História Do Brasil

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Resumo de História do Brasil

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Histria do Brasil.docx

A meno da chegada de Pedro lvares Cabral, em 1500, costa de um continente ao sul do Oceano Atlntico, fato inaugural da histria brasileira, como o descobrimento do Brasil no conceitualmente precisa. Os territrios que, a partir de ento, passaram a ser, com maior ou menor intensidade, ao longo dos anos, colonizados pelos portugueses, e que mais tarde comporiam o que hoje compreendemos como Brasil nem sempre foram vistos como um todo coerente. Muitas manifestaes emancipacionistas no perodo colonial buscavam apartar certas regies do jugo portugus, e se dirigiam apenas aos habitantes das redondezas, como a Conjurao Mineira, em 1789, e a Conjurao Baiana, em 1798, que, por exemplo, convocava o povo bahiense a lutar por autonomia. A ideia de Brasil, que preconizava a preservao da unidade dos territrios portugueses na Amrica, comea a ser constituda pelos intelectuais das elites coloniais com a transferncia da corte portuguesa, em 1808. Mesmo depois da independncia, houve propostas para serem separadas partes do que hoje o territrio do Brasil daquele surgente Imprio, a Confederao do Equador, de 1824, por exemplo, um projeto separatista republicano, sinal de que nem todos reconheciam a existncia de um Brasil.Parte-se do pressuposto de que no projeto de expanso martima e comercial europeia, ibrica e portuguesa, a Amrica portuguesa um entre muitos episdios. O sistema de plantations aucareiros, implantados em So Vicente e Pernambuco foi transplantado de ilhas atlnticas colonizadas pelos portugueses, como Madeira e Aores. O modelo de capitanias hereditrias, colocado em prtica, em 1534, idem. O objetivo inicial da expanso martima e comercial europeia era desenvolver o comrcio, trocar de excedentes, especialmente com as reas produtoras das famosas especiarias orientais. O projeto inicial no colonizador em nenhum momento. Com as cruzadas, buscou-se reabertura do comrcio do Mediterrneo Oriental com a Europa Centro-Ocidental, interrompido com a desagregao do Imprio Romano, a separao entre Imprio Romano do Oriente e do Ocidente. A partir da, as especiarias, sedas e porcelanas, passaram a ser alvo de interesse das elites da Europa Centro-Ocidental. O interesse por trocar esses produtos pelos produzidos pelo Ocidente fez com que o comrcio vicejasse. Entretanto, as trocas se davam por rotas terrestres basicamente e passavam por inmeros intermedirios rabes, asiticos e judeus, at chegar pennsula itlica por comerciantes genoveses e venezianos. Isso elevava bastante os preos, acompanhados do aumento da demanda por eles, na Europa Ocidental. Os comerciantes de pases costeiros interessavam-se em chegar pelo Atlntico diretamente aos fornecedores primrios de tais produtos, incentivados pelos altos preos que por eles eram cobrados pelos venezianos e genoveses, por conta do enorme contingente de intermedirios.No projeto de se chegar ao oriente, os portugueses imaginaram o que se denominou Priplo Africano, trocando em midos, um caminho contornando a frica pelo finis terrae, ou finisterra, ao sul do continente, chegando ao mar oriental. As grandes navegaes portuguesas dirigem-se a princpio para a frica Austral. Em um primeiro momento, constroem-se feitorias, armazns fortificados no litoral para manter mantimentos em segurana, originalmente, que possibilitassem reabastecimentos, a fim de viabilizar a empreitada para o Oriente. A proposta construir pontos de apoio para se chegar sia. Aos poucos, as feitorias tambm ganham carter comercial, estabelecendo contatos com comerciantes que atuavam pelo interior do continente. Essa uma diferena fundamental entre a forma de atuar do colonialismo mercantilista na frica e o imperialismo oitocentista. Nos sculos XVI, XVII e XVIII, na frica, os europeus mantiveram-se no litoral. No imperialismo do sculo XIX, eles entram para conquistar, ocupar e extrair riquezas minerais, explorando a mo de obra local, demandadas pela Segunda Revoluo Industrial.No norte africano, comercializa-se com rabes muulmanos e negros, medica que entram em contato com povos mais ao sul do continente. Os portugueses interessam-se por ouro em p, importante para monetarizar prticas comerciais e facilitar trocas, marfim e, aos poucos, escravos. Escravos comeam a ganhar mais fora quando um dos caminhos portugueses abre mais a navegao e chega a Madeira e Aores, ilhas despovoadas. Os portugueses no poderiam ter ali outro projeto que no povoar. Tais ilhas eram interessantes porque facilitavam a navegao para o sul do continente. No vero europeu, o anticiclone de Aores provocava as ditas calmarias, paralizaes de correntes de ar, que imobilizavam as caravelas. Os navegadores faziam uma rota mais aberta para fugir das regies de pouca incidncia elica. Por isso era interessante ter um entreposto nas ilhas atlnticas, para onde casais foram mandados.Os portugueses saram na frente porque foram o primeiro Estado a se unificar, na Europa. A unificao portuguesa se deu no ano de 1185, quando o conde do condado de portucalense, Afonso Henriques de Borgonha, ou Afonso I, reuniu nobres do Norte para expulsar mouros da regio dos Algarves. Henrique recebeu do papa o ttulo de rei de Portugal, como gratificao. Esse reino era cercado por uma srie de outros. Havia um projeto de Castela, regio central da Espanha, de expanso para o territrio portugus. O grande problema da existncia de Portugal ser contornado pela Espanha, o que se reafirma quando Filipe II de Espanha reivindica o trono portugus, em 1580, aps a morte de D.Sebastio, ltimo rei da dinastia de Avis. Em 1383, com a morte de Fernando I, o rei de Castela, Joo I de Castela prometido Beatriz, filha nica do ltimo Borgonha e herdeira do trono portugus, colocaria em cheque a independncia de Portugal. Joo I de Portugal, o mestre de Avis, irmo do rei e filho bastardo de Pedro I, elevado ao trono portugus por setores comerciantes portugueses dando incio a uma nova dinastia, a de Avis, que venceu, com apoio ingls, os castelhanos na Revoluo de Avis, da unificao nacional portuguesa. A unificao agregou esforos na Coroa, Estado portugus, cujo tesouro era capaz de viabilizar a expanso martima e de ser fiador de um empreendimento por demais audacioso para os comerciantes da poca desenvolverem de modo privado e arriscarem suas fortunas. Alm disso, os portugueses possuam expertise em navegaes, e o conhecimento nutico sobre o Atlntico, por conta das pescas de bacalhau. Trata-se de um projeto da nao portuguesa que agradava a diversos setores da sociedade, desde a nobreza e o clero, interessados em servir ao rei e em expandir o cristianismo, aos burgueses, seduzidos por oportunidades para auferir lucros maiores em suas atividades comerciais, ao rei, aumentando suas fontes de arrecadao, prestgio e ocupando os nobres, e ao povo, para quem ir ao mar significava transgredir um sistema opressor e talvez emigrar.Os espanhis lanaram-se tambm ao mar, a princpio objetivando tambm a rota do priplo africano, projeto j dominado pelos portugueses. Em 1488, a empreitada de Bartolomeu Dias, navegador portugus chega ao Cabo das Tormentas e confirmaram a tese da Finisterra. A modesta frota de Dias no seguiu imediatamente para o Oriente, onde os europeus esperavam encontrar reinos poderosos, capazes de produzir as riquezas que tanto apreciavam. Os portugueses preparam uma esquadra poderosa por dez anos para completar circuito e chegar regio produtora de especiarias. A notcia da viagem de Dias, que deveria permanecer em segredo, chegou Coroa Espanhola. Em 1492, ano em que Fernando de Arago e Isabel se casaram e unificaram a Espanha e expulsaram os muulmanos do califado de Granada, e Cristvo Colombo, navegador genovs que inclusive j havia levado seu projeto de rota oeste para as ndias para os portugueses (j cientes da possibilidade de se chegar sia contornando a frica), chega s Antilhas. L teve conhecimento de uma civilizao autctone que dominava o trabalho com metais preciosos e os possuam em abundncia. Depois dessa viagem, em 1492, Colombo refez mais trs vezes esse circuito, antes de morrer, em 1496, sem ainda saber que havia chegado a um continente novo, o que Amrico Vespcio, florentino que viajou por toda a costa atlntica.A Igreja, que j havia abenoado as coroas ibricas crists e catlicas, interveio nos pontos de atrito do expansionismo ibrico alm-mar. Primeiramente, acordou-se, em 1480, portanto antes das viagens de Colombo e Bartolomeu Dias, dividiu-se horizontalmente o Atlntico entre uma parte norte espanhola e uma parte sul portuguesa, pelo Tratado das Alcovas-Toledo, definindo que Portugal obtinha o reconhecimento do seu domnio sobre a ilha da Madeira, o Arquiplago dos Aores, o de Cabo Verde e a costa da Guin, enquanto que Castela recebia as ilhas Canrias (exploradas por Diego Garcia de Herrera em 1476), renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam as prprias ilhas. Regulamentava tambm as reas de influncia e de expanso de ambas as coroas pelo Reino Oatcida de Fez (no magrebe marroquino), no Norte de frica. Por esse acordo, as terras descobertas por Colombo, em 1492, pertenceriam a Portugal. Em 1490, o papa Alexandre VI, um espanhol que devia favores ao rei Fernando de Arago, props a bula Inter Caeter, que determinava no um paralelo, mas um meridiano a 100 lguas de Cabo Verde, para dividir as terras novas descobertas e por descobrir. Os portugueses renegociaram essa proposta, propondo que o meridiano se localizasse 370 lguas a oeste da ilha de Santo Anto no arquiplago de Cabo Verde. Em 1494, Espanha e Portugal chegaram a um acordo, para o qual o papa Alexandre VI deu chancela, em seguida, o clebre Tratado de Tordesilhas.O domnio portugus sobre a parte oriental do continente americano lhe permitiria, tendo o controle estratgico sobre margens opostas do Atlntico Sul alimentando a fantasiosa iluso de poder assegurar o mare clausum, exclusividade sobre as rotas martimas nas quais fora pioneiro. Em 1498, a expedio de Vasco da Gama parte para as ndias, navegando em certo trecho de modo aberto, tendo observado indcios de que havia terras do outro lado do Atlntico. Quando retorna, relata suas observaes a Pedro lvares Cabral, que lidera expedio para encontrar terras dentro do meridiano de Tordesilhas. Vasco da Gama chega a Calicute em busca de um tratado de comrcio naquele ano e logra xito.Cabral enfim chega ao Brasil, em 1500, abrindo a navegao, de acordo com as orientaes de Vasco da Gama, aqui rezada uma missa e estabelecida uma feitoria, na ocasio. O objetivo da viagem era duplo: chegar a Calicute, reafirmar o contato, e tomar pose das terras que, por Tordesilhas, perteceriam aos portugueses. A expanso tinha um sentido comercial, entretanto os portugueses esperavam que houvesse metais preciosos nas novas terras. Os habitantes dessa regio das Amricas no dominavam a metalurgia ainda, encontrando-se, em termos antropolgicos, no perodo neoltico inferior, a Idade da Pedra Lascada. Eram nmades em processo de sedentarizao. A agricultura era muito pouco praticada e, portanto, no produziam excedentes. Essas populaes no possuam nada que interessasse aos portugueses, ao contrrio do que encontraram os espanhois. Quando Hernn Cortez chegou a Tenochtitlan, atual Cidade do Mxico, havia 300 mil habitantes, provavelmente a cidade mais populosa do mundo. Paris e Londres tinham aproximadamente 80 mil pessoas. Os espanhois encontram ouro e prata acumulados em tesouros, que so pilhados, e se apoderam da produo aurfera da regio.O primeiro momento da presena portuguesa na Amrica chamado pr-coloniazador, anterior ao esforo de ocupao. A nica riqueza interessante encontrada foi o pau brasil, utilizado na produo de tinta vermelha para tingir tecidos. S os nobres, na poca, podiam usar vermelho. Os preos eram bastante altos. O imprio portugus era vastssimo, compreendendo regies no Oriente, na frica e na Amrica. Havia uma regio no Oriente, o arquiplago das Molucas, que compreende a atual Indonsia, de onde provinham as riquezas e especiarias mais interessantes, e teoricamente, a linha de Tordesilhas contornando a Terra, deveria passar repartir ao meio. Quando se chegou ao Oriente navegando pelo Ocidente, em 1521, ainda no se tinha com clareza, a localizao das Molucas. Em 1529, os reinos de Portugal e Espanha resolveram incluir novos textos ao acordo de Tordesilhas, o que ficou conhecido como Capitulao de Saragoa, pelos quais a Espanha vendia antecipadamente sua parte das ilhas, caso a linha de Tordesilhas passasse no centro do arquiplago das Molucas. Caso se verifique que a Espanha no tinha direitos sobre a regio, devolveria-se a quantia paga, o que deveria ter ocorrido de fato, mas os castelhanos nunca ressarciram a Coroa portuguesa. Isso demonstra a pouca importncia dada pelos portugueses s Amricas, ao contrrio da Espanha, que negligenciava o polo oposto das Tordesilhas. A sia era priorizada ento pelos portugueses.O Estado portugus, pois mais rico que fosse, no tinha recursos financeiros ou demogrficos para estar presente em todas as regies de seu vasto imprio, carecendo estabelecer prioridades. A Amrica no uma delas, naquele momento. O Estado portugus optou por estar mais presente no oriente, relegando o processo de contato e explorao da Amrica ao privada, atravs de concesses, semelhantes a leiles e arrendamentos. Os interessados em extrair pau-brasil poderiam adquirir o monoplio por cinco anos pelo maior lance. O contrato estabelece que o grupo que conseguisse o contrato seria obrigado a fundar feitorias, defender o territrio, catequizar ndios, explorar e buscar novas riquezas no territrio e a pagar impostos de 20% do lucro coroa e 10% igreja. Um grupo venceu tais concorrncias seguidamente. Trata-se de empreendedores liderados por Fernando de Noronha ou Loronha, um cristo-novo, que obtinham no negcio um lucro de aproximadamente 300%, em mdia. O pau-brasil era extrado por nativos que o trocavam por bugigangas, espelhos e por facas e machados, artigos revolucionrios para comunidades que ainda viviam na era da pedra lascada. No era possvel utilizar mo de obra escrava em uma atividade extrativista que carecia da disperso pelo territrio dos trabalhadores em busca da matria prima. No perodo pr-colonial, desenvolveram-se apenas algumas feitorias ao longo da costa leste do sub-continente sul-americano.Outros reinos europeus julgavam-se tambm no direito de explorar o continente recm descoberto. Os franceses comeam a rondar a regio, reclamando o direito de ocupar, caso os portugueses no o fizessem. A resposta portuguesa foi enviar expedies ditas guarda-costas na regio para defender litoral do ataque de corsrios e piratas, evidentemente insuficientes para policiar to vasta regio. As expedies guarda-costas poderiam se desdobrar em expedies exploradoras, implantando feitorias e buscando riquezas territrio a dentro. O litoral da Amrica serve como ponto de parada e reabastecimentos para navios que seguiam para o oriente. Dependendo dos ventos, a navegao aberta era mais eficiente, por conta do anticiclone dos Aores.Embora seja uma rea de importncia secundria, havia a perspectiva se de encontrar riquezas importantes no continente, por isso era importante manter o controle sobre ele. A Coroa portuguesa decidiu promover a ocupao de suas terras na Amrica para manter algum controle sobre um territrio pouco explorado e conhecido, para tentar garantir o aproveitamento de seu potencial de recursos. Em 1530, o rei portugus Dom Joo III, o colonizador, que substitui Dom Manuel, o venturoso, envia para o litoral da Amrica uma expedio diferente, de vis colonizador, liderada por Martim Afonso de Souza, a quem o rei delegou enormes poderes. Martim Afonso vem, trazendo famlias e degredados que aqui permaneceriam e formariam primeiro ncleo de populao, com o objetivo de fundar uma vila, marco da ocupao territorial. Era preciso desenvolver alguma atividade econmica para tornar a ocupao vivel, algo que interessasse tambm metrpole e sua burguesia. Opta-se por desenvolver aqui plantations aucareiras, negcio no qual os portugueses j possuam a expertise e contatos comerciais importantes. As primeiras mudas de cana-de-acar, mquinas e equipamentos para o plantio e a transformao da matria-prima so trazidos nessa exposio.A vila de Martim Afonso fundada em So Vicente, em 1532, onde se estabelece o primeiro engenho. Os portugueses no tinham muita ideia de onde se localizava o Imprio Inca, de onde provinha a prata que chegava Espanha naquele momento, ento buscaram se estabelecer mais ao sul, aproximando-se do rio da Prata (golfo em que desaguam as trs grandes bacias hidrogrficas do cone sul, a do Paraguai, a do Paran e a do Uruguai), escoadouro do metal contrabandeado, com vistas a encontrar a origem de tamanha riqueza. No tardou aos novos habitantes busc-las planalto do piratininga a dentro, fundar So Paulo e buscar metais precisosos na regio. Produzia-se acar para trocar por ouro e prata, mas o metalismo era fundamental segunda a lgica mercantil da poca. Quando Martim Afonso voltou, em 1533, o Dom Joo III havia percebido que ocupar litoral montando vilas a cada dez anos demoraria muito para a colonizao se concretizar. Apelou-se ento para particulares, atravs do sistema de capitanias hereditrias, que possibilitaria uma ocupao capaz de manter o territrio sob seu domnio. A frmula das capitanias hereditrias assemelha-se ao modelo feudal, delegando-as a nobres cristos velhos. O problema de tal estrutura que ela carecia de recursos humanos, materiais e econmicos para ser efetiva. Os nobres portugueses mais importantes encontravam-se concentrados no negcio oriental e no se interessariam, de qualquer modo, em vir para a Amrica, continente desconhecido e rstico. Quem se dispe so nobres menos importantes, sem recursos para tal empreitada, os quais buscam em comerciantes interessados nos negcios do acar e da extrao vegetal. Apenas Pernambuco e So Vicente so bem sucedidas em um primeiro momento. Quando um donatrio recebia a documentao para se tornar capito hereditrio, aceitava algumas condies estabelecidas pelo foral e pela carta de doao, de origem real. Os capites donatrios eram governantes dos territrios e deveriam transferir o poder para seus filhos, por herana, ter direito a uma extenso de terra, como propriedade, equivalente a 20% do territrio da capitania (os outros 80% sero doados para povoamento sob o regime de sesmaria), de arrecadar tributos e de vender os produtos produzidos em suas terras, desde que paguem impostos. Como deveres, so impostos a obrigao de promover o cristianismo, defender e explorar o territrio, repassar o dzimo Igreja, etc. A lgica portuguesa privatizar a explorao de regies de importncia secundria. Se desse certo, o Estado se interessaria. O modelo s se extinguiu em 1758, por Marqus de Pombal. A sesmaria, lote de terras, corresponderia a seis lguas quadradas (aproximadamente 36 km), ou seja, um latifndio. Havia terras em abundncia. Os engenhos se estabelecem nas sesmarias. A doao alodial, o que significa criar obrigaes sem relao de dependncia. Quem recebesse a sesmaria doada dessa maneira tornava-se proprietrio, portanto livre para fazer o que bem entend-se, desde que tenha cumprido determinadas obrigaes. Em cinco anos, quem recebeu a sesmaria deveria ocup-la, produzir, pagar impostos, catequizar ndios e defend-la. O modelo escolhido foi alodial (e no enfitutica) para que o colonizador tivesse a segurada a posse da terra, sem recear perd-la para um suserano. O capito repassava as obrigaes que o rei lhe delegava para o sesmeiro. Se o sistema se efetivasse, cada capitania teria um ncleo de ocupao. Entretanto, a maior parte dos donatrios no vieram. Apenas seis atravessaram o oceano. Havia um prazo de quinze anos para que os donatrios tomassem posse, que, se no cumprido, perderia o direito, cabendo a um funcionrio da Coroa substitu-lo. Na capitania de Pernambuco, raro exemplo de sucesso, o capito estabeleceu contatos com comerciantes portugueses, que negociavam com holandeses dispostos a financiar montagem de estrutura de produo de acar. O holands no produzia nada, apenas vendia. A lgica construir navios mercantes para fazer a circulao das mercadorias, enriquecendo atravs do comrcio martimo. Os holandeses s produzem acar em meados do sculo XVII, quando, expulsos do Brasil, produzem acar nas Antilhas. Os holandeses dispunham de acesso a diversos rios importantes que os conectavam ao interior do continente, convindo-lhes atuar na distribuio.A maior parte dos donatrios sequer veio. A notcia de que ndios caets, de tradio atropofgica, devoraram membros nufragos de um acidente da expedio que trazia o donatrio da capitania do Esprito Santo, afugentou os imigrantes. O Estado portugus se v obrigado a atuar. Em 1548, criado o governo-geral, acoplado ao sistema das capitanias hereditrias. No h a ideia de separao entre pblico e privado, assim como na Europa. O governador-geral funda a vila de Salvador, ao lado da capitania de Pernambuco, amparando-se no desenvolvimento local e na maior segurana que isso traria. O projeto do governo-geral ajudar na defesa, na ocupao, no povoamento e na colonizao do territrio.Os governadores-gerais recebiam regimentos com instrues e poderes especficos. Comea a haver uma estrutura burocrtico-administrativa na colnia, composta por funcionrios vindos juntos com Tom de Souza. O governador-geral era auxiliado fundamentalmente pelo provedor-mor, que trata das questes econmicas, pelo ouvidor-mor, responsvel por questes judiciais, e pelo capito-mor da costa, cargo geralmente acumulado pelo governador-geral, cuja atribuio era zelar pelo litoral.Nas capitanias abandonadas, transformadas em capitanias da Coroa, ligadas tambm ao governador-geral, o Estado portugus nomeia governadores de capitania, que dispem tambm de ouvidores e provedores de capitania. Surgem diversas vilas e municpios, em que se estabelecem orgos administrativos, cmaras municipais, responsvel pelos trs poderes (juzes ordinrios), como era em Portugal. Os vereadores so sorteados entre os proprietrios de terras, os homens bons, do municpios. Acopla-se um modelo estatal ao modelo privado, ambos sujeitos Coroa lusitana. A Casa de Suplicao, maior tribunal metropolitano, era uma instncia judiciria qual demandantes da colnia poderia recorrer, assim como ao rei de Portugal. O poder de fato exercido pelos proprietrios, sombra da tibieza do Estado, em um territrio vastssimo, pouco integrado. O poder do governador de capitania limita-se sua vizinhana. As capitanias so governadas com autonomia, sem se submeter ao poder de fato e ascendncia do governo geral, por mais que assim o seu regimento estabelea. O dito Pacto Colonial s foi mantido por mais de 300 anos por conta de um acordo desigual entre as elites metropolitana e colonial, pelo qual as duas lucravam. Esse acordo possui uma contradio interna que o destruir fatalmente. O sistema montado para acumular riquezas na metrpole e se destri quando se tenta, em momentos de crise, onerar as elites coloniais com os dficits do tesouro, tratando-a com distino com relao metropolitana. Quando deixa de ser acordo e torna-se imposio, os colonos buscam a emancipao. O custo-benefcio de se manter uma colnia, atravs da opresso e da ocupao militar, pssimo. Em 1719, o Estado portugus resolve criar, na regio mineiradora, casas de fundio, para no permitir a circulao de ouro em p. Um movimento em 1720, a chamada revolta de Filipe dos Santos, ou revolta de Vila Rica, cuja reivindicao era o fechamento das casas de fundio, sem pleitear emancipao. Isso demonstra que elites coloniais no buscavam a princpio romper um Pacto Colonial do qual se beneficiavam, apenas mant-lo como Pacto, e no imposio.Em 1621, em plena existncia da Unio Ibrica, Lisboa decidiu fazer uma diviso administrativa do territrio americano, entre o Estado do Maranho, sediado em So Lus, com provedor e ouvidor mor prprios, e o Estado do Brasil, cuja sede Salvador. Tal diviso se deve a dificuldade de se acessar a regio norte, por conta do sentido contrrio aos ventos alsios (era mais fcil chegar de Lisboa), em especial ao foz do Amazonas, zona de interesse dos franceses, que j haviam estado em So Lus, em 1612 (expulsos em 1614). Imaginava-se na poca que se poderia s regies da prata peruana pelo Amazonas (Pedro Teixeria, em 1637, tirou a prova dos nove, navegando por todo o Amazonas). Para o Estado da Unio Ibrica era fundamental proteger a regio. Entre 1621 e 1763 (por volta de 1720, a Estado do Maranho acrescentou-se e do Gro-Par, e incluiu-se o vale amaznico), a diviso administrativa assim se manteve. Marqus de Pombal quem reagrega os Estados em um nico vice-reino. A capital do vice-reino passa a ser o Rio de Janeiro a partir de ento. As minas de ouro, que escoavam o minrio pelo porto carioca, esgotavam-se e quando o metal se escasseia o Estado se esfora mais para coibir o contrabando. Alm disso, os espanhis avanavam na regio sul preocupava Pombal, por isso era interessante que o aparato estatal estivesse mais prximo da zona de interesse. O vice-reino dura at 1815, quando Dom Joo muda seu estatuto para Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (no Congresso de Viena, Portugal no tem permisso para votar porque a corte est em um vice-reino e no em um reino). Quando o vice-reino se constitui, a estrutura burocrtico-administrativa se torna mais pesada, tem mais funcionrios, o tribunal da relao, havendo maior presena do Estado portugus. O particular comea a perder espao para o Estado. Em 1758, as capitanias hereditrias so extintas.Quando a expedio de Cabral chega Amrica para tomar posse das terras, vem em nome da Ordem de Cristo, cuja cruz estampava as velas das naus. A Ordem de Cristo era uma ordem militar religiosa catlica, em Portugal, descendente da Ordem dos Templrios, extinta e fechada pelo papa, nacionalizada pelo rei luso. O lder da Ordem de Cristo o rei de Portugal. As terras seriam objeto de evangelizao, por isso o papa concedeu ao monarca os direitos de padroado, permitindo a nomeao de bispos pelo rei e subordinando os padres primeiramente ao monarca, e placitao, ou beneplcito, sistema pelo qual as ordens papais s seriam cumpridas no territrio da Ordem de Cristo se o rei de Portugal as confirmasse. Na Amrica portuguesa, a igreja era subordinada ao Estado, que recolhia o dzimo de todas as atividades econmicas e repassava para a Igreja. Mais adiante, na poca do Imprio, o papa Pio IX, personagem da unificao italiana a qual foi contra porque os Estados pontifcios foram-lhe tirados (declarou-se, na ocasio, prisioneiro nos palcios vaticanos e no reconheceu o Reino da Itlia), condenara entre os erros modernos (socialismo, liberalismo, anarquismo) a maonaria e proibiu maons de serem membros de ordem religiosas. O imperador e a elite imperial eram maons e catlicos, o que o motiva a no dar aval bula papal. Os bispos de tendncia ultramontana recusaram-se a aceitar a deciso do imperador e expulsaram maons das irmandades em suas dioceses, so acusados de desobedincia e condenados a quatro anos de priso com trabalhos forados. Isso gerou um certo estremecimento nas relaes entre Igreja e Estado. A Igreja possui religiosos seculares e regulares. Os regulares pertencem a ordens religiosas, por exemplo, os jesutas e os beneditinos. Os padres seculares obedecem s regras gerais da Igreja. Os regulares, seguem, alm dessas, as especficas das ordens religiosas s quais pertencem. As ordens regulares esto um pouco apartadas do padroado porque possuem atividades econmicas prprias, formas de se manterem. A principal ordem religiosa a atuar na Amrica portuguesa so os jesutas. A Ordem da Companhia de Jesus foi fundada em 1534. O cisma do cristianismo ocidental teve incio, em 1517, dando origem s primeiras igrejas reformadas, com vrias ramificaes. Incio de Loyola e seus companheiros criaram uma ordem religiosa para garantir a influncia do catolicismo contra as igrejas crists reformadas. A Companhia de Jesus tinha como conceitos fundamentais disciplina e hierarquia. No momento em que o catolicismo e o papa esto sendo questionados, a disciplina, a obedincia e a hierarquia so muito apreciadas, tanto que os jesutas receberam o epteto de soldados de batina. Iam para todas as partes do mundo, correndo diversos riscos, para levar a mensagem de Cristo. Na Amrica, o papel dos jesutas fundamentalmente catequizar (projeto compartilhado com todas as ordens religiosas) e educar as elites, segundo os valores que consideram fundamentais, criar escolas, o que se observa at hoje nas inmeras instituies importantes (PUC, Santo Incio) por eles fundadas.No Brasil, os jesutas ganharam o monoplio da educao. S eles podiam fundar escolas at 1759, quando a Ordem foi expulsa de Portugal e do Brasil por Pombal. Com a morte de Dom Jos I, em 1777, a sada de Pombal, e a subida ao trono de sua filha Maria I, os jesutas so trazidos de volta, sem o monoplio. Pombal havia criado as aulas rgias, embrio de escola pblica voltada para as elites. O fator de produo mais escasso do continente americano era a mo de obra, o que fez com que se questionasse o aproveitamento ou no dos braos indgenas, atravs do trabalho compulsrio. Na Amrica espanhola, enquanto o padre Seplveda, figura importante da Igreja, acreditava que o indgena era um ser endemoniado que deveria ser escravizado, outro iminente religioso, o padre Bartolomeu delas Casas, o ndio um ser puro que deve ser cuidado, e no cativo. A linha de Casas triunfa dentro da Coroa espanhola, e gera o conjunto de leis editado por Felipe II, as ordenaes filipinas (adotadas por Portugal na poca da Unio Ibrica). O ndio no poderia ser a princpio escravizado, portanto merecia a chance da catequizao. S poderia-se escravizar legalmente os ndios quando rejeitassem a catequizao. Essa era a justificativa para escravizar o negro, que havia tido oportunidade de converso com os apstolos de Cristo no continente africano. Padre Antnio Vieira, jesuta que atuava em So Lus do Maranho, afirma que a frica o inferno para os negros, pois l o pecado est no corpo e na alma, porque os antepassados haviam recusado Cristo. A Amrica era o purgatrio, onde sua alma seria salva, porque pagaria seus pecados e seria batizado. O negro objeto de escravizao inclusive de ordens religiosas, que detinham engenhos, fazendas e escravos para neles labutar. Os jesutas pregavam a humanizao da escravido, condenado o tratamento exageradamente cruel para com os escravos. Em Economia Crist dos Senhores nos governos dos Escravos, autores jesutas instruem os senhores sobre o modo como tratar seus escravos. Antonil, Joo Antnio Andreoni, autor de Cultura e Opulncia do Brasil, em suas Drogas e Minas, de 1711, preconiza os trs ps para os escravos: pau (castigo), pano e po. Mais pau do que po e pano indicava problemas para o senhor. Deveria-se tentar diminuir a tentativa de fuga dos escravos por um processo menos traumtico. Em Portugal, havia uma instituio para cuidar da questo religiosa, chamada Mesa da Conscincia e Ordens, voltada para padres seculares, ligada ao rei. O Tribunal do Santo Ofcio era muito mais atuante na Amrica espanhola do que em Portugal. Na parte espanhola, havia tribunais fixos espalhados pelo territrio. Em Portugal, o tribunal da inquisio no era to poderoso. Houve as visitaes do Santo Ofcio, pelas quais, de tempos em tempos, um inquisidor partia de Lisboa, rumo a Salvador e recolhia acusaes de crimes cometidos contra os princpios da Igreja, e passava um tempo de aproximadamente trs anos julgando os processos. A Inquisio na Amrica portuguesa atua menos contra crimes ligados a religio do que contra os chamados crimes de costumes. Uma das questes da Igreja era controlar os costumes da populao local. Manoel Arajo estudou os processos das visitaes do Santo Ofcio em Salvador durante o sculo XVII e percebeu que o crime que mais acontecia era o de sodomia, relacionamentos afetivos entre dois homens. Faltavam mulheres na colnia, por isso a sodomia era bastante disseminada. Na Amrica espanhola, a tese da limpeza de sangue foi bastante aceita, e o governo espanhol enviava mulheres brancas, normalmente rfs, para impedir miscigenao.No perodo colonial, a primeira atividade econmica desenvolvida foi a plantao de acar, iniciada no sculo XVI, de grande importncia para a economia brasileira at a independncia, e cuja lavoura ainda persiste no Brasil, evidentemente sob condies distintas. Trata-se de uma agromanufatura, em que h uma fase agrcola, do plantio e da colheita da cana-de-acar, e a fase manufatureira, de transformao do caldo de cana em acar. Esse processo precisava ser feito no Brasil porque a cana de acar apodreceria no caminho. Mesmo que a cana no apodrecesse, o volume da cana seria muito superior ao do acar em si e essa cana forneceria apenas uma quantidade pequena do produto, aumentando muito o custo. No bastava ter terras para ser bem sucedido no negcio aucareiro. Eram necessrios mquinas e equipamentos para transformar cana em acar. Era preciso ter capital. O engenho do senhor so os equipamentos e mquinas com os quais se produzia acar. Embora o senhor de engenho tenha mentalidade aristocrtica e poderes semelhantes aos de um senhor feudal, seu negcio se aproxima mais do modelo capitalista, orientado para o lucro. Preferiu-se o acar ao algodo e ao tabaco, tambm valorizados no mercado europeu, porque os portugueses j tinham experincia em plantations aucareiras, conhecimentos e compradores, adquirida no plantio nas ilhas atlnticas.As plantations brasileiras se caracterizavam por ser escravistas, monoculturistas, latifundirias e voltadas para o mercado europeu. H um sistema de produo concomitante, em paralelo indstria aucareira para abastecer a sociedade colonial. No engenho, existem roas de subsistncia e fora dos engenhos pequenas propriedades de homens livres e pobres produzem alimentos. Nos momentos em que o preo do acar atinge pontos mais altos na Europa, h maior escassez de alimentos na colnia porque proprietrios dos latifndios tentam utilizar todas as suas terras para produzir a cana-de-acar. A sociedade aucareira era fundamentalmente rural, pouco dependente das vilas, contendo a grande propriedade as principais atividades sociais, havendo capelas nas prprias fazendas, onde eram rezadas as missas. A vila s era prestigiada em determinadas ocasies, como a festa do padroeiro, a reunio da cmara municipal, a venda do acar no porto e a compra de escravos e produtos importados. Fora isso, a vila uma regio de pouco prestgio, habitada por pobres. A hierarquia grosso modo da estrutura de pouca mobilidade social que a compunha era encimada pelos senhores de engenho, grandes proprietrios de terra, escravos e capital, os lavradores livres, proprietrios de terras e escravos, sem mquinas para transformar a cana de acar, carecendo manufaturar sua colheita em algum engenho, os lavradores obrigados, so mormente antigos lavradores livres que tiveram problemas, quebras de safra, prejuzos que os colocaram na dependncia dos senhores, ficando obrigado a processar sua cana em um senhor especifico, os tcnicos na produo do acar, originalmente portugueses ou espanhois das ilhas canrias, cujos salrios representavam o segundo maior custo dos engenhos, por conta do conhecimento que possuam sobre os processos, aos poucos sendo substitudos por escravos ladinos que passaram a dominar tais tcnicas, homens livres e pobres, os feitores, calafates, agregados ao senhor de engenho, geralmente havendo relaes de compadrio, servindo como uma espcie de milcia fiel ao senhor, e os escravos, na maioria das vezes negros, nas reas onde a indstria aucareira prosperou mais, por conta do alto custo, no nordeste, mas muitas vezes indgenas, principalmente em So Vicente, So Lus e no Rio de Janeiro, apesar da proibio.Para a Coroa portuguesa, a ideia de haver muito poder nas mos dos senhores de engenho complicada. Tentou-se criar engenhos reais, mquinas e equipamentos para moer a cana de propriedade do Estado, em que lavradores livres poderiam transformar acar em taxas muito menores, frequentemente alvos de sabotagem dos senhores de engenho. Na questo do trfico de escravos da frica, ganham peso os comerciantes, que estabeleceram um circuito para troca de produtos nativos, cachaa e tabaco, usados como moeda de troca por negros escravizados por comerciantes negros e rabes na frica e levados ao litoral sob controle portugus. Luiz Felipe de Alencastro, em O Trato dos Viventes, defende que o comrcio mais significativo para a Amrica portuguesa colonial era dado com a frica, pelo Atlntico Sul. A carncia de mo de obra na Amrica era de tal ordem fundamental para a economia brasileira que constitua, segundo Manolo Florentino e Joo Fragoso, uma acumulao de capital nas mos de comerciantes da colnia. A elite econmica do perodo colonial era na verdade composta pelos grandes comerciantes, e no grandes proprietrios, e muitos deles j nascidos no Brasil.A pecuria de bovinos tambm uma atividade econmica importante, que se inicia no sculo XVI. Esses animais so trazidos da Europa, inicialmente para dentro dos engenhos, para fornecer leite e derivados, carne, trao animal para transportar pessoas e o acar, e servir de fora motriz para as mquinas que moem a cana de acar. Aos poucos, o gado torna-se um problema dentro dos engenhos. No final do sculo XVI, um alvar do rei de Portugal (e da Espanha) limitava em propriedades a at dez lguas do litoral o nmero de animais que se poderia criar, com o objetivo de evitar que a terra utilizada para a plantao de acar fosse utilizada para pasto. O objetivo especializar o nordeste na produo de acar. O gado, segundo Capistrano de Abreu, expulso do litoral, faz trs caminhos do Nordeste, de modo itinerante, abrindo caminhos, desbravando a mata e criando as primeiras estradas do territrio colonial. A conquista do serto de fora nordestino, interior prximo ao litoral, motivada pelos caminhos percorridos pelos vaqueiros, homens livres para os quais os animais so doados, sendo tocados interior a dentro. Capistrano de Abreu nota que o territrio das provncias brasileira largo no litoral e se afina para o interior, com exceo ao Piau, conquistado de dentro para fora pelo movimento da expanso da pecuria. A pecuria faz com que o territrio seja conquistado, mas no gera povoamento, porque o gado itinerante, em busca de pastos e gua. As cidades que surgem da pecuria so as cidades de feira, como Feira de Santana, na Bahia, Caruaru, em Pernambuco, Sorocaba, em So Paulo, em que se encontram vendedores de produtos derivados da pecuria e animais, e compradores. Outra rea nordestina em que a cultura do gado bovino prosperou foi o vale do So Francisco, onde se formam fazendas de criao, por conta da fartura de gua, e do sal-gema, rico em vitaminas, existente nas barrancas dos rios. Naquela regio, sesmarias prosperam com a criao de animais.A criao de gado tambm teve terreno frtil na regio sul do pas, de modo distinto. As primeiras cabeas de gado chegam regio com Martim Afonso, em 1532, e se reproduzem. Quando So Vicente comea a entrar em crise, o gado se espalha e foge, sem a direo do homem. Esses rebanhos comeam a subir a serra, em busca de pasto e gua. Os rebanhos se multiplicam e avanam sobre Paran, Santa Catarina e aos pampas sulinos, onde se reproduzem em larga escala e revertem ao estgio de selvageria, o gado cimarrom. Quando os portugueses, no sculo XVII comeam a avanar para a regio sul, encontram esses animais e buscam domestic-los. A partir da, a regio ganha importncia na atividade pecuria. A relao entre os vaqueiros no monetria, havendo o pagamento dos auxiliares em animais, que tentam constituir seus prprios rebanhos. Criou-se na regio, segundo Capistrano de Abreu, a chamada civilizao do couro, utilizado grandemente como matria prima.Outra atividade econmica o bandeirantismo, atividade que no gerava povoamento, mas desbravamento, entre os sculos XVI e XVIII. Os bandeirantes s fundam cidades quando encontram metais preciosos. O ponto de partida do bandeirantismo So Vicente e So Paulo. A regio em que foi estabelecido o primeiro ncleo de colonizao, porm rapidamente tornou-se secundria, no conjunto da Amrica portuguesa, ficando abandonada. A populao da regio teve que buscar atividades econmicas que lhe garantissem algum grau de sustento. A primeira delas a busca por metais e pedras preciosas, sonho bandeirante, por conta da qual embrenham-se no interior, utilizando indgenas em tropas de busca. No encontrando, a princpio, ocorre o bandeirantismo de preao, a escravizao de ndios. Nas regies secundrias plantation aucareira, falta mo de obra negra, havendo demanda por braos indgenas. A partir do sculo XVII, desenvolveu-se o sertanismo de contrato, em que grandes proprietrios de engenho que se sentiam ameaados por tribos hostis de indgenas ou por quilombos contratavam bandeirantes para destru-los. Domingos Jorge Velho contratado para destruir Palmares, o que faz com suas tropas indgenas. Como pagamento, recebe terras e sesmarias no vale do So Francisco e cabeas de gado, tornando-se pecuarista.O extrativismo das drogas do serto no vale amaznico foi tambm uma importante atividade econmica desenvolvida no perodo colonial, entre os sculos XVII e XVIII. Trata-se de ervas medicinais e especiarias. A Espanha havia entrado em guerra contra as Provncias Unidas, a que chamamos simplificadamente de Holanda. Para combater os espanhis, os holandeses criaram um projeto mundial, com o objetivo de atacar as colnias espanholas, de onde provinha sua fora econmica. Naquele momento, as colnias portuguesas so espanholas. Foi criada a Companhia das ndias Orientais, que atacou a regio das ilhas molucas, rea de colonizao portuguesa, ento, expulsando-os. Os portugueses perceberam a regio que haviam perdido possua condies climticas semelhantes s da Amaznia, e resolveram buscar tais especiarias na regio. Para isso, a mo de obra indgena seria fundamental, por se tratar de povos que h muito lidavam com as riquezas biolgicas da regio. Os religiosos tiveram um papel fundamental na montagem de tal estrutura econmica porque suas misses catequistas poderiam reunir trabalhadores para realizar a atividade de coleta, assim como havia sido feito com o pau Brasil. No havia como escravizar algum para exercer uma atividade to dispersa. Oferecia-se proteo em troca de trabalho, de modo semelhante ao feudalismo europeu. As misses protegiam os ndios da escravizao. Em So Lus, Estado do Maranho, regio secundria de plantations, faltavam braos negros, por conta da complicada navegao para a regio, ento havia demanda por mo de obra indgena. Os ndios das misses eram mais familiarizados com a cultura ocidental, portanto de maior serventia para o trabalho. Interesses privados e pblicos, da Igreja, passam a conflitar. O Estado precisa encontrar uma soluo benfica para os proprietrios e para garantir as misses, de onde provinham as drogas do serto, e garantiam a posse do territrio. Padre Antnio Vieira, que discursava contra a poltica dos proprietrios de escravizar os indgenas para escravizar, denunciado para a Inquisio como judaizante, julgado em Portugal. Os jesutas enriqueciam com as atividades extrativistas das drogas do serto. Cria-se a Companhia Geral de Comrcio do Estado do Maranho, em 1682, para amenizar o conflito, com o objetivo de fomentar a agromanufatura de acar e o cultivo de algodo, atravs do fornecimento de crdito e de escravos africanos aos produtores da regio, assegurando o transporte em segurana daqueles gneros em segurana para a Europa.A atividade mineiradora tambm uma atividade fundamental para a economia colonial, entre 1695 e os anos 1780 e 1790. Em 1695, foi encontrado o primeiro grande veio de ouro no vale do rio das Mortes, em Sabar, Minas Gerais. Na lgica mercantilista, pas rico pas dotado de metais preciosos. A descoberta teria sido feita por bandeirantes paulistas, liderados por Borba Gato. A notcia se espalha imediatamente, promovendo a corrida do ouro e aumentando a populao da Colnia. A mineirao pode permitir enriquecimento rpido. A populao, concentrada no litoral, desloca-se para o interior, assim como cidados metropolitanos e de outros pases. No incio do sculo XVIII, haveria 300 mil pessoas na Colnia, e no final do sculo, mais de 3 milhes. Os vicentinos, que descobriram as minas, queriam o controle da regio, o que geraria a Guerra dos Emboabas. Para a Coroa, interessa a extrao rpida. O ouro a riqueza em si, mais fcil de ser sonegada. Era preciso montar uma estrutura de controle mais rgida, bem mais pesadas do que nos portos nas regies de plantation. Cria-se a figura do Intendente das Minas, espcie de governador, que comanda militares, para policiar e fiscalizar a sonegao. Vem uma srie de pessoas com conhecimentos em geologia para facilitar a extrao. Todo ouro encontrado deveria ser levado s vilas, que naquele perodo haviam florescido, aos prepostos dos intendentes que dividiam datas ou lavras, no terreno onde ocorre a descoberta, e distribuam as datas, as duas melhores a quem encontrou, uma ao rei, leiloada, outra ao intendente, geralmente tambm leiloada, e sorteando as cinco demais, entre os inscritos para serem mineradores na intendncia. Trata-se de um projeto organizado pelo Estado portugus.A coroa percebeu que a extrao rpida interessava mais. A mo de obra utilizada de escravos, geralmente negros, diferentemente da Amrica espanhola, que era sustentada pelo trabalho indgena nas mitas ou quatequis. Estabelece-se com os escravos que parte do ouro encontrado forma um fundo para a algorria, por isso o escravo se interessava por entregar todo o ouro extrado. Como estmulo rpida extrao, a Coroa limita o sorteio aos possuidores de mais escravos.A primeira forma de taxao estipulada pela Coroa portuguesa para a regio mineradora foi o quinto, 20% sobre a quantidade de ouro extrada. Quando a quantidade de ouro extrada comea a declinar, a Coroa passou a auferir bem menos. O sistema de capitao, que consistia em cobrar de acordo com o nmero de escravos que cada minerador possua, proposto. Com isso, os mineradores livraram-se de muitos escravos e a arrecadao diminuiu. Cria-se ento um imposto mais pesado, a cota fixa, conhecido erroneamente com o nome de derrama, cobrana de impostos atrasada. A cota fixa quanto a regio mineiradora, independentemente de sua produo anual, deveria pagar ao governo portugus, por ano, o equivalente a 100 arrobas de ouro. Quando no se conseguia pagar, acumulavam-se dvidas, que em um determinado momento configura a derrama, cobrana da coroa portuguesa. A derrama era to injusta que s foi feita uma vez. A conjurao mineira estava planejada para quando houvesse a derrama, aproveitando-se do ambiente catico que tal poltica provocaria. A mineirao do diamante, na regio do chamado Distrito Diamantino deu-se de forma diferente do modelo do ouro, limitando a extrao ao Estado portugus, cercando a regio militarmente. Criou-se tambm uma intendncia do diamante, em que o intendente deveria contratar por licitao um investidor disposto a pagar caro pelo monoplio da explorao por um perodo de tempo. O Estado ganhava no processo da licitao e na cobrana do quinto. Os cargos de provedor de capitania eram tambm licitados da mesma forma, por exemplo. Tudo o que tal provedor arrecadasse era para si, pois j havia antecipado uma quantia ao Estado portugus. Esse o sistema clssico do Antigo Regime.O desinteresse dos espanhis em ocupar as regies da costa leste norte-americana fez com que os ingleses, franceses e holandeses colonizassem a regio. Os portugueses consideravam invaso as tentativas francesas e holandesas de ocupar territrios no Atlntico sul, que julgavam seus por direito, por conta de Tordesilhas. As prticas mercantilistas, em busca de balanas comerciais favorveis, geram a disputa pelo controle das colnias. Durante os sculos XVI, XVII e XVIII, h uma srie de conlitos em torno do domnio de territrios alm mar.No sculo XVI, os franceses invadiram o Rio de Janeiro, a baa de Guanabara, entre 1555 e 1567. Na Frana, havia guerras religiosas, naquele perodo, entre huguenotes (calvinistas) e catlicos. O conflito foi mitigado com um acordo, porm havia tenses na sociedade francesa. Um grupo de huguenotes, liderado por Nicolau Villegagnon, para fundar uma colnia, a Frana Antrtica, no litoral sul da Amrica do Sul, pensando basicamente em ter acesso prata vinda do Peru. Sabia-se que a riqueza que aqui existia, em princpio, era o pau-brasil. Os franceses fixaram-se em uma ilha, hoje aterrada, qual deram o nome de seu lder, onde montaram uma fortificao e comearam a extrair pau-brasil, seguindo o modelo de escambo. Os portugueses perceberam a presena dos franceses na regio e enviaram, em 1565, uma expedio militar, comandada por Estcio de S, para fundar uma cidade na regio e expulsar os franceses. J tendo a informao de que os franceses haviam se estabelecido mais para dentro da baa de Guanabara, os navios portugueses fundearam na regio do morro Cara de Co, com o objetivo de controlar a entrada e sada de navios. Os portugueses se aproximam dos ndios hostis aos franceses e iniciam uma guerra para expuls-los. A cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro fundada, em 1565, e os franceses expulsos dois anos depois, tornando-se um ponto importante no caminho para o Prata e para So Vicente.O segundo momento de presena francesa no incio do sculo XVII, em que Portugal esteve sob domnio espanhol, reino que estava em guerra com a Frana. Os franceses tinham como projeto dominar a foz do rio Amazonas, para encontrar a regio da preta peruana. Os franceses fundaram, na ilha do Maranho, a vila de So Lus, em homenagem ao rei francs, no projeto da Frana Equinocial, em 1612. A ideia era avanar dali na direo norte e ir conquistando os territrios at a foz do Amazonas. Os portugueses, em 1614, expulsam os franceses da regio, tomando a vila de So Lus. Os franceses deslocaram-se para o norte e montaram em Caiena, mais tarde lugar para onde eram destinados degredados, conhecida como ilha do Diabo.Com o fim da dinastia de Avis, em 1575, com o desaparecimento de Dom Sebastio I, o desejado, filho de reis considerados velhos, que havia assumido o trono aos 21 anos, liderando seus exrcitos, os maiores da histria de Portugal (20.000), contra os mouros no norte da frica, onde os portugueses estavam presentes, desde 1415 (Ceuta), buscando expandir as possesses lusas na regio. Dom Sebastio I busca conquistar novas terras para a nobreza portuguesa para estimular o plantio de cereais e para expandir a f catlica. Na batalha do Alcer Quibir, os portugueses so completamente derrotados. O corpo de Dom Sebastio nunca apareceu. Criaram-se mitos, em Portugal, de que o rei voltaria para anunciar o juzo final.Quem assume o trono o cardeal Dom Henrique, ltimo Avis, idoso, que morre um pouco depois. Em 1580, coloca-se uma disputa no trono entre Filipe II da Espanha, cuja av materna era portuguesa, e a corrente de que a famlia do duque (um grau nobilirio abaixo do rei) de Bragana deveria assumir o trono. Para ganhar apoio da nobreza e da burguesia portuguesa, Filipe II seduz os lusos prometendo acesso ao ouro e prata americana aos nobres, e ameaou a burguesia de por fim ao direito de asiento, permisso dada a coroa espanhola a comerciantes de outras metrpoles para vender escravos negros nas reas da plantation antilhana. Com o apoio de ambos, Filipe II chegou ao trono portugus. A Unio Ibrica concentra um imprio gigantesco. Alm disso, Filipe II era imperador do Sacro-Imprio Romano, defensor da f catlica. O catolicssimo fortalece a j dura Inquisio espanhola. Uma das regies da Europa que fazia parte do Sacro-Imprio, a regio das Provncias Unidas, bastante desenvolvidas do ponto de vista financeiro e de construo naval, abrigava uma tolerncia religiosa maior, talvez por se tratar de sociedades mais urbanas e comerciais. Judeus e calvinistas buscavam a regio em busca tranquilidade para tocar seus negcios. Os judeus haviam sido expulsos da Espanha. Em Portugal, por causa da Unio Ibrica, os judeus portugueses sofreram mais perseguio. Felipe II resolve impor tribunal da inquisio nas Provncias Unidas, o que provoca reaes na elite local, que declara independncia. O governo espanhol, ento declara guerra Repblica das Provncias Unidas, para submeter os hereges, em 1581. Felipe II abre vrias frentes de guerra, inclusive contra a Inglaterra de Isabel I, em 1588, que derrota a invencvel armada espanhola. A riqussima Espanha gasta muito em guerras. Os holandeses identificam nas colnias o calcanhar de aquiles ibrico, de onde provinha seu poder. Os primeiros alvos so os domnios portugueses na sia, menos protegidos. A regio dos altiplanos mexicano e peruano, onde se concentravam as mais lucrativas minas, dificultavam a penetrao militar. A Companhia das ndias Orientais, montada em 1603, ataca, em 1609, os domnios portugueses nas Ilhas Molucas, expulsando-os.Tem-se um perodo de trgua, de 1609 a 1621. Em 1621, fundada a Companhia das ndias Ocidentais para atacar a parte ocidental do imprio espanhol, e alvejam a regio produtora de acar na Amrica portuguesa. Primeiramente, a expedio da Companhia atacou Salvador, sede do governo governo-geral, imaginando erroneamente que a cidade tinha controle sobre o resto do territrio. A reao portuguesa forte. Tropas vindas de Lisboa os expulsam em 1625, aps a ocupao ocorrida no ano anterior. Ao invs de voltar para a Holanda, a expedio foi para as Antilhas, para atacar as frotas espanholas. Em 1628, os navios da Companhia das ndias Ocidentais (as aes da Companhia valorizaram-se muito) capturaram treze galees carregados de ouro e prata. Parte da presa financiou a montagem de uma expedio com 15 mil soldades e 1500 canhes em navios para atacar Pernambuco, principal regio produtora de acar. Em 1630, uma poderosa esquadra da Companhia das ndias Ocidentais chega a Recife, toma a regio e tenta avanar sobre Olinda. Comea uma guerra. A presena holandesa em Recife gera resistncia em Olinda, seguida de acomodao e de um conflito aberto. Em um primeiro momento, os senhores de engenho criaram um movimento para impedir que os holandeses tomassem conta do territrio. Muita gente imaginava que os holandeses calvinistas iriam implantar o calvinismo. A bandeira do catolicismo foi levantada. Essa resistncia gera uma guerra de guerrilha, em que canaviais foram incendiados, mquinas de engenho destrudas e escravos fugiram, inclusive para Palmares, que comeara a ganhar corpo. A guerrilha cercada aos poucos. Em determinado momento, os holandeses consolidam o domnio.A Companhia traz, ento o prncipe Maurcio de Nassau, considerado um administrador competente. O prncipe estende a mo s elites proprietrias, reatando os laos tradicionais que uniam a agromanufatura aucareira aos flamengos e batavos. Os holandeses propuseram-se a financiar a restruturao dos engenhos e eliminar o intermedirio portugus do circuito do produto. Quem no aceitasse a proposta perderia as terras. Percebeu-se ento que a falta de mo de obra obstaria a empreitada. Os holandeses ento voltam-se para Angola. Em 1641, uma expedio toma Luanda, reconquistada com foras reunidas no Rio de Janeiro, em 1648. A Unio Ibrica tem consequncias trgicas para Portugal, que passaria por um perodo de restaurao pelo qual Dom Joo IV de Bragana elevou-se ao trono naquele mesmo ano.Os pernambucanos que se acomodado movimentam-se. A economia aucareira havia se recuperado, e os acionistas da Companhia das ndias Ocidentais estavam cobrando pelos emprstimos que haviam feito e Nassau estendia a carncia dos devedores, para conseguir apoio poltico. Quando o prncipe volta Holanda, um triunvirato passa a administrar da Companhia a regio com o objetivo de recuperar os investimentos feitos.A reao dos proprietrios pernambucanos s cobranas holandesas de abandonar a parceria e combater os invasores. Quando o conflito retomado, os holandeses j no so militarmente superiores. Na Guerra dos Trinta Anos, no continente europeu, a repblica das Provncias Unidas j havia gastado demais. Os locais expulsam, ento os holandeses, nas batalhas dos montes Guararapes, entre 1648 e 1849. O mito fundador do exrcito brasileiro inaugura-se com essa vitria: Felipe Camaro, Henrique Dias e Andr Vidal de Negreiros, um ndio, um negro e um branco, juntaram-se para expulsar os holandeses. Os derrotados permanecem aqui at 1654, quando assinam a Rendio da Campina da Taborda e retiram-se. Alguns deles, de origem judaica, partiram para Manhatan, e fundaram Nova Amsterd. Aps a restaurao, a Amrica ganha prioridade para Portugal, com a perda definitiva das Molucas.A metrpole portuguesa passa a investir mais em seus domnios americanos, buscando explorar outras riquezas do novo mundo. Nesse momento, o comrcio das drogas do serto e das especiarias da floresta equatorial amaznica passa a ser encorajado. Consequentemente, aumenta o controle e a fiscalizao sobre a regio, gerando conflitos de interesse entre as elites metropolitana e colonial. Em 1642, a pedido de D. Joo IV, intelectuais da Corte elaboraram um plano de retirada para a Amrica, porque os portugueses imaginavam a possibilidade de os espanhois invadirem Lisboa. O governo portugus buscou aliar-se Inglaterra, porque os ingleses tinham problemas com os inimigos holandeses. Naquele momento, a Inglaterra passava por um conflito interno, a Revoluo Puritana, que decapitou o rei e instaurou a Repblica. Em 1651, no governo de Oliver Cromwell, so decretados os Atos de Navegao, ataque ao domnio holands dos mares. Para fazer comrcio em portos ingleses, os barcos deveriam ser ingleses ou capitaneados por ingleses. Holanda e Inglaterra entram em guerra. A vitria inglesa os transforma nos grandes senhores do mar.Em 1661, com a Inglaterra j sob o comando dos reis Stuart, firma-se o Tratado de Haia, que define quais territrios pertenciam a Portugal ou Holanda, aps os conflitos. As Molucas permaneceram com a Holanda, Pernambuco e Angola com Portugal. O governo luso comprometeu-se a indenizar os holandeses pelos investimentos na estrutura aucareira, enquanto aqui eles estiveram. A Inglaterra foi a mediadora do acordo. Em 1661, Portugal e Inglaterra firmam a Aliana Luso-Britnica, tratado em que as coroas se comprometiam a se aliar em qualquer tipo de conflito. Foi feito um casamento entre o rei ingls Carlos II e a princesa portuguesa Catarina de Bragana para consagrar uma longa aliana, com a qual Portugal, abraado pela Espanha, se protegeria por conta de sua frgil posio geopoltica.O Estado portugus, aps a restaurao, volta-se para a Amrica e toma medidas visando centralizao. Em 1642, cria-se o chamado Conselho Ultramarino, que os portugueses apreenderam da experincia espanhola. Esse rgo foi criado para assessorar o rei no tocante s Colnias, uma espcie de ministrio das Colnias, o ajudava a criar impostos, escolher governadores gerais etc. Outra medida centralizadora a criao de Companhias Gerais de Comrcio, uma do Estado do Brasil, em 1649, e uma o Estado do Maranho, em 1682. Trata-se de empresas monopolistas, seguindo a lgica de Coubert e das companhias inglesas de Plymouth e de Londres. A partir de 1649, somente barcos de tais companhias poderiam fazer o comrcio Brasil- Lisboa. Vrios comerciantes juntam-se e formam uma companhia nica e passam a ser monopolistas no circuito comercial. O mesmo se d no Estado do Maranho. Introduz-se o sistema de frotas semestrais. Todos os navios iam e voltavam juntos. Quem navegasse fora da frota eram contrabandistas e piratas. Em 1696, cria-se o cargo de juiz de fora, que teria nomeao para todas as cmaras municipais. O juiz de fora vinha de outra vila e destinavam-se segunda instncia. A ideia da Coroa portuguesa que o magistrado no esteja contaminado das relaes com os grandes proprietrios, promovendo uma justia, seno isenta, pr-metrpole. A limitao prtica era que esses juzes de fora tornavam-se juzes locais e sofriam influncias das elites locais. Os juzes de fora tinham fora onde havia a presena do Estado portugus, onde eram menos necessrios.Um dos problemas ps-Unio Ibrica foi uma crise da economia aucareira, por conta, mais do que a concorrncia do acar antilhano, para onde migram os holandeses, a resistncia holandesa, principais distribuidores da Europa central, em vender acar produzido na Amrica portuguesa, fechando mercados a produtos brasileiros. Em 1703, houve a assinatura de um acordo comercial, o Tratado de Methuen, nomeado em referncia aos irmos Methuen, principais mentores da parte inglesa do tratado, tambm conhecido como tratado de Panos e Vinhos. Havia um forte mercado em expanso para a manufatura de l britnica. Os ingleses estavam interessados na importao do vinho do porto. Para a nobreza produtora de vinhos, no norte de Portugal, o tratado foi timo. Roberto Simonsen v o tratado como a causa da dependncia portuguesa da Inglaterra, uma situao de balana comercial amplamente desfavorvel, que acabava fazendo com que o ouro brasileiro se destinasse aos cofres britnicos. Karl Marx afirma que o ouro brasileiro teria financiado a Revoluo Industrial. Entretanto, o tratado de Methuen s teria durado apenas trs anos. Esse tipo de tratado era bastante comum. Em 1782, a Frana negociou o Tratado de Eden Rayneval, nos mesmos moldes de Methuen. A dependncia existia, no apenas por conta desse tratado. Quando houve a descoberta de ouro no Brasil, setores da elite portuguesa modificaram seu modo de compreender a economia. Com a restaurao e o declnio do acar, o vedor da Fazenda portugus, Lus de Meneses, o conde de Ericeira, no reinado de Pedro II, prope que se invista no setor manufatureiro, utilizando recursos do Estado para incentivar setores da elite portuguesa a construir manufaturar e produzir manufaturados, a exemplo de Coubert. Em 1695, descobre-se ouro no Brasil, o que faz com que a poltica de Ericeira seja considerada absurda pela nobreza e pela igreja tradicionais portuguesas. Portugal tinha ouro para comprar o que quisesse, sem precisar produzir nada. A descoberta do ouro no Brasil prejudicou a nascente indstria portuguesa, que poderia ter deslanchado. As tendncias mais retrogradas, preocupadas com gastos luxuosos, ornamentos nas igrejas, etc., prevaleceram em Portugal. o perodo mais radical do barroco e do rococ portugus.A ao portuguesa, mais controladora, gera reaes da elite colonial. Em 1666, teria ocorrido o primeiro movimento de insatisfao da elite, anti-fiscal, ou, utilizando uma nomenclatura da historiografia mais tradicional, movimentos nativistas. Trata-se da Revolta da Cachaa, contra o imposto sobre a comercializao do produto, utilizado basicamente no trfico negreiro. Os movimentos ditos nativistas, diferentemente do que ocorre mais adiante, eram extremamente localizados, sem propsitos separatistas, e sem ideologia unificadora que os justificassem. Trata-se de revoltas contra polticas metropolitanas consideradas prejudiciais pelas elites coloniais.Em 1684-85, ocorre a Revolta de Beckman, que tem origem no tradicional conflito entre os interesses nativos em contar com o trabalho compulsrio dos ndios e o interesse dos jesutas e da metrpole, em mant-los sob a proteo dos padres em troca do trabalho de coleta de drogas do serto e especiarias, que expandia a ocupao portuguesa Amaznia a dentro. A alternativa encontrada pelo Estado portugus a criao da Companhia Geral de Comrcio do Estado do Maranho, em 1682. No contrato que fundou a Companhia, diz-se que a empresa teria o monoplio sobre o comrcio com a regio e, para no utilizar o monoplio de forma prejudicial aos colonos, so impostas algumas regras. Uma delas estabelecimento de preos mnimo e mximo no comrcio, para evitar que o monopolista pagasse o quanto quisesse pelo acar e cobrasse quanto achasse por bem pelos produtos importados pelos colonos. Para resolver o problema da mo de obra, a Companhia seria obrigada a vender 500 escravos africanos por ano naquela regio, para atender a demanda por mo de obra escrava, a preo fixo. A Companhia se instala na regio. Alegando prejuzos, a empresa comea a cobrar preos mais altos dos produtos trazidos de Portugal e a pagar menos pelo acar da regio, alm de colocar menos de 300 escravos disposio dos compradores nortistas, sem preo fixo, em 1684, quebrando todas as regras do contrato de forma unilateral.A elite de So Lus, reunida na cmara municipal, liderada pelos irmos Beckman, que pegam em armas e fecham a sede da Companhia em So Lus. Um navio da Companhia escapou e foi para Lisboa avisar o que havia ocorrido. Um dos irmos Beckman vai Lisboa explicar ao rei de Portugal o que ocorria. No era um movimento de rebeldia contra a Coroa. Beckman preso e condenado. Soldados portugueses so enviados So Lus, fecham a Cmara Municipal, prendem os lderes do movimento e reabrem a Companhia. Os irmos Beckman so enforcados. Logo depois, porm o Estado portugus, apesar de no aceitar a rebeldia, fecha a companhia. Ataques s misses e a escravizao de indgenas voltam a ocorrer.Entre 1707 e 1709, ocorre a Guerra dos Emboabas. Emboabas, na lngua franca falada em So Vicente, significava forasteiro. Os paulistas, que haviam descoberto o ouro, queriam exclusividade na explorao do mineral, diante da corrida pelo metal nobre. Os paulistas queriam o monoplio da extrao do ouro e tabelamento dos preos dos produtos vendidos pelos comerciantes. A Coroa portuguesa no tem nenhum interesse nisso. Os comerciantes que possuam muitos recursos se armam e comea um conflito entre bandeirantes e emboabas, tendo os ltimos saindo vencedores.Entre 1710 e 1714, ocorre a Guerra dos Mascates, que Evaldo Cabral de Mello, define como A Fronda dos Mazombos. Seria nesse sentido um movimento da nobreza de Pernambuco, os senhores de engenho. Olinda era originalmente a vila e o municpio, enquanto Recife, apenas um porto subordinado Olinda. Recife desenvolvia-se como regio dos comerciantes. Olinda ligava-se sociedade aucarocrata. Com a crise da economia aucareira, os proprietrios comeam a ter lucros menores e a enfrentar dificuldades, contraindo elevadas dvidas. O endividamento transfere aos poucos o centro econmico de Olinda para Recife, e os comerciantes tornam-se mais poderosos economicamente do que os senhores. Em 1710, a pedido dos comerciantes de Olinda, o rei de Portugal eleva Recife vila, o que permite o surgimento de uma cmara municipal ali, composta por comerciantes. Os proprietrios olindenses invadiram Recife, quebraram o pelourinho local, fecharam a cmara, enviando queixas ao rei. Tropas portuguesas desembarcam em Recife e impem a ordem a ferro e a fogo. Mais uma vez, a reivindicao da elite local se manifesta contra uma medida do rei, que no se importa em contrari-los.Em 1720, ocorre a Revolta de Vila Rica, de Filipe dos Santos ou de 1720. A revolta se restringe Vila Rica, no contaminado outras cidades mineradores, e tem como alvo as casas de fundio criadas pelo rei. Os mineradores sentiam-se prejudicados, tungados pelos funcionrios reais. Alm disso, a medida real que limitava a circulao do ouro na colnia, sob a forma de barras com o braso real, coibia o contrabando, o que decerto desagradava aos nativos. Liderados por Filipe dos Santos, a casa de fundio fechada. O rei responde com uma pesada represso. Aos poucos comea a surgir a ideia de que o rei era insensvel s suas demandas, o que colocava em cheque o Pacto Colonial.Quando Jos I assume, em 1750, o marqus de Pombal, Sebastio Jos de Carvalho e Melo, emerge como secretrio de Estado do Reino, elemento que traz a ilustrao, ideias progressistas para a administrao (relaciona-se com o despotismo esclarecido. Distingue-se do Iluminismo liberal, contrrio ao Absolutismo), para Portugal. O despotismo esclarecido reforma o Estado em relao a certos aspectos da vida econmica, poltica e social. A maior parte dos dspotas esclarecidos fizeram reformas fiscais para racionalizar as necessidades do Estado, diminuram a fora do clero (catlico, luterano ou ortodoxo), descartaram a tortura como forma vlida de se obter uma confisso no tribunal, por exemplo. Marqus de Pombal afirmava saber do que os comerciantes portugueses precisavam, mais do que eles prprios. Trata-se de um projeto reformista, uma modernizao autoritria e conservadora.A figura central do governo de Jos I o marqus de Pombal. Em 1759, Pombal expulsa os jesutas do Imprio, sob a acusao de compl contra o rei e tentativa de regicdio. Setores da nobreza portuguesa, contrrios s iniciativas do governo de Jos I, atentaram contra a vida do rei. O atentado fracassou e Pombal perseguiu com mos de ferro os conspiradores, entre os quais havia identificado, com justia ou no, os jesutas, ordem que tinha problemas com o papa. O reflexo disso foi a expulso dos jesutas, que monopolizavam a educao no pas, substituindo-os nesse sentido pelas aulas rgias, embrio da escola pblica brasileira, com professores laicos pagos pelo Estado para ensinar o bsico aos brasileiros. Para ir alm, era necessrio cursar escolas de outras ordens religiosas que permaneceram no territrio, enquanto Pombal esteve no poder. Pombal permite a instalao de manufaturas no Brasil, com o objetivo de conter a dependncia portuguesa da Inglaterra. Tentando fortalecer a economia colonial, Pombal esperava tornar Portugal menos refm da Inglaterra. Pelo sistema do Pacto Colonial, a economia colonial no deveria produzir o mesmo que a economia metropolitana. Quando Maria I assume, promulga o famoso alvar, em 1785, proibindo a produo manufatureira no Brasil, exceto para os chamados panos rsticos, utilizados para vestir escravos. Outra medida importante foi a anulao das revolues do Tratado de Madri, como veremos adiante.Pombal desagradou tambm as elites coloniais, como o estabelecimento do sistema de cobrana de impostos na rea mineradora pela cota fixa, em um momento de decadncia da extrao mineral nas minas de Minas Gerais, de Gois e de Cuiab. Dona Maria I manteve tal imposto e a derrama que seguiria os consecutivos dbitos de impostos, o que acaba redundando na Conjurao Mineira, de 1789, ocorrida em seu reinado.Com a expulso dos jesutas, Pombal cria o Diretrio dos ndios, rgo da administrao portuguesa encarregado do processo civilizatrio e de organizao dos nativos, substituindo as misses jesutas, o que no fui muito mais do que uma ideia. As companhias privilegiadas de comrcio so recriadas, como a Companhia Privilegiada de Pernambuco e da Paraba, Companhia do Estado do Maranho e do Gro-Par, exemplos do modelo mercantilistas tradicional. Em 1755, ocorreu o sismo de Lisboa, que destruiu a cidade e pesou em uma srie de decises pombalinas. Uma das questes fundamentais de Jos I a reconstruo da capital portuguesa, o que carecia bastante das contribuies da economia colonial. Impostos mais pesados incidem sobre a colnia, o que evidentemente gera reaes na sociedade americana. A transferncia da sede para o Rio de Janeiro e a unificao dos Estados do Brasil e do Maranho, e a transformao da colnia ao status de vice-reino, em 1763, beneficiou bastante a nova capital portuguesa na Amrica. Foram criados tribunais e uma burocracia muito mais estruturada. Pombal tenta fortalecer a economia do Imprio e torn-lo menos vulnervel a influncia britnica, processo que retrocede quando Dom Jos I morre. Os grupos mais vinculados ao Absolutismo clssico ascendem com a nova rainha, Dona Maria I.A partir da segunda metade do sculo XVIII, h movimentos claramente separatistas na colnia, com projetos de construir repblicas independentes do imprio portugus, regionais, e de ideologia iluminista adaptada a realidade colonial (tolerante escravido, por exemplo). Todos foram derrotados e duramente reprimidos antes de deflagrados. No caso da Conjurao Bahiana, aps a delao, determinados setores mais radicais tentaram iniciar o movimento, com pouca repercusso. A Conjurao Mineira, de 1789, foi influenciada diretamente pela Independncia dos EUA. A Revoluo Francesa, de vis mais constitucionalista, apesar de quase contempornea no influenciou o movimento. Lojas manicas, assim como no hemisfrio norte e nos movimentos emancipacionistas em toda a Amrica, sediavam inmeros debates sobre as ideias que circulavam e engajavam os conspiradores brasileiros. Lnin quando criou o Partido Bolchevique juntou a viso manica e a jesutica da hierarquia e da disciplina. As propostas do movimento, que ainda estava em fase de discusso, era proclamar a Repblica, com capital em So Joo Del Rey, instalar uma universidade em Vila Rica e ter o Rio de Janeiro como porto. A escravido permaneceria intacta. Tiradentes teria sido o bode expiatrio porque era o elemento militar do movimento, porque era quem desafiava o monoplio da violncia legtima do Estado. O movimento malogra com a denncia de Joaquim Silvrio dos Reis, em troca de anistia de dvidas. A cobrana da derrama foi suspensa, e os lderes do movimento, presos. Muitos foram condenados a degredo e morte. Tiradentes foi executado no Rio de Janeiro, em 1792, e seus retalhos expostos em diferentes partes da regio mineradoras.Em 1794, ocorreu no Rio de Janeiro uma conjurao, na Sociedade Literria do Rio de Janeiro, um clube de discusses do qual alguns membros foram delatados por colocar em pauta ideias iluministas. A Sociedade ento fechada, seus membros, presos e instaurada uma devassa sobre a instituio. Em 1994, a UERJ, com seu projeto de valorizar a histria da regio, publicou os autos da devassa.Em 1798, ocorre a Conjurao Bahiana, a considerada mais radical, composta tambm por setores populares, conforme o outro nome a ela atribudo, a Revolta dos Alfaiates, atesta. Uma sociedade manica chamada Cavaleiros da Luz o principal ncleo dos conspiradores, fortemente influenciados pela independncia do Haiti, de 1795, e pela fase da Conveno Francesa jacobina, que havia abolido a escravido nas colnias. Esse movimento republicano e os setores populares defendem a tese da abolio do escravismo. A revolta mira os altos impostos, a opresso, ao fato de que Salvador havia sido prejudicada com a transferncia da capital para o Rio de Janeiro, a fragilizao da economia aucareira, em concorrncia com o acar de beterraba europeu, principalmente na Polnia, etc. Os setores de grandes proprietrios abandonam o movimento quando ganha fora o fim da escravido. Aps a delao e as prises, quatro foram os condenados morte, todos alfaiates. Esse movimento s recuperado na historiografia brasileira no sculo XX, por conta de seu republicanismo e abolicionismo.Em Pernambuco, houve, nos moldes da Conjurao carioca, houve a Conspirao dos Suassunas, em 1801, vinculada ao Arepago de Itamb, clube literrio. Os Suassuna, poderosa famlia aucarocrata, estavam frente do Arepago. A nica consequncia foi o fechamento da loja manica, aps o processo das denncias.A questo lindeira das possesses portuguesas nas Amricas foi alvo de inmeras controvrsias e tratados. A Colnia do Sacramento, estabelecida por Portugal s margens do Prata, praticamente em frente a Buenos Aires, pautou mais de um desses acordos com a Coroa espanhola. Em 1680, os portugueses enviaram do Rio de Janeiro comandada por Manuel Lobo, com o objetivo de fundar a Colnia do Santssimo Sacramento. A lgica garantir acesso livre s navegaes do Rio da Prata, e colocar uma ponta de lana que levasse os portugueses a ocupar territrios a partir dali, marcando no rio um limite natural entre as possesses portuguesas e espanholas. Os espanhis percebem a presena portuguesa e atacam a vila, expulsando os portugueses. Naquele ano, j existia a aliana entre Portugal e Inglaterra, e aos ingleses o entreposto portugus ali interessava. Os ingleses pressionam o governo espanhol, que acaba cedendo, e Sacramento devolvida, pelos Tratados de Lisboa, de 1681. Os espanhois constroem mais acima, do outro lado da foz, mas na entrada da barra, a cidade de Montevidu, para fechar os dois lados do rio e comear o processo de ocupao, cercando Sacramento. Os portugueses ento comeam a colonizar o sul do pas. Nas demais regies, espanhois e portugus no tm muitos atritos. Ao sul, o acesso aos rios era uma questo estratgica para ambos, para se chegar s minas e ao interior da colnia, no caso luso.Em 1715, pelo Tratado de Utrecht com a Espanha, Sacramento novamente devolvida aos portugueses. O Tratado de Utrecht com a Frana, em 1713, entre a Frana (Lus XIV) e Portugal (D. Joo V). Estabeleceu os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa, assegurando o nosso domnio sobre o Amap (ou a Terra do Cabo Norte), tendo como base o rio Oiapoque (Vicente Pinzn). Sempre que na Europa havia um conflito entre Portugal e Espanha, os espanhois tomavam Sacramento, na Amrica, eventualmente tomando a Ilha de Santa Catarina e bombardeando o Rio de Janeiro. Por volta de 1748, na Europa uma trgua entre as Coroas ibricas. Atritos entre Frana e Inglaterra repercutiam nos aliados, Portugal e Espanha. Tenta-se elaborar um tratado definitivo para a questo, o Tratado de Madri, de 1750. Apesar de anulado posteriormente, trata-se do talvez mais importante acordo da histria da colnia, porque legitimou as posses portuguesas no Norte e no Centro-oeste do pas, muito alm de Tordesilhas, constituindo a base da formao do atual territrio brasileiro. A principal diferena entre as resolues de Madri e o atual territrio brasileiro o Acre, que no havia sido territrio portugus no perodo colonial. O santista Alexandre Gusmo representa os portugueses, entre os negociadores de Madri. Os espanhis queriam colocar Tordesilhas na pauta, mas se recusaram a ceder as Filipinas. Alexandre Gusmo prope que se use o conceito romano de uti possidetis, tese do direito romano que preconiza que quem ocupa possui, e buscou definir as fronteiras atravs de limites naturais. O uti possidetis s poderia ser utilizado se houvesse continuidade do territrio, o que exclua Sacramento. Gusmo props uma troca que garantisse que houvesse limite natural na fronteira sudoeste, tendo o rio Uruguai como referncia. Existia, porm, uma faixa de territrio controlada por misses jesuticas, a regio dos Sete Povos das Misses. Os jesutas, poca, estavam sendo malvistos tanto pelas Coroas, como pelo papa. A lgica espanhola foi ceder territrio controlado por ordem religiosa, pois j no era seu de fato, o que facilitou a consecuo do acordo.O Tratado de Madri, entretanto, obstado, com a ascenso de Jos I e do Marqus de Pombal, contrrios cesso de Sacramento. Para que as linhas de Madri fossem demarcadas, deveriam vir expedies luso-espanholas. Pombal faz com que as expedies se atrasem e que os portugueses no aceitem frmula espanhola para a demarcao. A situao europeia comea a mudar e ocorre, em 1756, a Guerra dos Sete Anos, entre Frana e Gr-Bretanha. Novamente, Portugal se alinhou aos ingleses, e os espanhois, dos franceses. Em 1761, anula-se Madri. Em 1767, ltimo ano de vida de Jos I, assinado o Tratado de Santo Idelfonso, pelo qual Sete Povos seria entregue Espanha, e Sacramento seria devolvida, o que no se concretizou. Em 1777, iniciam-se as Guerras Guaranticas, quando tropas portuguesas avanam e destroem as misses. Os portugueses no poderiam devolver o que no havia sido deles de fato ainda. O Tratado de Santo Idelfonso no vigorou.Em 1801, assinado o Tratado de Badajs, no mbito da Guerra Peninsular ou GUerra das Laranjas, entre Espanha e Portugal, e uma disputa fronteiria em Olivena, na Europa. Na Amrica, a deciso de Badajs d os Sete Povos a Portugal e garante Sacramento sob o domnio espanhol. A negociao de 1750, de Alexandre Gusmo, que transforma Sacramento em uma moeda de troca, baseada em consideraes realistas sobre a vulnerabilidade do entreposto, acaba prevalecendo, no final das contas. Constri-se a fronteira entre Rio Grande do Sul e Uruguai, o que no Imprio era chamado de fronteira de ir e vir. O ncleo do problema das questes platinas sempre o Uruguai, que, quando Portugal ou Brasil no puderam mais controlar, cuidaram para que Buenos Aires tambm no o fizesse, para que a navegao na regio se mantivesse aberta aos navios brasileiros. (3600 Aula 4: EUA na Amaznia)A situao europeia, no incio do sculo XIX, caracterizava-se pelas Guerras Napolenicas. Em 1805, uma nova onda de conflitos acometeu o continente e se estendeu at 1815, pela qual Napoleo expandiu seus domnios e reas de influncia pela Europa. A diferena desse momento para as guerras anteriores, contra a Primeira e a Segunda Coligaes, que a postura francesa deixara de ser defensiva. No caso das guerras napolenicas, a Frana a agressora e inicia os conflitos. Essas Guerras envolveram a Frana liberal, da revoluo burguesa, em processo de industrializao, e uma aliana inslita entre Reino Unido, uma monarquia constitucional burguesa liberal, o Imprio Russo, o Imprio Austraco e o Reino da Prssia, basties do Absolutismo feudal e mercantilista. A Frana um inimigo comum porque busca o controle do mercado europeu, no projeto expansionista napolenico, baseado nos interesses da burguesia francesa, o que a burguesia inglesa rejeita. Isso se demonstra nas estratgias de bloqueio comercial adotadas por Napoleo, o bloqueio continental, e pela Inglaterra, o bloqueio martimo. A Inglaterra, forte no mar, coloca sua esquadra de guerra nos pontos-chave do litoral atlntico e da Europa para impedir que barcos franceses e aliados faam comrcio via oceano. A resposta francesa fechar os portos aos britnicos e seus aliados.Em 1807, o Reino Unido encontrava-se isolado pelo Tratado de Tilsit. Portugal desejava manter a neutralidade. O regente Dom Joo recebe o embaixador francs, em Lisboa, jura amizade a Napoleo, fazendo o mesmo com o representante ingls. A Corte portuguesa encontrava-se dividida entre anglfilos, encabeados por Rodrigo de Sousa Coutinho, futuro Conde de Linhares, e francfilos, entre os quais o mais influente o Conde da Barca, insatisfeitos com a longeva e supostamente daninha aliana com os ingleses. Os anglfilos priorizam a aliana com a Inglaterra por seres os ingleses quem controlava os mares que os separavam de suas principais fontes de renda, que representavam 85% do sustento portugus. Perder a Amrica portuguesa para os ingleses seria catico. Os dois lados pressionam Portugal. Canning, receoso que trs reinos de marinha importante, como Sucia, Portugal e Dinamarca, passassem para o lado francs, havia bombardeado Copenhague, em 1807, e feito um ultimato a Estocolmo. A esquadra de Canning, parte ento para Lisboa, enquanto franceses e espanhis negociavam o Tratado de Fontainebleau, que permitiria grande arme cruzar a Espanha para atacar Portugal. Com a Conveno Secreta de Londres, a marinha inglesa garantiria a travessia do Atlntico da corte portuguesa e ajudaria a expulsar os franceses, em troca do uso das ilhas atlnticas como bases militares e da ilha de Santa Catarina (o que foi rejeitado pelo regente), estrategicamente localizada entre Rio de Janeiro e Buenos Aires.A sada da famlia real portuguesa a adaptao de um plano formulado pela primeira vez durante a Restaurao, em 1642, por ordem de Dom Joo IV. Em 1807, o tal plano de evacuao executado s pressas, enquanto os franceses chegavam a Portugal. Dizia-se que 15 mil portugueses migraram. Hoje em dia acredita-se que em torno de 8 mil pessoas atravessaram o oceano, rumo ao Rio de Janeiro, com uma parada em Salvador, onde Dom Joo abre os portos s naes amigas, que no estavam em guerra com Portugal. A medida teria de ser tomada porque a metrpole havia transmigrado. Os ingleses evidentemente muito se beneficiam da abertura, por conta do bloqueio continental. Com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, como vimos, comea ser desenhada a ideia de Brasil como um todo coerente, diferentemente do que se via nos primeiros movimentos separatistas. A elite proprietria fluminense, ao receber a corte, comea a ter a clara noo de que seria interessante para ela manter vnculos com o territrio americano sob o domnio portugus com o qual no tinham muito contato. A transmigrao do aparato burocrtico administrativo do Imprio Portugus para o Rio de Janeiro traz a reboque a lgica da arrecadao para o novo centro. O governo tomava as decises do Rio de Janeiro sobre onde aplicar tais recursos. Isso beneficiava obviamente quem estava prximo ao centro de deciso. Houve um deslocamento de pessoas desse grupo das elites proprietrias, de certas partes, mesmo as mais distantes, do territrio, para o Rio de Janeiro, para que pudessem defender seus interesses. A unidade territorial, centralizadas as decises no Rio de Janeiro, beneficiava esses setores. A ideia das independncias regionais no desapareceu, como se v na Revoluo Pernambucana, de 1817, na Confederao do Equador, em 1824, nas revoltas do perodo regencial e na Revolta da Praieira, de 1848. A unidade territorial se manteve porque diversos setores da elite por ela se interessaram.Quando a corte chega ao Rio de Janeiro, a cidade passa por mudanas drsticas para acolher a nobreza portuguesa. O palcio da Quinta da Boa Vista foi oferecido por um comerciante de escravos ao rei. Outros locais ofereceram suas casas a nobres portugueses. No havia ainda assim casas para todos, carecendo do clebre decreto do P.R, no to malvisto quanto se diz pela populao local, bastante entusiasmada com o acontecimento. Com a chegada da Corte, a cidade passa por um processo de modernizao.Com a abertura dos portos, os ingleses ganham uma enorme fatia do mercado brasileiro. Comerciantes ingleses se estabelecem nos diversos portos, principalmente no Rio de Janeiro, praa comercial mais rica. Dom Joo tem um projeto de desenvolvimento. A Amrica, centro econmico do Imprio portugus, precisava ter suas potencialidades estimuladas, gerando novas atividades econmicas. O regente promove uma poltica chamada fomentista. Novamente, autorizado o estabelecimento de manufaturas no Brasil. Cria-se um rgo, a Real Junta de Agricultura, Comrcio, Fbricas e Navegao, para estimular o desenvolvimento econmico do Brasil. Funda-se o Banco do Brasil, que vai falncia, em 1829. Quem o renova Mau, na dcada de 1850, quebra de novo, em 1875, e comprado pelo Estado. O objetivo da fundao do banco gerar crditos para fundar atividades econmicas. A lgica da poltica fomentista era tirar o mximo da potencialidade econmica da Amrica portuguesa.Cria-se o Real Horto Florestal, centro de pesquisa agrcola, em princpio. Mudas de plantas de diversas partes do Imprio portugus foram trazidas para testar a adaptao delas ao solo brasileiro. Do ponto de vista cultural, a chegada da Corte traz os livros da Biblioteca Real, que deu origem biblioteca nacional, no Brasil. H o estmulo a produo artstica, no novo centro do Imprio portugus. Estimulou-se tambm uma atividade metalrgica incipiente, em Minas Gerais.O desenvolvimento do vice-reinado esbarra nas presses inglesas por vantagens maiores dentro da economia do Imprio Portugus. Com a abertura dos portos, os ingleses tinham a mesma posio das demais naes amigas no comrcio com o Imprio portugus, com uma taxa alfandegria de 24%. Os ingleses queriam vantagens. Como as tropas francesas haviam sido expulsas de Portugal com a ajuda dos ingleses, quem governava Lisboa naquele momento Beresford, um lord ingls. Isso d fora aos ingleses na negociao. Em 1810, Dom Joo se curva, e assina dois tratados: um de Aliana e Amizade, voltado a questes das relaes entre as dinastias, e outro de Comrcio e Navegao, que explicita as medidas que beneficiavam os ingleses. O Estado portugus no se beneficia diretamente dos acordos, mas a famlia Bragana consegue com isso proteo (s lderes dessa casa seriam reconhecidos como legtimos reis de Portugal). O acordo era muito mais vantajoso para os britnicos. Constava entre outras coisas, que os navios ingleses que naufragassem em nossa costa deveriam ser indenizados, que os ingleses poderiam extrair madeira em qualquer ponto da costa brasileira, que os ingleses podiam reexportar produtos originrios da Amrica portuguesa sem pagar nada por isso, e que os ingleses poderiam pagar 15% ad valorem na alfndega, ao invs dos 24% pago por outros pases. Para produtos vindos de Portugal, Dom Joo estabelecera 16%. Havia uma clusula importante, o chamado direito de extraterritorialidade. Aqui no Brasil havia o juiz conservador da nao inglesa, magistrado ingls que aqui se estabelecia para julgar sditos ingleses em contenciosos comerciais com portugueses ou outros, de acordo com as leis inglesas, sem o direito de reciprocidade, sob a alegao de que o direito ingls era superior em qualidade ao portugus.Esses tratados anulam os efeitos da poltica fomentista de Dom Joo, porque ela s poderia se basear em tarifas protecionistas. Como o Estado abre mo de uma poltica protecionista, inclusive gerando problemas de arrecadao, o desenvolvimento manufatureiro ambicionado obstado. Os tratados desiguais de 1810 tinham quinze anos de validade, porm so renovados, em 1827, quando se negociava o reconhecimento da independncia brasileira, e aparece a clusula de extino do trfico negreiro, que previa a elaborao de uma lei que o proibisse em at trs anos, o que feito pelo padre Antnio Feij, ministro da Justia, em 1831, a lei para ingls ver. Setores da sociedade inglesa, no final do sculo XVIII e no incio do sculo XIX iniciaram presses para por fim ao trfico negreiro, primeiro nas colnias inglesas, depois mundo afora. Os ingleses no defendem o fim do escravismo, mas do trfico negreiro. A primeira corrente a criticar o trfico negreiro, e nesse caso tambm o escravismo, religiosa e humanitria, condenando tais atividades como contrrias civilizao humana, ao cristianismo, vertentes de igrejas reformadas na Inglaterra. Um grande orador, deputado na Cmara dos Comuns, William Wilberforce, era o porta-voz dessa corrente e defendia propostas humanitrias, de cunho ideolgico. Quando a presso se tornou muito forte dentro da Inglaterra e o Parlamento aboliu, em 1807, o comrcio de escravos para as colnias inglesas, os proprietrios ingleses na Jamaica, que basicamente produziam acar, foi, ao mudar relaes de trabalho, fazer lobby para que a Inglaterra tambm pressionasse outras regies da Amrica produtoras de acar. No Congresso de Viena, em 1815, os ingleses conseguiram proscrever o trfico ao norte do Equador. Os ingleses pressionaram ento os portugueses. Dom Joo VI assinou duas convenes sobre o trfico negreiro com a Inglaterra, uma em 1815, outra em 1817, prometendo esforos para coibir o trfico ao sul d