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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 2259
HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES RURAIS MULTISSERIADAS DO MUNICÍPIO DE CONCÓRDIA: LEVANTAMENTO DE FONTES
DOCUMENTAIS E ORAIS1
Solange Aparecida Zotti2
Introdução
A construção da história de uma instituição escolar visa conferir uma identidade
cultural e educacional a esta, ou seja, uma interpretação do itinerário histórico, à luz do seu
próprio modelo educacional. A história de uma instituição escolar constrói-se a partir de
uma investigação coerente e sob um grau de complexificação crescente pela triangulação
entre os historiais anteriores, a memória e os documentos, para a sistematização de uma
síntese orgânica da instituição e de seu modelo pedagógico (MAGALHÃES, 1999).
Esse é o desafio que se coloca a presente pesquisa, que objetiva contribuir com a
história da educação de Concórdia, ainda carente de produções que discutam e aprofundem
os processos de educação historicamente construídos no município. Concórdia, localizada no
Oeste de Santa Catarina, se desvincula do município de Joaçaba, para constituir-se um
município, no dia 29 de julho de 1934, com uma área de 2.745 m² e uma população de
aproximadamente 21.086 moradores. Neste período, a economia estava assentada na
agricultura de subsistência, com produção a partir das pequenas propriedades rurais
familiares (BILIBIO, 2006). Cabe destacar que “a colonização na região de Concórdia se deu
pelo migrante que trazia como opção o trabalho rural familiar, que produzia toda a sua
subsistência, e tinha como grande sonho a acumulação de riquezas” (AMADOR; ZOTTI,
2006, p. 7).
Em 07 de junho de 1944, o empresário Atílio Fontana criou a Indústria e Comércio
Concórdia nas instalações do Moinho Concórdia. Este fato marca o nascimento da indústria
Sadia, que orientará todo desenvolvimento do município a partir de então (AMADOR, 2015).
1 O presente trabalho foi realizado com o apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil. O Levantamento de fontes foi realizado por Francini C. S. Schwingel, acadêmica do Curso de Licenciatura em Matemática do IFC – Campus Concórdia, Bolsista do CNPq – Brasil.
2 Doutora em Educação pela UNICAMP, Professora dos Cursos de Licenciatura do Instituto Federal Catarinense – IFC, Campus Concórdia. E-Mail: <[email protected]>.
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Em Santa Catarina, nas primeiras décadas do século XX, conforme Fiori (1991) o
ensino era precário, sendo que em 1916, somente 27% das escolas catarinenses eram
mantidas pelo estado, 17,5% pelo município e 55,5% eram particulares.
Estes dados demonstram a pouca preocupação do poder público com o ensino. No
Oeste de Santa Catarina os migrantes buscaram outras formas de proporcionar educação a
seus filhos. Muitas pais ensinavam a ler e escrever ou organizavam de forma comunitária
uma escola, especialmente os migrantes de origem alemã. O migrante italiano tinha como
objetivo principal o trabalho para ‘ganhar dinheiro’. A escola ficava em segundo plano.
Quando da criação do município de Concórdia, em 1934, havia apenas uma escola
subvencionada pelo Governo do estado, na região de Fragosos e em Nova Germânia havia
uma escola municipal com 33 alunos e uma escola particular, mantida pela Igreja Evangélica
do Sínodo Riograndense, atual Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, que
atendia 20 alunos. Ainda existiam três escolas improvisadas que atendiam 120 alunos, sendo
conduzidas por professores leigos voluntários que se propunham a colaborar com as
comunidades que não tinham escolas públicas (FERREIRA, 1992, p. 148). O que se conclui a
partir destes dados é que “o poder público é ausente e não há por parte da comunidade
movimentos de pressão para que este se faça presente” (AMADOR; ZOTTI, 2006, p. 7).
Ao longo de sua história, o município construiu uma rede ampla de escolas, mantidas
pelo governo estadual ou municipal, sendo que se destacaram as escolas rurais
multisseriadas. Estas escolas, grande parte nascidas a partir da década de 1950, foram
referências para as comunidades da zona rural, espaço de maior concentração populacional
até a década de 1980. Em 1950, a população urbana era de 3009 habitantes, enquanto a rural
era de 45.005; em 1980 eram 19.578 na zona urbana contra 39.848 na zona urbana. A partir
dos anos de 1990 em diante começa a inverter esta lógica e temos em 2010 54.865 habitantes
na zona urbana e 13.756 na zona rural. Esta realidade populacional é um dos fatores que
levará a decadência no número de matrículas nas escolas multisseriadas e, por consequência,
o fechamento da maioria das escolas a partir da década de 1990 (ZOTTI; CASAROTTO.
20163).
As escolas multisseriadas ou unidocentes são constituídas de apenas uma sala de aula e
um professor (geralmente professora) que atendia educandos de diferentes séries (1ª a 4ª
séries). Estas instituições objetivaram, especialmente, a alfabetização da população rural:
3 Dados organizados a partir de diversas fontes (FERREIRA, 1992; MUNICÍPIO, 2015; SEBRAE, 2010; SEBRAE, 2013).
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São estas escolas as responsáveis pela iniciação escolar de grandes contingentes de brasileiros, ainda hoje. Não fossem elas, os altos índices de analfabetismo que sempre marcaram a história da educação nacional seriam ainda mais alarmantes. Assim, as escolas de classes multisseriadas, assumem uma importância social e política significativa nas áreas em que se situam, justificando, portanto, a realização de estudos sobre a forma como se configuram (SANTOS; MOURA, 2012, p. 71).
Frente o exposto, o objetivo da pesquisa é investigar a história das instituições escolares
rurais multisseriadas, no contexto do desenvolvimento socioeconômico-político do Município
de Concórdia, tendo como foco o levantamento e organização de fontes documentais
presentes no arquivo da Secretaria de Educação Municipal de Concórdia. A partir do
conhecimento das fontes documentais, que também proporcionam o levantamento de fontes
orais (especialmente educadores e alunos que frequentaram estas escolas), objetiva-se, em
elaborações posteriores, a compreensão mais efetiva das características, dinâmica de
funcionamento, currículo e metodologias de ensino presentes nestas instituições. Além disso,
será possível identificar suas transformações a luz das políticas educacionais e as razões que
levaram ao fechamento gradativo das escolas, a fim de compreender as dificuldades de sua
existência na atualidade.
Cabe destacar que a organização e preservação dos arquivos escolares, nos municípios,
regiões e estados passou a ser tarefa fundamental para viabilizar a pesquisa em história da
educação, bem como de outros temas no campo educacional, a fim de permitir o acesso dos
interessados, as fontes, de forma adequada.
O objetivo deste artigo é apresentar o processo de pesquisa dos documentos, os tipos e
as possibilidades de dados advindos dos mesmos, bem como o referencial teórico-
metodológico que deve orientar a construção da história das instituições. O projeto vem
trabalhando com levantamento de dados de 79 instituições escolares multisseriadas públicas,
desativadas, do Município de Concórdia – SC.
Esta pesquisa caracterizou-se como bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica
foi realizada, a partir de um levantamento de referências analítico-críticas sobre as fontes
documentais e orais, bem como os aspectos teórico-metodológicos que devem orientar a
leitura e análise dos documentos e fontes orais para a construção da história das instituições
escolares. A pesquisa documental foi realizada no arquivo da Secretaria de Educação de
Concórdia (SEMED) e constituiu-se no levantamento dos documentos, sobre os quais se
apresenta, neste trabalho, a metodologia de organização e registro dos dados, bem como as
possibilidades de discussão e análise dos dados.
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Este artigo está estruturado em duas seções e considerações finais. A primeira trata de
uma discussão teórica sobre as fontes e a história das instituições escolares; a segunda
aborda a experiência dos pesquisadores em relação ao processo de levantamento das fontes,
os procedimentos adotados e as possibilidades de investigação e análise que os documentos e
fontes orais indicam para escrita da história das escolas multisseriadas. Nas Considerações
Finais reafirmamos a importância da pesquisa com fontes primárias e os pressupostos
teórico-metodológicos que devem nortear a elaboração científica da história das instituições
escolares multisseriadas do município de Concórdia.
Fontes e história das instituições escolares
Nesta seção buscaremos tratar de dois aspectos principais que fundamentam as
discussões deste artigo: 1) a pesquisa da história das instituições escolares e a importância
para a história da educação; 2) a conceituação de arquivos escolares e sua importância para a
preservação das fontes documentais e o papel das fontes orais na construção da história da
educação.
Podemos distinguir três momentos da pesquisa em história da educação no Brasil a
partir dos anos de 1950. O primeiro momento, situado nas décadas de 1950 e 1960, constitui-
se no período anterior a criação dos programas de pós-graduação. A pesquisa e a produção
historiográfica da educação brasileira, em particular a paulista, desenvolveram-se na antiga
Seção de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de
São Paulo (USP). No segundo momento, o desenvolvimento dos estudos históricos da
educação foi marcado pela criação e expansão dos programas de pós-graduação em
Educação, durante os governos militares. Este segundo momento situa-se nas décadas de
1970 e 1980. Podemos ver duas características fundamentais que qualificam a pesquisa em
educação nesse período: a escolarização da produção da pesquisa e a reação à política dos
governos militares. No terceiro momento, o desenvolvimento dos estudos históricos da
educação inicia-se nos anos de 1990 e caracteriza-se pela consolidação da pós-graduação. É
teoricamente marcado pela chamada crise dos paradigmas. Propõe-se o pluralismo
epistemológico e temático e privilegia-se o estudo de objetos singulares. Esta fase é a que
ainda perdura e é representada pela ampliação das linhas de investigação, pela diversificação
teórico-metodológica e pela utilização das mais variadas fontes de pesquisa (NOSELLA;
BUFFA, 2005).
De acordo com Nosella e Buffa (2005), no Brasil, os estudos e pesquisas sobre
instituições escolares desenvolveram-se, sobretudo, a partir dos anos de 1990, no contexto do
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terceiro momento dos estudos históricos da educação. Isso em função da abertura política e
da consciência da necessidade de pesquisas sobre educação, embora existam alguns estudos
anteriores a essa época. Para os autores,
Atualmente os estudos de instituições escolares representam um tema de pesquisa significativo entre os educadores, particularmente no âmbito da História da Educação, privilegiam a instituição escolar considerada em sua materialidade e em seus vários aspectos. A expressão cultura escolar tem sido utilizada como uma categoria abrangente destes estudos (NOSELLA; BUFFA, 2009, p. 18).
Assim, no interior das instituições há um quebra-cabeça a ser decifrado, em busca do
respectivo lugar de cada peça. A instituição escolar é uma síntese de múltiplas determinações
- políticas, econômicas, cultural, religiosa, da educação geral, moral, ideológica, etc – que
agem e interagem entre si, “acomodando-se” dialeticamente, o que resulta na sua identidade.
Assim, a investigação pode ter como ponto de partida ou referência a legislação, os padrões
disciplinares, os conteúdos escolares, as relações de poder, a organização do cotidiano, o
espaço escolar, o docente, os alunos e inúmeras outras questões que a constituem
(SANFELICE, 2007).
Estes estudos exigem que o pesquisador correlacione a história das instituições
escolares ao contexto histórico mais amplo em que estão inseridas, o que implica
compreender e analisar o desenvolvimento destas de acordo com a expansão e mudanças que
ocorreram na sociedade, bem como compreender a história de um determinado povo e sua
cultura (MIGUEL, 2007). Isso porque “nenhuma instituição manifesta sua identidade plena
apenas no interior de seus muros, por isso é fundamental olhar para o seu entorno. Um
entorno que se inicia bem junto a ela, mas que pode ser uma caminhada para uma dimensão
cada vez mais macro” (SANFELICE, 2007, p. 78).
O grande desafio que se coloca a esta linha de pesquisa – Instituições Escolares – é o
necessário e árduo trabalho do pesquisador em localizar, selecionar e organizar as fontes de
pesquisa, especialmente as documentais, nas instituições escolares, bem como arquivos
públicos, secretarias de educação, arquivos pessoais de professores e alunos/ex-alunos, entre
outros. Decorrente desse acervo é possível identificar os sujeitos da história das instituições -
professores, alunos/ex-alunos, secretários de educação, entre outros - que possam constituir
um banco de dados de fontes orais, fundamentais para se compreender os contextos de
criação e desenvolvimento da instituição, bem como as práticas escolares empregadas na
mesma.
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Frente a isso, se coloca às escolas, públicas ou particulares, o dever de preservar seus
arquivos (documentos), pois estes têm várias finalidades e funções. Os arquivos escolares se
constituem nos “guardiães” de um riquíssimo acervo documental e podem ser definidos como
um “conjunto de documentos produzidos ou recebidos por órgãos públicos, instituições de
caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas,
bem como pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos
documentos” (MEDEIROS, 2003, p.1).
Os documentos, além de provarem legalmente muitos fatos, são fontes riquíssimas para
a produção da ciência histórica, bem como importante fonte de pesquisa no campo da
educação como um todo. Estes arquivos são fontes de conhecimento histórico que, de certo
modo, informam a evolução da história da educação, sua organização e desenvolvimento em
relação à gestão, ao processo ensino-aprendizagem, as propostas pedagógicas, as práticas
educativas, aos materiais didáticos, entre outros. Enfim, é um aparato de informações que
foram, com o passar do tempo, construídas coletivamente no âmbito da instituição.
Por isso é necessário reconhecermos a importância e o valor das fontes primárias e
secundárias, como ponto de partida para a produção de pesquisas que contam a história das
instituições escolares e dos sujeitos que construíram essa história.
Nas escolas, de modo geral, os documentos são subdivididos em documentos correntes,
intermediários e de valor permanente, conforme conceitua Medeiros (2003, p.3):
Os conjuntos de documentos que estão em curso ou que, mesmo sem movimentação, constituem objeto de consultas frequentes, são documentos correntes. Intermediários são aqueles que, não sendo de uso corrente nos órgãos produtores, por razões de interesse administrativo, aguardam a sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente. Finalmente, os conjuntos de documentos de valor histórico, probatório e informativo que devem ser definitivamente preservados são documentos permanentes. Essas classificações doutrinárias foram recepcionadas pela legislação brasileira sobre arquivos.
Ocorre, no entanto, uma grande dificuldade, uma vez que os arquivos escolares nem
sempre estão adequadamente organizados para a consulta e pesquisa dos documentos.
Segundo Medeiros (2003), a luta pela organização dos arquivos escolares nos municípios,
regiões e estados passou a ser tarefa fundamental para viabilizar a História da Educação e
não se trata do acesso “permitido” somente a alguns, que tem que organizar, mas acesso
garantido à humanidade, de forma adequada, como relata:
No caso de arquivos escolares, a situação é terrível: arquivos centrais ou regionais geralmente são depósitos de documentos que existem apenas graças ao cuidado de alguns funcionários que pressentem a importância dos
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documentos para a democratização da pesquisa e do conhecimento, para a produção de saberes. Os pesquisadores da História de Educação precisam elaborar propostas, exigir o cumprimento do princípio de franqueamento de documentos à consulta, que só poderá ser otimizado com arquivos bem organizados (MEDEIROS, 2003, p.11).
Com base nas fontes documentais é possível identificar os sujeitos da história das
instituições que são fontes históricas fundamentais para a compreensão dos contextos de
criação das escolas, da organização administrativa, dos aspectos pedagógicos (currículo,
material didático, metodologias de ensino, relação professor-aluno, etc), da relação escola-
comunidade, entre outros. Para a construção da história das instituições escolares, além dos
documentos, são necessários os relatos orais, pois a “[...] memória é um mecanismo pelo qual
se pode, no presente, inferir algo que se situa no passado. [...] A história das instituições
educativas trabalha com memórias coletivas e memórias individuais” (WERLE, 2004, p.27).
Por isso, o trabalho com fontes orais será fundamental a proposta, a fim de
identificarmos tempos, espaços e experiências formativas dos professores das escolas
multisseriadas. A coleta das narrativas por meio da história oral é fundamental, como recurso
“para a realização de registros, documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência
social de pessoas e de grupos. Ela é sempre uma história do tempo presente e também
reconhecida como história viva” (MEIHY; HOLANDA, 2007, p.17). Também, de acordo com
os autores, como as entrevistas são feitas a um conjunto de pessoas ligadas a um mesmo
objeto de pesquisa, a história oral se constitui em uma história articulada, e não apenas
representa a visão de um único sujeito. Esse processo de pesquisa pauta-se por
planejamentos, definições de espaço e tempo, arquivamento, transcrições e autorizações para
uso, ou seja, um conjunto de fatores planejados para que o depoente tenha condições de
memorizar e responder aos aspectos tratados na pesquisa.
Cabe destacar que mesmo sendo a memória individual, pois resultante da história de
vida e da experiência de cada pessoa, ocorre a combinação entre o individual e o coletivo,
porque a memória individual ampara-se nas referências coletivas. Isso possibilita a visão de
totalidade da parte para o todo, no sentido da construção e generalização dos aspectos
comuns a realidade histórica das instituições rurais multisseriadas no município de
Concórdia.
O arquivo e o processo de levantamento de fontes
As instituições escolares multisseriadas ou unidocentes, localizadas na zona rural, são
caracterizadas por “reunir em torno de um professor vários alunos de séries diferentes”
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(FERRI, 1994, p. 28). Estas escolas tinham características e dinâmica de funcionamento
muito simples, sendo que atendiam, muitas vezes, em apenas um turno, matutino ou
vespertino. Em alguns anos foi constatado que havia escolas que trabalhavam em dois turnos
por causa da demanda de alunos, porém com a mesma professora.
A arquitetura das escolas multisseriadas era padrão. Consistia em um prédio, de
madeira ou alvenaria, com uma sala, cozinha e banheiros (quando tinha). Nas escolas mais
antigas havia apenas uma “patente” ao lado da escola. Conforme Ferri (1994, p.12):
Uma escola, uma sala de aula, um professor, alunos, de 1ª a 4ª série. Sem merendeira, diretora, orientadora, vigia, laboratório, sala de vídeo... Tão somente quatro paredes, um armário com o mínimo de material, quadro de giz, crianças tímidas, com o olhar atento, deslumbradas com a possibilidade de aprender coisas novas, um professor com a tarefa de ensinar e a sensação de que o que sabe não serve para aquela realidade, de que não sabe trabalhar com a diversidade do grupo.
Figura 1 – Escola isolada Lageado dos Pintos - Concórdia. Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Educação de Concórdia – SC.
Estas escolas estão presentes no Brasil desde o Império. Nesse período, devido a falta
de muitos professores, utilizava-se o método do ensino mútuo, em que os alunos organizam-
se em grupos, sendo que os mais velhos/adiantados auxiliavam na instrução de seus colegas.
Esta prática encontra-se até os tempos atuais, nas escolas que ainda perduram com a
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característica do multisseriamento, porém de forma natural, isto é, não há a obrigação do
aluno, apenas é uma prática para auxiliar e interagir entre as turmas e colegas.
As escolas multisseriadas são ainda um fenômeno presente na realidade educacional
brasileira. No município de Concórdia apenas 6 escolas multisseriadas estão ativas. As
demais foram desativadas nas últimas décadas, especialmente a partir dos anos de 1990, e os
alunos levados, através do transporte escolar, para escolas nucleadas com ensino
fundamental completo. Toda a documentação das escolas desativadas está guardada no
arquivo da Secretaria Municipal de Educação de Concórdia, além de encontrarem-se
documentos no arquivo geral da Prefeitura Municipal.
O arquivo está localizado em uma sala específica para este fim no espaço da Secretaria
de Educação do município. Os documentos de 79 escolas multisseriadas estão alocados em
140 caixas-box, identificadas e organizadas, o que muito facilitou o trabalho de levantamento
das fontes, como podemos verificar na figura e tabela abaixo:
Figura 2 – Arquivo da Secretaria Municipal de Educação – SEMED - Concórdia. Fonte: Fotografia do arquivo dos pesquisadores.
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QUADRO 1 ESCOLAS MULTISSERIADAS DESATIVADAS NO MUNÍCIPIO DE CONCÓRDIA
Nº DA PASTA NOME DAS ESCOLAS LOCALIDADE
Pasta 1 Escola Isolada Ademir Sacon Linha dos Grandos Pasta 2 Escola Isolada Alto Feliz Linha Alto Feliz
Pasta 3-4 Escola Isolada Alto Suruvi Linha Alto Suruvi Pasta 5-6 Escola Isolada Baixo São Luiz Linha Baixo São Luiz Pasta 7-8 Escola Isolada Barra do Lageado Paulino Linha Barra do Lageado Paulino Pasta 9 Escola Isolada Barra dos Queimados Linha Barra dos Queimados Pasta 10 Pasta extraviada (nenhum documento encontrado) -
Pasta 11-12 Escola Isolada Barra Seca Linha Barra Seca Pasta 13 Escola Isolada Bom Retiro Linha Bom Retiro
Pasta 14-15 Escola Isolada Boa Esperança Linha Boa Esperança Pasta 16 Escola Isolada Bruno Becker Linha Barra do Rancho Grande Pasta 17 Escola Isolada Catarina Zampieron Linha são Geraldo
Pasta 18- 19 Escola Isolada 10 de Novembro Linha São Luiz Pasta 20-21 Escola Isolada Domingos Brunetto Linha 24 de Fevereiro
Pasta 22 Escola Isolada D. Pedro I Linha Laudelino Pasta 23-24 Escola Isolada Fragosos Linha Fragosos Pasta 25-26 Escola Isolada João Roman Linha Aparecida
Pasta 27 Escola Isolada José de Carli Linha de Carli Pasta 28-29 Escola Isolada José Pasqualon Linha Vitória Pasta 30-31 Escola Isolada José Resmini Linha Salete
Pasta 32 Escola Isolada Lageado Crescência Lageado Crescêncio Pasta 33-34 Escola Isolada Lageado dos Pintos Lageados dos Pintos
Pasta 35- Escola Isolada Lageado Guilherme Linha Lageado Guilherme Pasta 36-37 Escola Isolada Lageado Medeiros Lageado Medeiros Pasta 38-39 Escola Isolada Linha Alvorada Linha Alvorada Pasta 40-41 Escola Isolada Linha Boscatto Linha Boscato
Pasta 42 Escola Isolada Linha Cedro Linha Cedro Pasta 43-44 Escola Isolada Linha dos Gaios Linha do Gaios Pasta 45- 48 Escola Isolada Linha Guarani Linha Guarani Pasta 49-50 Escola Isolada Linha Gasperini Linha Gasperini
Pasta 51 Escola Isolada Linha Erval Linha Erval Pasta 52 Escola Isolada Linha Ipiranga Linha Ipiranga
Pasta 53- 54 Escola Isolada Linha Marchesan Linha Marchesam Pasta 55 Escola Isolada Maria Goretti Linha Maria Goretti Pasta 56 Escola Isolada Linha Ouro Linha ouro Pasta 57 Escola Isolada Linha Poletto Linha Poletto Pasta 58 Escola Isolada Linha Rigon Linha Rigon Pasta 59 Escola Isolada Linha Saltinho Linha Saltinho
Pasta 60-61 Escola Isolada Linha Santa Catarina Linha Santa Catarina Pasta 62-63 Escola Isolada Linha Santa Terezinha Linha Santa Terezinha
Pasta 64 Escola Isolada Linha Saracura Linha Saracura Pasta 65 Escola Isolada Linha São Braz Linha São Braz
Pasta 66-67 Escola Isolada Linha Schiavini Linha Schiavini Pasta 68 Escola Isolada Mateus Pelizzarro Linha Caixa D’água Pasta 69 Escola Isolada Miguel Dalla Costa Linha das Pombas Pasta 70 Escola Isolada Nossa Senhora da Gloria Linha Seep Pasta 71 Escola Isolada Pierina Baseggio Santo Antônio
Pasta 72- 73 Escola Isolada Pinheiro Preto Linha Pinheiro Preto Pasta 74 Escola Isolada Poço Rico
Pasta 75-76 Escola Isolada Porto Brum Linha Porto Brum Pasta 77 Escola Isolada Presidente Castelo Castelo Branco Pasta 78 Escola Isolada Presidente Juscelino Linha Presidente Juscelino Pasta 79 Escola Isolada Primeiro de Setembro Linha Primeiro de Setembro Pasta 80 Escola Isolada Raimundo Ebertz Linha Santa Terezinha Pasta 81 Escola Isolada Ricardo Scortegagnata Linha oito de maio Pasta 82 Escola Isolada Santa Cecília Linha Santa Cecília Pasta 83 Pasta 84 Escola Isolada Anjo da Guarda Barra do Jacutinga Pasta 85 Escola Isolada Santo Cadore Linha Lageado Quintino
Pasta 86-88 Escola Isolada São José Linha São José Pasta 89 Escola Isolada Selma Irene Kopssel Weis Alto Esperaça Pasta 90 Escola Isolada Linha Tatedo Linha Tatedo
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Pasta 91-92 Escola Isolada Três Barras Três Barras Pasta 93 Escola Isolada Três Ilhas Três Ilhas Pasta 94 Escola Isolada Vargem Bonita Linha Vargem Bonita
Pasta 95-96 Escola Isolada Octcília Zelinda Renostro Linha dos Coqueiros Pasta 97-98 Escola Isolada Linha Canavesi Linha Canavesi
Pasta 99-100 Escola Isolada Rui Barbosa Linha Rui Barbosa Pasta 101- 102 Escola Isolada Municipal Vidal Ramos Linha Lageado Pasta 103- 104 Escola Isolada Volta Alegre Linha Volta Alegre Pasta 105- 106 Escola Municipal do Campo Barra do Jacutinga Barra do Jacutinga Pasta 107- 108 Escola Municipal São Miguel do Rancho Grande Rancho Grande Pasta 108- 110 Escola Municipal do campo Linha Gomercindo Linha Gomercindo Pasta 111- 113 Escola Municipal do Campo Frei Rogério Linha Frei Rogério Pasta 114- 115 Escola Municipal do Campo Granja Sadia Barra Bonita
Pasta 115.1 – 116 Escola Municipal do Campo Alcisto Grígolo Barra Fria Pasta 117-118 Escola Municipal do Campo Linha Periquito Linha Periquito Pasta 119- 122 Escola Municipal do Campo Barra do Castilho Barra do Castilho Pasta 123- 125 Escola Municipal Lauro Muller Linha Lauro Muller Pasta 126- 128 Escola Municipal do Campo Linha Kaiser Linha Kaiser Pasta 129- 134 Escola Municipal do Campo Linha Pinhal Linha Pinhal Pasta 135- 138 Escola Municipal do Campo Linha Caravaggio Linha Caravaggio Pasta 139- 140 Escola Municipal do Campo José Venâncio Finger Barra do Pinhal
Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Educação de Concórdia – SC.
O processo de levantamento de fontes documentais é demorado e minucioso, pois o
pesquisador necessita olhar cada documento, organizar em uma ordem cronológica, separar
por tipo de documento para, posteriormente, analisar cada um e proceder a coleta e ao
registro dos dados que identificam o seu conteúdo. Além disso, foram fotografados os
documentos considerados mais significativos.
Os documentos mais encontrados foram as Escrituras de Doação dos terrenos onde
estavam localizadas as escolas. Estas doações foram feitas por agricultores para a Prefeitura
Municipal ou, muitas vezes, doação da Prefeitura Municipal para o Estado de Santa Catarina
e vice-versa. Estes documentos mostram que os responsáveis pelas escolas multisseriadas
foram, por vezes, a prefeitura municipal e, em outros períodos pertenciam à rede estadual de
SC. Por este motivo, as escolas foram variando de nomes e isso foi possível identificar através
dos diários de classe ou livros de matrícula. Identificamos que em determinados períodos as
escolas que pertenciam à rede municipal, passaram para a rede estadual e depois voltaram a
ser mantidas e administradas pelo município. Em função deste aspecto identificado, optamos
pela organização de uma tabela, para cada escola, que mostrasse esta trajetória, a fim de que,
posteriormente, se possa identificar os períodos de municipalização ou estadualização das
escolas e as políticas que orientaram a educação em cada período. Abaixo exemplificamos o
procedimento adotado:
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ISSN 2236-1855 2270
QUADRO 2 ESCOLAS MULTISSERIADAS DESATIVADAS NO MUNÍCIPIO DE CONCÓRDIA
ANO REDE NOME DA ESCOLA
1963, 1965, 1966, 1967, 1968, 1973,
1974 Municipal
Escola Primária Rural Linha dos Grandos
1976 Municipal Escola Isolada Linha dos
Grandos
1983 Municipal Escola Isolada Ademir Sacon
Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Educação de Concórdia – SC.
Algumas escolas têm um número expressivo de documentos e em outras poucos
documentos relevantes são encontrados, o que aponta a necessidade de um trabalho, nas
escolas atuais de arquivamento e preservação dos documentos escolares. Os diários de classe
e fichas de matrícula são os documentos mais encontrados. Muitos documentos se encontram
sem data e castigados pelo tempo, o que exige a busca de algum indício que localize os dados,
como data, nomes, etc, em outros documentos. Percebemos também, através dos
documentos, grande influência da Associação de Pais e Professores (APP) das escolas. Entre
os documentos encontrados, verificamos a participação da APP na organização e
desenvolvimento das atividades das escolas perante a comunidade e o município, bem como
as ações da Associação para busca de recursos financeiros, a fim de atender necessidades da
instituição.
Entre os documentos encontrados destacamos: livros de registro de matrícula; diários
de classe; escrituras de doação do terreno da escola pela Prefeitura Municipal para o Estado
de Santa Catarina, ou de agricultores da comunidade para a Prefeitura Municipal de
Concórdia; atas de reuniões e prestações de contas da APP; atas donde foi registrada a
desativação da escola; correspondências recebidas; decretos; boletins de alunos; fichas de
orientação da supervisora à professora da escola; textos da história da escola e da
comunidade, escritos por alunos destas instituições, entre outros.
Através dos documentos encontrados, especialmente fichas de matrícula e diários de
classe, foi construída uma tabela com o objetivo de mapear o número de alunos, série, sexo,
alunos aprovados e reprovados em cada ano de funcionamento da escola.
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TABELA 1 NÚMERO DE ALUNOS POR SÉRIE/SEXO/APROVADOS-REPROVADOS
ESCOLA ISOLADA ADEMIR SACON
ANO Nº DE
ALUNOS Nº DE ALUNOS
POR SÉRIE APROVADOS REPROVADOS
1963
M 15 1ª 2ª 3ª 4ª
13 11
Eliminados 2 F 11
15 5 4 T 26
1964
M 20 1ª 2ª 3ª 4ª 11 15
F 6 19 4
3
T 26
1965
M 15 1ª 2ª 3ª 4ª
13 10 F 8 20 1 4
T 23
1966
M 15 1ª 2ª 3ª 4ª
17 5 F 8 13 7 1 4
T 23
1967
M 15 1ª 2ª 3ª 4ª
14 5
Eliminados 1 F 5
8 6 5 1 T 20
1968
M 14 1ª 2ª 3ª 4ª
10 9
Eliminados 2 F 7 9 1 6 5
T 21
Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Educação de Concórdia – SC.
Estes dados indicam, precisamente, os períodos de auge da escola, em função do
número elevado de alunos atendidos, bem como o período em que ocorre a diminuição de
alunos matriculados, o que indica um dos principais motivos do fechamento das escolas. Para
a análise desta trajetória se fará necessário compreender o período histórico e o
desenvolvimento do município, através de pesquisa bibliográfica e de dados do IBGE que
indicam a população total e por área rural e urbana. As atas de reunião da equipe da
secretaria de educação, professores e comunidade em que constam os motivos de fechamento
das instituições escolares serão importantes para o levantamento dos motivos discutidos e
apontados para o fechamento das escolas. Contudo, através de pesquisa bibliográfica
identificou-se que a desativação das escolas ocorreu pelo êxodo rural e pela disponibilização
do transporte público para levar os estudantes das suas comunidades de origem para escolas
nucleadas, em comunidades maiores. O principal motivo, já identificado, para o fechamento
das escolas multisseriadas rurais era o número muito reduzido de alunos, o que dificultava o
processo de socialização dos estudantes, além do custo elevado para manter professor e
infraestrutura da escola.
A partir das fontes documentais são identificados os sujeitos da história da instituição
que possam ser fontes orais a serem entrevistadas. Nesse sentido, de cada escola, foram
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tabuladas informações que identificam a fonte como: nome, atuação, papel social (aluno,
professor, pais, diretor, etc), idade, época de participação, etc. As entrevistas terão o objetivo
de preencher lacunas percebidas quando da análise dos documentos e, mais especificamente
em relação aos professores, conhecer o funcionamento, a organização pedagógica e os
processos de ensino e aprendizagem presentes nas escolas rurais multisseriadas, relação com
a escola e comunidade, organização do espaço escolar, as dificuldades e vantagens destas
escolas, as razões do encerramento das atividades destas escolas, bem como a organização do
currículo e as metodologias de ensino. As entrevistas com professores poderão também focar
em aspectos específicos de um componente curricular. No caso desta proposta a ênfase será
no ensino de Matemática e Ciências. Esta indicação de aprofundamento nestes componentes
é em função do tema ser relevantes a formação de professores dos cursos de Licenciatura em
Matemática e Física do Instituto Federal Catarinense – Campus Concórdia.
Frente o exposto, entendemos que as fontes orais abrem um leque amplo de opções
para historicizar as práticas escolares presentes nestas instituições, pois conforme Alves
(2007) é raro constatar a preocupação entre os educadores de recuperar a historicidade das
práticas escolares. Ainda, destaca que é necessário o reconhecimento que existe entre
práticas e trabalho, ou seja, as práticas escolares devem ser vistas como elemento do trabalho
didático, pois representam a forma concreta pela qual o trabalho se realiza dentro da escola,
que envolve, de acordo com Alves (2005): uma relação educativa que coloca, frente a frente,
uma forma histórica de Educador e, do outro lado, uma forma histórica de educando(s); esta
relação é mediada por recursos didáticos (procedimentos técnicos-pedagógicos, tecnologias
educacionais e conteúdos programados que servem ao processo de transmissão do
conhecimento); e um espaço físico com características peculiares onde ocorrem as práticas
escolares.
Considerações Finais
A história das instituições escolares multisseriadas pode fornecer subsídios preciosos
das diferentes fases da história da educação, pois estas escolas nascem com o município de
Concórdia e passam por diversos processos e transformações ao longo dos mais de 80 anos
de sua história. A pesquisa busca, através da catalogação das fontes primárias, documentais e
orais, contribuir para a compreensão das transformações históricas da educação do
município e região, cuja sociedade foi formada a partir de um processo de imigração.
As fontes documentais são fundamentais a pesquisa histórica e, no caso da pesquisa
apresentada, fundamental para compreender o movimento histórico de criação,
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desenvolvimento e desativação das escolas rurais multisseriadas, que iniciam o processo de
educação pública no município e presentes em grande número por mais de quatro décadas.
Em 2017, o município tem em funcionamento apenas seis instituições designadas escolas do
campo.
A partir dos documentos, com os dados levantados e organizados, muitas perspectivas
se colocam à produção de pesquisas para sistematizar a trajetória histórica das instituições
escolares multisseriadas, a fim de compreender as práticas escolares e as transformações
sociais que desencadearam a desativação da grande maioria das escolas. A preocupação
central é discutir de que forma as escolas multisseriadas contribuíram para o
desenvolvimento da história da educação da região, a fim de que o conhecimento histórico
desta realidade nos leve à compreensão da prática social.
Para isso, a concepção materialista histórica dialética é a norteadora da pesquisa tendo
em vista o movimento real em sua totalidade, no qual o particular é explicitado no contexto
socioeconômico-político, dialeticamente relacionados. O método dialético consiste em
investigar a vinculação íntima entre a forma pela qual a sociedade produz sua existência
material e o objeto de estudo.
Assim, entendemos que os estudos decorrentes das fontes, necessariamente, devem
vincular-se a práxis social em que estas instituições foram gestadas e organizadas, o que
significa ter presente a realidade histórica em constante movimento e que o resultado desse
movimento e intercâmbio é que transforma as realidades. Desta maneira consideramos que a
realidade não existe desvinculada de seus pressupostos reais, em um contexto concreto e em
condições materiais determinadas. As reflexões e elaborações científicas, decorrentes desta
pesquisa tem como pressuposto que a “[...] história deixa de ser uma coleção de fatos mortos,
como para os empiristas ainda abstratos, ou uma ação imaginária de sujeitos imaginários,
como para os idealistas” (MARX e ENGELS, 1987, p.12).
Por isso, o detalhamento dos dados empíricos das instituições escolares se constitui no
primeiro passo, o segundo consiste em compreender adequadamente o movimento real.
Nesse sentido, se faz necessário estabelecer a conexão objetiva entre instituições escolares
multisseriadas e sociedade, ou seja, a busca da relação dialética entre estrutura e
superestrutura, entre sociedade e escola, é objetivo da ciência histórica. Nesse sentido,
tomamos consciência das condições da superestrutura pela análise da estrutura, ou seja, dos
aspectos econômicos de determinada sociedade.
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Referências
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