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III SEMINÁRIO DE PESQUISA DOS ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA DA FFLCH/USP De 15 a 19 de outubro de 2012 DTLLC/FFLCH/USP Av. Professor Luciano Gualberto, 403 Cidade Universitária - Butantã CEP: 05508-010 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3091- 4893 E-mail: [email protected]

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III SEMINÁRIO DE PESQUISA DOS ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA

DA FFLCH/USP

De 15 a 19 de outubro de 2012

DTLLC/FFLCH/USP

Av. Professor Luciano Gualberto, 403 Cidade Universitária - Butantã

CEP: 05508-010 - São Paulo - SP Telefone: (11) 3091- 4893

E-mail: [email protected]

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Apresentação

De 15 a 19 de outubro de 2012, o Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH-USP) promove o III Seminário de Pesquisa Discente em Teoria Literária e Literatura Comparada, com o objetivo de incentivar o debate acadêmico entre os pós-graduandos. Espera-se que a apresentação de suas pesquisas perante um público mais amplo, bem como os comentários e a mediação dos coordenadores convidados contribuam substancialmente para o aprofundamento de seus trabalhos, além de estimular as trocas e os diálogos no âmbito do Programa. No total, são 27 comunicações, divididas em nove mesas. O Seminário contará também com uma palestra de abertura, proferida pelo Professor Doutor Davi Arrigucci Jr. Pós-Graduação do DTLLC Coordenadora: Prof.ª Dra. Betina Bischof Vice-coordenadora: Prof.ª Dra. Andrea Saad Hossne Comissão Organizadora do Seminário: Carolina Serra Azul Guimarães Eduardo Francisco Junior Ernesto José de Castro Candido Lopes Nathália Grossio de Oliveira Paula Alves Martins de Araújo Renan Nuernberger Talita Mochiute Cruz Vinícius de Melo Justo

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Programação:

Segunda-feira, 15/10

14h00 - Sala 107

PALESTRA DE ABERTURA

Borges – “El Cautivo” Prof. Dr. Davi Arrigucci Jr. (FFLCH – USP) Segunda-feira, 15/10 16h00 - Sala 161

Mesa 1: Arte, política e engajamento I Coordenadora: Prof.ª Dra. Viviana Bosi (FFLCH – USP) Cidade de Deus como greve geral

Carolina Correia dos Santos ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Marcos Natali

Este trabalho se debruçará sobre a obra de Paulo Lins, Cidade de Deus, e tentará compreendê-la através da ideia de “greve geral”,

sobretudo a partir da leitura de Walter Benjamin (“Critique of Violence”), Rosa Luxemburgo (“The Mass Strike”). Esta comunicação não pretende ser descritiva, mas, ao contrário, provar-se um exercício da imaginação levando em conta alguns sinais presentes na obra.

As afinidades entre o poético e o político em Paul Valéry

Fábio Roberto Lucas ([email protected])

Orientador: Prof. Dr. Roberto Zular

Interrogados em seu caráter performativo, os escritos tardios de Paul Valéry demonstram consciência profunda das afinidades entre o poético e o político, concebidas no ato que retoma, questiona e

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possivelmente reescreve leis e limites entre linguagem, pensamento e realidade. Para o escritor francês, a poesia é um fazer (poïen) que lida, em alguma medida, com o mesmo tipo de Pouvoir Verbal em torno da

sociedade, da política e de seus principais fiduciários. Tal reflexão pode nos conduzir ao lugar paratópico e paradoxal que o poeta compartilha com o soberano. Por outro lado, Valéry também considera as transformações que atingem a literatura e as outras artes com o advento do progresso tecnológico. A partir daí, estrutura-se diálogo com Walter Benjamin e com sua crítica da violência e do poder, no qual se mostram possíveis relações entre a reflexão estética do poeta francês e do filósofo alemão e se delineia uma ideia de ato poético (seja como désœuvrement seja como différance, noções recuperadas a partir das diferentes e conflitantes interpretações da Gewalt benjaminiana feitas respectivamente por Agambem e Derrida) cujas afinidades com o político são possivelmente trabalhadas por Valéry, durante a Segunda Grande Guerra, em textos como Ultima Verba e outros.

Las flores de Punitaqui: forma poética e política

Vinícius de Melo Justo ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Iumna Maria Simon

A poesia política de Pablo Neruda tem como principal ponto de elaboração o livro Canto general, publicado em 1950. Compostos em sua

maior parte no clima radicalizado do início da Guerra Fria, os poemas representam temas habituais do autor, como a morte, o desencontro do indivíduo perante o mundo e forças naturais, algo telúricas, mesclados ao voluntarismo político de inspiração comunista e à denúncia de iniquidades e injustiças cometidas contra o povo latino-americano. O acréscimo de elementos políticos à escrita de Neruda modifica o cerne de sua própria poética, embora não o elimine totalmente; o apelo ao mito e à participação política direta se constitui como organizador dos múltiplos discursos sobre a realidade da América Latina, que rondam a tessitura dos poemas. Esta apresentação intenta apresentar a dinâmica operada por Neruda no relato de uma greve popular na seção XI de Canto general, nomeada Las flores de Punitaqui. Busca-se compreender com mais clareza os pressupostos

estético-políticos da poesia participativa do autor a partir de sua forma, em diálogo com seu contexto literário, ideológico e histórico.

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Terça-feira, 16/10 14h00 - Sala 161

Mesa 2: Discussões em torno do fantástico

Coordenadora: Prof.ª Dra. Regina Pontieri (FFLCH – USP)

Estudo temático: uma tentativa metodológica

Bruno Berlendis de Carvalho ([email protected])

Orientadora: Prof.ª Dra. Marta Kawano Ao propor um estudo sobre a temática literária do vampiro, encontrei dificuldades peculiares. Além da banalização decorrente da popularidade do tema, uma polissemia extremada: confusão dos sentidos em que "vampiro" deveria ser entendido (fala-se em "vampiros celtas"; lendas hindus; relações de trabalho etc.) e também dos registros em que a palavra é empregada (literatura, folclore etc.). Proponho debater um modelo interpretativo de dupla aproximação. De um lado, um foco sobre a convenção: motivos recorrentes, constituição de

uma tópica, modos de produção textual que aparentam atravessar séculos e nações; síntese de um modelo narrativo ideal. Dessa aproximação, o /estereótipo/ é a figura mais aguda, mais especializada. De outro, algo da ordem do simbólico, que de início chamarei de imagética: um vetor apontando noutra direção, pelo qual motivos e imagens poéticas tendem a não especializar-se, mas a se misturarem, a serem compartilhados por diversas temáticas e registros do discurso (a noite; o amor ambíguo etc.). Tendência à generalização, de que a /alegoria/ é a figura mais bem acabada. O vampiro já não é somente um personagem, mas postulado como arquétipo. Daqui seus usos para descrever processos psicológicos e sociais (reconhecê-los é o caminho pelo qual se explica e se supera a polissemia). Esses focos não constituem campos à parte, mas encontram-se em boa medida sobrepostos (imagens poéticas podem ser entendidas como convenção). Ainda assim, lançam luzes diferentes sobre o objeto.

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As Teias da Vingança: a poética da trama em Edgar Allan Poe

Daniel Lago Monteiro ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Fabio de Souza Andrade Nas muitas histórias de crime e assassinato que o escritor norte-americano Edgar Allan Poe forjou com inigualável maestria, “O Barril de Amontillado” se destaca pelo modo singular com que as personagens e as ações são apresentadas ao leitor. Não lemos neste conto nenhuma descrição de uma mente em estado de pânico cujo único recurso, agora à beira do cadafalso, é a confissão; nenhum movimento involuntário e palpitante agoniza o peito do assassino e o denuncia pela derrisão; nenhum espectro ressurge das cinzas com boca avermelhada, olhos ígneos e voz delatora. De fato, o leitor de Poe, habituado com “os mesmos castelos sombrios, os mesmos quartos bizarramente mobiliados, as mesmas mulheres fantasmais, a mesma insistência no fúnebre e no aterrorizante” que tão profundamente encantou Baudelaire de um lado e enfastiou D. H. Lawrence de outro, vê sua expectativa malograda ao percorrer as páginas deste que é um dos contos mais breves do autor. E, no entanto, “O Barril de Amontillado” não só é um conto tão à moda de Poe, como parece deixar à mostra, voluntária ou involuntariamente, a ponta dos fios de sua teia narrativa.

Categorias estéticas da morte em "Amortalhada": fantástico, ritos e símbolos

Juliana Fragas Figueiredo ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Aurora Bernardini

O fantástico, como categoria estética da morte, que compreende o macabro, o diabólico e o fantasmagórico generalizado, segundo Michel Guiomar em Principes d’une Esthétique de la Mort, desenha-se com vista

à consciência ampliada e enriquecida do evento funerário. Neste estudo, cujo objeto é a obra La amortajada (1938) de Maria Luisa Bombal [em português: Amortalhada (1986), trad.: Prof.ª Dra. Aurora Fornoni Bernardini], intenta-se verificar as formas de manifestação do fantástico, ensejando breves diálogos com textos de ficção voltados ao tema da morte (A Morte de Ivan Ilitch, de Léon Tolstói, Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, A morte e a morte de Quincas Berro

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d´água, Jorge Amado), bem como com o longa-metragem intitulado A partida, do diretor Yojiro Takita. Por contingência, busca-se pontuar as simbologias do rito de passagem: preparação do corpo, velas, flores e demais ornamentos sinalizadores da morte.

Terça-feira, 16/10 16h00 - Sala 161

Mesa 3: Construções de poéticas entre as décadas de 50 e 80 no Brasil Coordenador: Prof. Dr. Eduardo Sterzi (Unicamp) Retas e Curvas: Um estudo comparado entre João Cabral, Piet Mondrian e Joan Miró

Fábio José Santos de Oliveira ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Sandra Nitrini Nossa pesquisa tem por enfoque um estudo da poética de João Cabral de Melo Neto comparativamente a obras dos pintores Piet Mondrian e Joan Miró. Tentamos entender, através da discussão do perfil criador dos dois pintores e também daquilo que o poeta destaca esteticamente neles, o quanto tais preceitos estéticos são literariamente discutidos na obra cabralina e o quanto (e como) eles caracterizariam ou não a poética desse escritor pernambucano. Para tanto, escolhemos a fase inicial do poeta, dando preferência aos livros Psicologia da Composição e Uma faca só lâmina. Com o estudo dessas obras e daquilo

que de forma esparsa está presente também em outros livros, alcançamos, por exemplo e grosso modo, que a poesia de João Cabral, destacadamente arquitetada no amparo do objeto (em matérias simples como “pedra” e “água”), apresenta ainda com relevo o elemento da redefinição imagética (às vezes lábil) do objeto que é base à escrita do texto. No primeiro caso, enxergamos uma proximidade à estética de Mondrian; no segundo, à de Joan Miró.

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Inquietudo: Alguma Poesia Brasileira, 1970-1980

Renan Nuernberger ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Viviana Bosi Desenvolvemos uma leitura crítica de certa poesia brasileira oriunda dos anos 1970 entendida como uma continuidade tensa das estéticas construtivistas de décadas anteriores (em especial o movimento de poesia concreta) que, entretanto, também se aproxima em alguns aspectos da chamada poesia marginal que surgia na mesma década. A hipótese que sustentamos é que estes poetas, enfatizando-se os casos de Paulo Leminski e Régis Bonvicino, tratados no mais das vezes como exceções, encontram em suas respectivas obras soluções formais que seriam esteticamente determinantes para a compreensão da poesia feita no último quarto do século passado no Brasil. Por ora, elaboramos o capítulo inicial sobre os desdobramentos da produção poética das “vanguardas” no decorrer da década de 1960 concentrando-nos na obra inaugural de Paulo Leminski que apresenta os principais avanços e impasses que caracterizam o quadro da poesia construtivista brasileira no período.

Escrita e memória em Gigolô de bibelôs de Waly Salomão Tazio Zambi de Albuquerque ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Roberto Zular Este artigo pretende investigar as relações que se estabelecem entre escrita e memória na poesia brasileira contemporânea, tendo como locus privilegiado de análise o livro Gigolô de bibelôs (1983) do poeta Waly Salomão (1943-2003). Os múltiplos percursos em que se inscreve essa obra, que apresenta como subtítulo “ou surrupiador de souvenirs ou defeito de fábrica”, configuram um mapa do campo de possibilidades da poesia brasileira da segunda metade do século XX e tornam instáveis os limites de noções como escrita, leitura e memória. A partir dos inúmeros indícios temáticos e estruturais encontrados em seus poemas, procederemos ao levantamento dos processos que configuram o que nomearemos, sugestionados por suas próprias proposições, uma “poética proteica”, em estreito diálogo com conceitos como antropofagia, apropriacionismo e poética citacional.

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Quarta-feira, 17/10 14h00 - Sala 161

Mesa 4: Formação e regressão na literatura brasileira do Século XX Coordenadora: Prof.ª Dra. Ana Paula Pacheco (FFLCH – USP)

Ao rés do chão, sem chão: Drummond e a crônica moderna brasileira Arthur Vergueiro Vonk ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Edu Teruki Otsuka Raramente discutidas, as configurações da prosa drummondiana permitem pensar problemas relevantes da experiência intelectual brasileira de meados do século XX. Propõe-se a leitura de Fala, Amendoeira (1957), primeiro livro de crônicas de Drummond, a partir de alguns eixos principais, examinados em suas relações recíprocas: I. a dicção da prosa e o regime de produção intelectual a ela correspondente, descritos através do contraponto com os livros de ensaios anteriores (sobretudo Passeios na ilha); II. a disposição das matérias abordadas, no que revela a respeito do sentimento de certas dinâmicas da sociedade brasileira nos anos 1950, cujas clivagens e entraves são apreendidos pelo gesto afetivo de um cronista às voltas com uma modalidade particular de atuação formativa; III. o mapeamento parcial de um código de condutas e costumes nos quais se dá a ver, em seus aspectos mínimos, a consolidação de um modelo de vida cotidiana das classes médias, assentado nos resultados da etapa de modernização urbano-industrial que então se cumpria; IV. o destino da valorização modernista da informalidade e da naturalidade, considerado a partir do ponto de vista formalizado nos textos do volume e das reações da crítica a alguns momentos decisivos da crônica moderna brasileira.

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Tragédia familiar: a formação do indivíduo burguês em obras literárias brasileiras do século XX Bianca Ribeiro Manfrini ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Joaquim Alves de Aguiar

Por meio da análise da obra de quatro autores brasileiros do século XX – José Lins do Rego, Lúcio Cardoso, Nelson Rodrigues e Raduan Nassar – procuramos demonstrar a maneira sui generis pela qual se dá a formação da individualidade do personagem, relacionando-a a aspectos da história nacional, como a escravidão, e a elementos presentes em todas as obras estudadas, como a loucura e o incesto. O ensaio procura revelar como, na estrutura de cada obra particular e no plano geral da obra de cada autor, se manifesta a presença do elemento trágico, regressivo, no qual a figura do indivíduo se submete a um destino que esmaga seu livre-arbítrio, tornando-o incapaz de traçar sua própria trajetória, num movimento que não apenas destoa daquele do personagem do romance europeu do século XIX, mas que também possui consequências formais nas obras de todos os autores aqui estudados. O objetivo de nossa tese é demonstrar, na concretude da narrativa literária, que o sentido da individualidade moderna e da tragicidade, no Brasil, é diverso do que o encontrado na literatura moderna dos países centrais, dada as peculiaridades de nossa formação.

A clausura da forma Carlos Frederico Barrère Martin ([email protected])

Orientadora: Prof.ª Dra. Viviana Bosi

Imagem central em O Braço Direito, de Otto Lara Resende, a clausura ganha forma na narrativa e na figura do narrador-personagem. Laurindo Soares Flores, o inspetor do orfanato Asilo da Misericórdia, encontra no diário íntimo o meio pelo qual consegue se expressar “livremente”. A narrativa apresenta em sua forma um gênero literário que se distingue sobretudo por não prever um leitor. O isolamento que caracteriza o cotidiano do narrador-personagem, ou mesmo sua existência, torna-se maior quando ele começa a escrever. O diário íntimo lhe dá voz e ao mesmo tempo o mantém em silêncio. Esse duplo

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movimento, que não deixa de ser natural, leva-nos a enxergar o diário, à luz da figura do inspetor, como mais uma força opressora. Pretendemos discutir em nossa apresentação, justamente, esse sentido que o diário íntimo adquire ao ser trabalhado pelo narrador-personagem. Quarta-feira, 17/10 16h00 - Sala 161

Mesa 5: Impasses na narrativa: imobilidade e repetição

Coordenador: Prof. Dr. Jorge de Almeida (FFLCH – USP) O mito paralisado: a debilidade narrativa em “Sarapalha”

Felipe Bier ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Ana Paula Pacheco Esta comunicação tem como objetivo tecer comentários críticos acerca da novela “Sarapalha” do livro Sagarana (1946) de João Guimarães Rosa. O olhar circunscrito ao escrito em questão se insere em uma tentativa de compreensão ampla da narrativa de Guimarães Rosa: a saber, considera-se “Sarapalha” um local privilegiado para a irradiação de importantes processos narrativos que encontrarão ecos em toda a obra do autor. Encontra-se na história de uma vila devastada pela malária a ambiência propícia ao desenvolvimento sistemático de uma redução da trama a elementos mínimos: isto é, a doença parece servir ao desmonte de qualquer expectativa de ação narrativa, restando somente a tensão da rivalidade entre os parentes primo Argemiro e primo Ribeiro. Procura-se então perscrutar o trabalho literário em torno desta fórmula mínima: a narrativa contaminada pela maleita, reduzida ao resto de uma tensão igualmente débil, já que a doença retira das duas personagens qualquer possibilidade de ação vingativa. Interessa, portanto, investigar este investimento em torno da paralisia da narrativa: a questão que se lança seria, assim, por que interessa a Guimarães Rosa submeter seu trabalho literário ao desmonte e à debilidade; isto é, qual a força estética que se extrai de uma elaboração formal que tende ao estado de imobilidade?

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“Je vous raconte...”: palavra, repetição e corpo em Sade

Livia Cristina Gomes ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Roberto Zular Trata-se de estudar o procedimento da repetição na escrita do marquês de Sade, particularmente em Justine, texto que apresenta três diferentes versões: Les infortunes de la vertu (1787); Justine ou les malheurs de la vertu (1791) e La nouvelle Justine ou les malheurs de la vertu (1797). Considerada o mecanismo estrutural da narrativa, a começar pela reelaboração da escrita, a repetição sadiana funciona como articulador entre corpo e linguagem em diversos níveis, desde o narratológico ao enunciativo, que compreende o ato da leitura. Por isso, propõe-se analisar tal procedimento atentando-se, de um lado, ao contexto de produção setecentista, com principal interesse pela questão da transparência da linguagem, impulsionadora do projeto enciclopédico e do aparecimento da “literatura”, além de relacioná-lo à estrutura enunciativa cartesiana, que mantém o corpo recalcado pelo cogito. De outro, pretende-se tensionar esse contexto setecentista aos seus efeitos provocados ainda hoje. Espera-se, assim, que a repetição, abordada a partir da problemática da linguagem nos setecentos e da supremacia do inteligível sobre o sensível, permita entrever também a historicidade do corpo, revelando seu (novo) papel no momento de leitura e seu lugar no saber. Com isso, sugerem-se novas reflexões não apenas sobre a escrita sadiana em particular, mas aos estudos literários, de modo geral.

Acerca da subjetividade em O inominável

Nathália Grossio de Oliveira ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Fábio de Souza Andrade Quando no romance O inominável, último volume do primeiro ciclo de narrativas longas em prosa escritas por Samuel Beckett, o narrador já não pode recorrer à segurança de uma representação previamente constituída da sua própria identidade para falar sobre si ou da sua condição, exigência imposta pela própria tarefa de narrar-se na qualidade de ser “inominável”, a desconfiança deste que diz “eu”, relativa aos fundamentos que sustentam a voz em primeira pessoa e a estrutura ficcional do romance (forma falida, em crise), presente em Molloy e

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Malone Morre, dá lugar ao exame dos fundamentos relacionados à constituição da própria noção de subjetividade, desdobrando-se em reflexões de natureza linguística. Partindo da análise de fragmentos selecionados de O inominável, este trabalho examinará a hipótese

sustentada pelo linguista Émile Benveniste no capítulo 21 “da subjetividade na linguagem” de seu livro Problemas de linguística geral I: “é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito”. Objetiva-se com isso contribuir com a descrição do processo pelo qual tal movimento se realiza na escritura e destacar a dimensão trágica da transição entre os diferentes estágios da consciência do narrador em relação à compreensão da sua própria existência no âmbito da linguagem e para além deste.

Lassidão pós-moderna: Simulacros de representação no romance da virada do século

Julián Fuks ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Fábio de Souza Andrade Por otimistas que sejamos e por mais que queiramos nos manter apegados aos ímpetos criadores das vanguardas, verifica-se hoje nas diversas artes um significativo distanciamento em relação aos seus princípios e propostas. Em múltiplas instâncias, o que se dá é uma desativação gradual de pontos importantes do projeto moderno, um sutil arrefecimento teórico, uma maior lassidão na atenção aos seus impasses e rigores. Em grande medida, trata-se da supressão do mecanismo principal que alavancou o desenvolvimento artístico ao longo de um século – a exaltação do presente e o culto à novidade – substituído agora por um sistema complexo de retornos, reiterações e remissões ao passado. Para examinar como tem ocorrido esse retorno no romance da virada do século, comentam-se três obras de escritores atuais: Los detectives salvajes, de Roberto Bolaño, Summertime, de J. M. Coetzee, e La grande, de Juan José Saer. Nas três, observadas suas peculiaridades,

o que se vislumbra é a negação da crise moderna em uma reafirmação do ato de narrar, uma renovação do desejo de referir, uma vontade de retomar os modos de representação que vigoravam em tempos mais longínquos. Se estas obras os retomam, porém, é apenas em uma dupla forma de simulacro: ausente está a obra original que elas querem imitar; ausente está o mundo original que elas querem refletir.

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Quinta-feira, 18/10 14h00 - Sala 161

Mesa 6: Contexto, leitura e composição Coordenador: Prof. Dr. Marcos Antonio Moraes (FFLCH – USP)

O quixotismo teórico de Augusto dos Anjos

Daniel Levy Candeias ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Iumna Maria Simon

A proposta do trabalho é estabelecer uma leitura que possa inserir a poesia de Augusto dos Anjos em seu contexto histórico e refletir sobre a maneira com a qual ela dialoga com a tradição literária brasileira. A hipótese é que a obra desse poeta possui princípios compositivos semelhantes aos da produção em prosa do Realismo e do Naturalismo, tais como psicologização, objetividade e até de personagens-tipo. Por isso a dificuldade de confrontá-la diretamente com a poesia de seu tempo. Um dos resultados do uso desses recursos seria a criação de um eu lírico erudito e psicologicamente desequilibrado, o que refletiria a forma um pouco “alucinatória” com a qual teorias cientificistas e a filosofia do Século XIX foram assimiladas em nosso país. Essa característica fundamental pressupõe não só uma concepção moderna de sujeito poético, mas também propicia uma série de soluções formais que também podem ser consideradas inovadoras. Ao discutir questões objetivas e com isso desenvolver uma forma própria, vinculada a um projeto literário, Augusto dos Anjos talvez seja um dos poucos exemplos de escritores que se afastaram do beletrismo irrefletido que predominou na poesia produzida depois do Romantismo e antes do Modernismo.

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Matrizes, Marginália e Intertextualidade: A biblioteca de Osman Lins como parte do processo criador de Avalovara

Eder Rodrigues Pereira ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Sandra Nitrini A base estrutural de Avalovara é a sobreposição de uma espiral e um quadrado sobre um palíndromo. A partir destes elementos, o texto é organizado e apresentado ao leitor numa estrutura geométrico-verbal. Composto por oito letras diferentes o palíndromo nos fornece o diagrama do livro e seus temas divididos em segmentos, enquanto a espiral, seguindo seu movimento sobre o quadrado, apresenta ou retoma cada tema na medida em que toca a letra correspondente. O projeto da obra está ligado à arte de narrar e no seu processo de criação, Osman Lins sistematizou um complexo jogo de relações com leituras que estão em sua biblioteca, hoje depositada no IEB-USP e na Casa de Rui Barbosa. Desse modo, o objetivo desta comunicação é apresentar algumas destas leituras como parte do processo criador de Avalovara, sendo possível visualizar a partir da marginália, determinados aspectos de assimilação, seus desdobramentos e sua transfiguração no texto literário. Ademais, nesta prática verifica-se um duplo de leitura e escritura, tornando esta biblioteca um objeto legítimo de pesquisa tanto para a literatura comparada como para crítica genética.

Alguns exemplos da relação problemática entre o livro e a literatura

Eduardo Francisco Junior ([email protected])

Orientador: Prof. Dr. Roberto Zular No desenvolvimento de uma pesquisa sobre a maneira como os poemas de Claro Enigma estabelecem uma relação entre si que constrói um objeto estético mais amplo do que a mera soma de seus poemas, tornou-se evidente a necessidade de se pensar o porquê dessa organização, o porquê de os poemas precisarem ser reestruturados para fazer parte de um mesmo livro. A presença desse tipo de organização em vários livros de Drummond e em livros de vários outros poetas brasileiros do século XX, por sua vez, foi um indício de que não se tratava de uma questão isolada e que ela abrangia boa parte de nossa poesia moderna.

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Ao tentar compreender tal problema, três casos da literatura francesa do século XIX se destacaram e da reflexão sobre eles tratará esta apresentação: o romance As Ilusões Pedidas de Balzac, no qual é encenado o conflito entre o mercado livreiro e a literatura; o poema “O vinho dos trapeiros” de Baudelaire, que pode ser lido como uma comparação entre o poeta e o profissional de mais baixo status da cadeia de livros de então, o trapeiro; além dos textos de Mallarmé contidos na seção “Quanto ao livro” de Divagações.

Quinta-feira, 18/10 16h00 - Sala 161

Mesa 7: Ficção e história: problemas e limites Coordenador: Prof. Dr. Marcelo Pen Parreira (FFLCH – USP)

História e ficção contemporâneas: guinada autocrítica

Renato Prelorentzou ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Marcos Natali Se a arte do início do século XX começou a revolucionar-se com um questionamento da própria forma, talvez se possa dizer que essa figura composta de autor e crítico foi aparecendo com nitidez cada vez maior também no campo historiográfico. Como qualquer outra história, a da historiografia tem seus heróis, seus vilões, seus difamadores, seus clássicos. Cada historiador (e cada historiador da historiografia), partindo quase dos mesmos indícios, chega a uma narrativa distinta – e assim fica difícil ignorar que cada relato sempre se escreveu com suas próprias estátuas e ruínas, seus próprios fundadores e inconfidentes. A narrativa sobre a historiografia do século XX que esta pesquisa foi adotando passa por esse embaraço hodierno em negligenciar os meandros da própria escrita, na história e na ficção – e tem a ver com a outra narrativa sobre o XX, a da suposta radicalidade nas formas de se pensar o próprio ofício, uma crescente reflexividade. O panorama da historiografia contemporânea, uma batalha entre os herdeiros dos tesouros e dos destroços dos Annales e os defensores de uma “guinada autocrítica” abre espaço para uma hipótese: o retorno do indivíduo na historiografia, como objeto de estudo e como autor sabidamente eivado

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de subjetividade, é concomitante à crítica da autoficção à autobiografia e relacionado a uma certa tendência autoficcional dos romances contemporâneos.

Ossian romancista? Thiago Rhys Bezerra Cass ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Sandra Vasconcelos

O século XVIII testemunhou a erosão do sistema de gêneros literários vigente desde o Renascimento. Causador ou produto desse processo, o romance tornava indistintos os limites entre as ditas formas imitativas e expressivas. É nesse contexto que James Macpherson publica, a partir de 1760, os fraudulentos Poemas de Ossian, sendo que

dois dos quais – “Fingal” e “Temora” – têm o subtítulo de epopeia. Numa primeira leitura, e de acordo com o próprio Macpherson, tal subtítulo parece apropriado, porquanto ser possível detectar a presença de convenções que a crítica setecentista via como essencial a um poema épico. Num segundo momento, contudo, podem-se enxergar certos excursos expressivos, teoricamente estranhos ao gênero sob o qual se inscreveriam “Fingal” e “Temora”. Em face disso, discutiremos se é possível estabelecer pontos de contanto entre a configuração formal das ditas epopeias ossiânicas e aquela para a qual evolve o romance ao longo do século XVIII.

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Sexta-feira, 19/10 14h00 - Sala 161

Mesa 8: Entre o local e o universal: heranças modernas

Coordenador: Prof. Dr. Jefferson Agostini Mello (EACH- USP)

A prosa mágica de São Marcos Carolina Serra Azul ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Ana Paula Pacheco A partir da análise de “São Marcos”, narrativa presente em Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa, pretende-se discutir alguns

aspectos gerais deste primeiro livro do autor mineiro, como sua relação com o primeiro Modernismo brasileiro (sobretudo com a rapsódia Macunaíma, de Mário de Andrade), assim como debater certos elementos concernentes ao método compositivo do autor, como a universalização da matéria sertaneja e as correspondentes interpenetrações, operadas por Rosa, entre culturas populares e eruditas. Objetiva-se, também, tratar da relação intrínseca entre a estética rosiana e o momento histórico em que Sagarana foi elaborado (aproximadamente entre 1930-1945, ou seja, durante a Era Vargas).

Entre o local e o universal: um estudo sobre o escritor e crítico Silviano Santiago Gisele Novaes Frighetto ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Andrea Saad Hossne Este trabalho tem por tema a constituição peculiar de um sistema literário brasileiro (CANDIDO, 2007) e a atividade do escritor-crítico no interior desse sistema, tendo como objeto ensaios e romances do escritor Silviano Santiago. O trabalho ficcional do autor parece constituir um exemplo de como a atividade de crítico pode deixar marcas na produção literária, ao incorporar suas proposições sobre a temática da influência. Discute-se a apropriação de elementos estéticos estrangeiros como traço próprio da produção cultural e literária brasileira (CANDIDO, 1989) e a

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abordagem conciliadora proposta por Silviano Santiago, a partir da qual a produção literária brasileira e latino-americana ocuparia um “entre-lugar” (SANTIAGO, 2000), graças à reinvenção dos elementos que incorpora das literaturas de países culturalmente dominantes. Dessa forma, estão previstas neste estudo, ainda em fase inicial, duas etapas. Na primeira, o estudo do trabalho de Silviano Santiago nos remete a uma discussão mais ampla, a respeito do caráter nacional e/ou universal assumido pela produção literária brasileira na contemporaneidade. Em um segundo momento, caberia considerar de que maneira a formulação de uma “literatura anfíbia” (SANTIAGO, 2002) estaria incorporada nos romances Em liberdade (1981), Stella Manhattan (1985), O falso mentiroso: memórias (2004) e Heranças (2008).

A configuração da voz em Diário de um ano ruim Talita Mochiute Cruz ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Fabio de Souza Andrade Tradicionalmente, o narrador é o eixo em torno do qual se desenvolve a narrativa, ocupando assim papel fundamental para organização do que é narrado. Alterações na figura do narrador impactam nas relações: espaço-temporal, de causalidade e entre mundo real e ficcional. Em Diário de um ano ruim (2007), o autor sul-africano J.M. Coetzee coloca em cena um escritor, para desenvolver uma história em três planos simultâneos com distintos pontos de vista, alternando primeira e terceira pessoa. Além deste jogo das vozes, no livro, há a presença de ensaios sobre globalização, terrorismo e outros assuntos da contemporaneidade. O que resulta em uma forma híbrida. É diário, romance ou ensaio? Diante disso, a proposta deste trabalho é analisar a configuração do(s) narrador (es) nesta obra de Coetzee, acompanhando quais mudanças são promovidas na constituição da voz narrativa e as consequências para a instabilidade do gênero romance. Também serão levantados os mecanismos internos que permitem falarmos em continuidade ou ruptura da tradição, examinando assim a solução encontrada pelo autor para a crise do romance. Esta pesquisa insere-se dentro do campo de investigação sobre o modernismo e seus desdobramentos, sobretudo com foco no estudo

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sobre as formas experimentais da narrativa e a herança modernista no contexto da literatura contemporânea em países periféricos.

Sexta-feira, 19/10 16h00 - Sala 161

Mesa 9: Arte, política e engajamento II Coordenador: Prof. Dr. Roberto Zular (FFLCH – USP) Recordações da Casa dos Mortos: As relações tensas e contraditórias entre Fiódor Dostoiévski e o socialismo Flávio Ricardo Vassoler do Canto ([email protected]) Orientador: Prof. Dr. Jorge de Almeida As relações tensas e contraditórias entre Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e o socialismo perpassam a obra do escritor. Em 1849, Dostoiévski foi preso amando do tzar por participar do Círculo de Petrachévski, grupo revolucionário que propugnava pela transformação radical da Rússia. Os petrachévstsy chegaram a enfrentar o cerimonial da pena de morte em São Petersburgo, mas o tzar, no último instante, transformou a sentença capital em um longo degredo siberiano. Após a estada para trabalhos forçados na casa dos mortos, Dostoiévski já não concebe a revolução como o caminho inequívoco para o Éden terrestre. A convivência com os presos comuns que segregavam o escritor por sua origem nobre mostrou-lhe o atavismo de uma distinção classista que o socialismo livresco e sem conexão telúrica com a população não conseguiria extinguir apenas com a tomada do poder. Ademais, o crescente distanciamento da modernidade em relação a Deus, sobretudo por parte dos revolucionários, passou a configurar para Dostoiévski uma perda de substrato moral que, no limite, não mais poderia conter o ímpeto niilista e utilitário do capitalismo ascendente, para o qual tudo que é sagrado é profanado, tudo que é sólido desmancha no ar. Dialogaremos com Memórias do Subsolo (1864) e Os Demônios (1872) para apreendermos as projeções da revolução para um mundo que, segundo Dostoiévski, já não possui lastros morais e se socializa por

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meio de relações centrífugas que apenas agregam os indivíduos com vistas à competição autofágica pelos recursos escassos.

Utopia e negatividade em A rosa do povo de Carlos Drummond de Andrade

Marcelo Freitas Ferreira de Oliveira ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Iumna Maria Simon

Pretendo falar sobre o tema de minha dissertação de mestrado que consiste na realização de uma leitura crítica acerca das diferentes figurações da utopia presentes em poemas de A rosa do povo de Carlos

Drummond de Andrade. Por ser caracterizada pela multiplicidade de temas, pela oscilação constante entre utopismo e negatividade - movimentos opostos que, muitas vezes, se encontram harmonizados de forma tensa no corpo do poema -, essa obra parece abrir um leque de possibilidades de interpretação acerca dos medos e aspirações drummondianos, tanto individuais como coletivos, em meio a um contexto marcadamente político e passível de transformações sociais profundas. Havia a esperança de uma consolidação em escala mundial das conquistas decorrentes da Revolução Russa, ao mesmo tempo em que o poeta lutava pela preservação de sua liberdade individual artística face às exigências da cartilha ideológica socialista. Embora a fortuna crítica do livro de 45 já tenha produzido excelentes trabalhos acerca do assunto, parece inexistir um estudo que se atenha especificamente à questão do fenômeno utópico. Assim, efetuo uma pesquisa histórica e conceitual da utopia para que, munido desse instrumental teórico, possa aprofundar a análise dos poemas, trazendo talvez uma contribuição inovadora para o acervo crítico da obra.

“A culpa é minha” ou “Ela que se arranje”?

Tânia Cristina Souza Borges ([email protected]) Orientadora: Prof.ª Dra. Ana Paula Pacheco

Trata-se de investigar, por meio da análise da atuação do narrador de A Hora da Estrela, de que forma Clarice Lispector dá representação literária ao conflito experimentado pelo intelectual diante do

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seu outro de classe, em um momento específico da modernização brasileira, a saber, o final da ditadura militar. Os procedimentos literários que possibilitam a representação das camadas pobres, que se caracteriza por encenar um contato entre a figura do escritor-intelectual e a pobre retirante nordestina, nos dão indicações dos impasses vividos pelo intelectual no Brasil na década de 1970 e é materializada das mais diversas formas no romance, por meio do retrato da condição da retirante alagoana, Macabéa, e seus párias, marcada pela inacessibilidade material e cultural, como também pela inconsciência de suas próprias condições, como se pretende abordar na exposição. Acredita-se que a discussão do posicionamento do narrador Rodrigo S.M., tendo por referencial o quadro da derrocada do projeto de formação, pode nos ajudar a compreender, em uma sociedade de massas nascente, o surgimento das possibilidades, ou não, de um novo sujeito histórico, “o migrante-morador-cidadão” (ARANTES, 2009), com formas próprias de organização e ação política, e como Macabéa, a protagonista do romance, representa a contraface disso, ao caracterizar-se por um não-lugar social.