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HISTÓRIA DA CONSERVAÇÃO E RESTAURO: ESTUDO SOBRE O
RESTAURO DAS OBRAS DE LEOPOLDO GOTUZZO NA DÉCADA DE 80,
EM PELOTAS, RS
CLAUDIA FONTOURA LACERDA
Universidade Federal de Pelotas
INTRODUÇÃO
Como toda a pesquisa acadêmica, esta almeja a socialização do conhecimento,
neste caso, a história da conservação e restauro na cidade de Pelotas, sendo o recorte
temporal da pesquisa o período de 1982 até 1992.
Constitui-se uma pesquisa sobre o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, com foco
no ateliê de restauro criado na década de 80, para restaurar algumas obras do artista
pelotense Leopoldo Gotuzzo, contribuindo assim para a criação do Museu de Arte
Leopoldo Gotuzzo, o qual sempre fora desejo do artista. Para isto, em 1955, Gotuzzo
faz uma doação de algumas telas à Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA), do qual
recebera o título de patrono. A escola que sempre passou por dificuldades financeiras
não teve recursos para instalar o museu, e em 1969 quando foi criada a Universidade
Federal de Pelotas, ela passou por um processo de federalização transformando-se no
Instituto de Artes, passando assim a ingerência do seu acervo à universidade.
Em 1983, através da carta testamentária do artista, a universidade recebe a sua
segunda doação, onde se juntou ao acervo além de obras do artista, alguns móveis e
objetos de uso pessoal.
O ARTISTA LEOPOLDO GOTUZZO
Leopoldo Gotuzzo nasceu em oito de abril de 1887, e faleceu em 11 de abril de
1983 no Rio de Janeiro. Nasceu na cidade de Pelotas, de modo que se envolveu com a
atmosfera aristocrática e romântica da Pelotas, abastada dos senhores barões.1 Conforme
Silva; Loreto (1996, p.37), Pelotas sempre foi uma cidade apaixonada pelas artes e
muitos pintores logo despontaram para pôr seus serviços à disposição do gosto e
preferência da estética da população pelotense.
Com o apoio dos pais, Gotuzzo cedo foi estudar com Frederico Trebbi que,
conforme Silva (1996, p.6), “foi um dos artistas estrangeiros que marcou a arte
pelotense. Ele chegou a Pelotas em 1870 exercendo a função de vice-cônsul da Itália,
além de lecionar pintura e escultura.” Com Trebbi, Gottuzo aprendeu todas as leis,
normas, regras, detalhes e tudo o mais que o rigor acadêmico impingia.2 Estimulado
pelo professor e com o apoio da família, transferiu-se para a Europa, onde em Roma foi
aluno do artista escocês Joseph Nöel Paton (1821-1901).
Em 1915, após a morte do professor Joseph Nöel, Gotuzzo foi para Madrid,
onde iniciou seu trabalho independente. Este tempo foi assim definido,
Foi dominado por um sentimento espiritual de otimismo, era a chamada Belle
Époque- na Europa de 1880 a 1914, no Brasil de 1889 a 1922 quando se vivia
euforicamente o fim do século, e os burgueses confiavam no avanço da
ciência e da técnica. Gotuzzo na Europa viu de perto a Belle Époque, já em
seu crepúsculo, que alimentou várias correntes: realismo, impressionismo,
simbolismo, pontilhismo e Art Nouveau,e quando regressou ao Brasil, em
1918, e fixou-se no Rio, já era um artista de linguagem madura, já
depurada.(FREITAS, 1987, p. 6)
Em julho de 1927, retorna à Europa, fixando-se em Portugal, onde pinta no
Porto, Minhos e também Algarves. Retorna definitivamente ao Brasil no final do ano de
1930, fixando residência no bairro Santa Tereza no Rio de Janeiro.
Conforme Gastal (1962, p. 11), “as possibilidades desse pintor contemporâneo
se estendem por todos os gêneros com equivalência. Esta é uma observação que cumpre
assinalar, pois não são numerosos, em nosso meio, os artistas possuidores de tais
recursos.” Campofiorito (1987 p.2) completa dizendo que ”Leopoldo Gotuzzo deixou
gravado, com grande destaque, seu nome na arte plástica brasileira, assumindo uma
obra que se insere no acervo cultural mais expressivo do seu tempo”.
1FREITAS, Nelson Abott de. Centenário de nascimento de Leopoldo Gotuzzo. Diário Popular, Pelotas, 29 Mar 1987. Arte, p. 6.
2SILVA, Úrsula Rosa; LORETO, Mari Lucie da Silva. História da Arte em Pelotas. A Pintura
de 1870 a 1980. EDUCAT, 1996.
O ATELIÊ DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
O acervo doado por Gotuzzo à Escola de Belas Artes ficou, durante muitos anos,
distribuído por diversos ambientes físicos. Para se efetivar a criação do museu era
necessário que algumas obras fossem restauradas e conforme Silva; Loreto (1996,
p.153), foi a professora Luciana Reis quem, inicialmente, preocupou-se com a falta dos
cuidados indispensáveis á conservação do acervo da UFPEL. Pela localização em
paredes úmidas, com o passar do tempo, as obras começaram a sofrer deteriorações.
Criou-se então, em 1982 um ateliê de conservação e restauro. Conforme Reis
(1987) este foi o primeiro ateliê de restauração do Rio Grande do Sul.
Os procedimentos iniciais foram supervisionados pela restauradora Elsa Maria
Loureiro de Souza, bageense radicada no Rio de Janeiro, que cursou com Edson Motta
na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Pós- Graduação de Belas Artes, único
ministrado no Brasil em restauro de papel e telas (pinturas), além de estagiar por um ano
no Museu da República3.
Sobre o ateliê, Luz (198-) diz em sua carta que
Ele iniciou da preocupação conjunta da Pró–Reitoria Administrativa e do
ILA- uma preocupação que logo recebeu o integral apoio do atual Reitor.
Então, formou-se uma reunião que passou a ser coordenada por mim, com a
colaboração de alunos e professores do ILA. Depois de uma pesquisa em
Porto Alegre, e não encontrando ninguém que restaurasse nos moldes
técnicos dos que já tínhamos notícias, esta comissão esteve em Bagé no III
Encontro Nacional de Museologia. Lá encontramos a Elza Maria e a
trouxemos para cá. E o trabalho começou em setembro de 1982. (REIS, 1983,
p. 22)
A equipe treinada pela restauradora Elsa Maria Loureiro de Souza deu
continuidade aos trabalhos iniciados no ateliê em 1982 e funcionou até 1992, mas a
desativação dele se deu de forma gradual, percebendo-se a diminuição de trabalhos nos
últimos anos.
3Se todos os caminhos levam a Roma, todos também nos levaram ao campus da UFPEL.
Diário Popular, Pelotas, 30 Jan 1983. Domingo Especial, p. 22.
Segundo a professora durante 50 dias de trabalhos intensivos, foram limpos,
conservados e recuperados um grande número de quadros da UFPEL”. Após este
período os trabalhos continuaram a ser realizados pela equipe do museu. E ela completa
dizendo que
A equipe destacada para o trabalho em pauta procurou aproveitar ao máximo
os ensinamentos da professora Elsa Maria, aprendendo que o restauro é tarefa
diversificada em exigência técnica; exige tempo para sua execução e também
material adequado, além da experiência do Técnico-Restaurador. Sentiu-se,
também, que o trabalho que contava apenas com o espaço limitado de uma
sala improvisada em atelier, com escassa aeração, que os produtos empregados nos processos especiais contêm alto teor de toxicidade, sem que
houvesse, na oportunidade condições de proteção á saúde dos participantes
do programa. (LUZ, 198-)
Nas atividades do ateliê participaram além da professora Luciana Araújo Renck
Reis, a professora Yedda Machado Luz, Erasmo Fernando Casarin, marceneiro que
inicialmente restaurava molduras e bastidores. Também participaram alguns professores
e alunos da universidade que atuaram como colaboradores e estagiários.
Casarin começou restaurando e renovando bastidores4 e molduras, mas com a
convivência no ateliê, acabou aprendendo técnicas de restauro e atuou também no
restauro de muitas obras do acervo, ”Eu era ajudante. Eu fui contratado para trabalhar
nas molduras, no tratamento dos cupins, mas acabou que eu trabalhei muito nesses
quadros”5 (Informação verbal).
No ateliê eram restauradas pinturas em tela ou madeira. As obras em suporte de
papel eram higienizadas, e levadas ao Rio de Janeiro para ser restauradas no ateliê do
professor Antônio Grosso6.
Sobre a desativação do ateliê Reis (1987 p. 18) diz que “por falta absoluta de
condições, esse alvo, em caráter permanente foi desativado e um profissional
4 É feito de ripas e peças habitualmente de madeira, cortadas com o perfil adequado, que se encaixam
entre si para formar uma armação onde se fixa a tela do quadro, fixando-a nos bordos exteriores.
PASCUAL, Eva; PATIÑO, Mireia. O Restauro de Pintura. A técnica e a arte do restauro de pintura
sobre tela explicados com rigor e clareza. 1º ed Lisboa: Estampa, 2002. p.22 5 CASARIN, Erasmo Fernando. Marceneiro que trabalhou no ateliê em depoimento à autora em 27 Abr 2012. Pelotas, RS. 6Restaurador de Objetos de Arte e antiguidades e professor na década de 80 na Escola de Artes Visuais,
EAV- Parque Lage, Rio de Janeiro.
capacitado, em todos os sentidos, é chamado para cumprir essa finalidade de restauro e
palestras.”
Conforme Yedda Machado Luz7, professora e amiga pessoal da professora
Luciana Reis, que a ajudou em todos os trâmites para a consecução do ateliê e do
museu, sempre foi tudo muito rápido, pois sempre tiveram todo o apoio da
universidade, porém, ela acha que houve uma desmotivação do pessoal que trabalhava
no ateliê, pois o restauro é um trabalho que exige muito (Informação verbal).
Segundo Cynthia Luz Yurgel, estudante que participou das atividades no ateliê
como estagiária, “A dona Luciana contava a história das obras e nos deliciávamos com
isso. Vários quadros instigavam o nosso imaginário. E completa: “Trabalho feito com
amor e por amor mesmo, o objetivo era o MALG. Mas como o trabalho era lento e
intenso a turma não tinha muita persistência.8
Conforme a professora Lígia Maria Fonseca Blanck9, chefe do museu de 1989 a
1991,
A Universidade não possuía verba para aplicar no restauro das obras e nós
estávamos, naquela época, priorizando a manutenção das exposições do
acervo (com mudanças frequentes) e a realização de mostras de artistas
convidados, para atrair público que visitasse habitualmente o MALG.
Tínhamos também um trabalho bem intenso junto às escolas da cidade, com
uma equipe que acompanhava os alunos em visitas guiadas. (BLANCK,
2012)
Ligia acrescenta que se a interrupção das atividades do ateliê ocorreram, foi por
necessidade e para preservar as obras, o mais prudente foi não permitir que pessoas não
especializadas fizessem interferências nas telas ou esculturas.
AS OBRAS DO ACERVO QUE PASSARAM POR INTERVENÇÔES DE
CONSERVAÇÃO E RESTAURO
7Informação verbal fornecida por LUZ, Yedda Machado à autora em 5 Set 2012. Pelotas, RS. 8YURGEL, Cynthia Luz ([email protected]) Malg. Mensagem recebida por Claudia Fontoura
Lacerda ([email protected]) em 22 Mai 2012. 9BLANCK, Lígia Maria Fonseca ([email protected]). Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo.
Mensagem recebida por Claudia Fontoura Lacerda ([email protected]) em 14 Dez 2012.
Através da análise da documentação do ateliê, se identifica os materiais e os métodos
utilizados em cada uma das obras. Lista-se a seguir as pinturas restauradas, sem porém
detalhar os processos realizados em cada uma delas, devido ao número extenso de obras
e também pela grande quantidade de informações. Indica-se assim a leitura da pesquisa
completa10
, onde se estabelece as intervenções de conservação e restauro realizadas em
cada uma delas.
1) Fotografia menor do pai de Gotuzzo;
2) “Árvores na Estrada”, óleo sobre cartona, 1927;
3) “As Pérolas”,
óleo sobre tela, 1925
(Figura 1);
Figura 1: Obra “As Pérolas”.
Fonte: Acervo da documentação do MALG/UFPEL.
10LACERDA, Claudia Fontoura. História Da Conservação E Restauro: Estudo Sobre O Restauro Das
Obras de Leopoldo Gotuzzo Na Década de 80 em Pelotas, RS. Monografia apresentada ao
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas,
como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis. Sob orientação do Professor Mestre Roberto Heiden. Pelotas, RS. 2013.
4) “As Uvas dos Meus Oitenta Anos”, óleo sobre tela, 1967;
5) “Aspectos de Amelie Le Bains”, óleo sobre tela, França, 1918;
6) “Auto - Retrato de Óculos”, óleo sobre tela, 1934 (Fig. 2);
Figura 2- Obra “Auto retrato de Óculos”.
Fonte: Acervo da documentação do MALG/UFPEL.
7) “Auto Retrato Sorrindo”, pastel, 1951;
8) “Baiana”, óleo sobre tela, 1942;
9) “Beredinha Rocha Miranda”, óleo sobre tela, 1932;
10) “Boneca”, óleo sobre tela, 1925;
11) “Rosto de Mulher, Dora”, carvão, 1926;
12) “Cabeça de Mulher”, óleo sobre tela, 1918;
13) “Cabeça de Mulher”, carvão, Rio de Janeiro, 1932;
14) “Reflexos”, óleo sobre tela, 1932;
15) “Casa Rosada”, óleo sobre tela, Portugal, 1927;
16) “Crisântemos”, óleo sobre tela, 0,37 x 0,44 cm, Paris, 1917;
17) “Crisântemos”, óleo sobre tela, 0,62 x 044 cm, Paris, 1917;
18) “Desenho a caneta vermelha”;
19) “Desenho à sanguínea”, Rio de Janeiro, 1938;
20) “Desenho de Cabeça”, carvão, Roma, 1912;
21) “Detalhe de Ponte”, óleo sobre tela, França, 1918;
22) Emília Rocha Miranda Schnor, óleo sobre tela, Rio de Janeiro, 1932;
23) “Espanhola”, óleo sobre tela, 1942;
24) “Estudo de Nú”, sépia, Paris, 1917;
25) “Estudo de Nú”, óleo sobre tela, 1918;
26) Estudo de Nú, óleo sobre tela, 1938;
27) “Figueiras de Monte Bonito”, óleo sobre tela, 1931;
28) “Flores e Plumas,” óleo sobre tela, 1947;
29) “Flores”, óleo sobre tela, 1957;
30) “Flores Vermelhas em Vaso Dourado”, óleo sobre Eucatex, 1967;
31) “Fotografia da mãe de Gotuzzo”, 40 x 30 cm em formato oval.
32) “Lenço Perfumado” fotografia da obra Nú com lenço, em medalhão oval;
33) “Fotografia do pai de Gotuzzo”;
34) “Gravura”;
35) “Homem sentado”, desenho a caneta, 1933;
36) “Homem”, carvão, Paris, 1929;
37) “Interior de Igreja”, óleo sobre tela, 1927;
38) “Jardins Japoneses”, óleo sobre Eucatex, 1966;
39) “Laranjas e Bananas”, óleo sobre tela; 1932;
40) “Luta pela vida”, óleo sobre tela, França;
41) “Mandarim”, óleo sobre madeira, 1962;
42) “Mandarim”, óleo sobre tela, 1962;
43) “A Moça de Blusa Branca”, óleo sobre tela, Madrid, 1915;
44) “Moça de Pé”, sanguínea, Rio de Janeiro, 1933;
45) “Modelo sentada”, carvão, 1957;
46) “Moinho do Rio Este”, óleo sobre cartona, Portugal, 1929;
47) “Moinho”,óleo sobre tela, 1927- 1930, Portugal;
48) “Mulher em Repouso”, óleo sobre tela, Madrid, 1916;
49) “O Velho do Cachimbo”, óleo sobre tela, 1943;
50) “O Velho da Capa”, óleo sobre tela, 1918;
51) “Paisagem Gaúcha de Monte Bonito”, óleo sobre tela, 1933;
52) “Paisagem inacabada”, óleo sobre tela;
53) “Paisagem”, óleo sobre cartona, 1927;
54)”Pão de Açucar”, óleo sobre tela, 1942;
55) “Pequeno Estudo de Nú”, óleo sobre tela, 1916;
56) “Perfil de Dora”, crayon, 1926;
57) “Perfil Masculino”, óleo sobre tela, 1913;
58) “Pêssegos”, óleo sobre tela, Rio de Janeiro, 1949;
59)”Pirineus orientais”, óleo sobre tela, 1918;
60) “Ponte de Marília”, óleo sobre tela, Ouro Preto, 1942;
61) “Pôr do Sol no Capão do Leão”, óleo sobre madeira, 1919;
62) “Praia da Rocha”, óleo sobre tela, Algarve, Portugal, 1929;
63) “Prato e fruta”, óleo sobre cartona, 1929;
64) “Professor Joseph Nöel” , lápis sobre papel, Roma, 1913;
65) “Auto- Retrato Adolescente”, óleo sobre tela;
66) “Retrato de Dora”, óleo sobre tela, 1923;
67) “Retrato de minha mãe”, desenho em papel jornal, 1918;
68) “Retrato do pintor aos 20 anos”, óleo sobre tela, 1907;
69) “Rosas Brancas”, óleo sobre tela, 1945;
70) “Rosas e Botões”, óleo sobre madeira, 1971;
71) “Teresópolis”, óleo sobre tela;
72) “Verinha”, pastel, 1951;
73) “Vila de Piratini”, óleo sobre tela, 1935;
74) “Dálias”, óleo sobre tela;
75) “Flores (rosas)”, óleo sobre Eucatex;
MATERIAIS E MÉTODOS UTILIZADOS NO ACERVO
Após paralelo entre documentação e entrevistas realizadas, conclui-se que os
materiais utilizados eram comprados prontamente disponibilizados pela universidade.
Para a limpeza do acervo pictórico geralmente era realizada Benzina11
.
Sobre os testes de solubilidade12
, eles eram realizados numa região discreta da
obra, que não afetasse sua estética. Os materiais utilizados foram Terebentina, Toluol,
Álcool Etílico, Isopropílico, Butílico, Diacetona, Acetona e a Amônia, sendo que a
maioria das obras o verniz oxidado foi removido com Toluol ou Xilol. Todos, solventes
de ceras, vernizes e resinas.
As obturações no suporte eram feitos pelo verso com fibra de tecido e cola
branca. Em relação aos reentelamentos13
, o método utilizado era o de cera e resina.
Mayer (2006, p. 553) diz que em meados deste século o composto de resina e cera de
abelha já tinha se tornado adesivo padrão. Na década de 80 este já era um processo por
demais aceito e só mais recentemente ele foi substituído por novos tipos de adesivos,
pois a cera apesar de dar uma aparência vistosa, modifica a aparência da obra e limita as
opções futuras de tratamentos de conservação.
Das tintas e pigmentos que foram utilizados na reintegração pictórica14
temos
aquarelas15
da marca Pelikan, aquarelas japonesas Guitar Paint, aquarelas inglesas
Winsor & Newton, holandeses da marca Ecola, e outros pigmentos acondicionados em
potes plásticos e de vidros, fechados e etiquetados, mas nestes consta a identificação da
11Solvente diluente de vernizes, óleos, gorduras e resinas. SLAIBI, Thaís Helena de Almeida; MENDES,
Marylka; GUIGLEMETI, Denise O. GUIGLEMETI, Wallace A. Materiais Empregados em
Conservação-Restauração de Bens Culturais. ABRACOR. Associação Brasileira de Conservação
Restauração de Bens Culturais. 2º Ed. Rio de Janeiro, 2011. p. 98. 12Sistema de elaboração de dissolventes para a limpeza de sujidades da capa. A idoneidade de uma mistura de dissolventes só pode comprovar-se de maneira empírica, quer dizer, efetuando micro provas de
1mm² de área e observando posteriormente o resultado.A eficácia de limpeza de cada dissolvente, isto é, a
dissolução da sujidade será diferente conforme os parâmetros de solubilidade de ambos. PASCUAL, Eva;
PATIÑO, Mireia. O Restauro de Pintura. A técnica e a arte do restauro de pintura sobre tela explicados
com rigor e clareza. 1º ed Lisboa: Estampa, 2002. p.80. 13Consiste em fazer aderir um tecido protetor no reverso do suporte têxtil do quadro. PASCUAL, Eva;
PATIÑO, Mireia. O Restauro de Pintura. A técnica e a arte do restauro de pintura sobre tela explicados
com rigor e clareza. 1º ed Lisboa: Estampa, 2002. p. 103. 14Consiste em reintegrar esteticamente a capa do quadro, completando as falhas, quer dizer, a cor das
lacunas. É fundamental realizá-la com materiais inócuos e reversíveis, e, para além disso, identificáveis
em relação à parte original da obra. ibidem. p.118. 15Contém goma arábica como aglutinante. Aproveita o tom do papel para os brancos e tons claros e
caracteriza-se pela sua transparência. MAYER, Ralph. Manual do Artista. São Paulo: Martins Fontes,
2006. p. 62.
cor, e não consta o fabricante do pigmento. Os restos de cera utilizados nos
reentelamentos eram usados para o preenchimento de túneis causados por cupins em
algumas molduras. Às vezes preenchiam-se esses túneis com gesso e cola. Há também
instrumentos como seringa, espátula de madeira, pinça, e agulha de injeção adaptada em
ponta de bastão de madeira, este último era utilizado para retirar pontualmente sujidades
pontuais deixadas por insetos.
Todos estes materiais e equipamentos citados fizeram parte do trabalho
desenvolvido no ateliê de conservação e restauro da universidade nos processos de
conservação e restauro do seu acervo pictórico e desde sua desativação, todos eles
encontram-se então acondicionados na reserva técnica do museu.
CONCLUSÃO
O ateliê de conservação e restauro da UFPEL, está diretamente ligado às origens
do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo que foi fundado em 6 de novembro de 1986, três
anos após a morte do artista.
O ateliê criado para restaurar as obras do artista funcionou durante dez anos,
sendo que nos últimos houve uma diminuição gradual dos trabalhos. Sobre a
informação fornecida pela professora Luciana de que foi o primeiro ateliê do estado,
não se localizou documentação ou bibliografia capaz de confirmar esta informação,
sendo necessário estudos mais aprofundados.
Durante os anos de funcionamento, foram conservadas/restauradas 75 obras do
artista, sendo 45 delas pinturas em óleo sobre tela, outras 6 obras são pinturas sobre
suporte de madeira, 20 são desenhos em suporte de papel e 4 são fotografias, sendo que
estas últimas não foram restauradas, receberam apenas limpeza antes de serem enviadas
ao Rio de Janeiro para restauro.
Passados 30 anos da criação do ateliê, alguns dos materiais utilizados nos
procedimentos de conservação e restauro, encontram-se guardados no museu e em bom
estado de conservação.
Sobre a documentação produzida no ateliê, conclui-se que a equipe não
preencheu a documentação na sua totalidade deixando lacunas em relação aos materiais
e as técnicas utilizadas. Conclui-se que o trabalho idealizado pela professora Luciana
Araújo Renck Reis foi de grande importância para a cidade de Pelotas, pois reconstruiu
a memória de Leopoldo Gotuzzo, pois mesmo as obras que não passaram por
intervenções de restauro, receberam tratamentos curativos que ajudaram na sua
preservação.
Porém, como a documentação produzida no ateliê não é preenchida na sua
totalidade, deixando algumas lacunas sobre os materiais e os métodos utilizados, há
ainda a possibilidade de continuação nessa temática de pesquisa.
REFERÊNCIAS
CAMPOFIORITO, Quirino. O pintor Leopoldo Gotuzzo. Diário Popular, Pelotas, 08
Ago 1987. p. 2.
Carta de doação do artista Leopoldo Gotuzzo, Rio de Janeiro, 31 Mai 1955. Arquivo
Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo(MALG)/Universidade Federal de Pelotas(UFPEL).
CASARIN, Erasmo Fernando. Marceneiro que trabalhou no ateliê de conservação e
restauro da UFPEL. Em depoimento à autora em 27 Abr, 3 Jul,10 Ago, 9 Set e 9 Out
de 2012. Pelotas, RS.
FREITAS, Nelson Abott de. Centenário de nascimento de Leopoldo Gotuzzo. Diário
Popular, Pelotas, 29 mar 1987. Arte, p. 6.
LEÃO, A. Carneiro In: Almanach de Pelotas, IV Ano. Ferreira e C. 1916. p. 231-235.
LIMA, Nicola Caringi In: LEOPOLDO GOTUZZO. Margs, Catálogo de Exposição
Itinerante: Porto Alegre, Bagé, Santa Maria e Pelotas. Porto Alegre, 2001.
LOUREIRO, Elsa Maria. Conversa Informal. Diário Popular, Pelotas, 18 Dez 1983.
LUZ, Yedda Machado. Carta da professora do Instituto de Letras e Artes da UFPEL.
Pelotas s/d. Arquivo Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo(MALG)/Universidade Federal
de Pelotas(UFPEL). LUZ. Yedda Machado. Professora aposentada do Instituto de letras e Artes/UFPEL em
depoimento à autora em 05/ Set 2012. Pelotas, RS.
MAYER, Ralph. Manual do Artista. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Obra de Gotuzzo é consagrada em leilão internacional. Diário Popular, Pelotas, 16
Mai. 1992. Artes Plásticas. p.15.
PASCUAL, Eva; PATIÑO, Mireia. O Restauro de Pintura. A técnica e a arte do
restauro de pintura sobre tela explicados com rigor e clareza. 1º ed Lisboa: Estampa,
2002.
REIS, Luciana Araújo Renck. Diário Popular, Pelotas, 30 Jan 1983.
REIS, Luciana Araújo Renck. Carta da Professora do Instituo de Letras e Artes/UFPEL
e diretora do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo. 1990. Arquivo MALG.
REIS, Luciana Araújo Renck. Diário Popular, Pelotas, 18 Dez 1983.
Se todos os caminhos levam a Roma, todos também nos levaram ao campus da UFPEL.
Diário Popular, Pelotas, 30 Jan 1983. Domingo Especial, p. 22.
SLAIBI, Thaís Helena de Almeida; MENDES, Marylka; GUIGLEMETI, Denise O.
GUIGLEMETI, Wallace A. Materiais Empregados em Conservação-Restauração de
Bens Culturais. ABRACOR. Associação Brasileira de Conservação Restauração de
Bens Culturais. 2º Ed. Rio de Janeiro, 2011.
SILVA, Úrsula Rosa. ; LORETO, Mari Lucie da Silva. História da Arte em Pelotas.
A pintura de 1870 a 1980. EDUCAT, 1996.
SILVA. Úrsula Rosa da. A história da arte em Pelotas. Diário Popular, Pelotas, 4 Fev
1996. p. 6.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS. Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo.
Documentação produzida no ateliê de conservação e restauro da instituição, 1982-1992.
Arquivo MALG. Pelotas, RS.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
BLANCK, Lìgia ([email protected]), Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo.
Mensagem recebida por [email protected] em 14 Dez 2012.
YURGEL, Cynthia Luz ([email protected])Malg. Mensagem recebida por
[email protected] em 22 Mai 2012.