História Do Pensamento Jurídico

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Transcrição de Aulas

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Histria do Pensamento JurdicoPlanificao das Aulas at meados de Outubro Moodle:

I. Concees jus-filosficas medievais. O iderio de Santo Agostinho e de S. Toms de Aquino. Voluntarismo e Racionalismo.II. Ideia de Justia e resistncia injustia.

Bibliografia de apoio:a) Antnio Pedro Barbas Homem, O justo e o Injusto, AAFDL, Lisboa, 2001;A lei da liberdade, 2001;b) Antnio M. Hespanha, Panorama histrico da cultura jurdica europeia, Publicaes Europa Amrica, Mem-Martins, 1998;c) Adelino Maltez, Princpios de Cincia Poltica, ISCSP, UTL, 1996;d) Lus Cabral de Moncada, Estudos de Filosofia do Direito e do Estado, INCM, Lisboa, 2004.

Transcries

15.Set.2015

Consideraes acerca da avaliao: No faremos exame. Faremos um teste e um trabalho a apresentar em aula.Liberdade de escolha do autor, bem como do tema ter de ser sim algum cujo pensamento jurdico marcou o que nesta cadeira estamos a analisar; os profs. indicaro bibliografia. Por exemplo, relembrando HDP: Mello Freire / Antnio Ribeiro dos Santos que permitem debate pois tinham ideias opostas e cuja contraposio permite conhecer aquilo que eram as ideias polticas no sc. XVIII.No deveremos recuar muito alm dos scs XIII, XIV.

Consideraes acerca da matria: Estudaremos HPJ Portugus, daremos enfoque aos autores portugueses, at porque no andamos sempre na cauda da europa, no estivemos isolados durante os nossos cerca de 900 anos de histria. Tivemos individualidades que marcaram a HPJ e que no so menores do que aquelas que nos habituamos a citar (Savigny, Locke, Hobbes, ). A inteno no ir tanto aos autores medievais, mas ficarmos a saber quem foram as personalidades mencionadas, por exemplo, nos manuais de IED 1 Ano (Vaz Serra, Pires Lima, Manuel de Andrade, Antunes Varela, ); Iremos debruar-nos sobretudo nos autores do sc. XVI para c, cujo portugus est muito mais prximo do nosso. Nas 1as aulas far-se- uma contextualizao do porqu, o que , porque nasce a preocupao de estudar o PJ Portugus e em que que ela contribui para o direito que temos em vigor. Abordaremos duas grandes linhas: as fontes do direito e a aplicao dessas fontes por parte do aparelho judicial, ou seja, o direito que ns vemos ser concebido, apresentado pelo legislador e aquele que efetivamente posto em prtica pelo juiz.Por vezes vemos que aquilo que o legislador tem em mente est desadequado na sociedade perante a qual ele se apresenta, h normas que ficam praticamente no limbo, nunca so aplicadas. No precisamos ir muito longe, temos, nos dias de hoje preceitos de direito ambiental que nem sequer so conhecidos e alguns que nunca sequer foram aplicados. O que est por detrs da legislao, o que isso de ter uma boa e justa lei isso que iremos ver; a quem servia essa boa lei? A quem governa. Mas e a quem governado? Tambm interessa Ento vamos ver de que forma. O que acontece quando essa boa lei mal aplicada? O que acontece ao aplicador? O Tribunal Constitucional uma realidade da 2 metade do sc. XX. E o que acontece antes, como pnhamos um entrave numa lei dita inconstitucional? J era possvel fazer algo, no designvamos era como inconstitucional, mas essa fiscalizao j era feita pelo menos desde o sc. XVI, claro que no nos moldes e com a facilidade que hoje conhecemos, mas j existiam instrumentos. Por exemplo, hoje necessrio que o magistrado fundamente a sua deciso/ sentena, ora no uma realidade atual ou que urgiu com a Rev. Francesa, ela j estava nas Sete Partidas. Existem preceitos que j existiam e que com a revoluo francesa, e mais tarde a pandectistica vemos serem retomados no se cria nada de novo, ou muito daquilo que a soberba de sermos homens/mulheres do sc. XXI leva a que tomemos como criao no passa de um recuperar, no criamos tanto quanto julgamos - por isso tambm a importncia da histria.

18.Set.2015

Recapitulao da aula anterior para os alunos de Eramus

O pensamento jurdico no so s as fontes, os pensamentos de grandes tericos, ele levado a cabo por aquilo que o trabalho dos advogados, magistrados e evidentemente daqueles que so os grandes pensadores do direito.No vamos fazer filosofia do direito, mas tambm no podemos dissoci-lo da filosofia, nem histria das ideias polticas, embora em muitos momentos tenhamos de nos socorrer dos conceitos da poltica (que a prof. prefere designar por conceitos do direito utilizados pela poltica).Temos de ter muito cuidado com aquilo que so as expresses utilizadas hoje em dia, h termos/palavras que so usadas desde h sculos, mas que hoje tm um significado/sentido distinto Ex. Ius Civile seria rapidamente traduzido por Direito Civil, que no para ns o que Ius Civile era para um romano no perodo do imprio ou da Repblica. Para um romano era o direito do cidado.Por conseguinte, quando hoje adotamos determinadas expresses as no pudemos descontextualizar, da a anlise do pensamento Jurdico.O Pensamento jurdico costuma ser identificado como uma das reas da histria do direito, esta trabalha trs grandes linhas: a histria das fontes, a histria das instituies e a histria da cincia jurdica O pensamento jurdico encaixa-se na histria da cincia jurdica.No metodologia jurdica, pois esta uma rea do pensamento jurdico, no o absorve na totalidade.A cincia do pensamento jurdico pode ser autonomizada e corresponde formao e atitude mental do jurista, no s do idelogo, que concebe e apresenta ideias como, por exemplo Montesquieu, isso s no basta, colocar aquela ideia em prtica, como pudemos observar nos Prudentes, nos comentadores (no nos glosadores), porque esto ao lado do Rei dizendo-lhe o qu e como deve fazer tinham autoridade associada filosofia O que agrada ao prncipe tem fora de lei, mas no um despotismo, vale porque o rei que legisla, mas no s.

Durante o perodo medieval, e no s, temos a adoo de uma corrente com o nome de Antropomorfismo, que nos permite olhar para aquilo que a figura governativa - uma cabea que governa mas no esmaga os demais, a partilha do poder a realidade da idade mdia, que podemos ver, por exemplo, nas cortes em que o rei necessita de ser auxiliado, aconselhado. Temos ento uma criao de um direito partilhado que leva, por exemplo, os homens do sc. XIX a dizer que esta repartio, esta tolerncia, esta participao daquele que vai ser chamado soberania popular j estava presente na Idade Mdia, mas no bem assim, estar a distorcer aquilo que era a realidade medieval. Para a prof. o melhor perodo da histria, a verdadeira Repblica, foi o da Repblica Romana, em que havia separao de poderes, a sua conjugao e o controlo Acabou com Jlio Csar e sua ambio em ser um ditador, ter o poder sozinho ora constatamos que ao longo da histria temos ciclos. Ao longo da idade mdia tambm houve esta partilha, mas vai-se caminhando paulatinamente at um momento em que o poder est na mo de um s. E como pudemos utilizar esta caminhada no direito? Atravs da evoluo do pensamento jurdico, vou olhar para ele no ato de criar, aplicar a lei e no ato de controlar o aplicador da lei.

O tempo da histria do pensamento jurdico no o tempo da cincia exata. As ideias do Contratualismo, do Pactualismo, so apresentadas, por exemplo, no perodo clssico, no perodo moderno so retomadas: S. Toms de Aquino volta a falar delas, a 2 Escolstica, o sc. XIX volta a falar nelas, fazemos algumas alteraes mas mantemos algo.No final do sc. XVIII dizia-se que o juiz teria que aplicar a letra da lei o magistrado s executa. J muitos sculos antes Ccero havia dito o mesmo, embora no com a mesma agressividade que Robespierre (Rev. Francesa).

Temos de ser cuidadosos quando adotamos um termo, temos de ver que h evoluo, compreender as evolues histricas*[footnoteRef:1], e muitas vezes vamos pedir ajuda apoltica para compreender o jurdico, outras vezes vamos pedir ao jurdico que legitime um acto poltico Por exemplo, celebramos no 1 de Dezembro aquilo que recuperao de uma independncia que tnhamos perdido para os Espanhis, o que tambm a adoo de uma teoria jurdica que veio legitimar um acto que poderia ser um acto subversivo, de traio escorraamos aquele que era o representante do Rei. [1: Tambm chamada de ateno para a elaborao dos trabalhos.]

23.Set.2015

No faremos o estudo da HPJ para perspetiva anterior nacionalidade, vamos em alguns momentos rebuscar alguns autores, porque no conseguimos desenvolver o nosso pensamento jurdico se no tomarmos esses autores base.Nomeadamente Sto. Agostinho, que no um autor contemporneo do pensamento portugus, bem como Ccero e Aristteles. Contudo pensamento destes homens que no perodo medieval vai ser adotado Prieto (?), autor espanhol, costuma dizer que S. Toms de Aquino, batizou ou convidou batizando Aristteles, isto , cristianizou o pensamento Aristotlico. O que acontece tambm com outros autores, como Ccero Isto porque o tempo do pensamento jurdico no o tempo cronolgico, o tempo da poltica, pelo que ao longo da histria do pensamento jurdico h um retomar constante de ideias.Por exemplo: sc. XIX, a soberania popular, o peso da vontade do povo; o peso do Contratualismo a 2 escolstica j o havia feito, antes dela S. Toms de Aquino j falara da questo do Pactualismo e antes dele j Ccero o havia feito h um retomar de ideias que depois se desenvolvem de acordo com o perodo em que se est a viver. No sc. XIX quer-se imputar ao povo, s cortes, um poder [ luz do sc. XIX] que elas no tinham na idade mdia, quer isto dizer que essa assembleia no tinha poder? Tinha. Pelas caractersticas laicas que o sc. XIX nos d a conhecer? No, de todo, essa assembleia rene-se, mas porque representa todo o povo, tal como a igreja se rene para tomar as suas decises, ainda hoje o Papa escolhido por uma assembleia representativa.Ao longo das pocas verificamos que o pensamento jurdico foi-se laicizando. Por ex. Kelsen separou o direito da moral, e esta laicizao do direito comea a decorrer desde meados do sc. XVII, embora no se torne totalmente laico.O peso da teologia, da componente religiosa tem toda a importncia na formao do pensamento jurdico Em Roma no perodo da monarquia tudo depende da vontade dos sacerdotes (Rei, a feitura da guerra, etc.), porque o homem cumpre os desgnios de Deus. Com a introduo do cristianismo passamos do politesmo para uma vertente monotesta, mas o homem continua a conduzir-se de acordo com a vontade de Deus. Existe a possibilidade de algum governar a comunidade porque o representante escolhido por Deus ainda que em alguns momentos haja uma linha completamente distinta, mas ainda assim vai-lhe ser dado o cunho religioso O Agostinianismo Sto. Agostinho dizia que o poder s existia por fora do c (?), o homem por si s no teria possibilidade de liderar/ comandar o seu semelhante. A sua mxima O que so os reinos? So quadrilhas de malfeitores, porque a hiptese de tirania. Se a sociedade for comandada de uma forma justa, virtuosa, ento estaremos e estar-se- a cumprir a vontade de Deus. O problema a apresentao do tirano, por isso que em alguns momentos da histria o pensamento jurdico nos apresenta a possibilidade e legitimidade do regicdio, a possibilidade de terminarmos com aquele que um usurpador.Em Portugal, atendendo s obras daqueles que so os tratadistas, na poca da restaurao, os Filipes revelaram-se verdadeiros usurpadores, pelo que mesmo para alm do facto da coroa, perante a legislao espanhola, no poder ser transmitida pela via materna, os descendentes de Filipe revelaram-se verdadeiros usurpadores, logo havia legitimidade para os afastar da coroa portuguesa Verifica-se assim que o direito serve tambm para legitimar um acto revolucionrio, estaria coberto de racionalidade.Ccero dizia que a lei era a maior garantia para o cidado. Metaforicamente era apresentada como um muro, impede o governante de ir alm daquilo que lhe permitido. No direito romano os muros eram tambm lugares sagrados, as paredes das casas so lugares sagrados, todas elas dedicadas a divindades, ento no possvel ultrapass-los, ao faz-lo est a cometer uma violao, a revelar-se contrrio ao direito.Na Idade Mdia era possvel controlar a aplicao do direito, existiam j reaes nas Ordenaes decises contrrias ao direito, era possvel apresentar, perante o desembargo do pao, um pedido para que fosse declarado que uma determinada deciso judicial deveria ser anulada por ser contrria ao direito.

Comeamos ento o nosso percurso [de estudo da HPJ] na Idade Mdia. No poca das trevas, durante a alta idade mdia muito se trabalhou, muito se fez, inclusive a perpetuao/ retoma de todo um iderio clssico e que agora tambm trabalhado se hoje conhecemos as ideias, a filosofia, as premissas que caracterizaram a Idade Clssica devemos a estes homens da chamada idade das trevas, termo que se deve fragmentao criada pela queda do imprio romano, at ento tnhamos uma vasta extenso de territrio onde acaba por vingar a opinio do que governava, a lei que era apontada pelo que governava, com funcionrios por ele nomeados teramos ento uma paridade no imprio. Com a diviso do imprio em 395 comea a fragmentao, pequenas ilhas, pequenos reinos, localidades que se autogovernam o que acaba por imperar no j a vontade do imperador, mas sim a vontade de cada reino, cada comunidade fecha-se sobre si prpria. O que os une a religio, o cristianismo da que muitas vezes se diga que aquilo que foi a grande ameaa do imprio romano acabou por permitir a sua perpetuao. O desconhecido temido, durante o sc. XVI, o desconhecido motivo de medos, tomemos como exemplo Cames e a sua descrio do cabo da boa esperana.Na idade mdia no temos estado, mas temos Rei, coroa que governam uma comunidade enquanto representante de Deus, a coroa a transmisso do poder poltico Napoleo Bonaparte retira a coroa das mos do Papa e ele prprio a coloca, uma vez que tal acto estava associado passagem do poder, dado por Deus e sua entrega ao que est a ser coroado, tornando-o vassalo Situao que tambm se verifica com D. Joo I, D. Pedro no seu regresso d incurso pela Europa ter levantado essa questo junto de D. Joo I, coisa que este no pretendia, deitaria por terra a rebeldia de Napoleo tnhamos sim, uma acto de vassalagem, ser reconhecido pelo Papa enquanto monarca, sim, porque o Papa era um elo de ligao, o governante supremo da cristandade Esta a respublica christiana, que comea com a translatio imperii, que comea com Carlos Magno, uma tentativa de repor aquele esprito, aquela unio geogrfica ou geopoltica, de que at tnhamos ideia relativamente ao perodo romano, mas a dimenso no perodo medieval, em termos do iderio jurdico uma dimenso tambm ela espiritual.Conhecemos o direito da Idade Mdia atravs de trs grandes blocos, ou tipos de obras, nomeadamente os tratadistas, os telogos [acabou por no enumerar o 3 *]. Dentro dos tratadistas temos de olhar para tratadistas polticos, homens que apresentam possveis manuais de direito poltico. Mas a verdadeira lio de poltica no era dada atravs desses textos, era dada atravs daquilo que conhecido em toda a europa como os Espelhos dos Reis, ideais de bem governar, obras de carter pedaggico, muitas vezes meros discursos que so tidos para com o monarca, discursos mais formais em cerimnias como as cortes, um batizado/casamento de um prncipe, as exquias do monarca que tinha uma outra funo, a de mostrar aquele que governava como o deveria fazer para ser um bom Rei, logo um Rei justo.Temos agora o grande peso da escola da 1 Escolstica, tal como temos uma pluralidade poltica, temos tambm uma pluralidade de fontes do direito ou seja, quanto maior for o poder do rei, tambm mais coercitiva ser a fora da lei. O rei vai ganhando poder, ns vamos vendo desde logo a criao de textos legislativos; O rei tem pouco poder, acaba por ser dada a conhecer a fora do costume, que sem dvida a fonte por excelncia no perodo medieval.No perodo contemporneo e moderno deixo de ter a coroa, passo a ter estado unitrio, deixo de ter a dependncia face Santa S, e passo a ter uma centralizao de poder permitida por este estado unitrio (como em Roma com o Principado todos dependem do Princeps).Na idade moderna, o reinado de D. Joo paradigma deste ponto, a criao dos secretrios de estado.A 2 Escolstica uma retomada das ideias do Pactualismo, o peso da lei e sua homogenia As Ordenaes.Passando para a poca contempornea, o peso da lei passa a ser diferente. Tudo comea em 1769, as outras fontes deixam de poder ter um valor acrescido, h um escalonamento verdadeiro naquilo que a posio da lei.J no sc. XX temos a contemplao daquilo que j o Estado de Direito.O tema da justia o tema de excelncia, trabalhado por todos os autores da idade mdia o que ser justo, consequncias de um acto injusto, de um rei injusto; o que lhe acontece; o que que o povo pode fazer Tudo isto se resume identificao da justia como uma virtude, a maior das virtudes.Referimos h pouco que existiam *trs grandes tipos de obras que trabalham a questo poltica, mas s falamos de duas, voltamos ento: a teologia, dizia D. Pedro de Menezes, a me de todas as cincias, realidade que explicada de forma metafrica, a teologia como se fosse uma raiz, raiz essa de onde brota uma rvore em que todos os ramos so todas as outras cincias ento a teologia justifica tudo; o rei governa porque o representante de Deus, ento tem de ser justo, se no o for o povo pode afast-lo ou pode ser conivente, mas ainda assim espera-o o juzo final, a ideia de que os seus actos sero apreciados no momento final Devemos ter presente que na idade mdia estes eram os maiores medos, a excomunho, o juzo final o temor pelas implicaes/consequncias a nvel religioso, a punio divina. E sendo a justia uma virtude, ela est presente onde o homem e a pode ver: a espada. A justia est a ser aplicada em nome de Deus, racional sim, mas sobretudo porque a vontade de Deus.H ento dois conceitos que vo povoar o nosso pensamento jurdico medieval: o conceito de voluntarismo e o conceito de racionalismo, existe racionalismo na vontade divina e na arquitetura, na arte, as representaes dos monarcas so feitas usando a coroa, que representa tambm a sua unio com o reino [Isabel I nunca casou mas usava uma aliana com esse mesmo simbolismo] e empunhando a espada, smbolo da justia, por vezes um ceptro simbolizando o monarca enquanto o pastor do seu povo.

25.Set.2015

A arte (pintura, escultura, arquitetura) era uma forma de os monarcas mostrarem populao quais eram os seus conjuntos de valores, os seus princpios, ou pelo menos os princpios segundo os quais ela se devia reger.Nessas obras existia tambm sempre uma particularidade, a dependncia do monarca face entidade divina, o monarca s o era por vontade de Deus, porque Este lhe dera essa possibilidade.Mesmo na linha mais pessimista, como a Agostianista, as correntes de Sto. Agostinho, no afastada a possibilidade desse poder ter origem divina. Devemos tambm compreender que o pessimismo de Sto. Agostinho se deve ao perodo em que se insere: assiste queda do imprio romano, um perodo conturbado onde os valores esto todos eles tumultuados proveniente de uma famlia endinheirada, estuda nos locais de maior renome na Europa, mesmo aps o falecimento do pai, sua me embora endividando-se consegue que ele mantenha o seu estilo de vida, mas Sto. Agostinho no um crente, dentro do patamar do catolicismo, desde o incio. semelhana de Hobbes que durante toda a sua infncia assiste ao pnico, ao terror que sua me sentia pela invaso de Inglaterra, o que lhe passado e que de alguma forma explica a sua criao do monstro Leviat. Assim fazer a contraposio de Sto. Agostinho com S. Toms, tomando este ltimo como otimista, com ideias animadoras no ser correto uma vez que eles so o produto das respetivas pocas.Sto. Agostinho associa a ideia de poder ideia de pecado, ideia de uma violao. Tambm S. Toms associa, por vezes, a ideia d poder a actos pouco virtuosos O poder pode ser exercido de boa e de m f, pode ser usurpado, pode ser revelador da violao constante daquilo que so as leis de Deus.O bom exerccio do poder corresponde vontade divina, presente em Sto. Agostinho, por exemplo na criao e apresentao da Cidade de Deus; Em S. Toms o poder tambm vem de Deus, mxima paulina Omnis potestas a Deo est, acrescenta duas palavrinhas: Omnis potestas a Deo est per populum a comunidade que elege o seu governante, nas cortes, atravs do grupo pelo qual est representada, no de forma arbitrria, tambm Deus que lhe d a conhecer qual o seu verdadeiro eleito, e em que esto representados tambm os sacerdotes, pois mantm um papel relevante, comumente aceite que se procede de acordo com a vontade de Deus. S. Toms no defende o regicdio, mas quando um rei se revela injusto, se manifesta de forma tirnica, defende que o Papa tem que intervir, por fora de um Instituto Jurdico que j conhecemos: a legtima defesa, retirando o poer concedido aquele monarca e concede-o a outro o que em tempos mais recuados ocorreu com D. Sancho II, que foi afastado por fora de uma interveno Papal, na sequncia do pedido feito pelo povo portugus.Esta ideia de transmisso atravs do povo vai ser aproveitada de uma forma bastante acentuada pelos pactualistas e pelos contratualistas ao longo da histria. Vai ser aproveitada pela escola da 2 Escolstica, pelos nossos restauradores, pelos homens do sc. XIX em que representa la volont gnrale representada de forma qualitativa.

A justia sem dvida aquilo que importante para o homem da idade mdia.E o que a justia? o ideal do direito; o fim da polis; a procura do bem comum, quando algum governa f-lo em prol do bem comum. Por exemplo, atualmente ouvimos muito falar na justia social, que no um conceito social, um conceito poltico. E quem cria esta noo de justia social S. Toms de Aquino, mas o que tem em mente a persecuo do bem comum. O rei quando rege no o faz em nome prprio, exerce o poder que lhe foi conferido em nome do seu povo aquela ideia do casamento misto, o rei casa com o seu reino, tem deveres acrescidos relativamente a cada um dos seus sbditos, tem de ser exemplo. O rei est acima da lei humana, no da lei divina embora as opinies se dividam quanto possibilidade do Papa poder criar excees desde que com justa causa. E mesmo no que toca lei humana, lei por ele criada e que, de forma filosfica diz Sto. Agostinho que vontade de Deus, ele est por ela condicionado, e quando a cumpre no o faz da mesma forma que os seus sbditos vis coativa, cumpre-a por fora da vis diretiva, de exemplo, ele como um pai e tem de dar o exemplo, tem de ser clemente, piedoso, misericordioso, no pode ser um justiceiro implacvel pois a virtude maior saber conceder o perdo.O rei tem iurisdictio em sentido lato, aquele que legisla, nomeia para os cargos e aquele que aplica a justia nos tribunais. No sc. XIX, em frana dos primeiros clamores que se fazem ouvir nas cortes, nas assembleias constituintes, que tem de se afastar os juzes, limitar o seu poder Montesquieu: os juzes so a boca que profere a letra da lei e nada mais. Como se estivessem desprovidos de vontade, aplica a letra da lei porque nesse momento ela representa aquilo que a vontade geral do povo.Mas e se o Rei tentar impor uma lei injusta, o que se pode fazer? Essa lei humana ao ser injusta viola a lei divina, a lei natural e sobretudo a lei eterna de onde decorrem estas duas. Ento o povo pode no acat-la, no a aplicar. Quanto ao monarca, por violar os preceitos da lei divina pode ser excomungado. O que acontecia com frequncia na idade mdia sobretudo por motivos exclusivamente de natureza poltica o prprio reino tambm podia ser totalmente ostracizado, na medida em que a sua conduta era contrria aos ditames da Santa S.

A caridade, clemncia, a prudncia, a temperana so virtudes que todo o governante deve ter, E qual a relao que existe entre direito e da justia recordando HDP o direito est para a justia como um filho est para a me, o direito decorre da justia, h uma dependncia, mas o direito pode por vezes revelar-se injusto.E como se pode manifestar a justia? A imagem de um bom juiz: com a espada na mo, a balana noutra, representado a paridade, de olhos vendados, isto , no se deixa tomar por preferncias. A imagem do rei sem olhos, de rbitas vazadas e os juzes sem mos, manietados, mostrando que nem corrompem nem podem ser corrompidos, no tm como receber.

[Descrio de diversas imagens o destaque das figuras mais importantes no tribunal com a sua colocao em posies mais elevadas ou com estaturas maiores perante as demais.]

Virtude vem do latim Virtus dividindo a palavra: Vir de homem, e quem que tem os predicados das virtudes? O homem, que em Roma caracteriza-se pela honra, pela coragem e pela valentia.O rei tem de ter ento todas as virtudes, mas sobretudo a justia, porque no pode ser justo se no for misericordioso, se no for clemente, se no for prudente.A justia tem de ser um hbito bom, continuo e no feito pontualmente e orientado para a ao, existem vrios critrios: aritmtica, geomtrica, distributiva, comutativa, mas poderamos resumir a uma s expresso: Dar a cada um o seu intemporal, so os trs princpios de Ulpiano.

Transcrio de Aulas - Histria do Pensamento Jurdico - 1 Semestre 15/16