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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Caracterização de Compostos Polares no Petróleo por Espectrometria de Massas de Altíssima Resolução e Exatidão ESI(±)-FT-ICR MS Guilherme Pires Dalmaschio Dissertação de Mestrado em Química Vitória 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA

Caracterização de Compostos Polares no Petróleo por Espectrometria de Massas de Altíssima Resolução e

Exatidão – ESI(±)-FT-ICR MS

Guilherme Pires Dalmaschio

Dissertação de Mestrado em Química

Vitória 2012

Page 2: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

Guilherme Pires Dalmaschio

Caracterização de Compostos Polares no Petróleo por Espectrometria

de Massas de Altíssima Resolução e Exatidão – ESI(±)-FT-ICR MS

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Química do Centro de

Ciências Exatas da Universidade Federal

do Espírito Santo como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre em

Química, na área de Síntese e

Caracterização de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Eustaquio Vinicius

Ribeiro de Castro

VITÓRIA 2012

Page 3: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

Caracterização de Compostos Polares no Petróleo por Espectrometria de Massas de Altíssima Resolução e Exatidão

– ESI(±)-FT-ICR MS

Guilherme Pires Dalmaschio

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Química da

Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção

do grau de Mestre em Química.

Aprovado em 09/03/2012 por:

__________________________________________ Prof. Dr. Eustaquio V. R. de Castro

Universidade Federal do Espírito Santo Orientador

__________________________________________ Prof. Dr. Wanderson Romão

Universidade Federal do Espírito Santo

__________________________________________ Prof. Dr. Boniek Gontijo Vaz

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, Março de 2012

Page 4: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Dalmaschio, Guilherme Pires, 1986- D148c Caracterização de compostos polares no petróleo por

espectrometria de massas de altíssima resolução e exatidão – ESI(±)-FT-ICR MS / Guilherme Pires Dalmaschio. – 2012.

87 f. : il. Orientador: Eustaquio Vinicius Ribeiro de Castro. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal

do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas. 1. Petróleo. 2. Destilação. I. Castro, Eustáquio Vinicius Ribeiro

de. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Exatas. III. Título.

CDU: 54

Page 5: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

Aos meus pais Ademir Geraldo Dalmaschio e Telma Pires Dalmaschio, e

Jadir Luis Gavassoni/Neno.

Page 6: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por tudo conquistado nessa vida.

A minha mãe, Telma Pires Dalmaschio, pelo amor incondicional e eterno, pela luta

para proporcionar o melhor para mim e pela confiança sempre. A quem eu

cegamente devo minha vida e minha alegria.

A minha família tão maravilhosa, em especial, todo mundo.

A minha futura nova família, Zorzanelli Malacarne, em especial, Pelé (só que

branco), Teresa Cristina (aquela da novela), Majorie, Maiara (“futura ex-pobre”) e

Vitor (Queria mandar um catuque pro Vitin pingo doce...vê se ta baum de açúcar!!).

A Majorie Mara Malacarne (merece um tópico único), amor da minha vida, pelo apoio

incondicional, paciência, ensinamentos e muito carinho.

Ao meu orientador Professor Dr. Eustaquio Vinicius Ribeiro de Castro, pela eterna

confiança e muitas histórias de vida (“se tem um troço que eu gosto é o tal da

manteiga”).

Ao meu co-orientador “não oficial” Professor Dr. Wanderson Romão, mais do que um

braço direito neste trabalho, cujo filho é show...e não parece nada com o pai!

Ao Dr. Boniek Gontijo Vaz, a Rosana C. L. Pereira e ao Professor Dr. Marcos N.

Eberlin (colaboração a respeito de FT-ICR MS).

Ao Professor Dr. Sandro Greco pelo apoio na realização do trabalho.

A um amigo vascaíno Carlão, pelos ensinamentos e amizade, ajuda e todo o resto é

só alegria, inclusive o caso dos 45 minutos no elevador!

A Susy Hellen Soares, anjo da guarda.

A equipe PEV do LABPETRO, em especial, Vinicius Mansur, “amigo só o ouro”!

Aos amigos do LABPETRO que de uma forma ou de outra contribuíram para a

realização deste trabalho.

Por estar vivendo ao mesmo tempo em que meus amigos.

A quem eu jamais esquecerei: Deda, Tati e Tolete.

Page 7: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

“Nóis vivia em meio da roça mermo. Eu trabaiava matando boi, vinha o primeiro:

era uma marretada só e ai tombava, o segundo era a mesma coisa, ai o terceiro,

e o quarto...e ia o dia todo assim. O patrão num intindia donde vinha tanta

força pra matar o boi. E lá em riba de casa tava minha véia com a janta pronta.

Quando num tinha muito o que se faze, uma vez e outra nóis fazia uns filhin: veio o

primeiro, entonce o segundo, o terceiro,...,décimo,..., décimo terceiro. É meu minino,

nóis fico muito sem o que faze mermo.”

Seu Jaime Souza Pires - Querido avô.

Page 8: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Composição do petróleo com as correspondentes porcentagens médias

de cada tipo de compostos........................................................................................ 18

FIGURA 2: Hidrocarbonetos saturados (a), compostos naftênicos (b) e aromáticos

(c). ............................................................................................................................. 20

FIGURA 3: Compostos nitrogenados básicos (a) e não-básicos (b). ........................ 21

FIGURA 4: Compostos sulfurados ácidos (a) e não-ácidos (b) encontrados no

petróleo. .................................................................................................................... 22

FIGURA 5: Compostos oxigenados encontrados no petróleo. .................................. 23

FIGURA 6: Possíveis estruturas de ácidos naftênicos encontrados no petróleo. ..... 26

FIGURA 7: Depósito de naftenato de cálcio coletado de um separador óleo/água. . 29

FIGURA 8: ESI(-)-FT-ICR MS de uma amostra de naftenato de cálcio extraído com

tolueno acidificado.. ................................................................................................... 30

FIGURA 9: Diagrama esquemático de um espectrômetro de massas ...................... 34

FIGURA 10: Ilustração esquemática de uma fonte de ionização por ESI. ................ 36

FIGURA 11: Ilustração da resolução em analisadores de massas com (a) resolução

unitária e (b) alta resolução. ...................................................................................... 39

FIGURA 12: Movimento ciclotrônico de íons na presença de um campo magnético.

.................................................................................................................................. 42

FIGURA 13: Geometria típica de uma cela de ICR. .................................................. 43

FIGURA 14: Conversão do movimento ciclotrônico (a) incoerente em um (b)

coerente (detectável). ................................................................................................ 45

FIGURA 15: Esquema do funcionamento de uma cela de ICR. ................................ 45

FIGURA 16: Gráfico de DBE vs. número de carbono de uma amostra de petróleo por

ESI(-)-FT-ICR MS. ..................................................................................................... 48

FIGURA 17: Sistema de destilação atmosférico (esquerda) e a vácuo (direita) -

LabPetro/UFES. ........................................................................................................ 51

FIGURA 18: Reação de metilação, formação dos sais de sulfônio. .......................... 53

FIGURA 19: ESI(-)-FT-ICR MS para os doze cortes de destilação do petróleo A. .... 57

FIGURA 20: Possíveis estruturas de compostos oxigenados identificados nos onze

cortes (F2-F12) com seus respectivos valores de m/z, C e DBE. ............................. 58

FIGURA 21: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe O2 dos cortes

F1-F12 por ESI(-)-FT-ICR MS. .................................................................................. 59

Page 9: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

FIGURA 22: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe N1 (a) e O2

(b) e perfil das classes majoritárias dos componentes obtidos por ESI(-)-FT-ICR MS

para o petróleo e o resíduo (RATA) (c). ..................................................................... 60

FIGURA 23: ESI(+)-FT-ICR MS para os dez cortes de destilação do petróleo A (F3-

F12). .......................................................................................................................... 61

FIGURA 24: Possíveis estruturas nitrogenadas identificadas nos dez cortes (F3-F12)

com seus respectivos valores de m/z, C e DBE. ....................................................... 62

FIGURA 25: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe N1 dos cortes

F1-F12 por ESI(+)-FT-ICR MS. ................................................................................. 63

FIGURA 26: Reação de metilação. ........................................................................... 64

FIGURA 27: ESI(+)-FT-ICR MS para ocorte F11 metilada (superior) e não metilada

(inferior). .................................................................................................................... 65

FIGURA 28: ESI(+)-FT-ICR MS para ocorte F12 metilada (superior) e não metilada

(inferior). .................................................................................................................... 66

FIGURA 29: ESI(+)-FT-ICR MS para o resíduo de vácuo (RVAc) não metilado

(superior) e metilado (inferior). .................................................................................. 67

FIGURA 30: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe S1 dos cortes

F11 e F12 juntamente com o resíduo (RAVC) por ESI(+)-FT-ICR MS. ...................... 68

FIGURA 31: ESI(-)-FT-ICR MS para os cortes do petróleo B (F2-F7). ..................... 70

FIGURA 32: Estruturas de ácidos naftênicos identificados nos cortes com seus

respectivos valores de m/z e DBE. ............................................................................ 71

FIGURA 33:ESI(-)-FT-ICR MS para o petróleo B (a) e o resíduo (b). ....................... 72

FIGURA 34: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe O2 (a) e N1

(b) e perfil das classes majoritárias dos componentes obtidos por ESI(-)-FT-ICR MS

para o petróleo B e o resíduo (RATB) (c). .................................................................. 73

FIGURA 35: ESI(-)-FT-ICR MS para os cortes F6A (a) e F6B (b). ............................. 74

FIGURA 36: FTIR dos doze cortes da destilação do petróleo A (superior) e do

petróleo B (inferior). ................................................................................................... 75

FIGURA 37: Gráfico de transmitância (%) vs. NAT (mg KOH/g) para os cortes do

petróleo A (superior) e do petróleo B (inferior)........................................................... 76

Page 10: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Classificação do Petróleo de acordo com ºAPI ...................................... 17

TABELA 2: Classificação pela composição química ................................................. 19

TABELA 3: Comparação entre analisadores de massas .......................................... 38

TABELA 4: Classificação por classe, número de carbono e DBE. ........................... 47

TABELA 5: Parâmetros físico-químicos das amostras referentes ao petróleo A. ..... 55

TABELA 6: Parâmetros físico-químicos das amostras referentes ao petróleo B ...... 69

Page 11: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AET – Temperatura equivalente atmosférica (atmosphere equivalent temperature)

API – American Petroleum Institute

ASTM – American Society for Testing and Materials

ATR-IR – Espectroscopia na região do infravermelho acoplada com reflectância total

atenuada

CI – Ionização química (chemical ionization)

DBE – Número de insaturações e anéis (double bound equivalent)

DQUI – Departamento de Química

EI – Ionização por elétrons (electron ionization)

ESI – Ionização por eletrospray (electrospray ionization)

ESI-FT-ICR-MS – Espectrometria de Massas com Ionização por eletrospray e

Ressonância Ciclotrônica de Íons por Transformada de Fourier (Electrospray

Ionization Fourier Transform Ion Cyclotron Resonance Mass Spectrometry)

FT-ICR – Ressonância ciclotrônica de íons por transformada de Fourier

FTIR – Espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier

GLP – Gás liquefeito de petróleo

HPA – Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

IBP – Ponto inicial de ebulição (initial boiling point)

ICR – Ressonância ciclotrônica de íons (ion cyclotron resonance)

IT – Aprisionamento de ions (Ion trap)

IV – Infravermelho

IUPAC – União Internacional de Química Pura e Aplicada (International Union of

Pure and Applied Chemistry)

Page 12: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

KMD – Defeito de massa de Kendrick (Defect mass Kendrick)

KNM – Massa nominal de Kendrick (Kendrick nominal mass)

LABPETRO – Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para

Análises de Petróleo

MALDI-MS – Ionização/dessorção a laser favorecida por matriz (Matrix assisted laser

desorption/ionization mass spectrometry)

MS – Espectrometria de Massas (Mass Spectrometry)

m/z– Razão massa-sobre-carga

NAT – Número de acidez total

PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A

PEV – Ponto de Ebulição Verdadeiro

pH – Potencial hidrogeniônico

PPM – Partes por milhão

RAT – Resíduo atmosférico

RF – Radiofreqüência

SN2 – Substituição nucleofílica bimolecular

TOF – Tempo de vôo (time-of-flight)

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Page 13: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

LISTA DE SÍMBOLOS

atm – Pressão atmosférica

B – Campo magnético

cm – Centímetros

d – Densidade

F – Força eletromagnética

F’ – Força referente ao movimento circular uniforme

g – Grama

h – Horas

m – Massa

mDa – Mili Dalton

mg – Miligrama

mL – Mililitros

mm – Milímetros

mmol – Milimol

psi – Libra força por polegada quadrada (pound per square inch)

q – Carga

r – Raio

v – Velocidade

V – Volts

ω – Velocidade angular

ωc – Freqüência ciclotrônica

Page 14: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

RESUMO

O petróleo é considerado a mistura natural mais complexa do mundo e por apresentar milhares de constituintes é um das matérias-primas mais desafiadoras para as análises químicas. Embora muitas técnicas venham sendo utilizadas para a caracterização dos constituintes do óleo, quando combinamos o altíssimo poder de resolução e exatidão da espectrometria de massas, em especial a Ressonância Ciclotrônica de Íons por Transformada de Fourier, (FT-ICR MS) com fontes de ionização a pressão atmosférica – ESI (ionização por electrospray), uma atribuição precisa de mais de 20 000 composições elementares de componentes orgânicos contendo heteroátomos do óleo cru pode ser obtida. Na indústria do petróleo existe um grande interesse na análise de ácidos naftênicos devido ao mecanismo de corrosão que ainda é uma questão bastante explorada. Ácidos naftênicos são grupos de ácidos carboxílicos de cadeia saturada podendo ser monocíclicos ou policíclicos, sendo o fenômeno de corrosão provocado pela reação química dessas espécies com o ferro, afetando diretamente vários processos da indústria petroquímica. Com o objetivo de estudar a composição polar dos cortes de petróleo, três óleos diferentes foram destilados, obtendo-se para os petróleos A e B, 12 e 7 cortes, respectivamente, enquanto que do petróleo C analisou-se somente o resíduo proveniente da destilação a vácuo. A partir das amostras geradas pelo processo de destilação, medidas de ESI(±)-FT-ICR MS foram realizadas e os resultados foram associados com os valores obtidos pelo número de acidez total (NAT). Adicionalmente, a ionização por ESI foi otimizada para compostos contendo enxofre (classe S1). Reações de metilação em cortes e no resíduo de destilação a vácuo do petróleo foram realizadas e posteriormente, analisadas via ESI(+)-FT-ICR MS. Os resultados obtidos das análises de ESI(-)-FT-ICR MS mostraram a classe O2 (ácidos naftênicos) como sendo a classe majoritária nos cortes. Além disso, o aumento da acidez com a temperatura de ebulição dos cortes é proporcional ao aumento da série homóloga, ao valor de DBE e à distribuição do número de carbono das espécies identificadas, o que sugere que em cortes de maior ponto de ebulição, moléculas mais complexas são encontradas em maiores concentrações. Com os resultados obtidos por ESI(+)-FT-ICR MS foi possível identificar a classe N1 como a classe mais abundante nos cortes destilados. As espécies sulfuradas e outros compostos orgânicos que apresentam em sua estrutura um sistema de duplas ligações conjugadas, como por exemplo, furanos, só puderam ser identificados após as reações de metilação.

Palavras-chave: Petróleo. Destilação. Polares. Acidez. ESI-FT-ICR MS.

Page 15: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

ABSTRACT

Petroleum is considered the world’s most complex natural mixture and its myriad of constituents offers one of the most challenging samples for chemical analysis. Although many techniques may be used for the oil constituents characterization, the very high resolving power and accuracy of mass spectrometry, in particular the Fourier transforms ion cyclotron resonance mass spectrometry (FT-ICR MS), has provided an accurate assignment of more than 20 000 different elemental compositions of organic compounds containing heteroatoms from crude oil. In petroleum industry, there is a great interest in naphthenic acids analysis due to its corrosion mechanism that is still a question mark in the material science agenda. Naphthenic acids are groups of saturated monocyclic, polycyclic and acyclic carboxylic acids and the phenomena of corrosion occur mainly via the chemical reaction with the iron affecting directly the production and the petroleum refining processes. Aiming to study the polar composition of oil cuts through distillation processes, three different oils were distilled in which obtained to the oils A and B, 12 and 7 cuts, respectively, while the oil C was analyzed only the residue from the vacuum distillation. Measures of ESI(±)-FT-ICR MS were performed to the samples obtained from distillation process and the results were compared with the values of acidity from total acid number (TAN) analysis. Additionally, the ESI ionization was optimized for sulfur-containing compounds (S1 class) by methylation reactions in cuts and vacuum residue of petroleum. These samples were analyzed via ESI(+)-FT-ICR MS. The results from ESI(-)-FT-ICR MS analysis showed the O2 class (naphthenic acids) as the majority class in the cuts. Moreover, the increase in acidity with the boiling temperature of the cuts is proportional to the increase in homologous series, DBE value and carbon number distribution of the identified species, which suggests that cuts with higher boiling points have more complex molecules in higher concentrations. The results obtained by ESI(+)-FT-ICR MS identified the N1 class as the most abundant in the distillate cuts. The sulfur-containing species and others organic compounds, which has a system of conjugated double bonds, as aromatics hydrocarbon and furans, were only detected when methylation reactions were performed. Keyword: Petroleum. Distillation. Polar. Acidity. ESI-FT-ICR MS.

Page 16: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16

1.1. Petróleo .......................................................................................................... 16

1.1.1. Constituintes do Petróleo ........................................................................ 17

1.1.2. Hidrocarbonetos ...................................................................................... 18

1.1.3. Não Hidrocarbonetos – Compostos Polares (N, S e O) .......................... 20

1.2. Destilação ....................................................................................................... 23

1.3. Problemas associados com a presença de compostos polares ..................... 24

1.3.1. Ácidos Naftênicos e Corrosão ................................................................. 25

1.3.1.1. Mecanismo de Corrosão .................................................................. 27

1.3.1.2. Depósitos de Naftenatos .................................................................. 28

1.4. Número de Acidez Total - NAT ........................................................................ 31

1.5. Instrumentação Analítica ................................................................................ 32

1.5.1. Espectrometria de Massas ...................................................................... 32

1.5.1.1. Princípios ......................................................................................... 33

1.5.1.2. Fontes de Ionização ......................................................................... 34

1.5.1.2.1. Ionização por Eletrospray (ESI)................................................... 35

1.5.1.3. Analisadores de Massas .................................................................. 37

1.5.1.3.1. Espectrometria de massas de Ressonância Ciclotrônica de Íons

por Transformada de Fourier (FT-ICR MS) .................................................. 40

1.5.1.3.1.1. Movimento Ciclotrônico de Íons............................................. 41

1.5.1.3.1.2. Cela de ICR ........................................................................... 43

1.5.1.3.1.3. Excitação e detecção do íon ................................................. 44

1.5.1.4. Ferramentas para análise de dados ................................................ 46

2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 49

2.1. Objetivos específicos ...................................................................................... 49

3. METODOLOGIA ................................................................................................ 50

3.1. Destilação laboratorial .................................................................................... 50

3.2. Densidade e °API ........................................................................................... 51

3.3. Número de acidez total (NAT)......................................................................... 52

3.4. Espectroscopia na região do infravermelho médio (FTIR) .............................. 52

3.5. Reações de metilação .................................................................................... 53

3.6. Teor de enxofre total ....................................................................................... 53

Page 17: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

3.7. ESI(±)-FT-ICR MS .......................................................................................... 54

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 55

4.1. Petróleo A ....................................................................................................... 55

4.1.1. ESI(-)-FT-ICR MS .................................................................................... 55

4.1.2. ESI(+)-FT-ICR MS ................................................................................... 60

4.2. Reações de metilação - petróleo A e C ........................................................... 63

4.3. Petróleo B ....................................................................................................... 69

4.3.1. ESI(-)-FT-ICR MS .................................................................................... 69

4.4. FTIR ................................................................................................................ 74

5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 77

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 78

Page 18: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

16

1. INTRODUÇÃO

1.1. Petróleo

O termo petróleo é usado para descrever um combustível fóssil constituído

por uma mistura rica em uma variedade de hidrocarbonetos fluidos que se

acumularam em reservatórios subterrâneos durante milhares de anos (SPEIGHT,

2002). Tal mistura é classificada basicamente em quatro grupos: hidrocarbonetos

saturados (cíclicos, acíclicos ou parafinas e naftênicos), hidrocarbonetos aromáticos,

resinas e asfaltenos. O petróleo é relatado como a mistura orgânica de maior

complexidade (TISSOT e WELTE apud VAZ, 2010).

Com a descoberta do petróleo, surgiram também inúmeras teorias sobre sua

origem, porém, atualmente, tem-se a teoria orgânica moderna como a mais aceita

para explicar sua formação. De acordo com esta teoria, o petróleo é formado a partir

da deposição de matéria orgânica proveniente de restos de animais e plantas em

bacias sedimentares que ao longo dos anos sofreu processos de biodegradações e

transformações físico-químicas, o que resultou em modificações constantes na sua

composição (VAZ, 2010; SHUTZ, 2009). Devido a essas mudanças, encontra-se

uma grande variação das características do óleo no que diz respeito a cor, odor e

propriedades de fluxo que refletem a diversidade de sua origem (SPEIGHT, 2002).

Devido à diferenças significativas na composição dos óleos crus, existem

alguns parâmetros de classificação a fim de facilitar sua descrição, como por

exemplo a densidade, que distingue, de uma forma geral, os oléos leves, ricos em

compostos de baixo ponto de ebulição, dos pesados, cujo ponto de ebulição é mais

elevado por apresentarem maiores proporções de compostos com estruturas mais

complexas (MELLO, 2007). Tal classificação é baseada no °API (equação 1), criado

pelo American Petroleum Institute, como uma forma de expressar a densidade do

óleo por meio de um índice adimensional. A escala API é inversamente proporcional

à densidade, ou seja, quanto maior a densidade, menor o grau API, e, portanto, mais

pesado é o óleo (WINTER, 2007; ULLER, 2007).

(1)

Page 19: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

17

Na Tabela 1 encontram-se os valores de ºAPI definidos pelo setor de

abastecimento da PETROBRAS para classificação dos petróleos.

Tabela 1: Classificação do Petróleo de acordo com ºAPI.

Petróleo ºAPI Densidade 20/40 ºC

Extra-Leve > 40,0 < 0,821 Leve 40,0 – 33,0 0,821 – 0,857 Médio 33,0 – 27,0 0,857 – 0,889

Pesado 27,0 – 19,0 0,889 – 0,937 Extra-Pesado 19,0 – 15,0 0,937 – 0,962

Asfáltico < 15,0 > 0,962

Fonte: GUIMARÃES, 2004.

O estado físico do óleo depende de sua composição: quando este possui uma

mistura de hidrocarbonetos com uma maior porcentagem de moléculas pequenas,

seu estado físico é gasoso (gás natural); e quando a mistura contém moléculas

orgânicas maiores, seu estado físico pode variar de líquido a sólido. Assim, sua

matriz contém compostos com massas moleculares variando de 16 g.mol-1 (como o

metano), até 2 000 g.mol-1 para espécies mais complexas (MELLO, 2007).

1.1.1. Constituintes do Petróleo

O petróleo pode ser classificado em dois grupos principais, os

hidrocarbonetos e os não hidrocarbonetos e sua composição é geralmente expressa

em termos da proporção de hidrocarbonetos saturados, aromáticos e compostos

polares (Figura 1).

Page 20: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

18

Figura 1: Composição do petróleo com as correspondentes porcentagens médias de cada tipo de compostos. Fonte: VAZ, 2010.

Além de hidrocarbonetos, cujos teores de carbono e hidrogênio somam mais

de 90 % em massa, o petróleo contém outros compostos que modificam as suas

propriedades, tais como os orgânicos heteroatômicos nitrogenados (0,11-1,7 wt %),

oxigenados (0,1-2 wt %) e sulfurados (0,06-8 wt %) (TRIGGIA, CORREIA, FILHO et

al., 2001) de peso molecular e polaridade variável, e ainda, em menor concentração,

metais como níquel, vanádio e chumbo (SOTELO, 2006).

1.1.2. Hidrocarbonetos

De acordo com a classe de hidrocarbonetos que compõem o petróleo, o

mesmo pode ser classificado em: parafínicos, naftênicos (ou cicloparafínicos) e

aromáticos (Tabela 2).

70%

25%

5%

Hidrocarbonetos

Aromáticos

Polares

Page 21: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

19

Tabela 2: Classificação pela composição química.

Composição do Corte (250-300) °C

Classificação do Óleo Cru Parafínico

(wt %)

Naftênico

(wt %)

Aromático

(wt %)

46-61 22-32 12-25 Parafínico

42-45 38-39 16-20 Parafínico-naftênico

15-26 61-76 8-13 Naftênico

27-35 36-47 26-33 Parafínico-naftênico-aromático

<8 57-78 20-25 Aromático

Fonte: Adaptado de SPEIGHT, 2002.

Os hidrocarbonetos saturados normalmente são os compostos encontrados

em maior quantidade nos óleos, exceto em petróleos biodegradados. Podem

constituir aproximadamente 60 % de óleos parafínicos-naftênicos, cerca de 40-45 %

em óleos aromáticos e de 20-25 % em óleos biodegradados (WINTER, 2007).

Os petróleos parafínicos contêm, principalmente, hidrocarbonetos saturados,

sem anéis aromáticos, com cadeia linear ou ramificada, Figura 2a. Geralmente, a

proporção de hidrocarbonetos parafínicos diminui com o aumento do ponto de

ebulição do respectivo corte. Os petróleos encontrados no Brasil têm sido

predominantemente de base parafínica. Por exemplo, a gasolina é composta por

cerca de 80 % de constituintes parafínicos, enquanto que nos óleos lubrificantes

estes são cerca de 30 % (SIMANZHENKOV e IDEM, 2003).

Os hidrocarbonetos naftênicos são hidrocarbonetos saturados contendo um

ou mais anéis, normalmente derivados do ciclopentano e do cicloexano, sendo que

cada um destes podem apresentar cadeias parafínicas (cadeias alquílicas), Figura

2b. Na indústria do petróleo, os constituintes naftênicos são conhecidos assim,

devido à sua presença no petróleo ocorrer a partir da nafta (WINTER, 2007; RIAZI,

2005), podendo estes, representar até, aproximadamente, 75 % do total de

constituintes no petróleo (SIMANZHEKOV e IDEM, 2003).

Os compostos aromáticos constituem uma série importante de

hidrocarbonetos encontrados em quase toda mistura do petróleo de qualquer parte

do mundo. Também conhecidos como HPA (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos),

os compostos aromáticos são hidrocarbonetos cíclicos insaturados e são,

normalmente, o segundo maior grupo de compostos existentes nos óleos, podendo

seu conteúdo variar de 20 a 45 wt % para a maior parte dos petróleos crus. No caso

do petróleo, geralmente, as moléculas aromáticas são moléculas benzenóides,

Page 22: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

20

podendo apresentar de um até cinco anéis em sua estrutura, como benzeno e

naftaleno, além de cadeias parafínicas e anéis naftênicos (Figura 2c).

Benzeno Naftaleno Tolueno Tetraidro-naftaleno

Propano Isopentano Ciclopentano Etilcicloexano

a) b)

c)

Figura 2:Hidrocarbonetos saturados (a), compostos naftênicos (b) e aromáticos (c). Fonte: RIAZI, 2005; WINTER, 2007.

1.1.3. Não Hidrocarbonetos – Compostos Polares (N, S e O)

Geralmente, compostos polares são encontrados em todos os cortes do

petróleo, porém, tendem a concentrar-se nos cortes mais pesados e estão presentes

em maiores quantidades em óleos pesados e extrapesados, sendo os principais

responsáveis por efeitos indesejáveis nos produtos do petróleo. Estes, relatados

como compostos polares, apresentam em sua estrutura heteroátomos como

nitrogênio, oxigênio e enxofre, onde se encontram associados a sistemas aromáticos

e naftênicos podendo apresentar um teor combinado de até 15 % em massa total do

petróleo (VAZ, 2010).

O teor denitrogênionamaioria dospetróleoscompreende a faixa de 0,01 a 0,8

wt % tendo maior proporção em cortes cujo ponto de ebulição é superior a 345 ºC

(VAZ, 2010).

Os compostos nitrogenados aparecem no óleo cru tanto na forma de

heterociclos simples como em estruturas mais complexas (HATCH e MATAR, 2001),

podendo inclusive, serem formados através de combinações em suas estruturas

com outros heteroátomos como S ou O, levando a compostos do tipo NO, NS, NOS

entre outros (VAZ, 2010).

Page 23: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

21

Compostos nitrogenados podem ser classificados como básicos, sendo

formados principalmente por um anel de piridina (Figura 3a), e não-básicos, com

uma estrutura pirrólica (Figura 3b).

R R

R RR

N

H

Pirrol

a)

b)

N

H

Indol

N

H

Carbazol

N NN

Piridina Quinolina Acridina

R

Figura 3: Compostos nitrogenados básicos (a) e não-básicos (b).

Entre os contaminantes encontrados no óleo cru o enxofre é o mais

abundante. De uma maneira geral, estes compostos estão presentes em todos os

petróleos e, na maioria das vezes, assume-se a tendência que, quanto maior a

densidade do petróleo (e consequentemente menor °API), maior o seu teor de

enxofre (MELLO, 2007). A concentração total de enxofre no petróleo varia

amplamente de 0,1 a 5 wt % (GARY e HANDWERK, 2001), dependendo da origem

do óleo, sendo encontrados também teores de até 8,0 wt % em areias betuminosas

(SPEIGHT, 2002). Óleos cujo teor de enxofre é menor do que 1wt % são

referenciados como “doce” enquanto aqueles com mais de 1 wt % são ditos azedo

(FAHIM, AL-SAHHAF e ELKILANI, 2010).

Compostos organossulfurados podem normalmente serem classificados como

ácidos (Figura 4a), abrangendo espécies como mercaptanas, tiofenóis e ciclo tióis, e

não ácidos (Figura 4b), incluindo dissulfetos e estruturas derivadas do tiofeno.

Page 24: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

22

SH

Tiofenóis Cicloexiltiol

SH

Mercaptanas

SHa)

b) S

R

Alquil tiofenos

S

Dibenzotiofenos

Dissulfetos

S S

R R

R

Figura 4: Compostos sulfurados ácidos (a) e não-ácidos (b) encontrados no petróleo.

Normalmente estruturas que contêm enxofre apresentam combinações com

outros heteroátomos como N ou O, levando a compostos do tipo SO, NS, NOS entre

outros (VAZ, 2010).

Por fim, compostos contendo oxigênio em sua estrutura podem ocorrer de

várias formas no óleo, incluindo os ácidos, fenóis, cresóis, cetonas e ésteres. Na

Figura 5 são observados alguns destes compostos. Responsáveis por algumas

propriedades como acidez, odor e formação de depósitos, os compostos oxigenados

apresentam-se no petróleo cru com um teor menor do que 2 wt % (FAHIM, AL-

SAHHAF e ELKILANI, 2010). Entre esses compostos, os ácidos naftênicos e

derivados naftênicos aromáticos são os tipos de compostos oxigenados mais

abundantes no óleo (VAZ, 2010), cujas propriedades estruturais, juntamente com

outras espécies, são responsáveis por uma série de fatores que prejudicam as

etapas de exploração e produção bem como o refino do petróleo. Tais problemas

incluem o fenômeno da corrosão naftênica e o depósito de naftenatos.

Page 25: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

23

R R

Ácidos carboxílicos Cresol

Metil fluorenona Benzofurano Éster

O

COOHRCOOHR

OH

R

O

CH3

R

O

OR'

Figura 5: Compostos oxigenados encontrados no petróleo.

1.2. Destilação

Atualmente, o óleo cru representa uma das mais importantes fontes

energéticas, no que diz respeito à demanda de combustíveis, e ainda é tido como o

principal fornecedor de matéria prima para as indústrias petroquímicas (RIAZI,

2005). Entretanto, o petróleo no seu estado bruto não apresenta aplicabilidade

prática, por se tratar de uma mistura complexa formada por milhares de constituintes

cujas propriedades estruturais são distintas. Assim, a utilização de processos físico-

químicos tem permitido não só a separação desses constituintes em cortes menos

complexos bem como a avaliação tanto do óleo cru quanto dos seus derivados, a fim

de obter um produto final de maior qualidade comercial.

Existem vários ensaios desenvolvidos para a caracterização de óleos e seus

derivados, porém, análises de densidade (°API) e de PEV (Ponto de Ebulição

Verdadeiro) são consideradas uma das técnicas mais importantes para a avaliação

inicial de petróleos (SOTELO, 2006).

Com o intuito de obter derivados específicos de petróleos, é necessário que o

óleo cru seja separado em cortes. Nas refinarias, inicialmente, tal separação é

realizada nas torres de refino através do processo de destilação, onde o óleo é

fracionado de acordo com a diferença nos pontos de ebulição dos compostos. O

objetivo da destilação do óleo, basicamente, é o fracionamento do mesmo em

derivados, tais como: GLP, gasolina, querosene, gasóleo e resíduo atmosférico

Page 26: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

24

(SOTELO, 2006; PARKASH, 2003).

O método de destilação é usado para dar uma indicação aproximada dos

intervalos de destilação do petróleo bruto, estes dados são utilizados como base em

vários setores da indústria petrolífera, tais como refino, logística, abastecimento,

entre outros (ASTM D 2892, 2005). A destilação reduz drasticamente o número de

moléculas diferentes, limitando a massa molecular (número de carbonos), bem como

a diversidade estrutural em cada corte. Por isso, a divisão do óleo cru em uma série

de cortes facilita a sua comparação com outros produtos brutos. Além disso, a

distinção, a separação e as análises das classes de compostos diferentes em um

corte de destilação tornam-se menos complexas do que no próprio óleo cru. Outra

vantagem da destilação é a eliminação das interações intermoleculares que poderão

interferir em separações e análises subsequentes devido a sua natureza química

(ALTGELT e BODUSZYNSKI, 1993).

1.3. Problemas associados com a presença de compostos polares

Quando o petróleo é extraído do campo de produção, diversas impurezas são

encontradas juntamente com ele, tais como: compostos orgânicos sulfurados,

nitrogenados, oxigenados, organometálicos, água, sais minerais e areia

(MACHADO, ABREU, SOBRAL et al., 2003).

Mesmo presentes em pequenas quantidades no óleo cru, os contaminantes

são responsáveis por diversos problemas relacionados a todas as etapas de

exploração e produção do óleo. Tais problemas incluem danos ambientais,

envenenamento de catalisadores, instabilidade dos produtos provenientes do refino,

depósitos de naftenatos e corrosão de equipamentos nas refinarias, sendo todos

estes, consequências da presença principalmente dos heteroátomos nitrogênio,

enxofre e oxigênio (MALACARNE, 2011).

Dentre as dificuldades referentes à exploração e produção do óleo,

atualmente, duas em especial merecem destaque na indústria do petróleo: corrosão

naftênica e a deposição de naftenatos.

Page 27: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

25

1.3.1. Ácidos Naftênicos e Corrosão

As primeiras ocorrências de corrosão em equipamentos nas refinarias datam

desde 1920, e a partir daí a busca para contornar esse fenômeno tem sido

constante. Os ácidos naftênicos presentes no óleo cru são encontrados em

petróleos produzidos em diferentes partes do mundo e são considerados os

principais agentes da corrosão (ZEINALOV, ABBASOV e ALIEVA, 2009). Os

petróleos normalmente apresentam uma distribuição de acidez similar nos diferentes

campos, tendo o valor máximo coincidindo com o corte em um ponto de ebulição

específico, geralmente entre 371 °C até 426 °C (ALVISI, 2002; PIEHL, 1988).

Os ácidos naftênicos são formados através da biodegradação de cadeias

parafínicas produzindo compostos com anéis naftênicos e aromáticos (CAMPOS,

2005), o que os tornam importantes marcadores naturais indicando o nível de

maturidade e de biodegradação de um campo de petróleo (NASCIMENTO,

REBOUÇAS, KOIKE et al., 1999; MEREDITH, KELLAND e JONES, 2000). Ácidos

naftênicos são uma mistura de parafinas cíclicas com uma cadeia lateral contendo

um grupo carboxílico e constituem cerca de 50 wt % de compostos ácidos no óleo

cru. Na Figura 6 podem ser observadas possíveis estruturas de ácidos naftênicos

presentes no óleo cru.

Page 28: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

26

COOH

COOH

R

COOH

O

O

COOH

R

COOHR COOH

R

R

R

COOH

R

COOH

COOH

O

R

R

Figura 6: Possíveis estruturas de ácidos naftênicos encontrados no petróleo. Fonte: VAZ, 2010; LAREDO, LÓPEZ, ÁLVAREZ et al., 2004; HAVRE, 2002).

Os ácidos de baixa massa molar são, normalmente, encontrados em

destilados médios, como querosene e gasóleo, possuindo entre 8 e 12 carbonos. Já

ácidos que apresentam ponto de ebulição mais elevado possuem entre 14 e 19

carbonos, comumente encontrados em óleos lubrificantes (HATCH e MATAR, 2001).

A agressividade do ácido depende da sua massa molar, sendo que o seu

aumento é inversamente proporcional ao seu índice de acidez, o que torna menos

eficaz a ação corrosiva dos óleos. Estudos anteriores (GUTZEIT apud CAMPOS,

2005; GOMES, 2003) têm mostrado que a maior quantidade de ácidos naftênicos se

concentra nos cortes de maior ponto de ebulição. Contudo, geralmente, estes

últimos não possuem a acidez mais elevada (MACHADO, ABREU, SOBRAL et al.,

2003).

Os ácidos naftênicos merecem destaque por provocarem o fenômeno da

corrosão naftênica nos processos de refino do petróleo, ocorrendo principalmente

nas unidades de destilação atmosférica e a vácuo devido às suas altas temperaturas

Page 29: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

27

de operação (PORTELA, 2008). Tal corrosão afeta de forma significativa as

refinarias e mesmo não sendo um problema atual, ainda não há um entendimento

completo do seu mecanismo, tendo em vista que vários fatores podem estar

envolvidos, como: temperatura, velocidade de fluxo, concentração e estrutura do

ácido e a presença de impurezas. Porém, o produto proveniente desse processo é

sempre um naftenato metálico, solúvel em óleo (SHUTZ, 2009; MACHADO, ABREU,

SOBRAL et al., 2003).

A presença de compostos ácidos no óleo cru para a indústria do petróleo é

uma das preocupações que estão cada vez mais evidentes, visto que, com a

necessidade de exploração do petróleo tornando-se maior e mais acelerada, a

interrupção do processamento do mesmo traz de imediato significantes perdas

econômicas para os países produtores (BARROW, HEADLEY, PERU et al., 2004).

1.3.1.1. Mecanismo de Corrosão

Os ácidos naftênicos encontrados no petróleo são os responsáveis principais

pelo processo de corrosão, no entanto, a sua ação corrosiva é diretamente

influenciada pela presença de outros contaminantes no petróleo, especialmente

compostos de enxofre.

Um mecanismo aceito para a corrosão por ácidos naftênicos é descrito pelas

reações 2-4:

Fe + 2RCOOH → Fe(RCOO)2 + H2 (2)

Fe + H2S → FeS(s) + H2 (3)

Fe(RCOO)2 + H2S → FeS(s) + 2RCOOH (4)

A reação 2 mostra a formação do ferro dissolvido no petróleo na forma de

naftenato de ferro através do ataque dos ácidos naftênicos sobre a tubulação

metálica, na reação 3 ocorre a inibição da produção de naftenato de ferro devido a

presença de ácido sulfídrico no óleo, formando sulfeto de ferro insolúvel em solução.

Avaliando esses dois processos de corrosão, nota-se uma diferença

significativa entre eles. Na corrosão por ácidos naftênicos ocorre a formação de

naftenato de ferro, que por apresentar alta solubilidade em óleo, deixa a superfície

da tubulação livre para que um novo ataque naftênico continue ocorrendo,

aumentando assim a corrosão, enquanto que o sulfeto de ferro formado, por

Page 30: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

28

apresentar uma baixa solubilidade na solução, tende a formar um filme protetor que

se deposita sobre a tubulação, dificultando o processo de corrosão. Por fim, na

reação 4 ocorre a remoção dos naftenatos de ferro em solução e a formação de

sulfeto de ferro precipitado no óleo, acarretando na regeneração do ácido naftênico

(YEPES, 2005; SLAVCHEVA, SHONE e TURNBULL et al., 1999).

Para a formação de camadas protetoras (FeS), o óleo deve apresentar um

teor de enxofre total entre 2-3 wt %. Assim, um petróleo com alto número de acidez

e baixa quantidade de enxofre, parece ser mais corrosivo em altas temperaturas do

que aqueles com o mesmo conteúdo de ácidos naftênicos e alta quantidade de

enxofre (LAREDO, LÓPEZ, ÁLVAREZ et al., 2004).

Tendo em vista que a presença de ácidos naftênicos no óleo implica na

chamada corrosão naftênica, e que o produto desse processo sempre é a formação

de um naftenato metálico, surge, então, outro problema agravante que impede o

funcionamento das refinarias, que é a formação de depósitos de naftenatos.

1.3.1.2. Depósitos de Naftenatos

Nas etapas de exploração do óleo é de fundamental importância a garantia de

que o escoamento do óleo produzido seja constante. Porém, na indústria petrolífera,

óleos que apresentam um alto teor de acidez carregam uma infinidade de

problemas. Por exemplo, a formação de sólidos nos oleodutos podem resultar em

uma diminuição do fluxo do óleo, ou em situações mais graves, a sua completa

interrupção. Outras complicações no processo incluem bloqueio de equipamentos de

superfície, entupimento de bobinas e válvulas, impacto negativo na qualidade da

água, além de gerarem irregularidades na produção do óleo. Esses depósitos são,

geralmente, denominados de depósitos de naftenatos (MOHAMMED e SORBIE,

2009; MAPOLELO, STANFORD, RODGERS et al., 2009). Na Figura 7 é mostrada

uma fotografia de testemunho de tubulação usada na exploração marítima de

petróleo.

Page 31: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

29

Figura 7: Depósito de naftenato de cálcio coletado de um separador óleo/água. Fonte: HAVRE, 2002.

A formação de naftenatos ocorre a partir de variações nos parâmetros físicos

e químicos ao longo do processo de produção. Os depósitos de naftenatos são

constituídos por compostos complexos e sua formação se dá durante a hidrólise dos

ácidos naftênicos, onde ocorre a interação do grupo carboxilato com cátions

inorgânicos presentes na água de produção sob certas condições de pH e

temperatura, gerando precipitado de naftenatos de metais (MOHAMMED e SORBIE,

2009; MAPOLELO, RODGERS, BLAKNEY et al., 2011). Os cátions metálicos

envolvidos incluem metais alcalinos e alcalinos terrosos tais como sódio, potássio,

cálcio e magnésio, além do ferro como metal de transição. Entretanto, normalmente,

a maioria dos sólidos formados contém uma quantidade predominante de espécies

de naftenato de cálcio, ocorrendo como depósitospegajosos ouendurecidos, e

emulsões de naftenato de sódio,que podem formaremulsões comosabonetesou de

lamas (KHANDEKAR, GOPAL e Smith, 2011; MAPOLELO, RODGERS, BLAKNEY et

al., 2011). MARSHALL e colaboradores (2009) apresentaram uma composição

química detalhada das classes de heteroátomos presentes em amostras de

naftenato de cálcio por meio da Espectrometria de Massas de alta resolução e

exatidão (Figura 8), ferramenta esta que será abordada nos tópicos posteriores.

Page 32: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

30

Figura 8:ESI(-)-FT-ICR MS de uma amostra de naftenato de cálcio extraído com tolueno acidificado. Fonte: MARSHALL e colaboradores, 2009.

Page 33: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

31

Óleos cru de médios a pesados (18-27 °API) e ricos em ácidos naftênicos,

com um número de acidez total alto (0,80-8,0 mg KOH/g de óleo) são propícios à

formação de naftenatos de cálcio, enquanto que os naftenatos de sódio são

associados com óleos leves (>32-41 °API) com um número de acidez total baixo

(0,05-0,60 mg KOH/g de óleo) e alta concentração de ácidos graxos voláteis

(GALLUP, CURIALE e SMITH, 2007).

A indústria do petróleo utiliza um teste da ASTM para medir a quantidade total

de acidez em óleos crus através do Número de Acidez Total (NAT) (ASTM D 664,

2006). Um valor de NAT maior que 0,5 fará com que as refinarias paguem um menor

preço por um óleo cru devido à corrosão que esses ácidos causam aos sistemas de

refino. Um valor de NAT 1,0 ou superior significa que o cru contém um elevado teor

de acidez e a formação de naftenato de cálcio torna-se uma possibilidade de

ocorrência bastante acentuada (NALCO, 2012).

1.4. Número de Acidez Total - NAT

O número de acidez total é definido pela American Society for Testing and

Materials (ASTM) como a quantidade de base, expresso em miligramas de hidróxido

de potássio (KOH), necessários para neutralizar os componentes ácidos em 1 grama

de óleo (ASTM D 664, 2006). É basicamente uma medida de todos os componentes

ácidos, incluindo, além dos ácidos naftênicos, a quantificação de gases ácidos, tais

como ácido sulfídrico (H2S) e gás carbônico (CO2), e os sais solúveis, como cloretos

de cálcio e magnésio (CaCl2 e MgCl2, respectivamente) (FUHR, BANJAC,

BLACKMORE et al., 2007). Esses compostos são interferentes no ensaio de

determinação do NAT.

A mistura de ácidos carboxílicos presentes no petróleo é diretamente

responsável pela sua acidez e corrosividade em fase líquida durante o processo do

refinamento (MOREIRA e TEIXEIRA, 2009; SILVA, SENNA, LAGO et al., 2007).

Antigamente, existiam algumas dificuldades para as refinarias diferenciar se

as corrosões observadas em altas temperaturas eram provocadas devido aos ácidos

naftênicos ou ao enxofre. Com o desenvolvimento das metodologias analíticas sabe-

se que esta corrosão está associada ao número de acidez total (NAT) (LAREDO,

LÓPEZ, ÁLVAREZ et al., 2004), entretanto não foi observada uma relação direta

entre as taxas de corrosão das refinarias e o NAT dos petróleos, visto que para óleos

Page 34: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

32

que apresentam valor de NAT iguais, é comum observar uma diferença significativa

na corrosividade (SLAVCHEVA, SHONE e TURNBULL, 1999; LEWIS apud

ALBUQUERQUE, CINTRA, SILVA et al., 2004).

Estudos mostram que a corrosão provocada por ácidos presentes no óleo não

está relacionada somente ao NAT, mas que além da influência de outros fatores

como temperatura e presença de enxofre, também existe uma relação entre as

características estruturais dos ácidos naftênicos presentes no óleo bruto com a sua

corrosividade. Nesse sentido, é importante a utilização de técnicas, como a

espectrometria de massas (TOMCZYK, WINANS, SHINN et al., 2001; QIAN,

ROBBINS, HUGUEY et al., 2001), que permitam o detalhamento do perfil do óleo no

que diz respeito às estruturas responsáveis pela ação corrosiva durante os

processos de destilação.

1.5. Instrumentação Analítica

Devido à complexidade de uma amostra de petróleo, torna-se inviável a

obtenção de informações de seus constituintes a partir de análises diretas do óleo

cru. Neste contexto, o petróleo é fracionado pelo processo de destilação.

Geralmente, três métodos podem ser utilizados para análise de cortes de petróleo: i)

separação pelo solvente; ii) métodos cromatográficos; e iii) métodos

espectrométricos.

Um dos tipos mais importantes de técnicas espectrométricas utilizadas para a

caracterização dos constituintes do petróleo é a espectrometria de massas (RIAZI,

2005), que será abordada nesse trabalho.

1.5.1. Espectrometria de Massas

A espectrometria de massas (do inglês: Mass Spectrometry - MS) é uma

técnica analítica utilizada para obter informações da massa molar e de

características estruturais de amostras. Apresenta-se como uma ferramenta analítica

importante, tendo em vista que a mesma é capaz de fornecer informações como: i) a

exatidão em massas e consequentemente a composição elementar; ii) estrutura

molecular; iii) quantificação; e iv) o perfil isotópico que é único para cada

composição química.

Page 35: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

33

Em vista das suas potencialidades, tais como: sensibilidade inigualável,

velocidade, limite de detecção e diversidade de aplicação, a MS, vivenciou uma

acentuada difusão em várias áreas distintas ganhando uma posição de destaque

entre as técnicas analíticas (FIGUEIREDO, 2010; HOFFMAN e STROOBANT, 2007).

1.5.1.1. Princípios

A espectrometria de massas é uma técnica analítica em que átomos ou

moléculas de uma amostra são ionizados e separados de acordo com suas relações

massa-sobre-carga (m/z). Além de discriminar íons, a MS é capaz de detalhar a

quantidade de íons gerados em uma determinada relação m/z (NETO, 2010).

Em um espectro de MS, a maioria dos sinais formados possui carga 1+, por

isso, a relação m/z é igual à massa do íon. Todavia, ocorrem situações em que

metade da massa do íon é registrada, isso é devido ao fato de que em alguns casos

a carga dos fragmentos produzidos é 2+, ou seja, para íons multicarregados os

valores de m/z são partes fracionadas de suas massas reais (HOFFMAN e

STROOBANT, 2007).

Para as análises por MS é importante ressaltar que átomos ou moléculas

neutras não são analisados e sim, somente espécies iônicas. Antes de discriminar

os íons é necessário, primeiramente, gerá-los utilizando um sistema de ionização ou

uma fonte de íons. As diferentes formas de ionização juntamente com analisadores

de massas são o que determinam a aplicabilidade da MS (ROMÃO, 2010).

Os espectrômetros de massas são constituídos pelos seguintes componentes

básicos: um sistema de introdução de amostra; uma fonte de ionização; um

analisador de massas; um detector, que realiza a “contagem” dos íons e transforma

o sinal em corrente elétrica, que posteriormente, de acordo com a magnitude do

mesmo, será processado e convertido em função da razão m/z, proporcionando um

espectro de massas correspondente (ROMÃO, 2010).

Um diagrama esquemático do funcionamento de um espectrômetro de

massas é mostrado na Figura 9.

Page 36: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

34

Figura 9: Diagrama esquemático de um espectrômetro de massas.

De acordo com o diagrama da Figura 9 observa-se que o analisador de

massas e o detector são mantidos sob alto vácuo, a fim de minimizar possíveis

colisões entre os íons gerados com moléculas neutras presentes a 1 atm. Este fato,

entretanto, não necessariamente se aplica aos sistemas de ionização, onde, ao

longo dos anos, algumas fontes de ionização trabalham à pressão atmosférica

durante a análise por MS, fato que revolucionou a espectrometria de massas.

1.5.1.2. Fontes de Ionização

A função de uma fonte de ionização em um espectrômetro de massas é gerar

íons na fase gasosa ou transferir espécies iônicas em solução para a fase gasosa.

Os sistemas de ionização determinam a versatilidade da MS, pois as fontes de íons

são responsáveis pelos tipos de analitos que podem ser analisados. Inúmeros

métodos para gerar íons foram desenvolvidos ao longo da história da espectrometria

de massas (HOFFMAN e STROOBANT, 2007).

Durante o processo de ionização as considerações mais importantes que

devem ser levadas em consideração são a energia interna transferida e as

características físico-químicas do analito de interesse. Existem diferentes tipos de

fontes com propriedades distintas aplicáveis praticamente a todos os tipos de

analitos. Alguns métodos de ionização, como a fonte de ionização por elétrons (do

inglês: electron ionization - EI) e a ionização química (do inglês: chemical ionization -

CI), são técnicas bastante energéticas que provocam fragmentações extensivas, o

Page 37: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

35

que dificulta a visualização do pico do íon molecular, por isso essas fontes não são

úteis para a análise dos constituintes do petróleo. Outros métodos são descritos

como técnicas suaves de ionização (do inglês: soft ionization techniques), onde se

tem a formação do íon sem um excesso de fragmentação. São exemplos desses

tipos de fontes a ionização/dessorção a laser favorecida por matriz (do inglês: matrix

assisted laser desorption/ionization - MALDI) e a ionização por eletrospray (do

inglês: electrospray ionization - ESI), técnica a pressão atmosférica que transfere

íons em solução para fase gasosa (ROMÃO, 2010; NETO, 2010; HOFFMAN e

STROOBANT, 2007).

Neste trabalho serão abordados os fundamentos referentes à técnica de

ionização por ESI.

1.5.1.2.1. Ionização por Eletrospray (ESI)

O desenvolvimento da fonte de ESI para análises de macromoléculas, em

1988, foi recompensado com a atribuição do Prêmio Nobel a John Bennett Fenn,em

2002 (Nobel Prize, 2012). A partir daí, esse tipo de ionização vem sendo largamente

utilizado para análises de moléculas grandes e rotinas de cromatografia líquida

acoplada com espectrometria de massas (FIEVRE, SOLOUKI, MARSHALL et al.,

1997; DU e LI, 2012).

O sucesso da ESI e a razão para a sua enorme contribuição nas

metodologias empregadas em diversos campos da MS resultam, principalmente, de

sua habilidade em ionizar moléculas de massa molecular quase ilimitada, alta

polaridade e complexidade estrutural, diretamente para a fase gasosa de maneira

branda e eficiente. Devido à baixa energia empregada no processo de ionização por

ESI os íons formados sofrem pouca fragmentação, produzindo espectros de massas

menos complexos o que facilita na identificação das diferentes classes presentes.

Tal característica torna esta fonte importante para a caracterização de ácidos

naftênicos com rapidez (SANTOS, 2010).

No processo de ionização, a fonte de ESI é capaz de transferir as espécies do

analito ionizadas para a fase gasosa como entidades isoladas, normalmente na

forma de moléculas protonadas ou cátions (modo positivo - ESI(+)), ou ainda de

moléculas desprotonadas ou ânions (modo negativo - ESI(-)) (VAZ, 2010; GASKELL,

1997). A Figura 10 retrata um esquema típico de uma fonte de ESI.

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36

Figura 10: Ilustração esquemática de uma fonte de ionização por ESI. Fonte: Adaptado de ROMÃO, 2010; GASKELL,1997.

Na ionização por ESI, o analito é dissolvido em um solvente volátil, em meio

ácido ou básico, a fim de obter a desprotonação ou protonação das moléculas. A

solução é transportada através de um tubo capilar, o qual é mantido em um alto

potencial elétrico, cujo efeito é responsável por gerar uma dupla camada elétrica na

interface capilar/solução, resultando na formação de um cone, chamado de cone de

Taylor, que é enriquecido com íons positivos ou negativos na ponta do tubo capilar. A

partir do cone de Taylor são ejetadas gotas carregadas que, devido à evaporação do

solvente, reduzem de tamanho até ocorrer a subdivisão da gota proveniente da alta

densidade de carga. Tal fenômeno é chamado de explosão coulômbica. Com isso,

são formadas microgotas que liberam os íons [M+H]+ ou [M-H]- para serem

discriminados pelo analisador de massas (CROTTI, VESSECCHI, LOPES et al.,

2006).

Os íons são formados à pressão atmosférica e são transportados para a

região de alto vácuo do analisador de massas. A redução da pressão é feita

Page 39: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

37

gradativamente com o auxílio de pequenos orifícios em forma de cone (KRAJ,

DESIDERO, NIBBERING et al., 2008).

1.5.1.3. Analisadores de Massas

Os analisadores de massas dependem em geral da aceleração dos íons, por

isso na MS, os mesmos são separados de acordo com a relação m/z, e não apenas

em função de suas massas (RODRIGUEZ, 2003).

Existem diferentes estratégias para se discriminar os íons dependendo do

analisador de massas. O monoquadrupolo com poder de resolução constante é o

mais comum entre os eles. Outros analisadores que podem ser citados são os

analisadores de aprisionamento de íons (do inglês: iontrap - IT), tempo de vôo (do

inglês: time-of-flight - TOF), orbitrap (do inglês: orbitrap) e ressonância ciclotrônica

de íons (do inglês: ion cyclotron resonance - ICR). A principal diferença entre os

analisadores são os princípios físicos utilizados por cada um deles para discriminar

as razões m/z medidas, afetando assim, a magnitude do poder de resolução e

exatidão obtidos (ROMÃO, 2010; KRAJ, DESIDERO, NIBBERING et al., 2008).

A Tabela 3 apresenta uma comparação entre os analisadores utilizados na

MS.

Page 40: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

38

Tabela 3: Comparação entre analisadores de massas.

Analisador Limite de

massas (Th) Resolução (m/z 1 000)

Exatidão (ppm)

Vantagens Desvantagens

Setor Magnético

20 000 100 000 <10 Alta resolução

Pouco sensível;

alto custo; difícil manuseio

Quadrupolo 4 000 2 000 100

Fácil manuseio; baixo custo;

alta sensibilidade

Baixa resolução; baixo limite de

massa

IonTrap 6 000 4 000 100

Fácil manuseio; baixo custo;

muito sensível; (MS

n)

Baixa resolução; baixo limite de

massa

TOF Linear >1 000 000 5 000 200 Alto limite de

massa -

TOF Reflecton

10 000 20 000 10 Alta resolução -

FT-ICR 4 000 1 000 000 <1 Altíssima resolução

Difícil manuseio, alto custo

(instalação e manutenção).

Comercializado com outros

analisadores de massas

Orbitrap 50 000 >100 000 <5

Alta resolução; menor custo comparado

com o FT-ICR;

Ainda não é utilizado em Petroleômica

Fonte: HOFFMAN e STROOBANT, 2007; KRAJ, DESIDERO, NIBBERING et al., 2008; SILVERSTEIN, WEBSTER e KIEMLE, 2005).

O quadrupolo está entre os analisadores de massas mais utilizados; mesmo

apresentando como principais vantagens o baixo custo, a facilidade de operação e

manutenção, os analisadores quadrupolo possuem resolução unitária, o que limita

seu uso para certas áreas de estudo, como por exemplo, para análises de petróleo.

Todavia, com o desenvolvimento de outras ferramentas para a MS, como os

analisadores do tipo FT-ICR, tais análises que antes estavam limitadas por falta de

resolução e exatidão necessárias, tornaram-se possíveis de serem realizadas.

O poder de resolução de um analisador de massas pode ser definido como a

habilidade em produzir sinais distintos no espectro de massas quando são

analisados íons que possuem uma pequena diferença na razão m/z (HOOFMAN e

STROOBANT, 2007). Na Figura 11 pode ser visto a diferença de resolução entre

dois analisadores. O analisador que opera em resolução unitária constante mede

somente a massa nominal (massa do íon calculada através do isótopo mais

abundante) (Figura 11a), assim o íon que possui m/z 249 pode se referir às

Page 41: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

39

seguintes fórmulas moleculares: C20H9+, C19H7N

+ ou ainda C13H19N3O2+, ou seja,

para um único sinal atribuem-se 3 fórmulas moleculares distintas. Entretanto, um

analisador com um alto poder de resolução é capaz de medir a massa exata de cada

isótopo mais abundante (Figura 11b); o que torna possível a atribuição de fórmulas

moleculares para cada sinal resolvido, de acordo com o seu defeito de massa

(diferença entre a massa exata e a nominal) (ROMÃO, 2010):

- 249,0700 m/z → C20H9+

- 249,0580 m/z → C19H7N+

- 249,1479 m/z → C13H19N3O2+

Figura 11: Ilustração da resolução em analisadores de massas com (a) resolução unitária e (b) alta resolução. Fonte: ROMÃO, 2010

Outro aspecto importante na espectrometria de massas é a exatidão em

massas. Ela é a razão da diferença entre a massa medida experimentalmente e a

massa teórica pela massa teórica (equação 5). A exatidão em massa é geralmente

expressa em ppm, ou seja, ela indica o quão próximo o valor experimental está do

valor verdadeiro. A alta exatidão de massas oscila de valores entre 0,1 a 50 ppm de

erro, sendo que quanto menor for o erro, maior é a probabilidade de a fórmula

molecular atribuída ser a verdadeira (ROMÃO, 2010).

(5)

Page 42: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

40

Ao se trabalhar com analitos de alta complexidade composicional, por

exemplo, o petróleo, faz-se necessário a utilização de técnicas que possuem como

características principais o alto poder de resolução e exatidão em massas.

A análise dos constituintes do petróleo é realizada por uma grande variedade

de técnicas analíticas como, por exemplo, a cromatografia gasosa uni ou

bidimensional acoplada à espectrometria de massas, a espectrometria de massas

de alta resolução e cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas.

Contudo, pouco é conhecido sobre a composição das espécies menos abundantes,

como os compostos polares, cuja complexidade composicional excede o poder de

resolução destas técnicas analíticas típicas. Porém, a espectrometria de massas, em

especial da Ressonância Ciclotrônica de Íons por Transformada de Fourier (do

inglês: Fourier Transform Ion Cyclotron Resonance Mass Spectrometry - FT-ICR

MS), possui o poder de resolução necessário para resolver individualmente cada

componente de uma matriz complexa, mesmo para espécies isobáricas que podem

apresentar diferenças de massas uma da outra de até 3,4 mDa (VAZ, 2010). Essas

características tornam essa técnica capaz de discriminar íons com uma pequena

diferença de massa.

1.5.1.3.1. Espectrometria de massas de Ressonância Ciclotrônica de Íons

por Transformada de Fourier (FT-ICR MS)

Desenvolvido no início da década de 1970 (COMISAROW apud VAZ, 2010) a

Ressonância Ciclotrônica de Íons por Transformada de Fourier (FT-ICR ou

simplesmente FTMS) é considerado, até o momento, o tipo mais complexo de

analisador de massas (ROMÃO, 2010; HOFFMAN e STROOBANT, 2007). Seu valor

analítico é resultado de sua versatilidade e da combinação única de algumas

características como: (i) altíssimo poder de resolução e exatidão em massas, o que

garante uma determinação inequívoca da fórmula química dos íons produzidos; (ii)

capacidade de análises do tipo (MS)n, para determinação de estrutura molecular; e

(iii) fácil adaptação com os mais diversos tipos de fontes de ionização externas

(MARSHALL e SCHWEIKHARD, 1992).

A teoria de operação de um analisador de massas do tipo FT-ICR foi dividida

em três partes: movimento ciclotrônico de íons, cela de ICR, excitação e detecção

do íon.

Page 43: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

41

1.5.1.3.1.1. Movimento Ciclotrônico de Íons

O princípio fundamental da FT-ICR MS explora o comportamento de

partículas carregadas em um campo magnético forte, onde elas assumem um

movimento circular com uma frequência que é proporcional a sua razão m/z

(MARSHALL e HENDRICKSON, 1998).

Quando um íon produzido em uma fonte de ionização move-se em um

caminho linear com uma velocidade inicial v0, na presença de um campo magnético

B, o mesmo encontra-se sujeito a duas forças, F e F’, de acordo com as equações 6

e 7:

(6)

(7)

onde, F é a equação referente à força eletromagnética e F’ representa a equação do

movimento circular uniforme. Os outros símbolos, m, q, v e r são a massa, carga,

velocidade e o raio da trajetória circular do íon, respectivamente, e B o campo

magnético uniforme. A estabilização da trajetória do íon é resultante do equilíbrio das

forças representadas pelas equações (6) e (7) descritas acima; tendo em vista que

um íon completa uma trajetória circular de 2πr em uma determinada frequência dada

por

(8)

e ainda, assumindo a equação da velocidade angular como

(9)

obtêm-se a equação ciclotrônica através das transformações matemáticas descritas

a seguir:

- igualando as equações (6) e (7), obtêm-se a velocidade do íon:

(10)

- substituindo (8) em (9), e depois (10) em (9), conclui-se que:

(11)

Page 44: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

42

onde, ωc é a frequência ciclotrônica.

A partir da equação (11), podem-se fazer algumas considerações notáveis:

- todos os íons com a mesma relação m/z têm a mesma ωc independentes de suas

velocidades; tal propriedade torna a cela de ICR útil para a MS, visto que a energia

cinética inicial não é essencial para a determinação precisa da relação m/z

(MARSHALL e HENDRICKSON, 1998);

- pelas equações (10) e (11) pode-se concluir que quanto maior o campo magnético,

menor será o raio ciclotrônico de um íon e maior será sua frequência ciclotrônica, e

assim, maior será o poder de resolução, visto que a ultra-alta resolução é devida,

portanto, a quantidade de voltas que um determinado íon percorre ao ser excitado

na presença de um campo magnético (VAZ, 2010);

- a frequência ciclotrônica é inversamente proporcional à razão m/z, ou seja, quanto

maior for a relação m/z menor será ωc e, consequentemente, menor também será o

desempenho na aquisição de dados por FT-ICR MS; tal informação beneficia o

acoplamento com uma fonte de ESI, pelo fato de que os íons formados por ESI

podem conter cargas múltiplas (HENDRICKSON e EMMETT, 1999), portanto, se a

molécula apresentar carga múltipla, maior será a ωc e assim, um maior desempenho

é alcançado.

Na Figura 12 pode ser observada uma representação das forças atuantes nos

íons presentes em um campo magnético. A interação entre o campo magnético (B)

com a carga (q) e a velocidade (v0) do íon resulta em um vetor força (linha

pontilhada), direcionado para o centro da trajetória, responsável pelo movimento

circular do íon dentro da cela de ICR.

Figura 12: Movimento ciclotrônico de íons na presença de um campo magnético.

Page 45: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

43

1.5.1.3.1.2. Cela de ICR

Os analisadores do tipo FT-ICR são capazes de armazenar os íons dentro de

uma cela de ICR, também designada como penning trap (trap na presença de um

campo magnético), cuja geometria varia entre os diferentes instrumentos.

Geralmente, a cela de ICR é constituída de três pares de pratos opostos

responsáveis pelo aprisionamento, excitação e detecção dos íons. É localizada no

centro de um magneto supercondutor que fornece um campo magnético com a mais

alta homogeneidade possível. A maioria das celas de ICR se aproxima da ilustração

mostrada na Figura 13.

Figura 13:Geometria típica de uma cela de ICR. Fonte: HOFFMAN e STROOBANT, 2007; KRAJ, DESIDERO, NIBBERING et al., 2008.

O campo magnético é orientado ao longo do eixo central da cela (eixo z), de

modo que o movimento ciclotrônico dos íons é perpendicular a este eixo, ou seja, os

íons giram no plano centrado no eixo cilíndrico (plano xy) (HOFFMAN e

STROOBANT, 2007).

Page 46: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

44

Quando os íons são confinados na cela de ICR, eles ainda possuem

movimento devido ao campo magnético aplicado. Isso implica que eles podem

facilmente escapar ao longo dos eixos da cela. O que previne tal situação é a

formação de uma barreira potencial entre os pratos de aprisionamento da cela

através da aplicação de uma tensão nesses pratos, normalmente 1 V, de mesma

polaridade do íon aprisionado. A partir daí, ocorrem à excitação e detecção do sinal

gerado pelo íon confinado (KRAJ, DESIDERO, NIBBERING et al., 2008).

1.5.1.3.1.3. Excitação e detecção do íon

Quando uma população de íons entra na cela de ICR eles não são

imediatamente observados, pois apresentam além de um movimento ciclotrônico

incoerente, logo, não detectável, um raio pequeno (Figura 14a) (HENDRICKSON e

EMMETT, 1999). Com o intuito de obter condições ótimas nos pratos de detecção,

que são uma órbita maior e uma frequência ciclotrônica coerente e detectável, os

íons são submetidos a um sinal elétrico de radiofreqüência (rf) aplicado nos pratos

de excitação com a mesma frequência ciclotrônica do íon. Essa energia ao ser

transferida para o íon aumenta sua energia cinética, o que consequentemente,

aumenta o raio da trajetória (Figura 14b). A partir do momento que essa excitação for

grande suficiente, permitindo assim que os íons circulem próximos aos pratos de

detecção, uma pequena corrente será induzida nos mesmos toda vez que um íon se

aproximar (KRAJ, DESIDERO, NIBBERING et al., 2008). Assim, o sinal de ICR

(domínio de tempo) é resultante, portanto, da corrente oriunda da indução

(detecção) de uma imagem oscilante de uma carga ao se aproximar aos dois

eletrodos condutores opostos paralelamente (VAZ, 2010).

Page 47: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

45

Figura 14: Conversão do movimento ciclotrônico(a) incoerente em um (b) coerente (detectável). Fonte: MARSHALL, HENDRICKSON e JACKSON, 1998.

Um resumo do processo de aquisição de um espectro por FT-ICR MS é

esquematizado na Figura 15.

Figura 15: Esquema do funcionamento de uma cela de ICR.

Ao serem gerados por uma fonte de ionização, os íons são confinados em

uma cela de ICR. Devido à ação do campo magnético uniforme, os íons assumem

um movimento circular incoerente em uma determinada posição. Todavia, o sinal do

ICR é detectável somente se os íons apresentarem um movimento sincronizado (em

fase). Assim, aplica-se um campo elétrico (rf) externo de magnitude igual à

freqüência ciclotrônica tornando o movimento dos íons coerente e detectável. O sinal

de ICR (domínio de tempo) é obtido devido à aproximação de uma carga aos dois

eletrodos de detecção. O espectro em domínio de frequência é conversível a um

Page 48: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

46

espectro em domínio de m/z por meio da transformada de Fourrier de um sinal de

ICR digitalizado no domínio de tempo, e então, após uma simples manipulação

matemática, este é transformado em domínio de massa (VAZ, 2010).

1.5.1.4. Ferramentas para análise de dados

A obtenção de dados fornecido pela ultra-alta resolução e exatidão da FT-ICR

MS para as análises de petróleo, descreve a complexidade estrutural desta matriz

devido aos milhares de íon gerados no processo de ionização, o que torna

complicada a atribuição de fórmulas moleculares para os íons identificados nos

espectros de massas. Por isso, algumas ferramentas são utilizadas para facilitar a

visualização e a interpretação dessas informações, como por exemplo, como o

gráfico de Kendrick (KENDRICK, 1963), diagrama de van Krevelen (WU, RODGERS

e MARSHALL, 2004) e diagramas retratando valores de DBE versus número de

carbono (KEKÄLÄINEN, PAKARINEN, WICKSTRÖM et al., 2009). Neste trabalho

serão abordadas as características referentes ao diagrama de DBE versus número

de carbono.

Normalmente, os dados obtidos de uma análise de MS podem ser

classificados em classes, número de anéis e número de ligações duplas (do inglês:

double bond equivalent - DBE) e quanto ao número de carbonos (C). As classes

designam o conteúdo de heteroátomo na molécula, por exemplo, classe O2 indica

uma classe de moléculas que contém somente dois átomos de oxigênio, enquanto

que os outros átomos são carbono e hidrogênio.

DBE é a medida da quantidade de anéis mais duplas ligações na molécula

(equação 11), de tal forma que uma molécula com DBE 0 é completamente

hidrogenada e a adição de uma ligação dupla ou um anel resulta na perda de dois

átomos de hidrogênio.

(11)

onde, C, H e N são os números de átomos de carbono, hidrogênio e nitrogênio,

respectivamente, em uma fórmula molecular.

Analisando a Tabela 4 temos que as duas espécies têm o mesmo número de

carbono e são da mesma classe (mesmo conteúdo de heteroátomo), porém, diferem

em 3 no número de DBE, mostrando que dentro de cada classe é possível vários

Page 49: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

47

valores de DBE (PURCELL, JUYAL, KIM et al., 2007).

Tabela 4: Classificação por classe, número de carbono e DBE.

Fórmula molecular Classe N° de carbono DBE

C42H59N N1 42 14

C42H53N N1 42 17

Devido ao fato de que a composição do petróleo cru consiste basicamente de

séries homólogas (compostos da mesma classe e tipo, porém diferenciados por um

número inteiro de grupos de CH2), torna-se conveniente converter a massa do grupo

CH2 de 14,01565 (massa IUPAC) para 14,00000 (massa de Kendrick). Essa

conversão é utilizada para simplificar a visualização de padrões dos picos nos

espectros de hidrocarbonetos, podendo ser obtida através da equação (12):

(12)

onde:

KNM - massa nominal de Kendrick (do inglês: Kendrick nominal mass - KNM)

mIUPAC - massa de acordo com a IUPAC

Ao expressar as massas através da KNM, todas as moléculas de uma série

homóloga terão o mesmo defeito de massa (equação 13) (HUGHEY,

HENDRICKSON, RODGERS et al., 2001).

(13)

onde:

KMD - defeito de massa de Kendrick (do inglês: defect mass Kendrick - KMD);

mIUPAC - massa de acordo com o padrão IUPAC.

Deste modo, torna-se possível reconhecer uma série homóloga com

diferentes padrões de alquilação nos espectro de massas e uma atribuição de

fórmulas moleculares únicas mais confiáveis para os íons.

Os diagramas de DBE versus número de carbono sumarizam os

componentes de um determinado valor de DBE em função do grau de alquilação

(Figura 16). Assim, cada ponto neste gráfico corresponde há uma fórmula molecular

corresponde a um dos milhares de íons de um espectro de ESI(-)-FT-ICR MS. Este

gráfico é útil para comparação de amostras de petróleo, visto que, por uma simples

Page 50: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

48

análise visual é possível identificar alterações tanto em termos de DBE como na

amplitude do grau de alquilação de componentes de uma determinada classe.

Figura 16: Gráfico de DBE vs. número de carbono de uma amostra de petróleo por ESI(-)-FT-ICR MS.

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49

2. OBJETIVOS

O objetivo deste estudo foi a caracterização de compostos polares presentes

no petróleo e em seus cortes por espectrometria de massas, através da técnica de

ionização por eletrospray acoplada com um analisador FT-ICR MS (ESI-FT-ICR MS)

de altíssima resolução e exatidão.

2.1. Objetivos específicos

- Estudar a composição polar dos cortes de petróleo obtidos pelo processo de

destilação laboratorial empregando ESI-FT-ICR MS;

- Relacionar os resultados da técnica ESI-FT-ICR MS com outros parâmetros físico-

químicos como NAT e medidas de espectroscopia na região do infravermelho médio

dos cortes;

- Adaptar a metodologia para identificação de compostos sulfurados em cortes e

resíduo de destilação por ESI(+)-FT-ICR MS;

- Solucionar problemas de supressão iônica usando reações de metilação (Classe

S1) em amostras de destilação de petróleo.

Page 52: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

50

3. METODOLOGIA

Esta parte destina-se a apresentação dos equipamentos e métodos que foram

utilizados para a execução do presente trabalho, assim como a descrição da

metodologia a fim de alcançar os objetivos propostos.

Todos os procedimentos e análises foram desenvolvidos no Laboratório de

Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análises de Petróleo (LabPetro)

do Departamento de Química (DQUI) da Universidade Federal do Espírito Santo

(UFES).

3.1. Destilação laboratorial

O processo de obtenção dos cortes de petróleo foi realizado em um sistema

de destilação manual implantado no LabPetro/UFES. Os petróleos foram destilados

de acordo com os procedimentos descritos pelas normas ASTM D 2892 (2005) -

Método Padrão para Destilação de Petróleo Cru, cujo ponto final de corte é de 400

ºC AET (do inglês: Atmosphere Equivalent Temperature), e ASTM D 5236 (2007) -

Método Padrão para Destilação de Misturas de Hidrocarbonetos Pesados (Método a

Vácuo Potstill), aplicada para qualquer mistura de hidrocarbonetos com ponto inicial

de ebulição (do inglês: Initial Boiling Point - IBP) superior a 150 °C, porém, é mais

utilizada na separação de resíduos provenientes da destilação à pressão

atmosférica. Ambos os sistemas podem ser vistos na Figura 17.

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51

Figura 17: Sistema de destilação atmosférico (esquerda) e a vácuo (direita) - LabPetro/UFES.

Inicialmente, todos os três petróleos A, B e C foram destilados nas pressões

atmosférica, 100 e 2 Torr (ASTM D 2892); para os petróleos A e B obteve-se 12 e 7

cortes, respectivamente. Após a destilação atmosférica do petróleo C, a carga final

foi submetida a outro processo de destilação nas pressões de 1, 0,3 e 0,1 Torr

(destilação a vácuo - ASTM D 5236), sendo que somente o resíduo oriundo desse

processo foi utilizado. Os cortes e resíduos obtidos dos processos de destilação

foram caracterizados de acordo com os métodos descritos abaixo.

3.2. Densidade e °API

As densidades dos óleos, dos cortes e dos resíduos provenientes da

destilação foram determinadas segundo a norma ASTM D 7042 (2004) utilizando um

densímetro digital Stabinger SVM 3000 (ANTON PAAR). Antes das análises a célula

de densidade foi limpa e seca para evitar interferências.

O equipamento foi programado à temperatura de 20 °C, para análises dos

cortes leves. Já os cortes mais pesados e os resíduos foram injetados a uma

temperatura de 60 °C, devido à possibilidade de entupimento da célula de análise.

Page 54: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

52

Os valores de densidade encontrados foram convertidos para 20 °C e o °API foi

calculado, utilizando um programa adequado.

3.3. Número de acidez total (NAT)

As análises do número de acidez total (NAT) foram realizadas de acordo com

as especificações técnicas referentes à norma ASTM D 664 (2006), utilizando um

potenciômetro Titrando 809 do fabricante Metrohm.

As amostras foram dissolvidas em uma mistura de tolueno e propan-2-ol

contendo uma pequena quantidade de água. Na análise potenciométrica utilizou-se

um eletrodo de membrana contendo uma solução de cloreto de lítio saturada em

etanol e como titulante uma solução previamente padronizada de hidróxido de

potássio 0,1000 mol/L em meio alcoólico.

O NAT é medido através da titulação potenciométrica de uma amostra de

petróleo com uma solução alcoólica de hidróxido de potássio que relaciona os

miligramas da base utilizada para neutralizar os ácidos por grama de óleo titulado. O

ponto final assegura que todos os ácidos da amostra tenham sido neutralizados.

Os valores de NAT, em mg KOH/g amostra, foram calculados

automaticamente pelo equipamento, sendo que os mesmos foram posteriormente

reportados à carga inicial do petróleo cru utilizado na destilação.

3.4. Espectroscopia na região do infravermelho médio (FTIR)

Para a aquisição dos espectros de FTIR utilizou-se um espectrômetro modelo

FTLA 2000-102, do fabricante ABB Bomen, o qual foi equipado com uma célula

horizontal de ATR (ZnSe, 45 °) de 80 mm de comprimento, 10 mm de largura, 4 mm

de espessura e 10 reflexões, do fabricante Pike Technologies. Um total de 32 scans

foram obtidos na região de 4 000 a 400 cm-1 no modo de transmissão com uma

resolução de 4 cm-1. A determinação da intensidade dos picos foi realizada através

do software GRAMS/AI.

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53

3.5. Reações de metilação

As reações de metilação foram realizadas nos cortes 11 e 12 do petróleo A, e

no resíduo oriundo da destilação a vácuo do petróleo C.

Uma amostra de aproximadamente 100 mg foi dissolvida em um erlenmeyer

contendo 10 mL de diclorometano e iodeto de metila 1,0 mmol sob agitação

constante. Durante a agitação, uma solução de 1,0 mmol de nitrato de prata em

meio alcoólico foi adicionada. Imediatamente formou-se um precipitado amarelo na

mistura (Figura 18). A solução foi constantemente agitada com o auxílio de um

agitador magnético em temperatura ambiente por um período de 48 h. Terminado

esse tempo a mesma foi centrifugada e o precipitado foi separado. A solução

restante foi evaporada a pressão reduzida até a secura total da mesma por meio de

um rota evaporador, garantindo assim, uma completa remoção do solvente e do

excesso de iodeto de metila. Os sais de sulfônio produzidos foram, então,

analisados por ESI(+)-FT-ICR MS.

Figura 18: Reação de metilação, formação dos sais de sulfônio.

3.6. Teor de enxofre total

A determinação do teor de enxofre total foi realizada de acordo com a norma

ASTM D 4294 (2008). O equipamento utilizado foi o analisador de enxofre da marca

HORIBA, modelo SLFA-2800.

Antes do início das análises foram construídas curvas de calibração que

abrangem os valores de 50 a 40 000 ppm de um óleo mineral (padrão de referência),

utilizando o modo automático de construção de curvas de calibração do

equipamento. As curvas foram construídas com os seguintes parâmetros: tipo de

regressão linear; tempo de medida de 100 segundos; e número de repetições por

célula 3.

Page 56: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

54

Para as análises dos petróleos, cortes e resíduos estudados neste trabalho,

foi montada uma célula de amostra (HORIBA Instruction Manual) e os seguintes

parâmetros foram configurados no equipamento: modo automático de seleção da

curva de calibração, tempo de medida de 100 segundos e 3 repetições para cada

célula de amostra. Os resultados utilizados foram a média dos valores das 3

repetições que é fornecido automaticamente pelo equipamento.

3.7. ESI(±)-FT-ICR MS

As amostras analisadas por espectrometria de massas foram diluídas em

aproximadamente 0,15 mg/mL em 50:50 (v/v) de tolueno:metanol com 0,1 % de

hidróxido de amônio para as análises no modo negativo ou 0,1 % de ácido acético

para análises no modo positivo. A solução resultante foi infundida diretamente em

uma fonte de eletrospray. Utilizou-se o espectrômetro de massas SOLARIX 9,4 T,

Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha operando em uma faixa de m/z de 100-1 000.

As condições gerais de análises por ESI foram: pressão do gás de 0,3 psi, voltagem

do capilar de 4,5 kV, e 220 °C para a temperatura do capilar de transferência de

íons.

Os espectros ESI(+)-FT-ICR MS foram adquiridos e processados utilizando o

software Compass Data Analysis® (Bruker Daltonics - Bremen, Alemanha). Os dados

obtidos foram tratados pelo software Composer Petroleum Analysis® (Sierra

Analytics) desenvolvido especialmente para o processamento das análises de

petróleo, com a finalidade de facilitar a interpretação e a visualização das

informações.

Page 57: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

55

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os petróleos A, B e C e seus cortes obtidos pelo processo de destilação

foram analisados via ESI(±)-FT-ICR MS e NAT. O petróleo A (16,2 ºAPI) produziu 12

cortes mais o resíduo atmosférico (RATA), já o petróleo B (19,1 ºAPI), produziu 7

cortes e o resíduo atmosférico (RATB), enquanto que o resíduo de vácuo (RAVC)

refere-se à amostra obtida do petróleo C (33,0 ºAPI).

4.1. Petróleo A

4.1.1. ESI(-)-FT-ICR MS

Os parâmetros físico-químicos das amostras referentes ao petróleo A foram

determinados, e esses podem ser observados na Tabela 5.

Tabela 5: Parâmetros físico-químicos das amostras referentes ao petróleo A.

Corte Faixa de

corte (°C)

Densidade

(g/cm3)

Enxofre total

(% m/m) % Massa

NATFr

(mg KOH/g)

NATRep

(mg KOH/g)

1 100,4 - 170,9 0,7623 0,01413 2,15 0,0767 0,0016

2 170,9 - 207,5 0,8207 0,03439 2,25 0,1855 0,0042

3 207,5 - 242,3 0,8426 0,05646 2,20 0,4460 0,0098

4 242,3 - 262,3 0,8592 0,09171 2,13 0,7620 0,0162

5 262,3 - 279,4 0,8704 0,13781 2,59 1,1677 0,0303

6 279,4 - 305,9 0,8846 0,20855 2,04 1,3603 0,0278

7 305,9 - 315,2 0,8895 0,25590 1,90 2,1778 0,0414

8 315,2 - 325,0 0,8959 0,27739 2,08 3,0461 0,0633

9 325,0 - 339,1 0,9046 0,32232 2,00 4,1326 0,0827

10 339,1 - 354,4 0,9140 0,37782 2,18 4,9291 0,1073

11 354,4 - 364,2 0,9201 0,41520 2,04 5,3055 0,1082

12 364,2 - 372,9 0,9234 0,42592 2,45 5,4303 0,1330

Óleo A - 0,9541 0,60011 - 3,1859 -

RATA > 373 0,9854 0,71423 72,60 3,1585 2,2931

As amostras obtidas a partir da destilação do petróleo A foram submetidas à

análise de NAT pelo método ASTM D 664. Ao analisar a distribuição dos ácidos

naftênicos em cortes de petróleo é necessária a utilização dos percentuais mássicos

dos cortes obtidos durante a destilação, pois o valor do NAT medido está

relacionado diretamente à massa destas e não a massa total de petróleo utilizado.

Assim, o NAT de cada corte referente à carga inicial do petróleo foi determinado a

partir do percentual mássico e da acidez total de cada corte de acordo com a

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56

equação (15).

(15)

onde:

NATRep- NAT obtido no corte em relação a carga inicial do petróleo destilado;

NATFr - NAT medido no corte por potenciometria;

% Mass.Fr - Percentual mássico da corte em relação ao petróleo

A partir dos dados da Tabela 5, observa-se que os parâmetros listados estão

diretamente correlacionados com a temperatura de corte, ou seja, à medida que

essa aumenta, os valores de densidade, teor de enxofre e NAT também aumentam.

Portanto, cortes de petróleo com maiores temperaturas de ebulição deveriam

apresentar um maior poder de corrosão. Entretanto, o aumento do NAT normalmente

não apresenta uma correlação direta com a corrosividade. SLAVCHEVA e

colaboradores (1999) observaram que, em alguns casos, óleos com o mesmo valor

de NAT apresentavam diferentes corrosividades. Logo, com a finalidade de

identificar as principais estruturas responsáveis pela ação corrosiva, as amostras

também foram analisadas por ESI(-)-FT-ICR MS.

A Figura 19 mostra os espectros obtidos por ESI(-)-FT-ICR MS para os doze

cortes do petróleo A (F1-F12). As principais estruturas presentes foram identificadas

e mostradas na Figura 20, correspondendo a duas principais classes: classe O,

fenóis, e classe O2, ácidos naftênicos.

À medida que a temperatura de corte e o NAT aumentam (F1→F12) os

espectros de ESI(-)-FT-ICR MS apresentam espécies [M-H]- com maiores valores de

m/z e com uma maior população de compostos polares. Portanto, o aumento do NAT

ao longo dos cortes de destilação, pode ser justificado pelos resultados de ESI(-)-FT-

ICR MS.

Page 59: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

57

Figura 19: ESI(-)-FT-ICR MS para os doze cortes de destilação do petróleo A.

A Figura 20 mostra as estruturas dos ácidos naftênicos e fenóis detectados

pelas medidas de ESI(-)-FT-ICR MS na região de m/z de 100-500. Para a classe O2,

os compostos possuem o número de carbono variando de C8 a C28 e o DBE entre 1-

5, enquanto que a classe O1 apresenta estruturas com o número de carbono de C9 a

C25 e DBE entre 4-5.

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58

Figura 20: Possíveis estruturas de compostos oxigenados identificados nos onze cortes (F2-F12) com seus respectivos valores de m/z, C e DBE.

Gráficos de DBE vs. número de carbono (C) para a classe O2 são mostradas

na Figura 21, onde se verifica que nas análises de ESI(-)-FT-ICR MS existe um

aumento na complexidade das estruturas ácidas ([M-H]-) presentes nos cortes de

acordo com o aumento do ponto de ebulição. Essa característica está relacionada

com o aumento da massa molar das estruturas, que consequentemente, aumenta o

seu ponto de ebulição.

As espécies contendo oxigênio foram caracterizadas pela abundância relativa

para a classe O2 em relação à distribuição de DBE e pelo número de carbono. O

gráfico de DBE vs. C para o corte F1 não pôde ser construído, devido à presença

insuficiente de compostos polares. Os resultados obtidos para os cortes F2 e F12

foram comparados. Para o corte F2, têm-se valores de DBE e número de carbono

variando entre 1-4 e C7-C13, respectivamente, com máximos centrados em DBE = 2

Page 61: Guilherme Pires Dalmaschio.pdf

59

e C10; já a amostra F12 mostrou valores de DBE entre 1-9 para C15-C26,

respectivamente, com máximos em DBE = 3e C21. Ou seja, no processo de

destilação, à medida que a temperatura de corte aumenta, a ocorrência de

compostos maiores e mais complexos também aumenta. Os demais cortes (F3-F11)

possuem valores de DBE e C intermediários.

Figura 21: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe O2 dos cortes F1-F12 por ESI(-)-FT-ICR MS.

XU e colaboradores (2010) mostraram, em um estudo similar, que as classes

majoritárias presentes nos cortes destilados são a classe O1 e a classe O2, sendo

que a abundância relativa dessas classes desloca-se para valores mais altos de

DBE e número de carbono com o aumento da temperatura de ebulição dos cortes.

Os diagramas de DBE vs. número de carbono também foram construídos

para as amostras de petróleo bruto e o resíduo atmosférico (RATA) no modo de

aquisição ESI(-)-FT-ICR MS: classe N1 (Figura 22a) e classe O2 (Figura 22b). Em

ambas as classes, as amostras apresentaram um perfil químico distinto. Para a

classe N1, quando comparamos a amostra de petróleo bruto com a RATA, a

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60

distribuição do número de carbono variou de C15-62 para C22-68. Portanto, compostos

nitrogenados mais leves foram removidos na amostra de petróleo bruto pelo

processo de destilação. Comportamento similar foi observado para a classe O2,

tendo de C variando entre C15-62 e C20-70, respectivamente.

Os primeiros cortes obtidos quando o processo de destilação é iniciado foram

caracterizados pela presença de ácidos naftênicos leves com menor valor de m/z,

(Figura 19), logo, estes são mais facilmente ionizados pela ESI. Contudo, conforme

citado anteriormente, à medida que a temperatura de corte aumenta, ácidos

naftênicos ou carbazóis com maiores valores de m/z, são preferencialmente

ionizadas, Figura 22ab. Portanto, a Figura 22c mostra a porcentagem relativa das

classes N1 e O2 presentes no óleo A e seu respectivo resíduo. O aumento da

concentração de espécies nitrogenadas (5 %) do óleo→resíduo pode ser associado

a remoção de estruturas ácidas de menor valor de m/z. Por outro lado, a intensidade

relativa total dos ácidos naftênicos sofre uma diminuição (6,31 %).

Figura 22: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe N1 (a) e O2 (b) e perfil das classes majoritárias dos componentes obtidos por ESI(-)-FT-ICR MS para o petróleo e o resíduo (RATA) (c).

4.1.2. ESI(+)-FT-ICR MS

A acidez relativa dos cortes de petróleo pode também estar relacionada com a

presença de outros compostos em sua composição, tal como os contendo enxofre,

que são detectados comumente no modo ESI(+). Portanto, medidas de ESI(+)-FT-

ICR MS foram também realizadas, e classes como N1, piridinas, e S1, tiofenos,

dentre outras (NS, SO) são detectadas.

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61

A Figura 23 mostra os espectros de ESI(+)-FT-ICR MS para os cortes do

petróleo A, com exceção dos cortes F1 e F2 que não foram efetivamente ionizados,

devido à dificuldade de ionização dos seus constituintes.

Figura 23: ESI(+)-FT-ICR MS para os dez cortes de destilação do petróleo A (F3-F12).

A partir dos espectros obtidos por ESI(+)-FT-ICR MS, foram elucidadas

possíveis estruturas que fazem parte da composição dos cortes F3-F12 do petróleo

A (Figura 24). Nota-se que a classe majoritária detectada é a classe N1, tendo a

piridina como estrutura básica de formação das espécies encontradas. Em geral,

elas possuem o C variando de C11 a C30, DBE entre 4-7 e m/z na região de 100-500.

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62

Figura 24: Possíveis estruturas nitrogenadas identificadas nos dez cortes (F3-F12) com seus respectivos valores de m/z, C e DBE.

Gráficos de DBE vs. número de carbono para a classe N1 dos cortes F1-F12

são mostrados na Figura 25. De acordo com o aumento do ponto de ebulição no

processo de destilação, aumenta-se também tanto a distribuição do número de

carbonos quanto a de DBE. Os resultados dos cortes F3 e F12 foram comparados.

Para o corte F3, os valores de DBE e C variam entre 3-5 e C10-16, respectivamente,

com máximos centrados em DBE = 4 e C12; já a amostra F12 mostrou valores de

DBE entre 3-10 para C14-32, respectivamente, com máximos em DBE = 6 e C24.

Resultados similares foram encontrados para as análises de ESI(-)-FT-ICR MS ao

analisar a classe O2, ou seja, com o aumento da temperatura de corte no processo

de destilação, aumenta-se também a série homóloga das espécies nitrogenadas e

seus respectivos valores de m/z. Os demais cortes (F4-F11) apresentam valores de

DBE e C intermediários.

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63

Figura 25: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe N1 dos cortes F1-F12 por ESI(+)-FT-ICR MS.

Observa-se na Figura 24 que somente espécies nitrogenadas foram

identificadas nos espectros de ESI(+)-FT-ICR MS. Este resultado não corrobora com

os resultados da Tabela 5 para análise dos teores de enxofre, onde espécies

sulfuradas não foram detectadas, sendo que era esperado encontrar além dos

nitrogenados, compostos sulfurados.

4.2. Reações de metilação - petróleo A e C

A fonte de eletrospray (ESI) gera íons através da simples

protonação/desprotonação das espécies polares presentes no petróleo bruto. No

processo de ionização da fonte de ESI no modo negativo espécies moleculares

ácidas são desprotonadas ([M-H]-), enquanto que no modo positivo as espécies

básicas são protonadas ([M+H]+). A eficiência de ionização dessa fonte é maior de

acordo com a acidez ou basicidade das espécies. Os compostos sulfurados não são

eficientemente capazes de perder ou ganhar um próton no processo de ionização,

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64

ou seja, não são suficientemente ácidos nem básicos (PURCELL, JUYAL, KIM et al.,

2007). Uma possível metodologia analítica que pode otimizar o mecanismo de

ionização por ESI(+) de compostos sulfurados, espécies de baixa polaridade, é o

método da derivatização química.

A derivatização química envolve um ataque nucleofílico dos pares de elétrons

livres do enxofre via reação com um haleto orgânico, Figura 26. O sal de sulfônio

formado, seletiva aos compostos de enxofre, é facilmente ionizado por ESI(+). Esta

reação é denominada de metilação.

Na primeira etapa, o composto sulfurado presente no petróleo ataca o iodeto

de metila, através de uma reação de substituição nucleofílica bimolecular (SN2)

formando um sal de sulfônio, tendo como contra-íon, o iodeto (I-1). Posteriormente,

nitrato de prata alcoólico (AgNO3) é adicionado à mistura, com o objetivo auxiliar na

remoção do grupo abandonador da solução (íon iodeto) da solução na forma de

precipitado de iodeto de prata (AgI). Com isso, os compostos sulfurados que a

princípio não estavam disponíveis para a análise por MS tornam-se visíveis para a

fonte de ESI(+) por apresentarem uma carga positiva na estrutura, podendo assim,

serem detectáveis (Figura 26).

Figura 26: Reação de metilação.

As reações de metilação foram realizadas para os cortes F11 e F12 do

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65

petróleo A e para o resíduo proveniente da destilação a vácuo do petróleo C (RVAC)

cujo teor de enxofre total é de 3,27745 (% m/m). Essa escolha foi motivada levando

em consideração as amostras que apresentaram maiores teores de enxofre, visto

que os contaminantes sulfurados tendem a se concentrar nos cortes mais pesados.

Os espectros de ESI(+)-FT-ICR MS para os cortes 11 e 12 são mostrados nas

Figura 27 e Figura 28. Analisando os espectros de ESI(+)-FT-ICR MS dos cortes não

metilados, nota-se que somente espécies da classe N1 são observadas (Figura 27

ampliada na região de m/z de 315-340). Resultados similares foram obtidos para o

corte F12, Figura 28.

Após o procedimento de metilação, é possível observar uma maior população

de espécies polares identificadas. A ampliação da Figura 27 mostra além das

espécies nitrogenadas, compostos sulfurados (classe S1) na região de m/z 320-350.

Figura 27: ESI(+)-FT-ICR MS para o corte F11 metilado (superior) e não metilado (inferior).

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66

Figura 28: ESI(+)-FT-ICR MS para o corte F12 metilado (superior) e não metilado (inferior).

Os espectros do resíduo de vácuo RVAC metilado e não metilado podem ser

observados na Figura 29.

Novamente, é possível perceber o aumento na quantidade de espécies

polares básicas ([M+H]+), principalmente devido à presença de espécies sulfuradas.

Contudo, esse aumento na intensidade e quantidade de sinais no espectro de ESI(+)

do resíduo RVAC metilado não está somente associado com a presença de

compostos sulfurados. Um composto orgânico que apresente um sistema de

ligações duplas conjugadas, ou seja, que é capaz de doar um par de elétrons,

também pode sofrer metilação, como por exemplo, furanos e até mesmo

hidrocarbonetos aromáticos (OLAH apud PURCELL, JUYAL, KIM et al., 2007).

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67

Figura 29: ESI(+)-FT-ICR MS para o resíduo de vácuo (RVAc) não metilado (superior) e metilado (inferior).

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68

Figura 30: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe S1 dos cortes F11 e F12 juntamente com o resíduo (RAVC) por ESI(+)-FT-ICR MS.

Os gráficos de DBE vs. número de carbono para a classe S1 dos cortes F11 e

F12 e RAVC estão apresentados na Figura 30. Antes do procedimento de metilação,

nenhuma espécie foi identificada para a classe S1. Porém, após a reação e posterior

análise por MS observa-se que para as amostras F11 e F12 os valores de DBE (3) e

a distribuição do número de carbono são semelhantes. Isto é devido ao fato das

amostras F11 e F12 apresentarem temperaturas de corte consecutivas. Para a

amostra RAVc, obtêm-se um máximo de DBE em 3 com uma distribuição de número

de carbono muito mais ampla (C37-70) com um máximo em C43. Logo, os compostos

pertencentes à classe S1 apresentam como estrutura básica, o tiofeno.

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69

4.3. Petróleo B

4.3.1. ESI(-)-FT-ICR MS

Ao final do processo de destilação, 7 cortes e um resíduo atmosférico, RATB,

foram obtidos e caracterizados fornecendo os valores mostrados na Tabela 6.

Tabela 6: Parâmetros físico-químicos das amostras referentes ao petróleo B.

Corte Faixa de

corte (°C)

Densidade

(g/cm3)

NAT

(mg KOH/g)

1 < 188 0,7861 0,0130

2 188 - 214 0,8416 0,0379

3 214 - 246 0,8602 0,0402

4 246 - 262 0,8784 0,0497

5 262 - 295 0,8901 0,0493

6 295 - 304 0,8923 0,0839

7 304 - 315 0,8968 0,0701

Petróleo B - 0,9300 1,8320

RATB > 315 0,9557 1,8432

A Figura 31 mostra os resultados de ESI(-)-FT-ICR MS para os cortes F2-F7,

onde as espécies de ácidos naftênicos são detectadas como moléculas

desprotonadas ([M-H]-). É importante mencionar que nenhuma espécie polar (classe

O2 ou classe N1) foi detectada para o primeiro corte (F1), sendo a sua composição

majoritamente apolar.

Para o corte F2, valores na região de m/z 120-190 são detectados,

correspondendo a uma série homóloga de ácidos naftênicos com número de

insaturação ou DBE = 2 e número de carbono variando de C7-11. Os valores de m/z,

DBE e número de carbono aumentam em função da temperatura de ebulição do

corte. Portanto, cortes mais pesados possuem uma quantidade maior de espécies

polares (principalmente classe O2), ou seja, de ácidos naftênicos. No corte F7, por

exemplo, são identificados ácidos na região de m/z 200-280, com DBE de 2-4 e

número de carbono de C13-17.

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70

Figura 31: ESI(-)-FT-ICR MS para os cortes do petróleo B (F2-F7).

As estruturas dos ácidos naftênicos detectados pelas medidas de ESI(-)-FT-

ICR MS são mostradas na Figura 32. Em geral, elas possuem o C variando de C8 a

C18 e DBE entre 1-5.

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71

Figura 32: Estruturas de ácidos naftênicos identificados nos cortes com seus respectivos valores de m/z e DBE.

Nota-se que como a temperatura de corte aumenta, o centro da distribuição

de massa molecular desloca-se para valores mais altos de m/z. Além disso, o

aumento do NAT (Tabela 6) com o ponto de ebulição sugere que a concentração dos

ácidos naftênicos aumenta com a temperatura do corte da destilação. Os resultados

observados são consistentes com aqueles reportados por KLEIN, RODGERS e

MARSHALL (2006).

A Figura 33 mostra os espectros de ESI(-)-FT-ICR MS com valores de m/z de

200-1 000 para o petróleo B (Figura 33a) e para o resíduo atmosférico RATB (Figura

33b). A expansão do espectro em m/z de 400-410 permite a comparação da

intensidade relativa das duas principais espécies identificadas: ácidos naftênicos e

os carbazóis. É possível perceber o aumento da abundância relativa das estruturas

naftênicas no resíduo de destilação (Figura 33b), devido à migração de espécies

menos complexas durante o processo de destilação do óleo cru para os cortes

produzidos.

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72

Figura 33: ESI(-)-FT-ICR MS para o petróleo B (a) e o resíduo (b).

A partir dos dados gerados pelas análises por ESI(-)-FT-ICR MS, gráficos de

DBE vs. número de carbono também foram construídos para o petróleo B e o

resíduo (Figura 34). Para a classe O2, a distribuição do número de carbonos sofreu

uma variação de C8 até C55 com um máximo em C14 para o petróleo B; para o seu

respectivo resíduo, RATB, um deslocamento no valor máximo na distribuição do

número de carbono foi principalmente observado, C24, com um valor de DBE

centrado em 4 (Figura 34a). Esses resultados estão de acordo com as informações

das Figura 31 e Figura 32, onde os ácidos naftênicos com número de carbono

variando de C8 a C18 foram destilados e distribuídos nos cortes em uma faixa de

temperatura de destilação entre 188 e 315 °C.

A Figura 34c mostra o gráfico de intensidades relativas para as principais

classes encontradas no petróleo B e no resíduo RATB (classe O2 e N1). Conforme

observado anteriormente, o processo de destilação remove espécies polares que

apresentam valores de m/z menores.

Analisando a classe O2 observa-se um aumento de 32,85 % na intensidade

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73

relativa, quando comparamos o petróleo cru (20,29 %) com o resíduo (53,14 %). Tal

fato pode ser explicado devido à presença de compostos oxigenados de maiores

valores de m/z que foram concentrados no resíduo atmosférico ao longo do

processo de destilação. Para a classe N1 a porcentagem relativa sofreu uma

diminuição de 26,81 % nos valores referentes ao óleo cru (70,19 %) e ao resíduo

(43,38 %). Ao relacionar os resultados da Figura 22c (intensidade relativa do

petróleo A e RATA) com os da Figura 34c percebe-se que, a nível de ionização, as

espécies da classe O2 presentes no petróleo A são mais abundantes, e por isso,

ionizadas mais facilmente, do que àquelas do petróleo B. Esses resultados estão de

acordo com as informações de NAT referentes aos petróleos A (3,1859 mg KOH/g) e

B (1,8320 mg KOH/g) apresentadas nas Tabela 5 e Tabela 6 . Portanto, as espécies

nitrogenadas estão mais concentradas no petróleo B do que no RATB.

Figura 34: Diagramas de número de carbono vs. DBE para a classe O2 (a) e N1 (b) e perfil das classes majoritárias dos componentes obtidos por ESI(-)-FT-ICR MS para o petróleo B e o resíduo (RATB) (c).

Os cortes F6A e F6B, cujas faixas de temperatura de ebulição são 279-306 °C

e 295-304 °C, respectivamente, foram comparados. Ao analisar os espectros dos

cortes, percebe-se uma semelhança nos valores de m/z encontrados, sendo os

sinais identificados referentes à classe O2 (ácidos naftênicos), Figura 35. Nota-se

nos espectros de ambos os cortes espécies com a mesma fórmula molecular, o que

sugere a presença de compostos ácidos que apresentam a mesma estrutura.

No espectro do corte F6A (Figura 35a) pode-se observar uma maior

complexidade de sinais em relação ao corte F6B (Figura 35b), tal fato pode estar

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74

relacionado com o NAT de cada corte, tendo em vista que o NAT indica a presença

de compostos polares ácidos, assim, uma quantidade maior desses componentes

estão presentes no corte F6A e disponíveis para a ionização por ESI(-).

Figura 35: ESI(-)-FT-ICR MS para os cortes F6A (a) e F6B (b).

4.4. FTIR

Os espectros de FTIR foram adquiridos para os cortes dos petróleos A e B

com a finalidade de obter informações a respeito das espécies polares presentes

nos cortes. Os espectros de FTIR são mostrados na Figura 36, onde eles

apresentam composição química similar. As principais bandas encontradas são:

frequência de estiramento da ligação C-H de grupos alquil entre 2 800-3 000 cm-1,

estiramento da ligação C=O de ácidos em 1 705 cm-1, estiramento referente à

ligação C=C múltiplas de aromáticos em 1 600 cm-1 e grupos metileno (-CH2-) em 1

460 cm-1.

Ao longo dos cortes, um acréscimo na intensidade (% T) da banda 1 705 cm-1

(Figura 36 expandida) é observado, sendo diretamente proporcional ao ponto de

ebulição. Portanto, isto é um indicativo de que a concentração dessas espécies é

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75

maior ao longo dos cortes de destilação.

Figura 36: FTIR dos doze cortes da destilação do petróleo A (superior) e do petróleo B (inferior).

Gráficos de transmitância (%) vs. NAT (mg KOH/g) foram construídos para os

cortes dos petróleos A e B (Figura 37). Os resultados obtidos por FTIR corroboram

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76

com aqueles apresentados por ESI(-)-FT-ICR MS para ambos os petróleos, onde se

observa que os cortes cujo teor de NAT é maior, possuem valores de transmitância

menores. Portanto, percebe-se uma excelente correlação entre intensidade de

transmitância e o NAT para as amostras de cortes dos petróleos A (valores de R2 =

0,9971) e petróleo B (R2 = 0,9875). FLORES e colaboradores (2010) encontraram

resultados similares através das análises de FTIR juntamente com os valores de

NAT obtidos de diferentes petróleos, onde observou-se uma diminuição na % T para

petróleos cujo valor NAT é maior, e dessa forma, mostrou-se uma excelente

correlação entre os parâmetros avaliados.

Figura 37: Gráfico de transmitância (%) vs. NAT (mg KOH/g) para os cortes do petróleo A (superior) e do petróleo B (inferior).

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77

5. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS

Analisando os resultados obtidos, conclui-se que foi possível estudar a

composição dos cortes obtidos da destilação de diferentes petróleos por FTMS

sendo que estes foram condizentes com os valores de número de acidez total (NAT)

determinados por potenciometria. Observou-se que a abundância relativa dos ácidos

naftênicos assim como o NAT aumentam com a temperatura de ebulição.

Por meio da análise dos cortes por ESI(-)-FT-ICR MS observou-se que a

classe O2 (ácidos naftênicos), além de ser a classe majoritária é também a principal

classe afetada pelo processo, tendo em vista as diferenças significativas mostradas

entre os espectros e gráficos comparativos referentes ao óleo bruto e o resíduo

atmosférico. Constatou-se ainda que, o aumento da acidez é proporcional ao

aumento da série homóloga, ao valor de DBE e ao número de carbono, o que

sugere que em cortes de maior ponto de ebulição moléculas mais complexas são

encontradas em maiores concentrações.

Os resultados de ESI(+)-FT-ICR MS mostraram que as moléculas

pertencentes à classe N1 foram constituintes majoritários dos cortes, sendo que os

compostos sulfurados não puderam ser identificados anteriormente ao processo de

derivatização química. A reação de metilação mostrou-se eficiente nos cortes de

mais alto ponto de ebulição e no resíduo proveniente da destilação a vácuo,

permitindo a formação de espécies que antes não estavam acessíveis para tal

análise e consequentemente, a detecção de compostos contendo enxofre. Além

disso, a utilização de nitrato de prata alcoólico mostrou-se adequada para a

precipitação do iodeto no meio reacional.

Como continuidade deste trabalho, serão otimizadas as condições do

procedimento de metilação para análise de petróleos brutos, resíduos e cortes da

destilação, permitindo a especiação via FTMS das espécies sulfuradas presentes

em diferentes petróleos e seus cortes. Outro trabalho futuro é a identificação dos

ácidos naftênicos em cortes de óleos distintos e a correlação de suas estruturas com

a corrosividade das amostras.

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