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Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Simonetti, Sérgio Henrique; Miyahara Kobayashi, Rika; Ferraz Bianchi, Estela Regina Identificação dos agravos à saúde do trabalhador de enfermagem em hospital cardiológico Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 41, 2010, pp. 135-139 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84213511003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Identificação dos agravos à saúde do - redalyc.org · diabetes, doenças cardiovasculares, tabagismo e câncer; e os antecedentes pessoais, com 279 respostas, referiram aler-gias,

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Saúde Coletiva

ISSN: 1806-3365

[email protected]

Editorial Bolina

Brasil

Simonetti, Sérgio Henrique; Miyahara Kobayashi, Rika; Ferraz Bianchi, Estela Regina

Identificação dos agravos à saúde do trabalhador de enfermagem em hospital cardiológico

Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 41, 2010, pp. 135-139

Editorial Bolina

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84213511003

Como citar este artigo

Número completo

Mais artigos

Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Simonetti SH, Kobayashi RM, Bianchi ERF. Identificação dos agravos à saúde do trabalhador de enfermagem em hospital cardiológico

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saúde do trabalhador de enfermagem

Identificação dos agravos à saúde do trabalhador de enfermagem em hospital cardiológico

Sérgio Henrique Simonetti Enfermeiro do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC). Especialista em Enfermagem Cardiovascular no IDPC. Mestrando em Saúde do Adulto - EEUSP. [email protected]

Rika Miyahara KobayashiEnfermeira. Pedagoga. Doutora em Enfermagem pela EEUSP. Diretora Técnica de Serviços de Saúde – Serviço de Educação Continuada do IDPC.

Estela Regina Ferraz BianchiEnfermeira. Professora Associada da Escola de Enfermagem da USP.

INTRODUÇÃO

As dificuldades na integração multidisciplinar e a exigên-cia de profissionais qualificados e competentes para o

trabalho têm sido os fatores que mais impactam na saúde do trabalhador1.

No cotidiano, ao enfermeiro compete entre outras ativida-des, como integrante da equipe, participar, colaborar, coor-denar, liderar, organizar, gerenciar a assistência, as unidades, os serviços, bem como os seus recursos materiais, físicos, e humanos, o que pode lhe ocasionar desgastes físico-emocio-nais. Buscam-se, então, meios que permitam, preventivamen-te, intervir na manutenção da saúde do trabalhador na sua qualidade de vida e no saber cuidar de si mesmo.

Considerando que a enfermagem constitui aproximada-mente 50% dos trabalhadores no campo da saúde2, surge a implantação da Enfermagem do Trabalho, que tem sido de-finida como a ciência e prática especializada que dispõem medidas e, presta serviços de saúde aos profissionais, traba-lhadores e populações ativas. Desempenha papel decisivo

Recebido: 05/11/2009 Aprovado: 11/05/2010

Estudo descritivo e exploratório realizado em hospital público de cardiologia, e que objetivou identificar e caracteri-zar os agravos à saúde do trabalhador de enfermagem. De uma amostra de 235 trabalhadores, a maioria era auxiliar de enfermagem, das unidades de internação, mulheres, e com ensino médio. Os antecedentes pessoais de alergias, hipertensão arterial, doenças do sistema digestório, obesidade, tabagismo; e os familiares de hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, tabagismo e câncer foram prevalentes. Fazem prevenção de câncer de mama e colo de útero. Relatam atividade física, ingestão regular de bebida alcoólica e tabagismo. Estes dados pos-sibilitaram diagnosticar os agravos para implementar estratégias de intervenção em prol da saúde do trabalhador de enfermagem.Descritores: Saúde do trabalhador, Trabalhador de enfermagem, Enfermagem.

This descriptive and exploratory study developed in a public hospital of cardiology aimed to identify and characterize the problems to the nursing worker’s health. From the sample of 235 workers, most were nursing assistants of the hospital wards, women with high school. They had personal history of allergies, hypertension, gastrointestinal disea-ses, obesity, smoking and family history of hypertension, diabetes mellitus, cardiovascular disease, smoking and pre-valent. They undergo to breast and uterine cervix prevention and report physical activities, regular cancer were intake of alcohol and smoking. These data allowed to diagnose problems in order to propose the implementation of health strategies for nursing workers.Descriptors: Occupational health, Nursing workers, Nursing.

Estudio descriptivo y exploratorio realizado en un hospital publico de cardiología cuyo objetivo fue identificar y ca-racterizar los agravios de la salud del trabajador de enfermería. De la muestra de 235 trabajadores, la mayoría era auxiliar de enfermería, de las unidades de internación, mujeres, con enseñanza medio. Los antecedentes persona-les de alergias, hipertensión, enfermedades del sistema digestivo, obesidad, tabaquismo, y antecedentes familiares de hipertensión, diabeto, enfermedad cardiovascular, tabaquismo y cáncer fueran prevalentes. Hacen prevención del cáncer de seno e cuello uterino. Relatan hacer actividad física, ingestión regular de bebida alcohólica e tabaquismo. Estos datos posibilitaran diagnósticos de los agravios para implementar estrategias de intervención y de la salud de los trabajadores de enfermería. Descriptores: Salud laboral, Trabajador de enfermería, Enfermería.

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no planejamento da assistência de serviços de saúde e de segurança nos locais de trabalho, onde se percebe a essên-cia da assistência e o caráter global no custo – benefício3. Esta, especialmente surge, para atender ao trabalhador que possui inúmeros fatores como o desgaste físico, emocional e social, a falta de condições para satisfação das necessidades básicas, o acúmulo de atribuições e ansiedade por não aten-dimento dos interesses pessoais e familiares, os fatores er-gonômicos, psicossociais, mecânicos e de acidentes, podem ser destacadas como agravantes à sua condição de saúde4.

Estes fatores eram presentes nas equipes de enfermagem desta instituição, campo do estudo, impactando em ausên-cias ao trabalho. Frente a esta constatação, questionamentos surgiram acerca do perfil dos trabalhadores na enfermagem, dos agravos que mais acometem a saúde do trabalhador em um instituto especializado em cardiologia, sobre os fatores predisponentes existentes e as medidas preventivas tomadas para o não adoecimento.

Assim, este estudo objetivou identificar e caracterizar os agravos na saúde do trabalhador de enfermagem.

METODOLOGIATrata-se de um estudo do tipo descritivo e exploratório para

identificar os problemas de saúde do trabalhador de enfer-magem em hospital público governamental cardiológico, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

A população foi composta por 384 colaboradores de en-fermagem que aceitaram responder o questionário. Foram excluídos os que estavam afastados do serviço, por licenças ou período de férias, durante o período de coleta.

O projeto foi submetido e aprovado pela Comissão de Éti-ca e Pesquisa da referida instituição. A coleta de dados foi realizada no período de setembro a outubro de 2005. Do to-tal de 384 (100%) colaboradores de enfermagem, 235 (61%) participaram do estudo e 149 (39%) não participaram.

Os dados coletados abordaram: caracterização sociode-mográfica e de saúde dos colaboradores e condições de atendimento no serviço de saúde ocupacional. As estatísti-cas foram analisadas e apresentadas em números absolutos e porcentagens.

RESULTADOSDos 235 colaboradores participantes deste estudo, 201(85%) descreveram a avaliação periódica como o motivo do aten-dimento no setor de saúde ocupacional, que é feita para controlar as operações e processos de trabalho e, conse-

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quentemente, atualizar dados contínuos do colaborador3.Caracterizando a população majoritária neste estudo,

destacou-se o auxiliar de enfermagem 174 (74%); concluin-tes do ensino médio 115 (49%); no setor Unidade de Inter-nação 64 (27%); turno da manhã 109 (46%); da faixa etária entre 41 e 50 anos 71 (30%); casado 100 (42%); católico 123 (52%); natural de São Paulo 77 (33%); e eminentemente do sexo feminino 200 (85%), o que reproduz historicamen-te a profissão exercida eminentemente por profissionais do gênero feminino5 .

Este perfil, com prevalência de auxiliar de enfermagem no desempenho de atividades assistenciais e dos enfermeiros nas de gerenciamento do serviço e de execução de procedimentos mais complexos, aponta a divisão social e técnica do trabalho em enfermagem, gerando condições de alienação, o que causa apatia, sofrimento, desmotivação, nas classes menos favorecidas6.

Em relação à especificidade do gêne-ro, na mulher é comum a sobrecarga de trabalho, devido à existência de diferen-ças para o exercício profissional entre homens e mulheres, visto que, muitas vezes, conciliam atividades domésticas à dupla jornada, representando desgaste físico e mental que, cedo ou tarde, pode repercutir em agravos à saúde, podendo desencadear absenteísmo, inclusive pela necessidade de cuidar de filhos e tarefas domiciliares7.

Conforme dados estatísticos do Minis-tério da Saúde - DATASUS, evidencia-se ainda que, o gênero feminino quando comparado ao masculino é mais acome-tido nas doenças ocupacionais, o que se aproxima com os dados deste estudo, principalmente porque a maior parte dos profissionais de enfermagem é composta por mulheres8.

Os diferentes turnos de trabalho e estarem submetidos a rodízios de turnos, para cobrir plantões de fins de semana e feriado e nas 24 horas, têm sido percebidos como pre-judiciais ao convívio social. Estudos mostram que plantões noturnos geram doença de distúrbios psicossomáticos. No entanto, o turno matutino concentra a maior ocorrência de acidentes de trabalho, devido ao maior volume de proce-dimentos e cuidados, que difere do noturno6. O trabalho em turnos é uma das características peculiares das ações de enfermagem, sendo obrigatório à assistência exequível du-rante 24 horas do dia e ininterrupta, inclusive à noite, finais de semana, feriados e períodos que poderiam ser utilizados para dormir, descansar, usufruir do lazer e do convívio so-cial e familiar9.

Em relação à idade, as principais comorbidades que aco-meteram os indivíduos a partir de 40 anos, foram diabetes mellitus, hipertensão, doenças cardiovasculares, câncer10. Assim, seria necessário aos gestores de enfermagem prever maiores riscos de adoecimento ou acometimento da saúde

do trabalhador, possibilitando aumento nos índices de ab-senteísmo.

Quanto aos antecedentes familiares, obteu-se 687 respos-tas, sendo as morbidades prevalentes hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovasculares, tabagismo e câncer; e os antecedentes pessoais, com 279 respostas, referiram aler-gias, hipertensão arterial, doenças do sistema digestório, obesidade, tabagismo.

O diabetes e a hipertensão arterial configuram-se como importantes problemas de saúde pública no Brasil, pelas suas elevadas prevalências e complicações agudas e crôni-

cas, e por representarem fatores de risco associados às doenças cardiovasculares, elevando taxas significativas de morbi-dade e mortalidade e custos socioeconô-micos, decorrentes do uso de serviços de saúde, absenteísmo, aposentadoria pre-coce e incapacidade para o trabalho10.

A alta prevalência de colaboradores que apresentam alterações da hiperten-são arterial sistêmica pode estar asso-ciada ao estresse ambiental do trabalho como fator adicional considerável, assim como a precariedade das condições de trabalho11.

As recomendações de atuação dos ser-viços de saúde na prevenção no contexto do ambiente de trabalho consideraram as seguintes estratégias: desenvolvimen-to de ações de educação em saúde com ênfase na alimentação saudável; controle de peso; atividade física e combate à de-pendência química de álcool; manuten-ção do enfoque preventivo que direciona o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional desenvolvido pela empresa; implantação de protocolos para diagnós-tico e tratamento da hipertensão arterial e do diabetes nos serviços de saúde da empresa; implementação de grupos espe-

ciais de controle (hipertensão, diabetes, dislipidemia, obe-sidade)10.

Os dados relativos à saúde da mulher apontaram que 112 (48%) referiram ter ciclos menstruais regulares, 27 (11%) não regulares, duas (1%) estavam em fase do climatério, 31 (14%) na menopausa, sete (3%) histerectomizadas, 56 (23%) não responderam. Das 137 (69%) mulheres que já vivencia-ram a gravidez com 210 partos, sendo 98 (47%) cesáreas, 71 (33%) normais e 41 (20%) abortos.

A saúde da mulher nas diferentes fases da vida passa por alterações hormonais ocorridas em poucos intervalos de tempo, promovendo modificações em todo seu organismo, com manifestações físicas e emocionais muitas vezes evi-dentes12. O absenteísmo entre as mulheres pode estar liga-do a distúrbios ligados ao ciclo hormonal, característica de morbidade feminina13.

A mulher em idade fértil, vivendo o período gestacional tem falta ao trabalho por licenças durante a gravidez, e após

“QUANTO AOS ANTECEDENTES

FAMILIARES, OBTEU-SE 687 RESPOSTAS, SENDO AS

MORBIDADES PREVALENTES: HIPERTENSÃO ARTERIAL,

DIABETES, DOENÇAS CARDIOVASCULARES,

TABAGISMO E CÂNCER; E OS ANTECEDENTES PESSOAIS,

COM 279 RESPOSTAS, REFERIRAM ALERGIAS,

HIPERTENSÃO ARTERIAL, DOENÇAS DO SISTEMA

DIGESTÓRIO, OBESIDADE, TABAGISMO”

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o parto e a licença maternidade, concedida legalmente, e que precisam ser previstos de forma a não comprometer a assistência a ser prestada ao paciente. Por outro lado, estu-dos apontam que mulheres em menopausa passam por sinto-mas desconfortáveis. Há aumento da incidência de doenças, entre elas a doença cardiovascular. A cardiopatia interfere na qualidade de vida das mulheres após a menopausa, limi-tando a capacidade física e o desempenho das atividades de vida diária14, o que também pode favorecer a ausência no trabalho ou diminuição na produtividade em serviço.

Quanto aos aspectos preventivos, 121 (61%) trabalhadores relataram fazer o preventivo de câncer de mama, 145 (73%) o de câncer de colo de útero semestral ou anualmente. Quanto ao câncer de próstata, identifi cou-se que cinco (15%) o fazem anualmente. No que se refere ao calendário de vacinas, há resultados preocupantes, uma vez que so-mente 85 (37%) informaram estarem com o calendário vacinal completo, enquanto 149 (63%) o mantém incompleto, e 1% não responderam.

Tais dados mostram que o trabalhador da saúde é pouco mobilizado no aspecto preventivo de doenças, no seu caso em particular. A considerar que em 2005 foi registrado um total de 58 milhões de mor-tes ocorridas no mundo, o câncer foi res-ponsável por 7,6 milhões representando 13 % de todas as mortes, o de câncer de colo de útero com 655 mil, mama com 502 mil. Estima-se que em 2020 o nume-ro de casos novos anuais de câncer seja de 15 milhões, sendo que cerca de 60% desses casos novos ocorrerão em países em desenvolvimento15.

Seriam necessárias outras pesquisas para evidenciar os motivos que justifi-quem a não realização de controle pre-ventivo por parte dos trabalhadores de enfermagem, uma vez que são conhece-dores dos primeiros sinais e sintomas das doenças que acometem sua saúde, bem como os meios para sua prevenção.

Na prevenção das doenças imunopreviníveis, percebe-se novamente que os próprios trabalhadores negligenciam a prevenção. É preocupante que nesta época, com um mundo das diversidades de acometimentos à saúde, os trabalhado-res não demonstrem mudanças comportamentais de ade-são à prevenção as doenças, retratando a política de saúde ainda não desenvolvida na cultura de nossa população. As ações preventivas podem ser definidas como intervenção orientada a evitar o aparecimento de doenças especifica, re-duzindo assim, a incidência e prevalência nas populações16.

Em relação aos hábitos de vida pessoal de sono e repouso, identificou-se que 138 (59%) relataram sono tranquilo, 21 (9%) agitados, 19 (8%) sono profundos 27 (11%) insônia, quatro (2%) ter sonambulismo, e 26 (11%) não responde-ram. Outros sete (3%) fazem uso de remédios para dormir, dos quais, destacam-se “rivotrilR, lexotanR e ansioliticos”, e

24 (10%) não responderam esta questão.O hábito do sono parece não estar comprometido, na

maior parte dos trabalhadores, justificado possivelmente pela predominância de trabalhadores do turno matutino. Mas, vale salientar que o transtorno nos horários habituais da equipe de enfermagem é uma situação que merece maior atenção na atualidade, sabido que a existência do relógio biológico e os mecanismos que podem alterá-los. O traba-lho em turno sequente e local específico, como a unidade de terapêutica crítica, possibilitam o desencadear e alterar o equilíbrio emocional17.

Quanto a alimentação, a maioria informou realizar ali-mentação adequada, hidratando-se diariamente com uma média de 1,5 litro de líquidos, e realizam refeições fora de casa 160 (68%). Quanto ao tipo de líquido ingerido, 152

(65%) responderam fazer uso de águas filtradas, mineral e outros como: suco e refrigerante. Já, 65 (28%) referiram fazer uso de água fervida, e 18 (7%) não res-ponderam.

Nos tempos atuais, dado à necessida-de do trabalhador em fazer seu horário de refeição/descanso em um espaço de tempo cada vez mais curto, o uso de ali-mentação inadequada e rápida, como o fast food, tem sido instrumento de via-bilizar o tempo, podendo ser um grande problema no aparecimento de doenças.

O aumento de atividade física pare-ce ter um efeito benéfico independente nas comorbidades da obesidade, além de atenuar a morbimortalidade em indi-víduos com sobrepeso e obesos18, neste estudo, 71 (30%) afirmaram realizar ati-vidades físicas.

Em relação a outros hábitos, o etilismo so-cial foi citado por 70 (29%) colaboradores, e o tabagismo por 31 (13%). O consumo de quantidades moderadas de álcool tem efei-to protetor nas coronariopatias. No entanto, o consumo de mais de três drinks diários vem sendo relacionado a inúmeros efeitos

adversos relacionados às doenças cardiovasculares, como arrit-mia, hipertensão arterial, derrame hemorrágico e morte súbita18.

As ações para controle do tabagismo dependem da arti-culação de diferentes tipos de estratégias e setores sociais, governamentais e não-governamentais. Portanto, é sob a óti-ca da promoção da saúde, que desde 1989, o INCA, órgão do Ministério da Saúde responsável pela Política Nacional de Controle do Câncer, coordena as ações nacionais do Pro-grama Nacional de Controle do Tabagismo19.

O Programa Nacional de Controle do Tabagismo tem a finalidade de reduzir a iniciação do tabagismo, principal-mente entre jovens, e aumentar a cessação de fumar entre os que se tornaram dependentes, além de proteger todos dos riscos do tabagismo passivo19.

Em relação ao hábito da higiene corporal, foi informada frequência diária e de lavagem das mãos em 214 (91%) con-forme a técnica, e 21 (9%) não responderam. As ocasiões

Referências

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“É PREOCUPANTE QUE NESTA ÉPOCA,

COM UM MUNDO DAS DIVERSIDADES DE

ACOMETIMENTOS À SAÚDE, OS TRABALHADORES NÃO

DEMONSTREM MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS DE

ADESÃO À PREVENÇÃO AS DOENÇAS, RETRATANDO A POLÍTICA DE SAÚDE

AINDA NÃO DESENVOLVIDA NA CULTURA DE NOSSA

POPULAÇÃO”

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que mais citaram a lavagem das mãos foram antes e após os procedimentos.

Visto assim, o colaborador de enferma-gem tem conhecimento quanto à necessi-dade de realizar a prevenção e promoção da sua saúde, o que fortalece a necessida-de de manter constante, por meio da edu-cação permanente em serviço.

As condições inseguras de trabalho nas instituições hospitalares, consequente-mente, demonstram frequentes acidentes de trabalho, absenteísmo e afastamentos por doenças, o que dificulta a organização do trabalho em diversos setores, influen-ciando com importância na qualidade da assistência de enfermagem prestada7. Compete aos empregadores, proporcio-nar condições seguras de trabalho, como também ao colaborador manter segura as normas de segurança no trabalho, con-templada nas leis vigentes, para que haja minimização dos riscos e maior êxito no trabalho, sem desgastes à saúde.

CONCLUSÃO O perfil majoritário foi o auxiliar de en-fermagem, na faixa etária entre 41 e 50 anos, casado, católico, procedente do Estado de São Paulo, sexo feminino, concluinte do ensino médio, atuante em Unidade de Internação, e que trabalha

no turno da manhã.Os principais riscos aos agravos foram relacionados com

antecedentes familiares de hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, ta-bagismo e câncer; antecedentes pes-soais de alergias, hipertensão arterial, doenças do trato digestório, obesidade e tabagismo. A saúde preventiva se mos-trou precarizada, apesar de conhecerem os riscos, a prevenção e as consequên-cias, mas pouco investem na organiza-ção, treinamento e prevenção de agra-vos da própria saúde. Outros estudos seriam necessários para elucidar os mo-tivos desse tipo de comportamento.

Este estudo possibilitou a sensibiliza-ção quanto aos hábitos de vida e o cuidar da própria saúde, enquanto profi ssionais que cuidam da saúde dos outros, e que não têm preventivamente, cuidado de si.

Seria interessante, durante a formação dos profi ssionais de saúde, a inclusão de disciplinas que discutissem, seja no im-pacto ou ausência, bem como sobre a vi-são das empresas e da equipe multiprofi s-sional em relação à saúde do trabalhador.

Acresce-se a isso a necessidade de in-vestimentos na sensibilização do auto-

cuidado na saúde de cada colaborador de enfermagem.

Referências

“SERIA INTERESSANTE, DURANTE A FORMAÇÃO

DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE, A INCLUSÃO

DE DISCIPLINAS QUE DISCUTISSEM, SEJA

NO IMPACTO OU AUSÊNCIA, BEM COMO

SOBRE A VISÃO DAS EMPRESAS E DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM

RELAÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR”

1. Sobell LAP. Evidências de desgaste do trabalhador de enfermagem rela-cionadas à organização do trabalho. Mundo Saúde. 2004;28(2):181-7.2. Santos EB, Santana GO, Assis MF, Meneses RO. Legislação em enfer-magem: atos normativos do exercí-cio e do ensino de enfermagem. São Paulo: Atheneu; 2005.3. Lucas AJ. O processo de enferma-gem do trabalho: a sistematização da assistência de enfermagem em saúde ocupacional. 1º ed. São Pau-lo: Iátria; 2004.4. Miranda G, Maia LMA, Lima MP, Lopes CM, Muniz PT. Adoecimento dos enfermeiros da Rede Hospitalar de Rio Branco – Acre – Brasil [In-ternet]. [citado em 2005 Abril 05]. Disponível em: http://www.uff.br/nepae/objn401mirandaetal.htm.5. Kurcgant P. A qualidade de vida no trabalho e a saúde do trabalhador de enfermagem. In: Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2005.

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