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História da Habitação e Mobiliário
Antonio Castelnou
AULA 04
Interiorismo Medieval
❖ A IDADE MÉDIA surgiu com a fragmentação do Império Romano, devido às invasões
bárbaras; e durou do século V ao XV d.C., caracterizando-se pela polimerização da
sociedade ocidental, devido ao feudalismo.
❖ Neste período, predominaram as vilas ruraisisoladas, cujas casas eram feitas de armações em madeira (enxaimeis), telhados em colmo e
paredes numa mistura de palha e lama.
❖ Em CHOUPANAS muito
simples, todos dormiam juntos em colchões de
palha, totalmente vestidos e com porcos e galinhas.
❖
❖ A entrada era fechada com cortina de couro ou tecido, a lareira feita em pedra e o assoalho em terra batida. O mobiliário resumia-se a baús, bancos e mesas de
cavaletes.
Vila medieval
Casas rurais
❖ Nas CIDADES ECLESIÁSTICAS,
remanescentes dos núcleos romanos, a vida era ainda mais austera, em abadias e
mosteiros feitos em alvenaria de pedra
(cantaria), com ambientes escuros e úmidos, além do escasso mobiliário pesado
e rústico.
Abadia de Fontenay(Séc. XII, Borgogne França)
Monastériode Chipre (Séc. XI)
Monge sentadoao Scriptorium
❖ Com uma vida muito limitada e insalubre, o lar medieval
somente se modificou a partir do século XI, com as
cruzadas, a expansão do comércio e o desenvolvimento
urbano dos BURGOS; recintos amuralhados
construídos em torno de um castelo senhorial.
Castelnou (Séc. X, França)
❖ O mundo dos camponeses era definido pela extensão dos domínios senhoriais e pelo poder das paróquias.
Com o tempo, os senhores feudais construíram castelos, cuja edificação central era a torre de menagem, com paredes espessas, fendas como aberturas e muralhas.
Vida cotidianamedieval
Castelo
❖ O salão longitudinal do
CASTELO continha toda a
estrutura básica do lar do senhor feudal, sendo a
principal área de sua moradia.
❖ Ali se cozinhava, comia, recebia e dormia. Só com o surgimento das hierarquias sociais mais complexas que foi ficando cada vez mais
elaborado, subdividindo-se.
Salão dePensghurst Place(séc. XIV, Inglaterra)
Château de Coucy(séc. XIII-XIV, Île-de-France)
Château de Coucy(Séc. XIII, França)
Cozinhas
Capela
Salão dos valentes
Corpo deguarda
Alojamentos militares
❖ À medida que os senhores de terras enriqueciam, seus
CASTELOS enchiam-se
de pessoas. Durante os séculos XIII e IV,
construíram-se torres para hóspedes, capelas e inúmeras saletas.
❖ No século XV, moravam ali também roupeiros,
despenseiros, camaristas e artistas. Camas com dosséis
e latrinas de pedra logo apareceram.
❖ Vistas como seres inferiores e
fracos, as MULHERESmedievais foram excluídas das posições de autoridade, sendo
utilizadas mais como instrumentos de troca. O casamento era visto
como um acordo comercial e barreira ao pecado, voltado à
procriação.
❖ Os hábitos de HIGIENE eram
raros e pouco relacionados à saúde, exceto algumas
providências para mitigar o desconforto e melhorar a aparência das pessoas.
Suserania eVassalagem
Piolho
Banhoanual
❖ A ERA MEDIEVAL foi marcada por várias
transformações sociais, políticas e econômicas, passando o interiorismo a ser caracterizado principalmente pela fusão
de elementos ocidentais (grecorromanos) e orientais (persas e islâmicos), resultando em estilos próprios.
Krak des Chevaliers (Séc. XI, Síria)
Estilo Bizantino❖ Atingindo seu grau mais elevado no século VI, estendeu-se
por todo o Mediterrâneo, Itália e Estados Balcânicos. Com o Império Macedônico, no século IX, misturou-se com o Românico, que atingiu toda a Europa até o século XII.
❖ Fundada em 750 a.C., a cidade de CONSTANTINOPLA deixou de ser colônia grega quando, ao ser conquistada pelos romanos em 326 d.C., tornou-se a capital
do Império de Constantino.
❖ Em 475 d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente,
passou a se chamar
BIZÂNCIO, sobrevivendo até
a tomada pelos turcos em 1453 e tornando-se ISTANBUL.
HabitaçãoBizantina
Latrinas
❖ Os espaços bizantinos, sejam religiosos ou não, foram fruto da cor e riqueza ornamental do Oriente, somados
ao arrojo construtivo do Ocidente, resultando em ambientes suntuosos, compostos por arcos, cúpulas e
mosaicos policrômicos.
❖ Através da reunião de pequenos cubos esmaltados, o
MOSAICO ocupava o lugar mais importante na decoração bizantina, recobrindo os pisos,
paredes e cúpulas.
❖ Houve o emprego de paredes em pedra, mármore e tijolo,
com coberturas em abóbadas de berço, de aresta e sobre pendentes, além de colunas
com capitel esculpido trapezoidal.
CapitelBizantino
Mosaicos
Cruz
❖ De grande influência grecorromana, o
MOBILIÁRIO bizantinofoi marcado por delicados trabalhos de relevo em
marfim (presas de elefante).
❖ Havia bancos de madeira com e sem encosto, de
pernas torneadas ou não; mesas de pedra e tronos pesados de madeira ou
pedra, além de arcas e baús.
Baú
Mesa
Tronos
Estilo
Bizantino
Estilo Românico❖ Contemporâneo ao
desenvolvimento da sociedade feudal e das ordens
monásticas, surgiu no final do século X e desapareceu por
volta do século XIII.
❖ Da Île-de-France, espalhou-se pelo restante da França e pela Alemanha, sendo resultado da confluência de várias linhas artísticas, como os estilos
romano e bizantino.
❖ As CASAS eram em pedra rústica, sendo seus interiores
– presentes tanto em castelos senhoriais como em
mosteiros e abadias –bastante sóbrios e de aspecto resistente.
❖ Eram formados pela repetição de elementos,
como janelas, arcos, pilastras e colunas geminadas, além
de abóbadas de berço e cobertura cerâmica.
❖ Na ALTA IDADE MÉDIA, a decoração era pesada e escura, com temática baseada em motivos gregos
(folhagens espiraladas e gregas), ziguezagues (chevrons), pontas de diamante, animais e monstros,
com conotações religiosas.
❖ Além do uso de ELEMENTOS GEOMÉTRICOS (xadrez,
dentes de serra e losangos), misturava-se ornatos
mulçumanos como fitas de pérola, arcadas trilobadas e
animais fantásticos.
❖ Bastante característicos eram os MODILHÕES (pequenos
consolos, muitas vezes esculpidos com rosetas ou
cabeças de monstros, colocados sobre uma cornija).
modilhões
❖ Derivado do coríntio, o CAPITEL ROMÂNICOcontinha uma ornamentação geométrica
(entrelaçamentos e óvalos), vegetal (palmetas e folhagens), animalista (grifos e leões defrontados) ou historiada (cenas do Antigo e do Novo Testamento).
❖ As CADEIRAS eram
bastante simples e pobres, sem detalhes
significativos, usando-se bancos em demasia,
assim como banquetas individuais.
❖ Havia MESASbastante longas,
compostas por largas tábuas sobre cavaletes
(“pôr a mesa”).
Banqueta
Cadeiras
Mesa
❖ As CAMAS eram em geral
muito altas e dotadas de dossel. Já as ARCAS foram colocadas em pé, com uma divisória no centro e portas (credências ou aparadores).
❖ A PAPELEIRA ou
escritório (Scriptorium) era utilizada nos monastérios,
correspondendo a um armário de duas portas,
geralmente com um frontão.
Credência
Dossel
Arca
Cama do vassalo
Papeleira
Estilo
Românico
Estilo Gótico
❖ Iniciado em meados do século XII, nasceu da evolução técnica do Românico através das
abóbadas de aresta, arcos ogivais, arcobotantes e contrafortes de pedra, além dos vitrais,
chegando ao apogeu no século XIII.
❖ Havia predominância de vazios sobre cheios e da linha vertical (transcendência), além da
simetria e impressão de força, grandiosidade e delicadeza, marcando os espaços através de uma escala heroica e de iluminação ampla.
❖ Na BAIXA IDADE MÉDIA, as pequenas e
raras cidades não passavam de entrepostos comerciais, cercados de muralhas para
defesa e refúgio aos moradores da região.
❖ A escassez de espaço fez
com que as CASAS URBANAS fossem
construídas apinhadas umas às outras, de pouca testada e
grande profundidade.
❖ Com o térreo maior que os demais andares,
destinado ao, essas casas góticas possuíam
ALCOVAS como
quartos e sótãos para
hospedagem e depósito.
❖ As condições sanitárias eram bastante precárias,
assim como de abastecimento e
manutenção.
Habitações urbanasBourges, França
❖ Os interiores continuaram sóbrios, predominando
MOTIVOS GEOMÉTRICOS (molduras em madeira e
mobiliário escasso), mas, a partir do século XIII, passou-
se aos MOTIVOS VEGETAIS, preferindo-se as
plantas com contornos tortuosos: o cardo, a
alcachofra e o repolho crespo (cogulhos ou
colchetes).
❖ Os MÓVEIS mais usados na época gótica foram as
cadeiras, mesas, camas e arcas. Eram feitos em carvalho e ornamentados com pinturas, entalhes inspirados na
arquitetura (fenestragem), ogivas, tapeçarias e dourado, além da figura de animais, como dragões.
Credência
Fenestragem
Mesa
Cama
❖ As CADEIRAS (cátedras ou
chayères) eram em madeira, com espaldar alto, e as
MESAS retangulares ou poligonais pequenas,
geralmente com pé central.
❖ As CAMAS eram pesadas e
ficavam no canto dos ambientes. As credênciaspassaram a ser comuns e
surgiu o arcaz, uma grande arca com
gavetões.
Arcaz
Cátedras
Mesa
EstiloGótico
Estilo Islâmico
❖ Também chamado de Sarraceno, Muçulmano ou Maometano, desenvolveu-se em várias regiões na Europa, África e Ásia, a partir do séc. VII, com muitas derivações, mas sempre se baseando nos ensinamentos do profeta Maomé ou Mohammed
(570-632).
1 Vestíbulo2 Pátio principal3 Pátio privado4 Harem5 Salas de repouso (Iwan)6 Salas de estar (Majlis)7 Banho turco (Hammam)8 Salas de homens (Maq’ad)9 Salas de mulheres (Qa’a)10 Cozinha aberta
1
2
3 4
55
7
6
9 9
97
8 8
6 6 5
10
86
5
8
5
7
CASA MUÇULMANA
❖ Os INTERIORESislâmicos são
exuberantes, marcados pela geometria e luxo,
com profusão de detalhes (rendilhados e arabescos) e uso abundante de arcos (de meio ponto ou pleno, otomano, ogival, mourisco ou lobulado), sempre sem elementos figurativos ou
humanos.
Rendilhado
Caligrafiamuçulmana
Arabescos
❖ De MOBILIÁRIO escasso, os espaços islâmicos são
fluidos e iluminados, dotados de colunas esguias e arcos rebuscados, além de policromia, obtida através de ladrilhos e rendilhados. Tapetes em arabescos são
também amplamente usados nos interiores.
Tapetes
Estilo Mudéjar
❖ Em 711 dC, os povos árabes e berberes (mouros) do Norte
da África invadiram e dominaram a Península
Ibérica, criando AL-ANDALUS; país que existiu
até o século XI, quando os reis cristãos acabaram
expulsando os mulçumanos e reconquistaram a área .
Córdoba
Grande Mesquita de Córdoba(Andalucia, Espanha)
❖ Durante essa dominação mulçumana de quase quatro
séculos, ocorreu a fusão da arte islâmica com a cristã, originando
o ESTILO MOURISCO ou
Mudéjar (do árabe mudaggin, que significa “ficar morando
árabes entre cristãos”).
❖ Rica e suntuosa, esta decoração fez-se presente em cidades como
Granada, Sevilha, Córdoba e Zaragoza, entre outras.
Alcazar(Sevilha, Espanha)
❖ Marcado pela escassez de móveis e profusão de almofadas, tapetes e
cortinas feitas com tecidos
riquíssimos, o MUDÉJARmisturava elementos
islâmicos, góticos e, mais tarde, renascentistas.
❖ Recriaram-se as geometrias (arabescos) e caligrafias islâmicas em azulejos e
estuques, além de usarem o arco em ferradura, herdado
dos visigodos.
El Alhambra(1333/54, Granada, Espanha)
❖ O principal móvel mourisco era a ARCA, feita em
cedro, oliveira e nogueira, com apliques em couro (gravado ou pintado) e figuras geométricas, muitas vezes entrelaçadas, além de incrustações de metais,
marfim, madrepérola e madeira (marchetaria).
Arcas
Poltronas
❖ As CADEIRAS tinham
encostos altos, forrados com couros policrômicos ou veludos
guarnecidos com pregos à vista, além de braços largos e
pesados.
❖ Surgiram os BARGUEÑOS(vargeños): cômodas-
escrivaninhas, cuja parte anterior se abria de cima para
baixo. Eram arcas móveis sobre uma base de colunas
torneadas, que às vezes apresentava os pés em forma
de ponte ou H.
Bargueños
❖ Denominam-se
MOÇÁRABE (do ár.
mustarib; arabizado) a arte e a arquitetura
realizadas pelos cristãos da Península Ibérica, de
língua árabe, que conservaram sua religião sob a dominação islâmica entre os séculos X e XI.
❖ Este estilo surgiu principalmente nas igrejas
de cidades espanholas como Burgos e Toledo, além de muitas outras.
Bibliografia
❑ BRUNT, A. Guia dos estilos do mobiliário. Lisboa: Presença, Col. Habitat, n. 32, 1993.
❑ DUCHER, R. Características dos estilos. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
❑ KOCH, W. Dicionário dos estilos arquitetônicos. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
❑ MALLALIEU, H. (Org.) História ilustrada das antiguidades. São Paulo: Nobel, 1999.
❑ MONTENEGRO, R. Guia de história do mobiliário.Lisboa: Presença, 1995.
❑ OATES, P. B. História do mobiliário ocidental. Lisboa: Presença, 1991.