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ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
1
Editores
Edicarlos Damacena de Souza
Flávio Araújo Pinto
Marco Aurélio Carbone Carneiro
Helder Barbosa Paulino
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
2
Comissão Organizadora
Caio Franco Rezende
Diego Oliveira Ribeiro
Dorotéia Alves Ferreira
Edicarlos Damacena de Souza
Flávia Dias Terra
Flávio Araújo Pinto
Franciane Lemes dos Santos
Geanderson Nascimento da Silva
João de Andrade Bonetti
Josilene da Silva Trindade
Leonardo Ricardo Rotta
Uadson Ramos da Silva
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CÂMPUS JATAÍ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM
SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO
Fertilidade do Solo em Plantio Direto: (re) emergindo sistêmica
29 e 30 de novembro de 2011
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
4
APRESENTAÇÃO
A realização do I Simpósio de Fertilidade do Solo em Plantio Direto no Cerrado marca o início das atividades externas do recém-
criado Núcleo Regional Oeste da Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo-SBCS. Se a escolha do tema foi muito adequada ao abordar a visão sistêmica do processo, a seleção dos palestrantes, cujos textos deram
origem a este boletim, também se revelou feliz na medida em que se
constituiu de profissionais experientes e qualificados. Por outro lado, nada mais justo do que sediar um evento desta natureza em Jataí, um
município reconhecido nacionalmente por sua expressividade no
agronegócio, notadamente na produção de grãos. Desta forma, a presidência da SBCS, ao cumprimentar os
colegas do Núcleo Regional Oeste pela iniciativa e agradecer o apoio
recebido do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UFG e da Fundação Agrisus, deseja que a presente publicação se traduza em
ganhos de conhecimento técnico-científico e ações de sustentabilidade
ambiental a todos os que dela fizerem uso.
Gonçalo Signorelli de Farias
Presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
5
SUM ÁR IO
I PRODUÇÃO DE PALHA PARA O SISTEMA PLANTIO DIRETO .. 8
Introdução .......................................................................................... 8
Clima e solo ....................................................................................... 9
Produção de palha na safra de verão ................................................ 10
Produção de palha no outono-inverno .............................................. 10
Momento de dessecação das planas ................................................. 12
Carbono como indicador de quantidade de palha ............................. 12
Conclusão ........................................................................................ 13
Agradecimentos ............................................................................... 13
Referências ...................................................................................... 13
II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO
NO CERRADO ..................................................................................... 19
RESUMO ........................................................................................ 19
ADUBAÇÃO FOSTATADA .......................................................... 19
AMOSTRAGEM DO SOLO ........................................................... 20
MANEJO DO SOLO ....................................................................... 21
MANEJO DAS PLANTAS ............................................................. 23
MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA ................................... 24
SISTEMAS AGRÍCOLAS QUE POTENCIALIZAM O USO
EFICIENTE DE FÓSFORO ............................................................ 26
Rotação/sucessão de culturas ...................................................... 27
Integração lavoura-pecuária ........................................................ 27
Sistema plantio-direto ................................................................. 30
RECUPERAÇÃO DE FÓSFORO APLICADO .............................. 32
Atuação futura – Prioridades de pesquisa para a REGIÃO DO
CERRADO ...................................................................................... 34
Referências ...................................................................................... 35
III FERTILIDADE DO SOLO: DO CONCEITO QUÍMICO-
MINERALISTA À PROPRIEDADE QUE EMERGE EM SISTEMAS
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
6
QUE SE AUTO-ORGANIZAM ........................................................... 36
Origem, evolução, características e benefícios do conceito químico-
mineralista da fertilidade de solO..................................................... 36
Evolução do sistema solo pelo manejo e os “ruídos” do conceito
químico-mineralista para expressar a fertilidade percebida pelas
plantas .............................................................................................. 38
Fertilidade como propriedade emergente do sistema solo que se auto-
organiza, regulando suas funções ecossistêmicas ............................. 41
Considerações .................................................................................. 42
Referências ...................................................................................... 43
IV Integração Lavoura-pecuária em Sistema Plantio Direto e atributos de
solo ........................................................................................................ 45
Introdução ........................................................................................ 45
Experimentação em ILP ................................................................... 46
Indicadores físicos de solo ............................................................... 48
Densidade, porosidade e umidade............................................... 49
Resistência à penetração e força de tração .................................. 50
Agregação do solo ...................................................................... 51
Rugosidade superficial e retenção e velocidade de escoamento da
água ................................................................................................. 51
Indicadores químicos de solo ........................................................... 52
Atributos de solo relacionados à fertilidade ................................ 53
Atributos de solo relacionados à acidez do solo.......................... 53
Indicadores biológicos do solo ......................................................... 54
Considerações finais ........................................................................ 55
Referências ...................................................................................... 56
V MANEJO DA ADUBAÇÃO NA CULTURA DA CANA ................ 59
Calagem e gessagem ........................................................................ 60
Manter a palhada sobre o solo .......................................................... 61
Aumentar a matéria orgânica no solo – uso de culturas em rotação . 62
Elevar o teor de P do solo ................................................................ 62
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
7
Adubação - Melhorar a eficiência e reduzir perdas .......................... 63
Referências ...................................................................................... 65
VI Uso de fertilizantes e corretivos em pastagens ................................. 67
Introdução ........................................................................................ 67
Fatores condicionantes para o uso de fertilizantes em pastagens...... 69
Intensificação do Uso de Fertilizantes em Pastagens ....................... 73
Referências ...................................................................................... 75
VII QUALIDADE FÍSICA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO ......... 78
Introdução ........................................................................................ 78
Importância da fertilidade física para o sistema plantio direto no
Cerrado. ........................................................................................... 79
O papel da qualidade física na fertilidade integral do solo ............... 81
Indicadores da qualidade física ........................................................ 82
Indicadores primários ................................................................. 82
Indicadores secundários .............................................................. 83
Considerações finais e perspectivas ................................................. 88
Referências ...................................................................................... 88
8
I PRO DUÇ ÃO D E P ALH A P AR A O S IS TEM A
P LAN T IO D IRE TO
Gessí Ceccon
Embrapa Agropecuária Oeste, BR 163, km 253. CEP: 79.804-970,
Dourados, MS.
INTRODUÇÃO
O cultivo em sistema plantio direto pressupõe o mínimo revolvimento do solo para deposição das sementes e a presença
permanente de palha na superfície do solo, a fim de obter maiores
produtividades das culturas pelo maior aproveitamento da água e nutrientes do solo. Isso requer mudanças na forma de pensar e agir sobre
o sistema de cultivo a ser utilizado, incluindo os fatores econômicos,
ambientais e sociais. De acordo com a Febrapd (EVOLUÇÃO, 2011), o Brasil tem
25,5 milhões de hectares de lavouras cultivadas em plantio direto,
incluindo áreas da região Centro-Oeste, onde predomina a sucessão soja-milho safrinha. No entanto, Ceccon et al. (2011) avaliaram lavouras da
sucessão soja e milho safrinha, em Mato Grosso do Sul, e verificaram
que apenas 40 % dos agricultores tem lavouras em plantio direto com mais de seis anos; 24 % das lavouras permanecem entre três e seis anos;
e 36 % não passam de três anos de cultivo em plantio direto. Segundo os
autores, o revolvimento do solo é realizado para “romper camadas compactadas”, devido à colheita da soja realizada em condições de alta
umidade no solo, ou para incorporar calcário. O revolvimento temporário
e a falta de rotação de culturas acarretam baixas coberturas do solo, conforme verificado por Brüggemann (2011).
Os resíduos vegetais protegem o solo do aquecimento
excessivo e da perda de água, devido à alta refletividade da radiação
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
9 Gessí Ceccon
solar e baixa condutividade térmica dos resíduos e diminui a amplitude
térmica diária (JOHNSON; LOWERY, 1985), que pode ser prejudicial para as plantas nas regiões temperadas, mas benéficas nas regiões
tropicais.
Identificar e utilizar sistemas de cultivo que proporcionem boa cobertura do solo, com maior retorno econômico,
é um desafio a ser alcançado, a fim de melhorar e manter a
qualidade do solo e produtividade das culturas.
CLIMA E SOLO
A região Centro-Oeste tem considerável quantidade anual de
chuvas, porém mal distribuídas e concentradas no período de primavera-
verão (Figura 1). A região Sul do Brasil têm chuvas melhor distribuídas durante o ano e espécies adaptadas às estações do ano, bem definidas
para cultivo. Considerando que a produtividade das culturas tem
correlação positiva com a disponibilidade de água (PRELA-PANTANO
et al., 2011), acredita-se que é relativamente fácil produzir palha na
região Centro-Oeste, devido às condições favoráveis de chuva no verão e
altas temperaturas durante o ano (Figura 1); contudo, essas condições também são favoráveis à rápida decomposição da massa vegetal
produzida.
Figura 1. Chuva e temperaturas máximas e mínimas médias mensais
registradas nos últimos dez anos, em diferentes locais do Brasil. Fonte: Embrapa Trigo (2011), Embrapa Agropecuária Oeste (2011), Sementes Seriema, Embrapa
Cerrados e Embrapa Arroz e Feijão.
Quanto ao solo, vários tipos podem ser utilizados para cultivo
de soja e milho, desde que contenham teores mínimos de 15 % de argila
0
100
200
300
400
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Chuva(mm)
Passo Fundo, RS
Dourados, MS
Rondonópolis, MT
Planaltina, DF
Santo Antônio de Goiás
0
10
20
30
40
50
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Temperatura(oC)
Passo Fundo, máxima
Passo Fundo, mínima
Dourados, máxima
Dourados, mínima
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
10 I PRODUÇÃO DE PALHA PARA O SISTEMA PLANTIO DIRETO
(SANS; SANTANA, 2000; TECNOLOGIAS..., 2011). Solos arenosos
(menos de 15% de argila) apresentam baixa capacidade de troca de
cátions e de retenção de água, com maior suscetibilidade à erosão. Para
cultivos de outono-inverno, essas condições são mais restritivas, devido à interação entre baixa capacidade de armazenamento de água dos solos
arenosos e períodos de estiagem prolongada.
PRODUÇÃO DE PALHA NA SAFRA DE VERÃO
O milho no verão, cultivado em consórcio com outra espécie (Brachiaria, Panicum, mucuna, crotalária, etc.) é uma importante
alternativa para produzir palha e/ou integrar com a pecuária. As duas
espécies são implantadas no início do período chuvoso; o milho é colhido em março e a outra espécie permanece sobre o solo até o
próximo verão, seja para retorno com a soja (CECCON et al., 2007) ou
para formação de pastagem (KLUTHCOUSKI; AIDAR, 2003). Esse tipo de cultivo diminui o trânsito de máquinas para implantação de culturas
de outono-inverno, proporcionando melhorias nas propriedades físicas e
químicas do solo, conforme apresentado por Borghi e Crusciol (2007). No entanto, no verão, predomina o cultivo de soja na maioria das
lavouras, que deixa pequena quantidade de palha e baixa cobertura
de solo.
PRODUÇÃO DE PALHA NO OUTONO-INVERNO
Várias tentativas foram realizadas no sentido de encontrar
espécies adaptadas às regiões tropicais para produção de palha. Hernani
et al. (1995) avaliaram 47 espécies vegetais para cobertura de solo e adubação verde no outono-inverno, entre 1986 e 1993, e destacaram
aveia e nabo.
O milheto tem sido utilizado para cobertura de solo logo após a colheita ou antecedendo a semeadura da soja, com importante papel no
controle de plantas invasoras (KICHEL; MIRANDA, 2000; TORRES et
al., 2008). Em alguns casos é indicado para controle de nematóides (SANTOS; SOARES, 2011), porém, não eficiente para controle do
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
11 Gessí Ceccon
nematóide-das-lesões-radiculares - Pratylenchus brachyurus (DEBIASI
et al., 2011). O sorgo em cultivo solteiro (MACHADO et al., 2004) ou
consorciado (MOTA et al., 2010), pode ser bom produtor de palha na
safrinha. Marochi (2006) avaliou o milheto e a B. ruziziensis após a soja, sob diferentes métodos de incorporação (semeadura em linha com
semeadora, grade niveladora fechada e correntão). O autor encontrou os
melhores resultados com a B. ruziziensis, que se mostrou tolerante à seca, com maior produtividade de massa seca e com a utilização do
correntão, por otimizar o tempo nas operações agrícolas e causar menor
interferência nos restos culturais da soja. A utilização de forrageiras perenes com culturas anuais na
estação seca, tanto em cultivo solteiro (FERREIRA et al., 2010;
MACHADO; ASSIS, 2010), quanto no consorciado com milho (CECCON et al., 2009), pode deixar considerável quantidade de palha na
superfície do solo (MELLO et al., 2004), como também importante
quantidade de massa de raízes no perfil do solo (MACHADO et al., 2007), que beneficiam culturas em sucessão, promovendo aumentos no
teor de carbono no solo (SALTON et al., 2005).
Além disso, a palha proporciona redução do banco de sementes de plantas invasoras no solo (KLUTHCOUSKI; AIDAR,
2003), diminuindo a incidência de algumas doenças de solo como o
mofo branco, Rhizoctonia e Fusarium (COSTA; RAVA, 2003), nematóides reniforme (ASMUS, 2005), e cisto da soja e das galhas
(ASMUS; ANDRADE, 2001).
O milho safrinha é uma das culturas que mais produz palha no outono-inverno, porém não proporciona grande porcentagem de solo
coberto; contudo, em consórcio com uma espécie forrageira, proporciona altas coberturas de solo (CECCON, 2007). Essa modalidade de
consórcio tem demonstrado ser uma importante alternativa para manter a
cultura de rendimento econômico, por aumentar o aporte de massa na superfície do solo e proporcionar retorno econômico na sucessão soja-
milho safrinha.
O consórcio de milho safrinha com uma linha intercalar de B. ruziziensis, é uma tecnologia reconhecida nos estados de Mato Grosso do
Sul, Paraná e São Paulo (BRASIL, 2011) e tem sido utilizado pelos
agricultores para produzir palha em sistema plantio direto. Outras espécies forrageiras (B. brizantha, cv. Marandu e Xaraés, B. decumbens
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
12 I PRODUÇÃO DE PALHA PARA O SISTEMA PLANTIO DIRETO
e Panicum maximum cv. Tanzânia) podem ser utilizadas em consórcio
com milho safrinha, mas depende do objetivo do consórcio, devido à
necessidade de maior dose de herbicida para dessecação.
A sobressemeadura de uma espécie forrageira sobre a cultura da soja é uma alternativa para produção de palha e ou pasto no outono-
inverno, porém a germinação de sementes é variável com a espécie e o
ano, demandando por maiores quantidades de sementes (PACHECO et al., 2008), com percentuais de sementes que geraram plantas variando de
0,5 a 49,8 % (MACHADO, 2011), elevando assim o custo de
implantação.
MOMENTO DE DESSECAÇÃ O DAS PLANAS
A época de dessecação das plantas pode contribuir para a
maior produtividade de massa, sem, no entanto, reduzir o rendimento de
grãos da soja (CECCON et al., 2009), além de contribuir no controle de plantas espontâneas, reduzindo o número de aplicações de herbicidas
pós-emergentes (MONQUERO et al., 2010).
Após o cultivo consorciado de milho safrinha com Brachiaria ruziziensis, um período de dez dias entre a dessecação da forrageira e a
semeadura da soja, é suficiente para proporcionar semelhantes
rendimentos de grãos de soja e obter maiores produtividades de massa da forrageira (CECCON et al., 2009). Esses resultados proporcionam maior
estabilidade produtiva e estão de acordo com os resultados apresentados
por Nunes et al. (2009).
O cultivo de espécies forrageiras perenes na safrinha contribui
para aumentar a produção de palha, resultando no incremento do teor de
matéria orgânica do solo. Essa palha proporciona maior disponibilidade de nutrientes para soja em sucessão, principalmente no que se refere ao
potássio (SALTON et al., 2008), que é liberado dos resíduos vegetais em
sincronia com a demanda da soja.
CARBONO COMO INDICADOR DE QUANTIDADE DE
PALHA
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
13 Gessí Ceccon
Para Costa et al. (2008), o estoque de carbono no solo foi
negativo, quando em preparo mecanizado do solo, com -0,31 t ha-1 ano-1 na sucessão aveia/milho e -0,10 t ha-1 ano-1 e na sucessão ervilhaca/milho
e positivo no solo em plantio direto (0,15 t ha-1 ano-1), apenas quando
associado ao sistema ervilhaca/milho, principalmente por apresentar maior aporte de resíduos. Os autores verificaram que as taxas mensais de
emissões de C-CO2 variaram entre 0,27 g m-2 no inverno (temperaturas
mínimas de 8,0 °C) e 1,36 g m-2 de C-CO2 no verão (temperaturas máximas de 38,0º C). Esses valores correspondem a uma variação entre
3,6 e 4,0 t ha-1de C-CO2. O cultivo de uma gramínea em sucessão a uma
leguminosa pode garantir o balanço positivo de C no solo devido à maior produtividade de massa da gramínea, em função do N fornecido pela
leguminosa.
Uma espécie forrageira perene em cultivo consorciado com milho safrinha pode proporcionar entre 2,0 a 4,0 Mg ha-1 de massa seca
(CECCON, 2007), com teores de 40,0 a 45,0 % de carbono (CECCON et
al., 2011). Esses valores, mais a massa e o carbono produzidos pelo milho safrinha e pela soja no verão, são suficientes para tornar esta
sucessão sustentável, sob o ponto de vista de cobertura do solo, controle
da erosão e estoque de carbono no solo.
CONCLUSÃO
O cultivo consorciado de milho com uma forrageira perene é
o caminho para produzir palha para o sistema plantio direto e dar
estabilidade à produção de grãos na região Centro-Oeste.
AGRADECIMENTOS
Aos dirigentes e à Fundação Agrisus pela forma objetiva de apoiar projetos e pela incansável defensoria do Sistema Plantio Direto
como alternativa sustentável de produção.
REFERÊNCIAS
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
14 I PRODUÇÃO DE PALHA PARA O SISTEMA PLANTIO DIRETO
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15 Gessí Ceccon
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ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
17 Gessí Ceccon
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19
I I M ANEJO D A AD UB AÇ ÃO F OS FAT AD A EM
P LAN T IO D IRE TO N O CE R RADO
Djalma Martinhão Gomes de Sousa, Thomaz A. Rein & Rafael de
Souza Nunes
Embrapa Cerrados, BR 020, km 18, Caixa Postal 08223, CEP: 73301-
970, Planaltina, DF. [email protected]
RESUMO
Os solos incorporados ao sistema produtivo na região do
Cerrado são deficientes em fósforo para a maioria das culturas, tornando
o uso de fertilizantes fosfatados indispensável para o estabelecimento e a
manutenção de sistemas de produção eficientes. Técnicas inadequadas de amostragem do solo, nutrientes
aplicados de forma desequilibrada, monocultivo de soja, excesso de
acidez, excesso de preparo do solo, manejo inadequado do fertilizante fosfatado, além de outros fatores bióticos e abióticos que restringem a
produtividade das culturas são alguns dos responsáveis pela baixa taxa
de recuperação (em torno de 46%) do fósforo aplicado ao solo como
fertilizante no cerrado.
Com a adoção de boas práticas, propiciando elevadas
produtividades e aumento na disponibilidade do fósforo do solo, a taxa de recuperação deste nutriente passa a ser de 90% ou mais. Isso
representa maior eficiência no processo produtivo agrícola, com
benefícios diretos para o produtor e indiretos para toda a sociedade, além de também representar significativa contribuição para uma agricultura
sustentável.
ADUBAÇÃO FOSTATADA
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
20 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
O uso eficiente de fertilizantes fosfatados envolve a adoção de
um conjunto de boas práticas que influenciam diretamente na disponibilidade de fósforo no solo e sua utilização pelas culturas, as
quais podem ser assim discriminadas: 1) Técnicas adequadas de
amostragem para caracterização da disponibilidade de fósforo do solo, considerando-se o sistema de preparo, o modo de aplicação e a fonte dos
fertilizantes anteriormente adicionados, visando a recomendação de
doses econômicas de adubos fosfatados; 2) Técnicas de manejo do solo que permitem a manutenção do fósforo em formas lábeis por períodos
mais longos; 3) Práticas de manejo de plantas que objetivam aumentar a
capacidade de absorção e transformação do fósforo disponível do solo; 4) Práticas de adubação fosfatada visando alta eficácia do processo,
envolvendo fontes, doses e modos de aplicação dos fertilizantes
fosfatados; 5) Práticas de cultivo que reforçam a eficiência de uso dos fertilizantes fosfatados, tais como a ciclagem dos nutrientes, a proteção
do solo contra agentes erosivos, o revolvimento mínimo do solo preservando zonas adubadas enriquecidas em fósforo, o incremento da
matéria orgânica e da atividade biológica do solo, bem como a
biodiversidade agrícola.
AMOSTRAGEM DO SOLO
O passo inicial para realizar a amostragem do solo é dividir a
propriedade em áreas homogêneas considerando: topografia, tipo de solo
(cor, textura, profundidade do perfil), vegetação anterior e histórico (quantidades e tipos de insumos já aplicados, culturas anteriores,
produtividade obtida, preparo do solo e outros aspectos). Um histórico
contendo estes parâmetros, além de dados climáticos, deve ser anotado e arquivado pelo produtor rural; assim, poderá servir como fonte de
consulta quando houver necessidade de definir a recomendação de
fertilizantes para as culturas. Se as técnicas corretas de amostragem de solo não forem
seguidas, o resultado da análise química do solo terá pouco valor.
Para amostragem na camada superficial (0-20 cm) deve-se levar em consideração o sistema de preparo adotado. As operações de
preparo tendem a uniformizar o solo e neste caso, se recomenda amostrar
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
21 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
de 0–20 cm de profundidade, utilizando-se de 10 a 20 subamostras por
área homogênea, coletadas com os vários tipos de amostradores existentes. No sistema plantio direto, os resíduos vegetais ficam
depositados na superfície do solo e juntamente com a aplicação periódica
de fertilizantes (lanço ou sulco) e calcário (lanço) determinam a formação de gradientes no sentido vertical e elevada heterogeneidade no
sentido horizontal. Neste caso sugere-se que as amostragens sejam feitas
de 0– 10 cm e de 10–20 cm, de acordo com critérios regionais, utilizando-se por volta de 10 subamostras por área homogênea coletadas
com a pá de corte. O corte feito com a pá deve ser perpendicular à linha
de plantio, com largura correspondente ao espaçamento entre as linhas do último cultivo, tendo o cuidado para que o sulco de aplicação do
fertilizante esteja localizado na mediana do corte.
Como procedimento alternativo à pá de corte, utilizando-se o mesmo número de subamostras por área homogênea, tem-se o trado
calador, em que cada subamostra é composta por um ponto sobre a linha de adubação e por vários pontos situados lateral e transversalmente às
linhas de adubação. Assim, para culturas com espaçamento até 20 cm,
recomenda-se coletar um ponto na linha de adubação mais um ponto em cada lado, totalizando três pontos de coleta para cada subamostra. Com
espaçamento de 40–50 cm, coletar um ponto na linha, mais três em cada
lado, totalizando sete pontos de coleta para cada subamostra. Para espaçamento de 60–80 cm, coletar um ponto na linha de adubação, mais
seis pontos de cada lado, totalizando 13 pontos de coleta para cada
subamostra. Para avaliar a fertilidade química no perfil do solo, para
culturas anuais, ainda se recomenda fazer amostragem nas profundidades
de 20–40 cm e de 40–60 cm, retirando-se 10 subamostras por área homogênea para essas profundidades independente do sistema de
preparo podendo-se utilizar os diversos trados existentes.
MANEJO DO SOLO
A correção da acidez do solo é uma das práticas mais importantes no manejo do solo para aumentar a disponibilidade do
fósforo e a eficiência dos fertilizantes fosfatados. Essa correção deve ser
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
22 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
feita tanto na camada superficial (0–20 cm) como na camada
subsuperficial (20–60 cm). Para corrigir a acidez da camada superficial, utiliza-se o
calcário. O incremento na utilização do fósforo com a calagem decorre
principalmente do maior crescimento de raízes no solo corrigido, favorecendo a absorção de fósforo pelas plantas e ao aumento na
solubilização deste nutriente no solo.
Em grande parte das áreas agrícolas na região do Cerrado há restrições para o desenvolvimento do sistema radicular das plantas em
camadas abaixo de 20 cm do solo por causa da toxidez de alumínio,
associada ou não a deficiência de cálcio. Nesta região, devido à ocorrência dos veranicos em períodos críticos para as culturas, um
sistema radicular superficial pode acarretar em grandes prejuízos. A
solução utilizada na região do Cerrado é a aplicação de gesso (CaSO4.2H2O) nas situações em que a saturação por alumínio é superior
a 20% e/ou o teor de cálcio é inferior a 0,5 cmolc dm-3 na camada de 20–60 cm de profundidade. Calcula-se a dose de gesso a ser aplicada em
função do teor de argila do solo, que adsorve o ânion sulfato e controla a
mobilidade do sal no perfil. Assim, quanto maior o teor de argila, maior será a dose de gesso a aplicar.
A resposta ao gesso como melhorador ou condicionador
químico do ambiente radicular em profundidade tem sido observada para a maioria das culturas anuais, destacando-se as respostas das culturas de
milho, trigo, soja, algodão e feijão. Essas respostas são atribuídas à
melhor distribuição das raízes em profundidade no solo, o que propicia às plantas o aproveitamento de maior volume de água e nutrientes. Os
nutrientes são absorvidos com maior eficiência, desde o nitrogênio, que
tem maior mobilidade e é facilmente levado para o subsolo e pouco aproveitado se as raízes forem superficiais, até o fósforo, que apresenta
menor mobilidade, mas cuja absorção é extremamente dependente da
disponibilidade de água na região de absorção. No caso do fósforo, a maior absorção pode ser explicada pela
extração de água mais uniforme no perfil do solo em presença de gesso
na dose recomendada, permanecendo a camada superficial úmida por mais tempo. No tratamento sem gesso ou com pequenas doses deste, no
entanto, a camada superficial tem sua umidade esgotada mais
rapidamente em virtude do enraizamento mais superficial e, sem água disponível, a absorção de fósforo é limitada pelo menor coeficiente de
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
23 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
difusão no solo.
Em média, com a utilização do gesso, a absorção de fósforo pelas plantas aumenta em torno de 50% para culturas como algodão,
trigo e milho e em 25% para a soja.
MANEJO DAS PLANTAS
Quando o solo apresenta deficiência de fósforo, alguns
mecanismos são utilizados pelas plantas em resposta a essa condição
para que o suprimento do nutriente possa ocorrer de forma adequada, destacando-se:
a) Alterações na arquitetura e morfologia das raízes: maior relação
raiz/parte aérea; maior ramificação e densidade (cm de raiz cm-3 de solo); menor raio; mais pelos radiculares; maior associação micorrízica;
b) Aumento na capacidade de absorção de fósforo: maior expressão de
transportadores de alta afinidade por este elemento nas raízes, alterando
sua cinética de absorção;
c) Acidificação da rizosfera, exsudação de ácidos/ânions orgânicos,
fosfatases: mecanismos utilizados por espécies de planta como trigo sarraceno, colza, nabo forrageiro, tremoço e guandu.
A morfologia do sistema radicular e os parâmetros da cinética
de absorção de fósforo são característicos da espécie ou variedade de planta. Em geral para solos em condições adequadas de fertilidade
química, física e biológica, o milho apresenta densidade de raízes e
influxo máximo de fósforo superior aos da soja. Essas características, a princípio, indicam ser o milho mais eficiente para absorver fósforo, em
uma mesma condição de solo.
Espécies de plantas com maior relação matéria seca de raiz/matéria seca da parte aérea, como Brachiaria, entre outras, são
importantes para compor um sistema de produção em que se visa
eficiência de utilização do fósforo do fertilizante fosfatado. Também tem sido observado o efeito varietal na eficiência de
absorção ou utilização do fósforo e na adaptação à deficiência deste
nutriente no solo. Entre as estratégias apresentadas, as associações micorrízicas,
que são componentes naturais dos ecossistemas, desempenham papel
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
24 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
fundamental no uso eficiente do fósforo pelas plantas.
MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA
A maioria dos solos brasileiros apresenta baixa
disponibilidade de fósforo em condições naturais, sendo necessária a
adição deste nutriente para que a área se torne produtiva. Em áreas já
corrigidas, é necessário repor o fósforo exportado pelos grãos para
manter a produtividade adequada das culturas, o que varia de 5 kg a 10
kg de P2O5 por t de grãos, dependendo da cultura. Em média, no Brasil, são exportados pelos grãos 8,6 kg de P2O5 por t de grãos produzidos.
Na região do Cerrado, a resposta das culturas a fósforo é de
grande magnitude e o uso de fertilizantes fosfatados para correção do solo, bem como para adubações de manutenção é necessário.
O fósforo é o nutriente que apresenta maior variação quanto
às fontes disponíveis no mercado. Esses produtos são classificados
quanto à sua solubilidade em água, em citrato neutro de amônio (CNA) e
em ácido cítrico (AC). Conhecendo-se o produto e sua solubilidade,
pode-se prever sua eficiência agronômica, ou seja, sua capacidade de fornecimento de fósforo para as culturas.
Os superfosfatos simples e triplo, ambos fosfatos
monocálcicos, bem como os fosfatos monoamônico (MAP) e diamônico (DAP) têm mais de 90% do fósforo total solúvel em CNA + água, e são
equivalentes quanto à sua capacidade de fornecimento de fósforo para as
plantas. São produtos de reconhecida e elevada eficiência agronômica, para quaisquer condições de solo e de cultura, correspondendo a 95% do
P2O5 utilizado na agricultura brasileira (51% como superfosfatos simples
e triplo e 44% como MAP e DAP). Outros produtos, como termofosfatos, fosfatos naturais
brasileiros e fosfatos naturais reativos, correspondem a 5% do P2O5
utilizado como fonte de fósforo no Brasil. Os termofosfatos apresentam mais de 90% do fósforo total solúvel em AC e, na forma de pó,
apresentam índice de eficiência agronômica equivalente aos fosfatos
solúveis em água. Os fosfatos naturais brasileiros (Araxá, Patos de Minas,
Catalão e outros) apresentam baixa solubilidade em água e AC, sendo
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
25 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
sua dissolução no solo muito lenta, principalmente em condições de
acidez corrigida para culturas anuais, com pH em água ao redor de 6,0. Consequentemente, sua eficiência agronômica é muito baixa para
culturas anuais em relação aos fosfatos solúveis em água, nos primeiros
anos após a aplicação. Para pastagens, que são espécies perenes, sua eficiência é baixa no primeiro ano, evoluindo nos anos subsequentes.
Os fosfatos naturais reativos, como Gafsa, Carolina do Norte,
Arad, Argélia, Daoui e Marrocos, comercializados no Brasil na forma farelada, apresentam índice de eficiência agronômica (calculado por
meio da comparação entre produtividades da fonte analisada e de fonte
padrão solúvel) médio para culturas anuais no primeiro cultivo por volta de 50%, evoluindo nos anos seguintes para aproximadamente 100%
quando comparados ao superfosfato triplo. Para pastagens, esses fosfatos
têm apresentado eficiência agronômica inicial superior à obtida com culturas anuais.
Como o desempenho dos fosfatos naturais reativos aumenta com o passar do tempo, sendo seu efeito residual equivalente ou mesmo
um pouco superior ao dos superfosfatos, estas fontes constituem opção
para o agricultor como adubação corretiva. Para a adubação de manutenção, em conseqüência da menor
eficiência agronômica do fosfato natural reativo no ano de aplicação no
solo, sua utilização não é recomendada em áreas responsivas a fósforo. Uma das opções para aumentar a eficiência dos fertilizantes
fosfatados é aplicá-los de modo adequado ao solo. A escolha dessa
prática depende do solo, da fonte de fósforo, da espécie cultivada, do sistema de preparo e do clima.
As formas mais utilizadas para adicionar fósforo ao solo são:
a lanço na superfície, com ou sem incorporação; no sulco de plantio; em cova; e em faixas. Para culturas anuais, a forma mais utilizada é a
aplicação no sulco de plantio. Em geral, para adubações de correção do
solo, situação em que doses maiores de fertilizantes são necessárias (superiores a 100 kg ha-1 de P2O5), a aplicação a lanço com incorporação
promove melhor produtividade da cultura e sistema radicular mais bem
distribuído, assim como melhor acesso do sistema radicular ao fertilizante diluído na camada superficial do solo, ao contrário do que
ocorre com a aplicação na linha de plantio, em que apenas uma pequena
fração das raízes tem acesso ao fertilizante aplicado. Em solos bem supridos com fósforo, ou seja, com teor
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
26 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
adequado ou alto deste nutriente no solo, o modo de aplicação do
fertilizante fosfatado solúvel não afeta a produtividade de soja e milho. A aplicação dos fertilizantes na superfície do terreno pode representar
importante simplificação no manejo da lavoura, permitindo ao produtor
fazer a semeadura sem adubação no sulco de plantio. Quando a disponibilidade de fósforo estiver abaixo da adequada, o modo
preferencial de aplicação do fertilizante fosfatado para as culturas de soja
e milho dever ser no sulco de plantio. Com teores de fósforo nos solos adequados ou altos, o modo de aplicação, nos sistemas de preparo
convencional e plantio direto, pode ser escolhido em função da
praticidade da operação. Na adubação superficial a lanço sob plantio direto, deve-se considerar o potencial poluente do fósforo concentrado na
superfície, que pode ser carreado principalmente por erosão,
eventualmente atingindo represas e cursos d’água. Terraceamento e outras práticas conservacionistas, que visam conter as perdas de solo e
água, são essenciais para minimizar o risco de eutrofização dos corpos d’água por fósforo resultante das atividades agropecuárias, o que já se
tornou um problema com relação à qualidade da água para abastecimento
urbano em outros países. No sistema plantio direto, durante os dois primeiros anos após
a aplicação de calcário na superfície do solo, o fertilizante fosfatado
solúvel, independentemente da disponibilidade de fósforo no solo, deve ser aplicado no sulco de plantio. O pH em água na superfície do solo sob
aplicação recente de calcário no sistema plantio direto atinge valores
próximos a 7, o que pode reduzir a disponibilidade de fósforo do fertilizante fosfatado.
SISTEMAS AGRÍCOLAS QUE POTENCIALIZAM O USO
EFICIENTE DE FÓSFORO
Para o estudo do uso eficiente de fósforo em sistemas agrícolas, utilizaremos alguns critérios de avaliação: a) recuperação, via
cultivos sucessivos, do fósforo aplicado anualmente por determinado
período; b) recuperação, via cultivos sucessivos do fósforo aplicado apenas por ocasião do primeiro cultivo; c) recuperação, via cultivos
sucessivos e extrações sucessivas com resina, do fósforo aplicado
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
27 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
anualmente por determinado período.
O uso eficiente do fósforo aplicado como fertilizante ao solo resulta da interação de vários fatores, tais como: tipo de solo, fonte de
fósforo, dose e modo de aplicação do fertilizante fosfatado, sistema de
preparo do solo e seqüência de cultivos (sistemas integrados). Entre os componentes do solo mais significativos para
aumentar a eficiência de utilização do fósforo aplicado como fertilizante,
destaca-se a matéria orgânica e o aporte de biomassa através dos cultivos, pela importância na ciclagem deste nutriente, reduzindo sua
precipitação e adsorção, e favorecendo a solubilização de fosfatos de
menor solubilidade.
ROTAÇÃO/SUCESSÃO DE CULTURAS
As espécies de plantas utilizadas na rotação/sucessão de
culturas desempenham importante papel no uso eficiente do fósforo
aplicado ao solo, pois diferem entre si quanto ao uso deste nutriente,
como já discutido anteriormente. Em dois experimentos conduzidos na Embrapa Cerrados,
Sousa (dados não publicados) cultivou soja nos três primeiros anos. Nos
seis anos seguintes (4º ao 9º cultivos), em um deles utilizou monocultivo de soja, enquanto em outro, utilizou rotação soja/milho, aplicando neste
período de seis anos 480 kg ha-1 de P2O5 em cada experimento na forma
de superfosfato triplo. O fósforo recuperado nos grãos nesse período foi de 37% na área com cultivos monocultivo de soja e de 74% na área com
secessão soja/milho. A maior taxa de recuperação ou exportação de
fósforo na área com a sucessão soja/milho se deve basicamente à maior produtividade de milho em relação à soja, como também à elevada
capacidade do milho em extrair fósforo do solo, principalmente pela
maior densidade de raízes em relação à soja.
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA
A integração lavoura-pecuária é uma importante opção para
reciclagem e uso eficiente do fósforo utilizado como fertilizante no
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
28 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
sistema, principalmente em decorrência do aumento no teor de matéria
orgânica do solo. Em geral, gramíneas forrageiras, como as do gênero
Brachiaria (B. decumbens, B. humidicola e B. ruziziensis) e o
andropogon, são pouco exigentes em fertilidade química do solo, com capacidade para retirar fósforo do solo em situações nas quais plantas
mais exigentes, como a soja e o milho, não conseguem. Vários
mecanismos ou características podem ser destacados para a Brachiaria: morfologia das raízes; relação entre a quantidade de matéria seca de
raízes e a da parte aérea próxima de 1,0; quantidade de pelos radiculares;
colonização por micorrizas; associações com microorganismos solubilizadores de fósforo na rizosfera (bactérias e fungos); secreção de
fosfatases; e adaptabilidade a condições edafoclimáticas adversas.
Em experimento conduzido na Embrapa Cerrados por 22 anos, avaliou-se o comportamento da fertilização fosfatada, em
Latossolo Amarelo muito argiloso, com teor inicial de matéria orgânica de 3,6%. O experimento era composto de 24 tratamentos com o intuito
de estudar o manejo da adubação fosfatada em culturas anuais e
pastagem (fontes de fósforo, doses e modos de aplicação). Após o 12º cultivo da área experimental, nos tratamentos nos quais se utilizou
cultura anual para produção de grãos (soja por 10 anos sucessivos, milho
por 2 anos, em sistema de preparo convencional) e na sucessão cultura anual/pastagem (soja por 2 anos, pastagem por 9 anos e soja por 1 ano,
sendo os cultivos de soja em sistema de preparo convencional), os teores
de matéria orgânica médios dos 24 tratamentos foram de 2,84% e 3,73%, respectivamente. Portanto, o teor médio de matéria orgânica na área em
que se agregou a componente pastagem foi superior em 31%. A
diferença no teor de matéria orgânica foi maior na camada até 20 cm, reduzindo-se com a profundidade do solo, estando este fato associado
principalmente à distribuição do sistema radicular da Brachiaria.
No 13º ano, foi cultivada soja em sistema de preparo convencional nos dois sistemas, anual e anual/pastagem, para avaliar a
eficiência do uso de fósforo por esta cultura. Observou-se que no sistema
anual/pastagem as produtividades foram superiores às obtidas no sistema anual para o mesmo teor de fósforo no solo, evidenciando maior
eficiência de uso de fósforo neste sistema. Como exemplo, para produzir
3,0 t ha-1 de soja no sistema anual foi necessário ter no solo 6,0 mg dm-3 de fósforo, enquanto no sistema anual/pastagem este valor foi de 3,0 mg
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
29 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
dm-3, ou seja, a metade. Esses resultados podem ser parcialmente
explicados pela reciclagem do fósforo, proveniente da rápida mineralização da matéria orgânica (e consequentemente do fósforo
orgânico) acumulada durante o período da pastagem, que ocorre após o
revolvimento e sua substituição por cultura anual. Além disso, como os cultivos anuais foram feitos em sistema de preparo convencional,
anualmente o revolvimento do solo promovia exposição do fósforo a
novos sítios de adsorção nas argilas, reduzindo sua labilidade no sistema, fato que não ocorreu por nove anos no sistema anual/pastagem.
A maior eficiência do sistema anual/pastagem em utilizar o
fósforo do solo pode ser atribuída à maior capacidade da forrageira, que participou deste sistema por nove anos, em absorver este nutriente e
transformá-lo em biomassa, resultando em aumento significativo no teor
de matéria orgânica do solo, bem como na manutenção do fósforo em formas mais lábeis.
Utilizando-se os dados de fósforo residual no solo (quantidade de fósforo aplicada subtraída da quantidade de fósforo
exportada pelos grãos e pela matéria seca da parte aérea da Brachiaria) e
de fósforo extraível por Mehlich-1 após 13 cultivos da área com sistema anual e anual/pastagem, foi feita regressão linear dessas variáveis para os
tratamentos nos quais a fonte de fósforo era o superfosfato simples. Por
intermédio dessa regressão (intercepto foi considerado zero no ajuste do modelo) obteve-se a quantidade residual de fósforo no solo (kg ha-1
P2O5) para aumentar o teor de fósforo extraível por Mehlich-1 na camada
de 0–20 cm em 1,0 mg dm-3, que é o poder tampão de fósforo do solo. Para o sistema de cultivos anuais, o poder tampão foi de 195 kg ha-1 de
P2O5/mg dm-3 de fósforo (r2 = 0,77), enquanto para o sistema
anual/pastagem, foi de 149 kg ha-1 de P2O5/mg dm-3 de fósforo (r2 = 0,89).
A maior eficiência do sistema anual/pastagem em utilizar o
fósforo e o menor poder tampão de fósforo do solo pode ser atribuído à maior capacidade da forrageira, que participou deste sistema por nove
anos, em absorver este nutriente e transformá-lo em biomassa, resultando
em aumento significativo no teor de matéria orgânica do solo, bem como na manutenção do fósforo em formas mais lábeis.
O menor poder tampão de fósforo para o sistema
anual/pastagem tem como fator importante o maior teor de matéria orgânica, que foi, em média, de 3,73%, enquanto para o sistema anual
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30 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
ficou em 2,84%. No caso das culturas de soja e milho, em média, para
1,0 t de grãos produzidos há retorno ao solo de pouco mais de 1,0 t de restos culturais da parte aérea e raízes; também para pastagens como a
Brachiaria, para 1,0 t de matéria seca da parte aérea produzida há
incorporação ao solo de até 1,0 t de raízes, em períodos de estabelecimento da pastagem longos, como no caso deste experimento,
com nove anos consecutivos sob pastagem. As produtividades, tanto em
termos de grãos das culturas anuais como de matéria seca da parte aérea da Brachiaria, foram proporcionais à disponibilidade de fósforo do solo,
ou seja, da quantidade de fertilizante fosfatado adicionado ao solo.
Portanto, a execução de adubação fosfatada criteriosa, tanto para pastagem como para culturas anuais, proporciona o aporte de restos
culturais e de raízes necessário para a manutenção da atividade biológica
do solo, sendo possível manter, e até mesmo aumentar, o teor de matéria orgânica do solo em relação ao teor original sob vegetação nativa.
Com base nesses resultados, conclui-se que a introdução de pastagens no sistema de produção de grãos aumentou a eficiência do uso
do fósforo aplicado no solo como fertilizante, podendo-se esperar o
mesmo em sistemas de integração lavoura-pecuária bem conduzidos.
SISTEMA PLANTIO-DIRETO
Conforme já apresentado, os fertilizantes fosfatados solúveis
são granulados com o objetivo de facilitar seu manuseio e aplicação ao solo, como também para reduzir a área de contato com o solo,
aumentando sua eficiência em suprir as plantas com fósforo por reduzir a
passagem do fósforo disponível para formas mais estáveis no solo e menos disponíveis para as plantas. Entretanto, em sistemas de preparo
com intensa mobilização do solo a vantagem da granulação do
fertilizante com relação ao seu efeito residual desaparece, reduzindo sua eficiência, como ocorre no sistema de preparo convencional, em que são
feitas arações e gradagens anuais. Quando se mobiliza pouco o solo,
como no sistema plantio direto, o efeito da granulação permanece, aumentando a eficiência do fertilizante aplicado ao solo.
No sistema plantio direto, a exemplo do que ocorre nas
pastagens, em que o solo não é revolvido, o teor de matéria orgânica do
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
31 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
solo aumenta, principalmente nas camadas superficiais, em função do
aporte superficial dos restos culturais e desenvolvimento das raízes. Como é também nestas camadas em que o fertilizante fosfatado está
localizado, há aumento da disponibilidade de fósforo nessa região. O teor
de fósforo no solo também aumenta na região de aplicação, após anos de cultivo da área com em sistema plantio direto, em solo com teor inicial
de fósforo muito baixo.
No período de 15 anos do experimento conduzido na Embrapa Cerrados, avaliou-se a resposta à aplicação anual de 80 kg ha-1
de P2O5 na forma de superfosfato triplo no sulco de semeadura, nos
sistemas de preparo convencional (arado de discos e grade niveladora) e plantio direto, em cultivos de soja e milho. Durante os nove primeiros
anos, não foi utilizada planta de cobertura no inverno e se manejavam as
plantas daninhas a partir do nono cultivo utilizou-se milheto como planta de cobertura nos dois sistemas de preparo do solo. Durante os seis
primeiros anos, não houve diferença na produtividade da soja entre os sistemas preparo convencional e plantio direto; porém, a partir daí, o
sistema plantio direto apresentou maiores produtividades. Entre o 7o e o
15o ano do experimento a soja foi cultivada cinco vezes, observando-se ganho médio de produtividade de 636 kg ha-1 para o sistema plantio
direto em relação ao sistema de preparo convencional, o que representou
aumento de produtividade de 20%. Neste período a cultura do milho foi cultivada quatro vezes e o ganho médio de produtividade do sistema
plantio direto em relação ao preparo convencional foi de 459 kg ha-1, o
que equivale a um aumento de produtividade de 5%. Considerando-se os 15 cultivos, foram produzidos 7,6% mais grãos no sistema plantio direto
em relação ao sistema de preparo convencional, o que equivale a 3.271
kg ha-1 de soja e 2.294 kg ha-1 de milho a mais no primeiro. Esses ganhos em produtividade de soja e de milho no sistema
plantio direto possivelmente se devem: 1) ao não revolvimento do solo
neste sistema, o que reduz o contato do solo com o íon fosfato, diminuindo as reações de adsorção; 2) pela adição do fósforo do
fertilizante em camadas superficiais (sulco entre as profundidades de 5–8
cm), nas quais se concentra o sistema radicular; 3) pela deposição e manutenção dos resíduos das culturas na superfície do solo, com
conseqüente aumento do teor de matéria orgânica nessas camadas. Isso
foi observado em experimento conduzido na Embrapa Cerrados, por 14 anos, onde a disponibilidade de fósforo foi maior no sistema plantio
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
32 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
direto nas camadas superficiais do solo até 10 cm de profundidade,
enquanto o teor de matéria orgânica foi maior até 5 cm.
RECUPERAÇÃO DE FÓSFORO APLICADO
Os fertilizantes fosfatados adicionados ao solo, além do efeito
imediato sobre a cultura que se segue à adubação, também apresentam
efeito residual prolongado nas culturas subseqüentes. Dependendo do
sistema, é possível aplicar uma quantidade única de fertilizante fosfatado
e realizar cultivos sucessivos sem manutenções anuais de fósforo, como ocorre com cana-de-açúcar e pastagens, entre outras culturas. Nos
sistemas de cultivos anuais, é necessário fazer adubação corretiva
quando o teor de fósforo disponível é muito baixo, seguida de adubação de manutenção, que visa repor o fósforo exportado pelos grãos das
culturas. Já em solos com teores médios ou altos de fósforo, apenas a
adubação de manutenção é requerida. Uma forma de avaliar a eficiência
da adubação fosfatada nos sistemas que envolvem cultivos sucessivos e
sistemas de preparo do solo é realizar o balanço de fósforo.
Em geral a recuperação do fósforo dos fertilizantes fosfatados aplicados ao solo pelas culturas (com sucessão ou rotação) é maior no
SPD quando comparado ao SPC, o que sugere que o preparo do solo
reduz a disponibilidade deste nutriente, pela formação de compostos de menor labilidade.
Outra prática que resulta em aumento na recuperação do
fósforo adicionado ao solo é a inclusão nos sistemas de espécies com alta eficiência em extração do fósforo do solo. Um exemplo é a composição
de sistema de cultivos anuais com pastagens. Em experimento conduzido
por 22 anos na Embrapa Cerrados avaliando o manejo da fertilização fosfatada (fontes de fósforo, doses e modos de aplicação), em sistema
exclusivamente com culturas anuais em preparo convencional e com
culturas anuais em preparo convencional e pastagem, em Latossolo Amarelo muito argiloso, obteve-se, em média, recuperação de 40% do
fósforo aplicado como superfosfato simples por ocasião do primeiro
cultivo na área cultivada exclusivamente com culturas anuais. Na área em que se introduziu a pastagem em rotação com as culturas anuais a
recuperação média do fósforo aplicado foi de 75%, ou seja, 88% a mais
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
33 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
do que no sistema composto exclusivamente com culturas anuais.
Entre outras formas de abordar a eficiência do uso de fósforo em sistemas nos quais se aplica o fertilizante fosfatado anualmente,
deve-se considerar a relação (índice de recuperação) entre o que é
exportado pelas culturas e o que é adicionado ao solo como fertilizante. Para esses cálculos, podem ser tomados tanto os dados de apenas um
cultivo como os de um período de cultivos. Para fazer este balanço
(índice de recuperação), o mais interessante seria considerar um período de cultivos suficientemente longo durante o qual as produtividades
anuais das culturas estivessem aproximadamente estáveis (e não
crescentes ou decrescentes). Em experimento conduzido por 15 anos na Embrapa Cerrados
avaliando produtividades de soja e milho em Latossolo Vermelho muito
argiloso com aplicações anuais de 80 kg ha-1 de P2O5 no sulco de plantio na forma de superfosfato triplo, nos sistemas de preparo convencional e
plantio direto foram calculadas as relações (índices de recuperação de fósforo) entre o fósforo exportado e o aplicado, considerando-se
diferentes períodos desse experimento.
Nos 15 anos de cultivos (11 cultivos com soja e 4 com milho), o fósforo recuperado foi de 55% e 59% no sistema de preparo
convencional e no sistema plantio direto, respectivamente. No entanto,
ao considerar os oito últimos cultivos (4 cultivos com soja e 4 com milho), o fósforo recuperado foi de 80% e 87% no sistema de preparo
convencional e no sistema plantio direto, respectivamente e
considerando-se os dois últimos cultivos do experimento (14º com soja e 15º com milho), os índices de recuperação foram de 84% e 94% para os
sistemas de preparo convencional e plantio direto, respectivamente.
Em geral, a taxa de recuperação foi maior no sistema plantio direto quando comparado ao sistema de preparo convencional para todos
os períodos avaliados, também sendo maior no período dos oito últimos
cultivos em relação aos 15 cultivos, em decorrência da maior participação da cultura do milho, com 27% de participação nos 15
cultivos e 50 % de participação nos oito últimos cultivos.
Considerando-se os dois últimos cultivos, percebe-se que mesmo mantendo a mesma participação de soja e milho em relação aos
oito últimos cultivos (50% cada), há tendência de aumento dos índices de
recuperação com o passar do tempo, como conseqüência das melhorias biológicas e químicas que ocorrem no solo, assim como pelo efeito
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
34 Djalma Martinhão Gomes de Sousa et al.
residual do fósforo remanescente acumulado.
Portanto, adotando-se sistema adequado de preparo do solo, sucessão de culturas adequadas, planta de cobertura, acidez corrigida e
adição adequada de outros nutrientes, ou seja, boas práticas para o uso
eficiente dos fertilizantes fosfatados há possibilidade de atingir-se eficiência do uso do fósforo próxima a 100%.
ATUAÇÃO FUTURA – PRIORIDADES DE PESQUISA
PARA A REGIÃO DO CERRADO
Há pouco mais de três décadas, quando a região do Cerrado
passou a merecer mais atenção dos pesquisadores, estudando a
possibilidade da sua inserção no processo produção agrícola, os indicadores em relação ao fósforo não eram animadores.
Com base em estudos da química do solo em laboratório e nos
experimentos em casa de vegetação e nos ensaios de longa duração no
campo, tem-se demonstrado o potencial agrícola da Região desde que
adotando manejo adequado da adubação fosfatada, dos sistemas de
preparo do solo e das espécies de plantas cultivadas. Esses resultados têm auxiliado na transformação do Cerrado em principal produtor dos
produtos agropecuários do País, como soja, milho, carne, algodão etc.
No entanto, ressalta-se a necessidade de continuar com pesquisas a campo, em ensaios de longa duração, com os seguintes
objetivos:
IDENTIFICAR OU OBTER DE PLANTAS MAIS EFICIENTES NO USO DO FÓSFORO.
CONHECER A DINÂMICA DE FÓSFORO NO SOLO EM
DIFERENTES SISTEMAS DE PREPARO. IDENTIFICAR PARÂMETROS BIOLÓGICOS DO SOLO
QUE AUXILIAM AVALIAR A DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO
PARA AS PLANTAS. IDENTIFICAR MANEJO DO FERTILIZANTE, SOLO E
PLANTA QUE MAXIMIZEM A EFICIÊNCIA DO USO DO
FÓSFORO. ESTUDO DE TÉCNICA DE AMOSTRAGEM DE SOLO.
É oportuno enfatizar que as reservas de fosfatos são finitas e o
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
35 II MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
Brasil importa 50% do fósforo utilizado na agricultura.
REFERÊNCIAS
SOUSA, D., M., G., REIN, T., A.; GOEDERT, W.; LOBATO, E.; NUNES, R., S. Fósforo. In: Prochnow, L., I.; Casarin, V.; Stipp, S.,
R. (editores). Boas Práticas para o uso eficiente de fertilizantes:
nutrientes; v.2. Anais ... Piracicaba, 2010. p. 71-132.
36
I I I FER TILID AD E D O SO LO : D O CO NCE ITO
QU ÍM IC O-M INER A LIS TA À PROPR IE D ADE QUE
EMERGE EM S IS TEM AS Q U E SE AU TO -OR GAN IZAM
Ibanor Anghinoni
Departamento de Solo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS. Av. Bento Gonçalves 7712, CEP: 90540-000, Porto Alegre, RS. [email protected]
ORIGEM, EVOLUÇÃO, CARACTERÍSTICAS E
BENEFÍCIOS DO CONCEITO QUÍMICO-MINERALISTA
DA FERTILIDADE DE SO LO
A noção de fertilidade do solo surgiu antes mesma da noção
do próprio solo, quando há cerca de 8.000 aC, o homem iniciou o cultivo de cereais silvestres e a criação de animais domésticos em pequenas
áreas. O primeiro conceito de fertilidade foi enunciado provavelmente
por Collumela em 42 dC, que a considerava como “capacidade continua e renovável de cultivo, indicando a aração para cobrir a semente, o uso
de plantas benéficas para a terra e a aplicação de estrume e calcário”. Por
um longo período, incluindo as Idades Antiga, Média até a Contemporânea, predominava a noção de “nutrimento”, um nome
genérico para referir o alimento que as plantas retiram da terra. Dentre os
vários avanços na evolução do conceito de fertilidade do solo, se destacou a teoria mineralista, proposta por Liebig em 1842. Com base
nessa teoria, cujo fundamento é de que os sais minerais (nutrientes)
solúveis eram o alimento das plantas, consolidou-se o conceito de fertilidade do solo amplamente utilizado no mundo, inclusive no Brasil,
até os dias de hoje.
O princípio da restituição é o fundamento lógico da adubação contemporânea e quando a fertilidade passou a ser mensurada, pelo
desenvolvimento de equipamentos e metodologias de laboratório,
permitiu a análise química do solo, dos adubos e das plantas, o conceito passou a ser considerado como químico-mineralista. O avanço em
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
37 Ibanor Anghinoni
Ciência do Solo e no entendimento dessa fertilidade foi acentuado, nos últimos 150 anos no mundo e nos últimos 60 anos no Brasil. Dentro
dessa visão, as definições atualmente utilizadas no Brasil, são: “estado de
um solo com respeito à sua capacidade de suprir os nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas” (SBCS – CURI et al., 1993) ou
“capacidade do solo de fornecer às plantas nutrientes, em quantidades e
proporções adequadas a manter a ausência de elementos tóxicos para o seu desenvolvimento” (LOPES & GUILHERME, 2007), sendo esta, a
mais utilizada no país.
A aplicação no stricto sensu desse conceito no Brasil ocorreu na década de 1960, como resultado de vários convênios entre órgãos
governamentais brasileiros e do exterior, principalmente dos Estados
Unidos, e do inicio da Pós-Graduação em Ciência do Solo. Programas de Recomendações de Adubação com base na análise química do solo
passaram a ser desenvolvidos, de forma organizada e de abrangência nacional (LOPES & GUILHERME, 2007). A utilização desse modelo
possibilitou conhecer o potencial de resposta das culturas à adubação e à
calagem, o potencial produtivo das culturas e a utilização, em agricultura
de larga escala, de solos ácidos e com baixa disponibilidade de
nutrientes, que ocupam extensas áreas no país, e considerados, até então,
impróprios para a agricultura. Houve, com esses eventos, grande avanço na produção agropecuária no Brasil, especialmente a partir da década de
1970, estimulado pela mecanização agrícola, pelo uso de insumos
modernos (fertilizantes e defensivos agrícolas) e por políticas governamentais de financiamento facilitado à exploração de novas áreas
de cultivo. O maior avanço em novas fronteiras agrícolas foi devido aos
cultivos comerciais de grãos (soja, milho e cereais de inverno), nos campos naturais ácidos, oriundo de rochas basálticas, no Sul e Centro-
Oeste (sul de Goiás e de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul) e,
depois, para a vasta região de Cerrado. Juntamente com o preparo intensivo do solo e o uso de
insumos modernos, especialmente a adubação, por influência norte-
americana, de clima temperado e frio, houve, a partir da década de 1970, um processo acelerado de degradação e erosão do solo, tanto nas áreas
novas como nas antigas, com perdas de eficiência de insumos agrícolas e
drástica redução da produtividade. Foi então que, ao final dessa década, foram iniciados diversos programas de manejo conservacionista do solo;
inicialmente pela drástica redução do preparo (cultivo mínimo), com
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
38 III FERTILIDADE DO SOLO: DO CONCEITO QUÍMICO-MINERALISTA A
PROPRIEDADES QUE EMERGEM EM SISTEMAS QUE SE AUTO-ORGANIZAM
eliminação da queima de resteva e adoção do cultivo de plantas de cobertura, que se refletiram na redução acentuada das perdas de solo e
água por erosão, no aumento na eficiência do uso de insumos agrícolas e
na melhoria na qualidade do solo (MIELNICZUK et al., 2003). Posteriormente, com a implantação do sistema plantio direto (SPD),
lenta no início, porém exponencial a partir de 1993, já ocupava na safra
2000/01, 9,54 milhões de hectares nos três estados do Sul e 17,36 milhões de ha, no país; atualmente área em plantio direto no Brasil está
cerca de 32,0 milhões de hectares (FEBRAPDP, 2011).
Com base em levantamentos periódicos verificou-se melhoria dos atributos químicos do solo (acidez e disponibilidade de nutrientes),
ainda por volta de 1975, que foi aumentando com os anos sucessivos do
sistema plantio direto (2005); satisfazendo-se, nesta instância, todos os preceitos da fertilidade do solo dentro do conceito químico-mineralista;
ficando a produtividade das culturas dependente de outros fatores, dentre eles, os atributos físicos e biológicos do solo, não considerados nessa
avaliação. Apesar dos benefícios inquestionáveis da aplicação do
conceito químico-mineralista e da utilização dos seus preceitos na
evolução da agricultura, verificava-se, na prática, que a avaliação e,
conseqüentemente, o próprio conceito, poderiam não ser suficientes para
expressar a fertilidade do solo percebida pelas plantas em determinados sistemas.
EVOLUÇÃO DO SISTEMA SOLO PELO MANEJO E OS
“RUÍDOS” DO CONCEITO QUÍMICO-MINERALISTA
PARA EXPRESSAR A FERTILIDADE PERCEBIDA
PELAS PLANTAS
Em sua visão técnica, econômica e ambiental, o plantio direto é visto como um sistema de produção que abrange um complexo
ordenado de práticas agrícolas inter-relacionadas e inter-dependentes,
que incluem, além do não revolvimento do solo, a rotação de culturas, o uso de plantas de cobertura para formar e manter a palhada sobre o solo
(Muzzili, 2000) e, mais recentemente, a integração lavoura-pecuária, sob
os pilares da agricultura conservacionista (CARVALHO et al., 2010). Como resultado, ocorre, nesses sistemas, um fluxo contínuo de carbono
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
39 Ibanor Anghinoni
para o solo, alimentando as frações lábeis e recalcitrantes do material orgânico e os processos de (re) agregação do solo, originando estruturas
mais estáveis, conforme caracterizado por Sá (2002), resultando em
rearranjo estrutural, como um todo: nos primeiros cinco anos (fase inicial), re-estabelecimento da biomassa microbiana e rearranjo da
estrutura do solo; no período seguinte, de 5 – 10 anos (fase de transição),
acúmulo de palhada, de carbono e de outros nutrientes (N, P e S) na forma orgânica e formação de macroagregados; no período seguinte, de
10 – 20 anos (fase de consolidação), continua o acúmulo de palhada e de
matéria orgânica do solo, com respectivo aumento da capacidade de troca de cátions e de retenção de água, alta ciclagem de nutrientes; e após
20 anos (fase de manutenção), alto acúmulo de palhada, fluxos contínuos
de carbono e de nitrogênio, alta ciclagem de nutrientes e maior capacidade de retenção de água pelo solo.
Com o tempo de utilização do solo nesse sistema, também passam a ocorrer mudanças na magnitude de relações clássicas entre os
indicadores de fertilidade e destes com a produtividade das culturas, que
podem ser atribuídas ao aumento do fluxo e da retenção de matéria e de
energia no solo e passam a afetar seu o próprio funcionamento
(NICOLODI, 2007). O estabelecimento de novas relações ou mudanças
entre as já existentes tende a diminuir o efeito de um fator isolado e aumentar a importância do efeito das interações na produtividade das
culturas. Com isso, verifica-se aumento de erros, doravante chamados de
“ruídos” (dificuldade em avaliar a expressão de um sistema de cultivo ao longo do tempo na produtividade da planta) nas diversas etapas
componentes do sistema de recomendações de adubação (NICOLODI,
2007). Quanto maior o “ruído”, menor a confiabilidade na avaliação da fertilidade do solo, o que conduz a uma reflexão sobre a adequabilidade
do conceito químico-mineralista em sistemas conservacionistas de
manejo do solo. “Ruídos” ocorrem, portanto, desde a etapa de amostragem do
solo até as próprias recomendações de adubação e calagem. Assim, a
representatividade da amostra é afetada tanto pela variabilidade horizontal (linhas remanescentes de adubo) que aumenta com tempo,
como pela inadequação do procedimento de coleta e pela incerteza da
camada de solo a ser amostrada, devido aos gradientes, que evoluem no tempo. Em relação à metodologia de análises, a moagem do solo, mesmo
destruindo a sua estrutura, construída no tempo não é capaz de anular o
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
40 III FERTILIDADE DO SOLO: DO CONCEITO QUÍMICO-MINERALISTA A
PROPRIEDADES QUE EMERGEM EM SISTEMAS QUE SE AUTO-ORGANIZAM
significado diferenciado de um mesmo valor de determinado atributo químico. Além disso, quando se consideram as curvas de calibração, em
diferentes locais ou anos, “ruídos” são evidenciados pela maior dispersão
dos pontos, onde se verificam situações com valores baixos de indicadores químicos de fertilidade se relacionando com altos
rendimentos e vice-versa (SOUSA et al., 2002; NICOLODI et al., 2008).
Os teores críticos, as faixas de interpretação e as recomendações de adubação em sistemas conservacionistas de uso do solo se diferenciam
em relação ao preparo convencional, necessitando nova calibração
(SCHLINDWEIN & GIANELLO, 2004; NICOLODI et al., 2008), o que pouco tem sido feito no país. Afora isso tudo, tem-se ainda a questão do
alumínio que se mostra menos tóxico à medida que o sistema plantio
direto avança no tempo, efeito atribuído à sua complexação por compostos orgânicos: fúlvicos na solução e húmicos na fase sólida do
solo (SALET, 1998). De fato, os “ruídos” na avaliação da fertilidade do solo,
conforme discutido no trabalho de Nicolodi et al. (2008), há muito têm
sido apontados, mesmo no preparo convencional, levando à idéia de que
o conceito químico-mineralista não seja tão universal quanto
pressuposto. Tais “ruídos“ levaram, desde a metade do século XX, a
muitos questionamentos sobre o real significado desse conceito. Assim, surgiram muito adjetivos ou denominações de fertilidade do solo, sempre
definidos de acordo com o conhecimento e o interesse de cada cientista
(NICOLODI, 2007). A dificuldade de explicar a fertilidade dos solos com as percepções estabelecidas estimulou muitos pesquisadores a
proporem outras denominações, como: geral, agronômica, integral,
inteira, atual, velha, dinâmica, física, química, biológica, mineral, orgânica, ecofisiológica, etc. Em muitas delas, conforme apresentado por
Nicolodi (2007), percebe-se o retorno à visão de uma fertilidade
“inteira”, não restrita ao conteúdo mineral do solo. Isto, porque, o conceito químico-mineralista favoreceu a ilusória convicção de que o
pleno potencial do solo é alcançado com a adubação mineral. Mesmo
assim, ainda hoje permanece a falta de clareza e de consenso sobre o que é a fertilidade do solo e continua a busca de seu entendimento.
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
41 Ibanor Anghinoni
FERTILIDADE COMO PROPRIEDADE EMERGENTE DO
SISTEMA SOLO QUE SE AUTO-ORGANIZA,
REGULANDO SUAS FUNÇÕES ECOSSISTÊMICAS
A noção ou o conceito de fertilidade do solo, em determinada
época é, então, formado (a) por sua percepção pelo homem e é determinado (a) pelo seu conhecimento e pela tecnologia disponível.
Assim, a evolução do solo, como um sistema, interpretada a partir de
atributos estáticos do mesmo (SÁ, 2002), pode ser reinterpretada, de
acordo com Mielniczuk et al. (2003), como um processo de auto-
organização do solo, resultante do balanço positivo de matéria e de
energia. A concepção sistêmica do solo, que funciona em um sistema aberto evoluindo no tempo, remete a uma melhor adequação ao estudo
de serem vivos, pois induzem à priorização das relações e do todo,
contrariamente aos princípios mecanicistas, que priorizam o indivíduo (ADDISCOT, 1995; MIELNICZUK et al., 2003; NICOLODI et al.,
2008; VEZZANI & MIELNICZUK, 2011).
Assim, a interpretação do sistema solo, com base na teoria
dos sistemas abertos afastados do equilíbrio termodinâmico, na teoria
dos fenômenos caóticos e da existência de estruturas dissipativas, leva ao funcionamento complexo nos processos de turbulência, auto-organização
e mudança no nível de ordem (MIELNICZUK et al., 2003; VEZZANI &
MIELNICZUK, 2011). Quanto mais complexas as interações entre e dentro de cada componente do sistema (físico, químico e biológico),
maior é a probabilidade de resultar em propriedades emergentes, que são
importantes na regulação das funções do solo. Assim, nos diferentes
estados de organização, resultantes do manejo do solo, podem surgir
propriedades novas. Em nível superior de ordem, caracterizado pela
presença de estruturas mais complexas (VEZZANI & MIELNICZUK, 2011) e pela grande quantidade de matéria orgânica e energia retida e sua
baixa decomposição, as propriedades emergentes se destacam em
diferentes processos e/ou mecanismos, tais e como resistência às erosões hídrica e eólica, aumento no estoque de nutrientes, adsorção e
complexação de compostos orgânicos e inorgânicos, ativação do
crescimento dos organismos do solo, promoção da ciclagem dos
elementos químicos, seqüestro de carbono, aumento na diversidade
microbiana e do sistema solo, resistência a perturbações e resiliência.
Assim, a passagem do preparo convencional do solo, com balanço
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
42 III FERTILIDADE DO SOLO: DO CONCEITO QUÍMICO-MINERALISTA A
PROPRIEDADES QUE EMERGEM EM SISTEMAS QUE SE AUTO-ORGANIZAM
negativo de matéria e de energia e de alta decomposição (alta entropia = estado de desorganização) para sistemas conservacionistas, passando
pelo cultivo mínimo, plantio direto e, especialmente, pela integração
lavoura-pecuária (em plantio direto), leva à formação de sistemas mais complexos. Nesses sistemas, o animal em pastejo é o catalisador dos
processos sistêmicos, decompondo o material orgânico e determinando a
ciclagem de nutrientes entre os seus compartimentos. O solo é, por sua vez, o compartimento centralizador dos processos e que captura as
modificações no sistema (CARVALHO et al., 2010). O balanço positivo
de matéria e energia, leva à auto-organização do solo com tendência à complexidade (VEZZANI & MIELNICZUK, 2011), pela melhoria e
ganhos em características e propriedades físicas (agregação,
macroporosidade e armazenamento de água), químicas (aumento no teor de matéria orgânica, índice de manejo de carbono e disponibilidade de
nutrientes) e biológicas (biomassa, atividade e diversidade microbiana) do solo, muitas delas consideradas como indicadores de sua qualidade.
Tais melhorias propiciam que o solo exerça melhor as suas múltiplas
funções: de dar suporte e fornecer nutrientes, água e oxigênio às plantas,
que vem a ser a fertilidade no seu sentido amplo, como propriedades que
emergem dos sistemas que se auto-organizam. A fertilidade, neste caso,
deve ser entendida como a capacidade do solo de produzir abundantemente, enquanto o solo, como sistema, executa as suas funções
ecossistêmicas.
CONSIDERAÇÕES
O principal desafio, no momento, reside em entender a fertilidade como capacidade produtiva, enquanto mantém as funções
ecossistêmicas do solo em adição ao conceito químico-mineralista. Para
isso é necessário, inicialmente, aceitar que esse conceito não expressa totalmente a fertilidade percebida pelas plantas cultivadas em sistemas
com alto fluxo de matéria (compostos orgânicos) e baixa dissipação de
energia (decomposição – liberação de CO2). Há necessidade, nesses sistemas, de uma abordagem holística, considerando o solo, quando bem
manejado, funcionando como um sistema que interage, se modifica e
evolui para níveis mais elevados de organização (complexidade), onde a
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
43 Ibanor Anghinoni
fertilidade emerge como uma propriedade do funcionamento do sistema.
REFERÊNCIAS
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Soil Science, 42: 161-168, 1995.
ANGHINONI, I. Fertilidade do solo no ambiente subtropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIENCIA DO SOLO, 30. Solos,
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Brasileira de Ciência do Solo, 2005. p. 1-22 CARVALHO, P. C.F; ANGHINONI, I.; MORAES, A. et al., Managing
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ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
44 III FERTILIDADE DO SOLO: DO CONCEITO QUÍMICO-MINERALISTA A
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45
IV IN TE GR AÇ ÃO LAV O URA -PEC U ÁR IA EM
S IS TEM A P LAN T IO D IRE TO E ATR IB U TO S DE SO LO
Osmar Conte
Departamento de Solo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS. Av. Bento Gonçalves 7712, CEP: 90540-000, Porto Alegre, RS. [email protected]
INTRODUÇÃO
Na conjuntura atual, o sistema integração lavoura-pecuária
(ILP) deve ser visto conforme as particularidades de cada região do
Brasil, independentemente das variáveis que se queira abordar. Ao
menos dois ambientes bem distintos destacam-se, quais sejam: 1)
Sistemas ILP localizados em ambiente tropical, com forte expressão na região Centro-Oeste, mas estendendo-se por outros estados com SP e
MG, onde se tem uma condição particular de clima e de espécies
forrageiras utilizadas. Para essa condição Macedo (2009) aponta pequenos impactos nos atributos físicos do solo devido à introdução da
ILP, e perante algumas situações tem-se inclusive melhoria dos mesmos. As melhorias obtidas devem-se ao uso da ILP na recuperação de áreas
fisicamente degradas, onde a recuperação da fertilidade e uso de espécies
forrageiras com sistema radicular agressivo e elevada produção de biomassa promovendo entrada de carbono no sistema e incrementos na
matéria orgânica do solo, promovem melhorias na agregação e
conseqüentemente na estrutura do solo. 2) Em um cenário completamente distinto tem-se o sistema ILP desenvolvido
especialmente na Região Sul do Brasil, com clima subtropical,
apresentando estações bem distintas ao longo do ano e normalmente com chuva o ano todo, com período frio. Desse modo, se propicia condições
para uso de espécies forrageiras adaptadas ao frio, mas com
comportamento diferentes no tocante à produção de forragem. Nesse contexto o sistema ILP tem como base o uso de espécies usadas como
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
46 Osmar Conte
plantas de cobertura na entressafra, fornecendo forragem aos animais introduzidos sobre áreas de lavoura. As principais espécies forrageiras
neste caso são a aveia preta e o azevém, usados no cultivo individual ou
no consórcio, apresentando excelente qualidade de forragem. Com isso o período de pastejo vai do outono a primavera, dependendo da localização
geográfica, antecipando o mesmo quanto mais se aproximar do ambiente
tropical.
EXPERIMENTAÇÃO EM ILP
As pesquisas em sistema ILP no Brasil têm um histórico
bastante recente, datando do início dos anos 90. Nesse período foram
implantados experimentos em alguns centros da Embrapa na região Centro-Oeste, em ambiente tropical, como em Campo Grande e
Dourados no MS, em Planaltina e Santo Antonio de Goiás em GO e mais
tarde em Sete Lagoas/MG. Sistemas ILP no ambiente tropical tiveram
extrema importância na melhoria da qualidade química, física e
microbiológica dos solos, principalmente diante das condições naturais dos solos do Cerrado.
Na avaliação de impactos do sistema ILP sobre atributos
físicos de solo, o ambiente onde se desenvolve a atividade propicia resultados bem distintos. Na região subtropical o período de pastejo
normalmente é mais chuvoso, apresenta redução nas horas diárias de
insolação e com isso reduzindo as perdas de água para a atmosfera, potencializando impactos dos animais ao solo. Mas apesar de evidente
necessidade de estudos nesse contexto, se dispõe de poucos resultados de
pesquisa, principalmente em experimentos com longo histórico de avaliação. Os estudos pioneiros começaram as ser desenvolvidos pela
Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS na década de 90 sobre Latossolos,
que por sinal representam a maior parte das áreas de produção de grãos de toda a região Sul. Na última década foram iniciados estudos em
ambiente de ILP por uma equipe multidisciplinar da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, envolvendo professores e estudantes das áreas de plantas forrageiras e solos. Estes estudos vêm sendo
desenvolvidos desde o ano de 2001, também em Latossolo, em
experimento localizado em São Miguél das Missões, em área pertencente
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
47 IV INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO E
ATRIBUTOS DE SOLO
à Fazenda Cerro Coroado. Os tratamentos ali instalados são diferentes pressões de pastejo, representadas pela altura de manutenção da
pastagem de aveia preta mais azevém. Nesse experimento está sendo
estudado variáveis relacionadas à pastagem, desempenho animal, assim como na parte de solos. Dados de fertilidade, estoque e dinâmica de
carbono, P, K e N no solo e microbiológicos. Os atributos físicos de solo,
densidade e porosidade, são monitorados desde antes do primeiro pastejo realizado. Mais tarde outras variáveis passaram a ser analisadas, como
resistência do solo à penetração e informações referentes à relação solo-
máquina, como a demanda de força de tração em semeadoras, relacionado estas variáveis às alterações físicas advindas da presença de
animais em pastejo.
Os resultados obtidos até o momento mostram que os efeitos no solo são suaves e apresentam-se na camada superficial, assim como
obtido em outros estudos no país. Porém essas alterações não se refletem no desempenho da cultura subseqüente, neste caso a soja.
Assim como as espécies forrageiras promovem agregação do
solo, pastejo em intensidades moderadas potencializam essa capacidade
(SOUZA et al., 2009) melhorando a estruturação do solo. Esse efeito foi
claramente demonstrado em ambiente tropical (SALTON et al. 2005 e
2008), mas deve-se ter em mente as diferenças quanto as espécies forrageiras utilizadas, principalmente as Brachiárias. Esta tem grande
potencial para produzir forragem, assim como sistema radicular profundo
e abundante, e permanecem em produção no sistema por um período mais longo que espécies subtropicais, onde estas tem o ciclo finalizado
entre 5 a 7 meses, em função da implantação da lavoura de verão.
Nas últimas décadas, o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) tem se tornado mais expressivo no Brasil, sendo aplicado
em uma crescente proporção da área agrícola. Este avanço deve-se aos
inúmeros benefícios que se pode obter por meio da ILP. Mas apesar da crescente adoção deste sistema, ainda persistem dúvidas e
questionamentos sobre possíveis impactos negativos, ligados degradação
de ambientes por sobre utilização, mas principalmente degradação física de solos.
A partir da introdução de animais em sistemas agrícolas
(lavouras) iniciaram-se as preocupações a respeito de impactos sobre a estrutura física do solo. Esse assunto ainda causava desconforto, pois até
a década de 1980, início dos anos 90, ainda se relutava com os efeitos de
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
48 Osmar Conte
intensos preparos primários de solo ocorridos por longos anos, desde o início da chamada revolução verde, iniciada nos anos 60, no Brasil. Até
esse momento era comum elevada perda de solo por processo erosivo,
mas freqüentemente assombrava os produtores rurais, técnico e pesquisadores o problema da compactação de solo, ligado
principalmente ao tráfego de máquinas agrícolas, sobre solo
desestruturado devido a o intenso preparo. Esse cenário reflete bem o que ocorreu na região Sul do país. Com o advento do uso de animais em
ambiente de lavoura, logo surgiu a preocupação de que os mesmos
levariam a problemas de degradação física de solo, principalmente compactação, processo semelhante ao que ocorria em áreas
exclusivamente agrícolas. Mas no contexto que surgiu e se tornou
expressiva a ILP nos últimos anos, principalmente sobre solos do planalto do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, tem-se um
contexto menos propício para surgirem problemas relacionadas a compactação de solo. O fator crucial para isso é o uso de áreas
conduzidas já há alguns anos sob sistema de plantio direto, estando,
portanto consolidado, e com isso menos suscetível a degradação.
Solos que apresentam um longo histórico de uso do sistema
plantio direto normalmente apresentam alguns de seus atributos físicos
alterados, em relação à condição de preparo anual. É comum encontrar os valores de densidade e a resistência do solo à penetração mais
elevados, e de a porosidade, principalmente macroporosidade, reduzidos.
Este é um efeito claro da eliminação dos preparos de solo, anteriormente realizados por arados, grades aradoras e escarificadores, a assim como o
somatório de tráfego agrícola acumulado ao longo dos anos. Dessa forma
a inserção de animais sobre áreas agrícolas acabam se tornando menos impactante, pois as variáveis de solo que poderiam ser afetadas já
apresentam um status semelhante do que possivelmente seria alcançado
pela ação dos animais em pastejo.
INDICADORES FÍSICOS DE SOLO
O tráfego de máquinas e implementos agrícolas tem um
grande potencial para causar efeitos destrutivos na estrutura do solo,
devido às pressões aplicadas sobre a sua superfície. Processo semelhante
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
49 IV INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO E
ATRIBUTOS DE SOLO
ocorre com a presença de animais se deslocando na busca por alimento (forragem), imprimindo ao solo uma pressão resultante de sua massa
corporal sobre a área de contato, no caso os cascos. O pisoteio por
animais tem potencial de causar degradação da estrutura do solo maior do que os pneus de máquinas agrícolas (GREENWOOD & MCKENZIE,
2001). As pressões impostas ao solo por animais são dependentes da
espécie e da categoria animais, e ainda tem interferência de quantos de seus membros locomotores estão apoiados no solo, em função de estar
em repouso ou em movimento. Essa compactação é agravada quando o
solo está com umidade acima do seu limite de friabilidade. No entanto, o tráfego de máquinas e o pisoteio animal têm
características distintas. Pressões exercidas por pneus agrícolas podem se
expressar mais profundamente no perfil do solo, por haver uma relação direta com o efeito em profundidade com a área de contato com o solo,
ou seja, a largura do pneu. No entanto, o tempo e a freqüência do tráfego de máquinas no período agrícola é bastante reduzido, quando comparado
ao pisoteio em toda estação de pastejo. Há, por outro lado, outro fator
agravante, pelo fato do potencial de compactação dos pneus se expressar
em camadas de solo mais profundas, que dificulta a ação de
descompactação de processos naturais (sistema radicular de plantas) ou
antropogênicos (preparos do solo). Portanto, em sistemas de ILP em plantio direto têm efeito
sobreposto de tráfego de máquinas e animais, contribuindo para alterar a
condição física natural do solo. O desafio reside em avaliar se essas alterações causadas por máquinas e animais estão em um nível capaz de
comprometer a produtividade e a sustentabilidade do sistema produtivo e
do meio ambiente. A preocupação não deve delimitar-se ao sistema de produção e sua manutenção ou perda de eficiência produtiva ou
econômica, pois pode haver outros impactos, como a saída de água, de
nutrientes e de elementos contaminantes como decorrência do impacto sobre estrutura física do solo.
DENSIDADE, POROSIDADE E UMIDADE
Mesmo que o ambiente onde se desenvolve a atividade de
integração lavoura-pecuária possa propiciar resultados distintos sobre atributos físicos de solo, isto não foi observado nas diferentes regiões do
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
50 Osmar Conte
Brasil. Assim, tanto em sistemas ILP localizados em ambiente tropical, com forte expressão na região Centro-Oeste, como naqueles localizados
em ambiente subtropical/temperado do Sul do país, os impactos dos
sistemas de integração lavoura-pecuária na densidade e porosidade solo, quando bem manejados, tem sido pequenos e restringindo-se na camada
superficial do solo (0 – 10 cm) e potencialmente reversíveis com a
sequência dos cultivos. Isto facilita ações no sentido de restabelecer a condição prévia, retornando em níveis próximo dos iniciais, seja por
agentes naturais ou por meio das operações de semeadura, como
dispositivos que permitem preparo localizado na linha, realizado por elementos sulcadores.
Na região tropical, (MARCHÃO, 2007, MACEDO, 2009)
apontam pequenos impactos na densidade do solo tendo inclusive melhoria na recuperação de áreas fisicamente degradadas pelo uso e
manejo adequado dessas áreas, como observado na retenção de água. Da mesma forma, na região sul, a densidade do solo
aumentou e a macroporosidade diminuiu com o aumento da intensidade
de pastejo somente na camada superficial, de 0 - 5 cm, retornando,
porém aos valores próximos aos iniciais após o cultivo da soja
(CASSOL, 2003, FLORES, et al., 2007).
RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO E FORÇA DE TRAÇÃO
A resistência à penetração é um método clássico e eficiente para o diagnóstico do estado de compactação do solo (CHANCELLOR,
1994). Os resultados dessa medição no experimento da região Sul
refletem os de densidade do solo, isto é, aumentam com a intensidade de pastejo, não atingindo o limite muitas vezes tomado como crítico (2,0
MPa) para o desenvolvimento das plantas. Essa medida tem também a
restrição da heterogeneidade do solo imposta pelo pisoteio animal. Nesse sentido, a sua medição georeferenciada ou a medição continua da força de
tração medida nas hastes sulcadoras de semeadoras, que é capaz de
diagnosticar alterações na estrutura do solo, pode fornecer um diagnóstico espacializado do estado de compactação do solo. De modo geral, esses
resultados demonstraram que o uso de hastes instrumentadas com
sensores de força de tração e aquisição georeferenciada de dados permite
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
51 IV INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO E
ATRIBUTOS DE SOLO
mapeamento de áreas com maior eficiência do que o uso de penetrômetros de cone (CONTE, 2011).
AGREGAÇÃO DO SOLO
A agregação das partículas minerais e orgânicas que compõem o solo, juntamente com a ação de microorganismo e dos
vegetais, por meio de seu sistema radicular, forma a estrutura do solo. O
solo quando bem estruturado apresenta boas características físicas como baixa densidade e resistência a penetração, elevado espaço poroso
proporcionando boa infiltração e armazenamento de água. Satisfeitas uma
boa condição física de solo também favorece propriedades químicas e biológicas do solo. Na água armazenada no espaço poroso do solo que se
movem os nutrientes necessários às plantas, pois estas captam macro e
micronutrientes da solução do solo. Com a diminuição da porosidade do solo ocorre a descontinuidade dos mesmos e com isso o caminho
percorrido pelos nutrientes entre o solo e a raiz, onde são captados, é
dificultado. A agregação do solo é fortemente favorecida pela matéria
orgânica do solo, que atua como agente cimentante de partículas
minerais. Em sistemas ILP onde o manejo é adequado e a adição de biomassa ao solo permite incrementos no carbono orgânico do solo, a
agregação é favorecida e pode ser avaliada por meio do diâmetro médio
ponderado de agregados (DMP), obtido pelo peneiramento a úmido, ou ainda pelo índice de estabilidade de agregados que é calculado pela razão
do DMP de agregados obtidos no peneiramento seco e a úmido. Por meio
desses índices é possível comparar sistemas de manejo do solo e avaliar o reflexo sobre a estruturação do solo. Atualmente dispõe-se de dados de
pesquisa demonstrando que pastagens bem menejadas em integração com
agricultura promovem o aumento do teor de matéria orgânica do solo e consequentemente melhora a estabilidade de agregados (Salton, et al.,
2008; Grupo…, 2011).
RUGOSIDADE SUPERFICIAL E RETENÇÃO E
VELOCIDADE DE ESCOAMENTO DA ÁGUA
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
52 Osmar Conte
Na maioria das vezes que nos reportamos a efeito do pisoteio animal sobre atributos físicos do solo em sistema ILP, nos referimos
àqueles que se expressam e são medidos no intervalo do horizonte
superficial, e poucas vezes olha-se para o que está acontecendo na superfície. Este fato torna-se relevante à medida que passamos a observar
o que acontece na superfície do solo, onde interage o animal, tocando o
solo sob seus cascos e transmitindo pressão de seu peso na superfície do solo. Nesse momento entra em cena particularidades do processo, como
a reduzida área de contato do animal com o solo, gerando elevadas
pressões exercidas. Mas justamente devido à reduzida área do casco, que representa a área de contato do animal com o solo, que se têm pressões
ditas não confinadas, e com isso permitindo a ruptura da estrutura do
solo lateralmente ao local de interação animal-solo. Esse fenômeno é importante de ser relatado, pois surte efeitos em importantes
características de superfície do solo e que interferem em processos envolvendo a dinâmica de água, assim como tem efeito sobre a planta
forrageira ali presente.
A ruptura da estrutura do solo pelo casco do animal dá origem
a formação de pequenas depressões na superfície do solo, assim como
causa leve revolvimento, expondo solo desestruturado. Importante
ressaltar que esse processo ocorre quando o solo apresenta um teor de umidade mais elevado, não ocorrendo ou sendo pouco expressivo à
medida que o solo vai perdendo conteúdo de umidade. Mas as alterações
na superfície interferem diretamente no processo de infiltração de água no solo, devido à descontinuidade de poros do solo a partir da superfície,
nesse caso diminuindo a taxa de infiltração. Mas esse processo visto por
outro lado promove armazenamento temporário de água nessas pequenas depressões superficiais, dando mais tempo para que ocorra infiltração,
retardando ou reduzindo a enxurradas, e assim, contribuindo com a
sustentabilidade do sistema produtivo e do meio ambiente, por reduzir perdas de solo, água e os contaminantes que nela podem ser carregados.
INDICADORES QUÍMICOS DE SOLO
A dinâmica de nutrientes no solo em sistemas ILP conduzido
em plantio direto tem sido objeto de pesquisa em diferentes regiões do
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
53 IV INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO E
ATRIBUTOS DE SOLO
Brasil perante as particularidades de cada região. Na região Centro-Oeste a ILP tem sido usado como ferramenta para melhoria na fertilidade das
pastagens degradadas física e quimicamente, com reflexos sobre os
índices econômicos das propriedades e recuperação dos solos com relação aos seus atributos físicos, químicos e biológicos. O enfoque nos
estudos de fertilidade do solo nos diferentes ambientes do Brasil tem
sido dado à dinâmica de potássio e fósforo, ciclagem de nutrientes, aspectos relacionados à acidez do solo e ainda a estoques de carbono
orgânico e nitrogênio.
ATRIBUTOS DE SOLO RELACIONADOS À FERTILIDADE
A matéria orgânica do solo pode ser considerada como um
bom indicador de fertilidade do solo por estar diretamente ligada as
reações que ocorrem no mesmo, ser responsável por grande parte da CTC, fazer parte da dinâmica de nutrientes no solo e interagir com a
microbiota. Sistemas de manejo de pastagem ou lavouras que degradam
o conteúdo de carbono orgânico do solo tendem a insustentabilidade com acentuadas perdas de produtividade no tempo. Mas em ILP,
principalmente conduzida em SPD o sistema oferece diversas
ferramentas para melhorar indicadores de fertilidade do solo, a começar pelo incremento de matéria orgânica. A disponibilidade do fósforo
aplicado ao solo em SPD, principalmente aonde já se tenha incremento
na MO, é maior principalmente pela redução na adsorção do mesmo no solo e devido as incremento nas formas orgânicas.
Quanto ao potássio este tem sua dinâmica fortemente
influenciada em ILP, pois tem sua ciclagem aumentada e mediada fortemente pela presença dos animais, sendo que suas excretas (fezes e
urina) são a principal fonte de retorno de K para a pastagem. Sendo
assim, sua ciclagem aumenta conforme a intensidade de uso da pastagem, moderada pelos animais em maior ou menor quantidade. Em
ILP nota-se a formação de um perfil de concentração de K na superfície
principalmente após a pastagem, em relação à área sem presença de animais (FERREIRA, 2009).
ATRIBUTOS DE SOLO RELACIONADOS À ACIDEZ DO SOLO
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
54 Osmar Conte
Em sistemas ILP bem manejados é comum ocorrer aumento da matéria orgânica do solo, com incrementos a partir da superfície. À
MOS é atribuído efeito complexante de alumínio tóxico do solo por meio
de ácidos orgânicos de baixo peso molecular. Constatações como essa são possíveis de serem visualizadas em locais onde não ocorre a
aplicação de calcário há alguns anos e as análises de solo indicam a
presença de alumínio no solo, porém o desempenho das culturas é satisfatório (CONTE, 2011).
Em SPD a aplicação de calcário ocorre na superfície e em
dose reduzida, e no caso de sistemas onde adota-se ILP, o efeito da calagem tem sido melhorado, com aceleração do efeito em profundidade
e melhoria dos indicadores como pH, Ca e Mg trocáveis onde há uma
interface com a ILP. Em estudo de oito anos, Flores (2008) demonstrou esse comportamento dos atributos de solo, com máxima expressão do
efeito de calagem aos 24 meses após a aplicação, sendo que a presença de pastejo aplicado na pastagem de inverno (aveia + azevém),
independentemente da carga animal aplicada promoveu melhoria dos
indicadores de solo. Indicadores de acidez do solo Ca e Mg trocáveis
aumentaram em profundidade na presença de pastejo,
independentemente da altura de manutenção da pastagem.
A ação do calcário em ILP sob SPD é favorecida por diversos fatores que promovem sua descida no perfil do solo, tanto física por
meio de partículas finas, quanto associada a compostos orgânicos
oriundos tanto da decomposição dos residuos vegetais, no caso o residual da pastagem, como dos excrementos dos animais (fezes e urina). A
estrutura física do solo também contribui para essa descida,
principalmente quando se trata de partículas de calcário e esse processo sofre interferência tanto da macrobiota do solo como do sistema
radicular das plantas, que promovem a formação de canalículos
favorecendo a infiltração de água no solo e assim permitindo o araste de calcário.
INDICADORES BIOLÓGICOS DO SOLO
No ambiente ILP ocorre adição constante de resíduos vegetais
ao solo, seja por meio da cultura ou pela pastagem, acrescentada de
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
55 IV INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO E
ATRIBUTOS DE SOLO
esterco e urina dos animais. Desta forma, disponibilizam-se fontes de energia passiveis de serem usadas pelos microorganismos do solo
durante todo o ano, e com isso a atividade microbiana no solo tende a ser
maior. Em sistema SPD onde todas as adições acorrem na superfície do solo a ação dos microorganismos é lenta e duradoura. A fase pastagem
pode promover a atividade microbiana por meio de seu sistema radicular
que é intenso, seja pela morte das plantas no final do ciclo ou por meio de seus esxudados, a nível de rizosferra, que são usados como fonte de
carbono.
O que tem se observado em experimentação é que a atividade microbiana no solo é diretamente proporcional a quantidade de resíduos
adicionada ao solo. Mas também observou-se que a respiração e
atividade microbiana aumentam com intensidades crescentes de pastejo, atribuídas ao incremento de fezes e urina dos animais e também a
promoção do sistema radículas das forrageiras, que é maior quanto mais intenso o pastejo (Grupo…, 2011).
A diversidade biológica também é um indicador para se
avaliar sistemas ILP. Em pastagens o número de espécies encontradas
por área é maior que em ambiente só de lavouras. No entanto, quando se
trata de sistemas integrados (ILP) a diversidade é maior que em
pastagens e até mesmo que ambiente natural, como no Cerrado Brasileiro (MARCHÃO, 2007). Avaliada por meio do Índice de
Shannon, a diversidade microbiológica em ILP mostrou um valor mais
elevado para esse índice que em outros sistemas agrícolas (Grupo…, 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral os resultados de pesquisas indicam que os
atributos físicos de solo são os que sofrem maior interferência pela presença animais em sistema ILP. No entanto, as alterações observadas
são pouco significativas e não comprometem a produtividade do sistema.
Este cenário possivelmente ocorre, pois há melhorias nos atributos químicos e biológicos do solo, que possivelmente compensam os
impactos físicos, mediados principalmente pela matéria orgânica do solo,
melhoria na disponibilidade de nutrientes pela ciclagem acelerada e pela
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
56 Osmar Conte
intensa atividade de biológica, tanto de microorganismos como da meso e macro fauna do solo, que são favorecidos tanto em SPD como na ILP.
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ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
58 Osmar Conte
pecuária em plantio direto, submetido a intensidades de pastejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 33, 1829-1836, 2009.
59
V M ANEJ O D A ADUB AÇ ÃO N A CU LTU R A D A C AN A
Fábio L. F. Dias, Raffaella Rossetto & André C. Vitti
APTA- Pólo Regional Centro Sul – Piracicaba SP.
Nas áreas de expansão da cana no Estado de São Paulo, e nas
áreas de cerrado (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás),
encontram-se muitos solos arenosos, distróficos, álicos e ácricos. São os
Latossolos de textura média a arenosa, Argissolos, Neossolos
Quartzarênicos, Neossolos Litólicos, Cambissolos entre outros. Em
geral são ambientes de produção inferior, classificados como ambientes
C, D e E. O manejo adequado desses solos pode elevar o patamar de
produtividade, principalmente onde os índices pluviométricos mensais
ideais para a cultura e temperaturas elevadas agravam o problema de alta
evapotranspiração. Aumentando ainda mais esse problema, é comum a
esses solos o baixo poder de armazenamento de água. Um solo eutrófico
de textura arenosa pode apresentar produtividade muito menor que um
solo distrófico de textura argilosa, apenas pelo menor armazenamento de
água. Portanto, a fertilidade do solo está intimamente ligada à física do
solo. Assim questões como o baixo armazenamento de água ou a
compactação influenciam muito a fertilidade e a capacidade do solo em
fornecer nutrientes para a cana. A escolha da variedade a ser plantada é
primordial e deve levar em consideração os ambientes de produção, que
são definidos para a cana-de-açúcar levando em consideração as
propriedades: 1) do clima – temperatura, evapotranspiração e
principalmente a precipitação; 2) do solo – considerando aqui as
propriedades físicas e químicas até a profundidade de ao menos 60 cm;
além da topografia, da pedregosidade, presença de impedimentos físicos
ou químicos, etc.
Vale lembrar que não temos ainda variedades fortemente
adaptadas ao déficit hídrico que é muito acentuado nessas regiões de
expansão, e motivo de intenso estudo nos programas de melhoramento
atuais.
Os principais problemas nutricionais encontrados nas áreas de
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
60 Fábio L. F. Dias et al.
expansão da cana estão relacionados na Tabela 1.
Tabela 1. Principais problemas nutricionais relacionados com a
fertilidade e física dos solos das áreas de expansão da cana-de-açúcar.
1. Baixo teor de matéria orgânica
2. Baixa CTC, baixa retenção de cátions
3. Alta acidez
4. Baixa presença de bases – Ca, Mg, K
5. Baixos teores de Fósforo disponível
6. Baixo armazenamento de água, alta evaporação
7. Susceptibilidade à erosão e conseqüente perda de nutrientes
8. Perdas de nutrientes por lixiviação
9. Deficiência de micronutrientes (boro e zinco principalmente)
10. Baixo teor de silício disponível
Com a elevação dos custos dos fertilizantes algumas práticas
passaram a ter ainda maior importância no manejo da fertilidade, quer
seja pela boa relação custo/benefício ou por melhorar a eficiência de
utilização dos nutrientes fornecidos pela adubação. Discutiremos nos
itens abaixo os principais problemas nutricionais das áreas de expansão e
as medidas para solucioná-los ou amenizá-los.
CALAGEM E GESSAGEM
A calagem é prática com favorável relação custo/benefício
para esses solos. Além de corrigir a acidez neutralizar o alumínio tóxico,
a presença do cálcio estimula o crescimento das raízes. Ocorre que o
efeito da calagem fica restrito à camada de preparo do solo. Com a atual
tendência de baixa movimentação do solo, no preparo mínimo, ou no
plantio direto, verifica-se que a acidez de subsuperfície não é corrigida.
Melhorar o ambiente em subsuperfície é uma prática que freqüentemente
está associada ao aumento da produtividade dos canaviais, por promover
o aprofundamento do sistema radicular e com isto aumentar a resistência
ao déficit hídrico. Portanto, o calcário incorporado em profundidade,
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
61 V MANEJO DA ADUBAÇÃO NA CULTURA DA CANA
com arado de aiveca é uma prática indicada.
O calcário corrige a acidez apenas na camada onde foi
incorporado, por se tratar de material insolúvel e de baixa mobilidade
que depende da acidez para se dissolver. Além disso, o carbonato, que é
o ânion formado após a dissolução do CaCO3 reage formando CO2, que
se dissipa no solo, deixando os cátions Ca e Mg livres para serem
adsorvidos pelas cargas negativas do solo. Mas, incorporar o calcário
em profundidade pode incorrer em aumento do custo da operação de
preparo do solo, muito embora incorporações profundas (a 45 cm de
profundidade, feitas com arado de aiveca) tem demonstrado aumento da
produtividade. Para algumas situações então, indica-se o uso do gesso,
aliado ao calcário, como se verá mais adiante.
A calagem está indicada sempre que o solo tiver saturação de
alumínio maior que 30% e ou teor de cálcio menor que 1,0 cmolc dm-3 e
teor de magnésio menor que 0,4 cmolc dm-3.
A aplicação de gesso pode ser vantajosa sempre que o solo
tiver na camada de 40 a 60 cm de profundidade teor Ca < = 0,4 cmolc
dm-3 ; teor de Al+3 +> 0,5 cmolc dm-3 e/ou saturação por Al3+ (m) >
30%.
MANTER A PALHADA SOBRE O SOLO
Em regiões onde existe forte déficit hídrico, e/ou em condições de
solo com baixo armazenamento de água e grande perda por evaporação,
é muito importante manter a palhada sobre o solo. A palhada pode ter
inúmeras funções entre proteger o solo da erosão e melhorar as
propriedades físicas e químicas. Assim, as funções da palhada em manter
a umidade, aumentar a infiltração e contribuir para a menor
evapotranspiração, podem ser decisivas para a produtividade na região
oeste de São Paulo, norte de Minas, Mato Grosso e Goiás.
Como fornecedora de nutrientes, a palhada deve sofrer a ação
dos microrganismos durante a mineralização. A taxa de mineralização
depende de uma série de fatores como a relação C/N da palhada, que é
bem alta, entre 50 e 60, o teor de lignina e polifenóis contidos, o tipo de
solo, seu pH, o teor de matéria orgânica já existente e os fatores
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
62 Fábio L. F. Dias et al.
climáticos como temperatura, umidade.
A presença da palhada também faz com que muitas raízes se
desenvolvam próximo da superfície, o que pode trazer efeitos negativos
em função da menor exploração do solo e da baixa resistência à seca e ao
mesmo tempo, efeito benéfico para o aproveitamento de adubação
aplicada em área total e/ou sem incorporação.
AUMENTAR A MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO – USO
DE CULTURAS EM ROTAÇ ÃO
O próprio cultivo da cana sem queimar adiciona matéria orgânica
representada pela palhada que permanece sobre o solo. Além disso,
também gera grande quantidade de matéria vegetal representada pelas
raízes que permanecem no solo. Essas quantidades variam em média de
0,8 a 2 t ha-1 de matéria seca de raízes. A palhada acrescenta de 8 a 20 t
ha-1 de matéria seca. O uso de resíduos como torta de filtro e vinhaça
também são aportes importantes de matéria orgânica e nutrientes. O
cultivo de outras espécies em áreas de reforma, pode além de todos os
benefícios da adubação verde, representar renda extra ao agricultor, e
contribuir também para o aporte de matéria orgânica. A soja, o
amendoim, a crotalária e a mucuna são exemplos de culturas eficientes
na fixação biológica de N, e podem fornecer o nitrogênio que foi fixado
do ar atmosférico para a cana planta
ELEVAR O TEOR DE P DO SOLO
Os solos das áreas de expansão da cana apresentam baixo teor de
fósforo. No Estado de São Paulo, as análises de solo realizadas pelo IAC
demonstram o aumento ao longo dos anos, da frequência de amostras
com teor muito baixo de P, indicando que realmente as áreas de
expansão da agricultura (principalmente de cana) tem deficiência desse
nutriente (Figura 1).
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
63 V MANEJO DA ADUBAÇÃO NA CULTURA DA CANA
0
10
20
30
40
50
60
70
Muito Baixo
Baixo Médio Alto Muito alto
1992
1996
2007
(mg dm-3)
Muito baixo 0-5
Baixo 6-12
Médio 13-30
Alto 31-60
Muito Alto >60
Figura 1. Teores de fósforo em amostras de solos do Estado de São
Paulo.
A fosfatagem que é a aplicação de fontes de P em área total,
na época de preparo do solo, antes do plantio da cana planta é uma
prática indicada para solos com teor muito baixo de fósforo (menor que
12 mg/dm-3) e preferencialmente com baixo teor de argila. A fosfatagem
pode ser feita utilizando fosfatos naturais, que devem ser incorporados
ao solo em geral em doses de 150kg/ha de P2O5, antes da calagem, pois
estas rochas se solubilizam em condições ácidas. Indica-se também o uso
de fosfatos reativos e termofosfatos para a fosfatagem, mas estes devem
ser aplicados após a calagem, em doses de 100 kg/ha de P2O5. A torta de
filtro entre 80 e 100t/ha também pode ser utilizada em área total.
ADUBAÇÃO - MELHORAR A EFICIÊNCIA E REDUZIR
PERDAS
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
64 Fábio L. F. Dias et al.
A cada corte da cana-de-açúcar a produtividade se reduz
gradativamente, e as diferenças entre a produtividade da cana planta e da
primeira soqueira são bem maiores que as diferenças encontradas entre o
5º e o 6º corte. O grau de diminuição da produtividade ao longo dos
cortes é uma característica do potencial genético da variedade, uma vez
que grande energia é gasta para a rebrota a cada ano, além das condições
de fertilidade do solo e de outros fatores de produção que devem ser
mantidos. A adubação adequada aumenta a produtividade da cultura,
reduz a queda de produtividade entre os cortes e assim, contribui para a
maior longevidade do canavial.
A Figura 2 preparada com os dados obtidos por Orlando Filho
et al. (1994), apresenta a queda da produtividade da cana-de-açúcar nos
diferentes ciclos da cultura e como a adubação pode reduzir o impacto da
queda da produtividade. Verifica-se que nas condições desse
experimento em Neossolo quartzarênico, a redução da produtividade ao
final da terceira soqueira representou 45%. Com a adubação NPK+S
(usando gesso) a produtividade reduziu-se em 26% ao final da terceira
soqueira. Na somatória dos 4 cortes, para a testemunha sem adubação, a
produtividade alcançou 424 t enquanto o tratamento NPK+S acumulou
511 t, quase 100 t a mais no período de 4 anos, considerando que trata-se
de um solo bastante arenoso e de baixa fertilidade.
Aumentar a eficiência do uso dos fertilizantes e reduzir as perdas
de nutrientes no sistema, também devem ser metas para o manejo da
cana nos solos das área de expansão. As práticas de conservação do solo
e o control do tráfego sobre o canavial reduzem perdas por erosão e a
aumentam a eficiência de utilização dos fertilizantes.
Alguns fertilizantes revestidos com polímeros visam liberar os
nutrientes lentamente e minimizar perdas. Precisamos ainda de maiores
estudos para a viabilização desses novos insumos.
A adubação no solos das áreas de expansão deve considerar
também possíveis deficiências ou baixa disponibilidade de
micronutrientes e de silício.
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
65 V MANEJO DA ADUBAÇÃO NA CULTURA DA CANA
Figura 2. Variação da produtividade da cana variedade SP70-1143 (t.ha-
1) em 4 anos de cultivo, nos tratamentos adubados e não
adubado (Fonte: adaptado de Orlando Filho et al. 1994). Obs.
NPK cana planta (CP)= 41-180-200 kg.ha-1 de N-P2O5-K2O;
socas= 80-00-200kg.ha-1 de N-P2O5-K2O; gesso (G)= 65
kg.ha-1 de S
Finalmente, a agricultura de precisão será uma importante
ferramenta para racionalizar o uso dos fertilizantes e assim contribuir
para maior eficiência e consequentemente, menores perdas.
REFERÊNCIAS
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70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
can
a (
t/h
a)
Test
NPK
NPK+G
Test 144 106 95 79
NPK 145 120 116 107
NPK+G 152 132 114 113
CP 1soca 2soca 3soca
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
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1, p. 271-287.
67
V I USO DE FER T ILIZ AN TE S E CORRET IV OS EM
P AS TAGE NS
Lourival Vilela¹, Geraldo B. Martha Jr.²
¹Pesquisador da Embrapa Cerrados, [email protected].
²Pesquisador da Embrapa Estudos e Capacitação. Bolsista CNPq.
INTRODUÇÃO
A pecuária de corte é frequentemente taxada como um setor
pouco produtivo, que somente se torna viável como alternativa
econômica pela expansão da área de pastagem. Essa, no entanto, é uma visão distorcida e equivocada do setor. De fato, a pecuária, na sua
origem, foi uma atividade pioneira, associada à expansão da fronteira
agrícola, em resposta à conjuntura macroeconômica e aos valores da sociedade no passado, que apontavam para a necessidade de ocupar o
território. Entretanto, nas últimas décadas, o modelo de produção da
pecuária mudou sensivelmente e passou a priorizar tecnologias mais intensivas em capital, as quais vêm gerando significativos ganhos na
produtividade e, consequentemente, um expressivo efeito poupa-terra
(MARTHA JR. et al., 2010). Conforme análise de Martha Jr. et al. (2011), com base nos
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1950
e de 2006, a produção nacional de carne bovina foi de 1.084 e 6.887 mil toneladas de equivalente-carcaça, respectivamente. A produtividade
passou de 10,1 kg/ha, em 1970, para 43,4 kg/ha de equivalente-carcaça,
em 2006, representando um robusto ganho de produtividade da ordem de 2,64% ao ano. Estes ganhos responderam por cerca de 79% do
crescimento da produção (5.803 mil t de equivalente-carcaça), que
cresceu a taxas anuais de 3,36% no período. A expansão da área de pastagens, de 107,6 para 158,8 milhões de ha – equivalente a uma taxa
de crescimento de 0,70% ao ano, explicou menos de 21% do aumento na
produção do período 1950-2006. Quando esses ganhos devidos à taxa de lotação e ao desempenho animal na pecuária de corte para o período de
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
68 Lourival Vilela & Geraldo B. Martha Jr
1950-2006 foram computados, encontrou-se “efeito poupa-terra” de 525 milhões de hectares. Isso significa que sem estes ganhos, para se obter a
mesma produção, o adicional de 525 milhões de hectares teriam que ser
incorporados à produção. Entretanto, a perda de produtividade das pastagens, em razão,
principalmente, do manejo animal inadequado e a falta de reposição de
nutrientes é o fator que mais tem comprometido a sustentabilidade da produção animal a pasto, sobretudo na região dos Cerrados (MACEDO,
2009). De acordo com Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2006), a
porcentagem de pastagens plantadas degradadas é de 9,5% (4,3 milhões de hectares) para o Cerrado e 9,7% (9,8 milhões de hectares) para Brasil.
Esses valores são muito inferiores aos sugeridos na literatura, de 50% a
80% (VIEIRA E KICHEL, 1995, BARCELLOS, 1996), que considera os diferentes graus de degradação de pastagens.
Outra informação interessante extraída dos dados censitários de 2006 foi que apenas 2,4% dos estabelecimentos agropecuários do
Cerrado declararam que adubam pastagens. A porcentagem de pastagens
degradadas no Cerrado de 9,5% vis-à-vis 2,4% de estabelecimentos que
adubam as pastagens permite inferir que a área de pasto degradado foi,
provavelmente, subestimada pelos produtores. Dentre os fatores que
explicam a perda de produtividade das pastagens, a falta de cuidados para com a fertilidade do solo, assume posição de destaque.
Se adubação de pastagem (implantação e manutenção) fosse
prática comum nas propriedades, o efeito poupa-terra encontrado por Martha Jr. et al. (2011) teria sido maior. De acordo com o último Censo
Agropecuário, de 2006, o efetivo bovino brasileiro era de 171 milhões de
cabeças. Considerando uma estimativa conservadora de 25% de adoção de sistemas sustentáveis de produção com uso baixo a moderado de
insumos, determinando ganhos líquidos nas taxas de lotação de 0,06 a
0,66 cabeças/ha sobre a média de 2006 (1,09 cabeças/ha), seria possível disponibilizar para outros usos (atividades agropecuárias e florestais e
recuperação de áreas de vegetação nativa) de 2,08 a 14,82 milhões de
hectares (MARTHA JR. et al., 2010). Numa visão de futuro, é importante internalizar que será
necessário expandir a produção de alimentos, fibras e biocombustíveis
no país. Porém, não basta mais apenas aumentar a produção. Essa expansão da oferta de alimentos deverá ocorrer respeitando critérios de
sustentabilidade, que abrangem as dimensões técnico-econômica, social
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
69 VI USO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS EM PASTAGENS
e ambiental. Assim, evitar o avanço da fronteira agrícola, por exemplo, pela substituição de pastagens de baixa produtividade no Cerrado por
outros usos agrícolas – alimentos, fibras e energia – constitui uma ação
prioritária. A mitigação da emissão de gases de efeito estufa tem sido
uma preocupação crescente nos últimos anos. Nos sistemas
agropecuários, em particular, a emissão de metano a partir da fermentação entérica de ruminantes e de óxido nitroso proveniente do
uso de fertilizantes nitrogenados podem ser consideradas as principais
fontes, tanto pela quantidade emitida, quanto pelos potenciais de aquecimento global (IPCC, 1995, FAO, 2006). Dessa forma, estratégias
que minimizem a emissão desses gases ou que atuem como dreno de
carbono da atmosfera são desejáveis. A recuperação de pastagens degradadas é oficialmente
reconhecida pelo governo brasileiro como alternativa para redução das emissões de gases de efeito estufa pela agropecuária. Na proposta
apresentada na 15ª reunião da conferência das partes (COP 15) do painel
intergovernamental sobre mudança do clima, a iLP foi mencionada como
uma das ações mitigadoras nacionalmente apropriadas (Nationally
Appropriate Mitagation Actions - NAMAs). Nesse documento, o
governo se comprometeu recuperar 15 milhões de ha de áreas de pastagens degradadas, o que reduziria a emissão de 83 a 104 milhões de
toneladas de CO2eq até o ano 2020.
O desenvolvimento de alternativas para o restabelecimento da capacidade produtiva das pastagens cultivadas é fundamental para
alcançar a sustentabilidade e aumentar a eficiência de uso da terra pela
pecuária bovina no Cerrado. Entre essas alternativas, a adubação, nas fases de estabelecimento e de manutenção, tem papel central nesse
processo. Se essa prática não for economicamente viável, a
sustentabilidade da pecuária bovina a pasto no Brasil está seriamente comprometida.
FATORES CONDICIONANTES PARA O USO DE
FERTILIZANTES EM PAS TAGENS
Os sistemas de produção de bovinos mais utilizados no Brasil,
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
70 Lourival Vilela & Geraldo B. Martha Jr
sobretudo no Cerrado, foram e continuam sendo aqueles extensivos, baseados no uso de plantas forrageiras adaptadas às condições
edafoclimáticas da região. Esse modelo extrativista de utilização de
pastagens, em solos com aptidão agrícola desfavorável, justifica, pelo menos em parte, os baixos índices zootécnicos e as baixas
produtividades e lucratividades da pecuária de corte.
Nesses sistemas de produção, raramente utilizam-se corretivos e fertilizantes, particularmente na fase de manutenção da
pastagem, agravando o problema da baixa fertilidade dos solos de
Cerrado. Nessas situações, observa-se o desbalanceamento entre a exigência nutricional da planta forrageira e a capacidade de fornecimento
de nutrientes (e outras condições favoráveis ao crescimento vegetal) pelo
solo (MARTHA JR. & VILELA, 2002). Por um lado, a exigência por nutrientes das plantas forrageiras
tropicais é elevada. A demanda por N, P e K, para produção de 1,0 t/ha de forragem e dependendo da espécie, pode ser de 12 a 20, 0,8 a 3,0 e 12
a 30 kg/ha, respectivamente. Por outro lado, a baixa fertilidade da
maioria dos solos do Cerrado restringe o crescimento vegetal, tanto em
razão da acidez elevada e dos níveis tóxicos de alumínio, como pela
baixa capacidade de fornecimento de nutrientes (baixos teores de bases
trocáveis, fósforo, enxofre, micronutrientes e nitrogênio). Em razão da baixa fertilidade química dos solos do Cerrado –
45% das pastagens cultivadas do Brasil estão nessa região – e da elevada
exigência em nutrientes das plantas forrageiras, na intensificação dos sistemas de produção animal em pastejo deve-se considerar,
obrigatoriamente, investimentos em corretivos e fertilizantes. As
adubações, por aumentarem a produção e a qualidade da forragem, atuam, positivamente, sobre os dois fatores determinantes primários da
produtividade animal em pastagens: a taxa de lotação e o desempenho
dos animais. Ganhos em produtividade provenientes do progresso tecnológico e do crescimento na escala de produção são quesitos
fundamentais para assegurar a redução dos custos marginais médios e,
portanto, a viabilidade econômica do empreendimento no médio-longo prazo (BARROS et al., 2004).
Essas constatações, em associação com a conscientização da
necessidade de maior profissionalização dos empreendimentos de pecuária a pasto, justificam o crescente interesse de técnicos e produtores
pela adubação de pastagens. Infelizmente, o esforço para melhorar a
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
71 VI USO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS EM PASTAGENS
nutrição e produtividade da planta forrageira no país, por meio da adubação, ainda é muito limitado: em 2006, 1,6 % dos estabelecimentos
com pastagem do Brasil declararam usar fertilizantes (IBGE, 2009).
O sucesso da adubação de pastagens depende do perfeito entendimento das inter-relações entre recursos, atividades e influências
externas que compõem e determinam o sistema de produção animal em
pastejo (i.e. componente físico, vegetal, animal, de manejo, econômico, político e sócio-cultural; MARTHA JR. & VILELA, 2002). Em razão
desse caráter complexo e multidisciplinar dos ecossistemas de pastagens,
demandando abordagens sistêmicas e gerenciamento eficiente do empreendimento, fica evidente a importância de assistência técnica para
que as metas idealizadas para o sistema de produção sejam atingidas.
Possivelmente, as razões que determinam o uso limitado de fertilizantes em pastagens seriam, segundo Mays et al. (1980) e Martha
Jr. & Vilela (2002): 1) as plantas forrageiras são consideradas culturas de baixo valor
e, portanto, não justificam o uso de corretivos e fertilizantes;
2) as perdas na produção de forragem, em razão da baixa
fertilidade do solo não são sempre óbvias, particularmente em condições
de pastejo;
3) é difícil para o pecuarista mensurar o retorno econômico do fertilizante aplicado ao pasto (R$ de lucro advindo do uso do fertilizante
por hectare);
4) o manejo da pastagem praticado em muitas propriedades não contempla a utilização eficiente da forragem extra produzida pela
adubação; e
5) o uso limitado de assistência técnica pela maioria dos fazendeiros.
Pelo prisma econômico, vale destacar, adicionalmente, que
para o produtor rural os recursos naturais são insumos cujo valor decorre da capacidade que têm de gerar renda na forma de um fluxo de bens
destinados ao mercado (CUNHA et al., 1994). Desse modo, esses autores
argumentaram que os “insumos” serão utilizados em intensidade dependente do impacto causado sobre o fluxo de caixa e que, em última
análise, se a terra for fator abundante, provavelmente faltarão estímulos à
inovação poupadora de terra. Além disso, a tomada de decisão pela adubação de pastagens
esbarra nos riscos e incertezas inerentes aos processos biológicos
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
72 Lourival Vilela & Geraldo B. Martha Jr
(respostas variadas do pasto e do animal ao fertilizante) e às condições econômicas ao qual o negócio está submetido (termos de troca
desfavoráveis, reduzido investimento de médio e longo prazo, elevada
taxa de juros de empréstimos bancários, etc.) (MARTHA JR. et al., 2004). A esses fatores soma-se a volatilidade “da solução ótima para a
adubação de pastagens”, que depende sobremaneira da habilidade do
produtor comprar e vender animais e das ilimitadas combinações entre nível, proporção e velocidade de intensificação da adubação de
pastagens, que afetam tanto o desempenho econômico atual do sistema
como aquele de médio e longo prazo. Portanto, otimizar as respostas da adubação em sistemas
pastoris implica conhecer e praticar intervenções, quando necessário, nos
principais componentes e interações que compõem e determinam a eficiência bioeconômica da adubação de pastagens.
A eficiência do uso de fertilizantes, em lavouras de grãos, é medida pela razão entre kg do nutriente aplicado/tonelada de grão. Em
pastagens essa eficiência pode ser estimada de maneira semelhante, pela
razão entre kg de massa seca (MS) de forragem/kg de nutriente aplicado.
Contudo, a eficiência bioeconômica da adubação de pastagens depende,
adicionalmente, da eficiência de conversão do nutriente do fertilizante
em forragem, da eficiência de pastejo e da eficiência de conversão da forragem consumida em produto animal (kg MS/kg de ganho de peso
vivo – GPV – ou kg de leite). Estas três eficiências definem a eficiência
global do uso do nutriente do fertilizante na produção animal (por exemplo, kg GPV/kg de nutriente aplicado). A associação do parâmetro
kg GPV/kg nutriente aplicado com os termos de troca (i.e insumo-
produto) de uma dada região determina a eficiência bioeconômica da adubação de pastagens (MARTHA JR. et al., 2004).
O produto das três eficiências parciais – kg MS/kg de
nutriente aplicado, eficiência de pastejo e kg MS/kg de produto animal – define a eficiência de uso do nutriente do fertilizante na produção animal
(kg de produto animal/kg de nutriente aplicado). Exemplificando, em
pastagens de gramíneas tropicais, na média de 105 observações, esse valor foi de 1,45 kg GPV/kg N aplicado (Martha Jr. et al., 2004). Berg
& Sims (1995) estimaram o efeito residual da adubação nitrogenada em
0,63 kg de GPV/kg N aplicado. No caso de adubações com fósforo, Sousa et al. (2004) calcularam que 1 kg de P2O5 aplicado ao pasto
produz, em média, 0,8 a 1,2 kg de ganho de peso. Considerando o efeito
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
73 VI USO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS EM PASTAGENS
residual desse nutriente no solo, a eficiência de conversão do P-fertilizante em ganho de peso vivo poderia atingir valores de cerca de 5 a
6 kg GPV/kg P2O5.
INTENSIFICAÇÃO DO USO DE FERTILIZANTES EM
PASTAGENS
No processo de intensificação do uso de fertilizantes em
pastagens, três aspectos devem ser considerados: o nível, a proporção e a velocidade da intensificação (VILELA et al., 2004). Conforme discutido
por esses autores, tem-se:
a) Nível de intensificação: refere-se à magnitude do uso de recursos no sistema, que pode variar, consideravelmente, em razão dos
objetivos e das peculiaridades inerentes a cada sistema;
b) Proporção de intensificação: proporção de área da fazenda intensificada, normalmente em diferentes níveis, uma vez que o nível de
intensificação em uma fazenda de pecuária é dificilmente homogêneo.
c) Velocidade de intensificação: reflete a variação da intensidade de uso de recursos em uma propriedade, considerada como um todo, em
função do tempo. Quanto maior a velocidade de intensificação, maior o
impacto negativo nos fluxos de caixa da propriedade logo depois do investimento até que o mesmo seja pago pelo acréscimo na receita
proveniente da comercialização dos produtos.
A decisão por adubar uma área maior com menor quantidade de fertilizantes seria, provavelmente, a opção escolhida por pecuaristas e
técnicos avessos a riscos (VILELA et al., 2004). Isso acontece porque
quando se intensifica o sistema, aumentando as taxas de lotação, a quantidade demandada de forragem torna-se relativamente grande em
relação à quantidade de forragem que pode ser mantida na pastagem.
Esse fato determina que o tamponamento de sistemas pastoris, com altas taxas de lotação, seja menos efetivo quando comparado aos sistemas que
operam com taxas de lotação menores. Desse modo, as variações na
condição da pastagem são aceleradas e amplificadas, gerando rápido impacto sobre o desempenho animal e aumentando, consequentemente, o
risco de produção. Por essas razões, sistemas pastoris com altas taxas de
lotação exigem monitoramento mais constante e respostas mais ágeis e
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
74 Lourival Vilela & Geraldo B. Martha Jr
precisas em relação às variações relacionadas ao estado da pastagem (BARIONI & MARTHA JR., 2003).
A estratégia de adubação de pastagens, pautada no menor
nível e na maior proporção de área intensificada, também seria mais indicada por um prisma ambiental. Essa assertiva encontra suporte no
fato de que sistemas de produção animal, com elevado uso de insumos
estão, via de regra, associados à maior concentração de animais por unidade de área, o que potencialmente predispõe a alterações nos ciclos
de nutrientes no ecossistema de pastagens.
A decisão pelo nível e pela proporção de intensificação da adubação na propriedade ainda depende das metas de lucro almejadas
pelo pecuarista com a atividade - ou do lucro necessário para custear as
suas despesas -, do tamanho da propriedade e do custo da terra. Propriedades menores precisam operar com maior lucro/ha do que
fazendas de grande porte para obter um dado lucro anual na fazenda. Conforme o lucro desejado, em propriedades de menor porte ainda é
preciso direcionar esforços para aumentar tanto o nível como a
proporção de intensificação da adubação. Obviamente, propriedades
pequenas, com maior nível e proporção de intensificação, operam com
maior risco do que as fazendas de maior porte para um dado nível de
lucro. Em relação ao preço da terra, é bem aceito o fato de que propriedades localizadas em regiões de maior valor da terra precisam
operar com maior lucro por unidade de área a fim de se manterem
competitivas em relação às alternativas de uso da terra (VILELA et al., 2004).
Com relação à interação entre nível, proporção e velocidade
de intensificação cabe lembrar que em diversas propriedades de pecuária tem-se verificado que embora o projeto de intensificação no uso de
fertilizantes indique viabilidade econômica, a redução no fluxo de caixa,
nos primeiros anos depois da implantação do projeto (fluxos de caixa pouco positivos ou negativos, em diferentes magnitudes), em resposta
aos investimentos em animais, fertilizantes e outros insumos, é
incompatível com a realidade da fazenda, determinando a inviabilidade financeira do negócio e, inclusive, problemas de solvência. Nessas
situações, o fazendeiro, quase que instintivamente reduz os gastos com
fertilizantes para saldar suas dívidas e/ou para garantir seu custeio. No entanto, essa tomada de decisão, em muitas propriedades, tem melhorado
a viabilidade financeira apenas no curto prazo, sendo verificado, no
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
75 VI USO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS EM PASTAGENS
médio e longo prazo, problemas de viabilidade econômica em adição ao restabelecimento de inviabilidade financeira. Em casos extremos, o
pecuarista se vê forçado a se desfazer de seu patrimônio para corrigir
falhas não detectadas no projeto inicial do empreendimento (MARTHA JR. et al., 2004).
Oportuno lembrar que ações voltadas para aumentar a taxa de
lotação, por meio da adubação, são mais efetivas em aumentar a escala de produção e a produtividade das pastagens quando comparadas à
intensificação do desempenho por animal, que, no entanto, não pode ser
negligenciado. Com efeito, investimentos no componente animal (genética, nutrição, sanidade) são indispensáveis para assegurar a
rentabilidade do empreendimento, porque o maior desempenho animal
diminui o tempo de retorno do capital (menor idade de abate) e melhora o fluxo de caixa do negócio. Entretanto, uma meta mínima de
desempenho animal deve ser observada para viabilizar investimentos na taxa de lotação. Se o desempenho do animal em pastos adubados for
inferior a essa meta, aumentar a taxa de lotação pode inclusive
“multiplicar o prejuízo”.
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78
V II FER TILID AD E FÍS IC A DO S O LO EM P L AN T IO
D IRE TO
Robélio Leandro Marchão
Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, BR 020, Km 18, Zona Rural,
Planaltina, DF. [email protected]
INTRODUÇÃO
A busca pela sustentabilidade ambiental é hoje uma realidade
na agricultura brasileira e a qualidade física dos solos (QFS) é um
elemento chave para essa sustentabilidade. Além de ser abrangente e
dinâmico, o conceito de QFS tem sido discutido a partir do início da
década de 90 e ainda é uma área de pesquisa em expansão (REYNOLDS et al., 2002) que engloba o conhecimento de propriedades e processos
relativos à habilidade do solo em manter efetivamente os serviços
ambientais ou serviços ecossistêmicos essenciais à saúde do ecossistema (MEA, 2005). A QFS pode também ser amplamente definida dentro do
conceito de qualidade ou saúde do solo, incluindo a capacidade de retenção de água, seqüestro do carbono, produtividade das culturas, entre
outras funções que levam ao bem estar humano.
Os indicadores físicos da qualidade do solo são responsáveis pela avaliação da sua estrutura, que apesar de não ser considerada como
um fator diretamente ligado ao crescimento das plantas exerce influência
na disponibilidade de água e ar às raízes, no suprimento e no desenvolvimento do sistema radicular. O estudo da qualidade física de
solos também está intimamente relacionado aos processos hidrológicos
de infiltração, escoamento superficial, erosão e outros. No Brasil, com a evolução e adoção em larga escala do
plantio direto desde a década de 1980, inúmeros trabalhos têm sido
conduzidos em solos de Cerrado com o objetivo de se avaliar os efeitos de sistemas de manejo sobre diferentes propriedades físicas do solo.
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
79 Robélio Leandro Marchão
Atributos como a densidade, a porosidade, a condutividade hidráulica e a resistência do solo à penetração têm sido comumente utilizadas pela
relativa facilidade de determinação e pelo baixo custo de obtenção das
medidas. Além da comparação entre sistemas de manejo e uso do solo, os atributos físicos também têm sido utilizados para estudar o efeito da
conversão de áreas nativas em lavouras ou pastagens.
Paralelamente, vários trabalhos tem sido realizados com o objetivo de avaliar a qualidade global de solos tropicais sob diferentes
sistemas agrícolas. Uma conclusão geral dos diversos estudos é que a
qualidade do solo é superior em sistemas em que a sua mobilização é pequena, porém os dados ainda são bastante controversos, sobretudo na
comparação entre plantio convencional e direto. Analisando o estado da
arte, observa-se que uma das principais dificuldades na obtenção de índices indicadores da qualidade física do solo está no fato de que ela
depende de suas propriedades intrínsecas, de suas interações com o ecossistema e, ainda, de prioridades de uso, influenciadas inclusive, por
aspectos socioeconômicos e políticos.
Neste texto pretende-se discutir de forma sucinta a
importância da qualidade física dos solos cultivados em sistema de
plantio direto demonstrando o papel da qualidade física na fertilidade
integral do solo, bem como os principais indicadores utilizados e suas diversas limitações.
IMPORTÂNCIA DA FERTILIDADE FÍSICA PARA O
SISTEMA PLANTIO DIRE TO NO CERRADO
A degradação dos solos está relacionada com alterações nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas, causadas, entre outros
fatores, pela ausência de uma cobertura morta ou uma palhada que
proteja efetivamente sua superfície. Os principais processos no solo, entre eles a manutenção da estrutura física e das propriedades hidráulicas
associadas, são dependentes da presença de cobertura morta e de um
sistema radicular atuante, tanto das espécies de interesse agrícola quanto das plantas de cobertura. Da mesma forma, a compactação do solo
insaturado originada pela compressão do tráfego de máquinas, é uma das
principais causas da degradação física dos solos cultivados. Esse
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
80 VII FERTILIDADE FÍSICA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO
problema aumenta com a intensidade do tráfego de máquinas e, mais recentemente com a adoção do sistema de integração lavoura-pecuária
pode ocorrer também devido ao excesso de carga animal por unidade de
área, principalmente, quando as condições de umidade do solo não se encontram adequadas a esse tipo de manejo ou não há uma quantidade de
matéria verde suficiente para mitigar esse efeito. Estas práticas podem
alterar a estrutura do solo, que é um dos atributos físicos mais importantes, com impactos diretos na geometria e distribuição de poros
por tamanho (RICHARD et al., 1999), alterando, em maior ou menor
grau conforme o nível de compactação, as características de retenção e de condutividade de água do solo (BEUTLER et al., 2001).
A busca por alternativas tecnológicas que possibilitem o uso
racional do solo tem sido a tônica das discussões em torno do tema manejo sustentável do solo para uma agricultura conservacionista e, no
Brasil, o sistema plantio direto (SPD) é a base de toda essa discussão. Ainda que o SPD esteja consolidado como alternativa
sustentável de manejo do solo para o Cerrado, existem poucas opções de
plantas que se adaptem aos sistemas agrícolas atuais, de forma que
mantenham a economicidade do sistema. Uma exceção pode ocorrer em
algumas áreas agrícolas tropicais e subtropicais do país onde é possível
obter mais de um cultivo por ano (safrinha e/ou cultivo de inverno). Nestas áreas é relativamente mais fácil manter o solo permanentemente
coberto e protegido, atendendo aos preceitos da agricultura
conservacionista. Contudo, existe ainda uma grande área agrícola do país onde não há essa possibilidade principalmente devido a um período
chuvoso mais restrito.
A integração da lavoura com pasto, mesmo em áreas onde o volume de precipitação não permite duas safras, têm sido apontada como
alternativa para preencher essa lacuna. No caso da região Oeste da Bahia,
por exemplo, onde não é possível o cultivo de safrinha, uma parte significativa do milho cultivado na safra de verão já está sendo cultivada
em consórcio com pasto, principalmente de Brachiaria Ruziziensis.
Apesar dos avanços já obtidos com a cultura do milho, a cultura da soja ainda carece de mais opções, que até o momento se limitam a
sobressemeadura de algumas gramíneas a exemplo do milheto, que
apesar de ser uma tecnologia de fácil aplicação ainda não é amplamente utilizada. O consórcio de soja com forrageiras está sendo avaliado pela
Embrapa e por outras instituições de pesquisa mas ainda não existe uma
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
81 Robélio Leandro Marchão
recomendação consolidada.
O PAPEL DA QUALIDADE FÍSICA NA FERTILIDADE
INTEGRAL DO SOLO
A condição para um solo manter o crescimento sustentável é função das propriedades físicas (porosidade, capacidade de retenção de
água, estrutura, etc.), químicas (capacidade de suprimento de nutrientes,
pH, etc.) e biológicas (matéria orgânica, diversidade de flora/fauna, etc.). As propriedades físicas do solo são interdependentes. Com
isto, a modificação de uma delas normalmente leva à modificação de
todas as demais. De acordo com Arshad & Martin (2002), esta interdependência pode ser ilustrada pela pelas interações que ocorrem
entre os parâmetros listados na Tabela 1. Segundo Brady (1983),
qualquer fator que exerça influência sobre o tamanho e a configuração dos poros do solo, exercerá também influência sobre a condutividade
hidráulica, sendo os macroporos responsáveis pela maior parte da
movimentação saturada da água no solo. Silva & Kato (1997) observaram que a macroporosidade e a condutividade hidráulica saturada
foi significativamente superior no Cerrado em comparação ao plantio
direto e ao convencional. Esses resultados indicam que pequenas alterações na macroporosidade do solo podem gerar grandes reduções na
condutividade hidráulica. No mesmo trabalho os autores observaram
valores elevados de macroporosidade correlacionados positivamente com a condutividade hidráulica e negativamente com a densidade do solo.
Tabela 1. Inter-relações entre indicadores de qualidade do solo.
Indicador selecionado Outros indicadores influenciados pelo
indicador selecionado
Agregação Matéria orgânica, atividade microbiana, textura
Infiltração Matéria orgânica, agregação, condutividade
elétrica, saturação por bases
Densidade do solo Matéria orgânica, agregação, profundidade do
perfil, atividade biológica
Biomassa
microbiana/respiração
Matéria orgânica, agregação, densidade do
solo, pH, textura,
Disponibilidade de Matéria orgânica, pH, textura, atividade
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
82 VII FERTILIDADE FÍSICA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO
nutrientes biológica (taxas de
mineralização/imobilização)
Adaptado de Arshad & Martin, 2002.
O potencial de água no solo, um dois mais importantes fatores que exerce controle sobre as condições hídricas para o crescimento das
plantas, tem relação inversa com as variáveis: resistência do solo à
penetração, densidade aparente e aeração (BUSSCHER et al., 1997). Uma variação no teor de água estabelece modificações na tensão da água
no solo, no teor e difusão de gases, na resistência à penetração, na
condutividade hidráulica, dentre outras propriedades físicas do solo.
INDICADORES DA QUALIDADE FÍSICA
Neste texto, propõe-se uma divisão hierárquica dos
indicadores de qualidade física do solo a partir do grau relativo de
dificuldade de obtenção de seus valores, sendo classificados como (i) primários: aqueles mais facilmente mensuráveis, obtidos por medidas
diretas de campo ou de laboratório e (ii) secundários: aqueles que
normalmente são derivados de dados obtidos no campo e/ou no laboratório (indicadores primários) mas que exigem certo grau de
tratamento estatístico ou modelagem, sendo de mais difícil interpretação.
INDICADORES PRIMÁRIOS
Na Tabela 2, são apresentados os principais indicadores
primários da qualidade física do solo. É essencial que os indicadores
básicos de qualidade do solo se relacionem com as funções do ecossistema, tais como ciclagem de carbono e nitrogênio, e devem ser
propriedades mensuráveis, holísticas e acessíveis para usuários nos
diferentes níveis.
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
83 Robélio Leandro Marchão
Tabela 2. Principais atributos de solos utilizados como indicadores
primários para monitorar a qualidade do solo e metodologias para a sua obtenção.
Atributo do solo Metodologia
Densidade do solo Método do anel volumétrico
Resistência a penetração Método do penetrômetro (índice de cone)
Agregação (> 2mm) Separação por peneiramento úmido
Textura Método da pipeta ou densimétrico
Porosidade total Determinada a partir da umidade de
saturação
Infiltração Método do infiltrômetro de anéis
Condutividade hidráulica
saturada
Método do pemeâmetro de carga constante
(laboratório) ou permeâmetro de Ghelph (campo)
INDICADORES SECUNDÁRIOS
CURVA CARACTERÍSTICA DE RETENÇÃO DE ÁGUA
A curva característica de retenção de água do solo (CRA) tem
se revelado como um atributo físico-hídrico importante nos estudos da
qualidade física do solo, com vistas a nortear as práticas de uso e o manejo sustentável dos sistemas agrícolas. Esse atributo físico-hídrico,
que descreve a relação entre conteúdo de água e o potencial de retenção
na matriz do solo, pode demonstrar por meio de sua forma (complexidade/sinuosidade) o estado estrutural do solo, refletindo
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
84 VII FERTILIDADE FÍSICA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO
claramente sua porosidade. Marchão et al., (2007) avaliando diferentes sistemas agrícolas incluindo plantio direto e convencional ajustaram o
conteúdo relativo de água a um modelo não linear de curva de retenção
de água (modelo de Assouline) e demonstraram que apesar de em muitos casos a comparação utilizando a curva como um índice de qualidade
física não levar a conclusões muito claras sobre o efeito do manejo, este
atributo tem potencial devido a mudanças na forma da curva de retenção de água relativa com a degradação do solo. Por outro lado, os autores
lembram que o fato de englobar diferentes atributos em um mesmo
modelo complexo, tais como os que expressam a retenção de água no solo, pode afetar a sensibilidade das curvas e inviabilizar sua utilização
em comparações de sistemas de manejo.
PARÂMETRO OU ÍNDICE-S
A partir da obtenção da curva característica de retenção de água é possível obter outros atributos do solo, como por exemplo,
densidade do solo, porosidade total, saturação efetiva, entre outros.
Partindo deste princípio, Dexter & Bird (2001) e Dexter
(2004) propuseram um novo índice para se avaliar a qualidade física do
solo, chamado “índice S”. Este índice foi obtido a partir da curva de retenção da água no solo e representa o valor da inclinação da curva de
retenção de água no seu ponto de inflexão (Figura 1). O índice-S está
relacionado a variáveis como textura, densidade do solo, matéria orgânica e crescimento de raízes. Conceitualmente, o índice S equivale à
inclinação da reta tangente ao ponto de inflexão da curva característica
de retenção de água (CRA). É determinado pela CRA expressando-se o
conteúdo gravimétrico de água (θ) em função da tensão de água no solo
(h) após ajuste utilizando a equação de van Genuchten, utilizando o
logaritmo natural da tensão da água no solo (h). Inicialmente, Dexter e Bird (2001) observaram que havia dois
pontos de inflexão possíveis, dependendo se a CRA fosse construída
plotando-se a umidade em função de ln(h) ou h. Os autores indicaram que os dois pontos de inflexão estariam muito próximos para solos com
estreita distribuição de poros por tamanho, independentemente da escala
utilizada na função, para explicar o uso das curvas de θ traçadas apenas
em função de ln(h) ou sua representação correspondente em termos de
log(h).
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
85 Robélio Leandro Marchão
Figura 1. Representação esquemática da curvas característicaas de
retenção de água e seu ponto de inflexão (esquerda) e em duas condições de manejo com solo considerado degradado e não
degradado (direita). Fonte: Dexter (2004)
Mais recentemente, um trabalho apresentado por Santos et al.
(2011) propôs nova metodologia para obtenção do índice S mantendo-se
a teoria inicialmente proposta por Dexter e Bird (2001), mas considerando para o cálculo, a inclinação da CRA no seu ponto de
inflexão em função da variável independente quer seja h, ln(h) ou log(h).
Os autores demonstraram que a expressão da CRA em função de ln(h) ou log(h) ao invés de h como variável independente, resulta em valores
diferentes do índice S, o que pode limitar a discussão das propriedades
físicas do solo. Foi demonstrado ainda que, para as amostras utilizadas como exemplo, o cálculo do índice S quando a CRA é expressa com h
sendo a variável independente é mais consistente do ponto de vista
matemático e físico e esta forma de cálculo aumenta significativamente a
relevância da análise em comparação ao S proposto por Dexter (2004).
Os novos modelos propostos por Santos et al. (2011) para as diferentes escalas de ajuste são apresentados a seguir:
(a)
(b)
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
86 VII FERTILIDADE FÍSICA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO
(c)
INTERVALO HÍDRICO ÓTIMO
Letey (1985), na tentativa de obter um índice único que
englobasse a qualidade física do solo, propôs o termo “Non-limiting Water Range” como uma faixa de teor de água que integra as
propriedades físicas do solo diretamente relacionadas com o crescimento
das plantas. Posteriormente este termo foi aprimorado por Silva et al. (1994), como “Least Limiting Water Range” (LLWR), e definido como a
faixa de teor de água no solo em que as limitações relativas à
disponibilidade de água, aeração e resistência à penetração são mínimas. No Brasil o “Least Limiting Water Range” tem sido
comumente designado como Intervalo Hídrico Ótimo (IHO)
(TORMENA et al., 1998). O IHO aprimora o tradicional conceito de água disponível entre capacidade de campo e ponto de murcha
permanente, adicionando as limitações associadas com a aeração e a
resistência do solo à penetração (Figura 2). Atualmente o IHO têm sido utilizado para investigar os efeitos de sistemas de uso e manejo em
modificações na qualidade física do solo.
Considerando que o índice de cone (IC) é função da
densidade do solo (Ds) e da umidade () pode-se aplicar o conceito de
densidade crítica, que é a Ds cujo valor de IC limita o crescimento
radicular em função de (IMHOFF et al., 2000). Nessa densidade, o valor do IHO seria igual a zero. Considera-se o solo compactado quando
o IC apresenta valor limitante num teor de água próximo a capacidade de
campo. A interpretação de uma simples avaliação de resistência à penetração feita no campo requer o conhecimento de uma série de
atributos do solo e suas inter-relações, principalmente se o objetivo for a
tomada de decisão sobre a necessidade ou não de alguma operação para descompactação. Também, muitas vezes o solo pode apresentar-se
compactado, mas com raízes crescendo, por exemplo, por bioporos
formados pela atividade da meso e macrofauna.
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
87 Robélio Leandro Marchão
Figura 2. Representação do IHO considerando o limite superior,
definido pela umidade do solo na capacidade de campo, ou
umidade em que a porosidade de aeração é menor que 10%; e o limite inferior, definido pela umidade em que a RP é igual a
2,5 MPa ou pela umidade do solo no ponto de murcha permanente. Fonte: Leão (2002).
Tendo em vista as dificuldades apresentadas, foram propostas
novas abordagens metodológicas na avaliação da qualidade física do solo
tendo se destacado o intervalo hídrico ótimo (IHO). Hipoteticamente, os sistemas de manejo que permitam um IHO mais amplo teriam menor
probabilidade de redução da produtividade por restrições hídricas.
Diversos estudos já demonstraram que as práticas de manejo do solo afetam o IHO e que pode haver redução de crescimento das plantas com
a redução na amplitude do IHO. Por outro lado, os estudos relacionando
o IHO com a produtividade das culturas são ainda incipientes (SÁ et al.,
2007).
Um fator que tem limitado a utilização do IHO e sua
aplicação em estudos envolvendo qualidade do solo é a necessidade de se obter valores de resistência à penetração em diferentes condições de
umidade ou tensão de água no solo, sendo necessária a utilização de
penetrômetros de bancada estáticos. Esses equipamentos são montados com sistemas elétrico-eletrônicos complexos que apresentam custo
elevado, razão pela qual Sá et al. (2007) propuseram um mini-
penetrômetro de bancada que além de apresentar eficácia comprovada tem baixo custo.
ANAIS DO I SIMPÓSIO DE FERTILIDADE DO SOLO EM PLANTIO DIRETO NO CERRADO
88 VII FERTILIDADE FÍSICA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO
CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS
A qualidade ou fertilidade física do solo é ainda um campo da
ciência do solo em evolução e no Brasil, o desafio proposto de conseguir um sistema plantio direto de qualidade seguindo os preceitos da
agricultura conservacionista necessitará inevitavelmente da integração de
todos os componentes da qualidade do solo. Considerando o caráter conservacionsta do plantio direto, são vários os problemas que deverão
ser enfrentados considerando não somente a complexidade da avaliação
da qualidade física mas também os problemas mais simples que ainda são entraves para o desenvolvimento de um sistema plantio direto de
qualidade, a exemplo do plantio em desnível e a retirada indiscriminada
de terraços. Neste cenário a qualidade física do solo será fundamental para
demonstrar que a sustentabilidade do solo na agricultura moderna deverá
atender os requisitos do “tripé da sustentabilidade” proposto por Doran (2002), que em seu texto “Translating science into practice” (traduzindo
a ciência para a prática), pondera que para que um indicador de qualidade do solo possa se tornar uma ferramenta útil para produtores e
os demais atores envolvidos no uso da terra deverão considerar os
aspectos econômicos, sociais e ambientais envolvidos.
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