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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DISCIPLINA: METODOLOGIA QUALITATIVA HISTÓRIA ORAL E HISTÓRIA DE VIDA AIEZHA FLAVIA PINTO MARTINS GUABIRABA XÁDIA FERREIRA SILVA BELO HORIZONTE MAIO DE 2015

História Oral e História de Vida Aiezha e Xadia

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a história oral e sua metodologia de aplicação.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PS GRADUAO EM PSICOLOGIA DISCIPLINA: METODOLOGIA QUALITATIVA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISPROGRAMA DE PS GRADUAO EM PSICOLOGIADISCIPLINA: METODOLOGIA QUALITATIVA

HISTRIA ORAL E HISTRIA DE VIDAAIEZHA FLAVIA PINTO MARTINS GUABIRABAXDIA FERREIRA SILVABELO HORIZONTEMAIO DE 2015

APRESENTAODesenvolvimento e Revalorizao dos relatos orais na Europa, EUA e Brasil;Histria Oral como um quadro amplo;Especificidades de cada ramo de histria oral;Especificidades dos mtodos narrativos e da oralidade;Aspectos prticos da Histria Oral;Referncias Bibliogrficas.PRIMEIRA VALORIZAO DOS RELATOS ORAIS1900 1950: os mtodos de histria oral e histria de vida foram utilizados por socilogos e antroplogos europeus e norte-americanos para suas pesquisas. O relato oral se apresentava como tcnica til para registrar o que ainda no se cristalizara em documentao escrita, o no conservado, o que desapareceria se no fosse anotado. Servia, pois, para captar o no explcito, quem sabe mesmo o indizvel.

Exemplos: 1) Franz Boas, recolhendo histrias de vida de caciques para preservar a memria de tribos indgenas da Amrica do Norte. (considerado pai da antropologia dos EUA)2) Thomas e Znaniecki, trabalhando com histria oral com camponeses poloneses imigrantes para os EUA, trabalharam tambm com documentos pessoais, cartas, dirios e outros, pois consideravam que outras fontes eram necessrias para dar embasamento emprico. (obra considerada fundadora da sociologia estadunidense). Escola de Chicago.

OSTRACISMO A PARTIR DOS FINS DOS ANOS 40Desenvolvimento das tcnicas estatsticas relegou para a penumbra relatos orais e histrias de vida.Tcnicas de amostragem e aplicaes de questionrios se mostravam mais adequados para a produo de dados considerados objetivos.

REVALORIZAO DOS RELATOS dcada de 60Utilizao do Gravador, riqueza do material e a idia de diminuio da interferncia do pesquisador.Carter de transmisso dos conhecimentos: veicula noes adquiridas pelo narrador atravs de sua experincia e ao quanto conhecimento de tradies de grupos ou de uma coletividade.

Oscar Lewis a famlia Sanchez: literatura de realismo social; palavra falada, a literatura oral em contraste com a literatura escrita; nos do uma viso da sua vida, fazendo-nos tomar conscincia das suas potencialidades e talentos perdidos.

A FAMLIA SANCHEZ - 1961

https://www.youtube.com/watch?v=C3pEKo-YoBY

Os analfabetos da Cidade do Mxico, escutados por Oscar Lewis disseram muito mais sobre uma certa realidade mexicana que os socilogos oficiais. Eles mostraram que sabiam muito sobre eles, sobre seu meio, sobre as relaes sociais que determinavam sua existncia. Eles compreendiam tudo...

NO BRASILSurge na dcada de 40 e 50 e cai tambm no ostracismo devido s tcnicas estatsticas de amostragem com o emprego de questionrios. A histria de vida e histria oral seriam carregadas de subjetividade do narrador e do pesquisador.Com o retorno da histria oral na Europa, o interesse nacional recomea, e inclusive os Museus da Imagem e do Som so construdos, para armazenamento de entrevistas com personalidades polticas famosas.Armazenamento da memria dos silenciosos que pouco aparecem na documentao escrita, quanto ao xodo rural, a mudana no panorama brasileiro da populao rural se tornar urbana e quanto s mudanas nas relaes de trabalho da advindas.Foi na Psicologia Social que as histrias de vida ressurgiram como tcnica especfica de pesquisa. HISTRIA ORAL um quadro amplo dentro do qual se inserem diferentes formas de coleta de narrativas e diferentes mtodos:

Histria de VidaEntrevistasDepoimentos pessoaisAutobiografiasBiografias

ENTREVISTAConversao continuada entre informante e pesquisador

O tema escolhido pelo pesquisador

O pesquisador dirige a entrevistaDEPOIMENTO O pesquisador conduz a entrevista de acordo com os objetivos de seu trabalho e as questes de pesquisa.Se o narrador se afasta do objetivo, o pesquisador corta-o para traz-lo novamente ao assunto. possvel o pesquisador encerrar a(s) entrevista(s) quando considerar ter alcanado o que desejava.

AUTOBIOGRAFIANarrar sua prpria existncia.No h nenhum pesquisador. o narrador que manipula os meios de registro, seja escrito, gravado.Motivao para a narrao da prpria pessoa.O narrador se dirige diretamente ao pblico.

(1930)

BIOGRAFIAA histria de um indivduo redigida por outro.Presena do pesquisador.Relato escrito que se sucede s entrevistas.nfase no personagem central que se destaca de todos os demais, de modo que ressalta-se a histria individual, os aspectos marcantes e inconfundveis do indivduo cuja existncia o bigrafo decidiu revelar ao pblico.

AUTOBIOGRAFIA E BIOGRAFIA: USO DAS CINCIAS SOCIAISO aproveitamento se faz no sentido de buscar como esto operantes as relaes do indivduo com seu grupo e sua sociedade. No se trata de consider-lo isoladamente, nem de compreend-lo em sua unicidade, o que se quer captar o que se passa no interior das coletividades de que participa.SOBRE A ORALIDADE DAS FONTES ORAISNo h transcrio que substitua a gravao. A transcrio transforma objetos auditivos em visuais.Tom e volume do discurso popular carregam implcitos significados e conotaes sociais irreproduzveis na escrita.Sinais de pontuao so adies do transcritor.No discurso, as pausas, seu ritmo e sua durao tm significado prprio.Mudana de atitude do narrador s pode ser percebido se se ouve.Mudanas so normas do discurso. Regularidade norma da escrita.Informantes do povo: so ricos em variaes de matizes, volume, entonao que oradores da classe mdia, que aprenderam a imitar no discurso a monotonia da escrita.

SOBRE A CREDIBILIDADE DAS FONTES ORAISNo h falsas fontes orais.No h memria imperfeita em se tratando de relatos orais, pois a memria no considerada como um depositrio passivo de fatos, mas um processo ativo de criao de significaes.No se busca o fato histrico, mas o esforo dos narradores em buscar sentido no passado e dar forma s suas vidas, e colocar a entrevista e a narrao em seu contexto histrico.SOBRE A OBJETIVIDADE DOS RELATOS ORAISAs fontes orais no so objetivas.A neutralidade impossvel e mais, a narrao o resultado de uma relao entre entrevistador e entrevistado. O testemunho oral no igual duas vezes.Quando a voz do entrevistador cortada, a do entrevistado distorcida.Informantes so historiadores e o historiador uma parte da fonte.

SOBRE QUEM FALA NA HISTRIA ORALFontes orais so necessrias para a histria das classes no hegemnicas.As classes dominantes j tm tido o controle sobre a escrita e deixaram j um registro escrito muito mais abundante.Muito embora, o discurso histrico continua nas mos do historiador, que ouve, guarda o material, o qual publicado atravs dele.

ASPECTOS PRTICOS DA HISTRIA ORALNUNCA gravar nenhuma entrevista em histria oral, seja qual for a modalidade, sem a anuncia do narrador.Esclarecer que nada ser publicado sem a prvia autorizao do sujeito.Esclarecer objetivos da pesquisa para o interlocutor.Esclarecer que o processo de transcrio demorado, de modo a evitar expectativas imediatistas.Uso do dirio de campo, para registrar o roteiro prtico e impresses.No deixar acumular muitas gravaes sem transcrio. Transcrio absoluta x Transcrio trabalhada (ouvir diversas vezes at apreender a msica do relato).Textualizao: prxima etapa, nas quais se suprimem as perguntas do pesquisador.Transcriao: volta-se o texto para o narrador fazer as correes. Conferncia: a verso final entrega ao narrador a verso para ser autorizada.Histria de VidaComo mtodo h uma ausncia total de consenso, o que se constitui como ncleo central a dimenso de contar e a narrativa.(Barros, 2002)- HV: define como um relato de um narrador sobre sua existncia atravs do tempo, tentando reconstituir os acontecimentos que vivenciou e transmitir a experincia que adquiriu... Narrativa linear e individual.(Queiroz, pag. 20)- Coloca a historia de vida como uma espcie, uma forma dentro da historia oral de captar informao.- Como um instrumento complementar de pesquisa.- Como um instrumento a ser utilizado quando o campo desconhecido, quando no h pesquisas sobre aquela populao.

Histria de VidaPerspectiva da psicossociologia francesa:...a pesquisa em historia de vida implica uma produo de conhecimento a partir do discurso do sujeito sobre sua situao concreta de vida, reconhecendo ao saber individual um valor sociolgico e que no utilizada como simples ilustrao, como exemplo do que j conhecido ou mesmo como ferramenta suplementar para complementar pesquisas baseadas em outros mtodos. No existe tambm a pretenso de demonstrar leis, buscar a prova emprica de hipteses tericas, encontrar causas ultimas. O interesse o conhecimento de uma situao ou objeto, atravs de um saber que no jamais dado a priori, mas que construdo, na experincia cotidiana e na interlocuo (Barros, 2002) O lugar central do sujeito que se conta ele que fornece a matria primeira sobre a qual trabalhamos.

Histria de VidaDupla dimenso: descrio de fatos e a busca de sentidoFatos: experincia de vida singular, inscrita num universo de relaes sociais, de classe, de poder, que reenvia s condies especiais de existnciaSentido: no esta na prpria historia, uma relao dinmica entre a retomada da historia e o presente do sujeito, no uma resposta, uma pergunta que cria condies de um devir possvel. Relao, necessria e s se d se:O pesquisador se transformar em objeto de pesquisa:Eu no posso compreender a situao de classe de uma pessoa os de um grupo familiar se eu no me interrogo primeiro sobre minha prpria posio de classe.( (Ferraroti, 1984, in Barros, 2002)Relao no mesmo nvel, sob o mesmo p de igualdade, os entrevistados so participantes engajados na pesquisano a partir de algumas poucas entrevistas rpidas que ns podemos chegar a historia de uma vida, mas sim a partir de um encontro nico entre o pesquisador com uma pessoa que aceita a ele se confiar. (Levy, in Barros, 2002)

Histria de VidaEnto algumas questes metodolgicas que costumam surgir marcam uma herana e dominao de perspectiva epistemolgica marcadas pelo neo-positivismo (Bertaux, 1997, in Barros, 2002), e pela hegemonia de discursos dominantes e escritos, que muitas vezes so caracterizados como provas.As questes so mais comuns:Quem entrevistar?Quantos? preciso ser diretivo ou no diretivo?Como transcrever as entrevistas?Como trabalhar com os dados?Histria de VidaEstas questes no cabem nesta metodologia, pois as questes metodolgicas devem seguir as pesquisas e no lhes preceder. Isto significa que no existem pressupostos metodolgicos dados priori, independentes da realidade pesquisada: no existe um modus operandi pr concebido. na especificidade de cada histria que vamos encontrar a via a seguir, o modo de trabalhar. (Barros, 2002)Quais as questes para o mtodo: Relao Transferencial: no contamos nossa vida a um gravador(Ferraroti, in Barros 2002) Em qual situao o relato produzido?Conta um historia que endereada, construda em funo do que representa para ele a situao de contar sua vida, das interaes que se manifestam e dos efeitos que desejam produzir sobre o destinatrio de seu contar.(Jobert, 2000, in Barros, 2002)Quem eu sou para o outro?Em que lugares me coloca?

Condio fundamental: o narrador seja tomado pelo desejo de se contar e que ele tome, ele mesmo, a conduo da entrevista(Barros, 2002)Histria de VidaAnlise:Como utilizar as HV para fazer avanar a compreenso de uma dada realidade?A analise vai ser guiada pelo olhar do pesquisador, se ele vai centrar na pessoa, no trabalho, qual sua escolha terica, seu engajamento.Bertaux: interpretao centrada nas relaes sociais e interpessoais, que esto na origem das experincias prticas. Compreender um fragmento da realidade social-histrica.Catani: considera a dimenso do simblico (valores, representao, emoes), do vivido subjetivo de cada um, busca a elucidao do percurso e dinmicas existenciais de cada um. Busca de sentido, contribui para ajudar os sujeitos a apreenderem e interpretarem sua prpria histria.Pesquisa se transforma em uma ocasio de refletir em voz alta sobre si mesmos, momento de re-fazer, de compreender o agora a partir do que j passou.Barros, 2002Histria de VidaO que a HV possibilita:Historicidade: A histria de vida uma ferramenta de historicidade...ela torna possvel para o sujeito que conta sua vida, trabalhar sua vida, reconstruir o que foi vivido, re-signific-lo e mudar sua relao com sua histria.Na medida em que identifica as determinaes da historia, ele entende a maneira pela qual essa historia o condiciona, compreendendo o agora a partir do que j passou e pode ento agir a partir de um trabalho de reescritura para modificar o sentido de sua historia e tentar vir a ser seu sujeito: transformar-se em criador de histria (Enriquez)Exemplo do Rafael: Voc no me v mais como monstro.Barros, 2002

Histria de VidaIndividual e Coletivo:Ponte entre historia individual e historia coletiva:tal qual uma boneca russa, a historia individual est encaixada na historia familiar, e ela mesma inserida em uma historia social. (Gaulejac, 1991, in Barros, 2002).Na HV o sujeito conta de um contexto, um meio, uma certa condio de vida e sobre a relao com essas condies. A HV no contem nela prpria as significaes de uma coletividade inteira, a coletividade ultrapassa e transcende a historia individual.(Barros, 2002)

DISCUSSOSIM, UMA NICA HISTRIA DE VIDA PODE SER OBJETO DE UM ESTUDO SOCIOLGICO APROFUNDADO E FRUTFERO!

O indivduo um fenmeno social, aspectos importantes de sua sociedade e do seu grupo podem ser apanhados atravs de sua histria. A HISTRIA DE VIDA UMA TCNICA QUE CAPTA O QUE SUCEDE NA ENCRUZILHADA DA VIDA INDIVIDUAL COM O SOCIAL.

A histria de vida, como qualquer outro procedimento empregado na coleta de dados, pois, um instrumento, no nem coleta, nem produto final da pesquisa, ela recolhe um material bruto que necessita ser analisado.

O IMPORTANTE SABER ESCOLHER A TCNICA ADEQUADA AO TIPO DE PROBLEMA!

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:Queiroz, M. I. P. Relatos Orais: do Indizvel ao Dizvel. In: Simson, O. M. V. (1998) Experimentos com Histrias de Vida: Itlia-Brasil. (pp. 14-43) So Paulo: Vrtice, Revista dos Tribunais. Portelli, A. O que faz a histria oral diferente. In: Projeto Histria. Revista do Programa de Estudos Ps-Graduados em Histria e do Departamento de Histria da PUC-SP. (pp. 25-39) SP- Brasil, 1981.Barros, V. A e Silva, L. R. (2002) A Pesquisa em Histria de Vida. In: I. B. Goulart (org.) Psicologia Organizacional e do Trabalho; teoria, pesquisa e temas correlatos.(pp. 134-158). So Paulo: Casa do Psiclogo.Meiht, J. C. S. Manual de Histria Oral. (1996) (pp. 51-61)So Paulo, Edies Loyola.