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42 UROLOGIA ESSENCIAL V.6 l N.1 l JAN l JUN l 2016
I M A G E M E M U R O L O G I A
T umor miofi broblástico infl amatório
(TMI) é um tumor benigno de origem
mesênquimal que pode ocorrer em
diferentes sítios anatômicos, mas é mais co-
mum em pulmão e fígado, sendo raro em vias
urinárias. O principal desafi o ao encontrar
esse tipo de tumor na bexiga é fazer o diag-
nóstico diferencial com tumores malignos.
Caso Clínico
Mulher, 45 anos, obesa, hipertensa, nega
tabagismo, etilista social e com infecções do
trato urinário recorrentes de longa data foi
submetida à histerectomia total e radiote-
rapia pós-cirúrgica, devido a um câncer de
endométrio. Antes da histerectomia, foi re-
alizada uma cistoscopia para verifi cação de
CÁSSIO ANTONIO BOTTENE SCHINEIDERProf.O Universidade de Ribeirão Preto e Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto | SP
LIGIA HENRIQUES CORONATTOUrologista - Hospital Meridional – Vitória | ES
Tumor Miofi broblásticoem Meato ureteral
possíveis lesões neoplásicas, porém a visua-
lização da bexiga foi normal. Em uma tomo-
grafi a controle pós histerectomia foi detec-
tada uma lesão vesical vegetante (Figuras
1 e 2). Realizada a cistoscopia com biopsia,
apesar da paciente encontrar-se assinto-
mática. O resultado do anatomopatológico
revelou tumor miofi broblástico sem indícios
de malignidade. Optou-se, então, pela con-
duta expectante. Após dois anos, a paciente
relatou o aparecimento de dor lombar direi-
ta. Feita nova tomografi a que revelou leve
hidronefrose e hidroureter direito. Decidiu-
-se realizar nova cistoscopia, a qual visuali-
zou crescimento da lesão em sentido ao me-
ato ureteral direito, obstruindo-o (Figura-3).
Por fi m, optou-se em executar a ressecção
transuretral da lesão (Figura-4) e a coloca-
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IMAGEM EM UROLOGIATUMOR MIOFIBROBLÁSTICO EM MEATO URETERALCÁSSIO ANTONIO BOTTENE SCHINEIDER LIGIA HENRIQUES CORONATTO
www.urologiaessencial.org.br
ção de um cateter de Pig Tail (Figura-5). A lesão
removida (Figura-6) foi enviada para análise em la-
boratório anatomopatológico. Microscopia (Figuras
8 e 9) e técnicas de imuno-histoquímica (Figuras 9 e
10) foram realizadas. O resultado foi idêntico às ou-
tras biopsias realizadas, revelando tumor miofi bro-
blástico. Após a retirada da lesão, paciente evoluiu
bem, com melhora dos sintomas; e até o presente
momento não apresentou recidiva do tumor.
FIGURAS 1 e 2 Tomografi a do dia 13/01/2014. Controle de pós-operatório tardio de neoplasia de
endométrio solicitada pelo oncologista. Lesão descrita como uma formação ovalada vegetante na parede posterior
da bexiga à direita, medindo cerca de 1, 2cm no maior diâmetro. Corte coronal (1) e sagital (2).
FIGURA 3 Cistoscopia realizada em julho de 2014 visualizando a lesão vegetante que estava obstruindo o
óstio do ureter direito.
FIGURA 4 Ressecção da lesão vegetante que estava obstruindo o óstio do ureter direito por via endoscópica
em julho de 2014.
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IMAGEM EM UROLOGIA TUMOR MIOFIBROBLÁSTICO EM MEATO URETERALCÁSSIO ANTONIO BOTTENE SCHINEIDER LIGIA HENRIQUES CORONATTO
DiscussãoO TMI é raro em vias urinárias, não sendo re-
lacionado com nenhum patógeno, mas mantém
relação com traumatismos, infecções recorrentes,
instrumentação ou cirurgia do trato gênito uriná-
rio prévia, uso de drogas, distúrbios metabólicos
e fatores irritativos ou cancerígenos. Esse tumor
é mais comum em mulheres, principalmente na
terceira década de vida. Geralmente se manifes-
ta com hematúria macroscópica, mas sintomas
como desconforto abdominal e do trato urinário
inferior também são encontrados 1, 2, 3, 4. O diagnós-
tico diferencial deve ser feito principalmente com
o leiomiossarcoma e o rabdomiossarcoma. Análi-
FIGURA 5 Colocação do cateter de Pig Tail após ressecção da lesão por via endoscópica em julho de 2014.
FIGURA 7 e 8 Lâminas realizadas no anatomopatológico, revelando ausência de revestimento
epitelial e córion com proliferação de células de padrão miofi broblástico sem atipias, com alguns
vasos de paredes espessas e com moderado infi ltrado infl amatório crônico intersticial.
FIGURA 6 Peça que foi enviada para análise anatomopatologica. Tamanho da lesão removida da
bexiga comparada com uma seringa de 20ml.
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IMAGEM EM UROLOGIATUMOR MIOFIBROBLÁSTICO EM MEATO URETERALCÁSSIO ANTONIO BOTTENE SCHINEIDER LIGIA HENRIQUES CORONATTO
FIGURA 9 e 10 Lâminas do anatomopatológico utilizando técnicas de imuno-histoquímica realizadaspara excluir possíveis malignidades. Imuno-histoquímica marcando células fusiformes.
se anatomopatológica com microscopia óptica e
a imuno-histoquímica deve ser sempre realizada,
pois apenas elas descartarão possibilidade da ma-
lignidade da lesão 5.
O tratamento realizado é a excisão cirúrgica
completa da lesão feita por via endoscópica ou por
cirurgia aberta (cistectomia parcial). O prognósti-
co é ótimo. O índice de recidiva é raro, não haven-
do metástases á longo prazo. No entanto, por ser
um tipo tumoral pouco conhecido, especialistas
relatam que é de extrema importância manter o
paciente em acompanhamento rigoroso 1, 2, 4.
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REFERÊNCIAS