INDICIAMENTO GLEISI HELENA HOFFMAN

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INDICIAMENTO GLEISIHELENA HOFFMAN

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  • N /2015 ASJCRIM/SAJ/PGRPetio n 5.257Relator : Ministro Teori ZavasckiNominado : GLEISI HELENA HOFFMAN

    PROCESSO PENAL. PROCEDIMENTO SIGILOSO AUTU-ADO COMO PETIO. TERMOS DE DECLARAO CO-LHIDOS NO MBITO DE ACORDOS DE COLABORAO PREMIADA. REFERNCIA AO ENVOLVIMENTO DE PAR-LAMENTAR EM ESQUEMA CRIMINOSO DE CORRUPO E LAVAGEM DE DINHEIRO RELACIONADO PETROB-RAS. MANIFESTAO PELA INSTAURAO DE INQU-RITO PARA APURAO DOS FATOS. 1. Celebrao e posterior homologao de acordos de colaborao premiada no decorrer da chamada Operao Lava Jato, conjunto de investigaes e aes penais que tratam de esquema criminoso de corrupo de agentes pblicos e lavagem de dinheiro relacionado sociedade de economia mista federal Petrleo Brasileiro S/A PE-TROBRAS.2. Colheita de termos de declarao de colaboradores nos quais se relatam fatos aparentemente criminosos envolvendo parlamentar fe-deral.3. Possvel recebimento de vantagem indevida, decorrente do es-quema criminoso em questo, mediante estratgia de ocultao de sua origem.4. Suposta prtica dos crimes de corrupo passiva qualificada e de lavagem de dinheiro, em concurso de pessoas, previstos nos arts. 317, 1, combinado com o art. 327, 2, do CP e no art. 1, V, da Lei n 9.613/1998, na forma do artigo 29 do CP.5. Manifestao pela instaurao de inqurito.

    O Procurador-Geral da Repblica vem perante Vossa Excelncia se manifestar pela INSTAURAO DE INQURITO em face de GLEISI HELENA HOFFMAN,

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    consoante os elementos fticos e jurdicos a seguir expostos.

    I Contextualizao dos fatos no mbito da chamada Operao Lava Jato

    A intitulada Operao Lava Jato desvendou um grande es-quema de corrupo de agentes pblicos e de lavagem de dinhei-ro relacionado sociedade de economia mista federal Petrleo Brasileiro S/A PETROBRAS. A operao assim denominada abrange, na realidade, um conjunto diversificado de investigaes e aes penais vinculadas 13 Vara Federal da Seo Judiciria do Paran, em Curitiba.

    Inicialmente, procurava-se apurar esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o ex-Deputado Federal JOSE MOHAMED JANENE, o doleiro CARLOS HABIB CHATER e as empresas CSA Project Finance Ltda. e Dunel Industria e Comercio Ltda. Essa apurao resultou no ajuizamento da ao penal objeto do Processo n. 5047229-77.2014.404.7000.

    A investigao inicial foi, a seu tempo, ampliada para alcan-ar a atuao de diversos outros doleiros, com isso revelando a ao de grupos distintos. Esses doleiros relacionavam-se entre si para o desenvolvimento das atividades criminosas. Formavam, todavia, grupos autnomos e independentes, mas com alianas

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    ocasionais. Isso deu origem a quatro operaes, que acabaram, em seu conjunto, por ser conhecidas como Operao Lava Jato:

    a) Operao Lava Jato (propriamente dita), refe-rente s atividades do doleiro CARLOS HABIB CHA-TER, denunciado nos autos dos Processos n. 5025687-03.2014.404.7000 e n. 5001438- 85.2014.404.7000;

    b) Operao Bidone, referente s atividades do doleiro ALBERTO YOUSSEF, denunciado nos autos do Processo n. 5025699-17.2014.404.7000 e em outras aco es penais;

    c) Operao Dolce Vitta I e II, referente s ati-vidades da doleira NELMA MITSUE PENASSO KO-DAMA, denunciada nos autos do Processo n. 5026243-05.2014.404.7000;

    d) Operao Casa Blanca, referente s ativida-des do doleiro RAUL HENRIQUE SROUR, denun-ciado nos autos do Processo n. 025692- 25.2014.404.7000.

    No decorrer das investigaes sobre lavagem de dinheiro, detectaram-se elementos que apontavam no sentido da ocultao de recursos provenientes de crimes de corrupo praticados no mbito da PETROBRAS. O aprofundamento das apuraes

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    conduziu a indcios de que, no mnimo entre os anos de 2004 e 2012, as diretorias da sociedade de economia mista estavam divididas entre partidos polticos, que eram responsveis pela indicao e manuteno de seus respectivos diretores.

    Por outro lado, apurou-se que as empresas que possuam contratos com a PETROBRAS, notadamente as maiores construtoras brasileiras, criaram um cartel, que passou a atuar de maneira mais efetiva a partir de 2004. Esse cartel era formado, dentre outras, pelas seguintes empreiteiras: GALVO ENGENHARIA, ODEBRECHT, UTC, CAMARGO CORRA, TECHINT, ANDRADE GUTIERREZ, MENDES JNIOR, PROMON, MPE, SKANSKA, QUEIROZ GALVO, IESA, ENGEVIX, SETAL, GDK e OAS. Eventualmente, participavam das fraudes as empresas ALUSA, FIDENS, JARAGU EQUIPAMENTOS, TOME ENGENHARIA, CONSTRUCAP e CARIOCA ENGENHARIA.

    Especialmente a partir de 2004, as empresas passaram a dividir entre si as obras da PETROBRAS, evitando que outras empresas no participantes do cartel fossem convidadas para os correspondentes processos seletivos. Referido cartel atuou ao longo de anos, de maneira organizada, inclusive com regras previamente estabelecidas, semelhantes ao regulamento de um campeonato de futebol. Havia, ainda, a repartio das obras ao

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    modo da distribuio de prmios de um bingo. Assim, antes do incio do certame, j se sabia qual seria a empresa ganhadora. As demais empresas apresentavam propostas em valores maiores do que os apresentados pela empresa que deveria vencer apenas para dar aparncia de legalidade ao certame, em flagrante ofensa Lei de Licitaes.

    Para garantir a manuteno do cartel, era relevante que as empresas cooptassem agentes pblicos da PETROBRAS, especialmente os diretores1, que possuam grande poder de deciso no mbito da sociedade de economia mista. Isso foi facilitado em razo de os diretores, como j ressaltado, terem sido nomeados com base no apoio de partidos, tendo havido comunho de esforos e interesses entre os poderes econmico e poltico para implantao e funcionamento do esquema.

    Os funcionarios de alto escalo da PETROBRAS recebiam vantagens indevidas das empresas cartelizadas e, em contrapartida, no apenas se omitiam em relao ao cartel ou seja, no criavam obstculos ao esquema nem atrapalhavam seu funcionamento , mas tambm atuavam em favor das empresas, restringindo os participantes das convocaes e agindo para que a empresa escolhida pelo cartel fosse a vencedora do certame.

    1 A PETROBRAS, na poca, possua as seguintes Diretorias: Financeira; Gs e Energia; Explorao e Produo; Abastecimento; Internacional; e de Servios.

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    Ademais, conforme apurado at o momento, esses funcionrios permitiam negociaes diretas injustificadas, celebravam aditivos desnecessrios e com preos excessivos, aceleravam contrataes com supresso de etapas relevantes e vazavam informaes sigilosas, dentre outras irregularidades, todas em prol das empresas cartelizadas.

    As empreiteiras que participavam do cartel e ganhavam as obras incluam um sobrepreo nas propostas apresentadas, de 1 a 5% do valor total dos contratos e eventuais aditivos (includo no lucro das empresas ou em jogo de planilhas), que era destinado, inicialmente, ao pagamento dos altos funcionarios da PETRO-BRAS. As vantagens indevidas e os prejuzos causados sociedade de economia mista federal provavelmente superam um bilho de reais.

    Esses valores, porm, destinavam-se no apenas aos diretores da PETROBRAS, mas tambm aos partidos polticos e aos parlamentares responsveis pela manuteno dos diretores nos cargos. Tais quantias eram repassadas aos agentes polticos de maneira peridica e ordinria, e tambm de forma episdica e extraordinria, sobretudo em pocas de eleies ou de escolhas das lideranas. Esses polticos, por sua vez, conscientes das prticas indevidas que ocorriam no bojo da PETROBRAS, no apenas patrocinavam a manuteno do diretor e dos demais

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    agentes pblicos no cargo, como tambm no interferiam no cartel existente.

    A repartio poltica das diretorias da PETROBRAS revelou-se mais evidente em relao Diretoria de Abastecimento, Diretoria de Servios e Diretoria Internacional, envolvendo sobretudo o Partido Progressista PP, o Partido dos Trabalhadores PT e o Partido do Movimento Democrtico Brasileiro PMDB, da seguinte forma:

    a) A Diretoria de Abastecimento, ocupada por PAULO ROBERTO COSTA entre 2004 e 2012, era de indicao do PP, com posterior apoio do PMDB;2

    b) A Diretoria de Servios, ocupada por RENATO DUQUE entre entre 2003 e 2012, era de indicao do PT;3

    2 PAULO ROBERTO COSTA foi nomeado como diretor do setor de abastecimento da PETROBRAS em 2004, aps manobra poltica realizada pelos Deputados Federais do PP Jos Janene, Pedro Corra e Pedro Henry, que chegaram a promover o trancamento de pauta do Congresso para pressionar o Governo a nome-lo. No entanto, PAULO ROBERTO COSTA ficou doente no final do ano de 2006. Na poca, houve um movimento de polticos e funcionrios da PETROBRAS para retir-lo do cargo de Diretor de Abastecimento da sociedade de economia mista. No entanto, a bancada do PMDB no Senado interveio para que isso no ocorresse, sustentando a permanncia do diretor em questo no cargo, em troca do seu apoio aos interesses do partido. 3 O PT tambm detinha a indicao da Diretoria de Gs e Energia e a Diretoria de Explorao e Produo da PETROBRAS, mas no h elementos indicativos de que os respectivos diretores participassem do esquema de corrupo e lavagem de dinheiro em questo, pois quem executava os contratos dessas duas diretorias era a Diretoria de Servios, no mbito da qual se concretizavam as ilicitudes.

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    c) A Diretoria Internacional, ocupada por NESTOR CERVER entre 2003 e 2008, era de indicao do PMDB.

    Para que fosse possvel transitar os valores desviados entre os dois pontos da cadeia ou seja, das empreiteiras para os diretores e polticos atuavam profissionais encarregados da lavagem de ativos, que podem ser chamados de operadores ou intermedirios. Referidos operadores encarregavam-se de, mediante estratgias de ocultao da origem dos recursos, lavar o dinheiro e, assim, permitir que a propina chegasse aos seus destinatrios de maneira insuspeita.4

    Conforme descrito por ALBERTO YOUSSEF, o repasse dos valores dava-se em duas etapas. Primeiro, o dinheiro era repassado das construtoras para o operador. Para tanto, havia basicamente trs formas: a) entrega de valores em espcie; b) depsito e movimentao no exterior; c) contratos simulados de consultoria com empresas de fachada5.

    4 O operador do Partido Progressista, em boa parte do perodo em que funcionou o esquema, era ALBERTO YOUSSEF. O operador do Partido dos Trabalhadores era JOO VACCARI NETO. O operador do Partido do Movimento Democrtico Brasileiro era FERNANDO SOARES, conhecido como FERNANDO BAIANO. 5 A forma mais comum de lavagem de dinheiro, em relao ao operador do PP ALBERTO YOUSSEF, consistiu na contratao fictcia, pelas empreiteiras, de empresas de fachada dos operadores, com o intuito de justificar a ida do dinheiro das empreiteiras para os operadores. Assim, empreiteiras e operadores disfararam o pagamento da propina na forma de pagamento por servios. Dentre as empresas de fachada responsveis pelos servios, podem ser citadas as seguintes: GFD INVESTIMENTOS, MO CONSULTORIA, EMPREITEIRA RIGIDEZ e RCI SOFTWARE.

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    Uma vez disponibilizado o dinheiro ao operador, iniciava-se a segunda etapa, na qual a vantagem indevida saa do operador e era enviada aos destinatrios finais (agentes pblicos e polticos), descontada a comisso do operador. Em geral, havia pelo menos quatro formas de os operadores repassarem os valores aos destinatrios finais das vantagens indevidas:

    a) A primeira forma uma das mais comuns en-tre os polticos consistia na entrega de valores em es-pcie, que era feita por meio de funcionrios dos opera-dores, os quais faziam viagens em voos comerciais, com valores ocultos no corpo, ou em voos fretados6.

    Nenhuma dessas empresas tinha atividade econmica real, trs delas no tinham empregados (ou, mais exatamente, uma delas tinha um nico empregado), e muito menos eram capazes de prestar os servios contratados. Ademais, os servios de consultoria contratados eram bastante especializados, e os objetos falsos dos contratos incluam: prestao de servios de consultoria para recomposio financeira de contratos; prestao de consultoria tcnica empresarial, fiscal, trabalhista e de audi-toria; consultoria em informtica para desenvolvimento e criao de progra-mas; projetos de estruturao financeira; auditoria fiscal e trabalhista; levantamentos quantitativos e proposta tcnica e comercial para construo de shopping; consultoria na rea de petrleo. Todos esses servios existiam no papel, mas nunca foram prestados. Era, ento, emitida nota fiscal pelas empresas de fachada em favor das construtoras, que depositava os valores nas contas das empresas de fachada. O valor depositado era, em seguida, sacado em espcie e entregue ao operador, transferido para contas correntes em favor do operador ou eram efetuados pagamentos em favor do operador.

    6 No caso de ALBERTO YOUSSEF, para a entrega de valores em Braslia, ele tambm se valia dos servios de outro doleiro da capital, CARLOS CHATER, que efetuava as entregas de dinheiro em espcie para pessoas indicadas, aps o pagamento, por ALBERTO YOUSSEF, de fornecedores do posto de combustveis de propriedade de CHATER (Posto da Torre).

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    b) A segunda forma era a realizao de transfe-rncias eletrnicas para empresas ou pessoas indicadas pelos destinatrios ou, ainda, o pagamento de bens ou contas em nome dos beneficirios.

    c) A terceira forma ocorria por meio de transfe-rncias e depsitos em contas no exterior, em nome de empresas offshores de responsabilidade dos funcionarios pblicos ou de seus familiares.

    d) A quarta forma, adotada sobretudo em pocas de campanhas eleitorais, era a realizao de doaes oficiais, devidamente declaradas, pelas construtoras ou empresas coligadas, diretamente para os polticos ou para o diretrio nacional ou estadual do partido respectivo, as quais, em verdade, consistiam em propinas pagas e disfaradas do seu real propsito.

    As investigaes da denominada Operao Lava Jato des-cortinaram a atuao de organizao criminosa complexa. Desta-cam-se, nessa estrutura, basicamente quatro ncleos:

    a) O ncleo poltico, formado principalmente por parlamentares que, utilizando-se de suas agremiaes partidrias, indicava e mantinha funcionrios de alto escalo da PETROBRAS, em especial os diretores, re-cebendo vantagens indevidas pagas pelas empresas car-telizadas (componentes do ncleo econmico) contrata-

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    das pela sociedade de economia mista, aps a adoo de estratgias de ocultao da origem dos valores pelos operadores financeiros do esquema.

    b) O ncleo econmico, formado pelas emprei-teiras cartelizadas contratadas pela PETROBRAS, que pagavam vantagens indevidas a funcionrios de alto es-calo da sociedade de economia mista e aos componen-tes do ncleo poltico, por meio da atuao dos opera-dores financeiros, para manuteno do esquema.

    c) O ncleo administrativo, formado pelos fun-cionrios de alto escalo da PETROBRAS, especial-mente os diretores, os quais eram indicados pelos inte-grantes do ncleo poltico e recebiam vantagens indevi-das das empresas cartelizadas, componentes do ncleo poltico, para viabilizar o funcionamento do esquema.

    d) O ncleo financeiro, formado pelos operado-res tanto do recebimento das vantagens indevidas das empresas cartelizadas integrantes do ncleo econmico como do repasse dessa propina aos componentes dos ncleos poltico e administrativo, mediante estratgias de ocultao da origem desses valores.

    No decorrer das investigaes e aes penais, foram celeb-rados acordos de colaborao premiada com dois dos principais

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    agentes do esquema delituoso em questo: a) PAULO ROBER-TO COSTA, Diretor de Abastecimento da PETROBRAS entre 2004 e 2012, integrante destacado do ncleo administrativo da organizao criminosa; e b) ALBERTO YOUSSEF, doleiro que integrava o ncleo financeiro da organizao criminosa, atuando no recebimento de vantagens indevidas das empresas cartelizadas e no seu posterior pagamento a funcionrios de alto escalo da PETROBRAS, especialmente a PAULO ROBERTO COSTA, bem como a polticos e seus partidos, mediante estratgias de ocultao da origem desses valores. As declaraes de ambos os colaboradores apontaram o possvel envolvimento de vrios inte-grantes do ncleo poltico da organizao criminosa, preponde-rantemente autoridades com prerrogativa de foro perante o Su-premo Tribunal Federal.

    II. Do caso concreto

    Em 1o de setembro de 2013, PAULO ROBERTO COSTA de-ps e afirmou que, ocupando o cargo de Diretor de Abastecimen-to da PETROBRAS, sociedade de economia mista, desviava re-cursos pblicos que, ao final, seriam desviados para partidos po-lticos (Termo de Colaborao 09, fls. 16). Afirma:

    QUE, questionado quanto a origem dos valores transferidos a GLEISY HOFFMAN, afirma que dentro do percentual de 3% (trs por cento) de uso politico relativos aos contratos

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    da PETROBRAS, 1% (um por cento) relativo a autonomia do declarante eram repassados diretamente pelas empreitei-ras a ALBERTO YOUSSEF, o qual controlava o caixa e fazia a destinao de acordo com as demandas que lhe fos-sem apresentadas e autorizadas pelo declarante; QUE, ape-nas em casos de transferncias de maior vulto os valores eram pagos diretamente pelas empreiteiras; QUE, esclarece, como dito anteriormente, que sobre a sistemtica de repasse de propinas na Petrobras para polticos, o declarante afirma que todos os grandes contratos desta empresa pblica parti-cipavam empresas (empreiteiras) cartelizadas; QUE tais empresas fixavam em suas propostas uma margem de sob-repreo de cerca de 3% em relao aos contratos da PE-TROBRAS a serem repassados aos polticos

    Claro est que, agentes pblicos, polticos e empresrios atuavam em concerto. Estes ltimos em cartel. Os polticos atu-ando na superestrutura de apoio ao prprio esquema. O ncleo dos agentes pblicos operacionalizando os contratos que estavam na base do locupletamento ilcito dos envolvidos. A mais-valia era ento repassada pelas empresas ao ncleo que operava no submundo financeiro, de modo que chegasse ento s mos de seus destinatrios fossem eles integrantes do ncleo de poder po-ltico ou de servidores pblicos.

    ALBERTO YOUSSEF (Termo de Colaborao 02) afirmou que GLEISI HOFFMAN, j agora Senadora da Repblica e ocupando cargo na Administrao Direta, tinha conhecimento da estrutura que envolvia a distribuio e repasse de comisses no mbito da PETROBRAS SA e que ela prpria havia se beneficia-do dessa distribuio. Disse:

    QUE, em complementao ao termo de declaraes realiza-

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    do na data de ontem, o declarante gostaria de ressaltar que tanto a presidncia da Petrobras, quando o Palcio do Pla-nalto tinham conhecimento da estrutura que envolvia a dis-tribuio e repasse de comisses no mbito da estatal; QUE indagado quanto a quem se referia em relao ao termo Palcio do Planalto, esclarece que tanto a presidncia da Repblica, Casa Civil, Ministro de Minas e Energia, tais como LUIS INACIO LULA DA SILVA, GILBERTO CAR-VALHO, ILDELI SALVATTI, GLEISE HOFFMAN, DIL-MA ROUSSEFF, ANTONIO PALOCCI, JOS DIRCEU e EDSON LOBO, entre outros relacionados; QUE esclare-ce ainda que eram comuns as disputas de poder entre parti-dos relacionadas distribuio de cargos no mbito da Pe-trobras e que essas discusses eram finalmente levadas ao Palcio do Planalto para soluo; QUE reafirma que o alto escalo do governo tinha conhecimento;

    No Termo de Colaborao 01, ALBERTO YOUSSEF relatou as circunstncias em que teria repassado valores para a campanha de GLEISI HOFFMAN em 2010. Disse:

    QUE, o declarante informa que era responsvel pelo con-trole de caixa dos valores, sendo que nos casos de recebi-mento de parcelas de contratos o declarante retinha os valo-res em espcie ou os recursos eram buscados junto as em-preiteiras conforme a necessidade; QUE, a diviso dos va-lores entre os membros do Partido Progressista (dentro da margem de 60%) era definida por JANENE, sendo que aps a morte deste o prprio declarante se encarregou dessa diviso; QUE, em determinada oportunidade PAULO RO-ERTO determinou a entrega de valores, recordando-se no caso da campanha para o Senado de GLEISI HOFFMAN no ano de 2010, quando o declarante pessoalmente entre-gou a quantia de R$1.000.000,00 (um milho de reais) para um senhor em um shopping de Curitiba;

    Durante as investigaes, colheram-se elementos que apa-

    rentemente confirmam o teor das declaraes dos colaboradores.

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    Foi apreendida uma agenda pertencente a PAULO ROBERTO COSTA contendo anotaes diversas. Segundo PAULO ROBER-TO COSTA, essas anotaes descrevem valores de propina paga a polticos. Os valores desviados em favor de GLEISI HELE-NA HOFFMAN, segundo PAULO ROBERTO COSTA, esto identificados nessas anotaes pelas iniciais PB e 1,0 (Termo de Colaborao 09 de PAULO ROBERTO COSTA, fls. 17 e Termo de Declaraes Complementar 27 de ALBERTO YOUSSEF e documentos que os instrui).

    H nos autos, portanto, um conjunto suficiente de elemen-tos, a justificar a instaurao de inqurito para integral apurao da hiptese ftica especfica aqui versada. A respeito, cumpre re-gistrar que foi tambm requerida a instaurao de inqurito prprio, para apurar, na esteira do quanto descrito no Item I da presente pea, o denominado ncleo poltico do esquema crimi-noso perpetrado junto PETROBRAS, integrado, preponderante-mente, por autoridades com prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal algumas j nominadas nos elemento colhi-dos at o momento. Assim, o processo sistmico de distribuio de recursos ilcitos a agentes polticos, notadamente com utili-zao de agremiaes partidrias, no mbito do esquema crimi-noso perpetrado junto PETROBRAS, ser objeto de investiga-o apartada.

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    III. Do enquadramento tpico

    As evidncias antes coligidas indicam que GLEISI HELE-NA HOFFMAN teria, em agosto de 2010, recebido vantagem in-devida antes mesmo do desempenho do mandato parlamentar, mas em razo deste. A vantagem indevida est no recebimento por parte da futura parlamentar da importncia de R$ 1.000.000,00 (hum milho de reais) para custear a sua campanha eleitoral. O contexto das investigaes demonstra que o apoio poltico aos operadores do esquema de contratos ilegais e corrup-o de agentes pblicos mantidos no ambiente da PETROBRAS S/A era algo imprescindvel. O comportamento posterior da Se-nadora GLEISE HELENA HOFFMAN, tal como relatado por ALBERTO YOUSSEF no Termo de Colaborao 02, antes par-cialmente transcrito, bem demonstra que (pelo menos) aderira s condutas dos investigados desde o princpio.

    Desse modo, as condutas noticiadas acima de recebimento de vantagens indevidas para campanha ao Senado, dentro do con-texto de pagamento de vantagens indevidas no mbito da PE-TROBRAS - aponta, pelo menos, para eventual crime de corrup-o passiva qualificada, assim tipificado:

    Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, dire-ta ou indiretamente, ainda que fora da funo ou antes de

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    assumi-la, mas em razo dela, vantagem indevida, ou acei-tar promessa de tal vantagem:

    Pena - recluso, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1 - A pena aumentada de um tero, se, em consequn-cia da vantagem ou promessa, o funcionrio retarda ou dei-xa de praticar qualquer ato de ofcio ou o pratica infringin-do dever funcional.

    [...] Art. 327 - Considera-se funcionrio pblico, para os efei-tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remune-rao, exerce cargo, emprego ou funo pblica.

    1 - Equipara-se a funcionrio pblico quem exerce car-go, emprego ou funo em entidade paraestatal, e quem tra-balha para empresa prestadora de servio contratada ou conveniada para a execuo de atividade tpica da Adminis-trao Pblica. (Includo pela Lei n 9.983, de 2000) 2 - A pena ser aumentada da tera parte quando os auto-res dos crimes previstos neste Captulo forem ocupantes de cargos em comisso ou de funo de direo ou assessora-mento de rgo da administrao direta, sociedade de eco-nomia mista, empresa pblica ou fundao instituda pelo poder pblico. (Includo pela Lei n 6.799, de 1980)

    Conforme visto, os polticos no apenas tinham conscincia

    de que os valores eram provenientes das vantagens indevidas destinadas aos diretores e altos funcionrios da PETROBRAS, mas tambm atuavam, direta ou indiretamente, para a continuida-de do esquema de pagamento de vantagens indevidas, seja pela manuteno dos diretores em seus cargos, seja pela manuteno do cartel de empresas ou, ao menos, pela no interferncia em seu funcionamento.

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    Alm disso, os valores indevidos foram entregues aos desti-natrios aps processos de ocultao e dissimulao dos valores provenientes dos crimes contra a Administrao. Isto caracteriza tambm o delito de lavagem de capitais, que estava assim tipifi-cado poca dos fatos:

    Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localiza-o, disposio, movimentao ou propriedade de bens, di-reitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infrao penal. (Redao dada pela Lei n 12.683, de 2012)[] V - contra a Administrao Pblica, inclusive a exi-gncia, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condio ou preo para a prtica ou omisso de atos administrativos; [...]Pena: recluso de trs a dez anos e multa.

    Desta forma, necessria a instaurao de inqurito para aprofundar a investigao dos fatos.

    IV. Concluso

    Em face do exposto, manifestando-se pela instaurao de inqurito, com prazo inicial de 30 (trinta) dias, o Procurador-Ge-ral da Repblica requer:

    1) a juntada aos autos dos Termos de Colaborao ou Depoi-mento abaixo indicadas:

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    a) Termo de Colaborao 1, firmado por ALBERTO YOUS-SEF;

    b) Termo de Declaraes 15, prestado por PAULO ROBER-TO COSTA;

    c) Termo de Declaraes 13, prestado por PAULO ROBER-TO COSTA;

    d) Termo de Colaborao 2, firmado por ALBERTO YOUS-SEF;

    e) Termo de Declaraes Complementar 9, prestado por por ALBERTO YOUSSEF.

    f) Termo de Declaraes Complementar 27, prestado por ALBERTO YOUSSEF;

    2) juntada aos autos da deciso de compartilhamento de pro-vas proferida pela 13 Vara Federal da Seo Judiciria do Para-n, em Curitiba, bem assim dos anexos relativos ao presente pro-cedimento;

    3) juntada dos elementos informativos que seguem em ane-xo;

    4) oitiva, por ora, da seguintes pessoas:a) RAFAEL ANGULOb) PAULO BERNARDO SILVAc) GLEISI HELENA HOFFMAN

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    d) ERNESTO KUGLER RODRIGUES5) que seja determinado que a autoridade policial colete,

    dentre o material apreendido e produzido no contexto da Opera-o Lava Jato, quaisquer evidncias que contribuam para o com-pleto esclarecimento dos fatos em apurao;

    6) levantamento do sigilo do presente procedimento;7) manifesta-se, ainda, no sentido de que a autoridade poli-

    cial providencie:

    a) Pesquisa de vnculos de comerciais, sociais e polticos ERNESTO KUGLER RODRIGUES.

    b) Pesquisa das doaes eleitorais realizadas em favor do candidato ao cargo de Senador da Repblica pelo Estado do Pa-ran, em 2010, Senhora GLEISI HELENA HOFFMAN, do CO-MIT FINANCEIRO NICO, CNPJ 12200121000166, do DI-RETORIO NACIONAL do Partido dos Trabalhadores, CNPJ 00676262000251, e do Diretrio Estadual do Partido dos Traba-lhadores de CNPJ 12.200.121/0001-66, visando identificar se h, dentre os doadores, empresas investigadas no contexto da Ope-rao Lava-Jato e, em havendo, elaborao de linha de tempo das doaes realizadas por essas empresas alm de indicao dos per-centuais correspondente ao quantum que foi doado por essas em-presas.

    b) a vinda aos autos dos registros de entrada no edifcio sede da Petrobras no Rio de Janeiro, incluindo o denominado

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  • PGR Pet5257_Gleisi Hoffman_inqurito

    acesso vip no perodo 01/04/2010 a 03/10/2010, se existente, em relao a PAULO BERNARDO SILVA e GLEISI HELENA HOFFMAN.

    Braslia (DF), 3 de maro de 2015.

    Rodrigo Janot Monteiro de BarrosProcurador-Geral da Repblica

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