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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO EDUARDO BATISTA BORGES INCENTIVOS FISCAIS E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DE GOIÁS: Análise de Impactos dos Programas Fomentar e Produzir (1995-2011) RIO DE JANEIRO 2014

Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

EDUARDO BATISTA BORGES

INCENTIVOS FISCAIS E DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONÔMICO DE GOIÁS: Análise de Impactos dos

Programas Fomentar e Produzir (1995-2011)

RIO DE JANEIRO

2014

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EDUARDO BATISTA BORGES

INCENTIVOS FISCAIS E DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONÔMICO DE GOIÁS: Análise de Impactos dos

Programas Fomentar e Produzir (1995-2011)

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-

Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento

da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em

Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento.

ORIENTADORA: PROFª DRª SOL GARSON BRAULE PINTO

RIO DE JANEIRO

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

B732 Borges, Eduardo Batista. Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás : análise de impactos dos

Programas Fomentar e Produzir (1995-2011) / Eduardo Batista Borges. – 2014. 285 f. ; 31 cm. Orientadora: Sol Garson Braule Pinto. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Economia, Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, 2014. Referências: f. 230-250

1. Incentivos Fiscais. 2. Guerra Fiscal. 3. Desenvolvimento Regional. 4. Federalismo Fiscal. I. Pinto, Sol Garson Braule, orient. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Economia. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

A conclusão deste trabalho só foi possível, graças à colaboração direta ou indireta

de diversas pessoas e instituições, a quem deixo o meu sincero agradecimento.

À minha orientadora, profa. Dra. Sol Garson Braule Pinto, pela orientação segura e

sempre disposta a ajudar a superar dificuldades. Agradeço pelas horas dedicadas à discussão

dos temas de interesse da tese. Aprendi muito com essa convivência.

O desenvolvimento deste trabalho a contento só foi possível graças à

disponibilização de recursos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás –

FAPEG, através da bolsa de formação do doutorado, que viabilizou nosso deslocamento até o

Rio de Janeiro para participar das diversas atividades previstas. Sem esses recursos públicos

não teria sido possível desenvolver a pesquisa.

Agradeço também à Universidade Estadual de Goiás – UEG pela liberação durante

uma parte da pesquisa. Aos funcionários e professores da UEG e da UFRJ pela dedicação e

pelo carinho com que nos acolheu durante todo esse período.

Agradeço ainda às diretorias de Engenharia e de Administração da Saneago (Mario

João, Olegário e Mauro Barbosa), por terem viabilizado minha participação no doutorado.

Aos gerentes da Superintendência de Planejamento (Mônica e Karine) e colegas de trabalho

(Eduardo Morais e Patrick), pelo apoio na realização das atividades do curso.

À minha irmã Maria Aparecida e a Elena Rufino pelo apoio na revisão e

formatação da tese.

Aos colegas de doutorado, pela amizade e incentivo nas horas mais difíceis.

Impossível nomear algum. Jamais vou esquecer os momentos de convivência fraterna que

tivemos durante o curso.

Aos meus pais, Humberto Mendonça Filho, pelo estímulo aos estudos, e Benedita

Batista Borges, pela dedicação com que nos criou.

Aos amigos, parentes e, principalmente, à minha esposa Ana Maria, aos meus

filhos, João Caetano, Cecília, Carlos Henrique e Taynara, pelo apoio nessa travessia e

compreensão durante as ausências.

A todas essas pessoas, muito obrigado!

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RESUMO

BORGES, Eduardo Batista. Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás: análise de impactos dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR (1995-2011). Rio de Janeiro, 2014. Tese (Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Rio de Janeiro, 2014.

Esta tese avalia os impactos econômicos produzidos, na economia do Estado de

Goiás, em decorrência dos incentivos fiscais concedidos no âmbito dos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR, no período de 1995-2011. Esses programas são considerados os

mais importantes para apoio ao desenvolvimento econômico e à industrialização do Estado no

período recente. A utilização desses instrumentos de política pública pelo governo do Estado

para atrair investimentos produtivos, estimular o desenvolvimento econômico e/ou aumentar

sua base tributária, ocorre num contexto de “guerra fiscal” na federação brasileira,

principalmente a partir do seu acirramento, na segunda metade dos anos 90. Verificar-se-á até

que ponto a política de incentivos fiscais implementada tem sido um instrumento eficaz para a

aceleração do desenvolvimento estadual e a promoção de mudanças no perfil de seu sistema

produtivo.

Palavras-chave: Incentivos Fiscais. Guerra Fiscal. Desenvolvimento Regional. Federalismo

Fiscal.

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ABSTRACT

BORGES, Eduardo Batista. Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás: análise de impactos dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR (1995-2011). Rio de Janeiro, 2014. Tese (Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Rio de Janeiro, 2014.

This thesis evaluates the economic impacts generated in the State of Goiás

economy as a result of tax incentives granted under the FOMENTAR and PRODUCE

Program for the period 1995-2011. These programs are considered the most important for

supporting economic development and industrialization of the State in recent times. The use

of these instruments of public policy by the state government to attract productive investment,

stimulate economic development and/or increase its tax base, occurs in a context of "war tax"

in the Brazilian federation, mainly from its intensification in the second half 90s. Will check-

up point until the policy implemented tax incentives have been an effective tool for

accelerating the state development and promotion of changes in the production system profile.

Keywords: Tax Incentives. Tax War. Regional Development. Fiscal Federalism.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 1: Valor Adicionado da Indústria de Transformação e Extrativa Mineral do Estado de Goiás – 1995 – 2009 (R$ Bilhões)........................................................................182 GRÁFICO 2: Faturamento do Setor Industrial do Estado de Goiás – 1999-2010 (R$ Bilhões)...................................................................................................................................183 GRÁFICO 3: Goiás e Brasil: taxa de crescimento do Produto Interno Bruto – 1995 - 2011........................................................................................................................................185 GRÁFICO 4: Participação de Goiás e do Centro-Oeste no PIB do Brasil (%) 1995 – 2011.........................................................................................................................................186 GRÁFICO 5: Estado de Goiás: Número de Estabelecimentos Industriais, Cadastrados na Secretaria da Fazenda – 1996 - 2012....................................................................................................190 GRÁFICO 6: Goiás e Brasil: Taxa de Desemprego – 1995-2011.......................................196 GRÁFICO 7: Estado de Goiás: Exportação por Fator Agregado – 1985, 1995-2011..........199 GRÁFICO 8: Estado de Goiás: Importações por Fator Agregado –1995 – 2011................201 GRÁFICO 9: Estado de Goiás: Participação na Arrecadação do ICMS (%) - 1995 – 2011.........................................................................................................................................206 GRÁFICO 10: Estado de Goiás: Arrecadação do ICMS e Participação da Indústria – 1996-2011...............................................................................................................................207

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Maiores Projetos Aprovados – FEICOM – 1973 – 1980.................................168

QUADRO 2: Critérios para Descontos Sobre o Saldo Devedor no Programa PRODUZIR - Goiás.....................................................................................................................................174 QUADRO 3: Quadro 3: IDH - M - Municípios Selecionados - 1999, 2000 e 2010..............212

QUADRO 4: Quadro 4: Índice de Gini - Municípios Selecionados – Regiões Dinâmicas - 1999, 2000 e 2010...................................................................................................................214 QUADRO 5: Quadro 5: Índice de Gini - Municípios Selecionados – Região Nordeste – 1999, 2000 e 2010...................................................................................................................214 QUADRO 6: Programas Estaduais de Atração de Investimentos – Estados Selecionados............................................................................................................................252

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Razões da Instalação de Plantas Produtivas em Outras Unidades da Federação................................................................................................................................116

TABELA 2: Estado de Goiás: Índice de Participação dos Municípios no ICMS – 1998 – 2011.........................................................................................................................................159

TABELA 3: Recursos Aprovados, Número de Empregos a Serem gerados e Custo do Emprego no Produzir nas Microrregiões e Metade Norte/Sul de Goiás - 2001 a Maio de 2012....................................................................................................................................177 TABELA 4: Projetos Aprovados e Efetivamente em Fruição pelo Fomentar – 1985 a maio de 2012.......................................................................................................................178 TABELA 5: Projetos Contratados do Produzir por Microrregiões - 2001 a Maio 2012.......179 TABELA 6: Projetos Contratados do Produzir por Segmento Econômico - Representatividade do Investimento, Emprego e Benefício - 2001 a Maio 2012...................180 TABELA 7: Projetos em Fruição no Programa PRODUZIR por Microrregiões e Representatividade do ICMS arrecadado - 2001 a 2011.........................................................181 TABELA 8: Brasil, Goiás e Centro-Oeste - Produto Interno Bruto (PIB) 1995 – 2011.......185 TABELA 9: Estado de Goiás - Participação da Indústria no PIB – 1995 – 2011..................187 TABELA 10: Participações Estaduais no Valor da Transformação Industrial Nacional (VTI), Estados selecionados, 1985 – 2011.............................................................................188 TABELA 11: Brasil, Goiás e Centro-Oeste - Produto Interno Bruto a preços de mercado per capita – 1995 - 2011........................................................................................................189 TABELA 12: Estado de Goiás - Constituição e Extinção de empresas – 1995 – 2011.........190

TABELA 13 : Número de Empregos formais, Variação absoluta e relativa em Goiás e no Brasil

– 1995-2011..........................................................................................................................................192

TABELA 14 : Número de Empregos Formais - Goiás e Brasil - 1995 – 2012.......................193

TABELA 15: Rendimento Médio nominal, segundo Setores de atividades econômicas –

Goiás 2000 – 2012..................................................................................................................194

TABELA 16: Estado de Goiás e Brasil - Flutuação do nível de Emprego – 1995 - 2011.....197

TABELA 17: Estado de Goiás: Balança Comercial – 1995 – 2011 (US$ 1.000 FOB).........198

TABELA 18: Estado de Goiás: Exportações por Fator Agregado – 1985, 1995 – 2011 (US$ 1.000 FOB)..............................................................................................................................199

TABELA 19: Estado de Goiás – Principais Produtos Exportados (%) – 1996 - 2011..........200

TABELA 20: Estado de Goiás: Importações por Fator Agregado – 1995 – 2011 (US$ 1.000 FOB)........................................................................................................................................201

TABELA 21: Estado de Goiás: Deterioração dos Termos de Troca.....................................202

TABELA 22: Anápolis - Balança Comercial (US$ FOB) – 1999 – 2011.............................203 TABELA 23: Catalão - Balança Comercial (US$ FOB) – 1999 – 2011................................203 TABELA 24: Rio Verde - Balança Comercial (US$ FOB) – 1999 – 2012...........................205 TABELA 25: Arrecadação do ICMS – Valores Correntes - 1995 – 2011 (R$ mil).............206

Page 10: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

TABELA 26: Arrecadação do ICMS e Participação por setor de atividade –1996-2011......207 TABELA 27: Estado de Goiás: Participação das Regiões na Arrecadação do ICMS (%) - 2000-2011...........................................................................................................208 TABELA 28: Renúncia de ICMS (LDO) em Relação à Arrecadação em 2006-2011 (R$ mil).................................................................................................................................209 TABELA 29: Renúncia de ICMS (LDO) em Relação à Arrecadação / Investimentos em 2012...................................................................................................................................210

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADA Agência de Desenvolvimento da Amazônia

ADENE Agência de Desenvolvimento do Nordeste

ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade

BASA Banco da Amazônia

BD Banco de Desenvolvimento

BEG Banco do Estado de Goiás

BH Brecha Horizontal

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Interamericano de Reconstrução e Desenvolvimento

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CDB Certificado de Depósito Bancário

CDI Conselho de Desenvolvimento Industrial

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina

CF Constituição Federal

CNI Confederação Nacional da Indústria

CODEG Companhia de Desenvolvimento do Estado de Goiás

CODEVASF Comissão de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

CONFAZ Conselho de Política Fazendária

CONSUP Conselho Superior de Prioridades para o Desenvolvimento Industrial

DAIA Distrito Agroindustrial de Anápolis

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

FCO Fundo Constitucional do Centro-Oeste

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FEBRAFITE Federação Brasileira das Associações de Fiscais de Tributos Estaduais

FEICOM Fundo de Expansão da Indústria e do Comércio

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FMI Fundo Monetário Internacional

FNDR Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional

FOMENTAR Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás

FPE Fundo de Participação dos Estados

FPM Fundo de Participação dos Municípios

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica

FUNDEF Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental

FUNPRODUZIR Fundo de Atividades Industriais

GC Governo Central

GREMI Groupe de Recherche Européen Sur Les Milieux Innovateurs

GSN Governos Subnacionais

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

ICM Imposto sobre Circulação de Mercadorias

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IMB Instituto Mauro Borges

IQUEGO Indústria Química do Estado de Goiás

IOCS Inspetoria de Obras Contra a Seca

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

IR Imposto de Renda

ISI Industrialização por Substituição de Importações

ISSQN Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

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ITR Imposto Territorial Rural

IVA Imposto sobre Valor Agregado

IVC Imposto sobre Vendas e Consignações

IVM Imposto sobre Vendas Mercantis

LC Lei Complementar

LRF Lei de Responsabilidade Fiscal

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

NICS Países Recentemente Industrializados

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU Organização das Nações Unidas

PAEG Plano de Ação Econômica do Governo

P & D Pesquisa e Desenvolvimento

PIB Produto Interno Bruto

PNB Produto Nacional Bruto

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PNDR Plano Nacional de Desenvolvimento Regional

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

POLOAMAZÔNIA Programa de Pólos Agropecuários e Agro-minerais da Amazônia

POLOCENTRO Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

POLONORDESTE Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste

PPC Paridade do Poder de Compra

PRODECER Programa Nipo-Brasileiro de Desenvolvimento dos Cerrados

PRODUZIR Programa de Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás

PROTERRA Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulos à Agroindústria

SECEX Secretaria de Comércio Exterior

SEFAZ GO Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás

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SEGPLAN GO Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás

SIC GO Secretaria da Indústria e Comércio do Estado de Goiás

SPVEA Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

STF Supremo Tribunal Federal

SUS Sistema Único de Saúde

SIN Sistema de Incentivos à Industrialização de Goiás

SUDAM Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

SUDECO Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUDESUL Superintendência de Desenvolvimento do Sul

SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus

TCE Tribunal de Contas do Estado de Goiás

TVA Tenesse Valey Authority

VA Valor Adicionado

VAF Valor Adicionado Fiscal

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SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................................................. 15 Capítulo 1 – O Papel do Estado no Desenvolvimento......................................................... 21 Introdução................................................................................................................................ 21 1.1 – O Conceito de Desenvolvimento.................................................................................... 22 1.2 – As Novas Concepções de Desenvolvimento.................................................................. 30 1.3 – Teorias Sobre o Papel do Estado na Promoção do Desenvolvimento............................ 35 1.3.1 – A Teoria de Busca de Renda (Rent Seeking)...................................................... 35 1.3.2 – Douglas North e o Papel do Estado.................................................................... 37 1.3.3 – A Teoria do Estado de Peter Evans.................................................................... 41 1.3.4 – A Teoria do Estado de Ha-Joon Chang.............................................................. 46 1.4 – As Três Vertentes da Moderna Teoria do Desenvolvimento......................................... 50 1.5 – Estado e Desenvolvimento Regional.............................................................................. 54 1.5.1 – A Teoria do Desenvolvimento Regional............................................................ 58 1.5.2 – Produção Recente em Economia Regional......................................................... 71 1.5.3 – Estado e Desenvolvimento Regional no Brasil.................................................. 76 1.5.4 – Políticas Estaduais de Desenvolvimento e Incentivo Fiscal.............................. 82 1.6 - Conclusão........................................................................................................................ 88 Capítulo 2 – Aspectos Teóricos da Competição Tributária Entre Jurisdições............... 95 Introdução............................................................................................................................... 95 2.1 – O modelo de Tiebout..................................................................................................... 95 2.2 – O modelo de Gordon..................................................................................................... 98 2.3 – Outras Visões Sobre a Competição Tributária entre Jurisdições..................................102 2.4 – A Competição Fiscal no Brasil......................................................................................108 2.4.1 – Caracterização Histórica e Conceitual do Fenômeno.........................................109 2.4.2 – Evolução da Guerra Fiscal..................................................................................110 2.4.3 – Determinantes da Guerra Fiscal..........................................................................114 2.5 - Conclusão.......................................................................................................................117 Capítulo 3. Federalismo Fiscal: Teoria Tradicional de Finanças Públicas.................... 122 Introdução.............................................................................................................................. 122 3.1 – O Federalismo e a Economia do Setor Público............................................................ 126 3.2 – As Funções de Governo................................................................................................ 128 3.3 – A Escolha Pública e Federalismo.................................................................................. 131 3.3.1 – Escolha Pública e Incentivos Fiscais................................................................. 136 3.4 – Federalismo Fiscal Brasileiro........................................................................................ 137 3.4.1 – As Transferências Intergovernamentais no Federalismo Fiscal........................ 145 3.4.1.1 – Determinantes básicos das Transferências Verticais..................................... 145 3.4.1.2 – Os tipos básicos de Transferências................................................................ 151 3.4.1.3 – A Cota-Parte dos Municípios no ICMS......................................................... 155 3.5 - Conclusão...................................................................................................................... 160 Capítulo 4 – Incentivos Fiscais e Desenvolvimento Socioeconômico de Goiás – Análise de Impactos dos Programas Fomentar e Produzir (1995-2011).........................164 Introdução.............................................................................................................................. 164

Page 16: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

4.1 – Antecedentes................................................................................................................. 165 4.2 – Análise do Programa Fomentar......................................................................................170 4.3 – Análise do Programa Produzir...................................................................................... 172 4.4 – Projetos aprovados e efetivamente em fruição.............................................................. 177 4.5 – A efetividade do Programa Fomentar........................................................................... 179 4.6 – Análise das principais variáveis de estudo.................................................................... 183 4.6.1 – Produto.............................................................................................................. 184

4.6.2 – Emprego e Renda.............................................................................................. 191 4.6.3 – Balança Comercial............................................................................................ 197 4.6.4 – Arrecadação...................................................................................................... 205 4.6.5 – Indicadores Sociais........................................................................................... 210

4.7 – Dados e Metodologia.................................................................................................... 215 4.7.1 – Abrangência espacial e temporal.......................................................................215 4.7.2 – Delimitação do estudo.......................................................................................216 4.7.3 – Dados e Metodologia.........................................................................................216 4.7.4 – Limitações..........................................................................................................221 4.8 – Conclusão...................................................................................................................... 221 5.0 - Considerações Finais................................................................................................... 225 Referências ........................................................................................................................... 230 Anexos .................................................................................................................................. 251

Page 17: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

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Introdução

Esta tese analisa os Programas de incentivos fiscais FOMENTAR e PRODUZIR

adotados pelo Governo do Estado de Goiás, com o intuito de atrair investimentos produtivos,

estimular o desenvolvimento econômico e/ou aumentar sua base tributária.

O objetivo geral desta tese consiste em avaliar os impactos econômicos produzidos

na economia do Estado de Goiás, em decorrência dos incentivos fiscais concedidos no âmbito

dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR, no período de 1995-2011. Essa política pública

ocorre num contexto de ‘guerra fiscal’, principalmente a partir do seu acirramento, na segunda

metade dos anos 90.

O FOMENTAR e o PRODUZIR são os dois programas mais importantes de apoio

ao desenvolvimento econômico e à industrialização adotados pelo Estado de Goiás no período

recente, e serão analisados em detalhes no quarto capítulo deste estudo.

Entre os objetivos específicos encontram-se:

● Avaliar a dimensão dos incentivos fiscais e financeiros oferecidos pelo Estado de

Goiás, através dos programas “FOMENTAR e PRODUZIR”, que são os principais

instrumentos para atração de investimentos produtivos;

● Entender a dinâmica da distribuição das empresas no espaço regional;

● Verificar se a guerra fiscal contribui para maior diversificação da estrutura produtiva

estadual contemplando novas atividades ou apenas reforçando especializações

produtivas;

Segundo Prado e Cavalcanti (1998), a competição tributária entre jurisdições (Tax

Competition), entendida como a utilização pelos governos estaduais de isenções, reduções e

diferimentos de prazos para pagamentos de impostos como recurso para alavancar a

industrialização regional, remonta pelo menos aos anos 60. Após um período de maior

intensidade e evidência, entre o final dos anos 60 e início dos anos 70, quando se tornou

notícia pela primeira vez a chamada ‘guerra fiscal’, esse tipo de prática aparentemente perde

ímpeto e desaparece dos debates e da mídia até o final dos anos 80.

Com o fim do regime militar (1964-1985), a democracia avança no país,

culminando com a adoção de uma nova Constituição em 1988, quando os direitos dos

cidadãos foram ampliados e o federalismo e a descentralização foram reforçados. Além disso,

no início dos anos 90, houve a abertura econômica e a estabilização da economia brasileira,

com a implantação do Plano Real em 1994. Nesse período, com o avanço da globalização e a

Page 18: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

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retomada dos investimentos diretos externos e internos no País, principalmente no setor

automotivo, o tema da competição tributária entre jurisdições, mais conhecida como “guerra

fiscal”, retorna à agenda de discussão, principalmente a partir de 1993/1994, quando se

transforma numa grande polêmica nacional. Desde então, o tema vem assumindo importância

crescente, em virtude do montante dos benefícios que vêm sendo concedidos pelos Estados às

grandes empresas, para que se instalem em seus territórios. Ao mesmo tempo, crescem as

críticas e os questionamentos ao caráter extremamente perverso dessa disputa, e fica também

evidente a dificuldade em se obter uma solução imediata, politicamente viável, para eliminar

ou reduzir seus impactos negativos.

A elaboração de programas voltados para atrair investimentos é prática usual na

maior parte dos Estados brasileiros desde os anos 50, e mais recentemente, também nos

grandes municípios. Desde então, programas de desenvolvimento regional para atração de

investimentos em vários Estados, jamais deixaram de existir.

Para Rezende e Afonso (2004), a guerra fiscal lança suas raízes em um vácuo

criado pela ausência de uma política regional patrocinada pela esfera federal para

contrabalançar a tendência à concentração das atividades econômicas modernas no Estado de

São Paulo. Dessa forma, a guerra fiscal busca substituir, de certa maneira, os instrumentos de

política regional existentes nas décadas de 70 e 80.

Entendimento semelhante pode ser encontrado em Porsse (2005), para o qual o

crescimento do papel dos governos estaduais na construção de políticas de desenvolvimento

regional foi reforçado pela mudança no papel do governo federal face à instabilidade

econômica persistente desde o início dos anos 80 e devido ao agravamento da crise fiscal da

economia brasileira. O ambiente de crise levou à concentração dos esforços do governo

federal para a elaboração de políticas macroeconômicas de estabilidade deixando a

preocupação com o desenvolvimento regional em segundo plano.

A guerra fiscal, portanto, é um estado peculiar de acirramento do caráter

competitivo dessas políticas, que ocorre em determinado momento e em certas condições.

Diversos trabalhos mostram que em ambiente não-cooperativo há problemas de eficiência e

provisão sub-ótima de bens e serviços públicos que comprometem o bem-estar dos cidadãos,

como os de Gordon (1983), Mintz e Tulkens (1986), Zodrow e Mieszkowski (1986), Keen e

Marchand (1997), Kanbur e Kenn (1993), Varsano (1997), Prado e Cavalcanti (1998), Viol

(1999), Afonso, Ferreira e Varsano (2003). Outros reconhecem mérito na competição fiscal

como forma de se atingir a eficiência econômica ou limitar o papel do Estado, como Tiebout

Page 19: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

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(1956), Oates e Schwab (1988), Crombrugghe e Tulkens (1990), Brennan e Buchanan (1980),

Rauscher (1998), Cassette, Jayet, Paty (2005).

Diversos incentivos são oferecidos às empresas, dentre eles, destacam-se as

operações de isenção/redução/diferimento de ICMS, que têm sido utilizadas como principal

mecanismo de subsídio, estando presente em todos os acordos entre governos estaduais e

empresas, sendo responsáveis pela maior parte do total de subsídios.

A utilização do ICMS, principal imposto estadual, como instrumento de incentivo

tem gerado questionamentos sobre os possíveis efeitos negativos dessa prática sobre os já

fragilizados orçamentos estaduais, levando à formação de um senso comum que chama a

atenção para as consequências perversas da guerra fiscal sobre as finanças dos Estados.

Mas, esta não é uma opinião unânime. Trabalho desenvolvido por Prado e

Cavalcanti (1998), influenciado pelo trabalho de Varsano (1997), buscou mostrar justamente

o contrário, ou seja, que a guerra fiscal não implicaria, necessariamente, na degradação da

situação fiscal dos Estados praticantes. Os autores enfatizam a possibilidade de geração de

efeitos orçamentários positivos para a economia do Estado, enquanto no plano agregado, que

considera o país como um todo, a guerra fiscal necessariamente implica em perdas fiscais.

Devido à instabilidade econômica vigente desde o início dos anos 80 no Brasil e

ao agravamento da crise fiscal, a preocupação com o desenvolvimento regional, por parte do

governo federal, ficou em segundo plano. Somado a isto, a descentralização de receitas

promovida pela Constituição de 1988 ampliou a autonomia dos governos sub-nacionais. Em

consequência, os Estados passaram a adotar políticas autônomas de desenvolvimento,

acirrando a competição tributária entre jurisdições. Aplicada ao Estado de Goiás, a

problemática pode ser resumida na seguinte questão: Políticas de incentivos fiscais e

financeiros adotadas pelo governo do Estado de Goiás, no âmbito dos programas

FOMENTAR e PRODUZIR, para atração de investimentos produtivos, contribuíram para

promover o desenvolvimento do Estado?

Em resposta a essa questão, procuraremos demonstrar que, embora alguns

indicadores evidenciem ganhos para o estado e a população das regiões beneficiadas com os

novos empreendimentos no curto e médio prazo, a forma para se chegar ao desenvolvimento

econômico sustentável não pode se basear em uma política de conflito federativo permanente

combinado com a utilização indiscriminada de incentivos fiscais.

Os anos 90 foram palco de mudanças estruturais importantes na economia mundial

e nacional. O avanço do processo de globalização aumentou de forma significativa a

mobilidade dos fatores em escala mundial, contribuindo para o aumento da competição

Page 20: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

18

tributária entre países como forma de atração de capitais produtivos, refletindo no âmbito

interno da federação brasileira, com o acirramento da guerra fiscal a partir de meados dos

anos 90, com a finalidade de atrair esses capitais. Mudanças internas também contribuíram

para isso, como a maior autonomia concedida aos Estados e Municípios pela Constituição de

1988, a abertura econômica, a estabilização da economia, a retomada dos investimentos

internos e externos a partir de 1994, notadamente no setor automobilístico.

Desta forma, o grau de competitividade do país se eleva trazendo novos desafios

para os governos subnacionais. Estudar as transformações ocorridas a partir desse período em

uma unidade da federação, no caso, no Estado de Goiás, é o desafio deste trabalho,

principalmente em relação ao aspecto específico da competição tributária entre jurisdições,

também conhecida como guerra fiscal.

A escolha do tema deve-se à sua atualidade e relevância econômica e social, tendo

em vista o impacto que as renúncias fiscais, decorrentes da competição tributária, podem

trazer para as finanças públicas e para o bem-estar da população, através da diminuição da

capacidade de investimento do Estado. No Brasil, em 2003, o tema ganha mais destaque, com

o envio do Projeto de Reforma Tributária ao Congresso Nacional para discussão e aprovação.

Os interesses conflitantes logo vieram à tona, e o que vimos foi a exacerbação da guerra

fiscal, em virtude das restrições que seriam impostas pela Emenda Constitucional à sua

continuidade. No governo atual, uma nova proposta de Reforma Tributária foi enviada ao

Congresso. Mas, apesar de muita discussão, dificilmente será aprovada, devido à falta de

consenso mínimo sobre pontos fundamentais.

Recentemente, uma nova polêmica sobre o tema tem agitado o meio político e

empresarial brasileiro. Trata-se da derrubada pelo Supremo Tribunal Federal de 23 normas

criadas por vários Estados para favorecer empresas e atrair investimentos à custa de outros

Estados, que foram julgadas inconstitucionais. Desta forma, os que combatem a guerra fiscal

esperam que essa decisão, se implementada, possa colocar fim ao conflito federativo,

contribuindo para a busca de um novo caminho para alavancar o desenvolvimento regional.

Outra polêmica, em mais um desdobramento da guerra fiscal ora em curso no país,

foi a chamada “Guerra dos Portos”, cujo instrumento principal era a redução do ICMS sobre

produtos importados por parte de alguns Estados, principalmente Goiás, Espírito Santo e

Santa Catarina. Estas medidas provocaram forte reação do empresariado nacional, comandada

pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP-, devido ao temor da

desindustrialização do país, que, para eles, está em curso. Pressionado, o Governo Federal se

comprometeu a tomar providências para acabar com essa guerra, através da unificação das

Page 21: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

19

alíquotas do imposto estadual que incide sobre as importações. A reação de alguns

governadores dos Estados prejudicados foi imediata, protestando e pressionando o Congresso,

para que mantivessem as regras anteriores, sob pena de elevadas perdas de arrecadação para

seus Estados. Exigiam compensações financeiras por parte do Governo Federal, caso as regras

fossem alteradas.

Finalmente, o Senado Federal acabou aprovando a unificação das alíquotas em

abril de 2013, e o Governo prometeu compensações aos estados prejudicados através de

empréstimos, via BNDES, para investimentos em infraestrutura econômica e social, como

forma de manter a suposta competitividade perdida desses Estados com o fim do incentivo às

importações.

Uma motivação adicional para a escolha do tema deve-se à escassez de trabalhos

empíricos, principalmente no âmbito estadual e à possibilidade de a pesquisa poder contribuir

para ampliar o debate acadêmico e na sociedade, fornecendo subsídios para políticas públicas

a serem adotadas pelos governos.

Esta tese está estruturada com introdução, quatro capítulos e as considerações

finais. O primeiro capítulo abordará o papel do Estado no desenvolvimento, a partir da teoria

da busca de renda e da abordagem institucionalista (North, Evans e Chang). Iniciamos com

uma discussão a respeito do conceito e da definição de desenvolvimento, seguindo com a

apresentação das novas concepções de desenvolvimento, das teorias sobre o papel do Estado

na promoção do desenvolvimento. Isto se faz necessário, tendo em vista a multiplicidade de

visões acerca do tema e de sua evolução ao longo do tempo. O capítulo será encerrado com a

abordagem de outro tema de interesse deste estudo, que é a teoria sobre Estado e

Desenvolvimento Regional. No caso brasileiro, a questão do desenvolvimento regional é

abordada no contexto de um sistema federativo, assim como as políticas estaduais de

desenvolvimento, baseadas em incentivos fiscais, que também serão analisadas.

No segundo capítulo, será feita a abordagem da competição tributária entre

jurisdições segundo as diversas correntes, com destaque para os modelos de Tiebout e

Gordon. Em seguida, será feita análise da competição fiscal no Brasil, com uma

caracterização histórica e conceitual do fenômeno, através da identificação de seus

determinantes e dos elementos de ordem política, econômica e institucional que influenciam

no surgimento da competição tributária. Ainda, será destacada a sua evolução e

características, dos anos 60 até o período recente.

O terceiro capítulo apresentará a descrição do sistema federativo e do federalismo

fiscal no Brasil, com o objetivo de verificar até que ponto a forma de organização

Page 22: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

20

institucional desta federação tem contribuído para o acirramento da competição tributária

entre os governos subnacionais. Serão abordados os aspectos teóricos do federalismo fiscal

em geral, e, em particular, do federalismo fiscal brasileiro, tendo em vista sua importância

para a compreensão da competição fiscal que se estabeleceu no território brasileiro,

principalmente a partir da Constituição de 1988.

No quarto capítulo, será realizada a análise dos programas de incentivos fiscais

FOMENTAR E PRODUZIR adotados pelo governo do Estado de Goiás no contexto da

“guerra fiscal”, no período 1995-2011, como estratégia para alavancar o desenvolvimento

regional, avaliando os impactos econômicos produzidos na economia goiana, através dos

indicadores socioeconômicos disponíveis. Em seguida, serão apresentadas as considerações

finais.

Page 23: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

21

Capítulo 1 – O Papel do Estado no Desenvolvimento

Introdução

A maioria dos economistas acredita que mercados competitivos, deixados por si

mesmos, conduziriam naturalmente ao desenvolvimento econômico. Entretanto, não há razões

teóricas para se esperar que uma ordem espontânea promova o funcionamento econômico de

forma harmônica na sociedade moderna. Isto nos conduz diretamente à discussão do papel

institucional do Estado no sistema econômico e no desenvolvimento, qual seja: Qual o papel

do Estado no sistema econômico? O Estado pode atuar de modo a favorecer o

desenvolvimento?

Para Fiani (2011), o Estado tem papel fundamental na promoção do

desenvolvimento. Em primeiro lugar, o papel institucional, que se refere ao papel do Estado

na constituição dos arranjos institucionais - as estruturas de governança - necessários ao bom

funcionamento da economia, reduzindo conflitos e promovendo a cooperação, de forma a

diminuir os custos de transação. Também pode se referir ao papel do Estado ao fornecer um

ambiente institucional, que é o conjunto de regras fundamentais de natureza política, social e

legal que estabelece a base para a produção, a troca e a distribuição, e deixar que os agentes

privados constituam as estruturas de governança sobre esta base. Englobam, por exemplo – a

constituição nacional, o regime político, as leis, regulamentos públicos etc.

Entretanto, entre os economistas, não é dada importância muito grande ao papel do

Estado no sistema econômico e no desenvolvimento, seja nos arranjos institucionais, seja no

ambiente institucional. A atenção maior recai sobre as políticas econômicas adotadas pelo

Estado, principalmente sobre a política monetária e a política fiscal. A razão da menor

atenção dada ao papel institucional do Estado é resultado de abordagens em que qualquer

intervenção do Estado na economia é percebida como essencialmente nociva ao bom

funcionamento do sistema econômico, causando distorções. Contudo, é muito frágil

teoricamente a idéia de uma sociedade com sua atividade econômica articulada única e

exclusivamente por meio de mercados, ainda que esses mercados sejam todos perfeitamente

competitivos.

Antes de iniciarmos a discussão sobre o papel do Estado no desenvolvimento,

tema deste capítulo, necessário se faz conceituar e definir “o que é desenvolvimento”, tendo

Page 24: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

22

em vista a multiplicidade de visões acerca do significado do desenvolvimento e de sua

constante evolução ao longo do tempo.

1.1 – O Conceito de Desenvolvimento

Os contextos social, geográfico e histórico de qualquer conceito, bem como a sua

trajetória evolutiva, são centrais para a sua compreensão. As teorias, os modelos e as

definições de desenvolvimento são socialmente determinados, geograficamente diferenciadas

e evoluem ao longo do tempo. Por outro lado, durante o processo evolutivo do conceito, o que

se considera “desenvolvimento” tornou-se mais complexo e diverso, e entender sua natureza

mais básica é fundamental para a compreensão do conceito.

Existe uma vasta literatura sobre desenvolvimento econômico, ampla e profunda.

Entretanto, até hoje, não há muita clareza sobre o significado de desenvolvimento. Há

diferentes visões, e que mudam ao longo do tempo. Contudo, um mínimo irredutível pode ser

considerado o seu significado essencial. Entende-se que o desenvolvimento deve contribuir

para a melhoria das condições de vida da população, garantindo que todos terão suas

necessidades humanas básicas atendidas, e isto significa o provimento não apenas de

alimentos e vestuário, mas de moradia, saúde, educação, saneamento e transporte coletivo.

Esta proposição simples, mas poderosa, é frequentemente esquecida na busca de riqueza

material e nas preocupações convencionais da economia.

A literatura inicial sobre desenvolvimento enfatiza o crescimento econômico e o

acúmulo de capital em nível macro. No entanto, a literatura contemporânea do

desenvolvimento destaca o aumento da eficiência econômica e da produtividade em nível

micro. A industrialização sempre foi vista como um atributo essencial do desenvolvimento,

porém, a ênfase passou do ritmo da industrialização para sua eficiência. A suposição

subjacente é que o crescimento e a eficiência econômica não são apenas necessários, mas

também suficientes para trazerem melhorias nas condições de vida da população.

De tempos em tempos, vozes dissidentes questionam o pensamento convencional

sobre crescimento econômico ou aumento da renda per capita como medida de

desenvolvimento, sugerindo outros indicadores de desenvolvimento, como a redução da

pobreza, da desigualdade e do desemprego, que levariam em conta mudanças na qualidade de

vida. Mas estes aspectos do desenvolvimento foram em grande parte ignorados pela economia

em voga, que não fazia distinção entre meios e fins.

Page 25: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

23

O crescimento econômico e a eficiência econômica, incluindo a industrialização,

são meios. O desenvolvimento é que é um fim. Assim, crescimento e eficiência precisam ser

combinados com pleno emprego, com a erradicação da pobreza, a redução da desigualdade, o

desenvolvimento humano e com ambiente sustentável para se alcançar o desenvolvimento.

Afinal, o propósito do desenvolvimento é criar um ambiente que permita à população em geral

viver com dignidade.

Em termos convencionais, o mundo fez enormes progressos econômicos durante a

segunda metade do século XX. Nos últimos cinquenta anos, o PNB mundial cresceu dez

vezes, enquanto a renda per capita triplicou. O crescimento foi impressionante até no mundo

em desenvolvimento, particularmente quando comparado com o subdesenvolvimento e a

estagnação na era colonial, durante a primeira metade do século XX. Mas tais agregados

podem esconder mais do que revelar, pois o desenvolvimento foi muito desigual entre países e

dentro de cada país.

Nessa ótica, destaca-se que o padrão de desenvolvimento foi tal que levou ao

aumento da distância econômica entre o mundo industrializado e grande parte do mundo em

desenvolvimento. Ainda, levou ao aumento da distância econômica entre os novos países

industrializados, de um lado, e os países menos desenvolvidos, de outro. Ao mesmo tempo, foi

registrado aumento nas disparidades econômicas entre regiões e entre habitantes de um mesmo

país. Em outras palavras, muitas regiões do mundo, e uma proporção significativa de sua

população, foram excluídas do desenvolvimento. Isso pode ser atribuído à lógica dos

mercados, que dá àqueles que têm e tira dos que não têm, num processo de efeito cumulativo

que conduz a círculos virtuosos e viciosos guiados pelo mercado.

Esse pode ser o resultado de padrões de desenvolvimento nos quais o crescimento

econômico é desigual entre regiões e a distribuição de seus benefícios é desigual entre as

pessoas, de modo que há afluência crescente para alguns, combinada com a pobreza

persistente de muitos. Logo, essa pode ser a consequência de estratégias de desenvolvimento,

na medida em que a performance econômica similar no agregado poderia levar ao

desenvolvimento igualitário em uma situação e, em outra, ao crescimento que exclui a maioria

da população.

O desenvolvimento desigual não deixa de ter consequências para a população, pois

a pobreza, a desigualdade e a privação persistem. Há pobreza em todos os lugares, como nas

economias industriais, e não apenas no mundo em desenvolvimento e nas economias em

transição. As desigualdades econômicas aumentaram nas três últimas décadas, ao mesmo

Page 26: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

24

tempo em que cresceu a diferença de renda entre países ricos e pobres, entre pessoas ricas e

pobres dentro de cada país, e também entre os ricos e pobres da população mundial.

A exclusão de países e pessoas do processo de desenvolvimento tornou-se muito

menos aceitável com o passar do tempo. A proposição de que o crescimento econômico, ou a

eficiência econômica, acabará eventualmente por melhorar a condição da população é,

obviamente, muito menos aceitável hoje do que há cinquenta anos. A democratização de

sistemas de governo, mesmo ocorrendo muito mais lentamente que a marketização das

economias, aumentou a importância do tempo na busca por desenvolvimento. Quase três

quartos da população mundial vivem atualmente em sociedades pluralistas com regimes

democráticos, e até os regimes autoritários precisam obter mais legitimidade de seu povo.

Pobreza ou austeridade hoje contra a prosperidade mais tarde já não é uma opção aceitável,

porque as pessoas querem o desenvolvimento imediato. Nayyar (2012) destaca:

Talvez essa realidade forneça os fundamentos essenciais da literatura emergente sobre o direito ao desenvolvimento. Encontra-se, ainda, uma definição apropriada na concepção de Amartya Sen, que alia o desenvolvimento com liberdade. Nesse sentido, pode-se afirmar que há fortes interconexões entre liberdades políticas, oportunidades sociais e capacidades econômicas. Desta forma, a remoção dos obstáculos à liberdade, ou a ampliação das liberdades individuais, são fatores constitutivos do desenvolvimento. Mais liberdade para as pessoas, nessa visão de mundo, é tanto um fim primário como o principal meio de desenvolvimento. A implicação disso é a idéia de que a mudança de concepção sobre os direitos reflete a mudança de concepção de desenvolvimento. (NAYYAR, 2012, p. 224).

As discussões acerca do conceito de desenvolvimento e as formas de promovê-lo

têm sido pauta frequente de discussões entre economistas, empresários, políticos e

interessados no bem estar e no futuro da humanidade. Abaixo, especialistas conceituam

desenvolvimento.

Furtado (1964) definiu o desenvolvimento econômico como um processo de

mudança social pelo qual um número crescente de necessidades humanas - preexistentes ou

criadas pela própria mudança – são satisfeitas através de uma diferenciação no sistema

produtivo decorrente da introdução de inovações tecnológicas.

Segundo Furtado (1964), o desenvolvimento econômico, tal qual vem sendo

praticado nos países que lideraram a Revolução Industrial, nunca poderia ser universalizado,

conforme apregoava a imensa maioria dos economistas entre 1950 e 1970. De maneira

complementar a essa crítica, o autor desenvolve também nos livros Raízes do

Subdesenvolvimento e Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, uma análise histórico-

econômica sobre a formação das sociedades de base industrial e a incorporação do progresso

técnico. Nesse sentido, o autor refere que “o crescimento econômico tende a depender da

Page 27: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

25

habilidade das classes que se apropriam do “excedente” de convencer a maioria da população

a aceitar um alto nível de desigualdades sociais. Só o processo político pode alterar esse

quadro” (FURTADO, 1964, p. 211).

Para Bresser Pereira (2006), desenvolvimento econômico é o processo histórico de

crescimento sustentado da renda ou do valor adicionada por habitante implicando a melhoria

do padrão de vida da população de um determinado estado nacional, que resulta da sistemática

acumulação de capital e da incorporação de conhecimento ou progresso técnico à produção.

Nestes termos, o desenvolvimento econômico é um processo de transformação que implica em

mudanças nos três níveis ou instâncias de uma sociedade: estrutural, institucional ou cultural.

Desta forma, ainda segundo Bresser Pereira (2008), o desenvolvimento econômico

de um país ou estados-nação é o processo de acumulação de capital e incorporação de

progresso técnico ao trabalho e ao capital que leva ao aumento da produtividade, dos salários,

e do padrão médio de vida da população.

De acordo com o referido autor, a medida mais geral de desenvolvimento

econômico é a do aumento da renda por habitante, porque esta mede, aproximadamente, o

aumento geral da produtividade; enquanto os níveis comparativos de desenvolvimento

econômico são geralmente medidos pela renda em termos de “paridade do poder de compra”

(purchasing power parity – ppp) por habitante, pois a renda ou o produto do país, corrigido

desta maneira, avalia melhor a capacidade média de consumo da população do que a renda

nominal.

Logo, uma alternativa à avaliação do desenvolvimento econômico de um país

através da renda per capita, devido às suas óbvias limitações, é o índice de desenvolvimento

humano, um importante avanço, mas não substitui a avaliação anterior, antes a complementa.

O desenvolvimento econômico supõe uma sociedade capitalista organizada na forma de um

estado-nação onde há empresários e trabalhadores, lucros e salários, acumulação de capital e

progresso técnico, um mercado coordenando o sistema econômico e um estado regulando esse

mercado e complementando sua ação coordenadora. Nessa ótica, o desenvolvimento

econômico visa atender diretamente um objetivo político fundamental das sociedades

modernas – o bem estar – e, apenas indiretamente os quatro outros grandes objetivos que essas

sociedades buscam – a segurança, a liberdade, a justiça social e a proteção do ambiente. Por

isso, é importante não confundi-lo com o desenvolvimento ou com o progresso total da

sociedade que implica num avanço equilibrado nos cinco objetivos.

Bresser Pereira (2008) preconiza que, dado o fato de que o desenvolvimento

econômico implica mudanças estruturais, culturais e institucionais, existe uma longa tradição

Page 28: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

26

que rejeita a identificação de desenvolvimento econômico com crescimento da renda per

capita ou simplesmente crescimento econômico.

Crescimento econômico está, normalmente, associado com mudanças tecnológicas.

Um exemplo é o grande crescimento da economia dos EUA durante a introdução da internet e

a tecnologia que isto trouxe para a indústria dos EUA como um todo. O crescimento de uma

economia é pensado não apenas como o aumento da capacidade produtiva, mas também como

a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Para Schumpeter (1961), o desenvolvimento econômico implica transformações do

sistema econômico que o simples crescimento da renda per capita não assegura. O autor usou

essa distinção para salientar a ausência de lucro econômico no fluxo circular onde, no máximo,

ocorreria crescimento, para mostrar a importância da inovação – ou seja, de investimento com

incorporação do progresso técnico – no verdadeiro processo de desenvolvimento econômico.

Todaro e Smith (2003) preconizam que o desenvolvimento é um processo

multidimensional envolvendo mudanças na estrutura social, atitudes populares, e instituições

nacionais, bem como a aceleração do crescimento econômico, a redução da desigualdade, e a

erradicação da pobreza.

Para o IPEA (2004, p. 17), o desenvolvimento econômico pode ser definido como

“uma combinação de crescimento sustentado, reestruturação produtiva com aprofundamento

tecnológico e melhoria os indicadores sociais/progresso social da população em geral".

Segundo Queiroz (2011), após o fim da Segunda Guerra Mundial o debate sobre

desenvolvimento econômico de regiões atrasadas passou a ganhar espaço na academia e a

diferença entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento econômico se tornou mais

evidente. Com essa evolução, o termo “desenvolvimento econômico” passou a ser entendido

não somente como crescimento da renda per capita, mas também uma mudança estrutural em

diversas áreas.

Segundo Krugman (1995), após a década de 50 a teoria do desenvolvimento

econômico passou a apresentar explicações dicotômicas entre crescimento e desenvolvimento

econômico. O primeiro trataria de questões de eficiência na alocação dos recursos e de

crescimento da renda per capita no tempo, enquanto o segundo teria o crescimento econômico

como condição necessária, mas não suficiente – seria necessário que diversas metas sociais e

distributivas fossem também alcançadas. O autor acreditava que essa teoria do

desenvolvimento econômico iria incorporar avanços formais e modelagem rigorosa, que a

alçasse ao status de mainstream na Economia, o que acabou não ocorrendo.

Page 29: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

27

Helpman (2004) refere que o entendimento das forças que conduzem ao

crescimento da economia pode ser organizado segundo quatro temas:

1. A acumulação de capital físico e humano é importante, mas explica apenas parte da

variação de renda per capita e de taxas de crescimento entre países. Os fatores

tecnológicos e institucionais também afetam a taxa de acumulação desses insumos de

capital, e eles são, de alguma maneira, fundamentais;

2. A produtividade total dos fatores é pelo menos tão importante quanto a acumulação

dos fatores de produção. Para entendermos seus determinantes é necessário o

entendimento do que cria a acumulação do conhecimento e, em particular, quais são os

incentivos para a criação do conhecimento. Isso leva naturalmente para o exame dos

efeitos da pesquisa e criação (R&D), do learning-by-doing, acerca das externalidades e

dos retornos crescentes de escala;

3. As taxas de crescimento dos diferentes países da economia global são

interdependentes, pois os fluxos de conhecimento atravessam fronteiras e o comércio

internacional e os investimentos estrangeiros afetam os incentivos para inovar, para

imitar e para usar novas tecnologias;

4. As instituições econômicas e políticas – e para seu entendimento é muito valiosa a

contribuição da história econômica e da geografia econômica – afetam os incentivos

para acumular e para inovar e eles também afetam a habilidade dos países para

acomodar transformações. Da mesma maneira, problemas de desigualdade na

distribuição de renda e de pobreza afetam esses incentivos.

Uma das justificativas à negação do conceito de desenvolvimento, definido como

crescimento econômico, é a amplitude que o conceito de desenvolvimento tem assumido desde

o fim da década de 80 e início da década de 90.

A exemplo de outros conceitos relacionados às ciências econômicas, o conceito de

desenvolvimento vem adquirindo novas roupagens nas últimas décadas, deixando de ser

atrelado à mera análise do PIB (Produto Interno Bruto), passando a ser interpretado sob a ótica

da distribuição de renda e da busca por um sistema mais igualitário.

Entre as novas linhas interpretativas acerca do processo de desenvolvimento a

visão de Amartya Sen (1999), cujo nome está ligado à formulação do Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) se destaca. Para ele, o desenvolvimento econômico implica

a expansão das capacidades humanas e aumento da liberdade. Nessa ótica, segundo o autor,

pode-se analisar o desenvolvimento sob o ponto de vista das liberdades substantivas, segundo

as quais o ser humano deve ser liberto da dependência econômica de outros seres humanos.

Page 30: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

28

Então, os parâmetros tradicionais do desenvolvimento se rompem, tornando-se inviável a

avaliação do desenvolvimento da mesma forma que outrora. A visão de Sen fica mais

explícita, conforme destacado:

Ver o desenvolvimento a partir das liberdades das pessoas tem implicações muito abrangentes para nossa compreensão do processo de desenvolvimento e também para os modos e meios de promovê-lo. Na perspectiva avaliatória, isso envolve a necessidade de aquilatar os requisitos de desenvolvimento com base na remoção das privações de liberdade. Quando nos concentramos nas liberdades ao avaliar o desenvolvimento, não estamos sugerindo que existe algum “critério” de desenvolvimento único e preciso segundo o qual as diferentes experiências de desenvolvimento sempre podem ser comparadas e classificadas. (SEN, 2000, p.49).

De modo complementar, Sachs (2004) define o desenvolvimento de modo

diferenciado da visão tradicional, focando-o em variáveis relacionadas ao bem-estar da

população, conforme segue:

Igualdade, equidade e solidariedade estão, por assim dizer, embutidas no conceito de desenvolvimento, com conseqüências de longo alcance para que o pensamento econômico sobre o desenvolvimento se diferencie do economicismo redutor. Em vez de maximizar o crescimento do PIB, o objetivo maior se torna promover a igualdade e maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condições, de forma a reduzir a pobreza, fenômeno vergonhoso, porquanto desnecessário, ao nosso mundo de abundância. (SACHS, 2004, p.14).

Desta forma, este novo conceito acerca do termo desenvolvimento, que busca um

melhor equilíbrio entre a situação econômica dos homens nos diversos países, passou a

permear o debate entre os estudiosos de economia no mundo.

Becker et al (2002) ilustram bem as novas variáveis que passaram a fazer parte do

cenário de debate acerca do conceito de desenvolvimento, conforme transcrito a seguir:

[...] O contexto recente é amplamente favorável para a discussão e elaboração de um novo tipo de desenvolvimento. As crescentes evidências do custo ambiental do desenvolvimento industrial vigente, a crise ambiental, a queda da renda agrícola, a superprodução aliada à má distribuição de alimentos (decorrentes das novas relações econômicas internacionais), as ‘rupturas recentes’ (demográficas, do modelo de agricultura familiar, a dissociação entre agricultura, território e meio ambiente), as insuficiências do pensamento clássico e dos debates contemporâneos acerca do desenvolvimento (anos 50 e 60) e a contribuição dos movimentos libertários e civis pós-68, são alguns “elementos decisivos” no debate social e político sobre essa questão. (BECKER et al, 2002, p.24).

Assim, segundo Veiga (2005), o conceito de desenvolvimento nos dias atuais pode

ser definido como a possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram, com a

provisão dos instrumentos e das oportunidades para fazerem as suas escolhas.

Dadas as mudanças quanto à interpretação do processo de desenvolvimento, o

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) para desvincular a avaliação do processo de

Page 31: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

29

desenvolvimento das nações dos resultados econômicos obtidos pelas mesmas. O IDH foi

desenvolvido em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ULl Haq, e vem sendo

usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em seu relatório

anual. É uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de

“desenvolvimento humano”. Assim, países considerados desenvolvidos seriam aqueles que

apresentassem desenvolvimento humano muito alto; em desenvolvimento, aqueles que

apresentassem desenvolvimento humano médio e alto; e subdesenvolvidos aqueles que

apresentassem desenvolvimento humano baixo. A estatística é composta a partir de dados de

expectativa de vida ao nascer, de educação e PIB, calculados em termos de Paridade do Poder

de Compra (PPC) per capita como um indicador do padrão de vida, coletados em nível

nacional.

Até 2009, o IDH usava como critério de avaliação os três índices seguintes:

• Índice de Educação – a dimensão educação é avaliada considerando dois indicadores: a

taxa de alfabetização (com peso 2) e a taxa de escolarização;

• Longevidade – é avaliada considerando a expectativa de vida ao nascer;

• Renda – é calculada tendo por base o PIB per capita do país. Devido à diferença entre

o custo de vida entre países, a renda medida pelo IDH é em dólar PPP (Paridade do

Poder de Compra), que elimina essas diferenças.

No Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 o PNUD começou a usar um

novo método de cálculo do IDH. Para este fim, três índices são utilizados. São eles:

1. Expectativa de Vida ao Nascer (EV);

2. Índice de Educação (EI): Desmembrados em a) Índice de Anos Médios de Estudos

(IAME); e b) Índice de Anos Esperados de Escolaridade(IAEE);

3. Índice de Renda (IR)

O IDH atual é a média geométrica dos três índices anteriores normalizados. O IDH

de 2009 fazia a média aritmética dos três índices. A partir do relatório de 2010, o IDH

combina as três dimensões:

• Vida longa e saudável ao nascer: Expectativa de vida ao nascer;

• Acesso ao conhecimento: Anos Médios de Estudos e Anos Esperados de

Escolaridade;

• Padrão de vida decente: PIB (PPC) per capita

Page 32: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

30

No Relatório de Desenvolvimento Humano referente ao ano de 2012 o Brasil ocupa

a 85ª posição entre 186 países avaliados, atrás de países como o Chile (40ª), Argentina (45ª),

Uruguai (51ª), Cuba (59ª), Panamá (60ª), México (61ª), Costa Rica (62ª) e Venezuela (71ª),

Peru (77ª), considerando apenas países da América do Sul e Central. Na América Latina,

apesar de sermos a economia mais poderosa da região, o Brasil ocupa apenas a 10ª colocação

no IDH, o que mostra o longo caminho a ser percorrido até atingirmos o grau de

desenvolvimento humano muito alto.

1.2 – As Novas Concepções de Desenvolvimento

As novas concepções de desenvolvimento, de caráter multidimensional, surgiram

na fase chamada de pós-consenso de Washington, na qual os países passam a pensar o

desenvolvimento com um ingrediente novo que é a sustentabilidade. Desenvolvimento

sustentável inclui as variáveis: ambiental, a inclusão social e a idéia do crescimento

continua. Nessa revisão teórica, dois pensadores se destacam: Amartya Sen e Peter Evans.

Amartya Sen faz crítica ao neoliberalismo vigente nos anos 80 e 90, mesmo sendo

um liberal. No entanto, ele reconhece a importância do mercado, mas diz que existem áreas

em que há injustiça. Para o autor, o mercado não é capaz de resolver essa situação e, por isso,

cabe ao Estado um papel importante na redução da desigualdade. Para este fim, propõe a

correção no neoliberalismo, tendo em vista os resultados da aplicação dessa política em várias

partes do mundo, que aumentou a desigualdade e a exclusão social em nível global.

Para Amartya Sen, a liberdade deve ser entendida como o acesso ao bem-estar,

englobando neste conceito, o acesso à saúde, educação, habitação, ao saneamento e etc., que o

autor denomina de liberdades substantivas. Isto significa cuidar de quem está em situação de

privação, de quem é vítima da fome, da injustiça social ou da violência. Nesse sentido, para

ele o desenvolvimento não envolve somente o crescimento econômico, mas a expansão das

capacidades, porque o que qualifica o desenvolvimento são as oportunidades que oferecem. A

expansão das capacidades se dá através do que o autor chama de empoderamento (poder

para fazer alguma coisa) e do entitulamento (direito de propriedade/solo), e o processo de

escolha social se dá através do levantamento das preferências coletivas.

Para Diniz (2009), Amartya Sen com a publicação de Desenvolvimento com

Liberdade (1999), rompe com a visão unidimensional da economia, ao enfatizar a dimensão

ética e política dos problemas econômicos prementes de nosso tempo, colocando em xeque a

concepção convencional de desenvolvimento. As visões mais restritas de desenvolvimento –

Page 33: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

31

como crescimento do PIB, aprofundamento da industrialização ou expansão das exportações –

passam ao largo da importante concepção de que liberdades substantivas, como a liberdade de

participação política, a oportunidade de receber educação básica ou assistência médica, estão

entre os elementos constitutivos do desenvolvimento. Segundo Sen (1999), o

desenvolvimento deve ser interpretado como um processo de expansão das liberdades reais

que os cidadãos de um país desfrutam. Como tal, requer antes de tudo, que se removam as

principais fontes de privação de liberdade, tais como a tirania e a pobreza, a carência de

oportunidades econômicas, a destituição social sistemática, a negligência de oferta de serviços

públicos essenciais e a insegurança econômica, política e social.

O crescimento econômico é um componente importante do desenvolvimento, pois

contribui não só elevando rendas privadas, mas também possibilitando ao Estado financiar a

seguridade social e a intervenção governamental ativa. Entretanto, o crescimento econômico é

condição necessária, mas não suficiente para se chegar ao desenvolvimento. Desta forma,

segundo Sen (1999), a contribuição do desenvolvimento econômico tem que ser avaliada não

apenas pelo aumento da renda, mas pela expansão dos serviços sociais que o crescimento

pode viabilizar. Assim,E os desafios éticos, inclusive aqueles ligados à equidade, passam para

o centro do debate sobre desenvolvimento. Essa visão abrangente do desenvolvimento

refletiu-se na adoção pela ONU do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado por

Amartya Sen, para medir o grau de avanço alcançado pelos diferentes países.

Peter Evans (2003) é um crítico do neoliberalismo e é considerado de centro-

esquerda. Seu pensamento evoluiu do marxismo para o institucionalismo. Assim, para ele o

Estado é o grande árbitro do processo de desenvolvimento. O autor pertence a corrente

denominada de institucionalismo histórico, que trabalha, entre outros, os conceitos de

dependência da trajetória, realça o papel das instituições e das idéias e o papel do Estado no

desenvolvimento. Sua análise parte da perspectiva do utilitarismo liberal, buscando o bem-

estar/felicidade, em contraposição ao utilitarismo neoclássico, da escolha racional e das

preferências individuais. Evans propõe, ainda, o hibridismo como estratégia administrativa

para alcançar a sinergia entre Estado/Mercado/Sociedade. No trabalho Embedded Autonomy

(1995), o autor ressalta a importância do papel do Estado na transformação industrial do

Brasil, da Índia e da Coréia do Sul, e utiliza o conceito de dependência da trajetória para

explicar a mudança, ou seja, o vínculo com o passado determinando o futuro (determinismo).

Em outro trabalho, intitulado Além da Monocultura Institucional: instituições,

capacidades e o desenvolvimento deliberativo (2003), o autor dá grande ênfase na capacitação

do Estado, capacitação, aqui, entendida como aparelhamento do Estado para cumprir suas

Page 34: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

32

tarefas. Em A busca do Hibridismo como Estratégia Administrativa (2007), a respeito da

reforma e do papel do Estado, Evans propõe uma agenda para o século XXI, na qual a

capacidade estatal depende de seu “hibridismo”, ou seja, do equilíbrio integrado entre três

modos (às vezes contraditórios) de dirigir a ação administrativa. Estes são: a) a criação de

uma burocracia estatal técnica, do tipo Weberiana, preparada e com base na meritocracia, nas

normas profissionais, nas carreiras administrativas bem remuneradas e nas estruturas

organizativas coordenadas; b) receptividade aos sinais do mercado, que informam os custos e

benefícios das atividades públicas, facilitam a aplicação dos recursos e proporcionam a

“disciplina fiscal” que assegura que os fins da administração sejam consistentes com os meios

que têm disponíveis; c) A participação democrática “de base”, que assegura que os fins

administrativos refletem as necessidades e os desejos dos cidadãos comuns, e que o processo

administrativo seja transparente e esteja sujeito ao controle público. A esse modelo de

administração pública ele chamou de “modelo trípode”.

Os argumentos de Peter Evans sobre o papel do Estado ocupam grande parte de

sua produção teórica. Para ele a quantidade de intervenção é um debate estéril que focaliza a

distância entre situações típicas de mercados competitivos isolados. O contraste entre estado

dirigista x estado liberal e intervencionista x não intervencionista confunde a questão básica,

pois as alternativas são falsas. O intervencionismo é um fato. A pergunta apropriada não é

quanto, mas “que tipo” de intervenção. As formas de intervenção dependem das várias

formas que o Estado assume.

Para Evans, existem dois tipos de Estados: Estados Predadores x Estados

Desenvolvimentistas.

Nos Estados Predadores, o Estado impede o desenvolvimento à custa da sociedade,

pois esta não tem como impedir que os altos dirigentes ajam em seu próprio interesse em

detrimento dos objetivos coletivos. As relações com a sociedade ocorrem entre indivíduos em

cargos de poder e não com o povo (Weber – carência de burocracia).

Os Estados Desenvolvimentistas direcionam a transformação industrial e

promovem o desenvolvimento, e são organizados internamente como a burocracia weberiana.

Nesse tipo de Estado o recrutamento se dá por mérito e é altamente seletivo. Destaca-se que

as compensações, nas carreiras de longo prazo, criam compromisso e coerência corporativa e

possuem autonomia, mas sem isolamento da sociedade.

Papéis assumidos pelo Estado, segundo Evans (2003):

Page 35: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

33

1. Custódio - Regulador

Trata-se de um papel clássico do Estado: as regras podem ser mais

intervencionistas ou liberais, de implementação rígida ou flexível. Como exemplos podem ser

citados o controle de capitais, as importações, o meio ambiente, os investimentos, etc.

2. Demiurgo – Estado Produtor

Esse papel, geralmente assumido em áreas que requerem grandes investimentos,

de retorno em longo prazo e incerto, como os de infraestrutura (transporte, energia) e as obras

de caráter público ou coletivo.

3. Parteiro

Visa promover o aparecimento de novos grupos empresariais ou induzir os grupos

já existentes a entrarem em áreas mais complexas da indústria. Para o desempenho deste

papel, os instrumentos utilizados são as políticas protecionistas, as barreiras tarifárias, os

subsídios e os incentivos temporários.

4. Pastor

Neste caso, o objetivo é ajudar os grupos empresariais privados a vencerem

desafios competitivos e tecnológicos. Logo, os instrumentos utilizados é o financiamento ao

investimento e em pesquisa e desenvolvimento (P & D).

No que se refere ao papel do Estado, para Evans (2003), goste-se ou não, o Estado

permanece central ao processo de mudança estrutural, porque a resposta não está no

desmantelamento do Estado, mas em sua reconstrução. A capacidade de lidar com problemas

específicos como a estabilização e o ajuste, está enraizada nas características gerais difusas do

aparelho de Estado e em sua relação com as estruturas sociais circundantes, e estas, por sua

vez, são consequências de processos de mudança estrutural de longo prazo.

Evans (2003) afirma que o déficit dos países de industrialização tardia é a falta de

instituições que assumam os riscos de um investimento. Para ele, o Estado possui papel triplo:

a) estimular o investimento; b) controlar os desincentivos; c) investidor. Além disso, enfatiza

o papel decisivo da burocracia estatal na formação de capital social, no sentido de que a

função do Estado passaria da ação reguladora da interação social para a de indutor e

mobilizador do capital social, ligando cidadãos e mobilizando as agências públicas a

aumentarem a eficiência governamental, a partir da sinergia entre o Estado e a sociedade civil

com um conjunto de relações que ultrapassa a divisão público-privado.

Nessa ótica, ainda segundo Evans (2003), a sinergia Estado-Sociedade pode ser

catalisada para o desenvolvimento. Para tanto, é necessário que o Estado tenha capacidade e

habilidade para construir um aparato burocrático eficiente para gerir as demandas sociais. As

Page 36: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

34

normas de cooperação e redes sociais de engajamento cívico entre cidadãos comuns podem

ser incentivadas por agências públicas e usadas para fins de desenvolvimento, através da

utilização de organizações existentes na sociedade, para a discussão e a implementação de

políticas.

A estrutura das relações sinérgicas entre Estado e Sociedade é explicada a partir

dos conceitos, analiticamente distintos de complementaridade e embeddedness (inserção). A

complementaridade caracterizaria as relações de suporte mútuo entre atores privados e

públicos. Os governos são mais eficientes na distribuição de certos bens coletivos que podem

ter inputs complementares distribuídos por atores privados.

Embeddedness refere-se aos laços que conectam cidadãos e agentes públicos

(funcionários, técnicos, políticos), ultrapassando a separação público e privado, sem

necessariamente ser depositários de relações de corrupção ou rent-seeking.

Assim, complementaridade e embeddedness são conceitos que se combinam na

explicação da sinergia Estado-Sociedade, constituindo-se em dimensões do capital social. A

complementaridade cria o potencial de sinergia mas não a base organizacional para a

realização do potencial. Embeddedness, na forma de envolvimento direto com agentes

públicos, é a chave para os cidadãos garantirem esforços organizados que sustentaria o seu

desenvolvimento.

Comparando as duas perspectivas, observamos que os trabalhos de Evans nos dão

uma nova visão acerca do papel do Estado no desenvolvimento dos países emergentes, pois o

autor vai além da análise econômica, chamando a atenção para a sinergia Estado-Sociedade,

principalmente entre o Estado e as classes empresariais. Desloca a ênfase para os aspectos

institucionais envolvidos na construção de mecanismos de governança econômica, com

destaque para a montagem de arenas de concertação, tendo em vista a definição e

implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento em países como Índia,

Brasil e Coréia. O autor destaca o hibridismo como forma de melhorar a capacidade

burocrática do Estado (burocracia Weberiana), a receptividade aos sinais do mercado e o

controle democrático de base como modelo de administração pública.

O trabalho de Amartya Sen chama a atenção para a dimensão ética e política de

problemas prementes de nosso tempo, colocando em xeque a concepção convencional de

desenvolvimento. Para ele, o desenvolvimento deve ser entendido como a expansão das

liberdades reais, denominado por ele de liberdades substantivas. Para isso, defende primeiro a

remoção das principais fontes de privação da liberdade. Em seguida, sustenta que o

crescimento é condição necessária, mas não suficiente para se chegar ao desenvolvimento, e

Page 37: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

35

que a contribuição do crescimento deve ser avaliada não apenas pelo aumento da renda, mas

pela expansão dos serviços sociais que o crescimento pode viabilizar.

Sen defende a correção no neoliberalismo; reconhece a importância do mercado,

mas preconiza que nas áreas em que há injustiça o mercado não resolve, e que o Estado tem

papel importante na redução da desigualdade. Nesse sentido, desenvolvimento significa a

expansão das capacidades.

1.3 – Teorias Sobre o Papel do Estado na Promoção d o Desenvolvimento

Neste tópico serão analisadas as teorias sobre o papel do Estado no

desenvolvimento, começando pela Teoria de Busca de Renda (Rent Seeking), depois

discutiremos a análise de Douglas North sobre o papel do Estado na economia e as

abordagens alternativas do Estado no desenvolvimento, segundo Peter Evans e Ha-Joon

Chang.

1.3.1 - A Visão Negativa do Estado: A Teoria de Bus ca de Renda (Rent

Seeking)

A Teoria da Busca de Renda pode ser considerada como o primeiro esforço teórico

consistente para tratar do papel institucional do Estado na economia, ainda que de um ponto

de vista radicalmente negativo. Antes, a análise do papel econômico do Estado era

essencialmente a de suas políticas macroeconômicas. Entretanto, essa abordagem teórica do

Estado, apesar de pioneira, possui deficiências.

Essa vertente teórica pioneira, nos estudos do Estado, se dedicou a investigar a

atividade do Estado como agente de redistribuição de renda, e ficou conhecida como a Teoria

de “Busca de Renda” (do inglês, rent seeking). Pertencem a essa corrente teórica (Tullock,

Gordon, 1967; Krueger, Anne,1974; Posner, Richard, 1975; Buchanan, James, 1980; Tollison,

Robert, 1982). O tema central da Teoria da Busca de Renda é a busca, por parte de agentes

privados, de rendas por meio de privilégios que os protejam da competição no mercado,

privilégios estes concedidos pelo Estado.

Assim, os agentes privados buscariam através do Estado regras e regulamentos de

proteção contra a competição do mercado, tais como: tarifas de importação sobre produtos

concorrentes; licenças de produção; regras por parte de agência reguladora etc.. Essa ação do

Estado teria uma consequência comum: permitiriam aos agentes privados beneficiados elevar

Page 38: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

36

seus preços e obter lucros acima dos níveis de concorrência perfeita. Esse aumento de preços

levaria à perda líquida de bem-estar da sociedade, provocada pela redução do número de

compradores de bens ou serviços, não compensados pelo aumento nos lucros do produtor que

elevou seus preços.

A novidade da Teoria de Busca de Renda está no fato de que, uma vez dado o

privilégio, os agentes privados começariam a competir entre si, por meio de lobbies, para

conseguir do Estado o estabelecimento de regras que os protegeriam da competição e

aumentariam os seus lucros. Essa competição consumiria recursos reais da economia e

reduziria os recursos reais para a produção, e, com isso, a produção seria menor e o bem-estar

social reduzido.

O trabalho pioneiro na abordagem da busca de renda foi o artigo de Gordon

Tullock: The Welfare Costs of Tariffs, Monopolies, and Theft (Tullock, 1967), no qual ele

afirma que às perdas pela redução na despesa total dos consumidores deveria se somar o

desperdício de recursos provocado pela competição na sociedade pelo direito de monopólio.

Do ponto de vista da Teoria de Busca de Renda, os agentes privados podem buscar

dois tipos de ganhos: ou eles buscam lucros competindo nos mercados, ou eles buscam

rendas, entendidas como ganhos que excedem os lucros obtidos na competição no mercado

(lucros extraordinários). A referência por trás da análise dessa teoria é a de que os mercados

no sistema econômico, sem a intervenção do Estado, são sempre competitivos. Segundo essa

teoria, a diferença entre “busca de renda” e “busca de lucro” deriva de seus resultados em

termos de bem-estar social, ou seja, a busca pelo lucro aumenta a produção na economia,

devido à ampliação da capacidade produtiva e à utilização de tecnologias mais eficientes,

enquanto a busca de renda consome recursos (financiar campanhas políticas, ou capturar

funcionários públicos) apenas para a obtenção de privilégios que permitirão transferir renda,

como monopólios, que transferem renda dos consumidores para os monopolistas. Tullock

(1993) menciona a existência de um mercado político como sendo o lugar onde as transações

entre políticos e burocratas buscam benefícios pessoais, por um lado, e agentes privados

buscam proteção da competição, por outro lado, e assim se realizam.

De acordo com Buchanan (1980), a escolha entre busca de lucro ou busca de

rendas se daria pelo ambiente institucional, aquele que incentiva a busca de renda e é

resultante da participação do Estado na regulamentação da vida econômica. Desta forma, a

obtenção de renda ocorre não mais se produzindo no mercado, mas se conquistando os

favores do Estado, de forma que se possa receber a concessão de o monopólio ou a proteção

social.

Page 39: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

37

Pelo exposto, segundo a Teoria de Busca de Renda, qualquer intervenção do

Estado na economia estimularia o desperdício de recursos escassos e visaria apenas a criar

privilégios economicamente injustificáveis. Qualquer intervenção levaria troca de favores

entre grupos privados e funcionários públicos (mercado de troca de favores – balcão), gerando

distorções econômicas. De acordo com essa teoria a visão do Estado como promotor do bem-

comum e do desenvolvimento é uma visão ingênua.

Alguns autores apontaram diversas deficiências da Teoria de Busca de Renda

como Peter Evans (2004), Fishlow (1990), Samuels e Mercuro (1984), tais como: os

problemas da hipótese implícita de mercados eficientes; o problema dos direitos de

propriedade; o problema para explicar a ação coletiva dos Estados; o problema para explicar

as diferenças nas intervenções dos Estados para a promoção do desenvolvimento. Logo,

explicar as diferenças de qualidade da intervenção do Estado torna-se impossível, devido à

ausência de uma teoria que permita contextualizar social e historicamente a ação dos Estados.

Segundo Evans (2004):

Se os padrões intitucionais históricos definem os interesses individuais e restringem a maneira como estes são perseguidos, um diagnóstico como ‘um modelo que serve para tudo 'não pode funcionar', porque 'tanto as ações do Estado como suas consequências para o desenvolvimento se tornam contingentes do contexto no qual estão imersas. (EVANS, 2004, p.58).

Portanto, a Teoria da Busca de Renda levaria ao reducionismo não satisfatório,

sem aderência significativa com a realidade das relações entre Estado e Sociedade. Todavia,

existem outras abordagens menos simplistas, como as que se seguem.

1.3.2 - Douglas North e o Papel do Estado

Douglas North (1990) reconhece que o Estado tem um papel importante na própria

constituição do sistema econômico e não apenas na determinação do nível de emprego e de

renda, por meio de suas políticas fiscais e monetárias.

Para começar vamos tratar daquele que será o postulado central da análise de

North: o papel dos direitos de propriedade no desenvolvimento econômico. Esse tema será

constante nas análises de Douglas North, e que o levará a considerar o papel do Estado no

sistema econômico e no desenvolvimento. O pensamento de North evolui e, em sua obra mais

recente Violence and Social Orders: a conceptual framework for interpreting recorded human

history, escrita em coautoria com John Joseph Wallis e Barry R. Weingast (North; Wallis;

Page 40: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

38

Weingast, 2009) a questão dos direitos de propriedade é incorporada na questão mais geral

dos direitos do indivíduo.

O tema a que se dedica é a evolução do ambiente institucional e suas

conseqüências para o desenvolvimento econômico. Esse ambiente institucional incorpora dois

tipos de instituições bastante complexas: as instituições informais – que presumivelmente

constituiria uma ordem espontânea – e as instituições formais, que têm seu ápice nas leis

formuladas pelo Estado.

North coloca o Estado no centro de sua análise do ambiente institucional, mas a

preocupação central será os direitos de propriedade. Aí ele formula as seguintes questões:

Como o ambiente institucional estabelecido pelo Estado afeta o sistema econômico? Esse

ambiente pode favorecer o desenvolvimento?

A evolução do pensamento de North passa pela tese dos direitos de propriedade

como determinantes do desenvolvimento. Segundo o autor, seria pela definição e garantia dos

direitos de propriedade privados que o Estado definiria as características do sistema

econômico e as suas possibilidades de desenvolvimento. Posteriormente, serão os direitos

individuais igualitários e impessoais que concentrarão o seu interesse. Essa evolução continua

com a Teoria Neoclássica do Estado; a dificuldade na análise do Estado democrático; e o

Estado Natural e a Ordem de Acesso Aberto que serão analisadas a seguir.

A tese dos direitos de propriedade como determinantes do desenvolvimento

North parte do estudo da história econômica para explicaras instituições como

determinantes do desenvolvimento econômico das sociedades. A garantia e a definição dos

direitos de propriedade assumem papel fundamental na análise, pois direitos de propriedade

ineficientes, reduzem o desenvolvimento de que o sistema econômico é capaz.

North e Thomas (1973) assumem que o desenvolvimento econômico depende de

que sejam fornecidos incentivos para que os indivíduos exerçam as atividades econômicas

que favoreçam o bem-estar da sociedade. Assim, para que uma atividade econômica seja

realizada, o retorno privado deve ser igual ao retorno social da atividade. A divergência entre

benefícios (ou custos) privados e sociais resulta de externalidades, que podem ser positivas

(retorno privado menor que o benefício social) ou negativas (retorno privado maior que o

benefício social).

Page 41: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

39

Portanto, a pedra angular da formulação teórica que North irá desenvolver será: o

atraso econômico – entendido como baixo crescimento econômico – teria sua origem nas

externalidades geradas por uma definição inadequada de direitos de propriedade.

Essa formulação é uma versão do chamado “Teorema de Case”: se os direitos de

propriedades forem bem definidos e garantidos, não haverá externalidades, os investimentos

terão o nível adequado e o desenvolvimento acontecerá.

Essa interpretação significa que, os direitos de propriedade determinam todo o

funcionamento do sistema econômico, até mesmo as inovações, independentemente do

estoque de conhecimento que se tenha acumulado até o momento. Mas, sendo essa tese

verdadeira, por que os Estados não assegurariam direitos de propriedades adequados, de

forma a promover o crescimento e o desenvolvimento econômico? A resposta está na busca

do Estado por receitas fiscais.

Teoria Neoclássica de Estado de North

Em uma sociedade de trocas impessoais, com elevado grau de especialização e

divisão do trabalho, há necessidade da presença de uma terceira parte – o Estado – na

elaboração e garantia das instituições.

North (1981) destaca a importância do Estado: “Ao definir os direitos de

propriedade, o Estado torna-se diretamente responsável pelo desempenho da economia. Mas

por que o Estado definiria a estrutura dos direitos de propriedade?

Segundo North e Thomas (1973), podemos, como uma primeira aproximação, ver

o governo simplesmente como uma organização que oferece proteção e justiça em troca de

receita. Dessa forma, o Estado realiza uma troca com a sociedade oferecendo o serviço de

definição e garantia dos direitos de propriedade, e recebendo em contrapartida receita na

forma de impostos.

Para desempenhar essa função (vender proteção e justiça), o governo age

monopolizando a definição e a garantia dos direitos de propriedade na sociedade (North e

Thomas, 1973). Partindo-se de um Estado com um governante maximizador da sua utilidade,

North estabelece três características do seu modelo (Teoria Neoclássica do Estado):

1. Define o processo de troca entre o governante e seus governados

A renda em uma sociedade em que o Estado garante os direitos de propriedade dos

governados é maior, caso os governados garantissem eles próprios seus direitos, dadas as

economias de escala do Estado nessas tarefas.

Page 42: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

40

2. Define os termos de troca entre governantes e governados

O Estado tenta agir como um monopolista discriminador, separando grupos de

governados de forma a atribuir direitos de propriedade que maximizem a receita do Estado.

3. Define também os termos de troca entre governantes e governados

O Estado enfrenta restrições na sua atuação como monopolista discriminador, na

medida em que sempre existem rivais potenciais para o mesmo tipo de serviços. Por exemplo,

governantes de outros Estados, outros candidatos a governante dentro do próprio Estado.

Para Douglas North, o Estado é um agente com interesses próprios que interage

com os interesses privados de forma a alcançar seus objetivos (a obtenção de receita fiscal). O

Estado que Douglas North apresenta em sua Teoria Neoclássica do Estado é um Estado que

age coletivamente, trocando direitos de propriedade por receita de impostos. A ação coletiva é

assumida como ponto de partida da análise.

Segundo Douglas North (1981) observa, o principal objetivo do Estado seria:

definir uma estrutura de direitos de propriedade que maximize a receita do governante; e,

secundariamente, definir regras que reduzam os custos de transação e aumente o nível de

atividade econômica, aumentando assim a receita do governante.

A dificuldade na análise do Estado democrático

North (1988) observou que o crescimento econômico no moderno mundo

ocidental estava ligado ao “surgimento não apenas de direitos de propriedade seguros, mas

das liberdades políticas, religiosas e civis. Sem essas liberdades os direitos seriam frágeis.

Liberdade de expressão política e religiosa, garantias contra prisão arbitrária; direito à fiança;

proteção contra restrições aos direitos de uso; direito de obter renda e alienar propriedade.

Para North (1988), quanto mais seguras essas liberdades, menores os custos de

transação, e custos de transação declinantes são uma fonte histórica crucial de crescimento

econômico. North traça, portanto, uma relação direta de causalidade que parte das liberdades

(e as instituições que as garante) para o desenvolvimento de instituições econômicas

eficientes.

O Estado Natural e a Ordem de Acesso Aberto

Historicamente, com o aumento do tamanho das populações humanas, aumentam

também as possibilidades de conflitos intragrupos, o que demanda novas formas de

Page 43: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

41

administrar e controlar a violência. A forma mais sofisticada e desenvolvida de administrar e

controlar a violência dentro do grupo é o Estado. No caso específico das sociedades pré-

modernas, a forma de controle é o que eles chamam de Estado Natural.

North, Wallis e Weingast (2009), entendem por Estado Natural uma coalizão

política entre as elites dominantes, que tenta controlar o uso da força por parte delas com a

distribuição de privilégios entre elas, e somente para elas. A chave para restringir o poder

militar é inserir os indivíduos que dirigem o poder militar em uma rede de privilégios. Pela

manipulação de privilégios, criam-se interesses que limitam a violência.

Isso não significa que o Estado Natural seja uma coalizão permanentemente

estável. Estados naturais são estáveis, mas não estáticos, e nenhuma coalizão dominante é

permanente. Choques externos e mudanças internas obrigam a uma renegociação na coalizão

dominante. Essa renegociação define os destinos do Estado Natural.

Bem mais recentemente, teria surgido, contudo, uma configuração particular do

Estado, a qual, segundo North, Wallis e Weingast (2009) exige uma configuração também

particular da sociedade para funcionar: a Ordem de Acesso Aberto.

Ao contrário do Estado Natural, a Ordem de Acesso Aberto não envolve apenas o

Estado, mas uma forma específica de organizar a sociedade para o controle do exercício da

violência. A principal característica da Ordem de Acesso Aberto seria a forma pela qual se

daria o controle do exercício da violência, que envolveria três elementos, segundo North,

Wallis e Weingast (2009):

1. Consolidação das forças militares e policiais, sob o controle do sistema político.

2. Presença de um conjunto de restrições e incentivos que limitam de forma eficaz o uso

ilegítimo da violência pelo sistema político.

3. Para um partido ou uma facção política permanecer no poder, deve obter o apoio de

interesses econômicos e sociais, de forma ampla.

A Ordem de Acesso Aberto seria, portanto, uma ordem social em que haveria um

controle político dos instrumentos de exercício de violência, em primeiro lugar; em segundo

lugar, haveria o controle por parte da sociedade da forma pela qual o poder político faz uso

desses instrumentos de violência. Neste arcabouço conceitual, alcançar as condições de

soleira de porta e estabelecer relações impessoais entre as elites são condições necessárias

para institucionalizar o acesso aberto.

1.3.3 - A Teoria do Estado de Peter Evans

Page 44: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

42

Para Fiani (2011), a análise do papel do Estado na economia, de Peter B. Evans, é

mais modesta, quando comparada ao projeto teórico de Douglas North. O objetivo de Peter

Evans em seu livro Autonomia e Parceria: Estados e transformação industrial (Evans, 2004), é

estudar como o Estado pode favorecer processos de desenvolvimento industrial, com ênfase

na sua atuação na constituição de uma indústria de ponta (tecnologia de informação).

Todavia, esse objetivo mais limitado não significa uma contribuição menor ou

menos interessante. Ao contrário, ao limitar mais o escopo de sua análise, Peter Evans (2004)

consegue aprofundar questões importantes sobre a atuação do Estado no desenvolvimento, em

vez de discutir proposições gerais e mais abstratas, discute casos concreto de intervenção do

Estado no desenvolvimento industrial.

A discussão de Peter Evans de casos concretos de intervenção do Estado no

desenvolvimento industrial resulta, em primeiro lugar, em ganhos efetivos em termos de

compreensão acerca de como as características dos Estados afetam o caráter de suas

iniciativas no desenvolvimento.

A concepção de Estado

Evans e Rueschemeyer (1985) observam, com relação ao papel do Estado no

sistema econômico que, mesmo em um sistema econômico idealizado, que seja baseado

fundamentalmente em mercados, a presença de alguma falha neles (bens públicos,

externalidades etc.) justificaria a intervenção do Estado no funcionamento do sistema. A

importância dessa intervenção aumentaria “dramaticamente” à medida que os mercados

efetivamente observados se afastassem do ideal teórico.

Segundo Evans e Rueschemeyer (1985), a necessidade de intervenção do Estado

no funcionamento do sistema econômico decorre de três motivos, não necessariamente

independentes:

1. superação de falhas de mercado;

2. superação de resistências sociais ao processo de desenvolvimento econômico;

3. superação de resistências sociais à distribuição de renda na sociedade.

Todos esses três motivos demandariam a intervenção da racionalidade

administrativa do Estado, superando a racionalidade atomizada dos indivíduos. Contudo, o

fato de que a racionalidade administrativa do Estado se faz necessária não significa que ela

será aplicada de forma adequada e eficaz. Será necessário investigar as condições que

determinam a forma pela qual o Estado exerce o papel que a sociedade demanda dele. Evans e

Page 45: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

43

Rueschemeyer (1985) assumirão que o Estado possui, como qualquer organização, interesses

próprios e, em alguma medida, intervém na sociedade em busca deles.

Isto não exclui o fato de que “vários grupos, tanto dominantes quanto

subordinados, tentarão utilizar o Estado como meio de realizar seus interesses particulares”.

Em casos extremos, tais tentativas podem levar à fragmentação e paralisia do Estado como

um ator corporativo, devido à “balcanização” das organizações do Estado em resposta a

forças externas divergentes.

Em oposição à fragmentação do Estado pelos conflitos de forças sociais

divergentes que buscam controlá-lo, temos o fato de que o Estado se apresenta como guardião

e promotor dos objetivos comuns da sociedade. Isto não significa que o Estado não atue

frequentemente como instrumento de dominação em favor de uma parcela da sociedade sobre

os demais grupos subordinados. Na verdade, faz parte do Estado ser, simultaneamente, agente

do bem comum e promotor de interesses particulares.

Para a compreensão acerca das condições para que o Estado atue na promoção do

desenvolvimento econômico, vamos conhecer a análise elaborada por Peter Evans (2004)

baseada nos conceitos de autonomia e parceria.

Burocracia Weberiana, autonomia e parceria

O conceito de autonomia relativa do Estado, ou mais simplesmente, autonomia, foi

apresentado ainda no trabalho de Evans e Ruschemeyer (2009), onde se lê que “o Estado deve

adquirir certo grau de “autonomia relativa” da classe dominante com o objetivo de promover

efetivamente a transformação econômica”, sendo que essa autonomia relativa seria necessária

“não apenas para formular objetivos coletivos, mas para implementá-los também.

O conceito de autonomia do Estado se encontra diretamente relacionado a sua

estrutura interna. Quanto mais a burocracia do Estado se aproximar do tipo ideal de

burocracia (Weber), maior autonomia ele vai apresentar em relação aos grupos da sociedade,

em especial em relação às classes mais poderosas.

Esse tipo ideal de burocracia, conhecido como burocracia weberiana, é

caracterizada por: um elevado grau de profissionalismo e preparo técnico no exercício de suas

funções; recrutamento por mérito com um nível de seleção elevado, que permita contratar

uma elite para o desempenho das funções públicas; remuneração elevada; e incentivos à

progressão funcional ao longo da carreira.

Page 46: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

44

Ou seja, quanto mais a burocracia de um Estado se aproxima do ideal weberiano,

maior é a capacidade dele de agir coletivamente. Em dois trabalhos empíricos, trabalhando

com a mesma amostra de 35 países, Peter Evans e James Rauch identificaram evidências de:

a) uma correlação positiva entre o grau em que a burocracia estatal se aproxima do ideal

weberiano e o crescimento econômico do país (Evans, Rausch, 1999); b) um efeito positivo

da seleção por mérito no desempenho da burocracia do país (Evans, Rauch, 2000).

Contudo, apenas o profissionalismo de uma burocracia weberiana não basta para

promove o desenvolvimento. Além da autonomia, também é necessária a parceria (embbeded

autonomy no original), ou seja, a autonomia do Estado acompanhada de um enraizamento em

relações sociais que resulte em uma parceria com agentes privados. É uma autonomia que se

coloca dentro de um conjunto concreto de elos sociais que subordinam o Estado à sociedade e

fornece canais institucionalizados para a negociação e renegociação contínua de objetivos e

políticas (Evans, 2004). Peter Evans conclui que para o desenvolvimento é preciso a

combinação de autonomia e parceria, pois nenhuma delas isoladamente produz resultados

satisfatórios.Evans (2004) também discute as relações de autonomia e parceria na formulação

e implementação de políticas sociais (Kerala, na India).

Peter Evans (2004) propõe uma tipologia do Estado, fazendo uma distinção entre o

Estado Predador e o Estado Desenvolvimentista.

Estado Predador e Estado Desenvolvimentista

Os Estados Predadores não têm como impedir que aqueles beneficiados por altos

cargos busquem realizar seus próprios objetivos. As relações pessoais se tornam o único elo

de coesão e a maximização do interesse individual tem precedente sobre a busca de objetivos

coletivo. As relações com a sociedade são relações entre indivíduos em cargos de poder e não

de conexões entre o povo e o Estado como organização. Em síntese, os Estados Predatórios

são caracterizados por uma carência de burocracia, como definiu Weber (Evans, 2004).

O Estado Predatório é um Estado fragmentado pelos interesses individuais de seus

membros, que utilizam o poder do Estado para seus ganhos pessoais. Segundo Evans (2004),

a condição específica para que tenhamos um Estado Predatório, que utiliza seu poder para

expropriar a sociedade em favor de seus membros, é a ausência de uma burocracia weberiana.

Para Evans (2004), as relações entre Estado e sociedade são relações de “balcão”, em que tem

maiores ganhos quem tem mais recompensas a oferecer aos funcionários do Estado, em troca

Page 47: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

45

de seus favores e privilégios. Daí resulta uma sociedade civil dividida na competição pelos

favores do Estado e, portanto, enfraquecida.

O Estado Desenvolvimentista se caracteriza por uma natureza muito distinta.

Segundo Evans (2004), a organização interna dos Estados Desenvolvimentistas assemelha-se

mais à burocracia weberiana. Recrutamento por mérito, altamente seletivo, e compensações

ao longo de carreiras de longo prazo criam uma situação de compromisso e um sentido de

coerência corporativa. A coerência dá a este aparato certo tipo de "autonomia". Entretanto,

eles não são isolados da sociedade como Weber achavam que deveriam ser. Ao contrário,

estão inseridos em um conjunto concreto de alianças sociais que ligam o Estado à sociedade e

provêm canais institucionalizados para negociação contínua de objetivos e planos de ação.

Isoladamente, nem autonomia nem inserção iriam funcionar. Um Estado inteiramente

autônomo não teria capacitação suficiente, nem habilidade necessária, para implementar seus

objetivos de forma descentralizada e privada. Em contrapartida, quando redes muito densas de

interesse não encontram um Estado com estrutura interna robusta, este se torna incapaz de

resolver os problemas de “ação coletiva” e de transcender os interesses individuais de suas

contrapartes privadas. Somente quando há uma combinação entre a incorporação de interesses

coletivos e a autonomia, um Estado pode ser chamado de desenvolvimentista. São

imprescindíveis tanto autonomia como parceria. O Estado Desenvolvimentista é aquele que

consegue combinar autonomia e parceria.

Estados Intermediários são aqueles que se encontram no meio do caminho: sua

burocracia apresenta apenas parcialmente as características de uma burocracia weberiana. No

caso brasileiro, Evans (2004) destaca os “bolsões de eficiência” burocrática, dos quais o

exemplo mais destacado é o BNDES. Contudo, a convivência lado a lado de bolsões de

eficiência com funcionários que não passaram por um processo de seleção por mérito,

carreiras intermitentes no serviço público, ausência de esquemas de recompensas de longo

prazo etc., torna o Estado uma entidade fragmentada, comprometendo sua autonomia.

Por outro lado, as relações do Estado brasileiro com setores tradicionais da

sociedade comprometem a formação de parcerias necessárias às políticas de desenvolvimento.

Como explica Evans (2004), a fusão do poder oligárquico com o aparato do Estado moderno

distorce qualquer possibilidade de um projeto conjunto entre o Estado e o capital industrial.

Os projetos de transformação industrial se tornam oportunidades adicionais para a oligarquia

tradicional, agora instalada dentro do Estado, para buscar seus próprios objetivos clientelistas.

Concluindo, Evans (2004) faz uma última pergunta: Como transformar um Estado

Intermediário em um Estado Desenvolvimentista? Para ele a questão então passaria a ser

Page 48: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

46

como promover autonomia e parceria, respeitando as características históricas que

particularizam cada sociedade.

1.3.4 - A Teoria do Estado de Ha-Joon Chang

Ha-Joon Chang é outro autor que trata do papel do Estado no desenvolvimento

com um enfoque diferente do pessimismo da Teoria de Busca de Renda. Suas principais teses

apresentam uma orientação distinta da análise de Peter Evans, ao se concentrar mais nos

aspectos econômicos da atuação do Estado no desenvolvimento. Sua contribuição sobre a

questão do papel do Estado no funcionamento do sistema econômico e no desenvolvimento é

bastante abrangente e complexa, desenvolvendo-se em duas linhas de argumentação distintas,

porém interligadas.

A primeira, que poderia ser chamada de teórica, baseia-se em uma visão específica

do sistema econômico moderno e do papel que nele desempenham os custos de transação. A

segunda é histórica, em que Ha-Joon Chang examina as políticas adotadas pelos Estados dos

países desenvolvidos para identificar suas características comuns. São linhas complementares,

mas com métodos muitos diferentes. Vamos nos concentrar apenas na primeira linha de

argumentação: a abordagem teórica da atuação do Estado no sistema econômico e no

desenvolvimento, a qual enfatiza as possibilidades de conflitos e os problemas de cooperação

causados pela presença de ativos específicos em atividades com forte relação de

interdependência.

Especificidade de ativos, coordenação Ex Ante e Ex Post

O ponto de partida da análise de Ha-Joon Chang não é um sistema econômico

constituído por mercados competitivos. Seu ponto de partida é a realidade de uma economia

moderna com elevados custos de transação, na qual a ameaça de conflito está presente e a

cooperação não é algo óbvio e imediato.

Em primeiro lugar, Ha-Joon Chang observa o fato de que, para uma série de

atividades importantes no sistema econômico, os ativos específicos desempenham um papel

importante. Principais fontes de especificidade de ativos: a especificidade de localização, de

atributos físicos, de ativos dedicados e de ativos humanos. Qualquer que seja a fonte de

especificidade de ativos, um ativo específico apresenta uma peculiaridade: sofre uma

desvalorização apreciável, se for realocado para uma atividade diferente da atividade original

Page 49: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

47

que justificou o seu investimento. Ou seja, se houver a necessidade de transferir o ativo

específico do uso para o qual ele foi planejado para outro uso qualquer, o valor desse ativo

sofrerá uma redução significativamente maior do que a redução provocada apenas pela sua

depreciação decorrente do uso.

Para Ha-Joon Chang (1996), esse fato apresenta uma consequência muito

importante para o funcionamento do sistema econômico. A consequência é que, em casos nos

quais a especificidade dos ativos representa um aspecto importante do investimento, a

coordenação pelo mercado por meio do mecanismo de preços pode ser importante fonte de

desperdício de recursos econômicos.

Isto porque o mecanismo de preços, como enfatiza Ha-Joon Chang (1996), realiza

uma coordenação ex post das atividades econômicas; ou seja, coordena as atividades

econômicas somente depois das decisões de investimentos já terem se concretizado. Logo,

"uma decisão equivocada pode provocar uma perda líquida de recursos na economia,

resultando em desperdício econômico" (CHANG, 1996, p.65).

A possibilidade dessas decisões equivocadas está sempre presente, dada a

racionalidade limitada dos indivíduos e devido ao fato de que a economia está em constante

transformação (o que gera complexidade e incerteza). Disso resulta "a necessidade de algum

mecanismo – arranjo institucional – que permita, portanto, uma coordenação ex ante"

(CHANG, 1996, p.65); ou seja, uma coordenação antes que a decisão de investimentos se

concretize. Na ausência desse mecanismo, consequências negativas para o funcionamento do

sistema econômico e para o processo de desenvolvimento podem se fazer presentes. Essas

consequências negativas oferecem a possibilidade de um dos papéis positivos que o Estado

pode desempenhar no funcionamento do sistema econômico e no processo de

desenvolvimento, o papel de Estado como gestor de conflitos. O outro papel será o papel do

Estado empreendedor.

O Estado como gestor de conflitos

Chang (2003b), citando Kuznets (1986), observa que “as inovações tecnológicas

que caracterizam o crescimento moderno e o processo de mudança estrutural inevitavelmente

levam ao deslocamento de fatores produtivos, assim tornando o processo extremamente

conflituoso” (CHANG, 2003b, p.56). Esse processo somente ocorrerá de forma pacífica se os

proprietários de ativos específicos aceitarem passivamente o resultado do mercado. Porém,

nada garante que assim o façam. Isso porque as perdas – resultantes de investimentos com

Page 50: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

48

elevado conteúdo de ativos específicos que não encontraram remuneração adequada – podem

provocar reação dos agentes que realizaram esses investimentos. Desse fato pode resultar

conflitos agudos. Segundo Ha-Joon Chang, promover o desenvolvimento exige reduzir os

conflitos que ele provoca. Portanto, a capacidade de administrar conflitos é, por conseguinte,

uma questão inerente ao problema do desenvolvimento.

Chang e Rowthorn são bastante claros, em relação aos efeitos da capacidade do

Estado de administrar conflitos sobre o desenvolvimento. Para eles, “Em sociedades nas quais

o Estado falha em administrar conflitos de forma apropriada, as pessoas hesitarão em assumir

riscos e comprometer seus recursos em investimentos específicos, e consequentemente o

dinamismo da economia pode ser prejudicado”, (CHANG e ROWTHORN, 1995, p. 44).

Assim, a capacidade do Estado como gestor de conflitos é essencial para garantir os

investimentos em ativos específicos necessários a um sistema econômico mais complexo e

desenvolvido.

Segundo Chang (2003b), há diferentes forma pelas quais o Estado pode gerenciar

conflitos, além da forma “clássica” de nada fazer, deixando aos mercados a incumbência de

determinar a solução.

Uma forma alternativa seria contrapor-se abertamente à solução dos mercados,

protegendo setores negativamente afetados. Outra forma de intervenção seria por meio de

políticas monetárias e fiscais que buscassem compensar determinados grupos. Por último,

temos as mudanças no escopo da agenda política, definindo o que é e que não é “político” e,

portanto, definindo o que pode ou não ser objeto de intervenção do Estado.

O Estado Empreendedor

Para Chang (2003b), além de significativo investimento em ativos específicos,

sejam físicos ou humanos, outra característica do sistema econômico moderno é uma grande

interdependência das atividades econômicas – fruto de intensa divisão do trabalho -, não

obstante o fato de que a propriedade se encontra dispersa entre agentes privados

independentes. Em função disso, “uma mudança estrutural efetiva pode requerer mudanças

coordenadas em muitos elementos da economia” (CHANG, 2003b, p.52).

Portanto, de acordo com Chang, em uma economia com elevado grau de

interdependência entre seus componentes e propriedade dispersa entre inúmeros agentes

privados, qualquer mudança mais ampla deve esbarrar quer na incapacidade dos agentes de

perceber as relações sistêmicas mais amplas de suas decisões, quer na insegurança com

Page 51: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

49

relação a uma resposta adequada – em termos de produção e de investimento – dos demais

agentes.

Ocorre que, de acordo com Chang (2003b), em processos de desenvolvimento nós

não sabemos quais são exatamente as possibilidades, o que dirá qual entre elas seria a melhor.

Um processo de desenvolvimento não apenas altera a estrutura econômica vigente: cria novos

elementos nessa estrutura, com novas possibilidades que nem sempre podem ser antecipadas.

A questão é justamente definir quais são as novas possibilidades. Chang (2003b) explica:

Isso visto, a mudança estrutural, como definida aqui, requer muito mais do que escolher a partir de um conjunto de escolhas preexistentes. Ela requer formular o próprio conjunto de escolhas, quer dizer, oferecer uma visão do futuro. E o Estado, como agente central pode desempenhar um importante papel ao oferecer essa visão. Ao oferecer tal visão no começo da mudança, o Estado pode direcionar os agentes em uma ação combinada, sem fazer com que eles gastem recursos para reunir e processar informações, realizar barganhas etc. Ao arquitetar uma mudança estrutural, bem mais do que meramente coordenar uma mudança para um equilíbrio melhor, o Estado está oferecendo uma visão. Isso significa que existe um importante elemento de empreendedorismo no exercício dessa função. (CHANG, 2003b, p. 53)

Além disso, uma vez oferecida a nova visão, "caberia ao Estado oferecer as

instituições para que essa nova visão se tornasse realidade" (Chang, 2003b, p.54). Ou seja,

caberia ao Estado Empreendedor fornecer a visão dos objetivos do desenvolvimento e as

instituições necessárias para alcançá-lo.

Para Fiani (2011), a análise de Peter Evans fornece algumas pistas acerca das

razões pelas quais alguns Estados agem de forma desenvolvimentista, enquanto outros atuam

de forma destrutiva e predatória em relação a suas sociedades. O autor chama a atenção para a

importância de uma burocracia weberiana, como forma de garantir uma autonomia relativa do

Estado. Porém, Evans mostra que algumas parcerias com a sociedade devem ser

estabelecidas.

Esse conjunto de idéias representa um grande avanço em relação à Teoria de

Busca de Renda, e oferece, ainda, mais informação do que a abordagem geral de North sobre

Ordens de Acesso Aberto. Como limitação pode ser mencionada a questão da intervenção do

Estado visando ao desenvolvimento industrial, quando o escopo do debate poderia ter sido

ampliado para uma discussão mais ampla do papel do Estado no funcionamento do sistema

econômico.

Evans (2004) sugere que sua discussão de autonomia e parceria pode ser estendida

para além dos limites da iniciativa do Estado na promoção do desenvolvimento industrial. O

autor discute as relações de autonomia e parceria na formulação e implementação de políticas

sociais em Kerala, na Índia. Nesse caso, ele identifia uma iniciativa bem sucedida, em função

Page 52: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

50

da combinação da autonomia do Estado com a parceria com os segmentos sociais interessados

nessas políticas.

A análise de Chang avança na questão das bases econômicas para a atuação do

Estado no sistema econômico e no desenvolvimento. A tese de que investimentos em ativos

específicos com interdependência econômica geram riscos, que podem constituir obstáculos a

mudanças representa outro avanço significativo, tanto em relação à Teoria de Busca de Renda

quanto em relação à Abordagem dos Mercados do Desenvolvimento. O resultado é uma visão

mais rica dos papéis que o Estado desempenha no sistema econômico, de Estado como gestor

de conflitos e de Estado como empreendedor. Todavia, falta a Chang uma discussão mais

completa das condições para que o Estado desempenhe efetivamente esses papéis. Para Fiani

(2011), há certa complementaridade entre as análises de Evans e Chang.

1.4 – As três vertentes da moderna teoria do desenv olvimento

Para Evans (2010, p. 41), a moderna teoria do desenvolvimento percorreu um

longo caminho desde o modelo ahistórico de Harrod-Domar e da arrogância etnocêntrica da

“teoria da modernização”, ambos de meados do século XX. Três correntes da atual teoria do

desenvolvimento são particularmente importantes para a visão que inspira a construção de um

estado desenvolvimentista para o século XXI:

• A “nova teoria do crescimento” postulada por teóricos como Lucas (1988) e Romer

(1986, 1990, 1993a, 1993b, 1994) e desenvolvida por uma gama de economistas como

Aghion e Howitt(1998) e Helpman (2004);

• As “abordagens institucionais” ao desenvolvimento, conforme elaboradas por um

conjunto amplo de economistas do desenvolvimento, dentre os quais Acemoglu e

Robinson (2006; Acemoglu et al 2002, 2005), Hoff e Stiglitz (2001) e Rodrik (1999;

Rodrik et al 2004), dentre outros;

• A “abordagem das capacidades” para o desenvolvimento, cujo precursor teórico foi

Amartya Sen (1981, 1995, 1999a, 1999b, 2001), tendo sido postulada em plano mais

prático por Mahmud ul Haq (1995).

No final da década de 1980, a nova teoria do crescimento ajudou a reorientar as

discussões teóricas sobre crescimento. O sucesso da nova teoria deveu-se, sobretudo, ao seu

senso intuitivo, mais do que à virtude técnica. Desde o trabalho seminal de Solow (1956),

ficou claro que a combinação do capital físico e de uma maior participação de mão-de-obra

não poderia responder pelos aumentos de produção. A nova teoria do crescimento, pois,

Page 53: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

51

deslocou seu foco e passou a reconhecer o papel das idéias e do capital humano como chaves

para o crescimento. Esta simples mudança conceitual apoiou-se em análises empíricas. Por

exemplo: Jones descobriu, observando a economia dos EUA, que “entre 1950 e 1993,

melhorias no nível de estudos, o que equivalia a um aumento de quatro anos de escolaridade,

em média, explicam 30% do crescimento da produção por hora. Os 70% restantes são

atribuídos ao aumento do acervo de idéias...” (2002, citado em Helpman 2004: 48). A ênfase

nas idéias enquadra-se confortavelmente na abordagem das capacidades, visto que o cérebro

humano é o repositório do atual acervo de idéias, a principal interface entre as idéias e sua

implementação e fonte de novas idéias.

A nova teoria do crescimento também oferece uma perspectiva útil sobre a

evolução contemporânea da estrutura do emprego. No final do século XX, o crescimento do

mercado de trabalho deslocou-se para o setor dos serviços. Em todo mundo, tanto no

hemisfério norte como no sul, o total de empregos industriais encolheu. Mesmo na China, tida

como a nova “oficina do mundo”, os empregos na indústria diminuíram no lugar de crescer

(Evans & Staveteig, 2009). A indústria, tradicionalmente considerada o melhor ambiente para

se criar novos bons empregos, já não era capaz de representar esse papel – fosse ao hemisfério

norte ou sul. Para a nova teoria do crescimento, isso faz todo sentido. O setor de serviços

produz idéias e, de forma ainda mais clara, capacidades humanas. O aumento do bem-estar

depende do setor de serviços tornar-se não apenas uma fonte de novos empregos, mas além

disso uma fonte de empregos bem remunerados que refletem a real produtividade dos

trabalhadores desse setor.

A indústria continua a ser um elemento fundamental em qualquer economia em

desenvolvimento, assim como a agricultura, porém já não é mais o setor que impulsiona as

mudanças nem a principal fonte de emprego ou de aumento do bem-estar. A centralidade dos

serviços cria um novo conjunto de desafios para o estado desenvolvimentista, forçando-o a se

concentrar nas pessoas e em suas habilidades, em vez de máquinas e seus proprietários.

A “virada institucional” da teoria do desenvolvimento complementa a nova teoria

do crescimento. Essa virada institucional enfatiza o papel crítico de expectativas normativas

persistentes e compartilhadas, as “regras do jogo”, para se criar condições para a tomada de

ações econômicas antecipativas. O conjunto de instituições sociais que tanto favorece (ou

deixa de favorecer) o investimento e a inovação “vale mais” do que tanto as dotações de

recursos e o acúmulo de capital quando se trata de explicar as diferenças nacionais no

crescimento da renda. Se juntarmos a nova teoria do crescimento e a virada institucional, a

questão central do crescimento passa a ser: quais tipos de arranjos institucionais que melhor

Page 54: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

52

permitem às sociedades construir as organizações e redes necessárias para gestar as novas

habilidades juntamente com novos conhecimentos e idéias, difundindo e tirando proveito

desses ativos intangíveis?

Assim como se correlacionam à nova teoria do crescimento, os argumentos dos

institucionalistas são compatíveis com a “abordagem das capacidades”, a despeito das raízes

intelectuais divergentes. A origem da abordagem das capacidades reside na teoria da escolha

social e da intersecção entre filosofia e economia, mais do que na análise histórica do tipo

usada pelos institucionalistas, ou modelos do tipo sobre o qual repousa a nova teoria do

crescimento. O distinto fundamento da abordagem das capacidades torna a correspondência

entre suas conclusões e aquelas das duas vertentes da teoria do desenvolvimento muito mais

marcantes.

A abordagem das capacidades é mais conhecida como uma declaração

analiticamente poderosa do postulado de que o crescimento do PIB per capita não é um fim

em si mesmo, mas uma possibilidade para melhoria do bem-estar humano. Esta característica

central é absolutamente crucial para a sua contribuição para a teoria do desenvolvimento.

Embora os teóricos do desenvolvimento convencional concordem em princípio que a renda é

um indicador de bem-estar humano e não um fim em si mesmo, o crescimento da renda, no

entanto, quando a política está sendo discutida é tratado como meta, e a questão de saber se

estratégias específicas para o crescimento da renda estão ou não ligadas à melhoria do bem-

estar fica fora do debate. A abordagem das capacidades deixa claro que evitar a questão do

bem-estar e sair da teoria do desenvolvimento é analiticamente insustentável.

Embora esta reafirmação dos objetivos fundamentais do desenvolvimento

permaneça como a contribuição mais importante da abordagem das capacidades ao debate

político, dois outros aspectos dessa abordagem são fundamentais para a sua convergência com

outras vertentes da moderna teoria do desenvolvimento.

Primeiro, uma afinidade política com os institucionalistas decorre da insistência de

Sen (1999) em que, se o desenvolvimento tem a ver com bem-estar e capacidades, então as

estratégias de desenvolvimento e normativas não deveriam ser formuladas por tecnocratas,

devendo surgir da deliberação pública democraticamente organizada. Os institucionalistas

também enfatizam a importância dos processos decisórios democráticos. Rodrik (1999), um

dos mais proeminentes institucionalistas argumenta que a democracia é vista como uma

“meta-instituição”, que promove “instituições de alta qualidade”, o que por sua vez, promove

o crescimento. Para o autor, "é útil pensar nas instituições político-participatórias como meta-

Page 55: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

53

instituições que invocam e agregam conhecimento local e, portanto, ajudam a construir

instituições melhores”. (RODRIK, 1999, p. 19)

A abordagem das capacidades adere a esse pensamento, mas vai além em relação

aos institucionalistas. A democracia não é apenas um meio fundamental de promoção de

instituições economicamente eficazes. Ela também é o único meio, analiticamente justificável,

de definir metas específicas de desenvolvimento. Sen (1999: 153) é claro: “em geral não

podemos assumir preferências, como um dado independentemente do debate público”, e mais,

que "uma compreensão adequada do que as necessidades econômicas são – seu conteúdo e sua

força – requer discussão e troca”. "O fato de que as capacidades não podem ser reduzidas a

'uma única coisa bem homogênea', torna as deliberações democráticas ainda mais

fundamentais", de acordo com Sen (1999: 77).

A abordagem das capacidades identifica a “deliberação pública” como a única

forma analiticamente defensável de se ordenar essas capacidades, colocando as instituições

políticas e a sociedade civil no centro do processo de definição de metas de desenvolvimento.

A caracterização que Sen faz das capacidades, fazendo-as tanto meio como fim, é

mais central para a correspondência dessa abordagem com as demais vertentes da teoria do

desenvolvimento. Sen insiste que a expansão das capacidades humanas não é apenas o

objetivo evidente do desenvolvimento, mas também a forma mais essencial de

desenvolvimento. Nem todas as capacidades são relevantes para o crescimento econômico,

porém sem uma expansão das que são, crescimento rápido e sustentável é impossível.

Enfatizar a expansão das capacidades como o principal motor do crescimento

econômico, encaixa-se tanto na ênfase que os novos teóricos do crescimento dispensam ao

conhecimento e às habilidades incorporadas nas capacidades dos indivíduos (e nas redes que

os conectam) como os principais fatores do crescimento, e a ênfase dos institucionalistas no

papel fundamental dos arranjos institucionais que estimulem o investimento no capital

humano. A abordagem das capacidades é, contudo, mais insistente do que os novos teóricos do

crescimento na centralidade da provisão pública dos serviços de reforços dessas capacidades.

Sen (1999: 129) argumenta que “o apoio à assistência pública no fornecimento de

educação básica, unidades de saúde públicas e outros bens públicos (ou semi-públicos)” faz

sentido em termos de eficiência, bem como em termos de equidade. Sen vê o sucesso

econômico recente da China como enraizado na provisão bem sucedida de bens coletivos. Na

opinião de Sen (1999: 260), “políticas maoístas da reforma agrária, a expansão da

alfabetização, o alargamento dos cuidados de saúde pública e assim por diante teve um efeito

muito favorável sobre o crescimento econômico na China pós-reforma”.

Page 56: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

54

A convergência destas três vertentes da teoria do desenvolvimento produz uma

clara agenda para o Estado desenvolvimentista do século XXI. Acelerar o crescimento

econômico no século XXI exige que haja a expansão do acesso ao atual acervo de idéias,

aumentando a efetiva utilização desse acervo e a geração de novas idéias adequadas às

circunstâncias específicas de cada país. Tudo isso depende da expansão das capacidades

humanas.

Para ser desenvolvimentista, um Estado deve realizar pelo menos dois papéis em

geral. Deve apoiar a distribuição de direitos básicos que confere às pessoas incentivos para

investir em suas próprias capacidades. Seqüestrado pela elite com intenções espoliativas, o

estado torna-se o instrumento de eliminação desses incentivos. Ao mesmo tempo, o Estado

deve oferecer, segundo Sen (1999, p. 46), “um programa de apoio social qualificado nos

serviços de saúde, na educação e em outras disposições sociais relevantes”. Além de serem

instrumentos para consecução de metas sociais da sociedade, os estados desenvolvimentistas

devem ser veículos para fazer escolhas sociais e definir metas de desenvolvimento. É essa

função que coloca a participação efetiva na deliberação democrática no topo da lista das

capacidades que o Estado desenvolvimentista deve promover.

Para Evans (2010), a teoria do desenvolvimento define uma pauta exigente para

qualquer nação que se propõe a tentar reconstruir seu aparelho de estado com o objetivo de

torná-lo desenvolvimentista. Que tipo de estruturas estatais seriam necessárias para cumprir

essa pauta? Que tipo de vínculos entre o estado, grupos de interesses privados, comunidades e

outros atores políticos poderiam efetivamente fazê-lo funcionar? Os Estados

desenvolvimentistas do século XX oferecem um ponto de partida para solucionar o problema

da construção institucional.

1.5 - Estado e Desenvolvimento Regional Introdução

Segundo Diniz (2009), no período que antecede a Segunda Guerra Mundial, a

questão regional era predominantemente tratada como matéria de localização das atividades

agrícolas e industriais, conforme pode ser observado nos trabalhos clássicos de Von Thunen

(1816: 1966), Weber (1907:1969), e Losch (1933: 1954) ou da oferta de serviços e da

conseqüente hierarquia das centralidades urbanas, na formulação de Christaller (1933: 1966).

A questão urbana ainda não havia emergido como um problema social e político, à exceção

Page 57: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

55

dos Estados Unidos, conforme retratado nos trabalhos da Escola de Chicago (Park, 1926;

Wirth, 1928; Munford, 1938).

A primeira experiência mundial de planejamento regional pode ser considerada

como tendo origem na antiga União Soviética, através do seu Plano de Eletrificação Nacional,

estabelecido em 1925. A crise de 1929, ao provocar recessão econômica generalizada no

mundo capitalista, trouxe à tona o problema das desigualdades regionais na maioria dos países

industrializados, as quais vinham se formando desde o século anterior, mas não eram

explicitadas. A tomada de consciência dessas desigualdades e a mudança na concepção do

papel do Estado, com a revolução keynesiana e o avanço das técnicas e práticas de

planejamento, promoveram a criação de políticas de redução das desigualdades regionais e de

reordenamento do território em vários países, com a criação de instituições específicas para a

implementação dessas políticas.

Nos Estados Unidos foi criado o TVA (Tennesse Valey Authority), em 1933, como

parte do New Deal, que introduziu uma nova sistemática de planejamento com o objetivo de

promover o desenvolvimento da região, composta por seis Estados. Na Inglaterra, para

enfrentar a crise e a estagnação das regiões mineradoras e das áreas da velha industrialização

pesada do norte do país, foi instituída a Comissão Barlow (1937-40). Na Itália, para enfrentar a

diferença entre os ritmos de desenvolvimento entre o norte e o sul do país, foi criada a Cassa

del Mezzogiorno, em 1950, e uma ambiciosa política de industrialização para o sul da Itália.

Essa política introduziu a sistemática de uso de incentivos fiscais para o barateamento da

formação de capital e da produção, a qual foi assimilada e generalizada para outros países, a

exemplo do sistema de incentivos fiscais para a industrialização do Nordeste do Brasil, por

ocasião da criação da Sudene (Carvalho, 1979). Na França, para enfrentar a grande

concentração populacional em Paris e o esvaziamento do campo, foi estabelecida ambiciosa

política de desconcentração produtiva e de reordenamento do território, através de um

conjunto de instrumentos. Entre esses, destacam-se a orientação dos investimentos das

empresas estatais para regiões selecionadas e um audacioso e diversificado programa de

infraestrutura, enfaticamente implementado a partir do final da década de 1940. Após vários

ajustes institucionais, foi criada a poderosa Delegation Dámanagement du Territoire em 1963

(Datar, 2003).

A generalização das políticas regionais nos países centrais foi assimilada pelos

países periféricos. Na América Latina, a maioria dos países criou programas específicos de

desenvolvimento regional. Levantamento realizado por Sthor (1972) à época listou 73 planos

Page 58: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

56

ou programas de desenvolvimento regional nos países latino-americanos. No conjunto dessas

políticas, cabe destaque às políticas brasileiras para o Nordeste e para a Amazônia.

Ao lado da continuação e da generalização das políticas de desenvolvimento

regional, foi desenvolvido grande esforço de interpretação teórica sobre a questão das

desigualdades regionais e da concentração, bem como de metodologias e técnicas de

planejamento e de intervenção pública. Esse esforço pode ser sintetizado no que ficou

conhecido como duas “escolas” de pensamento. Uma delas resgatou a tradição germânica das

teorias da localização e adaptou-a ao pensamento econômico neoclássico, constituindo a

chamada “ciência regional”. Essa “escola”, sob a liderança de Walter Isard, trabalhou com a

noção de modelos de equilíbrio, com ênfase no papel dos custos de transportes, em mercados

concorrenciais, desenvolvendo, paralelamente, um conjunto de técnicas de análise regional,

entre as quais os modelos de insumo-produto. Essas contribuições estão sintetizadas nos

livros: Location and space economy e Methods of regional and interregional analysis (Isard,

1956 e 1960).

A outra “escola” foi desenvolvida na França, sob a liderança de François Perroux.

Partindo da noção de economia dominante e empresa dominante e dos efeitos interindustriais,

foi desenvolvido o conceito de pólo de crescimento e do papel central da empresa motriz para

o crescimento desses pólos. Na sua concepção de empresa motriz, Perroux havia recebido

forte influência de Schumpeter, com o conceito de inovação, já que Perroux havia traduzido,

em 1935, a Teoria do Desenvolvimento Econômico, de Schumpeter, do alemão para o francês.

Os conceitos de dominação e de pólo de crescimento levaram Perroux à concepção das

diferentes naturezas do espaço, com sua idéia de espaço homogêneo, espaço polarizado e

espaço plano (Perroux, 1967). Essas noções de espaço, sem contigüidade geográfica, foram

adaptadas por Boudeville (1969), com a concepção de região homogênea, região polarizada e

região plano, que serviram de base e critério para a regionalização do território e para o

estabelecimento de políticas regionais.

A linha do desenvolvimento polarizado e desequilibrado recebeu grande

contribuição de vários autores que se tornaram clássicos, como Myrdal (1957), Hirschman

(1958), Kaldor (1966 e 1970), entre outros. Esses autores analisaram os efeitos da polarização

na criação e na manutenção das desigualdades regionais e apontaram possíveis saídas. A partir

da década de 1960, a criação e o fortalecimento de polos de desenvolvimento passaram a ser

generalizadamente utilizados como metodologia e instrumento de desenvolvimento regional

na maioria dos países. Nos últimos anos, esses polos ganharam nova roupagem, como a

Page 59: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

57

concepção de distritos industriais, “clusters”, parques tecnológicos, entre outras

denominações.

Embora essas duas “escolas” partissem de proposições teóricas e analíticas

distintas, elas têm em comum a idéia de relações interindustriais ou insumo-produto, como

elemento central no processo de desenvolvimento regional e da criação de externalidades. Em

torno dessas duas “escolas”, foram derivadas várias linhas de interpretação e de ação à escala

mundial.

Segundo Diniz (2009), após o auge da produção teórica e da implementação de

políticas de desenvolvimento regional, nas décadas de 1950 e 1960, a atividade entrou em

crise. Entre os elementos explicativos dessa crise, podem ser listados:

O sucesso da expansão econômica do pós-guerra e a redução da

preocupação com a questão regional;

Reações político-ideológicas contra a intervenção do Estado na economia;

Insatisfação e crítica dos resultados das políticas regionais pelos grupos de

esquerda;

Incapacidade teórica de explicar os novos fenômenos (desindustrialização,

emergência de novos centros baseados em alta tecnologia, mudança na

divisão internacional do trabalho, com os NICs, categoria de Países

Recentemente Industrializados;

Enfraquecimento das políticas regionais nos Estados Unidos, com a

ascensão de Nixon e dos governos republicanos;

Enfraquecimento das políticas regionais, por países, na Europa,com o

avanço da União Européia;

Crise do Estado interventor, com déficit público e processos inflacionários;

Alegação de corrupção em várias instituições encarregadas das políticas

regionais;

Desenho de uma nova visão do papel do Estado, o que ficou conhecido

como “neoliberalismo”.

No bojo deste último ponto, foi desenvolvida a corrente de pensamento do

crescimento endógeno que procurava demonstrar que o mercado, deixado livre, levaria à

convergência de rendas entre países e regiões. Caberia ao Estado resolver os problemas de

educação, dotação de infraestrutura e estabilidade político-institucional (Romer, 1994; Sala-y-

Martin, 1996).

Page 60: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

58

Passada a tormenta crítica e o desânimo com as políticas regionais, nas décadas de

1970 e 1980, a questão voltou à tona, teórica e praticamente, a partir da década de 1990. Do

ponto de vista prático, os avanços da União Européia mudaram a natureza das políticas

regionais. Além da diversidade interna de cada país, as diferenças entre países passaram a ser

vistas como problemas regionais de escala transnacional para o conjunto da região. Isso

obrigou a União Européia a avançar na formulação e prática da política regional.

Simultaneamente, os problemas de integração regional em outras partes do mundo e o

arrefecimento das esperadas convergências de renda recolocaram a política regional na agenda

das regiões e dos governos. Por outro lado, as aceleradas mudanças tecnológicas e a

emergência de novos centros produtores baseados em tecnologias avançadas abriram a corrida

para a busca da inovação como mecanismo de desenvolvimento regional (Diniz e Gonçalves,

2005; Diniz, Santos e Crocco, 2006).

Do ponto de vista teórico, a crescente integração da economia mundial, a criação

de regiões preferenciais de comércio e o aumento dos fluxos comerciais recolocaram a questão

do comércio internacional como um assunto do comércio inter-regional. A integração da

economia mundial superou as fronteiras nacionais e estabeleceu um sistema de fluxos onde as

localidades se articulam diretamente, recolocando a questão das economias de aglomeração e

das externalidades como elementos centrais nos padrões locacionais e no sucesso competitivo.

Nessa linha de raciocínio, o economista Paul Krugman (1991) contribui com uma nova teoria

da relação centro-periferia, introduzindo concorrência imperfeita e economias de escala na

geração de externalidades e dos retornos crescentes para explicar os padrões de concentração

territorial da produção. Paralelamente, a geografia econômica passou a buscar diferentes

elementos explicativos para o entendimento da reorganização territorial da produção em escala

mundial (Storper, 1995; Swyngedouw, 1989; Markusen, 1985; Brenner, 1999). Com isso,

foram postas as condições para uma vigorosa retomada do debate teórico e das políticas de

desenvolvimento regional, no mundo e no Brasil.

1.5.1 - A Teoria do Desenvolvimento Regional

O processo de desenvolvimento econômico não ocorre de maneira igual e

simultânea em todas as regiões. Uma das características mais evidentes da economia espacial é

a não-homogeneidade, pois existem aglomerações na atividade econômica e na distribuição da

população em dadas localidades. O desenvolvimento econômico é um processo bastante

irregular e que, uma vez iniciado em determinados pontos do território, têm a capacidade de

Page 61: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

59

fortalecer áreas/regiões mais dinâmicas e que apresentam maior potencial de crescimento.

Assim, o entendimento da dinâmica econômica regional torna-se mais complexo, devido às

inter-relações existentes dentro e entre diferentes regiões e sua importância para a coesão da

economia nacional.

Segundo Diniz (2009), até a Segunda Guerra Mundial, a questão regional era

tratada predominantemente como uma matéria de localização das atividades agrícolas e

industriais. A partir do pós-guerra, diversos teóricos voltam a sua atenção para o tema do

desenvolvimento econômico e da dinâmica econômica regional, tentando explicar suas causas

e os principais meios para desencadear o processo de expansão e superar o atraso. Entre eles

destacam-se François Perroux, cuja análise estimulou uma série de estudos convergentes como

aqueles desenvolvidos por Jacques-R Boudeville, Gunnar Myrdal, Albert O. Hirschman e

Douglas North. Esses teóricos tiveram grande influência nas políticas de desenvolvimento

econômico regional implantado em diversos países, inclusive no Brasil.

O estudo sobre a dinâmica regional supõe a definição preliminar do conceito de

região para evitar imprecisões sobre o próprio objeto de estudo. Uma região, como unidade de

análise, é representada por um conjunto de pontos do espaço que tenham maior integração

entre si do que em relação ao resto do mundo. Contextualizando esta definição com o conceito

de urbano – locus da produção diversificada e integrada do capitalismo -, pode-se definir uma

região como um conjunto de centros urbanos dotados de um determinado grau de integração

em oposição ao resto do mundo, composto por centros urbanos com grau menor de integração

com os primeiros (Lemos, 1988).

Diversas teorias buscam explicar a dinâmica regional, ou seja, o processo de

determinação da renda urbana que é a expressão e a causa do movimento do capital no espaço,

como aquelas desenvolvidas por Perroux, Boudeville, Myrdal, Hirschman, North e outros.

Estes teóricos buscam demonstrar que uma vez estabelecidas as vantagens ou desvantagens

comparativas dos espaços econômicos, iniciam-se movimentos migratórios do capital, cujos

resultados se expressam em determinada dinâmica regional, isto é, em relativo vigor ou

estagnação do processo de acumulação em uma determinada região.

Segundo Uderman (2008), dentre as questões que passam a rechear o debate

teórico nesta área, destaca-se o estudo da polarização da produção econômica no espaço, entre

outras razões pela grande influência que exerceu na aplicação e disseminação de políticas de

desenvolvimento regional. O termo “pólo de crescimento” foi introduzido na literatura

econômica por François Perroux em seu artigo “Notes sur la Notion de Pôle de Croissance”,

de 1955. O argumento básico apresentado era o de que a expansão econômica não se

Page 62: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

60

manifestaria de forma disseminada, mas em pontos do ou pólos de crescimento de intensidades

variáveis. "O crescimento e as transformações que ocorrem nos pólos afetam o conjunto da

economia pela transmissão dos seus efeitos positivos através de diferentes canais".

(PERROUX, 1977, p. 94).

A expansão regional decorre da interação entre as indústrias-chave ou indústrias-

motrizes, que formam o núcleo do pólo de desenvolvimento. Essas indústrias são

caracterizadas por: alto grau de concentração, elevada elasticidade renda, acentuado

multiplicador local e efeitos de polarização, um nível avançado de tecnologia e técnica

administrativa que se difundem para outros setores da região.

Para Perroux (1967, p. 172), a indústria chave pode ser definida como sendo

“aquela que induz na totalidade de um conjunto, por exemplo, de uma economia nacional, um

crescimento de volume de produção global muito maior do que o crescimento do seu próprio

volume de produção”.

Segundo Tolosa (1972), a principal função de uma indústria motriz é a de atuar

como geradora ou produtoras de economias externas, possuindo três características principais:

1) grande porte e suas decisões causam grande impacto na região; 2) taxa de crescimento

superior à média regional; 3) forte interdependência técnica (linkages) com outras indústrias

diferenciadas de modo a formar um complexo industrial.

Contrastando com as tradicionais teorias de crescimento balanceado, Perroux

(1977) sustenta que o estudo do crescimento deveria se concentrar no processo pelo qual as

atividades aparecem, ampliam a sua importância e, em alguns casos, desaparecem,

incorporando três conceitos fundamentais à análise: indústria motriz, complexo de indústrias e

pólos de crescimento. As chamadas indústrias motrizes, exercendo um papel de indutora do

crescimento de outras firmas (chamadas de indústrias movidas) pela compra de bens de

natureza diversa, teriam a capacidade de fomentar a formação de um pólo regional.

Para entender a interdependência entre diferentes pólos, Perroux introduz as noções

de zonas de desenvolvimento, eixos de desenvolvimento e pontos de desenvolvimento. A zona

entendida como um conjunto ou aglomerado de pólos de crescimento e as respectivas regiões

polarizadas. Um eixo difere da zona e implica uma orientação principal e durável de tráfego

(serviços, produtos e capitais). Cada ponto de desenvolvimento inclui pólos, zonas e eixos de

desenvolvimento (Tolosa, 1972).

Perroux (1977), originalmente, não estava particularmente preocupado em detalhar

aspectos do desenvolvimento no plano geográfico. As aplicações da teoria dos pólos

concentraram-se basicamente em problemas inter e intra-regionas, podendo ser identificadas

Page 63: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

61

na raiz de políticas públicas formuladas em diversos países. Essa teoria rapidamente atraiu o

interesse de agentes envolvidos com o planejamento regional.

Para Uderman (2008), em que pese a utilização da expressão “pólos de

crescimento” por Perroux (1977), a teoria concebida por ele é essencialmente uma teoria de

desenvolvimento, cujo propósito é explicar o processo de mudança estrutural na economia e

nos sistemas institucionais e sociais, e não uma teoria de crescimento econômico, que se

concentra apenas nas condições de expansão da produção. A implantação ordenada de muitos

empreendimentos confere um efeito dinâmico à economia, desencadeando um movimento de

transformação da estrutura produtiva vigente capitaneada pela expansão industrial e trazendo

novas perspectivas para o desenvolvimento regional. Assim como Schumpeter (1982, 1984),

Perroux (1977) enfatiza a importância da inovação empresarial nos investimentos que

sustentam o processo de expansão, questionando a noção estática de equilíbrio predominante

nos principais modelos utilizados até então e destacando o fato de que as taxas de crescimento

variam consideravelmente entre os diversos setores econômicos.

Seguindo os passos de Perroux, Jacques-R Boudeville trabalhou as noções de

espaço, com o intuito de conceder-lhes um caráter mais operacional e uma ênfase territorial. O

espaço seria uma realidade concreta, ao mesmo tempo, material e humana. Seria o espaço das

relações existentes entre dois conjuntos, das atividades econômicas e dos lugares geográficos e

uma maneira de analisar todas as localizações possíveis das atividades. Este espaço apresenta

características dinâmicas e, por isso, é mutável. Assim como Perroux, Boudeville distingue

três noções de espaço: a) do ponto de vista econômico o espaço pode se caracterizar de acordo

com sua maior ou menor uniformidade, ou seja, o espaço é homogêneo; b) do ponto de vista

das interdependências e hierarquias de suas partes o espaço é polarizado; e c) do ponto de

vista do centro de decisão e do objetivo estabelecido o espaço é um programa/plano.

Para Boudeville (1970), um pólo de desenvolvimento regional é definido como um

conjunto de indústrias em expansão localizadas numa área urbana, com capacidade para

induzir o desenvolvimento das atividades econômicas em sua zona de influência. Desse modo,

a região polarizada seria integrada, compondo uma rede de interconexões econômicas que se

constituem numa moldura de um programa de desenvolvimento composto por ações direta do

Estado no provimento de infra-estrutura e por investimentos privados articulados, levando em

conta o fato de que o crescimento não é espontâneo, homogêneo ou harmônico, e que deve

emergir de uma região dinâmica através de setores propulsores que influenciam as demais

regiões.

Page 64: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

62

A teoria dos pólos forneceu uma base científica para o planejamento regional.

Simultaneamente aos esforços teóricos empreendidos por Perroux (1955), autores como

Myrdal (1957) e Hirschman (1958) formulam conceitos e análises convergentes com a teoria

dos pólos de desenvolvimento. Myrdal defende a validade do princípio da interdependência

circular dentro de um processo de causação cumulativa ligado ao desenvolvimento,

ressaltando a existência de efeitos cumulativos na realização de investimentos produtivos.

Trabalhando com os conceitos de efeitos regressivos e propulsores (backwash e spread

effects), acredita que o processo de expansão cria economias externas favoráveis à sua

continuidade (e vice-versa), o que o leva a concluir que “o jogo das forças de mercado opera

no sentido da desigualdade” (Myrdal, 1960, p. 42). Assim, argumenta em prol da intervenção

do Estado no desenvolvimento regional.

Nessa mesma linha, Hirschman (1958), questiona a doutrina do crescimento

balanceado (the balanced growth theory), alegando que o processo de desenvolvimento

pressupõe uma mudança estrutural incompatível com o conceito de equilíbrio. Amparado na

idéia de economias de aglomeração, formula os conceitos de efeitos para trás e para frente, que

traduzem os impactos regionais provenientes da implantação de indústrias. A partir de um

modelo simples de duas regiões, analisa esses impactos, incorporando à sua formulação os

conceitos efeitos polarizadores e difusores (polarization e trickling down effects). Entendendo

que, no longo prazo, os efeitos difusores seriam a chave para a redução das desigualdades

regionais e que a ocorrência de processos desse tipo em países de industrialização retardatária

não se daria, usualmente, de forma espontânea, adota uma postura explicitamente

intervencionista, justificando a ação do poder público em favor do desenvolvimento.

Referindo-se à obra de Myrdal (1957), o próprio Hirschman (1958) afirma que os

conceitos de backwash e spread effects (efeitos de polarização e propulsores) correspondem

exatamente aos de polarization e trickling down effects. De fato, as idéias de Hirschman

apresentam plena convergência com as formulações de Myrdal, fortalecendo a idéia de que

intervenções do Estado voltadas para a atração de investimentos concentrados em dado espaço

geográfico provocariam um efeito expansivo encadeado.

A Teoria da Base de Exportação foi elaborada por Douglas North na década de 50

devido às inadequações, segundo o mesmo, das teorias da localização e do crescimento

regional para explicar a dinâmica da economia norte americana, que não correspondia à

sequência de estágios de desenvolvimento descrita pelas mesmas, que seriam:

� Economia de subsistência, auto-suficiente e agrícola, localizada de acordo

com a distribuição dos recursos naturais;

Page 65: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

63

� Desenvolvimento do comércio e da especialização local, viabilizados por

melhorias nos transportes, e localização determinada pela “camada básica”

da população;

� Comercialização inter-regional e diversificação das atividades

agropecuárias;

� Industrialização (manufaturas e mineração) impulsionada pelo crescimento

da população e dos rendimentos decrescentes da agricultura e das indústrias

extrativas; e

� Estágio final de desenvolvimento, caracterizado pela especialização em

atividades terciárias para exportação.

North (1977), analisando o processo de desenvolvimento dos Estados Unidos,

observa a pouca similaridade com esta sequência de estágios, o que demonstra a baixa

capacidade de explicação destas teorias sobre sua dinâmica regional. Esta falta de

correspondência é justificada pelo fato deste país ter sido colonizado como um

empreendimento capitalista. O crescimento e o povoamento de suas regiões foram

determinados pela dinâmica do mercado mundial, o que resultou em algo muito distinto do

que o descrito pela teoria do desenvolvimento regional (não foi um aumento gradual dos

mercados). Isto não quer dizer que não havia atividades de subsistência nestas regiões, apenas

demonstra que estas não tinham importância na configuração do desenvolvimento econômico

regional.

North (1977) desenvolveu então o conceito de base de exportação para designar

coletivamente os produtos exportáveis de uma região, quer primários, secundários ou

terciários. O desenvolvimento de um artigo de exportação refletia vantagem comparativa nos

custos relativos da produção, incluindo custos de transferência e, à medida que as regiões

cresciam em torno desta base eram geradas economias externas, que, por sua vez, estimulavam

a competitividade dos artigos de exportação. A base de exportação desempenhava assim papel

fundamental na conformação da economia de uma região e em seus níveis de renda absoluta e

per capita e, consequentemente, na determinação da quantidade de atividades locais,

secundárias e terciárias, que se desenvolveriam, bem como sobre a dinâmica da indústria

subsidiária, a distribuição da população, o padrão de urbanização, as características da força de

trabalho, as atitudes sociais e políticas e o crescimento dos centros nodais, de tal forma que seu

crescimento estava intimamente vinculado ao sucesso de suas exportações.

Page 66: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

64

North (1977), apesar de evidenciar a importância da participação governamental

para o desenvolvimento local (expande e estimula o investimento em capital social básico em

uma área nova, alterando sua posição competitiva com relação a outras regiões), não elabora

recomendações explícitas de políticas econômicas.

Para Uderman (2008), as proposições de Perroux (1955); Myrdal (1957) e

Hirschman (1958) evidenciando a relevância da complementaridade dos projetos instalados

apóiam-se na compreensão da importância dos requisitos de escala para o êxito dos projetos

industrializantes. O argumento em defesa da incisiva ação pública dirigida para o

desenvolvimento regional, por sua vez, parte da crença na necessidade de um impulso

desenvolvimentista inicial. A influência exercida por estudiosos como Rosenstein-Rodan e

Nurkse nessas formulações é de grande relavância.

Rosenstein-Rodan (1943) chama a atenção para uma série de questões relacionadas

a processos de industrialização de economias deprimidas, defendendo, em linhas gerais, os

seguintes argumentos, afinados com as condições de escala exigidas pelo padrão de produção

industrial vigente:

� De modo a prover os requisitos de escala e viabilizar o tamanho ótimo das unidades

industriais, as áreas de industrialização dever ser suficientemente amplas;

� A industrialização de áreas deprimidas implica a aplicação de um volume elevado de

investimentos fixos e de um dado conhecimento tecnológico que ampliam os riscos do

capital e reduzem a mobilidade dos fatores e a flexibilidade do sistema;

� O recurso ao capital externo (na forma de empréstimos ou investimentos) é uma

alternativa adequada para viabilizar esses processos de industrialização;

� A supervisão e as garantias do Estado constituem-se em conditio sine qua non para

investimentos internacionais em larga e suficiente escala, à medida que reduzem

substancialmente esses riscos; e

� As instituições de investimento internacional tratam de forma inapropriada a

possibilidade de industrialização dessas áreas, à medida que dirigem o capital para

projetos individuais e pequenas unidades, deixando de aproveitar as vantagens de

economias externas que adviriam de um esquema de industrialização planejada

envolvendo a implantação simultânea de muitas indústrias complementares que

impulsionariam o desenvolvimento (big push).

Nurkse (1953, 1957), partindo da constatação de que o tamanho limitado dos

mercados dos países subdesenvolvidos desencoraja investimentos privados em qualquer

indústria isolada e de que a falta de iniciativas empresariais, por sua vez, bloqueia o

Page 67: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

65

desenvolvimento dos mercados, define o que se convencionou chamar de círculo vicioso da

pobreza. Como forma de romper esse ciclo, propõe que se estabeleça e estimule um padrão

balanceado de investimentos complementares em diferentes indústrias, o que propiciaria a

criação de economias externas dinâmicas. Conforme esclarece Furtado (1986, p. 203), trata-se

de maximizar “as economias externas e de aglomeração resultantes da complementaridade das

atividades industriais e, num horizonte temporal mais amplo, as economias de escala”. Assim,

Nurkse formula a doutrina do crescimento equilibrado, da qual se pode inferir a recomendação

de uma ampla ação estatal no plano econômico.

Embora reconheça as dificuldades a serem enfrentadas, Nurkse (1953, 1957) afirma

que a via de industrialização – que não deve implicar um exclusivo crescimento industrial,

mas a expansão equilibrada de todos os setores para satisfazer a elevação da demanda

decorrente do crescimento de renda originado do conjunto de investimentos iniciais – deve ser

trilhada para que se alcance um patamar mais elevado de desenvolvimento. Nesse sentido, sua

análise converge integralmente com as posições defendidas por Singer (1950) e Prebisch

(1959), que detalham a tendência à deterioração dos termos de troca dos produtos primários e

concluem que a superação do subdesenvolvimento impõe, necessariamente, o recurso à

industrialização.

A ênfase conferida à necessidade de uma ação estatal mais diligente fortalece a

concepção de princípios e a execução de estratégias de natureza desenvolvimentista em

diversos espaços nacionais e subnacionais, sustentando a adoção de um modelo de atuação do

Estado com características próprias. Esse modelo, conhecido como desenvolvimentista, busca

a superação do subdesenvolvimento através de uma industrialização capitalista, planejada e

apoiada pelo Estado, tornando-se hegemônico na maior parte dos países periféricos na segunda

metade dos anos 1950. (BIELSCHOWSKY, 1996, p. 233).

Para Uderman (2008), a despeito das controvérsias registradas nos debates teóricos

e conceituais em torno do tema, podem-se, em linhas gerais, definir os contornos do

pensamento desenvolvimentista a partir dos seguintes pontos:

• A industrialização é a via de superação da pobreza e do subdesenvolvimento;

• Não há como alcançar uma industrialização eficiente e racional nos países periféricos

através das forças espontâneas do mercado, de modo que é necessário que o Estado a

planeje;

• O planejamento deve incluir metas de expansão econômica e os instrumentos de

suporte correspondentes; e

Page 68: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

66

• O Estado deve captar e orientar o uso de recursos financeiros, além de promover

investimentos diretos em setores nos quais a presença da iniciativa privada seja

insuficiente.

A atividade de planejamento aparece, portanto, como tarefa essencial no processo

de indução do desenvolvimento econômico, cabendo também ao Estado um papel decisivo no

esforço de atração e estruturação das atividades industriais. A elaboração de estratégias e

planos de desenvolvimento e o estabelecimento de políticas públicas dirigidas para a

operacionalização das propostas apresentam-se como ações essenciais para orientar e conduzir

movimentos de industrialização em espaços periféricos, consolidando o desenho institucional

e a forma de operação do modelo de intervenção do Estado desenvolvimentista.

Do ponto de vista privado, a intervenção estatal justificava-se em função da

reconhecida insuficiência de bases técnicas e financeiras, contraposta à necessidade de

implementação de grandes projetos interligados e dependentes de vultosos investimentos

simultâneos em infraestrutura e na produção de matérias-primas, máquinas, equipamentos e

bens de consumo, muitas vezes condicionados à adoção de tecnologias não-disponíveis no

mercado interno. Segundo Celso Furtado (1981, p.41), o processo de industrialização por

substituição de importações “ocorria em economias destituídas de qualquer autonomia

tecnológica. Outros autores também enfatizam a dependência tecnológica e financeira

embutida no modelo de industrialização usualmente adotado em países periféricos entre a

década de 1950 e o final dos anos 1970. (TAVARES, 1986; SERRA, 1982; DRAIBE, 1985).

Esse mesmo reconhecimento validava ações de estímulo ao ingresso de capital estrangeiro,

que se beneficiava das especificidades de processos de industrialização tardios para expandir

as suas bases de acumulação. Desse modo, a convergência de interesses públicos e privados,

nacionais e internacionais, fortalecia a adoção dos princípios desenvolvimentistas e

consolidava estruturas de planejamento e coordenação e intervenção do Estado.

A aceitação da aplicação de políticas econômicas como um poderoso instrumento

de promoção da industrialização respaldou uma forte onda de intervenção estatal, que contou

com o apoio de instituições de fomento internacionais como o Banco Mundial e a Organização

das Nações Unidas (ONU). A Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL),

instituída em 1948, também representava um importante reforço ao avanço do modelo

desenvolvimentista, validando a ação interventora do Estado e a formação de centros de

planejamento e formulação de políticas públicas. A análise da Cepal chamava a atenção para a

necessidade de planejamento e intervenção pública no sentido de transformar as economias

Page 69: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

67

periféricas, orientando a acumulação capitalista e os processos de desenvolvimento nacionais

através de ações dirigidas ao fortalecimento das atividades industriais.

Esse modelo de intervenção estatal, ajustado aos requisitos de uma industrialização

tardia nos moldes do paradigma técnico-econômico fordista, respalda o desenvolvimento

industrial em diversos países até o final dos anos 1970. A grave crise fiscal, os processos

inflacionários crônicos e a prolongada estagnação econômica que assolam a economia latino-

americana nesse momento evidenciam, contudo, o esgotamento do padrão de desenvolvimento

anterior. O foco das preocupações desloca-se, então, do insuficiente nível interno de poupança

e tecnologia, da restrição de mercados e da ausência de iniciativas empresariais para o elevado

grau de endividamento externo, as dificuldades fiscais, o significativo patamar inflacionário e

as supostas distorções decorrentes do modelo intervencionista adotado.

Ganham destaque cada vez maior as teses de que a excessiva intervenção estatal,

distorcendo o processo de alocação de recursos, aguçaria a concentração de renda –

contribuindo, desse modo, para os elevados índices de pobreza e exclusão – e as dificuldades

de caixa dos governos. (COLCLOUGH, 1990). Dissemina-se, então, a visão de que as

estratégias de crescimento deveriam abandonar a ênfase no processo de substituição de

importações, no estímulo à poupança forçada e na forte ação estatal em âmbito produtivo,

incorporando diretrizes de redução da intervenção pública – materializadas nos programas de

privatização, desburocratização, desregulamentação e liberalização comercial – e disciplina

macroeconômica. As ações de desenvolvimento regional perdem força, assim como as

instituições destinadas à formulação e execução de políticas públicas dirigidas às regiões

menos favorecidas.

A expansão das idéias neoliberais, ao longo dos anos 1980, cria um ambiente

propício a um novo padrão de atuação pública, orientado pelos princípios da superioridade do

mercado e pela generalização do uso dos seus mecanismos de ajuste. Conforme afirma

Williamson (1992, p.43), que cunhou a famosa expressão “Consenso de Washington” quando

sugeriu uma taxonomia de dez pontos relativos às reformas políticas e econômicas prescritas

para a América Latina, a concordância se dá em torno das exigências colocadas pelo Banco

Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o governo dos Estados Unidos para a

renegociação das dívidas e o aporte de novos recursos. Tais exigências, associadas à percepção

de que o equilíbrio macroeconômico sobrepunha-se aos objetivos imediatos de

desenvolvimento e subordinava o processo de reestruturação produtiva, reforçam os preceitos

liberalizantes e a soberania do mercado, redefinindo as atribuições, prioridades e o próprio

desenho institucional do Estado.

Page 70: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

68

Segundo Baer (2004), o pacote de medidas prescritas pelo Consenso de

Washington incluía o combate à inflação através do ajuste fiscal, a redução dos gastos

públicos, a desregulamentação (leis econômicas e trabalhistas), a privatização de empresas

estatais, a liberalização comercial, a prevalência de taxas de juros de mercado e a abertura da

maior parte dos setores aos investimentos estrangeiros.

Gradualmente, as economias latino-americanas incorporam essas diretrizes,

formatando programas ajustados ao modelo de crescimento orientado para o mercado. Assim,

ao longo dos anos 1980, os objetivos de adensamento econômico, reestruturação produtiva e

reforma institucional são relegados a segundo plano, em favor de medidas de suposto efeito

imediato direcionadas para o combate à inflação e o pagamento dos serviços da dívida externa.

No Brasil, as reformas estruturais, assim como o processo de abertura dos

mercados, intensificaram-se a partir da década de 1990. As políticas de natureza setorial e

regional ficaram em segundo plano, e o Estado concentrou sua atenção nas questões do

equilíbrio macroeconômico e ajuste das contas públicas.

Com a generalização das idéias neoliberais acerca do papel do Estado na economia

ganha corpo os argumentos em defesa do livre mercado global. As políticas de ajuste

macroeconômico assumem o papel de instrumento de ação estatal por excelência, constatando-

se um generalizado desmonte e/ou um claro processo de enfraquecimento das estruturas de

planejamento regional e dos órgãos e instituições voltados para a execução de políticas de

desenvolvimento.

As conseqüências do ajuste implementado sob a orientação dos organismos

internacionais e sob os auspícios do processo de expansão do pensamento e das práticas

neoliberais são facilmente percebidas quando se examinam os indicadores de desempenho da

economia, resultando na chamada “década perdida”, que ilustra a magnitude do retrocesso

observado na grande maioria dos países da América Latina, incluindo o Brasil (CEPAL, 1996,

p. 22, 25 e 38). As principais fontes de impulso do crescimento do período precedente – uma

industrialização apoiada fundamentalmente na demanda interna e um sustentável crescimento

dos investimentos, sobretudo públicos ou induzidos pelo Estado – perdiam visivelmente o

dinamismo.

Para Uderman (2008), a partir da década de 1990, observa-se a estruturação de um

novo padrão de intervenção pública marcado pela construção de um aparato de regulação

econômica e por diretrizes de modernização e integração competitiva. O formato da atuação

estatal, embora ainda ditado por determinantes de ordem macroeconômica, passa a ser também

direcionado por transformações nos padrões produtivos e organizacionais da indústria e no

Page 71: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

69

ambiente institucional e regulatório. Essa tendência pode ser entendida como uma exigência

do próprio aprofundamento do modelo neoliberal difundido, que expunha à concorrência

externa setores pouco competitivos e impunha a construção de um modelo de regulação

voltado para o planejamento e a fiscalização das ações privadas. Percebe-se um movimento

intelectual de renovação do planejamento, entendido como forma de correção dos mercados

nos pontos em que suas deficiências apresentam-se mais exacerbadas, reconhecendo-se o

exagero da retórica e das práticas liberalizantes.

Na visão de Evans, a ausência de intervenção condenaria os países recém-

industrializados à exclusão da indústria mestra do século XXI, de modo que “renegar o

envolvimento do Estado é desconfortavelmente semelhante a renegar um lugar na produção de

tecnologias da informação”. (EVANS, 2004, p. 135-136). Nesse sentido, Evans (2004) não

acredita que o envolvimento do Estado torne-se anacrônico à medida que as mudanças

tecnológicas avançam, mas, tão somente, que é necessário encontrar uma combinação de

papéis e estratégias que seja adequada para o desenvolvimento industrial.

A definição desse novo modelo de atuação do Estado, contudo, não parece ser uma

tarefa trivial. Para Stiglitz (2003), a desregulamentação foi levada longe demais e ressalta a

importância de encontrar um marco regulatório adequado, que equilibre as atribuições dos

governos e dos mercados. Ressaltando os equívocos das políticas neoliberais implementadas,

contraria o argumento de que o governo é necessariamente ineficiente, apontando falhas de

mercados a serem corrigidas pela via da intervenção pública. Para ele, as alternativas diversas

devem ser apropriadas às especificidades de cada realidade nacional. Coutinho (2012) também

argumenta que a escolha do modelo e o desenho da moldura regulatória requerem análises

caso-a-caso, envolvendo especificidades setoriais e institucionais.

Apesar das dificuldades de estabelecer os novos parâmetros de atuação pública em

prol do desenvolvimento, parece ganhar força a idéia de que os princípios fundamentais de um

novo modelo incluem a mobilização social, a busca de maiores níveis de igualdade e a criação

de um entorno empresarial que ofereça condições propícias aos investidores. Os elevados

índices de desemprego, a crescente concentração de renda e os resultados pífios alcançados em

termos de crescimento econômico indicam a necessidade de avançar na formulação de

estratégias de desenvolvimento integradas, em que o Estado desempenha um papel de grande

relevância. A questão regional ressurge em novas bases, subtraindo o lugar primordial

ocupado pelas políticas de apoio à industrialização no passado e incorporando um espectro de

objetivos mais amplos.

Page 72: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

70

Ainda na década de 1990, o conceito de capital social, tratado como “missing link”

dos estudos teóricos e das políticas aplicadas ao desenvolvimento (FINE, 1999, P.4), passa a

permear o discurso de organismos internacionais, governos e organizações não-

governamentais. Definido como o conjunto de informações, normas e confiança recíproca que

integra uma rede social capaz de facilitar a ação coletiva e ordenada voltada para o mútuo

benefício de seus membros (WOOLCOCK, 1998, P. 153-155; PUTNAM, 1995, P. 67), o

conceito de capital social fortalece e aperfeiçoa argumentos em defesa de investimentos

coordenados em capital físico e humano (PUTNAM, 1993, P. 35), sustentando propostas de

ação estatal dirigidas aos processos de desenvolvimento regional.

Para Woolcock (1998, p. 154), a generalização da noção de capital humano,

introduzida por economistas neoclássicos como Theodore Schultz e Gary Becker ainda nos

anos 1960, foi importante para a redefinição dos requisitos associados às novas proposições, à

medida que evidencia a relevância da dotação de trabalhadores educados, treinados e

saudáveis para a determinação dos níveis de produtividade dos fatores de produção ditos

“ortodoxos”. A valorização dessas habilidades relaciona-se às transformações observadas no

paradigma fordista e às novas exigências vinculadas à utilização da microeletrônica e das

tecnologias da informação, que sustentam processos produtivos e organizacionais mais

flexíveis e realçam propostas – envolvendo esforços públicos – voltadas para a promoção de

pequenos empreendimentos intensivos em conhecimento, o apoio à formação de redes de

empresas e a consolidação de aglomerados produtivos locais (PORTER, 1993; ERBER;

CASSIOLATO, 1997; CASSIOLATO; SZAPIRO, 2000).

Considerando o Estado uma criação contingente histórica, cujas propriedades

dependem das dotações institucionais específicas e do caráter da estrutura social, e não como

uma entidade genérica cujo impacto econômico pode ser deduzido a partir das predileções

inerentes aos burocratas, Evans (2004), formula dois importantes conceitos, que se constituem,

em conjunto, na chave para o desenvolvimento. O primeiro deles, denominado autonomia,

refere-se à habilidade estatal de formular projetos coletivos, que se sobrepõem aos interesses

individuais perseguidos pelos dirigentes públicos. Esse conceito associa-se a uma estrutura

burocrática eficiente e a um corpo técnico qualificado, que compõem canais

institucionalizados para a negociação contínua de objetivos e políticas públicas. Retrata,

portanto, a organização interna do Estado. O segundo, designado de parceria (embeddedness),

trata das relações que se estabelecem entre Estado e sociedade. Parte-se, aqui, do suposto de

que os Estados devem estar inseridos socialmente para serem eficientes, estabelecendo

Page 73: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

71

conexões sólidas com grupos sociais através do compartilhamento de projetos de

transformação.

Essas duas dimensões, necessariamente associadas, são tidas como imprescindíveis

para o êxito da intervenção pública no processo de desenvolvimento. Um aparato de Estado

suficientemente coerente e coeso garante a possibilidade de que se estabeleçam sólidas

parcerias com a sociedade, descartando a opção do isolamento como forma de preservação e

garantindo a necessária inserção social. Observa-se, assim, uma mudança importante no papel

proposto para o Estado: de um regulador da ação e da interação social, o Estado passa à

condição de mobilizador de capital social e criador de bases institucionais para a mobilização

das iniciativas coletivas. (LOTTA; MARTINS, 2004).

Para Woolcock (1998), os conceitos de autonomia e parceria formulados por Evans

associam a idéia de desenvolvimento de baixo para cima (bottom-up) – vinculada à criação de

laços sociais comunitários que possibilitem a formulação de uma estratégia de

desenvolvimento endógena – ao modelo de desenvolvimento de cima para baixo (top-down),

atrelado à emergência de burocracias formais e ao cumprimento de leis que assegurem que os

interesses e habilidades individuais possam ser canalizados para grandes empreendimentos

coletivos com uma margem razoável de segurança e predição.

1.5.2 - Produção Recente em Economia Regional

Segundo Cavalcante (2008), um traço comum à produção recente em economia

regional parece ser a tentativa de incorporar os fenômenos de reestruturação produtiva e

aceleração da divisão internacional do trabalho aos modelos que procuram captar as estratégias

de localização do ponto de vista da firma e as estratégias de desenvolvimento regional.

Compartilha ainda as seguintes características:

� Uma grande ênfase dada à questão das externalidades (inclusive tecnológicas), com

referências explícitas ao trabalho de Marshall (1890), ao contrário das teorias de

desenvolvimento regional com ênfase nos fatores de aglomeração, onde a influência de

Marshall (1890), na maioria dos casos pode apenas ser inferida;

� Uma forte influência do pensamento de Schumpeter (1911 e 1942) e da corrente

evolucionista neo-schumpeteriana, sobretudo os esforços de compreensão dos impactos

dos processos de inovação tecnológica e aprendizado no desenvolvimento regional;

� Uma ênfase nas relações comerciais estabelecidas no âmbito das aglomerações,

levando em conta aspectos de organização industrial e custos de transação;

Page 74: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

72

� Uma forte característica interdisciplinar, daí possivelmente decorrendo o volume

desproporcionalmente grande e variado de referências bibliográficas;

Além dessas características, o esforço de proposição de modelos mais formais,

embora não presente em todos os autores pode também ser mencionado.

Alguns autores se propuseram a realizar o trabalho de identificar os principais

autores e correntes de pensamento dessa produção teórica recente, com destaque para:

• Storper (1997, apud Diniz, 2000, p.8) propõe três linhas de pensamento dominantes: i)

a especialização flexível e os distritos industriais, que retomam o conceito de distrito

marshalliano e incorporam evidências empíricas observadas, sobretudo na região da

“terceira Itália”; ii) a escola da organização industrial e dos custos de transação, cujos

principais autores são aqueles ligados ao “Grupo da Califórnia”; e iii) a linha que

privilegia o papel da inovação no desenvolvimento regional influenciada pela corrente

neo-schumpeteriana, que inclui também a abordagem dos “ambientes inovadores”;

• Amaral Filho (1999, p. 8 e seguintes) identifica três novas estratégias de

desenvolvimento regional ou local: i) distritos industriais; ii) ambientes inovadores; e

iii) clusters, que são apresentados como uma espécie de “síntese” dos dois conceitos

anteriores;

• Boisier (2001), propondo-se a identificar a linguagem emergente em desenvolvimento

territorial, discute treze novos conceitos, entre os quais os de “learning regions”,

aprendizagem coletiva, ambientes inovadores, desenvolvimento local,

desenvolvimento endógeno (estes dois últimos com um tratamento mais detalhado),

clusters.

Optou-se aqui por examinar a produção dos autores indicados abaixo:

� Piore e Sabel (1984) – Distritos Industriais

� GREMI (1980-1990) – Ambientes Inovadores

� Storper e Scott (1988) – Organização Industrial

� Krugman (1991) – Retornos Crescentes

É claro que esses autores foram de alguma forma influenciados pelas “teorias

clássicas da localização” e, sobretudo, pelas “teorias de desenvolvimento regional com ênfase

nos fatores de aglomeração”, mas é importante ainda destacar as influências de Marshall

(1890) e Schumpeter (1911 e 1942) sobre os autores desta corrente.

Os Distritos Industriais

Page 75: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

73

De acordo com Pike, Becattini e Sengenberger (1990, apud Amaral Filho, 1999, p.

10), os distritos industriais podem ser definidos como sistemas produtivos locais

caracterizados por um grande número de firmas que são envolvidas em vários estágios e em

várias vias na produção de um bem homogêneo, aproximando-se, assim, do conceito que ficou

conhecido como distrito marshalliano. Entre as várias características que se poderiam apontar

na descrição dos distritos industriais, é a existência de relações não pecuniárias entre as

empresas do mesmo setor aquela que se destaca. A maior parte dos autores que se dedicam à

questão procura nos aspectos históricos e sociais a explicação para as sinergias observadas

entre as empresas destes distritos, embora os spillovers tecnológicos não pareçam constituir-se

no ponto central de sua análise. O grande mérito dos textos que tratam de distritos industriais é

a sua capacidade de reinterpretar os modelos de distritos que se baseavam no modo de

produção fordista incorporando conceitos de produção flexível na sua formulação.

Uma parte significativa a literatura sobre o tema dedica-se à análise do desempenho

de regiões cujas taxas de crescimento de emprego e renda mantiveram-se, de forma sustentável

no tempo, acima das taxas médias nacionais. Este é o caso de algumas regiões da Itália que

caracterizam a chamada “vertente italiana” dos distritos marshallianos.

Markusen (1995) procura ampliar a discussão sobre distritos industriais ao propor

uma tipologia que, além dos distritos marshallianos e de sua vertente italiana, inclui também

distritos centro-radiais (isto é, aqueles que se desenvolvem em torno de uma espécie de

empresa que desempenharia o papel de âncora), os distritos plataforma satélite (que resultam

da aglutinação num espaço geográfico determinado de empresas cujos centros de decisão são

mantidos nas suas regiões de origem) e distritos suportados pelo Estado.

Os Ambientes Inovadores

O conceito de “ambientes inovadores” tem o seu desenvolvimento estreitamente

atrelado ao Groupe de Recherche Européen sur lês Mileux Innovateurs (GREMI) do qual

fazem parte, autores franceses, italianos e suíços como Aydalot, Camagni, Maillat, Perrin,

Crevoisier e outros. De uma forma geral, estes autores preocupam-se com as externalidades de

natureza tecnológica que decorreriam dos vínculos de cooperação e interdependência

estabelecidos entre as empresas através da formação de redes de inovação. Na abordagem dos

autores ligados a esta corrente as inovações desempenham não apenas um papel determinante,

mas também gozam de maior autonomia em relação à formulação presente na discussão sobre

os distritos industriais e sua vertente italiana.

Page 76: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

74

Maillat (1995, apud Boisier, 2001, p.5) define os ambientes inovadores como

operadores coletivos que reduzem “os graus estáticos e dinâmicos de incerteza que enfrentam

as firma locais mediante a organização tácita e explícita de interdependência funcional entre

atores locais, realizando informalmente as atividades de pesquisa, transmissão, seleção,

decodificação, transformação e controle de informação”. Desta forma, a mobilidade de

empregados e a interação entre os fornecedores desempenham um papel da inovação.

Fica evidente a preocupação desta abordagem em dar conta dos processos de

desintegração vertical que, ao facultar a manutenção dos núcleos estratégicos das empresas em

regiões distintas daquelas dedicadas à produção, impediu, em algumas experiências de

implantação de “pólos de crescimento”, que o desenvolvimento pudesse ser assimilado de

forma endógena nas regiões onde se instalaram “indústrias motrizes”. Em que pese esse

esforço, Storper (1995, apud Diniz e Gonçalves, 2000, p. 3) afirma que o GREMI não foi

“capaz de identificar a lógica econômica pela qual o meio promove a inovação”, uma vez que

a inovação ocorreria em função do ambiente inovador, e este somente existiria em regiões

onde houvesse inovação.

Organização Industrial

Estreitamente vinculada aos trabalhos desenvolvidos pelo chamado “Grupo da

Califórnia” (Allan Scott e Michael Storper, dentre outros), esta abordagem privilegia a

corrente teórica da organização industrial e do mercado de trabalho local na compreensão dos

fenômenos associados ao desenvolvimento regional. Apoiados no conceito de “janelas de

oportunidades” formulado pela corrente neo-schumpeteriana, os autores deste grupo assinalam

que a competição e o processo de inovação abrem “janelas locacionais” para as regiões.

Buscando identificar os componentes principais das especificidades que garantiam o sucesso

na promoção do desenvolvimento endógeno, Storper (1994, p. 26) assinala a existência de dois

tipos de externalidades:

• Externalidades Hard, que correspondem àquelas relativas à tecnologia de produção e às

relações insumo-produto;

• Externalidades Soft, que contemplam as interdependências não-comerciais da

economia local.

Os “ativos relacionais” presentes externalidades soft propostas por Storper (1994)

não parecem ser essencialmente diferentes daqueles apresentados na análise dos Distritos

Industriais. As externalidades hard, por sua vez, são aquelas que receberam ênfase nas

Page 77: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

75

proposições de autores como Perroux (1955). A análise proposta por Storper (1994),

entretanto, propõe-se a ir mais além ao considerar o aspecto dinâmico destes dois tipos de

especificidades. A dificuldade dessa corrente está em que ela ainda não conseguiu obter

sucesso na proposição de uma agenda que pudesse dar apoio à formulação de políticas de

desenvolvimento regional. Isto porque, ao atribuírem aos “ativos relacionais” um papel-chave

na promoção de desenvolvimento endógeno, os autores não conseguem ultrapassar a barreira

da descrição de experiências bem e mal-sucedidas, isto é, não conseguem propor ações de

políticas públicas que possam atuar sobre as externalidades soft de modo a utilizá-las como um

instrumento de promoção do desenvolvimento.

Os Retornos Crescentes Formalizados de Krugman

Assumindo os riscos de uma excessiva simplificação, pode-se afirmar que as

principais críticas de Krugman (1998) e Fugita, Krugman e Venables (2000) às teorias

discutidas anteriormente podem ser resumidas da seguinte forma:

• Embora elogiando o seu grau de formalização, Krugman (1998, p. 41) argumenta que

as teorias clássicas da localização, por não lidarem com a questão da estrutura de

mercado e dos retornos crescentes, terminam não contemplando o verdadeiro trade off

que existiria entre a aglomeração e a dispersão de atividades econômicas. Como os

autores das teorias clássicas da localização apóiam-se na premissa de concorrência

perfeita, haveria então uma contradição nos seus modelos, pois na ausência de ganhos

de escala os custos de transporte tenderiam a disseminar as atividades ao longo de todo

o espaço;

• Com relação às teorias do desenvolvimento e à geografia econômica a elas associada,

Krugman (1998, p.6) argumenta que “a inabilidade de seus autores em expressar suas

idéias de forma adequada às técnicas de modelagens disponíveis na época” as impediu

de serem definitivamente incorporadas ao mainstream do pensamento econômico. A

despeito deste fato, Krugman (1998, p. 17) vê naquilo que ele chama de teorias do

desenvolvimento, por volta de 1958, as economias de escala como um conceito central,

não apenas no nível de uma planta individualmente, mas também no nível agregado.

A incorporação dos retornos crescentes nos modelos formais dedicados à

compreensão dos fenômenos espaciais é, na visão dos autores ligados a esta corrente,

essencial. Esses autores procuram compreender o desenvolvimento regional levando em

Page 78: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

76

consideração os fatores de aglomeração sem, no entanto, desprezar a modelagem matemática

tão cara às suas correntes de origem.

Para Cavalcante (2008), no período mais recente, os esforços para a compreensão

dos fatores que levam determinados regiões a apresentarem indicadores econômicos e sociais

mais elevados levando em consideração os novos padrões de acumulação baseados na

automação integrada flexível e os consequentes fenômenos de abertura comercial e

desregulamentação econômica, não parecem formar ainda um corpo teórico coeso, a despeito

das grandes similaridades entre as visões sobre distritos industriais, ambientes inovadores e

organização industrial. Além disso, ressente-se ainda da falta de análises que possam apontar

de forma concreta os instrumentos que poderiam ser utilizados pelo setor público para a

promoção do desenvolvimento. Em que pese a redefinição do seu papel no período recente, o

Estado dispõe ainda de instrumentos de intervenção que vão da provisão de infraestrutura à

concessão de benefícios fiscais e financeiros, e não parece haver ainda indicações claras

quanto ao efetivo papel que poderia ser desempenhado por cada um destes instrumentos nos

esforços para a promoção do desenvolvimento regional.

1.5.3 - Estado e Desenvolvimento Regional no Brasil

Segundo Diniz (2009), a preocupação com o problema regional no Brasil esteve

presente desde o século XIX, embora não tivesse essa denominação, em função das

conseqüências sociais das secas, no Nordeste, e da necessidade de controle do território da

Amazônia, como retratam as várias comissões e tentativas de políticas realizadas desde aquele

século.

Para o caso nordestino, como decorrência das secas, em 1877 foi criada a Comissão

Imperial, encarregada de analisar o problema e propor soluções. Aquela comissão sugeriu o

desenvolvimento dos transportes, a construção de barragens e a transposição do Rio São

Francisco. As ações foram, no entanto, limitadas e lentas, enquanto se aprofundava o problema

social da região. Como conseqüência das secas e dos problemas sociais, estima-se que tenham

morrido entre 100 e 200 mil pessoas nas últimas décadas do século XIX. Estima-se também

que, entre o final do século XIX e início do século XX, aproximadamente 500 mil pessoas

tenham se transferido ou foram transferidas para a região amazônica, na expectativa das

oportunidades de trabalho vinculadas à exploração da borracha, que emergia como novo

produto de exportação (Furtado, 2001; Cano, 1977 e 1985).

Page 79: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

77

Entre os anos iniciais do século XX e início dos anos 50 diversos órgãos ou

instituições foram criadas para tratar da questão regional ou de problemas decorrentes da seca

no Nordeste e na Amazônia, como a Inspetoria de Obras Contra a Seca (IOCS), em 1904,

depois transformada em Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), em

1945; a Caixa Especial de Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis no Nordeste do Brasil,

com 2% do orçamento da União; também em 1945 foi criada a Companhia Hidrelétrica do São

Francisco. A Constituição Federal de 1946 estabeleceu vinculações orçamentárias específicas

para o desenvolvimento das regiões Nordeste e Amazônica. Por essa razão, foi criada a

Comissão de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), em 1948. Em 1951,

seria instituído o Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

No que se refere à Amazônia, em 1912, foi criada a Superintendência de Defesa da

Borracha, preocupada com a concorrência asiática, e que posteriormente foi transformada em

Instituto da Hiléia Amazônica, em 1945; em Superintendência do Plano de Valorização

Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953; e em Superintendência de Desenvolvimento da

Amazônia (SUDAM), em 1966. Em 1942, no bojo dos acordos de Washington, foi criado o

Banco de Crédito da Borracha, transformado em Banco de Crédito da Amazônia, em 1957, e

em Banco da Amazônia S.A (BASA), em 1966. Em 1967, seria criada a Superintendência da

Zona Franca de Manaus (SUFRAMA).

Para Diniz (2009), a generalização da política regional levou à criação de

superintendências para as demais regiões do País, a saber: Superintendência do Plano de

Valorização Econômica da Região da Fronteira Sudoeste do País (SPVERFSP), em 1961,

transformada em SUDESUL, em 1967; a Comissão de Desenvolvimento do Centro-Oeste

(Codeco), em 1961, transformada em SUDECO, em 1967.

Concluindo, Diniz (2009) afirma que o Brasil foi pioneiro na busca de instrumentos

e ações para alavancar o desenvolvimento do Nordeste e da Amazônia. A primeira, pelas

graves crises sociais e pela força regionalista de sua elite. A segunda, pela preocupação com o

controle político do vasto território amazônico. As críticas a essas instituições, a alegada

existência de corrupção e as mudanças na concepção e no papel do Estado, durante a era

neoliberal, levaram ao esvaziamento e posterior fechamento da maioria delas. Foram mantidos

a Suframa, o BNB e o Basa. A Sudene e a Sudam foram transformadas em Adene e Ada,

respectivamente, e posteriormente recriadas. A Sudeco foi extinta e recriada.

No decorrer do século XX, o Brasil vivenciou um rápido processo de crescimento

econômico, notadamente a partir da década de 30, em plena crise mundial. Esse crescimento

Page 80: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

78

foi mais acentuado em determinadas regiões do país do que em outras e, como conseqüência,

as disparidades inter-regionais aumentaram.

Nesse período de início do processo de industrialização brasileira, o crescimento

econômico no País ocorreu com profundas desigualdades regionais, concentrando-se a

atividade econômica nas regiões sudeste e sul.

Essa discrepância entre crescimento das diversas regiões brasileiras resultou em

debates políticos e acadêmicos sobre a necessidade de se criar políticas públicas adequadas.

Esse debate começou a ter maior repercussão em meados da década de 50, quando ao lado de

políticas governamentais de desenvolvimento, persistia grande desnível entre crescimento

econômico de diversas regiões brasileiras e de conjuntura adversa no nordeste.

A partir da década de 50, a literatura econômica brasileira passa a acumular

discussões sobre a questão regional, devido à impossibilidade de se pensar no

desenvolvimento do Brasil sem pensar no desenvolvimento das diferentes regiões e na

integração produtiva. Compreender a razão da existência desses problemas envolve

compreender a formação econômica do país.

Durante o período agrário mercantil exportador, seja durante a fase colonial ou

após a independência, sabe-se que a articulação comercial ocorria mais entre as economias

regionais individualmente consideradas com o mercado externo, do que internamente, entre as

próprias regiões. No final do século XIX e início do XX, ocorre progressivamente a

dinamização da economia nacional, processo que culminaria, a partir de 30, no deslocamento

do centro dinâmico, transformando-a de uma economia de base agro-exportadora e foco no

mercado externo para uma economia de base urbano-industrial, cujo centro dinâmico estava

no mercado interno (Furtado, 1980). Nesse contexto, foram se formando as diferentes

dinâmicas regionais no país. A matriz dessa base industrial se encontrava em São Paulo, centro

dinâmico do complexo cafeeiro, que comanda o processo de industrialização brasileira após

1930. A articulação comercial entre as regiões se intensificou, resultando na integração

produtiva mesmo com profundas disparidades regionais.

A resposta do Estado na busca de solução para os desequilíbrios regionais passou

pela criação de diversas autarquias de desenvolvimento regional. No governo JK foi instituído

o grupo de estudos GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste), sob o

comando de Celso Furtado e, posteriormente, foi criada a SUDENE (Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste), em 1959, iniciando uma fase de maior coordenação das

políticas regionais. Esse modelo foi estendido para a região norte, com o Pólo Industrial de

Manaus e foram criadas agências específicas como a SUDAM, em 1968, e a SUDESUL E

Page 81: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

79

SUDECO, em 1967, sendo estas orientadas para o desenvolvimento das regiões Sul e Centro-

Oeste.

Em linhas gerais, nos quarenta anos subseqüentes ao governo de Juscelino

Kubitschek, prevaleceu o diagnóstico de que a solução para a aludida disparidade de renda

regional passava, necessariamente, pelo aumento da industrialização nas regiões deprimidas

por meio de concessão de incentivos fiscais e creditícios que motivassem empresas a se

instalarem nessas regiões. Nos anos 90, a política de desenvolvimento regional coordenada

nacionalmente deu lugar à guerra fiscal, quando cada estado federado se transformou numa

espécie de “caixeiro viajante”, buscando atrair novos investimentos, especialmente aqueles

relacionados ao capital internacional, em troca de incentivos e isenções fiscais.

Para Lima e Simões (2009), a ação do Estado foi fundamental no processo de

desenvolvimento econômico brasileiro. Grande parte das atividades aqui desenvolvidas teve

forte intervenção estatal, principalmente entre 1950 e 1980, ou seja, no período da

industrialização da economia nacional. O objetivo de tal intervenção era conceder à economia

brasileira mecanismos mais eficazes de defesa frente aos problemas econômicos

internacionais, particularmente sentidos em uma economia dependente da exportação de

produtos primários. Na realidade, o sentido da intervenção passou a ser a alteração do próprio

modelo de desenvolvimento, buscando superar as características agroexportadoras da

economia nacional. Nesse sentido podem-se destacar quatro forma de atuação do Estado

nacional:

i. O Estado como principal condutor do crescimento: as metas do programa de

industrialização tornaram-se o principal objetivo das políticas econômicas nacionais

(cambial, tarifária e creditícia);

ii. O Estado como regulador/mediador das relações entre as classes operária e patronal e

dos conflitos intra-capitalistas: criação de instituições para diminuir o conflito

mercantil de tais relações e impor soluções que permitissem o bom andamento do

processo de industrialização;

iii. O Estado como produtor: grande parto dos serviços públicos, relativos inclusive às

atividades de infraestrutura – rodovias, transporte marítimo, abastecimento de água,

eletricidade, comunicações -, foi estatizada ou já nasceu sob a forma estatal, bem como

atividades voltadas para a produção de bens intermediários, como petróleo, siderurgia,

mineração e química; e

iv. O Estado como financiador do desenvolvimento: ampliação de seu papel de captador

de recursos e de seu direcionamento para os setores de interesse. Percentual

Page 82: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

80

significativo da poupança nacional era administrada pelo sistema público de crédito,

que controlava sua aplicação e assim conduzia a evolução da industrialização

brasileira.

Assim, percebe-se que, no caso brasileiro, o Estado assumiu a responsabilidade

pela provisão e produção de determinados bens e serviços, fato que estava ligado, entre outros

fatores, às questões ideológicas pró-estatização estando estas intimamente relacionadas ao

mainstream econômico sobre a questão regional. É justamente nesse período de expansão da

economia brasileira que estão em evidência as teorias desenvolvidas por Perroux, Boudeville,

Myrdal, Hirschman e North, o que tem grandes impactos sobre o planejamento regional e as

políticas econômicas adotadas no país.

Os principais planos de dinamização da economia nacional elaborados no período

em análise, quais sejam o Plano de Metas (1956-60), o Plano de Ação Econômica do Governo

(PAEG) em 1964 e o II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND – (1974-1979),

possuem claros indícios da influência destas teorias sobre o planejamento econômico regional.

As recomendações de políticas econômica do Plano de Metas (JK) evidenciavam as

necessidades de implantação de novas plantas industriais para dinamizar o território nacional,

seguindo as bases teóricas desenvolvidas por Perroux e Boudeville. Foram realizados

investimentos consideráveis nas indústrias de bens de consumo duráveis, especialmente na

indústria automobilística, cujo potencial de geração de efeitos de encadeamento à la

Hirschman era bastante elevado, apesar de não haver maiores preocupações com a dispersão

das mesmas no território nacional Além disso, grande ênfase foi concedida à importância dos

investimentos em infra-estrutura, considerados essenciais para a continuidade do processo de

crescimento econômico, como destacado por todos teóricos analisados. A meta mais ousada do

plano foi a criação de Brasília, com o intuito de aumentar a ocupação nas regiões Centro-Oeste

e Norte do país, auxiliando a integração do território, fundamental para a dinamização desses

espaços. Apesar das questões relacionadas às disparidades setoriais e regionais não estarem

relacionadas entre os principais objetivos das políticas econômicas, observa-se ainda na

década de 50 a criação de importantes instituições de apoio ao desenvolvimento regional como

o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e do Banco do Nordeste do Brasil

(BNB) em 1952 e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) em 1959.

Esta última representa o esforço de conceder os chamados “equivalentes de soberania”

elaborados por Hirschman a determinada região do país.

O principal instrumento que viabilizou este processo de crescimento da economia

brasileira foi a industrialização por substituição de importações (ISI). Mas, a mera substituição

Page 83: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

81

de importações, como ocorreu no Brasil, sem o acompanhamento da diversificação das

exportações foi incapaz de estimular um processo de crescimento sustentável. A incapacidade

de desenvolver novos produtos e serviços, especialmente para exportações, dificultou a

superação dos problemas que surgiriam no país no decorrer do próprio processo de

desenvolvimento. A industrialização nacional baseou-se apenas no mercado interno,

esquecendo-se que o desenvolvimento implica necessariamente em uma questão de inserção

na economia mundial. Assim, ao mesmo tempo que a industrialização tardia possibilitava aos

países subdesenvolvidos pular etapas (cathing up), ela implicava em uma série de restrições.

O agravamento dos desequilíbrios gerados pelo próprio processo de

industrialização (inflação, concentração de renda, etc.) trouxe à tona a necessidade de atenuar

as disparidades setoriais e regionais. Na elaboração do plano seguinte, o PAEG, percebe-se

esta preocupação, mas seu principal foco ainda reside no controle da inflação e na realização

de reformas institucionais – tributária, monetário-financeira e de política externa. É apenas a

partir do II PND que há maior preocupação com o ajuste dos desequilíbrios gerados pelo

período de expansão anterior (Milagre econômico, 1968-73), mas sem desistir da continuidade

do crescimento.

O Estado procurou estimular os efeitos para frente e para trás na cadeia produtiva

(linkage effects), bem como entre regiões (trickling-down e polarization effects), através de

vários projetos de investimento especialmente em bens de produção intermediários na região

mais atrasada do país – Nordeste -, mas como o processo de desenvolvimento era liderado por

sua região mais dinâmica – Sudeste – estes efeitos não foram tão grandes quanto o esperado (a

estrutura industrial da região Nordeste desenvolveu-se de forma complementar e dependente

do centro econômico nacional, o que aumentava os vazamentos em prol da região Sudeste).

Apesar da grande participação direta do Estado na economia nacional e da tentativa

de alinhar seus objetivos de políticas com as recomendações dos principais teóricos sobre a

dinâmica regional da época, as disparidades regionais aumentaram. Havia uma grande busca

por altas taxas de crescimento da economia nacional, mas a distribuição da mesma entre

setores e regiões era secundária. Além disso, a implantação de diversos pólos de crescimento

no território nacional levou em consideração apenas o espaço geográfico sem considerar o

espaço econômico das respectivas regiões. Apesar de o governo defender a adoção de uma

política ativa, como indicada por Perroux e North e recomendada explicitamente por

Boudeville, Myrdal e Hirschman, sua postura não foi crítica e limitou-se a copiar estratégias

internacionais sem considerar a realidade local e as repercussões nos espaços econômicos

nacional e regional.

Page 84: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

82

Para Lima e Simões (2009), este modelo de ação estatal – desenvolvimentista –

encontrou seus limites em meados da década de 70 e início dos anos 80, bem como suas

recomendações de políticas, devido à reversão das condições internacionais (choques do

petróleo, aumento dos juros, restrições de financiamentos, etc.) e aos desequilíbrios internos

(inflação, endividamento, crise fiscal, etc.), que levaram à estagnação econômica dos países

periféricos. Estes fatos levaram ao abandono do Estado como possível agente do

desenvolvimento e expandiram o discurso neoliberal nos anos 80 de que a excessiva

intervenção estatal distorcia o processo de alocação de recursos, elevava a concentração de

renda e contribuía para a pobreza e a exclusão. Difundia-se então a idéia de que as estratégias

de crescimento deveriam abandonar a ênfase na forte participação estatal no setor produtivo

(materializados nos programas de privatizações, abertura comercial e financeira da década de

90), incorporando diretrizes de disciplina macroeconômica. As ações de desenvolvimento

regional perderam força, assim como as instituições destinadas à formulação e execução de

políticas públicas dirigidas às regiões menos favorecidas.

Este movimento foi acompanhado por alterações também no campo teórico, pois as

mudanças no cenário econômico mundial exigiam o desenvolvimento de novas teorias capazes

de explicar a dinâmica dos mercados e com esta é afetada pela ação estatal. O paradigma do

mainstream econômico passa a ter uma visão liberal, focado na esfera local. Em relação às

políticas de desenvolvimento regional, o consenso em torno das idéias de Perroux foi desfeito.

Os problemas regionais, antes analisados em escala nacional, passaram a ser discutidos em

escala local, privilegiando políticas que procurassem desenvolver potencialidades locais sem

necessariamente integrar o território nacional.

Em 2003, no Governo Lula foi lançado o Plano Nacional de Desenvolvimento

Regional (PNDR) com a missão de combater as desigualdades regionais brasileiras e

promover a inclusão social e a valorização cultural das populações mais pobres do país e dos

territórios menos favorecidos por outras políticas públicas. No entanto, ela só foi

institucionalizada em 2007, através do Decreto nº 6047. Os dois pilares fundamentais da

PNDR eram a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR) e da Câmara

de Políticas de Integração Nacional de Desenvolvimento Regional não foram ainda aprovados.

Faltou base política e consenso federativo. Com isso, o alcance do Plano para cumprir seus

objetivos foi bastante reduzido, e o país continua carente de uma verdadeira Política Nacional

de Desenvolvimento Regional, que reduza as enormes disparidades regionais ainda existentes.

1.5.4 – Políticas Estaduais de Desenvolvimento e In centivos fiscais

Page 85: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

83

Segundo Prado e Cavalcanti (2000), há registro da existência de conflito tributário

entre unidades subnacionais desde a instauração da República, apesar das dificuldades

existentes acerca de informações relativas à disputa fiscal entre os Estados brasileiros.

Lagemann e Bordin (1993) descrevem, por exemplo, a adoção de medidas tributárias pelo

Estado do Rio Grande do Sul, em 1903, que visavam à desoneração gradual dos produtos

industrializados do imposto de exportação.

No período do Estado Novo, em razão do regime autoritário e da subordinação

política a que estiveram submetidos ao governo central, os Estados arrefeceram suas práticas

em relação à disputa por investimentos produtivos. A redemocratização do país em 1946

trouxe de volta o conflito inter-regional, dada a maior liberdade e o fortalecimento econômico

das unidades subnacionais de governo. É conhecido o uso do IVC (Imposto sobre Vendas e

Consignações) como instrumento extrafiscal, servindo, duplamente, para influir na alocação

do empreendimento privado e para permitir o apoio e o desenvolvimento da produção nativa

estadual.

Segundo Prado e Cavalcanti (2000), o contexto político e econômico que atravessa

a segunda metade dos anos 50 até meados dos anos 70, apesar dos percalços verificados,

consegue preservar os traços típicos da gestão de planejamento. Fortemente influenciado pela

implementação do Plano de Metas, em 1955, bem como pela criação de diversos organismos

federais de fomento, planificação e organização ativa da produção, como SUDENE,

Codevasf, BNDE, Cia. Vale do Rio Doce etc., esse período revela, por parte dos Estados, um

conjunto de práticas que vão ao encontro do movimento mais geral realizado pelo poder

central.

Pode-se observar que a liberdade tributária obtida pelos Estados na Constituição de

1946 foi utilizada de maneira sistemática para a concessão de incentivos, mesmo que

atrelados a planos estaduais de desenvolvimento, conforme Oliveira (1985) destaca:

A autonomia conferida aos Estados pela Constituição de 1946 para a criação e reajuste das alíquotas de seus tributos contribuía para que os mesmos promovessem alterações contínuas nas mesmas, quer para satisfazer suas necessidades de caixa, aumentando-as, quer reduzindo–as para tornar a produção estadual mais competitiva além de suas fronteiras. Com isso, transformava-se o sistema tributário em um verdadeiro estopim de guerras interestaduais e em um mecanismo facilmente acionável para carrear recursos para os cofres públicos, o que, sem dúvida, produzia profundas distorções tanto na estrutura econômica como nos preços relativos. Para se ter uma idéia do problema basta dizer que o “leque das alíquotas do IVC, à época da instituição do ICM, variava de 3 a 9 %. (OLIVEIRA, 1985, p. 85).

Page 86: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

84

A transformação do IVC no ICM, realizada pela reforma tributária de 1965/66,

redefiniu o horizonte fiscal dos Estados ao permitir que contassem com uma nova e vigorosa

fonte de receita. Essa mudança foi acompanhada da regra de estabelecimento da alíquota

interna do imposto pelo Senado Federal, bem como da proibição de os Estados constituírem,

voluntariamente, novas fontes de receita, fossem contribuições compulsórias ou tributos. A

reforma de 1966, que entrou em vigor em 1967, acabou com o Imposto sobre Vendas e

Consignações (IVC), um imposto em cascata que incidia sobre o faturamento, e em seu lugar

colocou o ICM, um imposto do tipo Valor Adicionado. O Imposto Federal de Consumo foi

transformado num imposto do tipo Valor Adicionado, o Imposto sobre Produtos

Industrializados (IPI). Os municípios foram contemplados com a criação do Imposto Sobre

Serviços (ISS). A reforma de 1966 extinguiu também impostos anacrônicos com o Imposto do

Selo e passou para a órbita federal impostos de política econômica, como os impostos que

incidem sobre o comércio exterior. Essa reforma criou os impostos únicos sobre

combustíveis, minerais, eletricidade e telecomunicações, que tinham como objetivo financiar

investimentos na infraestrutura do país. A formulação proposta orientou-se pelo objetivo

explícito de centralização das receitas tributárias nas mãos da União, com o intuito de

promover uma redistribuição equitativa da renda – através dos fundos de participação – e de

impedir que os Estados, ao manipularem parâmetros de suas receitas próprias, pudessem

cobrir déficits orçamentários ou desencadeassem guerras econômicas entre si. Não são

desconhecidas, apesar da realização de convênios regionais, as práticas estaduais voltadas

para a concessão desordenada de incentivos fiscais, utilizando o ICM.

Desarmonia entre os estados da Federação e guerra fiscal não são, no Brasil,

fenômenos atuais. No país, transformado em República Federativa em 1889 – regime de

governo que foi confirmado na Carta Magna de 1891 -, ergueu-se uma estrutura de relações

intergovernamentais em que, ao longo da história, apenas em raros – e fugazes – momentos

houve “cooperação interesferas”. Por sua vez, as chamadas “guerras fiscais”, travadas entre os

seus entes federados, reflexo da ausência de “cooperação e harmonia”, tornaram-se rotineiras a

partir da reforma tributária de 1966, quando se criou o Imposto sobre Circulação de

Mercadorias (ICM). Esse imposto, apesar das limitações existentes para a concessão de

incentivos fiscais, transformou-se num poderoso instrumento de incentivo à industrialização

interna dos estados (Rezende e Silva, 1974).

Tal situação vigorou até a interferência do governo federal, no início dos anos 70,

quando além de participar de reuniões para a definição dos convênios regionais, institui o

Page 87: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

85

CONFAZ, em 1975, através da Lei complementar nº 24, de 07 de janeiro, que inibia o

processo de disputa por novos investimentos pelos Estados.

O CONFAZ, sob o manto do autoritarismo militar e associado ao baixo dinamismo

da economia durante os anos 80, conseguiu realizar com expressivo êxito sua função, apesar

de decisões isoladas de alguns Estados que buscavam fugir das regras estabelecidas, cujo caso

mais evidente foi o da Fiat, em Minas Gerais. Na verdade, durante a década dos 80, o tema

guerra fiscal esteve completamente afastado dos compêndios de economia do setor público.

Em Goiás, através da lei nº 9.848, de 19 de julho de 1984, foi criado o Fundo de

Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás – FOMENTAR, que era um

amplo programa destinado à atração de investimentos produtivos para o Estado, notadamente

industriais, buscava estimular, também, um movimento de desconcentração econômica dentro

do país. Outros Estados também criaram programas de incentivos fiscais voltados à

industrialização em seu território. Nesse período, as políticas estaduais para atração de

investimentos ainda não tinham essa conotação de guerra fiscal.

A reforma tributária de 1988 mudou essa situação. Até 1988, existiam ainda

alguns limites ao exercício da competência estadual. Havia um teto e exigência de alíquota

uniforme pelo Senado. A reforma constitucional ampliou a autonomia dos Estados para fixar,

por leis próprias, as alíquotas do ICMS incidentes sobre as operações internas e também

retirou da União o poder de conceder isenções e abatimentos do imposto estadual, à revelia

dos Estados. O artigo 155 da Constituição manteve a competência estadual, ficando a cargo

de o Senado Federal fixar as alíquotas às operações e às prestações interestaduais e de

exportação, bem como estabelecer alíquotas máximas e mínimas nas operações intra-

estaduais. Com o objetivo de combater conflitos específicos, manteve-se também a

necessidade de deliberação estadual para a adoção de isenções, incentivos e benefícios. O

tema guerra fiscal volta a ser debatido. Isto porque, com o poder financeiro ampliado e a

maior autonomia tributária, inclusive para estabelecerem as alíquotas internas do novo

imposto (o ICMS), os Estados viam-se na condição de promover e influir na política tributária

nacional, buscando, em simultâneo ao declínio do órgão normatizador (o CONFAZ),

estabelecer condições próprias para o desenvolvimento industrial de seu território.

Para Prado e Cavalcanti (2000), a manipulação indiscriminada da alíquota, da base

de cálculo e de programas para o financiamento do imposto das empresas formatou o quadro

tributário estadual da primeira metade dos danos 90. A situação só muda quando o interesse

do investimento direto e a ação de inconstitucionalidade impetrada por São Paulo colocam em

Page 88: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

86

xeque a situação anterior. A partir daí, o que se observa é a criação de fundos ou programas

financeiros, voltados para a concessão de crédito ao investimento privado.

O arcabouço institucional do ICMS, a descentralização política propiciada pela

Constituição de 1988 e a retomada dos investimentos externos e internos a partir de meados

da década de 1990, principalmente no setor automobilístico, favorecerem o desencadeamento

do fenômeno da “guerra fiscal” no âmbito do ICMS, o qual tem se tornado o problema de

política pública central no debate da reforma tributária ora em curso no país.

A guerra fiscal consiste na disputa entre diferentes Estados da federação pela

atração de relevantes investimentos produtivos, notadamente industriais, a partir da concessão

de diferentes vantagens fiscais, especialmente, com a renúncia do ICMS. Trata-se de um

fenômeno dinâmico e multifacetado, que abrange, não só as disputas mais conhecidas de

atração de fábricas de automóveis, como outros incontáveis incentivos a setores específicos da

economia.

A partir de 1993, alguns Estados passaram a disputar os crescentes investimentos

oferecidos por montadoras de automóveis. Rio de Janeiro venceu São Paulo na disputa para

sediar o novo parque industrial da Volkswagen. Minas Gerais (Juiz de Fora) ganhou a sede da

Mercedes-Benz, assim como o Paraná (Renault), Rio Grande do Sul (Chevrolet), Goiás

(Mitsubishi) e Bahia (Ford) também obtiveram vitórias pontuais como conseqüência do

oferecimento de incentivos fiscais a grupos econômicos do setor automobilístico.

O Governo Federal também acabou participando dessa guerra fiscal, a partir de

inusitada interferência com o Novo Regime Automotivo de 1995 e o Regime Automotivo

Especial de 1997, que concederam diversos incentivos fiscais às empresas montadoras de

automóveis, sendo esse último direcionado às empresas que viessem a se instalar nas regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

A guerra fiscal fora do setor automotivo, apesar de menos conhecida,

aparentemente, tem se disseminado por diversos setores econômicos e Estados da federação,

operada com base em variadas e criativas formas de incentivo fiscal, como o crédito

presumido do ICMS. Dulci (2002: 101-104) descreve, por exemplo, diversos episódios

relacionados ao Estado de São Paulo – investimentos da Embraer, Simples paulista e

aprovação da Lei da Informática – e ao Estado de Minas Gerais – transferência dos setores de

leites e derivados e carnes e couros para os Estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do

Sul.

Ao longo do tempo, os Estados foram se aprimorando na tentativa de atrair novos

investimentos e desenvolveram outras formas de benefícios às empresas. Pedrosa et al (2.000)

Page 89: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

87

define um benefício fiscal stricto sensu, como uma situação onde há a redução/anulação do

imposto a ser pago decorrente da decisão isolada de um estado ou em conjunto com os outros

estados através do Conselho Nacional de Política Fazendária. No entanto, os incentivos

oferecidos na guerra fiscal, atualmente, não se limitam aos incentivos estritamente tributários,

incluindo-se também benefícios creditícios, infra-estrutura, doação de terrenos, etc.

De acordo com Alves (2001) e Perius (2002), os incentivos podem ser

classificados em três tipos, tendo como referência a evolução do projeto subsidiado:

• Tipo 1 – Concessões prévias para o início da atividade produtiva: doação de terrenos,

obras, facilidades de infra-estrutura e outras formas de dispêndio financeiro que geram

benefícios parciais ou totais para a empresa.

• Tipo 2 – Benefícios creditícios associados ao investimento inicial e à operação

produtiva: formas diversas de crédito para capital fixo ou de giro. O crédito pode ser

oferecido pelo governo estadual, antes do início das operações da empresa, de uma só

vez, ou em várias parcelas, ao longo do processo de implantação e/ou operação. Os

financiamentos são ofertados pelas instituições bancárias de investimento, com

recursos de fundos estaduais ou de programas de desenvolvimento regional.

• Tipo 3 – Benefícios tributários relacionados à operação produtiva: a renúncia fiscal

pode se dar por meio da redução ou postergação de recolhimento ou, ainda, pela

isenção de impostos.

O principal tipo de incentivo utilizado tem sido a renúncia fiscal no âmbito do

ICMS. Segundo Pedrosa et al (2.000), esta renúncia pode resultar em:

- Redução do débito do imposto: redução de alíquota, isenção e redução da base de

cálculo;

- Aumento do crédito do imposto: crédito presumido;

- Redução do somatório de débitos e créditos (imposto devido): redução direta, a partir

do desconto sobre o valor nominal ou real devido e redução indireta; o recolhimento é

feito em prazo maior que o normal sem correção monetária e sem juros.

Esta última forma de renúncia do ICMS engloba um tipo de incentivo bastante

utilizado atualmente na guerra fiscal. Trata-se do diferimento do ICMS. Ou seja, o estado

posterga o recebimento do imposto, aplicando sobre o valor devido uma taxa de juros e

correção monetária abaixo do mercado ou nulas, fazendo com que esta operação se assemelhe

a uma operação de crédito subsidiado.

Page 90: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

88

Este tipo de renúncia também pode assumir um formato peculiar: as “operações

triangulares”, que se constituíram em uma forma bastante comum de renúncia fiscal,

especialmente nos acordos firmados com o setor automobilístico. Nesses acordos, geralmente,

o estado se propõe a financiar de 9% a 10% do faturamento da empresa, via fundo fiscal,

alimentado por uma parte da arrecadação do ICMS, dotando-os de uma fonte “permanente”

de recursos.

O fenômeno guerra fiscal abrange políticas públicas pautadas em benefícios

fiscais, financeiros e creditícios, que buscam atrair desenvolvimento para um Estado em

detrimento de outras unidades da federação. Estas ações mostram que, enquanto um Estado se

beneficia, gera algum prejuízo para outro, evidenciando, assim, que a guerra fiscal não é

Ótimo de Pareto, conforme destaca Ferreira (2000):

Esta “guerra” gera conflitos na Federação. No curto prazo, o Estado que deflagra a guerra se beneficia. No longo prazo, a generalização do conflito faz com que os ganhos iniciais desapareçam, pois os incentivos fiscais perdem o seu poder de estímulo e se transformam em meras renúncias de arrecadação. (FERREIRA, 2000, p. 1).

Assim, segundo Viol (1999), os Estados que mais perderão serão os mais pobres,

que, curiosamente, são os que mais concedem incentivos, uma vez que, paralelo ao

desenvolvimento atraído para o seu território, desencadeia-se a contrapartida natural, ou seja,

o crescimento das demandas por serviços públicos, tais como: educação, saúde, transporte,

segurança, saneamento básico, entre outras despesas provenientes do crescimento

populacional e da elevação da renda per capita.

Segundo Hulten e Schwab (1997), as justificativas para tal prática, sob a ótica do

administrador público, são: a geração de empregos e renda; o aumento do valor adicionado ao

longo das cadeias produtivas, devido à maior transformação industrial e, ainda, o aumento da

receita tributária futura.

Num sistema federativo como o do Brasil, o ideal seria que os Estados pautassem

suas ações tendo como base a cooperação e não a competição. Entretanto, devido às enormes

disparidades regionais e a carência de um governo central capaz de administrar os conflitos

inerentes a esse arranjo político, os governos subnacionais acabam sendo compelidos à prática

da guerra fiscal, com as conseqüências negativas para o país, quando se observa o elevado

custo fiscal agregado associado a essa prática.

1.6 - Conclusão

Page 91: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

89

No estudo realizado inicialmente no capítulo, vimos que, para compreender o

conceito de desenvolvimento, é fundamental analisarmos os contextos social, geográfico e

histórico, bem como sua evolução ao longo do tempo.

Existe uma vasta literatura sobre desenvolvimento econômico e diferentes visões,

que tem mudado através do tempo. Mas, no essencial, o que elas afirmam é que o

desenvolvimento deve contribuir para a melhoria das condições de vida da população. Isto

significa que ele deve garantir que todos terão suas necessidades humanas básicas atendidas,

tais como alimentos, vestuário, habitação, saúde, educação, saneamento, transporte coletivo,

segurança e participação no destino da sociedade na qual estão inseridos.

O pensamento convencional tem como medida do desenvolvimento o crescimento

econômico ou aumento da renda per capita. Aqueles que discordam sugerem outros

indicadores de desenvolvimento, que levariam em conta mudanças na qualidade de vida,

como a redução da pobreza da desigualdade e do desemprego.

Apesar do crescimento econômico mundial extraordinário verificado na segunda

metade do século XX, o desenvolvimento foi muito desigual entre países e dentro de cada

país. A distância entre os países mais industrializados e grande parte dos países em

desenvolvimento ou subdesenvolvidos aumentou consideravelmente. Ao mesmo tempo,

também aumentaram as disparidades econômicas entre regiões e entre habitantes de um

mesmo país. Esse desenvolvimento desigual pode ser atribuído à lógica dos mercados, que

privilegiam os que já têm em detrimento dos que não têm, para num processo de efeito

cumulativo, conduzir a círculos virtuosos e viciosos guiados pelo mercado.

Embora a grande maioria dos economistas acredite que mercados competitivos,

sem a intervenção do Estado, possam levar naturalmente ao desenvolvimento econômico, não

há suporte na teoria para esperar que uma ordem natural promova o funcionamento harmônico

do sistema econômico nas modernas sociedades. Assim, a questão fundamental discutida no

capítulo é sobre o papel institucional do Estado no sistema econômico e no desenvolvimento.

Para Fiani (2011), o Estado tem um papel fundamental na promoção do

desenvolvimento. Começa pelo “papel institucional”, que se refere ao papel do Estado na

constituição dos arranjos institucionais (ou seja, as estruturas de governança) necessários ao

bom funcionamento da economia, reduzindo conflitos e promovendo a cooperação, de forma

a diminuir os custos de transação. Seguido pelo papel do Estado em fornecer o “ambiente

institucional”, ou seja, o conjunto de regras fundamentais de natureza política, social e legal,

que estabelece a base para a produção, a troca e a distribuição – que englobam, por exemplo,

a Constituição, as leis, regulamentos públicos etc. – e deixar que os agentes privados

Page 92: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

90

constituam as estruturas de governança sobre esta base. Entretanto, a política econômica é que

recebe maior atenção por parte dos economistas. Essa menor atenção ao papel institucional do

Estado deriva da abordagem que considera qualquer intervenção do Estado como nociva ao

bom funcionamento do sistema econômico, gerando distorções. A idéia de uma sociedade

com sua atividade econômica articulada única e exclusivamente por meio de mercados é

muito frágil teoricamente, ainda que esses mercados sejam todos perfeitamente competitivos.

A Teoria da Busca de Renda constrói um quadro simples onde desenvolve sua

análise. De um lado, temos mercados competitivos; de outro, o Estado. Para fugir das

pressões da competição, indivíduos e grupos da sociedade buscam a proteção do Estado, na

forma de privilégios ou tratamento diferenciado, que os resguardem da competição. Daí a

conclusão óbvia – dadas as premissas – é que o Estado é ineficiente e os mercados, sem a

intervenção governamental, eficientes na promoção do desenvolvimento.

Observamos ao longo deste capítulo que o reducionismo da Teoria da Busca de

Renda não é satisfatório teoricamente, nem mostra uma aderência significativa à realidade das

relações entre Estado e sociedade, especialmente em processos de desenvolvimento

econômico. E o que é mais grave, essa teoria, ao fundamentar-se em uma concepção de

sistema econômico como sendo organizado exclusivamente por meio de mercados

competitivos, mostrou-se uma concepção inadequada.

Para entendermos a atuação do Estado no desenvolvimento, é preciso uma teoria

que trate a questão do papel do Estado na economia de forma menos simplista, sem tomar

como ponto de partida a idéia de que os mercados são suficientes para organizar o sistema

econômico.

As contribuições de Douglas North evoluíram ao longo do tempo justamente nessa

direção, tentando compreender melhor o papel da própria organização do Estado no

funcionamento do sistema econômico e no desenvolvimento.

Para Douglas North, o Estado tem um papel importante na própria constituição do

sistema econômico. O postulado central da análise de North é o papel dos direitos de

propriedade como determinantes do desenvolvimento econômico. Seu pensamento evolui e,

em obra mais recente, a questão dos direitos de propriedade é incorporada na questão mais

geral dos direitos do indivíduo.

O objeto do estudo de North é a evolução do ambiente institucional e suas

conseqüências para o desenvolvimento econômico. Esse ambiente institucional incorpora dois

tipos de instituições bastante complexas: as instituições informais – que presumivelmente

Page 93: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

91

constituiria uma ordem espontânea – e as instituições formais, que têm seu ápice nas leis

formuladas pelo Estado.

Existem autores que oferecem abordagens alternativas para a questão do papel do

Estado no desenvolvimento. Nesta tese, discutimos também as abordagens de Peter Evans e

Há-Joon Chang.

A análise de Peter Evans nos oferece algumas pistas interessantes acerca das

razões pelas quais alguns Estados conseguem efetivamente agir de forma desenvolvimentista,

enquanto outros atuam de forma destrutiva e predatória em relação a suas sociedades. Evans

chama a atenção para a importância de uma burocracia weberiana, como forma de garantir

uma autonomia relativa do Estado, sem o que ele se torna refém das demandas sociais e

incapaz de promover qualquer mudança estrutural rumo ao desenvolvimento. Porém, Peter

Evans também mostra que algumas parcerias com a sociedade têm de ser estabelecidas. Caso

isso não aconteça, o Estado não terá as informações necessárias para promover ações

desenvolvimentistas bem-sucedidas, de forma a mobilizar e direcionar as atividades do setor

privado na direção do desenvolvimento econômico.

Essas idéias no seu conjunto representam um grande avanço em relação à Teoria

da Busca de Renda. Também oferece mais informações do que a abordagem geral de Douglas

North sobre Ordens de Acesso Aberto. Contudo, por envolver análise de realidades sociais, a

análise de Peter Evans também apresenta limitações. Uma discussão do papel do Estado no

funcionamento do sistema econômico, e não apenas suas intervenções visando ao

desenvolvimento industrial, teriam permitido ampliar o escopo do debate, possivelmente

identificando outras possibilidades de atuação do Estado no desenvolvimento, além do

desenvolvimento industrial.

A análise de Há-Joon Chang avança em um campo em que a análise de Peter

Evans não se desenvolveu a contento: a questão das bases econômicas para a atuação do

Estado no sistema econômico e no desenvolvimento. A tese de que investimentos em ativos

específicos com interdependência econômica geram riscos, que podem constituir obstáculos a

mudanças, representa outro avanço significativo, tanto em relação à Teoria da Busca de

Renda quanto em relação à Abordagem dos Mercados. Disso resulta uma visão mais rica dos

papéis que o Estado desempenha no sistema econômico, de Estado como gestor de conflitos e

de Estado como empreendedor.

Falta, na análise de Há-Joon Chang, uma discussão mais completa das condições

para que o Estado desempenhe efetivamente esses papéis. Nesse sentido, pode-se perceber

certa complementaridade entre as análises de Peter Evans e Há-Joon Chang.

Page 94: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

92

A questão regional também foi abordada nesse capítulo. Diversos autores

desenvolveram estudos, especialmente na segunda metade do século XX, cujo objetivo

principal era analisar a questão da dinâmica regional, ou seja, como ocorrem os processos

migratórios do capital entre as diversas regiões do globo. Observa-se que o movimento do

capital não ocorre simultaneamente no espaço. Pelo contrário, esse movimento é bastante

irregular e, uma vez iniciado em determinados pontos, tende a tornar-se cada vez mais

dinâmicos e concentrados. Entre os vários teóricos, podem-se destacar François Perroux e

Douglas North. O trabalho de Perroux foi fortalecido pelos estudos de Jacques-R Boudeville,

Gunnar Myrdal, Albert O. Hirschman.

Estes teóricos, baseados em conceitos de polarização da produção e em economias

externas, evidenciavam a irregularidade do processo de crescimento e, portanto, a necessidade

de intervenção estatal no mesmo, dada sua tendência à concentração setorial e espacial. Seus

trabalhos demonstram que, uma vez estabelecidas vantagens ou desvantagens comparativas

em determinados espaços econômicos, iniciam-se movimentos migratórios do capital e de

outros fatores de produção, que são expressos na expansão ou na estagnação destes espaços.

A partir destas constatações e consideradas suas particularidades, cada autor apresenta suas

recomendações de políticas econômicas que constituem as bases teóricas para o surgimento

de atividades industriais e urbanas nos países periféricos, cujo principal objetivo deve ser a

integração da economia nacional. O desenho institucional necessário para a consecução deste

objetivo inclui grande participação do Estado nacional, visto que este é capaz de articular

diferentes atores e realizar investimentos nos mais variados setores e regiões, ampliando os

efeitos de encadeamento do setor produtivo e os efeitos de transbordamento entre regiões.

Essas recomendações de política econômica, presentes nas obras de Perroux,

Boudeville, Myrdal e Hirschmn, foram sintetizadas em um modelo de intervenção estatal,

chamado Desenvolvimentista, no qual a industrialização era vista como a única forma de

superar o subdesenvolvimento e a pobreza e, por este motivo, a mesma deveria ser planejada,

apoiada e conduzida pelo Estado. Assim, entre as décadas de 1950 e 1970 este modelo se

tornou predominante nos países periféricos, inclusive no Brasil, que procurou seguir todas as

suas diretrizes.

Nas teorias de desenvolvimento regional, os mecanismos de mercado não são

capazes de promover o crescimento de forma a gerar melhorias na distribuição de renda e nas

condições de vida da população em todas as regiões do país. Ao contrário, existe uma

tendência à concentração das atividades produtivas nas regiões mais prósperas, devido às

Page 95: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

93

economias de aglomeração. Essa concentração ocorre porque as economias de aglomeração

tornam a produção mais eficiente, gerando pólos de crescimento.

Os estudos relacionados aos pólos de crescimento ou de desenvolvimento

encaminharam à conclusão de que seu desenvolvimento, associado às forças de mercado,

conduziria a economia para a desigualdade na distribuição espacial da atividade econômica, o

que levou a proposição da intervenção do Estado no desenvolvimento regional, para reverter

essa tendência.

No Brasil, as políticas de desenvolvimento regional adotada pelos governos

desenvolvimentistas, entre as décadas de 1950 e 1970, geraram elevada expansão da atividade

econômica tanto em nível nacional como para as regiões periféricas, menos desenvolvidas,

como as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Este foi um período de grande participação

estatal na economia, quer investindo diretamente em setores produtivos ou em infra-estrutura

e serviços públicos, quer financiando o setor privado. Várias das implicações de políticas

econômicas sugeridas pelos teóricos analisados neste trabalho foram adotadas pelo governo

brasileiro nos principais planos de desenvolvimento implementados (Plano de Metas, PAEG, I

e II PND), como a implantação de pólos de desenvolvimento e de indústrias com potenciais

efeitos de encadeamento (bens de consumo duráveis e bens intermediários).

Este modelo de intervenção estatal encontrou seu desgaste teórico e prático em

meados da década de 70 devido às alterações nas condições econômicas externas (choque do

petróleo, alta dos juros, escassez de financiamento, etc.) e internas (crise fiscal, inflação, etc.)

e à insuficiência dos resultados obtidos pelas políticas adotadas até então (expectativa

equivocada dos resultados de curto prazo para o desenvolvimento regional). A década de 70

marca o bojo da crise do pensamento regional e a necessidade de sua reconstrução teórica,

para explicar inclusive as novas questões que surgiam sobre a dinâmica regional, como a

importância das escalas territoriais e da inovação.

O período que se segue é de intensa diminuição da participação do Estado na

economia, cujos objetivos de políticas deveriam se limitar a manter/alcançar a estabilidade

macroeconômica, reflexo das mudanças no paradigma do mainstream econômico que passa a

ter uma visão liberal, focada na esfera local. Apenas em meados da década de 90, há uma

nova discussão sobre esse tema, devido à ineficiência do mercado em superar o

subdesenvolvimento, o que abre espaço para discussões sobre qual papel o Estado deve

desempenhar na economia, visto que sua iniciativa é essencial para a formação de setores

chave e para alterar o comportamento dos agentes, desde que suas políticas sejam factíveis e

racionais.

Page 96: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

94

As políticas autônomas de desenvolvimento adotadas pelos governos subnacionais

no Brasil, baseadas em incentivos fiscais, principalmente a partir de meados dos anos 90, se

inserem nesse contexto de retração da participação do Estado nacional na promoção do

desenvolvimento, o que acirrou ainda mais a competição entre as unidades da federação,

fenômeno que ficou conhecido como guerra fiscal.

No capítulo que se segue será apresentado o marco teórico da competição

tributária entre jurisdições, segundo as principais correntes. Em seguida será feita uma análise

da competição fiscal no Brasil, com a caracterização histórica e conceitual do fenômeno, sua

evolução e determinantes.

Page 97: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

95

Capítulo 2 - Aspectos Teóricos da Competição Tribut ária Entre Jurisdições

Introdução

O marco inicial da teoria das finanças públicas é o estudo das razões da existência

e da intervenção do Estado na economia. Embora muitos defendam que uma economia

competitiva de mercado, representada pela clássica “mão invisível” de Adam Smith, seja o

melhor caminho para se atingir a eficiência econômica, existem situações em que o livre

mercado falha e um resultado eficiente não pode ser obtido. Nesses casos, as hipóteses dos

teoremas do bem-estar não são satisfeitas e, assim, a eficiência de Pareto não é atingida,

justificando a intervenção do Estado na economia. Embora haja consenso entre as correntes

de pensamento econômico sobre a necessidade de intervenção do Estado na correção das

falhas de mercado e na persecução de metas macroeconômicas e redistributivas, há

divergências substanciais quanto à forma de intervenção do Estado na busca desses objetivos.

A competição tributária entre jurisdições tornou-se objeto de estudo da teoria

econômica a partir da segunda metade do século passado. A atualidade em termos teóricos

advém do fato de que grande parte da literatura econômica sobre o tema data dos anos 80 e

90. O fenômeno competitivo tem despertado interesse crescente por parte de diversos

governos. Na literatura econômica, duas correntes antagônicas estão presentes. A primeira

entende que o setor público deve agir similarmente ao setor privado e, portanto, a competição

entre jurisdições, da mesma forma que numa economia de mercado, levaria à eficiência

econômica das decisões governamentais. No caso em que não é possível atingir a eficiência

econômica governamental, a competição entre governos funcionaria como um meio de se

limitar o poder dos governos para fixar níveis de alíquotas e de provisão de bens públicos

muito acima do que seria desejado pela população. A segunda corrente, ao contrário, afirma

que a competição entre governos gera distorção econômica, uma vez que leva à subprovisão

de bens e serviços públicos. Nesse sentido, deveria ser combatida para elevar o bem-estar das

diversas jurisdições.

2.1 - O Modelo de Tiebout

A corrente pró-competição tributária tem como base o Modelo de Tiebout (1956),

que resolve o problema da revelação de preferências para o setor público partindo do

Page 98: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

96

princípio de que, quando os eleitores escolhem a jurisdição onde irão residir, acabam

revelando sua combinação preferida de impostos e bens públicos (voting with one’s feet).

Cada indivíduo se deslocará para a comunidade que satisfaz suas preferências. O ato de se

mover ou não revela a demanda do indivíduo pela melhor combinação entre oferta de bens

públicos e tributos. Então, em equilíbrio, cada comunidade possui o padrão de receitas e

gastos que reflete os desejos de seus residentes. Nesse contexto, são atingidos os níveis

ótimos de tributação e gastos públicos para cada comunidade. O argumento de Tiebout é que,

se houver livre competição entre os estados federativos, aqueles governos que perdem

cidadãos ajustarão suas políticas de modo que, ao final do processo, todos os estados estarão

oferecendo eficientemente os bens e serviços que são demandados pela sociedade. Assim, a

descentralização governamental acaba atuando como uma “mão invisível” no setor público,

levando a uma alocação econômica eficiente, beneficiando a federação como um todo.

As hipóteses do modelo de Tiebout podem ser assim resumidas:

1. Os consumidores-eleitores têm “mobilidade”, movendo-se para aquelas comunidades

onde seus padrões de preferência – fixos – são satisfeitos da melhor maneira;

2. Os consumidores-eleitores têm conhecimento completo das diferenças entre os

padrões de receita e gasto, reagindo a estas diferenças;

3. Existe um grande número de jurisdições que os consumidores-eleitores podem

escolher para morar;

4. São desconsideradas restrições relativas a oportunidades de empregos. Pode-se

assumir que todas as pessoas vivem de rendas de dividendos;

5. Os serviços públicos ofertados não produzem economias ou deseconomias externas

entre as comunidades;

6. O tamanho ótimo de uma comunidade é alcançado quando ela atinge um número de

residentes, tal que se atinge o menor custo médio de produção dos bens públicos –

análogo a ponto de menor custo médio da firma. Já que a curva de custo médio tem

um ponto mínimo, tudo leva a crer que a função de custo é afetada por algum fator ou

recurso fixo;

7. A última hipótese é que as comunidades abaixo do tamanho ótimo procuram atrair

novos residentes para baixar seus custos médios. Aquelas acima do tamanho ótimo

fazem justamente o contrário. Aquelas do tamanho ótimo tentam manter suas

populações constantes.

Na discussão dessa última hipótese, Tiebout (1956, p. 420) conclui que o

consumidor-eleitor move-se para a comunidade que satisfaz seu padrão de preferências. O ato

Page 99: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

97

do deslocamento “...repõe o teste usual do mercado da disposição de comprar um bem e

revela a demanda do consumidor-eleitor por bens públicos”, ou seja, a mobilidade é a

hipótese fundamental para que as forças de demanda e oferta por bens públicos locais se

ajustem para atingir uma alocação eficiente. Portanto, cada localidade tem um padrão de

receita e gasto que reflete o desejo de seus residentes.

Desde então, a literatura sobre competição tributária avançou de forma

significativa, mostrando que os resultados de Tiebout são limitados a condições econômicas

muito restritas. A razão disso é que o autor parte do princípio de que as condições dos

teoremas do bem-estar são plenamente satisfeitas. Seu modelo não considera a existência de

falhas de mercado, em especial, externalidades e bens públicos. Entretanto, a competição

tributária entre jurisdições traz, intrinsecamente, uma série de externalidades distintas.

O trabalho de Tiebout não considera a existência de externalidades na tributação.

Assim, não são incluídos no modelo impostos que geram distorções e perdas de eficiência,

como os impostos sobre consumo e fatores de produção. Os impostos utilizados no estudo de

Tiebout são do tipo lump sum (valor fixo per capita na residência) que não geram perdas de

bem-estar. Como os países não utilizam tributação lump sum, os resultados eficientes de

Tiebout não são atingidos.

Outra condição necessária para as conclusões do estudo de Tiebout é que exista

um grande número de jurisdições competidoras. Na prática, o número de estados que

competem dentro de uma federação é limitado e a interação existente entre eles é óbvia. A

mobilidade perfeita dos agentes econômicos entre comunidades é fundamental no estudo de

Tiebout. Se não houver mobilidade da força de trabalho, os resultados de seu modelo não são

alcançados. Ponto importante a ser mencionado é que agentes governamentais não agem em

competição perfeita, mas sim, através de um jogo estratégico entre governos e setor privado.

Também cabe destacar que as decisões governamentais não ocorrem por maximização de

lucros, mas sim por decorrência do processo político. Como ensina a escola da escolha

pública, as ações dos políticos nem sempre são representativas do eleitorado que os elegem e

o equilíbrio resultante dessas escolhas, em geral, não é Pareto-eficiente, ou seja, uma situação

em que é impossível melhorar a condição de um agente sem piorar a de outro na economia.

Por último, é importante ressaltar que mesmo se a competição entre jurisdições levasse a um

resultado eficiente, esse resultado poderia não ser desejado, dado que Pareto-eficiência nada

diz a respeito da distribuição de renda na sociedade. Assim, a redução das desigualdades

socioeconômicas inter-regionais, um dos objetivos básicos de qualquer federação, não seria

atingida.

Page 100: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

98

A partir das críticas à hipótese de Tiebout, gerou-se uma outra interpretação da

competição interjurisdicional, que mostra que, na luta pela atração de novos investimentos, os

estados renunciam ao controle de seus próprios instrumentos de governabilidade, reduzindo

impostos, ofertando crédito subsidiado, oferecendo infraestrutura básica e relaxando controles

ambientais, para tornarem-se mais competitivos. A menor arrecadação leva à subprovisão de

bens públicos e, assim, o equilíbrio é ineficiente. Além disso, há um impacto diferenciado

entre os diversos grupos sociais, pois aqueles que passam a contar com o novo investimento

não são os mesmos que se beneficiavam com os serviços públicos que deixaram de ser

oferecidos. Contrariamente à linha de Tiebout, a lógica da competição privada não pode ser

analogamente atribuída ao setor público.

2.2 – O Modelo de Gordon

A corrente que combate a competição tributária entre jurisdições tem como base o

modelo de Gordon (1983), principalmente devido ao seu caráter geral e de como o modelo

trata a questão das externalidades advindas da competição tributária. A partir do modelo de

Gordon, os estudos sobre competição tributária passaram a ser mais realistas. Por meio de sua

análise, determinam-se os tipos de externalidades que resultam da competição entre

federações descentralizadas e não-coordenadas.

A análise que o modelo se propõe a fazer considera dois casos, a saber: (1) o

coordenado, em que a política tributária adotada em um estado leva em consideração seus

efeitos na utilidade dos cidadãos dos outros estados; por isso, na função de bem-estar social

considera-se a utilidade de todos os cidadãos da federação e, na restrição, a soma do

orçamento de todos os estados; (2) o não-coordenado, em que cada estado toma suas decisões

tributárias sem considerar os impactos que elas provocam nos cidadãos dos outros estados;

então sua função de bem-estar social soma somente as utilidades dos seus residentes e sua

restrição é composta de seus gastos e receitas.

As hipóteses sob as quais o modelo foi desenvolvido são as seguintes:

� Existe uma federação com dois níveis de governo. Um governo central e um número

limitado de governos intermediários (estados), e cada um deles tem a competência de

arrecadar impostos sobre bens, serviços e fatores de fatores de produção;

� Os agentes que compõem a economia são firmas, indivíduos e governos. As firmas

adquirem fatores de produção, vendem bens e serviços privados, consomem bens e

serviços públicos e pagam impostos. Os indivíduos vendem fatores de produção,

Page 101: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

99

consomem bens e serviços públicos e privados e pagam impostos. Já o governo

arrecada impostos e provém a sociedade de bens e serviços públicos;

� Os indivíduos escolhem viver na comunidade que é mais desejável, dadas suas

preferências, para maximizar sua utilidade, baseando-se em preços de bens, serviços e

fatores, após o pagamento de impostos, e no nível e quantidade de serviços públicos

disponíveis. Pode trabalhar consumir e ter propriedades em todos os lugares, mas

existem custos de mobilidade;

� Cada firma escolhe o nível de produção que maximize o seu lucro. As firmas podem

contratar fatores ou vender produtos onde desejarem e os preços dos bens e fatores

irão variar entre as comunidades devido aos custos de transporte;

� Cada estado pode instituir impostos sobre os fatores de produção empregados pelas

firmas em sua jurisdição e sobre os bens produzidos e vendidos pelas firmas

localizadas em sua jurisdição para os consumidores residentes na comunidade e para

os consumidores que residem em outras jurisdições (tributação dos fatores baseada na

fonte e dos bens na origem). Nesse caso, cada estado tributa tudo que é produzido em

sua jurisdição;

� Os serviços públicos são fornecidos gratuitamente e sem exclusão para os indivíduos;

� Os gastos do governo com a aquisição de fatores são iguais ao montante de impostos

arrecadados (orçamento equilibrado);

� Os governos dispõem apenas de impostos distorcivos como instrumento de política

tributária, mas visa minimizar as distorções causadas na utilidade dos indivíduos com

a imposição de impostos;

� Os governos escolhem níveis de gasto e tributação, de forma a maximizar uma função

de bem-estar da sociedade sujeita à restrição do equilíbrio orçamentário, que inclui o

nível de utilidade dos residentes, tomando como dada as políticas dos outros Estados.

Pela maximização do bem-estar social, sujeita às restrições orçamentárias dos

governos, o modelo identifica os efeitos da ação realizada por cada governo sobre a eficiência

econômica, nos casos coordenados e não-coordenados. Esses efeitos ou externalidades estão

descritos a seguir:

i. Efeito direto sobre a arrecadação

A mudança na política tributária pode causar impactos sobre o bem-estar social

devido à transferência de recursos do setor privado para o setor público. O aumento de

alíquotas dos impostos deve, normalmente, gerar um ganho de arrecadação. Quando um

Page 102: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

100

governo aumenta a alíquota de impostos, ele está reduzindo a capacidade de consumo privado

dos indivíduos; por outro lado, os benefícios promovidos pelo estado para a sociedade são

elevados.

No caso coordenado, os benefícios e custos de ambos os estados são

internalizados. Porém, no caso descentralizado, os contribuintes residentes no estado que

aumentou as alíquotas do imposto pagam apenas parte do total arrecadado nesse mesmo

estado. A outra parte é suportada pelos contribuintes não-residentes que, dessa forma, acabam

por subsidiar os residentes. Essa situação, conhecida por “exportação de tributos”, faz com

que o estado que elevou a alíquota arrecade o imposto dos contribuintes do outro estado sem

compensá-lo pelo custo marginal que foi por eles incorrido. Assim, a descentralização não-

coordenada leva à ineficiência econômica, pois o governo de um estado privilegiará o

“imposto exportável” na composição de sua carga tributária.

ii. Efeito distributivo

A tributação afeta a redistribuição de renda entre os agentes econômicos, pois as

mudanças impositivas normalmente geram alterações nos preços dos fatores e dos bens da

economia, impactando a renda real dos indivíduos. Esses impactos são diferenciados entre os

grupos sociais distintos, podendo privilegiar alguns grupos em detrimento de outros, com

repercussões importantes sobre a eficiência econômica.

Em oposição ao caso coordenado, onde as externalidades são internalizadas, no

caso descentralizado apenas os efeitos sobre os residentes são considerados, sendo ignorados

todos os impactos sobre a distribuição de renda dos não-residentes. Assim, na ausência de

comportamento coordenado, os governos competirão entre si e, provavelmente os fatores com

maior mobilidade (indivíduos mais ricos) sairão daqueles estados com tributação mais alta

para aqueles com menor tributação. Em conseqüência, a tributação nos estados com maiores

alíquotas tenderá a se tornar mais regressiva, pois os fatores imóveis (indivíduos mais pobres)

terão que suportar o ônus da carga tributária.

iii. Efeito congestionamento

O nível de qualidade de vida que os cidadãos de um estado desfrutam é função do

equilíbrio entre a quantidade de residentes, os serviços públicos colocados à sua disposição e

os recursos naturais existentes, dentre outros fatores. O desequilíbrio entre esses fatores,

denominado “custos de aglomeração”, gera ineficiências para os setores público e privado.

Por meio de alteração na tributação, e considerando-se a mobilidade dos agentes

econômicos, um estado pode “expulsar ou atrair” contribuintes e atividades de ou para sua

jurisdição. Assim, o estado que perde contribuinte deverá possuir ruas, escolas e hospitais

Page 103: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

101

menos congestionados e meio-ambiente menos poluído, o que poderá levar a um aumento da

qualidade de vida de seus residentes. No caso descentralizado, os estados tenderão a utilizar

em excesso a tributação para desencorajar as atividades “congestionantes” em seu território.

iv. Efeito Indireto sobre a arrecadação

As mudanças na política tributária causam alterações nos padrões de consumo de

bens e de utilização de fatores dos agentes econômicos, que, por sua vez, geram alterações na

composição da base tributável. Se um estado diminui seus impostos, seus residentes e também

os não-residentes ajustariam seus consumos a essa nova tributação. Tal fato causaria um

deslocamento da demanda de outros estados para esse, reduzindo a arrecadação tributária dos

primeiros.

No caso coordenado, os efeitos sobre as receitas totais são considerados. No caso

descentralizado, o estado que reduziu os tributos só enxergaria os ganhos que obteve, e os

estados que tiveram suas demandas deslocadas em busca de alíquotas menores só

enxergariam suas perdas. Assim, as alíquotas do imposto serão definidas em um nível inferior

ao ótimo social. Essa política competitiva pode aumentar a regressividade da carga tributária

devido à maior imposição da tributação sobre os fatores com menor mobilidade.

v. Efeito indireto sobre os Custos Públicos

Além do reflexo sobre o setor privado, as alterações de política tributária também

repercutem sobre o governo, pois o setor governamental utiliza fatores na produção dos bens

públicos.

Havendo mobilidade dos fatores, o estado que reduziu sua tributação atrairia a

oferta dos fatores de outros estados. Com o aumento da oferta, esses fatores teriam seus

preços reduzidos. Uma vez que o setor público é demandante de fatores de produção, seu

dispêndio com esses fatores se reduzirá. Para o caso coordenado será considerada a

externalidade negativa, que se dá com a perda que os outros estados têm com a redução da

oferta de fatores e conseqüente elevação nos preços e nos seus gastos.

vi. Efeito sobre os Termos de Troca

A mudança na política tributária altera os preços dos bens e fatores e,

consequentemente, a renda dos agentes econômicos. No entanto, a hipótese de competição

perfeita do modelo de Gordon implica que os lucros das empresas são zero no longo prazo.

Em decorrência, no caso coordenado, quando esses impactos sobre a renda são somados para

toda a federação, os efeitos sobre as rendas privadas se anulam, restando, apenas, o impacto

sobre os fatores utilizados pelo setor público. No caso descentralizado, alguns agentes

Page 104: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

102

ganham a custas de outros com a competição tributária no curto prazo, pois, no longo prazo,

as rendas privadas se anulam devido à hipótese de lucro zero.

2.3 – Outras Visões Sobre a Competição Tributária E ntre Jurisdições

A competição tributária corresponde a uma situação em que uma jurisdição usa

seus tributos para atrair fatores de produção, consumidores ou residentes de outras jurisdições

para obter vantagens econômicas e/ou aumentar suas bases tributárias. Nesse sentido, a

competição tributária pode ser vista como um problema de geração de externalidades

negativa. Quando um membro da federação age somente no interesse de seus cidadãos, não

leva em consideração essas externalidades (Silva, 2001).

Segundo Amarante (2002), em uma economia descentralizada com vários níveis

de governo autônomo, a competição tributária entre jurisdições torna-se eminente, pois, os

membros federados têm liberdade para tomar certas decisões em matéria fiscal. Tais decisões

podem se sobrepor aos interesses nacionais e de outros estados membros.

Existe competição tributária não apenas entre governos de mesmo nível

hierárquico, mas também entre diferentes níveis de governo. Pode ser de dois tipos: vertical e

horizontal. No Brasil a mais reconhecida é a competição tributária horizontal, também

chamada de “guerra fiscal”. Mas, também existe a competição tributária vertical, que se

expressa na disputa por recursos entre o governo federal e os governos subnacionais.

A Competição Tributária Vertical é aquela que se desenvolve entre diferentes

níveis de governo e tem sua origem na capacidade de alguns governos de influenciar as

finanças de outros governos devido às inter-relações existentes entre eles. A tomada de

decisões tributárias por parte de um governo pode gerar externalidades em governos de outros

níveis hierárquicos, podendo caracterizar um tipo de competição tributária.

A Competição Tributária Horizontal é aquela que se desenvolve entre governos de

mesmo nível hierárquico. Ela ocorre, sobretudo, em nível estadual, mediante a utilização do

ICMS como instrumento de atração de investimentos privados. A grande disputa entre os

estados da federação ocorre no campo da concessão, a empresas privadas, de benefícios

financeiros-tributários, que envolvem um amplo leque de medidas relacionadas não apenas à

isenção ou diferimento do imposto, mas também de incentivos creditícios e de infra-estrutura.

Afonso, Ferreira e Varsano (2003) classifica a competição fiscal em três

categorias. Na primeira, as unidades descentralizadas competem no fornecimento de um

conjunto de bens e serviços públicos, tentando melhorar sua qualidade, reduzir seus custos e

Page 105: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

103

ajustar o fornecimento de modo a atender as preferências dos residentes. Na segunda elas

competem por fundos, para financiar o fornecimento de bens públicos ao menor preço

tributário possível para residentes. E na terceira, a competição pode ter como objeto a atração

de investimentos para aumentar a produção, o nível de emprego e renda dentro da jurisdição.

Kenyon (1997) ainda segmenta o conceito de competição entre jurisdições em três

definições: competição ativa, competição implícita e competição yardstick. A competição

ativa refere-se ao uso de instrumentos explícitos de política fiscal, como redução de alíquotas

tributárias ou realização de gastos em obras de infra-estrutura para atrair e reter investimentos

privados. A competição implícita é mais sutil e associa-se a uma avaliação complexa, talvez

“inconsciente”, entre o custo e o benefício de determinadas políticas no contexto do processo

decisório dos governos. Neste processo de tomada de decisão, a mobilidade dos fatores

produtivos pode ser um fator relevante para determinar a implementação de alguma política

pública. A competição yardstick envolve a influência do poder de voto dos cidadãos sobre as

ações governamentais, ou seja, se os cidadãos de uma jurisdição comparam a performance das

políticas do seu governo com as políticas de outros governos quando do processo eleitoral,

então os governos locais podem competir na oferta de cestas de impostos e gastos, mas

preocupados fundamentalmente com seu próprio benefício. A diferença da competição

yardstick em relação à competição ativa é fundamentalmente a consideração explícita da

motivação eleitoral dos governos sobre suas decisões, mais do que apenas a motivação pelo

bem-estar da população.

Viol (1999) considera competição tributária qualquer ação realizada por um

governo que, mediante a utilização de mecanismos de natureza tributária, acaba por

influenciar as finanças públicas e/ou o bem-estar (dos cidadãos) de outro governo.

Externalidades podem ser negativas ou positivas. Diz-se haver externalidades

negativas quando as ações de um agente geram custos para outros agentes sem que o agente

que adotou as ações seja cobrado por isso. Diz-se haver externalidades positivas no caso onde

um agente gera benefícios para outro sem que aquele que foi afetado pague pelos benefícios.

Externalidades, portanto, são ações que possuem impacto econômico (geram custos e

benefícios) sem envolverem transações em mercado (Fiani, 2011).

A literatura econômica atual considera a competição tributária um problema de

externalidade e é assim que ela deve ser tratada. Independentemente do enfoque particular de

cada autor, a questão básica a que todos tentam responder diz respeito à eficiência dos

resultados gerados pela competição fiscal. A maioria dos modelos conclui que o equilíbrio

não-cooperativo fixa a arrecadação tributária e, conseqüentemente, os gastos públicos, em

Page 106: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

104

nível inferior ao ótimo social. Por outro lado, a favor da eficiência da competição fiscal,

existem argumentos que defendem a existência de uma relação inversa entre descentralização

fiscal e o tamanho do governo, conhecida na literatura, graças a Brennan e Buchanan (1980),

como “hipótese do Leviatã”. Para os autores, a descentralização fiscal pode ser utilizada como

uma forma de restrição sobre o comportamento maximizador, por parte do governo, da renda

que ele extrai da economia. Brennan e Buchanan (1980) sustentam que a própria

descentralização seria uma restrição sobre o Leviatã. Portanto, teríamos uma relação entre o

grau de descentralização fiscal e o poder do Leviatã (na figura do governo central). Com isso,

em um sistema descentralizado, de forma análoga à competição privada, a competição

interjurisdicional restringiria o poder de monopólio do governo central.

Rauscher (1998) e Cassete, Jayet e Paty (2005) também consideram os governos

como um Leviatã que se apropria de parte dos recursos da sociedade ao mesmo tempo em que

procura maximizar a utilidade dos cidadãos para garantir sua permanência no ciclo político.

Apesar desses dois trabalhos adotarem hipóteses diferentes e, em alguns casos divergentes,

como o número atomizado de pequenas regiões versus um ambiente de poucas regiões, ambos

modelos convergem para um resultado de eficiência na provisão de bens públicos. Isso ocorre

porque os governos têm um custo de oportunidade em termos de perda de adesão política ao

elevar sua taxa de apropriação, que compromete a permanência de seus representantes no

setor público, e a competição interjurisdicional contribui para minimizar esse efeito predatório

e garantir uma oferta eficiente de bens públicos.

Beck (1983) estudou as implicações de eficiência num ambiente de competição

tributária entre governos locais pela alocação de investimentos privados. As hipóteses do seu

modelo pressupõem imobilidade no mercado de trabalho, mobilidade perfeita para o capital,

admite a existência de bens públicos para as famílias e firmas, os quais são financiados

através de impostos sobre o capital desses agentes, e assume que os governos locais

competem por investimentos reduzindo os impostos sobre o capital. A política de competição

dos governos locais é motivada pela busca de aumento na base tributária local e/ou pelo

aumento do emprego e renda, visando maximizar a utilidade das famílias.

O resultados do modelo de Beck (1983) são opostos ao modelo de Tiebout (1956),

indicando ineficiência na oferta de bens públicos e ganhos sub-ótimos de bem-estar das

famílias e de geração de emprego comparativamente ao equilíbrio de Pareto. A competição

tributária leva a uma situação de sub-tributação dos investimentos, super-tributação do capital

das famílias (propriedades) e sub-provisão de bens públicos para ambos os agentes.

Page 107: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

105

Para Mintz e Tulkens (1986), existe competição tributária quando as decisões

fiscais de um governo afetam as receitas tributárias de outros governos. Tipicamente,

mediante a alteração de suas alíquotas relativamente às alíquotas de outras jurisdições , cada

governo tem a possibilidade de modificar o tamanho de suas base tributária às custas (ou em

benefício) dos seus vizinhos. Assim, a competição tributária pode ser entendida, basicamente,

como um problema de externalidade.

O modelo de Mintz e Tulkens (1986) reconhece explicitamente as externalidades

das políticas tributárias locais através do comércio inter-regional (tributação pelo princípio da

origem) e a hipótese de que as estratégias competitivas dos governos locais são definidas num

ambiente de jogo não cooperativo, no qual os governos locais são os players, os impostos

locais (ou gastos públicos) sobre bens privados (exclusive trabalho) são os instrumentos

estratégicos e os payoffs são as funções de bem-estar regionais. As estratégias são definidas

em um jogo one-shot pelo qual um governo define a mudança em sua alíquota tributária

considerando dada a mudança na alíquota tributária do outro governo, ou seja, o ótimo fiscal

corresponde a um equilíbrio de Nash. O trabalho de Mintz e Tulkens (1986) converge para o

resultado pró-ineficiência da competição tributária interjurisdicional.

Resultado semelhante também é obtido pelo modelo de Zodrow e Mieszkowisk

(1986), que demonstra a ineficiência na oferta de bens públicos em um ambiente de

competição interjurisdicional, mas com duas implicações sobre o comportamento dos

governos no âmbito da política fiscal. Primeiro, dada as hipóteses do modelo, numa situação

em que a oferta de bens públicos é financiada por impostos distorcivos sobre o capital

(estratégia de competição) e por impostos per capita neutros, a convergência para o equilíbrio

competitivo (não cooperativo) é acompanhada de um trade-off entre esses impostos – a

redução no imposto sobre o capital implica em aumento nos impostos per capita. Segundo, no

processo decisório sobre a política tributária os governos devem buscar equilibrar os efeitos

de expansão da base tributária, decorrente da redução da alíquota tributária sobre o capital,

com os efeitos de geração adicional de receita tendo em vista a própria queda da alíquota.

O modelo de Zodrow e Mieszkowisk (1986) sinaliza a existência de um

comportamento race-to-the-bottom (“corrida ao fundo do poço”) para o imposto utilizado

como instrumento estratégico no ambiente de competição interjurisdicional. No equilíbrio,

este comportamento não implica em ausência de provisão de bens públicos devido a

existência de outros impostos que não são utilizados como instrumento de competição, mas

não ajustados para garantir determinado nível de provisão de bens públicos. Entretanto,

Page 108: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

106

permanece a propriedade de ineficiência do equilíbrio de Nash uma vez que os governos não

avaliam as externalidades fiscais no processo de definição das estratégias de competição.

O trabalho de Kanbur e Keen (1993) prova que, em ambiente não-cooperativo, a

federação como um todo sai perdendo, pois a arrecadação global diminui, apesar de poder ter

ganhos isolados para determinadas jurisdições.

Ineficiências geradas pela competição tributária são externalidades. Diversos

autores compartilham esta visão. O grande problema do ambiente federativo competitivo é

que os estados, quando decidem questões de política tributária, não levam em consideração as

externalidades (custos e benefícios) impostas sobre outros estados. Ou seja, mesmo que cada

governo esteja agindo em prol de seus próprios cidadãos, nenhum estará se preocupando com

os benefícios ou malefícios que impõem sobre os cidadãos de outros governos. Em

conseqüência, a decisão econômica será ineficiente e o bem-estar estará em nível abaixo do

ótimo social.

Para solucionar o problema, Wildasin (1988), sugere a existência de um sistema

intragovernamental de subsídios, que compensaria os efeitos externos gerados pela

competição tributária. Wildasin (1988) agregou uma interessante contribuição à literatura,

atentando para o fato de que a tributação é apenas um aspecto da política fiscal e que

incentivos à competição, também, podem ocorrer pelo lado dos gastos. Diferentemente dos

demais trabalhos sobre competição tributária, o autor trabalha com a hipótese de que o nível

de gastos é a variável estratégica e as receitas é que variam passivamente.

Wildasin (1988) também destacou um aspecto diferencial entre os modelos

teóricos sobre competição interjurisdicional, que diz respeito ao número de jurisdições. Em

Zodrow e Mieszkowisk (1986) o número de jurisdições é atomizado. Já Mintz e Tulkens

(1986) consideram uma estrutura de competição jurisdicional oligopolizada, com um número

reduzido de agentes governamentais (duas jurisdições, no caso). Mas, independente da

“estrutura de mercado” inerente ao sistema de competição interjurisdicional apresentam uma

unidade de resultados – a ineficiência da oferta de bens públicos.

Wilson (1999) argumenta que a competição entre jurisdições que apresentam

escassez de capital pode conduzir os gastos e impostos a níveis sub-ótimos devido às

externalidades fiscais geradas pela tributação sob bases móveis. Em conseqüência, teríamos

uma sub-provisão de bens públicos.

Keen e Marchand (1997) analisam os efeitos da competição fiscal sobre a

composição dos gastos públicos entre consumo de bens e serviços e investimentos públicos

que afetam o lado produtivo da economia. Mostram que a competição interjurisdicional não

Page 109: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

107

leva apenas a um nível ineficiente de gastos, mas também à ineficiência em sua composição,

isto é, os governos privilegiam gastos que afetam o lado produtivo da economia (infra-

estrutura), em detrimento de despesas com o consumo (serviços sociais, parques ou

bibliotecas).

O modelo de Borck, Caliendo e Steiner (2006) é baseado nos trabalhos de Keen e

Marchand (1997) e Borck (2005) que usaram o modelo básico de Zodrow and Mieszkowski

(1986) para estudar a composição de gastos sob um ambiente de competição fiscal. Estes

últimos assumiram que a competição por mobilidade de fatores conduziria os impostos a

níveis ineficientemente baixos. Borck, Caliendo e Steiner (2006) também concluíram que o

processo competitivo gera ineficiência dos gastos e em sua composição. Com base nesse

modelo obtêm-se as funções de reação, onde as diferentes categorias de gastos estão

relacionadas às das outras jurisdições.

Para Oates e Schwab (1988), a competição tributária tende a produzir um baixo

esforço fiscal por parte dos governos locais ou uma estrutura tributária local fortemente

regressiva. A regressividade advém do fato de que os fatores com maior mobilidade têm mais

facilidade de buscar regimes tributários preferenciais e, assim, pagar menos impostos. Desse

modo, serão os fatores de menor mobilidade, tipicamente o trabalho menos qualificado e os

proprietários de terras e imóveis, que terão de suportar a carga tributária. Utilizando hipóteses

irrealistas (inclusive lump sum taxes), Oates e Schwab (1988) afirma que a competição

tributária leva a um equilíbrio eficiente.

Outro resultado que mostra a eficiência do equilíbrio não-cooperativo foi

demonstrado por Crombrugghe e Tulkens (1990), mas apenas para o caso em que os estados

encontram-se em autarquia, isto é, quando não existe exportação de bens ou tributos entre

eles. Conseqüentemente, também não há externalidades.

Viol (1999) defende a necessidade de criação de instituições reguladoras que

sejam capazes de monitorar as ações dos estados. Além disso, devem ser capazes de impor

sanções às jurisdições que adotarem práticas tributárias desleais. Isto se deve ao fato de que,

na prática, a eliminação total da competição tributária entre jurisdições é extremamente difícil

de ocorrer. Para tanto, deve ser estabelecida uma caracterização plena do que será considerado

como competição tributária nociva.

Silva (2001) entende que a competição tributária entre jurisdições gera distorções e

propõe a harmonização de tributos como a política mais recomendável. Não obstante, adverte

que a substituição das alíquotas de cada uma das jurisdições por uma alíquota comum gera

Page 110: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

108

custos e benefícios que devem ser mensurados para se decidir se a medida deve ou não ser

adotada.

Para Pereira (2006) as “guerras fiscais”, que se inspiram no legítimo objetivo dos

governos de ampliarem a produção, o emprego e a renda nos territórios de seus respectivos

Estados, dificilmente cessarão sem que se alterem as características do ICMS, transformando-

o em um imposto em que a arrecadação de cada Estado dependa unicamente de seu consumo,

e não, como atualmente, também da sua produção. Essa competição ocorre mediante

manipulação dos respectivos ICMS e mediante concessão de benefícios disfarçados na forma

de empréstimos subsidiados e até participações acionárias.

Segundo Artana e Templado (2012), a utilização de incentivos fiscais para

promover os investimentos tem despertado sempre uma polêmica a respeito de sua

conveniência. Discute-se sobre a magnitude do sacrifício fiscal e sobre sua influência sobre os

investimentos e o crescimento econômico. As diferenças de opiniões são difíceis de resolver

dadas as dificuldades para isolar os efeitos de uma desoneração fiscal sobre as decisões das

empresas. Por um lado, nem sempre o corte de impostos reduz o custo do capital já que os

incentivos no imposto de renda podem resultar numa transferência de receita para o exterior

ou ter um efeito menor, sobre todos os investimentos financiados com dívida já que é habitual

que esta tenha um tratamento tributário privilegiado. Por outro lado, o investimento depende

de outros elementos como o respeito aos contratos, a disponibilidade de mão-de-obra

qualificada para o projeto, o clima dos negócios, a qualidade da infra-estrutura, etc.

Para Chirinko e Wilson (2008) os investimentos reagem aos incentivos que

oferece um Estado, porém também aos que oferecem os estados vizinhos que reagem

concedendo incentivos, diluindo em grande parte o efeito inicial sobre o estoque de capital.

No mesmo sentido, Chirinko e Wilson (2010) encontraram que os incentivos ao emprego que

concedem alguns estados têm um efeito positivo (porém reduzido) sobre o emprego do Estado

que tende a diluir-se com o tempo.

De Mello (2010) apresenta evidência a respeito de que a descentralização fiscal

pode ter efeitos negativos sobre os investimentos e ser uma das variáveis que explicam os

reduzidos investimentos em infra-estrutura na América Latina. Entre os fatores que

contribuem para este resultado menciona: a incerteza regulatória na atribuição de funções

através de diferentes níveis; desenho de esquemas de garantias e transferências que tornam

difícil financiar projetos conjuntos e limitações na capacidade de gestão e de endividar-se.

2.4 – A Competição Fiscal no Brasil

Page 111: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

109

2.4.1 – Caracterização Histórica e Conceitual do Fe nômeno

Raros têm sido os esforços para uma especificação mais rigorosa dos múltiplos

fatores que determinam a competição fiscal entre os estados brasileiros, os quais se colocam

ao nível das finanças dos governos estaduais, da relação destes com o governo federal, da

estrutura da tributação sobre o valor adicionado vigente e da retomada dos investimentos

privados, a partir de 1993/94.

Prado e Cavalcanti (1998) vêem três importantes dimensões analíticas do

fenômeno. A primeira, mais evidente e talvez a principal, é a disputa no contexto federativo.

Argumentam que a guerra fiscal, tal como hoje praticada, tem como condição básica de

viabilidade a conjugação de um determinado arranjo legal da tributação do imposto sobre o

valor agregado (IVA) e a progressiva fragilização da capacidade de regulação das relações

federativas por parte do governo central. Essas são condições necessárias, mas não

suficientes. O fator efetivamente responsável pela sua emergência e dinamismo foi a forte

retomada do investimento privado interno e externo nos anos 90.

A segunda é dada pela guerra fiscal como forma peculiar de políticas de

desenvolvimento industrial regional e envolve, portanto, outro plano de interação – aquele

entre governos e o processo privado de alocação espacial do investimento. Para Prado e

Cavalcanti (2001), nas condições hoje vigentes em termos de arranjo federativo, a guerra

fiscal como mecanismo de orientação da alocação dos grandes blocos de investimento é um

processo perverso, controlado integralmente pelas empresas privadas e que leva à

maximização do custo fiscal associado à implementação de cada projeto.

Estudo realizado por Alves (2001) confirma a afirmação acima. Os subsídios

dados por governadores dos Estados de Minas Gerais (Mercedes-Bens), Paraná (Renault) e

Rio Grande do Sul (GM) a três montadoras de automóveis para garantir, no auge da guerra

fiscal, a instalação de fábricas em seus estados, ficaram muito perto do total de investimentos

iniciais feitos pelas empresas nesses empreendimentos. Além disso, a guerra fiscal também

resultou num preço elevado para criar empregos.

A terceira dimensão é dada pelos aspectos fiscais e tributários dos instrumentos

utilizados na guerra fiscal, onde se discute a importante questão dos possíveis impactos

negativos dos incentivos sobre as finanças estaduais.

Os poucos conceitos da guerra fiscal tendem a enfatizar, por um lado, seu caráter

conflituoso e desordenado, e por outro, o caráter perverso e negativo dos seus resultados para

o conjunto da sociedade. Lagemann (1995, p.12), apoiado no trabalho de Mintz e Tulkens

Page 112: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

110

(1986), entende que a guerra fiscal é um processo de competição interjurisdicional, operado

pela adoção de medidas de caráter fiscal que afetam a base tributária das demais unidades de

governo e dessa forma trazem vantagens e/ou desvantagens diferenciais ao bem-estar dos

cidadãos de diferentes estados.

Varsano (1996, p.2) conceitua a guerra fiscal como “uma situação de conflito na

Federação em que o ente federado que ganha – quando, de fato, existe um ganho – impõe, em

geral, uma perda a algum dos demais, posto que ela raramente é um jogo de soma positiva”.

Um conceito básico, desenvolvido por Silva (2001), identifica a guerra fiscal como

um processo pelo qual os entes federativos buscam interferir no processo privado de alocação

espacial, ou seja, no deslocamento de plantas já existentes e na alocação de uma nova planta.

Sugere, também, um conceito mais amplo de guerra fiscal, relacionando-a não ao grau de

acirramento das políticas estaduais de incentivos, nem apenas a uma forma de intervenção na

decisão alocativa, mas sim a "todo tipo de disputa/conflito que decorra da intervenção estatal

de entes federativos na decisão locacional de atividades produtivas e na concorrência setorial,

sendo que, o instrumento tributário é o principal mecanismo de subsidiamento". (SILVA,

2001, p.30)

Resumindo, poderíamos dizer que a guerra fiscal pode ser considerada um

processo permanente, operacionalizado, sobretudo, através dos programas estaduais de

desenvolvimento; ela é um tipo de política pública que busca interferir no processo de

alocação de novos investimentos ou na concorrência entre empresas já instaladas; os

programas estaduais de desenvolvimento contam com vários mecanismos de subsidiamento

dentre os quais o ICMS se destaca, através das operações de redução, isenção e diferimento

desse imposto.

2.4.2 – Evolução da Guerra Fiscal

A análise da guerra fiscal no Brasil abrange o período entre a segunda metade dos

anos 60 e os anos 90, e foi subdividido em três fases: a primeira fase corresponde aos anos

entre a promulgação da reforma tributária de 1966 e a criação do Confaz ; a segunda vai de

1975 ao início dos anos 90; e a terceira fase vai de 1994 até os dias atuais.

A primeira fase inicia-se com a Reforma Tributária de 1966, que substitui o antigo

do Imposto sobre Vendas e Consignações (IVC) – antes chamado de Imposto sobre Vendas

Mercantis (IVM) – pelo ICM, mantendo-o sob competência estadual. Além disso, promoveu a

centralização tributária nas mãos da União, reduziu a autonomia fiscal dos governos

Page 113: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

111

estaduais, atribuindo ao senado o estabelecimento da alíquota interna do ICM e proibindo aos

estados a criação de novos impostos.

O governo federal, temendo ações isoladas e descoordenadas por parte dos estados

– incumbiu-se de estabelecer, via celebração de convênios, alíquota uniforme para os estados

pertencentes a uma mesma região geoeconômica. Posteriormente, essa prática foi estendida

para estados e territórios de uma mesma região, a fim de que estabelecessem políticas comuns

ao concederem benefícios fiscais relacionados ao ICM. Forma-se, assim, um padrão de

regulação da competência estadual sobre o ICM, no qual os próprios estados negociavam as

regras e os limites para a prática de isenções, com pequena interferência do governo federal.

Nessa fase, a condução da política tributária estadual era feita por meio de convênios

regionais. Em 1970, para debelar os problemas surgidos e alcançar a isonomia tributária, o

governo federal unificou as reuniões dos secretários de estado da Fazenda e passou a

participar delas, estabelecendo espécie de regulação informal. Inicia-se então, nessa época, a

atuação mais direta do governo federal como “patrocinador” de um esforço de coordenação

do sistema de convênio. Era o Confaz em estado embrionário.

A segunda fase, de 1975 ao início dos anos 90, inicia-se com a criação do Confaz,

pela Lei Complementar nº 24, de 7/1/1975, ápice do processo posto em curso no início dos

anos 70. Por essa Lei, ficou estipulado que os benefícios fiscais só podem ser concedidos

mediante a celebração de convênios entre estados, nos quais “as decisões devem ser tomadas

por unanimidade (art. 30º; I) em reunião que possua a maioria das unidades Federativas

representadas pelos seus secretários de fazenda ou eventuais substitutos e por um

representante do governo federal, através do ministro da fazenda ou de um substituto por ele

indicado (art. 2º, § 1º, §2º e §3º), o que passou a ser o Conselho de Política Fazendária –

CONFAZ”. O CONFAZ assumiu como atribuições coordenar, dirigir, disciplinar e fiscalizar

a celebração de convênios entre os estados brasileiros, de forma a viabilizar a harmonização

do ICM em todo o território nacional. Ao contrário do que ocorria antes, a nova lei

estabeleceu graves sanções às entidades estaduais que descumprissem os seus termos.

Assim, os instrumentos fiscais utilizados passaram a ser explicitamente

subordinados às novas regras e exigências da lei. É certo que a criação do CONFAZ reduziu o

grau de liberdade dos governos estaduais, não obstante existirem registros da concessão de

incentivos nessa época, principalmente por meio do diferimento do prazo de pagamento do

ICM.

O ímpeto fomentador dos Estados retraiu-se a partir da segunda metade dos anos

70, também em resposta dos governos estaduais à perda de receita. Os Estados buscaram, no

Page 114: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

112

âmbito do CONFAZ, eliminar desonerações, transferindo para a União o ônus da concessão

de benefícios úteis à sua política de combate à inflação e de estímulo a setores produtivos e de

exportação. Com as limitações impostas, a principal opção para estimular o investimento

privado passou a residir nas condições para o pagamento dos encargos financeiros dos

programas. Proliferaram concessões de benefícios relativos aos juros e à correção monetária

nos financiamentos concedidos ou, principalmente, nas concessões de diferimento do prazo de

pagamento do ICM. Tal prática persistiu até o período recente, quando foi restringida com a

queda dos Índices de inflação obtida com o Plano Real.

A terceira fase inicia-se nos anos 90. A reforma constitucional de 1988 confirmou

o processo de descentralização em curso desde o final da década dos 70 e ampliou o grau de

autonomia financeira dos governos subnacionais – com a transformação do ICM em ICMS -,

o que promoveu significativa alteração na estrutura tributária da Federação brasileira. Nos

primeiros meses de vigência do ICMS, aumentaram sensivelmente as receitas estaduais, o que

explica o arrefecimento da tendência de revogação dos benefícios. Naquele momento, foram

concedidas exonerações para o setor de serviços e ratificadas as desonerações anteriores a

1988. Todavia, a crise econômica que se instalou logo após a adoção do Plano Collor obrigou

os Estados a reduzir os benefícios fiscais. A postura adotada foi meramente defensiva, a as

medidas de redução de alíquotas, revisão da base de cálculo e apoio creditício buscaram

apenas evitar uma degradação maior do nível da atividade privada. Essa situação só se

modificou em 1994, quando a estabilização da economia trouxe de volta ao país os

investimentos internos e externos.

A partir de 1994, verifica-se a progressiva transformação da natureza dos

mecanismos utilizados pelos estados para atrair investimentos privados: ganham ênfase os

fundos públicos, diretamente vinculados aos orçamentos estaduais, com renúncia fiscal

prevista, e aprovados pelas Assembléias Legislativas estaduais. Acirra-se o conflito entre os

estados da Federação e torna-se mais comum o uso do financiamento do ICMS, por meio das

chamadas “operações fiscal-financeiras dedicadas” a projetos específicos. Segundo Prado e

Cavalcanti (1998), esta ocorre quando o governo do Estado elabora um conjunto de benefícios

negociados diretamente com o agente privado, o que envolve um processo de acomodação do

investimento aos benefícios concedidos. A maior flexibilidade da negociação, a redução do

tempo necessário para concretização do acordo e a pouca transparência do processo são os

aspectos principais. As operações dedicadas têm permitido aos estados alterarem a natureza

de seus benefícios, tornando-os compatíveis com as normas vigentes, sem perder a capacidade

para participar da guerra fiscal.

Page 115: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

113

Além das “operações dedicadas” o uso de “operações triangulares” também se

tornou prática corrente. Em virtude da contestação jurídica promovida pelo Estado de São

Paulo contra o uso indiscriminado do ICMS como instrumento de incentivo e da exigência de

um regime estável de incentivos por parte das empresas multinacionais, os governos estaduais

passaram a privilegiar, além da doação da infraestrutura, a constituição de fundos financeiro-

fiscais, cujo ‘funding’ básico é composto de recursos orçamentários e empréstimos. Os

governos estaduais realizam, nesse caso, uma operação ‘triangular’, na qual o diferimento do

prazo de pagamento do ICMS é ‘disfarçado’ em concessões de um fundo fiscal, o que

descaracteriza o procedimento vetado pelo CONFAZ.

Após 1997, a guerra fiscal começou a perder destaque na mídia. A menor

notoriedade da guerra fiscal decorrente da ausência de grandes disputas em torno de novos

grandes investimentos, poderia indicar seu enfraquecimento, ou até mesmo provocar

conclusões precipitadas sobre o fim dos conflitos. No entanto, não há nenhum indício de um

movimento de desmonte dos programas estaduais de incentivos.

Um levantamento dos acontecimentos mais recentes envolvendo conflitos fiscais,

através da mídia, não mostra perda de dinamismo da guerra fiscal, mas, ao contrário, mostra o

seu recrudescimento, em virtude da Guerra dos Portos e da decisão do Supremo Tribunal

Federal de considerar ilegal a política de concessão de incentivos fiscais de vários estados e

de considerar a possibilidade de editar uma súmula vinculante, estendendo a

inconstitucionalidade aos demais estados. Com ameaça dos incentivos serem considerados

ilegais, vários governadores têm se mobilizado para mantê-los ou exigirem compensações

financeiras por parte do governo central, caso eles venham a ser proibidos.

Desde 1995, várias Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIN) foram

impetradas junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para contestar incentivos oferecidos por

outros estados. Foram utilizadas por diversos estados, principalmente São Paulo, que se julga

o Estado mais prejudicado pela guerra fiscal.

Estas ações têm criado uma jurisprudência que pode nortear o julgamento de casos

semelhantes, mas não podem dar um ordenamento da guerra fiscal como um todo. Elas

questionam aspectos de determinada legislação estadual, que concedem incentivos específicos

a determinados setores. Uma enorme gama de incentivos ainda permanece válida, por não

terem sido considerados inconstitucionais. A decisão recente do Supremo declarando a

ilegalidade de incentivos concedidos à margem da legislação e do CONFAZ pode mudar essa

história.

Page 116: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

114

Outro movimento que também pode ser observado no período recente é a pura e

simples redução da alíquota do ICMS para alguns setores específicos, como forma de evitar a

saída de empresas para outros estados, sendo essa, aliás, uma das causas de algumas Ações

Diretas de Inconstitucionalidade.

Essas reduções de alíquotas, em reação a programas de incentivos de outros

estados, freqüentemente estão relacionadas à guerra fiscal. Mas, elas também podem ocorrer

por motivos relacionados à concorrência entre empresas sediadas no estado e empresas “de

fora” no mesmo setor. Neste caso, não estão em jogo propostas para o deslocamento do

investimento, mas a manutenção de parcelas de mercado das empresas “locais”.

Os conflitos fiscais ocorridos no período recente servem para confirmar a

progressiva fragilização do poder regulatório exercido pelo governo central, na medida em

que os conflitos tributários têm sido resolvidos em novas instâncias de julgamento, a exemplo

das ações julgadas pelo STF.

2.4.3 – Determinantes da Guerra Fiscal

Para uma melhor compreensão da guerra fiscal no Brasil, especialmente em seu

movimento mais recente, é necessário caracterizar o ambiente político, econômico e

institucional sob o qual estes programas de incentivos são criados e colocados em prática.

No Brasil, historicamente, o estado sempre exerceu grande influência na alocação

do investimento tanto público como privado (Lessa, 1981). Sendo assim, a diminuição dessa

forma de intervenção, principalmente a partir dos anos 90, trouxe uma grande lacuna. Na

etapa anterior, a manutenção de políticas federais de desenvolvimento regional buscava

atender às reivindicações de maior equidade regional e federativa. No entanto, por força da

crise do padrão de financiamento do setor público nos anos 80 e, posteriormente, pelo

predomínio de uma visão neoliberal no governo federal, este reduziu sua atividade

interventora. Além disso, o processo de privatização eliminou um dos principais instrumentos

que permitiam ao governo central “conduzir” o processo produtivo a nível nacional: o setor

produtivo estatal.

Além da saída do governo federal das questões regionais e produtivas, também

pudemos assistir, a partir do final da década de 70, à luta dos estados e municípios pela

descentralização tributária, que culminou com a Constituição Federal de 1988.

Um dos resultados mais importantes da conjugação desses dois movimentos foi

contribuir para dar maior autonomia decisória aos governos subnacionais, fortalecendo as

lideranças locais e favorecendo o surgimento de decisões mais individualizadas no âmbito da

Page 117: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

115

federação. Nesse sentido favoreceu também a elaboração de políticas estaduais de

desenvolvimento e consequentemente a guerra fiscal. O resultado final, dado a ausência de

um agente ordenador a nível nacional, teria sido a generalização do conflito fiscal entre os

estados da federação brasileira.

Para Arretche (1999), a guerra fiscal é apenas um efeito esperado das regras de

operação da federação, sendo que a maior mobilidade de capitais estaria aumentando a

capacidade de pressão das empresas sobre os governos locais. Outro aspecto é que “criar

mecanismos para evitar a guerra fiscal suporia re(centralizar) a autoridade tributária,

suprimindo (ou restringindo) a autoridade fiscal dos governos locais”(Arretche, 1999:5). Com

isso, sugere que a expansão da guerra fiscal é apenas uma manifestação virtuosa do processo

de ampliação da autonomia dos governos estaduais.

No entanto, a guerra fiscal pode ser vista como um tipo de política que vem

preencher a lacuna deixada pelo governo federal em relação às políticas regional e industrial,

que seriam melhor equacionados se partissem de um ordenamento central, com regras claras e

critérios mínimos de prioridades. Ressalta-se que a utilização de incentivos fiscais é apenas

um dos instrumentos de que o Estado usa na qualidade de ator relevante no processo de

desenvolvimento. A questão é saber como o instrumento de incentivo fiscal pode ser usado

para promover o desenvolvimento quando o país é federativo.

Além da descentralização, outro importante determinante da guerra fiscal é a

intensa concentração espacial do desenvolvimento econômico brasileiro, no período que vai

da década de 30 até o início da década de 70, na região Sudeste, principalmente em São

Paulo. Em 1970 o sudeste respondia por 81% da produção, sendo que São Paulo, sozinho,

detinha 58%. Na segunda metade dos anos 70 esse quadro de grande concentração industrial

começou a mudar. O Sudeste, principalmente São Paulo começou a perder importância

relativa e iniciou-se o processo de desconcentração econômica para o interior de São Paulo e

para as demais regiões do país (Cano, 1997).

Há várias abordagens sobre o fenômeno da desconcentração industrial. Azzoni

(1986) sugere ter ocorrido uma “desconcentração concentrada”, argumentando que a

desconcentração industrial esteve concentrada numa área limitada ao “campo aglomerativo”

de São Paulo. Diniz e Crocco (1996) ampliam o espaço dentro do qual a indústria nacional de

desconcentrou. Segundo estes autores a desconcentração esteve circunscrita a um polígono

regional com vértices em Belo Horizonte, Maringá, Porto Alegre, Florianópolis, São José dos

Campos, fechando em Belo Horizonte.

Page 118: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

116

Lagemann (1995) questiona se os incentivos fiscais são determinantes básicos ou

não para a tomada de decisão do empresário quando da localização da empresa. Para ele, a

princípio, devem ser analisados os gastos de locomoção, considerando-se os custos diretos e

indiretos. Depois, considera-se a questão tributária, como fator de desempate. Entretanto, se

todas as unidades da federação passar a adotar o mesmo mecanismo para fins de desempate,

fatores extra fiscais deverão ser considerados, tais como: a disponibilidade de infra-estrutura

viária e de telecomunicações, distância dos mercados consumidores e de insumos, a existência

de economias externas por aglomeração, a qualidade de vida, mão-de-obra qualificada,

sindicatos poderosos.

Estudo do CNI/CEPAL, apud em Oliveira (1999), levantou as razões da instalação

de plantas produtivas em determinado espaço econômico, e as respostas mais relevantes estão

no quadro abaixo:

Tabela 1 – Razões da Instalação de Plantas Produtivas em outras Unidades da Federação

% das respostas relevantes

___________________________________________________________________________

Benefícios fiscais 57,3

Proximidade do mercado 57,3

Custo da mão-de-obra 41,5

Vantagens locacionais específicas 39,0

Sindicalismo atuante na região 24,4

Saturação especial 14,6

___________________________________________________________________________

Fonte: CNI/CEPAL: 1997 apud OLIVEIRA: 1999 p. 119

Observamos que o benefício fiscal não constitui fator exclusivo para a tomada de

decisão da localização da planta produtiva, embora seja significativo (57,3%). Vale ressaltar

que a proximidade do mercado possui peso equivalente (57,3%) na hora da decisão deste

investimento, além dos outros fatores como: custo da mão-de-obra (41,5%), vantagens

locacionais específicas (39,0%), sindicalismo atuante na região (2,4%) e saturação espacial

(14,6%). É possível que estes fatores atuem conjuntamente na decisão do investimento

privado, inibindo em parte o peso do benefício fiscal. O processo de localização é muito

influenciado pelas estratégias nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal.

Page 119: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

117

Para Cardozo (2010), as políticas de atração de investimentos, por mais que

coloque a desconcentração espacial das atividades produtivas dentro do Estado como um

objetivo importante, não é capaz de romper com os limites existentes à mobilidade do capital

no território nacional, não superando, portanto, os problemas das desigualdades espaciais na

geração de produto, renda e emprego.

Existe um razoável consenso entre os estudiosos, no entanto, que o processo de

desconcentração, a partir de 1985, tenha praticamente estagnado. Cano (1997) e Diniz (1995)

chegam a apontar uma possível reconcentração espacial da indústria na região mais

desenvolvida do país, principalmente em São Paulo, nos setores de alta tecnologia.

A estagnação do movimento de desconcentração industrial poderia estar levando

os estados a utilizar a guerra fiscal na tentativa de induzir a continuidade deste movimento.

Sendo assim, se a reconcentração industrial se confirmar, a guerra fiscal tende a se acirrar,

como alternativa de auto defesa das regiões excluídas.

No plano mais geral, a guerra fiscal pode estar determinando tendências

econômicas políticas e institucionais ligadas ao movimento de descentralização, pela

diminuição da intervenção do governo central nas questões regionais e, conseqüentemente, no

balizamento dos diversos interesses estaduais, e pelo processo de investimento agregado na

economia enquanto dinâmica espacial da indústria.

2.5 - Conclusão

A primeira parte desse capítulo teve por objetivo abordar aspectos teóricos da

competição tributaria entre jurisdições, entendida como qualquer ação realizada por um

governo que, mediante a utilização de mecanismos de natureza tributária, acaba por

influenciar a situação fiscal de outros governos e/ou o bem-estar de seus cidadãos. Nesse

sentido, a análise da teoria econômica realizada, mostrou que a competição tributária, da

forma como é praticada, gera externalidades. Dessa forma, Na literatura econômica, duas

correntes antagônicas estão presentes. A primeira entende que o setor público deve agir

similarmente ao setor privado e, portanto, a competição entre jurisdições, da mesma forma

que numa economia de mercado, levaria à eficiência econômica das decisões governamentais.

No caso em que não é possível atingir a eficiência econômica governamental, a competição

entre governos funcionaria como um meio de se limitar o poder dos governos para fixar níveis

de alíquotas e de provisão de bens públicos muito acima do que seria desejado pela

população. A segunda corrente, ao contrário, afirma que a competição entre governos gera

Page 120: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

118

distorção econômica, uma vez que leva à subprovisão de bens e serviços públicos. Nesse

sentido, deveria ser combatida para elevar o bem-estar das diversas jurisdições. Isso porque

esse processo, quando operado em ambiente não-cooperativo, diminui a arrecadação tributária

total dos governos nela envolvidos e, em decorrência, o nível dos bens e serviços públicos

colocados à disposição da população. Assim, mesmo que cada governo, isoladamente, esteja

agindo em prol de seus cidadãos, nenhum estará se preocupando com os benefícios ou

malefícios que impõe sobre os cidadãos de outras jurisdições. Esses efeitos externos ficaram

bem nítidos no estudo do Modelo de Gordon (1983), que identificou seis tipos distintos de

impactos da ação competitiva de um governo sobre os demais: exportação de tributos, efeitos

distributivos, congestionamento, efeitos indiretos sobre a arrecadação tributária, alteração dos

custos públicos e efeitos sobre os termos de troca.

Na segunda parte do capítulo, após a constatação da ineficiência do resultado

competitivo pela maioria dos trabalhos analisados, o estudo passou a analisar a competição

fiscal no Brasil, sua origem, caracterização histórica e conceitual, evolução e determinantes da

guerra fiscal. A análise se iniciou pelo estudo dos antecedentes e das principais motivações da

competição tributária brasileira. Uma retrospectiva histórica mostra que o atual processo

competitivo é produto de uma paulatina deterioração da estrutura tributária do País, reflexo

das próprias crises econômicas que o Brasil tem vivido nas últimas décadas, aliada à

progressiva fragilização do trabalho de coordenação das relações federativas por parte do

governo central.

As origens da competição fiscal na federação brasileira residem em fatores de

natureza estrutural e conjuntural. Na primeira categoria, incluem-se a falta de solidez ou

maturidade da própria estrutura federativa (ausência de um fórum legal permanente para

discutir tecnicamente os problemas da federação), o desenho do sistema tributário nacional

(especialmente no que concerne à competência tributária do ICMS e à adoção do regime da

origem) e a inexistência de uma política industrial ou de desenvolvimento regional efetiva,

para se contrapor à intensa concentração espacial do desenvolvimento econômico brasileiro

na região Sudeste, principalmente em São Paulo, entre os anos 30 até início dos anos 70. Essa

concentração tem levado a que estados se utilizem da tributação como principal instrumento

de atração de investimentos produtivos. Na segunda categoria, a dos fatores conjunturais,

identificou-se que a retomada dos fluxos de investimentos estrangeiros e internos a partir de

meados da década de 90, o crescimento econômico proporcionado pelo Plano Real e a crise

fiscal que contribuíram para que diversos estados entrassem na disputa pela atração desses

novos investimentos, especialmente os da indústria automobilística.

Page 121: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

119

A crise dos anos 80 levou à saída do governo federal das questões regionais e

produtivas. A redemocratização, seguida de uma maior autonomia em matéria tributária para

os governos subnacionais, a partir da Constituição de 1988, também contribuíram para o

acirramento do processo competitivo.

A primeira fase da competição tributária, também chamada de guerra fiscal, inicia-

se com a Reforma Tributária de 1966, que transformou o antigo Imposto sobre Vendas e

Consignações (IVC) em Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM). Manteve a

competência estadual e adotou o regime de origem, estimulando os estados a desencadear a

competição fiscal por investimentos produtivos, dada a enorme concentração espacial das

indústrias na região Sudeste do País, notadamente em São Paulo. O aumento da competição

tributária entre os governos subnacionais levou o governo federal a editar a Lei

Complementar nº 24, em 07 de janeiro de 1975, estabelecendo regras rígidas para a concessão

de incentivos fiscais por parte dos governos estaduais. A mesma Lei criou o CONFAZ,

conselho fazendário composto pelos Secretários de Fazenda de todos os estados, para

disciplinar e controlar a concessão de benefícios fiscais. Era a segunda fase da guerra fiscal,

que vai até o início dos anos 90. A descentralização promovida pela Constituição de 1988

ampliou o grau de autonomia financeira dos governos estaduais, com a transformação do ICM

em ICMS, que incorporou os serviços à sua base de arrecadação (serviços de comunicação e

transporte interestadual e intermunicipal). A partir de 1994, há uma transformação da natureza

dos mecanismos utilizados pelos estados para atrair investimentos privados (fundos públicos,

operações fiscal-financeiras dedicadas e operações triangulares), como forma de burlar as

restrições legais impostas pela Lei Complementar nº 24 e o CONFAZ. A rigor, os incentivos

fiscais que vem sendo concedidos pelos estados, são considerados inconstitucionais, conforme

já se pronunciou recentemente o Supremo Tribunal Federal, ao julgar os acordos de vários

estados, ameaçando adotar uma súmula vinculante para dar fim a esta ilegalidade, caso a

concessão desses incentivos não se adaptem ao marco legal vigente no país.

Identificadas as razões do surgimento e agravamento da competição tributária na

federação brasileira, verificou-se que o processo competitivo ocorre não apenas entre os

estados, como é amplamente reconhecido no País, mas também entre a União e os governos

subnacionais. Essa constatação implicou a classificação da competição tributária brasileira em

dois tipos: a vertical e a horizontal, de acordo com sua ocorrência entre governos de distintos

níveis hierárquicos ou no âmbito de uma mesma esfera de governo respectivamente.

A origem da competição tributária vertical está na crescente descentralização

ocorrida nas últimas décadas no País, que culminou com a Constituição de 1988, conjugada

Page 122: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

120

com a crise fiscal da União. Esse tipo de competição tem ocorrido mediante a criação,

modificação ou aumento de alíquotas das contribuições sociais, que não podem ser repassadas

a estados e municípios, por não entrarem na composição dos fundos de transferência. Em

conseqüência, houve uma crescente retração do volume dos recursos que poderiam ser

repassados a Estado e Municípios. Esse processo competitivo tem implicado ineficiências ao

sistema tributário nacional. Ao se privilegiar contribuições sociais, optou-se por tributos

distorcivos, incidentes em cascata. A participação de contribuições sociais na carga tributária

brasileira aumentou, sem a contrapartida de retorno em termos de serviços públicos

essenciais.

A competição tributária horizontal tem por objetivo a concessão dos mais diversos

tipos de benefícios tributários e financeiros às empresas, de modo a atrair investimentos

privados, sobretudo os estrangeiros. As evidências demonstram que o Brasil está utilizando a

política tributária como substituta da política industrial, substituição essa que pode se revelar

prejudicial à arrecadação da federação e à alocação ótima dos investimentos dentro do País.

Em geral, esse processo competitivo brasileiro resulta numa perda de bem-estar social para a

população como um todo, o que está de acordo com os resultados previstos pela teoria

econômica. Isso porque, quando a competição ocorre para investimentos já instalados ou que

certamente serão destinados ao País, o estado competidor tem que renunciar uma parte de sua

arrecadação para atrair o capital privado. Além do mais, há uma perda de eficiência alocativa,

visto que o capital passará a se instalar em um estado que não apresenta os melhores índices

de competitividade sob condições normais de concorrência, justamente porque necessita

renunciar parte de sua arrecadação para se tornar competitivo.

No entanto, o grande problema da competição tributária na federação brasileira é a

falta de transparência e a ausência de avaliações de custo-benefício que possam mensurar a

perda de bem-estar dos cidadãos atuais em prol dos cidadãos futuros.

O estudo realizado nos permite afirmar que a competição fiscal, mais conhecida

como guerra fiscal, pode ser considerada um processo permanente, operacionalizado através

dos programas estaduais de desenvolvimento. Ela é um tipo de política pública que busca

interferir no processo de alocação de novos investimentos ou na concorrência entre empresas

já instaladas. Os programas estaduais contam com vários mecanismos de subsidiamento,

dentre os quais o ICMS aparece como o elemento central, pois em vários momentos históricos

foram utilizadas operações de redução, isenção e diferimento desse imposto.

O resultado agregado da guerra fiscal é, primeiro, uma perda global de

arrecadação, que afeta o conjunto dos estados pelo prazo que durarem os incentivos, ou seja, o

Page 123: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

121

país como um todo perde com a guerra fiscal, embora possam haver ganhos para os estados

que concedem incentivos, durante um certo período de tempo. Segundo, uma alteração no

perfil de apropriação da receita tributária, em decorrência das mudanças no perfil locacional

da atividade produtiva.

Outra questão importante que emergiu desse estudo é que a guerra fiscal, da forma

como ela vem sendo praticada no Brasil não tende a desaparecer por si mesma, exigindo

alguma ação política para controlá-la. A ausência de qualquer controle público sobre um

processo dominado, em última instância, pelo setor privado, tem levado à expansão

desmedida de benefícios fora de qualquer critério racional e colocado a guerra fiscal como

uma alternativa lógica para as economias locais. Concluindo, pode-se afirmar que, o grande

problema da competição tributária na federação brasileira é a falta de transparência e a

ausência de avaliações de custo-benefício que possam mensurar a perda de bem-estar dos

cidadãos atuais em prol dos cidadãos futuros.

O capítulo seguinte descreve o sistema federativo, as funções de governo e o

federalismo fiscal no Brasil.

Page 124: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

122

Capítulo 3 – Federalismo Fiscal: Teoria Tradicional de Finanças Públicas Introdução

Sistemas Federais tem existido desde a Revolução Americana e a independência.

O texto elaborado pela convenção da Filadélfia em 1787 fornece o primeiro exemplo de uma

moderna constituição federal. O objetivo era reforçar o recém-criado governo central sem, no

entanto, diminuir a influência e poder dos governos subnacionais. A literatura sobre

federalismo fiscal tem destacado a forte influência do contexto geopolítico das nações que

adotaram o sistema federativo.

O Estado Federal Norte-americano adotou a democracia representativa como

forma de governo e a separação dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário, proposta

por Montesquieu em “Do Espírito das Leis” (1748).

Seguindo os Estados Unidos, muitos países optaram pelo sistema de governo

federal, em especial as ex-colônias da América Latina – incluindo o Brasil, que assumiram

essa engenharia política repartidora de poderes entre as unidades federadas. Em todos esses

casos, observou-se certa descentralização e a existência de um poder central com

características próprias, de acordo com o tipo de Estado, território, circunstâncias históricas e

políticas em que foram formados.

Países que adotaram o federalismo não copiaram simplesmente a constituição dos

EUA, a exemplo da Venezuela, Colômbia, México, Argentina e Brasil. De forma semelhante,

“o surgimento de federações na Europa (Suíça e Alemanha) e no âmbito do Império Britânico

(Canadá em 1867, e Austrália em 1900) foi precedido de uma confrontação com as idéias

federalistas americanas” (SADDI:1999,15).

Apesar da grande diversidade, é possível traçar certas características básicas e

princípios operacionais comuns a todas as federações. Conforme descrito por ABRUCIO

(2000, p. 32), os sistemas federativos comportam em geral: 1) soberania dual; 2) princípio da

autonomia e governo descentralizado; 3) equilíbrio entre autonomia e independência; 4)

constituição escrita; 5) poder diferenciado dos governos subnacionais no processo de

reformulação constitucional; 6) bicameralismo, com a segunda câmara representando os

interesses regionais; e, 7) sobrerepresentação dos estados menos populosos na Câmara baixa,

que representa o eleitorado nacional. Para Elazar (1987, p. 154), três dessas características ou

princípios são essenciais: 1) uma Constituição escrita, onde se definem, entre outras coisas, os

Page 125: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

123

termos pelos quais o poder é dividido ou partilhado no sistema político, podendo ser alterado

apenas por meios extraordinários; 2) não centralização – o sistema político deve garantir a

difusão de poder entre os entes constituintes, de forma que a autoridade do governo geral e

dos demais constituintes não possa ser deles tirada sem consentimento mútuo; 3) divisão

territorial de poder, mesmo quando outros elementos contribuem para definir a divisão

federativa.

A palavra federal é derivada do latim “foedus”, que significa pacto ou aliança, ou

ainda, convivência entre autonomia (self-rule) e interdependência (shared-rule). O

federalismo, como forma de administração de um Estado, pode ser entendido como a união ou

aliança de diversos Estados-membros, que cedem parte de sua soberania em detrimento da

formação de uma entidade nacional com poderes políticos, estabelecidos em sua Constituição.

Segundo Moraes (2001), o termo “federalismo” pode ser entendido de diversas

formas. Primeiro, é possível pensá-lo num âmbito estritamente econômico, como uma

extensão da teoria da oferta de bens públicos, na qual a divisão do Estado em diferentes níveis

de governo é justificada por critérios de eficiência econômica relativos à alocação dos

recursos, à sua distribuição e à estabilização da economia. Definir em que medida e em que

competências um Estado deve ser mais ou menos descentralizado seria a questão a ser

avaliada. Segundo, o federalismo possui uma dimensão política, qual seja, a descentralização

da prática política pode ser encarada como um aprofundamento do regime democrático. A

teoria política do federalismo surge, então, como uma alternativa de constituição política ao

Estado-nação centralizado. Terceiro, de uma perspectiva mais abrangente, a noção de

federalismo envolve uma visão geral da sociedade, uma doutrina social de caráter global

como o liberalismo e o socialismo.

O federalismo, enquanto visão de mundo perpassa o trabalho de inúmeros

pensadores como um valor em si, pois agrega os benefícios da cooperação e da coordenação

dos governos ao respeito à diversidade sociocultural de grupos e comunidades.

O federalismo pode ser conceituado como a forma de organização política de um

país em que as unidades governamentais (os entes federativos, como o governo federal, os

governos dos estados e dos municípios, por exemplo) são dotadas de autonomia para manter o

equilíbrio que se estabelece entre elas para a construção da Federação nos campos político,

tributário e financeiro. Isso significa liberdade para eleger seus governantes, contar com

competências tributárias próprias e dispor, entre outras coisas, de poder de decisão para

melhor alocar os recursos de acordo com as suas prioridades.

Page 126: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

124

Para Prado (2007), federações são arranjos político-institucionais que visam

conciliar a existência de uma nação com autonomia e individualidade política das diversas

regiões que a compõe. Oliveira (2000) complementa dizendo que o essencial no federalismo

sempre foi a preservação política simultânea da unidade de objetivos de um povo e da

diversidade espacial de seus interesses, compatibilizados na forma de um pacto constitucional

em que são simultaneamente, definidos os espaços e os limites das suas soberanias.

O Estado Federal não pressupõe a existência de hierarquias entre os entes que o

compõem. Há, somente, uma repartição de competências instituídas na Constituição que

delimita o campo de autonomia funcional e administrativa de cada entidade da Federação.

Dessa forma, no caso da federação brasileira, União, Estados, Municípios e o Distrito Federal

são entidades autônomas e interdependentes.

Sobre autonomia e independência destaca Gutierrez (2004):

O Estado Federal é, por característica, um Estado descentralizado, no qual reserva uma esfera de ação autônoma a cada unidade federada. A regra nesse tipo de Estado é a distribuição de competências, sem hierarquias. Cada unidade federada tem competência para tratar de determinados assuntos, sem que a União possa se imiscuir neles, nem vice-versa. (GUTIERREZ, 2004, p. 37,38).

Resumindo, podemos dizer que o sistema federativo é um pacto

constitucionalmente estabelecido entre diversos Estados soberanos para a formação de um

Estado Nacional, dotado de um poder central, para repartir entre os entes federados, sem

prejuízo de suas autonomias, competências e atribuições administrativas com a finalidade de

garantir maior efetividade na prestação dos serviços públicos.

Para Oliveira (2010, p. 173),o sistema federativo pode assumir a forma dualista,

quando se estrutura a partir de duas esferas de poder independentes e autônomas, dotadas de

uma repartição de competências e provisão de tributos próprios, ou a forma cooperativa,

quando as esferas de poder obedecem a princípios de harmonia, solidariedade e cooperação,

na promoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento global.

O federalismo fiscal, em particular, é o modo pelo qual são distribuídos os

encargos e as receitas entre os entes federados, com a finalidade de cumprir as

responsabilidades previamente designadas na Constituição.

Segundo Oliveira (2000, p. 28), no federalismo fiscal, o sistema tributário deve ser

estruturado de forma a distribuir a competência para arrecadar as receitas públicas entre várias

unidades e esferas administrativas, visando proporcionar condições para atender às demandas

que lhe são exigidas. Desta maneira se caracteriza a necessidade da existência de uma

estrutura capaz de gerar um efeito distributivo entre os grupos que fazem parte da federação,

Page 127: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

125

além de um agente intermediador capaz de evitar possíveis atritos entre os membros

federados.

É por meio da repartição de receitas que os Estados-membros exercem sua

autonomia política na execução de encargos públicos. No caso brasileiro, o sistema fiscal é

considerado rígido, pois, suas diretrizes normativas estão amplamente previstas no texto

constitucional e só podem ser alteradas por meio de emenda à Constituição.

A repartição de receitas pode ser efetuada de duas formas, através da atribuição

das fontes de arrecadação e da partilha do produto de arrecadação. Essas regras podem ser

fixadas na própria Constituição, como ocorre no caso do Brasil, dando origem ao que se pode

denominar de discriminação rígida de rendas.

Nas últimas décadas do século XX, o mundo assiste ao renascimento da discussão

sobre federalismo e da descentralização no cenário internacional. Em 1970, Ducacek, num

universo de 130 Estados-nação existente, identificou 21 como Estados federais. Elazar, em

1994, já contabilizava 50 Estados dentre 180 nações soberanas, nos quais encontrava

estruturas federativas ou formas institucionais que visavam preservar a autonomia política dos

governos subnacionais.

No começo do século XXI as nações que reivindicam o adjetivo “federal” para

seus Estados ou ostentam características típicas de federações, respondiam por algo em torno

de 40% da população mundial.

Como determinantes gerais desse processo de difusão dos movimentos de

descentralização e federalização, podem ser citados: o desmoronamento do socialismo real, a

desestruturação do nacional-desenvolvimentismo e a crise do Welfare State nos países

desenvolvidos.

Pode-se considerar, ainda, a emergência do fenômeno da globalização ou da

mundialização do capital e o enfraquecimento simultâneo do poder regulatório dos Estados

nacionais; a emergência dos grandes blocos econômicos regionais (region states), espaços

econômicos que se conectam com a economia internacionalizada, acima do controle do

Estado-nação; e a ascensão do ideário neoliberal, com a conseqüente redução do papel do

Estado na economia.

Como resultado desses processos, houve um aumento considerável das

disparidades inter-regionais e intra-regionais e a explicitação crescente de diferenças étnicas,

religiosas e culturais.

Atualmente, podemos observar que o mundo tornou-se simultâneamente mais

integrado e mais fragmentado. Dessa forma, era natural que o federalismo acabasse

Page 128: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

126

aparecendo como resposta à organização política do Estado Nacional, pois permitiria lidar

tanto com o aumento da diversidade quanto da heterogeneidade, preservando a unidade

política nacional (HUEGLIN, 1991, p. 204).

3.1 – O Federalismo e a Economia do Setor Público

Até o começo dos anos 70, era possível qualificar como “teoria hegemônica”, no

âmbito do federalismo, a chamada teoria das finanças públicas neoclássica. A partir do final

da Segunda Guerra Mundial inúmeros trabalhos foram desenvolvidos no campo do

“federalismo fiscal”, os quais consistiam na aplicação da welfare economics aos contextos de

estruturas estatais com vários níveis de governo.

A partir dos anos 70 e, especialmente, dos anos 80, a teoria hegemônica, no que se

refere à teoria do federalismo e da descentralização, deixa de estar referenciada na ortodoxia

do neoclassicismo em sua forma original.

Provenientes de diferentes campos de conhecimento e com raízes que remontam

aos anos 50, a teoria da “escolha pública” e, mais adiante, o “neo-institucionalismo” ganham

lugar na ortodoxia acadêmica e se enraízam como pensamento dominante, não apenas na

academia, mas também nas grandes instituições de financiamento e cooperação técnica, como

o BIRD, o BID, o FMI, a OCDE.

Sua influência estende-se a vários processos concretos de descentralização e

federalização na América Latina e nos chamados países em “transição” (para a economia de

mercado), bem como em alguns países desenvolvidos.

Tendo como herança comum o neoclassicismo, a public choice e os neo-

institucionalistas representam importantes mudanças metodológicas em relação ao paradigma

da welfare economics. Suas concepções passam a ser parte integrante do fazer e do pensar o

Estado e nas políticas públicas na atualidade. Um conceito-chave nessa nova teoria

hegemônica é o de “descentralização”. Garson (2007) argumenta que:

A abordagem do federalismo pelas principais correntes da teoria econômica da segunda metade do século XX tem por base as respostas que cada uma oferece às questões relativas à “economia do setor público”, cuja preocupação principal é compreender o papel do Estado no processo de troca econômica. É a partir daí que se busca entender o funcionamento de um Estado federal – organizado em unidades autônomas de governo – e avaliar em que medida esse funcionamento perde eficiência econômica pela inexistência de elementos que induzam a cooperação das unidades federadas. (GARSON, 2007, p. 25).

O que se observa, em grande maioria das federações, é que a competição entre

unidades subnacionais é a regra e a cooperação, a exceção entre elas. No caso brasileiro, essa

Page 129: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

127

competição ocorre para obtenção de receitas (competição vertical) ou para atração de

investimentos (competição horizontal), no que se convencionou chamar de “guerra fiscal”.

A partir dos anos 50, sob a ótica da teoria hegemônica da economia do setor

público, Affonso (2003, p. 8-9) distingue três momentos bem demarcados no que se refere à

teorização da relação Estado-Mercado e sua inter-relação com o movimento histórico mais

geral do capitalismo. O primeiro é constituído pela racionalização do Estado do Bem-Estar

Social, nas economias centrais, através da welfare economics. Essa teorização tem como

característica central a derivação e a delimitação da participação do Estado na economia a

partir das “falhas de mercado”. Na visão liberal de Adam Smith o mercado era concebido

como sendo auto-regulável, cabendo ao Estado apenas o papel de guardião, em última

instância, da ordem e da lei. Na teoria da welfare economics, o papel do Estado estaria

circunscrito a reparar “falhas de mercado”.

O segundo momento ocorre concomitantemente à emergência da crise capitalista

mundial, na virada da década de 60 para a década de 70. A Escola da Escolha Pública faz a

crítica dos pressupostos da welfare economics com respeito à relação entre o Estado e o

mercado e explicita os mecanismos de funcionamento dos governos, bem como de seus

agentes (políticos e burocratas). A partir do pressuposto que os governos não atuam de

maneira eficiente na correção das “falhas de mercado”, propõe uma redução drástica do papel

do Estado na economia.

O terceiro momento se dá após duas décadas (anos 70 e 80) de políticas de

ajustamento macroeconômico e de reformas do Estado de cunho neoliberal. Nesse contexto,

cresce a importância da temática institucional (Novo Institucionalismo), que resgata a

importância do Estado como regulador do mercado. Essa revisão teórica, que emerge nos anos

80 e se consolida nos anos 90, não constitui, contudo, uma simples volta ao passado da

welfare economics. O neo-institucionalismo e a “nova economia política positiva” buscam

reconciliar a teoria econômica neoclássica com as demais ciências sociais. A questão, agora,

seria formular mecanismos institucionais capazes de promover aquilo que constitui, nesta

visão, o que o mercado melhor poderia promover: a competição e a eficiência.

Para Affonso (2003, p. 9), esses “incentivos seletivos” deveriam, para serem

exeqüíveis, levar em consideração os determinantes extra-econômicos dos “arranjos

governamentais” possíveis, tanto em sua concepção quanto em sua implementação e

acompanhamento. Trata-se não mais apenas de “propor” políticas governamentais, mas de

conceber novas formas de estruturação do setor público, passada a fase do ajuste neoliberal.

Page 130: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

128

Essas teorias, entretanto, ainda segundo Affonso (2003, p. 10), parecem não

constituir base analítica adequada à estruturação de uma teoria do fenômeno do Estado federal

e do federalismo. Isto porque, ao generalizarem as hipóteses de comportamento maximizador

dos agentes econômicos para a esfera pública, as teorias hegemônicas da economia do setor

público não conseguem (re)construir, teoricamente, os sujeitos coletivos que o federalismo

pressupõem.

3.2 – As Funções de Governo

A teoria neoclássica das finanças públicas parte da constatação da existência das

falhas de mercado, que tornam necessária a presença do governo.

As falhas de mercado são fenômenos que impedem que a economia alcance o

Ótimo de Pareto, ou seja, o estágio de welfare economics, ou estado de bem estar social

através do livre mercado, sem interferência do governo. São elas:

• existência dos bens públicos: bens que são consumidos por diversas pessoas ao mesmo

tempo (ex. rua). Os bens públicos são de consumo indivisível e excludente. Assim,

uma pessoa adquirindo um bem público não tira o direito de outra adquiri-lo também;

• existência de monopólios naturais: monopólios que tendem a surgir devido ao ganho

de escala que o setor oferece (ex. água, energia). O governo acaba sendo obrigado a

assumir a produção ou criar agências que impeçam a exploração dos consumidores;

• as externalidades: uma fábrica pode poluir um rio e ao mesmo tempo gerar empregos.

Assim, a poluição é uma externalidade negativa porque causa danos ao meio ambiente

e a geração de empregos é uma externalidade positiva, por aumentar o bem estar e

diminuir a criminalidade. O governo deverá agir no sentido de inibir atividades que

causem externalidades negativas e incentivar atividades causadoras de externalidades

positivas;

• desenvolvimento, emprego e estabilidade: principalmente em economias em

desenvolvimento a ação governamental é muito importante no sentido de gerar

crescimento econômico, criar postos de trabalho e de buscar a estabilidade econômica.

Quando se fala de uma federação, é importante entender quais as funções de um

Estado, para compreender por que os países optam por esse modelo de gestão nacional. De

acordo com Musgrave (1989, p. 6), a atuação fiscal do governo se desdobraria em três

funções clássicas: a alocativa; a distributiva e a estabilizadora.

Page 131: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

129

A função alocativa, refere-se à atuação do governo sobre a alocação dos recursos

da economia, de forma a prover os bens públicos, ou sociais, assim chamados aqueles que não

podem ser oferecidos através do sistema de mercado. O governo pode atuar diretamente,

comprando fatores para a produção dos bens sob sua responsabilidade e indiretamente,

tributando e concedendo subsídios ao setor privado.

A função distributiva está associada a ajustes na distribuição de renda e riqueza

feita pelo governo no sentido de promover uma distribuição considerada justa pela sociedade.

Para isso, o governo se utiliza de alguns instrumentos principais: a) as transferências; b) os

impostos e c) os subsídios. Vale ressaltar também o papel do sistema de seguridade social na

redistribuição de renda da sociedade. Além disso, as decisões sobre que bens produzir e para

quem têm claro impacto distributivo.

A função estabilizadora tem como objetivo o uso da política econômica visando a

um alto nível de emprego, à estabilidade dos preços e à obtenção de uma taxa apropriada de

crescimento econômico.

Segundo Samuelson (1966), alguns bens não podem ser precificados devido à

indivisibilidade de seu consumo, o que não atrai a iniciativa privada a atuar nestes segmentos.

São os chamados bens públicos.

Segundo Giambiagi e Além (2011), os bens públicos não podem ser fornecidos de

forma compatível com as necessidades da sociedade através do sistema de mercado. O fato de

os benefícios gerados pelos bens públicos estarem disponíveis para todos os consumidores faz

com que não haja pagamentos voluntários aos fornecedores desses bens. Sendo assim, perde-

se o vínculo entre produtores e consumidores, o que leva à necessidade de intervenção do

governo para garantir o fornecimento de bens públicos.

Isto posto, segundo o autor acima mencionado, o governo deve: a) determinar o

tipo e a quantidade de bens públicos a serem ofertados e b) calcular o nível de contribuição de

cada consumidor. O financiamento da produção dos bens públicos depende da obtenção

compulsória de recursos, através da cobrança de impostos.

Exemplos clássicos de bens públicos são a segurança nacional e a justiça. A

intervenção do governo nesses segmentos mostra-se necessária devido à indivisibilidade de

seu consumo, o que torna impossível a geração de um preço de mercado.

Para Rezende (1978), a alocação de recursos por parte dos governos são requeridas

sempre que não forem encontradas as condições que assegurem maior eficiência na utilização

dos recursos disponíveis na economia, através do funcionamento do mecanismo de

determinação de preço, no mercado.

Page 132: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

130

Vale ressaltar também a importância da provisão por parte do setor público dos

chamados bens semipúblicos ou meritórios, que constituem um caso intermediário entre os

bens privados e os bens públicos. Apesar de poderem ser submetidos ao princípio da exclusão

e, desta forma, serem explorados pelo setor privado, o fato de gerarem altos benefícios sociais

e externalidades positivas justifica a produção total ou parcial dos bens meritórios pelo setor

público. Exemplo são os serviços de saúde e educação.

Além dos serviços públicos, na questão da alocação os governos têm,

frequentemente, interferidos no setor industrial. No caso do Governo Federal, subsídios

abundantes têm sido dados para determinados setores e até agido como produtor, no caso da

indústria petrolífera. Os governos estaduais e municipais também têm utilizado a prática de

concessão de incentivos fiscais para atração de empresas para as suas jurisdições.

A função distributiva está mais condicionada aos respectivos níveis de

produtividade do que à disponibilidade relativa dos fatores, segundo Rezende (1979). Tais

distorções econômicas na distribuição da Renda Nacional podem ser combatidas através de

intervenções do governo.

Para combater a má distribuição, Musgrave (1980), apresenta três ferramentas:

• a criação de impostos que incidiriam em famílias de maior renda e

subsídios às famílias de menor, criando uma rede mais progressiva de

impostos, como o imposto de renda e bolsas auxílios;

• a utilização da arrecadação com a tributação progressiva sobre famílias de

maior renda para gerar mais serviços gratuitos de grande demanda pela

população mais desfavorecida como hospitais, escolas, universidades,

habitação e saneamento;

• a aplicação de impostos sobre o consumo das famílias de maior renda,

aumentando a tributação sobre os produtos de maior alcance a essas

famílias como produtos de luxo, além disso, subsidiando o consumo das

famílias mais pobres, diminuindo o imposto sobre produtos básicos e de

maior consumo pelas camadas de menor renda.

Para o autor acima, a ferramenta mais eficiente para combater a má distribuição é a

tributação progressiva sobre a renda, uma vez que a tributação do consumo não é eficiente

devido ao coeficiente de propensão marginal a poupar ser maior entre as famílias mais ricas,

enquanto o oposto ocorre com as de menor renda, que têm propensão marginal a consumir

maior. Já o imposto progressivo afeta diretamente a renda das famílias, aumentando as

Page 133: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

131

despesas dos governos em transferências que beneficiam direta ou indiretamente os mais

pobres.

A função de estabilização macroeconômica se dá através da ação do governo para

manutenção da estabilidade de preços, taxa de emprego elevada, equilíbrio do balanço de

pagamentos nível adequado da atividade econômica. Aqui o governo tem um importante

papel de intervir na economia principalmente em momentos de recessão ou depressão. Para

isso, o governo lança mão de duas ferramentas exclusivas a ele, que são a política fiscal e a

política monetária.

Ao utilizar a política fiscal, uma alteração na tributação age diretamente sobre a

renda disponível, influenciando os gastos públicos e privados, impactando com isso a

estabilidade dos níveis de preços e de emprego na economia.

O uso da política monetária também afeta diretamente os níveis de preços da

economia, pois, ao expandir a oferta de moeda, os preços sobem e a sua contração reduz ou

estabiliza os preços. A outra ferramenta de política monetária bastante utilizada é o controle

sobre a taxa de juros. A sua utilização afeta diretamente os níveis de investimento do setor

privado e o consumo, com reflexo no nível de emprego no país.

Com relação à estabilidade econômica, Rezende (1979) argumenta que, quanto ao

objetivo de manutenção da estabilidade econômica, a preocupação fundamental consiste em

controlar o nível agregado de demanda, com o propósito de atenuar o impacto social e

econômico de crises de inflação ou depressão. O controle de demandas agregadas implica

intervir sobre o crescimento das despesas privadas e governamentais de consumo ou de

investimento através, por exemplo, do controle de gastos públicos, do crédito do setor privado

e dos níveis de tributação. Vale a pena notar que problema de estabilidade constitui um

requisito importante para que seja alcançado o objetivo de manutenção de taxas de

crescimento.

3.3 - A Escolha Pública e Federalismo

A Teoria da Escolha Pública compreende uma gama imensa de contribuições

teóricas e empíricas no campo dos processos decisórios coletivos, mais especificamente no

âmbito da política. Gestada na tradição anglo-saxônica da economia neoclássica, a Escolha

Pública, enquanto disciplina investigativa autônoma tem suas origens datadas nos anos 50 e

60, quando o interesse da teoria econômica pelos resultados de processos coletivos de decisão

Page 134: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

132

e, consequentemente, pela atuação dos governos tornou-se crescente. As razões desse

interesse são de duas naturezas.

De um lado, tem-se a motivação oriunda dos problemas que passaram a ter

preferência de tratamento no âmbito da microeconomia neoclássica, motivação essa que está

intimamente relacionada com a necessidade de incorporação da figura do governo, devido à

constatação da ocorrência de “falhas de mercado” que impedem a alocação eficiente dos

recursos da economia via livre concorrência dos mercados. Dentre essas “falhas de mercado”,

aquela que mais chamou a atenção dos economistas neoclássicos que incursionaram pela

Escolha Pública é a existência dos chamados bens públicos, isto é, bens que possuem

características especiais distintas das que qualificam os bens normalmente produzidos e

transacionados no mercado.

Um bem público puro é caracterizado, por um lado, por indivisibilidade na

produção e no consumo (não-rivalidade) e, por outro, pela impossibilidade de exclusão de seu

consumo de todos os indivíduos que fazem parte da comunidade na qual ele é ofertado

(MUSGRAVE, 1959:9-12). Dadas essas especificidades, o bem público só é fornecido em

níveis ótimos pelo grupo ou pela comunidade que usufrui de seus benefícios. Por essa razão, a

determinação de sua oferta é obtida por meio de um processo de decisão coletivo, no qual as

preferências dos consumidores em potencial devem ser reveladas e tornadas públicas.

Entretanto, essa interação dos agentes econômicos num processo de decisão coletivo

apresenta uma série de problemas, que dificultam e até impedem que a escolha mais eficiente

para todos os participantes seja tomada.

Primeiro, não há garantias de que todos os indivíduos a tirar proveito do bem

público revelem fidedignamente, por meio de sua participação no processo decisório, o

quanto estão realmente dispostos a despender pela oferta do bem, já que eles podem dela se

beneficiar sem que tenham de gastar alguma parcela de sua renda. Esse comportamento foi

denominado de “free riding”, pois os indivíduos que agem dessa forma “tomam carona” na

revelação sincera das preferências dos outros indivíduos em relação ao suprimento do bem

público – o qual, uma vez ofertado, também vai ser usufruído por aqueles primeiros. A falta

de cooperação entre os agentes envolvidos na decisão em grupo sobre a quantidade a ser

fornecida do bem público resulta numa oferta “sub-ótima” desse bem.

Em segundo lugar, mesmo que se suponha os indivíduos revelarem honestamente

as suas preferências, existe o problema causado pelas diferenças existentes entre elas e pela

infinidade de bens públicos cujas ofertas têm de ser determinadas simultaneamente num

mesmo processo decisório.

Page 135: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

133

Em terceiro lugar, quando se observa o ambiente institucional mais complexo de

um Estado moderno, no qual os membros de uma comunidade escolhem indivíduos que

deverão representar suas preferências junto a uma instância legislativa e, além do mais, a

oferta de bens públicos é conduzida diretamente por um outro agente que não o representante

legislativo – o assim chamado “burocrata” -, dá-se conta, então, do número de obstáculos

existentes na realidade da ação governamental para se alcançar um suprimento de bens

públicos considerado ótimo, do ponto de vista da eficiência alocativa microeconômica. A

tarefa a que se propõem os teóricos da Escolha Pública, em relação a essa problemática, é

tentar justificar por que tal fornecimento-ótimo de bens públicos não é, de fato, obtido, dado a

enorme dificuldade dos cidadãos monitorarem e controlarem a ação dos seus representantes e

– ainda mais difícil – dos burocratas no interior do aparato estatal.

Da perspectiva teórica, a principal conclusão inferida pela Public Choice da

análise da interação entre os cidadãos, seus representantes legislativos e os burocratas é que a

ação do Estado acaba por impedir a obtenção da eficiência alocativa da economia. Não só o

Estado não é capaz de fornecer eficientemente bens públicos como interfere no livre

funcionamento do mercado. Da perspectiva da realidade, isso se comprovaria pela mera

observação empírica. Embora as economias dos países industrializados tenham se

beneficiado com uma atuação mais direta do Estado na atividade econômica – principalmente

a partir da Segunda Guerra Mundial, período em que apresentaram altas taxas de crescimento

- , as ineficiências e os abusos dessa ação estatal podem ser constatados nas sérias distorções

por ela provocadas, como oferta insuficiente e desigual de bens públicos, participação ativa

em setores produtivos da economia, déficits orçamentários crônicos, inflação, concessão de

financiamento público segundo critérios não-econômicos, entre outras. Segue daí, segundo

Moraes (2001, p. 37), uma implicação normativa de suma importância para a Public Choice: a

necessidade de se criar mecanismos para constranger e restringir a ação estatal desordenada,

de modo que ela permita o funcionamento desejável das forças de mercado via livre

concorrência. É da preocupação com a configuração institucional básica que o Estado deve ter

– para ser contido em sua ânsia intervencionista – que se coloca para a teoria da Escolha

Pública um outro objetivo, qual seja, o de definir quais regras básicas a sociedade deve

acordar com vistas à fundação de um Estado mais eficiente e restrito à execução das tarefas

que lhe são designadas pela teoria econômica positiva.

De maneira geral, pode-se definir, então, a teoria da Escolha Pública como uma

disciplina que se situa entre a economia e a ciência política, e cujo objeto de estudo deixa de

ser as decisões individuais ocorridas dentro do mercado para se transformar no processos

Page 136: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

134

decisórios coletivos que se dão extra mercado (MUELLER, 1989:23). Nesse sentido, pode-se

falar também em “Teoria Econômica da Política” ou em “Nova Economia Política”

(BUCHANAN, 1989:11).

A chamada escola da “escolha pública” procurou apresentar uma explicação sobre

como uma coletividade atinge um consenso sobre como, por quem e quais bens públicos são

oferecidos. Foi justamente o entendimento de que a “teoria do bem-estar social” não era

suficiente para dar essa explicação que incentivou uma série de autores a buscá-la de outras

maneiras. Talvez a questão principal, assim como colocada por Buchanan (1967), é a de que a

teoria das finanças públicas fornece importantes contribuições quando investiga como

determinadas estruturas fiscais afetam a decisão do consumidor; sem, no entanto, explicar

como esse mesmo consumidor escolhe a estrutura fiscal.

De acordo com Buchanan (1967), em ambientes democráticos o consumidor pode

ser classificado em duas categorias: a dos compradores (vendedores) de bens privados e a dos

compradores (vendedores) de bens públicos. Com relação aos bens privados, o mercado é o

locus onde onde as decisões sobre preços e quantidades são tomados. Quanto aos bens

públicos, as decisões se dão através do processo político organizado. Por essa razão, a

definição da distribuição de competências entre instâncias de governo é, na concepção da

“escolha pública”, muito mais dependente do arranjo político institucional que se forma em

cada país do que de critérios meramente econômicos. Por conseguinte, a escolha do

consumidor de bens públicos deve incorporar as regras que devem comandar o processo de

decisão política.

Se de fato o ramo das finanças públicas pode ser considerado, na visão de

Buchanan (1967), “a economia da política”, a introdução do processo político não é apenas

mais um passo, mas um passo imprescindível. Nessa trilha, a teoria da “escolha pública”

combinou dois elementos distintos: a conceitualização da “política como troca”

(BUCHANAN, 1967, p.171) e a extensão do modelo do comportamento maximizador de

utilidade dos economistas para a escolha política.

A hipótese básica da teoria de Buchanan é a de que ela se aplica a uma situação na

qual o processo político é democrático. O que significa um processo político democrático?

Em primeiro lugar, as regras de participação política devem ser tais que possibilitem o acesso

à participação, mesmo que indireta, a todos os membros da coletividade. Em segundo lugar,

as instituições públicas devem ser verdadeiramente democráticas. Isso significa que não

podem existir, ou pelo menos devem existir em níveis muito baixo, formas não

representativas de participação política. Além do mais, o grau de institucionalização deve ser

Page 137: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

135

elevado, o que equivale dizer que, no que se refere às decisões importantes da sociedade, as

forma de atingir o consenso devem seguir regras preestabelecidas, que requeiram a

aquiescência da representação política. De preferência, essas regras devem existir por escrito,

para que se reduzam ao máximo as brechas de interpretação possíveis.

Quando tais condições estão presentes, segue-se a suposição de que cada cidadão

possui mais ou menos o mesmo poder de influenciar os resultados do processo político em

geral e em detalhe. Nessas circunstâncias, ganha sentido a extensão do modelo do

comportamento maximizador de utilidade para a escolha política, acoplado à idéia da política

como troca.

No entanto, segundo Aguirre e Moraes (1997), ao elaborar os seus princípios de

federalismo fiscal, Buchanan (1967) continua preso às prescrições da tradicional Teoria de

Finanças Públicas, embora este ressalte que os aspectos da eficiência econômica sejam apenas

um dos critérios necessários para se determinar a divisão das competências fiscais entre

unidades de uma federação. Buchanan (1980), na tentativa de abordar essa questão sob o

enfoque político-institucional, cai na mesma armadilha normativa anterior, uma vez que seus

consumidores-eleitores-contribuintes estão inseridos em um ambiente ideal, representado por

uma democracia representativa plena.

No campo da escolha pública uma vertente teórica, representada por Olson

apresenta restrições à visão tradicional de Buchanan. A contribuição de Olson (1982) procura

mostrar que somente as idéias da troca política e do comportamento maximizador de

utilidade não garantem que a política seja um jogo de soma positiva, isto é, que proporcione

benefício para todos. Em sua opinião, não existe uma “mão invisível” que necessariamente

conduz a resultados de jogos cooperativos quando existe conflito de interesses.

O ponto desenvolvido por Olson (1982) é o de que a observação do desempenho

econômico de vários países do Primeiro Mundo indica que as razões econômicas não são

suficientes para explicar as diferenças entre eles. Sob sua ótica, pode-se entender que, nas

economias onde os grupos de interesse são mais fortes e melhor organizados, uma série de

mecanismos de limitação do crescimento econômico é desenvolvida.

Embora a lógica da ação coletiva seja, em certo sentido, perversa, existem,

segundo Olson (1982), determinadas condições, os chamados incentivos seletivos, que

favorecem a ação cooperativa. Esses incentivos seletivos podem ser positivos ou negativos.

Como exemplo de incentivos seletivos positivos, há serviços oferecidos por determinadas

organizações, como serviços médicos e dentários, colônias de férias, entre outros. Porém, os

Page 138: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

136

incentivos negativos, que na maioria das vezes são formas disfarçadas de coerção, são muito

mais freqüentes.

As implicações dessa lógica apontada por Olson (1982) colocam em xeque as

perspectivas da democracia enquanto organização política que conduziria a resultados

econômicos mais favoráveis. Porém tal conclusão só pode ser aceita se supusermos que a

lógica que orienta a ação econômica coletiva é exclusivamente a lógica da racionalidade

econômica. Nesse ponto, Aguirre e Moraes (1997) fazem dois comentários. O primeiro é que

a teoria da escolha pública, desenvolvida dentro dos cânones da lógica da racionalidade

econômica pura, não satisfaz a necessidade da explicação da ação econômica coletiva. O

segundo é que, assim como enfatiza Olson (1982), deve haver outras razões que orientem a

ação coletiva. Infelizmente, apesar de brilhantemente explicar como a racionalidade

econômica conduz a comportamentos do tipo “free rider” ou “moral hazard”, ele não nos diz

como a ação coletiva conduz a resultados mais construtivos.

3.3.1 - Escolha Pública e Incentivos Fiscais

Observa-se que, quando da tomada de decisão a respeito de incentivos fiscais, esta

passa pela escolha do governo local (tornando-se assim uma questão de escolha pública),

independentemente das desvantagens que este tipo de conduta possa acarretar sobre a

economia.

Para Buchanan (1993), O governo local não é capaz de mensurar, de maneira

precisa, o custo decorrente da perda de receita a fim de receber o investimento. Ou seja, qual

o seu real custo de oportunidade. É possível determinar qual a renúncia fiscal inicial de que

ele, estado subnacional, estará abrindo mão, mas não será possível saber corretamente do que

ele estará abrindo mão quando exerce sua capacidade de escolha.

A Teoria da Escolha Pública, busca analisar como o agente econômico chega a um

consenso sobre quais as decisões a tomar. Na verdade, determina que estas escolhas públicas

estão obrigatoriamente vinculadas a um processo de escolha política, que necessariamente não

é perfeito, ficando para um segundo plano o aspecto de otimização econômica desta decisão.

A escolha pública gera um custo econômico e político e este custo é aquilo que o

agente público (aqui considerado como indivíduo econômico) sacrifica (abandona) em

detrimento a sua escolha. Neste ponto voltamos à falta de capacidade do agente econômico

em calcular perdas quando, por exemplo, da renúncia de uma receita fiscal. Quando o agente

econômico coletivo (Unidade Federativa) toma a decisão da renúncia fiscal, ele não terá

Page 139: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

137

necessariamente uma noção clara do montante da renúncia (BUCHANAN, 1993). Ele sabe

apenas o montante inicial de renúncia, mas não o todo. O ato da escolha pública, por ser uma

escolha coletiva, faz com que o agente tomador da decisão não transfira para outros sua

decisão.

Olson (1982) se aprofunda na análise de Buchanan, em especial quanto à

capacidade decisória por parte dos agentes políticos responsáveis pelas escolhas públicas.

Sendo a capacidade de influência em modelos democráticos sujeita a grupos de pressão rent-

seeking, existe uma grande possibilidade de grupos organizados influenciarem as escolhas

públicas, a ponto de comprometer as escolhas economicamente mais racionais. Além de que,

mesmo que estas escolhas sejam economicamente racionais, isso não quer dizer que elas

satisfaçam a todos os agentes envolvidos.

Seguindo este raciocínio, Willianson (1985), apud em Oliveira (1999, p. 115),

observa que a questão de escolha por parte do agente econômico (unidade federativa), quando

da concessão de incentivos fiscais, gera um custo, caracterizado pela própria renúncia fiscal.

E que este custo, muitas vezes, não tem como ser medido ou mensurado. Logo, o agente

econômico, entendido aqui como uma unidade federativa, não tem conhecimento de todas as

informações necessárias para a tomada de decisão. Decisão esta que pode ser tomada através

de grupos de interesse, que buscam pressionar o agente econômico (unidade federativa) em

seu próprio favor.

Segundo Oliveira (1999, p. 115), a questão da renúncia fiscal nos remete a uma

situação de escolha pública, situação em que o indivíduo econômico abre mão de sua

capacidade tributária criando o que se pode determinar como um hiato de tributação. A

questão que merece atenção diz respeito ao volume deste hiato tributário. A escolha pública

por novos investimentos através de pacotes fiscais compensa a renúncia de receita tributária

que poderia promover inversões públicas para a sociedade?

Para Oliveira (1999, p.115), esta é uma questão difícil de responder com exatidão.

Porém, convém destacar que este processo de criação do hiato de arrecadação, tende a crescer,

visto que a adoção da renúncia fiscal pode ser um artifício utilizado por todos os estados

subnacionais, quando adotado o regime de federalismo fiscal, caracterizando assim uma

situação de federalismo competitivo ao invés de uma situação de federalismo cooperativo.

3.4 – Federalismo Fiscal Brasileiro

Page 140: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

138

Atualmente, o sistema federativo do Brasil comporta três níveis de governo:

União, Estados e Distrito Federal e Municípios. O país conta com 27 unidades federativas,

sendo 26 Estados e um Distrito Federal (que goza dos mesmos direitos de Estado) e mais de

5.564 municípios. Com uma população que ultrapassa os 194 milhões de pessoas, é o quinto

país mais populoso do mundo e seus mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados o

colocam também como o quinto maior do mundo em extensão. Sua economia, em termos de

Produto Interno Bruto, está classificada entre as dez maiores do mundo.

A federação brasileira foi criada junto com a volta da República em 1889.

Diferentemente de outras experiências republicanas, a Federação Brasileira não foi um

resultado da convicção das pessoas em geral, mas decidiu-se nos mais altos níveis de

autoridade dividir o Estado unitário que prevaleceu durante o regime imperial. A constituição

do sistema federativo no Brasil se deu por meio de segregação, ou seja, não houve a união dos

estados-membros na constituição de um Estado Nacional sob uma vontade cooperativa e

solidária para promoção do desenvolvimento em conjunto de todos os Estados.

Muito pelo contrário foi o Estado Brasileiro que se dividiu em Estados para melhor

administração do território nacional. No decorrer dos anos as políticas públicas privilegiavam

setores estratégicos da economia da época, o que aumentava as diferenças regionais e a

competição entre os Estados. Assim, conforme destaca Serra e Afonso (1999):

Num país sem grandes embates culturais provenientes de diferenças de idiomas, religião ou mesmo étnicas, a federação brasileira foi criada em 1891, após a proclamação da República, como resposta a diferenças regionais e a necessidades administrativas, face à dimensão continental do território. Tal federação não nasceu de alguma coalizão de baixo para cima, mas por decisão de cima, mediante o desdobramento de um Estado unitário. Quanto ao sistema tributário, a federação interessava, sobretudo, às províncias mais desenvolvidas do Sul e do Sudeste, especialmente São Paulo, onde se concentrava o novo setor exportador. O principal objetivo, entre outros, era a obtenção de maior liberdade de movimentos para impor impostos locais sobre suas exportações. Em troca, às regiões menos desenvolvidas foi oferecida representação mais do que proporcional no Poder Legislativo. (SERRA e AFONSO,1999, p. 5).

A República brasileira herdou do Império boa parte da estrutura tributária que

esteve em vigor até a década de 30. Sendo a economia eminentemente agrícola e

extremamente aberta, a principal fonte de receitas públicas durante o Império era a tributação

do comércio exterior, particularmente o imposto de importação, que em diversos exercícios

chegou a corresponder a cerca de 2/3 da receita pública. Às vésperas da proclamação da

República este imposto era responsável por aproximadamente metade da receita total do

governo.

Page 141: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

139

Quando proclamada, a República era composta por 19 províncias. As oligarquias

locais foram as principais apoiadoras do sistema federativo, visto que queriam maior

autonomia e controle sobre as regiões. Com isso, foram transferidas maiores

responsabilidades às províncias como emissão de moeda através dos bancos regionais e

arrecadação de impostos.

Como país primário-exportador, o Brasil tinha sua tributação baseada no comércio

de importação e exportação. Os impostos sobre produtos importados ao país cabiam ao

governo federal, já os decorrentes das exportações eram de competência das províncias,

representando um grande volume, se comparado com as importações.

Esse sistema de repartição de arrecadação catapultou a província paulista,

alavancando as grandes oligarquias produtoras de café – o principal produto exportado pelo

país. As oligarquias cafeeiras ganharam maior poder junto à política brasileira até o início dos

anos 30.

A constituição de 1891 adotou sem maiores modificações a composição do sistema

tributário existente ao final do império. Porém, tendo em vista a adoção do regime federativo,

era necessário dotar os estados e municípios de receitas que lhes permitissem a autonomia

financeira. Foi adotado o regime de separação de fontes tributárias, sendo nela discriminados

os impostos de competência exclusiva da União e dos estados. Ao governo central couberam

privativamente o imposto de importação, os direitos de entrada, saída e estadia de navios,

taxas de selo e taxas de correios e telégrafos federais; aos estados, foi concedida a

competência exclusiva para decretar impostos sobre a exportação, sobre imóveis rurais e

urbanos, sobre a transmissão de propriedades e sobre indústrias e profissões, além de taxas de

selo e contribuições concernentes a seus correios e telégrafos. Quanto aos municípios, ficaram

os estados encarregados de fixar os impostos municipais de forma a assegurar-lhes a

autonomia. Além disso, tanto a União como os estados tinham poder para criar outras receitas

tributárias.

Do fim do século XIX até os anos de 1930, o Brasil passou por um forte período

de descentralização. A República Velha encontrava-se no auge da economia primário-

exportadora cafeeira, assim tendo um governo central muito enfraquecido. Segundo Serra e

Afonso (1999), as despesas do governo central caíram de três quartos para a metade, enquanto

isso a participação paulista na receita total dos governos estaduais subiu de 10% para mais de

40%.

O Brasil passou por muitos períodos de centralização e descentralização. Depois

de uma descentralização apoiada pelas oligarquias, a Revolução de 30 trouxe mais uma vez

Page 142: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

140

um período de centralização do poder. A Revolução ocorre no contexto internacional da

grande depressão de 1929 iniciada nos Estados Unidos da América, ao início da ditadura de

Getúlio Vargas.

Serra e Afonso (1999) mostram que, nesse período, os gastos federais voltaram a

subir, passando dos 50% para mais de 55% do orçamento federal. A centralização trazida por

Vargas permitiu um fortalecimento das bases industriais do país e a unificação do mercado

interno. A centralização é facilmente percebida com o Decreto de Lei n 1.202/39, que

transformou os Estados membros da federação em “coletividades territoriais

descentralizadas”, e fez com que os Estados passassem a ser fiscalizados pelo governo central,

diminuindo ainda mais as autonomias regionais.

Apesar da perda de poder político, as oligarquias paulistas do café mantiveram-se

fortes e recebendo grandes benefícios por causa de sua importância na geração de divisas

vindas da exportação do café, segundo Amaral Filho (2004).

Com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, o Brasil experimenta mais um

período de descentralização. A nova Constituição trazia, apesar de muito semelhante à de

1934, várias mudanças pró-descentralização, restaurando em muito o espírito do período pré-

Vargas. Nesse período, foi a primeira vez que de fato as regiões mais pobres e desfavorecidas

receberam apoio federal, e nesse mesmo período, o Presidente Gaspar Dutra apresentou um

grande projeto de infra-estrutura nacional, que, devido às dificuldades financeiras do governo

central, não entrou em prática.

As ferramentas utilizadas para essa descentralização foram o Orçamento Federal, o

Banco do Brasil e ações diretas do governo central. Novamente nesse período os gastos do

governo voltam aos 50% do orçamento federal.

Em 1964, com o advento do regime militar, volta-se a um período centralizador,

que dura cerca de duas décadas. A centralização foi tão intensa que, segundo Serra e Afonso

(1999), os gastos do governo e receita tributária disponível (descontadas as transferências

constitucionais) chegaram a seu ápice: 70% contra uma participação inferior a 60% de 1960.

O regime instaurado em março de 1964 mostra-se contrário ao ideal

descentralizador do período pós-guerra. A grande reforma tributária implementada pelos

militares em 1966 concentra a arrecadação na sua quase totalidade nas mãos do governo

federal. Em 25 de Outubro de 1966, uma das ações da reforma tributária, que estava sendo

implementada no país, e que perdura até hoje, trata da competência sobre a arrecadação de

tributos no país. Era a Lei nº 5.172/66 que atribuía:

Page 143: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

141

• Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre a Produção Industrial (IPI) eram

de competência federal;

• Imposto sobre Circulação de Mercadoria (ICM) de competência estadual;

• Imposto Territorial (IT) e o Imposto sobre Serviços (ISS) eram de

competência municipal.

Para Amaral Filho (2004), algumas particularidades deixam claro esse ponto de

centralização do poder, ora por objetivos de estabilidade da economia ora por disciplina e

coordenação fiscal. A criação dos fundos de transferências tanto municipal quanto estadual

(FPM) e (FPE) era uma maneira de manter um maior controle sobre o dinheiro que era

transferido.

Outra particularidade era que, embora os Estados e Municípios tivessem

competência para arrecadar impostos específicos (ICM, IT, ISS, etc.), os entes federados não

tinham liberdade de fixar as alíquotas destes tributos. A última particularidade é que o

Governo Central passou a vincular as despesas dos Estados federados às suas receitas, seja de

fonte própria ou transferida.

Para combater o desequilíbrio econômico das regiões do país, o governo militar

utilizou-se de várias ferramentas criadas no período, como apontados por Amaral Filho

(2004):

[...]Na década de 1960, já se fazia sentir claramente o declínio das economias regionais periféricas em função da integração do mercado nacional, que se intensifica aceleradamente no regime militar. Em face dessa evidência, o governo militar institucionaliza, explícita e ampla política de desenvolvimento regional, transformando a Superintendência de Desenvolvimento para o Nordeste (SUDENE), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a Superintendência de Desenvolvimento para a Amazônia (SUDAM) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) nos principais símbolos dessa política[...]

Conforme observa Oliveira (1995), com essa política, o regime militar promove

uma substituição da federação dos estados pela federação das regiões. Essas ferramentas

tinham como fonte de financiamento os chamados “incentivos fiscais”. Ou seja, a dedução do

imposto de renda era substituída pelas ações relacionadas aos empreendimentos naquelas

regiões. Esses recursos eram transferidos em forma de empréstimo aos empreendedores que

pretendiam fazer investimentos na região.

Apesar dos Fundos de Participação dos Estados e Municípios (FPE E FPM) serem

utilizados no início para um maior controle sobre as transferências às unidades subnacionais,

sem dúvida, foi um passo importante para o desenvolvimento do federalismo no Brasil; era a

institucionalização das transferências.

Page 144: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

142

Em meados dos anos 80 chega o fim da ditadura militar e ocorre mais uma virada

na balança da descentralização e centralização. A Constituição de 1988 já traz no seu primeiro

artigo destaque para o federalismo. “Art. 1°. A República Federativa do Brasil, formada pela

União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado

Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a

dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o

pluralismo político. Parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

A bandeira da descentralização fiscal, na verdade já vinha sendo levantada desde

os anos 70 com os ideais de redemocratização política. No início dos anos 80, as

transferências para os Estados e Municípios tinham aumentado em grandes proporções. Até

mesmo parte das arrecadações do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos

Industrializados, que era de competência federal, já era transferida ao Fundos de Participação

dos Estados e Municípios.

Segundo Serra e Afonso (1999, p. 5), do total, "o montante do bolo tributário

disponível para os municípios aumenta de 18% para 44% entre 1980 e 1990. Se forem

incluídas as transferências constitucionais, esse montante aumenta para 47% do Imposto de

Renda (IR) e 57% do IVA".

A partir da reforma tributária de 1988/89, os Estados aumentaram sua participação

no Imposto de Renda (IR) e no Imposto sobre produtos industrializados (IPI). A criação do

Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) que substitui o antigo ICM de

arrecadação estadual trouxe maior liberdade aos Estados para fixação das alíquotas e sua

administração. Além disso, o ICMS englobou outros cinco impostos que eram de competência

federal, aumentando suas arrecadações na receita tributária e consolidando ainda mais sua

autonomia. Os municípios também foram beneficiados com esse novo imposto, pois tiveram

sua participação nesse tributo aumentada de 20% para 25%.

Segundo Serra e Afonso (1999), em termos verticais, objeto principal do tema do

federalismo fiscal, quase todos os ganhos relativos couberam à esfera municipal. Pouco se

alterando a posição do nível estadual, sobretudo no conceito de receita tributária disponível

(arrecadação própria mais e/ou menos transferências constitucionais).

Em relação à questão horizontal, as regiões menos desenvolvidas foram as que

tiveram maiores benefícios. Ainda segundo Serra e Afonso (1999), em termos horizontais, os

recursos adicionais foram destinados em maior proporção aos governos estaduais e

Page 145: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

143

municipais das regiões menos desenvolvidas, revertendo, na divisão da receita tributária

disponível e do gasto, a elevada concentração de arrecadação e do produto interno nas regiões

mais desenvolvidas.

Para resumir essa longa trajetória histórica do federalismo fiscal no Brasil, é

importante sublinhar três aspectos:

• A mudança gradual, de um sistema baseado em impostos dependente do

comércio exterior para um dependente de transações internas;

• A introdução gradual e melhoria de um sistema de transferências entre os

diferentes níveis de governo;

• Os movimentos cíclicos de centralização e descentralização referem-se à

quantidade de recursos compartilhados por cada nível de governo, bem

como a autonomia de cada nível para definir seus próprios impostos, em

determinado período histórico. Estes ciclos podem ser resumidos como se

segue:

. pós 1891: primeira Constituição Republicana = descentralização

. pós 1936: ditadura de Vargas = centralização

. pós 1946: Constituição Democrática = descentralização

. pós 1964: Regime militar = centralização

. pós 1988: Redemocratização = descentralização

Com a nova Constituição, a descentralização avançou, os Estados e Municípios

passaram a ter mais autonomia principalmente em matéria tributária, e o montante das

transferências do governo Central para os governos subnacionais aumentou

consideravelmente. A Federação fortaleceu-se, apesar do surgimento de novos desafios para

sua consolidação. Entre eles, podemos destacar a competição exacerbada entre as unidades

federativas e a ausência de uma coordenação central por parte do governo federal para dirimir

esses conflitos e maximizar os benefícios da maior autonomia e da descentralização.

Em virtude das diferenças regionais e dos interesses particulares dos Estados em

promover seu próprio desenvolvimento, a cooperação ou o espírito de solidariedade acaba

ficando em segundo plano. A esse respeito Prado (2007), destaca:

O baixo grau de cooperação em todas as suas formas é um traço constitutivo do nosso federalismo. É possível que este caráter tenha suas origens remotamente localizadas na diferenciação econômica e social das macro-regiões de país

Page 146: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

144

continental, que se organizaram política e socialmente, em bases locais muito antes que o mercado nacional fosse unificado no período da industrialização; com toda certeza, a concentração da riqueza numa parte da região sudeste foi também determinante para estabelecer clivagens e conflitos horizontais que restringiram sempre a possibilidade de cooperação política e econômica. (PRADO, 2007, p. 77).

No Brasil o setor público é altamente descentralizado de uma perspectiva fiscal e

constitucional. O federalismo fiscal e político têm evoluído desde a metade do século XIX, e a

Constituição de 1988 é uma reafirmação do alto grau de autonomia de Estados e municípios.

A Constituição e o subseqüente aumento nas transferências têm mudado dramaticamente a

paisagem fiscal. Entre outras coisas, a Constituição estabeleceu um terceiro nível de governo

municipal com o mesmo status constitucional dos Estados.

Segundo Wiesner (2003, p. 14-17), o Brasil está evoluindo rapidamente para um

Estado verdadeiramente federal. O adequado uso de incentivos macroeconômico e incentivos

fiscais nos níveis estadual e municipal tem produzido um efetivo processo de

descentralização. Em termos de preceitos da economia neo-institucional - isto é, que

incentivos podem mudar o comportamento econômico e político – o caso brasileiro é um bom

exemplo. É no nível municipal onde os mercados político e econômico diferem menos e onde

incentivos podem ser particularmente efetivos na transformação fiscal e comportamento

político.

Para Rezende (1995), a Constituição de 1988 inaugurou uma nova etapa do

federalismo fiscal brasileiro, que ainda não está, todavia, concluída. Nela, as demandas de

estados e municípios por descentralização das receitas públicas foram atendidas, mas as

dificuldades encontradas para fazer com que a descentralização das receitas fosse

acompanhada de uma concomitante descentralização das responsabilidades públicas, em

especial no campo das políticas sociais, provocaram desequilíbrios que ainda precisam ser

corrigidos.

Ainda sobre a importância da Constituição de 1988 na consolidação do

Federalismo Fiscal Brasileiro convém destacar a opinião de Castanhar (2003), para quem a

Constituição promulgada em 1988 trouxe conseqüências importantes para o Federalismo

Fiscal Brasileiro. Em primeiro lugar, e como reação ao período ditatorial, produziu uma

significativa descentralização da receita e do poder político para os governos subnacionais,

em detrimento do Governo Federal. Em um segundo momento, o governo federal lutou para

recuperar a sua quota da receita tributária e aumentar o seu poder político, limitando a parte

dos governos subnacionais em assuntos fiscais. Como conseqüência, a autonomia do

federalismo fiscal prevista pela Constituição, é significativamente danificada. Na realidade, o

Page 147: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

145

que o governo federal fez, em termos simplificados, foi tentar recuperar receita, aumentando e

criando contribuições sociais, o que acabou por aumentar a carga tributária.

3.4.1 - As Transferências Intergovernamentais no Fe deralismo Fiscal

Introdução conceitual

Segundo Prado (2006), as transferências intergovernamentais que ocorrem numa

Federação podem ser entendidas e analisadas segundo um esquema teórico comum, embora

reconhecendo que cada Federação é única e peculiar. Em todas as Federações, existem

diversos tipos de transferências, cujas características cumprem determinadas funções básicas,

necessárias ao bom funcionamento da Federação.

3.4.1.1– Determinantes básicos das transferências v erticais

O ponto de partida da análise é entender a razão da existência das transferências

intergovernamentais. Ou seja: porque cada nível de governo não arrecada exatamente o que é

necessário para cumprir com suas responsabilidades? Observando as Federações no mundo,

podemos constatar que, uma característica comum a todas elas, é que o governo federal

arrecada uma parcela maior dos recursos. Considerando ser esta uma característica comum,

então é preciso entender as razões que justifiquem tal procedimento.

Para Prado (2006), o conceito básico para analisarmos esse problema é o que se

pode chamar de brecha vertical (BV): o fato de que os governos superiores arrecadam mais

recursos do que gastam diretamente, enquanto os governos de nível inferior arrecadam menos

recursos do que gastam diretamente. Isso faz com que todas as Federações, sem exceção,

façam uso das transferências verticais como um componente essencial de seus sistemas

fiscais.

Posto de outra forma, a brecha vertical refere-se, portanto, à diferença entre o

volume de encargos efetivamente assumidos pelos governos subnacionais (GSN), medido

pelo gasto final por eles realizado, e o volume de recursos que esses governos podem obter

autonomamente, a partir das bases tributárias que lhe são atribuídas, sem dependerem de

transferências federais. As formas mais usuais de medi-la são: a relação entre recursos

próprios e gastos totais ou, alternativamente, a relação entre recursos dos governos

subnacionais e recursos a eles transferidos pelo Governo Central (GC). Essa forma de

Page 148: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

146

relacionamento entre Governo Central e governos subnacionais também é válida para a

relação entre governos intermediários e governos locais.

As causas de brecha vertical

Diversos fatores explicam a concentração do controle sobre a receita fiscal nos

governos superiores, relativamente aos gastos diretos desses governos. Alguns deles têm uma

fundamentação técnica na teoria da tributação; outros resultam de circunstâncias políticas e

históricas.

Nos modernos sistemas federativos, de forma geral, a brecha vertical é explicada:

• Pela atribuição dos principais impostos [aqueles que constituem a base de arrecadação

dos modernos sistemas tributários, ou seja: renda, consumo (em geral, o IVA) e, em

alguns casos, impostos específicos (excise tax) ao controle do Governo Federal, o que

é visto como necessário, do ponto de vista da eficiência tributária]. Essa exigência de

ordem técnico-tributária entra em evidente conflito com a tendência mundial a

descentralizar cada vez mais os encargos administrativos, acentuada nas duas últimas

décadas;

• Pela atribuição, aos Governos Centrais, de duas obrigações ou prerrogativas de grande

importância:

1ª. Reduzir as disparidades horizontais em capacidade de gastos operando sistemas

de equalização através de transferências. No plano horizontal, ou seja, no que se

refere à equidade entre jurisdições de um mesmo nível, as diferenças em capacidade

econômica se refletem em diferenças na capacidade de gasto: estados mais pobres

teriam que impor um nível muito pesado de tributação aos seus cidadãos, para

conseguir oferecer o mesmo nível de serviços que é possível num estado mais rico.

Pode-se referir a ela como brecha horizontal (horizontal gap). Isso torna desejável e,

mesmo, imprescindível que o Governo Central utilize as transferências verticais para

reduzir essas disparidades, concedendo mais recursos aos mais pobres. Isso é feito

através de sistemas mais ou menos complexos e abrangentes de equalização, ou seja,

de transferências redistributivas orientadas por algum critério de equidade.

2ª. Comandar certo montante de recursos a serem repassados aos governos

subnacionais, de forma seletiva e discricionária, visando realizar projetos e atingir

objetivos de interesse nacional em áreas e setores que a sociedade entenda que

devam ser entregues à responsabilidade dos governos subnacionais. Isso coloca um

Page 149: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

147

problema relevante quanto ao fato de que os governos superiores, ao transferirem tais

recursos para os inferiores, impõem condições para seu uso. Por outro lado, isso pode

ser imprescindível para que o governo superior atinja os objetivos nacionais em áreas

definidas constitucionalmente como encargos tipicamente subnacionais. Por outro

lado, essas condicionalidades são frequentemente vistas, principalmente por governos

estaduais, como ingerência e mesmo abuso de poder, uma restrição indevida sobre sua

autonomia política e orçamentária.

O primeiro fator resulta na concentração de receita, enquanto os outros dois do

segundo fator requerem a concentração da receita. Para que o Governo Central possa

reduzir as disparidades e implementar projetos nacionais, ele tem que se apropriar de

parcela maios da receita fiscal, de forma a devolvê-la às jurisdições subnacionais

segundo critérios pertinentes.

A Centralização Tributária e a Brecha Vertical

Um primeiro fator determinante da brecha vertical resulta da conjugação da

centralização tributária com a descentralização de encargos. Descentralização, entendida

como a tendência a se deslocar para “baixo”, para os governos subnacionais, a maior parte da

execução efetiva do gasto – atribuição de encargos -, principalmente, na provisão de bens e

serviços públicos. É fato conhecido que esse processo se aprofundou e se consolidou nas duas

últimas décadas, em boa parte devido à relativa fragilização dos governos centrais, levando à

conseqüente ampliação da participação dos governos subnacionais no gasto final efetivo do

setor público.

Portanto, podemos constatar que o determinante básico da brecha vertical tem sido

a crescente descentralização dos encargos, associada a uma persistente atribuição de impostos

centralizada. Na literatura clássica sobre tributação e federalismo, há um razoável consenso

normativos quanto a conveniência de atribuir determinados impostos ao Governo Central,

principalmente, o imposto sobre a renda e o Imposto sobre Valor Agregado - IVA. O

argumento refere-se, basicamente, aos custos que se colocam para os agentes econômicos

quando têm que atender às legislações, e à possibilidade de que impostos relevantes, quando

submetidos ao controle dos governos subnacionais, venham a gerar importantes efeitos

prejudiciais à eficiência econômica. À medida que os governos exerçam sua autonomia na

definição de alíquotas e, principalmente, de bases tributárias, podem induzir modificações na

localização da atividade produtiva e nos fluxos de comércio, que tornam menos eficiente a

Page 150: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

148

atividade produtiva no país. Um caso mais grave desse problema ocorre quando a política

fiscal, ou seja, a interferência na localização da atividade produtiva e nos fluxos de comércio é

intencionalmente buscada através da manipulação de bases e alíquotas através de incentivos e

benefícios fiscais.

Entre aqueles impostos que a teoria tributária considera tipicamente centrais

destacam-se os grandes impostos que são nucleares nos modernos sistemas tributários: renda,

vendas (em geral, um imposto sobre o valor adicionado) e, em certos casos, impostos

específicos sobre a produção. Sem levar em consideração a tributação sobre a folha de

pagamento, que é, na maioria dos países, vinculada ao financiamento da seguridade social e

do sistema de pensões, os impostos citados, em conjunto, determinam algo entre 70 e 90% das

receitas tributárias da maior parte dos países. Consequentemente, a distribuição

intergovernamental de receitas vai depender da forma como a apropriação e o controle

daqueles três impostos vão ser definidos. Dela depende a dimensão da brecha vertical, o grau

em que o Governo Central se apropria ou controla uma parcela da carga tributária

estruturalmente superior aos seus próprios gastos (exceto transferências), enquanto os

governos subnacionais conseguem receita fiscal própria sistematicamente inferior aos seus

gastos.

Aspecto essencial a ser considerado nessa questão: o que se exige efetivamente,

para evitar os efeitos negativos usualmente associados ao controle estadual sobre esses

impostos, é que a federação garanta a uniformidade do imposto no território nacional, ou seja,

a definição de base, alíquota e regras administrativas do imposto, e não que a arrecadação e a

apropriação da receita seja federal.

A centralização tributária ocorrida na maior parte das Federações, a partir do

século XX, não decorre apenas de preceitos técnicos, mas reflete elementos históricos e

políticos: durante todo o pós-guerra, o predomínio dos governos centrais ampliou muito, essa

tendência ao controle, por eles, das bases tributárias mais fortes e dinâmicas. O imposto de

renda foi federalizado em todas as Federações relevantes, e o mesmo ocorreu, embora com

importantes exceções, com os impostos indiretos principais. Dessa forma, houve uma

tendência a centralizar não apenas a legislação, mas efetivamente a apropriação inicial da

receita, o que ampliou muito o espaço para os governos centrais controlarem o gasto do setor

público total.

Ao longo da segunda metade do século XX, na maior parte das Federações,

ocorreu uma forte pressão dos governos subnacionais para que o Governo Central cedesse

uma parcela maior da receita. Isto ocorreu, em geral, preservando-se a uniformidade da

Page 151: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

149

legislação e ampliando o compartilhamento dos impostos principais com os governos

subnacionais.

Brecha Vertical, equalização e condicionalidades

A existência e, principalmente, a dimensão da brecha vertical nas Federações

modernas não se explica apenas pelo princípio normativo da centralização tributária, descrito

anteriormente. A dimensão dos recursos fiscais que os governos centrais continuam a

controlar na maior parte das Federações exige que se considerem outras determinantes.

Segundo Prado (2006), a segunda razão essencial para a existência da brecha vertical está

relacionada a duas das prerrogativas típicas do governo central nas Federações:

• A responsabilidade pela redução das disparidades horizontais; e

• O poder de impor critérios e prioridades nacionais à ação dos governos

subnacionais e de determinar padrões de âmbito nacional na provisão

dos serviços públicos principais.

A primeira prerrogativa refere-se ao papel do Governo Central de reduzir as

disparidades horizontais entre jurisdições, no que se refere à capacidade fiscal. Em toda

Federação, há algum grau de disparidade na capacidade econômica das diversas jurisdições

intermediárias e locais. Consequentemente, a capacidade dessas jurisdições de obter

autofinanciamento, qualquer que seja a distribuição de impostos entre níveis de governo,

reflete essa disparidade. Em conseqüência, a capacidade autônoma de cada um desses

governos de suprir os serviços demandados pelos cidadãos, ou exigidos pelas normas legais

do país, também difere de forma bastante proporcional à disparidade no nível de

desenvolvimento e capacidade econômica. Para prover um mesmo nível de serviços públicos,

os estados mais pobres teriam que impor uma carga tributária mais elevada aos seus cidadãos,

em relação àquela incidente sobre os cidadãos de estados ricos.

Esses fatos universais colocam um problema básico de equidade, no sentido do

acesso de cada cidadão da Federação a um mesmo padrão mínimo de serviços, sem que ele

tenha que arcar com um custo tributário mais elevado do que a média dos demais cidadãos. A

importância atribuída a esse problema difere profundamente entre as Federações existentes.

Algumas colocam a equidade como valor básico, que sobre determina a maior parte das

outras questões. Outras não incluem esse conceito entre seus valores fundamentais, a exemplo

dos EUA.

Page 152: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

150

Tudo isso exige que, pelo menos, uma parte das transferências verticais seja

comandada por um critério redistributivo e equalizador e que não seja simplesmente

“devolvida” para a jurisdição que a gerou economicamente. Se as transferências verticais

destinadas a fechar a brecha vertical forem meramente “devolvidas” aos governos

subnacionais por derivação, ou seja, para cada governo exatamente aquilo que foi arrecadado

na sua jurisdição, a capacidade de gasto final desses governos teria o mesmo perfil que a

capacidade econômica: estados mais ricos teriam maior capacidade de prestar serviços

públicos com uma pressão tributária muito menor sobre seus cidadãos.

Nesse caso, não é suficiente que o Governo Central controle apenas a legislação

sobre os impostos, como vimos antes para o problema da eficiência tributária. É necessário

também que a alocação dos recursos gerados seja por ele controlada, em geral, segundo

critérios e arranjos legal ou constitucionalmente definidos. Nesse tipo de ação, o governo

federal entrega para governos mais pobres recursos que eles não poderiam arrecadar a partir

de suas bases tributárias.

A segunda prerrogativa dos governos centrais é mais polêmica e representa de

certa forma, uma herança do estado central fortemente intervencionista de meados do século

XX. Trata-se da existência, bastante diferenciada entre as Federações, de certo poder

discricionário do Governo Central, manifesto na sua capacidade de transferir para os governos

subnacionais uma parte da receita fiscal impondo condicionalidades, visando seja a realização

de programas de seu interesse, seja a subordinação da atividade dos governos subnacionais à

implementação de programas de âmbito nacional, a exemplo dos programas na área de saúde

e educação. Os elementos típicos desses arranjos são uma legislação uniforme sobre qualidade

e acesso aos serviços oferecidos, financiamento e, em algum grau, a gestão, controlada pelo

governo federal, bem como a execução total ou predominantemente realizada pelos governos

subnacionais. No caso brasileiro, o exemplo típico é o Sistema Único de Saúde – SUS.

Esses casos constituem o que chamamos aqui de Programas Nacionais: sistemas

de transferências normalmente oriundas do governo central, para financiar serviços que quase

sempre são realizados exclusivamente pelos governos subnacionais, detendo o Governo

Central um significativo poder de estabelecer parâmetros e padrões de serviços, assim como

de realizar a gestão e o planejamento desses serviços.

A suposição básica que orienta esse arranjo é a de que a execução do serviço deve

ser descentralizada, para se obter maior eficiência, mas a legislação e, em geral, a gestão da

intervenção estatal deve ficar sob controle central. Por isso, o governo federal não executa os

Page 153: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

151

serviços, embora, através principalmente do controle sobre os recursos, garanta a

uniformidade de padrões e a distribuição dos serviços em todo território nacional.

O grau em que os serviços públicos são submetidos ao formato de programas

nacionais tal como descrito é um dos principais fatores que determinam a autonomia dos

governos subnacionais. Existe um dilema muito claro nesse caso. Quanto maior a autonomia,

menor pode ser a uniformidade dos padrões de serviços oferecidos pelo setor público e maior

a possibilidade de iniqüidade. A obtenção de um tratamento mais equitativo entre os cidadãos,

através da exigência de padrões mínimos uniformes em todo o país, evidentemente, reduz a

autonomia de cada governo para escolher suas prioridades orçamentárias.

Resumindo, essas três causas básicas – eficiência tributária, necessidade de

equalização horizontal e preferência por programas nacionais de prestação de serviços – é que

determinam a existência de várias formas de transferências nas Federações modernas. A

dimensão do primeiro fator é determinada, em geral, por fatores técnicos relativos ao peso dos

impostos mais relevantes (renda e IVA) no sistema tributário, e pela opção da Federação por

entregar a governos superiores a administração de determinados impostos. Já o segundo e

terceiro fatores estão condicionados por questões políticas. A redução de disparidades exige

que uma parcela da carga tributária seja reservada para distribuição segundo critérios

redistributivos. As Federações se diferenciam muito quanto ao montante dessa parcela. No

Brasil, esse papel é exercido pelos Fundos de Participação de Estados e Municípios (FPE e

FPM), e os recursos abrangem aproximadamente 8% da carga tributária. Finalmente, os

programas nacionais decorrem da escolha política da Federação entre autonomia e

uniformidade. Quanto mais a uniformidade é valorizada, maior tende a ser o poder do

governo federal e menor a autonomia dos governos subnacionais.

3.4.1.2– Os tipos básicos de transferências

Para atender aos três motivos apontados anteriormente, que determinam a brecha

vertical e tornam necessárias transferências, as federações recorrem a diversos tipos de

transferências. Duas diferenciações básicas são importantes:

• transferências livres versus transferências condicionadas; e

• transferências legalmente definidas versus transferências voluntárias.

As transferências livres são entregues aos governos subnacionais como recursos a

serem livremente dispostos pelo seu processo orçamentário. A decisão sobre no que gastar os

recursos é exclusiva das sociedades locais, através de seus parlamentos. Já as transferências

Page 154: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

152

condicionadas não são disponíveis para livre alocação pelo orçamento local. Os recursos têm

que ser necessariamente empregados em setores, funções ou até mesmo em projetos

específicos. É evidente que o dilema básico aqui subjacente refere-se ao grau de autonomia.

As transferências condicionadas são o único instrumento de que a Federação dispõe, através

do governo federal, para influir e controlar a atuação dos governos subnacionais, nas áreas em

que considere necessário.

As transferências legais têm regras relativas aos montantes de recursos que o

governo superior deve transferir para os governos inferiores, determinadas por lei ordinária ou

pela Constituição do país. Elas representam, do ponto de vista dos governos receptores, uma

maior garantia de financiamento, já que não ficam sujeitas às mudanças ocorridas no processo

orçamentário dos governos superiores. Uma forma muito usual dessas transferências é o

compartilhamento dos impostos principais. Em contraposição, as transferências voluntárias

resultam do processo orçamentário dos governos superiores, ano a ano, e não decorrem de

qualquer exigência legal. É uma ação voluntária de o governo superior dedicar uma parte dos

recursos de seus orçamentos para serem transferidos aos governos subnacionais. É evidente

que, quanto maior o peso das transferências legalizadas, menos flexível é o processo

orçamentário dos governos superiores. Em contraposição, quanto maior o seu peso, maior é a

garantia de recursos para os governos subnacionais.

Abaixo relacionamos todas as transferências verticais que têm como finalidade

geral fechar a brecha vertical (ajuste vertical). Propomos quatro categorias básicas de

transferências, que se diferenciam pelas funções que cumprem, e associamos aos atributos de

formato legal (legalmente definidas e voluntárias) e grau de condicionalidade. De uma forma

geral, cada uma das múltiplas transferências que existem nas Federações atuais pode ser

enquadrada em uma dessas categorias.

a) Transferências livres: devolutivas e redistributiva

Uma primeira parcela dos fluxos verticais é o que chamaremos de devolução

tributária, ou seja, o governo superior arrecada e devolve para o nível de governo inferior,

recursos que este poderia ter arrecadado caso tivesse atribuição para tanto. Exemplo típico no

Brasil é o ICMS arrecadado pelos governos estaduais e entregue aos municípios. Nessa

situação, o objetivo exclusivo é a uniformidade do imposto, e o Governo Central transfere

para os estados a receita que é arrecadada na sua jurisdição, ou parte dela. Na quase totalidade

dos casos, não se trata de transferências voluntárias, mas de direitos legais garantidos aos

governos subnacionais. Da mesma forma, o mais usual é que estes recursos sejam receita

Page 155: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

153

livre, sem condicionalidades. A presença desse componente nos arranjos tributários reflete,

fundamentalmente, certo compromisso entre a manutenção de um imposto uniforme a nível

nacional ou estadual, sob administração do Governo Federal ou dos Governos Estaduais, e a

ampliação da receita autônoma dos governos subnacionais.

Quanto maior a parcela das transferências totais que assuma esse caráter, mais a

distribuição horizontal resultante vai refletir os diferenciais de capacidade econômica. Em

contrapartida, evidentemente, os governos subnacionais, embora ampliem sua receita com

esses recursos, não têm controle sobre a definição de base, alíquotas, isenções etc. Essa

situação de devolução implica que a receita seja entregue ao estado onde foi gerada e que,

portanto, governos mais ricos receberão receitas maiores e vice-versa.

Um segundo tipo básico é dado pelas transferências distributivas: são entregues

aos governos inferiores sem qualquer correspondência com o que poderiam ter arrecadado a

partir de suas bases tributárias e visam reduzir as desigualdades horizontais em capacidade de

gasto. O procedimento mais comum é que uma parte das receitas federais seja reservada, por

lei ou mesmo por preceito constitucional, especificamente para esta finalidade. Essas são as

transferências que correspondem à primeira prerrogativa básica dos governos centrais já

mencionada anteriormente, a responsabilidade pela equidade horizontal.

Em geral, esses dois tipos de transferências entregam para os governos

subnacionais recursos totalmente livres de condicionalidades, formando, juntamente com as

transferências devolutivas, o que chamamos de transferências livres. A lógica básica, nos dois

casos, é fortalecer os orçamentos desses governos, ou seja, prover recursos que as

comunidades locais possam alocar livremente para atender às suas necessidades. A parcela

redistributiva sempre existe, em todas as Federações, já que alguma função de equalização

conduzida pelo Governo Central é sempre presente. Já a parcela devolutiva pode não existir,

no caso em que todos os recursos que são transferidos como transferência livre – portanto

livres de condicionalidades – obedecem a um critério redistributivo.

b) Transferências condicionadas e autonomia dos governos subnacionais

Em todas as Federações existem também as transferências sujeitas a

condicionalidades, que correspondem à segunda prerrogativa dos governos centrais indicada

no item anterior.

Esse tipo de transferência se caracteriza pelo fato dos governos subnacionais não

poderem decidir livremente sua aplicação. Sua presença é uma constante em todas as

Page 156: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

154

Federações, ainda que varie muito tanto a sua dimensão relativa quanto o grau de

discricionariedade de que dispõe o Governo Central na sua alocação.

Seu traço distintivo é que os recursos vão subordinados a condições relativas a:

• Setor, função ou mesmo projeto em que devem ser aplicados;

• Padrão dos serviços e/ou condições de aceso e elegibilidade aos serviços; e

• Eventual obrigação dos governos subnacionais de apresentar contrapartida;

ou seja, participar respondendo por parte do custo de provisão.

Embora haja múltiplas alternativas e combinações desses quesitos, os casos mais

comuns e relevantes se reduzem a quatro:

a) Programas amplos, com vinculação setorial ou funcional,

destinados a financiar programas nacionais executados

predominantemente ou exclusivamente pelos governos

subnacionais. São muito freqüentes na área social e de infra-

estrutura. A forma tradicional e mais comum envolve um montante

predeterminado de recursos, definido de forma ad hoc, devido às

dificuldades de se montar uma fórmula para calcular os recursos

necessários. São muitos freqüentes mecanismos de correção de

montantes históricos por índices de preço ou de produto. A

quantidade de serviços gerada depende do montante de recursos

predefinidos, dados os preços unitários dos serviços, e eles têm, em

geral, caráter permanente. Esse tipo corresponde ao que é

usualmente chamado de block grant (bloco de concessão ou

subvenção) na literatura.

b) Programas amplos, vinculados por setor, destinados a reduzir em

alguma medida o preço unitário da provisão de um determinado

serviço para a jurisdição. Utiliza a técnica dos chamados matching

grants (subsídios de contrapartida), através dos quais o

financiamento é definido como uma fração do preço unitário do

serviço: Transferênciaunit = m.Ps onde m < = 1

Nesse modelo, quanto mais serviços gerados pelos governos

subnacionais, maior a transferência. Se os recursos forem

limitados, uma oferta de serviços acima do que é viabilizado pelo

montante total terá de ser plenamente financiada com recursos

locais a preço de mercado. Outro ponto é que ele permite

Page 157: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

155

obviamente o grau máximo de focalização e de mínima autonomia.

O recurso não está de fato disponível para os governos

subnacionais. Se ele não presta o serviço, não recebe recursos.

c) recursos para projetos específicos, mesmo de grande porte, sendo

os governos subnacionais obrigados a uma contrapartida em

percentagem do valor total, o que é chamado na literatura de cost

sharing (custos compartilhados). Ele é semelhante ao caso “”b”,

para as situações em que não há prestação unitária de serviços,

tratando-se quase sempre de investimentos.

d) Recursos para projetos específicos, negociados caso a caso entre

os governos subnacionais e o Governo Central, usualmente, no

âmbito do orçamento anual.

Podemos distinguir entre dois tipos de transferências condicionadas, com base no

grau de determinação legal que elas assumem, ou seja, entre aquelas que são exigidas por

normas legais e constitucionais (transferências condicionadas), e aquelas que são

essencialmente resultado de uma decisão orçamentária do governo federal, tomada ano a ano

(transferências voluntárias).

As transferências condicionadas dos tipos a e b descritas anteriormente –

programas nacionais amplos, block grants ou matching grants – tendem a ser, com mais

freqüência, legalmente definidas e regulamentadas. Já aquelas dos tipos c e d tendem a serem

tipicamente voluntárias, os governos subnacionais têm que negociar sua concessão em

ministérios e em agências do governo federal. Outro caminho, muito conhecido no Brasil, é

através da atuação do parlamento, colocando rubricas, programas e projetos no orçamento

federal (“convênios” e “emendas parlamentares”).

Tudo que já foi colocado sobre o Governo Central em sua relação com os

governos subnacionais, aplica-se, em princípio, para os governos intermediários em sua

relação com os governos locais. Em alguns países, eles têm uma atuação relevantes como

transferidores de recursos, seja na função de arrecadadores substitutos, seja como meros

repassadores de recursos oriundos do Governo Central, seja, ainda, como doadores

voluntários de recursos. No Brasil, essas três funções estão presentes nos governos estaduais.

3.4.1.3 - A Cota-Parte dos Municípios no ICMS

Page 158: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

156

A Cota-Parte do ICMS é a parcela do ICMS arrecadada pelos Estados, mas

pertencente aos Municípios, que corresponde a 25% do ICMS arrecadado pela Fazenda

Estadual, constituindo-se na sua principal fonte de receita. Os principais recursos que os

municípios recebem são o FPM (Fundo de Participação dos Municípios, o FUNDEB (Fundo

de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação) e o repasse do ICMS. O ICMS é um imposto que o Estado cobra sobre a circulação

de mercadorias e serviços.

Desses 25% que vão ser distribuídos com todos os municípios, o Governo Estadual

repassa 75% (18,75%), de acordo com o Valor Adicionado Fiscal (VAF), que é uma

distribuição que depende do ICMS arrecadado por cada município. Os outros 25% (6,25%),

são distribuídos entre os municípios com base em critérios determinado pelo Governo do

Estado, através de legislação específica.

O sistema de partilha do tipo devolutivo foi instituído pela Reforma Tributária de

1967 para o principal imposto sobre o consumo, o então criado Imposto Sobre Circulação de

Mercadorias (ICM), de competência dos estados. Naquela época, ficou estabelecido que 20%

da arrecadação desse imposto constituíam receita dos municípios, cujas parcelas deveriam ser

creditadas na forma e nos prazos fixados em lei federal. Entretanto, apenas em 1972 o

governo militar regulamentou o dispositivo constitucional para a cota-parte, através da edição

do Decreto-lei 1.216.

O aspecto mais relevante da norma foi a instituição do conceito de Valor

Adicionado (VA) como critério de partilha municipal do ICM, apurado com base nas

informações econômico-fiscais prestadas pelos contribuintes. A cota-parte deveria ser

distribuída na proporção do Valor Agregado (VA) resultante das operações de circulação de

mercadorias realizadas no território de cada município. Foi especificado que o Valor

Agregado (VA), num dado período, poderia ser calculado pela diferença entre o valor das

mercadorias saídas e das mercadorias que deram entrada - operações que constituíam fato

gerador do imposto -, mesmo quando o pagamento fosse antecipado ou diferido; o imposto

fosse reduzido ou excluído em virtude de isenção; quando as operações não fossem sujeitas ao

imposto em virtude da imunidade sobre o livro, o jornal e os periódicos, assim como o papel

destinado à sua impressão, bem como sobre as operações com produtos industrializados

destinados ao exterior, além de outros casos especificados na lei. Nessa época, o ICM era um

imposto arrecadado na origem e o critério do VA levava a uma partilha municipal com lógica

de devolução tributária, ou seja, o município recebia recursos de acordo com a contribuição

para a arrecadação do imposto estadual em seu território.

Page 159: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

157

A partir de 1972, com a criação do conceito de Valor Agregado (VA), a partilha

passou a beneficiar municípios com maior base econômica, principalmente, aqueles com base

industrial mais desenvolvida, provocando uma “guerra” entre os municípios para a instalação

de distritos industriais. Segundo Garcia (2002, p. 24), este modelo sofreu inúmeras críticas ao

longo da década de 1970, notadamente em relação à concentração de recursos em municípios

já bem aquinhoados em termos de geração de receita, em prejuízo dos municípios com base

economia agrícola, de serviços ou mesmo os de pequena base comercial.

Uma peculiaridade é que embora 100% da cota-parte fosse baseada no Valor

Agregado (VA), não havia empecilho à adoção de outros critérios, desde que mediante

convênio, por prazo determinado, firmado como resultado da concordância de todos os

municípios do estado (art. 11 do Decreto-lei 1.216/72). O coeficiente de participação de cada

município resultava da relação entre o seu VA e o VA total do estado, nos dois exercícios

imediatamente anteriores ao da apuração, procedimento que vigora até hoje.

Em 1980, foi feita uma importante alteração no sistema de cota-parte, quando a Emenda

Constitucional nº 17/80 determinou que até 25% do critério de partilha poderia ser objeto de

livre disposição por lei estadual. Respeitando o mínimo de 75% para o Valor Agregado (VA),

os estados passaram a dispor de certa autonomia para incluir outras variáveis para partilhar a

cota-parte. Os estados passaram a adotar critérios vinculados a variáveis econômicas, sociais,

ambientais e de outra natureza, com o propósito de amenizar a inevitável concentração

inerente ao critério do Valor Agregado (VA).

A partir da Constituição de 1988, o ICM incorporou os serviços de comunicações

e o transporte interestadual e intermunicipal, passando a denominar Imposto Sobre a

Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A parcela pertencente aos municípios passou

de 20% para 25% e os critérios de partilha da Emenda Constitucional nº 17/80 foram

mantidos, ou seja, do produto da arrecadação do ICMS, 75% constituem receitas dos estados e

25% dos municípios, cujos valores serão repassados a estes de acordo com os índices de

participação apurados, mediante os seguintes critérios:3/4, no mínimo, na proporção do Valor

Adicionado (VA) nas operações relativas à circulação de mercadorias e à prestação de

serviços realizadas em seus territórios e até1/4 de acordo com o que dispuser lei estadual. A

parcela impositiva foi mantida em 75% (no mínimo) para o critério Valor Adicionado (VA) e

em 25% para critérios dispostos por lei estadual.

Em 1990, a Lei Complementar nº 63/90 regulamentou o art. 158 da Constituição

Federal. O art. 3º, § 1º diz que o Valor Adicionado de cada município corresponderá “ao valor

das mercadorias saídas, acrescido do valor das prestações de serviços, no seu território,

Page 160: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

158

deduzido o valor das mercadorias entradas, em cada ano civil”. O § 2º do mesmo art. 3º

estabelece que: “para efeito de cálculo do Valor Adicionado, serão computadas as operações e

prestações que constituam fato gerador do imposto, mesmo quando o pagamento for

antecipado ou diferido, ou quando o crédito tributário for diferido, reduzido ou excluído em

virtude de isenção ou outros benefícios, incentivos ou favores fiscais; bem como as operações

imunes do imposto, conforme as alíneas “a” e “b” do inciso X do § 2º do art. 155 e a alínea

“d” do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. O § 1º do art. 3º dessa lei foi alterado

pela Lei Complementar nº 123/06, estabelecendo-se que “nas hipóteses de tributação

simplificada a que se refere o parágrafo único do art. 146 da CF, e, em outras situações, em

que se dispensem os controles de entrada, considerar-se-á como valor adicionado o percentual

de 32% da receita bruta.

Com a Emenda Constitucional nº 14/96, foi criado o FUNDEF. Em decorrência

disso, a partir de 1998 e até 2006, 15% da cota-parte dos municípios no ICMS foi retida para

esse fundo, que, juntamente com outras fontes, compunha os recursos totais do fundo.

Relevante para os fins da cota-parte é que se perceba que, do ponto de vista financeiro, o

montante de recursos líquidos distribuídos consoantes os critérios de VA e demais critérios

dispostos nas legislações estaduais foi de 21,25% durante o período referido. Ou seja, como

15% da cota-parte é retida para o Fundef (3,75% da arrecadação total do ICMS) e partilhada

proporcionalmente ao número de alunos matriculados no ensino público fundamental, das

redes públicas estadual e municipal, tem-se que a diferença, de 21,25% (25% de 85%) foi

distribuída aos municípios com base nos critérios da cota parte.

Os recursos distribuídos de acordo com as matrículas escolares aumentaram com a

criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). Em

2009, 20% da cota-parte do ICMS passou a ser distribuída de acordo com esse critério e os

80% restantes, com os anteriormente vigentes: 75% pelo VA e 25% pela legislação estadual.

Portanto, 60% da cota-parte do ICMS são distribuídos de acordo com o VA (80% de 75%),

20% pela legislação estadual (80% de 25%) e outros 20% de acordo com as matrículas

escolares.

Resumindo, tem-se que a cota-parte foi, no início, rigorosamente devolutiva

(vínculo com a arrecadação local). A partir de 1972, passou a ser distribuída 100% mediante

critério do Valor Adicionado (VA), com caráter aproximadamente devolutivo, pois se

descolou o critério da legislação do imposto. Não obstante, ainda que o critério do VA não

corresponda a uma definição ideal de devolução, tem todas as suas propriedades básicas. A

distribuição passou a ser feita proporcionalmente à atividade econômica local, contida no

Page 161: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

159

campo de incidência do ICM (e depois de 1988 do ICMS), o que caracteriza a cota-parte

como devolutiva, e, portanto, não-redistributiva. A partir de 1980, com o peso do VA

reduzido para 75%, a cota-parte passa a ter característica híbrida, mas ainda marcadamente

devolutiva, em virtude do peso do critério do VA.

Por fim, cabe ressaltar que, como o Valor Adicionado (VA) é vinculado ao local

da produção, ou seja, é uma variável regida pelo princípio de origem, tem provocado entre os

municípios uma “guerra fiscal” por investimentos, assim como ocorre frequentemente entre

os estados em relação ao ICMS. Os municípios competem para aumentar seu VA, nem

sempre de forma virtuosa. Eles concedem benefícios fiscais para atrair empresas, alimentando

outras batalhas nessa guerra, que comprometem a arrecadação e a neutralidade tributária de

impostos que interferem na concorrência entre as empresas.

Em outras palavras, de acordo com a legislação em vigor, os municípios são

estimulados a conceder incentivos fiscais para que empresas instalem em seus territórios, pois

apesar da perda potencial de receita, os mesmos conseguem obter ganhos, devido ao aumento

do Valor Adicionado Fiscal (VAF). Ou seja, os incentivos fiscais impactam diretamente na

distribuição da cota-parte a que o município tem direito.

A Tabela 2 abaixo ilustra bem essa situação. Nos municípios onde estão

localizadas as principais plantas industriais incentivadas do Estado de Goiás, houve aumento

do Índice de Participação dos Municípios no ICMS arrecadado, em decorência do aumento do

Valor Adicionado Fiscal (VAF). No período 1998 a 2011, Goiânia teve a sua participação

reduzida de 27,25% para 16,92%. Entretanto, Anápolis, onde está localizado o pólo

farmacêutico e a Hyundai, essa participação passou de 5,77% para 7,55%, resultando num

acréscimo de 30,85%. Rio Verde, onde está instalada a Perdigão, elevou sua participação de

3,90% para 5,52%, acréscimo de 41,54%. Catalão, onde se localiza a Mitsubishi e a John

Deere, o aumento da participação foi ainda mais expressivo, passando de 2,17% para 4,22%,

com acréscimo de 94,47%.

TABELA 2 – Estado de Goiás: Indice de Participação dos Municípios no ICMS - 1998-2011

Page 162: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

160

3.5 - Conclusão

O sistema federativo é um pacto constitucionalmente estabelecido entre diversos

Estados soberanos para a formação de um Estado Nacional, dotado de um poder central para

repartir entre os entes federados, sem prejuízo de suas autonomias, competências e atribuições

administrativas com a finalidade de garantir maior efetividade na prestação de serviços

públicos. Já o federalismo fiscal, diz respeito ao modo pelo qual são distribuídos os encargos

e as receitas entre os entes federados, com a finalidade de cumprir as incumbências

previamente designadas na Constituição.

Com base no que foi analisado, pode-se afirmar que o principal problema da teoria

do federalismo fiscal decorre do fato de ele se basear na teoria das finanças públicas que, de

uma forma geral, gira em torno da existência das falhas de mercado que tornam necessária a

presença do governo, do estudo das funções do governo, da teoria da tributação e do gasto

público, e que na sua essência é uma aplicação da teoria do consumidor. O problema com a

aplicação dessa teoria é que ela pode tratar adequadamente apenas problemas da escolha

individual. Contudo, a questão do federalismo fiscal, assim como das finanças públicas, é de

escolha coletiva. Assim, a teoria econômica apresenta várias outras opções, que embora não

sejam tão bem sistematizadas como a teoria das finanças públicas, por outro lado apresentam

a grande vantagem de serem mais adequadas para a análise da questão em foco. Estamos

falando das abordagens alternativas da escolha coletiva da chamada Escola da Escolha

Pública e do Institucionalismo.

Outra constatação é que a Teoria do Federalismo Fiscal não envolve os problemas

de ação coletiva e, portanto, é inadequada para explicar como se determina uma estrutura

fiscal. A teoria da “escolha pública”, que se preocupa exatamente com esta questão, ou

trabalha com democracias representativas plenas, ou apenas considera elementos econômicos

para definir as atribuições das esferas de governo. Olson (1982) constitui-se uma exceção a

essa regra: consegue dizer como atuam os grupos de interesses nas economias capitalistas

modernas segundo a racionalidade instrumental usual, sem, no entanto, estabelecer de que

maneira se dá a ação coletiva. A sua conclusão é que o resultado da ação desses grupos de

pressão tem maior probabilidade de ser conflitivo, gerando impasses ou barrando

transformações que permitam avanços econômicos. Analisando os autores do Novo

Institucionalismo, verificamos que, no seu cerne, o tratamento que eles dão às instituições não

difere significativamente do tratamento que é dado pelo federalismo fiscal, com a ressalva de

que eles procuram entender como as instituições são criadas. Nesse sentido, os

Page 163: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

161

institucionalistas dão um passo à frente ao compreender que as instituições não se orientam

apenas por uma racionalidade instrumental e que também influenciam as ações individuais.

O sistema federativo no Brasil tem suas raízes desde a Constituição de 1891, que

logo em seu artigo 1º estabeleceu que: “A Nação brasileira adota como forma de Governo,

sob o regime representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e

constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos

do Brasil”.

Desde então o Estado Brasileiro passou por diversos períodos de centralização e

descentralização do poder federal. A Constituição de 1934 adotou um sistema federativo mais

centralizado, onde a maior parte das competências era de exercício privativo da União. Esse

caráter centralizador conferia maior autonomia à União e consequentemente reduzia poder

dos Estados-membros.

Na Constituição de 1946, o grau de autonomia dos Estados foi elevado com a

concessão de competência privativa aos Estados para a instituição de alguns impostos como

transmissão da propriedade causa mortis, transmissão da propriedade inter vivos, vendas e

consignações e outros elencados no artigo 19, além de possuir participação na arrecadação de

impostos federais, como o Imposto Sobre a Renda.

A Emenda Constitucional Nº 18, de 01 de Dezembro de 1965, criou o Fundos de

Participação dos Estados - FPE e o Fundos de Participação dos Municípios – FPM, com a

destinação de dez por cento do produto de arrecadação do Imposto Sobre Produtos

Industrializados e Imposto Sobre a Renda, para cada fundo. O período que se segue é

caracterizado por uma nova centralização do poder político decorrente do golpe militar de

1964, que suprimiu o regime democrático.

A Reforma Constitucional de 1988 promoveu uma revisão do sistema federativo.

A consolidação da democracia e a retomada do desenvolvimento eram impulsionadas pela

descentralização do poder. A maior novidade neste processo de descentralização foi a

elevação dos municípios à condição de ente federado, sendo-lhes conferida maior autonomia e

interdependência nas relações políticas do sistema federativo.

Segundo Oliveira (1999), a Constituição de 1988 implicou em maior participação

de Estados e Municípios na receita tributária arrecadada no território nacional, seja porque

bases tributárias da União foram partilhadas com Estados e Municípios, via FPE e FPM. Esta

descentralização busca aproximar a unidade gestora do gasto e o público-alvo.

Dessa forma, o pacto federativo passou a ter um novo sistema de repartição de

competências e gestão dos gastos públicos. Também, criou mecanismos de intervenção

Page 164: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

162

federal e o estabelecimento de políticas de cooperação intergovernamental, para a promoção

do desenvolvimento regional, embora na prática isto não venha ocorrendo da forma que seria

desejada. O que se assiste é o distanciamento do governo federal das questões ligadas ao

desenvolvimento regional, razão pela qual os Estados passaram a implementar políticas

autônomas de desenvolvimento, na qual a guerra fiscal é a parte mais visível.

Assim, o sistema federativo da Constituição de 1988 assume um caráter mais

voltado para a autonomia e interdependência das entidades federativas, pois, quanto mais

descentralizado o poder, maior é a necessidade de equalizar a distribuição dos encargos

públicos com a repartição dos recursos financeiros.

O equilíbrio político-administrativo em um sistema descentralizado, somente pode

ser alcançado através da cooperação e participação de todas as unidades da federação no

processo de tomada das decisões governamentais. Embora essa seja uma situação ideal, a

regra tem sido a competição entre os entes federativos por recursos e/ou aumento de bases

tributárias e, entre estes e o Governo Central.

Posteriormente, o Governo Federal lutou para recuperar sua quota no bolo

tributário e aumentar seu poder político. Em conseqüência, a autonomia e o federalismo fiscal

prevista na Constituição foram abalados. O que o Governo Federal fez foi tentar recuperar

receita, aumentando e criando contribuições sociais, sem a obrigação de reparti-las com

Estados e Municípios, o que contribuiu para elevar a carga tributária no país.

Uma das deficiências do novo pacto federativo criado pela Constituição de 1988 é

a falta de integração de políticas governamentais entre os Estados-membros da federação.

A relação direta dos Estados com a União, quando o assunto é cooperação

intergovernamental é pouco significativa. Entre os próprios Estados, parece não haver

consenso ou previsão de união, para ao menos sequer, apresentarem diretrizes conjuntas para

o incentivo do desenvolvimento de políticas públicas voltadas a assuntos de interesse comum.

A falta de cooperação e o ambiente hostil de competição entre os Estados agravam ainda mais

o problema. A guerra fiscal entre os governos subnacionais, como praticada no Brasil

atualmente, é o exemplo mais eloqüente desse ambiente de competição e hostilidade. Cabe

mencionar ainda, a ausência de uma de uma coordenação central por parte do Governo

Federal para diminuir esses conflitos e maximizar os benefícios da maior autonomia e

descentralização trazidas pela Constituição de 1988.

Na grande maioria das federações, o que se observa é que a competição entre

governos subnacionais é a regra e a cooperação, a exceção entre elas. No caso brasileiro, o

baixo grau de cooperação entre unidades subnacionais, em todas as suas formas, é um traço

Page 165: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

163

constitutivo do nosso federalismo e está ligado às gritantes diferenças econômicas e sociais

entre as diversas regiões do país. Também não podemos deixar de mencionar que, a forma de

organização institucional da federação no país, assim como o sistema tributário baseado na

origem, têm contribuído para o acirramento da competição fiscal entre os governos

subnacionais.

No próximo capítulo serão avaliados os impactos econômicos produzidos no

Estado de Goiás, em decorrência dos incentivos fiscais concedidos no âmbito dos programas

FOMENTAR E PRODUZIR.

Page 166: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

164

Capítulo 4 – Incentivos Fiscais e Desenvolvimento S ocioeconômico de Goiás – Análise de Impactos dos Programas Foment ar e Produzir (1995 – 2011)

Introdução

A passagem dos anos trinta representou um marco no desenvolvimento econômico

brasileiro. Foi o momento em que o padrão de acumulação nacional se alterou em favor da

indústria provocando o ‘deslocamento do centro dinâmico’ da economia (Furtado, 1987). Até

então, o eixo propulsor de acumulação no país estivera dependente de atividade primário-

exportadora. Para Cano (1990), no período de 1930 a 1960, com a paulatina eliminação de

barreiras ao comércio interno e aumento da interdependência das diversas regiões com o

centro dinâmico do país, ocorreu a integração do mercado nacional. No padrão de acumulação

definido pelo capital industrial, evidente que São Paulo conduziria o mercado nacional desde

que eliminadas barreiras alfandegárias, de comunicação e de transportes.

Goiás foi beneficiado com o aprofundamento das relações comerciais com São

Paulo e, também, em função das políticas governamentais principalmente de Getúlio Vargas e

Juscelino Kubitschek. A edificação de Goiânia tem papel fundamental nas modificações

estruturais do Estado, juntamente com a construção de Brasília, a imigração e a concentração

econômica na parte centro-sul do Estado. Contribuíram para essa transformação, a melhoria

dos meios de transportes, o acesso à energia elétrica, o surgimento de novos centros

comerciais e a urbanização acelerada verificada no Estado.

Segundo Estevan (1998), nos anos 30 o setor industrial era constituído de

pequenas empresas, sendo que a grande maioria operava nos setores alimentícios e de

transformação mineral não-metálico. Goiás possuía 16 estabelecimentos industriais em 1920.

Em 1940, esse número sobe para 370. Predominava a indústria a doméstica, concentrada no

artesanato, transformação simples de alimentos básicos, bebidas caseiras, etc., que atendia um

pequeno mercado local. “O setor secundário, em 1939, participava com 5,7% na formação da

renda interna estadual enquanto o primário ostentava 70,4% e o terciário 24%” (ESTEVAN,

1998, p.118)

A participação do setor industrial na composição do PIB goiano em 2011 atingiu

26,8%, sendo 12,5% representado pelo setor agropecuário, 60,7% pelo setor de serviços. A

indústria de transformação contribuiu com 13,8% do PIB industrial. Em 1995 essa

participação era de 11,19%. Ressaltamos que, apesar do montante elevado de incentivos

Page 167: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

165

fiscais concedidos no período ao setor, era de se esperar que o aumento dessa participação

fosse maior.

Para Teixeira (1999), Goiás no contexto nacional é uma economia periférica que,

desde o começo de sua ocupação no século XVIII, teve o seu desenvolvimento atrelado a um

centro hegemônico, no caso São Paulo, que acabou ditando o ritmo de sua inserção na

economia nacional. Apesar dos esforços que foram feitos nos últimos 30 anos para

transformar uma economia de base agro-pecuária para uma economia de base industrial, esse

objetivo não foi atingido, ainda que mudanças estruturais no padrão de desenvolvimento

tenham ocorrido entre as décadas de 70-90 e rupturas desse padrão de desenvolvimento a

partir dos anos 90, com a abertura comercial e as fusões e aquisições, principalmente no

agrobusiness.

4.1 – Antecedentes

Apesar de a industrialização ter se transformado em projeto nacional a partir de

1930, com a mudança do modelo de base agrário-exportador para um modelo de base urbano-

industrial, cujo centro dinâmico estava no mercado interno Furtado (1984), em Goiás, esse

processo passa a fazer parte das preocupações governamentais somente a partir dos anos 50,

quando são tomadas as primeiras medidas de estímulo à industrialização.

A Lei Estadual nº 575, de 14 de novembro de 1951, autorizava o governo do

Estado a subscrever ações de companhia fabril, assim como a proceder dentro de sua

competência legal a ação de isenção de impostos dos matadouros pelo prazo não superior a 10

anos.

Essa lei de incentivo ao desenvolvimento teve sua abrangência atualizada nos anos

seguintes, através da Lei Estadual nº 1.447, de 12 de dezembro de 1956, que estendeu a todas

as indústrias de carne localizadas em Goiás, os mesmos benefícios da Lei nº 575.

Diversas empresas passam a reivindicar o mesmo tratamento exigindo incentivos

semelhantes. Em novembro de 1958, através da Lei Estadual nº 2.000, o governo institui uma

modalidade de incentivos fiscal que concede isenção às indústrias sem similar no Estado.

Segundo Faria (2004), esse incentivo atraiu dezenove empreendimentos de grande

importância para a economia goiana da época, com destaque para o Moinho Goiás, a Usina de

Açúcar Monteiro de Barros, a Boa Sorte Industrial de Óleos Vegetais, a Indústria Têxtil

Vicunha em Anápolis. Esse incentivo vigorou até o ano de 1967.

Page 168: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

166

Em decorrência da prioridade dada pelo governo do Estado ao processo de

industrialização de Goiás, é criada, em 1961, a Secretaria da Indústria e Comércio – SIC,

através da Lei nº 3.999, de 14 de novembro, com a finalidade de elaborar, planejar e gerir o

setor, além de prever a formação de uma Carteira de Crédito Industrial no Banco do Estado de

Goiás.

Outra medida importante para a industrialização do Estado foi a criação da

Indústria Química do Estado de Goiás – IQUEGO, através da Lei nº 4.207, de 06 de

novembro de 1962, com o intuito de promover a saúde com medicamentos e serviços de

qualidade e baixo preço. Criada como uma sociedade de economia mista sob o controle

acionário do governo do Estado de Goiás, a IQUEGO foi o primeiro laboratório oficial do

Centro-Oeste. Iniciou suas atividades em janeiro de 1964.

Para dar suporte ao plano de desenvolvimento em curso, o governo de Goiás cria,

em 1962, o Banco de Desenvolvimento – BD, através da Lei nº 4.034, de 06 de junho, para

atuar como agente fomentador com carteira específica para o setor industrial. Essa lei prevê a

implantação de uma cidade industrial na área leste de Goiânia, próxima ao município de

Senador Canedo. Posteriormente, essa opção é abandonada em favor do município de

Anápolis, escolhido para sediar o primeiro pólo industrial do Estado.

Com a derrocada do estado de direito vigente, os militares assumem o poder no

Brasil através de um golpe de estado, em março de 1964, quando novas diretrizes econômicas

são estabelecidas. Em Goiás, por meio da Lei 8.884, de 30 de abril de 1968, foi criada a

Companhia de Desenvolvimento do Estado de Goiás – CODEG, uma sociedade por ações,

com a finalidade de atuar como agente orientador, empreendedor e fomentador do

desenvolvimento econômico do Estado de Goiás.

Uma nova tentativa de estabelecimento de uma política de desenvolvimento

regional é feita pelo governo do Estado com a criação da Comissão de Desenvolvimento

Industrial – CDI através do Decreto nº 240, de 01 de setembro de 1971. Um pouco antes,

tinha sido criado o Fundo de Expansão da Indústria e do Comércio – FEICOM, por meio da

Lei nº 7.531, de 30 de junho de 1971.

Em 20 de novembro de 1973, em sintonia com a política de desenvolvimento

regional do governo federal, que visava à desconcentração da produção industrial para outras

regiões do país, foi criada a Companhia de Distritos Industriais de Goiás – GOIÁS

INDUSTRIAL através da Lei nº 7.776. Entretanto, o Distrito Agroindustrial de Anápolis –

DAIA, efetivamente só foi implantado em 1976. Com esta decisão, observa-se que o objetivo

é concentrar as atividades econômicas na área de influência da BR-060, no eixo Goiânia-

Page 169: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

167

Anápolis-Brasília, BR-153 e GO-330, além do ramal ferroviário Goiás-Minas Gerais-Espírito

Santo e à estrada de ferro Carajás.

De fundamental importância para a industrialização do Estado, a Lei 7.700, de 19

de setembro de 1973, concedia incentivos fiscais e financeiros e infra-estruturais às indústrias

que se instalassem em Goiás. Numa época em que a questão ambiental ainda não tinha

entrado na pauta dos governos e organismos internacionais, Goiás lançava o seu programa de

atração de indústrias com o lema: “Traga sua poluição para Goiás”. Com a Lei também foi

criado o Conselho Superior de Prioridades para o Desenvolvimento Industrial – CONSUP.

Segundo Faria (2004), de toda a legislação que envolve a geração de mecanismos

institucionalizados para a vinculação de incentivos fiscais para o desenvolvimento do Estado

de Goiás, a Lei n° 7.700 pode ser considerada a precursora do Fundo de Participação e

Fomento à Industrialização do Estado - FOMENTAR, em 1984.

Para Oliveira (2011), a importância da referida Lei nº 7.700 se dá pela sua

amplitude e pelos benefícios combinados que autorizavam o aproveitamento de até 100% do

investimento fixo realizado como crédito de ICM para novas empresas, a partir da data de

início de suas atividades e por um período de até cinco anos, sem a possibilidade de

prorrogação do benefício.

A contrapartida do Estado, adicionada ao benefício do incentivo fiscal via ICM,

consistia na implantação da infraestrutura básica necessária ao funcionamento do

empreendimento, tais como: implantação de linhas de transmissão de energia elétrica, rede de

telefone, rede de água e esgoto e estradas de rodagem auxiliar. Os recursos provinham da

receita obtida com o Fundo de Expansão da Indústria e do Comércio – FEICOM, criado em

junho de 1971 através da Lei nº 7.531.

Ainda dentro da contrapartida do Estado, o governo assegurava a isenção para as

empresas integradas, na forma de crédito do ICM, de 50% a 80% do consumo com telefonia,

água e energia elétrica e 100% para juros e correção monetária incidente sobre empréstimos

contraídos para aquisição de bens de capital, o que na prática consistia em renúncia fiscal em

função dos elevados índices inflacionários do período.

Os municípios também participavam da concessão de benefícios às empresas que

se instalassem em suas jurisdições, com a isenção de tributos de sua competência como o

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano, o ISSQN – Imposto Sobre Serviços de Qualquer

Natureza, Taxas e Contribuições de Melhoria.

No âmbito do FEICOM, foram aprovados cerca de 90 projetos, distribuídos no

Estado da seguinte forma: Anápolis contemplada com 66 projetos, Goiânia com 12 e os outros

Page 170: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

168

12 restantes distribuídos pelos municípios que integram a região Centro-Sul do Estado. Dentre

os principais projetos aprovados destacam-se o de grandes indústrias que continuam em

atividade no Estado, conforme quadro abaixo.

QUADRO 1 – MAIORES PROJETOS APROVADOS – FEICOM - 1973-1980

Empresa Atividade Localização

Cecrisa (Cemina) Azulejos Anápolis

Laboratório Alex Star Farmacêutico Goiânia

Cooperativa Central de Produtores Rurais de MG – Itambé Laticínios Goiânia

Companhia de Produtos Alimentícios Cipa – Mabel Alimentos Aparecida de Goiânia

Companhia Goiana de Leite Donna Laticínios Goiânia

Moinho Goiás – Emegê Alimentos Goiânia

Fonte: Paschoal 2001, p. 34.

Em 1975 o governo de Goiás instituiu o Sistema de Incentivos à Industrialização de Goiás

– SIN, através da Lei nº 7.994 de 18 de novembro, regulamentada pelo Decreto nº 959, de 06 de julho

de 1976. Esta lei autorizava o Estado a participar do capital social das empresas industriais,

fomentando essas empresas, promovendo treinamento e qualificação de mão-de-obra para a indústria e

estabelecendo a obrigatoriedade de colocação, nas indústrias beneficiárias, de estagiários de nível

superior.

Paralelo aos incentivos fiscais concedidos pelo governo do Estado havia também os

programas de desenvolvimento regional e incentivos fiscais operados pelo governo federal, dos quais

Goiás foi beneficiado com sua implantação, destacando-se o Programa de Incentivo Fiscal para a

Amazônia Legal (1966); os Programas Integrados de Colonização (a partir de 1970); o Polocentro

(1975); o Proterra (1971); o Programa de Desenvolvimento da Região Geoeconômica de Brasília

(1979); o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados – Prodecer

(1985); e ainda outros como a criação da Região Geoeconômica de Brasília (1975), o Poloamazônia

(1974) e Polonordeste (1974), que complementaram as políticas de incentivos de caráter local.

A consolidação de Goiás, nos anos de 1980, como grande produtor agropecuário

aliado às políticas públicas estadual de incentivos fiscais, contribuiu para que grandes

conglomerados industriais se instalassem no Estado, o que provocou grande transformação na

estrutura produtiva, como informa Pires (2009):

Os anos 80 do século XX marcaram profundamente a estrutura industrial goiana devido à penetração de unidades de produção industrial que se instalaram no estado em decorrência dos instrumentos de incentivo fiscal desenvolvidos pelo governo estadual, do FCO, como também pela proximidade do mercado interno do Sudeste e a expansão da produção agrícola que favoreceu a oferta de matérias-primas em escala e preços módicos aos setores industriais. (PIRES, 2009)

Page 171: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

169

Mas antes mesmo da instalação de grandes complexos agroindustriais já existiam,

no Estado, plantas industriais que atendiam parte da demanda regional, como relatam Castro e

Fonseca (1995):

A instalação de empresas agroindustriais no Centro-Oeste não é um processo recente, especialmente em se tratando de operações de beneficiamento superficial de produtos como arroz, abate de animais, madeiras, fubá de milho, etc. O que é relativamente novo na região é a presença de empresas agroindustriais de grande porte que estendem as suas operações ao mercado de commodities, de um lado, e ao mercado interno, de outro, integrando em nível regional duas cadeias produtivas, grãos e carnes, com resultados extremamente dinâmicos na região. (CASTRO; FONSECA, 1995, p. 5).

Apesar do limitado dinamismo, as empresas regionais foram importantes para a

formação da base para a instalação da agroindústria regional, na medida em que mobilizaram

recursos produtivos e organizaram relativamente os mercados locais. Estas indústrias já

apresentavam sinais de integração, principalmente os setores de grãos e carnes.

A Lei Estadual de nº 9.489, de 19.07.1984, instituiu o “Programa Fomentar –

Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás”, que diferia o

pagamento de 70% do ICMS para todos os produtos agropecuários destinados à

industrialização em Goiás, com o objetivo de agregar valor à produção local. A Constituição

de 1988 criou o Fundo Constitucional do Centro-Oeste – FCO, que destina 0,6% da

arrecadação nacional de IPI e Imposto de Renda da pessoa jurídica, repassado mensalmente

ao Banco do Brasil – órgão gestor deste Fundo, para aplicação em programas de infraestrutura

básica e atividades produtivas dos setores rural e industrial.

A partir de 1.999 o FOMENTAR foi reformulado pelo novo governo e criado o

“Produzir – Programa de Desenvolvimento Industrial de Goiás e o Funproduzir – Fundo de

Atividades Industriais, através da Lei nº 13.591, de 18/01/2000. Também, foram criados

outros mecanismos de apoio ao setor produtivo, como o Banco do Povo, o Farol da Micro e

Pequena Empresa, o Fundo de Fomento à Mineração, Lei nº 13.530, de 17/01/2000, Fundo de

Aval e o GoiásFomento.

A participação do setor industrial na composição do PIB local em 1995 era de

20,43%, a do setor primário 13,87%, e a do setor de serviços 65,7%. Em 2011, a participação

do setor industrial no PIB subiu para 26,8%, o que representou um acréscimo de 31,18% em

relação aquele ano. Enquanto isso, o setor primário teve a sua participação reduzida para

12,5%, e o setor de serviços para 60,7%. Ressalta-se que no período analisado o setor

industrial foi o único que apresentou aumento de participação no PIB.

A adoção de políticas de incentivos à industrialização no estado de Goiás remonta

aos anos 50 e, desde então, jamais deixaram de existir. A participação de Goiás na chamada

Page 172: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

170

guerra fiscal, no período recente, será analisada através dos programas mais importantes de

apoio à industrialização já adotados, que são o FOMENTAR e o PRODUZIR.

4.2 – Análise do Programa FOMENTAR

Através da lei nº 9. 489, de 19 de julho de 1984, a Assembléia Legislativa do

Estado de Goiás criou o Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de

Goiás – FOMENTAR – tendo como fonte de recursos para sua constituição, além de dotações

e de créditos orçamentários específicos, 0,6% do valor integral de financiamento de projetos

aprovados pelo Conselho Deliberativo. De acordo com essa lei, esses recursos seriam

aplicados em projetos que favorecessem o desenvolvimento do Estado e dos Municípios (ver

a íntegra da Lei no Anexo 2 e a Estrutura Organizacional no Anexo 3).

O Programa FOMENTAR visava, principalmente, à atração de indústrias para o

estado de Goiás, além de incentivar, também, um movimento de desconcentração econômica

dentro do próprio estado.

Os objetivos do Programa FOMENTAR, especificados na lei, assentavam-se no

seguinte:

• Incremento das atividades industriais no Estado por meio de projetos de

implantação e de expansão de matrizes industriais, notadamente as do ramo da Agroindústria;

• No apoio técnico e financeiro das atividades ligadas aos setores de Micros,

Pequenas, Médias e de Grandes empresas, desde que consideradas de alta relevância para o

desenvolvimento sócio econômico do Estado de Goiás.

O enquadramento dos projetos de empreendimentos do Fomentar determinaria o

prazo e o valor de fruição dos benefícios, segundo uma tabela de critérios associada a pontos:

quanto maior o número de pontos obtidos pelo projeto, maior o valor e o prazo para gozo dos

benefícios. Os principais critérios eram:

1. integração do empreendimento à economia goiana;

2. localização da unidade industrial’;

3. mercado dos produtos fabricados pela empresa;

4. geração de empregos diretos para a mão-de-obra local e/ou regional;

5. verticalização do processo produtivo;

6. expansão do empreendimento;

7. pioneirismo e criatividade;

Page 173: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

171

8. contratação de estagiários;

9. participação acionárias das indústrias em empresas de economia mista do

estado.

O financiamento consistia no empréstimo de valor correspondente a 70% do ICMS

a ser gerado pela unidade industrial, por um período inicial de cinco anos, que depois foi

sendo dilatado para 10, 15, 20, 25 e até 30 anos, conforme a última alteração em dezembro de

1998, contados a partir do início da produção. Durante esse prazo a empresa iria desembolsar

apenas 30% do ICMS devido a cada mês, ficando os outros 70% internalizados sob a forma

de empréstimo na própria empresa, a título de capital de giro. Os empréstimos para

investimentos fixos tinham juros de 2,4% ao ano e sem correção monetária.

O pagamento do empréstimo seria feito pela empresa em tantas prestações

mensais, iguais e sucessivas quanto fossem as parcelas mensais de utilização do benefício,

apurando-se o valor das prestações através da divisão do saldo devedor pelo número de

parcelas de liberação do empréstimo, tendo início o pagamento no mês seguinte ao término do

período de fruição dos benefícios.

Havia três tipos de projetos: o de implantação, o de expansão e o de redução de

ociosidade. A garantia era dada por 10% do total do investimento fixo, que eram caucionados

em CDB, no agente financeiro, no caso o Banco do Estado de Goiás (BEG).

Num período de inflação acelerada, a não cobrança de correção monetária no

financiamento, na prática desvalorizava a dívida, transformando-se na prática em efetiva

renúncia fiscal. Segundo Paschoal (2001), ao longo de sua existência, o FOMENTAR sofreu

33 modificações, através de l5 leis e 18 decretos, dilatando prazos para retorno dos créditos

referentes aos 70% de ICMS de 5 para 30 anos, permitindo que empresas que utilizam de

mais de um benefício, fiquem até 120 anos sem recolher o crédito ao estado.

Diversas irregularidades foram constatadas durante a vigência do FOMENTAR, e

Paschoal (2001) destaca as mais evidentes: ausência de convênio que seria realizado no

Confaz, conforme prevê a LC 24/75; falta de conta específica, onde se mostre o percentual

arrecadado referente aos 70% de ICMS e também dos 30% restante; falta de registro contábil

durante um longo período de tempo; alterações feitas à margem da legislação, com

favorecimento de apenas alguns segmentos e renúncias fiscais, devido à inexistência de

correção monetária.

Outra questão importante é que os ativos do FOMENTAR, ou seja, a dívida das

empresas para com o Fundo, têm ido a leilões periódicos, onde são arrematados pelas próprias

empresas com deságio médio de 89%, limpando seus passivos a um preço irrisório, e

Page 174: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

172

normalmente, esta dívida está sendo paga com os 10% de caução que as empresas fizeram em

CDB para usufruir dos benefícios. Outra distorção grave, é que as Micros, Pequenas e Médias

empresas foram marginalizados, com o Programa priorizando as grandes empresas em

detrimento das pequenas.

Segundo a auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás, do

início das atividades do Programa até 31 de dezembro de 1994, houve forte contabilização a

menor das dívidas das empresas para com o Fundo.

Destaca-se que os investimentos concentraram-se nas maiores cidades,

notadamente, em Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Catalão e Rio Verde, não

atingindo o objetivo de desconcentrar o desenvolvimento econômico e que há elevado custo

dos empregos gerados. Apesar dos problemas verificados, o programa contribuiu de fato para

que um grande número de empreendimentos industriais aqui se instalasse.

Segundo dados da Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás, desde

implantação do Programa FOMENTAR, foram aprovados 1.565 projetos, sendo que destes,

364 foram efetivamente implementados. Até maio de 2012 já haviam encerrado a utilização

do benefício 224 projetos e 140 ainda estavam dentro do período de utilização.

4.3 – Análise do Programa PRODUZIR

O “Programa de Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás –

PRODUZIR ”, foi criado pela lei 13.591, de 18 de janeiro de 2000, sucedendo o antigo

“Programa de Fomento à Industrialização de Goiás”, o FOMENTAR. Têm como objetivo

incentivar a implantação, a expansão ou revitalização de indústrias, a modernização e

diversificação do setor industrial, estimulando a realização de investimentos, a renovação

tecnológica e o aumento da competitividade estadual, com ênfase na geração de emprego,

renda e redução das desigualdades sociais e regionais. É inegavelmente, o principal

instrumento utilizado pelo governo para atrair novos empreendimentos para o Estado e

acelerar seu processo de industrialização. (ver a íntegra da Lei no Anexo 2).

Outro objetivo era corrigir as falhas estruturais do programa anterior, entre elas, o

problema do passivo das empresas, em função da estabilidade econômica; litígio com as

Prefeituras, em função da falta de repasse da parcela incentivada; problemas de legalidade

frente ao Código Tributário Nacional; a inexistência de mecanismos que dessem tratamento

diferenciado às micro, pequenas e médias empresas industriais, o que foi feito na mesma lei

referida acima, que instituiu também o subprograma “Fundo de Atividades Industriais –

Page 175: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

173

Funproduzir ”, destinado a atender esse segmento. O programa tinha como foco as vantagens

comparativas da economia goiana, contribuir para a correção dos desequilíbrios regionais e

sociais, além de contar com amparo legal por ser um financiamento perfeitamente constituído

e com previsão no orçamento do Estado.

Com a edição da Lei n° 16.285, de 30 de junho de 2008, foi possibilitado às

empresas beneficiárias do Programa FOMENTAR migrar para o PRODUZIR, bem como as

mesmas poderiam reformular seus projetos dentro do FOMENTAR.

Há controvérsia com relação à legalidade desses programas de incentivos fiscais

adotados por todos os estados brasileiros. O Supremo Tribunal Federal já declarou a

inconstitucionalidade de várias normas estaduais, por terem sido aprovadas à revelia do

CONFAZ, e ainda tem ameaçado baixar uma súmula vinculante tornando todos esses

programas inconstitucionais.

As formas de assistência financeira concedida através do Produzir consistem em

empréstimos e financiamentos, participação acionária, prestação de garantia, dentre outras. Os

recursos são disponibilizados ao programa através do FUNDOPRODUZIR, tendo como

agente financeiro a Agência de Fomento do Estado de Goiás.

O PRODUZIR e o MICROPRODUZIR atuam sob a forma de financiamento de

parcela mensal de ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, até 73% ou

90%, respectivamente, devido pelas empresas beneficiárias. Isto significa que recolhem

normalmente, mês a mês, 27% e 10%, respectivamente, do ICMS devido. O beneficiado tem

carência de um ano e desconto no abatimento da dívida que pode chegar a 100%. Os juros

cobrados são de 0,2% ao mês, não capitalizáveis e sem correção monetária. Difere do

Fomentar por se tratar de empréstimo financeiro e não fiscal. Os prazos de fruição do

benefício variam de acordo com a análise dos coeficientes de prioridade do projeto,

calculados segundo critérios sociais e econômicos, especificados em regulamento, podendo

chegar até 15 anos (PRODUZIR) ou 5 anos (MICROPRODUZIR), com prazo limite o ano de

2020. Recentemente, em 2014, atendendo a uma demanda do setor empresarial, que alegava

insegurança de investir por causa da proximidade do final dos incentivos, o governo do

Estado prorrogou o prazo de fruição até o ano de 2040.

As empresas beneficiárias dos incentivos do PRODUZIR/FUNPRODUZIR, no ato

de liberação de cada parcela mensal do benefício, anteciparão parte do pagamento do valor

financiado em percentual correspondente a, no mínimo, 10% (dez por cento) do valor da

parcela liberada. No caso do MICROPRODUZIR, na liberação da parcela mensal do

benefício, a empresa deverá antecipar 5% do valor da parcela liberada.

Page 176: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

174

As empresas beneficiadas estão sujeitas a subvenções na forma de descontos que

vão de 30% a 100% sobre o saldo devedor. Esses descontos são efetuados no momento da

quitação do financiamento, ou então para reduzir o valor do saldo devedor do financiamento,

por meio de liquidação em oferta pública a ser realizada nos meses de junho e novembro de

cada ano, bastando para tanto a solicitação de qualquer beneficiário. Os critérios para

definição dos descontos baseiam-se em um conjunto de elementos, além da adimplência com

obrigações tributárias estaduais e com o fundo, que assegura 30% de desconto sobre o saldo

devedor. Não é preciso grande esforço para se chegar aos 100% de desconto, o que na prática

torna este tipo de financiamento em renúncia fiscal disfarçada, semelhante aos leilões do

Programa FOMENTAR, que o antecedeu. O quadro abaixo detalha esses critérios.

QUADRO 2: Critérios para descontos sobre o saldo de vedor no Programa PRODUZIR – Goiás.

I Adinplência com obrigações tributárias estaduais e com o FUNDOPRODUZIR (30%)

II Localização em município da região Nordeste ou em áreas prioritárias definidas pelo Plano Estratégico do Governo (70% de desconto)

III

Indústria de ponta e de química fina, as dos setores: têxtil de algodão, de óleos vegetais, lácteo, coureiro e calçadista, a produtora de bens de capital, de produto farrmacêutico, farmoquímico ou veterinário, geradora de energia elétrica e a industrializadora de lavra mineral (50% de desconto).

IV

I) empresa que gere 500 ou mais empregos diretos, ramo de atividade faltante nas cadeias produtivas do Estado elencadas pelo CD/PRODUZIR, empresa industrializadora de resíduo ou empresa de reciclagem, empresa incubadora de indústria, empresa que promova a substituição de importação no mercado goiano, empresa que está entre as 5 primeiras instaladas em área de Distrito Industrial implantado pelo Estado, empresa que tenha a importação de matéria-prima ou a exportação de produto industrializado como operação predominante e que esta seja feita por meio de estação aduaneira interior, instalada no Estado de Goiás (30% de desconto).

V

I) empresa que gere 205 empregos ou mais, promova substituição de importações, por meio de fabricação de produtos sem similar no mercado goiano, empresa instalada em área de Distrito Industrial implantado pelo estado ou município, empresa que aplique mensalmente mais de R$1.500,00 em programa de qualificação de fornecedor, empresa que ofereça, mensalmente, curso profissionalizante para, no mínimo, 2 funcionários, empresa que realize mais de 80% do valor projetado para obra civil, instalação e montagem com empresa goiana com data de registro na JUCEG anterior a 12 meses da data de aprovação, empresa que possua certificação das séries ISSO 9000/14000, empresa que possua certificação de ecologicamente correta ou de promoção do desenvolvimento sustentável (20% de desconto).

VI

I) empresa que gere 100 ou mais empregos diretos, que promova reflorestamento, aplique, mensalmente, mais de R$ 1.000,00 em programa de qualificação de fornecedor; possua programa de controle de qualidade devidamente comprovado; desenvolva projeto de interesse do meio ambiente, realize mais de 50%, individual ou em conjunto, do valor projetado para obra civil, instalação e montagem com empresa goiana com data de registro na JUCEG anterior a 12 meses da data de aprovação do projeto (15% de desconto).

VII I) empresa que gere 50 ou mais empregos diretos (5% de desconto).

VIII

I) empresa que mantenha creche para filhos de funcionários; empresa que, a partir da aprovação do projeto, ofereça mais de 10% do total de suas vagas para deficiente físico; empresa que, a partir da aprovação do projeto, ofereça mais de 10% do total de suas vagas para o primeiro emprego; empresa que, a partir da aprovação do projeto ofereça mais de 10% de suas vagas para pessoa com mais de 50 anos; empresa que, a partir da aprovação do projeto, mantenha mais de 10% do total de seu quadro de funcionários formado por estagiário; empresa que mantenha programa de combate à criminalidade, nos termos definidos pela Secretaria da Segurança

Page 177: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

175

Pública e Justiça; empresa que apóie o Condomínio Solidariedade; aplique adicionalmente, por mês, mais de R$ 750,00 no programa bolsa universitária; terceirize mão-de-obra de, no mínimo, 30 reeducandos da Agência Goiana do Sistema Prisional (10% de desconto).

IX

I) empresa que, a partir da aprovação do projeto, ofereça mais de 5% do total de suas vagas para deficiente físico; empresa que, a partir da aprovação do projeto, ofereça mais de 5% do total de suas vagas para o primeiro emprego; empresa que, a partir da aprovação do projeto, ofereça mais de 5% de suas vagas para pessoa com mais de 50 anos; empresa que, a partir da aprovação do projeto, mantenha mais de 5% do total de seu quadro de funcionário formado por estagiário; empresa que ofereça gratuitamente programa de educação a seu funcionário; empresa que mantenha no mínimo 2% de suas vagas de trabalho formada por adolescente capacitado ou profissionalizado pela Organização das Voluntárias de Goiás; empresa que aplique adicionalmente R$ 500,00 no programa bolsa universitária; empresa que empregue, no mínimo, 5 egressos da Agência Goiana do Sistema Prisional; empresa que terceirize mão-de-obra de, no mínimo, 15 reeducandos da Agência Goiana do Sistema Prisional (5% de desconto).

X

I) empresa que aplique, mensalmente, mais de R$ 750,00 em projeto público relativo à ciência e tecnologia, meio ambiente e pesquisa ou à TECNÓPOLIS/FUNTEC; empresa que contribua, por meio de impressão gráfica visível em sua embalagem ou rótulo, para a divulgação do PODUZIR; empresa que patrocine projeto referente à tese de pós-graduação, estudo e pesquisa relativa ao desenvolvimento do Estado de Goiás (10% de desconto).

XI I) empresa que aplique, mensalmente, mais de R$ 500,00 em projeto público relativo à ciência e tecnologia, meio ambiente ou à TECNÓPOLIS/FUNTEC (5% de desconto).

Fonte: Dec. nº 5.265/2000, Dec. nº 5.567/2002 e Dec. 5.413/2001, apud CARDOZO: 2010 p. 252.

O Programa PRODUZIR possui os seguintes subprogramas (mais detalhes ver no

Anexo 4):

MicroProduzir – para incentivar a implantação ou expansão de micro e pequenas empresas;

CentroProduzir – para incentivar, por meio de apoio financeiro, a instalação no Estado de

|Goiás, de central única de distribuição de produtos informática, telecomunicações, móvel,

eletrônico, e utilidades domésticas em geral;

TeleProduzir – para prestação de assistência financeira destinada ao financiamento de parcela

do custo de investimento realizado, à empresa de telecomunicação que instalar unidade

central de atendimento (Call Center) no Estado de Goiás;

ComexProduzir – para apoiar operações de comércio exterior no Estado de Goiás realizada

por empresa comercial importadora, inclusive “trading company”, que operem

exclusivamente ou preponderantemente com essas operações;

TecnoProduzir – para prestação de incentivo financeiro destinado a motivar investimentos

privados para a construção da torre central do “Teleponto Parque Serrinha”;

LogProduzir – para incentivar a instalação e expansão de empresas operadoras de logística de

distribuição de produtos no Estado de Goiás.

Page 178: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

176

Progredir – para incentivar à instalação de empresas industriais montadoras/fabricantes de

diversos produtos no Estado de Goiás, tais como: produtos de informática, telecomunicações

e automação, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, equipamentos e material de laboratório e

etc..

Para analisar a evolução, a distribuição, a participação e as relações dos incentivos

do Programa com a geração de emprego apresentam-se as tabelas que se seguem, que

mostram os valores dos recursos a preços de 2010, aprovados ou em fruição, pelas

Microrregiões do IBGE, bem como para a Metade Norte e Metade Sul do Estado de Goiás. O

critério para determinar se um município pertence à Metade Norte ou Sul foi o paralelo de

16º. Se a sede do município estiver acima do paralelo 16° pertence à Metade Norte, caso

contrário pertencerá à Metade Sul.

Nos primeiros três anos apenas municípios da Metade Sul usufruíram dos

benefícios sendo que, dos 100%, as Microrregiões de Anápolis e Goiânia monopolizaram o

recebimento dos incentivos (81% do Investimento Fixo e 60% dos empregos). A partir de

2003 o desnível na captação de benefícios do Produzir ainda continuou substancial, em média

a Metade Sul absorveu 77% do Investimento Fixo contra 23% para a Metade Norte, sendo

que nesta geraria 18% do total dos empregos previstos e na sul 82%.

Também a partir de 2003 os benefícios pulverizaram-se pelas Microrregiões do

Estado, contudo, das 18 Microrregiões 6 foram as que mais usufruíram do Programa Produzir

(Anápolis, Goiânia, Entorno de Brasília, Meia Ponte, Sudoeste e Vale do Rio dos Bois).

Como estas são as que detêm maior força econômica no Estado, melhor infraestrutura

econômica e social e mão de obra mais qualificada, mais empresas buscam incentivos para

seu fortalecimento produtivo e é natural a maior absorção de tais benefícios por tais

localidades.

Outra constatação é que, além de ter menor participação na busca dos recursos do

Produzir, a Metade Norte tem uma relação Investimento Fixo e Empregos maior (R$ 375.506)

que a sul (R$ 223.374). Um dos motivos para isso é que a Metade Norte tem muitos

empreendimentos na área de extração mineral que tem demanda por investimentos mais

vultosos e é bastante mecanizado o que, por óbvio, não gera empregos diretos como outras

atividades econômicas. Nessa direção e comparando-se com a relação para o Estado como um

todo (R$ 248.971 entre 2000 e setembro de 2011) percebe-se que nas microrregiões onde a

média é maior que a do Estado ocorre, normalmente, investimentos ligados à atividade de

extração de minérios, como na de Catalão, Porangatu e São Miguel do Araguaia, bem como

na Chapada dos Veadeiros e Vão do Paranã, estas na região do nordeste goiano que acusam

Page 179: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

177

índices menores de desenvolvimento e crescimento no Estado. Portanto, localidades menos

desenvolvidas ou ligadas a investimentos na área de minérios detêm as maiores relações

Investimento Fixo e Empregos.

Tabela 3 - Recursos Aprovados, Número de Empregos a ser Gerado e Custo do Emprego no Produzir nas Microregiões e Metade Norte/Sul de Goiás - 2001 a Maio de 2012

Fonte: Secretaria da Indústria e Comércio do Estado de Goiás e Instituto Mauro Borges - IMB. Elaboração do autor. Nota: Preços de 2010.

As microrregiões que detêm as menores relações Investimento Fixo e Empregos

são, na ordem, as de Anápolis (R$ 142.268), Goiânia (R$ 159.960), Anicuns (R$ 184.637) e

Entorno de Brasília (R$ 186.618). Observam-se valores com certa distância da média estadual

(R$ 248.971).

Assim, nota-se que algumas microrregiões não conseguem captar recursos do

Programa ou se conseguem a aprovação desses recursos, principalmente as da Metade Norte,

a fruição não ocorre na mesma proporção. As microrregiões que menos aprovam ou usufruem

de recursos do FOMENTAR/PRODUZIR são, principalmente, a de Aragarças, Chapada dos

Veadeiros, Iporá, Porangatu, Rio Vermelho, São Miguel do Araguaia, Vale do Rio dos bois e

Vão do Paranã. Contribuem para tal situação a falta de infraestrutura econômica e social e a

aglomeração de pessoas, dois requisitos essenciais para o investimento produtivo se tornar

atrativo.

4.4 - Projetos aprovados e efetivamente em fruição

Page 180: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

178

O programa FOMENTAR, no período compreendido entre 1985 a 2003, aprovou

1.565 projetos, sendo 899 de novas empresas (implantação) e 666 projetos de expansão,

reformulação ou redução de ociosidade. Destes, apenas 364 foram efetivamente

implementados, ou seja, 23,3% do total. Até maio de 2012 já haviam encerrado a utilização

do benefício 224 projetos e 140 ainda estavam dentro do período de utilização. Os benefícios

concedidos a esses projetos que ainda estavam em fruição atingiam o montante de R$

25.178.793.684,01 a preços de dezembro de 2011, atualizados pelo INPC.

Tabela 4 - Projetos aprovados e efetivamente em fruição pelo Fomentar – 1985 a maio de 2012.

Projetos

Projetos Aprovados Em utilização Encerrados Total

1.565 140 224 364

Fonte: Secretaria de Indústria e Comércio - Programa Fomentar/Produzir (2012). Elaboração do autor

Com relação às atividades, o setor de alimentos se destacou com 33% do total dos

projetos, vindo em seguida os segmentos de embalagens e confecções com 7% cada um;

metalurgia com 6%; móveis e bebidas, com 5% cada um; e farmacêutica com 3% dos

projetos.

Posteriormente, no ano de 2000, Goiás tornou-se mais agressivo na atração de

empreendimentos industriais com a criação do Programa de Desenvolvimento Industrial de

Goiás (PRODUZIR). Para Castro (2007), o novo programa de incentivo à industrialização

apresentou dois importantes avanços: O primeiro é o de incorporar um conjunto de

mecanismos de seletividade setorial e regional ao programa de incentivos, com foco no

estimulo à verticalização e agregação de valor à produção primária de Goiás, segundo, na

redução das desigualdades regionais no âmbito do próprio Estado.

Com a implementação do PRODUZIR, outras grandes empresas se instalaram em

Goiás. Entre os anos 2001 e maio de 2012, foram contratados 650 projetos de concessão de

benefícios fiscais para implantação ou expansão de empreendimentos industriais, dos quais

289 estão em fruição. Esses projetos somaram R$ 11,7 e R$ 72,5 bilhões em investimentos

previstos e incentivos concedidos, respectivamente.

Segundo Castro et al (2009), os dois programas de incentivos fiscais

implementados em Goiás estiveram orientados para o desenvolvimento de três grandes grupos

de segmentos industriais: 1) processamento de matérias-primas naturais e indústrias

acessórias, como embalagens, adubos e rações; 2) química, farmacêutica e automobilística,

Page 181: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

179

com a tentativa de diversificação da economia; 3) setores tradicionais como de confecções,

calçados e móveis, com o objetivo de promover o adensamento de suas cadeias produtivas.

A partir de 1999, além dos incentivos do PRODUZIR, Goiás também promoveu

um intenso processo de redução de alíquotas de ICMS e a criação de uma ampla gama de

benefícios fiscais pontuais para ampliar a competitividade, principalmente dos segmentos

industriais citados no parágrafo anterior.

4.5 - A efetividade do programa Produzir

O PRODUZIR entrou em operação em janeiro de 2001. No período de 2001 até

maio de 2012, 1.399 projetos foram aprovados junto ao conselho do Programa, sendo que

destes, 650 foram efetivamente contratados, contemplando 81 municípios em 17 das 18

Microrregiões do Estado. A representatividade de cada microrregião em cada variável

considerada está representada abaixo. (Tabela 5).

Tabela 5 - Projetos Contratados do Produzir por Microrregiões - 2001 a Maio 2012

Fonte: Secretaria da Indústria e Comércio do Estado de Goiás - SIC e Instituto Mauro Borges - IMB. Elaboração do autor. Nota: Preços atualizados em maio de 2012.

A Microrregião de Goiânia foi a que recebeu o maior número de projetos e gerou o

maior número de empregos diretos, 20,1% do total, mas as microrregiões do Sudoeste

Goiano, Quirinópolis e Anápolis receberam os maiores investimentos, 23,3%, 15,7% e 12,8%

do total, respectivamente. Esses investimentos estão intimamente ligados ao setor

sucroalcooleiro para as duas primeiras microrregiões e automotivo, farmacêutico e de bebidas

para a última. A Microrregião de Goiânia se destaca nos setores alimentício, embalagens,

Page 182: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

180

laticínios e higiene. As microrregiões de Sudoeste Goiano, Quirinópolis, Anápolis, Meia

Ponte, Vale do Rio dos Bois, Catalão e Goiânia absorveram 84,9% de todo o investimento

previsto para o Estado de Goiás.

Por outro lado as microrregiões de Anicuns, São Miguel do Araguaia, Iporá e Rio

Vermelho receberam os menores investimentos e benefícios concedidos. A Microrregião do

Vão do Paranã no Nordeste Goiano não captou nenhum recurso e não usufrui de tais

incentivos, é a região mais pobre do estado, com infraestrutura precária e os piores

indicadores sociais. Isto mostra o limite dessas políticas de incentivos como forma de

alavancar o desenvolvimento regional. Mesmo tendo tratamento diferenciado dentro do

programa e maiores benefícios para se instalar naquela região, nenhuma empresa se habilitou

para instalar algum empreendimento por lá.

Tabela 6 - Projetos Contratados do Produzir por Segmento Econômico - Representatividade do Investimento, Emprego e Benefício - 2001 a Maio 2012

Fonte: Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás e Instituto Mauro Borges - IMB. Nota: Preços atualizados em maio de 2012 Elaboração do autor.

Analisando-se a representatividade dos investimentos por segmento econômico

(Tabela 6), destaca-se o montante previsto para o setor sucroalcooleiro e o de biocombustível

que alcança 59,3% do total, ultrapassando setores tradicionais como o alimentício (6,6%),

bebidas (8,8%). O setor automobilístico prevê investimentos na ordem de 8,8%. Assim, a

cesta de investimentos fortalece setores ligados ao agronegócio bem como atrai indústrias

consideradas de ponta e de alta tecnologia como a de automóveis, fármacos e de siderurgia.

Page 183: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

181

Os investimentos ligados à atividade Sucroalcooleira e Biocombustíveis (59,3%)

somados à atividade automotiva e alimentícia absorvem 74,7% dos investimentos totais.

Atualmente, 289 empresas estão utilizando o Programa PRODUZIR,

contemplando 80 municípios em 17 microrregiões. Destas, 43,6% estão localizadas na

Microrregião de Goiânia, que também ocupa o 1º lugar dos benefícios utilizados (22,8%),

bem como do ICMS arrecadado (25,44%). Juntas, as microrregiões de Goiânia, Anápolis,

Entorno do DF, Sudoeste de Goiás e Catalão respondem, aproximadamente, por 78,6% do

ICMS recolhido (Tabela 7), demonstrando forte concentração industrial. Com a implantação

de todos os projetos contratados, as microrregiões do Sudoeste de Goiás, Quirinópolis, Meia

Ponte e Vale do Rio dos Bois passarão a ter forte representatividade na geração de empregos

diretos, investimentos e ICMS. Por outro lado, algumas microrregiões, como a de São Miguel

do Araguaia, Vão do Paraná, Rio Vermelho, Chapada dos Veadeiros, Iporá, Aragarças e

Anicuns, apesar do programa Produzir ter como meta a redução das desigualdades regionais,

por questões demográficas, climáticas, logísticas etc., ainda não conseguiram captar os

recursos que pudessem tirá-las da condição de regiões menos desenvolvidas do estado. Com

isso, a concentração espacial avança, e a desigualdade entre as regiões tende a aumentar.

Tabela 7 - Projetos em Fruição no Programa PRODUZIR por Microrregiões e Representatividade do ICMS arrecadado - 2001 a 2011

Fonte: Secretaria da Indústria e Comércio do Estado de Goiás e Instituto Mauro Borges. Elaboração do autor. Obs.: Há uma empresa usufruindo do Produzir no Vão do Paraná, mas não consta das contratações. Depois da contratação do benefício, a empresa solicitou mudança para outro município/microrregião.

Com relação aos empregos gerados pelos projetos em fruição do PRODUZIR,

fazendo-se a sua relação com o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

(CAGED), que foi de 427.840 postos de trabalho, chega-se a uma média anual de 10,20%

entre 2001 e 2011. Isto significa que o programa responde por 10,20% daquele montante, no

fomento à geração de emprego. Ressalta-se que nos projetos contratados, previa-se a geração

Page 184: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

182

176.622 empregos. Entretanto, a quantidade efetivamente gerada ficou em apenas 24,72% do

previsto.

Adotando-se as informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),

tem-se um acréscimo no estoque de emprego formal de 654.622. A representatividade média

anual é de 6,67% daquele montante entre 2001 e 2010. Assim, tanto na comparação com o

CAGED quanto com a RAIS, o impacto na geração de emprego é constatado, embora numa

quantidade inferior à prevista nos contratos. Isso pode ser explicado pelo fato de as empresas

superdimensionarem a quantidade de empregos a serem gerados, tendo em vista que isto

conta pontos na hora da aprovação dos projetos e amplia os benefícios concedidos. No

entanto, o que se vê na prática, tanto no FOMENTAR, quanto no PRODUZIR, é que a

quantidade de empregos gerados ficou muito aquém do que foi contratado.

Os resultados da produção industrial podem ser avaliados através dos números do

Valor Adicionado (VA) e do Faturamento do setor. Segundo dados do Instituto Mauro

Borges, em 1995, primeiro ano com dados disponíveis para o setor, o VA das indústrias de

transformação e extrativa mineral somavam R$ 1,59 bilhão, saltando para R$ 12,51 bilhões

no ano de 2009, com acréscimo nominal de 687% e real de 142,6%.

Gráfico 1: Valor Adicionado da Indústria de Transformação e Extrativa Mineral do Estado de Goiás – 1995 – 2009 (R$ Bilhões)

1,591,86

2,16 2,192,53

3,03 3,25

4,264,91

5,89

6,60

7,68

8,80

9,79

12,51 12,70

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Valor Adicionado

Fonte: Instituto Mauro Borges – IMB. Elaboração do autor.

Os dados disponíveis de faturamento, a partir de 1999, também mostram o bom

desempenho do setor industrial. Segundo dados da Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás,

em 1999, as vendas da indústria somavam-se R$ 10,8 bilhões, saltando para R$ 74 bilhões no

Page 185: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

183

ano de 2010, com acréscimo nominal de 592% e real de 101,2% no período.

Gráfico 2: Faturamento do Setor Industrial do Estado de Goiás – 1999-2010 (R$ Bilhões)

10,713,6

16,720,1

24,7

33,8 35,4 37,2

47,2

64,6 64,0

74,0

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Faturamento

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás - SEFAZ-GO. Elaboração do autor.

Em conseqüência, houve ganhos de participação do setor industrial na geração de

riquezas totais do Estado, devido ao aumento significativo do Valor Adicionado (VA), que é

diferença entre o Valor Bruto da Produção (VBP) e o Consumo Intermediário (CI), e do

Faturamento. A indústria de transformação e extrativa mineral, no seu conjunto, participava

com 12% do PIB estadual em 1995. Em 2009, essa participação eleva-se para 16,6%,

resultando num acréscimo de 38,33%.

O aumento da participação do setor no PIB e do faturamento está relacionado com

a instalação de empreendimentos voltados para o processamento de produtos do setor

agropecuário e a extração e transformação mineral. Nos últimos anos, novos setores, mais

dinâmicos, também têm contribuído para aumentar essa participação, a exemplo da indústria

automobilística, química, farmacêutica e outras atividades ligadas ao setor metal-mecânico,

atraídas pelos programas de incentivos fiscais implementados pelo Estado de Goiás.

4.6 – Análise das Principais Variáveis de Estudo

Nas seções anteriores analisamos os Programas de incentivos fiscais FOMENTAR

e PRODUZIR, adotados em Goiás. Neste item, através da análise das principais variáveis

selecionadas, como Produto, Emprego e Renda, Balança Comercial, Arrecadação e

Page 186: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

184

Indicadores Sociais, verificaremos o comportamento delas no período e se os incentivos

concedidos contribuíram para esse desempenho.

4.6.1 - Produto

O ano de 2011 foi marcado pela desaceleração da economia nacional, resultado da

fragilidade financeira das maiores economias mundiais, devido à crise iniciada em 2008 nos

EUA e que rapidamente se espalhou por outras economias. Decisões tomadas no âmbito

interno pelo governo federal para conter a inflação tiveram impacto nessa freada do

crescimento. Com isso, a economia goiana também foi afetada, embora com menor

intensidade, graças a sua dinâmica produtiva diferenciada voltada em grande parte para o

consumo interno.

A economia brasileira teve uma expansão moderada de 2,7% em 2011, após um

crescimento robusto de 7,5% no ano de 2010. O crescimento de 2011 ocorreu em um

ambiente de retração da demanda externa, e a expansão econômica foi sustentada basicamente

pela demanda doméstica, resultado do dinamismo do consumo das famílias, condições

favoráveis do mercado de trabalho e da manutenção dos programas governamentais de

distribuição de renda.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de Goiás em 2011, que representa o

somatório de todos os bens e serviços finais produzidos no Estado, ao longo do ano,

apresentou acréscimo de 6,7%, em termos reais, em valores correntes atingiu R$ 111,269

bilhões, e representou 2,7% do PIB brasileiro, mantendo a 9ª posição no ranking nacional

desde 2002. O desempenho da economia goiana, superior à média nacional, deve-se ao

aumento de preços nas principais commodities no mercado internacional, ao aquecimento da

demanda interna, reflexo do avanço na renda.

No âmbito regional, Goiás ocupa a 2ª posição no ranking e é responsável por

28,1% da produção gerada no Centro-Oeste, que atingiu o valor de R$ 396,4 bilhões em 2011,

representando 9,6% do PIB nacional. Fica atrás apenas do Distrito Federal, cuja participação

no PIB do Centro-Oeste é de 41,5%, e 7º no ranking nacional.

No período 1995 – 2011, o PIB goiano cresceu 99,25% em termos reais, superior

ao da região Centro-Oeste, que cresceu 94%, e também ao do Brasil, que cresceu apenas

61,75% (Tabela 8). Isso mostra que a economia de Goiás e da Região Centro-Oeste

apresentou um dinamismo maior em relação ao país. No âmbito regional, o crescimento do

PIB de Goiás só ficou atrás de Mato Grosso.

Page 187: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

185

Gráfico 3 - Goiás e Brasil: taxa de crescimento do Produto Interno Bruto - 1995-2011

Fonte: IBGE. Instituto Mauro Borges - IMB . Elaboração do autor.

Tabela 8: BRASIL, GOIÁS E CENTRO-OESTE - Produto Interno Bruto (PIB) 1995 - 2011

No período considerado, Goiás foi o Estado que adotou políticas mais ativas no

sentido de atração de indústrias para promover o seu desenvolvimento, principalmente, com a

criação do FOMENTAR, em 1984 e, depois, do PRODUZIR, em 2000. Entretanto, sabemos

que o dinamismo da economia local não depende apenas da concessão farta de incentivos

fiscais, mas, também, da existência de uma infraestrutura básica adequada, como boas

estradas, energia elétrica suficiente, nível de instrução elevado, mão de obra qualificada,

Page 188: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

186

localização estratégica, abundância de matérias-primas, tamanho do mercado consumidor e

nível de renda da população. A combinação de incentivos fiscais, de um lado, e infraestrutura

razoável do outro, tem contribuído para esse desempenho econômico acima da média

nacional.

A participação do PIB goiano no PIB nacional, no período 1995-2011, passou de

2,05% para 2,69%, com crescimento de 31,22%. A região Centro-Oeste, no mesmo período,

ampliou sua participação no PIB nacional de 8,41% para 9,57%, com crescimento de 13,79%.

Gráfico 4: Participação de Goiás e do Centro-Oeste no PIB do Brasil (%) 1995 - 2011

Fonte: IBGE. Instituto Mauro Borges. Elaboração do autor.

Em 1995 o PIB de Goiás era de R$ 14,46 bilhões e apresentava a seguinte

composição setorial: a Agropecuária participava com 13,87%, a Indústria com 20,43% e os

Serviços com 65,70%. No ano de 2011, com PIB de R$ 111,26 bilhões, observa-se que a

participação da Agropecuária caiu para 12,5% do PIB, a dos Serviços reduziu-se para 60,7%,

enquanto a Indústria elevou sua participação para 26,8% (Tabela 2). No período 1995-2011 a

Agropecuária perdeu importância relativa, reduzindo sua participação no PIB total em

10,96%. No setor de Serviços a redução foi menor, de 8,24%. A Participação da Indústria no

PIB teve um acréscimo de 31,18%. Ressalta-se que foi o único setor a aumentar a sua

participação.

A indústria, que em 1995 participava com 20,43% do PIB local, elevou essa

participação para 26,8% em 2011. A indústria de transformação aumentou sua participação no

PIB industrial de 11,19% em 1995, para 13,8% em 2011. A indústria extrativa mineral

aumentou de 1,14% em 1995, para 1,8% em 2011, o setor de eletricidade, gás e água elevou

de 3,14% para 3,7%, e o da construção civil aumentou sua participação de 4,95% para 7,5%.

Page 189: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

187

A participação média da indústria de transformação no período foi de 12,51%. De 1995 a

2002, essa participação ficou estagnada em torno de 11%. A partir de 2003 a participação

voltou a crescer e atingiu o ápice em 2009, com 15,28%. Em 2010 e 2011, voltou a cair,

evidenciando uma perda de dinamismo, reflexo da desaceleração da economia brasileira e

global, devido à crise global iniciada em 2008.

Tabela 9: ESTADO DE GOIÁS - Participação da Indústria no PIB – 1995 - 2011

Ano

Participação da Indústria no PIB por Atividade (%)

Total Indústria Extrativa Mineral

Indústria de Transformação

Eletricidade, Gás e Água

Construção Civil

1995 20,43 1,14 11,19 3,14 4,95 1996 19,83 1,13 10,64 3,16 4,91 1997 20,67 1,17 11,04 2,86 5,59 1998 20,61 0,94 10,60 3,35 5,72 1999 21,87 1,51 11,41 3,86 5,09 2000 24,02 1,66 11,46 4,07 6,84 2001 24,38 1,18 11,25 5,29 6,66 2002 23,90 1,01 11,86 5,08 5,96 2003 23,24 0,88 12,19 5,51 4,67 2004 24,98 1,03 12,30 6,15 5,50 2005 25,97 0,82 13,92 5,34 5,88 2006 26,49 0,72 14,54 5,14 6,10 2007 26,97 1,73 13,57 5,29 6,38 2008 26,21 1,07 13,80 5,21 6,13 2009 27,01 1,28 15,28 4,07 6,39 2010 26,6 1,1 13,9 4,4 7,3 2011 26,8 1,8 13,8 3,7 7,5

Fonte: IBGE. Elaborada pelo autor.

Os dados acima revelam os limites dessa política de concessão de incentivos, pois,

mesmo tendo sido a indústria de transformação a maior beneficiária da política generosa de

incentivos fiscais implantada em Goiás a partir de 1985 com o FOMENTAR e posteriormente

com o PRODUZIR, ela não consegue manter um crescimento sustentado e mais robusto da

participação no setor, o que coloca em dúvida a eficácia desses programas no sentido de

promover mudanças estruturais na composição do PIB em favor da indústria. Convém

ressaltar que a construção civil apresentou crescimento muito mais expressivo no período,

sem, no entanto, figurar no rol das atividades incentivadas ou fomentadas por essa política

pública.

A participação de Goiás no Valor da Transformação Industrial do país passou de 0,7%,

em 1985, antes dos programas FOMENTAR e PRODUZIR, para 1,1% em 1996, e em 2011,

atingiu 2,3% do VTI nacional (Tabela 10).

Page 190: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

188

O aumento da participação de Goiás deu-se, principalmente, devido à forte

expansão da agroindústria, com destaque para o setor de alimentos e bebidas, que segundo

dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA/IBGE), representava 3% do VTI nacional, passando

para 6,1%, em 2006. Grandes indústrias do setor de alimentos como a Perdigão, Unilever,

Ceval, Parmalat, Cipa/Mabel e outras, instalaram-se no Estado, atraídas pela proximidade da

matéria prima, incentivos fiscais generosos e infra-estrutura adequada de transporte,

armazenamento e energia elétrica.

Tabela 10- Participações Estaduais no Valor da Transformação Industrial Nacional (VTI), estados selecionados, 1985 - 2011

Fonte: para 1985, Censo Industrial, IBGE, apresentado em Cano (2008, p. 102); para o período 1996-2011, PIAs/IBGE. Elaboração do Autor

Conceitualmente, o PIB per capita corresponde à divisão do PIB pela população

residente. No ano de 2011, o Estado de Goiás registrou PIB per capita de R$ 18.298,59. Em

1995, segundo o IBGE, era de R$ 3.183,66. O crescimento no período foi de 474,77%, em

termos nominais, e de 87,36%, em termos reais. O PIB per capita de Goiás em 2011 foi

inferior ao do Brasil, com R$21.535,65, e ao dos demais entes federativos do Centro-Oeste,

Distrito Federal com R$63.020,02, Mato-Grosso do Sul com R$19.875,45 e do Mato-Grosso

com R$ 23.218,24.

O PIB per capita goiano continua aumentando sua taxa de participação em relação

ao PIB per capita nacional. Em 2011 o PIB per capita correspondeu a 85% do PIB per capita

nacional. Em 1995 correspondia a apenas 71,74%. Apesar de a economia goiana ter crescido

acima da média nacional no período, este indicador continua abaixo da média nacional. No

ranking nacional Goiás ocupa a 11ª posição no PIB per capita e a região Centro-Oeste a 2ª,

perdendo apenas para a região Sudeste.

Page 191: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

189

No mesmo período, a taxa média de crescimento anual do PIB foi de 4,4%,

enquanto a taxa média geométrica de crescimento anual da população, no período de 1996-

2000, foi de 2,60%, e de 2000 a 2010, de 1,84%, portanto, inferior à do PIB. Em 1995 a

população de Goiás era de 4.514.967 de habitantes. Em 2011 ela chegou a 6.080.588,

crescimento de 34,68% no período. Goiás é o 12º estado mais populoso do Brasil e, além

disso, tem recebido um migratório interno intenso, devido às oportunidades de trabalho nas

suas regiões mais dinâmicas. Isto pode ter contribuído para que este indicador ficasse abaixo

da média nacional. Destacamos também a elevada concentração de renda em Goiás e o

pagamento de salários inferiores aos que são pagos aos trabalhadores das regiões mais

desenvolvidas do país, do Sudeste e Sul.

Tabela 11: BRASIL, GOIÁS E CENTRO-OESTE - Produto Interno Bruto a Preços de mercado per capita – 1995- 2011

Fonte: IBGE. Instituto Mauro Borges. Elaboração do autor.

Goiás, em 1996, tinha 11.954 estabelecimentos industriais. Em 2011, esse número

foi reduzido para 10.514, uma queda decrescimento de 13,70% (Tabela 6). No entanto o que

chama a atenção é a elevada taxa de mortalidade de empresas no Estado, que aumentou

668,5%%, passando de 5,4% em 1995, para 41,5% em 2011 (Tabela 7). As causas dessa

elevação, principalmente a partir de 1999, ainda necessita de um estudo mais aprofundado,

Page 192: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

190

não podendo ser creditado apenas às dificuldades da economia brasileira no período,

considerando que outros setores da economia goiana apresentaram um grande dinamismo,

apesar da crise nacional e seus reflexos na economia local.

Gráfico 5: Estado de Goiás: Número de estabelecimentos industriais, cadastrados na Secretaria da Fazenda - 1996- 2012

Fonte: IBGE. Instituto Mauro Borges. Elaboração do autor.

Tabela 12: ESTADO DE GOIÁS - Constituição e Extinção de empresas – 1995 - 2011

Fonte: Junta Comercial do Estado de Goiás – JUCEG. Elaboração do Autor

Esses dados revelam um ambiente de negócios não muito favorável à atividade

industrial, devido ao fato de que, mesmo recebendo diversos incentivos fiscais financeiros,

inúmeros estabelecimentos fecharam as portas, principalmente, a partir do ano de 2009.

Considerando a dimensão desse problema, faz-se necessária a implementação de uma política

Page 193: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

191

pública para reverter essa situação, sob pena de continuarmos a fomentar empreendimentos

com recursos públicos e depois ver esses estabelecimentos fechando as portas, não

contribuindo para a geração de renda e emprego, que era a razão da existência dos incentivos.

Segundo o “Censo do PRODUZIR”, realizado pela Secretaria da Indústria e

Comércio do Estado de Goiás em 2013, poucas indústrias têm investido em Pesquisa e

Desenvolvimento (P & D), principalmente no desenvolvimento de novos produtos e

processos. O percentual fica em torno de 2% do faturamento, o que é pouco. A renovação

tecnológica e o aumento da competitividade, que são objetivos do PRODUZIR, acabam

ficando prejudicados.

4.6.2 – Emprego e Renda

O dinamismo da economia goiana fica evidenciado, quando se observa o

crescimento expressivo na geração de emprego e renda nos últimos dezesseis anos. Esse

dinamismo deve-se, principalmente, ao avanço da agroindústria e ao surgimento de novas

atividades industriais no estado que propiciaram a expansão do setor de serviços, colocando

Goiás entre as dez maiores economias estadual do Brasil, ocupando a nona colocação.

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB), indicador que representa a soma, em

valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região,

durante um determinado período, mostra o bom desempenho da economia de Goiás no período

de 1995 a 2011, com taxa média de crescimento real de 4,6%, taxa esta superior à da economia

brasileira que registrou um crescimento real médio de 3%.

Uma das formas de verificar se a expansão da produção está contribuindo de forma

positiva para o bem-estar da população é observar a evolução do emprego e da renda gerada

pelo trabalho. Neste sentido, a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), divulgada

anualmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é uma importante ferramenta para

acompanhar o comportamento do emprego formal. Os principais resultados do comportamento

do emprego formal e da remuneração média do trabalho, no período de 1995 a 2011, serão

apresentados a seguir, com o objetivo de acompanhar a evolução desses indicadores no estado

de Goiás.

O Produto Interno Bruto (PIB) do estado de Goiás, calculado pelo IBGE/IMB,

cresceu 5,4% em 2011, superior à taxa registrada na média brasileira, que foi de 5,1%. Embora

este crescimento tenha sido considerável, demonstrou uma desaceleração significativa no

ritmo, se comparado aos 8,8% verificado em 2010.

Page 194: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

192

Os dados do emprego formal também acompanharam o desempenho do PIB ao

expandir 5,4%, em 2011, com elevação de 71.589 empregos. Entretanto, esse resultado,

embora bastante favorável, mostra uma perda de dinamismo na criação de novos postos de

trabalho, quando comparado com o registrado em 2010, que teve crescimento de 8,6% e

aumento de 104.331 empregos, sendo este o melhor resultado da série histórica, segundo

dados da RAIS/MTE.

Tabela 13: Número de empregos formais, variação absoluta e relativa em Goiás e no Brasil – 1995-2011

Ano

Nº de Empregos Variação Absoluta Variação Relativa

(%)

Brasil Goiás Brasil Goiás Brasil Goiás 1995 23.755.736 511.018 1996 23.830.312 527.152 74.576 16.134 0,31 3,16 1997 24.104.428 554.419 274.116 27.267 1,15 5,17 1998 24.491.635 580.620 387.207 26.201 1,61 4,73 1999 24.993.265 610.672 501.630 30.052 2,05 5,18 2000 26.228.629 663.902 1.235.364 53.230 4,94 8,72 2001 27.189.614 730.608 960.985 66.706 3,66 10,05 2002 28.683.913 781.443 1.494.299 50.835 5,50 6,96 2003 29.544.927 827.039 861.014 45.596 3,00 5,83 2004 31.407.576 872.824 1.862.649 45.785 6,30 5,54 2005 33.238.617 944.927 1.831.041 72.103 5,83 8,26 2006 35.155.249 992.822 1.916.632 47.895 5,77 5,07 2007 37.607.430 1.061.426 2.452.181 68.604 6,98 6,91 2008 39.441.566 1.135.046 1.834.136 73.620 4,88 6,94 2009 41.207.546 1.209.310 1.765.980 74.264 4,48 6,54 2010 44.068.355 1.313.641 2.860.809 104.331 6,94 8,63 2011 46.310.631 1.385.230 2.242.276 71.589 5,09 5,45

Fonte: RAIS 2011. Elaboração do autor.

Analisando a tabela acima observamos que a evolução da variação absoluta do

emprego formal segue uma tendência de crescimento, apesar da queda na taxa de crescimento

ocorrida no último ano. No entanto, a variação relativa segue uma tendência de queda na taxa

de crescimento do número de novas vagas, e este fenômeno se deve à desaceleração da

economia brasileira, cujos reflexos também foram sentidos em Goiás, em que pesem as

inúmeras medidas adotadas pelo governo federal, mas com poucos resultados efetivos. Os

efeitos mais severos da crise internacional sobre o Brasil começaram a aparecer a partir de

2011, quando a economia brasileira cresceu apenas 2,7%.

A taxa média anual de crescimento do emprego formal em Goiás no período foi de

6,34%, superior à do Brasil que foi de 4,17%. A indústria de Transformação no estado obteve

Page 195: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

193

resultado ainda mais expressivo, com taxa média anual de 7,96%, enquanto no Brasil, a taxa

média ficou em apenas 3,11%. (Tabela 14).

Tabela 14: Número de Empregos Formais - Goiás e Brasil (1995 – 2012)

A análise setorial demonstra que todos os setores econômicos expandiram o nível

de emprego formal em 2011, com exceção da administração pública, que sofreu a perda de

8.741 empregos.

O setor de serviços liderou a geração de empregos, com a criação de 37.782 postos

de trabalho. Em seguida está a indústria de transformação, com a criação 19.723 postos de

trabalho, com destaque para a indústria química, com 6.026 empregos, e de alimentos e

bebidas, com 4.725 empregos. O comércio teve aumento de 14.161 postos de trabalho, a

construção civil aumentou 5.344 empregos e a agricultura teve 2.191 novos postos de trabalho.

Page 196: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

194

Considerando o emprego por nível geográfico, em termos absolutos, a maior

geração de empregos coube à microrregião de Goiânia, com a criação de 31.214 postos de

trabalho, seguida pelas microrregiões do Sudoeste, com 8.623 postos, Meia Ponte com 8.057

postos, Entorno do Distrito Federal com 5. 681 postos, microrregião de Anápolis com 5.281

postos, e microrregião de Catalão com 2.814 postos de trabalho.

Os dados relativos à geração de emprego formal também revelam grande

concentração espacial. Em 2011, as cinco microrregiões com maior participação em novos

postos de trabalho concentraram 82,2% do número de empregos gerado no Estado. Outro dado

interessante sobre a concentração espacial na geração de emprego é que apenas dez municípios

respondem por 65,5% do total de postos de trabalho formais gerados no Estado. São eles:

Goiânia, Aparecida de Goiânia, Rio Verde, Itumbiara, Anápolis, Valparaíso de Goiás, Catalão,

Senador Canedo, Caldas Novas e Jataí.

Segundo dados da RAIS, as empresas de pequeno porte (de 1 a 99 vínculos) foram

responsáveis pela geração de 44.473 novos postos de trabalho (62%), em 2011. Em seguida,

vêm as empresas de médio porte (de100 a 499 vínculos) com 19.313 postos (15,9%). Juntas,

essas duas categorias foram responsáveis pela criação de 63.786 postos de trabalho (89,10%

do total), mostrando a importância dessa categoria de empresa na geração de emprego.

Tabela 15: Rendimento médio nominal, segundo setores de atividades econômica - Goiás 2000 – 2012

De acordo com a RAIS, a remuneração média do trabalhador goiano em 2011 foi

de R$ 1.533,25. Esse valor corresponde a um aumento real do rendimento médio dos

trabalhadores de 5,6% em relação ao mês de dezembro de 2010. Observamos que esse

percentual de aumento na remuneração foi inferior ao registrado em 2010, indicando uma

tendência de queda na trajetória de crescimento da remuneração média no Estado, embora a

Page 197: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

195

remuneração média do trabalhador em Goiás continua obtendo ganhos superiores aos

registrados no Brasil.

Com relação ao rendimento médio, em Goiás também se verifica o aumento da

concentração geográfica da renda, devido ao aumento da diferença do rendimento médio dos

trabalhadores das regiões mais dinâmicas do Estado.

Os dados da RAIS confirmam tendência observada nos últimos anos, em que a

grande maioria das categorias profissionais conquistou aumentos reais para os salários através

das negociações coletivas na data-base, além de haver uma mobilidade entre trabalhadores de

faixas de rendimentos mais baixos para as de melhor remuneração. Esses dados mostram,

ainda, que os melhores rendimentos, em 2011, foram nas atividades de serviço industrial de

utilidade pública (R$ 4.241,44), extrativa mineral (R$ 2.494,,49) e administração pública (R$

2.255,86). Em seguida, vêm os serviços (R$ 1.405,34), a construção civil (R$ 1.326,89) e a

indústria de transformação (R$ 1.311,80). Na outra ponta, com as menores médias salariais

estão as atividades de comércio (R$ 1.073,02) e a agropecuária (R$1.126,87).

O tamanho do estabelecimento também impacta a remuneração média do

trabalhador. Enquanto nos estabelecimentos pequenos (1 a 4 vínculos e 5 a 9 vínculos ) a

remuneração média foi de R$ 853,65 e 984,68 respectivamente; nos maiores estabelecimentos

( de 500 a 999 vínculos e 1000 ou mais vínculos) a remuneração média foi de R$ 1.768,68 e

R$ 2.281,21 respectivamente.

Nos dados da RAIS, foi observada uma correlação positiva entre o tamanho do

estabelecimento e o valor da remuneração média, ou seja, quanto maior o estabelecimento,

maior é a remuneração média para o trabalhador. Essa diferença na remuneração média pode

ser explicada por diversos fatores, mas, de forma geral, o fator determinante é o nível de

escolaridade da força de trabalho. Nos estabelecimentos maiores, a mão de obra tende a ser

mais qualificada e, consequentemente, a remuneração tende a ser maior.

Ressaltamos, ainda, a tendência à diminuição da diferença de rendimento entre

homens e mulheres, verificadas no período de 2002 a 2011. Enquanto os homens tiveram

aumento real na remuneração média no período de 37,77%, a remuneração média das

mulheres chegou a 40,13%. O rendimento médio dos homens aumentou de R$ 1.167,43, em

2002, para R$ R$ 1.608,35, em 2011, e o rendimento médio das mulheres passou de R$

1.020,01, em 2002, para R$ 1.429,32, em 2011.

Considerando que o emprego e o rendimento médio apresentam resultados mais

expressivos nas regiões mais dinâmicas do estado (Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia,

Rio Verde e Catalão), e que essas regiões são as que mais receberam incentivos fiscais para a

Page 198: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

196

instalação de empreendimentos industriais, através dos Programas FOMENTAR e

PRODUZIR, pode-se inferir que, embora não sejam os únicos determinantes desse dinamismo,

eles contribuíram para os resultados apresentados.

O mercado de trabalho, no período 1995-2011, apresentou a seguinte evolução,

segundo o IBGE/PNAD: A População Economicamente Ativa (PEA) cresceu 50,18%%,

passando de 2,206 milhões em 1995, para 3,313 milhões em 2011.

A taxa de desemprego no Estado no período 1995-2011 foi inferior à do Brasil,

exceto nos dois primeiros anos da série. Em 1995 era de 6,48% da PEA, em 2011 foi reduzida

para 4,77%, reflexo da conjuntura favorável do mercado de trabalho, apesar da desaceleração

da economia depois de 2010. No mesmo período, o desemprego no Brasil passou de 6,08%

para 6,72%. O Brasil também foi afetado pela crise econômica mundial, que iniciou em 2008,

mas os reflexos negativos começaram a ser sentidos a partir de 2011.

Gráfico 6: Goiás e Brasil : Taxa de desemprego– 1995-2011

Fonte: IBGE / PNAD. Elaboração do autor.

A flutuação do nível de emprego (Tabela 17), que é a diferença entre Admitidos e

Desligados, entre 1995 e 2011 apresentou resultado líquido positivo, exceto nos anos de 1995,

1998 e 1999. A recuperação iniciou-se em 2000, com um saldo positivo de 21.990 postos de

trabalhos criados, atingindo o melhor resultado da série em 2010, com um saldo de 83.975

postos de trabalho. Em 2011, houve desaceleração na criação de novos postos de trabalho,

com o saldo caindo para 69.552 postos, devido ao desaquecimento da economia brasileira e

goiana.

Page 199: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

197

Tabela 16: Estado de Goiás e Brasil - Flutuação do nível de emprego – 1995 – 2011

Esse levantamento evidencia também as mudanças que vêm acontecendo no país,

principalmente, a partir dos anos 2000, com a ascensão da nova classe média, devido às

políticas de redistribuição de renda, ao crescimento da economia e à melhoria do sistema

educacional. Segundo dados da PNAD/IBGE, aqueles que sobrevivem com até um salário

mínimo em Goiás, eram 26,6% em 2000, e esse índice caiu para apenas 9,32% em 2011. A

faixa de 1 a 2 salários mínimos era de 22,54%, e a faixa de 2 a 5 salários mínimos saltou para

40,59%. A faixa até 2 salários mínimos corresponde a 31,86% do total. Considerando até 5

salários mínimos esse percentual chega a 72,45%. Ainda segundo o IBGE, em 2001, 7,4% das

pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes não possuíam qualquer

rendimento. Em 2011, esse percentual caiu para 1,71%. Entretanto, no topo da pirâmide, a

renda concentrou. Em 2011, apenas 1,90% da população ocupada do Estado possuía

rendimento médio mensal acima de 20 salários mínimos. Em 2000, essa faixa correspondia a

2,72% da população ocupada.

4.6.3 – Balança Comercial

No período 1995-2011, as exportações goianas cresceram 2.154%%, passando de

US$ 248 milhões de dólares para US$ 5.605 bilhões, um recorde histórico. Entretanto, as

Page 200: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

198

importações tiveram crescimento ainda maior de 2.692%, elevando-se de US$ 205 milhões de

dólares para US$ 5.728 bilhões (Tabela 9). Assim, o saldo da balança comercial, que em 1995

era superavitário em US$ 43 milhões de dólares, se transformou num déficit de US$ 123

milhões em 2011, reflexo do aumento das importações, principalmente nos setores

automobilístico, farmacêutico e de fertilizantes, que já respondem por mais de 50% das

importações. Observamos que a balança comercial apresentou saldo positivo até o ano de

2009, quando passou a ser deficitária. A partir de 2012 o saldo volta a ser positivo, em função

da desaceleração da economia mundial e brasileira, que reduziu as importações, enquanto as

exportações continuaram crescendo. O bom desempenho das exportações no período deve ser

creditado à força do agronegócio, que têm impulsionado a economia goiana nos últimos 30

anos, e à chegada das grandes empresas nacionais e internacionais do setor, que alavancaram

as exportações desses produtos no mercado internacional.

Tabela 17: ESTADO DE GOIÁS: Balança Comercial – 1995 – 2011 (US$1.000 FOB)

As exportações goianas ainda são constituídas, principalmente, de produtos

básicos, que têm aumentado o seu peso na pauta das exportações. Representavam (Tabela 11)

60,92% em 1985, caiu para 51,80% em 1995 e voltou a subir para 75,05% em 2011. Os

industrializados representavam 39,08% em 1985, 48,20% em 1995 e 24,95% em 2011. Os

manufaturados correspondiam a 3,77% em 1985, 10,89% em 1995 e 8,74% em 2011; os

Page 201: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

199

semimanufaturados a 35,31% em 1985, 37,32% em 1995 e 16,21% em 2011 (Tabela 11).

Observamos que entre 1985 e 1995, os industrializados, que têm maior valor agregado,

ganham espaço na pauta de exportações, aumentando sua participação em mais de 23%,

enquanto os produtos básicos tinham uma queda de quase 18%. Entretanto, no período

seguinte, de 1995 a 2011, ocorre uma regressão na qualidade desta pauta, com a queda

expressiva da participação dos industrializados em mais de 93% e aumento da exportação de

produtos básicos em mais de 45%.

Tabela 18: ESTADO DE GOIÁS: Exportações por fator agregado – 1985, 1995 – 2011 (US$ 1.000 FOB)

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Elaboração do autor.

Gráfico 7: Goiás e Brasil : Exportação por fator agregado – 1985, 1995-2011

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Elaboração do autor.

As exportações goianas em 1996 apresentavam a seguinte composição: na

liderança o complexo de soja e derivados, representando 47,39% do total, seguido pelo

Page 202: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

200

complexo minério com 32,81%, o complexo carne com 3,84%, couro bovino com 3,76%,

açúcares com 2,52%, milho com 0,09%, algodão com 0,04% e demais produtos com 9,55%.

Em 2011 essa composição pouco se alterou. As principais mudanças foram o avanço do

complexo carne para 21,54%, milho para 5,70%, açúcares para 6,12% e algodão para 1,57%,

e a redução da participação do complexo minério para 22,49%, soja para 31,66% e couro para

3,42% no total das exportações. A novidade foi o aparecimento de veículos, suas partes e

acessórios na pauta de exportações, embora com um percentual pequeno de 0,52%. Os

complexos soja, carne, minério, açúcares e milho juntos representam 87,51% do total das

exportações. (Tabela 18).

Na composição da pauta de exportações de 2011, o complexo soja continuou com

o maior peso, 31,66% (US$ 1,774 bilhão) do total exportado. Em segundo lugar,

ultrapassando o complexo carne, aparece o complexo de minérios com 22,49% (US$ 1,26

bilhão). Em terceiro lugar, o complexo carne foi responsável por 21,54% (US$ 1,207 bilhão)

das vendas externas. Em seguida, os açúcares, com 6,12% (US$ 343 milhão), e milho, com

5,70% (US$ 319 milhão). Juntos, esses itens representam 87,51% (US$ 4,903 bilhão) do total

das exportações.

Tabela 19: ESTADO DE GOIÁS – Principais produtos exportados (%) – 1996 - 2011

Produtos

Ano

1996 2011

Complexo Soja

47,39

31,66

Complexo Minério 32,81 22,49

Complexo Carne 3,84 21,54

Açúcares 2,52 6,12

Milho 0,09 5,70

Couro 3,76 3,42

Algodão 0,04 1,57

Veículos e suas partes 0,0 0,52

Demais produtos 9,55 6,98

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Instituto Mauro Borges –

IMB. Elaboração do Autor.

O inverso ocorreu com as importações (Tabela 12), onde os industrializados

respondiam por 82,8% em 1995 e passou para 98,8% em 2011, um aumento superior a 19%.

Page 203: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

201

Os produtos básicos, que representavam 17,2% das importações em 1995, caíram para apenas

1,2% em 2011.

Tabela 20: ESTADO DE GOIÁS: Importações por fator agregado – 1995 – 2011 (US$ 1.000 FOB)

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Elaboração do autor. Gráfico 8: Estado de Goiás : Importações por fator agregado –1995 – 2011

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Elaboração do autor.

No mesmo período, as importações apresentaram a seguinte composição:

automóveis (motor a diesel), com 10,22%%, motores a diesel e de explosão 6,47%, cloreto de

potássio 6,27%, acessórios para tratores e veículos 5,36%, hidrogênio – ortofosfato de amônio

3,2%, outras partes de acessórios para veículos 2,39%, trigo e derivados 2,36% e demais

produtos 63,61%.

Page 204: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

202

Em 2011, os principais produtos importados foram: veículos automóveis, tratores,

etc. e suas partes/acessórios US$ 2,627 bilhões (45,8%), produtos farmacêuticos US$ 882,14

milhões (15,4%), máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos US$ 658,64 milhões

(11,5%), adubos ou fertilizantes US$ 584,7 milhões (10,2%), produtos químicos orgânicos

US$ 203,52 milhões (3,5%), que correspondiam a 86,4% das importações do estado.

O principal destino das exportações goianas em 2011 foi a China, com valor de

US$ 1,111 bilhão (19,8%) do total. Em seguida vieram a Holanda com 579,26 milhão

(10,3%), Índia com US$ 467, 09 milhão (8,3%), Espanha com US$ 309,6 milhão(5,5%),

Rússia com US$ 237,18 milhão (4,2%), Irã com US$ 222,5 milhão (3,9%), Reino Unido com

US$ 210,3 milhão (3,75%), Argentina com US$ 162,06 milhão (3,5%), Alemanha com US$

162,06 milhão (3,0%), Hong Kong com US$ 167,02 (2,9%), Arábia Saudita com US$ 151,97

(2,7%), Japão com US$ 121,03 (2,2%), Estados Unidos com US$ 106,05 (1,9%),

representando 72,23% das exportações de Goiás.

Esse elevado percentual de produtos básicos exportados, associado ao alto nível de

produtos industrializados importados, mostra que os termos de troca são amplamente

desfavoráveis ao Estado, pois a grande maioria dos produtos importados possui maior valor

agregado em relação aos exportados.

Tabela 21: Estado de Goiás: Deterioração dos Termos de Troca

(Valores médios de exportação e importação, em dólares por tonelada)

Ano Valor dos bens

exportados Custo dos bens

importados Importação/Exportação* 1995 364,24 1.077,97 2,959 1996 419,19 920,75 2,196 1997 432,64 806,58 1,864 1998 348,24 663,84 1,906 1999 314,39 765,64 2,435 2000 280,55 528,70 1,885 2001 322,79 497,03 1,540 2002 314,56 511,95 1,628 2003 301,87 452,38 1,499 2004 370,39 474,70 1,282 2005 345,47 688,39 1,993 2006 436,22 1.008,91 2,313 2007 586,49 1.158,04 1,975 2008 751,94 1.889,19 2,512 2009 672,86 2.471,31 3,673 2010 690,03 2.559,07 3,709 2011 875,98 2.652,94 3,029

Fonte dos dados brutos: Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Elaboração do autor. (*) Em número-índice.

O exemplo mais evidente da deteriorização dos termos de troca pode ser

encontrado nos municípios de Anápolis, onde está localizada a fábrica de automóveis

Page 205: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

203

Hyundai e o pólo farmacêutico, e em Catalão, onde se localiza a fábrica de automóveis a

Mitsubishi. Anápolis, que em 1999 já tinha o pólo farmacêutico, saiu de um déficit de 51

milhões de dólares em sua balança comercial, para um déficit de 2,9 bilhões de dólares em

2011.

Tabela 22: Anápolis - Balança Comercial (US$ FOB) – 1999 – 2011

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC / Instituto Mauro Borges - IMB. Elaboração do autor. Tabela 23: Catalão - Balança Comercial (US$ FOB) – 1999 - 2011

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC / Instituto Mauro Borges - IMB. Elaboração do autor.

Catalão saiu de um déficit de 85 milhões de dólares, em 1999, para um déficit de

1,3 bilhões de dólares em 2011. Em Itumbiara também foi instalada uma montadora, a

Suzuki, e isto tem pressionado ainda mais as importações, na medida em que a produção

aumenta.

Ressaltamos que um dos objetivos do Programa PRODUZIR era diversificar a

estrutura produtiva, para agregar mais valor à nossa produção e aumentar a competitividade

Page 206: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

204

do Estado, e isto está ocorrendo. Entretanto, Goiás está pagando um preço muito alto por essa

diversificação, devido aos déficits crescentes dessas novas indústrias (automóveis,

farmacêutica e de fertilizantes), que utilizam de forma intensiva produtos importados. O

resultado afetou a balança comercial do Estado, que ficou negativa em 2010 e 2011. Para se

ter idéia da dimensão desse rombo, apenas três ítens da pauta de importações, peças de

veículos, insumos para a indústria farmacêutica e de fertilizantes, respondem por mais de 50%

das importações de Goiás. A questão é se isto é sustentável no longo prazo. Pela evolução dos

dados apresentados fica evidente que não. A esse respeito, Castro (2012) se posiciona dizendo

que Goiás tem dado certo porque vem conseguindo traduzir seu crescimento em

diversificação, para em seguida complementar:

Não digo uma diversificação industrial à altura das necessidades do Brasil, mas Goiás tem infraestrutura, Anápolis é um centro cruzado por três grandes eixos logísticos, mil quilômetros em volta, um mercado fantástico numa circunferência de mil quilômetros. (CASTRO, 2012, p. 209).

O autor também fala do avanço extraordinário da agricultura do Centro-Oeste em

termos não mais de quantidade, e sim de tecnificação, no sentido do uso de máquinas, as mais

avançadas, de satélites etc.. Mas igualmente no agronegócio e na fronteira do Centro-Oeste, o

Brasil está beirando, está beliscando a fronteira das técnicas mundiais, e tem capacitações, seja

em termos de competência empresarial, seja em termos de técnicos agrônomos, químicos etc.

Depois de referir-se de forma benigna em relação a Goiás, Castro (2012), faz uma

crítica em relação a aspectos da política de industrialização que vem sendo adotada pelo

Estado:

Em Goiás se considera uma maravilha que se consiga levar para lá os CKD (Complete Knock-down), conjunto de partes de automóveis para exportação). Ora, os CKD são uma barbaridade para o Brasil. Um país que tem mais de cinqüenta anos de industrialização automobilística recua, assim, para um estágio inadmissível. E isso é visto com bons olhos, pois emprega um pouquinho. Mas é calamitoso. (CASTRO, 2012, p. 211).

No caso de Goiás essa questão é ainda mais grave, tendo em vista que a produção

de automóveis em Catalão (Mitsubishi) e em Anápolis (Hyundai) é quase toda destinada ao

mercado interno. Em consequência, com o aumento das importações, a balança comercial

desses municípios se tornou fortemente deficitária, refletindo também no saldo da balança

comercial do estado, que apresentou déficit em 2010 e 2011. Em 2002, as importações de

veículos, suas partes e acessórios, que representavam 26% das compras externas totais de

Goiás (US$ 326,7 milhões), saltaram para o correspondente a 45,9% em 2011, somando US$

2,627 bilhões. Nos acordos com essas empresas para que se instalassem em Goiás, não foram

fixadas metas para exportação, o que poderia ter minimizado esse impacto nas transações com

Page 207: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

205

o exterior. A título de exemplo, o governo do Paraná exigiu da Renault, como contrapartida ao

pacote de benefícios fiscais que recebeu do estado, o compromisso de exportar 40% da sua

produção, o que contribuiu para reduzir o impacto negativo em sua balança comercial, devido

às importações.

Rio Verde, cuja exploração econômica está ligada ao agronegócio, vocação natural

da região, apresenta resultado da balança bem distinto, contribuindo com o Estado com a

entrada de divisas. Em 1999 apresentava um déficit de 12 milhões de dólares, em 2011

apresentou um superávit de 156 milhões de dólares.

Tabela 24: Rio Verde - Balança Comercial (US$ FOB) – 1999 - 2012

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC / Instituto Mauro Borges - IMB. Elaboração do autor.

Destacamos que os programas de incentivos fiscais, adotados com o objetivo de

industrializar o Estado, principalmente a partir de 1985 com o FOMENTAR, e depois de 2000

com o PRODUZIR, não conseguiram alterar essas composições, em que pese o montante

elevado de incentivos fiscais concedidos, exatamente para reverter essa situação, e agregar

valor às nossas exportações. A maioria das nossas indústrias produz para o mercado interno, e

têm pouca ou nenhuma penetração no mercado internacional. As exceções são os setores

ligados aos complexos soja e derivados, carnes, farmacêutico e mineral.

4.6.4 - Arrecadação

A arrecadação estadual tem apresentado bom desempenho nos últimos anos, com

destaque para o ICMS, responsável pela maior parte da receita bruta do Estado, que no

período 1995-2011 teve crescimento nominal de 769% e real de 207,07%, passando de R$

1.135.574 bilhões para R$ 9.875.178 bilhões, segundo dados da Secretaria da Fazenda do

Page 208: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

206

Estado de Goiás. Em 1995, Goiás participava com 2,4% da arrecadação do ICMS do Brasil.

Em 2011 subiu para 3,2%. Em relação ao Centro-Oeste a participação de Goiás manteve-se

praticamente a mesma, devido ao desempenho econômico parecido dos demais estados da

região, com uma pequena elevação, era de 37,5% do ICMS arrecadado em 1995, passou para

37,6% em 2011. (Tabela 25).

TABELA 25: Arrecadação do ICMS – Valores Correntes - 1995 – 2011 (R$ mil)

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás. COTEPE/ICMS. Elaboração do autor. GRÁFICO 9: Estado de Goiás – Participação na Arrecadação do ICMS (%) - 1995 – 2011

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás. COTEPE/ICMS. Elaboração do autor.

O ICMS industrial, segundo dados da Secretaria da Fazenda Estadual, no período

1996-2011, passou de R$ 582.946 milhões para R$ 1.875.154 bilhões com crescimento

nominal de 221,67% e real de apenas 13,59%. Entretanto, a indústria teve a sua participação

Page 209: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

207

na arrecadação do ICMS reduzida de 40,6% em 1995, para 19,0% em 2011. Essa queda de

participação da indústria no ICMS arrecadado pode ser explicada pelo montante elevado dos

incentivos fiscais que vêm sendo dados ao setor industrial, desde a implantação do

FOMENTAR, em 1985, e, depois de 2000, de forma ainda mais ativa pelo PRODUZIR. O

setor agro-pecuário e o comércio também tiveram a sua participação reduzida de 4,5% para

2,2%, e de 41,1% para 27,3%, respectivamente. A conta ficou para o setor de serviços, que

teve a sua participação no ICMS aumentada de forma considerável, passando de 9,1% para

42,0%. Para evitar queda na arrecadação, em função das isenções concedidas a outros setores,

o governo do estado elevou de forma expressiva alguns impostos estratégicos e de maior

facilidade de arrecadação, como o de energia elétrica, combustíveis e telecomunicações, com

alíquotas que variam de 25 a 30%. Outros setores também tiveram a sua participação

aumentada de 4,8% em 1995, para 9,5% em 2011.

TABELA 26: Arrecadação do ICMS e Participação por setor de atividade –1996-2011

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás. COTEPE / ICMS. Elaboração do Autor. GRÁFICO 10: Estado de Goiás: Arrecadação do ICMS e Participação da Indústria –1996-2011

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás. COTEPE / ICMS. Elaboração do Autor.

Page 210: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

208

Goiás possui 246 municípios. Ressaltamos que a maior parte da arrecadação do

ICMS está concentrada nas seis principais regiões de planejamento e, dentro destas, em

poucos municípios. Em 2000, a seis regiões concentravam 79,9% da arrecadação do ICMS,

passando para 80,4% em 2011. A Região Metropolitana, composta por 11 municípios, em

2000 concentrava 58,5% da arrecadação do ICMS estadual; o Sudoeste 5,8%; o Centro

Goiano 7,1%; a Região do Entorno de Brasília 2,3%; a Região Sul 3,9%; e Sudeste 2,6%.

Enquanto isso, a Região Nordeste participava com apenas 0,3% e as demais Regiões com

15,5%. (Tabela 27). Goiânia sozinha respondia por 44,2% da arrecadação estadual. Se

considerarmos as nove maiores cidades, segundo a arrecadação de ICMS (Goiânia, Anápolis,

Senador Canedo, Aparecida de Goiânia, Catalão, Rio Verde, Itumbiara, Jataí e Luziânia), a

concentração da arrecadação atingiu 67,1% em 2000. Em 2011, essa concentração continuou

aumentando. As nove maiores cidades passaram a responder por 70,4 % do ICMS arrecadado.

Tabela 27 – Estado de Goiás: Participação das Regiões na Arrecadação do ICMS (%) - 2000-2011

Regiões

2000

2011

Metropolitana de Goiânia 58,5 58,8 Sudoeste 5,8 5,0 Centro 7,1 6,5 Entorno do DF 2,3 3,1 Sul 3,9 3,2 Sudeste 2,6 3,8 Oeste 1,7 1,1 Norte 2,1 1,8 Noroeste 0,4 0,3 Nordeste 0,3 0,4 Outras 15,5 16,0

Total 100,00 100,00 Fonte: Instituto Mauro Borges – IMB. Elaboração do autor.

Uma crítica comum que se faz à política de incentivos fiscais adotada por todos os

estados brasileiros é o montante elevado de renúncia fiscal embutida nos acordos com as

empresas que se instalam em seus territórios. A dificuldade de mensurar essa renúncia decorre

da falta de transparência e do acesso restrito aos dados. Poucos estados cumprem a lei

publicando os dados de forma contínua nas LDOs. Em 2003, estudo realizado por um grupo

de técnicos das Secretarias Estaduais da Fazenda do Centro-Oeste procurou quantificar o

valor que os estados deixam de arrecadar. Pelo levantamento, Goiás foi o estado com o maior

nível de renúncia fiscal no País, equivalente a 60% de sua receita, ou R$ 1,8 bilhão por ano.

Page 211: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

209

Num levantamento da renúncia reportada pelo estado de Goiás nas LDOs de 2006

a 2011, encontramos os seguintes valores:

Tabela 28: Renúncia de ICMS (LDO) em Relação à Arrecadação em 2006-2011 (R$ mil)

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás - SEFAZ-GO / LDO. Elaboração do autor.

Observamos que a renúncia de ICMS em relação à arrecadação ficou em 62,5%,

em média, no período considerado. Em nível nacional, Goiás tem ficado atrás apenas do

estado do Amazonas, cuja renúncia fiscal nos últimos anos tem ficado em torno de 67-68%.

Em 2012, a renúncia levantada pela FEBRAFITE para 20 estados alcançou R$

52,8 bilhões no seu agregado, o equivalente a 16,6% do ICMS arrecadado no ano, segundo a

Comissão Técnica Permanente do ICMS (COTEPE), órgão auxiliar do CONFAZ. Em Goiás a

renúncia alcançou R$ 5,8 bilhões, o equivalente a 51,1% do ICMS arrecadado. Os percentuais

de Goiás e do Amazonas têm ficado muito acima da média nacional, o que tem sido objeto de

muitas críticas por parte daqueles que combatem esse modelo de competição fiscal

desenfreada entre os governos subnacionais. O Rio Grande do Norte foi o estado que menos

renunciou proporcionalmente, deixando de arrecadar 6,7% do seu imposto.

A evidência empírica aponta como os estados que mais renunciam

proporcionalmente ao seu ICMS, aqueles considerados como os mais ativos ou precursores da

chamada guerra fiscal, como é o caso do Amazonas, de Goiás, de Santa Catarina e da Bahia.

Estudo realizado por Afonso et al (2014) para o exercício de 2012, comparou a

renúncia reportada pela FEBRAFITE com as despesas públicas com investimentos dos

respectivos estados realizadas (empenhadas) no mesmo ano e publicada pela STN na

consolidação nacional das contas. No agregado da amostra de estados, eles investiram cerca

de R$ 24,3 bilhões, e isto nos permite inferir que a renúncia estadual de impostos, por eles

próprio estimadas, foi mais que o dobro do gasto com capital realizado pelos estados.

Page 212: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

210

Tabela 29: Renúncia de ICMS (LDO) em Relação à Arrecadação / Investimentos em 2012

Fonte: FEBRAFITE / COTEPE-ICMS. Nota: os valores de arrecadação e renúncia fiscal são nominais, expressos em R$ milhões.

Poucos estados investiram mais do que renunciaram. Em um caso, Goiás, se

chegou ao extremo de uma renúncia estimada em R$ 5,8 bilhões contra uma despesa estadual

com investimento fixo de apenas R$ 255 milhões, ou seja, a renúncia correspondeu a

2.279,2% do investimento.

4.6.5 – Indicadores Sociais

A literatura sobre desenvolvimento há muito deixou de considerar apenas

crescimento econômico ou aumento da renda per capita como medida do desenvolvimento,

porque, apesar do crescimento extraordinário da economia mundial, principalmente no pós-

guerra, as desigualdades não só entre países aumentaram, assim como a desigualdade dentro

de cada país, o que levou ao questionamento desse modelo de desenvolvimento. O conceito

moderno de desenvolvimento, que analisamos no início do primeiro capítulo desta Tese,

preconiza que o significado essencial do desenvolvimento é contribuir para a melhoria das

condições de vida da população, garantindo que todos terão suas necessidades humanas

Page 213: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

211

básicas atendidas, tais como, alimento e vestuário, moradia, educação, saúde, saneamento e

transporte coletivo, dentre outras.

Nas seções anteriores analisamos o processo de desenvolvimento econômico de

Goiás, com foco nos dois principais programas de apoio à atração de investimentos

produtivos para o nosso estado, que são o FOMENTAR e o PRODUZIR. Um dos objetivos

deste estudo é analisar os impactos econômicos e sociais produzidos na economia goiana, em

decorrência da implementação dessa política pública. Verificamos que, de fato, esses

programas contribuíram para que um grande número de empresas aqui se instalasse,

provocando alterações em sua estrutura produtiva. Os números são expressivos, quando se

analisa o comportamento de diversas variáveis, com PIB, PIB per capita, Emprego, Renda,

Arrecadação, Balança Comercial, Valor da Transformação Industrial (VTI), Valor

Adicionado e Faturamento do setor industrial, dentre outras.

Destacamos que Goiás tem crescido acima da média nacional e de outros estados

importantes da federação. Por isso, procuramos verificar se esse crescimento tem se traduzido

na melhoria das condições de vida de sua população, através da análise de alguns indicadores

sociais. Entretanto, vale ressaltar que nem toda melhoria estará relacionada com essa política

de incentivos adotada pelo governo do Estado, pois existem outras políticas públicas

implementadas nos três níveis de governo em várias áreas, que também contribuem para a

melhoria dos indicadores sociais. Mas, isso não invalida esse tipo de análise, pois em algumas

áreas ou localidades essa correlação vai existir.

Primeiramente, analisaremos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), para o

Estado de Goiás e para alguns municípios selecionados, de áreas mais dinâmicas e dotadas de

razoável infraestrutura, que receberam empreendimentos industriais de grande porte, e

municípios das áreas menos dinâmicas, carentes de infraestrutura econômica e social, onde

esses empreendimentos não se instalam apesar dos incentivos existentes nos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR.

Pelos resultados apresentados abaixo (Quadro 3), podemos observar que Goiás

melhorou a sua posição relativa em relação ao Brasil, considerando que, em 1991, seu IDH-M

de 0,487 era inferior ao do Brasil, com 0,492. Em 2000 já havia ultrapassado o índice

nacional e, em 2010, ampliou um pouco mais essa diferença, atingindo o índice de 0,735,

contra 0,727 do índice nacional. No quesito Longevidade atingiu a classificação de “Muito

Alto” (>0,800) e no quesito Renda a classificação de “Alto” (de 0,700 a 0,799). A educação

em Goiás continua puxando o IDH-M do Estado para baixo, com 0,646 em 2010, o que não é

diferente do que acontece no Brasil. Entretanto, esse quesito foi o que apresentou a maior

Page 214: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

212

evolução no período, de “Muito Baixo” para “Médio”, passando de 0,278 em 1991, para

0,646 em 2010, um acréscimo de 132,37%.

Quadro 3: IDH - M - Municípios Selecionados - 1999, 2000 e 2010.

Fonte: IBGE / Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. Elaborado pelo autor. Nota(s): Classificação segundo IDH: Muito Alto (acima de 0,800) Alto (de 0,700 a 0,799) Médio (de 0,600 a 0,699) Baixo (de 0,500 a 0,599) Muito Baixo (de 0 a 0,500).

Os quatro municípios selecionados para análise, Goiânia, Anápolis, Rio Verde e

Catalão foram os que receberam as maiores plantas industriais incentivadas dos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR, e se encontravam entre os municípios mais dinâmicos do

Estado, com atividade econômica significativa no contexto regional e infraestrutura razoável.

Esses municípios já apresentavam em 1991 o IDH-M superior ao do Estado, inclusive nos

quesitos Renda, Educação e Longevidade, exceto o de educação em Rio Verde. Em 2010,

tanto o índice geral, quanto os específicos foram superiores ao do estado. Nos quesitos Renda

e Longevidade atingiram a classificação de “Alto” e “Muito Alto”, e na Educação Rio Verde

e Anápolis obtiveram a classificação de “Médio” e Goiânia e Catalão a de “Alto”.

Page 215: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

213

Dessa forma, podemos concluir é que a situação social do estado, e dos municípios

selecionados, avaliada através deste indicador não piorou. Pelo contrário, observamos uma

melhoria contínua verificada nas últimas duas décadas. Diversos fatores contribuíram para

essa melhoria, entre eles o dinamismo econômico apresentado pelo Estado e por algumas

regiões/municípios, que têm crescido acima da média nacional, além de políticas públicas

implementadas nos três níveis de governo.

Isto não significa que não haja problemas com o modelo de desenvolvimento que

vem sendo adotado. Ao se concentrar nas regiões mais dinâmicas, largas fatias do território

têm ficado à margem do processo de desenvolvimento, como as regiões Nordeste e Noroeste

do Estado. Devido à baixa densidade demográfica e infraestrutura econômica e social

deficiente, essas regiões não têm conseguido atrair as empresas que se instalaram no Estado,

apesar dos incentivos fiscais diferenciados existentes nos Programas FOMENTAR e

PRODUZIR. Em consequência, apresentam indicadores econômicos e sociais diferenciados e

inferiores aos das demais regiões.

A participação na renda gerada no estado é ínfima e está estagnada há várias

décadas. Em 2000, os dez maiores municípios respondiam por 55,01% da renda estadual. Em

2012, essa participação elevou-se 60,5%, aumentando a concentração espacial de renda e as

desigualdades regionais, que já eram enormes. Enquanto isso, os dez menores detinham

apenas 0,23% da renda gerada em 2000, e em 2012 ela continua inferior a 0,3%.

Quando observamos a participação das regiões no PIB, o quadro não muda. Em

2002, as seis maiores regiões participavam com 87,4% no PIB. Em 2012, essa participação

aumentou para 88,5%. A região Nordeste participava com apenas 1,2% no PIB em 2002, e

1,4% em 2012. A região Noroeste, que participava com 1,7% no PIB em 2002, teve a sua

participação reduzida para 1,5%.

O índice de Gini é um instrumento utilizado para se auferir o grau de

concentração de uma distribuição. Em Goiás, entre os anos de 1991 e 2010 ele vem caindo, o

mesmo ocorrendo em nível nacional, e isto pode ser creditado às mudanças ocorridas no

Brasil, principalmente após os anos 2000, com políticas públicas de redistribuição de renda

mais efetivas e o crescimento econômico superior ao da década de 90, além da melhoria na

educação. Em 1991, esse índice que era de 0,62 caiu para 0,60 em 2000 e 0,55 em 2010.

Ressaltamos que o valor de 0 (zero) significa a perfeita igualdade, e, até 1(hum), a

desigualdade máxima.

Com relação aos municípios selecionados das regiões mais dinâmicas observamos

que, no período considerado, a desigualdade, apesar de ser ainda muito alta, foi reduzida nos

Page 216: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

214

municípios de Anápolis e Catalão. Em Rio Verde ela elevou-se em 2000, para depois retornar

ao mesmo patamar de 1991. Em Goiânia, ao contrário da tendência geral observada no estado,

ela vem crescendo de forma contínua, desde 1991, sendo que entre os anos 2000 e 2010 o

salto foi bastante significativo, o que representa o aumento de 28,3%.

Quadro 4: Índice de Gini - Municípios Selecionados – Regiões Dinâmicas - 1999, 2000 e 2010.

Municípios Anos

1991 2000 2010

Anápolis 0,56 0,57 0,52

Catalão 0,56 0,55 0,51

Rio Verde 0,56 0,60 0,56 Goiânia 0,44 0,46 0.59 Goiás 0,62 0,60 0,55

Brasil 0,63 0,61 0,60

Fonte: IBGE. Elaborado pelo autor. Nota(s):Índice de Gini - Mede o grau de concentração de uma distribuição, cujo valor varia de zero ( a perfeita igualdade) até um (a desigualdade máxima).

Quando observamos os municípios selecionados da região Nordeste, a mais

atrasada do Estado, notamos que a concentração avançou e atingiu níveis mais elevados que

em outras regiões ou municípios, a exemplo de Buritinópolis e Cavalcante. Em Damianópolis

a concentração aumentou durante todo o período, mas está próxima da média do estado. Em

Teresina a concentração aumentou entre os anos 1991 e 2000, mas caiu na década seguinte.

Quadro 5: Índice de Gini - Municípios Selecionados – Região Nordeste – 1999, 2000 e 2010.

Municípios Anos

1991 2000 2010

Buritinópolis 0,55 0,59 0,78

Damianópolis 0,52 0,55 0,56

Teresina de Goiás 0,57 0,66 0,53

Cavalcante 0,55 0,63 0,63

Goiás 0,62 0,60 0,55

Brasil 0,63 0,61 0,60

Fonte: IBGE. Elaborado pelo autor. Nota(s):Índice de Gini - Mede o grau de concentração de uma distribuição, cujo valor varia de zero ( a perfeita igualdade) até um (a desigualdade máxima).

Outros indicadores também mostraram evolução, embora o comportamento seja

diferenciado quando se compara as regiões mais dinâmicas com as menos dinâmicas. A

Page 217: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

215

Mortalidade Infantil (nº de óbitos por 1.000 hab.) tem caído em Goiás chegando a 17,20

óbitos por mil nascidos vivos em 2011. Essa taxa é superior à da região Centro-Oeste (16,51)

e à do Brasil (16,43), e nas regiões mais pobres do Estado supera os 20%. A esperança de vida

ao nascer em Goiás é de 73,7 anos, inferior à taxa do Brasil, que é de 74,8 anos.

A população atendida com água tratada, que em 1995 era 79% da população

urbana, em 2011 chegou a 91%. O sistema de esgotamento sanitário, que atendia a 34% da

população urbana em 1995, aumentou para 41%.

A taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais tem caído, e em 2011 foi

de 7,17, superior à do Centro-Oeste (6,39) e inferior à do Brasil (8,59). O número de

estabelecimentos de ensino em Goiás, de competência estadual, teve redução, passando de

1.292 estabelecimentos em 2000, para 1.072 em 2011. Os estabelecimentos ligados aos

municípios também tiveram redução, de 3.045 para 2.334 estabelecimentos. Os

estabelecimentos Federal e Particular aumentaram, respectivamente, de 7 para 15 e 916 para

1044 respectivamente. Os estabelecimentos de ensino superior passaram de 35 unidades em

2000 para 81 unidades em 2012, enquanto o número de matrículas no ensino superior passou

de 72.769 para 192.098.

Em 1995, 62,85% da população possuíam moradia própria, 16,88% moravam de

aluguel, 19,61% em imóvel cedido e 0,66% em outras condições de ocupação. Em 2012,

percentual da população com moradia própria saltou para 65,73%, alugada para 24,79% ,

cedido reduziu para 8,91% e outras ocupações para 0,57%, e isto ocorreu devido ao

crescimento da renda e da estabilidade econômica do período.

O número de leitos por mil habitantes em Goiás caiu de 5,2 para 3,1. O número de

médicos por habitante em Goiás é de 1/56, enquanto no Brasil é de 1/93. Estes indicadores da

área de saúde e educação, principalmente, evidenciam a dificuldade do estado em investir

nessas áreas essenciais. Apesar de o crescimento econômico ter sido expressivo nesse

período, acima da média nacional, os investimentos nessas áreas têm sido insuficientes para

atender à demanda crescente.

4.7 – Dados e Metodologia

4.7.1 – Abrangência espacial e temporal

Page 218: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

216

Esta tese analisa se, de fato, a política de incentivos fiscais, adotada pelo governo

do Estado de Goiás para atrair investimentos produtivos, através dos Programas FOMENTAR

e PRODUZIR, contribuiu para promover o desenvolvimento socioeconômico do Estado.

Para tanto, a investigação abrangeu o período que vai de 1995 a 2011,

caracterizado por muitos autores como de acirramento da guerra fiscal, no qual foram

apreciadas as políticas de incentivos fiscais adotadas para a promoção do desenvolvimento

regional no âmbito dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR. A escolha desse período

deveu-se ao fato de que a caracterização da competição tributária entre jurisdições como

“guerra fiscal” ocorre a partir de meados da década de 90, quando há a retomada dos

investimentos direto externo e interno no país, com o acirramento da disputa para atraí-los.

Deveu-se também, à estabilidade econômica pós-Real, com menos distorções nos dados

provocadas pelo processo inflacionário galopante e, ainda, à disponibilidade dos mesmos.

Também foram identificadas as características e os principais instrumentos fiscais utilizados

na política industrial adotada pelo Governo do Estado de Goiás para atração de investimentos.

Os impactos econômicos e sociais foram medidos através de indicadores socioeconômicos

disponíveis.

Esta tese definiu como marco territorial de sua investigação o Estado de Goiás,

detentor de infraestrutura capaz de oferecer vantagens comparativas que, somadas aos

benefícios fiscais e financeiros, oportunizados pelo governo do Estado, em especial a partir de

1984, data da criação do Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de

Goiás – FOMENTAR e depois, a partir de 2000, com o programa PRODUZIR, foram

importantes para a tomada de decisão sobre investimentos por parte das empresas, que para

este Estado se deslocaram, e para o desenvolvimento do próprio Estado.

4.7. 2 – Delimitação do Estudo

Considerando que o objetivo desta Tese foi analisar os impactos dos programas de

incentivos fiscais FOMENTAR E PRODUZIR no desenvolvimento socioeconômico do

Estado de Goiás, no período de 1995-2011, não fez parte do escopo deste trabalho avaliar

outros programas de incentivos existentes no mesmo período. Os resultados foram

confrontados com o que prescreve a teoria sobre competição tributária entre jurisdições, papel

do estado no desenvolvimento e federalismo fiscal, que compõem o marco teórico.

4.7.3 – Dados e Metodologia

Page 219: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

217

O método de abordagem utilizado neste estudo foi o método hipotético-dedutivo

que, conceitualmente, toma como ponto de partida a percepção de uma lacuna no

conhecimento, acerca do qual se formulam hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva,

testa-se a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese. A escolha desse

método decorre do fato de que ele proporciona a investigação dos acontecimentos, processos

e comportamentos das instituições no passado, com o objetivo de verificar sua influência na

sociedade contemporânea.

Partindo-se do pressuposto de que não é possível obter conhecimento real dos

fatos, reunindo apenas situações tópicas e fatos isolados, sem levar em consideração os

fenômenos ocorridos numa determinada época e seus efeitos no estágio atual das instituições,

foi escolhido o método histórico, no conjunto dos demais métodos, como o método mais

apropriado aos objetivos da pesquisa.

As técnicas utilizadas deram ênfase aos procedimentos técnicos de coleta e de

análise de dados, delineando-se nas chamadas fontes de papel, envolvendo a pesquisa

bibliográfica e a pesquisa documental.

O levantamento de dados foi feitos através de acesso direto aos sites do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Banco Central, do CONFAZ, da Secretaria

da Fazenda Estadual (SEFAZ-GO), da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), da Secretaria

da Indústria e Comércio (SIC-GO), Secretaria de Gestão e Planejamento (SEGPLAN-GO), do

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A avaliação dos impactos da concessão desses benefícios sobre a economia goiana

foi feita através da análise crítica das principais variáveis utilizadas na tese que são: Produto

Interno Bruto (PIB), Renda, Geração de Empregos no Setor Industrial e Total, Arrecadação

do ICMS, Balança Comercial, Indicadores Sociais, Participação da Indústria de

Transformação no PIB Industrial, Participação do Estado no VTI (Valor da Transformação

Industrial) nacional dentre outras, no período de 1995-2011.

1. O Produto Interno Bruto – PIB

As informações do PIB por setor foram obtidas no Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE). Foram desagregados em PIB da Indústria, do Comércio,

Serviços e do setor Agro-pecuário. Com estas desagregações foi possível fazer comparações

entre os setores.

2. A arrecadação do ICMS

Page 220: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

218

Os dados da arrecadação do ICMS no Estado de Goiás foram obtidos na

Secretaria da Fazenda Estadual (SEFAZ) e Secretaria do Tesouro Nacional (COTEPE/ICMS).

O total desta receita representa a agregação dos setores primário, secundário e terciário. O

período 1995 a 2011 coincide com o acirramento do conflito. Os dados sobre renúncia fiscal

tiveram como fontes primárias os projetos de LDOs estadual e levantamento feito pela

Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais ( FEBRABITE) para as

demais unidades da federação.

3. Geração de Empregos no Setor da Indústria de Transformação

Os dados da geração de novos postos de trabalho na indústria de transformação e

nos demais setores foram obtidos no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em registro

administrativo denominado Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), para o período de

1995-2011.

A RAIS é um registro administrativo que cobre o universo de empregos formais e

abrange, portanto, os trabalhadores com carteira assinada (celetistas), além de funcionários

públicos estatutários e militares, entre outros vínculos relativos à administração pública. A

alimentação dos dados é feita por todos os estabelecimentos empresariais e do setor público do

país – com ou sem vínculos de trabalhadores – que fornecem ao MTE os dados da

movimentação do conjunto de empregos no ano de referência. Essas informações são

contabilizadas e divulgadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com o total de vínculos

ativos e inativos no último dia do ano. Segundo o MTE, os dados da RAIS cobrem

aproximadamente 100 % do mercado de trabalho formal, sendo, portanto, um censo sobre o

emprego nessas condições.

Entretanto, como fonte de informação, é necessário ter cautela na utilização e

interpretação dos dados fornecidos pela RAIS, devido às omissões das declarações dos

estabelecimentos, seguida por erro de preenchimento decorrente de informações incompletas

ou incorretas, além do problema de declarações agregadas na matriz da empresa, quando o

correto seria fornecer as informações por estabelecimento. Quando um erro é constatado, o

MTE emite uma Nota Técnica sobre o problema e faz a correção dos dados.

4. Renda do Trabalho no Setor da Indústria de Transformação

Os dados sobre renda do trabalho na indústria de transformação e nos demais

setores foram obtidos no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na Relação Anual de

Informações Sociais (RAIS), para o período de 1995-2011.

5. Balança Comercial

Page 221: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

219

Os dados sobre balança comercial do estado e municípios foram obtidos no

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC e Instituto Mauro

Borges - IMB, para o período de 1995-2011.

6. Indicadores Sociais

Os dados sobre IDH e Índice de Gini foram obtidos no Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE, para o período de 1991-2010. Os demais indicadores são de

fontes diversas, nos períodos disponibilizados.

Para cumprir os objetivos propostos nesta Tese e saber quais foram as principais

atividades industriais incentivadas no Estado, foram realizados levantamento de dados,

pesquisas e entrevistas na Secretaria Executiva dos programas FOMENTAR e PRODUZIR,

nas Secretarias Estaduais (Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio) responsáveis pela

formulação e implementação das políticas de atração de investimentos para o Estado de

Goiás, tais como: investimentos incentivados, volume de incentivos, localização dos

investimentos, número de empresas instaladas por programa, entre outros. As informações

obtidas serão cruzadas com os dados socioeconômicos utilizados na tese.

Aos órgãos públicos estaduais foram solicitados os seguintes dados:

� Montante de Investimentos realizados através dos Programas FOMENTAR e

PRODUZIR, por ramo de atividade industrial, de 1995 a 2007;

� Origem dos investimentos (outros estados, local ou estrangeiro) realizados com auxílio

dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR, por ramo de atividade industrial, de 1995

a 2007;

� Destino dos investimentos (em qual cidade do estado o investimento foi realizado);

� Número de empresas incentivadas pelos Programas FOMENTAR e PRODUZIR e

Produzir, por ramo de atividade industrial, de 1995 a 2007;

� Empregos diretos previstos pelos investimentos incentivados dos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR, por atividade industrial, de 1995 a 2007;

� Empregos indiretos previstos pelos investimentos incentivados dos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR, por ramo de atividade industrial, de 1995 a 2007;

� Montante de benefícios fiscais concedidos pelos Programas FOMENTAR e

PRODUZIR, por ramo de atividade industrial, de 1995 a 2007;

� Montante da arrecadação que deixa de ser arrecadado em função dos benefícios

concedidos pelos Programas FOMENTAR E PRODUZIR, por ramo de atividade

industrial, de 1995-2007.

Page 222: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

220

Os dados sobre investimentos incentivados correspondem a informações

disponibilizadas pela Secretaria Executiva dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR do

Estado de Goiás e se referem aos investimentos efetivamente realizados com utilização de

incentivos. Através dos dados levantados sobre o volume de incentivos concedidos foi

possível avaliar o peso destes benefícios sobre o ICMS arrecadado.

Sempre que nos referimos a empregos previstos ou projetados estamos falando de

projeções realizadas pelas respectivas empresas. Por isso, para avaliarmos as mudanças

efetivas ocorridas no mercado de trabalho, utilizamos dados de emprego formal da Relação

Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ou então

dados de emprego da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE).

A análise da participação estadual na transformação industrial nacional (VTI),

teve como base as informações da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE para os anos de

1995 a 2011. Esses dados foram comparados àqueles do último Censo Industrial, realizado em

1985 e, portanto, anterior ao acirramento da guerra fiscal. Nesta parte de nosso estudo,

trabalhamos com valores relativos, ou seja, com a participação nacional.

Um dos objetivos deste estudo foi verificar se os incentivos fiscais foram capazes

de promover a diversificação da estrutura produtiva estadual, ou seja, investigar até que

ponto esses incentivos contemplavam novas atividades, ou se eram direcionados para

atividades já desenvolvidas no Estado e que já possuíam significativa participação na

estrutura industrial.

Esses dados, somados às demais informações obtidas nas fontes bibliográficas e

em fontes secundárias, nos permitiram observar o comportamento das variáveis analisadas, de

forma a identificar alterações nas mesmas que pudessem estar associadas com a guerra fiscal,

no período analisado.

A análise e interpretação dos dados foram feitas de forma qualitativa e

quantitativa com a utilização de métodos estatísticos. Através da análise dos programas

FOMENTAR E PRODUZIR na economia goiana, foi possível identificar mudanças de

tendências em diversas variáveis econômicas, comparando a situação anterior e posterior à

implantação dos programas de incentivos fiscais.

Ressaltamos ainda que, para a realização deste trabalho, recorremos a estudos

realizados por pesquisadores de Universidades e Institutos de Pesquisas locais, que muito

contribuíram para o resultado final do trabalho. Esperamos que esse estudo possa contribuir

Page 223: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

221

para abrir novas frentes de pesquisa e avançar na compreensão do tema, tão necessário no

Brasil de hoje.

4.7.4 – Limitações

Ao desenvolvermos a pesquisa apresentada nesta tese, deparamos-nos com as

habituais limitações relativas à deficiência quantitativa e qualitativa das informações que

constituem a base do estudo. Devido à falta de transparência no processo de concessão de

incentivos fiscais e do sigilo que o cerca, houve dificuldades na obtenção de dados junto às

secretarias estaduais responsáveis pela implementação dos Programas FOMENTAR e

PRODUZIR. Os dados vieram incompletos, e as séries históricas de algumas variáveis não

estavam disponíveis para o período considerado, o que criou dificuldades, mas não impediu

que o trabalho fosse feito.

4.8 – Conclusão

A concessão de incentivos fiscais com o objetivo de promover a industrialização

no Estado de Goiás remonta os anos 50 e, desde então nunca deixou de existir. Ao longo do

tempo esses instrumentos foram sendo modificados, até que se definisse sua forma atual, com

os Programas FOMENTAR e, posteriormente, o PRODUZIR, que o sucedeu.

A consolidação de Goiás, nos anos de 1980, como grande produtor agropecuário,

aliado às políticas públicas estadual de incentivos fiscais, contribuiu para que grandes

conglomerados industriais se instalassem no Estado, o que provocou grande transformação

em sua estrutura produtiva.

Isto pode ser constatado através do aumento da participação do setor industrial na

composição do PIB local. No período analisado, a participação do setor industrial no PIB

goiano passou de 20,43%, em 1995, para 26,8%, em 2011, aumento de 31,18%. No mesmo

período, o setor agropecuário teve a sua participação reduzida de 13,87% para 12,5% e o setor

de serviços também teve a sua participação reduzida de 65,7% para 60,7%. A indústria de

transformação, que em 1995 contribuiu com 11,19% do PIB industrial, em 2011 aumentou

essa participação para 13,8%.

Com relação aos programas de incentivos fiscais FOMENTAR e PRODUZIR,

implementados em Goiás, em 1985, e a partir do ano 2000, respectivamente, podemos

concluir que:

Page 224: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

222

- A operacionalização dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR foram determinantes para a

vinda de grandes empreendimentos para o estado, embora não fossem os únicos, a exemplo da

Perdigão em Rio Verde, do ramo de processamento de alimentos, além de outras importantes

indústrias como a automotiva e a mineral, que iniciaram o processo de diversificação

industrial em Goiás, como John Deere e Mitsubishi em Catalão, Hyundai em Anápolis e o

pólo farmacêutico de Anápolis com a Teuto, Neoquímica, entre outras.

- O horizonte temporal dos acordos assinados entre o governo do estado e as empresas é

bastante elevado, começou com 5 anos, depois chegando até a 30 anos. Recentemente, em

2014, o governo de Goiás, atendendo a uma demanda do setor empresarial, prorrogou os

incentivos até o ano de 2040.

- É alta a concentração dos recursos nas regiões mais dinâmicas do Estado, localizadas na

metade Sul de Goiás, com médias em torno de 80%, o que tende a manter as disparidades e a

tradicional desigualdade entre o Norte e o Sul do Estado, reproduzindo o processo de

concentração capitalista.

- Os Programas FOMENTAR e PRODUZIR contribuíram para incrementar o faturamento e o

valor adicionado industrial do Estado. Entretanto, a indústria teve a sua participação na

arrecadação do ICMS reduzida de 40,6% em 1996, para apenas 19% em 2011, e isto revela o

tamanho da desoneração que foi dada ao setor industrial no período. A arrecadação foi

mantida e ainda apresentou aumento real no período, devido ao aumento da carga tributária

sobre outros setores, principalmente os serviços, que participavam com 9,1% da arrecadação

do ICMS em 1996, e, em 2011, teve a sua participação elevada para 42%, um aumento de

361,5% na participação, compensando, assim, a desoneração sobre a indústria.

- Os incentivos fiscais e creditícios concedidos às empresas foram muito superiores aos

investimentos contratados e aos efetivamente realizados, tanto no Programa FOMENTAR

quanto no Programa PRODUZIR que o sucedeu. Os dados sobre o montante de investimentos

a serem realizados, assim como o número de empregos diretos gerados são contraditórios,

pois baseiam-se nas informações constantes dos projetos apresentados pelas empresas e dos

protocolos de intenções assinados. Há evidências de que tenham sido superdimensionados,

assim como, também, o número de empregos indiretos criados.

Page 225: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

223

- O custo do emprego gerado é bastante elevado quando comparamos com o montante dos

créditos concedidos às empresas. No período 2001 a setembro de 2011, o custo médio do

emprego gerado ficou em R$ 1,173 milhões, a preços de 2010. Quando somamos os créditos

concedidos aos investimentos realizados, o custo eleva-se para R$ 1,422 milhões por emprego

gerado. Em algumas regiões esse valor foi superior a R$ 2,0 milhões.

- A instalação de empresas industriais impacta de forma positiva a região/município onde

estão inseridas, com relação ao emprego, à renda e à qualificação de mão-de-obra.

- Sobre os empregos gerados pelos projetos em fruição do PRODUZIR, fazendo-se a sua

relação com o saldo do Caged (427.840 postos), chega-se a uma média anual de 10,2% entre

2001 e 2011, ou seja, esse programa foi responsável pela geração de pouco mais de 43 mil

empregos no período, sendo que essa quantidade encontra-se bem abaixo do que foi

contratado.

- Algumas microrregiões não usufruem dos benefícios do programa, devido à falta de

infraestrutura econômica e social básica, mão de obra qualificada e baixa densidade

demográfica, o que desestimula o investimento produtivo, apesar dos incentivos oferecidos, e

dentre elas destacamos as de Aragarças, Chapada dos Veadeiros, Iporá, Porangatu, Rio

Vermelho, São Miguel do Araguaia, Vale do Rio dos Bois e Vão do Paranã. Isto mostra o

limite dessa política pública, pois fica evidente que não basta apenas oferecer incentivos,

porque o movimento do capital no território exige também outros requisitos, tão importantes

quanto aqueles.

- Falta transparência ao programa. Os acordos são negociados entre governo e empresas, sem

que a população, de maneira geral, tenha acesso às informações de seu interesse. Outra

deficiência é a inexistência de estudos de custo-benefício, de mecanismos de controle para

acompanhar o cumprimento das obrigações assumidas nos protocolos de intenções assinados

com o governo do Estado e Prefeituras, incluindo-se aí o número de empregos diretos e

indiretos a serem gerados ou o montante de investimentos a ser realizado, de publicações com

balanço detalhado dos programas e resultados obtidos. O sigilo é a regra. Diversas

informações solicitadas junto à Secretaria Executiva do FOMENTAR/PRODUZIR não foram

disponibilizadas, a exemplo do protocolo de intenções assinado para a instalação da

montadora Caoa/Hyundai no município de Anápolis.

Page 226: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

224

A análise das variáveis selecionadas, como Produto, Renda, Emprego e

Arrecadação, mostraram que, em geral, elas têm apresentado desempenho superior à média

nacional, o que contribui para melhorar a posição de Goiás no ranking nacional em diversos

setores. Ainda assim, problemas existem e requerem atenção por parte do poder público. A

renda per capita, apesar desse desempenho, ainda corresponde a apenas 84% da renda

nacional. As exportações, apesar do crescimento expressivo no período, ainda são compostas

principalmente por produtos básicos, de baixo valor agregado, com destaque para os

complexos soja, carne e minérios. Houve regressão na pauta de importações na última década,

com os industrializados atingindo a marca de 93%.

Com o objetivo de diversificar sua estrutura produtiva, o governo de Goiás

procurou, através dos programas de incentivos fiscais FOMENTAR e PRODUZIR, atrair

novas indústrias para o estado, com destaque para as do setor automobilístico, farmacêutico e

mineral. O resultado é que as importações de insumos para a indústria farmacêutica e de

fertilizantes e peças para automóveis já respondem por mais de 50% das importações,

provocando desequilíbrio em sua balança comercial, que foi deficitária nos anos de 2010 e

2011.

Outro ponto importante que merece ser destacado é que essas indústrias têm se

instalado nas regiões mais dinâmicas do estado, dotadas de infraestrutura básica, o que tem

agravado a concentração espacial das atividades econômicas em frações restritas do território.

As regiões Nordeste e Noroeste do estado estão à margem desse processo de

desenvolvimento, apesar dos incentivos diferenciados contidos nos Programas FOMENTAR e

PRODUZIR. Daí a necessidade de uma política pública mais afirmativa, para romper com

esse isolamento.

Page 227: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

225

5.0 – Considerações Finais

O objetivo geral desta Tese consiste em avaliar os impactos econômicos

produzidos na economia do Estado de Goiás, em decorrência dos incentivos fiscais

concedidos no âmbito dos Programas FOMENTAR e PRODUZIR, no período de 1995-2011.

Essa política pública ocorre num contexto de ‘guerra fiscal’, principalmente a partir do seu

acirramento, na segunda metade dos anos 90. O FOMENTAR e o PRODUZIR são os dois

programas mais importantes de apoio ao desenvolvimento econômico e à industrialização

adotados pelo Estado de Goiás no período recente.

No primeiro capítulo discutimos o conceito de desenvolvimento, o papel do Estado

no desenvolvimento e de Estado e desenvolvimento regional segundo as diferentes visões.

Vimos que duas correntes se sobressaem nessa discussão: a do pensamento convencional, que

têm como medida do desenvolvimento o crescimento econômico ou aumento da renda per

capita. Na outra, estão aqueles que discordam e sugerem outros indicadores de

desenvolvimento, que levariam em conta mudanças na qualidade de vida, como a redução da

pobreza da desigualdade e do desemprego. Em outras palavras, de um lado estão aqueles que

acreditam que os mercados se bastam. De outro, aqueles que acreditam que o Estado e as

Instituições têm um papel importante no desenvolvimento econômico, corrigindo falhas de

mercado.

Essa discussão foi colocada neste estudo porque o crescimento mundial verificado

na segunda metade do século XX, apesar de impressionante, foi muito desigual entre os países

e dentro de cada país. A distância entre ricos e pobres aumentou, criando uma questão ética

sobre o sentido do desenvolvimento. Para resolver estas questões, diferentes correntes

propuseram uma reformulação na atuação do Estado, a fim de chegar a um desenvolvimento

mais equilibrado

No segundo capítulo, analisamos aspectos teóricos da competição tributária entre

jurisdições, também conhecida como guerra fiscal. Vimos que na literatura econômica, duas

correntes antagônicas estão presentes. A primeira, baseada no modelo de Tiebout( 1956),

entende que o setor público deve agir similarmente ao setor privado e, portanto, a competição

entre jurisdições, da mesma forma que numa economia de mercado, levaria à eficiência

econômica das decisões governamentais. No caso em que não é possível atingir a eficiência

econômica governamental, a competição entre governos funcionaria como um meio de se

limitar o poder dos governos para fixar níveis de alíquotas e de provisão de bens públicos

Page 228: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

226

muito acima do que seria desejado pela população. A segunda corrente, com base no Modelo

de Gordon (1983), ao contrário, afirma que a competição entre governos gera distorção

econômica, uma vez que leva à subprovisão de bens e serviços públicos. Nesse sentido,

deveria ser combatida para elevar o bem-estar das diversas jurisdições. A maioria dos

trabalhos teóricos recentes considera considera o processo competitivo ineficiente.

Uma retrospectiva histórica mostra que o atual processo competitivo é produto da

uma paulatina deterioração da estrutura tributária do País, reflexo das próprias crises

econômicas que o Brasil tem vivido nas últimas décadas, aliada à progressiva fragilização do

trabalho de coordenação das relações federativas por parte do governo central.

As origens da competição fiscal na federação brasileira residem em fatores de

natureza estrutural e conjuntural. Na primeira categoria, incluem-se a falta de solidez ou

maturidade da própria estrutura federativa (ausência de um fórum legal permanente para

discutir tecnicamente os problemas da federação), o desenho do sistema tributário nacional

(especialmente no que concerne à competência tributária do ICMS e à adoção do regime da

origem) e a inexistência de uma política industrial ou de desenvolvimento regional efetiva,

para se contrapor à intensa concentração espacial do desenvolvimento econômico brasileiro

na região Sudeste, principalmente em São Paulo, entre os anos 30 até início dos anos 70. Essa

concentração tem levado a que estados se utilizem da tributação como principal instrumento

de atração de investimentos produtivos. Na segunda categoria, a dos fatores conjunturais,

identificou-se que a retomada dos fluxos de investimentos estrangeiros e internos a partir de

meados da década de 90, o crescimento econômico proporcionado pelo Plano Real e a crise

fiscal que contribuíram para que diversos estados entrassem na disputa pela atração desses

novos investimentos, especialmente os da indústria automobilística.

O estudo realizado nos permite afirmar que a competição fiscal, mais conhecida

como guerra fiscal, pode ser considerada um processo permanente, operacionalizado através

dos programas estaduais de desenvolvimento. Ela é um tipo de política pública que busca

interferir no processo de alocação de novos investimentos ou na concorrência entre empresas

já instaladas. Os programas estaduais contam com vários mecanismos de subsidiamento,

dentre os quais o ICMS aparece como o elemento central, pois em vários momentos históricos

foram utilizadas operações de redução, isenção e diferimento desse imposto.

No modelo de Gordon (1983), esse processo de competição fiscal é chamado de

não-coordenado, pois cada estado toma suas decisões tributárias sem considerar os impactos

que elas provocam nos cidadãos dos outros estados. A conseqüência dessa decisão é o

Page 229: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

227

acirramento da competição fiscal entre os governos subnacionais, num movimento de ação e

reação.

Ao contrário da opinião frequentemente utilizada, a guerra fiscal não resulta numa

inexorável degradação fiscal de cada governo subnacional que a pratica. Embora possa haver

ganhos para os estados que concedem incentivos, durante um certo período de tempo, o país

como um todo perde com a guerra fiscal. O exemplo é Goiás, onde algo em torno de 62% da

arrecadação, média do período 2006-2011, são concedidos anualmente às empresas privadas,

a título de incentivos fiscais ou financeiros, conforme consta da Lei de Diretrizes

Orçamentárias – LDO, enviada à assembléia legislativa para aprovação.

Outra constatação é que a competência estadual e o princípio de origem são

dinamizadores da guerra fiscal, assim como a maior autonomia dos Estados após a

Constituição de 88, a retomada dos investimentos privados internos e externos nos anos 90 e a

crise financeira estadual, o que representa um paradoxo.

A Reforma Constitucional de 1988 promoveu a revisão do sistema federativo. A

consolidação da democracia e a retomada do desenvolvimento eram impulsionadas pela

descentralização do poder. A maior novidade neste processo de descentralização foi a

elevação dos municípios à condição de ente federado, sendo-lhes conferida maior autonomia e

interdependência nas relações políticas do sistema federativo.

A Constituição de 1988 implicou em maior participação de Estados e Municípios

na receita tributária arrecadada no território nacional, seja porque bases tributárias da União

foram partilhadas com Estados e Municípios, via FPE e FPM. Essa descentralização buscou

aproximar a unidade gestora do gasto e o público-alvo.

Na grande maioria das federações, observamos que a competição entre governos

subnacionais é a regra e a cooperação, a exceção entre elas. No caso brasileiro, o baixo grau

de cooperação entre unidades subnacionais, em todas as suas formas, é um traço constitutivo

do nosso federalismo e está ligado às gritantes diferenças econômicas e sociais entre as

diversas regiões do país. Também destacamos que a forma de organização institucional da

federação no país, assim como o sistema tributário baseado na origem, tem contribuído para o

acirramento da competição fiscal entre os governos subnacionais.

Quando o PRODUZIR foi criado em 2000 tinha entre outros objetivos corrigir as

distorções do programa anterior, o FOMENTAR, e dentre elas, estava a inexistência de uma

política específica de apoio às microempresas. Esse mecanismo, de fato, foi instituído na lei

atual, entretanto, observamos que é pequeno o número de microempresas beneficiadas. Outro

objetivo almejado pelo programa era promover o desenvolvimento econômico e social

Page 230: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

228

harmônico e equilibrado entre as regiões do Estado, criando incentivos para que as empresas

se instalassem em áreas menos dinâmicas, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do

Estado, de forma a acelerar a integração dessas regiões no processo de desenvolvimento

econômico e social. Assim, o diferimento do ICMS a ser recolhido passou de 73% para 90%,

para as indústrias que se instalassem naquelas localidades. Entretanto, passados quatorze

anos, a concentração ampliou-se e a diferença entre as regiões aumentou. A microrregião do

Vão do Paranã até hoje não recebeu nenhum empreendimento.

Observamos que, na realidade, o montante dos incentivos fiscais concedidos

concentra-se em poucas cidades do Estado ou regiões, notadamente as mais dinâmicas, do

ponto de vista da geração de riqueza, como Goiânia, Anápolis, Rio Verde, Aparecida de

Goiânia, Itumbiara, Catalão, Jataí, Morrinhos, Trindade, Luziânia e outras, reforçando a

concentração regional que se propunha combater e provocando o esvaziamento de outras

regiões ou cidades fora dos pólos regionais de desenvolvimento já existentes.

A prova disso é a redução da participação dessas regiões na geração da riqueza,

medida através do PIB, e, também, na arrecadação do ICMS estadual, indicando pouco

dinamismo e baixa atividade econômica, o que tem contribuído para a manutenção de

indicadores sociais, como o analfabetismo e a mortalidade infantil em níveis superiores aos

das regiões mais desenvolvidas do Estado.

Deve-se ter como prioridade o investimento na infraestrutura econômica e social

dessas regiões, eliminando esses gargalos, de forma que elas possam se integrar ao processo

de desenvolvimento do estado, hoje restrito a algumas regiões, notadamente as mais

dinâmicas e com boa infraestrutura. Maior seletividade na aprovação dos projetos e

exigências de contrapartida mais robustas, também poderiam contribuir para aumentar a

eficácia do programa.

No estudo realizado avaliamos os impactos econômicos produzidos na economia

goiana, em decorrência da política de incentivos fiscais adotada, através dos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR. Verificamos que esses impactos existem, e que eles são

responsáveis por uma parcela do dinamismo que a economia goiana vem apresentando nas

duas últimas décadas, assim como, por alguns problemas decorrentes dessa política. Também

conseguimos quantificar o montante de benefícios fiscais concedidos às empresas, a título de

incentivo fiscal e financeiro, mas que na prática tem se transformado em renúncia fiscal. A

média dos últimos cinco anos foi superior a 60%, conforme consta das LDOs encaminhadas à

assembleia pelo Governo do Estado para aprovação.

Page 231: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

229

Este estudo possibilitou a compreensão da dinâmica de distribuição das empresas

no espaço regional, e aí, talvez, esteja a maior ressalva a esse modelo de desenvolvimento

adotado, pois as empresas tendem a se instalar nas regiões mais dinâmicas, com infraestrutura

básica, reproduzindo o modelo de concentração capitalista, que marginaliza amplas áreas do

território, não dotadas das mesmas condições das demais.

Por fim, procuramos investigar se a guerra fiscal, da forma como vem sendo

praticada no país, contribui para uma maior diversificação da estrutura produtiva estadual

contemplando novas atividades ou apenas reforça especializações produtivas. Nesse sentido,

concluímos que acontecem as duas coisas. No caso de Goiás, o objetivo dos programas de

incentivos fiscais sempre foi o de explorar as vantagens competitivas do estado, consolidando

suas cadeias produtivas. Outro objetivo foi o de estimular a diversificação da estrutura

produtiva do estado, e esses dois fenômenos continuam ocorrendo, atualmente. A

consolidação dos complexos soja, carne, minério, sucroalcoleiro é uma realidade. A

diversificação tem ocorrido com a chegada da indústria automobilística, do pólo farmacêutico

e de mineração, em que pese os efeitos colaterais decorrentes desse processo apresentados

neste estudo.

Finalmente, e aí respondendo a pergunta principal desta Tese, foi constatado que a

política de incentivos fiscais adotada pelo governo de Goiás, no âmbito dos Programas

FOMENTAR e PRODUZIR, contribuíram para o desenvolvimento Estado. Os números

apresentados evidenciam isto. Entretanto, entendemos que ela não é sustentável em longo

prazo. Primeiro, porque a legalidade dessas políticas de incentivos adotadas pelos governos

subnacionais está sendo questionada pelo Supremo Tribunal Federal, que já se posicionou a

respeito, ameaçando baixar uma súmula vinculante declarando a inconstitucionalidade desses

programas. Isso cria insegurança jurídica e leva os empresários a adiarem ou cancelarem

novos investimentos. Segundo, pela distorção que ela provoca na alocação eficiente de

recursos, levando as empresas a abandonarem a adoção de critérios técnicos para definir sua

localização. Por fim, há que se considerar que uma política de desenvolvimento não pode se

basear numa situação de conflito federativo permanente e concessão desenfreada de

incentivos à margem do marco legal.

Page 232: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

230

Referências

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Page 253: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

251

ANEXOS

Page 254: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

252

ANEXO 1

Programas estaduais de atração de investimentos no Brasil

A crise fiscal dos anos 80 teve como conseqüência a redução do papel do Estado

como articulador de políticas regionais de caráter nacional. Contribuíram também, o triunfo

das idéias neoliberais, que passaram a se tornar hegemônicas, nas duas décadas que se

seguiram. Assim, as políticas de caráter regional mudaram de perspectiva, e passaram a serem

adotadas pelos diversos governos subnacionais, através da constituição de Programas

estaduais de atração de investimentos produtivos, notadamente industriais, ancorados em

subsídios, incentivos fiscais e financeiros e dotação de infraestrutura básica necessária a esses

empreendimentos. Ressalta-se que esses programas não estavam articulados com um projeto

nacional de desenvolvimento, porque esse projeto simplesmente deixou de existir, a partir de

então. A seguir, listamos abaixo um resumo dos principais programas de atração de

investimentos adotados pelos governos subnacionais:

QUADRO 6: PROGRAMAS ESTADUAIS DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS – Estados selecionados

ESTADOS PROGRAMA CARACTERÍSTICAS

Minas Gerais FUNDEM – Fundo de

Desenvolvimento do

Estado de Minas Gerais

FIND – Fundo de

Industrialização

PRÓ-INDÚSTRIA

PROIM – Programa

Industrial de Minas

Gerais

.Com benefícios distintos, sendo 80% sobre o

investimento global e 90% sobre os investimentos em

pesquisa. Juros de 12% ao ano, correção monetária

integral e prazos variáveis, 3 anos (pequenas empresas),

5 anos (médias empresas) e 8 anos (grandes empresas).

Carência de 120 meses e garantias reais.

.Com benefício de até 90% sobre os investimentos

realizados. Juros variam de 3,5% e 12%, com correção

monetária de 60% do saldo devedor. Prazo de 10 anos e

carência de 12 meses para o financiamento.

.Com benefícios de até 50% sobre o ICMS a ser pago.

Não há juros e a correção monetária é de 18% a 50%

sobre o índice apurado. O prazo de fruição de 5 a 8

anos, sem carência. As garantias são fiduciárias.

.Com benefícios de até 80% do investimento, com juros

de 3% ao ano, correção monetária plena e o prazo de

fruição é de 8 anos com 3 de carência. Garantia real.

Page 255: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

253

Paraná BOM EMPREGO .Benefícios de até 80% do ICMS, com juros de 6% ao

ano e correção monetária integral. O prazo de fruição é

de 5 anos com carência de 2 anos. Garantia real.

Diferimento no pagamento do ICMS em função

localização e do tipo de indústria.

Rio Grande do

Sul

FUNDOPEM – Fundo

de Operação Empresa

do Rio Grande do Sul

PRIN – Programa

Industrial do Estado do

Rio Grande do Sul

PROPLAST

.Benefício de até 60% sobre o ICMS devido, com juros

de 6% ao ano e correção monetária de 10%. O prazo de

fruição é de 8 anos sem carência.

.Benefício de até 75% do incremento do ICMS, sem

juros e correção monetária, com prazo de fruição de 1

ano, sem carência e garantias.

.Benefício de até 50% sobre o IOF, sem juros e

correção monetária, com prazo de até 8 anos, sem

carência e garantias.

Santa Catarina PRODEC – Programa

de Desenvolvimento da

Empresa Catarinense

PROMIC

.Benefício de 50% do investimento, sem juros e

correção monetária integral. O prazo de fruição é de 10

anos, com 5 de carência e garantia real.

.Benefícios 75% sobre o ICMS devido no 1º ano, 70%

no 2º ano, 60% no 3º ano, 50% no 4º ano e 40%.

São Paulo PRODESP – Programa

de Desenvolvimento do

Estado de São Paulo

.No Estado, benefício de até 40% de ICMS adicional

no 1° ano. Para a grande SP, de até 30% de ICMS

adicional no 2° ano e de até 20% de ICMS adicional no

terceiro ano, sem juros e com correção monetária

integral, com prazo de 3 anos sem carência e com

garantia de recolhimento em dia do ICMS.

. No Estado, benefício de até 50% de ICMS adicional

no 1° ano. Fora da grande SP, de até 40% de ICMS

adicional no 2° ano e de até 30% de ICMS adicional no

terceiro ano, sem juros e com correção monetária

integral, com prazo de 3 anos sem carência e com

garantia de recolhimento em dia do ICMS.

Page 256: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

254

Rio de Janeiro RELOCALIZAÇÃO E

AMPLIAÇÃO

PARA MÉDIAS E

PEQUENAS

EMPRESAS

.Com os seguintes benefícios: prazo para pagamento de

ICMS de até 5 anos, sendo: 70% sobre o ICMS a ser

pago no 1° e no 2° ano, 60% sobre o ICMS a ser pago

no 3° ano, 50% sobre o ICMS a ser pago no 4° ano e

40% sobre o ICMS a ser pago no 5° ano.

.Com benefício de até 551,96 UFERJs, com juros de

12% ao ano. Com correção monetária integral, com 18

meses de prazo para pagar e com carência de 6 meses

com garantia real.

Bahia PRÓ - BAHIA .O benefício é de 50% de ICMS sobre o valor a ser

arrecadado em Salvador e de 70% de ICMS no interior.

Não há cobrança de juros. A correção monetária era

cobrada da seguinte maneira: 50% até 31/12/96 e 40%

até 31/12/98, o prazo de fruição dos benefícios era de 6

anos, com três anos de carência e com garantias reais.

Existem também outros benefícios tais como:

diferimento de ICMS, crédito fiscal para operações

interestaduais com produção resultantes de abate de

gado.

Ceará FDI – Fundo de

Desenvolvimento

Industrial do Estado do

Ceará

FCE – Fundo do Ceará

.O beneficio chega a 100% sobre o ICMS a ser pago,

tanto os juros quanto a correção monetária dependem

do projeto. O prazo de fruição é o seguinte: 6 anos em

Fortaleza e 10 anos no interior, a carência é zero e são

fornecidas garantias reais. Existem também isenções de

ICMS para micros e pequenas indústrias.

.Este Fundo concede benefício à média empresa de até

70% do ICMS a ser pago, quando o valor deste não

ultrapassar 35.000 UFIRS, e de 60% do ICMS a ser

pago para a pequena empresa e para a média empresa,

quando o valor não superar 85.000 UFIRS. Quanto aos

juros, variam de acordo com o segmento, para a

microempresa, fica na casa de 3% ao ano. Para a

pequena empresa e para média empresa, os juros são de

5% ao ano. A correção monetária para todos os

Page 257: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

255

PCI – Programa de

Competitividade

Industrial do Ceará

segmentos micro empresa, pequena empresa e média

empresa fica na casa de 30% do índice apurado. O

prazo para a fruição dos benefícios é de 5 anos, com 2

anos de carência e garantias reais.

.Outro programa do Ceará com financiamento de 70%

sobre o investimento a ser realizado. Os juros são de

12% ao ano com correção monetária integral, o prazo

para utilização é de 3 anos, com carência de 6 meses e

com garantias reais.

Goiás FOMENTAR – Fundo

de Participação e

Fomento à

Industrialização do

Estado de Goiás

PRODUZIR –

Programa de

Desenvolvimento

Industrial do Estado de

Goiás

. O benefício chega a 70% sobre o ICMS ser recolhido.

As transações envolvendo empresas fomentadas só

recolhem 7% desse imposto, há também a permissão

para importar matérias-primas. Os juros são de 2,4% ao

ano, há inexistência de correção monetária, o prazo

inicial de fruição do benefício, que era de 5 anos, foi

sendo ampliado até chegar aos 30 anos, com igual

período para pagamento.

. O Produzir atua sob a forma de financiamento de

até 73% do ICMS devido pelas empresas

beneficiárias. O beneficiado tem carência de um

ano e desconto no abatimento da dívida que pode

chegar a 100%. Os juros cobrados são de 0,2% ao

mês, não capitalizáveis e sem correção monetária.

O prazo de fruição é de até 15 anos, limitado ao

ano de 2020. Recentemente este prazo foi

prorrogado até o ano de 2040.

O Produzir possui os seguintes subprogramas:

Microproduzir, Centroproduzir, Comexproduzir,

Logproduzir, Teleproduzir, Tecnoproduzir e o

Progredir.

Fonte: Paschoal (2001, p. 9-16)), Faria (2004, p. 20-28). Elaborada pelo autor.

Page 258: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

256

ANEXO 2

LEIS DE CRIAÇÃO DOS PROGRAMAS FOMENTAR E PRODUZIR

LEI Nº 9.489, DE 19 DE JULHO DE 1984

(PUBLICADA NO DOE DE 31.07.84)

Cria o Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás - FOMENTAR.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Fica criado o Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás - FOMENTAR, com objetivo de incrementar a implantação e a expansão de atividades que promovam o desenvolvimento industrial do Estado de Goiás.

Art. 2º São fontes de recursos do FOMENTAR:

a) Tesouro Estadual, que concorrerá com valor de até 12% (doze por cento) VETADO sobre as vendas de mercadorias tributadas pelo Estado de Goiás e realizadas pelos empreendimentos implantados ou expandidos com apoio técnico, financeiro ou, ainda, mediante participação acionária do FOMENTAR;

b) créditos orçamentários que lhe forem destinados pelo Poder Público;

c) recursos, a qualquer título, colocados à sua disposição por instituições públicas ou privadas;

d) rendimentos provenientes de suas operações, aí compreendidos encargos financeiros, reembolso de capital e outros;

e) produto de alienação de ações, debêntures e outros títulos ou bens adquiridos ou incorporados ao Fundo;

f) rendas provenientes de aplicação em títulos mobiliários.

Art. 3º Os recursos do FOMENTAR serão aplicados em atividades industriais, preferencialmente agroindustriais, mediante apoio financeiro e técnico, em empreendimentos considerados prioritários para o desenvolvimento estadual.

Parágrafo único. A prioridade de que trata este artigo será determinada mediante proposta da Diretoria Executiva do Fundo ao Conselho Deliberativo, a que compete a sua homologação, fundamentada na avaliação do Empreendimento.

Page 259: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

257

Art. 4º Sobre os recursos aplicados pelo FOMENTAR, na forma de apoio financeiro, incidirão encargos de no máximo 33% (trinta e três por cento) da variação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN ao ano, aí incluída a taxa de 3% (três por cento) destinada à remuneração do Agente Financeiro.

Parágrafo único. Quando se tratar de empresas industriais e agroindustriais, em implantação, expansão ou que vierem a ser implantadas, localizadas na área da Amazônia Legal do Estado de Goiás, os encargos que incidirão sobre as mesmas será de, no máximo, 18% (dezoito por cento) na forma preconizada neste artigo.

Art. 5º As operações de crédito e as capitalizações realizadas com recursos do FOMENTAR serão consubstanciadas mediante emissão de Certificados de Benefício, com prazo máximo de 5 (cinco) anos, devendo o respectivo resgate ocorrer mediante o pagamento de tantas prestações mensais e sucessivas quantos forem os meses do prazo das operações, calculados os valores na forma do art. 4º, e a partir do vencimento do prazo de utilização do benefício.

Art. 6º Vetado.

Art. 7º O FOMENTAR será administrado por um Conselho Deliberativo e uma Diretoria Executiva.

Art. 8º O Conselho Deliberativo será composto pelos Secretários da Indústria e Comércio, do Planejamento e Coordenação, da Fazenda, pelo Presidente do Banco de Desenvolvimento do Estado de Goiás - BD - Goiás e, ainda, por representantes da Federação das Industrias do Estado, Federação dos Trabalhadores nas Indústrias em Goiás e da Organização das Cooperativas de Goiás.

Parágrafo único. O presidente do Conselho Deliberativo será o Secretário da Indústria e Comércio.

Art. 9º O presidente do Banco de Desenvolvimento do Estado de Goiás - BD - Goiás é o Diretor Executivo do FOMENTAR.

Art. 10. O Chefe do Poder Executivo regulamentará a presente lei, nas partes que se fizerem necessárias.

Art. 11. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, em Goiânia, 19 de julho de 1984, 96º da República.

IRIS REZENDE MACHADO

Page 260: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

258

LEI Nº 13.591, DE 18 DE JANEIRO DE 2000.

(PUBLICADA NO DOE DE 20.01.00)

Este texto não substitui a norma publicada no Diári o Oficial do Estado

ALTERAÇÕES:

1. Lei nº 13.801, de 19.01.01 (DOE de 25.01.01);

2. Lei nº 14.039, de 21.12.01 (DOE de 26.12.01);

3. Lei nº 14.209, de 04.07.02 (DOE de 14.07.02);

4. Lei nº 14.545, de 30.09.03 (DOE de 30.09.03);

5. Lei nº 15.046, de 29.12.04 (DOE de 29.12.04 - Suplemento);

6. Lei nº 15.124, de 25.02.05 (DOE de 28.02.05 - Suplemento).

NOTA: Texto atualizado, consolidado e anotado.

Institui o Programa de Desenvolvimento Industrial de Goiás - PRODUZIR e o Fundo de Desenvolvimento de Atividades Industriais - FUNPRODUZIR e dá outras providências.

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I

DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE GOIÁS - PRODUZIR

SEÇÃO I

DA INSTITUIÇÃO DO PRODUZIR

Art. 1º Fica instituído o Programa de Desenvolvimento Industrial de Goiás - PRODUZIR, novo instrumento de execução da política industrial do Estado de Goiás.

Parágrafo único. O PRODUZIR congregará e compatibilizará todas as ações do Governo de Goiás voltadas para o desenvolvimento da indústria goiana, observadas as diretrizes do planejamento governamental.

SEÇÃO II

DO OBJETO SOCIAL E DA FORMA DE ATUAÇÃO

Page 261: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

259

Art. 2º O PRODUZIR tem por objeto social contribuir para a expansão, modernização e diversificação do setor industrial de Goiás, estimulando a realização de investimentos, a renovação tecnológica das estruturas produtivas e o aumento da competitividade estadual, com ênfase na geração de emprego e renda e na redução das desigualdades sociais e regionais.

Art. 3º O PRODUZIR compreende ações de interesse do desenvolvimento industrial do Estado relacionadas com:

I - prestação de assistência fiscal e financeira à realização de projetos industriais de iniciativa do setor privado, nas seguintes modalidades:

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 24.01.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO I DO ART. 3º PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

I - prestação de assistência financeira à realização de projetos industriais de iniciativa do setor privado, nas seguintes modalidades:

a) incentivos fiscais;

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 24.01.01.

REVOGADA A ALÍNEA "A" DO INCISO I DO ART. 3º PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

RENUMERADA A ALÍNEA "B" DO INCISO I DO ART. 3º PARA "A" PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

a) concessão de empréstimos e financiamentos;

RENUMERADA A ALÍNEA "C" DO INCISO I DO ART. 3º PARA "B" PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

b) participação acionária;

RENUMERADA A ALÍNEA "D" DO INCISO I DO ART. 3º PARA "C" PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

c) prestação de garantias;

RENUMERADA A ALÍNEA "E" DO INCISO I DO ART. 3º PARA "D" PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

d) outras formas de assistência financeira;

II - apoio institucional e financeiro a projetos públicos e privados, relativos a ações que visam amparar e estimular o desenvolvimento industrial, nas áreas de:

a) ciência e tecnologia;

b) infra-estrutura, compreendendo terrenos, galpões industriais e obras básicas;

c) formação e treinamento de mão-de-obra especializada;

Page 262: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

260

d) promoção de investimentos;

e) realização de feiras, exposições e outros eventos da espécie;

f) outras ações.

§ 1º Na prestação da assistência prevista no inciso I e no inciso II, quando se tratar de financiamento ao setor privado, o PRODUZIR contará com os recursos financeiros e operacionais do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Industriais - FUNPRODUZIR, instituído no Capítulo II da presente lei, além da colaboração e participação de fundos e instituições financeiras, nacionais e internacionais.

§ 2º Na prestação do apoio previsto no inciso II, o PRODUZIR contará com recursos orçamentários e de repasses, estaduais e externos, entre outros, e terá a participação dos órgãos da administração estadual, de acordo com a área envolvida.

§ 3º Inclui-se, entre outras formas de apoio financeiro, a transferência de saldo credor para contribuintes estabelecidos no Estado de Goiás quando o produto resultante da atividade industrial seja isento ou não tributado, conforme dispuser o regulamento, atendidas as formas, condições e limites estabelecidos pela Secretaria da Fazenda.

SEÇÃO III

DOS BENEFICIÁRIOS

Art. 4º São beneficiários do PRODUZIR:

I - empresas industriais que venham a realizar projeto econômico considerado de interesse do Estado relativo a:

a) implantação de novo empreendimento;

b) expansão e diversificação da capacidade produtiva;

c) modernização tecnológica;

d) gestão ambiental;

e) aumento de competitividade;

f) revitalização de unidade industrial paralisada;

ACRESCIDA A ALÍNEA "G" AO INCISO I DO ART. 4º PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

g) relocalização de unidade industrial motivada por fatores estratégicos.

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261

II - agentes públicos e privados que venham a implementar projeto considerado de interesse do desenvolvimento industrial do Estado relacionado com:

a) invenção, pesquisa aplicada e novas tecnologias;

b) apoio infra-estrutural a empreendimentos produtivos;

c) formação e treinamento de mão-de-obra especializada;

d) promoção institucional de investimentos;

e) realização de feiras e exposições e eventos promocionais correlatos;

f) divulgação e marketing;

g) outras ações.

§ 1º No caso de projeto econômico industrial, é condição indispensável para a concessão dos benefícios que o mesmo tenha obtido licenciamento ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEMAGO.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO § 1º DO ART. 4º PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

§ 1º No caso de projeto econômico industrial, é condição indispensável para a concessão dos benefícios que o mesmo tenha obtido licenciamento ambiental da Agência Goiana do Meio Ambiente.

§ 2º Considera-se empreendimento ou empresa nova, para efeito de enquadramento no inciso I, alínea "a", deste artigo, aquele que estiver em fase de implantação ou em funcionamento precário no Território do Estado há no máximo 06 (seis) meses, contados da data da formalização do pedido de concessão do benefício, nos termos do regulamento.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO § 2º DO ART. 4º PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

§ 2º Considera-se empreendimento ou empresa nova, para efeito de enquadramento no inciso I, alínea "a", deste artigo, aquele que estiver em fase de implantação ou em funcionamento precário, assim entendido aquele que se encontra inscrito no Cadastro de Contribuintes do Estado e que tenha praticado eventualmente operação de circulação de mercadoria e prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

§ 3º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, não se considera empresa nova a resultante da alteração de razão ou denominação social e da transformação, cisão ou fusão de empresas já existentes.

§ 4º No caso de empresa de que trata o inciso I, alínea "b", deste artigo, o benefício somente se referirá à parcela relativa ao efetivo incremento da produção, observado o que dispuser o regulamento.

§ 5º Não se considera como projeto de expansão de capacidade produtiva a simples substituição de máquinas e equipamentos e instalações ou ainda o

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recondicionamento, modificação ou reforma do maquinário, que não representem aumento comprovado de produção.

§ 6º O projeto de modernização tecnológica previsto no inciso I, alínea "c", deste artigo, somente será enquadrado depois de apresentado laudo emitido por entidade ou perito de capacidade técnica reconhecida.

§ 7º Constitui pré-requisito para o enquadramento de projeto previsto no inciso II, alíneas "a" e "b", deste artigo, a apresentação de laudo ou parecer técnico:

I - do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia de Goiás - CONCITEC, no caso de envolver invenção, pesquisa aplicada e novas tecnologias;

II - da Secretaria de Indústria e Comércio, no caso de se referir a infra-estrutura.

§ 8º Nos casos previstos nas alíneas "a" e "c" do inciso II, será priorizada a contratação de serviços em programas desenvolvidos pela administração direta do Estado de Goiás, desde que existente à época.

Art. 5º Lei disporá sobre a inclusão ou exclusão de beneficiários do PRODUZIR, considerando a política industrial do Estado de Goiás e os objetivos estratégicos de sua economia, assim como as características de cada segmento industrial em termos de seus efeitos ao meio ambiente e à saúde.

SEÇÃO IV

DAS PRIORIDADES

Art. 6º Considera-se, para efeito desta lei, como prioritário e de fundamental interesse para o desenvolvimento econômico do Estado o empreendimento ou projeto industrial que venha atender as seguintes condições:

I - integre setor industrial com reconhecida capacidade de crescimento e identidade com a vocação econômica regional, com ênfase nas cadeias produtivas agroindustrial e mineral goianas;

II - seja objeto de relocalização, motivada por fatores ambientais e de infra-estrutura e em decorrência de vantagens locacionais, previstas no planejamento governamental estadual;

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO II DO ART. 6º PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

II - seja objeto de relocalização, motivada por fatores estratégicos;

III - contribua intensivamente para a geração de emprego;

IV - represente atividade industrial não existente em Goiás ou fabrique produto sem similar no Estado;

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263

V - seja considerado indústria geradora de novas indústrias;

VI - utilize matéria-prima estadual;

VII - promova o reflorestamento industrial;

VIII - seja destinado à geração de energia;

IX - seja fornecedor dos setores agroindustrial ou mínero-metalúrgico ou beneficiador de subprodutos ou resíduos da agroindústria, bem como classificado como indústria de reciclagem;

X - levando em conta o seu porte, volume de investimento, geração de emprego e a agregação de valor à matéria-prima, possa ser considerado estratégico para o desenvolvimento industrial;

XI - localize-se em município ou região considerada como prioritária no planejamento governamental;

XII - substitua importação de produto de outro Estado ou do exterior;

XIII - atue como incubador de outras indústrias.

§ 1º Outros empreendimentos industriais poderão ser considerados prioritários mediante decisão do Conselho Deliberativo, por maioria absoluta.

§ 2º O coeficiente de prioridade de cada projeto para efeito de cálculo do financiamento e do benefício concedido pelo PRODUZIR, inclusive a subvenção para investimento, será determinado por critérios estabelecidos no regulamento em consonância com as prioridades previstas neste artigo.

Art. 7º Fica instituído o MICROPRODUZIR, subprograma integrante do PRODUZIR, considerado prioritário e que abrangerá as ações voltadas para as empresas industriais enquadradas, ou que venham a se enquadrar, no Regime Simplificado de Recolhimento dos Tributos Federais.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 24.01.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO CAPUT DO ART. 7º PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

Art. 7º Fica instituído o MICROPRODUZIR, subprograma integrante do PRODUZIR, considerado prioritário e que abrangerá as ações voltadas para as empresas industriais, enquadradas ou não no Regime Simplificado de Recolhimento dos Tributos Federais, desde que o faturamento não ultrapasse o limite fixado para enquadramento no mencionado regime.

Parágrafo único. As empresas beneficiárias do MICROPRODUZIR terão enquadramento diferenciado e privilegiado, nos termos do regulamento, quanto:

I - ao valor da parcela mensal do financiamento, que poderá ser de até 90% (noventa inteiros por cento);

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II - aos encargos financeiros;

III - a subvenção para investimento;

IV - a regime burocrático.

SEÇÃO V

DA ORIGEM DOS RECURSOS

Art. 8º Para a consecução do seu objetivo de promoção do desenvolvimento industrial, o PRODUZIR contará com recursos provenientes:

I - do Fundo de Desenvolvimento de Atividades Industriais FUNPRODUZIR;

II - de dotações orçamentárias e repasses do Governo do Estado de Goiás;

III - de repasses do Fundo Constitucional do Centro-Oeste - FCO, resguardadas suas normas e condições operacionais;

IV - de transferências e repasses da União e municípios;

V - de empréstimos e repasses de instituições e fundos destinados ao financiamento de políticas de desenvolvimento econômico e regional;

VI - de outros recursos provenientes de convênios, doações, contribuições e outras fontes de receita que lhe forem atribuídas.

SEÇÃO VI

DAS APLICAÇÕES

Art. 9º No disciplinamento do apoio financeiro concedido pelo PRODUZIR, nos termos do art. 3º, o regulamento observará, entre outras, as seguintes diretrizes:

I - quanto aos incentivos fiscais:

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO CAPUT DO INCISO I DO ART. 9º PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

I - quanto aos financiamentos de projetos industriais:

a) terão por base a arrecadação de impostos gerados pelo estabelecimento beneficiário e as disponibilidades financeiras do Tesouro Estadual, ouvida a Secretaria da Fazenda;

NOTA: Redação com vigência de 26.12.01 a 29.09.03.

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CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO I DO ART. 9º PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

I - os financiamentos de projetos industriais terão por base o imposto que o estabelecimento beneficiário tiver de recolher ao erário e as disponibilidades financeiras do Tesouro Estadual, ouvida a Secretaria da Fazenda;

II - quanto aos empréstimos e financiamentos a projetos privados:

a) no caso de recursos do FUNPRODUZIR, os critérios operacionais serão os do próprio Fundo;

b) no caso de recursos de terceiros, as operações levarão em conta as normas e condições dos órgãos financiadores e repassadores;

c) o prazo de financiamento não poderá exceder a 60 (sessenta) meses quando se tratar de projeto de formação e treinamento de mão-de-obra especializada, invenção, pesquisa aplicada e novas tecnologias e a 36 (trinta e seis) meses quando for projeto de gestão ambiental ou de ações promocionais complementares, como feiras e exposições.

III - quanto aos financiamentos de projetos públicos relativos às ações complementares previstas no art. 3º, inciso II, desta lei:

a) terão por base recursos orçamentários estaduais e transferências e repasses federais e municipais, convênios e acordos e outras receitas adequadas, com destinação específica;

b) serão ou não reembolsáveis, dependendo da natureza do projeto e de sua capacidade de pagamento.

Parágrafo único. É expressamente vedada a concessão de assistência financeira que não seja compatível com as disponibilidades financeiras do programa.

SEÇÃO VII

DA ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE

Art. 10. A administração do PRODUZIR será composta:

I - pelo Conselho Deliberativo;

II - pela Comissão Executiva.

Art. 11. O Conselho Deliberativo terá as seguintes atribuições:

I - aprovar a programação, o orçamento e o relatório anuais;

II - estabelecer as diretrizes, prioridades e estratégias de atuação;

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III - apresentar, anualmente, ao Chefe do Poder Executivo, relatórios circunstanciados sobre a execução e os resultados auferidos pelo PRODUZIR;

IV - sugerir ao Poder Executivo modificações no disciplinamento jurídico do PRODUZIR;

ACRESCIDO O INCISO V E RENUMERADO PARA INCISO VI O INCISO V ORIGINAL PELOS ARTS. 1º E 2º, RESPECTIVAMENTE, DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

V - autorizar a utilização dos recursos do FUNPRODUZIR, por iniciativa da Secretaria Executiva do PRODUZIR, visando atender programas de interesse do desenvolvimento do Estado;

VI - outras atribuições de ordem geral.

§ 1º Comporão o Conselho Deliberativo:

I - os Secretários de Estado:

a) de Indústria e Comércio;

b) do Planejamento e Desenvolvimento;

c) da Fazenda;

d) de Cidadania e Trabalho;

e) Extraordinário de Ciência e Tecnologia;

f) de Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

g) do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e da Habitação;

h) Secretaria de Estado da Infra-Estrutura;

II - os Presidentes:

a) da Agência de Fomento de Goiás S/A;

b) da Agência Goiana de Turismo;

c) da Agência Goiana de Desenvolvimento Regional;

III - os Presidentes:

a) da Federação das Indústrias do Estado de Goiás - FIEG;

b) da Federação do Comércio do Estado de Goiás - FECOMÉRCIO;

c) da Federação da Agricultura - FAEG;

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267

d) da Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Estado de Goiás - FACIEG;

e) da Federação da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Estado de Goiás - FCDL;

f) da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias no Estado de Goiás - FTIEG;

g) da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Goiás - FETAEG;

h) da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás - ADIAL;

i) do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Goiás - OCG;

j) da Associação Goiana da Pequena Empresa - AGPE;

k) da Associação Goiana dos Municípios - AGM.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 24.01.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO À ALÍNEA "K" DO INCISO iiI DO § 1º DO ART. 11º PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

k) da Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás - ACIEG;

IV - dois (2) deputados, sendo um indicado dentre os integrantes da Comissão de Desenvolvimento e outro pela Mesa Diretora da Assembléia Legislativa.

acrescidO O INCISO V aO ART. 11º PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

V - o Presidente da Associação Goiana dos Municípios - AGM.

§ 2º A Presidência do Conselho Deliberativo será exercida pelo Secretário de Indústria e Comércio, o qual, na sua ausência ou impedimento, será substituído, na ordem estabelecida no parágrafo anterior.

§ 3º As decisões do Conselho Deliberativo serão adotadas por maioria simples de votos, presente a maioria absoluta dos seus membros, assegurado ao seu Presidente, além do voto como Secretário de Indústria e Comércio, o voto de qualidade.

§ 4º O Conselho Deliberativo reunir-se-á, semestralmente, podendo ser convocado extraordinariamente, sempre que necessário, por seu Presidente ou pela maioria dos seus conselheiros, na forma regimental.

§ 5º O Conselho Deliberativo terá uma Secretaria Executiva encarregada de operacionalizar suas decisões, que fará parte da estrutura da Secretaria de Indústria e Comércio.

§ 6º Cada Conselheiro terá o seu suplente.

Art. 12. O Conselho Deliberativo terá uma Comissão Executiva constituída pelos Secretários de Indústria e Comércio, do Planejamento e Desenvolvimento e da

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Fazenda, representando o Governo do Estado de Goiás, e 03 (três) membros eleitos pelos representantes das entidades da sociedade civil que nele participam, com as seguintes atribuições:

I - elaboração das propostas anuais de programação e do orçamento;

II - elaboração e apresentação ao Conselho Deliberativo do Relatório Anual das atividades do PRODUZIR;

III - aprovação de normas e procedimentos operacionais;

IV - aprovação de projeto e concessão de benefício;

V - acompanhamento de execução do PRODUZIR e dos projetos assistidos, em articulação com o Agente Financeiro e os outros órgãos governamentais envolvidos;

VI - outras atribuições definidas no regulamento.

§ 1º A Presidência da Comissão Executiva será exercida pelo Secretário de Indústria e Comércio, o qual, na sua ausência ou impedimento, será substituído por outro representante do Governo do Estado de Goiás, na ordem estabelecida no caput deste artigo.

§ 2º As decisões da Comissão Executiva serão adotadas por maioria simples de votos, presente a maioria absoluta dos seus membros, assegurado ao seu Presidente, além do voto como Secretário de Indústria e Comércio, o voto de qualidade.

§ 3º A Comissão Executiva reunir-se-á, mensalmente, podendo ser convocada extraordinariamente sempre que necessário, por seu Presidente ou pela maioria dos seus integrantes na forma regimental.

§ 4º A Comissão Executiva terá como Secretaria Executiva a mesma prevista no § 5º do artigo anterior.

§ 5º Das decisões da Comissão Executiva cabe pedido de reconsideração ao Conselho Deliberativo, nos casos previstos no regulamento.

Art. 13. A Agência de Fomento de Goiás S/A será o agente financeiro do PRODUZIR.

Parágrafo único. No caso de projetos públicos relativos a ações complementares, nos termos previstos no art. 3º, inciso II, desta lei, a assistência financeira e institucional poderá ser realizada diretamente por órgão governamental com atuação na respectiva área.

Art. 14. O regulamento, observado o disposto nesta lei, integrará e compatibilizará as atribuições e funções dos diversos órgãos responsáveis e envolvidos pela administração do PRODUZIR.

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Parágrafo único. Particularmente, o sistema de controle do PRODUZIR deverá contar com uma Auditoria Interna, da qual participará, pelo menos, um Auditor Fiscal dos Tributos Estaduais.

SEÇÃO VIII

DOS CRITÉRIOS DE ENQUADRAMENTO

Art. 15. Para fins de enquadramento nos benefícios do PRODUZIR, a empresa deverá:

I - apresentar projeto de viabilidade econômico-financeira, conforme modelo e requisitos constantes do regulamento, para os empreendimentos que estiverem em consonância com o que dispõem os arts. 4º, 6º e 7º desta lei;

II - endereçar carta-consulta ao Presidente da Comissão Executiva, no caso previsto no § 1º do art. 6º desta lei.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO II DO ART. 15 PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

II - endereçar carta-consulta ao Presidente da Comissão Executiva, no caso previsto no § 1º do art. 6º e no caso de relocalização de unidade industrial, conforme o disposto na alínea "g", inciso I, art. 4º, desta lei.

Parágrafo único. O Conselho Deliberativo do PRODUZIR tomará as providências administrativas para limitar o tempo de tramitação da solicitação ao máximo de 30 (trinta) dias para a obtenção de aprovação do projeto e de idênticos prazos para a contratação do benefício junto ao Agente Financeiro e para a formalização do Termo de Acordo de Regime Especial - TARE, quando este for necessário junto à Secretaria da Fazenda, contados os prazos a partir do momento em que a empresa suprir as exigências feitas pelos órgãos competentes.

CAPÍTULO II

DO FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES INDUSTRIAIS - FUNPRODUZIR

SEÇÃO I

DA INSTITUIÇÃO DO FUNPRODUZIR

Art. 16. Para dar suporte financeiro ao PRODUZIR, fica criado o Fundo de Desenvolvimento de Atividades Industriais - FUNPRODUZIR, de natureza contábil e extra-orçamentária, com autonomia financeira e administrativa, com o objetivo de

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270

financiar projetos e ações complementares considerados de interesse do desenvolvimento industrial do Estado de Goiás.

Parágrafo único. O FUNPRODUZIR poderá financiar outras atividades não relacionadas com a indústria que sejam administradas pela Secretaria de Indústria e Comércio.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 29.09.03.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO PARAGRÁFO ÚNICO DO ART. 16 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

Parágrafo único. O FUNPRODUZIR poderá financiar atividade de distribuição de mercadorias, que não sejam resultantes de operações industriais próprias, exercida por estabelecimento industrial beneficiário do programa, bem como outras atividades não relacionadas com a indústria que sejam administradas pela Secretaria de Indústria e Comércio.

SEÇÃO II

DA ORIGEM DOS RECURSOS

Art. 17. São recursos do FUNPRODUZIR:

I - as dotações consignadas no orçamento do Estado de Goiás e os créditos adicionais;

II - os provenientes das operações de crédito que forem constituídas em seu benefício, tendo o Estado de Goiás como mutuário;

III - o retorno das aplicações de empréstimos, financiamentos, arrendamentos ou outras formas de mútuo que tenha contraído com seus mutuários;

IV - as taxas, emolumentos e outras formas de cobrança pela prestação de serviços;

V - o resultado de aplicações financeiras e de capitais, bem como alienação de ações, debêntures e quaisquer outros títulos adquiridos ou incorporados;

VI - dotações orçamentárias e outras formas legais de repasses que lhe sejam destinados por municípios conveniados com o Estado de Goiás, devidamente autorizados por lei municipal, em razão de programas conjuntos de desenvolvimento de atividades industriais estratégicas;

VII - dotações e contribuições de entidades governamentais e privadas;

VIII - bens e direitos, sob qualquer forma, integralizados ao Fundo, a qualquer título;

IX - recursos de outros fundos estaduais que lhe forem destinados.

§ 1º O apoio do FUNPRODUZIR aos empreendimentos industriais somente ocorrerá para aqueles sediados ou que venham a se instalar nos territórios de municípios

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conveniados com o Estado de Goiás, nos termos do disposto no inciso VI deste artigo.

§ 2º A contribuição do Estado de Goiás para o FUNPRODUZIR não será superior a 73% (setenta e três inteiros por cento) da sua quota parte no montante do imposto pago pela empresa beneficiária que for efetivamente recolhido ao Tesouro Estadual relativo a operações industriais próprias.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 29.09.03

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO § 2º DO ART. 17 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

§ 2º A contribuição do Estado de Goiás para o FUNPRODUZIR não será superior a 73% (setenta e três inteiros por cento) da sua quota-parte no montante do imposto, relativo a operações industriais próprias, que a empresa beneficiária tiver de recolher ao Tesouro Estadual.

§ 3º A contribuição do Município conveniado com o Estado de Goiás para o FUNPRODUZIR, nos termos do disposto no inciso VI deste artigo, será, no mínimo, igual a 1/3 (um terço) da referida no parágrafo anterior.

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 24.01.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO § 3º DO ART. 17 PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

§ 3º A contribuição do Município conveniado com o Estado de Goiás para o FUNPRODUZIR, nos termos do disposto no inciso VI deste artigo, será igual a 1/3 (um terço) da referida no parágrafo anterior, multiplicado pelo Índice de Participação do Município aplicável no exercício.

§ 4º No caso do MICROPRODUZIR o valor percentual referido no § 2º deste artigo poderá ser de 90% (noventa inteiros por cento).

SEÇÃO III

DOS CRITÉRIOS OPERACIONAIS

Art. 18. Consideram-se automaticamente enquadrados nos benefícios do FUNPRODUZIR os projetos de empreendimentos industriais referidos no caput do art. 6º, desta lei, aprovados pelo PRODUZIR.

Art. 19. Obedecidos, no que couber, os critérios referidos no art. 20 desta lei, o valor do financiamento a ser concedido pelo FUNPRODUZIR, avaliado com base no estudo de viabilidade econômico-financeira do projeto, será definido, alternativamente, pelo regulamento da seguinte forma:

I - será igual ao investimento fixo, multiplicado pelo coeficiente de prioridade para ele estabelecido, somado com o montante do capital de giro estimado para um ano;

II - será aquele que puder ser fruído durante o prazo máximo possível para o financiamento, considerando-se a data de 31 de dezembro de 2020, quando ocorrerá o término do FUNPRODUZIR.

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Art. 20. A concessão de financiamento com base no faturamento e arrecadação tributária propiciada pela empresa beneficiária, conforme estabelecido no regulamento, será operacionalizada obedecendo-se aos seguintes critérios:

I - o valor da parcela mensal do financiamento será de até 73% (setenta e três inteiros por cento) do montante do imposto pago pela empresa beneficiária que for efetivamente recolhido ao Tesouro do Estado de Goiás;

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 29.09.03.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO I DO ART. 20 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

I - o valor da parcela mensal do financiamento, calculada sobre o montante do imposto que a empresa beneficiária tiver de recolher ao Tesouro Estadual, será de até:

a) 73% (setenta e três por cento), na hipótese de imposto relativo a operações industriais próprias;

b) 45% (quarenta e cinco por cento), na hipótese de imposto relativo à distribuição de mercadorias que não sejam resultantes de operações industriais próprias.

II - o valor global do financiamento corresponderá à soma das parcelas mensais desembolsadas durante o período de vigência do contrato;

III - o prazo máximo do financiamento não poderá exceder a 15 (quinze) anos, no caso do MICROPRODUZIR não excederá a 5 (cinco) anos, contado a partir da liberação da primeira parcela, com o FUNPRODUZIR vigorando até 31 de dezembro do ano 2020, com todos os financiamentos e benefícios dele resultantes encerrando-se no prazo definido em contrato ou na data prevista neste inciso;

IV - o pagamento das parcelas utilizadas mensalmente será efetuado anualmente de uma só vez, a partir do segundo ano de fruição e referente aos primeiros 12 (doze) meses do período anterior, sucessivamente;

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO IV DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

IV - o pagamento do saldo devedor será efetuado anualmente de uma só vez, a partir do término do segundo ano de fruição e referente aos 12 (doze) meses do período anterior a este, sucessivamente;

V - não incidirá atualização monetária sobre o financiamento concedido e a taxa de juros máxima será de até 0,2% (dois décimos por cento) ao mês, não capitalizável, independentemente do prazo;

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 24.01.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO V DO ART. 20 PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

V - sobre o financiamento concedido:

a) não incidirá atualização monetária;

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273

b) incidirá juros de até 0,2% (dois décimos por cento) ao mês, não capitalizáveis, cujo pagamento será feito mensalmente;

VI - as empresas beneficiárias do FUNPRODUZIR deverão comprometer-se a realizar, no ato de liberação de cada parcela mensal utilizada, a antecipação de percentual do seu valor, de, no máximo, 10% (dez por cento), conforme definido no regulamento, relativo ao pagamento do valor financiado, sendo que, para as empresas que optarem pela caução de Certificado de Depósito Bancário-CDB, nos termos do inciso VIII deste artigo, o percentual máximo fica alterado para 9,5% (nove vírgula cinco por cento);

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO VI DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

VI - as empresas beneficiárias do FUNPRODUZIR deverão comprometer-se a realizar, no ato da liberação de cada parcela mensal utilizada, a antecipação de percentual do seu valor, de, no máximo, 10% (dez por cento), conforme definido no regulamento, relativo ao pagamento do valor financiado.

VII - a título de subvenção para investimento, poderá ser concedido um desconto de 30% (trinta inteiros por cento) a 100% (cem inteiros por cento) sobre o valor do saldo devedor do financiamento, dependendo da prioridade do projeto, estabelecido na forma do art. 6º desta lei;

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 11.02.05.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO INCISO VII DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 15.046, DE 29.12.04 - VIGÊNCIA: 12.02.05.

VII - A título de subvenção para investimento, poderá ser concedido um desconto de 30% (trinta por cento) a 100% (cem porcento) sobre o valor do saldo devedor do financiamento, previsto neste artigo, dependendo da prioridade do projeto financiado, nos termos do art. 6º desta Lei, desde que atendido o seguinte:

a) o montante equivalente ao desconto obtido poderá ser utilizado na ampliação e/ou na modernização do parque industrial da empresa beneficiária dentro do prazo de até 15 (quinze) anos, a contar da arrematação respectiva;

NOTA: Redação sem vigência em função da alteração retroagir seus efeitos à 12.02.05.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO À ALÍNEA "A" DO INCISO VII DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 15.124, DE 25.02.05 - VIGÊNCIA: 12.02.05.

a) o montante equivalente ao desconto obtido deverá ser utilizado na ampliação e/ou na modernização do parque industrial do estabelecimento beneficiário do financiamento, dentro do prazo de até 15 (quinze) anos, a contar da arrematação do saldo devedor leiloado;

b) o montante equivalente ao desconto obtido, aplicado na forma indicada na alínea "a", é considerado subvenção para investimento, podendo ser incorporado ao capital social da pessoa jurídica beneficiária ou mantido em conta de reserva para futuros aumentos de capital, ficando vedada sua destinação para distribuição a título de lucro;

NOTA: Redação sem vigência em função da alteração retroagir seus efeitos à 12.02.05.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO À ALÍNEA "B" DO INCISO VII DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 15.124, DE 25.02.05 - VIGÊNCIA: 12.02.05.

b) o montante equivalente ao desconto obtido, aplicado na forma indicada na alínea "a", é considerado subvenção para investimento, podendo ser incorporado ao capital social da pessoa jurídica titular do estabelecimento beneficiário do financiamento ou mantido em conta de reserva para futuros aumentos de capital, vedada sua

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274

destinação para distribuição de dividendos ou qualquer outra parcela a título de lucro;

c) o disposto neste inciso aplica-se, igualmente, nos casos de:

c.1. quitação antecipada de contrato de financiamento do PRODUZIR cujos direitos creditícios forem adquiridos em oferta pública feita por meio de leilões, por pessoa jurídica beneficiária ou não do incentivo do Programa, na condição de investidora;

c.2. quitação antecipada, parcial ou integral, de contratos de financiamento firmados com o PRODUZIR, na forma deste inciso." NR

VIII - VETADO;

IX - VETADO;

X - o FUNPRODUZIR, através de seu agente financeiro, e a empresa beneficiária firmarão um contrato de mútuo dentro das condições desta lei e na forma regulamentar;

XI - o percentual da subvenção referida no inciso VII deste artigo é específico para cada empresa e constará do respectivo contrato de financiamento;

XII - parte do montante resultante da antecipação de pagamento previsto no inciso VI, somada aos valores correspondentes aos retornos das aplicações do FUNPRODUZIR, conforme definido no regulamento, será aplicada em outras atividades do interesse do Estado de Goiás, dentre elas:

NOTA: Redação com vigência de 20.01.00 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO CAPUT DO INCISO XII DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

XII - parte do montante resultante da antecipação de pagamento previsto no inciso VI, conforme definido no regulamento, será aplicada em outras atividades do interesse do Estado de Goiás, dentre elas:

a) cultura, ficando assegurado um mínimo de 20% (vinte por cento) do total previsto neste inciso;

b) esporte, praticado de modo não profissional, assegurando-se para tanto, o mínimo de 20% (vinte por cento) do total previsto neste inciso;

c) apoio às micro e pequenas empresas, assegurando-se para tanto, um mínimo de 45% (quarenta e cinco por cento) do total previsto neste inciso;

d) custeio do PRODUZIR e do FUNPRODUZIR, ficando assegurado, para tanto, 15% (quinze por cento) do total previsto neste inciso, desde que para aplicação exclusiva em suas atividades fins;

ACRESCIDO O INCISO XIII AO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

XIII - os valores correspondentes aos retornos dos financiamentos do FUNPRODUZIR, englobando principal, atualização monetária, juros contratuais,

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275

multas e juros de mora, conforme definido no regulamento, serão destinados em partes iguais a:

a) empréstimos e financiamentos a projetos privados;

b) custeio do PRODUZIR e do FUNPRODUZIR, desde que para aplicação exclusiva em suas atividades fins.

NOTA: O § 1º vigorou como parágrafo único até 24.01.01, quando foi renumerado pelo art. 7º da Lei nº 13.801, de 19.01.01.

§ 1º Poderá o Chefe do Poder Executivo, mediante recurso previsto em dotação orçamentária, estabelecer bases diversas do faturamento e da arrecadação tributária para concessão do financiamento, bem como os seus critérios operacionais, observado o prazo limite de 15 anos ou 31 de dezembro de 2020.

ACRESCIDO O § 2º AO ART. 20 PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

§ 2º O saldo devedor do financiamento, quando nele estiver incluído o valor total ou parcial do desconto previsto no inciso VII do caput, tem, para a sua exigência, prazo de carência igual ao do respectivo contrato, podendo o beneficiário utilizar-se do valor da antecipação em dinheiro para, alternativamente:

NOTA: Redação com vigência de 25.01.01 a 25.12.01.

CONFERIDA NOVA REDAÇÃO AO CAPUT DO § 2º DO ART. 20 PELO ART. 1º DA LEI Nº 14.039, DE 21.12.01 - VIGÊNCIA: 26.12.01.

§ 2º O saldo devedor do financiamento, quando nele estiver incluído o valor total ou parcial do desconto previsto no inciso VII do caput, tem, para a sua exigência, prazo de carência igual ao de fruição do respectivo contrato, podendo o beneficiário utilizar-se do valor da antecipação em dinheiro para, alternativamente:

I - efetuar a quitação do financiamento quando do vencimento do contrato;

II - reduzir o valor do saldo devedor do financiamento, por meio de liquidação em oferta pública a ser realizada nos meses de junho e novembro de cada ano, bastando para tanto a solicitação de qualquer beneficiário.

ACRESCIDO O § 3º AO ART. 20 PELO ART. 7º DA LEI Nº 13.801, DE 19.01.01 - VIGÊNCIA: 25.01.01.

§ 3º Na aplicação do disposto no parágrafo anterior, a quitação ou a liquidação do saldo devedor é definitiva, não se exigindo complementação e não havendo qualquer restituição ao beneficiário, observado, ainda, o seguinte:

a) o valor da antecipação em dinheiro deve ser atualizado monetariamente;

b) o valor do saldo devedor do financiamento deve ser convertido para valor presente, mediante a utilização da taxa ANBID - Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desenvolvimento.

ACRESCIDO O § 4º AO ART. 20 PELO ART. 3º DA LEI Nº 14.209, DE 04.07.02 - VIGÊNCIA: 04.07.02.

§ 4º Deve ser aplicada a alíquota de 7% (sete por cento), no cálculo do montante do ICMS devido nas operações realizadas, com produtos de fabricação própria,

Page 278: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

276

previstos no projeto industrial ou incluídos posteriormente à linha de produção de empreendimento com autorização da Comissão Executiva do Conselho Deliberativo do PRODUZIR, entre as empresas beneficiárias:

I – do Programa PRODUZIR;

II – do Programa PRODUZIR e as do Programa FOMENTAR.

ACRESCIDO O § 5º AO ART. 20 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

§ 5º A empresa industrial beneficiária do incentivo do PRODUZIR, atendidas as normas fixadas em regime especial celebrado com a Secretaria da Fazenda, pode incluir, como abrangido pelo citado incentivo, o produto resultante de industrialização efetuada neste Estado, por sua encomenda e ordem, em outro estabelecimento da beneficiária ou de terceiro.

ACRESCIDO O § 6º AO ART. 20 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

§ 6º Compõe o montante do imposto, para efeito do disposto no inciso I do caput deste artigo, na hipótese em que a beneficiária do incentivo do PRODUZIR for a substituta tributária pelas operações anteriores, o ICMS incidente:

I - no retorno da mercadoria que tenha sido remetida para industrialização, por sua encomenda e ordem, em outro estabelecimento seu ou de terceiro localizado neste Estado;

II - na aquisição de matéria-prima e de material secundário e de acondicionamento de outro estabelecimento industrial localizado neste Estado.

ACRESCIDO O § 7º AO ART. 20 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

§ 7º A liquidação do ICMS incidente na importação do exterior, de matéria-prima, de material secundário e de acondicionamento ou bem para integração ao ativo imobilizado, pode ser feita por ocasião da entrada dos mesmos no estabelecimento da beneficiária, localizado neste Estado, mediante o lançamento a débito no livro Registro de Apuração do ICMS, nos termos e prazos definidos em regime especial celebrado com a Secretaria da Fazenda.

ACRESCIDO O § 8º AO ART. 20 PELO ART. 2º DA LEI Nº 14.545, DE 30.09.03 - VIGÊNCIA: 30.09.03.

§ 8º O financiamento de atividade de distribuição de mercadorias, que não sejam resultantes de operações industriais próprias, é concedido em substituição a quaisquer benefícios fiscais concedidos sobre o valor da operação.

SEÇÃO IV

DA ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE

Page 279: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

277

Art. 21. O FUNPRODUZIR, como parte integrante do PRODUZIR, terá sua administração composta pelos mesmos órgãos previstos no art. 10, cujas respectivas atribuições são idênticas às dispostas nos arts. 11 e 12 todos desta lei.

Art. 22. A Auditoria Interna prevista no art. 14, parágrafo único, desta lei, estender-se-á ao FUNPRODUZIR.

Art. 23. A Agência de Fomento de Goiás S/A será o Agente Financeiro do FUNPRODUZIR e fará jus à taxa de administração definida no regulamento, calculada sobre o valor das operações realizadas pelo Fundo.

CAPÍTULO III

DAS PENALIDADES

SEÇÃO ÚNICA

DAS CONDIÇÕES PARA SUSPENSÃO E REVOGAÇÃO DO CONTRATO

Art. 24. O contrato de financiamento ou outra modalidade de assistência financeira poderá ser suspenso ou revogado, a qualquer tempo, no caso de inadimplência da empresa beneficiária.

§ 1º O contrato poderá ser suspenso, se ocorrer:

I - a inadimplência da empresa para com suas obrigações tributárias estaduais, assim entendido a existência de crédito tributário inscrito em dívida ativa.

II - alteração do projeto sem comunicado e aprovação da Comissão Executiva;

III - a não admissão ou redução do número mínimo de empregados previsto no projeto sem causa justificada;

IV - conduta ou atividade lesiva ao meio ambiente, tipificada no Capítulo V, "dos crimes contra o meio ambiente", artigos 29 a 69, da Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998;

V - paralisação das atividades.

§ 2º O contrato poderá ser revogado, se ocorrer:

I - desvirtuamento do projeto e utilização inidônea dos recursos do financiamento;

II - o encerramento das atividades do projeto ou da empresa;

§ 3º Tanto a suspensão quanto a revogação resultarão no vencimento e cobrança imediata da dívida junto ao FUNPRODUZIR.

Page 280: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

278

§ 4º A penalidade de que trata o § 1º deste artigo não interrompe ou suspende a contagem do prazo de fruição.

§ 5º A empresa que encerrar ou paralisar suas atividades dentro do prazo do contrato perderá o direito à subvenção para investimento, salvo decisão em contrário do Conselho Deliberativo do PRODUZIR.

§ 6º Os casos omissos serão resolvidos por deliberação do Conselho Deliberativo do PRODUZIR.

CAPÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 25. Para a efetiva contratação da operação de mútuo no âmbito do PRODUZIR e do FUNPRODUZIR, deverá ser observada toda a disposição legal aplicável, tal como a adimplência do mutuário perante o Tesouro Estadual, sua obrigação com o meio ambiente e outras dispostas em lei.

Art. 26. O Poder Executivo provisionará o PRODUZIR e o FUNPRODUZIR com os recursos financeiros necessários à execução de suas ações, de acordo com as disponibilidades do Tesouro Estadual.

Art. 27. Fica o Poder Executivo autorizado:

I - a contrair empréstimos com destinação específica para o PRODUZIR e o FUNPRODUZIR, bem como assumir obrigações através de acordos, contratos, convênios e outras formas legais de captar recursos financeiros para dotá-los das condições financeiras necessárias à sua plena operacionalização;

II - VETADO.

III - a baixar todos os regulamentos e normas necessários à execução do PRODUZIR e à operacionalização do FUNPRODUZIR, em complementação e consonância com esta lei.

Parágrafo único. VETADO.

Art. 28. VETADO.

Art. 29. VETADO.

Art. 30. VETADO.

Art. 31. Transcorrido o prazo estabelecido para o início e o término das obras necessárias à instalação e funcionamento do respectivo empreendimento ou projeto industrial, sem ou adimplemento da obrigação assumida, o imóvel e acessórios adquiridos com recursos do PRODUZIR retornarão automaticamente ao patrimônio

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279

público, independente de interpelação ou qualquer outro ato judicial, mediante acerto e conseqüente rescisão contratual.

Parágrafo único. É vedado, a qualquer título e época, sem o prévio e expresso consentimento do PRODUZIR o traspasse dos bens de que trata o caput deste artigo.

Art. 32. VETADO.

CAPÍTULO V

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 33. VETADO.

§ 1º VETADO.

§ 2º VETADO.

Art. 34. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, devendo ser regulamentada no prazo de 90 (noventa) dias, a contar do início de sua vigência.

Art. 35. Revogam-se as disposições em contrário.

PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, em, Goiânia, 18 de janeiro de 2000, 112º da República.

MARCONI FERREIRA PERILLO JÚNIOR

Floriano Gomes da Silva Filho

Jalles Fontoura de Siqueira

Willmar Guimarães Júnior

Giuseppe Vecci

Honor Cruvinel de Oliveira

Gilvane Felipe

Alcides Rodrigues Filho

Carlos Maranhão Gomes de Sá

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280

ANEXO 3

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO PROGRAMA FOMENTAR

A estrutura organizacional do Programa era composta de:

a) CONSELHO DELIBERATIVO - CD/FOMENTAR:

Era o órgão de deliberação coletiva e administradora do Programa, composto por

representantes do Governo do Estado: Secretário de Indústria e Comércio (na qualidade de

Presidente do Conselho), Secretário do Planejamento e Desenvolvimento, Secretário da

Fazenda e Secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Presidente do Banco do

Estado de Goiás S/A – BEG1, e de membros classistas: da Federação das Indústrias no Estado

de Goiás – FIEG, da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias no Estado de Goiás –

FTIEG, da Federação da Agricultura do Estado de Goiás – FAEG, da Federação das

Associações Comerciais e Industriais do Estado de Goiás – FACIEG e da Organização das

Cooperativas do Estado de Goiás – OCG, hoje OCB – Organização das Cooperativas do

Brasil.

Competia ao CD/FOMENTAR, entre outras atribuições:

- Deferir ou indeferir a concessão de benefícios do Programa FOMENTAR;

- Apreciar discutir e decidir as cartas consultas, projetos, processos administrativos e

resoluções que lhe fossem submetidos;

- Expedir certificados de credito e Resoluções assinadas pelo seu Presidente,

equivalente à participação do FOMENTAR nos investimentos de projetos aprovados;

- Decidir sobre a realização de auditagens e inspeções em empresas beneficiárias do

Programa;

- Decidir, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, quais os projetos de alta

relevância para o desenvolvimento e para a economia do Estado de Goiás, para efeito

de fixação de prazo de benefício do FOMENTAR.

b) DIRETORIA EXECUTIVA:

Composta por um Diretor Executivo, nomeado pelo Governador do Estado, e três

Coordenadores, sendo um Coordenador de Análise e Pareceres, um Coordenador de Auditoria

e Inspeção, e um Coordenador do Setor de Orçamento Contabilidade e Finanças.

1 No processo de privatização do BEG, a instituição compradora, o Banco Itaú, absorveu as obrigações dos contratos, no entanto, ainda ficou como representante no Conselho Deliberativo do FOMENTAR.

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281

Competia à Diretoria Executiva do Programa FOMENTAR, entre outras

atribuições:

- Analisar a viabilidade técnica, econômica e financeira, bem como os aspectos

jurídicos de projetos de investimentos submetidos à apreciação e deliberação do

CD/FOMENTAR

- Acompanhar e fiscalizar, por meio do Setor de Auditoria e Inspeção, a execução e o

andamento de projetos aprovados pelo Conselho Deliberativo, apresentando a ele

relatórios circunstanciados e conclusivos das verificações realizadas nas empresas;

- Determinar a realização de verificações e auditoria técnica econômica financeira e

contábil em empresas beneficiárias do Fomentar.

b.1 Ao Setor de Análise e Pareceres da Diretoria Executiva:

Competia a análise técnica e econômica do todos os projetos de viabilidade-

econômico financeira, seu enquadramento e o cálculo do incentivo a ser deferido. Este setor

era composto de técnicos geralmente Economistas graduados e registrados no CORECON –

GO 18º Região.

b.2 Ao Setor de Auditoria e Inspeção:

Competia a análise e acompanhamento dos projetos industriais aprovados pelo

CD/FOMENTAR, acompanhar a efetiva realização dos investimentos fixos propostos em

projeto, vista as empresas beneficiárias no intuito de apurar o índice de desempenho do

projeto, bem como realizar o cálculo da média do ICMS a ser recolhida aos cofres públicos,

nos casos de projetos de expansão e redução de ociosidade, verificação e comprovação da

escrita documental, bem como o cumprimento das contrapartidas elencados no projeto de

viabilidade econômico financeiro.

b.3 Ao Setor de Orçamento, Contabilidade e Finanças:

Competia o recebimento das guias de ICMS financiada, dar sua quitação,

controlar por meio de planilha os saldos das empresas beneficiárias.

c) AGENTE FINANCEIRO:

O Banco do Estado de Goiás S/A – BEG, era o Agente Financeiro do Programa

FOMENTAR, sua missão era de contratar os empréstimos homologados pelo

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282

CD/FOMENTAR, a cobrança dos juros incidentes sobre os financiamentos, bem como a

regulação e recebimento dos depósitos em Garantias CDB’s das empresas beneficiárias.

Os recursos do FOMENTAR para fazer face às suas despesas eram constituídos

de:

•••• Dotações e de créditos orçamentários específicos;

•••• Cobrança de emolumentos de 0,6% (seis décimos por cento) do valor integral

de financiamento de projetos aprovados pelo CD/FOMENTAR;

•••• Rendimentos auferidos a qualquer título, tais como, juros, correção monetária,

reembolso do valor principal do empréstimo e seus acréscimos e do resultado

de aplicações de numerários disponível no mercado financeiro, em operações

de curto prazo, feitas por intermédio de instituições oficiais de crédito;

•••• Repasse ou subvenções, a qualquer título, concedidos por instituições públicas

ou privados;

•••• Alienação de ações, debêntures ou de outros títulos representativos de capital,

subscritos de empresas societárias, bem como de bens imóveis e móveis por

ele adquiridos ou a ele transferidos ou incorporados;

•••• Outras fontes disponíveis.

Page 285: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

283

ANEXO 4

SUBPROGRAMAS DO PRODUZIR

Além do MICROPRODUZIR, destinado a incentivar a implantação ou expansão

de micro e pequenas empresas, o Programa PRODUZIR possui também os seguintes

subprogramas voltados para segmentos específicos:

CENTROPRODUZIR – destinado ao apoio à instalação de central única de distribuição e

industrialização de produtos de informática, telecomunicações, ou de automação, móvel,

eletro-eletrônico, eletrodoméstico e utilidades domésticas em geral. O Incentivo também é

estendido a empresas do segmento de supermercado e de materiais de construção civil eu

implementarem central única de distribuição e industrialização. O benefício concedido às

empresas baseia-se na concessão de financiamentos por parte do governo estadual, tendo por

base a arrecadação do ICMS, que atenda como limite os gastos relacionados a terreno,

terraplanagem, obras civis, instalações e equipamentos da empresa, multiplicados pelo

coeficiente de prioridade atribuído ao investimento. Outro limite consiste no ICMS gerado no

primeiro ano de atividade da empresa. O prazo de fruição do incentivo é de 3 a 10 anos,

dependendo do faturamento da empresa. As empresas beneficiadas pelo

CENTROPRODUZIR, assim como ocorre no Programa PRODUZIR, também terão direito a

descontos em seu saldo devedor, baseados em um conjunto de elementos definidos em lei.

TELEPRODUZIR – consiste em programa de apoio financeiro à instalação de unidade central

de atendimento (call center) no estado de Goiás. O apoio financeiro concedido à empresa

beneficiada tem como base o ICMS que a referida empresa tem que recolher ao Tesouro

Estadual, com prazo máximo do financiamento de 36 meses. As parcelas mensais não poderão

exceder o limite de 54,75% do montante de ICMS que exceder a média dos últimos 12 meses,

o empréstimo não tem correção monetária, há incidência de juros de 0,2% ao mês, carência de

12 meses.

COMEXPRODUZIR – trata-se de apoio ao comércio exterior através da concessão de crédito

outorgado no valor de 65% sobre o saldo devedor do ICMS a empresas que realizem

operações de importação e exportação por meio de empresa comercial importadora e

exportadora que tenha operações exclusivas por meio da estrutura portuária de zona

Page 286: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

284

secundária localizada no Estado de Goiás. O prazo para o benefício é de 3 a 10 anos, o que

varia de acordo com o faturamento da empresa. Há possibilidade, também, de concessão de

incentivo através da redução da base de cálculo de forma que resulte na aplicação, de fato, de

uma alíquota de 10% na saída interna promovida pela empresa comercial importadora e

exportadora, com bens e mercadorias importados do exterior e destinados à comercialização,

produção ou industrialização. As empresas que já se beneficiarem de outra redução de base de

cálculo ou concessão de crédito outorgado não poderão utilizar este benefício.

TECNOPRODUZIR – consiste em programa de apoio financeiro para obras de engenharia e

infraestrutura relativas à construção de empresas de serviço de telecomunicações e de serviço

de valor adicionado, ou seja, atividades definidas na Lei de Telecomunicações, e que se

instalem no Teleporto Parque da Serrinha. Empresas de logística, transporte, montagem de

equipamentos de alta tecnologia, armazenamento e distribuição, que se instalarem na

Plataforma Logística Multimodal de Goiás, também terão apoio às suas obras de engenharia e

infraestrutura. Para empresas que se enquadrarem nessas características é concedido um

crédito outorgado por operação própria ou de sua responsabilidade devida por substituição

tributária. O valor do crédito outorgado para o conjunto das empresas incentivadas não poderá

ultrapassar 1% da receita média mensal do ICMS, tomando por base o ano civil anterior. Para

empresas que se instalarem no Teleporto da Serrinha terá incentivo financeiro que consistem

em financiamento por 5 anos de valor mensal de 55% do ICMS mensal a ser gerado pela

empresa beneficiária. No caso de empresas recém-instaladas o valor financiado é de 30% do

ICMS mensal a ser gerado pela empresa.

LOGPRODUZIR – consiste na concessão de crédito outorgado de ICMS incidente sobre as

prestações interestaduais de transporte realizadas por empresas operadoras de logística de

distribuição de produtos no estado de Goiás. Para empresas que operem no segmento de

logística, inclusive agenciamento de carga e armazenamento, é concedido um crédito

outorgado de 50% do ICMS decorrente das prestações interestaduais de serviços de

transporte. Para empresas que realizem, cumulativamente, operações de logística, transporte

rodoviário ou aéreo, agenciamento de carga e armazenamento de mercadoria ou de própria ou

de terceiro, o crédito outorgado é de 73%. Empresas que tenham este perfil e apresentem

operações ou por conta e ordem de terceiros for superior a R$ 900 mil por mês, o crédito

outorgado é de 80% do ICMS correspondente às operações próprias ou por conta e ordem de

terceiros.

Page 287: Incentivos fiscais e desenvolvimento socioeconômico de Goiás

285

PROGREDIR – trata-se de incentivo à instalação de empresas industriais montadoras no

Estado de Goiás destinados a empresas montadoras/fabricantes das seguintes mercadorias:

produtos de informática, telecomunicações e automação, eletroeletrônicos, eletrodomésticos,

móveis e utilidades domésticas em geral, equipamentos e materiais para laboratório óptico,

relógios, fitas e discos virgens ou gravados, bicicleta, equipamentos para ginástica e

instrumentos musicais.