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IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA 5’S EM
UMA INDÚSTRIA DO SETOR DE
VESTUÁRIO
Francisco Rodrigues Lima Junior (EESC-USP)
Fernanda Coelho Mescoloto Pogi (UEM)
Rodrigo Lanzoni Fracarolli (UEM)
Olivia Toshie Oiko (UEM)
Edwin Cardoza (UEM)
A efetiva implantação de programas de gestão da qualidade provê
subsídios para alcançar estratégias voltadas à melhoria contínua da
organização, contribuindo para o aumento da competitividade e
sobrevivência da mesma. O Programa 5’S pode seer visto como um dos
pilares para a gestão da qualidade e propõe mudanças culturais no
comportamento das pessoas e no ambiente de trabalho, refletindo na
melhoria da qualidade dos produtos e dos processos produtivos. Neste
sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar um estudo de caso sobre
a implantação do Programa 5’S conduzido por um projeto de extensão
universitária em uma empresa de médio porte do setor de vestuário da
região de Maringá-PR. Os métodos utilizados para condução deste
trabalho foram pesquisa bibliográfica e estudo de caso. Os resultados
mostraram que, apesar da ocorrência de alguns atrasos no
cronograma e resistências à mudança por parte de alguns
colaboradores da empresa, a implantação do Programa apresentou
bons resultados, tais como melhor integração entre os colaboradores,
maior quantidade de espaço disponível, realização de um trabalho
social, menor tempo de procura de itens e melhorias nas instalações da
empresa. Acredita-se que as ferramentas de gestão da produção
utilizadas, a formação de uma equipe de melhoria contínua na empresa
e a criação de uma estrutura de cooperação entre atores da
governança do aglomerado industrial regional para intervenção na
empresa tenham fortalecido a condução do programa.
Palavras-chaves: Programa 5’S, Melhoria Contínua, Setor do
Vestuário.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
A concorrência acirrada entre as empresas, proveniente da globalização dos mercados,
estabeleceu uma nova ordem econômica na qual a implantação de programas de gestão da
qualidade surge como uma estratégia competitiva nas organizações. Um destes programas é o
5’S, o qual foi criado no Japão por Kaoru Ishikawa na década de 1950 e se apresenta como
uma ferramenta capaz de promover mudanças culturais e aumentar a produtividade das
empresas por meio do combate aos desperdícios de tempo e de materiais, promoção da auto
disciplina e da integração entre os colaboradores (CHARANTIMATH, 2006).
Na região noroeste do Paraná está localizado o segundo maior Arranjo Produtivo Local (APL)
do setor do vestuário do Brasil, o qual é composto por mais de 1.200 empresas, sendo 98,4%
delas pequenas ou médias empresas, gerando cerca de 20 mil empregos diretos e 80 mil
indiretos (TRINTIN, 2007). Segundo Barreto (1997), na indústria de confecção brasileira o
que se encontra é o improviso, visto que pessoas sem nenhum conhecimento técnico e
também de supervisão costumam comandar e coordenar as Pequenas e Médias Empresas
(PMEs), sendo que nem sempre conseguem se adequar às normas exigidas e implantar
métodos efetivos de gestão. Diante de tal panorama, um projeto de extensão universitária foi
criado com a finalidade de promover a melhoria contínua e contribuir para a competitividade
das PMEs do APL do vestuário da região de Maringá-PR. O objetivo deste trabalho é
apresentar o caso de intervenção em uma das empresas participantes, na qual, por meio de
diagnóstico realizado, constatou-se a necessidade de implantação do Programa 5’S em todos
os setores da empresa. São destacados os métodos utilizados para fortalecer a condução do
programa, tais como formação de equipe de melhoria contínua, treinamentos, entre outros.
Quanto à estrutura do trabalho, a Seção 2 apresenta a metodologia utilizada e a Seção 3 traz
uma revisão da literatura sobre o Programa 5’S. A Seção 4 contempla o planejamento para
intervenção na empresa, apresentando o mecanismo de atuação do projeto, informações sobre
empresa e diagnóstico realizado. A Seção 5 descreve o desdobramento das atividades e os
resultados alcançados. Por fim, a Seção 6 traz as considerações finais sobre este trabalho.
2. Metodologia
O método utilizado para desenvolvimento deste trabalho foi composto por pesquisa
bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa de bibliográfica abordou tópicos relacionados aos
5’S com a finalidade de embasar as atividades do estudo de caso.
Segundo Miguel (2007), o estudo de caso é um estudo de natureza empírica que investiga um
determinado fenômeno, geralmente contemporâneo, dentro de um contexto real de vida,
quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto em que ele se insere não são claramente
definidas. Yin (2001) acrescenta que os estudos de caso tentam esclarecer o motivo pelo qual
uma decisão ou um conjunto de decisões foram tomadas, como foram implementadas e quais
os resultados alcançados. Desta forma, o estudo de caso descreve a implantação do Programa
5’S em uma empresa do setor de confecção industrial por meio da atuação de um projeto de
extensão universitária. As macro atividades componentes do estudo de caso são listadas no
Quadro 1 e o desdobramento das mesmas é descrito detalhadamente nas Seções 4 e 5.
Atividades Mai Jun Jul Ago Set Out Nov
1. Diagnóstico de necessidades
2. Desenvolvimento do Plano de Ação
3. Criação da Equipe de Melhoria Contínua
4. Implantação das Ações
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5. Avaliação dos Resultados
Quadro 1 – Cronograma do estudo de caso
Conforme mostra o Quadro 1, a primeira macro atividade consistiu na realização de um
diagnóstico de necessidades e oportunidades de melhoria na empresa, o qual foi realizado por
meio de entrevistas semi-estruturadas e observação in loco. A partir do diagnóstico, um Plano
de Ação foi desenvolvido e continuamente incrementado por meio do levantamento de
sugestões junto à equipe de melhoria contínua, a qual é composta por membros de todos os
setores da empresa. Posteriormente, as ações de melhoria contidas no Plano de Ação foram
gradativamente implantadas por todos os colaboradores da empresa e avaliadas pelas equipes
de Coordenação do Programa 5’S e do projeto. Os mecanismos utilizados para avaliação
foram formulários de auditoria do Programa 5’S e impactos visuais de mudança (comparação
do “antes e depois”).
3. Revisão da Literatura: Programa 5’S
A União Brasileira para a Qualidade evidencia a aplicação dos conceitos do Programa 5´S no
Brasil no início dos anos de 1990, quando se viu a necessidade de educar para o uso racional
dos recursos, sistematizar a ordem necessária à existência racional, estabelecer ambientes
limpos, manter relações transparentes e promover a saúde dos envolvidos (UBQ, 2010). Seus
conceitos e definições, por serem de fácil aplicabilidade, tornaram-se famosos em todo o
mundo, principalmente no início da década de 70, quando as empresas começaram um
processo de “revitalização” em seus métodos de trabalho que vêm evoluindo e se
desenvolvendo até os dias de hoje (DE MENTE, 2004).
O Programa 5’S visa mudar qualitativamente o pensamento e o comportamento das pessoas,
melhorando assim o ambiente de trabalho. Para sua efetividade, é necessário a disciplina e
cooperativismo, sendo que estas premissas contribuem para manter o programa e
conscientizar os colaboradores sobre o seu potencial de contribuições para a melhoria da
empresa. Satisfeitas tais premissas, todos os agentes envolvidos poderão se beneficiar de
vantagens como maior disponibilidade de espaço na empresa, redução de desperdício,
economia de tempo, redução dos índices de acidentes, melhor ambiente de trabalho, entre
outros, os quais tendem a aumentar a produtividade e reduzir de custos (COSTA; ROSA,
1999). Como processo de mudança organizacional, o programa requer transformações
profundas e de base, sendo necessário que a alta gerência dissemine os novos hábitos.
Os “5’S” que designam o Programa provêm de palavras japonesas que sofreram
transliteração, definindo cada letra “S” como um senso, os quais serão apresentados a seguir.
3.1 Senso de Utilização (Seiri)
O principal processo utilizado por este senso é o gerenciamento de estratificação, que consiste
em colocar os objetos em ordem de importância, classificando-os em seu grau de utilidade, ou
seja, uso com alta, media ou baixa freqüência. Feita a classificação, passa-se a eliminar os
itens que não são úteis ao posto de trabalho, sendo necessário estabelecer previamente
critérios de seleção. Deve-se ater aos galpões e armazéns, pois estes lugares tendem a se
tornar depósitos de lixo (OSADA, 1995). A aplicação desse senso é um meio de aproveitar o
espaço disponível por meio da eliminação de ferramentas quebradas e obsoletas, lixo e
excesso de matéria prima (BALACHANDRAN; CHANDRASEKARAN, 2009).
3.2 Senso de Organização (Seiton)
O segundo senso (organização) consiste dispor todos os itens de forma correta para que
possam ser usadas prontamente. Projetar locais específicos para cada item reduz o tempo de
procura de itens, evitando desperdícios de tempo (CHARANTIMATH, 2006). Os itens que
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são freqüentemente empregados na empresa devem ser alocados em local próximo de quem
os utilizará. Quanto itens raramente usados, estes ficarão dispostos mais distante do posto de
trabalho. É imprescindível que todos os itens tenham um único nome e uma única localização.
Atendidas tais diretrizes, diminui-se a probabilidade de ocorrência de equívocos e o trabalho
transcorre com maior tranqüilidade (OSADA, 1995). Em suma, segundo Moulding (2010),
deve-se determinar um lugar para tudo e tudo deve estar em seu lugar pré-estabelecido.
3.3 Senso de Limpeza (Seiso)
A limpeza é indispensável para prevenção de problemas, afinal máquinas sujas causam
retardo na produção. Um princípio importante é que a limpeza e organização sejam feitas
pelos próprios funcionários da empresa. Todas as áreas, equipamentos e ferramentas da
organização devem ser limpos. Além disso, as causas gerais da sujeira devem ser tratadas
(TAKAHASHI, 1993). Este senso tem impacto no ambiente de trabalho, na manutenção de
maquinários e ferramentas, na qualidade do produto e na garantia da segurança para todos os
integrantes da empresa. Destaca-se o conceito de que limpar deve ser uma tarefa rotineira do
trabalho, todos devem ver o local de trabalho sob a ótica de um visitante tendo a preocupação
de causar uma boa impressão. Em suma, é importante atribuir responsáveis pela limpeza de
cada posto de trabalho e seus componentes (GULATI, 2009).
3.4 Senso de Bem - Estar (Seiketsu)
O senso de bem-estar engloba a organização, limpeza e utilização, mantendo as condições de
trabalho favoráveis à saúde física e mental. Tal senso consiste em padronizar as atividades dos
5´S, estimulando o aparecimento de eventuais anormalidades e combatendo as mesmas. A
definição deste senso também inclui as boas condições de iluminação e climatização do
ambiente de trabalho (GULATI, 2009).
O gerenciamento por meio visual é uma forma eficaz para facilitar a implantação deste senso,
ajudando na identificação de problemas. Para sua aplicação, é necessário saber o que está
sendo gerenciado, o que caracteriza uma anormalidade e o que precisa ser feito tanto em
procedimentos de curto e longo prazo para correção destas. Outra técnica de apoio para
implantação deste senso é o uso de Procedimentos Operacionais Padrão (POP), que pode
determinar instruções de uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), procedimentos
de rotina para execução de atividades, manuseio de máquinas e materiais, dentre outros
(TONTINI; BEZERRA, 2002).
3.5 Senso de Autodisciplina (Shitsuke)
Os resultados iniciais do Programa 5’S são imediatos, mas é necessária a disciplina para a
internalização dos novos hábitos. A autodisciplina pode ser entendida como a prática de
transformar maus hábitos em bons hábitos, tornando o trabalho eficiente e sem erros. A
inovação e disciplina devem partir da alta gerência e chegar até o chão da fábrica
(CHARANTIMATH, 2006). Costumam existir grandes diferenças entre a rotina da empresa
anterior e a rotina posterior à implantação do programa, por isso são necessários aos
funcionários da empresa treinamentos, orientações, avisos, comunicações claras e objetivas
(TONTINI; BEZERRA, 2002). A autodisciplina é a principal responsável pelo sucesso e
manutenção do programa.
3.6. Processo de implantação do Programa 5’S
Embora não haja consenso na literatura sobre 5’S quanto às etapas do processo de
implantação, algumas atividades são comumente recomendadas para garantir o sucesso da
implantação e a manutenção do Programa 5’S, sendo estas:
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Formação da equipe 5’S: Consiste na criação de um comitê de 5’S na empresa, definindo
um coordenador que costuma ser escolhido pela direção da organização. É necessário
estabelecer um cronograma que defina as reuniões e os respectivos assuntos que serão
abordados, especificando também os horários de início e término. Esta etapa também deve
tratar da criação de material didático para os treinamentos do pessoal e de alguns
questionários específicos a serem utilizados no diagnóstico da situação atual de cada setor,
o qual também deve utilizar de registros fotográficos e filmagens (SARKAR, 2006);
Lançamento do programa: Esta reunião tem o intuito de despertar o interesse e
sensibilizar as pessoas, estimulando a vontade de mudar pra melhor. Um lançamento
correto do programa quebra paradigmas, conquista adesões e acelera os resultados. Nesta
etapa deve-se dar início à elaboração do Plano de Ação do Programa 5’S, documento este
que consiste na listagem detalhada das atividades e respectivos responsáveis pela
execução, objetivos, métodos a serem utilizados, prazos, custos, entre outras informações
(DAYCHOUM, 2007);
“Dia D”: O “Dia D” é o dia estabelecido para realizar a limpeza e o início da organização
do ambiente de trabalho. O dia escolhido não deve provocar transtornos para a empresa,
colaboradores, fornecedores e clientes. Um cronograma com as atividades do dia deve ser
apresentado aos participantes definindo-se as respectivas atribuições. A programação pode
ser feita de tal modo que permita a participação de todos sem necessitar interromper as
atividades na área Se não houver possibilidade de implantá-lo em todos os setores, deve- se
começar implantando em setores com maior necessidade, e gradativamente atingindo os
demais (DAYCHOUM, 2007);
Divulgação dos outros 3’S: Para a implantação dos demais sensos é imprescindível fazer
uma reunião para divulgar os princípios de cada senso. Deve-se fazer uso de cartazes para
evidenciar o senso que está sendo implantado em determinado período. Ao final do período
de implantação do senso, o respectivo cartaz deve ser retirado e guardado para a
reutilização na etapa de manutenção. É importante atribuir responsáveis para cada
atividade proposta por cada um dos sensos. Uma ferramenta capaz de apoiar a execução
das atividades do Plano de Ação para implantação dos sensos é definida como 5W1H. Esta
ferramenta recebeu este nome devido às primeiras letras das palavras inglesas: What (O
Que), Who (Quem), When (Quando), Where (Onde), Why (Por Que), e pela letra H, How
(Como) (STRAUSS; CORBIN, 1990);
Auditoria e Avaliação: Para a eficácia do programa 5’S é importante o uso de avaliações
para que o mesmo vire uma rotina na empresa, por isso deve-se estabelecer um método
objetivo para avaliação dos resultados obtidos. Recomenda-se o uso de tabelas de
avaliação detalhadas, nas quais o avaliador anotará se as metas foram atingidas ou não e
quais os pontos bons e ruins do setor. A avaliação pode ser feita por funcionários do setor,
supervisor local ou por atores externos (escritório da qualidade, consultores, entre outros).
O fator motivacional é fundamental para o desenvolvimento e manutenção das atividades
(TONTINI; BEZERRA, 2002).
Comumente, alguns estudos que contemplam o Programa 5’S abordam o processo de
implantação sob a perspectiva da melhoria contínua. Um processo de melhoria contínua pode
ser visto como um conjunto de pressupostos e diretrizes sobre a forma de ver a organização e
as suas relações com os clientes, concorrentes e fornecedores, onde cada princípio é aplicado
através de um conjunto de práticas que, por sua vez, estão apoiadas por técnicas e práticas de
gestão empresarial (Programa 5’S, PDCA, Ferramentas da Qualidade, Medição de
Desempenho, entre outras). Os programas de melhoria contínua buscam desenvolver uma
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cultura de qualidade nas organizações, fazendo com que melhorias na produção não sejam
implementadas necessariamente por especialistas, mas também por colaboradores de que
executam funções operacionais e que têm o potencial de identificar e tratar problemas
crônicos das organizações de forma organizada e sistemática (DAYCHOUM, 2007; WITELL;
ANTONI; DAHLGAARD, 2005). Os métodos adotados para conduzir o estudo de caso
apresentado neste trabalho buscaram promover a melhoria contínua na empresa em questão, o
que está alinhado com a proposta do projeto de extensão universitária que se apresenta como
mecanismo para intervenção na empresa e que será descrito na seção a seguir.
4. Atividades de Planejamento da Pesquisa
Esta seção apresenta as atividades executadas que tornaram possível a realização do estudo de
caso, contextualizando quanto ao mecanismo de atuação para condução deste, apresentando
informações da empresa e as oportunidades de melhoria identificadas durante o diagnóstico
realizado.
4.1 Apresentação do projeto e da Empresa
O PROJVEST é um projeto de extensão universitária que teve a finalidade de promover a
melhoria contínua nas áreas de qualidade, gestão da produção e ergonomia em 30 empresas
do setor de vestuário no Arranjo Produtivo Local de Maringá e Cianorte-PR durante 24
meses. A sistemática de atuação do projeto é apresentada na Figura 1.
Figura 1 – Sistemática de atuação do PROJVEST
Conforme ilustrado na Figura 1, inicialmente foi desenvolvida uma estrutura de cooperação
entre o PROJVEST (Universidade), empresas e órgãos da governança do APL, tais como o
Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Sindicatos do
Vestuário de Maringá e Cianorte. Posteriormente, a equipe PROJVEST, composta por
pesquisadores (professores, graduandos e engenheiros de produção), recebeu capacitação em
temas relacionados às atividades a serem desenvolvidas nas empresas e foi iniciado um
trabalho de intervenção nas empresas participantes do projeto.
A intervenção nas empresas foi iniciada por meio de um diagnóstico de necessidades e
oportunidades de melhoria e, em seguida, foram implantadas ações de melhoria em cada uma
das organizações segundo as necessidades constatadas, avaliando ainda os resultados das
ações implantadas. Para facilitar a intervenção em um grande número de empresas, foi criada
uma estrutura de Módulos de Intervenção, tais como Melhoria Contínua, Ferramentas da
Qualidade, Programa 5’S, Planejamento e Controle da Produção, Métodos de determinação de
Layout físico, entre outros, sendo que cada um destes é formado por uma sequência de
atividades que fomentam a melhoria contínua nas empresas por meio da capacitação de
recursos humanos, aplicação de ferramentas de gestão, dentre outros.
Este trabalho se limita a descrever as atividades realizadas somente em uma empresa,. Tal
empresa é familiar, de médio porte, possui cerca de 150 funcionários e atua desde 1992 no
setor de confecção industrial produzindo peças de jeans e modinha. O setor produtivo da
empresa está dividido nos setores de almoxarifado central, corte, costura interna,
almoxarifado de aviamentos, terceirização, acabamento, manutenção, expedição, sendo que a
as atividades de bordado, estamparia, lavanderia e algumas atividades de costura são
realizadas por meio da contratação de empresas terceirizadas. Até então, a empresa não havia
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iniciado nenhum programa de gestão da qualidade, embora já tivesse adotado alguns
mecanismos para controle de não-conformidades e abortado posteriormente.
4.2 Diagnóstico de necessidades e oportunidades de melhoria
O diagnóstico de necessidades e oportunidades de melhoria foi realizado por meio da
observação in loco e utilização de um roteiro de entrevistas semi-estruturado que abordou
questões relacionadas à gestão da qualidade, produção e ergonomia na empresa. Foram
entrevistados um dos líderes do chão de fábrica e a chefe do departamento de recursos
humanos, além de conversas informais com colaboradores de diversos setores produtivos.
De acordo com as informações obtidas, constatou-se que a empresa executava algumas
práticas para evitar desperdícios, tais como a segregação de resíduos têxteis e papéis gerados
no setor de corte, os quais são posteriormente doados ou vendidos para outras empresas.
Existe uma área específica para acúmulo destes resíduos, mas a mesma estava sobrecarregada
de itens e possuía pouco espaço disponível mediante o volume dos resíduos gerados. O
almoxarifado central da empresa possui procedimentos de entrada e saída definidos, o que
tende a facilitar o controle dos itens e evitar inconsistências no software de controle. No
entanto, tais procedimentos não estavam funcionando na prática devido à indisciplina de
alguns colaboradores que retiravam materiais do almoxarifado sem autorização e registro. A
limpeza dos setores e dos banheiros era realizada por uma colaboradora da empresa
periodicamente. No entanto, alguns colaboradores não se comprometiam com a manutenção
da limpeza, jogando refugos no chão e se abstendo de práticas de higiene básicas ao utilizar os
banheiros, principalmente no setor de costura. Além dos problemas citados, a empresa
apresentava vários outros relacionados à desorganização dos postos de trabalho e à falta de
integração entre os setores. A Figura 1 apresenta registros fotográficos de alguns setores da
empresa, os quais foram realizados durante o diagnóstico.
Figura 1 – Registro fotográficos da empresa realizados durante o diagnóstico
Diante desse panorama, constatou-se a necessidade de implantação do Módulo de Intervenção
Programa 5’S. Na semana seguinte ao diagnóstico, a equipe PROJVEST retornou à empresa e
apresentou uma devolutiva à diretoria, na qual propunha a Implantação do Programa 5’S em
todos os setores. Após a aprovação da proposta, a direção da empresa determinou que a
gerente de recursos humanos e um líder de produção dirigissem a Equipe de Coordenação do
Programa. Na segunda reunião, foi iniciada a elaboração de um Plano de Ação.
4.3 Desenvolvimento do Plano de Ação (Preparação para lançamento do Programa)
Em uma segunda reunião, desta vez entre a equipe PROJVEST e a Coordenação do
Programa, deu-se início à elaboração de um Plano de Ação. Dentre as principais decisões que
embasaram o Plano de Ação, optou-se por implantar o Programa gradativamente em blocos
de três setores com a finalidade de não comprometer a produtividade da empresa, sendo que o
seqüenciamento de blocos foi baseado em critérios como necessidades de mudança no setor e
disponibilidade de tempo, a qual varia de acordo com a mudança de coleção de peças. O
Quadro 2 apresenta o cronograma de implantação nos blocos de setores da empresa.
Blocos de Setores Jun Jul Ago Set Out Nov
1. Almoxarifado, PPCP e Corte
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2. Costura, Distribuição e Almoxarifado de Aviamentos
3. Manutenção, Terceirização e Acabamento
4. Área de Resíduos, Embalagem e Expedição
5. Desenvolvimento de Produtos, Comercial e Financeiro
6. Recursos Humanos, Áreas Externas, Cozinha
Quadro 2 - Cronograma de implantação nos blocos de setores
Quanto à capacitação dos colaboradores, foi decidido que haveria uma capacitação geral sobre
os 5’S para todos os colaboradores com duração de trinta minutos, o que marcaria o
lançamento do Programa 5’S na empresa. Posteriormente, seria ministrada uma capacitação
de uma hora e trinta minutos para os colaboradores dos setores às vésperas da implantação, na
qual o material do SEBRAE sobre os cinco sensos (Kit D’OLHO na Qualidade) seria
distribuído.
Outras atividades realizadas durante a preparação para o lançamento do programa foram a
confecção de camisetas do Programa 5’S para os colaboradores com a finalidade de instituir
uma identidade do programa na empresa, determinação do cronograma de implantação em
cada um dos blocos e discussão de questões relacionadas à formação da equipe de melhoria
contínua na empresa. As atividades genéricas para implantação em cada um dos blocos de
setores são apresentadas no cronograma do Quadro 3.
Atividades para cada Bloco de Setores Semanas
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1. Capacitação dos colaboradores
2.Reunião entre a coordenação do Programa
3.Reunião entre grupos de melhoria contínua
4.Implantação dos sensos de utilização e organização
5.Implantação do senso de limpeza
6.Implantação do senso de bem estar
7.Avaliação da implantação (Senso de auto disciplina)
Quadro 3 – Cronograma de atividades genéricas para implantação dos 5’S nos blocos de setores
5. Implantação do Programa 5’S
5.1 Criação da Equipe de Melhoria de Contínua
Uma equipe de melhoria contínua foi criada na empresa com a finalidade de levantar
problemas e oportunidades de melhoria nos setores, propor e implantar soluções, sendo que
inicialmente o trabalho da equipe esteve focado em auxiliar a condução e manutenção do
programa (facilitadores do Programa 5’S). A equipe é composta por um ou dois colaboradores
representantes de cada setor, sendo que os representantes foram eleitos pelos próprios
colaboradores e foi determinado que o representante do setor não fosse exclusivamente o
chefe do mesmo. A equipe de melhoria contínua passou a realizar reuniões semanais, nas
quais ocorreram brainstormings, distribuição e acompanhamento da execução de tarefas
contidas no Plano de Ação do Programa 5’S.
5.2 Capacitação dos colaboradores
A capacitação geral pode ser vista como um marco de lançamento do programa na empresa,
sendo esta ministrada pela equipe PROJVEST para todos os colaboradores, abordando os
princípios dos cinco sensos e os benefícios que poderiam ser alcançados com o programa.
Nesta ocasião, apresentou-se também o cronograma geral de implantação na empresa. O
registro fotográfico da situação anterior à implantação do Programa 5’S em todos os setores
da empresa foi realizado antes da capacitação, já que o simples entendimento dos cinco sensos
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por parte dos colaboradores tende a mudar os hábitos dos funcionários da empresa, o que,
provavelmente, gera pequenas mudanças imediatas no ambiente.
No dia seguinte à capacitação geral, foi ministrada uma capacitação para os colaboradores do
primeiro bloco de setores (almoxarifado central, corte e PPCP). A capacitação durou uma
hora e trinta minutos, assim como as outras cinco capacitações ministradas aos demais blocos
de setores antes dos respectivos inícios de implantação. As capacitações para os blocos
setores abordaram detalhadamente as diretrizes dos cinco sensos com exemplos práticos
aplicáveis à empresa. Ao final da capacitação, foram distribuídas tabelas no formato 5W1H
(“O que?, Quem?, Quando?, Onde?, Por que? e Como?”) a todos os colaboradores presentes
com a finalidade de coletar sugestões de ações de melhoria e de resolução de problemas. Não
foi necessário aos colaboradores se identificarem ao preencher as tabelas e as mesmas foram
devolvidas à equipe PROJVEST ao final do evento.
Durante a capacitação também foram distribuídas cartelas de adesivos de diferentes cores para
que os colaboradores pudessem pré-identificar todos os itens que não eram necessários à
empresa, os que eram necessários a outros setores e os que necessitavam de manutenção.
5.3 Reuniões entre a Coordenação do Programa e Equipe de Melhoria contínua
As reuniões entre a coordenação do programa e a equipe de melhoria contínua eram
realizadas semanalmente. Após a coleta de sugestões junto aos colaboradores de cada um dos
blocos de setores, a equipe PROJVEST sintetizava as informações e as apresentava à
coordenação do programa e à direção da empresa durante as reuniões de acompanhamento
realizadas periodicamente. Todas as sugestões eram analisadas e, com base na viabilidade de
implantação e nos custos envolvidos, selecionavam-se as ações que iriam ser incrementadas
ao Plano de Ação do Programa 5’S. Após a atualização do Plano de Ação, eram realizadas
reuniões junto à equipe de melhoria contínua na empresa com a finalidade de discutir
questões relacionadas às novas ações contidas no plano, distribuir tarefas e acompanhar o
desenvolvimento das mesmas.
5.4 Implantação do Senso de Utilização e Organização
Uma semana após a capacitação de cada bloco de setores, era realizado o “Dia D”. Neste dia,
os itens identificados com adesivos de diferentes cores eram removidos para “Área de
Descarte”, “Área de Manutenção” ou para “Outros setores”. Várias máquinas de costura
foram removidas para manutenção. Além disso, os colaboradores dos setores listavam todos
os itens, gavetas, prateleiras e outros objetos que necessitavam de identificação para posterior
confecção de etiquetas. Outra tarefa importante realizada no “Dia D” era o registro de todos
os itens que eram depositados na área de descarte, sendo que tal listagem era posteriormente
encaminhada à direção da empresa, a qual era responsável por viabilizar uma destinação para
os itens, fosse esta o descarte, venda ou doação.
A Figura 2 mostra alguns registros fotográficos realizados durante uma das capacitações de
colaboradores e realização do “Dia D” no primeiro bloco de setores.
Figura 2 – Capacitação de colaboradores e implantação do senso de utilização
No caso do Almoxarifado Central, o “Dia D” se estendeu por uma semana devido à grande
quantidade de itens a serem analisados. Todos os itens foram retirados das prateleiras para
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limpeza e possível reembalagem ou realocação. Um grande problema do almoxarifado central
era a quantidade de tecidos ociosos, os quais eram sobras provenientes de coleções antigas e
que não eram usuais às novas coleções. Todos esses tecidos foram separados em um local
específico para serem utilizados no “Dia do Voluntário”, o qual será descrito na subseção 5.5
A organização dos postos de trabalho era gradativamente realizada no decorrer da semana. A
Figura 3 apresenta alguns registros fotográficos relacionados à implantação do senso de
organização.
Figura 3 – Implantação do senso de organização
Dentre as tarefas realizadas em prol da organização, pode-se citar a identificação de todos os
itens e locais de armazenagem dos setores, definição de locais específicos para ferramentas e
caixas (de peças em processo, objetos pessoais e outros materiais) e a criação do kit costura, o
qual continha uma única de unidade de cada ferramenta utilizada pelas colaboradoras do
setor, já que antes da implantação do programa algumas pessoas reclamavam da falta de
tesouras e outras ferramentas, enquanto outras afirmavam ter excesso destes itens em seus
respectivos postos de trabalho.
Além disso, nos setores onde se utilizavam equipamentos eletro-eletrônicos, foi feita a
organização dos cabos, dos arquivos e pastas no caso dos computadores, além da
padronização da nomenclatura dos mesmos.
5.5 Divulgação do Senso de Limpeza e de Bem Estar
Conforme descrito anteriormente, a limpeza do chão de fábrica se apresentava em estado
crítico antes do início das atividades do Programa 5’S. Além disso, o banheiro do setor de
costura apresentava condições precárias de estrutura e de higiene. Após algumas negociações
entre a equipe PROJVEST, coordenação do programa e direção da empresa, foi decido que o
banheiro seria completamente reformado e que alguns adereços seriam utilizados no mesmo
para motivar a manutenção da limpeza, tais como cartazes sobre higiene pessoal, plantas,
aromatizantes, dentre outros. Tais ações de melhoria apresentaram bons resultados, visto que
os colaboradores têm conservado as instalações e contribuído para a limpeza do local, o qual
se configurou como um ambiente muito mais agradável.
Quanto à limpeza dos postos de trabalho, foram promovidas discussões entre os colaboradores
para criação de planos de limpeza para cada setor, os quais consistiam em um cartaz afixado
no posto de trabalho que apresentava o escalonamento de colaboradores para limpeza do setor
em dias diferentes. Além disso, foram discutidas práticas para diminuição da quantidade de
sujeira gerada. A efetividade dos planos de limpeza foi bem sucedida em alguns setores e
surtiu menos efeito em outros, os quais contam com colaboradores que ainda não
internalizaram o princípio de que cada um é responsável pela sujeira que produz.
Outras ações realizadas em prol do senso de limpeza foram a alocação de lixeiras próximas
aos colaboradores para diferentes tipos de resíduos (papel, plástico, tecidos, entre outros), a
criação do cronograma de limpeza dos condicionadores de ar e dos ventiladores, a confecção
e uso de capas protetoras para as máquinas de costura.
Quanto ao senso de bem estar, o principal problema apontado eram os buracos no isolante
térmico do teto da empresa, já que estes comprometiam o conforto térmico do ambiente e
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possibilitavam a entrada de poeira no chão de fábrica. A direção da empresa se comprometeu
a solucionar o problema em médio prazo, já que uma reforma geral nas instalações da
empresa já estava prevista.
Diversas discussões foram realizadas durante as reuniões da equipe de melhoria contínua em
prol do senso de bem estar, da integração entre setores e da padronização de procedimentos.
Dentre as principais ações executadas, destaca-se a padronização da forma com que materiais
eram enviados de um setor para outro (organização dos materiais dentro das caixas), criação
de procedimentos padrão para retirada de materiais em outros setores por parte dos
colaboradores, criação de check list para conferência de lotes e realização do “Dia do
Voluntário”. A Figura 4 apresenta registros fotográficos relacionados à implantação dos
sensos de limpeza e bem-estar, destacando o “Dia do Voluntário”.
Figura 4 – Implantação dos sensos de limpeza e bem-estar
O “Dia do Voluntário” foi um evento realizado pela coordenação do programa na empresa
que teve a finalidade de confeccionar roupas para serem doadas a crianças carentes utilizando
tecidos ociosos do almoxarifado e os aviamentos que estavam fora de coleção. Os
colaboradores foram convidados a participar do evento de forma voluntária em um sábado,
dia em que não há expediente na empresa. Além de ser um trabalho social, o “Dia do
Voluntário” evitou o desperdício de matéria-prima dando utilidade a recursos ociosos e
também promoveu a integração entre os funcionários da empresa por meio de um evento de
confraternização entre todos os colaboradores, o qual foi realizado ao final das atividades de
produção das peças.
5.6 Avaliação e Manutenção do Programa
A última macro atividade prevista no cronograma foi a realização de avaliações da efetividade
das ações implantadas, sendo que esta tem a finalidade de estimular a manutenção das práticas
relacionadas aos sensos anteriormente implantados, assim como levantar as pendências e
pontos críticos. Para isso, utilizou-se de registros fotográficos do “antes e depois” dos setores,
evidenciando os impactos visuais de mudança, além de formulários de auditoria
confeccionados com base nas diretrizes do programa e nas ações do Plano de Ação elaborado.
Sendo assim, os formulários de avaliação são distintos entre si, já que abordam pontos
específicos inerentes a cada setor. Todos colaboradores se auto-avaliaram e a Coordenação do
Programa avaliou todos os setores da empresa.
A Figura 5 apresenta registros fotográficos que possibilitam uma comparação do “antes e
depois” da implantação do Programa 5’s em setores da empresa.
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Figura 5 – “Antes e Depois” do Programa 5’S em alguns setores da empresa
Por fim, a Tabela 1 apresenta indicadores de desempenho relacionados à efetividade das ações
implantadas quanto a cada um dos sensos, os quais foram extraídos da avaliação realizada por
meio dos formulários.
Setor da
Empresa
Momento da
avaliação
Utilização e
Organização
Limpeza e
Higiene
Bem
Estar
Auto
disciplina
Média da
avaliação
Almoxarifado Antes 35% 50% 57% 62% 51%
Depois 80% 75% 80% 77% 78%
Corte Antes 72% 66% 70% 67% 69%
Depois 92% 85% 84% 85% 87%
PPCP Antes 77% 70% 50% 88% 71%
Depois 95% 85% 77% 100% 89%
Costura Antes 40% 53% 35% 52% 45%
Depois 70% 68% 65% 73% 69%
Manutenção Antes 77% 80% 60% 80% 74%
Depois 90% 95% 72% 94% 88%
Distribuição Antes 65% 67% 55% 72% 65%
Depois 77% 75% 72% 89% 78%
Àrea de
Resíduos
Antes 55% 50% 65% 75% 61%
Depois 95% 80% 85% 90% 88%
Média Geral Antes 60% 62% 56% 71% 62%
Depois 86% 80% 76% 87% 82%
Tabela 1 – Indicadores de desempenho relacionados à efetividade da Implantação do Programa 5’S
Os resultados mostrados na Tabela 1 são referentes à primeira avaliação após a implantação
do programa, realizada gradativamente nos setores após a implantação em cada um deles.
Nem todos os setores foram avaliados até então, já que alguns setores do chão de fábrica
(terceirização, acabamento, embalagem e expedição) e os setores administrativos da empresa
tiveram a implantação das ações interrompidas devido ao aumento de demanda ao final de
2010, sendo esta sazonalidade bastante comum na indústria de confecção na região.
O cronograma de implantação apresentou alguns atrasos, principalmente no almoxarifado
mediante a quantidade de itens a serem organizados e catalogados. Além disso, a implantação
de algumas ações foram interrompidas ou sofreram atrasos devido ao afastamento temporário
da gerente de Recursos Humanos da empresa, a qual era a principal coordenadora do
programa na empresa. Apesar dos atrasos ocorridos e dos impecílios relacionados à
resistência cultural por parte de alguns colaboradores, principalmente do setor de costura, a
avaliação inicial do Programa 5’S saltou de 62% para 82% na segunda avaliação. Outras
avaliações serão realizadas em intervalos de aproximadamente 2 meses.
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6. Considerações Finais
Apesar das dificuldades encontradas durante a implantação, o Programa 5’S trouxe resultados
bastante positivos para a produtividade da empresa e qualidade de vida dos colaboradores no
ambiente de trabalho. Dentre os principais benefícios obtidos, destacam-se melhor integração
entre os colaboradores, maior quantidade de espaço disponível, menor tempo de procura de
itens e melhorias nas instalações da empresa, tais como reforma do banheiro do setor de
Costura, adaptações no refeitório e melhores condições de refrigeração do ambiente. Além
disso, o trabalho da equipe de melhoria contínua na empresa tem apresentado ótimos
resultados, como exemplo a diminuição da quantidade de não conformidades, embora ainda
não tenham sido estabelecidos indicadores de desempenho para quantificá-las.
Acredita-se que vários dos resultados obtidos se devem à integração de práticas de gestão da
qualidade e produção com o Programa 5’S, tais como realização de brainstormings, adoção
do 5W1H para sistematização e distribuição de tarefas, formação de equipe de melhoria
contínua, gestão visual, procedimentos operacionais padrão, dentre outras. No entanto, a
internalização dos sensos por parte dos colaboradores é um processo relativamente demorado
e, por isso, algumas não conformidades, como o não cumprimento de procedimentos padrões,
ainda são cometidas por alguns colaboradores.
A realização do “Dia do Voluntário” foi o primeiro trabalho social realizado pela empresa,
sendo também um importante evento de integração e solidariedade entre os funcionários, o
que condiz com os princípios dos cinco sensos. No entanto, existem muitas barreiras culturais
na empresa a serem vencidas e acredita-se que o processo de transformação despertado pela
implantação do Programa 5’S e formação da equipe de melhoria contínua seja capaz de
reverter gradativamente o cenário de resistência à mudança por parte de alguns colaboradores
da empresa.
Transcendendo o ambiente interno da empresa, destaca-se que os bons resultados obtidos no
estudo de caso demonstram a importância da interação e cooperação entre pesquisadores de
universidades, empresas e órgãos de governança local do aglomerado industrial, já que tal
estrutura de cooperação foi essencial para a inserção de práticas de melhoria contínua nas
empresas em que o projeto atuou, para formação de agente de inovação local e qualificação de
mão-de-obra. Espera-se que trabalhos semelhantes possam ser desenvolvidos pelas
universidades por meio do apoio do Estado, das empresas e dos atores da governança local do
aglomerado, já que ainda há grande carência de esforços direcionados para a promoção da
gestão da qualidade nas MPEs da região.
A Equipe PROJVEST agradece à Fundação Araucária pelos recursos financeiros concedidos
para a realização desta pesquisa.
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