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20/02/2016 História da psiquiatria – Wikipédia, a enciclopédia livre https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_psiquiatria 1/9 Hipócrates História da psiquiatria Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. A história da psiquiatria provavelmente ter-se-á iniciado ao mesmo tempo que a história da própria medicina. Índice 1 Antiguidade 2 A psiquiatria e a Filosofia Grega 3 A difusão do Cristianismo e a Psiquiatria 4 Racionalismo 5 A Revolução Francesa e Philippe Pinel 6 Romantismo e neurofisiologia 7 Início do Século XX e a Psicoterapia 8 Segunda metade do século XX 8.1 Antipsiquiatria e desinstitucionalização 9 Ver também 10 Referências Antiguidade Antes da cultura grega, toda a medicina física e psíquica do homem primitivo se apoiava em conceções de natureza mágica e intuitiva, constituindo assim atividade de sacerdotes e feiticeiros. Entretanto, no antigo Egito já existiam médicos cirurgiões que operavam o cérebro e na antiga China, 30 séculos antes da Era Cristã, já existiam alguns conhecimentos de farmacologia e farmacoterapia. Em I Reis da Bíblia, Saul, primeiro rei de Israel, sofria de estados depressivos, que atribuía ao fato de se encontrar possesso de um espírito maligno. Para combater essas crises, Saul pedia a David, seu sucessor, que lhe tocasse a harpa. Hipócrates(460-377 a.C.) acreditava que a epilepsia (Mal Sagrado) era uma enfermidade natural com origem no cérebro e que a maioria das doenças resultava de transtornos de humores. Um dos seus grandes méritos foi advogar a origem natural de todas as doenças e pôr em causa a conceção sobrenatural das doenças psíquicas. Hipócrates também classificou os tipos constitucionais humanos em

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Hipócrates

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A história da psiquiatria provavelmente ter-se-á iniciado ao mesmo tempo que a história da própriamedicina.

Índice

1 Antiguidade

2 A psiquiatria e a Filosofia Grega

3 A difusão do Cristianismo e a Psiquiatria

4 Racionalismo

5 A Revolução Francesa e Philippe Pinel

6 Romantismo e neurofisiologia

7 Início do Século XX e a Psicoterapia

8 Segunda metade do século XX

8.1 Antipsiquiatria e desinstitucionalização

9 Ver também

10 Referências

AntiguidadeAntes da cultura grega, toda a medicina física e psíquica do homem primitivo se apoiava em conceçõesde natureza mágica e intuitiva, constituindo assim atividade de sacerdotes e feiticeiros. Entretanto, noantigo Egito já existiam médicos cirurgiões que operavam o cérebro e na antiga China, 30 séculos antesda Era Cristã, já existiam alguns conhecimentos de farmacologia e farmacoterapia.

Em I Reis da Bíblia, Saul, primeiro rei de Israel, sofria de estados depressivos, que atribuía ao fato de seencontrar possesso de um espírito maligno. Para combater essas crises, Saul pedia a David, seu sucessor,que lhe tocasse a harpa.

Hipócrates(460-377 a.C.) acreditava que a epilepsia (Mal Sagrado) era uma enfermidade natural comorigem no cérebro e que a maioria das doenças resultava de transtornos de humores. Um dos seusgrandes méritos foi advogar a origem natural de todas as doenças e pôr em causa a conceçãosobrenatural das doenças psíquicas. Hipócrates também classificou os tipos constitucionais humanos em

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Platão

quatro grande categorias: sanguíneos, melancólicos, coléricos e fleumáticos. Essa classificação se davade acordo com o predomínio ou deficiência dos quatro humores existentes no organismo: sangue, linfa,bilis e fleuma. Hipócrates também criou aforismas (conceitos clínicos) referentes ao delírio ("o delíriorisonho não é tão perigoso quanto o meditabundo") e a três tipos de doenças mentais: a frenite(transtorno mental acompanhado de febre); a Mania (transtorno mental crônico, sem agitação ou febre) ea melancolia (transtorno mental crônico, sem agitação nem febre). A escola hipocrática considerava asdoenças como "reações de adaptação" do organismo.

Asclepíades de Bitínia foi um médico grego que se destacou no campo da medicina mental. Viveu noséculo anterior a Cristo e era adepto do Atomismo (teoria que interpreta os diversos fenômenospsicológicos como combinações de elementos simples ou "átomos"). Asclepíades defendia que a almanão tinha localização (era o resultado da concentração de funções perceptivas) e de que as doençasmentais apareciam como consequência de alterações das paixões.

Galeno, no início da era cristã, defendeu que o sistema nervoso era o centro da sensação, motilidade efunções mentais e que os transtornos psíquicos tinham uma origem cerebral. Galeno foi ainda o primeiroautor a afirmar que a "histeria" não deveria ser considerada uma doença exclusiva da mulher.

Erasístrato (355-280 a.C.), designado o pai da fisiologia e seu contemporâneo Herófilo (310-250 a.C.),considerado pai da anatomia dedicaram-se ao estudo dos nervos sensitivos e motores e produziramconsiderações importantes sobre os ventrículos cerebrais. Aurélio Cornélio Celso (25 a.C - 50 d.C)designou as doenças psíquicas por "insânias".

A psiquiatria e a Filosofia GregaAristóteles (384-322 a.C) pode ser considerado o verdadeiro pai dapsicologia. Estudou as sensações e a inteligência, fez consideraçõessobre a imaginação, os juízos, o raciocínio e a memória e emitiu aopinião de que as operações psíquicas constituíam funções dosórgãos materiais. Defendia a "metodologia da razão" e fundou a"escola peripatética" que pode ser considerada uma das precursorasda psicoterapia e da psicopedagogia.

Sócrates foi o primeiro a defender a supremacia da faculdade do"pensamento", que considerava a melhor via para se chegar ao"conhecimento de si próprio". Durante o período socrático, afilosofia transformou-se numa verdadeira antropologia (Nosce teipsum, de Sócrates).

Platão (427-347 a.C.) foi quem definiu o mundo das "ideias",conceito monista (corpo e natureza são manifestações da essênciaideal) que dominou toda a filosofia do Ocidente. Com Platão eAristóteles, a filosofia entra no período "sistemático", com aelaboração de conceitos ( Teoria das Ideias, de Platão), por meiodos quais se pode chegar até as leis de associação (lógica formal de Aristóteles) e à definição do corpocientífico do que viria a constituir mais tarde a ciência da psicologia.

Devem-se à filosofia e cultura gregas muitos dos principais conhecimentos sobre a natureza dosfenômenos psicológicos. Daí a razão para muitas das designações e terminologia universalmente usadasem psiquiatria, tais como esquizofrenia, paranoia, oligofrenia. Daí também a razão pela qual a

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Cena do Bethlem RoyalHospital William Hogarth

Psicanálise buscou muitos dos seus conceitos à civilização helênica, como por exemplo o Complexo deÉdipo.

Nos próximos séculos, porém, a psiquiatria novamente deixou-se contaminar por conceitos teológicosrevestindo-se novamente de caráter místico.

A difusão do Cristianismo e a PsiquiatriaConforme o cristianismo difundia-se, paralelamente ampliava-se a superstição de que a doença psíquicarepresentava manifestação da ira divina.

Santo Agostinho de Hipona (354-430) dedicou-se a observação dos fenômenos da memória e daconsciência. Entretanto, sua religiosidade não permitia que suas observações contrariassem a conceçãosobrenatural das doenças psíquicas. Ele acreditava que o homem mantinha, desde o nascimento, uma"inclinação original para o pecado e para a concupiscência por um desejo de posse e de gozo". Estaobservação influenciou a psicanálise e a própria fenomenologia.

Na Idade Média as doenças mentais voltam ao reino do sobrenatural e as terapêuticas consistemnovamente em esconjuros e exorcismos para livrar o corpo dos espíritos malignos. Um exemplo é oMalleus Maleficarum (O Martelo das Bruxas) é um livro escrito por dois padres dominicanos ( HeinrichKraemer e James Sprenger em 1484 que e é um manual de "pornografia e psicopatologia", em que sedescreve a influência do demônio nas feiticeiras (através do desejo carnal), a forma de identificar afeitiçaria e o modo como as feiticeiras deveriam ser julgadas e punidas.

Contrariando esta superstição que dominava a época, surge na Europa no fim do primeiro milênio osprimeiros "asilos" ou hospitais para doentes mentais. Os primeiros foram a colônia de Geel na Bélgica(850) e o Bethlem Royal Hospital em Londres. Infelizmente o conceito degradou-se de formaprogressiva e os doentes mentais, os pobres e os abandonados pelas famílias eram recolhidos emHospícios, instituições caridosas que eram um misto de casas de assistência e reclusão. Ali viviamtambém delinquentes e todos eram submetidos às mesmas normas de vigilância e repressão: grilhetasnos pés, açoites, privação alimentar.

O Renascimento não trouxe benefícios aos doentes psíquicos, maspelo contrário, exacerbou as práticas de perseguição e desrespeito.Três séculos mais tarde (no Iluminismo) os doentes mentais viviamainda em condições de promiscuidade, mal alimentados esubmetidos a maus tratos.

Alguns pensadores porém, trouxeram alguns avanços à psiquiatriadurante a Idade Média. São Tomás de Aquino, influenciado porAristóteles, dedicou-se ao estudo da psicologia, e criou o Tomismo,uma espécie de neo-aristotelismo. Já no período do Renascimento,Paracelso (1493-1541) advogava que a doença mental era umaperturbação da substância interna do corpo, o qual estavaintimamente ligado à alma. Deveria-se então reforçar a capacidadedo corpo para "curar a si próprio". Assim, Paracelso pode serconsiderado como o primeiro psicoterapeuta.

Johann Weyer (1515-1588), médico holandês, escreveu o De Praestigiis Daemonum et Incantationibusac Venificiis que postulava que as doenças mentais não eram sobrenaturais e que as feiticeirasprecisavam ser tratadas como doentes psíquicos. Porém, estas foram manifestações racionais foram

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Philippe Pinel.

isoladas e apenas no final do século XVII notou-se maior interesse pela interpretação científica das"doenças do espírito".

RacionalismoO século XVII traz o tema da loucura em obras poéticas tais como Hamlet e Rei Lear de WilliamShakespeare, o Elogio da Loucura de Erasmo e Don Quixote de Cervantes. No mundo científico,Copérnico, Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, René Descartes, Blaise Pascal e Isaac Newtonrevolucionavam as ciências naturais e o pensamento humano. Estas descobertas influenciaramdecisivamente a evolução científico natural da medicina e também na própria psiquiatria.

Thomas Sydenham (1624-1689) foi o primeiro autor a descrever os efeitos dos opiáceos e realizoudescrições sobre a coreia aguda, sobre a mania e a histeria.

Thomas Willis (1621-1675) foi um anatomista e neurologista e descreveu o Polígono de Willis, aparalisia geral (Sífilis) e a miastenia. Descreveu ainda alguns casos de jovens que na puberdadeentravam em "estupidez", estado clínico que correspondia ou que veio ser designado por esquizofrenia.

Do ponto de vista assistencial, entretanto, os doentes continuavam marginalizados. Na França, osdoentes mentais eram enviados para os dois hospitais gerais existentes: Salpetrière e Bicêtre, criados porLuís XIV em 1656.

A Revolução Francesa e Philippe PinelAs ideias humanistas da Revolução Francesa combatendo adegradante conceção das doenças mentais tiveram seu ápice nogesto do médico francês Philippe Pinel (1745-1826). Pinel eradiretor do manicônio de Bicêtre, nos arredores de Paris.Impressionado pelas condições sub-humanas conseguiu a 24 demaio de 1798 autorização da comuna revolucionária parisiensepara libertar os asilados, muitos deles algemados há mais de 30anos. As ideias de Pinel foram publicadas no seu Tratadomédico-filosófico sobre a alienação mental, que pode serconsiderado como o primeiro livro anti-psiquiátrico. Deve-se aPinel a primeira tentativa séria de classificação das doençasmentais, que agrupou em quatro categorias: "manias" ou delíriosgerais, "melancolias" ou "delírios exclusivos", "demências" e"idiotias". Seus estudos e reformas constituíram a Primeirarevolução psiquiátrica, introduzindo os conceitos de moral eliberdade.

Uma outra hipótese indica ainda que estas ideias de Pinel tiveram a influência das práticas iniciadas porS. João de Deus no séc. XV no tratamento humano, mas, ao mesmo tempo, bastante vanguardista queeste aplicava nos seus hospitais (separando já aqueles que acolhia por enfermidade, procurando edifícioscom pátios interiores, etc).

O trabalho de Pinel teve larga repercussão e influenciou muitos em outros países, como William Tuke,um comerciante de chá que criou o primeiro retiro ou asilo humanizado nas proximidades de York, naInglaterra.

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Jean-Martin Charcot dando uma aula.

No século do Iluminismo, muitas contribuições foram devidamente assinaladas como as de WilliamCullen (1712-1790), psiquiatra em Edimburgo que estabeleceu uma das primeiras classificações dasdoenças psíquicas com alguma base científica. Foi o criador do termo neurose (doença funcional ou sempatologia localizada).

A segunda metade do século XVIII é conhecida como Período da Psiquiatria Ilustrada. Foi uma etapadecisiva na maturação do pensamento científico psiquiátrico e a mais significativa figura foi sem dúvidaImmanuel Kant (1724-1804) criador da filosofia transcendental.

Romantismo e neurofisiologiaOs conceitos introduzidos por Pinelconstituíram o fermento das duas maisfamosas escolas psiquiátricas dos séculosXIX e XX: A Escola Francesa de Psiquiatriae a Escola Alemã de Psiquiatria.

Na escola francesa, o estudo e a terapêuticadas neuroses eram um terreno de grandedisputa devido aos trabalhos do neurologistaJean-Martin Charcot (1825-1893) que sededicou ao estudo da hipnose e da histeria.Charcot considerava que estes doisfenômenos eram devidos a uma debilidadeorgânica do sistema nervoso. Esta concepçãoera combatida pela escola de Nancy quedefendia a "natureza sugestiva" e nãoorgânica daqueles fenômenos. Ao lado deCharcot estava Pierre Janet, psiquiatra quecriou para aquela debilidade orgânica otermo Psicastenia. Janet hipnotizou muitosdoentes e descobriu que sob hipnose, estespodiam relembrar acontecimentostraumáticos e a rememoração poderia ajudarna cura. Esta técnica de "descargaemocional" foi descoberta e descrita quaseao mesmo tempo pela escola de Viena(Freud).

As ciências naturais influenciaram grandemente o pensamento psiquiátrico da época, especialmente ostrabalhos de Charles Darwin e Louis Pasteur. As obras destes e vários outros autores constituem o inícioda Era Moderna da medicina. A maioria dos psiquiatras da segunda metade do século XIX passou aprocurar uma causa orgânica para as doenças psíquicas e esclarecer relações histológicas objetivas entreelas.

Theodor Hermann Meynert e Karl Wernicke, neurologistas, dedicaram-se ao estudo do córtex e base docérebro descobrindo relações associativas. Wernick realizou trabalhos sobre afasia e descobriu adominância de um dos hemisférios cerebrais.

Alois Alzheimer e Arnold Pick engrandeceram o estudo histo e anatomopatológico das demências.

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A partir destes conhecimentos surgem duas correntes teóricas divergentes na escola alemã, representadaspor dois grandes nomes da psiquiatria: Emil Kraepelin e Sigmund Freud.

Kraepelin (1856-1926) estudava a psiquiatria "pesada" (psicoses e asilos) enquanto Freud (1856-1939)estudou a psiquiatria "ligeira" (neuroses e consultórios). Kraepelin fez prevalecer os dados daobservação clínica sobre os anátomo-patológicos. Com Freud, a biografia individual ganha importânciae os fatores psicológicos adquiridos tem papel predominante na elaboração e valorização da doença.

Na Itália, o antropologista Cesare Lombroso (1836-1909) criou importantes conceitos para acriminologia, como a "degenerescência psicológica" e tentou definir o "criminoso", o "louco" e o"atrasado mental".

Foram os trabalhos de autores como Charcot, Meinert, Wernicke, Alzheirmer e Pick que permitiramdesignar este período do século XIX como período áureo da neuropsiquiatria.

Início do Século XX e a PsicoterapiaAlém dos impactos no pensamento científico vindos dos cientistas, acrescentou-se outro, desta vez deconceções sociológicas revolucionárias do "materialismo histórico" elaboradas por Karl Marx eFriedrich Engels, que mudaram profundamente a estrutura das relações sociais. A psiquiatria também foiinfluenciada pelo positivismo naturalista que caracterizou o final do século XIX e persistiu até aPrimeira Guerra Mundial.

A descoberta do agente da Sífilis Treponema pallidum inclinou ainda mais intensamente a psiquiatriapara uma orientação organicista. Entretanto, com a difusão das teorias freudianas, acentuou-se aindamais a bipolarização conceitual da psiquiatria. Assim, no entreguerras a psiquiatria estava dividida entreduas teses inconciliáveis: uma de natureza organicista e outra de natureza psicologista, considerando osmecanismos emocionais perturbadores e as situações de conflito como principais causas das doençasmentais.

Na psiquiatria organicista, os estudos genéticos desenvolveram-se muito principalmente na Alemanha,onde foi criado o Institut für Erbforschung ou Instituto de Genética de Munique. Os trabalhosdesenvolvidos lá comprovaram que diversas entidades nosográfica definidas pro Kraeplin(especialmente as psicoses endógenas) tinham base hereditária. Ernst Kretschmer (1888-1964) elaboroua "teoria de maturação biológica", na qual certas constelações psicofísicas (biotipo-personalidade-doença psíquica) são interpretadas na base de grandes círculos heredo-constitucionais.

Na psicanálise, autores que contribuíram para a sistematização e divulgação de conceitos psicanalíticosforam Adler, Jung, Melanie Klein, e Sandor Ferenczi.

A dualidade psiquiátrica sofreu um grande abalo na Primeira Guerra Mundial. A incidência de quadrosclínicos resultantes de situações emocionais causadas pela guerra causaram uma reação contra a"rigidez" das entidades clínicas propostas por Kraeplin e passou-se a defender a noção de síndrome.Síndromes são agrupamentos de sintomas que se observam associados e cuja causa é desconhecida ou denatureza múltipla.

A psicanálise também sofreu abalos nas suas conceções de "continuidade causal" com odesenvolvimento da Teoria quântica de Max Planck e a Teoria da Relatividade de Albert Einstein.

Surgiram então psiquiatras que defendiam maior compromisso entre as teses e associavam teorias, comoEugen Bleuler (1857-1939), que exerceu grande influência na psiquiatria europeia sendo psiquiatra deformação organicista que aceitava a valorização motivacional dos acontecimentos psicológicos e sua

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Ivan Pavlov

participação na causalidade das doenças mentais. Em 1911 Bleuler criou o conceito Esquizofrenia,processo mórbido de cisão da personalidade para substituir o termo Demência precoce, criado porBénédict Morel no século XIX e confirmado pro Kraeplin.

Os trabalhos de Ivan Pavlov com a descoberta do reflexo condicionado e das teorias da reflexologiafavoreceram a contestação de não especificidade etiopatológica e etiológica das doenças psiquiátricas.Aceitava-se, nesta época o modelo médico mas também defendia-se que fatores psicogênicos e relaçõesinterpessoais poderiam causar descompensação psíquica. Na base dessa relação aparecia mais uma vezos próprios fundamentos da filosofia. Willy Mayer-Gross foi um entusiasta da fenomenologia no campoda psiquiatria, mas foram os trabalhos de Karl Jaspers, publicados em 1913 com o título PsicopatologiaGeral os mais significativos. Jaspers estabeleceu uma síntese entre o pensamento filosófico e osconhecimentos psiquiátricos, elaborando uma metodologia sistemática para abordar as doenças mentaisatravés de duas vias: o método explicativo (erklären) e o método compreensivo (versthehen).

Kurt Schneider foi outro autor de grande repercussão ao contribuir para asistematização nosográfica das entidades psiquiátricas e para a compreensão daesquizofrenia.

Quanto à terapêutica, a primeira tentativa de estender conhecimentos biofísicos foifeita por Julius von Wagner Jauregg, que utilizou a tratamento da malária nasmanifestações psíquicas da sífilis. Com o isolamento da insulina em 1922, em 1933aparecem as primeiras experiências de choque insulínico em doentesesquizofrênicos, feitas por Manfred Sakel. Também em 1933 foram conhecidos osefeitos terapêuticos das convulsões na esquizofrenia por Ladislau von Meduna. EgasMoniz, em 1935, realizou as primeiras intervenções psicocirúrgicas na primeira lobotomia, oupsicocirurgia. A eletroconvulsoterapia foi utilizada pela primeira vez para fins terapêuticos em 1938.

Em 1952, Jean Delay e Pierre Deniker relataram os efeitos da clorpromazina em doentes psicóticos.Começou a revolução dos psicofármacos no tratamento das doenças psiquiátricas. A isso foi chamadoSegunda Revolução Psiquiátrica.

A Terceira Revolução Psiquiátrica teve início nos anos 60, nos Estados Unidos da América, a partir dachamada antropologia cultural, constituindo-se num movimento de caráter preventivo (saúde mental).Este é um dos principais aspetos da psiquiatria americana de hoje.

Há que se destacar que existe, dentro da sociologia, todo um movimento antipsiquiátrico, tendo comoum dos seus exemplos Foulcault. Também existem correntes que acreditam que a loucura é, na verdade,uma criação dos psiquiatras a serviço de uma burguesia em ascensão. Outros autores acreditam que asociedade burguesa se aliou à psiquiatria para resolver um grande problema: o que fazer dos indivíduoscujo comportamento era incompatível com a ordem proposta e ao mesmo tempo impossível de seremtratados como criminosos.

Segunda metade do século XXEste período trouxe a re-emergência da psiquiatria biológica. A Psicofarmacologia tornou-se parteintegral da psiquiatria, iniciando-se com a descoberta do primeiro neurotransmissor por Otto Loewi, aacetilcolina.[1]

A Radiologia e diagnóstico por imagem foi primeiro utilizada como ferramenta pela psiquiatria nos anosde 1980. [2] A descoberta da eficácia da clorpromazina no tratamento da esquizofrenia em 1952revolucionou o tratamento da doença, [3] assim como o carbonato de lítio revolucionou o tratamento da

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A pesquisa de Otto Loewi levou àidentificação do primeironeurotransmissor, acetilcolina.

euforia e depressão no Transtorno bipolar em 1948.[4]

Quando problemáticas psicossociais pareciam ser válidas, apsicoterapia parecia ser a "cura". [5] Mais uma vez pensava-seque a genética tinha papel fundamental na doença mental.[1] Em1995 genes que contribuem para a esquizofrenia foramidentificados no cromossomo 6 e genes para o Transtorno bipolarnos cromossomos 18 e 21. [1]

Antipsiquiatria e desinstitucionalização

Com a introdução dos medicamentos psiquiátricos e o uso de exames laboratoriais na relação entre opsiquiatra e o paciente, [6] a mudança da psiquiatria em ciência foi interpretada como falta depreocupação com o doente. [6] Outros argumentavam que a psiquiatria constituía-se numa forma decontrole social e exigiam que o internamento psiquiátrico fosse abolido, seguindo as ideias de PhilippePinel.[7] Diversos incidentes de abuso por parte de psiquiatras ocorreram durante regimes totalitários,como parte do sistema de controle político, com algum abuso presente ainda nos dias de hoje.[8]

Exemplos históricos de abuso na psiquiatria ocorreram na Alemanha nazista [9] , na União Soviética sobPsikhushka, e no regime de apartheid na África do Sul.[10]

A eletroconvulsoterapia (ECT) era especialmente um tratamento que a antipsiquiatria queriaeliminado.[11] O movimento alegava que a ECT causava danos ao cérebro e que era utilizada comoferramenta para impor disciplina.[11] Enquanto não há provas de que a ECT causa lesões no cérebro [12][13] [14] , houve relatos de incidentes isolados nos quais a ECT era utilizada como ameaça para manter ospacientes "na linha"."[11] [15] [16] A pressão do movimento antipsiquiátrico e da ideologia do tratamentoem Comunidade Terapêutica levou à implementação da política de desinstitucionalização.[15] Osprofissionais de saúde mental redefiniram o tratamento como um processo no qual os pacientes seriamrecolocados na comunidade e participariam de atividades de vida diária, enquanto vivendo em umaatmosfera terapêutiva.[15]

Entretanto, atualmente a eletroconvulsoterapia (ECT) é técnica empregada para casos especialmenteselecionados (dada a gravidade do quadro) e tem indicações bastante específicas como, por exemplo, emdepressões graves e com risco de suicídio ou desnutrição que nåo responde à farmocoterapia epsicoterapia, esquizofrenia refratária com comportamentos de risco ou no transtorno bipolar do humorde difícil estabilização e com impacto danoso na vida do paciente. A aplicação da ECT é feita emambiente hospitalar, havendo prévio consentimento esclarecido pelo paciente e/ou familiares, realizadosob anestesia e com atenção na recuperação pós-anestésica que é rápida e simples.

Ver tambémPsiquiatriaNeurociênciaHistória da medicinaHistória da medicina no BrasilA Loucura sob novo prisma. Bezerra de Menezes (1831 — 1900)Os Africanos no Brasil. Nina Rodrigues (1862 — 1906)

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15. Shorter, E. (1997). A History of Psychiatry: From the Era of the Asylum to the Age of Prozac. New York:John Wiley &; Sons, Inc, p. 280. ISBN 978-0-47-124531-5

16. Shorter, E. (1997). A History of Psychiatry: From the Era of the Asylum to the Age of Prozac. New York:John Wiley & Sons, Inc, p. 279. ISBN 978-0-47-124531-5

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