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Informativo 976-STF (13/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 976-STF Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao autorizar a disponibilização dos dados pessoais de todos os consumidores dos serviços STFC e SMP, pelos respectivos operadores, ao IBGE. COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos federais para tomar atitudes de combate à pandemia. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI e possibilidade de que esse vício seja sanado. DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL REGIME JURÍDICO É constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado como título em concursos para cartório. DIREITO PROCESSUAL CIVIL COMPETÊNCIA Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da CF/88, sem concurso público, contra Município, no qual ele cobra verbas trabalhistas decorrentes desta contratação. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO É cabível a oposição de embargos de declaração para que a decisão embargada se adeque à jurisprudência superveniente. DIREITO PROCESSUAL PENAL DENÚNCIA ANÔNIMA Para ser decretada a medida de busca e apreensão, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima. DIREITO TRIBUTÁRIO IMUNIDADE TRIBUTÁRIA Súmula vinculante 58 Não há direito ao crédito de IPI em relação à aquisição de insumos isento, não tributados ou sujeitos à alíquota zero. DIREITO DO TRABALHO COMPETÊNCIA Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da CF/88, sem concurso público, contra Município, no qual ele cobra verbas trabalhistas decorrentes desta contratação.

Informativo comentado: Informativo 976-STF...CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393

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Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ▪ A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao autorizar a disponibilização dos dados pessoais

de todos os consumidores dos serviços STFC e SMP, pelos respectivos operadores, ao IBGE. COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS ▪ Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos federais

para tomar atitudes de combate à pandemia. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ▪ Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI e possibilidade de que esse vício seja sanado.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

REGIME JURÍDICO ▪ É constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado como título em concursos

para cartório.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA ▪ Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da CF/88, sem concurso público, contra Município,

no qual ele cobra verbas trabalhistas decorrentes desta contratação. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ▪ É cabível a oposição de embargos de declaração para que a decisão embargada se adeque à jurisprudência

superveniente.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

DENÚNCIA ANÔNIMA ▪ Para ser decretada a medida de busca e apreensão, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples

notícia anônima.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA ▪ Súmula vinculante 58 ▪ Não há direito ao crédito de IPI em relação à aquisição de insumos isento, não tributados ou sujeitos à alíquota zero.

DIREITO DO TRABALHO

COMPETÊNCIA ▪ Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da CF/88, sem concurso público, contra Município,

no qual ele cobra verbas trabalhistas decorrentes desta contratação.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao autorizar a disponibilização

dos dados pessoais de todos os consumidores dos serviços STFC e SMP, pelos respectivos operadores, ao IBGE

Covid-19

A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de telefone e endereços.

Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas.

As informações disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites estabelecidos pela Constituição.

A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que os dados serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude.

A MP 954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida.

Diante disso, constata-se que a MP violou a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade).

STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020 (Info 976).

MP 954/2020 No dia 17 de abril foi editada a Medida Provisória nº 954/2020, que dispõe sobre o compartilhamento de dados por empresas de telecomunicações com o IBGE. A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de telefone e endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. A MP foi editada a pedido do IBGE que argumentou junto à Presidência da República que, durante o período da pandemia decorrente da covid-19, foram adotadas diversas providências para evitar a transmissão comunitária do vírus. Uma delas foi o chamado isolamento social, evitando-se o contato presencial entre as pessoas. Com isso, as entrevistas domiciliares feitas pelos pesquisadores do IBGE ficaram prejudicadas e a forma de resolver esse problema seria utilizar as informações das companhias para a realização de entrevistas via telefone. Veja a redação dos principais dispositivos da MP:

Art. 1º Esta Medida Provisória dispõe sobre o compartilhamento de dados por empresas de telecomunicações prestadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado - STFC e do Serviço Móvel Pessoal - SMP com a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

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Parágrafo único. O disposto nesta Medida Provisória se aplica durante a situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.

Art. 2º As empresas de telecomunicação prestadoras do STFC e do SMP deverão disponibilizar à Fundação IBGE, em meio eletrônico, a relação dos nomes, dos números de telefone e dos endereços de seus consumidores, pessoas físicas ou jurídicas. § 1º Os dados de que trata o caput serão utilizados direta e exclusivamente pela Fundação IBGE para a produção estatística oficial, com o objetivo de realizar entrevistas em caráter não presencial no âmbito de pesquisas domiciliares. (...)

Art. 3º Os dados compartilhados: I - terão caráter sigiloso; II - serão usados exclusivamente para a finalidade prevista no § 1º do art. 2º; e III - não serão utilizados como objeto de certidão ou meio de prova em processo administrativo, fiscal ou judicial, nos termos do disposto na Lei nº 5.534, de 14 de novembro de 1968. § 1º É vedado à Fundação IBGE disponibilizar os dados a que se refere o caput do art. 2º a quaisquer empresas públicas ou privadas ou a órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta de quaisquer dos entes federativos. (...)

Art. 4º Superada a situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), nos termos do disposto na Lei nº 13.979, de 2020, as informações compartilhadas na forma prevista no caput do art. 2º ou no art. 3º serão eliminadas das bases de dados da Fundação IBGE. (...)

ADIs Foram ajuizadas cinco ações diretas de inconstitucionalidade contra a MP 954/2020 alegando, em síntese, que ela violaria os dispositivos da Constituição Federal que garantem a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, o sigilo dos dados e a autodeterminação informativa. O que decidiu o STF? O STF concordou com os argumentos dos autores? SIM. O STF, por maioria, ao apreciar a medida cautelar, decidiu suspender a eficácia da MP 954/2020. Veja abaixo o resumo do voto da Ministra Relatora Rosa Weber. Utilização dos dados pessoais As condições para que haja a manipulação (no sentido de “utilização”) dos dados pessoais digitalizados, por agentes públicos ou privados, consiste em um dos maiores desafios contemporâneos do direito à privacidade. Em outras palavras, hoje em dia existem diversas empresas e instituições públicas que possuem informações de milhares ou milhões de pessoas e esses dados estão armazenados em bancos de dados virtuais. O Direito tem discutido os requisitos e limites para a utilização desses dados, ou seja, até onde isso é possível sem violar garantia constitucional da privacidade. Privacidade e seus consectários são protegidos pela CF/88 A Constituição confere especial proteção à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas:

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Art. 5º (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

O chamado direito à privacidade (right to privacy) e os seus consectários direitos à intimidade, à honra e à imagem derivam do fato de que se reconhece que a personalidade individual merece ser protegida em todas as suas manifestações. A Constituição, com o intuito de instrumentalizar a defesa desses direitos, prevê, no art. 5º, XII, que:

Art. 5º (...) XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Esses direitos também estão disciplinados pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais A Lei nº 13.709/2018 dispõe sobre o tratamento de dados pessoais. Trata-se da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Essa Lei traz regras para disciplinar a forma como os dados pessoais dos indivíduos podem ser armazenados por empresas ou mesmo por outras pessoas físicas. O objetivo da Lei é proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. O respeito à privacidade e à autodeterminação informativa foram positivados, no art. 2º, I e II, da Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais):

Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como fundamentos: I - o respeito à privacidade; II - a autodeterminação informativa;

A MP 954/2020 dispõe sobre tratamento de dados pessoais O art. 2º da MP 954/2020 impõe às empresas de telefonia fixa e móvel o compartilhamento, com o IBGE, da relação de nomes, números de telefone e endereços de seus consumidores, pessoas físicas ou jurídicas. Tais informações configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação (“utilização”) e tratamento* deverão respeitar esses direitos e os limites estabelecidos pela Constituição. * Obs: tratamento de dados inclui toda “operação” realizada com dados pessoais. Ex: uma empresa de pesquisas coleta dados pessoais em uma pesquisa realizada em um supermercado com os clientes que estavam ali. Em seguida, essa empresa vende esses dados para uma empresa de marketing. A empresa de marketing contrata uma outra empresa para analisar, filtrar e classificar esses dados. Com esses resultados, a empresa de marketing vende tais informações para uma indústria alimentícia. Neste exemplo, todas as empresas fizeram o tratamento de dados pessoais. Em suma, tratamento de dados pessoais significa praticar alguma atividade que envolva dados pessoais. A MP 954/2020 exorbitou os limites impostos pela CF/88, violando o princípio da proporcionalidade A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao dispor sobre a disponibilização dos dados pessoais de todos os consumidores dos serviços STFC e SMP, pelos respectivos operadores, a entidade integrante da Administração indireta. O único dispositivo da MP 954/2020 que trata sobre finalidade e o modo de utilização dos dados pessoais é o § 1º do seu art. 2º. Esse dispositivo limita-se a dizer que os dados em questão serão utilizados

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exclusivamente pela Fundação IBGE para a produção estatística oficial, com o objetivo de realizar entrevistas em caráter não presencial no âmbito de pesquisas domiciliares. O dispositivo, contudo, não delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade específica, tampouco a amplitude. Também não esclarece a necessidade de disponibilização dos dados nem como serão efetivamente utilizados. Já o art. 1º, parágrafo único, da MP 954/2020 apenas dispõe que o ato normativo terá aplicação durante a situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da COVID-19. Ainda que se possa associar, por inferência, que a estatística a ser produzida tenha relação com a pandemia invocada como justificativa da edição da MP, tal ilação não se extrai de seu texto. Ao não definir apropriadamente como e para que serão utilizados os dados coletados, a MP 954/2020 não oferece condições para avaliação da sua adequação e necessidade, assim entendidas como a compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas e sua limitação ao mínimo necessário para alcançar suas finalidades. A MP viola, portanto, a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva. MP não traz mecanismos para evitar o vazamento acidental ou utilização indevida O art. 3º, I e II, da MP 954/2020 dispõe que os dados compartilhados “terão caráter sigiloso” e “serão utilizados exclusivamente para a finalidade prevista no § 1º do art. 2º”, e o art. 3º, § 1º, veda ao IBGE compartilhar os dados disponibilizados com outros entes, públicos ou privados. A despeito dessa previsão genérica, a MP 954/2020 não apresentam mecanismos técnico ou administrativo aptos a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida, seja na sua transmissão, seja no seu tratamento. Limita-se a delegar a ato do Presidente da Fundação IBGE o procedimento para compartilhamento dos dados, sem oferecer proteção suficiente aos relevantes direitos fundamentais em jogo. Repetindo: ao não prever exigência alguma quanto a mecanismos e procedimentos para assegurar o sigilo, a higidez e, quando o caso, o anonimato dos dados compartilhados, a MP 954/2020 não satisfaz as exigências que surgem do texto constitucional no tocante à efetiva proteção de direitos fundamentais dos brasileiros. Vale ressaltar que existe uma Lei que dispõe, de forma detalhada, sobre os critérios para tratamento de dados pessoais. É a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018). Ocorre que ela, apesar de aprovada, ainda está em vacatio legis, de modo que suas regras não poderiam ser utilizadas para impor limites e restrições ao IBGE. IBGE encontrou outra solução menos invasiva aos direitos fundamentais Importante mencionar, por fim que o IBGE, após a edição da MP, firmou parceria com o Ministério da Saúde para a realização de uma “PNAD Covid”, versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) voltada à quantificação do alastramento da pandemia da Covid-19 e seus impactos no mercado de trabalho brasileiro. Para definir a amostra da nova pesquisa, o IBGE utilizou a base de 211 mil domicílios que participaram da PNAD Contínua no primeiro trimestre de 2019 e selecionou aqueles com número de telefone cadastrado. Esse fato revela que se tornou desnecessário e excessivo o compartilhamento de dados tal como disciplinado na MP 954/2020. Em suma:

A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de telefone e endereços.

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Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As informações disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites estabelecidos pela Constituição. A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que os dados serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso, constata-se que a MP violou a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020 (Info 976).

COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões

de órgãos federais para tomar atitudes de combate à pandemia

Importante!!!

Covid-19

A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo de oito medidas que podem ser adotadas pelo poder público para o combate ao coronavírus.

O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020 estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar algumas medidas se houvesse autorização da União.

O STF, ao apreciar ADI contra a Lei, decidiu:

a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios da necessidade de autorização ou de observância ao ente federal; e

b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente federativo.

Assim, os Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem autorização da União, adotar medidas como isolamento, quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver e restrição à locomoção interestadual e intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos.

Vale ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais.

A adoção de medidas restritivas relativas à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e tem de preservar o transporte de produtos e serviços essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade federativa competente.

STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).

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Lei nº 13.979/2020 No início de fevereiro de 2020, foi editada a Lei federal nº 13.979/2020, prevendo medidas para o enfrentamento do coronavírus. Naquela época, os problemas causados pelo vírus já ocorriam em outros lugares do mundo, mas a doença ainda não havia chegado no Brasil. Medidas de combate ao coronavírus O aspecto mais importante desta Lei está no art. 3º onde são previstas 8 medidas que poderão ser adotadas pelo poder público para o combate ao coronavírus. Vale ressaltar que se trata de um rol exemplificativo, ou seja, o governo poderá adotar outras medidas além das que estão ali elencadas. Confira a redação do caput:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: (...)

Vamos ver cada uma das medidas previstas nos incisos do art. 3º. I – isolamento Isolamento consiste na separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus. As condições e o prazo de isolamento serão definidos em ato do Ministro de Estado da Saúde. II - quarentena Quarentena é a restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a propagação do coronavírus. As condições e o prazo de quarentena serão definidos em ato do Ministro de Estado da Saúde. Repare na diferença: • isolamento: atinge pessoas doentes ou contaminadas ou coisas afetadas; • quarentena: envolve pessoas ou coisas suspeitas de contaminação. III - exames, testes, coletas, vacinação e tratamentos obrigatórios Determinação de realização compulsória de: a) exames médicos; b) testes laboratoriais; c) coleta de amostras clínicas; d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou e) tratamentos médicos específicos; IV - estudo ou investigação epidemiológica V - exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver VI - restrição à liberdade de locomoção Restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de:

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a) entrada e saída do País; e b) locomoção interestadual e intermunicipal; VII - requisição de bens e serviços Requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que será garantido o pagamento posterior de indenização justa. O que é requisição? Requisição é o poder que o Estado possui de utilizar bens móveis, imóveis ou serviços de particulares, de forma compulsória, caso se esteja diante de uma situação de perigo público iminente. Se houver dano, o Estado, depois do uso, irá indenizar o particular. A requisição administrativa não viola o direito de propriedade por três razões: • o particular não perde a propriedade do bem; • existe uma razão que justifica o uso: interesse público de enfrentar o perigo público iminente; • o instituto está previsto na Constituição Federal:

Art. 5º (...) XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.

VIII - importação e distribuição de medicamentos sem registro na ANVISA Autorização excepcional e temporária para a importação e distribuição de quaisquer materiais, medicamentos, equipamentos e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária sem registro na Anvisa considerados essenciais para auxiliar no combate à pandemia do coronavírus, desde que registrados por pelo menos 1 (uma) das seguintes autoridades sanitárias estrangeiras e autorizados à distribuição comercial em seus respectivos países: 1. Food and Drug Administration (FDA); 2. European Medicines Agency (EMA); 3. Pharmaceuticals and Medical Devices Agency (PMDA); 4. National Medical Products Administration (NMPA); Essas agências se referem a quais países? • FDA: EUA; • EMA: União Europeia; • PMDA: Japão; • NMPA: China. Obs: o médico que prescrever ou ministrar medicamento cuja importação ou distribuição tenha sido autorizada na forma do inciso VIII do caput deste artigo deverá informar ao paciente ou ao seu representante legal que o produto ainda não tem registro na Anvisa e foi liberado por ter sido registrado por autoridade sanitária estrangeira (§ 7º-B do art. 3º). Medidas determinadas pelos Prefeitos e Governadores Em março de 2020, os primeiros casos começaram a acontecer no Brasil e, com o objetivo de tentar conter o avanço do coronavírus em nosso país, alguns Prefeitos e Governadores editaram decretos restringindo a entrada e saída de pessoas nos seus territórios. Foi o caso, por exemplo, do Decreto nº 46.980, de 19 de março de 2020, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Veja o que disse o art. 4º, IX e X, deste Decreto:

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Art. 4º De forma excepcional, com o único objetivo de resguardar o interesse da coletividade na prevenção do contágio e no combate da propagação do coronavírus, (COVID-19), diante de mortes já confirmadas e o aumento de pessoas contaminadas, DETERMINO A SUSPENSÃO, pelo prazo de 15 (quinze) dias, das seguintes atividades: (...) IX - a partir da 0h (zero hora) do dia 21 de março de 2020, a circulação de transporte interestadual de passageiros com origem nos seguintes Estados: São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Distrito Federal e demais estados em que a circulação do vírus for confirmada ou situação de emergência decretada. Compete à Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT ratificar esta determinação até o início da vigência do presente dispositivo; X - a partir da 0h (zero hora) do dia 21 de março de 2020, a operação aeroviária de passageiros internacionais, ou nacionais com origem nos estados São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Distrito Federal e demais estados em que a circulação do vírus for confirmada ou situação de emergência decretada. A presente medida não recai sobre as operações de carga aérea. Compete à Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC ratificar esta determinação até o início da vigência do presente dispositivo. O Estado do Rio de Janeiro deverá ser comunicado com antecedência nos casos de passageiros repatriados para a adoção de medidas de isolamento e acompanhamento pela Secretaria de Estado de Saúde.

Reação do Governo Federal por meio da MP 926/2020 O Governo Federal, contudo, entendeu que tais medidas não poderiam ser adotadas pelos Prefeitos e Governadores e, por meio da MP 926/2020, alterou a Lei nº 13.979/2020, para deixar expresso que somente por ato do Poder Executivo federal seria possível a restrição da locomoção interestadual e intermunicipal. Veja:

LEI 13.979/2020 (LEI QUE TRATA DE MEDIDAS DE COMBATE AO CORONAVÍRUS)

Antes da MP 926/2020 Depois da MP 926/2020

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, poderão ser adotadas, entre outras, as seguintes medidas:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas:

VI – restrição excepcional e temporária de entrada e saída do País, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos;

VI – restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: a) entrada e saída do País; e b) locomoção interestadual e intermunicipal;

A MP também acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020:

Art. 3º (...) § 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais. § 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais a que se referem o § 8º.

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§ 10. As medidas a que se referem os incisos I, II e VI do caput, quando afetarem a execução de serviços públicos e atividades essenciais, inclusive as reguladas, concedidas ou autorizadas, somente poderão ser adotadas em ato específico e desde que em articulação prévia com o órgão regulador ou o Poder concedente ou autorizador. § 11. É vedada a restrição à circulação de trabalhadores que possa afetar o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais, definidas nos termos do disposto no § 9º, e cargas de qualquer espécie que possam acarretar desabastecimento de gêneros necessários à população.

ADIs 6341 e 6343 Foram propostas duas ações diretas de inconstitucionalidade contra a MP 926/2020: • ADI 6341, ajuizada pelo Partido Democrático Brasileiro (PDT); • ADI 6343, intentada pelo partido Rede Sustentabilidade. As duas ações impugnaram pontos diferentes da MP e foram julgadas em dias diferentes pelo STF. ADI 6341 Foi julgada no dia 15/04/2020, tendo o STF concluído o seguinte:

A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. A MP 926/2020 alterou o caput e o inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020. Foi ajuizada uma ADI contra esta MP. O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu: • confirmar a medida acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no campo pedagógico e na dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em outras palavras, as providências adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o Distrito Federal e Município considerada a competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.” • dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 15/4/2020 (Info 973).

Para mais informações, veja comentários feitos no Info 973. ADI 6343

O STF concedeu parcialmente medida cautelar para: a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios da necessidade de autorização ou de observância ao ente federal; e b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente federativo. STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).

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Explicando melhor. Veja a redação do art. 3º, VI, “b” e os §§ 6º e 7º, II, da Lei:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: (...) VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: (...) b) locomoção interestadual e intermunicipal;

Art. 3º (...) § 6º Ato conjunto dos Ministros de Estado da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e da Infraestrutura disporá sobre a medida prevista no inciso VI do caput. (Redação dada pela MP 927/2020) § 7º As medidas previstas neste artigo poderão ser adotadas: II - pelos gestores locais de saúde, desde que autorizados pelo Ministério da Saúde, nas hipóteses dos incisos I, II, V, VI e VIII do caput deste artigo; (Redação vigente na época do julgamento da ADI) II – pelos gestores locais de saúde, desde que autorizados pelo Ministério da Saúde, nas hipóteses dos incisos I, II, V e VI do caput deste artigo; (Redação atual, dada pela Lei nº 14.006/2020)

Quem pode adotar cada uma das medidas, segundo o texto da Lei 13.979/2020

Órgão/entidade Medidas que pode adotar

1) Ministério da Saúde Todas as medidas do art. 3º, com exceção de uma: o inciso VIII (importação e distribuição de medicamentos sem registro no Brasil)

2) ANVISA Apenas a medida do inciso VIII

3) Gestores locais de saúde (secretarias estaduais e municipais, p. ex.)

Mesmo sem autorização do Ministério da Saúde: • determinação de realização compulsória de exames médicos, testes laboratoriais, coleta de amostras clínicas, vacinação ou tratamentos médicos específicos (inciso III). • estudo ou investigação epidemiológica (inciso IV); • requisição de bens e serviços (inciso VII).

Somente se houver autorização* do Ministério da Saúde: • isolamento (inciso I); • quarentena (inciso II); • exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver (inciso V); • restrição à circulação em rodovias, portos ou aeroportos (inciso VI).

O que o STF disse: Estados e Municípios não precisam de autorização da União para adotar as medidas necessárias ao combate do coronavírus. Logo, essa exigência de que os gestores locais de saúde tenham autorização do Ministério da Saúde para adotar as medidas não é compatível com a Constituição e, por isso, foi suspensa. * assim, essa necessidade de autorização mencionada pela Lei não é válida.

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Autonomia dos entes deve ser respeitada Para o STF, a União não deve ter o monopólio de regulamentar todas as medidas que devem ser tomadas para o combate à pandemia. O governo federal tem o papel primordial de coordenação entre os entes federados, mas a autonomia deles deve ser respeitada. É impossível que o poder central conheça todas as particularidades regionais. Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos federais para tomar atitudes de combate à pandemia. Como exemplo, pode-se mencionar que a exclusividade da União quanto às regras de transporte intermunicipal durante a pandemia é danosa já que cada Estado e Município possui peculiaridades. Restrição ao transporte O art. 3º, VI, da Lei prevê que é possível a restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da ANVISA, por rodovias, portos ou aeroportos de: a) entrada e saída do País; e b) locomoção interestadual e intermunicipal; A Lei diz que os gestores estaduais e municipais só podem adotar essa providência se tiverem autorização da União, respeitando ainda o que for previsto em Portaria interministerial dos Ministros da Saúde, Justiça e Infraestrutura. Para o STF, no caso da letra “b” (determinar restrições à locomoção interestadual e intermunicipal), os Estados e Municípios não precisam de autorização da União. Vale ressaltar, no entanto, que os Estados e Municípios somente podem adotar tais restrições se houver recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente federativo. Isso significa que a União está proibida de adotar qualquer medida relacionada com o transporte intermunicipal? NÃO. Não significa isso. A União tem a possibilidade de atuar na questão do transporte e das rodovias intermunicipais, mas desde que fique demonstrado que haja interesse geral. Ex: a União pode determinar a interdição de rodovias para garantir o abastecimento mais rápido de medicamentos, sob a perspectiva de um interesse nacional. Vale ressaltar, todavia, que os Estados também devem ter o poder de regulamentar o transporte intermunicipal para realizar barreiras sanitárias nas rodovias, por exemplo, se o interesse for regional. De igual modo, o Município precisa ter sua autonomia respeitada. Em outras palavras, o que o STF afirmou é que cada unidade (ente federativo) pode e deve a atuar, mas no seu respectivo âmbito de competência. Estados e Municípios não podem determinar o fechamento de fronteiras O STF afirmou expressamente que Estados e Municípios não podem fechar fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais. Medidas de restrição à locomoção devem ser lidas em conjunto com o Decreto 10.282/2020 No enfrentamento da emergência de saúde, há critérios mínimos baseados em evidências científicas para serem impostas medidas restritivas, especialmente as mais graves, como a restrição de locomoção. A competência dos Estados e Municípios, assim como a da União, não lhes confere carta branca para limitar a circulação de pessoas e mercadorias com base unicamente na conveniência e na oportunidade

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do ato. A emergência internacional não implica nem muito menos autoriza a outorga de discricionariedade sem controle ou sem contrapesos típicos do Estado Democrático de Direito. Assim, o inciso VI do art. 3º da Lei precisa ser lido em conjunto com o Decreto 10.282/2020, que regulamenta a Lei nº 13.979/2020, para definir os serviços públicos e as atividades essenciais. As medidas de restrição devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada do respectivo órgão de vigilância sanitária ou equivalente. É necessário também resguardar a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos pelos entes federados no âmbito do exercício das correspondentes competências constitucionais. Votos vencidos (leitura apenas se quiser aprofundar; cuidado para não se confundir) Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que referendou o indeferimento da medida liminar. Para o relator, as alterações adversadas promovidas pelas Medidas Provisórias 926/2020 e 927/2020 devem ser mantidas até o crivo do Congresso Nacional. Salientou que o tratamento da locomoção de pessoas tinha de se dar de forma linear. Quanto ao § 1º do art. 3º da lei, entendeu que tudo recomenda a tomada de providências a partir de dados científicos, e não conforme critério que se eleja para a situação. Sobre o art. 3º, § 7º, II, o Ministro Marco Aurélio avaliou inexistir situação suficiente à glosa precária e efêmera, no que esta poderia provocar consequências danosas, nefastas em relação ao interesse coletivo. Vencidos, em parte, os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber, que deferiram parcialmente a medida cautelar, para conferir interpretação conforme ao inciso II do § 7º do art. 3º da Lei 13.979/2020, que condiciona a atuação dos gestores locais à autorização do Ministério da Saúde, a fim de explicitar que, nos termos da regra constitucional que preconiza a descentralização do Sistema Único de Saúde, e desde que amparados em evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, estados, municípios e DF podem determinar as medidas sanitárias de isolamento, quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáveres.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI

e possibilidade de que esse vício seja sanado

Importante!!!

O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação. Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o ato contra o qual se insurge.

Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida.

Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja reconhecida a carência da ação.

STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.

O STF entende que é indispensável a apresentação de procuração com poderes específicos com referência expressa ao ato normativo questionado nas ações de controle concentrado e abstrato de constitucionalidade. Ex: uma entidade de classe de âmbito nacional contrata um escritório de advocacia para ajuizar uma ADI; na procuração outorgada pelo presidente dessa entidade deverá constar expressamente algo como: outorga poderes para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra os artigos X, Y e Z, da Lei nº XXX/XXXX.

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Veja outro precedente no mesmo sentido:

(...) A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da necessidade de subscrição da exordial por procurador devidamente amparado por poderes especiais para o questionamento do ato normativo. Nesse sentido, o ato de mandato deve conter descrição mínima do objeto digno de hostilização. 2. Admite-se a regularização processual do feito, contudo é próprio da economia processual deixar de intimar o Requerente para fazê-lo, quando se nota a carência da ação, que torna desnecessária a providência. (...) STF. Plenário. ADPF 480 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/04/2018.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: Entidade de classe de âmbito nacional ajuizou ADI contra os arts. 22 e 23 da Lei XXX. Ocorre que a procuração outorgada pela entidade de classe ao advogado não tinha poderes específicos com referência expressa aos arts. 22 e 23 da Lei XXX. Em outras palavras, a entidade de classe ajuizou uma ADI e, no momento da propositura, a procuração não atendia aos requisitos impostos pelo STF. Indaga-se: é possível que o Ministro Relator conceda um prazo para que a autora regularize a representação processual? SIM.

É sanável o vício na representação processual consistente na ausência de procuração com poderes específicos com expressa referência ao ato normativo questionado. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

REGIME JURÍDICO É constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia

deve ser considerado como título em concursos para cartório

O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras jurídicas.

Assim, é constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado como título em concursos para cartório (serventias notariais e de registro).

STF. Plenário. ADI 3760, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 15/04/2020.

A situação concreta foi a seguinte: Em Minas Gerais foi editada a Lei estadual nº 12.919/98, que tratou sobre concursos de ingresso e remoção nos serviços notariais e de registro no Estado. O inciso IV do art. 17 desta Lei previu que o “exercício da advocacia” seria considerado como título para fins de pontuação no concurso público:

Art. 17. O candidato não eliminado nas provas de conhecimento poderá apresentar títulos, considerando-se como tais os seguintes:

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I – tempo de serviço prestado como titular, interino, substituto ou escrevente em serviço notarial ou de registro; II – trabalhos jurídicos publicados, de autoria única, e apresentação de temas em congressos relacionados com os serviços notariais e registrais; III – conclusão de mestrado ou doutorado em matéria jurídica; IV – exercício da advocacia; V – aprovação em concurso público para cargos de carreira jurídica.

Esse inciso IV do art. 17 é constitucional? SIM.

O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras jurídicas. Assim, é constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado como título em concursos para cartório (serventias notariais e de registro). STF. Plenário. ADI 3760, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 15/04/2020.

O STF, em outro julgado anterior, havia analisado a constitucionalidade dos incisos I e II desta mesma Lei. O que o STF decidiu? Os incisos I e II do art. 17 da Lei mineira são constitucionais? Existem duas espécies de concurso para as serventias notariais e registrais: concurso público de ingresso e de remoção. • Para o concurso de INGRESSO, tal previsão é inconstitucional. • Para o concurso de REMOÇÃO, essa pontuação é constitucional, desde que as atividades listadas nesses dois incisos tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de registro. STF. Plenário. ADI 3580/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 786). Segundo o entendimento que prevalece no STF, é inconstitucional a lei que, prevendo critérios de valoração de títulos em concurso de ingresso nos serviços notariais e de registro, atribuam maior pontuação às condições pessoais ligadas à atuação anterior nessas atividades (STF. Plenário. ADI 4178 MC-REF, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 04/02/2010).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da CF/88, sem concurso público,

contra Município, no qual ele cobra verbas trabalhistas decorrentes desta contratação

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal pelo poder público.

Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho.

STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro foi contratado por Município do interior, sem prévio concurso público, para exercer função de zelador. Isso ocorreu em 1997, ou seja, após a CF/88. Pedro deseja ajuizar ação cobrando verbas trabalhistas decorrentes desta contratação. Vale ressaltar que neste Município adota-se o regime jurídico único para contratação de servidores, sendo o regime estatutário. A competência para julgar esta ação é da Justiça do Trabalho? NÃO. A competência será da Justiça comum estadual.

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

A presente discussão envolve a interpretação, ou seja, o sentido e o alcance do art. 114, I, da CF/88:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...)

O STF, na ADI 3395, interpretou esse dispositivo e chegou à seguinte conclusão, que se aplica ao caso concreto:

O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. STF. Plenário. ADI 3395 MC, Rel. Cezar Peluso, julgado em 05/04/2006.

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO É cabível a oposição de embargos de declaração para que a decisão embargada

se adeque à jurisprudência superveniente

São cabíveis embargos de declaração, com efeitos infringentes, para que a decisão embargada seja reajustada de acordo com a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça adotarem.

STF. 1ª Turma. Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

Imagine a seguinte situação hipotética: Autopista Litoral Sul é uma concessionária de serviços públicos. A Autopista contratou outra empresa para exercer parte de sua atividade-fim. Em outras palavras, houve terceirização da atividade-fim dessa concessionária. A concessionária invocou, como fundamento legal, para a contratação, o art. 25, § 1º da Lei nº 8.987/95:

Art. 25 (...) § 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.

Uma das Turmas do TRT da 9ª Região não concordou e afirmou que este § 1º do art. 25 não autoriza a possibilidade de terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do serviço público. Assim, a Turma do TRT9 julgou ilegal essa terceirização. A concessionária não se conformou com a decisão do órgão fracionário do TRT e ingressou com reclamação no STF alegando que houve afronta ao entendimento da Suprema Corte.

Decisão inicial do STF O STF, inicialmente, julgou improcedente a reclamação. Ocorre que o STF mudou seu entendimento e passou a decidir que é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade da empresa, seja ela atividade-meio ou fim:

É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante. Os itens I e III da Súmula 331 do TST são inconstitucionais. STF. Plenário. ADPF 324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29 e 30/8/2018 (Info 913). STF. Plenário. RE 958252/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e 30/8/2018 (Repercussão Geral – Tema 725) (Info 913).

Antes do trânsito em julgado, a Autopista opôs embargos de declaração pedindo a aplicação da jurisprudência supervenientemente formada.

O pedido da embargante deve ser acolhido? Os embargos de declaração deverão ser providos para cassar o acórdão do TRT mesmo que a decisão do STF tenha sido posterior? SIM. A 1ª Turma do STF, por maioria, acolheu embargos de declaração, com efeitos infringentes, para dar provimento a agravo regimental e julgar procedente reclamação, de forma que seja cassado o acórdão impugnado, com determinação para que a autoridade reclamada (TRT) observe o entendimento fixado no Tema 725 da repercussão geral (RE 958.252, Rel. Min. Luiz Fux) e ADPF 324 (Rel. Min. Roberto Barroso). STF. 1ª Turma. Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

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O novo CPC prevê a hipótese de cabimento de embargos de declaração para reajustar a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça adotarem:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; (...)

Portanto, antes do trânsito em julgado é legítimo readequar o julgado anterior para ajustá-lo à posição do Plenário do STF. Votos vencidos Vencidos os ministros Rosa Weber (relatora) e Marco Aurélio, que rejeitaram os embargos de declaração, tendo em conta que na época em que proferida a decisão embargada não havia pronunciamento do Plenário em sede de repercussão geral sobre o tema.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

DENÚNCIA ANÔNIMA Para ser decretada a medida de busca e apreensão, é necessário que

haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima

Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores.

Se há notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia.

Se confirmadas, com base nesses novos elementos de informação o juiz deferirá o pedido.

Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa.

O mandado de busca e apreensão expedido exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo.

STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

Imagine a seguinte situação hipotética: A polícia recebeu um e-mail anônimo afirmando que Gabriela estaria comercializando bolos de maconha no interior de uma universidade estadual, onde estudava. Foi instaurado inquérito policial para apurar os fatos. Sete meses depois sem que a polícia tenha feito qualquer diligência investigatória, o Delegado fez uma representação pedindo ao juiz que decretasse medida de busca e apreensão na residência da investigada.

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O magistrado deferiu a medida e os policiais, ao cumprirem o mandado, encontraram pequena quantidade de maconha na residência, razão pela qual prenderam Gabriela em flagrante pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006). O Ministério Público ofereceu denúncia contra a investigada, tendo ela sido recebida pelo juiz. Inconformada, a defesa impetrou habeas corpus alegando que a busca e apreensão determinada foi ilegal considerando que baseada em “denúncia anônima”. O STF concordou com o pedido da defesa? SIM. A 1ª Turma concedeu a ordem de habeas corpus para declarar a ilicitude da busca e apreensão realizada e, consequentemente, dos elementos probatórios produzidos por sua derivação. Vamos entender melhor. O que é a chamada “denúncia anônima”? Denúncia anônima ocorre quando alguém, sem se identificar, relata para as autoridades (ex: Delegado de Polícia, MP etc.) que determinada pessoa praticou um crime. É o caso, por exemplo, dos serviços conhecidos como “disk-denúncia” ou, então, dos aplicativos de celular por meio dos quais se “denuncia” a ocorrência de delitos. O termo “denúncia anônima” não é tecnicamente correto porque em processo penal denúncia é o nome dado para a peça inaugural da ação penal proposta pelo Ministério Público. Assim, a doutrina prefere falar em “delação apócrifa”, “notícia anônima” ou “notitia criminis inqualificada”. É possível instaurar investigação criminal (inquérito policial, investigação pelo MP etc.) com base em “denúncia anônima”? SIM, mas a jurisprudência afirma que, antes, a autoridade deverá realizar uma investigação prévia para confirmar se a “denúncia anônima” possui um mínimo de plausibilidade. Veja o que diz Renato Brasileiro:

“Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes de instaurar o inquérito policial, verificar a procedência e veracidade das informações por ela veiculadas. Recomenda-se, pois, que a autoridade policial, antes de proceder à instauração formal do inquérito policial, realize uma investigação preliminar a fim de constatar a plausibilidade da denúncia anônima. Afigura-se impossível a instauração de procedimento criminal baseado única e exclusivamente em denúncia anônima, haja vista a vedação constitucional do anonimato e a necessidade de haver parâmetros próprios à responsabilidade, nos campos cível e penal.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 129).

Segundo o STF, não é possível desprezar a utilidade da "denúncia anônima". Isso porque em um mundo no qual o crime torna-se cada vez mais complexo e organizado, é natural que a pessoa comum tenha receio de se expor ao comunicar a ocorrência de delito. Daí a admissibilidade de notícias crimes anônimas. É possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em “denúncia anônima”? NÃO. A Lei nº 9.296/96 (Lei de Interceptação Telefônica) estabelece:

Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

É possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia anônima”? NÃO. A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito à intimidade. Logo, para ser decretada, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima.

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Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”: 1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”; 2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui credibilidade (aparência mínima de procedência), instaura-se inquérito policial; 3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação telefônica (como visto, esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado. Voltando ao caso concreto: não houve investigações preliminares Não houve investigações complementares depois da denúncia anônima. Assim, o pedido e o deferimento da busca e apreensão se basearam unicamente na denúncia anônima. Conforme já vimos acima, denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. Se há notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos de informação, o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado expedido exclusivamente com apoio em denúncia anônima será abusivo. Ausência de fundamentação Além disso, a decisão judicial que autorizou a busca e apreensão carece de fundamentação. Não houve qualquer análise efetiva sobre a real necessidade da medida ou a consistência das informações contidas na denúncia anônima. Há, apenas, remissão a esses elementos e enquadramento genérico na norma processual. É imperiosa para o juiz a demonstração, na motivação, de que a lei foi validamente aplicada no caso submetido à sua apreciação. A legalidade de uma decisão não resulta da simples referência ao texto legal, mas deve ser verificada concretamente pelo exame das razões pelas quais o juiz afirma ter aplicado a lei, pois somente tal exame pode propiciar o efetivo controle daquela demonstração. A denúncia (ação penal) foi oferecida pelo Ministério Público exclusivamente com base nos elementos obtidos na busca e apreensão ilícita, motivo pelo qual o STF determinou o trancamento do processo penal por manifesta ausência de justa causa. No mesmo sentido:

A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito à intimidade. Logo, para ser decretada, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).

A denúncia anônima, quando ausentes outros indícios graves, não é elemento suficiente para a autorização de atuação estatal insidiosa na privacidade dos cidadãos, como para justificar interceptações telefônicas, invasão de domicílio ou mandado de busca e apreensão. STJ. 6ª Turma. RHC 88.642/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 26/11/2019.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA Súmula vinculante 58

Não há direito ao crédito de IPI em relação à aquisição de insumos isento, não tributados ou sujeitos à alíquota zero

Súmula vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade.

STF. Plenário. Aprovada em 24/04/2020.

IPI IPI é a sigla para Imposto sobre Produtos Industrializados. Trata-se de um tributo federal que incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados. O IPI foi instituído por meio da Lei nº 4.502/64. Fato gerador do IPI Segundo o art. 46 do CTN, o IPI possui três fatos geradores: I - o desembaraço aduaneiro do produto industrializado, quando de procedência estrangeira; II - a saída do produto industrializado do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial; III - a arrematação do produto industrializado, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão. Princípio da não-cumulatividade O IPI é um imposto não cumulativo (art. 153, § 3º, II, da CF/88), o que significa que é possível compensar o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores, ou seja, o valor pago na operação imediatamente anterior pode ser abatido do mesmo imposto em operação posterior (art. 49 do CTN).

“A cada aquisição tributada de insumo, o adquirente registra como crédito o valor do tributo incidente na operação. Tal valor é um ‘direito’ do contribuinte, consistente na possibilidade de recuperar o valor incidente nas operações subsequentes (é o ‘IPI a recuperar’). A cada alienação tributada de produto, o alienante registra como débito o valor do tributo incidente na operação. Tal valor é uma obrigação do contribuinte, consistente no dever de recolher o valor devido aos cofres públicos federais ou compensá-los com os créditos obtidos nas operações anteriores (trata-se do ‘IPI a recolher’). Periodicamente, faz-se uma comparação entre os débitos e créditos. Caso os débitos sejam superiores aos créditos, o contribuinte deve recolher a diferença aos cofres públicos. Caso os créditos sejam maiores, a diferença pode ser compensada posteriormente ou mesmo, cumpridos determinados requisitos, ser objeto de ressarcimento.” (ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário esquematizado. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 681-682).

Exemplo de aplicação do princípio da não cumulatividade: Imaginemos uma indústria que fabrica computadores. Ela precisa comprar os insumos que são utilizados na fabricação dos seus bens. Exs: precisa adquirir os plásticos que são utilizados no computador, comprar os metais que são empregados nos dispositivos eletrônicos etc. Quando essa indústria compra cada um desses insumos, ela paga um preço para o fornecedor. Ocorre que esse fornecedor pagou um valor de IPI e embutiu no preço o valor deste IPI. Ex: suponhamos que a indústria pagou R$ 100 mil para o fornecedor do plástico; imagine que de R$ 100 mil, R$ 10 mil é referente ao IPI, ou seja, essa quantia é custo de IPI que o fornecedor repassou para a

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indústria. Vamos agora imaginar que a indústria vendeu os computadores e, por essa venda, foi cobrada R$ 500 mil de IPI. Como a indústria já pagou R$ 10 mil na aquisição dos insumos, vai utilizar esse crédito para descontar do valor do IPI e assim só irá pagar R$ 490 mil de IPI pelas vendas. Isso é a não cumulatividade. Entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis: não há direito a crédito presumido Quando a operação anterior é isenta, não existe direito de crédito em favor do adquirente. Isso porque, segundo a técnica da não cumulatividade, prevista no art. 153, § 3º, II, da CF/88, somente é possível creditar o imposto que foi cobrado na operação anterior:

Art. 153. (...) § 3º O imposto previsto no inciso IV (obs: IPI): (...) II – será não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores;

Se não foi cobrado imposto (por ser isento, sujeito à alíquota zero ou não tributável), não é possível creditamento do IPI. Exemplo: Morlan S/A é uma indústria que comprou insumos da empresa Tecno S/A. A adquirente pediu para ter direito ao crédito de IPI relativo a essa compra. Ocorre que os insumos que a Morlan comprou da empresa Tecno são isentos do pagamento de IPI. Diante disso, a Receita Federal afirmou que a Morlan não teria direito a creditamento. Isso porque se a operação é isenta, ela não gera crédito de IPI. Assim, não houve imposto efetivamente cobrado. A posição da Receita Federal está em harmonia com o entendimento do STF cristalizado na SV 58. Por que não há violação ao princípio da não-cumulatividade? O princípio da não-cumulatividade é alicerçado no direito que o contribuinte possui à compensação. Isso significa que o valor a ser pago na operação posterior sofre a diminuição do que foi pago anteriormente. Assim, se nada de IPI foi pago na entrada do produto, nada há a ser compensado na operação seguinte. Logo, o aproveitamento dos créditos do IPI não se caracteriza quando a matéria-prima utilizada na fabricação de produtos tributados reste desonerada, sejam os insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis. Isso porque a compensação com o montante devido na operação subsequente pressupõe, necessariamente, a existência de crédito gerado na operação anterior, o que não ocorre nas hipóteses exoneratórias. Exceção: Zona Franca de Manaus A Amazônia é uma região de enorme relevância para o Brasil e o mundo em razão de sua biodiversidade. Em razão disso, existe uma grande pressão interna e até estrangeira para que essa área seja preservada. Diante desse cenário, decidiu-se que seria interessante criar um polo industrial em Manaus, capital do Amazonas, a fim de permitir que as pessoas tivessem emprego e não precisassem explorar, de forma desordenada, os recursos naturais existentes principalmente no interior no Estado. O Decreto-Lei nº 288/1967 estabelece que a Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio. Assim, as indústrias que se instalam na Zona Franca de Manaus gozam de incentivos fiscais, como a isenção total ou parcial de alguns impostos e contribuições federais, como é o caso do IPI, do imposto de importação, do imposto de renda e do PIS/PASEP. A Zona Franca de Manaus é também prevista no art. 40 do ADCT da CF/88. Diante dessas peculiaridades, o STF entende que, com relação à Zona Franca de Manaus é devido o aproveitamento de créditos de IPI mesmo se a operação anterior é isenta. Isso porque há, neste caso, uma

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exceção constitucionalmente justificada à técnica da não cumulatividade (art. 153, § 3º, II), que legitima o tratamento diferenciado. Assim, se uma indústria de São Paulo, por exemplo, comprar insumos de uma empresa localizada na Zona Franca de Manaus, essa indústria terá direito ao creditamento de IPI mesmo sendo essa venda isenta de IPI. O STF firmou essa tese em sede de repercussão geral:

Há direito ao creditamento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na entrada de insumos, matéria-prima e material de embalagem adquiridos junto à Zona Franca de Manaus sob o regime da isenção, considerada a previsão de incentivos regionais constante do art. 43, § 2º, III, da Constituição Federal, combinada com o comando do art. 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. STF. Plenário. RE 592891/SP, Rel. Min. Rosa Weber e RE 596614/SP, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Edson Fachin, julgados em 24 e 25/4/2019 (Repercussão Geral – Tema 322) (Info 938).

Lei nº 9.779/99 O art. 11 da Lei nº 9.779/99 prevê o seguinte:

Art. 11. O saldo credor do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, acumulado em cada trimestre-calendário, decorrente de aquisição de matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem, aplicados na industrialização, inclusive de produto isento ou tributado à alíquota zero, que o contribuinte não puder compensar com o IPI devido na saída de outros produtos, poderá ser utilizado de conformidade com o disposto nos arts. 73 e 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, observadas normas expedidas pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

Esse art. 11 não fica prejudicado com a edição da SV 58. Isso porque são situações diversas: • SV 58: trata da hipótese em que o insumo entra na indústria e essa aquisição é isento, tem alíquota zero ou não é tributável. Neste caso, quando houver a saída do produto da indústria e nessa saída houver cobrança de IPI, não será possível a utilização de créditos pela entrada dos insumos. Resumindo: aqui temos a entrada desonerada, com a saída onerada. • Art. 11 da Lei nº 9.779/99: trata da situação na qual as operações anteriores foram oneradas com o IPI e a final, a da ponta, não o foi. Então, para que não fique esvaziado em parte este último benefício, tem-se a consideração do que devido e cobrado anteriormente. Resumindo: aqui temos a entrada onerada e a saída desonerada.

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DIREITO DO TRABALHO

COMPETÊNCIA Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da CF/88, sem concurso público,

contra Município, no qual ele cobra verbas trabalhistas decorrentes desta contratação

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal pelo poder público.

Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho.

STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro foi contratado por Município do interior, sem prévio concurso público, para exercer função de zelador. Isso ocorreu em 1997, ou seja, após a CF/88. Pedro deseja ajuizar ação cobrando verbas trabalhistas decorrentes desta contratação. Vale ressaltar que neste Município adota-se o regime jurídico único para contratação de servidores, sendo o regime estatutário. A competência para julgar esta ação é da Justiça do Trabalho? NÃO. A competência será da Justiça comum estadual.

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

A presente discussão envolve a interpretação, ou seja, o sentido e o alcance do art. 114, I, da CF/88:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...)

O STF, na ADI 3395, interpretou esse dispositivo e chegou à seguinte conclusão, que se aplica ao caso concreto:

O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. STF. Plenário. ADI 3395 MC, Rel. Cezar Peluso, julgado em 05/04/2006.

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EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao autorizar a disponibilização dos

dados pessoais de todos os consumidores dos serviços STFC e SMP, pelos respectivos operadores, ao IBGE. ( )

2) Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem a autorizações e decisões de órgãos federais para tomar atitudes de combate à pandemia. ( )

3) Estados, Distrito Federal e Municípios só podem adotar medidas como isolamento e quarentena para combater a pandemia do coronavírus se houver prévia autorização da União. ( )

4) É sanável o vício na representação processual consistente na ausência de procuração com poderes específicos com expressa referência ao ato normativo questionado. ( )

5) O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras jurídicas. ( )

6) Compete à Justiça do Trabalho julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88 sem concurso público. ( )

7) São cabíveis embargos de declaração, com efeitos infringentes, para que a decisão embargada seja reajustada de acordo com a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça adotarem. ( )

8) Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. ( )

9) Diante de uma denúncia anônima, deve a autoridade policial, antes de instaurar o inquérito policial, verificar a procedência e veracidade das informações por ela veiculadas. ( )

10) Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. E 4. C 5. C 6. E 7. C 8. C 9. C 10. C

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 06.05.2020 07.05.2020 — 6 116

1ª Turma 05.05.2020 — — 10 263

2ª Turma 05.05.2020 — — 1 105

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 1 a 8 de maio de 2020.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 4 A 8 DE MAIO DE 2020

ADI 3.760

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou improcedente a ação direta de inconstitucionalidade, nos termos do voto do

Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Não participou deste julgamento, por motivo de licença

médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de

3.4.2020 a 14.4.2020.

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Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Artigo 17, IV, da Lei 12.919/1998 do Estado de Minas Gerais. Reconhecimento

do exercício da advocacia como título em concurso para ingresso e remoção nos serviços notariais e de registro do Estado.

3. A existência de grupo, com aptidões técnicas, não contemplado com a atribuição de título em concurso público não

enseja a invalidade da atribuição de título a outros grupos que também as ostentem. Compatibilidade com o princípio da

igualdade. 4. O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras jurídicas.

Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

ADI 4.262

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para declarar a

inconstitucionalidade da criação do cargo de “Assessor Jurídico” instituído pelo artigo 3º, II, b, 1ª parte, da Lei

Complementar nº 497, de 10 de março de 2009, do Estado de Rondônia, bem como seu anexo único, nos termos do voto

do Relator. O Ministro Edson Fachin acompanhou o Relator com ressalvas. Não participou deste julgamento, por motivo

de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei Complementar 497/2009 do Estado de Rondônia. Criação de cargo de

assessor jurídico junto a Secretaria de Estado. 3. A assessoria jurídica aos órgãos do Poder Executivo deve ser prestada

exclusivamente por integrantes da carreira de Procurador de Estado, como previsto no art. 132, caput, da Constituição

Federal. Precedentes. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do

termo “Jurídica” na alínea b do inciso II do artigo 3º da Lei Complementar 497/2009 e da previsão de um cargo de

“Assessor Jurídico” constante do anexo único dessa lei (CDS 16).

ADI 6.051

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou improcedente o pedido formulado para

reconhecer constitucional o § 11 do art. 81 da Lei Complementar nº 14/1991, alterada pelo art. 1º da Lei Complementar

nº 200/2017 do Maranhão, nos termos do voto da Relatora. O Ministro Luiz Fux acompanhou a Relatora com ressalvas.

Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de

20.3.2020 a 26.3.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL. § 11 DO ART. 81 DA LEI

COMPLEMENTAR N. 14, DE 17.12.1991, DO MARANHÃO (CÓDIGO DE DIVISÃO E ORGANIZAÇÃO

JUDICIÁRIAS DO MARANHÃO) ALTERADA PELO ART. 1º DA LEI COMPLEMENTAR DO MARANHÃO, DE

10.11.2017. ALEGADA OFENSA AO § 8º DO ART. 19 DA CONSTITUIÇÃO DO MARANHÃO E AO INC. I DO

ART. 8º DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL IRREGULAR. VÍCIO

SANÁVEL. LEGITIMIDADE ATIVA CONFIGURADA. OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.

CONDIÇÃO PARA CONCESSÃO DE LICENÇA REMUNERADA A SERVIDOR PÚBLICO DIRIGENTE DE

CONFEDERAÇÃO, FEDERAÇÃO OU ASSOCIAÇÃO DE CLASSE À INEXISTÊNCIA DE SINDICATO

REPRESENTATIVO DA CATEGORIA. AUSÊNCIA DE AFRONTA À AUTONOMIA SINDICAL. PRECEDENTES.

AÇÃO DIRETA CONHECIDA E JULGADA IMPROCEDENTE. 1. É sanável o vício na representação processual

consistente na ausência de procuração com poderes específicos com expressa referência ao ato normativo questionado.

Precedentes. 2. A Confederação dos Servidores Públicos do Brasil – CSPB é parte legítima para a propositura da ação

direta, considerada a natureza jurídica de confederação sindical, registrada e composta por entidades sindicais e presente

o requisito da pertinência temática consistente nas atribuições estatutárias e o objeto desta ação. Precedentes. 3. Não

contraria a autonomia sindical norma que trata de organização administrativa do Poder Judiciário do Maranhão

estabelecendo as condições para a concessão de licença a servidor público para exercício de mandato de representação

classista. Precedentes. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

SV 58

Em sessão virtual de 17.04.2020 a 24.04.2020, o Tribunal Pleno editou o seguinte enunciado de súmula vinculante, que

se publica no Diário da Justiça Eletrônico e no Diário Oficial da União, nos termos do § 4º do artigo 2º da Lei 11.417/2006:

Súmula vinculante nº 58 – “Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,

sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade”.

Precedentes: RE 353.657/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe de 07/03/2008; RE 353.657-ED/PR, Rel.

Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe de 20/08/2010; RE 370.682/SC, Relator p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes,

Tribunal Pleno, DJe de 19/12/2007; RE 370.682-ED/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe de 17/11/2010;

AI 686.798-AgR/SP, Rel Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 11/11/2011; AI 736.994-AgR/SP, Rel. Min. Ricardo

Lewandowski, Primeira Turma, DJe 16/08/2001; RE 592.917-AgR/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe

17/06/2011; RE 591.920-ED/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe 16/05/2011; RE 477.180-

AgR/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 28/06/2011; RE 435.600-AgR/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia,

Page 27: Informativo comentado: Informativo 976-STF...CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393

Informativo comentado

Informativo 976-STF (13/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27

Primeira Turma, DJe de 06/02/2009; RE 479.400-AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 06/02/2009;

RE 379.264-AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 28/11/2008; RE 496.757-AgR/RS, Rel. Min.

Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 19/09/2008; RE 391.822-AgR/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,

Primeira Turma, DJe de 19/09/2008; RE 363.777- AgR/RS, Relatora p/ Acórdão: Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma,

DJe de 27/03/2009; RE 508.708-AgR/RS, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, DJe de 05/12/2011; RE 566.551-

AgR/RS, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 30/04/2010; RE 488.357-ED/PR, Rel. Min. Ellen Gracie,

Segunda Turma, DJe de 11/09/2009; RE 372.005-AgR/PR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe de 16/05/2008;

RE 561.023-AgR/SC, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe de 09/05/2008; RE 444.267-AgR/RS, Rel. Min.Gilmar

Mendes, Segunda Turma, DJe de 29/02/2008.

Legislação: Constituição Federal, artigo 153, § 3º, II.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS

4 A 8 DE MAIO DE 2020

Medida Provisória nº 960, de 30.4.2020 - Prorroga os prazos de suspensão de pagamentos de tributos previstos nos atos

concessórios do regime especial de drawback, que tenham sido prorrogados por um ano pela autoridade fiscal e tenham

termo em 2020. Publicado no DOU em 04.04.2020, Seção 1, Edição 83, p. 1.

Lei nº 13.995, de 5.5.2020 - Dispõe sobre a prestação de auxílio financeiro pela União às santas casas e hospitais

filantrópicos, sem fins lucrativos, que participam de forma complementar do Sistema Único de Saúde (SUS), no exercício

de 2020, com o objetivo de permitir-lhes atuar de forma coordenada no combate à pandemia da Covid-19. Publicado no

DOU em 06.05.2020, Seção 1, Edição 85, p. 3.

Medida Provisória nº 961, de 6.5.2020 - Autoriza pagamentos antecipados nas licitações e nos contratos, adequa os limites

de dispensa de licitação e amplia o uso do Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC durante o estado de

calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Publicado no DOU em

07.05.2020, Seção 1, Edição 86, p. 6.

Emenda Constitucional nº 106, de 7.5.2020 - Institui regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para

enfrentamento de calamidade pública nacional decorrente de pandemia. Publicado no DOU 08.05.2020, Seção 1, Edição

87, p. 1.

OUTRAS INFORMAÇÕES

29 DE ABRIL A 8 DE MAIO DE 2020

Resolução STF nº 678, de 29.04.2020 - Prorroga a suspensão de prazos de processos físicos e estabelece novas medidas

preventivas ao COVID-19 no Supremo Tribunal Federal.

Resolução STF nº 679, de 30.04.2020 - Torna público as tabelas de cargos em comissão e de funções comissionadas do

Quadro de Pessoal do Supremo Tribunal Federal.

Resolução STF nº 680, de 30.04.2020 - Organiza os processos de trabalho nas unidades administrativas do Supremo

Tribunal Federal.

Decreto nº 10.342, de 7.5.2020 - Altera o Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020, que regulamenta a Lei nº 13.979,

de 6 de fevereiro de 2020, para definir os serviços públicos e as atividades essenciais. Publicado no DOU em 07.05.2020,

Seção 1-Extra, Edição 86-A, p. 1.

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