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h ASSUMIR Ano IX - Janeiro a Abril de 1988 - N? 20

1.° DE MAIO E NOSSA LUTA DE TRABALHADORES

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ASSUMIR (Distribuição interna)

BOLETIM FORMATIVO E INFORMATIVO DAACO

VINCULADA AO SETOR LEIGOS LINHA I -CNBB

ENDEREÇO PARA PEDIDOS. AÇÃO CATÓLICA OPERARIA Rua Van Erven, 26 - Catumbi 20.211 - Rio de Janeiro - RJ Te!.; (021) 242-7732.

DIAGRAMAÇAO E ARTE José Truda Jr. e Lúcia Carrera Te!.: (021) 240-9735

LEU, REFUTA E DIVULGUE

- Editorial - Mário Aquino - Lázaro - 1? de Maio - Remádios - Luta Lavada e Passada - Hegemonia do Poder —

Jorge Cândido - Visão C^ntica da Constituinte

— Dazinho - Crescer na Organizaçáo para

Mobilizar — Luiz Sérgio M. Machado

- Participação da Família - Nina - Bairro Havai - Venda Nova

(BH) - Experiência de

Francisco Aquino - Experiência de Valdivino - Viagem de Lulzinho e Assunção - Celebração dos 25 Anos de ACO

em São Paulo — Sônia - Inauguração do Secretariado

Nacional — Oimar - Cartas - Salvador - Quem é Cleusa Chamon - Zeneides - Carta da ACO sobre o Sfnodo - A Nova Carta Enciclica

— Bernardo - Notrcias do MOAC e MMTC

— Oimar

NOVAS PUBLICAÇÕES DA ACO Josina E. Gonçalves

"A História do Povo de Deus", volume I, e "Um Movimento de Crianças" estão saindo agora da grá- fica. O primeiro segue a linha do li- vro "Jesus, sua terra, seu povo, sua proposta", e o segundo tamtóm es- tá dentro do "Ver, julgar e agir â luz da Bíblia".

"Um Movimento de Crianças" foi feito pela ACO e pelo MAC (Movimento dé Adolescente e Criança) que segue a linha da ACO.

Temos ainda o livro "Um desafio á Oração" que é um livro de espiri- tualidade para militantes e assisten- tes, escrito por um assistente. É das Ed. Paulinas.

Vale a pena conhecê-los.

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EDITORIA

Neste primeiro número do ASSUMIR de 88, por ocasião do aniver- sário da morte de Mário Aquino, incluímos na página sempre ocupada por ele durante vários anos, alguns depoimentos colhidos dos compa- nheiros dele de luta.

Em preparação ao 19 de Maio temos a reflexão de Remédios, de Jorge Cândido, de Maria Cecília Danezi, de Dazinho sobre a Constituin- te e uma rica reportagem das greves acontecidas no 19 trimestre deste ano no Estado do Rio de Janeiro. Que tal cada regional tentar recolher resumidamente os acontecimentos operários e organizar um arquivo? Não seria uma fonte inédita dos acontecimentos operários? Basta al- guém colher isto da imprensa diária, guardar e em seguida resumir, enviando cópia ao Secretariado Nacional.

Diversas experiências de base como a de Francisco (São Luiz), de Valdivino de Lindéia (BH), e o artigo sobre Participação da Famriia, são experiências que animam principalmente os militantes novos.

A entrevista de Zeneides e Cleuza mostram o valor e importância dos liberados.

A inauguração dos secretariados Nacional e Regional de S. Paulo ligados à Celebração dos 25 anos são marcos na história do Movimento.

A carta dos diversos nfveis da hierarquia da Igreja enviada pela ACO Nacional, as notícias sobre o MMTC, MOAC e a reflexão sobre a nova Enciclica, o cantinho das cartas, nos levam a aprofundar nosso compromisso com outras experiências operárias e da Igreja no mundo.

0 suplemento com o título: "1987 Sindical e Trabalhista" apre- senta uma avaliação bem resumida da conjuntura do ano anterior e pis- tas para enfrentar o novo ano.

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Mário de Aquino

Lázaro Silvano Ferreira

Este artigo por ocasião do aniversário da morte de Mário Aquino (30/1/87) através de alguns depoimentos de companheiros que conviveram com ele, revela a influência marcante que deixou nos mesmos em termos de consciência de classe e de visão nova de Igreja.

Mário contribuiu de maneira funda- mental nas mudanças que acontece- ram e ainda estão acontecendo no sen- tido da Classe Trabalhadora conquis- tar o seu espaço, a sua força, além de dar aos trabalhadores uma consciência de classe.

Destacamos a sua participação em duas entidades de classe da região de Mogi: o Sindicato dos Trabalhadores do Papel e Papelão e o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil.

A participação de Mário na con- quista do Sindicato a partir da chapa de oposição foi dado o seguinte de- poimento:

"Por ocasião da formação da chapa para derrubar o pelego (que já estava quase se aposentando no cargo), pro- curaram Mário porque já o conheciam na luta, e em sua casa nasceu a arti- culação da formação da chapa de opo- sição."

"Foi um coordenador e animador do processo."

"Organizava, preparava e encami- nhava as discussões, deixando a chapa

decidir e caminhar com as suas pró- prias pernas."

"Atraia para ele as atenções mesmo com divergências por causa de sua li- nha de Igreja (progressista) e se manti- nha sempre numa linha de neutrali- dade."

"Passou para todos paciência e es- perança."

"Foi coordenador do processo elei- toral da chapa. Além de coordenar, ga- rantiu as vinculações de apoio mate- rial, financeiro e espiritual."

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"Deu uma contribuição muito gran- de para podermos entender as ideolo- gias e tendências. Tinha uma facilida- de muito grande de informações."

"Depois de encerrado o processo eleitoral, Mário nos fazia algumas cn- ticas."

Outro ponto a destacar foi o laço de amizade que foi acontecendo. A partir dai' Mário se tornou para nós um grande amigo e conselheiro.

Mário participou do processo do Sindicato dos Trabalhadores do Co- mércio com a mesma intensidade que teve no Papel e Papelão. 0 testemu- nho dos companheiros é muito seme-

lhante ao do Papel e Papelão: anima- dor, coordenador, assessor do proces- so de eleições.

Mário teve um papel importante na tentativa de manter a unidade dos tra- balhadores, não mediu esforços mas não conseguiu; "esta foi a sua grande frustração", diziam os companheiros.

O movimento sindical, a Classe Tra- balhadora, perdeu uma liderança que marcou de forma exuberante uma pre- sença na luta e no dia a dia.

Amizade, solidariedade, força, espe- rança, fé, determinação, paciência, são alguns valores que nosso amigo e com- panheiro saudoso tinha e nos legou pa- ra continuar a caminhada.

MARIO DE AQUINO E A IGREJA

Quando falamos em Igreja, já pensamos em alguma coisa relacionada com a fé. Aí estava o ponto forte de Mário.

A fé sustentava sua luta, sua doação e sua perseverança.

Seu trabalho como Igreja nos sur- preendia e questionava a nossa própria participação por causa desse testemu- nho: — liderança na ACO; — contato com a JOC, distribuindo

material, articulando reuniões para se iniciar a JOC na região;

— assessor da Pastoral da Juventude; — assessor da PO na região; — assessor das pastorais da Diocese.

Nas assembléias diocesanas, arti- culava, assessorava, procurava dar idéias novas, despertava para as mu- danças, incentivava e até mesmo ques- tionava as posições do Bispo.

Congregações religiosas — tinha -uina.Jjgaçao grande_com as mesmas.

procurando desenvolver o trabalho de renovação da Igreja com as religiosas mais inseridas no contexto da vida do Povo- — assessor das CEBs; — representante da ACO na Diocese; — conseguir fazer com muita facilida-

de a ligação dos 4 lados (econômi- co, político, social e ideológico) a partir da Bíblia;

— em Suzano começou grupo de estu- dos dentro do método Paulo Freire e, como conseqüência, nasceram a ACO, PO e outros movimentos po- pulares e sindical;

— tinha equilíbrio, garantindo sempre a ligação da fé com a vida;

— em Suzano ajudou a construir o PT;

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conselheiro dos diretores sindicais quando tinham algum conflito em nível pessoal e de trabalho; tinha trabalho muito sério em nível de ACO, ultimamente sua preo- cupação era a Expansão. Exemplo: equipe de Itaquá; herança maravilhosa, até nos parece que Mário sabia que o seu tempo de

vida era curto. Deixou uma marca que nos questiona, anima e nos dá condições de procurarmos sempre buscar a Boa Nova e o testemunho de cristãos através de nossa militân- cia como Mov. de ACO, p^ara che- garmos ao nosso objetivo: Mudan- ça da sociedade e construção do Reino.

Apresentamos aqui o catálogo de referências dos artigos feitos pelo compa- nheiro Mário Aquino ou escritos sobre ele no Assumir pelos militantes e amigos do companheiro que faleceu em 30 de janeiro de 1987, em São Paulo.

Salvador

N9 Ano Pág. Titulo

13 85 03 A Oração: Esquecimento ou Desafio 12 85 02 Caminho de Realização Plena do Homem como Filho de

Deus 05 83 3 5 Jesus e a Organização do Povo — Marcos 6,30-44

João 10,11 07 83 24 Jesus e a Família Operária - Mt 1,1 - Lc 3,31 08 84 2 As Estruturas Econômicas da Palestina no Tempo de

Jesus 09 84 02 0 Poder Político na Bíblia 09 84 02 Tribos de Israel 10 84 02 Natal: Jesus Nasce, a Esperança Renasce 11 85 02 De Volta Para a Nossa Terra 05 83 10 Testemunho do Casal 11 85 47 Pão Para Quem Tem Fome 08* 84 65 Campanha da Fraternidade 07 83 17-21 Política Partidária e a Realidade da Classe Operária 07 83 4-5 Revisão de Vida Familiar 10 84 46 Eleições no Papel e Papelão - Mogi das Cruzes 14 86 02 Celebrar 17 87 04 Mário Aquino Continua Presente em Nosso Meio 17 87 06 Mário Aquino 17 87 08 A Lição que Mário nos Deixou 18 87 04 Mário Aquino Continua Presente em Nosso Meio

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Primeiro de Maio Remédios

Primeiro de maio é momento forte dos trabalhadores do mundo inteiro. Essa data deve ser comemorada em todos os lugares onde existe a classe operária. Ela é um chamado aos trabalhadores de hoje a dar continuidade a luta, iniciada há mui- to tempo, e que culminou, no 1? de maio de 1886, em Chicago, com o enforca- mento de 6 operários, em praça pública, pelos dominadores da época.

Os operários conquistaram a redução da jornada de trabalho que era entre 12 a 16 horas diárias, para 8 horas.

Os operários hoje continuam lutando. Temos tido mártires operários, no campo e na cidade.

Os militantes da ACO engajados nas organizações de ciasse, já podem come- çar a discutir formas de organizarem as atividades do 1? de maio, com o objetivo de levar os trabalhadores a assumir a sua classe e, como classe, lutar para conseguir dar passos rumo a construção da nova sociedade.

Nós, militantes da ACO, devemos garantir as discussões em todos os níveis, e que maior número de trabalhadores descubram o sentido da comemoração do 19 de maio, comemorado pelos trabalhadores com autonomia.

O dia é do trabalhador. Vamos comemorá-lo com os trabalhadores e para os trabalhadores.

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Luta Lavada e Passada

Dentre as muitas lições que tenho aprendido com as companheiras lava- deiras e passadeiras de Goiânia, vejo a valiosa e indispensável contribuição fe- minina na luta das classes oprimidas. Junto com os trabalhadores organiza- dos, essas companheiras que "lavam e passam a luta" vão derrubando as opressões e fazendo nascer a sociedade justa e igualitária.

Qual seria o segredo dessa especial sensibilidade, dessa capacidade de or- ganização e de conquistas, da catego- ria das lavadeiras e passadeiras, em curto espaço de tempo?

Elas são mulheres, oprimidas entre os oprimidos; lavam e passam roupa pra fora de segunda a sábado, e no do- mingo lavam e passam para a própria família. São donas de casa que enfren- tam todos os graves problemas do sub- mundo imposto pelos capitalistas è multidão dos empobrecidos. Desde an- tes de nascer, resistem às estruturas de morte, e vivendo, aprendem os segre- dos de gerar, alimentar e salvar a vida dos filhos e do povo, em situações de carência total. Por isso, não temem o monstro da discriminação que lhes im- põe o pretenso poder da sociedade machista e dominadora.

São analfabetas na grande maioria, vivem em área onde falta tudo o que é essencial, e carregam a cruz de nume- rosas doenças provocadas pelo traba- lho pesado, no tanque e na quentura úmida do ferro de passar. Chegam a desmaiar à beira do tanque, depois de um dia inteiro gastando energias f isi-

Maria Cecília Domes!

cas mais do que um pedreiro, e sem comer nada, muitas vezes expostas à chuva ou ao sol.

No entanto, quanto mais o poder dominador lhes suga a saúde e lhes en- fraquece o sistema nervoso, mais for- te nelas desabrocha a garra pela con- quista da dignidade de sua classe, é

por isso que ouvi, de muitas delas, ao levantar a cabeça e liberar a palavra após anos e anos de silêncio cabisbai- xo, depoimentos assim: "A lavadeira também é filha de Deus". "Somos profissionais". "Eu me orgulho de ser lavadeira". "Vamos formar o nosso Sindicato".

Elas conquistam os companheiros homens para a luta. Em Gqiânia, con- seguiram equipes de apoio, assessores na área jurídica, éconòmicg, metodo- lógica, pastoral e outros. Estão con- quistando espaços nos meios de co- municação, sem se amedrontarem diante dos oportunismos e das tentati- vas de manipulação. Sabem como en- frentar, porque sabem o que querem, como categoria combativa.

Lembro-me de Dona Evalina, lava- deira que mora na Vila Finsocial, sem- pre assídua nas reuniões, como repre- sentante do grupo do seu bairro. Em sua própria casa, enfrenta a mentalida- de dominadora introjetada na cabeça do pobre: "O que você ganha indo a essas reuniões?" "Larga mão, porque lavadeira não tem força nenhuma". Mas, ela não desanima. Desdobra-se, sacrifica-se, deixa tudo arrumado em casa e vai para a reunião. Lá se canta a

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luta, se partilha as experiências, se de- cide a caminhada, se fortalece a amiza- de, se distribui as tarefas.

As mulheres do povo carregam em si, como herança de resistência, a ca- pacidade de preparar terreno, de silen- ciar ou de gritar no momento oportu- no. Os passos da luta são decididos por todas, dentro de argumentos vi- tais, entremeados de depoimentos sa- grados das companheiras que trazem também o resultado das reflexões em pequenos grupos. Lavadeiras e passa- deiras sabem fundar sua Associação, eleger suas representantes, exercer o poder popular, porque socializam a condição sofrida, as experiências, as

idéias, as vitórias, a prática solidária.

Lavar roupa suja e pesada entra no ritmo da luta para lavar as injustiças da sociedade. Mostrar à patroa uma ta- bela de preços, em nome de sua cate- goria organizada; recusar o preço da humilhação, ao mesmo tempo em que se vai conquistando novas companhei- ras até acabar com o individualismo e a sujeição, é mais que ensaio para as novas estruturas, é já começar a cons- truir o alicerce da nova maneira de se viver, sem exploradores e nem explo- rados, onde as mulheres do povo terão corpos saudáveis e belos e exercerão o poder-serviço junto com os compa- nheiros, com graça e inteligência.

8 de Março, dia internacional da mulher, foi um dia de luta pela união das mulheres, conquista de seus direitos de igualdade e de participação.

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A Hegemonia do Poder no Movimento Sindicai Brasileiro

Jorge Cândido

5ao Paulo é o Estado do Brasil mais industrializado. Por isso é onde a con- centração de operários é a maior do Brasil. Porém existem regiões deste Estado que têm concentração de operários maior que as outras. £ o caso da capital e da grande São Paulo.

Fura-greve teve proteção policial e vaia dos

Até meados da década de 70, São Paulo capital, por ter um grande polo industrial, exercia a hegemonia do mo- vimento sindical, pois na capital está o maior sindicato da América Latina, o sindicato dos metalúrgicos. Porém as maiores indústrias da capital não agru- pam um número maior que 2500 tra- balhadores numa mesma empresa.

Com o surgimento da grande em- presa, principalmente automotiva, na região da grande São Paulo, principal- mente no ABC, surgiu, também, a grande concentração de trabalhadores numa mesma empresa. E com a dita- dura militar acabando com todo o mo- vimento sindical, negando a existência da classe operária, com destaque para São Paulo capital, a polarização do movimento sindical deslocou-se para o ABC. Dai' surgem as grandes greves de 78/79/80. Nasce a CUT, o PT, etc.

colegas

Com a ajuda da ditadura militar, os pelegos tomam conta do sindicato em São Paulo capital. Mas a resistência, a oposição, continuava viva, como está viva até hoje.

Dai' nasce o Movimento de Oposi- ção Sindical de São Paulo.

No ABC, onde nasce a CUT, o mo- vimento é comandado pelos chamados independentes, (que não são ligados a tendências), o grupo 113 que fundou o PT e onde estão as maiores figuras do movimento sindical brasileiro da atualidade: Lula, Jair Meneguelli, Jacó Bittar, Vicentino, Miguel Rupp, e ou- tros. Este grupo tem uma proposta muito forte. Não aceita as organiza- ções poirticas (tendências) no seio da classe trabalhadora. Já em São Paulo capital, o movimento de oposição aceita as tendências. E esse ponto é uma das grandes divergências entre o

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ABC e a capital. Hoje, com as organizações mais

avançadas, estes dois grupos disputam a hegemonia do poder no movimento sindical brasileiro. F bom salientar que no movimento de oposição de São Paulo, os grupos de igreja estão pre- sentes com bastante força. Os candida- tos a presidente do sindicato dos me- talúrgicos, nos últimos anos, alguns es- tão ligados à igreja: Anísio Batista, Valdemar Rossi.

Essa divisão teve reflexo no con- gresso nacional da CUT em 86, e nas eleições dos metalúrgicos de São Paulo em 87.

Infelizmente, muitos, tanto no ABC, como em São Paulo capital, con sideram os grupos de igreja como ten- dência. Nós da ACO rechaçamos isto, porque não somos uma organização política fechada, não somos um movi- mento fechado. Somos um movimen- to de Formação e fazemos nossa análi- se à luz do Evangelho, mantendo nos- sa fidelidade a Jesus Cristo.

Por esta razão a CCN decidiu (por ocasião de 19 de maio) não participar da confecção de cartazes em nome da ACO para não dar qualquer impressão de uma tendência; esta questão precisa ser melhor aprofundada.

Visão Qúth® da toaíõSEite Claro que sabíamos das dificuldades

que teríamos na Constituinte. Daí es- perarmos quietos sem tomar nenhuma medida seria por demais cômoda. En tão algumas entidades assumiram uma tomada de posição a fim de pressionar os constituintes.

Mesmo tímida essa pressão foi sufi- ciente para mudar alguns comporta- mentos, que eram inteiramente contra o povo em favor de posições um pou- co melhor. Então os ganhos sociais, apesar de migalhas, que sobraram da mesa dos poderosos, cairam na horta dos trabalhadores. As 44 horas em vez de 40 defendidas pelos trabalhadores, indenização no lugar da estabilidade, férias acrescidas de 1/3 contra a defesa de férias em dobro, horas extras de 50% contra 100% defendidas por nós, em reforma agrária não ganhamos nada. Enfim, ficou igualdade dos tra balhadores urbanos e rurais ainda com o prejuízo dos últimos, sobre a pres crição de direito de reclamações na justiça, e como ganho real somente os

120 dias para as mães no início da vida dos filhos.

E se nos desmobilizarmos, corremos o risco de no 59 período de votação, perdermos até essas migalhas.

As promessas das praças públicas, com raras e honrosas exceções, foram traídas lá no congresso.

Neste momento devemos fazer uma reflexão sobre a nossa consciência po- lítica. Quem elegeu os constituintes? Fomos nós, não?

Temos que ter a humildade de assu- mir nossa incapacidade política diante do sistema opressor em que vivemos.

No entanto não devemos desani mar, mas seguir em frente confiantes em nossa força, nos organizarmos.

n

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Crescer M Organízaçã® para Rlleüilllias1

Luiz Sérgio da Mota Machado

No presente artigo procuramos mostrar, tomando como referência a mobili- zação do proletariado do Estado do Rio de Janeiro no 19 trimestre do ano em curso, como a classe trabalhadora, apesar de todos os percalços impostos pela con- juntura econômica que atravessamos, apesar da unidade orgânica entre o Estado e o capital, própria do sistema capitalista, tem se posto em marcha para combater a agressividade das ações do capital sobre o trabalho. Ações que solapam os direitos dos trabalhadores de terem salários, condições de trabalho e de vida dignos.

A Herança de 1987

A classe trabalhadora findou o ano de 1987 acumulando dois recordes históricos: uma inflação de 365% (se- gundo o IBGE) ou de 400% (segundo o DIEESE) e a maior perda de poder aquisitivo ocorrida em nossa história desde a instituição do salário mmimo. A inércia da economia brasileira no ano que passou, e as rédeas soltas da inflação depuseram um fardo mais pe- sado do capital sobre os ombros dos trabalhadores, transferindo, assim, pa- ra estes, as conseqüências dos descon troles da crise estrutural que afeta a economia nacional, e que reflete, em certa medida, a crise internacional da economia capitalista, evidenciada mais objetivamente com o crach das bolsas de valores dos pafses capitalistas de senvolvidos, na segunda metade do ano de 1987.

Tal crise, diga-se de passagem, tende a se agravar mais ainda este ano e nos anos vindouros, apontando para uma solução fora dos marcos de economia capitalista. Longe de eximir as autori- dades governamentais de responsabili- dade pela gravidade da situação que a população trabalhadora brasileira pas-

sa, essa constatação mais acentua a in- consequência polrtico-econômica do governo que, acumpliciando ao capital deixa de tomar medidas que elimina- riam os efeitos perversos da crise na economia do pafs, como a reforma agrária e a estatização de todo o siste- ma bancário e financeiro. Isto coloca para o conjunto mais avançado da classe trabalhadora que somente a su- peração do sistema atual pode dar ori- gem a uma sociedade socialmente jus- ta, sem miséria e sem exploração da força de trabalho.

Mas o ano de 1987 deixou também um saldo positivo: o aumento da mo- bilização da classe trabalhadora. Hou- ve maior número de greves no ano pas- sado. Houve também maior número de trabalhadores participando das gre- ves. O que demonstra um grau de compreensão da classe trabalhadora, de que é a luta e não a passividade ou a submissão que pode reverter o qua- dro de exploração econômica a que es

tá exposta. Foi a combatividade dos trabalhadores que os fez conquistar os resíduos salariais integrais que a eles eram devidos. E foi essa mesma com- batividade que lhes proporcionou rea- justes antecipados dos salários. Não

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fora a organização e a luta, e o ano de 1987 teria sido bem pior para a classe trabalhadora brasileira.

1988: Ano de Desenvolvimento da Intensidade da Luta

A crise internacional da economia capitalista, como já dissemos, nesse e nos próximos anos não oferece ne- nhum tipo de esperança de solução duradoura, ao contrário, tende a se agravar cada vez mais, com a disputa cada vez mais acirrada das potências imperialistas pelo dommio do merca- do mundial. Os países desenvolvidos procuram solucionar ou minimizar os efeitos da crise em suas respectivas so- ciedades, explorando mais intensa- mente as economias dos paTses perifé- ricos, subdesenvolvidos. O capital ins- talado nestes últimos, procura, por sua vez, explorar mais intensamente a mais valia dos trabalhadores e a misé- ria da população. Em sua aliança com o Estado, o capital vê no arrocho sala- rial a forma mais simples de ir atraves- sando a crise mantendo seus lucros e até mesmo fazendo-os crescer. E esse o procedimento do capital em nossa sociedade.

0 Governo, por seu lado, procura resolver os problemas de caixa do se- tor público arrochando os salários do funcionalismo público, ao invés de re- solver esses mesmos problemas taxan- do os ganhos de capital, eliminando os incentivos fiscais e os subsídios conce- didos ao grande capital. Ou seja os sa- lários são o alvo da solução da crise. As pressões para a extinção das URPs vieram nessa direção.

Nesse contexto, portanto, a intensi- ficação da luta entre capital e trabalho é inevitável.

E foi isso o que ficou demonstrado logo nos primeiros três meses do ano no Estado do Rio de Janeiro, onde to- dos os setores da economia foram con- frontados pelos trabalhadores. Os ser- viços públicos federal, estadual e mu- nicipais, e o setor privado sentiram os efeitos da mobilização da classe traba- lhadora. A grande maioria das catego- rias foi a greve em busca do que lhe era devido, conforme mostra o quadro a seguir.

JoõoJocé

Valia hido para pegor um ônibus em frenta

a Centro/ do Brasil

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Categorias em Greve em Janeiro de 1988 no Rio de Janeiro

Trabalhadores da Companhia Usinas Nacionais (fabricante do açúcar Péro- la), locados nas usinas do Rio, Niterói e Caxias. Total da categoria: 670 tra- balhadores. A empresa é estatal. Ini'- cio:4-1-88. Duração: 4 dias. Metalúrgicos do Estaleiro MacLaren (Ilha da Conceição — Niterói). Total: 4.500. Inicio: 5/1/88. Duração: pelo menos 25 dias. Trabalhadores das empresas particula- res de vigilância (Vigilantes de todo o Estado do Rio de Janeiro). Início: 12-1-88. Duração: 5 dias. Servidores do Ministério da Saúde. Trabalhadores da indústria de panifi- cação de Campos. Dois mil operários (padeiros, confeiteiros, gerentes e tor- neiros). Duração: 9 dias. Rodoviários. Trabalhadores da Fábrica de Papel Gretísa. Trabalhadores da empresa Admanobra (mais de 300). Empresa subcontratada do Ministério da Fazenda, onde presta serviço. Trabalhadores das empresas Montreal e Facom (2 mil no total) que prestam serviço para a Companhia Siderúrgica Nacional - Volta Redonda. Houve adesão total dos trabalhadores das de- mais empreiteiras (mais de 30) no transcurso da greve. Duração: 6 dias. Servidores da Prefeitura de Niterói (12 mil). Engenheiros, arquitetos, agrônomos e geólogos do Serviço Público Estadual (24 horas). Securítáríos (24 horas). Funcionários da Prefeitura Municipal de Cabo Frio (3 mil).

Funcionários da CEASA (Algumas ho- ras — reivindicações atendidas). Trabalhadores da empresa CEC, em- preiteira que produz jaquetas e módu- los para as plataformas da Petrobrás e outros serviços. Funcionários da empresa CIRPRESS — produz peças para computadores. 800 trabalhadores (4 dias de greve). Trabalhadores do asseio das empresas: Conservação Fluminense, Sad, Conate, Dinâmica, Monteverde, Beni, Juiz de Fora, Lido e Conserve. Mais de 15 mil trabalhadores. Empregados do Jóquei Club Brasileiro — 200 trabalhadores (3 a 4 dias). Metalúrgicos da Forjas Brasileiras (700 trabalhadores). Duração;três dias. Metalúrgicos da Cobrascom (500 tra- balhadores). Duração: nove dias.

Metalúrgicos da Cofabam. Duração: doze dias. Metalúrgicos do Estaleiro Mauá — Ni- terói. Duração: nove dias. Trabalhadores da Fábrica de Biscoitos Piraqué (empregados na indústria de massas e biscoitos, na indústria de óleo, caminhoneiros e gráficos). Apro- ximadamente 2.800 trabalhadores. Duração: mais de 5 dias. Trabalhadores da Cimobrás (200) - fabricante de feixe de molas para ca- minhões. Duração: 4 dias. Trabalhadores da empresa de constru- ção civil Araújo Engenharia e Monta- gem (500). Motivo: reivindicacar 100% de reajuste salarial, melhorias nos alojamentos e na alimentação, ser- viço médico, eleição de uma CIPA e água potável. Data: 26-1-88. Duração: 24 horas.

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Categorias em Greve em Fevereiro éê li§8 m ilo cBa Janeiro

Ferroviários (83 mil - Greve Nacio nal). Duração: 11 dias. Empregados de várias filiais das Casas da Banha. Trabalhadores da Fábrica Ideal Stan- dard (650) - Distrito Industrial de Nova Iguaçu. Empregados no Supermercado Disco (700) — duas filiais de Niterói e uma de Alcântara. Empregados da CEASA (600). Dura- ção; 24 horas. Funcionários da Fundação Leão XIII (2.000 trabalhadores). Aeronautas. Funcionários do Hospital Universitá- rio Gama Filho. Trabalhadores do Automóvel Clube

do Brasil (socorristas) de todo o Brasil. Trabalhadores da empresa Dinâmica, de asseio e conservação, que presta serviço no Hospital dos Servidores do Estado (HSE). 350 trabalhadores. Mo- tivo: atraso de pagamento. Metalúrgicos da Montana, 480 traba- lhadores. Motivo: reivindicar 80^ de reposição salarial (conseguiram 70%) retroativo a outubro passado, médico a disposição até ao meio-dia, redução de 10% para 5% do salário pelo paga- mento da refeição, promessa de não punição dos grevistas e, criação e ga- rantia de estabilidade para os mem- bros da Comissão de Fábrica. Este úl- timo item foi altamente significativo nas conquistas obtidas. Data: 9/2/88.

Categorias em ©revê em larço

Funcionários da Santa Casa de Miseri- córdia (7 mil trabalhadores). Motivo: não cumprimento do acordo coletivo firmado com a categoria em agosto de 1987. Hospitais atingidos: Hospital Geral da Santa Casa (Rua Santa Lu- zia), Hospital Nossa Senhora do So- corro (bairro do Caju), Hospital Nossa Senhora das Dores (Cascadura), Hospi- tal Nossa Senhora da Saúde (Gam- boa), Hospital São Zacarias (Botafo- go), e mais a Casa de Repouso Santa Maria (Praça Seca - Jacarepaguá). Du ração: 2 horas. Data 1-3-88 Ferroviários das oficinas da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urba- nos). Motivo, atraso do pagamento

dos salários. Oficinas paradas: São Diogo (Viaduto dos Marinheiros — abrigo de trens). Praia Formosa (Zona Portuária), Locomoção, José dos Reis (Engenho de Dentro) e COU-8 (Deo- doro). Trabalhadores em greve: cerca de 7 mil. Data 1-3-88. Reivindicações atendidas no dia seguinte, guinte. Metalúrgicos da Estamparia Real — cerca de 700 trabalhadores — de Coe- lho Neto. Motivo: intransigência da empresa em não querer negociar as rei- vindicações dos trabalhadores de: 70% de aumento salarial, 20% de adicional sobre o piso (5 mil cruzados) a título de insalubridade, reconhecimento da

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comissão de fábrica, melhor qualidade na alimentaçâfo distribuTda no refeitó- rio da firma e melhores condições de trabalho. Início: 1/3/88.

Metalúrgicos do setor de manutenção das Casas Sendas, da Pavuna. São cer- ca de 800 trabalhadores. Motivo: in- transigência da empresa em não querer negociar as reivindicações dos traba- lhadores de: 100% de reajuste salarial, insalubridade de 20% sobre o piso da classe, reconhecimento da comissão de fábrica e cumprimento do acordo co- letivo dos metalúrgicos. Início: 2/3/88. Metalúrgicos da empresa Incopec — cerca de 160 — a qual presta serviço para a Companhia Siderúrgica Nacio- nal (CSN), em Volta Redonda. Moti- vo: protestar contra as demissões ocor- ridas, reivindicar 70% de reajuste sala- rial, pagamento de adicional noturno, insalubridade, material de proteção gratuito e regulamentação profissional de 40 funcionários ainda não registra- dos, entre outros benefícios. A parali- sação atingiu as atividades de usina- gem (tornearia e montagem de rolos da parte de laminação das chapas onde correm os lingotes que saem do alto forno) e caldeiraria. Início: 2/3/88. Comerciários dos Supermercados Gua-

■ nabara de Piedade (Rua Torres de Oli- veira), de Quintino (Rua Clarimundo

*de Melo) e do Engenho de Dentro. Cerca de 200 trabalhadores. Motivo: não cumprimento do acordo coletivo da classe por parte da empresa. Reivin- dicações: cumprimento da jornada de trabalho de 8 horas, fornecimento de contra-cheques, direito a 1 hora com- pleta para almoço, anotação exata da data da admissão na empresa, paga mento das URPs e reajuste salarial de 150%. Início: 3/3/88. Funcionários do Banco do Brasil (11 mil). Motivo: protestar contra a nega

tiva do Governo em equiparar, inte gralmente, os seus salários com os dos empregados do Banco Central. Data: 9/3/88. Duração: 12:30 hás 13:30 h.

Rodoviários. Motivo: reivindicar um piso de 5 salários mínimos, reposição salarial de 35% e 40% de gratificação de férias. Início: 10/3/88. Duração:al- gumas horas. Foi assinado um acordo em separado pelos rodoviários com ba- se nos municípios de Niterói, Nova Iguaçu, Barra Mansa, São João de Me riti e Duque de Caxias com a represen tação dos empresários. Pelo acordo es- ses rodoviários passam a ter um piso de Cz$ 31.200,00 para os motoristas, Cz$ 17.224,00 para os cobradores e Cz$ 22.141,00 para os despachantes. As demais funções tiveram um aumen- to de 38,67% sobre os salários. O açor do em separado esvaziou a greve dos rodoviários do município do Rio de Janeiro, que porém, receberam os mesmos valores. Funcionários da Nacional Informática (cerca de 300 trabalhadores). Motivo: protestar contra 140 demissões ocorri- das dois dias antes da greve; denunciar a investida do capital financeiro inter- nacional no país e a tentativa de bur- lar a Lei de Informática, através do controle acionário do Banco Nacional pelo Citibank, o maior credor da dívi da externa brasileira, e através da desa tivação da Nisa (Nacional Informáti ca), empresa que desenvolve progra mas de informática para as empresas do Grupo Nacional. Data: 11-3-88. Duração: algumas horas. Funcionários públicos (greve nacional de 24 horas). Motivo: contra as amea ças do Gov^erno de extinguir as URPs. Data: 15-3-88. Trabalhadores das 60 empreiteiras que prestam serviço á Reduc (Refinaria Duque de Caxias), 9 mil. Motivo: re

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posição salarial de 100% Início 14-3 88. DuraçâTo 13 dias Trabalhadores do mobiliário de Duque de Caxias, Magé, Sã» João de Meriti e Nova Iguaçu (3 mil). Motivo: reposi- ção salarial. Inicio: 14-3-88. Duração: 13 dias. Trabalhadores da empresa Caldepesa — Caldeiraria Pesada Ltda — de Volta Redonda (300 trabalhadores). Motivo: reivindicação salarial. Inicio: 9-3-88. Duração: 5 dias. Professores, merendeiras e atendentes das 31 escolas da rede municipal de ensino do município de São João de Meriti. Motivo: conquista de piso sala- rial equivalente a 4 pisos nacionais de salário. Inicio: 17-3-88. .

Trabalhadores da empresa Centauro, que prestam serviços de asseio nos hospitais do Sesi. Motivo: protesto contra o não-pagamento do piso sala- rial da categoria (Cz$ 6.600,00) e da não-liberação do adicional de insalu- bridade. Início: 17-3-88. Funcionários da Companhia de Pes- quisa e Recursos Minerais (CPRM) — 3 mil. Greve nacional. Motivo: homo- logação do Plano de Cargos e Salários da categoria pelo Conselho Interminis- terial de Salários das Empresas Esta tais (Cise). Início: 17-3-88. Duração: 2a 3 dias. Metalúrgicos da empresa Centrifugai do Brasil (160 operários), situada no bairro de Paciência, fabricante de pe- ças para automóveis. Motivo: reajuste de 60% sobre os salários, piso salarial de 3 salários mínimos, estabilidade pa- ra a comissão de fábrica e melhores condições de trabalho. Início: 17-3-88. Duração: pelo menos 4 dias. Servidores da Prefeitura de São João de Meriti (4 mil). Motivo: cumprimen- to do acordo feito com o Prefeito, de conceder à categoria um reajuste de

168% pago em duas parcelas: a primei- ra de 48,6%, em janeiro, e a segunda em março, de 111,4%. Início: 22-3-88. Funcionários da Fundação Getúlío Vargas (FGV). Motivo: reivindicar 59% de antecipação sobre os salários de março. Total de funcionários em greve: 1 mil. Início: 23-3-88. Duração: 1 a 2 dias. Metalúrgicos da Empresa Metal-Gráfi- ca Rio. Motivo: intransigência dos pa- trões em negociar com a categoria. Reivindicação: 60% de aumento sala- rial, pagamento de insalubridade., ali- mentação e outros benefícios. São cer- ca de 800 funcionários. Início: 24-3-88. Frentistas (empregados dos postos de gasolina) de todo o Estado do Rio de Janeiro. Motivo: reivindicar piso sala- rial de Cz$ 25 mil. A categoria é com- posta por cerca de 20 mil trabalhado- res, distribuídos em 1.800 postos no Estado. Início: 24-3-88. Duração: 48 horas.

Metalúrgicos das Forjas Brasileiras (300 trabalhadores) de Queimados, distrito de Nova Iguaçu. Motivo:rom- pimento pelos patrões do acordo cole- tivo assinado por ocasião da última greve, em fevereiro, que previa a esta- bilidade no emprego para os membros da comissão de negociação. Ignorando o acordo a empresa demitiu um fun- cionário dessa comissão. Início: 24-3- 88. Duração: 4 dias. Resultado: a em- presa aceitou reintegrar o funcionário. Funcionários do Posto de Urgência de São Mateus, em São João de Meriti. Motivo: protesto contra o atraso de 2 meses nos pagamentos. O posto está sob intervenção do Inamps há quase dois anos. Início: 39-3-88. Funcionários do Departamento de Es- tradas de Rodagem (DER), cerca de 500. Motivo: reivindicar a aprovação

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do Plano de Cargos e Salários da cate- goria. Data: 29-3-88. Duração: 2 horas. Funcionários (4 mil) da Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais (CPRM), ligada ao Ministério das Minas e Ener- gia. Motivo: protestar contra o não cumprimento do acordo coletivo fir- mado pela categoria com a empresa,

em julho de 87, que previa a implanta- ção de um novo Plano de Cargos e Sa- lários. O Conselho Interministerial de Salários das Empresas Estatais não aprovou o PCS. Início: 31-3-88. Greve nacional (29 dos funcionários da CPRM no mês de março).

Fonte: Catalogação do autor a partir da imprensa diária e de boletins sindicais.

REARTICULAR A GREVE GERAL

Com todo o arrocho salarial, os três anos de governo Sarney, completados em 15 de março passado, acumulou uma inflação de 2.390%. Somente os meses de janeiro, fevereiro e março deste ano registraram taxas de inflação de 16,51, 17,96 e 16,01, respectivamente. A inflação acumulada do trimestre superou os 50%. Entretanto, a URP que corrigiu os salários de março, abril e maio foi de ape- nas 16,19%. Ou seja o cinto aperta mas a crise permanece. Diante disso, sem dúvi- da, se faz necessário o crescimento da unidade, na prática, dos trabalhadores, na articulação de uma nova greve geral que poderá mudar os rumos do pafs. O 19 de maio deverá apontar nessa direção.

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EXPERIÊNCIA DE R.V.O.

PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA

Nina

O Mareio, o Luciano e o Mateus são filhos do Osni e da Regina. Eles formam uma família de trabalhadores. Moram na periferia da cidade de Caxias do Sul, uma cidade industrial.

A Regina, além dos afazeres domésticos, faz a revisão final e embala blusas de malha para uma Confecção (malharia). £ um trabalho que exige muito esforço visual mas que ela pode fazer em casa e ainda cuidar das crianças.

O Osni é metalúrgico e trabalha no setor de fundição, com fornos elétricos, na Eberle S.A.

Ambos participam há 6 anos da Equipe da ACO Santo Dias da Vila Ipiranga. Participam da Associação de Amigos de Bairro onde o Osni é atualmente o tesou- reiro. A Regina participa do Clube de Mães da Comunidade Cristo Operário sendo no momento a sua presidente.

O Fato ECONÔMICO:

Em 1983, em plena crise de reces- são econômica a Eberle S.A. adquiriu novos fornos elétricos e exigiu que os operários da fundição trabalhassem nos fins de semana por necessidade de manter os fornos em funcionamento.

A política econômica da época era a causadora de uma grande crise de de- semprego. Não acatar as determina- ções da firma numa época daquelas significava, sem dúvida, ficar desem- pregado.

VER: POLÍTICO:

Precisamos ver este fato sob vários aspectos:

Para o capitalismo o que interessa é o capital e não o trabalhador. Portan-

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to para a Eberle não interessava se aquela exigência iria prejudicar a famí- lia de Osni e de todos os seus compa nheiros.

SOCIAL:

O trabalhador, para viver, precisa ter atendidas as suas necessidades bási- cas e entre elas estáfo o descanso e o lazer. Mas como descansar se os fins de semana eram dias de trabalho? Além disso havia o prejuízo das crian- ças que sentiam falta da presença do pai para "brincar" con^eíes.

IDEOLÓGICO:

Para a manutenção do sistema é im- portante que o trabalhador se mante nha alienado, desorganizado, "sufoca- do" enfim. Por isso, atrás da determi- nação de trabalhar noá fins de semana está a intençâb de que não sobre tem- po nenhum para o trabalhador se reu- nir com os seus companheiros.

JULGAR:

"Façamos o homem à nossa ima- gem e semelhança e presida aos peixes

do mar. e às aves do céu, aos animais selváticos, a toda a terra e a todos os répteis que se movem sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; criou-o á imagem de Deus e criou-os varão e fêmea." Gen. 1, 26-27

Todo o homem, criado à imagem de Deus precisa ter condições de vida digna para .que esta imagem não seja deturpada.

Não podemos identificar a imagem de Deus no trabalhador injustiçado, explorado e oprimido.

AGIR:

"Nenhum de nós agüenta mais a re- clamação da mulher e das crianças em casa", diziam os trabalhadores obriga- dos a trabalhar nos fins de semana.

Foi a partir da reclamação das mu- lheres que os companheiros de Osni começaram a se organizar.

As suas mulheres se reuniram e fo- ram até a direção da empresa.

Em um fim de semana acamparam nos pátios da Eberle com as crianças. A partir dessa mobilização os metalúr- gicos da fundição Eberle conseguiram o direito do descanso nos fins de se- mana com suas famílias.

EXPERIÊNCIA DO BAIRRO HAVAÍ - VENDA NOVA - BH

"Por ser a ACO um "MOVIMtfilTO" que se preocupa com o "todo"da pes- soa, estamos aqui hqje."

Com estas palavras, a Remédios deu inicio ao encontro promovido pela equi- pe de ACO do bairro Havaí.

Em seguida, explicou um pouco, como se desenvolveriam os trabalhos dentro do método VER, JULGAR e AGIR.

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VER - Remédios conta alguns fatos concretos: pai desempregado passa a beber; a filha de 10 anos é responsável pela casa; tem irmãos menores; estes menores são arrimo de família.

Na conversa foi feita a seguinte per- gunta: nas nossas famílias que dificul- dades encontramos? Constatações: — famílias terem que viver com um sa

lário mínimo, não é fácil; — não poder vir à reunião da ACO,

por causa da bebedeira do marido; — salário baixo do marido obriga a

mulher a ter que se virar também; — a bebida está destruindo a família; — separação dos pais; — falta de compreensão, de diálogo,

entre marido e mulher e atenção en tre pais e filhos;

— falta de liberdade;

— falta de moradia digna (um quarto para todos);

— influência da televisão, que ensina só "ter";

opressão; violência.

JULGAR

- o governo deixa de fazer uma coisa para fazer outra (má administra- ção);

- há salários injustos; - exploração dos patrões; - o trabalhador não se valoriza; - os meios de comunicação influem

demais; - a cachaça é fuga; - assistencialismo acomoda; - há muita fraqueza, falta de fé; - os filhos querem amizade, não que-

rem opressão; - há falta de tempo dos pais, muito

trabalho, hora extra; - há falta de organização (sindicatos,

associações, partido político, etc); - há falta de lazer

O AGIR É NECESSÁRIO

participar mais de movimentos como ACO, e das associações comunitárias; reivindicar creches, áreas de lazer; criar clubes de mães, etc.

EXPERIÊNCIA DE FRANCISCO AQUINO

Francisco Aquino, Operário da Construção Civil de Imperatriz, vem desen- volvendo um bom trabalho, forçando o sindicato a tomar algumas posições a favor dos associados.

Pedimos que escrevesse a experiência para ser publicada no Assumir. Eis aí o resultado.

Eu ingressei na luta como trabalha dor da construção civil, resolvi entrar na chapa dó sindicato para o Conselho Fiscal. Tive a oportunidade de conhe cer como funcionava o nosso sindica to. Encontrei nos arquivos fichas de

seiscentos sócios, só que estes não compareciam para pagar suas contri buições. Nas assembléias só compare- ciam quinze pessoas (sócios), procurei me informar dos acontecimentos. Des cobri que não gostavam do presidente.

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outros viajavam e na volta, não tinham condições de pagar seus débitos. 0 presidente era muito autoritário, nun ca aceitava sugestões; na verdade ele não se preocupava com o trabalhador. Fui percebendo que minha presença preocupava pelas minhas idéias revolu cionárias. Fiquei sem saber o que fazer.

Quando conheci a ACO, que me abriu caminhos novos, comecei uma campanha de conscientização. Come- cei com alguns companheiros a fazer a campanha de sindicalização. Pedi-

mos a anistia dos débitos dos sócios com mais de dois anos.

Na primeira eleição, fomos derrota dos. Continuamos a campanha, e ago ra já estamos com 115 sócios novos. Com nossa luta, nesta segunda eleição que foi realizada no dia sete de feve- reiro deste ano, conseguimos a maioria absoluta. -

Esta foi a primeira conquista, consi- derada por nós na nossa luta sindical. Com fé em Cristo e nos nossos compa- nheiros, agora mais conscientes e com coragem vamqs continuar nossa luta.

EXPERIÊNCIA DE VALDIVINO

VALDIVINO de Belo Horizonte - MG, pai de 4 filhos, trabalhador da Cons- trução Civil e da oposição sindical da categoria é membro da ACO, de Lindéia. Ele conta a sua participação no Movimento popular, política partidária e Igreja.

No dia 20 de dezembro de 1986 foi a eleição na assembléia da Associação de Moradores do Bairro Lindéia: dois militantes da ACO foram participar da diretoria nova. Depois de uma Revisão de Vida na equipe eles acharam que era importante fazer parte desta cha- pa, assim a gente estaria engajado no movimento popular dando sua contri- buição.

Na mesma data houve eleição do Conselho Paroquial, outros dois mili- tantes assumiram a coordenação. E com isso conseguimos ter maior en- trosamento e colaborar na caminhada da Igreja numa linha libertadora. Te- mos vontade de expandir o movimen- to da ACO em nosso bairro, tendo to- do apoio da Paróquia.

Os militantes da ACO do bairro de Lindéia pertencem à construção civil. No ano de 1985 fizeram parte da cha- pa de oposição. Foi uma luta muito difícil porque a categoria estava desor-

ganizada. Para nós formarmos esta chapa, tivemos que preparar um ano antes, assim conseguimos registrar 14 companheiros para enfrentar o pelego. No dia da eleição, concorreram 3 cha- pas. A primeira apoiada pela CUT e a segunda manobrada pelo pelego. Eles nos apresentaram uma lista de 14 mil associados, mas na verdade não existia mais que mil associados, mas tinham tudo para ganhar.

No 1? escrutínio não deu quorum. No 29 dia a outra chapa vendo que não tinha chance de ganhar, entrou com processo na justiça, para impug- nar. Na ocasião, tivemos muito apoio dos sindicatos de outros estados. Ha- verá eleição novamente, sem ser jul- gada a outra.

Nossa militância faz a gente não de- sistir da luta. Continuamos enfrentan- do o desafio de conquistar nossa esta- bilidade. Porque mesmo prejudicados agüentamos as conseqüências porque

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nossa luta se identifica com a de Jesus. Onde fala: "TUDO ISTO TE DAREI SE PROSTADO ME ADORARES".

Nós fomos isolados dos companhei- ros, trocados de serviço, tivemos nos- sos salários rebaixados em 40% duran- te um ano, para nos afastarmos dos companheiros, e proibidos de falar de

sindicato com os companheiros ou dis- tribuir boletins. Mas nossa luta conti- nuou; fomos em frente, continuando o trabalho com os companheiros; já estamos nos organizando de novo pa- ra as próximas eleições.

Graças à nossa consciência de classe e nossa participação na ACO.

VIAGEM DE LUIZINHO E ASSUNÇÃO AO NORDESTE

Luizinho e Assunção são de Nova Iguaçu; ela, costureira, com 3 filhos; ele, pedreiro, presidente da Associação de Moradores do Bairro São Vicente, foram passar um mês de férias na terra deles no PIO XII, Maranhão.

Na reunião da equipe de ACO, em março, partilharam os encontros que fizeram.

Sábado, dia 20 de fevereiro, partici- param da Caminhada silenciosa das co- munidades, partindo do Povoado Sítio Novo até a Aldeia onde foi assassinado o lavrador Trezibe Teixeira da Concei- ção, da Diocese de Bacabal.

No dia 14 de fevereiro, o povoado Aldeia foi invadido por pistoleiros que vinham em carros, dando grande quan- tidade de tiros. Os pistoleiros provoca- ram pânico, queimaram 30 casas dos lavradores e assassinaram o lavrador Trezibe, de 64 anos de idade.

Nos dias seguintes participaram de uma assembléia do sindicato e de uma reunião do PT. "Nós nos identifica- mos como membros da ACO e prome- temos que alguém da ACO iria fazer uma visita. Encontramos um profes- sor do estado ganhando 600 cruzados por mês, e um mestre de obras ga- nhando a metade do salário mínimo." O casal dizia ainda: "Não houve des- canso. Aonde o cristão está ele luta e se coloca à disposição. Visitamos mui- ta gente, falamos de política. Vimos um povo que vive tanta coisa boa."

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Celebração dos 25 anos da ACO em São Paulo

Sônia Maria Bulhões Miranda

Ê motivo de júbilo para os militantes da ACO. comemorar este aconteci- mento. A bem da verdade, se formos comparar esta modesta conquista com a di- mensão do país, mesmo da cidade de São Paulo com o número de trabalhadores que constróem tão grande riqueza, certamente cairemos no pessimismo. Vamos evitar, pelo menos neste momento, fazer esse confronto. Vamos então nos permi- tir um pouco de fantasia. Pois bem... para nós, que acompanhamos a gestação, o nascimento, a dura infância, os anos difíceis, nos sentimos orgulhosos desta jovem que sabe o que quer, sabe para onde ir. Ela não tem medo de caminhar no escuro - já o fez quando era menina. Esta jovem, é como a média dos brasileiros - tem a persistência e a sagacidade do nordestino, a disposição dos paulistas, a perspicá- cia dos mineiros, a hospitalidade dos gaúchos e pretende ser descontraída e alegre como os cariocas. Ê de estatura franzina, mostra os dentes na alegria, chora na tristeza, revê a ação, erra como qualquer cristão, faz auto-crítica e tem muita es- perança em dias melhores.

Este retrato que "pintei" é a minha, a nossa ACO. Não é ufanismo, mas um pouco de fanatismo da minha parte, já que sou a fã número um da ACO.

Chegar onde este movimento che- gou, com todas as dificuldades que te- ve, com sérios problemas internos, com os desafios que continuam e que incomodam aqueles militantes mais conscientes e apressados, é sem dúvida uma considerável conquista. Com a inauguração de melhores acomodações em nossa sede de São Paulo, e também no Rio, garantimos o que poucas enti- dades semelhantes conseguiram, um espaço f Tsico nosso e que ninguém nos toma. Devemos reconhecer o esforço pessoal dos nossos companheiros da equipe de construção, que trabalha- ram com eficiência e responsabilidade. Parabéns.

Lamentamos que na festa dos 25 anos da A.C.O. pouca gente da hierar- quia da Igreja (Bispos (nenhum), pa- dres (alguns) e outras entidades convi-

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dadas para a inauguração) comparece- ram. Agradecemos aos que atenderam nosso convite e fazemos votos que es- tejam conosco ombro a ombro nas lu- tas e trabalhos junto aos operários e trabalhadores em geral, seja nos movi- mentos populares, partidos políticos, sindicatos e associações onde busca- mos a fraternidade e a justiça no meio da grande classe operária.

Devemos defender de unhas e den- tes a Ação Católica Operária que aí es- tá disponível e ao alcance de todos, para formar, rever, analisar e apontar um rumo para esse povo que mais pa- rece um rebanho sem pastor.

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Inauguração úo Secoretarlad® iacioiial

Oi mar

No dia 27/2/88 às 17 horas, por ocasião da reunião da Comissão Coordena- dora Nacional, foram celebrados 3 acontecimentos bem significativos da ACO:

— 25 anos de fundação; — inauguração da sede própria; — e lançamento de 2 livros: História do Povo de Deus, Um Movimento de

Crianças e 2 fitas suplementares do livro Cantando Nossa Liturgia.

A ACO do Rio ficou responsável pela preparação desta celebração. Na parte da Liturgia da Palavra foram li dos trechos da História da ACO lem brando os momentos mais significati vos do nascimento do Movimento, de sua evolução, posicionamento frente ao golpe militar e ditadura, como tam bém a influência marcante da ACO através de seus pronunciamentos his- tóricos e da ação dos seus militantes para a unidade da Igreja em favor dos oprimidos e o nascimento de um novo sindicalismo a partir das oposições sin- dicais, fruto em parte das lutas de muitos de nossos militantes nos anos de 68 em diante.

Após esta parte histórica, a leitura do Evangelho com algumas rápidas re- flexões motivou a apresentação da vida e lutas do Movimento, principal mente dos testemunhos de vida dos militantes simbolicamente colocados sobre a mesa do altar através dos li-

vros: História da ACO, Declaração de Princípios, Regimento Interno e Esta- tutos Sociais. O desenho da planta do novo Secretariado e as 2 fitas repre- sentaram as lutas pela conquista do es- paço para refletir e celebrar a partir dos seus objetivos específicos.

A presença de 2 cantores da equipe que gravou as fitas para ajudar nos cantos fez o acontecimento vibrar com mais alegria e reconhecimento a Deus.

Após a celebração da Oração Euca- rística houve manifestações de regozi- jo da parte de antigos militantes, fun- dadores da ACO, como: Joaquim Ar- naldo de Albuquerque, Odete Azeve- do Soares, e de representantes de ou- tros Movimentos: JOC, RC, CPO, MAC, CEDAC, militantes sindicais, de equipes de base da ACO, Coordena- ções Regional e Nacional.

Em seguida todos confraternizaram num bate-papo animado de amigos.

Participaram acima de 130 pessoas.

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Salvador

— Repudiamos a posição da direção da Sociedade Recreativa Cidade Luz — de Tubarão, SC — que nos festejos de Carnaval negou ingressos a Mardos e Clovis e esposas porque negros.

— Recebemos carta de José Araújo Macedo de Areinha, S. Luis — MA, contando sua luta no Restaurante Uni versitário de S. Luis.

— "No dia 31/1/88 tivemos uma reu- nião da Equipe Regional em Minas Gerais com os coordenadores de cida des e equipes. Fizemos uma avaliação sobre as publicações. A nossa meta continua: nem um militante sem o ASSUMIR. As equipes do bairro Lin- déia e Água Branca, fizeram uma boa venda no semestre passado. Espero es- te ano atingir outras equipes." Re- médios.

— Em resposta a carta que mandamos ao Setor para os leigos do Vaticano, sobre o Sfnodo, recebemos uma res- posta do Cardeal Pironio, responsável pelo setor.

— Pe. Ernani, assessor da CNBB pelo Setor leigo, mandou uma carta muito positiva, reagindo á nossa carta sobre o Sínodo.

— A equipe da ACO de Novo Riacho, Belo Horizonte - MG, acompanhou a

doença do pai do Assistente da ACO. Publicamos trechos do que a família escreveu por ocasião da Missa de 79 dia. A vida e a fé deste trabalhador do campo nos lembra a vida e a luta dos pais de muitos militantes de hoje.

RETRATOS DO VÕ José Ferreira de Paiva

Trabalho - Mãos calejadas. Pés no chão. Sola dos pés tão dura: dava pra fincar alfinetes. Camisa aberta no pei- to. Molhava três por dia. Carteira em branco. Nunca foi assinada. Aposenta- do do Funrural. Mão boa. Mão aben coada. Tudo que plantava pegava e dava. Sua vocação era a terra. Por on- de passou, plantou enquanto pôde.

Fé — Deus acima de tudo. Igreja é uma só. Deus é um sol. Tenho fé em Deus e em Nossa Senhora Aparecida.

Decisão — Homem não pode ficar prantado. Tem que ter expediente. Mais vale uma boa amizade que muito dinheiro no bolso. Homem não pode ficar parado. Amarrado. 0 mundo é grande! Foi feito pra gente andar! Ho- mem parado, preguiçoso, nem Deus ajuda.

Riqueza — Nasci sem nada. Vivi sem nada. Morri sem nada. Mas nunca me faltou nada.

Casamento — Os casados precisam de três coisas: juízo na cabeça, vergonha na cara e amor no coração.

A vida de José Ferreira de Paiva confirmou para nós as palavras de Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes es- tas coisas aos sábios e aos prudentes e as revelastes aos pequeninos. (Lc 10,21)

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Quem é Cleuza Chamon

Nascida em Araçai', Minas Gerais aos 23 dias do mês de novembro de 1951.

Fui eleita liberada Nacional em 28 de novembro de 1987. Desde cedo meus pais nos ensinavam a trabalhar, cuidar da casa, dos irmãos menores, cuidar das criações, e ainda ajudar no bar e na venda que tmhamos. Vivi bem feliz minha infância. Mas logo aos dez anos tive minha primeira decep- ção, foi interromper os meus estudos ao terminar o primário.

Nos anos sessenta, ainda adolescen- te, ajudei a 'rezar' para acabar com o 'comunismo' do nosso paTs. Meu avô

era analfabeto, mas tinha uma grande visão polftica. Tendo ele chegado ao Brasil fugindo da guerra, ele era sfrio, sempre nos alertava que os Estados Unidos estavam tomando o Brasil de nós, brasileiros.

Perdi meu pai; eu tinha 16 anos. Os sofrimentos se alastraram, porque as dificuldades financeiras aumentaram. Não tmhamos dinheiro para nada.

Não dando mais para enfrentar a si- tuação na minha cidade, minha irmã resolveu vir morar com uns tios em Contagem. Eu também vim embora e fui morar com outro tio no bairro das Indústrias.

Minha mãe continuava morando no interior com os outros 4 filhos. Os meus tios ferveram contra minha mãe, até ameaça de morte ela sofreu para abandonar a casa. Nesta época eu já estava trabalhando numa fábrica aqui na Cidade Industrial, e eu e minha ir- mã morávamos em um barracão de 2 cômodos. Só mesmo a fé que nós tí- nhamos em conseguir alguma melhora na vida nos dava força para superar to- do o sofrimento.

1970. Eu tinha 18 anos e estava tra- balhando na Bates do Brasil. Trabalha- va 12 horas por dia só com 15 minu- tos para almoçar. Ninguém reclamava, pois todos os companheiros ou eram inconscientes ou eram obrigados a per- manecer calados. Vivíamos em plena Ditadura Militar.

Era fanática torcedora do Cruzeiro Esporte Clube. Já em 1971, veio tam- bém morar conosco meu irmão e logo ele arrumou emprego na Mannesmann.

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Era o milagre brasileiro. Em 1972, resolvemos trazer o resto da família para cá. Alugamos uma casa maior e buscamos mamãe e os 3 irmãos me- nores.

Na fábrica onde eu trabalhava, as coisas continuavam ruins, "os pa- trões", resolveram fazer uma terceira turma, que pegava serviço às 18 h e largava às 6 h da manhã. Nós mulheres também tivemos que entrar nessa. Agüentamos isto mais ou menos uns 8 meses, depois decidimos que não acei- taríamos. Aí os patrões não teimaram muito devido a nossa firmeza. Assim trabalhei 4 anos e 9 meses nesta fábri- ca. Fiquei durante 10 meses me re- cuperando de uma forte anemia e esta- do nervoso bastante abalado. Traba- lhei depois em um supermercado onde fui muito bem tratada apesar de traba- lhar várias horas por dia. Em 1977, en- trei de novo para uma fábrica no Cen- tro Industrial de Contagem.

Assumimos a Cipa e levávamos um trabalho de conscientização bastante bom. Em 1979 eu participava pela pri- meira vez de uma greve da categoria. Daí eu comecei a falar para os compa- nheiros que ali não era o nosso lugar e que se quiséssemos conquistar alguma coisa teria que ser no sindicato. Os tra- balhadores começaram a sair da porta- ria e se dirigirem para o sindicato jun- to comigo.

Logo depois me filiei no PT, que es- tava surgindo. Eu não entendia como podia ter tanta divergência no meio operário. Fiquei na luta por uns 2 anos, sem entender muito, mas apren- dendo muita coisa nova. No ano de 1981 as coisas pioraram. Houve dis- pensa em massa no mês de janeiro. 80% da diretoria da Cipa foram dis- pensados. Entrei na justiça e perdemos a causa e eu e mais uma companheira

que entrou com processo junto comi- go. Daí me bateu um grande desâni- mo, sindicato pelego, desemprego, companheiros que estavam desempre- gados nem queriam amizade comigo.

Eu tinha voltado a estudar e os meus colegas de colégio estavam pa- gando mensalidades para eu conseguir completar o 29 grau que já estava no último ano. Eu estava fazendo curso Técnico de Química. Eu faço questão de lembrar deles com muito carinho, pois foi decisiva a ajuda que eles me deram para que eu completasse meu curso.

Durante quase 2 anos fiquei em ca- sa por motivo de doença na família. Eu ajudava na igreja. Depois de certo período comecei a questionar certas posições da igreja hierárquica e fui de- sanimando outra vez. Nesta época eu trabalhava no Carrefour, onde já vol- tava a tentar organizar a categoria co- merciaria visto que a exploração dos trabalhadores do comércio é uma coi- sa de louco.

Eu ia assistir a missa aos domingos. Aquilo que eu ouvia não satisfaiza mi- nha fé. Quando um certo dia, em con- versa com uma comadre minha, ela me falou que tinha conhecido uma pessoa que se chamava Juracy e que ela era católica, só que se preocupava muito com a classe trabalhadora. Eu comecei a freqüentar as reuniões da Associação Comunitária do bairro ia convite de dois companheiros do PT.

Fiquei conhecendo a tal "Juracy". Me identifiquei totalmente com ela. Ainda não sabia se existia a ACQ. Mas quando foi no fim de semana fui par- ticipar de um encontro com represen- tantes de todos os movimentos e fi- quei sabendo da ACO. Fui convidada a participar de uma reunião, isto foi mais ou menos no mês de abril de

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1985. Em setembro deste mesmo ano eu já participava de um seminário em Caçapava, onde maravilhada com tan- ta coisa nova para mim eu me decidi totalmente pelo movimento. Já estava desempregada de novo. Estava atraves- sando momentos cnticos, mas a cada dia eu me sentia mais segura da minha fé, da minha decisão.

Em 1986 aconteceu o Congresso Nacional da ACO em Sete Lagoas e eu pude participar. Foi um momento muito importante na minha vida. Sil- vio da ACO pediu serviço para mim num laboratório em que ele traba- lhava.

Durante pouco tempo que trabalhei neste laboratório, nós reivindicamos o

vale transporte em janeiro de 1987, e conseguimos. Logo depois foram os gatilhos que não estavam sendo pagos e nós fomos até o sindicato pedindo esclarecimentos e logo depois entrega- mos um documento assinado por 90% dos empregados nas mãos do patrão e imediatamente foi corrigido a maioria dos salários.

Agora eleita liberada Nacional, es- pero poder contribuir um pouco do que considero ter sido transformador na minha vida.

Em menos de um ano que conheci a equipe da ACO, nós juntos com mais uns companheiros, disputamos eleição com outra chapa, para diretoria da As- sociação Comunitária.

Zeneídes

A companheira Zeneides depois de ter assumido como liberada nacional da A CO durante 3 anos, voltou para a sua base em novembro de 1987.

ASSUMIR fez algumas perguntas a ela para que os membros da ACO de todas as regiões pudessem saber mais sobre ela nestes primeiros meses na base.

— Quais foram as regiões que você vi- sitou como Liberada Nacional? "Visitei as seguintes regiões: NE 1 - Belém (3 vezes)

Santarém (3 vezes) Macapá (2 vezes) Fortaleza (1 vez)

NE 2 — visitei por duas vezes, vá- rias cidades.

NE 3 - 3 cidades. Região do São Paulo visitei por 3 vezes Rio de Janeiro por 3 vezes Sul duas vezes Santa Catarina duas vezes Minas Gerais de dois em dois me- ses."

Quais as maiores dificuldades? "As dificuldades que o povo enfren- ta com salários baixos, condições de

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moradia precárias, alimentação fra- quíssima, desemprego, inclusive as condições de embarcações em que o pessoal viaja durante trinta e sete horas pelo rio Amazonas até Maca- pá, em busca de trabalho nos ga- rimpos. Descobri que na região do Pará, a repressão é como nos anos 64 à 70 na nossa região. As viagens de 56 horas do Rio a Belém, mais três dias de navio até Santarém. A sugeira dos navios em estado de ca- lamidade pública, alimentação pés- sima dos mesmos. Saudades de casa, angústias, insegurança, às vezes difi- culdades de relacionamento, etc." Quais suas contribuições para o avanço do movimento? "Pude contribuir na organização dos grupos de Macapá, com o surgi- mento de quatro grupos, contri- buindo em Jias de estudos com trei- namento de Revisão de Vida em Be- lém, Barbacena e Abaetetuba. Con- tribui também com a formação de um grupo em Santarém, em Macuco no RJ. Em MG, Uberlândia, São João Del Rei, Barbacena, Lafaiete, São João Nepomuceno. Com o mo- vimento de um modo geral, nos contatos, reuniões e visitas. Acho bom que as reniões mandassem as impressões e contribuições depois da visita de cada liberado." O que mais angustia? "É ver as dificuldades para o traba- lhador se organizar. A falta de apoio da igreja no sentido da formação da

classe trabalhadora. A competição que existe nas demais organizações, onde se usa os trabalhadores para conseguir verbas para suas entidades, e não para unificarem os trabalhos."

— O que a ajudou? "Descobrir companheiros que estão na luta, se organizando nas oposi- ções sindicais. Associações de Mora- dores bem organizadas e fortes, nas Associações de professores. Comis- sões de Pastoral da Terra. As opor- tunidades que tive de estar junto às comemorações: Greve Geral, passea- tas, encontros, seminários, trocas de experiências com esposas de mili- tantes, e nos clubes de mães. Co- nhecer e participar de reuniões com freiras e padres interessados em aju- dar os trabalhadores se organizar, participar no encontro nacional do MAC em J. Pessoa, na Paraíba. Nas associações de domésticas, acompa- nhando a organização da categoria. Participar na greve dos enfermeiros, apoiar e participar das assembléias. Fazer plantão no sindicato. Traba- lhar de fiscal na chapa de oposição sindical no Sindicato do Senalba. Visitar acampamentos dos Sem Terra. Conhecer melhor os compa- nheiros da ACO. A receptividade que encontrei. O carinho das crian- ças. Agradeço ao Deus da vida e à ACO a oportunidade que tive de conhecer vários companheiros de outros estados, e as mais variadas realidades de nosso país."

ASSUMIR — Você continua sendo suplente da Coordenação Nacional. A ACO não pode esquecer toda a experiência e trabalho que você desenvol- veu durante todos estes anos. A ACO deve ficar atenta às condições e dificuldades que você pode estar vivendo na volta desta missão de liberada nacional. A ACO expressa todo seu agradecimento para sua dedicação e sua fidelidade à Classe Operária e à ACO.

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ACO Informa

O SINODO DOS LEIGOS

QUESTIONADO PELA ACO

Esta carta foi en boa repercussão.

A Comissão Coordenadora Nacional da Ação Católica Operária — ACO, representando acima de mil militan- tes engajados nas organizações operá- rias e populares das principais cidades e pólos industriais do País, depois de ter lido a mensagem dos Bispos Sino- dais na reunião de 23 e 24/01/88, re- fletiu em comum sobre a mesma, e ao encerrar, foram levantadas várias preo- cupações, as quais queremos aqui expressá-las.

Primeiramente, queremos manifes- tar nossa satisfação pelo fato de ter sido um Sínodo voltado para a missão do Leigo hoje.

Em segundo lugar, manifestamos nossa alegria por muitos dos temas aprofundados e pelo reconhecimento expresso na mensagem dos Bispos Si- nodais, à grande contribuição da Ação Católica de ontem e hoje.

Nossas preocupações no entanto, se baseam naquilo em que o Sínodo não aprofundou ou não criou condições

viada a todas as instâncias da hierarquia da igreja. Está tendo

para maior contribuição dos leigos, tão insistentemente durante o Conci- lio Vaticano II. São elas: 1)A partir da mensagem dos Bispos

Sinoidais e de outros informes, vi- mos pouca referência ao mundo dos trabalhadores onde estão a maioria dos leigos atuantes.

2) Não percebemos a preocupação do Sínodo em ter presentes represen- tantes operários que pudessem tes- temunhar mais de perto a realidade em que vivem e lutam para mante- rem sua fidelidade a Jesus Cristo e à Classe Operária.

3} Não sentimos um aprofundamento maior sobre a missão do leigo no campo político em vista da trans formação da sociedade atual, numa sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

4) Falou-se muito dos leigos em sua missão interna na Igreja, porém.

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não foi explicado o valor e impor- tância do testemunho de vida dos mesmos nas organizações sindicais, profissionais e político-partidárias.

5) Notamos que não houve nenhuma referência aos movimentos que tan- to têm colaborado para a evangeli- zação do mundo, como também os Bispos não se preocupam com o específico dos leigos em sua ação no mundo; nesse sentido não se per- cebeu um estudo mais amplo do relacionamento e comunhão que

deve existir entre os mesmos e as conferências episcopais nacionais, a Santa Sé e igrejas particulares.

6) A nosso ver, faltou falar sobre a ca- minhada dos pobres na Igreja e seu esforço de libertação de que tanto falam os documentos de Puebla e o Santo Padre, quando esteve no Bra- sil; quase não apareceu no Sínodo esta contribuição da América Lati- na e dos outros continentes do ter- ceiro mundo.

7) Algumas das propostas encaminha- das pela Assembléia dos Leigos do Brasil em preparação ao Sínodo so- bre esses vários questionamentos, não tiveram espaço. Acreditamos que isso se deve à pou- ca representatividade dos leigos no- meados pelo Vaticano, tanto do Brasil como de outros países da América Latina.

8) Em vista destas limitações do Síno- do, quais as esperanças que os tra- balhadores e leigos em geral, pode- rão ter como o documento conclu- sivo do Sínodo para atender as exi- gências de sua missão hoje? Até que ponto daqui por diante, seremos "colaboradores e não auditores e auditrices" em todos os níveis da missão da Igreja, conforme afirmou Sua Santidade no almoço final com os Bispos Sinodais?

Saudações fraternas em Cristo

CARMEN CARRERA JARDINEIRO (Secretária Adjunta)

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NOTICIAS DA IGREJA A NOVA CARTA ENCICLICA

Bernardo Lestienne

Seu título em latim "Sollicitudo Rei Socialis"significa: o grande interesse, a preopcupação ou o empenho da Igreja pela questão social. É a segunda carta do papa João Paulo II (a primeira foi "O Trabalho Humano", 1981), publicada pelo 209 aniversário da importante carta de Paulo VI sobre "O Desenvolvimento dos Povos" (Populorum Progressio, 1961) para lembrar e atualizar o ensino da Igreja sobre "O Desenvolvimento autêntico do Homem e da Sociedade". Há de situar essa carta no conjunto do ensino mais concreto e pastoral de JP II durante as suas viagens, sobretudo nos países do Terceiro Mundo, e em importantes discursos em organizações internacionais como a ONU, a UNESCO, a FAO e a OIT. Em dez anos, JP II elaborou todo um pensamento sobre a Justiça social, a paz e o desen- volvimento. Vejamos aqui o resumo das grandes idéias da carta.

João Paulo II (JP II) reassume pri- meiro a reflexão do seu predecessor Paulo VI: o. estado de miséria e subde- senvolvimento de milhões de seres hu- maonos dá à questão social uma di- mensão mundial. Os países em desen- volvimento estão numa situação de desigualdade. A exigência de Justiça tem um caráter universal. 0 desen- volvimento não é só a satisfação das necessidades materiais; preocupa-se com o Bem Comum de toda a huma- nidade, com a dimensão humana e espiritual de todos. "0 desenvolvimen- to é o novo nome da paz" (Paulo VI).

João Paulo II constata que o peso da miséria agravou-se nos últimos 20 anos. A brecha entre o Norte e o Sul ampliou-se. Falsos modelos de desen- volvimento multiplicam as situações de injustiça não só nos países pobres mas também nos países ricos. Não basta a acumulação de bens e serviços; a civilização de consumo não traz a felicidade autêntica. 0 aumento da dí- vida internacional é um freio para bus- car soluções. Tanto os povos como os indivíduos têm direito à igualdade e à participação ao desenvolvimento inte-

gral, fundado no Amor de Deus e dos próximos. As causas do atraso são políticas, especialmente a oposição entre os dois blocos e a acumulação e o comércio das armas. As "estruturas de pecado" têm dividido o mundo. Elas têm como origem o pecado pes- soal. A análise sócio-política do de- senvolvimento tem que ser comple- mentada por uma análise de ordem religiosa que considera o projeto de Deus para os homens. 0 desejo exclu- sivo do lucro e do poder nos indiví- duos como nas nações se opõe ao desígnio de Deus.

No entanto o papa nota também evoluções positivas: uma preocupação maior para os direitos humanos, uma consciência maior que a paz não pode existir sem a justiça, e o engajamento de um número crescente de homens e mulheres para a paz e o desenvolvi- mento. A solidariedade (que é o ver- dadeiro caminho da paz e do desen- volvimento) aumenta entre os pobres. Esse exemplo dos pobres deveria reger as relações internacionais.

Profundas reformas do sistema eco- nômico mundial são necessárias. A

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Igreja não tem soluções técnicas para essas transformações, mas a sua missão religiosa a empurra a preocupar-se do desenvolvimento humano autêntico, no respeito da identidade cultural de cada povo e na abertura à transcen- dência. A Igreja dispõe apenas do seu Ensino Social como força moral e reli- giosa. Esse ensino é o meio da Igreja para contribuir à tarefa do desenvolvi- mento. Não é uma terceira via entre o capitalismo liberal e o coletivismo marxista; é uma reflexão e análise à luz da fé, que orienta a ação dos cris- tãos. Um dos pontos mais recentes desse ensino é a opção preferencial pelos pobres.

O papa termina sua carta por um apelo a todos os crentes. Cristo quer libertar o homem das estruturas de pecado; convida à solidariedade, espe- cialmente com os mais pobres. Todos os cristãos de todas as Igrejas, e tam- bém os crentes de outras religiões (e o papa menciona explicitamente os ju- deus e os muçulmanos) são convoca-

dos para "buscar o desenvolvimento integral de cada homem e de todos os homens" (Paulo VI).

Com um conteúdo filosófico e teo- lógico acentuado, talvez esta encíclica nos pareça um pouco geral e até abstra- ta. Trata pouco, ou quase nada, dos mecanismos concretos, dos atores e dos fenômenos do desenvolvimento nos países mesmos, nas nossas vidas cotidianas. São poucos os incentivos concretos individuais ou, melhor, cole- tivos para superar e vencer as causas do subdesenvolvimento. No entanto é notável a visão profunda mesmo do homem, da sociedade e das complexas relações internacionais que fundamen- ta a reflexão do papa sobre o desen- volvimento. Acho pois que esta carta deve ser lida e interpretada junto com a primeira sobre o trabalho humano (bem mais próxima dos conflitos e das lutas das nossas vidas). As duas cartas se complementam e esclarecem mu- tualmente.

NOTICIAS INTERNACIONAIS

NOTICIAS DO MO AC

Nos dias 20 e 21/4/88 os delegados da ACO do Brasil junto ao MOAC,

cuja secretaria a partir desta data fun- cionará no Secretariado Nacional à Rua Van Erven, 26, se reunirão em preparação das Conversações e Assem- bléia Mundial e verão algumas linhas

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de trabalho em relação à América Latina.

Nina, embora suplente, já desenvol- veu uma tarefa desafiadora, aceitando viajar ao Paraguai para um encontro de avaliação e preparação da ACO daquele país.

No primeiro dia foi pedido a Nina para falar sobre a realidade operária, sindical, política do Brasil e Igreja, particularmente sobre a ACO dentro de tudo isto.

No 29 dia entrou mais em concreto sobre o método de Revisão de Vida, equipe de base, organização da ACO a nível regional, nacional, continental e internacional.

O resultado do encontro não ficou muito definido. Há a necessidade das equipes do interior do Paraguai, assu- mir mais. A nova coordenação do MOAC terá muito que fazer para aju- dar a ACO de diversos países se defini- rem por um trabalho concreto de base.

NOTICIAS DO MMTC

No dia 23/4/88 quatro companhei- ros da ACO do Brasil viajarão à Espa- nha para participar das comemorações do MMTC (Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos) e da Assem- bléia Geral que se realizarão em Ali-

cante de 25/4/88 a 06/5/88. Juracy, do atual Conselho Mundial; Remédios - candidata ao novo Conselho do MMTC e Executivo do MOAC; Lázaro como representante da ACO do Brasil e Conselheiro do MOAC; Pe. Mário como assistente latino americano.

Já no dia 25 os representantes de cada continente vão se encontrar sepa- radamente para discutir o posiciona- mento comum frente aos problemas operários e do Movimento.

Nos dias 26 a 30 o tema de apro- fundamento nas Conversações (semi- nário) será sobre os aspectos mais mar- cantes da sociedade humana profun- damente dividida e esmagada. E ver a influência dessas divisões sobre a cons- ciência de classe e perspectivas novas de engajamento.

Do dia 2 a 6 de maio haverá a Assembléia Geral na qual a partir de relatório de atividades dos 4 últimos anos e das reflexões nas Conversações se verá o novo relacionamento da ACO a nível mundial, entre os Movi- mentos filiados ao MMTC a nível de cada Continente e países, como tam- bém com as várias organizações operá- rias. Em seguida, depois de um apro- fundamento dos critérios de eleições, serão eleitos os novos membros res- ponsáveis pelo Executivo e Conselho do MMTC.

Após, os delegados do Brasil man- terão contatos com a realidade operá- ria, ACO da Espanha e Portugal.

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PUBLICAÇÕES DA AÇÃO CATÓLICA OPERARIA - ACO

As publicações da Ação Católica Operária — ACO, sáfc) todas de linguagem sim- ples e do ponto de vista dos trabalnadores. Tem como objetivo a formação de militan- tes comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e frater- na.

Dividiremos nossas publicações em 3 coleções para os interessados perceberem melhor o conteúdo das mesmas:

1. Coleção Ver, Julgar, Agir pelos 4 lados à luz da Bíblia. Nasceu de um grupo de militantes da ACO de Santo André/SP com a preocupação de valorizar e atualizar o método de Revisão de Vida. Antes dos primeiros subsídios serem publicados, foram aprofundados em vários seminários regionais e nacionais da ACO. Fazem parte desta coleção: 1. Conhecer as Sociedades (31 pg.) — Explica o método pelos 4 lados. 2. Historia do Povo de Deus (180 pg.) — Tem como subtítulo: Introdução

para uma leitura da Bíblia. Mostra a participação dos trabalhadores na organização do povo de Deus no tempo da Bíblia, desde Abraão até o exílio pelo ano 500 aC.

3. Historia do Povo de Deus. Em preparação. Abrangerá o período do exí- lio até o final do primeiro século do cristianismo.

4. Jesus, Sua Terra, Seu Povo, Sua Proposta (112 pg.). 5. Revisão de Vida: Conhecer para Transformar (132 pg.). UM MOVIMENTO DE CRIANÇAS — Incluímos nesta coleção este livro publicado em conjunto com o MAC (Movimento de Adolescentes e Crian- ças), porque segue o mesmo método Ver, Julgar e Agir adaptado para a autoformação de crianças e adolescentes.

2. Coleção Cadernos da História da Classe Operária. A idéia de se escrever a História da Classe Operária, surgiu no Congresso da ACO de 1971 em plena ditadura, quando a grande imprensa declarava nunca ter existido a Classe Operária. • Caderno 1 — Gestação e Nascimento:

de 1500 a 1888 (50pg.)-4? Edição) • Caderno 2 — Infância Dura

de 1889 a 1919 (104 pg.) - 4? Edição). • Caderno 3 - Idade Difícil

de 1920a 1945 (120 pg.) - 4? Edição) • Caderno 4 — Amadurecimento

de 1945 a 1964 (100 pg.) - 2? Edição). Saiu em 1985. • Caderno 5 — Na redação final.

3. Coleção Documentos de ACO. 1. História da ACO (169 pg.) — Conta a História da Ação Católica Operá-

ria, sua resistência frente à ditadura, sua Expansão, método e conteúdo. 2. Declaração de Princípios. 3. Regimento Interno. 4. Estatutos Sociais.

Estes livrinhos ajudam a conhecer a ACO. 5. Folhetos para grupos novos, sob o título Missão e Pedagogia da ACO. 6. ASSUMIR - Boletim de formação para militantes de ACO e outros. Sai

de 4 em 4 meses. Traz experiências de Base e artigos de orientação operária, política e de lutas no meio popular. A encomenda pode ser por assinatura ou número avulso.

7. Cantando Nossa Libertação — Cancioneiro da ACO, com 175 cânticos, dividido em 3 partes: I. Vida e luta do povo; II. Cânticos religiosos; III. Cânticos populares e folclóricos. Mais dois suplementos novos, I e II. Há 5 fitas gravadas para ensaio dos mesmos.

Comissão Nacional de Publicações da ACO

Para pedidos: AÇÃO CATÓLICA OPERÁRIA - ACO Rua Van Erven, 26 — Catumbi 20211 - Rio de Janeiro - RJ Fone: (021) 242-7732