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HEIDEGGER, SER E TEMPO PARAGRAFO 7 – O método fenomenológico da investigação - Qual será o método para investigar o ser do ente? O sentido do ser em geral? - É tarefa da ontologia estudar o ser - Não se tomará nenhum método das ontologias anteriores, uma vez que não se pretende aderir a uma disciplina e método já dados, mas manter-se fiel ao tratamento das coisas mesmas - O modo de tratamento adotado para tratar do ser dos entes e do sentido do ser em geral, será o fenomenológico - Fenomenologia não designa os objetos a serem investigados, o conteúdo da pesquisa filosófica, mas apenas é um conceito de método, o como da investigação. As ciências teóricas se afastam das coisas mesmas, geralmente, manipulando tecnicamente seus objetos de pesquisa - Remontando a Husserl, fenomenologia expressa a máxima: às coisas mesmas - Exposição do conceito prévio de fenomenologia. Como se chega a ele? - A expressão fenomenologia é composta pelos termos de origem grega: logos e phainomenon - O conceito preliminar deve ser tomado tendo em vista a composição pelos dois termos já referidos, as duas partes que compõem o termo, e pela fixação do sentido do nome que estes termos compõem: fenomenologia A) Fenômeno (phainomenon) - Etimologicamente, provem do grego, e significa o que se mostra, o manifesto. Os fenômenos são a totalidade do que esta a luz do dia ou que pode ser posto em claro, algo que os gregos denominaram de ente - A expressão fenômeno deve ser tomada firmemente na acepção de: o que se mostra em si mesmo, ou seja, desde si mesmo, de imediato e diretamente, sem intermediações > auto mostrar-se - Mas os entes podem mostrar-se como o que eles não são em si mesmos. Neste caso, trata-se do parecer, da aparência, e significa algo que parece ser, mas que na realidade efetiva não é; algo que pretende se mostrar, mas não o faz - Os dois significados presentes no termo grego, fenômeno e aparência, estão intimamente relacionados, sendo que parecer ser (aparência) só é sob a base do fenômeno em sentido originário - Há ainda dois sentidos: aparecimento/manifestação (indícios ou anúncios de algo que não se mostra) e mero aparecimento/mera manifestação (manifestação justamente daquilo que não pode

Heidegger Resumo Paragrafo7

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Sobre Paragrafo 7 de ST e Introdução a obra

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HEIDEGGER, SER E TEMPOPARAGRAFO 7 – O método fenomenológico da investigação

- Qual será o método para investigar o ser do ente? O sentido do ser em geral?- É tarefa da ontologia estudar o ser- Não se tomará nenhum método das ontologias anteriores, uma vez que não se pretende aderir a uma disciplina e método já dados, mas manter-se fiel ao tratamento das coisas mesmas- O modo de tratamento adotado para tratar do ser dos entes e do sentido do ser em geral, será o fenomenológico- Fenomenologia não designa os objetos a serem investigados, o conteúdo da pesquisa filosófica, mas apenas é um conceito de método, o como da investigação. As ciências teóricas se afastam das coisas mesmas, geralmente, manipulando tecnicamente seus objetos de pesquisa- Remontando a Husserl, fenomenologia expressa a máxima: às coisas mesmas- Exposição do conceito prévio de fenomenologia. Como se chega a ele?- A expressão fenomenologia é composta pelos termos de origem grega: logos e phainomenon- O conceito preliminar deve ser tomado tendo em vista a composição pelos dois termos já referidos, as duas partes que compõem o termo, e pela fixação do sentido do nome que estes termos compõem: fenomenologia

A) Fenômeno (phainomenon)- Etimologicamente, provem do grego, e significa o que se mostra, o manifesto. Os fenômenos são a totalidade do que esta a luz do dia ou que pode ser posto em claro, algo que os gregos denominaram de ente- A expressão fenômeno deve ser tomada firmemente na acepção de: o que se mostra em si mesmo, ou seja, desde si mesmo, de imediato e diretamente, sem intermediações > auto mostrar-se- Mas os entes podem mostrar-se como o que eles não são em si mesmos. Neste caso, trata-se do parecer, da aparência, e significa algo que parece ser, mas que na realidade efetiva não é; algo que pretende se mostrar, mas não o faz- Os dois significados presentes no termo grego, fenômeno e aparência, estão intimamente relacionados, sendo que parecer ser (aparência) só é sob a base do fenômeno em sentido originário- Há ainda dois sentidos: aparecimento/manifestação (indícios ou anúncios de algo que não se mostra) e mero aparecimento/mera manifestação (manifestação justamente daquilo que não pode manifestar-se, a coisa em si de Kant)- Modificação dos fenômenos- Fenômeno: o mostrar-se em si mesmo > é um modo assinalado de algo vir de encontro- A multiplicidade de sentidos dos “fenômenos”, como fenômeno, parecer ser, aparecimento e mero aparecimento só é desemaranhada tendo em vista o sentido originário de fenômeno enquanto o que se mostra em si mesmo, o auto mostrar-se- Até agora, foi estabelecido o conceito formal de fenômeno e, assim, não se disse nada a respeito do que é que se mostra, seja um ente ou o caráter de ser de um ente- Se se tomar “o que se mostra” como sendo os entes acessíveis na intuição empírica, se terá o conteúdo do conceito formal, ou seja, o conceito vulgar de fenômeno- Mas nenhum deste é o conceito fenomenológico de fenômeno

B) Logos- Em Platão e Aristóteles logos é polissêmico- Há uma significação fundamental: logos é dizer, discorrer- A historia das traduções do termo logos é longa, pois foram feitas muitas e arbitrarias interpretações que esconderam o significado fundamental: razão, juízo, conceito, definição, fundamento, relação- Logos enquanto dizer significa tornar manifesto aquilo de que se discorre no dizer. Para Aristóteles, isto era o logos apofântico. Hdg propõe aqui uma interpretação do logos apofânticos de Ari

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- Logos é fazer ver: aquilo sobre o que se discorre (tema, assunto), faz ver a quem se discorre (interlocutor) e aos que discorrem uns com os outros (conversação) - Prece, tipo de discorrer, que faz ver desde o desejo de algo e o pedir para alguém. Isto é diferente do dizer no sentido de fazer ver- Concretamente, o discorrer (fazer ver) tem o caráter do falar, da proferição vocal sonora em palavras- A função do logos é fazer ver algo mostrando- Síntese: não diz aqui ligar ou articular representações, mas e fazer ver algo em seu ser junto com algo- Por que o logos é fazer ver, ele pode ser verdadeiro ou falso. Logos verdadeiro é quando descobre o ente e o faz ver como desoculto. Logos falso é quando encobre, faz algo passar por aquilo que não é- O juízo não é o lugar da verdade, e verdade não é concordância com a realidade- Logos também significa razão, fundamento, relação e proporção- Foi realizada uma interpretação do dizer apofântico para elucidar a função primaria de logos

C) Conceito preliminar da fenomenologia- Há uma relação interna entre phainomenon e logos- A composição dos dois termos forma a expressão fenomenologia: fazer ver o que se mostra. Este é o conceito formal de fenomenologia- Sentido de fenomenologia: não nomeia os objetos de uma investigação, mas apenas dá informação do como do mostrar e do modo de tratamento- Fenomenologia enquanto ciências dos fenômenos é apreender seus objetos de tal modo que seja numa mostração direta e demonstração direta- Fenomenologia descritiva: sentido proibitivo > manter-se longe de toda determinação não demonstrativa- Desformalizar o conceito formal de fenômeno para se tornar um conceito fenomenológico- Que é que a fenomenologia deve fazer ver? Que deve ser denominado como fenômeno? Aquilo que justamente não se mostra de imediato e frequentemente, aquilo que permanece oculto no que se mostra de imediato, mas ao mesmo tempo pertence essencialmente aquilo que se mostra imediatamente- Isto que permanece encoberto, ou volta a encobrir-se ou se mostra sob disfarce não é este ou aquele ente, mas é o ser do ente. É o ser do ente que a fenomenologia toma como objeto temático, convertendo-o em fenômeno- Fenomenologia é apenas o modo de acesso ao tema da ontologia, o ser, por demonstração direta. Pelo que já foi dito, a ontologia só é possível como fenomenologia.- O ser do ente não deve ser concebido como algo que está atrás do qual ainda haveria algo que não aparece. Atrás do fenômeno não há nada, embora seja possível que esteja oculto aquilo que deve se tornar fenômeno. Os fenômenos da fenomenologia não se dão de imediato e frequentemente. Ser encoberto é o conceito contrario a fenômeno- Modos de ser encoberto (encobrimento): não descoberto (oculto, escondido); recoberto; disfarçado. Duas possibilidades do encobrimento: ocasionais e necessários- O modo de vir de encontro do ser e das estruturas do ser no modus do fenômeno devem ser tirados antes de tudo dos objetos da fenomenologia- Fenomênico (o que e dado e pode ser explicado no modo de o fenômeno vir de encontro) e fenomenológico (tudo que pertence ao modo de mostrar e explicar)- para que o ser possa ser posto em liberdade, é preciso que o ente se apresente corretamente, e também no modo de acesso que lhe é genuinamente próprio > Dasein- Fenomenologia enquanto conteúdo: ciência do ser, ou seja, ontologia. Ontologia fundamental e analítica da existência (Dasein)- Fenomenologia enquanto método: interpretação. Pela via da auto interpretação do sentido de ser que é inerente ao Dasein bem como suas estruturas fundamentais

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- Hermenêutica (1): tarefa da interpretação- Hermenêutica (2): elaboração das condições da possibilidade de toda investigação ontológica- Hermenêutica (3): sentido primário, o sentido da analítica do Dasein (ontologia da existência histórica). Daqui deriva-se a condição ôntica da possibilidade do conhecimento histórico. Assim, deriva-se o sentido de hermenêutica como metodologia das ciências do espirito- Ontologia e fenomenologia caracterizam a filosofia segundo o objeto e o método- Ontologia fenomenológica universal parte da hermenêutica do Dasein, a analítica da existência, a qual parte de um perguntar que emerge e retorna a própria existência- Foi o Husserl das Investigações quem abriu o caminho para as investigações efetuadas por Hdg- Sobre a linguagem de ST: uma coisa é contar algo sobre o ente numa narrativa, outra é apreendê-lo em seu ser, no mais das vezes faltam as palavras e também a gramática

(Blattner, Reader Guide to BT)(I Ontology) - Ser(sendo): gerúndio, isto é, um nome que se refere a atividade ou condição descrita pelo seu verbo associado, (to be) ser.- Ser: determina os entes enquanto entes. Determinar não significa causar ou produzir. Não se trata do ser produzir entes. Entes produzem ou causam outros entes- O ser de um ente não é ele mesmo um ente.- Sentido do ser como “padrão” para a compreensão: identificar algo como algo- “Sentido do ser” sugere que procurar o sentido da palavra “ser”- Sentido não é um fenômeno primariamente linguístico- Sentido: é aquilo em termos do qual nós compreendemos algo- Compreender algo é uma habilidade ou saber-fazer, competência. Não trata-se de uma compreensão cognitiva de um tema.- Ontológico: investigação explícita devotada ao sentido dos entes, explicação conceitualmente articulada do sentido do ser.- Estamos constantemente compreendendo ser. Discriminamos entre as coisas que existem e as que não existem. Discriminamos entre tipos de entes (pessoas, coisas e utensílios)- Utensílios: definidos em função de seus propósitos- Pessoas: entes autodeterminantes, assumimos quem nós somos pelo modo como levamos nossa vida- Heidegger antecipa Kuhn e a noção de revolução cientifica.- Ontologia é uma disciplina a priori. A reflexão ontológica dá os fundamentos para a ciência empírica- Ontologia explora os padrões em termos do que distinguimos uma coisa de outras, bem como entre os vários tipos fundamentais de entes- ST: novela ontológica da vida humana- Antropologia e psicologia precisam pressupor a analise do ser humano efetuada em ST- Nós temos uma compreensao pre ontologica de ser, e o trabalho do filósofo é torná-la explicita em uma teoria ontologica. Assim, ontologia é interpretativa ou hermenêutica. Ontologia é uma tentativa de por nossa compreensão pratica de ser em palavras- Destruição da historia da ontologia: descontrução/desmontagem da historia conceitual da ontologia, na qual alguém analisa as experiencias que deram origem as tentativas anteriores de dizer o que ser significa- Circularidade metodológica: ontologia procede hermeneuticamente e hermeneutica é um método circular. Assim, ontologia move-se para tras e para frente articulando algum modo especifico de ser e nossa visão da totalidade do campo do ser. No curso da investigação, um mapa ou estrutura do campo do ser em geral virá a luz.- A articulação estrutural do campo do ser em geral segue o fenômeno do tempo. Ou seja, nossa compreensão é estruturada por certas caracteristicas profundamente temporais

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- Tempo é o horizonte final da compreensão ontologica- Projeto ST: desenvolver uma ontologia, uma explicação explicita do ser. Requer procedimentos hermeneuticos. Deve-se ir até nossas formas praticas pre reflexivas de engajamento com o mundo- A meta primaria é desenvolver uma ontologia do ser humano. Assegurar o ponto de acesso adequado: aquele que é interrogado. Assegurar o ponto de acesso é desenvolver uma cuidadosa explicação de nossa compreensão de ser, e isso requer uma ontologia da vida humana.

(II Phenomenology)- Como investigar o ser? Como fazer ontologia? Através da fenomenologia!a) Fenomenologia de Husserl: superação das analises de Brentano feitas por Husserl, etcb) Fenomenologia em ST: - Hdg propõe usar a fenomenologia como método na ontologia.- Objeção: ontologia estuda os objetos como eles realmente são. Fenomenologia somente o modo como eles aparecem para nós. Ontologia estuda a realidade, fenomenologia apenas a aparência.- Parágrafo 7 de ST tenta refutar esta objeção- Fenomenologia estuda os fenômenos, objetos como eles aparecem para nós- Distinção: Fenômeno: aquilo que mostra-se em si mesmo, o manifesto. Aparência: é algo que é indicado ao modo de alguma outra coisa que mostra-se em seu lugar, ex.: doença e sintomas- Fenomeno: algo que simplesmente mostra-se. A aparência é um tipo especial de fenômeno.- Fenômeno em sentido ordinário: objetos da percepção- Fenomeno enquanto conceito formal: conceito de fenômeno, mas nada especifico sobre o que mostra-se- Fenomeno enquanto conceito fenomenologico: aquilo que está latente no mostrar-se e portanto habilita que o mostrar-se mostre-se. O que propriamente é um conceito fenomenologico de fenômeno?- Husserl e a intuição categorial: modo no qual aspectos lógicos ou modais de um objeto apresentam-se eles mesmos.- Hdg insiste que somente enquanto fenomenologia a ontologia é possível. Por que? Ser não é ente ou domínio de entes. Ser é uma estrutura subjacente a qualquer domínio de entes, é uma estrutura latente em qualquer experiência com algo- O ser de um fenômeno está latente na experiência. A ontologia fenomenológica é interpretação. Nós não devemos descrever um fenômeno tal como ele aparece para nós, mas nós extraímos deles algo que não aparece de imediato, uma estrutura latente- Mas fenomenologia é descritiva! Descrição tem o sentido de uma proibição: descrever é evitar a teorização construtiva. A meta da fenomenologia não é colocar/por estruturas profundas que residam por tras do sentido e então explicá-las. Excluir teorização construída e guiada por assunções sobre sentido implicada pela metafisica ou psicologia da mente.- Toda descrição é interpretação: uma interpretação nunca é a apreensão de algo que se apresenta para nós sem pressupostos. Toda descrição requer a guia de um conjunto do que aqui é caracterizado como assunções- Essa visão da descrição implica que nós já pre compreendemos o ser de um objeto quando nós procuramos descrevê-lo. Descrição por articulação. Ex.: descrição da totalidade articulada dos utensílios.- Meta de Hdg em ST é oferecer uma articulação de como nós compreendemos ser. Articular o que nós entendemos por ser, ele descreverá os fenômenos em tal modo que delineia aquelas características estruturais em virtude das quais os fenômenos mostram-se para nós como os entes que são.- Hdg propõe iniciar a investigação ontológica estudando o ser do Dasein, dos entes humanos. Sua ambição é desenvolver uma ontologia geral de todas as formas de ser e conectá-la em um todo sistemático expondo as características temporais que estruturam ser.- Ele nunca levou a cabo este projeto. O que foi publicado de ST, apenas contém uma ontologia dos entes humanos.