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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1

Idiot Mag nº24 FEV.14

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Idiot Mag 24 com: Roteiro + Ver, Ouvir e Ler // Idiot Week // 2 Anos de Idiot em Fotos // Artista de Capa: Vhils // Como Definir Um Idiota // Concentrum // Filmes // Idiotas ao Palco // Electronica: Alex FX // Testemunhos Idiot // Tabu? A Alcova de Patrícia // Praxe // Homogeneo: Dura Lex Sed Lex // La Fouinographe // Porvoc'arte: Era Uma Vez A Sociedade // Guia de um Jovem...

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6 EDITORIALEm 2 Anos

14 ATUALIDADEIdiot Week @ Exponor

30 ARTISTA DE CAPAVhils

44 ATUALIDADEConcentricum

49 IDIOTAS AO PALCO

54 TESTEMUNHOS

68 INTERVENÇÃOPraxe

76 LA FOUINIGRAPHE

88 CRÓNICAGuia de Um Jovem...

10 VROTEIRO +VER, OUVIRE LER

16 PHOTOREPORTIdiot Mag: 2 anos

40 ATUALIDADEComo Definir um Idita

46 FILMES

50 ELETRONICAAlex FX

58 TABU?A Alcova de Patrícia

72 HOMO’GENEODura Lex Sed Lex

84 PROVOC’ARTEEra Uma VezA Sociedade

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Direcção: João Cabral // Nuno Dias

Textos: Ana Meira

Ana Catarina RamalhoAna Luísa Carvalho

Bernardo AlvesBruno MansoCarmo Pereira

Carolina HardCandyFlora NevesMariana VazNuno Dias

Nuno Di RossoPatrícia (Pseudónimo)

Ricardo BrancoRui de Noronha Ozório

Tiago MouraTish

Design:João Cabral // Nuno Dias

IDIOT, Gabinete de Design®Capa: VHILS

Fotografia:Aline Fournier

Lígia ClaroVideo:

Rita Laranjeira

Todos os conteúdos são da responsabilidade de:

IDIOT, Gabinete de Design ®

Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico

(*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

[email protected]

www.IDIOTMAG.com

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Nuno Dias // D

ireto

rJoão Cabral // Diretor

Tiago Moura // Editor

Catarina Ramalho // Redatora

Vânia Sousa // Promotora

Tish //

Editora

Lígia Claro // Fotó

grafa

Nuno Di Rosso // Redator

Bruno Manso // RedatorBernardo A

lves // R

edator

Mariana Vaz // Redatora

Ana Meira

// Redato

ra

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Rui de Noronha Ozorio // Editor Flora Neves /

/ Redato

raCarmo Pereira // Editora

Aline Fournier //

Fotógrafa

Carolina HardCandy // Redator

Ricardo Branco // Redator

Ana Luisa Carvalho //

Redatora

Mariana Oliveira // Video

Rita Laranjeira

// Video

André Queirós // Redator

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// Nuno Dias e João Cabral

Sydney 2013fotografia: Silvia Lopes

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VISITÁMOS O ATELIER DE 27 DESIGNERS

CONHECEMOS PESSOALMENTE 25 STREET ARTISTS

ESCREVEMOS 71082 PALAVRAS EM ARTIGOS DA SECÇÃO DE INTERVENÇÃO

ESCREVEMOS 126 ARTIGOS DE ACTUALIDADE

ENTREVISTÁMOS 47 MÚSICOS

PUBLICÁMOS 20 ARTIGOS DE MODA

INTERAGIMOS DIRECTAMENTE COM 1371 PORTUGUESES

INTERAGIMOS DIRECTAMENTE COM 74 ESTRANGEIROS

CONTÁMOS A NOSSA AVENTURA A 511 ALUNOS

ESTIVEMOS ENVOLVIDOS COM 110 ENTIDADES E PROJECTOS

ENTREVISTÁMOS 23 DJS

CONHECEMOS O TRABALHO DE 167 ARTISTAS DE DIFERENTES ÁREAS

JÁ PASSARAM PELA REDACÇÃO DA IDIOT 26 REDACTORES

TIVEMOS 53 ARTIGOS DE TABU

ORGANIZÁMOS E PARTICIPÁMOS EM 14 EXPOSIÇÕES E EVENTOS

TRABALHÁMOS COM 26 FOTÓGRAFOS

CONDUZIMOS 24 ENTREVISTAS

REGISTÁMOS 76 PHOTOREPORTS

CONSEGUIMOS DAR A PINTAR 31 PAREDES

FIZEMOS 32 PASSATEMPOS E CONCURSOS

EM DOIS ANOS:

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Paris - Le Mur fotografia: Smart Bastard

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No Mosteiro de S. Bento da Vitória, a peça Mada-lena voltará a estar em palco. De 1 a 14 de feve-reiro, a partir de Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett. Uma produção da Ensemble – Sociedade de Atores e encenação de Jorge Pinto.No Teatro Nacional de São João será a vez de Coriolano (na foto), de 6 a 16 de fevereiro. Com uma duração aproxima-da de três horas, esta peça de Shakespeare, conta com a encenação de Nuno Cardoso.Já no Teatro Carlos Alber-to, será a vez de Como Queiram, encenada por Beatriz Batarda, esta peça (também de Shakes-peare) estará em cena de 14 a 23 de fevereiro. A não perder, certamente.

Ana Catarina Ramalho

Em fevereiro a cidade promete alguns bons concertos, nomeada-mente na Casa da Mú-sica que, nos dias 22 e 27 de fevereiro receberá Luísa Sobral e Bezegol (na foto), respetivamente.Também José Cid, o can-tor romântico do tempo dos nossos pais, toca no Coliseu do Porto no dia 14 de fevereiro. Que mensagem mais român-tica para dar, neste dia, do que «Como o maca-co gosta de banana, eu gosto de ti»?

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Wok Eat. Restaurante de fusão asiática. Aqui po-demos provar comida tai-landesa bem preparada, saborosa e com um aten-dimento excelente. O es-paço com uma decoração simples, convida a entrar e a relaxar. Ideal para um jantar entre amigos du-rante o fim de semana. Na rua Sá de Noronha, perto da Praça Carlos Al-berto. //

Até 9 de fevereiro está, no pavilhão Rosa Mota a XX Festa do Livro em Saldo. Para acabar os sal-dos…numa onda cultural.No dia 8 de fevereiro, os Cedofeita Viva organizam um Mercado do Fado na rua de Cedofeita (na foto).

Até dia 30 de março, na alfândega, o Magic Art 3D estará à espera de espetadores para inte-ragirem com as obras de arte expostas. Esquece os «proibido fotografar» e abraça o «fotografa, diverte-te e participa»!

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CINEMA. O Clube de Dallas. Matthew McConaughey é um seropositivo que decide procurar medicamentos alternativos ao AZT para curar outros doentes, drogas ilegais nos Estados Unidos e formando assim o Clube de Dallas. Um drama de Jean--Marc Valée com Jennifer Garner e Jared Leto, baseado numa história verídica.TV. The Walking Dead. Está quase aí (finalmente) a segunda parte da quarta temporada da série mais vista da Fox. Espreitem aqui alguns episódios e preparem-se já para a próxima tempora-da (em Outubro). www.amctv.com/shows/the-walking-dead

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Amada Vida, de Alice Munro. “Uma poeta, na sua primeira festa literária em território inós-pito, é resgatada por um colunista de jornal, acabando por partir numa incursão pelo con-tinente que a leva a um inesperado encontro. Um jovem soldado, ao regressar da Segunda Guerra Mundial para os braços da sua noiva, sai na estação de comboio anterior à sua, en-contrando numa quinta uma mulher com quem começa nova vida. Uma jovem mantém um caso com um advogado casado, contratado pelo seu pai para gerir os seus bens. Quando é descoberta, encontra uma forma surpreen-dente de lidar com a chantagista. Uma rapari-ga que sofre de insónias imagina, noite após noite, que assassina a irmã mais nova. Uma mãe resgata a sua filha no exacto momento em que uma mulher tresloucada invade o seu quintal”. In Bertrand online. // Tish

Black Panther. Está já à venda no iTunes o novo EP de Ayanna Witter Johnson, a cantora ingle-sa de folk e soul nomeada em 2012 para um MOBO. Já traba-lhou com artistas como Kronos Quartet, Nitin Sawhney, Court-ney Pine, entre outros.

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QUEM QUER SER “QUEM?” E QUEM QUER SER IDIOTA?Quem tem juízo não fica acordado até tarde. Quem é sensato não ri de coisas sérias. Quem é razoável não salta mu-ros. Quem é prudente não fala com es-tranhos... mas, quem é “quem”? Quem é “quem”, não vai à Idiot week!É incontornável. A idiotice não só está para ficar como, assim em jeito de ca-samento cigano, será fulgurosamente celebrada durante 4 dias, de 13 a 16 de Março, na Exponor.Após completar 2 voltas ao Sol sem se queimar (muito), esta mesma publica-ção de que hoje desfrutam, vai explodir num manancial ideológico que prome-te por a mexer corpo e mente nas mais variadas formas.A Idiot Week - semana das ideias- vai integrar a “Qualifica”, uma das maiores feiras de emprego, formação e empre-endedorismo realizadas em Portugal, que desta feita será reforçada pela co-memoração do Ano Europeu do Cére-bro e Desenvolvimento Cognitivo, uma iniciativa da Comissão Europeia. Todos os idiotas estão convocados ! Apelamos a todo o amor e dedicação que devotam à nossa querida mãe - a criatividade- e pedimos a todos os pen-sadores livres que ajudem uma vez mais a mover as indústrias da nossa cultura (antes que outros o façam por nós).

Vamos tirar o faqueiro de prata e a vista alegre do armário, servir o “vinho bom” que é para as visi-tas e ligar o aquecimento central! Nesta iniciativa inédita irão estar presen-tes diversas personali-dades dos mais variados ramos da cultura actual, artistas de arte urbana como Mr. Dheo, exposi-ções temáticas, música ao vivo, workshops, des-files, castings de mode-los e actores, street dan-ce, desportos radicais, djing...tudo debaixo (ou quem sabe em cima) do mesmo tecto usufruindo de uma cobertura medi-ática digna de qualquer reposição da Casa dos Segredos.

Mas, antes de come-çar, retiramos a palavra “sustentabilidade” da boca, e, para elas não irem a abanar, coloca-mo-la nas mãos . Assim, arregacem também as mangas e juntem-se à recolha de material ur-bano pelas ruas do Por-to. Com o actor Diogo Costa Reis como figura de proa, vamos recolher contentores, paletes e outro desse “lixo” cita-dino tão necessário à construção de grandes coisas! Esta vai ser a matéria prima da nossa Idiot week, inteiramen-te construída com ma-terial reaproveitado. Porque a crise está fora de moda e já se mostrou mais do que uma vez que quem tem pouco faz muito, vamos reinven-tar e relacionar o mundo que nos rodeia atirando para a sopa primordial os nossos mais precio-sos valores humanos – os idiotas! // Mariana Vaz

“É INCONTORNÁVEL. A IDIOTICE NÃO SÓ ESTÁ PARA FICAR COMO, ASSIM EM JEITO DE CASAMENTO CIGANO, SERÁ FULGUROSAMENTE CELEBRADA DURANTE 4 DIAS, DE 13 A 16 DE MARÇO, NA EXPONOR.”

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EM DOIS ANOS MUITA COISA ACONTECEU, MUITOS MOMENTOS PASSARAM E MUITAS AMIZADES FICARAM. MAS MELHOR DO QUE ESCREVE-LO, FIZEMOS UMA SELECÇÃO DE ALGUMAS FOTOS DE 2 ANOS DE MUITA IDIOTICE.

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Primeira exposição da Idiot no Centro Comercial de Cedofeita (fev. 2012)

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Em cima: idiotas nos escritorios da Idiot, em baixo Idiot @ Barcelona

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Idiotas a intervir pelas ruas do Porto

Roupa da Idiot Mag

Instalação da Idiot Mag no Get Set Art Festival 2013

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Na gráfica a prepa-rar a street idiot

Padure e Draw no C.C.Bombarda

Frederico Draw @ Gare Porto

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!Portal Hazul” @ Gare Porto

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Promoção “idiotas com Asas” @ ESEIG

Equipa de Idiotas numa sessão fotográfica

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Idiot Art @ Rua Conde de Vizela

Holi Idiot Fest @ ESAD

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Holi Idiot Fest @ ESAD, comemoração do 1º ano da Idiot Mag

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Hazul @ Pacha Ofir

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Youth One + Idiotas no Pacha Ofir

Evento “UPT + cria-tiva” da Idiot Mag na Universidade Portu-calense

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Resistance, music & urban culture festivalna Alfandega do Porto

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Idiotas na inauguração do Museu do FC Porto

Idiot, eleita melhor Ideia de Negocio de 2013 @ Exponor

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texto: Tiago Mourana foto: Vhils @ Walk & Talk, Açores

ARTISTA DE CAPA:

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Vhils @ Shangai

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PUBLICADA PELA GESTALTEN, A PRIMEIRA MONOGRAFIA DO TRABALHO DE VHILS, ARTISTA CONVIDADO DA EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO DA IDIOT MAG, SUBLINHOU O IMPACTO DO SEU TRABALHO E O MODO ÚNICO COMO A SUA OBRA, QUE JÁ VIAJOU O MUNDO, SE RELACIONA COM DIFERENTES ESPAÇOS E COM DIFERENTES CULTURAS.

A técnica de Alexandre Farto é violen-ta na sua natureza e impactante no sentimento que compõe cada peça. Ao tentar perceber o trabalho de VHILS há algo que se torna impossível escapar: a pluralidade de dimensões existen-tes dentro de uma única criação sua. Todos os passos do seu processo ar-tístico estão imbuídos de significado e existe uma imensidão de leituras que podemos fazer enquanto espetadores e isso é um testemunho ao poder cria-tivo das suas imagens.

Oriundo do Seixal, a relativamente jo-vem obra de VHILS atravessou diferen-tes ferramentas, métodos e concreti-zações, até chegar à sua metamorfose atual: do graffiti à colagem e, mais no-toriamente, da lata ao martelo. O seu trabalho já foi aclamado por diferentes publicações (cf. The Times) e reconhe-cido por diferentes artistas (Banksy mostrou um interesse particular no desenvolvimento e crescimento artís-tico do português) e a própria crítica parece rendida à multidisciplinaridade e pluralidade nas suas criações.

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“When I passed the idea to walls it was natural to work with this removal concept, this negative field. The process itself can be brutal and violent, but the result in my opinion, is expressive and poetic. The result was visibly interesting and allowed to start to incorporate the wall as one of the physical components to the intervention, unlike what happened to the painting, where the wall was a base. (..)With my work, I try to delve into the several layers that compose the edifice of history, to take the shadows cast by this model of uniform development to try and understand what lies behind it.”

Vhils @ Rio de Janeiro

O trabalho arqueológico das suas obras “sublinha a poética da ruína” do espaço urbano em pulsante crescimento ao mesmo tempo que o papel intrínseco dos seus habitantes se torna num importante foco do produto final. O paradigma do crescimento económi-co e expansão citadina versus a perda de identidade enquanto contrastes de superfícies, materiais e sen-timentos é uma das mais importantes inspirações no trabalho de VHILS, visível na sua multiplicidade de materiais e técnicas escolhidas. Neste sentido, pode-mos interpretar a sua técnica escavatória como uma procura pela “essência perdida” de um espaço urbano - de uma cidade - desaparecido entre as construções quadradas e repetidas até à exaustão e publicidades da Coca-Cola. Esse confronto é normalmente expos-to em prédios normalmente esquecidos, tais como os seus moradores, que o artista grava através de um processo de erosão, desgaste e escultura da fachada do edifício, num movimento a que o artista chama “reciprocal shaping”.

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JR e Vhils @ Los Angels

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Vhils com Pixel Pancho, Lisboa

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Afirmar que o resultado é pura poesia visual, na mais respeitável das suas formas, é uma constatação fácil, por-que apesar do processo minucioso a imagem final é simples no modo como comunica “o confronto entre as aspira-ções do indivíduo e o ambiente satu-rado e saturante do ambiente urbano”; como um comentador uma vez disse sobre o jogo de Roger Federer: ele faz aquilo parecer fácil. A mensagem é complexa, mas o método utilizado para a comunicar é cristalino e percetível a todo o seu auditório.

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“Although the first artwork has moved away from graffiti, many of the tools and techniques he resorts to have a clear connection with those used by the most extreme form of this illegal practice, emphasising the aesthetics of visual vandalism.”

Vhils, projecto Crono, Lisboa

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Há algo nesta afirmação que nos deve fazer pensar - não sobre o porquê de ainda hoje considerarmos qualquer tipo de expressão artística um ato de vandalismo, mas o porquê um vândalo ser capaz de comunicar uma ideia tão importante (e todas as suas incríveis ramificações) de um modo tão claro e transversal, e continuar a ser visto como menor? Como podemos conside-rar alguém que tem uma perspetiva tão incisiva sobre as engrenagens do nosso mundo um marginal? A obra de VHILS é prova viva da centralização da marginá-

lia artística na consciência coletiva. Nos últimos tempos, tornou-se fre-quente vermos grupos de pessoas de baldes de tinta na mão pelas ruas do Porto com o intuito de a limpar e, em algumas dessas situações, foi a cidade e nós próprios que ficamos a perder. O trabalho de VHILS torna-se um desafio branquear, não devido à complicada téc-nica a si associada e ao esforço que isso implicaria, mas porque parte das obras do jovem artista trabalham a nível da nossa própria memória coletiva e essa, também, está gravada em pedra. //

Na “Truman Brewery”, Londres

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texto: Ana Meira

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PELO PRIBERAM, DICIONÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA, IDIOTA: ADJETIVO DE DOIS GÉNEROS E SUBSTANTIVO DE DOIS GÉNEROS: 1. QUE OU QUEM SE MOSTRA INCAPAZ DE COORDENAR IDEIAS. = ESTÚPIDO, IMBECIL, PARVO, PATETA; 2. QUE OU QUEM DENOTA ESTUPIDEZ. = ESTÚPIDO, IMBE-CIL, PARVO, PATETA; 3. QUE OU QUEM APRESENTA IDIOTIA. PELO OXFORD DICTIONARY: A STUPID PERSON; 2. ARCHAIC A PERSON OF LOW INTELLIGENCE. RESUMINDO, PELOS DICIONÁRIOS CON-SULTADOS: ESTÚPIDO, IMBECIL, PARVO, PATETA.

Pelos próprios Idiotas: substantivo de dois géneros e adjetivo de dois géne-ros. Alguém que tem Ideias. Alguém que tem tantas Ideias, que forma um coletivo de ideias e arranja maneira, de forma pró-ativa, de as partilhar com outros Idiotas. Provocador, deseja que-brar limites e cânones sociais de forma reacionária e sarcástica. Para os Idiotas-espetadores, atentos durante dois anos a este coletivo de Ideias e intervenções, aqui vai a defi-nição. Os Idiotas são estúpidos, porque a originalidade também tem os seus senãos. Os Idiotas são Imbecis porque a forma melhor de encarar a sociedade

e cultura atuais é a ironia. São parvos porque são sarcásticos, amargos e pro-vocatórios nas críticas eficazes e cer-teiras que fazem. And god knows how difficult is to handle sarcasme isn’t it? São patetas porque a patetice é uma forma de vida que traz grande felici-dade, ao contrário do que alguns não--idiotas possam pensar.Caraterísticas pouco comuns e conven-cionais para um grupo de pessoas com boas ideias, com um ávido desejo de co-nhecimento, autocrítica e análise social e cultural, grande capacidade de traba-lho e de inovação. Ao longo destes dois anos de pura e completa Idiotice, estes

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Idiotas conseguiram converter um grande número de pessoas ao seu modo de estar e de ver o mundo. Partilham e enriquecem-se a eles, e aos outros, com debates e informação sobre a sociedade e a cultura artística e urba-na atual (e nós sabemos o quão necessário isto é). Com um grande sentido de humor e veracidade, com alfinetadas no peito, a quem se sentiu martirizado pelas críticas morda-

zes e peremptórias dos que estão atentos ao mundo que os rodeia, os Idiotas criaram uma comunidade de gente realmente interessan-te, com visões realmente interessantes. Por isso, e vamos atentar que os verdadeiros idiotas estão sinalizados com letras minúscu-las, se calhar aqui jaz a verdadeira questão que nos faz rebolar na cama durante a noite: quem é o verdadeiro idiota agora? //

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PUBLICIDA

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A Mercearia de Arte apresenta a exposição CONCENTRICUM de Add Fuel, como é mais conhecido Diogo Machado, um dos artistas integran-tes da nova geração de criadores de arte urbana. Com inauguração a 1 de Fevereiro, pelas 21h30, a exposição, com curadoria de Lara Seixo Rodrigues, permanecerá até 28 de Fevereiro.Add Fuel, que esteve recentemen-te em Coimbra para a realização do mural “Tem Sempre Encanto”, na rua Fernão Magalhães (junto à Loja do Cidadão), visita de novo esta cidade, revisitando também este trabalho, numa versão “indoor”.“Frequentemente questionada por uma breve descrição quanto ao actu-al momento artístico de ADD FUEL, a resposta quase instantânea e recor-rente tem sido ‘portugalidade’. Mas a verdade, é que fazer conter todo o trabalho deste artista numa simples palavra, é tarefa quase impossível! Se é clara a percepção de um ca-rácter específico da cultura e da história portuguesa, tanto pelo uso da cerâmica como suporte do seu trabalho, como pela utilização dos tradicionais e infindáveis padrões da nossa azulejaria, o trabalho de ADD FUEL oferece-nos adicional-mente uma imensidão de universos imaginários, povoados de criaturas de ficção (quase) científica, que têm tanto de simpáticas, como de assustadoras, tanto de sarcásticas, como de hilariantes. É nestes universos, irremediavel-

mente influenciados pelo mundo do skate, do punk, dos videojogos ou da animação, que encontramos reflexo do (já longo) percurso de Diogo Machado enquanto ilustrador. O mesmo, com que brinca e nos brinda na re-interpre-tação e na re-invenção da azulejaria tradicional portuguesa, alinhando pre-cisa e simetricamente, uma enormi-dade de figuras de data contemporâ-nea, que formam elementos plenos de plasticidade e de historicidade. Creio que é esta característica de ‘du-pla leitura’ (e por vezes tripla, quando se lhe incorpora uma mensagem) que acompanha todo o trabalho de ADD FUEL, seja a cerâmica, a madeira ou a parede em espaço público o seu su-porte, que se assume como um traço inconfundível e extremamente enri-quecedor do mesmo. Esta capacidade de possibilitar uma multiplicidade de leituras por parte do observador ou do transeunte. Esta capacidade ‘do pare-cer e do ser’ num trabalho uno. Esta capacidade de laboração a várias esca-las e camadas, oferecendo igualmente diferentes observações e percepções da história nacional e local, no que a esta nossa herança se refere. É todo este processo de criação de algo novo e único, com base em algo existente, que será exposto em CON-CENTRICUM. Uma pequena, mas con-centrada, deambulação no tempo, forma e método, estendida momen-taneamente ao exterior, revisitando o trabalho ‘Tem Sempre Encanto’ rea-lizado em Coimbra, que renasce agora no interior.” // Lara Seixo Rodrigues

Exposição individual que o artista Diogo Machado aka ADD FUEL em Coimbra, pela Mercearia de Arte Alves & Silvestre

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Crítica por:Ricardo Branco

UMA HISTÓRIA DE AMOR De Spike Jonze (2013)

Uma história sobre um homem que co-nhece uma mulher e se apaixona: ela, Samantha (Scarlett Johansson), é um sis-tema operativo criado para satisfazer as necessidades dos seus usuários e “cres-cer” com eles – uma ideia que já foi antes explorada, ainda que parcialmente, num dos episódios da série britânica Black Mirror. Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor de cartas por encomenda – uma profissão pouco comum, mas que num futuro próximo parece expandir-se bas-tante; estamos no futuro claramente e o mundo é luminoso, linear e colorido, tal como apenas Spike Jonze o poderia filmar

– não temos monstros numa ilha como no seu famoso e anterior O Sítio das Coisas Selvagens, mas há magia no ar de qual-quer das formas. Uma História de Amor é um enorme elogio à solidão, ou talvez ainda mais do que isso: um elogio ao ser solitário. Uma reflexão sobre como o de-senvolvimento tecnológico nos afasta uns dos outros – o ser humano cheio de si e o seu maior fã; o maior fã da escrita de Theodore também é ele próprio e damos com ele perdido em movimentos mecâni-cos e rotineiros, enquanto carrega o seu fardo, o mundo nos seus ombros. Tudo muda quando ele conhece Samantha e não é só ele que se apaixona por ela, ela sente o mesmo por ele e a utopia soa tão bizarra como profunda e emocional; a solidão de Theodore é acolhedora, é um reflector – uma plena armadilha que nos leva à compreensão e num segundo nível à compaixão. A tela é um reflector também e encontramos fantasmas que ficam a assombrar-nos muito depois do plano final; tal como Theodore, apren-demos qualquer coisa sobre o nosso in-terior só e dividido, tão masculino como feminino. A estreia nacional é no dia 13 de Fevereiro e que boa época para uma história de amor.

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NINFOMANÍACA De Lars von Trier (2013)

Antes do primeiro plano do novo filme de Lars von Trier existe um aviso que nos alerta para o facto de estarmos a ver uma versão censurada da sua nova obra: deram-lhe o nome de versão sof-tcore e Portugal só terá acesso a esta versão nas poucas salas em que este filme se encontra em exibição.A polémica foi grandiosamente im-posta – a máquina do marketing não parou de trabalhar e a palavra che-gou a todos os cantos: Lars von Trier estava a filmar sexo explícito e que-ria contar uma nova estória baseada numa mulher que é profundamente viciada em sexo. Percebe-se, de fac-to, o forte apelo às massas, pois con-cluímos que este é um filme feito com o único intuito de chocar essas pró-prias massas. O trágico von Trier que sempre nos presenteou com a sua pe-culiar crueldade e dureza perdeu-se e o resultado são quatro horas (na ver-são censurada da obra) de conceitos

vazios e pouco pertinentes. É claro que a imagem é bonita e o sexo vigorosamente filmado, mas a história de Joe (Charlotte Gainsbourg) não con-vence e até irrita: é preciso ter cuidado quando estamos a tentar ser moralis-tas e uma mulher que está desespe-rada por redenção e autointitulada de má devido ao seu intrínseco vício soa demasiado artificial e até assustador. A sua obsessão com a redenção não está em harmonia com os episódios que são relatados.O filme está dividido em oito capítulos e em dois volumes, a sua estética é moderna e tão apelativa como prazero-sa – as imagens extremamente sensu-ais aliciam tal como Joe alicia as suas presas, é tudo como um anzol, uma data de metáforas resolvidas e entre-gues de bandeja: tudo está mastigado e pronto a engolir. Joe não sente nada e o espectador não tem de pensar em nada também. //

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48 // www.IDIOTMAG.com

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Mosteiro de São Bento da Vitória

Madalena, o coração de Frei Luís de Sousa, estará em cena no Mosteiro São Bento da Vitória de 4 a 14 de fevereiro. Trazendo a importância da sua personagem para o dia de hoje, dá-se corpo aos sentimentos que assombram Madalena. Sim, aqueles que estudamos no secundário.Outro clássico revisita a Invicta: William Shakespeare irá habitar no Porto durante o mês de fevereiro. Primeiro surge Corio-lano, de 6 a 16 de fevereiro, no Teatro Na-cional de São João. A peça, encenada por Nuno Cardoso, consegue transpor a sua ação para os dias de hoje, uma vez que gira à volta de questões políticas, bem ao jeito de Shakespeare. Depois de uma tragédia, chega a vez de uma comédia – Como queiram é encena-da no Teatro Carlos Alberto pela mão de Beatriz Batarda. Depois de Rosencrantz e Guildenstern de Tom Stoppard (enc.: Mar-co Martins) ter passado pelo TNSJ, Beatriz Batarda traz alguns elementos da mesma peça para um palco diferente, como é o

caso de Bruno Nogueira e Nuno Lopes. A Floresta de Arden recebe assim os já co-nhecidos jogos de Shakespeare usados na comédia, a troca de género e identidade relacionados com o amor e que levam às maiores peripécias.No dia 28 de fevereiro, o Teatro do Frio volta em parceria com Regina Guimarães, para uma peça em que traz três persona-gens portuguesas que se encontram numa viagem à boleia para casa. Um fenómeno recente, quando nos lembramos do siste-ma de boleias que existe no facebook.No Rivoli Teatro Municipal, Rita Ribeiro continuará a interpretar a mãe de Gisberta até dia 16 de fevereiro.Este mês, como já sabemos, para além das Leituras no Mosteiro (dia 11 e 25 de feve-reiro com Mestre Ubu (Alfred Jarry) e Pelo Buraco da Fechadura (Joe Orton) ), respe-tivamente, temos também as Quintas de Leitura, no Teatro Campo Alegre, no dia 27 de fevereiro com Entre Nós. Saudações teatrais! / Ana Catarina Ramalho

NESTE MÊS DE FEVEREIRO O PORTO REVISITA OS CLÁSSICOS. ESTAREMOS NÓS COMO OS RENASCENTISTAS, BUSCANDO NOS ANTIGOS A INSPIRAÇÃO PARA ENALTECER A NOSSA PERFEIÇÃO?

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Idiot - Infelizmente não temos páginas suficientes para nos contares todos os teus feitos, portanto resume-nos um pouco da tua história.Alex - Bom, resumindo, eu dedico a minha vida à música desde que me lembro. A minha infância foi rodeada de música e sempre vivi perto de dis-cos e instrumentos. Tudo o resto foi uma evolução natural. Das bandas de garagem até ao experimentalismo, passando por lojas de discos, palcos e estúdios de gravação, tive a sorte de estar em alguns dos momentos-chave na história da música electrónica des-te país. Sou muito grato por isso, mas também pelo facto de ainda hoje po-der fazer música sem barreiras e pre-conceitos - não faço cedências e creio que só assim podemos com esforço e dedicação atingir uma plenitude so-nora que se identifique connosco, ou

então, na melhor das hipóteses, con-seguirmos nós mesmos criar a nossa própria sonoridade - aquilo que defino por assinatura sónica; nesse aspecto, e sem quaisquer falsas modéstias, sei que já atingi esse patamar. Eu não ne-cessito de me ligar a um género (ou sub-género) específico de música. Todo o tempo que investi nisto permi-tiu-me poder abordar qualquer géne-ro musical e incutir-lhe o meu cunho.

Idiot - Ao longo de todos estes anos li-gado à música, actuaste com alguns dos melhores nomes de sempre da música electrónica. Quais destes artistas/even-tos gostarias de salientar?Alex - Ui, já foram alguns, mesmo para um outsider como eu. Recordo-me de nomes como Orbital, Speedy J, Goldie, Krust, Roni Size, Faze Action, Rhythm & Sound, Tikiman, Paul Van Dyk, e

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mais outros tantos, mas os dois mais importantes aconteceram num espa-ço inferior de 6 meses entre si; foram os casos do Photek e do Alan Wilder (Recoil, ex-Depeche Mode), de quem sou actualmente amigo pessoal.Em termos de eventos, orgulho-me imenso de ter representado Portu-gal na segunda edição do Sonar em Barcelona (1995), quando aquilo estava longe de ser o que todos co-nhecem actualmente. 

Idiot - Criaste recentemente uma editora chamada Echomental. Qual o motivo que te levou a iniciar este projecto e que pla-nos tens para ele?Alex - Existem vários motivos, des-de a necessidade de um canal para o output de material meu, complemen-tado com uma dedicada componente gráfica e audiovisual. Existe um plano traçado, o qual espe-ro que decorra da melhor forma possí-vel. Inicialmente serão apenas temas meus com participações ocasionais de vocalistas estrangeiros, mas pode-rá alargar a outros artistas em nome individual. Terão, naturalmente, como em qualquer editora que estar numa linhagem consonante com o catálogo. 

Idiot - O lançamento fica só pelo digital, ou também tencionas editar em vinil?Alex - Serão edições digitais de alta resolução mas existe também o plano

para a edição anual de (pelo menos) um 10” limitado e numerado a 100 unidades, incluindo faixas/versões exclusivas. Todas as capas e rótulos serão diferentes, manuscritos e pin-tados individualmente. Mais que a intenção de criar um objecto de co-lecção, existe a intenção de criar algo único e irrepetível, pelo que não ha-verá reprints dessas edições, nem se-quer a hipótese de se alargar o núme-ro das mesmas - quando é anunciado um vinil da ECHOMENTAL já se deverá saber a fórmula: 1-10-100 : 1 disco, 10 polegadas, 100 unidades.

Idiot - Se fôssemos ao teu estúdio, o que poderíamos encontrar a nível de máqui-nas, hardware e software?Alex - Muita coisa, apesar de já ter sido bastante mais. Quando comecei a trabalhar mais afincadamente em ter-mos profissionais, a música era algo que ainda tinha um input informático bastante diminuto (em termos de sof-tware), por isso TUDO era sequencia-do via MIDI e os samples tinham de ser feitos e armazenados em samplers. Não existiam plugins, por isso tinham de haver sintetizadores e processado-res físicos, o que se por um lado te ha-bilitava a operar tudo sem a hipótese de “save” ou “undo”, por outro tornava todo o processo muito mais interacti-vo; o próprio processo de mistura de um tema chegava a assemelhar-se a

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uma coreografia, uma vez que não ha-via automatismos... Resumindo, ainda tenho bastante hardware, o qual vou dando algum uso regular juntamente com o mundo 100% digital e informa-tizado. No fundo, a inteligência está no modo como utilizas todas as fer-ramentas que tens ao teu dispor. O computador é um mero espelho do teu input criativo.

Idiot - E quando pões música ao vivo, o que gostas de usar?Alex - Se te referes ao facto de pas-sar música (formato dj), posso utilizar 2 ou 3 CDJ 2000, uma mixer (Xone92 ou DJM900), 1 Maschine e 2 processa-dores de efeitos externos. Vou sem-pre munido de backups do Rekordbox (pois é, não uso nenhum dos softwa-res dj), de modo a que apenas uma falha eléctrica possa ser responsável por alguma paragem. Headphones de eleição: Sennheiser HD-25 ou Audio--Technica ATH M-50. Para tocar ao vivo, o setup já se torna mais comple-xo, mas passa por um laptop com ses-sões “desmontadas” dos meus temas em 16 pistas no Ableton, comandadas por 2 Launchpad. As pistas têm saídas individuais através de 2 interfaces áu-dio FireWire agregados em modo brid-ge. Daí é tudo enviado para uma mesa de mistura de 26 inputs com 2 pro-cessadores de efeitos externos nos auxiliares (não uso efeitos virtuais ao vivo, pelo menos no que diz respeito a reverbs e delays). As misturas são feitas em directo. Levo ainda um Pad Kontrol para disparar samples, um te-clado controlador para tocar basslines ou pads (conforme os temas) e ainda me faço acompanhar de um pequeno sintetizador para improvisos.

Idiot - E para finalizar, qual é a tua opi-nião acerca do projecto Idiot Mag, como revista e movimento de cultura urbana?Alex - É bastante positiva. Toda a forma de manifestação artística, por mais pequena que seja, é necessária. Marasmo artístico já temos de sobra; há que agitar! Parabéns por tal. keep it up, keep it alive! // Bernardo Alves

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PUBLICIDA

DE

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Lígia Claro . Foi com muito gosto que aceitei o convite do Nuno Dias e do João Cabral para foto-grafar a primeira exposição urbana no centro de Cedofeita. Lembro-me como se fosse ontem, os balões amarelos de hélio sobrevoavam as ruas e as pessoas paravam na rua e estendiam a mão para os receber. Os idiotas distribuíam boa dis-posição e convidavam as pessoas para passar na recheada galeria de Cedofeita. Eu fotografa-va como se não houvesse amanhã, com vontade que aquele dia não tivesse fim.A partir daí o amor e a amizade por estes idiotas foi crescendo e o cordão umbilical tornou-se cada vez mais sólido. É fácil trabalhar nesta equipa pois o coração dita as regras e a vontade de trabalhar ergue fronteiras novas a cada dia que passa. Só me resta agradecer por todos os bons momentos com vocês e desejar que a Idiot Mag seja também ela um balão amarelo de hélio, pois “o céu é o limi-te”. E com vocês a viagem ainda agora começou. Estamos juntos!

Patrícia da Alcova. Quando me convidaram ao escritório ainda não tinha saído a primeira edição, o projecto já estava em marcha, mas julgo ter sido uma das primeiras a quem falaram. Lembro estar-mos na esplanada a ver o que seria, como poderia participar. Na altura tinha iniciado um novo traba-lho, onde atendia linhas eróticas e respondia pelo nome de Tita. Falei-lhes nisso e em escrever um texto onde explorava o que me ia acontecendo. Rapidamente a Alcova se tornou num folhetim da minha vida sexual, entre o real e a ficção, os fac-tos e o desejado. Durante estes dois anos muita coisa aconteceu. Mudei de lugares, de trabalhos, apaixonei-me e parti o coração umas quantas ve-zes, emergi em períodos intensos de trabalho e outros de diversão. Uma coisa nunca mudou, to-dos os meses, sem excepção, uma alcova seguiu até às mãos do Nuno Dias, às vezes com grandes atrasos para seu desespero... A alcova passou a fazer parte da minha vida, reflexo de experiências e emoções, refúgio de musos e musas, partilha-do, sem vergonha e com orgulho, na Idiot Mag.Vi estes “putos” abraçarem este projecto cheios de freima e abracei-o com eles. Vi o staff crescer, ilustradores brutais passarem, artigos com cada vez mais interesse e irreverência.Mais anos, Idiot, aos mesmos passos largos que até agora foram dados. Obrigada, João Cabral e Nuno Dias, por terem desde o início contado co-migo para esta aventura.<3 Idiot MAg

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Rui Ozorio: Passaram já dois anos desde a altura em que o João Cabral e o Nuno Dias me convida-ram para, periodicamente (uma vez ao mês), ser um idiota. E isto de ser idiota 12 vezes ao ano tem que se lhe diga. Quando entrei, pediram-me para ser responsável por uma secção que teria de criar e que, depois de muitas ideias, dá por nome de Provoc’arte! – o que nunca me impediu de me lançar em esfera alheia com mais algumas ideias, umas mais idiotas que outras, e escrever sobre o que quer que fosse em que a minha vontade se debruçasse, quer gregos gostem quer troianos repilam (conjugação atrevida do verbo repelir). E a Idiot Mag é isto mesmo, é não ter linha edi-torial absolutista, é respeitar as diferenças de opinião, é relevar todas as posições, é dinamizar as artes, a cultura e o mundo da irresponsabilida-de responsável, da mensagem, do manifesto, da contestação ou da concordância, é revelar o que se passa no ritmo acelerado dos meios urbanos… mas acima de tudo, mostrar que há um grupo de Idiotas que não anda a dormir e que partilha essa insónia com milhares de leitores todos os meses! Obrigado Nuno e João por trabalhar convosco e com uma equipa tão Idiota… mas obrigado, em es-pecial, a todos os Idiotas e a ti, em particular, que me lês agora!

Tiago Moura: É difícil interiorizar que já faço par-te deste projeto há quase 18 meses. É difícil, por-que é sempre uma tarefa ingrata olhar para trás e percebermos como mudamos, mas eu lembro-me perfeitamente de sair da minha primeira reunião e ligar à Kiki e falar-lhe do modo como o João e o Nuno vibravam com ideias para a revista. Mais que entusiasmante, era contagiante o modo como eles riscavam no quadro as suas ideias e escre-viam as ideias dos outros com igual entusiasmo. É essa a minha qualidade preferida deste proje-to: a ambição através da inclusão e sentimento de liberdade. Desde que faço parte deste projeto, vi-o crescer de distribuir cartões pela rua a fazer a curadoria de um enorme certame na Alfândega e agora esta semana na Exponor, sempre com esse mesmo espírito de inclusão. O João e o Nuno tan-to ficam entusiasmados com a possibilidade que lhes é dada a eles em arquitetar um evento como pelo espaço que vão oferecer aos seus convida-dos. Eles entendem que tudo o que os criadores precisam é de uma plataforma para serem ouvi-dos e eles, mesmo que não seja algo da sua área de conforto, são os primeiros a dizer Força e isso é o mais impressionante deste projeto e é algo que não vejo desaparecer tão rapidamente das suas páginas: físicas ou virtuais.

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Mariana Vaz. É preciso um idiota para reconhe-cer outro idiota? Neste caso sim...Apesar de ser um fenómeno recente, a minha colaboração na Idiot Mag remonta ao colorido passado académico que temos em comum. Frequentámos as mesmas salas de aula, vimos os mesmos concertos, fomos às mesmas festas, tivemos os mesmos amigos, mas quis o destino que nunca antes de 2013 nos houvéssemos cruzado. A semente da idiotice contudo germinava já forte dentro de mim, bem adubada por um passado ligado ao design, à arte urbana, e à dita cultura de rua. Tal como num mau episódio de Os Imortais, quando a revista saiu em 2012, o meu sexto sentido disparou ao sentir a proximidade da sua contra parte, ainda que ape-nas em formato bi-dimensional. Vitimizou então a minha curiosidade que foi automaticamente ar-rastada até às páginas da publicação... Lá encon-trei um sem número de caras conhecidas, locais familiares e ideias e eventos partilhados – estava em casa. Podia tudo ter ficado por aí; podia nem ter ligado o computador naquele dia, podia ter ido mais cedo de férias; podia nem ter o meu disco externo comigo, mas a verdade é que quando em Agosto o acaso me colocou diante dos olhos o pedido de colaboradores provocou em mim a der-rocada instantânea de uma década de parvoíce reprimida. Esta veio a materializar–se no envio de um mítico pdf ao estilo best-of. A partir daí eu e a Idiot Mag temos vindo a coexistir salutarmen-te com apoio e dedicação mútuos mostrando ao mundo que a farinha do mesmo saco só unida é que faz pão. Agradeço ao João e Nuno pela com-preensão, paciência, motivação, exultação, agas-tamento, curiosidade e interesse que tiveram para comigo e é com gosto que vejo a publicação expandir-se muito para além do papel e ecrã. Que esta edição de aniversário seja apenas o começo do começo! Parabéns

Carolina Hardcandy. O meu primeiro texto na Idiot Mag foi publicado em julho de 2013, quando um dos colaboradores convidou-me para escrever sobre a Marcha do Orgulho LGBT do Porto. Alguns dias depois, os editores propuseram-me que as-sumisse o “Homogéneo”. Encontrei na Idiot um espaço onde posso expressar as minhas opiniões e debruçar-me sobre os temas que despertam o meu interesse, sem para isso ter de me censurar ou ser censurada. Trata-se de um grupo de idio-tas que, como o nome indica, têm as cabeças a fervilhar com ideias e partilham-nas, mensalmen-te, com os seus leitores. Não posso dizer, em boa verdade, que assino por baixo de tudo o que aqui se escreve: não somos uma manada, temos por vezes ideias divergentes e esse talvez seja o se-gredo do sucesso. Não seguimos uma partitura, não fazemos consensos nem filtramos argumen-tos e é por isso que tenho, durante os últimos oito meses, participado deste grito coletivo onde cada uma das nossas vozes pode ser ouvida. “Porque há o direito ao grito. Então eu grito.”

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Ana Anderson: A primeira vez que ouvi falar de algo que acabou por se tornar na Idiot Mag, era só mais uma noite, daquelas com muita bebida, parvalheira, música, mais bebida! Mas já nessas palavras verdes se sentia a agitação do João e do Nuno cheios de ideias com vontade de realmente passar à acção e partilhar a sua visão.Entretanto, lançaram a edição 00 e como nes-tas coisas o crescimento é rápido, já estavam à procura de mais redactores para alargar os te-mas da revista, eu propus-me a uma experiência e lá fiquei a tratar da parte de moda. Foi aqui que nasceu o Idiota de Rua, que como sabem se trata de uma reportagem onde fotografamos pessoas nas ruas do Porto com um estilo pró-prio e jovem e já lá vão quase 2 anos que o 1º Idiota de Rua foi fotografado (ainda me lembro, o Mário, na Alfandega).Com dois anos repletos de histórias, Idiot Mags, Idiot Arts, Concursos, Passatempos, só me res-ta desejar a todos os idiotas e não idiotas (pelo menos ainda) muitos parabéns pela idiotice e que venham mais anos com muito sucesso e a “idioti-ficar” a malta.

Pedro Pimenta. Quando conheci este proje-to defini-o como: uma boa ideia. Realmente era uma criação interessante que poderia fazer-se ouvir e ao mesmo tempo divertir. O conceito de Idiota, como criador de ideias, era algo excêntrico que me suscitava enorme curiosidade e ao mes-mo tempo dúvidas; não era que não confiasse na equipa de profissionais que estava por detrás desta obra-de-arte mas sim pela falta de adapta-ção das pessoas ao que não é habitual. Acompa-nhei de perto a evolução deste projeto e cheguei mesmo a trabalhar bons velhos tempos o concei-to de Idiota. Dia após dia apercebia-me da dedi-cação e força de vontade deste grupo de jovens, que ao contrário da generalidade, não se queixa-va de falta de emprego ou de trabalho, mas sim de falta de tempo para trabalhar. Constatei que afinal de contas um Idiota não era apenas um criador de ideias, era sim um profissional dedica-do, que lhe corria nas veias a ambição de singrar na vida, de querer a sua própria cidade vangloria-da e, acima de tudo, faminto por trabalho. A Idiot deixou de ser unicamente uma ideia. A Idiot passou a ser um projeto empreendedor com um passado ambicioso, um presente de guerreiro e um futuro de glória!Afinal de contas… A Idiot ainda vai à lua!

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Tish. A Idiot já tinha um ano quando me juntei à equipa. Era das poucas publicações online que me enchiam os olhos: as fotografias incríveis da Aline, a cobertura fotográfica do graffiti numa altura que este viu um boom surpreendente na cidade - a par da “censura” do anterior executivo - e o aspecto gráfico da revista. Apaixonada por fotografia, literatura, cinema, música (ai os beats), arte e, claro está, a urbana, vi na Idiot uma segun-da casa. Juntos, acrescentámos rúbricas à revista, reforçámos a equipa e todos os meses (tentamos muito, muito, ser pontuais, mas às vezes a vida é madrasta) parimos mais uma edição. E parir não é pêra doce. A Idiot é uma mãe solteira, indepen-dente e sem preconceitos. E isso… faz confusão a muita gente. Eu vou continuar por aqui a suge-rir bons domingos chuvosos e a entrevistar mú-sicos, writers e ilustradores fantásticos sempre que posso. Não vejo outra forma de fazer a coisa. Parabéns a nós.

Catarina Ramalho: Costumam dizer que a partir dos “-intes” o tempo passa a correr e, a verdade é que, há já um ano que estou nesta família de Idiotas. Sempre fui uma rapariga que via na escrita um refúgio e, quando o Tiago me falou que na Idiot estavam à procura de mais idiotas… Nem hesitei. Vinha de um projeto que tinha falhado e mal po-dia esperar para pôr as mãos numa massa nova. E a bem dizer… todos sabemos que idiotas são aqueles que têm as melhores ideias.Acho que esta foi uma das melhores que tive.E a Idiot Mag deu-me isso: a liberdade para es-crever. E nestes dois anos que passam, nestes 365 dias em que fiz parte, vi esta revista crescer a cada passo que dá e fico satisfeita, aliás, satis-feitíssima, com os resultados. Acho que todos o merecemos, principalmente o Nuno e o João que recebem todos de braços abertos e têm ideias que mais ninguém tem. Parabéns, então, Idiot: por estes dois anos de criatividade, recheados de projetos fantásticos e cheios de sucesso. Que venham mais!

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Molli. A Idiot significa muito pra mim. Comecei a ser idiota quando surgiu a ideia do documen-tário de um ano da Idiot mag. Fazer esse docu-mentário foi uma experiência muito boa, passa-mos por bons momentos, sem duvida! Além do documentário, a Idiot proporcionou-me outras experiências incriveis, sempre ligadas à cultura claro, e que me marcaram bastante. Felizmente agora estou afastada por bons motivos, mas por muito longe que esteja tenho a Idiot sem-pre aqui comigo. Torço muito pra que cada vez tenha mais sucesso e claro que quando voltar vou lutar por isso com vocês <3.

Ricardo Branco. Fui muito bem recebido pela idiot como redactor há bastante pouco tempo e ainda assim sinto-me já parte de algo grande e bonito. O ambiente acolhedor e familiar reflecte-se em toda a equipa e em todo o trabalho desen-volvido por esta publicação.Queria dar os meus parabéns a todos os idiotas pelo segundo aniversário da Idiot Mag e agrade-cer por poder sentir eu também, em tão pouco tempo, que posso celebrar convosco. Parabéns e muito sucesso.

Ana Meira O meu testemunho deverá ser o mais recente como colaboradora Idiota, mas já bastante antigo como seguidora Idiota. Juntei-me agora ao projeto da Idiot e reconheço que o meu primeiro texto como Idiota deu-me um grande gozo a es-crever. Graças ao João Cabral e ao Nuno Dias, ofi-cialmente, tenho o crachá de Idiota ao peito. Agra-deço por isso.A Idiot será espelho do que aconteceu nos últimos dois anos, um projeto de pesquisa e sinceridade permanentes. A veracidade por entre os meandros dos textos fabulosos que estes Idiotas escrevem são frutos de pesquisa e escrutínio da imensa informação que nos vem parar à mão a todos os minutos do dia. Espero fazer parte deste projeto pelos conteúdos realmente interessantes e enri-quecedores que este grupo de pessoas consegue cozinhar até sair uma revista com tanto para ofe-recer. Daqui a dois anos, espero ter contribuído para colecionar bons artigos desta publicação. A todos os Idiotas: keep on going!

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Open Walls, Baltimore, EUA fotografia: Smart Bastard

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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos… “felicidade [filisidadi]. s.f. (Do lat. felicitas, -atis). 1. Estado de plena satisfação íntima , de bem estar, no qual se encon-tram satisfeitas todas as aspirações do ser humano; estado de que é feliz. ≠ INFELICIDADE “Eu sim tinha nascido para gozar as doçuras da pás e da felicidade doméstica” (GAR-RET, Viagens, p. 432) (…) 2. Sorte favorável; acontecimen-to feliz ou venturoso ≈ VENTURA ≠ AZAR, INFELICIDADE. Teve a feliciade de o encontrar. Foi uma felicidade haver alfuém ali perto para a socorrer. “faziam-me sonhar a posse dessa adorável criaturinha como uma felicidade que eu não merecia.” (J. RÉGIO, Vestido, p.16) Ter a + de. 3. Us. pl. Bom resultado ou sucesso de uma acção, empreendimento… ≈ ÊXITO, PROSPERIDADE.(…)” in Dicionário da Língua Portu-guesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

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Da foda e da fuga Patrícia sabia muito. Da dor que corre na alma e da absoluta cura de um corpo disponível para devorar ou ser devorado, do pro-cesso de tirar a dor por meio do prazer, nisso des-de há muito era mestra. Sabia que a melhor forma de tirar o aperto da garganta e do coração era através de suor e quando sofria reconhecia nela o desejo voraz e animal de foder alguém. Com S. aprendia outras moedas, outros motores de de-sejo, a S. desejava quando estava feliz, com ele queria partilhar o que de bom sentia com o corpo nu e os peitos eriçados de encontro ao peito dele. O primeiro indício tinha sido num início, quando a história dos dois se começava a desenhar de for-mas pouco prováveis e se tornavam mais amigos e companheiros do que algum dia julgariam.Feliz, depois de uma primeira noite com um aman-te que tanto demorava a concretizar-se, chegou a casa, a cheirar ao gel de banho orgânico de bou-tique francesa, a comboio e metro e a despedidas bem dadas. Não passava muito das sete da ma-nhã e correu para o quarto dele, a avisar que tinha chegado, que estava bem e inteira. Naquele mo-mento trazia afecto no corpo todo, e ao vê-lo na cama, mergulhou e beijou-lhe a cara tantas vezes quanto as que tinha sido beijada, ria, abraçava-o e contava-lhe o quão feliz tinha sido. Cada boa notícia que tinha era um salto em direc-ção ao corpo dele que dava, um gesto de ternura que os aproximava. E o tempo era de prosperidade, contra tudo o pre-visto, de concretizações que há muito esperava.Houve um dia de sorte, em que acordou com notí-cias prósperas e com outras se tinha deitado.Ao cruzar-se com ele, a comer cereais, enquanto ela fazia um chá para acordar, não resistiu a che-gar-se perto e braços pendurados no seu pesco-ço, sorria e contava-lhe as boas novas, de calças de pijama e um pedaço de pano velho, em tempos uma t-shirt, a cobrir-lhe o corpo, Abraçou-o uma, duas vezes mais e no fim de um abraço a pele da

cara roçou-lhe a barba enquanto lhe sentia o chei-ro. Os dois tremeram e nasceu um beijo. As mãos dele, já enlaçadas à volta da cintura, apertaram um pouco mais e correram-lhe a linha, parando por momentos nas cicatrizes que Patrícia tinha na anca. Outro beijo, pausado, doce, e Patrícia, em silêncio, pela mão, conduziu-o ao quarto dele. Meigos, beijaram-se, as mãos no emaranhado que era o cabelo dele, a boca dele enterrada no ombro, a sorver-lhe a pele. Ainda de pé, ela já nua e ele só de jeans, baixou-lhe as calças enquan-to mergulhava a boca de encontro a ele, primeiro a língua estendida a correr toda a extensão de um pau que era lindo, as mãos a acariciarem-lhe o ventre, uma a ir-lhe buscar a dele para que lhe segurasse o cabelo. O nariz a cheirar-lhe a virilha e a boca a ir subindo até engolir a cabeça, com o polegar parado no freio, um novo mergulhar e toda ela estava dentro de Patrícia, uma delícia de babar, enquanto sentia a pressão na garganta. E S. com uma cara de prazer, a dizer “calma, não vou aguentar muito mais”. Subiu, beijou-o com ganas e de quatro, na cama dele, olhou para traz procu-rando-lhe os olhos para lhe sussurrar: “Fode-me, que estou tão feliz!”.No emaranhado de suor em que rebolaram, Patrí-cia lembrou, que da mesma forma que se fode a dor para fora, se convida a felicidade para dentro. E a cada investida, com doçura, tesão e conten-tamento, se adivinhavam novas venturas entre os dois corpos, empreendimentos de valor com espaço para sortes diferentes, e uma partilha, de felicidade, imensa. //

Da vossa, que sabe que o que importa é ser feliz,

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GALERIA DE STREET ART DE CEDOFEITA BY:

RUA DE CEDOFEITA 455, PORTODAS 10H ÀS 22H

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http://www.youtube.com/watch?v=cZBS-OYcztw

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Galeria Street Art Cedofeita by Idiot Mag“Uma mostra permanente de arte urbana com alguns dos melhores criadores nacionais” in Time Out fev.14

VÊ O VÍDEO AQUI:

Em exposição: Hazul | Fedor | Mots | Alma | Go Mes | Virus | Mr.Dheo | Youth One | Eime | Draw | Maniaks | Third | Laro Lagosta | Eky One

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Vhils in Shanghai 2012fotografia: João Moreira

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E tudo começou como? Os jornalistas empenhados na procura da verdade ou na venda de mais notícias (o factor con-correncial é cada vez maior), decidem fazer papel de detectives e comentam as possibilidades em causa, coisa que os investigadores não fazem enquanto não apuram a verdade. A coisa ganha uma dimensão viral, com a ajuda de to-dos os motores que sempre foram “po-liticamente” contra as tradições aca-démicas e das redes sociais (que mais não são do que propulsores da estupi-dez geral) e o caos fica instalado: Há notícia para cerca de três meses!

Aparecem uns senhores muito inteli-gentes, muito intelectuais, muito do-nos de toda a verdade que dizem tudo o que lhes apetece sobre a praxe, pes-soas que nunca andaram nas faculda-des também são honoris causa do as-sunto, porque o importante, nos dias que correm, é que toda a gente tenha de ter uma opinião, mesmo que não fundamentada, sobre o que quer que seja. O Pacheco Pereira (peço perdão, Excelentíssimo senhor Professor Dou-tor) escreve um texto em que mistura trajes com Padres e Padres com Praxes, e mistura a coisa de tal modo que até parece verdade… mas vai-se a ver e não percebe absolutamente nada (dei-xe-me dizer-lhe que o traje académico serve para não haver distinções sociais entre os alunos e não para estes anda-rem a praxar). De repente, a praxe é o mal de to-das as coisas ou a coisa de todos os males. Até penso que temos a dívida que temos por causa da praxe, que quem dá peidos mal cheirosos na via pública faz parte da praxe, que quem é mal-educado é da praxe, que todos os presos estiveram na praxe, que a falta de dinheiro nas carteiras se

A PRAXE ACADÉMICA TEM SIDO ALVO DAS MAIS DIVERSAS CRÍTICAS E DAS MAIS FORTES REPREENSÕES SOCIAIS NOS ÚLTIMOS TEMPOS. A CAUSA DISTO TUDO DEVE-SE AO FACTO DE TEREM MORRIDO, INFELIZMENTE, SEIS JOVENS NA PRAIA DO MECO, ESPECULA-SE QUE DURANTE UMA SESSÃO DE PRAXE!

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deve ao facto das praxes terem ido à conta sem pedir! Outro dia, um cão-zinho fez um cocó que eu ia jurar que tinha mão da praxe! E assim, a praxe serve para tudo!Agora, os mais acalorados devem es-tar a pensar que até eu sou desses movimentos com rituais secreto-aca-démicos, tais são as barbaridades que eu escrevo. E em verdade vos digo (citação de Cristo que, julgo, também andou na praxe) que estudei na Uni-versidade, fui praxado e praxei. Hoje há quem tenha medo de dizer que é da praxe, porque há logo uma cente-na de intelectuais de trazer por casa a fazer terrorismo psicológico (isto leia-se praxe anti-praxística) … mas eu não tenho medo de assumir publi-camente que andei nas praxes e que fiz uns anos de carreira na coisa, com muito sucesso (devo dizer). Quando fui praxado andei de quatro, ras-tejei na lama, andei nu no meio da rua, fiz trinta por uma linha e nunca me senti ultrajado ou diminuído, sempre andei de sorriso na cara e a divertir-me como uma criança… e que saudades já eu tinha de quando era criança (esta é para lembrar o Tony Carreira, que também ele, possi-velmente, andou na praxe). Uma vez senti-me humilhado (sim é normal termos estas coisas), mas essa

h u m i l h a ç ã o foi no traba-lho (já depois de me licenciar), mas essas praxes constantes são sempre desculpa-das (é a vida… tens de te habituar)! Quando foi a minha vez de praxar, a coi-sa não mudou muito… nunca gostei de ver ca-loiros de quatro (sempre lhes ensinei a andar er-guidos), nunca obriguei

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ninguém a olhar para o chão para conhecer apenas a cor dos sapatos (porque já se sabia que eram pretos e porque a minha mãe sempre me en-sinou a olhar nos olhos das pessoas enquanto estas me dirigiam palavras), sempre disse que, juntos, seriamos

uma comunidade de gente inte-ligente, de diamantes em bruto, uma milícia capaz de derrubar governos e políticos e tudo! Porque praxar é isso… é ensi-nar, é ajudar, é dizer: vocês uni-dos jamais serão vencidos!

As pessoas que fazem o contrário e humilham… essas não dignifi-

cam a comunidade estudantil e de-vem ser chamadas à perna! É certo

que a maior parte dos movimentos praxísticos das faculdades brinca

aos jogos de poder e infelizmente não praxa! Como ouvi há uns dias… são Praxenetas da coisa! (Os exemplos de quem manda no país, desde há 100, anos também não ajuda!). Mas a par desta situação de emergên-cia, fomo-nos esquecendo que seis pessoas morreram num acidente, que todos especulamos ser culpa da praxe! E já nem queremos bem saber se eles morreram ou se as famílias estão a so-frer, porque o importante é culpar a pra-

xe, que é uma pessoa má! Ou não po-dendo humanizar a mesma, culpar a sua personificação no sobrevivente, e fazer um linchamento público (em jeito inqui-sitório) de alguém que perdeu seis ami-gos num fim-de-semana (com ou sem praxe), que enfrentou a morte dos seus companheiros e que, possivelmente, estará a culpabilizar-se por estar vivo (mas aqui estou também eu a especular como todos o fazem, o que não quero). As pessoas esqueceram-se de ter piedade, de ajudar, de amar, de pro-teger… para assumirem espelhos ou reflexos de raiva, ódio, desamor e de perversão. Hoje, estão todos assim, culpados por uma sociedade que in-crimina e não ajuda… Se calhar a cul-pa também é da praxe e neste caso, este tipo de gente que aponta e quer mal, este tipo de gente que especu-la porque sim e porque não… são os grandes doutores da praxe, aque-les que na faculdade apelidamos de Doutores de Merda (literalmente e com alguma experiência)! Abusos existem e devem ser preve-nidos, encontrados e punidos com seriedade… mas quem vê só para um lado, é porque só olha para o seu um-bigo descerebrado como um caloiro que obedece à corrente, e se humi-lha nessa praxe que é dizer parvoei-ras com ares de Doutor! A realidade é dura mas é a realidade! // Rui de Noronha Ozorio

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HÁ DUAS PALAVRAS QUE ME TÊM ASSOMBRADO NESTAS ÚLTIMAS SEMANAS: “PRAXE” E “REFERENDO”. NÃO SEI SE VOCÊS JÁ SOFRERAM DESTE MAL (TENHO A CERTEZA QUE MUITOS ANDARÃO A PADECER DO MESMO), MAS PARECE-ME VERDADEIRAMENTE FASCINANTE O QUANTO DUAS PALAVRINHAS TÊM O DOM DE ESTRAGAR O DIA DE UMA PESSOA. TENTAMOS NÃO PENSAR NELAS, QUEREMOS FAZER A NOSSA VIDA SOSSEGADOS E DE REPENTE, VINDAS DE TODOS OS LADOS, LÁ SURGEM DE NOVO. E SE ESCONDER A CABEÇA DEBAIXO DOS COBERTORES NÃO NOS LIVRA DAS ASSOMBRAÇÕES (E, CONSEQUENTEMENTE, DE EXPERIMENTAR AQUELA SENSAÇÃO QUE ESTÁ ENTRE O MEDO E O VÓMITO), FALAR DO ASSUNTO TAMBÉM NÃO COSTUMA AJUDAR. É DAQUELAS COISAS NAS QUAIS NEM QUEREMOS MEXER PARA NÃO CHEIRAREM PIOR. MAS COMO FECHAR OS OLHOS E DIZER AMEN ÁQUILO QUE É, PARA NÓS, UMA VERDADEIRA ATROCIDADE? Carolina Hardcandy

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Bem sei que os dois assuntos não estão mini-mamente relacionados, mas ultimamente apa-recem de mãos dadas na minha cabeça. É que, para mim, este referendo continua a asseme-lhar-se a uma espécie de jogo de crueldade. Senão vejamos: o projeto de lei relativo à co-adoção por casais do mesmo sexo foi aprova-do em maio de 2013, tendo sido travado pela proposta de referendo apenas em outubro do mesmo ano. Durante meses a fio, as famílias homoparentais portuguesas acreditaram que os seus direitos seriam finalmente reconheci-dos e, às portas da votação final, veio a JSD pregar-lhes uma rasteira. E eu olho para isto e pergunto-me: estaremos a ser praxados? Te-remos mesmo de ser postos à prova e fazer corridas de obstáculos sem sentido para con-seguirmos aquilo que merecemos á priori? A analogia ganha força quando relembro que a medida foi aprovada na Assembleia da Repú-blica com os votos a favor apenas do PSD, que instituiu a disciplina de voto para esta matéria.

Depois da votação, vários deputados do par-tido manifestaram o seu descontentamento, sublinhando que não haviam expressado aqui-lo em que realmente acreditam (desculpem--me se estou a extrapolar, mas tudo o que me ocorre é “peer pressure”). Após a decisão da Assembleia da República, coube a Cavaco Silva dizer de sua justiça, podendo vetar ou promul-gar a ação; optou, no entanto, por manter-se mudo e quedo, remetendo-a para o Tribunal Constitucional, a fim de fiscalizar a legalidade e a constitucionalidade da mesma. Até a data em que escrevo este texto (dia 5 de fevereiro) não foi ainda anunciado nenhum veredito, mas a resposta parece óbvia até para um leigo. Para a obtermos, basta abrirmos a Constituição da República Portuguesa, cujo Artigo 13º determina, desde 2004, a proibi-ção da discriminação fundada na orientação sexual. A constitucionalidade não parece ser, no entanto, um entrave para Hugo Soares, lí-der da Juventude Social Democrata e formado

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fotografia: Horta do Rosario, Marcha LGBT Porto 2012

em Direito, que declarou a plenos pulmões, no debate transmitido pela TVI24: “Todos os direitos das pessoas podem ser referenda-dos”. Esta frase, talvez pelo seu caráter sui generis, lembra-me uma outra que tem sido amplamente partilhada nas redes sociais: a de um defensor da praxe que afirmou, num debate sobre o tema, que “temos o direito de ser humilhados”. E isto põe-me a pensar: vive-mos mesmo num país onde os direitos funda-mentais são uma coisa discutível, mas onde se defende com unhas e dentes o direito à humilhação? E este simples pensamento, não é já humilhante que chegue? E já que estou a fazer perguntas, onde está o meu direito em não ter de ouvir e pactuar com a homofobia mascarada de intenções democráticas? Hugo Soares defende que o referendo é necessário porque é preciso ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre o assunto; mas será que sofre de uma surdez momentânea? É que desde a aprovação desta medida, são

incontáveis as vozes que se levantaram para condená-la. No dia 18 de janeiro quando esteve em Braga, cidade que o elegeu, não terá ouvido a manifestação que o esperava? Pior: não conseguirá já ouvir a sua própria voz no vídeo que protagonizou para a cam-panha Tudo Vai Melhorar, onde afirma que “Vale a pena acreditar que tudo vai ser dife-rente. Vale a pena ter esperança”? Ainda a propósito, a campanha Dislike Bullying Homofóbico, promovida pelo Gover-no Português e pela Comissão pela Cidadania e Igualdade de Género, aconselha aqueles que vivem ou testemunham episódios des-te tipo a denunciá-los. Tendo isto em conta, quem é que hei-de denunciar primeiro? Como nota final, e ainda neste meu monólogo inte-rior, ocorre-me que será talvez injusto com-parar as palavrinhas aberrantes que me as-sombram: é que na Academia, a praxe é para quem lá aparece, mas em Portugal para ser-mos “praxados” basta existirmos. //

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Aline Fournierwww.lafouinographe.com

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Brighton UKJanuary 2014

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Tuesday Sakurahttps://www.facebook.com/tuesdaysakura

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fotografia: Horta do Rosário

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Será que queremos uma sociedade as-sim? Será que conseguiríamos existir sem a meta da felicidade? Será que já assim vivemos? Será que somos felizes? Será que estamos a deixar que os ou-tros nos ditem a liberdade de ser feliz?A felicidade não é um direito que se possa questionar, a felicidade nem sequer é um direito… mas uma liber-dade que deve ser sempre sonhada, conquistada, garantida e espelhada… No máximo, a felicidade será um Dever fundamental de cada um de nós, pelo que deverá ser um motor de contami-

“A MELHOR MANEIRA DE FAZER AS CRIANÇAS BOAS, É FAZÊ-LAS FELIZES” Oscar Wilde.

nação e não um poço de invejas, ou um recreio de manadas bem ordenadas onde todos falam a mesma língua.O ano, que começou há um mês e pouco, nasceu infeliz! Não falo da cri-se económica porque o Euro só traz problemas e nem sequer o pedimos! Falo desta conversa que anda à volta da Co adopção por casais homosse-xuais e dessa decisão ter sido pro-posta para Referendo, depois de já ter sido aprovada em sede parlamen-tar! É, sem dúvida, um assunto muito infeliz das duas partes, porque carre-gado de segundas linhas, de obscuri-dade e perversidade. Antes que haja qualquer tipo de confu-são no que toca à leitura do meu pen-samento, devo dizer que defendo que as crianças para adopção, deveriam ser adoptadas por famílias que as pu-dessem amar e educar no seu superior interesse, sejam elas famílias tradicio-nais, monoparentais, homoparentais (isso é o que menos interessa)…

ERA UMA VEZ UMA SOCIEDADE QUE SE ESQUECEU DE SER FELIZ! ERA UMA VEZ UMA ESPÉCIE QUE APAGOU, DE TODA A MEMÓRIA, O CAMINHO DA FELICIDADE! OS QUE AINDA LEMBRAVAM ERAM SOMENTE OS SAUDOSISTAS SOLITÁRIOS…

Por Rui de Noronha Ozorio

ERA UMA VEZ A SOCIEDADE!

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Na realidade, uma criança quer ser feliz, simplesmente feliz! As crianças têm uma simplicidade no afecto que, nós adultos, fazemos sempre o favor de esquecer! Tudo seria tão mais belo e decente se as crianças, cuja família é o Estado, fossem o centro das pre-ocupações de quem propõe este tipo de acções políticas! Ora não é o caso. E deixemo-nos de rodeios! A esquerda fala em direitos de minorias, como se os homossexu-ais tivessem de ter direito a adoptar! Pois não têm nem têm de ter! Nem Homossexuais nem Heterossexuais! A adopção é um direito da Criança! Mas a esquerda gosta de vincar as di-ferenças e, sem se aperceber, motiva o preconceito! Mas fá-lo porque en-riquece os boletins de voto, apoiada por um lobby cada vez mais podero-so, mas que não passa disso mesmo (dum lobby) e que nem representa sequer a comunidade homossexual, mas a perversão da igualdade! Com

a Co adopção passa-se exactamente a mesma coisa… Não deveria interes-sar se o companheiro é homem ou mulher… é já pai e mãe e isso é o que conta! Enquanto estivermos a discutir se determinada orientação deverá fa-zer parte dos requisitos para a concre-tização da adopção, estamos a deixar as crianças no meio campo do jogo! De um lado, a esquerda tenta marcar, do outro a direita tenta derrubar… e a criança fica ali abandonada sem nin-guém que pegue nela e a defenda dos remates mais violentos! A direita, mais conservadora e numa atitude bem mais salazarenta, não quer ganhar o jogo, mas tem outro campeo-nato a decorrer: a Austeridade! E, como tal, precisa de desviar as atenções e arranjar um “faits divers” para distrair a populaça enquanto lhes vai ao bolso! Um tonto distraído é sempre mais fácil de enganar! Para isso, arranjaram ma-neira de gastar milhões de euros para referendar uma matéria já aprovada

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pelo Parlamento: a Co adopção! O CDS, que também está metido até ao pes-coço no campeonato austero, decide dar uma de Pilatos e lavar as mãos de toda esta história dizendo que “Não in-viabilizaremos o referendo mas o PSD está sozinho nesta matéria”, o que é o mesmo que dizer…. “Oh pá vocês dão a cara e a gente ajuda, mas ficamos bem no quadro”. Propor um referendo sobre esta matéria é tão perigoso como fazer um sobre a pena de morte! É um aten-tado aos direitos das crianças, é um atentado terrorista à construção da fe-licidade! Ninguém tem o direito de o fa-zer! É que já nem me refiro aos milhões que se gastam num referendo, mas à intimidade de cada família! Não se iludam! Isto é um jogo político, por mais que venham dizer que não o é e que estão muito preocupados com o assunto! Uns preocupam-se em festejar com bandeiras coloridas, ou-tros com bandeiras “Troikadas”. Mas já dizia o outro que “o que é preciso é animar a malta”.Se quisessem fazer as coisas de for-ma séria, poderiam fazê-lo tão mais

facilmente! A esquerda e a direita se estivessem, de facto, interessadas em proteger as crianças… propunham leis que as defendessem. A Consti-tuição da República Portuguesa pre-vê que ninguém pode ser privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever, por razões de orientação sexu-al (art. 13º nr2), ou seja, uma criança pode ser adoptada por qualquer tipo de família (tradicional ou homoparen-tal), porque não é a orientação sexual dos pais que vai interferir no assunto! Alterem as leis da adopção, mas não as transformem num carnaval perver-so e oportunista! Nem vou entrar na discussão da influência sexual dos pais sobre os filhos, porque isso já se percebeu que não existe, senão nem haveria homossexuais com os exem-plos que têm em casa! Hoje, falo do direito à liberdade de ser feliz! Invertamos o rumo desta infelici-dade que se iniciou este ano, para não deixarmos que um dia mais tarde… as avozinhas não contem aos netos aquela história da sociedade que se esqueceu de ser feliz! //

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SADNESS IS MY BOYFRIEND: Eu estou sozinho há dois anos e alguns meses. Reparem que digo sozinho e não solteiro. Sim, é fevereiro e eu vou falar disto. Durante grande parte destes dois anos, tentei sempre convencer-me que era uma opção minha e não falta de sorte – o que no final das contas é a verdade.Quando começou, começou porque eu sentia-me perdido num ciclo de relações emocionalmente desequilibradas. Tinha acabado o meu mestrado e qualquer objetivo que eu idealizara para mim pró-prio desaparecera.Quando começou, fiz o que alguns fazem quando algo acaba: explorei.Nessa altura, sentia-me fresco e não tinha medo de me atirar para mais que um projeto ao mesmo tempo e acabei crescendo mais nesses 3 ou 4 meses iniciais que nos 5 anos que passei na fa-culdade a estudar. De um dia para o outro acordei e sentia-me diferente; sentia que aquele era o momento para fazer, não - para concretizar aque-les sonhos que outrora me pareceram ridículos. E de uma Lua para o Sol fiquei parvo. Fiquei adulto, também, porque cronologicamente o sou, mas fi-quei parvo e, como parvo que ficara, não demorei a apaixonar-me por tudo e por qualquer coisa. É um traço meu de que gosto particularmente e que não desejo perder tão rapidamente: maravilho-me facilmente com o mundo e com muitos dos seus detalhes (afinal de contas, está a escrever a pes-soa que deitou uma lágrima a primeira vez que viu a árvore de Natal, da Avenida dos Aliados, ilumina-da). Confesso que, nesses tempos, tomei algumas decisões erradas ou menos moralmente corretas, mas na altura apeteceu-me ceder aos convites que a vida me fazia. Sabia-me tão bem acordar na manhã seguinte (ou tarde seguinte) e não sentir

culpa. É, de facto, um sentimento incrível, sentir que as nossas ações não deixam marcas ou cau-sam consequências.Mesmo que elas acabem por aparecer, eventualmente..Quando começou, eu planeei voltar a fazer coisas com que me identificava, ao invés de estar cons-tantemente a gastar metade da minha energia em preocupar-me com o que o outro está a fazer e a sentir. Novamente, na altura, foi o que queria fazer e foi um sentimento libertador e tentei to-mar proveito dessa sensação – da minha própria maneira. Para mim, isso traduziu-se, também, em participar em cursos e em mais projetos que me interessassem (parêntesis curvo: a minha própria presença nesta revista advém dessa altura). E, quase como aconteceria no segundo ato de uma comédia romântica, eu estava a voltar a sentir aquele sentimento nunca melhor representado que numa cena do filme As horas, em que a per-sonagem de Meryl Streep compara o seu maior momento de felicidade ao sentimento de oportu-nidade experienciado uma manhã. Eu sentia isso: tudo estava a um palmo de distância de acontecer e eram os meus dedos que mediam a distância. E nessa altura, o prospeto de uma relação parecia--me impossível. O egoísmo daquele momento, que nunca tinha expresso tão abertamente, foi a melhor decisão que podia ter tomado e não esta-va pronto para dividir a minha atenção.E, de repente, deslizei. Quer dizer, olhando para trás com o benefício de alguma objetividade, não foi um deslize, porque deslize remete para um acidente e não o foi. Mas naquele impasse temporal não sabia como lidar com aqueles sentimentos e o entrave que eles representavam, por isso acabava por escorregar em todas as esquinas do caminho. E, nessa altura, fresco desse sentimento livre de culpas, canali-zei os meus sentimentos para o único modo que conhecia como meu: escrevi. Escrevi uma peça e entreguei-a e encenei-a, literalmente, para ele. Ig-noremos, em conjunto, a ironia melodramática do ato, porque o que importa são as conclusões que retiro, agora, desse momento: 1) sempre estive pronto para dividir o meu tempo com alguém e 2) tinha pouco interesse na resolução concreta das situações criadas pelos meus sentimentos.Nessa altura, ouvia o álbum dos Daughter e es-crevia, porque ambas as coisas eram processos que tinha de suportar (suportar é um verbo tão católico) para atingir o que eu achava que seria al-guma espécie de epifania que, por definição, não acontece por tentativas. Havia-me tornado cínico em relação a qualquer tipo de relacionamento ao

Crónica: Tiago Moura

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mesmo tempo que achava que era tempo de me dedicar a alguém e se acham incrível ou impossível a existência em dois pólos opostos: a) admiro o vosso poder de resolu-ção emocional; b) são extremamente ocos a um nível emocional. Nessa altura, em que começou, vivia constantemente com a compreensão que queria e não necessitava de uma relação, ao mesmo tempo que não queria saber se ela estava para acontecer.Agora, dois anos e alguns meses depois de ter começado, tenho 25 anos e as coisas sentem-se mais empiricamente do que através de um filtro estilo cor de rosa que turva a nossa visão. O próximo já não é o príncipe encantado e a certeza de passar mais um dia de S. Valentim sozinho pare-ce ser mais um dogma que uma simples e inocente constatação. E isto é sobre isso. Sobre a certeza de passar mais um dia 14 sozinho. Parece ridículo e outras coisas ju-venis, e contra esses argumentos não me poderei defender, mas, em minha defesa, nós criamos a partir daquilo que nos falta. E agora que, dois anos e uns meses depois de ter começado, já não me faço falta, es-tou a escrever nas entrelinhas que me faz falta outra pessoa. Consegui criar um sig-nificado novo para mim próprio e conquis-tar novos objetivos e isso é importante, porque todas as personagens precisam de intenção e, atualmente, algumas delas co-meçam a ficar bem delineadas e acho-me capaz de dividir isso com alguém. O que eu quero, em último caso dizer, é que talvez 2014 não seja o ano em que passe o 14 de fevereiro devidamente acompanhado, mas isso não quer dizer que deva ficar em posi-ção fetal na cama a ouvir Adele (sim, estou a olhar para vocês que ainda ouvem a So-meone like you e a Make you feel my love em vez da Rolling in the deep e da Home-town glory). Por muito instável que esta altura da minha vida esteja a ser (às vezes, o meu espírito egoísta faz-me questionar o porquê desta enorme crise ter aconteci-do neste momento da minha vida), sinto--me extremamente grato por voltar a sa-ber quem eu sou e quem quero ser. E esse é um romance tão difícil de manter, não é? – fim de interrogação alimentada por recor-dações da Carrie Bradshaw. E como a Rita costuma afirmar: «há diferentes tipos de amor», ao que eu acrescento que só temos de ser capazes de os aceitar.Feliz dia dos namorados. //

PUBL

ICID

AD

E

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