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IMED ESCOLA DE DIREITO GRADUAÇÃO EM DIREITO LAURICE DARUI JUNTHON O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POST MORTEM E A DECISÃO DA FAMÍLIA X O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA NA DISTRIBUIÇÃO DA SAÚDE Passo Fundo 2018

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IMED

ESCOLA DE DIREITO

GRADUAÇÃO EM DIREITO

LAURICE DARUI JUNTHON

O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA NA DOAÇÃO DE

ÓRGÃOS POST MORTEM E A DECISÃO DA

FAMÍLIA X O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA NA

DISTRIBUIÇÃO DA SAÚDE

Passo Fundo

2018

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LAURICE DARUI JUNTHON

O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POST

MORTEM E A DECISÃO DA FAMÍLIA X O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA NA

DISTRIBUIÇÃO DA SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para

obtenção do grau de bacharel no curso de Direito,

Escola de Direito da IMED.

Orientadora: Prof. Dra. Cheila Aparecida Oliveira

PASSO FUNDO

2018

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LAURICE DARUI JUNTHON

O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POST

MORTEM E A DECISÃO DA FAMÍLIA X O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA NA

DISTRIBUIÇÃO DA SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para

obtenção do grau de bacharel no curso de Direito,

Escola de Direito, da IMED, com Linha de Pesquisa

em mecanismos de efetivação da democracia e da

sustentabilidade.

Passo Fundo, 04 de dezembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Cheila Aparecida Oliveira – Doutora em Direito - (Imed) - Orientadora

Prof. Jandir Pauli – Pós - Doutor em Sociologia Econômica - (Imed) - Co-orientador

Profª. Tássia Aparecida Gervasoni - Doutora em Direito - (Imed)

Prof. José Carlos Kraemer Bortoloti - Doutor em Direito - (Imed)

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Dedico este trabalho a Deus, à minha

família, ao meu noivo e principalmente a todos

os doadores de órgãos inter-vivos e pós–

mortem, pois demonstraram o que é amar

incondicionalmente o próximo em sua essência

real.

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AGRADECIMENTOS

Todos somos sabedores de que a vida é formada por ciclos e, quando chegamos ao fim

de um, começamos a refletir por tudo o que passamos durante este período. Concluímos por

sentir gratidão, sentimento de felicidade, de dever cumprido, de mais uma etapa vencida.

A luz interior de quem tem a prática de agradecer brilha, gera felicidade, a percepção

vai se tornando abundante, irradia confiança, expande, produz autoestima e abre caminho para

uma evolução consciente.

Expressar gratidão é a melhor estratégia para alcançar a felicidade plena. Para muitas

pessoas a expressão da gratidão significa dar o devido valor às coisas, de forma sincera e

profunda. A gratidão é um antídoto contra emoções ruins, que ajuda a neutralizar a inveja,

hostilidade, aborrecimentos e irritação. Praticar a gratidão é focar no agora, reconhecendo

todas as conquistas que você já teve, para receber ainda mais.

Não importa qual a religião que se segue, ou mesmo se é religioso ou não. Gratidão é

um sentimento universal, que não é complexo, é simples e puro, porém, complicado de expor

em palavras, em uma simples busca no Google significa "reconhecimento de uma pessoa por

alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor; agradecimento".

Refletindo sobre o fim desse ciclo de cinco anos de academia, quero render graças e

exaltar ao meu amado Criador, Deus, por ter me proporcionado esta nova oportunidade de

evolução, onde pude passar por inúmeros momentos de aprendizado durante toda a

graduação, na produção deste trabalho e principalmente por ser um ponto de força, o meu

alicerce seguro nos momentos de dúvida. Agradeço também aos seres evoluídos de luz que

sempre me guiam, ao meu amado anjo da guarda e ao meu protetor São Miguel Arcanjo.

Na definição de gratidão há pessoas que lhe prestam um favor e nos sentimos

agradecidos, mas há pessoas que lhe auxiliam durante a vida inteira, abdicando de suas

vontades e até mesmo dos seus sonhos em prol dos sonhos de seus filhos, sim, pais. Aos meus

amados Ilse e Alcides não encontro palavras para agradecer a tudo o que fizeram por mim,

mesmo diante da conquista de passar no vestibular em 2014. Foram dois anos em que bati o

pé contra eles, onde decidi que faria a faculdade sim, mesmo contra a vontade e sem o

consentimento e apoio deles, até que se deram conta que o meu sonho era maior e então

começaram a me apoiar e me deram muitas vezes auxílio financeiro. Obrigada pelos

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ensinamentos de ética e caráter, dos valores de família, ao incentivo de sempre continuar

estudando independente de qualquer adversidade, por quebrar cadeias na evolução, pois

nenhum deles se quer terminou o ensino fundamental e principalmente por falarem da minha

conquista com brilho nos olhos, mas o mais importante é que sei que a minha vitória é a

vitória de vocês também.

Durante o período da faculdade percebi o quão importante é receber motivação nos

momentos de dificuldade e não posso deixar de agradecer minha irmã Lenice, ao meu

cunhado Fabiano e agradeço a eles principalmente por me darem a melhor parte de mim:

minha sobrinha e afilhadinha Joana, que é meu alento nos dias de tristeza e a minha diversão

pra toda a hora, é luz para os meus olhos.

Tenho muito a agradecer àquelas pessoas que conheci na faculdade que, inicialmente

seriam somente mais algumas colegas dentre tantas, porém Deus resolveu fazer delas as

minhas amigas/ irmãs do coração: Andreza Colvero, Marina Brandão e Tanise Nicolini, que

se tornaram essências na labuta diária de estudo. Obrigada de todo o meu coração por tudo o

que fizeram por mim, são tantas histórias, tantas confissões, a cada alegria e cada momento de

dificuldade, por estarem sempre disponíveis a me ouvir indiferente da hora do dia, por sempre

estarem com o ombro amigo e dispostas a me ajudarem e fazerem desta etapa da Faculdade de

Direito, além de um momento de estudo de doutrinas, leis ou jurisprudências, um tempo de

criar laços tão fortes e profundos de uma amizade leal e sincera que levarei para toda a minha

vida.

Agradeço à Imed por ser a Instituição que é, por ter profissionais gabaritados, de

excelente conduta, ética e que possuem qualidade em tudo o que fazem, por priorizarem

sempre o aluno a frente de tudo, tenho orgulho de fazer/ ter feito parte desta trajetória. Fui

representante oficial da turma A, desde o segundo semestre até o décimo, e vi com os meus

próprios olhos a evolução e rumo que a Faculdade tomou. Tenho muito prazer e orgulho de

dizer que fiz parte da história dela, e espero de todo o meu coração ter deixado uma pouco da

minha marca por aqui, quer seja pelo carinho e respeito com que sempre tratei todos, além do

sorriso largo no rosto, retrato fiel e característica minha por estar num lugar onde sempre fui

bem colhida e tratada por todos.

Aos meus queridos colegas, sem poder nomear todos, foram fundamentais nesta

caminhada, para cada momento da graduação estivemos juntos nas provas mais difíceis, nos

trabalhos em grupo e nas mais diversas situações. Obrigada por me deixarem conduzi-los

como sua representante até o final, sei que não foi nada fácil em muitos momentos, mas vocês

foram ótimos, tenho muito orgulho de ter vocês como meus colegas, carrego no peito a alegria

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de fazer parte da vida de vocês e por me deixarem fazer parte das suas. Tenho a certeza de

ainda reencontrá-los na estrada da vida, espero e peço a DEUS que estejam bem, diante

daquilo que escolherão e seguirão com convicção.

Agradeço imensamente a todos os meus Mestres, que são muito além disso, tenho

orgulho de ter tido aula com Doutores na graduação e até com Pós-Doutores, mas além disso

simplesmente professores que, durante toda a graduação, dividiram comigo seus

conhecimentos de uma forma clara, objetiva e suprema. E principalmente agradeço muito a

minha orientadora Dra. Cheila Aparecida Oliveira, por todo o auxílio na elaboração deste

trabalho de conclusão de curso, pelos conselhos, pela atenção, parceria e por sempre me

incentivar, mesmo diante das intempéries impostas pelo estado de saúde a que se encontrava,

sempre priorizou estar em aula atendendo e fazendo o que tanto ama: ensinar. Além de ser

uma excelente orientadora, se tornou uma grande amiga a qual tenho muito respeito e

admiração, tenho muito orgulho de tê-la em minha vida e desejo que sua saúde seja

prontamente reestabelecida e que tu sejas feliz fazendo aquilo que mais ama.

Também sou grata às pessoas que conheci por onde passei em estágio, as quais são

fundamentais na caminhada rumo ao conhecimento prático, ao pessoal do Instituo de

Previdência Social (INSS) de Passo Fundo, também da 1ª Vara Cível Especializada em

Fazenda Pública e a Procuradoria Geral do Estado, foram fundamentais no lapidar daquilo

que aprendi em sala de aula ora disposto na temática prática.

Também emano meu agradecimento aos meus verdadeiros amigos, obrigada por

compreenderem a minha ausência diante da rotina a qual muitas vezes era frenética, por se

importarem comigo, por tornar a caminhada mais tranquila sabendo que a abdicação que ora

era necessária, justamente porque decidi alçar um voo mais alto, e sendo meus amigos, sei

que entenderiam.

Ademais, rendo o meu agradecimento à uma pessoa muito especial que Deus enviou

neste momento crucial da minha vida acadêmica, que auxiliou de forma substancial neste

trabalho de conclusão do curso, sendo portadora de vasto conhecimento naquilo que faz e que

tem um coração repleto de bondade e amor para com o próximo, a conheço simplesmente por

Renee, mas a gratidão que tenho para com aquilo que te propuseste a fazer não terei como

agradecer, este parágrafo é simples e pequeno diante do quão merecedora és do verdadeiro

reconhecimento. Obrigada por fazer parte dessa história. Deus te abençoe muito sempre.

Por fim, mas não menos importante, eu vou agradecer aquele que está ao meu lado em

todos os momentos, que compartilhei mais da metade da caminhada da faculdade com ele,

meu amigo, companheiro, namorado, noivo, namorido, enfim, Rudimar Saggiorato, não há

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como descrever em palavras o quão agradecida sou por ter você em minha vida. Serei pra

sempre grata por tua presença ao meu lado nesta caminhada evolutiva, me conheces tanto que

sabe quando não estou bem só pelo olhar ou pela forma de respirar. Obrigada por me afagar

com o teu abraço carinhoso, por me compreender diante das tempestades que se levantavam

diante de mim, por me dares forças para seguir em frente, por me animar, por não me deixar

abater diante das dificuldades, e por estar muitas vezes por meio do teu silêncio a me acalmar,

mesmo parecendo eu calma. Deus me enviou você, que me ensinou o que é ter calma, a

exercitar minha paciência, a esvaziar um pouco do meu copo, visto que devemos ter tudo de

forma equilibrada. Você faz parte desse momento também, essa vitória com certeza também é

tua. Te amo.

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“É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar

triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que

formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito,

nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta

que não conhece vitória nem derrota”.

Theodore Roosevelt

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RESUMO

O presente trabalho fundamenta-se no estudo dos princípios envoltos na linha da bioética e do

biodireito, os quais fazem parte da avaliação daquilo que é melhor para si e para a sociedade.

Dentre os principais princípios que serão elucidados, foram concatenados no sentido da

necessidade, em vista primária, para entendimento acerca da disposição do corpo (órgãos) em

vida e pós mortem, no intuito de auxiliar o Sistema Nacional de Transplante, o qual está com

a demanda sobrecarregada no sentido da oferta e procura, atravancando cada dia mais a fila de

pessoas que necessitam de um órgão para sua sobrevivência. O principal objetivo verificar se,

cada pessoa dispõe livremente direito ao próprio corpo no comércio de órgãos? Fere o

Princípio da Justiça no tocante a igual distribuição do direito a saúde? É possível respeitando

e seguindo os preceitos legais e fundamentais elencados na Constituição Federal e no atual

ordenamento jurídico? Ainda, podem haver métodos governamentais que auxiliem no

aumento das doações de órgãos em vida e também no pós mortem tendo como consequência a

diminuição do trágico internacional de órgãos? Nessa esteira também se faz necessária à

avaliação do princípio da justiça no sentido de reflexão quanto à distribuição igualitária no

que tange ao equilíbrio em se tratando do alcance efetivo no campo de direito fundamental à

saúde. Igualmente, é necessário também concatenar as evoluções pertinentes aos aspectos

éticos e do ordenamento jurídico, em face do surgimento de lei específica regulando e

esclarecendo quanto ao funcionamento no Sistema Brasileiro, relacionado ao consentimento

informado e a doação de órgãos inter-vivos e pós mortem no Brasil, em paralelo com outros

países. Ademais, é necessária a reflexão no que concerne aos direitos da personalidade, quais

são constitucionalmente fundamentais para uma possível disposição de um órgão em prol de

outra pessoa. O trabalho foi desenvolvido por meio do método hipotético – dedutivo qual

consiste na construção de conjecturas baseada nas hipóteses, isto é, caso as hipóteses sejam

verdadeiras as conjecturas também serão. Por isso as hipóteses devem ser submetidas a testes,

os mais diversos possíveis, à crítica intersubjetiva, ao controle mútuo pela discussão crítica, à

publicidade (sujeitando o assunto a novas críticas) e ao confronto com os fatos, para verificar

quais são as hipóteses que persistem como válidas resistindo às tentativas de falseamento, sem

o que seriam refutadas. É um método com consequências, que leva a um grau de certeza igual

ao das hipóteses iniciais, assim o conhecimento absolutamente certo e demonstrável é

dependente do grau de certeza da hipótese. À vista disso, ao longo do trabalho foi possível

contemplar a necessidade quanto a informação ao despeito da própria autonomia de vontade

para com a família possibilitando por meio de comunicação clara a vontade em vida de doar

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ou não órgãos, auxiliando de forma relevante as equipes multidisciplinares que atuam na

captação de órgãos para perfectibilizar o procedimento.

Palavras-chave: Autonomia de Vontade. Consentimento Informado. Dignidade da Pessoa

Humana. Direito Fundamental à Saúde. Doação de Órgãos.

.

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ABSTRACT

The present work is based on the study of the principles involved in the line of bioethics and

biology, which are part of the evaluation of what is best for oneself and for society. Among

the main principles that will be elucidated, they were concatenated in the sense of necessity,

in a primary view, to understand the disposition of the body (organs) in life and post mortem,

in order to assist the National Transplant System, which is with the demand overwhelmed in

the sense of supply and demand, cluttering each day more the queue of people who need an

organ for their survival. The main objective is to verify that each person freely has the right to

own body in the trade of organs? Does the Principle of Justice affect the equal distribution of

the right to health? Is it possible to respect and follow the legal and fundamental precepts

listed in the Federal Constitution and in the current legal system? Still, can there be

governmental methods that help increase donations of living organs and also postmortem,

with the consequence of reducing the international tragedy of organs? In this wake, it is also

necessary to evaluate the principle of justice in order to reflect on the equal distribution of

balance in relation to the effective scope in the field of fundamental right to health. Likewise,

it is also necessary to link the evolutions pertinent to ethical and legal aspects, in view of the

emergence of a specific law regulating and clarifying the functioning of the Brazilian System,

related to informed consent and the donation of inter vivos and postmortem organs in the

Brazil, in parallel with other countries. In addition, it is necessary to reflect on the rights of

the personality, which are constitutionally fundamental for a possible disposition of a body for

the benefit of another person. The work was developed through the hypothetical - deductive

method which consists of the construction of conjectures based on the hypotheses, that is, if

the hypotheses are true the conjectures will also be. Therefore, the hypotheses must be

submitted to the most diverse tests of intersubjective criticism, mutual control by the critical

discussion, the publicity (subjecting the subject to new criticism) and confrontation with the

facts, to verify what are the hypotheses that persist as valid resisting attempts at falsification,

without which they would be disproved. It is a method with consequences, which leads to a

degree of certainty equal to that of the initial hypotheses, so absolutely certain and

demonstrable knowledge is dependent on the degree of certainty of the hypothesis. In view of

this, throughout the work it was possible to contemplate the need for information in spite of

one's own autonomy of will towards the family, making possible through clear

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communication the will in life to donate or not organs, helping in a relevant way the

multidisciplinary teams that act in the capture of organs to perfect the procedure.

Keywords: Autonomy of Will. Informed Consent. Dignity of Human Person. Fundamental

Right to Health. Organ Donation.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13

1 A BIOÉTICA, SEUS PRINCÍPIOS E O BIODIREITO NA DOAÇÃO DE

ÓRGÃOS ....................................................................................................................... 15

1.1 O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA E O DIREITO AO PRÓPRIO CORPO ........... 18

1.2 O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA E O FUNCIONAMENTO DO

SISTEMA BRASILEIRO DE TRANSPLANTES E SUAS NORMAS ........................ 21

1.3 O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA E A IGUAL DISTRIBUIÇÃO DO DIREITO À

SAÚDE...........................................................................................................................27

2 DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA NO

DIREITO BRASILEIRO E O DIREITO INTERNACIONAL ............................... 30

2.1 EVOLUÇÕES LEGISLATIVAS NO DIREITO BRASILEIRO ............................. 31

2.2 PROJETOS DE LEI ................................................................................................. 35

2.3 O CONSENTIMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL ................................... 37

2.3.1 Legislação Espanhola .......................................................................................... 38

2.3.2 Legislação Portuguesa ......................................................................................... 39

2.3.3 Legislação Francesa ............................................................................................. 40

2.3.4 Legislação Americana ......................................................................................... 41

2.4 O CÓDIGO CIVIL ................................................................................................... 41

3 O DIREITO AO PRÓPRIO CORPO E A JUSTA DISTRIBUIÇÃO DO

DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE .................................................................... 43

3.1 O DIREITO AO PRÓPRIO CORPO E A DISPOSIÇÃO DE ÓRGÃOS EM

VIDA .............................................................................................................................. 45

3.2 O DIREITO À SAÚDE E A DISPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS PÓS MORTEM ....... 45

3.3 VENDA DE ÓRGÃOS NO BRASIL ...................................................................... 48

3.4 O PAPEL DO ESTADO NA EFETIVAÇÃO DO DIREITO AO PRÓPRIO CORPO

E A SAÚDE E ADOÇÃO DE MEDIDAS DE INCENTIVO ESTATAL EM PROL

DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS ........................................................................................ 53

3.5 DADOS ATUALIZADOS DAS DOAÇÕES DE ÓRGÃOS NO RIO GRANDE DO

SUL E CONVICÇÕES MÉDICAS A RESPEITO DAS PROBLEMÁTICAS

QUE DIFICULTAM A DOAÇÃO NO PÓS MORTEM ............................................... 54

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 61

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REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 64

ANEXO A – Lei n. 9.434, de 04 de fevereiro de 1997 ................................................ 71

ANEXO B - Declaração de Istambul sobre tráfico de órgãos e turismo de

Transplante ................................................................................................................... 80

ANEXO C – Resolução do CFM 2.173/2017 .............................................................. 88

ANEXO D - Decreto 9.175/2017 .................................................................................. 101

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INTRODUÇÃO

O tema adotado para a realização do presente trabalho funda-se no princípio da

autonomia o qual é envolto pelo princípio fundamental da dignidade humana, sendo que este

deve ser respeitado e a qualquer tempo abordado, visto a importância que o assunto toma na

atual conjuntura do país.

Nesse contexto, a remoção de órgãos para fins de transplantes sempre provocou

discussões polêmicas, por se tratar de um assunto extremamente delicado, posto que aborda

diretamente os mais profundos valores éticos e morais de uma sociedade, exigindo reflexões

mais abrangentes acerca dos direitos fundamentais, tal como o respeito à dignidade humana,

nele inserido o direito da personalidade e a autonomia de vontade.

Primordialmente, este assunto detém tamanha importância, à vista do elevado número

de pessoas que aguardam ansiosamente sua vez, na fila única de espera, e dependem de uma

ligação, para atingir o principal objetivo, um doador compatível, para que sua saúde seja

assegurada ou até mesmo a sua sobrevivência. Tal temática irá abranger a moral, a ética, o

direito, a consciência da pessoa, a educação, o livre arbítrio, a solidariedade e principalmente,

a vida.

Nesse sentido, em elevada escala, há muitas informações circulando atualmente na

área do biodireito e da saúde em geral, no âmbito de que, a necessidade de transplantar um

órgão tem levado ao desespero as pessoas que dele necessitam, fazendo-as sair do país e

buscarem por intermédio de outros meios a resolução de tal problema, uma vez que na

legislação destes países é possível a doação e ainda a comercialização de órgãos em vida,

possibilitando então para aquele que assim se submete a solucionar o seu problema.

Em se tratando de autonomia sobre o próprio corpo é possível ter a dimensão de quão

ampla e extensa esta discussão pode ser, sendo que se pode questionar se há total autonomia

sobre o próprio corpo, pois se pode tatuar, colocar “piercings”, adornos entre outros, mas

deve-se fazer um contra balanço com aquilo que a moral, a ética e os bons preceitos, a própria

“voz interior”, tratam quanto a questão em voga, pois, deve-se respeitar tais normas morais,

éticas e até mesmo jurídicas. Contudo, é necessário realizar esta análise, para que se pondere a

interferência Estatal na vida de cada pessoa, a qual compõe uma sociedade, e, portanto o

Estado possui domínio e influência direta quanto aquilo que se pode ou não fazer, então, é

preciso fazer uma diferenciação sobre o que é, e o que trata o princípio da autonomia e

também, quanto ao princípio da justiça.

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O princípio da dignidade humana, inerente à pessoa, manifesta-se na

autodeterminação consciente e responsável da própria vida, trazendo consigo a pretensão ao

respeito por parte das demais pessoas. Como meio de garantir esse mínimo que todo o

estatuto jurídico deve assegurar, a Constituição Federal de 1988 reconheceu em seu texto que

a pessoa é detentora de direitos inerentes a sua personalidade, assim entendida com as

características que a distinguem como ser humano.

Na visão de Matte (2017), o tráfico de órgãos humanos é um mercado clandestino que

existe no mundo inteiro para satisfazer a oferta e a procura de órgãos, onerando as classes

mais desfavorecidas. De acordo com a autoria, o Brasil é o segundo país que mais realiza

transplantes renais e hepáticos no mundo, e é um grande fornecedor de órgãos ao mercado

clandestino. Neste sentido, a legalização da comercialização de órgãos, é defendida como

uma forma de acabar com o mercado clandestino, porque age equilibrando a oferta e a

procura. O comércio ilegal tem como fatores de justificativa o desequilíbrio e a demora.

Assim, este trabalho pretende aprofundar-se sobre o tráfico de órgãos mundial,

comparando as principais legislações internacionais e nacionais que tratam sobre o tema, além

de discutir sobre a possibilidade de legalização da comercialização de órgãos no Brasil em

face dos princípios constitucionais do direito à vida e da dignidade da pessoa humana.

Também serão estudadas as principais legislações sobre o comércio de órgãos, apresentando

leis e projetos de lei documentados com o objetivo de elucidar a pesquisa. Por fim, analisar

quais os entraves às doações de órgãos no País.

A pesquisa que segue foi estruturalmente organizada em três capítulos, utilizando-se o

método dialético, por meio do qual serão contrapostas teses opostas (tese e antítese) para

chegar a uma conclusão (síntese) sobre a importância do assunto. O primeiro capítulo

apresenta o tema Bioética com seus princípios e o Biodireito na doação de órgãos, o segundo

capítulo trata da doação de órgãos e a evolução legislativa no Direito Brasileiro e o Direito

comparado e o terceiro capítulo discorre sobre o direito ao próprio corpo e a justa distribuição

do direito à saúde.

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1 A BIOÉTICA, SEUS PRINCÍPIOS E O BIODIREITO NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

O progresso científico, que na área da medicina é assinalado por um conjunto de

práticas que visam o prolongamento da vida, deve priorizar valores superiores como o da

dignidade da pessoa humana e a preservação da vida, sempre observando os preceitos éticos e

jurídicos, além de respeitar os princípios que visam auxiliar na conduta dos profissionais

responsáveis pela ação.

Neste sentido, se deu a palavra "ética" que vem do grego “ethos” que significa aquilo

que pertence ao "bom costume", "costume superior", ou "portador de caráter ", sendo

princípios universais, ações em que se acredita e não mudam, seja qual for o lugar onde se

está, diferenciando-se da moral pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e

hábitos recebidos, a ética fundamenta as ações morais tão somente pela razão. (WALKER,

2015, p. 01).

Por isso, de acordo com Chaui (2010) a ética se dá pela educação da vontade. A

filosofia moral ou a ética inicia quando se indaga o que são, de onde vêm e o que valem os

costumes. Surge também quando o objetivo é compreender o caráter de cada pessoa, o senso

moral e consciência moral individual. A autora conceitua senso moral como a maneira como é

avaliada a situação pessoal e a dos outros, segundo conceitos de justiça, injustiça, bom e mau.

São os chamados sentimentos morais. Já a consciência moral não se trata apenas dos

sentimentos morais, mas as avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós

mesmos, agindo conforme elas e a responder por elas perante os outros. Isso significa ser

responsável pelas consequências de nossos atos. (CHAUI, 2010).

É necessário poder entender o surgimento da ética sendo esta de suma importância, no

que tange principalmente sua diferenciação em relação à moral, pois tem-se o costume ou a

inconsciente idéia de que sejam parecidas ou que o seu sentido é igual, o que não é verdade,

pois apresentam relações de características diferentes e a sua distinção justamente se dá pela

abordagem, a qual abaixo será explicitada.

Assim, a ética sempre abarca a questão teórica como o modo de ser, caráter,

disposição, hábito, índole. Sendo ciência do caráter e fazendo reflexões sobre esta, ainda, é

uma disciplina filosófica, que orientará para a opção de adesão a uma norma moral, significa

o estudo dos valores morais, daquilo que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto,

não sendo esta exposta ao exterior e fazendo uma reflexão sempre crítica acerca da ação

humana ou social, da qual sempre buscará justificativas para as regras indicadas pela moral e

pelo direito, pois por si só não estabelece regras.

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A moral de origem latina “mos ou moris” se dá pela prática habitual de costumes

coletivos e de valores, a qual está envolta num conjunto de normas para o agir concreto, na

maneira de se comportar, sempre regulada pelo uso das relações interpessoais. Sendo então

um conjunto de preceitos, princípios, costumes, normas, de valores, contidos num código, que

justamente servem como caminho a seguir, em um comportamento do indivíduo no seu grupo

social, tendo como exemplo os 10 mandamentos bíblicos, sendo nestes, obrigatória a presença

do caráter. Nesse sentido, Augusto Comte “a moral sempre consistirá em fazer prevalecer os

instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas”. (RIBEIRO, 2015)

A Bioética é o diálogo entre a ética e a vida. Quem utilizou deste termo inicialmente

foi o Pastor Fritz Jahr, num periódico alemão (Kosmos), no ano de 1927, e caracterizou a

Bioética como sendo o reconhecimento de compulsões éticas não apenas em relação ao ser

humano, mas sim, com todos os seres vivos. Então nos anos 60, no contexto da bioética foram

abordadas mais incisivamente as questões que se tornaram públicas, quando os EUA tomaram

conhecimento de casos de manipulação em pesquisas, com doentes e pessoas mentalmente

fragilizadas, pacientes com abusos nos tratamentos clínicos, experimentações em pacientes

terminais, as quais sensibilizaram a sociedade e preocuparam os órgãos governamentais,

despertando a discussão acerca dos direitos dos enfermos.

Surgindo então nos anos 70, a partir de grandes progressos tecnológicos na área da

biologia, que acarretaram grande poder de intervenção sobre a vida e a natureza, e aos

consequentes problemas éticos derivados das descobertas e aplicações das ciências biológicas

(OLIVEIRA, 1997, p.05). Nesta esteira, foi aprovada nos hospitais dos Estados Unidos, a

carta dos direitos dos enfermos, tornando um marco na relação de profissionais da saúde e

doentes. A grande questão que se aborda desta época até a atualidade é a problemática de

como humanizar a relação entre pessoas que possuem conhecimentos médicos e o ser

humano, muitas vezes extremamente doente, fragilizado e a mercê dos conhecimentos

técnico-científicos, dos quais as equipes médicas usam e abusam no tratamento verbal.

Neste sentido, se deu a necessidade da criação de um consentimento informado nos

quais muitos procedimentos são esclarecidos de forma escrita, com linguagem de fácil

compreensão e entendimento a qualquer pessoa, pois este instrumento é de extrema

necessidade na atualidade. Seu objetivo principal é proteger a comunicação entre o

profissional de saúde e o doente, assim prevenindo que a ignorância o leve a uma escolha

equivocada, portanto devendo suprir a falta de informação e garantindo o respeito a sua

dignidade.

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No entendimento de Bittar (2009, p.10), “a bioética seria uma resposta às novas

situações originárias da ciência no campo da saúde, tomando-se não só dos problemas éticos,

provocados pelas tecnociências biomédicas e alusivos ao início e fim da vida humana, mas

sim uma resposta aos riscos próprios à prática tecnocientífica e biotecnocientífica”. A partir

disso, evidencia-se que os elementos necessários a serem explorados neste campo referem-se

aos três princípios que norteiam a bioética como a justiça, que aborda as instituições de saúde

e a sociedade no tratamento de questões relativas à vida e à saúde dos enfermos, a autonomia,

que é ponto de referência ético para o enfermo e a beneficência, como sendo para o médico,

sendo que esta última deve ser sugeridamente desdobrada em dois, ou seja, beneficência e

não-maleficência (BEAUCHAMP E CHILDRESS, 2013, p.209).

Estruturar o Biodireito requer o entendimento de que este surgiu por meio da

necessidade da intervenção do Direito na ocorrência dos fatos e análises provenientes de

questões bioéticas. Por isso, antes de qualquer coisa, é importante saber que não se pode

reduzir o direito a um instrumento, substituindo os direitos do homem pelos direitos de um

homem em função de suas predisposições genéticas. Não se refere, simplesmente, a encontrar

um “correspondente jurídico” para Bioética, mas de estabelecer quais as normas jurídicas que

devem reger os fenômenos resultantes da biotecnologia e da biomedicina, também

disciplinados pela Bioética. Na verdade, a possibilidade de colisão parece remota, na exata

medida da relação existente entre Ética e Direito. Contudo, não seria razoável resolverem-se

conflitos jurídicos exclusivamente com fundamentos em princípios da Bioética.

Segundo Silva e Serra (2009), o Biodireito eclodiu nos anos 90, apesar de seu

surgimento parecer mais antigo, mas, este campo realmente se tornou muito fértil, devido às

lacunas de legislação referentes a fatos decorrentes desta revolução biomédica e cabe a este

pensar tanto nas normas quanto nos critérios de decisão sobre as inovações da biotecnologia,

sempre sendo inspirado nos princípios da Bioética, a qual sugere sempre a finalidade do

sentido da vida humana e os fundamentos dos deveres sociais, destacando sempre que acima

de qualquer revolução está o valor da vida humana.

À vista disso, nota-se que o Biodireito é compreendido por meio de quatro

paradigmas: O formalístico, em que é impensável a constituição do Biodireito, pois o papel do

Direito é a pura formalização jurídica de decisões éticas prévias; o individualismo-libertário,

o qual diz que, quem não está em condições de exigir seus direitos, sejam estes fetos ou

adultos excepcionais, estão excluídos da proteção jurídica; o procedimental, que atribui ao

direito à função de defender uma ética convencional pública, que fixe universalmente os

procedimentos publicamente aceitos e reacional, que diz que é juridicamente ilícita toda a

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modalidade de relação que altere a simetria de reciprocidade, dando-a um elo da relação,

poderes não reconhecidos ao outro (MAIA, 2017, p.158)

Diante disso é necessário um Biodireito que justamente promova e defenda a

igualdade e o respeito recíprocos dos sujeitos de qualquer relação interpessoal na qual está

implicada a vida humana, assegurando também a responsabilidade e solidariedade social por

aqueles diminuídos em sua dimensão relacional, afirmando sua subjetividade jurídica

(SOUZA, 2009, p.57).

Portanto, evidencia-se a necessidade de tal abordagem, para que seja possível o

entendimento do princípio da autonomia, quanto ao direito ao próprio corpo, além disso, do

princípio da beneficência, buscando esclarecer e explicitar como funciona o sistema brasileiro

de transplante, concatenando suas normas e envolto nesta aura, o princípio da justiça e a igual

distribuição do direito à saúde. Viés que é necessário para o entendimento dos mecanismos

para a efetivação de uma democracia sustentável em relação a um direito que respeite a

dignidade do ser humano e que ao mesmo tempo atenda as expectativas sociais nas demandas

pertinentes ao alcance do direito, que respeite o direito à saúde e à justiça.

1.1 O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA E O DIREITO AO PRÓPRIO CORPO

O surgimento da palavra autonomia se dá pela derivação do grego “próprio” e

“nomos” como sendo “regra”, “governo” ou “lei”, como forma de autogestão nas cidades

gregas e a partir de então o termo autonomia se estendeu aos indivíduos, adquirindo sentidos

bem diversos, dentre os quais está elencado os direitos de liberdades, de escolha individual,

pertencer a si mesmo, liberdade de vontade. (CONPEDI, 2015)

O conceito de autonomia, debatido em diferentes ordens discursivas, tais como a

filosofia, neurociências, genética, psicanálise e teoria política, é complexo e de difícil

aplicação aos conflitos da vida. (RUSSO, 2002)

Autonomia é definida como a capacidade do indivíduo em decidir fazer o que julga ser

o melhor para si mesmo, então estas condições se caracterizam pela capacidade de agir

intencionalmente, pressupondo compreensão, razão e deliberação para decidir coerentemente

entre as alternativas que lhe são apresentadas na liberdade, sem influência controladora, para

esta tomada de decisão e, na segunda hipótese, o significado de ter consciência do direito que

o indivíduo tem de possuir um projeto de vida próprio, com seus pontos de vista e opiniões,

escolhas autônomas, agindo segundo seus valores e convicções. Portanto, a autonomia é

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preservar os direitos fundamentais do homem, aceitando o pluralismo ético-social que existe

na atualidade (MAIA, 2015).

A autonomia afigura-se, portanto, como o reconhecimento de direito individual de

poder fazer aquilo que se tem vontade, desde que não prejudique os interesses de outras

pessoas. Dessa forma, a autonomia possui valor inestimável, já que vários direitos

fundamentais, como a liberdade de locomoção, de expressão, de religião, de reunião, de

profissão, de disposição sobre o próprio corpo, decorrem deste princípio (LIMA, 2008).

Um exemplo explícito desta idéia é a prática assistencial, é no respeito ao princípio de

autonomia que consiste a aliança terapêutica entre o profissional de saúde e seu paciente e o

consentimento para os diagnósticos, exames, procedimentos e tratamentos (MAIA, 2015). É

este princípio que leva o profissional da saúde a dar ao paciente a mais completa informação

possível, com o objetivo de que o problema seja compreendido e assim o paciente possa

tomar uma decisão. No entanto, é visto que grande parte da população não tem o devido

esclarecimento quanto aos verdadeiros malefícios de tais procedimentos e confiam no

profissional que ora lhe repassa tais informações, no intuito de auxiliá-lo na tomada de

decisão, mas será que este profissional está agindo com ética, será que os seus interesses não

prevalecem em determinadas situações?

Na visão de Mello, Rodrigues e Andrade (2015), respeitar a autonomia significa

ajudar o paciente a suplantar seus anseios de dependência, dando justificativas para que ele

coloque em primeiro plano seus valores e preferências legítimas, para que possa discutir as

opções diagnósticas e terapêuticas. Além disso, não são raros os casos em que pacientes estão

sob efeito de forte medicação, em procedimentos cirúrgicos, entre outros, não havendo

possibilidade de escolha, ou de agir com autonomia na tomada de decisão referente ao que

deve-se fazer em determinada situação.

De maneira muito resumida, pode-se dizer que a essência do consentimento

informado é resultado desta interação entre profissional e paciente. O consentimento

informado é uma decisão voluntária, verbal ou escrita, que deve ter como protagonista uma

pessoa autônoma e capaz, antes de qualquer procedimento, por meio do qual tomará a

decisão, após um processo informativo, onde aceitará um tratamento específico ou

experimentação, consciente de seus riscos, benefícios e possíveis consequências (LOCH,

2002).

Dessa forma, a autonomia de escolha possui valor inestimável, já que inúmeros

direitos fundamentais, como de religião, de reunião, de profissão, de expressão, de disposição

do próprio corpo, decorrem diretamente de tal princípio (LIMA, 2008).

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A proteção da autonomia da vontade objetiva proporciona à pessoa o direito de

autodeterminação, ou seja, determinar o seu próprio destino, fazendo escolhas que digam

respeito a sua vida e ao seu desenvolvimento humano (MORAIS, 2010, p.334).

A autonomia é, portanto, um dos pivôs dos direitos fundamentais do homem e,

notadamente, dos seus direitos de personalidade (MORAIS, 2010, p. 334).

Assim, a autonomia de vontade configura-se, portanto, como a capacidade de

autodeterminação, o poder de realizar suas próprias escolhas individuais, de modo a promover

o livre desenvolvimento da personalidade.

A partir dessa perspectiva, é possível perceber a necessidade de se desprender de

tendências, pensamentos, a fim de se desvincular de qualquer tipo de inclinação, para que a

tomada de decisão, seja ela qual for, seja consciente e despretensiosa, no sentido de ser

verdadeiramente autônomo.

Mas até que ponto se tem total disposição do próprio corpo? Ser autônomo não é a

mesmo que ser respeitado como um agente autônomo, ou seja, respeitar um agente autônomo

é reconhecer o direito desta pessoa ter as suas opiniões, de poder fazer as suas escolhas,

sempre agindo com base em valores e crenças pessoais e isso significa portanto um

envolvimento de ação respeitosa e não simplesmente uma atitude de cunho respeitoso. Para

esclarecer, a obra de Beauchamp e Childress trata sobre esta questão:

Muitas críticas dirigidas aos usos concorrentes do princípio de respeito à autonomia

na ética biomédica observam que a autonomia não é nosso único valor e que o

respeito pela autonomia não é o único imperativo moral. Esses críticos

acertadamente destacam que muitas das tomadas de decisões na assistência à saúde

não dependem somente de se respeitar a autonomia, mas sim preservar a capacidade

de autonomia às condições de uma vida digna. Portanto, o respeito à autonomia com

frequência é menos importante do que as manifestações de beneficência e

compaixão. Tais críticas, porém, só são eficazes contra as teorias éticas que

reconhecem um princípio de autonomia exageradamente estreito ou que tratam o

princípio como incondicional ou como anterior a todos os demais princípios. O

princípio de respeito à autonomia deve ser atingido enquanto estabelecendo um

firme direito de autoridade para o controle do próprio destino pessoal, não mais

como a única fonte de obrigações e direitos morais (BEAUCHAMP CHILDRESS,

2013, p. 144).

Nota-se, diante disso, que claramente se corrompe a autonomia do indivíduo pela

graça da beneficência e compaixão, ocasionando um corrompimento na linha de respeito e

interferindo diretamente na autonomia de uma sociedade, a qual produzirá consequências

destoadas, como se aquilo que cada pessoa realmente quer, fosse induzido e educado a ser

aquilo que é melhor e mais compensador para a sociedade.

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Por fim, cabe também abordar a idéia de Godinho, que propõe critérios, que possam

aferir, quando será lícito, que uma pessoa por um ato de somente pura vontade disponha da

sua integridade física e de seu direito ao próprio corpo, formulando estudos, diante das bases

da ordem jurídica brasileira, não perdendo de vista obviamente o caráter universal das

questões em voga abordadas, tentando observar as temáticas que escapam ao olhar da

doutrina nacional, seja pelo ângulo do direito civil, constitucional ou ainda, sob domínios da

bioética e também do biodireito (GODINHO, 2014).

1.2 O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA E O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA

BRASILEIRO DE TRANSPLANTES E SUAS NORMAS

Beauchamp e Childress definem beneficência como uma ação feita em benefício de

outros. Este princípio estabelece a obrigação moral de agir em prol dos outros. É importante

distinguir da benevolência, que é a virtude de se dispor a agir em benefício dos outros

(BEAUCHAMP E CHILDRESS, 2013, p. 260).

Este é o Princípio que regula as instâncias éticas da medicina, onde se bifurca em

prover benefícios e ponderar benefícios e danos, portanto este é um dever para o profissional

de saúde, o qual sempre deve refletir e indagar sobre tais questões, como quando o enfermo

corre risco significativo de sofrer dano ou prejuízo. Um grande e ponderável exemplo é

quanto ao envolvimento de pacientes em pesquisas, para o possível benefício de substâncias,

as quais são desconhecidas e são então “testadas”, ocasionando em determinadas proporções

danos aos indivíduos envolvidos. Portanto, este caracteriza-se na obrigação ética de

maximizar o benefício e minimizar o prejuízo. Assim sendo, é fundamental que este

profissional tenha abordado todas as informações possíveis e pertinentes a tal situação, que

assegure faticamente que o ato médico seja benéfico ao paciente, ou seja, que faça o bem, não

infligindo, portanto um dano deliberado. Fazendo um contraponto também ao princípio da

não-maleficência, está estabelecendo que a ação entre o médico e o paciente sempre deve

causar o menor prejuízo possível à saúde do paciente, é uma ação que não faz o mal.

À vista disso, nota-se que o conceito de beneficência é necessário e se faz presente em

qualquer envolvimento ou trato médico-paciente, visto que em grande parte dos casos, os

pacientes não estão a par dos benefícios ou prejuízos que tal ação pode trazer sobre a sua vida.

Nesse sentido, o transplante do órgão afetado torna-se uma alternativa, já que aquele que

encontra-se em seu corpo, ora está lesionado, doente, falho ou limítrofe ao funcionamento

normal. Por conseguinte, o resultado que se espera de um transplante é que a expectativa de

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vida do paciente seja mais positiva do que a doença que motivou o procedimento. Mesmo

sendo servida de todas as opções de tratamento disponíveis, em alguns casos o que acontece é

que muitos transplantados passam a não ter limitações físicas no seu cotidiano.

Com relação ao transplante, ele é realizado através de cirurgia que resulta na troca de

um órgão, tecido ou parte de um corpo da pessoa doente por outro órgão ou tecido saudável

de alguém que morreu. Em alguns casos, pode ocorrer a troca também inter-vivos, sendo que

transplantes desta última modalidade ocorrem em menor incidência no Brasil (SILVA, 2009,

p. 1594).

A legislação brasileira define que a doação inter-vivos é realizada entre pessoas que

tenham parentesco de até 4º grau, de preferência, sendo que é permitido ao doador vivo ceder:

um dos rins, parte do fígado, do pulmão, ou da medula óssea, ou do intestino. Para isso,

exige-se que haja um padrão imunológico idêntico ou compatível, para aumentar a

probabilidade de êxito nos transplantes renais e de medula óssea (SILVA, 2009, p. 1594).

O Sistema Brasileiro de Transplantes abarca a demanda de todo o território nacional,

atualmente o transplante de órgãos e tecidos entre pessoas vivas funciona por meio de doação

voluntária, feita por pessoa juridicamente capaz, preferencialmente por escrito e na presença

de duas (02) testemunhas, especificando o órgão, tecido ou parte do seu corpo que será

retirado para a realização de transplante ou enxerto de pessoa, devendo haver comprovação da

necessidade terapêutica do receptor. O documento deve conter duas vias, sendo que uma é

destinada ao Ministério Público, com protocolo de recebimento na outra, como condição para

a então doação. A doação de medula é um caso em que se dispensa estas formalidades. Todo

o doador é informado sobre os riscos imediatos e tardios, por meio de um documento

expedido na ocasião e oferecido à leitura de duas testemunhas, as quais devem assiná-lo. O

que fica claro neste sentido é que a doação de órgãos deve ser um ato livre, consciente,

explícito, gratuito e responsável.

A matéria de transplantes é dirigida pela observância dos direitos da personalidade,

amparados nos princípios da dignidade do indivíduo que impõe a adoção de procedimentos

que lhe possibilitarão o prolongamento da vida ou a melhoria da qualidade (SILVA, 2009, p.

1595).

A partir dessa garantia constitucional acerca da dignidade, o tema decorre pelo

reconhecimento de ser, tanto o direito à vida, quanto à integridade física, direitos da

personalidade e, assim, indisponíveis, tutelados pela Constituição Federal do Brasil, pelo

Código Civil e pelo Código Penal (SILVA, 2009, p. 1595).

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O mercado de órgãos e tecidos humanos está disposto na Lei nº 9.434/1997 e na

Resolução do Conselho Federal de Medicina nº1480/1997 (quanto à constatação da morte

encefálica, independentemente da doação ou não de órgãos). Na Constituição Federal de

1988, no artigo 199, traz enfaticamente em seu parágrafo 4º:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema

único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou

convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às

instituições privadas com fins lucrativos.

§ 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros

na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.

§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de

órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e

tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus

derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. (BRASIL, 1988).

Destarte, requerem gratuidade na disposição de órgãos e tecidos em vida ou pós

mortem, para fins de transplante e tratamento, no mesmo sentido dos EUA, da quase

totalidade dos países europeus e parte dos países africanos e asiáticos que proíbem a

comercialização de órgãos. Porém, na Índia o comércio de rins já existe, mas devido à

impossibilidade financeira da população ocorre uma verdadeira caça, pois pessoas do mundo

todo que necessitam de um órgão, vão a procura destes naquele País. O fato é que aquela

população é extremamente miserável e faz a “doação/comercialização” meramente por

necessidade.

Assim, a retirada de um órgão humano que seja indispensável à vida só pode ser

realizada após a morte do doador. Alguns órgãos podem ser aproveitados para transplante se

forem retirados em um tempo determinado após a parada cardíaca do doador, mas existem

também órgãos do corpo humano que só podem ser utilizados em transplante se forem

retirados quando o coração do doador ainda estiver em funcionamento. Deste modo, é

necessário que se constate quadro irreversível, denominado morte encefálica (RIBEIRO,

2004).

Ainda de acordo com Ribeiro (2004), o diagnóstico de morte encefálica obedece

critérios estabelecidos mundialmente, existindo porém variação de técnica de acordo com o

país, com a finalidade de comprovar a ausência de reflexos que só se concretizam na

existência de atividade encefálica. Quando diagnosticada a morte encefálica, a retirada de

órgãos pode ser realizada, de acordo com as normas de cada país.

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Os órgãos retirados são resfriados e lavados, adequadamente embalados e colocados

em caixa resfriada para conservá-los a uma temperatura em torno de 4ºC. As técnicas de

retirada e conservação dos órgãos prolonga o tempo em que ele continua viável fora do

organismo (RIBEIRO, 2004).

Segundo considerações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos – ABTO,

as córneas podem ser retiradas até seis horas após a parada cardíaca do doador, e quando

preservadas adequadamente permanecem viáveis por até 7 dias. É recomendável que os rins

sejam retirados até 30 minutos após a parada cardíaca do doador e conservados por até 48

horas. O coração e o fígado são órgãos que devem ser retirados antes da parada cardíaca do

doador. O coração é preservado por até 6 horas, e o fígado por 24 horas. É comum que as

cirurgias de retirada e de transplante ocorram de maneira concomitante, para favorecer a

viabilidade dos órgãos (RIBEIRO, 2004)

Para que um transplante tenha sucesso é necessário haver um eficiente mecanismo de

comunicação, pois assim que for identificado um doador num serviço de saúde e obtida

autorização para o transplante, a central de transplante é comunicada para selecionar o

receptor, de acordo com critérios de lista de espera, convocá-lo para a cirurgia, avisar a

unidade transplantadora e transportar o órgão para o local do transplante.

Neste processo, conta-se com médicos, enfermeiros, auxiliares e também com serviços

de laboratório e de banco de sangue. Desta forma, a retirada de órgãos e a realização de

transplantes não são tarefas simples, pois exigem pessoal e equipamentos diferenciados para

cada tipo de transplante (SILVA E SERRA, 2009).

Conforme o Ministério da Saúde, o Sistema Nacional de Transplantes, criado no ano

de 1997, é capacitado para administração dos transplantes, financiados pelo Sistema Único de

Saúde, o Brasil atualmente possui 25 centrais de captação nos Estados e no Distrito Federal,

além de contar como uma Central de Notificação Nacional, que se localiza em Brasília. Este

sistema ainda conta com 548 estabelecimentos autorizados a realizar os procedimentos de

transplante, envolvendo cerca de 1.376 equipes médicas. Desse modo, o Sistema Nacional de

Transplantes é um dos maiores sistemas públicos de transplantes do mundo, pois conforme

dados levantados deste sistema, houve um número elevado no que se refere a doação de

órgãos, principalmente depois que o decreto do presidente Michel Temer (nº 8.783 de junho

de 2016) determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) permaneça em solo

para transporte de órgãos. Ainda, em 2016, foram transportados 1.023 órgãos pelas

companhias aéreas. Sendo que dezembro de 2013, já tinha sido assinado um acordo de

cooperação com as cinco maiores empresas aéreas, para efetuar o transporte de órgãos e

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equipe médicas com prioridade de voo e decolagem das aeronaves, o que integrava a parceria

entre a Secretaria de Aviação Civil, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear),

Força Aérea Brasileira (FAB), Agência Nacional de Aviação Civil e a Infraero. Pois entre

2000 a 2008, os transportes eram realizados por poucas empresas aéreas. Conforme a

ANVISA, o objetivo é minimizar os riscos sanitários e garantir que as condições fisiológicas

do órgão sejam preservadas, reduzindo assim as possibilidades de rejeição do paciente.

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015)

No atinente à importância da cooperação de forças nacionais, equipes médicas e

hospitais conveniados com este sistema é que se dá a ênfase dos resultados das expressivas

doações realizadas, pois o prazo entre a retirada do órgão doado e o seu implante no receptor

é chamado de tempo de isquemia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). Dentro dos tempos

máximos de isquemia normalmente aceitos para o transplante de diversos órgãos têm-se: o

coração (4 horas) fígado (12 horas), pâncreas (20 horas), pulmão (6 horas), rim (48 horas). No

ano de 2010 foram realizados 167 transplantes de coração e, no ano de 2016, foram 357. Em

2010 foram 1.404 transplantes de fígado e, em 2016, foram 1.880. Transplantes de pâncreas

no ano de 2010 eram 44 e em 2016 houve uma queda para 26. De pulmão no ano de 2010

eram 60 e em 2016 foram 96. De rim no ano de 2010 eram 4.660 e em 2016 foram 5.492. Em

2010 foram efetuadas 12.923 doações de córneas e, em 2016, foram 14.641. De medula óssea

1.695 no ano de 2010, em 2016 foi de 2.362 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015)

Atualmente o Brasil tem o maior sistema público de transplantes do mundo. Cerca de

95% dos procedimentos realizados no país são através do Sistema Único de Saúde (SUS), e

praticamente todos os transplantados, independentemente da classe social, se beneficiam da

medicação fornecida pelo SUS (RIBEIRO, 2004).

A grande problemática é que vários países citam desigualdades regionais em

transplantes de órgãos, sendo que no Brasil o cenário relatado é de bastante desigualdade

entre as populações residentes nos diversos estados da Federação. Contudo, têm-se

identificado como tendo mais vantagens às regiões sul e sudeste, pois possuem mais centros

hospitalares e equipes médicas cadastradas para efetuarem tais procedimentos e por também

estarem mais desenvolvidas em certo aspecto referente a Transplantes de órgãos. Assim,

explana um artigo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Rio de Janeiro sobre a

questão em voga; (LIMA, 2010)

Existem diferenças consideráveis na efetividade, na produtividade e na capacidade

de realização de transplantes de órgãos (rim, córnea, fígado), entre os Estados do

País. Há predominância de transplantes nos estados da região sul, sudeste e centro-

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oeste, embora alguns estados da região nordeste, principalmente Ceará e

Pernambuco, também se destaquem. Em São Paulo há grande número de

transplantes, e um bom desempenho relativo em todos os indicadores. Por outro

lado, na região Sudeste, o Estado do Rio de Janeiro está em situação inferior ao

potencial sanitário, humano e econômico que tem à disposição. O Estado da Bahia

também não apresenta bons indicadores nos níveis regional e nacional. Seria

importante realizar estudos específicos sobre essas importantes UFs e os outros

estados com pior desempenho, a fim de ajudar a identificar com precisão as causas

dos problemas e, eventualmente, apontar soluções para os mesmos. (MARINHO,

CARDOSO E ALMEIDA, 2006, p.2229)

Na ideia do autor, as questões de regionalidade e de acesso ao sistema variam, pois há

facilidade nos maiores centros. No Brasil, o transplante de órgãos por doação somente pode

ser feito após a morte encefálica do doador, seja natural ou acidental, havendo o

funcionamento dos órgãos que serão doados, com consentimento familiar ou expresso do

doador. A morte encefálica deve ser diagnosticada por dois médicos, e estes não podem

participar da equipe de remoção e transplante, além de procedimento autorizado pelo SNT

(Sistema Nacional de Transplantes).

Quando for constatada, por médico, a necessidade de transplante num indivíduo ele é

colocado na fila de receptor. A fila para transplantes no SUS, seja para órgão ou tecido é

única, e o atendimento é por ordem de chegada, considerados critérios técnicos, geográficos,

de compatibilidade e de urgência. O Sistema Nacional de Transplantes registra informações

gerais sobre os transplantes de órgãos no Brasil, mas não administra os procedimentos que

são realizados fora do SUS (POLICASTRO, 2014).

Cabe informar que, no sistema de saúde suplementar os planos de saúde somente são

obrigados a financiar transplantes de rim e de córnea, embora, eventualmente, paguem outros

tipos de procedimentos, que são realizados nas suas redes referenciadas, podendo incluir

hospitais públicos. Os custos indiretos da não realização de transplantes são elevados.

(MARINHO, CARDOSO E ALMEIDA, 2010)

No Brasil, de cada oito potenciais doadores, apenas um é notificado e somente 20%

destes são utilizados como doadores de múltiplos órgãos. A despeito do reconhecimento da

enorme magnitude das atividades públicas de transplantes no Brasil, o SNT convive com

sérios problemas operacionais. Apesar desses problemas, há a necessidade de se adotar

medidas quanto a uma melhor logística e abordar sobre as disparidades regionais,

relacionadas com os transplantes de órgãos. (MARINHO, CARDOSO E ALMEIDA, 2010)

Para que os programas de transplante se desenvolvessem nos diversos países, foi

necessário adotar uma legislação que permitisse a realização do procedimento e de métodos

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adequados para a retirada de órgãos, além da sensibilização das famílias dos doadores

(RIBEIRO, 2004).

Ribeiro (2004) frisa que em 1986, a Bélgica tornou-se o primeiro país a aprovar lei

relacionada à retirada e ao transplante de órgãos, sendo baseada no consentimento presumido,

onde o cidadão que não deseja doar seus órgãos pode se opor durante sua vida, e caso não o

faça é automaticamente um doador. Após isso, vários outros países introduziram mecanismos

legais relacionados ao transplante.

Quanto à existência de legislação pertinente, Mello (2017) fala da (i)licitude da venda

de órgãos humanos, tema que gera ampla discussão no campo da Bioética e do Biodireito, que

paralelamente a isso, vem se ventilando um comércio lícito para este fim. Para isso é

necessário analisar e estudar o funcionamento dos transplantes em outros países e também

quais problemas foram acontecendo e o que as permissões e proibições tem acarretado, pois

nota-se que as pessoas que estão mais propensas a dispor do seu corpo realmente são as que

estão vulneravelmente expostas a condições de extrema pobreza. Nesta obra, a autora analisa

documentos internacionais que falam sobre a remoção de órgãos e tecidos para fins de

transplante e tratamento, ainda, sobre as características sobre a formação de um negócio

jurídico no plano existencial e patrimonial e concatenando com os princípios da bioética e do

biodireito, para justificar a (im)possibilidade de um comércio lícito de órgãos, analisando se é

possível estabelecer limites éticos e jurídicos para estas questões, em voga, referentes à

transplantes (MELLO, 2017, p.26).

1.3 O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA E A IGUAL DISTRIBUIÇÃO DO DIREITO À SAÚDE

Em se tratando do princípio da justiça na ética biomédica, tem se notado mais ênfase à

relação interpessoal entre o profissional de saúde e seu paciente, onde a beneficência, a não

maleficência e a autonomia têm exercido um papel de destaque, ofuscando, de certa maneira,

o tema social da justiça. Justiça está associada preferencialmente com as relações entre grupos

sociais, preocupando-se com a igualdade na distribuição de bens e recursos considerados

comuns, numa tentativa de igualar as oportunidades de acesso a estes bens (LOCH, 2002).

Com isso, percebe-se, que há necessidade de profissionais competentes, um sistema

eficaz e seguro, para que possa cumprir as necessidades da sociedade e que este, possa

atender de forma igualitária, não importando suas características de perfil financeiro, político,

religioso, entre outros, no intuito de garantir o acesso à saúde em sua forma plena.

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A problemática do desafio da gestão de serviços públicos, no tocante a igual

distribuição no direito à saúde, consiste em colocar as questões da assistência em saúde nas

perspectivas de necessidades da população, pautadas nos princípios doutrinários do Sistema

Único de Saúde (SUS) e em princípios éticos, com isso considerando, de certa forma, os

recursos disponíveis como um bem coletivo a ser usado eficientemente e com equidade.

Trata-se de uma reflexão teórica das questões bioéticas, na conquista da saúde e no direito à

assistência à saúde no Brasil, enfatizando a questão da equidade. Com relação às discussões

sobre equidade, foram realizadas, baseando-se nas teorias da justiça e o princípio da justiça

proposto por Tom Beauchamp e James Childress, no livro Princípios de Ética Biomédica

(BEAUCHAMP E CHILDRESS, 2013).

Vislumbra-se, portanto, que na discussão acerca da aplicação concreta do princípio da

justiça, as políticas públicas de saúde, no Brasil, tornam-se acentuadas quando permitem a

ampliação do campo de reflexão, aos envolvidos: profissionais, conselhos, comissões,

códigos, organizações governamentais e não governamentais, o Estado e, enfim, toda a

população. Desta forma, tais desigualdades podem ser minimizadas com a criação de políticas

e medidas práticas, fundamentadas na equidade e na responsabilidade social. Uma política

pública justa demonstra a redução das desigualdades sociais (PESSALACIA, OLIVEIRA E

GUIMARÃES, 2011).

No âmbito internacional, o que se tem mais presenciado em tablóides de circulação

mundial é que 14 países europeus assinaram, na Espanha, o primeiro Tratado Internacional

para combater o tráfico de órgãos. Esta prática gera mais de um bilhão de dólares em lucros

ilegais, anualmente em todo o mundo. O Tratado firma um quadro geral para criminalizar o

tráfico de órgãos, protegendo as vítimas. Ainda, o texto solicita que os Estados criminalizem a

exploração ilegal de órgãos humanos de doadores vivos ou mortos e sua utilização para

transplante ou outros fins relacionados. Este Tratado também proíbe que haja lucro com

transplantes garantindo às vítimas indenização, o que poderia cobrir custos de “assistência

médica, psicológica e social”. Espanha, Portugal, Reino Unido, Itália, Bélgica e Turquia estão

entre os 14 países que assinaram o acordo durante uma Conferência de dois dias. O tráfico de

órgãos humanos é uma grave violação dos direitos. Na maioria das vezes os doadores estão

nos grupos de pessoas vulneráveis exploradas pelo crime organizado, que se aproveita da falta

de órgãos disponíveis para transplantes, então eles e os receptores são expostos a cirurgias em

que não há garantias médicas, em um mercado que prejudica a saúde pública (EXAME,

2014).

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Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano são realizados

cerca de 10.000 transplantes ilegais, um problema que muitas vezes envolve o crime

organizado internacional. O tráfico de órgãos humanos está entre as dez maiores práticas

ilegais mais lucrativas. Há registros de casos na Ucrânia em que pacientes pagaram até

200.000 euros por um rim. Para que o Tratado passe a vigorar, pelo menos cinco países têm

que aprovar o texto (EXAME, 2014). O que se vê é que é necessária a cooperação

internacional para o combate ao crime. Um dos objetivos do Tratado é uniformizar a maneira

como os países tratam o transplante e tornar crime a doação ou venda de órgãos, sem seguir

determinadas regras. Todos os países que assinarem a Convenção ficam comprometidos a

combater juntos o tráfico internacional.

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2 DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA NO DIREITO

BRASILEIRO E O DIREITO INTERNACIONAL

Durante anos, houve discussões acerca das leis que regulamentam sobre o assunto da

doação de órgãos, mas com o passar do tempo, foram realizadas algumas modificações que

beneficiaram a população, num contexto geral, tanto no âmbito nacional quanto internacional,

sempre visando a decisão de cada indivíduo na proteção do direito ao próprio corpo, mas

também buscando um número mais expressivo e efetivo nas doações, o que diminuiria

consideravelmente o tráfico internacional de órgãos.

O Protocolo de Palermo foi a primeira legislação internacional que abordou sobre o

tráfico de pessoas no geral, no entanto ele não foi específico em relação ao tráfico e ao

turismo de órgãos, os quais foram discutidos e conceituados na Declaração de Istambul

(GUEDES, 2016).

A Declaração de Istambul foi elaborada a partir de uma reunião realizada em 2008,

com a participação de cerca de 150 especialistas e representantes de organizações médicas

para discutir sobre a problemática do tráfico de órgãos. O evento definiu princípios básicos,

conceituou o tráfico de órgãos e diferenciou o turismo de órgãos das viagens para transplante

(DECLARAÇÃO DE ISTAMBUL, 2008).

A Declaração de Istambul também prevê meios para aumentar as doações de órgãos

dentro dos países, afastando a necessidade das pessoas em procurarem formas escusas para

obtenção de órgãos, ou seja, não sendo necessário recorrer ao mercado clandestino. O

documento sugere que os países que não possuem uma política nacional para incentivo à

doação de órgãos post mortem elaborem campanhas que promovam a doação autorizada por

famílias de seus parentes falecidos. Além disso, prevê que os países que já possuem políticas

de incentivo busquem eliminar as barreiras que impossibilitam ou dificultam as doações.

As medidas estratégicas citadas na Declaração de Istambul são importantes e

eficientes para a solução do crime de tráfico de órgãos, haja vista que os motivos que levam

os pacientes a procurarem meios alternativos de obtenção do órgão é causado, principalmente,

pela falta de doadores de órgãos, gerando um déficit nas filas de espera.

Portanto, ao promover políticas públicas para incentivo da doação de órgãos após a

morte, automaticamente estarão disponíveis mais órgãos para doações, e com isso as filas de

espera vão reduzindo gradativamente, até que um dia, quiçá, poderá se ter uma equivalência

entre doadores e pacientes.

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2.1 EVOLUÇÕES LEGISLATIVAS NO DIREITO BRASILEIRO

Para que haja argumentos deve-se discutir a questão da legislação relacionada ao

processo de doação de órgãos, ou seja, se a lei define quando e como escolher ser doador ou

não. Então, estuda-se de que forma o país pode valorizar a afirmação dos direitos de

personalidade e de escolha no âmbito da doação de órgãos no Brasil.

Por meio de um breve estudo da evolução legislativa no Brasil acerca do tema,

percebe-se, que diversos foram os posicionamentos sobre a questão do consentimento relativo

à retirada de órgãos post mortem. O primeiro texto legal a tratar do assunto foi a Lei nº. 4.280,

de 06 de novembro de 1963, qual prometia a extirpação de partes de cadáver, para fins de

transplante, desde que, o de cujus tivesse deixado autorização escrita ou que não houvesse

oposição por parte do cônjuge ou dos parentes até o segundo grau, ou de corporações

religiosas ou civis responsáveis pelo destino dos despojos (BRASIL, 1963).

A lei nº. 5.479, de 10 de agosto de 1968, permitia a “disposição gratuita de uma ou

várias partes no post mortem, para fins terapêuticos”, estabelecendo que, a permissão para a

retirada de órgãos somente se efetivaria mediante a satisfação de uma das condições exigidas

pelo artigo 3º, quais sejam: por manifestação expressa da vontade do disponente; pela

manifestação da vontade, por meio de instrumento público, quando se tratasse de disponentes

relativamente incapazes e de analfabetos; pela autorização escrita do cônjuge, não separado e

sucessivamente, de descendentes e colaterais, ou das corporações religiosas ou civis

responsáveis pelo destino dos despojos. A citada lei ainda previa que, na falta de responsáveis

pelo cadáver, a retirada somente poderia ser feita a autorização do Diretor da Instituição onde

ocorre o óbito, sendo ainda necessária esta autorização nas condições dos itens anteriores.

(BRASIL, 1968).

Posteriormente, a Constituição Federal de 1988 contemplou a questão dos transplantes

em seu artigo 199, §4º. In verbis;

A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de

órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplantes, pesquisa e

tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus

derivados, sendo vedado o todo o tipo de comercialização (BRASIL, 1988).

A lei nº. 8.489, de 18 de novembro de 1992, qual foi regulamentada pelo decreto nº.

879, de 22 de junho de 1993, trocou a expressão cadáver por corpo humano e abordou,

também, a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo humano vivo e não apenas do cadáver.

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Exigia o consentimento expresso, quando em vida do doador, através de documento e, na

ausência do referido documento, estabelecia que a retirada de órgãos seria decorrida, se não

houvesse manifestação em contrário, por parte do cônjuge, ascendente ou descendente. Esta

lei adotou o critério da morte encefálica como determinação de morte. (BRASIL, 1992 –

1993).

A lei nº. 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, regulamentada em junho do mesmo ano,

pelo Decreto nº. 2.268, entre outras medidas, adotou o conceito da doação presumida, aspecto

que gerou diversas críticas no sentido de que tal critério feria os direitos à personalidade e a

dignidade humana, posto que, considerava como “doador presumido” de tecidos, órgãos ou

partes do corpo humano, todo o indivíduo que não fizesse constar de forma indelével a

condição de não-doador na Carteira de Identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação.

(BRASIL, 1997).

No entanto, tal dispositivo legal sofreu fortes críticas acerca da sua

constitucionalidade, além do que não fora obedecido pela classe médica, que optou em se

postar conforme a ética médica e o respeito aos familiares, solicitando a estes a autorização

para remoção dos órgãos para fins de transplantes.

Acerca da aludida contrariedade, assim se manifestou José Geraldo de Freitas

Drumond, estava então constituído o conflito de uma lei que pregava contra a autonomia e os

direitos individuais com uma sociedade pluralista e democrática, sendo necessário um amplo

debate para se obter uma conscientização que estimulasse a doação de órgãos, mas jamais

pregar a obrigatoriedade em fazê-la, constrangendo as pessoas que optassem pelo contrário.

Por outro lado, os médicos brasileiros não se sentiam confortáveis com a retirada de órgãos do

morto, quando a sua família não consentia o ato, o que fez com que a Associação Médica

Brasileira e o Conselho Federal de Medicina aconselharem à classe médica abnegar-se de

qualquer ato contrário à manifestação dos familiares do morto (DRUMOND, 2000).

Após a edição da Lei 9.343/97, ao afastar a possibilidade de oposição ou de

autorização por parte dos familiares do falecido, o legislador foi surpreendido com acirradas

discussões notadamente perante a comunidade médica e jurídica, sob argumentos como

“estatização de cadáveres”, violação do princípio da liberdade individual e da capacidade de

autodeterminação, ausência de infraestrutura apropriada dos hospitais brasileiros para

comportar a captação de órgãos, fator de discriminação dos cidadãos não doadores,

insuficiência de informação da população brasileira para fazer a opção negativa. (SILVA,

2002, p. 419). Referiu-se, também, o receio de criar excedentes ou estoques de órgãos e que

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não havia estudo comprovando que, o aumento das doações resolveria o problema do déficit

de órgãos. (GEDIEL, 2000, p. 123).

Existem duas razões básicas para que a nova lei exalasse tamanha rejeição na

compreensão popular: a primeira, que o Congresso Nacional tentou impor uma lei

demasiadamente avançada para a sociedade brasileira, sem a devida discussão e compreensão

prévias; e a segunda diz respeito a falta de confiança da população nos programas sanitários

públicos, problema este que ocorre até os dias atuais. (BERLINGUER E GARRAFA, 2001).

Rodrigo Pessoa Pereira Silva, por sua vez, referiu que, a grande parte da população

brasileira não possuiria discernimento necessário para realizar a opção pela doação ou não de

seus órgãos, tecidos e partes do corpo em seus documentos. (SILVA, 2002, p. 419).

Augusto César Ramos apontou como argumentos contrários à lei, o fato de grande

parte da população, notadamente as camadas mais pobres, não possuírem os documentos

exigidos pela lei para o registro de sua vontade (Carteira de Identidade ou Carteira Nacional

de Habilitação). Acrescentou que, a pessoa passaria a não ter mais direito sobre o seu próprio

corpo após a morte, que passaria a ser usurpado pelo Estado, ficando a classe menos

favorecida à mercê dos abusos do Estado. Outrossim, sustentou o desrespeito aos familiares

do de cujus, sendo essencial o consentimento da família “uma vez que não pode ser uma

imposição legal senão um ato de generosidade, de solidariedade, de humanidade”. Ressaltou

ainda a situação de algumas regiões brasileiras que caracterizou como “composta de pessoas

simples e bastante místicas (…) dentre os quais existem pessoas que acreditam não ver o

paraíso se doadores suas córneas”. (RAMOS, 1999, p.01).

Diante da repercussão negativa, a medida provisória nº. 1.718/1998 acresceu

parágrafo, ao artigo 4º da Lei nº. 9.434/1997, dispondo que, na falta de manifestação do

potencial doador, a família seria responsável pela autorização de retirada de órgãos de

cadáver. (BRASIL, 1998) Tal parágrafo foi expurgado pela Medida Provisória nº. 1959-27 de

24 de fevereiro de 2000.

Neste ponto, a medida provisória, após a sua reedição (MP 2083-32 de 22/02/2001),

foi convertida na Lei nº. 10.211. de 23 de março de 2001, qual a redação do artigo 4º da Lei

de Transplantes foi alterada, prevendo então que:

A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes

ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização de cônjuge ou parente,

maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até segundo grau

inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à

verificação da morte. (BRASIL, 2001).

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Ao apreciar o Projeto de Lei de Conversão nº 06 de 2001, o Presidente da República,

nos termos do artigo 66, parágrafo 1º, da Constituição Federal, por contrariar o interesse

público, vetou o parágrafo único do artigo 4º da Lei nº 9.434/1997, que tinha o seguinte teor:

“A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas poderá ser realizada a

partir de registro feito em vida, pelo de cujus, nos termos do regulamento”. (BRASIL, 2001)

Nas razões do citado veto, constam as seguintes justificativas:

A inserção deste parágrafo único induz o entendimento que, uma vez o

potencial doador tenha registrado em vida a vontade de doação de órgãos,

esta manifestação em si só seria suficiente como autorização para a retirada

dos órgãos. Isto além de contrariar o disposto no caput do art. 4º - a

autorização familiar contraria a prática da totalidade das equipes

transplantadoras do país, que sempre consultam os familiares (mesmo na

existência de documento com manifestação positiva de vontade de potencial

doador) e somente retiram os órgãos se estes, formalmente, autorizarem a

doação. (BRASIL, 2001)

Assim, na forma do artigo 2º da lei nº 10.211/2001, as revelações de vontade

referentes à retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, que

aparecem no documento de identidade civil e da carta de habilitação, perderam sua validade a

partir de 22 de dezembro de 2000.

Foram revogados, portanto, os parágrafos 1º a 5º do artigo 4º da lei nº 9.434/1997, que

abordavam a identificação da doação nos documentos de identidade e na carteira de

habilitação. Dessa forma, constata-se que, a partir de 2001, com o advento da lei nº 10.211,

passou a ser de responsabilidade da família o destino dos órgãos da pessoa falecida, detendo,

só ela, o poder de decidir, independentemente da existência ou não de manifestação expressa

em vida, autorizando a retirada de seus órgãos e tecidos para transplantes.

Por fim, o decreto frisa que a retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo

humano, após a morte, necessitam do consentimento livre e esclarecido da família do doador,

pondo fim ao consentimento presumido. A autorização da doação dos órgãos também pode

ser permitida pelo(a) companheiro (a) da pessoa falecida, sem a necessidade de estar

oficialmente casado. Este termo já tinha sido alterado pela Lei 10.211/2001, que deliberou

pelo consentimento familiar. No entanto, o decreto antigo ainda mencionava o consentimento

presumido, precisando ser atualizado com as legislações seguintes (VEJA, 2017).

Da análise da evolução legislativa acerca dos transplantes no Brasil, percebe-se que se

atribuiu ao legislador a difícil tarefa de regulamentar os procedimentos relativos ao tema, com

a expressiva influência da opinião pública, o que fez com que uma série de leis fossem

aprovadas na busca de harmonizar os interesses do indivíduo e da coletividade. O interesse

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coletivo é entendido aqui como o próprio desenvolvimento científico, como possibilidade de

aproveitamento do corpo humano, vivo ou morto, para fins de transplantes ou tratamento. Já o

interesse individual diz respeito aos direitos intrinsicamente ligados à pessoa humana, como o

direito à vida e à integridade física.

Diz-se que é uma tarefa difícil a do legislador, pois a política dos transplantes visa o

benefício social, sendo que, em contraponto, existem valores da pessoa, como ser humano,

que não podem ser maculados: a indisponibilidade da vida e da saúde, o direito de dispor do

próprio corpo, o direito à igualdade e à liberdade.

Depreende-se que, embora o esforço do legislador, na tentativa de regulamentar a

sistemática dos transplantes de forma a harmonizar tais interesses aparentemente

contraditórios, a legislação vigente não solucionou as necessidades sociais e, embora as

alterações realizadas tenham apaziguado as insurgências da população, ainda persistem

discussões acerca do tema.

2.2 PROJETOS DE LEI

Ao longo dos anos, foram propostos alguns projetos de lei, no âmbito federal,

relacionados ao tema doação e transplante de órgãos. Numa breve pesquisa das últimas

propostas entre o ano de 2000 a 2017, nota-se a preocupação com a criação de mecanismos de

incentivo à tal prática, com a interferência, notadamente, quanto a questão da doação post

mortem, do consentimento informado e da doação presumida.

Importante citar algumas das proposições que guardam relação como tema ora

debatido, frisando-se que não se esgotam nas explanações abaixo e que o tema sempre

encontrará respaldo para uma discussão ou outra, visto que é a vida e a continuação dela que

estão em debate.

Inicialmente, têm-se os projetos apresentado à Câmara dos Deputados. Por tratarem da

mesma matéria, alteração da Lei nº. 9.434/1997 foram anexos ao Projeto de Lei nº. 4.069/

1998 os projetos de números 4.092/1998, 4.123/1998, 4.125/1998, 4.241/1998, 4.239/1998,

4.322/1998, 1.225/1999, 4.394/2004, 4.535/2004, 4.582/2004, 7.178/2006 e 2.050/2007. A

maioria dos Projetos data de 1998 e 1999, e. por não terem sido votados a tempo, ficaram

desatualizados e superados por força de Lei nº 10.211/2001.

Destaca-se na análise do Projeto nº 4.069/1998 e seus anexos a preocupação de

condicionar a doação de órgãos e tecidos à manifestação de vontade do doador, ou, na

anuência desta, à decisão tomada pela família. O Projeto de Lei nº 4.069/1998 propõe a

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exigência de manifestação de vontade expressa para que alguém que possa figurar como

doador de órgãos, tecidos e partes do corpo humano.

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) aprovou, em 06 de

março de 2008, parecer do Deputado Relator Colbert Martins, no sentido de rejeitar todas as

proposições apensadas ao PL 4.069/1998, pois continham defeitos de técnica legislativa,

como a utilização de cláusula revogatória genérica e ausência de indicação de nova redação.

Ao PL 4.069/1998, posteriormente, apensados os projetos de números 3560/2008 e

5764/2009. Como os projetos anteriores a 2001 restaram prejudicados pela Lei nº 10.211,

convém discorrer acerca dos projetos apresentados após tal data relativos à doação post

mortem e à questão do consentimento.

O PL nº 4.394/2004, já arquivado, de autoria do Deputado Enio Bacci (PTD/RS), entre

outras providências, previa que a disposição post mortem só poderia se efetivar mediante a

manifestação expressa de “não-doação” na cédula de identidade, sendo que no caso de dois ou

mais documentos legalmente válidos, com opções diferentes, prevaleceria aquela cuja data

fosse mais recente. Acrescentava que a opção de que tratava o projeto poderia ser formulada a

qualquer tempo, sem a necessidade de justificar ou exemplificar suas razões.

O PL nº 2.050/2007, de autoria de Arnon Bezerra (PTB/CE), arquivado na Mesa

Diretora da Câmara dos Deputados, pretendia a alteração da Lei 9.434/1997 a fim de, entre

outras medidas, estabelecer benefícios para os doadores de órgãos no Brasil (BRASIL, 2007).

O PL nº 3.560/2008, apensado ao PL 4.069/1998, também de autoria de Arnon

Bezerra, pretende a revogação dos artigos 4º e 5º do capítulo II, da disposição post mortem e

tecidos, órgãos e partes do corpo humano para fins de transplantes (BRASIL, 2008).

O PL 5.764/2009, também apensado ao PL 4.069/1998, e pendente de julgamento pelo

Plenário, de autoria de Eliseu Padilha, pretende a alteração do artigo 4º da Lei nº. 9.434/1997,

para colocar a doação presumida de órgãos e tecidos para transplantes. Ele justifica a referida

proposta afirmando que a doação presumida de órgãos constituiria um meio para aumentar a

disponibilidade de órgãos para transplante.

O PL 3.938/2012, do Deputado Federal Manato, aborda o argumento de que não é

falta de doadores, mas sim da estrutura deficiente, o maior problema no que tange às doações

de órgãos no Brasil. Ele sugere a dispensa do pagamento devido no meio funerário à pessoa

que tiver doado, por si ou por seus familiares responsáveis, seus órgãos corporais para fins de

transplante médico (BRASIL, 2012).

Seguindo, há o PLS 408/2005, apresentado à Mesa do Senado Federal pela Senadora

Lucia Vânia, qual já restou arquivado, tendo como conteúdo central a modificação da Lei

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9.434/1997, para assegurar o atendimento da vontade das pessoas que tenham manifestado em

vida o desejo de doar tecido, órgãos e partes do corpo, alterando a redação do artigo 4º da Lei

de Transplantes.

Isso posto, diante da vultosa demanda de órgãos e tecidos para fins de transplantes em

contraponto com à sua insuficiência é questão que gera preocupação e deveria incitar a

população nacional a buscar soluções legislativas para o aumento da captação de órgãos.

2.3 O CONSENTIMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL

Em um mundo cada vez mais globalizado, válida é uma breve análise da legislação

vigente entre outros países, cujo cotejo permite uma melhor compreensão do modelo adotado

no Brasil, principalmente porque os textos legais estrangeiros, especialmente os europeus,

serviram de base para a legislação brasileira.

A principal vantagem do direito comparado é a possibilidade de indicar as normas

jurídicas e afins nas legislações nacionais e estrangeiras, com o propósito de

confrontá-las para determinar as afinidades e diferenças que existem entre sistemas e

institutos, além de avaliar o a aproximação das legislações ou instituições jurídicas

de outras nações, formando o novo Direito Positivo Contemporâneo (SERRANO,

2006, p.34)

O estudo do direito comparado é importante porque fornece elementos para uma

investigação cientifica do direito. Diniz menciona que, em relação ao consentimento, quatro

são os modelos adotados pelos diversos ordenamentos jurídicos do mundo. Quais sejam:

1) o do consentimento (opting in system): que exige a concordância expressa do

doador ou de sua família. Pelo princípio do consenso afirmativo o indivíduo deve

manifestar a vontade de doar ou não órgãos e tecidos para fins terapêuticos ou de

transplante. Tal modelo é utilizado no Brasil, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra,

México, etc. ; 2) o da informação, seguido na Itália, que estabelece que, não

havendo manifestação do doador, com o seu falecimento, comunica-se seus

familiares sobre o Intentio de se lhe retirarem os órgãos e tecidos para salvar vidas

humanas; 3) o da declaração obrigatória, baseada em uma estrutura binária de

consentimento e oposição, cabendo ao legislador disciplinar acerca do eventual

significado da ausência de manifestação; 4) o da oposição ou dissentimento ( opting

out system) ou consentimento presumido (presumed consent), adotado na

Dinamarca, Áustria, Bélgica, Suécia, Austrália, França, etc., que confere ao doador

direito de se opor à retirada post mortem de seus órgãos e tecidos (DINIZ, 2007,

p.300/301)

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2.3.1 Legislação Espanhola

De início, pertinente à apreciação do modelo adotado na Espanha, considerando

conforme expõe Alaércio Cardoso, é o país que possui o melhor modelo e estrutura para

transplantes de órgãos. A extração, diz o autor, apenas é admissível se o falecido, quando em

vida, não houver deixado oposição expressa, a qual poderá ser efetuada sem qualquer

formalidade (CARDOSO, 2002, p.30).

Desse modo, prevalece a doação altruística e gratuita para fins terapêuticos por meio

do consentimento informado, livre e consciente, autorizado por pessoas maiores e capazes. A

lei espanhola, ao tratar de doadores inter-vivos, só autoriza a remoção com segurança desde

que não apresente risco à saúde do doador.

O consentimento, tanto para o doador quanto para o receptor é importante para a

decisão, tendo em vista a carga de informações apresentadas com confidencialidade acerca do

doador, não sendo de forma alguma permitido o ganho financeiro, material ou que alguma das

partes seja corrompida a manifestar sua vontade.

Assim sendo, a Espanha é um país que realiza o maior número de cirurgias de

transplante no mundo, com qualidade nos procedimentos e respeitando os direitos

fundamentais da pessoa, além de possuir um sistema organizacional modelo, que funciona a

nível nacional, regional e local e que, cada vez mais aumenta o número de doações

altruísticas, o que corresponde a 11% dos transplantes hepáticos de todos os países.

Um fator importante que contribui para o aumento de doações é a existência de

coordenadores autônomos de transplantes, composto por um médico ou enfermeiro, que tem a

função de percorrer os hospitais, atuando na captação de doadores em potencial.

Percebe-se ainda que a Espanha, embora tenha um sistema de captação de órgãos

exemplar, por ser pouco habitual o comércio de órgãos, dispõe de uma legislação para

reprimir o mercado ilegal, contando com um sistema severo para quem promove o tráfico,

favorece, facilita ou publica a obtenção desses órgãos.

O artigo 5º da “Ley nº30/1979”, dispositivo da lei espanhola que trata da extração de

órgãos de pessoas falecidas, dispõe que a remoção de órgãos ou outras partes anatômicas de

cadáveres, pode ser feita após a verificação da morte, a qual é baseada na existência de

irreversibilidade de danos cerebrais e no atestado de óbito assinado por três médicos

(ESPANHA, 1978).

A remoção de órgãos ou outras partes anatômicas pode ser procedida para fins

terapêuticos ou científicos, no caso da pessoa falecida não houver efetuado registro

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manifestando a sua oposição. As pessoas, presumivelmente saudáveis, que falecem em

acidente ou como consequência posterior deste, se considerarão também como doadores, se

não constar oposição expressa do falecido. Para estes fins deve conter a autorização do

tribunal competente para julgar o caso, que deve concedê-la nos casos em que a colheita de

órgãos não impeça o processo de identificação das causas da morte (ESPANHA, 1978).

Na reportagem transmitida no programa “Fantástico” da Rede Globo de Televisão, em

03 de maio de 2009, no quadro “Transplante, o dom da vida”, o Dr. Dráuzio Varella

mencionou que o sistema de transplantes brasileiro foi inspirado no da Espanha, o país com

maior número de doações no mundo (GLOBO, 2009). A reportagem ainda prossegue

informando que “nosso sistema foi inspirado no modelo espanhol, porém funciona de forma

muito diferente, a começar pela verba”.

2.3.2 Legislação Portuguesa

Semelhante ao sistema espanhol, a legislação portuguesa opta por considerar como

possíveis doadores quem não tenha manifestado ao Ministério da Saúde a sua opção de não

doador, para o que se faz uso da RENNDA (Registro Nacional de Não Doadores), um sistema

informatizado, onde se encontram os registros de todos os que manifestaram junto ao

Ministério a sua total ou imparcial indisponibilidade em doar órgãos ou tecidos post mortem

(MACHADO, 1993).

O artigo 10º da Lei Portuguesa nº. 12/1993, especifíca que, são considerados

potenciais doadores post mortem: “todos os cidadãos nacionais ou apátridas e estrangeiros

residentes em Portugal que não tenham manifestado junto ao Ministério da Saúde a sua

qualidade de não doadores” (MACHADO, 1993).

O artigo 11º da supracitada lei dispõe acerca do “Registro Nacional de Não Dadores

(RENNDA), sistema informatizado, para registro de todos aqueles que hajam manifestado,

junto ao Ministério da Saúde, a sua qualidade de não dadores”. Tal dispositivo ainda

determina que o governo fica autorizado “a regular a organização e funcionamento do

RENNDA e a emissão de um cartão individual, no qual se fará menção da qualidade de não

dador”. (SILVA, 2010).

A referida lei ainda prevê que, nos casos em que a indisponibilidade para a doação for

limitada a certos órgãos ou tecidos, estas restrições devem ser indicadas nos registros e cartão.

E também a indisponibilidade para a doação dos menores e dos incapazes deve ser

manifestada pelos representantes legais (SILVA, 2010).

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Do breve estudo acerca da lei portuguesa, infere-se que esta respeita a vontade do

falecido de opor-se à doação e somente atribui poder de decisão à família em relação à doação

de órgãos em casos de menores e incapazes.

2.3.3 Legislação Francesa

Outro modelo que vale ser analisado, eis que pertencente a um dos países europeus

bem desenvolvidos é o da França. A legislação francesa permite aos indivíduos tomar a

decisão de doar seus órgãos pessoalmente. Em caso de morte, o médico deve pedir a família

do paciente se o falecido havia manifestado oposição à doação de órgãos. O nome do doador

não deve ser comunicado ao destinatário. No entanto, se requerido, a família do doador pode

ser informada dos órgãos e tecidos removidos e os resultados do transplante, sem ser dada

qualquer indicação de identidade do destinatário. (FRANÇA, 2004).

A lei federal francesa nº 810,21, de 08 de outubro de 2004, que entrou em vigor em 1º

de julho de 2007, em seu artigo 8º, prevê que os procedimentos para remoção de órgãos,

tecidos e células provenientes de indivíduos falecidos. Conforme o referido dispositivo legal,

são requisitos para tanto a confirmação da morte encefálica e a concordância da pessoa, a

respeito de tal procedimento, antes de seu óbito. Na ausência de documentos que comprovem

o consentimento ou a recusa da pessoa falecida, são solicitados aos familiares se eles estão

cientes de uma declaração de doação.

Se os familiares não possuírem conhecimento de tal declaração, podem consentir com

a remoção. Em conhecendo a decisão do falecido, no entanto devem respeitá-la, sendo a

vontade d falecido superior à dos familiares. Se o falecido não tiver parentes ou não for

possível consultá-los, é proibida a remoção. Se restar comprovado que o falecido tenha

delegado a uma pessoa de sua confiança a competência para decidir sobre a remoção de

órgãos, tecidos ou células, a vontade desta prevalece à dos familiares. A lei francesa ainda

permite que qualquer pessoa com 16 anos tenha direito a fazer a declaração de vontade de ser

doador.

Ademais a França condena veementemente a comercialização de órgãos

para transplante em seu território. A lei francesa regulamenta a atividade de colheita e

transplante e fornece, como princípios primários de doação e transplante, consentimento,

anonimato e gratuidade e o ato ilegal de obter de uma pessoa um dos seus órgãos contra um

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pagamento, seja qual for a sua forma, é punido com 7 anos de prisão e multa de 100.000

euros.

Deste modo, é importante conversar com seus entes queridos sobre os desejos uns dos

outros. Se você não está registrado no registro nacional de recusa, é para eles que as equipes

médicas se voltarão no momento da morte para garantir que você não tenha, durante sua vida,

manifestado oposição ao doação de órgãos e tecidos.

2.3.4 Legislação Americana

Nos Estados Unidos, o regulamento de doações de órgãos é diferente em seus

cinquenta estados. Há diversas normas federais e estaduais que regulamentam a doação de

órgãos, havendo uma lei uniforme chamada “The Uniform Anatomical Gift Act”, (A

Uniformidade Anatômica do Presente Ato), datada em 1987 e revisada em 2006, que procura

padronizar o processo e harmonizar as leis entre vários estados, requerendo que o doador faça

uma indicação afirmativa durante a sua vida, baseando-se, portanto, no princípio do

consentimento informado.

A lei uniforme prevê um cartão de doador, uma declaração escrita que autoriza a

remoção de órgãos depois da morte, impressa na carteira de motorista do doador a qual pode

ser feita por qualquer pessoa com mais de 18 (dezoito) ano de idade. O documento de doação

deve ser assinado pelo doador, e, no caso de este não poder assiná-lo, o documento deve ser

assinado por outra pessoa e por duas testemunhas, na presença do doador.

2.4 O CÓDIGO CIVIL

No tocante ao que dispõe o Código Civil Brasileiro, o art. 13, parágrafo único,

prescreve que o ato de disposição é permitido para fins de transplante, na forma estabelecida

em lei especial. Transplantar é transferir de uma parte para outra, do mesmo indivíduo, ou de

uma pessoa (viva ou morta) para outra (BRASIL, 2009).

A interpretação do referido art. 13 do Código Civil, a contrário senso, permite concluir

que, o ato de disposição que não acarreta diminuição permanente da integridade física e não

atenta contra os bons costumes é permitido (ex: disposição de cabelo, unha, leite materno).

Se houver exigência médica, o ato de disposição também é admitido, como a extração

de um órgão ou tecido que apresenta uma doença ou a necessidade de amputação de um

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membro. Assim, neste exemplo é possível a disposição, porque a vida e a saúde são

igualmente interesses protegidos.

Nesse sentido, o artigo 14 da atual codificação veda qualquer disposição de parte do

corpo a título oneroso, sendo apenas possível àquela que assuma a forma gratuita, com

objetivo altruístico ou científico. A questão é ainda regulamentada pela legislação específica,

particularmente pela Lei nº 9.437/97, que trata da doação de órgãos para fins de transplante

(TARTUCE, 2005).

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3. O DIREITO AO PRÓPRIO CORPO E A JUSTA DISTRIBUIÇÃO DO DIREITO À

SAÚDE

O transplante trata-se de um procedimento cirúrgico para a substituição de um órgão

ou tecido por outro órgão ou tecido saudável proveniente de um doador, vivo ou morto.

De acordo com Ribeiro (2004), esta é uma prática aprovada em diversos países e

possui extrema importância para milhares de pessoas em todo o mundo, pois é uma opção de

tratamento para diversas doenças, tendo assim uma alta demanda por transplantes,

principalmente em países com renda média ou alta.

É muito provável que o progresso da imunologia, da biologia molecular e da ciência

dos biomateriais proporcionarão, num futuro próximo, novidades que terão como resultado a

redução da extensa lista de espera para a realização de transplantes. Pode-se citar como

exemplo a utilização de órgãos artificiais e de tecidos produzidos por animais e a ampliação

do uso das células-tronco (RIBEIRO, 2004).

Nem sempre o transplante representa a melhor opção de tratamento. Ele é uma das

opções terapêuticas à disposição para a prática médica. Na visão de Ribeiro (2004), em

qualquer caso, a disposição, para efeito de transplante, deve ser gratuita e a qualquer tempo,

antes de implementada, pode ser revogada (art. 5º, § 4º, da lei nº 9.434/1997). Ou seja, não se

aplicam as cláusulas clássicas de execução específica do contrato. Se houver arrependimento,

antes de ocorrer a doação, é válida para todos os contratos dessa natureza.

De acordo com Comparato (2007, p. 24 apud Lyrio, 2014), o princípio de dignidade

humana não traduz o homem apenas como um fim em si mesmo, mas traz à tona algumas

questões éticas, que, segundo ele, por ser único, o homem é um ser que deve ter seu direito de

escolha garantido. Ele deve ser o ator principal da escolha, pois a sua capacidade racional é

capaz de levá-lo a decidir sobre o que é melhor para ele mesmo.

Quanto à distribuição da saúde no que tange à questão em voga, de acordo com Lyrio

(2014), além das perdas de transplantes referentes à logística de processo, também há falta de

verba, de infraestrutura em hospitais geridos pelos SUS, deficiência de capacitação de

profissionais para a realização de transplantes e também carência de informação da família a

respeito de como funciona o processo de doação de órgãos. Ainda existem mitos referentes à

doação de órgãos que povoa o imaginário do senso comum.

Ainda são muitos os desafios para que o processo de doação seja eficiente no Brasil.

No entanto, há uma ferramenta mais simples que pode ser utilizada: o conhecimento e

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capacidade de escolha dos indivíduos, para que eles se tornem autoconscientes e autônomos

de todo processo (LYRIO, 2014).

Seja o ser humano dotado de capacidades para definir tais escolhas, em determinado

momento haverá intervenção judicial, contudo a doação de órgão duplo ou partes

regeneráveis, não dependerão de autorização judicial se forem realizados entre cônjuges ou

parentes consanguíneos até o quarto grau. Quando não há uma dessas relações é

imprescindível a autorização judicial (exceto para medula óssea).

O objetivo da lei é claramente o de coibir a comercialização de órgãos. Por isso, o juiz

deve ser extremamente cuidadoso ao analisar pedidos dessa natureza, investigando se a

doação é realmente doação, motivada por razões altruísticas ou de solidariedade. A falta de

parentesco ou de amizade íntima entre o doador e o donatário pode representar uma doação

simulada (FERRIANI, 2011).

Ferriani (2011) cita que somente as pessoas com capacidade plena podem doar. Os

incapazes, com compatibilidade imunológica comprovada, são autorizados a fazer doação

somente nos casos de transplante de medula óssea, desde que sua saúde não seja posta em

risco. Para isso, basta a autorização dos pais ou, se o doador não os tiver, dos responsáveis

legais somada à autorização judicial (art. 9º, § 6º da lei nº 9.434/1997).

Nesse sentido, a doação de sangue é um ato de disposição permitido porque não

importa diminuição permanente, ou seja, ninguém pode doar todo o sangue do seu corpo

porque isso resulta em morte. Então, a quantidade doada não irá interferir na saúde e bem

estar do doador. Com relação à doação de sangue, também existem regras: a lei nº

10.205/2001 proíbe qualquer tipo de comercialização (art. 1º). Um dos princípios dessa lei é a

proibição de remuneração do doador de sangue (art. 14, inciso III). Cabe salientar que não se

considera comercialização a cobrança de valores referentes a materiais, exames sorológicos,

imunoematológicos e demais exames laboratoriais definidos pela legislação competente,

realizados para a seleção do sangue, bem como honorários por serviços médicos prestados na

assistência aos pacientes e aos doadores (art. 2º, parágrafo único) (BRASIL, 2011).

Vislumbra-se, que na perspectiva de doação para depois da morte é válida, desde que

com objetivo científico ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em

parte (art. 14 do Código Civil). Nesse caso, obviamente é permitida a doação de um órgão,

ainda que ele não seja duplo ou regenerável (FERRIANI, 2011).

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3.1 O DIREITO AO PRÓPRIO CORPO E A DISPOSIÇÃO DE ÓRGÃOS EM VIDA

O principal requisito para doar órgãos e tecidos em vida é que o doador tenha

compatibilidade com o paciente. Além disso, é necessário estar em boas condições de saúde e

ter parentesco de até quarto grau familiar ou ser casado com a pessoa. Não havendo vínculos,

a doação é permitida mediante ordem judicial.

O doador não pode ter a saúde afetada depois de doar o órgão, por isso deve estar

ciente dos riscos e consequências da cirurgia. Os órgãos passíveis de doação em vida são os

duplos ou que tenham capacidade de se reconstituir no organismo.

A respeito da doação de órgãos entre vivos, apesar de alguns proporem a sua completa

proibição para evitar o comércio de órgãos, a medida é extrema e limitadora de gestos

altruísticos genuínos. Entretanto, deve ser proposta uma série de medidas para tornar a

autorização judicial mais rigorosa para as doações entre os não-aparentados; como também

medidas para estimular a doação proveniente de cadáver, que tem o grande potencial de

reduzir o problema da fila de espera por órgãos no País, particularmente aqueles de maior

demanda, como os rins e as córneas (RIBEIRO, 2004).

Evidente que deve-se continuar promovendo a doação de órgãos com base no

diagnóstico de morte encefálica, pois alguns órgãos só podem ser removidos enquanto o

coração do doador estiver funcionando. No entanto, há grande demanda por transplantes de

rins e córneas, que pode ser atendida por meio de doações que são menos complexas, após a

completa parada circulatória.

Vale salientar que órgãos para doar não faltam, o que faltam são condições logísticas

para realizar os transplantes. Não é possível detectar problemas relacionados ao desejo de a

população doar órgãos, mas, sim, de desperdício de órgãos (RIBEIRO, 2004).

3.2 O DIREITO À SAÚDE E A DISPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS PÓS MORTEM

Os transplantes são uma grande conquista da ciência e não são poucos aqueles que

devem a própria vida a um procedimento de transplante bem sucedido. Portanto, a técnica dos

transplantes revela-se cada vez mais como um instrumento precioso na consecução da

finalidade primária de toda a medicina: o serviço à vida humana. Por esta razão, na Carta

Encíclica Evangelium Vitae, entre os gestos que concorrem para alimentar uma autêntica

cultura da vida, merece particular apreço a doação de órgãos feita, segundo formas eticamente

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aceitável, para oferecer uma possibilidade de saúde e até de vida a doentes, por vezes já sem

esperança. (PAULO II, 2000, p.01 apud MARCELO, 2018).

Por isso, para haja qualidade de vida e possibilidade de melhora num tratamento, é

amplamente positivo e necessário, dentro dos parâmetros legais e aceitáveis, a realização do

transplante. É de vital importância o conhecimento de como funciona uma central de

gerenciamento única, a qual comporta uma demanda grandiosa e precisa trabalhar em

sincronia com as instituições em prol do sucesso na doação de órgãos.

Desse modo, a distribuição dos órgãos e tecidos, células e partes do corpo humano

para fins de transplante segue critérios específicos, de acordo com a Lei 9434 de 1997,

regulamentada pelo Decreto nº 9.175, de 2017. O Regulamento Técnico do Sistema Nacional

de Transplantes, cuja última atualização foi aprovada, consta na Portaria de Consolidação do

MS nº 4, ANEXO I, de 28 de setembro de 2017.

No Sistema Informatizado de Gerenciamento (SIG), gerenciado pelo Sistema Nacional

de Transplantes (SNT) através de um banco de dados nacional, é utilizado um conjunto de

critérios técnicos estabelecidos para cada tipo de órgão, tecido ou célula doado, e gerada uma

lista de receptores, que varia para cada doador, dependendo das características clínicas e

anatômicas deste doador e também da situação clínica dos receptores no momento em que

esta distribuição é realizada. Cabe salientar que, para cada receptor inscrito, a equipe

transplantadora preenche neste cadastro eletrônico uma ficha complementar, a qual estabelece

algumas características clínicas e anatômicas do doador, bem como os limites de idade que

serão ou não aceitos para este receptor. Não fazem parte dos critérios de alocação de órgãos

para transplantes classe social, cor, religião, escolaridade, entre outros.

Atualmente, a inscrição e a manutenção do cadastro de potenciais receptores é

realizada pelas equipes transplantadoras previamente autorizadas: os pacientes são inscritos

pelas equipes, as quais são também responsáveis por manterem atualizados os seus dados

cadastrais, exames laboratoriais e situação clínica, informando se está apto a realizar a

cirurgia ou suspendendo temporariamente caso necessário. As solicitações de priorizações por

urgências são encaminhadas por estas equipes e avaliadas previamente pela Central Nacional

de Cadastros de Doadores de Órgãos e/ou Câmara Técnica Estadual ou Nacional, ficando sob

responsabilidade da Central de Transplantes a manutenção deste tipo de informação. Cabe

ainda ressaltar que os motivos de priorização, da mesma forma que o conjunto de critérios de

distribuição varia para cada órgão, tecido ou célula doado. Todas estas informações são

inseridas diretamente no site do Ministério da Saúde, utilizando o Sistema Informatizado de

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Gerenciamento (SIG) do Sistema Nacional de Transplantes, por meio de senhas específicas

para cada tipo de usuário no sistema.

A distribuição de órgãos é realizada para receptores inscritos em outros estados da

federação na ocorrência de urgências ou ausência de receptor compatível no estado.

Além das equipes, o SIG também permite que o paciente em lista de espera

acompanhe pela internet a sua situação cadastral, utilizando o número de seu registro único no

sistema, o qual é gerado no momento de sua inscrição, através do site do Sistema Nacional de

Transplantes.

O gerenciamento da lista de potenciais receptores de células-tronco hematopoéticas é

realizado em outro sistema informatizado, o Registro de Receptores de Medula Óssea

(REREME) do Instituto Nacional do Câncer. Critérios de distribuição de acordo com o órgão:

Para o transplante renal, a seleção será processada mediante identidade no sistema

ABO e por exame de histocompatibilidade, avaliadas as incompatibilidades no

sistema HLA entre doador e receptor. O tempo de espera em lista e a data de início

da diálise são utilizados para desempate. Outras características do receptor, como a

hipersensibilização, presença de diabetes, idade (crianças e adolescente) e

nefrectomia prévia para doação intervivos, também recebem pontuação especial.

Nos casos de doador com idade menor ou igual a dezoito anos, primeiro serão

selecionados os potenciais receptores com idade igual ou menor de dezoito anos,

utilizando a pontuação apurada nos demais critérios. (SECRETARIA ESTADUAL

DE SAÚDE RS, 2018)

De acordo com dados da Secretária de Saúde do Rio Grande do Sul (2018), para o

transplante de rim ou pâncreas, a seleção será: identidade ABO (grupo sanguíneo) e tempo de

espera; compatibilidade ABO (grupo sanguíneo) e tempo de espera. Para o transplante

de fígado, a seleção dos potenciais receptores é processada mediante identidade ou

compatibilidade ABO, compatibilidade anatômica com o doador, faixa etária, critérios de

gravidade e tempo de espera. Por critério de gravidade clínica serão classificados de acordo

com os critérios de gravidade MELD/PELD, priorizando-se o de maior pontuação e

considerando o tempo em lista. Para pulmão, a seleção dos potenciais receptores segue

seguintes critérios: identidade ABO x tempo de espera; compatibilidade de tamanho da caixa

torácica; prova de reatividade contra painel de linfócitos e compatibilidade ABO x tempo de

espera. Para o transplante de Coração, a seleção dos potenciais receptores é realizada

mediante compatibilidade ABO doador x receptor, peso doador x receptor, priorização,

características do doador e tempo de espera. Para transplante de Tecidos Oculares: a seleção

para potenciais receptores de córnea será realizada considerando o tempo em lista de espera e

de acordo com a especificação da qualidade da córnea estabelecida pela equipe

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transplantadora na inscrição do receptor, bem como da faixa etária do doador aceita para este

receptor.

Assim, um paciente que seja inscrito em lista hoje pode ter sua posição em cadastro

técnico ou cadastro ativo na posição 200, por exemplo, mas quando gerar o relatório de

distribuição para determinado doador, poderá ficar em primeiro lugar por sua compatibilidade

genética ou por sua característica anatômica ou por suas condições clínicas que podem, neste

momento, configurar um critério de priorização.

Assim, os critérios acima explanados foram construídos no sentido de justiça e

celeridade, com o intuito de facilitar as equipes encadeando características que possibilitam

um enquadramento entre doador e receptor.

3.3 VENDA DE ÓRGÃOS NO BRASIL

A partir da ideia explanada até o presente momento, será possível adentrarmos ao

cerne da discussão no que tange à (im)possibilidade da venda de órgãos no país.

Contextualizando, no ano de 2011 a imprensa mundial noticiou o inusitado caso de um

chinês, de 17 anos, que vendeu um de seus rins para comprar um Ipad 2, o cobiçado tablet da

Apple, e depois arrependeu-se. Embora o episódio tenha ocorrido na China, examina-se tal

situação, assim como a possibilidade de disposição do próprio corpo, à luz do direito

brasileiro. Evidentemente, contratos dessa natureza atentam contra o bom senso, contra a

saúde, contra os bons costumes, a ética, a moral e também contra a lei (FERRIANI, 2011).

Nesse sentido, mesmo sendo um caso ocorrido no exterior merece ponderações. No

Brasil, de acordo com o artigo 13 do Código Civil, é proibido o ato de disposição do próprio

corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons

costumes (BRASIL, 2002). Dispor é desfazer-se, é alienar, a título gratuito (doação) ou a

título oneroso (compra e venda). A proteção da integridade física fundamenta-se na dignidade

da pessoa humana e na inviolabilidade do direito à vida, conforme o artigo 1º, inciso III e art.

5º, caput, da Constituição Federal.

Na filosofia ainda é predominante a visão de que o corpo humano não deve ser

“coisificado” por meio do comércio. O filósofo Immanuel Kant expressou em seu livro Lições

sobre Ética, que o homem não é propriedade de si mesmo, visto que isso seria contraditório,

pois se fosse uma propriedade de si mesmo, ele seria uma coisa, e é impossível uma pessoa

ser pessoa e coisa ao mesmo tempo (RIBEIRO, 2004).

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O comércio de órgãos contraria os princípios da maioria das religiões, principalmente

as que pregam que a vida humana é sagrada, e que sendo Deus que nos deu a vida somente

Ele pode tirá-la. De acordo com Ribeiro (2004), para os cristãos o corpo possui importante

significado, como se observa no trecho da carta que o apóstolo Paulo escreveu aos Corintos:

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,

proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por

bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais

pertencem a Deus (A BÍBLIA, 2008).

Apesar da predominante rejeição ao comércio de órgãos, infelizmente, observa-se,

conforme alertado pelo Dr. Volnei Garrafa, que está surgindo no mundo, o encaminhamento

de certas situações visando a legalização e a aceitação moral da mercantilização de órgãos,

em função de uma alegação de que as pessoas são autônomas (GARRAFA, 2004, p.06 apud

RIBEIRO, 2004)

No mundo todo, a demanda legal por órgãos é superior à oferta transformando o

tráfico de órgãos em uma das mais lucrativas atividades ilícitas exploradas pela criminalidade

organizada. Esse é um mercado próspero, pois pessoas milionárias que necessitam de

transplante sabem que podem morrer no aguardo da vez nas filas das listas oficiais. A

alternativa é apelar para o mercado clandestino, operado pelo crime organizado transnacional,

sem fronteiras (RIBEIRO, 2004).

Entidades especializadas no transplante de órgãos criticam a possibilidade de legalizar

a comercialização de órgãos, apontando os malefícios que o comércio de partes do corpo

humano traria à sociedade, transformando o corpo em mercadoria, e destruindo o objetivo

altruísta das doações. Por outro lado, os defensores apontam que a legalização da

comercialização inibiria a ilegalidade, além de diminuir as filas de espera (BERLINGUER;

GARRAFA, 2001). Neste seguimento, em um congresso mundial, o Papa João Paulo II

abordou tal questão, dizendo:

A primeira ênfase deve-se dar ao fato de que qualquer intervenção de transplante de

órgãos como já noutra ocasião teve a oportunidade de ressaltar, tem geralmente

origem numa decisão de grande valor ético: a decisão de oferecer, sem recompensa,

uma parte do próprio corpo, em benefício da saúde e do bem-estar de outra pessoa

(PAULO II, 1991).

São estes preceitos que mostram a nobreza do gesto, que se resume num autêntico ato

de amor. Não se oferece simplesmente uma parte do corpo, mas doa-se algo de si, a partir do

momento em que o corpo humano não pode ser considerado apenas como um conjunto de

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tecidos, órgãos e funções, mas sim como parte constitutiva da pessoa que através dele se

manifesta e se exprime.

Um argumento fortemente usado para autenticar a comercialização de órgãos, é da

autonomia de vontades. Defende-se que o ser humano tem autonomia e liberdade para tomar

decisões por si, que envolvam e resultem na sua vida, desta forma, do mesmo jeito, ele tem

autonomia sobre o seu corpo e sobre a forma de utilização do seu corpo. Portanto, ao decidir

vender um órgão ele estaria se utilizando da sua autonomia de fazer com o seu corpo e com a

sua vida o que livremente deseja, sem prejudicar outrem (SÁ E OLIVEIRA, 2017).

Assim, ao discutir sobre a legalidade da comercialização de órgãos é necessário

perceber que não se trata somente de proteger o fornecedor, mas também de respeitar a sua

autonomia. A proteção da parte hipossuficiente é necessária, como em qualquer sistema

jurídico, todavia, a hipossuficiência de alguém não representa a sua incapacidade para tomar

decisões sobre a sua vida. É necessária muita cautela ao dizer que o fornecedor não tem o

direito de autonomia, pois encontra-se em situação desesperadora (BERLINGUER E

GARRAFA, 2001).

Em contraponto, o principal argumento contrário à legalização da comercialização de

órgãos no Brasil pauta-se na hipossuficiência do doador. Geralmente, o doador é uma pessoa

com baixos recursos financeiros, que passa por necessidades para garantia do mínimo

existencial, e encontra na venda de seus órgãos uma alternativa para a solução dos seus

problemas financeiros (ÁVILA et al., 2008). É a clássica visão do rico se aproveitando do

pobre. Neste sentido, Berlinguer e Garrafa (2001) complementam:

O mercado de corpos realmente não se dá somente entre indivíduos

economicamente, culturalmente, e quase sempre etnicamente em situação de

desigualdades, mas traz de um lado indivíduos isolados, sem capacidade de

organização para proteger seus próprios direitos, e do outro uma força sustentada

por meios, associações, estruturas, profissões, instrumentos de comunicação

(BERLINGUER E GARRAFA, 2001, p. 98)

Neste aspecto da exploração do mais pobre, entende-se que a comercialização de

órgãos transformaria o indivíduo em objeto, tornando-o comercializável, além disso haveria

uma disparidade de valores, pois o preço pago ao vendedor do órgão seria injusto comparado

com os riscos e possíveis perdas da capacidade física que o vendedor estaria se submetendo

(SÁ E OLIVEIRA, 2017). De fato, pessoas de baixa renda dificilmente têm dimensão do

valor do corpo, e em razão de estarem sob grandes necessidades financeiras, acabariam

cedendo a quantias irrisórias.

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Berlinguer (2004) compara a comercialização de órgãos com a época da escravidão,

em que os escravos, por serem de classes inferiores, eram utilizados para servir a burguesia e,

como argumento, dizia-se que o serviço lhes dava moradia e alimentação, do contrário não

teriam lugar para ficar. Pode-se assimilar ao tráfico de órgãos pelo fato de que somente

pessoas de baixa renda vão se submeter a um procedimento de transplantação, vendendo

partes do seu corpo para garantia de sua sobrevivência, o que aumentaria ainda mais as

desigualdades sociais do país.

O mesmo autor ainda enfatiza que caso a comercialização de órgãos viesse a ser

legalizada, seria o patrimônio da pessoa que indicaria se ela iria sobreviver ou não, pois em

um sistema no qual o altruísmo é raro, sendo considerado somente o valor pecuniário a que se

paga ao objeto, as pessoas de baixa renda que estivessem acometidas de doenças que

causassem a insuficiência de um órgão, não teriam como adquirir novos órgãos, por não terem

patrimônio para isso, ou seja, estariam condenadas à morte.

Nesse sentido encontra-se outro argumento, o da injustiça. Ao permitir a compra e

venda de órgãos, o sistema iria deixar de incentivar a doação voluntária e altruística, desta

forma, para realizar um transplante o paciente necessariamente teria que pagar. No entanto,

questiona-se quanto àqueles que não possuem condições de pagar por um órgão, situação

econômica de boa parte da população brasileira. Esses indivíduos seriam coagidos e

incentivados a venderem seus órgãos, todavia, quando eles precisassem de uma doação,

teriam que pagá-la, e de que forma isso seria feito, se estes nem possuem condições de manter

o mínimo existencial (SÁ E OLIVEIRA, 2017).

As classes mais baixas sempre foram utilizadas pela sociedade para realizar os

serviços que ninguém das classes média e alta quiseram realizar, da mesma forma, no caso da

comercialização de órgãos, os pobres seriam utilizados para vender seus órgãos, e por óbvio,

não seriam pagos justamente. A problemática que envolve a legalização vai além do déficit de

órgãos disponíveis para doação, há de se analisar todos os impactos que isso causaria à

sociedade.

Quanto ao consentimento dos indivíduos que decidissem vender seus órgãos, este

também seria muito relativo. Questiona-se se a situação econômica de alguém poderia

determinar a sua incapacidade para tomar esse tipo de decisão sobre o seu corpo, haja vista

determinadas circunstâncias de extrema necessidade pelas quais os cidadãos passam. Como

seria possível autenticar o consentimento como livre e esclarecido? Sá e Oliveira (2017)

indagam sobre a capacidade do indivíduo, se esta estaria prejudicada pelo fato dele tomar uma

decisão quanto à venda de seus órgãos. A voluntariedade também estaria prejudicada, pois

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essas pessoas seriam coagidas a realizarem as doações pagas por serem convencidos de que é

a única forma de saírem da situação econômica que se encontram.

Estes argumentos já demonstram a dificuldade de se estabelecer um comércio de

órgãos legal no Brasil, ainda mais devido as grandes desigualdades sociais que assolam os

quatro cantos do país. Contudo, seria hipocrisia em pensar no sentido de que isso não irá

ocorrer, ou que no país isso não acontece, pois há relatos, embora “abafados” e não expostos

que casos já ocorreram, portanto o sentido da vigência de leis proibitivas dessa temática e

ainda, que ocorra a fiscalização de modo mais eficaz, coibindo e amenizando o mercado

internacional de órgãos.

Desse modo, a rigorosa exigência legislativa tem seu fundamento no controle do

procedimento médico, que com base no princípio da Justiça, proporciona a qualquer pessoa o

direito de receber órgãos ou tecidos humanos, independentemente de sua situação financeira.

Do contrário, somente os favorecidos teriam acesso ao procedimento regenerativo. Mesmo

assim, com tamanha rigidez, o sistema vem sendo burlado e órgãos são desviados para

pessoas que não se encontram listadas ou, se inscritas, não ocupam lugar de preferência.

Para conhecimento geral, o ato, por si só, de desviar órgãos humanos, constitui crime

de furto. O verbo subtrair fala mais alto e dá conta da realização típica da conduta. Ocorre,

no entanto, que o tipo penal faz referência a “coisa alheia móvel” e, principalmente que seja

bem circulante no comércio, com valor estipulado pelas regras da oferta e procura. O órgão

humano é bem extracommercium, insusceptível da realização da conduta típica descrita pelo

legislador penal. Atípica, portanto, a conduta.

Desloca-se, então, para fins de adequação típica, para o ilícito previsto no

artigo 211 do Código Penal, in verbis: Art. 211 “Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou

parte dele”.

Parte do corpo humano vem a ser aquela destacada da parte principal, mas que

continua ainda sob a propriedade de seu titular, a quem caberá consentir na realização da

doação. Portanto, é possível juridicamente a disposição gratuita do corpo humano,

renováveis (leite, e sangue, medula óssea, pele, óvulo, esperma) ou não, para salvar a vida ou

preservar a saúde do interessado ou de terceiros, ou para fins científicos ou terapêuticos.

Ocorre que o tipo penal remanescente, que é da própria origem do Código, tem o

elemento subjetivo direcionado para o dolo genérico, consistente em praticar ação que

constitui a materialidade do delito, sendo irrelevante o fim pretendido pelo agente. A

classificação legal, desta forma, rejeita também a norma do artigo 211 do Código Penal.

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Em que pese, a Lei n.º 9434/97, que cuida da disposição de tecidos e órgãos do corpo

humano, traz elencados nos artigos 14 a 20 vários tipos penais referentes a condutas

relacionadas com remoção, compra, venda, transporte, guarda ou distribuição de órgãos

humanos, assim como realização de transplante ou enxerto sabendo que as partes do corpo

humano foram obtidas em desacordo com o dispositivo da lei. Na realidade, com uma

linguagem mais apropriada, o legislador desconfigurou o verbo subtrair, ligado diretamente a

um bem com valor econômico e o substituiu por outro, mais técnico e específico para a

atividade ilícita, que é o ato de remover. A origem etimológica dá o sentido de mover para

trás, quer dizer, ajeitar para retirar algo de algum lugar, tirar, pegar, suprimir, apartar.

Por se tratar de uma lei especial, cuidando especificamente de uma conduta humana,

há relação de especialidade e, consequentemente, a lei especial afasta a incidência da norma

geral. É a regra lex specialis derrogat lex generali. O novo tipo penal passa a ser mais

completo e atende prontamente a necessidade legal. Considera-se especial a norma que

contém todos os elementos da geral (lex generalis) e mais o elemento especializador. Há,

pois, na norma especial um plus, isto é, um detalhe a mais que sutilmente a distingue da

norma geral.

O próprio Código de Ética Médica, em seu artigo 46, veda ao médico “participar

direta ou indiretamente de comercialização de órgãos ou tecidos humanos”.[5] Compreende

este dispositivo o ato cirúrgico da remoção.

3.4 O PAPEL DO ESTADO NA EFETIVAÇÃO DO DIREITO AO PRÓPRIO CORPO E A

SAÚDE E ADOÇÃO DE MEDIDAS DE INCENTIVO ESTATAL EM PROL DA

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Muitas pessoas ainda morrem à espera de um órgão que poderia lhe salvar a vida.

Nesse contexto, o Ministério da Saúde promove campanhas de conscientização sobre a

importância da doação de órgãos, porém ainda não são suficientes para atender a demanda.

Sem dúvida, uma das maiores barreiras é a falta de informação e orientação para que os

familiares possam agir e de fato efetivar a doação adequadamente num momento de

fragilidade e tristeza.

Além da infraestrutura precária dos hospitais do SUS como já supracitado, carência de

capacitação profissional para realização de transplantes, outro obstáculo que o Brasil precisa

enfrentar é no fluxo logístico para possibilitar o transporte do órgão no tempo certo e no local

apropriado para conservação.

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A doação de órgãos é gratuita e de livre decisão do doador ou familiar responsável em

caso de doação pós-morte. Em hipótese alguma esse processo pode envolver negociação

comercial ou influência econômica, pois configura crime.

Outrossim, na atualidade, muitos municípios trabalham sobre a questão de incentivo à

doação de órgãos post mortem e também, intervivos. Assim, foi criado o Dia Nacional da

Doação de Órgãos. O principal objetivo desta data é conscientizar a população em geral sobre

a importância de ser doador de órgãos, com o intuito de ajudar a milhares de pessoas que

lutam por uma oportunidade de salvarem as suas vidas. Doar órgãos é um ato de amor e

solidariedade.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o objetivo da campanha é estimular

cada vez mais pessoas a serem doadoras e garantir que o Brasil alcance anualmente a meta de

14,4 doadores por milhão. No primeiro semestre de 2016, o país bateu recorde ao registrar

1.438 doadores, um aumento de 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Com o

resultado, o Brasil está muito perto de alcançar a meta: hoje o índice está em 14 pessoas por

milhão. Além disso, as doações de órgãos permitiram que 12.091 transplantes fossem

realizados entre janeiro e julho deste ano. As operações de órgãos mais complexos, incluindo

pulmão, fígado e coração, cresceram 31%, 6% e 7%, respectivamente, na comparação com o

mesmo período de 2015. Vale destacar ainda que, atualmente, 89% dos transplantes de órgãos

sólidos são realizados pelo SUS, o que torna o país referência mundial neste campo (ADOTE,

2016).

3.5 DADOS ATUALIZADOS DAS DOAÇÕES DE ÓRGÃOS NO RIO GRANDE DO SUL

E CONVICÇÕES MÉDICAS A RESPEITO DAS PROBLEMÁTICAS QUE DIFICULTAM

A DOAÇÃO NO PÓS MORTEM

Embora não seja o ensejo direto do trabalho ora explanado, cabe aqui mencionar

dados importantes, referente aos números de doações atualizado do Estado do Rio Grande do

Sul. Neste sentido, oportuna a conversa, mesmo que por via informal no sentido de

entrevistar e levantar quanto aos questionamentos até então abordados com o médico Dr.

Paulo Reichert, qual possui graduação em Medicina pelo Fundação Universidade Federal de

Ciências da Saúde de Porto Alegre (1987), especialização em Cirurgia Geral pelo Fundação

Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (1987), mestrado em Medicina

(Cirurgia do Aparelho Digestivo) pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em

Medicina (Cirurgia do Aparelho Digestivo) pela Universidade de São Paulo (1998),

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atualmente é professor titular da Universidade de Passo Fundo e Professor da Fundação

Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, tem experiência na área de

Medicina, com ênfase em cirurgia, atuando principalmente nos seguintes temas: transplante

hepático e complicações biliarese fígado reduzido. O mesmo elucidou que a maior

problemática encontrada pelas equipes do Brasil inteiro no que tange à questão em pauta -

transplante - é a falta de informação das famílias no que concerne à decisão da pessoa que

está prestes a ser um possível doador(a), pois, conforme relata, as famílias ainda desconhecem

a verdadeira vontade da pessoa quanto a ser doador(a) em vida ou não, tornando o trabalho

das equipes que estão apostos mais complicado.

Nesta esteira, também relata a responsável pela Organização de Procuração de Órgãos

(OPO04), enfermeira Fabiana Dal Conte Buzatto, que mesmo havendo um aumento a nível

nacional no número de doações, no estado do Rio Grande do Sul a situação tem se mostrado

preocupante. Em sua fala, Fabiana fez um relato da história dos transplantes e aborda a

legislação sobre a OPO (Organização de Procura de Órgãos e Tecidos), que é um organismo

com papel de coordenação supra-hospitalar, responsável por organizar e apoiar as atividades

relacionadas ao processo de doação de órgãos e tecidos, a manutenção de possível doador, a

identificação e a busca de soluções para as fragilidades do processo, a construção de parcerias

e a capacitação para identificação e efetivação da doação.

A enfermeira tratou também sobre morte encefálica. Discorreu sobre como é realizado

o diagnóstico, independente da possibilidade de doação e a obrigatoriedade da notificação da

suspeita de morte encefálica, assim como o processo de comunicação à família e a abordagem

para a doação. Também mencionou sobre a doação de órgãos, como ainda sendo um tabu em

nosso país. Muitas famílias não concordam com a doação dos órgãos de seus familiares com

morte encefálica. Os números são alarmantes e revelam também o desconhecimento dessa

realidade. As Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes

(CIHDOTTs), têm como objetivo principal, instrumentalizar a sociedade e educar a

população sobre a importância da doação e dos transplantes.

A falta de informação, a recusa familiar ou questões religiosas estão entre os fatores

responsáveis pela demora do transplante. Muito se fala sobre a doação em si. Mostrar que o

tempo é precioso para quem aguarda um novo órgão vai chamar a atenção para este ponto

pouco explorado: essa longa espera. É importante que todas as pessoas comuniquem suas

famílias, caso sejam doadores, pois somente os familiares podem consentir na retirada dos

órgãos.

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Atualmente, o decreto nº 9.175/2017, que regulamenta a lei de transplantes nº

9.434/1997, determina a necessidade de consentimento familiar para a efetivação da doação

de órgãos do falecido, no âmbito do transplante post mortem. A aplicação do consentimento

familiar para a realização dos transplantes proporcionou uma melhora na relação médico-

paciente-família, viso que há respeito ao momento de luto e dor vivenciado pela família,

evitando conflitos nesse período. Todavia, ao mesmo tempo, descarta a possibilidade do

sujeito, em vida, decidir sobre o destino do seu próprio corpo, desconsiderando a sua

liberdade decisória, o que inclui, em algumas vezes, a desconstrução do seu projeto de vida e

de suas convicções pessoais.

Desse modo, constata-se que o supracitado decreto veio a consagrar a ineficácia da

declaração de vontade de ser doador, uma vez que colocou nas mãos da família a decisão

acerca da transplantação post mortem. Essa ineficácia já se mostrava evidente na prática

médica, dessa forma, o dispositivo legal em comento formalizou uma situação já existente,

quando, na verdade, deveria ter corrigido esta realidade, reafirmando o direito do cidadão de

decidir sobre o destino do seu próprio corpo.

Essa alteração representa uma afronta à autonomia do indivíduo, dado que ignora

expressamente a vontade do titular do corpo, com a justificativa de proporcionar maior

segurança para o procedimento cirúrgico, já que diminuirá a possibilidade de extração

precipitada de órgãos. Contudo, essa modificação, instituída pelo decreto, pode vir a ensejar

uma diminuição do número de transplantes, posto que, atualmente, a recusa familiar é um dos

principais impedimentos na prática de transplantes no Brasil. A família, após a morte do ente

querido, se encontra em um momento bem delicado, o que torna mais difícil a abordagem

para a questão de transplante, bem como a aceitação desse procedimento.

Em que pese, faz-se necessário, diante da nova realidade, um maior investimento em

campanhas pelo poder público, visando justamente disseminar a informação acerca da

alteração promovida por este dispositivo legal, para que os indivíduos estejam devidamente

informados e possam revelar a vontade de ser ou não doador para sua família.

No que tange a dados, a profissional de enfermagem relata que de Janeiro de 2018 até

o atual momento (outubro de 2018), na Organização de Procuração de Órgãos (OPO04),

houve a abertura de 27 (vinte e sete) notificações, dentre as quais somente 04 (quatro)

concretizaram com sucesso, as 23 (vinte e três) restantes não foram possíveis por diversas

situações, dentre as quais destaca-se a interação medicamentosa pelo uso abusivo de

antibióticos ou medicamento opióides, a contaminação por doença vital ou infectocontagiosa,

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e ainda a questão do politrauma, sendo que os órgãos estão afetados pelo trauma

impossibilitando a retirada para o receptor pois não resultará em sucesso.

Os dados referentes ao ano de 2017 resultam em 07 (sete) doações com sucesso dentre

as 59 (cinquenta e nove) notificações abertas, portanto uma luta diária quanto às equipes

multidisciplinares que estão apostos nos hospitais na busca de possíveis doadores e que os

receptores consigam em um prazo curto alcançar o seu maior objetivo, um órgão para

continuar vivendo.

Para tanto, faz-se necessária uma análise do número de doações que são realizadas

anualmente no estado do Rio Grande do Sul para maior compreensão da temática:

Gráfico 01: Doadores de órgãos no RS

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (2017)

Como o gráfico acima exposto demonstra, é realizado um número expressivo de

notificações quais são abertas aos potencias doadores, contudo é possível vislumbrar o baixo

número de efetivos doadores.

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No ano de 2018 os dados são os seguintes:

Gráfico 02: Doadores efetivos no RS em 2018

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (2018)

Conforme acima exposto, os dados relevantes no que concerne ao ano atual:

Gráfico 03: Receptores em lista de espera no RS, em 2018

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (2018)

Conforme exposto, o gráfico acima demonstra o expressivo número de pessoas que

aguardam sua vez na fila de espera, dados estes referentes somente ao estado do Rio Grande

do Sul. Nesse sentido, é necessária a implementação de medidas que auxiliem de forma

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considerável, gerando um aumento nas doações. O gráfico abaixo elucida sobre qual é o

maior entrave neste viés:

Gráfico 04: Entraves para a doação de órgãos

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (2018)

Como é possível avistar abaixo, a não autorização da família é a maior problemática

contatada:

Gráfico 05: Problemáticas encontradas no processo de doação

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (2018)

Atualmente o Brasil tem 32.716 pacientes cadastrados em lista de espera para um

transplante dos seguintes órgãos: rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas e córneas. Os dados

foram divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

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A maioria aguarda pela doação de um rim: 21.962. Mais da metade desses pacientes

está em São Paulo. O segundo órgão com maior demanda é a córnea, com 8.574 pacientes na

lista de espera.

Por fim, conforme expostas as justificativas da não doação, pode-se fazer uma rápida

reflexão acerca do abordado, em que pese deve-se sempre respeitar a autonomia de vontade. É

possível trabalhar com resultados consideráveis dentro da margem daqueles que não são

doadores em vida, mas principalmente é preciso trabalhar com a quebra de tabus, de

preconceitos e ainda dentro do desconhecimento de vontade do doador. A sociedade precisa

quebrar paradigmas para que haja uma verdadeira e real evolução no sentido de buscar

alcançar a evolução, não somente no viés pessoal, mas em todos os âmbitos possíveis da vida.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho analisou a possibilidade de incentivos estatais no que tange à

doação de órgãos no Brasil, sempre respeitando as referências constitucionais, princípios e

principalmente a autonomia de vontade, gerando como consequência positiva a diminuição no

mercado clandestino de órgãos cuja rede é ramificada no âmbito internacional.

Diante do que foi exposto acerca dos princípios, entende-se ter duas hipóteses neste

sentido, as quais podem ser concatenadas em duas correntes. A primeira hipótese é de que a

Justiça pode ser alcançada sem ferir ou interferir abusivamente quanto à autonomia sobre o

próprio corpo no que concerne ao comércio internacional de órgãos. Quando autorizada a

“venda” de órgãos, sendo estes tabelados e que os países interliguem conforme suas

necessidades, das pessoas doadoras até os indivíduos receptores, tendo entre estas duas partes

uma forma de contrato, onde o órgão é o principal produto. Esta opção é a que está em

desencontro com o andamento jurídico mundial e agride seriamente acerca dos direitos

humanos, visto que não se deve utilizar o corpo ou partes dele como forma de comércio.

Ainda, como seria possível valorar um órgão humano? Complementando esta ideia, deve-se

examinar a classe social e econômica mais vulnerável a este fim de exploração, por breve

consciência e análise a que sofrerá as devidas consequências de cunho maléfico.

Ao passo em que há uma desenfreada ação de pessoas que participam do tráfico

internacional de órgãos e que, de uma forma ou outra, continuarão a praticar tal ato,

independentemente da proibição ou não, para a sociedade a ação de doação continuaria

tramitando como de rotina. Porém, para as quadrilhas de órgãos o negócio continuaria

lucrativo, visto que não haveria nenhuma medida de interferência punitiva eficaz.

Nessa esteira, em segunda hipótese, a existência de tratados e convenções

internacionais que respaldam e auxiliam a legislação de determinados países, em detrimento

da precaução quanto a esta problemática e que na sua vigência, poderiam aderir medidas de

incentivo estatal quanto à doação de órgãos em vida ou pós mortem, como já existem em

alguns países. Aqui cita-se o exemplo da Espanha, que adotou esta medida para angariar

maior número de doadores, sem interferir na sua autonomia, respeitando a decisão individual

e coletiva quanto à família, onde no momento em que se tem constatado a morte encefálica do

indivíduo e este se pronunciou em vida como doador de órgãos, a família assim autorizando

conjuntamente, será feita a doação dentro do protocolo, e como medida de incentivo o

governo espanhol paga todo os custos referentes ao então transplante de doador para receptor.

Após isso, a família do doador não terá custos com o velório, enterro e/ou cremação do ente

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querido, pois os atos são custeados pelo governo como medida de incentivo à doação. Assim,

como mencionado neste breve exemplo, há de se propagar mais ideias deste cunho, para que

se possa exterminar ou amenizar o tráfico internacional, visto que tal medida em expressivo

número diminuiria a questão da ilegalidade, pois atualmente se tem muito custo nos

procedimentos pós morte de um indivíduo e em muitos casos a família não tem meios

financeiros para fazê-lo com dignidade.

Nessa perspectiva, foi basilar uma análise para que, realmente se possa ensejar a busca

de soluções jurídico-políticas, passíveis de serem replicadas a todos os serviços de

transplantes no país, e assim emprestar-lhes um norte que, potencializando de modo eficaz o

manejo dos instrumentos adequados, lhes propicie a almejada efetividade na proteção do

direito aos transplantes. Isso porque é crucial a elaboração de soluções construtivas da norma

jurídica, que se prestem a tutelar os direitos fundamentais, como o de transplantes, com

efetividade. Atualmente o que rege a sua normatividade é a lei n°. 9.434, de 04 de fevereiro

de 1997, com as alterações das leis nº 10.211, de 23 de março de 2001; nº 11.521, de 18 de

setembro de 2007, e nº 11.633, de 27 de dezembro de 2007. São normas específicas do

ordenamento jurídico brasileiro, sobre a questão de transplantes de órgãos, tecidos e partes do

corpo humano, tendo sido regulamentada pelo Decreto n°. nº 2.268, de 30 de junho de 1997.

De acordo com Silva e Serra (2009), o artigo 9º da Lei Brasileira dos Transplantes,

autoriza a pessoa juridicamente capaz, a doação do próprio corpo vivo para fins de

transplantes ou terapêuticos, tendo sido recepcionada tal autorização pelo Código Civil, cujo

artigo 13, parágrafo único, admite a disposição do próprio corpo mesmo que deste ato resulte

diminuição permanente da integridade física. A legislação pretérita, lei n°. 8489/1992 e o

decreto n° 879/1993, exigia para doação inter-vivos o parentesco ou a autorização judicial

para os que não são parentes, sob algumas condições: exame de sanidade mental do doador;

inexistência de qualquer tipo de retribuição material ou não; inexistência de coação; respeito

ao anonimato do doador e do receptor, além do termo de doação. A lei vigente não exige o

laço de parentesco, mas sim para os não relacionados, expressa declaração de vontade do

doador para transplantes inter-vivos.

É o regulamento da lei que exige autorização judicial para aquela doação, abstraindo

de tal autorização para os transplantes que envolvam cônjuges ou parentes até o quarto grau,

sendo mesmo discutível a legalidade da exigência de termo escrito para doação formulada

pelo decreto n°. 2.268/1997, posto que a dei n°. 9.434/1997 não contém tal restrição,

limitando-se a dispor que a autorização seja feita preferencialmente por escrito. Aparentados

até o quarto grau podem doar, em vida, um dos seus órgãos e tecidos humanos para serem

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utilizados em transplantes duplos, com autorização judicial, e não aparentados, desde que

capaz o doador, o regulamento da lei exige a obtenção de alvará judicial para a efetivação da

doação em vida.

A partir dessa garantia constitucional acerca da dignidade, o tema perpassa,

necessariamente, pelo reconhecimento de ser, tanto o direito à vida, quanto à integridade

física, direitos da personalidade e, assim, indisponíveis, tutelados pela constituição federal do

Brasil, pelo código civil e pelo código penal.

Por fim, é fundamental verificar, se o resguardo integral da dignidade de cada pessoa,

derivado da tutela a cada parte de seu corpo e a cada aspecto de sua estrutura físico-psíquica,

encontra resposta adequada na legislação vigente no Brasil para transplantes, em especial para

as hipóteses em que se trata de doações inter-vivos. Esta questão implica em se estabelecer

premissas básicas que podem, paradoxalmente, ser oponíveis uma à outra: de um lado, o

direito de se dispor de parte do próprio corpo e, de outro, a autonomia de fazer do próprio

corpo o que bem entender. Portanto, quase que explicitamente, pode-se averiguar as balisas

conceituais e teóricas, mas a da realidade somente tem alcance ao que nele vivencia e sabe

das suas necessidades majoritárias.

Conclui-se então, nesta vertente, pela impossibilidade da legalização da

comercialização de órgãos no Brasil, devido ao princípio da dignidade da pessoa humana, e

aos prejuízos que sua legalização causaria ao país a longo prazo, com o fim das doações

altruístas e o aumento das desigualdades sociais. Ademais, conforme decreto nº 9.175/2017,

que regulamenta a lei de transplantes nº 9.434/1997, é expressamente necessário o

consentimento familiar para a efetivação da doação de órgãos do falecido, portanto se a

família não autorizar, não haverá a abertura do protocolo de doação. Como possível solução,

indica-se a necessidade imediata de incentivos estatais e sociais à população brasileira, além

de maior disseminação de informações e da importância em tratar do assunto com a família,

para que ocorra então a doação de forma altruística e solidária de órgãos inter-vivos e post

mortem, tendo em vista a sua importância para o alcance do equilíbrio nacional entre oferta e

procura de órgãos para transplante, bem como para minimizar a ação do mercado humano.

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ANEXO A – Lei n. 9.434, de 04 de fevereiro de 1997

LEI Nº 9.434, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1997.

Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e

partes do corpo humano para fins de

transplante e tratamento e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e

eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou

post mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a

que se refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo.

Art. 2º A realização de transplante ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo

humano só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por

equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de

gestão nacional do Sistema Único de Saúde.

Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes

do corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de

triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos para a triagem de sangue para

doação, segundo dispõem a Lei n.º 7.649, de 25 de janeiro de 1988, e regulamentos do Poder

Executivo.

Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do

corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de

triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares

expedidas pelo Ministério da Saúde. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.083-

32, de 2001)

Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do

corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de

triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares

expedidas pelo Ministério da Saúde. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

CAPÍTULO II

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DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS,

ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.

Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados

a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica,

constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e

transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução

do Conselho Federal de Medicina.

§ 1º Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos exames referentes

aos diagnósticos de morte encefálica e cópias dos documentos de que tratam os arts. 2º,

parágrafo único; 4º e seus parágrafos; 5º; 7º; 9º, §§ 2º, 4º, 6º e 8º, e 10, quando couber, e

detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, serão mantidos nos

arquivos das instituições referidas no art. 2º por um período mínimo de cinco anos.

§ 2º Às instituições referidas no art. 2º enviarão anualmente um relatório contendo os

nomes dos pacientes receptores ao órgão gestor estadual do Sistema único de Saúde.

§ 3º Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da

comprovação e atestação da morte encefálica.

Art. 4º Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta Lei, presume-se

autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de

transplantes ou terapêutica post mortem.

Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas, para

transplante ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização de qualquer um de seus

parentes maiores, na linha reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, ou do cônjuge,

firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da

morte. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.083-32, de 2001)

Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para

transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente,

maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive,

firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da

morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 1º A expressão “não-doador de órgãos e tecidos” deverá ser gravada, de forma

indelével e inviolável, na Carteira de Identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação

da pessoa que optar por essa condição. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.083-

32, de 2001) (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 2º A gravação de que trata este artigo será obrigatória em todo o território nacional a

todos os órgãos de identificação civil e departamentos de trânsito, decorridos trinta dias da

publicação desta Lei. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.083-32, de

2001) (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 3º O portador de Carteira de Identidade Civil ou de Carteira Nacional de Habilitação

emitidas até a data a que se refere o parágrafo anterior poderá manifestar sua vontade de não

doar tecidos, órgãos ou partes do corpo após a morte, comparecendo ao órgão oficial de

identificação civil ou departamento de trânsito e procedendo à gravação da expressão “não-

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doador de órgãos e tecidos”. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.083-32, de

2001) (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 4º A manifestação de vontade feita na Carteira de Identidade Civil ou na Carteira

Nacional de Habilitação poderá ser reformulada a qualquer momento, registrando-se, no

documento, a nova declaração de vontade. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.083-

32, de 2001) (Revogado pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 5º No caso de dois ou mais documentos legalmente válidos com opções diferentes,

quanto à condição de doador ou não, do morto, prevalecerá aquele cuja emissão for mais

recente. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.083-32, de 2001) (Revogado

pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

Art. 5º A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa

juridicamente incapaz poderá ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais,

ou por seus responsáveis legais.

Art. 6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de

pessoas não identificadas.

Art. 7º (VETADO)

Parágrafo único. No caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência de

causa mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de verificação da causa

médica da morte, a remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver para fins de transplante

ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do patologista do serviço de

verificação de óbito responsável pela investigação e citada em relatório de necrópsia.

Art. 8º Após a retirada de partes do corpo, o cadáver será condignamente recomposto e

entregue aos parentes do morto ou seus responsáveis legais para sepultamento.

Art. 8o Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será imediatamente

necropsiado, se verificada a hipótese do parágrafo único do artigo anterior, e, em qualquer

caso, condignamente recomposto para ser entregue, em seguida, aos parentes do morto ou

seus responsáveis legais para sepultamento. (Redação dada pela Medida Provisória nº

2.083-32, de 2001)

Art. 8o Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será imediatamente

necropsiado, se verificada a hipótese do parágrafo único do art. 7o, e, em qualquer caso,

condignamente recomposto para ser entregue, em seguida, aos parentes do morto ou seus

responsáveis legais para sepultamento. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

CAPÍTULO III

DA DISPOSIÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO VIVO

PARA FINS DE TRANSPLANTE OU TRATAMENTO

Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos

ou partes do próprio corpo vivo para fim de transplante ou terapêuticos.

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Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos,

órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge

ou consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer

pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula

óssea. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.083-32, de 2001)

Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos

e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou

parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em

qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula

óssea. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 1º (VETADO)

§ 2º (VETADO)

§ 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de

partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador

de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave

comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou

deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente

indispensável à pessoa receptora.

§ 4º O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas,

especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada.

§ 5º A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer

momento antes de sua concretização.

§ 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada,

poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento

de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco

para a sua saúde.

§ 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto

quando se tratar de doação de tecido para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato

não oferecer risco à sua saúde ou ao feto.

§ 8º O auto-transplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo,

registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais

ou responsáveis legais.

Art. 9o-A É garantido a toda mulher o acesso a informações sobre as possibilidades e os

benefícios da doação voluntária de sangue do cordão umbilical e placentário durante o

período de consultas pré-natais e no momento da realização do parto. (Incluído pela Lei

nº 11.633, de 2007).

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CAPITULO IV

DAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES

Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor,

após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento.

Parágrafo único. Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas

condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida de sua vontade, o

consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais.

Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor,

assim inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os

riscos do procedimento. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.083-32, de 2001)

§ 1o Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de

saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de

que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais. (Incluído pela

Medida Provisória nº 2.083-32, de 2001)

§ 2o A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua

família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de

alteração no estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocada por

acidente ou incidente em seu transporte. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.083-32,

de 2001)

Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor,

assim inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os

riscos do procedimento. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

1o Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde

impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de que

trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais. (Incluído pela Lei

nº 10.211, de 23.3.2001)

§ 2o A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua

família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de

alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por

acidente ou incidente em seu transporte. (Incluído pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)

Art. 11. É proibida a veiculação, através de qualquer meio de comunicação social de

anúncio que configure:

a) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos,

relativa a estas atividades;

b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para

pessoa determinada identificada ou não, ressalvado o disposto no parágrafo único;

c) apelo público para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou

enxerto em beneficio de particulares.

Parágrafo único. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do Sistema único de

Saúde realizarão periodicamente, através dos meios adequados de comunicação social,

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campanhas de esclarecimento público dos benefícios esperados a partir da vigência desta Lei

e de estímulo à doação de órgãos.

Art. 12. (VETADO)

Art. 13. É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde notificar, às centrais de

notificação, captação e distribuição de órgãos da unidade federada onde ocorrer, o diagnóstico

de morte encefálica feito em pacientes por eles atendidos.

Parágrafo único. Após a notificação prevista no caput deste artigo, os estabelecimentos

de saúde não autorizados a retirar tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a

transplante ou tratamento deverão permitir a imediata remoção do paciente ou franquear suas

instalações e fornecer o apoio operacional necessário às equipes médico-cirúrgicas de

remoção e transplante, hipótese em que serão ressarcidos na forma da lei. (Incluído pela

Lei nº 11.521, de 2007)

CAPÍTULO V

DAS SANÇÕES PENAIS E ADMIMSTRATIVAS

SEÇÃO I

Dos Crimes

Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em

desacordo com as disposições desta Lei:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.

§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro

motivo torpe:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.

§ 2.º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:

I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;

IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa

§ 3.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta para o ofendido:

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I - Incapacidade para o trabalho;

II - Enfermidade incurável ;

III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;

IV - deformidade permanente;

V - aborto:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.

§ 4.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte:

Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.

Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere

qualquer vantagem com a transação.

Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo

humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:

Pena - reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.

Art. 17 Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de que se

tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:

Pena - reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a 250 dias-multa.

Art. 18. Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10 desta

Lei e seu parágrafo único:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Art. 19. Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para

sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Art. 20. Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no art. 11:

Pena - multa, de 100 a 200 dias-multa.

Seção II

Das Sanções Administrativas

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Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16 e 17, o estabelecimento de

saúde e as equipes médico-cirúrgicas envolvidas poderão ser desautorizadas temporária ou

permanentemente pelas autoridades competentes.

§ 1.º Se a instituição é particular, a autoridade competente poderá multá-la em 200 a 360

dias-multa e, em caso de reincidência, poderá ter suas atividades suspensas temporária ou

definitivamente, sem direito a qualquer indenização ou compensação por investimentos

realizados.

§ 2.º Se a instituição é particular, é proibida de estabelecer contratos ou convênios com

entidades públicas, bem como se beneficiar de créditos oriundos de instituições

governamentais ou daquelas em que o Estado é acionista, pelo prazo de cinco anos.

Art. 22. As instituições que deixarem de manter em arquivo relatórios dos transplantes

realizados, conforme o disposto no art. 3.º § 1.º, ou que não enviarem os relatórios

mencionados no art. 3.º, § 2.º ao órgão de gestão estadual do Sistema único de Saúde, estão

sujeitas a multa, de 100 a 200 dias-multa.

§ 1.º Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que deixar de fazer as

notificações previstas no art. 13.

§ 1o Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que deixar de fazer as

notificações previstas no art. 13 desta Lei ou proibir, dificultar ou atrasar as hipóteses

definidas em seu parágrafo único. (Redação dada pela Lei nº 11.521, de 2007)

§ 2.º Em caso de reincidência, além de multa, o órgão de gestão estadual do Sistema

Único de Saúde poderá determinar a desautorização temporária ou permanente da instituição.

Art. 23. Sujeita-se às penas do art. 59 da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962, a

empresa de comunicação social que veicular anúncio em desacordo com o disposto no art. 11.

CAPÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 24. (VETADO)

Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário, particularmente a Lei n.º 8.489, de 18

de novembro de 1992, e Decreto n.º 879, de 22 de julho de 1993.

Brasília,4 de fevereiro de 1997; 176.º da Independência e 109.º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Nelson A. Jobim

Carlos César de Albuquerque

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Este texto não substitui o publicado no DOU de 5.2.1997

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ANEXO B - Declaração de Istambul sobre Tráfico de Órgãos e Turismo de Transplante

Declaração de Istambul

sobre Tráfico de Órgãos e Turismo de Transplante

O transplante de órgãos, um dos milagres da medicina do século XX, prolongou e

melhorou as vidas de centenas de milhares de doentes em todo o mundo. Os diversos avanços

científicos e clínicos fantásticos, realizados por profissionais de saúde dedicados, bem como

os inúmeros atos de generosidade por parte de doadores de órgãos e das respectivas famílias,

fizeram do transplante não só uma terapêutica que salva vidas, como também um símbolo

brilhante da solidariedade humana. Contudo, estes feitos têm sido denegridos por inúmeros

relatos de tráfico de seres humanos que são utilizados como fonte de órgãos e de turistas-

doentes de países ricos que viajam para o estrangeiro com o objetivo de comprarem órgãos de

pessoas pobres. Em 2004, a Organização Mundial da Saúde instou os Estados-Membros a

“tomarem medidas no sentido de proteger os grupos mais pobres e vulneráveis contra o

turismo de transplante e a venda de tecidos e órgãos, prestando atenção ao problema mais

vasto do tráfico internacional de tecidos e órgãos humanos” (1).

No sentido de abordar os problemas urgentes e crescentes da venda de órgãos, do

turismo de transplante e do tráfico de doadores de órgãos no contexto da falta global de

órgãos, reuniu-se em Istambul, entre 30 de Abril e 2 de Maio de 2008, uma Câmara de mais

de 150 representantes de organismos científicos e médicos de todo o mundo, membros do

governo, cientistas sociais e especialistas em questões éticas. Os trabalhos de preparação da

câmara foram realizados por um Comité Diretor convocado pela The Transplantation Society

(TTS) e pela International Society of Nephrology (ISN) em Dubai, em Dezembro de 2007. O

projeto de declaração do Comitê foi amplamente divulgado e, posteriormente, revisto à luz

das observações recebidas. No Comitê, o projeto revisto foi analisado por grupos de trabalho

e finalizado durante as deliberações plenárias.

A presente Declaração representa o consenso dos participantes. Todos os países

necessitam de um enquadramento jurídico e profissional para reger as atividades de doação e

de transplante de órgãos, bem como de um sistema de supervisão regulamentar transparente

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que assegure a segurança de doadores e de receptores e a aplicação de normas e proibições de

práticas não éticas.

As práticas não éticas são, em parte, uma consequência indesejável da falta global de

órgãos para transplante. Assim sendo, cada país deverá esforçar-se tanto para assegurar que

sejam postos em prática programas para evitar a falência orgânica, como para proporcionar

órgãos que satisfaçam as necessidades de transplante dos respectivos residentes a partir de

doadores da sua própria população ou por intermédio de cooperação regional. O potencial

terapêutico da doação de órgãos de doadores falecidos deverá ser maximizado, não só no que

se refere a rins, mas também a outros órgãos adequados às necessidades de transplante de

cada país. Os esforços no sentido de iniciar ou melhorar os transplantes a partir de doadores

falecidos são essenciais para minimizar o ónus sobre os doadores vivos. Os programas

educativos são úteis para abordar os obstáculos, os equívocos e a desconfiança que atualmente

impedem o desenvolvimento suficiente dos transplantes a partir de doadores falecidos; o êxito

dos programas de transplante depende igualmente da existência da infra- estrutura relevante

no sistema de saúde.

O acesso a cuidados de saúde é um direito humano embora, com frequência, não seja

uma realidade. A prestação de cuidados a doadores vivos antes, durante e após a cirurgia – tal

como descrito nos relatórios dos fóruns internacionais organizados pela TTS em Amesterdan

e Vancouver (2-4) – não é menos essencial do que os cuidados prestados ao receptor do

transplante. Um resultado positivo para um receptor nunca pode justificar que se cause mal ou

prejudique um doador vivo; pelo contrário, para que um transplante com um dador vivo seja

considerado um êxito, é necessário que tanto o receptor como o doador tenham estado bem.

A presente Declaração assenta nos princípios da Declaração Universal dos Direitos do

Homem (5). A vasta representatividade dos participantes na Câmara de Istambul reflete a

importância da colaboração internacional e do consenso global no sentido de melhorar as

práticas de dádiva e de transplante. A Declaração será apresentada para análise a organizações

profissionais pertinentes e às autoridades de saúde de todos os países. O legado dos

transplantes não pode ser constituído pelas vítimas empobrecidas do tráfego de órgãos e do

turismo de transplante, mas antes por uma celebração da doação da saúde por uma pessoa a

outra.

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Definições

O tráfico de órgãos consiste no recrutamento, transporte, transferência, refúgio ou

recepção de pessoas vivas ou mortas ou dos respectivos órgãos por intermédio de ameaça ou

utilização da força ou outra forma de coacção, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de

uma posição de vulnerabilidade, ou da oferta ou recepção por terceiros de pagamentos ou

benefícios no sentido de conseguir a transferência de controlo sobre o potencial doador, para

fins de exploração através da remoção de órgãos para transplante.

O comercialismo dos transplantes é uma política ou prática segundo a qual um órgão é

tratado como uma mercadoria, nomeadamente sendo comprado, vendido ou utilizado para

obtenção de ganhos materiais.

As viagens para fins de transplante são a circulação de órgãos, doadores, receptores ou

profissionais do setor do transplante através de fronteiras jurisdicionais para fins de

transplante. As viagens para fins de transplante tornam-se turismo de transplante se

envolverem o tráfico de órgãos e/ou o comercialismo dos transplantes ou se os recursos

(órgãos, profissionais e centros de transplante) dedicados à realização de transplantes a

doentes oriundos de fora de um determinado país puserem em causa a capacidade desse país

de prestar serviços de transplante à respectiva população.

Princípios

1. Os governos nacionais, trabalhando em colaboração com organizações

internacionais e não governamentais, deverão desenvolver e implementar programas

abrangentes para a detecção, a prevenção e o tratamento da falência orgânica, o que

incluirá:

a. a promoção de investigação clínica e científica básica;

b. programas eficazes, com base em diretrizes internacionais, para tratar e cuidar

de doentes com doenças em fase terminal, tais como programas de diálise para doentes renais,

no sentido de minimizar a morbidade e a mortalidade, juntamente com programas de

transplante para tais doenças;

c. o transplante de órgãos como tratamento preferencial para a falência orgânica

no caso de receptores adequados do ponto de vista médico.

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2. Cada país ou jurisdição deverá desenvolver e implementar legislação no

sentido de reger a proura de órgãos de doadores falecidos e vivos e a prática dos transplantes

em consonância com as normas internacionais.

a. Dever-se-ão desenvolver e implementar políticas e procedimentos com o

objetivo de maximizar o número de órgãos disponíveis para transplante, em consonância com

os presentes princípios;

b. A prática da doação e do transplante requer supervisão e responsabilização por

parte das autoridades de saúde de cada país, no sentido de assegurar a transparência e a

segurança;

c. A supervisão exige a existência de um registo nacional ou regional para

transplantes a partir de doadores falecidos e vivos;

d. Como componentes essenciais de programas eficazes contam-se a educação e a

sensibilização do público, a educação e a formação de profissionais de saúde e a definição de

responsabilidades para todos os integrantes do sistema nacional de doação e transplante de

órgãos.

3. Os órgãos para transplante devem ser equitativamente alocados a receptores

adequados, sem que o género, a etnia, a religião ou o estado social ou financeiro sejam tidos

em consideração.

a. As considerações financeiras ou os ganhos materiais de qualquer interveniente

não devem influenciar a aplicação das regras de atribuição pertinentes.

4. O objetivo principal das políticas e dos programas de transplante deverá ser a

existência de cuidados médicos de curto e longo prazo excelentes, no sentido de promover a

saúde tanto de dadores como de receptores.

a. As considerações financeiras ou os ganhos materiais de qualquer um dos

intervenientes não deverão sobrepor-se à consideração principal pela saúde e pelo bem-estar

de doadores e receptores.

5. As jurisdições, os países e as regiões deverão esforçar-se por alcançar a auto-

suficiência em matéria de doação de órgãos, proporcionando um número suficiente de órgãos

para os residentes que deles necessitem a partir do próprio país ou por intermédio da

cooperação regional.

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a. A colaboração entre países não é incompatível com a auto-suficiência nacional,

desde que a colaboração proteja as pessoas vulneráveis, promova a igualdade entre

populações de doadores e de receptores e não viole os presentes princípios;

b. O tratamento de doentes de fora do país ou da jurisdição só é aceitável se não

puser em causa a capacidade do país de prestar serviços de transplante à respectiva população.

6. O tráfico de órgãos e o turismo de transplante violam os princípios da

equidade, da justiça e do respeito pela dignidade humana, pelo que devem ser proibidos. Uma

vez que o comercialismo dos transplantes tem como alvo doadores empobrecidos ou

vulneráveis por qualquer outro motivo, conduz inexoravelmente à iniquidade e à injustiça,

devendo ser proibido. Na sua Resolução 44.25, a Assembleia Mundial da Saúde instou os

países a prevenirem a compra e venda de órgãos humanos para fins de transplantação.

a. As proibições destas práticas deverão incluir uma proibição a todos os tipos de

publicidade (inclusive em suportes electrónicos e impressos), solicitação ou intermediação

para fins de comercialismo dos transplantes, tráfico de órgãos ou turismo de transplante.

b. Tais proibições deverão igualmente incluir penalizações para actos — como o rastreio

médico de dadores ou órgãos ou o transplante de órgãos — que auxiliem, incentivem ou

utilizem os produtos do tráfico de órgãos ou do turismo de transplante.

c. As práticas que induzem pessoas ou grupos vulneráveis (tais como pessoas analfabetas

ou pobres, imigrantes sem documentos, prisioneiros e refugiados políticos ou econômicos) a

tornar-se doadores em vida são incompatíveis com o objetivo de combater o tráfico de órgãos,

o turismo de transplante e o comercialismo dos transplantes.

Propostas

Em consonância com os presentes princípios, os participantes na Câmara de Istambul

sugerem as estratégias seguidamente indicadas para aumentar o conjunto de doadores e para

evitar o tráfico de órgãos, o comercialismo dos transplantes e o turismo de transplante, bem

como para incentivar programas de transplantes legítimos que salvem vidas:

Para responder à necessidade de aumentar as doações post mortem:

1. Os governos, em colaboração com as instituições de cuidados de saúde, os

profissionais do setor e as organizações não governamentais, deverão tomar medidas

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adequadas no sentido de aumentar a doação de órgãos post mortem. Devem ser tomadas

medidas a eliminar os obstáculos e a falta de incentivos à doação de órgãos post mortem.

2. Nos países onde não haja um programa já estabelecido de doação ou transplante de

órgãos de falecidos, deverá ser aprovada por legislação nacional que dê início à doação de

órgãos de falecidos e que crie infra-estruturas de transplante, para que se concretize o

potencial dos doadores falecidos de cada país.

3. Em todos os países onde já tenha sido iniciada a doação de órgãos post mortem, o

potencial terapêutico da doação e do transplante de órgãos de falecidos deverá ser

maximizado.

4. Os países com programas de transplante de dadores falecidos bem

estabelecidos são incentivados a partilhar informações, conhecimentos e tecnologia com os

países que procurem aperfeiçoar os seus esforços de doação de órgãos.

Para assegurar a protecção e a segurança de dadores vivos e o reconhecimento

adequado da sua ação heróica, combatendo, em simultâneo, o turismo de transplante, o tráfico

de órgãos e o comércio dos transplantes:

1. O ato da dádiva deve ser considerado heróico e honrado como tal pelos

representantes do governo e das organizações da sociedade civil.

2. A determinação da adequação médica e psicossocial do doador vivo deve ser

guiada pelas recomendações dos Fórum de Amesterdan e Vancouver (2-4).

a. Os mecanismos de consentimento informado devem incluir disposições para

avaliar a compreensão por parte do doador, incluindo a avaliação do impacto psicológico do

processo;

b. Todos os doadores deverão ser submetidos a uma avaliação psicológica

realizada por profissionais de saúde mental durante a investigação.

3. A prestação de cuidados a doadores de órgãos, incluindo os que foram vítimas

de tráfico de órgãos, comercialismo dos transplantes e turismo de transplante, é uma

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responsabilidade crítica de todas as jurisdições que condenaram a realização de transplantes

de órgãos mediante a utilização de tais práticas.

4. Os sistemas e estruturas deverão assegurar a normalização, a transparência e a

responsabilização pelo apoio à dádiva.

a. Deverão ser criados mecanismos que visem a transparência do processo e o seu

acompanhamento;

b. Dever-se-á obter o consentimento informado, tanto para o processo de dádiva

como para o processo de acompanhamento.

5. A prestação de cuidados inclui cuidados médicos e psicossociais na altura da

doação e para eventuais consequências a curto e longo prazo relacionadas com a doação de

órgãos.

a. Nas jurisdições e nos países que carecem de um seguro de saúde universal, o

fornecimento de um seguro de incapacidade, vida e saúde relacionado com a doação constitui

um requisito necessário à prestação de cuidados ao doador;

b. Nas jurisdições que dispõem de um seguro de saúde universal, os serviços

governamentais deverão assegurar que os doadores tenham acesso a cuidados médicos

adequados relativamente à doação;

c. A cobertura por seguros de saúde e/ou de vida e as oportunidades de emprego

das pessoas que doam órgãos não deverão ser comprometidas;

d. Dever-se-á proporcionar a todos os doadores a prestação de serviços

psicossociais como componente regular do acompanhamento;

e. Em caso de falência orgânica do doador, este deverá receber:

f. cuidados médicos de apoio, incluindo diálise para os doentes com insuficiência

renal; e prioridade no acesso a transplantes, sendo integrados nas regras de atribuição

existentes, na medida em que se apliquem à transplante de órgãos em vida ou post mortem.

6. O reembolso abrangente dos custos efetivos e documentados da doação de um

órgão não constitui um pagamento por esse órgão, fazendo antes parte dos custos legítimos do

tratamento do receptor.

a. Tal reembolso de custos seria normalmente feito pela parte responsável pelos

custos de tratamento do receptor do transplante (como, por exemplo, o ministério de saúde de

um determinado governo ou uma companhia responsável pelo seguro de saúde);

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b. Os custos e as despesas relevantes deverão ser calculados e administrados

utilizando metodologias transparentes, em consonância com as normas nacionais;

c. O reembolso dos custos aprovados deverá ser feito diretamente à parte que

presta o serviço (como, por exemplo, o hospital que prestou os cuidados médicos ao doador);

d. O reembolso da perda de rendimentos e das despesas feitas pessoalmente pelo

doador deverá ser realizado pela agência que trata do transplante, em vez de ser pago

diretamente pelo receptor ao doador.

7. As despesas legítimas que podem ser reembolsadas sempre que sejam

documentadas são:

a. o custo de quaisquer avaliações médicas e psicológicas de potenciais dadores

vivos que sejam excluídos do processo de dádiva (por exemplo, por serem detectados

problemas médicos ou imunológicos durante o processo de avaliação);

b. os custos suportados durante a preparação e a realização das fases pré, peri e

pós- operatória do processo de doação (por exemplo, chamadas telefônicas de longa distância,

despesas de deslocamento, alojamento e subsistência);

c. as despesas médicas realizadas para os cuidados prestados ao doador após a

alta médica;

d. a perda de rendimentos em consequência da doação (em conformidade com as

normas nacional.

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ANEXO C – Resolução do CFM 2.173/2017

RESOLUÇÃO Nº 2.173, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2017

Define os critérios do diagnóstico de morte

encefálica.

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições conferidas

pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de

19 de julho de 1958 e,

CONSIDERANDO que a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe

sobre a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e

tratamento, determina em seu artigo 3º que compete ao Conselho Federal de Medicina

definir os critérios para diagnóstico de morte encefálica (ME);

CONSIDERANDO o Decreto nº 9.175, de 18 de outubro de 2017, que

regulamenta a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, para tratar da disposição de órgãos,

tecidos, células e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento;

CONSIDERANDO que o artigo 13 da Lei nº 9.434/1997 determina ser

obrigatório para todos os estabelecimentos de saúde informar as centrais de notificação,

captação e distribuição de órgãos das unidades federadas onde ocorrer diagnóstico de

morte encefálica feito em pacientes por eles atendidos;

CONSIDERANDO que a perda completa e irreversível das funções encefálicas,

definida pela cessação das atividades corticais e de tronco encefálico, caracteriza a morte

encefálica e, portanto, a morte da pessoa;

CONSIDERANDO que a Resolução CFM nº 1.826/2007 dispõe sobre a

legalidade e o caráter ético da suspensão dos procedimentos de suporte terapêutico

quando da determinação de morte encefálica de indivíduo não doador de órgãos;

CONSIDERANDO que a comprovação da ME deve ser realizada utilizando

critérios precisos, bem estabelecidos, padronizados e passíveis de ser executados por

médicos em todo território nacional;

CONSIDERANDO, finalmente o decidido na reunião plenária de 23 de novembro de 2017,

resolve:

Art. 1º - Os procedimentos para determinação de morte encefálica (ME) devem

ser iniciados em

todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade

supraespinhal e apneia persistente, e que atendam a todos os seguintes pré-requisitos:

a) presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de causar morte encefálica;

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b) ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de morte

encefálica;

c) tratamento e observação em hospital pelo período mínimo de seis horas.

Quando a causa primária do quadro for encefalopatia hipóxico-isquêmica, esse período de

tratamento e observação deverá ser de, no mínimo, 24 horas;

d) temperatura corporal (esofagiana, vesical ou retal) superior a 35°C, saturação

arterial de oxigênio acima de 94% e pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg

ou pressão arterial média maior ou igual a 65mmHg para adultos, ou conforme a tabela a

seguir para menores de 16 anos:

Pressão Arterial

Idade Sistólica (mmHg) PAM (mmHg)

Até 5 meses incompletos 60 43

De 5 meses a 2 anos incompletos 80 60

De 2 anos a 7 anos incompletos 85 62

De 7 a 15 anos 90 65

Art. 2º - É obrigatória a realização mínima dos seguintes procedimentos para

determinação da morte encefálica:

a) dois exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de função do tronco

encefálico;

b) teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após

estimulação

máxima dos centros respiratórios;

c) exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica.

Art. 3º - O exame clínico deve demonstrar de forma inequívoca a existência das

seguintes

condições

:

a) coma não perceptivo;

b) ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência dos reflexos

fotomotor,

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córneo-palpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse.

§ 1º Serão realizados dois exames clínicos, cada um deles por um médico diferente,

especificamente capacitado a realizar esses procedimentos para a determinação de morte

encefálica.

§ 2º Serão considerados especificamente capacitados médicos com no mínimo um ano de

experiência no atendimento de pacientes em coma e que tenham acompanhado ou realizado pelo

menos dez determinações de ME ou curso de capacitação para determinação em ME, conforme

anexo III desta Resolução.

§ 3º Um dos médicos especificamente capacitados deverá ser especialista em uma das

seguintes especialidades: medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia

pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência. Na indisponibilidade de qualquer um dos

especialistas anteriormente citados, o procedimento deverá ser concluído por outro médico

especificamente capacitado.

§ 4º Em crianças com menos de 2 (dois) anos o intervalo mínimo de tempo entre os

dois exames clínicos variará conforme a faixa etária: dos sete dias completos (recém-nato a

termo) até dois meses incompletos será de 24 horas; de dois a 24 meses incompletos será de

doze horas. Acima de 2 (dois) anos de idade o intervalo mínimo será de 1 (uma) hora.

Art. 4º - O teste de apneia deverá ser realizado uma única vez por um dos médicos

responsáveis pelo exame clínico e deverá comprovar ausência de movimentos respiratórios na

presença de hipercapnia (PaCO2 superior a 55mmHg).

Parágrafo único. Nas situações clínicas que cursam com ausência de movimentos

respiratórios de causas extracranianas ou farmacológicas é vedada a realização do teste de

apneia, até a reversão da situação.

Art. 5º - O exame complementar deve comprovar de forma inequívoca uma das condições:

a) ausência de perfusão sanguínea encefálica ou

b) ausência de atividade metabólica encefálica ou

c) ausência de atividade elétrica encefálica.

§ 1º A escolha do exame complementar levará em consideração situação clínica e

disponibilidades locais.

§ 2º Na realização do exame complementar escolhido deverá ser utilizada a metodologia

específica para determinação de morte encefálica.

§ 3º O laudo do exame complementar deverá ser elaborado e assinado por médico

especialista no método em situações de morte encefálica.

Art. 6º - Na presença de alterações morfológicas ou orgânicas, congênitas ou

adquiridas, que impossibilitam a avaliação bilateral dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral,

oculocefálico ou vestíbulo- calórico, sendo possível o exame em um dos lados e constatada

ausência de reflexos do lado sem alterações morfológicas, orgânicas, congênitas ou adquiridas,

dar-se-á prosseguimento às demais etapas para determinação de morte encefálica.

Parágrafo único. A causa dessa impossibilidade deverá ser fundamentada no

prontuário.

Art. 7º - As conclusões do exame clínico e o resultado do exame complementar deverão

ser registrados pelos médicos examinadores no Termo de Declaração de Morte Encefálica (Anexo II)

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e no prontuário do paciente ao final de cada etapa.

Art. 8º - O médico assistente do paciente ou seu substituto deverá esclarecer aos

familiares do paciente sobre o processo de diagnóstico de ME e os resultados de cada etapa,

registrando no prontuário do paciente essas comunicações.

Art. 9º - Os médicos que determinaram o diagnóstico de ME ou médicos assistentes ou

seus substitutos deverão preencher a DECLARAÇÃO DE ÓBITO definindo como data e hora da

morte aquela que corresponde ao momento da conclusão do último procedimento para determinação

da ME.

Parágrafo único. Nos casos de morte por causas externas a DECLARAÇÃO DE

ÓBITO será de responsabilidade do médico legista, que deverá receber o relatório de

encaminhamento médico e uma cópia do TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE

ENCEFÁLICA.

Art. 10. - A direção técnica do hospital onde ocorrerá a determinação de ME deverá

indicar os médicos especificamente capacitados para realização dos exames clínicos e

complementares.

§ 1º Nenhum desses médicos poderá participar de equipe de remoção e transplante, conforme

estabelecido no art. 3º da Lei nº 9.434/1997 e no Código de Ética Médica.

§ 2º Essas indicações e suas atualizações deverão ser encaminhadas para a Central Estadual

de Transplantes (CET).

Art. 11. - Na realização dos procedimentos para determinação de ME deverá ser utilizada

a metodologia e as orientações especificadas no ANEXO I (MANUAL DE PROCEDIMENTOS

PARA DETERMINAÇÃO DA MORTE ENCEFÁLICA), no ANEXO II (TERMO DE

DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA) e no ANEXO III (CAPACITAÇÃO PARA

DETERMINAÇÃO EM MORTE ENCEFÁLICA) elaborados

e atualizados quando necessários pelo Conselho Federal de Medicina.

Art. 12. - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação e revoga a Resolução

CFM nº 1.480, publicada no Diário Oficial da União, seção I, p. 18227-18228, em 21 de agosto de

1997.

ANEXO I

MANUAL DE PROCEDIMENTOS PARA DETERMINAÇÃO DE

MORTE ENCEFÁLICA METODOLOGIA

A morte encefálica (ME) é estabelecida pela perda definitiva e irreversível das funções do

encéfalo por causa conhecida, comprovada e capaz de provocar o quadro clínico.

O diagnóstico de ME é de certeza absoluta. A determinação da ME deverá ser

realizada de forma padronizada, com especificidade de 100% (nenhum falso diagnóstico de

ME). Qualquer dúvida na determinação de ME impossibilita esse diagnóstico.

Os procedimentos para determinação da ME deverão ser realizados em todos os pacientes

em coma não perceptivo e apneia, independentemente da condição de doador ou não de órgãos e

tecidos.

Para o diagnóstico de ME é essencial que todas as seguintes condições sejam observadas:

1) Pré-requisitos

a) Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de causar a ME;

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b) Ausência de fatores tratáveis que possam confundir o diagnóstico de ME;

c) Tratamento e observação em ambiente hospitalar pelo período mínimo de seis horas.

Quando a causa primária do quadro for encefalopatia hipóxico-isquêmica, esse período de tratamento

e observação deverá ser de, no mínimo, 24 horas;

d) Temperatura corporal (esofagiana, vesical ou retal) superior a 35 °C, saturação arterial

de oxigênio acima de 94% e pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg ou pressão arterial

média maior ou igual a 65 mmHg para adultos, ou conforme a tabela a seguir para menores de 16

anos:

Pressão Arterial

Idade Sistólica (mmHg) PAM (mmHg)

Até 5 meses incompletos 60 43

De 5 meses a 2 anos incompletos 80 60

De 2 anos a 7 anos incompletos 85 62

De 7 a 15 anos 90 65

2) Dois exames clínicos - para confirmar a presença do coma e a ausência de função do

tronco encefálico em todos os seus níveis, com intervalo mínimo de acordo com a Resolução.

3) Teste de apneia - para confirmar a ausência de movimentos respiratórios após

estimulação máxima dos centros respiratórios em presença de PaCO2 superior a 55 mmHg.

4) Exames complementares - para confirmar a ausência de atividade encefálica,

caracterizada pela falta de perfusão sanguínea encefálica, de atividade metabólica encefálica ou

de atividade elétrica encefálica.

clínico

.

PRÉ-REQUISITOS

A. Presença de lesão encefálica de causa conhecida, irreversível e capaz de provocar

quadro

O diagnóstico da lesão causadora do coma deve ser estabelecido pela avaliação clínica

e

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confirmada por exames de neuroimagem ou por outros métodos diagnósticos. A incerteza da

presença de uma lesão irreversível, ou da sua causa, impossibilita a determinação de ME. Um

período mínimo de observação e tratamento intensivo em ambiente hospitalar de seis horas após o

estabelecimento do coma, deverá ser respeitado. Quando a encefalopatia hipóxico-isquêmica for a

causa primária do quadro, deverá ser aguardado um período mínimo de 24 horas após a parada

cardiorrespiratória ou reaquecimento na hipotermia terapêutica, antes de iniciar a determinação

de ME.

B. Ausência de fatores que possam confundir o quadro clínico.

Os fatores listados a seguir, quando graves e não corrigidos, podem agravar ou ocasionar

coma. A equipe deverá registrar no prontuário do paciente sua análise justificada da situação e tomar

medidas adequadas para correção das alterações antes de iniciar determinação de ME.

1) Distúrbio hidroeletrolítico, ácido-básico/endócrino e intoxicação exógena graves

Na presença ou suspeita de alguma dessas condições, caberá à equipe responsável

pela determinação da ME definir se essas anormalidades são capazes de causar ou agravar o

quadro clínico, a consequência da ME ou somática. A hipernatremia grave refratária ao

tratamento não inviabiliza determinação de ME, exceto quando é a única causa do coma.

2) Hipotermia (temperatura retal, vesical ou esofagiana inferior a 35°C)

A hipotermia grave é fator confundidor na determinação de ME, pois reflexos de tronco

encefálico podem desaparecer quando a temperatura corporal central é menor ou igual a 32°C.

É essencial que seja corrigida a hipotermia até alcançar temperatura corporal (esofagiana,

vesical ou retal) superior a 35°C antes de iniciar-se a determinação de ME.

3) Fármacos com ação depressora do Sistema Nervoso Central (FDSNC) e

bloqueadores neuromusculares (BNM)

Quando os FDSNC (fenobarbital, clonidina, dexmedetomidina, morfina e outros) e

BNM forem utilizados nas condições a seguir especificadas, deverão ser tomados os seguintes

cuidados antes de iniciar a determinação de ME:

a) Quando utilizados em doses terapêuticas usuais não provocam coma não

perceptivo, não interferindo nos procedimentos para determinação de ME;

b) Quando utilizados em infusão contínua em pacientes com função renal e hepática

normais e que não foram submetidos à hipotermia terapêutica, nas doses usuais para sedação e

analgesia, será necessário aguardar um intervalo mínimo de quatro a cinco meias-vidas após a

suspensão dos fármacos, antes de iniciar procedimentos para determinação de ME;

c) Quando os FDSNC e BNM forem utilizados na presença de insuficiência hepática, de

insuficiência renal, e utilização de hipotermia terapêutica, ou quando há suspeita de intoxicação por

uso em doses maiores que as terapêuticas usuais, ou por metabolização/eliminação comprometida,

deve-se aguardar tempo maior que cinco meias-vidas do fármaco. Esse tempo deverá ser definido

de acordo com a gravidade das disfunções hepáticas e renais, das doses utilizadas e do tempo de uso,

para que haja certeza que ocorreu a eliminação/metabolização dos fármacos ou pela constatação que

seu nível sérico se encontra na faixa terapêutica ou abaixo dela.

d) Nas condições anteriormente citadas deverá ser dada preferência a exames

complementares que avaliam o fluxo sanguíneo cerebral, pois o EEG sofre significativa

influência desses agentes nessas situações.

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EXAME CLÍNICO

A. Coma não perceptivo.

Estado de inconsciência permanente com ausência de resposta motora supraespinhal a

qualquer estimulação, particularmente dolorosa intensa em região supraorbitária, trapézio e leito

ungueal dos quatro membros. A presença de atitude de descebração ou decorticação invalida o

diagnóstico de ME. Poderão ser observados reflexos tendinosos profundos, movimentos de

membros, atitude em opistótono ou flexão do tronco, adução/elevação de ombros, sudorese,

rubor ou taquicardia, ocorrendo espontaneamente ou durante a estimulação. A presença desses

sinais clínicos significa apenas a persistência de atividade medular e não invalida a determinação

de ME.

B. Ausência de reflexos de tronco cerebral.

1) Ausência do reflexo fotomotor - as pupilas deverão estar fixas e sem resposta à

estimulação luminosa intensa (lanterna), podendo ter contorno irregular, diâmetros variáveis ou

assimétricos.

2) Ausência de reflexo córneo-palpebral - ausência de resposta de piscamento à

estimulação direta do canto lateral inferior da córnea com gotejamento de soro fisiológico gelado ou

algodão embebido em soro fisiológico ou água destilada.

3) Ausência do reflexo oculocefálico - ausência de desvio do(s) olho(s) durante a

movimentação rápida da cabeça no sentido lateral e vertical. Não realizar em pacientes com lesão de

coluna cervical suspeitada ou confirmada.

4) Ausência do reflexo vestíbulo-calórico - ausência de desvio do(s) olho(s) durante um

minuto de observação, após irrigação do conduto auditivo externo com 50 a 100 ml de água fria (± 5

°C), com a cabeça colocada em posição supina e a 30°. O intervalo mínimo do exame entre ambos os

lados deve ser de três minutos. Realizar otoscopia prévia para constatar a ausência de perfuração

timpânica ou oclusão do conduto auditivo externo por cerume.

5) Ausência do reflexo de tosse - ausência de tosse ou bradicardia reflexa à

estimulação traqueal com uma cânula de aspiração.

Na presença de alterações morfológicas ou orgânicas, congênitas ou adquiridas, que

impossibilitam a avaliação bilateral dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico ou

vestíbulo- calórico, sendo possível exame em um dos lados, e constatada ausência de reflexos do

lado sem alterações morfológicas, orgânicas, congênitas ou adquiridas, dar-se-á prosseguimento

às demais etapas para determinação de ME. A causa dessa impossibilidade deverá ser

fundamentada no prontuário.

TESTE DE APNEIA

A realização do teste de apneia é obrigatória na determinação da ME. A apneia é

definida pela ausência de movimentos respiratórios espontâneos, após a estimulação máxima do

centro respiratório pela hipercapnia (PaCO2 superior a 55 mmHg). A metodologia proposta

permite a obtenção dessa estimulação máxima, prevenindo a ocorrência de hipóxia

concomitante e minimizando o risco de intercorrências.

Na realização dos procedimentos de determinação de ME os pacientes devem

apresentar temperatura corporal (esofagiana, vesical ou retal) superior a 35°C, saturação arterial de

oxigênio acima de 94% e pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg ou pressão arterial

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média maior ou igual a 65 mmHg para adultos, ou conforme a tabela a seguir para menores de 16

anos:

Pressão Arterial

Idade Sistólica (mmHg) PAM (mmHg)

Até 5 meses incompletos 60 43

De 5 meses a 2 anos incompletos 80 60

De 2 anos a 7 anos incompletos 85 62

De 7 a 15 anos 90 65

A. Técnica.

1) Ventilação com FiO2 de 100% por, no mínimo, 10 minutos para atingir PaO2 igual ou

maior a 200 mmHg e PaCO2 entre 35 e 45 mmHg.

2) Instalar oxímetro digital e colher gasometria arterial inicial (idealmente por cateterismo

arterial).

3) Desconectar ventilação mecânica.

4) Estabelecer fluxo contínuo de O2 por um cateter intratraqueal ao nível da carina (6

L/min), ou

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tubo T (12 L/min) ou CPAP (até 12 L/min + até 10 cm H2O).

5) Observar a presença de qualquer movimento respiratório por oito a dez minutos.

Prever elevação da PaCO2 de 3 mmHg/min em adultos e de 5 mmHg/min em crianças para

estimar o tempo de desconexão necessário.

6) Colher gasometria arterial final.

7) Reconectar ventilação mecânica.

B. Interrupção do teste.

Caso ocorra hipotensão (PA sistólica < 100 mmHg ou PA média < que 65 mmHg),

hipoxemia significativa ou arritmia cardíaca, deverá ser colhida uma gasometria arterial e

reconectado o respirador, interrompendo-se o teste. Se o PaCO2 final for inferior a 56 mmHg, após a

melhora da instabilidade hemodinâmica, deve-se refazer o teste.

C. Interpretação dos resultados.

1) Teste positivo (presença de apneia) - PaCO2 final superior a 55 mmHg, sem

movimentos respiratórios, mesmo que o teste tenha sido interrompido antes dos dez minutos

previstos.

2) Teste inconclusivo - PaCO2 final menor que 56 mmHg, sem movimentos respiratórios.

3) Teste negativo (ausência de apneia) - presença de movimentos respiratórios, mesmo

débeis, com qualquer valor de PaCO2. Atentar para o fato de que em pacientes magros ou crianças

os batimentos cardíacos podem mimetizar movimentos respiratórios débeis.

D. Formas alternativas de realização do teste de apneia.

Em alguns pacientes as condições respiratórias não permitem a obtenção de uma

persistente elevação da PaCO2, sem hipóxia concomitante. Nessas situações, pode-se realizar teste

de apneia utilizando a seguinte metodologia, que considera as alternativas para pacientes que não

toleraram a desconexão do ventilador:

1) Conectar ao tubo orotraqueal uma "peça em T" acoplada a uma válvula de pressão

positiva contínua em vias aéreas (CPAP - continuous positive airway pressure) com 10 cm H2O e

fluxo de oxigênio a 12 L/minuto.

2) Realizar teste de apneia em equipamento específico para ventilação não invasiva, que

permita conexão com fluxo de oxigênio suplementar, colocar em modo CPAP a 10 cm H2O e fluxo

de oxigênio entre 10-12 L/minuto. O teste de apneia não deve ser realizado em ventiladores que não

garantam fluxo de oxigênio no modo CPAP, o que resulta em hipoxemia.

EXAMES COMPLEMENTARES

O diagnóstico de ME é fundamentado na ausência de função do tronco encefálico

confirmado pela falta de seus reflexos ao exame clínico e de movimentos respiratórios ao teste de

apneia. É obrigatória a realização de exames complementares para demonstrar, de forma

inequívoca, a ausência de perfusão sanguínea ou de atividade elétrica ou metabólica encefálica e

obtenção de confirmação documental dessa situação. A escolha do exame complementar levará

em consideração a situação clínica e as disponibilidades locais, devendo ser justificada no

prontuário.

Os principais exames a ser executados em nosso meio são os seguintes:

1) Angiografia cerebral - após cumpridos os critérios clínicos de ME, a angiografia

cerebral deverá demonstrar ausência de fluxo intracraniano. Na angiografia com estudo das

artérias carótidas internas e vertebrais, essa ausência de fluxo é definida por ausência de

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opacificação das artérias carótidas internas, no mínimo, acima da artéria oftálmica e da artéria

basilar, conforme as normas técnicas do Colégio Brasileiro de Radiologia.

2) Eletroencefalograma - constatar a presença de inatividade elétrica ou silêncio elétrico

cerebral (ausência de atividade elétrica cerebral com potencial superior a 2 µV) conforme as normas

técnicas da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica.

3) Doppler Transcraniano - constatar a ausência de fluxo sanguíneo intracraniano pela

presença de fluxo diástólico reverberante e pequenos picos sistólicos na fase inicial da sístole,

conforme estabelecido pelo Departamento Científico de Neurossonologia da Academia Brasileira

de Neurologia.

4) Cintilografia, SPECT Cerebral - ausência de perfusão ou metabolismo encefálico,

conforme as normas técnicas da Sociedade Brasileira Medicina Nuclear.

A metodologia a ser utilizada na realização do exame deverá ser específica para

determinação de ME e o laudo deverá ser elaborado por escrito e assinado por profissional com

comprovada experiência e capacitado no exame nessa situação clínica.

Em geral, exames que detectam a presença de perfusão cerebral, como angiografia

cerebral e doppler transcraniano, não são afetados pelo uso de drogas depressoras do sistema nervoso

central ou distúrbios metabólicos, sendo os mais indicados quando essas situações estão presentes. A

presença de perfusão sanguínea ou atividade elétrica cerebral significa a existência de atividade

cerebral focal residual. Em situações de ME, a repetição desses exames após horas ou dias constatará

inexoravelmente o desaparecimento dessa atividade residual. Em crianças lactentes, especialmente

com fontanelas abertas e/ou suturas patentes, na encefalopatia hipóxico-isquêmica ou após

craniotomias descompressivas, pode ocorrer persistência de fluxo sanguíneo intracraniano, mesmo

na presença de ME, sendo eletroencefalograma o exame mais adequado para determinação de ME.

Um exame complementar compatível com ME realizado na presença de coma não

perceptivo, previamente ao exame clínico e teste de apneia para determinação da ME, poderá ser

utilizado como único exame complementar para essa determinação.

Outras metodologias além das citadas não têm ainda comprovação científica da sua

efetividade na determinação de ME.

REPETIÇÃO DO EXAME CLÍNICO (2º EXAME)

Na repetição do exame clínico (segundo exame) por outro médico será utilizada a mesma

técnica do primeiro exame. Não é necessário repetir o teste de apneia quando o resultado do primeiro

teste for positivo (ausência de movimentos respiratórios na vigência de hipercapnia documentada).

O intervalo mínimo de tempo a ser observado entre 1º e 2º exame clínico é de uma

hora nos pacientes com idade igual ou maior a dois anos de idade.

Nas demais faixas etárias, esse intervalo é variável, devendo ser observada a seguinte tabela:

Faixa Etária Intervalo Mínimo (horas)

7 dias (recém-nato à termo) até 2 meses incompletos 24

De 2 a 24 meses incompletos 12

Mais de 24 meses 1

A EQUIPE MÉDICA

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Nenhum médico responsável por realizar procedimentos de determinação da ME

poderá participar de equipe de retirada e transplante, conforme estabelecido no artigo 3º da Lei nº

9.434/1997 e no Código de Ética Médica.

A Direção Técnica de cada hospital deverá indicar os médicos capacitados a realizar e

interpretar os procedimentos e exames complementares para determinação de ME em seu

hospital, conforme estabelecido no art. 3º da Resolução. Essas indicações e suas atualizações

deverão ser encaminhadas para a CET.

São considerados capacitados médicos com no mínimo um ano de experiência no

atendimento de pacientes em coma, que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez

determinações de ME e realizado treinamento específico para esse fim em programa que atenda

as normas determinadas pelo Conselho Federal de Medicina.

Na ausência de médico indicado pela Direção Técnica do Hospital, caberá à CET de sua

Unidade Federativa indicar esse profissional e à Direção Técnica do Hospital, disponibilizar as

condições necessárias para sua atuação.

COMUNICAÇÃO AOS FAMILIARES OU RESPONSÁVEL LEGAL

Os familiares do paciente ou seu responsável legal deverão ser adequadamente

esclarecidos, de forma clara e inequívoca, sobre a situação crítica do paciente, o significado da

ME, o modo de determiná-la e também sobre os resultados de cada uma das etapas de sua

determinação. Esse esclarecimento é de responsabilidade da equipe médica assistente do paciente

ou, na sua impossibilidade, da equipe de determinação da ME.

Será admitida a presença de médico de confiança da família do paciente para

acompanhar os procedimentos de determinação de ME, desde que a demora no comparecimento

desse profissional não inviabilize o diagnóstico. Os contatos com o médico escolhido serão de

responsabilidade dos familiares ou do responsável legal. O profissional indicado deverá

comparecer nos horários estabelecidos pela equipe de determinação da ME.

A decisão quanto à doação de órgãos somente deverá ser solicitada aos familiares ou

responsáveis legais do paciente após o diagnóstico da ME e a comunicação da situação a eles.

FUNDAMENTOS LEGAIS

A metodologia de determinação de morte encefálica é fundamentada nas normas

legais discriminadas a seguir:

1) Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.

2) Lei nº 11.521, de 18 de setembro de 2007.

3) Decreto nº 9.175, de 18 de outubro de 2017.

4) Resolução do CFM nº 1.826, de 6 de dezembro de

2007. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Lucas FJC, Braga NIO, Silvado CES. Recomendações técnicas para o registro do

eletrencefalograma na suspeita da morte encefálica. Arq Neuropsiquiatr. 1998;56(3b):697-702.

doi: 10.1590/S0004-282X1998000400030.

2. Lange MC, Zétola VHF, Miranda-Alves M, Moro CHC, Silvado CE, Rodrigues

DLG, et al. Diretrizes brasileiras para o uso do ultrassom transcraniano como teste diagnóstico

de confirmação de morte cerebral. Arq Neuropsiquiatr. 2012 May;70(5):373-80. doi:

10.1590/S0004-282X2012000500012.

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3. Lang CJ, Heckmann JG. Apnea testing for the diagnosis of brain death. Acta Neurol

Scand. 2005 Dec;112(6):358-69. doi: 10.1111/j.1600-0404.2005.00527.x.

TERMO DE DECLARAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA

A equipe médica que determinou a morte encefálica (ME) deverá registrar as

conclusões dos exames clínicos e os resultados dos exames complementares no Termo de

Declaração de Morte Encefálica (DME) ao término de cada etapa e comunicá-la ao médico

assistente do paciente ou a seu substituto.

Esse termo deverá ser preenchido em duas vias.

A 1ª via deverá ser arquivada no prontuário do paciente, junto com o(s) laudo(s) de

exame(s) complementar(es) utilizados na sua determinação.

A 2ª via ou cópia deverá ser encaminhada à Central Estadual de Transplantes (CET),

complementarmente à notificação da ME, nos termos da Lei nº 9434/1997, art. 13.

Nos casos de morte por causa externa, uma cópia da declaração será necessariamente

encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML).

A Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes (CIHDOTT), a Organização de Procura de

Órgãos (OPO) ou a CET deverão ser obrigatoriamente comunicadas nas seguintes situações:

a) possível morte encefálica (início do procedimento de determinação de ME);

b) após constatação da provável ME (1º exame clínico e teste de apneia compatíveis) e;

c) após confirmação da ME (término da determinação com o 2º exame clínico e exame

complementar confirmatórios).

A Declaração de Óbito (DO) deverá ser preenchida pelo médico legista nos casos de

morte por causas externas (acidente, suicídio ou homicídio), confirmada ou suspeita. Nas demais

situações caberá aos médicos que determinaram o diagnóstico de ME ou aos médicos assistentes

ou seus substitutos preenchê-la. A data e a hora da morte a serem registradas na DO deverão ser as

do último procedimento de determinação da ME, registradas no Termo de Declaração de Morte

Encefálica (DME).

Constatada a ME, o médico tem autoridade ética e legal para suspender

procedimentos de suporte terapêutico em uso e assim deverá proceder, exceto se doador de

órgãos, tecidos ou partes do corpo humano para transplante, quando deverá aguardar a retirada

dos mesmos ou a recusa à doação (Resolução CFM nº 1.826/2007). Essa decisão deverá ser

precedida de comunicação e esclarecimento sobre a ME aos familiares do paciente ou seu

representante legal, fundamentada e registrada no prontuário.

CAPACITAÇÃO PARA DETERMINAÇÃO DE MORTE ENCEFÁLICA

A.Pré-requisitos médicos para ser capacitado, atendendo ao art. 3º § 2º desta Resolução:

1.Mínimo de um ano de experiência no atendimento de pacientes em coma.

B. Programação mínima do curso de capacitação: 1.Conceito de morte encefálica.

2. Fundamentos éticos e legais da determinação da morte encefálica: a.Lei nº 9.434/1997;

b.Decreto nº 9.175/2017; c.Resolução CFM nº 2.173/2017 d.Resolução CFM nº

1.826/2007. 3.Metodologia da determinação: a.Pré-requisitos:

i. lesão encefálica; ii. causas reversíveis de coma; iii.diagnóstico diferencial. b.Exame clínico:

i. metodologia para realização e interpretação; ii.conduta nas exceções.

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c. Teste de apneia: i.preparo para o teste;

ii. metodologia para realização e interpretação; iii.métodos alternativos.

d. Exame complementar: i.escolha do método mais adequado; ii.Doppler transcraniano; iii.eletroencefalografia;

iv.arteriografia cerebral.

e. Conclusão da determinação: i.Declaração de morte encefálica; ii.Declaração de óbito.

4. Conduta pós-determinação: a. Comunicação da morte encefálica aos familiares:

i.como informar aos familiares da situação de ME, dos resultados de cada etapa e da

confirmação.

b. Retirada do suporte vital: i. como informar aos familiares sobre a possibilidade de doação de órgãos e de retirada

do suporte vital;

ii. como proceder na retirada do suporte vital aos não doadores de órgãos. C. Metodologia de ensino: 1.Teórico-prático.

2.Duração mínima de oito horas, sendo quatro de discussão de casos

clínicos. 3.Mínimo de um instrutor para cada oito alunos nas aulas

práticas.

4.Suporte remoto para esclarecimentos de dúvidas por, no mínimo, três

meses. D.Instrutores:

1.Capacitação comprovada em determinação de morte encefálica há pelo menos dois

anos. 2.Residência médica ou título de especialista em neurologia, neurologia

pediátrica, medicina

intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência.

E.Coordenador:

1.Capacitação comprovada em determinação de morte encefálica há pelo menos cinco anos.

3.Residência médica ou título de especialista em neurologia, neurologia pediátrica,

medicina

intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência.

F. Responsáveis pelo curso:

1.Gestores públicos.

2.Hospitais.

MAURO LUIZ DE BRITTO RIBEIRO

Presidente do ConselhoEm

exercício HENRIQUE

BATISTA E SILVA

Secretário-geral

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ANEXO D - DECRETO 9.175/2017

DECRETO Nº 9.175, DE 18 DE OUTUBRO DE 2017

Regulamenta a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, para tratar da disposição de órgãos, tecidos,

células e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso

IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997,

DECRETA:

Art. 1º A disposição gratuita e anônima de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para

utilização em transplantes, enxertos ou outra finalidade terapêutica, nos termos da Lei nº 9.434, de 4 de

fevereiro de 1997, observará o disposto neste Decreto.

Parágrafo único. O sangue, o esperma e o óvulo não estão compreendidos entre os tecidos e as

células a que se refere este Decreto.

CAPÍTULO I

DO SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTES

Seção I

Da Estrutura

Art. 2º Fica instituído o Sistema Nacional de Transplantes - SNT, no qual se desenvolverá o

processo de doação, retirada, distribuição e transplante de órgãos, tecidos, células e partes do corpo

humano, para finalidades terapêuticas.

Art. 3º Integram o SNT:

I - o Ministério da Saúde;

II - as Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal;

III - as Secretarias de Saúde dos Municípios;

IV - as Centrais Estaduais de Transplantes - CET;

V - a Central Nacional de Transplantes - CNT;

VI - as estruturas especializadas integrantes da rede de procura e doação de órgãos, tecidos, células

e partes do corpo humano para transplantes;

VII - as estruturas especializadas no processamento para preservação ex situ de órgãos, tecidos,

células e partes do corpo humano para transplantes;

VIII - os estabelecimentos de saúde transplantadores e as equipes especializadas; e

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IX - a rede de serviços auxiliares específicos para a realização de transplantes.

Seção II

Das Atribuições

Art. 4º O SNT tem como âmbito de intervenção:

I - as atividades de doação e transplante de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano, a

partir de doadores vivos ou falecidos;

II - o conhecimento dos casos de morte encefálica; e

III - a determinação do destino de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano retirados para

transplante em qualquer ponto do território nacional.

Art. 5º O Ministério da Saúde, por intermédio de unidade própria prevista em sua estrutura

regimental, exercerá as funções de órgão central do SNT, e lhe caberá:

I - coordenar as atividades de que trata este Decreto;

II - expedir normas e regulamentos técnicos para disciplinar os procedimentos estabelecidos neste

Decreto, o funcionamento ordenado e harmônico do SNT e o controle, inclusive social, das atividades

desenvolvidas pelo Sistema;

III - autorizar o funcionamento de CET;

IV - autorizar estabelecimentos de saúde, bancos de tecidos ou células, laboratórios de

histocompatibilidade e equipes especializadas a promover retiradas, transplantes, enxertos,

processamento ou armazenamento de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano, nos termos

estabelecidos no Capítulo II;

V - cancelar ou suspender a autorização de estabelecimentos de saúde ou de equipes e profissionais

que não respeitem as regras estabelecidas neste Decreto, sem prejuízo das sanções penais e

administrativas previstas no Capítulo V da Lei nº 9.434, de 1997, mediante decisão fundamentada e

observados os princípios do contraditório e da ampla defesa;

VI - articular-se com os integrantes do SNT para viabilizar seu funcionamento;

VII - prover e manter o funcionamento da CNT;

VIII - gerenciar a lista única de espera de receptores, de forma a garantir a disponibilidade das

informações necessárias à busca de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para transplantes;

e

IX - avaliar o desempenho do SNT, mediante planejamento e análise de metas e relatórios do

Ministério da Saúde e dos órgãos estaduais, distrital e municipais que o integram.

§ 1º Somente poderão exercer atividades de transplantes os entes federativos que dispuserem da

CET de que trata a Seção IV deste Capítulo, implantada e em funcionamento.

§ 2º Para fins do disposto no inciso VIII do caput, a lista única de espera de receptores será

constituída pelo conjunto das seguintes listas:

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I - lista regional, nos casos que se aplique;

II - lista estadual;

III - lista macrorregional; e

IV - lista nacional.

§ 3º A composição das listas de que trata o § 2º ocorrerá a partir do cadastro técnico dos candidatos

a receptores, de acordo com os critérios a serem definidos em ato do Ministro de Estado da Saúde.

Seção III

Dos Órgãos Estaduais

Art. 6º Para integrar o SNT, as Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal deverão

instituir, em suas estruturas organizacionais, unidade com o perfil e as funções indicadas na Seção IV

deste Capítulo.

§ 1º Instituída a unidade referida no caput, a Secretaria de Saúde estadual solicitará ao órgão central

a autorização para integrar o SNT que, uma vez concedida, implicará a assunção dos encargos que lhe

são próprios.

§ 2º A autorização a que se refere o § 1º estará sujeita a cancelamento na hipótese de

descumprimento das regras definidas pelo órgão central do SNT.

§ 3º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão estabelecer mecanismos de cooperação

para o desenvolvimento das atividades de que trata este Decreto.

§ 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios realizarão a difusão de informações e iniciativas

relacionadas ao processo de doações e transplantes.

Seção IV

Das Centrais Estaduais de Transplantes

Art. 7º As Centrais Estaduais de Transplantes - CET serão as unidades executivas das atividades do

SNT nos Estados e no Distrito Federal, de natureza pública, conforme estabelecido neste Decreto.

Art. 8º Compete às CET:

I - organizar, coordenar e regular as atividades de doação e transplante em seu âmbito de atuação;

II - gerenciar os cadastros técnicos dos candidatos a receptores de tecidos, células, órgãos e partes

do corpo humano, inscritos pelas equipes médicas locais, para compor a lista única de espera nos casos

em que se aplique;

III - receber as notificações de morte que enseje a retirada de órgãos, tecidos, células e partes do

corpo humano para transplantes, ocorridas em seu âmbito de atuação;

IV - gerenciar as informações referentes aos doadores e mantê-las atualizadas;

V - determinar o encaminhamento e providenciar o transporte de órgãos, tecidos, células e partes do

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corpo humano ao estabelecimento de saúde autorizado para o transplante ou o enxerto onde se

encontrar o receptor, observadas as instruções ou as normas complementares expedidas na forma do

art. 46;

VI - notificar a CNT quanto a não utilização de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano

pelos receptores inscritos em seus registros, para fins de disponibilização para o receptor subsequente,

entre aqueles relacionados na lista única de espera;

VII - encaminhar relatórios anuais ao órgão central do SNT sobre o desenvolvimento das atividades

de transplante em seu âmbito de atuação;

VIII - controlar, avaliar e fiscalizar as atividades de que trata este Decreto em seu âmbito de

atuação;

IX - definir, em conjunto com o órgão central do SNT, parâmetros e indicadores de qualidade para

avaliação dos serviços transplantadores, laboratórios de histocompatibilidade, bancos de tecidos e

organismos integrantes da rede de procura e doação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo

humano;

X - elaborar o Plano Estadual de Doação e Transplantes, de que trata o Capítulo VII;

XI - aplicar as penalidades administrativas nas hipóteses de infração às disposições da Lei nº 9.434,

de 1997, observado o devido processo legal e assegurado ao infrator o direito de ampla defesa;

XII - suspender cautelarmente, pelo prazo máximo de sessenta dias, o estabelecimento e/ou a equipe

especializada para apurar infração administrativa ou ato ilícito praticado no processo de doação,

alocação ou transplante de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano;

XIII - comunicar a aplicação de penalidade ao órgão central do SNT, que a registrará para consulta

quanto às restrições estabelecidas no § 2º do art. 21 da Lei nº 9.434, de 1997, e, caso necessário,

procederá ao cancelamento da autorização concedida;

XIV - requerer ao órgão central do SNT a suspensão ou o cancelamento da autorização da equipe ou

do profissional que desrespeitar a ordem da lista única de espera de receptores; e

XV - acionar o Ministério Público e outras instituições públicas competentes para informar a prática

de ilícitos cuja apuração não esteja compreendida no âmbito de sua competência.

§ 1º O gerenciamento dos cadastros técnicos dos candidatos a receptores de que trata o inciso II

do caput será realizado mediante o fornecimento e a manutenção dos dados necessários à localização

do candidato a receptor, a indicação do procedimento, os consentimentos necessários e as

características do receptor determinantes para a verificação da compatibilidade do seu organismo com

o enxerto ofertado, de modo a permitir a sua rápida alocação.

§ 2º O Município considerado polo de região administrativa poderá solicitar à CET a instituição de

Central de Transplante Regional, que ficará vinculada e subordinada à referida CET, nos termos

definidos em ato do Ministério da Saúde.

Seção V

Da Central Nacional de Transplantes

Art. 9º Para a execução das atividades de coordenação logística e distribuição de tecidos, células e

partes do corpo humano no processo de doação e transplante em âmbito nacional, o órgão central do

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SNT manterá a Central Nacional de Transplantes - CNT, a qual terá as seguintes atribuições:

I - receber as notificações de não utilização de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano

pelos receptores inscritos no âmbito dos Estados ou do Distrito Federal, de forma a disponibilizá-los

aos receptores subsequentes entre aqueles relacionados na lista única de espera de receptores;

II - apoiar o gerenciamento da retirada de órgãos e tecidos, prestando suporte técnico e logístico à

sua busca, no território nacional, nas hipóteses em que as condições clínicas do doador, o tempo

decorrido desde a cirurgia de retirada do órgão e as condições de acessibilidade o permitam;

III - alocar os órgãos e os tecidos retirados em conformidade com a lista única de espera de

receptores, de forma a otimizar as condições técnicas de preservação, transporte e distribuição,

considerados os critérios estabelecidos nas normas em vigor e com vistas a garantir o seu melhor

aproveitamento e a equidade na sua destinação;

IV - articular a relação entre as CET durante o processo de alocação dos órgãos entre as unidades da

federação;

V - manter registros de suas atividades;

VI - receber e difundir as notificações de eventos inesperados pertinentes à segurança dos

receptores, nos transplantes de órgãos e outros enxertos por ela alocados;

VII - apoiar a atividade de regulação do acesso dos pacientes com indicação de transplante;

VIII - articular, regular e operacionalizar as inscrições interestaduais para modalidades de

transplantes não existentes nos Estados ou no Distrito Federal; e

IX - providenciar, em caráter complementar, a logística de transportes dos órgãos, tecidos, células e

partes do corpo humano disponibilizados para a lista única de espera de receptores.

Seção VI

Da Procura e da Doação de Órgãos, Tecidos, Células

e Partes do Corpo Humano para Transplantes

Art. 10. A CET organizará o funcionamento de estruturas especializadas para a procura e a doação

de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para transplante que, juntamente com as equipes

assistenciais dos hospitais, constituirão a rede de procura e doação de órgãos, tecidos, células e partes

do corpo humano, responsável por assegurar a notificação de morte, a avaliação e o acompanhamento

de doadores e de suas famílias.

Parágrafo único. A CET deverá organizar a sua rede de procura e doação de acordo com as

características de sua rede assistencial e em conformidade com as normas complementares expedidas

pelo órgão central do SNT.

CAPÍTULO II

DA AUTORIZAÇÃO

Seção I

Da Autorização de Estabelecimentos de Saúde

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e Equipes Especializadas

Art. 11. O transplante, o enxerto ou a retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano

somente poderão ser realizados em estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, por equipes

especializadas, prévia e expressamente autorizados pelo órgão central do SNT.

§ 1º O pedido de autorização formalmente apresentado pela CET poderá ser formulado para cada

atividade de que trata este Decreto.

§ 2º A autorização para fins de transplantes, enxerto ou retirada de órgãos, tecidos, células e partes

do corpo humano deverá ser concedida conjunta ou separadamente para estabelecimentos de saúde e

para equipes especializadas de transplante, enxerto ou retirada.

§ 3º A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano poderá ocorrer em quaisquer

estabelecimentos de saúde, desde que realizada por equipes especializadas autorizadas e com a

anuência formal da CET.

§ 4º Em qualquer caso, no pedido de autorização, os estabelecimentos de saúde e as equipes

especializadas firmarão compromisso no qual se sujeitarão à fiscalização e ao controle do Poder

Público, facilitando o acesso às instalações, aos equipamentos e aos prontuários, observada sempre a

habilitação dos agentes credenciados para tal, tendo em vista o caráter sigiloso desses documentos.

§ 5º As autorizações serão válidas pelo prazo de até quatro anos, renováveis por períodos iguais e

sucessivos, verificada a observância dos requisitos estabelecidos neste Decreto e em normas

complementares do Ministério da Saúde.

§ 6º A renovação a que se refere o § 5º deverá ser requerida pelas equipes especializadas e pelos

estabelecimentos de saúde ao órgão central do SNT no prazo de até noventa dias antes do término da

vigência da autorização anterior.

§ 7º Os pedidos de renovação apresentados após o prazo estabelecido no § 6º serão considerados

como pedidos de nova autorização, situação que implica a cessação dos efeitos da autorização anterior

após o término de sua vigência.

Art. 12. Os estabelecimentos de saúde deverão contar com os serviços e as instalações adequados à

execução de retirada, transplante ou enxerto de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano,

atendidas as exigências contidas em normas complementares do Ministério da Saúde e comprovadas no

requerimento de autorização.

§ 1º A transferência da propriedade, a modificação da razão social e a alteração das equipes

especializadas pela incorporação de outros profissionais, igualmente autorizados, quando comunicadas

no prazo de até noventa dias da sua ocorrência, não prejudicarão a validade da autorização concedida.

§ 2º O estabelecimento de saúde autorizado na forma deste artigo somente poderá realizar

transplante se observar, em caráter permanente, ao disposto no § 2º do art. 13.

Art. 13. A composição das equipes especializadas será determinada em função da modalidade de

transplante, enxerto ou retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para a qual

solicitou autorização, mediante integração de profissionais também autorizados na forma desta Seção.

§ 1º Os critérios técnicos para concessão de autorização e de renovação da autorização de equipes

especializadas e de estabelecimentos de saúde serão definidos em normas complementares do órgão

central do SNT.

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§ 2º Será exigível, no caso de transplante, a definição, em número e habilitação, de profissionais

necessários à realização do procedimento.

§ 3º A autorização será concedida para cada modalidade de transplante, enxerto ou retirada de

órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano e o pedido deverá ser formalizado para o conjunto

dos seus membros, indicando o estabelecimento ou os estabelecimentos de saúde de atuação.

Art. 14. Além da habilitação profissional, as equipes especializadas deverão instruir o pedido de

autorização ou de renovação de autorização de acordo com as normas expedidas pelo órgão central do

SNT.

Seção II

Das Disposições Complementares

Art. 15. O pedido de autorização de estabelecimentos de saúde, de equipes especializadas, de

laboratórios de histocompatibilidade e de bancos de tecidos será apresentado às Secretarias de Saúde

do Estado ou do Distrito Federal pelo gestor local do Sistema Único de Saúde - SUS, que o instruirá

com relatório circunstanciado e conclusivo quanto à necessidade do novo serviço e à satisfação das

exigências estabelecidas neste Decreto e em normas complementares, no âmbito de sua área de

competência, definida pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.

§ 1º Os estabelecimentos de saúde e as demais instâncias cujo funcionamento esteja condicionado à

autorização pelo órgão central do SNT deverão respeitar o Plano Estadual de Doação e Transplantes

estabelecido no Capítulo VII, no âmbito da gestão local de saúde, inclusive quanto à necessidade de

sua criação e implementação.

§ 2º A Secretaria de Saúde do Estado ou do Distrito Federal diligenciará junto ao requerente para

verificar o cumprimento das exigências a seu cargo.

§ 3º A Secretaria de Saúde do Estado ou do Distrito Federal remeterá o pedido de autorização ao

órgão central do SNT para expedição da autorização caso haja manifestação favorável quanto à

presença de todos os requisitos estabelecidos neste Decreto e em normas complementares.

Art. 16. O Ministério da Saúde poderá estabelecer outras exigências que se tornem indispensáveis à

prevenção de irregularidades nas atividades de que trata este Decreto.

CAPÍTULO III

DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM

Seção I

Da Disposição Post mortem de Órgãos, Tecidos, Células

e Partes do Corpo Humano para Fins de Transplante

ou Enxerto

Art. 17. A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano poderá ser efetuada após a

morte encefálica, com o consentimento expresso da família, conforme estabelecido na Seção II deste

Capítulo.

§ 1º O diagnóstico de morte encefálica será confirmado com base nos critérios neurológicos

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definidos em resolução específica do Conselho Federal de Medicina - CFM.

§ 2º São dispensáveis os procedimentos previstos para o diagnóstico de morte encefálica quando ela

decorrer de parada cardíaca irreversível, diagnosticada por critérios circulatórios.

§ 3º Os médicos participantes do processo de diagnóstico da morte encefálica deverão estar

especificamente capacitados e não poderão ser integrantes das equipes de retirada e transplante.

§ 4º Os familiares que estiverem em companhia do paciente ou que tenham oferecido meios de

contato serão obrigatoriamente informados do início do procedimento para diagnóstico da morte

encefálica.

§ 5º Caso a família do paciente solicite, será admitida a presença de médico de sua confiança no ato

de diagnóstico da morte encefálica.

Art. 18. Os hospitais deverão notificar a morte encefálica diagnosticada em suas dependências à

CET da unidade federativa a que estiver vinculada, em caráter urgente e obrigatório.

Parágrafo único. Por ocasião da investigação da morte encefálica, na hipótese de o hospital

necessitar de apoio para o diagnóstico, a CET deverá prover os profissionais ou os serviços necessários

para efetuar os procedimentos, observado o disposto no art. 13.

Art. 19. Após a declaração da morte encefálica, a família do falecido deverá ser consultada sobre a

possibilidade de doação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para transplante, atendido

o disposto na Seção II do Capítulo III.

Parágrafo único. Nos casos em que a doação não for viável, por quaisquer motivos, o suporte

terapêutico artificial ao funcionamento dos órgãos será descontinuado, hipótese em que o corpo será

entregue aos familiares ou à instituição responsável pela necropsia, nos casos em que se aplique.

Seção II

Do Consentimento Familiar

Art. 20. A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano, após a morte, somente

poderá ser realizada com o consentimento livre e esclarecido da família do falecido, consignado de

forma expressa em termo específico de autorização.

§ 1º A autorização deverá ser do cônjuge, do companheiro ou de parente consanguíneo, de maior

idade e juridicamente capaz, na linha reta ou colateral, até o segundo grau, e firmada em documento

subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.

§ 2º Caso seja utilizada autorização de parente de segundo grau, deverão estar circunstanciadas, no

termo de autorização, as razões de impedimento dos familiares de primeiro grau.

§ 3º A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano de falecidos incapazes, nos

termos da lei civil, dependerá de autorização expressa de ambos os pais, se vivos, ou de quem lhes

detinha, ao tempo da morte, o poder familiar exclusivo, a tutela ou a curatela.

§ 4º Os casos que não se enquadrem nas hipóteses previstas no § 1º ao § 3º dependerão de prévia

autorização judicial.

Art. 21. Fica proibida a doação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano em casos de

não identificação do potencial doador falecido.

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Parágrafo único. Não supre as exigências do caput o simples reconhecimento de familiares se

nenhum dos documentos de identificação do falecido for encontrado, exceto nas hipóteses em que

autoridade oficial que detenha fé pública certifique a identidade.

Seção III

Da Preservação de Órgãos, Tecidos, Células

e Partes do Corpo Humano

Art. 22. Constatada a morte e a ausência de contraindicações clínicas conhecidas, caberá às equipes

assistenciais do hospital onde se encontra o falecido prover o suporte terapêutico artificial, de forma a

oferecer a melhor preservação in situ possível dos órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano até

que a família decida sobre sua doação.

Parágrafo único. As CET e a sua rede de procura e doação de órgãos, tecidos, células e partes do

corpo humano para transplante, no âmbito de suas competências, deverão acompanhar o trabalho das

equipes assistenciais dos hospitais, subsidiando-as técnica e logisticamente na avaliação e na

manutenção homeostática do potencial doador.

Art. 23. Cabe à rede de procura e doação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para

transplante, sob a coordenação da CET, e em consonância com as equipes assistenciais e

transplantadoras, proceder ao planejamento, ao contingenciamento e à provisão dos recursos físicos e

humanos, do transporte e dos demais insumos necessários à realização da cirurgia de retirada dos

órgãos e dos demais enxertos.

Parágrafo único. A CNT participará da coordenação das atividades a que se refere o caput sempre

que houver intercâmbio de órgãos, enxertos ou equipes cirúrgicas entre as unidades federativas.

Art. 24. Quando indicada a preservação ex situ de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano,

esses serão processados obrigatoriamente em estabelecimentos previamente autorizados pelo órgão

central do SNT, em conformidade com o disposto neste Decreto e nas normas complementares.

§ 1º A preservação de tecidos ou células deverá ser realizada em bancos de tecidos humanos.

§ 2º A preservação de órgãos deverá ser realizada em centros específicos para essa finalidade.

Seção IV

Da Necropsia

Art. 25. A necropsia será realizada obrigatoriamente no caso de morte por causas externas ou em

outras situações nas quais houver indicação de verificação médica da causa da morte.

§ 1º A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano poderá ser efetuada desde que

não prejudique a análise e a identificação das circunstâncias da morte.

§ 2º A retirada de que trata o § 1º será realizada com o conhecimento prévio do serviço médico-

legal ou do serviço de verificação de óbito responsável pela investigação, e os dados pertinentes serão

circunstanciados no relatório de encaminhamento do corpo para necropsia.

§ 3º O corpo será acompanhado do relatório com a descrição da cirurgia de retirada e dos eventuais

procedimentos realizados e a documentação será anexada ao prontuário legal do doador, com cópia

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destinada à instituição responsável pela realização da necropsia.

§ 4º Ao doador de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano será dada a precedência para a

realização da necropsia, imediatamente após a cirurgia de retirada, sem prejuízo aos procedimentos

descritos nos § 2º e § 3º.

Seção V

Da Recomposição do Cadáver

Art. 26. Efetuada a retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano e a necropsia, na

hipótese em que seja necessária, o cadáver será condignamente recomposto, de modo a recuperar tanto

quanto possível a sua aparência anterior.

CAPÍTULO IV

DA DOAÇÃO EM VIDA

Seção I

Da Disposição do Corpo Vivo

Art. 27. Qualquer pessoa capaz, nos termos da lei civil, poderá dispor de órgãos, tecidos, células e

partes de seu corpo para serem retirados, em vida, para fins de transplantes ou enxerto em receptores

cônjuges, companheiros ou parentes até o quarto grau, na linha reta ou colateral.

Art. 28. As doações entre indivíduos vivos não relacionados dependerão de autorização judicial, que

será dispensada no caso de medula óssea.

Parágrafo único. É considerada como doação de medula óssea a doação de outros progenitores

hematopoiéticos.

Art. 29. Somente será permitida a doação referida nesta Seção quando se tratar de órgãos duplos, de

partes de órgãos, tecidos, células e partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de

continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas

aptidões vitais e de sua saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável.

§ 1º A retirada nas condições estabelecidas neste artigo somente será permitida se corresponder a

uma necessidade terapêutica, comprovadamente indispensável para a pessoa receptora.

§ 2º O doador vivo será prévia e obrigatoriamente esclarecido sobre as consequências e os riscos

decorrentes da retirada do órgão, tecido, células ou parte do seu corpo para a doação.

§ 3º Os esclarecimentos de que trata o § 2º serão consignados em documento lavrado e lido na

presença do doador e de duas testemunhas.

§ 4º O doador especificará, em documento escrito, firmado por duas testemunhas:

I - o tecido, o órgão, a célula ou a parte do seu corpo que doará para transplante ou enxerto;

II - o nome da pessoa beneficiada; e

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III - a qualificação e o endereço dos envolvidos.

§ 5º O Comitê de Bioética ou a Comissão de Ética do hospital onde se realizará a retirada e o

transplante ou o enxerto emitirá parecer sobre os casos de doação entre não consanguíneos, exceto

cônjuges e companheiros, reconhecidos nos termos da lei civil.

§ 6º A doação de medula óssea de pessoa juridicamente incapaz somente poderá ocorrer entre

consanguíneos, desde que observadas as seguintes condições:

I - se houver autorização expressa de ambos os pais ou de seus representantes legais, após serem

esclarecidos sobre os riscos do ato;

II - se houver autorização judicial; e

III - se o transplante não oferecer risco para a saúde do doador.

§ 7º Antes de iniciado o procedimento, a doação poderá ser revogada pelo doador a qualquer

momento.

§ 8º A gestante não poderá doar órgãos, tecidos e partes de seu corpo, exceto medula óssea, desde

que não haja risco para a sua saúde e a do embrião ou do feto.

§ 9º A gestante será a responsável pela autorização, previamente ao parto, de doação de células

progenitoras do sangue do cordão umbilical e placentário do nascituro.

Art. 30. O autotransplante dependerá somente da autorização do próprio receptor ou de seus

representantes legais.

Art. 31. Os doadores voluntários de medula óssea serão cadastrados pelo órgão central do SNT, que

manterá as informações sobre a identidade civil e imunológica desses doadores em registro próprio,

cuja consulta estará disponível sempre que não houver doador compatível disponível na família.

Parágrafo único. O órgão central do SNT poderá delegar a competência prevista no caput para

outro órgão do Ministério da Saúde ou para entidade pública vinculada a esse Ministério.

CAPITULO V

DO TRANSPLANTE OU DO ENXERTO

Seção I

Do Consentimento do Receptor

Art. 32. O transplante ou o enxerto somente será feito com o consentimento expresso do receptor,

após devidamente aconselhado sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento, por meio da

autorização a que se refere o § 2º.

§ 1º Na hipótese de o receptor ser juridicamente incapaz ou estar privado de meio de comunicação

oral ou escrita, o consentimento para a realização do transplante será dado pelo cônjuge, pelo

companheiro ou por parente consanguíneo ou afim, de maior idade e juridicamente capaz, na linha reta

ou colateral, até o quarto grau, inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas

presentes na assinatura do termo.

§ 2º A autorização será aposta em documento que conterá as informações sobre o procedimento e as

perspectivas de êxito, insucesso e as possíveis sequelas e que serão transmitidas ao receptor ou, se for o

caso, às pessoas indicadas no § 1º.

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§ 3º Os riscos considerados aceitáveis pela equipe de transplante ou enxerto, em razão dos testes

aplicados ao doador, serão esclarecidos ao receptor ou às pessoas indicadas no § 1º, que poderão

assumi-los, mediante expressa concordância, aposta no documento referido no § 2º.

Seção II

Do Procedimento de Transplante ou Enxerto

Art. 33. Os transplantes somente poderão ser realizados em pacientes com doença progressiva ou

incapacitante e irreversível por outras técnicas terapêuticas.

Art. 34. A realização de transplantes ou enxertos de órgãos, tecidos, células e partes do corpo

humano somente será autorizada após a realização, no doador, dos testes estabelecidos pelas normas do

SNT, com vistas à segurança do receptor, especialmente quanto às infecções, às afecções

transmissíveis e às condições funcionais, segundo as normas complementares do Ministério da Saúde.

§ 1º As equipes de transplantes ou enxertos somente poderão realizá-los na hipótese de os exames

previstos neste artigo apresentarem resultados que indiquem relação de risco e benefício favorável ao

receptor, de acordo com o previsto na Seção I deste Capítulo.

§ 2º Não serão transplantados nem enxertados órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano de

portadores de doenças indicadas como critérios de exclusão absolutos em normas complementares do

SNT.

§ 3º Nos casos em que se aplique, o transplante dependerá, ainda, dos exames necessários à

verificação de compatibilidades sanguínea, imunogenética ou antropométrica com o organismo de

receptor inscrito na lista única de espera ou de outras situações definidas pelo SNT.

§ 4º A CET, ou a CNT nos casos em que se aplique, diante das informações relativas ao doador,

indicará a destinação dos órgãos, dos tecidos, das células e das partes do corpo humano removidos, em

estrita observância aos critérios de alocação estabelecidos em normas complementares do Ministério da

Saúde.

Art. 35. A alocação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano prevista no § 4º do art. 34

observará os critérios de gravidade, compatibilidade, ordem de inscrição, distância, condições de

transporte, tempo estimado de deslocamento das equipes de retirada e do receptor selecionado e as

situações de urgência máxima.

Parágrafo único. Antes de iniciado o procedimento de transplante ou de enxerto, será exigido termo

de declaração, subscrito pelo médico responsável e pelo receptor ou por seu representante legal, em

que conste, de forma expressa, a inexistência de ônus financeiro para o receptor referente à doação do

órgão, do tecido, das células ou da parte do corpo humano, exceto aqueles referentes ao processamento,

nos casos em que se aplique.

Art. 36. Os pacientes que necessitarem de alotransplante de medula óssea e que não tenham doador

identificado na família serão mantidos em cadastro próprio, no qual os dados imunológicos serão

periodicamente comparados com o cadastro de doadores, em busca de doador compatível.

Art. 37. A seleção de um receptor em lista de espera não confere a ele ou a sua família direito

subjetivo à indenização caso o transplante não se realize devido a prejuízo nas condições dos órgãos,

dos tecidos, das células ou das partes que lhe seriam destinados provocado por acidente ou incidente

em seu transporte.

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Seção III

Dos Prontuários

Art. 38. Além das informações usuais e sem prejuízo do disposto no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.434,

de 1997, os prontuários conterão:

I - quando relacionados ao doador falecido, os laudos dos exames utilizados para a comprovação da

morte encefálica e para a verificação da viabilidade da utilização dos órgãos, dos tecidos, das células

ou das partes do corpo humano e o original ou a cópia autenticada dos documentos utilizados para a

sua identificação;

II - quando relacionados ao doador vivo, o resultado dos exames realizados para avaliar as

possibilidades de retirada e transplante de órgãos, tecidos, células ou partes do corpo humano e a

autorização do Poder Judiciário para a doação, quando for o caso, de acordo com o disposto no art. 28;

e

III - quando relacionados ao receptor, a prova de seu consentimento, na forma do art. 32, e a cópia

dos laudos dos exames previstos nos incisos I e II do caput.

Art. 39. Os prontuários com os dados especificados no art. 38 serão mantidos conforme previsão

legal.

CAPITULO VI

DOS DOADORES E DOS RECEPTORES ESTRANGEIROS

Art. 40. Os estrangeiros que vierem a falecer em solo brasileiro poderão ser doadores de órgãos,

tecidos, células e partes do corpo humano.

Parágrafo único. Aos potenciais doadores estrangeiros falecidos aplicam-se as mesmas exigências

referentes aos potenciais doadores brasileiros, especificadas no Capítulo III.

Art. 41. O estrangeiro poderá dispor de órgãos, tecidos, células e partes de seu corpo para serem

retirados em vida, para fins de transplantes ou enxerto em receptores cônjuges, companheiros ou

parentes até o quarto grau, na linha reta ou colateral, sejam estes brasileiros ou estrangeiros.

Parágrafo único. Aos potenciais doadores vivos estrangeiros aplicam-se as mesmas exigências

referentes aos potenciais doadores brasileiros, especificadas no Capítulo IV.

Art. 42. É vedada a realização de procedimento de transplante ou enxerto em potencial receptor

estrangeiro não residente no País, exceto nos casos de doação entre indivíduos vivos em que o doador

seja comprovadamente cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo do receptor até o quarto grau,

em linha reta ou colateral.

§ 1º É vedada a inclusão de potenciais receptores estrangeiros não residentes no País na lista de

espera para transplante ou enxerto de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano a seu favor,

provenientes de doadores falecidos, exceto se houver tratado internacional com promessa de

reciprocidade.

§ 2º Na hipótese de indicação aguda de transplante com risco de morte iminente em um potencial

receptor estrangeiro em que se verifique que a remoção para o seu país seja comprovadamente

impossível, o SNT poderá autorizar, em caráter excepcional, a sua inscrição em lista de espera para

transplante ou enxerto.

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§ 3º Fica vedado o financiamento do procedimento de transplante em estrangeiros não residentes

com recursos do SUS, exceto se houver tratado internacional com promessa de reciprocidade ou na

hipótese a que se refere o § 2º, sob autorização do órgão central do SNT.

CAPÍTULO VII

DO PLANO ESTADUAL DE DOAÇÃO E TRANSPLANTES

Art. 43. A CET deverá elaborar e aprovar o Plano Estadual de Doação e Transplantes, que será

submetido à homologação da Comissão Intergestores Bipartite - CIB.

Parágrafo único. O órgão central do SNT indicará, em normas complementares, os critérios para

elaboração do Plano referido no caput.

Art. 44. O Plano Estadual de Doação e Transplantes, após a homologação da CIB, será submetido à

aprovação do Ministério da Saúde, que emitirá parecer técnico conclusivo.

Art. 45. As alterações no Plano Estadual de Doação e Transplantes deverão ser submetidas à mesma

sistemática de homologação e aprovação previstas nos art. 43 e art. 44.

CAPITULO VIII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 46. O Ministério da Saúde fica autorizado a expedir instruções e regulamentos necessários à

aplicação do disposto neste Decreto.

Art. 47. É vedado o transplante de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano em receptor

não inscrito nos cadastros técnicos das CET.

Art. 48. É vedada a inscrição de receptor de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano em

mais de uma CET para o mesmo órgão, tecido, célula ou parte do corpo humano.

Art. 49. Caberá aos estabelecimentos de saúde e às equipes especializadas autorizados a execução

dos procedimentos médicos previstos neste Decreto que, no âmbito do SUS, serão remunerados

segundo os valores fixados em tabela aprovada pelo Ministério da Saúde.

Art. 50. É vedada a cobrança à família do potencial doador e ao receptor e sua família de quaisquer

dos procedimentos referentes à doação, observado o disposto no parágrafo único do art. 35.

Art. 51. É vedada a remuneração de serviços prestados, no âmbito do SUS, de procedimentos

relacionados a transplantes de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano doados, manipulados

ou não, cuja comprovação de eficácia clínica não seja reconhecida pelo Ministério da Saúde.

Art. 52. Na hipótese de doação post mortem, será resguardada a identidade dos doadores em relação

aos seus receptores e dos receptores em relação à família dos doadores.

Art. 53. É vedada a realização e a veiculação de publicidade nas seguintes situações:

I - para obter doador ou doadores de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano, vivos ou

falecidos, com vistas ao benefício de um receptor específico;

II - para divulgar estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos; e

III - para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou enxerto em benefício de

particulares.

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Art. 54. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do SUS deverão adotar estratégias de

comunicação social, esclarecimento público e educação permanentes da população destinadas ao

estímulo à doação de órgãos.

Art. 55. O Ministério da Saúde poderá requisitar, em forma complementar ao estabelecido no inciso

V do caput do art. 8º, apoio à Força Aérea Brasileira para o transporte de órgãos, tecidos e partes do

corpo humano até o local em que será feito o transplante.

§ 1º Para atender às requisições do Ministério da Saúde previstas no caput, a Força Aérea Brasileira

manterá permanentemente disponível, no mínimo, uma aeronave que servirá exclusivamente a esse

propósito.

§ 2º Em caso de necessidade, o Ministério da Saúde poderá requisitar aeronaves adicionais para fins

do disposto no caput e o atendimento a essas requisições fica condicionado à possibilidade operacional

da Força Aérea Brasileira.

§ 3º O disposto no caput não se aplica às situações passíveis de serem atendidas nos termos do

inciso V do caput do art. 8º ou da cooperação que as empresas de aviação civil, de forma voluntária e

gratuita, mantenham com o SNT para o transporte de órgãos, tecidos, células e partes do corpo

humano.

Art. 56. Fica revogado o Decreto nº 2.268, de 30 de junho de 1997.

Art. 57. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de outubro de 2017; 196º da Independência e 129º da República.

MICHEL TEMER

Antonio Carlos Figueiredo Nardis

Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de 19/10/2017

Publicação:

Diário Oficial da União - Seção 1 - 19/10/2017, Página 2 (Publicação Original)