Informativo 4 Direito Nao Hidreletica Maraba

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Informativo do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, relacionado ao projeto de construção da Hidrelétrica de Marabá e sua relação com as comunidades afetadas.

Citation preview

  • O DIREITO DE DIZER NO construo da HIDRELTRICADE MARAB.

    4Boletim InformativoNova Cartografia Social da Amaznia

    Conveno 169: OITPARTE 1 - POLTICA GERAL Artigo 3o 1. Os povos indgenas e tribais devero gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem obstculos nem discriminao. As disposies desta Conveno sero aplicadas sem discriminao aos homens e mulheres desses povos. 2. No dever ser empregada nenhuma forma de fora ou de coero que viole os direitoshumanos e as liberdades fundamentais dos povos interessados, inclusive os direitos contidosna presente Conveno.

    Edio Especial Novembro de 2010

    Vangloria-se o Tocantins de j nascer grande, porque logo desde a sua fonte a pouco mais de trs tiros de espingar-da, de nenhuma sor te d vau, ainda na maior estao do ve-ro. Recolhe o rio Tocantins muitas guas em muitos rios. Tem quatro braos, ou ramos principais.

    Mas do Tocantins podem ver, e inferir os leitores, quanto se poderia dizer dos mais, se deles j tivramos as noticias necessrias.

    (DANIEL, Joo 1722-1776, 2004. Vol. 1, p. 60 e 69)

    O setor energtico brasileiro e a construo de barragens

    Realizao: Projeto Nova Cartografia Socialda Amaznia

    Estive pela primeira vez no local onde seria construda a hidreltrica de Tucuru em 1973. Nessa poca, nada sugeria que aquela paisagem fsica e humana iria se transformar tanto. Andei pelas pedras situadas exatamente no ponto onde seria levantada a grossa parede de concreto, de 78 metros de altura. Ela seguraria as guas do rio Tocantins, o 25 maior curso dgua do planeta, com mais de dois mil quilmetros de extenso e que j chegou a verter quase 70 milhes de litros de gua por segundo, em 1980, drenando uma bacia que ocupa 10% do territrio brasileiro.

    Quando a obra da 4 maior hidreltrica do mundo foi iniciada, em 1975, imaginava-se que ela custaria 2,1 bilhes de dlares (acabou saindo por pelo menos cinco vezes mais) e inundaria uma rea de 1.160 quilmetros quadrados (alcanou 3.100 km2).

    Supunha-se tambm que iria colocar o Par entre os Es-tados mais desenvolvidos da Federao. Um quarto de scu-lo depois que a usina entrou em operao, o Par, com o 2 maior territrio e a 9 maior populao do Brasil, o 16 em desenvolvimento humano e o 21 em PIB per capita. o ter-ceiro Estado que mais exporta energia no pas. sangrado em suas riquezas, que vo para outros rinces. Por isso pobre.

    Pode-se mudar esse modelo de desenvolvimento rabo-de-cavalo, que s cresce para baixo? A julgar pelo mo-delo da segunda grande hidreltrica do Tocantins, mais de

    200 quilmetros a montante de Tucuru, no. A AHE (nova nomenclatura das UHEs, talvez de sentido marqueteiro) se prope a gerar 2.160 megawatts (ou seriam 2.760 MW? Os prospectos no esclarecem), custa de inundar 1.115 km2 e absorver dois bilhes de dlares em oito anos. Este o ponto de par tida, geralmente embandeirado e festivo. Qual ser, porm, o ponto de chegada?

    Quando planejava sem prestar contas a ningum, a Ele-tronor te achava que podia extrair 22 milhes de MW em 27 barramentos na bacia do Araguaia-Tocantins. Concluda a usina de Tucuru, faria duas hidreltricas no Araguaia (Cou-to Magalhes e Santa Isabel). A voltaria ao Tocantins para levantar a barragem de Marab.

    Os anos passaram e o cronograma, felizmente, no se cumpriu. Sinal de que as projees de consumo, que exigiam fazer obras monumentais, a toque de caixa, no estavam cer-tas. Mas e agora? Qual a garantia que temos? a verdade o que nos anunciam, de forma to escassa? Talvez s a con-quistemos quando, ao invs de sair furando os rios e concre-tando seu leito, num ziguezague sem controle da sociedade, se passe a considerar o que a natureza est cansada de mostrar: um rio no uma sucesso de pontos isolados, mas um con-junto harmnico, integrado, completo. No se pode modificar parte dele sem afetar o todo.

    Por isso, antes de fazer, preciso saber, conhecer a ampli-tude e respeit-la. Para no destruir a pretexto de construir, no construindo o melhor para a maioria.

    A construo de barragens no Brasil tem causado inmeros impactos sociais e ambientais populao e ao meio ambiente. Segundo estudos, j se construram mais de 2 mil barragens no Brasil, expulsando mais de 1 milho de pessoas de suas terras e alagando mais de 3,4 milhes de hectares de terras frteis. Se-gundo estudos de viabilidade, prev-se a construo de mais de 1.400 novas barragens at 2030, sendo que mais de 300 esto em solos Amaznicos, para atender s empresas multinacionais.

    Essas barragens tm mostrado que a energia gerada serve para atender as grandes indstrias multinacionais instaladas aqui, que pagam 10 vezes a menos de tarifa que o povo bra-sileiro. S a VALE consome quase 5% de toda a energia brasi-leira e paga 3 centavos pelo Kw consumido, enquanto o povo paraense, paga mais de 30 centavos/Kw.

    A barragem de Marab tambm tem essa finalidade. Ao in-vs de gerar desenvolvimento, emprego e oportunidades para a regio, significa gerar energia para as grandes indstrias de minerao da regio e regies mais desenvolvidas do pas. Alm disso, vai servir para o saqueio ainda maior das riquezas naturais da regio, atravs da Hidrovia Araguaia-Tocantins. E o povo s fica com os impactos e as migalhas desses projetos. So mais de 10 mil famlias que sero atingidas em 9 munic-pios. E para onde vo essas famlias?

    Vamos lutar contra a construo dessa obra, contra a privatizao de nossos rios e exigir um plano de desenvolvi-mento pautado no respeito ao meio ambiente e populao paraense.

    Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB

    O rio e o homemLcio Flvio Pinto

  • Coordenao: Alfredo Wagner Berno de Almeida - NCSA/CESTU/UEA, CNPq e Rosa Elizabeth Acevedo Marin - UFPA-NAEA/UNAMAZ

    Organizao desta edio: Joseline Simone Barreto Trindade - UFPA-Campus Marab PPGA; Rosa Elizabeth Acevedo Marin UFPA-NAEA/UNAMAZ

    Colaboradores: Irislane Pereira de Moraes (UFPA, PPGA), Thiago Cruz (Cincias Sociais, UFPA-Marab ) Eric de Belm Oliveira (FUNAI, UFPA), Rogrio Paulo Hohn (MAB), Raimundo Gomes da Cruz Neto (CEPASP), Daniela Hohn (MAB), Bruno Malheiros (UFPA-Marab), Cynthia Martins (UEMA), Eliana Teles Rodrigues (UFPA, PPGA); Ulisses Guimares (PPGG-UFPA)

    Reviso: Camila do Valle Projeto Grfico: FATO Comunicao

    Fotografia: Arquivos do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Arquivo Fundao Casa da Cultura de Marab; Irislane Pereira Moraes; Joseline Simone Barreto Trindade; Rosa Elizabeth Acevedo Marin; Agnelo QueirozCatalogao na Fonte: O Direito de dizer no construo da hidreltrica de Marab

    Nos meses de maio, julho, agosto e setembro de 2009, realizaram-se diversas reunies e atividades em Marab, sudeste do Par, nas quais par ticiparam representantes de instituies pblicas, associaes, movimentos sociais. Na ocasio, estudaram o Projeto de Aproveitamento Hidreltrico de Marab AHE Ma-rab (prevista no PAC - Programa de Acelerao do Crescimento do Governo do Presidente Luis Igncio Lula da Silva) e procederam a examinar as situaes e problemas sociais j em curso e as projees so-ciais, econmicas e ecolgicas que produzir sobre a vida de mais de 40 mil pessoas com a construo de uma nova hidreltrica sobre o rio Tocantins. Equipes de pesquisadores, agentes de movimentos sociais, de organizaes no-governamentais realizaram uma via-gem pelo rio Tocantins, par tindo de Marab at a sede do municpio de So Joo do Araguaia para realizar observaes sobre este trecho do rio.

    Visitaram e entrevistaram indgenas em suas aldeias, moradores nos seus povoados, participaram de reunies, produziram levantamento de informaes em rgos p-blicos, bibliotecas, coligiram e organizaram dados tanto no Par quanto no Maranho e Tocantins com objetivo

    Ficha elaborada por Rosenira Izabel de Oliveira - CRB 011/529

    Capa: Primeira: Foto do Rio Tocantins retirada do livro de Igncio Moura, de 1925. Destaques, segunda, vista do Rio Tocantis

    de montar este Boletim Informativo N 4 do PNCSA. A atividade de pesquisa continuou at outubro de 2010 para sua finalizao. Nessa sequncia, aconteceram reunies no assentamento Araras, na vila de Apinajs e acompa-nhamento de duas outras reunies, a primeira na aldeia Parkatej no dia 28 de abril e a segunda, solicitada pelos vereadores da Cmara Municipal de So Joo do Ara-guaia, no dia 15 de maio de 2010.

    Este documento tem a finalidade de divulgar e ampliar o conhecimento sobre este projeto que desconsidera o direito dos povos e comunidades tradicionais (indgenas, quilombolas, quebradeiras de coco babau, pescadores, extrativistas); ouvir e partilhar das questes relativas construo dessa hidreltrica, que produzir a desterri-torializao de grupos sociais e profundos conflitos so-cioambientais. Intervenes deste tipo j marcaram o rio Tocantins com a construo das hidreltricas de Tucurui (1976 - 1984), Estreito (2007 - em construo), Lajeado - AHE Luis Eduardo Magalhes (1998 - 2002) e outras esto previstas: Serra da Mesa, Canabrava, So Salva-dor, Peixe Angical, Ipueiras, Tupirantins, Serra Quebrada e Marab. Ainda na bacia do Araguaia-Tocantins esto Itacaiunas I, Itacaiunas II e Santa Isabel.

    Srie: Movimentos sociais e conflitos nas cidades da Amaznia.

    Expe

    dien

    te

    Ponte Rodoferroviria sobre o rio Tocantins

    Boletim Informativo 4 2Cidades, Vilas desaparecero com a construo da AHE de Marab

    Tocantins Barraram-me de ser menino Barraram-me de cumprir o meu caminho Barraram-me de escolher o meu destino Agora sou chamado existncia para no mais existir De quem sero as horas contadas por minha correnteza? Como discorrer o tempo ao vento se querem me afogar? So as lgrimas de um mundo doente que vo me inundar? No verde destas guas que ainda me restam Reflete um passado infeliz que teima em voltar No basta de insanidades? Deixem que eu seja tribo

    Deixem que eu seja vivo Tenho um sentido com milhes de sentidos No vou deixar de ser adulto No vou desviar o meu trajeto No vou seguir o absurdo Da ganncia de um projeto Querem me roubar a alma E justificam isso por escusos fins Mas permanecerei firme s margens de mim Tocantins

    Bruno Cezar Malheiro 11 de fevereiro de 2010.

    Hidreltrica: mais umenclave

    A partir da Segunda Guerra Mundial, sob a he-gemonia norte-americana, desenvolve-se o centro do capitalismo mundial com a participao de sete pa-ses, que passam a dirigir, econmica e politicamen-te, o planeta terra, subor-dinando s suas regras as periferias asiticas, africanas e a Amrica Latina, considera-das como potencialmente fornecedoras de matrias-primas necessrias ao desenvolvimento econmico do centro.

    A hidreltrica Marab mais um empreendimento dentre os diversos que tm sido implantados na Amaz-nia para atender a estes interesses, com a desagregao social prpria desta lgica. A hidreltrica e o lago que ser formado expulsaro de suas terras 10 mil famlias de agricultores, extrativistas, pescadores, ribeirinhos e moradores diversos de cidades de nove municpios dos Estados do Par, Maranho e Tocantins.

    Como este empreendimento no trar benefcios para a populao regional mas, sim para as poucas empresas que comercializaro a energia produzida pelo empreen-dimento, ele no nos interessa; portanto, no poder ser construdo. Vida em primeiro lugar: a fora da trans-formao est na organizao popular. (Grito dos(as) excludos(as) 2009).

    Raimundo Gomes da Cruz NetoCEPASP - Marab-Par

    Igreja de So Joo do Araguaia

    Festa do Divino Espirito Santo - Bairro Santo Rosa Marab (11/07/2009)

    Nova Cartografia Social da Amaznia 15

    B688 Boletim Informativo Nova Cartografia Social da Amaznia: O DIREITO DE DIZER NO construo da HIDRELTRICA DE MARAB. Ano 3, n.4 (Nov.2010) / Projeto Nova Cartografia Social da Amaznia, orga- nizado por Alfredo Wagner Berno de Almeida... [et al]. - Manaus:UEA Edies / PPGAS-UFAM, 2010. 16 p.: il. Semestral ISSN - 1984-6371 1. Conflitos Sociais - Amaznia - Peridicos I. Projeto Nova Cartografia Social da Amaznia II. Almeida, Alfredo Wagner Berno de.

    CDU 316.48 (811)(05)

  • Projeto da Hidreltrica de Marab

    Esse jogo de relaes se estabelece com a Eletronor-te, FUNAI, INCRA, IBAMA, Governo do Estado e ainda com as empresas de consultoria e construtoras.

    A FUNAI decide, em Braslia, a forma como os indge-nas sero convencidos a aceitar o empreendimento. O INCRA omite-se em tratar o que ocorrer com os assen-tados. As Consultoras elaboram os estudos instantne-os de EIA, RIMA. O Ministrio do Meio Ambiente e o IBA-MA procuram acelerar a aprovao do Estudo de Impacto Ambiental e o Relatrio de Impacto Ambiental. Os gover-nadores, os prefeitos unem-se em consrcios. Muitos polticos, senadores, deputados, vereadores opinam a fa-vor de sua construo por entender que representa be-nefcios para o Estado, a regio e os municpios.

    A construo da hidreltrica de Marab invade, interfere na vida dos assentados, dos indgenas, dos pescadores, dos ribeirinhos, dos moradores de bairros das cidades, produzindo um espao de relaes especficas com cada uma dessas categorias.

    A Eletronorte continua a prtica de ordenar e decidir projetos deste tipo, desconsiderando os direitos dos su-jeitos sociais. Os primeiros anncios situam o clculo de quantos sero atingidos, dito de forma to espontnea, to natural como a quantidade de megawatts a ser produ-zida, a rea do reservatrio, o custo da obra e o nmero de empregos.

    A razo maior a lucratividade do empreendimento para os setores energtico e mineral, que so os principais interessados na construo desta obra de infraestrutura. Como todos os projetos de construo de hidreltricas na Amaznia, so indiferentes s vozes, opinies, angs-tias, inseguranas e outros sentimentos dos Indgenas, Assentados, Ribeirinhos, Quebradeiras de coco babau, Moradores de novos e antigos povoados ou cidades do vale do rio Tocantins. As chamadas reunies pblicas se realizam sob um esquema de convencimento e de autorida-de por parte dos tcnicos a partir do discurso que anuncia os benefcios. Com este busca-se, desviar a ateno sobre esses sujeitos sociais, seus modos de vida, territorialidades especficas ameaadas e ainda sobre os conflitos socioam-bientais que o empreendimento hidreltrico provocar.

    O Projeto da Hidreltrica de Marab j estava formu-lado, desde 1980, no Programa Grande Carajs - PGC. Retomado em 2001, marca novos passos com os cha-mados estudos de viabilidade e as reunies pblicas, que esto sendo feitos sem o consentimento dos assen-tados, ribeirinhos e indgenas.

    Sntese do Projeto da Hidreltrica

    A hidreltrica de Marab est planejada para ser construda distante 4 km a montante da Ponte Rodoferroviria do Tocantins. O custo de sua construo est estimado em dois bilhes de dlares, com um prazo de construo mdio de oito anos. Esta hidreltrica ter capacidade de produo de 2.160 MW, tornando-se um aporte considervel para o Sistema Interligado Nacional. Localmente fornecer energia para empreendimentos siderrgicos amplia-o das minas de ferro e cobre e projetos do parque de Cincia e Tecnologia de Marab. A hidreltrica formar um lago 3.055 km bem maior do que o lago formado pela hidreltrica de Tucuru.Sero inundados 1115km de terras (mais de 110 mil hectares de terras frteis).

    Atingidos pelo projeto

    Atingir 12 municpios em 3 estados: Par (Marab, So Joo do Araguaia, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Nova Ipixuna, Palestina do Par); Tocantins (Anans, Esperantina e Araguatins) e Maranho (So Pedro da gua Branca e Santa Helena).A barragem atingir mais de 10 mil famlias, cerca de 40 mil pessoas, segundo dados fornecidospela Eletronorte.Indgenas, quebradeiras de coco babau, pescadores, assentados, ribeirinhos, moradores de povoadose cidade esto sendo ameaados pelo projeto.

    Fonte: MAB e Eletronorte

    Localizada na margem esquerda do rio Tocantins, re-ceber o canteiro de obras e est em posio estratgica, pois nela ser construdo um muro de conteno. No ve-ro de 2008, tiveram inmeras visitas de funcionrios das empresas terceirizadas. O senhor Jorge comentou: as pessoas das empresas entram e o primeiro que fa-zem destruir. E quando se pergunta o que fazem? Dizem que cumprem ordens (Sr. Jorge )

    O dilogo com os funcionrios das empresas tam-bm rspido, marcando a autoridade e a irreversibilidade da deciso: vocs no podem embargar. Se voc impe-dir, vai ser processado, vai cadeia. Na casa do senhor Benedito, eles cortaram arame e foi a empresa. Ns fo-mos com o senhor Benedito. Os caras cortaram arame e foi encontrado o gado do Benedito em Bacabal. Eles cortaram e no pediram licena para ningum.

    O Sr. Jorge da Associao dos Moradores de Esprito Santo, detm informaes sobre o que ocorrer nos as-sentamentos adjacentes:

    A hidreltrica expulsar 40.000 pessoas. O quadro dos expulsos no para provocar sorrisos. Mais acima entra, na ocupao Landi (ocupao com mais de sessen-ta famlias), na rea do assentamento Me Maria; no Ub. Em So Joo do Araguaia e Tocantins. Em alguns pontos est tudo controlado por meio de radar - impedem esse projeto. Na proximidade de Bacabal h algumas pedras, eles guardaram... Tambm sero submergidas fazendas, escolas, postos de sade. So dez assentamentos. A vila e terras do povoado de Esprito Santo tm limites com a

    Reserva Me Maria, na faixa que foi invadida por possei-ros. Na atualidade, est rodeada de fazendas (a maior com extenso de 200 alqueires), as chcaras tm sido adquiridas por moradores da cidade de Marab como es-pao de lazer nos finais de semana e de famlias que ali vivem e cultivam.

    Em Bacabal e Esprito Santo, os denominados cha-queiros, proprietrios de chcaras entre 10 a 20 hecta-res, tambm esto em estado de alerta com a construo da hidreltrica de Marab. O senhor Artemiro, chaqueiro de Bacabal, reuniu-se ao grupo que conversava no Bar de dona Cludia. Ele disse: esse meu stio tem quatro alqueires. Est na Gleba Geladinho, que vai at Flecheira, onde Me Maria. Isto aqui do INTERPA; aqui do tem-po do GETAT. O documento da Gleba est com o INCRA. Ns no sabemos o que vai acontecer com a gente. Eu j plantei muitas fruteiras.

    Pescadores, marisqueiros, como ouvimos falar em Esprito Santo, experimentam a diminuio dos recursos da ictiofauna pelas alteraes do regime hidrolgico do rio Tocantins, provocado pela barragem de Tucuru. No trecho entre Marab e So Joo do Araguaia, as condi-es de trabalho dos pescadores foram profundamente afetadas com a construo da hidreltrica de Tucuru. O novo empreendimento barrageiro da AHE Marab reper-cutir nas suas prticas desenvolvidas nesta bacia do Araguaia-Tocantins, e em Itacainas, onde tambm esto previstas mais duas barragens.

    Vila de Esprito Santo

    So Joo do Araguaia foi fundada em 1911 e o municpio com maior populao rural do Sudeste do Par. Em 2007, So Joo do Araguaia tinha um total de 17.957 habitantes sendo que mais de 80% (14.419 habitantes) estava classificada como rural.

    A formao do lago ir atingir em cheio seu centro histrico, onde est a igreja matriz em honra a So Joo Batista. O cemitrio, cen-tenrio, que est na margem do rio Tocantins, tambm ir submergir.

    Escola da Vila de Esprito Santo

    Boletim Informativo 4 14 Nova Cartografia Social da Amaznia 3

  • Wakymh mekto knhito nxkaka: O direito dedizer no!

    Wakymh mekto knhito nxkaka significa:

    Ns no aceitamos a construo de barra-

    gem, de jeito nenhum, na lngua Gavio. Esta

    frase foi dita por um Akrtikatej, Hpryre Ro-

    nore Jnpikti Payar, liderana indgena, em

    relao ao projeto de hidreltrica de Marab.

    Payar um lder reconhecido na luta em defesa dos direitos indgenas. Sua liderana foi construda, quando com

    os demais integrantes do seu povo Akrtikatej (Gavio da Montanha) resistiu para permanecer no territrio ancestral.

    Na dcada de 1970, a Eletronorte pressionou-os a sair das Terras da Montanha, localizadas na margem direita do

    rio Tocantins, onde foi levantado o canteiro de obras da hidreltrica de Tucuru. Payar foi torturado. Os parentes lhe

    aconselharam a vir para Me Maria. O povo Akrtikatej continua a exigir, por ser de direito, a devoluo da rea (o que

    no vai ocorrer j que est debaixo dgua); ou a reposio de novas terras, em igual dimenso e qualidade ecolgica.

    Alm disso, eles reclamam uma indenizao pelos prejuzos sofridos quando da transferncia e por ter ficado tantos anos

    privados de seu territrio.

    Payar, ao contar sua histria de dizer no, mostra sua mo esquerda, que fora quase decepada, em 1984, em

    virtude de uma das inmeras aes de presso para que sasse das Terras da Montanha. Ante esta violncia, registrou

    uma declarao pblica de ameaa de morte, no Cartrio do 2 Ofcio de Marab. Ao se referir a sua mo, marcada

    com uma cicatriz profunda de corte de faco, Payar afirma que aquele fato s serviu para lhe fortalecer e continuar a

    luta contra os desmandos dos que queriam a ferro e a fogo lhe usurpar o territrio ancestral.

    A construo da Hidreltrica de Tucuru no significou somente a perda de seu territrio, fato que configura grave

    violao dos seus direitos. Aps o deslocamento compulsrio, os Akrtikatej tiveram que enfrentar com os demais

    grupos indgenas, novas intervenes em seu territrio: construo da BR-222 (antiga PA-70); a linha de transmisso

    de alta tenso da Eletronorte, a estrada de Ferro Carajs.

    A linha de alta tenso de Tucuru na Terra Indgena Me Maria resultou no desmatamento de uma faixa de 19 km de

    castanhais. Momentaneamente, o territrio indgena foi ocupado por posseiros, deslocando o conflito com a empresa

    para desencontros entre indgenas e posseiros.

    A retomada do projeto da Hidreltrica de Marab, em 2001, coloca os ndios Gavies em estado de alerta.

    Akrtikatej, Hpryre Ronore Jnpikti Payar . I Seminrio Nacional de Educao Indgena realizado na aldeia Kiykateje, em julho de 2009.

    Meu nome Juarez Monteiro Chavito, eu tenho poucas palavras pra dizer, conhecido por Z Chavito, nascido e criado nessa regio. Sou pai de 21 filhos, e tenho 60 netos, 20 bisnetos. A histria que eu tenho pra contar sobre Api-najs, eu amo esse lugar. Apinajs, a maior paixo que eu tenho. Quando foi a poca em 42, a poca do garimpo do diamante, a histria de Apinajs, eu vou contar do comeo, esse Apinajs aqui era uma aldeia de ndio, ai muitos tempos, assim meus avs contava, e ai se acabou, ficou como Apinajs aqui, era uma aldeia de ndio Apinaj. E a, eu saa trs hora da madrugada, quando era 5 horas eu vinha carregado de peixe; isso se acabou, hoje no tem caa, hoje no tem tracaj, no tem tartaruga, hoje no tem mata. Eu era casta-nheiro, trabalhei de castanha muito tempo, trabalhei no garimpo, me filiei na colnia de pescador, t com 35 anos que labuto na colnia, me aposentei e me afastei. Eu no tenho mais fora pra sair daqui e fazer outra casa, tenho 75 anos. Mas eu trabalho na minha roa, se vocs pudesse fazer um passeio l na vazante para conhecer e v que eu t falando a verdade. Eu tenho um jar-dim muito lindo, eu tenho felicidade, isso que eu tenho medo de perder. Mais se Deus ajudar ns, uma alegria da minha vida t tendo essa oportunidade de t no meio de vocs. (Oficina 27 de junho de 2010, na vila de Apinajs)

    Meu nome Maria Eliene Ferreira da Silva, nasci e me criei dentro do Apinajs. Tenho 30 anos, e o que eu digo, Apinajs, uma vila muito histrica pra gente, a gente no quer a que a barragem chegue e tome ela, e seja destruda, porque vai destruir a nao brasileira, nos no pode destruir com a nao brasileira, porque muito im-

    Em Apinajs est a Colnia de Pescadores Z-45, que congrega o maior nmero de pescadores ativos.

    portante pra gente, n? Sou pescadora tenho minha carteira de pescadora. Eu

    vivo da pesca, boto roa tambm, ns veve disso. Ai se destruir tudo, pra onde ns vamos? Tenho seis filhos, pra onde que eu vou correr?

    (Oficina 27 de junho de 2010, na vila de Apinajs).

    Apinajs, a maior paixo que eu tenho.

    Sr. Juarez Monteiro Chavito

    Vista do rio Araguaia, Vila de apinajs, So Joo do Araguaia

    Boletim Informativo 4 4 Nova Cartografia Social da Amaznia 13

  • Quadro I : Terras indgenas ameaadas pela AHE de Marab - Estado do Par.Terra Indgena

    Municpiorea total(ha)

    Situao Fundiria

    EtnaPopulao (hab)

    TI Me Maria Bom Jesus do Tocantins

    62.488,45 Demarcada e Homologada 21/08/1986

    Gavio Parkatej Gavio Kyikatej Gavio Akrtikatej

    34224239

    TI Soror So Geraldo do Araguaia

    26,257,89 Demarcada e Homologada

    Suru Aikewara (aldeia Soror) Suru (aldeia Itahi)

    31449

    Fonte: Mapa demonstrativo das Populaes Indgenas Arquivo Funai (AERMAB)-Funasa (2009)

    Quadro II: Terras indgenas ameaadas pela AHE de Marab - Estado do Tocantins.Terra Indgena Municpio

    rea total (ha)

    Situao Fundiria Etna

    Populao (hab)

    TI Apinay Tocantinpolis, Mauritnia doTocantins, So Bento e Cachoeirinha

    141.904,00 Homologada (03/11/1997)

    Apinaj 1.262

    Fonte: site do Instituto Socio-Ambiental (acessado maio de 2010)Carta dos Indgenas Parkatej Funai.

    Quebradeiras e Assentados: o que dizem?Nos municpios de So Joo do Araguaia, So Do-

    mingos do Araguaia, Palestina do Par e Brejo Grande organiza-se a coordenao regional do Movimento Inte-restadual das Quebradeiras de Coco Babau MIQCB.

    Em So Domingos do Araguaia, no dia 29 de agosto de 2009, estavam reunidas 19 quebradeiras que vivem e trabalham nos assentamentos Araras, 21 de Abril, Cas-tanheira, Vila So Benedito, alm de quatro mulheres de Palestina do Par, todas em reas que esto ameaadas de ficar submersas pela formao do lago da Hidreltrica de Marab.

    As quebradeiras de coco babau tm feito denncias frequentes sobre a devastao dos babauais atravs do desmatamento indiscriminado, a produo de carvo ve-getal feito de coco babau nas carvoarias para alimentar os fornos de ferro gusa, a expanso desordenada do re-banho bovino e, mais recentemente, enfrentam as incer-tezas da construo da hidreltrica de Marab.

    Se depender de mim, eu luto mesmo! Cada uma das quebradeiras de coco e assentadas pensa assim (Sra. Ana Rosa)

    A Sra. Maria Raimunda Bencio falou: Ns estamos com 22 anos, recebemos a terra no dia 19 de dezembro de 1987. Nesse ano vai festejar 22 anos do Araras. As pessoas no esto querendo essa hidreltrica... nem no Landi, Ub, So Joo do Araguaia, Apinajs. A gente est reunindo pra fazer grupos, fazer manifestao. O Sindicato orienta pra nos fazer algo. Muita gente que no quer. Eu tenho 80 ps de laranja, tenho mais frutas e no estou pensando em barragem. Se a gente fincar p, no acontecer. Se aqui pode eclodir, pode morrer muita gente se quebra o muro.

    No Castanhal Araras, explicou a Sra. Maria Raimunda, vem ocorrendo a entrada de tcnicos de empresas contratadas para fazer medies. Eles no informam sobre seus propsitos e entram sem solicitar licena. Eles fizeram levantamento dos lotes que vo ser atingidos e marcaram trs reunies, mas nunca vieram. Outra observao feita na oportunidade dizia respeito aos compro-missos do INCRA com o programa de moradia: O INCRA mandou fazer cinquenta casas e quem vai inundar a barragem. Assim que vamos receber essa casa, mas a barragem que vai ocupar. Minha casa ainda no terminou e j est ameaada. E eu sonhei com essa casa.

    A Sra. Edna Santos mora na vila So Benedito e diz que a Eletronorte chega para fazer cadastro e mais cadastro; o mesmo que dizer para fazer despejo. Ns estamos sabendo, porque vimos no mapa de uma estrada que vai ser aberta que vai para Carajs, que vai cortar o povoado e tudo vai mudar, porque os que sarem dos assentamentos l na frente, vo vir para c. Tambm viro muitos problemas com essa estrada asfaltada.

    A Sra. Maria Raimunda Benicio dos Santos coordena o Grupo de Mulheres do Castanhal Araras e faz parte do MIQCB.

    Porque eu vejo falar muito em questo de indenizao, indenizao disso, daquilo, mas eu num acredito muito, no, porque tambm alm de uma inde-nizao, vejo tanta gente que perdeu o que tinha e hoje vive na pior.

    Que, alm disso, que ningum se preocupasse que todo mundo ia ser in-denizado n, quando fosse pra comear ia passar algum tomando o nome de todo mundo pra poder fazer essa indenizao. Mais recente, acho que h uns dois anos, houve uma reunio na vila, o pessoal da Associao, do Sindicato (STR), Emater, um bucado de coisa a, trouxeram um pessoal a, pra passar o vdeo mostrando justamente a situao que acontece com os alagados, n? depois que, assim um fato que vai sair a barragem um fato, talvez seja at um fato consumado n, ento vai sair? Vai. Agora quem garante que ns vamos receber essa indenizao?! n? Ento se sair, alguns recebem outros no recebem. Resultado, mesmo que receba, vai ficar sem a terra, vai ficar na pior, n. Deles entra na justia dele num entra, deles recebe o que ele d, que sabe que alguns dele quando disser assim: a barragem vai sair, voc tem tan-tos dias pra d o lote desocupado, pra sair da terra. Voc tem que sair, porque o qu que voc vai ficar fazendo dentro dgua. N? Infelizmente.

    A senhora acha que a barragem tem alguma importncia para a sua famlia e para a comunidade? Qual?

    No, a importncia que eu vejo s pra aumentar os cofres pblicos. S isso que eu vejo, porque pra ns a energia mais caro que eu acho a nossa. E ns tamos usando a hidreltrica aqui no nosso estado. Deveria ser uma ener-gia mais barata, o que a gente v passa na televiso que as prprias pessoas que moram perto da hidreltrica no tem energia.

    Quem garante que ns vamos receber indenizao?!

    Entrevista com Sra. Maria Luzimar da Silva. Assentada do PA Araras (17/07/2009)

    A Senhora sabe o que uma hidreltrica? Imagino... uma fonte de energia, n, que poderia ser at pra baratear mais o nosso consumo, quando na verdade a gente sabe que construindo umahidreltrica aqui perto, s vai acabar com tudo que a gente teme poder deixar gente sem receber nada.

    Mulheres pescando a beira do rio Tocantins

    Boletim Informativo 4 12 Nova Cartografia Social da Amaznia 5

  • Sra. Maria Romana, quebradeira de coco babau, moradora em Palestina do Par, durante o encontro realizado no Stio do Bispo, em So Domingos do Araguaia.

    Eu amo, eu amo este lugar

    As questes que dizem respeito indenizao tomam a forma de um jogo de imposies e cinismo. Uma en-trevistada comentou a recomendao do tcnico: Vocs plantem, vo plantando bastante aa, que depois vamos indenizar, sobretudo aa, tamarina, acerola, goiaba e voc vai ficar rica.... Uma assentada relatou que em uma reunio ficaram sabendo que algum que tinha tempo morando e tinha cem alqueires tinha a mesma indeniza-o de um que tinha cinco....

    Outras situaes tornam-se insuportveis para quem tem crdito, como a senhora Ana Rosa, que est devendo

    direita a senhora Edna Santos explica a forma impositiva dos cadastros dos assentados realizados pela Eletronorte.

    Portanto, constituem o ncleo dos que permanecem. A Sra. Raimunda Alves Costa refletiu sobre o que representa o lote e afirmou: com a hidreltri-ca, vamos perder tudo que construmos. Eles nem vo nos indenizar! Vai ser como em Tucuru que no indenizaram e vamos ficar sem nada.

    A Sra. Edna Santos acrescentou: Eletronorte vai dar mixaria... e volta, vamos ter que entrar na justia e ela no vai querer saber.

    As quebradeiras de coco e assentadas reconhecem que trabalharam e fi-caram com mais idade e sentem a ameaa de perder a terra e as dificuldades para recomear tudo, novamente, do zero.

    Palestina do Par , na representao da Sra. Maria Romana (75 anos), quase uma ilha; de um lado o Araguaia e de outro o Tocantins. E eu no sabia que sou uma atingida. A Eletronorte j entrou, e ns estava em reunio do Sindicato e das Quebradeiras.

    quatorze mil reais e tomou conhecimento que fariam des-conto: Falaram que vo indenizar e se est devendo ao banco vai ser descontado. Eu estou cheia de filhos; vou ficar na rua, sem nada!....

    A fala da senhora Rosa dos Santos Silva, do Movi-mento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau e assentada no PA 21 de abril, foi enftica no temor construo da hidreltrica: Hoje todo mundo t ve-lho. No tem condies de colocarem a gente debaixo da gua, muito difcil a gente chegar ver o lote da gente, virar s gua.

    Quando eu vejo falar disso eu fico triste demais... Tudo que a gente sofreu aqui por um pedao de terra, pra hoje a gente, de repente, sair. E difcil demais... s vezes, eu digo que s vou sair daqui quando os bichos ti-ver tudo boiando por a... Eu luto por aquele lugar, porque eu amo aquele lugar, onde a gente criou nossos filhos, trabalhou... pra gente sair de repente? No fcil no. Meus filhos todos foram criados naquele lugar, j tenho netos. Eu amo aquele lugar. A gente luta muito, enquanto eu puder lutar, eu luto por aquele lugar. O que depender de mim eu luto mesmo. Eu amo aquele lugar!.

    No Assentamento 21 de Abril moram 49 famlias e ali os mais atingidos sero os de baixo. Ali vai encher as grotas. O capim vai morrer. Os lugares altos tm lugar que vai ficar seco. Este o trecho da fala de Francisco Silva, filho da senhora Rosa dos Santos Silva.

    As quebradeiras de coco e assentadas, a maioria, tm 20 anos na terra conquistada

    Quadro III. Assentamentos que sero atingidos pela Hidreltrica de MarabAssentamentos que sero atingidos pela AHEHidreltrica de Marab no Estado do Par

    Nome do PA Ano de criaoNde famlias

    Localizao/ Muncipios

    rea (ha)

    Castanhal ArarasAssentamento em consolidao

    4 -08 -1987 92 So Joo do Araguaia 5.084,8463

    21 de AbrilAssentamento em consolidao

    9-11-2000 48 So Joo do Araguaia 1.699,9892

    1 de Maro 15-06-1998 350 So Joo do Araguaia 1.0960,292

    Me MariaAssentamento em Instalao

    09-12-1999 92 Bom Jesus do Tocantins 3.876,7200

    Prata * 22-12-2009 79 So Joo do Araguaia 3.064,258

    Bom Jesus * 22-12-2003 48 Brejo Grande 1.506,5284

    Angical * 27-05-1998 97 Palestina do Par 4.822,7145

    Aaizal * 27-05-1998 85 Palestina do Par 3.216,9550

    Rio Mar * 09-12-1998 90 Palestina do Par 3.636,1100

    Lago Azul * 30-12-1999 96 Nova Ipixuna 3596,5006

    Castanheira II * 14-01-1999 156 Brejo Grande 3894,8209

    Moreschi * 27-05-1998 122 So Joo do Araguaia 3.820,3000

    Bacabal Grande *(Projeto Estadual de Assent. Sustentvel)

    22-12-2009 43 Bom Jesus do Tocantins 28507500

    Sabino So Pedro * 22-09-1999 75 Marab 2.3148861

    N S Perpetuo *Socorro

    24-12-1999 60 Marab 1593,6640

    Primavera do *Araguaia

    16-09-1998 174 So Joo do Araguaia 3.600.0000

    Pimenteira * 16-09-1998 137 So Joo do Araguaia 3468,2471

    4 de julho * 2-09-2002 62 So Joo do Araguaia 1350,0000

    Ub * 17-06-1997 62 So Domingos do Araguaia

    4289,5955

    * Assentamento CriadoFonte: Sistema de Informao de Projeto de Reforma Agrria. Acessado (25/03/2010) - INCRA

    Assentamentos que sero atingidos pela AHEHidreltrica de Marab no Estado do Maranho

    Nome do PA Ano de CriaoN de Famlias

    Localizao/ Muncipios rea (ha)

    GUA BRANCA * 12/01/2007 42 S. P. da gua Branca 3.576,9730

    Novo Horizonte I * 65 Santa Helena 1.841,0800

    Campo Novo * 34 Santa Helena 96,0000

    Tambor Centro Velho *

    206 Santa Helena 5.773,0910

    Deus Proteja * 09/05/2005 138 Vila Nova dos Martrios 3.326,7090

    Dibom I * 30/09/2005 484 Palmeirandia 3.425,8240

    Dibom II * 30/09/2005 260 Palmeirandia 1.576,1720

    * Assentamentos CriadosFonte: Sistema de Informao de Projeto de Reforma Agrria. Acessado (08/04/2010) - INCRA

    Assentamentos criados nos municpios da rea de Influncia de AHE Marab no Estado do Tocantins.

    Nome do Assentamento

    MunicpioTtulos Concedidos

    Trecho seco Araguatins TD 1

    Ouro Verde Araguatins TD 87

    Nova Vida Araguatins CU 6

    Ronca Araguatins CU 6

    So Jos Araguatins TD 59

    Atanasio Araguatins TD 67

    Marco Freire Araguatins TD 43

    Padre Josimo Araguatins TD 41

    Dona Eunice Araguatins TD 44

    Mutiro Araguatins TD 24

    Rancho Alegre Araguatins TD 28

    Petrnio Araguatins CU 18

    Santa Helena II Araguatins CU 2

    Nova Unio Araguatins CU 79

    Tobasa Esperantina CU 29

    Araguaiala Esperantina TD 34

    Boa Esperana Esperantina TD 39

    Lago Preto Esperantina TD 33

    Mulatos Esperantina TD 34

    Bico do Papagaio Esperantina TD 14

    Tocantins Esperantina TD 10

    Portela Esperantina TD 16

    Vazante So Sebastiodo Tocantins

    TD 2

    Nova Estrela So Sebastiodo Tocantins

    TD 41

    Pingo dgua So Sebastiodo Tocantins

    TD 40

    Jurandi Belizrio So Sebastiodo Tocantins

    CU 2

    TD: Ttulo de domnioCU: Concesso de usoFonte: Sistema de Informao de Projeto de Reforma Agrria. Acessado (17/09/2010) - INCRA

    Oficina na Vila de Apinajs.

    Boletim Informativo 4 6 Nova Cartografia Social da Amaznia 11

  • Desde os anos setenta, na regio sul e sudeste do Par, ampliaram-se os nveis de disparidade no controle dos recursos naturais, aferidos pelo ndice de concentrao fundiria, os que pareciam difceis de serem rever-tidos pela ao de entidades de re-presentao dos trabalhadores rurais (Sindicatos), de instituies de defesa e assessoria s reivindicaes cam-ponesas e indgenas. As ocupaes de terra vieram se contrapor lgica dos patres dos garimpos, das em-presas mineradoras e da oligarquia da castanha, convertidos seus membros em pecuaristas. O fenmeno da vio-lncia contra os posseiros, garim-peiros, indgenas, cobrou dezenas de vtimas. Foi depois desses acontecimentos que alguns receberam lotes nos assentamentos e passaram a ser classificados de assentados do programa de Reforma Agrria do go-verno federal.

    Os movimentos de camponeses e ndios reivindica-ram e conquistaram o direito de continuar a utilizar os recursos, de permanecer na terra e circular livremente, exigir condies dignas de trabalho e respeito s normas contratuais. Enquanto isto, a permanncia de um siste-ma social repressivo no campo e de foras conservado-ras amparadas no aparato policial militar e em recursos jurdicos do Estado favoreceu a impunidade.

    Hoje, como ontem, o que est em evidncia a forma como o Estado assume o poder de mudar o destino de grupos humanos, oferecendo-lhes uma alternativa de lo-calizao espacial, de dispor dos recursos naturais e de estabelecer normas para a ocupao, o uso, a explora-o e a distribuio de terras nos denominados assenta-mentos; essas possibilidades expressam e potencializam o poder do Estado. Todavia, na situao presente, este irrompe contra essa conquista dos assentados, que re-

    presentaria a territorializao do campesinato no sul e sudeste do Par. Mas quando se decide a construo da hidreltrica de Marab desmontam-se os projetos familia-res e coletivos dos assentados.

    O sucesso de suas lutas concretizou-se nos assenta-mentos, como poltica oficial de regularizao das terras. Os assentamentos do INCRA no Sudeste esto calculados em 500, o maior nmero em todo o pas, e representa, na tica do Estado, um financiamento elevado nesta poltica.

    Com a construo da hidreltrica, esse mesmo Es-tado assume o poder de mudar o destino desses gru-pos desfazendo e desmontando os projetos individuais e coletivos dos assentados.

    No conjunto dos assentamentos, nenhum atingiu o ttulo de emancipado. Nesta situao, como fica a au-tonomia dos assentados em decidir face interveno do Estado para construir a hidreltrica?

    Com esta ao, o Estado faz e refaz polticas. Gru-pos de assentados retornam situao de reassentados. Qual a sustentabilidade da poltica de assentamento? No quadro 3, esto os assentamentos que sero total ou parcialmente inundados com a formao do lago.

    Mulheres quebradeiras reunidas em So Domingos do Araguaia (19/08/2009)

    Polticas fundirias no sudeste do Par: decises arbitrrias

    Babauais no PA Castanhal Araras

    Essa hidreltrica vai ser uma catstrofe, vai dizimar uma comunidade, vai desaparecer com uma histria (Senhor Raimundo Barbosa, 52 anos, vive h 20 anos no PA Castanhal Araras)

    Assentados: O que perdem?Entrevista com o Sr. Lus Gonzaga, assentado do PA Araras , (17/07/2005)Como o senhor adquiriu o lote? Adquiri aqui o seguinte, com muita dificuldade, n?

    A gente chegou, hoje estamos aqui, a gente chegou a adquirir esse lote, num foi fcil, de maneira alguma. Eu morava, na poca, bem no Maranho, e a trabalhava l, l num tinha terra, trabalhava na vazante, a surgiu essa invaso l no Me Maria, e por bem eu achei e um companheiro, um cum-pade meu foi pra l e depois chegou animado que tambm ia entrar nessa guerra n? L era tipo uma guerrinha, l num era muito fcil. Chamou, me convidou e eu pensei assim: daqui uns dia eu vou topar. A topei e fumo. Comeamo a entrar l e comeamo a enfrentar a batalha. Dizendo que era de um ms pra outro a gente adquiria essa terra, n? Quando a gente sen-tava pra conversar: No, tal ms vai resolvida e a gente j vai ganhar a ter-ra, ento bor l que ligeiro no sei o qu. E cada ms vinha essa histria de ms a ms, certo que foi mais de um ano nessa luta e cada dia aumen-tando pra frente, chegava hora de eu dizer que eu ia at disistir, eu pensava, a mulher num gostava dessa ida pra l mais no, que ningum ia ganhar mais essa terra, eu s deixando ela sozinha, teve dia da gente ficar at assim meio abusado uns aos outros, por que ela queria que eu dismanecesse da caminhada e eu num queria, n? Digo no eu l to cum um difunto, vamo dizer um doente, ou enterro ou ento eu vejo levantar sadio, a eu decido sair, ento ou l eu recebo a terra ou ento desenganado que ns num recebe, mas enquanto isso eu num saio(...) e assim continuamo, n? Caminhando pra l direto e as ve-zes em quando muita bagaceira de conflito, essa coisa toda, era pirigoso, at que graas a Deus comearam a entrar em acordo pra negociar a rea, veio o momento de negociao, entra a FUNAI, Vale do Rio Doce, foi que formou essa nego-ciao, n? Pra tirar a gente de l e d outra rea, que essa aqui, ser todo mundo remanejado pra c.

    A gente como j tava na luta, a gente vai escapar, s vezes vai miorar e graas a Deus mior mesmo, n? A fumo tirado, vamo pro INCRA, no INCRA vocs vo pas-sar l quinze dia, com quize dia, no mximo quinze dia ou um ms, vocs j vo direto pra dentro da terra l. Fumo l pro INCRA, cheguemo l acampemo debaixo de um p de manga, num barraco vi l, s gua quente e

    murioca, tudo o que num prestava, e guento sete ms l. Passar s um ms ou quinze dia, passou sete ms, enfrentamo l essa dificuldade, a cum sete ms foi de-cidido essa mudana nossa pra c. Cheguemo ainda na

    coisa boa, cheguemo ainda era mata pura, mata virge de tudo quanto era jeito, a logo de frente a gente en-controu uma histria duma malria, n? Eu cum quinze dia que cheguei cum minha famlia aqui no assen-tamento fui logo tirando meus dois menino mais velho, j quase, num foi na rede, porque botamo logo no caminho na porta do madereiro, e a comeou a carretilha, o sofrimen-to, cum oito dias eu vim l do SESP fui visitar os outros e tinha dois do mesmo jeito, quase esfraquejando, levei tambm, a mulher assombrou e disse: Eu num fico. Joguei tudo em cima do madereiro e fumo pra l, deixamo tudo a largado, mora l em baixo, l em baixo, l passemo um ms e vinte e cinco dia, era s dando alta um e outro caindo, at os

    derradeiro foi eu e a mulher. Ento isso num moleza, n? A gente enfrent, a a mulher dizia: num vamos mais pra l no. Eu digo: Vamo. As enfermeira, o doutor dizia: num v no que voc vai perder sua famlia. Digo: Vamo ns, vamo e no vamo perder ningum. Vocs vo mor-rer. Eu disse: morro se ficar aqui, aqui v morrer de fome, morrer de tanta coisa. A teimemo e voltemo mesmo pra c, e graas a Deus, hoje tamos, aquela histria: foi um sonho que a gente sonhou, encontrou muita dificuldade na estrada, na viagem, mas se realizou e hoje na realidade que a gente se encontra hoje, graas a Deus, a gente t satisfeito. Num tem vitria sem uma histria, n? uma luta. Quando v uma pessoa contar uma histria que tem uma vitria, tudo, mas ele num contou uma histria, uma luta, aquela conversa, ele entrou pela porta do fundo.

    Oficina no PA Araras

    Boletim Informativo 4 10 Nova Cartografia Social da Amaznia 7

  • Marab

    Itupiranga

    Araguatins

    Anans

    Rondon do Par

    Cidelndia

    So Geraldo do Araguaia

    Nova Ipixuna

    Bom Jesus do Tocantins

    Jacund

    Itaguatins

    Angico

    Tocantinpolis

    Riachinho

    So Bento do Tocantins

    So Joo do Araguaia

    Nazar

    Palestina do Par

    So Domingos do Araguaia Brejo Grande do Araguaia

    Esperantina

    Abel Figueiredo

    Cachoeirinha

    Luzinpolis

    Vila Nova dos Martrios

    Maurilndia do Tocantins

    So Pedro da gua Branca

    Augustinpolis

    SampaioBuriti do TocantinsCarrasco Bonito

    Stio Novo do Tocantins

    So Sebastio do Tocantins

    Santa Terezinha do Tocantins

    Axix do Tocantins

    TI Me Maria

    TI Soror

    TI Nova Jacund

    APA LAGO DE TUCURU

    APA DE SO GERALDO DO ARAGUAIA

    APA DO RIO TAQUARI

    APA LAGO DE SANTA IZABEL

    PE DA SERRA DOS MARTRIOS/ANDORINHAS

    RESEX DO CIRIACO

    RESEX DO EXTREMO NORTE DO ESTADO DO TOCANTINS

    RPPN TIBIRI

    RPPN FAZENDA PIONEIRA

    APA SAPUCAIA

    APA DE BARREIRO DAS ANTAS

    RPPN FAZENDA SO JOS GLEBA ITINGA A

    NazarAngico

    Anans

    Marab

    XambioPiarra

    EstreitoAraguan

    Mosquito

    Riachinho

    Itaguatins

    Araguatins

    Imperatriz

    Cidelndia

    Itupiranga

    Luzinpolis

    Davinpolis

    Praia Norte

    Esperantina

    Porto Franco

    Cachoeirinha

    Curionpolis

    Nova Ipixuna

    Aguiarnpolis

    Tocantinpolis

    Augustinpolis

    Rondon do Par

    Abel Figueiredo

    Palestina do Par

    Buriti do Tocantins

    Eldorado dos Carajs

    So Joo do Araguaia

    So Bento do Tocantins

    Bom Jesus do Tocantins

    So Geraldo do Araguaia

    Stio Novo do Tocantins

    So Miguel do Tocantins

    Vila Nova dos Martrios

    Maurilndia do Tocantins

    Brejo Grande do Araguaia

    So Domingos do Araguaia

    So Pedro da gua Branca

    Santa Terezinha do Tocantins

    4730'0"W

    4730'0"W

    480'0"W

    480'0"W

    4830'0"W

    4830'0"W

    490'0"W

    490'0"W

    4930'0"W

    4930'0"W

    50'

    0"S

    50'

    0"S

    530

    '0"S

    530

    '0"S

    60'

    0"S

    60'

    0"S

    630

    '0"S

    630

    '0"S

    Sistema de Coordenadas GeogrficasLat/Long

    Sistema de RefernciaWGS-84

    Base de Vetorial: SIPAM/IBGE (2004) em escala original de 1:250.000. Base de Projetos de Assentamentosdo INCRA.

    Hidreltrica de Marab: Territorialidades Especficas e Conflitos

    Rio Tocantins

    Rio Toca

    ntins

    Rio Araguaia

    PNCSANovembro - 2010

    10 0 10 20 305Km

    Projeto Nova Cartografia Social da AmazniaCartografia: Ulisses Guimares Eliana Teles Joseline Trindade Rosa Acevedo

    rea de Estudo

    Legenda

    Vila Esprito Santo

    Vila de Aaizal

    Vila de Santana

    Vila de So Benedito

    Vila de So Jos

    R Sedes

    rea a Ser Inundada

    Hidrografia

    Unidades de Conservao

    Projeto de Assentamento Ameaado de Inundao

    Projeto de Assentamento

    Terra Indgena

    rea de Influncia Indireta

    Limites Municipais

    Municpios do Par Situados na rea de Influncia Indireta

    Municpios do Tocantins Situados na rea de Influncia Indireta

    Municpios do Maranho Situados na rea de Influncia Indireta

    Siderrgica de Ferro Gusa

    Vila de Apinajs

    Canteiro de Obra

    rea de Conflito - Bico do Papagaio

    Hidreltrica Projetada

    Antigo Castanhal

    Marco de Instalao Sem Autorizao

    Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau

  • Marab

    Itupiranga

    Araguatins

    Anans

    Rondon do Par

    Cidelndia

    So Geraldo do Araguaia

    Nova Ipixuna

    Bom Jesus do Tocantins

    Jacund

    Itaguatins

    Angico

    Tocantinpolis

    Riachinho

    So Bento do Tocantins

    So Joo do Araguaia

    Nazar

    Palestina do Par

    So Domingos do Araguaia Brejo Grande do Araguaia

    Esperantina

    Abel Figueiredo

    Cachoeirinha

    Luzinpolis

    Vila Nova dos Martrios

    Maurilndia do Tocantins

    So Pedro da gua Branca

    Augustinpolis

    SampaioBuriti do TocantinsCarrasco Bonito

    Stio Novo do Tocantins

    So Sebastio do Tocantins

    Santa Terezinha do Tocantins

    Axix do Tocantins

    TI Me Maria

    TI Soror

    TI Nova Jacund

    APA LAGO DE TUCURU

    APA DE SO GERALDO DO ARAGUAIA

    APA DO RIO TAQUARI

    APA LAGO DE SANTA IZABEL

    PE DA SERRA DOS MARTRIOS/ANDORINHAS

    RESEX DO CIRIACO

    RESEX DO EXTREMO NORTE DO ESTADO DO TOCANTINS

    RPPN TIBIRI

    RPPN FAZENDA PIONEIRA

    APA SAPUCAIA

    APA DE BARREIRO DAS ANTAS

    RPPN FAZENDA SO JOS GLEBA ITINGA A

    NazarAngico

    Anans

    Marab

    XambioPiarra

    EstreitoAraguan

    Mosquito

    Riachinho

    Itaguatins

    Araguatins

    Imperatriz

    Cidelndia

    Itupiranga

    Luzinpolis

    Davinpolis

    Praia Norte

    Esperantina

    Porto Franco

    Cachoeirinha

    Curionpolis

    Nova Ipixuna

    Aguiarnpolis

    Tocantinpolis

    Augustinpolis

    Rondon do Par

    Abel Figueiredo

    Palestina do Par

    Buriti do Tocantins

    Eldorado dos Carajs

    So Joo do Araguaia

    So Bento do Tocantins

    Bom Jesus do Tocantins

    So Geraldo do Araguaia

    Stio Novo do Tocantins

    So Miguel do Tocantins

    Vila Nova dos Martrios

    Maurilndia do Tocantins

    Brejo Grande do Araguaia

    So Domingos do Araguaia

    So Pedro da gua Branca

    Santa Terezinha do Tocantins

    4730'0"W

    4730'0"W

    480'0"W

    480'0"W

    4830'0"W

    4830'0"W

    490'0"W

    490'0"W

    4930'0"W

    4930'0"W

    50'

    0"S

    50'

    0"S

    530

    '0"S

    530

    '0"S

    60'

    0"S

    60'

    0"S

    630

    '0"S

    630

    '0"S

    Sistema de Coordenadas GeogrficasLat/Long

    Sistema de RefernciaWGS-84

    Base de Vetorial: SIPAM/IBGE (2004) em escala original de 1:250.000. Base de Projetos de Assentamentosdo INCRA.

    Hidreltrica de Marab: Territorialidades Especficas e Conflitos

    Rio Tocantins

    Rio Toca

    ntins

    Rio Araguaia

    PNCSANovembro - 2010

    10 0 10 20 305Km

    Projeto Nova Cartografia Social da AmazniaCartografia: Ulisses Guimares Eliana Teles Joseline Trindade Rosa Acevedo

    rea de Estudo

    Legenda

    Vila Esprito Santo

    Vila de Aaizal

    Vila de Santana

    Vila de So Benedito

    Vila de So Jos

    R Sedes

    rea a Ser Inundada

    Hidrografia

    Unidades de Conservao

    Projeto de Assentamento Ameaado de Inundao

    Projeto de Assentamento

    Terra Indgena

    rea de Influncia Indireta

    Limites Municipais

    Municpios do Par Situados na rea de Influncia Indireta

    Municpios do Tocantins Situados na rea de Influncia Indireta

    Municpios do Maranho Situados na rea de Influncia Indireta

    Siderrgica de Ferro Gusa

    Vila de Apinajs

    Canteiro de Obra

    rea de Conflito - Bico do Papagaio

    Hidreltrica Projetada

    Antigo Castanhal

    Marco de Instalao Sem Autorizao

    Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau

  • Desde os anos setenta, na regio sul e sudeste do Par, ampliaram-se os nveis de disparidade no controle dos recursos naturais, aferidos pelo ndice de concentrao fundiria, os que pareciam difceis de serem rever-tidos pela ao de entidades de re-presentao dos trabalhadores rurais (Sindicatos), de instituies de defesa e assessoria s reivindicaes cam-ponesas e indgenas. As ocupaes de terra vieram se contrapor lgica dos patres dos garimpos, das em-presas mineradoras e da oligarquia da castanha, convertidos seus membros em pecuaristas. O fenmeno da vio-lncia contra os posseiros, garim-peiros, indgenas, cobrou dezenas de vtimas. Foi depois desses acontecimentos que alguns receberam lotes nos assentamentos e passaram a ser classificados de assentados do programa de Reforma Agrria do go-verno federal.

    Os movimentos de camponeses e ndios reivindica-ram e conquistaram o direito de continuar a utilizar os recursos, de permanecer na terra e circular livremente, exigir condies dignas de trabalho e respeito s normas contratuais. Enquanto isto, a permanncia de um siste-ma social repressivo no campo e de foras conservado-ras amparadas no aparato policial militar e em recursos jurdicos do Estado favoreceu a impunidade.

    Hoje, como ontem, o que est em evidncia a forma como o Estado assume o poder de mudar o destino de grupos humanos, oferecendo-lhes uma alternativa de lo-calizao espacial, de dispor dos recursos naturais e de estabelecer normas para a ocupao, o uso, a explora-o e a distribuio de terras nos denominados assenta-mentos; essas possibilidades expressam e potencializam o poder do Estado. Todavia, na situao presente, este irrompe contra essa conquista dos assentados, que re-

    presentaria a territorializao do campesinato no sul e sudeste do Par. Mas quando se decide a construo da hidreltrica de Marab desmontam-se os projetos familia-res e coletivos dos assentados.

    O sucesso de suas lutas concretizou-se nos assenta-mentos, como poltica oficial de regularizao das terras. Os assentamentos do INCRA no Sudeste esto calculados em 500, o maior nmero em todo o pas, e representa, na tica do Estado, um financiamento elevado nesta poltica.

    Com a construo da hidreltrica, esse mesmo Es-tado assume o poder de mudar o destino desses gru-pos desfazendo e desmontando os projetos individuais e coletivos dos assentados.

    No conjunto dos assentamentos, nenhum atingiu o ttulo de emancipado. Nesta situao, como fica a au-tonomia dos assentados em decidir face interveno do Estado para construir a hidreltrica?

    Com esta ao, o Estado faz e refaz polticas. Gru-pos de assentados retornam situao de reassentados. Qual a sustentabilidade da poltica de assentamento? No quadro 3, esto os assentamentos que sero total ou parcialmente inundados com a formao do lago.

    Mulheres quebradeiras reunidas em So Domingos do Araguaia (19/08/2009)

    Polticas fundirias no sudeste do Par: decises arbitrrias

    Babauais no PA Castanhal Araras

    Essa hidreltrica vai ser uma catstrofe, vai dizimar uma comunidade, vai desaparecer com uma histria (Senhor Raimundo Barbosa, 52 anos, vive h 20 anos no PA Castanhal Araras)

    Assentados: O que perdem?Entrevista com o Sr. Lus Gonzaga, assentado do PA Araras , (17/07/2005)Como o senhor adquiriu o lote? Adquiri aqui o seguinte, com muita dificuldade, n?

    A gente chegou, hoje estamos aqui, a gente chegou a adquirir esse lote, num foi fcil, de maneira alguma. Eu morava, na poca, bem no Maranho, e a trabalhava l, l num tinha terra, trabalhava na vazante, a surgiu essa invaso l no Me Maria, e por bem eu achei e um companheiro, um cum-pade meu foi pra l e depois chegou animado que tambm ia entrar nessa guerra n? L era tipo uma guerrinha, l num era muito fcil. Chamou, me convidou e eu pensei assim: daqui uns dia eu vou topar. A topei e fumo. Comeamo a entrar l e comeamo a enfrentar a batalha. Dizendo que era de um ms pra outro a gente adquiria essa terra, n? Quando a gente sen-tava pra conversar: No, tal ms vai resolvida e a gente j vai ganhar a ter-ra, ento bor l que ligeiro no sei o qu. E cada ms vinha essa histria de ms a ms, certo que foi mais de um ano nessa luta e cada dia aumen-tando pra frente, chegava hora de eu dizer que eu ia at disistir, eu pensava, a mulher num gostava dessa ida pra l mais no, que ningum ia ganhar mais essa terra, eu s deixando ela sozinha, teve dia da gente ficar at assim meio abusado uns aos outros, por que ela queria que eu dismanecesse da caminhada e eu num queria, n? Digo no eu l to cum um difunto, vamo dizer um doente, ou enterro ou ento eu vejo levantar sadio, a eu decido sair, ento ou l eu recebo a terra ou ento desenganado que ns num recebe, mas enquanto isso eu num saio(...) e assim continuamo, n? Caminhando pra l direto e as ve-zes em quando muita bagaceira de conflito, essa coisa toda, era pirigoso, at que graas a Deus comearam a entrar em acordo pra negociar a rea, veio o momento de negociao, entra a FUNAI, Vale do Rio Doce, foi que formou essa nego-ciao, n? Pra tirar a gente de l e d outra rea, que essa aqui, ser todo mundo remanejado pra c.

    A gente como j tava na luta, a gente vai escapar, s vezes vai miorar e graas a Deus mior mesmo, n? A fumo tirado, vamo pro INCRA, no INCRA vocs vo pas-sar l quinze dia, com quize dia, no mximo quinze dia ou um ms, vocs j vo direto pra dentro da terra l. Fumo l pro INCRA, cheguemo l acampemo debaixo de um p de manga, num barraco vi l, s gua quente e

    murioca, tudo o que num prestava, e guento sete ms l. Passar s um ms ou quinze dia, passou sete ms, enfrentamo l essa dificuldade, a cum sete ms foi de-cidido essa mudana nossa pra c. Cheguemo ainda na

    coisa boa, cheguemo ainda era mata pura, mata virge de tudo quanto era jeito, a logo de frente a gente en-controu uma histria duma malria, n? Eu cum quinze dia que cheguei cum minha famlia aqui no assen-tamento fui logo tirando meus dois menino mais velho, j quase, num foi na rede, porque botamo logo no caminho na porta do madereiro, e a comeou a carretilha, o sofrimen-to, cum oito dias eu vim l do SESP fui visitar os outros e tinha dois do mesmo jeito, quase esfraquejando, levei tambm, a mulher assombrou e disse: Eu num fico. Joguei tudo em cima do madereiro e fumo pra l, deixamo tudo a largado, mora l em baixo, l em baixo, l passemo um ms e vinte e cinco dia, era s dando alta um e outro caindo, at os

    derradeiro foi eu e a mulher. Ento isso num moleza, n? A gente enfrent, a a mulher dizia: num vamos mais pra l no. Eu digo: Vamo. As enfermeira, o doutor dizia: num v no que voc vai perder sua famlia. Digo: Vamo ns, vamo e no vamo perder ningum. Vocs vo mor-rer. Eu disse: morro se ficar aqui, aqui v morrer de fome, morrer de tanta coisa. A teimemo e voltemo mesmo pra c, e graas a Deus, hoje tamos, aquela histria: foi um sonho que a gente sonhou, encontrou muita dificuldade na estrada, na viagem, mas se realizou e hoje na realidade que a gente se encontra hoje, graas a Deus, a gente t satisfeito. Num tem vitria sem uma histria, n? uma luta. Quando v uma pessoa contar uma histria que tem uma vitria, tudo, mas ele num contou uma histria, uma luta, aquela conversa, ele entrou pela porta do fundo.

    Oficina no PA Araras

    Boletim Informativo 4 10 Nova Cartografia Social da Amaznia 7

  • Sra. Maria Romana, quebradeira de coco babau, moradora em Palestina do Par, durante o encontro realizado no Stio do Bispo, em So Domingos do Araguaia.

    Eu amo, eu amo este lugar

    As questes que dizem respeito indenizao tomam a forma de um jogo de imposies e cinismo. Uma en-trevistada comentou a recomendao do tcnico: Vocs plantem, vo plantando bastante aa, que depois vamos indenizar, sobretudo aa, tamarina, acerola, goiaba e voc vai ficar rica.... Uma assentada relatou que em uma reunio ficaram sabendo que algum que tinha tempo morando e tinha cem alqueires tinha a mesma indeniza-o de um que tinha cinco....

    Outras situaes tornam-se insuportveis para quem tem crdito, como a senhora Ana Rosa, que est devendo

    direita a senhora Edna Santos explica a forma impositiva dos cadastros dos assentados realizados pela Eletronorte.

    Portanto, constituem o ncleo dos que permanecem. A Sra. Raimunda Alves Costa refletiu sobre o que representa o lote e afirmou: com a hidreltri-ca, vamos perder tudo que construmos. Eles nem vo nos indenizar! Vai ser como em Tucuru que no indenizaram e vamos ficar sem nada.

    A Sra. Edna Santos acrescentou: Eletronorte vai dar mixaria... e volta, vamos ter que entrar na justia e ela no vai querer saber.

    As quebradeiras de coco e assentadas reconhecem que trabalharam e fi-caram com mais idade e sentem a ameaa de perder a terra e as dificuldades para recomear tudo, novamente, do zero.

    Palestina do Par , na representao da Sra. Maria Romana (75 anos), quase uma ilha; de um lado o Araguaia e de outro o Tocantins. E eu no sabia que sou uma atingida. A Eletronorte j entrou, e ns estava em reunio do Sindicato e das Quebradeiras.

    quatorze mil reais e tomou conhecimento que fariam des-conto: Falaram que vo indenizar e se est devendo ao banco vai ser descontado. Eu estou cheia de filhos; vou ficar na rua, sem nada!....

    A fala da senhora Rosa dos Santos Silva, do Movi-mento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau e assentada no PA 21 de abril, foi enftica no temor construo da hidreltrica: Hoje todo mundo t ve-lho. No tem condies de colocarem a gente debaixo da gua, muito difcil a gente chegar ver o lote da gente, virar s gua.

    Quando eu vejo falar disso eu fico triste demais... Tudo que a gente sofreu aqui por um pedao de terra, pra hoje a gente, de repente, sair. E difcil demais... s vezes, eu digo que s vou sair daqui quando os bichos ti-ver tudo boiando por a... Eu luto por aquele lugar, porque eu amo aquele lugar, onde a gente criou nossos filhos, trabalhou... pra gente sair de repente? No fcil no. Meus filhos todos foram criados naquele lugar, j tenho netos. Eu amo aquele lugar. A gente luta muito, enquanto eu puder lutar, eu luto por aquele lugar. O que depender de mim eu luto mesmo. Eu amo aquele lugar!.

    No Assentamento 21 de Abril moram 49 famlias e ali os mais atingidos sero os de baixo. Ali vai encher as grotas. O capim vai morrer. Os lugares altos tm lugar que vai ficar seco. Este o trecho da fala de Francisco Silva, filho da senhora Rosa dos Santos Silva.

    As quebradeiras de coco e assentadas, a maioria, tm 20 anos na terra conquistada

    Quadro III. Assentamentos que sero atingidos pela Hidreltrica de MarabAssentamentos que sero atingidos pela AHEHidreltrica de Marab no Estado do Par

    Nome do PA Ano de criaoNde famlias

    Localizao/ Muncipios

    rea (ha)

    Castanhal ArarasAssentamento em consolidao

    4 -08 -1987 92 So Joo do Araguaia 5.084,8463

    21 de AbrilAssentamento em consolidao

    9-11-2000 48 So Joo do Araguaia 1.699,9892

    1 de Maro 15-06-1998 350 So Joo do Araguaia 1.0960,292

    Me MariaAssentamento em Instalao

    09-12-1999 92 Bom Jesus do Tocantins 3.876,7200

    Prata * 22-12-2009 79 So Joo do Araguaia 3.064,258

    Bom Jesus * 22-12-2003 48 Brejo Grande 1.506,5284

    Angical * 27-05-1998 97 Palestina do Par 4.822,7145

    Aaizal * 27-05-1998 85 Palestina do Par 3.216,9550

    Rio Mar * 09-12-1998 90 Palestina do Par 3.636,1100

    Lago Azul * 30-12-1999 96 Nova Ipixuna 3596,5006

    Castanheira II * 14-01-1999 156 Brejo Grande 3894,8209

    Moreschi * 27-05-1998 122 So Joo do Araguaia 3.820,3000

    Bacabal Grande *(Projeto Estadual de Assent. Sustentvel)

    22-12-2009 43 Bom Jesus do Tocantins 28507500

    Sabino So Pedro * 22-09-1999 75 Marab 2.3148861

    N S Perpetuo *Socorro

    24-12-1999 60 Marab 1593,6640

    Primavera do *Araguaia

    16-09-1998 174 So Joo do Araguaia 3.600.0000

    Pimenteira * 16-09-1998 137 So Joo do Araguaia 3468,2471

    4 de julho * 2-09-2002 62 So Joo do Araguaia 1350,0000

    Ub * 17-06-1997 62 So Domingos do Araguaia

    4289,5955

    * Assentamento CriadoFonte: Sistema de Informao de Projeto de Reforma Agrria. Acessado (25/03/2010) - INCRA

    Assentamentos que sero atingidos pela AHEHidreltrica de Marab no Estado do Maranho

    Nome do PA Ano de CriaoN de Famlias

    Localizao/ Muncipios rea (ha)

    GUA BRANCA * 12/01/2007 42 S. P. da gua Branca 3.576,9730

    Novo Horizonte I * 65 Santa Helena 1.841,0800

    Campo Novo * 34 Santa Helena 96,0000

    Tambor Centro Velho *

    206 Santa Helena 5.773,0910

    Deus Proteja * 09/05/2005 138 Vila Nova dos Martrios 3.326,7090

    Dibom I * 30/09/2005 484 Palmeirandia 3.425,8240

    Dibom II * 30/09/2005 260 Palmeirandia 1.576,1720

    * Assentamentos CriadosFonte: Sistema de Informao de Projeto de Reforma Agrria. Acessado (08/04/2010) - INCRA

    Assentamentos criados nos municpios da rea de Influncia de AHE Marab no Estado do Tocantins.

    Nome do Assentamento

    MunicpioTtulos Concedidos

    Trecho seco Araguatins TD 1

    Ouro Verde Araguatins TD 87

    Nova Vida Araguatins CU 6

    Ronca Araguatins CU 6

    So Jos Araguatins TD 59

    Atanasio Araguatins TD 67

    Marco Freire Araguatins TD 43

    Padre Josimo Araguatins TD 41

    Dona Eunice Araguatins TD 44

    Mutiro Araguatins TD 24

    Rancho Alegre Araguatins TD 28

    Petrnio Araguatins CU 18

    Santa Helena II Araguatins CU 2

    Nova Unio Araguatins CU 79

    Tobasa Esperantina CU 29

    Araguaiala Esperantina TD 34

    Boa Esperana Esperantina TD 39

    Lago Preto Esperantina TD 33

    Mulatos Esperantina TD 34

    Bico do Papagaio Esperantina TD 14

    Tocantins Esperantina TD 10

    Portela Esperantina TD 16

    Vazante So Sebastiodo Tocantins

    TD 2

    Nova Estrela So Sebastiodo Tocantins

    TD 41

    Pingo dgua So Sebastiodo Tocantins

    TD 40

    Jurandi Belizrio So Sebastiodo Tocantins

    CU 2

    TD: Ttulo de domnioCU: Concesso de usoFonte: Sistema de Informao de Projeto de Reforma Agrria. Acessado (17/09/2010) - INCRA

    Oficina na Vila de Apinajs.

    Boletim Informativo 4 6 Nova Cartografia Social da Amaznia 11

  • Quadro I : Terras indgenas ameaadas pela AHE de Marab - Estado do Par.Terra Indgena

    Municpiorea total(ha)

    Situao Fundiria

    EtnaPopulao (hab)

    TI Me Maria Bom Jesus do Tocantins

    62.488,45 Demarcada e Homologada 21/08/1986

    Gavio Parkatej Gavio Kyikatej Gavio Akrtikatej

    34224239

    TI Soror So Geraldo do Araguaia

    26,257,89 Demarcada e Homologada

    Suru Aikewara (aldeia Soror) Suru (aldeia Itahi)

    31449

    Fonte: Mapa demonstrativo das Populaes Indgenas Arquivo Funai (AERMAB)-Funasa (2009)

    Quadro II: Terras indgenas ameaadas pela AHE de Marab - Estado do Tocantins.Terra Indgena Municpio

    rea total (ha)

    Situao Fundiria Etna

    Populao (hab)

    TI Apinay Tocantinpolis, Mauritnia doTocantins, So Bento e Cachoeirinha

    141.904,00 Homologada (03/11/1997)

    Apinaj 1.262

    Fonte: site do Instituto Socio-Ambiental (acessado maio de 2010)Carta dos Indgenas Parkatej Funai.

    Quebradeiras e Assentados: o que dizem?Nos municpios de So Joo do Araguaia, So Do-

    mingos do Araguaia, Palestina do Par e Brejo Grande organiza-se a coordenao regional do Movimento Inte-restadual das Quebradeiras de Coco Babau MIQCB.

    Em So Domingos do Araguaia, no dia 29 de agosto de 2009, estavam reunidas 19 quebradeiras que vivem e trabalham nos assentamentos Araras, 21 de Abril, Cas-tanheira, Vila So Benedito, alm de quatro mulheres de Palestina do Par, todas em reas que esto ameaadas de ficar submersas pela formao do lago da Hidreltrica de Marab.

    As quebradeiras de coco babau tm feito denncias frequentes sobre a devastao dos babauais atravs do desmatamento indiscriminado, a produo de carvo ve-getal feito de coco babau nas carvoarias para alimentar os fornos de ferro gusa, a expanso desordenada do re-banho bovino e, mais recentemente, enfrentam as incer-tezas da construo da hidreltrica de Marab.

    Se depender de mim, eu luto mesmo! Cada uma das quebradeiras de coco e assentadas pensa assim (Sra. Ana Rosa)

    A Sra. Maria Raimunda Bencio falou: Ns estamos com 22 anos, recebemos a terra no dia 19 de dezembro de 1987. Nesse ano vai festejar 22 anos do Araras. As pessoas no esto querendo essa hidreltrica... nem no Landi, Ub, So Joo do Araguaia, Apinajs. A gente est reunindo pra fazer grupos, fazer manifestao. O Sindicato orienta pra nos fazer algo. Muita gente que no quer. Eu tenho 80 ps de laranja, tenho mais frutas e no estou pensando em barragem. Se a gente fincar p, no acontecer. Se aqui pode eclodir, pode morrer muita gente se quebra o muro.

    No Castanhal Araras, explicou a Sra. Maria Raimunda, vem ocorrendo a entrada de tcnicos de empresas contratadas para fazer medies. Eles no informam sobre seus propsitos e entram sem solicitar licena. Eles fizeram levantamento dos lotes que vo ser atingidos e marcaram trs reunies, mas nunca vieram. Outra observao feita na oportunidade dizia respeito aos compro-missos do INCRA com o programa de moradia: O INCRA mandou fazer cinquenta casas e quem vai inundar a barragem. Assim que vamos receber essa casa, mas a barragem que vai ocupar. Minha casa ainda no terminou e j est ameaada. E eu sonhei com essa casa.

    A Sra. Edna Santos mora na vila So Benedito e diz que a Eletronorte chega para fazer cadastro e mais cadastro; o mesmo que dizer para fazer despejo. Ns estamos sabendo, porque vimos no mapa de uma estrada que vai ser aberta que vai para Carajs, que vai cortar o povoado e tudo vai mudar, porque os que sarem dos assentamentos l na frente, vo vir para c. Tambm viro muitos problemas com essa estrada asfaltada.

    A Sra. Maria Raimunda Benicio dos Santos coordena o Grupo de Mulheres do Castanhal Araras e faz parte do MIQCB.

    Porque eu vejo falar muito em questo de indenizao, indenizao disso, daquilo, mas eu num acredito muito, no, porque tambm alm de uma inde-nizao, vejo tanta gente que perdeu o que tinha e hoje vive na pior.

    Que, alm disso, que ningum se preocupasse que todo mundo ia ser in-denizado n, quando fosse pra comear ia passar algum tomando o nome de todo mundo pra poder fazer essa indenizao. Mais recente, acho que h uns dois anos, houve uma reunio na vila, o pessoal da Associao, do Sindicato (STR), Emater, um bucado de coisa a, trouxeram um pessoal a, pra passar o vdeo mostrando justamente a situao que acontece com os alagados, n? depois que, assim um fato que vai sair a barragem um fato, talvez seja at um fato consumado n, ento vai sair? Vai. Agora quem garante que ns vamos receber essa indenizao?! n? Ento se sair, alguns recebem outros no recebem. Resultado, mesmo que receba, vai ficar sem a terra, vai ficar na pior, n. Deles entra na justia dele num entra, deles recebe o que ele d, que sabe que alguns dele quando disser assim: a barragem vai sair, voc tem tan-tos dias pra d o lote desocupado, pra sair da terra. Voc tem que sair, porque o qu que voc vai ficar fazendo dentro dgua. N? Infelizmente.

    A senhora acha que a barragem tem alguma importncia para a sua famlia e para a comunidade? Qual?

    No, a importncia que eu vejo s pra aumentar os cofres pblicos. S isso que eu vejo, porque pra ns a energia mais caro que eu acho a nossa. E ns tamos usando a hidreltrica aqui no nosso estado. Deveria ser uma ener-gia mais barata, o que a gente v passa na televiso que as prprias pessoas que moram perto da hidreltrica no tem energia.

    Quem garante que ns vamos receber indenizao?!

    Entrevista com Sra. Maria Luzimar da Silva. Assentada do PA Araras (17/07/2009)

    A Senhora sabe o que uma hidreltrica? Imagino... uma fonte de energia, n, que poderia ser at pra baratear mais o nosso consumo, quando na verdade a gente sabe que construindo umahidreltrica aqui perto, s vai acabar com tudo que a gente teme poder deixar gente sem receber nada.

    Mulheres pescando a beira do rio Tocantins

    Boletim Informativo 4 12 Nova Cartografia Social da Amaznia 5

  • Wakymh mekto knhito nxkaka: O direito dedizer no!

    Wakymh mekto knhito nxkaka significa:

    Ns no aceitamos a construo de barra-

    gem, de jeito nenhum, na lngua Gavio. Esta

    frase foi dita por um Akrtikatej, Hpryre Ro-

    nore Jnpikti Payar, liderana indgena, em

    relao ao projeto de hidreltrica de Marab.

    Payar um lder reconhecido na luta em defesa dos direitos indgenas. Sua liderana foi construda, quando com

    os demais integrantes do seu povo Akrtikatej (Gavio da Montanha) resistiu para permanecer no territrio ancestral.

    Na dcada de 1970, a Eletronorte pressionou-os a sair das Terras da Montanha, localizadas na margem direita do

    rio Tocantins, onde foi levantado o canteiro de obras da hidreltrica de Tucuru. Payar foi torturado. Os parentes lhe

    aconselharam a vir para Me Maria. O povo Akrtikatej continua a exigir, por ser de direito, a devoluo da rea (o que

    no vai ocorrer j que est debaixo dgua); ou a reposio de novas terras, em igual dimenso e qualidade ecolgica.

    Alm disso, eles reclamam uma indenizao pelos prejuzos sofridos quando da transferncia e por ter ficado tantos anos

    privados de seu territrio.

    Payar, ao contar sua histria de dizer no, mostra sua mo esquerda, que fora quase decepada, em 1984, em

    virtude de uma das inmeras aes de presso para que sasse das Terras da Montanha. Ante esta violncia, registrou

    uma declarao pblica de ameaa de morte, no Cartrio do 2 Ofcio de Marab. Ao se referir a sua mo, marcada

    com uma cicatriz profunda de corte de faco, Payar afirma que aquele fato s serviu para lhe fortalecer e continuar a

    luta contra os desmandos dos que queriam a ferro e a fogo lhe usurpar o territrio ancestral.

    A construo da Hidreltrica de Tucuru no significou somente a perda de seu territrio, fato que configura grave

    violao dos seus direitos. Aps o deslocamento compulsrio, os Akrtikatej tiveram que enfrentar com os demais

    grupos indgenas, novas intervenes em seu territrio: construo da BR-222 (antiga PA-70); a linha de transmisso

    de alta tenso da Eletronorte, a estrada de Ferro Carajs.

    A linha de alta tenso de Tucuru na Terra Indgena Me Maria resultou no desmatamento de uma faixa de 19 km de

    castanhais. Momentaneamente, o territrio indgena foi ocupado por posseiros, deslocando o conflito com a empresa

    para desencontros entre indgenas e posseiros.

    A retomada do projeto da Hidreltrica de Marab, em 2001, coloca os ndios Gavies em estado de alerta.

    Akrtikatej, Hpryre Ronore Jnpikti Payar . I Seminrio Nacional de Educao Indgena realizado na aldeia Kiykateje, em julho de 2009.

    Meu nome Juarez Monteiro Chavito, eu tenho poucas palavras pra dizer, conhecido por Z Chavito, nascido e criado nessa regio. Sou pai de 21 filhos, e tenho 60 netos, 20 bisnetos. A histria que eu tenho pra contar sobre Api-najs, eu amo esse lugar. Apinajs, a maior paixo que eu tenho. Quando foi a poca em 42, a poca do garimpo do diamante, a histria de Apinajs, eu vou contar do comeo, esse Apinajs aqui era uma aldeia de ndio, ai muitos tempos, assim meus avs contava, e ai se acabou, ficou como Apinajs aqui, era uma aldeia de ndio Apinaj. E a, eu saa trs hora da madrugada, quando era 5 horas eu vinha carregado de peixe; isso se acabou, hoje no tem caa, hoje no tem tracaj, no tem tartaruga, hoje no tem mata. Eu era casta-nheiro, trabalhei de castanha muito tempo, trabalhei no garimpo, me filiei na colnia de pescador, t com 35 anos que labuto na colnia, me aposentei e me afastei. Eu no tenho mais fora pra sair daqui e fazer outra casa, tenho 75 anos. Mas eu trabalho na minha roa, se vocs pudesse fazer um passeio l na vazante para conhecer e v que eu t falando a verdade. Eu tenho um jar-dim muito lindo, eu tenho felicidade, isso que eu tenho medo de perder. Mais se Deus ajudar ns, uma alegria da minha vida t tendo essa oportunidade de t no meio de vocs. (Oficina 27 de junho de 2010, na vila de Apinajs)

    Meu nome Maria Eliene Ferreira da Silva, nasci e me criei dentro do Apinajs. Tenho 30 anos, e o que eu digo, Apinajs, uma vila muito histrica pra gente, a gente no quer a que a barragem chegue e tome ela, e seja destruda, porque vai destruir a nao brasileira, nos no pode destruir com a nao brasileira, porque muito im-

    Em Apinajs est a Colnia de Pescadores Z-45, que congrega o maior nmero de pescadores ativos.

    portante pra gente, n? Sou pescadora tenho minha carteira de pescadora. Eu

    vivo da pesca, boto roa tambm, ns veve disso. Ai se destruir tudo, pra onde ns vamos? Tenho seis filhos, pra onde que eu vou correr?

    (Oficina 27 de junho de 2010, na vila de Apinajs).

    Apinajs, a maior paixo que eu tenho.

    Sr. Juarez Monteiro Chavito

    Vista do rio Araguaia, Vila de apinajs, So Joo do Araguaia

    Boletim Informativo 4 4 Nova Cartografia Social da Amaznia 13

  • Projeto da Hidreltrica de Marab

    Esse jogo de relaes se estabelece com a Eletronor-te, FUNAI, INCRA, IBAMA, Governo do Estado e ainda com as empresas de consultoria e construtoras.

    A FUNAI decide, em Braslia, a forma como os indge-nas sero convencidos a aceitar o empreendimento. O INCRA omite-se em tratar o que ocorrer com os assen-tados. As Consultoras elaboram os estudos instantne-os de EIA, RIMA. O Ministrio do Meio Ambiente e o IBA-MA procuram acelerar a aprovao do Estudo de Impacto Ambiental e o Relatrio de Impacto Ambiental. Os gover-nadores, os prefeitos unem-se em consrcios. Muitos polticos, senadores, deputados, vereadores opinam a fa-vor de sua construo por entender que representa be-nefcios para o Estado, a regio e os municpios.

    A construo da hidreltrica de Marab invade, interfere na vida dos assentados, dos indgenas, dos pescadores, dos ribeirinhos, dos moradores de bairros das cidades, produzindo um espao de relaes especficas com cada uma dessas categorias.

    A Eletronorte continua a prtica de ordenar e decidir projetos deste tipo, desconsiderando os direitos dos su-jeitos sociais. Os primeiros anncios situam o clculo de quantos sero atingidos, dito de forma to espontnea, to natural como a quantidade de megawatts a ser produ-zida, a rea do reservatrio, o custo da obra e o nmero de empregos.

    A razo maior a lucratividade do empreendimento para os setores energtico e mineral, que so os principais interessados na construo desta obra de infraestrutura. Como todos os projetos de construo de hidreltricas na Amaznia, so indiferentes s vozes, opinies, angs-tias, inseguranas e outros sentimentos dos Indgenas, Assentados, Ribeirinhos, Quebradeiras de coco babau, Moradores de novos e antigos povoados ou cidades do vale do rio Tocantins. As chamadas reunies pblicas se realizam sob um esquema de convencimento e de autorida-de por parte dos tcnicos a partir do discurso que anuncia os benefcios. Com este busca-se, desviar a ateno sobre esses sujeitos sociais, seus modos de vida, territorialidades especficas ameaadas e ainda sobre os conflitos socioam-bientais que o empreendimento hidreltrico provocar.

    O Projeto da Hidreltrica de Marab j estava formu-lado, desde 1980, no Programa Grande Carajs - PGC. Retomado em 2001, marca novos passos com os cha-mados estudos de viabilidade e as reunies pblicas, que esto sendo feitos sem o consentimento dos assen-tados, ribeirinhos e indgenas.

    Sntese do Projeto da Hidreltrica

    A hidreltrica de Marab est planejada para ser construda distante 4 km a montante da Ponte Rodoferroviria do Tocantins. O custo de sua construo est estimado em dois bilhes de dlares, com um prazo de construo mdio de oito anos. Esta hidreltrica ter capacidade de produo de 2.160 MW, tornando-se um aporte considervel para o Sistema Interligado Nacional. Localmente fornecer energia para empreendimentos siderrgicos amplia-o das minas de ferro e cobre e projetos do parque de Cincia e Tecnologia de Marab. A hidreltrica formar um lago 3.055 km bem maior do que o lago formado pela hidreltrica de Tucuru.Sero inundados 1115km de terras (mais de 110 mil hectares de terras frteis).

    Atingidos pelo projeto

    Atingir 12 municpios em 3 estados: Par (Marab, So Joo do Araguaia, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Nova Ipixuna, Palestina do Par); Tocantins (Anans, Esperantina e Araguatins) e Maranho (So Pedro da gua Branca e Santa Helena).A barragem atingir mais de 10 mil famlias, cerca de 40 mil pessoas, segundo dados fornecidospela Eletronorte.Indgenas, quebradeiras de coco babau, pescadores, assentados, ribeirinhos, moradores de povoadose cidade esto sendo ameaados pelo projeto.

    Fonte: MAB e Eletronorte

    Localizada na margem esquerda do rio Tocantins, re-ceber o canteiro de obras e est em posio estratgica, pois nela ser construdo um muro de conteno. No ve-ro de 2008, tiveram inmeras visitas de funcionrios das empresas terceirizadas. O senhor Jorge comentou: as pessoas das empresas entram e o primeiro que fa-zem destruir. E quando se pergunta o que fazem? Dizem que cumprem ordens (Sr. Jorge )

    O dilogo com os funcionrios das empresas tam-bm rspido, marcando a autoridade e a irreversibilidade da deciso: vocs no podem embargar. Se voc impe-dir, vai ser processado, vai cadeia. Na casa do senhor Benedito, eles cortaram arame e foi a empresa. Ns fo-mos com o senhor Benedito. Os caras cortaram arame e foi encontrado o gado do Benedito em Bacabal. Eles cortaram e no pediram licena para ningum.

    O Sr. Jorge da Associao dos Moradores de Esprito Santo, detm informaes sobre o que ocorrer nos as-sentamentos adjacentes:

    A hidreltrica expulsar 40.000 pessoas. O quadro dos expulsos no para provocar sorrisos. Mais acima entra, na ocupao Landi (ocupao com mais de sessen-ta famlias), na rea do assentamento Me Maria; no Ub. Em So Joo do Araguaia e Tocantins. Em alguns pontos est tudo controlado por meio de radar - impedem esse projeto. Na proximidade de Bacabal h algumas pedras, eles guardaram... Tambm sero submergidas fazendas, escolas, postos de sade. So dez assentamentos. A vila e terras do povoado de Esprito Santo tm limites com a

    Reserva Me Maria, na faixa que foi invadida por possei-ros. Na atualidade, est rodeada de fazendas (a maior com extenso de 200 alqueires), as chcaras tm sido adquiridas por moradores da cidade de Marab como es-pao de lazer nos finais de semana e de famlias que ali vivem e cultivam.

    Em Bacabal e Esprito Santo, os denominados cha-queiros, proprietrios de chcaras entre 10 a 20 hecta-res, tambm esto em estado de alerta com a construo da hidreltrica de Marab. O senhor Artemiro, chaqueiro de Bacabal, reuniu-se ao grupo que conversava no Bar de dona Cludia. Ele disse: esse meu stio tem quatro alqueires. Est na Gleba Geladinho, que vai at Flecheira, onde Me Maria. Isto aqui do INTERPA; aqui do tem-po do GETAT. O documento da Gleba est com o INCRA. Ns no sabemos o que vai acontecer com a gente. Eu j plantei muitas fruteiras.

    Pescadores, marisqueiros, como ouvimos falar em Esprito Santo, experimentam a diminuio dos recursos da ictiofauna pelas alteraes do regime hidrolgico do rio Tocantins, provocado pela barragem de Tucuru. No trecho entre Marab e So Joo do Araguaia, as condi-es de trabalho dos pescadores foram profundamente afetadas com a construo da hidreltrica de Tucuru. O novo empreendimento barrageiro da AHE Marab reper-cutir nas suas prticas desenvolvidas nesta bacia do Araguaia-Tocantins, e em Itacainas, onde tambm esto previstas mais duas barragens.

    Vila de Esprito Santo

    So Joo do Araguaia foi fundada em 1911 e o municpio com maior populao rural do Sudeste do Par. Em 2007, So Joo do Araguaia tinha um total de 17.957 habitantes sendo que mais de 80% (14.419 habitantes) estava classificada como rural.

    A formao do lago ir atingir em cheio seu centro histrico, onde est a igreja matriz em honra a So Joo Batista. O cemitrio, cen-tenrio, que est na margem do rio Tocantins, tambm ir submergir.

    Escola da Vila de Esprito Santo

    Boletim Informativo 4 14 Nova Cartografia Social da Amaznia 3

  • Coordenao: Alfredo Wagner Berno de Almeida - NCSA/CESTU/UEA, CNPq e Rosa Elizabeth Acevedo Marin - UFPA-NAEA/UNAMAZ

    Organizao desta edio: Joseline Simone Barreto Trindade - UFPA-Campus Marab PPGA; Rosa Elizabeth Acevedo Marin UFPA-NAEA/UNAMAZ

    Colaboradores: Irislane Pereira de Moraes (UFPA, PPGA), Thiago Cruz (Cincias Sociais, UFPA-Marab ) Eric de Belm Oliveira (FUNAI, UFPA), Rogrio Paulo Hohn (MAB), Raimundo Gomes da Cruz Neto (CEPASP), Daniela Hohn (MAB), Bruno Malheiros (UFPA-Marab), Cynthia Martins (UEMA), Eliana Teles Rodrigues (UFPA, PPGA); Ulisses Guimares (PPGG-UFPA)

    Reviso: Camila do Valle Projeto Grfico: FATO Comunicao

    Fotografia: Arquivos do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Arquivo Fundao Casa da Cultura de Marab; Irislane Pereira Moraes; Joseline Simone Barreto Trindade; Rosa Elizabeth Acevedo Marin; Agnelo QueirozCatalogao na Fonte: O Direito de dizer no construo da hidreltrica de Marab

    Nos meses de maio, julho, agosto e setembro de 2009, realizaram-se diversas reunies e atividades em Marab, sudeste do Par, nas quais par ticiparam representantes de instituies pblicas, associaes, movimentos sociais. Na ocasio, estudaram o Projeto de Aproveitamento Hidreltrico de Marab AHE Ma-rab (prevista no PAC - Programa de Acelerao do Crescimento do Governo do Presidente Luis Igncio Lula da Silva) e procederam a examinar as situaes e problemas sociais j em curso e as projees so-ciais, econmicas e ecolgicas que produzir sobre a vida de mais de 40 mil pessoas com a construo de uma nova hidreltrica sobre o rio Tocantins. Equipes de pesquisadores, agentes de movimentos sociais, de organizaes no-governamentais realizaram uma via-gem pelo rio Tocantins, par tindo de Marab at a sede do municpio de So Joo do Araguaia para realizar observaes sobre este trecho do rio.

    Visitaram e entrevistaram indgenas em suas aldeias, moradores nos seus povoados, participaram de reunies, produziram levantamento de informaes em rgos p-blicos, bibliotecas, coligiram e organizaram dados tanto no Par quanto no Maranho e Tocantins com objetivo

    Ficha elaborada por Rosenira Izabel de Oliveira - CRB 011/529

    Capa: Primeira: Foto do Rio Tocantins retirada do livro de Igncio Moura, de 1925. Destaques, segunda, vista do Rio Tocantis

    de montar este Boletim Informativo N 4 do PNCSA. A atividade de pesquisa continuou at outubro de 2010 para sua finalizao. Nessa sequncia, aconteceram reunies no assentamento Araras, na vila de Apinajs e acompa-nhamento de duas outras reunies, a primeira na aldeia Parkatej no dia 28 de abril e a segunda, solicitada pelos vereadores da Cmara Municipal de So Joo do Ara-guaia, no dia 15 de maio de 2010.

    Este documento tem a finalidade de divulgar e ampliar o conhecimento sobre este projeto que desconsidera o direito dos povos e comunidades tradicionais (indgenas, quilombolas, quebradeiras de coco babau, pescadores, extrativistas); ouvir e partilhar das questes relativas construo dessa hidreltrica, que produzir a desterri-torializao de grupos sociais e profundos conflitos so-cioambientais. Intervenes deste tipo j marcaram o rio Tocantins com a construo das hidreltricas de Tucurui (1976 - 1984), Estreito (2007 - em construo), Lajeado - AHE Luis Eduardo Magalhes (1998 - 2002) e outras esto previstas: Serra da Mesa, Canabrava, So Salva-dor, Peixe Angical, Ipueiras, Tupirantins, Serra Quebrada e Marab. Ainda na bacia do Araguaia-Tocantins esto Itacaiunas I, Itacaiunas II e Santa Isabel.

    Srie: Movimentos sociais e conflitos nas cidades da Amaznia.

    Expe

    dien

    te

    Ponte Rodoferroviria sobre o rio Tocantins

    Boletim Informativo 4 2Cidades, Vilas desaparecero com a construo da AHE de Marab

    Tocantins Barraram-me de ser menino Barraram-me de cumprir o meu caminho Barraram-me de escolher o meu destino Agora sou chamado existncia para no mais existir De quem sero as horas contadas por minha correnteza? Como discorrer o tempo ao vento se querem me afogar? So as lgrimas de um mundo doente que vo me inundar? No verde destas guas que ainda me restam Reflete um passado infeliz que teima em voltar No basta de insanidades? Deixem que eu seja tribo

    Deixem que eu seja vivo Tenho um sentido com milhes de sentidos No vou deixar de ser adulto No vou desviar o meu trajeto No vou seguir o absurdo Da ganncia de um projeto Querem me roubar a alma E justificam isso por escusos fins Mas permanecerei firme s margens de mim Tocantins

    Bruno Cezar Malheiro 11 de fevereiro de 2010.