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1 ANAIS do VIII Encontro de Pesquisa e Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral-CE, novembro de 2015. ISSN 2318.4329 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: REFLEXÕES SOBRE SUA NATUREZA JURÍDICA ROBSON FONTENELE DE PAULO 1 Resumo: Tratou-se neste artigo do estudo da natureza jurídica da improbidade administrativa. No atual panorama não existe unidade na doutrina sobre a qual esfera de responsabilidade pertence à improbidade. Diante a tantos dissensos no campo doutrinário, achamos oportuno trazer a baila uma nova reflexão, uma nova possibilidade de interpretação da natureza jurídica da improbidade, de modo a apresenta-la como esfera própria. No presente trabalho foi apresentada a doutrina clássica com seu sistema “tricotômico” (penal, administrativo e civil) e, a nova proposta de interpretação. Palavras-Chave: Improbidade. Natureza Jurídica. Reflexão. Doutrina. INTRODUÇÃO O presente trabalho trata da reflexão sobre a natureza jurídica da improbidade administrativa como sistema de responsabilidade dos agentes públicos, tema bastante atual e de extrema relevância no Direito Público Brasileiro, de modo específico no direito administrativo. Deixado de lado durante muito tempo pela doutrina, o debate sobre a natureza jurídica da improbidade quase que estacionou em matéria de abordagem como sistema de responsabilidade. Diante de tal panorama, despertou em nós, profundo interesse em adentrar no estudo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por agentes públicos na administração estatal. O presente artigo objetiva demonstrar de forma sucinta, como tem sido apresentada a natureza jurídica da improbidade administrativa pela doutrina e jurisprudência, e os avanços no estudo do tema tão importante no cenário atual. A Improbidade Administrativa ao longo dos mais de 20 anos da Edição da Lei 8.429/92 se mostrou tema muito controvertido. Está compreendida ao abrigo de três esferas de responsabilidade e sob este prisma permanece até hoje. 1 Graduado em Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Especialista em Direito Público pela Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus (FDDJ). E-mail: [email protected]

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:

REFLEXÕES SOBRE SUA NATUREZA JURÍDICA

ROBSON FONTENELE DE PAULO1

Resumo: Tratou-se neste artigo do estudo da natureza jurídica da improbidade administrativa. No atual

panorama não existe unidade na doutrina sobre a qual esfera de responsabilidade pertence à improbidade. Diante

a tantos dissensos no campo doutrinário, achamos oportuno trazer a baila uma nova reflexão, uma nova

possibilidade de interpretação da natureza jurídica da improbidade, de modo a apresenta-la como esfera própria.

No presente trabalho foi apresentada a doutrina clássica com seu sistema “tricotômico” (penal, administrativo e

civil) e, a “nova proposta de interpretação”.

Palavras-Chave: Improbidade. Natureza Jurídica. Reflexão. Doutrina.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata da reflexão sobre a natureza jurídica da improbidade

administrativa como sistema de responsabilidade dos agentes públicos, tema bastante atual e

de extrema relevância no Direito Público Brasileiro, de modo específico no direito

administrativo.

Deixado de lado durante muito tempo pela doutrina, o debate sobre a natureza jurídica

da improbidade quase que estacionou em matéria de abordagem como sistema de

responsabilidade. Diante de tal panorama, despertou em nós, profundo interesse em adentrar

no estudo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por agentes públicos na administração

estatal.

O presente artigo objetiva demonstrar de forma sucinta, como tem sido apresentada a

natureza jurídica da improbidade administrativa pela doutrina e jurisprudência, e os avanços

no estudo do tema tão importante no cenário atual.

A Improbidade Administrativa ao longo dos mais de 20 anos da Edição da Lei

8.429/92 se mostrou tema muito controvertido. Está compreendida ao abrigo de três esferas de

responsabilidade e sob este prisma permanece até hoje.

1 Graduado em Direito pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Especialista em Direito Público pela

Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus (FDDJ). E-mail: [email protected]

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Deste modo impõe-se uma reflexão no campo doutrinário e jurisprudencial com

intenção de apresentar outra possibilidade perante a que está posta.

Pretendemos com este trabalho levantar algumas reflexões a cerca do possível

enquadramento da improbidade administrativa como instância própria, por considerarmos a

forma atual, do ponto de vista evolutivo e dinâmico do direito, inadequada e superada.

“IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA COMO NATUREZA JURIDICA PRÓPRIA”

A nosso ver, uma quarta corrente se apresenta, embora não tenha ela, esse condão, por

tal razão, discordamos do posicionamento doutrinário a respeito da classificação

“tricotômica” da natureza jurídica da improbidade, ao mesmo tempo nos filiamos a nova

abordagem dada a ela. Estamos a nos referir a obra de José Roberto Pimenta Oliveira, que

apresenta uma nova proposta de interpretação, de repensar a natureza jurídica da improbidade

e de enquadra-la como sistema correto e adequado ao texto constitucional.

Uma leitura mais profunda do Texto Maior nos faz perceber que a Carta Magna

autorizou ao legislador ordinário um tratamento próprio para a Lei de Improbidade

Administrativa, tratamento diferenciado dos demais diplomas legais que cuidam das diversas

estruturas sancionatórias dos agentes públicos, sendo, portanto, inadequado inserir a

improbidade em uma das correntes apresentadas.

Apontando para tal assertiva o eminente administrativista José Roberto Pimenta

Oliveira (2009. p. 416) afirma que:

A improbidade administrativa ganha sua autonomia formal no tratamento jurídico

singular dispensado pela Constituição, à luz do valor constitucional eleito, aos

componentes do sistema punitivo previsto no artigo 37, §4º, que autoriza nele

encontrar vínculo inquebrantável entre bem jurídico tutelado, ilícito reprimido,

sanções cominadas e instrumental processual necessário à sua efetivação,

inassimilável a quaisquer outros.

A partir dessa premissa, entende-se que a improbidade possui uma “instância própria

de responsabilidade”. Diferencia-se das demais em virtude do seu conteúdo permear as

instâncias civil, administrativa e política, sem, no entanto, perder seu caráter próprio.

Tem-se colocado esse ponto de vista num estudo recente sobre o tema que propiciou

um olhar até então nunca empregado no estudo da improbidade administrativa. Refiro-me a

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obra de José Roberto Pimenta Oliveira denominada de Improbidade Administrativa e Sua

Autonomia Constitucional.

Habitualmente tem-se visto nas obras doutrinárias os mesmos posicionamentos sobre o

assunto em exame. É por vezes, tratado como de conteúdo penal, civil ou administrativo, sem,

no entanto, reconhecer outra possibilidade, como a que estamos a apresentar. Nem poderia

reconhecer, já que não se tem um consenso em ralação as esferas há muito tratadas, diferente

não poderia ser com a natureza própria da improbidade.

É por isso, que Oliveira, (2009. p. 416) insiste em dizer:

A doutrina tem percebido a singularidade da improbidade administrativa dentro da

lógica constitucional da responsabilidade dos agentes públicos. Ora é qualificada

como “controle jurisdicional específico” de improbidade. Mas persiste a ideia de que

a improbidade não constitui uma instância, que seja categoria de “natureza

complexa” compreensiva de outras.

Porém, com tantos dissensos a respeito do tema, pensamos ser oportuna a ocasião,

para apresentar outra categoria, não somente por ser diferente, mas, pela necessidade de

aperfeiçoamento da ordem jurídica em matéria de responsabilidade dos agentes públicos. Para

justificar nossa afirmação vamos demonstrar a impossibilidade de ser caracterizada como

pertencente a uma das categorias colocada pela doutrina clássica.

“DA IMPOSSIBILIDADE DE SER CONSIDERADA COMO ESFERA CRIMINAL”

Alguns argumentos devem ser delineados para justificar o afastamento da natureza

jurídica penal da improbidade. Nosso amparo está no texto constitucional, exatamente no

artigo 37, §4º. Este dispositivo estabelece em sua redação, as seguintes sanções: suspensão

dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e o ressarcimento

ao erário, na forma e gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Percebam que no final da redação do artigo supra, o constituinte deixou a entender que

além das sanções previstas é possível apurar o ilícito em sede de ação penal. Ou melhor, não

guarda relação àquelas sanções destinadas a coibir os atos ímprobos com as que configurarem

crime, porque esta última poderá ser enquadrada no código penal, enquanto que as outras

serão disciplinadas em lei própria.

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Nas palavras de José Roberto Pimenta Oliveira, (2009. p. 432) “a redação do

enunciado constitucional (art. 37, §4º) desautoriza qualquer assimilação entre crime e ato

ímprobo”.

Levanta-se o seguinte questionamento: qual a implicação jurídica caso o ato praticado

pelo agente seja enquadrado como crime ou como ato ímprobo? A resposta só poderia ser

esta: “a independência explícita entre jurisdição criminal e jurisdição civil tem relevantes

consequências jurídicas” (OLIVEIRA, 2009. p. 433), o autor continua demonstrando as

implicações decorrentes da impossibilidade de assimilação dos atos ímprobos aos do crime

comum. Vejamos:

Torna-se incabível o uso do habeas corpus para trancar procedimento apuratório da

prática de ato de improbidade administrativa porque não há possibilidade de ofensa

ao direito de locomoção. O referido remédio é imprestável para dirimir questão de

competência para julgamento de ação de improbidade ou vícios processuais, bem

como para eximir autoridade do cumprimento de requisitos em inquérito civil

instaurado pelo Parquet, sendo incabível o manuseio da garantia constitucional para

trancamento do inquérito civil público.

Citamos novamente o estudioso da área, para que possamos responder a indagação

formulada acima. “Revela-se, por outro lado, o âmbito de ação penal por crime praticado

contra a administração pública, descabida a aplicação do artigo 20 da lei 8.429/92,

determinando o afastamento cautelar do agente público acusado” (OLIVEIRA, 2009. p. 433).

De fato, a afirmativa é válida. A independência das instâncias é fundamental, tanto no

direito material quanto no direito processual, para o enquadramento correto da conduta do

agente, e a aplicação da sansão. Sendo assim, como afirmou o administrativista logo acima, a

improbidade se coloca como categoria “autônoma” diante da disciplina penal.

Respondamos agora a indagação. A prática de crime ou ato ímprobo traz

consequências jurídicas, daí a importância de se reconhecer a natureza jurídica da

improbidade como natureza própria. O código penal estabelece no artigo 32 os tipos de penas

que podem ser aplicadas aos crimes funcionais. O artigo citado prevê três tipos diferentes de

penas: privativas de liberdade, restritivas de direito e multa.

O agente que praticar qualquer crime funcional pode ocasionar a aplicação das penas

previstas no artigo mencionado anteriormente. Quer dizer, penas privativas de liberdade

(reclusão ou detenção) ou de multa, e em substituição destas as restritivas de direitos.

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As penas privativas de liberdade estão disciplinadas nos artigos 33 a 42 do código

penal vigente, ensejam a perda da liberdade pessoal. Já a pena de multa esta regrada no artigo

49 a 52 do mesmo diploma legal, é constituída no pagamento de um valor qualquer fixada em

sentença penal. Quanto às restritivas de direito estão fixadas nos artigos 43 e 44 do Código

Penal. Consiste em prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços a

comunidade ou entidades públicas, interdição temporária de direitos, limitação de fim de

semana.

No diploma legal em comentário é descrito os efeitos da condenação criminal. Nos

artigos 91 e 92 são tratados os efeitos genéricos e específicos. O primeiro, refere-se aos

efeitos genéricos de tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, em

favor da união, de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a

pratica do fato criminoso. O segundo resulta a perda do cargo, função pública ou mandato

eletivo.

Cabe ressaltar que o artigo 15, inciso III da Constituição Federal de 1988, autoriza a

suspensão dos direitos políticos enquanto durar os efeitos da condenação criminal transitada

em julgado.

Feita esta explanação das sanções em nível criminal, passemos agora, a apresentar um

comparativo entre estas e as sanções capituladas na Lei nº 8.429/92. De maneira a sustentar o

caráter próprio da improbidade, e a impossibilidade dela pertencer a esfera penal.

Primeiramente, cabe buscar suporte na doutrina para fundamentar nossa opinião.

Elegemos um trecho da obra de José Roberto Pimenta Oliveira, que no nosso pensar, cumpre

esse papel. O eminente estudioso (OLIVEIRA, 2009. p. 434) nos apresenta a inadequação da

natureza jurídica da improbidade como esfera criminal, apesar de reconhecer pelo menos em

tese a possibilidade de correlação com algumas sanções, mas, afirma que não se confunde os

ilícitos da Lei nº 8.429/92 com os ilícitos tipificados no Código Penal. Ao mesmo tempo

argumenta que não há correlação total das sanções,

por razões de adequação do conteúdo principiológico da tipicidade constitucional

aos domínios punitivos, não há correspondência da totalidade das condutas

consagradas em tese como improbidade e os crimes funcionais contra a

administração em geral.

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Referindo-se a inadequação da natureza penal da improbidade administrativa o ilustre

doutrinador (OLIVEIRA, 2009. p. 434 e 435) nos revela que

há, pois, tipos de improbidade que seriam inconstitucional no plano penal, com

destaque, dentre outros, para o tipo do artigo 11, caput da lei 8.429/92. A descrição

típica é legítima na esfera da probidade, por ter fundamento de validade diretamente

colhida da indeterminação da regra constitucional.

Quando o autor fala na última linha acima sobre a “indeterminação da regra

constitucional”, nos parece, pois, suficiente, para estabelecer de maneira convincente a

impossibilidade da natureza jurídica penal da improbidade. Demonstraremos o porquê dessa

conclusão.

Em parágrafos anteriores falamos um pouco sobre os “conceitos indeterminados”, os

quais dão ao hermeneuta a possibilidade de ampliar o rol das sanções estabelecidas na cabeça

dos artigos 9º, 10 e 11 da Lei nº 8.429/92, quando, por exemplo, ocorrer uma infração não

prevista nos seus incisos. Chamados de “tipos abertos”, em virtude de seu caráter subjetivo, é

plenamente possível sua utilização quando carecer de aperfeiçoamento a ilicitude.

De outra via, as sanções penais não comportam subjetividade, tendo em vista o grau de

determinabilidade normativa inerente ao seu sistema. O objetivo constitucional nesta instância

é tratar as condutas típicas de maneira objetiva, por afetar diretamente a liberdade do

indivíduo.

Não bastasse o argumento acima, poderíamos também listar outras incompatibilidades.

Como é o caso, por exemplo, da perda da função pública. O ilícito oriundo da improbidade

enseja a perda da função pública, enquanto na esfera criminal poderá advir com os efeitos da

condenação por sentença penal, observadas as condições impostas pelo artigo 92, inciso I do

código Penal.

Outra justificativa plausível está relacionada com a suspensão dos direitos políticos do

agente público. Na Lei nº 8.429/92 a previsão está determinada no seu artigo 12 e estabelece

um prazo de 10 anos. De outro modo, na esfera penal a suspensão está disposta na

Constituição Federal especificamente em seu artigo 15, inciso III, e determina que a duração

da suspensão seja de acordo com os efeitos da condenação criminal estabelecida.

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Encontramos na redação do artigo 12 da lei acima, a sanção de pagamento de multa

civil, prescritas nos incisos I, II, III. Depreende-se que o legislador de forma cuidadosa criou

distinções entre esta e a multa penal.

Sobre a reparação do dano ao erário, cabe esclarecer, que, quando for o caso, a Lei de

improbidade importará na condenação de ressarcimento de dano causado aos cofres públicos.

Na instância criminal, o agente público fica obrigado a reparar o dano causado pelo crime,

mas, como condição do efeito genérico da condenação criminal (art. 91, I CP).

Diante de todos os argumentos apontados até aqui, fica evidenciado que a natureza

jurídica da improbidade é extrapenal, tendente a se firmar como própria.

No campo jurisprudencial2 ressaltamos que já está pacificado nos tribunais superiores

quanto a impossibilidade de ser considerada como natureza penal as sanções da editada Lei nº

8.429/92.

“DA IMPOSSIBILIDADE DE SER CONSIDERADA COMO ESFERA

ADMINISTRATIVA”

Se nós estamos a tratar da improbidade administrativa sob outro olhar, torna-se

evidente que não reconheçamos o seu caráter, como administrativo. Mas, não basta somente

não a reconhecer, é preciso fundamentar o porquê do não reconhecimento de sua natureza

jurídica administrativa. A indicação apropriada dos institutos do direito é sem dúvida

nenhuma, muito importante. É, pois, condição de aplicabilidade, objetivo e finalidade

corretos.

Os conceitos jurídicos, pensamos nós, não devem ser unívocos, porém, na

interpretação não precisa adotar terminologias diversas e equivocadas.

2 “Recuso em habeas corpus. Concussão. Art. 316, do CP. Trancamento da Ação Penal. Falta de justa causa.

Improbidade Administrativa. Ação Civil Pública julgada improcedente. Objeto distinto da Ação Penal.

Independência das esferas civil e penal. A improcedência da ação penal civil pública apurando responsabilidade

por improbidade administrativa não impede o prosseguimento da ação penal que apura suposto crime de

concussão (art. 316, do CP) ante a independência das esferas cível e criminal, mormente quando se afigura

patente a diversidade de objetos e fins entre as duas ações. Em sede de habeas corpus, conforme entendimento

pretoriano, somente é viável o trancamento da ação penal por falta de justa causa quando, prontamente, desponta

a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou se acha extinta a punibilidade, circunstâncias não

evidenciadas na espécie” (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 11.722 – MT, quinta Turma do Superior

Tribunal de Justiça, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, em 20/09/2001, DJ de 05/11/2001, p. 124)

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Partindo dessa premissa, entendemos que a interpretação voltada para o

reconhecimento da natureza jurídica da improbidade, como de caráter administrativo, não é

forte o suficiente para se manter. As penalidades regradas na Lei 8.429/92 são independentes

das sanções administrativas previstas na legislação específica3. De maneira a justificar nossa

afirmação, Fabio Medina Osório (2013. p. 138-147) defende o descabimento da proposição de

que as sanções de improbidade constituem espécies de sanções administrativas.

O bem jurídico protegido pela esfera administrativa é diferente do bem jurídico

perseguido pelo sistema repressivo da Lei 8.429/92. Isto porque, segundo Marçal Justen

Filho4 as sanções disciplinares consiste na “regularidade e eficiência do serviço da

administração”.

Entende-se que o fim perseguido pelas sanções disciplinares está direcionado para a

regularidade no exercício da função pública. Ou seja, o conteúdo valorativo é menor, não

implica dizer com isso, que, pelo fato de ser somente sanção funcional, não deva ser

observado o dever de probidade, não é isso. Queremos dizer que a proteção da regularidade

do exercício funcional, está voltada para o desempenho da função administrativa do servidor,

entretanto, a improbidade só comporta agressões, “na forma de dano ou de perigo de dano, à

probidade, sob pena de afastar-se da fonte constitucional que a sustenta. O que explica os

tipos dos artigos 9º, 1º e 11 da Lei nº 8.429/92” (OLIVEIRA, 2009. p. 446). Esta última tem

valoração maior, pois assim estabeleceu o legislador constituinte.

Quanto aos deveres funcionais estão instrumentalizados no artigo 16 da Lei nº 8.112

de 11 de dezembro de 1990, que expressa valores como o dever de: zelo e dedicação; lealdade

às instituições; legalidade; hierarquia funcional, prestimosidade; disciplina, patrimônio

público, sigilo funcional, moralidade administrativa, assiduidade, urbanidade e a

responsabilidade.

Em virtude dos mesmos valores, o artigo 17 da referida lei, prevê a proibição de

condutas que viole os deveres acima. Cumpre relatar, que a maior reprimenda desta lei está

3 A título de exemplo, para entender o termo legislação específica, podemos citar a lei nº 8.112/90, denominada

de Regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e fundações públicas federais. 4 Apud em OLIVEIRA, José Roberto Pimenta. Improbidade Administrativa e Sua Autonomia Constitucional.

São Paulo. 2009. p. 446

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determinada no artigo 132. O qual, de forma curiosa descreve em seu inciso IV a improbidade

como ensejadora de demissão. A respeito deste artigo Oliveira (2009. p. 445) nos esclarece.

Tomando como referência os tipos de improbidade administrativa da Lei nº

8.429/92, observa-se que a Lei nº 8.112/90 trouxe em série desordenada as condutas

ofensivas a probidade, porque, ao lado de elevar a referida ilicitude como causa

especifica de demissão (art. 132, IV), o estatuto federal geral trouxe em dispositivos

próprios ações enquadráveis como atos ímprobos. A ausência de sistematização da

improbidade como infração funcional restou, entretanto, diminuída a posteriori com

o marco regulamentador da norma constitucional. Mas não houve revogação da Lei

nº 8.112/90 pela Lei nº 8.429/92

Diante do exposto pelo doutrinador, entendemos que após a edição da Lei de

improbidade o estatuto dos servidores ficou fragilizado no tocante as infrações descritas como

atos ímprobos, isso porque, as infrações descritas na Lei 8.112/90, passaram a constituir atos

de improbidade albergados pela nova lei, por disposição constitucional. Daí resulta mais um

argumento para sustentar a impossibilidade da natureza jurídica da improbidade ser

reconhecida na esfera administrativa.

Inferi-se que as infrações e sanções administrativas não necessitam em tese de

apuração no âmbito do poder judiciário, cabe ao órgão administrativo ao qual é subordinado o

agente infrator, ou mesmo de hierarquia superior, se for o caso, de apurar as infrações e

aplicar as sanções cabíveis, por outro lado, a improbidade administrativa só poderá ser

apurada em processo judicial.

Sendo assim, podemos fixar entendimento de que a improbidade não é equiparada as

sanções disciplinares. Nesta direção confirma-se sua identidade enquanto categoria própria,

sinalizada no artigo 37, §4º da nossa Magna Carta.

“DA IMPOSSIBILIDADE DE SER CONSIDERADA COMO ESFERA CIVIL”

Corrente majoritária, é a que sustenta a natureza jurídica da improbidade

administrativa como esfera cível. A doutrina há muito tem sustentado de forma cristalizada a

natureza jurídica da improbidade como de caráter civil. Sobretudo, entendemos não caber tal

sustentação, vamos tentar explanar o porquê da discordância, a partir da argumentação

retirada da obra de Oliveira (2009. p. 480).

Desde logo fica claro que a ação de improbidade administrativa é uma ação civil,

mas não se compatibiliza com o seu fundamento constitucional entende-la como

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instrumento primordial de proteção civil do patrimônio público, ou de reversão de

enriquecimento ilícito de agentes públicos. Como afirmou o Min. Eros Grau, na ADI

nº 2.797-DF, “o elemento central da ação de improbidade não é reparatório”.

A argumentação do doutrinador é, por toda, coerente. Na verdade, é muito maior o

conjunto axiológico da tutela estabelecida na Lei 8.429/92, de que simplesmente reparar o

dano. Em sua base, o elemento principal é a punição direcionada ao agente ímprobo. Isso

porque, a interpretação que se extrai da lei, é a de afastar do exercício da função pública o

agente desonesto, desleal, corrupto, em fim, ímprobo. Não se espera do agente somente

devolução aos cofres públicos, do que ele, por ventura tenha se apropriado.

De fato o bem jurídico protegido na esfera da responsabilidade civil, é o patrimônio

público juntamente com a moralidade do ente que sofrer o ato lesivo. No entanto, nos parece

ser menor, a sua índole valorativa, comparada ao plexo axiológico que tutelam na extensão da

improbidade. Pois, como nos fala Oliveira (2009. p. 480):

A decomposição do bem jurídico, na Lei nº 8.429/92, traz como efeito a defesa da

honestidade, do zelo na gestão do erário, da lealdade e imparcialidade no exercício

de atividade pública. o combate ao enriquecimento ilícito e aos prejuízos materiais

ao erário aparecem como consequência da tutela constitucional, centrada na

inobservância de deveres públicos ético-jurídicos.

Demonstrada a essência da proteção patrimonial na ordem civil, decorrente da própria

ordem jurídica fundamental do estado direito, o aspecto normativo do ilícito civil, é pois,

amplo, visto pela ótica da obrigação de indenizar pelo cometimento de dano, seja no âmbito

material ou moral ao poder público (art. 186 e 927 CC e art. 5º da Lei nº 8.429/92).

A obrigação de indenizar está fundamentada na orbita da responsabilidade subjetiva, a

qual é imprescindível de dolo ou culpa. Contudo sua comprovação carece de mais elementos.

“Exige-se, pois, comprovação da conduta ilícita, dano nexo de causalidade e elemento

subjetivo para afirmação da responsabilidade civil do agente” (OLIVEIRA, 2009. p. 481).

Vimos acima a configuração do ilícito civil, veremos agora, a do ilícito por ato de

improbidade. Os artigos 9º, 10 e 11 da Lei nº 8.429/92, descrevem os tipos de atos ímprobos.

Os referidos dispositivos abrangem os atos que importam enriquecimento ilícito, atos que

causam prejuízo ao erário e atos que atentam contra os princípios da administração pública.

Como o próprio subtítulo sugere, da impossibilidade de ser considerada esfera civil.

Demonstraremos nossas razões alicerçadas na doutrina de José Roberto Pimenta Oliveira.

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No âmbito civil, como já vimos em parágrafos anteriores, o dano, tem caráter material

ou moral, relacionado ao patrimônio público, neste sentido, enseja a caracterização do dever

de indenizar tanto por parte do agente público como de terceiros que forem responsáveis pela

ação ou omissão ilícita (art. 944 CC). Ao tempo que a verificação de enriquecimento ilícito

enseja a restituição do que foi individualmente auferido, feita a atualização dos valores

monetários, conforme a lei civil (art. 884 CC).

A prática de improbidade enseja, o conjunto de sanções reparatórias e punitivas,

previstas no artigo 12 da Lei nº 8.429/92. Quanto às sanções de ressarcimento de

dano material ao erário e de reversão de bens e valores ilicitamente obtidos, não há

alteração de parâmetros civilísticos que identificam os seus contornos, inclusive o

quantum devido. (OLIVEIRA, 2009. p. 482)

A diferença entre as duas instâncias está justamente na proteção do bem jurídico

tutelado. Na esfera civil, o bem jurídico protegido está na possibilidade do agente público ou

terceiro causador do dano, reparar por meio de indenização ou restituição, dependendo do

caso. Enquanto, na instância da improbidade, além da possibilidade de reparar o dano e

ressarcir o erário, existe a sanção punitiva, esta última, mais valorada, pois assim, determinou

o legislador. Deste modo, assevera-se que na improbidade a valoração ao bem jurídico é mais

abrangente, por esta razão, não podemos considerar a improbidade como instância civil, mas

como instância de natureza própria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como proposto desde o início do trabalho a natureza jurídica da improbidade ao longo

desta pesquisa foi apresentada como “instância autônoma”, o tema alcançou nossa simpatia,

razão pela qual decidimos traçar algumas considerações a respeito, e discutir um pouco as

controvérsias doutrinárias.

No percurso dessa análise tendemos para a doutrina de José Roberto Pimenta Oliveira,

que embora ainda tente se firmar, para nós já é consagrada como adequada.

Estudo pioneiro com este viés, não tenho dúvida de que será no futuro próximo

substituidora da instância considerada por muitos como majoritária (instância civil), levando

em consideração o processo evolutivo e dinâmico do direito.

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As correntes apresentadas anteriormente a de José Roberto Pimenta Oliveira, nos

parece deslocadas do mandamento constitucional, por esta razão, filiamo-nos a corrente

contrária ao sistema clássico (penal, administrativo e civil) por consideramos que sua base

teórica parte da interpretação extraída do texto constitucional. Assim sendo, ela tem base e

fundamento para sustentação, e superar todas elas na sua totalidade (doutrina e

jurisprudência), claro, é muito nova do ponto de vista histórico.

No entanto, prevalece a coerência de seus argumentos, pois há muito, tinha estagnado

a discussão na academia, que se apresentam de forma cristalizada.

Acreditamos ter cumprido nosso propósito. Trouxemos a baila, um tema de grande

magnitude, de suma importância para a o estudo do direito. A academia é espaço ideal para

esse tipo de discussão, refletir sobre questões controversas, polêmicas, que buscam a todo o

momento, respostas, como é inerente aos trabalhos científicos.

Buscamos ao longo do trabalho abarcar todos os pontos considerados por nós como

fundamentais para compreensão da temática, o caminho foi tortuoso, no entanto, temos

consciência de que alcançamos essa façanha. De modo particular, possibilitou a oportunidade

de expressarmos nosso ponto de vista em relação à natureza jurídica da improbidade e sua

implicação como “instância autônoma”.

A cada tópico desenvolvido, acreditou-se ter percorrido o caminho certo, de se colocar

a nossa inquietação perante as correntes doutrinárias que há muito permanecem, porém,

estagnadas. Comportamos-nos na realização da pesquisa com uma postura ousada, de modo a

demonstrar uma nova proposta, tendente a se firmar, mas sem perder o diálogo com as demais

(integração).

Tratamos das instâncias de responsabilidade com base no que subtraímos da literatura

pesquisada, ou seja, de forma abrangente e contrária aos sistemas propostos pela doutrina

clássica (penal, civil, administrativa). Por entendermos que adequado seria reconhecer a

improbidade como sistema próprio e cumpridor do preceito constitucional que lhe deu ensejo

o art 37, §4º da Constituição Federal de 1988.

Não consideramos a Lei 8.429/92, como um catálogo de sanções, ela é muito mais que

uma simples descrição de penalidades. É, pois um instrumento poderoso que as instituições

estatais dispõem, para combater as condutas ímprobas chamadas por muitos de corrupção.

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A classificação doutrinária da natureza jurídica da improbidade administrativa, da

maneira como está posta (penal, administrativa, civil), no nosso pensar, não consegue aplicar

de forma adequada seus institutos, pois está deslocada de sua esfera correta e própria, nesta

direção reduz seu valor axiológico. Por esta razão, tentamos descrever com objetividade a

nossa postura contrária a esse sistema, na tentativa de mostrar o objetivo, a aplicação e

finalidade pretendida pela lei 8.429/92, quando colocada como “instância própria”, ou seja. O

tratamento do bem jurídico é mais valorado.

Se contrapondo ao sistema vigente, apresentamos a proposta de nova interpretação

para a Lei de Improbidade Administrativa, de repensar seu enquadramento, certos de que a

correta aplicação do direito sancionador está atrelada a correta adequação de sua natureza.

Por fim, pretendeu-se com esta pesquisa propor uma reflexão a partir da nova

possibilidade de interpretação, inovação e remodelação no campo da discussão acadêmica,

sobre a improbidade administrativa e sua natureza jurídica, elegendo como suporte

doutrinário a obra de José Roberto Pimenta Oliveira, denominada de improbidade

administrativa e sua autonomia constitucional, que disseca o tema de maneira convincente.

ADMINISTRATIVE IMPROBITY:

REFLECTIONS ON YOUR JURIDICAL NATURE

Abstract: It was in this article the study of the legal nature of administrative misconduct . In the current situation

there is no unity in doctrine on which sphere of responsibility belongs to the misconduct . Faced with so many

disagreements in the doctrinal field , we thought it appropriate to bring to the fore a new thought, a new

possibility of interpretation of the legal nature of the misconduct in order to present it as their own sphere. In this

paper we presented the classical doctrine with its " trichotomous " system ( criminal, administrative and civil )

and the proposed new interpretation.

Key Words: Misconduct. Legal Nature. Reflection. Teaching.

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