der a um inquérito sobre e lle; porque a par d'esta versão, cor

ria a de qu e, aqu elle chefe do exercito o rienta l hav ia sido

morto em combate.

« A ssim concluio-se a batalha, na qual tom am os

  7 0 0

  pri

sioneiros, entre elles alguns officiaes, mais de   2 ,000  espingar

das,  1 5  peças de artilharia, m unições, band eiras, e t c , o qu e

tudo foi entregue ao general em chefe do exercito oriental.

Encontramos também na praça muitos mortos e feridos.

« Talvez pareça extraordinária a generosidade dos vencedo

res,  concedendo a liberdade a um tão crescido num ero de

prisioneiros. Revela porém notar que procedemos assim com

reflexão. Co nsultado s os officiaes pelo corone l A costa, chefe

do estado m aior do general Flores, se e stavam promp tos a

%

  dar a sua palavra de nonra, de que não serviriam mais na

presente guerra contra o Brasil, nem contra aquelle general,

responderam promptamente que sim, e deram repetidos vivas

a elle e a mim, porque não esperavam tão humano procedi

men to dos seus adversários. Queriam até assignar um com

promisso por escripto, qu e de nad a valeria para qu em nã o

soubesse respeitar a sua palavra, e que por isso rejeitamos.

« Quan to aos soldados foram quasi que em totalidade e n

grossar as fileiras do general Flores, que d'esta forma tem

procedido sempre, convertendo os seus prisioneiros, nos mais

fieis e dedicados com panheiros de trabalho . Com esta m edid a

de elevado alcance, poderemos encontrar diante de nós agora

em M ontevid éo, um a vin ten a de officiaes qu e ten ha m sido

perjuros, e que como taes serão tratados; mas desarmamos

muitos ódios, e forçamos ao respeito os nossos próprios an-

tagonistas, que não acharão m a l um pretexto para tra n s

formar em uma questão de raça um assumpto de reparação

nacional, e com elle levantar-nos m ais inim igo s.

<( Nã o m e toca descrever a V . Ex . esta br ilh an te operaçã o

de nossas forças de mar e terra, reunidas ás tropas briosas

do exercito alu ad o, em bora teste m un ha ocular d'ella.

<( O distincto m arechal com m and ante em chefe do nos so

exercito, terá natu ral m en te referido a V . Ex . os actos de

heroísmo e de bravura praticados por nossos soldados e ma-

ip nh eí ro s , e pelos valentes com panheiros da crusada q ue

acompanham o general Flores, nosso bravo alliado, atacando

;

  a sangue frio posições bem defendidas, ga nh an do terre no

passo a passo, de casa em casa, debaixo de um chuveiro de

baias que os nao estacava.

« M arinha e exercito, bem como O rientaes all iados, todos

porfiavam em ajudar-se mutuamente, em cooperar para o fim

commum — qu e era a posse d 'aquella pra ça , já regad a por

tanto sangue precioso.—A parte im po rtan te que nos cou be

a

1

ette triump ho deixo-a á apreciação com pete nte do m esm o

marechal, que no fim da luta me dirigio o officio junto por

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« Declarando pois a V. Ex. que todos os officiaes e praças,

que tomaram parte nas operações cumpriram o seu dever,

mantendo illesa, e robustecendo ainda a reputação de

 gloria

que a armada

  e

  o exercito imperial

  têm

  sabido conquistar,

repito o que  é  publico  e  notório, o que exige a mais severa

justiça.

  Todos elles são dignos de receber a remuneração

honrosa que Sua Magestade o Imperador costuma distribuir

sempre com generosidade aos seus leaes soldados.

« I l lm. e E x m . Sr. conselheiro Francisco Xavier Pinto

Li ma , ministr o e secretario de estado dos negóc ios da mari

nha.—Barão de  Tamandoré.  »

O officio do vice-almfíante brasileiro, acima transoripto, dá

al gun s esclarecimen tos útei s ao fim a que nos propusemos

escrevendo a historia  d'esta  guerra.

Page 400: Guerra Do Paraguai Vol 1

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L I V R O   D É C I M O S E G U N D O .

CONTINUAÇÃO DA CAMPANHA ORIENTAL.

M A R C H A  DO EXERCITO SOBRE MONTEVIDÉU

N o

  dia 12 de

  J a n e i r o ,

  dez

  d ias dep ois

  de

  t o m a r - s e P a y

s a n d ú , m a r c h o u  o  e x e r c i t o p a r a F r a y - B e n t o , d i s t a n t e  7  l é g u a s

d ' a q u e l l a p r a ç a , o n d e  se  e n c o r p o r o u  com os  b a t a l h õ e s  que  t i n h a m

c h e g a d o  da  c o r t e .  Ahi  e m b a r c o u  a  in fantar ia  n o dia 14, s e

g u i n d o  por  t e r r a  a  c a v a l l a r i a  e a  art i lhar ia  até  S a n t a L ú c i a ,

l u g a r  em que  d e s e m b a r c o u  o  e x e r c i t o , s e g u i n d o d e p o i s p a r a

a s i m m e d i a ç õ e s  de  M o n t e v i d é o .

O c o n s e l h e i r o P a r a n h o s v e i o  de  B u e n o s - A y r e s e s ta b e l e c er -

se  na  V i l l a  da  União para f i car perto  do  l u g a r o n d e  ia se

proceder  a  n o v a s o p e r a ç õ e s ,  e  p o d e r i n f o r m a r - s e  dos  a c o n t e

c i m e n t o s  que  d e v i a m s e g u i r - s e p a r a  se  t o m a r M o n t e v i d é o .

M I S S Ã O

  DO

  C O N S E L H E I R O  J O S É  M A R I A

  DA

  S I L V A  P A R A N H O S .

A n t e s  de  s a h i r  de  B u e n o s - A y r e s d i r i g i o  ao  g o v e r n o a r g e n

t ino  a  n o t a s e g u i n t e  :

DECLARAÇÃO E MANIFESTO DE GUERRA.

« M i s s ã o e s p e c i a l

  do

  B r a s i l . — B u e n o s - Á y r e s ,

  19 de

  J a n e i r o

de

  1865.

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ct  O  abaixo assignado, envia do extraordinário e m inistro

plenipotenciario de Sua Magestade o Imperador do Brasil ,

em missão especial na Republica Argentina, tem a honra de

solicitar a séria e bene vo la atten ção de  S .  E x. o Sr .  D .-  K u -

fino de E lizalde, ministro das relações exterio res, para a co m

münicação que passa a fazer-lhe em n om e e por ordem d o

governo imperial.

< r   O governo argentino conhec e perfeitam ente, em  *  suas

cauzas e origem, o conflicto que sobreveio entre o  governo

do Brasil e o de M onte vidé o, be m com o a dissençã o interna

que, ha quasi dous annos, f lagella a sociedade oriental, pre

judicando os interesses legitimes de todos os neutros, e par

t icularmente ao Império pela sua immediata vizinhança com

aquelle Estado.

<( As reclamações que o go vern o imp erial apresen tou ao de

M ontevidéo, como sabe o Sr. D . R ufino de E lizalde, ve r

savam sobre factos notórios, graves, tão repetidos e por talmo do filiados u ns aos outros, que não só justificavam o

ultimo appello dirigido  á  rasão e  á  just iça do governo ori

ental, mas até tornavam bem patente* a lon ga nim ida de d e

que usara o gov erno imperial e m face de tantos aggra vos

recebidos mesmo depois de sua generosa alliança de  1852.

a

  Fora long o e supérfluo referir aqu i todo s os factos de

violênc ias e clamorosa injustiça praticados nas pessoas e pr o

priedades de subditos brasileiros, residentes no Estado Ori

ental, desde a época a que o abaixo assignado se cir cuin s

creve, omittindo o quadro ainda mais triste dos soffrirnentos

que tiveram lugar durante o dom inio m ilitar do general

Oribe.

a N ão são delictos ordinários, contra os qua es fosse de todo

impotente a policia da Repu blica, os aggravos de q ue se

queixa o governo imp erial. A questão nasceu de um a s u c -

cessáo de factos e de um concur so de circum stanc ias, qu e

dão o caracter de hostilidade intencio nal e sys tem atic a ao s

vexa m es com m ettidos contra os pacíficos residen tes bra sileiros .

Trata-se de crimes em que os próprios agentes da auto rida de

ublica apparecem compromettidos como autores, ou co-réos,

e crimes qu e, por um a notável coin cidên cia, se tem re

produzido quando no governo da R epu blica predominam os

sentimento s de um passado que , no interesse de am bos o s

paizes, devera ser para todo sempre esquecido.

cc  O governo imperial e a sua legação em M ontevidéo

foram solicitos em protestar e reclamar contra taes ab us os ,

mas,

  animados sempre de sentimentos os mais benevolos,

confiaram nas seguranças que lhes eram dadas, não poucas

vezes dissimulan do a seus próprios olh os a flagrante ant i-

these dos factos com as prom essas soleftines do go ver no d a

Republica. Tanta moderação e be nev olên cia podiam ter o

effeito de um acoroçoam ento inv olun tário ao mal que se

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tinha em vista evitar, mas o governo imperial não desejava

demover-se do seu propósito pacifico e amigável, e esperava

do tempo e da acção espon tânea do governo o riental a ces

sação de u m estado de cousas que era prejudicial a am bos

os paizes, e cujas sérias conseqü ências não podiam escapar

a mais confiada previsão.

« Desgraçadamente, porém, a experiência veio demonstrar quea prudência e iutentos benevolos do governo imperial não

eram correspondidos, e nem ao m enos justam ente interp re

tados.

  L ong e de attender aos reiterados avisos e protestos qu e

tão am igavelm ente lhe eram dirigidos, o governo oriental pre

parava-se para legitimar o procedimento de seus criminosos

agentes com uma reconvenção ao Brasil , que ainda quando

assentasse sobre factos todos reaes e provados, não poderia

revestir o caracter politico que se revela nos atten tado s de q ue

tem sido victimas os sub ditos brasileiros na cam panh a orie nta l.

« Esta allegaçã o não é vã, S r: m inistro : a ausên cia de todo

sentimen to ho stil á R epublica do Urug uay por parte do

Brasil, e o sincero desejo do governo d e S ua M agestade e m

reprovar e reprim ir, den tro dos limites de sua soberan ia e

jurisdicção, qualquer ofíensa aos cidadãos orientaes, sem dis-

tincção de classe nem de partidos, é um a verdade que se

deduz incontestáve l m en te de actos os ma is significativos.

cc Pa ra p roval-o ah i estão os serviços qu e a R epublica re

cebeu do governo imperial durante o periodo a que o abaixo

assignado se refere; as ordens terminantes expedidas ás auto

ridades locaes a respeito de cada um dos factos de nu nc iad os

pelos reclam antes or ien tae s; finalmente, a inicia tiva ou a ac ei

tação amigável de vários accordos diplom áticos, ten de nte s a

prevenir os conflictos próprios de dou s povos visi nh os, e tão

intimamente relacionados, como são o Brasil e o Estado

Oriental.

« T ud o, porém , foi baldado ; a situação dos B rasileiros re

sidentes na cam pan ha do Estado O riental, tornou -se de dia

em dia mais afflictiva, e, como era natural, peiorou conside

ravelmente logo que a guerra civil ateou-se de novo no seio

n'aquelle Estado, Com os perigos d 'esta conjectura, despertou-se

n'elles o resentim ento de todas as offensas an terior e?, alg un s

mostraram sympathias pela causa da revolução, e nas f ron

teiras da provincia de S . Pedro do Rio Grande do Sul , seu-

uo-se a repercussão do grand e abalo porq ue pa ssav a a R e

publica.

« Nào obstante o espir ito host i l ao Bra si l , qu e pare cia do

minar na poli t ica do governo da Republica, e as sympathias

|u e por es te m esmo mo tivo se m anifes tavam entre os res i

dentes brasileiros á favor da revolução, o governo de Sua

Majes tade não an imou aquel le pronunciamento ; pe lo con-

t r m o

r

  procurou reprimil-o e manteve-se perfei tamente neutro

*a luta intern a dos partidos orienta es.

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« A missão extraordinária confiada ao zelo e illusir ação   do

conselheiro José Antônio Saraiva, teve por fim principal este

dup lo pensamento : — assegurar a neu tralidad e do Im pé rio , e

dar garantias de segu rança á vida e propriedad e dos subditos

brasileiros, — ún ico m eio de dissip ar os seus receios e acal

mar os seus naturaes resentimentos.

« Fácil era conseguir este proposto resultado, se o governo deMontevidéo o houvesse quer ido . Sabe , porém, o Sr . D. Ru-

fino de Elizalde como aquelle governo recebeu a missão de

paz enviada pelo Brasil , e S . Ex. pôde também testemunhar

que dos esforços do env iado brasileiro, tão ge ne ros am en te se

cundados pelo governo argentino , de combinação com o r e

presentante de S . M. Britanuica nesta capital , ter ia sahido a

paz intern a da R epublica O riental e o accordo amigável qu e

procurava o Brasil, se o governo de M ontevidéo não fosse o

primeiro a desconhecer a gravidade de sua situação e a im

prudência de suas injuriosas denegações ao Brasil.

cc  Esgotados os m eios pacificos, já n ão restav a ao go ve rno

imp erial se não o recurso extremo da força. O governo de S ua

M agestade assim o declarou francamente ao de M ontevidéo

em seu

  ultimatum

  de

  4

  de A gosto u lt im o , e, para dar largo

tempo á reflexão d*esse governo, limitou a principio as suas

represálias a medidas coercitivas das menos rigorosas que au-

torisa a pratica das nações civilisadas.

cc  En tretanto a este procedimento respondia o go ver no de

Montevidéo com irrisão e novas provocações ao Brasil, pro

curando contra este e contra o governo argentino allianças e

apoio por toda p ar te ; planos, S r. ministro , que hoje estão

patentes aos olhos de todo m un do , sendo qu e já se manifestaram

em actos da m ais directa hostilidade ao Brasil por parte da

Republica do Paraguay.

« A historia e o direito das gentes nos ens ina m qu e, quando

as conten das internaciona es chegam á em ergência de um   ul

timatum,  e a este segue-se o rom pim ento das relações diplo

máticas e ao emprego reciproco de represálias, a conseqüência

immediata, prevista e inevitável é a guerra.

cc

  A guerra, era , por tanto , o estado em que se achav a o

Brasil com o governo do M ontev idéo, posto que attenu ada

em seus effeitos le^aes pela extrema moderação do governo

imperial: o qual, so depois de constrangido pelo procedimento

caaa vez m ais aggrav ante da parte offensora, recorreu a

medidas de maior rigor, quaes o bloqueio dos portos do Salto

e Paysand ú, sobre a costa do Uru gua y, e o ataque d'esta

ultima praça, assignalada para ser o centro das hostilidades

que se machinavam contra o Império.

o   O governo de M ontevidéo allegou ignorar a natureza e

alcance de seus próprios actos, mas apenas vio de facto rea-

lisada a sua alliança com o governo paraguayo, entregou

w

se

ao mais frenético enth usias m o, iançando-nos pela sua im -

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prensa official as mais affrontosas diafribes, fechando os seus

por tos ao com m ercio pacifico dos dou s paizes, e ofierecendo

a civilisação moderna esse repugnante espectaculo da queima

dos autographos dos tratados subsistentes entre o Império e

a Republica.

K   E m presença de todos os factos e circum stancia s qu e o

abaixo assignado acaba de recordar, o estado de guerra entre

o

  Brasil e o g ov ern o de M ont evid éo não é de certo um facto

novo e imprevisto, cuja superveniencia exigisse novas mani

festações da parte do go verno imperial ao da R epub lica A rg en

tin a, em cuja illustração e amizade elle tanto confia. O objecto

d'esta commünicação, Sr. ministro, é def inir a nova posição

que os acontecimentos crearam ao governo imperial relativa

mente á luta interna da Republica Oriental .

« O gov erno de Sua Magestade, como o abaixo assignado já

obs erv ou , calando seu int imo juizo sobre as causas que ori

ginaram um a nova guerra civil n'aquelle Estado l imitro phe,

e dominando as apprehensões que não podia deixar de susci

tar- lhe a serie de tantos attentados impunemente perpetrados

contra os residen tes brasileiros, se hav ia prescripto á m ais

prudente neutralidad e entre o general F lores e o gover no de

Montevidéo. Não procedia assim porque lhe fosse indifferente

a pacificação da Republica, mas por fidelidade ás máximas

de sua polit ica externa, que não admiüe as intervenções se

não como casos raros e excepcionaes.

« H oje , por ém , essa neutralidade nao  é  mais compat ive l

com a se gura nça e interesses essenciaes do Bra sil , e de facto

cessou, com o segur am ente o terá notado o governo argen t ino,

desde os succe ssos qu e se produziram em frente de Pa ys an dú ,

onde as armas do Brasil se acharam naturalmente all iadas

és do exeic i to oriental que commanda o general Flores .

a 0 g ov ern o im per ial tem hoj e o direito e o dever de

não l imitar-se á s imples reparação de seus próprios aggravos,

na luta armada a que o provocou o governo de M on tevid éo.

« N ão só a - hum anid ade , m as t am bém a su a segurança

exige que el le contribua ao mesmo tempo para o restabele

cimento da paz da Republica.

« O govern o imperial preencherá esta dupla m issão proce

dendo de accordo com o gener al F lore s , a quem reconh ece

como bel l igerante legit im o e nob rem ente dedicado aos m ais

sagrados interesses da sua pátria.

« Tal é a del iberação que o go ver no imperial ju lgou co n

veniente manifestar of f ic ialmente ao gov erno arg en t ino , pres

tando ass im a homenagem do seu respeito aos pactos exis tentes ,

e aos sen t im en to s de reciproca conf iança e est im a que tem

encontrado da parte do mesmo governo argent ino.

« O abaixo ass ignad o aproveita-se d 'esta oppo rtunidade para

renovar a S. Ex. o Sr. D . R ufino de E liza lde os pro testo s

da sua perfeita est ima e alta consideração.

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« A S . Ex. o Sr. D . R ufião de E lizalde, m inistro e secretario

de estado das relações exteriores da Republica Argentina.-—

José M aria da Silva Paran hos. »

O   governo argentino respondeu n'estes termos;

cc  Buenos-Ayres,  30  de Janeiro de  1865.

« O

  abaixo assignado, ministro e secretario de estado das

relações exteriores da Republica Argentina, tem a honra de

responder  á  nota de  19  do corrente, que lhe dirigio S.  Ex.

o Sr. conselheiro José Maria da Silva Paranhos, enviado ex

traordinário e ministro plenipotenciario de Sua Magestade o

Imperador do Brasil.

« D epois que o governo de Sua M agestade o Impera dor do

Brasil dignou-se fazer ao argentino as declarações mais sin

ceras e solemnes sobre sua politica no conflicto que desgra

çadamente surgio com o governo de Montevidéo, assegurando

a fiel observância dos tratados com a Republica Argentina

que garantem a soberania e independência da Republica Oriental

do Uruguay, só restava ao mesmo governo argentino cumprir

com os deveres da m ais stricta neutr alidad e, que se imp uzera

n'esta questão por altas considerações que eram superiores

ás justas causas que podiam autorisar o aban dono de sua

politica de neutralidade.

cc Com prehendeu, poré m, S. Ex. o Sr. Presiden te da R e

publica que, mesmo dentro dos limites d'essa neutralidade e

apezar da posição excep cional qu e a tal respeito lhe fora

feita por actos injustificáveis do gover no de M on tev idé o, os

maiores interesses dos povos do R io da Prata e de todos os

neutros lhe impunham o dever de não deixar de fazer

quanto lhe fosse possivel para alcançar um a soluçã o am i

gável das questões que tinham de produzir numerosos males

se se debatessem pelas armas. T en tou por tanto u ni accordo

que infelizmente não logrou alcançar, vend o frustradas as

esperanças mais legitimas e os mais decididos esforços.

« Desde então creou-se para elle

 -

  um a situação que o tem

impedido de propender a evitar as calamidades d e um a gu er

ra que vivamente deseja ver concluída.

« D isposto entretanto a aproveitar qualquer oceasiã o q ue

se lhe offereça de poder realizar os seu s m ai s arde ntes d e-

zejos com êxito provável, tem que agradecer a S. Ex.  o  Sr.

Paranhos a com mü nicação que se servio passar ao abaixo

assignado e expressar a confiança qu e abriga o gov ern o ar-

gentiuo na política justa e elevada do governo de S ua M a

gestade o Imperador do Brasil, e de qu e, qualquer que seja  o

curso qu e siga o co nflicto em q ue se acha com   o  governo de

Montevidéo e o resultado da guerra q ue su rg io, nen hum a att enu a-

Çáo soffrerá a indepe ndên cia e sobera nia da R epublica O ri

ental do Uru gua y, garantidas por tractados e decla raç ões

solem nes que é mui satisfactorio vêr reiterar de um   m odo

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tão expresso e categórico em a nota a que responde o ab a i

xo assignado.

« Fazendo os mais ardentes votos pela conclusão do conflicto

que  tantos males cau sa, de m odo que sejam os m eno res

possiveis, cu m pre o gove rno a rgentino com o agradável dever

de reiterar a S. Ex. o Sr. Paranhos a expressão de sua mais

alta e distinota consideração e estima.

« A S . Ex. o Sr . conselheiro José M ana da Si lva P ara nh os .

enviado extraordinário e ministro plenipotenciario de Sua

Magestade o Imperador do Brasil .—

ttup.no de Elizalde.»

Com a mesma data dirigio o conselheiro Paranhos outra

nota ao corpo diplomático em Buenos-Ayres.

<< M issão espec ial do Brasil.— Bu eno s-A yres 19 de Ja ne iro

de

  1 8 6 5 .

« O abaixo assignado, enviado extraordinário e ministro ple

nipotenc iario de S ua M agestade o Im perador do Brasil , a cre

ditado em missão especial junto á Republica Argentina, tem

a ho nra de dirigir-se ao S r ministro de para m a

nifestar-lhe em nom e e ordem do governo imperial a posição

ac tua l do " 'Brasil relativam ente ao gover no de M ontev idéo.

« Um a num eros a população brasi leira habita, como sabe o

Sr. ministro, a campanha do Estado Oriental do Uruguay,

onde exerce a indu stria pastori l e m anté m u m com me rcio

reciprocamente ut i l com a provincia d e S . Pedro do Rio

Grande do Sul , terri tório brasi leiro l imitrophe,

« Esses pacificos e indu striosos hab itante s foram victim as

da mais cruel preseguição no largo periodo que durou a famosa defensa de M ontevidéo , susten tada contra o gene ral

Oribe e seu al l iado o governador Rosas.

« L ibertada a R epubl ica do Ur ugu ay da m ão de ferro que

sobre ella pesa ra por ta nto s an no s, e operado este feliz ac on -  .

tecimento m edia nte o generoso concurso do Brasi l , era de

esperar que os Brasi leiros encontrassem no terri tório oriental ,

se não o acolhim ento que a boa indole de seus na tura es

dispensa a todos os estrang eiros, pelo m eno s a protecção lega l

que lhes não podia ser recusa da. O governo impe rial assim

o acreditou , e n 'esta confiança descansou por mu ito tem po ,

a t é que um a nova ser ie de a t t en t ados i m pun es ve i o con ven

cei -o do co ntr ario , revela ndo um propósito host i l , da pa rte

das próprias autoridades, á nacionalidade brasi leira.

«  0  governo de Sua Magestade o Imperador não imputa, o

que fora insensato, ás autoridades da Republica, a responsabi

lidade de todos os delictos perp etrad os n'es tes últi m os an n os

eontra os subdi tos bras i lei ros na campanha or iental ; mas tem

os mais sér ios fundam entos para queixar-se e reclamar en er

gicamente a respeito de crimes em que os próprios agentes

ao poder publ ico appa recem culpa dos, como autores e c ú m

plices, ou pela mais suspeitosa negligencia. Estes factos,

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por sua successão e grav idade , constituem um estado de

cousas inquietador para a população brasileira de um e outro

lado da fronteira com m um , e assum em um caracter ainda

mais ameaçador, quando combinados com actos do governo

supremo da R epu blica , qu e parecem ter sido dictados pelo

mesmo pensamento de hostilidade aos próprios Brasileiros.

<( Collocados n'esta situa ção os su bd itos brasileiros residen tes

no Estado Oriental, e reapparecendo de novo a guerra civil

sobre o solo da Republioa, calamidade que dura ha quasi

dous annos, era de receiar que elles, possuídos da idéa de uma

perseguição systematica por parte das autoridades que os de

viam proteger, se transv iassem da lin ha pacífica qu e lhes

traçava o procedimento de governo imperial e prestassem seu

apoio á revolução.

(( O governo de Sua M agestade proc uro u prev enir esse des

vio de sua natura lidade , qu e, posto devido a u m a preo ccup a-

ção,

  infelizmente, assaz fundada, seria a seus olhos uma falta

grave e indesculpável. O s esforços do govern o im perial co n

seguiram que a grand e m aioria dos residentes brasileiros não

tomasse parte, nem directa nem ind irectam ente, n a questão

interna da soledade oriental, a que eram e deviam conser

var-se estranhos.  ) $ | |  sijfa

« A ssim procedendo, era direito e dever do governo imp e

rial exigir ao mesmo tempo do governo da Republica medidas

que tranquilUsassem os Brasileiros domiciliados no Estado

O riental, reparand o os dam nos j á soffridos, e dan do -lhes g a

rantias de segurança para o futuro.

« A missão diplomática confiada ao consum mad o critério do

conselheiro José A ntônio S araiva tinha por objecto o duplo

pensamento de manter a neutralidade do Brasil na contenda

civil da R epublica e obter justiça e garan tias pa ra os su b

ditos brasileiros, com razão sobresaltados e profundamente

resentidos de seus contínuos e graves soffrimentos.

a Desg raçadam ente, essa missão de paz, m al acolhida desde

o seu principio pelo governo de M on tevid éo, vio afinal frus

trados todos os seus esforços. A s reclam açõe s bras ileiras foram

repeli idas com um a acintosa reconvenção e a mediação con -

june ta dos representantes do B rasil, da Republica A rgen tina e

da In glaterra, a bem do restabelecim ento da paz in ter na da

Republica, nào teve melhor exitõ. Era, porém, obvio que a

cessação da guerra civil teria acalmado todos os ânimos e

dado lugar ao ajuste amigável das differenças do go ve rno

oriental com os do Brasil e da Republica Argentina, governos

visinhos e garantes da independência e integridade iPaquelle

Estado intermediário.

« O governo de M ontevidéo, tomado das mais deploráveis,

hallucinações de par tido , des atten de u a todos os conselhosda razão, não deixando ao governo imperial outro recurso hon

roso senão o da força, para resalvar a sua dig nid ad e e ü *

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segu rar protecção, no presente e no futuro, aos su bd itos bra

sileiros.

« Esta resolução extrem a, mas indeclináv el, foi an nu nc iad a

aquelle governo que a recebeu com a mesma obstinação, e

m al interpretand o a repug nânc ia oom que o Brasil lançava

m ão das m edidas coercitivas, provocou-o a proceder com m ais

ene rgia, e porfim levou o conflicto ás su as m ais grav es

conseq uenc ias.

« Pretextando intentos que não existiam

;

  nem pôde existir

por parte do Brasil contra a independência da Republica do

u ru g u a y , excitou os mais sediços e vulgares preconceitos

con tra o Im pério , a l liou-se ao governo do Parag uay e pro

curou, no interesse de suas paixões exaltadas, accender o

espirito de discórdia entre a familia arge ntin a. O seu de lirio

cheg ou ao pon to de escandalizar a civilisação do nosso século

com as scenas ina ud itas de um auto de fé, a que foram

eon dem nad os os autog rapho s dos tratados sub sistentes entre

o Império e a Republica .

« Como bem com preh end e o S r , o Brasil não podia

deixar de proseguir na guerra a que o provocou o governo

de M ontevidéo, nem m ante r a sua pol it ica de neu tra l idad e,

quanto ao conf l ic to interno da Republica . Esta neutra l idade

tornou-se inco m patíve l, nã o só com o f im a que o gov erno de

S ua M agestade se t in ha proposto em suas ju stas reclam açõe s,

mas a té com a segurança do Império, hoje ameaçado por

dous inim igo s que se a lu aram para feril-o em sua dign idade

e desconhecer os seus direitos.

a

  O gov erno imp er ia l , por tanto , con t inua em gu er ra como gove rno d e M ontevidéo, e tem resolvido concorrer tam bé m

com as su as a rm as e com os seus conselho s para a pacificação

interna da Republica , procedendo de accordo com o general

Flores, a qu em considera como legi t imo b el l ige ran te e crê

possuido da mais nobre dedicação á sua pátr ia . O governo

de S ua M ages tade espera qu e n ' es ta con junc tura , como em

outras análogas, poderá conseguir o seu legi t imo e benevolo

empenho, por m an e i ra qu e mereça as. sym pathia s de todo s

os governos am igos , objecto que tem sem pre em vista no s

mais importantes actos de sua vida interna e externa .

« O abaixo assigna do tem a h o n ra d e offerecer ao S r

as expressões do seu alto apreço , e rog a ao S r se di gn e

d ar c o n h e c im e n t o d a p r e s e n te n o t a á l e g a çã o d e . . . . e m

Montevidéo .

« A o S r . . . . — J o s é M aria da Silva Paran hos. »

As legações es t range i ras respo nde ram no m esm o sen t id o ,

que f icavam in teir ad as do qu e se pas sav a e

  o

  l e v a r i a m a o

conhecimento dos seus governos.

0

  estado de desordem e de exci taçâo

  contra o

  Bras i l em

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— 5*8 —

q u e e x i s ti a o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o , t i n h a l a n ç a d o m ã o d e

m e d i d a s " e x t r e m a s , j u l g a n d o a c h a r n ' e s s e s e x c e s s o s a s u a s a l

v a ç ã o o u c o n s e r v a ç ã o ; v e n d o o e x e r c i t o á s s u a s p o r t a s , q u e s e

a u g m e n t a v a e d i s p u n h a a t o m a r a p r a ç a á f o rç a , c o n f o r m e

t i n h a a c o n t e c i d o á d e P a y s a n d ú , e n o p o r t o o s n a v i o s d e

g u e r r a b r a s i le i r o s q u e t i n h a m d e s t r u í d o c o m s e u s g r o s s o s

c a n h õ e s a s m u r a l h a s e e d i f i c io s d ' a q u e l l a c i d a d e . W e s t a s c i r

c u m s t a n c i a s , d e a p e r t o o u . d e d e s e s p e r o , r e c o r r e u a o c o r p o

d i p l o m á t i c o a l l i r e s i d e n t e , p a r a i n t e r v i r e h a v e r s u s p e n ç ã o d e

h o s t i l i d a d e s a t é s e re a l i z a r a p a c i f i c a ç ã o d a R e p u b l i c a ; o

a u x i l i o q u e e s p e r a v a d o P a r a g u a y p a r a p o d e r s u s t e n t a r a g u e r r a

c o n t r a o B r a s i l, n ã o a p p a r e c i a ; p r o c u r o u o g o v e r n o d e A g u i r r e

a q u e l l e u l t i m o r e c u r s o q u e l h e r e s t a v a pa r a s a h i r d a s i t u a ç ã o

e m q u e s e a c h a v a . O m i n i s t r o i t a l i a n o d i r i g io a o c o m m a n

d a n t e d a e s q u a d r a b r a s i l e ir a a n o t a s e g u i n t e :

« L e g a ç ã o d e S u a M a g e s t a d e o R e i d T t a l i a . — M o n t e v i d é o

2 9 d e J a n e i r o d e 1 8 6 5 .

cc S r . B a r ã o . — F u i e n c a r r e g a d o p e l o s m e u s c o l l e g a s d o c o r p o

d i p l o m á t i c o d e r e m e t t e r a V . E x . a c ó p i a d e u m a n o t a q u e

a c a b o d e d i r ig i r a S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o P a r a n h o s . E n c a r

r e g a m - m e i g u a l m e n t e d e e x p r e s s a r a V . E x . a e s p e r a n ç a d e

q u e p o r s e u l a d o V . E x . s e p r e s t a r á á r e a l i z a ç ã o d a o b r a d e

c o n c i l i a ç ã o e p a c i f i c a ç ã o q u e e m p r e h e n d e m o s , s u s p e n d e n d o a s

h o s t i l i d a d e s . C o n s i d e r a r i a m o - n o s t e l iz e s s e n o s s o fim f o s s e a l

c a n ç a d o . R o g o e n t r e t a n t o a V . E x . d e a c e i t a r a s s e g u r a n ç a s

d o s s e n t i m e n t o s d a m i n h a m a i s a l t a c o n s i d e r a ç ã o .

cc A S . E x . o S r . v i c e - a l m i r a n t e B a r ã o d e T a m a n d a r é » c o m

m a n d a n t e e m c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s b r a s i l e i r a s n o R i o d a

P r a t a . —  Baphael U lysse Barbolan i.»

O c o m m a n d a n t e d a s f or ça s n a v a e s d o I m p é r i o n o R i o d a

P r a t a r e s p o n d e u a o m i n i s t r o i t a l ia n o d o m o d o s e g u i n t e :

cc C o m m a n d o e m c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s d o B r a s i l n o R i o

d a P r a t a . — B o r d o d a c o r v e t a

  Nitheroky,

  n a b a r r a d e S a n t a »

L ú c i a , 3 0 d e J a n e i r o d e 1 8 6 5 .

a I l l m . e E x m . S r . — O a b a i x o a s s i g n a d o , c o m m a n d a n t e e m

c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s d o B r a s i l n o R i o d a P r a t a , a c a b a d e l e r

c o m t o d o o i n t e r e s s e q u e m e r e c e , a n o t a q u e S . E x . o S r .

R a p h a e l U l y s s e B a r b o l a n i , m i n i s t r o r e s i d e n t e d e S u a M a g e s

t a d e o R e i d ' I t á l i a , d i r i g i o a S . E x . o S r . e n v i a d o e x t r a o r

d i n á r i o d o B r a s i l e m s e u n o m e , e n o d e s e u s c o l l e g a s d o

c o r p o d i p l o m á t i c o e m M o n t e v i d é o , e d e q u e s e d i g n o u d a r -

l h e c o n h e c i m e n t o ; n a q u a l p e d e u m a s u s p e n s ã o d e h o s t i l i

d a d e s p o r m a r e p o r t e rr a , d e i x a n d o - s e a s c o u s a s n o

  statu

  f * e *

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—   5 . 9

  —

até ao dia 15 de Fev ereiro próximo , em q ue, na fôrma da

constituição oriental, se deve renovar o poder executivo da

Republica,

« A preciando no seu devid o valor as considerações que

S. Ex. apresenta para justificar a conveniência d'esta deli

beração, o abaixo assignado sente não estar autorisado a

tom ar a gr ave responsabilidade do acto que V. Ex. reclama ;

porqu e el le prejudicará essenc ialm ente ás operações de guerra

por mar e por terra, que tem o rdem de seu governo para

exec utar . Po r isso fará am anhã marchar o exercito imperial

sobre Mo nte vid éo , (*) com o estava determinado, e se apre

sentar á com a esquadra de seu com ma ndo no porto d'essa

capital, e então terá a satisfação de entender-se pessoalmente

co m os Sr s. com m an da nte s das forças navaes estrangeiras, e

com V . E x. e seu s collegas, se se dignarem honral-o com a

sua attenção para provar-lhes que, se se acha firmemente

disposto a co ntinu ar a fazer a guerra, qu e o governo im

perial a c e it o u ^ e a qu e foi provocado, franca e efficazmente

co m o o Brasil tem incontestável direito, e pela fôrma com

que m ode rna m ente tem sido feita pelas grandes potências da

E uropa em toda a parte do m und o, onde tem levado sua s

armas ; não m en os inclinado está a conciliar, no ma is po s

sivel, os direitos de belligerante com os deveres de humani

dade. N ão obs tan te, para mostrar a V. E x. e a seus collegas

o s bons desejo s de que se acha possuído de que a questão ,

hoje tão complexa do Estado Oriental com o do Brasil, depois

da guerra injusta e desleal que no s está fazendo seu alu ado ,

o Pa rag ua y, que tala desassombradamente nossas povoações

e nosso s cam po s da indefesa provincia de M atto Grosso,

cheg ue a um a solução honrosa e digna para os bellígerantes,

conforme a n ecessidade universal de paz, o abaixo assignado

expede u m vapor ás ordens do E xm . Sr. enviado extraordi

nário do Brasil, e o convida a uma conferência no porto de

M ont evid éo, na qual ouvirá os conselhos de sua luze s e

exp eriên cia, e no em tanto apro veita a opportunidade para

renova r a V . Ex . os seu s protestos de consideração e res

peito.

« A S. E x. o Sr. Raph ael U lyss e Barbolani. —

  Barão de

tamandaré. »

O   ministro  italiano em M ontevidéo pedio suspensão de hos

tilidade em n om e do corpo diplomá tico ao vice-a lmira nte bra

sileiro, n a nota qu e fica transcripta ; o vice-alm irante de u-lh e

a resposta q ue acabam os de vôr. Para o m esm o fim o füciou

(*) Não se pôde deixar de notar que o visconde de Tamandaré diz:  — f a r á

m a r c h a r a m a n h ã

  o exercito sobre Montevidéo.

 —

  Parece que era elle

  o c o m -

m a n d a n t e d o

  exercito;

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— 5 2 0 —

á  missão especial do Brasil, no Rio da Prata, enviando-lhe

a no4 seguinte :

« Legação de Sua M agestade o Rei dlta l ia .— M on tev idé o,

29  de Janeiro de  1865.

« O abaixo assignado, m inistro residente de

  S u a

  Magestade

o

  Rei d'Italia,'

  foi

  encarregado por seu s collegas do corpo

diplomático em Montevidéo, de dirigir a seguinte commüni

cação a S. E x. o Sr. conselh eiro Jo sé Maria da Silv a Par a

nhos, enviado extraordinário e ministro plenipotenciario de

Sua Magestade  o  Imperador do Brasil, acreditado em missão

especial junto á Republica Argentina.

« Considerando que o poder executivo da Republica Oriental

do Uruguay de ve, nos termos da con stituição , ser .renovada

a 15 de Fevereiro próximo e que  o  novo governo, l ivre de

todos os antecedentes pessoaes e de todos os empenhos ante

riores, poderia achar-se em condições mais favoráveis a uma

solução pacifica das differenças qu e condu ziram a um a s i

tuação tão lamentável a todos os interesses, os membros do

corpo diplomático concordaram no juizo de que  o  melhor

m eio de chegar a um a solução tão desejada, seria qu e a

eleição do novo chefe do govern o p udesse verificar-se co m

toda a calma e re gularidade nec essá rias.

« E m conseqüên cia d'isto  o  corpo diplomático expressa o

voto de que

  o

  representante de Sua Magestade

  o

  Imperador

do Brasil concorra para a realisação de u m ac on tec im en to

tão salutar, combinando em um a suspensão de hostil idade spor mar e por terra, e deixando as cousas no

  statu quo,

  até

a data supra mencionada.

« O corpo d iplomático folga de esperar, que no inte rva llo,

a obra da pacificação poderia ser accelerada por uma me

diação aceitável por todas as partes, e que seria o melhor

meio de evitar as complicações internacionaes, que arrastarão

quasi infallivelmente operações de guerra, dirigidas contra uma

cidade essencialmente com mercial, com o é M onte vidé o, e onde

os interesses e habitantes estrangeiros estão em t&o   grande

maioria.

« Confiando nos se ntim ento s de con ciliação e hum anid ade ,

tanto quanto nas luzes de S. Ex.,  o  abaixo assignado e  seus

collegas l isongeam-se de acreditar que o Sr. conselheiro Pa

ranhos acolherá com a deferencia que merece este passo, não

menos conforme á necessidade universal da paz  q u e  ao pen

samento de seus governos.

• O abaixo assignado aproveita a oceasião para renovar a

S. Ex. a segurança da sua mais alta consideração.

« A S. Ex. o Sr. conselheiro José Maria da Silv a P ara

nhos.—Raphael Ulysse Barbolan i. »

Nào era só pelo desejo de haver paz entre o Brasil e o

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— 321 —

Estado Oriental, que o corpo diplomático residente em Mon

tevidéo se esforçou n'esta mediação para com o ministro bra

sileiro ; nem também com intenção de proteger o gov ern o

de Aguirre. Era principalmente por querer livrar aquella cidade

de um bombardeio por mar e terra, com o que os negociantes

estrangeiros teriam muito prejuizo, ou perderiam tudo quanto

tivessem; o corpo diplomático queria evitar este estrago, e

novas complicações entre os seus governos e este Império;

queria chegar a este rim por qualquer modo. Foi muito bem

emprehendida aquella negociação considerando-a, ou pelo lado

do interesse commercial, ou por principio de humanidade ;

mas o direito de fazer a guerra para desaffrontar a honra nacio

nal estava acima de todas as considerações. 0 conselheiro Para

nhos respondeu ao ministro italiano com a nota que se segue :

« Missão especial do Brasil. — Buenos-Ayres, em 3 1 Ja ne i

ro de  1 8 6 5 .

a  O abaixo assignado, enviado extraordinário e ministro ple

nipotenciario de Sua Magestade o Imperador do Brasil, acre

ditado em missão especial junto   á  Republica Argentina, tem

a honra de responder  á  nota que S. E x . o Sr. Raphael

Ulysse Barbolani, ministro residente de Sua Magestade o

rei de Itália, lhe d irigio em data de 2 9 do corrente, por si

e em nome de seus collegas, membros do corpo diplomáticoresidente em Montevidéo.

a O Sr . Barbolani observa em sua referida nota que o

poder executivo da Republica Oriental do Uruguay, nos

•termos da constituição respectiva, tem de ser renovado no

dia

  15

  de Fevereiro próximo, e que o novo governo, livre

de

  todos os antecedentes pessoaes e todos os empenhos an

teriores, poderia achar-se em condições mais favoráveis a um a

solução

  pacifica das differenças que trouxeram uma situação

tão lamentável para todos os interesses.

« F undados n'esse pcesupposto, diz o Sr. Barbolani, os

membros do corpo diplomático de M ontevidéo são tod os

concordes

  em pensar qu e o melhor m eio de chegar a essa

solução

  tão desejável, seria dar lugar a que a eleição do

novo

  chefe do governo se pudesse fazer com toda a calma e

regularidade

  necessária.

« Em conseqüên cia d'este pensam ento, o m esmo corpo d i

plomático  ennuncia o voto de que  o  representante de Su a

Magestade o

  Imperador do Brasil concorra para a realização

íe um

  acontecimento tão salutar, prestando

-se á

  suspensão

te hostilidades  por mar  e  por terra,  e  deixando as  cousas

*o*tatuquo,

  até a

  data

  supra menoionada.

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522 —

cc  o  corpo diplomático, con clue o Sr . m inistro , abriga a

esperança de que n'este intervallo a obra da pacificação po

deria ser acceierada por u m a m ediaçã o aceitável para todas

as partes, e que seria o m elho r m ei o de evitar as com pli

cações internacionaes, que,  é  qu asi in fallivel, provirão de

operações dirigidas contra um a cidade esse ncia lm ente c o m

mercial, como  é  a de Mo ntevidé o, na qua l os interesses e

habitantes estrangeiros se acham em grande maioria.

cc

 O Sr . B arbolani termina su a nota exprimindo', em ter

m os os ma is benevolos para com o abaixo assignado, a

confiança que elle e seu s dign os collega s nutriam de que

seria acolhida pelo representante do Brasil, com a deferencia

que merece, uma tentativa que S.S . E.E x. consideram não

meno s conforme com a n ecessidade universal de paz, que

o pensamento de seus respectivos governos.

« O abaixo assignado acolheu com a deferencia qu e deveaos senhores membros do corpo diplomático de Montevidéo,

e tomo u na mais séria consideraç ão a idéa sugge rida por

S.S . E.Ex. e os m otivos em que a fundam .

« O abaixo assignado passa a manifestar, com a urgên cia

e franqueza que as circumstancias exigem, todo o seu pen

samento sobre a dita suggestão. Felizmente, hontem mesmo,

data em que o abaixo assignado recebeu a nota do S r. Bar

bolani, chegaram-lhe communicações do Sr. almirante Barão

de Tam andaré, comm andante em chefe da esquadra imperial,

que o ha bilitam para conhecer o parecer d'este e a sua i n

teira conformidade de vistas com o E x m . Sr . Brigadeiro

general D . Ve nan cio F lores, chefe das forças orienta es qu e

se acham alliadas ás do Brasil na gu erra actual*

« Os direitos da hum anida de e os interesse s gera es, em

nome dos quaes faliam os Srs. membros do corpo diplomá

tico de M ontevidéo, sempre encontraram e encontrarão da

parte do governo imperial as m ais decididas sy m pa th ias , e

toda a possivel deferencia; m as são esses m esm os direitos e

interesses que, no caso vertente, se oppõem a qualquer tem

peramento, cuja eventualidade mais provável seja a prolonga-

ção do mal que se quer evitar, e o progresso de seus tristes

e perniciosos effeitos.

« A dissenção civil que dilacera o E stado O rientai, e a guerra

a que o governo de M ontev idéo provocou o Brasil, já directa-

mente, já por meio da sua alliança com o governo do Pa

raguay, te m custado m uit o sa ng ue precioso e prejudicado

interesses num erosos e de alta m on ta, não em M ontevidéo

som ente, m as em todo o Estado Oriental e em todo o Bra sil.

«

  As circulares que o abaixo assignado teve a honra de di

rigir ao corpo diplom ático acreditado jun to á R epu blica A r

gentina, assignaiam claram ente e assás justificam a posição

do Brasil em face dos gov erno s c om qu em se acha em estado

de guerra. Por sua parte, os go ver no s de M on tev idéo e da

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Rep ublica do Paraguay, nào deixam também a menor o W d a

sobre os sentimentos que os dominam, e sobre os seus pla

nos de implacável hostilidade ao Império.

« Quando tanto sangue

  j á

  tem corrido nos campes do E s

tado Oriental e na província brasileira de Matto G ro sso ;

quando uma grande

  parte

  da nação or iental está votada aos

ódios  politicos  que reinam em Montevidéo; quando os  c o n

sideráveis interesses nacionaes

  é

  estrangeiros, que representa

a paz do Br asil, tão injusta e cruelm ente perturbada pelos

seus actuaes inimigos, exigem a prompta cessação de tão la

mentável estado de cousas,

  q

  abaixo assignado não pôde coni-

prehender a opportunidade. justiça e efficacia da medida ora

iniciada pe los illustrados mem bros do corpo diplomático de

Montevidéo.

  v

V

« A

  guerra é uma calamidade que todos deploram, e que

a todos prejudica, mas, infelizmente, a guerra é ainda uma

necessidade indeclináve l na yida das nações.  A  de que se

trata é um caso extrem o, cuja responsabilidade não poderá

ser com razão imputada ao governo de Sua Magestade, nem

ao procedimento dos seus representantes no Rio da Prata.

« A

  cidade e a população pacifica de Montevidéo não mere

cem m en os contemplação ao abaixo assignado do que ao Sr.

Barbolani e aos seus illustres collegas, mas a cidade de Montevi

déo,  convertida em praça de guerra pelo inim igo do Brasil,

nãoj pôde hoje gosar de u ma imm unidade que

  o

  direito das

gentes não concede, que nenhum belligerante poude ainda

adm ittir e que tornaria interm inável a luta que se deseja

fazer cessar.

« A

  medida suggerida em

  a nota

  do Sr. Barbolani, como

podendo conduzir a uma solução pacifica da crise em que o

govern o de M ontevidéo se collocou para com

  o

  do Brasil,

não poderia inspirar ao abaixo assignado a menor confiança,

ainda quando assentasse em principios verdadeiros. O Sr . Ba r-

bolani, po rém , com eça por suppôr a existência de u m facto

impossivei, qual a organisaçao de um governo eleito em

Montevidéo no dia 15 do mez próximo futuro, de conformi

dade còm a constituição da Republica Oriental.

« Onde estão as condições iegaes d'esse novo governo, sendo

certo que expirou o mandato dos que deviam elegel-o, e não

se pôde proceder a novas eleições de representantes e sena

dores,  em quanto durar a guerra civil?

« Ainda adniittindo-se que em M ontevidéo se pud esse or ga

nisar constitucionalmente um novo governo, e que este fosse

dotado da necessária ab negação e prudência, não lh e seria

permittidb corresponder ás justas exigências da situação actua l.

« Quando a população pacifica d*aquella cap ital fo ge,

  n ã o

atterrada p elos sitiadores, entre os qu aes m uitas das ia mi lias

e m i g r a d a s

  vão procurar abrigo, mas pelo

  furor

  dos que dominam dentro da praça, não é dado razoavelmente esperar as

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mesmas influencias, qu e tanto terror causam , se prestassem

açificamente a um a solução estável para a Rep ub lica e

onrosa para o Brasil.

« O abaixo assignado não o es pe ra ; e, pois, procedendo

conforme a sua consciência e ás instrucções do seu governo,

nào pode acceder por parte do Brasil, á medida proposta petos

illustres membros do corpo diplomático de Montevidáo.  O

abaixo assignado considera efse meio irrealisavel, incompatível

com os direitos e a defeza do Im pér io, e até contrario aos

interesses especiaes dos neutros. Seguramente estes perderiam

com a prolongação da guerra o seu maior cncarn içam ento,

conseqüências necessárias de uma medida que teria por effeito

animar os inimigo s do Império, e dar-lhes tempo para nov os

preparativos e para novas aggressões no Estado Oriental, na

provincia de S. Pedro do R io Grande do Su l e em M atto

Grosso.

cc

 O abaixo assignado se compraz em crer q ue . S. E x. o

Sr. Barbolani e seus collegas farão inteira justiça a estes sen

timen tos e conv icções, que o abaixo» assignado lhes expressa

por si e em nome do seu governo, bem com o espera que

os Srs. ministros apreciarão em sua verdadeira luz a gravi

dade das circumstancias actuaes, e os legítimos motivos que

determinaram a

  resolução

  do Brasil, já annun ciada do m odo

o m ais solem ne e deferente perante os representantes de todos

os governos amigos.

cc

  O abaixo assignado tem a honra de renovar a S. E x. o

Sr. Raphael Uilysse Barbolani as seguranças de sua mais

distineta consideração.

« A S .

  Ex. o Sr. Raphael U lysse Barbolani.—José M aria da

Silva

  Paranhos.

  »

A resposta do conselheiro Paranhos, que acabamos de trans

crever, dirigida ao corpo diplomático de Montevidéo, foi

baseada no principio de qu e, as offensas feitas ao Brasil

não podiam esperar pela eleição de um no vo presidente, o

que era duvidoso conseguir-se emq uanto durasse a guerra civil.

Respondeu que eram bem conhecidas as inte nç ões dos g o

vernos do Estado Oriental e do Paraguay de hostilisarem ao

Império.

Que depois de serem assassinados tantos Brasileiros no

Estado Oriental e em Matto-Grosso, n&o se podia corapre-

hender a efficacia de tal medida proposta pelo corpo diplo

mático de M ontevidé o. Mostrou o conselheiro Paranhos que

o governo de Aguirre era de tal natureza, que a população

pacifica da cidade fugia para o exercito sitiador, onde achava

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— 525

aco lhim ent o para livrar-se do furor dos que dom inava m na

cidade, Que observando as inroucçtfes que tinha, nâo podia

ann uir á med ida proposta pelos illustres mem bros do corpo

diplomático de Montevidéo.

BU tfhi, as rasões do enviado do Brasil conv encer am aos

membros do corpo diplomático, *fc(ue não era possivel haver

uma cessação de hostilidades pélás razões por elles allegadas,

e

  rias uircàinstâncias em qu e se a chava

  a

  Republica.

O   g a b i n e t e  de  31  de agosto de  1864  queria que Montevi

déo  fosse  tomad a pela forÇa das arm as, julg an do que a di

plomacia ahi não  inf lúiâ  se nào como um a cousa muito se

c u n d a r i a ;  n ào  sabia os meios de'defe za que t inha aquella

p r a ç a ,

  nem também o estado do nosso exercito, acampado á

vi sta de M on tev idé o para estabelecer 6 sitio e tomar a praça

de assalto.

F e l i z m e n t e  o enviado brasileiro no Rio da Prata, tinha  'já

n ' e s s é  tempo perfeito conhecimento do estado dos negócios;

en te nd eu , e com razão, que tinha ainda m uito que fazer

a n t e s q u e

  se pin cipia ssem ' as hostilidades contra a praça, a

qual tinha sufficientes meios  para  se defender.

O

  povo

  do partido do governo de Aguirre, ou partido blanco,

log o qu e teve noticia de que a praça de Pa ys an dú foi. to

m a d a  pelo  exercito do  Bras i l ,  rompeu em excessos extraordi

n á r ia . A lgu ns exaltados gritararrt^ha ru a: — A ba ix o o governo;

mat a  os Br a s i le i r os — ; os s inos  tocaram reb ate; o povo reunio-

se n as praças, a guarda nacional correu para os q ua rté is; foi

uma scena de tumulto e confuzão que o governo não pôde

conter.

O rga nisou -se um a jun ta de salvação publica, cuja primeira

ex igê nc ia foi a exoneração do rtíínistro da guerra, irm ão d e

Leandro Gomes, que se t inha mostrado frouxo; subst ituio-o

una Su sv iella , que era reco nhecido com o um lou co . D ahi por

diante rein ou comp leta anarchia n'aquella infeliz cidade, O

general Sáa , qu e t inha marchado com 3,000 ho m en s das tres

armas para ir soecorrer Paysandú, reoolheu-se a Montevidéo

com pouca gente , e foi n om eado com ma ndan te em chefe do

e x e r c i t a d a capital .- •© celebre coion el M assa, que se t inha

5 3

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conservado até então estranho  á  luta, foi nomeado para com-,

mandar a defeza da cidade velha.

N ão faltaram assassinos e degolladores ao governo blan co,

disse a correspondência de B ue no s-A yre s; a imprensa declarou

que não se devia dar quartel, acon selhou o pun hal e outras

armas d'esta classe. A guirre decretou lut o pela m orte dos d e

fensores de Paysandú; mandou recrutar todos os homens e

crianças; isto fez com que a em igração fosse extraordinária

para Buenos-Ayres.

Para contrabalançar a influen cia da jun ta de salvação p u

blica, Aguirre nomeou um conselho de estado permanente,

composto de dez membros»

Como o governo precisava de muito dinheiro para se sus

tentar, além dos impostos estabelecidos, impoz m ais um em

préstimo aos bancos Mauá e Commercial, da quantia de

500,000

  pezos, qu e foram recebidos em presta ções de

  80,000

pezos por m ez ; dando por isso curso forçado ao seu pap el

emittido por estes estabelecimentos por seis mezes.

O Banco Mauá cedeu logo a esta exigência, que foi um

roubo offieial; e o Banco Com mercial im itou -o d epois. I m -

mediatamente correram os possuidores de taes notas ao troc o,

e foi tal a pressão que exerceram e a irritação que mani

festaram quando se lhe recusou o troco em m etal, que

desembarcaram forças das estações estrangeiras para proteger

estas casas de credito, que soffreram muito em sua reputa

ção com a condescen dência que tiveram . O Banco brasileiro

deu dinheiro ao governo de Aguirre para comprar munições

de guerra, destinadas a serem empregadas contra as tropas

brasileiras.

O govern o de Aguirre, debaixo da influen cia da sociedade

popular, mandou preparar partidas de aventureiros, com

mandadas por Basilio Munhoz e outros, para invadirem a

provincia do Rio Grande.

0 governo ma ndou remover a pólvora do Cerro para as

abobadas, armazéns no porto de Montevidéo; esta mudança

causou grande susto em toda a po pulação , p rincipalmen te na

estrangeira; seus agentes diplom áticos empregaram todos os

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— 3 2 7 —

e s f o r ç o s p a r a a l i v r a r d o í m m e n s o p e r i g o d 'a q tt el la m i n a

q u e , s e r e b e n t a s s e , n a o d e i x a v a e m p ó u m a s ó c a s a d a c i

d a d e . O m i n i s t r o i n g l e z f ez u m p r o t e s t o , n o q u e f oi i m i t a d o

p e l o s s e u s c o l l e g a s , c o n t r a a e x i s t ê n c i a d a p ó l v o ra n a c i d a d e :

h o u v e q u a s i u m r o m p i m e n t o c o m o g o v e r n o , q u e p o r fim

c e d e u á s r e c l a m a ç õ e s d o c o r p o d i p l o m á t i c o . Á u g m e n t a r a m a s

f o r t i f i c â ç õ e s f o r a d a c i d a d e , e t u d o p a r e c e u i n d i c a r u m a s é r i a

r e s i s t e m i a . O s F r a n c e z e s d i r i g i r a m a o s e u r e p r e s e n t a n t e u m a

r e p r e s e n t a ç ã o p e d i n d o - l h e p a r a i n f l u ir s o b r e o g o v e r n o , a f i m

d e p o u p a r M o n t e v i d é o á s o rt e q u e t e v e P a y s a n d ú ; d e c l a r a

r a m q u e n o c a s o d e d e s t r u i ç ã o d e s u a s p r o p r i e d a d e s e d e

s u a s f a m i l i a s , s ó t o m a r i a m o s c o n s e l h o s d o d e s e s p e r o . T a l

f o i a s i t u a ç ã o d e M o n t e v i d é o e m q u a n t o o e x e r c i t o b r a s i l e i r o

m a r c h o u p a r a s e a p p r o x i m a r d o s s e u s m u r o s ,

U m m e z a n t e s , t i n h a - s e p r o n u n c i a d o o g o v e r n o d e A g u i r

r e c o n t r a o B r a s i l d e u m m o d o i n f a m e , m a n d a n d o q u e i m a r

o s t r a t a d o s q u e e s t a v a m e m v i g o r , n o d i a 1 3 d e D e z e m b r o

d e 1 8 6 4 , e m u m a p r a ç a c o m t o d a s a s f o r m a l i d a d e s q u e i m a

g i n a r a m ; f o i o ú n i c o m o d o q u e t e v e a q u e l l e g o v e r n o d e

n o s f a z e r a g u e r r a .

D ' e s t e a c o n t e c i m e n t o d á c o n t a o e x - m i n i s t r o d e e s t r a n g e i

r o s J o ã o P e d r o D i a s V i e i r a , n o s e u r e l a t ó r i o d e 1 8 6 5 , a

p a g i n a 2 2 , d o m o d o s e g u i n t e :

« O s n o s s o s t r a t a d o s d e 1 3 d e O u t u b r o d e 1 8 5 1 e s u a s

m o d i f i c a ç õ e s d e 1 5 d e M a i o d e 1 8 5 2 , a n n u l l a d o s e c a n c e l -

l a d o s p o r d e c r e t o d ' a q u e l l e g o v e r n o d e 1 3 d e D e z e m b r o d o

a n n o f i n d o , t i n h a m s i d o q u e i m a d o s e m a u t o d e f é c o m a

m a i o r o s t e n t a ç ã o e s o l e m n i d a d e n a p r aç a d e M o n t e v i d é o .

P o r e s t e d e c r e t o e o u t r o d a m e s m a d a t a , u n h a m s i d o a b e r t a s

a s á g u a s d a L a g o a M i r i m a o s n a v i o s e c o m m e r c i o d e t o d a s

a s n a ç õ e s , e f e c h a d o s o s p o r t o s d a R e p u b l i c a á b a n d e i r a

m e r c a n t e d o I m p é r i o .

« O g o v e r n o d a C o n f e d e r a ç ã o A r g e n t i n a h a v i a j á d e c l a r a d o

a o n o s s o m i n i s t r o e m m i s s ã o e s p e c ia l q u e , c o n t i n u a n d o a

p r e s t a r - n o s o s e u a p o i o m o r a l , e a r e c o n h e c e r o d i r e i t o c o m

q u e p r o c e d í a m o s , m a n t e r - s e - h i a c o m t u d o n e u t r a l n a q u e s t ã o ,

c o n v e n c i d o d e q u e e r a e s s a a p o s i ç ã o q u e l h e i n d i c a v a ,

a l é m d e o u t r a s c o n s i d e r a ç õ e s p o n d e r o s a s , a c o n v e n i ê n c i a d e

e v i t a r m a i o r e s c o m p l i c a ç õ e s i n t e r n a c i o n a e s .

« p o i s , c o n s e g u i d a a t o m a d a d e P a y s a n d ú , r e s o l v e r a m

o%   c h e f e s d a m a r i n h a e e x e r c i to i m p e r i a l , d e a c c o r d o c o m e

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— 329 —

« T r i u m p h o u c o m   effeito esse  v o t o , e  o  S r . T h oro az  Villalha

a s s u m i o p r o v i s o r i a m e n t e a p r e s i d ê n c i a d a R e p u b l i c a , s e n d o

u m d o s s e u s p r i m e i r o s a c t o s d e t e r m i n a r a s u s p e n s ã o d a s h o s

tilid ad es p o r p a r t e d a g u a r n iç ã o d a p r a ç a , o q u e deu lu g a r a

que f o s s e m t a m b é m s u s p e n s a s a s o p e r a ç õ e s m i l i t a r e s p o r p a r t e

d a s f o r ç a s a i l i a d a s .

<< C o m p r e h e n d e n d o e a v a l i a n d o b e m a s i t u a ç ã o d e s e s p e r a d a

d a R e p u b l i c a , e c o n v e n c i d o d e q u e c o m n e n h u m o u t r o au

x i l i o , a l é m d o s s e u s p r ó p r i o s m i n g u a d o s r e c u r s o s , p o d i a c o n t a r

a p r a ç a p a r a r e s i s t i r , o S r . V i l l a l b a , c o m o m e d i d a d e s a l v a

ç ã o p u b l i c a e n o i n t u i t o d e e v i t a r a s c a l a m i d a d e s e h o r r o r e s

d e u m b o m b a r d e a m e n t o e a s s a l t o à c i d a d e , q u e , s e n a o s e

r e n d e s s e o u c a p i t u l a s s e , s e r ia i n e v i t a v e l m e n t e t o m a d a á f or ça

d e a r m a s , e x t i n g u i o a l e g a ç ã o o r i e n t a l n o P a r a g u a y , e t r a c t o u

d e e n t a b o l a r n e g o c i a ç õ e s p a ra o r e s t a b e l e c i m e n t o d a p a z i n

t e r n a d a R e p u b l i c a , s e n d o n ' e st e e m p e n h o s e c u n d a d o p e l o

S r . B a r b o l a n i , r e p r e s e n t a n t e d a I t á l i a , e o r g â o o f fi c ia l d o o o r p o

d i p l o m á t i c o a l l i a c r e d i t a d o .

<t O r e s u l t a d o d ' e s t a s n e g o c i a ç õ e s c o n s t a d o p r o t o c o l l o c e l e

b r a d o a 2 0 d e F e v e r e i r o n a V i l l a d a U n i ã o , e a s s i g n a d o p e l o

g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s , e p e l o S r . M a n u e l H e r r er a y O b e s ,

n a q u a l i d a d e d e c o m m i s s a r i o d o g o v e r n o o r ie n t a l ; t e n d o o

S r .

  c o n s e l h e i r o P a r a n h o s , c o m o m i n i s t r o d o B r a s i l , a s s is t id o

á s n e g o c i a ç õ e s , e d a d o o a s s e n t i m e n t o e g a r a n t i a d o I m p é r i o

ao q u e p e l o m e s m o p r o t o c o l l o s e a j u s t o u .

o O c o n v ê n i o d e 2 0 d e F e v e r e i r o , q u e e s t á n o d o m í n i o p u -

b l i c o ,

  e q u e e m s u a i n t e g r a e n o o n t r a r o i s e n t r e o s a p p e n s o s

d ' e s t e r e l a t ó r i o , t r o u x e e m r e s u l t a d o a t e r m i n a ç ã o d a g u e r r a ,

t a n t o c i v i l c o m o e s t r a n g e i r a , e a c e r t e z a d a r e a l i s a ç â o d a s

c o n s e q ü ê n c i a s d a a l l i a n ç a c o m o g e n e r a l F l o r e s , q u e , c o l l o c a d o ,

e m v i r t u d e d o m e s m o c o n v ê n i o , á t es ta d o g o v e r n o p r o v i s ó

rio d a R e p u b l i c a , e s t a v a h a b i l i t a d o a d ar i n t e i r a e x e c u ç ã o a o s

c o m p r o m i s s o s s o l e m n e s q u e c o n tr a h ir a p ar a c o m o I m p é r i o ,

e q u e c o n s t a m d a s n o t a s r e v e r s a e s d e 2 8 e 3 1 d e J a n e i r o

t r o c a d a s e n t r e o n o s s o r e p r e s e n t a n t e e o m e s m o g e n e r a l , n o t a s ,

q u e i g u a l m e n t e a c h a r e i s e m s u a i n t e g r a n o s a p p e n s o s a q u e

j á m o r e f e r i .

« C o m t u d o o g o v e r n o i m p e r i a l j u l g o u o c o n v ê n i o d e 2 0 d e

F e v e r e i r o d e f i c i e n t e p o r n ã o h a v e r d e v i d a m e n t e a t t e n d i d o a

g r a v e s e f f e n s as , c o m m e t t i d a s n o u l t i m o p e r í o d o d a a d m i n i s

t r a ç ã o A g u i r r e , t a e s c o m o a s i n q u a l i f i c á v e i s c o r r e r i a s d o g e

n e r a l M u n h o z e c o r o n e l A p p a r i c i o , q u e , m a n d a d o s p e l o g o

v e r n o d e A g u i r r e p ar a e x e r c e r a c t o s d e v a n d a l i s m o c o n t r a a

p o p u l a ç ã o i n ò f f e n s i v a r i o - g r a n d e n s e , d e p o i s d e u m a t a q u e

i n f r ú e t i f e r b s o b r e

  a

  c i d ad e d e J a g u a r à o , c o m m e t t e r a m

  em suas

í m m e d i a ç õ e s o s n i r. is h o r r o r o s o s a t t e n t a d o s ; o i n s u l t o i r rogado

á bandeira

  n a c i o n a l ; e o i n s ó l i t o p r o c e d i m e n t o d o s p r i s i o n e i

r o s

  de

  P a y s a n d ú , q u ê , s o b

  a

  p a l a v r a d e h o n r a ,

  postos

  e m

liberdade por

  u m a c t o g e n e r o s o

  do

  c h e f e b r a s i l e ir o , r e c o l h e u -

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— 530 —

do-se a Montevidéo, empunharam de novo as armas contra o

Impé r io .

d S em emb argo d*esta deficiência, con sider and o to dav ia as

já mencionadas vantagens resultantes do convênio, o governo

imperial prestou-lhe o seu assentimento e approvaçao.

u Por Decreto de 3 de M arço do co rrente a nn o, o S r. co n

selheiro Par an ho s foi dispensad o da missão de qu e estava en

carregado no Rio da Prata, e por Decreto de 11 do mesmo

mez, foi nomeado o Sr. conselheiro Francisco Octaviano de

A lmeida R osa, em missão especial jun to do Estado O riental

do U rug uay e da Confederação A rgen tina.

« Co ncluin do, é-me grato recorda r q ue , se fomos enérgicos

no Estado O riental, nu nc a deixamos de ser hum an os e mo de

rados,

  procurando sempre atten der aos direitos e legítim os in

teresses dos n eutro s, e deixan do fora de toda a du vid a o res

peito que consagramos á indep endência e integridade do mes

mo Estado. Nos dous bloqueios de Pay sand ú e S alto não se

effectuou uma só presa.

« M ereceram con stantem ente toda a con sideração e as m aio

res deferencias os agentes diplomáticos e os chefes das forças

navaes estrangeiras.

« Não ha um só h abitante pacifico do Estado O riental , qu e

tenha de queixar-se de acto alg um de violência ou de vex am e

praticado pelas forças imperiaes , entr etan to qu e m ais de um a

acção hu m an itária , m ais de u m rasgo de gen eros idad e, alli

se acha m registrados para fazer o seu m erecido elog io. »

A té aq ui é o qu e diz o relatório de estrange iros de

  1 8 6 5 .

A ntes d e estabelecer o sitio de M ontevidé o, o gen eral Flores

dirigio uma nota ao   H O S S J  encarregado da missão especial, o

conselheiro Par anh os. na qual lhe assegurou qu e as reclama

ções,

  qu e motivaram o

  ultimatum

  de

  4

  de Agosto, seriam

satisfeitas e attendidas com rigorosa justiça e inteira lealdade;

valendo aquella declaração como empenho de honra, e como

acto da soberania or ien tal. O nosso encarreg ado d a m issão

especial respondeu que aceitava as declarações do general

Flores no s m esmo s term os , e com o caracter de com prom isso

internacional que o dito general lhe deu. Estas duas notas,

que são peças officiaes muito importantes para o caso de que

tratamos, convém transcrevel-as integr alm ente.

« Quartel Gen eral do Exercito L ibertador.— Co lorado, 28 de

Janeiro de

  1 8 6 5 .

« Sr, M inistro. — A all iança entre o Brasil e a gra nd e

maioria da nação orien tal , qu e me cabe a ho nra de rep re

sen tar, como genera l em chefe do exercito l ibe rta do r, está

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— 551 —

feita. E lla existe de ha m uito noa sentimentos e nas co n

veniências reciprocas; hoje existe também nos factos, porque

o triumpho de Paysandú foi sellado como o generoso sangue

dos bravos de uma e outra nacionalidade.

« Sempre fia justiça ás nobres intenções do governo do Brasil;

sem pre confiei no seu respeito á independência de m inha

pátria, e na força dos principios de justiça e liberdade que

professam o povo brasileiro, e o seu illustre monarcha.

< i

 H oje , p orém, tenho novos penhores de seus generosos

sentimentos para com o povo oriental, que tanto amo, e

sinto o dever de dar uma demonstração dê meu reconheci

mento, e de quanto desejo estreitar a solida amisade entre os

Orientaes e os Brasileiros.

cc  Como general em chefe dos Orientaes que compõem o

exercito libertador, e representa em nossa honrosa cruzada a

arande m aioria de m eus compatriotas, cabe-m e a honra de

ar ao Brasil a segurança de que as suas reclamações que

motivaram o

  ultimatum

  de 4 de Agosto ultimo, serão atten -

didas com rigorosa justiça e inteira lealdade, valend o esta

m in ha declaração com o empenho de honra e acto- solem ne e

perfeito da soberania oriental, logo que esta seja lioertada da

tacção que hoje a opprime.

« Os autores e cúm plices notórios de de lid os com mettidos

contra as pessoas de subditos brasileiros residentes em m eu

paiz, serão pun idos com toda a severidade das leis da R e

pub lica, sendo destituídos imm ediatamente, e sem prejuízo

dos respectivos processos criminaes os que ainda exerçam

cargos públicos.« Serão suspen sos de seus empregos civis ou m ilitares, su b-

mettidos ao julgamento ordinário, todos os indiciados de

delic tos contra os m esm os residentes, unia vez que a legação

im peria l tenha fornecido ou forneça? a respeito d e taes ind i

víd uo s, fundam ento bastante para que o governo do m eu

paiz possa conscien ciosam ente dar este exem plo de sua se-,

vera justiç a, e do grande apreço em qu e tem um a perfeita

intelligencia e amisade com o Império ao Brasil.

« Os subditos brasileiros que tenham sido forçados a qual

quer serviço publico por autoridades da R epu blica, serão

postos em liberdade, e indemnisados dos prejuízos que ten ham

soffrido, tão depressa esta reparação possa ser ordenada pe lo

abaixo assignado, ou por quem o substitua no exercicio do

poder supremo  d?  Republica.

« O bservar -se-ha strictamen te o accordo celebrado pelos

dou s gove rnos em notas reversaes de

  28

  de Novembro e

  3

  de

Dezembro de

  1857,

  a respeito dos certificados de nacion a

lidade , passados pelos respectivos agentes co ns ul ar es ; bem

com o o outro accordo sem elhantem ente estabelecido por notas

de

  1

  e

  7

  do dito mez de Dezembro, relativo ao alistamento

para o serviço militar dos dous paizes.

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<c C onsíderar -se-ha com força de le i,  e terá ple na execnçâo

desde logo, o accordo de   8  de M aio de  1858,  pelo  qua l o

governo da Republica,  e m  virtude de  u m  compromisso  àe

honra, garantio ás reclamações brasileiras provenientes de

prejuízos da antiga guerra civil, o mesmo processo

  e a

mesma equidade que concedeu ás reclamações franeezas

  e

inglezas da mesma origem.

« Os tratados, cujos autographos foram entregues   ás  c b a m-

mas pelo furor dos dom inadores de M ontev idéo , continuarão

a ser fielmente respeitados com o leis da R ep ub lica , a que

  está

ligada a sua palavra de honra , e que a m bos os paizes Xmx

o dever de sustentar e cumprir,

u O general em chefe do exercito libertador não só  c u m

prirá os ajustes preexistentes acima indicados, mas ainda  se

prestará com igua l boa fé a celebrar qua esque r outros accordos

necessários para reatar as relações de boa visinhança e  de

reciproca segurança entre os dous povos.

« Contrahindo, Sr. m inistro, em nom e da grande maioria

da nação oriental, que represen to, estes sagrados comp ro

missos, eu o faço, como observei a   V .  E x,, levado pelos

estímu los de nossa civilisação, e em cum prim ento dos de -

veres inteinacionaes, taes quaes os comprehendeu sempre

o governo oriental em suas épocas de grata recordação.

« Ao transmittir a  V . E x .  estas declarações, não peço nenhuma

segurança de reciprocidade, porque nào desejo tirar a este acto

o seu caracter de espontânea reparação devida ao Brasil, e

porque estou certo de que o illustrad o gover no brasileiro ha

de attender com a m esm a nobreza a quaesquer reclamações

fundadas, que lhe tenham sido ou sejam de futuro aprese n

tadas em nome da Republica.

« O abaixo assignado assegu ra por ultim o ao g over no de

Sua Magestade o Imperador do Brasil, que a Republica

Oriental, desde já, e com a maior razão quando íôr de todo

libertada de seus actuaes oppressores, prestará ao Império

toda a cooperação que esteja ao seu alcan ce, conside rand o

como um empenho sagrado a sua alliança com o Brasil na

guerra deslealmente declarada pelo governo paraguayo, cuja

ingerência nas questões internas da Republica Oriental é

un ia p retenção ousada e injustificável.

« O abaixo assignado se compraz em reiterar a V. E x.  as

expressões de sua distineta consideração e apreço.

« A S .

  Ex. o Sr. conse lheiro José Maria da Silva Paranhos.

— Venancio

 Flores.

« M issão especial do Brasil. — Bu eno s-A yres,  em 31 de

Janeiro de  1865.

« Illm . e E xm . Sr.— O ab aixo assign ado , enviado extraor**

dinano e ministro plenipotenciario de Sua Magestade o Im-

erador do Brasil, acreditado em m issão especial junto á R epu *

lica Argentina, teve a honra de receber a nota q ue S.  Ex .

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— 355 —

9  brigadeiro ge ner al D . V enan cio Flore s lhe dirigio em

data de 28 do corrente.

« P ela referida no ta, o S r. general manifesta seus sen ti

m en tos am igá veis e justos para com o Brasi l, e contrahe em

Bome da nação oriental, como seu órgão fiel e competente,

no caracter de autoridade suprema e descripcionaria de que

se ach a revestido, o com promisso solemne de satisfazer ásreclamações do

  ultimatum

  brasileiro de 4 de A gosto, en u m e

radas na suppracitada nota, e de fazer respeitar todas as esti

pulaç ões vigentes e ntre o Im pério e a -R epublica.

« No intu ito de evitar futuros mo tivos de desavença en tre

os.

  do us Esta dos e ass en tar sobre bases, sólidas as suas boas

relações de visinba nça, o S r . general assegura que o governo

ori en tal se prestará d e bom grado a quae sque r outros ajustes

ne ces sário s par a se con segu irem aquelles objectos, tão dignos

da previsão e solicitude de ambos os governos.

« O S r. gen eral accrescenta qu e considera um dever de

ho nr a, além de ser um a me dida de segurança vi tal para a

Republica, a al l iança d^sta com o Brasi l na guerra já decla

rad a pelo governo pa rag ua yo , o qual pela sua parte tem pro

cedido com o al liado do governo de M ontevidéo. A quella al liança

é  tam bé m u m em penh o solemnemente contrahido pelo S r .

general , no seu caracter de poder supremo discripcionario, e

se fará tão effectiva na pratica quanto for possivel á Repu

blica, nos termos qu e ul terio rm ente se accordar entre os do us

governos .

« O abaixo assignado leu com a mais int im a satisfação a

referida n ota de S . Ex. o S r . general D. V enanc io Flo res, e

agradece ndo em no m e do governo impe rial os conceitos justos

e am igáveis em que ab un da essa espontânea manifestação, aceita

igualmente as declarações de S . *  Ex. nos mesmos* term os e

com o cara cter de comprom isso internacion al qu e S. Ex. lhes

deu. Essas declarações são dignas do espiri to ae just iça e da

recíp roca est ima e confiança que devem presidir ás relações

dos dous governos .

ct O abaixo assignado assegura por sua parte ao S r. ge ner al ,

a inda que  S .  Ex . o não exija, que o governo do Im pe ra do r

tom ará sem pre a peito gara ntir aos cidadãos o rientaes a pro

tecção de qu e elles careçam sob a jurisdic ção d o B rasil , e

que nunca aesat tendeu, nem jamais deixará de pres tar-se de

boa fé, a quasquer legit imas e fundadas reclamações do go

verno oriental , ou de seus concidadãos. E' convicção do go

vern o imp erial qu e, fora de tão rasoaveis e hon rosa s cond ições,

a paz dos don s Estados será um bem precário e seus m ú

tuos in teresses não poderão at t ingir o dese nvo lvim ento qu e

ambos os governos devem desejar .

« O abaixo assignado se compraz em aproveitar esta oppor

tun ida de para renovar a S . Ex, o S r . general D . V ena ncio

Flore s as expressões de sua perfei ta est im a e al ta co nsid era çã o.

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554 —

<c A

  S Ei

Sr. brigadeiro general D. Venancio Flores

commandante em chefe do exercito libertador.—José

  aria

da Silva Paranhos »

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L I V R O D É C I M O T E R C E I R O .

DISCURSO

  DO   CONSELHEIRO PARANHOS E

 MEDIAÇÃO

  DO

  GOVERNO

  ARGENTINO.

Em seguida transcrevemos o discurso do conselheiro Para

nhos sobre o que acoilteceu antes do convênio de 20 de Fe

vereiro,

  e a correspondência do ex-ministro dos negócios

estrangeiros com o mesmo conselheiro Paranhos, bem como

a mediação do governo argentino offerecida ao oriental e por

este regeitada.

Diz o conselheiro Paranhos na sua defeza a pag. 35:

« A cooperação da esquadra e a força oriental, que era mui

limitada, porque o exercito do general Flores achava-se frac-

cionado para acudir a diversos pontos, não davam aos sitia-

dores a superioridade precisa para o resultado que se desejava

alcançar — vencer rapidamente, sem grande eífusão de sangue,

e sem causar grandes damnos á cidade sitiada. Isto pelo que

toca á força; mas, como já ponderei, o general Menna Bar

r e t o ,

  hoje Barão de S. Gabriel, queixava-se de que lhe fal

tavam munições, e foi em conseqüência d'esta queixa que

em data de 13 dé Fevereiro, da Villa da União, di rigi -me

ao nobre ex-ministro dos negócios estrangeiros n*estes termos:

« — O nosso general ainda me falia em falta de muni ções;

náo cómprehendo como possa ser isso, depois do que a V. Ex.

tenho dito a respeito do nosso exercito.—

« O 1.° contingente de voluntários que chegou estava ar

mado á  Mime,  mas não conhecia o uzo d'este a rmamento  e

o general declarava que era indispensável adestrar ainda

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aquel la ge nt e . A es tas e i reuu is taneia s aecrescia o es tado de

saúde do nosso general , que inspirava ser io cuidado.

« O S r . Ba r ã o de S . G a br ie l , c u ja b r a v ur a , e i r c um s pe c ç ã o

e patr iot ismo merecem os maiores e logios , foi encar regado

d 'aque la comm issão m il i tar qu an do soff ria grave enfe rmid ade .

M il i tar br ioso, desde qu e se lhe offereceu o co m m an do d e

um a expedição em paiz es t rang eiro, n ão olh ou para o se u es

tado de mo lés t ia , suje i tou-se a ordem do go vern o i m p er ia l .

Nas marchas forçadas que teve de fazer para acudir aos

nossos bravos de Paysandú, que a haviam atacado com força

insuf f ic iente , a sua saúde mais se aggravou. Depois d 'aquel la

victor ia pensou elle poder regr essa r a o seio de su a familia

para t ra tar -se ; m as , vendo qu e não pod iamo s para r u m só

ins tante , por r jue nossos inimigos cont inuavam a armar-se ea

fort if icar-se em M ontev idéo, que , po r tanto, era urg ente m ar

cha r sobre aque l la praça , res ig no u-se de b oa vo ntad e, e m a r

chou para a segund a em preza .

« M as tanta dedicação não era suff iciente, fal tavam ao

i l lus t re general as forças phis icas , e demais es tava inquie to ,

porque nào t inha a inda todos os e lementos necessár ios para

a em preza de h on ra qu e via dia nte de s i .

« M ui to antes hav ia eu escr ipto ao nob re ex -m inis t ro dos

negócios estrangeiros, assim como ao nobre ex-presidente do

conselho, mostrando-lhes qu e o exerci to não t inh a eng en he iro s .

T ornou S . Ex. o S r . ex-pres iden te do c onselho qu e os hav ia

no R io G rand e, e perg unto u-m e porq ue não foram para o

Estado O r ienta l? Dei- lhe a resposta qu e poder ia dar o senado;

c a le im e .

« Cabia ao gov erno im pe rial , q ue sabia qu al era o estado

de saúde do nosso gen eral , ou te l -o dispen sado depois da

victor ia de Pa ys an dú , ou facili tar- lhe a se gu nd a em preza,

visto q ue elle sacrificava até a próp ria vida , não lhe deix an do

faltar nen hu m dos e lementos necessár ios para o fim qu e se

t inha em vis ta .

« J á ponderei ao senado que es távam os ameaçado s da in

vasão paraguaya: e , pos to que não fosse então julgada pro

vável, bastava ser possivel p a ra qu e sobre es ta hy potn ese

devêssemos proceder e precaver-nos. Os factos recentes estão

pr ova ndo que a que l la inva s ã o nã o e r a um a s im ple s a m e a ç a ;

e se a nossa cam pa nh a no Estado O r ienta l se prolongasse ,

se es tivéssemos a inda em luta com a p raça de M ontev idéo,

é  mais que provável que a invasão paraguaya ter ia apparecido

antes em nosso terr i tór io e no Estado Oriental . Então os Pa

ragu ayo s encontrar iam todos os e lemen tos de apoio, qu e lhes

proporcionavam o governo de Aguir re , o par t ido blanco, e

talvez par te do par t ido federal (argentino); estavam ainda na

campanha, sem se saber em que ponto, as forças do general

M unh oz, qu e podiam fazer jun cçào com aquel les seus a l l iados .

V enceriamos sem du vid a em M ontev idéo por me io dá força.

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como

  vencemos sem o seu emprego effectivo, mas a demora

até «|ue chegassem os contingentes precisos para o ataque, e

fosse bem adestrada parte da nossa força, podia ser*nos muito

prejudicial. Expunha-nos a graves contingências, ou se con

sidere somente o mal que podia vir-nos do Paraguay, ou se

considere igua lmen te o dam no que d

1

 ahi resultaria para os

interesses neutros, que de certo levantariam clamores e pro-

curariam fazer pressão para que resolvêssemos a

  questão

  de

um modo amigável, entretanto que uma solução  q u e  tiào fosse

imposta pela superioridade de nossas forças,  n ã o

  podia

  ser

aceita, porque nào nos

  ofíereeeria

  garantias  s u f n . d e n t e s .

<t Nas ctrcum stancias aétuaes do m undo nào

  b.i*ta

  que um

governo iuvoque os direitos de belligerante.

  Certamerue

  com

pete a cada governo sustentar a sua dignidade e seus  l e g í

timos interesses, quando o julge necessário*, por meio da forca;

mas hoje em dia, relacionadas como estão todas as nações,

no ponto a que tem chegado a civilisação e fraternidade hu

mana, cumpre ao governo que recorre á força, que se lança

em um a guerra, ter os. m eio s precisos para terminal-a o mais

brevemente que fôr possivel ; quando não, os

  interesses

  neutros

clamam, e a opinião publica força-o a receber alguma tran-

sacção que traga a paz.

c< A dem ora, po is, do sitio de Montevidéo , nos traria re

clamações dos agentes diplomáticos estrangeiros; po ieriam os

sustentar e sustentaríamos o nosso direito,

  m a s

  talvez não

pudéssemos resistir á proposta de mediação que olferecesse

uma solução prompta  e  honrosa para o Brasil,  e m b o r a  não

tão satisfactoria, como a q u e poderíamos obter

  p o r

  m e i o

  de

nossas  a r m a s ,  ou sem intervenção estranha.

« D e s d e a mediação tentada pelo Sr. C onselheiro Saraiva

d e accordo c om o o ministro britannico e o das relações ex te

riores da Republica Argentina, que não só o corpo diplomá

tico de Montevidéo, como alguns patriotas orientaes, esforça

ram-se para mover o governo de Aguirre a um arranjo pa

cifico ;

  c o n c e B

3

r a m - s e

  e tentaram-se novos planos de media

ção.

  A qu i está u m a brochura que mostra todo esse trabalho

da parte do illustrado Sr. D. André Lamas, do corpo diplo

mático de Montevidéo, e do ministro britannico em Búenos-Aynes, com

  o

  fim de evitar o ataque de Montevidéo, e a

conseqüente ruína de grandes interesses estrangeiros, nos

quaes tern uma boa parte os próprios Brasileiros.

«O   Sr. D . André Lamas procurou sempre induzir o go -

ve m o de Aguirre a aceitar a mediação do governo arg entin o;

esta era a mediação que se julgava mais possivel e a ceita

r e i

 

pêlo Brasil;.•' Náò  a po liam os peremptória meu te recusar, se

nos fosse offereciáa, porque o governo argentino nos tinha

preetado bons officios de a m ig o ; a sua neutralidade para

eom o governo de Monteviueo nunca foi perfeita, o que

nada tinha de desairoso para o m esm o govern o arg entin o,

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— 539 —

triotico empenho de realizar a mediação argentina; aqui tenho

os docum entos impressos que provam essas diligencias. Q go

verno de M ontevidéo , porém, m allogrou todas as tentativas

feitas n'esse sentido; depois de dar esperanças aos negocia

dores,

  rom peu abso lutam ente, declarando-lhes que não aceitava

a mediação argentina, porque era suspeita de parcialidade a

favor do B rasil, que não a aceitava ainda porque M ontevidéo

podia resistir e devia resistir a todo custo.

« Não obstante esta recusa, as disposições do governo ar

gentino eram tao benevolas e tão generosas para com a Re

publica O riental, que o general M itre não desistio do seu

in te nt o, conservou sem pre a esperança de q ue a voz da razão

fosse ouv ida em M on tev idé o; de sorte que respondendo á

carta em que o Sr. D. André Lamas lhe communicava a re

cusa definitiva e absoluta do governo de Aguirre, declarou que,

apezar de ta nta obstin ação , seus bons officios ficavam sem pre

á disposição da Republica Oriental.

« E , de feito, o governo argentino mando u para o portode M ontevidéo a sua esquadra, indo ao lado do alm irante o

distincto redactor da

  N a ç ã o

  Argentina, o  Sr. Dr. José M aria

Gu tierres, não para observar os nossos passos, m as para pre s

tar o que estivesse ao seu alcance, quer a um , quer a ou tro

lado,

  isto é, par a aproveitar qualq uer op portunidade em qu e

a mediação argentina pudesse ser empregada com bom êxito.

«c O general M itre havia dado a inda um outro exemplo de

moderação e longanimidade para com o governo de M onte vi

déo.  Quando as nossas forças se approxiniavam d'aquella capital,

a em igração para Bueno s-A yres foi extraordinária ; a ge nte

pacifica qu e p ôde fugir de M ontevidéo fugio. O gov erno a r

gen tino acudio logo em favor d'esses emigrados, nom eand o

uma commissão, que dotou com os meios pecuniários neces

sários, para offerecer-lhes hospedagem, sem distincção de côr

politica, fossem amigos ou inimigos do governo argentino.

Que razões teria este governo para tanta moderação e gene

rosidade ? Deixo ao senado apreciar as razões ind uctiv as

d'esse procedim ento, que de certo tinha por movei fins no bre s,

díctados por uma politica previdente, que não queria romper

para todo o .sempre com o partido  blanco,  antes conservar-se

estranha aos partidos da Republica visinha, para não tornar

impossivel a boa ha rm on ia entre os dous paizes, qua lque r

que fosse o partido alli do m ina nte . S e, pois, o sitio de M on

tevidéo se prolongasse, se nos mostrássemos impotentes para

resolver a questão com brevidade, a mediação arg en tina app a-

receria, já por im pu lso próp rio, já a instâncias do corpo dip lo

mático de Montevidéo. E nào podiamos, como ninguém

deixa rá de recon hec el-o, tratar de resto aquelle am igável offe-

recimento.

« 0 senado conhece as circumstancias em que se achava a

nossa força militar, e os perigos que nos cercavam. Veja-

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mos agora quaes

  a s

  i n s t r u cç õ e s c o m p l e m e n t a r e s  que  r eceb i  do

gove rno imper ia l , qua es  os  se us des ígnio s mani f es to s  quanto

ao desenlace

  d a

  ques t ão

  que i a se r

  d e c i d i d a

  e m

  M o n t e v i d é o .

a

  A

  q u e i m a

  d o s

  t r a t a d o s ;

  a

  l i be rdade dada

  a o s

  p r i s i o n e i

ros  ;

  todos

  os  factos  d e  P a y s a n d ú ;  o s  furores  d o  pa r t i do blanco

e m M o n t e v i d é o ;  a  expedição  d e  M u n h o z c o n t r a  a  nossa f ron

te i ra ; tudo

  e r a

  sabido

  d o

  gove rno imper i a l an t e s

  de 20 de

Feve re i r o : pe l a s mi nh as co ran iun i caçOes , pe l a s  q u e  recebia

do  R i o  G r a n d e  do Su l , e ,  finalmente, pe la i m p r e n s a  do Rio

de Jane i ro ,

  o

  gove r no imper i a l e s t ava

  a o

  c o r r e n t e

  d e

  todos

aquel les successos.  Q u e  i n s t r u c ç õ e s m a n d o u e n t ã o  ao s e u  p l e

n ipo t enc i a r io , pa ra e s t e com pre hen de r

  o se u

  s u b l i m e p e n s a

m e n t o .

«. Pois

  b e m ; o

  s e n a d o

  va i ver

  c o m o p e n s a v a

  o

  g o v e r n o

  i m

per ia l , como auxi l i ava  ao se u  p l e n i p o t e n c i a r i o ,  e se era  p o s

sivel

  q u e

  es te , pe la cor respondência

  q u e

  t ivera

  com o

  nobre

e x - m i n i s t r o

  d o s

  negócios es t rangei ros ,

  e c o m o

  nob re ex -p re

s iden t e  do  conse lho, a t inasse  com o que o  gov e rn o imper i a l

diz

  t e r

  q u e r i d o

  ou com o que

  mani fes t ou pe lo

  Diário Official

no  di a 2 d e  M a r ç o , e s t r a n h a n d o  q u e eu n ã o  h o u v e s s e a t i e n -

dido  em 20 de  Feve re i ro ,  n a  Vil la  d a  U n i ã o ,  á s  obse rvações

que elle aqui

  n a

  cor te fizera m u i t o s di as de po is .

«

  N a

  l e i t u r a

  d e

  a l gu ns ext rac tos

  d o s

  d e s p a c h o s

  e d a

  c o r

r e spondênc i a pa r t i cu l a r  e  conf idencia i  com os  n o b r e s e x - m i

ni s t ros ,

  n à o

  have rá des l ea ldade ;

  n ã o

  re fer i re i

  se nã o o q u e

pôde

  s e r

  t raz ido

  á

  d i scussão

  s e m

  i nconven ienf

. 3 ,

  q u e r p a r a

  o

paiz, quer para  os  nobr es ex-mi nis t r os .

cc Com eç ar ei

  por ler

  a lguns t r echos

  d e u m

  officio

  que em

11  d e  Dezembro d i r ig i  d e  B u e n o s A y r e s  a o  nobre ex -min i s t ro

dos negócios est rangeiros .

«  — H a  dias  se m e  falia  a  m e d o  e m  t en t a t i vas  de um  a r ranjo

que evi te

  o

  a t a q u e

  a

  M o n t e v i d é o .

  N ã o

  r eceb i , po ré m, abe r tu

ras formaes  ou  au to r i sadas ,  e  i n c l i n o - m o  a  c r e r  q u e  t o d a  a

t r a n s a c ç ã o ,

  q u e n ão

  se ja in ic iada

  sob a

  i n f luenc i a mora i

  d o

nosso exerci to, poderia ser-nos desvantajosa  o ú  em prez a pr e

m a t u r a

«—

  O

  gove rno a rgen t ino ab r iga a l gu m pe ns am en to

  a

  esse

r e s p e i t o ;  ma s nã o m*o  man i f e s tou a ind a ,  e  pelo  q u e  t enho

perceb ido , agua rda

  a

  a p p r o x i m a ç ã o

  d a s

  nossas forças

  d e

t e r ra .—

«  Ao  depois mani festei tod o  o  p e n s a m e n t o  d o  gove rno

a r g e n t i n o ,

  de

  conformidade

  co m o q u e j á

  t iv e hoje

  a

  honra

de expor

  ao

  senado.

«  E m  ca r t a  de á8 de  Deze mbro , e sc r ip t a t a mbé m  d e  Buenos*

Ayres, disse

  ao

  nobre ex -min i s t ro

  d o s

  negóc ios e s t r ang e i ro s :

«—  E u er a e so u  h o m e m  de paz, mas por  a m o r  da paz  mesmo

a guerra

  é

  a l gum as vezes

  u m a

  necess idade .

  N ó s

  es tamos

n'este caso.

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— 544 —

«— Na questão oriental, mais do que a guerra, preoccupa-me

o ajuste final, em que se envolvera necessariamente a questão

interna, porque o general Flores hoje é nosso alliado, e

convém que a sua causa fique triumphante.

«— Á tomada de M ontevidéo não é cousa fácil, mas creio

que nossos elementos de guerra, já aqui reunidos e que vão

chegando, serão bastantes.— (*)« Em carta de 13 de Fevereiro, escripta da V illa da União

(Montevidéo), dizia o que ha pouco referi:—0 general Menna

Barreto ainda me falia em falta de  munições 1  Não compre-

hendo como isso possa ser, depois de tudo quanto tenho

escripto sobre o nosso exercito.—

« Eis agora o que me disse o nobre ex-ministro dos negó

cios estrangeiros, como additamento ás suas instrucções pri

mitivas; em differentes despachos.

« Em

  2 2

  de Dezembro:—Urge desembaraçar-nos das ope

rações militares do Uruguay, afim de empregar-mos a nossa

acção contra o Paraguay.—E mais adiante.

«— Em fim , no theatro dos acontecimentos está certo o

governo imperial que V. Ex., de accordo com os chefes das

nossas forças de terra e mar, procederá do modo mais con-

sentaneo e proveitoso para as operações da guerra.—

« Em

  7

  de Janeiro:—Fico inteirado do resultado definitivo

das conferências que teve V. Ex. com o governo argentino

a respeito do Estado Oriental e da Republica do Paraguay

no ponto de vista das suas instrucções; e apezar da resposta

negativa d'aquelle governo á alliança proposta, o governo

imperial não pôde deixar de louvar a pericia e zelo comque V. Ex. se houve nas discussões, e espera, etc.—

« —   Q

  governo imperial confia que V. Ex. saberá, nas cir

cumstancias diffíceis em que nos achamos, tirar todo o par

tido que porporcionam taes noticias (allude ás noticias da

invasão paraguaya), interessando na luta o governo argentino,

tanto mais quanto me parece que este governo não poderá

por muito tempo conservar-se na posição de neutralidade

imperfeita, que deseja. Os acontecimentos o hão de forçar a

mudar de politica, e a má vontade do Paraguay contra o

governo da Confederação não é menor do que a que vota

ao Império.—

«.— Quanto á Republica" O riental do U ruguay, refiro-me ás

instrucções que levou V. Ex. d'esta corte e ás minhas ultè-

riores communicações depois que chegou V. Ex. ao theatro

dos acontecimentos; não podendo, nem devendo o governo

imperial dar-se por satisfeito em quanto não forem attendidos

Ç JN ão eram bastantes, porque nfio tínhamos artilharia para destruir as trí n

cheira» que existiam á roda do Montevidéo.

55

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todos os interesses do Im pério (evidentem ente isto se

  refere

ás reclamações que motivaram a guerra,) despresados" e vili

pendiados pelo actua l governo de M ontevidé o e anteriores ad m i

nistrações.

«—

  Não

  devem ser esquecidos os últimos  successos ri aquella praça,

rompendo tão descommunalmente por todos os compromissos

solemnes da Republica para com o Império.—

« Nã o deviam ser esquecidos os últim os successos d'aq uella

praça, isto é, a qu eim a dos tratad os e o rom pim ento das

relaçO es com merciaes ; queira o senado no tar os termos pr e

ciosos d'esses desp achos, e a luz qu e de rra m am qu an to ás

intenções do governo imperial .

« Em 10 de Janei ro . — Il l m . e Exm . Sr . Tenho presen t e o

officio que, sob n. 3 e a data de

  2 9

 de Dezem bro u l t im o ,  V. Ex.

dirigio-me, informando haver o governo da Republica Orien

tal do Ur ug ua y, por decreto de 13 do referido m ez, fechado

os seus portos á ban deira brasileira, e declarados nullos ps

tratados celebrados em 1851 com o Im p é ri o ; orden ando em

seguida a queima dos mesmos, o que se verificou a 18.

« — In teira do do conteú ao do officio de V . E x. a que ora

respondo, e das considerações que faz sobre esse acto* de re

qu intad a violência do governo orien tal, e de posse dos im

pressos que rem ette, on de se en con tra a int eg ra dos citados

decretos e a narraçã o do acto da qu eim a dos autographos

d'aquelles tratados, reitero-lhe as seg uran ças da m inh a p er

feita estima e distineta con sideraç ão. —   João Pedro Dias Vieira.

« —A S . Ex. o Sr . José M aria da S i lva Paranhos .—

« E m

  2 2

 de Ja ne iro . — A ccuso a recepção do officio reser

vado de V . E x . de 7 do corrente, sob n. 15, em add ita-

mento ao ostensivo que me dirigio na mesma data, sòb n.

 5,

relatando o triumpho que, com a tomada da praça de Pay

sandú no dia

  2 ,

  alcançámos contra o governo de M ontevi

déo e seu s defensores ; e, inteira do de tud o qu an to refere a

respeito do fuzilamento do coronel L eand ro Gom es e outros

chefes do mesm o lado, depois de prisione iros, e das refle

xões que lhe suscitou tão reprovado procedimento, tenho em

resposta de communicar-lhe que o governo imperial julga

conveniente qu e V . E x. solicite do gen eral Flores a pu nição

de Goyo Soares e dos outros subordinados do mesmo gene

ral,

  que concorreram para ser levado a effeito um seme

lhan te atten tado , qu e tanto de slus tra a victoria que obtive

mos era Paysandú.

a

  — 0

  governo imp erial n ao pôde deixar també m de cen su

rar que se houvesse dado plena liberdade a um tfio avultado

num ero de officiaes prisioneiros, e qu e iriam n atu ra lm en te

augmen tar o num ero dos nossos inim igos em M ontevidéo.

Cumpria que fossem

  tratados

  com a

  bencvpfencia

  que

  n os

 carac-

urisa, mas  como  prisioneiros, emquanto  durasse

  a

  luta.

  —

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«

  A

  respeito cPeste despacho devo observar

  que o

  governo

imperial aesapprovou, como

  eu

  pensava,

  e

  sen tio m uito

  as

circumstancias  que se  deram  com os prisioneiros  de  P a y s a n d ú :

deplorou  a  morte violenta  de  L eandro Gomes  e de  alguns

de seus companheiros depois  do  combate .  O  governo

imperial então

  se

  mostrava

  tão

  generoso,

  que

  recommendou

ao ministro

  e ao

  almirante brasileiro

  que

  obtivesse

  a

  puniçãodo coronel Goyo Soares,

  a

  quem

  se

  attribuiam aquellas execu

ções. Entretanto este facto  não  tinha dado lugar  a uma  a v e

riguação rigorosa,  era  objecto  de  varias versões. Acredito  que

o facto deu-se,  mas a sua  veracidade  não  estava  bem  c o m

provada.

« L eandro Gomes

  não

  devera

  ser

  fuzilado

  por

  aquelle

modo,  se o  foi ,* mas,

  pelo

  que fez em

  Paysandú, podia

  ser

executado

  por

  sentença

  de um

  conselho

  de

  guerra

  ;

  tratou

cruelmente  aos  prisioneiros, sobre  as  trincheiras  de  Paysan

dú mostrou  as  cabeças ainda quentes  de  soldados brasileiros,

a quem mandara degolar

  ; de

  seus máos precedentes orig i

nou-se

  o

  grande odio

  que lhe

  votava

  o

  coronel Goyo Soares,

cuja familia fora victima

  das

  crueldades d'aquelle chefe

blanco. »

«

  E'

  ainda para -notar

  que

  alguns factos

  de

  Paysandú, como

o acontecido

  com o

  vapor

  Villa  dei Salto,  não

  agradaram

  ao

governo imperial,

  mas

  este calou

  o seu

  desagrado,

  que não

passou

  de

  despachos muito reservados; procedimento

  bem di

verso

 do que

 depois

 de 20

 de Fev ereiro teve

 com o

  pobre plenipo

t e n c i a r i o . . . . T a m b é m

  a 20 de

  Fevereiro

  a

  questão oriental

estava decidida;

  o

  fructo estava colhido, podia-se quebrar

  um

dos instrumentos

  que

  ajudaram

  a

  colhêl-o.

« Despacho de 22  J a n e i r o : — Não  julgo ocioso ponderar  que

o

  bombardeamenlo

  contra  uma  praça commercial importante,

como  a de  Montevidéo,  e  onde  a  propriedade  e os  interesses

estrangeiros  são  mais valiosos  que os  nacionaes,  só

  devemos

empregar

  em

  caso

  de

  absoluta necessidade,

  para evitar grandes

perdas  de  vidas  ou  complicações provenientes  de  auxílios  ex

te rnos ,  que  possam peiorar  a  situação  em que nos  achamos,

ou ainda tornar muito demorado

  o

  cerco.—

« Outro  de 6 de  Fevere i ro: — Li com  interesse  o  officio

reservado  de V. Ex. de  2 5  do mez  próximo passado,  n. 18,

assim como  o  ostensivo  da  mesma data,  n.  6 ,  e  tenho  em

resposta  a  satisfação  de  communicar  a V". Ex. que o  governo

imperial approva completamente  o  theor  do  manifesto dirigido

ao governo argentino,  e da  circular  ao  corpo diplomático,  re

lativamente  á  resolução  de  ataoar  de  accordo  com o  general

Flores a capital  em

  desforço

  dos

  aggravos recebidos

  do

  governo

de  Montevidéo;  e no

  intituito

  ao

  mesmo tempo

  de

  restabelecer

a

  paz na

  Republica, pondo termo

  á

  luta civil,

  que a

  dilacera

ha quasi dous annos.

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<c — M erecei» igu alm ente a approvaçáo do gov erno imp erial

o modo como se houve V. Ex. com o genera l  Flores  na con

ferência de Fr ay -B en to s, e o com prom isso d'ella resu ltante ,

tendo reconhecido n 'este acto mais uma prova da intell igen-

oia e zelo com que Y . Ex . desem penh a a hon rosa missão

que lhe foi confiada no Rio da Prata.

« — A m uda nça operada no corpo diplomático residente em

M ontevidéo, como bem observa V . Ex . , deve ser pr inc ipal

m ente attribu ida á gravidade dos successos a á attitud e franca

e decidida do Império.

<( — A ccuso a recepção dos officios reserv ado s de V . Ex. de

26 e 27 de Janeiro ultimo, sob ns. 19, 20 e 21, e do osten

sivo sob n. 7 d'aquella primeira data, enviando copia da cir

cular relativa ao pérfido proced ime nto do govern o do Para

guay para com o Império, e do caracter selvagem que elle

quer imprim ir á sua guerra contra o B rasil ; e em resposta

tenho a declarar-lhe, quanto a este ultimo officio, que o govern o imp erial approva a resolução tomad a por V . Ex . sobre

este assum pto, em face das tristes n oticias ult im am en te re

cebidas de M atto Grosso, e quan do o Barão de Ta m andaré

julga que pôde estabelecer o bloqueio das Tres Bocas.

cc — O governo imp erial fica inteira do , pelo qu e toca á gr a

vidade da situação em que nos achamos collocados,

  e o vigor

e a rapidez que ella exige em n ossa acção;  e approva o modo

como se hou ve V . Ex . na conferência com o general M itre,

visto como, declinando a mediação d'este nas circumstancias

actuaes, foi interprete fiel do pensamento do mesmo gover

no,  por mais de uma vez manifestado a V. Ex.—

cc

 R eleva aqu i observar qu e eu não havia declinado abso

lutam ente a mediação arg e n ti n a ; apenas pon derei as difficul

dades que se oppunham a um accordo que não fosse deter

m inado pelo em prego de nossas forças, e pedi ao general M i

tre qu e, se chegasse o caso de offerecer-nos a sua m ediação ,

se collocasse ern no sso l ug ar, como bom am igo , para ver bem

qual a única solução hon rosa e estável para o Brasil. E ntr e

tanto o governo imperial resp on dia -m e; — A pprovo o modo

como V . Ex. se hou ve, declinando a mediação.— Nada mais.M as se a mediação tornasse a apparecer ? Em qu e casos e

em que condicções poderia ser aceita? ou cu m pr ia regeital-a

in limine?

  Ne nhu m a instrucçâo dava o governo .

« Carta de 22 de Dezembro de 1864 do ex-m inistro de es

trangeiros ao conselheiro Paranhos:

a — Desde qu e fizemos sacrifícios, e qu e pelos esforços

e pela presença de nossa força é qu e se põe termo á lu ta

oriental, cumpre tirar d'estas circumstancias toda a vantagem

possivel, em favor dos

  interesses  brasileiros. Urge  que nos  desem

baracemos

  quanto antes da luta no Estado Oriental, e com as

forças que a esta ho ra ahi já devem estar, com os auxílios

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que pelo  Cruxeiro do Sul  e pelo  Apa  tem de partir d 'aqui

até depois de amanhã directamente para Buenos Ayres, estou

qu e tem os elem entos mais qu e sufücientes para atacar M on

tevidéo. O que cumpre é combinar o plano e pôr de accordo

com o general Flores os nossos generaes de terra e mar, afim

de haver unidade de pensamento e de acção.  Temos motivos

  de

sobra para justificar o ataque con tra a cap ital, e ainda o gon er-

nicho de Aguirre nos

  offereceu

  mais um com o auto de, fé dos

nossos tratados.  Ao Barão me dirijo n'esta data recom mo ndan

do q u e o ouça sobre a direcção politica da gu erra, porq ue

V . Ex. é ahi qu em está d'ella encarregado , e faço-o de mo do

que não lhe onendo absolutamente a sua susceptibilidade.—

« Em 26 de Deze mb ro:

<c

 —  Deus queira,  pois , q ue , se já não estiverm os, estejamos

dentro em breve desembaraçados do Estado Oriental, para

cuidarmos ser iamente do L opes. Estude V . Ex. os meios

prátic os de levar a effeito este pen sam en to, e vá pondo logo

em execução os que forem d'isso susceptíveis, que eu estou

que o general Mitre não ha de querer ncar atraz.—

« Em   7  de Janeiro de  1 8 6 5 :

cc  — N o m eu conceito  é fora de duvida que o interesse do

Império,  no desenlace da questão oriental,  é que fique trium-

phante a causa do general Flores,

  nosso alliado, já que não

podem os deixar de envolver-nos na questão interna de M on

tevidéo. Se afastarmo-nos d'esta l inha de conducta, receio

muito que nos exponhamos aos mesmos inconvenientes que

nos resultaram do accordo celebrado entre os generaes Ur

quiza e Oribe na guerra passada.

cc  — O Brasil com metteria um grave e rro, se, depois dos

sacrifícios qu e tem feito, n ão se prevalecesse da occazião pa ra

tirar todo o proveito  em favor

 dos Brasileiros

  no Estado Oriental.

Como V. Ex. , também penso que as forças que ahi temos

reu nid as são suffícientes para pôr termo á luta do U ru g u ay :

e se podermos dispensar o

  bombardeamento

  de M ontevidéo, ainda

com algum sacrifício,  melhor será para evitarmos duvidas com

os alm iran tes estrangeiros. S ei perfeitamente qu e, declarada

a guerra , para o que temos os mais justos motivos, estava-

m os no nosso perfeito direito, blod uean do e bom bardeandoM on tev idé o, para forçal-a a re nd er- se ; mas somos fracos

para estarmos a brigar com o gênero humano, e bom será,

em quanto puder-mos, evi tarmos mais complicações e desa

venças. Pelo que toca ao Sr, Tamandaré, officialmente digo

quanto basta para conhecer o meu pensamento sobre o seu

p r o c e d i m e n t o .  Façam os Paraguayos o que quizerem,  não po

dendo batel-os ao mesmo tempo que os

  blancos

 d e M o n t e v i

d é o ,  só havemos tratar séria e exclusivamente d'aquelles de

pois de desembaraçados do Uruguay .—

« Ju lg ue o senad o da impressão qu e estas ul t im as palavrasdeviam causar -me .

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« Em. relação aos prisioneiros de Pa ysa nd ú, som ente se m e

disse que não deviam ter  sido.  soltos, mas conservados n'aquella

condição em quanto durasse a luta no Estado Oriental, sendo

tratados com a benevolência que nos caracterisa. Todavia o

nobre ex-ministro dos negócios estrangeiros articula em seu

relatório, como uma das dificiencias do convênio de  20  de

Fevereiro, que justificam a desfeita do decreto de  3 de Março,

o meu procedimento para com os prisioneiros de Paysandú.»

cc  R ecom m endava S. E x. — que se tirasse o maior partido

das circumstancias —: mas com o? O pensamento que sobre-

sah ia, com o solução para o passado e para o futuro, era que

o general F lores, em cuja amizade e lealdade justam ente c on

fiávamos, substituisse na presidência da Republica o no sso

inimigo ; que o partido  blanco  e seu governo cahissem. A ex

pedição e os attentados de Munhoz em nossa fronteira eram

também sabidos do governo imp erial: o que se me disse a

este respeito? Nada; absolutamente nada.

« Extractos da carta datada em

  24

  de Fevereiro, recebida a 7

de Março:

« — Perm itia qu e cham e sua attenção para a necessidade de

effectuar-se qua nto antes o bloq ueio das Tres Bocas, aprovei

tando-se para isso os vapores que ora seguem, ainda no caso

pouco provável de não estarmos de posse de M ontev idéo.

Urge que vedem os ao cacique o recebimento de qualquer

recurso da Europa. Como

  V . E x .

  sabe, estava assentado que

o bloqueio devia fazer-se antes m esm o de estarmos ha bili tados para com eçar as hostilidades contra o Paraguay de um

modo mais directo e positivo. Com as noticias recebidas hontem

pelo  Princeza de Joinville,  que d'ahi partio na tarde do dia 17,

muitas pessoas ficaram com receio de que a luta terminasse

por um  pastel.

« — Com effeito, depois dos desacatos que temos sofírido e

dos sacrifícios que temos feito,  da necessidade  que temos  de fazer

de Mon teridéo n osso prin cipal cen tro dás  operações  contra o Pa

raguay,  qualq uer accordo que não seja a capitulação da praça,

seg un do as leis da guerra, fora u m verdadeiro fiasco. Cada

vez torna-se m ais popu lar a idéa de pôr termo por m eio das

armas ás nossas questões com o Paraguay e Ur ugu ay. A s

offensas e insu ltos qu e tem os soffrido só se podem apagar

com  o  sangue d'aquelles que os comm etteram, é o pen sa

mento de todos os Brasileiros, que dentro em  breve se tradu

zirá em factos. —

« O   senado vô que a ling ua ge m d*esta carta, escripta em

24 de Fevereiro, não está de accordo com os despachos e

cartas anteriores; e que, ainda quando esta carta me tivesse

chegado ás m ãos an tes d o dia 20 de F evereiro, não bastava

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— 548 —

e l l a p a r a q u e e u c u m p r i s s e u m a o r d e m d e s a n g u e , q u e e m

n e n h u m c a so c u m p r i r i a , s e e n t e n d e s s e q u e e r a d e s h u m a n a .

O n o b r e e x - m i n i s t r o d i z i a - m e a n t e s q u e o b o m b a r d e a m e n t o

s ó e m c a s o d e a b s o l u t a n e c e s s i d a d e , q u e o d e v í a m o s e v i t a r ,

a i n d a c o m a l g u m s a c r i f í c i o ; n a s u a c a r t a d e 2 4 d e F e v e r e i r o

i n s i n u a v a - m e q u e d e v í a m o s v i n g a r c o m o s a n g u e d e n o ss o s

i n i m i g o s o s i n s u l t o s q u e e l l e s n o s h a v i a m f e i t o S e n d o a s s i m ,

c o m o e v i t a r o b o m b a r d e a m e n t o d e M o n t e v i d é o ? O n o b r e e x -

m i n i s t r o d e s e j a v a e s s a l u t a t e r m i n a d a q u a n t o a n t e s , m o s t r a -

v a s s e g e n e r o s o p a r a c o m o s p r i s i o n e i r o s d e P a y s a n d ú , q u e

r i a a p u n i ç ã o d e G o y o S o a r e s , a n h e l a v a u m a s o l u ç ã o p a c i fi c a

c o m o f o i a d e 2 0 d e F e v e r e i r o , s e g u n d o o j u i z o d o n o b r e

e x - m i n i s t r o e d e s e u s c o l l e g a s . V o u l ê r a g o r a o e x t r a c t o d e

u m a c a r t a q u e S » E x . o S r . e x - p r e s i d e n t e d o c o n s e l h o (*)

d i r i g i o - m e e m d a t a d e 2 2 d e J a n e i r o :

« — C o m o V . E x . , p e n s o q u e s e d e v e p o u p a r o s a n g u e d e

n o s s o s s o l d a d o s , p o r q u e a s b a t a l h a s q u e n ã o s e r v e m p a r a

c o n s e g u i r o fim ' q u e l e g i t i m a a g u e r r a s ã o i m m e n s o s a s s a -

s i n a t o s . E ' r e a l m e n t e p a ra l a m e n t a r q u e n ã o h o u v e s s e m m a

c h a d o s  e  o u t r o s i n s t r u m e n t o s p a ra r o m p e r c e r c a s , n e n h u m

e n g e n h e i r o p a r a r e c o n h e c i m e n t o , a b e r t u r a s d e t r i n c h e i r a s , e t c .

O a r s e n a l d o R i o G r a n d e p o d i a e d e v i a te r f o r n e c i d o o s m a

c h a d o s , e , q u a n d o o s n ã o h o u v e s s e , e ra f á ci l t ê l - o s o« e x e r

c i t o o b t i d o . Q u a n t o a o s e n g e n h e i r o s , d i z - m e o S r . m i n i s t r o d a

g u e r r a q u e n o R i o G r a n d e o s h a v i a . P o r q u e n ã o m a r c h a r a m ?

L a m e n t o o a s s a s si n a t o d e L e a n d r o G o m e s , c u j a v i d a c o m o

p r i s i o n e i r o d e v i a se r i n v i o l á v e l , m a s a c o n c e s s ã o d e l i b e r d a d e

a o s c e m c o m p a n h e i r o s d ' el le , p á ra i r e m a u g m e n t a r o n u m e r o

d e a s s a s s i n o s d e C a r r e ra s ,  e  a m a n h ã d e r r a m a r e m o s a n g u e

b r a s i l e i r o , é g e n e r o s i d a d e q u e s e n ã o p ô d e l o u v a r n e m a p p r o -

v a r , e n e m r e p e t i r ,

cc  — A o t e r m i n a r , d e v o d i z e r a V . E x . q u e o g o v e r n o p r o

c u r a o b t e r t o d o s o s m e i o s p a r a a t a c a r o P a r a g u a y p o r m a r

e p o r t e rr a , e v e n c e r a r e s i s t ê n c i a d a s s u a s f o r t a l e z a s . Q u a e s

q u e r q u e s e j a m o s sa c r if íc i o s q u e a s i t u a ç ã o i m p o n h a a o

I m p é r i o , c u m p r e f a z ê l -o s r e s o l u t a m e n t e , d e m o d o a a p r o v e i -

t a l - o s ,

  p a r a q u e a m a n h ã n ã o r e c o m e c e m o s a s m e s m a s i n t e r

m i n á v e i s l u t a s . —

« A g o r a 0 3 e x t r a c t o s d e o u t r a c a r ta c o n f i d e n c i a l d o n o b r e

e x - p r e s i d e n t e d o c o n s e l h o , d a t a d a d e 6 d e F e v e r e i r o :

« — A l e g r a m - r a e a s n o t i c i a s d a s n o s s a s o p e r a ç õ e s n o E s t a d o

O r i e n t a l , e e s t o u a n c i o s o p e l a n o t i c i a d a t o m a d a d e M o n t e

v i d é o .

  Estou porém , suspeiioso, que o tyramn ete do Paragua y tente

uma diversão,  o u p e l a p r o v i n c i a d o R i o G r a n d e o u p e l o E s

t ad o O r i e n t a l , e a d m i r o m e s m o q u e j á o n ã o t e n h a f e i t o ,

c o m o m e i o d e d e m o r a r o u d i f i c u l t a r a j u s t a v i n g a n ç a d o

B r a s i l , q u e t ã o i n f a m e e a t r o z m e n t e p r o v o c o u . A s n o t a s d e

(*) Francisco

  J o s é

  Furtado.

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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V .  E x . c o r r e sp o n d e r a m c o m p l e t a m e n t e  ã  m i n h a e s p e c t a t i v a ,

e f o l g o c o m o fa v o r á v e l a c o l h i m e n t o q u e a h i t i v e r a m . A. r e-

s o l u ç ã o d e

  V . Ex.

  d e i r c o l l o c a r - s e e m u m d o s a r r a b a l d e s

d e M o n t e v i d é o , c a r a a e u d i r a q u a l q u e r e m e r g ê n c i a q u e e x i j a

a s u a í Ü u s tr a d a"  i n t e r v e n ç ã o , n ã o p o d e d e i x a r d e s e r a p p r o -

v a d a e l o u v a d a p e l o g o v e r n o i m p e r i a l . —

a P o r t a n t o , s e g u n d o o n o b r e e x - p r e s id e n t e d o c o n s e l h o ,

a s b a t a l h a s q u e n ã o s e r v e m p a r a c o n s e g u i r o fim q u e s e t e m

e m v i s t a c o m a g u e r r a , s ã o i m m e n s o s a s s a s s in a t o s . »

O s e x t r a c t o s d o s o f f i c io s e c a r t a s q u e a c a b a m d e l e r - s e ,

m o s t r a m q u a e s e r a m a s i d é a s d o g a b i n e t e d e 3 1 d e A g o s t o

s o b r e a g u e r r a q u e s e f a z ia n o E s t a d o O r i e n ta l . A q u e l l e m i

n i s t é r i o m o s t r o u n ã o e s t a r n o c a s o d e s a t i s fa z e r á s e x i g ê n

c i a s d a s i t u a ç ã o , e m q u e e n t ã o s e a c h a v a o p a i z ; s i t u a ç ã o

q u e t i n h a s i d o c r e a d a p e l o s s e u s a n t e c e s s o r e s , m a s q u e e l l e

n ã o s ó a s u s t e n t o u c o m o a a g g r a v o u .

A e s t e r e s p e i t o d i z o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s o s e g u i n t e , a

p a g i n a 1 0 1 d o s e u p r i m e i r o d i s c u r s o n o s e n a d o :

« P a r e c e q u e o g o v e r n o i m p e r i a l n ã o c o n h e c e a h i s t o r i a

c o m t e m p o r a n e a d o E s ta d o O r i e n t a l I g n o r a o g o v e r n o i m p e

r i a l q u e o p a r t i d o  colorado  n ã o é u m t o d o c o m p a c t o , q u e h a

n ' e l l e u m a f r a c çã o d e h o m e n s i l lu s t r a d o s q u e s e t e m m o s

t r a d o d e s a f f e c t o s a o B r a s i l e a o g e n e r a l F l o r e s ? S e f o s s e m o s

v i n g a t i v o s o u d e m a s i a d a m e n t e e x i g e n t e s , s e h u m i l h á s s e m o s

o n o s s o a l u a d o , e s t r a g á s s e m o s a s u a f or ça m o r a l , o q u e d e

v í a m o s e s p e r a r ? q u e e s s a f r a c çã o d o p a r t i d o

  colorado,

  a d h e -

r i s s e e b a t e s s e p a l m a s a o B r a s i l ?

ct O a s s e d i o d e M o n t e v i d é o e r a c o u s a a s s e n t a d a , e c o n s e

q ü ê n c i a n e c e s s á r i a d o a t a q u e d e P a y s a n d ú , q u e l e v a r a a i r r i

t a ç ã o d o i n i m i g o a o s e u u l t i m o a u g e ; a t é a s p e s s o a s m a i s

a l h e i a s a o s s e g r e d o s o f fi ci ae s o t i n h a m p r e v i s t o e d a v a m

como   c o u s a s a b i d a e i n f a l l i v e l . O d i p l o m a t a b r a s i l e i r o m a i s

d e u m a v e z p o n d e r o u a o g o v e r n o i m p e r i a l q u e n ã o l h e

i n q u i e t a v a m s e n ã o a s d i f f i c u ld a d e s p o l í t ic a s q u e p o d i a m s u r g i r

e m f r e n t e d e M o n t e v i d é o , o n d e a q u e s t ã o i a s e r d e c i d i d a

p o r b e m o u p e l a f o r ç a . E o m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n

g e i r o s , q u e t i n h a n a s u a m e n t e a q u e l l a s i n g u l a r i s s i m a r e s

t r i c ç ã o d e p o d e r e s d i p l o m á t i c o s , n a d a d i z i a n * e ss e s e n t i d o a o

s e u d e l e g a d o ; e , p e l o c o n t r a r i o , a p p r o v a v a q u e e l l e s e f o s s e

c o i l o c a r n a s i m m e d i a ç õ e s d e M o n t e v i d é o , e r e c o m m e n d a v a - l h e ,

d e s d e a t o m a d a d e P a y s a n d ú , q u e p u z e s s e d e a c c o r d o o s

g e n e r a e s a l l i a d o s , e a c c e l e r a s s e a s o p e r a ç õ e s m i l i t a r e s . D e s o r t e

q u e O d i p l o m a t a p o d i a a t é i n g e r i r - s e n o q u e p a r t i c u l a r m e n t e

i n c u m b i a a o s g e n e r a e s , e s ó n ã o p o d i a e x e r c e r a s f u n c ç ô e s

p r ó p r i a s d e r e p r e s e n t a n t e d o B r a s i l , q u a n d o a q u e s t ã o v i e s s e

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  5 5 0

  — .

a terminar, como felizmente terminou, por via diplomática.

« Cumpria ao governo imperial tel-o declarado francamente

e desde o principio , se por acaso o ex-ministro do Brasil

em missão especial houvesse sido chamado pára ir acom pa

nhar o V isconde de T aman daré na qualidade de simples

commissario diplomático, como o Conde de M artignac acom

panhava outr'ora o Principe Du que de A ngouleme, a 'ultima

vez que a França interveio de mão arm ada nas luctas civis

de H espan ha. Não era este, porém, nem podia ser, o pensa

mento do governo imperial no caso de que se trata. »

Pela correspondência acima transcripta e que foi publicada

pelo conselheiro Paran hos, bem como pelos factos que se

encontram no lugar competente, vê-se qu e, assim como o

ministério de

  3 1

  de Agosto não dirigio como convinha a

campanha de

  1 8 6 4

  contra o Estado O riental, também foi

infeliz com as nomeações de alguns individuos, que foram

ter' uma parte importante n'aquella campanha do Uruguay.

A delicadeza do diplom ata brasileiro fez com que tudo se

acabasse decorosamente, pois que assim era necessário para

acudir aos negócios públicos, apezar de algumas difficuldades

filhas da desordem administrativa que então havia.

O exercito brasileiro estava longe de M ontevidéo, o que

assim convinha para evitar encontros com as guerrilhas que

sahiam da praça, em quanto não se principiavam as hostili

dades, posto que a vanguarda era formada pela tropa do

general Flores.

Depois do desembarque do nosso exercito em Santa Lúcia,

reinou dentro da cidade um a desordem continuada entre os

membros do governo de Aguirre e todos os do seu partido;

este,

  arrastado por Carreras, tomou medidas extraordinárias e

extravagantes, impossíveis de realisar, as quaes já mencio

namos.  .

Diz uma correspondência de Montevidéo de  1 4 de Fevereiro

de

  1 8 6 5 ,

  publicada no

  Jornal

  do

 Commercio

  de  2 1  do mesmo

mez;

o   O corpo diplomático, e os almirantes estrangeiros que

observam estes factos, e conhecem perfeitamente a posição

do governo, vendo a energia e firmeza do almirante brasi

leiro,

  que tem sustentado com dignidade os seus direitos conto

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beiligerante, por mais empenhados que tenham estado em

embaraçar a acção do Brasil, recuaram da attitude falsa em

qu e se iam colloca ndo , transformando-se de neutra es, que

devem ser, em alliados do partido blanco, que com astuoia

procurava compromettôl-os.

« D'esta forma

  a

  nossa acção ficou com pletam ente livre,

e o governo de Montevidéo, que depositava na resistência d'elles

uma grande esperança, teve mais um cruel desengano, que,

reunido á convicção que vai calando em todos os espíritos

de que o Paraguay não vem em seu auxilio, completamente

o d esanlentou . Por isso Aguirre procurou transformar em m edia

dores ofliciosos os que não pôde converter em instrumentos

dóceis de sua politica, emquanto que Carreras trabalha por

arrebatar-lhe o poder. Consta de uma maneira quasi fora de

duv ida, que o alm irante francez e o chefe da estação ita

liana apresentaram ao Barão de Tamandaré proposições de

paz da parte de Aguirre, que não duvida ceder

  á

  força do

dest ino.

  F a r á

  que se realise o projecto que está em elabora

ção,  o referido Barão ampliou o prazo da sahida dos navios

e das famílias até amanhã

  1 5 ,

  ás

  10

  horas do dia.

« Aguirre não quer continuar no poder além d'esse dia em

que termina seu mandato. Deve, por conseguinte, eleger-se

hoje quem o substitua. Esta eleição, evidentemente illegal, é

signal da luta entre moderados e exaltados. Se estes vencerem,

Carreras assume a dictadura e sustenta uma criminosa resis

tência que reduzirá Montevidéo a ruínas, Se vencerem, porém,

os moderados, o presidente nomeado entregará a praça ao ge

neral F lores, que formará um* govern o provisório com m em br os

do seu partido, ficando o partido blanco sem influencia al

guma. Em uma ou outra hypothese o triumpho é infall ivel

dentro de poucos dias, e seria preferível a verificação da se

gund a, para poupar grand es m ales, e a effusão de u m san gu e

precioso. A luta entre as duas facções dissidentes já tem-se

ensaiado.

cc

  H a poucos dias tentou N in R ey s, um dos ch efes dos

exaltad os, sub levar a guarn ição, un ido a nm corone l Corio-

lano Marquez, que fugio da cadêa de Buenos-Ayres

  h a

  a l -um tem po , por estar condem nado á m orte. Para realisação

e seu plano, que consist ia em estabelecer um governo mili

tar, ou um a dictadura, man dou imp rimir um a proclamação

em q ue incitava o povo a eleg el-o. Aguirre soube d is to e

não só m and ou supprimir a proclamação, com o prender

aqu elles dous heróes; que hoje estão no Cerro. Para m aior

segurança, foi m udado o coronel Len guás, qu e era o com m an

dante d'essa fortaleza, e dedicado a N in R ey s, pelo co ro

nel Grolfarini, sen do aqu elle cham ado á defeza das lin h as .

« Este acto de Aguirre, effectuado sem resistência e contra

a vontad e de Carreras, parece indicar qu e o lado m oderad o

tem elementos com que possa

  c o n t a r

  para supplan tar os exa l-

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tados,.  Estes, porém, por seu lado deram logo uma demons

tração de vigor, que con trab alan ça aqu ella. Com o inten to

de reanim ar os ânim os da gua rniç ão, q ue estão mu i aba ti

dos,

  e de moral isal -a , o minis t ro da gu erra, que é od ou do

do D. Jac int ho SuSV iela, projectou u m a bac cha nai, qu e teve

lugar no dia 9 de Fevereiro, a ti tulo de festejar-se a noticia

official da vinda de um gran de exercito pa rag ua yo , com o

próprio presidente Lopez a frente, e de uma .victoria alcan

çada em Jag uarã o peto general D . Basil io M un ho z, um dos

chefes dos salteadores qu e m arc ha ram pa ra infestar nossas

fronteiras.

« N 'esta victoria , se gun do as p artes officiaes d'a qu ell e chefe

elle nos t inha tomado um a bandeira, que rem ett ia, e nos

tin ha feito gran de da m no ; não se apoderand o da villa de

Jagu arão em attenção á reclamaçã o do vice-con sul francez,

ue lhe pedio para poupal-a a um assal to, em conseqüência

a grande população estrangeira que n 'el la residia. A m en

tira era por dem ais tran spa ren te para ser acred itada, e bem

patente ricava outro fito que se queria alcançar, que era fa

zer um a censu ra ao corpo diplomá tico por não ter con segu i

do aqu i a neutralisação de parte da cidad e, com o obtivera

all i um simples vice-consul . Esta garantia era ardentemente

desejada, porqu e permittia a guarnição da praça recon centrar-

se toda nas linhas, sem temor de um ataque nos flancos ou

na retaguarda.

« No mesm o dia em qu e isto propalava-se em M ontevid éo,soubemos aq ui no acampa mento pelos jorna es de Jag uar ão ,

que M unh oz tinh a sido batido depois de sitiar a villa por tres

dias,  pe rdend o m ais de oitenta praças. En tre tan to a festa teve

lug ar, e para que se veja o modo porq ue nossa b andeira

acaba de ser tratada em M ontevidéo, transcrevo a descripção

da  Reforma Pac ifica.  E' um insu lto que excede a todos qu e

nos collocaram as arm as na mão e que não h a de ficar im

pune :

«. —O trophéo qu e nos enviou do .theatro de suas façan has

o invicto gen eral M unh oz, passeou hontem por nossas ruas

humilhado ante o sol de nosso estandarte, e precedido de uma

banda de musica, capitaneada pelo ministro da guerra. A

bande ira brasileira percorrèo todos os pontos da lin ha e as

casas de nossos princ ipae s chefes, sendo arra stad a á vista da

esquadra inimiga, que teve oceasião de apreciar a resolução

do povo, e a maneira com que está disposto a responder a

sua. agressão. Na residência do general L am as se deteve a

com itiva, e a reun ião pedio que elle pisasse aque lla band eira

de igno m inia, ludibrio do m un do culto e insígnia de   uma

corte de piratas. O general L ama s pisou a ba nde ira, sellando

com este acto solem ne sua consagraç ão á cauza da pátria*

  e

a firmeza e a tempera de su a alm a. E m casa do general

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Dias,

  o patriota ministro da guerra deu um caloroso viva á

independência, concluindo com estas expressões Guerra até

a morte àbs aggressores da independência  guerra sem tré

gua até triumphar.—Estas enthusiasticas exclamações encerram

um programma vasto, que a actividade e patriotismo do mi

nistro da guerra realisará. O povo victoriou no ministro o

democrata ardente, o zeloso sustentaculo da bandeira da R e

publica. Este acto solemne ha de ter conseqüências que

promptamente havemos de apreciar,—

K   Pôde contar (continua o mesmo correspondente) que se

até ao dia 15 a cidade não estiver em nosso poder, submissa

e arrependida d'estas scenas selvagens, ellas hão de ser vin

gadas com o castigo dos infames que ousaram manchar o

pavilhão aurí-verde. No acampamento e na esquadra, quando

se teve conhecimento d'esta provocação, uma agitação elec-

trica abalou a todos nossos soldados e marinheiros, que de

sejam ver se o general Lamas, que pisa bandeiras, é capaz

de bater-se; este cobarde que tem ^ido sempre derrotado,que não sabe o que é pundonor militar, nem brios de cida

dão.  Bem depressa se conhecerão as conseqüências d'este in

sulto que indignou não só aos Brasileiros, como aos Orien

taes que marcham a nosso lado, que estão envergonhados do

seu paiz ; e o que é m ais, que sua capital seja o theatro de

factos tão oppostos á civilisação moderna. 0 general Forey,

ainda recentemente no México, quando intimou a rendição

da praça de Puebla, declarou que, se ella não se rendesse

antes do assalto, que passaria toda a guarnição a fio de es

pada. Entretanto alli não se degolavam os prisioneiros fran

ceses? nem se commettiam outras atrocidades. Esta lingua

gem faííava-se a um povo que combatia pela sua liberdade,

pelas instituições de seu paiz. Seremos mais compassivos com

as feras que fizeram de Montevidéo o seu covil? Quereremos

ser mais humanos e civilisados do que a França? Estes ex

cessos dos exaltados dão mais fundamento ainda á -existência

de um a negociação qualquer para a entrega da praça, a qual

elles procuram por todos os modos tornar impossivel.

« O senador Estrazulas, que

  é

  um dos mais salientes do

seu partido, acaba de fugir vergonhosamente para Buenos-

Ayres, deixando sós seus amigos n'esta oceasião de apuro. Em

M ontevidéo vociferaram horrivelmente contra esta deserção, e

Palomeque, capitão do porto, ao dar parte d'ella-, classificou

aquelle senador como cobarde e infame. O ministro da guerra

mandou publicar e registrar esta nota. Não foi só Estrazulas

que se poz a salvo. Tem tido muitos companheiros e dos

ma,ís notáveis do partido blanco. Â certeza de que a praça

seria atacada por mar e por terra produzio um grande medo

em toda a população. Logo que os ministros estrangeiros pu

blicaram a notificação do nosso almirante, e suas respostas,

e convidaram seus compatriotas a emigrar, ninguém se ju l-

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gou ma is seguro em casa . Er a um quadro triste e desolador

ver a y famílias se precipitarem para os caes afim de e m bar

car p/om piamente. O s vapores largavam para Buenos-A yres

com   4 0 0 a  5 0 0 pessoas. Q uem nã o pôde ir para alli refu-

giou-se na ilha íta ta , no Cerro ou no Bucê o. O s vapores de

guerra i tal iano, francez, hespauhol e inglez, occuparam-se in

cessantemente *na conducção dè passageiros para o Bucêo.

« Como se os males de um a m uda nça assim precipitada

não fossem ba stan tes para affligir a e sta infeliz pop ulaç ão, os

vapores exploraram a situação e aug m enta ram o preço, das

assagens. O s carregad ores, os carretilheiros e os p atrões dos

otes procederam da mesma sorte, praticaram as maiores

extorções, sem qu e a p olicia nem o govern o lh es puzesse u m

freio,

  porque se aprazia em vêr erguerem -se obstáculos á

emigração das famílias.

cc Nào obstante, M ontevidéo está de se rto ; ma is de

  1 5 , 0 0 0

pessoas foram para Buenos-A yres; a V illa da U niã o, as qui n

tas , as chou pana s, tudo regorgita de habitantes.

cc

 O general Flores tem sido incan sável para d ar abrigo a

todas estas familias ; por sua parte o governo argentino corre

também em auxilio dos emigrados pobres.

« Entretanto o governo de M ontevidéo, que p rocurou em

baraç ar a torre nte de emigração qu e ao principio se dirigia

para Buenos-Ayres, espalhando pelos jornaes que alli existia

o cholera e o typh o produz idos pelos hospitaes de san gu e

dos Brasileiros, tento u affastal-a da Un ião, diz en do qu e todo

o nosso exercito estava morrendo de dysenteria.

cc No dia 10  á  noite fizeram os blancos um exercicio geral

em que fingiram um a defeza em toda a linha. Esteve b on ito

o espectaculo, que durou 20 minutos. N'esta festa morreram

um official e dous soldados, e ficaram feridos tres; o que

não será qu and o o negocio fôr ao sério 1

cc Não se pen se, porém , qu e não seja possivel a praça re

sistir. Ella o pode fazer por algum tem po , mas sem v an ta

gens para a causa.

« H ontem sahio um a part ida comm andada por L engu ás, e

quasi que sorprehendeu no Bucêo uma guarda avançada do

7.° de infantaria qu e alli se ac hav a, e qu e incorporou-se á

força, deixando ao inimigo algumas mochilas, que foram le

vadas em triump ho por todas as ruas de M ontevidéo.

« Consta qu e os sitiados têm feito varias m inas, e que

agora estabeleceram u m fortim defronte do cemitério in gi ez .

Nossa artilharia se encarregará de arrazal-o.

cc A caba de chegar noticia da praça de que A guirre en tre

gou a presidência a Thomaz Villalba, nomeado pelo simula

cro do senado , que se co nvo cou . E' a verificação do pri-

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m e i r o p o n t o d a n e g o c i a ç ã o e m q u e l h e f a l l e i : v a m o s a v ê r

s e s e r e a l i z a m o s o u t r o s ,

« O

  novo

  p r e s i d e n t e

  é

  h o m e m p e r te n c e n te a o l a d o m o d e

r a d o d o p a r t i d o b l a n c o , e j á figu rou n o p a r t i d o c o l o r a d o ,

d e v e n d o a s u a p r i m e i ra n o m e a ç ã o d e c h e f e p o l í t ic o , d e M e r

c e d e s a o g e n e r a l F l o r e s . Q u a n d o o S r . C o n s e l h e i r o S a r a i v a

n e g o c i a v a a p a z , e r a e l l e u m d o s i n d i g i t a d o s p e l o g e n e r a l

F l o r e s p a r a o m i n i s t é r i o .  p H

« D e B u e n o s - A y r e s a n o t i c i a m a i s i m p o r t a n t e é d a j u d i -

c i o s a r e s p o s t a d a d a p e l o p r e s i d e n t e M i t r e a o e n v i a d o d o P a

r a g u a y , q u e v e i o s o l ic i t a r p e r m i s s ã o p a r a a p a s s a g e m d o

e x e r c i t o p e l o t e r r i tó r i o c o r r i e n t i n o . M i t r e r e c u s o u p o s i t i v a * ?

m e n t e e s t a p e r m i s s ã o ; m a s d e c l a r o u q u e o P a r a g u a y p o d i a

t r a n s p o r t a r p e l a v i a f l u v i a l d o P a r a n á o s e u e x e r c i t o , a s s i m

c o m o o B r a s i l p o d i a fa ze r o m e s m o p o r e s t e c a m i n h o , p o r

p o s s u í r e m o s d o u s p a iz e s t e r r e n o s b a n h a d o s p o r a q u e l l e

r i o .

a O

  Pais

  ( f o lh a d e M o n t e v i d é o ) p u b l i c a u m a n o t a d o P r e

s i d e n t e d o P a r a g u a y d a t a d a d o 1.° d o c o r r e n t e ( F e v e r e i r o d e

1 8 6 5 ) ,  e m q u e s e l ê o s e g u i n t e t r e c h o :

« — M e u g o v e r n o e s p e r a q u e o p a t r i o t i s m o d o p o v o o r i e n t a l

e s e u s r e c u r s o s h ã o d e p e r m i t t i r a o d e V . E x . s u s t e n t a r a

s i t u a ç ã o a t é q u e o e m p e n h o d o s d o u s p a i z e s p o s s a s a l v a r a

n a c i o n a l i d a d e o r i e n t a l e o s f u n d a m e n t a e s p r i n c í p i o s , c u j a s a l

v a g u a r d a p ô z e m a r m a s a R e p u b l i c a d o P a r a g u a y . — »

N ' e s t a s c i r c u m s t a n c i a s s e a c h a v a a p r a ç a d e M o n t e v i d é o n o s

m e z e s d e J a n e i r o e F e v e r e i r o d e 1 8 6 5 , e m q u a n t o o e x e r c i t o

b r a s i le i r o m a r c h a v a d e P a y s a n d ú s o b r e a q u e l l a c i d a d e , v i n d o

a c a m p a r n a p r o x i m i d a d e d a V i l l a d e S a n t a L ú c i a .

O   g o v e r n o d e A g u i r r e n a s u p p o s i ç ã o b e m f u n d a d a d e q u e

o e x e r c i t o b r a s i l e i r o i a a t a c a r a p r a ç a , t i n h a - a c e r c a d a d e

t r i n c h e i r a s c o m 2 6 p e ç a s d e a r t i l h a r ia , m u i t a s m i n a s , q u e

d e v i a m f a ze r e x p l o s ã o a o m e s m o t e m p o , e m a i s d e 4 , 0 0 0

h o m e n s p a r a a d e f e n d e r .

A n t e s d o n o s s o e x e r ci t o c h e g a r a S a n t a L ú c i a , m a n d o u

A g u i r r e u m a f or ça d e 1 , 50 0 h o m e n s d e c a v a l la r i a , c o m m a n

d a d a p o r B a z i l i o M u n h o z e A p p a r i c iÒ , i n v a d i r a f r o n t e i r a d o

R i o G r a n d e , ú n i c o m o d o q u e t e v e a q u e l l e g o v e r n o d e n o s

h o s t i l i s a r n a c r it ic a» p o s i ç ã o e m q u e s e a c h a v a , p o i s s a b i a q u e

a q u e l l a p r o v i n c i a e s t a v a s e m f o rç a o r g a n i s a d a p a r a l h e r e s i s t i r .

C o m e f f e i t o , n o d i a 2 7 d e J a n e i r o fo i a c i d a d e d e J a g u a r ã o

a c c o m m e t t i d a p o r a q u e l l a t r o p a , d a q u a l s e d e f e n d e u c o m

g r a n d e c u s t o p e l a f a lt a d e g u a r n i ç ã o q u e d e v i a t e r , e s t a n d o o s

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— 556 —

dous batalhões de infantaria de linha o 2 . ° e o

  1 0 °

  no lugar

que apontamos; os habitantes do campo por onde passaram os

O rientaes, soffreram bastante em suas propriedades.

Eis aqui o que diz o presidente d'aquella provincia, em

data de

  1 1

 de Fevereiro de

  1 8 6 5 ,

  á missão especial do Brasil

em Buenos-Ayres:

ct   No dia  2 7  do passado foi a nossa fronteira do Jaguarão

invadida por uma força oriental de  1 , 5 0 0  homens, sob as or

dens dos chefes militares Bazilio M unhoz e A pparicio. S obre

esta fronteira tinham os dous corpos de cavallaria com cerca

de

  5 0 0

 hom ens. A tacados quasi que de surpresa por forças

mui superiores, as forças brasileiras tiveram de recuar, sus

tentando guerrilhas até á cidade de Jaguarão, para onde re

colheram-se.

ct

  Protegida por ligeiras trincheiras, que apressadamente ha

viam sido feitas, a guarnição de Jaguarão rechassou as forças

invasoras, as quaes não podendo tom ar a cidade no primeiro

assalto, recuaram e estabeleceram uma espécie de sitio, man

dando um emissário ao commandante da guarnição para que

se rendesse, ao que teve formal resposta negativa.

« Estavam ancorados no Jaguarão dous vapores de guerra

da esquadrilha d'esta provincia, que muito auxiliaram a de

feza da cidade, fasendo algun s tiros bons. O inimigo teve seis

mortos e vinte feridos. Das forças brasileiras, um morto no

ataque, outro poucos dias depois dos ferimentos graves quehavia recebido e quatro levemente feridos.

« A noite d'esse mesmo dia retiraram-se repassando a fron

teira. No trajecto saquearam as casas, arrebataram a cavalhada

que encontraram, e levaram cerca de  3 0  escravos, dos quaes

alguns tem fugido para as casas de seus senhores.

ct

  Confesso a V.

  E x

 que não me persuadi que estando o

exercito brasileiro na campanha oriental, com forças um pouco

num erosas de cavallaria e as forças coloradas, qu e pudesse

uma força inimiga de  1 , 5 0 0  homens atacar-nos impunemente

em qualquer ponto das fronteiras. Defender as extensas fron

teiras da provincia de invasões rápidas de forças um pouco

avultadas é materialmente impossível.

ct   Tínhamos, como disse, dous corpos na fronteira de Jag ua

rão,  e a fronteira de Bagé estava gnarnecida por outros dous

corpos, esperando-se alli todos os dias alguns dos corpos que

estavam em marcha. Em Bagé estavam dous batalhões de

linha. Note-se que quando vieram da corte esses dous corpos,

eu ponderei ao general Lopo a conveniência de estacionar

um d'elles em Jaguarão até segunda ordem. R espondeu-se-me

que as ordens recebidas do general em chefe era para fazer

marchar os dous para Bagé.

« Hoje estão em Bagé a brigada de S. Gabriel com

  1,000

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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1

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hom ens* © os do us corpos que acima me referi com mais

500 h om en s. Com estes corpos e com os dous da fronteira

de Ja gu ar ão , vou organisar um a divisão ligeira para cujo

com m ando convidei o Barão de Jacu hy . »

Às forças qu e sob o comm ando de M unhoz e A pparicio

vieram á cidade de Ja gu arã o, retiraram -se depois na direcção

do dep arta m en to do Cerro L argo. A hi recebeu M unhoz a

orde m de obedecer ao novo Preside nte do Estado O rienta ,

bem como a força do seu commando, o que elle curaprio;

m an d o u os soldados e gu arda s nacionaes para os seus respec

tivos departamentos, ficando a sua divisão dissolvida.

S U B M I S S Ã O D O S C A U D I L H O S M U N H O Z £ A P P A R I C I O .

<c E xm . S r. Pre sid en te da R epub lica, Brigadeiro General

D .  Venancio Flores.

« Balija,  2  de Março de  1 8 6 5 .

— E x m .

  senhor—O general abaixo

assign ado tem a hon ra de levar ao conhecimento de V . Ex.

que hontem, ás

  4

  horas da tarde, chegou a seu poder

  a*

 nota

do ex-presidente da Republica D. Thomaz Villalba, datada

de

  2 1

  de Fe ve rei ro ul tim o, na Qual faz saber ao abaixo assig

nad o a paz celebrada com V .  E x .  e S. Ex. o Sr. ministro

do Bra sil, e dispõ e ao mesm o tempo que receba e obedeça

ás ordens de V. Fx.

« Em conseqüência d'isso, acatando a referida resolução, e

conformando com a paz celebrada, o abaixo assignado e as

forças sob seu com m ando subm ettem-se desde já ao governo