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HISTÓRIA EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: os gibis como ferramenta de ensino para iniciação do conhecimento
Victor Guilherme Brito Fontes
Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected]
Madson Sampaio Aluno concluinte do CEDF/UEPA
[email protected] Emerson Duarte Monte
Professor orientador, Doutor em Educação UFPA [email protected]
Resumo O presente trabalho lança-se a investigar a possibilidade do uso das Histórias em Quadrinhos como ferramenta nas aulas de Educação Física e de que maneira tal processo pode ocorrer. Com a popularização dos gibis atualmente e a explosão de filmes de super-heróis, a atenção de crianças e adultos aumentou no que diz respeito à essa mídia. Sendo assim, surge a possibilidade de se utilizar tal material como recurso em aulas, visando estimular a participação dos alunos. Na pesquisa serão analisados artigos, livros sobre o assunto, e também gibis que tratem sobre a Cultura Corporal e Educação. Palavras-chaves: Histórias em Quadrinhos; Educação Física; Educação; Ferramentas pedagógicas.
INTRODUÇÃO
Com a popularização dos filmes de heróis nos cinemas, os gibis ganham cada
vez mais força dentro da cultura pop contemporânea. Há então a necessidade dos
Professores se envolverem com a realidade dos alunos, conhecer o que atraí os
jovens para tornar as aulas mais interessantes. Utilizar recursos que despertem a
curiosidade e atenção, divirta, e desenvolva o senso crítico. Nesse contexto, os gibis
oferecem uma oportunidade de criar uma maior estima e afeição nas aulas,
favorecendo diversas possibilidades de aplicações destes nas aulas.
Os quadrinhos foram, e são, uma leitura comum para toda criança. Porém seu
alcance não se restringe à apenas uma faixa etária, é uma leitura desejável para
todas as idades. Contudo, mesmo com essa popularidade, existem resistências
quanto a sua utilização para a educação, mais ainda quando falamos nos conteúdos
referentes à Educação Física, poucas experiências com o propósito de inserir as
histórias em quadrinhos são notadas. Considerando essa realidade o seguinte
trabalho propõe e incentiva a utilização dos Quadrinhos como ferramenta de ensino
da Educação Física para crianças e jovens, e como forma de uma visão de
2
interdisciplinaridade. Pretende também apresentar mais reflexões sobre o tema e
mostrar possíveis caminhos e práticas a serem trabalhados nas aulas, analisando os
gibis que tratam da cultura corporal, esporte e educação física.
Nessa perspectiva, o presente artigo possui o seguinte questionamento:
Quais as possibilidades de uso das Histórias em Quadrinhos como ferramenta para
o ensino dos conteúdos trabalhados na Educação Física Escolar?
Além da problemática acima, têm-se aqui as seguintes questões norteadores:
- Qual a origem e histórico dos Gibis?
- Como traduzir essa metalinguagem para as aulas de Educação Física?
- De que forma o uso desse recurso pedagógico pode melhorar o processo de
ensino-aprendizagem?
Desta forma, o objetivo geral da presente pesquisa é o de analisar a
capacidade e a influência que os Gibis podem ter no desenvolvimento dos
conteúdos da Educação Física Escolar. A partir disso, os objetivos específicos são:
1. Descrever o percurso histórico que os Gibis possuem na história moderna;
2. Identificar experiências inovadoras do uso dos Gibis para o trato com os
conhecimentos da Educação Física;
3. Reconhecer as melhorias no processo de ensino-aprendizagem que essa leitura
proporciona.
Este trabalho foi desenvolvido como um estudo qualitativo, pesquisa que de
acordo com Gerhardt e Silveira (2009, p.31,37) se utiliza dos aspectos da
compreensão e dos significados, pois trata de amostras subjetivas e que possui
particularidades, portanto não podendo ser mensurada; e de caráter bibliográfico,
onde analisaremos artigos, livros e gibis com a abordagem de inclusão da Histórias
em Quadrinhos e Educação Física, e que tem como objetivo justificar a integração
do recurso pedagógico dos quadrinhos. Para a investigação serão interpretados e
analisados gibis que tratem dos conteúdos da cultura corporal, pretendemos analisar
de que forma os quadrinhos podem facilitar uma compreensão dos conteúdos da
Educação Física, e como poderíamos integra-los nas nossas aulas.
3
1.ORIGEM DOS GIBIS
Desde seus primórdios o Homem busca registrar e comunicar a sua história
através da linguagem visual, na pré-história o homem primitivo usava pinturas em
cavernas para representar seu cotidiano e suas crenças. Com o desenvolver da
civilização, continuava a tradução dos acontecimentos históricos por meio da arte
visual, no Egito antigo os hieróglifos, na Idade Média as ilustrações nas tapeçarias,
assim sucessivamente. Portanto, daí a importância da comunicação visual no
desenvolvimento da história da nossa cultura.
As histórias em quadrinhos (HQs) como conhecemos hoje em dia, só tiveram
seu primeiro passo para se tornar uma arte sequencial no século XIX, na sua forma
inicial surgiram na estrutura das charges. As charges eram bastante populares nas
publicações dos jornais da época. Sendo bastante populares por estarem sempre
traduzindo de forma bem-humorada assuntos do dia-a-dia da sociedade. Era uma
das principais atrações dos jornais, e responsável pela grande quantidade de
vendas. (FEIJÓ, 1997, p.13).
Segundo Feijó (1997, p.10), os gibis “têm sua origem na cultura de massa, o
que se caracteriza, como o próprio nome aponta, por produção cultural em massa”.
Procurava atingir o maior número de consumidores possível, objetivava o lucro e
consumo em larga escala, por ter um caráter de lazer e entretenimento, seu
conteúdo deveria ser acessível aos leitores. Como é referido por Alves (2017, p.37)
“por sua linguagem, aparentemente mais simples de ser assimilada, e por sua rápida
propagação, os quadrinhos são considerados um veículo potencial para se propagar
ideologias; logo, um instrumento de comunicação de massa”. Fica explícito assim, o
poder de difusão dos gibis, sua capacidade de comunicar e transmitir conteúdo.
As Caricaturas ilustravam o modo de vida da época. A maioria da produção
tinha como objetivo a crítica sobre os principais acontecimentos históricos vividos no
momento. Ângelo Agostini, por exemplo, foi um caricaturista ítalo-brasileiro crítico da
escravidão e da monarquia. Já na Segunda Guerra Mundial era comum vilões de
nacionalidade alemã e japonesa, os super-heróis nos Estados Unidos serviam como
armas ideológicas, o melhor exemplo foi Capitão América de Joe Simon e Jack
Kirby, herói conhecido por enfrentar diretamente o nazismo. (FEIJÓ, 1997, p.41).
4
A primeira revista a publicar histórias em quadrinhos do Brasil foi a O Tico-
Tico de 1905. Vergueiro (1999) aponta a importancia da revista no cenário nacional:
O Tico-Tico publicava muitas histórias em quadrinhos, a maioria delas reproduzidas dos jornais norte-americanos e das revistas francesas. Entretanto, muitos artistas brasileiros de destaque também apareceram em suas páginas com trabalhos originais e personagens inesquecíveis. (VERGUEIRO, 1999, s/p).
Naquela época e nos dias atuais os gibis convivem com o preconceito. Como
afirma Feijó (1997, p.20) “Para alguns críticos os gibis estavam associados a ideia
de comunicação com o público dito inculto, inclusive negando-lhes o status de arte”.
Ideologia esta que ajudou a criar várias imagens negativas relacionadas aos
quadrinhos, tanto na época de sua origem, quanto nos dias atuais. Um preconceito
que ignora a importância desse conteúdo para a formação do caráter, como forma
de inspiração de valores, de nos fazer sonhar, e nos dar esperança mesmo vivendo
em uma sociedade cercada por desigualdades e problemas sociais. As Histórias em
quadrinhos são uma fonte incrível de cultura, ainda mais nos tempos em que
vivemos, onde a cultura pop se tornou tão frequente na nossa comunidade.
2.QUADRINHOS E CULTURA POP
Antes de tudo é necessário definir o que é cultura pop e, nessa direção,
Soares (2014) diz que:
Atribuímos cultura pop, ao conjunto de práticas, experiências e produtos norteados pela lógica midiática, que tem como gênese o entretenimento; se ancora, em grande parte, a partir de modos de produção ligados às indústrias da cultura (música, cinema, televisão, editorial, entre outras) e estabelece formas de fruição e consumo que permeiam um certo senso de comunidade, pertencimento ou compartilhamento de afinidades que situam indivíduos dentro de um sentido transnacional e globalizante. (SOARES, 2014, s/p).
A Origem dos primeiros gibis na forma de charges tem forte ligação com o
humor, entretanto foram os gêneros de ação e aventura que fizeram as HQs
ultrapassarem os limites das tiras de jornais, conquistando suas próprias revistas,
chegando ao cinema, a televisão, e aos games. Ler gibis se tornou um hobby
comum para muitos jovens, crianças e adultos, em um movimento que se amplia o
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consumo de revistas, brinquedos, filmes, etc. As duas maiores editoras americanas,
Marvel e DC, além de faturarem com as revistas, investem em séries, animações e
filmes.
Mensalmente um número considerável de títulos de quadrinhos são opções
nas bancas, dos mais variados gêneros, de aventura e super-heróis, adaptações de
livros da literatura, e sua versão oriental que são os mangás. Essas opções
possuem grandes vantagens pelo seu baixo custo e facilidade de acesso.
(VERGUEIRO; RAMOS, 2015, p.102).
Alves (2017, p. 130) destaca que existe uma problemática envolvendo o
desinteresse e a dificuldade de crianças e jovens no hábito da leitura. Quando uma
linguagem restrita à escrita é exigida para os alunos, principalmente em conteúdos
complexos, ocorre que não há um significado imediato de interpretação e
conhecimento, se perde a compreensão quando não se familiariza e nem se
identifica com determinada temática de leitura. Logo fica evidente que a busca de
alternativas para criar uma afeição com a leitura é necessária.
Os gibis eram considerados leituras infantis tidas como exclusivamente
leituras de lazer, e seus conteúdos eram encarado como supérfluos. Sua exclusão é
exposta por Alves (2017):
O Desconhecimento sobre as potencialidades do gênero prejudicou
sua circulação no âmbito escolar. No entanto, ainda que não
houvesse o hábito de seu emprego durante sua formação, os alunos
se deparavam com a cobrança de tiras nas provas dos vestibulares
mais importantes do país e, inclusive nos livros didáticos adotados
pelas escolas. (ALVES, 2017, p.132).
Nos últimos anos a importância das histórias em quadrinhos só cresceu,
como resultado vem aumentando o uso destes em sala de aula. Isto vem sendo
evidenciado nos livros didáticos, manuais de treinamento, e campanhas de
conscientização. O uso didático dos quadrinhos se tornou presente, propiciando uma
maneira mais explicativa e divertida de se informar o leitor. Tornou-se claro que os
gibis fazem parte de uma ferramenta pedagógica interessante de transmitir o
conhecimento. (VERGUEIRO; RAMOS, 2015, p.7).
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A variação japonesa das histórias em quadrinhos, os mangás, só tiveram sua
aceitação no Brasil depois da popularização das animações de TV, entre os
principais sucessos destacam-se Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Por ter uma
grande quantidade de imigrantes japoneses no Brasil esses tipos de gibis ganharam
espaço no cenário nacional, conquistando inclusive a população não oriental. A
Turma da Mônica teve sua versão em mangá, propondo atingir os leitores que
acompanham a revista desde o começo e se tornaram jovens adultos. No Japão a
cultura dos gibis é muito forte, inclusive publica mais edições que jornais e revistas.
“Na sala de aula, os mangás podem ser estratégicos para atividades práticas, de
ordem interdisciplinar ou não”. (VERGUEIRO; RAMOS, 2015, p.105).
Os gibis, portanto, tornaram-se fortalecidos nos tempos atuais, podendo ser
bastante promissor no ensino dos jovens.
3.HISTÓRIAS EM QUADRINHOS LEVADAS A SÉRIO
Vergueiro e Ramos (2015, p.10) apontam, que utilizar as revistas em
quadrinhos nas escolas era pouco comum para os professores, sofrendo inclusive
resistência na sua prática. Esse cenário só começa a mudar na década de oitenta
com as primeiras aparições de HQs nos livros didáticos. Foi com a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1996,
que a inserção dos gibis se tornou mais necessária e exigida no âmbito educacional.
O texto indica a importância de estar em contato com diferentes formas da
linguagem e manifestações artísticas.
Com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em 1997, as
revistas em quadrinhos começaram a serem oficializadas como política educacional
do país. Os PCN incentivavam novas práticas e dinâmicas na metodologia de
ensino, a interdisciplinaridade se tornou um valoroso recurso metodológico. Assim
sendo s gibis se encaixam nessa nova maneira de educar, sua aplicação pode ser
exemplificada com as matérias de Língua Portuguesa e Artes. Com a finalidade de
usar os conteúdos da Educação Física, podemos criar várias ligações com outras
matérias, sobretudo para propiciar uma maior qualidade e assimilação da leitura
usando a prática.
7
Os PCN, especificamente na matéria de Artes no ensino fundamental,
definem que os alunos possam ser competentes na leitura de revistas em
quadrinhos e outras formas de mídias visuais. Em Língua Portuguesa, é exigida a
habilidade de leitura crítica das charges. Já no ensino médio, na área que compõe
Linguagens Códigos e suas Tecnologias, os alunos devem saber interpretar os gibis
de forma profunda. Aponta também a importância dos variados gêneros das HQs
como fontes históricas e de caráter sociológico. (VERGUEIRO; RAMOS, 2015,
p.11).
Os Gibis são incluídos nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM). Portanto, o dever de se considerar a integração dessa ferramenta nas
aulas. Nas provas são cobradas a interpretação e análise dos conteúdos das
histórias em quadrinhos. A leitura das HQs em sala de aula propícia aos alunos,
segundo Tavares (2011)
Um posicionamento acerca das práticas sociais que lhes são
impostas, para que estes possam crítica e reflexivamente, no que
tange ao uso da linguagem, agir em prol de defesa de seus direitos
e deveres como indivíduos envoltos socialmente, inerente às
ideologias, à heterogeneidade e à contradição. (TAVARES, 2011,
p.17)
Os Gibis entraram para a lista de distribuição para as escolas com a o
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). A potencialidade dos quadrinhos
existe, só basta ser encorajado e encarado como uma realidade. Vergueiro e Ramos
(2015, p.7) demonstram “A inclusão dos quadrinhos significa um avanço na maneira
como a área de ensino a enxerga, deixando de ser considerada leitura subversiva ou
superficial para serem oficializados como políticas de governo”. Estar em contato
com as HQs possibilita uma forma de aprendizado de leitura de forma didática e
diferente, incentivado esses alunos à busca de novas formas de leituras e de
conhecimento globais.
4 AS HQ NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
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Relacionando com a Educação Física, pode-se utilizar dos conteúdos da
cultura corporal como os jogos, a ginástica, as lutas, os esportes, a dança, e outros.
Em forma de debate crítico as histórias em quadrinhos possibilitam a reflexão de
problemas sociais. Segundo Soares et al. (1992, p. 39), citado por Lira Neto e
Almeida (2010, s/p) defendem que a prática pedagógica da Educação Física deve
desenvolver nos alunos a noção de “historicidade da cultura corporal”. Dessa
maneira, entender que a Educação Física possui diversos conteúdos, e que para
cada passagem histórica a cultura corporal tinha um objetivo.
A Turma da Mônica de Mauricio de Souza possui bastante publicações
relacionadas com a Educação Física. A utilização de gibis infantis na sala de aula
pode dar a impressão de que eles se restringem às séries iniciais do ensino
fundamental, na verdade a grande maioria dos quadrinhos infantis utiliza-se do
humor e da aventura podendo ser utilizados em nível didático a qualquer faixa etária.
Citando Lira Neto e Almeida (2010, s/p) “Os gibis, portanto, servem como
recurso didático introdutório, cujo emprego objetiva a futura assimilação de textos
mais complexos, que envolvam elementos da cultura corporal, que é o objeto de
estudo da Educação Física”. Podemos utilizar os quadrinhos como forma de
apresentar as regras ou os fundamentos de determinado esporte, por exemplo. Indo
mais além, é interessante usar gibis que mostrem aspectos emocionais ligados ao
esporte, como: espírito de equipe, perseverança, coragem para encarar desafios,
etc.
No Ensino Médio as histórias em quadrinhos podem ter sua utilidade, como
forma de sua variação japonesa, os Mangás. Ter o contato com a cultura japonesa
já possibilita uma rica apropriação de cultura, e a leitura de mangás esportivos é
muito comum no oriente. Isso promove a ideia de novas modalidades esportivas não
tão populares aqui no Brasil, como o Baseball, o Ciclismo, o Vôlei, e as Artes
Marciais.
Esse contato com novas modalidades possibilita principalmente uma forma de
escapar da mesmice das aulas, principalmente nessa fase, quando os alunos se
sentem pressionados com as provas dos vestibulares. É uma forma de combinar as
aulas de Educação Física para a apropriação do conhecimento técnico e de diminuir
essa tensão emocional. Na maioria das escolas a Educação Física, no último ano do
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ensino médio, deixa de ter sua valorização. Acreditamos que com essas
possibilidades de ensino pode haver uma maior frequência dos alunos nas aulas e
um maior interesse.
Respeitando todas as fases de ensino pensamos que as Histórias em
Quadrinhos podem sim ser uma ferramenta essencial para o conhecimento. Como
afirma Vergueiro (2007, p. 23), o contato com as histórias em quadrinhos “possibilita
que muitos estudantes se abram para os benefícios da leitura encontrando menor
dificuldade para concentrar-se nas leituras com finalidade de estudo”. Assim como
afirma Os Gibis servem de recurso didático introdutório para compreensão de
conteúdos mais complexos, e também promovem o gosto pela leitura.
Com um poder de influência principalmente com os mais jovens, e com a
crescente popularidade dessas mídias junto ao cinema e seriados de TV, bonecos,
roupas, e etc. é possível tornar as aulas mais agradáveis para alunos que se
distanciam da nossa disciplina. Sendo muito comum a pratica de Bullying com os
alunos “menos habilidosos” em certa atividade física, surge a necessidade de incluir,
de alguma forma, esses alunos, e de ainda fortalecer a leitura dos já “habilidosos”.
4.1 ENSAIO SOBRE O USO DAS HQ NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física são um ponto de
referência no trabalho do professor, que busca orientar e assegurar a fidelidade às
políticas de melhoria do ensino. Ele apresenta formas de planejar as aulas com
vistas no Projeto Político-Pedagógico da escola, para que esse se efetive (SOUSA;
FÁVERO, 2010, s/p). Em nosso trabalho, analisamos os PCN (BRASIL, 1998, p. 28)
e nele se define a Cultura Corporal como “conhecimento e representações que se
transformaram ao longo do tempo. Ressignificadas, suas intencionalidades, formas
de expressão e sistematização”. Estes conhecimentos fazem parte da Educação
Física, como lutas, jogo, esporte, ginástica e dança. Sendo assim, podemos utilizar
as HQ que tratem de conteúdos da Cultura Corporal em nossas aulas de Educação
Física.
10
Apresentaremos a seguir as análises dos gibis com a intenção de propor
ferramentas didáticas para as aulas de Educação Física, tendo como foco os
conteúdos da cultura corporal e seus aspectos subjetivos.
Figura 1 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2006, p. 10-11).
Na Figura 1 temos páginas da Coleção Um Tema Só da Turma da Mônica
“Cascão – Futebol III”. Nesta revista em quadrinho são narrados episódios cômicos
relacionados com a modalidade do esporte mais popular no nosso país, o futebol.
Na cena é narrada, de forma bem-humorada, questões de gêneros
relacionadas ao esporte. O personagem Cascão se queixa de ser escolhido pelo
time das meninas, logo demonstra sua indignação com as atitudes e escolhas das
personagens femininas, e fica visível no instante da escolha do lado do campo pela
capitã do time (Mônica) que opta pela parte onde tem mais flores, e quando ele
próprio (que se considera o melhor do time) é designado para ser o goleiro.
11
Aqui há uma inversão dos papeis sociais, que foram construídos na atual
forma de organização societal, em que as mulheres ocupam papeis secundários e
de submissão aos homens. A ruptura expressa no quadrinho possibilita o debate do
tema do sexismo no esporte e do machismo na sociedade, assim como pode
impulsionar uma concepção contra-hegemônica sobre o espaço que a mulher pode
ocupar na sociedade e, particularmente, nos esportes e no futebol.
Figura 2 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2006, p. 14-15).
Já na Figura 2 o favoritismo do time do Cebolinha se torna verdadeiro, para
irritação do Cascão as meninas se distraem durante o jogo, logo a frustração vem a
tona, mas com a promessa da Mônica de jogarem “direito”, surge ainda a dúvida do
Cascão de como Cebolinha covenceu as garotas a jogarem.
Demonstra a prática do futebol, um esporte que era considerado um esporte
masculino, e que passa, mesmo que de forma lenta, pelo processo de igualdade
entre o feminino e masculino. Expõe ainda a idéia dos garotos serem sinônimos de
talento e destreza, enquanto as garotas são vistas como passivas e desprovidas de
12
habilidades no futebol, logo apresenta muitos eixos para se problematizar e debater
nas aulas de Educação Física.
Figura 3 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2006, p. 16-17).
A história começa a ganhar um revés, irritadas com as provocações dos
garotos o time das meninas se motiva a ganhar a partida. É interessante destacar a
fala do personagem Cebolinha: “Futebol não é pla meninas...voltem pla cozinha”,
isso itensifica a idéia de que as meninas deveriam ficar encarregadas dos afazeres
domésticos, serem excluídas dos diversos jogos e brincadeiras e, no lugar disso,
cooperarem com as mães nos trabalhos de casa onde serão exigidas como futuras
esposas e donas de casa. É uma forma de provocar, a partir da ação diretiva do
professor de Educação Física ao se utilizar desse material didático, a crítica à
opressão que é endereçada às mulheres.
Surge a questão da fragilidade da mulher, que não deveriam praticar esportes
popularmente praticados pelos homems, condutas que são praticadas pelos pais na
13
idade inicial e que, de forma equivocada ,provoca uma separação nada saudável, e
reforça os valores machistas.
Figura 4 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2006, p. 18-19).
Por seguinte podemos notar que com o entendimento do time, Cascão se
sente mais à vontade jogando com as garotas, e com a compreensão do time é lhe
dada a chance de jogar fora do gol também, demonstrando valores de trabalho em
equipe e cooperação. Ocorre ainda uma reclamação do personagem Cebolinha
chamando Cascão de “málicas” (maricas), atitude expressa, além da manifestação
do machismo, uma possível opressão quanto a orientação sexual. O fato de um
homem se posicionar junto às mulheres ou junto à defesa dos direitos das mulheres,
confere a este a posição de não mais se apresenta como “homem”.
Com o êxito de sua tão criticada equipe, Cascão se firma como o “herói” da
vitória (mesmo que sem querer), e por fim encontra um improvável time que o incluí
e o encoraja. Tem-se aqui um corpo teórico para tematizar o trato do conhecimento
esporte e possibilitar a problematização de diversos aspectos nas aulas de
14
Educação Física, em direção à ruptura com as ideias dominantes do papel da
mulher no esporte.
Figura 5 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2006, p. 20).
Concluindo o enredo, vemos que finalmente os garotos decidem fazer parte
do time misto com as meninas, porém ficam no banco de reservas por não estarem
jogando tão bem quanto as garotas e o capitão Cascão.
Nesta análise podemos verificar principalmente o preconceito de gênero que
está presente nos esportes. Podemos motivar um debate com nossos alunos sobre
as questões apresentadas, fazê-los entender que não devemos criar essa cisão nas
práticas de uma modalidade, que não existe um esporte dito só para
homens/mulheres, e provocar a integração de todos em uma atividade.
15
Figura 6 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2002, p. 36-37).
Nas tiras acima de Maurício de Souza, vemos os personagens da Turma da
Mônica confeccionando e brincando com o jogo do Origami (a arte japonesa de
dobrar papéis), utilizando apenas folhas de papel e criatividade. O humor fica por
conta do personagem Cascão que, por não gostar de água, abandona a brincadeira
quando seus amigos criam barcos de papel.
As das dobraduras de papel podem ser utilizadas em nossas aulas de
Educação Física, mais especificamente dentro do conteúdo de Jogos Populares. O
gibi pode ser lido na sala de aula e, em seguida, ser realizada uma oficina de
realização de brinquedos de papel, inclusive os origamis podem ser ensinados por
alunos que conheçam as técnicas, sendo orientados pelo Professor. No trato desse
conteúdo, é válido apresentar o percurso histórico que essa técnica possui. Assim
como problematizar a atual etapa de desenvolvimento dos jogos e brincadeiras, com
forte impacto dos jogos eletrônicos/virtuais, e a contraposição que os jogos
populares exercem no desenvolvimento do ser humano, como destacam as autoras
16
ao expor essa contradição contemporânea: “[...] o professor muitas vezes tem que
lidar com um sentimento de impotência que se agiganta diante de seus alunos
quando esses recusam o convite para a brincadeira proposta.” (CABREIRA;
AQUINO, 2006, p. 90)
As vantagens em se trabalhar com esse tema incluem: fácil acesso ao
material; a possibilidade de se trabalhar com diversos níveis de complexidade, dos
mais simples de se fazer até os mais difíceis; a possibilidade de variações de
criações (aviões, barcos, chapéus, etc.); a cooperação no processo de elaboração
das dobraduras.
Figura 7 - Gibi Turma da Mônica
Fonte: Sousa (2002, p. 53-54).
Na história em quadrinho expressa na Figura 7, vemos o personagem Cascão
demonstrando elementos que fazem parte da Ginástica (paradas de mão e piruetas).
Ele demonstra estes movimentos ao personagem Cebolinha que acha muito legal e
tenta imediatamente reproduzi-los, sem sucesso. A história pode ser lida em sala de
17
aula junto com os alunos e a função diretiva do professor possibilita realizar a
exposição sobre quais são estes movimentos e sua utilidade na modalidade com o
auxílio de fotos e vídeos, para que, posteriormente, os exercícios possam ser
vivenciados na prática com uma aula que utiliza a ginástica como conteúdo,
explicando que o personagem Cebolinha não conseguiu porque não obteve a ajuda
necessária, e demonstrar os suportes educativos que tradicionalmente são utilizados
na modalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término do trabalho, podemos concluir que os gibis podem sim ser uma
excelente ferramenta para auxiliar nas aulas de Educação Física, por apresentarem
um nível de leitura acessível e se utilizar da linguagem visual, tornando-se uma
leitura agradável e de fácil acesso aos alunos. Entretanto, é notório que nem todos
os gibis podem ser utilizados na Educação e mais especificamente na Educação
Física, devendo se a isso o fato de seus conteúdos abordarem os mais diversos
temas. Sendo assim, é necessário que o Professor faça uma análise prévia e
sistemática dos quadrinhos que pretende utilizar em suas aulas. Dessa forma, fica
garantido que os conteúdos da Cultura Corporal sejam o tema central a ser
discutido. Foi possível notar também que introduzir uma nova ferramenta didática
pode diversificar as aulas, de modo que desperte o interesse dos alunos, sendo
também viável enriquecer as aulas práticas, com os gibis auxiliam em um debate, ou
uma apresentação de determinada modalidade. Compreendemos que existem
diversas alternativas para a inclusão das histórias em quadrinhos nas aulas de
Educação Física, sempre objetivando criar uma conexão com a prática em si,
podendo para isso criar debates sobre questões envolvendo as relações humanas
na atividade corporal, e com isso tornar nossos alunos mais críticos. Também surge
a chance de torná-los criativos, expandir seu conhecimento de forma divertida
através da utilização desta ferramenta de conhecimento.
Acreditamos que o trabalho foi capaz de oferecer alternativas para o uso das
Histórias em Quadrinhos nas aulas de Educação Física, e com a visualização
dessas possibilidades aparecem novos meios de se inserir os gibis, principalmente a
criação de HQs pelos alunos sobre os conhecimentos adquiridos na prática da
18
Educação Física, surgindo daí possibilidades para trabalhos futuros sobre a
temática, visto o pouco material disponível sobre o tema, o que acabou gerando
dificuldades durante a produção do trabalho.
COMIC BOOKS IN PHYSICAL EDUCATION: the comics as a teaching tool for
initiation of knowledge
Abstract: The present work launches to investigate the possibility of the use of Comic Books as a tool in the classes of Physical Education and in what way this process can occur. With the popularization of comic books nowadays and the explosion of superhero movies, the attention of children and adults has increased with regard to this medium. Therefore, it is possible to use such material as a resource in classes, in order to stimulate student participation. In the research will be analyzed articles, books on the subject, as well as comic books dealing with Body Culture and Education. Keywords: Comic Books; Physical Education; education; pedagogical tool
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