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CESAR FRANCISCO SILVA DA COSTA IDENTIFICAO DE PATGENOS HUMANOS NAS GUAS QUE MARGEIAM A
CIDADE DO RIO GRANDE/RS: PROPOSTA DE VIGILNCIA E MONITORAMENTO PARA OS AGRAVOS RELACIONADOS
Rio Grande
2006
FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM IDENTIFICAO DE PATGENOS HUMANOS NAS GUAS QUE MARGEIAM A
CIDADE DO RIO GRANDE/RS: PROPOSTA DE VIGILNCIA E MONITORAMENTO PARA OS AGRAVOS RELACIONADOS
CESAR FRANCISCO SILVA DA COSTA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Fundao Universidade Federal do Rio Grande, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem - rea de Concentrao: Enfermagem e Sade. Linha de Pesquisa: Organizao do Trabalho na Enfermagem/Sade.
Orientador: Dr. Ral Andrs Mendoza Sassi
Co-orientadora: Dra. Marta Regina Cezar Vaz
Rio Grande
2006
Catalogao na Fonte Bibliotecria Simone Godinho Maisonave. CRB-10/1733
C837i Costa, Cesar Francisco Silva da
Identificao de patgenos humanos nas guas que margeiam a cidade do Rio Grande/RS: proposta de vigilncia e monitoramento para os agravos relacionados / Cesar Francisco Silva da Costa - Rio Grande: FURG/PPGENF, 2006.
112 p.: il. Dissertao (Mestrado). Fundao Universidade Federal do Rio
Grande. Programa de Ps-Graduao em Enfermagem. Mestrado em Enfermagem.
1. Saneamento. 2. Sade Ambiental. 3. Sade Pblica.
4. Microbiologia da gua. 5. Enfermagem. I. Ttulo.
CDU 614:628
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Arquiteto do Universo, em cuja f repousa a base para
concretizao de nossos sonhos, ideais e planos.
Carla, minha esposa e aos filhos Fernanda, Liane e Henrique, a quem
dedico esta etapa de nossas vidas como referncia de que O que fazemos hoje
reflete no amanh e constri o que seremos.
Aos meus pais, Oswaldo (em memria) e Carmem e irm Simone, pelo amor
incondicional e evoluo da famlia.
Aos Docentes do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem (PPGENF-
FURG), que contriburam para a expanso de minha percepo para um repensar
em sade.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Ral Andrs Mendoza Sassi, pela pacincia,
amizade, incentivo e por acreditar em nosso trabalho.
Aos colegas do Hospital Universitrio Dr. Miguel Riet Correa Jr., pela
pacincia e apoio durante o Curso de Mestrado, quer realizando os plantes em
meu lugar, quer tolerando minha ausncia em diversos eventos.
Ao Prof. Dr. James Carlos Scaini, e Prof. MsC. Carolina Alicia Coch Gioia e
demais profissionais do Departamento de Patologia da FURG por sua dedicao e
colaborao nas anlises do material utilizado para este estudo.
equipe do Servio de Vigilncia Epidemiolgica da Secretaria Municipal da
Sade de Rio Grande pela ateno e profissionalismo e aos companheiros durante a
pesquisa, Ricardo Luiz Ricci Falchi, e Rubilar Santana.
RESUMO COSTA, Cesar Francisco Silva da. Identificao de patgenos humanos nas guas que margeiam a cidade do Rio Grande/RS: proposta de vigilncia e monitoramento para os agravos relacionados. 2006. 112f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Fundao Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. Este estudo teve, por objetivo, identificar a presena dos microrganismos patognicos do grupo coliforme, e de outros microrganismos e parasitos humanos potencialmente patognicos existentes nas guas que margeiam a cidade do Rio Grande/RS, bem como elaborao de uma proposta de interveno na esfera da vigilncia em sade ambiental. Foi realizado um estudo descritivo, onde foram coletadas amostras de gua em 12 pontos pr-determinados, nos meses de outubro de 2004 e janeiro, abril, julho e outubro de 2005. Em cada amostra coletada procedeu-se identificao de enterobactrias e parasitos potencialmente patognicos de interesse humano. Na anlise estatstica, procedeu-se ao clculo de freqncias absolutas e relativas dos dados obtidos. Realizou-se tambm o levantamento do funcionamento dos sistemas de informaes em sade ao nvel local e regional para determinados agravos e, a partir dos dados encontrados, esboaram-se algumas aes em sade. Das 48 amostras estudadas, em 100% foi identificada a presena das bactrias Escherichia coli, Proteus, Salmonella e uma enterobactria no identificada. Cabe salientar que Escherichia coli foi identificada em nmero superior a 1.000/100 ml de gua; as amostras positivas para parasitos foram 17 (35,4%); oocistos de Cryptosporidium spp. encontrados em 2 amostras (4,2%); a ameba de vida livre, gnero Acanthamoeba, em 12 amostras (25%); e a ameba de vida livre, gnero Naegleria, em 3 amostras (6,3%). Nos pontos de coleta observou-se forte presena de atividade humana ou eliminao de dejetos. A anlise dos sistemas de informaes em sade revelou a falta de vigilncia ambiental dirigida ao objeto de estudo. Diversas aes com vistas a contribuir com o manejo da situao e a reduzir o possvel agravo foram propostas, tais como: monitoramento dos pontos de coleta; instalao de sistema sentinela; aes educativas integradas; implementao da pesquisa; participao multidisciplinar e interinstitucional. Concluiu-se que a gua do entorno da cidade estudada apresenta nveis significativos de enterobactrias e de parasitos potencialmente danosos para a populao, tornando necessria a implementao de polticas e medidas para controlar esta situao. Palavras-chave: Saneamento. Sade ambiental. Sade Pblica. Microbiologia da gua. Enfermagem.
ABSTRACT COSTA, Cesar Francisco Silva da. Identification of human patogens in the bounday waters of the City of Rio Grande/RS: proposal of surveillance and monitoration for the related diseases. 2006. 112p. Dissertation (Nursing Master`s degree) Post Graduation Program in Nursing, Fundao Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. This study had the purpose to identify the presence of pathogenic microorganisms from the group Coliforme, and other microorganisms and human potentially pathogenic parasites existing in the boarding waters of the city of Rio Grande-RS and to elaborate a proposal of intervention in the Vigilance of the environment healths sphere. A descriptive study has been done where the water is collected in 12 pre-determinated spots during the months of October/2004 and January, April, July and October/2005. In each collected sample an identification of enterobactria and potentially pathogenic parasites of human interest was proceeded. In the statistic analysis, a calculation of the absolute and relative frequencies from the obtained data was made. Also a research of the work of the health local and regional information for determinated damage and some actions in heath were sketched from the obtained data. Forty eight samples were studied, 100% presented the presence of Escherichia coli, Proteus, Salmonella bacterium and non-identified enterobactria, its good to set off that Escherichia coli was identified in number superior than 1000/100ml of water. The positive samples were 17(35,4%) for parasites. Oocistos of Cryptosporidium spp were found in 2 samples (4,2%), the free life Ameba, genus Acanthamoeba in 12 samples(25%) and the free life Ameba, genus Naegleria in 3 samples(6,3%). In the collecting spots was found strong presence of human activity and/or elimination of garbage. The analyses of the health information system revealed the lack of environment vigilance directed to the object of study. Several actions in order to contribute with the manage of the situation and reduce the possible damage were proposed, such as: watch the collect spots; installation of a sentinel system; integrated educative actions; encourage the research; multidiscipline participation. The conclusion is that the boarding water of the studied city presents significant level of enterobactria and parasites potentially damaging for the population, tuning to necessary the implantation of measures to control this situation. Key words: Sanitation. Environment health. Public heath. Water microbiology. Nursing.
RESUMEN
COSTA, Cesar Francisco Silva da. Identificacion de patogenos humanos en las aguas que bordean la Ciudad de Rio Grande/RS: propuesta de vigilancia y monitoramiento para los daqos relacionados. 2006. 112f. Disertacin (Maestria en Enfermera) Programa de Postgrado en Enfermera, Fundao Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande. Este estudio tuvo, por objetivo, Identificar la presencia de los microrganismos patgenos del grupo coliforme, y de otros microrganismos y parasitos humanos potencialmente patgenos existentes en las aguas que marginan la ciudad de Rio Grande Rs, bien como elaboracin de una propuesta de intervencin en la esfera de la vigilancia en salud ambiental. Fue hecho un estudio descriptivo, donde se realizaron colectas de agua en 12 puntos pre-determinados, en los meses de octubre de 2004 y enero, abril, juli y octubre de 2005. En cada muestra colectada se procedi a la identificacin de enterobactrias y parasitos potencialmente patgenos de inters humano. En el anlisis estadstico, se procedi al clculo de frecuencias absolutas y relativas de los datos logrados. se realiz tambin el levantamiento del funcionamiento de los sistemas de informaciones en salud a nivel local y regional para determinadas situaciones y, a partir de los datos encontrados, se esbozaron algunas acciones en salud. De las 48 muestras estudiadas, en un 100% fue identificada la presencia de las bacterias Escherichia coli, Proteus, Salmonella y una enterobactria no identificada. Cabe destacar que Escherichia coli fue identificada en nmero superior a 1.000/100 ml de agua; las muestras positivas para parasitos fueron 17 (35,4%); oocistos de Cryptosporidium spp fueron encontrados en 2 muestras (4,2%); la Amiba de vida libre, gnero Acanthamoeba, en 12 muestras (25%); y la Amiba de vida libre, gnero Naegleria, en 3 muestras (6,3%). En los puntos de colecta se observ fuerte presencia de actividad humana o eliminacin de dejetos. El anlisis de los sistemas de informaciones en salud revel la falta de vigilancia ambiental dirigida al objeto de estudio. Diversa acciones con vistas a contribuir con el manejo de la situacin y a reducir los posibles daos fueron propuestas, tales como: monitorizacin de los puntos de colecta; instalacin de sistema centinela; acciones educativas integradas; implementacin de la pesquisa; participacin multidisciplinaria e interinstitucional. se concluy que el agua del entorno de la ciudad estudiada presenta niveles significativos de enterobactrias y de parasitos potencialmente daosos para la poblacin, tornando necesaria la implementacin de polticas y medidas para controlar esta situacin. Palabras-llave: Saneamiento. Salud ambiental. Salud pblica. Microbiologa del agua. Enfermera.
SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................................. 10 2 APROXIMAO COM A TEMTICA........................................................... 15 3 OBJETIVOS .................................................................................................. 19 3.1 GERAL........................................................................................................ 19
3.2 ESPECFICOS............................................................................................ 19
4 MARCO REFERENCIAL .............................................................................. 20 4.1 IMPACTO DOS EFLUENTES LIQUDOS MUNICIPAIS............................. 21
4.1.1 Impacto no ambiente................................................................................ 22
4.1.2 Impacto na sade humana....................................................................... 22
4.2 GUA NA TRANSMISSO DE DOENAS ................................................ 23
4.2.1 Breve aspecto histrico ............................................................................ 23
4.2.2 Efluentes e concentrao de patgenos .................................................. 24
4.3 A IDENTIFICAO DE PATGENOS HUMANOS NA GUA................... 27
4.3.1 A contaminao ambiental por enterobactrias ....................................... 27
4.3.1.1 O gnero Escherichia............................................................................ 29
4.3.1.2 O gnero Salmonella ............................................................................ 30
4.3.1.3 O gnero Proteus.................................................................................. 31
4.3.2 A contaminao ambiental pelos protozorios parasitos Cryptosporidium
spp. e Giardia lamblia............................................................................... 31
4.3.3 A contaminao ambiental por amebas de vida livre, gnero Naegleria e
Acanthamoeba ......................................................................................... 32
4.4 A VIGILNCIA SADE COMO FORMA DE PREVENO .................... 33
4.4.1 Breve histrico do controle de doenas infecciosas atravs da vigilncia 33
4.4.2 Vigilncia sade .................................................................................... 34
4.4.3 A vigilncia sade como instrumento de gesto ................................... 36
5 MTODOS .................................................................................................... 38 5.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ................................................................. 38
5.2 O RECONHECIMENTO DO CAMPO DE ESTUDO ................................... 38
5.3 ESTRATGIA DE AMOSTRAGEM ............................................................ 39
5.4 AMOSTRAGEM E METODOLOGIA DA COLETA...................................... 42
5.5 IDENTIFICAO DE AGENTES INFECCIOSOS....................................... 44
5.5.1 Mtodos laboratoriais utilizados ............................................................... 44
5.5.1.1 Pesquisa de coliformes totais e fecais .................................................. 45
5.5.1.2 Pesquisa de protozorios...................................................................... 45
5.6 ANLISE DOS DADOS .............................................................................. 46
5.7 METODOLOGIA UTILIZADA PARA CONTRIBUIR NA ELABORAO DE
UM PLANO DE ATIVIDADES PARA REDUO DE RISCO E
MONITORAMENTO DA SITUAO .......................................................... 46
5.8 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES ............................................................. 48
6 RESULTADOS.............................................................................................. 51 6.1 LOCALIZAO E CARACTERIZAO DAS REAS ESTUDADAS ......... 51
6.1.1 rea A - Canal do Rio Grande.................................................................. 53
6.1.2 rea B - Canal do Norte ........................................................................... 53
6.1.3 rea C - Saco da Mangueira .................................................................... 54
6.2 DESCRIO DOS PATGENOS DE INTERESSE HUMANO
ENCONTRADOS NO ESTUDO.................................................................. 55
6.2.1 Descrio dos patgenos segundo o momento da coleta ........................ 55
6.2.1.1 Coleta 01 Outubro de 2004................................................................ 55
6.2.1.2 Coleta 02 Janeiro de 2005 ................................................................. 56
6.2.1.3 Coleta 03 Abril de 2005...................................................................... 57
6.2.1.4 Coleta 04 Julho de 2005 .................................................................... 59
6.2.1.5 Coleta 05 Outubro de 2005................................................................ 59
6.2.2 Descrio da presena de parasitos de acordo com as caractersticas
das reas e dos pontos de coleta............................................................. 61
6.2.3 Descrio da presena de parasitos de acordo com as estaes do ano 65
6.3 ELEMENTOS PARA CONTRIBUIR COM UM PLANO DE ATIVIDADES
DE VIGILNCIA EM SADE E MONITORAMENTO.................................. 66
6.3.1 Situao encontrada no ambiente do entorno das reas estudantes no
momento das expedies......................................................................... 67
6.3.2 Descrio dos patgenos encontrados e o risco associado..................... 67
6.3.3 Situao dos sistemas de vigilncia relacionados aos agravos ............... 68
6.3.4 Situao epidemiolgica das meningites e das diarrias
presumivelmente infecciosas no municpio .............................................. 70
6.3.5 Aes propostas para enfrentamento da situao epidemiolgico-
ambiental detectada no estudo ................................................................ 71
7 DISCUSSO ................................................................................................. 79 7.1 COMENTRIOS SOBRE A PROPOSTA DE INTERVENO................... 85
7.2 CONSIDERAES SOBRE AS REAS PESQUISADAS.......................... 90
7.3 O OLHAR EM UMA ABORDAGEM MAIS GLOBAL ................................... 93
REFERNCIAS................................................................................................... 96 APNDICES ....................................................................................................... 105
10
1 INTRODUO
Dos 75% da superfcie da Terra coberta por gua, cerca de 97% corresponde
gua do mar. Entre os diferentes papis desempenhados pelos oceanos, esto os
ciclos biogeoqumicos globais, a regulao do clima e o fornecimento de alimentos
que sustentam as populaes humanas, particularmente aquelas que vivem em
reas costeiras dos pases em desenvolvimento e que tm, no alimento marinho,
sua principal fonte de protena (pesca e aqicultura). Alm disso, a zona costeira
prov inmeras oportunidades para recreao, o que a torna importante rea para o
desenvolvimento de instalaes turstico-industriais.
Tambm outras atividades para ali so atradas pelas possibilidades de
transporte de matrias-primas e de produtos com o desenvolvimento de portos. Essa
situao potencializa o descarte de efluentes lquidos (UNEP, 2004a). Assim, no
surpreendente que as zonas costeiras sejam densamente povoadas, observando-se,
inclusive, uma tendncia migratria populacional crescente para ela (HINRICHSEN,
1998; GESAMP, 2001).
Todos esses fatores tm gerado uma enorme presso nos frgeis
ecossistemas costeiros, ameaando o uso sustentvel de seus valiosos recursos.
Poluio e eutrofizao1 so, atualmente, fenmenos comuns, com habitats
costeiros e marinos sendo alterados ou destrudos e seus recursos naturais
superexpostos.
Em relao disposio de resduos, a postura que ainda prevalece a de
fora da viso, fora da mente, afetando as zonas costeiras receptoras finais de
poluentes e materiais originados das atividades humanas em terra. Em particular, a
descarga de efluentes lquidos, em municpios costeiros, considerada como uma
das principais ameaas ao desenvolvimento costeiro sustentvel (UNEP, 2004b),
afetando a sade humana e a qualidade ambiental, resultando em perdas
econmicas.
1 A eutrofizao pode ocorrer naturalmente em ambientes de fraca hidrodinmica, resultante da decomposio da matria orgnica produzida no prprio ambiente. Esse processo, somado ao excesso de matria orgnica lanada atravs de despejos, faz diminuir drasticamente as concentraes de oxignio dissolvido das guas, trazendo srios prejuzos para a vida aqutica ou para organismos ligados a esta (ALMEIDA; BAUMGARTEN; RODRIGUES, 1993, p. 26-27).
11
Os efluentes lquidos originados nos municpios so constitudos de uma
mistura de efluentes domsticos, comerciais, industriais e da lavagem urbana. A
composio dos efluentes lquidos domsticos depende muito do nvel de consumo
de gua. Eles so produzidos em locais onde as casas possuem encanamento com
gua potvel e rede de esgoto. Em reas com bombas manuais ou com torneiras e
fontes pblicas, o consumo de gua geralmente baixo e inexiste uma rede de
esgotos, ocasionando que as populaes ribeirinhas lancem seus efluentes lquidos
diretamente em lagoa ou rios.
A composio dos efluentes lquidos industriais e comerciais depende do tipo
de indstria e comrcio e da adoo ou no de medidas antipoluio. Se compostos
txicos esto presentes, a descarga desses efluentes no sistema de coleta dos
esgotos do municpio pode ter um impacto negativo no desempenho da planta de
tratamento.
A descarga da lavagem urbana pode ser feita na rede de esgotos ou em um
sistema especfico para a drenagem da gua da chuva. Sistemas especficos
permitem a coleta e o tratamento de quantidades menores, mais regulares e mais
concentradas de efluentes lquidos. Os sistemas que utilizam rede de esgotos
devem ser projetados para lidar com grandes flutuaes de fluxo, e tambm com a
composio e concentrao desses efluentes.
Quando resduos provenientes do homem ou de suas atividades no so
tratados corretamente, temos como conseqncia reflexos na sade humana, onde
um ciclo vicioso de impacto na mesma estabelecido. Bactrias, vrus e parasitas,
presentes em excrementos humanos, entram no ambiente, onde podem permanecer
por algum tempo na gua ou no solo. As pessoas ao tomar gua contaminada, ou
ao consumir alimentos que tenham sido irrigados com gua no tratada, esses
microorganismos podem infect-las e estas, por sua vez, contaminaro o ambiente
pela urina e pelas fezes.
Outra conseqncia da descarga inadequada desses efluentes o impacto
econmico, no qual as perdas resultam do aumento dos custos mdicos, do
tratamento adicional da gua potvel, da perda de dias de trabalho, da queda da
produo pesqueira e do turismo, entre outras.
Assim, medidas de controle visando a disposio adequada dos dejetos e das
aes de educao para a sade tendem a evitar a poluio e a contaminao dos
mananciais de abastecimento de gua, propiciando a conservao do meio
12
ambiente, a reduo de doenas e a incorporao de hbitos higinicos pela
populao.
Para a Organizao Pan-Americana da Sade (OPAS, 1999), a situao das
condies do meio ambiente na Regio da Amrica Latina e do Caribe
preocupante. Um problema crtico em todos os pases dessas regies a descarga
de guas residurias sem tratamento. Dessas guas coletadas, menos de 10%
recebem algum tipo de tratamento, sendo este freqentemente inadequado.
Dessa forma, segundo Freire et al. (1998), a zona costeira brasileira
representa um desafio para o controle da contaminao e para a gesto ambiental,
tendo em conta sua enorme extenso, sua grande diversidade de formas
fisiogrficas e biolgicas, e a variedade de processos de desenvolvimento que nela
ocorrem. Entre estes ltimos vale a pena citar a intensa urbanizao, as atividades
porturias e industriais relevantes, assim como uma explorao turstica em grande
escala, como exemplo de processos que criam conflitos de uso, tanto do espao
como dos recursos, gerando assim distintos tipos de impacto.
A poro brasileira da regio do Atlntico Sudocidental Superior inclui cinco
estados: Rio de Janeiro, So Paulo, Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
com um litoral de 2.829 km, o que representa aproximadamente 33% da costa do
pas. Por sua vez essa poro inclui duas reas climticas diferentes: uma tropical,
no Rio de Janeiro e em So Paulo, e uma temperada, no Paran, em Santa Catarina
e no Rio Grande do Sul (PNUMA, 2000).
A Lagoa dos Patos situada na zona costeira, ao sul do Rio Grande do Sul a
maior laguna costeira do Brasil, com uma rea aproximada de 10.360 km2. Junto
com a Lagoa Mirim, formam um complexo lagunar que desgua no Oceano
Atlntico, e que em pocas de grandes vazantes pode desprezar at 25.000 m3/seg.
(PNUMA, 2000).
A cidade do Rio Grande est localizada nas margens da regio estuarial da
Lagoa dos Patos, numa restinga limitada nos quadrantes sul e noroeste por
enseadas rasas marginais muito produtivas (respectivamente, Saco da Mangueira,
Saco do Martins e Saco do Justino); ao norte, pelo Canal do Norte e, ao leste, pelo
canal de acesso da lagoa ao Oceano Atlntico (Canal do Rio Grande). Esse meio
ambiente apresenta uma grande diversidade de vida devido sua feio estuarial e
costeira (ASMUS; ASMUS; TAGLIANI, 1985), e segundo Almeida, Baumgarten e
Rodrigues. (1993), a preservao da qualidade dessas guas para a conservao
13
dos recursos disponveis de fundamental importncia. Tem uma populao de
186.544 habitantes (IBGE, 2000), uma rea de 3.338 km2, apresenta forma
peninsular e margeada por corpos hdricos de baixa profundidade ( 0,5 m),
excetuando-se os limites leste e nordeste, onde esto os canais de navegao com
intensa atividade porturia (BAUMGARTEN et al., 1998).
A rede oficial de esgoto da cidade, datada de 1917, deficiente, porque
possui um nmero de ligaes superior a sua capacidade, suprindo, de forma
deficitria, apenas 30% da populao. Estima-se que, do total de residncias que
apresentam ligaes com a rede coletora de esgotos, somente 4.000 tinham seus
esgotos tratados antes de seu lanamento no meio ambiente, apesar dos servios
de gua atender cerca de 48.000 domiclios (BAUMGARTEN et al., 1998).
De acordo com o IBGE, Rio Grande apresenta uma proporo de 26,5% de
moradores com instalao sanitria ligada rede geral de esgoto ou pluvial; 60,6%
dos moradores utilizam fossa sptica; 8,6% utilizam fossa rudimentar e 2,1% no
possui instalao sanitria (IBGE, 2000).
Na poca do estudo feito por Baumgarten et al. (1998), dos cinco sistemas
oficiais da rede de esgoto sanitrio da cidade, em apenas um destes esgotos eram
lanados efluentes no ambiente hdrico, com tratamento secundrio no avanado
(Sistema Bairro Parque Marinha), pois nos outros sistemas (Centro Principal, Bairro
Lar Gacho, Bairro Cohab II e Bairro Cohab IV), os efluentes eram lanados in
natura, sendo somente retirados os slidos grosseiros.
O Sistema Centro Principal, que atualmente atende cerca de 20.000
residncias, lanava os efluentes de forma ininterrupta atravs de um emissrio
construdo em 1917, que se prolongava a 80 m da margem e possua um dimetro
de 600 mm, na pequena enseada rasa na localidade da Croa do Boi, na margem do
canal do Rio Grande, prximo ao Saco da Mangueira, com vazo mdia de 35 l.s-1
(perodo de estiagem) e 110 l.s-1 (perodo chuvoso). Na poca da construo do
emissrio, julgavam que a sua localizao afetaria pouco o meio ambiente (SOUZA,
2003).
Atualmente, a improbidade de uso da localidade da Croa do Boi para
lanamento de efluentes foi reconhecida pelos rgos ambientais e pela Companhia
Riograndense de Saneamento (CORSAN), e este panorama est sendo modificado
com a concluso da nova estao de tratamento ETE Navegantes, que passou a
14
operar no incio de 2004 e, para a qual foram canalizados os efluentes aps a
desativao do emissrio da Croa do Boi (UNEP, 2004c).
Mediante as situaes expostas, destacamos a importncia da avaliao de
impacto ambiental, a qual considerada um instrumento de planejamento e gesto
ambiental. Na concepo de Bursztyn (1994), a avaliao do impacto ambiental
um instrumento que possibilita associar as preocupaes ambientais s estratgias
do desenvolvimento social e econmico, e constitui-se num importante meio de
aplicao de uma poltica preventiva, numa perspectiva de curto, mdio e longo
prazo.
Nesse contexto, antes que qualquer deciso relativa melhoria de servios
de tratamento dos efluentes lquidos municipais seja tomada, necessrio fazer uma
anlise da situao atual de gesto dos mesmos, com base na anlise das
informaes disponveis da situao em vigor.
A vigilncia ambiental em sade, como instrumento de gesto ambiental,
possui, como tarefas fundamentais, o conhecimento dos problemas de sade
existentes relacionados aos fatores ambientais. Isso se d atravs da anlise dos
processos de produo, integrao, processamento e interpretao de informaes,
que so priorizadas para tomada de deciso e execuo de aes relativas s
atividades de promoo, preveno e controle, recomendadas e executadas por
este sistema e sua permanente avaliao.
Assim que, nossa inteno de, mantendo a tradio e o compromisso da
Fundao Universidade Federal do Rio Grande com o ecossistema costeiro2,
estudar a presena de patgenos humanos nas guas que circundam a cidade do
Rio Grande, contribuindo para o conhecimento de problemas ambientais que podem
afetar a sade da populao.
2 A Fundao Universidade Federal do Rio Grande FURG tem por misso promover a educao plena, enfatizando uma formao geral que contemple a tcnica e as humanidades, que seja capaz de despertar a criatividade e o esprito crtico, fomentando as cincias, as artes e as letras e propiciando os conhecimentos necessrios para o desenvolvimento humano e para a vida em sociedade. A Instituio tem como campo principal de atuao o Ecossistema Costeiro e busca produzir, organizar e disseminar o conhecimento sobre este ambiente, atravs do ensino, da pesquisa e da extenso. misso da FURG servir com elevada qualidade, orientada por princpios ticos e democrticos, de modo que o resultado de sua ao educativa tenha impacto na comunidade e contribua para a melhoria da qualidade de vida dos indivduos e para o desenvolvimento regional (FURG, 1999).
15
2 APROXIMAO COM A TEMTICA
A busca de formas alternativas para a assistncia apresenta-se como pauta
de discusso permanente nas instituies de servios da rea da sade. Como
enfermeiro, tendo ingressado no mercado de trabalho no incio da dcada de 80,
portanto sob influncia da Conferncia Internacional sobre Cuidados Primrios de
Sade de Alma Ata e do Movimento de Reforma Sanitria3, sentimo-nos includos
entre aqueles que se interessam e tentam apresentar contribuies que possibilitem
formas de operar os servios de sade, produzindo e distribuindo as aes de sade
com o olhar para a realidade e o cotidiano.
Em nossa trajetria profissional tivemos o olhar voltado para a participao
nas aes de interveno no cotidiano, quando da oportunidade, em 1992, de
integrar a comisso municipal de combate ao clera e ento perceber o quanto as
aes locais estavam de certa forma sob influncia de decises ao nvel nacional,
isso levando-se em considerao a amplitude geogrfica de nosso pas.
Neste mesmo perodo, quando da promulgao da Lei Orgnica da Sade
(8.080/90), com a implantao do Sistema nico de Sade SUS (BRASIL, 1990) e
seu processo de municipalizao da sade, iniciamos nossa atividade relacionada
gesto em sade, participando particularmente na implantao do Servio de
Vigilncia Epidemiolgica bem como no Programa Nacional de Imunizaes no
municpio de So Jos do Norte - RS.
Posteriormente, quando gestor de sade neste mesmo municpio situado no
extremo sul do Rio Grande do Sul e que tem cerca de 25.000 habitantes, deparamo-
nos com os princpios do SUS, particularmente o da descentralizao, dando
autonomia e responsabilidade de gesto ao nvel local, sendo preciso a definio
das prioridades locais e de polticas de sade que contemplem estas prioridades.
Imprescindvel era a elaborao de um Plano Municipal de Sade; para tanto,
necessrio foi conhecer a realidade local atravs do estudo e da pesquisa das
relaes entre condies de vida, sade e acesso s aes e aos servios de
sade. 3 O Movimento de Reforma Sanitria, no perodo da abertura poltica, deu importante contribuio para reanimar os princpios democrticos na vida social e apontou reorientaes para a construo de um novo modelo de ateno sade. Esse movimento levou ao reconhecimento da sade como direito do cidado e obrigao do Estado.
16
A participao como integrante do Ncleo de Estudos em Administrao e
Sade Coletiva, da Fundao Universidade Federal do Rio Grande - NEAS-FURG,
grupo de pesquisa fundamentado na multidisciplinariedade para exercer suas aes
e alcanar seus objetivos, contribuiu para que pudssemos de alguma forma atender
estas demandas.
Estamos cientes que integrar este grupo de estudos contribuiu tambm para o
nosso crescimento profissional em equipe, consolidando nossa convico da
contribuio que o profissional enfermeiro deve dar para a discusso de propostas
de implantao de modelos de ateno sade, pautada no apenas no cuidado
individual, mas preocupado com as questes coletivas.
O aprendizado durante a recente concluso da Especializao em Equipes
Gestoras de Sistema e Servios de Sade na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - UFRGS confirmou tal concepo.
Simultaneamente, quando professor substituto da disciplina de Enfermagem
em Doenas Transmissveis e Sociedade, na Fundao Universidade Federal do Rio
Grande, o convvio com os demais professores da disciplina e com os alunos, estes,
com suas constantes inquietaes e indagaes sobre a insero do enfermeiro na
vigilncia em sade, remeteu-nos reflexo e a pesquisa sobre o tema.
Assim, em nossas leituras, encontramos o que nos relatam Pedersoli,
Antonialli e Vila (1998), ao estudarem a configurao da prtica de enfermagem no
mbito da Vigilncia Epidemiolgica, na Secretaria Municipal de Sade de Ribeiro
Preto, tendo por base o processo de municipalizao da sade nas dcadas de 80 e
90. As autoras descrevem, em suas concluses, que o profissional de enfermagem
necessita ter formao especfica em Sade Pblica, pois os dados encontrados
durante a pesquisa evidenciaram que as atividades de Vigilncia Epidemiolgica,
desenvolvidas por este profissional, requerem conhecimento especfico de
epidemiologia, controle de doenas e agravos sade, gerncia de programas,
orientao tcnica das aes de Vigilncia Epidemiolgica e vacinao.
Tambm Ribeiro e Bertolozzi (2002), ao analisarem os depoimentos
recebidos em seus estudos, com o objetivo de caracterizar as aes realizadas
pelos enfermeiros nas equipes de vigilncia sanitria responsveis por estas aes
no municpio de So Paulo, encontraram que as atribuies destes profissionais
esto praticamente restritas vigilncia dos servios de sade, em virtude de
competncia tcnica determinada pela formao profissional. As mesmas autoras
17
publicaram no ano de 2004, um estudo que objetivou identificar se as aes
realizadas por enfermeiras que atuavam na Vigilncia Sanitria de determinada
regio de sade estavam voltadas para a conservao ambiental. O
desenvolvimento do estudo evidenciou que, em geral, as aes realizadas por essas
enfermeiras no tm como finalidade a conservao ambiental, restringindo-se a
aes de carter focal e emergencial (RIBEIRO; BERTOLOZZI, 2004).
Entretanto, j em 1994, era possvel encontrar autores afirmando que a
evoluo cientfica e tecnolgica da enfermagem tem proporcionado transformaes
significativas no perfil do enfermeiro, levando-o a pautar sua atuao na pesquisa,
para garantir a intelectualidade e a melhoria da qualidade da assistncia prestada ao
usurio (SILVA, 1994).
Quanto s questes sociais, conforme destacado por Sena (2002), o trabalho
da enfermagem preocupa-se com estas questes e a percepo destas constituem-
se no agir em enfermagem, sendo a observao um dos principais instrumentos de
potncia-ao para intervir junto s comunidades. Para a autora, o profissional
enfermeiro, em sua prtica enquanto agente assistencial e promotor de sade, no
deve desassociar a assistncia prestada ao cliente do contexto ambiental no qual
est inserido. Apresenta, tambm como caracterstica deste profissional, a
proximidade com a populao, em particular os atuantes em sade coletiva, cujo
objetivo evitar o agravo de doenas e promover a sade.
Igualmente, Almeida e Rocha (1997) descrevem que, para alcanar a sade
coletiva, o trabalho de enfermagem tem-se diversificado, indo desde o cuidar de
enfermagem, seja do indivduo, da famlia e dos grupos da comunidade, passando
pelas aes educativas, administrativas, at a participao no planejamento em
sade. De acordo com Sena (2002), dessa forma, a enfermagem apresenta-se como
uma prtica de relaes inseridas dentro de uma equipe interdisciplinar e deve,
dentro dessa equipe, assumir sua especificidade.
Balizador tambm nos foi o documento que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduao em Enfermagem (BRASIL, 2001a), que vem
sendo implantado e implementado pelos cursos de enfermagem do pas. Por meio
da atualizao de seu Projeto Poltico Pedaggico (PPP), defende que a formao
do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos para o
exerccio de competncias e habilidades gerais, que so aquelas comuns rea de
sade (ateno sade, tomada de decises, comunicao, liderana,
18
administrao, gerenciamento, educao permanente); alm das competncias e
habilidades especficas concluindo, a partir destas competncias e habilidades que:
a formao do enfermeiro deve atender as necessidades sociais da sade, com
nfase no Sistema nico de Sade (SUS) e assegurar a integralidade da ateno e
a qualidade e humanizao do atendimento (BRASIL, 2001b. p.3). Sendo ento, a
vigilncia sade uma das questes fundamentais formao profissional do
enfermeiro.
Neste sentido, acreditamos que a contribuio deste trabalho para a insero
do profissional enfermeiro na multidisciplinariedade necessria s aes da
vigilncia em sade possa ser sentida no apenas nos resultados da pesquisa, mas
tambm evidenciando o espao que de fato este profissional ocupa nas aes em
sade. Esta crena est baseada na possibilidade deste profissional estar
plenamente inserido e atuante nas questes de vigilncia em sade, no
necessariamente devendo estar vinculado ao servio de vigilncia, mas exercendo
sua atividade de pesquisa conforme sua formao lhe confere.
O interesse por este tema apresentou-se ento no somente pelo fato de
sentirmo-nos ligados s questes de vigilncia sade, mas por ser inerente
disciplina enfermagem a investigao e a pesquisa bem como o compromisso em
contribuir para a construo do agir em sade.
19
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Identificar a presena de microrganismos patognicos coliformes totais e
fecais, e de outros microrganismos e parasitos humanos potencialmente patognicos
existentes nas guas que margeiam a cidade do Rio Grande/RS, visando a
elaborao de uma proposta de interveno na esfera da vigilncia em sade
ambiental.
3.2 ESPECFICOS
Identificar alguns tipos de patgenos humanos de veiculao hdrica
presentes nas guas do entorno da cidade do Rio Grande/RS;
Identificar geograficamente os grupos e locais em exposio a patgenos
humanos de veiculao hdrica;
Contribuir para elaborao de um plano de atividades para reduo de
risco e monitoramento da situao;
Oferecer subsdios aos servios de vigilncia que permitam
monitoramento e deteco da presena de organismos patognicos nas
reas estudadas.
20
4 MARCO REFERENCIAL
De toda gua existente na Terra (1.380.000 km), 97,3% gua salgada e
apenas 2,7%, gua doce. Da gua doce disponvel na terra (37.000 km), 77,2%
encontra-se em forma de gelo nas calotas polares, 22,4% trata-se de gua
subterrnea, 0,35% encontra-se nos lagos e pntanos, 0,04% encontra-se na
atmosfera e apenas 0,01% da gua doce esto nos rios (AGNCIA NACIONAL DAS
GUAS, 2004),
Nas ltimas dcadas, a gua tornou-se intrinsecamente relacionada ao
desenvolvimento sustentado. A importncia do uso sustentvel e o suprimento de
gua e servios de saneamento foram endossados pela Agenda 21, por ocasio do
encontro, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992 (AGENDA 21, 2004). Essa
preocupao reforou a necessidade de a comunidade internacional assegurar
como alvo das Metas de Desenvolvimento do Milnio, de 2000 (UNITED NATIONS,
2000) e da Reunio Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentvel, de 2002 (WSSD,
2002), a garantia do aumento do suprimento de gua potvel para consumo humano
e o acesso ao saneamento bsico.
Efluentes lquidos municipais no tratados adequadamente afetam
diretamente o ambiente no qual so produzidos, incluindo o lenol fretico. Por isso,
com freqncia, o escoamento por um tubo de esgoto ou o lanamento diretamente
em um corpo dgua a opo preferida, em uma clara atitude de que fora da viso
fora da mente. Essa atitude, todavia, afeta as pessoas que vivem jusante e, em
ltima instncia, o ambiente costeiro, incluindo as comunidades que dependem dos
recursos costeiros e marinhos.
Os resduos produzidos num determinado ponto podem causar danos a
distncia, e os efeitos acumulados so, algumas vezes, observados apenas aps
muitos anos, sendo que a relao causa-efeito freqentemente no percebida,
dificultando mais a gesto de efluentes lquidos4 (UNEP, 2004a).
4 Em geral, a gesto de efluentes lquidos compreendida como todo servio, atividade e instalao requeridos para assegurar a efetiva coleta e tratamento do esgoto de acordo com os padres. Essa definio inclui basicamente todas as fontes pontuais de descarga, incluindo efluentes lquidos de fontes industriais, comerciais e domsticas. A gua da chuva, se coletada, , da mesma forma, includa na definio geral. O que no est includo so as fontes no pontuais, como a descarga da agricultura ou outras fontes difusas de poluio. O termo gesto de efluentes lquidos, na maioria dos
21
Nesse sentido, faz-se necessria a instituio de medidas de controle visando
a disposio adequada dos dejetos e de aes de educao para a sade para
evitar a poluio e a contaminao dos mananciais de abastecimento de gua,
propiciando a conservao do meio ambiente, a reduo de doenas e a
incorporao de hbitos higinicos pela populao.
E ainda, de acordo com Buss (2003), importante reconhecer que todos tm
um papel importante na criao de ambientes favorveis e promotores de sade,
convocando as pessoas, as organizaes e os governos, em todas as partes do
mundo, a se engajarem ativamente no desenvolvimento de ambientes fsicos,
sociais, econmicos e polticos mais favorveis sade.
Cumpre assinalar que, no mundo industrializado, a tendncia desenvolver e
melhorar cada vez mais os sistemas de esgotos convencionais, o que requer mo de
obra altamente qualificada, altos financiamentos e condies socioeconmicas
estveis em relao ao financiamento e ao suprimento de materiais qumicos, etc.
(VARIS; SOMLYODY, 1997; LIER; LETTINGA, 1999).
Nos pases em desenvolvimento, at o presente, quase no h infra-estrutura
para o tratamento efetivo do esgoto. Sistemas municipais de canalizao do esgoto
e a cobertura do sistema de tratamento dos efluentes lquidos domsticos e
industriais so inadequados, na maior parte dos casos. Quando h uma rede de
esgoto municipal, a cobertura normalmente incompleta e o nvel de tratamento
insuficiente. At mesmo quando existem instalaes de tratamento, sua manuteno
deficiente e a operao freqentemente resulta na falha dos processos de
tratamento, causando poluio das guas que recebem os efluentes. Dessa forma, o
risco de doenas causadas por guas pode aumentar nestes paises, como
conseqncia da introduo de sistemas de esgotos convencionais, que
normalmente no so acompanhados pelo tratamento adequado (UNEP, 2004a).
4.1 IMPACTO DOS EFLUENTES LIQUDOS MUNICIPAIS
pases, , geralmente abordado no contexto de proteo da qualidade da gua e dos padres para a descarga de efluentes, com o objetivo de proteger os recursos dgua.
22
4.1.1 Impacto no ambiente
O manual de treinamento para gesto de efluentes lquidos em municpios
costeiros (UNEP, 2004c), em uma adaptao de Veenstra (2000), descreve os
principais contaminantes de esgotos municipais, seu impacto no ambiente e os
parmetros para quantificar o grau de contaminao. Para o autor, os principais
contaminantes de esgotos municipais so: slidos em suspenso, cujo impacto no ambiente aumenta a turbidez
da gua, reduzindo a disponibilidade de luz para os organismos que dela dependem, como algas, macrfitas e corais;
material orgnico biodegradvel, sendo o seu impacto no ambiente o aumento da Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO), que pode resultar em condies anaerbicas, levando morte de peixes e ao mau cheiro (H2S, NH3);
nutrientes que, apesar de essenciais para produo primria, com o seu excesso ocorre a eutrofizao; e esta estimula o crescimento de algas, resultando numa alta produo de oxignio durante o dia. A eutrofizao tambm resulta na regresso dos recifes de corais e das pradarias de gramneas marinhas;
compostos txicos, que podem concentrar-se nos tecidos de moluscos e peixes, tornando-os imprprios para o consumo (ex: poluio por mercrio), podem tambm interferir nos processos microbiolgicos em plantas de tratamento de esgoto;
patgenos, sendo estes responsveis por doenas relacionadas gua (doenas gastrintestinais, tifo, hepatite, clera e outras) e esto entre as principais preocupaes com sade no mundo; podem afetar diretamente o homem, causando doenas e at a morte; a contaminao freqentemente ocorre por contato com gua (ex; agricultura irrigada), ou atravs do alimento (ex: peixes e moluscos contaminados) (p. 07).
4.1.2 Impacto na sade humana
A gua um elemento essencial vida. A sua qualidade e oferta condicionam
a sade e o bem-estar das populaes. A veiculao hdrica de agentes etiolgicos
de carter infeccioso responsvel pela alta incidncia de doenas que afetam as
populaes de modo geral.
Com o desenvolvimento da teoria microbiana, o espao de ocorrncia da
doena tendeu a se tornar uma questo ecolgica, de carter natural e biolgico, a
envolver a geologia, a topografia, o clima, a flora, a fauna, etc.
Na opinio de Lacaz (1972) apud Palmeira, (2000):
23
A observao do fato de que determinadas doenas ocorrem, preferentemente, em determinados lugares bastante antiga. Um dos escritos atribudos a Hipcrates, do sculo V antes de Cristo, se intitulava Dos ares, das guas e dos lugares. Em meados do sculo XIX se considerava o ambiente corrompido por miasmas morbficos a origem das doenas. Viam-se as epidemias, atribudas s condies de pobreza, insalubridade e amontoamento, nos bairros populares, como evidncia de uma espcie de patologia social (p.171).
A qualidade da gua, por si s, em particular a sua qualidade microbiolgica,
tem uma grande influncia sobre a sade. Se no for adequada, pode ocasionar
surtos de doenas e causar epidemias. Associado a isto, inevitavelmente, o impacto
econmico encontra-se presente, impedindo o desenvolvimento e a melhoria da
qualidade de vida das populaes.
4.2 GUA NA TRANSMISSO DE DOENAS
4.2.1 Breve aspecto histrico
Costa e Rozenfeld (2000) nos relatam que, desde a Antiguidade Clssica at
a Idade Mdia, desenvolveram-se aes de saneamento do meio ambiente, tais
como o controle da gua e do esgoto, a limpeza das ruas e dos mercados.
Em estudos sobre as grandes epidemias da histria podemos ver que, em
virtude das condies sanitrias das cidades e do desconhecimento da etiologia das
doenas infecciosas, no passado grandes epidemias assolaram regies, dizimando
suas populaes, limitando o crescimento demogrfico e mudando, muitas vezes, o
curso da histria.
Como depoimento, cabe citar o projeto de modernizao da cidade do Rio de
Janeiro, que se aliou ao discurso civilizatrio e higienista da poca. O planejamento
urbano e a remodelao da cidade constituram metas fundamentais do governo
Rodrigues Alves, para atender s demandas da organizao da produo capitalista,
baseada na economia cafeeira, que exigia modernizao dos principais portos do
pas. As cidades brasileiras, em especial as costeiras, precisavam desvincular-se da
reputao de insalubres, pantanosas e palcos de terrveis epidemias, tais com a
24
febre amarela, a varola, a malria e a peste bubnica, doenas que surgiam ou
ressurgiam no pas (NAVARRO et al., 2002).
Igualmente, para os profissionais de sade, o provimento de gua em
quantidade e qualidade adequada medida bsica de promoo sade e
preveno de doenas. Desde 1854, quando John Snow descobriu a relao
existente entre o consumo de gua contaminada e a incidncia de clera em
Londres, as aes relativas manuteno da potabilidade da gua passaram a ser
eleitas como prioritrias no mbito da sade pblica.
De forma ilustrativa, a Tabela 1 apresenta algumas epidemias de origem
hdrica, ocorridas nos sculos XIX e XX.
Tabela 1 - Algumas epidemias importantes de origem hdrica, ocorridas nos sculos XIX e XX LUGAR ANO ENFERMIDADE NMERO DE
CASOS NMERO
DE BITOS Paris/Frana 1832 1 pandemia de clera Desconhecido 18.000 Zurich/Suia 1884 Tifide 1.621 148 Hamburgo/Alemanha 1885/88 Tifide 15.804 1.214 Berlim/Alemanha 1889 Tifide 632 - San-Petersburgo/Russia 1908 Clera 9.000 4.000 Marsella/Frana 1911 Clera 96 42 Hannover/Alemanha 1926 Tifide 2.500 260 Lyon/Frana 1928 Tifide 3.000 300 Filadlfia/Estados Unidos 1944 Hepatite A 344 - Worcester/Estados Unidos 1969/71 Hepatite A 1.174 - Bristol/Reino Unido 1985 Giardiase 108 - Ayrshire/Reino Unido 1988* Cryptosporidii 27 - La Haya (subrbios)/Holanda 1990 Shigellosis 800 1 Milwaukee/Estados Unidos 1993 Cryptosporidii 370.000 40 *Primeira epidemia registrada no Reino Unido, associada presena de oocistos na gua. Fonte: Adaptado da Organizao Pan-Americana de Sade. gua e Sade (OPAS, 2001, p.08).
4.2.2 Efluentes e concentrao de patgenos
A gua normalmente habitada por vrios tipos de microorganismos de vida
livre e no parasitria que dela extraem os elementos indispensveis a sua
sobrevivncia. Ocasionalmente so a introduzidos organismos patognicos que,
utilizando a gua como veculo, constituem-se em um perigo sanitrio potencial.
Nota-se que a quase totalidade dos microorganismos patognicos so
incapazes de viver em sua forma adulta ou de reproduzir-se fora do organismo que
25
lhes serve de hospedeiro. Portanto, tm vida limitada quando se encontram na gua,
isto , fora do hospedeiro.
Entretanto, a gua de consumo humano um dos importantes veculos de
enfermidades diarricas de natureza infecciosa, o que torna primordial a avaliao
de sua qualidade microbiolgica (ISAAC-MARQUEZ et al., 1994). As doenas de
veiculao hdrica so causadas principalmente por microrganismos patognicos de
origem entrica, animal ou humana, transmitidas basicamente pela rota fecal-oral, ou
seja, so excretados nas fezes de indivduos infectados e ingeridos na forma de
gua ou alimento contaminado por gua poluda com fezes (FRIEDMAN;
ISSELBACHER, 1998).
Autores como Friedman e Isselbacher (1998) e Powell (2001), descrevem que
mais de trs milhes de crianas morrem devido diarria em pases em
desenvolvimento, sendo que entre os fatores que contribuem para isso esto os
sistemas de esgoto e o fornecimento de gua inadequados, a ausncia de
refrigerao, o excesso de pessoas em um mesmo local, falta de higiene pessoal, a
pobreza, a falta de acesso assistncia sade e a falta de instruo.
Vale ainda salientar que, riscos sade associados gua, podem ser de
curto prazo, quando resultam da poluio de gua, causada por elementos
microbiolgicos ou qumicos, ou de mdio e longo prazo, quando resultam do
consumo regular e contnuo, durante meses ou anos, de gua contaminada com
produtos qumicos, como certos metais pesados ou pesticidas. E ainda que, a gua
de escoamento superficial, durante o perodo de chuva, o fator que mais contribui
para a mudana da qualidade microbiolgica da gua (GELDREICH, 1998;
AMARARAL et al., 2003).
Em documento da Organizao Pan-Americana da Sade (OPAS, 2004), a
gua microbiologicamente contaminada pode transmitir grande variedade de
doenas infecciosas, causadas:
Diretamente pela gua: provocadas pela ingesto de gua contaminada
com urina ou fezes, humanas ou animais, contendo bactrias, parasitas ou
vrus patognicos. Incluem clera, febre tifide, amebase, leptospirose,
giardase, hepatite infecciosa e diarrias agudas de origem infecciosa.
Causadas pela falta de limpeza e de higiene com gua: provocadas por m
higiene pessoal ou contato de gua contaminada na pele ou nos olhos.
26
Incluem escabiose, pediculose, tracoma, conjuntivite bacteriana aguda,
salmonelose, tricurase, enterobase, ancilostomases, ascaridase.
Causadas por parasitas encontrados em organismos que vivem na gua
ou por insetos vetores com ciclo de vida na gua: Incluem esquistossomose,
dengue, malria, febre amarela, filarioses e oncocercoses.
Os microorganismos patognicos so classicamente agrupados em vrus,
bactrias e parasitas. Para cada grupo determinam-se famlias, gneros e espcies,
que identificam os diversos agentes causadores de doenas, denominados agentes
etiolgicos.
Todavia, para efeito de preveno e controle de doenas, particularmente
aquelas relacionadas com a gua, uma outra classificao mostra-se mais til.
Trata-se da classificao que enfoca as vias de transmisso e o ciclo do agente,
tambm conhecida como classificao ambiental das infeces relacionadas com a
gua.
No Quadro 1 encontram-se as principais doenas de origem hdrica, suas
formas de transmisso e preveno:
Quadro 1 - Classificao Ambiental das Infeces relacionadas com a gua
Grupo de Doenas Principais Doenas
Formas de Transmisso Formas de Preveno
Transmitidas pela via feco-oral (bacterianas e no bacterianas).
BACTERIANAS Clera Disenteria bacilar Febre paratifide Febre tifide Leptospirose
NO BACTERIANAS
Amebase Ascaridase Hepatite infecciosa Poliomielite Giardase Diarrias por vrus
Ingesto do agente patognico por meio de alimentos contaminados, gua contaminada por fezes, urina de rato e contaminao de indivduo para indivduo.
- Proteger os mananciais (fontes de abastecimento). - Tratar as guas de abastecimento evitando o uso de fontes contaminadas. - Fornecer gua em quantidade e qualidade adequadas. - Promover aes de educao em sade (higiene pessoal, domstica, dos alimentos e do ambiente). - Promover melhorias da habitao e instalaes sanitrias.
Associadas ao for-necimento de gua insuficiente.
Infeco de pele Tracoma Tifo Escabiose
gua em quantidade insuficiente e hbitos higinicos inadequados favorecem a disseminao desses agravos
- Fornecer gua em quantidade suficiente e qualidade adequada. - Promover aes de educao em sade.
Associada a hospe-deiros intermedi-rios, cujo habitat a gua
Esquistossomose Penetrao do agente patognico na pele
- Proteger mananciais. - Combater o hospedeiro intermedirio. - Dispor de condies adequadas de esgotos. - Evitar o contado das pessoas com guas contaminadas.
Transmitidas por vetores relaciona-dos com a gua.
Malria Febre amarela Dengue Filariose
Penetrao do agente infeccioso no organismo pela picada de inseto cujo ciclo evolutivo est relacionado com a gua.
- Combater aos vetores. - Eliminar condies que possam favorecer criadouros. - Utilizar medidas de proteo individual.
Fonte: Organizacin Panamericana de la Salud. Adaptado do Guias para la calidad de agua potable (OPAS, 1987).
27
4.3 A IDENTIFICAO DE PATGENOS HUMANOS NA GUA
4.3.1 A contaminao ambiental por enterobactrias
A famlia Enterobacteriaceae a maior e mais heterognea coleo de
bacilos gram-negativos importantes na medicina. Estes so organismos ubquos,
encontrados em todo o mundo, no solo, na gua, na vegetao, e so parte da flora
microbiana normal de quase todos os animais, incluindo os seres humanos. Alguns
membros da famlia (p. ex. Shigella, Salmonella, Yersinia pestis) esto sempre
associados doena quando isolados do homem, enquanto outros (p. ex.
Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis) so membros da flora
comensal normal, que podem causar infeces oportunistas. As infeces causadas
pelos enterobacteriaceae podem originar-se de um reservatrio animal (p. ex. a
maioria das infeces por Salmonella), de um portador humano (p. ex. Shigella e
Salmonella typhi), ou por disseminao endgena dos organismos em um paciente
suscetvel (p. ex. Escherichia), e as infeces podem envolver praticamente todos os
pontos corporais (MURRAY et al., 1992).
sabida a fundamental importncia do exame bacteriolgico da gua e da
verificao da presena de coliformes, com a discriminao dos coliformes fecais (E.
coli). Estes, por constiturem cerca de 95% da flora intestinal, denotam poluio fecal
e, por conseqncia, a possibilidade de contaminao por bactrias patognicas
(BIER, 1976).
Com relao s guas para consumo humano, a Portaria n. 518, de 25 de
maro de 2004, do Ministrio da Sade, estabelece os procedimentos e as
responsabilidades relativos ao controle e vigilncia da qualidade da gua para
consumo humano e seu padro de potabilidade, e d outras providncias (BRASIL,
2004a).
Nessa Portaria, consta que toda a gua destinada ao consumo humano deve
obedecer ao padro de potabilidade e estar sujeita vigilncia da sua qualidade.
Define, tambm, que a gua potvel deve estar em conformidade com o padro
microbiolgico utilizando como parmetro para consumo humano em toda e
qualquer situao, incluindo fontes como poos, minas, nascentes, entre outras. A
28
ausncia de Escherichia coli ou coliformes termotolerantes em 100ml de gua
analisada o valor mximo permitido (VMP), adotando preferencialmente a
deteco de Escherichia coli como referncia. E ainda, para coliformes totais, o VMP
tambm exige a ausncia desse microrganismo em 100 ml de gua analisada
(BRASIL, 2004a).
A contagem dos chamados coliformes totais corresponde ao total de
microrganismos "Gram negativos" encontrados em uma amostra. J a contagem dos
coliformes fecais, indica a quantidade dos microrganismos oriundos de excretas
humanos, portanto com risco de serem possivelmente patognicos. Ao nvel de
sade pblica ou quanto a comercializao de produtos destinados ao consumo
humano (organismos aquticos), obrigatrio a implantao de monitoramento
desses coliformes.
Os Coliformes Termotolerantes, anteriormente assumidos como coliformes
fecais, no tido como varivel e parmetro sensvel para uma avaliao criteriosa
da exposio de ambientes aquticos a poluio fecal, humana e animal. Nesse
sentido, uma vasta documentao tcnico-cientfica sustenta a utilizao da espcie
Escherichia coli (CERQUEIRA et al., 1998).
Em reas balnerias, os rgos ambientais, utilizam-se da Escherichia coli
como indicador para diagnosticar tambm as condies para o banho de mar e de
gua doce. Esse servio informa populao a adequabilidade ou no de banho
nas guas de balnerios diversos, classificando-as como excelente, muito boa,
satisfatria e imprpria e isso denominado de condies de balneabilidade.
No caso das guas destinadas balneabilidade (recreao de contato
primrio), suas condies so avaliadas conforme Resoluo do Conselho Nacional
do Meio Ambiente - CONAMA n 274, de 29 de novembro 2000 (BRASIL, 2001c), ao
considerar que a sade e o bem-estar humano podem ser afetados pelas condies
de balneabilidade. Essa Resoluo define que as guas doces, salobras e salinas
destinadas balneabilidade tero sua condio avaliada nas categorias prpria e
imprpria.
As guas consideradas prprias podero ser subdivididas em trs categorias:
excelente, quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada
uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no mximo,
250 coliformes fecais (termotolerantes), ou 200 Escherichia coli, ou 25 enterococos
por l00 ml; muito boa, quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas
29
em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no
mximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes), ou 400 Escherichia coli, ou 50
enterococos por 100 ml; e satisfatria, quando em 80% ou mais de um conjunto de
amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo
local, houver no mximo 1.000 coliformes fecais (termotolerantes), ou 800
Escherichia coli, ou 100 enterococos por 100 ml.
Para que as guas sejam consideradas imprprias balneabilidade, no trecho
avaliado, dever ser verificado o no atendimento aos critrios estabelecidos para as
guas prprias, ou o valor obtido na ltima amostragem for superior a 2500
coliformes fecais (termotolerantes), ou 2000 Escherichia coli, ou 400 enterococos por
100 ml, ou incidncia elevada ou anormal, na regio, de enfermidades transmissveis
por via hdrica, indicada pelas autoridades sanitrias, ou ainda presena de resduos
ou despejos, slidos ou lquidos, inclusive esgotos sanitrios, leos, graxas e outras
substncias, capazes de oferecer riscos sade ou tornar a recreao
desagradvel.
4.3.1.1 O gnero Escherichia
O gnero Escherichia consiste em, no mnimo, cinco espcies, sendo
Escherichia coli a mais freqentemente isolada. A E. coli est presente no trato
gastrointestinal em grande nmero, e a enterobacteriaceae associada mais amide
spse bacteriana, meningite neonatal, infeces das vias urinrias e gastroenterite
em viajantes para pases com precrias condies de higiene. A maioria das
infeces (com exceo da gastroenterite) endgena; isto , a flora microbiana
normal individual capaz de estabelecer infeco nas condies em que h
comprometimento nas defesas do hospedeiro (MURRAY et al., 1992).
As cepas de E. coli que causam infeco intestinal correspondem a quatro
categorias de E. coli enteropatognicas denominadas: E. coli enteropatognica
clssica (EPEC), E. coli enterotoxignica (ETEC), E. coli enteroinvasora (EIEC) e E.
coli enterohemorrgica (EHEC) (TRABULSI; TOLEDO, 1991).
As E. coli enteropatognicas clssicas (EPEC) so os agentes mais
freqentes de diarria infantil em nosso Pas, com predominncia nos 6 primeiros
30
dias de vida. O reservatrio parece ser o prprio homem; o mecanismo de
transmisso da infeco na comunidade ainda no foi estabelecido; porm, em
hospitais e berrios, a bactria transmitida por contato pessoal.
As E. coli enteroinvasoras (EIEC) provocam infeces intestinais mais
comumente em crianas com mais de 2 anos e em adultos. O reservatrio o
prprio homem, sendo a infeco adquirida pela ingesto de gua e alimentos
contaminados e por contato pessoal.
As E. coli enterotoxignicas (ETEC) podem causar infeco, tanto em
crianas como em adultos, representando uma das principais causas de diarria em
viajantes; o reservatrio o prprio homem; sua transmisso d-se pela ingesto de
gua e alimentos contaminados; h tambm evidncias de transmisso por contato
pessoal em berrios e enfermarias de pediatria.
A E. coli enterohemorrgica (EHEC) tem, como principal manifestao clnica,
a diarria sanguinolenta. A doena denominada colite hemorrgica foi descrita nos
Estados Unidos e no Canad, associada ingesto de hambrgueres
contaminados.
4.3.1.2 O gnero Salmonella
As Salmonellas so largamente distribudas no reino animal, sendo isoladas
de aves domsticas, rpteis, animais de granjas, roedores, animais domsticos,
aves e homem.
As infeces por Salmonella ocorrem em uma das quatro formas:
gastroenterite, bacteriemia, febre entrica e colonizao assintomtica. A
gastroenterite a forma mais comum de salmonelose. Em geral, os sintomas
surgem 6 a 46 horas aps o consumo de alimento ou gua contaminada, com a
apresentao inicial de nuseas, vmitos e diarria no-sanguinolenta. A elevao
da temperatura, clicas abdominais, mialgias e cefalia tambm so comuns
(MURRAY et al., 1992).
31
4.3.1.3 O gnero Proteus
Os Proteus clssicos (P. vulgaris, P. mirabilis) so, por excelncia, germes
de putrefao e no se encontram somente em fezes e guas de esgotos, como em
carnes putrefeitas, feridas supuradas, etc. Os demais germes do grupo so
encontrados em fezes normais ou diarricas, sendo duvidosa, porm a sua ao
disentergena (BIER, 1976). As infeces urinrias causadas por Proteus mirabilis
so as doenas mais comuns produzidas por este gnero (MURRAY et al., 1992).
4.3.2 A contaminao ambiental pelos protozorios parasitos Cryptosporidium spp.
e Giardia lamblia
Acreditava-se que a criptosporidiose, assinalada no homem a partir de 1976,
s ocorria em indivduos com algum tipo de imunossupresso, mas estudos recentes
mostram que uma doena relativamente freqente em pessoas
imunocompetentes. A freqncia de relatos de criptosporidiose aumentou
consideravelmente nos ltimos anos em todas as partes do mundo, o que leva a
doena a ser considerada a zoonose emergente mais importante da atualidade.
Oocistos do parasito tm sido detectados em fezes de indivduos imunocompetentes
e imunodeficientes em todas as regies estudadas (LIMA, 2005).
A Giardia o parasito intestinal mais comumente encontrado nos humanos
tanto em pases desenvolvidos como nos em desenvolvimento onde
especialmente prevalente em crianas. A giardase encontrada no mundo todo,
sendo sua via normal de infeco no homem a ingesto de cistos maduros que pode
ser transmitida por ingesto de gua deficientemente tratada, alimentos
contaminados, de pessoa para pessoa e tambm por contato com animais
domsticos infectados (SOGAYAR; GUIMARES, 2005).
32
4.3.3 A contaminao ambiental por amebas de vida livre, gnero Naegleria e
Acanthamoeba
Essas amebas so freqentemente encontradas no solo e nas gua de lagos
e rios. As formas trofozoticas5 so ativas e alimentam-se de bactrias; os cistos6
so encontrados no solo seco ou na poeira. O desencistamento ocorre quando os
cistos entram em ambiente mido, principalmente em presena de Escherichia coli e
outras bactrias (NEVES, 2005).
A Naegleria fowleri, comum em lagos e brejos, apresenta, em certos perodos
de seu ciclo de vida livre, formas flageladas. Essas entrariam em contato com os
banhistas movendo-se ativamente na gua e ao entrarem em contato com a mucosa
nasal transformam-se em trofozotos ativos; da via epitlio neuro-olfativo atingem o
crebro, onde se disseminam por via sangnea (NEVES, 2005).
As espcies de Acanthamoeba no apresentam formas flageladas, o que
explica o menor nmero de casos humanos provocados por essas ltimas amebas
(NEVES, 2005).
Os casos humanos de meningoencefalite podem apresentar-se de duas
formas: aguda e crnica. Os casos agudos em geral tm como agente etiolgico a
Naegleria fowleri; em geral est relacionada com banhistas jovens, que at alguns
dias antes do inicio dos sintomas gozavam de perfeita sade e nadaram em lagos
ou piscinas mal-cuidadas.
Os casos crnicos tm sido associados s espcies de Acanthamoeba. Em
geral, ocorre uma leso granulomatosa (encefalite amebiana granulomatosa), em
pacientes debilitados e, muitas vezes, imunodeprimidos (por ao medicamentosa
ou por outra doena imunodepressora). Podem tambm ocorrer leses oculares
(lceras, opacificao da crnea e cegueira) provocadas por espcies de
Acanthamoeba. Casos de pneumonia tambm tm sido descritos (NEVES, 2005).
De acordo com Pessa e Martins, (1982), na maioria dos casos de infeco
humana por ameba de vida livre, a natureza do mal s foi diagnosticada em exame
5 Trofozoto a forma ativa do protozorio, na qual ele se alimenta e se reproduz, por diferentes processos (NEVES, 2005). 6 Cisto a forma de resistncia ou inativa. O protozorio secreta uma parede resistente (parede cstica), que o proteger quando estiver em meio imprprio ou em fase de latncia. Freqentemente h diviso nuclear interna durante a formao do cisto.
33
ps-mortem, ainda que em alguns casos as amebas tenham sido isoladas em
cultura de lquido cefalorraquidiano antes da morte do doente. Esses autores
referenciam que lagos e lagoas, em que se encontram amebas do solo, podem ser
poludos por lquidos de valas de esgotos e de drenagem muito carregados de
bacilos Gram-negativos, os quais estimulam o desencistamento das amebas.
4.4 A VIGILNCIA SADE COMO FORMA DE PREVENO
4.4.1 Breve histrico do controle de doenas infecciosas atravs da vigilncia
Segundo Palmeira (2000), as primeiras aes para o controle das doenas e
das epidemias, como a quarentena e o isolamento, so prticas muito antigas. A
partir da segunda metade do sculo XIX, com o desenvolvimento da microbiologia, e
de investigaes de campo voltadas identificao dos elos da cadeia de
transmisso das doenas infecciosas, surgiu a idia da vigilncia, no sentido da
observao sistemtica dos contatos de doentes.
Um mtodo de controle tambm utilizado era o cordo sanitrio, caracterizado
pelo isolamento de bairros, cidades ou reas especificadas e no de indivduos. Este
tinha por objetivo isolar as zonas afetadas para defender as reas limpas.
O isolamento, a quarentena7 e o cordo sanitrio constituam um conjunto de
medidas de tipo restritivo, que criava srias dificuldades para o intercmbio
comercial entre pases. Tais dificuldades se acentuaram na segunda metade do
sculo XIX, com o rpido crescimento das atividades comerciais, efetuadas
principalmente atravs dos portos e com o risco cada vez maior e mais freqente de
ocorrncia de epidemias.
Com as campanhas de erradicao de diversas doenas infecciosas,
iniciadas aps a Segunda Guerra, a vigilncia deixou de se fazer sobre as pessoas 7 Perodo outrora de quarenta dias, durante o qual os passageiros vindos de pases onde reina doena contagiosa grave eram obrigados incomunicabilidade (FERREIRA, 1977). Segundo o Guia de vigilncia epidemiolgica, trata-se do isolamento de indivduos ou animais sadios pelo perodo mximo de incubao da doena, contado a partir da data do ltimo contato com um caso clnico ou portador, ou da data em que esse comunicante sadio abandonou o local em que se encontrava a fonte de infeco (BRASIL, 2002).
34
(doentes e contatos) e passou a ter, como objeto, a doena. Consolidou-se, assim, a
idia de Vigilncia Epidemiolgica como observao ativa e sistemtica da
distribuio da ocorrncia de agravos, a avaliao da situao epidemiolgica com
base na anlise das informaes obtidas, e a definio das medidas de preveno e
controle pertinentes.
4.4.2 Vigilncia sade
Cury (2001), fazendo referncia ao Cdigo de Sade de Minas Gerais, de
setembro de 1999, define Vigilncia Sade como um conjunto de atividades e
servios, tendo como conseqncia a ampliao do atendimento s causas do
processo sade-doena, no que diz respeito aos determinantes sociais8, buscando
desenvolver novas propostas para operacionalizar os Sistemas de Sade por meio
da incorporao de novos conhecimentos como o planejamento urbano, as
atividades de promoo e de educao em sade, a comunicao social, alm da
ecologia e das cincias do meio ambiente. constituda por: vigilncia
epidemiolgica; controle de zoonoses; vigilncia ambiental e saneamento; sade do
trabalhador; alimentao e nutrio; sangue, hemocomponentes e hemoderivados; e
vigilncia sanitria. Sua coordenadoria de competncia da direo Estadual do
Sistema nico de sade (SUS)9, com a participao da Unio e dos Municpios.
Teixeira, Paim e Vilasbas (2000) apresentam a Vigilncia da Sade
sintetizada em sete caractersticas bsicas: interveno sobre os problemas de
sade, (danos, riscos e/ou determinantes); nfase em problemas que requerem
ateno e acompanhamento contnuos; operacionalizao do conceito de risco;
articulao de aes promocionais, preventivas e curativas; atuao intersetorial;
aes sobre o territrio e, por fim a interveno sob forma de operaes (p.56).
8 Os determinantes sociais so aqui identificados como aqueles que interferem diretamente no processo sade-doena das comunidades, sendo representados pelas condies de habitao (incluindo higiene e saneamento), trabalho, educao alm do acesso aos servios de sade. 9 O Sistema nico de Sade definido pela Lei N 8.080, de 19 de setembro de 1990, no seu art. 4 1, como o conjunto de aes e servios de sade, prestados por rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais, da administrao direta e indireta e das funes mantidas pelo Poder Pblico, estando includas as instituies pblicas federais, estaduais e municipais de controle da qualidade, pesquisa e produo de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para a sade (BRASIL, 1990).
35
A Vigilncia Epidemiolgica, segundo a Lei Orgnica da Sade (Lei n 8.080,
de 1990), um conjunto de aes que proporcionam o conhecimento, a deteco ou
a preveno de qualquer mudana nos fatores determinantes e condicionantes de
sade individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas
de preveno e controle das doenas e agravos (BRASIL, 1990).
Segundo Palmeira (2000), o conjunto de atividades da Vigilncia
Epidemiolgica configura um sistema, em geral voltado para agravos especficos,
cujo objetivo final a preveno, e constitui um instrumento indispensvel
elaborao, ao acompanhamento e avaliao de programas de sade. Este autor
destaca que entre os objetivos especficos da Vigilncia Epidemiolgica esto: monitorar as tendncias da morbidade e da mortalidade; determinar os nveis endmicos, detectar surtos epidmicos e
identificar os fatores envolvidos na ocorrncia dos mesmos; identificar os grupos populacionais mais vulnerveis; elaborar informes e normas tcnicas que possam orientar as aes de
controle; avaliar o impacto e a adequao das medidas de preveno e controle; identificar novos problemas de Sade Pblica e os elementos
envolvidos no seu aparecimento; fornecer subsdios para o planejamento (PALMEIRA, 2000, p. 178).
A Vigilncia Sanitria, segundo Costa e Rozenfeld (2000), a forma mais
complexa de existncia da sade pblica, pois suas aes, de natureza
eminentemente preventiva, perpassam todas as prticas mdico-sanitrias. A Lei
Orgnica da Sade (BRASIL, 1990) define Vigilncia Sanitria como um conjunto de
aes capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos sade e de intervir nos
problemas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da produo e circulao de
bens e da prestao de servios de interesse da sade.
O Sistema de Vigilncia Ambiental em Sade engloba as reas de vigilncia
da qualidade da gua para consumo humano, vigilncia e controle de fatores
biolgicos, contaminantes ambientais e as questes de sade relacionadas aos
desastres naturais e acidentes com produtos perigosos (MACIEL et al., 1999).
De acordo com a Instruo Normativa n1, de 7 de maro de 2005 da
Secretaria de Vigilncia em Sade, o Subsistema Nacional de Vigilncia em Sade
Ambiental (SINVSA), compreende o conjunto de aes e servios prestados por
rgos e entidades pblicas e privadas, relativos vigilncia em sade ambiental,
visando o conhecimento e a deteco ou preveno de qualquer mudana nos
fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na sade
36
humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoo da sade
ambiental, preveno e controle dos fatores de riscos relacionados s doenas e
outros agravos sade. Em especial a gua para consumo humano, ar, solo,
contaminantes ambientais e substncias qumicas, desastres naturais, acidentes
com produtos perigosos, fatores fsicos e ambiente de trabalho (BRASIL, 2005a).
Se olharmos a Vigilncia Sade, tendo como foco norteador a ateno
primaria ambiental, faz-se necessrio entend-la, segundo a Organizao Pan-
Americana de Sade (OPAS/OMS, 2000), como: uma estratgia de ao ambiental basicamente preventiva e participativa em nvel local, que reconhece o direito do ser humano de viver em um ambiente saudvel e adequado e a ser informado sobre os riscos do ambiente em relao sade, bem-estar e sobrevivncia, ao mesmo tempo em que define suas possibilidades e deveres em relao proteo,conservao e recuperao do ambiente e da sade (p. 28).
4.4.3 A vigilncia sade como instrumento de gesto
Para Teixeira, Paim e Vilasbas (2000), o ponto de partida para o
desencadeamento do processo de planejamento da Vigilncia da Sade a
territorializao do sistema municipal de sade. Isto , o reconhecimento e o
esquadrinhamento do territrio do municpio, segundo a lgica das relaes entre
condies de vida, sade e acesso s aes e servios de sade. Isso implica um
processo de coleta e sistematizao de dados demogrficos, socioeconmicos,
poltico-culturais, epidemiolgicos e sanitrios que, posteriormente, devem ser
interpretados segundo o mapa bsico e os mapas temticos do municpio.
O propsito fundamental desse processo de territorializao permitir a
definio de prioridades, em termos de problemas e grupos, o mais
aproximadamente possvel, o que se refletir na definio das aes mais
adequadas, de acordo com a natureza dos problemas identificados, bem como na
concentrao de intervenes sobre grupos priorizados. Quer-se,
conseqentemente, conseguir um maior impacto positivo sobre os nveis de sade e
as condies de vida. Uma vez que se conte com a territorializao do municpio,
segundo as condies de vida e sade, enquanto parte da anlise da situao de
37
sade, possvel dar seguimento ao processo de planejamento e programao
local.
Desse modo, o municpio pode construir uma rvore de problemas, ou um
fluxograma situacional, para sistematizar as informaes acerca dos problemas de
sade, e subsidiar, assim, um processo de tomada de decises com relao ao que
fazer para enfrent-los (TEIXEIRA; PAIM; VILASBAS, 2000).
A disponibilidade de mapas digitais representa um avano para o
planejamento integrado de diferentes setores. Neste sentido, o uso de Sistema de
Informao Geogrfica (SIG) para esquadrinhamento da rea, poder ser utilizado
como uma ferramenta de utilidade para visualizao de eventos de sade em
mapas.
Soma-se a isto, a proposta de Bech (2002) que, citando, em seu trabalho,
outros autores como Ximenes et al. (1998), Gerolamo e Penna (2000), utiliza a
unidade setor censitrio definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica -
IBGE, como a base fundamental Integradora de Dados.
Destacamos tambm o estudo feito por Csar e Horta (1997), realizado na
cidade do Rio Grande com o propsito de contribuir para que o atendimento de
sade populao seja desenvolvido com base em indicadores emergentes de uma
anlise sistemtica da realidade, onde constam importantes informaes registradas
junto a grupos populacionais e na qual os autores tambm utilizaram os setores
censitrios para as reas a serem estudadas.
38
5 MTODOS
5.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo descritivo com a finalidade de realizar um diagnstico
de situao sobre os patgenos existentes nas guas do entorno da cidade de Rio
Grande. Segundo Pereira (1995), as investigaes epidemiolgicas de cunho
descritivo tm o objetivo de informar sobre a distribuio de um evento na populao
em termos quantitativos. Seus resultados so utilizados para identificar grupos de
risco e informar sobre as necessidades e as caractersticas dos segmentos que
poderiam beneficiar-se de alguma forma de medidas saneadoras, tendo, assim, uma
ntima relao entre a epidemiologia com a preveno de doenas e o planejamento
de sade.
5.2 O RECONHECIMENTO DO CAMPO DE ESTUDO
O municpio do Rio Grande apresenta uma morfologia acentuadamente plana.
Tem uma rede hidrogrfica interna formada por lagoas e arroios, com muitos
banhados permanentes e temporrios, resultantes da dificuldade de escoamento
superficial, em virtude da baixa declividade e permeabilidade do solo de sedimento
fino (VIEIRA; RANGEL, 1998).
Levou-se em considerao que informaes sobre a rea a ser avaliada so
importantes para possibilitar o planejamento das atividades, a preparao do
material a ser utilizado na amostragem, bem como a definio da infra-estrutura para
o deslocamento aos locais de coleta de amostras.
Foram realizadas visitas aos possveis locais de coleta em setembro de 2004,
sendo dado o incio ao planejamento da amostragem com a determinao prvia
dos pontos de coleta e respectivo mapeamento em mapas cartogrficos; com
registro fotogrfico, utilizando cmera digital marca Sony Mavica, e cmera digital
Aiptek Pen Cam.
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O mapeamento e a classificao das informaes obtidas foram realizados
inicialmente com a escolha dos locais atravs da reviso bibliogrfica, alm de
informaes obtidas in loco.
Para atender aos objetivos deste estudo, foram selecionadas amostras de
convenincia do tipo no probabilsticas. Para Palmeira (2000), este tipo de amostra
serve para as atividades de vigilncia e de monitoramento, cujo objetivo no
estimar parmetros populacionais, mas sim identificar condies que representem
risco para a sade.
Foram identificadas reas utilizadas por pescadores, em busca de
alimentao prpria e tambm com fins comerciais; igualmente, foram identificadas
reas com potencial comprometimento qualidade ambiental, ou com sua utilizao
pela populao para recreao, bem como com habitaes ou moradias
irregulares10 na margem.
Ainda considerou-se os seguintes critrios em relao ao lanamento de
efluentes lquidos:
esgoto domstico lanamento oficial ou clandestino de efluentes
identificados atravs das caractersticas da gua quanto a cor, gordura na
superfcie, odor de matria orgnica em decomposio, alm de resduos
cloacais in natura;
esgoto misto lanamento domstico ligado oficialmente na rede pluvial;
esgoto pluvial lanamento de efluentes, oficiais ou no, sem
caractersticas cloacais ou industriais.
O meio de transporte utilizado pela equipe de pesquisadores foi o veculo
Toyota, da Fundao Universidade Federal do Rio Grande, utilizada pelo Ncleo de
Estudos em Administrao e Sade - NEAS-FURG em suas sadas de campo para
pesquisas, que foi gentilmente cedida para este estudo.
5.3 ESTRATGIA DE AMOSTRAGEM
10 Empregamos a classificao utilizada por Victoria; Barros e Vaughan (1989). Os autores caracterizam como irregular a moradia que no apresenta as condies mnimas para que seja habitada, como as que apresentam deficincias tais como a inexistncia de forro, aberturas precrias, e iluminao e ventilao inadequadas (p. 157).
40
Este estudo fez a avaliao das guas do entorno da cidade do Rio Grande,
em quatro situaes climticas distintas, compatveis com as estaes do ano
(primavera, vero, outono e inverno).
Deste modo, levou em considerao estudo prvio feito por Baumgarten e
Niencheski (1998) para avaliao da qualidade hidroqumica da rea porturia da
cidade do Rio Grande RS, onde demonstrado que, em caractersticas de inverno,
h um regime de vazante11 pelo menos em superfcie, e que no vero, h um regime
de enchente12, com dominncia de guas salgadas.
Foram, demarcadas trs grandes reas ao redor da cidade, que, para efeito
deste estudo, foram denominadas reas A, B e C. reas estas com potencial
comprometimento qualidade ambiental, ou com sua utilizao pela populao para
recreao, contato primrio e, principalmente, com a pesca de vrias espcies de
peixes e crustceos com valor comercial, e tambm a pesca com finalidade de lazer.
A rea A, Canal do Rio Grande, o escoadouro natural de toda a bacia
hidrogrfica da Lagoa dos Patos. Chamado tambm de Canal de Acesso,
compreende uma rea hdrica de aproximadamente 900m de distncia entre as
margens leste-oeste na desembocadura da Lagoa dos Patos no Oceano Atlntico,
onde o canal de navegao constitui-se de uma longa faixa orientada na direo
geral norte-sul, com 200 a 300 metros de largura e profundidade de 14 metros.
Demarcado na Carta 2101 da Diretoria de Hidrografia e Navegao (DHN), a partir
das bias nmeros 1 e 2, o canal tem uma extenso de cerca de 9 milhas (16,7 km)
at as proximidades do Pontal da Mangueira, onde se bifurca, possibilitando, de um
lado, o acesso ao Porto Novo e, de outro, o acesso Lagoa dos Patos (ALMEIDA;
BAUMGARTEN; RODRIGUES, 1993).
A rea B, Canal do Norte, localiza-se entre parte da cidade do Rio Grande e a
Ilha dos Marinheiros. uma rea de navegao intensa e concentrao de
indstrias de pescados. Suas guas circundam os bairros Marclio Dias, Centro,
Cidade Nova, Henrique Pancada, Prado, So Miguel, So Joo e Nossa Senhora de
Ftima.
A partir do bairro Nossa Senhora de Ftima, essas guas, por sua fisiografia
de enseada, passam a receber a denominao de Saco do Martins e, a seguir, Saco
do Justino. Entre os bairros Cidade Nova e Nossa Senhora de Ftima, as guas do
11 Sada das guas da Lagoa para o Oceano. 12 Entrada de gua ocenica para dentro da Lagoa.
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Canal do Norte so altamente utilizadas por pescadores, que depositam suas redes
em busca de alimentao prpria e tambm com fins comerciais, principalmente na
poca da safra de camares (ALMEIDA; BAUMGARTEN; RODRIGUES, 1993).
Na rea C, conforme nos descreve Almeida, Baumgarten e Rodrigues (1993),
a enseada marginal estuarina denominada Saco da Ma