História temática

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A ABORDAGEM TEMTICA DE CONTEDOS COMO METODOLOGIA PARA O ENSINO DE HISTRIA NO ENSINO MDIO Siumara Sagati1 RESUMO: Neste artigo temos como objeto de reflexo a Histria Temtica como prtica metodolgica em sala de aula. Pretendemos discutir conceitualmente o que a Histria Temtica e suas relaes com o Ensino de Histria, historicizar a implementao de algumas propostas curriculares direcionadas ao estudo de Histria organizado por temas e, apresentar algumas impresses de alunos e professores sobre a aplicao desta metodologia para o ensino de Histria no Ensino Mdio. PALAVRAS CHAVE: Ensino de Histria; Histria Temtica; Metodologia de Ensino. ABSTRACT: In this article we have as object of reflection as the History Thematic methodological practice in the classroom. We want to discuss what is conceptually thematic history and its relations with the teaching of history, historicize the implementation of some proposals curriculum directed the study of history organized by subject, and make some impressions of students and teachers on the application of this methodology for teaching of History in high school. WORDS - KEY: Teaching History; Thematic History, Methodology for Teaching. Introduo Este artigo constitui parte das reflexes e atividades desenvolvidas no Programa de Capacitao de Professores do Estado do Paran denominado PDE Programa de Desenvolvimento Educacional turma 2007. O PDE, segundo rgo oficiais, consiste numa poltica pblica de formao continuada dos professores da Rede Pblica do Estado do Paran, sendo concebido como um conjunto de atividades organicamente articuladas, definidas a partir das necessidades da Educao Bsica, e que busca no Ensino Superior a contribuio compatvel com o nvel de qualidade desejado para a educao pblica no Estado do Paran. (DOCUMENTO SNTESE - PDE, 2007 p. 7) Esse modelo de formao continuada visa proporcionar ao professor PDE2 o retorno s atividade acadmicas de sua rea de formao inicial, sendo realizado, deProfessora de Histria do Colgio Estadual Pe. Jos de Anchieta Apucarana - Pr. [email protected] Como ficou conhecido o professor que participa do programa de formao PDE Programa de Desenvolvimento Educacional.2 1

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forma presencial, nas Universidades pblicas do Estado do Paran, e semi-presencial, em permanente contato do professor PDE com os demais professores da rede pblica estadual de ensino, apoiados com suportes tecnolgicos necessrios ao

desenvolvimento da atividade colaborativa denominada GTR (grupo de trabalho em rede). As atividades correspondentes ao Programa de Desenvolvimento Educacional PDE deram-se por meio de Plano de Trabalho, no qual foram incorporadas as atividades bsicas prprias do programa, as quais abrangem seminrios centralizados, encontros regionalizados e as atividades de formao e integrao em rede. Por sua vez, as atividades especficas do professor PDE so constitudas pela elaborao e execuo do Plano de Trabalho, sob a orientao das Instituies de Ensino Superior IES, com participao dos professores da rede (via Grupo de Trabalho em Rede) e elaborao de material didtico condizente com o objeto de estudo definido no Plano. Neste processo de formao continuada, vislumbrou-se o Ensino de Histria como um campo de possibilidades para investigar questes que contribussem significativamente para a aprendizagem dos alunos que ingressam nas escolas e que saem delas em busca do seu prprio espao dentro do universo social. As ltimas dcadas do sculo XX constituram um rico momento de debates, elaborao e implementao de propostas curriculares, de novos materiais didticos e de repensar as prticas educativas em nosso pas. possvel afirmar que existe no Brasil uma diversidade de formas de ensinar e aprender histria no decorrer do processo de implementao dos Parmetros Curriculares Nacionais e dos sistemas nacionais e estaduais de avaliao da aprendizagem e de padronizao dos critrios de avaliao dos livros didticos. Neste perodo, interessante observar que se consolidou, entre ns, uma pluralidade de concepes tericas, polticas, ideolgicas e metodolgicas no ensino de histria desenvolvido nas redes pblica e privada. (FONSECA, 2003 p.36) A Histria Temtica, quando tratada como metodologia de ensino, integra-se a este processo das discusses sobre a renovao do ensino da disciplina e por essa perspectiva est indicada nas atuais Diretrizes Curriculares de Histria do Estado do Paran como metodologia para todas as sries do Ensino Mdio. Tambm est

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contemplada em diversos materiais didticos, assim como no Livro Didtico Pblico de Histria (LDP), a partir de suas selees de contedos, organizao e apresentao dos textos. Levando em conta que a questo da Histria Temtica est colocada para o conjunto de professores da rede pblica do Estado do Paran, iniciamos nossas atividades no processo de formao continuada PDE elaborando um Plano de Trabalho em conjunto com o professor orientador das IES, Prof. Dr Marlene Rosa Cainelli, do Departamento de Histria da Universidade Estadual de Londrina, delimitando como objeto de estudo e interveno a Histria Temtica como metodologia para o ensino de Histria no Ensino Mdio. A proposta deste plano de trabalho PDE foi conhecer as diferentes concepes de Histria Temtica, suas relaes com o ensino de Histria e sua aplicabilidade nas aulas de Histria do Ensino Mdio, bem como historicizar a implementao de algumas propostas curriculares direcionadas ao estudo de Histria organizado por temas e, finalmente, fazer a proposio de uma atividade dirigida aos alunos e professores do Ensino Mdio na perspectiva da Histria Temtica. Para desenvolver nossas consideraes acerca da metodologia da Histria Temtica, produzimos um OAC - Objeto de Aprendizagem Colaborativa, caracterizado como um sistema informatizado de insero e acesso de dados, existente no Portal Educacional Dia-a-dia Educao (www.diaadiaeducacao.pr.gov.br), e que tem como proposta instrumentalizar os educadores da Rede Estadual de Educao do Paran em sua prtica pedaggica. Para produo do OAC, nos apoiamos no tema - As Relaes de poder e violncia nos Estados Totalitrios, considerando-o gerador ou Eixo Temtico para outras abordagens, e a partir da necessidade de delimitar o tema a um perodo e local definidos (MATTOZZI, 2004), optamos pelo contedo - A violncia dos Regimes Totalitrios no contexto da Primeira e Segunda Guerras Mundiais como um recorte mais especfico. Em sua estrutura, o OAC, procura proporcionar um dilogo entre a metodologia e o contedo e para tanto, integra uma discusso sobre a fundamentao e histrico de implantao da Histria Temtica no ensino de Histria com um recorte especfico que,

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no material - A violncia dos Regimes Totalitrios no contexto da Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Esta integrao pode ser observada nos recursos do ambiente virtual que apresentam referncias ou consideraes ora metodolgicas, ora do contedo de ensino abordado. O Plano de Trabalho contempla tambm uma Proposta de Implementao, ou seja, atividades de socializao do objeto de estudos do professor PDE com a sua comunidade escolar, especialmente os professores de sua rea de referncia. Nossa Proposta de Implementao teve incio com um levantamento de dados e informaes acerca da prtica pedaggica dos professores de Histria, especialmente aquelas relacionadas s suas metodologias de trabalho. Executamos essa tarefa por meio de questionrios semi-estruturados e entrevistas. Em seguida, compartilhamos diretamente com os professores da escola em que estamos lotados, a saber, Colgio Estadual Pe. Jos de Anchieta de Apucarana-Pr e outros colegas de trabalho das escolas estaduais do Paran, por meio do Grupo de Trabalho em Rede GTR, os estudos que realizamos acerca da metodologia do ensino de Histria. No conjunto de atividades da Proposta de Implementao fez-se a aplicao do material didtico produzido aos alunos do 3 ano do Ensino Mdio matutino do Colgio Estadual Pe. Jos de Anchieta de Apucarana-Pr. Para concluir e subsidiar a avaliao desta prtica de nosso objeto de estudos, tornou-se premente um levantamento das impresses de alunos a respeito deste trabalho desenvolvido na perspectiva da metodologia da Histria Temtica para o ensino de Histria. Ento, para compartilhar as informaes obtidas no processo de formao continuada PDE, desenvolveu-se este artigo cuja apresentao englobar trs frentes: na primeira delas, - partindo da premissa que a Histria, enquanto disciplina escolar possui uma longa histria, permeada de conflitos e controvrsias na elaborao de seus contedos e mtodos, - abordaremos a Histria Temtica no contexto da renovao do ensino de Histria a partir da dcada de 80. Na segunda, parte sero delineadas consideraes sobre a Histria Temtica tendo como suporte alguns autores que advogam a respeito desta metodologia. Na parte final do artigo, apresentarse- as questes formuladas, bem como as respostas dos professores e alunos quando questionados sobre a Histria Temtica como metodologia de ensino.

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1. A Histria Temtica no contexto de renovao do Ensino de Histria Durante muitos anos configurou-se no Brasil um ensino tradicional de Histria, que se descreve como um processo evolutivo de um progresso crescente, numa seqncia meramente cronolgica, fragmentada, episdica e factual.H um consenso j estabelecido de que este ensino chamado tradicional se consolidou gradativamente em nosso pas a partir das primeiras propostas curriculares de Histria. Vide, por exemplo, o ensino desta disciplina nos programas de Histria do Brasil da escola secundria brasileira, cujo momento fundador remonta criao do Colgio D. Pedro II, em 1837, atravessando as sucessivas reformas educacionais como a Reforma Rocha Vaz, 1925; Reforma Francisco Campos, 1931; Reforma Gustavo Capanema, 1942. (SCHMIDT, 2005 p. 203)

As Leis 4.024, de 1961, e 5.692 de 1971 no alteraram substancialmente a perspectiva historiogrfica dos currculos e programas escolares, sendo que, esta ltima erigida no bojo da conjuntura da ditadura militar, trouxe graves problemas para o ensino de Histria. A adoo de Estudos Sociais englobando as matrias de Histria e Geografia numa disciplina nica, adotada pela 5692/71, foi uma das principais caractersticas da educao brasileira neste perodo, como observa Zamboni:(...) A escola passou a ter um novo perfil social e cultural, foi reduzida a carga horria das disciplinas histria/geografia e foram inseridas no currculo as disciplinas de Educao Moral e Cvica (EMC) e Organizao Social e Poltica do Brasil (OSPB), portadoras de forte carga ideolgica. Os objetivos centrais foram a formao da cidadania, concebida como a formao do bom cidado, e da identidade nacional pela via de anlise do seu processo de formao poltica (...) (ZAMBONI, 2003, p. 372)

A partir de meados da dcada de 80, acontecia em diferentes espaos institucionais nas escolas, nas universidades, na imprensa um debate sobre reformas curriculares que vinculavam a escola e o ensino ao chamado processo de redemocratizao poltica do pas. Nessas discusses a escola foi vista como um lugar privilegiado a partir do qual ocorreriam mudanas na sociedade, j que o objetivo do ensino seria a formao de um novo cidado, entendido como aquele sujeito que participa ativamente das instncias polticas e sociais do seu tempo.Na dcada de 80, no final da ditadura militar, quando j se prenunciava a redemocratizao, foi necessrio que se pensasse em um novo currculo para as escolas. Os estudos sobre a aprendizagem e as

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investigaes referentes a procedimentos terico-metodolgicos adotados nos estudos historiogrficos e os novos objetos propostos pela Histria Nova mostravam o conservadorismo existente nos currculos anteriores e a necessidade de se pensar em uma outra escola, com outras propostas educacionais. Alertavam, tambm, para a importncia da participao ativa de todos os professores nos processos educacionais e no aceitavam a separao entre pesquisa e docncia. Temas polticos existentes nos currculos so abandonados e temas culturais e sociais ocupam espao de destaque na dinmica do ensino de Histria. (ZAMBONI, 2005, p. 14)

Nesse mesmo perodo o ensino de Histria comeou a ser alvo de pesquisas acadmicas e a produo sobre o tema cresceu atingindo o mercado editorial: comearam a circular entre os professores livros e coletneas de textos trazendo narrativas de experincias desenvolvidas por professores do 1 e 2 graus e por textos que se ocupavam da discusso terica sobre o ensino da disciplina. Entre as publicaes preciso destacar a coletnea Repensando a Histria, organizada por Marcos Silva (1984), publicada sob o patrocnio da ANPUH Associao Nacional de Histria e dedicada s discusses sobre o ensino de Histria. O livro O Ensino de Histria Reviso Urgente de Conceio Cabrini (1987) foi outra importante publicao, que defendeu uma posio polmica na poca, a questo da produo do conhecimento histrico na escola de 1 grau. Nele discutida uma experincia de ensino de Histria para as 5 sries, cujo objetivo principal era fazer com que os alunos, partindo de sua realidade mais prxima, pudessem reconhecer que a Histria estuda as aes dos homens, procurando explicar as relaes entre os seus diferentes grupos. Essas relaes esto em permanente movimento, so

essencialmente dinmicas e contraditrias. (CABRINI, 1987, p.33). Percebe-se nas obras citadas alguns temas recorrentes. Em primeiro lugar, certa descrio do que seja o ensino de Histria que est sendo criticado como o ensino tradicional que at ento se praticava: trata-se de um ensino excessivamente preso ao livro didtico e palavra do professor, um ensino desinteressante e desmotivador, afastado do cotidiano do aluno que recebe passivamente um conhecimento acabado, um ensino com uma preocupao excessiva com a memorizao e o apego a uma viso factual sem nenhuma preocupao crtica, um ensino fundamentado na

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construo de um tempo histrico evolutivo e progressista (SCHMIDT, 2005; FONSECA, 2003). Aps tecerem suas crticas ao chamado ensino tradicional, os autores relatam experincias de ensino que buscaram alternativas aos problemas apresentados. Nesse caso, h um grande enfoque na idia de transformar o ensino em um lugar de produo do conhecimento histrico e no meramente da sua reproduo e transformao. H tambm um grande destaque dado experincia de vida dos alunos, ao seu cotidiano, sua vivncia, bem como uma preocupao em se trabalhar com conceitos. Outro ponto importante nos relatos das experincias a preocupao com o mtodo. A maioria dos autores dos textos das referidas obras discute questes metodolgicas sugerindo diversas abordagens e novas linguagens para o trabalho em sala de aula: uso de documentos, trabalhos de pesquisa, estudo de textos com tcnicas diversas, estudo do meio, utilizao de outros recursos, tais como histria em quadrinhos, msica, teatro, filmes, etc. Ao mesmo tempo, cresciam nas universidades as pesquisas sobre o ensino de Histria. Fonseca (1989) apresenta um balano das linhas dos trabalhos acadmicos na dcada de 80, mostrando que so basicamente quatro linhas abordadas pelos pesquisadores: a discusso sobre a produo do conhecimento histrico, como forma de romper com o papel de reproduo da escola de 1 e 2 graus; o exame dos livros didticos, significados de sua utilizao e anlise dos contedos; a questo das diferentes linguagens e recursos didticos no ensino de Histria e, por fim o ensino temtico como alternativa inovadora ao ensino de Histria tradicional. Ressaltamos que do ponto de vista das discusses historiogrficas, a academia passava por um momento de revises tericas, com a intensificao de outras influncias da historiografia estrangeira, particularmente aquelas ligadas Nova Histria francesa e aos historiadores da moderna Histria Social inglesa, como Christopher Hill, Eric J. Hobsbawn e Edward P. Thompson. Em relao aos primeiros, destaca-se a influncia da discusso em torno da ampliao da noo de documento e da multiplicao dos temas que podem ser estudados pelos historiadores. Com relao Histria Social inglesa, tiveram muita repercusso no Brasil os estudos relativos

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classe operria e aos movimentos operrios em geral com a influncia das idias de Thompson sobre a formao da classe operria inglesa.De modo geral, pode-se afirmar que, a partir de meados da dcada de 1980 at o final da dcada de 1990, h um confronto de projetos que buscavam novos referenciais para a escola e o ensino de Histria. De um lado, projetos que acolheram perspectivas tericas e metodolgicas mais pertinentes histria dos movimentos sociais e do trabalho; de outro, projetos que sugeriam adoo de concepes metodolgicas mais prximas historiografia dos Annales. Este confronto est relacionado, sem dvida, ao contexto em que a sociedade brasileira, recm sada do perodo ditatorial, empreende a busca dos seus novos caminhos. (SCHIMDT, 2005, p. 40)

Assim, os anos 80 so marcados por discusses, propostas de mudanas e revises na legislao pertinente ao ensino de Histria. Sobre esse contexto Fonseca (1995) ressalta quea opo por eixos temticos constitui-se uma das propostas mais renovadoras em termos de ensino da histria no 1 e 2 graus, tendo sido experienciada e debatida em vrios pases, sobretudo na Frana, inserindo-se em debates da historiografia contempornea. No Brasil, temos publicadas algumas experincias tpicas, realizadas em escolas de So Paulo e Minas Gerais como iniciativa de grupos de professores vidos por mudanas ou por projetos especiais desenvolvidos em universidades e escolas isoladas. Em termos de programa curricular o estado de So Paulo o primeiro a prop-lo.

Ao sintetizar alguns elementos caractersticos da dcada de 1980, Ktia Abud afirma que:O surgimento de uma produo histrica que se pautava por crticas s formas ento consideradas tradicionais e pela introduo de conceitos e categorias explicativas que at ento eram desconsideradas forneceram o embasamento necessrio para que os novos currculos e propostas se orientassem pela negao ao etnocentrismo, pela valorizao do cotidiano como categoria explicativa e pela rejeio ao quadripartismo da Histria. A reorganizao da Histria a ser ensinada, pelo menos nos documentos curriculares oficiais, passou a ser regulada por outros parmetros e a se fundamentar em conceitos e categorias explicativas, que at ento no tinham sido consideradas para o conhecimento escolar, como o cotidiano. Surgiram tambm diferentes propostas de periodizao que fugiam da diviso quadripartite da Histria e sugeriam a tematizao do currculo como um modo de superar a organizao cronolgica, que se fixava quase sempre na datao. (ABUD, 2005, p. 30)

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Na dcada de 90, a utilizao de historiografias mais adequadas aos temas contemporneos e uma formao escolar direcionada ao mundo do trabalho e ou formao para a cidadania permeavam intensamente os debates entre professores, academia e associaes como a ANPUH. Neste mesmo perodo, surgiu, tambm, a defesa de uma referncia curricular global para todos os estados brasileiros. A partir da Lei Federal n 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educao, a qual determinou competncia da Unio, do Distrito Federal e dos municpios o estabelecimento de novas diretrizes para organizao dos seus currculos e seu contedo mnimo -, em 1997 a Secretaria de Educao Fundamental, do MEC, props os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o primeiro e o segundo ciclos da escola fundamental e, em 1998, os Parmetros Curriculares Nacionais para o terceiro e quarto ciclos. Na rea de Histria, os Parmetros Curriculares Nacionais tiveram como proposta fundamental a modificao da estrutura dos contedos apresentados. A idia bsica era a transformao dos contedos organizados de forma linear em eixos temticos (...). A principal justificativa para a mudana era a tentativa de superar o ensino da Histria baseado na cronologia. (SCHMIDT E CAINELLI, 2004). No final da dcada de 1990, no Brasil, ao lado das contnuas discusses sobre os PCNs, a Histria e o Ensino de Histria constituam objeto de preocupaes acadmicas. O Ensino de Histria consolidou-se no final do sculo XX e incio do XXI como frtil campo de investigao, sendo objeto de pesquisa sob diversas perspectivas, em particular a anlise de problemticas atuais do ensino especfico. Nessa conjuntura a investigao sobre cognio e ensino de Histria frequentemente denominada investigao em educao histrica - desenvolveu-se com fora em vrios pases, nomeadamente na Inglaterra, Estados Unidos e Canad. Em pases como Portugal e Brasil, este enfoque de pesquisa emergiu recentemente e procura consolidar-se, em dilogo com a comunidade internacional. Nestes estudos,os investigadores tm centrado a sua ateno nos princpios, fontes, tipologias e estratgias de aprendizagem em Histria, sob o pressuposto de que a interveno na qualidade das aprendizagens exige um

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conhecimento sistemtico das idias histricas dos alunos, por parte de quem ensina ( e exige tambm um conhecimento das idias histricas destes ltimos). (Barca, 2005, p.15)

No Brasil, estudiosos em educao histrica tm apresentado simpsios em encontros nacionais de Histria e de ensino de Histria, alm de consolidarem linhas de investigao nessa especificidade, em programas de ps-graduao. Em 2006, o pas sediou as VI Jornadas Internacionais de Educao Histrica, o que pode ser considerado tambm uma demonstrao da existncia de um grupo consolidado de investigadores nessa rea. As pesquisas na perspectiva da educao histrica tm subsidiado o desenvolvimento de prticas de ensino, as quais tm procurado obter algumas respostas prtica cotidiana das aulas de Histria, seja em direo reorganizao e resignificao dos contedos propostos em diretrizes curriculares, seja no sentido de se pensar alternativas didticas que possam contribuir para a superao de formas de relao com o conhecimento tradicional, predominantes nas aulas de Histria no Ensino Fundamental e no Ensino Mdio. Nesse sentido, alguns elementos vm sendo destacados pelas possveis contribuies com a ruptura do ensino tradicional de Histria, a saber: a abordagem da Histria como processo; o rompimento do conteudismo linear e evolutivo; a problematizao como partida e eixo norteador do processo de ensino; a seleo de temas que privilegiem a anlise das experincias e relaes humanas e compreenso das mudanas ou transformaes que ocorreram na sociedade. (SCHMIDT, 2004) Do movimento historiogrfico e educacional ocorrido nas ltimas dcadas do sculo XX e incio do sculo XXI, possvel apreender uma nova configurao do ensino de histria. Houve uma ampliao dos objetos de estudo, dos temas, dos problemas, das fontes histricas utilizadas em sala de aula. Os referenciais tericometodolgicos so diversificados questes at ento debatidas apenas no ensino de graduao e chegam ao ensino mdio e fundamental mediados pela ao pedaggica de professores que no se contentam com a reproduo de velhos manuais. (FONSECA, 2003) Em determinados momentos foi feita a opo pela Histria Temtica, justificada por vrios motivos, mas, sobretudo como resposta aos desafios de um ensino histrico que pretendesse atender s necessidades das novas geraes.

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2. A Histria Temtica nas Diretrizes Curriculares de Histria do Estado do Paran Entre as motivaes para o estudo de metodologias do ensino de Histria temos as atuais Diretrizes Curriculares de Histria do Estado do Paran que propem como encaminhamento metodolgico para o Ensino Mdio a Histria Temtica. As referidas DCEs justificam esta opo pela constatao da impossibilidade de se estudar toda a histria da humanidade e como meio de superar a noo de tempo linear e evolutivo. O historiador Ivo Mattozzi docente de Metodologia e Didtica da Histria na Universidade de Bolonha/Itlia destaca em seus estudos a importncia do trabalho temtico em Histria. Muitos destes trabalhos serviram de suporte para o encaminhamento metodolgico para o Ensino Mdio proposto nas Diretrizes Curriculares de Histria do Paran. Segundo MattozziComo el pasado no puede representarse em toda su complejidad, el historiador se ve em la obligacin de recortar algn aspecto, o fenmeno, o proceso, o acontecimiento, o personaje... y e instituirlo como un hecho histrico sobre el que focaliza el texto. La primeira operacin que debe realizar es tematizar se hecho. (Mattozzi, 2004, p.41)

A elaborao de currculos e seleo de contedos por meio de temas rompe com a diviso quadripartite da Histria da Humanidade e com a obrigatoriedade de contemplar no toda a Histria, como se os contedos representassem um fim em si mesmo, e no um meio pelo qual o professor age no sentido de construir instrumentos de anlise para o aluno se situar em seu tempo e melhor entender o passado em sua historicidade. Observando que no possvel representar o passado em toda a sua complexidade, referenciamos o pensamento de Schmidt, para quem os recortes temticos selecionados devem ser mediadores da anlise de determinadas questes, inscrevendo-se na histria geral das sociedades. Essa mediao permite um ir e vir entre o passado e o presente, entre o local, o regional e o universal, dando condies para a superao da tradicional perspectiva linear da histria. (SCHMIDT, 2005 p.206) Cabe ressaltar que a importncia as Diretrizes Curriculares de Histria do Estado do Paran, reside na formulao de um projeto educacional com maior flexibilidade, sendo garantido o domnio dos conceitos fundamentais a ser estudados. Entretanto, no podemos deixar de destacar que elas pecam pela impreciso em discernir eixos

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temticos escolares de histria temtica tal qual tem sido realizada pela pesquisa historiogrfica. Ao tratar da experincia pioneira no ensino de Histria Temtica no Brasil, proposta pela Secretaria de Educao de So Paulo, em 1986, Bittencourt (2004 p. 127) destaca que foram incorporadas diferentes possibilidades de encaminhamento da metodologia, especialmente pelas contribuies do formato dos Temas Geradores sugeridos pela pedagogia de trabalho de Paulo Freire. A autora considera que a diferenciao entre a Histria temtica e Histria por eixos temticos necessria para evitar equvocos como os que ocorreram em algumas propostas de Ensino de Histria. O ensino de Histria temtica mais comumente encontrado no Ensino Superior porque se aproxima da pesquisa e prtica acadmica. Nele as condies de estudo que delimitam assuntos e temas permitem investigaes aprofundadas e aliceradas por uma gama de referenciais tericos e bibliogrficos mais abrangentes.A Histria temtica, normalmente produzida pela pesquisa de historiadores - que estabelecem o tema a ser investigado e delimitam o objeto, o tempo, o espao, as fontes documentais a ser analisadas -, caracteriza a produo histrica acadmica. Cada tema pesquisado em profundidade, sendo a anlise verticalizada, em meio s diversas possibilidades oferecidas, por intermdio de um mximo de documentao a ser selecionada segundo critrios prprios, a qual interpretada de acordo com determinadas categorias e princpios metodolgicos. O tema precedido por exaustivas leituras bibliogrficas e por crticas tanto da bibliogrfica quanto da documentao. (BITTENCOURT, 2004, p. 126.)

O ensino de Histria por eixos temticos est mais presente no cotidiano escolar do Ensino Fundamental e Mdio, pois nestas modalidades um tema sugerido pode conduzir a abordagens de novos sub-temas e resgatar objetivos da disciplina que se fundamentam na necessidade de promover no aluno a habilidade de pensar historicamente. Nessa condio no a quantidade de contedos que qualifica o trabalho do professor, mas os significados e sentidos que estes carregam.Os eixos temticos ou temas geradores so indicadores de uma srie de temas selecionados de acordo com problemticas gerais cujos princpios, estabelecidos e limitados pelo pblico escolar ao qual se destina o contedo, so norteados por pressupostos pedaggicos, tais como faixa etria, nvel escolar, tempo pedaggico dedicado disciplina, entre outros aspectos. O eixo temtico no pode limitar o contedo, mas deve servir para estabelecer e ordenar outros temas

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(sub-temas) que precisam ser abrangentes tanto no tempo como no espao. (...) Os contedos, desse modo, decorrem do eixo temtico com flexibilidade para as diferentes situaes escolares, sendo garantido, nesse processo, o domnio dos conceitos fundamentais a ser estudados. (BITTENCOURT, 2004, p. 126.)

Para Bittencourt (2004) a inovao das propostas curriculares que mais tem sido alvo de questionamentos, com aceitao e resistncia por parte dos docentes, a que se refere ao estudo organizado por eixos temticos. Quanto as Diretrizes Curriculares de Histria do Estado do Paran no tem sido diferente. A proposta, mesmo que flexibilizada, por intermdio de eixos temticos, no consensual entre os professores de histria do Estado. Cabe ressaltar que o currculo prescrito nem sempre est presente de forma integral na sala de aula. Para Sacristn (1998) existe uma autonomia relativa do trabalho escolar que permite afirmar que essas prescries, sofram rejeies, aceitao parcial e modificaes no contexto escolar e no trabalho especfico do professor em sala de aula. Identificamos essa condio, pois nossa Proposta de Implementao teve incio com um levantamento de dados e informaes acerca da prtica pedaggica dos professores de Histria, especialmente aquelas relacionadas s suas metodologias de trabalho. Executamos esta tarefa por meio de questionrios semi-estruturados e entrevistas. Em seguida compartilhamos diretamente com os professores da escola em que estamos lotados, a saber, Colgio Estadual Pe. Jos de Anchieta de Apucarana-Pr e demais colegas de trabalho das escolas estaduais do Paran, por meio do Grupo de Trabalho em Rede GTR, os estudos que realizamos acerca da metodologia do ensino de Histria. Os que defendem a metodologia da Histria Temtica lanam mo de argumentos tais como a necessidade de superao da periodizao cronolgica e linear, a oportunidade de escolha de temas mais prximos realidade social dos alunos e da escola, alm da abertura de um maior leque de escolhas criativas, dentre outras vantagens. Nesse sentido, professor e aluno so sujeitos que produzem um saber que se concretiza na relao ensino aprendizagem. O que norteia sua ao a busca de respostas s perguntas surgidas na construo do objeto de estudo. Para eleger os

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eixos temticos e definir o objeto de estudo, importante partir-se de questes da realidade local que estejam inseridas no mundo contemporneo. Assim, em vez de simplesmente estudar uma localidade, o professor escolhe como ponto de partida algum elemento da vida que seja por si s, limitado tanto no tempo como no espao um tema que ser usado como uma janela para o mundo. (CABRINI, 2006) Destacamos tambm o pensamento de Ernesta Zamboni que se reporta a esta questo:Penso que o trabalho com eixos temticos permite tambm elaborar currculos numa perspectiva mais freireana centrada na realidade social dos grupos a que se destina, pois no tempo vivido que buscamos o referencial primeiro, concreto, para alcanar a noo de tempo histrico, passvel de ser estudado, sistematisadamente e abstrado da experincia emprica. O eixo consiste a no ponto de entrada de um estudo mais amplo. No apenas um ponto em si mesmo, descolado do contexto de onde se o pinou para a anlise. Alm disso, hoje mais do que nunca, j no encontramos o local puro, isolado da realidade mundial, pois quase no existe cotidiano desligado de uma antena de TV e da possibilidade de conexo instantnea com o mundo. Em ltima instncia, podemos ensinar em qualquer lugar ou comunidade os contedos de histria mundial. O que diferenciar os currculos escolares ser sua forma de insero ou ponto de entrada neste estudo. (ZAMBONI, 1998, p. 35)

Ao ressaltar os pontos negativos da Histria Temtica, os professores entrevistados argumentam, em especial, temer a perda da historicidade dos processos histricos, e o abandono de um dos elementos estruturadores da Histria, o tempo, em suas mltiplas dimenses: Sobre esta questo Conceio Cabrini adverte:A preocupao do professor de Histria em passar aos alunos, em seqncia cronolgica, todo o caminho da humanidade, das cavernas ao Brasil de hoje, acarreta, necessariamente, reducionismos e esquematizaes. A Histria no s toma um sentido nico e irreversvel, como tambm relega o papel do aluno como agente histrico e sujeito da produo de seu prprio conhecimento. As diversas possibilidades e verses do fazer da histria, que so a base da formao do pensamento histrico, so eliminadas. (CABRINI, 2006)

Corroborando com esta assertiva, Da Fenelon (1989, p.21) destaca que quem vai procurar desenvolver no adolescente uma conscincia histrica deve estar mais

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preocupado com o pensar historicamente do que com a difuso estreita do saber equacionado com o arrolar dos fatos e datas. Segundo Varela (2005, p.128) em se tratando da Histria Temtica, o debate ainda est em curso, principalmente com relao s questes sobre o tempo histrico, a reviso de sua dimenso cronolgica, a anlise das concepes de linearidade e progressividade do processo histrico, bem como as noes de decadncia e evoluo. Polmica a Histria Temtica no se impe. Acredita-se que as respostas e a experincia dos professores entrevistados evidenciem impasses vividos atualmente pelos demais professores do Estado do Paran. A proposta, por meio de eixos temticos, segundo Bittencourt (2004, p.128), exige um trabalho intenso do professor, uma concepo diferenciada desse profissional, como um trabalhador intelectual que, juntamente com seus alunos, deve pesquisar, estudar, organizar e sistematizar materiais apropriados para as diversas condies escolares. Fonseca (2003) entende que a perspectiva temtica deve vir acompanhada de uma mudana pedaggica na formao inicial e continuada do docente. Isto porque, a cada dia de trabalho, a formao especfica que fora iniciada na licenciatura no caso dos professores tem continuidade ao longo da vida e, sobretudo, na ao que se d na experincia do trabalho docente. Em muitos casos, os professores no tm tempo para a reflexo requerida para a continuidade de sua formao. 3. Idias dos alunos sobre Histria Temtica No conjunto de atividades desenvolvidas durante o processo de formao continuada PDE-2007 fez-se a aplicao do material didtico produzido aos alunos do 3 ano do Ensino Mdio matutino do Colgio Estadual Pe. Jos de Anchieta de Apucarana-Pr. Para concluir e subsidiar a avaliao desta prtica tornou-se premente um levantamento das impresses de alunos a respeito deste trabalho desenvolvido na perspectiva da metodologia da Histria Temtica para o ensino de Histria. Objetivavase identificar como o aluno percebe o trabalho com esta metodologia.

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As consideraes expostas a seguir foram construdas a partir das respostas obtidas nos 30 questionrios distribudos e aplicados aos alunos do referido ano e colgio. Cabrini (1987) afirma que o professor tem que ensinar seus discpulos a pensar historicamente. Por exemplo: mostrar questes referentes a rupturas e permanncias; situ-los na questo conjuntural e estrutural histria de curta, mdia e longa durao. Para o aluno aprender a ter esse raciocnio histrico, o professor precisa dispor de vrias estratgias e abordagens. Neste sentido os alunos que participaram da entrevista apontaram a Histria Temtica como uma possibilidade de abordagem diferenciada, destacando de maneira especial o fato de, por meio desta metodologia, o conhecimento histrico ser ensinado de tal forma que d ao aluno condies de participar do processo do fazer, do contar e do narrar histria. Alguns alunos expressaram com relativa clareza a percepo da mudana na relao do professor e aluno que at ento privilegiava o primeiro como transmissor do saber histrico verdadeiro, pronto e acabado e o segundo visto como receptor passivo do conhecimento transmitido pelo professor. Para Bittencourt (2004) uma concepo ampla e atual parte do princpio de que os materiais didticos so mediadores do processo de aquisio de conhecimentos, bem como facilitadores da apreenso de conceitos do domnio de informaes e de uma linguagem especfica da rea de cada disciplina. Para a autora a diversidade de materiais conduz-nos necessariamente a uma reflexo sobre as diferenas entre eles e apresenta a seguinte caracterizaoOs suportes informativos correspondem a todo discurso produzido com a inteno de comunicar elementos do saber das disciplinas escolares. Nesse sentido, temos toda a srie de publicaes de livros didticos e paradidticos, atlas, dicionrios, apostilas, cadernos, alm das produes de vdeos, CDs, DVDs e materiais de computador. Os suportes informativos pertencem ao setor da indstria cultural e so produzidos especialmente para a escola, caracterizando-se por uma linguagem prpria, por um tipo de construo tcnica que obedece a critrios de idade como vocabulrio, extenso, formatao de acordo com princpios pedaggicos. Outro grupo documentos. textuais, que escolares e de materiais didticos constitudo pelos denominados (...) denominam assim todo conjunto de signos, visuais ou so produzidos em uma perspectiva diferente dos saberes posteriormente passam a ser utilizados com finalidade

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didtica. (...) Contos, lendas, filmes de fico ou documentrios, msicas, poemas, pinturas, artigos de jornal ou revistas, leis, cartas, romances so produzidos para um pblico bastante amplo que, por intermdio do professor e seu mtodo se transformam em materiais didticos. (BITTENCOURT 2004, p. 296-297)

Ao serem questionados sobre sua percepo a respeito do material didtico os alunos remeteram-se inicialmente mudana na maneira da utilizao do livro didtico. Ao relatarem como utilizavam, em anos anteriores, o livro didtico em sala de aula, os alunos, expuseram uma situao paradoxal: o que geralmente considerado material de apoio, quando em uso torna-se o apoio. Os textos eram lidos em voz alta ou silenciosamente; logo aps o professor comentava as informaes no sentido de refor-las e no indagar sobre as mesmas. O aluno era convidado a fazer as atividades propostas que logo em seguida eram corrigidas. Nesta forma de procedimento metodolgico no h um movimento de indagao, de reflexo, de dilogo com o livro didtico, o que permitiria utiliz-lo como fonte para o ensino de Histria. Neste sentido, infere-se que o livro no era tido como uma fonte de pesquisa ou de indagaes para o aluno, e sim como sntese de um conhecimento pronto para ser aprendido. Assim, cabe destacar o pensamento de Schmidt & Cainelli (2004) que apontam que dependendo da maneira de utilizao do livro pelo professor, o conhecimento histrico assume, na relao ensino-aprendizagem, determinados significados: desde um conhecimento que no tem nenhum sentido para o aluno, at a possibilidade de trabalhar conhecimentos que contribuam para sua formao mais crtica e consciente, pois h estreita relao com suas experincias e sua realidade. Alm de abordar questes relacionadas ao livro didtico os alunos fizeram meno s metodologias e novas linguagens de ensino, sobretudo aquelas relativas leitura e interpretao de documentos de poca, ao exame de grficos e mapas, anlise de fontes iconogrficas, utilizao de msicas, filmes, documentrios e s narrativas de outras disciplinas. Essa diversidade entendida como fundamental no trabalho com a Histria. Segundo Fonseca (2003) diversificar as fontes histricas ir alm do livro didtico possibilita o reconhecimento e o confronto de diferentes vises, alm de estimular ao estudo da histria, a complexidade da cultura e da experincia

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humana. Percebe-se por meio dos dados coletados entre os participantes desta pesquisa uma modificao significativa no que diz respeito utilizao dos recursos e materiais didticos durante as aulas de histria na perspectiva temtica. Outro destaque foram as consideraes acerca do processo de avaliao. Esta, alm de polmica uma tarefa complexa, necessria e permanente para o trabalho docente; acompanha-o em todos os passos e em todos os nveis de ensino. No deve, portanto, ser reduzida aplicao de provas e atribuio de notas como resultados. No sistema de ensino brasileiro, a avaliao tradicional, sendo um dos deveres a serem cumpridos tanto pelos professores como pelos alunos durante o ano letivo, ou no final de cada bimestre como mais comum. E como sempre avaliar representa uma obrigao, um dever a mais a ser realizado, acaba sendo um mecanismo sem fundamento, sem valor apesar da nota que lhe atribuda perde sua contribuio maior que demonstrar se seus objetivos propostos foram alcanados. Segundo Proena (1992, p.143) atravs da avaliao que o professor se vai apercebendo at que ponto os objetivos vo sendo atingidos. Schmidt & Cainelli (2004) lembram que tradicionalmente, o ensino de Histria tem proposto formas de avaliao que enfatizam a memorizao e a apreenso passiva, pelo aluno, de idias, conceitos, e habilidades propostas pelo professor. Para as autoras, a forma mais conhecida dessa avaliao o questionrio e seu equivalente instrumento de avaliar, as provas escritas e orais. Embora amplamente criticada, a avaliao no ensino de Histria tem valorizado muito a memorizao. Para findar essa prtica to comum importante estabelecer algumas mudanas na maneira de entender a avaliao, no como una, mas como prticas dirias, que devem estar presentes nas vrias atividades propostas pelo professor e nas vrias metodologias de ensino. Para Cabrini (2006) a avaliao, na perspectiva da Histria Temtica, no se faz unicamente por meio de uma prova no fim de um bimestre, mas caracterizada por um acompanhamento diagnstico e contnuo da aprendizagem dos alunos, atravs de registros do professor, identificando, ao longo do processo, os avanos e as dificuldades individuais e coletivas. Neste sentido, o professor um orientador do trabalho de pesquisa e do processo de aprendizagem, sendo de fundamental

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importncia orientar os alunos na realizao de fichamentos, mapas conceituais, alm de trabalhar com a elaborao e reelaborao de textos, bem como buscar os fechamentos dos temas e as aberturas para novas discusses. Ao serem questionados sobre a prtica de avaliao, concernente metodologia da Histria Temtica, os alunos entrevistados elencaram como aspectos diferenciados das formas tradicionais de avaliao, a utilizao de textos diversos, documentos histricos para anlises e interpretaes, debates, discusses sobre temas variados, produo de textos etc. Destacaram a avaliao como parte do processo em que construram seu prprio conhecimento histrico a partir de procedimentos

desenvolvidos pelo professor em sala de aula. O rompimento do ensino pautado numa Histria repetitiva, enfadonha, sem sentido para o aluno imprescindvel. Schmidt e Cainelli (2004) apontam para a necessidade dos professores ajudarem os alunos a aprenderem a pensar

historicamente. Levantando problemas, questionando documentos investigados e produzindo sua prpria sntese sobre o que est sendo aprendido e ensinado. Entretanto, romper completamente com a metodologia do ensino de Histria baseada na repetio dos contedos e modelo de escola que temos no uma tarefa simples. Quando os alunos entrevistados foram indagados sobre qual metodologia consideram mais apropriada para a aprendizagem de Histria observou-se que, embora um nmero pequeno, alguns consideraram que a Histria Linear e Factual seria a mais adequada. Por outro lado, os dados coletados neste tpico da pesquisa indicam que aproximadamente 60% dos alunos entrevistados optariam pelo trabalho com a Histria Temtica. De maneira geral, justificaram a preferncia por tratar-se de uma abordagem que pode estabelecer relaes entre diferentes tempos e espaos histricos. 4. Consideraes finaisNossos adolescentes tambm detestam a Histria. Voltam-lhe dio entranhado e dela se vingam sempre que podem, ou decorando o mnimo de conhecimento que o ponto exige ou se valendo lestamente da cola para passar nos exames. Demos ampla absolvio juventude. A Histria como lhes ensinada , realmente odiosa. (MENDES, 1935)

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Tero os estudantes superado a idia de que a Histria como ensinada realmente odiosa, e os professores partido para a organizao de outras prticas pedaggicas mais significativas? (NADAI, 1992/93)

A interrogao recorrente quando se coloca em discusso o ensino de Histria, o que vem a ser ensinar e aprender Histria, sobre o que se ensina e como o conhecimento histrico apreendido. Segundo Kuenzer (2005) em face da complexificao da ao docente o educador precisar ser um profundo conhecedor da sociedade de seu tempo, das relaes entre educao, economia e sociedade, dos contedos especficos, das formas de ensinar, e daquele que a razo de seu trabalho: o aluno. No que se refere ao ensino especfico de Histria, muito se modificou desde a dcada de 1980 at a atualidade. O lugar do conhecimento histrico tambm vem se ampliando e contribuindo para que o ensino ocupe um papel mais proeminente na formao do aluno e rompendo com a forma tradicional, no sentido mais estreito do termo, de se ensinar e aprender Histria. Porm, h uma multiplicidade de indcios acerca da predominncia, ainda hoje, de uma metodologia do ensino de Histria que circunscreve o tempo linearidade e que caracteriza-se por uma relao autoritria entre professor e aluno. Esta relao, por sua vez, est inserida numa hierarquia de saberes que vai desde a Universidade (local por excelncia da produo de conhecimento), passando pelo livro didtico e professor at chegar ao aluno, mero receptor de um conhecimento que j aparece pronto e acabado. Os novos rumos que foram tomados, no que diz respeito ao ensino e aprendizagem, especificamente na rea de Histria, culminaram em uma reorganizao dos principais sujeitos desse processo - o professor e o aluno. O questionamento caracterstico das dcadas de 80/90 desdobrou-se em diversas propostas para o ensino de Histria, entre elas a Histria Temtica ou Histria por eixos temticos. Pesquisadores sobre o ensino de Histria, entre muitos, Cabrini (1987/2000), Nadai (1986/1992), Zamboni (1998), Bittencourt (1995/2004), Fonseca (2003/2006), Schmidt (2005), Cainelli (2004), Mattozzi (1999/2004) entre outros, apontam em seus estudos e reflexes para a Histria Temtica como uma possibilidade de ruptura com o ensino tradicional. Suas contribuies foram fundamentais para entendimento do

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processo de mudanas que o ensino de Histria tem passado no Brasil, bem como as mudanas ocorridas na organizao e nas propostas educacionais brasileiras de Histria e subsidiaram nossas concluses sobre a metodologia da Histria Temtica. Ensinar Histria para os alunos do Ensino Mdio, trabalhando com a metodologia da Histria Temtica, significa apresentar a estes possibilidades de aprender a formular hipteses, aprender a classificar e analisar fontes histricas, aprender relaes de causalidade e a construir a explicao histrica. Exige que, frente a uma questo problema, passe-se a investigar o objeto de estudo leituras de documentos, fichamentos de textos, debate e reflexo sobre as noes e conceitos em diferentes temporalidades com novos olhos. A questo principal passa a ser a construo de noes e conceitos prprios do pensamento histrico, como permanncias e mudanas, diferenas e semelhanas, simultaneidades, dominao e resistncia, etc. Nesta perspectiva, desenvolveu-se no conjunto de atividades do processo de formao continuada PDE-2007 um trabalho com os alunos do 3 ano do Ensino Mdio matutino do Colgio Estadual Pe. Jos de Anchieta de Apucarana-Pr. Participaram desta atividade 30 alunos e os mesmos, ao final, emitiram por meio de questionrio, um parecer sobre como perceberam o trabalho com Histria Temtica. Feita a anlise do instrumento utilizado para levantamento das impresses dos alunos a respeito da metodologia da Histria Temtica para o ensino de Histria, podese inferir que esta apresentou-se mais eficaz para a aprendizagem, pois partiu-se do pressuposto que os prprios alunos consideraram mais significativa sua assimilao e compreenso do tema abordado nesta perspectiva de trabalho. As consideraes dos professores sobre Histria Temtica tambm foram objeto de nossa reflexo. Quando buscamos investigar previamente a prtica pedaggica dos professores no Ensino Mdio e fazer uma aproximao da realidade vivenciada por eles em relao Histria Temtica percebeu-se que no h unanimidade de opinies e prticas. Contudo, algumas consideraes nos chamaram a ateno de maneira especial. Primeiramente, a que diz respeito dificuldade em romper com a Histria Linear, em especial com a diviso quadripartite da Histria. E em seguida, a necessidade demonstrada na resposta de alguns professores de mais formao e tempo de estudos no sentido de aprimoramento da prtica pedaggica.

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Romper com o modelo que temos no uma tarefa simples. A formao dos docentes de Histria com base na estrutura francesa de diviso histrica em quatro grandes perodos (Antiga, Medieval, Moderna, Contempornea) o primeiro entrave a ser enfrentado. Um trabalho com base na problematizao, na construo de conceitos e na utilizao de fontes variadas, como o que requer a metodologia da Histria Temtica, exige alm de materiais didticos especficos um professor pesquisador e conseqentemente com tempo para o estudo. Sem entrar a fundo no mrito propriamente dito, sabemos que a formao inicial no o suficiente para que o profissional d conta de atender as novas demandas que surgem a cada dia. O professor deve estar pronto para constantemente pensar sobre o seu fazer, mas (...) a reflexo ser mais fecunda se tambm for cultivada com leituras, formaes e saberes acadmicos (...) (PERRENOUD, 2002, p.52). Diante disso, podese enfatizar a necessidade de uma formao continuada, seja na forma de cursos de ps-graduao ou ainda na participao de eventos, seminrios, congressos, etc.

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