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Identidade cultural e História: a arte és uma arma
Maria Laura de Oliveira Machado (UNILA)
Leliane de Oliveira Penteado (UNILA)
Job Lopes (Orientador – UNIOESTE/UNILA)
Resumo: O Muralismo é considerado um movimento artístico que possui sua origem após a
revolução mexicana em 1910, muito mais que uma corrente artística é um movimento social e
político de resistência e identidade, retratando temas da revolução, luta pelas classes e ao
homem indígena. Já o Grafite surge no Brasil através de influências norte americanas a partir
da década de 1970, marcado por intensas manifestações que contestam a repressão, e as
desigualdades sociais, apresenta uma visão, que a arte deve ser levada para as ruas deixando
de ser um privilégio das classes dominantes. Neste artigo busca-se semelhanças entre os
movimentos, e assim, analisá-los por meio de pesquisadores e estudos bibliográficos históricos
Nicholas Ganz (2008), Daw Ades (1997), fazendo uma correlação entre as obras de Diego
Rivera – artista muralista e as obras de Mundano – artista grafiteiro. Contudo, o objetivo é
romper a visão americanizada que a sociedade alimenta em relação ao Grafite.
Palavras-chave: Identidade cultural; Classes; História; Arte.
Abstract: Muralismo is considered an artistic movement that has its origin after the Mexican
revolution in 1910, much more than an artistic current is a social and political movement of
resistance and identity, portraying subjects of the revolution, fight for the classes and the
indigenous man. Graphite, however, appears in Brazil through US influences since the 1970,
marked by intense manifestations that challenge repression, and social inequalities, presents a
vision, that art must be taken to the streets, ceasing to be a privilege of the dominant classes.
In this article we search for similarities between the movements, and thus, analyze them
through researchers and historical bibliographical studies Nicholas Ganz (2008), Daw Ades
(1997), making a correlation between the works of Diego Rivera - mural artist and the works
by Mundano - graffiti artist. However, the goal is to break the Americanized view that society
feeds on Graffiti.
Keywords: Cultural identity; Classes; History; Art
Introdução
Neste artigo a ideia principal é encontrar vestígios de duas correntes artísticas
“Muralismo e Grafite”, e responder algumas perguntas, - O que os movimentos possuem em
comum? Será que a construção história encontra-se fora da visão Europeia? Para respondermos
estas perguntas discorremos em três partes, a primeira sobre a origem do Muralismo no México
e suas repercussões no Brasil. Logo apresenta-se a biografia de um dos maiores representantes
do movimento Diego Rivera, e suas principais obras artísticas. Na segunda parte apresenta-se,
o histórico do Grafite e sua manifestação no Brasil, analisando a vida e obra de um artista
brasileiro que surge para dar voz aos invisíveis. Na terceira e conclusão faz-se uma
apresentação das semelhanças dos dois movimentos artísticos, e a reflexão sobre a ideia de
mestiçagem da autora Icleia Maria Barbosa Cattani que discorre em um capitulo (Os lugares
de mestiçagem na arte contemporânea) no livro América Latina: territorialidade e práticas
artísticas.
Pressupostos históricos sobre o muralismo e Diego Rivera
Esta arte pós-revolução com sentido popular, iniciou no México, e seus principais
representantes foram Clemente Orozco (1883-1949), David Siqueiros (1896-1974) e Diego
Rivera (1886-1957). Eles conseguiam levar a população de maioria analfabeta o conhecimento
sobre sua história de opressão e miséria através de imagens pintadas em muros. E passar
mensagens de luta contra toda àquela opressão.
Após a Revolução mexicana que teve inicio em 1910 houve vários acontecimentos
reivindicações pela reforma agrária, descentralização do poder de Porfirio Diaz, a busca e
valorização da cultura indígena, e a devolução de suas terras usurpadas pelo governo corrupto
Porfirista dentre muitos outros. Esse contexto revolucionário teve grande impacto dentre os
escritores, pintores e intelectuais.
Durante as décadas de 1920 e 1930 pós-revolução, pintores mexicanos influenciados
pelos ideais revolucionários iniciaram uma proposta de arte revolucionária, que misturava
influencias de artes pré-colombianas (civilização Maia, Asteca, Inca) e arte moderna. Sendo
assim uma arte para as camadas populares, com o compromisso da arte com questões políticas
e sociais. As principais representações da nova arte vieram do reviver da antiga cultura
mexicana, trazia um retorno às culturas indígenas.
Uma das principais características era a exposição em muros, espaços públicos, onde a
população tivesse acesso, daí então foi denominado o nome do movimento muralista. Os temas
das pinturas eram diversos, porém sempre mensagens de luta contra desigualdades social, á
miséria, exploração dos camponeses e desvalorização da cultura indígena. Eram sempre
pinturas de cunho crítico social. Durante sua primeira fase o Muralismo no México se deu ainda
durante a presidência do General Alváro Obregon (1912-1928) quando se impulsionou um
novo projeto cultural e educativo. Roberto Montenegro pintou o mural “El Arbol de La Vida”,
no Colégio Maximo de San Pedro e San Pablo, hoje o atual Museu da Luz. Nesta primeira
etapa o Muralismo abordava temas sobre a natureza a ciência e a metafisica.
Somente em uma segunda fase entre 1934 e 1940 o movimento entrou em uma fase
reflexiva das relações sociais do país. Ao final do ano de 1933 foi fundada a LEAR a Liga de
Escritores e Artistas Revolucionários e o Taller de la Grafica Popular que tinham como
intenção manter dentro do Muralismo o comprometimento com as classes operárias e
camponeses. Por certa influência do governo Cardenás (1934-1940) e também da política
externa o movimento tornou se não só uma luta revolucionária nacional, mas também
internacional, afetando demais países que também passavam por situações políticas
econômicas e sócias da época. Sendo adotado ao movimento um discurso nacionalista
revolucionário.
Segundo Carlos Monsiváis “o Muralismo ajudou a configurar a imagem de país
unificado e a difundir os ideais de um país pós-revolucionário” (MONSIVAÍS, 2016, s/p). Os
muralistas pintaram lugares públicos como muros da Escola Nacional Preparatória, e paredes
da Secretária de Educação pública, e do Palácio Nacional. A partir daí observou se que a criação
dos murais em espaços públicos como necessidade de prevalecer os valores revolucionários e
manter a unidade artística.
O Muralismo teve seu período de ascensão entre 1921 a 1954. Apesar de ser um
Movimento plástico e com diferentes etapas se manteve o constante interesse dos artistas em
mostrar a visão social que cada um tinha sobre a identidade nacional. No auge do Movimento
empresas de iniciativa privada encarregaram diferentes artistas para a produção de murais para
seus edifícios. Ocorreu dessa maneira gradativamente uma modificação das obras, e alguns
artistas começaram a omitir os aspectos revolucionários sociais das obras e abordavam temas
de diversos planos. Passando assim a terceira fase do Muralismo, as obras passaram a ser
criadas de acordo com os interesses individuais de cada artista. A maioria das obras criadas
para os museus ou o Palácio de Bellas Artes era dessa última fase.
Diego Rivera, José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros, e Rufino Tamayo
projetavam em suas obras características reflexivas sobre o rumo industrial e aspirações sobre
o progresso e a modernidade, serviam de referência a vários movimentos artísticos que se
sucediam em muitos outros países, indicavam similares estilos, e esses artistas baseavam suas
obras no expressionismo, simbolismo, surrealismo, além do que ambos põem ênfase no
sentimento e emoção. A relação entre a arte radical e a política revolucionária foi impactante
na América Latina justamente por conta da revolução mexicana, e os artistas muralistas
interpretavam esses ideais de revolução como uma ideia de arte para o povo, participando assim
de uma concretização nacionalista cultural de valores revolucionários. O arqueólogo e
antropólogo Manuel Gamio “explicaria em sua obra Forjando Patria, piblicada em 1916, o
motivo porque a arte não é uma intrusa social nos trabalhos de um país onde os usos dela são
tão consumidos quanto pão. Assim escreveria Jean Charlot a citar Manuel Gamio:
Pontos divergentes com relação à estética contribuem substancialmente para
que seja radical a separação das classes sociais no México. O índio preserva
e produz uma arte pré-colombiana. A classe média preserva e produz uma
arte europeia temperada pelo pré-colombiano ou pelo índio. A dita classe
aristocrática alega ser a sua arte puramente europeia.
Deixando de lado a última com seu purismo duvidoso (...) investiguemos as
outras duas. Elas já estão separadas uma da outra por diferenças étnicas e
econômicas. O trabalho do tempo e a melhoria e a melhoria econômica da
classe nativa contribuirá para a fusão étnica da população, mas a fusão
cultural também se mostrará importante fator (...) Quando as classes nativa e
média compartilharem um só critério no que diz respeito à arte, estaremos
culturalmente redimidos, a arte nacional, uma das bases mais sólidas da
consciência nacional, se tornará um fato. (ADES, 1997 p.153).
Apresentamos aqui uma breve biografia do principal artista do Movimento Muralista
no México. José Diego Maria Rivera nasceu em 1886, na cidade de Guanajuato, México,
considerado filho de pais politicamente liberais iniciou seus estudos na Academia San Carlos
em 1896. Em 1907 conseguiu uma Bolsa de estudos concedida pelo governo de Porfirio Diaz
que o levou a Espanha onde sob orientação de outros pintores desenvolveu seu dom. Em 1911
realizou uma exposição na Cidade do México que lhe rendeu meios para ir a Paris, onde se
integrou a um grupo de outros artistas pintores mexicanos, onde produziram juntos mais de
200 obras em estilo cubista (1913-1917). Fez grandes amizades dentro do movimento cubista,
Picasso foi um deles, e também teve influência de Paul Cezzane, conheceu pintores russos, de
onde também obteve conhecimentos e trocas de experiências. Em 1920 fez uma passagem pela
Itália com seu amigo David Siqueiros, onde puderam acompanhar e aprender técnicas de
Afresco1.
Em 1921 regressou para o México, onde se descobriu em um passado pré-hispânico,
pois já havia absorvido muitas técnicas e feito parte de movimentos artísticos em outros países,
1 Afresco - técnica de pintura mural em que o pigmento puro é misturado apenas com água e aplicado sob a
superfície ainda úmida, de gesso ou cal, assim as cores a impregnam na parede ou teto, dando maior durabilidade
a pintura.
assim já aderira a formas de comunicação, com linguagem realista e social. Suas obras gráficas,
de cavalete, e murais são uma referência obrigatória para compreender a fusão entre as
vanguardas europeias do inicio do séc. XX e a tradição popular mexicana. Durante sua
trajetória foi casado 3 vezes, entre suas esposas estava a também pintora vanguardista Frida
Kahlo, (1907-1954) com a qual possuiu um relacionamento conturbado e intenso, pois ambos
possuíam forte personalidade.
Ocupou cargo governamental ligado às artes, e também foi cofundador do Sindicato de
Trabalhadores Técnicos, Pintores e Escultores, que tinham como objetivos ser fiéis a suas
tradições, e o objetivo estético de sua arte tinha de ser social, valorizar a cultura nativa
mexicana, preservar sua origem indígena, esse era seu maior tesouro, mostrar ao mundo suas
expressões pela originalidade do povo e não pelo individualismo burguês. Rivera executou suas
obras muralistas, em lugares como Ministério da Educação, Escola Nacional de Agricultura,
Palácio Nacional da Cidade do México, e Palácio Cortés de Cuernavaca. Também foi para os
Estados Unidos onde pintou um polêmico mural no edifício RCA em Nova York (1932), cuja
pintura era um retrato de Lenin. Esse mural foi destruído, porém o mesmo foi recriado no
Palácio de Bellas Artes da cidade do México, executou vários outros murais, e exposições
dentro do país. Já em 1947 junto a Orozco e Siqueiros constituiu uma comissão que organizaria
e orientaria a pintura muralista, como um legado do Instituto Nacional de Bellas Artes. Criou
o último de seus murais no Hospital de La Raza em 1953. Tão logo em 1957 em San Angel
veio a falecer de insuficiência cardíaca, foi velado com honras oficiais e sua obra foi legada à
nação mexicana.
Suas obras tem uma profundidade imensa, com detalhes por todo espaço, cheias de
sentido, como este mural do Palácio Nacional do México, de 1951, A chegada de Hernan Cortés
a Vera Cruz, que mostra a relação entre os Opressores e Oprimidos, temos como reflexão essa
exploração que por muito tempo foi mascarada, dita como necessária.
Fonte: http://www.bluffton.edu/homepages/facstaff/sullivanm/mexico/mexicocity/rivera/4870.jpg
A expansão do Movimento pode se dizer que serviu de influência para muitos outros
movimentos em vários países. Faremos uma breve contextualização do movimento no Brasil,
pois neste como muitos outros houve intensas repressões artísticas, vemos que no Brasil o
muralismo segue uma composição estética, ligada a urbanização.
Pintados principalmente em edifícios públicos, escolas e repartições oficiais,
o tema central do Muralismo está no próprio povo mexicano. Há uma
representação da vida, da história e dos valores que permeiam sua sociedade.
Percebe-se uma iconização da cultura mexicana centrada na figura do índio
em oposição à colonização europeia, bem como uma maneira simbólica de
retratar os ideais da Revolução e do pensamento socialista do inicio do século
XX. O Muralismo surge como expressão do nacionalismo mexicano e passa
a caracterizar o orgulho a exaltação e o resgate da cultura ameríndia.
(VIVAN, 2005, p.237)
De acordo com a autora TUPYNANBÁ, o Movimento Muralista entra como influência
no Brasil a partir do governo Vargas (1930-1945), os artistas brasileiros vão buscar os mesmos
ideais que dos muralistas mexicanos, fazendo uma arte de fácil acesso e compreensão do povo,
cujos temas fossem significativos de sua história incluída nos prédios públicos. A ideia de
pintar murais em espaços públicos surgiu em um grande processo de urbanização. Na política
o movimento estava ligado a necessidade de modernizar a intensa construção civil. Brasília foi
um dos grandes projetos governamentais criada para representar o período de desenvolvimento
de Juscelino Kubitschek. Na arte foi momento de expor obras como as de Oscar Niemeyer,
Candido Portinari, Clóvis Graciano e muitos outros.
Esses artistas se utilizavam de vários estilos e matérias na realização dos seus trabalhos:
cerâmica, mosaicos, que Portinari e Clóvis Graciano utilizavam para descrever a imagem da
construção do brasileiro. Essa arte comunicativa, expressa a céu aberto e a visão de todos era
uma arte popular que propunha auxiliar na percepção estética e também na construção cultural.
Chegando a um viés um tanto regionalista citamos também Poty Lazarotto, que deixou
sua expressão muralistica em vários muros de cidades paranaenses e também em outros países,
dentre suas obras está “O painel dos barrageiros”, que encontra se exposto em um dos pontos
turísticos mais visitados da cidade de Foz do Iguaçu, Paraná, essa obra homenageia em especial
aos trabalhadores que construíram a usina, o mural possui 25m de largura e 2m de altura foi
inaugurado em 1998 mesmo ano em que faleceu o artista. É um grande atrativo turístico, mas
não lhe tira sua imponência artística.
Fonte: http://www.brasil.gov.br/cultura/2014/10/painel-do-barrageiro-e-tombado-como-patrimonio-
cultural-do-parana/capturar-20.jpg/@@images/aaeacb96-d1af-4f8e-9d1e-df73ce99b98d.jpeg
Pressupostos históricos do grafite e mundano
Os espaços urbanos se tornam um meio de comunicação onde os artistas se apropriam
do local, muros, paredes, escadas, ruas, postes, passarelas, vagões de trens, caminhões, carroças
– sim carroças ao longo desta parte mostraremos um artista que utiliza deste espaço para levar
à arte as ruas, dentre outros locais públicos ou privados para expressarem seus sentimentos,
angustias, e também fazer uma critica social, levar as palavras de grupos oprimidos.
Um dos Movimentos artísticos que utiliza destes espaços é o Grafite que de acordo com
Ganz a palavra deriva do italiano “sgraffito – rabisco, ranhura e afirma a existência do grafite
desde os primórdios da humanidade”. Surgem várias teorias para explicar que é um fenômeno
artístico antigo, uma delas é a relação com as pinturas rupestres, a influência com o antigo
Império Romano onde escreveram com carvão palavras de protesto, o grafite que conhecemos
hoje caracteriza-se pelo seu surgimento no Séc. XX.
O grafite é um texto multissemiótico, que mescla o verbal e o não verbal, com
diferentes técnicas e estilos para intencionalmente interferir na paisagem
urbana. O grafiteiro ou a grafiteira pintam temáticas significativas do
momento que se vive. Classicamente os trabalhos que se apropriam de muros
e fachadas são utilizados para “mandar sua mensagem”. (SOUZA, 2011,
p.76).
Com o Grafite temos a conhecida Pichação, a característica desta é a forma de expressar
de um grupo, contra os problemas sociais, entre gangues2, em que as letras são quase ilegíveis
para as pessoas que não pertencem ao grupo, estes brigam por territorialidade, quanto mais o
individuo do grupo picha mais poder e visibilidade ele tem, por isto precisa ser uma ação rápida.
Segundo Célia Maria Antoniacci Ramos, “a pichação é um proto grafite, que parte de um
processo mais anárquico de criação, onde o que importa é transgredir e até agredir, marcar a
presença, provocar, chamar atenção sobre si e sobre o suporte” (RAMOS, 1994, p.49). Já o
Grafite se preocupa com questões técnicas de composição, formando grandes murais da rua, é
essência, ação das massas oprimidas contra as estruturas sociais vigentes. Um depoimento dos
Grafiteiros Os Gêmeos, encontrado no famoso canal Youtube3, que os grafiteiros de hoje
geralmente foram pichadores ontem. Sendo assim a pichação pode ser um caminho para o
Grafite neste artigo vamos tratar estes dois movimentos como um só, entendendo que um
perpassa o outro. Para compreendermos melhor este movimento em poucas linhas tiramos
conclusões a cerca do auge e suas repercussões no Brasil.
O Grafite e a Pichação que temos conhecimento com o suporte em muros e paredes da
cidade inserindo desenhos, caricaturas, frases através da lada de spray, surge na França em
1968 dando voz aos estudantes e trabalhadores, que expõem frases de indagações políticas, e
também pregavam amor e humor, tudo contra as pressões e repressões e uma sociedade
conservadora. O movimento parisiense atinge outros países, o que mais se apropria é Nova
2 Gangues - Grupo de pessoas que tem, por objetivo, práticas criminosas ou não, reunidos para falar a mesma
língua, e lutar pelo mesmo ideal. 3 Youtube - https://www.youtube.com/watch?v=us4wPwplzpE, depoimento dos Grafiteiros do Brasil – Os
Gêmeos.
York, surge o Movimento como uma das representações do Hip Hop4, a manifestação vai além
dos muros percorre as ruas através dos caminhões, ônibus e metrôs, assim influência a
apropriação para a indústria cultural. Apesar desta apropriação da indústria os artistas ainda
são perseguidos, suas obras são consideradas como um ato de vandalismo, sendo estas pintadas
novamente com tinta por cima – um ato de preconceito e desvalorização, mas não é isto que
vai fazer acabar o movimento, ele percorre e influência o mundo todo.
No Brasil tem uma breve palha do Grafite com a Pichação em 1964 contra o
autoritarismo na ditadura militar, mesmo ideal em que anos após em Paris se repercute, são de
cunho individual de acordo com a ideologia de cada um. Mas é na década de 70/80 que o
Grafite cresce e ganha popularidade, após a virada cultural em Nova York, além de o país viver
a abertura política com o fim da ditadura, a linguagem do grafite brasileiro é o improviso, é
incrementar elementos, onde muitos abraçam o movimento e vão pra rua.
No final da década de 1970, o grafite foi introduzido no Brasil, em São Paulo,
e o brasileiro não se contentou com o grafite norte-americano, então começou
a incrementar. Não é, portanto, um fenômeno inteiramente novo. O grafite
atual apenas se distingue das anteriores manifestações pela extensão que
alcança, configurado como uma linguagem supostamente global, porém não
podemos permitir que o termo global impeça de observar as variantes locais,
inscritas em modelos culturais com regras, vocabulários, praticas e
ferramentas que são transmitidas e reproduzidas há mais de três décadas. No
início, as obras dos grafiteiros eram apresentadas desde simples traços sem
cores com criticas diretas ao governo ate as mais rebuscadas com matizes
diversos, e sua criação podia durar meses. (SILVA, 2014, p.19).
Mesmo o Grafite crescendo mundialmente, ganhando seu espaço, popularidade, muitos
artistas sofrem repressões, pode-se dizer que é uma Arte nova e Sagaz. A seguir vamos citar
um artista em que está neste processo onde já foi repreendido e agora esta conquistando seu
espaço e ganhando novos adeptos ao seu projeto social. Retiramos informações deste através
4 Hip Hop – Surge na década de 70 em NY, como movimento de uma denominada “subcultura”, onde o grupo se
reúne para dançar, danças improvisadas, breack, cantar através do Rap, do DJING, e pintar através do grafite.
Estes sofriam com a pobreza, o racismo da época, foi uma maneira de lazer, e de ter voz contra o sistema opressor.
das redes sociais, sites de entrevistas, de projetos sociais – Facebook5, Beside Colors6, GQ
Brasil7, Conexão planeta inspiração e ação8.
Thiago Teixeira Leite Ackel mais conhecido como Mundano nasce no Brooklin zona
sul de São Paulo em 02 de fevereiro de 1986, vem de uma família bem estruturada
financeiramente, segundo filho de um cirurgião plástico e uma decoradora. Sempre estudou em
escolas particulares, começa a esboçar seus primeiros rabiscos ainda na adolescência, sofre
influências de uma de suas avós e de seu pai. Suas pichações e desenhos infestavam muros,
azulejos, moveis do colégio. Ainda na adolescência, em 2002, presencia um acidente de seu
amigo JR do SKID, que fica em coma, este foi um choque, onde deu uma diminuída nos
“roles”, mas nunca parou totalmente. Antes assinava por DMENT, só em 2006 começa a
assinar MUNDANO e vivenciar a rua para além do muro.
Em 2007 com a gestão de Gilberto Kassab, que instalou o projeto cidade limpa em São
Paulo, apagava a arte de rua que existiam e todas aquelas que apareciam. Mundano se encontra
em atividade frenética, quanto mais apagavam seus trabalhos, mais queria pintar, criticar,
protestar, com suas frases relativas aos problemas do entorno, e desenvolveu o que chama de
“Grafite Paporreto”.
Fonte: http://gq.globo.com/Cultura/noticia/2013/09/mundano-como-um-grafiteiro-se-tornou-simbolo-
da-arte-que-muda-o-mundo.html
5 Facebook – Rede social online que atende milhões de pessoas pode-se trocar mensagens instantaneamente,
divulgar trabalhos, curtir, postar, participar e grupos, dentre outras funções. 6 Beside Colors – Um espaço onde publica tudo que é relacionado as ruas. Uma plataforma de divulgação,
entrevista de Thiago Mundano em 27/10/2014; 7 GQ Brasil – Site de entrevistas que envolve desde o cuidado com a saúde até temas culturais. Entrevista feita
em 30/09/2013 por Bruno Abered, para Mundano: como um grafiteiro se tornou símbolo da arte que muda o
mundo. 8 Conexão planeta inspiração e ação - Site que espalha e dissemina historiais e noticiais relevantes para um futuro
mais feliz, acreditando na sustentabilidade. Entrevista feita por Mônica Nunes em 26/04/2017 “A arte e o amor
de Mundano pelos catadores e pela liberdade.
No mesmo ano pinta sua primeira carroça a partir daí faz uma pesquisa profunda acerca
dos catadores de materiais recicláveis – existem mais de 20 milhões de catadoes no mundo, é
uma parte vital de toda nossa sociedade, 90% de tudo que é reciclado no Brasil vêm dos
catadores de lixo, percebe que não é uma realidade exclusiva do Brasil. Cria em 2012 o projeto
Pimp My Carroça, com financiamento coletivo e da adesão de voluntários, ajuda a resgatar a
autoestima dos catadores. Dando voz aos que parecem invisíveis na sociedade, sendo que estes
são parte fundamental para a incrível exposição de arte móvel, tornando estes cada vez mais
respeitados e valorizados. O poder está na da rua onde os catadores conseguem ocupar os
espaços vazios, um de seus símbolos é o cactos que significa resistência.
Fonte: http://besidecolors.com/entrevista-thiago-mundano/
Em 2017 ele ainda continua seu projeto, buscando doações e indo além das carroças,
vai em busca de melhoria na vida, de ajudar a vida das pessoas que estão em lugares de risco,
nas ocupações, participando de projetos sociais. Desenvolveu um aplicativo de celular, Cataki
para conectar catadores com quem recicla, este chama o catador mais próximo pra coleta em
sua casa ou empresa. Fez exposições sobre o projeto Pimp My Carroça, e de programas
Habitacionais, onde artistas engajados desenvolveram mutirões em ajuda na divulgação e
produções artísticas.
Nestes 5 anos:
Fonte: https://www.facebook.com/mundano.sp/
Finalizamos esta segunda parte com uma frase deste inspirador artista, “por mais que o
ser humano esteja se autodestruindo em diversos sentidos, tem uma multidão linha de frente
disposta a lutar pelo contrário” (MUNDANO, 2017, s/p).
Conclusão
Trazemos como conclusão e reflexão duas obras, uma do Diego Rivera um dos
principais representantes da revolução mexicana, foi produzida em 1926 na parede da
Universidade Autonoma de Chapingo, Los Explotadores, representa o povo mexicano,
descrevendo a turbulência que estes viviam, a guerra civil, e a sucessão dos governos, um povo
em que estava precisando se unir para mudar o que estavam sofrendo, capacitando o expectador
a refletir sobre as condições de trabalho, mostra-se a relação de opressão e liberdade, para
alguns compreendemos esta liberdade (Estado e quem estava ao seu lado) e outros não (Índio).
O que configura constantemente a privatização deste sujeito.
De acordo com Luiz Alberto Vivan,
Rivera denuncia a prática estabelecida na sociedade mexicana,
na qual os trabalhadores, camponeses e índios são privados de
um estado de possibilidade, em função da legitimação de uma
situação política e econômica. O governo ditatorial, a burguesia
e as aristocracias mexicanas atribuem ao povo uma série de
competências entendidas como um “dever-fazer”, para que
possam manter um nível de performance entendido como a
manutenção do poder e das riquezas (VIVIAN, 2005, p. 242).
Fonte: https://www.wikiart.org/en/diego-rivera/the-exploiters-1926
A segunda obra é do artista Mundano, este vai até uma ocupação ao convite de um
amigo com o projeto – em busca de um sonho, da prefeitura de São Carlos, onde foi muito bem
recebido pelas famílias da ocupação, pinta em um dos barracos, um homem, trabalhador em
que buscava o sonho constantemente, junto com ele o cactos, símbolo de resistência. Nesta
imagem é fácil identificar como muitos são felizes com pouco, a reflexão que se obtém ao
analisar, é tanta casa sem sujeitos, e tantos sujeitos sem casa, é uma realidade que temos em
muitas cidades. Na imagem se analisa a figura do opressor, mas fica subentendido a ideia de
um governo em que pensa em alguns e esquece outros, a falta de oportunidade.
Fonte: https://www.facebook.com/mundano.sp/
O eu precisa do outro para reconhecer-se enquanto igual ou diferente. O fio condutor
destes movimentos artísticos são os signos culturais, a luta de classes, levar a arte para todos
os setores da sociedade. Compreende-se que os percursos artísticos são diferenciados no tempo
e espaço. As condições sociais, econômicas e políticas são parecidas, onde a violência era, e,
ainda é um problema cotidiano, rodeado por desigualdades. Nos dois movimentos cruzam-se
os sentidos, sobrepõe-se sem se fundir, lugares de mestiçagem por excelência, possuem a
mesma gênese, os espaços sociais e culturais.
Cattani (2002, p.173) refere se que a arte brasileira possui uma característica
significativa:
[...] os signos e ícones apropriados vêm de culturas dadas como modelos
dominantes. Culturas originárias e originadas em outros lugares,
transplantadas para encruzilhadas. Pois os lugares brasileiros são
encruzilhadas, cruzamentos, esquinas, entre varias memórias; entre muitas
tradições; entre numerosos modelos; entre quantidade de modalidades.
O eu mestiço atravessa e é atravessado por vários outros: das ínfimas porções
onde as linhas se cruzam, nascem coisas novas.
Compreende-se que a semelhança entre a arte de pinturas, Grafite e Muralismo, foi
sempre construída internamente do homem, com o passar do tempo dentro de um contexto de
exclusão, artistas passam a desenvolver essas pinturas em muros e paredes, edifícios externos,
com o claro objetivo de luta social, onde a mesma é representada nessas pinturas. Acredita-se
que essas pinturas possuem uma verdadeira e pura significação social e um grande
reconhecimento artístico na sua composição. Uma arte de protesto para a rua e para o povo.
O que pode-se perceber na obra do artista Mundano é muito mais do que uma
composição estética e mercadológica que muitos Grafiteiros estão seguindo, este tem por
objetivo levar a arte para todos, e contribuir para um mundo melhor, dando voz aos oprimidos,
auxiliando em uma outra visão de mundo, como o Diego Rivera que deu voz e força aos
trabalhadores mexicanos.
O Grafite busca referenciais na Europa após a década de 70, mas como mostra no
pressuposto histórico, no Brasil surge com a pichação na ditadura militar, anterior há França,
que também é anterior ao Muralismo, infelizmente não podemos afirmar que existe uma arte
pura, no sentido sem influências europeias, pelo menos falando do Muralismo e no Grafite,
pois até o muralismo sofre influências de outros movimentos artísticos, o que se pode
apresentar, é esta essência da arte, da dar voz e vez aos invisíveis, para que estes se expressem
e fujam do sistema opressor. O que se observa neste esboço de uma pesquisa futura, é que os
modelos europeus e norte americano perpetuam ainda hoje, como imposição de valores
culturais e técnicas artistas, em detrimento da cultura Latino Americana, precisamos valorizar
nossas obras através destas, vamos apresentar nosso povo, com expressão, com costumes, que
ao longo do tempo esta se constituindo, resistindo e se tornando forte, resgatando suas raízes.
Esta pesquisa não se dá por encerrada, há muito referencial artístico latino americano para
podermos fazer estas reflexões, mas para isso é necessário tempo para pesquisa, onde
infelizmente tivemos pouco.
Referências
CATTANI, Icleia Maria Borsa. Os lugares de mestiçagem na arte contemporânea. In:
BULHÕES, Maria Amélia. KERN, Maria Lúcia Batos. Org.(s). América Latina:
Territorialidade e práticas artísticas. Porto Alegre: Editora a UFRGS, 2002. p. 167-183.
DAWN, Ades. Arte na América Latina. São Paulo: Naify Edições, 1997.
GANZ, Nicholas. O mundo do grafite: arte urbana dos cinco continentes. São Paulo: Ed.
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MONSIVÁIS, Carlos. El precioso legado del muralismo mexicano. Disponível em: <
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