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A saturação do mercado musical exige novas estratégias de comunicação. Analisaremos o projeto de música eletrônica e videoarte iamamiwhoami, que criou uma narrativa que se propaga de forma viral na internet e com a ajuda de uma comunidade de fãs. Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco, sob orientação do Prof. Dr. Rogério Covaleski.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOCENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIALCURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA
FELIPE DÁRIO DOS SANTOS
iamamiwhoami: videoarte, música eletrônica enarrativa multimídia convergem numa estratégia
de comunicação experimental
Recife, 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOCENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIALCURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA
FELIPE DÁRIO DOS SANTOS
iamamiwhoami: videoarte, música eletrônica enarrativa multimídia convergem numa estratégia
de comunicação experimental
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco, sob orientação do Prof. Dr. Rogério Covaleski.
Recife, 2012
2
FELIPE DÁRIO DOS SANTOS
iamamiwhoami: videoarte, música eletrônica enarrativa multimídia convergem numa estratégia
de comunicação experimental
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco, sob orientação do Prof. Dr. Rogério Covaleski.
Aprovado em 28 de junho de 2012.
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________________________
Prof. Dr. Rogério Covaleski, orientadorUniversidade Federal de Pernambuco
___________________________________________________
Profa. Dra. Karla PatriotaUniversidade Federal de Pernambuco
___________________________________________________
Profa. Ma. Marcela Chacel
3
Dress the part, it's story-telling time
“n”, iamamiwhoami
4
Resumo: A saturação do mercado musical exige novas estratégias de
comunicação. Analisaremos o projeto de música eletrônica e videoarte
iamamiwhoami, que criou uma narrativa que se propaga de forma viral na
internet e com a ajuda de uma comunidade de fãs.
Palavras-chave: marketing viral, narrativa, fandom, novas mídias.
5
Abstract: Saturation of music business requires new communication strategies.
We will review the electronic music and video art project iamamiwhoami, which
created a narrative that spreads virally on the internet supported by its fan
community.
Keywords: viral marketing, narrative, fandom, new media.
6
Sumário
Resumo e palavras-chave 05
Abstract e keywords 06
Lista de figuras 08
Lista de quadros 09
INTRODUÇÃO 10
I am. Am I? Who am I? O que é iamamiwhoami 11
Estrutura do trabalho 18
1. MARKETING VIRAL E LÍDERES DE OPINIÃO 21
1.1. Obscuro, mas midiatizado 22
1.2. Líderes de opinião e “consumo social” de informação 24
1.3. Feito para viralizar 29
2. O PODER DOS FÃS 34
2.1. As “comunidades” de consumidores 35
2.2. O fandom de iamamiwhoami 39
2.3. Tumblr como ecossistema 43
2.4. Aficionados por análises 47
3. (RE)CRIANDO HISTÓRIAS 50
3.1. A criação de uma narrativa 52
3.2. Propp e os mitos 56
3.3. IN CONCERT: bases seculares para uma narrativa contemporânea
58
CONSIDERAÇÕES 70
iamamiwhoami como um laboratório 70
Referências 73
Fontes das imagens 81
Notas 82
7
Lista de figuras
1: frame do vídeo “Prelude...”. 12
2: frame do vídeo “t”. 13
3: foto promocional de Lee. 14
4: mensagem de iamamiwhoami a James Montgomery. 23
5: : exemplos da representação gráfica de redes sociais. 38
6: blog no Tumblr. 44
7: Painel. 44
8
Lista de quadros
1: videografia de iamamiwhoami. 18
2: “traduzindo” os títulos. 54
3: análise de IN CONCERT. 60
9
INTRODUÇÃO
A estrutura da indústria musical está sendo radicalmente transformada por uma
série de inovações, relacionadas principalmente ao crescimento do alcance da
internet. Tais transformações têm um impacto significativo sobre os agentes
tradicionais desse mercado, que ora tentam lutar e impor barreiras às novas
formas de consumo da música, ora se apropriam dessa realidade e tentam
desenvolver novos modelos de negócio (CLEMONS et al., 2002).
Enquanto desafiam os segmentos mais estabelecidos da indústria musical, os
novos paradigmas criam oportunidades para os outros segmentos. Mais e mais
artistas começam a desbravar uma carreira independente de grandes
gravadoras, da produção à promoção (BOCKSTEDT et al., 2004). “A produção
e a distribuição independentes ganham contornos profissionais, enquanto
nichos minoritários de consumo encontram na rede sua possível viabilidade
econômica” (CASTRO, 2010, p. 274).
A internet sem dúvida facilitou diversos processos envolvidos na criação e
distribuição de música. Mas ter visibilidade (uma visibilidade prolongada e
duradoura, além dos “quinze minutos de fama” que muitos artistas têm
conseguido) ainda é difícil para grupos musicais sem o apoio de selos
tradicionais. As estratégias de comunicação mudaram, contemplam novas
ferramentas e formas de chegar ao público, mas devem continuar tão fortes e
bem estruturadas quanto sempre foram (BURGESS; GREEN, 2009).
Alguns dos novos elementos aliados às estratégias comunicacionais de
diversas empresas incluem: o uso do marketing viral, um conjunto de técnicas
que potencializa a dispersão espontânea de uma mensagem atrativa; a busca
por “consumidores-fãs”, pessoas que se ligam emocionalmente às marcas que
compram, e a construção de narrativas complexas e interessantes, que por
vezes se desdobram em diversas mídias na tentativa de envolver mais o
consumidor no universo da marca (JENKINS, 2009).
Esses elementos refletem uma confiança inaudita no consumidor: enquanto as
10
marcas se beneficiam ao induzir seus clientes a terem uma relação de afeto
com elas e a contribuir ativamente para a promoção, o “novo consumidor” pode
ser um empecilho ao se apossar das marcas que gosta. Deslizes que antes
seriam perdoáveis podem repercutir exageradamente e causar grandes danos
(BARBOSA, 2012), pois a marca estabelece o compromisso de manter as
qualidades que a tornam atrativa àquele consumidor e de respeitar sua opinião.
A “transformação do consumidor em veículo de comunicação” faz muito sentido
quando pensamos na “nova esfera conversacional” teorizada por André Lemos
(2009, p. 3):
A nova esfera conversacional se caracteriza por instrumentos de comunicação que desempenham funções pós-massivas (liberação do polo da emissão, conexão mundial, distribuição livre e produção de conteúdo sem ter que pedir concessão ao Estado), [...] alicerçada na troca livre de informação, na produção e distribuição de conteúdos diversos, instituindo uma conversação que, mesmo sendo planetária, reforça dimensões locais. As tecnologias da comunicação e da interação digitais, e as redes que lhe dão vida e suporte, provocam e potencializam a conversação e reconduzem a comunicação para uma dinâmica na qual indivíduos e instituições podem agir de forma descentralizada, colaborativa e participativa.
Mas, como o próprio André Lemos deixa claro, “É importante compreender que
a nova paisagem comunicacional não aniquila o poder e a força dos
meios massivos” (idem, p. 2). Na publicidade atual, vídeos virais são quase
sempre usados como teasers de campanhas tradicionais, ancoradas em mídia
massiva. E as mídias de massa quase sempre geram um retorno sobre
investimento considerável, que ainda não pode ser garantido em iniciativas
perpetradas nos meios alternativos ou direcionadas apenas aos tais
consumidores-fãs.
Como uma entidade que não tem acesso a mídias massivas consegue utilizar-
se apenas de alguns recursos experimentais para se promover na internet?
Investir em publicidade alternativa é suficiente para fazer algum “barulho” em
veículos de massa?
I am. Am I? Who am I? O que é iamamiwhoami
Ao tratar de música independente na internet, Gisela Castro (2004, p. 12)
11
defende que “nichos restritos de mercado podem tornar-se bastante lucrativos
devido à conectividade da rede em escala planetária, favorecida ainda com os
inúmeros dispositivos de conexão à distância”. Mas apenas disponibilizar
arquivos de música não garante que o público seja atingido. Promover é
necessário mesmo nos mercados mais restritos, em que os ouvintes
naturalmente compartilhem novidades e os canais em que se pode distribuir
um conteúdo são mais limitados. E essa promoção pode exigir (ou sugerir) a
criação de mais do que aquilo que se tornou comum na indústria musical.
iamamiwhoami (escrito propositadamente em minúsculas) é um projeto
audiovisual independente em que música eletrônica, construção narrativa,
videoarte e formatos de comunicação próprios das novas mídias convergem. A
partir do final de 2009, vídeos de cerca de um minuto de duração contendo
cenas enigmáticas (figura 1), melodias eletrônicas, imagens aparentemente
desconexas e tendo como títulos sequências de números começaram a ser
publicados no site de compartilhamento de vídeos YouTube1 (JOHANSSON,
2011).
Figura 1: frame do vídeo “Prelude 699130082.451322-5.4.21.3.1.20.9.15.14.1.12”.
Esses vídeos foram enviados a jornalistas e blogueiros de música de todos o
12
mundo e, embora não se soubesse do que tratavam, era consenso que aquilo
era uma campanha viral para uma banda ou uma artista musical. “Enquanto os
vídeos e sons eletrônicos inebriantes eram lançados, uma especulação
crescente apontava qualquer um, de Björk a Lady Gaga a Christina Aguilera,
como responsável”2 (CRAGG, 2012). Adivinhar qual seria o artista e o que viria
a seguir foi tema de muitos posts, reportagens e discussões na internet.
Em 2010, clipes musicais mais longos, mas que não revelam muito mais que
os primeiros sobre seus autores e intenções, foram divulgados e suas canções,
postas a venda em lojas online de música como iTunes e Amazon. O quarto
clipe, chamado “t” (também em minúsculas, no original), foi o primeiro a
mostrar uma imagem mais clara da vocalista do projeto (figura 2). “y”, o quinto
clipe, obteve mais de seis milhões de visualizações, sem os autores tenham se
pronunciado oficialmente ou que uma canção tocasse em rádios comerciais3
(DE PAULA, 2010; FREITAS, 2010; IAMAMIWHOAMI, 2011).
Figura 2: frame do vídeo “t”.
Desde então, uma performance em longa-metragem transmitida apenas pela
internet e um show num festival de música foram realizados, contendo sempre
a mesma estética e os mesmo elementos – e da mesma forma misteriosa, sem
13
declarações oficiais. Um álbum audiovisual, pelo selo independente
Cooperative Music, deve ser lançado em junho de 2012, e o segundo show
deve acontecer em agosto do mesmo ano (CRAGG, op. cit.).
A vocalista do projeto é Jonna Lee (figura 3), cantora sueca que lançou dois
álbuns de estilos pop e folk. Desde o primeiro videoclipe, “b”, já havia suspeitas
de seu envolvimento, mas só depois ela aparece com o rosto descoberto. Sua
participação foi confirmada através de documentos de registro das letras de
música. Um dos parceiros musicais de Lee, o sueco Claes Björklund também é
registrado como autor de músicas do projeto (OH NO THEY DIDN'T, 2011;
IAMBOUTYFAN, 2011).
Baseada na mandrágora do folclore europeu, um ser meio-humano, meio-
vegetal (TROY, 2010), a história de iamamiwhoami trata de temas diversos
como ecologia, identidade e gênero, utilizando ora um simbolismo muito próprio
e misterioso, ora elementos usuais da música pop, como coreografias.
Figura 3: foto promocional de Lee.
14
iamamiwhoami é um dos expoentes da quebra do paradigma “teaser viral
seguido de campanha tradicional”: enquanto em muitas campanhas a mídia
massiva dá apoio, reforça e explica o que foi proposto numa campanha viral ou
de guerrilha (TORRES, 2009), aqui o viral é a única interface com o público e o
“mistério” nunca é revelado. As principais peças de divulgação do projeto são
suas próprias obras: os clipes.
Por ser um projeto artístico, iamamiwhoami consegue dialogar com o fenômeno
da comunicação pós-massiva. Vídeos do YouTube são citados nos clipes; fãs
são convidados para participar de uma performance; a quarta parede é
quebrada algumas vezes, e a performance se estende dos vídeos para o palco.
Observamos que o uso que fazem do marketing viral, apesar de obedecer à
estrutura básica desse tipo de comunicação, é bastante experimental. Não há
perfis em redes sociais, não há site oficial, não há outra forma de comunicação,
com exceção de uma entrevista igualmente críptica, que não os vídeos,
músicas e shows.
Os principais produtos, os vídeos postados exclusivamente no canal do projeto
no YouTube, são acompanhados de músicas vendidas como arquivos digitais
em lojas online. IN CONCERT, originalmente grafado apenas em maiúsculas, é
uma performance rodada num único plano-sequência que ficou disponível para
transmissão, num site exclusivo, por apenas seis horas. Um show no festival
sueco Way Out West teve um formato mais tradicional; ainda assim, havia a
presença ostensiva de câmeras no palco e toda a banda vestia preto, exceto
Jonna Lee (CRUZ, 2011), de acordo com o que se estabeleceu nos vídeos.
Coincidindo com esse show, foi divulgado um número de telefone que, quando
discado, executava um trecho inédito de uma música.
Durante 2010, os lançamentos de vídeos e músicas foram bem espaçados, o
que garantiu que não houvesse grandes baixas do buzz em torno do projeto
(quadro 1; YOUTUBE, 2012). Primeiro, ocorreu a publicação de seis teasers
que desenvolvem um arco da história: uma mandrágora nasce (ou “brota”), é
retirada de seu ambiente natural (ou “colhida”) e levada para um ambiente
humano.
15
O segundo arco, dos videoclipes “bounty”4, traz o desenvolvimento dessa
mandrágora, ora no ambiente humano, artificial, ora no ambiente natural. Em
novembro daquele ano, ocorreu a performance IN CONCERT, com duração de
pouco mais de uma hora, em que a história se inverte: a mandrágora sai do
ambiente humano e retorna ao ambiente natural.
Após uma pausa de alguns meses, as músicas “; john” (que possui o ponto e
vírgula no original) e “clump” foram lançadas numa sucessão rápida, dando
início, ao que parece, a uma história separada, e serviram de preparação para
o show no festival Way Out West.
Em fevereiro de 2012, o vídeo “kin 20120611” foi publicado no YouTube e
enviado a blogueiros e jornalistas especializados em música, assim como os
anteriores. O título pareceu indicar o dia 11 de junho de 2012 e, pouco depois,
foi revelado que iamamiwhoami assinara contrato com a Cooperative Music,
um grupo de selos de artistas independentes ligado ao conglomerado Universal
Music Group, e lançaria um álbum nessa data.
Os vídeos que se seguiram mostram a mandrágora num apartamento
(aparentemente o mesmo que apareceu no vídeo “20101104”), na companhia
de uma criatura grande e peluda, parecida com a de “clump” (PALMIERI, 2011;
YLOSIAM, 2012). A partir disso, parecem mostrar, mais uma vez, o retorno da
mandrágora ao seu ambiente natural, mas agora guiada pela criatura peluda.
16
Título Postado em Exibições Disponível originalmente em
Prelude 699130082.451322-5.4.21.3.1.20.9.15.14.1.12
04/12/20095 339.460 http://www.youtube.com/watch?v=oPFM3DUVT-8
9.1.13.669321018 07/01/2010 256.431 http://www.youtube.com/watch?v=HouIf-PXpJs
9.20.19.13.5.723378 25/01/2010 289.361 http://www.youtube.com/watch?v=oVVLkWjTISE
13.1.14.4.18.1.7.15.18.1.1110
10/02/2010 397.686 http://www.youtube.com/watch?v=4yAI5_YXNqI
15.6.6.9.3.9.14.1.18.21.13.56155
22/02/2010 322.659 http://www.youtube.com/watch?v=UxC4zMCwefo
23.5.12.3.15.13.5-8.15.13.5.3383
01/03/2010 352.338 http://www.youtube.com/watch?v=1rpD_eclfTY
b 14/03/1020 1.017.830 http://www.youtube.com/watch?v=M2WDbAFvt6A
o 12/04/2010 638.078 http://www.youtube.com/watch?v=MMroXbAmrI8
u-1 03/05/2010 251.603 http://www.youtube.com/watch?v=izejVXJ_arQ
u-2 07/05/2010 253.781 http://www.youtube.com/watch?v=WB85HAUXbbM
n 02/06/2010 720.305 http://www.youtube.com/watch?v=N0BsI8R4izQ
t 30/06/2010 906.709 http://www.youtube.com/watch?v=bW89Pv8QrX4
y 04/08/2010 7.068.321 http://www.youtube.com/watch?v=LEoGQU_k78k
20101104 03/11/2010 127.173 http://www.youtube.com/watch?v=mnJ_bZV9X3o
IN CONCERT6 16/11/2010 http://towhomitmayconcern.cc
; john 15/05/2011 355.829 http://www.youtube.com/watch?v=TLPxTKR7A70
clump 31/07/2011 271.328 http://www.youtube.com/watch?v=VduvB5xY2L0
kin 20120611 01/02/2012 40.741 http://www.youtube.com/watch?v=M3V0rJp7c5Q
sever 14/02/2012 253.593 http://www.youtube.com/watch?v=e7zyF2QJ1BA
drops 28/02/2012 163.424 http://www.youtube.com/watch?v=Hw0JmSRMXkY
good worker 13/03/2012 123.625 http://www.youtube.com/watch?v=HUSwkbu1IjU
play 27/03/2012 184.014 http://www.youtube.com/watch?v=zJBC8L3pG_Y
in due order 10/04/2012 87.706 http://www.youtube.com/watch?
17
v=5AqU8FvTR3E
idle talk 24/04/2012 91.449 http://www.youtube.com/watch?v=_2KxlzQMTpU
rascal 08/05/2012 56.866 http://www.youtube.com/watch?v=xQPXgjGutFw&feature=plcp
kill 22/05/2012 71.287 http://www.youtube.com/watch?v=OTnH3zs8wRo&feature=plcp
goods 05/06/2012 10.395 http://www.youtube.com/watch?v=l3G_Y3aIlis
Quadro 1: videografia de iamamiwhoami. Dados de 06/06/2012.
Estrutura do trabalho
Os três capítulos que seguem buscam elucidar as ferramentas do marketing e
da publicidade utilizadas na concepção e comunicação do projeto
iamamiwhoami, demonstrando que tais ferramentas podem ser usadas por
entidades diversas e de portes variados.
No capítulo 1, nos concentraremos no marketing viral na internet, tentando
encontrar características “virais” na obra de iamamiwhoami e observar sua
relação com conceitos de comunicação como a teoria do fluxo em duas etapas
e a memética.
Para este capítulo, empreendemos uma pesquisa bibliográfica para
compreender como esses diversos conceitos convergem na propagação de
informação, especialmente na internet; como uma mensagem se viraliza, e que
condições favorecem essa viralização. Também fizemos uma análise do
relacionamento entre iamamiwhoami, líderes de opinião e veículos de mídia
estabelecidos.
Como fundamentação teórica, trabalhamos principalmente com Nelito Silva
(2008), que propõe uma nova definição para o marketing viral e debate sua
inseparabilidade da internet; Cláudio Torres (2009), que recorda características
compositivas de uma campanha viral; Sarah Griswold (2007), que trata da
teoria do fluxo comunicacional em duas etapas e do papel dos líderes de
comunicação, e Raquel Recuero (2009), que fala sobre memes ideias mais
18
aptas a se dissiparem em rede.
No segundo capítulo, nos voltamos para um fator que prolongou, ao nosso ver,
a relevância do projeto: a formação de uma comunidade de fãs, que segue
interessada em iamamiwhoami mesmo em seus hiatos. Esse fenômeno é
incentivado por uma série de condições propiciadas pela internet e por
características intrínsecas ao projeto.
Após pesquisar textos que tratam de comunidades de fãs, de seu
fortalecimento com a internet e de seu reconhecimento como produtores de
conteúdo; observamos a comunidade multiplataforma de iamamiwhoami, o
desenvolvimento de um “transletramento” na plataforma Tumblr e dois blogs
que produzem análises exaustivas sobre vídeos e músicas do projeto.
Os autores mais relevantes para esta parte foram Henry Jenkins (2008), que
trata da produção das comunidades de marca e de como isso afeta as obras
originais e seus produtores; Nancy Baym (2007), que estuda as comunidades
de fãs; Recuero novamente, quando explica as redes como metáforas para
grupos sociais e suas particularidades na internet, e Rafael Sachs (2011), que
trata da produção de fãs na plataforma Tumblr, caracterizada por uma
multimidialidade e uma hipertextualidade.
O último capítulo se volta para a criação de narrativas como uma estratégia
recorrente na publicidade contemporânea e o uso de arquétipos e estruturas
clássicas nessa criação. Tal processo é herança do folclore e da criação
literária, que desde sempre se aproveitam de histórias anteriores,
conscientemente ou não.
Explicaremos alguns dos principais temas e elementos trazidos em
iamamiwhoami, como a mandrágora mítica, a sexualidade, a ecologia (a partir
de observação direta das obras e do resgate de análises de fãs), e então
analisaremos uma de suas produções de acordo com o modelo proposto por
Vladimir Propp em 1928, com o qual nos deparamos após uma pesquisa sobre
modelos de decomposição narrativa.
19
Os autores que mais consultamos aqui foram Janet Murray (2003), que escreve
sobre como a tradição literária alimenta os demais meios e como todas as
histórias humanas tem arquétipos e estruturas semelhantes; Vladimir Propp
(2010), que lançou as bases para uma análise da estrutura das fábulas e
histórias folclóricas, e Dariana Ylosiam (2010-2012), que analisou todos os
vídeos e diversos elementos que perfazem iamamiwhoami.
Assim, partimos de uma dimensão mais ampla até chegarmos às
características intrínsecas à produção do projeto.
20
1. MARKETING VIRAL E LÍDERES DE OPINIÃO
Campanhas de vídeos virais estão quase tão comuns hoje em dia quanto spam mas, de vez em quando, uma dessas maravilhas do marketing [...] fisga nossa atenção de verdade7 (DOMBAL, 2010).
Marketing viral é um modelo em que a produção e a divulgação de uma
determinada mensagem são sistematizadas para que ela seja espalhada de
pessoa para pessoa, de forma espontânea e não obstrusiva: o popular boca-a-
boca (ANDRADE et al., 2006). Quando praticado na internet, plataforma a que
está mais associado, “corresponde a uma apropriação intencional dos recursos
de comunicação disponíveis na e em rede em favor de estratégias de
comunicação de empresas com seus públicos-alvo” (SILVA, 2009).
Um vídeo de um gato pulando em caixas, filmado com uma câmera caseira e
enviado a alguns amigos pode ganhar milhares de visualizações em semanas
por trazer um entretenimento rápido, gratuito e com algum grau de ineditismo
que incentive o compartilhamento. É o exemplo clássico do sucesso
“acidental”, resultado de uma intensa divulgação boca-a-boca por email, posts
em blogs e sites de redes sociais.
Ações de marketing viral tentam imitar algumas das características desse tipo
de produção caseira (ou não profissional) não apenas para tentar obter os
mesmos resultados, mas também objetivando tirar a pecha de “propaganda” de
uma mensagem. Da mesma forma, podem conferir um ar mais espontâneo e
não planejado a uma campanha, como quando são disponibilizados anúncios
“banidos”. Cláudio Torres (2009) cita um estudo da Nielsen, do mesmo ano, em
que 90% das pessoas confiam em informações oriundas de amigos, enquanto
65% confiam em outras formas de publicidade. O marketing viral surge, então,
como uma forma de impulsionar o compartilhamento espontâneo de
mensagens publicitárias.
Apesar de tentar se afastar da imagem e dos formatos tradicionais da
publicidade, as campanhas de marketing viral normalmente partem de um
plano de comunicação que tenta potencializar a capacidade de uma mensagem
viralizar. A “peça” do marketing viral (um vídeo, um site, um jogo etc.) é
21
disponibilizada num formato que permite a fácil propagação na internet (pode
ser postada em sites de redes sociais, blogs, enviada por e-mail, entre outros).
Torres destaca que a produção de um conteúdo pertinente e a disponibilização
dele em rede não garantem a propagação da peça. “Para isso, é preciso que
formadores de opinião e pessoas com influência na rede sejam atingidas [...].
São [...] os primeiros a ter contato com a mensagem, pelos quais há mais
possibilidades de propagação” (op. cit., p. 194).
Neste capítulo, observaremos como se deu o relacionamento entre
iamamiwhoami, que baseia sua produção na obscuridade, e a mídia; o papel
dos formadores de opinião em sua divulgação, e as características que fizeram
do projeto um sucesso viral.
1.1. Obscuro, mas midiatizado
Jornalistas de música começaram a prestar atenção em iamamiwhoami no
começo de 2010, pouco após seu lançamento no YouTube, quando sua
produção ainda era muito incipiente: alguns poucos vídeos curtos e sem
ligação com artista ou empresa reconhecidos. Eles eram, porém,
inegavelmente bem produzidos e pareciam prometer algo sério.
O jornalista James Montgomery, da MTV, foi um dos primeiros a tratar do
projeto num veículo de mídia estabelecido, discutindo especialmente quem
seriam seus autores. Alguns posts depois, em fevereiro de 2010, ele escreveu
uma sarcástica carta aberta aos “macabros e estranhamente masoquistas
gênios do mal por trás de iamamiwhoami”, revelando quão obcecado se tornara
pelos vídeos. “Eu busquei coisas como ‘dendrofilia’ e ‘tubarão-baleia’ no
Google para lhes entender melhor”8, escreveu, citando elementos dos vídeos
(MONTGOMERY, 2010a). Montgomery ainda reclamou que nenhum dos
produtores havia tentado entrar em contato com ele, apesar de seu interesse
público no projeto.
Na semana seguinte, o jornalista recebeu um e-mail contendo um link para um
novo curta, “13.1.14.4.18.1.7.15.18.1.1110”, de alguém que ele identificou como
22
sendo iamamiwhoami (MONTGOMERY, 2010b). Em março, um envelope sem
selo ou remetente foi entregue em sua mesa de trabalho, contendo um feixe de
cabelo humano e uma charada envolvendo os animais que aparecem naquela
primeira série de vídeos (figura 4; MONTGOMERY, 2010c). Os animais dos
primeiros seis curtas de iamamiwhoami são um bode, uma coruja, uma baleia,
uma abelha, uma lhama e um chimpanzé. Descobriu-se que a charada fazia
referência às vozes dos animais e soletrava “bounty”. Era a primeira forma de
contato “físico” que iamamiwhoami estabelecia com alguém da mídia, mas
estava longe de uma exclusiva.
Figura 4: mensagem de iamamiwhoami a James Montgomery.
Utilizando a ferramenta do Google que expõe métricas de busca, observamos
que o pico de buscas por “iamamiwhoami” se deu em março de 2010
(GOOGLE, 2012). Postado em 15 de março, o artigo seguinte de Montgomery
tratava do recém-lançado clipe de “b”, primeiro da série “bounty”, e especulava
se Jonna Lee seria a mulher envolta em plástico do vídeo (MONTGOMERY,
2010d).
A afirmação foi baseada num post9 da comunidade Oh No The Didn't (ONTD)
do site Live Journal, onde há algum tempo já se teorizava sobre a identidade
dos produtores de iamamiwhoami. Os agentes de Lee americanos, porém,
negaram o envolvimento dela com o projeto e os agente suecos sequer
responderam ao questionamento de Montgomery.
Alguns outros sites notáveis e de nichos diversos mencionaram iamamiwhoami
pela primeira vez na mesma ocasião, como o brasileiro Brainstorm910, Idolator11
e Billboard12, com artigos de conteúdo similar: os vídeos misteriosos e como
blogueiros estavam tentando identificar aquele artista. O jornal britânico The
23
Telegraph replicou a opinião do jornalista Chris Binns, da empresa de
marketing Mediacom, ao The Times: “É muito difícil ir além dos seus pares e
ganhar cobertura da mídia. [...] A estratégia de marketing de ‘iam’ certificou-se
de que quando a artista for revelada, tanto a mídia de nicho quando a de
massa escreveram sobre eles”13 (TELEGRAPH, 2010).
Seis vídeos curtos e um clipe haviam sido divulgados, mas o interesse por
iamamiwhoami fomentava uma crescente comunidade de fãs entretidos em
conjeturas e oferecia algo diferente em meio a campanhas virais que
começavam a se tornar formulaicas e quase tão comuns quanto spam, como
afirmou Ryan Dombal (2010). Um grupo de admiradores se mobilizou nas
discussões dos vídeos, num primeiro momento, em seus blogs, quando
partilhavam o novo lançamento. Depois, os debates se expandiram para fóruns
públicos relacionados à cultura pop e musical, tais como o ONTD.
Jornalistas mais ligados a música de vanguarda, como Montgomery e Dombal
foram imprescindíveis para que veículos de massa, a exemplo do The Times e
Billboard, tratassem tanto do fenômeno viral desencadeado pelo projeto
quando da sua produção em si.
1.2. Líderes de opinião e “consumo social” de informação
Why do you communicate with the outside world? If there’s a want for something new you might find me at the start or where it ends for you. We know about the chance of more.Why speak in codes? What is expected, to carry you in my arms?(Única entrevista de iamamiwhoami, concedida à revista Bullet. As respostas são citações diretas de suas letras de música. Grifo dos autores. IAMAMIWHOAMI, 2011.)14
Desde o primeiro vídeo, iamamiwhoami demonstra uma relação incomum com
a mídia massiva e mesmo com as “mídias sociais”: a única entrevista dada é
totalmente enigmática e seu “site oficial” é o YouTube15. Porém, seu
planejamento de comunicação não despreza o poder dos críticos. O link do
primeiro vídeo foi enviado para alguns jornalistas (PATTINSON, 2010; ERLICH,
2012), além do envio especial para James Montgomery. Reconhecer o papel
dos líderes de opinião é vital num planejamento comunicacional, já que estes
24
ajudam a direcionar e formatar a mensagem para seu grupo e podem
emprestar prestígio a uma entidade nova ou desconhecida (BAHIA, 1995).
Tal função foi definida pela teoria do Two Step Flow, ou teoria do fluxo
comunicacional em duas etapas. Proposta Paul Lazarsfeld et al., é baseada
num estudo da década de 1940 sobre influência social. Formadores de opinião
são expostos a alguma mensagem, interpretam-na de acordo com seus
próprios valores e então passam a veicular as mensagens, moldadas com suas
opiniões pessoais, a um público mais amplo (GRISWOLD, 2007). “Líderes de
opinião são bastante influentes para fazer as pessoas mudarem suas atitudes e
comportamentos e são bem parecidos com aqueles que influenciam”16
(UNIVERSIDADE DE TWENTE, s/d), o que também sinaliza que cada grupo
social, em diversas escalas, tem um ou mais líderes de opinião.
O líder de opinião transfere credibilidade a uma informação. O contato pessoal
em si é importante, pois a observação da linguagem corporal e da entonação
ajudam a julgar a honestidade de uma pessoa (GRISWOLD, op. cit.). Se
considerarmos o crescimento de formatos como podcast e videocast, além de
comunicação instantânea por voz e vídeo, veremos que a internet está se
aproximando de formatos antes exclusivos da TV ou do rádio, com a adição do
caráter pessoal na transmissão de informação.
Além disso, os líderes de opinião se envolvem espontaneamente com os
assuntos de tratados pelos meios. Como perceberam Lazarsfeld et al., em sua
pesquisa de 1944, os líderes de opinião
se engajaram muito mais na discussão política do que o restante dos respondentes. Porém, eles relataram que os meios formais foram mais efetivos como fonte de influência do que as relações pessoais. Isso sugere que ideias frequentemente fluem do rádio e do jornal para os líderes de opinião e destes para setores menos ativos da população (apud SILVA, 2008, p. 69).
Não é possível definir com exatidão como mensagens virais se espalham de
pessoa para pessoa (a não ser que, desde o começo da campanha, sejam
estabelecidos mecanismos para colher métricas). Mas podemos supor que dois
tipos de líderes de comunicação foram os primeiros e principais divulgadores
de iamamiwhoami: os jornalistas especializados, que receberam os links dos
25
vídeos ainda em 2009, e os aficionados pelos assuntos que pareciam estar
relacionados a iamamiwhoami, como a música eletrônica, personalidades da
cultura pop e o próprio estudo do marketing viral.
Assim como os grupos sociais se sobrepõem, também se misturam as áreas
de influência. Uma pessoa que aprecia música eletrônica pode ter recebido
informações de iamamiwhoami de um amigo mais envolvido num assunto e,
quase ao mesmo tempo, ter visto mais informações num blog. Um jornalista de
um veículo de mídia massiva que recebeu a dica de Dombal, por exemplo,
reuniu informações obtidas de blogs musicais, onde um líder de opinião se
expressa, fóruns especializados, onde vários líderes de opinião trocam
informações, e de consultores em marketing, eles próprios líderes de opinião
em sua área.
A “recompensa” para os influenciadores é justamente serem percebidos como
tal: eles estão normalmente a frente das tendências, buscando o próximo
objeto desconhecido (SOLIS, 2010). Isso pode ser notado em pequena escala
quando blogs se apressam para postar o mais recente vídeo de
iamamiwhoami. Como eles são postados num horário incerto (caso haja
indicação da data), fãs passam bastante tempo recarregando o canal no
YouTube não só pela ansiedade para ver o vídeo, mas também para serem os
primeiros a compartilhá-lo.
À época da publicação da teoria de Lazarsfel et al., uma tese muito diferente
dominava os estudos da comunicação: a teoria Hipodérmica, que defendia que
uma mensagem lançada pela mídia é imediatamente aceita e espalhada entre
todos os receptores, em igual proporção (KATZ, 1957; WYCOFF, 1999).
Hoje, quando os meios de comunicação se apoiam cada vez mais em grupos
sociais (notícias lidas por amigos em sites de redes sociais, recomendações
personalizadas, comentários e debates abertos etc.) e a “massa” nos parece
menos homogênea do que nunca, a teoria de Two Step Flow mostra-se
especialmente pertinente (SILVA, op. cit.). Os meios induzem esse “consumo
social” da informação, pois é uma forma de obterem uma audiência maior.
26
Ainda que o consumo de informação seja social ao menos desde os anos
1940, como mostra a teoria do fluxo comunicacional em duas etapas, a internet
facilita o compartilhamento de mensagens por meio dos diversos sites de redes
sociais e mecanismos de publicação pessoal, como blogs.
Alguns veículos se utilizam de uma ferramenta do site de rede social Facebook
para publicar automaticamente o que você está lendo para seu grupo de
amigos. E mesmo o botão “curtir” ajuda a ordenar as informações que são
expostas no site: quanto mais cliques no botão, mais popular é uma
mensagem, então ela merece ser lida mais que outras. Esses exemplos
revelam a importância do demais participantes do grupo no contato com
informações mediatizadas, e tudo isso deve ser levado em conta para a
dispersão de uma mensagem viral.
Mais concretamente, um estudo recente analisou 42 milhões de usuários e
cinco bilhões de tweets, as mensagens publicadas no serviço de microblogging
Twitter, e descobriu que cerca de vinte mil usuário foram a fonte de metade dos
links compartilhados no serviço. Eles dependem, porém, de cerca de
quinhentos mil líderes de opinião para divulgar as mensagens.
Curiosamente, esses resultados são muito consistentes com a tese original do fluxo comunicacional em duas etapas, desenvolvida há mais de 50 anos, que enfatizou que os líderes de opinião eram “distribuídos em todos os grupos ocupacionais e em todos os níveis sociais e econômicos [...]”17 (HOFMAN et al., 2011).
A “liderança de opinião” não é uma característica geral de uma pessoa: ela está
limitada a questões específicas. Indivíduos que são líderes de opinião numa
área podem não ser considerados influentes em relação a outras áreas
(MERTON, 1949, apud GRISWOLD, op. cit.). Lazarsfeld e Katz identificaram
que líderes de opinião eram os que tinham maior interesse num nicho
particular, tinham posições dentro de duas comunidades que lhes dava
competências especiais em seus respectivos nichos e eram geralmente
pessoas bastante sociáveis, agregadoras. Notaram ainda que a quantidade de
informação midiatizada recebida pelos líderes é muito maior do que pelo
indivíduo médio em seu grupo (ibidem).
27
Fica claro, então como os blogueiros de música eletrônica podem ser
considerados líderes de opinião em relação a iamamiwhoami. Além de terem
no blog uma ferramenta notável para difusão de informações, esses indivíduos
tendem a estar em sintonia com o que é divulgado pela mídia especializada,
como os primeiros artigos de James Montgomery, ou com líderes de opiniões
de círculos mais restritos.
O entendimento das relações entre mídia, líderes de opinião e audiência tem
se mostrado mais pertinentes para o marketing e para a publicidade
contemporâneos, que já não podem ignorar as redes sociais digitais (e a
internet como um todo).
No que diz respeito às estratégias [...] de marketing viral, chama a atenção o destaque dado aos líderes de opinião, que recebem diversas outras denominações como “alfas”, “conectores”, “evangelistas”, “agentes contaminadores”, “influenciadores”, entre outros (SILVA, op. cit., p. 72).
São esses agentes que dispersariam o “vírus” numa comunidade, e tal
metáfora biológica para o estudo da dispersão de informações não é muito
recente. O biólogo britânico Richard Dawkins cunhou o termo “meme” em 1976
pra descrever o fundamento de uma ideia, de um comportamento ou de um
estilo que se espalha de pessoa a pessoa num grupo (RECUERO, 2009;
MERRIAM-WEBSTER, s/d).
A partir de uma abordagem evolucionista, Dawkins compara a evolução cultural com a evolução genética, onde o meme é o ‘gene’ da cultura que se perpetua através de seus replicadores, as pessoas (RECUERO, op. cit., p. 123).
Diretamente relacionado ao estudo da difusão da informação, o estudo dos
memes utiliza conceitos darwinistas, como a mutação e a seleção natural, para
explicar como algumas ideias sobrevivem aos séculos enquanto outras
desaparecem, são superadas.
Raquel Recuero ratifica a teoria do fluxo comunicacional em duas etapas ao
afirmar que a propagação dos memes é diretamente relacionada com a
autoridade: algumas ideias só “sobrevivem” porque dispõem de um divulgador
reconhecido e influente dentro de uma comunidade. Tal divulgador
normalmente também desenvolve, modifica ou dá seu parecer sobre o meme,
28
o que Recuero, a partir dos estudos de Dawkins, define como “meme
metamórfico”: “sua principal característica é ser apresentado dentro de um
contexto de debate, onde a informação não é simplesmente repetida, mas
discutida (...)” (op. cit., p. 131).
A reputação e a autoridade de quem dispersa um meme são importantes para
sua propagação na rede, e um meme “apoiado” por um número maior de
divulgadores influentes tem mais chances de expandir-se num curto período e
continuar sendo replicados por bastante tempo.
A compreensão dessas teses sobre o compartilhamento de mensagens num
grupo, modificadas e “reforçadas” por um especialista que exerce papel de
liderança naquela comunidade, são fundamentais para o estudo de estratégias
de marketing viral, tal como a usada por iamamiwhoami.
1.3. Feito para viralizar
Marshal McLuhan apresenta uma trajetória histórica de como a tecnologia (e os
meios por ela permitidos) modificaram as relações das sociedades com o
conhecimento. “O homem teria saído de uma organização social baseada na
oralidade – um modo de vida tribal nas palavras de McLuhan – para um novo
modo de estar no mundo, ‘destribalizante’” (SILVA, op. cit., p. 62). A oralidade
da vida tribal privilegiaria a integração, o envolvimento no processo de
apreensão cultural por meio da audição. Já a escrita teria isolado os indivíduos
na sua relação com a cultura e com os outros homens.
A mídia eletrônica teria significado o retorno de características das sociedades
orais ao mundo contemporâneo.
Ao usarmos a expressão Aldeia Global, podemos fazer uma alusão direta à capacidade de meios como rádio e TV transmitirem simultaneamente e em tempo real fatos e acontecimentos que se desenrolam em qualquer parte do globo. Esse é um aspecto de integração, onde a distância geográfica perde a sua importância para a circulação da informação (SILVA, op. cit., p. 63).
Comunicação simultânea, não-linearidade, instantaneidade e circularidade da
informação, tribos como modelo de associações humanas no ciberespaço,
29
equalização dos sentido humano na exposição à linguagem multimídia: tudo
isso são aspectos relacionados a essa volta da oralidade apregoada por
McLuhan.
Nelito Silva (op. cit.) afirma que o marketing viral se beneficia da forma como a
informação flui na internet: “as pessoas compartilham opiniões, sentimentos,
interesses. […] Nos sites de relacionamento, o maior apelo é estar em contato
com amigos do mundo real ou novos amigos virtuais com os quais há
aproximação em função de afinidades” (p. 64). Nesse ambiente onde o
compartilhamento é tão importante, há uma “nata” que possui, segundo Joanna
Kwiatkowska, (2009), um alto Potencial de Relacionamento Social (PRS)18,
justamente os líderes de opinião.
Kwiatkowska descreve o processo comum nas campanhas virais de se enviar a
“peça” viral para os líderes: se alguns indivíduos com alto PRS forem
“infectados”, há grande probabilidade de que a mensagem se espalhe além do
grupo. A aprovação de um líder de opinião passa confiança à mensagem:
mesmo nitidamente marcada como uma propaganda, a ação não vai ser
rejeitada pelos indivíduos que a receberem porque foi recomendada por
alguém que ele identifica como especialista ou conhecedor daquela área e
também como um amigo
Outra característica presente em muitas campanhas virais é a Conexão: se
alguém não consegue entender uma ideia, ele vai ignorá-la e seguir em frente
(ibidem). Brian Solis (2010) defende que as mensagens que se propõem virais
devem ser claras para poderem conectar-se com o público.
Essa ideia parece ir de encontro com o que virais que apelam para o mistério e
o incompreensível, como iamamiwhoami. Na verdade, muitos dessas
campanhas apresentam algumas questões novas, complexas, mas usam
estruturas já conhecidas pelo público. No caso de iamamiwhoami, podemos
citar o formato clássico do videoclipe quem vem sendo utilizado em sua
produção: a música é dublada por Jonna Lee e serve de trilha para uma
história que é contada com interpretação e dança.
30
Ralph Wilson, consultor em marketing viral, também enumera algumas
características presentes em campanhas virais bem sucedidas:
Distribuir gratuitamente produtos e serviços; Oferecer um meio sem esforço de envio para os outros; Ser facilmente escalável do pequeno para o muito grande; Explorar motivações e comportamentos comuns; Utilizar redes de comunicação já existentes; Aproveitar recursos de terceiros. (WILSON apud TORRES, 2009, p. 196).
Ora, todas essas características podem ser encontradas em maior ou menor
medida na “campanha” de iamamiwhoami. Apesar de não configurar um
produto tangível, os vídeos de iamamiwhoami são uma variedade gratuita de
entretenimento e, ao mesmo tempo, peças promocionais do artista e das
musicas, essas sim à venda. Pela definição mais completa de Dan Moller
(2011, p. 6), “um curta-metragem integrando som e imagem, produzido para
fins promocionais e artísticos”19, o clipe é em si um produto que está sendo
distribuído gratuitamente.
O uso de estruturas narrativas clássicas, tema que debateremos no capítulo 3,
assegura que todos podem se identificar ou reconhecer algo que gostem em
iamamiwhoami. O interesse despertado pela produção de qualidade
profissional, pela música e pelo fator “mistério” também ajudam o consumidor a
sentir algo. Para Torres (op. cit., p. 200), “só as emoções produzirão a energia
necessária para que tudo seja transformado na ação de reenviar uma
mensagem”.
Um depoimento interessante nesse contexto é o do jornalista Bryan McKay
(2010), que acredita que o que torna iamamiwhoami um fenômeno é a raridade
do mistério em nossa cultura hipermidiatizada. Afirma que o projeto “jaz num
espaço entre arte e publicidade que eu acho muito fascinante” e que suas
qualidades compensam o fato de ser uma peça de propaganda, o que reforça a
tese de que as pessoas estão cada vez mais avessas a formatos tradicionais,
mas podem ser receptivas a novos formatos.
O uso de “recursos de terceiros” também foi contemplado com o envio dos
vídeos a formadores de opinião da mídia e é algo que ocorre naturalmente
quando um blogueiro posta a respeito do vídeo. Os recursos são, em relação a
iamamiwhoami, os variados tipos de veículos comandados por líderes de
31
opinião, desde os blogs especializados aos portais. Publicar o vídeo num mural
pessoal do Facebook também pode ser considerado aproveitamento de
recursos alheios, mas ocorrendo numa escala capilar.
Os demais tópicos listados por Wilson podem ser resumidos como a “utilização
de plataformas populares”. iamamiwhoami optou por disponibilizar todos os
seus vídeos exclusivamente no YouTube, sem dúvida o maior site de
compartilhamento de vídeos, o que garantiu escalabilidade e se aproveitou das
ferramentas de compartilhamento fornecidas pelo próprio site. Além disso, o
fato de o YouTube ser uma plataforma que as pessoas já conhecem as ajuda a
se apropriar do vídeo mais facilmente: elas sabem onde clicar para “curtir”,
como comentar e como enviar o vídeo para o Twitter, por exemplo.
Torres cita ainda outras características de campanhas virais que podemos
encontrar em iamamiwhoami, mais relacionados com a “peça” em si do que
com redes, como a necessidade de se criar algo inovador e diferente, algo que
iamamiwhoami visivelmente conseguiu. Outro ponto importante, ainda segundo
Torres, é “Não faça propaganda”, indicando que os publicitários devem
esquecer marcas e produtos e focar na criação das histórias. Trataremos da
criação da narrativa de iamamiwhoami no capítulo 3, mas já podemos destacar
que os vídeos não têm links para lojas de música online, por exemplo. Não há,
na descrição ou em qualquer parte da página do vídeo, textos como “Novo
single disponível, clique aqui”, o que é muito comum em canais do YouTube de
outros artistas.
Um último ponto destacado por Torres é “criar uma sequência de ações e
interações após o primeiro contato com o consumidor” (op. cit., p. 209). Os
lançamentos de iamamiwhoami tem sido mais ou menos contínuos desde o
final de 2009, mas acreditamos que isso se deva mais ao ritmo padrão, na
indústria musical, do ritmo de lançamento de singles, álbuns e coletâneas.
Eventos como o longa-metragem IN CONCERT, porém, não são comuns e não
seriam possíveis sem o suporte de um grande número de fãs.
Um grande diferencial que iamamiwhoami tem de outras campanhas virais,
pelo menos em seu início, é a ausência de mídias de apoio.
32
O marketing viral, mesmo quando bem executado, não é suficiente para posicionar um produto, nem para esclarecer características relevantes aos consumidores sem outras formas de propaganda como suporte. O viral tem como função ampliar a visibilidade da marca, e não necessariamente estimular o consumo imediato (BARRICHELO; OLIVEIRA, 2010).
Somente após vários meses de início do projeto é que ações mais tradicionais
de divulgação de artistas musicais, como shows em festivais e entrevistas
exclusivas, foram realizadas pelo projeto. O suporte para o viral se deu através
da criação espontânea, mas visivelmente incentivada, de uma comunidade
mais ou menos integrada de aficionados, que veremos com mais detalhes no
capítulo seguinte.
33
2. O PODER DOS FÃS
Um dos motivos pelos quais iamamiwhoami se mantém presente na pauta de
veículos especializados é a força de seus fãs. Os aficionados por
iamamiwhoami são um grupo pequeno, se comparado com o de outros artistas
estabelecidos, mesmo os independentes. Entretanto, nota-se que possuem um
alto grau de envolvimento com o projeto, porque esse o exige: tem de se
assistir a todos os vídeos, ouvir todas as músicas, ler material relacionado e,
principalmente, debater bastante na internet para que se obtenha mais sentido
na obra do que é apreensível à primeira vista.
iamamiwhoami entretêm mais pelo envolvimento com a obra e pela interação
com os demais fãs do que pelo seu consumo isolado. Isso é mais comum no
caso de filmes e séries de televisão, por exemplo, do que em relação a artistas
musicais, porque os primeiros desenvolvem uma história, uma narrativa, que é
combustível para o aprofundamento dos fãs. E a internet garante que eles
podem se aprofundar coletivamente.
A interação é um elemento fundamental para a internet. Nelito Silva (2008, p.
45) retoma Pierre Lévy (2000) para explicitar que “ao menos que esteja morto,
um receptor nunca é passivo”. Na internet, porém, a interação, entendida como
troca de informação, é muito mais facilmente observável e pode ter um raio de
ação maior. Uma carta enviada ao jornal pode ser publicada; um comentário
dito na sala de casa pode reverberar para os vizinhos, ao passo que um tweet
pode ser lido dezenas de vezes em poucos minutos. A opinião de uma pessoa
comum depende menos de filtros externos e há mais chances de ir além do
círculo de conhecidos.
É claro que a mídia pode ser consumida mais passivamente pela internet:
alguém pode apenas assistir aos vídeos de iamamiwhoami sem jamais
compartilhá-los ou falar deles. Mas as ferramentas e plataformas de publicação
de conteúdo (blogs, o próprio YouTube) estão tão integrados aos sites de redes
sociais que está cada vez mais fácil fazê-lo.
34
Neste capítulo, falaremos da importância de se fomentar uma comunidade de
consumidores (seja abrindo canais especiais para os fãs, seja convidando-os a
se debruçarem sobre o universo da marca) e como se configura o grupo de
aficionados por iamamiwhoami.
2.1. As “comunidades” de consumidores
Henry Jenkins (2009) retoma o conceito de comunidades de conhecimento de
Pierre Lévy (1997) ao estudar as comunidades de fãs. Para Lévy, os
conhecimentos individuais são aproveitados para fins comuns e compartilhados
com um grande número de pessoas quando disponibilizados na internet, o que
chama de “inteligência coletiva”. Essa troca de conhecimentos entre os fãs,
mais ou menos organizados em redes diversas, seria uma das forças por trás
da criação e circulação de produtos da cultura de massa.
A construção comunidades é facilitada pelas ferramentas disponíveis na
internet, que permitem que pessoas produzam e ofereçam conteúdo de forma
rápida e barata numa variedade de plataformas, como blogs e fóruns
(TORRES, 2009). O conhecimento coletivo só existe em tais ambientes, onde a
informação é livre e acessível por todos e, por isso, deixa de pertencer a uma
só pessoa ou a um só grupo.
Tanto Jenkins (op. cit.) quanto Cláudio Torres (op. cit.) reconhecem a
importância dos grupos de consumidores organizados para melhorar a
qualidade dos produtos, aumentar as vendas e, então, criar novos produtos,
mais ou menos inspirados no produto original. Jenkins (in BURGESS; GREEN,
2009) ressalta ainda que os participantes dessas redes não estão restritos ao
modo de produção baseado no lucro, ou seja, não são limitados a plataformas
proprietárias nem a modelos de produção e divulgação que protejam direitos
autorais ou resultem de parcerias comerciais.
Apesar de só mais recentemente as comunidades de consumidores estarem se
constituindo para marcas (como celulares, grifes, cafeterias), eles existem há
mais tempo para produtos da cultura de massa e são chamados de fandoms
35
(SACHS, 2011). Os fãs já trocavam e produziam informações desde os
primórdios da cultura de massa por meio de fã-clubes, convenções e fanzines.
Não só o envolvimento de fãs com uma obra é notável há bastante tempo,
como suas produções colaborativas já eram igualmente valorizadas. “Antes do
computador, os fãs de O Senhor dos Anéis já pintavam quadros a respeito da
saga, e trocavam entre si suas próprias histórias envolvendo os personagens
dos livros” (SACHS, op. cit., p. 191).
Porém, o movimento parece ter se fortalecido mesmo com a internet, um “meio
no qual os fãs podem conversar [...] uns com os outros e, muitas vezes, com os
produtores, escritores e astros das séries em exibição” (MURRAY, 2003, p. 52).
“Desde meados dos anos 1900, estudos sobre fandoms tem focado cada vez
mais a internet como locus da atividade dos fãs”20 (BAYM, op. cit., p. 2),
atividade essa que começou em listas de discussão e fóruns e hoje também se
estabelece em sites de redes sociais.
Entre os primeiros criadores, defensores e usuários da internet havia fãs de Star Trek e Grateful Dead, ansiosos para usar seu novo sistema para discutir esses tópicos coletivamente. [...] Comunidades de fãs online estão na vanguarda da “cultura da convergência”, em que textos e materiais da cultura pop tomam forma através de múltiplas plataformas interligadas (ibidem). 21
Além de dinamizar as trocas dentro da comunidade, a internet permitiu que
todos os consumidores tivessem a seu dispor uma teia de informações criadas
pelos fãs em discussões e produções inspiradas em seu objeto de apreciação.
Essa construção em muito transpassa a propriedade intelectual original e logo
atraiu o interesse dos produtores da cultura de massa (JENKINS, op. cit.).
Esse novo entendimento dos consumidores como agentes no processo de
promoção e até mesmo de criação de produtos modifica as relações
mercadológicas. Consumidores de qualquer tipo de produto estão sendo mais
ouvidos pelas empresas na criação e modificação de produtos (TORRES, op.
cit.), ainda que de forma experimental. Essa relação é notada especialmente na
indústria cultural, em que “a produção coletiva de sentidos motiva a audiência a
acompanhar os episódios e a se inserir no grupo” (GREGOLIN, 2010).
36
Para Jenkins, um ponto importante é a influência que as comunidades de fãs
exercem sobre as propriedades intelectuais a que estão relacionados:
descobrir spoilers de um programa de TV, forçar produtores a mudar o rumo da
história, criar conteúdo original baseado num livro. Também destaca o poder
que advém de tais práticas: o conhecimento desenvolvido na apreciação de
uma série de filmes pode ser revertido para a política pública, assim como a
produção de ficção de fãs pode dar subsídios para uma carreira literária.
Em iamamiwhoami, a ação dos fãs se manifesta de uma forma mais premente
à própria obra: tão complexa e obscura, ela pede para ser debatida e
decodificada. Os fãs trocam informações, palpites e referências em diversas
plataformas: chats, fóruns, blogs, comentários dos vídeos, sites wiki e diversos
outros. Essa “decodificação” é feita coletivamente porque demandam
conhecimentos múltiplos, como de mitologia nórdica, literatura, design e
semiótica (YLOSIAM, 2010). Para Lévy, o conhecimento coletivo é impossível
de ser reunido numa pessoa só, dado seu tamanho (apud JENKINS, op. cit.).
Os fandoms, então, produzem tanto conhecimento coletivo quanto possibilitam
o desenvolvimento de relações sociais (BAYM, op. cit.), pois funcionam como
os demais grupos sociais.
Todos os grupos sociais, online ou off line, podem ser visualizados como redes.
Segundo Raquel Recuero, as redes são metáforas
para observar padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais nem suas conexões (2009, p. 24).
Os nós de uma rede representam os atores, as pessoas envolvidas na rede
analisada. São os atores que, interagindo entre si e constituindo laços sociais,
dão forma às estruturas sociais (figura 5). Na internet, porém, “os atores não
são imediatamente discerníveis. [...] trabalha-se com representações dos
atores sociais, ou com construções identitárias do ciberespaço (idem, p. 25)”.
Os nós não correspondem exatamente a pessoas, mas aos “avatares” criados
pelas pessoas e entidades através de várias ferramentas e plataformas. E tais
37
representações podem se tornar reconhecidas (líderes de opinião) dentro de
uma rede (BAYM, op. cit.).
Figura 5: exemplos da representação gráfica de redes sociais.
As conexões de uma rede social são formadas pelos laços sociais que se
estabelecem através das interações sociais. São facilmente observáveis na
internet, pois as interações dos usuários deixam rastros sociais mais
duradouros e quantificáveis do que nas redes off line. “Um comentário em um
weblog, por exemplo, continua ali até que alguém o delete”. A interação é
fadada, então, “a permanecer no ciberespaço, permitindo ao pesquisador a
percepção das trocas sociais mesmo distante, no tempo e no espaço, de onde
foram realizadas” (idem, p. 30).
Os atos desempenhados em redes, bem como as relações estabelecidas, são
motivados por fatores diversos, mas podemos classificá-los como competição,
cooperação ou conflito. A cooperação “é o processo formador das estruturas
sociais. Sem cooperação, no sentido de um agir organizado, não há sociedade”
e “é essencial para a compreensão das ações coletivas dos atores que
compõem a rede social” (idem, p. 81). Por sua vez, a competição “compreende
luta, mas não a hostilidade, característica do conflito”, padrão de interação
associado à violência e agressão que “pode gerar hostilidade, desgaste e
38
ruptura na estrutura social” (idem, p. 82).
Num fandom, esses padrões se mostram bastante visíveis nas relações
internas (discussões e projetos desenvolvidos pelos membros) e externas (é
comum que fãs de franquias diferentes as vejam como rivais e adotem para si
um comportamento de rivalidade) a ele (BAYM, op. cit.). Fãs podem brigar por
terem opiniões diferentes a respeito de um assunto ou estreitar os laços
criados no fandom ao descobrirem mais afinidades.
2.2. O fandom de iamamiwhoami
Uma comunidade de fãs em torno de iamamiwhoami começou a se formar nos
comentários dos primeiros vídeos e em posts de blogs tratando do assunto: as
pessoas sentiam-se atraídas em descobrir do que se tratava aquilo e quem
eram seus autores. Foi inusitado observar que fandoms de diversos artistas já
estabelecidos aproximaram-se para descobrir a identidade da mandrágora:
seria Christina Aguilera? Allison Goldfrapp?
Depois da primeira leva de virais, sites mais representativos, como
Iambountyfan, se estabeleceram. Mas a discussão continuou a acontecer por
toda a internet, em blogs pessoais como ForsankenOrder, de Dariana
Ylosiam22, em que cada vídeo é exaustivamente analisado. Fãs também se
manifestam quando iamamiwhoami aparece em outros sites: o Papel Pop, um
dos mais visitados blogs de cultura pop do Brasil (CAPERUTO, 2009), publicou
uma resenha pouco lisonjeira e recebeu dezenas de comentários
discordantes23.
Além do número de visualizações dos vídeos no YouTube, que possui 29.910
assinantes e um total de 14.741.152 exibições, não há muitos dados indicando
o tamanho do fandom de iamamiwhoami. No Facebook, uma fan page não
oficial, criada pelo próprio serviço a partir de informações da Wikipédia, possui
13.732 pessoas conectadas24.
A área de comentários do YouTube é um local propício para o início de
39
discussões sobre o que se acabou de assistir. Os comentários mais antigos de
“b”25, o primeiro videoclipe, traziam suposições acerca da identidade cantora,
citando artistas como Lykke Li, Bat for Lashes, The Knife e, com mais
intensidade, Christina Aguilera. Detalhes como a cenografia e as letras são
usados para justificar ou refutar a possibilidade de o projeto ser ou não de
Aguilera, em longas contendas. Um comentário discreto afirma que “É Jonna
Lee, com certeza” 26, mas muitos continuam convencidos de que são outros
artistas.
A descrição de “b” contém apenas o link para o vídeo de uma menina que
participa de concursos de beleza infantis27, algo que muitos espectadores
dizem ser mais perturbador e estranho que o próprio “b”. Alguns usuários se
aventuram a discutir o enredo do vídeo em si, e um comentário destaca a
relação dos mitos da mandrágora e da sereia (ambas sedutora de homens),
algo que seria visto em IN CONCERT. Como o YouTube possui um limite de
500 caracteres por comentário, não é possível postar análises extensas de
uma vez só. O vídeo com mais comentários é “y”, também o mais visto, com
7.452 comentários, 8.476 avaliações positivas e 1.695 negativas.
O site Iamboutyfan parece ser o destino mais estruturado para um fã de
iamamiwhoami: ele agrega notícias, chat, fórum, um site wiki e vários perfis em
redes sociais. Entre 22 de abril e 22 de maio de 2012, foram 23.898 visitantes
únicos, dos quais 77% já haviam visitado o site anteriormente
(IAMBOUNTYFAN, 2012).
O site foi criado em janeiro de 2010 (em iambounty.tk) e seu canal do
YouTube28, em fevereiro. Um dos responsáveis pelo site (naturalmente
anônimo) explicou que a equipe acompanha o projeto desde os teasers,
através de diversos blogs e sites de redes sociais. A equipe principal é formada
por quatro pessoas, um colombiano e três britânicos. Dois membros são
responsáveis exclusivamente pela postagem de notícias em sites de redes
sociais, como Facebook e Twitter.
40
Não tiveram contato com iamamiwhoami, como uma entidade oficial, mas um
dos membros do projeto já utilizou o chat de Iamboutyfan e conversou
brevemente com os usuário. Ele revelou que os fãs já sabem quem é a equipe,
que “monitora tudo” que se fala a respeito do projeto, e recomendou que eles
“não esquecessem de viver”.29
A ação mais notável do site foi organizar a votação que elegeu um dos
membros do fandom para participar de IN CONCERT. A enquete aconteceu no
site e os resultados foram postados no YouTube30. (O desenvolvimento de IN
CONCERT é detalhado no capítulo 3.)
A primeira nota postada em iambountyfan.com, de novembro de 2011, faz
referência a um calendário temático do projeto que o próprio site estava
criando. As seguintes tratam do então recém-lançado IN CONCERT, incluindo
um mapa das locações, criado por um fã, e uma discussão sobre o preço e a
qualidade das músicas dele retiradas. Há posts “investigativos”, em que os fãs
trocam pistas sobre o projeto, como o que trata das músicas registradas por
Jonna Lee no banco de dados da ISCW, organização que cataloga obras
musicais31. Outro post mostra o resultado do projeto “?”, em que vários fãs
compuseram quatro músicas e um vídeo em tributo a iamamiwhoami32.
Visto que iamamiwhoami não tem presenças oficiais em sites de redes sociais,
Iamboutyfan é a principal fonte de informação e congregação para fãs em sites
desse tipo.
No Twitter, “misto de rede social, blog e ferramenta de comunicação que
permite que os usuários enviem atualizações pessoais [...] em menos de 140
caracteres” (TORRES, op. cit., p. 149), o perfil @iamboutyfan possui 693
seguidores, segue 538 usuários e postou 1.181 tweets desde 10 de agosto de
2010. Desempenha funções diversas, como compartilhar o que está sendo
postado no site principal, postar links diretos para novos vídeos e músicas,
assim como interagir propriamente com os fãs que usam o site de
microblogging. Numa conversa recente, esclareceu que alguns títulos para
novos singles de iamamiwhoami era apenas rumores33.
41
No Facebook, site de rede social mais utilizado no mundo atualmente (LEVI;
SPEARS, 2012), Iambountyfan possui uma página homônima com 2.450 fãs34,
que possui papéis similares ao Twitter: compartilhar os novos posts do site, os
vídeos e músicas de iamamiwhoami, e também produzir conteúdo exclusivo
para aquela plataforma. Os singles mais recentes têm álbuns de fotos com
capturas de tela em alta resolução, que muitos fãs compartilham em seus
próprios perfis. A página também organiza “eventos” no Facebook que
funcionam como contagem regressiva para o lançamento dos singles.
O canal do YouTube talvez seja onde Iambountyfan tem mais relevância. Com
758 inscritos e 98.967 exibições, disponibiliza conteúdo original, como
mensagens aos fãs; recupera vídeos que foram deletados do canal de
iamamiwhoami; produz vídeos com trechos dos próximos singles (divulgados
por lojas de música online), e gravações de eventos, como a premiação da
rádio 6 Music, da BBC.
O site possui ainda ferramentas como uma wiki, hospedada pelo servidor
Wikia, uma página de chat bastante popular e um fórum, criado recentemente.
Wiki é uma plataforma de trabalho coletivo em que “qualquer um pode juntar,
editar e apagar conteúdos ainda que estes tenham sido criados por outros
autores” (BOTTENTUIT; COUTINHO, 2007, p. 201). A wiki de Iambountyfan35
possui 80 páginas e representa um esforço comunitário para a categorização
da produção de iamamiwhoami: aqui há letras de músicas, sinopses dos
vídeos, biografias dos autores presumidos, informações sobre eventos e
personagens. Algumas das páginas tem pouquíssimo conteúdo, esperando
informações adicionais que serão adicionadas com o tempo.
O chat36, onde se pode trocar mensagens instantâneas com um cadastro
simples ou apenas acompanhar o que está sendo discutido, teve um pico de
cerca de 2.000 usuários durante IN CONCERT e uma média de 700
mensagens por dia (IAMBOUNTYFAN, op. cit.). De conversas banais a
opiniões sobre o último single, quase tudo é permitido pelo caráter efêmero do
chat. Alguns frequentadores mais assíduos têm horários certos para acessar a
42
página e desenvolvem laços sociais mais fortes com os demais usuários.
No fórum37, que também requer um registro simples para se escrever
mensagens, há mais espaço para a discussão aprofundada. Criado em abril de
2012, ele possui apenas 27 membros e 47 posts. Um dos tópicos com mais
respostas é o que trata das informações vazadas do suposto single “tame”, que
depois se revelou falso38.
Há ainda uma página que reúne arte produzida pelas fãs, como versões
acústicas das músicas, remixes, montagens e ilustrações. Criado em março de
2012, “The Forest” possui 56 publicações39.
2.3. Tumblr como ecossistema
Tumblr é um serviço de microblogging e um site de rede social em que os
usuários publicam posts menores que os de blogs tradicionais, como sentenças
curtas, imagens individuais e vídeos (NUNES et al., 2010). Os usuários podem
seguir uns aos outros e interagir por meio de seus posts. Além de comentar e
trocar mensagens pelo serviço, um usuário pode gostar publicamente de um
post de outro e reblogar posts, reproduzindo “em sua própria página os posts
de outros (que são referenciados automaticamente), acrescentando, caso
deseje, seus próprios adendos, que podem ser outros textos, imagens, vídeos
etc.” (SACHS, 2011, p. 193).
O site possui duas interfaces básicas: uma é o blog em si, uma página
personalizável na qual aparecem as atualizações do usuário (figura 6), e o
Dashboard, ou Painel, onde aparecem as atualizações dos blogs que o usuário
segue (figura 7). A interface do Painel é comum a todos os usuários e foca no
conteúdo. Um usuário pode seguir outro e compartilhar conteúdo alheio tanto a
partir do blog quanto a partir do Painel.
43
Figura 6: blog no Tumblr. Figura 7: Painel.
O Painel nos permite observar facilmente o que vários membros estão
publicando num dado momento e, usando a busca, a respeito de um
determinado assunto. Pesquisar por lançamentos de iamamiwhoami nos revela
um padrão a respeito do que os fãs partilham sobre ela: antecipação pelo novo
vídeo, o vídeo em si, capturas de tela, análises, reflexões e piadas.
Consideramos o Tumblr a plataforma mais interessante para a análise da
produção criativa e relacionamento de um fandom por oferecer múltiplas mídias
numa interface simples e que permite ligações com outros sites de redes
sociais.
Apesar de observarmos que as características do Tumblr incentivam
principalmente a divulgação de textos não verbais, como imagens e
animações, não concordamos com Osmar Gonçalves et al. quando afirmam
que nesse site “o que interessa é se a imagem que o usuário enviou foi
replicada e não o debate que ela pode causar” (2011, p. 10). Acreditamos que
o compartilhamento, assim como o ato de “gostar” de uma imagem é a
expressão de uma opinião, que vai desde concordar com a mensagem a
rechaçá-la ironicamente ao publicá-la num outro contexto. Além disso, o uso de
meios e formatos múltiplos numa plataforma que se encadeia a diversas outras
não pode ser visto como algo que exige menos do usuário/produtor que a
criação de textos verbais.
Se as práticas de letramento, condição que uma pessoa adquire ao ter-se
44
apropriado da escrita, advindas de fandoms já existiam antes da internet, com
os fãs produzindo histórias, pinturas e mesmo vídeos, algo mais complexo
ocorre no hipertexto. Tanto é que ganha força o termo transletramento,
a habilidade de ler, escrever e interagir através de uma gama de plataformas, ferramentas e mídias, desde os gestos e a oralidade, passando pela escrita manual, pelo papel impresso, pela TV, pelo rádio e pelos filmes, até as redes sociais digitais (THOMAS et al, 2007, apud SACHS, op. cit., p. 192).
Rafael Sachs também resgata o conceito de hipermodalidade, relacionando-o
ao transletramento da mesma forma que o letramento pode ser relacionado aos
textos verbais.
No sentido proposto por Lemke (2002), a hipermodalidade resulta da união da multimidialidade [...] com a hipertextualidade típica do meio digital. Com o termo, o autor busca abarcar as diferentes relações de sentido que se estabelecem nos percursos de produção e recepção de textos hipermidiáticos organizados em redes que conectam texto verbal, som e imagem (ibidem).
Assim como Sachs, acreditamos que esses conceitos são fundamentais para
se investigar como os textos produzidos e divulgados no Tumblr “estabelecem
relações em rede com outros textos por meio das ferramentas” de blogagem e
reblogagem, já que elas próprias “contribuem para a produção de sentido em
seus percursos de leitura” (idem, p. 188).
O fandom de iamamiwhoami se utiliza do Tumblr cotidianamente, criando,
postando e replicando conteúdos diversos relacionados ao projeto. Aqui,
tentamos apresentar uma recorte mais ou menos linear do que se publicou
sobre o single “in due order”, lançado em 10 de abril de 2012. Entretanto,
algumas publicações são feitas em momentos distintos.
A busca pelo título no Tumblr revela que o primeiro post a mencioná-lo era
justamente o que anunciava sua data de lançamento, de acordo com a
Amazon.com, contendo 48 “notas” (número de pessoas que reagiu à
publicação, “gostando” dela ou a reblogando)40. Os posts seguintes traziam o
trabalho de fãs, como as interferências feitas na capa divulgada por
Iambountyfan, clareando-a para tornar mais fácil de observar o personagem41,
e Crashburnboy, que produziu uma animação da sequência das capas até
então divulgadas42.
45
A partir daí, os blogs compartilharam imagens da capa em melhor qualidade,
trechos divulgados pelas lojas online (o post de Iambountyfan possui 86
notas43) e fizeram contagens regressivas (utilizando por vezes imagens
engraçadas quem aludiam a sua ansiedade)44.
Com o lançamento, muitos blogs apenas publicaram o vídeo a partir do
YouTube, enquanto Tomasslaninka fez uma análise não muito favorável: ela se
diz não satisfeita com o clipe simples, direto, quando os predecessores
pareciam sugerir algo mais misterioso e complexo45. Depois, fez uma adição ao
texto, reconhecendo que o vídeo é apenas mais um pedaço numa longa
história, como sugeriu Ambywerewolf46. Iamkinfan postou imagens do vídeo
anterior, “play”, e de “idle talk”, destacando a relação entre eles: uma escada
aparece nos cenários de ambos os clipes47.
Os posts seguintes são, em sua maioria, imagens estáticas ou animações
capturadas do vídeo e comentários engraçados (uma das animações derivadas
do vídeo possui 123 notas48). Por vezes, faz se relações, humorísticas ou não,
com outros entes da cultura pop, como “Ela está incrível... me lembra de Rikku
(Final Fantasy X)”49 e “Star Wars Jonna”, que aponta a semelhança entre os
seres peludos do vídeo e o personagens Chewbacca de Star Wars 50.
Nicoblackheart compara os cabelos e roupas de Lee a uma produção de Kylie
Minogue51, enquanto Withpants diz que ela está parecida com Uma Thurman
num dado momento do vídeo52.
Sadgirlfriend postou a foto de uma estante branca de vinte e cinco nichos, tal
como a que tem destaque no clipe53. Vinte e cinco esse é o número de vídeos
até junho de 2012, com o lançamento do álbum kin, informa Icreatedthis54.
Helyna diz esperar o vigésimo quinto vídeo não signifique o fim do projeto55.
Gh0sts teoriza que a estante representa o ordenamento humano frente às
forças naturais: até agora, a saga kin foi um retorno à natureza. Em “in due
order”, porém, voltamos ao ambiente civilizado e os seres peludos, que antes
dançavam desordenadamente, seguem a coreografia de Lee56. A estante
branca é tema de uma ilustração criada por Yamammiwammi57.
46
Enigmasalad retoma as letras do single para debater o quanto os fãs de
iamamiwhoami são aficionados: “‘We don’t ask for anything / your lives could
have been unaffected’. Ironicamente, iamamiwhoami poderia estar chamando
seus admiradores de pegajosos, e ainda assim nós admiramos seu trabalho,
pois é incrível”58. Um outro fã, porém, está feliz apenas por ter aprendido a
coreografia do vídeo59, e Courtesyofcuriosity nota que, enquanto os seres
peludos atingiam Jonna Lee em sua dança no vídeo anterior, “play”, neste ela
aprendeu a desviar deles60.
2.4. Aficionados por análises
Até agora, vimos que as análises sobre a produção de iamamiwhoami, embora
importantes para seu consumo, são esparsas nos sites de redes sociais se
comparadas com os vários tipos de obras derivadas e mensagens diversas que
os fãs criam e compartilham. Há alguns blogs, porém onde a análise é o
principal conteúdo.
Forsaken Order, criado em 2008 pela romena Dariana Ylosiam, dedica-se a
analisar extensamente cada clipe, letra e elemento de iamamiwhoami, fazendo
relações com a mitologia, o cinema, a literatura etc. Mestra em Comunicação
Social e redatora freelance, Ylosiam “leu bastante, porque gosta de fazer
conexões. É parte do processo de pensamento... Algo lhe lembra disso e disso,
e você acha que é inspirado por alguma outra coisa, e isso significa algo etc.”61
(YLOSIAM, 2012).
Originalmente, o site tinha um conteúdo misto e vários autores mas, a partir de
2010, toda a sua produção voltou-se para os textos de Ylosiam sobre os vídeos
e músicas do projeto de Jonna Lee.
O primeiro artigo nessa temática, datado de março de 201062, parte para uma
análise direta de alguns frames do teaser “9.1.13.669321018 255120”, com o
objetivo de mostrar como dentes e traços faciais foram distorcidos, usando
maquiagem e efeitos visuais, para esconder a identidade da mulher do vídeo.
No começo do mês, todos os oito posts curtos são exclusivamente sobre
iamamiwhoami, a maioria dos quais foca em análises de frames e cenas dos
47
virais.
Um artigo mais extenso, porém, aparece já no dia 9 daquele mês. Intitulado
“Uma abordagem arquetípica e mitológica para iamamiwhoami”63, é uma
introdução às análises da construção narrativa do projeto e aos diversos
códigos presentes na obra. Ylosiam defende que iamamiwhoami é baseado
num conjunto de mitos clássicos, como o mito da criação, do renascimento/
renovação e da transformação.
Recebemos um discurso [...] e um sistema de códigos para decodificar esse discurso. Entretanto, enquanto a maioria das pessoas considera que os únicos códigos que temos são os numéricos (números no lugar de letras), há outros instrumentos com os quais podemos decifrar o que o autor dessa obra tenta transmitir a nós, leitores (YLOSIAM, 2010a)64.
A partir dessa visão, Ylosiam passa a analisar cada vídeo de iamamiwhoami,
sempre utilizando frames para evidenciar detalhes, além de aspectos gerais do
fenômeno. Ainda em março de 201065, ela participa do “jogo” de tentar descobri
o autor de iamamiwhoami para, depois o lançamento de “b”, anunciar que
acredita ser Jonna Lee66. Nesse post, apresenta duas interpretações diversas,
uma das quais indica que a mulher do vídeo que está na cadeira de balanço
estaria gestando a mandrágora. Numa edição posterior, ratifica a teoria a partir
da leitura de Alraune, romance do alemão Hanns Heinz Ewers que moderniza o
mito da mulher-planta. Num artigo iniciado no mês seguinte, ela compila mais
referências que podem ter sido usadas pelos autores de iamamiwhoami67.
Após analisar todo o ciclo “bounty”, Ylosiam se volta para a análise das capas,
considerando aspectos gráficos e as escolhas de letras minúsculas, fontes de
máquina de escrever e pontuação68; uma comparação da narrativa com o
arquétipo do dragão em várias culturas69; bem análises de todos os vídeos
relacionados a IN CONCERT70 e, desde então, os singles seguintes.
Por mais que seja impossível apreender o real significado de todos os detalhes
dos vídeos, músicas e performances, Ylosiam (assim como muitos fãs de
iamamiwhoami) encara esse estudo como parte da proposta da obra – e algo
que a entretém.
48
Em seu blog 2020k71, o engenheiro de áudio americano Robert Kozain trata de
assuntos pessoais, notícias sobre artistas que aprecia e análises de músicas e
álbuns variados. Seus posts mais comentados, porém, são os que tratam de
iamamiwhoami. Ele faz análises críticas densas dos singles do projeto desde “;
john”, em maio de 201172.
Se qualquer pessoa com interesse e tempo para pesquisar poderia fazer
análises como as de Ylosiam (apesar de não ter o embasamento teórico dela
para guiar as interpretações), o conhecimento profissional decerto é
preponderante para os posts de 2020k. Há várias passagens como “A
reverberação dos sinos-sintetizados parecem começar a transformar-se num
bloco de distorção, se você ouvir atentamente”, “muitas faixas hoje em dia
parecem ter o vocal agredindo na frente do mix” e “Há também alusões a outra
melodia, aguda e extremamente repetitiva, que entra junto aos sinos-
sintetizados e vai do canal esquerdo ao direito.”73 . O autor, entretanto,
preocupa-se em explicar o que são esses termos e deixar a produção musical
de iamamiwhoami mais acessível aos fãs, revelando as escolhas criativas dos
artistas no tratamento de camadas de som e uso de efeitos.
Em entrevista ao autor, Kozain (2012b) diz que “o mistério, marketing, vídeos e
imagem geral dão às músicas e ao projeto uma dimensão muito maior. Há
muita mais interação entre os fãs por causa disso”. Apesar de seu interesse de
análise principal ser a música, o blogueiro acredita que se não houvesse o
aspecto viral, não poderia dizer que escreveria tanto quanto o faz, mesmo
porque não haveria tanto sobre o que escrever. “Tudo é tão bem calculado,
vanguardista em termos de marketing, e ainda assim imaginativo e criativo”.
A inovação de imagens e narrativas, além do apelo do misterioso, mostraram-
se efetivos para a formação de um público fiel a iamamiwhoami. Marcas e
propriedades intelectuais que tenham presenças efetivas na internet podem
fazer ainda mais, desenvolvendo um relacionamento mais próximo (ou, ao
menos, aparentemente mais direto) com seu público.
49
3. (RE)CRIANDO HISTÓRIAS
No capítulo 1, discorremos sobre como o público é desconfiado e normalmente
não se interessa por formas tradicionais de publicidade. Somemos a essa
característica básica a crescente “saturação” desse público: “Na década de
1960, o norte-americano médio era exposto a cerca de 560 mensagens
publicitárias por dia. Na década de 1990, o número de mensagens publicitárias
chegou a 3 mil por dia” (ADLER; FIRESTONE, 2002, p. 31). E, apesar de a TV
ainda ser um veículo que alcança a massa satisfatoriamente, a segmentação e
fragmentação do público são tendências inevitáveis (ROCHA, 2009).
Temos um cenário em que atrair o consumidor para as mensagens publicitárias
demanda do profissional de comunicação mais do que as lições que se
aprende na faculdade: é preciso inovar não só para tornar a propaganda
memorável, aumentar vendas ou ganhar prêmios (ADLER; FIRESTONE, op.
cit.; SILVA, op. cit.). Antes de tudo, a peça publicitária tem de ser vista pelo
público certo, nos meios pertinentes. Muitas ferramentas e modelos criados ou
recriados com base nos novos meios, como o marketing viral, o de guerrilha e
o experiencial (RODRIGUES, 2010) são exaustivamente debatidos e viram
temas obrigatórios em estudos.
A narrativa transmidiática, que “desenrola-se através de múltiplas plataformas
de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o
todo” (JENKINS, 2009, p. 138), é um desses novos modelos. Apesar de mais
comumente relacionada a propriedades intelectuais (tais como filmes, livros e
programas de TV), onde uma história é desdobrada em meios diversos e de
forma complementar, campanhas publicitárias de marcas como Coca-Cola,
Mattel e Dos Equis estão trabalhando “a marca e o produto como conteúdo,
acarretando uma vantagem competitiva dentro do mercado repleto de iguais”
(CHACEL apud LEÃO, 2010).
Apesar de acreditarmos que iamamiwhoami tem uma “parcela” transmidiática
em sua composição, uma vez que as séries de vídeos, o show e a performance
IN CONCERT têm histórias distintas, porém autorreferentes, não vamos entrar
50
nessa discussão. Preferimos ir mais a fundo e discutir como a criação de
narrativas, pura e simplesmente, é importante para gerar valor agregado para
marcas e fidelizar o público.
Ao propor novas metodologias para a criação nos meios digitais, Janet Murray
indica que “escritores precisarão de um método concreto para estruturar uma
história coerente” que faça sentido mesmo estando “aberta à participação
colaborativa do interator”. E, segundo ela, a tradição criativa está repleta de
técnicas que empregam padrões e variações. Ainda, “há quem afirme que
todas as grandes histórias de sabedoria do mundo expressam as mesmas
verdades religiosas e psicológicas sendo, portanto, apenas versões diferentes
de uma única narrativa” (2003, p. 179).
Joseph Campbell (1995) propôs o “monomito”, um padrão básico que traça a
jornada de um herói em determinados estágios observados em textos do
mundo inteiro, há centenas de anos. “Rudyard Kipling contou sessenta e nove
modelos básicos, e Borges achava que eles não chegavam a uma dúzia. [...].
Os padrões são constantes porque a experiência humana é constante”
(MURRAY, op. cit., p. 180).
Em 1928, o folclorista russo Vladimir Propp publicou o resultado de um estudo
de 450 fábulas em que identificou 31 “funções” de personagens: em todos os
contos, os nomes e atributos dos personagens mudaram, mas suas ações, ou
funções, permanecem. Assim, o papel desempenhado por um personagem e
suas relações de causa e efeito se mantém nas histórias mais diferentes. “No
estudo do conto maravilhoso o que realmente importa é saber o que fazem os
personagens. Quem faz algo e como isso é feito já são perguntas para um
estudo complementar” (PROPP, 2010, p. 21. Grifo do autor).
Não apenas a estrutura das histórias, mas os traços e qualidades dos
personagens também podem ser reaproveitados e ressignificados de um texto
para outro. No caso de iamamiwhoami, notamos as referências ao romance
alemão Alraune, por sua vez baseado no mito da mandrágora como um híbrido
homem-planta (YLOSIAM, 2010), sobre o qual falaremos mais adiante.
51
O entendimento dos arquétipos e funções de personagens74 são importantes
porque eles são memes muito influentes. Como definimos no capítulo 1,
memes são os fundamentos das ideias. As ideias mais bem sucedidas (os
livros mais lidos, as religiões com mais seguidores) também “transmitem” seus
memes para novas ideias (RECUERO, op. cit.). Não apenas é difícil criar algo
totalmente novo, uma vez que estamos “mergulhados” em memes
poderosíssimos, como pode ser mais vantajoso se apropriar de conceitos e
fórmulas que nosso público-alvo conheça, entenda e tenha afinidade.
Neste capítulo, vamos discorrer sobre o enredo básico e a continuidade
existente entre os produtos de iamamiwhoami. Mais adiante, utilizaremos as
funções como definidas Propp para analisar a performance IN CONCERT.
3.1. A criação de uma narrativa
Apesar de inescrutável e caótica à primeira vista, a produção de iamamiwhoami
possui certa organização que nos permitiu dividir em arcos de história, nos
quais se pode perceber alguma linearidade. São eles:
Teasers: os vídeos curtos que tem principalmente sequências de
números como títulos. Aqui, vemos a mandrágora nascer e ser retirada
do mundo natural.
“bounty”: os videoclipes “b”, “o”, “u-1”, “u-2”, “n”, “t” e “y”. A mandrágora é
usada para o prazer dos homens, tocando música em “b” e produzindo
alimento para eles em “n”.
IN CONCERT: os teasers próprios e a performance. Um retorno ao
mundo natural e o expurgo do “lado humano”, mau.
Way Out West: “; john”, “clump”, a “música do telefone” e o show no
festival Way Out West. Apresentam uma mandrágora-prostituta que
deseja voltar à natureza.
“kin”: o vídeo teaser de kin e os singles que perfazem o álbum, de
“sever” a “goods”. Continuam a história a partir de antes de IN
CONCERT, mas com referências a “Way Out West”. A mandrágora é
52
levada novamente ao mundo natural, numa viagem mais psicológica que
real (YLOSIAM, 2012).
Essa linearidade ajuda a fixar o público, na medida em que este espera poder
fazer conexões entre os vídeos e deles tirar algum sentido. Tanto a linearidade
quanto o uso de arquétipos também permitem que o espectador crie empatia
e, assim, experimente a obra.
A história contada por iamamiwhoami começa pelo título, escrito oficialmente
em caixa-baixa. Dariana Ylosiam (2010b) propõe duas formas de leitura: “I am.
Am I? Who am I?” e “I am Ami. Who? Ami”. Acaba escolhendo a primeira por
poder desmembrá-la numa sentença dialética:
Eu sou. – Declaração, não uma pergunta. Sinônimo de: eu nasci, eu existo, eu ganhei existência. Eu sou é uma resposta a uma pergunta direta, estabelecendo identidade. [...]Sou? – Pergunta. Fortemente relacionada a interrogação existencial do ser humano: eu existo? A primeira coisa que um bebê faz após ter nascido e perceber esse Sou? Tocando seus dedos, movendo os pés e assim por diante. [...]Quem sou eu? – Da mesma forma, uma pergunta existencial, mas dessa vez aplicada através da existência de um ser. Eu posso me perguntar “Quem sou eu?” aos oitenta anos, assim como me perguntei durante a puberdade (grifo do original).75
Os títulos dos vídeos também precisam ser decodificados. Os primeiros
teasers, dispostos em sequência, revelam mais uma identidade (a da
personagem principal) e um indício importante para o entendimento de alguns
elementos da narrativa. Utilizando um código em que cada número equivale a
uma letra, de acordo com a ordem do alfabeto latino, podemos converter
alguns números dos títulos. Ylosiam (ibidem) obteve os resultados do quadro 2.
53
Título Conversão
Prelude 699130082.451322-5.4.21.3.1.20.9.15.14.1.12
Prelude 699130082.451322-E.D.U.C.A.T.I.O.N.A.L
9.1.13.669321018 I.A.M.669321018
9.20.19.13.5.723378 I.T.S.M.E.723378
13.1.14.4.18.1.7.15.18.1.1110 M.A.N.D.R.A.G.O.R.A.1110
15.6.6.9.3.9.14.1.18.21.13.56155 O.F.F.I.C.I.N.A.R.U.M.56155
23.5.12.3.15.13.5-8.15.13.5.3383 W.E.L.C.O.M.E.-H.O.M.E.3383
Quadro 2: “traduzindo” os títulos.
A pergunta do título do projeto parece ser respondida, em parte: “Quem sou
eu? Uma Mandragora officinarum”. A mandrágora, planta alucinógena e de uso
medicinal, é tratada no Gênesis e no Cântico dos Cânticos como “planta do
amor”, que cura a infertilidade das mulheres e tem perfume afrodisíaco
(PRATAS, 2011).
A forma humanoide da raiz gerou a lenda do folclore europeu em que, ao ser
retirada da terra, o homem-planta grita e mata todos que ouvirem-no. Alguns
naturalistas afirmaram que seria ela um antepassado do homem, oriundo das
plantas, em vez do barro do mito cristão. No folclore de alguns países, a
mandrágora brota na terra em que o sêmen de um homem enforcado caiu.
Para colher a mandrágora, seria necessário amarrar suas folhagens a um
cachorro e fazê-lo correr depois de algum tempo, para que só o animal
morresse ao ouvir o grito (KIECKHEFER, 2000). Bruxas se masturbariam com
raízes de mandrágora para dar à luz homúnculos sem alma ou sentimentos
(HELLE, 2010).
No romance Alraune, de 1911, Hanns Heinz Ewers conta a história de um
cientista que insemina uma prostituta com o sêmen de um assassino recém-
enforcado. Ela concebe uma filha que não sabe o que é o amor, não
desenvolve sentimentos, e que é adotada pelo cientista. Chamada Alraune
(“mandrágora” em alemão), a garota sofre de uma sexualidade obsessiva e
desenvolve relacionamentos perversos ao longo da vida. Quando descobre sua
origem, ela se vinga de seu criador.
54
A história foi adaptada no filme surrealista homônimo de 1928, dirigido por
Henrik Galeen, que destacou a trama de uma femme fatale que matava seus
amantes (ibidem). Todas as versões da história, porém, tratam da dualidade
homem/natureza, em que a mandrágora é um homúnculo, ser criado
artificialmente e portanto desprovido de alma. Esse ser estranho é tanto senhor
dos dois ambientes, natural e humano, quanto um sofredor por não conhecer
sua identidade.
No primeiro arco da história de iamamiwhoami, a sequência de teasers, a
mandrágora nasce e é levada para um ambiente humano. Em “Prelude...”, ela
está num útero escuro, úmido, dentro de uma árvore. O bosque é
antropomorfizado: as árvores têm membros e olhos humanos. Em
“9.1.13.669321018”, ela lambe uma substância branca (leite materno? sêmen?)
na casca da árvore. “9.20.19.13.5.723378” tem dois indícios de um mundo
artificial que começa a se inserir na história: um bolo de morango coberto de
marzipã (Jordgubbstårta, receita tradicional sueca) e o latido de cães.
A mandrágora rói o tronco de uma árvore em “13.1.14.4.18.1.7.15.18.1.1110” e
é perseguida pelos humanos por meio de seus cães negros. E eles encontram-
na em “15.6.6.9.3.9.14.1.18.21.13.56155”. Ela é capturada (ou “colhida”) e, em
“23.5.12.3.15.13.5-8.15.13.5.3383”, é levada para uma casa próxima ao
cemitério onde os cães foram enterrados. Lá, começa o arco “bounty”.
Os teasers tem uma direção de arte, fotografia e montagem muito semelhantes
aos demais vídeos: cortes rápidos, planos longos que tem um elemento de
continuidade, imagens que parecem desconexas à primeira vista, cenas da
natureza etc. Destacam-se os efeitos especiais complexos justapostos ao uso
de “material reciclado” como objeto cênico: plástico bolha, fita adesiva, papel
alumínio e papelão tem muito destaque, indicando o “mundo artificial” em que a
mandrágora se encontra.
O uso da mandrágora como símbolo dessa dicotomia é próprio do pensamento
mítico, ligado diretamente à evolução humana: ele “nasce como resultado de
estruturas cognitivas [...] que possibilitem uma nova organização dos dados
55
limitadores e angustiantes da realidade” em um ambiente imaginário
(CONTRERA, 2003, p. 98). As questões do mundo real são ressignificadas
num ambiente irreal – uma fantasia cujas bases estão na realidade humana.
3.2. Propp e os mitos
A noção de que histórias distintas seguem uma mesma “receita” parece reduzi-
las, mas o que ocorre é que “a base composta de fórmulas deixa os contos
ainda mais complexo; porque permite que os narradores entrelacem múltiplas
sequências de histórias diferentes sem se confundirem” (MURRAY, op. cit., p.
188). Janet Murray também observa que obras de vanguarda de um meio
indicam técnicas e fórmulas de outros meios, como o uso de flashbacks por
Emily Brontë ou cortes entre histórias interseccionadas por Charles Dickens,
séculos antes de se tornarem instrumentos da narrativa cinematográfica.
Portanto, todo conto maravilhoso apresenta “de um lado, sua extraordinária diversidade, seu caráter variado; de outro, sua uniformidade, não menos extraordinária, e sua repetibilidade” (PROPP, 2006, p. 22). Leonel & Nascimento (2003, p. 22) lembram que “cada narrativa atualiza invariantes solidificadas em um universo cultural determinado”, estabelecendo “um estoque de temas e figuras” que os textos tomam emprestados (PEIXE, 2009, p 29).
Reproduzimos, a seguir, algumas das funções de personagens identificadas
por Propp, que serão retomadas na análise de IN CONCERT, ao final deste
capítulo:
IV O antagonista procura obter uma informação.
V O antagonista recebe informações sobre sua vítima.
VI O antagonista tenta ludibriar sua vítima para apoderar-se dela ou de seus bens.
VII A vítima se deixa enganar, ajudando assim, involuntariamente, seu inimigo.
XI O herói deixa a casa.
XII O herói é submetido a uma prova; a um questionário; a um ataque etc., que o preparam para receber um meio ou um auxiliar mágico.
XIII O herói reage diante das ações do futuro doador.
XV O herói é transportado, levado ou conduzido ao lugar onde se encontra o objeto que procura.
XVI O herói e seu antagonista se defrontam em combate direto.
XVIII O antagonista é vencido.
XIX O dano inicial ou a carência são reparados
56
XX Regresso do herói.
XXIX O herói recebe nova aparência.
XXX O inimigo é castigado.
(PROPP, op. cit.)
Segundo Propp, mais determinante que a presença das funções é a
obrigatoriedade de sua sequência, já que uma função é quase sempre seguida
de outra que lhe complete. Por exemplo, a função I, “Um dos membros da
família sai de casa” é acompanhada quase sempre da II, “Impõe-se ao herói
uma proibição”. Os pais saem de casa e proíbem que os filhos abram a porta
para estranhos. Naturalmente, eles desobedecem, o que se vê na função
seguinte: “A proibição é transgredida” (idem, pp. 27-28). (Apesar de indicar tão
somente uma lógica interna do conto maravilhoso, Propp reconhece que os
contos criados artificialmente não se submetem a essa regra, ela é uma
particularidade do folclore.)
Além das funções, Propp identificou sub-funções que particularizam mais as
formas como uma função pode ser desempenhada. Elas serão apresentadas
em nossa análise quando for pertinente.
Utilizando um esquema narrativo baseado nas contribuições de Propp e
Antonio Gramsci para o estudo da narrativa, é possível analisar qualquer
história em termos ainda mais gerais que as funções (BARROS, 2001). A
história é dividida em “provas”, que retomam um percurso dialético em que o
herói é qualificado para sua prova, realiza-a e, então, é premiado:
A primeira prova, a qualificante, refere-se à capacitação do herói para praticar uma ação, como é o caso da décima segunda função, em que o herói é submetido a uma prova; a um questionário; a um ataque etc., que o preparam para receber um meio ou um auxiliar mágico. Já a segunda, a prova principal, é a realização propriamente dita da ação para a qual o herói capacitou-se, como é descrito, por exemplo, na vigésima sexta função – a tarefa é realizada. A última prova, a glorificante, é a consideração que se faz sobre a ação realizada, que pode ser ilustrada pela vigésima sétima função - o herói é reconhecido (PEIXE, op. cit., p. 31. Grifo da autora).
Assim, temos nas funções de personagens uma ferramenta importante para
fazer visível a estrutura narrativa de qualquer obra, mesmo as que se
apresentam mais obscuramente, como iamamiwhoami e seu concerto.
57
3.3. IN CONCERT: bases seculares para uma narrativa contemporânea
Não apenas o vídeo é muito bem filmado, mas as músicas – que têm um quê de Kate Bush eletrônica do século 21 – são marcantes. É maravilhoso descobrir que iamamiwhoami tinha grandes ambições desde o começo e que o grande plano do grupo foi finalmente realizado de forma gloriosa (BYRNE, 2010).76
Após os teasers, temos “bounty”, série de sete videoclipes, e “IN CONCERT”,
composto de curtas introdutórios e um vídeo de média-metragem. Dos teasers
de IN CONCERT, apenas “20101104” não foi deletado.
A performance teve início quando o vídeo “20101001”, postado em primeiro de
outubro no canal de iamamiwhoami no YouTube, pediu aos fãs que indicassem
um voluntário entre si, sem explicar a finalidade dessa tarefa. Por meio de
votação nos comentários do canal e no site Iambountyfan, a usuária Tehhils foi
indicada pela maioria. Como ela não poderia participar, por não conseguir
regularizar o passaporte a tempo para viajar para a Suécia, indicou o usuário
alemão ShootUpTheStation.
O vídeo “20101104”, de novembro, serve como preâmbulo tanto para a IN
CONCERT como para os arcos “Way Out West” e “kin”. Nele, mandrágora está
numa mergulhada numa banheira, com um saco plástico enrolado na cabeça,
aparentemente morta. Um homem se enforcou no meio da sala, com um vaso
de argila expandida aos pés. Em minutos, surge o pé de uma nova
mandrágora, que sai pulando pelo apartamento até conseguir se livrar do
recipiente.
No terceiro vídeo, “20101109”, posteriormente deletado, a nova mandrágora
sai de casa, desce um rol de escadas e lê uma mensagem impressa da usuária
Tehhils, lamentando que não poderá participar e indicando ShootUpTheStation.
Na mensagem, está anotado o número dele, para o qual ela liga. Ela pede para
Shoot... ligar a câmera, que passa a registrar a conversa em que Shoot...
58
responde a perguntas práticas (ele tem alguma doença? Fobias? O que gosta
de comer?), e mais metafísicas (é religioso? Acredita na evolução? Acha que
as pessoas são, no fundo, boas?). Ele é então instruído a documentar sua
jornada em vídeos, que foram divulgados no canal de iamamiwhoami.
Os vídeos seguintes, todos deletados, mostram o voluntário nos aeroportos
alemão e sueco e, então, no quarto no hotel onde ficou. Lá ele encontrou um
horário indicando que seria visitado por pessoas do projeto. As visitas listadas
foram gravadas e se limitaram a entrega de um figurino e, em outra ocasião,
um homem treinou uma valsa e uma reverência com o voluntário, que ele
desempenhou depois na performance.
No dia 15 de novembro, um vídeo com um gráfico estático de horário e
narração de Jonna Lee anunciava que, à 00:00 no fuso horário sueco, seria
apresentado “um caminho plausível, disponível por seis horas” num site
exclusivo77. No último vídeo, publicado no mesmo dia, Shoot... atende a uma
ligação telefônica em seu quarto de hotel, avisando que está pronto. Ele
desliga e, então, ouvem-se batidas à porta.
Transmitido quinze minutos depois do anunciado, o vídeo de uma hora e quatro
minutos de duração e começa com uma filmagem amadora feita pelo
voluntário. Ele e a mandrágora saem de um hotel e entram num carro, dirigido
por um homem vestido de preto e mascarado. Eles partem para um campo,
próximo a um bosque, ponto em que a filmagem passa a ser feita por uma
câmera profissional, e assim continua em plano-sequência até o final, sem
cortes aparentes. A filmagem começa de madrugada, quando ainda está
bastante escuro em campo aberto. Eles adentram o bosque, onde o terreno é
mais acidentado, e ao final voltam para campo aberto, quando o sol já tem
nascido.
Para melhor identificar momentos-chave da história de IN CONCERT,
utilizaremos o quadro 3, que contrapõe o que se desenvolve na performance e
as funções narrativas definidas por Propp. É uma tentativa de aclarar a
narrativa (que, por mais fracionada e surrealista, não deixa de ser uma história
59
com início, meio e fim) e observar as estratégias criativas empreendidas. Ao
longo da análise, resgataremos imagens importantes do vídeo e alguns
momentos em que se faz referência aos videoclipes anteriores.
Percebe-se que ocorre uma inversão no meio da história: a mandrágora é a
vítima da ambição humana de dominar a natureza seus mistérios (inseminação
artificial, clonagem etc.). Isso acontece durante os ciclos dos teasers e de
“bounty”. Em IN CONCERT, porém, a mandrágora começa como vilã
(assumindo as funções de antagonista) e seduz o voluntário
(ShootUpTheStation) para a morte. Quando isso acontece, há uma nova
inversão e ela volta a desempenhar a funções de Herói.
A história parece tratar da vingança da mandrágora (natureza) contra o homem
(a humanidade), mas indica que a mulher-planta também se apaixonou e
sofreu remorso por assassinar o voluntário. Pode-se considerar também que o
voluntário era a parte humana (ou a parte ruim, impura, imperfeita) que a
mandrágora precisava expurgar ou sacrificar para voltar a pertencer
integralmente à natureza (ou para nascer de novo, passar a ter uma alma e
sentimentos) (YLOSIAM, 2010c).
60
Tempo Ação Função do personagem
Arcos anteriores A mandrágora é criada, colhida e
removida de seu ambiente natural.
DANO
“O antagonista causa dano ou prejuízo a um dos
membros da família. [...] Esta função é
extremamente importante, porque é ela que dá
movimento ao conto maravilhoso” (PROPP, op.
cit., p. 31).
Aqui, a humanidade é a vilã que cria um ser em
alma e que sofrerá para sempre.
Vídeos anteriores
à performance.
iamamiwhoami publica um vídeo
pedindo um voluntário.
INTERROGATÓRIO
“O antagonista procura obter uma informação”
(idem, p. 29).
Um voluntário é indicado. INFORMAÇÃO
“O antagonista recebe informações sobre sua
vítima” (ibidem).
0:00 – 0:16 A mandrágora e o voluntário deixam o
hotel.
PARTIDA
“O herói deixa a casa” (idem, p. 38).
“Notamos que tudo no carro é embalado em plástico”78 (YLOSIAM, 2010c), tal como a mandrágora no vídeo de
“b”, à direita.
61
Após o percurso de carro, andam por
um caminho ladeado por cercas de
metal.
“Entram no que parece a entrada de um show, incluindo as cercas de ferro. O caminho é imediatamente fechado
atrás deles. Não há volta. Começou” 79 (ibidem).
0:16 - 0:20 A mandrágora seduz o voluntário, que
cede timidamente. Ela percorre o resto
do caminho sozinha, e é seguida por ele
depois.
ARDIL
“O vilão tenta ludibriar sua vítima para apoderar-
se dela” (PROPP, op. cit., p. 30).
A mandrágora parece inocente, benigna, mas está
atraindo o voluntário para seus domínios na
escuridão.
0:20 – 0:22 O voluntário está diante de uma grande
árvore feita de papelão. A mandrágora
está sobre o tronco, agitando os braços.
Abre-se um buraco no tronco, por onde
o voluntário entra.
CUMPLICIDADE
“A vítima se deixa enganar, ajudando assim,
involuntariamente, seu inimigo” (ibidem).
O voluntário deixa-se levar para o coração da
floresta, domínio da mandrágora.
62
“Estamos diante da Yggdrasil, da Árvore da Vida […]. Ela abre sua casca para que o voluntário entre. Essa é a
ação oposta à que a mandrágora faz quando nasce (sair da árvore). O voluntário está indo na direção errada?”80
(YLOSIAM, idem).
0:22 – 0:24 O voluntário está numa floresta densa.
Segue uma fonte de luz até um
marionete da mandrágora, que,
dublando a canção “n”, pergunta “como
a história termina?”.
PRIMEIRA FUNÇÃO DO DOADOR
“O herói é submetido a uma prova; a um
questionário [...] que o prepara para receber um
meio ou um auxiliar mágico” (PROPP, op. cit., p.
39).
“Num pequeno espaço aberto, um rosto familiar: a boneca-mandrágora feroz de u-1” 81(YLOSIAM, idem), animada
por um ventríloquo. À direita, frame do vídeo de “u-1”.
63
0:24 – 0:25 Ele responde apenas com um rosto
assustado.
REAÇÃO DO HERÓI
“O herói reage diante das ações do futuro doador”
(PROPP, op. cit., p. 41).
O voluntário não entende a pista da marionete:
ele não sabe que a história vai terminar em sua
própria morte.
0:25 – 0:26 Ele é guiado pela fonte de luz à
mandrágora.
VIAGEM COM UM GUIA
“O herói é transportado, levado ou conduzido ao
lugar onde se encontra o objeto que procura”
(ibidem).
0:26 – 0:28 A mandrágora e o voluntário dançam
uma valsa. Eles andam de mãos dadas
pela floresta, dançam mais um pouco,
fazem reverências, se abraçam.
COMBATE
“O herói e seu antagonista se defrontam em
combate direto” (idem, p. 49).
“Tornando-se UM. Agindo EM CONJUNTO”82 (YLOSIAM, idem).
A câmera dá um giro, mostrando
homens vestidos de preto simulando
sexo com árvores: a mandrágora
seduziu e fez sexo com o voluntário?
64
0:28 – 0:30 A câmera volta ao voluntário, que
observa a mandrágora, num novo
cenário. Ela canta sobre um tronco
cortado, envolta de superfícies feitas de
papel A4 branco.
ARDIL
O cenário de “o” faz referencia a uma igreja: há um oculum e janelas altas formadas por folhas de papel coladas
juntas. A mandrágora usa um figurino negro com a gola branca que identifica padres. À direita, frame do vídeo de
“n”, onde uma casa tem as paredes cobertas de folhas de papel.
A mandrágora retira a roupa branca e
revela uma segunda-pele negra. Os
homens vestidos de preto abrem uma
caixa de papelão no chão. A
mandrágora se aproxima do voluntário,
dançando sedutoramente.
0:30 – 0:31 Ela o faz entrar na caixa. CUMPLICIDADE
65
“Lá vai ela, Judas, dando o beijo da morte no cordeiro e mostrando-lhe o caminho para a escuridão vazia!” 83(YLOSIAM, idem).
0:31 – 0:42 Os homens vestidos de preto fecham a
caixa com fita adesiva. A mandrágora
troca de roupa e passa a usar um colar
com a foto do voluntário.
TRANSFIGURAÇÃO
“O herói recebe nova aparência” (PROPP, op. cit.,
p. 59).
As roupas verdes e adereços floridos da
mandrágora indicam seu retorno ao ambiente
natural agora que sua parte humana está sendo
derrotada.
Ela guia os homens vestidos de preto
que levam o “caixão” do voluntário
numa marcha. A caixa é colocada
dentro de uma construção de mais
caixas de papelão.
VITÓRIA
“O antagonista é vencido” (idem, p. 50).
66
Atravessam um “túnel de luz” como o do vídeo de “y”, à direita.
0:42 – 1:02 Os homens de preto ajudam a
mandrágora a trocar de roupa. Ela agora
usa uma segunda-pele branca.
TRANSFIGURAÇÃO
As roupas branca indica a pureza de um novo
ser e contrastará com as cinzas.
Os homens de preto fecham-se na
construção de papelão com as roupas
antigas da mandrágora, e põem fogo
nela.
PUNIÇÃO
“O inimigo é castigado” (idem, p. 50).
Os homens de preto “levam o caixão para um túmulo metafórico, colocando-o no meio, num leito de papel
alumínio e madeira, assim como a mandrágora em ‘n’”84 (YLOSIAM, idem). À direita, o labirinto de caixas de
papelão do vídeo de “u-2”.
A mandrágora solta seus cabelos, deita
no chão e simula masturbação.
67
“Eu não vejo a mandrágora realizando apenas um ato de autossatisfação. Vejo níveis e mundos. Espelho
quebrado, na vertical, de cabeça para baixo [...]. Eu vejo um deslizamento natural através desses níveis, mas é
algo bastante difícil de acompanhar. Assim como a consciência humana. Achamos que sabemos o que ela está
dizendo, mas não temos ideia. Isso não é a exploração do corpo, mas da mente e da alma. Isso é deixar o fogo
queimar o seu interior para purificar-se. Os arquejos não são um orgasmo, são a luta para conter a dor de perder a
si mesmo, o seu antigo eu”85 (YLOSIAM, idem). À direita, o espelho quebrado no vídeo de “u-1”.
Depois, caminha até as cinzas das caixas
de papelão. Ela se deita sobre elas e as
esfrega pelo corpo. Então, junta um
pouco de cinzas numa folha de papel
alumínio e a enterra numa área com
cruzes brancas. Ao piano, usando um véu
negro, canta uma última vez.
1:02 – 1:04 A mandrágora está de volta ao mundo
natural: ela encontra-se numa mesa e
brinda com os animais representados nos
teasers de iamamiwhoami.
REGRESSO
“Regresso do herói [...]. O regresso se realiza,
geralmente, da mesma forma que a chegada”
(PROPP, op. cit., p. 59).
68
“A mandrágora põe uma fantasia. Mais precisamente, uma cauda e uma mascara de macaco” 86(YLOSIAM, idem).
É acompanhada de outras pessoas fantasiadas de baleia, abelha, lhama, bode e coruja, os animais cujas vozes,
numa sequência, soam como “bounty”.
Quadro 3: análise de IN CONCERT.
Para Ylosiam, os produtos de iamamiwhoami, que tiveram seu auge de
realização em IN CONCERT, indicam que “você não precisa de recursos caros
para fazer algo parecer caro, pode apenas dar-lhe uma aparência rica ao
esculpir do jeito certo, modelando-o com suas mãos e mente”87 (idem). A
apropriação de mitos, conceitos e estruturas prévias é uma das estratégias
para enriquecer qualquer produção, mas seu uso de forma alguma desmerece
o trabalho dos envolvidos em iamamiwhoami ou torna-os menos originais.
Originalidade é o que o projeto mais oferece a seus fãs e espectadores, aliás,
como procuramos demonstrar até aqui.
69
CONSIDERAÇÕES
Uma das melhores coisas sobre essa campanha viral, para mim, é o fato de me lembrar do que aprendi na faculdade. Aprendi a olhar para imagens e ouvir sons de uma forma diferente, e não poderia ser mais feliz por poder aplicar meu conhecimento a quase tudo, especialmente a produtos criativos como iamamiwhoami88 (YLOSIAM, 2010a).
iamamiwhoami é um caso interessante de produção criativa: sua obra se
confunde com os meios de divulgação. Se o videoclipe tradicional vende a
música e a imagem do artista (é uma peça promocional), aqui eles são o
próprio produto. A mandrágora interpretada por Jonna Lee só existe nas obras.
Além disso, toda a produção do projeto foi pensada para se utilizar de mídias
de função pós-massiva, e assim colocou-as em discussão.
Nesse projeto, temos ferramentas que já se firmam na publicidade atual (a
viralização de mensagens, o incentivo à criação de uma “comunidade de
marca”, a produção de uma narrativa que se expande em formatos diversos)
inseridas no primeiro estágio do processo criativo, na forma em que o produto é
pensado.
iamamiwhoami como um laboratório
A pequena escala do projeto ajuda, em certa medida, a identificação das partes
diversas dessa produção. Temos um número limitado de esforços que são
dirigidos à propagação dos produtos, em vez da cacofonia natural da
divulgação de um pop star (ensaios fotográficos, participações na TV, notas nas
revistas etc.). iamamiwhoami nos parece bastante coeso e os produtos estão
bem afinados, como convém ao desenvolvimento de uma narrativa.
Por outro lado, seu caráter hermético dificulta uma análise mais quantitativa
dos resultados. O número de exibições no YouTube pode ser inflado e não
corresponder diretamente ao sucesso comercial (vendas de música e ingressos
de shows não estão disponíveis publicamente). A falta de perfis oficiais em
redes sociais impede a contagem daqueles que se declaram apreciadores de
fato, uma vez que há uma multiplicidade de perfis falsos.
70
Os poucos dados que possuímos e, mais importante neste caso, a resposta
qualitativa de um público muito envolvido com seu artista são motivadores para
uma pesquisa mais profunda. No lançamento do projeto, dezenas de artigos
foram publicados, mas o interesse da mídia começou a diminuir quando o fator
novidade acabou. Ainda assim, esse movimento incomum da imprensa em
torno de um artista novo e de seu uso da mídia digital é incomum.
No caso de iamamiwhoami, o buzz expandiu-se para outros artistas, como
Christina Aguilera e Trent Reznor, já que a princípio não se sabia a identidade
de seus criadores. Acreditamos que a mesma projeção pode ser alcançada por
entidades diversas, uma vez que o projeto parece ter seguido a risca um
modelo já conhecido de campanhas virais, ao mesmo tempo em que não
recorreu a uma campanha sustentação baseada em mídias de massa.
O fortalecimento da base fãs (primeiro no YouTube, em comentários curtos e
difíceis de acompanhar, e então em plataformas mais apropriadas para
discussão e criação de conteúdo derivado multimodal) é um dos exemplos de
como os artistas mais novos têm conseguido números tão altos de seguidores
e fãs no Facebook em pouco tempo. Nos parece que os artistas que se
estabeleceram após a década de 2000 entendem melhor o funcionamento das
mídias digitais e como estabelecer relações com seus fãs nas plataformas.
iamamiwhoami não criou perfis para si, mas estabeleceu um diálogo inusitado
com seu público. Também assinalamos como é importante “dar assunto” aos
fãs – e tópicos para conversas não faltam para os apreciadores do projeto.
Tal assunto são as histórias contadas por iamamiwhoami, mesma estratégia
que marcas e propriedades intelectuais variadas estão usando há alguns anos
com fins publicitários. A criação narrativa, o empenho audiovisual e a
campanha viral estão intrinsecamente ligados em iamamiwhoami, então não
podemos afirmar que um deles tem maior ou menos peso no sucesso de sua
comunicação. Porém, é o conjunto audiovisual do projeto que alimenta o
interesse do público, bem mais do que apenas a música (ou factoides)
empregados por muitos outros artistas
71
Ao final deste texto, não há como negar que iamamiwhoami conquistou muito
em menos de três anos. Jonna Lee e seus colegas entraram para um grupo de
exemplos, cases que deixam claro que todas essas ferramentas mais ou
menos inovadoras de comunicação podem dar muito certo e garantir um bom
retorno sobre investimento. iamamiwhoami tornou-se referência em campanhas
virais e o projeto, apesar de manter sua liberdade criativa, está lançando um
álbum por uma gravadora estabelecida.
Por mais complicadas, futuristas e “avançadas” que pareçam, o marketing viral,
o relacionamento com comunidades de consumidores a criação de narrativas
são práticas com raízes antigas na publicidade e dependem mais de uma boa
vontade e entendimento de seus métodos do que de grandes estrutura e
orçamento. Depois de conhecer tais práticas, é possível saber se combinam
com uma marca e se servem ao seu propósito comunicacional para, daí, afiná-
las e adaptá-las a um plano de comunicação.
O envolvimento da obra de iamamiwhoami com essas ferramentas mostra
também que o esforço publicitário deve estar presente na concepção de
qualquer produto, marca, entidade ou evento. O produto final do projeto
transparece uma sinceridade e um zelo criativo em seus vários formatos, algo
que todo publicitário deve almejar para suas campanhas e obras.
72
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Fontes das imagens
Figura 1: captura de tela do vídeo "Prelude 699130082.451322-5.4.21.3.1.20.9.15.14.1.12". Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=oPFM3DUVT-8
Figura 2: captura de tela do vídeo "t". http://www.youtube.com/watch?v=bW89Pv8QrX4
Figura 3: divulgação. Disponível em http://simonphillips.com.au/iamamiwhoami-music-art.
Figura 4: divulgação. Disponível em http://newsroom.mtv.com/2010/03/05/iamamiwhoami-mail/.
Figura 5: BARAN, 1964, apud RECUERO, 2009, p. 56.
Figura 6: captura de tela do site Iamboutyfan". Disponível em http://www.iambountyfan.com/.
Figura 7: captura de tela do Painel do Tumblr, numa busca por "iamamiwhoami". Disponível em http://www.tumblr.com/tagged/iamamiwhoami.
Figuras da tabela: Capturas de tela de do vídeo IN CONCERT, disponível em www.youtube.com/watch?v=HIJEzrfXdGY; "b", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=M2WDbAFvt6A; "u-1", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=izejVXJ_arQ; "n", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=N0BsI8R4izQ; "y", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LEoGQU_k78k, e "u-2", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=WB85HAUXbbM
81
Notas
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1 Disponível em http://youtube.com/iamamiwhoami.
2 Tradução do autor para “As the videos and disorienting electronic sounds kept coming speculation grew that everyone from Björk to Lady Gaga to Christina Aguilera was responsible”.3 Há pelo menos uma execução documentada, da faixa “o”, na rádio 6 Music, da BBC (KOZAIN, 2012a).
4 Assim chamados porque as sete músicas, “b”, “o”, “u-1”, “u-2”, “t” e “y”, soletram essa palavra inglesa.
5 O vídeo original postado nessa data utilizava imagens de outro vídeo do YouTube, que pediu que elas fossem retiradas. Uma nova versão de “Prelude...” foi postada em 31/01/2010, a qual corresponde o número de exibições no quadro.6 Disponível para transmissão durante apenas 6 horas no endereço indicado.
7 Tradução do autor para “Viral video campaigns are about as common as spam nowadays, but every once in a while, one of these [...] marketing wonders actually gets our attention”.8 Tradução do autor para I Googled stuff like Dendrophilia' and 'Whale Sharks' to understand you better”.
9 O post em questão foi bloqueado, mas trechos foram recuperados em: http://www.popjustice.com/forum/index.php?topic=20674.4620.10 Disponível em: http://www.brainstorm9.com.br/11432/diversos/o-misterio-dos-videos-iamamiwhoami/.
11 Disponível em: http://idolator.com/5446862/iamamiwhoami-mystery-artist-revealed%E2%80%94we-think.
12 Disponível em: http://www.billboard.com/column/viralvideos/bloggers-possibly-crack-iamamiwhoami-mystery-1004076299.story.13 Tradução do autor para “It's very difficult to rise above your peers and get media coverage. […] The 'iam' marketing strategy has ensured that when the artist is revealed they will be written about by both the niche and mass media”.14 Tradução livre do autor: “Porque você se comunica com o mundo exterior? Se há o desejo por algo novo, pode me encontrar no começo ou onde isso termina para você. Nós sabemos sobre a chance de algo a mais. Porque falar em códigos? O que se espera, que teu lhe carregue em meus braços?”15 O site oficial dos agentes de iamamiwhoami, D.E.F. Management, lista a página do YouTube do projeto como seu site oficial: http://www.d-e-f.com/frame-def.htm16 Tradução do autor para “Opinion leaders are quite influential in getting people to change their attitudes and behaviors and are quite similar to those they influence”.17 Tradução do autor para “Interestingly, these results are all broadly consistent with the original conception of the two-step flow, advanced over 50 years ago, which emphasized that opinion leaders were “distributed in all occupational groups, and on every social and economic level”.18 Tradução do autor para “Social Networking Potential (SNP)”.
19 Tradução do autor para “a short film integrating a song and imagery, produced for promotional or artistic purposes”.20 Tradução do autor para “Since the mid–1990s, studies of fandom have increasingly focused on the Internet as a locus of fan activity”.21 Tradução do autor para “Among the earliest creators, advocates, and users of the Internet were Star Trek and Grateful Dead fans eager to use their new system to discuss those topics communally. […] Online fan communities now sit at the cutting edge of ‘convergence culture’ in which popular culture materials and texts take form across multiple interlinked platforms.”22 Disponível em http://forsakenorder.com/.
23 Disponível em http://papelpop.com/2011/08/video-o-show-mico-da-sueca-iamamiwhoami-no-way-out-west-festival-2011/.24 Disponível em https://www.facebook.com/pages/iamamiwhoami/270417754335. Os dados desta seção são de 23 de maio de 2012.25 Disponível em http://www.youtube.com/all_comments?v=M2WDbAFvt6A.
26 Tradução do autor para “It's Jonna Lee for sure”. Disponível em: http://www.youtube.com/comment?
lc=sq_vvEZXLUC7bMfaBGCBQaPUvrBGOD9e72lJOOjpf8s.27 Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=z4CAZCGUl1Y.
28 Disponível em http://www.youtube.com/user/iambountyfan.
29 Disponível em http://www.iambountyfan.com/post/18961017150/iamamiwhoami-band-member-joins-iambountyfan-chat.30 Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=499XnPWwO_4&feature=plcp.
31 Disponível em http://www.iambountyfan.com/post/3165413128/tracktitlesleaked.
32 Disponível em http://oestagiariosocial1.blogspot.com/2012/05/barraco-no-facebook.html.
33 Disponível em https://twitter.com/iambountyfan/status/201820944770138113.
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36 Disponível em http://www.iambountyfan.com/chat.
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45 Disponível em http://tomasslaninka.tumblr.com/post/20835693440/order.
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55 Disponível em http://helyna.tumblr.com/post/20901622779/also-going-on-with-yesterdays-thoughts-if-kin.
56 Disponível em http://gh0sts.tumblr.com/post/20867989106/iamamiwhoami-interpretacion-parte-vii-in-due-order.57 Disponível em http://yamammiwammi.tumblr.com/post/21253258955/in-due-order.
58Tradução livre do autor: “Não pedimos nada / suas vidas poderiam seguir inalteradas”. Disponível em http://enigmasalad.tumblr.com/post/20920280863/i-love-iamamiwhoami-berry-much-the-lyrics-in.59 Disponível em http://nightstage.tumblr.com/post/20942836392/ok.
60 Disponível em http://courtesyofcuriosity.tumblr.com/post/21114549867/play-and-in-due-order.
61 Tradução do autor para: “I've read a lot because I like making connections, it's part of the thinking process, you know... a thing reminds you of this and of that and you think it's inspired by something and it means something etc.”.62 Disponível em http://forsakenorder.com/simply-surprising/facts/11067/iamamiwhoami-reasons-for-which-we-cannot-base-our-guesses-on-teeth-shape-or-facial-features.63 Tradução do autor para “An Archetypal and Mythological Approach to iamamiwhoami”. Disponível em http://forsakenorder.com/brain/11084/an-archetypal-and-mythological-approach-to-iamamiwhoami.64 Tradução do autor para “We’ve been given a discourse [...] and we’ve also been given a system of codes to decode this discourse. However, as the majority of people consider the only codes we have at hand are the numeric ones (numbers for letters), there are other instruments with the help of which we can decipher what the author of this work intends to transmit to us, readers.”65 Disponível em http://forsakenorder.com/simply-surprising/facts/10922/decodingiamamiwhoami.
66 Disponível em http://forsakenorder.com/brain/11116/a-closer-look-to-iamamiwhoamis-b-video.
67 Disponível http://forsakenorder.com/entertainment/11391/iamamiwhoami-sources-of-inspiration.
68 Disponível em http://forsakenorder.com/entertainment/11467/iamamiwhoami-semiotics-undercover.
69 Disponível em http://forsakenorder.com/brain/12038/iamamiwhoami-evolution-of-the-dragon-a-dissertation.
70 Disponível em http://forsakenorder.com/entertainment/11520/iamamiwhoami-20101001-volunteer e http://forsakenorder.com/date/2010/11.71 Disponível em http://2020k.wordpress.com/.
72 Disponível em http://2020k.wordpress.com/2011/05/16/track-review-iamamiwhoami-john/
73 Traduções do autor para “The reverb from the synth-bells seem to begin making a distorted pad in itself if you listen closely”, “It gives great depth and is a great listen since a lot of tracks seem to have the vocal assaulting the front of the mix for the entire song’s duration” e “There’s also inklings of another high, extremely repetitive melody that comes in at the same time as the synth-bells and pans from the left and right channel”. Disponível em http://2020k.wordpress.com/2012/03/02/iamamiwhoami-wins-bbc-radio-6-award-releases-drops/.74 “Arquétipos” e “funções” podem ser entendidos como sinônimos. Aqui, porém, utilizamos “arquétipo” para um personagem que aparece mais definido em diversos textos, ou o modelo de um ser (CONTRERA, 2003), enquanto a “função” se refere ao que ele faz, não importando suas qualidade ou os meios que dispõe.75 Tradução do autor para “I am. – Statement, not question. Synonym to: I have been born, I exist, I came into being. I am is the response to a direct question establishing identity. [...] Am I? – Question. Strongly related to the existential interrogation of the human being: do I exist? The first thing a baby does after having been born is to figure this Am I by touching his fingers, moving his feet and so on. [...] Who am I? – in the same extent, an existential question, but this time applied throughout a being’s existence. I might as myself “Who am I?” at the age of 80, as I have been asking myself at puberty”.76 Tradução do autor para “Not only is the video beautifully shot, but the songs – which have a Kate Bush goes electronic 21st-century feel – are outstanding. It's delightful to discover that iamamiwhoami had very grand ambitions from the beginning, and that the group's big plan has been fully realised in glorious fashion”. 77 Originalmente disponível em http://towhomitmayconcern.cc/. Fãs gravaram e republicaram a performance em http://www.iamconcert.com/.78 Tradução do autor para “we immediately notice everything in the car is wrapped in plastic”.
79 Tradução do autor para “entering what appears to be the entrance of a concert, iron fences included. The road is immediately closed behind them. No turning back. It has started”.80 Tradução do autor para “We’re in front of Yggdrasil, the Tree of Life […]. She opens her bark for SUTS to enter. That is the exact opposite action of what MO does when she is born (getting out of a tree). Is SUTS heading in the wrong direction?”81 Tradução do autor para “In a small open space, a familiar face: fierce looking Mandragora doll in u-1”.
82 Tradução do autor para “Becoming ONE. Acting IN CONCERT”.
83 Tradução do autor para “[…] there she goes, Judas, giving the Lamb a kiss of death and showing him the way into dark emptiness!”84 Tradução do autor para “[...] carry it into the metaphorical tomb, placing it in the middle, on a bed of tinfoin and wood, just like MO in N”.85 Tradução do autor para “[…] I don’t just see MO performing an act of self satisfaction upon herself. I see levels and worlds. Vertical, mirror, broken mirror, upside down mirror […]. I see a natural gliding through these levels, yet one which is rather difficult to follow. Just like the human conscious. We think we know what it speaks to us, but we have no idea. This is not the exploring of the body, but the exploring of the mind and soul. This is letting the fire burn your insides to purify yourself. The gasping is not an orgasm, it’s the struggle to contain the pain of losing yourself, your old self.”86 Tradução do autor para “MO puts on a costume. More precisely a monkey’s ass and tail and face”.
87 Tradução do autor para “you don’t need expensive resources to make something look expensive, you can just make it look rich by carving it in the right way, shaping it with your hands and mind in the same time”.88 Tradução do autor para “One of the best things about this viral campaign, for me, is the fact that it reminds me of everything I was taught in college. I’ve learned to look at images and sounds in a different way, and I can’t be happier that I have the occasion to apply my knowledge to almost everything in this world, especially to such creative products as iamamiwhoami”.