37
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JAMILE CABRAL DA SILVA IMPLANTE COCLEAR E PRÓTESE AUDITIVA CONTRALATERAL: AVALIAÇÃO DO BENEFÍCIO BIMODAL CURITIBA 2015

IMPLANTE COCLEAR E PRÓTESE AUDITIVA …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/04/IMPLANTE-COCLEAR-E-PROTESE... · Audiologia Clinica da Faculdade de Ciências Socias e Biológicas da Universidade

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JAMILE CABRAL DA SILVA

IMPLANTE COCLEAR E PRÓTESE AUDITIVA

CONTRALATERAL: AVALIAÇÃO DO BENEFÍCIO BIMODAL

CURITIBA

2015

JAMILE CABRAL DA SILVA

IMPLANTE COCLEAR E PRÓTESE AUDITIVA

CONTRALATERAL: AVALIAÇÃO DO BENEFÍCIO BIMODAL

CURITIBA

2015

Monografia apresentada a Especialização de

Audiologia Clinica da Faculdade de Ciências

Socias e Biológicas da Universidade Tuiuti

do Paraná, como requisito parcial para

obtenção do grau de Especialista.

Orientadora: Prof Dra Angela Ribas

TERMO DE APROVAÇÃO

JAMILE CABRAL DA SILVA

IMPLANTE COCLEAR E PRÓTESE AUDITIVA

CONTRALATERAL: AVALIAÇÃO DO BENEFÍCIO BIOMODAL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista em

Audiologia Clínica da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 04 de Dezembro de 2015

___________________________________________

Especialista em Audiologia Clínica

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Prof. Dra. Ângela Ribas

UTP

AGRADECIMENTOS

Primeiramente sou grata a Deus por ter me dado saúde e força para

superar as dificuldades e chegar até aqui.

Aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. Este

trabalho não seria possível sem o carinho e suporte emocional que sempre

me sustentou.

Ao meu noivo, Eduardo Labor, por me apoiar em todos os meus

sonhos e projetos e por ser este companheiro fiel.

A minha orientadora, Dra. Ângela Ribas, pelas correções e incentivos

e, sobretudo por sua dedicação e por compartilhar comigo seus

conhecimentos.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que

oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte superior.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha

trajetória, os meus sinceros agradecimentos.

RESUMO

Trata-se de um estudo sobre a avaliação do benefício em adaptação

bimodal: Implante coclear e Prótese auditiva contralateral. Em vista que

atualmente poucos trabalhos acadêmicos investigam a importância da

adaptação bimodal e sabendo que, atualmente, em nosso país comumente

encontramos usuários de implante coclear unilateral, o presente estudo se

preocupa em mensurar o benefício audiológico a adaptação bimodal e a

percepção auditiva dos pacientes analisados. Foram analisados 10

indivíduos usuários de implante coclear e prótese auditiva contralateral

portadores de perda auditiva neurossensorial de grau severo e/ou profundo

com mais de 06 meses de adaptação bimodal. A amostra passou por três

avaliações dentro da cabine acústica: Primeiramente realizou-se audiometria

em campo livre com prótese auditiva, posteriormente realizou-se audiometria

em campo livre com implante coclear e por fim, realizou-se audiometria em

campo livre com prótese auditiva e Implante coclear. Os participantes

responderam ao questionário Escala de Desenvolvimento de Linguagem e

Audição Após Adaptação de Dispositivos Auditivos – EDAL. A partir dos

resultados obtidos neste trabalho é possível concluir que, não foi observada

vantagem significante do uso da prótese auditiva combinado com o implante

coclear. Porém, os pacientes apresentaram melhores resultados de

percepção auditiva dos sons com adaptação bimodal.

Palavras-chave: Implante coclear, Prótese Auditiva, Audição Bimodal.

ABSTRACT

That is a study about the evaluation of the benefit in bimodal adaptation:

Cochlear implant and contralateral Hearing aid. Actually, few academic papers

investigating the importance of bimodal adaptation and knowing, currently, in

our country commonly found unilateral cochlear implant users, then this

present study is looking for measur of the benefit audiological and the auditory

perception of analyzed patients. Were analyzed 10 users of cochlear implant

and contralateral hearing aid patients with sensorineural hearing loss of

severe and / or profound over 06 months of bimodal adaptation. The sample

underwent three evaluations within the acoustic enclosure: First of all did free

field audiometry with hearing aids, in the second part held audiometry in free

field with HF and finally, there was free field audiometry with hearing and

cochlear implant prosthesis. Participants answered the questionnaire

Language Development Scale and Hearing After Hearing Device Adaptation –

EDAL. Starting of the results gained with this search can be conclude there

was no significant advantage of the use of hearing aids combined with

cochlear implant. However, patients showed better results of auditory

perception of sounds with bimodal adaptation.

Key words: Cochlear implant - contralateral Hearing aid – bimodal hearing

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................... VII 2. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... IX 2.1 PERDAS AUDITIVAS: CLASSIFICAÇÕES E ETIOLOGIA......................IX 2.2 CONSEQUÊNCIAS DA PERDA AUDITIVA SEVERA E PROFUNDA.....................................................................................................XI 2.3 REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM PERDA AUDITIVA SEVERA E PROFUNDA.................................................................................XII 2.4 AUDIÇÃO BIMODAL................................................................................XV 3. METODOLOGIA......................................................................................XVIII 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA...................................................XVIII 3.2 CASUÍSTICA......................................................................................,...XVIII 3.3 EXAMES REALIZADOS..........................................................................XIX 3.4 COLETA DE DADOS..............................................................................XIX 3.4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA...................................................XIX 4. RESULTADOS...........................................................................................XX 5. DISCUSSÃO............................................................................................XXV 6. CONCLUSÃO........................................................................................XXVIII REFERÊNCIAS...........................................................................................XXIX ANEXO 1...................................................................................................XXXIII ANEXO 2...................................................................................................XXXIV

VII

1. INTRODUÇÃO

De acordo com Northern e Dows (1989) afirmaram que a habilidade de

comunicação é um traço distintivo da existência humana, sendo um dos

maiores contribuintes para o bem estar de qualquer indivíduo. Para eles, a

audição é considerada a pedra angular sobre a qual se constrói o intrincado

sistema da comunicação humana.

Segundo Fernandes (1990), a deficiência auditiva é um tipo de

deficiência grave, pois interfere de modo particular no comportamento do

homem e afeta muitas faculdades relativas ao seu desenvolvimento.

Em indivíduos com audição normal, o sistema auditivo processa

informação por meio de ambas as orelhas. A integração do som proveniente de

ambas as orelhas ao longo do sistema auditivo é referida como audição

binaural, e, portanto, este processo proporciona benefícios em situações

complexas de escuta, como a localização sonora e a percepção da fala no

ruído, em função do efeito da somação binaural, o efeito supressor do ruído e o

efeito sombra de cabeça (DILLON, 2001).

Uma das formas de se diminuir o impacto da perda auditiva na vida de

um individuo é o uso de próteses auditivas. Assim todos os sons ambientais e

de fala serão amplificados, além dos sinais de perigo e de alerta, o que

possibilitara ao individuo uma melhor qualidade de vida e melhores condições

psicossociais e intelectuais afirmaram ALMEIDA E IORIO (1996).

Os efeitos da utilização das próteses auditivas nos indivíduos com

deficiência auditiva severa e profunda vêm sendo exaustivamente estudados,

sendo demonstrado que, para a maioria dos casos, pouca informação auditiva

é aproveitada em virtude da extensa lesão coclear que os mesmos apresentam

(SANDLIN, 2000).

Alguns autores enfatizam que a audição unilateral é insuficiente em

vários aspectos relacionados à aprendizagem, à localização sonora, aumento

de loudness (sensação de intensidade sonora), reconhecimento de fala em

situação de ruído (FEUERSTEIN, 1992).

VIII

Nos últimos anos, os benefícios obtidos com a utilização do implante

coclear (IC) multicanal, em especial no que se refere à percepção da fala,

provaram ser este um recurso altamente eficiente, promovendo resultados

superiores aos da utilização das próteses auditivas. (CLARK, COWAN E

DOWELL, 1997); (VAN DIJK, VAN OLPHEN, LANGEREIS et al, 1999);

(PFINGST, HOLLOWAY, ZWOLAN E COLLINS, 1999). Apesar de o implante

coclear proporcionar benefícios diversos ao usuário que o utiliza, observa-se

que poucos trabalhos acadêmicos atualmente investigam a adaptação bimodal

(prótese auditiva + IC).

Desta forma, o presente estudo teve como objetivo geral mensurar o

benefício audiológico da adaptação bimodal em usuários de prótese auditiva e

IC. E como objetivos específicos, analisar dados audiológicos sem

amplificação; e avaliar audiologicamente, por meio de audiometria tonal em

campo livre, com prótese auditiva, com IC e com os dois dispositivos

simultaneamente.

.

IX

2. REVISÃO DA LITERATURA

Para compreensão deste estudo serão abordadas as teorias e

concepções que fundamentarão a pesquisa, reportando os aspectos da

audição e perdas auditivas. Além das questões de conseqüências das perdas

auditivas de grau severo e profundo, reabilitação auditiva destes pacientes,

audição bimodal e suas influências na qualidade de vida do indivíduo usuário.

2.1. PERDAS AUDITIVAS: CLASSIFICAÇÕES E ETIOLOGIA

A audição é um dos mais importantes sentidos do ser humano. Através

dela é possível saber sobre as condições do meio ambiente, mesmo de olhos

fechados. É ainda devido à audição que os humanos habitualmente se

comunicam. Toda a cultura humana baseia-se em comunicação, sendo a maior

parte dela feita por padrões sonoros ou formas de representação dos mesmos

(SILMAN et al, 2004).

A função auditiva é importante e complexa; o ouvido funciona como uma

ponte entre o mundo exterior e o sistema nervoso, adaptando informações

vibratórias e transmitindo sinais temporais. As modificações na função auditiva

alteram consideravelmente a percepção do meio e toda a construção

psicofisiológica do mundo pela criança, na medida em que a linguagem e o

pensamento verbal são alterados e tornam-se irrelevantes na construção de

sua personalidade e na sua integração social (LAFON, 1989).

Butugan et al (2000) salientam que a audição é a base para o

desenvolvimento da fala e da linguagem.

A perda auditiva é a redução da audição em qualquer grau que reduza a

inteligibilidade da mensagem falada para a interpretação apurada ou para a

aprendizagem (MONDAIN et al, 2005).

As perdas auditivas são normalmente classificadas de acordo com o tipo

em condutivas, sensorioneurais e neurais (RUSSO e SANTOS, 2005). Perdas

X

auditivas condutivas resultam de problemas de transmissão mecânica para a

cóclea, e envolvem as estruturas da orelha externa e média. Perdas auditivas

sensorioneurais resultam de um problema de transdução de energia hidráulica

em energia elétrica e envolvem as estruturas da cóclea. Perdas auditivas

neurais resultam de problemas de transmissão do sinal elétrico para e ao longo

do sistema auditivo e envolvem o oitavo par craniano e as vias auditivas do

sistema nervoso (STACH e RAMACHANDRAN, 2008).

De acordo com Feniman e Piazentin (1991), pode-se distinguir três

épocas em que o problema auditivo pode ocorrer:

Período pré-natal – ou seja, antes do nascimento. Nesta época as

causas podem ser: hereditárias; incompatibilidade sangüínea entre a mãe e o

feto (fator RH); doença da mulher grávida, como por exemplo, rubéola;

toxoplasmose; anemias graves; intoxicação da mãe na gestação por

antibióticos, álcool, diuréticos e outros; exposição às radiações (RX); fatores

nutricionais da mãe (falta de vitamina A, complexo B, vitamina K e outros);

Período peri-natal - são causas que comprometem o recém nascido

desde o início do trabalho de parto até, mais ou menos, 8 dias após o

nascimento: trauma de parto; prematuridade (parto antes do tempo);

hipermaturidade (parto após o tempo); hipóxia (falta de oxigênio para a criança

durante o parto);

Período pós-natal - são as deficiências auditivas adquiridas após o

nascimento, durante a vida extra-uterina: otites médias (infecções de ouvidos)

e suas complicações; disfunções tubárias; infecções por vírus (sarampo,

caxumba, meningite); intoxicações por medicamentos ototóxicos (tóxicos para

os ouvidos: estreptomicina, kanamicina, gentamicina e outros); traumas

cranianos (pancadas fortes na cabeça); alergia das vias aéreas superiores;

hipertrofia da adenoide.

XI

2.2. CONSEQUÊNCIAS DA PERDA AUDITIVA SEVERA E PROFUNDA

Vale ressaltar que, Silman et al (2004) já afirmavam que o impacto de

uma privação sensorial auditiva na vida de um individuo é enorme, pois não

afeta somente sua capacidade de compreender as informações sonoras, mas

principalmente o modo de se relacionar com seu meio e sua cultura. Além

disso, essa privação sensorial provoca conseqüências biológicas, psicológicas

e sociais.

A comunicação é necessidade vital para qualquer indivíduo. Ela permite

aquisição de conhecimentos e experiências e mantém a pessoa ativa no meio

social e familiar. Quando a comunicação é prejudicada pode ocorrer frustração

diante da situação de inter-relação, levando o indivíduo ao isolamento e à

depressão. Estudos relatam que o uso das próteses auditivas minimiza as

dificuldades, reduzindo significativamente a sintomatologia depressiva

(TEIXEIRA et al. 2010).

Teixeira (2007) destaca que a deficiência auditiva contribui

substancialmente para a instalação e a manutenção de quadros depressivos,

uma vez que impossibilita o indivíduo, total ou parcialmente, de desempenhar

suas atividades sociais e limita a interação em função do isolamento que pode

provocar.

O trabalho é um dos determinantes fundamentais das condições de vida

e o sustento da maioria das pessoas, mas o trabalhador enfrenta as

dificuldades da insuficiente oferta de emprego e do mercado de trabalho

exigente, que visa à produção, deixando à margem aqueles que não produzem

ou apresentam alguma deficiência física ou mental (MORITA, 2005; SOUZA,

2005). O local de trabalho, sendo um espaço com predomínio da língua oral,

dificulta ao surdo mostrar seu potencial, e ele pode falhar no cumprimento de

compromissos, devido ao entendimento prejudicado (MARIN E GÓES, 2006),

Os mesmos autores acima constataram que além das atividades do

cotidiano, em alguns casos as relações interpessoais são restritas em espaços

de comunicação oral, e as pessoas com deficiência auditiva acabam

XII

dependendo da companhia de um ouvinte. Desta situação, podem surgir os

sentimentos de dependência e inferioridade, indicativos de exclusão social.

Dentre os problemas associados à deficiência auditiva, podem ocorrer

também casos de isolamento do indivíduo na medida em que ele deixa de pedir

para as pessoas repetirem ou falarem mais alto, devido à vergonha e para não

se tornar motivo de zombaria ou de desprezo (ERDMAN, 1993).

A negação é uma das reações mais comuns, com alegações de que os

outros não articulam bem as palavras, falam baixo ou rápido (IERVOLINO et al

2003).

Vários autores relatam o impacto da deficiência auditiva no meio familiar.

Um destes autores, Buscaglia (1997) afirma que, sobre o processo de

interação, somos influenciados e influenciamos as constantes mudanças que

significam a introdução de outros padrões que deverão ser aprendidos. Até que

ocorram, motivarão situações que remetem ao isolamento, à exploração da

própria condição pelo deficiente ou a um potencial desprezo dos familiares.

O sujeito com incapacidade auditiva pode sofrer sérios danos em sua

vida social, psicológica e profissional, além de sentimentos negativos de

insegurança, medo, depressão, isolamento e tensão (CASTIQUINI,

ZAMBONATTO E BEVILACQUA, 2011).

2.3. REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM PERDA AUDITIVA SEVERA E

PROFUNDA

De acordo com Pereira e Feres (2005) a perda auditiva severa a

profunda bilateral é uma deficiência que foi considerada durante muito tempo

como alteração em que o indivíduo era incapaz de comunicar-se ou até mesmo

ouvir sons ambientais como alarmes e sirenes, tornando-o socialmente

incapacitante. Atualmente, os sistemas de amplificação sonora e implantes

cocleares vêm sendo desenvolvidos e a tecnologia constantemente aprimorada

XIII

na tentativa de melhorar a qualidade de vida destes indivíduos integrando-os

na sociedade.

Dentre os recursos audiológicos para a habilitação e a reabilitação do

paciente com deficiência auditiva neurossensorial estão os aparelhos de

amplificação - Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) e o Implante

Coclear (IC). O AASI, como o próprio nome diz, é um aparelho para amplificar

os sons ambientais, ou seja, qualquer tipo de ruído, voz ou melodia que esteja

ao nosso redor. Seus principais componentes são: microfone, amplificador,

receptor (internos), controles, bateria e molde (PEREIRA E FERES, 2005).

O princípio básico da prótese auditiva é, segundo Northern & Downs

(1989), proporcionar tanta amplificação quanto possível, tirando o melhor

partido de qualquer audição residual que exista. Pelo fato de ser um

amplificador sonoro, a prótese auditiva necessita de uma reserva coclear

suficiente para que possa haver uma boa percepção do som e da fala pelo

paciente (ASSAYAG e RUSSO, 2006).

De acordo com Bevilacqua e Formigoni (1998), a prótese auditiva dá ao

deficiente auditivo uma percepção do som com amplificação, porém deve ser

lembrado que a criança com deficiência auditiva congênita ou adquirida cedo,

não conhece os sons porque nunca escutou. O auxílio da prótese auditiva será

o de amplificar os ruídos, e estes ruídos só passarão a ter significado em

função do trabalho que será realizado para compreendê-los, sendo assim

importante o trabalho terapêutico após a indicação da prótese auditiva. Este

trabalho é fundamental para que a criança venha a usar sua audição residual e,

assim, aprender a ouvir e a construir a linguagem oral – fator essencial para

comunicação.

Almeida e Santos (2003) enfatizaram que o sucesso da adaptação dos

aparelhos auditivos depende da interação dos seguintes fatores: quantidade e

qualidade do processo terapêutico, envolvimento dos pais e, principalmente, a

qualidade da prótese auditiva a ser adaptada.

A prótese auditiva convencional é eficaz no tratamento da perda auditiva

de diversos graus, inclusive o severo. Porém, por ser um amplificador sonoro, o

XIV

mesmo necessita de uma reserva coclear suficiente para que possa haver uma

boa percepção do som e da fala pelo paciente. Alguns indivíduos, porém,

apresentam uma disfunção auditiva tão importante que mesmo uma prótese

auditiva potente não consegue ajudá-los. Indivíduos portadores de perda

auditiva severa e/ou profunda e com grande dificuldade na discriminação vocal,

que se beneficiam pouco com o uso das próteses, pois dificilmente se obtém

uma melhora significativa e simétrica dos limiares auditivos, principalmente em

frequências altas, são candidatos ao implante coclear (BENTO et al, 2004).

Segundo o autor Capovilla e Raphael (2008), o Implante Coclear é uma

prótese auditiva inserida na orelha interna de pessoas com deficiência auditiva.

O IC faz a função das células sensoriais, estimulando eletricamente as células

ganglionares remanescentes no nervo auditivo da cóclea, produzindo a

experiência do som e melhorando o desempenho auditivo.

O IC é composto por um componente interno (receptor-estimulador, imã

e antena interna, feixe de eletrodos) e um componente externo (antena

transmissora, cabos, microfone, processador de fala). O componente externo

capta o som e o envia para o processador de fala, o qual seleciona e codifica o

som em sinais elétricos. Os sinais elétricos são enviados pelo cabo para a

antena externa, a qual transmite estes sinais para a antena interna. O receptor

transmissor estimula os eletrodos introduzidos na cóclea, e os eletrodos

estimulam as fibras nervosas, enviando as mensagens ao cérebro, que recebe

os sinais e os interpreta propiciando à pessoa a sensação auditiva (SANTOS e

TOCHETTO, 2007).

O implante coclear oferece a possibilidade do limiar auditivo bastante

equivalente em todas as freqüências, uma vez que este é alcançado,

aumentando-se ou diminuindo-se, artificialmente, a intensidade da corrente

elétrica em cada eletrodo (BENTO et al, 2004).

Para uma maior explanação sobre as principais diferenças entre a

prótese auditiva e o IC:

XV

FONTE: BEVILACQUA, M.C. Guia para pais: para o implante coclear-mini

sistema de 22 canais, 1998.

2.4. AUDIÇÃO BIMODAL

O Consenso Internacional de Implante Coclear bilateral e Estimulação

Bimodal afirmam a que a adaptação da prótese auditiva contralateral ao IC,

deve ser feita em pacientes com resíduo auditivo e bom desempenho com a

prótese auditiva usada contralateral ao IC (OFFECIERS et al, 2005).

Segundo Bevilacqua, Melo e Tanamati (2013) com o efeito da somação

binaural, o cérebro recebe informações auditivas em dobro, ou seja, o som é

percebido como mais intenso do que se fosse apresentado apenas em uma

orelha, exigindo assim menos concentração e maior facilidade de escuta pelo

indivíduo.

XVI

As autoras acima afirmam que, se um indivíduo tiver audição em um

ouvido e um falante conversar com ele ao lado da orelha com perda de

audição, a cabeça funcionará como uma barreira para o som e isto fará com

que seja muito difícil ouvir a mensagem. Além disso, quando um som vem de

uma direção, a diferença de tempo interaural e diferenças da fase do som nas

duas orelhas permitem que o indivíduo determine de qual direção o som está

chegando. Assim, quando a pessoa ouve apenas em uma orelha é muito difícil,

quase impossível, localizar a fonte sonora.

A cabeça, ao atuar como uma barreira acústica de sons e ruídos

provenientes de diferentes locais no espaço faz com que a orelha mais

afastada da fonte de ruído tenha uma relação sinal-ruído mais vantajosa do

que a orelha mais próxima da fonte de ruído. Deste modo, o cérebro é capaz

de usar as diferenças de relação sinal-ruído entre as orelhas para aperfeiçoar o

reconhecimento da fala na presença do ruído. Este efeito, chamado de

supressor do ruído, resulta em uma média de 6.4 dB de atenuação de ruído,

afirmam Bevilacqua, Melo e Tanamati (2013).

O IC unilateral proporciona ao usuário boa compreensão de fala

nas situações de silêncio, sendo considerado um recurso efetivo para a

reabilitação de adultos e crianças com deficiência auditiva, porém os usuários

de apenas um IC frequentemente relatam dificuldade em localizar os sons, em

compreender a fala nas situações de ruído e em perceber a música. Estas

dificuldades ocorrem, pois quando a entrada auditiva está disponível em ambas

as orelhas, a audição binaural emprega as diferenças no tempo e na

informação, que chegam às duas orelhas para processar sons de forma mais

eficaz, comparado a quando a entrada auditiva está disponível em uma orelha

somente (CHING, WANRROY, HILL, INCENTI; 2006).

Estudos realizados por Armstrong et al (1997) apontam para efeitos

positivos advindos da utilização concomitante do IC multicanal e prótese

auditiva. Também foi observado em adultos pós-linguais, tanto para diminuir os

aspectos artificiais do IC como para aproveitar os resíduos auditivos, melhorar

a localização da fonte sonora e melhorar a percepção da fala em situações

acústicas adversas, como, por exemplo, na presença de ruído competitivo.

XVII

Os mesmos autores ainda destacam que os benefícios foram maiores

para os adultos com perda auditiva de grau severo para profundo e que

utilizavam a prótese auditiva efetivamente, mas existiram alguns

inconvenientes como a diferença de loudness entre a estimulação elétrica e

acústica.

Em um trabalho realizado por Ching et al (2005) com 18 crianças, os

autores objetivaram determinar o efeito da experiência auditiva binaural (IC +

Prótese auditiva) para percepção de fala, localização horizontal e performance

funcional do dia-a-dia com IC isolado e IC associado a prótese auditiva

contralateral. Dois grupos foram formados, o primeiro com oito pacientes

experientes no uso de IC associado a prótese auditiva, com média tonal liminar

500 Hz, 1kHz e 2kHZ) de 101.1 dBNA, e o segundo grupo formado por 10

crianças novas usuárias de IC mais prótese auditiva, com média tonal liminar

de 105.7 dBNA. Os resultados das avaliações indicaram que o desempenho

em todas as medidas foi melhor com o IC associado à prótese auditiva, do que

o IC isoladamente, para ambos os grupos. Os autores acrescentam ainda, que

as crianças que receberam IC unilateral devem ser motivadas a usar a prótese

auditiva contralateral quando existe audição residual útil.

Outro estudo realizado por Ribari e Sziklai (1995) afirma que há melhora

significativa na discriminação de fonemas, observada quando a leitura orofacial

e o IC foram combinados com o uso da prótese auditiva potente no ouvido

contralateral.

De acordo com Hamzavi et al (2004) a bimodalidade (IC em uma orelha

e prótese auditiva na orelha não-implantada), concluíram que o paciente

usuário de IC associado à prótese auditiva na orelha contralateral tem melhor

desempenho em testes de sentenças, de números e de monossílabos, no

silêncio. Além de considerarem a bimodalidade, a quantidade de resíduo

auditivo também é determinante para a boa adaptação da prótese auditiva

como recurso associado ao IC.

XVIII

3. METODOLOGIA

Este estudo foi realizado conforme as normas técnicas da

Universidade Tuiuti do Paraná (UTP, 2012), foi aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná, sob o número CEP/UTP nº

046/2009 (ANEXO 1). Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação de seus dados,

de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa

Envolvendo Seres Humanos, Resolução Nº 196/96.

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa trata-se de um estudo transversal, descritivo e

comparativo.

3.2 CASUÍSTICA

A coleta de dados se deu entre março e julho de 2015. A amostra

constituiu-se de 10 indivíduos usuários de IC e prótese auditiva contralateral.

Todas as perdas auditivas observadas na avaliação audiológica são do tipo

sensorioneural. Os achados audiológicos foram categorizados quanto ao grau

de perda, de acordo com Loyd e Kaplan (1978). Os participantes são oriundos

de dois serviços de saúde auditiva da cidade de Curitiba: Hospital Pequeno

Príncipe e Centro auditivo Telex.

Como critério de inclusão estabeleceu: ter perda auditiva

neurossensorial de grau severo a profundo bilateralmente, fazer uso de prótese

auditiva e implante coclear unilateral no mínimo 06 meses, ter assinado o termo

de consentimento livre e esclarecido.

3.3 EXAMES REALIZADOS

XIX

Neste estudo, todos os sujeitos da pesquisa realizaram audiometria em

campo livre e para isso utilizamos a cabine tratada acusticamente e os

audiômetros Madsen, modelo Itera II e Interacoustics modelo AD229.

Os exames de audiometria tonal (Via aérea e via óssea) e

logoaudiometria foram realizados seguindo as normativas do Conselho Federal

de Fonoaudiologia - CFFA

A amostra passou por três avaliações dentro da cabine acústica:

1) Realizou-se audiometria em campo livre com Prótese Auditiva;

2) Depois realizou-se audiometria em campo livre com IC;

3) Por fim, realizou-se audiometria em campo livre com Prótese Auditiva

+ IC.

Posteriormente, foi aplicado o questionário Escala de Desenvolvimento

de Linguagem e Audição Após Adaptação de Dispositivos Auditivos – EDAL

(Kochen e Ribas, 2014), ANEXO 2.

3.4. COLETA DE DADOS

3.4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Participaram deste estudo 10 sujeitos sendo destes 05 do gênero

masculino e 05 do gênero feminino. Com relação à idade, a faixa etária

analisada está entre 06 a 41 anos de idade.

XX

4. RESULTADOS

Os dados referentes à etiologia da perda auditiva estão descritos no

gráfico 01:

GRÁFICO 01 - CAUSAS DA PERDA AUDITIVA

4

3

1

1

1Idiopática

Genética

Otosclerose

Otite crônica

Sindrome deWartenberg

Fonte: A Autora.

Com relação às próteses auditivas da amostra, todos utilizam o modelo

BTE retroauricular, devido à perda auditiva severa a profunda. As empresas

fabricantes das próteses auditivas encontradas neste estudo são: Phonak

(30%), Oticon (30%), Widex (20%), Danavox (10%) e Argosy (10%).

No que diz respeito ao tempo de uso da prótese auditiva a amostra é

bem diversificada. Há aqueles que estão com amplificação da prótese há 02

anos como há outros que está há mais de 10 anos. Para maior análise, os

resultados estão descritos no gráfico 02:

GRÁFICO 02 – TEMPO DE UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE AUDITIVA

Fonte: A Autora.

XXI

Todos os sujeitos declararam fazer uso prévio da prótese auditiva antes

da cirurgia unilateral do IC.

Com relação às marcas e modelos dos ICs da amostra, 50% da amostra

faz uso do IC marca Cochlear modelo Nucleus 5 e 40% utiliza o IC modelo

Freedom da mesma marca citada. Apenas 01 sujeito faz uso do IC marca

Medel modelo Opus 2.

No que diz respeito ao tempo de uso do IC os resultados estão descritos

no gráfico 03:

GRÁFICO 03 – TEMPO DE UTILIZAÇÃO DO IC

Fonte: A Autora

Com relação ao acompanhamento fonoaudiólogico visando à

reabilitação auditiva, 40% dos sujeitos estão em acompanhamento

fonoaudiólogico e há mais de 5 anos em terapia visando a reabilitação auditiva.

Os outros 60% apenas fazem mapeamento do implante coclear com o serviço

de saúde auditiva que forneceu o IC.

Nos quadros 1, 2 e 3 estão descritos os resultados em decibel Nível de

Sensação auditiva (dBNS) das freqüências analisadas (500 Hz, 1000Hz,

2000Hz, 3000Hz e 4000Hz), para três condições de escuta.

XXII

QUADRO 01. AUDIOMETRIA EM CAMPO LIVRE COM PRÓTESE AUDITIVA

Nota: Números menores indicam melhores resultados de percepção auditiva.

Fonte: A Autora

QUADRO 02. AUDIOMETRIA EM CAMPO LIVRE COM IMPLANTE COCLEAR

Nota: Números menores indicam melhores resultados de percepção auditiva.

Fonte: A Autora

PACIENTES 500Hz 1000Hz 2000Hz 3000Hz 4000Hz

1 60 70 85 80 AUS

2 60 65 60 60 90

3 85 80 80 85 90

4 75 80 80 85 90

5 70 70 70 80 AUS

6 75 80 80 85 90

7 85 85 90 85 85

8 80 85 80 90 90

9 75 70 85 90 AUS

10 85 85 90 90 AUS

PACIENTES 500Hz 1000Hz 2000Hz 3000Hz 4000Hz

1 40 45 40 30 30

2 25 25 30 30 30

3 35 40 40 40 45

4 35 30 25 25 25

5 25 30 35 35 35

6 30 30 35 40 35

7 40 40 45 45 45

8 20 20 30 35 35

9 25 30 35 35 45

10 30 35 40 40 45

XXIII

QUADRO 03. AUDIOMETRIA EM CAMPO LIVRE COM

PRÓTESE AUDITIVA+ IC

Nota: Números menores indicam melhores resultados de percepção auditiva.

Fonte: A Autora

Nesta pesquisa o questionário EDAL foi respondido pelos pais das

crianças ou pelo próprio usuário da prótese auditiva e IC. O questionário

possibilita uma análise sobre a percepção de fala antes e depois de 06 meses.

Foi utilizado para avaliar, individualmente, o desempenho do sujeito e contém

20 questões sobre a adaptação do dispositivo, comportamento após o uso do

dispositivo e analise da comunicação oralmente.

Os dados estão descritos na tabela 4.

PACIENTES 500Hz 1000Hz 2000Hz 3000Hz 4000Hz

1 40 40 40 30 30

2 25 25 30 30 30

3 30 40 40 40 50

4 30 30 25 25 25

5 25 30 30 30 35

6 30 35 30 40 35

7 40 40 40 40 45

8 20 20 30 35 30

9 25 30 30 35 45

10 30 35 40 40 45

XXIV

QUADRO 04. PERCEPÇÃO AUDITIVA COM EDAL

PACIENTES ANTES DO IC APÓS 6 MESES COM IC

1 32% 96%

2 24% 90%

3 12% 85%

4 5% 55%

5 5% 65%

6 10% 80%

7 10% 85%

8 20% 94%

9 24% 85%

10 12% 80% Nota: Números maiores indicam melhores resultados de percepção auditiva. Fonte: A Autora

XXV

5. DISCUSSÃO

Muitas pesquisas têm sido realizadas sobre a bimodalidade (IC

associado a prótese auditiva) com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre

esse assunto (ARMSTRONG, et al 1997; CHING, HILL, INCENTI; 2006).

De acordo com o Gráfico 01, observamos que a amostra não está

homogênea em relação ao gênero e idade, porém este não é um fator que

possa interferir na análise de dados.

No gráfico 02, notamos que todos os pacientes estudados utilizaram

AASI bilateralmente antes do IC, mantendo o uso após a cirurgia. A utilização

do AASI antes da cirurgia é imperiosa para permitir a escolha da melhor orelha

a implantar, para promover o uso consecutivo após a cirurgia de IC, para

manter a estimulação do nervo auditivo, e para favorecer a integração sensorial

da informação.

A audiometria em campo livre é uma medida subjetiva, pois depende da

resposta do indivíduo, sendo a diferença entre os limiares obtidos em campo

livre com e sem a prótese auditiva e/ou implante coclear e são comparados

para cada freqüência testada. Para a realização do teste, o paciente deve

estar a um metro do(s) alto falante(s) a zero grau azimute, sendo orientado a

não movimentar a cabeça durante a avaliação. O estimulo acústico mais

utilizado neste procedimento é o tom modulado, podendo ser usado também o

ruído de faixa estreita Narrow Band (SANCHEZ, BENTO,MINITI E CAMARA;

1997).

Em relação ao ganho funcional das próteses auditivas e do IC

observamos que todos os respondentes apresentam ganhos satisfatórios,

quando testados com o IC.

Waltzman, Cohen e Shapiro (1992) relataram que a interação entre o IC

Nucleus 22 e o AASI promoveu uma melhora no desempenho para os dois

adultos avaliados que apresentavam maiores resíduos auditivos e que não

XXVI

houve diferença significativa na percepção da fala das seis crianças que

utilizavam ICe a prótese auditiva com sistema de freqüência modulada no

ouvido não implantado. Os autores destacam que as variáveis que mais podem

afetar os resultados são o limiar no ouvido não implantado e o tempo de

surdez.

No presente estudo, não foi observada uma vantagem significativa do

uso da prótese auditiva combinado com o IC. Ou seja, o ganho funcional com o

IC é superior e satisfatório na maioria da amostra, sendo perceptível que em

alguns casos não há alteração em DBNPS somado a prótese auditiva. Os

resultados não significativos entre o uso do IC combinado com a prótese

auditiva podem estar relacionados com algumas diferenças nas amostras

estudadas, como etiologia, faixa etária dos indivíduos e tempo de surdez.

Os autores Bento e Neto et al (2004) confirmam que a grande

variabilidade existente nos pacientes candidatos ao IC em termos de idade,

características da surdez, tempo de privação auditiva, produção da fala e

habilidade de comunicação e também nos diversos modelos de implantes

cocleares já utilizados de rotina por diversos centros determinam um problema

na escolha do melhor método para avaliação da audição após o uso do

implante.

Estudos apontam que com a ajuda da audição residual na orelha

contralateral ao IC, alguns pacientes podem ter benefícios na percepção dos

sons e reconhecimento de fala tanto no silêncio como no ruído. Ching,

Hill,Incerti (2004) analisaram 21 adultos que usaram IC Nucleus 22 ou Nucleus

24, sendo destes: doze adultos fizeram uso combinado de prótese auditiva e

IC, enquanto nove não utilizaram prótese auditiva após a implantação. O

desempenho do IC e prótese auditiva combinados foram comparados com IC e

prótese auditiva utilizados de forma isolada. Os pacientes que fizeram uso da

associação entre prótese auditiva e IC demonstraram resultados

significativamente melhores no teste de voz, no questionário de desempenho

funcional e erraram muito menos ao localizar uma fonte sonora, em

comparação com os pacientes usuários de IC ou AASI isoladamente.

XXVII

Neste estudo, aplicamos o questionário EDAL com o intuito de analisar a

percepção dos sons pelo paciente antes e após 6 meses de adaptação com o

IC + prótese auditiva. Todos da amostra apresentaram mais de 50% de

rendimento de linguagem e audição quando compara-se os resultados de antes

e depois de realizada a ativação do IC.

Não há dúvida que dispositivos auxiliares de audição (prótese auditiva e

IC) associados a métodos de educação ou reabilitação auditivos corretos e

sistemáticos, têm oferecido grandes contribuições para o deficiente auditivo,

principalmente quanto à comunicação oral. Dentre elas, a compreensão é a

capacidade auditiva mais refinada, pois requer que o indivíduo compreenda o

significado da mensagem. Para que ele compreenda é necessário que ele

tenha o domínio das habilidades auditivas anteriores (FORTUNATO, 2003).

Neste estudo, 40% dos pacientes estão em processo de reabilitação auditiva.

A literatura e este estudo apontam evidências dos benefícios da

estimulação binaural o que justifica que cada usuário de IC + prótese auditiva

deva ser avaliado individualmente quanto aos benefícios da audição bimodal.

XXVIII

6. CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos neste trabalho é possível concluir que,

não foi observada uma vantagem significante do uso do AASI combinado com

o IC. Os resultados não significativos entre o uso do IC combinado com AASI

podem estar relacionados com algumas diferenças nas amostras estudadas,

como etiologia, faixa etária dos indivíduos e tempo de surdez. Porém, mesmo

não obtendo vantagem significante do uso do AASI combinado com o IC, os

pacientes apresentaram melhores resultados de percepção auditiva dos sons

com adaptação bimodal.

XXIX

REFERÊNCIAS

1. ALMEIDA,K, IÓRIO, MCM. Próteses auditivas: fundamentos & aplicações

clínicas. 1996.

2. ALMEIDA, K.; SANTOS, TMM. Seleção e adaptação de próteses auditivas

em crianças. In: ALMEIDA, K; IORIO, N. Próteses auditivas, fundamentos

teóricos e aplicações clínicas.2003.(15) 357-384.

3. ASSAYAG FHM, RUSSO ICP. Avaliação subjetiva do benefícioe dos efeitos

proporcionados pelo uso de amplificação sonora em indivíduos idosos. Rev

Dist Comun. 2006, 18(3):383- 90.

4. ARMSTRONG M. et al. Speech perception in noise with implant and hearing

aid. Am J Otol Philadelphia, 1997. v. 8. 140-1

5. BENTO RF, BRITO NETO R, CASTILHO AM, GÓMEZ VG, GIORGI SB,

GUEDES MC. Resultados auditivos com o implante coclear multicanal em

pacientes submetidos a cirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo. Rev Bras Otorrinolaringol.

2004;70(5):632-7.

6. BEVILACQUA, MC. (coord.) Guia para pais: para o implante coclear-mini

sistema de 22 canais. Bauru: Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões

Lábio-Palatais, Universidade de São Paulo, 1998.

7. BEVILACQUA, MC., FORMIGONI, G.M.P. Audiologia educacional: uma

opção terapêutica para a criança deficiente auditiva. 2.ed. Carapicuíba: Pró-

Fono, 1998. 86p.

8. BEVILACQUA MC, MELO T, TANAMATTI L. Resultados do Implante

Coclear Bilateral em Crianças e Adultos: Revisão de Literatura. Revista

Distúrbios da Comunicação (São Paulo) 2013.

9. BUTUGAN O, SANTORO PP, REZENDE E, SILVEIRA JA, MEDICIS JA,

GRASEL SS. Diagnóstico precoce da deficiência auditiva no primeiro ano de

vida de crianças com alto risco através de audiometria de tronco cerebral.

Pediatria (São Paulo). 2000; 22(2):115-22.

10. BUSCAGLIA, LF. Os deficientes e seus pais. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Era, 1997.

11. CASTIQUINI EAT, ZAMBONATTO TCF, BEVILACQUA MC. Avaliação do

nível de satisfação de usuários de aparelhos de amplificação sonora individuais

XXX

dispensados pelo Sistema Único de Saúde. RevSocBrasFonoaudiol.

2011;16(2):152-9.

12. CAPOVILLA FC, RAPHAEL WD. Dicionário enciclopédico ilustrado trílingue

da língua de sinais brasileira. EdUSP.2008; vol 2. 1620p

13. CHING TY, INCERTI P, HILL M. Binaural benefits for adults who use

hearing aids and cochlear implants in opposite ears. Ear Hear. 2004;25(1):9-21

14. CHING TY, HILL M, BREW J, INCERTI P, PRIOLO S, RUSHBROOK E, et

al. The effect of auditory experience on speech perception, localization, and

functional performance of children who use a cochlear implant and a hearing

aid in opposite ears. Int J Audiol. 2005; 44(12):677-90.

15. CHING TYC, WANROOY EV, HILL M, INCENTI P. Performance in children

with hearing aids or cochlear implants: bilateral stimulation and binaural

hearing. Int J Audiol 2006;45(1):108- 12.

16.CLARK, G. M, COWAN, R. S. C.; DOWELL, R. C. Cochlear implantation for

infants and children: advances. San Diego, CA, Singular Publishing

Group,1997

17. DANIELI F, CASTIQUINI EAT, ZAMBONATTO TCF, BEVILACQUA MC.

Avaliação do nível de satisfação de usuários de aparelhos de amplificação

sonora individual dispensada pelo Sistema Único de Saúde.

RevSocBrasFonoaudiol. 2011;16(2):152-9

18. DILLON H. Binaural and bilateral considerations in hearing aid fitting. New

York: Thieme; 2001. Hearing aid; p.370-403.

19. ERDMAN, S. A. Counseling hearing impaired adults. In: ALPINER, J. G.; MACCARTHY, P. A. Rehabilitative audiology: children and adults.Baltimore: Williams & Wilkins, 1993. p. 374-413.

20. FENIMAN, M.R., PIAZENTIN, S.H.A. Cuidados com a audição. Bauru:

Hospital de Pesquisa e Reabilitação de lesões LábioPalatais, Universidade de

São Paulo, 1991: 9.

21. FERNANDES, E. Problemas lingüísticos e cognitivos do surdo. Rio de

Janeiro: Agir, 1990. 162p.

22. FEUERSTEIN JF. Monoaural versus binaural hearing: ease of listening,

word recognition, and attentional effort. Ear Hear. 1992; 13(2):80-6.

23. FORTUNATO CAU. RDLS: uma opção para analisar a linguagem de

crianças surda usuárias de implante coclear. [Dissertação de Mestrado], São

Carlos: UFSCAR, 2003, 109p.

XXXI

24. HAMZAVI J, POK SM, GSTOETTNER W, BAUMGARTNER WD. Speech

perception with a cochlear implant used in conjunction with a hearing aid in the

opposite ear. Int J Audiol. 2004; 43(2):61-5.

25. IERVOLINO, S. M .S.; CASTIGLIONI, M.; ALMEIDA, K. A orientação e o aconselhamento no processo de reabilitação auditiva. In: ALMEIDA, K.; IORIO, M. C. M. Próteses auditivas: fundamentos teóricos e aplicações clínicas. 2. ed. São Paulo: Lovise, 2003. p. 421.

26. LAFON, J. C. A deficiência Auditiva na Criança. São Paulo: Manole (1989).

27. LOYD, L. L.; KAPLAN, H. Audiometric interpretation: a manual o basic

audiometry. University Park Press: Baltimore; 1978. p. 16-7, 94.

28. MARIN, C. R.; GÓES, M. C. R. A experiência de pessoas surdas em esferas de atividade do cotidiano. Cadernos CEDES, Campinas, v. 26, n.69, p. 231-249, 2006.

29. MONDAIN M, BLANCHET C, VENAIL F, VIEU A.Classification et Traitement Des Surdités de l’enfant. Oto-rhinolaryngologie (traité). 2005;20:190C-200C. 30. MORITA, I. A questão do trabalho: análise conceitual de uma variável fundamental na reprodução social. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, v. 41, n. 2, p. 82-88, 2005

. 31. NORTHERN, J.L., DOWNS, M. P. Audição em crianças. 3.ed. São Paulo:

Manole, 1989. 421p.

32. OFFECIERS E, MORERA C, MÜLLER J, HUARTE A, SHALLOP J,

CAVALLÉ L. International consensus on bilateral cochlear implants and bimodal

stimulation. Acta Oto-laryngol. 2005; 125(9):918-9.

33. PEREIRA MB, FERES MCLC. Próteses auditivas. Medicina. 2005;

38(3/4):257-61

34. PFINGST, B. E.; HOLLOWAY, L. A.; ZWOLAN, T. A. E COLLINS, L. M..

Effects of stimulus level on electrode place discrimination in human subjects

with cochlear implants, 1999. Hear Res, v. 134, pp. 105-15

35. RIBARI, O. e SZIKLAI, I. Cochlear implantation improves hearing in the

contralateral ear. Acta Otolaryngol, 1995. v. 115, pp. 260-263.

36. RUSSO IC, SANTOS TMM. A prática da audiologia clínica. São Paulo:

Cortez Editora, 2005.

XXXII

37. SANTOS SN, TOCHETTO TM. Implante auditivo de tronco encefálico:

revisão de literatura. Rev. CEFAC [serial on the Internet]. 2007.

38. SANCHEZ TG, BENTO RF, MINITI A. CÂMARA J. Zumbido:

Características e epidemiologia. Experiência do Hospital das Clínicas da

Faculdade e Medicina da Universidade de São Paulo. Rev Bras de

Otorrinolaringol 1997. 63(3) e 229-35.

39. SANDLIN,R.E. Hearing aid textbook, San Diego, CA, Singular Publishing

Group (2000).

40. SILMAN S;IORIO MCM;MIZHAHI MM;PARRA VM; Próteses auditivas: um

estudo sobre seu benefício na qualidade de vida de indivíduos portadores de

perda auditiva neurossensorial. Distúrbios da Comunicação, 2004, 153-165.

41. SOUZA, V. C.; NEVES, N. P. Enfrentando o mundo do trabalho: relatos orais de pessoas com deficiências. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 14, n. 2, p. 1-258, 2005.

42. STACH, B.A., RAMACHANDRAN, V.S. Hearing disorders in childrren. In: MADELL, J.R., FLEXER, C. Pediatric Audiology: Diagnosis, Technology, and Management. New York: Thieme. 2008. p 3-12. 43. TEIXEIRA CF. Estudo avaliativo da política de atenção à saúde auditiva:

estudo de caso em Pernambuco [tese]. Recife: Fundação Oswaldo Cruz; 2007.

44. TEIXEIRA AR, Gonçalves AK, Freitas CLR, Soldera CLC , Bós AJG, Santos AMP, Dornelles S. Associação entre Perda Auditiva e Sintomatologia Depressiva em Idosos. Arq Int Otorrinolaringol. 201 0; v.14, n.4, p. 444-449.

45. TSCHOEKE, SN. Estudo da deficiência auditiva: características de

diagnóstico, etiologia e (re)habilitação [dissertação]. Curitiba: Universidade

Tuiuti do Paraná; 2006.

46. VAN DIJK, J. E; VAN OLPHEN, A. F.; LANGEREIS, M. C. et al. Predictors

of cochlear implant performance. Audiology, 1999 v. 38, pp. 109-16.

47. WALTZMAN, S. B.; COHEN, N. L. e SHAPIRO, W. H. (1992). Sensory aids in conjunction with cochlear implants. Am J Otol, v. 13, pp. 308-312.

XXXIII

ANEXO 1

XXXIV

XXXV

ANEXO 2

ESCALA DE DESENVOLVIMENTO DE LINGUAGEM E AUDIÇÃO

APÓS ADAPTAÇÃO DE DISPOSITIVOS AUDITIVOS – EDAL (KOCHEN E

RIBAS, 2014).

Questão COMPORTAMENTO SIM NÃO

1 Sua adaptação ao dispositivo foi positiva

2 Você usa o dispositivo + de 6 horas por dia

3 Você manipula seu dispositivo

4 Seu comportamento muda quando está com o aparelho

5 Emite mais sons vocálicos quando põe o aparelho

6 Você fica perturbada quando o dispositivo não funciona

7 Você responde quando chamam por seu nome no silêncio

8 Você responde quando a chamam por seu nome no ruído

9 Percebe sons ambientais do seu dia a dia

10 Vocaliza durante as interações comunicativas

11 Usa a fala/vocalizações para atrair a atenção dos outros

12 As vocalizações variam de acordo com a situação de comunicação

13 Tenta imitar sons, palavras ou outras vocalizações

14 Balança o corpo quando escuta música

15 Identifica diferentes vozes

16 Discrimina diferentes sons: voz, brinquedos, música

17 Responde a questionamentos simples sem apoio gestual

18 Fala palavras isoladas

19 Seu vocabulário vem ampliando

20 Fala duas palavras encadeadas

XXXVI