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Matéria de capa do suplemento infantil A Tardinha (Jornal A Tarde) sobre crianças com deficiência visual, publicada em 08.09.2012. Fotos: Fernando Vivas e Mila Cordeiro; Edição: Carla Bittencourt.
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EDITORA-COORDENADORA: NADJA VLADI / [email protected], SÁBADO, 8 DE SETEMBRO DE 2012 * ANO 06 * Nº 360
SUPLEMENTO INFANTIL DE A TARDE. NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
Há muitasformas de
ver o mundo
Na exposição Diálogo naEscuridão, você descobre
que nem todos enxergamcom os olhos. As mãos,
os ouvidos e até o gostodas coisas também
ajudam a ver págs. 4 e 5
Fernando Vivas/ Ag. A TARDE
Bruna Santos, 8,está aprendendoa ler em braile
SALVADOR, SÁBADO,8 DE SETEMBRO DE 20124e5
[ vá lá ]
Diálogo na Escuridão
De 6/9 a 31/10 / Segunda a
sábado, das 9h às 22h; domingo,
das 12h às 21h / Salvador
Shopping – G2 / R$ 40 (inteira)
MARCEL BANE
Rafael de Queiroz, 11, nunca viu a luz. Mas conhece um mundode formas, cheiros, sons e imaginação fortes. Ele nasceu cego.
Na escola, acompanha as aulas com um netbook, equipado como sistema operacional Dosvox. No Instituto de Cegos da Bahia, ele
tem aulas de braile e soroban. Na escola, as avaliações são feitascom a ajuda de um professor que escreve as provas em braile. “Quem
aprende datilografia não precisa enxergar. É só memorizar as teclas”,contou o professor Josevan Fernandes, que também é cego. Rafael não
desgruda da máquina na escola. E do celular também. Ele ia comprar umbanco imobiliário. Desistiu. “Acho que vou comprar uma câmera. Adoro
fotos, vou registrar a casa toda. Pergunto para a minha mãe o que ela estáfazendo, clico e pergunto como ficou”. Com a melhor amiga Alice Conceição, 11,
ele troca mensagens de texto e joga mini-games. Alice é vidente. É assim que sechama quem enxerga. Mas tem coisas que nem vidente vê por aí. “Eu não
consigo enxergar paz em lugar nenhum”, contou Alice.
CAPA
Compartilhar a vida e o aprendizadocom colegas especiais é fantástico.Isso é educação inclusiva. Se elesnão enxergam, você pode ser luz,som e direção. Na exibição Diálogona Escuridão, que está em Salvador,vocês trocam de papéis: você fica noescuro e eles te guiam. Se vocêtem um amigo cego, leia paraele esta edição em voz alta.
Fernando Vivas / Ag. A TARDE
IMAGINANDONO ESCURO
Glossário
BRAILE Alfabeto inventado
pelo educador francês Louis
Braille, no século 19. Ele
permite a leitura com as
mãos, utilizando letras e
números formados por pontos
em alto relevo.
DOSVOX É como um Windows
que fala. Este sistema lê o
que está na tela do
computador. Só não funciona
direito com vídeos.
SOROBAN Instrumento
japonês muito antigo, usado
para fazer cálculos.
Menina das artes
Braile e louvores
Bruna ensina aArthur comofunciona obraile
Laíssa Nunes, 8, tem baixavisão. Ela enxerga, mas poucoe apenas com o olho direito.A mãe, Sandra, teve umadoença na gravidez e Laíssanasceu assim. Ela já conheceos números e letras, masainda não lê muito bem.Faltam professores preparadosnas escolas, disse a educadoraPatrícia de Jesus. Nesse ponto,ela acha que a rede pública émelhor do que a particular.
No recreio, Laíssa corre,
brinca de pega-pega e noescorregador. “Gosto de tocarpiano, tenho um em casa”,contou Laíssa, que faz aulasde música, faz desenhos epinturas. E não desgruda daTV. “O problema é que oscanais não têm programascom audiodescrição, que é anarração do que acontece natela”, explicou Patrícia. É leiter pelo menos duas horaspor semana de programasassim. Mas poucos cumprem.
Como faço?
NOME Nunca chame uma
pessoa de cega ou ceguinha.
Ela tem nome, e isso é falta de
educação.
SOM Não grite quando falar.
Cegos ouvem.
FALE Se for assistir a um filme
ou ler um livro com um amigo
que não enxerga, não deixe de
descrever o que está
acontecendo e leia em voz alta.
ENCONTRO Quando encontrar
um amigo cego, anuncie a sua
presença. Isso o ajuda a
identificá-lo.
A Biblioteca Pública do Estado tem
um setor de braile há 43 anos. Há
voluntários para ler histórias. “É
uma troca”, disse Raquel de Ávila,
bibliotecária. Bruna Santos, 8,
nasceu cega. Ela foi pela primeira
vez lá, mas ainda não lê com
fluência. “Só faltam cinco letras”.
Arthur de Oliveira, 11, tem colegas
cegos na escola. “É preciso
respeitar, ajudar”. Ele aprendeu
uma letra com Bruna. “Se você
fechar o olho, não entende nada”.
A audição dela é incrível. “Ela
ouve tudo, mesmo baixo”, disse a
tia dela, Luana. Bruna também é
uma pequena diva da canção. “Eu
gosto de cantar louvores na
igreja”. Quem já ouviu disse que é
um vozeirão.
Fontes: Instituto de Cegos da Bahia; as bibliotecárias Raquel de Ávila e Davina dos Santos; o
professor Josevan Fernandes; a pedagoga Gessiane Dias; e a educadora especial Patrícia de Jesus
Troca de Papéis
A exposição estreou na
Alemanha em 1988. Hoje,
há 15 montagens no mundo.
São quatro ambientes cheios
de sensações. Você não vê
nada, mas imagina tudo.
Laíssa tembaixa visão e
estuda em uma
escola inclusiva
Mila Cordeiro/ Ag. A TARDE