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Rock, Imprensa e Contestação: Jornal Inovação e a “Cena Rock” em Parnaíba-PI na
década de 1980.
GUSTAVO SILVA DE MOURA *
INTRODUÇÃO
Ao examinar as percepções da imprensa de Parnaíba sobre o Rock,1 é possível
compreender, em parte, como se difundiu essa expressão cultural no Nordeste brasileiro. O
Jornal Inovação integrava o movimento da imprensa alternativa nas décadas de 1970 e 1980 no
litoral piauiense. Para esta exposição, definimos a década de 1980 como recorte temporal por ser
o período em que o Rock é citado com mais frequência no referido periódico. Esta análise
estabelece as conexões necessárias com o contexto do país que naquele período era cenário de
intensa agitação política, social e cultural, tendo em vista que o Brasil estava em pleno processo
de redemocratização, pós duas décadas de ditadura comandada por militares e com apoio de
parcela da sociedade civil.
O foco da abordagem desenvolvida contempla basicamente dois elementos que
estiveram ativamente envolvidos nessa agitação: a imprensa alternativa e a música – mais
especificamente o Jornal Inovação e o Rock parnaibano. Ambos evidenciam as estratégias de
contestação empregadas e que objetivavam problematizar a realidade social brasileira, seja nas
grandes cidades, assim como no interior do país – como foi o caso de Parnaíba, segunda maior
cidade do estado do Piauí2. Vale considerar que se observa na década de 1970 o crescimento do
mercado fonográfico nacional, alcançando números ainda mais expressivos na década de 1980
(VICENTE; DE MARCHI, 2014: 17-27).
* Mestrando em História pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, Especialista em História do Brasil pela
Universidade Candido Mendes - UCAM (2015), Graduado em História (Licenciatura) pela Universidade Estadual do
Piauí - UESPI (2014). Membro do grupo de pesquisa "História Social da Cultura: Literatura, Imprensa e Sociedade"
(UNIFESP/CNPq). Faz parte da Associação Nacional de História seção Piauí (ANPUH-PI).
1 Sigo a recomendação do historiador Paulo Chacon, ao indicar que o termo Rock com letra maiúscula se refere aos
movimentos musicais e o rock com letra minúscula se refere à música (CHACON, 1983: 19). Entendemos também
como Rock neste trabalho, estilos surgidos subsequentes a década de 1960, englobando assim: Rock, Punk e Heavy
Metal. Encontramos nas fontes consultadas, na maioria dos casos, Rock englobando esses estilos citados.
2 Segundo o IBGE, em 2010 havia 145.705 habitantes, número expressivo quando pensado em relação à densidade
demográfica por hab/km² que era de 334,52. Para maiores explicações ver a tabela em:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?uf=22&dados=0
2
Nessa expansão, o Rock começa a ganhar força, alcançando novos públicos e,
consequentemente, novos contextos culturais e sociais. Cabe notar que uma das principais
características do Rock é a íntima relação entre local e global, característica essa que pode ser
percebida nas páginas do Jornal Inovação. Outro aspecto relevante na cena do Rock de Parnaíba
diz respeito à juventude do litoral piauiense e seu papel contestador naquela realidade. As notícias
sobre shows e bandas são bastante expressivas desse viés de engajamento dos jovens através do
Rock.
Em síntese, pretende-se analisar especificamente os modos como o Rock era abordado
nesse periódico. Esta análise inscreve-se no campo da história social e tem na obra de Raymond
Williams um importante referencial teórico, particularmente no que tange aos trabalhos deste
autor sobre cultura numa perspectiva materialista. Consideramos que: “A relação entre a feitura
de uma obra de arte e sua recepção é sempre ativa e sujeita a convenções que são elas mesmas,
formas (em transformação) de organização social e de relacionamento, algo radicalmente distinto
da produção e consumo de um objeto.” (WILLIAMS, 2011: 65- 66).
Portanto, entendemos o Rock em Parnaíba como parte de um complexo processo
cultural iniciado na década de 1970 até os dias atuais. Nos deteremos aqui ao seu período de
consolidação, a década de 1980. Este trabalho é resultado parcial da pesquisa de mestrado em
desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São
Paulo – UNIFESP e apresenta uma breve análise dos conteúdos presentes no Jornal Inovação que
têm relação direta com o estilo musical/comportamental do Rock. Em face da expansão da “Cena
Rock” em Parnaíba, no Piauí, na década de 1980, este periódico apresenta várias referências ao
tema em questão estando no corpus documental da pesquisa mencionada.
JORNAL INOVAÇÃO E A “CENA ROCK”
O Jornal Inovação se tornou um amplo objeto de pesquisa, tanto que, já foi e ainda é
usado amplamente por várias pesquisas na área de História, sejam da graduação ou pós-
3
graduação.3 Com essa pluralidade em suas páginas, fruto do contexto e modo de produção
adotado em sua redação, encontramos suporte para realização desse estudo, que aborda os
conteúdos relacionados ao Rock local, observando comentários que evidenciam a “Cena Rock”
da cidade, mostrando as apropriações comportamentais e musicais, com suas críticas e
comentários sobre a sociedade parnaibana, dando visibilidade as bandas e praticantes atuantes no
cenário roqueiro da época. Portanto:
A imprensa registra, comenta e participa da história. Através dela se trava uma
constante batalha pela conquista dos corações e mentes - essa expressão de
Clóvis Rossi define bem a atividade jornalística. Compete ao historiador
reconstituir os lances e peripécias dessa batalha cotidiana na qual se envolvem
múltiplas personagens (CAPELATO, 1988:13).
Nesse intuito nos debruçaremos sobre o Rock no Jornal Inovação, mostrando o Rock na
imprensa de Parnaíba, litoral piauiense, damos preferência ao espaço local, pois entendemos o
Rock como uma construção social e cultural, formando o comportamento, com a estrutura
musical global que constituí a música Rock. Pretendemos aqui analisar a sociedade a partir do
Rock, acrescentando assim, mais uma parte à percepção para entendermos a totalidade da
sociedade. Olhando assim para as suas práticas e condições de quando foi exercida (WILLIAMS,
2011: 66-67).
Podemos no espaço regional e na imprensa alternativa encontrar as relações que a cidade
estabelecia com os indivíduos desse meio, pois estruturando as relações locais com as suas
melodias, se faz a circulação de ideias voltadas de certa forma ao regional, sendo esse o caso do
Rock. Há importância de se pesquisa o Rock no Brasil, assim como nos espaços regionais, no
caso de nossa pesquisa, Parnaíba, no litoral piauiense. Temos nossa motivação na seguinte
observação:
3 Neste trabalho usamos principalmente duas dissertações defendidas no Mestrado em História do Brasil da
Universidade Federal do Piauí – UFPI, sendo elas: MASCARENHAS, Fábio Nadson Bezerra. Inovadores
parnaibanos: a produção do jornal Inovação em Parnaíba de 1977 a 1982. Teresina: Universidade Federal do Piauí
(UFPI), 2009. (Dissertação Mestrado em História do Brasil); MENDES, Sérgio Luiz da Silva. Sem medir as
palavras: atuações do Jornal Inovação em Parnaíba–PI (1977-1982). Teresina: Universidade Federal do Piauí
(UFPI), 2012. (Dissertação Mestrado em História do Brasil).
4
Muitos fãs se manifestam sobre a importância dessa música para suas vidas e a
relevância do rock como catalisador, canalizador e formador de visões de
mundo. As mídias buscaram explicar e ainda procuram uma explicação do que
seja rock. E alguns poucos acadêmicos buscaram, buscam e buscarão também
explicar o gênero que tem arrebatado milhões de jovens e adultos pelo mundo
todo por mais de cinco décadas. Todas essas questões, indagações, perguntas e
afirmações foram se construindo e sendo construídas ao longo de mais de meio
século. (ENCARNAÇÃO, 2015: 36)
O Rock no Jornal Inovação aparece pela primeira vez na década de 1970. Mesmo não
pretendendo abordar esse período na produção desse jornal, se torna importante enfatizarmos
que, indicações já se faziam presentes, mas ainda de forma sutil, em sugestões de artistas
nacionais ou alguma música, diferente da década de 1980, onde mantemos nossas analises, onde
encontramos páginas inteiras, fotos e charges, dedicadas a esse estilo. Isso se dá na ampliação da
indústria fonográfica nacional (DIAS, 2008: 55-68).
Segundo Marly Rodrigues a década de 1980 é onde há crescimento e organização de
vários setores na sociedade e isso se constitui de grande importância no processo de abertura
política que o país estava vivendo (RODRIGUES, 1994: 58). Dentre esses vários grupos,
podemos colocar os roqueiros. Percebemos por exemplo na participação deste grupo nas
campanhas das “Diretas já” em Parnaíba, onde participaram segundo o editorial, 5 mil pessoas,
no chamado “Show das diretas”4, nesse show participou algumas bandas de Rock da cidade,
como a Inferno no Céu.5 Na década de 1980 as letras de Danilo Melo, na época jovem poeta e
roqueiro, contribuíram no jornal, no sentindo de, evidenciar o Rock e a Cena local para a
sociedade parnaibana.
O sentido do jornal era de mostrar para a sociedade local que os jovens estavam atentos
ao seu contexto, como é evidente quando escrevem: “é muito importante, daqui pra frente, um
apoio maior dos parnaibanos para com nossa juventude, pois tem muita gente interessada em
4 EDITORIAL. 5 MIL PELAS DIRETAS EM PARNAÍBA. Jornal Inovação, 01/07/1984. p. 01 5 Sobre Inferno no Céu ver: MOURA, Gustavo Silva de. E A CIDADE ESTREMECEU: A cultura do Rock/Metal
nas décadas de 1980 e 1990 em Parnaíba-PI. Especificamente o capitulo 3, no tópico: Entre porcos e restos
mortais: o underground do Heavy Metal de Parnaíba-PI, p. 51-56.
5
mudar alguma coisa.”6 Nessa matéria eram mostrados a produção de pequenos shows , mais
especificamente tomando como exemplo dois, realizados no Centro Cultural de Parnaíba e
organizados pelas integrantes das bandas Inferno no Céu e de outras que participaram, mostrando
o modo colaborativo que se organizam nessa situação, há ênfases no decorrer da matéria para a
performance “raivosa e metálica” das bandas.
Começavam assim a ser mostrado o que era ser roqueiro em Parnaíba. Colaborando para
essa formação percebemos as relações com a localidade, vemos no exemplo da comparação entre
o que era ser punk no Brasil e na Inglaterra: “Ser Punk na Inglaterra é um jeans cheio de buraco,
no Brasil são os buracos das nossas cidades. Se punk na Inglaterra são 3 milhões de
desempregados que vivem às custas do governo, aqui no Brasil já beira 8 milhões sem emprego e
sem futuro previsto.”7
Nessa comparação feita em 1984, percebemos o descontentamento social, sendo terreno
fértil para as ideias advindas do movimento punk se proliferarem. Por que virar punk? Uma
resposta para essa questão é mostrada:
Primeiro Raimundo trabalhava no lixeiro/ Ganhando dez mil cruzeiros/ Depois
foi trabalhar numa multinacional/ Lá ele se deu mal/ Raimundo era explorado,
trabalhava muito/ Não dava nem pra comer, mas ele queria viver./ Ele ouviu
falar em guerra atômia/ Essa doença crônica./ Raimundo cansou de morar na
favela/ E ouviu as desteradas das novelas/ Raimundo tinha um filho que já foi
até junkie/ Não havia alternativa, nem futuro./ Raimundo virou PUNK/ Mandou
os grandes assassinos a T.N..C./ E virou PUNK.8
Raimundo um homem provavelmente de meia idade, pobre e que tudo indica de pouca
instrução escolar, tinha acesso a informações e por meio dela conseguia ver as contradições da
sociedade em que vivia. Esse trecho se torna importante no momento em que vemos o
personagem Raimundo percebendo que a sua melhor alternativa seria virar Punk, entrando na
geração NO FUTURE. Percebemos na trajetória e escolhas de Raimundo, uma das ideias centrais
6 SOUZA, Danilo de M. INFERNO NO CÉU – UM GRITO DE CONTRA-CULTURA. Jornal Inovação,
31/01/1984. p. 04 7 SOUZA, Danilo de M. RAIMUNDO VIROU PUNK. Jornal Inovação, 01/07/1984. p. 04. 8 Idem.
6
do que seria o punk, sendo ele “político obedecendo a política do seu tempo” (BIVAR:2001: 50).
Já em 1985, ano de muita movimentação na sociedade brasileira, temos no Rock
brasileiro, seja mainstream ou underground, o surgimento de bandas. Algumas sendo
consideradas importantes influências para gerações posteriores, podemos citar bandas como:
Legião Urbana, Ratos de Porão, Sepultura, dentre outros.
No Jornal Inovação vemos, entre 1984 e 1985, o Rock ganhando destaque na
diagramação do periódico, a partir disso vemos indícios dos impactos que o Rock teve na
sociedade local. Isso fica evidente quando a banda inglesa The Beatles é escolhida para ser tema
de uma festa em Parnaíba, que ao ser comentada usam as seguintes palavras:
Ao escolher os Beatles para tema de festa numa cidade piauiense, não estamos
revelando uma faceta do nosso subdesenvolvimento nem aceitando o eco do
imperialismo de nações d'além-mar como poderiam supor alguns xenófobos.
Assim o fazemos porque os Beatles, embora ingleses, foram o maiores
fenômeno musica do século XX e merecem o tributo da geração privilegiada que
os pode curtir nas décadas sessenta e setenta. Por outro lado, somos nordestinos
pela vida e pelo rubro sangue que corre em nossas veias. Nossas raízes estão no
rumo for all- o forró9
O texto acima é seguindo da seguinte charge no jornal:
9 Por que Beatle Forroever. Jornal Inovação, Outubro de 1985. p. 10.
7
A combinação de texto e charge mostra o alcance que a indústria fonográfica
estadunidense ganhou nos âmbitos regionais brasileiros. Os Beatles são juntamente com Rolling
Stones e The Who, integrantes da chamada invasão britânica que rendeu milhões ao mercado de
discos.10
Outro ponto que fica evidente nesse trecho é a consciência do local onde estão inseridos,
mostrando que não pretendiam negar suas raízes, mas dar novas possibilidades e interpretações
ao Rock, isso fica claro na caracterização como banda de Forró.
Encontramos claramente em dois momentos, expressadas no Jornal Inovação, qual seria
a opinião dos roqueiros parnaibanos. Na edição número 51, sendo uma resposta à sociedade que
criticava o programa de rádio feito por roqueiros, onde a temática principal era o Rock, mas não
somente esse conteúdo era veiculado. Vemos os temas que eram de interesses desse grupo.
Há seis meses atrás, juntamente com um amigo - Nilson Borges (Nyx Roten)-,
conseguimos implantar um programa radiofônico através da Rádio Educadora de
Parnaíba intitulado "Radio Rock'n'Roll" e nos propunhamos fazer um programa
diferente de rock; sem preconceitos ou tabus. Entramos no ar aos sábado, a partir
das 14:15hs., ao longo desse período conseguimos penetrar na cabeça de muita
gente, e, por ser um programa diferente e original, sem qualquer vínculo com o
10 Para um melhor esclarecimento ver: FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll: Uma história social. 7. Ed. Rio de
Janeiro: Record, 2012. p.115-190.
Figura1: Charge da banda inglesa The Beatles em formato de banda de
forró, retirada da pagina 10 (INOVAÇÃO, Nº55, 1985, P. 10.)
8
esquema reciclado e enlatado das AMs e FMs, nosso programa vem sofrendo
severas críticas de alguns. Acham que somos alienado, que só falamos
bobagens... mas se esquecem que, na abertura e no decorrer de cada
apresentação tocamos em assuntos como pacifismo, ecologia, arte, cultura,
contra-cultura, fome, miséria, etc.11
Procuramos mostrar com esse trecho a capacidade na percepção política e vontade de
mudança social nos roqueiros da cidade. Colaborando para o fortalecimento dessa ideia de
politização. Temos em outro momento a seguinte percepção, quando comentado de uma
apresentação ocorrida na cidade de Teresina-PI, aconteceram alguns incidentes relatados na
matéria. Dentre os incidentes vemos os seguintes, corroborando com nossa ideia de politização
dos roqueiros parnaibanos:
Nesse momento, sobe o guitarrista do segundo grupo com uma camisa
destacando as faixas da bandeira inglesa que, como se sabe, é das nações mais
imperialistas da História. (…) “Pensamos que "o mudar o mundo" devem ser
seguidas de lutas concretas. Subir ao palco, falar em bomba atômica e outros
papos manjados não representa nada. A liberdade está muito além das drogas e
de posturas fascistas como a assumida pela maioria dos metaleiros”.12
Temos nessa mesma matéria uma crítica em relação às bandas da cidade de Teresina-PI,
abordando a forma somente estética que os grupos da capital tomavam e, segundo os roqueiros
parnaibanos, mostraram que não entendiam o verdadeiro sentindo do Rock, que segundo os do
litoral, estavam calçados nas lutas concretas cotidianas.
BREVE CONCLUSÃO
A partir dessa contribuição, temos agora uma ideia de como Rock foi difundido na
imprensa de Parnaíba, mostrando essa juventude, com capacidade política e vontade de mudança
social. Isso enfatiza o potencial do Rock enquanto instrumento social para contestação da
realidade seja global, nacional ou local. Isso se relaciona com a proposta inicial do Jornal
11 SOUZA, Danilo de M. Radio Rock'n'roll. Jornal Inovação, Janeiro-Fevereiro de 1985, n 51, ano 08, p. 07. 12 SOUZA, Danilo de M. SETEMBRO NEGRO. Jornal Inovação, Outubro de 1985. p. 10.
9
Inovação, este inserido no contexto do período em que as liberdades eram cerceadas pelo regime
civil-militar brasileiro.
O Jornal Inovação foi expressamente, no seu início, digiro pela ala jovem do partido
político, Movimento Democrático Brasileiro - MDB13
, esse tido como oposição e de esquerda,
mas autorizado pelo regime civil-militar, diferente de outros, como por exemplo, o Partido
Comunista Brasileiro - PCB. Apesar de ter circulado aproximadamente dez anos, o Jornal
Inovação deixou impressa sua importância, sendo uma fonte acessível aos pesquisadores e
importante para percepção do pensamento local das décadas de 1970 e 1980.
A imprensa alternativa brasileira foi uma voz de contestação ativa em meio á
repressão, mas que para alguns pesquisadores se desestrutura juntamente com o
governo militar.(...) a imprensa alternativa chegou ao fim porque a ditadura
também havia chegado ao seu. Além disso, fica subtendido que a imprensa
alternativa era realizada por jornalistas ligados à esquerda, e esta impedida de
militar durante o período ditatorial se utilizava deste tipo de veículo de
comunicação para propagar suas ideias. Com o fim do regime militar este tipo de
prática já não era mais necessária. (MENDES, 2015: 69)
Essa realidade apresentada na citação acima, de certa forma pode ser aplicada a
imprensa alternativa, mas essa imprensa sofreu mutações de acordo com a sua nova demanda. No
caso do Rock a imprensa alternativa ainda está presente em meios que são compreendidos como
“democráticos”, sejam eles impressos ou não, alcançando grande público ou minorias.
Mostramos aqui nessa breve explanação as potencialidades surgidas a partir do Rock na
mídia impressa local, percebendo que não somente pessoa de fora da “Cena Rock” local, mas os
roqueiros também passam a ser produtores das notícias, lembrando que o jornal analisado
deixava claro em suas edições que as matérias assinadas não representavam necessariamente a
opinião do jornal, mesmo grande parte das menções sobre o Rock aparecerem em matérias
assinadas. Fazendo com que um olhar mais profundo e apaixonado seja lançado sobre esse estilo
musical/comportamental, fugindo dos olhares muitas vezes preconceituosos e conservadores do
período. No entanto, temos menções em editorias, esses já explicitando a opinião do órgão.
13 INOVAÇÃO E A ALA JOVEM DO MDB. Jornal Inovação, Dezembro de 1977. n 01 ano 01, p. 01.
11
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12
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