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Informativo 601-STJ (10/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 601-STJ Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO À SAÚDE Ação pedindo suplemento para criança lactente não perde o objeto pelo simples fato de terem se passado vários anos sem o julgamento. MINISTÉRIO PÚBLICO Termo inicial da ação civil para a perda do cargo. DIREITO CIVIL COMPRA COM RESERVA DE DOMÍNIO Em caso de compra e venda com reserva de domínio é possível a comprovação da mora por meio de notificação extrajudicial enviada pelo RTD. ALIMENTOS Se o filho é maior de 18 anos, mas apresenta doença mental incapacitante, seus pais têm dever de prestar alimentos, sendo a necessidade presumida. DIREITO EMPRESARIAL REPRESENTAÇÃO JUDICIAL Presunção da existência de exclusividade em zona. DIREITO FALIMENTAR A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos? DIREITO PROCESSUAL CIVIL COMPETÊNCIA É de competência da Justiça Estadual a ação de restituição de indébito proposta pelo usuário contra a concessionária de energia elétrica. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação de dano. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Honorários com cláusula ad exitum e renúncia do advogado antes do fim da demanda. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Termo inicial do prazo para apresentar impugnação em caso de comparecimento espontâneo logo após a penhora.

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Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO À SAÚDE Ação pedindo suplemento para criança lactente não perde o objeto pelo simples fato de terem se passado vários

anos sem o julgamento. MINISTÉRIO PÚBLICO Termo inicial da ação civil para a perda do cargo.

DIREITO CIVIL

COMPRA COM RESERVA DE DOMÍNIO Em caso de compra e venda com reserva de domínio é possível a comprovação da mora por meio de notificação

extrajudicial enviada pelo RTD. ALIMENTOS Se o filho é maior de 18 anos, mas apresenta doença mental incapacitante, seus pais têm dever de prestar alimentos,

sendo a necessidade presumida.

DIREITO EMPRESARIAL

REPRESENTAÇÃO JUDICIAL Presunção da existência de exclusividade em zona. DIREITO FALIMENTAR A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos?

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA É de competência da Justiça Estadual a ação de restituição de indébito proposta pelo usuário contra a

concessionária de energia elétrica. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação de dano. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Honorários com cláusula ad exitum e renúncia do advogado antes do fim da demanda. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Termo inicial do prazo para apresentar impugnação em caso de comparecimento espontâneo logo após a penhora.

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DIREITO PENAL

CRIME DE DESABAMENTO Representante legal de empresa que contratou a realização de obra não responde penalmente por desabamento

ocorrido na construção.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO Não se pode determinar a incomunicabilidade entre pai e filho(a), mesmo eles sendo corréus.

DIREITO TRIBUTÁRIO

ICMS O valor da TUSD compõe a base de cálculo do ICMS.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA PRIVADA Não se pode conferir à aposentadoria complementar os aumentos reais concedidos para benefícios mantidos pelo INSS.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO À SAÚDE Ação pedindo suplemento para criança lactente não perde o objeto

pelo simples fato de terem se passado vários anos sem o julgamento

Não há perda do objeto em mandado de segurança cuja pretensão é o fornecimento de leite especial necessário à sobrevivência de menor ao fundamento de que o produto serve para lactentes e o impetrante perdeu essa qualidade em razão do tempo decorrido para a solução da controvérsia.

Como se trata de direito fundamental da pessoa e dever do Poder Público garantir a saúde e a vida, não há que se falar que o pleito se tornou infrutífero pelo simples fato de a solução da demanda ter demorado.

A necessidade ou não do fornecimento de leite especial para a criança deverá ser apurada em fase de execução. Se ficar realmente comprovada a impossibilidade de se acolher o pedido principal, em virtude da longa discussão judicial acerca do tema, nada impede que a parte requeira a conversão em perdas e danos.

STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 26.647-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, , julgado em 2/2/2017 (Info 601).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2005, Lucas, criança de 3 anos, representado por sua mãe, impetrou, no Tribunal de Justiça, mandado de segurança contra o Secretário de Saúde pedindo o fornecimento de um leite especial de uso contínuo por ser portador de alergia alimentar. O TJ denegou o pedido e o impetrante interpôs recurso ordinário para o STJ (art. 105, II, “b”, da CF/88). Em 2017, o STJ ainda não havia julgado o recurso e, diante disso, a Fazenda Pública peticionou nos autos afirmando que o leite requerido serve apenas para lactentes (crianças que ainda mamam) e o impetrante já não detém essa condição por estar com 13 anos de idade. Assim, o Estado afirmou que ocorreu a carência superveniente de interesse processual (“perda do objeto”), tendo em vista que o pedido deduzido não mais pode ser acolhido por ausência de necessidade e de utilidade, não havendo mais sentido na concessão da ordem.

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O STJ concordou com a argumentação da Fazenda Pública? O processo em curso deverá ser extinto pela perda do objeto? NÃO. O STJ entendeu que não houve perda do objeto e deu provimento ao recurso ordinário do autor. O Poder Público, ao se recusar a fornecer leite especial que é necessário para a saúde da criança, viola o direito fundamental à saúde e à vida, que são garantidos pela Constituição Federal. Como se trata de direito fundamental da pessoa é dever do Poder Público garantir a saúde e a vida, não há que se falar que o pleito se tornou infrutífero pelo simples fato de a solução da demanda ter demorado. Ademais, cumpre destacar que a necessidade ou não do fornecimento de leite especial para a criança deverá ser apurada em fase de execução, quando será conferida oportunidade ao demandante para comprovar suas alegações. Vale lembrar também que, se ficar realmente comprovada a impossibilidade de se acolher o pedido principal formulado na exordial, em virtude da longa discussão judicial acerca do tema, nada impede que a parte requeira a conversão em perdas e danos. Desse modo, não é possível afastar a responsabilidade do Estado mediante a alegação de perda de objeto, cabendo ao Ente demandado judicialmente prover a prestação dos produtos necessários à saúde do requerente, sob pena de ofensa ao direito fundamental à saúde.

MINISTÉRIO PÚBLICO Termo inicial da ação civil para a perda do cargo

Atenção! Ministério Público

Na hipótese de membro de Ministério Público Estadual praticar falta administrativa também prevista na lei penal como crime, o prazo prescricional da ação civil para a aplicação da pena administrativa de perda do cargo somente tem início com o trânsito em julgado da sentença condenatória na órbita penal.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.535.222-MA, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Imagine a seguinte situação hipotética: Chegaram indícios no Ministério Público de que João, Promotor de Justiça vitalício, teria praticado solicitado, em razão de sua função, vantagem indevida. Diante disso, a Corregedoria do Ministério Público instaurou Processo Administrativo Disciplinar para apurar o suposto delito. Em 2011, foi prolatada decisão no PAD recomendando a propositura de ação penal e de ação civil de perda do cargo contra o referido Promotor. Neste PAD, o Promotor poderia ter sido demitido? Se um membro do Ministério Público pratica uma infração disciplinar grave, ele poderá ser condenado, em processo administrativo, à pena de demissão? NÃO. Os membros do MP gozam de vitaliciedade e somente podem perder o cargo por sentença judicial transitada em julgado (art. 128, § 5º, I, “a”, da CF/88). Além da CF/88, essa vitaliciedade foi regulamentada pelo art. 38, § 1º da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do MP) e pelo art. 57, XX, da LC 75/93 (Estatuto do MPU). Essas leis preveem que é necessária a propositura de uma ação civil para a decretação da perda do cargo contra o membro do Ministério Público que tiver praticado uma infração disciplinar grave.

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Lei nº 8.625/93 O § 2º do art. 38 da Lei nº 8.625/93 (que trata sobre os membros do MP estadual) exige que a ação para perda do cargo seja proposta contra o Promotor de Justiça pelo Procurador-Geral de Justiça, após autorização do Colégio de Procuradores:

Art. 38. (...) § 1º O membro vitalício do Ministério Público somente perderá o cargo por sentença judicial transitada em julgado, proferida em ação civil própria, nos seguintes casos: I - prática de crime incompatível com o exercício do cargo, após decisão judicial transitada em julgado; II - exercício da advocacia; III - abandono do cargo por prazo superior a trinta dias corridos. § 2º A ação civil para a decretação da perda do cargo será proposta pelo Procurador-Geral de Justiça perante o Tribunal de Justiça local, após autorização do Colégio de Procuradores, na forma da Lei Orgânica.

LC 75/93 O inciso XX do art. 57 da LC 75/93 (que versa sobre os membros do MPU) afirma que a ação para perda do cargo deve ser proposta pelo PGR, após autorização do Conselho Superior do MPF:

Art. 57. Compete ao Conselho Superior do Ministério Público Federal: XX - autorizar, pela maioria absoluta de seus membros, que o Procurador-Geral da República ajuíze a ação de perda de cargo contra membro vitalício do Ministério Público Federal, nos casos previstos nesta lei; (...) Art. 242. As infrações disciplinares serão apuradas em processo administrativo; quando lhes forem cominadas penas de demissão, de cassação de aposentadoria ou de disponibilidade, a imposição destas dependerá, também, de decisão judicial com trânsito em julgado.

Voltando ao exemplo: Em 2012, o Procurador-Geral de Justiça ajuizou ação penal contra o Promotor no Tribunal de Justiça (art. 96, III, da CF/88) pela prática de corrupção passiva (art. 317 do CP). Em 2016, o Tribunal de Justiça condenou o réu a uma pena de 2 anos. Houve o trânsito em julgado. O Tribunal de Justiça poderá determinar a perda do cargo, com base no art. 92, I, “a”, do CP (São também efeitos da condenação: a perda do cargo quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública)? NÃO. As regras sobre a perda do cargo de membro do Ministério Público estadual estão previstas em norma especial, qual seja, Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), que dispõe que a perda do referido cargo somente pode ocorrer após o trânsito em julgado de ação civil proposta para esse fim. Em outras palavras, o art. 92, I, “a”, do CP não se aplica para membros do Ministério Público. STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552). Ação civil de perda do cargo Em 2017, o Procurador-Geral de Justiça ajuizou ação civil contra João pedindo a perda de seu cargo. Em sua defesa, João alegou que esta ação civil está prescrita. Isso porque os prazos prescricionais para punições contra os membros do Ministério Público estão previstos no art. 244 da LC 75/93 (Estatuto do MPU):

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Art. 244. Prescreverá: I - em um ano, a falta punível com advertência ou censura; II - em dois anos, a falta punível com suspensão; III - em quatro anos, a falta punível com demissão e cassação de aposentadoria ou de disponibilidade. Parágrafo único. A falta, prevista na lei penal como crime, prescreverá juntamente com este.

Segundo a tese de João, a falta disciplinar por ele praticada é prevista como crime (corrupção passiva – art. 317 do CP). Logo, deve ser aplicado o art. 244, parágrafo único, da LC 75/93. Como João recebeu pena de 2 anos pelo crime praticado, a prescrição deverá ser contada com base nessa pena em concreto. Assim, o prazo prescricional seria de 4 anos, nos termos do art. 109, V, do CP:

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (...) V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;

De acordo com João, este prazo prescricional iniciou-se na data da decisão do PAD, em 2011. Primeira pergunta: a LC 75/93 pode ser aplicada à situação de João, mesmo ele sendo membro do Ministério Público estadual? SIM. A Lei Orgânica do Ministério Público (Lei nº 8.625/93) determina que a LC 75/93 deverá ser aplicada de forma subsidiária:

Art. 80. Aplicam-se aos Ministérios Públicos dos Estados, subsidiariamente, as normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União.

Segunda pergunta: o prazo prescricional da ação civil de perda do cargo do membro do Ministério Público é regido pelo art. 244 da LC 75/93? SIM. Terceira pergunta: em caso de falta disciplinar que também é crime, o prazo prescricional será regido pela pena em concreto que foi aplicada? Em nosso exemplo, o prazo prescricional deve ser calculado a partir da pena de 2 anos? NÃO. O prazo prescricional deve ser contado com base na pena máxima em abstrato do crime imputado. Nesse sentido:

(...) 3. Quando o promotor comete uma infração administrativa, a prescrição é aquela disciplinada em um dos incisos do art. 244 da Lei Complementar nº 75/93; já quando a infração cometida é prevista também na lei penal, o prazo prescricional é aquele referente ao crime praticado. 4. A disposição da lei de que a falta administrativa prescreverá no mesmo prazo da lei penal, leva a uma única interpretação possível, qual seja, a de que este prazo será o mesmo da pena em abstrato, pois este, por definição originária, é o prazo próprio prescricional dos crimes em espécie. (...) STJ. 6ª Turma. REsp 379.276/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/12/2006.

Em nosso exemplo, o crime imputado é o de corrupção passiva (art. 317), cuja pena máxima é de 12 anos. Logo, aplicando-se o art. 109, II, do CP, o prazo prescricional para ajuizar a ação contra João seria de 16 anos. Quarta pergunta: esse prazo prescricional para o ajuizamento da ação é contado a partir de quando? A partir do trânsito em julgado da condenação criminal. Isso porque o art. 38, § 1º, I, da Lei nº 8.625/93 afirma que a ação civil para perda do cargo somente deve ser interposta após o trânsito em julgado da sentença penal, nos casos em que a falta funcional corresponde também a uma conduta criminosa.

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Assim, uma das condições de procedibilidade da ação civil para perda do cargo é a existência de decreto condenatório proferido no juízo criminal e transitado em julgado. Logo, se a ação somente pode ser proposta após o trânsito em julgado, não se pode contar a prescrição antes dessa condição ocorrer. Prescrição somente ocorre quando alguém, podendo agir, deixa de fazê-lo, no tempo oportuno.

DIREITO CIVIL

COMPRA COM RESERVA DE DOMÍNIO Em caso de compra e venda com reserva de domínio, é possível a comprovação da mora

por meio de notificação extrajudicial enviada pelo RTD

Importante!!!

A mora do comprador, na ação ajuizada pelo vendedor com o intuito de recuperação da coisa vendida com cláusula de reserva de domínio, pode ser comprovada por meio de notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos (RTD).

Assim, em caso de cláusula de reserva de domínio, existem três formas pelas quais o vendedor (credor) poderá comprovar a mora do comprador (devedor):

a) mediante protesto do título;

b) por meio de interpelação judicial;

c) por notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.000-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

O que é a compra e venda com reserva de domínio? Trata-se do contrato de compra e venda no qual existe uma cláusula prevendo que o comprador ficará desde logo na posse direta do bem, mas que só irá adquirir realmente o domínio (só se tornará dono) depois de pagar integralmente o preço. O vendedor transmite desde logo a posse, comprometendo-se a transferir o domínio tão logo o comprador pague a integralidade do preço. A venda com reserva de domínio (pactum reservati dominii) encontra-se disciplinada nos arts. 521 a 528 do Código Civil:

Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.

Exemplo A venda com reserva de domínio é normalmente utilizada pelas grandes lojas de departamento quando vendem a prazo eletrodomésticos de maior valor, como televisões, geladeiras, fogões etc. Bens móveis perfeitamente caracterizados Só pode ser objeto de venda com reserva de domínio a coisa móvel perfeitamente caracterizável.

Art. 523. Não pode ser objeto de venda com reserva de domínio a coisa insuscetível de caracterização perfeita, para estremá-la de outras congêneres. Na dúvida, decide-se a favor do terceiro adquirente de boa-fé.

Características A cláusula de reserva de domínio deve ser estipulada por escrito.

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Para valer contra terceiros, o contrato precisa ser registrado no domicílio do comprador (art. 522). A serventia competente para esse registro é o RTD (Registro de Títulos e Documentos). Se o bem vendido foi um automóvel, caberá a anotação do gravame no Certificado de Registro do Veículo (CRV), nos termos da Lei nº 11.882/2008:

Art. 6º Em operação de arrendamento mercantil ou qualquer outra modalidade de crédito ou financiamento a anotação da alienação fiduciária de veículo automotor no certificado de registro a que se refere a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, produz plenos efeitos probatórios contra terceiros, dispensado qualquer outro registro público.

Apesar de a venda com reserva de domínio não ser o mesmo que alienação fiduciária, aplica-se aqui o mesmo raciocínio que inspirou a edição da súmula 92 do STJ:

Súmula 92-STJ: A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no certificado de registro do veículo automotor.

Se a coisa perecer, quem sofre o prejuízo é o comprador (possuidor direto): Como vimos acima, tão logo o contrato é assinado, a posse direta do bem passa para o comprador. A titularidade do bem (propriedade) só será transferida após o pagamento integral. No entanto, mesmo sem ser ainda o dono, o comprador tem o dever de cuidar da coisa. Isso porque se ela perecer (estragar completamente) ou se deteriorar, quem irá sofrer com esse prejuízo será ele (possuidor direto).

Art. 524. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.

Ex.: se João compra uma TV em 12x com reserva de domínio e no terceiro mês um ladrão furta o bem, João deverá pagar as nove prestações que faltam, mesmo sem ficar com a coisa. Existe uma regra que diz o seguinte: "res perit domino" (a coisa perece para o dono), ou seja, se o bem pereceu, quem deve sofrer o prejuízo é o proprietário. O art. 524 acima analisado é uma exceção a essa regra. Na compra com reserva de domínio vigora a regra do "res perit emptoris" (a coisa perece para o comprador). Em caso de mora do comprador, o que o vendedor poderá fazer? O art. 526 do CC estabelece o seguinte:

Art. 526. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra ele a competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.

Apesar de o dispositivo acima transcrito mencionar duas hipóteses (ação de cobrança ou recuperação da posse), a doutrina especializada afirma que o vendedor (credor) possui três opções: a) Ação executiva (execução do contrato) Ocorre quando o contrato assinado preenche os requisitos para ser considerado um título executivo extrajudicial, nos termos do art. 784, III, do CPC/2015. b) Ação de cobrança Se o contrato assinado não preenche os requisitos para ser considerado um título executivo, o vendedor poderá ajuizar ação cobrando as prestações vencidas e vincendas e o que mais for devido. Repare, portanto, que, em caso de atraso, ocorrerá o vencimento antecipado das parcelas futuras. Ex.: eram 12 parcelas; depois da 4ª, o comprador tornou-se inadimplente; logo, todas as 8 restantes já são consideradas vencidas.

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Vale ressaltar que, se o vendedor conseguir receber esse valor pleiteado na ação, o bem objeto do negócio jurídico passa a pertencer ao comprador. c) Ação de reintegração de posse da coisa vendida (alguns autores defendem que seria uma ação de busca, apreensão e depósito, com base no art. 1.071 do CPC 1973, que não foi repetido no CPC 2015) Caso opte por pedir a reintegração de posse (ou busca e apreensão), mesmo depois de ter de volta o bem, o vendedor poderá reter as prestações pagas até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas e o que mais de direito lhe for devido (art. 527). Em outras palavras, o vendedor poderá utilizar o valor já pago pelo comprador para cobrir seus prejuízos. Isso porque a coisa foi usada e já não vale o mesmo do que valia quando era nova. Além disso, o vendedor teve despesas com notificação extrajudicial etc. Se as prestações pagas pelo comprador forem maiores do que os gastos do vendedor, deverá este devolver o excedente ao comprador. Se forem menores, poderá ajuizar ação de cobrança para pleitear o restante. Se o vendedor quiser ajuizar a ação de reintegração de posse, ele precisará primeiro pedir a rescisão do contrato? NÃO. Se o vendedor quiser ajuizar a ação de reintegração de posse da coisa vendida, não precisará previamente pedir a rescisão do contrato, podendo propor desde logo a ação possessória. Nesse sentido, decidiu o STJ:

Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do contrato de compra e venda com reserva de domínio, o vendedor pode, ante o inadimplemento do comprador, pleitear a proteção possessória sobre o bem móvel objeto da avença. STJ. 4ª Turma. REsp 1.056.837-RN, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 3/11/2015 (Info 573).

Constituição do devedor em mora Quando o comprador atrasar o pagamento das prestações, o vendedor deverá constituí-lo em mora, o que poderá ser feito mediante protesto do título ou interpelação judicial (art. 525). Só após tomar essa providência é que o credor poderá ajuizar as ações acima explicadas. Assim, independentemente da opção exercida pelo vendedor, é imprescindível a constituição do comprador em mora. E como isso deverá ser feito? O art. 525 afirma que a constituição do devedor em mora pode ocorrer mediante protesto do título ou por interpelação judicial. Apesar disso, o STJ admite um terceiro modo de constituição do devedor em mora: a notificação extrajudicial. Conforme decidiu o Tribunal:

A mora do comprador, na ação ajuizada pelo vendedor com o intuito de recuperação da coisa vendida com cláusula de reserva de domínio, pode ser comprovada por meio de notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.000-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Para o STJ, mesmo a mora no contrato de compra e venda com reserva de domínio sendo uma mora ex re, é possível aplicar ao caso o parágrafo único do art. 397 do CC:

Art. 397 (...) Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Assim, em caso de cláusula de reserva de domínio, existem três formas pelas quais o vendedor (credor) poderá comprovar a mora do comprador (devedor): a) mediante protesto do título;

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b) por meio de interpelação judicial; c) por notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos. Instituição financeira que paga o preço da coisa ao vendedor sub-roga-se em seus direitos Algumas vezes pode acontecer de a loja vender parceladamente ao comprador e receber o dinheiro da venda à vista ou logo depois, por intermédio de uma instituição financeira. Isso é feito para que a loja tenha capital de giro e, obviamente, o banco irá cobrar do vendedor um valor por este adiantamento. Se essa situação se verificar, a instituição financeira irá se sub-rogar nos direitos do vendedor e, assim, se o comprador tornar-se inadimplente, ela poderá exercer os direitos e ações decorrentes do contrato como se fosse o vendedor. Vale ressaltar que, no momento da assinatura do contrato, o comprador deverá ser informado e concordar com essa operação.

Art. 528. Se o vendedor receber o pagamento à vista, ou, posteriormente, mediante financiamento de instituição do mercado de capitais, a esta caberá exercer os direitos e ações decorrentes do contrato, a benefício de qualquer outro. A operação financeira e a respectiva ciência do comprador constarão do registro do contrato.

ALIMENTOS Se o filho é maior de 18 anos, mas apresenta doença mental incapacitante, seus pais têm dever de prestar alimentos, sendo a necessidade presumida

Importante!!!

É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença mental incapacitante, devendo ser suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do alimentado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

João paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho Gabriel (de 7 anos), que teve com sua ex-esposa. Qual é o fundamento jurídico para o pagamento dessa prestação? O fundamento está no poder familiar. Poder familiar é um conjunto de direitos e deveres conferido aos pais com relação ao filho menor de 18 anos (não emancipado), dentre eles o poder de dirigir a criação e a educação, de conceder consentimento para casar, de exigir que preste obediência, e outros previstos no art. 1.634 do CC. Como decorrência do poder familiar, os pais são obrigados a dar sustento aos filhos menores, nos termos do art. 1.566, IV, do CC:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: IV – sustento, guarda e educação dos filhos;

Até quando João terá que pagar pensão alimentícia em favor de Gabriel? Em regra, até 18 anos. Isso porque o poder familiar dos pais sobre os filhos cessa com a maioridade, ou seja, quando os filhos completam 18 anos (art. 1.630 e art. 1.635, III). Assim, em regra, a obrigação dos pais de prestar alimentos aos filhos cessa com o fim do poder familiar, isto é, quando os filhos completam 18 anos. É importante, no entanto, fazer um alerta. O fato de o filho completar 18 anos não autoriza que o pai, a partir desse dia, automaticamente, deixe de pagar a pensão. É necessário que o genitor faça um pedido ao juiz de exoneração da obrigação de alimentar. Há, inclusive, uma súmula do STJ a respeito:

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Súmula 358-STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

Esse pedido ao juiz deverá ser formulado nos próprios autos da ação de alimentos (se houver) ou, então, o pai terá que propor uma ação de exoneração. É necessário esse pedido expresso porque o filho deve ter a oportunidade de se defender e pedir para continuar recebendo a pensão por outro motivo que não seja a menoridade (ex: estudo, doença etc.). Veremos mais sobre isso logo abaixo. Filho maior de 18 anos que esteja fazendo curso superior ou técnico A jurisprudência construiu a tese de que, mesmo após completar 18 anos, o filho continua tendo direito de receber alimentos dos pais se ele, por ocasião da extinção do poder familiar, estiver regularmente frequentando curso superior ou técnico. Nesta hipótese, contudo, o dever de alimentar dos pais tem outro fundamento, qual seja, a relação de parentesco:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Dessa forma, é devido alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em curso universitário ou técnico, por força da obrigação parental de promover adequada formação profissional: Esse filho que está fazendo curso superior ou técnico terá direito à pensão alimentícia até que idade? Em regra, até 24 anos. Essa idade não está prevista no Código Civil, tendo sido uma criação da jurisprudência com base na legislação do imposto de renda, que estipula que até esta idade o filho pode ser considerado dependente para fins desse tributo. Nesse sentido:

“Observamos, de outro lado, que, com relação ao direito dos filhos maiores pedirem alimentos aos pais, não é o poder familiar que o determina, mas a relação de parentesco, que predomina e acarreta a responsabilidade alimentícia. Com relação aos filhos que atingem a maioridade, a ideia que deve preponderar é que os alimentos cessam com ela. Entende-se, porém, que a pensão poderá distender-se por mais algum tempo, até que o filho complete os estudos superiores ou profissionalizantes, com idade razoável, e possa prover a própria subsistência. Nesse sentido, o art. 1.694 do presente Código sublinha que os alimentos devem atender, inclusive, às necessidades de educação. Tem-se entendido que, por aplicação do entendimento fiscal quanto à dependência para o Imposto de renda, que o pensionamento deva ir até os 24 anos de idade.” (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de Família. 12ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 381-382)

Vale ressaltar, no entanto, que esta idade “máxima” de 24 anos é apenas um parâmetro e que o juiz, no caso concreto, poderá ampliar o pagamento da pensão para depois dessa idade, desde que demonstrada, de forma efetiva, a necessidade do alimentando. Recapitulando o que vimos até agora:

Até 18 anos, o filho tem direito à pensão por força do poder familiar;

De 18 até 24 anos, o filho continuará tendo direito à pensão se estiver fazendo curso superior ou técnico, hipótese na qual o pai terá que pagar os alimentos com fundamento no parentesco.

Vamos avançar. Alguns de vocês devem estar pensando: e se o filho, já graduado, estiver fazendo especialização, mestrado ou doutorado, ele terá direito à pensão alimentícia? NÃO. Aí já está demais.

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O estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode ser imposto aos pais de forma perene, sob pena de subverter o instituto da obrigação alimentar oriunda das relações de parentesco, que tem por objetivo, tão só, preservar as condições mínimas de sobrevida do alimentado. Em rigor, a formação profissional se completa com a graduação, que, de regra, permite ao bacharel o exercício da profissão para a qual se graduou, independentemente de posterior especialização, podendo assim, em tese, prover o próprio sustento, circunstância que afasta, por si só, a presunção iuris tantum de necessidade do filho estudante. STJ. 3ª Turma. REsp 1505079/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/12/2016.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: Carlos paga pensão alimentícia para seu filho Lucas (de 17 anos) no valor de 30% do salário-mínimo. Vale ressaltar que Lucas possui uma doença mental grave incapacitante e, por conta disso, recebe do Poder Público, todos os meses, um valor chamado de “Benefício de Prestação Continuada” (BPC), previsto na Lei nº 8.742/93 – LOAS) e pago para pessoas com deficiência que sejam economicamente miseráveis. Quando o filho completou 18 anos, Carlos ajuizou ação de exoneração de alimentos contra ele alegando que Lucas não está estudando e que, por ter direito ao benefício assistencial, não teria necessidade de receber a pensão alimentícia. O argumento de Carlos deverá ser aceito? NÃO. A ação deverá ser julgada improcedente e Carlos deverá continuar pagando a pensão alimentícia.

É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença mental incapacitante, devendo ser suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do alimentado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Necessidade presumida Conforme vimos acima, quando o filho atinge a maioridade, cessa o dever do pai de pagar os alimentos com fundamento no poder familiar. No entanto, é possível que esse dever continue, mas agora com base em outro alicerce jurídico: o parentesco. No caso dos alimentos decorrentes do poder familiar, a necessidade do filho é presumida. Por outro lado, no caso dos alimentos com fundamento no parentesco, em regra, é necessário que o filho prove que necessita da pensão. É necessária comprovação da necessidade. Na situação de Lucas, quando ele completou 18 anos, o dever de alimentar de seu pai mudou de fundamento: deixou de ser pelo poder familiar e passou a ser pelo parentesco. Apesar disso, como ele é portador de doença mental incapacitante, a necessidade continua sendo presumida. Assim, em caso de filho maior de 18 anos com doença mental incapacitante, o pai continua tendo obrigação de prestar os alimentos, com base no parentesco, sendo, presumida a necessidade do alimentado. Dever específico previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência Importante também destacar que a Lei nº 13.146/2015, determina que é dever da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação de diversos direitos, dentre eles, o direito à vida, à saúde, à alimentação e à habitação. Valores gastos com pessoa com deficiência são muito altos O Benefício de Prestação Continuada é equivalente a um salário mínimo. As regras de experiência demonstram que, no cotidiano de famílias nas quais um dos membros é acometido de doença mental incapacitante, esse valor é ínfimo se comparado com as efetivas necessidades dessa pessoa. Mesmo se somarmos o valor da pensão (30% do salário mínimo) com o BPC, ainda assim, a quantia total recebida pelo alimentando fica aquém (abaixo) de suas reais necessidades.

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Quadro-resumo:

Filho até 18 anos Pais têm obrigação de prestar alimentos. A necessidade do filho é presumida.

Fundamento: Poder familiar (art. 1.566, IV)

Filho maior de 18 anos Como regra, os pais não têm obrigação de prestar alimentos. O filho poderá provar que necessita dos alimentos (ex: motivo de doença).

Fundamento: Parentesco (art. 1.694)

Filho maior de 18 e menor de 24 anos, se estiver fazendo curso superior ou técnico.

Pais continuam tendo a obrigação de prestar alimentos. A necessidade do filho é presumida. Como o filho está estudando, a jurisprudência considera que existe uma presunção de que ele necessita dos alimentos.

Fundamento: Parentesco (art. 1.694)

Filho maior de 18 e menor de 24 anos, se estiver cursando especialização, mestrado ou doutorado.

Como regra, os pais não têm obrigação de prestar alimentos. O filho poderá provar que necessita dos alimentos (ex: motivo de doença).

Fundamento: Parentesco (art. 1.694)

Filho maior de 18 anos que apresenta doença mental incapacitante.

Pais continuam tendo a obrigação de prestar alimentos. A necessidade do alimentado se presume, e deve ser suprida nos mesmo moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar.

Fundamento: Parentesco (art. 1.694)

DIREITO EMPRESARIAL

REPRESENTAÇÃO JUDICIAL Presunção da existência de exclusividade em zona

É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de representante comercial quando:

a) não houver previsão expressa em sentido contrário; e

b) houver demonstração por outros meios da existência da exclusividade.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.077-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/3/2017 (Info 601).

Representação comercial autônoma A representação comercial autônoma é uma espécie de contrato segundo o qual: - uma determinada pessoa (física ou jurídica) - chamada de “representante” - compromete-se a ir em busca de interessados que queiram adquirir - os produtos ou serviços prestados por uma empresa, designada “representada”. É considerado um negócio jurídico com natureza de “colaboração empresarial por aproximação” de forma que o representante auxilia na circulação e distribuição dos produtos e serviços do representado nos mercados consumidores. Veja a definição dada pelo art. 1º da Lei nº 4.886/65:

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Art. 1º Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios.

Exemplo A empresa “XX” é representante comercial da indústria “ZZ”. Isso significa que “XX” irá em busca de clientes para adquirir os produtos da indústria “ZZ”, anotando os pedidos e os transmitindo para o representado a fim de que ele providencie a venda. Como contraprestação, o representante recebe uma comissão consistente em um percentual sobre as vendas intermediadas. Regulamentação Essa espécie de contrato está regulada pela Lei nº 4.886/65, chamada de “Lei de Representação Comercial”. Trata-se, portanto, de contrato típico, em que os direitos e obrigações das partes estão dispostos em lei. Autônomo Vale ressaltar que o representante não é considerado empregado do representado. Por isso, diz-se que a representação é exercida em caráter autônomo pelo representado. É possível, no entanto, que haja uma desvirtuação do contrato, ou seja, a empresa possui um funcionário exercendo a representação de seus produtos, com todas as características de uma relação de empregado, mas celebra um suposto contrato de representação comercial. Neste caso, a Justiça do Trabalho poderá desconsiderar este contrato e reconhecer que existe uma relação de emprego. Exclusividade de zonas O contrato de representação comercial deverá estipular a zona ou as zonas em que o representante irá atuar (art. 27, “d”, da Lei nº 4.886/65). Ex: somente nos bairros X, Y e Z; em toda a cidade; em alguns Municípios; em todo o Estado etc. Além disso, o contrato deverá dizer se o representante possui ou não exclusividade sobre essa zona. Se tiver exclusividade, isso significa que o representado assumiu o compromisso de somente comercializar seus produtos ou serviços nessa zona por meio do representante. Em outras palavras, havendo exclusividade, o representante não poderá vender diretamente nem por meio de outro representante os seus produtos naquela área. Como vimos acima, a Lei estabelece que o contrato deverá ter obrigatoriamente uma cláusula dizendo se há ou não exclusividade de zona. Apesar disso, observa-se, na prática, que muitos contratos de representação não possuem essa cláusula, ou seja, não dizem se há ou não exclusividade. O que acontece nesses casos? Se não houver cláusula dispondo a respeito da exclusividade, ela existe ou não? O STJ decidiu que:

É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de representante comercial quando: a) não houver previsão expressa em sentido contrário; e b) houver demonstração por outros meios da existência da exclusividade. STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.077-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/3/2017 (Info 601).

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DIREITO FALIMENTAR A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos?

Nos processos de falência ajuizados anteriormente à vigência da Lei nº 11.101/2005, a decretação da extinção das obrigações do falido prescinde da apresentação de prova da quitação de tributos.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.426.422-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Existe divergência se, na vigência da Lei nº 11.101/2005, a quitação dos tributos é condição para a extinção das obrigações do falido. A Min. Nancy Andrighi sustenta que sim.

Em provas objetivas, fique atento porque pode ser cobrada a redação literal do art. 191 do CTN, devendo essa alternativa ser assinalada como correta: “Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos os tributos.”

Conceito Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável. Finalidade A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei. Legislação aplicável

Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei n. 11.101/05.

Antes da Lei n. 11.101/05, a falência era regulada pelo Decreto-Lei n. 7.661/45. O caso julgado pelo STJ e que será comentado abaixo ocorreu na época em que ainda vigorava o DL 7.661/45. Depois que a falência for encerrada, isso significa que todas as obrigações do falido estão extintas? NÃO. Mesmo depois de ter se encerrado a falência, o falido só ficará “livre” e terá suas obrigações extintas se cumprir uma das situações previstas no art. 158 da Lei nº 11.101/2005 (art. 135 do DL 7.661/45):

Lei atual de Falências Antiga Lei de Falências

Art. 158. Extingue as obrigações do falido: I – o pagamento de todos os créditos; II – o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinquenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo; III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei; IV – o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei.

Art. 135. Extingue as obrigações do falido: I - o pagamento, sendo permitida a novação dos créditos com garantia real; II - o rateio de mais de quarenta por cento, depois de realizado todo o ativo, sendo facultado o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem, se para tanto não bastou a integral liquidação da massa; III - o decurso do prazo de cinco anos, contado a partir do encerramento da falência, se o falido, ou o sócio gerente da sociedade falida, não tiver sido condenado por crime falimentar; IV - o decurso do prazo de dez anos, contado a partir do encerramento da falência, se o falido, ou o sócio gerente da sociedade falida, tiver sido

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condenado a pena de detenção por crime falimentar;

Imagine a seguinte situação hipotética ocorrida na vigência do DL 7.661/45: A empresa "XX" passou por um processo de falência. 5 anos depois da falência, a empresa ajuizou ação declaratória de extinção das obrigações da falência, nos termos do art. 135, III, do DL 7.661/45. O Juiz da Vara de Falências determinou que a empresa juntasse aos autos certidões de quitação fiscal, ou seja, certidões demonstrando que os tributos foram pagos. Essa exigência é lícita? NÃO. O STJ decidiu que:

Nos processos de falência ajuizados anteriormente à vigência da Lei nº 11.101/2005, a decretação da extinção das obrigações do falido prescinde da apresentação de prova da quitação de tributos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.426.422-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Existem duas espécies de extinção das obrigações do falido: a) com maior abrangência: ocorre quando o falido, além de preencher os requisitos do DL 7.661/45, também pagou todos tributos que devia. Neste caso, o falido ficará livre tanto das obrigações não-tributárias como também das tributárias; b) em menor extensão: ocorre quando o falido conseguiu atender os requisitos do DL 7.661/45, mas não pagou todos os tributos que devia. Neste caso, o falido poderá obter uma decisão declarando a extinção de suas obrigações, nos termos do art. 135, mas, apesar disso, o Fisco continua com seu direito de cobrar os tributos. No regime do DL 7.661/45, os créditos tributários não se sujeitam ao concurso de credores instaurado por ocasião da decretação da quebra do devedor (art. 187), de modo que, por decorrência lógica, não apresentam qualquer relevância na fase final do encerramento da falência, na medida em que as obrigações do falido que serão extintas cingem-se unicamente àquelas submetidas ao juízo falimentar. E atualmente, ou seja, na vigência da Lei nº 11.101/2005, a quitação dos tributos é condição para a extinção das obrigações do falido? Ainda não há um julgado expresso do STJ a respeito. O tema é polêmico. Há doutrinadores que defendem que não. No entanto, a Min. Nancy Andrighi, por exemplo, sustenta que sim, ou seja, é necessária a apresentação da prova de quitação dos tributos. Em provas objetivas, fique atento porque pode ser cobrada a redação literal do art. 191 do CTN, devendo essa alternativa ser assinalada como correta:

Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos os tributos. (Redação dada pela LC 118/2005)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA É de competência da Justiça Estadual a ação de restituição de indébito

proposta pelo usuário contra a concessionária de energia elétrica

Não há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – para figurar como ré ou assistente simples de ação de repetição de indébito relativa a valores cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário do serviço e concessionária do serviço público.

Em razão disso, essa ação é de competência da Justiça Estadual.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.389.750-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/12/2016 (recurso repetitivo) (Info 601).

Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou, contra a concessionária de energia elétrica (sociedade de economia mista federal) ação de repetição cobrando o valor que ele pagou a mais das tarifas de energia em virtude de ter sido constatado um erro na metodologia do cálculo. A União ou a ANEEL (autarquia federal) deverão figurar no polo passivo desta demanda? NÃO. A jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que na ação envolvendo restituição de valores indevidamente cobrados aos usuários do serviço de fornecimento de energia elétrica, a União e/ou a ANEEL não detêm legitimidade passiva, devendo figurar no polo passivo somente a concessionária do serviço público. Por quê? A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é uma autarquia sob regime especial, que tem por finalidade regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica (art. 2º da Lei nº 9.427/96). Se o autor está pedindo a restituição de valores que supostamente pagou a mais para a concessionária de energia elétrica, pode-se concluir que a relação jurídica discutida em juízo está relacionada, exclusivamente, com o contrato de prestação de serviços que foi firmado entre o usuário e a concessionária. A ANEEL não faz parte desse contrato e, portanto, não possui interesse para justificar sua presença na lide. O fato de a ANEEL ser a entidade reguladora dos serviços de energia elétrica não faz com que ela tenha que figurar em todas as ações propostas pelos clientes contra as concessionárias. Essa conclusão foi agora reafirmada pelo STJ em sede de recurso especial repetitivo:

Não há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – para figurar como ré ou assistente simples de ação de repetição de indébito relativa a valores cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário do serviço e concessionária do serviço público. STJ. 1ª Seção. REsp 1.389.750-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/12/2016 (recurso repetitivo) (Info 601).

Competência da Justiça Estadual Como nem a União nem a ANEEL figuram no polo passivo da demanda, esta ação deverá ser proposta na Justiça Estadual.

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Informativo 601-STJ (10/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17

O fato de a concessionária do serviço de energia elétrica ser uma sociedade de economia mista federal não desloca a competência para a Justiça Federal? NÃO. As sociedades de economia mista, ainda que mantidas pela União, não são julgadas pela Justiça Federal. Houve uma opção do constituinte de não incluir tais empresas estatais no rol do art. 109 da CF/88. Sobre esse tema existem três enunciados de súmula do STF:

Súmula 508-STF: Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A. Súmula 517-STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal, quando a União intervém como assistente ou opoente. Súmula 556-STF: É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista.

Situação parecida com as demandas propostas contra a ANATEL

Súmula vinculante 27: Compete à Justiça Estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia, quando a Anatel não seja litisconsorte passiva necessária, assistente nem opoente. Súmula 506-STJ: A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a concessionária e o usuário de telefonia decorrentes de relação contratual.

INTIMAÇÕES Intimação eletrônica prevalece sobre o Diário da Justiça Eletrônico

Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre aquela realizada por meio do DJe.

STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 903.091-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 601).

As duas formas mais comuns de intimação atualmente são as seguintes: a) Diário da Justiça eletrônico b) Intimação eletrônica (por meio de portal de intimações). Diário da Justiça eletrônico (DJe) É como se fosse o antigo Diário Oficial, no entanto, agora não mais em papel e sim por meio de um site que divulga as intimações em pdf ou página de internet. Apenas para você entender melhor, é como se fosse o papel, porém agora veiculado na internet. Assim, todos os dias úteis é publicado um Diário Oficial com os números dos processos e os nomes dos advogados. Encontra-se previsto no art. 4º da Lei nº 11.419/2006:

Art. 4º Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral. (...) § 2º A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal.

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Informativo 601-STJ (10/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18

Exemplo:

Intimação eletrônica (Portal de Intimação eletrônica) É um sistema criado pelos Tribunais por meio do qual o advogado se cadastra em um site e a partir daí recebe intimações sobre os processos em que atua. Foi disciplinado pelo art. 5º da Lei nº 11.419/2006:

Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico. § 1º Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização. § 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte. § 3º A consulta referida nos §§ 1º e 2º deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo. § 4º Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura automática do prazo processual nos termos do § 3º deste artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço. § 5º Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme determinado pelo juiz. § 6º As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais.

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Exemplo:

Se houver duplicidade de intimações, ou seja, o advogado for intimado tanto pelo DJe como pelo Portal de Intimação, qual deverá prevalecer? A intimação eletrônica (pelo Portal). Deve prevalecer a intimação via portal eletrônico, pois essa modalidade de intimação dispensa a publicação via DJe, conforme expressamente previsto no caput do art. 5º da Lei nº 11.419/2006:

Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

Essa previsão expressa de dispensa de publicação no DJe reforça a conclusão de que a intimação eletrônica é a que deve prevalecer. Aliás, essa também foi a opção normativa esposada pelo novo CPC/2015, conforme se verifica nos seguintes dispositivo legais:

Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei. Art. 272. Quando não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação dos atos no órgão oficial.

Em suma:

Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre aquela realizada por meio do DJe. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 903.091-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 601).

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ Para a aplicação da multa por litigância de má-fé não se exige a comprovação de dano

Importante!!!

O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-fé prevista no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). Trata-se de mera sanção processual, aplicável inclusive de ofício, e que não tem por finalidade indenizar a parte adversa.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/2/2017 (Info 601).

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O CPC possui uma seção para tratar das consequências aplicáveis aos casos em que as partes agem com má-fé durante o processo. No CPC/1973, o tema era previsto nos arts. 16 a 18. No CPC/2015, o assunto está disciplinado nos arts. 79 a 81. Vejamos cada um desses artigos: Princípio geral (art. 79 do CPC/2015)

CPC 1973 CPC 2015

Art. 16. Responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou interveniente.

Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente.

Observações:

Não houve nenhuma mudança substancial entre os dispositivos, tendo sido apenas substituída a palavra pleitear por litigar.

Chamo atenção para o fato de que essa responsabilidade atinge tanto o autor como o réu e eventual terceiro que intervenha no processo.

Cuidado: a responsabilidade por atos processuais praticados pelo membro do MP ou pelo magistrado não é disciplinada pelo art. 79 do CPC/2015, estando sujeita a dispositivos específicos. Confira:

Art. 181. O membro do Ministério Público será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas funções. (...) Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I — no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; II — recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias.

Hipóteses de litigância de má-fé (art. 80 do CPC/2015)

CPC 1973 CPC 2015

Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que: I — deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II — alterar a verdade dos fatos; III — usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV — opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V — proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI — provocar incidentes manifestamente infundados; VII — interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I — deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II — alterar a verdade dos fatos; III — usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV — opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V — proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI — provocar incidente manifestamente infundado; VII — interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Como se percebe, não houve qualquer alteração na redação do novo CPC.

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Sanções aplicáveis (art. 81 do CPC/2015)

CPC 1973 CPC 2015

Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. § 1º Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2º O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento.

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. § 1º Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. § 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.

Observações:

A multa por litigância de má-fé aumentou. Agora ela deverá ser fixada entre 1% a 10% sobre o valor da causa corrigido (caput).

Agora existe uma regra expressa prevendo que, se o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa será fixada em até 10 salários-mínimos.

Sanções aplicáveis Repare no caput do art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015) que são previstas três sanções aplicáveis ao litigante de má-fé: a) multa; b) indenização pelos prejuízos causados à parte contrária; c) condenação nos honorários advocatícios e despesas. Para que seja aplicada a multa de que trata o art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015) é necessário que se prove que houve dano (prejuízo)? NÃO.

O dano processual não é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-fé prevista no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.065-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/2/2017 (Info 601).

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E para que seja exigida a indenização prevista na segunda parte do art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015), é necessário que se prove que houve dano (prejuízo)? Por mais estranho que pareça, prevalece que NÃO, ou seja, não existe necessidade de se provar o dano. Há, inclusive, um julgado da Corte Especial do STJ nesse sentido:

A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC/1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC/2015) tem caráter reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito processual. Apesar disso, é desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação ao pagamento da indenização prevista nesse dispositivo. Em outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja condenação ao pagamento de indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC/1973; art. 81, caput e § 3º do CPC/2015). STJ. Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/6/2015 (Info 565).

Para o STJ, uma vez reconhecida a litigância de má-fé, devem ser impostas a multa e a indenização (perdas e danos), sendo, no entanto, DESNECESSÁRIA a prova do prejuízo sofrido pela parte adversa. A Corte entende que, em momento algum, o art. 18, caput e § 2º do CPC/1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC/2015) exigem que haja prova do prejuízo para que a indenização seja fixada. Segundo pensa o STJ, para a fixação da indenização, a lei só exige que haja um prejuízo, mas este pode ser potencial ou presumido (não precisando ser demonstrado em concreto). Outro argumento do STJ é o de que se fosse exigida comprovação de prejuízo, essa demonstração seria extremamente difícil de ser feita, o que praticamente impossibilitaria a aplicação de tais sanções, comprometendo a sua eficácia.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Honorários com cláusula ad exitum e renúncia do advogado antes do fim da demanda

Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento definitivo da causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba honorária proporcional ao trabalho realizado, sendo necessário aguardar o desfecho processual positivo para a apuração da quantia devida.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.749-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/2/2017 (Info 601).

Imagine a seguinte situação hipotética: João queria ingressar com uma ação de indenização, tendo contratado Dr. Rui para propor e acompanhar a demanda. No contrato ficou previsto que os honorários contratuais seriam pagos por João somente ao final da causa, se esta fosse exitosa. Assim, se a ação de indenização a ser proposta por João fosse julgada procedente, este deveria pagar ao advogado 30% do valor da condenação. Se não obtivesse êxito, João não pagaria nada. Cláusula quota litis Quando a situação acima ocorre, diz-se que o contrato de honorários possui uma cláusula ad exitum ou quota litis. Na hipótese de prestação de serviços advocatícios com cláusula de remuneração quota litis, o compromisso do advogado que, em regra, é uma obrigação de meio, porque não depende do sucesso da

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causa, torna-se uma obrigação de resultado, já que o advogado somente irá receber os honorários contratuais se o julgamento for favorável ao seu cliente. Voltando ao nosso exemplo: O advogado elaborou e protocolizou a petição inicial da ação. Ocorre que durante a tramitação do processo, João e Dr. Rui se desentenderam e o patrono renunciou ao mandato outorgado (“o advogado revogou a procuração”). Diante disso, João constituiu outro advogado para acompanhar a causa. Alguns dias depois, Dr. Rui ingressou com ação de arbitramento de honorários advocatícios contra João. Nesta ação, Dr. Rui pede para receber imediatamente os honorários pelos serviços já prestados quando era advogado de João (elaboração da petição inicial, réplica, acompanhamento em audiência etc.), independentemente do êxito futuro da demanda pendente. Alegou que a atividade do advogado é, via de regra, de meio, e não de resultado, de modo que aquele que o contratou deve pagar pelo serviço já realizado, sob pena de enriquecimento ilícito. Como a ação de indenização ainda não chegou ao fim, Dr. Rui pediu para receber os honorários de forma proporcional ao serviço que ele já prestou. O pedido do Dr. Rui deverá ser acolhido? Ele tem direito de receber imediatamente os honorários advocatícios pelos serviços já realizados? NÃO.

Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento definitivo da causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba honorária proporcional ao trabalho realizado, revelando-se necessário aguardar o desfecho processual positivo para a apuração da quantia devida. STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.749-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/2/2017 (Info 601).

Condição suspensiva Nos contratos de prestação de serviços advocatícios ad exitum, a vitória processual constitui condição suspensiva, cujo implemento é obrigatório para que o advogado faça jus à devida remuneração. Em outras palavras, o direito aos honorários somente é adquirido com a ocorrência de um evento futuro e incerto (o sucesso na demanda). Relembre o que o Código Civil fala sobre a condição suspensiva:

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. (...) Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.

Assim, nos contratos com cláusula ad exitum enquanto não ocorrer a condição prevista no ajuste o advogado não terá adquirido o direito à remuneração pelos serviços prestados. Dito de outro modo, enquanto não ocorrer a condição (êxito na causa), ele não terá direito aos honorários. O fato de o advogado renunciar ao mandato não modifica ou invalida a condição suspensiva. Este advogado continuará tendo que esperar o resultado da ação para ter direito ou não aos honorários. Se o ex-cliente perder a causa, o antigo advogado não terá direito a nenhum valor a título de honorários, considerando que a condição não se realizou. Se o ex-cliente vencer a causa, o antigo advogado terá direito aos honorários de forma proporcional ao trabalho realizado, devendo a outra parte ser paga ao novo profissional que o substituiu na condução do processo. Desse modo, nos contratos ad exitum, ainda quando ocorrida a revogação do mandato, o implemento da condição contratada constitui elemento essencial para a produção dos seus efeitos remuneratórios e,

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consequentemente, da deflagração do fato gerador da pretensão condenatória a ser, eventualmente, exercida em juízo. Proibição do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) Outro argumento para o advogado não receber imediatamente os honorários está no fato de que ele não agiu de acordo com a boa-fé objetiva. No caso concreto, percebe-se um flagrante comportamento contraditório do advogado, que celebrou contrato de risco (ad exitum) com o cliente, limitando sua remuneração aos honorários em caso de vitória ao final da ação, mas, após ter renunciado ao mandato, deduziu pretensão de arbitramento da verba honorária proporcional ao serviço prestado na causa pendente. Cliente que revoga o mandato de forma imotivada A situação seria diferente se o cliente tivesse revogado o mandato outorgado de forma imotivada. Neste caso, seria possível que o advogado recebesse imediatamente os honorários, ou seja, mesmo antes de a ação chegar ao fim. Isso porque o cliente foi quem impediu que o causídico continuasse na causa. Aqui aplica-se o art. 129 do Código Civil:

Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Termo inicial do prazo para apresentar impugnação em

caso de comparecimento espontâneo logo após a penhora

No CPC/1973, o termo inicial do prazo para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença era contado a partir da ciência inequívoca do devedor quanto à penhora “on-line” realizada, não havendo necessidade de sua intimação formal.

STJ. Plenário. EREsp 1.415.522-ES, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 29/3/2017 (Info 601).

Obs: esse julgado não tem relevância sob a égide do novo CPC.

No CPC/1973, para que o devedor apresentasse impugnação, era indispensável a garantia do juízo, ou seja, era necessário que houvesse penhora, depósito ou caução. No CPC/2015 isso acabou e é possível impugnação mesmo sem garantia do juízo.

No CPC/1973, o prazo de 15 dias para impugnação era contado da intimação do auto de penhora e avaliação. No CPC/2015, o prazo para impugnação inicia-se imediatamente após acabar o prazo de 15 dias que o executado tinha para fazer o pagamento voluntário (art. 525, caput). Não é necessária nova intimação. Acabou um prazo, começa o outro. Logo, para fins de início do prazo da impugnação, não mais interessa o dia em que ocorreu a penhora. Isso porque a penhora (garantia do juízo) não é mais um requisito para que haja impugnação no CPC/2015.

Imagine a seguinte situação hipotética ocorrida ainda sob a égide do CPC/1973: João ajuizou ação de cobrança contra a empresa X. O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar R$ 500 mil a João. A empresa perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado. João ingressou com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença. Em outras palavras, o autor requereu a intimação do condenado para o cumprimento da sentença com o pagamento da dívida no prazo de 15 dias, sob pena de aplicação da multa de 10%.

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Mesmo intimada, a empresa não efetuou o pagamento da quantia no prazo. Diante disso, o exequente requereu ao juiz que fizesse a penhora de dinheiro on line (Bacenjud) das contas bancárias da executada. O magistrado deferiu o pedido e conseguiu-se penhorar o dinheiro nas contas do devedor. Assim que foi juntado aos autos o extrato dos atos praticados por meio eletrônico (extrato da penhora on line realizada), João requereu ao juiz a expedição de alvará para o levantamento da quantia penhorada. Antes que o magistrado decidisse, em 04/04/2014, a empresa peticionou nos autos afirmando que João não poderia levantar os valores porque a causa ainda estava em discussão, sendo necessário aguardar o término do cumprimento de sentença. Em 05/05/2014, o juiz negou os argumentos da executada e autorizou que João fizesse o levantamento da quantia penhorada. A executada apresentou, então, petição ao juiz pedindo para que fosse formalmente intimada de que houvera a penhora, oportunidade em que, a partir desta intimação, iniciaria seu prazo para apresentar impugnação. O juiz não concordou e afirmou que o prazo para impugnação da empresa já se esgotou. Isso porque este prazo teve início em 04/04/2014, quando a executada, mesmo sem ter sido ainda intimada, compareceu espontaneamente nos autos demonstrando ter ciência inequívoca de que havia sido realizada uma penhora on line. Agiu corretamente o juiz neste caso ocorrido na época do CPC/1973? SIM.

No CPC/1973, o termo inicial do prazo para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença era contado a partir da ciência inequívoca do devedor quanto à penhora “on-line” realizada, não havendo necessidade de sua intimação formal. STJ. Plenário. EREsp 1.415.522-ES, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 29/3/2017 (Info 601).

A intimação é ato solene pelo qual é cientificada a parte sobre algum ato processual, sendo desnecessária a sua expedição formal quando a parte comparecer espontaneamente ao processo. Assim, se já houve comparecimento espontâneo do executado logo após a penhora, não é mais necessário que ele (devedor) seja formalmente intimado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença. O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação ou da intimação, fluindo a partir desta data o prazo para a prática do ato processual. A parte não pode se valer de sua própria torpeza, comparecendo ao processo espontaneamente e a posteriori alegar que não foi iniciado seu prazo pugnando pela expedição formal de ato de intimação para tão somente praticar o ato processual. Esse julgado tem relevância sob a égide do novo CPC? NÃO. Explico. Para que o devedor apresente impugnação, é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário que exista penhora, depósito ou caução?

CPC 1973: SIM.

CPC 2015: NÃO. Desse modo, na vigência do CPC/1973, o devedor somente poderia apresentar a impugnação se o juízo estivesse garantido. Ex: se tivesse havido penhora on line do valor da dívida. No novo CPC, a impugnação independe de prévia garantia do juízo. O prazo para que o devedor apresente impugnação é de 15 dias. A partir de quando é contado esse prazo?

CPC 1973: o prazo era contado da intimação do auto de penhora e avaliação (art. 475-J, § 1º).

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CPC 2015: o prazo de 15 dias para impugnação inicia-se imediatamente após acabar o prazo de 15 dias que o executado tinha para fazer o pagamento voluntário (art. 525, caput). Não é necessária nova intimação. Acabou um prazo, começa o outro.

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.

Logo, se o exemplo que foi dado acima tivesse acontecido na vigência do CPC/2015, a situação seria assim: João ingressou com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença. Mesmo intimada, a empresa não efetuou o pagamento da quantia no prazo de 15 dias. Passado esse prazo de 15 dias para pagar, já se inicia o prazo de 15 dias para impugnar. Logo, não mais interessa, para fins de início do prazo da impugnação, o dia em que ocorreu a penhora. Isso porque a penhora (garantia do juízo) não é mais um requisito para que haja impugnação.

DIREITO PENAL

CRIME DE DESABAMENTO Representante legal de empresa que contratou a realização de obra não responde penalmente por desabamento ocorrido na construção

Importante!!!

O representante legal de sociedade empresária contratante de empreitada não responde pelo delito de desabamento culposo (art. 256, parágrafo único, do CP) ocorrido na obra contratada, quando não demonstrado o nexo causal, tampouco pode ser responsabilizado, na qualidade de garante, se não havia o dever legal de agir, a assunção voluntária de custódia ou mesmo a ingerência indevida sobre a consecução da obra.

STJ. 6ª Turma. RHC 80.142-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Imagine a seguinte situação hipotética: A sociedade empresária “ABC Ltda.” queria construir um prédio de três andares para ali funcionar a sua sede. Para tanto, a ABC celebrou com a empresa Lego Engenharia e Construções Ltda um contrato de empreitada com o objetivo de que esta última realizasse a obra. Quem representou a empresa ABC na assinatura do contrato foi seu sócio administrador (Sérgio). A obra estava sendo executada normalmente, no entanto, ocorreu uma tragédia: houve um desabamento na construção, o que ocasionou a morte do pedreiro João, empregado da Lego. Segundo restou apurado na perícia, o acidente foi causado pelo fato de terem sido descumpridas normas de proteção ao trabalho. Diante disso, o Promotor de Justiça imputou a Emerson (funcionário da Lego, encarregado da obra) e a Sérgio a prática do crime de desabamento culposo (art. 256, parágrafo único, do Código Penal):

Art. 256. Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Modalidade culposa Parágrafo único - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano.

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A controvérsia jurídica no presente caso é a seguinte: de acordo com o que foi exclusivamente narrado acima, Sérgio, na condição de representante legal da empresa contratante da empreitada, deve ser responsabilizado pelo desabamento culposo ocorrido na obra que estava sendo realizada pela construtora contratada? NÃO.

O representante legal de sociedade empresária contratante de empreitada não responde pelo delito de desabamento culposo ocorrido na obra contratada, quando não demonstrado o nexo causal, tampouco pode ser responsabilizado, na qualidade de garante, se não havia o dever legal de agir, a assunção voluntária de custódia ou mesmo a ingerência indevida sobre a consecução da obra. STJ. 6ª Turma. RHC 80.142-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Elementos que deveriam ter sido demonstrados pela acusação Imputa-se a Sérgio a prática do delito na modalidade culposa, que ocorre quando o desabamento ou desmoronamento é decorrente da não observância, pelo sujeito ativo, do dever de cuidado necessário. Em se tratando de delito culposo, para o exercício da ação penal, a acusação deve demonstrar os seguintes elementos: a) conduta humana voluntária ativa (comissiva) ou omissiva; b) nexo de causalidade; c) resultado involuntário lesivo que não fazia parte da finalidade inicial do agente; d) inobservância do dever objetivo de cuidado; e) previsibilidade objetiva; e f) tipicidade. Nexo de causalidade O nexo de causalidade ou simplesmente nexo causal é o liame que liga a conduta ao resultado. Trata-se de elemento do fato típico, previsto no art. 13, caput, do Código Penal:

Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Existem várias teorias para explicar quando ocorre o nexo de causalidade. A teoria adotada pelo Código Penal foi:

Em regra, a “teoria da equivalência das condições”, também chamada de “teoria da equivalência dos antecedentes”, “teoria da causalidade simples” ou “teoria da conditio sine qua non”. Ela está prevista no caput do art. 13 do CP.

Exceção: o § 1º do art. 13 adota, de forma excepcional, a “teoria da causalidade adequada” para a hipótese da superveniência de causa independente.

Teoria da equivalência das condições Trata-se de teoria de cunho empírico naturalista, que pode ser classificada como generalizadora. É chamada de generalizadora porque, segundo ela, não há hierarquia entre as condições que antecedem um resultado, tratando todas as causas como de igual valor. Assim, segundo essa linha de pensamento, causa nada mais é do que a condição (ação ou omissão) sem a qual o resultado não teria ocorrido tal como ocorreu. Tudo aquilo que efetivamente contribuiu, em concreto, para o resultado, é tido por causa. Método da eliminação hipotética dos antecedentes causais A fim de se descobrir se determinado evento é ou não causa, foi idealizado o método da eliminação hipotética dos antecedentes causais, desenvolvido por Thyrén.

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Segundo esse método, se você quiser saber se determinado evento é ou não considerado causa, o procedimento é o seguinte: Deve-se imaginar o resultado criminoso e suprimir o fato ocorrido anteriormente:

Se mesmo ele tendo sido suprimido, o fato ocorreu da mesma forma, significa que esse fato não influenciou no resultado e, portanto, ele não é considerado concausa;

Por outro lado, se esse fato for suprimido e, por conta disso, o resultado se alterar, deve-se então considerar que esse fato anterior foi causa do evento.

Em outras palavras, uma ação ou omissão será considerada como causa do evento sempre que, suprimida mentalmente do contexto fático, o resultado tenha deixado de ocorrer tal como ocorreu. Veja o clássico exemplo de Damásio de Jesus: Suponha-se que ‘A’ tenha matado ‘B’. A conduta típica do homicídio possui uma série de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais podemos sugerir os seguintes: 1) a produção do revólver pela indústria; 2) a aquisição da arma pelo comerciante; 3) compra do revólver pelo agente; 4) refeição tomada pelo homicida; 5) emboscada; 6) disparo de projéteis na vítima; 7) resultado morte. Dentro dessa cadeia de fatos, se excluirmos os fatos 1, 2, 3, 5 e 6, o resultado não teria ocorrido. Logo, são considerados causas. Por outro lado, se excluirmos o fato 4, ainda assim o evento teria acontecido. Dessa forma, a refeição tomada pelo sujeito não é considerada causa (Direito Penal. Vol. 1, Parte geral. 28ª ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 248). Até aqui, se fosse feita uma interpretação apressada da norma e da teoria, isso poderia levar facilmente o intérprete à conclusão de que Sérgio teria sim parcela de responsabilidade no crime. Ora, a empreitada jamais seria realizada se a ABC não tivesse contratado a empresa Lego para a construção. Além disso, a obra também jamais sairia do papel sem a concordância dos representantes legais da ABC, dentre os quais se inclui Sérgio. Essa parece ter sido a tônica utilizada pela acusação para deflagração da ação penal. Impressionado pelo evento danoso resultante do sinistro (morte do operário), o Parquet houve por bem incluir no processo causal todos aqueles que de alguma forma participavam direta ou indiretamente da empreitada, lançando mão da pretensão punitiva em desfavor desde o operador da máquina perfuratriz, passando pelo encarregado da obra, engenheiro responsável, até se chegar ao representante legal da empresa contratante. Não se pode fazer uma aplicação cega do método de eliminação hipotética Se o método de eliminação hipotética for aplicado de forma “cega”, absoluta, haverá o chamado regresso ao infinito (regressus ad infinitum) porque se puniria até mesmo a mãe do dono da construtora porque se ela não tivesse tido o filho, a obra não teria se realizado. Dessa forma, o ordenamento jurídico em vigor não é compatível com uma aplicação pura, cega do método de eliminação hipotética. Esse método foi aperfeiçoado com a criação do seguinte limite: é necessário se investigar o elemento anímico ou subjetivo do agente. Isso é chamado de “causalidade psíquica” (imputatio delicti). Para evitar a responsabilidade de certas condutas antecedentes que contribuíram para o resultado, a doutrina clássica analisa o dolo e a culpa como limites da responsabilidade.

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Assim sendo, duas operações devem ser realizadas para explicitar o modelo causal: 1º) em primeiro lugar, identifica-se a imputação objetiva do evento (causa). Isso é causa segundo o método de eliminação hipotética? 2º) se sim, em um momento, testa-se a imputação subjetiva (dolo/culpa). O agente que praticou a conduta considerada causa agiu com dolo ou culpa para o crime em questão? O agente somente poderá ser responsabilizado penalmente se agiu com dolo ou culpa em relação ao resultado. Como explica Cleber Masson: “(...) Para que um acontecimento ingresse na relação de causalidade, não basta a mera dependência física. Exige-se ainda a causalidade psíquica (imputatio delicti), é dizer, reclama-se a presença do dolo ou da culpa por parte do agente em relação ao resultado. De fato, a falta do dolo ou da culpa afasta a conduta, a qual, por seu turno, obsta a configuração do nexo causal. A título ilustrativo, a venda lícita de uma arma de fogo, por si só, não ingressa no nexo causal de um homicídio com ela praticado. Entretanto, se o vendedor sabia da intenção do comprador e, desejando a morte do ofendido, facilitou de qualquer modo a alienação do produto, sua conduta será considerada causa do crime posteriormente cometido.” (Direito Penal. Vol. 1, São Paulo: Método, 2017, p. 259). Voltando ao caso concreto Em uma situação semelhante ao exemplo dado, o STJ considerou que não havia liame entre a conduta de Sérgio e o evento danoso. É inviável atribuir-se a responsabilidade penal ao representante legal da sociedade empresária contratante de empreitada. O dever objetivo de cuidado com a obra é endereçado aos agentes da empresa responsável pela construção, ou a outros terceiros que tenham efetivamente interferido no curso causal. A responsabilidade penal, via de regra, não possui os mesmos elementos da responsabilidade civil. Na seara civil, é possível a responsabilização objetiva, a transferência de responsabilidade pessoal ou mesmo responsabilidade de cunho solidário. Em Direito Penal, não. Vige aqui a vedação da responsabilização objetiva e o princípio da intranscendência das penas. Também não se pode considerar o agente como garante Vale ressaltar que também não se pode imputar ao agente a posição de garante, nos termos do art. 13, § 2º do CP. Não se pode dizer que existe no caso uma omissão penalmente relevante considerando que ele não se enquadra em nenhuma das situações descritas nas alíneas do § 2º do art. 13. Veja:

Art. 13 (...) § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Em conclusão, se de um lado não se pode imputar de forma direta qualquer resultado penalmente relevante ao acusado, dada a ausência de causalidade psíquica, de outro não cabe falar em omissão imprópria, considerando a não qualificação do agente como garantidor. Por conseguinte, a ação penal intentada contra o acusado é manifestamente incabível, devendo ser obstado o seu prosseguimento em face da atipicidade.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO Não se pode determinar a incomunicabilidade entre pai e filho(a), mesmo eles sendo corréus

Não é possível que o juiz determine, como medida cautelar substitutiva da prisão, a incomunicabilidade do acusado com seu genitor/corréu.

A fixação da medida restritiva substitutiva não deve se sobrepor a um bem tão caro como é a família, sendo isso protegido inclusive pela Constituição Federal, em seu art. 226.

STJ. 6ª Turma. HC 380.734-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Imagine a seguinte situação hipotética: A Polícia Federal estava investigando uma organização criminosa que seria liderada por João. Dentre os integrantes da ORCRIM estavam Tiago, Letícia e Carla, filhos de João. O Juiz Federal decretou a prisão preventiva de todos os integrantes da organização. Passados alguns meses, a defesa de Tiago ingressou com pedido de revogação de prisão preventiva, requerendo ao magistrado a liberdade do réu. O Juiz Federal revogou a prisão preventiva, mas determinou que Tiago não mantenha contato com nenhum integrante da organização criminosa, com exceção de suas irmãs Letícia e Carla. Pela decisão, Tiago não pode se comunicar com João, líder da organização, mesmo ele sendo seu pai. Vale ressaltar que essa medida de incomunicabilidade encontra-se prevista como medida cautelar no art. 319, III, do CPP:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (...) III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

Agiu corretamente o magistrado? NÃO. O STJ decidiu que:

Não é possível que o juiz determine, como medida cautelar substitutiva da prisão, a incomunicabilidade do acusado com seu genitor/corréu. STJ. 6ª Turma. HC 380.734-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

A proibição de que o acusado mantenha contato com seu genitor, mesmo ele também sendo réu, é algo que afeta evidentemente a esfera da vida privada e familiar de maneira grave. Vale ressaltar que mesmo as pessoas presas continuam com o direito de receber visitas de seus familiares. A fixação da medida restritiva substitutiva não deve se sobrepor a um bem tão caro como é a família, sendo isso protegido inclusive pela Constituição Federal, em seu art. 226. Assim como o magistrado permitiu que o réu tivesse contato com suas irmãs, deveria também ter permitido a comunicação com o pai do acusado, mesmo ele sendo o líder da organização criminosa.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

ICMS O valor da TUSD compõe a base de cálculo do ICMS

(Obs: julgado que interessa apenas aos concursos que cobram ICMS de forma muito aprofundada)

A Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) compõe o preço final da operação de fornecimento de energia elétrica e está incluída na base de cálculo do ICMS.

O ICMS incide sobre todo o processo de fornecimento de energia elétrica, tendo em vista que as fases de geração, transmissão e distribuição da energia são indissociáveis. Assim, o custo inerente a cada uma dessas etapas - entre elas a referente à TUSD - compõe o preço final da operação e, consequentemente, a base de cálculo do imposto, nos termos do art. 13, I, da LC 87/96.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.163.020-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/3/2017 (Info 601).

Possibilidade de os grandes consumidores escolherem seus fornecedores de energia elétrica Como se sabe, nós não escolhemos a empresa de energia elétrica que iremos contratar para termos esse serviço em nossas casas. No caso dos grandes consumidores, isso é diferente. A legislação permite que grandes consumidores de energia elétrica possam escolher qual empresa geradora e/ou comercializadora de energia elétrica elas irão contratar. Isso está previsto no art. 15 da Lei nº 9.074/95. Por conta disso, diz-se que existem dois tipos de consumidores:

Consumidores cativos: são aqueles que recebem a energia diretamente de distribuidora, sem margem de negociação ou escolha. Correspondem aos consumidores “comuns”, ou seja, as residências e os empreendimentos de pequeno e médio portes.

Consumidores livres: são aqueles que consomem carga igual ou maior que 10.000 kW, atendidos em tensão igual ou superior a 69 kV, que podem optar por contratar seu fornecimento, no todo ou em parte, com produtor independente de energia elétrica.

Tarifa de energia e tarifa de fio Os grandes consumidores (consumidores livres) terão que contratar a energia elétrica de uma geradora de sua escolha. Para essa geradora, eles irão pagar a chamada tarifa de energia. Ocorre que, além disso, para que se realize a entrega da energia elétrica, será necessário que os consumidores livres contratem uma concessionária para fazer a transmissão e distribuição dessa energia. Como remuneração por esse serviço de transmissão e distribuição, os consumidores livres pagarão mais uma tarifa, que é a “tarifa de fio”, chamada de “Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição” (TUSD). É como se essa tarifa remunerasse o transporte de energia. Apenas para você entender melhor: é como se o consumidor livre celebrasse dois contratos. Um com a empresa de geração de energia, pagando a ela a tarifa de energia. Outro com a empresa de transmissão/distribuição da energia, pagando a ela tarifa de fio (TUSD). Vale ressaltar que a TUSD é uma tarifa paga apenas pelos grandes consumidores (consumidores livres). Não é paga separadamente pelo consumidor cativo (“comum”) que adquire energia para sua residência ou comércio porque este paga uma só tarifa onde estão embutidos todos os valores necessários para a chegada da energia em sua casa.

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Os consumidores livres devem pagar ICMS sobre a chamada tarifa de energia? SIM. Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de Direito Tributário. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061): • Circulação de mercadorias; • Prestação de serviços de transporte intermunicipal; • Prestação de serviços de transporte interestadual; • Prestação de serviços de comunicação. A energia elétrica é considerada “mercadoria”, havendo, portanto, o pagamento de ICMS. Em verdade, a própria CF/88 catalogou a energia elétrica como mercadoria para fins de ICMS (art. 155, § 2º, X, “b” e § 3º). E sobre a Tarifa de Uso de Sistema de Distribuição (TUSD)? Imagine que um consumidor livre pague R$ 5 mil de tarifa de energia e R$ 7 mil de TUSD. Esse consumidor pagará ICMS sobre R$ 5 mil ou sobre R$ 12 mil (5 + 7)? O valor pago a título de TUSD deverá ser computado na base de cálculo do ICMS? SIM.

A Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) compõe o preço final da operação de fornecimento de energia elétrica e está incluída na base de cálculo do ICMS. STJ. 1ª Turma. REsp 1.163.020-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/3/2017 (Info 601).

Havia uma tese defendida por alguns doutrinadores e julgados no sentido de que não seria exigido o ICMS sobre a TUSD, ao fundamento de que essa tarifa remunera o exercício de uma atividade meio de "transporte de energia elétrica", que foge ao espectro de incidência do tributo. Essa tese é atualmente acolhida pelo STJ? NÃO. A transmissão e distribuição da energia elétrica, ou seja, o seu transporte até o consumidor não pode ser classificado como mera atividade meio, sendo, na verdade, atividade indissociável do próprio fornecimento de energia elétrica. Em outras palavras, só existe o fornecimento dessa mercadoria (energia elétrica) se houver a transmissão. Assim, o ICMS incide sobre todo o processo de fornecimento de energia elétrica, tendo em vista a indissociabilidade das suas fases de geração, transmissão e distribuição, sendo que o custo inerente a cada uma dessas etapas – entre elas a referente à Taxa de Uso do Sistema de Distribuição (TSUD) – compõe o preço final da operação e, consequentemente, a base de cálculo do ICMS, nos termos do art. 13, I, da LC 87/96.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA PRIVADA Não se pode conferir à aposentadoria complementar os

aumentos reais concedidos para benefícios mantidos pelo INSS

Nos planos de benefícios de previdência complementar administrados por entidade fechada, a previsão regulamentar de reajuste, com base nos mesmos índices adotados pelo Regime Geral de Previdência Social, não inclui a parte correspondente a aumentos reais.

Em outras palavras, se o plano de previdência prever que o reajuste da aposentadoria complementar será feito segundo os mesmos índices dos benefícios mantidos pelo INSS isso não garante que os beneficiários da previdência complementar terão exatamente o mesmo aumento da previdência oficial. Eles terão direito apenas à reposição das perdas causadas pela inflação (nos mesmos índices do regime geral). No entanto, aquilo que for além da reposição

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da inflação (aumento real do valor do benefício) não será estendido aos beneficiários da previdência complementar.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.564.070-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/3/2017 (recurso repetitivo) (Info 601).

Previdência complementar Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro, aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência. A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência). É chamada de "complementar" porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de "complementar" a renda no momento da aposentadoria. O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de "entidade de previdência complementar" (entidade de previdência privada). Imagine agora a seguinte situação hipotética: Determinado plano de previdência privada possuía uma cláusula dizendo que o reajuste da aposentadoria complementar ocorreria segundo os mesmos índices aplicáveis para o reajuste dos benefícios mantidos pelo INSS (RGPS). Os segurados perceberam que algumas vezes o valor da aposentadoria do RGPS aumentava, por exemplo, 10%, e a aposentadoria deste plano de previdência privada só subia 7%. Diante disso, os segurados deste plano de previdência ajuizaram ação contra o plano de previdência privada alegando que ele estava descumprindo essa cláusula. O plano de previdência refutou a tese e afirmou que sempre aplica o mesmo índice de correção utilizado pelo INSS para corrigir a inflação. Ocorre que, algumas vezes, o Governo concede “aumentos reais” no valor dos benefícios do RPGS, ou seja, reajustes acima da inflação. Assim, segundo o plano de previdência, ele está obrigado a aplicar apenas os reajustes que corrijam a inflação, não sendo necessário que ele conceda os mesmos aumentos reais utilizados pelo Governo para os benefícios do RGPS. O STJ concordou com a tese do plano de previdência privada? SIM.

Nos planos de benefícios de previdência complementar administrados por entidade fechada, a previsão regulamentar de reajuste, com base nos mesmos índices adotados pelo Regime Geral de Previdência Social, não inclui a parte correspondente a aumentos reais. STJ. 2ª Seção. REsp 1.564.070-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/3/2017 (recurso repetitivo) (Info 601).

Em outras palavras, se o plano de previdência prever que o reajuste da aposentadoria complementar será feito segundo os mesmos índices dos benefícios mantidos pelo INSS, isso não garante que os beneficiários da previdência complementar terão exatamente o mesmo aumento da previdência oficial. Eles terão direito apenas à reposição das perdas causadas pela inflação (nos mesmos índices do regime geral). No entanto, aquilo que for além da reposição da inflação (aumento real do valor do benefício) não será estendido aos beneficiários da previdência complementar. O índice de correção total periodicamente aplicado pela Previdência Social (INSS) nos seus benefícios nem sempre corresponde apenas à inflação apurada no período, podendo haver outros componentes, como o ganho real.

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A previsão estatutária da entidade de previdência privada é de reajustamento do benefício de prestação continuada justamente para manter o poder aquisitivo que possuía antes de ser desgastado pela inflação, e não para conceder ganhos reais aos assistidos. Dito de outro modo, o objetivo do fundo de previdência complementar não é propiciar ganho real aos assistidos, mas apenas garantir a manutenção do padrão de vida semelhante ao que desfrutavam em atividade. A elevação do aporte financeiro demanda uma elevação proporcional na oneração de seus contribuintes, tendo em vista a dinâmica do regime de capitalização, ínsito à previdência privada. Assim, eventual determinação de pagamento de valores sem respaldo em plano de custeio implica desequilíbrio econômico atuarial da entidade de previdência privada, a prejudicar a universalidade dos participantes e assistidos, o que fere o princípio da primazia do interesse coletivo do plano. No plano de previdência privada, deve-se garantir a irredutibilidade do benefício suplementar contratado, e não a concessão de ganhos reais ao participante, até porque isso irá comprometer o equilíbrio atuarial do fundo. Logo, não se revela possível a extensão dos aumentos reais concedidos pela previdência oficial ao benefício suplementar quando não houver fonte de custeio correspondente.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) Não há perda do objeto em mandado de segurança cuja pretensão é o fornecimento de leite especial

necessário à sobrevivência de menor ao fundamento de que o produto serve para lactentes e o impetrante perdeu essa qualidade em razão do tempo decorrido para a solução da controvérsia. ( )

2) Na hipótese de membro de Ministério Público Estadual praticar falta administrativa também prevista na lei penal como crime, o prazo prescricional da ação civil para a aplicação da pena administrativa de perda do cargo somente tem início com o trânsito em julgado da sentença condenatória na órbita penal. ( )

3) (Promotor MPE SC 2016 banca própria) A vitaliciedade do membro do Ministério Público permite a perda do cargo em razão de sentença judicial transitada em julgado proferida em ação instaurada para essa finalidade; ação movida pela prática de ato de improbidade administrativa; ou, em decorrência de decisão prolatada em processo disciplinar pelo Conselho Nacional do Ministério Público, assegurada, em todos os casos, a ampla defesa. ( )

4) (Promotor MP/MS 2015 banca própria) O Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP, conforme a Constituição Federal pode avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade, a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço, a perda do cargo, inclusive do membro do Ministério Público vitalício, e aplicar outras sanções administrativas, assegurada a ampla defesa. ( )

5) A mora do comprador, na ação ajuizada pelo vendedor com o intuito de recuperação da coisa vendida com cláusula de reserva de domínio, não pode ser comprovada por meio de notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos (RTD). ( )

6) (Juiz Federal TRF1 2009 CESPE) A cláusula de reserva de domínio consiste no direito que o vendedor se reserva de reaver, em certo prazo, o imóvel alienado, restituindo ao comprador o preço mais as despesas por ele realizadas. ( )

7) É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença mental incapacitante, devendo ser suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do alimentado. ( )

8) (DPE/CE 2014 FCC) Quando João completou 18 anos, Renato, seu pai, parou automaticamente de lhe pagar pensão alimentícia sob o argumento de que o filho já seria maior de idade, além de possuir condições para trabalhar. De acordo com Súmula do Superior Tribunal de Justiça, a postura de Renato é A) incorreta, pois a menoridade cessa aos 21 anos completos.

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B) incorreta, pois, mesmo no caso de atingimento da maioridade, o cancelamento de pensão alimentícia demanda prévia decisão judicial. C) correta, pois, com a maioridade, cessa o dever alimentar, independentemente de decisão judicial. D) correta, pois a capacidade para o trabalho desobriga o alimentante de pagar pensão alimentícia, independentemente de prévia decisão judicial. E) incorreta, pois o dever de alimentar cessa, automaticamente, apenas com a conclusão dos estudos universitários.

9) (Promotor MP/SC 2014 banca própria) O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. ( )

10) Não é possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de representante comercial. ( ) 11) (Juiz Federal TRF2 2013) José é representante comercial da empresa X, com exclusividade de zona para o

território do estado do Rio de Janeiro estabelecida em contrato. Nessa situação hipotética, José terá direito de receber as comissões dos negócios realizados no estado Rio de Janeiro, entre a representada e compradores domiciliados nesse estado, nos casos em que os negócios tenham sido realizados com a intermediação A) dele ou de terceiros, apenas. B) dele ou nos casos em que os negócios tenham sido realizados diretamente pela empresa X, apenas. C) dele ou de algum preposto seu, apenas. D) dele ou de terceiros ou nos casos em que os negócios tenham sido realizados diretamente pela empresa X. E) dele, apenas.

12) Nos processos de falência ajuizados anteriormente à vigência da Lei nº 11.101/2005, a decretação da extinção das obrigações do falido prescinde da apresentação de prova da quitação de tributos. ( )

13) Há, em regra, interesse jurídico da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – para figurar como assistente simples de ação de repetição de indébito relativa a valores cobrados por força de contrato de fornecimento de energia elétrica celebrado entre usuário do serviço e concessionária do serviço público. ( )

14) Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre aquela realizada por meio do DJe. ( )

15) O dano processual é pressuposto para a aplicação da multa por litigância de má-fé prevista no art. 18 do CPC/1973 (art. 81 do CPC/2015). ( )

16) (Proc. Municipal PGM-SALVADOR 2015 CESPE) A condenação judicial da parte em multa e indenização decorrentes da litigância de má-fé depende de requerimento da parte prejudicada, devendo os valores da multa e da indenização ser liquidados por arbitramento. ( )

17) Nos contratos em que estipulado o êxito como condição remuneratória dos serviços advocatícios prestados, a renúncia do patrono originário, antes do julgamento definitivo da causa, não lhe confere o direito imediato ao arbitramento de verba honorária proporcional ao trabalho realizado, sendo necessário aguardar o desfecho processual positivo para a apuração da quantia devida. ( )

18) O representante legal de sociedade empresária contratante de empreitada não responde pelo delito de desabamento culposo (art. 256, parágrafo único, do CP) ocorrido na obra contratada, quando não demonstrado o nexo causal, tampouco pode ser responsabilizado, na qualidade de garante, se não havia o dever legal de agir, a assunção voluntária de custódia ou mesmo a ingerência indevida sobre a consecução da obra. ( )

19) Não é possível que o juiz determine, como medida cautelar substitutiva da prisão, a incomunicabilidade do acusado com seu genitor/corréu. ( )

20) Nos planos de benefícios de previdência complementar administrados por entidade fechada, a previsão regulamentar de reajuste, com base nos mesmos índices adotados pelo Regime Geral de Previdência Social, não inclui a parte correspondente a aumentos reais. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. E 4. E 5. E 6. E 7. C 8. Letra B 9. C 10. E

11. Letra D 12. C 13. E 14. C 15. E 16. E 17. C 18. C 19. C 20. C